Você está na página 1de 4

Universidade Federal de Alfenas

História 3° Período

Psicologia da Educação

Rodolpho Ferreira Borges

Síntese do texto de número 17 da disciplina: “Desenvolvimento social durante a


adolescência”, de Alfredo Oliva.

Com o advento da adolescência, não ocorrem mudanças radicais no desenvolvimento


social. A tendência é que as relações sociais estabelecidas mantenham certa continuidade. No
entanto, o texto apresenta fatores que influenciam nesse desenvolvimento. Segundo o autor, é
razoável considerar que as tantas mudanças físicas e psicológicas desse período repercutiram
sobre as relações sociais do adolescente. Além disso, há o fato de que esses jovens comecem
a participar de diversos outros contextos extrafamíliares, que acarretará numa diversificação e
ampliação de sua rede de relações sociais. Desse modo, o autor apresenta no texto a relação
entre o desenvolvimento social e a família, os grupo de iguais, e o contexto escolar,
elucidando sobre os fatores sociais, psicológicos e biológicos presentes em tais relações.

O primeiro tópico trata do adolescente na família. Generaliza-se que essa é uma


relação marcada pelo conflito. A abordagem psicanalítica afirma tal generalização. No
entanto, pesquisas mais recentes nos apresentam a ideia de que durante as idades tratadas
aqui “ocorre uma série de mudanças na relação que os adolescentes estabelecem com seus
pais, porém, essas mudanças não têm de supor necessariamente conflitos graves.” (p.351)
Dentre as razões que justificam tais mudanças, destacam-se: o desenvolvimento cognitivo,
que irá afetar o autoconceito e o conceito para com os demais, tal como as noções sobre a
regulamentação familiar e a capacidade de criar alternativas abstratas para tal; e o fato de os
adolescente começarem a passar cada vez mais tempo em relações horizontais com os
amigos, o que os levam a desejar isto no contexto familiar. Outro tópico muito considerado
pelo senso comum é o que considera o adolescente como um indivíduo isolado em relação a
sua família. Segundo pesquisas recentes, há sim uma redução no tempo em que esses jovens
passam com sua família, em grande parte influenciada pelas mudanças promovidas pela
puberdade, e também pelas mudanças passadas pelos pais (divórcio, menopausa...).

Outro processo importante que se da nessa mesma relação, é o aumento da autonomia


do adolescente, fator de grande importância para o desenvolvimento social deste. A
autonomia crescente promove o estabelecimento de relações extrafamíliares de caráter
heterossexual e a superação dos desejos sexuais de caráter incestuoso. Além disso, é
necessária para que ocorra o processo de individualização. No entanto, outros autores
questionam esta abordagem, no fim, complementando-a. Para estes, a autonomia pode refletir
também uma experiência negativa no contexto familiar. Por fim, o autor destaca que o
importante é “o papel moderador que o contexto familiar exerce na relação existente entre
autonomia emocional e a adaptação do adolescente.” (p.354) A autonomia em si pode
provocar também uma maior possibilidade de o jovem se colocar em situações de rico.
Quanto à isso, deve-se pensar numa supervisão e controle da conduta deste. O importante
aqui é ressaltar que se deve evitar realizar uma supervisão superprotetora, nada benéfica; ou
seja, deve haver flexibilidade, modificação das expectativas e das normas, ajustando às novas
necessidades evolutivas do adolescente.

Ainda no âmbito da relação entre adolescente e família, o autor afirma que a estrutura
familiar não tem grande importância no desenvolvimento social do jovem em comparação
com o grau de conflituosidade familiar e a qualidade das relações entre os pais. No entanto, a
resolução de alguns aspectos evolutivos pode se ver influenciada por problemas no contexto
estrutural da família, como as consequências do divórcio, por exemplo.

Quanto a relação entre o desenvolvimento social e o grupo de iguais, o autor afirma


que, na medida em que os adolescentes vão se desvinculando da família, as relações com os
amigos e companheiros vão ganhando em importância, passando a ser o contexto de maior
influência. Cabe elucidar aqui sobre o que o autor afirma mais à frente no texto, “é errôneo
pensar que os vínculos com o grupo supõem uma diminuição da influência dos pais (...).
Antes, cabe pensar que os pais e amigos não competem entre si, mas representam influências
complementares que satisfazem diferentes necessidades do jovem.” (p.360). O crescimento
da relação com os iguais, segundo o texto, é muito engrandecedora para os jovens nessas
idades, devido a compreensão, a reciprocidade e a maior intimidade que marcam as relações
de amizade, que nascem, provavelmente, como cosequência da maturação cognitiva. Aliás, o
autor afirma que, em geral, além de proporcionar apoio instrumental e refletir a relação que o
adolescente estabelecera com os pais, a relação com os amigos:

“(...) é um indicador de boas habilidades interpessoais e um sinal de um bom


ajustamento psicológico, provavelmente por que os meninos com menos
habilidades sociais e com mais problemas psicológicos sofrerão mais rejeição
e terão mais dificuldades para estabelecer amizades; contudo, também se
poderia pensar na relação inversa, insto é, na qual ter amigos com os quais
compartilhar segredos e sentimentos contribui para um melhor ajustamento
psicológico” (p.358)

No entanto, existem também as consequências negativas de tal relação, que estão


ligadas ao que o autor chama de conformismo diante dos iguais. O relativo distanciamento
para com a família e o maior tempo passado com os amigos, colocam estes jovens em uma
posição de maior suscetibilidade diante da pressão dos iguais, o que pode levá-lo a apresentar
comportamentos antissociais e perigosos. Este conformismo é mais presente em jovens mais
necessitados da aceitação ou apoio do grupo ou porque tenha relações familiares pouco
satisfatórios neste âmbito.

A própria configuração do grupo, por sua vez, também passa por mudanças ao longo
do período que tratamos aqui. Dunphy (1963) dividiu esse período em quatro etapas. A
primeira é a da turma unissexual, marcada pela pouca permeabilidade e abertura, fornece
seguranças e apoio para as futuras relações com o sexo oposto, que vão marcar a próxima
etapa, a da interação entre turmas unissexuais. Tal etapa apresenta uma relação um pouco
desajeitada e rude entre os indivíduos de sexos opostos. A seguir, forma-se a turma mista.
Com menor coesão e menos intimidade entre os indivíduos, essas turmas se definem em
relação aos aspectos formais ou acadêmicos, e a orientação para a relação com os iguais.
Outra característica ressaltada pelo autor e o fato de que a turma acaba condicionando as
relações sociais de seus membros. Por fim, a turma é desintegrada e a ultima etapa apresenta
uma série de casais relacionados entre si, o que marca a introdução do adolescente nas
relações de casal. O momento dessa introdução, segundo o texto, parece determinado por
fatores sociais mais que biológicos e a sua qualidade está associada ao grau de ajustamento
socioemocional. Segundo Furman e Wehner (1994) essas relações satisfazem as necessidades
sexuais, de afiliação, de afeição e de apoio, desses jovens. Haveria também “uma relação
causal entre o tipo de apego estabelecido com os pais durante a infância e o caráter dos
vínculos afetivos com o casal na adolescência e na idade adulta.” (362). Além disso, as
relações de amizade também darão sua contribuição.

Desta relação de casal resulta a conduta sexual adolescente. Primeiramente, o autor


postula a contradição da influência social neste aspecto. Enquanto exerce-se uma forte
pressão na tentativa de controle das manifestações sexuais nestas idades, há uma “crescente
erotização da sociedade através dos meios de comunicação, especialmente nas mensagens
dirigidas aos jovens.” (p.362) Há de se elucidar também sobre a diferenciação da conduta
sexual entre meninos e meninas, resultante de fatores sociais e culturais. Enquanto os
meninos são mais precoces e costumam relacionam a sexualidade à promiscuidade e uma
maior valorização do coito, o padrão feminino mostra uma atividade sexual mais reduzida (a
masturbação, por exemplo, é menos frequente e provoca intenso sentimento de culpa) e mais
integrada com outros componentes socioemocionais. Apesar de intensas campanhas de
conscientização, o uso de anticoncepcionais nessas idades aumentou pouco. Um dos fatores é
a falta de uma educação sexual nas escolas. Além da diferenciação sexual apresentada acima,
o autor elucida sobre a presença, não tão infrequente, das relações homoafetivas na
adolescência. Sobre isso, o autor ressalta os prejuízos psicológicos causados pelo evidente
caráter homofóbico de nossa sociedade:

“A circunstância de viver em uma sociedade homofóbica, que rejeita


e ridiculariza esse tipo de comportamento, fará com que esse processo seja
especialmente doloroso para os adolescentes de orientação homossexual. Se
considerarmos que é um preconceito dirigido a uma minoria invisível, pois a
maioria dos sujeitos tende a esconder essa condição, serão muitas as
oportunidades em que uma piada ou brincadeira depreciativa será feita
quando estiverem presentes sujeito homossexuais. Por isso, a maioria dos
adolescentes que sentem desejo por companheiros do mesmo sexo tende a se
passar por heterossexuais (...). Essa atitude talvez não seja a mais adequada,
pois pode levá-los a se desprezar e desvalorizar, com consequências muito
negativas para a autoestima e para a construção de uma identidade pessoal.
Tampouco parece a alternativa de assumir a condição de homossexual esteja
isenta de inconvenientes, pois esses adolescentes irão sentir na pele a rejeição
social em um momento evolutivo muito delicado.” (p.365)
Por fim, o autor explana sobre a influência dos contextos educativos durante a
adolescência. A passagem do ensino fundamental para o médio pressupõe uma ruptura, que
se dá em um momento evolutivo delicado, sobre tal:

“(...) parece que as mudanças contextuais que a transição para o


ensino médio traz consigo são menos convenientes quanto menos se ajustam
às necessidades que os adolescentes tem nesse momento evolutivo, o que em
parte justificaria a diminuição da motivação e o aumento das cifras de
fracasso escolar que ocorrem nesse segmento educativo.” (p.366-367)

A nossa sociedade ocidental cristã fornece uma clara carga de machismo também para
as relações sociais adolescentes. O autor expõe frequentemente a diferenciação de gênero
expressa nas relações entre esses jovens, apesar de não demonstra a carga cultural que está
intrínseca nelas. É importante ter conhecimento de que machismo, velado ou não, direciona
toda uma carga de opressão principalmente nas mulheres. É preciso saber como tal opressão
se dá também no meio adolescente. A erotização da adolescência, através dos meios
midiáticos, é um dos âmbitos da mercantilização desse mesmo período. O estímulo à
sexualidade nessas idades se torna aí extremamente problemático, pois não vem
acompanhado de conscientização e educação, mas sim de uma série de conceitos criados e
comportamentos estimulados sem nenhum compromisso com o que realmente seria saudável
para os jovens, conceitos e comportamentos geralmente orientados pelo machismo, pela
homofobia e pelo racismo velado, e para o mercado.

Você também pode gostar