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Universidade Federal do Piauí – UFPI

Programa de Pós Graduação Em Sociologia – PPGS


Disciplina – Gênero, Família e Relações de poder
Professora – Mary Alves Mendes
Fichamento do texto: O Reflexo das relações de gênero no cotidiano da
violência sexual intrafamiliar.

1. O estudo busca analisar e interpretar as relações assimétricas de poder dentro de


famílias inseridas em no contexto de violência intrafamiliar.
1.1 O objetivo do texto é discorrer como as desigualdades de gênero também
respigam nos membros tidos como vulneráveis (mulheres, idosos, crianças).
2. A pesquisa é de cunho bibliográfico e da analise de dados colhidos através do
LACRI - USP (Laboratório de estudos da Criança da Universidade de São Paulo) e
do portal de atendimento do Governo Federal.
3. A violência intrafamiliar foi apagada constantemente; as práticas de violência
física e psicológica foram vistas como legitimas no contexto ocidental, inclusive
brasileira.
3.1 A partir de um novo padrão civilizatório atos que anteriormente eram
considerados como socialmente aceitáveis passaram a ser vistos como violentos
inclusive aqueles cometidos dentro do seio familiar.
4. A partir de Prado (1989) e Ferrari (2002) as autoras remontam o conceito de
família como uma construção social histórica construída, apresenta diferentes
modelos estruturais de acordo com a época e sociedade de inserção.
4.1 As famílias a partir do século XIX foram estruturadas a partir de uma ordem e
modelo patriarcal; ou seja, aquele que concebe aos homens o direito sobre a
propriedade, sobre a esposa e consequentemente sobre os filhos.
5. Assim como outras organizações sociais, a família também apresenta
hierarquizações entre seus membros a partir de fatores sociais, culturais e
econômicos.
6. Transformação e reconstrução constante das famílias na contemporaneidade,
contrariando o modelo de “família perfeita” nuclear (pai, mãe e filhos). Mesmo que
essas transformações cheguem com mais folego agora na contemporaneidade um
numero extensos de famílias estiveram afastados do modelo nuclear anteriormente.
6.1 Apesar dos avanços e da busca de autonomia e independência no seio familiar,
ainda é possível encontrar resquícios da família moldada a partir do patriarcado nas
famílias brasileiras.
7. “ A realidade familiar no Brasil atualmente tem definido os papeis esperados de
cada membro. Responsabilidade econômica do marido, infraestrutura domestica e
afetiva pela mulher, obediência as diretivas paternas (PRADO, 1989, p.76). As
relações desiguais entre os membros de uma família continuarão cocorrendo
enquanto continuarem a ser fortificadas pela sociedade em geral, na qual segundo
Saffioti (1987) o homem branco e adulto ainda é possuidor do poder e do controle.”
(pag 5).
8. O imaginário aonde a família seria uma instituição livre de constrangimentos e de
violências ainda permeia a sociedade.
8.1 Para a autora a violência intrafamiliar pode ser definida como: “Toda ação ou
omissão que prejudique o bem estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade
e o direito de pleno desenvolvimento de outro membro da família, incluindo pessoas
que possam assumir função parental, ainda que sem laços de consanguinidade, e
em relação de poder á outro (BRASIL, 2002; pag 15).”
9. O serviço disque 100 do governo federal recebeu 195.932 denuncias de violação
dos direitos de crianças e adolescentes. Entre essas violências pode-se elencar:
- Violência Psicológica
- Negligência
- Violência física
- Violência sexual
- Trafico de crianças
- Exploração sexual
- Abuso sexual
- Pornografia infantil
9.1 No tocante a questões de gênero os casos de negligencia e violências física e
psicológicas estão praticamente empatadas entre meninos e meninas. O gráfico das
violências sexuais revelam que o corpo infanto-juvenil feminino é demasiadamente
mais explorado do que o infanto-juvenil masculino.
9.2 segundo as autoras, esses dados seriam apenas a ponta do iceberg pois um
vasto numero de casos “não submergem a superfície” devido ao tabu de se abordar
sobre temáticas de violência. Outros aspectos danosos para a ocultação dessa
violência é o “adultocentrismo” que deslegitima a fala das crianças; e a ideia
imbricada no imaginário social de que a família seria o “o melhor e mais seguro
lugar”.
10. Os dados do LACRI mostram que de 1996 – 2007 houveram 159.754 casos de
violência domestica contra crianças e adolescente , sendo que destes:
65.669 – Negligência
49.481 – Violência Física
26.590 – Violência Psicológica
532 – Vitimas Fatais
11. A violência intrafamiliar é aquela aonde “Todo ato ou omissão praticado por pais,
parentes ou responsáveis contra a criança e adolescentes – sendo capaz de causar
dano físico, sexual e/ou psicológico a vitima – implica de uma transgressão do
poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é,
uma negação do direito que crianças e adolescentes tem de serem tratados como
sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento (AZEVEDO e
GUERRA, 2002, 1A/2B – pag 12)” (pag 9).
11.2 Crianças e adolescentes podem ser vitimas de violência física, psicológica e
sexual, tendo como agressores os próprios membros familiares.
12. No caso dos filhos, a mãe sempre é vista como a principal agressora, devido a
seu maior contato com a esfera domestica.
13. A autora chama a atenção para a gravidade da violência psicológica, que apesar
de não deixar marcas físicas no corpo, mas deixa marcas invisíveis de difícil
cicatrização. O abuso psicológico, chantagem emocional como formas de legitimar
um poder através do autoritarismo e do medo.
13.1 as marcas dessa violência invisível variam de acordo com a intensidade, com
o tempo que perdura e de quem cometeu determinado ato de violência.
14. “Outro fator favorável á violência sexual contra crianças e adolescentes é o
“adultocentrismo”, isto é, a autoridade total conferida ao adulto sobre a criança, em
uma relação de desigualdade de poder, na qual o pai é considerado o mediador das
relações familiares, quem toma qualquer decisão importante e quem designa o que
deve ou não acontecer: “Nessas circunstancias, quer o pai aonde a abordagem
sedutora quer prefira a abordagem agressiva para manter relações libidinosas de
toda sorte com sua filha, tem pouquíssimas probabilidades de fracasso” (SAFFIOTI,
1989, p.60) “. (pag 17).
16. Nesse jogo de poder, aonde a principal ferramenta é a violência dinâmica quem
sai mais atingido é a criança, que acaba por sofrer agressões tanto do pai quanto da
mãe, ou de outros parentes e membros familiares próximos.
16.1 A família, continua ainda, sendo um dos principais locus de agressões
violências infanto-juvenis. Contudo, o imaginário social ainda é permeado com o
ideário de uma família nuclear que dificilmente sofreria violência.
17. As autoras fazem outra diferenciação quanto a questão das lesões sofridas no
abuso sexual intrafamiliar; as lesões orgânicas e lesões psicológicas.
17.1 Entre as lesões orgânicas as autoras destacam o ferimento vaginal, anal e
outras agressões físicas (elas inclusive citam como as duas primeiras vem
aumentando nos hospitais)
17.2 Entre as lesões psicológicas são destacados a frigidez na hora do sexo;
normatização da violência sexual; tendências a praticar violência sexual com outrem;
homossexualidade; disfunções sexuais e tendência ao sadomasoquismo (tenho
minhas ressalvas quanto a isso).
18. O chamado “adultocentrismo” aonde o adulto tem uma tamanha legitimidade e
poder que acaba desmerecendo e ocultando as violências (sobretudo a sexual pelo
tabu adicional do sexo) pela legitimidade e segurança atribuídas a família.
19. A educação infanto-juvenil é um potente mecanismo na perpetuação da cultura
machista, visto que tanto a figura paterna quanto a materna reforçam através da
educação aquilo que é esperado das crianças quando pensado na matriz de gênero.
19.1 Para que se possa compreender essas situações, é preciso analisar como se
dão as relações familiares em um contexto de violência sexual e como se definem
as relações nesse ambiente, considerando-se os papéis sociais atribuídos e a
dinâmica da família em que ocorre a violência sexual intrafamiliar (pag 18).
20. A violência intrafamiliar e as desigualdades nas forças e relações de poder no
ambiente domestico; aonde ao poder patriarcal e geracional em detrimento de outros
indivíduos.
21. 5 características de dinâmica dos membros de família aonde ocorre o abuso
sexual intrafamiliar:
“1) O afeto é vinculado de forma erotizada; 2) A comunicação não é aberta,
instalando-se um complô de silêncio cômodo ao agressor, no qual a criança vítima
se cala enquanto os demais membros se negam a enxergar a realidade; 3) O ideário
e as práticas familiares incluem como regras de ouro: respeito sem discussão à
autoridade paterna; obediência necessária dos filhos; discriminação entre papéis de
gênero, mantendo a mulher-criança como objeto do desejo masculino. 4) Há falta de
limites claros em termo internos ou intrageracionais; 5) Assume-se um
funcionamento e uma estrutura característicos: grande confusão no nível de
fronteiras intergeracionais e das identidades dos membros; uma fronteira
organizacional muito pouco permeável ao exterior; relações familiares rígidas,
estruturadas no princípio da homeostase; resistência a mudanças; organização
fundada em um segredo que persiste de geração em geração; aparente coesão
(família desunida-reunida pelo abuso); ditadura familiar (poder concentrado na figura
paterna), (...) “terror da revelação”; e terror do abandono (BRAUN, 2002, pp. 44-45).
(Pag 21)”
22. A questão do “segredo de família” como sendo um mecanismo de encobrimento
das violências ocorridas no seio familiar. Segundo as autoras o ditado “em briga de
marido e mulher não se mete a colher” ilustra com clareza a logica que permeia o
imaginário social quanto aos atritos familiares.

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