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Assédio Moral - Edwin Despinoy

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O QUE ME FIZERAM É ASSÉDIO MORAL?


O Assédio Moral pode estar roubando a sua Dignidade!

Dr. Edwin Despinoy


Advogado e Cirurgião Dentista
despinoy@gmail.com

Atuando como advogado e em constante contato com os colegas


cirurgiões dentistas, tenho me espantado com uma realidade que parece ter se
instalado no dia a dia do cirurgião dentista, assim como dos demais
profissionais de saúde, em especial dos servidores públicos, mas também
presente na área privada: o Assédio Moral. O que mais chama a atenção é
que as vítimas de Assédio Moral, tanto por desconhecerem o que seja esse
fenômeno, quanto pela grande freqüência e habitualidade de sua ocorrência,
nem mesmo sabem que estão sendo alvo dessa perigosa forma de agressão,
capaz de atingir não apenas a sua saúde psíquica, mas também física, tudo
isso com intensas repercussões negativas em sua vida profissional e familiar.

Pretendemos dar visibilidade a essa forma de violência, de maneira


a possibilitar sua identificação, e evitar os graves danos que tal prática
atentatória contra a dignidade humana, tem imposto aos cirurgiões dentistas,
médicos, enfermeiros, assim como a todas as outras categorias profissionais.

O Assédio Moral no trabalho é uma prática muito antiga, entretanto


somente nos últimos anos, vem tal fenômeno sendo estudado, no mundo todo,
de forma sistematizada pelo Direito, pela Psicologia e pela Medicina.

O que é o Assédio Moral?

Assédio Moral no trabalho é a exposição dos trabalhadores a


situações humilhantes, constrangedoras, prejudiciais, repetitivas e
prolongadas, no ambiente de trabalho ou nas relações trabalhistas. Manifesta-
se por condutas abusivas, comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos,
atitudes não éticas ou hostis, que possam atingir negativamente a vítima. Tais
comportamentos de assédio moral costumam violar as regras habitualmente
aceitas como corretas.

O Assédio Moral desperta no trabalhador um sentimento de ser


atingido em sua dignidade humana, ofendido, menosprezado, humilhado,
rebaixado, submetido, constrangido. Surge na vítima um sentimento de mágoa,
inutilidade, revolta, vergonha, indignação, raiva; desencadeia um sentimento de
dor, tristeza e sofrimento; corrói a auto-estima da vítima, e desperta o
sentimento de ter sido traída. Como resultado pode provocar depressão
psíquica, repercutir na saúde física, na vida social e familiar do assediado.

Sobrevém assim, uma desarmonia da vítima de Assédio Moral com


seu ambiente de trabalho, gerando dessa forma desejo de desistir do emprego,

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ou mesmo despertando a vontade de mudar de local de trabalho, como forma
da vítima fugir de seu assediador.

Como se manifesta o Assédio Moral

São inúmeras as formas de manifestação do Assédio Moral,


podendo, a bel-prazer do assediador, assumir diversas roupagens e variações.
Algumas formas mais diretas, outras mais sutis e dissimuladas.

O Assédio Moral pode ser identificado pela ocorrência de


reiterados episódios de pressões emocionais e manobras hostis no ambiente
de trabalho, não se restringindo à relação chefe-subordinado, mas
contaminando também o relacionamento entre colegas e demais membros
da equipe, repercutindo negativamente na produtividade, com graves danos
às relações familiar e pessoal das vítimas do assédio.

Tendo em vista o intuito de esclarecimento que reveste a presente


abordagem do tema, citaremos vários exemplos de suas modalidades, com a
intenção de facilitar na prática, a identificação dessa forma de violência social
pelo leitor.

O assediador assume repetidamente, ao longo do tempo, uma ou


mais de uma das seguintes atitudes, ou outras similares, com relação à sua
vítima ou grupo de vítimas:

• utiliza rigor excessivo;


• cerceia a liberdade profissional habitual;
• impõe sobrecarga de trabalho;
• não proporciona as devidas condições de segurança aos trabalhadores;
• induz a vítima ao erro;
• abusa de poder;
• omite-se em resolver o problema, ou estimula a prática de condutas ou
métodos perversos;
• impede o gozo dos legítimos direitos do trabalhador;
• exige tarefas impossíveis, ou em espaço de tempo muito curto (p.ex.
exigir marcação/atendimento de número de pacientes em quantidade
superior à tecnicamente adequada);
• exige tarefas fora do horário de trabalho;
• impõe horários de trabalho fora dos limites da razoabilidade;
• exige o desempenho de tarefas alheias às funções do profissional;
• desqualifica o profissional;
• compara duas ou mais categorias profissionais, apontando ou
insinuando desvalor de uma em relação à outra;
• submete o profissional a críticas negativas e isolamento;
• obriga à realização de autocrítica em reuniões de trabalho;
• explora as fragilidades psíquicas ou físicas da sua vítima;
• exposição do profissional ou da categoria profissional ao ridículo;
• divulga doenças e problemas pessoais da vítima;
• impõe limitação ao direito de gozar de licença médica por motivo de
doença, licença maternidade, ou de outra condição prevista em norma
própria;
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• impede afastamentos do trabalho nos casos de previsão legal;
• impõe indevidamente, à vítima, perda de qualquer natureza (perda
salarial, desconto em férias, perda de direitos em geral, perda do
emprego), em caso de afastamento do trabalho por motivo de doença ou
qualquer outro motivo legítimo ou lícito para tal afastamento ou
ausência;
• nega a concessão de direitos legalmente estabelecidos, como vales
transporte, vales refeição, e outros benefícios para os quais além da
previsão legal, o trabalhador tenha cumprido os requisitos;
• nega receber requerimento/petição de servidor público solicitando
concessão de direitos (o direito de petição é estabelecido pela
Constituição Federal como direito fundamental, no art. 5º, inc. XXIV,a);
• pratica gestos, gritos, condutas abusivas e constrangedoras, humilha
repetidamente, inferioriza, amedronta, menospreza ou despreza, ironiza,
difama, ridiculariza - risinhos, suspiros, comentários inconvenientes –,
faz piadas jocosas relacionadas ao sexo ou a qualquer condição da
vítima;
• é indiferente à presença do outro, estigmatiza os adoecidos, coloca-os
em situações vexatórias, fala baixinho acerca da pessoa, olha e finge
que não vê ou ignora sua presença, ri daquele que apresenta
dificuldades, não cumprimenta, sugere que peça demissão, dá tarefas
inúteis, sem sentido, ou que jamais serão utilizadas ou mesmo irão para
o lixo, tarefas degradantes, dá tarefas através de terceiros ou coloca em
sua mesa sem avisar, impõe desnecessariamente inúmeras tarefas
urgentes, controla o tempo de idas ao banheiro, torna público algo íntimo
do subordinado, não dá explicações sobre atos que pareçam pouco
razoáveis, não responde às perguntas;
• não contempla a vítima com os mesmos benefícios ou vantagens
deferidos aos demais da mesma qualificação profissional;
• obriga o trabalhador-vítima a desempenhar as atividades do colega que
está de férias, ausente ou de licença, além de todas as suas atividades,
de forma a causar-lhe uma prejudicial sobrecarga de trabalho;
• submete a vítima à vigilância constrangedora, principalmente (mas não
exclusivamente), quando para essa vigilância se utiliza de pessoa de
posição hierárquica abaixo da vítima, ou mesmo subordinada a ela;
• sonega informações de forma insistente;
• ignora ou exclui um funcionário só se dirigindo a ele através de terceiros;
• espalha rumores maliciosos, ou criticas com persistência;
• toma o crédito das idéias de outros;
• subestima esforços;
• atribui erros imaginários à sua vítima;
• coloca a vítima para trabalhar em local, ou condição, inferior;
• obriga a vítima a desempenhar tarefas de menor importância, ou
próprias de outra categoria profissional, que seja técnica ou
hierarquicamente abaixo da sua. São tarefas incompatíveis com
qualificação técnica ou profissional da vítima.
• condena a vítima à mais humilhante ociosidade;
• obriga à vítima a trabalhar sem auxiliar, quando a profissão ou atividade
da mesma pressupõe a presença desse auxiliar;
• comporta-se de forma arrogante, hostil, perseguindo subordinado,
impondo condições e regras de trabalho personalizadas;
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• expõe desnecessária e reiteradamente o trabalhador a riscos de saúde,
ou os aumenta, principalmente em razão de ato intencional ou de
negligência/omissão consciente, por parte de superior hierárquico, ou
mesmo colega;
• priva freqüentemente o trabalhador dos insumos e equipamentos
necessários ao adequado desempenho de suas atividades laborais, ou
mesmo disponibiliza insumos inadequados ou insuficientes, assim como
equipamentos e materiais em más condições de funcionamento, sem a
devida manutenção, pondo em risco o trabalhador, as atividades do
trabalhador, ou as atividades pelas quais ele é responsável. Tudo isso
de forma repetitiva e ao longo do tempo. (certamente, em caso de erro
profissional decorrente das más condições de trabalho, o profissional-
vítima, não contará com o respaldo ou apoio do assediador, para sua
defesa em processo judicial ou administrativo - estará sozinho).

Assédio Moral, Saúde e Direito

Somente se configura Assédio Moral quando essas condutas do


assediador se repetem ao longo do tempo, contudo, em qualquer caso, pelos
danos que tais atitudes podem gerar ao trabalhador, o mesmo está protegido
pelo Direito, com base na legislação pertinente, como veremos adiante.

Inicialmente o assédio parece ser inofensivo e propaga-se


insidiosamente. No início a vítima, como forma de defesa, não quer se mostrar
ofendida e leva a situação na brincadeira. Isso conduz à repetição dos ataques,
ficando a vítima cada vez mais acuada, inferiorizada e hostilizada, frente às
constantes agressões. Os males destes constrangimentos refletem-se na
saúde de grande parte dos trabalhadores, que se dizem nervosos, tensos ou
preocupados e sofrem com o cansaço, a tristeza, insônia e dores de cabeça.
Têm sido freqüentes os casos de depressão, por vezes seguida de suicídio.
Diversas outras doenças podem decorrer direta ou indiretamente dessa forma
de agressão, como é bem conhecido da medicina psicossomática.

Não se deve esquecer que a saúde é um estado de bem-estar bio-


psico-social, conforme já definido pela O.M.S. (Organização Mundial de
Saúde), não se podendo conceber como tolerável qualquer forma de Assédio
Moral praticado contra o trabalhador da saúde, especialmente aquele praticado
por um servidor público contra outro servidor público da saúde, como vem se
tornando freqüente. A Constituição Federal é clara quando diz:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
(grifo nosso)

É a própria Constituição Federal assegura a todos o direito à saúde,


e ao mesmo tempo impõe ao Estado (sentido amplo, compreendendo as
esferas federal, estadual e municipal), o dever promover a “redução do risco de
doença e de outros agravos”, além de focar a promoção e proteção da saúde.
Assim sendo não se pode admitir que servidores públicos, de quaisquer níveis
hierárquicos, que são os responsáveis diretos pelo cumprimento do que
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determina a Constituição Federal, sejam eles próprios os que em
desobediência à Carta Magna, e contrariamente ao dever que lhes é imposto
pela Lei Maior, agridam o direito à saúde, dos próprios trabalhadores da saúde,
através do Assédio Moral. Deveriam os servidores públicos dos diversos níveis
hierárquicos, serem os primeiros a respeitar o direito à saúde de todos, dentre
eles o direito à saúde dos próprios trabalhadores da saúde.

A nossa Carta Magna trata da saúde exaustivamente ao longo de


seu texto, e em especial da saúde do trabalhador, como responsabilidade do
Sistema Único de Saúde.

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras


atribuições, nos termos da lei:
[...]
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador;
(grifo nosso)

O Código Civil Brasileiro, por outro lado, dispõe em seu artigo 186:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao


exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico
ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
(grifo nosso)

Assédio moral, por consistir na prática de conduta degradante do


ambiente de trabalho, atinge a vítima em sua dignidade humana, que sofre,
portanto, um dano moral decorrente, na forma da lei, de um ato ilícito. A
Constituição Federal no artigo 1º adota como seu fundamento a dignidade da
pessoa humana:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana;
(grifo nosso)

O código Civil Brasileiro reza que:

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são


civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade
causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores
do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
(grifo nosso)

O que significa que a vítima de Assédio Moral tem direito a ser


indenizada pelos danos (moral e material), causados por essa forma de
violência. No caso do de ter sido praticado Assédio Moral por um servidor
público (agente público), contra outro servidor público, o respectivo ente público
federal, estadual ou municipal deverá indenizar a vítima, podendo
responsabilizar o servidor assediador (direito regressivo), pela indenização à
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vítima do Assédio Moral. Além de responsável pela indenização cabível,
poderá também, o servidor assediador, responder a processo administrativo, e
ser punido administrativamente pela prática de tal violência.

A Constituição Federal, em seu art. 5º, assegura a reparação da


ofensa ao patrimônio moral da pessoa:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
(grifo nosso)

O Código Civil Brasileiro determina que:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.

A reparação do dano é feita por indenização em dinheiro à vítima, e


geralmente só é obtida mediante ação judicial.

Ultimamente, as pessoas têm se conscientizado mais sobre seus


direitos e buscado no Judiciário a reparação dos danos decorrentes do Assédio
Moral. No Brasil, a exemplo de outros paises, o número de condenações nas
ações judiciais motivadas pelo Assédio Moral tem crescido em ritmo intenso.

A repercussão dessa forma de violência social no trabalho é enorme,


pois atinge não apenas a vítima, mas causa reflexos na sua própria família.
Ultrapassa os limites do ambiente de trabalho, repercutindo na vida privada do
assediado, na sua saúde, na auto-estima, na produtividade, deixando um
verdadeiro rastro de destruição na história de vida da vítima. A perversidade do
Assédio Moral se deve principalmente ao fato de ocorrer de forma insidiosa, a
ponto de nem mesmo sua vítima ter certeza se o que sofreu é mesmo Assédio
Moral. Somente após conhecer o que é Assédio Moral, e quando os resultados
dessa agressão já assumiram enormes proporções, é que a vítima descobre ter
sofrido esse tipo de violência.

O esclarecimento é o meio mais eficiente de defesa frente a essa


forma perversa de aviltamento da dignidade humana no trabalho do
Profissional de Saúde.

* Comentários, identificados com nome completo e telefone, citando no “assunto” ASSÉDIO


MORAL, podem ser dirigidos para o e-mail:
despinoy@gmail.com

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