Você está na página 1de 15

Política e Religião- 3º ano

Aida Luís Chiau

Aula de Politica e Religião _ 26.02.2021

Grupo 3- terceiro tema: Relações entre o Islão e o Estado em Moçambique

O trabalho não pode ter mais de 7 páginas. Entregue daqui a um mês (26 de marco)

Tema1:

O facto religioso nos estudos das ciências sociais: nota introdutória

Relação entre política e religião

O termo “política” é visto na perspectiva de P. Bourdiou, como Campo com


regras/normas e posições estruturais marcados por conflito, regulados pelo Estado.
“ Política enquanto campo estruturado”

O termo “religião” é visto não enquanto objecto de fé, mas sim uma dimensão da vida
humana, um elemento social.

A Religião é como um fenómeno social que se associa a 4 características: (Carvalho


Ferreira)

 A noção do sagrado em oposição ao Profano (existe o mal e o existe o bem).


 Crenças (são sistematizadas, sobre a natureza, sobre o universo, sobre as
relações humanas, sobre a relação com o sagrado)
 Ritos (formas prescritas do comportamento individual ou colectivo, supõem a
crença, a fé, tem como função atualizar a celebração do homem e o sagrado, o
rito é mediador entre o homem e o sagrado- os cultos nas confissões religiosas)
 Ética.

Existem outros aspectos que devem ser tomados em consideração: a religião enquanto
factor de integrativo social, factor de mudanças, de formação de identidades dos seus
membros.

Na perspetiva de Allatas, existem 8 elementos que caracterizam a religião:


 Crenças nos seres sobrenaturais. (há uma serie de designações ao “ser
sobrenaturais”)
 A crença de que o homem esta destinado a ter uma relação com esse ser
sobrenatural
 Certos ritos e crenças são supostamente sancionados por uma realidade
sobrenatural
 A divisão da vida entre o sagrado e o profano
 A crença de que o sobrenatural comunica as vontades do ser sobrenatural aos
humanos (através dos profetas cujo propósito é fazer a ligação entre o
sobrenatural)
 A tentativa de organizar a vida de acordo com o que se acredita ser sobrenatural
(ideia de ética)
 A crença de que a verdade revelada se sobrepõe a outros tipos verdades
 A prática de constituir comunidade de crentes.

Próxima aula: Comte, Durkheim, Karl Marx, Weber. Como a religião foi discutida nos
primórdios da humanidade.

Aula de PR - 02/03/2021

Tema: Facto Religioso nas Ciências Sociais (cont.) Como a religião foi discutida nos
primórdios da humanidade.

Temos 3 grandes pilares das Ciências Sociais

 August Comte – percursor


 Karl Marx;
 Émile Durkheim
 Max Weber

Forte influência do Iluminismo – sec. XVIII - franca e depois se expandiu para toda
Europa. Na religião se pode encontrar uma abordagem iluminista, a ideia de
“racionalidade do fenómeno religioso”.

Embora Comte e Marx tenham sido influenciados pelo iluminismo, eles não caminham
da mesma forma. São épocas diferentes, no entanto, ambos acreditam nas ideias
iluministas, no que tange a ideia de “progresso” especificamente, a ideia da Religião
subjugada a razão, a crença nos fenómenos sobrenaturais e a relação entre a razão e a Fé,
discutida de várias maneiras.

Racionalização do fenómeno Religioso em Comte e Marx

1. August Comte

Este autor defende a necessidade de adorar a algo transcendente (razão), ou seja, algo
além da realidade humana. Ele aborda isso sob duas vertentes sobre o fenómeno
Religioso:

a) Análise da lei dos três Estados (teológico, metafisico e positivo)

Aqui, o autor considera que há uma evolução do progresso, o homem evolui da


metafisica ao positivo. Ou seja, tenta mostrar que a Religião é um estagio da
humanidade que esta presente e que podemos encontrar e três estágios.

b) Obra do Sistema de Politica Positiva

Aqui, o autor cria uma nova religião não resgatando o catolicismo, pois segundo ele era
infundável. A nova religião criada por ele o chama por “Grande Ser” onde o objecto não
Deus, mas sim o “grande ser” como uma espécie de “razão”. O Grande ser visa
justificar o Estado final da Racionalidade, o Estado Positivo em Comte.

Em Comte a Religião deve ter duas funções:

i. De repreensão do egoísmo humano


ii. Das vontades individuais

A Religião em Comte tem uma nova roupagem. Comte inventa ritos, sacramentos e de
declara o grande sacerdote. A Religião em Comte tinha que trazer mudanças. Diante do
desafio de conciliar a Fé e a razão, ele propõe uma coexistência entre a fe e a razão. Não
há uma sobreposição de uma por outra, mas sim uma coexistência.

2. Karl Marx

Este situa-se no outro lado da herança do iluminismo; para Marx não há necessidade de
criar uma nova religião, pois é uma superstição e não faz nenhum sentido, para ele a
religião deveria ser extinto.
Marx descarta a possibilidade da razão na religião, pois a religião é uma idolatria. A
Religião adormece as consciências; tolera as injustiças, não passa de uma mera
superstição.

Marx distancia-se da ideia segundo a qual a realidade qualificada de culto a um ser


superior. Ele expressa as suas ideias em duas obras:

 A questão judaica: abordando a questão da emancipação política dos judeus;


reconhecimento dos direitos civis iguais aos cristãos. Essa mesma emancipação
constitui a relegação da religião do ato publico para o privado- emancipação
humana.
 Introdução a Critica da filosofia do ato de Hegel: aqui o autor fala da religião
olhando para o cristianismo em que a mesma é vista como oprimindo o povo
(droga que adormece o povo) – algo criado pelo homem para regular
comportamentos humanos.

3. Émile Durkheim

Durkheim é um dos principais autores que aborda a religião enquanto dimensão social.

Mas, o que de facto preocupa Durkheim?

 Encontrar o factor explicativo de coesão social; a questão da ordem social.

Durkheim na sua obra “As formas elementares da vida Religiosa” parte do pressuposto
segundo a qual a religião é uma porta de entrada para compreender a coesão ou a ordem
social.

Durkheim teve influências de Robertson Smith com a obra a “Religiao dos Semitas e a
ideia do Toteismo”- associado a uma estrutura social de clãs; que considera ser a forma
mais primitiva da religião. A explicação do fenómeno religioso segundo Durkheim
parte da ideia de que a religião é um factor de coesão entre os indivíduos; e a obra de
Smith como uma das primeiras tentativas de explicar o fenómeno religioso.

A segunda influência de Durkheim é o historiador francês Fustel de Coulanges, este


que diz que “o vínculo social não se baseia nem na força nem no interesse social, mas
sim na crença.” Crença no sentido de colectividade (consciência). Isto é, nosso
comportamento esta estruturado em um grupo, pois a crença histórica joga um papel
fundamental na história da sociedade e as pessoas se identificam a partir do grupo.

O facto social em Durkheim é:

 Exterior ao individuo
 Se impõe ao individuo

O que Coulange chama de crença, Durkheim chama de consciência colectiva.

Na obra “formas elementares da vida religiosa” Durkheim discute o fenómeno


religioso a partir:

1) Análise explicativa da religião + primitiva e simples, partido do pressuposto


segundo o qual a sociedade religiosa é o sistema mais primitivo da sociedade,
devendo preencher duas condições:
 Situar-se em sociedades cuja organização não se pode ultrapassar por
nenhuma outra simplicidade (forma como evoluir ao longo do tempo).
 Ser possível de explicação sem recurso a nenhuma religião superior. E a
religião primitiva como objecto de estudo permite compreender a
natureza religiosa do homem, desde a sua evolução.

E porque que ele se interessa pela religião + primitiva? Porque ele tem a possibilidade
de entender a natureza religiosa do Homem. Olhando para todas as religiões ele entende
que todas são iguais com um fundamentalismo (superior/ inferior ao próprio individuo),
trazendo a ideia de que não há uma religião superior e que o desconhecimento do outro
cria o fundamentalismo religioso.

Como Durkhem define o fenómeno religioso?

O autor para definir o fenómeno religioso faz uso as “regras do método sociológico”,
onde:

1º Trata o facto religioso como coisas;

2º Rompe com as pré-noções;

3º Define positivamente o fenómeno religioso.

Dai ele conclui que o facto religioso é composto por duas categorias:
 Crenças religiosas (que são estados de opinião e representação que tem a ver
com o pensamento);
 Ritos (que são modos de ação).

4. Max Weber

Principal obra: “A Ética Protestante” e o “Espirito do Capitalismo”

O autor parte de uma constatação de comportamentos de que os católicos mandavam os


seus filhos para as ciências humanas e os protestantes para as ciências
exatas/naturais/praticas. Onde a religião é a porta de entrada para compreender o
capitalismo e a ética. Um modo de vida estruturado e inclusivo de como se olham para
as relações sociais.

“Ética protestante” – modo de vida, estruturas que derivam de uma crença. É a partir
da ética que nos conseguimos identificar as pessoas associadas a uma confissão
religiosa. A ética protestante especifica que o “calvinismo” considera o trabalho como
uma “vocação” o que acaba jogando um papel com o capitalismo.

Contributo:

“A religião é a porta de entrada para compreender outros fenómenos, como o


capitalismo; fora isso, permite entender a ligação ente o calvinismo e o capitalismo, na
medida em que nos trás a ideia de crença de que o trabalho é uma vocação e de que o
homem deve acumular dinheiro, e que o dinheiro em si não é algo mau, pois segundo a
ética protestante o homem deve acumular dinheiro e dominar o mundo.”

“Espirito do capitalismo” – temas que olham para o dinheiro não como o que move o
capitalismo em si; mas sim as atitudes estruturais com relação ao dinheiro.
Aula de PR../03/2021

Tema: Religião e processo de construção identitária

Constatação: Existe uma onda de “secularização” em praticamente todos os países da


europa, que se da através de dois movimentos:

 Secularização
 Presença da religião nas instituições do Estado

Religião e instituições politicas

- Relação entre a religião e o Estado, isto é, em que medida a religião busca o Estado e
como isto é feito.

O princípio de separação do Estado e da religião não significou o banimento das


confissões religiosas, mas sim a formulação ou uso de linguagens ou leis que estejam no
nível de todos os cidadãos; e que o estado crie condições para que as confissões
religiosas professem a vontade a sua religião (não invasão da esfera do outo).

Separação da religião com relação ao Estado

A frança conduziu a secularização da religião, enquanto que nos EUA este fenómeno
conduziu a uma afirmação da religião. As comunidades religiosas desempenharam um
papel importante no processo de socialização política dos seus membros, com a ideia de
um bom crente, um bom cidadão. Isto é, Em Estados constitucionalmente bem
estabelecidos a religião contribuiu para o avanço da cultura politica.

Secularização – é o declínio da influência da religião na esfera pública ficando


confinada ao privado.

A teoria da modernização nos anos 60 da ciência política postulou várias tendências


inerentes a modernidade que levaram a morte de factores como religião e a etnia na
esfera pública. Esse fenómeno estaria associado a: (em outras palavras, factores que na
perspectiva da teoria da modernização iriam enfraquecer a ideia de religião na
vida politica) são:

 Educação de massas
 Crescimento de taxas de alfabetização
 Urbanização
 Desenvolvimento económico
 Pluralismo
 Crescimento das instituições politicas e sociais, modernas e seculares;
 Avanços na ciência e tecnologia.

Em suma, a modernização económica seria importante para o desaparecimento da


religião no espaço publico.

Factores do não-enfraquecimento da religião apesar do desenvolvimento


económico

 A modernidade tem visto mais participação das massas na vida politica


permitindo que indivíduos religiosos colocassem suas ideias sobre a religião na
agenda politica;
 As modernas tecnologias de informação/comunicação possibilitaram, grupos
religiosos melhor coordenação e exortação das suas ideias e colocassem a
circular;
 Aumento da capacidade de instituições religiosas e políticas a envolverem-se
mais em áreas sociais.

Aula …/03/2021

Tema: Religião e o processo de construção identitária (cont)

 Violência baseada na Religião


 Texto sobre Tanzânia
 Conceitos de identidade

Existem duas abordagens sobre a identidade, a saber:

1) Abordagem primordialista (aqui, a identidade é concebida como sinonimo de


descendência biológica comum).
2) Abordagem instrumentalista construtivista (a identidade é concebida como
algo instrumental construído, mobilizado para reclamar direitos entre grupos).
Etnicidade

É um conceito com significado muito mais social, cultural do que biológico. Refere-se a
um conjunto de pessoas com características comuns e/ou diferentes que se consideram
culturalmente diferentes dos outros grupos da sociedade. A identidade étnica é o
elemento chave para se entender outros tipos de identidade.

Fauster: considera que tanto a identidade étnica e a identidade religiosa tem muitos
aspectos em comum, porque quer uma quer outra tem a ver com laços de fidelidade. As
identidades religiosas podem ser mobilizadas a servir de elementos para lideres políticos
perseguirem seus próprios interesses.

Paul Brass: diz que as formas culturais, valores e práticas étnicas num contexto de
competição politica se tornam recursos políticos para as elites.

Este pensamento enquadra-se na abordagem instrumentalista das identidades em que


elites politicas instrumentalizam as identidades religiosas…

A crítica feita a esta teoria é “como se pode explica que um grande número aceite ser
manipulado em favor de uma elite.” Esta abordagem não leva em consideração o facto
de que na questão identitária as pessoas a nível local têm seus interesses em servir o
Estado.

Em suma, nenhuma das abordagens pode ser considerada como aquela que engloba
todas as identidades, pois as três tipologias de identidade (étnica, religiosa e racial) têm
problemas em aceitar casamentos inter-religiosos; apesar de existir polarização da
religião, existe uma fraca mobilização da forma como é reivindicado os recursos
religiosos, dada a existência de muitas identidades.

Aula …/04/2021

Tema: Cristianismo, Islão e o processo de construção do Estado em africa

 Papel da religião na construção do Estado em africa


Este debate parte de uma constatação dos anos 90 em que o fenómeno religioso foi visto
como segunda independência em africa.

Essa segunda independência foi caracterizada por:

 Demandas populares focalizadas na democratização, reformas económicas e


direitos humanos;
 Demandas coordenadas por grupos organizados ou por indivíduos (sindicatos,
estudantes universitários, homens de negocio, funcionários públicos e lideres
religiosos)
 Demandas incorporadas nas agendas políticas de muitos países africanos.

Em meados de 1994, a agitação por mudanças resultou na expulsão de uma serie de


governantes, incluindo os do Benim, Cabo verde, Republica centro Africana,
Madagáscar, Etiópia, Níger, São Tome e Príncipe, Serra Leoa e Zâmbia.

Porque esse fenómeno só ocorreu nos anos 90?

 O fraco envolvimento ou não das elites religiosas nos anos 60 deveu-se aos laços
com o regime colonial em termos de raça e economia.

Na década 90, os líderes religiosos já se sentiam africanizados, dai maior envolvimento


com movimentos para a democracia.

No entanto, segundo Jeff & Haynes, os líderes africanos sempre estiveram em frente a
democracia, mas não pela democracia em si, mas sim pelas consequências dos antigos
regimes.

Islão em Africa

O Islão em áfrica não pode ser visto como um bloco, mas sim em diferentes facetas no
mesmo islão.

O fundamentalismo islâmico em áfrica é um fenómeno raro se comparado com os


outros cantos do mundo.

Alem disso, existe uma ambivalência na maneira como o islão olha para a religião e
para a democracia liberal.

1. Variedades do Islão em africa como um processo multifacetado que cobre


diferentes religiões.
Jeff & Haynes dividem o islão em 3 categorias: social, cultural e histórico.

 Dimensão social: posição dominante do islão nos emirados norte da


Nigéria, norte dos Camarões e Chade, criando uma difusão entre os
poder politico e religioso que funde-se criando uma estrutura de classe
fundada na diferenciação religiosa.
 Dimensão Cultural: composta por regiões em que existe uma
predominância de confrarias “sufi” que praticam a religião de uma dada
maneira na africa Ocidental. (senegal, Mali, Guine, Tanzânia), que
incorporavam aspectos culturais locais na religião muitas vezes
considerados islão degradado.
 Dimensão Histórica: conjunto de estados Africanos com diferenciação
étnica e religiosa, e onde os muçulmanos são politicamente
marginalizados como um bloco (Gana, Togo, Benim, Costa do Marfim).

2. Fundamentalismo islâmico, onde o islão sufi tem entrosamento com aspectos


locais (praticado pela maioria) o fundamentalismo islão funda-se na
marginalização de alguns grupos praticantes do islão sufi (islão degradado) dai a
necessidade de ser purificado.

3. Ambivalência na maneira como se olha para o conceito de Democracia


liberal. Onde enquanto para o cristianismo democracia reside no povo, para o
islamismo a soberania reside em Deus. Quer o cristianismo, quer o islamismo as
elites destas religiões nas suas relações com o Estado procuram perpectuar o seu
status dado a sua relação com as elites, bem como a própria concepcao entre o
sagrado e o temporal. Ao passo que no cristianismo existe uma separação clara
entre o sagrado e o temporal.

Conclusão: enquanto o regime politico/ estado não for hostil a religião, e


enquanto as elites dirigentes salvaguardarem questões como segurança e bons
valores éticos e morais haverá apoio das lideranças religiosas.

Aula.../04/2021

Tema: Violência Religiosa e Fundamentalismo


O fundamentalismo como qualquer outro fenómeno não esta somente ligado ao islão
pois tem bases no cristianismo. O fundamentalismo surge no conflito interno no seio do
protestantismo dos EUA.

O que é fundamentalismo?

Na literatura sociológica, o conceito de fundamentalismo não é de fácil definição, isso


deve-se a controversa entre os autores.

Nessa controversa haviam duas questões importantes:

 Cristianismo face as descobertas em matérias da criação, ciência e tecnologia;


 Crítica bíblica (o texto sagrado precisar de contextualização)

Gradualmente os protestantes no EUA foram se separando em:

 Modernistas liberais;
 Tradicionalistas conservadores.

Em 1910-1915 as posições foram…

Por volta de 1920 os apoiantes do cristianismo foram-se intitulando fundamentalistas. E


os conservadores se tornaram marginalizados nos EUA.

Hoje os fundamentalistas extravasam questões históricas, podendo se encontrar em


todas as confissões religiosas.

Hoje podemos encontrar fundamentalistas hindus, judeus, cristãos, islâmicos, etc.

No debate da Ciência Politica, Almond define fundamentalismo como “um padrão


discernível de militância religiosa através do qual os autodenominados verdadeiros
crentes tentam parar a erosão da identidade religiosa; fortificar as fronteiras da
comunidade religiosa e criar alternativas de comportamento seculares.”

Quando se trata do fundamentalismo, as condições históricas, sociológicas da origem e


desenvolvimento do fundamentalismo como fenómeno esta ligado a modernização ou
seja, ao processo de construção do Estado moderno. Para muitos fundamentalistas deve-
se banir/combater a modernização.

Emerson e Harkan na sua tentativa de definir o fundamentalismo identificaram 9


características agrupadas em duas categorias:
1. Características ideológicas
 Reação a marginalização da religião (defesa da sua religião que esta
sendo atacada pela marginalizada do mundo)
 Seletividade (os fundamentalistas selecionam alguns aspectos e
constroem a sua própria realidade, criam um novo significado)
 Mundivisão (dualidade da maneira como se olha o mundo, a questão do
bem e do mal)
 Absolutismo (para os fundamentalistas o texto sagrado é de origem
divina, é verdadeira e há pouca manobra para interpretação)
 Milenarismo ou messianismo (para os fundamentalistas a historia tem
um fim; eles acreditam no fim dos tempos- um fim milagroso e santo).

2. Caraterísticas organizacionais
 Membros eleitos e selecionados (os fundamentalistas acreditam estar
em missão do ser superior- missão para defende a identidade religiosa da
modernização);
 Fronteiras claras (para um fundamentalista não há meio-termo de
pertencimento);
 Organização autoritária (os fundamentalistas organizam-se a volta de
lideres carismáticos);
 Requisitos comportamentais (dentro do grupo fundamentalista existem
regras que constituem uma marca do grupo).

Hoje o fundamentalismo é associado a violência. Será que os fundamentalistas são


necessariamente violentos?

Hurkman oferece uma alternativa importante:

1) Nem toda violência baseada na religião é perpetuada por fundamentalistas, as


vezes a religião usada para fins que não são necessariamente religiosos;
2) Nem todos os grupos fundamentalistas são violentos, apesar disso, muitas das
violências religiosas são perpetuadas por grupos extremistas fundamentalistas.

Radicalização

O conceito de radicalismo é similar ao do fundamentalismo pela sua controvérsia na


literatura sociologia, por ser um termo impreciso e complexo.
Na CP o conceito de Radicalização tem sido usado para identificar uma diversidade de
situações coo formas de populismo, passando para actos revolucionário de contestação
de poder político em declínio até a intensificação de contestação geralmente marcadas
de atividades pacíficas.

O debate em torno do conceito de radicalismo estruturou-se em duas posições:

 Primeira, que define o Radicalismo em crenças extremistas (Radicalismo


cognitivo);
 Segunda, define Radicalismo em comportamentos extremistas (Radicalismo
Comportamental)

Githens-Nazr considera que uma das fraquezas das pesquisas sobre radicalização
consiste na ausência de trabalhos com uma definição específica do conceito.

No entanto, essas pesquisas podem ser subdivididas em 3 grupos em função da maneira


com que se olha a questão da radicalização:

 Radicalização vista como um processo - ou seja, vista como um conjunto de


etapas através dos quais os indivíduos se tornam terroristas e por outro lado
mudanças de crenças que propiciam a violência;
 Radicalização vista como “causação” – essas pesquisas procuram entender as
causas específicas que explicam a radicalização dos indivíduos. A radicalização
é tida como um instrumento que visa trazer mudanças ao status quo.
 Radicalização vista em termos negativos – este grupo defende que ela não
pode ser assimilada ao terrorismo ou a violência.

Conclusão: Como olhar a situação no norte de Moçambique?

1. Evita leituras simplistas;


2. Explorar a complexidades do fenómeno;
3. Fazer uma descrição contextual numa abordagem etnográfica;
4. Enquadrar os acontecimentos no norte do país no processo de construção do
Estado moçambicano;
5. Mais do que perguntar sobre as causas é preciso concentrar-se nos factores de
reprodução da violência.

Você também pode gostar