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TABELA DE CONTEÚDOS

aviso – bwc
NOTA DA AUTORA
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Agradecimentos
Glossário
MOMENTOS DE MÚSICA
PLAYLIST PARA SHANNON
Playlist para Johnny
AVISO – BWC

Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s Cafe. Nosso


grupo não possui fins lucrativos, sendo este um trabalho voluntário e não
remunerado. Traduzimos livros com o objetivo de acessibilizar a leitura para
aqueles que não sabem ler em inglês.
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construtiva e sem desrespeitar o trabalho da nossa equipe.
NOTA DA AUTORA

Binding 13 é a primeira parte de uma nova série, seguindo a vida de um


grupo de personagens recém-chegados do sul da Irlanda. Espero que você
goste de ler sobre esses personagens tanto quanto eu gostei de escrevê-los.

Esse é o começo.

Obrigada por ler.

Chloe. xoxo
Eu gostaria de dedicar Binding 13 a qualquer um que já teve um sonho que
se atreveu a perseguir com fome insaciável.
Esta história é para você.
1

ALTAS EXPECTATIVAS

SHANNON

Era dia 10 de janeiro de 2005.


Um ano novo e o primeiro dia de volta às aulas depois das férias de Natal.
E eu estava nervosa – tão nervosa, na verdade, que vomitei nada menos
que três vezes nesta manhã.
Meu pulso estava batendo em um ritmo preocupante; minha ansiedade é a
culpada pelo meu batimento cardíaco errático, para não mencionar ser a
causa do meu reflexo faríngeo me abandonar.
Alisando meu novo uniforme escolar, olho para meu reflexo no espelho
do banheiro e mal me reconheço.
Suéter marinho com o emblema da Tommen College no peito com camisa
branca e gravata vermelha. Saia cinza que terminava no joelho, revelando
duas pernas esqueléticas e subdesenvolvidas, e terminando com uma meia-
calça bege, meias azul-marinhas e sapatos pretos de cinco centímetros.
Eu parecia uma impostora.
Eu me sentia como uma, também.
Meu único consolo foi que os sapatos que mamãe me comprou me
trouxeram até a altura dos 1,58m. Eu era ridiculamente pequena para minha
idade em todos os sentidos.
Eu era magra ao extremo, subdesenvolvida com ovos fritos no lugar dos
seios, claramente intocada pelo boom da puberdade que atingiu todas as
outras garotas da minha idade.
Meu longo cabelo castanho estava solto e fluindo no meio das minhas
costas, empurrado para trás do meu rosto com uma faixa vermelha e simples
de cabelo. Meu rosto estava livre de maquiagem, me fazendo parecer tão
jovem e pequena quanto me sentia. Meus olhos eram grandes demais para o
meu rosto e um tom chocante de azul para iniciar.
Eu tento apertar os olhos, vendo se isso fazia meus olhos parecerem mais
humanos, e faço um esforço consciente para afinar meus lábios inchados,
puxando-os em minha boca.
Nope.
Apertar os olhos só me fez parecer incapacitada – e um pouco constipada.
Exalando um suspiro frustrado, toco minhas bochechas com as pontas dos
dedos e exalo uma respiração irregular.
O que me faltava nos departamentos de altura e seios, gostava de pensar
que compensava na maturidade. Eu era sensata e tinha uma alma velha.
A vovó Murphy sempre dizia que eu nasci com uma cabeça velha acima
dos ombros.
Era verdade até certo ponto.
Eu nunca fui do tipo que se incomodava com garotos ou modinhas.
Simplesmente não estava em mim.
Certa vez li em algum lugar que amadurecemos com danos, não com os
anos.
Se for esse o caso, eu era uma aposentada por velhice nas questões
emocionais.
Muitas vezes eu me preocupei por não funcionar como as outras garotas.
Eu não tinha os mesmos impulsos ou interesse pelo sexo oposto. Eu não
tinha interesse em ninguém: meninos, meninas, atores famosos, modelos
gostosos, palhaços, filhotes... Bem, tudo bem, eu tinha interesse em
filhotinhos fofos e cachorros grandes e fofos, mas o resto, eu podia pegar ou
largar.
Eu não tinha interesse em beijar, tocar ou em carícias de qualquer tipo. Eu
não podia suportar o pensamento disso. Suponho que assistir à tempestade
de merda que foi o relacionamento dos meus pais se desfazendo me afastou
da perspectiva de me unir a outro ser humano para a vida. Se o
relacionamento dos meus pais era uma representação do amor, então eu não
queria fazer parte disso.
Eu preferia ficar sozinha.
Balançando a cabeça para clarear meus pensamentos estrondosos antes
que eles escurecessem a ponto de não ter retorno, olho para meu reflexo no
espelho e me forço a praticar algo que raramente fazia hoje em dia: sorrir.
Respirações profundas, eu digo a mim mesma. Este é o seu novo começo.
Abrindo a torneira, lavo as mãos e jogo um pouco de água no rosto,
desesperada para esfriar a ansiedade que queimava dentro do meu corpo, a
perspectiva do meu primeiro dia em uma nova escola era uma ideia
assustadora.
Qualquer escola tinha que ser melhor que a que eu estava deixando para
trás. O pensamento entra em minha mente e eu me encolho de vergonha.
Escolas, penso com desânimo, no plural.
Eu sofri um bullying incessante durante os anos de ensino fundamental, I
e II.
Por alguma razão desconhecida e cruel, eu fui alvo das frustrações de
todas as crianças desde a tenra idade de quatro anos.
A maioria das garotas da minha classe decidiram no primeiro dia do
ensino fundamental que elas não gostavam de mim e que eu não deveria ser
associada a elas. E os meninos, embora não tão sádicos em seus ataques, não
eram muito melhores.
Não fazia sentido porque eu me dava muito bem com as outras crianças da
nossa rua e nunca briguei com ninguém da propriedade em que morávamos.
Mas na escola?
A escola era como o sétimo círculo do inferno para mim, todos os nove –
em vez dos oito anos regulares – anos do fundamental foram uma tortura.
O primeiro ano do ensino fundamental foi tão angustiante para mim que
tanto minha mãe quanto a professora decidiram que seria melhor me segurar
para que eu pudesse repetir o ano com uma nova classe. Mesmo que eu fosse
tão infeliz na minha nova turma, fiz duas amigas próximas, Claire e Lizzie,
cuja amizade tornou a escola suportável para mim.
Quando chegou a hora de escolher uma escola para o ensino fundamental
II em nosso último ano do primário, percebi que era muito diferente das
minhas amigas.
Claire e Lizzie deveriam frequentar a Tommen College no próximo mês
de setembro; uma luxuosa escola particular de elite, com financiamento
maciço e instalações de primeira linha – provenientes dos envelopes marrons
de pais ricos que estavam empenhados em garantir que seus filhos
recebessem a melhor educação que o dinheiro pudesse comprar.
Enquanto isso, eu fui matriculada na escola pública local, superlotada, no
centro da cidade.
Ainda me lembrava da sensação horrível de estar separada das minhas
amigas.
Eu estava tão desesperada para me livrar dos valentões que até implorei
para mamãe me mandar para Beara para morar com sua irmã, tia Alice, e sua
família para que eu pudesse terminar meus estudos.
Não havia palavras para descrever a sensação de devastação que tomou
conta de mim quando meu pai bateu o pé para eu não ir morar com tia Alice.
Mamãe me amava, mas era fraca e cansada e não resistiu quando papai
insistiu que eu frequentasse a Escola Comunitária Ballylaggin.
Depois disso, piorou.
Mais cruel.
Mais violento.
Mais físico.
No primeiro mês do primeiro ano, fui perseguida por vários grupos de
meninos, todos exigindo coisas de mim que eu não estava disposta a dar.
Depois disso, fui rotulada de frígida porque não me dava bem com os
mesmos garotos que fizeram da minha vida um inferno por anos.
Os mais malvados me rotularam de “travesti”, sugerindo que a razão pela
qual eu era tão frígida era porque eu tinha partes de menino debaixo da
minha saia.
Por mais cruéis que os meninos fossem, as meninas eram muito mais
criativas.
E muito piores.
Elas espalharam rumores maldosos sobre mim, sugerindo que eu era
anoréxica e jogava meu almoço no vaso sanitário depois do almoço todos os
dias.
Eu não era anoréxica – ou bulímica, a propósito.
Eu ficava petrificada quando estava na escola e não suportava comer nada
porque quando vomitava, o que era um evento frequente, era uma resposta
direta ao peso insuportável do estresse que eu estava sofrendo. Eu também
era pequena para minha idade; baixinha, pouco desenvolvida e magra, o que
não ajudou a minha causa para afastar os rumores.
Quando fiz quinze anos e ainda não tinha menstruado, minha mãe marcou
uma consulta com o clínico geral. Vários exames de sangue e exames
depois, e nosso médico da família garantiu tanto a minha mãe quanto a mim
que eu estava saudável e era comum algumas meninas se desenvolverem
mais tarde do que outras.
Quase um ano se passou desde então e, além de um ciclo irregular no
verão que durou menos de meio dia, eu ainda não tinha um período
menstrual adequado.
Para ser honesta, eu tinha desistido de fazer meu corpo funcionar como
uma garota normal quando eu claramente não era.
Meu médico também encorajou minha mãe a avaliar meu arranjo escolar,
sugerindo que o estresse que eu estava passando na escola poderia ser um
fator contribuinte para minha óbvia proeza física no desenvolvimento.
Depois de uma discussão acalorada entre meus pais, onde minha mãe
havia ficado do meu lado, fui mandada de volta à escola, onde fui submetida
a um tormento implacável.
A crueldade deles variou de xingamentos e disseminação de rumores, até
colocar absorventes nas minhas costas, e até me agredir fisicamente.
Certa vez, na aula de Economia Doméstica, algumas das garotas no banco
atrás de mim cortaram um pedaço do meu rabo de cavalo com uma tesoura
de cozinha e depois acenaram como um troféu.
Todos riram e acho que naquele momento, eu odiei os que riam da minha
dor mais do que os que a causavam.
Outra vez, durante a educação física, as mesmas garotas tiraram uma foto
minha de calcinha com um de seus telefones com câmera e a encaminharam
para todos em nosso ano. O diretor reprimiu rapidamente e suspendeu quem
era o dono do telefone, mas não antes de metade da escola ter dado boas
risadas às minhas custas.
Me lembro de chorar tanto naquele dia, não na frente delas, é claro, mas
nos banheiros. Eu tinha me trancado em um cubículo e pensado em acabar
com tudo. Pensado em apenas tomar um monte de comprimidos e acabar
com a coisa toda.
A vida, para mim, era uma amarga decepção e, na época, eu não queria
mais participar dela.
Eu não fiz isso porque eu era muito covarde.
Eu estava com muito medo de não funcionar e acordar e ter que enfrentar
as consequências.
Eu era uma bagunça do caralho.
Meu irmão, Joey, disse que eles me atacaram porque eu era bonita e
chamava minhas torturadoras de vadias invejosas. Ele me disse que eu era
linda e me instruiu a superar isso.
Era mais fácil falar do que fazer – e eu também não estava tão confiante
sobre essa declaração de eu ser linda.
Muitas das garotas que me atacavam eram as mesmas que vinham me
intimidando desde o jardim de infância.
Eu duvidava que a aparência tivesse algo a ver com isso naquela época.
Eu era apenas detestável.
Além disso, por mais que tentasse estar lá para mim e defender minha
honra, Joey não entendia como a vida escolar era para mim.
Meu irmão mais velho era o oposto de mim em todas as formas da
palavra.
Onde eu era baixa, ele era alto. Eu tinha olhos azuis, ele tinha olhos
verdes. Eu tinha cabelos escuros, ele era loiro. Sua pele era bronzeada,
beijada pelo sol. Eu era pálida. Ele era sincero e barulhento, enquanto eu era
quieta e reservada.
O maior contraste entre nós era que meu irmão era adorado por todos na
Ballylaggin Community School, também conhecida como BCS, a escola
fundamental pública local que ambos frequentávamos.
É claro que conseguir uma vaga no time menor de hurling, Cork, ajudou o
status de popularidade de Joey ao longo do caminho, mas mesmo sem os
esportes, ele era um cara legal.
E sendo o grande cara que era, Joey tentou me proteger de tudo, mas era
uma tarefa impossível para um cara.
Joey e eu tínhamos um irmão mais velho, Darren, e três irmãos mais
novos: Tadhg, Ollie e Sean, mas nenhum de nós tinha falado com Darren
desde que ele saiu de casa cinco anos atrás, depois de mais uma briga infame
com nosso pai. Tadhg e Ollie, que tinham onze e nove anos, estavam apenas
na escola primária, e Sean, que tinha três anos, mal tinha acabado de usar
fraldas, então eu não estava exatamente cheia de protetores para chamar.
Era em dias assim que eu sentia falta do meu irmão mais velho.
Aos vinte e três anos, Darren era sete anos mais velho que eu. Grande e
destemido, ele era o melhor irmão mais velho para uma garotinha que está
crescendo.
Desde criança, eu adorava o chão por onde ele andava; andando atrás dele
e de seus amigos, acompanhando-o aonde quer que fosse. Ele sempre me
protegeu, levando a culpa em casa quando eu fazia algo errado.
Não foi fácil para ele, e sendo muito mais jovem do que ele, eu não tinha
entendido toda a extensão de sua batalha. Mamãe e papai estavam se vendo
há apenas alguns meses quando ela engravidou de Darren aos quinze anos.
Rotulado como bebê bastardo porque nasceu fora do casamento na Irlanda
católica dos anos 80, a vida sempre foi um desafio para meu irmão. Depois
que ele completou onze anos, tudo ficou muito pior para ele.
Como Joey, Darren era um arremessador fenomenal e, como eu, nosso pai
o desprezava. Ele estava sempre encontrando algo errado em Darren, fosse
seu cabelo ou sua caligrafia, ou seu desempenho em campo ou sua escolha
de companheiro.
Darren é gay e nosso pai não consegue lidar com isso.
Ele culpou a orientação sexual do meu irmão por causa de um incidente
no passado, e nada que alguém dissesse poderia fazer com que nosso pai
entendesse que ser gay não era uma escolha.
Darren nasceu gay, da mesma forma que Joey nasceu hetero e eu nasci
vazia.
Ele era quem ele era e partiu meu coração que ele não foi aceito em sua
própria casa.
Viver com um pai homofóbico era uma tortura para meu irmão.
Eu odiava papai por isso, mais do que o odiava por todas as outras coisas
terríveis que ele tinha feito ao longo dos anos.
A intolerância de meu pai e o comportamento discriminatório descarado
em relação ao próprio filho era de longe o mais vil de seus traços.
Quando Darren tirou um ano de folga do hurling para se concentrar em
suas provas finais, nosso pai perdeu as estribeiras. Meses de discussões
acaloradas e brigas físicas resultaram em um grande golpe onde Darren
arrumou suas malas, saiu pela porta e nunca mais voltou.
Cinco anos se passaram desde aquela noite e, além do cartão de Natal
anual por correio, nenhum de nós o tinha visto ou ouvido falar dele.
Nós nem sequer tínhamos um número de telefone ou endereço para ele.
Ele praticamente desapareceu.
Depois disso, toda a pressão que nosso pai colocou em Darren foi
transferida para os meninos mais novos – que eram, aos olhos de nosso pai,
seus filhos normais.
Quando ele não estava no bar ou nas casas de apostas, nosso pai estava
arrastando os meninos para os treinos e jogos.
Ele concentrou toda a sua atenção neles.
Eu não tinha utilidade para ele, por ser uma garota e tudo mais.
Eu não era boa com esportes e não me destacava na escola ou em qualquer
atividade de clube.
Aos olhos do meu pai, eu era apenas uma boca para alimentar até os
dezoito anos.
Isso não é algo que eu tenha inventado também. Papai me disse isso em
inúmeras ocasiões.
Depois da quinta ou sexta vez, fiquei imune às palavras.
Ele não tinha interesse em mim, e eu não tinha interesse em tentar
corresponder a alguma expectativa irracional dele. Eu nunca seria um
menino, e não adiantava tentar agradar a um homem cuja mente estava nos
anos cinquenta.
Há muito me cansei de implorar por amor de um homem que, em suas
próprias palavras, nunca me quis.
A pressão que ele colocava em Joey me preocupa, porém, e essa era a
razão pela qual eu sentia tanta culpa toda vez que ele tinha que vir em meu
auxílio.
Ele estava no sexto ano, seu último ano do ensino médio, e tinha suas
próprias coisas acontecendo: com GAA, seu trabalho de meio período no
posto de gasolina, as provas finais e sua namorada, Aoife.
Eu sei que quando eu me machuco, Joey também se machuca. Eu não
queria ser um fardo em suas costas, alguém que ele estava constantemente
tendo que cuidar, mas era assim desde que eu conseguia me lembrar.
Para ser honesta, eu não aguentava olhar a decepção nos olhos do meu
irmão por mais um minuto naquela escola. Passando por ele nos corredores,
sabendo que quando ele olha para mim, sua expressão cedia.
Para ser justa, os professores da BCS tentaram me proteger do
linchamento, e a orientadora da BCS, Sra. Falvy, até organizou sessões
quinzenais de aconselhamento com um psicólogo da escola durante o
segundo ano até que o financiamento foi cortado.
Mamãe conseguiu juntar o dinheiro para eu ver um psicólogo particular,
mas por €80 por sessão, e tendo que censurar meus pensamentos a pedido de
minha mãe, eu só a vi cinco vezes antes de mentir para minha mãe e dizer a
ela que eu me senti melhor.
Eu não me sinto melhor.
Eu nunca me senti melhor.
Eu simplesmente não podia suportar ver minha mãe nessa batalha.
Eu desprezava ser um fardo financeiro para ela, então eu aguentei, abri um
sorriso e continuei a caminhar para o inferno todos os dias.
Mas o bullying nunca parou.
Nada parou.
Até que um dia, parou.
Na semana anterior às férias de Natal do mês passado – apenas três
semanas depois de um incidente semelhante com o mesmo grupo de meninas
– eu tinha voltado para casa em lágrimas, com meu suéter da escola rasgado
na frente e meu nariz entupido com papel de seda que peguei do meu
esconderijo para estancar o sangramento que ganhei nas mãos de um grupo
de meninas do quinto ano, que sugeriram com veemência que eu tinha
tentado ficar com um de seus namorados.
Era uma mentira descarada, considerando que eu nunca pus os olhos no
garoto que elas me acusaram de tentar seduzir, e mais uma mentira na longa
fila de desculpas patéticas para me bater.
Foi nesse dia que parei.
Eu parei de mentir.
Parei de fingir.
Eu apenas parei.
Aquele dia não foi apenas o meu ponto de ruptura, foi o de Joey também.
Ele me seguiu para dentro de casa com uma semana de suspensão por ter
espancado o irmão de Ciara Maloney, minha principal torturadora.
Nossa mãe deu uma olhada em mim e me tirou da escola.
Indo contra a vontade do meu pai, que achava que eu precisava me
fortalecer, minha mãe foi à empresa de crédito local e fez um empréstimo
para pagar as taxas de admissão do Tommen College, a escola secundária
particular, paga, localizada 24 quilômetros ao norte de Ballylaggin.
Enquanto eu me preocupava com minha mãe, eu sabia que se eu tivesse
que passar pelas portas daquela escola mais uma vez, eu não voltaria.
Eu tinha atingido meu limite.
A perspectiva de uma vida melhor, uma vida mais feliz, estava pendurada
na minha cara e eu a agarrei com as duas mãos.
E mesmo que eu temesse a reação das crianças do meu condomínio por
frequentar uma escola particular, eu sabia que não poderia ser pior do que a
merda que eu tinha sofrido na escola que eu estava deixando para trás.
Além disso, Claire Biggs e Lizzie Young, as duas garotas de quem eu fui
amiga no jardim de infância, estariam na minha turma na Tommen College –
o diretor, Sr. Twomey, me garantiu isso quando minha mãe e eu encontramos
com ele durante as férias de Natal para me matricular.
Tanto mamãe quanto Joey me encorajaram com apoio incansável, com
mamãe fazendo turnos extras de limpeza no hospital para pagar meus livros
e o novo uniforme, que incluía um blazer.
Antes de Tommen College, os únicos blazers que eu já tinha visto eram os
que os homens usavam na missa de domingo, nunca em adolescentes, e
agora faria parte do meu guarda-roupa diário.
Deixar a escola secundária local no meio do meu primeiro ano – um
importante ano de exames – causou uma enorme divisão em nossa família,
com meu pai furioso por estar gastando milhares de euros em uma educação
que era gratuita na escola pública próxima.
Quando tentei explicar ao meu pai que a escola não era tão fácil para mim
quanto era para seu precioso filho estrela do GAA, ele me calou, recusando-
se a me ouvir, e me deixando saber em termos inequívocos que ele iria não
me apoiaria em uma escola preparatória de rúgbi glorificada com um bando
de palhaços arrogantes e privilegiados.
Eu ainda conseguia me lembrar das palavras “Saia de cima do seu cavalo,
garota" e "Você está longe de ser criada no rúgbi e nas escolas
preparatórias", para não mencionar a minha favorita, "Você nunca vai se
encaixar com essas vadias", saindo direto da boca do meu pai.
Eu queria gritar com ele que “você não vai pagar por isso!”, já que meu
pai não trabalhou um dia desde que eu tinha sete anos, e cuidar da família
era deixado para minha mãe, mas eu valorizava demais minha capacidade de
andar.
Meu pai não entendia, mas, novamente, eu tinha a sensação de que o
homem nunca tinha sido submetido ao bullying um dia em toda a sua vida.
Se havia bullying a ser feito, era Teddy Lynch quem o fazia.
Deus sabe que ele intimidou mamãe o suficiente.
Por causa da indignação do meu pai com a minha escola, eu passei a
maior parte das minhas férias de inverno escondida no meu quarto e
tentando ficar fora do seu caminho.
Sendo a única menina em uma família com cinco irmãos, eu tinha meu
próprio quarto. Joey também tinha seu próprio quarto, embora o dele fosse
muito maior que o meu, dividindo-o com Darren até ele se mudar. Tadhg e
Ollie dividiam outro quarto maior, com Sean e meus pais ficando no maior
dos quartos.
Mesmo sendo apenas uma caixa na frente da casa, com quase nenhum
espaço para caber um gato, aprecio a privacidade que a porta do meu próprio
quarto – com fechadura – me dava.
Ao contrário dos quatro quartos do andar de cima, nossa casa era
minúscula, com sala de estar, cozinha e um banheiro para toda a família. Era
uma casa de dois andares, situada à beira de Elk's Terrace, a maior
propriedade do conselho em Ballylaggin.
A área era áspera e cheia de criminalidade e eu evitava tudo isso me
escondendo no meu quarto.
Meu minúsculo quarto era meu santuário em uma casa – e rua – cheia de
agitação e loucura, mas eu sabia que não duraria para sempre.
Minha privacidade estava com tempo emprestado porque mamãe estava
grávida de novo.
Se ela tivesse uma menina, eu perderia meu santuário.
— Shan! — Batidas explodem do outro lado da porta do banheiro, me
arrastando dos meus pensamentos impermeáveis. — Se apresse, por favor!
Estou explodindo de vontade de mijar.
— Dois minutos, Joey — eu falo alto de volta, então continuo minha
avaliação da minha aparência. — Você pode fazer isso — eu sussurro para
mim mesma. — Você absolutamente pode fazer isso, Shannon.
As batidas recomeçam, então eu rapidamente seco minhas mãos na toalha
pendurada na prateleira e destranco a porta, os olhos pousando no meu irmão
que estava de pé em nada além de uma cueca boxer preta, coçando o peito.
Seus olhos se arregalaram quando ele vê minha aparência, a expressão
sonolenta em seu rosto se tornando alerta e surpresa. Ele estava ostentando
um olho roxo da partida de hurling que ele jogou no fim de semana, mas não
parecia preocupar um fio de cabelo de sua bela cabeça.
— Você parece... — A voz do meu irmão some quando ele me dá aquela
avaliação fraternal. Eu me preparo para as piadas que ele inevitavelmente
faria às minhas custas, mas elas nunca vem. — Adorável — ele disse em vez
disso, olhos verdes pálidos quentes e cheios de preocupação silenciosa. — O
uniforme combina com você, Shan.
— Você acha que vai ficar tudo bem? — Eu mantenho minha voz baixa
para não acordar o resto da nossa família.
Mamãe tinha trabalhado em turno duplo ontem e ela e papai estavam
dormindo. Eu podia ouvir o ronco alto do meu pai vindo de trás da porta
fechada do quarto, e os meninos mais novos teriam que ser arrastados de
seus colchões mais tarde para a escola.
Como de costume, éramos apenas Joey e eu.
Os dois amigos.
— Você acha que eu vou me encaixar, Joey? — Eu pergunto, expressando
minhas preocupações em voz alta. Eu poderia fazer isso com Joey. Ele era o
único em nossa família com quem eu sentia que podia conversar e confiar.
Olho para o meu uniforme e dou os ombros, impotente.
Seus olhos ardem de uma emoção silenciosa enquanto ele olha para mim,
e eu sabia que ele estava acordado tão cedo não porque ele estava
desesperado para usar o banheiro, mas porque ele queria se despedir de mim
no meu primeiro dia.
Era 6h15 da manhã.
Assim como o Tommen College, o BCS só começava às 9h05, mas eu
tinha um ônibus para pegar e o único que passava pela área era às 6h45.
Era a primeira corrida de ônibus do dia saindo de Ballylaggin, mas era a
única que passava pela escola a tempo. Mamãe trabalhava quase todas as
manhãs e papai ainda se recusava a me levar.
Quando perguntei ao papai sobre me levar para a escola ontem à noite, ele
me disse que se eu descesse do meu cavalo e voltasse para a Ballylaggin
Community School como Joey e todas as outras crianças da nossa rua, não
precisaria de carona para a escola.
— Estou tão orgulhoso de você, Shan — Joey diz em uma voz cheia de
emoção. — Você nem percebe o quão corajosa você é. — Limpando a
garganta algumas vezes, ele acrescenta: — Espere um pouco… eu tenho
algo para você. — Com isso, ele caminha pelo estreito corredor e entra em
seu quarto, retornando menos de um minuto depois. — Aqui — ele
murmura, colocando algumas notas de €5 na minha mão.
— Joey, não! — Eu imediatamente rejeito a ideia de pegar seu dinheiro
suado. Ele não ganhava muito no posto de gasolina para começar, e era
difícil conseguir dinheiro em nossa família, então tirar dez euros do meu
irmão era inimaginável. — Não posso...
— Pegue o dinheiro, Shannon. É apenas dez euros — ele fala, me dando
uma expressão séria. — Eu sei que a vovó te deu o dinheiro do ônibus, mas é
só para ter alguma coisa no bolso. Não sei como a merda funciona naquele
lugar, mas não quero que você vá lá sem uma grana.
Engulo o pedaço de emoção lutando para subir pela minha garganta e
empurro para fora:
— Você tem certeza?
Joey assente, então me puxa para um abraço.
— Você vai ser grande — ele sussurrou em meu ouvido, me abraçando tão
forte que eu não tinha certeza de quem ele estava tentando me convencer ou
consolar. — Se alguém lhe der um pouco de merda, você me manda uma
mensagem e eu vou até lá e incendio essa porra da escola e todos os fodidos
jogadores de rúgbi que estão nela.
Esse era um pensamento preocupante.
— Vai ficar tudo bem — eu digo, desta vez colocando um pouco de força
na minha voz, precisando acreditar nas palavras. — Mas vou me atrasar se
não for e não é disso que preciso no meu primeiro dia.
Dando um último abraço no meu irmão, visto meu casaco e pego minha
mochila, colocando-a nas costas, antes de ir para a escada.
— Me mande uma mensagem — Joey grita quando eu estou no meio da
escada. — Estou falando sério, um cheiro de merda de qualquer um e eu vou
resolver isso para você.
— Eu consigo fazer isso, Joey — eu sussurro, lançando um rápido olhar
para onde ele estava encostado no corrimão, me observando com olhos
preocupados. — Eu consigo.
— Eu sei que você consegue. — Sua voz era baixa e dolorida. — Eu só...
estou aqui para você, ok? — ele termina com uma expiração pesada. —
Sempre estou aqui para você.
Isso era difícil para meu irmão, percebo, enquanto o observava me mandar
para a escola como um pai ansioso faria com seu primogênito. Ele estava
sempre lutando minhas batalhas, sempre pulando para me defender e me
puxar para a segurança.
Eu queria que ele se orgulhasse de mim, me visse como mais do que uma
garotinha que precisava de sua proteção constante.
Eu precisava disso para mim mesma.
Com a determinação renovada, eu dou a ele um sorriso brilhante e então
corro para fora de casa para pegar meu ônibus.
2

TUDO MUDOU

SHANNON

Quando desci do ônibus, eu fiquei aliviada ao descobrir que as portas da


Tommen College estavam abertas para os alunos às 7 da manhã, obviamente
para acomodar os diferentes horários dos alunos internos e madrugadores.
Corro para dentro do prédio para sair da chuva.
Chovia lá fora e em qualquer outra circunstância eu poderia considerar um
mau presságio, mas essa era a Irlanda, onde chovia uma média de 150 a 225
dias por ano.
Também era início de janeiro, época típica de chuvas.
Descubro que não era a única madrugadora a chegar antes do horário
escolar, notando vários alunos já vagando pelos corredores e descansando no
refeitório e nas áreas comuns.
Sim, áreas comuns.
A Tommen College tinha o que eu só poderia descrever como salas de
estar bem espaçosas para cada ano.
Para minha imensa surpresa, descobri que não era o alvo imediato de
valentões como tinha sido em todas as outras escolas que frequentei.
Os alunos passavam zunindo por mim, desinteressados na minha
presença, claramente presos em suas próprias vidas.
Esperei, com o coração na boca, que viesse um comentário cruel ou um
empurrão.
Mas não.
Ao me transferir da escola pública vizinha no meio do ano, eu esperava
uma série de novas provocações e novos inimigos.
Mas nada aconteceu.
Além de alguns olhares curiosos, ninguém se aproximou de mim.
Os alunos da Tommen não sabiam quem eu era – ou não se importavam.
De qualquer forma, eu estava claramente fora do radar nesta escola e amei
isso.
Confortada pelo súbito manto de invisibilidade ao meu redor e me
sentindo mais positiva do que em meses, dedico um tempo para olhar ao
redor da área comum do terceiro ano.
Era uma sala grande e iluminada com janelas do chão ao teto de um lado
que dava para um pátio de prédios. Placas e fotografias de ex-alunos
adornavam as paredes pintadas de verde-limão. Sofás macios e cadeiras
confortáveis preenchiam o grande espaço, junto com algumas mesas
redondas e cadeiras de carvalho combinando. Havia uma pequena área de
cozinha no canto com uma chaleira, torradeira e microondas.
Caralho.
Então, era assim que o outro lado vivia.
Era como um mundo diferente na Tommen College.
Um universo alternativo ao de onde eu vim.
Uau.
Eu poderia trazer algumas fatias de pão e tomar chá e torradas na escola.
Me sentindo intimidada, saio e perambulo por cada sala e corredor
tentando me orientar.
Estudando meu horário, memorizo onde ficava cada prédio e cada ala em
que eu teria aula.
Eu estava me sentindo bastante confiante quando o sinal toca às 8h50,
sinalizando quinze minutos antes do início do dia escolar, e quando fui
recebida por uma voz familiar, quase chorei de alívio.
— Oh meu Deus! Oh meu Deus! — uma loira alta e curvilínea com um
sorriso do tamanho de um campo de futebol gritou alto, chamando a minha
atenção e a de todos os outros, enquanto ela passava por vários grupos de
alunos em sua tentativa de me alcançar.
Eu não estava preparada para o abraço monstruoso em que fui envolvida
quando ela me alcança, embora eu não devesse esperar nada menos de Claire
Biggs.
Ser cumprimentada por sorrisos reais, rostos amigáveis, em vez do que eu
estava acostumada, foi esmagador para mim.
— Shannon Lynch — Claire dá uma meia risadinha, meio se engasgando,
e me aperta com força. — Você está realmente aqui!
— Estou aqui — eu concordo com uma pequena risada, dando tapinhas
nas costas dela enquanto eu tentava e falhava em me libertar de seu abraço
esmagador. — Mas eu não vou ficar muito mais tempo se você não diminuir
o aperto.
— Oh, droga. Desculpe — Claire ri, imediatamente dando um passo para
trás e me liberando de seu aperto de morte. — Eu esqueci que você não
cresceu desde o quarto ano. — Ela dá outro passo para trás e me olha. —
Desde o terceiro ano — ela ri, os olhos dançando com travessura
Isso não era uma alfinetada; era uma observação e um fato.
Eu era excepcionalmente pequena para minha idade, diminuída ainda mais
pelos 1,75cm da minha amiga.
Ela era alta, atlética e excepcionalmente bonita.
Também não era uma forma recatada de beleza.
Não, saia de seu rosto como raios de sol.
Claire estava simplesmente deslumbrante com grandes olhos castanhos
que pareciam de cachorrinho e cachos loiros num tom claro. Ela tinha uma
disposição radiante e um sorriso que poderia aquecer os corações mais frios.
Mesmo aos quatro anos de idade, eu sabia que essa garota era diferente.
Eu podia sentir a bondade irradiando dela. Eu senti isso quando ela ficou
ao meu lado por oito longos anos, me defendendo mesmo prejudicando a si
mesma.
Ela sabia a diferença entre o certo e o errado e estava preparada para
entrar na frente de qualquer um mais fraco que ela.
Ela era uma guardiã.
Nós nos separamos desde que fomos para escolas secundárias separadas,
mas um olhar para ela e eu sabia que ela ainda era a mesma Claire.
— Nem todas nós podemos ser altas e magras — eu retruco bem-
humorada, sabendo que suas palavras não eram para me machucar.
— Deus, estou tão feliz que você está aqui. — Ela balança a cabeça e sorri
para mim. Ela fez essa adorável dança feliz e, em seguida, joga os braços em
volta de mim mais uma vez. — Eu não posso acreditar que seus pais
finalmente fizeram a coisa certa por você.
— Sim — eu respondi, desconfortável novamente. — Finalmente.
— Shan, não vai ser assim aqui — o tom de Claire está sério agora, os
olhos cheios de uma emoção não dita. — Toda essa merda que você sofreu?
Está no passado.
Ela suspira novamente e eu sei que ela estava segurando a língua,
evitando dizer tudo o que ela queria.
Claire sabia.
Ela estava lá na escola primária.
Ela testemunhou como era para mim naquela época.
Por alguma razão desconhecida, fiquei feliz por ela não ter visto o quanto
piorou.
Era uma humilhação que eu não queria mais sentir.
— Estou aqui para você — ela continua a dizer — e Lizzie também… se
ela decidir arrastar sua bunda para fora da cama e realmente vir à escola.
Sorrindo brilhantemente, afugento meus demônios para o fundo da minha
mente e digo:
— Aqui está um novo começo.
— Sim garota! — Claire diz com grande entusiasmo, batendo o punho em
mim no processo. — Um novo começo ensolarado.

A primeira metade do dia foi melhor do que eu jamais poderia ter


previsto. Claire me apresentou a seus amigos e, embora eu não conseguisse
lembrar os nomes da maioria das pessoas que conheci, fiquei incrivelmente
grata por ser incluída e, ouso dizer, aceita.
A inclusão não era algo com o que eu estava acostumada, e me vi
trabalhando duro para acompanhar o fluxo constante de conversas e
perguntas amigáveis dirigidas a mim.
Passar tanto tempo quanto eu passei em minha própria companhia tornou
difícil me integrar de volta à sociedade de uma adolescente normal. Ter
outras pessoas além de Joey e seus amigos que estavam dispostos a sentar
comigo, conversar comigo e caminhar comigo na escola era uma experiência
alucinante.
Quando minha outra amiga da escola primária, Lizzie Young, finalmente
apareceu na escola no meio da terceira aula da manhã, culpando uma
consulta no dentista por sua ausência, imediatamente retomamos a amizade
familiar que sempre tivemos.
Lizzie entrou na escola com calças de menino e tênis, sem se importar
com o que alguém tinha a dizer sobre sua aparência. Ela honestamente não
parecia se importar com o que as pessoas pensavam. Ela se vestia de acordo
com seu humor e projetava vibrações da mesma maneira. Ela poderia
aparecer amanhã de saia e com o rosto cheio de maquiagem. Ela fazia o que
queria fazer quando queria fazer, sem saber e sem se importar com a opinião
de qualquer outra pessoa.
Ela exalava um tipo de confiança preguiçosa com seu longo louro escuro,
rabo de cavalo balançando e rosto sem maquiagem, enfatizando aqueles
grandes olhos azuis dela.
Também notei durante todas as nossas aulas que Lizzie recebia muita
atenção masculina, independentemente das calças largas e cabelos
bagunçados que ela usava, provando que você não precisa se despir e pintar
o rosto para atrair o sexo oposto.
Um sorriso genuíno e uma personalidade agradável percorrem um longo
caminho.
Lizzie era muito parecida com Claire em muitos aspectos, mas
completamente diferente em outros.
Como Claire, Lizzie era loira e de pernas longas.
Ambas eram altas para sua idade e ambas de uma beleza repugnante.
Mas enquanto Claire era extrovertida e, às vezes, um pouco animada
demais, Lizzie era descontraída e levemente introvertida.
Claire era praticamente sem filtro e Lizzie tomava seu tempo para tomar
uma decisão sobre qualquer coisa.
Claire era impecável em todos os momentos com um rosto cheio de
maquiagem e uma roupa perfeitamente arrumada para qualquer ocasião,
enquanto o estilo de Lizzie era imprevisível.
Enquanto isso, eu era a pequena morena que fazia amizade com as garotas
mais bonitas da classe.
Suspiro...
— Você está bem, Shan? — Lizzie pergunta depois do grande intervalo.
Estávamos caminhando em direção à nossa próxima aula, Inglês na ala
sul, quando parei no meio do caminho, causando um engarrafamento de
alunos.
— Oh merda — eu murmuro, de repente percebendo meu erro. — Eu
deixei meu telefone no banheiro.
Claire, que estava à minha esquerda, vira-se e franze a testa.
— Vá e pegue, vamos esperar por você.
— O banheiro do prédio de ciências — eu respondo com um gemido.
Tommen era ridiculamente grande, com várias aulas acontecendo em
diferentes prédios ao redor da vasta propriedade. — Eu tenho que pegá-lo de
volta — acrescento, me sentindo ansiosa com o pensamento de alguém
encontrar meu telefone e invadir minha privacidade. O celular em si não
valia nada, era um dos pré-pagos mais baratos do mercado e nem tinha
câmera, mas era meu. Estava cheio de mensagens de texto privadas e eu
precisava dele de volta. — Droga.
— Não entre em pânico — Lizzie interrompe. — Nós vamos acompanhá-
la.
— Não. — Eu levantei a mão e balancei a cabeça. — Eu não quero fazer
vocês duas se atrasarem para a aula também. Eu vou pegar.
Eu era nova. Era meu primeiro dia. Eu duvidava que o professor fosse
duro comigo por estar atrasada para a aula. Claire e Lizzie, por outro lado,
não eram novas e não tinham nenhuma desculpa para não estarem em seus
lugares na hora.
Eu podia fazer isso.
Eu não precisava, ou pelo menos não deveria precisar, de uma babá para
me acompanhar pela escola.
Claire franze a testa, sua incerteza é evidente.
— Tem certeza?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — Eu me lembro do caminho.
— Eu não sei, Shan. — Lizzie morde o lábio inferior. — Talvez uma de
nós devesse ir com você. — Dando de ombros, ela acrescentou: — Você
sabe, apenas no caso...
O segundo sinal toca alto, sinalizando o início da aula.
— Vão em frente — eu insisto, acenando para elas. — Eu vou ficar bem.
Girando os calcanhares, me apresso pelo corredor até a entrada e então
começo a correr quando chego ao pátio. Foram precisos nove minutos
correndo a toda velocidade sob a chuva forte por uma viela que circundava
vários campos de treinos esportivo para chegar ao prédio de ciências – não é
uma tarefa fácil usando salto alto.
Quando chego ao banheiro feminino, eu estou sem fôlego e suando.
Felizmente, meu telefone estava exatamente onde eu o havia deixado – na
pia ao lado do dispenser de sabão.
Afundando de alívio, eu o tiro da pia, rapidamente verificando a tela, e
afundo novamente quando vejo a tela bloqueada e imperturbável, e então o
enfio com segurança no bolso da frente da minha mochila escolar.
Se isso tivesse acontecido na minha antiga escola, um telefone deixado
sem vigilância em um banheiro não teria sobrevivido quinze segundos,
muito menos quinze minutos.
Você está andando ao lado dos ricos agora, Shannon, penso comigo
mesma. Eles não querem seu telefone de merda.
Jogando um pouco de água no meu rosto, eu coloco minha bolsa nas
costas, usando as duas alças como a nerd que eu era. Eu ainda não tinha ido
ao meu armário e estava carregando o que parecia ser quatro rochas lá
dentro. Ambas as tiras eram inteiramente necessárias nesta situação.
Quando eu saio do prédio de ciências e olho para a longa e desagradável
caminhada de volta ao prédio principal onde minha aula atual fica, eu engulo
um gemido.
Eu não ia correr de novo.
Eu fisicamente não posso.
Toda a minha energia foi cortada.
Desamparada, meu olhar vacila entre a desagradável subida pela viela e os
campos de treinos.
Havia três campos no total deste lado da escola.
Dois campos menores, bem cuidados, que estavam vazios, e um campo
maior que estava sendo ocupado por cerca de trinta meninos e um professor
gritando ordens para eles.
Dividida, eu debato minhas opções.
Se eu cruzasse os campos, isso reduziria vários minutos da minha
caminhada.
Eles nem me notariam.
Eu era pequena e rápida.
Eu também estava cansada e ansiosa.
Atravessar os campos era a coisa lógica a fazer.
Claro, havia um barranco íngreme e um gramado do outro lado do campo
que separava os campos do pátio, mas eu poderia fazer isso sem nenhum
problema.
Verificando meu relógio, uma onda de desânimo cresce dentro de mim
quando vejo que já havia perdido quinze minutos da aula de quarenta
minutos.
Decisão tomada, escalo a cerca baixa de madeira que separava os campos
de treinamento da trilha e caminho em direção ao meu destino.
Com a cabeça baixa e o coração batendo violentamente contra as costelas,
corro pelos campos vazios, hesitando apenas quando chego ao maior dos
campos de treinamento… aquele cheio de meninos.
Garotos enormes.
Meninos sujos.
Garotos com cara de bravo.
Que estavam me encarando.
Oh droga.
— O que você está fazendo?
— Saia da porra do campo!
— Jesus Cristo!
— Porra de garotas.
— Se mova, vá!
Em pânico, eu ignoro os gritos e zombarias enquanto passo por eles,
obviamente atrapalhando seu treino.
A mortificação se infiltra pelo meu corpo enquanto eu aumento meu
ritmo, iniciando uma corrida desajeitada.
O chão estava molhado e enlameado da chuva, então não consegui me
mover tão rápido quanto eu, ou aqueles garotos, gostaria.
Quando chego à beira do campo, sinto vontade de chorar de alívio
enquanto mancava pela encosta íngreme. No entanto, meu alívio foi apenas
uma sensação momentânea e fugaz que foi rapidamente substituída por uma
dor lancinante quando algo muito duro e muito pesado bate na parte de trás
da minha cabeça, tirando o ar de meus pulmões e meus pés debaixo de mim.
Momentos depois, eu estava em queda livre para trás, caindo na margem
lamacenta, a dor ricocheteando na minha cabeça impossibilitando para mim
pensar com clareza ou amortecer minha própria queda.
Meu último pensamento coerente antes de bater no chão com um baque, e
uma espessa nuvem de escuridão me cobrir, foi este: nada muda.
Eu estava errada, embora.
Tudo mudou depois daquele dia.
Tudo.
3

BOLAS VOADORAS
Garoto Maravilha cativa a equipe técnica da Academia - O jovem
Johnny Kavanagh, 17, natural de Blackrock, Dublin, atualmente
residente em Ballylaggin County Cork, passou por sua avaliação
médica para garantir sua posição na prestigiada academia de
rúgbi em Cork. Cuidando de uma lesão crônica na virilha desde o
início da temporada passada, o jovem foi liberado pelos médicos
da equipe. O estudante do ensino médio da Tommen College está
pronto para ganhar sua décima quinta capitania pela Academia
neste fim de semana, tendo sido nomeado como titular 13 para a
estimada equipe juvenil. O central do jogo vem chamando a
atenção de treinadores de nível internacional, incluindo clubes
do Reino Unido e do hemisfério sul. Quando solicitado a comentar
sobre a ascensão acelerada do garoto da escola nos rankings, o
técnico da seleção sub-20 da Irlanda, Liam Delaney, disse o
seguinte: "Estamos entusiasmados com o nível de calibre dos
jogadores em ascensão em todo o país. O futuro parece brilhante
para o rúgbi irlandês”. Quando perguntado especificamente sobre
o garoto da escola de Cork, Delaney disse: “Estamos cientes de
Kavanagh desde seus dias de jogador em Dublin e estamos
conversando com seus técnicos e treinadores nos últimos dezoito
meses. Os treinadores do Sub-18 estão impressionados. Mantivemos
um olho afiado em seu progresso e estão impressionados com o
nível de inteligência e maturidade que ele naturalmente exala em
campo. Ele certamente é alguém para ficar de olho quando chegar
a idade.”

JOHNNY

Eu estava exausto.
Sério, eu estava tão cansado que estava tendo dificuldade em manter meus
olhos abertos e meu foco no ponto. Meu dia infernal estava se transformando
em uma semana infernal, e isso era um feito especial, considerando que era
segunda-feira.
Voltar direto para a escola, sem mencionar o treinamento e a academia
seis noites por semana, fazia isso com um cara.
Para ser honesto, eu estava cansado desde o verão passado, tendo
retornado de uma campanha internacional com os sub-18, onde eu estava
jogando ao lado dos melhores da Europa, apenas para ir direto para um
intenso campo de condicionamento de seis semanas em Dublin.
Depois disso, fiz uma pausa de dez dias antes de voltar para a escola e
retomar meus compromissos com meu clube e a Academia.
Eu também estava com fome, o que não era um bom presságio para o meu
temperamento.
Eu não funcionava bem com longos intervalos entre as refeições.
Meu estilo de vida e regime de treinamento intenso exigiam que eu
comesse em horários regulares e distribuídos.
A cada duas horas era ideal para o meu corpo quando eu estava
consumindo uma dieta de 4.500 calorias por dia.
Deixe meu estômago esperando mais de quatro horas, e eu era uma vadia
mal-humorada e irritada.
Não era como se eu estivesse particularmente ansioso para a montanha de
peixe e legumes cozidos no vapor esperando por mim na minha lancheira,
mas eu tinha uma rotina, caramba.
Foder com o meu regime era uma maneira infalível de acordar a fera
faminta dentro de mim.
Estávamos em campo há menos de meia hora e eu já tinha derrotado três
dos meus companheiros de equipe e levado uma bronca do nosso treinador
no processo.
Em minha defesa, cada ataque que fiz neles foi perfeitamente legal, se não
um pouco implacável.
Mas esse era o meu ponto, caramba.
Eu estava muito irritado para recuar um pouco nos garotos que não
estavam nem perto do meu nível de jogo.
Meninos era a palavra apropriada neste caso.
Estes eram meninos.
Eu joguei com homens.
Muitas vezes me perguntei qual era o sentido de jogar no time da escola.
Não faz merda nenhuma por mim.
O nível do clube era básico o suficiente, mas o rúgbi da escola era um
desperdício do meu tempo.
Principalmente esta escola.
Hoje era o primeiro dia de volta após as férias de Natal, mas a equipe da
escola estava treinando desde setembro.
Quatro meses.
Quatro malditos meses e parecíamos mais desorganizados do que nunca.
Pela milionésima vez nos últimos seis anos, me encontro ressentido com a
mudança dos meus pais.
Se tivéssemos ficado em Dublin, eu estaria jogando em um time de
qualidade com jogadores de qualidade e fazendo um progresso real.
Mas não, em vez disso eu estava aqui, no meio da porra de lugar nenhum,
pagando pela falta de um treinador menos do que competente e estourando
minhas bolas para manter nosso lado na mira das eliminatórias.
Ganhamos a Copa da Liga no ano passado porque tínhamos um time
sólido com a capacidade de realmente jogar uma porra de um rúgbi decente.
Com a ausência de vários jogadores do time do ano passado, que agora
estavam na faculdade, minha agitação e preocupação com nossas chances
este ano cresciam a cada minuto.
Eu não era o único que se sentia assim, também.
Havia seis ou sete jogadores excepcionais nesta escola que eram bons o
suficiente para a divisão em que estávamos jogando, e esse era o problema.
Precisávamos de um banco de vinte e três jogadores decentes para se
destacar nesta liga.
Não meia dúzia.
Meu melhor amigo, por exemplo, Gerard Gibson – ou Gibsie para
abreviar, é um excelente exemplo de excepcional.
Ele é, sem sombra de dúvida, o melhor flanker que eu joguei com ou
contra neste nível de rúgbi e poderia facilmente subir na hierarquia com um
pouco de empenho e esforço.
Ao contrário de mim, porém, o rúgbi não era a vida de Gibsie.
Renunciar a festas e namoradas por alguns anos foi um preço pequeno a
pagar por uma carreira profissional no esporte. Se ele dispensasse a bebida e
os cigarros, seria fenomenal.
Gibs não está tão certo disso, porém, escolhendo passar o tempo de
treinamento fodendo seu caminho através da população feminina de
Ballylaggin com prazer, e bebendo até que seu fígado e pâncreas gritassem
em protesto.
Eu achava um desperdício terrível.
Outro passe derrubado de Patrick Feely, nosso mais novo camisa 12 e meu
parceiro no meio-campo, fez com que eu perdesse merda ali mesmo, no
meio do campo.
Arrancando meu protetor bucal, eu o jogo nele, socando-o direto na
mandíbula.
— Vê isso? — Eu rujo — Isso se chama acertar a porra do alvo.
— Desculpe, Capi — o jogador do meio-campo murmura, com o rosto
vermelho, dirigindo-se a mim pelo apelido em campo que ganhei desde que
me tornei capitão do time da escola no quarto ano e ganhei minha primeira
capitania no mesmo ano. — Eu vou fazer melhor.
Eu me arrependo de minhas ações imediatamente.
Patrick era um rapaz decente e um grande amigo meu.
Além de Gibsie, Hughie Biggs e Patrick eram meus amigos mais
próximos.
Gibs, Feely e Hughie já estavam em um círculo íntimo na Scoil Eoin, uma
escola primária só para meninos, quando fui introduzido em sua classe para
o último ano do fundamental.
Ligados por nosso amor compartilhado pelo rúgbi, todos nós continuamos
bons amigos durante o ensino médio, embora tivéssemos formado duplas no
sentido de melhores amigos, com Hughie se alinhando com Patrick e eu com
meu próprio babaca.
Patrick era um rapaz quieto. Ele não merecia minha ira, e o pobre rapaz
definitivamente não merecia ter meu protetor bucal com cuspe lançado em
sua cabeça.
Abaixando a cabeça, corro até ele e bato em seu ombro, murmurando
minhas desculpas.
Viu, era exatamente por isso que eu precisava ser alimentado.
E talvez dar um saco de gelo para o meu pau.
Me encha com bastante carne e vegetais e eu serei uma pessoa diferente.
Uma pessoa tolerante.
Educado até.
Mas meu único foco no momento era não desmaiar de fome e dor,
portanto não tinha tempo para sutilezas.
Tivemos uma partida de qualificação da copa no final desta semana e, ao
contrário de mim, esses rapazes passaram seu tempo livre sendo, bem,
adolescentes.
As férias de Natal eram um excelente exemplo.
Eu passei meu tempo trabalhando como um maníaco para voltar ao
campo, tendo estado lesionado, enquanto esses caras passaram o intervalo
comendo e bebendo a merda da vida.
Eu não tinha nenhum problema em perder uma partida se fôssemos
genuinamente o lado mais desfavorecido.
O que eu não podia aceitar era perder por falta de preparo e falta de
disciplina.
Liga dos meninos da escola ou não.
Isso não foi bom o suficiente na minha opinião.
Fico perturbado além de toda a racionalidade quando uma garota atravessa
o campo, fodidamente passeando pelo campo de treinamento.
Irritado, eu olho para ela, sentindo uma raiva dentro de mim que beirava a
mania.
Isso era o quão ruim era esse time.
Os outros alunos nem se importavam que estivéssemos treinando.
Vários dos rapazes gritaram com ela, mas isso só pareceu me irritar ainda
mais.
Eu não entendia por que eles estavam gritando com ela.
Isso foi culpa deles.
Os tolos reclamando e gritando eram os que precisavam melhorar seu jogo
ou desistir dos seus sonhos de jogar rúgbi.
Em vez de se concentrar no jogo, eles estavam se concentrando na garota.
Malditos vermes.
— Grande demonstração de capitania, Kavanagh — Ronan McGarry,
outro de nossos últimos recrutamentos, e uma vergonha de um scrum-half1,
provoca enquanto corre para trás passando por mim. — Muito exagerado?
— o cara mais jovem provoca.
— Continue correndo — eu o aviso enquanto eu debato em quantos
problemas eu teria se quebrasse suas pernas. Eu realmente não gostava
daquele cara.
— Talvez você devesse seguir seu próprio conselho — Ronan provoca. —
Gentinha de Dublin.
Decidindo que não me importava com punições, eu recupero a bola e a
jogo na cabeça dele.
Certeira e precisa, a bola acerta McGarry na região desejada – seu nariz.
— Se acalme, campeão! — O treinador late, correndo para verificar
Ronan, que estava segurando seu rosto.
Eu bufo com a visão.
Acertei-o com uma bola, não com o punho.
Zé-boceta.
— Este é um esporte de equipe — o treinador ferve, olhando para mim. —
Não o show do Johnny.
— Ah, é? — Eu atiro de volta, rosnando, incapaz de me impedir de
morder a isca. O Sr. Mulcahy, o técnico sênior de rúgbi da escola, não
gostava muito de mim e o sentimento era completamente mútuo.
— Sim — O treinador grita. — É bem assim.
Correndo até onde a bola tinha caído, eu a pego e caminho até ele e
McGarry, não querendo deixar para lá.
— Então você pode querer lembrar esses filhos da puta, — eu rosno,
gesticulando para meus companheiros de equipe — porque eu pareço ser o
único idiota que apareceu no treino hoje!
— Você está cutucando a onça com vara curta, garoto — ele ferve. — Não
pressione.
Incapaz de me impedir de insistir, eu assobio:
— Esse time é a porra de uma piada.
— Vá para os chuveiros, Kavanagh — o treinador ordena, o rosto ficando
em um perigoso tom de roxo, enquanto ele batia um dedo no meu peito. —
Você está fora!
— Estou fora? — Eu jogo de volta, provocando-o. — Do que exatamente?
Eu não estava fora de nada.
O treinador não podia me jogar fora.
Ele poderia me proibir de treinar.
Ele poderia me suspender.
Me dar detenção.
Não fazia a mínima diferença, porque no dia do jogo eu estarei naquele
campo.
— Você não vai fazer nada. — Eu zombo, deixando meu temperamento
tomar conta de mim.
— Não me pressione, Johnny — o treinador avisa. — Uma ligação para
seus treinadores chiques no país e você estará com mais merda do que você
pode se livrar.
Ronan, que estava ao lado do treinador, sorri sombriamente, claramente
encantado com a perspectiva de eu me meter em problemas.
Furioso com a ameaça, mas sabendo que estava derrotado, deixo a bola
cair de minhas mãos, a solto chutando com uma fúria insaciável pulsando
em minhas veias e sem me importar com a direção.
No minuto em que a bola zune do meu pé em minha bota, a raiva dentro
de mim se dissipa em uma corrida, ejetando-se do meu corpo em derrota.
Droga.
Eu estava dando trabalho.
Eu sabia bem.
O treinador me ameaçar com a Academia foi um golpe baixo, mas eu
sabia que merecia.
Eu estava perdendo a cabeça em seu campo, com sua equipe, muito
emocional e sobrecarregado para me recompor.
Nunca em um milhão de anos eu sentiria uma ponta de remorso por
acertar McGarry com a bola, aquele filho da puta merecia muito pior, mas
Feely e o resto dos rapazes eram uma questão completamente diferente.
Eu deveria ser o capitão desse time e estava agindo como um babaca.
Não era bom o suficiente, e fiquei desapontado comigo mesmo pela minha
explosão.
Eu sabia o que havia de errado comigo.
Eu me esbaldei demais nos últimos meses e voltei cedo demais de uma
lesão.
Eu tinha sido liberado pelos meus médicos para voltar a treinar esta
semana, mas um homem cego poderia dizer que eu estava fora do meu jogo
e isso estava me irritando muito.
A perspectiva de fazer malabarismos com a escola, o treinamento, os
compromissos do clube e a Academia enquanto cuidava de uma lesão era
uma pressão para minha mente e meu corpo, e eu estava lutando para
encontrar a pura disciplina que costumava exibir.
De qualquer forma, não era uma desculpa.
Eu pediria desculpas a Patrick depois de comer, e ao resto dos rapazes
também.
O treinador, percebendo a mudança no meu temperamento, assente
rigidamente.
— Bom — ele disse em um tom mais calmo do que antes. — Agora, vá se
limpar e pelo amor de Deus descanse por um maldito dia. Você é apenas
uma criança, Kavanagh, e você parece uma merda.
O homem não gostava muito de mim e brigávamos diariamente como um
velho casal, mas nunca duvidei de suas intenções.
Ele se preocupava com seus jogadores e não apenas com nossa habilidade
de jogar rúgbi. Ele nos encoraja a ter sucesso em todos os aspectos da vida
escolar e estava constantemente cantando sobre a importância dos anos de
exame.
Ele também provavelmente estava certo sobre eu parecer uma merda; eu
certamente me sentia assim.
— É um ano importante para você — ele me lembra. — O quinto ano é
mais crucial para sua saída do que o sexto ano e eu preciso que você
mantenha suas notas altas… oh merda!
— O que? — Eu exijo, assustado.
Seguindo o olhar horrorizado do treinador, eu me viro e fixo os olhos na
bola amassada na beira do campo.
— Oh merda — eu murmuro quando minha mente entende o que eu
estava vendo.
A garota.
A porra da garota que estava saltitando ao redor do campo estava deitada
de costas na grama.
Uma bola estava na grama ao lado dela.
Não uma bola qualquer.
Minha bola sangrenta!
Horrorizado, meus pés estavam se movendo antes que meu cérebro
pudesse alcançá-los. Corro em direção a ela, o coração martelando contra
minhas costelas a cada passo do caminho.
— Ei, você está bem? — Eu chamo, fechando o espaço entre nós.
Um suave gemido feminino sai de seus lábios enquanto ela tentava ficar
de pé.
Ela estava tentando se levantar e falhando miseravelmente, claramente
assustada.
Sem saber o que fazer, me abaixo para ajudá-la a se levantar, mas ela
rapidamente afasta minhas mãos com um tapa.
— Não me toque — ela grita, o tom um pouco arrastado, e o solavanco a
fez cair de joelhos.
— Ok! — Eu automaticamente dou um passo para trás e levanto minhas
mãos. — Eu sinto muito.
Dolorosamente e bem lento, ela fica de pé, balançando de um lado para o
outro, confusão gravada em seu rosto, olhos desfocados.
Agarrando a lateral de sua saia enlameada com uma mão e equilibrando a
bola de rúgbi na outra, ela olha ao redor, desespero em seus olhos.
Sua atenção pousa na bola em suas mãos e depois volta para o meu rosto.
Uma espécie de fúria vidrada brilha em seus olhos enquanto ela meio
cambaleava, meio espreitava em minha direção.
Seu cabelo estava uma bagunça total, caindo frouxamente por seus
ombros pequenos, com pedaços de lama e grama grudados como tentáculos.
Quando ela me alcança, ela bate a bola no meu peito e sussurra:
— Esta é a sua bola?
Fiquei tão impressionado com a visão dessa pequena garota coberta de
lama que apenas balanço a cabeça como um maldito idiota.
Jesus Cristo, quem é essa garota?
Limpando a garganta, pego a bola dela e digo:
— Uh, sim. É a minha bola.
Ela era pequena, seriamente pequena, mal alcançando meu peito em
altura.
— Você me deve uma saia — ela rosna, ainda segurando o tecido pelo
quadril. — E um par de meias — acrescenta ela, olhando para a enorme
lama em sua meia-calça cor de pele.
Seu olhar vaga sobre seu corpo, em seguida, pousa no meu rosto, os olhos
estreitos.
— Ok — eu respondo com um aceno de cabeça, porque com toda a
honestidade, o que diabos eu deveria dizer?
— E um pedido de desculpas — acrescenta a garota antes de cair no chão.
Ela cai pesadamente em sua bunda e grunhe um pequeno grito com
contato.
— Oh, merda — eu murmuro. Jogando a bola para longe, me movo para
ajudá-la. — Eu não queria…
— Pare! — Mais uma vez, ela afasta minhas mãos. — Aí — ela geme,
encolhendo-se quando fala. Estendendo a mão, ela agarra seu rosto com
ambas as mãos e respirando pesadamente. — Minha cabeça.
— Você está bem? — Eu exijo, sem saber o que diabos fazer.
Devo pegar ela contra seus desejos?
Não parecia uma boa ideia.
Mas eu não podia exatamente deixá-la aqui.
— Johnny! — O treinador está berrando. — Ela está bem? Você a
machucou?
— Ela está bem — eu grito de volta, estremecendo quando um som de
soluço rasga de seu peito. — Você está bem, não está?
Essa garota ia me colocar em apuros.
Eu já estava com problemas suficientes do jeito que estava.
Eu estava brigando com o treinador.
Quase decapitar a garota não acabaria bem para mim.
— Por que você fez isso? — ela sussurra, segurando seu pequeno rosto
em suas mãos ainda menores. — Você me machucou.
— Desculpe — eu repito. Eu me sinto estranhamente impotente e era um
sentimento que eu não gostava. — Eu não queria.
Ela fungou então, olhos azuis lacrimejando, e algo dentro de mim estala.
Ah, merda.
Horrorizado, eu jogo minhas mãos para cima e deixo escapar:
— Eu sinto muito — antes de me agachar e pegá-la da grama. — Cristo
— eu murmuro, impotente, enquanto a coloco de pé. — Não chore.
— É meu primeiro dia — ela funga, balançando em seus pés. — Meu
novo começo e estou coberta de merda.
Ela está coberta de merda.
— Meu pai vai me matar — ela continua a engasgar, segurando sua saia
rasgada. — Meu uniforme está arruinado.
Um som de dor e assobio rasga de sua garganta então e a mão que ela
estava usando para segurar sua saia dispara para sua têmpora, fazendo com
que o pedaço de tecido caísse de seu corpo.
Meus olhos se arregalaram por vontade própria, uma reação infeliz de ver
a calcinha de uma mulher.
Uivos e aplausos explodem dos rapazes.
— Oh Deus — ela grita, lutando desajeitadamente para recuperar sua saia.
— Vai, lindinha!
— Dá uma voltinha!
— Vão se foder, seus idiotas! — Eu rujo para meus companheiros de
equipe, entrando na frente da garota para bloquear suas visões.
Eu podia ouvir os rapazes rindo atrás de mim, rindo e falando merda, mas
eu não conseguia me concentrar em uma palavra que eles diziam porque o
som do meu coração martelando no meu peito estava me ensurdecendo.
— Aqui — alcançando a bainha da minha camisa, eu a puxei sobre minha
cabeça e ordeno — Coloque isso.
— Está imunda — ela soluça, mas não me para quando eu puxo para
baixo sobre sua cabeça.
Ela enfia as mãos nas mangas e eu senti um alívio imenso quando a
bainha caiu até os joelhos, cobrindo-a.
Cristo, ela realmente era uma coisinha.
Ela tinha idade suficiente para frequentar a escola secundária?
Ela não parecia ter.
Agora, ela parecia muito, muito jovem e... triste?
— Kavanagh, a garota está bem? — O treinador exige.
— Ela está bem! — Eu repito, minhas palavras são um latido áspero.
— Leve-a para o escritório — ele instruiu. — Se certifique de que Majella
a examine.
Majella era a primeira a ser procurada na escola. Ela trabalhava no
refeitório e era a mulher a procurar quando um estudante sofria uma lesão.
— Certo, senhor — eu falo de volta, nervoso, rapidamente descendo para
pegar sua saia e mochila escolar.
Eu me aproximo e ela se afasta de mim.
— Eu só estou tentando ajudá-la. — Eu afirmo no tom mais gentil que
pude reunir, segurando minhas mãos para cima, como se para mostrar a ela
que eu não queria fazer mal. — Vou levá-la para o escritório.
Ela parecia um pouco atordoada e eu me preocupo de que posso ter lhe
causado uma concussão.
Sabendo da minha sorte, foi exatamente isso que eu fiz.
Maldito inferno.
Jogando a bolsa por cima do ombro, enfio sua saia no cós do meu short,
coloco a mão em suas costas e tento convencê-la a subir a encosta
montanhosa que separa o campo do terreno da escola.
Ela cambaleia em seus pés como um potro bebê, e eu tenho que resistir à
súbita vontade que tive de envolver meu braço em volta de seus ombros.
Alguns minutos depois, era exatamente isso que eu tinha que fazer de
qualquer maneira, porque ela continuava perdendo o equilíbrio.
O pânico tomou conta de mim.
Eu quebrei a porra da garota.
Eu quebrei a cabeça dela.
Eu ia receber uma suspensão por perder a cabeça e ter um mandado de
prisão expedido.
Eu era um babaca.
— Sinto muito — eu continuo a dizer a ela, jogando adagas com os olhos
para cada bastardo intrometido que decidiu parar e olhar para nós enquanto
caminhávamos ao ritmo de um caracol.
Ela estava com minha camisa e caia em torno dela como um vestido.
Eu estava congelando meus peitos ao lado dela em nada além de um par
de shorts, meias e botas de futebol com tachas.
Ah, e a porra da mochila rosa pendurada nas minhas costas.
Eles podiam olhar o quanto quisessem; minha única preocupação era fazer
um exame na cabeça dessa garota.
— Eu estou seriamente fodidamente arrependido.
— Pare de pedir desculpas — ela geme, segurando a cabeça.
— Certo, desculpe — eu murmuro, sentindo-a apoiar seu peso em mim.
— Mas eu sinto muito. Só para que você fique claro.
— Nada está claro — ela resmunga, endurecendo contra o meu toque. —
O chão está girando.
— Ah Cristo, não diga isso. — Eu engasgo, apertando meu braço em
torno de seu corpo rígido. — Por favor, não diga isso, porra.
— Por que você fez isso? — ela choraminga, tão frágil e pequena e
coberta de merda.
— Eu sou um idiota. — Eu a informo, colocando sua mochila rosa de
volta nas minhas costas enquanto eu a puxava mais perto. — Eu ferro muito
com as coisas.
— Você fez isso de propósito?
— O quê? — Suas palavras me derrubaram o suficiente para me fazer
parar. — Não. — Torcendo meu corpo para que eu pudesse olhar para o
rosto dela, eu fiz uma careta e disse: — Eu nunca faria isso com você.
— Você promete?
— Sim — eu grunho, a engachando com meu braço e grudando seu corpo
ao meu lado. — Eu prometo.
Era janeiro.
Estava molhado.
Estava frio.
E por alguma razão estranha e desconcertante, eu estava queimando por
dentro.
Minhas palavras, por qualquer motivo, pareceram aliviar a tensão dentro
dessa garota porque ela solta um suspiro enorme, afrouxa sua estrutura rígida
e me permite suportar todo o seu peso.
4

DE CARA NO CHÃO

JOHNNY

Com muito esforço e uma surpreendente demonstração de um autocontrole


inexistente, consigo respeitar seus desejos e acompanhá-la até o escritório –
quando tudo o que eu queria fazer era pegá-la em meus braços e correr para
pedir ajuda.
Eu estava em pânico e preocupado, e cada vez que ela gemia ou caía
contra mim, mais minha ansiedade crescia.
No entanto, tendo passado os últimos dez minutos do lado de fora do
escritório do diretor, ouvindo o Sr. Twomey reclamar e delirar, eu estava sem
essa preciosa paciência.
Por que ele não a estava tirando de mim?
Por que diabos eu ainda estava do lado de fora de seu escritório segurando
uma garota meio em coma?
Ele era o adulto aqui.
— A mãe dela está a caminho — anuncia o Sr. Twomey com um suspiro
exasperado, deslizando o telefone no bolso. — Como isso pôde acontecer,
Johnny?
— Eu já te disse. Foi um acidente — eu assobio enquanto continuava a
segurar a garota, mantendo seu pequeno corpo dobrado ao meu lado. —
Você precisa pedir a Majella para examiná-la, — eu repito pela
quinquagésima vez — eu acho que ela teve uma concussão.
— Majella está de licença maternidade até sexta-feira — vocifera o sr.
Twomey. — O que devo fazer com ela? Não tenho treinamento em primeiros
socorros.
— Então é melhor você chamar um médico, — eu retruco calorosamente,
ainda segurando a garota — porque eu quebrei a porra da cabeça dela.
— Cuidado com a linguagem, Kavanagh — Sr. Twomey estala.
Eu saio do padrão, “sim, senhor”, não dando a mínima e não me sentindo
particularmente arrependido também.
Minha função na academia de rúgbi significava que eu recebia liberdade
nesta escola, muito tratamento especial que outros alunos não recebiam, mas
eu não iria forçar isso no meu primeiro dia de volta.
Não quando eu tinha usado minha cota mutilando a nova garota.
— Você está bem, senhorita Lynch? — O Sr. Twomey pergunta,
cutucando-a como se ela fosse um peru cru do qual ele não queria pegar
salmonela.
— Dói — ela geme, cedendo ao meu lado.
— Eu sei — eu a acalmo, puxando-a para mais perto. — Eu sinto muito.
— Jesus, Johnny, isso é tudo que eu preciso — o Sr. Twomey sibila,
passando a mão pelo cabelo grisalho. — É o primeiro dia dela. Os pais dela
vindo aqui destruindo a escola é a última coisa que eu preciso.
— Foi um acidente — eu disse, com raiva agora. Ela geme e eu faço um
esforço consciente para baixar a voz quando digo: — Eu não queria
machucar a garota.
— Sim, bem, diga isso para a mãe dela quando ela chegar — Sr. Twomey
bufa. — Ela já foi retirada da Escola Comunitária Ballylaggin por ser
agredida verbal e fisicamente. E o que acontece em seu primeiro dia em
Tommen? Isso.
— Eu não a ataquei — eu cuspo. — Eu dei um chute ruim.
Colocando-a debaixo do braço, olho para a tal figura de autoridade.
— Espere — eu rebato, registrando suas palavras anteriores. — O que
você quer dizer com ela foi atacada?
Olho para a pequena fêmea debaixo do meu braço.
Quem poderia atacá-la?
Ela era tão pequena.
E frágil.
— O que aconteceu com ela? — Eu me ouço perguntar, com atenção de
volta para o diretor.
— Eu acho que vou cair — ela resmunga, me distraindo dos meus
pensamentos. Estendendo a mão, ela agarra meu antebraço com sua pequena
mão e suspira. — Tudo está girando.
— Eu não vou deixar você cair — eu respondo automaticamente em um
tom suave. — Está bem. — Eu a sinto escorregar e a puxo para cima,
segurando a pequena coisinha com todo o cuidado. — Eu peguei você — eu
adulo, apertando meu braço ao redor dela. — Você está bem.
— Olha, sente-se com ela — ordena o Sr. Twomey, gesticulando para o
banco que se alinhava na parede do lado de fora de seu escritório. — Eu vou
procurar uma compressa ou algo assim.
— Você está me deixando com ela? — Eu exijo, com a boca aberta. —
Sozinho?
O diretor não me responde.
Claro que não, o covarde do caralho, porque ele já estava a quilômetros de
distância no corredor, desesperado para fugir do tipo de responsabilidade que
ele foi pago para enfrentar.
— Verme sem espinha — eu rosno baixinho.
Frustrado, nos conduzo até o banco de madeira.
Largando sua mochila no chão, eu cuidadosamente abaixo nossos corpos
no banco até que estamos sentados lado a lado.
Eu mantenho meu braço em volta de seus pequenos ombros ossudos, não
me atrevendo a sair de seu lado por medo de que ela caísse.
— Que ótimo — eu resmungo, de mau-humor. — Fodidamente
maravilhoso.
— Você parece tão quente — ela sussurra e eu sinto sua bochecha
acariciar meu peito nu. — Como uma bolsa de água quente.
— Ok, você realmente precisa manter os olhos abertos — eu digo a ela,
em pânico com suas palavras.
Com os joelhos balançando nervosamente, eu a viro em meus braços e
seguro seu rosto entre minhas mãos.
— Ei — eu chamo, sacudindo seu rosto um pouco com as duas mãos. —
Ei... garota? — Eu acrescento sem jeito porque eu nem sabia o nome dela.
Eu quase matei a garota e eu não sabia a porra do nome dela. — Abra seus
olhos.
Ela não abre.
— Ei, ei! — Eu digo mais alto agora. — Olhe para mim. — Eu balanço
sua cabeça. — Olha para o meu rosto.
Desta vez ela olha.
Ela abre os olhos e porra, eu sem querer respiro fundo.
Jesus, essa garota era linda.
Eu tinha notado isso antes, é claro, ela tinha um olhar marcante, mas
agora, vendo-a de perto assim e sendo capaz de contar as sardas em seu rosto
– onze, a propósito – estava me acertando o quão impressionante ela era.
Seus olhos azuis eram grandes e redondos e fodidamente lindos, com
pequenos tons de amarelo pontilhando através deles, com cílios grossos e
longos.
Eu nem tinha certeza se já tinha visto aquele tom de azul antes.
Certamente não abalou nada no banco de memória.
Mãos para baixo, ela possuía o par de olhos mais lindo que eu já tinha
visto na minha vida.
Ela tinha longos cabelos castanhos escuros na altura dos cotovelos,
grossos e encaracolados nas pontas.
E escondido atrás da montanha de cabelo estava um rosto pequeno, em
forma de coração, pele lisa e clara e uma covinha minúscula no queixo.
De forma perfeita, sobrancelhas escuras que se arqueavam acima daqueles
olhos assassinos dela. Um nariz minúsculo, maçãs do rosto salientes e esses
lábios inchados e cheios.
Lábios que eram de uma cor vermelha rosada natural e meio que parecia
que ela estava chupando um sorvete ou algo assim – o que eu sabia que ela
não estava porque eu passei a última meia hora tentando mantê-la acordada.
— Oi — ela respira.
Solto um suspiro aliviado.
— Oi.
— Esse é realmente o seu rosto? — ela pergunta, os olhos caídos,
enquanto ela me estudava com uma expressão vaga. — É tão bonito.
— Uh, obrigado — Eu ofereço desconfortavelmente, ainda segurando
suas bochechas em minhas mãos. — É o único que eu tenho.
— Eu gosto disso, é um bom rosto — ela diz pouco antes de fechar os
olhos novamente, caindo para frente.
— Não, não, não — eu chamo, sacudindo-a rudemente. — Fique comigo!
Gemendo, ela pisca para acordar novamente.
— Bom trabalho — eu elogio com uma expiração pesada. — Agora fique
acordada.
— Quem é você? — ela resmunga, dependendo inteiramente das minhas
mãos para manter a cabeça erguida.
— Eu sou Johnny — eu digo a ela, mordendo de volta um sorriso. —
Quem é você?
— Shannon — ela sussurra. Suas pálpebras caem um pouco, mas
rapidamente se abrem quando eu cutuco suas bochechas. — Como o rio —
acrescenta ela com um pequeno suspiro.
Eu rio com a resposta dela.
— Bem, Shannon como o rio2 — eu disse brilhantemente, desesperado
para mantê-la focada e falando. — Seus pais estão a caminho. Eles
provavelmente vão te levar ao hospital para um check-up.
— Johnny — ela geme e então estremece. — Johnny. Johnny. Johnny.
Isso é ruim...
— O quê? — eu falo. — O que é ruim?
— Meu pai — ela sussurra.
Eu faço uma careta.
— Seu pai?
— Você pode me salvar?
Eu faço uma careta.
— Você precisa de mim para salvá-la?
— Mmm-hmm — ela murmura sonolenta. — Faz carinho meu cabelo.
Eu recusei a seu pedido.
— Você quer que eu esfregue seu cabelo?
Ela assente e cai para frente.
— Dói.
Me aproximando, eu ajusto seu corpo para que sua cabeça pendesse contra
meu ombro, e enquanto seguro seu rosto com uma mão, uso a outra para
acariciar seu cabelo. Era uma posição embaraçosa, mas eu consigo.
Jesus, o que diabos eu estava fazendo?
Eu balanço minha cabeça para mim mesmo, me sentindo um idiota, mas
continuo a fazer o que ela pediu de qualquer maneira.
Estava indo bem – até ela ficar de cara no meu pau.
Empurrando contra o contato insanamente íntimo, para não mencionar o
súbito choque de consciência do meu pau e a dor escaldante na minha
virilha, tento mover seu rosto da minha virilha, mas ela geme alto em
resistência.
E então ela puxa as pernas para cima no banco e se acomoda para uma
boa e velha soneca no meu pau.
Foda-se minha vida.
Segurando minhas mãos no ar e longe de seu corpo, porque eu precisava
de uma acusação de assédio sexual como eu precisava de um buraco na
cabeça, procuro alguém para me ajudar, mas ninguém vem.
Os corredores estavam convenientemente vazios de adultos.
Foda-se essa escola.
Penso em fugir, mas mal consigo tirá-la de cima de mim.
Sim, porque quebrar a cabeça não foi ruim o suficiente.
Então, eu apenas me sento lá com a cabeça dela no meu colo e sua
bochecha acariciando meu pau e rezo a Deus para me dar força para ignorar
os sentimentos crescendo dentro de mim e não ter uma ereção.
Além da razão óbvia do timing horrendo, meu pau estava quebrado.
Bem, não era tanto o meu pau estando quebrado, mas a área ao redor, mas
ficar duro poderia resultar em desmaiar ao lado dela.
Mas então ela choraminga e o som trouxe de volta a preocupação e a
preocupação trouxe um desastre evitado.
Como se tivesse vontade própria, minha mão se move para o rosto dela.
— Você está bem — eu a convenço, lutando contra minha ansiedade, o
desejo de nutrir essa garota um sentimento novo é igualmente aterrorizante
para mim. — Shh, você está bem.
Escovando seu cabelo para trás de sua bochecha, eu coloco as mechas
marrom-escuras atrás de sua orelha e então volto a acariciar sua cabeça
dolorida.
Havia um caroço impressionante se formando em seu couro cabeludo
onde a bola fez contato, então eu acariciei a área com as pontas dos dedos,
usando um toque leve.
— Está tudo bem?
— Mmm — ela respira. — É bom.
— Bom — eu murmuro, aliviado, e continuei com as carícias.
Uma leve cicatriz chama minha atenção onde sua têmpora encontrava sua
linha do cabelo.
Sem pensar no que estava fazendo, eu arrasto um dedo sobre o entalhe de
dois centímetros de pele e perguntei:
— O que aconteceu aqui?
— Hum?
— Aqui. — Eu arrasto meu dedo sobre a marca antiga. — De onde é isso?
— Meu pai — ela responde, soltando um suspiro pesado.
Minha mão para enquanto meu cérebro registrava sua resposta fodida.
— Fala de novo?
Quando ela não responde, uso minha outra mão para sacudir suavemente
seu ombro.
— Shannon?
— Hum?
Bato na velha cicatriz com a ponta do dedo e digo:
— Você está me dizendo que seu pai fez isso com você? — Tento manter
meu tom calmo, mas foi um desafio com a súbita vontade de mutilar e matar
borbulhando por dentro.
— Não, não, não — ela sussurra.
— Então, seu pai não fez isso? — Eu peço a confirmação. — Ele
definitivamente não fez?
— Claro que não — ela murmura.
Obrigado, porra, por isso.
Eu solto a respiração que eu não percebi que estava segurando.
— Jimmy?
— É Johnny.
— Ah. Johnny?
— Sim?
— Você está com raiva de mim?
— O quê? — A pergunta, dita tão baixinho, me atinge e eu olho para ela,
sentindo uma pontada de proteção em meu estômago. — Não. Eu não estou
com raiva de você — eu digo a ela, parando por um longo momento, dedos
parando, antes de perguntar — Você está com raiva de mim?
— Acho que sim — ela sussurra, aninhando-se novamente.
Meus olhos reviram para trás e eu mordo de volta um gemido.
Ah, porra!
— Você não pode fazer isso — eu disse, segurando sua cabeça ainda.
— Fazer o quê? — ela suspirou satisfeita e então, esfregou sua bochecha
contra minha coxa. — Ficar brava?
— Não — eu engasguei, segurando sua cabeça mais uma vez. — Fique
brava o quanto quiser, apenas pare de moer sua cabeça no meu colo.
— Eu gosto do seu colo — ela respira, os olhos fechados. — É como um
travesseiro.
— Sim, uh, bem, isso é legal e tudo mais — Eu faço uma pausa para
acalmar seu rosto com minhas mãos mais uma vez —, mas eu estou
dolorido, então eu preciso que você não faça isso.
— Fazer o quê?
— Se esfregar — eu resmungo. — Aí.
— Por que você está dolorido? — Ela suspira pesadamente e pergunta: —
Você também está quebrado?
— Provavelmente — eu admito, mudando seu rosto para minha coxa boa
– bem, boa sendo aquela que doía menos. — Fique aí, ok? — Era mais um
pedido do que uma ordem. — Não se mova.
Cumprindo, ela não move a cabeça novamente.
Usando minha mão livre para pressionar contra a tensão que se formava
na minha têmpora, pensei em quanta merda eu ia passar.
Eu estava perdendo aula.
Eu estou com fome.
Eu tenho o treino no clube esta noite.
Eu tenho uma sessão de academia marcada logo depois da escola com
Gibsie.
Fisioterapia com Janice depois da escola amanhã.
Eu tenho um jogo da escola na sexta-feira.
Eu tenho outra sessão de treino com os jovens no fim de semana.
Eu tinha uma agenda lotada e não precisava desse drama.
Vários minutos se passaram em um silêncio doloroso antes que ela se
movesse novamente, e nesse tempo, eu debato todas as maneiras que o Sr.
Twomey era um diretor incompetente.
Eu tinha uma lista do tamanho do meu braço quando ela tenta se sentar
novamente.
— Toma cuidado — eu aviso, pairando sobre ela como uma mãe galinha.
Eu a ajudo a ficar na posição vertical e consigo deslizar para fora do
banco no processo.
Cada músculo abaixo do meu umbigo grita em protesto, mas não me
afasto.
Em vez disso, continuo agachado na frente dela, mantendo minhas mãos
em cada lado de sua cintura, esperando para pegá-la.
— Você está bem, Shannon?
Seu longo cabelo castanho cai para frente, cobrindo seu rosto como um
cobertor.
Ela assente lentamente, as sobrancelhas franzidas profundamente.
— Eu... eu acho que sim.
Eu fico aliviado, meu alívio sendo palpável.
— Bom.
Ela se inclina para frente então, apoiando os cotovelos nas coxas, os olhos
abertos e olhando para os meus, e de repente ela estava muito perto para ser
confortável – e isso diz algo considerando que não menos de dois minutos
atrás ela estava com o rosto no meu colo.
Estávamos perto demais.
De repente, me senti muito exposto.
Minhas mãos se movem de sua cintura para suas coxas, uma reação
automática ao ter uma mulher inclinando seu rosto para o meu.
Eu rapidamente me repreendo, afastando minhas mãos para descansar no
banco em vez disso.
Limpando minha garganta, forço um pequeno sorriso.
— Você está viva.
— Quase — ela sussurra com uma careta, olhos azuis queimando buracos
nos meus, me estudando com mais clareza agora. — Você tem uma mira
terrível.
Eu rio de suas palavras.
Elas estavam tão longe da verdade que eu não pude evitar.
— Bem, essa é a primeira vez — eu medito. — Não estou acostumado a
ser criticado pela minha capacidade de chutar uma bola.
Eu não era uma nota dez naturalmente, mas tinha uma pontaria decente e a
habilidade de chutar de longa distância quando necessário.
— Sim — ela resmunga. — Bem, sua habilidade de chutar uma bola
quase me matou.
— Ponto justo — eu reconheço, me encolhendo.
Sem pensar duas vezes sobre o que estava fazendo, estendo a mão e
prendo seu cabelo atrás das orelhas.
Eu a senti tremer com o contato e rapidamente me repreendo pelo
movimento.
Não toque nela, idiota.
Mantenha suas mãos longe.
— Sua voz é estranha — ela anuncia então, olhos azuis fixos nos meus.
Eu faço uma careta.
— Minha voz?
Ela assente lentamente, então geme e segura seu rosto mais uma vez.
— Seu sotaque — ela esclarece, respirando com dificuldade. — Não é um
sotaque de Cork.
Ela ainda estava segurando a cabeça, mas estava mais alerta agora.
— Isso é porque eu não sou de Cork — eu respondo, incapaz de me
impedir de estender a mão e alisar uma mecha de seu cabelo. — Eu nasci e
cresci em Dublin — eu me ouço explicar, colocando a mecha rebelde atrás
da orelha dela. — Eu me mudei para Cork com meus pais quando eu tinha
onze anos.
— Então, você é de Dublin — ela afirmou, claramente divertida com a
informação. — Um Jackeen.
Eu zombo do termo e jogo de volta um dos meus.
— E você é uma Culchie.
— Meus primos moram em Dublin — ela me diz.
— Ah, sim? Onde?
— Clondalkin, eu acho — ela respondeu. — E você?
— Blackrock.
— O lado sul? — Seu sorriso se alarga, os olhos mais alerta agora. —
Você é um garoto chique.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Eu pareço chique para você?
Ela dá com os ombros.
— Eu não te conheço o suficiente para dizer.
Não, ela não conhece.
— Bem, eu não sou — acrescento, desconfortável com o pensamento dela
fazendo um julgamento preventivo de mim.
Eu não deveria me importar.
Inferno, eu normalmente nunca me importava.
Então, por que eu estava de mau-humor com isso agora?
— Eu acredito em você — sua pequena voz rompeu meus pensamentos.
— Você nunca poderia ser chique.
— E por que isso?
— Porque você xinga como um marinheiro.
Eu rio do raciocínio dela.
— Sim, você provavelmente está certa sobre isso.
Ela ri junto comigo, mas rapidamente para e geme, apertando as têmporas.
Arrependimento dispara dentro de mim.
— Sinto muito — eu disse a ela, tom áspero agora e grosso.
— Pelo quê? — ela sussurra, parecendo se inclinar mais perto enquanto
morde o lábio inferior.
— Por machucar você — eu respondo honestamente.
Cristo, minha voz nem soava como se pertencesse a mim. Parecia tensa...
crua.
Limpo a garganta e acrescento:
— Não vai acontecer de novo.
— Você promete?
Lá vai ela com as promessas de novo.
— Sim— eu digo, o tom grosso agora. — Eu prometo.
— Deus — ela geme, fazendo uma careta agora. — Todo mundo vai rir de
mim.
Aquelas palavras, aquela pequena frase do caralho, trouxe à vida uma
porra de uma emoção estranha que eu não experimentei antes.
— Estou tão envergonhada — ela continua a murmurar, os olhos voltados
para baixo. — Eu serei o assunto da escola.
— Olhe para mim.
Ela não olha.
— Ei, — eu pauso e inclino seu queixo para cima com meu polegar e
indicador. Uma vez que eu estava satisfeito por ter sua atenção novamente,
eu continuo — ninguém vai dizer uma palavra sobre você.
— Mas todos eles me viram…
— Ninguém vai abrir a boca sobre isso. — Percebendo que meu tom
estava beirando a raiva, abaixo um pouco e tento novamente. — Não a
equipe, não o treinador, ou qualquer outra pessoa. Eu não vou deixar.
Ela pisca em sua confusão.
— Você não vai deixar?
— Isso mesmo — eu confirmo com um aceno de cabeça. — Eu não vou
deixar.
— Você promete? — ela sussurra, um pequeno sorriso puxando seus
lábios inchados.
— Sim — eu respondo bruscamente, sentindo como se eu prometeria
todas as malditas promessas do mundo só para fazer essa garota se sentir
melhor. — Eu te dou cobertura.
— Não, você me deu uma bolada — ela resmunga. Ela olha para seu
corpo e suspira. — Na verdade, eu acho que você arruinou tudo de mim.
Obrigado por isso, porque você está arruinando tudo de mim agora,
penso comigo mesmo.
Jesus, de onde diabos isso veio?
Afastando o pensamento, decido-me por um comentário mais seguro:
— Vou fazer com que meu pessoal ligue para o seu pessoal para calcular a
conta.
Isso arranca um sorriso dela, um sorriso adequado, não tímido ou
pequeno.
Era um sorriso honesto de megawatt.
Ela era tão fodidamente linda.
Eu odiava essa palavra, linda era uma palavra delicada usada por mulheres
e idosos, mas era isso que ela era.
Foda-se, eu tinha a sensação de que seu lindo rosto estaria cimentado no
primeiro ponto da minha mente por muito tempo.
Mas eram aqueles olhos selvagens que realmente me impressionavam e eu
tenho essa vontade louca de pesquisar no Google as tabelas de cores dos
olhos apenas para que eu pudesse descobrir a porra do tom azul de seus
olhos.
Faria isso mais tarde, decido.
Assustador ou não, eu precisava saber.
— Então, — eu testo minha sorte perguntando: — é o seu primeiro dia?
Ela assente novamente, o sorriso vacilando muito pouco.
— Como está indo para você?
Um pequeno sorriso inclina seus lábios para cima.
— Estava indo muito bem.
— Certo. — Eu me encolho. — Desculpe de novo.
— Está tudo bem — ela sussurra, estudando meu rosto com aqueles olhos
grandes. — E você pode parar de pedir desculpas agora. Eu acredito em
você.
— Você acredita em mim?
— Sim. — Ela acena com a cabeça, em seguida, exala uma respiração
cortada. — Eu acredito em você quando você diz que foi um acidente — ela
disse. — Eu não acho que você intencionalmente machucaria alguém.
— Bem, isso é bom. — Eu não tinha ideia de por que ela pensaria o
contrário, mas eu não estava prestes a questionar a garota. Não quando eu a
machuquei. — Porque eu não machucaria.
Ela fica quieta novamente, afastando-se de mim, e eu me encontro
quebrando a cabeça para ter algo para dizer.
Eu não tinha explicação por qual razão eu queria manter ela falando
comigo. Acho que poderia reduzir a necessidade de mantê-la consciente.
Mas no fundo eu sabia que não era esse o motivo.
Percorrendo meu cérebro para encontrar algo para dizer, eu solto:
— Você está com frio?
Ela olha para mim com uma expressão sonolenta.
— Huh?
— Frio — eu repito, resistindo à vontade de correr minhas mãos para
cima e para baixo em seus braços. — Você está quente o suficiente? Devo
pegar um cobertor ou algo assim?
— Eu estou... — ela faz uma pausa e olha para os joelhos. Soltando um
pequeno suspiro, ela olha de volta para o meu rosto e diz: — Eu estou
realmente quente.
— Uma avaliação completamente precisa.
A resposta altamente inadequada sai da minha boca antes que eu tivesse a
chance de filtrar.
Eu rapidamente toco em sua testa, minha patética tentativa de verificar sua
temperatura, e então assinto solenemente.
— Você está definitivamente quente.
— Eu te disse. — Seus grandes olhos estão arregalados e presos nos
meus. — Eu estou muito, muito quente.
Deus.
Porra.
— Então — eu digo casualmente, tentando me distrair dos meus
pensamentos rebeldes. — Em que ano você está?
Por favor, diga quinto ano.
Por favor.
Por favor.
Por favor, Deus a faça dizer quinto ano.
— Terceiro ano.
É, e assim se foi.
Ela estava no terceiro ano.
E assim, vi meu sonho de cinco minutos flutuar pela janela.
Foda-se. Minha. Vida.
— E você? — ela pergunta então, a voz suave e doce.
— Estou no quinto ano — eu digo a ela, distraído pela súbita e
proeminente pontada de decepção se agitando dentro de mim. — Tenho
dezessete anos e dois terços.
— E dois terços — ela ri. — Os terços são importantes para você ou algo
assim?
— Eles são agora — eu murmuro baixinho. Suspirando em resignação,
olho para ela e explico: — Eu deveria estar no sexto ano, mas repeti o quinto
ano quando me mudei para Cork. Farei dezoito anos em maio.
— Ei… eu também!
— Você também o quê? — Eu pergunto cautelosamente, tentando não ter
muitas esperanças, mas era uma coisa difícil de fazer com ela sentada tão
perto.
— Eu repeti um ano na escola primária.
— Sim? — Eu me endireito, uma lasca de esperança acendendo dentro de
mim. — Então, isso faz você ter quantos anos?
Por favor, tenha dezessete.
Por favor, me jogue um osso e me diga que você tem dezessete anos.
— Eu tenho quinze.
A porra da minha sorte.
— Eu não consigo imaginar quais são as frações para completar dezesseis
anos em março. — Ela franze a testa por um momento antes de acrescentar:
— Eu sou ruim em matemática, e minha cabeça dói.
— Dez doze avos — eu digo mal-humorado.
Ugh.
Apenas ugh, porra.
Eu faria dezoito anos em maio e ela ainda teria dezesseis por mais dez
meses.
Não.
De jeito nenhum.
Não está acontecendo.
Maldito plano ruim, Johnny.
— Você tem um namorado?
Agora, por que diabos eu tinha que perguntar isso?
Você é quase dois anos mais velho que essa garota, idiota!
Ela é muito jovem para você.
Você conhece as regras.
Deixa disso, porra.
— Não — ela responde lentamente, as bochechas ficando rosadas. —
Você?
— Não, Shannon. — Eu sorrio. — Eu não tenho namorado.
— Eu não quis dizer — Fazendo uma pausa, ela exala um suspiro e morde
o lábio inferior, claramente nervosa. — Eu quis dizer...
— Eu sei o que você quis dizer — eu completo, incapaz de impedir que
meu sorriso se espalhasse, enquanto recolocava aquele cacho solto atrás de
sua orelha. — Eu só estava brincando com você.
— Oh.
— É — eu provoco. — Oh.
— Bem? — ela pressiona, a voz baixa. Ela olha para seu colo antes de
voltar sua atenção para o meu rosto. — Você...
— Shannon! — Uma voz feminina em pânico chama, distraindo nós dois.
— Shannon!
Eu viro meu olhar para a mulher alta, de cabelos escuros, correndo pelo
corredor em nossa direção, ostentando uma pequena barriga com um bebê.
— Shannon! — ela chama, aproximando-se de nós. — O que aconteceu?
— Mãe — Shannon resmungou, voltando sua atenção para sua mãe. —
Estou bem.
Altamente desconfortável com a visão da barriga saliente de sua mãe, eu
tomo isso como minha deixa para me afastar de sua filha menor.
Mulheres grávidas me deixavam nervoso, mas não tanto quanto Shannon,
como o rio, me deixava.
Eu me levanto e faço menção de me afastar, apenas para ser encurralado
pelo que eu só poderia descrever como uma mãe ursa enlouquecida.
— O que você fez com a minha filha? — ela exige, cutucando meu ombro
com o dedo. — Bem? Você achou engraçado? Por que em nome de Deus as
crianças são tão cruéis?
— O que… não! — Eu respondo de volta, as mãos para cima em retirada.
— Foi um acidente. Eu não queria machucá-la.
— Sra. Lynch — o diretor sugere, colocando-se entre a mulher e eu. —
Tenho certeza que se todos nós apenas sentarmos e conversarmos sobre
isso...
— Não — a Sra. Lynch late, a voz cheia de emoção. — Você me garantiu
que esse tipo de coisa não acontecia nesta escola e veja o que aconteceu no
primeiro dia dela! — Ela se vira para olhar para Shannon e sua expressão
cede de dor. — Shannon, eu não sei mais o que fazer com você — a mulher
soluça. — Eu realmente não sei, querida. Eu pensei que este lugar seria
diferente para você.
— Mãe, ele não queria me machucar — afirma Shannon, defendendo meu
caso. Seus olhos azuis se voltaram para mim por um breve momento antes
de retornar para sua mãe. — Foi realmente um acidente.
— E quantas vezes você me disse isso? — sua mãe perguntou cansada. —
Você não precisa encobrir ele, Shannon. Se este menino está te
atormentando, então diga.
— Eu não estou — eu protesto ao mesmo tempo que Shannon fala alto:
— Ele não está.
— Cala a boca, você — sua mãe sussurra, me empurrando com força no
peito. — Minha filha pode falar por si mesma.
Rangendo os dentes, eu, de fato, calo a boca.
Eu não ia ganhar nenhuma disputa verbal com a mãe dela.
— Foi um acidente completo — Shannon repete, o queixo projetando-se
desafiadoramente, ainda segurando a cabeça com a mão pequena. — Você
acha que ele estaria aqui me ajudando se fosse de propósito?
Isso dá à mulher uma pausa para pensar.
— Não — ela finalmente admite. — Não, eu não suponho que ele iria… o
que em nome de Deus você está vestindo?
Shannon olha para si mesma e fica vermelha.
— Eu rasguei minha saia quando caí na subida — diz ela com um gole
profundo. — Johnny... uh, me deu sua camisa para que todos não vissem
minha... minha... bem, minha calcinha.
— Uh, sim, aqui. — Eu murmuro enquanto puxo o pedaço de tecido cinza
do cós do meu short e estendo para sua mãe. — Eu, uh, arruinei isso
também.
Sua mãe arranca a saia de mim, e eu dou um passo seguro para trás.
— Deixe-me ver se entendi — sua mãe exige, seu olhar piscando entre
mim e Shannon. Reconhecimento brilha em seus olhos azuis pálidos, do que
eu não tinha ideia, porque eu estava me sentindo sem noção agora. — Ele
derrubou você, rasgou suas roupas, e então ele colocou sua camisa em você?
Eu murmuro uma série de maldições e passo a mão pelo meu cabelo.
Soa tão fodidamente ruim quando ela diz assim.
— Eu não...
— Ele me ajudou, mamãe — Shannon retrucou.
Ela se move para se levantar, e como o idiota que eu era, me movo para
ajudá-la, pegando um olhar estreito de sua mãe.
Vou até ela de qualquer maneira.
Foda-se todos eles.
Eu tinha visto essa garota meio sem sentido há uma hora atrás.
Eu não estava me arriscando com ela.
— Mãe — Shannon suspira. — Ele estava treinando futebol e a bola me
acertou...
— Rúgbi — intervém o Sr. Twomey com orgulho. — Nosso Johnny é o
melhor jogador de rúgbi que a Tommen College viu em cinquenta anos.
Reviro os olhos.
Não era hora de falar sobre mim, ou sobre a escola.
— Foi honestamente um erro — eu acrescento com um encolher de
ombros impotente. — E eu vou pagar pelo uniforme dela.
— E o que isso quer dizer? — sua mãe exigiu.
Eu faço uma careta.
— Isso significa que eu vou pagar pelo uniforme dela — eu repito
lentamente. — A saia dela...
— E meia-calça — Shannon interrompe.
— E as meias dela. — Dou-lhe um sorriso indulgente, em seguida,
rapidamente neutralizo minhas feições quando me deparo com um olhar
mortal de sua mãe. — Eu vou substituir tudo.
— Porque não temos dinheiro? — A Sra. Lynch late. — Porque eu não
posso me dar ao luxo de vestir minha própria filha?
— Não — eu digo lentamente, confuso para caralho com a incubadora
humana declarando uma guerra silenciosa a mim. — Porque é minha culpa
que estão arruinados.
— Bem, não, obrigada, Johnny — ela bufa. — Minha filha não é um caso
de caridade.
Cristo.
Esta mulher era de outro mundo.
Eu tento novamente
— Eu nunca disse que ela era, Sra. Lynch…
— Pare, mamãe — Shannon geme, as bochechas queimando vermelhas.
— Ele só está tentando ser legal.
— A coisa legal a fazer seria não agredir você em seu primeiro dia — Sra.
Lynch bufa.
Eu sufoco um gemido.
Eu não ia ganhar nenhum concurso de popularidade com essa mulher, isso
era certo.
— Sinto muito — eu rolo a palavra pela centésima fodida vez.
— Johnny — disse o sr. Twomey, limpando a garganta. — Por que você
não volta, veste seu uniforme e vai para a próxima aula?
Eu caio em alívio, encantado com a perspectiva de ficar longe dessa
maldita mulher louca.
Dou alguns passos na direção da entrada da frente, depois paro, hesitando.
Devo deixá-la?
Devo ficar?
Ir embora não parecia a coisa certa a fazer.
Incerto, me movo para voltar, mas sou derrubado com uma ordem latida.
— Continue andando, Johnny! — sua mãe ordena, apontando um dedo
para mim.
Então eu continuo.
5

ESTABELECENDO LEIS E QUEBRANDO-AS

JOHNNY

Quando volto para o vestiário, depois de um desvio para o refeitório para


falar com a vice-diretora, a Sra. Lane, a equipe havia terminado o treino e a
maioria dos rapazes tinham acabado de tomar banho.
Ignorando os comentários abafados e os olhares quando entro, vou direto
para Patrick Feely, peço desculpas por ter sido um idiota com ele mais cedo,
deixamos para lá e então me esgueiro até o banco.
Afundando ao lado da minha bolsa de equipamentos, levanto os meus pés,
descanso minha cabeça contra a parede fria de lajes atrás de mim, e exalo
uma respiração pesada enquanto meu cérebro estava acelerado, obcecado
com cada detalhe dos eventos do dia.
Que dia de merda
Bullying.
Eu não era um valentão.
Eu nunca tinha posto os olhos na garota antes na minha vida.
Aparentemente, esse pequeno diamante de informação foi perdido pela
nossa vice-diretora que foi chamada pelo Sr. Twomey para ajudar a dissipar
o drama.
Depois de dez minutos de briga com a mão direita de Twomey, recebi
instruções estritas para ficar longe da garota Lynch.
A mãe dela pensou que eu estava fazendo a porra de um bullying com ela
e não queria que eu chegasse perto de sua filha.
Se eu chegasse perto dela novamente, enfrentaria suspensão imediata.
Era uma completa e absoluta besteira e eu esperava que Shannon tivesse a
decência de ajeitar isso, e me defender.
Foda-se.
Que seja.
Eu manteria uma grande distância.
Eu não precisava do incômodo.
Garotas eram uma porra de uma complicação que eu não precisava;
mesmo pequeninas com olhos azuis selvagens.
Droga, agora eu estava pensando em seus olhos novamente.
Ela ainda tem sua camisa, eu anoto mentalmente, o que me deixou triste
por um motivo totalmente diferente.
Era nova e eu só tinha usado essa porra uma vez.
Fica melhor nela, porém, reconheço a contragosto.
Ela pode ficar com ela.
Eu só esperava que ela não jogasse fora.
Eu teria que pagar oitenta libras para substituir a coisa sangrenta.
— Você está bem, menino Johnny? — Gibsie pergunta, interrompendo
meus pensamentos, enquanto se senta no banco ao meu lado. Ele acabara de
tomar banho e estava vestido com uma cueca boxer. — Como está a garota?
— ele acrescenta, curvando-se para enfiar a mão em sua bolsa de
equipamentos.
Balançando a cabeça, eu me viro para olhar para ele.
— Huh?
— A jovem — ele explica, pegando um spray de desodorante. — Quem é
ela?
— Shannon — eu murmurei. — Ela é nova. Do terceiro ano. Hoje é seu
primeiro dia.
— Ela está bem? — ele pergunta, borrifando Lynx em cada axila antes de
jogar a lata de volta em sua bolsa e pegar suas calças cinza do uniforme. —
Ela parecia fora de órbita.
— Foda-se se eu sei, cara. Acho que realmente fiz um estrago no cérebro
dela. — Murmuro com um encolher de ombros impotente. — A mãe dela
está levando ela para o hospital para ser examinada.
Gibsie faz uma pausa, franzindo a testa.
— Merda.
— Sim — eu aceno com a cabeça severamente. — Merda.
— Jesus, isso deve ter sido mortificante para ela. — Deslizando os pés em
suas calças, ele se levanta e arrasta-os até seus quadris. — Ter sua bunda à
mostra para o time de rúgbi em seu primeiro dia.
— Sim — eu respondi, porque o que mais eu poderia dizer?
Era humilhante para ela e eu era o responsável por isso.
Solto um suspiro frustrado.
— Alguma coisa foi dita sobre ela? — Olho em volta para nossos
companheiros de equipe e depois de volta para meu melhor amigo com
apenas uma coisa em mente. Controlar os danos. — Eles estavam falando
sobre ela?
Gibsie ergue as sobrancelhas com a minha pergunta.
Na verdade, acho que as sobrancelhas levantadas e a expressão surpresa
tinham mais a ver com o tom da minha voz.
— Bem, — ele começa lentamente. — ela tinha a boceta e a bunda dela à
mostra, capi – uma bunda muito bonita que combina com o resto muito bom
dela – então sim, cara. Houve conversas.
— Que tipo de conversa? — Eu mordo, sentindo uma onda irracional de
raiva ferver dentro de mim. Eu não tinha a menor ideia de onde a agitação
estava vindo, mas estava lá, era forte e estava me fazendo sentir meio doido.
— Interesse, cara — Gibs explica calmamente, muito mais calmo do que
eu. — Muito interesse. — Enfiando a mão na bolsa, ele tira a camisa branca
da escola e a veste. — Caso isso tenha escapado da sua atenção – e pela sua
reação, eu sei que não – essa garota é bonita.
Ele abotoa a camisa com mãos firmes.
Enquanto isso, eu tremo com a energia que rapidamente precisava ser
expelida do meu corpo.
— Ela é linda e ela é nova e os rapazes estão... curiosos — acrescenta,
escolhendo as palavras com cuidado. — O novo é sempre divertido... — ele
fez uma pausa, sorrindo, antes de acrescentar — ... o lindo é melhor.
— Para — eu rosno, agitado com o conceito de meus companheiros de
equipe falando sobre ela.
Eu vi aquele olhar em seus olhos.
Eu ouvi isso na voz dela.
Essa vulnerabilidade.
Ela não era como as outras.
Essa garota era diferente.
Eu mal a conhecia, mas eu poderia dizer que essa precisava de atenção.
Algo tinha acontecido com Shannon Lynch, algo ruim o suficiente que
resultou em sua troca de escola.
Isso não me descia.
— Sim — ele ri enquanto terminava de vestir sua camisa e colocava sua
gravata vermelha — Boa sorte com isso, cara.
— Ela tem quinze anos — eu aviso, ficando tenso.
Dezesseis em março, mas ainda assim.
Pelos dois meses seguintes, ela ainda tinha quinze anos.
— Ela é muito jovem.
Gibsie bufa.
— Diz o idiota que enfiava seu pau em qualquer coisa com pulso desde o
primeiro ano.
Gibsie acerta em cheio com essa afirmação.
Pelo amor de Deus, eu perdi minha virgindade no primeiro ano com
Loretta Crowley, que era três anos mais velha do que eu, e tinha uma vida
inteira mais experiência do que eu, atrás dos galpões da escola depois da
aula.
Sim, isso foi um desastre.
Eu estava todo nervoso e com movimentos desajeitados, bem ciente de
que era muito jovem para enfiar meu pau em qualquer coisa além da minha
mão, mas devo ter feito algo certo porque Loretta se juntou a mim
alegremente atrás dos galpões na maioria dos dias depois da escola por
vários meses antes de eu ficar muito ocupado com o treinamento e pedir um
tempo de nossos encontros.
Se eu tivesse que dizer em que tipo de mulher eu estava interessado, não
seriam loiras ou morenas, curvilíneas ou magras.
Meu tipo era mais velhas – com todas as garotas com quem eu já estive
tendo pelo menos um par de anos na minha frente.
Às vezes muito mais.
Não era um fetiche nem nada.
Eu simplesmente gostava da aura livre de drama que as garotas mais
velhas traziam para a mesa.
Eu aproveitava quando estava com elas e depois aproveitava ainda mais
quando não estava.
Isso não quer dizer que eu não gostava muito da garota com quem eu
estava quando estava com ela.
Eu gostava.
E eu também fui leal.
Eu não fodi por aí.
Se uma garota queria exclusividade, sem compromisso, então eu ficaria
mais do que feliz em atender. Eu não gostava da caça ou da perseguição que
atraía a maioria dos rapazes. Se uma garota estava esperando que eu a
perseguisse, ela estava olhando para o cara errado. Eu não estava em posição
de ser o tipo namorado agora. Não que eu não quisesse uma namorada; só
não tinha tempo para uma. Eu não tinha tempo para encontros consistentes
ou qualquer uma dessas exigências.
Eu estava muito ocupado.
Era outra razão pela qual eu preferia garotas mais velhas.
Eles não esperavam milagres de mim.
Agora, por exemplo, eu estava brincando com Bella Wilkinson do sexto
ano e estava desde abril do ano passado.
No começo, eu gostava de Bella porque ela não respirava no meu pescoço.
Aos dezenove anos, ela tinha um par de anos na minha frente, ela não me
prendia a um padrão invisível que eu não podia ou não queria cumprir, e
depois, eu podia ir embora e me concentrar no rúgbi, enquanto ela me
deixava com minhas próprias coisas.
Mas depois de alguns meses, eu rapidamente percebi que não era em mim
que Bella estava interessada.
Era as merdas que vinham com estar comigo.
Era tudo sobre status com Bella, e quando eu percebi, eu estava muito
confortável e com preguiça de fazer qualquer coisa sobre isso.
Ela queria meu pau.
Era isso.
Bem, meu pau e meu status.
Agora, eu ficava porque ela era familiar e eu era preguiçoso.
Bella tinha uma expectativa de mim, uma exigência que, até alguns meses
atrás, eu era mais que capaz de fornecer.
Eu não tinha feito muita coisa com Bella desde antes da minha cirurgia, eu
não tinha colocado um dedo na garota desde o início de novembro, quando
se tornou muito doloroso até mesmo contemplar isso, mas meu ponto era
que quando aconteceu, era apenas sexo para mim.
Uma liberação constante.
Em algum lugar no fundo da minha mente, reconheço que essa era uma
atitude doentia em relação à vida e aos relacionamentos com o sexo oposto,
e que eu provavelmente estava profundamente cansado, mas era difícil
continuar sendo um menino quando eu vivia em um mundo de homens.
Também não ajudava que eu estivesse jogando rúgbi em um nível onde eu
estava cercado por homens muito mais velhos do que eu.
Conversas que eram destinadas a pessoas muito mais velhas do que eu.
Mulheres feitas para homens muito mais velhos que eu.
Não meninas, mas mulheres.
Jesus, se minha mãe conhecesse metade das mulheres que se ofereceram
para mim – mulheres com bundas crescidas – ela me tiraria da Academia e
me trancaria no meu quarto até que eu fizesse vinte e um.
De certa forma, minha infância foi roubada de mim por causa da minha
habilidade de jogar rúgbi.
Cresci muito rapidamente, assumindo o papel de homem quando era
pouco mais que um menino; treinado e empurrado, pressionado e campeão.
Não tive vida social e infância.
Em vez disso, eu tinha expectativas e uma carreira.
Sexo era a recompensa que me permiti por ser, bem, bom.
Por controlar tudo na minha vida.
Por equilibrar minha escola e meu esporte com controle puro e uma
vontade de ferro.
Eu não era o único assim.
Além de alguns rapazes com namoradas de longa data, o resto dos rapazes
da Academia eram tão ruins quanto eu.
Na verdade, eles eram piores.
Eu era discreto.
Eles não eram.
— Nós não estamos falando de mim — eu digo a Gibsie, arrastando
minha atenção de volta para o presente, minha raiva crescendo a cada
segundo. — Ela é uma porra de uma criança, muito jovem para todos esses
idiotas com tesão, e cada idiota nesta sala precisa respeitar isso.
— Quinze é uma criança? — Gibsie responde, parecendo confuso. —
Que porra você está falando, Johnny?
— Quinze é jovem — eu ladro, frustrado. — E ilegal.
— Oh. — Gibsie sorri conscientemente. — Eu vejo.
— Você não vê merda nenhuma, Gibs — eu jogo de volta.
— Desde quando você começou a se importar com o que qualquer um de
nós faz?
— Não comecei. Faça o que e quem diabos você quiser. — Eu rebato
acaloradamente. — Só não ela.
Ele sorri largamente, claramente me provocando, quando ele brinca:
— Continue com essa conversa e eu vou começar a pensar que você está
ficando mole com a garota.
— Eu não estou brincando aqui — eu rebato, mordendo a isca.
— Relaxe, Johnny — Gibsie diz com um suspiro. — Eu não tenho
intenção de chegar perto da garota.
— Bom. — Eu solto uma respiração que eu não tinha percebido que
estava segurando.
— Eu não posso garantir o resto deles, no entanto — acrescenta,
gesticulando com o polegar para atrás dele.
Assentindo rigidamente, volto minha atenção para o vestiário ocupado e
me levanto, eriçado de agitação.
— Ouçam — eu ladro, chamando a atenção de todos para mim. — Aquela
garota no campo mais cedo?
Espero até ter a atenção dos meus companheiros de equipe e então espero
que a compreensão cruze suas feições antes de explodir em um discurso
retórico.
— O que aconteceu com ela hoje? Seria embaraçoso como o inferno para
qualquer um e especialmente para uma garota. Então, eu não quero ouvir
uma palavra disso repetida na escola ou na cidade. — Minha voz assume
uma insinuação ameaçadora quando eu digo: — Se chegar aos meus ouvidos
que algum de vocês tem falado sobre ela... bem, eu não tenho que explicar o
que vai acontecer.
Alguém ri e eu viro meu olhar para o culpado.
— Você tem duas irmãs, Pierce — eu rebato, olhando para o filho da puta
de rosto vermelho. — Como você se sentiria se isso acontecesse com
Marybeth ou Cadence? Você gostaria que os rapazes falassem sobre ela
assim?
— Não, eu não gostaria. — Pierce fica ainda mais vermelho. — Desculpe,
Capi — ele murmura. — Você não vai ouvir isso de mim.
— Bom homem — eu respondo, balançando a cabeça antes de enfrentar o
time. — Vocês não irão falar sobre o que aconteceu com as roupas dela para
ninguém, nem para seus amigos de travesseiro ou amigos. Acabou. Foi
apagado. Nunca aconteceu... e aproveitando que estamos no assunto, não
falem com ela. — Acrescento, agora, meus comandos desta vez por razões
totalmente egoístas sobre as quais não ouso pensar muito. — Não tenham
nenhuma noção sobre ela. Na verdade, não olhem para ela.
Para ser justo com eles, a maioria dos jogadores veteranos do time apenas
acena com a cabeça e volta para o que eles estavam fazendo antes da minha
explosão, deixando-me saber que eu estou sendo irracional sobre isso.
Mas então há a porra de Ronan McGarry e sua boca para contestar isso.
Eu não gostava desse cara – não consigo suportá-lo se eu fosse honesto.
Ele era um terceiro ano de boca aberta que pulava pela escola como se
fosse o rei do pedaço.
Sua atitude arrogante só aumentou em aborrecimento este ano, quando ele
foi trazido para o time principal na escola depois que uma lesão no
ligamento cruzado anterior do joelho terminou a temporada de Bobby Reilly
mais cedo.
McGarry era um jogador de rúgbi medíocre, na melhor das hipóteses,
jogando como scrumhalf pela escola nesta temporada, e um pé no saco para
cobrir em campo.
Ele só estava no time em primeiro lugar porque sua mãe era irmã do
treinador. Certamente não era pelo seu talento.
Me dava um grande prazer derrubá-lo por pouco ou muito em qualquer
oportunidade.
— Por que? — ele zomba da segurança da extremidade oposta do
vestiário. — Você está a reivindicando? — O filho da puta loiro, encorajado
por alguns de seus amigos aquecedores de banco, continua: — Ela é sua
agora ou algo assim, Kavanagh?
— Bem, ela certamente não é sua, imbecil — eu atiro de volta sem
hesitação. — Não que eu estivesse incluindo você nessa declaração. —
Fungando, olho-o de cima a baixo lentamente com desgosto fingido antes de
acrescentar: — Sim, você não é um problema para mim.
Vários dos rapazes explodem em gargalhadas às custas de McGarry.
— Vai se foder. — ele cospe.
— Ai — eu finjo dor, então eu sorrio do outro lado da sala para ele. —
Isso doeu muito.
— Ela está na minha classe — ele diz.
— Bom para você. — Bato palmas, não gostando nem um pouco dessa
nova informação, mas enterrando meu aborrecimento com um sarcasmo
pesado. — Você quer uma medalha ou um troféu por isso?
Voltando minha atenção para minha equipe, acrescento:
— Ela é jovem, rapazes, jovem demais para qualquer um de vocês. Então
fiquem longe.
— Não para mim — o pequeno idiota solta. — Ela tem a mesma idade
que eu.
— Não. Não é uma questão de idade para você. — Eu rebato
uniformemente. — Ela é boa demais para você.
Mais risos às suas custas.
— Todo mundo pode agir como se você fosse algum tipo de deus nesta
escola, — ele rosna — mas ela é um jogo justo no que me diz respeito. —
Inchando o peito como um gorila desertor, ele sorri para mim. — Se eu a
quero, eu a terei.
— Jogo justo? — Eu solto uma risada. — Se você a quer, você a terá?
Cristo, garoto, em que mundo você está vivendo?
As bochechas de Ronan ficam rosadas.
— Eu vivo no mundo real — ele cospe. — Aquele em que as pessoas têm
que trabalhar pelo que ganham, e não ganhar isso porque estão na
Academia.
— Você acha isso? — Eu arqueio uma sobrancelha, inclinando minha
cabeça para um lado para medir ele. — Aparentemente não quando você está
iludido o suficiente para pensar que eu recebi tudo na minha vida, e
especialmente quando você se refere às garotas como um jogo justo. —
Balançando a cabeça, acrescento: — São garotas, McGarry, não cartas de
Pokémon.
— Deus, você acha que você é tão bom, não é? — ele estala, mandíbula
apertando. — Você acha que é tão fodidamente incrível! Bem, você não é.
Ficando entediado com suas artimanhas, eu balanço minha cabeça e digo a
ele:
— Dá o fora, garoto. Eu não vou jogar esse jogo com você hoje.
— Por que você não faz um favor a todos nós e dá o fora, Johnny! Eu
gostaria que você simplesmente desse o fora e acabasse com isso — ele
rugiu, o rosto ficando com um tom feio de roxo. — É para isso que você está
na Academia, certo? — ele exigiu, em tom furioso. — Para ser
condicionado? Para subir na hierarquia e conseguir um contrato? —
Respirando fundo, ele rosna: — Então, porra, mexa-se. Deixe a Tommen.
Volta para Dublin. Pegue seus contratos e vá embora!
— A educação é muito importante, Ronan. — Eu sorrio, saboreando seu
ódio por mim. — A Academia nos ensina isso.
— Aposto que as cabeças irlandesas nem mesmo querem você — ele
responde com raiva. — Toda essa conversa sobre você se juntar ao sub-20
no verão é tudo besteira que você mesmo inventou.
— Garoto, você precisa ir embora agora — Hughie Biggs, nosso número
dez, e um bom amigo meu, interrompe com um suspiro. — Você soa como a
porra de um palhaço.
— Eu? — Ronan late, olhando para Hughie do outro lado da sala. — Ele é
o babaca andando por esta cidade como se fosse o dono, recebendo
tratamento especial dos professores, e mandando em todos vocês. E vocês só
aceitam!
— E você está fedendo a sala com seu ciúme — Hughie responde em um
sotaque desleixado. — Arrume suas coisas, garoto — ele acrescenta,
passando a mão pelos cabelos loiros, enquanto se aproximava de mim e de
Gibs. — Você está dando uma de idiota.
— Pare de me chamar de garoto! — Ronan rugi, a voz embargada,
enquanto corre em nossa direção. — Eu não sou uma porra de uma criança!
Nem Gibsie, Hughie ou eu nos movemos um centímetro, todos muito
entretidos com sua birra.
Ronan era um problema para a equipe desde setembro; desafiando ordens,
quebrando a classificação, fazendo acrobacias estúpidas em campo que
quase nos custaram vários jogos.
Essa pequena explosão dele não era a primeira.
Era apenas mais uma em uma longa lista de muitas birras.
Ele era ridículo e precisava reinar.
Se o tio dele não estava preparado para fazer isso, então eu estava.
— Ele é seu capitão — Patrick Feely fala, para minha surpresa, quando
ele e vários membros da equipe vem e ficam na minha frente, bloqueando a
tentativa patética de McGarry de exultar o poder e mostrando seu apoio a
mim. — Mostre um pouco de respeito, McGarry.
Bem, merda.
Eu me sinto terrível agora.
Olhei para Feely, meus olhos cheios de remorso por minhas artimanhas
anteriores em campo.
O olhar que ele me dá me garante que, para ele, foi esquecido há muito
tempo.
Ainda não me caiu bem.
McGarry estava certo sobre uma coisa; eu recebia tratamento especial na
cidade.
Trabalhei como um cachorro em campo e fui recompensado
fabulosamente fora dele.
Eu usaria essa influência para comprar uma cerveja para Feely no Biddies
no fim de semana – para Gibs e Hughie também.
— Corra para a mamãe, Ronan — Gibsie ordena, empurrando-o para a
saída do vestiário. — Talvez ela pegue seus Legos. — Abrindo a porta com
uma mão, Gibsie o empurra para fora com a outra. — Você não está pronto
para brincar com os meninos grandes.
— Eu aposto que sua Shannon não vai dizer isso — Ronan rosna,
forçando-se a voltar para o vestiário. — Ou devo dizer, ela não será capaz de
dizer — ele sorri sombriamente, olhos fixos no meu rosto —, quando meu
pau estiver enterrado em sua garganta.
— Continue falando dela assim — eu fervilho, punhos se formando em
bolas apertadas ao meu lado. — Eu adoraria uma razão para arrancar a porra
da sua cabeça.
— Eu me sentei atrás dela esta manhã na aula de francês, sabe — ele
zomba, sorrindo largamente agora. — Se eu soubesse o que ela estava
escondendo sob aquela saia, eu teria sido mais amigável. — Piscando, ele
acrescenta: — Sempre há o dia seguinte.
— É isso, pessoal, é assim que você assina sua própria certidão de óbito
— Hughie murmura, jogando as mãos para cima em resignação. — Seu
estúpido, pequeno cuzão.
Nenhuma pessoa tenta me parar quando eu corro na direção de Ronan.
Ninguém se atreve.
Eu atingi minha cota de besteira para o dia e os rapazes sabem disso.
— Agora me escute, seu filho da puta. — Eu assobio, a mão em volta de
sua garganta, enquanto o arrasto de volta para a sala, fechando a porta das
testemunhas com minha mão livre. — E escute bem, porque eu só vou te
dizer isso mais uma vez.
Batendo Ronan contra a parede de concreto, eu vou em sua direção,
elevando-me sobre ele por uns bons quinze centímetros.
— Você não gosta de mim. Eu entendo. Eu também não gosto muito de
você. — Agarro sua garganta com força suficiente para dificultar sua
respiração, mas não o suficiente para cortar a circulação e matá-lo. Eu estava
tentando fazer um ponto, não cometer um crime. — Você não precisa gostar
de mim, mas como seu capitão, você com certeza respeitará minha
autoridade em campo.
Com 1,77m e dezesseis anos, Ronan não era pequeno de forma alguma,
mas com dezessete, 1,90m e crescendo, eu era um grande bastardo.
Fora de campo, raramente usava meu tamanho para intimidar alguém, mas
agora o usaria.
Eu estava de saco cheio desse garoto e sua boca. Ele não tinha nenhum
maldito respeito, e inferno, talvez eu pudesse lidar com sua atitude de merda
e agressividade em relação à mim.
Mas não a ela.
Eu não gosto, não aguento, e não ia aturar ele falando assim dela.
Aquele olhar assombroso de vulnerabilidade nos olhos dela me leva
adiante, me fazendo perder o pouco controle que eu tinha sobre meu
temperamento.
— Quando eu disser algo ao meu time — acrescento, rosnando agora, a
memória de seus solitários olhos azuis nublando meu julgamento. —
Quando eu fodidamente te aviso para deixar uma garota vulnerável em paz,
eu espero que você preste atenção ao meu maldito aviso. Eu espero sua
submissão. — Um leve som de asfixia vem da garganta de Ronan e eu
afrouxo meu aperto, mas mantenho minha mão lá. — Estamos entendidos?
— Foda-se — Ronan estrangula, gaguejando e ofegante. — Você não
pode me dizer o que fazer — ele murmura, sem fôlego. — Você não é meu
pai!
Este filho da puta.
Ele estava determinado a me desafiar mesmo quando não podia vencer.
— Eu sou seu pai no campo, seu desmiolado — Eu sorrio sombriamente e
aperto, cortando seu suprimento de ar. — Você não vê isso porque você é
uma criança saltitante, narcisista, desmiolada — Eu aperto mais forte. —
Mas eles vêem — Eu aceno com a mão atrás de nós, gesticulando para o
time que estava todo de pé, nenhum deles intervindo. — Cada um deles.
Todos eles entendem. Todos eles sabem que eu possuo você. — Eu
acrescento calmamente. — Continue me provocando, garoto, e não importa
com quem você está relacionado, você está fora deste time. Mas chegue
perto daquela garota e o próprio Deus não será capaz de salvá-lo.
Decidindo que eu tinha aterrorizado o jovem o suficiente para marcar o
meu ponto de vista, eu solto sua garganta e dou um passo para trás.
— Agora, — cruzando meus braços sobre meu peito, eu olhei para ele e
perguntei — estamos claros desta vez?
— Sim — Ronan resmunga, ainda me encarando.
Eu não me importo.
Ele poderia olhar para mim o quanto quisesse.
Ele poderia enfiar agulhas em uma versão vodu de mim e continuar me
odiando pelo resto da vida por tudo que eu me importava.
Tudo que eu precisava dele era sua submissão.
— Estamos claros — ele cospe.
— Bom garoto. — Eu bato em suas bochechas com minhas mãos e sorrio.
— Agora dá o fora daqui.
Ronan continua a murmurar suas críticas, mas como ele estava fazendo
isso baixinho, eu viro as costas para ele e vou direto para os chuveiros agora
vazios, escolhendo escaldar o temperamento do meu corpo com água.
— Johnny, posso ter uma palavra? — Cormac Ryan, nosso ala número 11
pergunta, enquanto me segue até a área do chuveiro.
Eu me viro e olho para ele, meus dedos deslizando para longe do cós do
meu short.
— Pode esperar? — Eu pergunto, tom tenso, mandíbula apertada,
enquanto meu olhar viajava sobre ele.
O aborrecimento ganha vida ao vê-lo, e eu sabia muito bem sobre o que
ele queria falar comigo, ou devo dizer sobre quem ele queria falar.
Bella.
A hora da conversa foi meses atrás.
Agora, com o humor em que eu estava, as chances de nós apenas
conversarmos eram pequenas.
Cormac pareceu perceber isso porque ele acena com a cabeça e se afasta
da porta.
— Sim, não se preocupe — ele responde, engolindo profundamente,
enquanto recua. — Eu vou, uh, conversar com você outra hora.
— Sim — eu brinco, observando-o sair. — Você irá.
Balançando a cabeça, eu me desnudo e entro no box do chuveiro.
Girando a torneira cromada, entro sob o fluxo constante de água gelada e
espero aquecer.
Pressionando a palma da mão contra a parede de azulejos, abaixo minha
cabeça e exalo uma respiração frustrada.
Eu não precisava de outra briga no meu currículo.
Manter minha ficha limpa nesta temporada era primordial, mesmo nessa
liga escolar de merda.
Seria uma má publicidade dar uma surra nos meus próprios companheiros
de equipe.
Mesmo quando meus dedos se contraem com o desejo de fazer
exatamente isso.
Quando eu terminei de tomar banho, os rapazes já tinham voltado para
suas aulas, deixando-me sozinho no vestiário.
Eu não me incomodo em correr de volta para a aula, priorizando meu
tempo com meu almoço e um smoothie de proteína pré-fabricado em vez
disso.
Não é até que eu termino de comer que noto a bolsa de gelo azul em cima
da minha bolsa de equipamentos. Havia um pequeno bilhete empoleirado em
cima que dizia: “Coloque gelo nas suas bolas, Capi.”
Maldito Gibsie.
Com um aceno de cabeça, afundo no banco e eu pego o saco de gelo.
Envolvendo uma camiseta velha ao redor, solto minha toalha e faço
exatamente o que aquele bilhete instruía.
Quando terminei de congelar minhas bolas, levo meu doce tempo
avaliando alguns dos meus ferimentos de longo prazo, sendo o mais
preocupante a cicatriz de aparência raivosa na minha virilha interna.
A pele estava quente, coçando, inchada e fodidamente repugnante de se
olhar.
Jogar com uma lesão era algo comum para um cara na minha situação,
mas depois de dezoito meses sofrendo com uma lesão crônica na virilha, eu
joguei a toalha e concordei com a cirurgia em dezembro.
Passar quatro dias de costas no hospital me contorcendo em agonia por ter
pegado uma infecção já era ruim o suficiente, mas as últimas três semanas de
reabilitação pós-cirurgia foram pura tortura.
De acordo com meu médico, meu corpo estava se recuperando bem e ele
havia autorizado a me deixar jogar – principalmente porque eu menti por
entre os dentes – mas os hematomas e a descoloração nas minhas coxas e ao
redor da minha área eram algo que precisava ser visto.
Eu também estava dolorido lá embaixo.
Pau, bolas, virilha, coxas.
Cada parte minha doía.
Todo o maldito tempo.
Eu não tinha certeza se minhas bolas doíam mais pela lesão ou pela
necessidade de liberação.
Além dos meus pais e treinadores, Gibsie era o único que conhecia os
detalhes da minha cirurgia – daí a bolsa de gelo.
Ele tinha sido meu melhor amigo desde que me mudei para Cork. Mesmo
que ele fosse um louro crescido demais, com uma propensão para porra de
administradores de escola e a capacidade de me deixar louco com sua atitude
blasé, eu sabia que podia confiar nele para me proteger.
Saber que ele poderia manter as coisas para si mesmo era a única razão
pela qual eu disse a ele.
Normalmente, eu guardava esse tipo de merda para mim.
Compartilhar detalhes de uma lesão era uma jogada perigosa e uma
maneira infalível de ter essa lesão alvo de equipes adversárias.
Além disso, era embaraçoso.
Eu era uma pessoa confiante por natureza, mas andar por aí com um pau
sem funcionar – sem fim de jogo à vista – significava que minha autoestima
havia sofrido uma surra.
Eu tive mais pessoas cutucando e cutucando minhas bolas no último mês
do que eu gostaria de lembrar, e não de uma maneira divertida, também.
Acordá-lo depois da operação não foi um problema para mim; foi com a
dor horrível e lancinante que veio com a ereção que eu tive um problema.
Aquela informação em particular que eu aprendi da maneira mais difícil
depois de uma maratona de pornô de merda em um sábado que resultou em
uma viagem embaraçosa à emergência do hospital.
Era a Noite de St. Stephen, dez dias após a cirurgia, e eu estava
chafurdando em autopiedade o dia todo, tendo recebido inúmeras mensagens
dos rapazes me perguntando se eu estava indo pub, então quando fui para a
cama noite, eu coloquei um filme pornô para me animar.
No minuto em que os seios da atriz estavam para fora, meu pau levantou
com a atenção.
Sentindo um leve desconforto que foi ofuscado pela percepção de que eu
ainda possuía um pau funcionando, eu me masturbei, tomando cuidado para
evitar os pontos na minha virilha.
Dois minutos no meu festival de punhetas e percebi o terrível erro que
havia cometido.
O problema surgiu quando eu estava perto de gozar.
Minhas bolas apertaram, como sempre faziam quando o sangue corria
para a cabeça do meu pênis, mas os músculos das minhas coxas e virilha
começaram a se contrair e espasmar – e não de um jeito bom.
A dor escaldante que disparou pelo meu corpo era tão forte que eu gritei
de agonia antes de vomitar sem cerimônia em todos os meus lençóis.
A dor era como nada que eu já experimentara antes.
A única maneira que eu poderia descrevê-lo era dizer que era como ser
chutado no saco repetidamente enquanto alguém batia um aguilhão de gado
em brasa no meu pau.
Infelizmente, a visão da mulher de seios de plástico sendo fodida na tela e
o áudio alto de seus gritos de “me fode mais forte”, sexy como o inferno,
tornou praticamente impossível para mim broxar.
Caindo no chão, eu tinha rastejado em minhas mãos e joelhos até a
televisão com a intenção de colocar meu punho na tela.
Esse foi o momento exato em que minha mãe adentrou no meu quarto.
Ela acabou tendo que me ajudar a me vestir, com tesão e tudo, e depois
me levar às pressas para o hospital, onde fui repreendido pela médica de
plantão por interferir em minha recuperação.
Eu não estou brincando, ela usou essas palavras exatas antes de mergulhar
em um discurso profundamente perturbador sobre os perigos de se masturbar
tão cedo após a cirurgia que eu fiz, e as ramificações de longo prazo que isso
poderia ter para o meu pênis – com minha mãe sentada ao meu lado.
Sete horas, uma rodada de exames de sangue, uma injeção de morfina e
um exame testicular depois, fui mandado para casa com uma receita para
uma nova rodada de antibióticos e instruções específicas para deixar meu
pênis em paz.
Isso foi há duas semanas e eu ainda não tinha tocado no meu pau.
Fiquei traumatizado.
Eu era um homem quebrado.
Eu sabia que deveria ser grato por não ter nenhum dano nervoso a longo
prazo na área, e eu ficaria assim que tudo estivesse curado e funcionasse
novamente, mas por enquanto, eu era um garoto de quase dezoito anos
irritado com um pau quebrado e um ego esvaziado.
O fodido Ronan McGarry pensava que eu tinha tudo entregue a mim.
Se ele percebesse os sacrifícios que fiz e os limites que forcei meu corpo,
duvido que ele se sentiria da mesma forma.
Então, novamente, talvez ele iria.
Ele tinha um problema tão grande comigo que eu achava que nada poderia
derrubá-lo de sua campanha de eu-odeio-Johnny.
Não que eu dê a mínima.
Eu tinha menos de dois anos nesta escola ainda, e possivelmente mais um
ano na Academia.
Depois disso, eu estaria deixando BallyLagging e todos os invejosos
Ronan McGarry para trás.
Esticando minhas pernas, eu gentilmente esfrego a área com meu gel anti-
inflamatório prescrito, mordendo meu lábio para me impedir de gritar de dor.
Fechando os olhos, forço minhas mãos a se moverem sobre minhas coxas,
realizando o exercício que meu fisioterapeuta havia instruído que eu fizesse
após cada sessão de treinamento.
Uma vez que isso foi concluído, e eu estava confiante que não iria
desmaiar de dor, trabalho em meus ombros, cotovelos e tornozelos,
embalando e amarrando cada dor e lesão antiga como o aprendiz obediente
que eu era.
Acredite ou não, meu corpo estava em ótimas condições.
Os ferimentos que sofri jogando rúgbi nos últimos onze anos, incluindo
um apêndice rompido e um milhão de ossos quebrados, eram minúsculos em
comparação com os ferimentos que alguns dos rapazes da Academia
carregavam.
Era uma coisa boa para mim, considerando que eu estava à beira de um
contrato lucrativo e uma carreira no rúgbi profissional.
Para conseguir isso, eu precisava estar o mais próximo da perfeição em
todos os aspectos da minha vida.
Isso significava atuar em campo, manter a saúde física e mental ideal e
manter meu nariz – e meu pau – saudáveis.
A proteção era algo impossível de esquecer com a Academia respirando
em nossos pescoços, ensinando como esse era um momento crucial em
nossas carreiras e como não deveríamos, sob nenhuma circunstância, deixar
uma garota virar nossas cabeças ou nos sobrecarregar com um bebê.
Como foder.
Prefiro cortar meu pau mal funcionando antes de me deixar cair nessa
armadilha.
Preservativos e métodos contraceptivos eram uma necessidade absoluta.
Eu sempre carregava um, eu sempre usava um, e se a garota com quem eu
estava não tomava pílula ou usava um implante contraceptivo, ou se eu não
confiava que ela estava sendo honesta comigo, eu sempre tirava antes.
Sem riscos.
Sem exceções.
Não que isso importe agora, penso comigo mesmo, enquanto olhava para
minhas bolas machucadas.
Além de permanecer sem ser pai e livre de DSTs, eu tinha que manter
minhas notas altas.
Era tudo uma questão de percepção para os olheiros e clubes em
potencial, e eles queriam o que era percebido como perfeição.
Eles queriam os melhores jogadores das melhores escolas e das melhores
universidades do país.
Eles queriam méritos e troféus, tanto em campo quanto academicamente.
Era um trabalho cansativo, mas eu faço o melhor que posso.
Felizmente, eu era bom na escola.
Eu não gostava muito de ir, mas eu era bom nisso.
Tinha honras em todas as matérias e eu sempre fui de A+ e A- em todas
elas, com exceção de Ciências, onde eu era um aluno C relutante.
Eu simplesmente odiava essa porra de matéria.
Cara, me dá arrepios só de pensar em tabelas periódicas.
Eu não ligava para isso, e era a única aula que eu sempre dormia.
Não foi surpresa para meus pais que, quando chegou a hora de escolher
minhas disciplinas para fazer os exames neste semestre, eu evitei as três
disciplinas de ciências como uma praga.
Não, eles poderiam manter sua biologia, química e física para os
intelectuais mais radicais.
Eu ficaria com negócios e contabilidade.
Uma paixão improvável para um cabeça do rúgbi, mas estava no meu
caminho.
Eu obteria um diploma padrão em Negócios, jogaria até os trinta anos, me
aposentaria antes que meu corpo desistisse completamente de mim e depois
buscaria meu mestrado.
Viu, eu tinha tudo planejado.
Não há espaço para mudanças.
Não há espaço para namoradas.
E nenhum maldito espaço para ferimentos.
Minhas escolhas de vida e rotina estrita irritavam minha mãe em
proporções épicas.
Eu sabia que mamãe não gostava do meu estilo de vida e ela estava
sempre me incomodando.
Ela disse que eu estava me limitando.
Que eu estava perdendo tanto da vida.
Ela me implorava para ser jovem.
O problema era que eu não era jovem desde os dez anos.
Quando o rúgbi decolou para mim, deixei essa merda para trás, meus
sonhos de infância de jogar rúgbi se transformando em uma obsessão focada,
faminta e dirigida.
Passei os últimos sete anos no modo besta 24 horas por dia, 7 dias por
semana e tinha a forma e o tamanho do corpo físico para provar isso.
Meu pai era mais fácil comigo.
Ele acalmava minha mãe e a persuadia a parar de se preocupar tanto –
dizendo a ela que poderia ser pior. Eu poderia sair ficando chapado depois da
escola ou ficando bêbado com o resto dos meus amigos no pub.
Em vez de fazer isso, eu treinava.
Passava meus dias estudando, minhas tardes em campo, minhas noites na
academia e meus fins de semana alternando entre os três.
Jesus, não conseguia me lembrar da última vez que saí da academia para
sair à noite com os rapazes ou comi uma casquinha de sorvete sem me
preocupar com o desperdício de calorias e macronutrientes desequilibrados.
Comia de forma saudável, treinava duro e seguia todas as ordens,
sugestões e exigências dadas a mim por meus treinadores e técnicos.
Não era um estilo de vida fácil de manter, mas era o que eu havia
escolhido para mim.
Eu confiava no meu instinto e perseguia meus sonhos com uma força
implacável, me confortando com o fato de que eu estava quase lá.
Até que eu conseguisse – e eu conseguiria – eu continuaria a fazer os
sacrifícios e permanecer focado, dedicado e sem distrações de besteira, dos
dramas adolescentes.
Era exatamente por essas razões que eu estava me sentindo tão nervoso.
Uma garota, uma porra de uma pessoa do sexo feminino que eu conhecia
há menos de duas horas, conseguiu fazer o que ninguém mais conseguiu: me
derrubar.
Shannon, como o rio, estava em minha mente, e eu não gostava disso.
Eu não gostava que ela estivesse ocupando um tempo valioso na minha
cabeça.
Tempo que eu não tinha de sobra ou para dar a nada – ou a ninguém –
além do rúgbi.

“Ela já foi retirada da Escola Comunitária Bally Legging por ser


agredida verbal e fisicamente. E o que acontece em seu primeiro dia em
Tommen? Isso!”

“Você me garantiu que esse tipo de coisa não aconteceria nesta escola e
veja o que aconteceu no primeiro dia dela!”
“Shannon, eu não sei mais o que fazer com você. Eu realmente não sei,
querida. Eu pensei que este lugar seria diferente para você.”

O que diabos estava acontecendo?


O que aconteceu com ela?
E por que diabos eu estava obcecado por ela assim?
Eu mal conhecia a garota.
Não deveria me importar.
Jesus, eu precisava ter uma vida.
Começar a assistir a algum programa de TV de naufrágio de trem ou algo
assim, qualquer coisa para bloquear os eventos de hoje e aqueles olhos azuis
solitários.
Me forçando a bloquear ela, me concentro em cuidar dos meus
ferimentos, enquanto pensava em estratégias e táticas em potencial para a
partida de sexta-feira.
Quando eu estou todo remendado e visto meu uniforme escolar de volta,
verifico a hora no meu telefone e noto que, se me apressasse, chegaria à
minha última aula.
Eu folheio algumas novas mensagens de texto de Bella, me perguntando
se eu estava melhor e que queria me encontrar.
Eu lhe dou uma resposta rápida dizendo que ainda estava fora de ação e
espero por sua resposta.
Ela vem quase imediatamente, seguido por vários outros textos.

Estou ficando cansada dessa merda Johnny.


Não gosto de ser ignorada.
Todo mundo está falando de você, sabe.
Dizem que seu desempenho em campo está uma merda.
Isso está nos jornais.
Eles estão dizendo que você está perdendo seu toque.
Eu concordo.
Você está sendo um idiota inútil e você tem um pau inútil.
Eu sei que não há nada de errado com você.
Você só está tentando evitar de me levar para a premiação de gala no
final do mês.
Por que você nunca me leva para essas coisas?
Eu nunca te peço NADA.
Se você não começar a me apreciar, conheço muitos caras que vão…
Eu solto uma respiração pesada e rapidamente leio cada mensagem.
Sim, isso estava ficando fora de controle.
Eu podia sentir o laço apertando em volta do meu pescoço.
Digito uma resposta rápida dizendo “Faça o que quiser. Eu não sou seu
guardião” antes de desligar meu telefone e voltar para a escola, parando na
secretaria.
— Johnny! — Dee, a secretária da escola, arrulha quando entro pela porta.
— Já voltou? — ela pergunta, fazendo uma avaliação lenta do meu corpo. —
O Sr. Twomey não mandou chamar você, querido.
A secretária da nossa escola era uma mulher baixa, de vinte e tantos anos,
com cabelo loiro oxigenado, uma queda por garotos adolescentes e uma
queda séria por jogadores de rúgbi.
Seus olhos azuis estavam delineados com muito delineador preto e rímel
grosso e pastoso que se misturava bem com a montanha de base endurecida
em seu rosto e lábios vermelho-sangue.
Ela não era uma mulher sem atrativos.
Ela tinha uma boa forma e uma bunda fantástica.
Mas ela era o caso de carneiro em pele de cordeiro.
Apesar de suas tentativas de tigresa e flagrante inadequação, eu gostava
estranhamente da mulher. Ela me ajudou em mais de uma ocasião ao longo
dos anos, me dispensando das aulas, cobrindo minhas faltas, enterrando
pequenos delitos e todos os tipos de merda incriminatória que refletiriam
mal em mim.
No terceiro ano, quando voltei do campo de treinamento, deixei cair uma
camisa da Irlanda com a maioria das assinaturas do time para ela.
Foi uma demonstração de apreço de última hora da minha parte, sabendo
que ela teve um grande trabalho para fazer o Conselho de Educação ceder
um exame oral obrigatório de certificação júnior que eu havia perdido
enquanto estava fora.
Eu tinha a camisa na minha bolsa de equipamentos e apenas dei a ela,
sentindo que precisava compensar a mulher por seus esforços.
Depois disso, ela foi minha maior defensora, fazendo incontáveis, e
muitas vezes moralmente questionáveis, favores para mim.
E eu, por sua vez, pegava seus ingressos para os jogos sempre que podia.
Fazíamos um bom arranjo.
— Eu estou aqui para ver você, Dee — eu atirei de volta com uma
piscadela de flerte. Lutando contra o desejo de correr para as colinas do
puma da escola, passo até o balcão que separava seu escritório do resto da
recepção e sorrio. — Eu estava esperando que você pudesse me ajudar com
alguma coisa.
— Estou sempre disposta a ajudar minha estrela favorita — ela ronrona.
— Com qualquer coisa.
— Aprecio isso — eu respondo, reprimindo a vontade de estremecer
quando ela estende a mão sobre o balcão e acaricia com suas unhas de um
centímetro de comprimento, pintadas em chamas vermelhas, meus dedos. —
Você tem um envelope?
— Um envelope? — Suas sobrancelhas desenhadas se erguem em
surpresa. — Oh — ela murmura, parecendo um pouco desamparada.
Alcançando atrás da mesa, ela vasculha antes de colocar um envelope
marrom simples no balcão.
Puxando minha carteira, pego duas notas de €50 e as enfio dentro.
— Você tem uma caneta? — Eu pergunto.
Com um pequeno huff, ela me entregou uma.
— Você é uma salva-vidas — eu murmuro enquanto rapidamente
rabiscava uma nota no envelope antes de colocar a caneta no balcão.
— Isso é tudo?
— Na verdade não, não é.
Descansando meus cotovelos no balcão, toco o envelope entre minhas
mãos e sorrio para ela.
Aqui vai...
— Estou procurando algumas informações sobre uma aluna.
Dee franze a testa.
— Informações sobre uma aluna?
— Sim. — Eu balanço a cabeça, ampliando meu sorriso. — Shannon
Lynch.
Quem eu estava enganando ao me distrair com reality shows?
Eu era um bastardo obsessivo por natureza, com uma mente programada
em uma faixa de música que estava atualmente – e exclusivamente – nela.
Eu tinha que saber mais.
Eu precisava de mais.
Eu não era estúpido o suficiente para pensar que isso não importava.
Ou que minha reação a McGarry nos vestiários mais cedo não importava.
Importava que ela fosse capaz de fazer isso comigo.
Importava que, horas depois, eu ainda estivesse pensando nela, me
perguntando sobre ela e inevitavelmente me preocupando com ela.
Importava que ela era importante quando ninguém nunca importou para
mim antes.
Porra, agora eu estava confuso sobre todos os assuntos.
— Ah, Johnny. — Dee franzi os lábios, sua carranca se aprofundando,
enquanto ela me traz de volta ao presente. — Eu não tenho certeza. O Sr.
Twomey deixou claro que você não deve ter contato com a garota Lynch...
— sua voz falha e ela pega seu bloco de notas. — Viu? — ela bate o dedo no
bloco rabiscado. — Está escrito e tudo mais. A mãe dela estava exigindo que
você fosse suspenso por aquele incidente no campo hoje. Ela está chamando
isso de agressão. Foi preciso muita persuasão da parte do Sr. Twomey para
impedi-la de telefonar para a polícia...
— Vamos lá, Dee — eu ronrono, sufocando minha indignação com o que
eu esperava ser um charme. — Você me conhece. Eu nunca machucaria
intencionalmente uma garota.
— Claro que você não machucaria — ela respira, piscando para mim. —
Você é um bom menino.
— E você é muito boa para mim. — Inclinando-me para mais perto, cubro
sua mão com a minha e sussurro: — Então, tudo que eu preciso que você
faça é me dizer o que você sabe sobre ela – ou melhor ainda, deixe-me ver
seu arquivo.
— De jeito nenhum, Johnny. — Ela morde o lábio inferior. — Se alguém
descobrisse, meu trabalho estaria em jogo...
— Você acha que eu te colocaria em problemas, Dee? — Eu persuado
com um pequeno aceno de cabeça. — Pode ser o nosso pequeno segredo.
Deus, eu era um completo idiota, brincando com as emoções desta pobre
mulher.
Mas eu queria aquele arquivo, caramba.
Eu tinha uma curiosidade ardente para descobrir sobre Shannon – mais
especificamente o que aconteceu com ela em sua antiga escola.
As palavras do Sr. Twomey plantaram a semente dentro da minha cabeça
e eu estava morrendo de vontade de descobrir.
— Sinto muito, querido, mas eu não posso te ajudar desta vez — Dee
responde, lábios franzidos. — Eu preciso deste emprego.
Frustrado, eu balanço minha cabeça e luto contra meu temperamento antes
de tentar novamente:
— Você pode pelo menos me dar o número do armário dela?
Os olhos de Dee se estreitam.
— Por que você precisa disso?
— Eu apenas quero — eu atiro de volta, o tom um pouco mais duro agora.
Eu estava chateado.
Eu não estava acostumado a ouvir não.
Quando eu pedia algo, geralmente eu conseguia.
Era um jeito de merda de ser, mas era assim que a vida era para mim.
— Eu já te disse — ela retruca. — O Sr. Twomey disse que você não
deveria chegar perto dela...
— É o número do armário dela, Dee, não a porra do endereço da casa dela
— eu rebato, a irritação crescendo. — Você juraria que eu era um maldito
assassino ou algo assim – do jeito que você está agindo.
Com um suspiro pesado, Dee assente desanimada e caminha até o
arquivo.
— Tudo bem.
— Obrigado — eu respondo, tom pesado com sarcasmo.
— Mas você não tirou isso de mim — ela resmunga, vasculhando em cada
gaveta até encontrar a pasta desejada.
— Certo.
— Estou falando sério, Johnny. Eu não preciso de problemas.
— Nem eu.
Abrindo a pasta, ela rapidamente escaneia a primeira página antes de
fechá-la.
— Armário 461. Na ala do terceiro ano.
— Ótimo, obrigado por isso. — Pego a caneta e rabisco o número nas
costas da minha mão, antes de ir para a porta. Parando na porta, me viro e
pergunto: — Você pode pelo menos me dizer como ela está?
Dee suspira.
— A última vez que ouvi, sua mãe estava levando-a ao pronto-socorro
para um exame.
— Um exame? — Eu faço uma careta, a ansiedade roendo minhas
entranhas. — Ela está bem, não é? Quando ela saiu? Ela estava andando e
tal? Quero dizer, ela vai ficar ótima, certo?
— Sim, Johnny, tenho certeza que ela está bem. — Ela pega a caneta no
balcão e coloca a tampa. — É apenas uma medida de precaução.
— Sério?
— Uh-hum.
Incerto, eu solto:
— Você acha que eu deveria ir para o hospital, né? — Dando de ombros,
acrescento: — Devo visitá-la? É minha culpa que ela esteja no hospital. Eu
sou o responsável.
— Definitivamente não! — Dee estala, seu tom assumindo uma pitada de
autoridade. — Se você sabe o que é bom para você, Johnny Kavanagh, você
vai ficar bem longe da garota. — Ela solta uma bufada alta antes de
acrescentar em um tom de voz muito mais baixo: — Entre você e eu, a mãe
dela está atrás da sua cabeça. Você faria bem em evitar qualquer contato com
ela. E para ser honesto, a garota simplesmente não parece... — ela fez uma
pausa, mordendo o lábio inferior por um momento antes de terminar —...
bem, estável.
Minhas sobrancelhas franzem.
— O que você quer dizer com ela não é estável?
Dee mordisca sua caneta, parecendo desconfortável.
— Dee? — eu pressiono. — O que você quer dizer com isso?
— Talvez estável não seja a palavra apropriada — ela admite, em tom
baixo. — Mas há algo... estranho sobre ela.
— Estranho?
— Preocupante — Dee esclarece e então se corrige dizendo —
Problemática. Ela parece problemática.
Bem merda.
Confie em mim para ficar obcecado pela doida.
— Certo — eu murmuro, virando para a porta novamente. — Obrigado
pela atualização.
— Mantenha distância, Johnny — ela grita atrás de mim. — E fique longe
do hospital.
Perdido em pensamentos, saio do escritório com o envelope na mão.
Caminho pela ala esquerda do prédio principal, parando em uma fileira de
armários azuis recém-pintados do lado de fora da área comum do terceiro
ano.
Procuro nas filas o armário número 461.
Quando encontro o que estou procurando, empurro o envelope pela
pequena abertura na parte superior da porta de metal.
Eu não me importo se a mãe dela não quisesse o dinheiro, ela poderia
queimá-lo por tudo que eu me importava, mas eu tinha que dar a eles – a ela.
Reajustando minha mochila no meu ombro, eu deslizo minha mão no
bolso e pego as chaves do meu carro, decisão tomada de pular o resto do dia
e esperar no carro por Gibsie.
Além disso, não havia sentido ir para a aula agora.
Eu não poderia me concentrar na aula de negócios ABQ nem se eu
tentasse.
Minha cabeça estava muito nublada com palavras de advertência e
imagens de olhos azuis e tristes.
Caminhando até o estacionamento dos alunos, destranco meu carro e
deixo cair minhas coisas no banco de trás antes de desabar dentro.
Exausto e dolorido, empurro o assento para trás e ajusto a poltrona
reclinável para que eu possa esticar as pernas.
O pensamento de dirigir com a dor atualmente queimando minhas coxas
era um pensamento indesejável, mas não era minha principal preocupação
agora.
Tínhamos muitos pensionistas em Tommen, estudantes vindos de todo o
país e de algumas partes da Europa para estudar.
Eu morava a meia hora da escola, então eu era um dos caminhantes
diurnos.
A maioria dos meus amigos eram.
Eu sabia que Shannon era de Ballylaggin também, mas eu nunca tinha
posto os olhos nela antes daquele dia.
Não era uma área enorme, mas era grande o suficiente para que nossos
caminhos nunca tivessem se cruzado antes de hoje, ou talvez tivessem e eu
simplesmente não me lembrasse dela.
Eu não era bom com rostos. Eu não olhava por um tempo suficiente para
memorizar. Eu não me importava. Eu tinha nomes e rostos suficientes que
precisava lembrar como estava. Adicionar nomes desnecessários de
estranhos a essa lista parecia uma façanha inútil.
Até agora.
Problemática.
Foi assim que Dee a chamou.
Mas todos os adolescentes não eram um pouco fodidos e problemáticos às
vezes?
Eu estava tão absorto em meus próprios pensamentos que não notei o
toque final do sinal, quarenta e cinco minutos depois, ou a enxurrada de
estudantes entrando em carros ao meu redor. Foi só quando a porta do
passageiro do meu carro se abriu que voltei ao presente.
— Ei — Gibsie admite, caindo no banco do passageiro ao meu lado. —
Vejo que seu coração ainda está decidido a exibir o visual de semi-sem-teto
aqui — acrescenta, chutando uma pilha de merda de seus pés. Alcançando
ao redor, ele jogou sua bolsa no banco de trás. — Está fedendo pra caralho
aqui, cara.
— Você sempre pode tomar muito ar fresco andando. — Eu resmungo,
esfregando o sono dos meus olhos. Sim, eu estava tão cansado.
— Relaxe, — Gibsie retruca e então ri quando acrescenta — não precisa
ficar tão nervosinho.
— Muito engraçado, idiota. — Eu brinco, minha mão imediatamente se
movendo para o meu pau. — Agora você realmente pode sair e andar.
— Aqui — ele fez uma pausa para despejar uma pasta cor de baunilha no
meu colo — você não pode me fazer andar depois de pegar isso.
Olho para a pasta.
— O que é isso?
— Um presente — Gibsie responde, ajustando a viseira.
— Trabalho de casa? — Eu brinco. — Uau. Muito obrigado.
— É o arquivo da sua Shannon — ele corrige, abaixando as mangas de
seu suéter. — Sem dúvida, sua bunda obsessiva estava procurando por isso.
Bem, merda.
Uma onda inquietante de excitação me percorre enquanto eu olho para a
pasta em minhas mãos.
Meu melhor amigo me conhecia muito bem.
— Quando você não voltou para a aula depois do treino, eu percebi que
você estava aqui emburrado por causa dela – ou suspirando — ele dá de
ombros antes de acrescentar: — Ou seja lá como você chamaria o que você
fez no vestiário mais cedo.
— Eu não fico emburrado.
Ele bufa.
— Eu não fico mal-humorado, idiota — eu mordo de volta. — Ou suspiro.
Eu não estava fazendo nenhuma dessas merdas. Eu estava apenas...
— Perdendo a cabeça? — Gibsie completa com um sorriso de lobo. —
Não se preocupe com isso. Acontece com o melhor de nós.
— Por que eu estaria perdendo minha cabeça? — Eu exijo e então
respondo rapidamente: — Eu não estava perdendo nada!
— Desculpa. — Gibsie ergue as mãos, mas seu tom me garante que ele
estava longe de lamentar. — Devo ter entendido errado. Me dá o arquivo
dela e eu o devolvo.
Ele pega a pasta e eu a pego de volta.
— O que… não!
Gibsie ri, mas não diz mais nada.
O sorriso conhecedor que ele me dá era resposta suficiente.
— Como você conseguiu convencer Dee a entregá-la? — Eu pergunto,
mudando de assunto.
— O que acha?
Eu reprimo um estremecimento.
— Jesus.
— Não é de todo ruim. — Gibis sorri. — A mulher é uma merda como
um aspirador, e a emoção de ser pego sempre torna os momentos divertidos.
Eu levanto uma mão.
— Não precisava saber disso.
Ele bufa.
— Você já sabia disso.
— Sim — eu suspiro pesadamente. — Bem, eu não precisava ser
lembrado.
— Jesus — ele murmura, puxando a gola de sua camisa da escola para
que ele pudesse dar uma boa olhada em seu pescoço no pequeno espelho
retangular. — Sempre o pescoço.
Insatisfeito com aquela visão, ele gira o espelho retrovisor para encará-lo
e geme.
Virando-se para olhar para mim, Gibsie diz:
— Vê os sacrifícios que faço por você?
Meus olhos pousam no hematoma arroxeado se formando em seu
pescoço.
— É melhor ser algo que valha a pena ler aí — ele resmunga.
Voltando minha atenção para a pasta, eu abro na primeira página e fico
tenso, os olhos se movendo para os dele.
— Você leu?
— Não.
— Por que não?
— Porque — ele responde, remexendo em seu bolso. — Não é da minha
conta. — Ele puxa um maço de cigarros e um isqueiro. — Estou saindo para
fumar. — Ele empurra a porta aberta e sai, parando para se inclinar e
anunciar: — Orgasmos me fazem desejar nicotina — antes de fechar a porta
e acender uma faísca.
Balançando a cabeça, volto minha atenção para o arquivo em minhas
mãos, cravando em cada detalhe da informação que o arquivo confidencial
de Shannon Lynch revela.
Páginas e mais páginas de incidentes e relatórios, todos cuidadosamente
datilografados em papel branco, detalhando cada terrível provação que a
menina havia sofrido em sua antiga escola, e havia muitas...
Quatorze páginas A4 de incidentes.
Frente e verso.
Algumas páginas e eu descubro que Shannon tinha passado de uma aluna
nota C sólida no início do primeiro ano para raspar em Ds e Es no final do
segundo ano.
Anexados a seus resultados de exames menos que estelares estavam notas
de seus ex-professores, elogiando sua natureza gentil e ética de trabalho
diligente e conscienciosa.
Eu não precisava de uma nota para explicar o declínio constante em suas
notas, eu descobri isso na primeira página.
Ela foi vítima de bullying.
Eles cortaram seu rabo de cavalo quando ela estava no primeiro ano.
Quando ela tinha treze anos. A punição por tal crime foi uma semana de
suspensão. Seriamente. Uma semana de folga da escola por cortar a porra do
cabelo de uma garota.
Garotas.
Eles eram tão malditamente doentes e distorcidas.
Como alguém poderia esperar que a garota se concentrasse em um
ambiente de sala de aula tão volátil como isso estava além de mim.
Sério, o que diabos havia de errado com as pessoas?
Qual era o problema com aquela escola e aqueles professores?
Porra, seus pais estavam pensando em deixá-la lá por dois anos?
Quanto mais eu lia, mais enojado meu estômago ficava...
Incidente na aula de educação física resultando em sangramento no nariz.
Incidente de vômito no banheiro.
Incidente na aula de marcenaria com pistola de cola.
Incidente depois da escola com meninas do terceiro ano.
Outro incidente de vômito no banheiro.
Incidente antes da escola com meninas do quarto ano.
Recusa em participar do retiro noturno da escola. Eles estavam de
brincadeira?
Muitas, muitas mais incidências de vômitos.
Encaminhamento para psicólogo educacional.
O irmão mais velho apresenta a quarta queixa sobre bullying. O irmão
mais velho deveria ter encontrado algumas amigas mais velhas e fazer com
que chutassem essas garotas malvadas.
Grafite nas paredes do banheiro.
Agressão no pátio da escola, irmão mais velho suspenso. O irmão mais
velho deve ter resolvido sozinho.
Isolamento relatado por vários professores.
Agressão física grave por três alunos mais velhos, polícia chamada.
Sério, Sherlock.
Irmão mais velho suspenso novamente por intervir.
Remoção da escola a pedido da mãe. A porra de uma questão de tempo.
Registros escolares solicitados pelo diretor da Tommen College.
Horrorizado não foi descrever meus sentimentos quando terminei de ler.
Irritado não se encaixava, também.
Desgostoso, perturbado e totalmente enfurecido parecia uma avaliação
mais precisa dos meus sentimentos.
Jesus, era como ler um maldito relatório policial de uma vítima de
violência doméstica.
Não é à toa que a mãe de Shannon me deu uma surra hoje.
Se eu estivesse no lugar dela, teria feito muito pior.
Cristo, agora eu estava ainda mais chateado comigo mesmo por machucá-
la do que antes.
Quem diabos fazia isso?
Sério, que tipo de criaturas eles estavam criando naquela escola?
— Então? — A voz de Gibsie atravessa meus pensamentos quando ele
volta para o carro, cheirando como um cinzeiro. — Descobriu o que você
precisava?
— Sim — eu murmuro, entregando a pasta de volta para ele antes de ligar
o motor. — Descobri.
Ele me olha com expectativa.
— E?
Volto minha atenção para a estrada.
— E o que?
— Você parece chateado.
— Eu estou bem. — Eu precisava fazer alguma coisa, colocar meu pé no
chão, ir para a sala de musculação, qualquer coisa para expulsar a tensão
crescendo dentro do meu corpo.
— Tem certeza, cara?
— Sim. — Saindo da minha vaga de estacionamento, mudo para a
segunda marcha e depois a terceira, ignorando as placas de Cuidado -
Crianças atravessando na minha tentativa de entrar na estrada principal.
Às vezes nós nos exercitamos na garagem convertida na minha casa, mas
agora, eu achava que a viagem de trinta minutos até a academia na cidade
poderia me fazer bem.
Eu sabia que tinha ultrapassado uma linha séria ao violar sua privacidade
assim, mas não me arrependo.
Droga, eu sabia que ela era vulnerável.
Aquela sensação que tive hoje mais cedo?
A dor que eu tinha tanta certeza de ter visto em seus olhos.
Era real, estava lá, eu a reconheci e agora podia fazer algo a respeito.
Eu poderia evitar que algo assim acontecesse novamente.
Isso não aconteceria novamente.
Não no meu turno, porra.
6

HORMÔNIOS DESPERTOS

SHANNON

Eu tive uma concussão moderada que resultou em uma pernoite no hospital


para observação, seguida pelo resto da semana de folga da escola.
Para ser honesta, eu teria preferido ficar no hospital o tempo todo ou
voltar para a escola imediatamente, porque o conceito de passar a semana
em casa com meu pai respirando no meu pescoço era uma forma especial de
tortura que ninguém merecia.
Milagrosamente, consegui sobreviver à semana me escondendo no meu
quarto o dia todo, todos os dias, e geralmente evitando meu pai e suas
mudanças de humor tumultuadas como se fosse uma praga.
Quando volto para a escola na semana seguinte, espero uma chuva de
zombarias e insultos.
A vergonha era um sentimento problemático para mim e, às vezes,
dificultava o meu funcionamento.
Passo o dia inteiro em uma bagunça suada e cheia de pânico em alerta
máximo, esperando que algo ruim acontecesse.
Algo que não acontece.
Além de alguns olhares curiosos e sorrisos conhecedores do time de rúgbi
– como se eles soubessem como eu ficava de calcinha – eu estou
praticamente ilesa.
Eu não conseguia compreender como um evento humilhante como aquele
poderia não ser falado.
Não fazia sentido para mim.
Ninguém mencionou o incidente em campo naquele dia.
Era como se nunca tivesse acontecido.
Honestamente, se não fosse pela dor de cabeça persistente, eu teria
duvidado que isso tivesse acontecido.
Os dias se transformaram em semanas, mas o silêncio permaneceu.
Nunca me foi dito nada.
Nunca mais foi revisitado.
Eu não era um alvo.
E eu tinha paz.
Quase um mês se passou desde o incidente em campo e eu me vi caindo
em uma rotina constante com Claire e Lizzie ao meu lado.
Eu me vi começando a ansiar por ir para a escola.
Foi a reviravolta mais estranha da minha vida, considerando que durante a
maior parte da minha vida eu detestei a escola, mas Tommen se tornou quase
um lugar seguro para se estar.
Em vez da sensação habitual de pavor quando descia do ônibus, tudo o
que sentia era um alívio imenso.
Alívio por escapar da minha casa.
Alívio por estar fora do radar de valentões.
Alívio por ficar longe do meu pai.
Alívio por poder respirar durante sete horas do dia.
Eu estava acostumada a lidar com as coisas sozinha, ficar sozinha, sentar
sozinha, comer sozinha... você me entendeu.
Eu estava sempre sozinha, então minha última situação, ou devo dizer o
mais recente desenvolvimento em meu status social, foi inesperada.
Dizem que há solidariedade nos números, e eu acreditava firmemente
nisso.
Eu me sentia melhor quando estava com minhas amigas.
Talvez fosse uma insegurança adolescente, ou talvez fosse resultado do
meu passado, mas eu gostava de não ter mais que andar sozinha para a aula,
e que eu sempre tinha alguém para sentar junto ou me dizer se eu tinha algo
em meus dentes.
A amizade delas significava mais para mim do que elas jamais saberiam,
dando-me uma rede de apoio que eu precisava desesperadamente e um
amortecedor em tempos de pânico incerto.
Na minha antiga escola, eu ficava tão estressada e ansiosa durante as aulas
que ficava muito atrasada na aula e tinha que trabalhar até tarde da noite na
maioria das noites para recuperar o atraso.
Sem a constante ameaça de ataque de meus colegas, eu estava
acompanhando minhas aulas com pouco problema, inalando minhas lições
como drogas.
Eu até consegui passar na maioria dos meus exames de certificação pré-
junior, com exceção de Matemática e Estudos de Negócios.
Nenhuma quantidade de estudo parecia ajudar com esses assuntos.
Mas eu tinha conseguido meu primeiro A desde o primeiro ano em
Ciências, então me confortava com isso.
Durante o almoço, eu tinha as meninas para me sentar – não um lugar de
pena com meu irmão e seus amigos – mas um grupo real de pessoas.
Eu nunca tive esse nível de normalidade antes.
Eu nunca me senti segura.
Mas eu estava começando.
E eu tinha a sensação de que ele tinha algo a ver com isso.
Johnny Kavanagh.
Quero dizer, ele tinha que ter, certo?
Eu não tinha esse tipo de poder, então sobra para ele.
Não era coincidência que todo o evento tivesse sido apagado da mente de
todos.
Eu o tinha visto muitas vezes desde aquele dia, tendo passado por ele
inúmeras vezes nos corredores entre as aulas e no refeitório durante o
intervalo, e embora ele nunca se aproximasse de mim, ele sempre sorria para
mim de passagem.
Para ser honesta, fiquei surpresa que ele sorria para mim, considerando a
reação da minha mãe em relação a ele do lado de fora do escritório do
diretor naquele dia.
Eu não sabia se devia ou não pedir desculpas pelo comportamento dela em
relação a ele.
Mamãe reagiu exageradamente a ponto de ser quase ameaçadora com ele,
mas, novamente, as ações de Johnny resultaram em eu passar uma noite no
hospital e mais uma semana em casa com meu pai, então decidi não pedir
desculpas. Além disso, eu deixei para lá esse assunto.
Se aproximar dele agora, depois de quase quatro semanas, seria apenas
estranho.
Através das minhas amigas, e dos sussurros e rumores das garotas no
banheiro, eu aprendi todos os tipos de detalhes e informações sobre Johnny
Kavanagh.
Ele estava no quinto ano – algo que eu já sabia.
Ele era originalmente de Dublin – novamente, sem surpresas lá.
Ele era incrivelmente popular – ok, então eu não sabia disso, mas não era
preciso ser um gênio para perceber isso, com ele cercado de alunos o tempo
todo.
Ele era um grande sucesso entre o corpo estudantil feminino – novamente,
até um homem cego poderia descobrir isso.
E ao contrário de sua terrível imprecisão com a bola e sua óbvia agressão
a mim, ele deveria ser muito bom no rúgbi.
Ele era o capitão do time de rúgbi da escola, e com esse status vinha a
popularidade, garotas e alguma atração feroz tanto com o corpo docente
quanto com os alunos.
Eu não tinha ideia sobre os prós e contras do rúgbi, nossa família girava
em torno do futebol gaélico, conhecido como GAA, e eu me importava ainda
menos com os níveis de popularidade na escola, considerando que eu era
geralmente despejada no fundo, mas a maneira como as meninas na escola
retratavam Johnny Kavanagh não soava nada como a pessoa que conheci
naquele dia.
Segundo as meninas, ele era arrogante, intenso e um completo esnobe,
com um corpo de morrer e uma atitude horrível.
Elas o fizeram parecer um jogador de rúgbi arrogante e rico obcecado por
esportes, que jogava duro em campo e fodia ainda mais duro –
evidentemente garotas muito mais velhas eram sua praia.
Ok, então era bem possível que ele realmente fizesse todas essas coisas,
mas era difícil juntar essa informação com a pessoa que eu conheci.
Minhas memórias daquele dia ainda estavam nubladas, os eventos que
levaram ao meu acidente ainda eram nebulosos e os posteriores uma
bagunça confusa, mas eu me lembrava dele.
Lembrava da maneira como ele cuidou de mim.
Como ele ficou comigo até minha mãe chegar.
A maneira como ele me tocou com mãos grandes, sujas e gentis.
Como ele falava comigo como se quisesse ouvir o que eu tinha a dizer.
E então escutou minha divagação como se fosse importante para ele.
Lembrava das partes embaraçosas também; as partes que me mantinham
acordada até tarde da noite com bochechas em chamas e uma mente cheia de
imagens desconcertantes e palavras desajeitadas.
As partes que eu não ousei reconhecer.
No entanto, eu guardei o envelope, aquele que encontrei no meu armário
na semana em que voltei para a escola, com uma nota rabiscada às pressas:
“Do meu povo para o seu povo” na frente.
As duas notas de 50 euro dei à mamãe quando voltei da escola, mas enfiei
o envelope na fronha para guardar.
Eu não tinha uma explicação de por que não joguei fora, da mesma forma
que não conseguia explicar por que meu corpo começava a suar frio, minhas
mãos ficavam úmidas, meu coração palpitava rapidamente e meu estômago
revirava em nós sempre que eu colocava os olhos nele.
Bem, isso não era tecnicamente verdade.
Havia uma razão óbvia e perfeitamente lógica para minha reação em
relação a ele.
Ele era lindo.
Toda vez que eu o via nos corredores, era como se cada desejo,
sentimento e hormônio retardado que estavam adormecidos dentro do meu
corpo nos últimos quinze anos explodisse para a vida.
Eu estava dolorosamente ciente dele; meu corpo entrava em alerta
máximo sempre que nossos braços se roçavam nos corredores lotados entre
as aulas.
Mas não foi sua aparência ou corpo muscular enorme que tirou meus
hormônios teimosos da hibernação.
Foi o jeito que ele agiu naquele dia.
Durante o pequeno intervalo da semana passada, quando Lizzie me pegou
em flagrante olhando para Johnny Kavanagh, ela decidiu distribuir todas as
informações que tinha.
De acordo com Lizzy, Johnny Kavanagh nunca foi amarrado a nenhuma
garota em particular ou marcado como namorado de ninguém, embora
houvesse Bella Wilkinson para enfrentar.
A dupla estava ficando há muito tempo.
Bella era alguns anos mais velha que ele, mais experiente, e pelo que
Lizzie me contou, relatado a ela pelos meninos, chupava pau como um
aspirador da marca Dyson.
Então, sim, era uma aposta segura dizer que Johnny tinha recebido um
número saudável de boquetes e Deus sabe o que mais dela.
Eu estava apenas agradecida por termos um aspirador da marca Henry em
casa e não um chique como Dyson, então eu não vomitava toda vez que
limpava meu quarto com essa imagem em particular.
Eu não fiquei surpresa com nada disso, embora.
Johnny tinha quase dezoito anos.
Eu tinha dois irmãos mais velhos, então eu estava bem ciente do que os
meninos dessa faixa etária em particular faziam atrás de portas fechadas do
quarto.
A informação era deprimente, mas a dose fria de realidade que eu
precisava para fortalecer minha determinação e apagar minhas esperanças.
Foi terrivelmente lamentável desenvolver minha primeira paixão por uma
pessoa como ele, considerando que só conversamos uma vez e ele estava
envolvido com uma garota do sexto ano boqueteira.
Não que ele estaria remotamente interessado em mim se não estivesse
com ela.
Eu gostava do seguro.
No meu mundo, invisibilidade era igual a segurança.
Fico feliz por ser como um papel de parede e me misturar.
E Johnny Kavanagh era o oposto de invisível que eu conseguia imaginar.
Antes dele, eu nunca me interessei pelo sexo oposto. Eu nunca me
interessei por ninguém. Mas ele?
Eu me pego procurando por ele na escola só para poder olhar.
Era assustador e perseguidor da minha parte, mas eu honestamente não
podia evitar.
Me conforto com o conhecimento de que não tinha intenção de agir de
acordo com meus sentimentos ou ir atrás da minha primeira e única paixão.
De qualquer forma, eu estava perfeitamente contente em assistir do lado
de fora, me contentando em dar espiadas e olhares furtivos para ele sempre
que podia.
Justifico meu comportamento de stalker lembrando a mim mesma que eu
não era a única garota na escola a cobiçar o delicioso Johnny Kavanagh.
Não, eu era apenas uma em uma longa lista de muitas, muitas garotas.
Mas ele era apenas interessante de se observar.
Ele não agia como o resto dos rapazes na escola. Ele parecia acima deles
de uma maneira estranha? Como se ele fosse mais velho do que seus anos?
Ou entediado com o modo mundano da vida escolar?
Era difícil descrever.
Ele parecia dançar ao seu próprio ritmo. Ele esbanjava confiança e tinha
uma atitude de “não fode” que era ridiculamente viciante.
Ele forjou seu próprio caminho na escola e, como a maioria dos líderes
natos, todos os outros o seguiam.
Acho que essa era a chave para a popularidade; você precisava não querer
isso, ou não se importar com o que você tinha.
O fato de que ele era bonito com um corpo rasgado pela perfeição também
não prejudicava sua causa.
Isso me deixava um pouco ciumenta se eu estivesse sendo honesta.
Eu não me importava em ser popular. Era o fato de que era tão fácil para
algumas pessoas enquanto outras, eu incluída no último grupo, sofriam
terrivelmente.
Ele transmitia a vibe de “Eu sou o melhor. Você está com o melhor aqui,
porra. Você não vai encontrar ninguém melhor do que eu. Azar para você”, e
andava por aí com uma expressão constante de foda-se no rosto.
Era o comportamento típico de um macho alfa batendo os punhos no peito
– que eu presumi que tinha muito a ver com o motivo pelo qual todas as
garotas em um raio de dezesseis quilômetros pareciam gravitar em direção a
ele.
A coisa é que, sempre que seus olhos se encontraram com os meus, eu
nunca vi nada daquele machismo fabricado ou seu notório olhar carrancudo.
Era difícil descrever o olhar que recebo porque geralmente quando nossos
olhos se cruzam, era porque Johnny me pegava olhando para ele, fosse no
refeitório ou fora das salas de aula, e eu sempre me afastava rapidamente,
mortificada.
No entanto, nas raras ocasiões em que consegui me fortalecer e encontrar
seu olhar, fui recompensada com uma curiosa inclinação de cabeça e um
pequeno sorriso trêmulo.
Eu não tinha certeza do que fazer com nada disso, ou como me sentir.
De uma forma estranha, eu meio que me sentia como um daqueles
patinhos que se ligam à primeira pessoa que vêem ao nascer.
Eu assisti a um filme sobre isso quando era criança.
Talvez fosse isso que estava acontecendo aqui?
Talvez eu tenha me apegado a Johnny porque ele não só foi a primeira
pessoa que eu vi quando voltei a mim, mas ele foi a primeira pessoa que me
mostrou bondade genuína.
Eu me pergunto se isso era uma coisa real que poderia acontecer com
humanos depois de sofrerem concussões moderadas, mas logo descartei a
ideia maluca.
Pensamentos assim não eram normais e de absolutamente nenhum
benefício.
Além disso, eu não estava ligada a ele.
Eu simplesmente gostava de admirá-lo.
De uma distância segura.
Quando ele não estava olhando.
Sim, isso não era nada saudável.
— Você quer ir lá para casa depois da escola hoje? — Claire me pergunta
durante o grande intervalo na quarta-feira.
Estamos sentadas no final de uma das mesas gigantescas no luxuoso
refeitório com a qual eu ainda estava tentando aceitar.
Na BCS, tínhamos uma pequena cantina onde as pessoas se revezavam
sentadas nas pequenas mesas redondas.
Aqui em Tommen, era um salão de banquete glorificado com mesas de
seis metros e meio, refeições quentes em oferta e espaço suficiente para
acomodar toda a escola.
O refeitório estava repleto de outros alunos gritando e falando tão alto que
eu tive que me inclinar sobre a mesa para responder.
— Para sua casa?
Claire assente.
— Nós podemos sair e assistir alguns filmes ou algo do tipo?
— Você não está indo para a cidade com Lizzie para ver Pierce? — Eu
pergunto.
Pelo menos é o que eu pensava que elas estariam fazendo depois da escola
hoje.
Isso era tudo que Lizzie falou a manhã toda.
Aparentemente, ela estava saindo com um rapaz do quinto ano chamado
Pierce, e eles estiveram juntos por meses.
Pelo que eu tinha percebido, eles estavam de volta no momento.
Para ser justa, Lizzie me convidou para ir com elas depois da escola, mas
eu recusei porque a cidade era o último lugar que eu queria estar.
Minha antiga escola era localizada no meio da cidade e eu tendia a evitar
todas as áreas ao redor como a praga.
Havia muitos rostos indesejados por ali.
— Não, Lizzie está de mau humor — Claire explica, esfaqueando seu pote
de iogurte com a colher. — Então, eu estou supondo que eles tiveram outra
briga hoje.
Isso explicava a notável ausência da Lizzie no almoço.
Ela era difícil de entender.
Ela se continha muito e eu nunca sabia realmente o que ela estava
pensando ou sentindo, ao contrário de Claire, que era um livro aberto.
Acho que é por isso que sempre estive mais perto de Claire enquanto
crescia.
Eu amava Lizzie, é claro, e a considerava uma boa amiga, mas se eu
tivesse uma melhor amiga, então seria Claire.
— Além disso, eu não gosto muito de ficar sobrando com aqueles dois —
acrescenta Claire, colocando a colher em sua lancheira. — Então, o que você
diz? Mamãe vai nos pegar e te deixar em casa quando você quiser ir. — Ela
se recosta na cadeira e me dá um sorriso megawatt. — Ou você pode sempre
dormir lá?
Meu estômago dá uma pequena reviravolta.
— Tem certeza que sua mãe não vai se importar?
— Shannon, é claro que ela não vai se importar — Claire responde, me
dando um olhar estranho. — Minha mãe e meu pai amam você. — Sorrindo,
ela acrescenta: — Mamãe está constantemente no meu pé perguntando
quando você vem de novo.
Uma sensação quente me inunda.
A Sra. Biggs era enfermeira na unidade de terapia intensiva do hospital na
cidade de Cork, e ela era uma das senhoras mais legais que eu já conheci.
Claire era muito parecida com sua mãe, com uma natureza doce e um
coração bondoso.
Quando éramos pequenas, e Claire e Lizzie estavam dando uma festa de
aniversário ou um encontro para brincar, a Sra. Biggs sempre fazia questão
de vir me buscar.
Fui até convidada para as festas de aniversário do irmão mais velho de
Claire e, embora nunca tenha ido às festas de Hughie, apreciei o convite.
Foram os únicos convites que recebi enquanto crescia.
— Eu adoraria, mas vou ter que verificar com meus pais. — Eu digo a ela
e então pego meu telefone e mando uma mensagem para meu irmão para
avaliar o clima em casa.
— Vai ser ótimo — ela encorajou alegremente. — Há um pote de sorvete
Ben e Jerry's no freezer e eu tenho o novo filme de Piratas do Caribe em
DVD. — Balançando as sobrancelhas, ela acrescenta: — Johnny e Orlando,
que garota pode dizer não a isso?
— Não você — eu rio. Claire era obcecada por Johnny Depp.
Ele era seu papel de parede em seu telefone e seu rosto estava colado em
todas as paredes de seu quarto.
— Eu o amo — ela anuncia com um suspiro sonhador. — Sim. É amor
verdadeiro, incondicional, e um dia ele virá para a Irlanda, me verá e
instantaneamente retribuirá meus sentimentos. E então nós fugiremos juntos
e criaremos adoráveis bebês híbridos piratas.
— Isso soa como um plano — eu rio. — Embora você perceba que ele
não é um pirata de verdade, não é?
— Shh! — Claire ri. — Não tire isso de mim. Deixe-me apreciar a vista.
Meu telefone vibra na minha mão, em seguida, com uma mensagem de
Joey.
Péssima ideia, Shan. Ele está em pé de guerra.
Abatida, empurro meu telefone de volta no bolso e solto um suspiro
pesado.
— Eu não posso ir.
— Seu pai? — ela pergunta tristemente.
Eu balanço a cabeça.
Claire parece tão desapontada quanto eu, mas ela não insiste.
No fundo, acho que ela sabe.
Eu nunca verbalizei isso e ela nunca pressionou.
É por isso que eu a amava.
— Outra vez então. — Claire me oferece um sorriso enorme que quase
mascara a preocupação em seus olhos castanhos.
Quase.
— Nós vamos planejar melhor da próxima vez, avisar você com
antecedência — ela rapidamente continua, colocando seu longo cabelo loiro
atrás das orelhas. — Mas nossa sessão de Johnny e Orlando está
definitivamente acontecendo!
— Como vai Claire-ursinha? — Uma voz masculina profunda pergunta,
distraindo nós duas.
— Oh, ei, Gerard — Claire reconhece em um tom despreocupado,
enquanto olha para o enorme garoto loiro parado no final da nossa mesa. —
Como você está?
— Melhor agora eu estou falando com você. — Ele ronronou enquanto se
aproxima e apoia sua bunda na mesa, mantendo suas enormes costas para
mim e sua atenção travada na minha amiga. — Você está linda como
sempre.
O olhar de Claire dispara de seu rosto para o meu e ela me dá um olhar de
Que porra é essa?, antes de rapidamente ficar séria e dizer
— Eu não ouvi você falar a mesma coisa para Megan Crean na quarta-
feira?
Engulo uma risada enquanto observo minha amiga jogar a carta da
indiferença como uma profissional, embora ela estivesse claramente afetada
por esse garoto.
Ele era alto e bronzeado, com cabelo loiro sujo, despenteado, e claramente
com alguns bons músculos sob seu uniforme escolar.
Eu não a culpo por ser afetada por um garoto que se parecia com isso.
A maioria das meninas seria.
Só não essa garota.
— Você é ciumenta? — Gerard provoca, tom altamente paquerador. —
Você sabe que você é minha número um.
— Me poupe — Claire finge engasgar.
— Ouvi dizer que você está indo para Donegal com a equipe? — Ele
pergunta a ela. — Sua classe recebeu o aval, não foi?
— Sim, nossa classe foi escolhida para ir — Claire responde alegremente.
— Mas mamãe não assinou a autorização para eu ir.
Nem a minha.
O Tommen College tinha uma partida fora de casa contra uma escola
preparatória de rúgbi em Donegal no mês que vem, depois do recesso de
Páscoa.
Era um jogo importante para o time, uma final de alguma copa da liga ou
outra coisa, e minha turma, junto com outra turma do sexto ano, havia sido
selecionada aleatoriamente para participar.
Como a partida estava sendo realizada na primeira sexta-feira em que
deveríamos voltar às aulas após o recesso de Páscoa, o ônibus escolar estava
partindo de Tommen às 22h45 da noite de quinta-feira para evitar o tráfego e
permitir paradas, já que o norte de Donegal era pelo menos oito horas de
viagem em relação a Cork via ônibus.
De acordo com Lizzie, os assistentes de Tommen eram um bando de mãos
de vaca e só tinham alocado fundos para uma noite de acomodação para a
viagem.
Estaríamos dormindo no ônibus na quinta à noite, ficando em um hotel na
sexta à noite e depois viajando de volta para Cork no sábado.
Lizzie estava completamente desgostosa com o conceito de ter que dormir
no ônibus porque os diretores da escola estavam sendo mesquinhos e não
iriam desembolsar os fundos para uma noite extra em um hotel.
Pessoalmente, não conseguia ver qual era o problema.
Era uma viagem com todas as despesas pagas pela escola e um dia de
folga aprovado.
Além da viagem de ônibus de oito horas com a maioria dos passageiros
sendo adolescentes cheios de testosterona, era uma vitória para todos.
Claro, essa parte me aterrorizava profundamente, mas eu estava
começando a aprender a administrar minha ansiedade, recusando-me a
permitir que minhas experiências passadas arruinassem uma oportunidade
em uma pausa muito necessária.
Eu estava me esforçando muito para ficar para trás, tirar um momento e
ler situações e cenários com pensamentos claros e racionais, em vez da
paranoia induzida pelo terror que parecia me controlar.
Independentemente do meu entusiasmo com a perspectiva de ficar longe
de Ballylaggin por algumas noites, eu não tinha muita esperança de ir.
Por ser uma viagem noturna, a escola exigia que os formulários de
permissão fossem assinados por nossos pais.
Eu dei à mamãe os formulários que precisavam ser assinados para que eu
pudesse comparecer na semana passada.
A partir desta manhã, ainda estava sem assinatura em cima do cesto de
pão em casa.
— Ah, sua mamãe vai deixar você ir — o deus loiro brinca, bagunçando o
cabelo de Claire. — Claro que o irmão mais velho estará lá para ficar de
olho em você, e em mim, é claro. — Ele se inclina para mais perto e coloca
uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. — Eu sempre jogo melhor
quando sei que você está assistindo.
Agora eu rio de seu papinho puramente ridículo e brega.
Eu sabia tudo sobre esportes e ainda não conhecia um cara que jogasse
melhor por causa de uma garota.
No entanto, quando tento abafar minha risada, acaba saindo como um
bufar.
Batendo a mão na minha boca, eu encaro a expressão horrorizada de
Claire e murmurei desculpas por trás dos meus dedos.
Como se tivesse acabado de perceber que eu estava presente, o cara loiro
se vira, provavelmente para procurar o culpado por bufar.
Seu olhar pousa no meu rosto e o reconhecimento imediato cintila em seus
impressionantes olhos prateados/cinza.
— Ei! Pequena Shannon — ele reconhece, sorrindo calorosamente. —
Como tá indo?
— Uh, tudo bem — eu engasgo, enquanto eu olho para ele e me pergunto
como diabos ele sabia meu nome.
Olho para Claire, que dá de ombros e me lança um olhar que me diz que
ela estava tão confusa quanto eu.
— Eu não sabia que você era amiga de Shannon — ele diz, voltando sua
atenção para Claire. — Isso teria sido uma informação útil.
— Uh, eu não sabia que você era amigo de Shannon? — Claire oferece
inexpressivamente. — E útil para quê?
— Eu não sou. — Ele balança sua cabeça. — E isso não importa.
Ele se vira para mim e sorri novamente.
— Sou Gerard Gibson — ele se apresenta. — Mas todo mundo me chama
de Gibsie.
— Eu não — Claire diz alegremente.
Gibsie ri.
— Ok, todos, exceto essa aqui, me chamam de Gibsie. — Ele aponta o
polegar para minha amiga, dando-lhe um sorriso indulgente, antes de voltar
sua atenção para mim. — Ela gosta de ser estranha.
— Não, Gerard, eu gosto de me dirigir às pessoas pelo nome — Claire
corrigi, dando-lhe um olhar torto. Ela volta sua atenção para mim e começa a
explicar. — Gerard aqui é amigo do meu irmão Hugh. Você se lembra de
Hughie, não é, Shan?
Eu balanço a cabeça, lembrando claramente do lindo irmão mais velho de
Claire.
Com cabelos loiros claros e olhos castanhos, Hugh Biggs era o
equivalente masculino de sua irmã, exceto pelo abdômen, traços masculinos
e as partes óbvias de menino. Hugh não frequentou a mesma escola primária
que nós, mas sempre foi amigável comigo quando eu ia à casa deles. Ele era
um dos poucos garotos além de Joey que eu não me sentia no limite. Hughie
sempre me deixou em paz e eu apreciava isso.
— Bem, eles estão na mesma classe desde Junior Infants, e este troglodita
aqui — ela faz uma pausa para dar um pequeno empurrão em Gibsie antes
de continuar —, tem sido um acessório permanente na minha cozinha
durante a maior parte da minha vida. Ele vive do outro lado da nossa rua —
acrescentou. — Infelizmente.
— Vamos, Claire-Urso — ele brinca. — Isso é jeito de falar sobre o cara
que te deu seu primeiro beijo?
— Isso foi o resultado de um jogo infeliz de girar a garrafa — ela retruca,
as bochechas ficando rosadas, enquanto ela olha para ele. — E eu te disse
um milhão de vezes para parar de me chamar assim.
— É tudo um show — Gibsie me informa com um sorriso enorme. — Ela
me ama na verdade.
— Eu realmente não sei — Claire retruca, confusa agora. — Eu o tolero
porque ele traz biscoitos para minha casa. — Ela se vira para mim e diz: —
A mãe de Gerard é dona de uma padaria na cidade. Seus bolos são
insanamente deliciosos.
— Gibs! Vamos, cara. A equipe está esperando por você! — alguém grita
do outro lado do refeitório, fazendo com que nós três virássemos.
Meu coração para por um breve momento antes de dar uma cambalhota no
meu peito quando meus olhos pousam em Johnny Kavanagh parado no arco
do refeitório, com a mão gesticulando loucamente no ar e uma expressão
estrondosa gravada em seu rosto.
— Cinco minutos — Gibsie chamou de volta.
— O treinador nos quer agora — Johnny ladra naquele forte sotaque de
Dublin que eu aprendi a ouvir. — Não em malditos cinco minutos —
acrescenta, não dando a mínima para quem o estava ouvindo.
Fica bem claro que ele não se importava se as pessoas olhavam para ele
ou não.
Ignorando-o, Gibsie ergue dois dedos e volta sua atenção para Claire.
Ele começa a falar com ela em um tom baixo e abafado, mas eu não
entendo nada.
Todo o meu foco estava no par de olhos azuis que estavam olhando de
volta para mim.
Normalmente, quando ele me pegava olhando, eu desviava o olhar ou
abaixava o rosto, mas desta vez não consegui.
Eu me senti presa.
Completa e totalmente enredada em seu olhar.
Johnny inclina a cabeça para o lado, olhando para mim com uma
expressão curiosa, a irritação anterior em seus olhos substituída por algo que
eu não conseguia decifrar.
Meu coração batia violentamente contra minha caixa torácica.
E então ele balança a cabeça e desvia o olhar, sua atenção se movendo
para o relógio em seu pulso esquerdo, quebrando o olhar estranho, como se
estivesse em transe.
Soltando um suspiro trêmulo, eu afasto meu olhar dele, caio para frente e
deixo meu cabelo cair para esconder minhas bochechas em chamas.
— Espero ver pompons e as palavras “eu amo Gibsie” em letras neon em
seus peitos na semana que vem na final do School Boy Shield — foi tudo
que consigo pegar Gibsie dizer antes que ele acene para nós e sai correndo.
— Desculpe por ele — Claire diz, olhando do meu rosto para trás. Suas
bochechas estavam coradas, seus olhos brilhando. Ela puxa um pedaço
imaginário de penugem em seu suéter da escola antes de acrescentar: — Ele
é um pouco estranho.
— Ele está muito afim de você — eu disse, grata por uma distração dos
meus pensamentos.
— Gerard gosta de todo mundo — ela responde com um suspiro pesado.
— Bem, todo mundo com uma vagina.
— Eu não sei, Claire. Ele parecia realmente gostar de você — eu começo
a dizer, mas ela rapidamente me corta.
— Bem, eu sei, Shan — ela disse, as bochechas ainda coradas. — Ele é
um jogador. Um jogador de merda total. Ele monta qualquer coisa em uma
saia — acrescentou. — Todos eles fazem.
— Eles?
— Os rapazes do time de rúgbi — ela explica — Com exceção de Hugh, e
possivelmente Patrick.
Eu torço meu nariz para cima.
— Oh.
— Sim, oh — Claire responde, fazendo uma careta. — E a única razão
pela qual Gerard continua assim comigo é porque eu sou a irmã mais nova
de Hughie e ele sabe que não pode me ter.
Suspirando, ela acrescenta:
— É um jogo inofensivo de flertar com ele que não vai dar em nada.
— E você? — Eu pergunto em um tom suave. — O que é isso para você?
Claire mordeu o lábio inferior por vários segundos antes de sussurrar:
— Tormento.
Isso era todo o esclarecimento que eu precisava para confirmar minhas
suspeitas.
Claire gostava de Gerard – ou Gibsie – ou qualquer que fosse o nome
dele.
Naquele momento, dada a recente onda de hormônios que atacam o meu
sistema reprodutivo, provocada pela injeção de Johnny Kavanagh em minha
vida, posso me relatar com minha amiga da maneira mais fundamental.
— Garotos com olhos bonitos e grandes músculos estragam tudo para as
meninas — Claire bufa.
— Sim — eu concordo fracamente. — Eles certamente fazem.
— O que nós gostamos? — Claire ri sem entusiasmo. — Ambas gostando
da pior coisa possível para nós.
— Eu? — Balanço minha cabeça e pulo para o modo de negação. — Eu
não gosto de ninguém.
— Aham, certo — Claire zomba. — Nem tente fingir, pequena senhorita
bochechas coradas. Eu vejo o jeito que você o observa.
— Claire. — Eu balanço minha cabeça e suspiro. — Você está
imaginando coisas.
— Oh, olhe — ela engasga, apontando para trás de mim. — Johnny está
vindo para cá.
— O–o quê? — Assustada, eu me viro para descobrir que ela está
mentindo.
— Ha — Claire ri. — Eu sabia.
— Não é engraçado — eu murmuro, acariciando minhas bochechas em
chamas.
— Não se preocupe, Shan — ela responde, sorrindo conscientemente. —
Seu segredo está seguro comigo.
7

AZUL MEIA-NOITE

JOHNNY

Shannon Lynch tinha olhos da cor azul meia-noite que não saíam da porra da
minha cabeça.
Pelo menos essa é a comparação mais próxima que consegui encontrar nas
inúmeras buscas na internet que fiz.
As pesquisas de gráficos de cores na internet eram confusas, mas não tão
desconcertantes quanto meu cérebro fodido que, como um disco quebrado,
parecia estar preso na repetição.
A trilha sonora de escolha do meu cérebro: Shannon como o rio, com os
lindos olhos azuis, rosto de anjo e o passado conturbado.
Depois de ler seu arquivo, levei vários dias para absorver o conteúdo, e
vários mais antes de encontrar o controle que eu precisava para não dirigir
até BCS e dar uma surra em seus valentões.
Durante toda aquela primeira semana depois das férias de Natal, eu me
preocupei com a garota, esperando para ver se amanhã seria o dia em que ela
voltaria para a escola.
Meus níveis de ansiedade estavam no teto quando sexta-feira chegou e ela
não voltou.
Isso me incomodou tanto que parei no escritório do Sr. Twomey para
checar.
Foi lá que eu soube que, de fato, havia causado uma concussão impiedosa
na garota e que ela estava em casa de repouso pelo resto da semana.
Quando Shannon voltou para a escola na segunda-feira seguinte, fui
chamado direto para o escritório, onde fui recebido pelo Sr. Twomey, Srta.
Nyhan, o monitor do terceiro ano, o Sr. Crowley, o monitor do meu ano, e a
incubadora humana, essa era a Sra. Lynch.
Lá, me foi explicado que, embora eles estivessem cientes que minhas
ações em campo foram acidentais, seria melhor se eu mantivesse distância
dela para evitar incidentes futuros.
Também recebi um saco plástico de sua mãe com minha camisa dentro,
junto com um pedido de desculpas murmurado por me expulsar para
corredor naquele dia – obviamente tentando cobrir sua bunda por colocar as
mãos em um aluno – e outro aviso severo para ficar longe de sua filha.
Furioso por ter sido encurralado em uma intervenção fodida e
desnecessária – para não mencionar ser tratado como um vilão por um erro
honesto – eu respondi com um afiado “Sem problema”, antes de pegar
minha camisa e voltar para a aula com todas as intenções de fazer
exatamente isso.
Eu não precisava desse tipo de aborrecimento na minha vida.
Eu não precisava da ameaça de suspensão pairando sobre minha cabeça.
Isso mexia com meus planos, e não havia nenhuma garota pela qual valesse
a pena colocar meu futuro em risco.
Seguindo as regras, mais para o meu bem do que para o dela, eu fiquei
longe.
Não falei com ela e não me aproximei quando a vi entre as aulas ou no
refeitório durante o intervalo.
Mantive uma distância enorme daquela garota e das complicações que
pareciam segui-la.
Mas por mais chateado que eu estivesse, eu ainda ficava de olho nela nos
corredores.
Chame isso de ser excessivamente protetor com uma garota vulnerável ou
chame de outra coisa, mas eu mantive meus ouvidos abertos quando se
tratava de Shannon Lynch e desliguei qualquer merda que pudesse ser um
problema, certificando-me de que ela tivesse uma transição suave na
Tommen.
No entanto, depois de alguns dias, rapidamente ficou claro que ela não
precisava da ajuda de ninguém.
Shannon era apreciada em Tommen.
Os professores gostavam dela.
Os alunos gostavam dela.
Eu gostava dela.
Esse era o problema.
Além disso, ela tinha seus próprios pequenos guarda-costas na forma das
duas loiras que sempre pareciam ladear onde quer que ela fosse.
Reconheço a mais protetora das duas garotas como irmã de Hughie Biggs,
aquele que joga na posição de abertura3 do nosso time e um dos meus
amigos mais próximos.
A outra loira era a namorada ioiô de Pierce Ó Neill, outro companheiro
meu.
Eu não conseguia lembrar o nome da namorada de Pierce, só que eu
lembrava o quão maldita ela podia ser com a língua e que qualquer cara em
sã consciência deveria manter distância.
Me jogando em minha rotina, tento ignorar e esquecer Shannon, optando
por me concentrar no jogo e ignorar todas as distrações ao meu redor –
bocetas sendo o tipo mais perigoso de distração.
Eu realmente tentei.
Mas então um dos rapazes a trazia na conversa, ou ela passava por mim
no corredor da escola, e eu estava de volta à estaca zero.
Eu não conseguia entender isso e tentei não pensar muito nisso.
Mas isso não a impediu de aparecer em todas as conversas em que eu
estive envolvido desde sua chegada a Tommen.
Rapazes eram idiotas e a idade não significava nada para a maioria deles.
Muitos dos idiotas do meu ano estavam falando sobre ela, pensando sobre
ela e fazendo planos sobre ela, e isso me deixava louco.
Na semana passada, por exemplo, eu realmente expressei minhas
frustrações, dizendo a uma mesa de colegas de classe chocados para se
foderem, que ela tinha apenas quinze anos.
Não importava para eles que ela estava apenas no terceiro ano, e me
incomodava que importava para mim quando realmente não deveria.
Muitos dos terceiros anos ficavam com pessoas do quarto, quinto e
inferno, até mesmo do sexto ano.
Não eu.
Nunca eu.
Ao contrário do resto dos rapazes que não tinham nenhum problema em
brincar com garotas mais novas, eu estava totalmente ciente das implicações
que poderiam surgir.
Eu tive mais do que meu quinhão de palestras de treinadores e ex-
profissionais sobre as repercussões catastróficas que vinham com foder com
a garota errada.
E enquanto eu não estava particularmente orgulhoso do meu
comportamento em relação às meninas ao longo dos anos, eu estabeleci um
limite para qualquer pessoa mais jovem do que eu.
Eu sabia que isso me tornava um hipócrita, considerando que eu estava
mais do que disposto a ir para cama com garotas mais velhas do que eu, mas
eu tinha que estar seguro, caramba. Eu tinha um sonho e uma visão clara do
que precisava fazer para alcançá-lo. Brincar com garotas mais novas era
perigoso.
É por isso que essa garota em particular estava me irritando tanto.
No minuto em que coloquei os olhos nela, algo me atingiu com força no
peito.
Algo desconhecido e desconcertante.
Mais de um mês se passou e eu ainda estava cambaleando.
Estávamos em fevereiro e eu ainda estava silenciosamente obcecado por
Shannon, como o rio.
Não gostava disso e gosto ainda menos dela por ser a única causa da
minha incerteza.
Não fazia sentido.
Ela era um pedacinho de menina – toda membros e ossos. Não havia
curvas nela, e eu duvidava que ela já usava sutiã se eu fosse honesto comigo
mesmo.
Viu?
Muito jovem.
Muito fodidamente jovem.
Mas isso não me impedia de procurá-la na multidão.
E isso não me impedia de olhar quando a encontrava.
Quanto mais eu tentava bloqueá-la, mais eu a procurava.
Até que eu estava procurando por ela entre cada fodida aula.
Às vezes, eu a encontrava me observando de volta.
Ela sempre me dava esse olhar deslumbrado antes de abaixar o rosto.
Eu não tinha certeza do que fazer com nada disso.
Reconheci plenamente que estava tendo uma reação irracional à garota.
Não era normal.
O problema era que eu não conseguia me controlar.
Eu não conseguia desligar meu cérebro.
Bella era outro problema para mim.
Ela estava cansada do que ela chamava de “ficante” e tinha me mandado
uma mensagem algumas semanas atrás para dar um tempo em nossas não-
transas.
Eu sabia que deveria ter sentido algo sobre isso – eu estava dormindo com
a garota por quase oito meses – mas tudo que eu sentia era vazio.
Não havia conexão ali e eu estava cansado de me sentir usado.
Não era como se tivéssemos nos encontrado para uma conversa ou ido ao
cinema, ou algo assim.
Ela não queria isso de mim.
Nem mesmo quando eu ofereci.
Claro, não havia sentimentos envolvidos, e eu nunca estive interessado em
ter um relacionamento com ela, mas depois de passar seis dos oito meses
com meu pau dentro dela, eu não me opus a pagar o jantar da garota ou levá-
la a uma merda de encontro no cinema.
Eu tinha oferecido em muitas ocasiões e ela recusava cada uma.
Porque isso não era público o suficiente.
Porque Bella só me queria quando eu estivesse em plena exibição no pub
ou na escola, onde ela poderia me mostrar para todos os seus amigos como
se eu fosse um touro premiado.
Bella havia me informado por mensagem de texto que ela seguiu em
frente com Cormac Ryan do sexto ano.
Eu meio que suspeitava que algo estava acontecendo entre os dois por um
tempo porque ele estava agindo de forma estranha para caralho perto de
mim.
Cormac recebeu o telefonema da Academia durante o verão. Ele esteve
em algumas sessões com os jovens e competiu em várias rodadas de testes.
Até agora, Cormac não teve sucesso em ganhar um contrato de colocação
permanente e eu não estava prendendo a respiração pelo cara.
Isso não era eu sendo um idiota rancoroso.
Era eu relatando fatos.
Ele era um ala decente, mas precisava seriamente fazer alguma magia se
quisesse chegar ao time principal com o clube.
Se ele conseguisse, bom para ele.
Se ele não conseguisse, eu não dou a mínima.
Cormac estava um ano na minha frente, então nunca fomos amigos, por si
só, mas tendo jogado no mesmo time nos últimos cinco anos, eu esperava
um pouco mais de lealdade.
E se Bella estivesse querendo provocar uma reação em mim transando
com meu companheiro de equipe, ela ficaria muito desapontada porque eu
nunca lhe daria essa satisfação.
Machucava?
Sim.
Eu me sentia traído?
É claro.
Isso significava que eu a queria de volta?
Porra, não.
Porque eu não conseguia lidar com mentirosos, e era isso que ela era.
Eu também não lidava bem com jogos mentais, que era exatamente o que
ela estava tentando fazer comigo.
Terminar comigo, sair com meu companheiro de equipe e depois virar e
inundar minha caixa de entrada e me dizer que ela me queria de volta, era
um excelente exemplo dos jogos que essa garota gostava de jogar comigo.
O que ela não conseguia entender era que não importava quantos jogos ela
tentasse jogar ou quantas vezes ela prometesse me chupar.
Não havia como voltar.
Não para mim.
Talvez eu estivesse morto por dentro, como Bella tinha sugerido no
milhão de mensagens de texto que ela me enviou depois que eu recusei suas
ofertas de resolver as coisas.
Eu não pensava assim.
Eu tinha sentimentos.
Eu me importava com as coisas.
Apenas não com mentirosos.

— Tenho uma confissão a fazer — anuncia Gibsie durante o treino de


quarta-feira.
Estávamos em nossa vigésima nona volta de trinta ordenadas no campo e
ele estava começando a murchar.
Na verdade, eu estava na minha vigésima nona volta.
O resto da equipe estava em sua décima quarta.
Gibsie estava em sua oitava, e ele começou a murchar na quarta volta.
Agora, ele parecia um cara caindo de uma boate às três da manhã com a
barriga cheia de Jägerbomb, uma bebida com uma dose de Jägermeister em
um energético.
Ele, junto com o resto deles, precisava se recompor porque tínhamos o
School Boys Shield para jogar contra na próxima semana e eu não tinha
intenção de jogar se o resto do time não estiver comprometido com a causa
também.
Esses babacas tiveram dez dias para se recomporem.
— Você está ouvindo? — Gibsie rosna em um tom sem fôlego, agarrando
meu ombro na esperança de que eu puxasse sua bunda preguiçosa. —
Porque isso é sério.
— Estou ouvindo — eu digo a ele, puxando o ar e expelindo lentamente.
— Pode se confessar.
— Eu tenho uma vontade insana de te chutar nas bolas — Gibsie solta
uma respiração irregular antes de terminar — E quebrar o que sobrou aí
embaixo.
— Que porra? — Sacudindo sua mão musculosa do meu ombro pela
centésima vez, troco de posição, correndo para trás para poder encarar o
bastardo. — Por quê?
— Porque você é uma aberração da natureza, Kav — ele ofega,
arrastando-se atrás de mim. — Não há nenhuma maldita maneira de
qualquer cara na sua posição... — ele aponta um dedo para mim e depois cai
para frente, pressionando as mãos na parte de trás da cabeça — ... com um
pau quebrado ser capaz de correr por tanto tempo sem cair morto.
Gemendo, ele acrescenta:
— Meu pau está em perfeitas condições de funcionamento e está
chorando de tanto esforço, Johnny! Chorando! E minhas bolas hibernaram
de volta à sua posição pré-puberdade.
— Meu pau não está quebrado, idiota — eu rosno, olhando ao redor para
ver se alguém nos ouviu.
Felizmente, o resto da equipe estava do outro lado do campo.
— Eu quero uma foto disso — ele ofega. — Para que eu possa mostrar ao
treinador e fingir que é meu. Ele nunca vai me fazer correr novamente.
— Continue falando sobre isso e você não vai precisar de uma foto para
mostrar ao treinador — eu disse. — Eu vou cortar seu pau e você pode dar a
ele em vez disso.
Gibsie faz uma careta.
— Ainda é muito cedo para fazer piadas?
Eu balanço a cabeça rigidamente e então me viro, recapturando meu ritmo
anterior, enquanto eu me aproximo da linha de chegada.
— Desculpe cara — ele ofega, caindo para trás em uma corrida mancando
ao meu lado. — Não é natural se mover com esse tipo de velocidade quando
você está ferido.
— Você honestamente acha que isso é fácil para mim? — Eu mordi.
Se ele acha, então ele estava fodidamente maluco.
Eu tinha “velocidade” porque passei a maior parte da minha infância e
toda a minha adolescência trabalhando no meu corpo.
Enquanto Gibsie e os rapazes brincavam de bater em uma porta e correr e
girar a porra da garrafa, eu estava em campo.
Quando eles estavam perseguindo garotas, eu estava perseguindo ganhos.
O rúgbi era a minha vida.
Isso era tudo que eu tinha.
Mas o ritmo laborioso que eu estava mantendo hoje estava tão longe do
meu padrão habitual que era patético.
Eu era lento e a única razão pela qual não era perceptível era porque este
era o nível escolar.
Se eu arrastasse minha bunda assim na Academia, onde joguei ao lado dos
melhores jogadores do país, seria imediatamente criticado.
Meu corpo estava em chamas e eu estava me movendo por pura vontade.
Tudo doía a ponto de eu ter que respirar pelo nariz para não vomitar. Eu
pagaria pelo esforço com uma noite sem dormir me contorcendo em agonia,
meia dúzia de analgésicos e um banho escaldante com sais de Epsom.
Mas eu não conseguia parar.
Porra, eu me recusava a ceder.
Se eu desse ao treinador Mulcahy um único indício de que não estava à
altura, ele ligaria para os diretores da Academia.
E se ele ligasse para a Academia, eu estava ferrado.
Eu diminuo meu ritmo quando chego à linha final, saindo, mantendo meus
músculos soltos e em movimento.
Se eu parasse de repente, ia enlouquecer, e pretendia fazer exatamente isso
na privacidade do meu próprio carro.
Pegando uma garrafa de água do chão, eu ando pela linha lateral como um
louco por vários minutos, tentando desesperadamente me livrar da dor.
Eu não ousava fazer um alongamento pós-corrida.
Eu não era muito masoquista.
Quando minha frequência cardíaca volta ao normal, espero o treinador me
dar o aceno para uma dispensa antecipada, então volto para os vestiários,
meu trabalho do dia concluído.
Eu não tinha percebido que Gibsie tinha me seguido pelo caminho até
ouvi-lo soltar um assobio ensurdecedor.
— Você parece bem, Claire-ursinha!
Curioso, sigo seu campo de visão apenas para encontrar duas loiras de
aparência familiar amontoadas sob o toldo do lado de fora do prédio de
ciências.
Uma das ditas garotas estava olhando carrancuda de volta para nós com o
dedo do meio direcionado para meu melhor amigo.
— Me vendo treinar de novo? — Gibsie chama do outro lado do pátio. —
Você sabe que eu amo quando você faz isso.
Levo alguns segundos para reconhecer a loira de pernas longas como a
irmãzinha de Hughie Biggs.
— O que é que foi isso? — Claire chama de volta, segurando sua orelha
com a mão. — Eu não posso ouvir você.
— Saia comigo!
— Se manca, Gerard!
— Você sabe que quer — Gibsie ri, girando os dedos para ela em
saudação. — Minha garotinha dos olhos castanhos.
— Não faça isso, Gerard! — O rosto de Claire fica em um tom vermelho
brilhante. — Não se atreva a cantar isso...
Gibs a interrompe com um verso de Van Morrison.
— Eu te odeio, Gerard Gibson! — Claire sibila quando ele acaba de fazer
uma serenata para ela como um corvo demente.
— E eu também te amo — ele ri, antes de voltar sua atenção para mim e
abafar um gemido. — Jesus Cristo — ele geme para que só eu pudesse ouvi-
lo. — Juro por Deus, rapaz, essa garota me deixa louco.
— Você já está louco — eu o lembrei. — Você não precisa da ajuda de
ninguém com isso.
— Olhe para ela, Johnny — ele geme, ignorando meu golpe. — Olhe
como aquela garota é linda. Cristo, pode ser aquele cabelo beijado pelo sol,
mas eu juro que ela brilha.
— Nem pense nisso — são as palavras que saem da minha boca.
— Eu não vou... por enquanto — Gibs responde, os olhos brilhando com
malícia. — Mas tenho a sensação de que vou me casar com ela.
Seu comentário me para em meu caminho.
— O quê?
Era muito estranho.
Até mesmo para ele.
— Desde que nós dois sairmos da nossa juventude sem nenhum bebê
acidental — acrescenta pensativo. — E o irmão dela não cortar meu pau
primeiro, é claro.
— Claire está no terceiro ano — eu brinco. — E ela é a irmã mais nova do
seu companheiro de equipe. O que há de errado com você, Gibs?
— Eu disse que ia me casar com ela hoje? — Gibsie contra-ataca. — Não,
filho da puta, eu não fiz, então limpe seus ouvidos. Eu quis dizer quando eu
for velho para caralho e eu terminar de espalhar minhas sementes selvagens.
— Velho para caralho? — Eu fico boquiaberto para ele. — Espalhar suas
sementes selvagens?
— Sim. — Ele encolhe os ombros. — Você sabe, como trinta ou algo
assim.
Reviro os olhos.
— Sim, bem, palavra para o sábio, Gibs: guarde essas sementes selvagens
enquanto você as está semeando. E mantenha-as longe de garotas como
aquela.
— Ei, não me dê esses olhos julgadores — Gibsie zomba. — Eu sempre
guardo minhas coisas. E não há nada de errado em gostar dela. Você é o
único com fobia de garotas da sua idade, cara, não eu.
Consciente de que estávamos tendo essa conversa extremamente confusa
no meio do pátio, eu procuro ao redor para ver se alguém estava escutando.
Gibsie não era a lâmpada mais brilhante da caixa, mas eu me sentiria
muito desolado se Hughie o escutasse falando sobre sua irmãzinha assim e o
matasse.
Foi nesse exato momento que meu olhar pousou na pequena morena,
cheia de livros nos braços, que desce os degraus do prédio de ciências e
corre até as loiras.
Uma onda repentina de algo enche meu peito quando reconheço a morena
como Shannon.
Droga, por que ela tinha que se parecer assim?
Por que cada coisa sobre aquela pequena porra de garota chama a minha
atenção?
Não era justo.
Na verdade, foda-se o justo, era absolutamente cruel.
Não fazia sentido para mim achá-la atraente.
Ela não era nada como as garotas com quem eu geralmente fodia por aí.
Eu gosto de curvas.
Eu amo peitos.
E eu era um bobão para uma bunda grande.
Ela não tinha nenhum dos itens acima.
Mas ela tinha pernas.
E cabelo.
E um sorriso.
E aqueles malditos olhos azuis meia-noite – que eu não achei que fosse
uma palavra boa o suficiente para descrever a cor.
Eles deveriam ser chamados de azul da cor da alma porque eles eram
profundos pra caralho e sugavam uma pessoa para dentro...
E então ela vai e deixa seus livros caírem.
Eles se espalham no chão e Shannon se inclina para pegá-los, fazendo
com que sua saia subisse muito alto.
Duas coxas lisas e pálidas preenchem minha visão, enviando uma onda de
bandeiras vermelhas atirando em meu cérebro e uma onda de calor
percorrendo meu corpo.
— Ah merda — eu murmuro baixinho, pego de surpresa tanto pela visão
dela quanto pela reação explosiva do meu corpo à visão dela.
Abaixando meu olhar, inalei algumas respirações firmes, tentando
desesperadamente recuperar o controle do meu pau problemático.
— O que há de errado? — Gibsie pergunta, olhando ao nosso redor para a
fonte do meu óbvio desconforto.
— Nada — eu murmuro, passando a mão irritada pelo meu cabelo. —
Vamos.
Gibsie, percebendo meu problema óbvio, joga a cabeça para trás diante da
minha reação e uiva de tanto rir.
— Você teve uma, puta merda, você teve! — ele engasga com acessos de
riso. — E você está corando! — Ele me dá um tapinha no ombro e bufa alto.
— Ah, cara, eu adoro isso.
— Não é minha culpa — eu rosno enquanto trovejo na direção dos
vestiários, andando como o fodido cowboy com strass. — Eu não posso
controlar isso hoje em dia.
Entrando nos vestiários, tiro minhas roupas e vou direto para os chuveiros
com a intenção de queimar a dor e o desconforto do meu sistema.
Não funcionou.
Meu corpo ainda estava com uma dor excruciante e eu ainda estava
ostentando um pau duro.
Abaixando minha cabeça, olho para a metade inferior do meu corpo e
debato minhas opções.
Mas não podia fazer isso.
Eu não podia tocar meu próprio pau maldito.
Eu estava muito assustado.
Memórias vívidas daquela viagem horrível ao pronto-socorro e os avisos
horríveis que os médicos me deram no Natal tinham oficialmente ferrado
com a minha cabeça.
Jesus, eu era uma maldita bagunça.
Apoiando minha testa contra a parede de azulejos, permito que a água
escaldante me lavasse enquanto espero pelo que pareceu uma eternidade
para que meu problema se resolvesse, mordendo meus dedos para enterrar
meus gemidos de dor.
Bem, se não estava claro antes que eu precisava manter distância,
certamente estava agora.
Eu tinha que ficar longe daquela garota.
Cristo...
— Se sentindo melhor? — Gibsie ri quando eu finalmente volto para o
vestiário, com uma toalha na cintura.
Ainda estávamos sozinhos aqui, graças a Deus, já que o resto da equipe
estava dando voltas.
Ignorando a piada, eu viro as costas para ele e deixo cair minha toalha.
Antes da cirurgia, eu não teria pensado duas vezes antes de andar nu na
frente de alguém.
Agora, nem tanto.
Porque além de precisar manter meu problema em segredo, eu era
autoconsciente.
Era mais uma sensação nova e indesejada.
Sempre tive orgulho do meu corpo. Eu tinha sido abençoado com retenção
muscular natural e força física, e paguei por cada abdome na minha barriga
com um regime de treinamento exaustivo.
Trabalhei muito duro para me manter no auge da condição física, mas as
bolas roxas, o saco inchado e a cicatriz escorrendo não era algo que eu
queria que ninguém visse.
Nem mesmo eu.
E foi por isso que eu não olho para baixo quando coloco uma cueca limpa.
No meu estado atual de pânico frenético, a negação era um rio no Egito e
se eu continuasse ligando, ficaria melhor, porque a alternativa não era uma
opção.
Ceder não era uma opção.
Mais tempo livre não era uma opção.
Perder a campanha de verão com os Sub-20 não era uma opção.
Perder meu lugar no time titular por causa de fraqueza não era a porra de
uma opção.
Jogar e arrasar era minha única opção porque eu me recusava a falhar aos
dezessete anos.
— Você está bem, Johnny? — Gibsie pergunta, quebrando o silêncio
acumulado.
Seu tom, pela primeira vez, era sério e era por isso que eu respondi com
um aceno curto.
— Pronto para falar sobre isso ainda?
— Falar de quê?
— Seja lá o que diabos está deixando você louco desde que voltamos do
recesso de Natal.
— Nada está me incomodando — eu respondo, puxando minhas calças da
escola até minhas coxas. Afivelo o meu cinto e pego minha camisa.
— Besteira — ele rebate.
— Estou ótimo — acrescento, rapidamente colocando meus botões de
volta no lugar.
— Você tem sido como um urso com dor de cabeça desde que voltou para
a escola depois do Natal — ele resmunga. — E não me diga que é por causa
de sua cirurgia, porque eu sei que há mais do que isso...
Meu telefone começa a tocar então, distraindo nós dois.
Alcançando minha bolsa, eu a puxo, verifico a tela e então resisto à
vontade de arremessar na parede.
— Porra, Bella — eu resmungo, cancelando a ligação e jogando meu
telefone de volta na minha bolsa.
Gibsie faz uma careta.
— O que está acontecendo aí?
— Nada — eu respondo. — Acabou.
— Bella sabe disso?
— Ela deveria — eu respondo categoricamente. — Ela é a única que
acabou com isso.
— É?
— Sim. — Apertando a ponta do meu nariz, exalo uma respiração
calmante antes de acrescentar: — Ela está fodendo com Cormac Ryan agora.
— E você está bem com isso?
— Não dou a mínima se estou sendo honesto, cara — eu respondo
categoricamente. — Estou mais aliviado do que qualquer coisa.
Gibsie balança a cabeça.
— Tem certeza? Você estava ficando com ela por um longo tempo.
— Eu terminei há muito tempo, Gibs — eu admito. — Confie em mim,
cara, tudo que eu quero que ela faça é me deixar em paz.
— Bem, se isso for verdade, então é a melhor notícia que ouvi durante
todo o ano — declara Gibsie. — Porque eu honestamente não posso suportar
aquela garota. Ela é uma mulher perigosa. Eu estava meio com medo que
você acabasse engravidando ela e nós estaríamos presos com ela por toda a
vida.
— Não há chance de isso acontecer — eu digo a ele enquanto reprimo um
estremecimento. — Eu sempre uso proteção.
— Ela é do tipo fura-camisinha, cara — Gibsie retruca. — E você é um
farol de luz brilhante para essas garotas, com um enorme sinal de néon do
euro pendurado sobre sua cabeça.
— Eu tiro antes — eu retruco. — Sempre.
— Toda vez?
— Por que você está me perguntando sobre minha vida sexual? — Eu
brinco.
Gibsie faz uma careta.
— Porque ela é suja.
— Gibs, você não fala merdas assim sobre uma garota — eu aviso. —
Não está certo.
— Eu não estou dizendo isso sobre qualquer garota. — Ele dá de ombros
e acrescenta: — Estou dizendo isso sobre aquela garota.
— Bem, eu estou bem — eu digo. — Fiz meus testes no mês passado e
estou limpo.
— Graças a Deus. — Ele suspira, parecendo aliviado. — Porque ela...
— Podemos não falar mais sobre ela? — Eu interrompo, completamente
enojado com o pensamento dela. — Estou cansado de ouvir sobre ela, Gibs.
— Ok, mas deixe-me fazer mais uma pergunta — ele responde. —
Apenas uma e eu vou te deixar em paz.
Suspiro cansado e espero que ele fale, sabendo que não importava se eu
concordasse ou não.
Limpando a garganta, ele pergunta:
— Você está aliviado por Bella ter terminado o que diabos você chama do
que vocês dois estavam fazendo porque você estava cansado de Bella? —
Ele estuda meu rosto por alguns momentos antes de acrescentar: — Ou
porque você gosta da garota?
Sua pergunta me faz parar no meio do botão.
— Da garota?
— Sim, a garota.
— Que garota? — Eu pergunto, fingindo ignorância.
— A porra da garota, Johnny — Gibsie rosna, jogando as mãos para cima.
— A que você nocauteou. A que eu me deixei ser molestado por Dee para
que eu pudesse pegar o arquivo dela. A que você passa seus dias trocando
olhares pegajosos na escola.
— Olhares pegajosos — Puxando meu suéter para baixo sobre meu
estômago, eu coloco meus sapatos. — O que diabos são olhares pegajosos?
— Olhos desmaiados — Gibsie retrucou, exasperado agora. — Olhares
ardentes. Olhares de foda-me. Sinais de eu quero comer sua boceta. — Ele
balança a cabeça e pega uma lata de desodorante de sua bolsa de
equipamentos. — Como você quiser chamá-los.
— Você está doido, Gibs — eu anuncio, decidindo sobre o desvio. —
Sério, cara, às vezes eu realmente me preocupo com o que está acontecendo
na sua cabeça.
— Não há nada de errado com a minha cabeça, Kavs. Você é o único com
a tique de olhares para foder sempre que aquela garota está no lugar. — Ele
joga o desodorante na minha direção e eu o pego no ar. — Não pense que eu
não entendi o que está acontecendo lá.
— Não sei do que você está falando, cara. — Enfio a mão debaixo da
minha camisa e borrifo em minhas axilas. — Meus olhos estão em perfeitas
condições de funcionamento.
— Seu pau está em perfeito estado de funcionamento, também — ele
dispara de volta. Ele puxa o suéter da escola por cima da cabeça e continua:
— Quando aquela garota está ao redor.
Eu levo meu tempo respondendo a ele por duas razões.
O primeiro sendo que eu não queria reagir por instinto e fazer um show de
mim mesmo.
A segunda é que eu não tinha a menor ideia do que dizer.
Permanecendo em silêncio, concentro-me em amarrar meus cadarços.
— Não vai me responder? — Gibsie sonda, sorrindo.
— Não há nada a dizer — eu digo, me concentrando demais em fazer o nó
de gravata perfeito. — Eu não estou falando sobre ela.
— Por que não? — ele pressionou.
— Porque não merda, Gibs.
— Porque você gosta dela — Gibsie afirma.
— Porque ela não está em debate — eu rebato.
— Porque você realmente gosta dela — ele corrige. — Porque você a
quer.
Lanço-lhe um olhar de reprovação e depois volto a olhar para os meus
sapatos.
— Eu gostaria que você admitisse, cara — Gibsie murmura.
— E eu gostaria que você cuidasse da porra da sua vida — eu ofereço
sarcasticamente. — Está ficando velho, cara. Você não me ouve falando
merda sobre sua vida amorosa.
No minuto em que as palavras saem da minha boca, e eu vi seus olhos
brilharem, eu me arrependo.
— Ah, então você está pensando em ficar com ela? — Gibsie exigi
excitadamente, olhos dançando com puro deleite. — Porra, eu sabia disso.
— Não — eu corrijo. — Eu não estou.
— Por que não?
— Porque sim.
— Porque sim? — Ele pressiona.
— Porque eu não estou porra, ok? — eu ladro. — Agora deixe disso.
— Você é ridículo — anuncia Gibsie, jogando toda a sua merda de volta
em sua bolsa de equipamentos. — Você pensa demais em tudo, cara. Você
fala sobre minha cabeça estar uma bagunça, mas a sua deve ser um lugar
horrível para caralho – com toda essa análise excessiva que você faz.
— Deixa para lá, Gibs.
— Eu simplesmente não entendo qual é o problema — argumenta. — Eu
vi o jeito que você olha para ela. Você claramente gosta da Sharon.
— O nome dela não é Sharon. — Lanço-lhe um olhar de reprovação e
depois volto a arrumar minha bolsa. — É Shannon, e eu não gosto dela.
— Essa foi uma pergunta capciosa. — Ele sorri. — E você passou com
louvor.
Eu grunho minha resposta.
Seu sorriso se alarga ainda mais quando ele diz:
— E sim, você gosta.
— Não, porra não.
— Bem, eu acho que você deveria convidar essa Shannon para sair —
Gibsie acrescenta, puxando sua bolsa para o ombro. — Qual é o pior que
poderia acontecer?
— Eu poderia ser preso — eu ofereço sarcasticamente. — Ela tem quinze
anos.
— Não, você não pode ser preso — ele zomba, revirando os olhos. —
Você tem dezessete anos, idiota, não setenta!
— Por mais três meses. — Coloco meu suéter e me levanto. — E, além
disso, esta conversa é irrelevante.
Pegando minha bolsa de equipamentos, jogo por cima do ombro antes de
acrescentar:
— Eu não convido garotas para sair. — Vou até a porta do vestiário e a
abro. — Eu não tenho tempo para essa merda.
— A namorada de Hughie, Katie, está um ano antes dele — Gibsie
oferece, saindo do vestiário. — E Pierce O'Neill está no nosso ano e ele está
namorando a amiga vadia de Claire há anos, que está no terceiro ano, a
propósito.
— Hughie não tem a Academia respirando em seu pescoço — eu
respondo categoricamente enquanto o sigo para fora. — E Pierce O' Neill
pode brincar com quem diabos ele quiser.
— Relaxa. — Gibsie ergue as mãos. — Tudo o que estou dizendo é que
não seria grande coisa se você gostasse dela.
— Não vá por aí.
— É natural se sentir atraído por uma linda garota...
— Pare com isso.
— Ninguém se importaria se você a convidasse para sair.
— Sério. Me dê um descanso.
— Ela observa você de volta, você sabe.
— Cala a boca, Gibsie.
— Eu a vi fazendo isso.
— Cala a boca, Gibsie.
— Nos corredores e no...
— Cala a boca, Gibsie!
— Tudo bem — ele bufa, carrancudo. — Vou me calar.
Eu conto mentalmente na minha cabeça, imaginando quanto tempo Gibsie
poderia manter a boca fechada, mas só cheguei a sete quando ele começa a
falar besteira verbal.
— Como você está lidando com a ejaculação?
Eu viro minha cabeça para ele.
— Como é?
— Ejaculação — Gibsie esclarece, com o rosto sério. — Você parece
cheio de frustração reprimida. Eu só estou me perguntando se é relacionado
ao pênis. Você está se masturbando, certo? Eu sei que você estava fora de
ação por um tempo quando eles cortaram sua bola, mas você é capaz de
bater uma de novo, não é?
— Que porra? — Eu fico boquiaberta para ele. — Essas palavras estão
realmente saindo da sua boca?
Ele olha para mim com uma expressão de expectativa.
Doce Jesus, ele estava falando sério.
E ele estava esperando que eu respondesse.
Quando Gibsie percebeu que eu não ia responder, ele continua a divagar.
— Oh rapaz, foi antes da sua cirurgia, não foi? — Ele me dá um olhar
solidário. — Você não goza há meses. Não é à toa que você está tão irritado
o tempo todo — Gibsie murmura com uma carranca preocupada. — É por
isso que você ficou duro quando sua Shannon se inclinou e lhe deu um
pouco de ação. Seu pobre pau deve ter pensado que era Natal.
Estremecendo, ele acrescenta:
— Seu pobre, pobre bastardo.
— Eu não vou falar sobre isso com você. — Eu digo a ele enquanto entro
no prédio principal. — Há algumas coisas na vida que não compartilhamos,
Gibs.
— Bem, me processe por estar preocupado com meu melhor amigo. —
Ele retruca, voltando a andar ao meu lado. — Vamos, Johnny, eu já vi isso.
— Isso se refere à minhas partes reprodutivas mutiladas. — Você pode falar
comigo.
— Eu não quero falar com você — eu ladro. — E nunca sobre isso.
— Você sabe o quão prejudicial não liberar pode ser para suas bolas? —
Gibsie exclama, decidindo me torturar um pouco mais. — É muito ruim,
Johnny. Eu vi esse vídeo na internet. Foi além de perturbador. As bolas do
cara incharam a ponto de explodir...
— Pare! — Eu falo cortante. — Por favor, apenas pare!
— Tudo bem. Apenas me responda uma pergunta e eu deixo para lá. —
Puxando-me para parar, Gibsie coloca as mãos nos meus ombros, me olha
nos olhos e pergunta: — Você está fodendo?
Encarando, eu empurro seu peito e assobio:
— Vá se foder!
— Eu faço! — Gibsie sibila, os olhos arregalados. — Três vezes por dia.
Você consegue?
— Sim, eu não estou ouvindo isso — eu anuncio, tentando
desesperadamente mascarar meu pânico enquanto imagens de bolas
explodindo dançam em minha mente.
Virando-me, caminho de volta pelo corredor em direção à entrada.
Eu estava indo para casa, porra.
Para fugir do caso maluco total que era meu melhor amigo.
E para verificar minhas bolas.
— Melhor para fora do que dentro, cara! — Gibsie grita. — A prática leva
à perfeição. Me conta como foi.
8

DIARREIA EXPLOSIVA

SHANNON

Sábado era o meu dia favorito da semana por uma série de razões.
Primeiro: era o primeiro dia do fim de semana e o mais distante da
segunda-feira.
Segundo: não havia escola.
Terceiro e mais importante: era dia de GAA.
Joey, Ollie e Tadhg estavam sempre fora de casa a maior parte do dia de
sábado com treinos e jogos.
Felizmente, isso significava que meu pai também estava fora, participando
de atividades não relacionadas ao consumo de álcool.
O que tornou este sábado em particular melhor do que a maioria foi o fato
de que não só meu pai estava fora de casa o dia todo com os meninos, mas
ele estava indo para uma despedida de solteiro de seu amigo em Waterford
esta noite.
Foi com esse conhecimento, e com a permissão da mamãe, que concordei
em ir à casa de Claire no sábado à tarde para ficar com ela e Lizzie.
Eu tinha todas as minhas tarefas concluídas às três horas – que consistiam
em limpar a casa de cima a baixo, colocar meia dúzia de roupas para lavar e
cozinhar o jantar.
E embora eu quase tenha tido um ataque cardíaco quando o irmão da
Claire, Hughie apareceu do lado de fora da minha casa com sua namorada
para me pegar, eu consegui me recompor o suficiente para subir na parte de
trás do carro dele e aceitar a carona para a casa deles.
Durante toda a noite nós nos empanturramos com junk-food, assistimos a
reprises de One Tree Hill e fofocamos sobre absolutas bobagens.
Foi o melhor sábado que tive em anos.
Às sete horas, eu estava inchada e espalhada na cama de Claire, sofrendo
de uma sobrecarga de açúcar, e ouvindo Lizzie falar sobre o quanto ela
desprezava Pierce.
— Eu não sei o que eu sequer vi nele — ela resmunga pela centésima vez.
— Mas o que quer que fosse, não valia a pena dar a ele meu v-card.
— Não acredito! — Claire grita, pulando de seu lugar nas minhas pernas
para olhar boquiaberta para Lizzie. — Você fez sexo com Pierce?
— Você não é virgem, Lizzie? — Minha boca se abre. — Mas você tem
apenas dezesseis anos.
— Não olhem para mim com julgamento — ela resmunga. — Só porque
vocês nunca viram um pau.
— Eu não vi — Claire oferece, levantando a mão. — Nem mesmo uma
espiadinha.
— Nem eu — eu admito totalmente, balançando a cabeça. — Eu nunca
beijei um menino.
— Isso é apenas triste, Shan — Lizzie retruca.
Eu fico num tom vermelho beterraba.
— Não seja uma vadia — Claire brinca. — Nos conte sobre isso.
Lizzie dá de ombros.
— O que há para dizer?
— Quando isso aconteceu? — Eu pergunto.
— Quinta-feira.
— E você não pensou em nos dizer? — Claire guincha. — Oh meu Deus,
Liz, nós estávamos na escola com você o dia todo na sexta e você nunca
mencionou nada!
Lizzie dá de ombros, mas não responde.
Claire e eu nos encaramos antes de Claire perguntar:
— Onde isso aconteceu?
— No carro dele.
— Ugh — nós duas gememos em simpatia.
Nenhuma garota queria que sua primeira vez acontecesse no banco de trás
de um carro.
— Onde estavam?
— Nos campos do GAA.
— Ugh — nós fizemos coro novamente.
— Sim — Lizzie brinca. — E um conselho de amiga, meninas, não
desistam. — Recostando-se em um travesseiro, Lizzie descansa as costas
contra a cabeceira da cama e pega sua revista antes de acrescentar: — Dói, é
decepcionante, há sangue, e os meninos se transforma em uns idiotas
completos depois.
— Ele terminou com você? — Eu sobressalto.
— Eu vou chutar a bunda dele — Claire sibila.
— Não — responde Lizzie. — Mas ele está agindo de forma fria desde
então.
— Que filho da puta — Claire rosna.
— Sim — Lizzie concorda.
— Doeu muito? — Eu pergunto, curiosa.
— Como um atiçador em brasa sendo enfiado na sua vagina — ela
responde.
Claire e eu estremecemos em solidariedade.
— Você está bem? — Eu pergunto, sentindo uma profunda onda de
simpatia pela minha amiga. Lizzie era dura como uma pedra e raramente
mostrava um pingo de emoção, mas isso era um grande negócio para
qualquer garota.
— Estou sempre bem, Shan — foi sua resposta curta.
— Veja, é exatamente por isso que nada está acontecendo dentro da minha
área — Claire declara com um estremecimento, caindo para trás e
descansando a cabeça nas minhas pernas — Eu acho que morreria se visse
um pênis vindo em minha direção.
— Claire — eu rio. — Pare.
— Ela está falando sério — Lizzie me informa. — Ela tem medo de P.
— É verdade — Claire afirma sem um pingo de vergonha. — Eu só beijei
um garoto, Jamie Kelleher. Nós estávamos saindo por seis semanas no
segundo ano, e quando ele tentou empurrar minha mão na frente de seu jeans
na discoteca da escola, eu gritei com ele.
— Você não fez isso — eu engasgo.
— Oh, ela fez — respondeu Lizzie. — Em plenos pulmões. Causou uma
certa cena na discoteca.
— Eu entrei em pânico — Claire defende, sorrindo timidamente. — Eu
não queria tocar seu pênis.
— O que aconteceu?
— Ele me chamou de puta e terminou comigo ali mesmo na pista de
dança na frente de toda a escola — ela responde.
— Que idiota — eu cuspo.
— Está tudo bem — Lizzie interrompe. — Claire deu as costas para ele,
não foi?
— Não intencionalmente — ela protesta.
— Ah, pare com isso. — Lizzie revira os olhos. — Você sabia exatamente
o que ele faria quando você foi chorar para ele.
— Quem? — Eu pergunto. — O que você fez?
Lizzie sorri.
— Ela foi correndo para sua sombra.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Quem?
— Gibsie — Lizzie me atualiza.
— Oh meu Deus. — Meus olhos se iluminam. — O que ele fez?
— O que você acha que ele fez? — Lizzie pergunta de volta. — Ele caiu
em cima para defender a honra dela.
— Ele não fez isso!
— Ele fez — Claire gorjeia alegremente.
— Ele quebrou o nariz do Jamie — acrescenta Lizzie.
Claire suspira feliz.
— Foi épico.
— Você poderia ter vindo para mim — diz Lizzie. — Eu de bom grado
teria dado uma joelhada nas bolas daquele idiota em seu nome…
A porta do quarto de Claire abre de repente, assustando nós três.
— Oh meu Deus — Claire grita, jogando um travesseiro no garoto alto e
loiro que tinha invadido sua privacidade.
— Eu tenho um problema! — Gibsie anuncia, pegando o travesseiro no ar.
— Gerard! — Claire sibila, encarando. — Você já ouviu falar em bater?
— Não há tempo — ele responde. — Eu preciso de sua ajuda, babe.
— Eu não sou sua babe — Claire resmunga e joga outro travesseiro para
ele. — E se eu estivesse nua aqui?
— Então eu morreria um homem feliz — ele retruca quando o segundo
travesseiro bate contra seu peito. — É o gato.
Ela franze a testa.
— Brian?
— Você nomeou seu gato de Brian? — Eu rio.
— Ele não é meu gato — respondeu Gibsie. — Eu nem gosto de gatos.
Eu fiz uma careta.
— Então de quem ele é?
— Da minha mãe — Gibsie responde. — Ele é seu orgulho e alegria. —
Ele se vira para Claire e diz: — Ele teve um episódio.
— Outro? — Saindo da cama, ela ajusta o short do pijama e caminha em
direção a ele. — Onde?
— Uh... — Dando de ombros timidamente, Gibsie gesticula para a porta.
— Ele está na minha casa? — Claire grita.
— Por que seu gato está na casa dela? — Lizzie faz a pergunta que está na
mente de todos.
— Ele não estava se sentindo bem — responde Gibsie. — Eu o levei para
passear.
— Você levou seu gato para passear? — Lizzie balança a cabeça. —
Garoto, você precisa se internar.
— Não é tão estranho — ele bufa defensivamente. — Eu moro do outro
lado da rua.
— Você colocou uma coleira nele?
— Obviamente. — Gibsie olha para ela como se fosse a coisa mais idiota
que ele já tinha ouvido. — De que outra forma eu poderia levá-lo até aqui?
Lizzie balança a cabeça.
— Então eu mantenho minha declaração anterior.
— Uau, você é um poço de risadas, não é? — Gibsie responde
sarcasticamente. — Pierce é um rapaz de sorte.
Lizzie responde mandando o dedo do meio para ele.
— Foco — Claire retruca, estalando os dedos no rosto de Gibsie. — Onde
ele está agora?
— Ele está no seu banheiro. — Fazendo uma careta, ele acrescenta: —
Ele sofreu um acidente.
— Que tipo de acidente? — Claire rosna.
Ele dá de ombros timidamente.
— O tipo de diarréia explosiva?
— Gerard! — Claire grita, batendo em seu enorme bíceps. — Eu lhe disse
para não trazê-lo aqui depois da última vez.
— Eu estava preocupado — ele geme, esfregando o braço. — Sinto
muito. Mas você tem que me ajudar.
— Peça a Hughie para ajudá-lo — ela rosna, colocando as mãos nos
quadris — Estou cansada de te resgatar.
— Eu não posso — ele geme. — Ele está deixando Katie em casa e
pegando os rapazes antes de sairmos.
— Então por que você ainda está aqui? — Lizzie brinca, enquanto
folheava uma revista.
— Ei — eu repreendo baixinho, cutucando sua costela. — Não seja
malvada.
— Ugh! — Claire rosna quando ela pisa fora do quarto com Gibsie em
seus calcanhares.
— Esse menino é um idiota — Lizzie murmura, sem tirar os olhos de sua
página. — Nossa amiga está apaixonada por um idiota classe A.
— Ele não é tão ruim assim — eu respondo e então recuo rapidamente. —
Espere… você acha que Claire está apaixonada por Gibsie?
Agora Lizzie olha para mim.
— Não é óbvio? — ela pergunta. — Que garota em sã consciência
aguenta anos de flerte e tormento se ela não tem sentimentos sérios por ele?
— Gerard! — Claire grita a plenos pulmões, distraindo nós duas. — Seu
gato está cagando na minha banheira!
— Eu sei — Gibsie geme alto. — Cheira tão mal, e ele não para.
— Eu tenho que ver isso. — Eu rio, saindo da cama. — Você vem?
Lizzie balança a cabeça.
— Não. Eu vi mais do que o suficiente de suas travessuras para durar uma
vida inteira, muito obrigada.
Balançando a cabeça, eu corro para fora do quarto e atravesso o patamar,
alcançando a porta do banheiro para ver um enorme gato persa branco como
a neve, equilibrando-se na beira da banheira da família Biggs.
De pé na porta, observo sua estranha interação com a minha mão sobre a
boca, em parte por causa do cheiro, mas principalmente porque era muito
engraçado.
— Brian! — Gibsie estava rugindo. — Que diabos está errado com você?
— Ele liga a água e pega o chuveiro. — Deus, essa é a pior merda que eu já
cheirei na minha vida.
— Sim, eu sei, Gerard — Claire sibila, cobrindo o nariz e a boca com a
mão enquanto usava a outra para despejar água sanitária na banheira. — Eu
posso sentir o cheiro também, você sabe.
— Ele faz isso de propósito — ele diz a ela, em tom acusador. — Porque
eu o tirei do meu quarto ontem à noite. Ele está me punindo.
— Ele está olhando para você — ela diz a ele.
— Eu sei. — Gibsie estremece. — Basta pegá-lo e colocar na área de
serviço.
— Ele está me encarando agora — Claire guincha, se afastando do gato.
— Ele está tentando te intimidar, babe — Gibsie a convence. — Não olhe
nos olhos.
— Cristo, ele é mais assustador do que o Sr. Mulcahy — Claire geme,
encolhendo-se atrás do enorme corpo de Gibsie.
— Apenas venha por trás dele e o pegue — ele orienta enquanto segurava
a mangueira do chuveiro na frente deles como uma arma. — Mantenha as
patas dele longe de você – segure-o longe do seu corpo e corra.
— Eu não vou pegá-lo, Gerard — Claire sussurra, os olhos arregalados.
— Parece que ele está a dois segundos de me assassinar.
— Eu vou te proteger — ele promete valentemente.
— Você está com medo dele!
— Tudo bem, segure isso — ele resmunga, passando a mangueira para a
minha amiga. — Eu vou colocar o filho da puta para fora.
— Você acha que devemos lavá-lo com uma mangueira? — Claire
perguntou — Ele tem cocô em seus pêlos.
— Porra, não — exclama Gibsie. — A última vez que tentei limpar a
bunda dele, ele me mutilou.
Eu rio alto.
— Não é engraçado Shannon, porra — Gibsie resmunga, me
surpreendendo ao lembrar meu nome. — Eu tive que tomar uma vacina
contra o tétano por causa dele.
— Desculpe — eu rio, colocando uma mão sobre minha boca. — Eu não
estou rindo de você, eu prometo. — Eu ri. — E sim da situação. —
Estudando o felino peludo, acrescento: — Ele se parece com o gato do
Inspetor Gadget.
— Sim, bem, ele certamente é mau o suficiente — responde Gibsie. —
Algumas noites eu acordo e ele está na minha cama, de pé sobre mim com
aqueles olhinhos malvados. — Ele balança sua cabeça. — Eles nunca
deveriam tê-lo castrado. Ele está com um humor homicida desde então. Teria
sido uma vida mais fácil deixar o pobre bastardo manter suas bolas.
— Vá em frente, Gerard — Claire persuade, empurrando Gibsie em
direção à banheira. — Você pode fazer isso. Tenho toda a fé em você.
— Ah foda-se, ok! Ok! — Com os braços estendidos, Gibsie ronda em
direção ao gato. — Aqui gatinho, gatinho — ele persuadi, estendendo a mão
sobre a banheira para pegá-lo. — Bem obediente... isso mesmo... eu amo
obediência... eu amo... eu não vou te machucar – ahhhhh!
Brian rosna e bate a pata em Gibsie, que, por sua vez, grita como uma
menina e mergulha atrás de Claire.
— Obediente é o caralho — ele engasga, arrastando Claire para longe do
gato que estava assobiando e cuspindo em ambos. — Ele me arranhou? —
ele exige, empurrando a mão em seu rosto. — Eu sinto que ele me arranhou.
— Eu não sei — Claire grita, empurrando os dois para o canto do
banheiro. — Mas eu realmente odeio o seu gato — ela aperta,
aconchegando-se debaixo do braço dele.
— Deixe-me ajudar — ofereço, entrando na zona de perigo.
Sufocando minha risada, pego uma toalha do corrimão e me aproximo
com cautela.
— Não faça isso, Shannon — Gibsie avisa enquanto ele e Claire se
agarravam um ao outro, encolhendo-se do gato. — Ele é um bastardo com
tendências violentas.
— Isso não é verdade — eu falo, me agachando na frente da banheira, os
olhos fixos no gato deslumbrante, embora letal. — Você não é um bastardo,
é, Brian? — Eu pergunto quando estendo a mão e acaricio a cabeça de Brian.
Surpreendentemente, ele me deixa acariciá-lo sem problemas.
— Miau — ele resmunga, os pelos se retraindo.
— Está tudo bem — eu o acalmo, acariciando-o em um padrão suave. —
Você está bem.
— Jesus Cristo — Gibsie respirou. — Sua garota aqui é como uma
encantadora de gatos.
— Shannon — Claire guincha. — Por favor, tenha cuidado. Ele é cruel.
Ele pode se voltar contra você em um instante.
— Sim, Shannon — Gibsie concorda. — Tenha muito cuidado. Ele só
deixa minha mãe e Kav segurá-lo. Ele é seriamente perigoso.
— Shh, pessoal, não gritem — eu aviso quando os pelos de Brian
arrepiam de volta. — Vocês dois estão deixando-o nervoso — explico. —
Ele pode sentir sua ansiedade e isso o está fazendo atacar.
Fico sentada lá por mais alguns minutos apenas acariciando e acariciando
seu rosto e orelhas até chegar e pegá-lo.
— Bom menino — eu balbucio amorosamente, segurando-o no meu peito.
Felizmente, fui recompensada com um ronronar profundo.
Lançando meu olhar para Gibsie, pergunto:
— A que distância fica a sua casa?
— Do outro lado da rua — respondeu Gibsie.
— Ok. — Continuo a acariciar Brian. — Você quer que eu o leve até sua
casa para você?
Ele assente agradecido.
Inclino minha cabeça em direção à porta e digo:
— Mostre o caminho.
Gibsie sai nervosamente, mantendo-se longe de mim.
Com cuidado para não perturbar o gato em meus braços, eu o sigo para
fora da casa chique dos Biggs e atravesso a rua para outra propriedade de
três andares de aparência impressionante.
— Você é uma salva-vidas, Pequena Shannon — anuncia Gibsie quando
Brian foi guardado em segurança em sua casa. — Seriamente.
— De nada — respondo, me sentindo tímida agora que minha missão
estava completa e eu estava sozinha com um estranho. — Não foi nada
demais.
— Foi para mim — Gibsie ri enquanto tranca a porta da frente e coloca a
chave de volta no bolso da calça jeans. — Eu estou saindo hoje à noite para
algumas bebidas de aniversário e você acabou de salvar minha bunda de
aparecer coberto de arranhões.
— É seu aniversário? — Eu pergunto, andando ao lado dele enquanto
atravessamos a rua tranquila sem saída de volta para a casa de Claire. —
Hoje?
— Sim, de fato. — Gibsie sorri. — O grande um-ponto-sete.
— Oh, bem, feliz aniversário de dezessete anos — eu respondo. — Espero
que você tenha uma ótima noite.
— Ah, eu só estou indo tomar algumas com os rapazes — ele explica
enquanto caminhava pelo caminho do jardim. — As grandes comemorações
acontecerão no final de maio.
— O que há em maio?
— O décimo oitavo do meu melhor amigo — ele me diz. Sorrindo
conscientemente, ele acrescenta: — Você o conhece, certo? Johnny
Kavanagh?
— Oh. — Meu rosto ficou com um tom brilhante de vermelho com a
menção do nome de Johnny. — Sim, nós nos conhecemos.
— Ele será chamado até então — Gibsie acrescenta com orgulho. — Vai
ser uma dupla celebração e uma sessão e meia nessa noite.
Ser chamado?
Para o que?
Eu queria perguntar a ele sobre isso, mas seguro minha língua, sabendo
que não me faria nenhum bem.
Eu não precisava adicionar mais pensamentos obcecados por Johnny em
minha mente já cheia de Johnny.
— Ele vai sair conosco esta noite — Gibsie continua a divagar, alheio ao
meu rubor. — O que é um maldito milagre em si, considerando que ele
nunca mais sai conosco. — Ele abre a porta da frente da casa dos Biggs e
gesticula para que eu entrasse primeiro. — Hughie está realmente pegando
Kav e Feely depois de deixar Katie em casa. — Olhando para o relógio
pendurado na cozinha, ele acrescenta: — Eles estarão aqui em alguns
minutos. Você deveria esperar aqui embaixo e dizer "Oi." para ele. —
Piscando, ele acrescenta: — Aposto que ele adoraria ver você.
Ele estava me provocando?
Eu não acho.
Mas ele estava definitivamente mexendo comigo.
Eu só não tinha certeza se era para meu benefício ou não.
De qualquer forma, eu não ficaria lá embaixo para dizer oi para ninguém.
— Não, tudo bem — eu murmuro, sentindo cada gota de sangue correr
para o meu rosto. — As meninas estão esperando por mim.
— Faça como quiser, pequena Shannon — Gibsie ri.
— Feliz aniversário. — Oferecendo-lhe um aceno fraco, me viro para
subir a escada. — Tenha uma boa noite.
— Terei — ele fala atrás de mim.
Eu não tinha que me virar para ver que ele estava sorrindo; eu podia ouvir
isso em sua voz.
9

FESTAS DE ANIVERSÁRIO E COPOS QUEBRADOS

JOHNNY

Pubs e bares eram uma tentação da qual eu tentava me afastar o máximo


possível.
Com a minha agenda de treinos, eu não podia me dar ao luxo de brincar
como meus amigos faziam.
O álcool não estava na minha dieta e eu sempre ficava lento por dias
depois de beber.
No entanto, esta noite era o aniversário de dezessete anos de Gibsie, então
depois de telefonemas e mensagens implacáveis, eu cedi e concordei em sair
para comemorar com ele e alguns da equipe no Biddies.
Biddies era nosso refúgio local na cidade e, ao contrário do nome, era
bastante moderno, com um pouco de culchies4 trabalhando no bar.
Durante o dia, Biddies servia a melhor comida da cidade e, à noite,
transformava-se no ponto de encontro da geração mais jovem da cidade.
Eu comia muito lá quando meus pais não estavam em casa. O co-
proprietário e chefe de cozinha, Liam, era um cara realmente decente que
não tinha nenhum problema em atender às minhas necessidades alimentares.
Era o único lugar na cidade que eu sabia que poderia ir e teria garantia de
uma comida saudável.
No que diz respeito às saídas noturnas, eu não bebo lá com muita
frequência, isso era mais coisa de Gibsie, mas quando eu bebia, tínhamos a
garantia de sairmos de lá abastecidos e embriagados.
Era uma má ideia, considerando que nós dois tínhamos um jogo do clube
amanhã de manhã, mas Gibsie justificava nossa imprudência repetindo o
sentimento de que um cara só faz dezessete anos uma vez.
Isso era verdade.
O problema era que não era tão fácil para mim.
Os rapazes podiam se soltar em uma noite e enlouquecer se quisessem.
Ninguém, exceto suas mães, os julgaria pela manhã.
Se eu estragasse tudo, por outro lado, meu nome seria publicamente
arrastado pela lama, o treinador do rúgbi estaria no meu pé e minha posição
na Academia estaria em perigo.
O que tornava esta noite pior por várias razões.
A primeira sendo, eu tinha dezessete anos e tinha cedido à pressão
implacável de Gibsie, me embriagando em um estado quase paralítico junto
com ele.
E segundo, Bella estava aqui.
Ambas as coisas eram coisas muito ruins com um possível final
desastroso.
Minutos depois da minha chegada ao bar Biddies, fica bem claro que
Cormac não era a principal prioridade de Bella; no minuto em que me sentei
à mesa com os rapazes, ela foi direto para o meu colo e não saiu desde então.
Passei a maior parte da noite tentando evitar fazer contato visual com a
saia curta que ela estava usando e a visão daquele pedaço de renda preta
entre suas coxas sempre que ela se inclinava sobre a mesa para sussurrar
algo no ouvido de uma das amigas.
Me doía fisicamente.
Não porque eu estava tendo alguma reação emocionalmente carregada em
relação a ela ou algo assim, mas porque minhas bolas doíam.
Não que Bella não fosse uma garota atraente.
Para dar crédito a ela, ela era provavelmente a garota mais bonita do bar.
Com o cabelo preto enrolado por bobs, um corpo alto e curvilíneo e um
par de peitos enormes, ela tinha uma boa aparência.
A questão era que eu estava de saco cheio.
Eu tinha superado o que diabos tinha acontecido entre nós, e eu tinha
superado à longo tempo.
E eu não estava interessado em voltar ao ringue para outra rodada.
Não parecia fazer a menor diferença para a garota porque ela era como um
cachorro com um osso.
Eu sendo o osso.
Perdi a conta do número de vezes que fui ao bar para outra rodada só pra
poder me reposicionar em um assento longe dela.
Não funcionava.
Sua bunda sempre encontrava o caminho de volta para o meu colo, e eu
apenas acabei ficando bêbado mais rápido.
Nenhuma quantidade de nãos ou não esta noite, ou nunca mais parecia
fazer a diferença.
Ela não me deixaria em paz.
Eu não queria envergonhar ou machucar a garota, no entanto.
Eu não era um idiota completo.
E era por isso que eu estava tolerando essa merda.
Por volta da meia-noite, minha cabeça estava girando; o álcool nas minhas
veias, misturado com a medicação forte que eu ainda estava tomando, me
deixava desajeitado e descoordenado.
Em uma nota brilhante, eu não estava mais com dor.
Eu não podia sentir porra nenhuma.
Incrível.
— Você quer ir para outro lugar? — Bella ronrona, inclinando-se perto do
meu ouvido. Deslizando a mão na abertura da minha camisa, ela arrasta os
dedos sobre a minha clavícula. — Em algum lugar um pouco mais privado?
— Não. — Balançando a cabeça, eu afasto a mão dela – a que estava na
ponta do meu braço – e pego a vodca e o red bull que eu havia trocado por
oito canecas de cerveja.
Meus movimentos eram desajeitados, fazendo com que minha bebida
espirrasse pela borda do copo e caísse na minha calça jeans bem na região do
joelho.
A porra da noite toda ela estava tentando me beijar e me acariciar, e a
noite toda, eu estava virando minha cabeça e fugindo de suas mãos errantes.
Eu não era um cara do tipo PDA, que demonstra afeto em público, e ela
sabia disso.
Sentar no meu colo assim não era algo que eu toleraria em uma noite
normal quando estávamos em boas condições, e a única razão pela qual ela
não tinha sido ejetada do meu colo agora era porque eu estava bêbado pra
caralho e não quero derrubá-la acidentalmente no chão e causar danos.
Eu não gostava disso, no entanto.
Bêbado ou não, eu não aprecio essa porcaria sentimental.
— Vamos, gostoso. — Imperturbável pelas minhas ações, Bella alcança a
gola da minha camisa novamente. — Nós sempre podemos ir para o carro?
— ela sugere, abrindo outro botão.
Tinha que ser o quarto fodido botão que ela conseguia desfazer.
— Não, Bella — eu resmungo, minhas palavras saindo arrastadas. — Pare
de fazer isso. — Capturando sua mão, eu a removo da minha camisa e a
coloco de volta em seu colo. — Eu não estou no clima.
— Eu posso te deixar no clima — ela brinca, a mão se movendo para a
fivela do meu cinto.
— Pare. — Pego sua mão e a coloco firmemente em seu colo. Novamente.
— Ainda estou me recuperando – e nós terminamos.
— Oh sério? — Ela desliza a mão dentro da minha camisa, ignorando a
parte de que terminamos. — Eu posso mudar isso também.
— Não. — Eu afasto sua outra mão da minha virilha, gemendo de dor
quando ela espalma meu pau com força. — Bella, pare... — Faço uma pausa
para sacudir a mão enrolada na parte de trás do meu pescoço. — Por favor,
apenas pare.
Jesus Cristo, se eu continuasse tocando nela depois que ela me dissesse
para parar, haveria guerra.
Porra de dois pesos, duas medidas.
— Pare? — Bella retruca, olhando para mim.
— Sim. — Colocando sua mão de volta em sua coxa, eu saio de debaixo
dela. — Estou cansado.
— Você está sempre cansado, Johnny! — ela morde. — E você nunca
mais está afim.
Eu me pergunto por que, porra, penso comigo mesmo, mas não faço
nenhum movimento para responder a ela.
Eu era cuidadoso com minhas palavras perto de garotas.
Elas poderiam – e seriam – mal interpretadas a seu favor.
Bêbado como estava, me lembro exatamente do que me ensinaram na
Academia, e essa garota não iria me irritar.
Não hoje à noite, Satanás.
Dando de ombros, eu lanço um olhar turvo ao redor de nossa mesa.
Nossos amigos estavam assistindo.
Sem surpresas aí.
Meu olhar pousa em Gibsie e eu dou a ele o meu melhor olhar de “você é
um filho da puta”.
Sua careta em retorno é de desculpas.
— Não me ignore quando estou falando com você — Bella exige, a voz
alta e aguda, deixando-me saber que, mesmo em meu estado de embriaguez,
ela estava em piores condições.
— Eu não estou ignorando você — eu respondo, tentando manter a calma
através da névoa.
— Sim — ela sibila, a voz subindo. — Você está.
— Não, Bella. — Solto um suspiro cansado. — Eu não estou.
— Certo. — Segurando meu rosto com ambas as mãos, Bella arrasta meu
rosto para o dela, pressionando sua boca na minha. — Então prove — ela
rosna antes de esmagar seus lábios nos meus.
Por causa do álcool correndo em minhas veias, levo alguns segundos
extras para registrar o que estava acontecendo.
A sensação de sua língua deslizando contra meus lábios era como um
banho de água fria.
Eu empurro minha cabeça para longe, mas ela tinha um aperto fatal no
meu cabelo, mantendo meus lábios nos dela.
Com o temperamento subindo, eu me levanto abruptamente, batendo na
mesa no processo, e felizmente me libertando de seu aperto.
Bebidas caem no chão, vidros se quebram ao nosso redor, chamando a
atenção de todo o lugar para a nossa mesa.
— Que porra, Johnny! — Bella grita, olhando para mim de seu assento.
— Qual é o seu problema?
— Quando eu te disser não — eu rosno, limpando a minha boca com a
parte de trás da mão enquanto eu olho para ela. — Eu quero dizer não,
caralho!
— Eu só queria que você me beijasse — ela grita. — Isso é pedir muito?
— Eu não quero te beijar porra! — Eu rosno de volta, perdendo o controle
do meu temperamento. — Eu não quero sua boca na minha. Eu não quero
suas mãos no meu corpo. Porque eu não quero você, caralho!
Me arrependo das minhas palavras imediatamente.
Mas era tarde demais.
Bella começa a chorar e, claro, eu fui o bastardo que a fiz chorar.
Olhares sujos de meia dúzia de garotas na mesa são dirigidos a mim e eu
termino a noite.
Soltando um rosnado baixo, passo a mão pelo meu cabelo e cambaleio
para fora do caminho da garçonete enquanto ela passava por mim com uma
pá e uma escova.
Indo para o lado de fora, tiro meu telefone do bolso da calça jeans e
chamo um táxi, aliviado para cacete quando a voz do outro lado da linha diz
cinco minutos.
Eu precisava sair daqui e ficar longe das minhas más decisões.
A pior delas sendo aquela porra de garota perigosa com quem eu me
envolvi.
Neste momento, eu estava feliz pelo meu corpo estar quebrado.
Eu estava feliz por não poder fazer sexo desde o Halloween.
Talvez fosse o destino?
Sem meu pau cegando minha capacidade de fazer boas escolhas em vez
de escolher bocetas, eu fui capaz de ver através da fachada de Bella.
E não era bonita.
Saber que eu preferiria descascar minha pele do que tocá-la novamente
me dá um aspecto de conforto.
Nunca mais, Johnny.
Nunca mais, caralho.
Encostado na parede do pub, permito que meus pensamentos voltem para
aqueles olhos solitários.
Eu queria ver aqueles olhos.
E a garota a quem eles pertenciam.
O álcool correndo em minhas veias bloqueia minha consciência, tornando
mais fácil para mim ficar obcecado por Shannon Lynch sem me sentir um
merda.
Amanhã, quando eu acordasse com a cabeça limpa, sem dúvida sentiria
cada grama das implicações de meus pensamentos rebeldes, mas por
enquanto, enquanto estava temporariamente sem uma bússola moral,
visualizava todas as fantasias terríveis em grandes e coloridos detalhes.
Era agradável.
Ela era boa de se pensar.
Ela era fodidamente linda.
A voz dela.
O cabelo dela.
O cheiro dela.
O jeito que ela falava.
Cada parte dela.
Eu estava imerso em pensamentos, contemplando o quão diferente teria
sido se Shannon tivesse colocado sua boca em mim, quando o som do táxi
buzinando me distrai.
— Johnny, rapaz — o taxista, cujo nome eu nunca conseguia lembrar,
grita em um tom feliz. — Como tá indo? — Para ser justo, nas raras ocasiões
em que nossos caminhos se cruzam, eu estava bêbado a beça. — Seu amigo
não está com você esta noite?
Por amigo, ele quis dizer Gibsie.
Porque Gibsie geralmente era o influenciador por trás de decisões terríveis
como as que tomei hoje à noite.
— Ele ainda está lá dentro — eu explico, usando cada grama de
concentração para não cambalear enquanto desencostava da parede. —
Obrigado por vir tão rápido, cara.
— Como se eu te deixasse aqui, garoto — ele riu. — Não se esqueça do
seu velho amigo Paddy quando você estiver jogando com os meninos
grandes.
Eu não conseguia me lembrar do meu velho amigo Paddy agora, mas eu
não ia dizer isso a ele.
— Johnny, espere, cara! — Hughie Biggs, grita enquanto tropeçava para
fora do pub em minha direção. Agarrando meu braço, ele me puxa para uma
parada. — Você vai ter que nos levar com você.
— Nós quem? — Eu respondo lentamente. — Se você está falando sobre
aquela garota maluca, então esqueça, Hughie. Ela não é minha
responsabilidade, e eu prefiro cortar meu pau do que voltar para dentro e
lidar com ela.
— Quem – Bella? — Hughie franze a testa e balança a cabeça. — Não,
cara. Foda-se ela. Ela já voltou para Cormac. Ele estava escondido no salão a
noite toda. Não saiu até que você se foi, o covarde. — Ele me arrasta até a
janela e aponta para dentro. — Você não pode deixar eles aqui.
Meu olhar passa de Hughie para Gibsie, que estava de bruços sobre a
mesa, roncando, então para Patrick Feely, que estava sendo acariciado por
uma das amigas de Bella, para Bella, que estava quase transando com
Cormac Ryan, e depois de volta para Hugh.
— Por que eu? — Eu gemo.
— Porque nós somos seus bebês — Hughie anuncia, apoiando seu peso
em mim.
— Meus bebês? — eu gaguejo. — Como diabos vocês três são bebês de
alguém?
— Você é nosso capitão — Hughie fala arrastado. — Nós somos uma
espécie de sua responsabilidade.
— No campo, seu idiota.
— Vamos, Capi, você é o único com a casa vazia. Você sabe que a mãe de
Feely vai enlouquecer se ele for para casa nesta condição, e minha mãe não
nos deixará passar pela frente. E Gibs — ele gesticula um polegar para a
janela. — Ele é como seu irmão, cara.
Tudo verdades infelizes.
— Vocês são um bando de idiotas sangrentos, é o que vocês são — eu
resmungo antes de ceder. — Certo. — Passo a mão pelo meu cabelo e
suspiro. — Pegue eles. Estou indo agora.
— Você é uma verdadeira lenda, Kavanagh — elogia Hughie enquanto
cambaleia de volta ao pub para pegar os rapazes.
Em qualquer outra ocasião, eu me ofereceria para ajudá-lo. Gibs era difícil
depois de beber, mas eu prefiro andar sobre brasas do que voltar para dentro
e encarar Bella.
— Desculpe por isso, Paddy — eu murmuro, vagando para me apoiar no
táxi enquanto espero os três malditos patetas saírem do bar. — Eu pensei que
estaria sozinho.
— Não se preocupe, rapaz — responde o homenzinho gorducho. —
Qualquer amigo de Johnny Kavanagh é um amigo meu.
— Sim? Bem, meus amigos são idiotas — eu admito com um encolher de
ombros.
E tem potencial para vomitarem.
Em táxis...
— Paddy — Coçando a parte de trás da minha cabeça eu me viro para
olhar para ele, minha mente focada no controle de potenciais danos. —
Lembre-me de te dar alguns ingressos para um de nossos jogos em casa no
verão, se você estiver interessado.
— Jesus, Johnny, você está falando sério? — Os olhos do taxista se
iluminam. — Eu ficaria encantado, rapaz. Muito emocionado. Eu assisto a
todas as suas partidas. Eu até faço minha filha transmitir ao vivo as que não
foram ao ar na televisão. Estou sempre dizendo à minha esposa que o jovem
Kavanagh é o melhor que eu já vi vestindo a camisa 13 verde.
Eu dou de ombros para suas palavras, sabendo que aos dezessete anos eu
deveria estar chocado ao ouvir um homem com mais de três vezes a minha
idade me elogiar tanto, mas eu tinha ouvido essas palavras exatas tantas
vezes que o elogio escorria de mim como água para fora de um pato.
— Agradeço o apoio, cara — eu respondo. — Você tem o meu número na
sua lista de chamadas. Apenas me envie uma mensagem para me lembrar
porque eu estou bêbado para caralho agora e não vou lembrar uma palavra
disso pela manhã.
— Farei isso — responde Paddy. — E para não ultrapassar a linha aqui,
mas você está bem em se livrar dessa garota.
Eu faço uma careta para ele, mentalmente quebrando a cabeça por um
momento na história quando eu fui tolo o suficiente para levá-la para casa
comigo. Só assim o taxista saberia.
Na neblina da minha mente, eu me lembro vagamente de uma noite no
feriado de Halloween do ano passado, quando Bella fez uma enorme birra do
lado de fora do pub porque eu me recusei a levá-la para casa de táxi para
minha casa.
Foi uma das últimas vezes que estive com ela.
— O que seu amigo estava falando — ele explica. — Ela não é flor que se
cheire para um rapaz como você. — Batendo na têmpora, ele acrescenta: —
Confie no velho Paddy, cara. Garotas como aquela são aproveitadoras.
Ele tinha esse direito.
Maldito inferno.
Hughie e Feely saem cambaleando do bar carregando Gibsie, que cantava
a plenos pulmões sua própria versão de Trust Me I'm A Doctor, da Blizzard.
Eu balanço minha cabeça ao vê-lo.
— Ninguém — eu falo arrastado enquanto caminho e pego seu peso dos
rapazes. — E quero dizer, ninguém jamais confiaria que você é um médico,
Gibs.
— Sua futura esposa me salvou de uma enrascada hoje — ele balbucia. —
Compre um anel, cara. — Jogando um braço sobre meu ombro, ele
acrescenta: — A encantadora de gatos é para se manter.
Franzindo o cenho, olho para Hughie, que olha confuso de volta para
mim.
— Quanto você bebeu, cara? — Eu pergunto a Gibsie enquanto lutava
para mantê-lo em um só lugar.
Ele tinha o hábito de divagar quando estava bêbado.
— O suficiente — Gibsie fala arrastado antes de voltar ao refrão da
música, batendo os pés na calçada para dar ênfase.
— Sim, sim, filho da puta — eu murmuro enquanto eu meio que o
carregava para o táxi. — Você é um médico.
— Sem critérios — ele levanta um dedo e declara antes de cair no banco
de trás do carro.
— Nunca pensei que você tivesse — eu concordo, subindo ao lado dele
para apertar o cinto.
— Como vai, Paddy? — Gibsie faz uma pausa no meio da música para
reconhecer. — Para a mansão Kavanagh — acrescenta antes de mergulhar de
volta na música.
Maldito Gibsie.

— Qual é a história com você e a Bella? — perguntou Hugh.


Estávamos sentados na varanda da frente de casa, encerrando a noite com
uma garrafa de Jameson.
Uísque era uma maneira terrível de terminar a noite, mas muito
necessária, tendo passado as últimas três horas se revezando cuidando de
Gibsie e seu refluxo.
O filho da puta tinha vomitado por todo o quarto de hóspedes e estava
ficando hospedado na banheira do andar de baixo com meia dúzia de toalhas
jogadas sobre ele.
Felizmente, seu estômago estava finalmente vazio e ele estava roncando
profundamente.
Hughie e eu éramos os únicos ainda acordados com Patrick desmaiando
no sofá da sala no minuto em que chegamos em casa.
— Não há história, cara — eu digo, rolando meu copo meio vazio entre
minhas mãos.
— Eu presumo que você ouviu o boato? — ele pergunta, tom cauteloso e
ligeiramente arrastado.
Eu exalo pesadamente.
— Qual deles?
— Sobre ela e Cormac?
— Não preciso ouvir nenhum boato para saber o que está acontecendo lá,
cara — eu resmungo. — Vi com meus próprios olhos esta noite.
— Não — diz Hughie lentamente. — Aquele em que ela foi para casa
com Cormac na noite de St. Stephen. — Fazendo uma careta, ele acrescenta:
— E todos os fins de semana desde então.
— Não — eu brinco. — Eu não sabia.
— Eu teria dito alguma coisa, mas você tinha acabado de sair do hospital
— ele suspira pesadamente. — Eu não queria que ela atrapalhasse sua
recuperação.
— Não se preocupe com isso, cara. — Girando o uísque no meu copo,
olho para o líquido âmbar e admito a verdade. — Eu já tinha minhas
suspeitas muito antes disso.
— Sim? — Ele arqueia uma sobrancelha. — Por que você não disse
alguma coisa?
— Porque eu queria uma vida tranquila? — Eu ofereço fracamente. — Eu
sou um maldito idiota, cara
— Ryan é o idiota — corrigi Hughie. — Fodendo seu companheiro de
equipe por causa de uma menina.
Muito bêbado para fingir impassibilidade ou mascarar minhas emoções,
abaixo a minha cabeça e solto um suspiro pesado.
— Eu cometi um erro com aquela garota, Hugh. — Levando meu copo
aos lábios, bebo o líquido âmbar restante antes de acrescentar: — Um erro
de oito meses.
— Pelo menos você saiu ileso, Capi. — Alcançando entre nós, ele pega a
garrafa meio vazia de uísque e volta a encher seu copo. — Poderia ter sido
um erro de nove meses — acrescenta, estendendo a garrafa para mim. —
Com um preço de dezoito anos para a vida.
— Pode crer — eu murmuro em concordância, pegando a garrafa. —
Você pode imaginar o que Dennehy e Ó Brien teriam feito comigo se eu
fosse treinar com um bebê?
— Foda-se seus treinadores na Academia — rebate Hughie. — Imagine o
que sua mãe teria feito com você.
— Merda, cara, não vale a pena pensar nisso. — Enchendo meu copo, eu
coloco a garrafa de volta para baixo e balanço minha cabeça. — Eca.
— Rapaz, você pode imaginar o que minha mãe diria se eu entrasse pela
porta com Katie e dissesse que a engravidei? — Hughie fala arrastado. —
Ela cortaria minhas bolas lá então.
— Pare, cara. — Estremeço violentamente. — Nem mesmo fale sobre
isso.
Nós dois batemos nas vigas de madeira da varanda para não atrair.
Vários minutos se passaram em um silêncio amigável antes de Hughie
falar novamente.
— Você já falou com a Shannon Lynch depois daquele dia no campo?
Viro meu olhar turvo para ele, bêbado demais para mascarar minha
curiosidade.
— Minha Shannon?
Hughie ri.
— Ela é sua Shannon agora?
Dou de ombros, bêbado demais para defender ou negar.
— Tenho que dizer, rapaz, fiquei aliviado quando você chamou o time no
dia do incidente no campo e cortou o mal pela raiz — diz Hughie com um
suspiro pesado. — Se você não tivesse feito, eu teria. A pobre garota merece
um descanso.
Eu faço uma careta.
— Você conhece ela?
— Ela é amiga da minha irmã desde que elas eram pequenas.
— Claire — eu completo, quebrando meu cérebro pela informação que eu
precisava. — A loira do terceiro ano.
— Sim, cara. — Hughie toma outro gole de seu copo antes de dizer: —
Ela estava lá em casa hoje, na verdade.
— O quê? — Eu olho para ele. — Você nunca disse.
Ele encolhe os ombros.
— Por que eu deveria?
Bom ponto.
— Adorável menina — acrescenta pensativo. — Família horrível.
— O que você quer dizer?
Hughie balança a cabeça, mas não responde.
Isso me incomoda por uma série de razões diferentes.
Eu não gostava que ele soubesse coisas sobre ela que eu não sabia.
— Eu vou checar o precioso no banheiro — ele anuncia quando termina
seu copo. — E então eu estou capotando pelo restante da noite.
— Pegue o quarto que quiser — eu murmuro, imerso em pensamentos.
Hughie colocou a mão no meu ombro.
— Continue cuidando dela, Cap — ele diz, apertando meu ombro. —
Deus sabe que alguém precisa.
E então ele se vai.
10

O GAROTO VAI BRILHAR

SHANNON

Na última sexta-feira de fevereiro, a Tommen College estava jogando contra


a escola rival Kilbeg Prep no campo da escola para o School Boys Shield.
Por ser um dos poucos jogos em casa da temporada, e uma taça de
prestígio para vencer, todas as classes foram convidadas a participar para
apoiar sua equipe.
De acordo com Claire, o School Boys Shield que estava em disputa hoje
não era nem de longe tão importante ou lucrativo quanto a copa da liga que o
time jogaria no próximo mês em Donegal, mas ainda era um troféu e
Tommen adorava troféus.
Não levei muito tempo em Tommen para perceber que o que meu pai
havia dito sobre a escola ser uma escola preparatória de rúgbi era verdade.
Era fácil ver que tudo girava em torno do esporte.
Pessoalmente, eu poderia ter pensado em um milhão de lugares que eu
preferiria estar do que ver garotos enormes da Tommen abrindo caminho por
meio de garotos enormes de Kilbeg, mas a vida tinha um jeito engraçado de
foder com uma pessoa.
Embrulhada em meu casaco de inverno e um gorro de lã, me sento entre
Lizzie e Claire – que estava vestida com as cores da nossa escola – grata por
ter conseguido um lugar na arquibancada.
Centenas de outros alunos tiveram que ficar em ambos os lados do campo.
Não que algum deles parecesse se importar em ficar na chuva.
Eles estavam muito ocupados gritando e torcendo pelo time sênior de
rúgbi da nossa escola.
Dez minutos de jogo e eu testemunhei em primeira mão o motivo de todo
burburinho por causa de Johnny Kavanagh.
Eu podia literalmente sentir a eletricidade crepitando no ar quando a bola
estava em suas mãos, e pelos sons de gritos, todos os outros também.
Ele parecia estar completamente em casa no campo, e quando eles
mandavam a bola para suas mãos?
A magia ocorria.
Coisas lindas aconteciam.
Ele era tão alto que não fazia sentido para ele ser tão leve em seus pés.
Ele era largo e forte, espesso e musculoso.
Mas ele também era leve e ágil.
Era quase como se ele dançasse em torno do time rival com um trabalho
elegante das pernas e movimentos corporais ágeis.
Ele tinha um ritmo louco e a maneira como ele podia correr, era insana.
Ele era inacreditável de assistir.
Você podia ver as rodas de seu cérebro em movimento enquanto ele
avaliava cada jogada, passe e ataque com uma precisão especializada.
Ele era um jogador inteligente com um olho afiado para interceptar o jogo
e autodisciplina que parecia rivalizar com a de um santo.
Não parecia importar o quanto ele era derrubado ou era feito alvo da
oposição – e ele era claramente um alvo – ele conseguia manter a calma.
Os golpes que ele leva, os ataques físicos em seu corpo, e ele
simplesmente se levanta e continua.
Eu estava maravilhada.
A maneira como ele se movia era extraordinária.
Eu me encontro em transe com a maneira como ele se move em campo.
Não é à toa que todos falam sobre ele, penso comigo mesma.
Ele estava claramente muito à frente dos garotos com quem estava
jogando e eu penso que ele merecia estar em um campo de jogo mais
prestigiado.
Se ele pudesse jogar assim aos dezessete anos, eu só podia imaginar o que
alguns anos fariam pelo seu jogo.
— Isso, Hugh! — Claire aplaude, me distraindo dos meus pensamentos
quando seu irmão, o número 10 da Tommen, chuta a bola por cima da linha
lateral. A bola consegue tocar os dedos do adversário antes de sair de jogo.
— Sim! — Claire chia, empurrando um punho no ar. — Bom trabalho
pessoal!
— O que está acontecendo agora? — Eu pergunto, sem saber por que ela
estava torcendo quando seu irmão obviamente chutou a bola para fora. —
Isso é bom para Tommen?
Fica claro que ela estava tão envolvida no jogo quanto eu, considerando
que ela passou os últimos cinquenta minutos alternando entre explicar as
regras para mim e gritar palavrões a plenos pulmões.
Isso passou despercebido pela minha cabeça, meus nervos esgotados
demais para absorver qualquer coisa mais do que o básico que eu já sabia de
assistir às Six Nations5 todos os anos, mas finjo que entendo por causa dela.
— Isso não é futebol, Shan — ela ri. — Essa é uma excelente jogada. É a
nossa linha de saída.
— Linha de saída?
— Assista — ela encoraja e então começa a gritar quando o número 2 da
Tommen joga a bola e Gibsie, que estava vestindo o número 7, é empurrado
para o ar por seus companheiros de equipe e pega a bola no ar.
— Sim! — Claire aplaude, batendo palmas como uma foca louca. — Vá
em frente, Gerard!
Parecia engraçado ouvir Claire chamá-lo de Gerard quando todos ao nosso
redor estavam aplaudindo o nome Gibsie.
Literalmente, ninguém o chamava de Gerard, exceto Claire.
A bola sai zunindo do campo e cai nas mãos de Johnny, e meu coração
dispara.
Meu pulso acelera instantaneamente ao vê-lo em movimento.
— Oh meu Deus! — Eu grito, o coração batendo de forma irregular no
meu peito, quando quatro atacantes de Kilbeg derrubam Johnny no chão,
enterrando-o sob uma montanha de músculos e peso morto. — Eles são
autorizados a fazer isso?
Membros voam, chuteiras de futebol cavam na pilha amassada sob a
montanha. Eu assisto as trapalhadas se desenrolarem em campo.
— Eles estão tentando assassiná-lo — eu grito, incapaz de acreditar no
que estava testemunhando. — Puta merda. — Agarrando os braços das duas
garotas, eu aperto com força. — Isso é ilegal?
— Não me pergunte sobre isso — Lizzie responde com um encolher de
ombros. Soltando o braço da minha mão, ela volta a folhear sua revista. —
Eu poderia pensar em um milhão de coisas melhores que eu poderia fazer
com meu tempo do que sentar aqui fingindo torcer por um esporte com o
qual eu não poderia me importar menos.
Pelo menos ela era honesta.
Eu pensei que sentiria o mesmo, no entanto, ele estava jogando e eu
estava relutantemente hipnotizada.
— Eles estão claramente mirando nele — eu rosno, observando enquanto
o árbitro apitava e corria até o amontoado de meninos.
— É claro que eles estão mirando nele — Claire diz, apertando minha
mão de volta. — Johnny é o melhor jogador da Tommen. Elimine-o e o jogo
está livre — ela continua a dizer. — Eles seriam tolos se não tentassem.
Eu quero gritar Deixem-o em paz! a pleno pulmões, mas em vez disso eu
me conformo com um:
— Isso é horrível — com uma enorme preocupação por ele enchendo meu
peito.
— Isso é rúgbi — Claire concorda.
— Eu odeio rúgbi — Lizzie oferece.
— Ninguém se importa com o que você odeia, senhorita pessimista —
Claire retrucou. — Volte para seus horóscopos.
Claire e Lizzie brigam de um lado para o outro por alguns minutos, antes
de Lizzie ir embora, resmungando algo sobre a necessidade de salvar suas
células cerebrais, mas eu não estava realmente ouvindo nenhuma delas.
Eu estava absorta nos acontecimentos no campo onde o médico da equipe
estava mexendo em Johnny, cutucando e cutucando seu rosto com gaze e
bandagens.
Sua camisa listrada de preto e branco com o número 13 nas costas estava
grudada em sua pele, o short branco que ele usava estava manchado de
grama e manchado de sangue.
Ambos os joelhos estavam cobertos de lama.
Seu cabelo estava despenteado e escorregadio de suor.
Um de seus olhos estava ficando roxo e inchando em um ritmo rápido, e
ele tinha um rastro constante de sangue escorrendo pela sobrancelha, mas
isso não parecia perturbá-lo nem um pouco.
A atenção de Johnny não estava no médico ou no árbitro gritando
comandos em seu ouvido.
Ele estava muito ocupado olhando para mim.
Meu coração bate contra minhas costelas enquanto ele olha
descaradamente e sem vergonha para mim – olhos queimando com calor,
expressão palpavelmente intensa.
Respirando com dificuldade, ele levanta a bainha de sua camisa e usa o
tecido para limpar o sangue de sua testa, desmantelando as tentativas da
pobre mulher de remendá-lo e revelando uma barriga com um abdome duro.
O movimento era tão primitivo, tão decididamente masculino, que me
atinge direto no peito.
Meu rosto começa a queimar e eu sinto meus ombros caírem enquanto eu
me curvo sob o peso de seu olhar intenso.
— Que diabos é isso? — Claire sibilou animadamente, segurando minha
mão. — Johnny Kavanagh está olhando para você, Shan. Fala sério, garota,
aquele garoto está olhando para você!
— Merda. — Sem saber o que fazer, mas sabendo que precisava fazer
alguma coisa, viro meu rosto para o pescoço de Claire e sussurro: — Me
esconda.
— O quê? — ela chia.
— Apenas me diga quando ele se for, ok? — Eu imploro, concentrando
minha atenção na sarda em seu pescoço. — Finja que você está falando
comigo ou algo assim.
Menos de um minuto depois, Claire diz:
— Ok, ele se foi.
Soltando um suspiro, viro a tempo de ver Johnny correndo de volta para a
posição enquanto o árbitro chamava um scrum-half da Tommen.
— O que está acontecendo com vocês dois? — ela exige. — Eu pensei
que você disse que não falou com ele desde aquele dia no escritório?
— Nada está acontecendo com a gente — eu jogo de volta, as bochechas
queimando. — E eu não falei.
Claire me dá um olhar incrédulo.
— Bem, aquele olhar que ele acabou de te dar não parecia nada para mim.
— Não foi nada — asseguro a ela – e a mim mesma. — Sério, Claire, eu
nem conheço o cara...
Então vaias e zombarias ficam altas ao nosso redor, e nós duas nos
viramos para ver que o número 15 da Kilbeg havia marcado uma tentativa.
Seu número 10 a converteu facilmente, nivelando as equipes.
— Oh merda — eu murmurei, me sentindo muito mais ansiosa do que
deveria. — Quanto tempo falta?
— Cerca de um minuto e meio, e não pense que não vamos falar sobre
isso mais tarde — Claire me diz antes de voltar sua atenção para o jogo e
gritar — Vamos Tommen! Woo! Kilbeg – vocês são uns merdas!
Kilbeg vence o reinício, ganhando a posse de bola e ganhando várias
jardas.
Todos pareciam completamente exaustos, com exceção do Ligeirinho –
também conhecido como Johnny Kavanagh – que parecia ter um tanque
ilimitado de energia.
Minhas palmas começam a suar profusamente quando o número 10 de
Kilbeg se move para a posição entre as traves, caindo no alcance para um
chute no gol.
Eles estavam em dezenove fases e o placar estava empatado em 20 pontos
cada, pelo menos foi o que Claire disse.
— Isso — Claire continua gritando. — Isso. Isso. Oh Deus. Eu não posso
olhar.
Prendo a respiração, incapaz de lidar com a antecipação.
Finalmente, o número 9 de Kilbeg se posiciona no ruck – a palavra que
aprendi para o grande amontoado na grama.
Com a bola nas mãos, ele joga um passe de volta para o número 10.
Meu coração para.
Todos os torcedores nas arquibancadas ao meu redor ficaram quietos.
Perca.
Perca.
Foda com isso.
Vá longe.
Todas as minhas orações foram respondidas quando a bola sai de sua
chuteira e é bloqueada por Johnny, enviando a bola voando para cima na
direção da linha de gol deles.
O tempo diminui, caindo no vermelho.
— Sim! — Claire grita, pulando de pé, junto com todos os outros
torcedores nas laterais. — Vai, Johnny! Vamos lá Kavs!
Incapaz de respirar, vejo três Kilbegs atrás dele.
Eles não são rápidos o suficiente, no entanto.
Como um relâmpago, Johnny persegue sua interceptação, movendo-se
mais rápido do que qualquer garoto do seu tamanho deveria ser capaz.
Aplausos e gritos e rugidos de encorajamento irrompem da arquibancada
quando Johnny chuta a bola para frente, empurrando-a para mais perto da
linha de marcação enquanto corre em alta velocidade atrás dela.
— Vai! — Claire rugi animadamente. — Sim! Você está quase lá.
Continue. Mova essas pernas sensuais!
A bola rola por cima da linha.
Milissegundos depois, Johnny ataca, esticando as costas para os Kilbeg
que estavam em seus calcanhares.
Foi um borrão de movimentos que resulta em Johnny aterrando a bola na
lateral.
Todos ao nosso redor vão à loucura.
O camisa 10 da Tommen se posiciona na frente dos postes e rapidamente
chuta a conversão, garantindo os dois pontos.
E é isso.
Acabou.
Tommen havia vencido.
E eu estava me recuperando.
— Você tem algumas explicações a dar, senhorita — Claire grita enquanto
ela pula para cima e para baixo em comemoração. — Woohoo! Vai Tommen,
vai!
— Explicações? — digo de volta. — Sobre o quê?
— Sobre por que aquele garoto lá embaixo está olhando para você como
se quisesse te comer — ela responde, e então apontou um dedo
descaradamente óbvio para Johnny, que estava olhando diretamente para
mim novamente.
— Eu não sei — eu engasgo. — Eu não tenho ideia do que está
acontecendo aqui.
Todos os seus companheiros de equipe estavam correndo como loucos,
pulando e saltando em comemoração, e Johnny parecia distraído.
Ele era literalmente inundado por pessoas, desde professores a alunos,
jornalistas locais e cinegrafistas com microfones enfiados em seu rosto.
A única coisa que se destacava era sua compostura imaculada.
Nada disso o estava perturbando.
Nem um pouco.
Ele parecia a epítome da calma, paz e serenidade enquanto respondia aos
repórteres e agradecia aos torcedores batendo palmas em seus ombros, mas a
cada poucos momentos, seu olhar piscava de volta para mim.
Eu não entendo.
Pior, ter sua atenção me emociona.
— Por que eles estão se reunindo ao redor dele? — Eu pergunto em
confusão, me sentindo mal pelos outros caras do time.
Claire revira os olhos.
— Ah, porque ele é Johnny Kavanagh.
— E?
Eu não entendo.
— Vamos — ela grita, e então agarra minha mão, literalmente me
arrastando pelas arquibancadas para o campo.
Podemos não parecer deslocadas, com metade da escola em campo, mas
certamente sinto isso enquanto me arrastava desajeitadamente atrás dela.
— Hughie! — Claire grita, correndo para jogar seus braços ao redor de
seu irmão mais velho. — Você foi incrível.
— Um brinde, maninha — ele responde, dando tapinhas nas costas dela,
enquanto procura entre a multidão.
Obviamente, encontrando o que procurava na forma de uma pequena
ruiva, Hughie rapidamente coloca a irmã de lado e corre na direção dela.
— Eu quero isso — Claire suspira, vendo seu irmão pegar sua namorada e
levantar ela. — Obviamente não com meu irmão — ela faz uma careta. —
Mas o que eles têm. — Ela suspira novamente. — Eu quero isso algum dia.
— Claire-ursinha! — uma voz familiar chama.
Claire se vira e eu juro que seu rosto inteiro se ilumina quando ela nota
Gibsie correndo em nossa direção.
— Você conseguiu! — ela grita e então se atira nele.
Ele parecia tão animado quanto ela e a pega.
Eu os observo por vários minutos, balançando um ao outro,
completamente presos em sua própria bolha enquanto falam animadamente
sobre diferentes pontos do jogo.
Ou Claire era cega, Gibsie era cego, ou ambos eram tão cegos a respeito
um do outro porque eu podia sentir, ver e provar a química flutuando deles.
Me sentindo estranha e deslocada, enfio as mãos nos bolsos do casaco e
rapidamente me viro, passando por uma massa de torcedores da Tommen.
Eu estava familiarizada com um dia do jogo.
Eu já tinha visto o suficiente dos jogos de Joey.
Mas isso era diferente.
E me senti como uma farsa.
— Ei — eu ouço uma voz dolorosamente familiar chamar, me distraindo
dos meus pensamentos. — Espere!
A natureza humana básica me faz girar para ver quem estava chamando e
se era dirigido a mim.
Quando meus olhos pousam em Johnny correndo em minha direção, meu
coração troveja contra minhas costelas, martelando violentamente.
Oh meu Deus.
O que ele estava fazendo?
Por que ele estava vindo até mim?
O que diabos estava acontecendo?
— Como tá indo? — Johnny pergunta, fechando o espaço entre nós, a voz
compreensivelmente sem fôlego do esforço em campo.
— Uh, está, ah, está indo bem. — Eu tropeço nas minhas palavras,
completamente desequilibrada por estar tão perto de Johnny novamente. —
Está bem para você? — Eu adiciono sem jeito, e então imediatamente ardo
de vergonha. — Você deve se sentir bem. — Suspirando, reprimo a vontade
de gemer e termino com um resmungo: — Quero dizer: como você está
indo...
— Estou indo bem — Johnny responde com um sorriso que aprofunda as
duas pequenas covinhas em suas bochechas.
Era a primeira vez que vejo aquelas covinhas e minha memória as absorve
como uma esponja.
— Isso é bom — eu respiro, lutando para me concentrar.
Ao contrário da última vez que estive perto dele – quando eu estava vendo
estrelas – ou nos corredores quando ele era um borrão de movimento ou
muito longe para dar uma boa olhada, eu tinha uma visão clara, sem
concussão e desobstruída da cara dele.
E cara, aquela vista era de tirar o fôlego.
Como, de verdade, ele era surpreendente dolorosamente e distraidamente
atraente.
Ele tinha uma estrutura óssea notável com maçãs do rosto salientes e um
maxilar forte, lábios inchados e uma mecha bagunçada de cabelo castanho
escuro raspado elegantemente nas laterais, com um pouco mais de
comprimento no topo.
Seu rosto tinha as marcas de um menino que esteve em muitas brigas.
Sobre a sobrancelha esquerda havia uma cicatriz recém-coagulada, seu
nariz claramente havia sido quebrado uma ou duas vezes, e sua bochecha
direita estava arroxeada em um ritmo acelerado.
— Você se lembra quem eu sou, certo? — ele pergunta, ainda sorrindo,
embora parecesse um pouco nervoso agora, provavelmente porque eu estava
olhando para ele como uma esquisita. — Shannon como o rio.
Oh Deus.
— Sim — eu engasgo, sentindo cada gota de sangue no meu corpo correr
para minhas bochechas enquanto eu coloco uma mecha solta de cabelo atrás
da minha orelha. — Eu lembro de você. — Sem saber o que dizer ou fazer,
estupidamente levanto a mão e aceno. — Oi, Johnny.
O que tem de errado comigo?
Sério?
Eu acabei de acenar para ele?
Enquanto eu falava com ele?
Deus...
O sorriso que ele estava exibindo se transforma em um sorriso completo,
perfeitamente reto e com dentes branco perolado.
— Oi, Shannon.
Oh merda...
— Bem, eu estou bem — eu digo, o tom um pouco tenso. — E você está
bem. Então, está tudo... bem.
— Isso é bom — ele respondeu, os lábios se contraindo.
— Sim, está tudo bem — eu respondo, encolhendo-me com o meu
constrangimento.
Johnny sorri para mim.
— Bom.
Mortificada, olho para o rosto dele e depois rapidamente para longe
novamente enquanto me esforço para nunca mais pronunciar a palavra bom
novamente.
— Eu assisti a sua partida — eu solto em vez disso. — Parabéns.
Ah sim, Shannon, porque isso é muito melhor.
Você deveria ter ficado com o bom, idiota!
— Eu sei — Johnny responde com um pequeno sorriso. — Eu vi você.
Abro a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa para me salvar, mas
nada sai e dou de ombros impotente.
— Você recebeu meu bilhete? — Johnny pergunta, felizmente me
salvando de tentar formar uma frase coerente.
— Sim, e eu queria te agradecer pelo dinheiro — eu digo a ele, a voz
baixa. — Eu só não sabia se deveria...
— Não se preocupe com isso — ele interrompeu com um sorriso. — Eu
não esperava um agradecimento.
— É demais, a propósito — acrescento rapidamente, colocando meu
cabelo atrás da orelha. — Minha mãe comprou uma saia nova por trinta
euro.
— Espero que ela tenha conseguido as meias que você queria — ele
responde com um sorriso de conhecimento.
Ah, meu Deus.
O sorriso desse menino era algo de outro mundo.
— Ah, sim. — Eu coro escarlate. — Essas foram apenas uma nota de
cinco. — Deslizando minhas mãos nos bolsos do meu casaco, eu olho para
os meus sapatos, inalo uma respiração trêmula, e então o encaro mais uma
vez. — Eu posso te devolver de volta o resto...
— De jeito nenhum — Johnny rapidamente descarta, limpando um grão
de lama de sua bochecha. — Fique.
— Fique? — Eu olho fixamente. — Você não quer sessenta e cinco euro
de volta?
— Eu machuquei você — ele responde, seus intensos olhos azuis fixos
nos meus. — Eu fodi com tudo. Você não vai me devolver nada.
Oh, graças a Deus porque meus pais nunca me devolveriam o dinheiro.
— Tem certeza? — Eu resmungo.
Johnny assente e diz:
— Sim, claro, — antes de prosseguir com: — como está a cabeça?
Eu sorrio para ele.
— Tudo melhor.
— Tem certeza disso? — ele pergunta, sorrindo agora. — Nenhum dano
residual que possa me colocar em apuros? Eu não preciso chamar os
advogados, preciso?
— O–o quê? — Eu fico boquiaberta. — Não, não. Eu estou bem. Eu
nunca iria processá-lo...
— Estou brincando com você, Shannon — Johnny ri. Balançando a
cabeça, ele acrescenta: — Estou muito feliz que você esteja bem.
— Oh, tudo bem. — Eu coro. — Obrigada.
— Johnny! — uma voz masculina retumbante chama, distraindo nós dois.
Viro a cabeça para ver um homem corpulento andando em nossa direção
com uma câmera impressionante presa ao pescoço.
— Dê-nos uma foto para o jornal, sim, filho?
Eu tinha quase certeza de ter ouvido Johnny murmurar as palavras porra
baixinho, mas ele se vira para o fotógrafo e dá-lhe um aceno educado.
— Sem problemas.
— Bom homem você — elogia o fotógrafo e aponta a câmera para
Johnny, apenas para parar e se virar para mim. — Saia do caminho, por
favor, docinho?
— Ah, certo, desculpe! — Eu falo e me mexo para sair da linha da lente.
— Nós estávamos conversando — Johnny fala. Ele lança um olhar
mordaz para o fotógrafo e então caminha até mim.
— Sorria — ele instrui baixinho enquanto me puxa para o seu lado e
aperta sua mão enorme e enlameada no meu quadril.
Atordoada, eu olho para ele.
— Huh?
— Sorria — Johnny repete calmamente, me colocando debaixo do braço.
Exausta, eu me viro para encarar o fotógrafo e faço exatamente o que
Johnny me disse para fazer.
Eu sorrio.
O fotógrafo arqueia uma sobrancelha e me dá um olhar curioso, mas
rapidamente se apressa para tirar o que parecia ser um milhão de fotos.
Os flashes vindos de sua câmera eram ofuscantes e quando eles se
juntaram a muitos outros flashes de outros fotógrafos, começo a tremer de
ansiedade.
O que diabos estava acontecendo?
— Tudo bem, isso é o suficiente — Johnny declara enquanto levanta a
mão e solta meu quadril. — Obrigado por vir hoje. Agradeço o apoio.
— Johnny, Johnny? — uma das mulheres no aglomerado grita. — Qual é
o seu status de relacionamento?
— Particular — Johnny retruca friamente.
— Qual é o seu nome, docinho? — o fotógrafo original pergunta,
enquanto tira uma caneta do bolso do casaco.
Tremendo, eu apenas fico ali, me sentindo como um manequim, sentindo
um milhão de pares de olhos curiosos no meu rosto.
— Shannon Lynch — Johnny declara com um aceno curto de cabeça, e
então, ignorando a meia dúzia de fotógrafos nos observando, ele volta sua
atenção para mim. — Você vem para a festa depois da escola?
— O que eles estão fazendo? — Eu pergunto incerta, incapaz de me
concentrar no que ele acabou de dizer, porque eu estava muito ocupada
olhando para o fotógrafo escrevendo algo nas costas de sua mão e vários
outros repórteres escondidos nas proximidades.
— Ignore-os — diz Johnny com um aceno de cabeça. — Eles vão embora.
— Eles estão observando você — eu sussurro. — E eu acho que eles estão
me observando?
Soltando um grunhido frustrado, Johnny se vira.
— Estou na escola — afirma em um tom afiado. — No terreno da escola.
Com uma menor de idade.
Felizmente, isso parece funcionar porque eles se dispersam lentamente.
— Isso foi tão estranho — eu gaguejo quando Johnny me encara
novamente.
Ele me olha com curiosidade.
— Você não gosta desse tipo de coisa?
— Isso foi horrível — eu gaguejo. — Toda essa atenção por causa de um
jogo bobo.
Johnny me dá outro olhar curioso.
Olho para ele, me sentindo totalmente confusa.
— Então, você vem? — Johnny pergunta.
Quando continuo a olhar fixamente para ele, ele esclarece.
— Para a festa. A mãe do Hughie está fazendo uma comemoração para o
time na casa deles.
— Eu?
— Sim, você — ele responde, me dando um olhar peculiar.
Minha frequência cardíaca aumenta para um nível perigoso enquanto eu
olho para esse lindo garoto que estava me convidando para uma festa.
Espere, ele estava me perguntando ou me convidando?
Oh Deus, eu não sabia.
Franzindo a testa, Johnny acrescenta:
— Você é amiga da irmã dele, Claire, não é?
— Oh. — Eu balanço minha cabeça vigorosamente. — Ah, ah, não, não
vou. Quer dizer, sim, sou amiga de Claire, mas não vou à festa.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Por quê?
— Porque eu não tenho permissão para ir a qualquer lu... — Eu me paro e
rapidamente direciono minhas palavras em uma direção mais segura. — Eu
tenho que ajudar minha mãe à noite.
— Ela está grávida — ele afirma em um tom pensativo.
— Sim — eu respondo e então, porque eu era masoquista por transformar
uma situação desconfortável, acrescento: — Deve nascer em agosto.
— Parabéns? — Johnny oferece, movendo-se desconfortavelmente.
Bom trabalho, Shannon, eu sussurro mentalmente.
— Obrigada — eu respondo, me contorcendo.
— Tem certeza que não quer vir? — ele pergunta então. — Eu não vou
beber para que eu possa te dar uma carona volta para casa quando você
quiser ir...
— Capi — um de seus companheiros grita então. — Traga sua bunda
aqui, rapaz, e levante esta porra de taça.
— Estou conversando aqui porra, Pierce — Johnny retruca, virando-se
para encarar quem estava chamando para ele. — Me dê a porra de um
minuto.
— Seus amigos estão chamando você — eu me apresso em dizer, sabendo
que eu precisava ficar longe desse garoto antes que eu fizesse algo
incrivelmente estúpido como aceitar o convite dele.
Porque eu queria.
Eu realmente queria.
E se eu ficasse aqui e continuasse olhando para ele, eu sabia que iria.
— É melhor eu ir — acrescento, dando a Johnny mais um aceno idiota. —
Divirta-se.
Eu não espero para ouvir sua resposta.
Em vez disso, dou meia-volta e saio correndo com o coração martelando
no peito.
— Tem certeza de que não quer vir por uma hora? — Ouço Johnny me
chamar.
— Tenho certeza — eu digo por cima do ombro enquanto corro para
longe. — Tchau, Johnny.
— Sim, uh, tchau, Shannon.
O som de meninos rindo e rindo atrás de mim enche meus ouvidos, mas
não ouso olhar para trás.
Em vez disso, faço a coisa sensata e me afasto da tentação com as
palavras de Claire soando em meus ouvidos.
"Garotos com olhos bonitos e grandes músculos estragam tudo para as
meninas."
Como ela estava certa.

Passava um pouco das oito quando finalmente chego da escola naquela


noite.
A cinco quilômetros de Tommen o ônibus quebrou.
Por duas horas, fomos forçados a permanecer no ônibus enquanto outro
ônibus de Cork City foi enviado para nos transportar para casa.
Era ridículo.
Passei cada minuto daquelas duas horas me chutando mentalmente por
não aceitar a oferta do Johnny.
O que diabos havia de errado comigo?
Eu gosto dele.
Eu realmente gosto dele.
Ele me perguntou se eu ia a uma festa, se ofereceu para me levar embora
da festa para casa, e eu me virei e praticamente fugi dele.
Não, corrija para: eu corri dele.
Em minha defesa, eu tinha sido completamente surpreendida por ele.
Nem uma vez nas semanas que se passaram desde o meu acidente,
nenhum de nós se aproximou do outro.
Ele quebrou a regra imaginária que havia sido imposta entre nós.
Ele me encurralou falando comigo e eu ainda estava muito encurralada
agora.
Durante toda a noite minha mente continuou a dar voltas e mais voltas no
encontro até que eu estava com o rosto azul de pensar sobre isso e
completamente desgostosa comigo mesmo.
Eu deveria ter ido à festa.
Se tivesse, não teria passado duas horas em um ônibus gelado em
condições semi-árticas.
Pelo menos, se tivesse ido à festa, o atraso teria valido a pena.
Porque o olhar no rosto do meu pai quando entro em casa me garante que
as duas horas que passei sentada sozinha em um ônibus quebrado certamente
não valeu.
— Onde você estava? — Papai exige, me observando como um falcão de
seu poleiro na mesa da cozinha quando entro pela porta.
A onda familiar de pânico cresce dentro de mim.
Meu pai era um homem de aparência poderosa, com um metro e oitenta de
altura, cabelos loiros escuros e uma constituição atlética que estava sólida
desde seus dias de hurling.
Ele também havia jogado pelo Cork, mas, ao contrário de meus irmãos, os
méritos e realizações de meu pai não eram algo sobre o qual eu falava
abertamente.
Porque eu não estava orgulhosa do homem olhando para mim.
Eu não tinha certeza se ainda o amava.
Ou se eu já amei.
Não quando ele me aterrorizava mais do que qualquer um dos valentões
da escola já aterrorizou...
— Bem? — ele pressiona, com um tom firme. Ele estava substituindo o
aperto de borracha no que parecia ser o hurley de Ollie e a visão dele
segurando o hurley de madeira causa um tremor de pânico na minha espinha.
— Você está atrasada!
De repente, fico muito grata por ter fugido de Johnny Kavanagh quando
ele me convidou para a festa depois da escola.
Um estremecimento percorre meu corpo ao pensar no que meu pai poderia
fazer se eu tivesse aceitado seu convite.
— O ônibus quebrou — eu falo enquanto eu cautelosamente coloco minha
bolsa contra a parede. — Tivemos que esperar duas horas para que outro
ônibus nos pegasse.
Meu pai me dá um olhar duro.
Permaneço exatamente onde estou, sem ousar respirar.
Finalmente, ele acena com a cabeça.
— Maldito ônibus — meu pai murmura, voltando sua atenção para sua
tarefa.
O ar que eu estava segurando sai de meus pulmões em um suspiro alto.
Está tudo bem, Shannon, digo a mim mesma, ele não está xingando, não
há cheiro de uísque e nenhuma evidência de móveis quebrados.
Mas não sou tola o suficiente para abusar da sorte quando se tratava de
meu pai e me movo para a cesta de pão com a intenção de fazer um
sanduíche de queijo para viagem.
Sair desta cozinha e ir para o meu quarto sem confronto era o meu
objetivo para o próximo minuto ou algo assim, enquanto eu apresso em
montar um sanduíche torto e me sirvo um copo de água da torneira.
— Boa noite, papai — eu sussurro quando meu sanduíche e água ficam
prontos.
— Não se atrase de novo — é tudo o que ele responde, sem tirar os olhos
do hurley em suas mãos. — Me escutou, garota?
— Te escutei — eu murmuro e então subo a escada até a santidade do
meu quarto.
Uma vez lá dentro, abro a fechadura e afundo contra a minha porta,
tentando desesperadamente controlar minha frequência cardíaca.
Hoje era sexta-feira.
Sexta-feira era um dia seguro.
11

UM PUNHO NA CARA AO INVÉS DE UMA TORTA

JOHNNY

Minha cabeça estava destruída.


Meu corpo estava em pedaços.
Não conseguia aproveitar a vitória ou comemorar de verdade com o time
porque estava de mau-humor.
Amuado sobre algo que eu não conseguia entender.
Recusando as incontáveis garrafas de cerveja empurradas no meu rosto,
me sento pensativo no sofá da sala de Hughie, com o troféu de Melhor em
Campo apoiado na almofada ao meu lado, minha medalha de vencedor
pendurada no pescoço, esperando meu tempo até que eu pudesse me
esgueirar para fora, dirigir para casa e me afogar em um banho de gelo.
Era meu dever estar com meus companheiros de equipe depois de uma
grande vitória como essa.
Sendo o capitão, eu deveria estar liderando as comemorações.
Uma música para dançar tocava no som do canto, I'll Fly with You de Gigi
D'Agostino, e eu sabia que aquele canto estúpido duh, duh do de duh de
sirene ficaria preso na minha cabeça a noite toda.
A casa estava lotada com a equipe e pessoas da escola, todos bebendo,
comendo e dançando ao redor do lugar.
Em vez de entrar na brincadeira, eu estava colocando gelo na minha coxa
porque colocar gelo nas minhas bolas não seria socialmente aceitável,
empurrando um pedaço de bife que a mãe de Hughie, Sinead, havia
cozinhado no meu prato, e pensando em um garota que não conseguia se
afastar de mim rápido o suficiente.
Que demonstrou isso tudo bem ali.
Todos os outros estavam bebendo e se divertindo, enquanto eu me
reabastecia de proteína e me enlouquecia por causa de uma garota.
Era assim que parecia a rejeição?
Se sim, foda-se.
O que me deu para ir até Shannon, eu nunca vou saber, mas todo mundo
estava gritando ao meu redor, a multidão estava na minha cara, eu precisava
de um adiamento, e eu a vi parada ali, com olhos grandes e solitária, e
alguma coisa apenas mudou dentro de mim.
No momento, fazia sentido apenas ir até ela e falar com ela.
Porque eu não queria que ela ficasse sozinha.
Porque eu mal conseguia me concentrar durante o jogo, sabendo que ela
estava me observando.
Porque quando ela se virou para sair, minhas pernas se moveram por
vontade própria, desesperadas por interceptá-la.
Posso te levar para casa quando você tiver que ir?
Que merda foi essa na real?
Eu poderia muito bem ter gritado, me ame, me ame porra para a garota.
Eu me senti como um idiota sangrando.
O que eu estava pensando ao convidá-la para a festa?
Pior, o que eu estava pensando esperando que ela dissesse sim?
Eu era um estranho exaltado para ela.
Jesus Cristo.
Eu estava tão decepcionado comigo mesmo.
Por dois meses, eu estava indo tão bem, tão malditamente bem, em
minhas tentativas de ficar longe dela.
Eu não conseguia tirá-la da minha cabeça, mas caramba, eu estava
mantendo distância.
Uma adrenalina bombeada pela vitória e eu estraguei tudo.
Pior do que estragar tudo, eu a arrastei para uma foto comigo.
E ela parecia aterrorizada...
— Você está bem, cara? — Feely pergunta, afundando no sofá ao meu
lado.
Grunhindo minha resposta, arrasto a almofada de trás das costas e a
coloco no meu colo, cobrindo o roxo que se espalhava pela minha coxa
direita.
Eu ainda estava no meu uniforme, assim como a maioria da equipe.
Eles ainda estavam vestindo suas camisas porque queriam se exibir – e
com razão.
Cinco vitórias consecutivas do School Boys Shield era um novo recorde
para Tommen e alguns dos rapazes mais jovens experimentavam as
medalhas.
Eu ainda estava no meu uniforme porque não tinha energia para trocar
depois da partida.
Se não parecesse tão atraente para os olheiros, eu desistiria do time da
escola e salvaria meu corpo para os jogos da academia ou do clube.
— Sabe, Sinead daria uma olhada nisso para você, se você pedir a ela —
Feely interrompe meus pensamentos dizendo. — Ela é enfermeira, cara.
Eu me viro para olhar para ele.
— O que?
Ele gesticula para minha perna.
— Está te dando problemas de novo?
Me esforçando para controlar minha irritação, balanço a cabeça e digo:
— Não, estou ótimo. Levei um chute no campo, isso é tudo, cara.
O olhar que Patrick me dá é de apreensão, mas ele não insiste.
Eu gostava disso nele.
Ele não pressionava essas merdas.
Se não era da conta dele, ele não pedia para saber.
— Você não está bebendo esta noite? — Eu pergunto a ele, desviando o
assunto das minhas falhas. — Grande vitória para a escola, cara. Você
deveria estar comemorando.
— Eu deveria estar comemorando? — Patrick sorri. — E o próprio Sr.
MOM? Se alguém deveria estar dando piruetas, então é você.
Eu sorrio para o termo Sr. MOM – que significa man of the match6 – e
digo:
— Eu treino na academia aos sábados. Qual é a sua desculpa?
— Não estou com vontade — isso tudo o que ele responde.
Como antes, quando ele não me pressionou para obter informações,
retribuo o favor.
— Na verdade, estou pensando em ir embora — acrescenta, levantando-
se. — Eu estava pensando se você poderia me dar uma carona para casa?
Como um cachorro faminto presenteado com um osso suculento, eu aceito
sua oferta.
Jogando meu prato e bolsa de gelo na mesa de café na minha frente, eu me
levanto e inalo várias respirações pelo meu nariz antes de colocar o peso na
minha perna.
— Estou pronto quando você estiver.
Patrick sorri, mas não diz nada sobre meu entusiasmo excessivo.
Abaixando-se, ele pega meu troféu do sofá e me entrega – graças a Deus,
porque se eu tivesse que me agachar de novo eu não conseguiria me levantar.
— Ei, ei, ei — Gibsie grita sobre a música, percebendo minha tentativa de
ir embora. — Sente sua bunda aí, Capi. — ele ordena, abrindo caminho pela
multidão em minha direção. — Você não vai a lugar nenhum ainda.
Eu abro minha boca para dizer a ele para me deixar em paz, mas dois dos
rapazes do time, Luke Casey e Robbie Mac, vem correndo em minha
direção, me arrastando de volta para o sofá antes de se colocarem em cada
lado de mim.
Olho para Patrick, que dá de ombros em resignação.
Nós dois sabíamos que não sairíamos daqui tão cedo, não quando Gibsie
desliga a música e anuncia:
— Tenho um discurso a fazer.
— Desculpe, Capi — Robbie Mac riu. — Mas você tem que ouvir isso.
Resistindo à vontade de rugir com a dor que queimava minha metade
inferior, balanço a cabeça e pego minha bolsa de gelo.
— Pelo amor de Deus, Gibs.
Com sua medalha de campeão ainda pendurada no pescoço, Gibsie arrasta
a mesa de centro até o aparelho de som e pula em cima.
Com a camisa enrolada na cabeça como uma bandana, ele pega o controle
remoto da unidade atrás dele e segurou-o na boca como se fosse seu próprio
microfone pessoal.
Os rapazes da equipe jogam a cabeça para trás e uivam de tanto rir quando
ele toca no controle remoto e faz uma passagem de som.
Idiota...
Com um sorriso de comedor de merda gravado em seu rosto, Gibsie bate
em seu “mic” e diz:
— Como vai esta noite? — Ele olha para a medalha descansando em seu
peito e sorri. — Podemos nos acostumar com isso, não podemos, rapazes!
Uma explosão ensurdecedora de aplausos e rugidos de concordância vem
da sala.
— Tudo bem meninos, jesus, não há necessidade de rugirem para mim —
ele zomba. — Pelo amor de Deus, estou na mesma sala que vocês!
Sua resposta divertida atrai uma resposta ainda mais alta da equipe e de
nossos amigos.
— De qualquer forma, — ele riu — indo direto ao assunto, eu tenho uma
pequena música que eu gostaria de cantar, para uma pessoa especial na
minha vida.
Oohs e awwws vem de um grupo de garotas na porta.
Reviro os olhos com a facilidade com que a paquera do menino bonito
poderia encantá-las.
Gibsie limpa a garganta para um efeito adicional, e então diz:
— Sem a porra das mãos mágicas dessa pessoa especial, eu não estaria
aqui hoje com este lindo talher de prata. — Ele balança a cabeça e pressiona
a mão no coração. — Obrigado, bebê!
Pelos olhares que eu estava recebendo dos rapazes, e as risadinhas vindo
de Robbie e Luke, percebo que o show da festa de Gibsie seria às minhas
custas.
— Não faça nada estúpido! — Eu aviso Gibsie assim que ele estende a
mão e apertou um botão no aparelho de som.
Instantaneamente, meus ombros travam com tensão quando o som
familiar da música Walk of Life de Dire Strait começa a tocar nos alto-
falantes.
Imediatamente, eu sabia o que estava por vir.
Aquele filho da puta...
— Johnny, baby — meu melhor amigo idiota grita com paixão fingida em
sua voz, apontando seus dedos amarrados em minha direção. — Esta é para
você — ele ri antes de começar a cantar, cantando junto com a letra que se
tornou a ruína da minha vida desde que entrei em um campo com esses
idiotas culchie na sexta classe.
Os caras ao meu redor se juntam a Gibsie no coro alto e provocante.
Cadeiras foram jogadas para trás enquanto os caras comemoram nossa
vitória.
Robbie e Luke me arrastam para fora do sofá, onde eu sou jogado no ar e
segurado por meus companheiros de equipe.
Feely, o vira-casaca, está inconsolável enquanto ri pra caramba às minhas
custas.
Ah, sim, eles poderiam rir o quanto quisessem agora, mas eu ia enterrar
esses filhos da puta no treinamento de segunda-feira.
12

HORA DA CONFISSÃO

SHANNON

Eu estava terminando o último dever de casa no domingo à noite quando


uma batida na porta do meu quarto quebra a minha concentração.
Fechando meu caderno, deslizo-o para dentro do livro de matemática e
grito:
— Entre.
A porta do meu quarto se abre e a cabeça do meu irmão aparece pela
fresta.
— E aí, Joe? — Eu pergunto, empurrando meus livros de volta na minha
mochila.
— Eu estou indo na loja — meu irmão anuncia, dando uma rápida olhada
ao redor do meu quarto antes de seus olhos retornarem ao meu rosto. —
Você quer alguma coisa?
— Onde está Aoife?
— No meu quarto.
— Ela vai ficar hoje?
— Sim.
Aoife estuda na BCS e estava no sexto ano com Joey, então não era
incomum que eles ficassem na casa um do outro em uma noite de escola e
fossem para a escola juntos.
Eles estavam na idade em que as festas do pijama eram permitidas.
Ou, pelo menos, ninguém nunca disse uma palavra a Joey quando ele
trazia uma garota para casa.
Havia um enorme caso de dois pesos, duas medidas nesta casa – uma casa
que estava excepcionalmente quieta neste fim de semana.
Meu pai estava em uma forma rara.
Ele estava se comportando como um humano.
Ele até comprou comida chinesa para todos nós ontem à noite e me passou
o controle remoto em vez de apenas jogá-lo em mim como ele costumava
fazer.
Eu não era ingênua o suficiente para acreditar que a decisão do meu pai de
não desfazer a casa neste fim de semana foi porque ele decidiu virar a
página.
Não, eu era um membro dessa família há tempo suficiente para reconhecer
esse período de calmaria como a calmaria antes da tempestade.
Ele entraria em erupção em breve.
Ele sempre entrava.
Eu só podia esperar que eu não estivesse no olho do furacão quando isso
acontecesse.
— Você quer algo da loja ou não? — Joey pergunta, parecendo
impaciente. — Fecha em breve.
Olhei para a tela do meu telefone para verificar a hora. 22h45.
— Por que você está indo para a loja tão tarde? — eu questiono. — O que
você precisa que é tão importante?
Joey sorri.
— Você quer que eu responda isso honestamente?
— Não — eu gemo, fingindo engasgar quando a consciência me atinge.
— Vá embora.
— Boa noite, Shan — ele ri, fechando minha porta.
— Use proteção! — Eu grito para ele. — Sou muito jovem para ser tia!
Meu telefone vibra contra minha coxa, me alertando para uma ligação de
Claire.
— Olá? — Eu digo, pressionando-o no meu ouvido.
— Oi abelhinha — ela diz alegremente. — O que você vai fazer no
próximo fim de semana?
Saindo da minha cama, corro até a minha porta e giro a fechadura.
— Nada — eu respondo. Como sempre. — Por que?
— Porque, meu caro amigo, Gerard Gibson passou em seu teste teórico na
sexta-feira de manhã e algum idiota louco na administração fiscal decidiu
dar a ele uma carteira de motorista provisória.
— Sério? — Eu rio, pensando em Gibsie atrás do volante de um veículo.
— Ah sim — Claire suspira. — Acabei de passar a última hora e meia
tentando empurrá-lo para fora do meu quarto.
— Por que ele estava no seu quarto?
— Para se vangloriar — ela explicou. — Agitando sua pequena licença
verde como se ele fosse o rei do pedaço.
— O que Gibsie tirar sua carteira de motorista tem a ver com o próximo
fim de semana?
— Os pais dele compraram um carro para ele de aniversário na semana
passada — explicou ela. — Ele quer que todos nós vamos dar uma volta
com ele.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Quem somos todos nós?
— A turma de sempre — Claire responde alegremente. — Eu, Gerard,
Hughie, Katie, Pierce, Lizzie, Patrick, Johnny e você, é claro.
Meu coração salta ao som do nome de Johnny sendo mencionado.
E então dispara ainda mais com a perspectiva de passar um tempo real
com ele.
— Por que eu? — consigo perguntar.
— Duh, porque você é nossa amiga — ela responde.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, Claire, eu sou sua amiga. Sua e de Lizzie.
— Bem, Gerard me disse para convidá-la.
— Por que? — Eu gaguejo. — Ele não me conhece.
— Por que você o ajudou com Brian?
Eu balanço minha cabeça.
— Isso não nos torna amigos.
— Bem, ele sabe que você é minha melhor amiga — ela explica. — O que
significa que todos os convites que recebo automaticamente se estendem a
você também.
— Bem, ele não pode colocar todas essas pessoas em um carro.
— Então talvez você possa ir no carro do Johnny — Claire retruca em um
tom de provocação. — A propósito, eu vi você com ele no campo na sexta-
feira, sua paqueradora.
— Eu não estava flertando com ele — eu praticamente gaguejo. — Ele
veio até mim.
— Melhor ainda — ela ri. — Foi ele quem flertou.
— Ninguém estava flertando — eu engasgo. — Nós estávamos apenas...
— Vocês estavam apenas o quê? — Claire brinca.
— Conversando — eu completo com um encolher de ombros impotente.
— Sobre o quê?
— Eu não sei — eu murmuro. — Apenas coisas, eu acho?
— E tirando fotos juntos — acrescenta ela com uma gargalhada. — Eu
também vi isso.
— Oh Deus. — Eu gemo em derrota e me jogo de volta no travesseiro. —
Eu fui pega tão desprevenida — eu resmungo. — Você deveria ter me
ouvido tentando falar com ele — acrescento, mordendo o lábio. — Fiquei
com a língua presa e literalmente estraguei toda a conversa, Claire. Foi
completamente humilhante.
— Você ficou com a língua presa porque gosta dele — ela pressiona.
Sem me preocupar em negar, apenas suspiro na linha.
— Oh meu Deus — ela engasga, em um tom animado. — Você está
finalmente admitindo que gosta dele?
Eu balanço a cabeça e então percebo que ela não podia me ver.
— Eu não acho que há algum ponto em negar isso — eu sussurro,
sentindo meu rosto queimar com o pensamento. — Eu gosto dele, Claire –
eu acho que realmente gosto dele.
— Oh uau, Shan — Claire responde gentilmente. — Isso é grande para
você.
Ela estava certa.
Era enorme.
E assustador.
Absolutamente aterrorizante.
— É ridículo — eu murmuro tristemente. — Eu nem o conheço.
— Sim, você conhece — Claire argumenta.
— Não muito bem — eu respondo com um suspiro.
— Bem — ela medita. — Eu nunca conheci o Johnny Depp pessoalmente
e isso não me impediu de me apaixonar loucamente por ele.
Reviro os olhos com a resposta dela.
— Sim, porque é a mesma coisa.
— Eu tenho o número do telefone dele, você sabe — Claire ofereceu
então. — Eu posso dar a você e você pode mandar uma mensagem para ele.
Meus olhos se arregalam.
— Absolutamente não.
— Tem certeza?
— Total — eu falo nasalado. — Não há nenhuma maneira na terra verde
de Deus onde eu poderia ser o tipo de garota que faz isso. — Mordendo meu
lábio, eu rapidamente pergunto: — Como você tem o número dele?
— Gerard está sempre pegando meu telefone emprestado — ela explica.
— Ele está sempre ligando para Johnny quando usa meu telefone. Johnny é
praticamente seu gêmeo siamês. Então, guardei o número de Johnny como
Telefone para sexo. — Rindo, ela acrescenta: — Foi tão engraçado. Gerard
ficou tão bravo comigo, exigindo saber com quem eu estava saindo e por que
não era ele listado com esse nome.
— Claire, você não pode dizer a ninguém que eu gosto dele — eu solto,
me sentindo em pânico por ter deixado escapar. — Por favor. Nem mesmo
Lizzie e especialmente Gibsie.
— Eu não vou, eu prometo — ela jura. — Mas se você enviar uma
mensagem para ele, acho que ele ficaria agradavelmente surpreso — ela
acrescenta — Eu sei que Lizzie te contou um monte de coisas sobre ele, mas
honestamente, a maioria é apenas fofoca fabricada. Johnny não é o cara que
todas as garotas da escola pintam que ele é.
— Sim — eu sussurrei — eu já captei isso.
Ele era melhor.
Muito melhor.
— Então, você virá conosco no próximo fim de semana? — ela pergunta.
— Eu não vou ter permissão para ir.
— Vamos, Shan, você não pode simplesmente dizer não — Claire
choraminga. — Não sem perguntar, pelo menos?
— Eu não preciso perguntar, Claire — eu resmungo. — Eu já sei a
resposta.
— Então não pergunte a ele — ela diz rapidamente. — Apenas invente
uma desculpa ou algo assim e venha até a minha casa. Nós nem temos que ir
com os rapazes.
Eu suspiro pesadamente.
— Claire...
— Podemos jantar na minha casa — ela se apressa a dizer. — E você
sabe, se Johnny passar por aqui, por causa de uma mensagem de texto
mentirosa enviada do meu telefone, então talvez vocês dois possam ir até o
meu quarto e...
— Pare com isso — eu a aviso, tremendo com o pensamento.
Claire ri na linha.
— Eu estou brincando.
— É melhor você estar — eu resmungo. — Porque eu morreria.
— Então, você quer fazer isso? — ela pergunta, sufocando sua risada. —
Venha para a minha casa para um lanche e um filme? Ou podemos ir ao
cinema? Ou sair para comer em um restaurante? O que você quiser — ela
me diz. — É sua escolha e meu deleite.
— Eu te amo por oferecer — eu digo a ela, mordendo meu lábio para
impedir de tremer. — Mas você sabe que ele nunca vai permitir isso.
Claire suspira pesadamente.
— Shan...
— Não — eu imploro baixinho. — Por favor, não diga nada.
Há uma longa pausa antes que ela sussurre:
— Eu não vou.
Eu afundo de alívio.
— Obrigada.
— Estou aqui para você — é tudo que Claire responde em um tom de voz
triste. — Sempre.
13

RASTEJANDO E IMPROVISANDO

JOHNNY

Todos os dias desde que comecei na Tommen, eu me sento exatamente na


mesma mesa de refeitório para o intervalo.
Ficava perto da porta e era composta por uma mesa de banquete de dez
metros, cheia com meus companheiros de equipe e algumas de suas
namoradas.
Eu sempre me sentava na ponta da mesa, de costas para a parede, olhando
para o resto do espaço, de onde eu tinha uma visão cristalina de tudo o que
acontecia ao meu redor.
Eu gostava porque eu tinha espaço para respirar e não ter garotas me
apalpando e tocando minhas costas a cada quinze segundos.
Como sempre, Gibs e Feely sentam-se à minha frente, e Hughie senta-se à
minha direita.
A diferença hoje era que tanto Hughie quanto Feely estavam em detenção,
e Gibsie estava fazendo cara feia para mim.
— Você poderia parar de olhar para ela por cinco malditos minutos e
fingir que está me ouvindo? — Gibsie sussurra. — Sério, cara. — Jogando
seu sanduíche na mesa do almoço, ele joga as mãos para cima em frustração.
— Está ficando assustador, e você está me fazendo perder a fome.
— Eu não estou fazendo nada. — Eu resmungo enquanto me recosto na
cadeira e giro minha garrafa de água entre as mãos distraidamente.
Shannon estava sentada no lado oposto do refeitório com suas duas
amigas, sorrindo e rindo de algo que a irmãzinha de Hughie estava dizendo.
Seu cabelo estava preso em duas longas tranças descansando em seus
pequenos ombros, e toda vez que ela enrolava uma dessas tranças em torno
de seu dedo, eu tinha que reprimir um gemido.
Sério, eu estava sentado aqui pelos últimos vinte e cinco minutos, sem
ouvir uma palavra que Gibsie estava dizendo, porque eu estava muito
ocupado assistindo uma garota que claramente não queria nada comigo.
Durante todo o fim de semana, Shannon esteve no fundo da minha mente
– ok, foi o ponto principal.
Passei dias meditando sobre sua reação a mim no campo na sexta-feira, e
como ela se apressou para se afastar de mim.
Quando ela passou por mim no corredor esta manhã depois da primeira
aula, eu me senti muito animado por vê-la.
Claro, ela sorriu timidamente antes de abaixar a cabeça e passar correndo
por mim, mas ela estava aqui.
Ela estava no meu espaço.
O que significava que minha atenção e meus pensamentos estavam
fixados apenas nela.
E eu odiei isso pra caralho.
Eu a queria, percebi isso, e era totalmente um azar inapropriado e
horrendo da minha parte, mas eu quero.
Eu quero Shannon Lynch.
E pior do que desejá-la, eu realmente gosto dela.
Ela tem algo doce a seu respeito, e eu gosto de como eu me sinto quando
estou perto dela.
Eu gosto da sua aparência, do jeito que ela fala, do jeito que ela se porta.
Eu gosto de um monte de coisas sobre ela e, curiosamente, o fato de
gostar dela não tinha nada a ver com o que estava sob suas roupas.
Bem, isso não era completamente verdade.
Eu pensava muito no que encontraria por baixo das roupas dela e gostava
muito dessas visões.
Mas era mais que isso.
Era tudo mais quando se tratava dela.
Mas eu não estava em posição de dedicar tempo a uma garota, e passar
tempo com essa em particular poderia me colocar em um mundo de
problemas.
Eu sabia como as coisas funcionavam; passe muito tempo com uma garota
e os sentimentos surgem, e onde os sentimentos surgem, as merdas surgem.
Era uma borda perigosa para se equilibrar.
Uma que eu não estou disposto a pisar.
— Não, você não está fazendo nada — Gibsie fala sarcasticamente, se
mexendo em seu assento para que ele estivesse bloqueando minha perfeita
visão dela. — Você está apenas a despindo mentalmente na sua cabeça.
— Eu não estou. — eu rosno, olhando para ele do outro lado da mesa.
Eu estava.
Eu fodidamente estava.
Cristo, eu era tão óbvio?
— Sim, você é tão óbvio — Gibsie afirma, claramente lendo meus
pensamentos. — E eu vou te dizer quem mais é óbvio — acrescenta,
gesticulando com o polegar para a nossa direita. — Aquela vadia malvada.
Eu não precisava olhar para saber que ele estava falando sobre Bella.
Ela estava sentada na extremidade oposta da nossa mesa com alguns dos
rapazes da equipe do sexto ano, onde ela passou a maior parte do almoço
tentando me irritar.
Não funcionaria.
Eu não estava caindo nessa.
— Ignore ela — abrindo minha garrafa, eu tomo um grande gole de água.
— Ela não vale o incômodo.
— Cara, eu sei que estou me repetindo, mas eu honestamente não sei
como você a tocou — ele geme.
— Nem eu — eu admito, enquanto eu coloco minha garrafa de volta na
mesa e volto a olhar para Shannon.
Ele se recosta na cadeira e arqueia uma sobrancelha.
— Você deveria ir até lá e falar com ela.
— Com Bella? — Eu faço uma careta. — Não, porra, obrigado.
— Não aquele demônio — Gibsie responde com uma careta. — Shannon.
Eu balanço minha cabeça.
— Não.
— Ela nunca foi beijada, sabe — Gibsie afirma com indiferença. — Ou
pelo menos ela não tinha sido. — Ele me dá um olhar aguçado. — Você não
tem enfiado a língua na garganta dela, tem?
— Não — eu sussurro.
— Ok, então — ele medita. — Ela ainda nunca foi beijada.
Eu faço uma careta para ele.
— Como você sabe disso?
— Eu escuto com atenção — ele ri, batendo em sua têmpora.
— O quê?
— Eu ouvi as garotas falando sobre isso no quarto de Claire um tempo
atrás — ele admite. — Aquela víbora que Pierce está ficando estava falando
sobre o quão terrível ele é, e veio à tona que Shannon nunca beijou um cara.
— Franzindo a testa, ele acrescenta: — A víbora realmente não gosta de
mim.
— Jesus Cristo — eu murmuro — Você está ouvindo do lado de fora do
quarto da garota agora?
Quando ele não nega, eu balanço minha cabeça.
— Você tem um problema, Gibs. Um grande problema.
— Só é um problema se você admitir isso — ele responde com um sorriso
conhecedor. — Não é assim que funciona, Johnny?
— Não enche meu saco — eu rosno, sabendo exatamente onde ele queria
chegar.
— Vá em frente, Johnny. Apenas vá até lá e fale com ela — ele encoraja.
— Você consegue.
— Não, Gibs — eu digo. — Deixa para lá.
— Por que não? — ele exige em um tom exasperado.
— Porque eu não quero — eu rebato.
— Mentiroso.
— Sabe de uma coisa? Para um cara que se chama de meu melhor amigo,
você está fazendo um trabalho de merda. — Eu rosno. — Eu te disse que
não irei atrás daquela garota. Eu te disse que ela é muito jovem para mim.
— Você é o único que não consegue parar de olhar para ela — ele fala.
— Bem, me diga para parar — eu jogo de volta. — Não me diga para ir
até lá.
— Eu disse para você parar — Gibsie sibila, parecendo exasperado. —
Tipo dois minutos atrás. Eu disse para você parar de olhar para ela como um
esquisito, e ainda assim aqui está você, ainda fodendo ela com os olhos, e
ainda parecendo como se alguém tivesse comido o seu pedaço de bolo que
guardou na geladeira — Ele jogou as mãos para cima. — O que eu devo
fazer com você?
— Você deveria se lembrar que eu sou o idiota que quase morreu esta
manhã sendo seu passageiro para sua prática — eu resmungo. — Então, em
vez de me encorajar a fazer más escolhas, por que você não tenta me apoiar
pelo menos uma vez?
— Eu sou um bom motorista
Reviro os olhos.
— Você é um risco.
— E eu não sou nada além de alguém que te apoia — ele bufa
dramaticamente. — Eu sou seu torcedor número um, Johnny Kavanagh. —
Inclinando-se para trás em seu assento, ele cruza os braços sobre o peito e
me dá um olhar aguçado. — Você realmente feriu meus sentimentos agora.
— Eu feri seus sentimentos? — Eu levanto uma sobrancelha. — Quem
está sendo uma vadia com uma vagina agora?
— Peça desculpas — ele ordena.
— Cai fora daqui, seu idiota — eu rio.
Ele olha de volta para mim.
— Diga que sente muito.
— Pelo o quê?
— Por ferir meus sentimentos — ele funga. — Agora peça desculpas.
— Desculpe, Gibs — eu acalmo, decidindo que era mais fácil dar ao
grande idiota o que ele queria.
— Você poderia querer dizer isso — ele argumenta.
— Você poderia aprender a não abusar da sorte — aviso.
Trocamos um olhar de quinze segundos até que ele sorri e diz:
— Eu aceito suas desculpas.
— Bom — eu murmuro. — Estou feliz por você.
— E já que você parece precisar de tanto apoio esses dias — Empurrando
a cadeira para trás, Gibsie se levanta e pisca para mim. — Eu vou falar com
ela para você.
— Não se atreva, porra — Faço uma pausa para agarrá-lo, mas ele
escorregou do meu aperto e se vai. — Gibs!
— Relaxe, Kav, eu consigo — ele me diz enquanto fazia um grande show
ao ajustar sua gravata da escola. Balançando as sobrancelhas, ele acrescenta:
— Veja como se faz.
E então ele caminha até a mesa das meninas e se senta.
Puta que pariu...
Meus pés estão se movendo antes que meu bom senso tivesse a chance de
me tirar da borda que eu estou prestes a pisar fora.
14

LICENÇAS PROVISÓRIAS

SHANNON

Eu podia sentir os olhos de Johnny no meu rosto do outro lado do refeitório


na segunda-feira.
Como a stalker que eu era, eu sabia exatamente onde ele se sentava para
almoçar todos os dias: o último assento no final da mesa glorificada de
rúgbi, na fileira interna, próximo à saída do arco.
Durante todo o almoço, eu obedientemente ignoro a sensação de
queimação em minhas bochechas, a mesma queimadura que eu podia sentir
até os dedos dos pés, e me concentro em Claire e Lizzie.
Porque eu sabia o que aconteceria se eu olhasse para ele.
Eu me entregaria, e ele não precisava saber o quanto me afetava.
Ele me confundiu na sexta-feira passada e estava me confundindo de
novo.
Por que ele estava me observando?
Por que ele me convidou para aquela festa?
Por que ele faz meu coração disparar tão violentamente?
Eu não entendia o que estava acontecendo aqui, e na tempestade de
minhas emoções turbulentas, eu precisava manter alguma aparência de
controle.
Não foi fácil, porém, e esse controle foi arrancado do meu aperto oscilante
no momento em que Gibsie caminha até a nossa mesa, com o cabelo loiro e
um grande sorriso.
— Senhoritas — ele reconhece naquele tom de paquera que eu me
acostumei com ele usando enquanto ele se senta do outro lado de Claire. —
Como estamos hoje?
— O que você quer, Gerard? — Claire geme, escapando de seu aperto
quando ele passa o braço em volta do ombro dela. — Estamos tentando
comer aqui.
— Eu tenho algo para te mostrar — ele diz a ela, as sobrancelhas
balançando.
— Eu não estou olhando para o seu pênis — Claire sibila. — Então pare
de tentar mostrar isso para mim.
— Não isso — Gibsie bufa e então puxa um molho de chaves do bolso e
balança na cara de Claire. — Isso.
— Oh meu Deus — Claire engasga, pegando as chaves de suas mãos. —
Seus pais lhe deram o carro mais cedo? Achei que você não receberia as
chaves até o fim de semana?
— Eles cederam — ele diz a ela, sorrindo. — O que significa...
— Um maníaco foi solto nas estradas irlandesas? — Lizzie intervém.
— Jesus — Gibsie murmura, franzindo a testa para Lizzie. — Você é um
poço de risadas.
Lizzie apenas lhe mostra o dedo do meio e volta a almoçar.
Balançando a cabeça, Gibsie volta sua atenção para Claire.
— Tem mais — ele anuncia, dando a ela sua única atenção. — Eles foram
para Tenerife. — Ele balança as sobrancelhas. — Até segunda.
— Eles deixaram você por conta própria? — Claire exige. — Você?
— E você sabe o que isso significa, não é? — Ele pisca de volta para ela.
— Festa do pijama.
— Seus pais deixaram você responsável pela casa deles? — ela repete,
parecendo chocada.
Ele sorri e pega a maçã da mão dela.
— Eles deixaram.
— Por uma semana inteira? — Claire balança a cabeça, a boca aberta. —
Sozinho? Sem supervisão.
Seu sorriso se alarga quando ele joga a maçã no ar.
— Você parece surpresa — acrescenta ele, pegando a maçã sem esforço.
Intrigada com a interação deles, me encosto na mesa e observo com
interesse.
— Porque eu estou — Claire balbucia, olhando para ele. — Eles
conhecem você?
— Obviamente não — ele bufa. — Agora vá para casa e arrume suas
coisas. — Ele balança as sobrancelhas antes de dar uma mordida na maçã de
Claire. — Porque você está registrada para se hospedar no Hotel Gibson
durante a semana — acrescenta ele no meio da mastigação. — Tempos
divertidos.
— Oh sério? — Claire se recosta na cadeira e sorri. — E o Hotel Gibson
vem com boas avaliações?
— Ele vem com um pau, Claire-Ursinha — Gibsie anuncia, e nada
silencioso. — Um suprimento ilimitado de um pau cinco estrelas.
— Diga mais alto — ela sussurra, batendo em seu ombro. — Eu não acho
que todo mundo ouviu você.
— Ele vem com um pau, Claire! — ele zomba, aceitando seu desafio sem
um pingo de vergonha. — Meu pau.
— Foda-se seu pau — Claire rosna, parecendo mortificada.
— Claro que você pode fodê-lo — ele assente com um sorriso. — Mas
aqui não é realmente o lugar.
— Eu não sei por que sou sua amiga — Claire murmura, as bochechas
queimando. — Você é tão inapropriado.
— Você é minha amiga porque você me ama — ele ronrona — Porque eu
sou o único que faz suas bochechas ficarem rosa, — ele fez uma pausa e
acaricia sua bochecha com o dedo — em mais de um tom.
— Quando eu tinha onze anos, Gerard — ela retruca. — E foi um beijo
horrível!
— Estou pronto para repetir a performance — ele disse a ela. — Diga a
palavra, Claire-Ursinha, me diga que você está pronta para nós, e eu sou
todo seu...
— Você pode parar de fazer isso! — Lizzie ladra então, olhando para
Gibsie.
— Fazer o quê?
— Foder com os sentimentos dela — ela bufa. — Não é um jogo!
— Lizzie, está tudo bem — Claire começa a dizer, mas Lizzie a corta.
— Não está tudo bem — ela retruca. — Ele faz isso desde que tínhamos
quatro anos. É errado!
— Eu não estou brincando com os sentimentos dela — Gibsie responde,
parecendo confuso. — Ela sabe que eu a amo.
Claire fica vermelha como beterraba, fazendo Lizzie rosnar.
— Sim, idiota — Lizzie sibila. — Você a ama muito, não é? É por isso
que você está transando com metade da escola, não é?
— Qual é o seu problema? — Gibsie rosna, a encarando agora.
— Você — Lizzie retruca. — Você e seus amigos idiotas pensando que
vocês são a última bolacha do pacote. Andam por aí brincando com as
garotas como se fosse um grande jogo. Vocês são todos nojentos. Cada um
de vocês, caras do rúgbi.
Gibsie fica boquiaberto para ela, parecendo ofendido.
— O que Johnny fez contra você?
— Sim — uma voz familiar pergunta. — O que eu fiz?
Meu coração disparou no meu peito ao som daquele sotaque
dolorosamente familiar de Dublin.
O sotaque se destaca de todos ao nosso redor, assim como ele se destacou
de todos ao nosso redor.
— Você é tão ruim quanto o resto deles — Lizzie sussurra, sem perder o
ritmo, enquanto ela vira seu olhar furioso para Johnny, que para meu
detrimento, estava puxando a cadeira ao meu lado. — Pior. Você é o líder
deles.
— Bem, isso é novidade para mim — retruca Johnny calmamente.
Ele se senta ao meu lado e eu sinto o pedaço de pão que eu estava
mastigando se encaixar no céu da minha boca.
Engolindo, eu olho para ele, com os olhos arregalados e confusos.
Ele sorri para mim.
— Oi, Shannon.
— Oi, Johnny — eu sussurro, olhando para ele, sentindo como se meu
coração estivesse a dois segundos de estourar no meu peito.
— Como você está? — ele pergunta, a voz profunda, olhos azuis
queimando buracos nos meus.
— Eu estou bem — eu respiro. — Como você está?
Ele sorriu.
— Eu estou bem.
Droga, havia essa palavra de novo...
— Você teve um bom fim de semana?
— Uh, estava tudo bem. — Eu me sinto corar. — Você teve?
— Passei a maior parte treinando. — Ele sorri. — O mesmo de sempre.
Eu balanço a cabeça, realmente não entendendo nada do que estava
acontecendo aqui.
— C–como foi a festa?
— Eu não fiquei muito tempo. — Johnny apoia o cotovelo na mesa, vira o
corpo para dentro e me dá toda a atenção. — Eu só fui mostrar meu rosto na
verdade.
— Por quê? — Eu respiro, queimando por estar tão perto dele.
— Compromissos de treinamento — ele explica, batendo seus longos
dedos contra a mesa, olhos azuis fixos nos meus. — Eu tento evitar festas
durante a temporada...
— Jesus, não você também — Lizzie rosna. — Já é ruim o bastante o que
o Thor ali está fazendo merda com a Claire sem você mexer com a Shannon.
Johnny volta seus olhos azuis para Lizzie.
— Como?
— Você me ouviu — ela responde.
— Eu não posso falar com ela? — ele questiona, arqueando uma
sobrancelha. — Você não gosta de compartilhar suas amigas?
— Você sabe o que está fazendo — Lizzie retruca desafiadoramente.
— Você está certo, Gibs — Johnny medita com um pequeno aceno de
cabeça. Inclinando-se para trás em sua cadeira, ele acrescenta: — Pierce é
um maldito santo.
— Total respeito — Gibsie atira de volta, descansando o braço em volta
da cadeira de Claire.
— Ugh — Lizzie zomba, dando a Johnny e Gibsie um olhar de nojo. —
Eu odeio todos vocês.
— Quando você diz todos, isso se aplica apenas a nós — Gibsie
gesticulou de si mesmo e para Johnny, — Ou todos os homens?
— Você acima de tudo, seu grande e idiota louro, com sua cabeça em
forma de uma bola de rúgbi — Lizzie retruca. Empurrando a cadeira para
trás, ela se levanta e lança um olhar para Johnny. — E você está em segundo
lugar, Capitão Fantástico, por não ter um melhor controle sobre esse pau.
Dito isso, Lizzie se vira e sai do refeitório.
— Uau — Gibsie suspira quando ela se vai. — Aquela garota me odeia
seriamente.
— Ela odeia todo mundo — Claire responde, acariciando seu braço
suavemente. — Não leve para o lado pessoal.
— É verdade — eu decido oferecer. — Ela só gosta de, tipo, duas pessoas.
— Exatamente — Claire concorda. — Realmente não é nada pessoal.
Lizzie é apenas protetora conosco.
— Sim, bem, eu não tenho uma cabeça em forma de bola rúgbi — Gibsie
resmungou. Ele olhou para Johnny. — Tenho?
— Não, Gibs — Johnny suspira. — Sua cabeça não tem a forma de uma
bola de rúgbi.
— Sério? — Ele toca sua cabeça conscientemente. — Porque eu pesava
uns seis quilos quando nasci, e minha mãe está sempre reclamando com as
amigas sobre como eu a estraguei com minha cabeça grande.
— É uma cabeça perfeitamente normal, Gibs — Johnny persuadiu. —
Muito circular.
— Não muito grande?
— Você cresceu para isso — ele assegura. — Cabe bem em você agora.
Incapaz de me conter, eu rio ao ver Johnny confortando Gibsie.
— Você está rindo do meu infortúnio de novo, Pequena Shannon? —
Gibsie retruca com um sorriso de lobo. — Vá em frente e tire isso do seu
sistema.
Dou de ombros impotente, ainda sorrindo.
Ele era tão incomum e divertido.
— Agora, de volta aos negócios — Gibsie continua, recostando-se na
cadeira. — O que você quer ver esta noite?
Claire franze a testa.
— Esta noite?
— Nós vamos ao cinema — ele afirma com um sorriso diabólico.
— Nós quem? — Johnny morde, tenso ao meu lado.
Gibsie circulou o dedo em torno de nós quatro.
Minha boca se abre.
— Huh?
— A loba também pode vir — ele diz para Claire. — Se você prometer
colocar uma focinheira nela.
— Gibs — Johnny diz em tom de advertência, balançando a cabeça.
— Vamos lá, rapaz — Gibsie responde. — Você pode perder uma sessão
por uma noite, eu preciso de um co-piloto até que eu esteja confortável
dirigindo sozinho. — Virando-se para olhar para mim, ele diz: — O que
você diz, Pequena Shannon?
Olho para Claire, que estava olhando para mim com uma confusão
espelhada, e depois para Johnny, que parecia estar com algum tipo de dor
física, antes de me decidir por olhar para Gibsie.
Diga sim, Shannon.
Vá com eles.
Você quer ir.
Você realmente quer.
Mas ele vai te matar.
Você é uma garota morta se ele descobrir.
Eu balanço minha cabeça e resmungo:
— Eu não posso.
— Você não pode? — Gibsie franze a testa. — Por que não?
— Porque eu... não... é — Balançando minha cabeça, eu exalei uma
respiração irregular. — Eu não...
— Ela não pode ir, Gibs — Johnny intervém agradecido. — Largue isso.
— Mas...
— Deixa para lá!
O sinal toca então, sinalizando o fim do almoço, e Johnny fica de pé.
— Vamos, idiota — ele rosna, olhando para Gibsie. — Temos coisas para
resolver.
— Eu passo na sua casa por volta das sete? — Gibsie pergunta a Claire.
— Isso dá para você?
Claire assente alegremente.
Ele lhe dá um sorriso enorme antes de se levantar e bagunçar seus cachos.
— Vejo você então, Claire-Ursinha.
Meu olhar encontra seu caminho de volta para Johnny, que estava de pé na
beirada da mesa com uma expressão estrondosa gravada em seu rosto.
— Tchau, Johnny — eu digo a ele em voz baixa.
Suas feições se suavizam instantaneamente quando ele olha para mim e
sorri.
— Tchau, Shannon.
— Bem, essa foi a coisa mais estranha que aconteceu em um tempo —
Claire anuncia quando os meninos vão embora.
— Sim — eu respiro. — Muito estranha.
15

PAUSAS PARA O BANHEIRO E PROPOSTAS

SHANNON

Quando as pessoas dizem que algo é bom demais para ser verdade,
geralmente é.
É exatamente assim que me sinto quando saio do banheiro na terça-feira
no fim de tarde depois da escola e colido com um peito duro.
Surpresa ao encontrar alguém parado do lado de fora do banheiro quando
o sinal final já tinha tocado há muito tempo, solto um pequeno grito.
— Como vai, Shannon? — um garoto loiro, vagamente familiar, pergunta
sorrindo para mim.
Os corredores estavam relativamente vazios, com apenas alguns alunos
vagando pelos corredores, levando-me a acreditar que ele estava esperando
aqui por mim.
Afinal, o banheiro das meninas era um local incomum para um garoto
ficar do lado de fora, especialmente um vestido com uma camisa, shorts e
chuteiras.
Pânico misturado com uma grande dose de cautela queima para a vida
dentro de mim.
— Hum, tudo bem — eu respondo, colocando e depois recolocando meu
cabelo atrás da orelha, um traço de nervosismo. — Como você está?
— Melhor agora que eu estou falando com você — ele anuncia,
confirmando meu pior pesadelo, enquanto se aproximava, as solas de suas
botas batendo contra o chão.
— Você estava esperando aqui por mim? — Eu me forço a perguntar,
precisando da confirmação oral. Não me pergunte por que, mas eu precisava
esclarecer a loucura. — No seu, — eu gesticulo para o seu traje — uniforme
de educação física?
— Eu estava treinando e esqueci meu protetor bucal no meu armário —
explica, nem um pouco envergonhado por nada disso. — Eu vi você indo
para o banheiro quando eu estava indo para o meu armário, então pensei em
esperar para falar com você. — Dando de ombros como se sua explicação
sem sentido fosse perfeitamente aceitável, ele acrescenta: — A propósito,
sou Ronan. Ronan McGarry. Temos aula de francês juntos.
Seu tom era amigável, mas eu sabia que não devia ser enganada.
Amigável pode se transformar em valentão em um milissegundo.
— Sim, eu sei. — Dando um passo para trás para recuperar meu espaço
pessoal, acrescento: — Bem, foi legal da sua parte vir dizer oi, mas eu tenho
que pegar meu ônibus. Ele sai em breve e o motorista não vai esperar...
— Eu vi você no campo naquele dia, Shannon — ele ronrona, a voz baixa,
os olhos brilhando de excitação. — É sobre isso que eu queria falar com
você. — Ele dá mais um passo em minha direção, invadindo meu espaço
mais uma vez. — De calcinha? Aquelas pernas de matar... eu vi você
todinha.
Meu coração afunda.
Cada músculo do meu corpo trava com pavor.
Era isso.
O que eu estava esperando.
A provocação inevitável.
Eu estava vagamente ciente de Ronan McGarry, tendo sentado na frente
dele na aula de francês nas últimas semanas, mas eu não tinha percebido que
ele estava no time de rúgbi.
Eu não tinha notado ele em campo na semana passada, mas então, eu não
tinha notado ninguém além de Johnny naquele dia.
Eu acho que fazia sentido, porém, com o uniforme lamacento que ele
estava usando e a bochecha machucada.
Mas eu não tinha nada para dizer a ele, então mantenho minha boca
fechada e espero que ele fale.
Ele iria.
Eles sempre falam.
— E eu tenho que ser honesto, Shannon. — Ele estende a mão e puxa
minha trança com a mão manchada de lama, não com força, foi de uma
forma mais brincalhona, mas eu não gostei do puxão. — Eu não fui capaz de
parar de pensar em você desde então.
Finja indiferença, Shannon.
Finja que não se importa.
Dando um passo para o lado para libertar meu cabelo de suas mãos, eu
afasto suas palavras com um pequeno encolher de ombros e reajusto minha
bolsa em meus ombros.
Ele me encara por um longo tempo, os olhos dançando de excitação, antes
de dizer:
— Você é uma coisinha tímida, não é?
— Não — eu respondo, a voz baixa, e era a verdade.
Eu não era tímida.
Eu podia ser tão franca e tagarela quanto qualquer um quando estava com
pessoas em quem confiava.
Mas eu era cautelosa.
Eu tinha uma boa razão de ser.
E eu não confiava nele.
— Bem, tímida ou não, você é fodidamente linda sob essas roupas. — Ele
afirma humildemente, mordendo seu lábio inferior enquanto seus olhos
vagavam descaradamente pelo meu corpo. — Eu realmente adoraria ter o
seu número.
Minha boca se abre.
Ele estava falando sério?
Olho boquiaberta para seu rosto, tentando avaliá-lo.
Ele parecia completamente sério.
— Eu, ah, eu, não... — Balançando a cabeça, eu evito por pouco sua mão
mais uma vez quando ele tenta puxar minha trança novamente. — Desculpe,
Ronan, mas eu não dou meu número para estranhos.
A última coisa que eu queria fazer era dar a alguém, além de Claire e
Lizzie, meu número de telefone.
Dar minhas informações significava que os valentões tinham uma linha
direta com minha mente 24 horas por dia, 7 dias por semana.
E embora eu tivesse cometido esse erro uma vez na minha antiga escola,
um novo número de telefone e os resquícios ardentes de sabedoria
conquistada com muito esforço significavam que eu nunca faria isso
novamente.
Ronan zomba.
— Eu não sou um estranho.
— Você é para mim — eu respondo, forçando-me a ficar forte.
— Vamos, Shannon, eu não mordo. — Ele continua a sorrir para mim,
mas era mais duro, seus olhos um pouco mais frios agora. — Apenas me dê
seu número.
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Desculpe, mas eu não te conheço
bem o suficiente para te dar o meu número.
— Você sempre pode me conhecer — ele ronrona, colocando uma mão
firme no meu ombro.
Mesmo que eu não pudesse sentir seu toque através do meu casaco de
inverno grosso, imediatamente recuo do contato, mas ele não move a mão.
— Eu tenho um ônibus para pegar — eu engasgo com as palavras,
repetindo o que foi dito anteriormente. Meus ombros estavam mais rígidos
do que concreto quando acrescento: — Preciso ir agora ou vou perder. — Eu
estava me agarrando à areia movediça, mas eu queria ficar longe desse
garoto. — Sério, o motorista não vai esperar por mim.
— Haverá outro ônibus — ele atira de volta. — Não haverá outro eu.
Querido Deus, eu esperava que não.
— Ouça — Ronan pressiona, o tom assumindo um tom de paquera. — Eu
deveria estar em uma conversa pós-treino com a equipe em campo. O
treinador gosta de nos reunir para conversar sobre estratégia após os treinos.
Ele me diz isso como se realmente pensasse que eu me importava.
Eu não me importo.
Eu só me importava com ele se afastando de mim.
— Mas eu não tenho que ir. — Sua mão foi do meu ombro ao meu
cotovelo. — Eu pude dispensar isso por você. — Sua mão se move para
baixo, traçando a bainha da minha saia. — O que você me diz? — ele
pergunta, inclinando-se no meu ouvido. — Gostaria de voltar para aquele
banheiro e me conhecer um pouco melhor?
— Não — eu rebato, me afastando de seu toque. — Não estou interessada.
— Vamos, Shannon — ele retruca, o tom aquecido agora, os olhos
brilhando com frustração. — Olhe em volta. — Ele aperta a mão no meu
ombro novamente, não gentilmente desta vez. — Ninguém vai nos ver...
Ronan não tem a chance de terminar essa declaração quando foi carregado
– literalmente arrastado pela nuca por um garoto muito maior, muito mais
velho.
— Você é um filho da puta com desejo de morrer, não é? — o garoto
estava dizendo em um tom estranhamente leve enquanto perambulava pelo
corredor com sua mão enorme segurando a nuca de Ronan, forçando-o a se
dobrar e cambalear para acompanhar seus passos largos.
Ele estava vestido com o mesmo traje; uma camisa listrada em preto e
branco, shorts brancos e tênis que faziam barulhos no chão enquanto ele
andava, torrões de lama e grama caindo do calçado.
O único contraste era um número 9 nas costas da camisa de Ronan e um
número 7 no grandalhão.
O reconhecimento imediato me atinge.
Número 7.
Gerard ‘Gibsie’ Gibson.
A paixão de Claire.
O passeador de gatos.
O estranho.
Graças a Deus!
Os alunos ainda vagando no corredor param o que estavam fazendo para
assistir ao drama, mas ninguém intervém.
Nenhuma pessoa intervém em nome de Ronan enquanto o homem/garoto
gigante e louro o conduz pelo corredor.
— Me larga, Gibsie — Ronan estava gritando, tentando e falhando em se
libertar do controle monstruoso do homem. — Eu só estava brincando.
— Você sabe que ele vai te matar, não é? — Gibsie pergunta, com um tom
de humor, enquanto ele levava Ronan até a entrada da frente e então o
jogava cerimoniosamente para fora das portas duplas de vidro.
— Gibsie! — Ronan está gritando, com o rosto vermelho, enquanto lutava
com a maçaneta da porta. — Pare de brincar. Eu só estava sendo amigável
com ela.
— Isso não soou amigável, garoto — Gibsie provocou. — Isso soou
desesperado, e um pouco como um estuprador.
Agora mesmo, os dois garotos estavam empurrando; com Ronan tentando
furiosamente abrir a porta e Gibsie fechando-a com razoável facilidade.
— Deixe-me entrar, Gibsie! — Ronan ruge, puxando a maçaneta como
um lunático. Era um sistema de empurrar e puxar e ele não estava
conseguindo empurrar para dentro. — Eu preciso do meu inalador.
— Não, nem tente essa merda comigo, McGarry — Gibsie grita com uma
risada, segurando a porta fechada quando Ronan tenta a maçaneta. — Você
conhecia as regras, e você não tem asma.
— E daí? — Ronan exige, parecendo indignado. — Você só vai me
trancar fora da escola porque ele proibiu?
O que?
— Absolutamente.
O que diabos eles estavam falando?
— Ele não é meu capitão! — Ronan rosna, pressionando a testa no vidro.
Eu estava tão confusa.
— Ah, mas ele é — Gibsie respondeu, ainda rindo, e eu tinha certeza que
ele estava achando a situação muito divertida. — E cachorros que não
podem se comportar perto da nova amiga do Capi ficam do lado de fora.
— Você vai pagar por isso, Gibs — Ronan sibila. — Juro por Deus, se
você não me deixar entrar, vou contar ao meu tio sobre isso.
— É mesmo?
— Você será expulso do time por isso.
— Pela ameaça, eu vou foder sua mãe, McGarry — Gibsie retruca. — E
então eu vou gozar entre os seios dela, e ela vai adorar cada minuto disso. —
Com outra risada, ele diz: — Vá e conte ao tio-treinador tudo sobre o que eu
planejei com sua irmã.
— Eu vou te matar! — Ronan grita, batendo os punhos contra o vidro.
— Chupa meu pau…
— O que está acontecendo? — uma voz masculina familiar ressoa no ar.
O reconhecimento imediatamente me percorre.
Eu conheço aquele sotaque.
Sem uma decisão consciente, meus olhos procuram desesperadamente o
dono da voz, e quando eu o encontro, caminhando rigidamente para fora do
refeitório, segurando uma bolsa de gelo em sua coxa direita, meu coração
bate descontroladamente contra minhas costelas.
Parado a uns bons seis metros de distância, eu estava em desvantagem
visual, mas estava perto o suficiente para ver como cada centímetro da parte
superior do corpo de Johnny se forçava contra o confinamento de sua
camisa, dos ombros largos aos bíceps do tamanho de um tronco de árvore,
um tronco longo e magro.
Suas pernas eram longas, suas coxas grossas e musculosas, todas cobertas
de grama e lama. Noto o pequeno rasgo na manga de sua camisa, onde seu
bíceps está saliente.
Senhor, ele estava literalmente explodindo para fora do tecido.
Ele estava vestido de forma idêntica aos outros meninos, com a mesma
camisa e shorts, mas era incomparavelmente diferente por causa do tamanho
de seu corpo.
Ele era quase grande demais.
Muito musculoso.
Muito assustador.
Muito bonito.
Muito.
Balançando a cabeça para limpar meus pensamentos errantes, concentrei-
me na discussão acalorada que ocorria no final do corredor.
— O que o pequeno idiota fez agora? — Johnny exige enquanto fechava o
espaço entre ele e Gibsie.
Eu mentalmente noto que ele estava andando com um leve mancar que eu
observei em inúmeras ocasiões.
Era quase imperceptível, mas se você olhasse bem de perto, como eu
sempre fazia, ficava claro que ele tentava manter o peso na perna direita.
Meu olhar dança entre os três; passando de Ronan, que não estava mais
puxando a maçaneta – na verdade, ele se afastou alguns passos da porta –
para Gibsie que estava sorrindo como um gato Cheshire, antes de pousar e
ficar em Johnny.
Sério, tão alto quanto Gibsie era, Johnny se elevava sobre ele.
Havia uma mancha de lama seca em sua bochecha que ele tenta limpar
com as costas da mão livre.
Seu cabelo castanho escuro estava espetado em quarenta direções
diferentes.
Provavelmente de suor, noto mentalmente, ou jogando lá fora na chuva.
Ele estava de tal forma que eu podia ver seu perfil lateral e a forma como
sua carranca se aprofunda enquanto Gibsie fala baixinho em seu ouvido.
Eu não conseguia entender o que eles estavam dizendo e não estava
disposta a deixar o santuário do meu canto do lado de fora do banheiro,
sabendo que sempre poderia entrar e me trancar em um cubículo do banheiro
e ligar para Joey se isso ficasse feio.
Segundos depois, o corpo de Johnny fica visivelmente tenso.
— O quê?
Jogando a bolsa de gelo no chão, suas mãos se fecharam em punhos ao
lado do corpo enquanto ele se virava para encarar o vidro, revelando o
número 13 nas costas.
Ele deu um passo à frente, parando perto da porta quando Gibsie colocou
a mão em seu ombro.
— Você só pode estar de brincadeira comigo! — ele ruge, reagindo ao que
quer que seu amigo tivesse sussurrado em seu ouvido.
A cabeça de Johnny vira na direção de Ronan antes de se virar
rapidamente para mim.
Seus olhos pousam no meu rosto e caramba, ele parece lívido.
Foi apenas um olhar fugaz e ele rapidamente volta sua atenção para
Ronan.
Desta vez eu podia ouvir claramente o que ele estava dizendo.
— Eu vou te dar uma vantagem de cinco segundos, seu cara de pau — ele
ruge através do painel de vidro. — E então eu vou cortar seu pau e te fazer
comer.
— Vai se foder, Kavanagh — Ronan grita de volta, mas seu rosto estava
muito mais pálido do que antes. — Você não pode me tocar.
— Um — Johnny late. — Dois, três, quatro...
— O que você está esperando? — Gibsie grita, acenando com as mãos no
ar de forma encorajadora. — Vá em frente, Forrest7.
Eles realmente iriam brigar?
Por mim?
Isso era realmente sobre mim?
Não poderia ser.
Eles nem me conheciam.
Sem chance.
Eu não gostava de confronto, não conseguia lidar com isso, e isso com
certeza parecia que estava prestes a virar uma bola de neve.
Decidindo me distrair da situação, eu me viro e corro para o banheiro, não
parando até que eu estivesse em segurança em uma das cabines com a porta
trancada atrás de mim.
Com as mãos trêmulas, empurro minha bolsa dos meus ombros,
permitindo que ela batesse no chão de ladrilhos.
Caindo no vaso sanitário fechado, me inclino para frente, descanso os
cotovelos nos joelhos e enterro as mãos no cabelo, cambaleando.
O que diabos aconteceu?
O que foi isso?
O que eu teria feito se Gerard ou Gibsie, ou qualquer que fosse o nome
dele, não tivesse vindo?
Onde eu estaria agora?
Quando minha adrenalina anterior diminui, lágrimas escorrem pelo meu
rosto, mas não era porque eu estava chateada.
Ok, sim, eu estava chateada, mas minhas lágrimas eram de raiva.
Eu estava irritada na verdade.
Quem diabos Ronan McGarry pensava que era?
Mas, quem ele pensava que eu era?
Me convidando para ir para o banheiro com ele.
Deus, ele parecia realmente esperar que eu dissesse sim.
Piscando para afastar minhas lágrimas, eu cerro e depois abro meus
punhos, joelhos batendo enquanto raiva e humilhação me percorrem.
Eu odiava humanos.
Eles eram uma decepção.
E pensar que Deus trocou os dinossauros pelo homem.
Ele deve estar furioso.
Esfregando a mão no meu rosto, eu rapidamente limpo minhas bochechas
úmidas e luto para controlar minhas emoções.
Eu fiquei irritada comigo mesmo por ser o tipo de pessoa que chora
quando está com raiva.
Eu queria ser alguém que grita.
Alguém que grita era muito melhor do que uma chorona.
Eu estava com nojo de mim mesma por congelar também.
Ele não tinha o direito de colocar as mãos em mim e eu não fiz nada para
impedi-lo.
As palavras não pareciam suficientes para aquele garoto, e em vez de
chutá-lo no saco ou dar um tapa em sua mão, eu me calei como sempre fiz.
Eu deveria ter aprendido agora que ser uma molenga não me fazia
nenhum favor, e não revidar também não era uma opção.
Em situações como a que acabou de acontecer, eu tinha que lutar.
Eu precisava parar de deixar o medo tomar conta de mim.
Eu tinha o direito de me defender.
Não era fazer tempestade em um copo d’água para me defender.
Eu sabia disso, mas o problema era que, toda vez que enfrentava um
confronto ou crise, meu corpo – e minha mente – sempre reagem com o
mesmo instinto quebrado: congelar.
As pessoas falam sobre o instinto de luta ou fuga.
Eu não tinha nenhum.
Em vez de lutar ou fugir, congelo.
Cada maldita vez.
Arrastando em algumas respirações firmes, eu exalo uma longa e
lentamente, me esforçando para estabilizar meus nervos e batimentos
cardíacos irregulares.
Leva três tentativas de apertar minha mão antes que eu tivesse a
coordenação para desabotoar com sucesso os botões superiores do meu
casaco e recuperar meu telefone do bolso da minha camisa sob meu suéter.
Tremendo, desbloqueio a tela apenas para liberar uma nova onda de
pânico em minha corrente sanguínea quando meus olhos pousam no relógio
digital no topo da tela.
Eram 17h47.
Meu ônibus sai em ponto às dezessete e meia.
Eu tinha perdido.
Não haveria outro passando pela rota que eu precisava até as 21h45 desta
noite.
— Merda — eu sussurro, rolando rapidamente em minhas listas de
contatos para encontrar o nome do meu irmão.
Pressionando chamada, seguro o telefone no ouvido, mas em vez do típico
som de campainha que vinha ao fazer uma chamada, fui recebida com a voz
robótica pré-gravada, informando-me de que não tinha crédito suficiente
para fazer esta ligação.
— Droga!
Gemendo, rapidamente digito o código que me permitia enviar uma
mensagem de texto gratuita de “me ligue” para Joey.
Quando não obtenho uma resposta imediata, mando outra, e depois
mandei mais três para completar.
Mamãe estava no trabalho e não queria ligar para ela, e eu preferia dormir
aqui neste banheiro do que chamar meu pai para vir me buscar – não que ele
viesse se eu pedisse.
Trinta minutos depois e eu tinha enviado pelo menos mais vinte
mensagens gratuitas de “me ligue” para o meu irmão, mas sem sucesso.
Ele obviamente não tinha seu telefone com ele, ou está para o modo
silencioso.
Minha aposta era que estava no modo silencioso, já que Joey raramente
saía de casa sem ele. Ele provavelmente esqueceu de tirá-lo do modo
silencioso quando saiu da escola.
Eu não sabia mais o que fazer além de esperar na escola até o próximo
ônibus chegar.
Eu sabia que a escola permanecia aberta até tarde para programas pós-
escolares e aulas particulares.
Tecnicamente, nunca fechava, considerando que também era um internato,
mas a área principal ficava aberta até pelo menos 21h.
Meu estômago ronca alto, quebrando o silêncio.
Verificando a hora novamente, noto que agora eram 18h18.
Eu tinha aquelas fatias de pão escondidas na minha lancheira.
Eu poderia ir fazer torradas na área comum enquanto esperava.
Eu estaria em sérios apuros quando chegasse em casa, mas não havia
nenhuma maneira na terra dada por Deus que eu iria caminhar os vinte e
quatro quilômetros para casa.
A caminhada, eu tinha certeza que aguentaria.
Era quem eu poderia encontrar na caminhada que me incomodava.
Me levantando, coloco meu telefone de volta no bolso da camisa, ajeito os
botões do meu casaco, pego minha bolsa e saio da cabine, parando para lavar
as mãos antes de sair da santidade do banheiro.
Eu pressiono meu ouvido na porta e escuto por um longo momento.
Quando nenhum som de violência e gritos vem do outro lado, abro a porta
e saio.
Como um caso horrível de déjà vu, saio do banheiro e vou direto para um
peito duro de músculos.
16

MANTENHA SUAS MÃOS LONGE

JOHNNY

Minha virilha estava em chamas e meu corpo estava fervendo com uma
raiva mal contida.
Levar uma bota na minha virilha enquanto estou no fundo de um
amontoado durante o treinamento não era minha ideia de uma sessão de
treino produtiva.
Levei uns sólidos cinco minutos respirando pelo nariz enquanto eu estava
deitado no campo antes que eu pudesse confiar no conteúdo do meu
estômago para ficar lá e me levantar.
Resistindo à reação natural de mutilar e matar o culpado, que por acaso
era um Hughie de aparência envergonhada, largo os últimos cinco minutos
de treinamento em favor de ir em busca de uma bolsa de gelo.
Tínhamos a final da liga chegando e meus companheiros idiotas iam me
eliminar antes mesmo de chegarmos lá.
Soltar o final de semana passado foi muito bom, e o escudo foi uma bela
vitória para o time, mas minha visão estava voltada para a taça e a deles
também precisava estar – aparentemente não, no entanto, se o treino lento de
ontem e desempenho desleixado esta noite era qualquer coisa para se passar.
Eu estava saindo do refeitório com um saco de gelo amarrado ao meu saco
e outro pressionado na minha coxa quando a voz de Gibsie ressoa no ar
seguida pela voz irritante de Ronan McGarry.
— O que o pequeno idiota fez agora? — Eu ladro quando eles entraram
em foco, de pé em ambos os lados da porta de entrada de vidro.
— Não perca a cabeça — diz Gibsie em um tom baixo. — Eu tenho tudo
sob controle.
— O quê? — eu exijo.
Gibsie solta um suspiro.
— Ele estava assediando a Shannon fora dos banheiros. — Ele esfregou o
rosto com a mão. — Tentando levá-la ao banheiro com ele.
Meu corpo inteiro fica tenso quando uma névoa vermelha e nebulosa
turva a minha visão.
Eu estava irritado como o inferno com Gibsie sobre a façanha que ele fez
no almoço ontem, mas agora, eu estou grato por sua intromissão.
Jogando a bolsa de gelo no chão, olho pela janela e rosno:
— Você está brincando comigo!
— Não. Ele foi um pouco merda com ela também — Gibsie acrescenta,
olhando pelo vidro para McGarry. — Aparentemente, McGarry tem um
problema com sua audição porque a garota claramente disse não.
Minhas pernas estavam se movendo antes que meu cérebro tivesse a
chance de acompanhar.
Eu o avisei.
Eu avisei aquele merdinha para deixá-la em paz.
Eu ia matar aquele filho da puta.
— Não — Gibsie avisa quando agarra meu ombro e me puxa de volta. —
Ela está bem ali, cara.
Eu me viro para encontrar uma Shannon de olhos arregalados olhando
para mim.
Ela parecia aterrorizada.
— Pelo amor de Deus — eu gemo, me virando rapidamente para não ver
o medo em seus grandes olhos azuis.
Durante todo o dia, eu estava tentando o meu melhor para manter
distância, mas a porra do McGarry tinha acabado de ferrar com isso.
Eu o odiava.
Era uma palavra forte, mas precisa ao avaliar meus sentimentos em
relação ao idiota.
Eu o avisei para ficar longe dela, e ele foi e fez isso de qualquer maneira.
Talvez uma vez que eu usasse meus punhos em vez de minhas palavras,
ele me levasse a sério.
Se não o fizesse, teríamos um problema ainda maior.
Me voltando para Ronan, eu assobio:
— Vou te dar uma vantagem de cinco segundos, seu cara de pau, e então
vou cortar seu pau e te fazer comer.
— Vai se foder, Kavanagh — McGarry cospe. — Você não pode me tocar.
— Um — eu rosno, agarrando a maçaneta da porta. — Dois, três, quatro...
— O que você está esperando? — Gibs ri, fazendo gestos de enxotar com
as mãos. — Vá em frente, Forrest.
— Cinco — eu rosno, em seguida, abro a porta.
McGarry dispara como um cachorro escaldado, correndo em alta
velocidade.
Ele pode se mover tão rápido quanto suas pernas podem levá-lo e ele
ainda não conseguiria me ultrapassar.
Ferido ou não, eu era uma maldita bala.
— Sinto muito — ele ruge por cima do ombro enquanto corria no pátio.
— Pare, me desculpe! Eu não vou chegar perto dela novamente.
— Um pouco tarde demais, idiota — eu atiro de volta, aproximando-me
dele.
Estendendo a mão, agarro a parte de trás de sua camisa e o puxo para uma
parada abrupta.
— Saia de cima de mim — ele sussurra, resistindo contra o meu aperto.
— Vem cá, seu merdinha — eu ladro enquanto o arrasto escada acima
para o salão de educação física.
— Pare ele — Ronan grita para Gibsie que tinha nos seguido. — Gibs,
vamos lá, cara.
— Grandes chances de isso acontecer, garoto — Gibsie responde. — Ao
contrário de sua bunda estúpida, não sou suicida e não tenho intenção de me
colocar na linha de fogo.
Entrando no corredor, marcho pelo corredor e bato a palma da mão contra
a porta do vestiário, abrindo-a.
A equipe estava toda dentro da sala e se vira para olhar para nós.
— Oh, pelo amor de Deus — Hughie geme, nos observando entrar com
um olhar resignado em seu rosto. — O que ele fez agora?
— Ele quebrou as regras — Gibsie ri. — O menino vai encontrar Jesus.
— E nós estávamos indo tão bem — Feely suspira.
— Ah, Johnny? — Cormac Ryan murmura, coçando sua mandíbula. —
Você não deveria estar fazendo isso com o sobrinho do treinador...
— Fique feliz que não é você, seu merda — Eu rosno, mantendo um
aperto mortal em McGarry enquanto o arrastava para os chuveiros.
— Pare ele! — Ronan exige. — Caras, me ajudem!
Ninguém se mexe.
Bom.
Esses rapazes tinham lealdade.
— Acha que você pode colocar suas mãos sobre ela? — Eu assobio
quando estamos nos chuveiros e longe da equipe. Soltando seu pescoço, eu o
empurro contra a parede. — Hein?
— Eu só estava brincando com ela — ele rosna, empurrando a parede. —
Foi uma brincadeira. Cristo, relaxe.
— Eu pareço relaxado para você? — Dou um passo em direção a ele. —
Eu estou rindo, idiota?
— Para trás — adverte McGarry, levantando os punhos na frente dele. —
Eu quero dizer isso, Kavanagh. Volte para o inferno.
— Belas palavras — eu rosno, indo em direção a ele. — Pena que você
não sabe o significado delas.
Ele dá um soco em mim e conseguiu pegar o lado da minha mandíbula.
Movimento perigoso.
— Seu insolente, filho da puta. — Fecho o espaço entre nós, agarro sua
cabeça e enterro minha cabeça na ponte de seu nariz.
Um ruído de trituração extremamente satisfatório enche meus ouvidos.
O fluxo constante de sangue escorrendo por seu rosto faz pouco para
saciar a fúria queimando dentro de mim.
— Ahhh, Cristo! — Ronan ruge, caindo no chão, apertando o nariz. —
Acho que você quebrou meu nariz, Johnny.
— Seu nariz vai curar depois de um tempo. — Agarrando sua camisa, eu
o arrasto para um chuveiro, bato minha mão contra torneira, e observo
enquanto a água gelada caí sobre ele. — Mas sua coluna não. —
Agachando-me na frente dele, seguro seu rosto sob a água. — E isso é
exatamente o que eu vou esmagar se você olhar para ela de novo.
— Eu só estava falando com ela — ele estrangula, com o rosto vermelho.
— Cristo.
— Bem, não fale com ela! — Eu cuspo, olhando para seu fodido rosto
estúpido. — Não olhe para ela, e não a toque, porra. Ela não é para você. —
Com grande esforço, me forço a soltá-lo e recuar. — Estamos claros desta
vez?
— Como cristal. — McGarry murmura baixinho.
— É melhor você falar sério desta vez, garoto — eu digo em um tom de
advertência. — Porque se você me pressionar nisso, eu vou te matar.
— Eu falei — ele resmunga. — Puta merda.
Lanço a Ronan um último olhar mortal antes de voltar para o vestiário.
Sem surpresa, Gibsie está empoleirado no banco com um sorriso de
comedor de merda gravado em seu rosto.
— Ele está vivo?
— Por enquanto — eu falo.
Tirando minhas chuteiras de futebol, pego um par de moletom da minha
bolsa e o visto por cima do meu short.
Eu poderia tomar banho quando chegasse em casa.
Agora, eu precisava dar o fora deste lugar antes que eu explodisse uma
junta da cabeça.
Havia muitos idiotas na minha proximidade, McGarry e Ryan para ser
preciso, e eu não confiava em mim mesmo.
Ironicamente, a letra da música Stuck in the Middle vem à minha mente.
Afastando o pensamento, concentro-me em arrumar minha bolsa.
Quando eu tinha tudo arrumado na minha bolsa de equipamentos, saio do
vestiário sem dizer uma palavra aos meus companheiros de equipe.
Felizmente, Gibsie não me segue.
Eu tinha minha bolsa no banco de trás do meu carro e estava contornando
o lado do motorista quando uma súbita pontada de incerteza me atinge no
estômago.
Ela estava bem?
Devo voltar e ver como ela está?
Não, ela provavelmente foi para casa.
Eu deveria ir para casa.
Mas e se ela não foi?
Você não tem tempo para isso, idiota, meu cérebro sussurra, você tem uma
sessão de fisioterapia em uma hora.
Balançando a cabeça, abro a porta do carro apenas para fechá-la
rapidamente e voltar para a escola.
Você só vai ver como ela está, ter certeza que ela está bem, e então dar o
fora daí, eu digo a mim mesma enquanto caminhava pela escola até o
banheiro feminino. Não há nada de errado com isso.
Mas havia.
Havia algo seriamente errado com esta imagem.
Eu estava do lado de fora do banheiro feminino, esperando uma garota,
que talvez não estivesse lá para começar, sair.
Eu era tão ruim quanto McGarry.
Desgostoso comigo mesmo, me viro para sair.
Eu ando um metro e meio antes de refazer meus passos de volta para o
maldito banheiro.
O que diabos havia de errado comigo?
Eu estava imerso em pensamentos, travando uma batalha interna com
minha consciência, quando a porta do banheiro se abre e um pequeno fiapo
de uma garota sai correndo e bate direto no meu peito.
No minuto em que meus olhos pousam nela, eu sabia que estava em
apuros.
Você deveria ter ido para casa enquanto podia, idiota, minha mente
sibila, não há como sair agora.
Não era essa a verdade?
17

VOCÊ TEM UM CARRO RÁPIDO

SHANNON

Meu corpo bate em um peito duro e musculoso, fazendo minha mochila cair
no chão com o impacto.
Instintivamente, minhas mãos disparam na frente do meu rosto, o modo de
autopreservação ativado.
Se eu não estivesse tão assustada, teria ficado orgulhosa do grito que rasga
do meu peito.
Foi um progresso.
Duas grandes mãos disparam, capturando meus membros agitados e me
firmando.
— Ei, ei, relaxe. — Eu reconheço a sugestão de um sotaque de Dublin
imediatamente. — Shh, relaxe. Sou só eu.
Caindo de alívio, olho para o rosto dele, registrando a familiaridade.
— Oh Deus. — Minhas palavras saem em um suspiro agudo, enquanto eu
olho para ele, respirando com dificuldade e rápido. — Você quase me deu
um ataque cardíaco.
— Merda, desculpe por isso. — Johnny me solta e dá um passo para trás,
estendendo as mãos à sua frente. — Você ficou tanto tempo no banheiro que
pensei que precisaria chamar uma equipe de resgate ou algo assim.
Ele dá outro passo para trás, então segura a nuca com a mão, parecendo
um pouco desconfortável.
Ele ainda estava vestindo a mesma camisa com as mangas levemente
rasgadas no bíceps, mas havia trocado seu short por uma calça de moletom
cinza e chuteiras por um par de tênis de corrida.
— Eu só queria verificar se você estava bem. — Dando de ombros, ele
deixa cair as mãos para os lados e pergunta: — Você está?
Eu estava?
— Eu acho que sim? — Meu coração estava batendo a 160 quilômetros
por hora e eu me sentia como se estivesse a dois segundos de desmaiar por
causa da adrenalina que corria em minhas veias.
Pressionando a mão no meu peito, respiro fundo algumas vezes para
acalmar meus nervos esgotados antes que eu pudesse falar.
Ele é tão mais alto do que eu que tive que inclinar a cabeça para trás para
poder olhar para o rosto dele quando pergunto:
— Você estava me esperando aqui?
— Ah, sim. — Enfiando as mãos grandes nos bolsos do moletom, Johnny
assente. — Eu queria ter certeza de que você estava bem. Gibsie me contou
o que ele disse a você.
— Ele contou?
— Sim. — Johnny assenti sombriamente. — Aquele filho da puta não vai
incomodá-la novamente.
— Ronan?
Ele acena com a cabeça, o maxilar trincando.
— Ouça, eu preciso que você confie em mim quando eu disser que aquela
pequena cena com McGarry tinha mais a ver comigo do que com você. —
Ele se mexe desconfortavelmente e passa a mão pelo cabelo desgrenhado. —
Ele gosta de ultrapassar os limites, o meu mais do que da maioria.
Ultrapassar os limites?
Mais a ver com ele?
— Oh. — Eu não tinha certeza do que dizer sobre isso.
Eu estava tão confusa.
— Obrigada — acrescento, porque agradecer a ele parecia a coisa certa a
fazer.
— Sem problemas.
— Você, uh, o pegou? — Eu pergunto, então imediatamente me arrependo
da minha pergunta.
Por que eu estava conversando com ele?
Essa era a minha deixa para sair.
Por que eu não estava saindo?
E por que meu coração não parava de tentar sair do meu peito?
Isso ia acontecer toda vez que eu esbarrasse nele?
Se assim for, eu precisava obter uma receita médica.
— Ronan — eu esclareço, cavando um buraco mais fundo. — Você estava
contando até cinco.
— Como eu disse — Johnny responde, mandíbula apertada — Ele não vai
incomodá-la novamente.
Meus olhos se arregalam.
— Você não o matou, não é?
Ele solta uma risada.
— Não, Shannon, eu não o matei.
— Oh, tudo bem. — Eu solto um suspiro pesado. — Isso é bom.
Ele inclina a cabeça para um lado, uma expressão curiosa, voz suave.
— É?
— Bem, eu–eu, sim — eu engasgo. — Acho que é sempre bom evitar
uma acusação de assassinato.
— Eu acho que isso é verdade — ele responde com um sorriso.
— Bem, eu estou, ah, bem — eu digo, o tom um pouco tenso. —
Obrigada por me checar.
Ele arqueia uma sobrancelha escura.
— Tem certeza disso?
— Sim.
— Bom.
— Bom.
Ele não faz nenhum movimento para se afastar e, estranhamente, nem eu.
Nós dois ficamos ali, a poucos metros de distância, com ele olhando para
mim, e eu olhando de volta para ele.
Era difícil explicar o que estava acontecendo, mas quase parecia que ele
estava memorizando minha aparência.
Pelo menos, era isso que eu estava fazendo.
Seus olhos azuis-escuros estavam no meu rosto, movendo-se dos meus
olhos para os meus lábios, e de volta para cima novamente.
Ele estava me encarando abertamente e não fez nenhuma tentativa de ser
discreto sobre isso.
Era desconcertante e emocionante ao mesmo tempo.
Meu telefone vibra contra meu peito então, me assustando, e felizmente
me dando um alívio muito necessário da estranha tensão que nos envolvia.
Desabotoando meu casaco, tiro meu telefone do bolso, olho para o nome
de Joey piscando na tela e rapidamente aperto em aceitar.
— Shannon! O que está acontecendo? — meu irmão exige na linha. —
Você está bem? Aconteceu alguma coisa — sua voz quebra e ele rosna na
linha —, se um daqueles bastardos esnobes fez algo com você, eu vou perder
minha...
— Eu estou bem — eu solto, interrompendo-o no meio do discurso. — Eu
estou bem. Se acalme.
Meus olhos se voltam para Johnny, que ainda estava lá, me observando
com um olhar pensativo.
— Perdi meu ônibus — continuo a dizer, virando as costas para ele para
ganhar alguma compostura muito necessária. — E o próximo não é até
quinze para às dez da noite — eu explico rapidamente, mantendo minha voz
baixa e silenciosa. — Já está escuro e eu não quero andar no caso… — Eu
me paro antes de terminar essa frase, então me apresso para perguntar: —
Você está com Aoife? Vocês podem vir me buscar?
Joey tinha carteira de motorista, mas não tinha carro.
A namorada dele, que ainda estava com uma carteira provisória, tinha um
Opel Corsa de quatorze anos.
Era velho e lento, mas funcionava.
Joey era o motorista nomeado em seu seguro e co-piloto na maioria dos
dias, e eu sabia que ela permitia que ele pegasse emprestado sempre que
quisesse.
— Estou realmente presa, Joe — acrescento, a voz baixa. — Eu não
pediria a você se não estivesse desesperada.
— Ah merda, Shan. Estou trabalhando até as nove — Joey resmunga. —
Fui chamado para cobrir um dos rapazes, e Aoife trabalha até às dez e meia
às terças-feiras, então ela tem o carro. Você tentou a mamãe?
— Ela está trabalhando no turno da tarde — eu murmuro. — E eu não vou
ligar para o papai.
— Não! Jesus, não ligue para ele — Joey concorda, tom duro. Ele suspira
pesadamente na linha e diz: — Olha, desligue e me dê alguns minutos. Vou
ligar para alguns dos rapazes, ver se alguém pode pegá-la. Eu ligo de volta
em alguns minutos.
— Não, não faça isso — eu interrompo rapidamente, o pensamento de
entrar em um carro com um de seus amigos, que por mais tolerantes que
fossem comigo, não era um conceito atraente. — A escola fica aberta até
tarde. Posso esperar aqui até meu ônibus chegar.
Um toque suave no meu ombro desvia minha atenção do meu telefonema.
Girando ao redor, eu olho para cima e cruzo os olhos com Johnny.
— Eu posso te levar para casa — ele diz, olhos azuis fixos nos meus.
— Huh? — Eu abro minha boca, mas nada além de um resmungo sai.
— Meu carro está estacionado lá fora. — Ele inclina a cabeça para a
entrada. — Eu posso te levar para casa.
— Eu, uh, eu... — Balançando a cabeça, respiro fundo e tento novamente.
— Não, não, tudo bem. Você não tem que fazer isso.
— Eu sei que não preciso — ele responde lentamente. — Estou
oferecendo.
— Fazer o que? — Joey late na linha. — Shan? O que está acontecendo?
Com quem você está falando?
— Ah, ah, é apenas esse cara da escola — eu explico, o rosto queimando
com calor.
Johnny arqueia uma sobrancelha.
Eu fico rosa-brilhante.
Minha reação traz um sorriso para seus lábios carnudos.
— Cara? — meu irmão exige, chamando minha atenção de volta para o
nosso telefonema. — Que cara?
— Apenas um cara que eu conheço. — Mordendo o lábio inferior, olho
para Johnny e digo: — Honestamente, está tudo bem. Você não precisa me
levar para casa.
— Espere – quem está te levando para casa, Shannon? — Joey late na
linha, me distraindo mais uma vez. — Por que você está falando com caras
com idade suficiente para te dar carona para casa? Você tem quinze anos!
— Eu sei que idade eu tenho, Joey — eu retruco, com os nervos em
frangalhos. — Olha, relaxa. — Pressionando a palma da mão na testa, eu
digo: — Vou esperar aqui até que meu ônibus chegue.
— Coloque-o no telefone — Joey ordena.
— O quê? — Eu fico boquiaberta. — Quem?
— O rapaz que é apenas um cara que você conhece com um carro — ele
cospe, jogando minhas palavras de volta para mim.
Eu recuo.
— Por quê?
— Porque eu quero falar com ele — Joey responde impacientemente.
Olho para Johnny que estava olhando para mim com expectativa.
Abaixando meu olhar, eu sussurro:
— Por que você quer falar com ele?
— Porque eu quero falar com o filho da puta que se ofereceu para levar
minha irmãzinha para casa em seu carro, é por isso.
Soltando um suspiro impaciente, Johnny pigarreia e estende a mão.
Olho para sua mão e pisco em confusão.
— Me dá seu telefone — ele instrui calmamente.
— Meu telefone?
— Sim. — Johnny assenti. — Seu telefone.
Quando não faço nenhum movimento para entregá-lo, Johnny tira-o da
minha mão e o pressiona contra a orelha.
— Ei, aqui é Johnny — disse ele na linha, segurando meu telefone de
merda em seu ouvido. — Sim, eu conheço sua irmã — Ele faz uma pausa
antes de dizer — Kavanagh – sim, sou eu. — Outra pausa se segue antes que
ele assente. — Obrigado. Foi um desempenho forte em todos os aspectos.
Mortificada, estendo a mão e tento pegar meu telefone, mas ele era muito
alto.
Segurando uma mão entre nós para me manter afastada, Johnny continua a
falar – com meu irmão.
— Provavelmente — diz ele ao telefone. — Sim, é uma jogada arriscada.
Não, os ingressos não estarão à venda para a temporada de verão até maio...
Sim, vou ver o que posso fazer. Mas apenas jogos em casa... Legal.
O quê?
Sério, o quê ?
Confusa não começa a explicar como eu estava me sentindo neste
momento.
— Estou bem ciente — diz Johnny em um tom seco, obviamente
respondendo a algo que Joey estava dizendo. — Não, eu não... Nós somos,
uh, sim, somos amigos... obviamente... uma carteira definitiva... sim... —
Seu olhar piscou para o meu rosto. — Dezessete... eu sei disso... sim, eu
entendo... eu sei a diferença... eu não vou. — Johnny diz antes de encerrar a
ligação e segurar meu telefone para mim.
— O que acabou de acontecer? — Eu recuo, olhando para a tela preta do
meu telefone. — O que ele disse para você?
Johnny dá de ombros, mas não responde minha pergunta.
Em vez disso, ele se abaixa e pega minha mochila da escola.
— Vamos. — Jogando minha bolsa por cima do ombro, ele pressiona a
mão nas minhas costas e me empurra para frente. — O irmão mais velho me
deu permissão para te levar para casa.
— E a sua mochila da escola? — Eu solto, notando que ele estava apenas
carregando a minha.
— Está no carro — ele responde, continuando a me guiar em direção à
porta. — Vamos lá.
Como um cordeiro para o matadouro, vou com ele, sabendo que era uma
ideia terrível, mas incapaz de impedir que meus pés se movessem.
Havia apenas um punhado de alunos nos corredores, mas juro que sinto
cada um de seus olhares enquanto caminhava em direção à porta da frente
com Johnny.
Johnny abre a porta de vidro e espera que eu saía antes de me seguir.
Eu não tinha ideia do que fazer – ou dizer para esse assunto.
Eu estava tão longe da minha zona de conforto que mal conseguia
funcionar.
Eu me sinto um pouco tonta para ser honesta.
Caminhamos lado a lado em silêncio pelo pátio e descemos a alameda em
direção ao estacionamento estudantil.
Embora hoje fosse primeiro de março e o segundo mês da primavera na
Irlanda, estava escuro lá fora, sem mencionar o frio congelante.
Eu não era fã de ficar do lado de fora no escuro, e me vejo grudada nele.
Causador da concussão ou não, alguma parte do meu cérebro me diz que
eu estava segura com esse garoto.
Essa foi provavelmente a parte que sofreu concussão falando.
— Ele não machucou você, machucou? — Johnny pergunta, quebrando o
silêncio quando entramos no estacionamento.
— O quê? — Viro o rosto para olhá-lo. — Não, não, eu estou bem.
— Você tem certeza? — Ele estava olhando para frente, então eu faço o
mesmo, me sentindo muito exposta ao redor dele. — Ele não colocou as
mãos em você?
— Tenho certeza. — Deslizando minhas mãos nos bolsos do meu casaco,
mantenho meu olhar na fila de carros à frente. — Estou bem.
Johnny fica tenso e o movimento faz seu braço esfregar contra o meu.
— Você sabe, você pode me dizer se ele colocou. — Ele enfia a mão no
bolso e pega um molho de chaves. — Você não precisa ter medo.
— Ele não colocou.
— Ok, bom — ele murmura, apertando um botão em uma chave de carro
preta e lustrosa. Luzes piscaram de um veículo próximo e ele nos guia em
direção a ele. — Este é meu.
— Uau — eu murmuro quando eu estou perto o suficiente para ver o
impressionante carro. — Você tem um Audi?
— Eu gosto — ele concorda, abrindo uma das portas traseiras.
— É seu?
— Por que mais eu estaria dirigindo?
Eu me encolho.
— Eu pensei que poderia pertencer a seus pais ou algo assim.
— Não, é meu — ele responde. — Meus pais têm seus próprios carros.
— Oh — eu respiro, boquiaberta com admiração.
Por causa da escuridão, eu não consigo descrever se o carro era preto ou
azul-marinho, mas Deus Todo-Poderoso, escuridão ou não, eu poderia
facilmente dizer que era chique.
E novo.
E rápido.
E caro.
Não é à toa que ele não queria os €65 de volta.
— É um A3? — Eu pergunto, maravilhada.
— Sim — Johnny responde, jogando minha bolsa no banco de trás, onde
se junta a outra mochila e várias outras mochilas, todas com emblemas de
clubes diferentes.
Eu podia localizar uma bolsa esportiva a um quilômetro e meio de
distância, tendo passado a maior parte da minha vida caindo sobre elas.
Eu também estava dolorosamente ciente do fedor de adolescente que
vinha de uma daquelas mochilas. Era semelhante ao fedor que exalava do
quarto de Joey; um odor distinto composto de uma combinação de suor, sexo
e homem.
Espiando por cima do ombro, ignoro o fedor de garoto e me maravilho
com o interior de couro.
— Você gosta de carros ou algo assim? — ele pergunta, virando a cabeça
bem a tempo de me pegar bisbilhotando por cima de seu ombro.
— Na verdade, não. — Dou um passo para trás e dou de ombros, sentindo
uma onda de calor inundar meu rosto e um caminhão inteiro de alívio por ter
sido pega verificando seu carro e não sua bunda naquelas calças.
Porque eu tinha verificado isso também.
Foi difícil não.
Era redonda e firme e...
— Mas meu irmão Joey é, então eu conheço muitos tipos por ouvi-lo —
eu me apresso para explicar e me distrair de meus pensamentos perigosos.
— É um carro rápido.
— Sim, é bastante decente por enquanto.
— Por enquanto?
Assentindo, Johnny fecha a porta traseira e me dá um sorriso rápido antes
de abrir a porta do passageiro da frente.
— Ah, merda — ele resmunga, olhando em desânimo. — Desculpe por
isso. Eu não estava planejando ter ninguém aqui.
Meus olhos observaram a carnificina absoluta que era seu banco da frente.
Puta merda.
Era uma bagunça completa.
— Eu posso sentar na parte de trás se for mais fácil para você? — Eu
ofereço, não querendo incomodá-lo mais do que eu já estava.
— O que… não — Johnny murmura, coçando o queixo. — Apenas me dê
um segundo.
Mergulhando no carro, ele pega um braço cheio de garrafas vazias, meias,
recipientes de plástico, pacotes de goma de mascar, latas de desodorante e
toalhas, e joga-os sobre o encosto do banco.
Ele teve que repetir esse ciclo mais três vezes, jogando o lixo do banco da
frente para o de trás, antes que o espaço ficasse livre – parando no meio do
caminho para embolsar uma carteira preta na qual ele me informou que
estava procurando por isso.
Finalmente, quando ele terminou com a limpeza improvisada, ele sai de
volta, sorrindo timidamente.
— Eu acho que estamos bem agora.
Eu sorrio.
— Obrigada novamente por se oferecer para me deixar em casa.
— Não tem problema — ele responde. — Acho que ainda devo a você
pela cabeça quebrada, hein?
— Você não quebrou — eu sou rápida em esclarecer. — Você apenas
bateu no meu cérebro um pouco.
Johnny faz uma careta.
— Eu meio que fiz, não é?
— Bem — eu medito. — São 24 quilômetros até minha casa. Então, entre
o dinheiro, a ameaça de cortar o pênis de Ronan e a volta para casa, acho que
estamos quites.
— Ele não está na sua turma, está? — Johnny solta um suspiro frustrado.
— Porque isso também pode ser resolvido.
— Nós só temos uma aula juntos duas vezes por semana — eu explico.
A proporção entre homens e mulheres no terceiro ano era fortemente
desequilibrada, com oitenta meninos e apenas cinco meninas.
Todas as cinco meninas foram colocadas na mesma classe, 3A.
Felizmente para mim, Ronan McGarry estava em 3D, então, com exceção
de algumas aulas mistas durante a semana, eu não tenho que olhar para ele.
— Ele nunca falou uma palavra comigo até esta tarde — acrescento.
— Bem, se ele te incomodar, me avise — Johnny rosna. — E eu vou
consertar isso.
— Você vai consertar isso? — eu questiono. — Você faz parecer que está
na máfia ou algo assim.
Johnny solta uma gargalhada e segura a porta aberta, gesticulando com a
mão.
— Vamos, Shannon como o rio. Entre no meu carro.
Ele foi tão inesperado, e eu estava tão distraída por ele, que não senti
nenhuma hesitação.
Eu apenas entro e aperto meu cinto de segurança, observando enquanto
ele fecha minha porta e corre pela frente do carro para o seu lado.
Não é até que ele esteja sentado no banco do motorista ao meu lado com
as portas fechadas, que eu sinto meu batimento cardíaco aumentar e minha
habitual onda de ansiedade se agitar.
— Cristo, está congelando — anuncia Johnny, esfregando as mãos antes
de ligar o motor.
Ele estava certo.
Estava congelando aqui.
— É tarde para pegar um ônibus — ele acrescenta, acendendo a luz no
teto. — As aulas terminam às quatro.
— Sim, eu sei. — Junto minhas mãos, meu corpo inteiro em um feixe de
nervos. — Mas o ônibus meia-cinco é o único que passa pela minha estrada.
— Isso é péssimo.
— Não é tão ruim — eu respondo, ajustando meu cinto de segurança. —
Eu geralmente consigo fazer a maior parte do meu dever de casa antes de
sair da escola à noite.
Um pequeno arrepio me percorre então, ao qual Johnny responde
automaticamente:
— Você está com frio?
Alcançando o aquecedor, ele o liga no máximo, então volta a esfregar as
mãos e tremer.
— Não deve demorar muito para derreter. — acrescenta, apontando para a
fina camada de gelo no pára-brisa.
— Eu estou bem, mas você provavelmente deveria colocar um casaco. —
Eu afirmo, olhando para seus braços nus. — Ou pelo menos um moletom.
Está tipo 2 graus lá fora. Você vai acabar ficando doente.
— Nah, estou acostumado com isso — ele me diz. — Passo a maior parte
de cada inverno em um campo em meio à chuva.
— Jogando rúgbi — eu completo pensativa.
— Sim. — Colocando as mãos perto da boca, ele sopra nelas e continua a
esfregar. — Você pratica algum esporte?
— Não. — Eu balancei minha cabeça e apertei um botão no meu casaco.
— Eu gosto de assistir, no entanto.
Inclinando a cabeça para um lado, ele estuda meu rosto.
— Você assiste muito rúgbi?
Eu podia sentir o peso de seu olhar em minhas bochechas.
Elas estavam em chamas.
— Ah, não — eu murmuro. — Quero dizer, eu assisti a uma partida na
semana passada, e assisto à Irlanda no campeonato das Six Nations todos os
anos, e às vezes acompanho o futebol. Mas é principalmente GAA – futebol
gaélico e hurling. — Olho para ele. — Meu irmão, Joey – o cara no
telefone? Ele joga para Cork.
— Não brinca? — As sobrancelhas de Johnny se erguem. — Nível
sênior?
— Não, ele só tem dezoito anos, então só os níveis menores por enquanto
— respondo. — Mas há rumores de que ele será chamado para a equipe
principal na próxima temporada.
— Sabe, agora que penso nisso, o nome Joey Lynch soa familiar — pensa
Johnny. Ele se vira em seu assento para me encarar, expressão cheia de
interesse. — Ele está na BCS, certo? Um hurler8?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — Ele foi um jogador duplo por anos,
como a maioria das pessoas, mas quando foi chamado para o nível do
condado, ele abandonou o futebol.
— Agradável. — Johnny solta um suspiro. Ele parecia impressionado
quando se encosta na porta e diz: — Não é fácil receber uma ligação para o
nível de condado em qualquer lugar, mas especialmente em Cork, onde a
competição é tão acirrada.
— Realmente não é. — Eu mantenho a posição do meu corpo para a
frente, mas viro minha cabeça para olhar para ele. — As pessoas não
entendem o quão incrivelmente difícil é jogar nesse nível e permanecer lá.
Eles assumem que é fácil para os atletas e que são mimados e têm direito,
mas não veem os enormes sacrifícios nos bastidores que são feitos
diariamente por esses caras.
— Você pode marcar isso — ele responde, balançando a cabeça em
concordância.
Apoiando um pé no banco, Johnny engancha o braço em volta do joelho,
descansa o outro braço no volante e me dá toda a sua atenção.
— Seu irmão está segurando esta oportunidade com as duas mãos?
— Acho que sim — respondo, pensando em meu irmão e sua atitude em
relação à vida.
Isso era estranho.
Eu geralmente não era muito de falar.
Não em torno de estranhos, pelo menos.
Não parecia assim em torno dele, no entanto.
Não esta noite, pelo menos.
Eu me senti estranhamente acessível e o interesse de Johnny no que eu
tinha a dizer me encoraja a continuar falando.
Além disso, meu irmão era um assunto seguro.
Todo mundo amava Joey, inclusive eu, e eu estava muito orgulhosa de
suas conquistas.
— Mas ele ainda está na escola, fazendo seu certificado de conclusão este
ano e, há muitas distrações para ele. Nosso pai quer que ele se concentre em
arremessar 24 horas por dia, 7 dias por semana, mas Joe é um cara sociável.
Ele acha difícil dizer não a seus amigos — continuo a divagar e ele continua
a ouvir atentamente o que eu estou dizendo.
“Honestamente, Joey tem talento e habilidade para jogar em qualquer
nível — eu digo com sinceridade, apreciando cada aceno de cabeça que
Johnny faz enquanto eu falo. — É manter a cabeça que é seu maior
problema, e as distrações estão por toda parte. Todo mundo quer um pedaço
de você quando você está aos olhos do público, e Joey tem dificuldade em
manter os pés no chão. — Aceno com a mão desdenhosa no ar enquanto
falo. — Eu acho que é difícil manter os pés no chão quando você é um
adolescente brincando no mundo de homens e colhendo as recompensas por
isso... — Faço uma pausa, exalando um suspiro pesado antes de acrescentar:
— Você sabe como é com as festas, as meninas, o tratamento especial e tudo
mais.”
— Sim — Johnny responde, esfregando o queixo quase distraidamente.
Ele tinha essa expressão estranha gravada em seu rosto enquanto olha para
mim, uma que eu não conseguia descrever. — Eu sei.
— Foi o mesmo com Darren — eu acrescento pensativa, pensando em
como as vidas dos meus irmãos eram semelhantes aos dezoito anos.
As sobrancelhas de Johnny franzem.
— Darren?
Eu coro.
— Ah, ele é meu irmão mais velho. Ele jogou um ano de nível sênior
antes de desistir.
— Não brinca? — As sobrancelhas de Johnny se erguem. — Por que ele
desistiu?
— A pressão? — Eu ofereço fracamente, sem vontade de mergulhar nos
problemas da minha família. — Acho que ele perdeu o ânimo no jogo.
Há uma pausa longa e plena depois disso, onde nenhum de nós fala.
Era inquietante e traz consigo minhas ansiedades anteriores.
— Desculpe — eu murmuro, colocando meu cabelo atrás da minha
orelha. — Eu provavelmente só te aborreci até dormir com tudo isso. —
Manuseando minha trança nervosamente, olho do para-brisa agora sem gelo
para ele antes de dizer: — Eu diria que estamos prontos para ir.
Johnny não faz nenhum movimento para sair.
Em vez disso, ele me surpreende dizendo:
— E você?
— E quanto a mim? — Eu respondo, me sentindo um pouco nervosa.
— Você é uma jogadora habilidosa de camogie? — Ele me lança um
sorriso. — Já que claramente é de sua família.
— Ah, não — eu respondo, ficando vermelho brilhante. —
Definitivamente não. Eu nunca fui boa nisso. Mas eu amo assistir. Eu amo a
fisicalidade do jogo.
Johnny assente, absorvendo tudo o que eu estava dizendo a ele com
perfeita polidez, apenas para me surpreender quando ele diz:
— Acho que você gostaria de rúgbi.
Minhas sobrancelhas se ergueram com a declaração estranha.
— Acho que o que você quis dizer é que posso morrer jogando rúgbi —
corrijo, gesticulando para o meu corpo. — Se você não notou, eu sou meio
pequena.
Um sorriso enorme se espalha por seu rosto, covinhas emergindo.
— Sim, eu notei — ele ri. — Eu quis dizer que acho que você gostaria de
assistir rúgbi. Se você gosta tanto de GAA, você adoraria a fisicalidade do
rúgbi.
— Eu gosto disso — eu o lembro. — Quando a Irlanda está jogando. —
Não que eu tenha a menor ideia do que está acontecendo, pulo a adição.
— E quanto aos times locais? Rúgbi escolar? Times do interior? Já esteve
em algum jogo antes da semana passada?
Ele estava disparando perguntas mais rápido do que eu poderia responder.
Tento lhe responder o melhor que posso.
— Não, não acompanho nenhum time além do time da seleção e nunca
estive em nenhum outro jogo.
Johnny assente novamente, absorvendo tudo o que eu estava dizendo
como se fosse importante.
— Eu jogo — ele finalmente diz.
— Para Tommen. Sim, eu sei — eu brinco. — Eu vi você, e ainda tenho
um galo na cabeça para provar isso.
Johnny faz uma careta.
— Não — ele pressiona, tom estranhamente sério. — Quero dizer, eu
jogo.
Eu olho fixamente de volta para ele.
— Isso é... bom?
Ele solta uma risada impaciente.
— Você não tem ideia do que estou falando, não é?
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Honestamente não.
Ele considera isso por um longo momento antes de assentir.
— Eu gosto disso.
— Você gosta do que?
— Que você não sabe do que estou falando — ele responde sem hesitar.
— É um pouco insultante e muito reconfortante.
— Uh, bem, de nada? — Eu ofereço, sem saber o que dizer sobre isso. —
Então, rúgbi é sua coisa, hein?
Johnny sorri.
— Você poderia dizer que sim.
Eu sinto como se estivesse faltando algo aqui.
— E você é bom?
Eu acho ele bom.
Eu achei que ele foi o melhor na última sexta-feira, mas não fazia ideia do
esporte.
Seu sorriso se alarga, os olhos levemente enrugados, enquanto ele repete
suas palavras anteriores.
— Você poderia dizer que sim.
Ok, eu definitivamente estou por fora de algo.
— Eu vou ficar envergonhada com isso? — Eu perguntei, quebrando meu
cérebro em busca de informações que pudessem me ajudar.
Eu não tinha nenhuma.
Claro, eu sabia que ele era o capitão do time da escola, e aqueles
fotógrafos e repórteres estavam batendo em seus calcanhares, mas imaginei
que isso tinha a ver com ele ser o capitão e o melhor jogador em campo
naquele dia.
No entanto, eu não conseguia afastar a sensação de que estava perdendo
algo.
— Se eu fizer uma pesquisa na internet sobre você, vou descobrir que
você é uma espécie de deus do rúgbi?
Johnny joga a cabeça para trás e ri.
— Não — ele medita. — Eu não sou nenhum deus.
— Então o quê? — eu pressiono.
Com um sorriso pesaroso, Johnny volta o assunto para mim mais uma vez,
dizendo:
— Então, GAA é sua coisa, hein?
— Bem, eu realmente não tenho muita escolha no assunto — eu respondo,
acompanhando sua diversão. — Eu tenho cinco irmãos e um pai fanático por
GAA, então... — Deixo minhas palavras desaparecerem com um pequeno
encolher de ombros.
— Nenhuma irmã?
— Não — eu respondo. — Só eu e os meninos.
— Como é isso para você?
Sua pergunta me surpreende e levo vários momentos para formar uma
resposta.
— Ok, eu acho.
Ninguém nunca tinha me perguntado isso antes.
Nem mesmo meus pais.
— Isso contribui para uma vida doméstica ocupada — acrescento,
sentindo a necessidade de elaborar. — Fica meio louco às vezes.
— Eu aposto.
Passando a mão do volante para a perna que havia plantado no chão,
Johnny começou a passar a mão grande sobre a frente da calça de moletom,
parando para massagear a coxa com os nós dos dedos.
Eu teria ficado super assustada com a mudança se não fosse pelo fato de
que ele parecia estar fazendo isso inconscientemente, como se estivesse
acalmando uma dor.
— Você é próxima? — ele pergunta, me distraindo do meu olhar.
— Próxima? — Pisco rapidamente. — De quem – meus irmãos?
Ele assente.
Eu penso sobre isso por um momento antes de responder.
— Sou próxima de Joey – o que estava no telefone mais cedo. Ele fez
dezoito anos no Natal, então ele é o mais próximo em idade de mim. Darren
não mora em Cork, e os três mais novos têm apenas onze, nove, e três, então
não somos muito próximos.
— Ele é bom para você?
— Quem, Joey?
Ele assente.
— Sim. — Eu sorrio. — Ele é um ótimo irmão.
— Protetor?
Dou de ombros.
— Às vezes.
Johnny assente pensativo antes de dizer:
— Então, você é a filha do meio?
— Sim, eu sou a terceira.
— Isso é um monte de crianças.
— E você? — Eu viro a mesa contra ele. — Alguma irmã ou irmão?
— Não — ele responde com um encolher de ombros. — Eu sou filho
único.
Uau.
— Como é isso?
— Quieto — ele brinca antes de mudar o centro das atenções de volta para
mim mais uma vez. — Você viveu aqui toda a sua vida?
— Sim. Nascida e criada em Ballylaggin — eu confirmo. — Você é de
Dublin, certo? Você se mudou para cá quando tinha onze anos?
Seus olhos brilham.
— Você se lembra de eu te dizer isso?
Eu balanço a cabeça.
— Cristo, você estava tão fora de si naquele dia, eu não achei que você se
lembraria de nada disso — ele responde pensativo, coçando o queixo.
— Mesmo se eu não tivesse, seu sotaque é um sinal óbvio.
— É?
Assentindo, puxo meu sotaque sulista mais chique e digo:
— Eu sou de Blackrock, querida.
Johnny ri da minha tentativa.
— Nem passou perto.
— Deixe-me adivinhar, você gosta de molhar os pés em Sandycove antes
de ir almoçar no pub D4? — Acrescento com uma risadinha e outro sotaque
forçado.
Minhas bochechas queimam.
Deus, eu era tão estranha.
— Não há nada de chique sobre mim, Shannon — Johnny rebate, o
sorriso desaparecendo. — Eu posso vir de uma área decente, mas meus pais
trabalharam duro por tudo o que têm. Eles vieram do nada e construíram.
— Você tem razão.
Ele não parecia nada chique.
Minha tentativa de personificá-lo foi um fracasso épico.
Que idiota...
Envergonhada pela minha piada rara e mal executada, eu brinco com
minha trança e murmuro:
— Desculpe.
— Não se desculpe — ele responde com desdém, sorrindo novamente. —
Agora, minha mãe, por outro lado, tem um forte sotaque do norte.
Meus olhos se iluminam.
— Como em Fair City?
Johnny torce o nariz.
— Você assiste novelas?
— Eu as amo — admito com um sorriso. — Fair City é o meu favorito.
— Bem, se você ouvisse minha mãe, você estaria em seu ambiente — ele
ri, alheio aos seus estranhos movimentos da mão na coxa. — Meu pai nasceu
e foi criado em Ballylaggin. Então, ele é um nativo de Cork como você. —
Dando de ombros, ele acrescenta: — Suponho que eu pareço uma mistura
fodida de ambos.
Ele não parecia.
Ele não tinha um pingo de sotaque de Cork nele, ele era cem por cento
Dublin, mas eu decidi pular isso e perguntar ao invés:
— Por que sua família se mudou para cá?
— A mãe do meu pai estava doente — explica. — Ela queria voltar para
casa, ah, você sabe, então nos mudamos para cuidar dela. — Soltando as
mãos no colo, ele brinca com os polegares. — Era para ser uma coisa
temporária – eu estava matriculado no Royce College para o setembro
seguinte. Devíamos ir para casa depois do funeral.
— Mas vocês não voltaram para Dublin?
Ele balança sua cabeça.
— Não, os meus pais decidiram que gostavam do modo de vida tranquilo
aqui embaixo, então colocaram a casa em Dublin à venda e fizeram da
mudança algo permanente.
— Como foi... se mudar com essa idade?
Eu não tinha ideia de por que eu estava fazendo essas perguntas.
Eu não conseguia me lembrar de ter falado com uma pessoa aleatória por
tanto tempo antes.
Mas isso era bom e Johnny era interessante.
Ele era diferente.
Fico surpresa com o quão fácil realmente é falar com ele.
— Deve ter sido difícil.
— Foi uma dor de cabeça — Johnny murmura, claramente se lembrando.
— Entrar em uma nova escola no meio do ano letivo. Mudar de clube e me
adotar em um novo time. Pegando o lugar de outro cara no time e depois
lidando com a queda. — Ele balançou a cabeça e passou a mão pelo cabelo.
— Eu tive que repetir o sexto ano por causa da mudança – alguma merda
sobre política ou algo assim.
— Onde?
— Scoil Eoin — ele fala com uma careta. — A escola primária católica só
para meninos.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— A mesma que Hughie Biggs?
Ele assente, sorrindo.
— Sim, foi onde conheci Hughie, Gibs e Feely.
— Esses caras são seus amigos?
Ele assente, sorrindo agora.
— Infelizmente.
— Você se importou? — Eu pergunto então. — Ter que repetir o sexto
ano na Scoil Eoin?
— Eu estava furioso, Shannon.
— Você estava? — Eu pergunto, ignorando a forma como minhas
entranhas estremeceram quando ele disse meu nome.
Na verdade, eu estava tentando desesperadamente ignorar a corrente
elétrica de calor pulsando em minhas veias.
— Sim, eu estava realmente ansioso para ir a Royce com meus amigos e
os rapazes do clube — explica. — Cristo, eu estava furioso com meus pais
quando eles me tiraram e me matricularam em Tommen. — Ele solta uma
pequena risada, então diz: — Seis anos depois e eu ainda estou chateado
com isso.
— Bem, você parece estar se saindo bem aqui. — Eu ofereço, sem saber o
que dizer. — Você tem muitos amigos e ainda está jogando rúgbi e outras
coisas.
— E outras coisas — Johnny ri, muito divertido com minhas palavras. Ele
estuda meu rosto por um longo tempo antes de perguntar: — Você dança?
— Não, por que você pergunta isso?
— Não sei. — Johnny dá de ombros. — Algumas garotas dançam em vez
de praticar esportes. — Seus olhos passam sobre mim por um breve
momento antes de retornar ao meu rosto. — Parece que você poderia ser
uma daquelas... — ele acena com a mão, obviamente procurando por uma
palavra, antes de terminar com: — você sabe, uma daquelas dançarinas de
tutu.
Meus olhos se arregalam.
— Você acha que eu pareço uma bailarina?
Ele assente e uma risada rasga dos meus lábios.
— O quê? — Ele sorri timidamente. — Você é pequena, — ele aponta
para o meu corpo com a mão antes de acrescentar — não é muito longe da
imaginação.
— Bem, eu não sou uma bailarina. — Eu rio. — Ou qualquer outro tipo
de dançarina, por falar nisso. Tenho apenas baixa estrutura.
Johnny arqueia uma sobrancelha divertida.
— Baixa estrutura?
— Você já me viu? — Eu gesticulo para mim mesma. — Eu tenho quinze
anos, mais ou menos um metro e cinquenta e dois, e eu peso tipo 38kg.
— Você pesa seis stones9? — ele suspira, os olhos arregalados em
descrença.
Enquanto isso, meus olhos se arregalam em descrença com a rapidez com
que ele foi capaz de converter quilograma em stones.
Uau.
— Jesus, eu levanto o dobro do que você pesa na academia. — Johnny me
olha antes de perguntar: — Você seriamente tem apenas um metro e meio?
— Se eu ficar realmente em linha reta, eu tenho.
— Cristo, eu tenho 1,90m. — Ele balança sua cabeça. — Você é tão
pequena.
— Exatamente. — Eu faço uma careta. — Baixa estrutura.
— Jesus, não é à toa que você se dobrou como uma cadeira de jardim
quando a bola bateu em você. — Johnny murmura, esfregando o queixo
novamente enquanto seus olhos viajam sobre mim. — Eu poderia ter
quebrado você ao meio.
— Essa é uma maneira de dizer — eu respondo, torcendo meu nariz para
a analogia.
— Sua mãe ainda está furiosa comigo?
— Minha mãe?
— Sim. — Ele assente. — Ela parecia que estava a dois segundos de
arrancar minha cabeça naquele dia.
— Minha mãe levou um susto — eu murmuro. — Ela viu que eu estava
ferida e pulou para a primeira conclusão.
— E a primeira conclusão foi que eu bati em você?
Dou de ombros desconfortavelmente, mas não digo nada.
— Acontece.
— Não, não comigo — ele aponta, o tom um pouco mais grosso agora, os
olhos fixos nos meus. — Nunca comigo.
— Ei agora, não seja tão rápido em negar. — Tento usar do humor. —
Acabei de testemunhar você ameaçar cortar o pênis de Ronan.
— Esse pequeno idiota não conta — foi sua resposta em formato de
grunhido. — Eu não suporto aquele garoto, mas o tio dele é o treinador da
escola, então não tenho escolha a não ser tolerá-lo. Ele está sempre me
provocando e encenando em campo, fazendo acrobacias imprudentes e
causando drama desnecessário. É como cuidar da porra de criança durante as
partidas. Eu juro, é um teste diário para o meu autocontrole não estrangular o
merdinha.
Eu sorrio.
— Então, vocês não são amigos?
Johnny zomba da ideia.
— Definitivamente nada amigos.
— Bem, ele ainda é jovem — eu ofereço otimista. — Então talvez ele
amadureça com o tempo.
— Como você?
— Huh?
— Quero dizer que você está no mesmo ano que ele — ele se apressa para
explicar. — Mas você não age como se tivesse quinze anos.
— Não?
Ele balança sua cabeça.
— Você parece muito mais velha.
— Isso é porque eu sou uma mulher de noventa anos disfarçada de
adolescente — eu brinco.
— Isso é... — Johnny torce o nariz. — Um conceito perturbador.
— Sim — eu murmuro, envergonhada com a minha porcaria de
brincadeira. — Isso é.
— Então, o que você faz? — ele me surpreendeu perguntando.
— O que eu faço? — Eu meio que esperava que ele terminasse a conversa
ali.
— Sim. — Ele assente de forma encorajadora. — No seu tempo livre.
Faço uma pausa e penso sobre sua pergunta.
— Eu realmente não faço nada — eu finalmente digo. — Acho que assisto
televisão e ouço música no meu tempo livre – ah, e leio muito. — Dando de
ombros, acrescento: — Como você pode ver, não sou muito interessante.
Johnny inclina a cabeça para o lado, me estudando com olhos azuis
intensos.
— Que tipos de livros?
— Autobiografias. Ficção. Crime. Suspense. Romance. — Suspiro,
pensando na pilha de livros no meu quarto. — Eu não sou exigente quanto a
gêneros. Eu só tenho que gostar da sinopse. Se a parte de trás do livro pode
me atrair, então sou persuadida.
Johnny me observa enquanto eu falo, seu olhar intenso e perscrutador.
— Você é uma leitora — ele finalmente diz.
Não era uma pergunta, parecia mais como se ele estivesse guardando
aquela informação em sua mente.
— Isso é realmente bom.
— Você lê? — Eu pergunto a ele.
Ele faz uma careta.
— Não tanto quanto eu deveria.
— Então, nada? — eu provoco.
— Honestamente, não — ele admite com um sorriso torto. Aproximando-
se, ele diz: — O último livro que li que não foi recomendado pela escola foi
sobre Chicken Licken e o céu caindo sobre todos os bichinhos falantes –
você conhece esse?
— Sim — eu rio, pensando em Johnny lendo histórias de contos de fadas
para crianças. — Eu leio isso algumas vezes para Sean.
— Sean?
— Meu irmão mais novo — eu explico. — A criança de três anos.
— Você não deveria — avisa Johnny, reprimindo um estremecimento. —
Esse livro me assustou pra caramba. Eu não leio por diversão desde então.
Minha boca se abre.
— Você está falando sério agora?
— Porra, sim, estou falando sério — Johnny retruca, parecendo
comicamente ferido. — Eu era pequeno. Era um daqueles livros que você lê
sozinho com as imagens no lugar das palavras e toda essa merda. Eles
deveriam ter classificado para maiores de 10 anos porque eu juro por Deus,
eu realmente acreditava que todo o maldito céu ia desmoronar sobre mim. —
Ele balança a cabeça com a memória. — Eu dormi sob – ao invés de sobre –
minha cama por três malditas semanas até que meu pai finalmente cedeu e
me mudou para um dos quartos no andar de baixo.
— Por que? — Eu rio alto. — De que adiantaria descer as escadas se o
céu estivesse caindo?
Johnny sorri e suas covinhas se aprofundam em suas bochechas.
— Ah, veja — ele ri, batendo na cabeça com o dedo indicador. — Na
minha mente ingênua de seis anos de idade, eu estava pensando que se o céu
de fato caísse, poderia quebrar o telhado, mas não poderia quebrar o teto do
andar de baixo também. Eu tinha uma chance de sobreviver no nível do solo.
— Você era um espertinho, não era?
— Eu era — Johnny responde, rindo junto comigo. — Um bendito idiota.
— Uau — eu falo rindo entre acessos de riso. — Isso é sobrevivência no
seu melhor.
Ele me dá um sorriso de lobo.
— Um escoteiro original bem aqui.
— Você foi escoteiro?
— Porra, eu era — Johnny fala de volta, rindo mais forte agora. — Eu
estava brincando. — Seus olhos dançaram com diversão. — Por quê? Você
era aquelas que vendiam brownies?
— Ah, definitivamente não. — Eu balanço minha cabeça, sufocando uma
risadinha. — Minhas habilidades de sobrevivência são terríveis.
A voz de Johnny fica um pouco mais grave quando ele diz:
— Eu não tenho certeza sobre isso.
Sua expressão muda então, ficando mais intensa.
Incapaz de aguentar o calor, viro o rosto e olho para o relógio no painel.
Eram 20:25.
Deus, quanto tempo estávamos sentados aqui conversando?
— Diga-me uma coisa — Johnny me distrai dizendo. Ele ainda estava
sorrindo, e seus olhos estavam quentes, seu tom era suave, quando ele
pergunta: — Por que você se transferiu para Tommen?
Sua pergunta me pega desprevenida.
— Eu, uh... — juntando minhas mãos, eu estalo meus dedos e exalo um
suspiro pesado — eu precisava de uma mudança.
— Uma mudança? — Ele arqueia uma sobrancelha incrédula. — No meio
do seu certificado júnior?
— É complicado e meio privado... — minha voz some, e eu viro meu
rosto para olhar pela minha janela, embora tudo que eu pudesse ver era
escuridão lá fora.
Eu não estava confortável com a direção que esta conversa tomou.
Toda vez que eu pensava na minha antiga escola, uma nova onda de terror
me envolvia.
Minhas razões para estar aqui não eram algo que eu estava disposta a falar
com ninguém.
— Ei. — Sinto seus dedos roçarem as costas da minha mão, sua voz mais
próxima agora, suave e sondadora. — Para onde você foi?
Assustada com o contato, minha cabeça vira para trás, meu olhar
vacilando de seu rosto para onde seu polegar ainda estava roçando minha
mão, alisando círculos suaves sobre meus dedos.
Era apenas um toque inofensivo destinado a capturar minha atenção, mas
o que mais me surpreendeu foi que eu não me afastei imediatamente.
A consciência de que eu gostava de seu toque era inquietante, mas não tão
inquietante quanto a vontade que eu tinha de virar minha mão e entrelaçar
meus dedos aos dele.
— Merda. — Afastando a mão, Johnny volta a se encostar na porta,
fazendo uma careta no que parecia desconforto com o movimento.
Sua mão dispara automaticamente para sua coxa novamente.
— Desculpe — ele grunhiu e era um som visivelmente doloroso.
Limpando a garganta, ele acrescenta: — Eu não deveria ter feito isso.
— Está tudo bem — eu sussurro, mordendo nervosamente meu lábio
inferior. — Eu não me importo.
Ele exala uma respiração difícil e, em seguida, passa a mão pelo cabelo
com a mão livre.
— Não, não está bem. — Seu olhar se desvia para minha boca e ele exala
outra respiração difícil. — Não está nada bem de jeito nenhum.
— Está tudo bem — eu tento confortá-lo dizendo. — Não fique bravo
com isso.
— Eu não estou bravo — Johnny fala, mandíbula apertada. — Eu sou
apenas... porra!
Ele está tão irritado.
Meu olhar vacila para sua perna direita, a que estava no chão, e então para
onde os nós de seus dedos ficaram brancos com a pressão que ele estava
usando para massagear sua coxa.
Distraída pela visão, eu solto:
— O que há de errado com você?
As sobrancelhas de Johnny franzem em confusão.
— O que você quer dizer?
— Você tinha uma bolsa de gelo na perna na escola mais cedo. — Eu
afirmo, gesticulando com minha mão para onde ele ainda estava enfiando o
punho em sua coxa. — Você está machucado?
Seu olhar segue o meu para sua coxa e ele rapidamente puxa a mão.
— Jesus, — ele resmunga, parecendo chocado — eu não sabia que estava
fazendo isso.
— Você está se tocando desde que entramos no carro — eu anuncio.
— Jesus Cristo! — Johnny sibila, olhando para mim com horror.
Eu imediatamente me arrependo da minha escolha de palavras e tento
voltar atrás.
— Quero dizer, não se tocando. Obviamente, você não estava “se
tocando”, se tocando...
— Por favor, pare de falar — implora Johnny, levantando a mão.
Fecho a boca e assinto.
Movendo seu corpo com cuidado, ele afunda de volta em seu assento,
estremecendo levemente com o movimento.
Eu assisto em silêncio enquanto ele aperta o cinto de segurança e inala
uma respiração profunda, expelindo-a lentamente.
— Só para ser claro — ele afirma depois de uma longa pausa de silêncio.
— Eu realmente não estava me tocando ou qualquer coisa assim. Eu só
estou...
— Dolorido? — Eu ofereço, lembrando suas palavras daquele dia.
Seu olhar fixo no meu, cauteloso agora.
— Sim — ele admite com um suspiro de dor.
Eu balanço a cabeça em compreensão.
— Você tem uma lesão?
Johnny olha do meu rosto para sua perna, uma expressão frustrada
cruzando suas feições.
— Eu tenho algo, tudo bem, — ele murmura baixinho, e então solta outro
suspiro agitado antes de deixar escapar — eu fodi meu músculo adutor
quando eu tinha dezesseis anos. Foi brutal. Nada ajudou, e estava
comprometendo meu jogo. Eu estava com uma dor constante, Shannon.
Constante. A fisioterapia não estava funcionando e eu não conseguia mais
lidar com a dor, então desisti e fiz uma cirurgia no Natal.
Ele parecia zangado consigo mesmo, o que me leva a perguntar:
— E você está bravo porque?
Johnny balança a cabeça e depois passa a mão pelo cabelo.
Ele fica quieto por tanto tempo que eu não acho que ele fosse me
responder, mas então ele murmura:
— Não está curando.
— Sua perna? — Eu sussurro, preocupação borbulhando dentro de mim.
— Ou seus pontos?
— Ambos? — ele oferece com um aceno resignado de sua cabeça, então
sussurra: — Tudo isso.
Essa era uma admissão estranha entre dois relativamente estranhos, e
tenho a nítida sensação de que Johnny não se abria com frequência.
Ele parecia irritado consigo mesmo, e eu não tinha certeza se era porque
ele estava ferido ou porque ele me contou sobre isso.
De qualquer forma, eu tinha o maior desejo de confortá-lo.
— Bem... — fazendo uma pausa, eu me viro no assento para olhar para
ele, e junto meus pensamentos antes de dizer — normalmente leva muito
mais tempo do que algumas semanas para se recuperar completamente de
uma operação. Você não é uma máquina, Johnny. O processo de cura leva
tempo. Um companheiro da equipe de Joey fez uma cirurgia no ano passado
para reparar seu tendão. Demorou cinco meses até que ele estivesse em
forma.
— Já se passaram dez semanas — ele retruca, seu tom ficando duro,
refletindo a frustração em seus olhos. — Meu cirurgião me disse que estou a
caminho da recuperação total, e meu médico me liberou para jogar depois de
três semanas. Era para ser um procedimento menor, mas parece horrível —
Johnny para e balança a cabeça, exalando uma respiração frustrada. — Não
deveria demorar tanto — ele reitera, olhando para sua coxa como se fosse o
inimigo. — É uma bagunça do caralho.
— Você foi liberado para jogar depois de três semanas? — Eu faço uma
careta. — Isso não parece um período de tempo longo o suficiente para o seu
corpo se curar. — Eu me ouço responder, em tom gentil.
— Sim, bem, eu estava — ele bufa.
— Johnny — eu digo baixinho. — Você provavelmente só deveria voltar
a treinar agora.
Ele balança a cabeça e murmura:
— Você não entende.
Não, definitivamente não, mas isso não me impede de dizer:
— Você disse que seus pontos não cicatrizaram?
Ele me dá um olhar cauteloso, mas não responde.
— Você pode me mostrar? — Eu pergunto. — Eu sou boa com pontos.
Eu tive pontos suficientes.
— Shannon, eu fiz uma cirurgia no meu adutor — Johnny fala, tom
grosso, olhos atados com confusão.
— Eu sei — respondo. — Mas eu vi um milhão de lesões esportivas nas
pernas e joelhos, então talvez eu possa lhe dizer qual é o problema? —
Dando de ombros, acrescento: — Provavelmente está demorando mais para
cicatrizar porque você está de pé o tempo todo.
— Minha perna não é o problema, Shannon.
— Oh, me desculpe, eu só presumi porque eu vi você mancando — eu
respondo. — É a sua coxa?
— Não — ele brinca.
Minhas bochechas mudam de levemente quentes para quentes como uma
fornalha no tempo que levo para registrar que o ferimento de Johnny estava
posicionado muito mais alto do que eu pensei inicialmente.
Minha boca forma um O quando imagens vívidas de partes de meninos
decepadas entram em minha mente.
— Sim — Johnny retruca ironicamente, parecendo frustrado e
desconfortável. — Ah.
— Bem, e–eu... — Divagando, eu balanço minha cabeça e tentei
novamente — Eu não sei como te ajudar com isso.
— Relaxe, eu não ia deixar você examiná-lo — ele fala de volta na
defensiva.
— Sinto muito — eu sussurro, completamente mortificada. — Eu não...
uh, percebi onde estava.
— E a propósito — ele adiciona, os olhos se estreitam — Foi a minha
virilha que eu operei – não no meu pau – então eu gostaria que você tivesse
os fatos antes de você dar com a língua nos dentes.
O quê?
— Dar com a língua nos dentes? — Meus olhos vão de seu rosto para sua
virilha, uma reação imparável de ouvir a palavra “pau” sair de sua boca. —
Eu não...
— Eu sei como as garotas gostam de fofocar — ele fala, flexionando a
mandíbula. — Porra, o que estou fazendo?
Eu fico boquiaberta para ele.
— Fofocar?
Ele estava falando sério?
— Olha, esqueça que eu te disse isso — ele bufa. — Está ficando tarde.
Alcançando entre nós, ele fecha uma mão grande sobre o câmbio e engata
a marcha.
— Para onde estou te levando?
Eu solto um suspiro.
— Eu não faço ideia.
Ele se vira para olhar para mim.
— O que?
Eu me contorço no meu assento.
— O quê?
— Seu endereço, Shannon. — Ele bate os dedos contra o volante com
impaciência. — Você precisa me dizer onde você mora para que eu possa
levá-la para casa.
— Oh. — Deus. — Desculpe. Hum, Elk, terraço em Ballylaggin.
Com um aceno curto, Johnny dá ré para fora de sua vaga de
estacionamento e, em seguida, engata a marcha do carro antes de sair pela
entrada da escola.
Passando rapidamente pela sinalização, Johnny diminui a velocidade para
uma parada temporária quando chegamos à entrada, inclina-se para frente e
verifica os dois lados, antes de entrar na estrada principal na velocidade da
luz.
Inclinando-me para trás no meu assento, levanto a mão e agarro o suporte
de segurar ao lado da porta e me concentro em contar os carros que
passavam por nós em uma tentativa de me distrair da obsessão com o
velocímetro em seu painel.
Eu podia sentir a tensão emanando dele, sua cordialidade anterior
substituída por um silêncio frio, nossa conversa obviamente foi o catalisador
por trás da mudança em seu humor.
O silêncio que nos envolve agora era pesado e desconfortável, e eu estou
irracionalmente decepcionada com isso.
Estou mais que decepcionada.
Eu estou abalada.
Pela primeira vez em uma eternidade, eu estava me divertindo.
Eu tinha me soltado, brincado de um lado para o outro sem medo de, bem,
reagirem.
E então ele puxou o tapete debaixo de mim.
Eu não tinha previsto isso e estava me arrependendo de ter saído daquele
banheiro.
Quando Johnny estende a mão por cima do console e começa a trocar os
CDs no som do carro, tenho que me sentar sobre as mãos para não agarrar o
volante.
Alguns momentos depois, ele escolhe uma música, a faixa número cinco,
e o carro se enche de uma familiar introdução de guitarra, proporcionando
uma distração temporária dos meus pensamentos perturbadores.
Johnny aumenta o volume e The Middle de Jimmy Eat World explode
pelos alto-falantes do carro tão alto que eu posso sentir a vibração do baixo
nos meus ossos.
Eu amo essa música e a considero meu hino.
Falando sério, eu me afogava nas letras diariamente.
Se a música cura o coração partido, então a letra dessa música acalma
minha alma.
Foi em um CD mix que a namorada de Joey fez para ele no Natal. Ele
obviamente não estava interessado no CD que Aoife tinha feito para ele
porque eu o havia roubado de seu quarto no mês passado durante um
momento de espionagem aleatório e Joey ainda não tinha percebido que
tinha sumido.
Estava atualmente no meu discman portátil, que eu ouvia repetidamente
todas as noites antes de dormir.
Concentrando-me na letra da música que eu já sabia de cor, tento controlar
meus nervos, mas a batida do punk rock só parecia encorajar a loucura no
meu motorista designado porque no minuto em que entramos na estrada
principal, Johnny coloca o pé no pedal e pisa fundo.
Quando o velocímetro passa de 120km/h, fecho os olhos e paro de
respirar.
Cobrindo o rosto com as mãos, espio por entre os dedos, gemendo quando
o flash dos faróis dos carros nas pistas opostas passa zunindo por nós.
— Qual é o problema? — Estendendo a mão, ele abaixa o volume do som.
— Shannon? — Sua atenção cintila entre a estrada e meu rosto. — Você está
bem?
— Você está indo rápido demais — eu gaguejo.
— Relaxe, estamos indo no limite — responde ele, mas diminui a
velocidade do carro. — E eu sou um bom motorista. Você está segura
comigo.
— Ok — eu murmurei, ainda sentindo como se estivéssemos indo muito
mais rápido do que 100 quilômetros por hora. — Mas eu me sentiria melhor
se você diminuísse a velocidade.
Exalando pesadamente, Johnny diminui ainda mais a velocidade.
— Feliz agora? — ele perguntou, batendo no painel.
Me inclinando, verifico o velocímetro.
80 quilômetros.
— Sim — eu respiro, meus músculos tensos relaxando levemente. —
Obrigada.
Afundando no meu assento, permito que meu olhar vagasse sobre ele.
Ele estava olhando para a estrada à frente, uma mão apoiada na alavanca
de câmbio, o outro cotovelo encostado na porta.
Como se ele sentisse que eu o observava, Johnny olha de lado e me pega
em flagrante.
Eu sorrio fracamente.
Ele olha calorosamente para mim, sem sorrir.
Meu sorriso desaparece.
Com um grunhido baixo e frustrado, ele volta sua atenção para a estrada.
Balançando a cabeça, ele murmura algo ininteligível sob sua respiração, a
mão apertando o volante.
Me sentindo dispensada, junto as mãos no colo e olho pelo para-brisa, sem
me atrever a lançar outro olhar para ele.
Nós não falamos pelo resto da viagem, com apenas as músicas que
vinham do aparelho de som rompendo o silêncio espesso.
— Ouça — Johnny solta, quebrando o silêncio quando as luzes da cidade
de Ballylaggin apareceram. — O que eu te disse lá atrás? Sobre a minha
cirurgia? — Seu tom era nivelado, educado até, enquanto olhava para frente,
manobrando pelas ruas estreitas e vielas. — Eu apreciaria sua discrição.
Aprecia minha discrição?
Ele estava envergonhado por ter uma virilha machucada?
Ele deveria tentar ter um pai inútil cujos únicos talentos eram torrar seu
dinheiro do subsídio e engravidar sua mãe, enquanto se vende para qualquer
estúpido o suficiente para tê-lo.
Frustrada, me viro para ele e digo:
— Para quem eu contaria, Johnny?
— Seus amigos, — ele responde e então em uma voz muito mais baixa
murmura — meus amigos.
— Bem, eu não vou contar a ninguém — eu digo, irritada e insultada. —
Eu não sou uma fofoqueira.
Ele aperta a mão no volante, mas não responde.
Irritada com a formalidade repentina em sua voz, para não mencionar o
fato de que ele passou os últimos quinze minutos me ignorando, eu olho para
o lado de seu rosto e rosno:
— Por que eu me incomodaria em contar a alguém de qualquer maneira?
— Porque, — ele fala, mantendo sua atenção na estrada. — eu sei como a
maioria das garotas são.
A maioria das garotas?
Se ele me considera como a maioria das garotas, então por que gastar
tanto tempo falando comigo?
Por que me fazer todas essas perguntas e me fazer sentir confortável o
suficiente para respondê-lo se ele me considerava como a maioria das
garotas?
Por que se incomodar comigo?
— Você está sendo ridículo — eu murmurei.
— Estou sendo cuidadoso — Johnny corrige calmamente. — Eu não
deveria ter dito nada para você, foi incrivelmente imprudente da minha
parte, e agora eu estou pedindo que você me faça um favor e guarde isso
para você. Eu tenho muito em jogo aqui, Shannon, e a divulgação disso
realmente pode atrapalhar as coisas para mim. Mais do que você jamais
saberá.
Cruzo os braços sobre o peito.
— Certo.
— Certo? — ele repete com cautela.
— Sim — eu brinco, olhando para frente. — Certo.
— Excelente. — Ele solta um suspiro pesado e diz: — Obrigado —
depois de vários segundos, fala: — Eu aprecio isso.
O silêncio prossegue; espesso, pesado e insuportável.
Eu estava em conflito com o rumo dos acontecimentos.
Ele estava brincando comigo?
Isso tinha sido um grande jogo para ele?
Brincando com minhas emoções sendo gentil e me prendendo em uma
falsa sensação de segurança com toda aquela conversa na escola de conhecer
um ao outro?
Jogando a perspectiva de uma amizade na minha cara com toda aquela
gentileza e conversa fiada e depois estragando tudo?
Não seria a primeira vez que isso acontecia.
Eu deveria ter previsto isso e fico desapontada comigo mesma por baixar
a guarda tão facilmente perto dele.
Droga!
— Você está bem? — ele pergunta, quebrando o silêncio.
Não respondo porque não posso.
Eu estava me concentrando demais em não chorar.
— Shannon, eu não... — Johnny começa a dizer, mas para. Ele esfrega o
queixo e, em seguida, deixa cair a mão de volta no volante. — Eu não... —
Ele para novamente, desta vez balançando a cabeça. — Esqueça.
Eu não sondo ou pressiono para terminar o que ele estava tentando dizer.
Eu não queria ouvir.
Me retirando da fonte atual de minha confusão e frustração, que era meu
motorista designado, concentro todos os meus esforços em ignorá-lo e
manter minhas emoções sob controle.
Se eu pudesse pular do carro agora, eu pularia, mas ele era um piloto
rápido e eu não gostava das minhas chances de sobreviver ao impacto pós-
salto.
— O que você está pensando? — Johnny finalmente diz, virando à
esquerda no meu conjunto habitacional.
Era uma subida profunda e montanhosa até minha casa, com várias
centenas de casas anexas correndo lado a lado em ambos os lados da estrada,
a minha bem no topo.
Muitas das casas estavam fechadas com tábuas, outras estavam em ruínas
com jardins mal cuidados – a minha inclusive – mas agora, eu estava muito
irritada para me importar com o que ele pensava.
Eu viro meu olhar para encará-lo.
— Você quer saber o que estou pensando?
Johnny olha de lado, olhos cheios de calor e frustração mal contida, e me
dá um aceno curto antes de voltar sua atenção para a estrada.
— Tudo bem — eu rebato, piscando para conter a familiar ardência das
lágrimas enquanto eu conto a ele exatamente o que eu estava pensando. —
Acho que você está paranoico com as pessoas descobrindo que você está
machucado porque você sabe que não deveria estar jogando.
As palavras saem da minha boca antes que eu tivesse a chance de me
controlar.
Mas em vez de pedir desculpas ou tentar retirá-las, eu avanço, me
chocando com a emoção em meu tom.
— Eu acho que você está em negação sobre o seu processo de cura e eu
sei que você está ferido. Você manca na escola. Você sabia disso? O tempo
todo. Os outros podem não perceber, mas eu percebo. Eu vejo e você faz isso
o tempo todo! Então, acho que você está jogando um jogo perigoso com seu
corpo, Johnny. E acho que se seus médicos soubessem quanta dor você está
realmente sentindo, não há como eles terem assinado e liberado você para
jogar.
Eu não tinha ideia de onde isso estava vindo, mas as palavras estavam
explodindo para sair da minha boca, então eu as deixo saírem.
— Eu acho que isso foi um erro terrível, eu nunca deveria ter aceitado
uma carona de você. Eu acho que você exagerou esta noite. Eu acho que
você se comportou terrivelmente. E eu acho que seria melhor se você e eu
não conversássemos mais.
Solto um grande suspiro, o peito arfando com o esforço vocal.
Meu rosto estava queimando com calor, mas eu estou orgulhosa de mim
mesma por tirar isso do meu peito.
Não era característico de mim ter uma explosão dessa magnitude com
alguém fora da minha família, mas fico feliz.
Eu acho que isso dizia muito sobre como eu me sentia calorosa e
estranhamente confortável o suficiente em torno desse garoto para perder a
cabeça, mas eu estava muito agitada para mergulhar no funcionamento desse
enigma em particular.
Por enquanto, eu permaneceria fervendo em minha apreensão e decepção.
— Ouça, eu aprecio sua preocupação, — ele finalmente falou, pausando
por um momento antes de acrescentar — pelo menos eu acho que era isso.
Mas não é necessário. Eu tenho isso sob controle...
— Você claramente não tem — eu falo de volta, interrompendo-o.
— Você não tem a menor ideia do que está falando! — ele retruca. — Eu
entendo que você fala por bem, mas eu conheço minha própria merda. Eu
conheço meu próprio corpo.
— E claro, eu não — eu murmuro, virando o rosto para olhar pela janela
do passageiro. — Como a maioria das garotas.
— Não — ele continua a argumentar. — Você não me conhece, Shannon.
A todo vapor, eu solto uma expiração.
— Você está certo, Johnny — eu sussurro em concordância. — Eu não
conheço você.
— Pare de fazer isso! — ele retruca, passando a mão impaciente pelo
cabelo. — Cristo.
— Fazer o quê?
— Torcer minhas palavras — ele retruca com raiva. — Não me dar uma
chance de explicar. É um movimento de garota idiota e eu não posso – porra!
— ele ruge, pisando no freio para evitar uma bicicleta intrusa que estava
espalhada no meio da estrada. — Pelo amor de Deus. O que diabos há de
errado com as pessoas? A estrada parece um maldito lugar para estacionar
uma bicicleta?
— Você pode me deixar sair aqui — eu digo categoricamente, soltando
meu cinto de segurança. — Eu posso andar o resto do caminho.
Eu abro a porta do carro e estou fora do meu assento antes que ele tivesse
a chance de responder.
Batendo a porta, abro a porta dos fundos e pego minha bolsa nas pilhas de
lixo e roupas sujas.
— Shannon, espere, não vá...
— Tchau, Johnny — eu sussurro antes de fechar a porta e cruzar para a
trilha.
Eu não volto quando ele abaixa a janela e chama meu nome três vezes.
E eu não me viro quando ele para na calçada, e opto por deslizar pelo beco
em vez disso, com a cabeça baixa e a pontada de arrependimento amargo
pesando sobre meus ombros.
18

REAÇÕES EXAGERADAS E SONHOS DESBOTADOS

JOHNNY

Fiquei furioso durante todo o trajeto para casa, mal conseguindo me


concentrar na estrada com meu temperamento.
No momento em que entro na garagem em casa, meu corpo inteiro estava
vibrando de frustração.
Ela se afastou de mim.
Eu chamei por ela e, porra, ela foi embora.
Eu não estava acostumado a ser dispensado ou ignorado, e isso não era eu
sendo um arrogante de merda.
Era a verdade.
Tocar nela foi um erro.
Fazer isso de novo é algo que eu não posso me dar ao luxo de fazer.
Ela tinha quinze anos.
O que caralhos tinha de errado comigo?
Já era ruim o suficiente quando tudo o que tínhamos eram algumas
conversas, mas agora que eu tinha passado duas horas em um carro com ela,
eu estava abalado.
Quando ela fez perguntas, eram mais profundas do que as merdas típicas
que me perguntam.
Isso me confundiu.
Eu não conseguia lê-la.
Eu não conseguia descobrir o que ela estava pensando.
Ela morava em um dos conjuntos habitacionais da cidade, o grande que
era infestado por operações antidrogas e perseguido por policiais, e esse era
um pensamento preocupante.
Como diabos alguém como ela veio de algum lugar assim?
Quando paro no meu lugar habitual na parte de trás da minha casa, meu
humor estava sombrio e meu temperamento estava fora de controle.
Desligando o motor, eu fico ali sentado por vários minutos, olhando para
o para-brisa, tentando controlar a sensação horrível de desespero que se agita
dentro de mim.
Deixando cair minha cabeça em minhas mãos, agarro mechas do meu
cabelo e apenas puxo.
Eu tinha aprendido uma lição valiosa esta noite, porém, que era nunca
perguntar a uma garota o que ela estava pensando se você não estivesse
preparado para levar um grande golpe no ego.
“Eu acho que você está em negação sobre seu processo de cura e eu sei
que você está ferido. Eu acho que você está jogando um jogo perigoso com
seu corpo. E eu acho que se seus médicos soubessem quanta dor você está
realmente sentindo, não há como eles terem assinado e liberado você para
jogar.”
Suas palavras me assombram.
Provavelmente porque ela fez um ponto válido.
Eu odiava que ela estivesse certa sobre o meu corpo.
Eu era teimoso assim, e era por isso que fiquei tão na defensiva quando
ela falou a verdade.
Ainda assim, porém, Shannon não me conhece.
Ela não tem ideia da pressão que eu estou sob.
Ninguém entende.
E certamente não ela.
E eu absolutamente não andava mancando!
Jesus Cristo!
Irritado comigo mesmo por dar a garota mais tempo em meus
pensamentos, eu rapidamente a afasto e me concentro muito em não pensar
em absolutamente nada.
Quando me acalmo o suficiente, saio do meu carro e bato a porta, apenas
para me arrepender imediatamente quando os barulhos do alarme explodem.
As luzes do sensor automático no quintal estão acesas, facilitando ver os
dois golden retrievers saltando pelo gramado em minha direção, seguidos
por uma labrador preta muito mais lenta e muito mais velha.
— Desculpa, meninas — eu grito, o mau humor se dissipando ao vê-las.
— Não queria acordar vocês.
Enfiando minhas chaves no bolso, acaricio Bonnie e Cupcake, os
cachorros da minha mãe, em suas cabeças antes de ir direto para a labradora
mais velha.
Com quase quinze anos, a pelagem ao redor dos olhos, nariz e queixo de
Sookie ficou grisalha. Ela estava mais rígida e mancando hoje em dia, mas
ainda era uma filhotinha para mim e seria para sempre o melhor presente de
aniversário que um menino de três anos já recebeu.
Sookie cambaleia em meus braços e, em seguida, cai no meu pé,
abanando o rabo com tanta força que suas costas estavam tremendo.
— Ei, linda. — Me ajoelhando, envolvo meus braços ao redor da minha
cachorra. — Como está minha melhor garota?
Ela me recompensa com beijos babados no meu rosto e uma tentativa
artrítica de me dar a pata.
Embalando seu rosto em minhas mãos, coço suas orelhas e pressiono meu
nariz no dela.
— Eu senti sua falta – sim, eu senti.
Deus, eu amava essa cachorra.
Ela era meu bebê.
Eu não me importava com o que os rapazes diziam ou o quanto eles me
xingavam por causa do nome dela.
Sookie era minha garota, leal ao extremo, e eu a amava para caramba.
Era uma coisa boa que ela não pudesse falar, porque a velhinha sabia mais
sobre as minhas merdas do que qualquer outra pessoa neste planeta. Aqueles
olhos grandes e castanhos sempre me pegavam, e a pequena barba branca ao
redor de sua boca sempre puxava as cordas do meu coração.
Eu não entendo como as pessoas podiam machucar qualquer animal, mas
especialmente cães.
Eles eram bons demais para nós.
Os humanos não mereciam o amor e a lealdade que os cães lhes davam.
Eu sou um amante de cães.
Eu confio neles.
Há algo na maneira como um cachorro olha para você; eles não se
importavam se você era um famoso jogador de rúgbi ou um sem-teto nas
ruas.
Eles só se importam com como você os trata, e uma vez que eles o
escolhem como seu humano, você tinha um amigo fiel para o resto de suas
vidas.
Eu não achava que os humanos fossem capazes de tanta compaixão e
compromisso.
Bonnie e Cupcake, aborrecidas com a falta de atenção que estavam
recebendo, latem alto e pulam e arranham minhas costas.
Se não estivesse tão frio aqui fora, e eu não estivesse tão dolorido, eu
daria algumas voltas no gramado com elas para desgastá-las, mas estava
levando tudo que eu tinha em mim para ficar em pé, então eu decido contra.
Tiro um tempo para dar uma massagem na barriga de todas as três,
parando para dar uma massagem extra na orelha de Sookie antes de me
levantar e entrar.
A mala dentro da porta dos fundos me alerta para o fato de que minha mãe
está em casa.
Se eu não tivesse visto a mala, teria descoberto pelo inconfundível aroma
de ensopado de carne flutuando no ar.
Com meu estômago roncando em acordo, eu navego para dispensa,
seguindo o cheiro delicioso até a cozinha.
Encontro minha mãe de pé no fogão.
Ela estava de costas para mim e estava vestida com um daqueles terninhos
que ela usava para trabalhar. Seu cabelo loiro estava puxado para trás de seu
rosto com um grampo elegante, e ela parecia em casa.
Ao vê-la, sinto um peso sair dos meus ombros.
Minha mãe trabalha para uma empresa de consultoria de moda com sede
em Londres.
Ela estava constantemente viajando a trabalho e eu senti falta dela nas
últimas três semanas que esteve fora.
Não tinha percebido o quanto até agora.
— Oi, mãe — eu murmuro, fazendo minha presença ser conhecida. —
Como tá indo?
— Johnny! — Virando-se com uma colher de pau na mão, mamãe sorri
para mim. — Você está em casa. — Largando a colher no balcão, ela enxuga
as mãos no avental e então foi direto para mim. — Venha aqui e me deixe te
apertar.
Eu me movo para um abraço rápido que se transforma em um abraço
longo de trinta segundos.
— Mãe — eu rio, me libertando de seu aperto fatal — Eu ainda estou
aqui. Relaxe.
— Eu senti tanto sua falta. — Relutantemente, ela me solta e dá um passo
para trás, os olhos trilhando sobre mim com aquele estranho olhar maternal
que ela sempre me dá. — Jesus, você cresceu mais uns trinta centímetros.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Em três semanas?
Minha mãe retribui meu sarcasmo com uma carranca.
— Não seja espertinho.
— Sou sempre inteligente. — Eu dou um beijo em sua bochecha e, em
seguida, desvio dela, meus olhos voltados para aquela panela de ensopado.
— Estou morrendo de fome.
— Você tem comido?
— É claro.
— Devidamente?
— Sempre.
— Como está a escola?
— É a escola.
Ela não pergunta sobre rúgbi. Sempre são perguntas sobre coisas como
escola, meus amigos, minha lição de casa, meu dia e Deus me abençoe,
meus sentimentos.
Mas nunca rúgbi.
Não que mamãe não se importasse com minha paixão. Ela sempre faz
questão de me deixar saber que ela se importa com o resto de mim,
primeiramente e mais.
— E Gerard? — Minha mãe sempre usa o primeiro nome de Gibsie. —
Como ele está?
— Ele é o mesmo de sempre — eu respondo, empilhando ensopado em
uma tigela antes de me mover para a ilha. — Pai já voltou de Dublin?
Meu pai era um advogado, bastante produtivo, e passava grande parte de
seu tempo alternando entre Cork e sua sede corporativa em Dublin. Tudo
dependia do cliente que ele estava defendendo e da gravidade do caso. Mas
basicamente era assim; quanto maior o crime, maior o deslocamento.
Os compromissos e horários de trabalho dos meus pais significava que eu
passava muito tempo sozinho quando eles viajavam, e era exatamente assim
que eu gostava.
Até os meus quatorze anos, eles convidavam nossa vizinha, Maura Reilly,
para ficar comigo, mas isso era principalmente para me levar para a escola e
treino. Eu era maduro o suficiente para ficar sozinho e bastante auto-
suficiente.
Maura ainda passa por aqui quando minha mãe está viajando a negócios,
mas isso era mais para limpar e cozinhar um lote de refeições.
Depois de tantos anos vivendo assim, para não mencionar a liberdade sem
fim, eu não achava que conseguiria tê-los ao meu redor 24 horas por dia, 7
dias por semana.
— Ele não voltará de Dublin até meados de março, no mínimo — mamãe
responde, vindo se juntar a mim na ilha. — Eu voei para Dublin esta manhã
e almocei com ele antes de descer — ela explica antes de se sentar no banco
em frente ao meu.
— Por que você fez isso? — Eu pergunto entre colheradas de ensopado.
— Você poderia ter ficado lá cima com ele por alguns dias.
— Por que você acha? — A mãe apoia os cotovelos no balcão e sorri. —
Porque eu queria ver meu bebê.
Reviro os olhos.
— Eu não sou um bebê, mãe.
— Você é meu bebê — ela responde. — E você sempre será. Eu não me
importo se você crescer até dois metros de altura. Você ainda será meu
pequeno Johnny.
Jesus.
O que você pode fazer com uma mulher assim?
Balançando minha cabeça, eu desisto de minha colher e levanto a tigela
até minha boca, drenando a última gota de sopa no fundo antes de apoiar a
tigela e suspirar de contentamento.
Ninguém cozinha como minha mãe.
Nem os chefs da academia ou os restaurantes de comida para viagem na
cidade.
A mulher me deu à luz e ela tinha uma linha direta com meu estômago.
— Vejo que suas maneiras não melhoraram — Minha mãe brinca, me
dando uma carranca de desaprovação.
— Não consigo evitar, mãe — eu respondo com uma piscadela. — Eu sou
um menino em crescimento.
Me movendo por segundos, encho minha tigela e fico em cima do fogão
para comer.
Não havia sentido em me sentar quando eu tinha planos de limpar a
panela.
— Como foi seu check-up na semana passada? — ela pergunta. — O Dr.
Murphy está feliz com a forma como você está se recuperando?
Não sei, porque não fui...
Eu grunho uma resposta típica, muito ocupado inalando minha comida.
— E os médicos da Academia? — ela pressiona. — Eu sei que eles não
estavam interessados com você voltando tão cedo?
Mais uma vez, eu grunho minha resposta porque entrar nisso com minha
mãe era uma discussão que eu poderia prescindir esta noite.
Se eu mentisse, ela veria através de mim.
Se eu lhe contasse a verdade, ela entraria em pânico.
Qualquer caminho que essa discussão seguir, minha mãe insistiria em ver
minha lesão – também conhecida como: meu pau e minhas bolas.
E a qualquer caminho que essa discussão seguisse, eu perderia a cabeça e
diria não a ela.
Então ela enxergaria e ligaria para o meu pai e choraria sobre como eu não
mostrei a ela minhas “partes íntimas” e como ele precisava voltar para casa
para lidar comigo porque eu provavelmente estava morrendo de “gangrena
do pênis” ou alguma outra doença horrível e excessivamente dramática.
A distração e evitá-la eram a chave para uma mãe livre de lágrimas e um
eu livre de traumas.
— Encantado por você estar em casa, mãe, mas eu vou para o meu quarto
e começar a minha lição de casa. — Eu decido dizer ao invés disso. — O
quinto ano está acabando comigo. Na verdade, estou pensando em conseguir
alguns tutoriais para o irlandês. — Eu adiciono esse último pedaço para um
efeito extra. Eu não precisava de tutorias para nada. Eu não tinha tirado
menos de um B em qualquer teste ou exame desde o terceiro ano.
Na verdade, eu poderia ser o único a dar as merdas de tutoriais. Eu com
certeza passava bastante tempo ajudando os rapazes em minhas aulas de
negócios e contabilidade.
Mas minha distração funciona, afastando as preocupações de minha mãe
das minhas doenças e colocando-as na minha educação.
— Oh, querido, tudo bem — ela anuncia rapidamente, em um tom
reconfortante. — Estou orgulhosa de você por ser corajoso o suficiente para
admitir quando está tendo um problema. Vou fazer algumas ligações pela
manhã para ver o que está disponível.
— Sim, isso pode ser uma boa ideia. — Eu concordo com um aceno
solene. Esticando os braços sobre a cabeça, forço um bocejo.
— Você parece destruído, querido — minha mãe avaliou, seus olhos
castanhos cheios de empatia. — Por que você não dorme cedo e eu escrevo
um bilhete para sua lição de casa?
— Obrigado, mãe, estou arrasado.
Eu me aproximo e dou um beijo em sua bochecha, e então corro para fora
da cozinha antes que ela tivesse a chance de se lembrar de sua pergunta
anterior.
— Ah, e antes que eu esqueça — ela grita, me parando no meio do
caminho. — Eu marquei uma revisão de seu carro na garagem. A data mais
próxima que eu consegui foi na segunda quinzena, então eu vou te dar
carona para a escola e podemos pegar seu carro depois.
— Ah, merda — eu resmungo, virando na porta para encará-la.
— O quê?
— Tenho sessões marcadas com o fisioterapeuta da Academia todas as
noites para o próximo mês. — Exalando uma respiração frustrada, esfrego
minha testa. — Eu preciso do meu carro, mãe. — Olho para ela com uma
expressão esperançosa antes de acrescentar: — A menos que você queira me
deixar e me buscar na clínica – ou me emprestar o jipe?
— Perder uma sessão não vai te matar — mamãe respondeu em um tom
nivelado.
Não, provavelmente não iria – se eu não tivesse perdido a sessão dessa
noite por causa de Shannon.
— Além disso — mamãe continua. — Eu voo de volta para Londres no
dia seguinte, e eu queria passar o máximo de tempo possível com você antes
de ir.
Sim, eu sabia que ela diria isso.
A mulher se resumia em passar tempo comigo.
Droga.
— A final da liga está chegando — eu argumento, mesmo sabendo que
era inútil. — É importante para a escola. Eu preciso estar em forma.
— E você não está em forma agora?
— Claro que estou.
— Então o que há com o mancar?
Minha boca se abre.
— O quê?
— Sua perna — ela responde. — Você não está colocando seu peso nela.
As palavras anteriores de Shannon enchem minha mente e eu hesito.
— Eu não estou mancando porra!
Minha mãe olha para mim.
— Olha a língua, Johnathon!
— Bem, eu não estou malditamente manco, mãe — eu retruco
defensivamente.
— Por que você está ficando tão sensível sobre isso? — ela responde
uniformemente. — São seus testículos, amor? Porque você pode me dizer se
algo está errado com eles.
Abro a boca para responder, mas rapidamente a fecho.
Não havia nenhum ponto em discutir com esta mulher. Eu não ia ganhar, e
se eu continuasse pressionando, ela faria aquela porra de mãe sorrateira que
fazia você revelar coisas sem perguntar.
Jesus Cristo.
— Boa noite, mãe — eu digo e me viro para sair.
— Mais uma coisa? — Mamãe chama por mim.
Inalando uma respiração calmante, eu me viro para ela.
— Sim?
— Quem é? — ela pergunta, os lábios se contraindo enquanto ela bate o
dedo no jornal aberto no balcão.
Eu faço uma careta.
— Quem é quem?
Com um enorme sorriso no rosto, ela pega o jornal e o ergue para me
mostrar.
— Isso — Minha mãe pergunta, sorrindo agora, enquanto bate a unha em
uma merda grande, uma foto colorida minha com Shannon no jogo School
Boy's Shield na semana passada.
— Local ou nacional?
— Nacional.
Puta.
Que.
Pariu.
— Dê-me isso — eu rebato, me aproximando para dar uma olhada melhor.
Arrancando o papel das mãos da minha mãe, eu olho para a garota que
estava me deixando louco por quase dois meses.
Jesus, ela estava linda; com olhos arregalados e sorrindo enquanto eu a
segurava ao meu lado.
Seu cabelo castanho estava solto e soprando na brisa.
O topo de sua cabeça roça a minha axila, de tão pequena que ela era.
E então meu coração pula no meu peito quando leio a legenda.
Johnny Kavanagh, 17, fotografado com a amiga da escola, Shannon
Lynch, comemorando a vitória do Tommen College contra o Kilbeg na final
do School Boy Shield na última sexta-feira. Kavanagh foi o capitão do time
de sua escola na quinta vitória consecutiva do brasão, conquistando mais um
troféu em sua impressionante carreira e acabando com quaisquer rumores de
lesões existentes. A bonita colegial estava com o rosto fresco e radiante para
as câmeras enquanto parabenizava Kavanagh por mais uma vitória. Quando
solicitado a comentar sobre o status de seu relacionamento, Kavanagh
recusou educadamente – embora digam que uma imagem fala mais que mil
palavras...
— Ela é uma garota maravilhosa, Johnny — mamãe medita, me
distraindo. — Vocês parecem absolutamente adoráveis juntos.
— Não é assim, mãe — eu murmuro, sabendo muito bem o que ela estava
insinuando. — Ela é apenas uma amiga.
— Eu nunca vi você nos jornais com amigos que se parecem com ela
antes — mamãe brinca. — É uma foto linda, querido – o editor deve ter
pensado assim também, porque eles te deram uma página inteira.
— Eu era o capitão da nossa escola até a final na semana passada — eu
disse, incapaz de olhar para ela porque meu foco estava na foto. — Nós
ganhamos. É um grande negócio. É por isso que eles me deram uma página
inteira.
— Estou muito feliz por você, querido — mamãe diz alegremente. —
Agora, qual é o nome dela?
— Shannon.
— E?
— E esse é o nome dela — eu brinco.
— Eu vou conseguir mais alguma coisa?
— O que mais você quer? — Eu agarro. — Eu já lhe disse que ela é
apenas uma amiga.
— Ela é uma amiga — mamãe ri, o tom tomado com sarcasmo. — Claro
que ela é, e eu sou a Virgem Maria.
— Não fale sobre sua virgindade comigo — eu gemo.
— Por que? — Mamãe responde. — Você prefere que eu fale sobre a sua?
Não.
Não.
Meu Deus, não!
— Eu vou para a cama. — Enfio o papel debaixo do braço antes de sair da
sala – e sem mancar.
— Me dá o meu papel — mamãe chama atrás de mim, rindo. — Eu quero
emoldurar essa foto.
— Não, você malditamente não está fazendo isso — eu retruquei com um
bufo.
Quando chego ao meu quarto, tranco a porta e deixo cair o papel na minha
cama antes de ir direto para o banheiro.
Tirando minhas roupas, ligo o chuveiro e entro.
Cuidadosamente me abaixando no chão, engancho meus braços em volta
dos joelhos e inclino minha cabeça.
Eu não tinha energia para ficar de pé.
Mamãe estava certa.
Eu não estava em forma.
Sentado sob o fluxo de água escaldante, fecho os olhos quando um arrepio
passa por mim.
Usando uma mão, eu empurro meu cabelo para trás do meu rosto e exalo
um suspiro amargo enquanto todo medo e preocupação sobre o meu futuro
viajavam para o primeiro ponto da minha mente.
Minha vida estava indo para o inferno.
Meu corpo estava desmoronando.
Meus sonhos estavam escorregando pela janela.
Eu tinha um monte de problemas para me preocupar.
E ainda assim, eu não conseguia tirar ela da minha cabeça.
Malditos olhos azuis da meia-noite e palavras dolorosamente precisas.
E agora era pior porque não só ela estava em meus pensamentos 24 horas
por dia, 7 dias por semana, mas eu tinha uma maldita imagem dela para me
atormentar.
E eu me atormentarei com essa foto.
Eu planejo isso.
19

VERIFICAÇÕES TARDE DA NOITE DA REALIDADE

SHANNON

— Dia bom? — são as palavras com as quais sou recebida quando entro pela
porta da frente depois do meu desastroso passeio de carro com Johnny.
Agora, se qualquer outra pessoa no mundo inteiro tivesse me feito essa
pergunta, eu teria uma resposta, mas era do meu pai que estávamos falando.
Ele estava parado no pequeno corredor, com um jornal enrolado na mão,
me perguntando sobre o meu dia, e esse era um conceito aterrorizante.
— Você está surda porra? — ele exige enquanto olha para mim, o branco
ao redor de seus olhos castanhos estão completamente vermelhos. — Eu te
fiz uma pergunta, garota.
O cheiro de uísque de sua respiração embala meus sentidos e minha
ansiedade dispara enquanto eu mentalmente tentava entender isso.
Ele recebia seus subsídios às quintas-feiras.
Esse era o dia ruim.
Não às terças-feiras
Então eu penso em que dia era e mentalmente me dou um tapa por não
estar preparada.
Hoje era 1º de março.
E era a primeira terça-feira do mês.
Dia de receber subsídio infantil.
O dia em que o governo irlandês fazia seu pagamento mensal em dinheiro
aos pais por cada filho que eles tem.
O que significava centenas de euros desperdiçados em casas de apostas e
pubs.
O que significava que semanas de luta e com pouco seriam suportadas
pela nossa família por causa da incapacidade de meu pai de se controlar.
Meu coração afunda.
Murmurando uma resposta rápida, pego minha chave de casa na
fechadura, enfio-a no meu casaco e desvio de seu corpo enorme com a
intenção de pegar um pacote de biscoitos do armário da cozinha e depois
seguir para o santuário do meu quarto.
Com meu juízo sobre mim e meu cérebro em alerta máximo, consigo
chegar à cozinha, mas como um cheiro ruim, tanto figurativa quanto
literalmente, meu pai me segue.
Papai se encosta no batente da porta, apertando o jornal na mão e
bloqueando minha saída.
— Como foi a escola?
Eu mantenho minhas costas para ele, me ocupando em folhear pacotes de
sopa e latas de feijão quando eu respondo.
— Tudo bem.
— Tudo bem? — ele zombou. — Estamos pagando quatro mil euros por
ano por um tudo bem?
Lá estava.
Lá estava ele.
— Foi bom, pai — eu rapidamente injeto. — Tive um dia produtivo.
— Dia produtivo? — ele imita, tom irônico e cruel. — Não banque a
esperta comigo, garota.
— Eu não banquei.
— E você está atrasada — ele ladra, suas palavras são um insulto bêbado.
— Por que diabos você está atrasada de novo?
— Eu perdi meu ônibus — eu falo espremida, em pânico.
— Malditos ônibus — ele rosna. — Maldita escola particular. Você é um
pé no saco, garota!
Não havia nada a dizer sobre isso, então eu fico quieta.
O jeito que ele sempre me chama de garota, como se fosse algum tipo de
insulto ser mulher, nem me irrita esta noite.
Eu estava no modo de autopreservação total, sabendo o que tinha que
fazer para sair ilesa dessa sala: aguentar a merda dele, manter minha boca
fechada e rezar para que ele me deixasse em paz.
— Você sabe onde sua mãe está, menina? — ele rosna.
Novamente, eu não respondo.
Não era uma pergunta real.
Ele estava me bombardeando com informações antes do ataque.
— Quebrando as costas dela por você! — Papai ruge. — Trabalhando até
o pó porque você é uma putinha mimada que pensa que é melhor que todos.
— Eu não acho que sou melhor que ninguém — eu murmuro, e
imediatamente me arrependo de jogar gasolina verbal em seu temperamento
já ardente.
— Olhe para você — papai zomba, acenando com a mão para mim. —
Em seu uniforme de escola particular chique. Chegando tarde em casa.
Pensando que você é um presente de Deus. Você estava se prostituindo? —
Ele exige, dando alguns passos cambaleantes em minha direção. — É por
isso que você está atrasada de novo? Arranjou um namoradinho?
Eu imediatamente recuo, mas não ouso abrir minha boca para me
defender.
Ele não iria acreditar em mim de qualquer maneira.
Nove em cada dez vezes, piorava.
E dez em cada dez vezes, responder a ele de volta resultava em uma
ardência na bochecha.
— É isso, não é? Você andou brincando com um daqueles idiotas chiques
do rúgbi com o dinheiro de papai na sua preciosa Tommen — ele zomba. —
Abrindo as pernas como a vagabunda suja que você é!
— Eu não tenho namorado, pai — eu gaguejo.
Jogando o braço para trás, ele me acerta no rosto com o papel enrolado.
— Não minta para mim, garota!
— Eu não estou mentindo — eu soluço, segurando minha bochecha em
chamas.
Levar um tapa no rosto com um jornal enrolado pode não parecer uma
coisa dolorosa, mas quando o homem que bate pesa três vezes o que você
pesa, dói.
— Explique isso, então — meu pai exige. Rasgando o jornal, ele folheia
rudemente as páginas até parar na seção de esportes. — Explique-se!
Piscando para afastar as lágrimas, olho para a página que papai estava
apontando e imediatamente sinto meu sangue gelar.
Lá estava eu, todo colorida, sorrindo para o fotógrafo idiota, com o braço
de Johnny em volta da minha cintura, sorridente e com bochechas coradas.
Eu não conseguia pensar na foto ou questionar por que ela foi impressa no
maior jornal da Irlanda, porque eu estava apavorada.
Eu estava com tanto medo que eu podia sentir o gosto.
Você vai morrer, Shannon.
Esta é a noite em que ele vai te matar...
— Ele é o capitão do time de rúgbi — eu me apresso em dizer, tentando
inventar uma mentira para me livrar da surra que eu sabia muito bem que
estava prestes a receber. — Eles ganharam uma grande partida — eu divago,
desesperadamente agarrando-se aos canudos. — O Sr. Twomey, o diretor, me
pediu para tirar uma foto com ele... eu nem o conheço, pai, eu juro!
Eu sabia que deveria ter esperado o próximo movimento do meu pai, ele o
aperfeiçoou em uma arte ao longo dos anos, mas quando ele agarra minha
garganta e me joga contra a geladeira, eu ainda sou pega de surpresa.
Apertando com força, ele sussurra:
— Você está mentindo para mim…
— Eu não... não — eu estrangulo, agarrando suas mãos. — Pai... por
favor... eu não consigo... respirar...
O som da porta da frente abrindo e fechando rapidamente preenche o ar.
Papai solta minha garganta e eu fisicamente caio de alívio.
Ofegando por ar, eu me afasto dele.
Segundos depois, Joey aparece na porta, parecendo um presente enviado
por Deus com o rosto manchado de graxa e macacão coberto de óleo.
Joey dá um tapinha no ombro de papai e o empurra para o lado com
facilidade antes de entrar na cozinha, balançando um molho de chaves em
seus dedos.
— Como vai, família?
Ele parece relaxado e alegre, mas a tensão ao redor de seus olhos me
garante que ele era tudo menos isso.
Agir como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo era o
mecanismo de enfrentamento de Joey.
O meu era ficar muda.
— Joey — papai reconhece, parecendo um pouco mais alerta agora com a
presença do alfa mais dominante na família.
Nosso pai pode ser grande e amargo, mas Joey era maior e mais rápido.
— Os garotos estão na cama? — Joey pergunta, pegando uma lata de coca
na geladeira.
Papai assente, mas não tirou os olhos de mim.
— Onde está mamãe? — Joey pergunta, obviamente tentando aliviar a
tensão. Abrindo a tampa, ele toma um gole profundo, depois enxuga a boca
com as costas da mão. — Ainda no trabalho?
— Sua mãe está no trabalho e essa aqui está atrasada para chegar em casa
de novo — nosso pai ladra. Ele aponta um dedo para mim e balbucia —
Perdeu a porra do ônibus dela aparentemente.
— Eu sei — Joey responde alegremente, antes de voltar sua atenção para
mim. — Como vai, Shan?
— Ei, Joe — eu resmungo, fechando e abrindo meus punhos para impedir
que minhas mãos se movam para minha garganta, enquanto eu tento
desesperadamente controlar meu batimento cardíaco. — Nada. Só com
fome. Eu estava pegando um lanche.
Joey caminha até onde eu estava, pés congelados no chão, e de brincadeira
cutuca minha bochecha com os nós dos dedos.
Foi uma terna demonstração de afeto e uma silenciosa demonstração de
solidariedade.
— Aoife ficou por muito tempo quando ela deixou você em casa?
Meus olhos se arregalam em confusão.
O olhar que meu irmão me dá diz seguir o que diz.
A realização me ocorre.
Meu irmão estava me dando uma brecha.
— Uh, não — eu engasgo, os olhos fixos em Joey. — Ela acabou de me
deixar e foi direto para casa.
Joey piscou em aprovação e, em seguida, estende a mão ao meu redor,
enfiando a mão na parte de trás do armário – aquela que eu não poderia
alcançar sem a ajuda de uma cadeira.
— Aqui. — Puxando um pacote de biscoitos de chocolate, ele os entrega
para mim. — Sem dúvida, isso é o que você está procurando?
— Não é uma casa de caridade — papai fala arrastado.
— Esta é a minha comida, meu velho — Joey retruca friamente, virando-
se para o nosso pai. — Comprei com meu dinheiro. Do meu trabalho.
— Esta é a minha casa!
— Uma casa dada a você pelo governo — Joey responde friamente. —
Por nossa causa.
— Não banque o espertinho comigo, garoto — papai atira de volta, mas
seu tom não tinha a força típica.
Bêbado como estava, nosso pai estava bem ciente de que a merda que ele
fazia comigo não funcionava com meu irmão.
Eles tiveram várias brigas grandes ao longo dos anos, mas a briga que
mais brilhava na minha memória foi a que ocorreu em novembro passado.
O motivo tinha sido normal: infidelidade.
Papai foi pego com outra mulher, sem surpresas, e decidiu nos deixar para
ficar com a outra mulher – novamente, sem surpresas.
A mãe tinha acabado de descobrir que estava grávida no dia em que ele
partiu e foi para a cama.
Joey e eu passamos quase duas semanas cuidando dos meninos mais
novos e limpando a bagunça que nossos pais fizeram.
Quando nosso pai finalmente entrou pela porta, dez dias depois, fedendo a
uísque e jogando merda em mamãe, meu irmão perdeu o controle.
Ele e meu pai acabaram brigando na sala de estar, quebrando móveis e
enfeites enquanto iam um para cima do outro.
Não foi por isso que se destacava, no entanto.
Isso se destacava porque a briga terminou com meu pai enrolado no chão
da sala em posição fetal enquanto meu irmão desferia golpe após golpe
impiedoso em seu rosto.
Foi uma carnificina absoluta e, embora papai tivesse conseguido quebrar o
nariz de Joey, foi meu irmão quem saiu por cima.
Papai estava mal depois da surra que levou e, de uma maneira fodida, isso
funcionou a seu favor, porque a mamãe sentiu pena dele e o aceitou de volta.
Por mais deprimente que aquele dia tenha sido para nós, como filhos de
pais tóxicos, também significou uma mudança de poder.
Os acontecimentos daquele dia mostraram ao nosso pai que ele não era
mais o líder.
Havia um novo líder na cidade – um que levou muitas surras dele e estava
preparado para devolver sua merda a qualquer momento.
— Shannon — Joey diz, no mesmo tom, os olhos fixos em nosso pai. —
Está ficando tarde. Por que você não vai para a cama?
Joey não precisava me dizer duas vezes.
Aproveitando a fuga oferecida como uma vítima de afogamento pegaria
um colete salva-vidas, vou direto para as escadas, parando no meu caminho
quando meu pai bloqueia a passagem.
— Eu não terminei de falar com ela — ele fala arrastado.
— Bem, ela terminou de falar com você — Joey brinca, vindo para ficar
atrás de mim. — Então, saia do caminho dela, velho. Agora.
Há um olhar sólido de trinta segundos entre eles antes que papai
finalmente se afaste.
Saindo correndo da cozinha, subo correndo a escada em alta velocidade,
não parando até que estivesse segura no meu quarto com a porta fechada e a
fechadura trancada.
Mal tendo tempo para recuperar o fôlego, jogo os biscoitos no armário de
cabeceira, tiro o uniforme o mais rápido possível e coloco meu pijama antes
de mergulhar na cama.
Arrastando debaixo das cobertas, alcanço o discman portátil debaixo do
meu travesseiro e puxo as cobertas até o meu queixo.
Eu tinha colocado um tampão de ouvido quando os gritos começaram.
Segundos depois, o som de móveis batendo enche meus ouvidos.
Meu estômago revira e eu rapidamente coloco o outro tampão de ouvido
antes de ligar o velho discman desbotado.
Me atrapalhando com os botões, aperto o play e aumento o volume para o
nível máximo, rezando para que as baterias tivessem energia suficiente para
bloquear o inferno que era minha casa.
Clicando na faixa de metal mais alta e dura do CD, eu me deito no meu
travesseiro e permaneço perfeitamente imóvel, corpo rígido e enrolado em
tensão.
Quatro músicas e meu batimento cardíaco volta ao ritmo normal.
Mais três músicas e a capacidade de formar pensamentos coerentes
retornam.
Nem sempre era assim.
As noites da semana eram geralmente boas, com exceção das quintas-
feiras, quando papai pegava o dinheiro do subsídio no correio.
Os fins de semana podiam ser imprecisos, mas eu era fantástica em evitar
confrontos com meu pai.
Se ele estava bebendo em um dia de semana, eu sempre fazia questão de
estar em casa depois da escola, jantada e trancada no meu quarto às seis
horas.
Se ele bebia nos fins de semana, eu não saía do meu quarto.
No entanto, os eventos de hoje me derrubaram e eu cometi um erro fatal.
Johnny mexeu comigo.
Abaixei a guarda.
Eu esqueci.
O álbum toca até o fim e eu o ligo novamente, repetindo em um loop.
Foi só quando ouço o som da porta do quarto ao lado do meu batendo
acima da música em meus ouvidos que destravo meus músculos tensos.
Ele estava bem.
Exalando uma respiração trêmula, abaixo o volume e escuto com atenção.
Silêncio.
Puxando meus fones de ouvido, tiro as cobertas e saio da cama.
Andando na ponta dos pés até a porta do meu quarto, giro a fechadura e
rastejo pelo corredor vazio.
Tateando até a porta de Joey no escuro, agarrei a maçaneta e entrei.
— Joe? — Eu sussurro quando meus olhos pousam nele. Ele estava
sentado na beirada da cama de cueca boxer, segurando um maço de papel
higiênico na boca. — Você está bem?
— Eu estou ótimo, Shan — ele fala, o tom afiado, enquanto passava o
lenço contra o lábio inferior. — Você deveria ir para a cama.
— Você está sangrando — eu gaguejo, os olhos presos no fluxo de tecido
manchado de sangue.
— É só um lábio cortado — ele retruca, parecendo um pouco irritado. —
Basta voltar para o seu quarto.
Eu não faço.
Eu não posso.
Devo ter pairado em sua porta por um longo tempo, porque quando Joey
olha para mim, sua expressão era resignada. Suspirando pesadamente, ele
passa a mão pelo cabelo e então dá um tapinha no colchão ao lado dele.
— Vem.
Correndo para ele, eu desabo na cama e passo meus braços em volta do
pescoço do meu irmão, me agarrando a ele como se ele fosse a única coisa
segurando meu mundo.
Às vezes eu penso que isso poderia ser verdade.
— Está tudo bem, Shan — ele sussurra, me confortando.
— Desculpe — eu engasgo, apertando meu abraço em seu pescoço.
Lágrimas caem sobre minhas bochechas. — Sinto muito, Joe.
— Não é sua culpa, Shan.
— Mas eu o deixei irritado...
— Não é sua culpa — meu irmão repete, tom severo.
— Eu não quero mais estar aqui, Joe.
— Eu também.
— Estou cansada de sentir medo o tempo todo.
— Eu sei. — Ele dá um tapinha nas minhas costas e então se levanta. —
Um dia desses, tudo vai melhorar. Eu prometo.
Caminhando até seu guarda-roupa, ele abre as portas e arrasta o saco de
dormir familiar e travesseiros extras.
Não preciso perguntar o que ele estava fazendo; não quando eu já sabia e
isso faz meu coração apertar.
Quando Joey termina de arrumar a cama improvisada no chão, ele se joga
nela.
Cruzando os braços atrás da cabeça, ele solta um suspiro pesado.
— Apague a luz, por favor, Shan?
Concordando, me inclino sobre a cama e apago a lâmpada antes de subir
em sua cama vazia.
— Obrigada Joey — eu fungo, limpando meu nariz com as costas da
minha mão, enquanto eu me acomodo debaixo das cobertas.
— Sem problemas.
Virando-me de lado, olho para ele deitado no chão do quarto.
Suas cortinas estavam fechadas, mas os postes de luz na calçada do lado
de fora da casa cobrem o quarto com um tom opaco de cor desbotada,
iluminando as sombras no rosto do meu irmão.
— Ei, Joe?
— Sim?
— Você pode me fazer um favor?
Ele inclina o queixo para cima, me deixando saber que ele está ouvindo.
— Por favor, não faça comigo o que Darren fez conosco. — Cruzando
minhas mãos sob meu rosto, eu sussurro — Não me deixe.
— Eu não vou — meu irmão jura, tom misturado com coragem e
sinceridade. — Eu nunca vou deixar você aqui com ele.
Eu soltei um suspiro trêmulo.
— Mamãe nunca vai deixá-lo…
— Mamãe pode fazer o que diabos ela quiser — Joey interrompe,
endurecendo o tom. — Ela fez a sua escolha quando ela o aceitou de volta da
última vez. Ela pode continuar tendo a prole dele e aturar suas besteiras pelo
resto de sua maldita vida que eu não me importo. Mas você e eu? Nós
ficamos juntos. — Ele vira o rosto para mim e diz: — Quando eu sair desse
buraco de merda, e eu vou sair, vou levar você comigo.
Mordendo o lábio, pergunto:
— E os meninos?
Joey exalou pesadamente, mas não respondeu.
A vovó Murphy, nossa bisavó materna, pega nossos irmãos mais novos na
escola todos os dias e os deixa em casa, alimentados, hidratados e vestidos
para dormir por volta das 20h.
A vovó havia feito o mesmo por Darren, Joey e eu até passarmos para o
ensino médio.
Era um arranjo estranho, considerando que ela e meus pais mal se
falavam, e um sobre o qual eu havia perguntado à vovó. Eu queria saber por
que aos 81 anos ela continuava a ajudar meus pais quando eles claramente
não a apreciavam.
Ela havia criado minha mãe e sua irmã, Alice, quando seus pais faleceram
quando eram crianças, mas você poderia jurar que a vovó era uma estranha
do jeito que nossa mãe a tratava.
Vovó me disse que ela não fazia isso por eles.
Ela fazia isso por nós.
Porque ela nos amava.
E não deveríamos sofrer pelas más decisões de nossos pais.
Ela cuidava de cada um de nós quando nossa mãe estava trabalhando
todas as horas que Deus lhe deu e nosso pai não estava interessado.
A vovó Murphy entra em cena quando nossa mãe e nosso pai saem.
A vovó deixa claro que ela amaria e cuidaria de todas as crianças nascidas
dessa união fodida porque éramos seus bisnetos.
Tadhg, Ollie e Sean estavam relativamente protegidos do tornado que era
nosso pai porque temos a sorte de ter uma bisavó que nos ama.
O problema era que a vovó estava avançando na vida e não podia fazer
isso para sempre.
Ela não podia continuar entrando e salvando o dia.
Sua saúde estava se deteriorando, a velhice se aproximava e o dinheiro era
tão escasso para ela quanto era para nós. A vovó não tinha dinheiro para nos
alimentar além dos nossos três irmãos mais novos, e toda vez que corríamos
para ela com outro problema, outra ruga aparecia em seu rosto e outra
consulta médica se acumulava.
Era por essas e muitas outras razões pelas quais Joey e eu diminuímos
nossas visitas.
— Eles são nossos irmãos — eu sussurro, me arrastando dos meus
pensamentos.
— Eu não sou o pai deles — Joey resmunga. — E quem sabe, talvez
mamãe volte a si antes que eles fodam completamente com eles como
fizeram conosco e Darren. De qualquer forma, não há nada que eu possa
fazer sobre isso. Eu não posso cuidar deles, Shannon. Não tenho condições e
não tenho tempo. Vou nos tirar daqui. É o melhor que posso fazer.
— Você promete?
Ele assente.
— Assim que eu terminar a escola e me estabelecer na faculdade no ano
que vem, vou conseguir um apartamento. Pode levar algum tempo para eu
juntar o dinheiro e ficar de pé, mas vou sair daqui, Shannon. Eu vou tirar
você daqui. Eu posso te prometer isso.
— Eu acredito em você — eu digo a ele.
E eu acredito.
Ele me conta esse plano desde que Darren saiu pela porta cinco anos atrás
e nos deixou para lidar sozinhos com a ira bêbada de nosso pai.
Eu acreditava que meu irmão queria dizer cada palavra que ele estava
dizendo, cada promessa que ele estava fazendo.
O problema era que eu podia ver os sacrifícios inimagináveis que teriam
que ser feitos por meu irmão para que isso funcionasse para nós, e sabia no
fundo do meu coração que a probabilidade de realmente se concretizar era
pequena.
De qualquer forma, a criança dentro de mim se agarrava à promessa por
tudo o que mais era valioso.
E promessas como essa para garotas como eu valiam tudo.
— De qualquer forma, chega de falar besteira dos pais — diz Joey,
olhando para o meu rosto. — Diga-me como você conhece Johnny
Kavanagh.
— O quê? — Eu fico boquiaberta para ele, assustada com a mudança
repentina na conversa.
Não era incomum mudarmos de assunto depois de uma noite como essa e
falarmos sobre coisas ridículas. Para outros, pode parecer estranho que
pudéssemos mudar de uma conversa séria e significativa para um simples
bate-papo, mas era a norma para nós.
Lidamos com as besteiras do nosso pai a vida inteira.
Mudar de assunto vinha naturalmente para nós. Era um mecanismo de
enfrentamento que havíamos aperfeiçoado ao longo dos anos; desvio e
distração.
Mas me perguntando sobre Johnny?
Isso me pegou.
— Kavanagh — Joey confirma, olhos penetrantes e penetrantes. — Como
você conhece o cara?
— Ele estuda na Tommen — eu explico, grata pela meia-escuridão para
que meu irmão não pudesse ver como meu rosto fica vermelho. — Ele está,
uh, no quinto ano, eu acho? — Eu sei. — E eu o vi algumas vezes na escola.
Foi ele que me nocauteou no meu primeiro dia.
A cabeça de Joey vira para mim.
— Foi Kavanagh quem te nocauteou?
— Foi um acidente. — Eu rapidamente desenhei as palavras familiares
que eu tinha falado uma e outra vez no último mês ou assim. — Ele fez um
passe ruim, ou chutou a bola para o lado errado, ou algo assim, de qualquer
forma, ele se desculpou um milhão de vezes, então está tudo bem... —
Termino com um grande suspiro, sem vontade de fornecer mais informações
sobre o assunto. — Águas passadas.
— Bem, merda — Joey medita, coçando o peito. — Você pensaria que um
cara na posição dele não estaria cometendo erros ruins como esse.
— Um cara na posição dele? — eu comento. — Tenho certeza de que ele
não é a única pessoa no mundo a chutar uma bola de merda.
— Não... — Joey dá de ombros. — Ainda assim, eu não acho que eles
cometam esse tipo de erro de colegial na Academia.
— Academia? — Eu exalo um huff. — Chama-se Tommen College, Joe.
Não Academia.
— Não estou falando da sua escola, Shan — disse Joey. — Estou falando
da Academia, você sabe, O Instituto de Progressão Adicional. A Academia é
apenas um apelido.
— O que diabos é o Instituto de Progressão Adicional? E como você o
conhece?
— Exatamente o que parece; um instituto para mais progressão — ele
retrucou sarcasticamente. — E todo mundo sabe quem é Johnny Kavanagh.
Eu não sei.
Eu estou perplexa.
— Então por que o apelido de Academia?
— Porque a Academia soa melhor que o Instituto. — Joey solta uma
risada suave. — Você realmente não tem ideia de quem ele é, não é?
Quando eu não respondo, Joey ri novamente.
— Isso é impagável — ele medita, claramente entretido. — Você estava
no carro dele esta noite e nem sabia.
— Sabia do que? — Eu rebato, me sentindo perturbada e irritada com a
minha falta de compreensão.
As palavras anteriores de Johnny flutuaram na minha cabeça.
“Eu jogo... Não, quero dizer, eu jogo...”
Droga, eu sabia que estava fazendo papel de boba.
— O que? — eu exigi. — Ele é um jogador de rúgbi famoso ou algo
assim?
Joey bufa alto.
— Eu não posso acreditar que você não sabe.
— Me diga!
— Você deveria ter tirado uma foto — acrescenta pensativo. — Oh,
espere – você fez. Qual é a história de você estar nos jornais com ele? O
velho praticamente bateu na minha cara.
— Eu não tenho ideia, Joe. — Eu balanço minha cabeça e exalo
pesadamente. — Eles ganharam uma taça na sexta-feira passada e eu fui
puxada para uma foto com ele. — Eu dou de ombros impotente. — Eu não
tinha ideia de que isso acabaria nos jornais.
— Acabou nos jornais porque ele é Johnny Kavanagh — declara meu
irmão, pronunciando seu nome como se devesse significar algo para mim. —
Vamos lá, Shan.
Quando chego a nada, Joey solta um suspiro impaciente.
— Ele é um grande negócio no circuito do rúgbi. Jesus, você só tem que
ligar um computador ou abrir os jornais para ler tudo sobre ele — ele
continua a dizer. — Ele foi recrutado para a academia de rúgbi quando tinha
quatorze anos ou uma idade insanamente jovem assim.
— Esse é o lugar do instituto? — Eu me mexo, me inclinando para a
beirada da cama para olhá-lo. — Isso é grande coisa ou algo assim?
— É grande coisa, Shan — Joey confirma. — Você tem que ser escolhido
a dedo pelos melhores olheiros irlandeses de rúgbi para passar por provas.
Dinheiro e atração não têm fator. A seleção é baseada puramente em talento
e potencial. Eles ensinam tudo o que precisam saber sobre uma carreira
profissional no rúgbi e têm os melhores treinadores, fisioterapeutas,
nutricionistas e treinadores do país cuidando deles. Eles executam esses
programas de condicionamento e acampamentos insanos para seus
jogadores, e é o melhor lugar para conhecer potenciais olheiros. É como uma
escola de excelência para futuros jogadores profissionais de rúgbi – exceto
que não é uma escola. É uma instalação esportiva de última geração na
cidade. Na verdade, é mais como uma fazenda de filhotes onde eles
produzem jogadores de rúgbi puro-sangue de alto calibre invés de cães.
— Ai credo. — Eu torço meu nariz para cima. — Analogia nojenta, Joe.
— É assim que é — Joey ri. — Apenas os adolescentes mais promissores
do país têm a chance de trabalhar com a Academia, e mesmo assim, é brutal.
Você tem que ser feito de algo especial para passar pelos testes e ter uma
temporada com eles, não passa pela cabeça ser re-selecionado.
Pessoalmente, eu posso respeitar para cacete qualquer um com esse tipo de
autodisciplina.
— Então, ele é bom?
— Ele é melhor do que bom, Shan — meu irmão corrige. — Vi alguns
dos jogos de Kavanagh com a seleção sub-18 que foram ao ar na televisão
durante a campanha de verão e estou lhe dizendo agora, ele é como uma
arma carregada em campo. Dê a ele uma brecha de oportunidade e ele vai
expor a defesa e acertar a porra do alvo todas as vezes. Merda, o cara tem
apenas dezessete anos e esta é sua segunda temporada com a equipe juvenil
irlandesa de sub-18 – e ele passará para os sub-20 quando fizer dezoito anos.
Depois disso, irá a equipe sênior.
Então, Johnny não estava brincando quando disse que jogava.
— Eu não sabia de nada disso — murmuro, me sentindo uma idiota.
Por que ninguém mencionava isso?
Tudo o que as meninas diziam na escola era que ele era incrível no rúgbi e
era capitão do time da escola.
Nunca ouvi falar dessa coisa da academia.
— Você está corando — Joey afirma, parecendo se divertir.
Era uma avaliação completamente precisa, uma que eu furtivamente nego.
— Eu não estou.
Ele bufa.
— Sim, você fodidamente está.
— Está muito escuro para ver isso, então como você sabe que estou
corando?
Joey ri baixinho.
— Então, você admite?
— Não. — Eu mordo de volta um xingamento. — E eu não estou.
Ele zomba.
— Não me venha com essa.
— O quê?
— Você deixou ele te deixar em casa.
Eu fico boquiaberta.
— Sim. Então?
— Você nem entra no carro com Podge, e ele é meu melhor amigo desde
as fraldas — desafia Joey. — Eu nunca vi ou ouvi sobre você ser amiga de
caras.
— Isso é porque eu não tenho amigos — eu rosno. — Ou pelo menos eu
não tinha.
— Então, você é amiga dele?
— Não, eu não sou amiga dele — eu resmungo. — Eu perdi meu ônibus.
Ele me ouviu falando com você no telefone e se ofereceu para me dar uma
carona para casa. Você sabe disso.
— Sim, bem, um conselho, — ele respondeu alegremente. — não coloque
suas esperanças nele.
— Minhas esperanças?
— Sim — Joey boceja preguiçosamente. — Não vai acabar bem.
— O que você – por que eu teria tantas esperanças? — Eu retruco de
volta, nervosa. — E esperanças de quê?
— Qualquer que seja a merda que as adolescentes colocam suas
esperanças — Joey rebate, bocejando novamente. — Correndo o risco de
soar como um irmão super protetor: ele é muito velho e muito experiente
para você.
— Eu não estou colocando minhas esperanças em ninguém — eu nego
acaloradamente antes de acrescentar rapidamente — Por que você está me
contando tudo isso?
— Eu não sou burro, Shan — Joey responde. — Eu estou bem ciente da
maneira como as jovens ficam todos presas e loucas com caras na posição
dele. — Ele se mexe em sua cama improvisada, esticando-se. — Tudo o que
estou dizendo é, não pense nele tirando uma foto com você ou te dando uma
carona para casa hoje à noite. Ele provavelmente faz isso com um monte de
garotas.
— Eu não estava! — Eu agarro. — Eu nem sabia sobre a posição dele até
que você acabou de me dizer. — Eu continuo com: — E eu estou bem ciente
de que ele me oferecendo uma carona foi uma tentativa de compensar a
concussão.
— Você tem certeza?
— É claro.
— Você tem certeza que você sabe que é tudo?
Eu recuo com indignação.
— Sim, Joey.
— Bem, bom — ele suspira. — Porque pelo que li nos jornais, ele sairá
daqui depois do certificado de conclusão, então ficar atrás dele seria uma má
ideia. Os clubes já estão clamando por ele – mesmo no hemisfério sul. É só
uma questão de tempo até que ele seja contratado pelo maior lance.
— E? — Meu tom era defensivo. — Por que eu me importaria? Eu nem
gosto de rúgbi!
— Vai com calma, Shannon — Joey bufa. — Eu só estava tentando lhe
dar um conselho fraternal.
— Bem, não é necessário — eu resmungo, o rosto queimando. — E para
sua informação, ele na verdade não é tão bom — eu decidi jogar lá fora em
um tom de desdém.
Minha briga anterior com Johnny ainda está fresca em minha mente, e eu
tenho uma vontade insana de falar mal dele – mesmo que fosse apenas para
meu irmão.
— Ele é muito mal-humorado e dirige como um maníaco – e seu carro é
uma desgraça, é tão imundo.
— O que ele dirige?
— Um Audi A3. — Eu faço uma careta antes de admitir relutantemente
— É tão fofo.
— Claro que sim. Eles praticamente jogam carros de última geração para
seus jogadores. — Joey solta um suspiro e soa um pouco fangirl quando diz
— Bastardo sortudo.
O silêncio cai ao nosso redor então, enquanto eu silenciosamente
cambaleio pelos meus pensamentos.
Cambaleando, tentei dissolver a informação que Joey havia me dado.
Tento conectá-lo ao Johnny que conheci, mas não consigo.
Ele não parecia um jogador de rúgbi superstar para mim.
Ok, claro, fisicamente ele parecia cada centímetro a descrição de um, mas
ele não era... ele não...
Eu balanço minha cabeça, pensamentos distorcidos com confusão.
Agora que eu sabia exatamente o quanto ele estava interessado no rúgbi,
eu pude entender sua reação irracional esta noite.
Ele não queria que ninguém soubesse sobre seus ferimentos porque estava
com medo.
Ele não tinha admitido, mas agora que eu sabia o que estava em jogo para
ele, fazia todo o sentido.
Se minha futura carreira na qual investi tanto tempo e energia estivesse no
ar por causa de uma lesão, eu faria o que fosse preciso para voltar aos
trilhos.
Mas mentir sobre sua recuperação?
Isso me parece uma jogada arriscada.
Um movimento perigoso.
Ele mesmo disse isso; ele não estava curando direito.
Então, por que arriscar seu corpo assim?
— O que acontece com um menino quando ele rasga o músculo adutor?
A pergunta sai da minha boca antes que eu tivesse a chance de pensar.
— O que – como na virilha?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — O que acontece?
— Depende da gravidade da lesão — Joey responde sem hesitar. — Mas
ele ficaria dolorido para caralho por um tempo. Se fosse ruim, ele
provavelmente precisaria de fisioterapia e reabilitação.
— E se for muito ruim? — Eu mordisco minha unha e pergunto: — E se
fosse ruim o suficiente para ele ter que fazer uma cirurgia lá embaixo?
— Shannon, pare! — Joey estremece visivelmente e segura seu saco —
Eu não quero pensar sobre isso.
— Seria muito ruim? — Continuo pressionando. — Para um menino, isso
é? Doeria?
— Coloque desta forma — Joey fala, ainda estremecendo. — Prefiro
quebrar as duas pernas do que sofrer esse tipo de trauma no meu pacote.
— Doeria andar e outras coisas? — Eu pergunto. — Que tal praticar
esportes?
— Shannon, doeria mijar — Joey brinca. — Não importa correr em um
campo.
Ai Jesus.
Não admira que Johnny estivesse dolorido.
— Por que? — ele pergunta então.
— Oh, eu estava pensando porque Lizzie disse que seu namorado, Pierce,
fez uma cirurgia para reparar o músculo adutor em dezembro. — Dando de
ombros, continuo a mentir entre os dentes. Eu não sabia o sobrenome do
namorado de Lizzie, muito menos a condição de seus músculos adutores. —
Lizzie disse que ele voltou a jogar rú– uh, futebol de novo, mas que ele
ainda está com muita dor. Ela me perguntou se eu sabia alguma coisa sobre
isso desde que você joga hurling. Eu disse a ela que perguntaria a você.
— Bem, você pode dizer a ela que eu disse que o pobre coitado merece
um suprimento ilimitado de morfina — Joey murmura. — E uma cama. E
um suprimento infinito de bolsas de gelo para suas bolas.
— Suas bolas? — Engulo profundamente, olhos arregalados. — Por que
ele precisaria de uma bolsa de gelo para isso?
— Porque quando os cirurgiões abrem você para esse tipo de
procedimento, eles fazem uma incisão logo abaixo do seu – ugh! Eu não
consigo. — Balançando a cabeça, Joey retruca: — Eu não posso nem pensar
nisso sem me solidarizar com o pobre coitado.
— Mas e se...
— Não!
— Mas eu só...
— Boa noite Shannon! — Virando de costas para mim, Joey resmunga: —
Obrigado pelos meus futuros pesadelos.
Caindo de costas, eu embalo o topo da minha cabeça com minhas mãos e
solto uma respiração lenta e firme, esperando acalmar meus pensamentos
trêmulos e fazer minha mente ficar em branco.
Quando o som dos roncos do sono profundo de Joey enche meus ouvidos,
várias horas depois, eu ainda estava bem acordada.
Eu estava cansada.
Eu estava perseguindo o sono, insistindo para que ele viesse, mas por mais
que tentasse, não consigo fazer meu cérebro desligar.
Olhando para o teto, mentalmente folheio meu próprio catálogo pessoal de
mágoa.
Era uma forma doentia de automutilação, porque pensar sobre isso não me
faz bem nenhum, mas ainda assim, revivo cada discussão, comentário cruel e
memória dolorosa que eu suportei; variando de provocações no pátio da
escola aos quatro anos de idade aos comentários feitos por meu pai esta
noite.
Era a forma suprema de masoquismo e um ritual que sempre realizava
depois de um dia ruim.
Fechar os olhos também não ajudava em nada.
Toda vez que eu permito que meus olhos se fechem, as imagens mentais
de Johnny Kavanagh dançam em minhas pálpebras.
Eu não tinha certeza se preferia quando ele era apenas o estranho que me
nocauteou e sorria nos corredores, ou o idiota mal-humorado e reativo que
explodiu fervendo e congelando esta noite.
Eu definitivamente sabia que me arrependia de saber o que eu tinha
descoberto sobre ele.
Descobrir que Johnny era uma estrela de rúgbi em ascensão com uma
futura carreira esportiva brilhante era deprimente por várias razões, mas uma
em particular fica na minha cabeça.
Eu tinha um irmão superstar, um menino bonito que não podia fazer nada
errado aos olhos de ninguém que o elogiava por seu desempenho em campo
e era recompensado com rédea solta.
Joey, por melhor que fosse para mim, também era um mulherengo que
tinha deixado um rastro de corações partidos de Ballylaggin a Cork City.
Ele estava vendo sua namorada, Aoife, exclusivamente por cerca de oito
meses, e ele parecia completamente dedicado a ela, mas o júri ainda estava
em dúvida se ele estava totalmente além de seus velhos hábitos ou não.
A experiência me dizia que meninos eram cachorros.
E pais.
Os pais eram bastardos e os homens não eram confiáveis.
Nem todos os homens, admito a contragosto, mas a maioria era.
Principalmente os atletas.
Sendo irmã de um, tive uma visão da mente desses atletas adolescentes e
sabia que era mais seguro estar relacionada a eles como amigos platônicos,
ou apenas evitá-los como uma praga.
Eles tinham grandes egos, atitudes maiores que a vida e impulsos sexuais
altamente carregados. Leal a suas famílias, sua equipe, e não muito mais.
Confie nos meus hormônios adolescentes teimosos para explodir ao ver
um.
Reconhecendo que era a opção mais segura, eu decido que iria seguir em
frente com os eventos desta noite ao bloquear tudo o que tinha aprendido
sobre Johnny Kavanagh e ao evitar ele.
Eu era jovem, mas não estúpida, e sabia que abrigar qualquer tipo de
sentimento, paixão inofensiva ou não, por um garoto como Johnny
Kavanagh não me faria nenhum favor a longo prazo.
Porque com toda a honestidade, desde o dia em que ele me nocauteou, eu
estava abrigando muitas emoções conflitantes em relação a ele.
Mas a maneira horrível com que Johnny lidou com seu desconforto esta
noite, junto com a conversa de Joey, foi a dose fria e dura de realidade que
eu precisava para voltar ao eixo.
Eu precisava esquecê-lo.
E eu esqueceria.
Eu espero.
20

MÃE SABE MAIS – APENAS NOS FILMES

SHANNON

Quando acordo para ir à escola na quarta-feira de manhã, minha mãe está


esperando por mim.
Em minha pressa de sair de casa – e ficar longe do meu pai – quase não a
vejo.
É só quando paro no corredor para pegar meu casaco que a noto sentada à
mesa da cozinha, segurando uma caneca de café entre as mãos.
— Mãe? — Eu faço uma careta ao vê-la.
Ela parecia exausta, com círculos escuros sob os olhos, a pele pálida e
magra.
Ela estava embrulhada em seu velho roupão de bolinhas puído – o último
presente de Natal que Darren lhe dera antes de partir.
Abandonando meu casaco no corrimão, entro na cozinha.
— O que você está fazendo acordada?
— Shannon — ela reconhece, forçando um sorriso fraco. — Venha e
sente-se comigo um pouco.
Eu sento porque era tão incomum vê-la a esta hora da manhã, e eu sabia
que algo estava errado.
Eu verifico meu relógio, certificando-me de que eu não tinha dormido
acidentalmente até tarde ou algo assim. 05:45.
Não, eu estava adiantada e algo estava definitivamente errado.
Arrastando uma cadeira para trás, eu me sento no banco em frente a ela e
pergunto:
— O que está acontecendo, mamãe?
— Eu não posso me levantar para te ver ir à escola?
Não.
Na verdade, não.
De jeito nenhum.
Minha resposta silenciosa deve ter falado muito, porque mamãe pousa a
caneca e pega minha mão.
— Shannon — ela finalmente continua e diz: — Eu sei que você sente que
nós não... que às vezes seu pai não é muito... eu só quero que você saiba que
eu amo todos os meus filhos igualmente, mas você é especial para mim.
Isso é uma mentira.
Eu não sou nada especial para ela.
Darren era seu favorito e, quando ele partiu, mamãe nunca mais foi a
mesma.
Na verdade, entre os turnos de trabalho e cuidar das crianças mais novas,
ela mal me nota.
Eu amo minha mãe, eu realmente a amo, mas isso não significa que eu
não me ressinto de sua fraqueza, o que eu me ressinto.
Muito.
Desconfortável, tiro minha mão de debaixo da dela e pergunto:
— Você assinou minha permissão para a viagem escolar a Donegal?
Eu sabia que ela não assinou.
Ainda estava em cima da cesta de pão – sem assinatura.
— Eu não estou confortável com você estando tão longe de casa, Shannon
— ela explica, torcendo seu lábio inferior em preocupação. — Donegal fica
muito longe.
Exato.
— Eu quero ir, mamãe — eu sussurro. — Claire e Lizzie estão indo e eu
realmente quero ir. Eu preciso entregar a autorização antes de sexta-feira,
senão eles não me deixam ir.
Ok, então isso era mentira, eu tinha até depois dos feriados para entregar o
formulário, mas pressionar ela era a única chance que eu tinha de fazê-la
assinar esses formulários.
— E se algo acontecer com você lá? — Mamãe sugere. — E se alguém
for para cima de você?
— Há mais chance de isso acontecer nesta casa — murmuro baixinho.
Mamãe se encolhe.
— Shannon...
— Ele te contou o que aconteceu ontem à noite? — Eu falo mordaz,
sabendo que era sobre isso que ela queria falar comigo – o que ela queria ter
certeza de que eu não falaria.
Endireitando meus ombros, olho do outro lado da mesa para minha mãe.
— Ele te contou o que ele fez com Joey?
— Ele tem um nome — diz mamãe com a voz tensa.
— Ele te contou? — é tudo que eu replico.
— Sim, seu pai me contou o que aconteceu — ela finalmente responde.
— E é isso? — Eu me inclino para trás na minha cadeira e estudo seu
rosto. — Isso é tudo que você tem a dizer sobre isso?
— Shannon, é complicado. — A mãe suspira pesadamente e abaixa a
cabeça. — Estamos todos sob muita pressão agora, com o bebê chegando no
verão e seu pai sem trabalho. O dinheiro está curto, Shannon, e isso afeta seu
pai. Ele está com a cabeça cheia...
— Ele cortou o lábio de Joey, mãe! — Engulo o nó em minha garganta. —
Por causa de um pacote de biscoitos. E se ele está preocupado com dinheiro,
então talvez devesse parar de jogar e beber com o dinheiro do subsídio dos
filhos!
Minha mãe se encolhe com minhas palavras, mas eu estou feliz por tê-las
dito.
Precisava ser falado.
Eu só queria que ela começasse a ouvir.
— Seu pai me disse que você estava atrasada depois da escola — ela
continua a falar. — Ele ficou muito chateado com uma foto sua no jornal...
— Era uma foto da escola!
— Com um menino?
— Oh meu Deus — eu exclamo. — Não você também.
— Não. — Ela balança a cabeça. — Claro que não. Eu entendo essas
coisas, mas seu pai ficou muito chateado com isso. Você sabe como ele
fica...
— Então, é minha culpa que ele bateu no meu irmão e tentou me
estrangular? — Eu sufoco um soluço de indignação que ameaça sair de mim.
— Por chegar tarde em casa, ou tirar uma foto na escola, ou por me
transferir para Tommen? Qual delas, mamãe? Ou tudo que eu faço é errado?
Eu sou culpada por tudo que dá errado nesta família?
— Não, claro que não é sua culpa, Shannon — ela rapidamente tenta se
retratar. — Você não tem culpa, e seu pai te ama muito. Mas você sabe que
ele tem medo de você acabar como eu. E ele e Joey têm um relacionamento
complicado — diz ela, tentando se livrar de suas responsabilidades com
mentiras — Joey sabe que não deve irritá-lo assim...
Eu a corto com um aceno de cabeça.
— Pare de defendê-lo — eu sibilo, mantendo minha voz baixa para não
acordar o homem que estava arruinando minha vida com sucesso todos os
dias desde 13 de março de 1989 – o dia em que entrei neste mundo e na
porra dessa família tóxica. — Apenas pare, mamãe! Nada do que você diz
ajuda. Isso continua acontecendo de novo e de novo. Então, pare de se
desculpar e tentar explicar o comportamento dele. Estamos cansados de
ouvir isso.
— Estou fazendo o melhor que posso, Shannon — minha mãe sussurra.
— Para quem, mãe?
Seus olhos brilham com raiva quando ela olha para mim e cospe:
— Para minha família.
— Para ele — eu murmuro baixinho.
Minha mãe se encolhe, mas eu não retiro minhas palavras.
Eram a verdade.
— Você não pode falar comigo assim — ela retruca. — Você não tem
ideia de como é difícil voltar para casa todas as noites para uma terceira
guerra mundial.
Eu não respondo.
Eu não tenho nada a dizer.
Se ela realmente acreditava que eu não sabia como era viver em uma zona
de guerra, então ela era uma mãe delirante e negligente.
— Estou cansada disso, Shannon — disse ela. — Estou exausta de viver
assim. E estou cansada de ser julgada pelos meus próprios filhos.
— Bem, junte-se ao clube, mãe — eu disse. — Estamos todos cansados de
viver assim.
— Não zombe de mim — ela avisa. — Eu não vou aturar isso, Shannon.
Estou lhe dizendo agora que vou contar a...
— Meu pai? — Eu preencho a lacuna para ela, um tom alto e agudo. —
Isso é o que você ia dizer, não era, mãe? Você vai contar a ele sobre mim?
— Você precisa me mostrar algum respeito, Shannon — ela rosna. —
Estou trabalhando até o pó para deixá-la na escola, e eu com certeza não
aprecio você falando comigo como se eu fosse uma merda no seu sapato!
— Bem, eu não gosto de ser chamada de prostituta toda vez que entro pela
porta da frente — eu engasgo, minhas emoções transbordando.
A culpa por perturbar minha mãe está se agitando dentro de mim,
misturando-se com uma vida inteira de ressentimento, medo e raiva.
— Porque é assim que ele me chama, mãe — eu falo com a voz nasalada
e rouca. — De acordo com meu pai, eu não sou nada além de uma prostituta
suja.
— Ele estava preocupado com você — ela responde. — Ele não sabia
como você chegou em casa ontem à noite.
— Ele estava preocupado comigo, então ele me chamou de prostituta? —
Eu balanço minha cabeça, horrorizada. — Porque isso faz muito sentido.
— Porque você estava naquela foto...
— Você viu a foto?
— Não.
— Bem, se você tivesse você veria que eu não fiz nada de errado! —
Reprimindo uma lágrima traidora, fungo e digo: — Eu nunca estive com um
menino, mamãe, e você sabe disso. Mas ele pode me chamar de prostituta e
você não faz nada.
— Eu fiz — ela defendeu. — Falei com seu pai sobre isso e ele prometeu
não fazer isso de novo.
— Esqueça. — Empurrando minha cadeira para trás, eu rapidamente me
levanto e vou para a porta, sem vontade de ouvi-la explicar as ações do meu
pai. — Apenas esqueça, mãe.
Eu ouvi o suficiente dessas explicações ao longo dos anos.
— Eu preciso ir — acrescento com a voz rouca. — Eu não quero perder
meu ônibus novamente e causar mais problemas.
— Pare — ela avisa, me seguindo. — Eu não terminei.
— Sim, bem, eu terminei. — eu falo com a voz apertada, afastando a mão
que ela colocou em meu ombro.
Foi um toque suave, mas doeu mais do que qualquer tapa que ele pudesse
dar.
Ignorando os protestos da minha mãe, eu saio da cozinha.
— Como você chegou em casa ontem à noite?
Parando na porta da frente, eu me viro para encará-la.
— O quê?
— Seu pai acha que Aoife deixou você em casa da escola ontem à noite
— disse ela, os olhos cheios de preocupação. — Mas eu sei que não é
verdade, ela trabalha nas noites de terça. Então, como você chegou em casa?
— O que isso importa?
— Importa porque a nossa casa, Shannon Lynch, fica a vinte e quatro
quilômetros de Tommen, e eu quero saber como você fez essa viagem! —
ela exige. — Você está tendo problemas de novo? Você perdeu seu ônibus de
propósito para evitar mais valentões?
— Não, mãe, eu não estou tendo problemas na escola — eu falo com a
garganta apertada..
— Não seria a primeira vez que você evita o ônibus, Shannon — ela
responde, olhos azuis fixos nos meus. — Se você estiver em apuros, você
pode me dizer. Eu posso ajudá-la.
— Eu amo a Tommen, mamãe, estou feliz lá! — As palavras que saem da
minha boca me surpreenderam porque eram verdadeiras.
Surpreendentemente, percebo que, de fato, amo minha nova escola.
— Então como você chegou em casa? — ela repete pela terceira vez. —
Me diga!
— Johnny Kavanagh me deixou em casa — eu digo, lutando contra a
vontade de gritar. — Ok? Está feliz agora? Ele é o garoto com quem eu
estava no jornal. Tirei uma foto com ele na semana passada, e então ontem a
noite entrei no carro dele e ele me deixou em casa, então suponho que você
possa corra para o andar de cima e dizer ao papai que ele estava certo o
tempo todo e que eu sou uma prostituta do caralho.
O rosto de mamãe fica mortalmente pálido.
— Estou ligando para a escola.
— O quê? — Meus olhos se arregalam. — Por que?
— Esse menino não deve chegar perto de você — ela cospe.
— Por que não?
— Porque ele machucou você, Shannon!
— Foi um acidente.
— Estou ligando para o Sr. Twomey.
Mamãe se vira para voltar para a cozinha para pegar o telefone e eu me
pego correndo atrás dela.
— Não, mamãe, não!
— Dê-me meu telefone, Shannon — minha mãe ordena quando eu o tiro
de suas mãos. — Agora mesmo.
— Você nem sabe por quê! — Eu exclamo, segurando o celular dela no
meu peito.
— Eu não me importo — mamãe late e arranca o telefone das minhas
mãos. — Ele conhece as regras. Elas foram explicadas a ele muito
claramente. Ele não deveria falar com você. Ele foi avisado, Shannon. Em
termos inequívocos. Ele deveria ter sido suspenso pelo que fez com você.
Quando eu acabar com ele, ele será suspenso.
— Johnny não é o problema aqui — eu falo com a voz apertada. Meu
coração estava martelando no meu peito, o pensamento de colocar Johnny
em problemas novamente me deixa tonta. — Ele se desculpou pelo que
aconteceu. Ele substituiu meu uniforme. Ele me defendeu na escola quando
um menino estava me causando problemas. Ele não tem sido nada além de
bom para mim, mãe.
Minha mãe não era uma mulher grande, mas com um metro e setenta, e
quatro meses e meio de gravidez, me sinto muito pequena neste momento.
Quando seus dedos batem contra o teclado do telefone, chego ao meu
ponto de ruptura.
— Eu perdi meu ônibus! — Eu grito, entrando em pânico quando ela
começa a discar. — Eu estava com medo de chegar tarde. Eu estava com
medo de chegar tarde em casa por causa dele. Eu aceitei a carona porque
estava desesperada! Porque eu sabia o que ele faria se eu esperasse o
próximo ônibus.
— Shannon — mamãe sussurra, parando no meio da discagem. — Você
não precisa sentir medo de voltar para casa.
— Não? — Tiro o cabelo do rosto e aponto para a cicatriz na minha
têmpora.
Aquela que meu pai colocou lá quando quase me cortou com uma garrafa
de uísque quando eu tinha onze anos.
Havia muitos mais de onde essa veio, mas ela já sabia disso.
— Você está tão preocupada em lutar contra os valentões na escola, mãe
— eu soluço, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Quando o maior
valentão de todos vive sob este teto.
Minha mãe se encolhe como se eu tivesse a esbofeteado fisicamente.
Eu não tinha.
O que ela estava sentindo agora era uma dose fria e dura da realidade
batendo em seu rosto.
— Você precisa deixar Johnny em paz! — Eu grito a plenos pulmões, a
voz estridente e furiosa. — Ele não fez nada de errado aqui! Absolutamente
nada.
Eu não me importava mais.
Se acordasse meu pai, então que o acorde.
Se ele me bater, então eu vou me curar.
Eu estava além de conseguir me conter, e toda a minha preocupação era
direcionada ao garoto que não tinha feito nada para merecer ser arrastado
para o meio da minha loucura.
— Eu estou falando sério, mãe — eu aviso, a voz trêmula. — Ligue para a
escola para causar problemas para Johnny e eu direi a eles tudo o que você
não quer que eles saibam!
Mamãe coloca a mão no peito e balança a cabeça.
— Shannon.
— Tudo — eu solto.
Desta vez, quando me viro, não volto.
— Shannon, espere — são as últimas palavras que ouço antes de fechar a
porta para os meus problemas.
Inclinando minha cabeça para o céu cheio de tempestades se formando,
fecho meus olhos e absorvo a sensação das gotas de chuva caindo na minha
pele.
Fico ali mesmo no meio da chuva torrencial de março, e rezo por
intervenção divina, ou pelo menos, um pouco de alívio do inferno que era a
família em que nasci.
Eu nunca quero voltar para aquela casa.
Saber que eu não tinha escolha e teria que voltar era uma forma especial
de inferno.
Pela primeira vez na minha vida, eu queria um lugar seguro para onde
correr para em vez de.
Sinto como se estivesse morrendo lentamente naquela casa.
No meu lar.
Onde eu deveria descansar minha cabeça.
Onde eu deveria me sentir segura.
A porta se abre atrás de mim e todos os músculos do meu corpo se
contraem com a temida antecipação.
Ele está acordado e eu estou acabada.
— Shannon. — A voz de minha mãe enche meus ouvidos, conseguindo
dissipar um pouco do medo que ameaçava me sufocar. — Você esqueceu de
levar seu casaco.
Dura como um atiçador, me viro e encontro a minha mãe parada à porta
com o meu casaco nas mãos.
— Você precisa do seu casaco — ela explica em um tom grosso,
gesticulando com a mão para o céu. — Eles estão prevendo outra
tempestade.
— Você nunca se cansa disso, mamãe? — Eu perguntei, a voz embargada.
Piscando para conter minhas lágrimas, eu engasguei — Você nunca fica de
saco cheio de tanto fingir?
Sua expressão cede.
— Shannon...
Ela dá um passo em minha direção e eu dou mais três para trás.
Eu não poderia continuar fazendo isso.
Eu não poderia continuar vivendo assim.
Eu abri meu coração para minha mãe.
E ela estava preocupada com um casaco.
— Foda-se meu casaco — eu falo com a voz cortada enquanto corro em
direção ao ponto de ônibus, desesperada para colocar uma distância muito
necessária entre mim e minha família. — Foda-se minha vida!
21

ENCERRAMENTO

SHANNON

Quando chego à escola, a raiva ainda não se dissipou nem um centímetro.


Eu estou tão furiosa que praticamente posso sentir o gosto, e de uma
forma confusa, acolho a emoção.
Era melhor do que o desespero e o medo de costume que sacode através
de mim.
A raiva me deu coragem e isso me deu a força que eu precisava para fazer
o que tinha que ser feito.
Independentemente do quanto meu cérebro me dizia que isso era uma má
ideia, eu sabia que tinha que fazer isso.
Eu acertaria algumas coisas com Johnny Kavanagh e depois iria me
afastar com o coração intacto e a consciência tranquila porque não podia, de
boa fé, ignorar o que minha mãe havia dito.
Alimentada pela adrenalina ainda correndo em minhas veias da minha
discussão anterior com minha mãe e do desastre que foi ontem à noite, eu
inalo uma respiração firme e marcho pelo corredor em direção ao vestiário
do quinto ano.
Quando vejo Johnny, encostado nos armários no final do corredor do
quinto ano, conversando com dois garotos de aparência mais velha, solto um
suspiro irregular.
A invisibilidade era algo lindo e uma ferramenta de sobrevivência
necessária procurada por pessoas como eu.
Associar-se a uma futura estrela irlandesa de rúgbi era como enfrentar um
problema do tamanho de 1,90m.
Invocando cada grama de bravura dentro do meu corpo, caminho até ele,
contando com a adrenalina bombeando em minhas veias para empurrar meus
pés em sua direção.
Sua cabeça se levanta quando me aproximo, seu olhar afiado focado em
mim, olhos azuis aquecidos e cautelosos, mas eu não paro.
Eu não posso.
— Eu preciso falar com você. — Eu anuncio quando o alcancei, tremendo
da cabeça aos pés, enquanto o peso do que parecia ser mil pares de olhos
pousam no meu corpo.
Eu esperava que duas coisas acontecessem neste momento: ou Johnny me
manda dar o fora ou ele concorda em ir a algum lugar tranquilo para falar
comigo.
Quando Johnny ergue o queixo e pronuncia a palavra “Fora”, percebo que
estava certa sobre o cenário número um.
Minha adrenalina e bravura me abandonam rapidamente e meus ombros
caem.
Assentindo, me viro para sair, sentindo-me completamente murcha,
apenas para ter uma mão quente envolvendo meu pulso e me puxando de
volta para o seu lado.
— Não você — Johnny sussurra em meu ouvido, me colocando na frente
dele. — Eles. — Seus olhos azuis disparam para os dois garotos mais velhos
que nos observam com expressões curiosas, e em um tom que não deixava
espaço para discussão, ele diz: — Vão.
Eu assisto com uma espécie de espanto, meio pasma, quando os dois
rapazes com quem ele estava conversando, junto com os sete alunos que
vagavam pelo corredor, simplesmente se viram e vão embora.
— Uau — eu respiro quando estamos sozinhos no corredor. — Você
realmente tem uma influência séria na escola. — Me viro para encará-lo e
tenho que, mais uma vez, inclinar a cabeça para trás para ver seu rosto. —
Isso foi meio épico.
Johnny me recompensa com um sorriso bem moleque que rapidamente se
transforma em uma carranca quando ele olha para o meu rosto.
— O que aconteceu? — ele exige, olhando para mim. — Quem diabos te
fez chorar?
— O que? — Eu respiro, balançando a cabeça. — Eu não estou chorando.
— Seus olhos estão vermelhos e inchados — ele fala impassível. — Você
esteve chorando. — Seus olhos se moveram para minha bochecha. — Que
porra aconteceu com o seu rosto?
— O que?
— Seu rosto — ele fala. — Sua bochecha está vermelha.
— Eu estou bem — eu exclamo, dando um passo para trás, segura de seus
olhos excessivamente observadores.
Foi só então que percebi que ele ainda está segurando meu pulso.
Johnny obviamente percebe isso também, porque ele rapidamente solta
minha mão e dá um passo para trás, e em seguida, passa a mão pelo cabelo
bagunçado.
— O que aconteceu com o seu rosto?
Meu pai me bateu com um jornal...
— Uh, não se preocupe com isso — eu murmuro, enxugando minhas
bochechas com as costas da minha mão para apagar qualquer evidência
residual de lágrimas.
— Me dê um nome — Johnny rosna, levando as mãos aos quadris. — E
eu vou cuidar disso.
— O que… não! Eu estou ótima — eu respondo rapidamente. — Eu tenho
alergias.
— Eu também. De idiotas e mentiras — Johnny rosna. — Agora, me diga
quem te fez chorar e eu vou consertar isso.
Por uma fração de segundo, debato em dar o nome de meu pai apenas para
ver se Johnny cumpriria sua palavra e cuidaria dele.
Ele parece que poderia.
Ele certamente era grande o suficiente.
Balançando minha cabeça para limpar meus pensamentos ridículos, eu
olho para ele e digo:
— Eu preciso te dizer uma coisa.
— Sim, você precisa — ele atira de volta. — Um nome.
— O quê? Não, apenas pare por um segundo. — Balançando a cabeça, eu
levanto uma mão. — Eu tenho algo importante a dizer e você está me
distraindo.
Johnny abre a boca para responder, mas rapidamente fecha.
Com uma veia pulsando em seu pescoço, ele balança a cabeça rigidamente
e diz:
— Estou ouvindo.
Lá vamos nós...
— Aparentemente você não deveria falar comigo — eu começo dizendo,
mantendo meu tom baixo e silencioso. — Pelo menos é o que minha mãe diz
– que você foi avisado para ficar longe de mim? De qualquer forma, eu sinto
muito por isso. — Eu me apresso em dizer. — Minha mãe? Você sendo
tratado assim? Eu não tinha ideia de nada disso.
— Acho que as palavras “fique longe” foram a escolha de palavras de sua
mãe — Johnny brinca, enfiando as mãos nos bolsos. — E não se preocupe
com isso, Shannon. — Franzindo o cenho, ele acrescenta: — Sou um
menino grande. Sou capaz de cuidar de mim mesmo.
— Mas você fez mesmo assim? — Eu questiono, me surpreendendo com
o quão aberta eu poderia ser com esse garoto que, para todos os efeitos, era
um estranho para mim. — Quero dizer, você não se afastou?
Ele assente lentamente, olhos cautelosos e incertos.
Eu solto um suspiro.
— Bem, eu queria que você soubesse que ela não vai causar problema
algum para você. Eu expliquei diretamente a ela sobre você.
— É sobre isso que você queria falar? — Johnny me olha com cautela. —
Sua mãe?
Eu balanço a cabeça.
— Isso e eu vou deixar claro para o Sr. Twomey que não há problema
entre nós. — Eu exalei uma respiração pesada e forcei as palavras — Eu
também queria me desculpar pela maneira como deixei as coisas ontem à
noite.
Os ombros de Johnny endurecem por um breve momento e então ouço sua
respiração pesada.
— Você estava certa — ele finalmente responde. — Eu exagerei e reagi
mal.
— Talvez sim — eu ofereço, minha voz pouco mais que um sussurro. —
Mas eu não sabia o que jogar rúgbi significava para você na hora.
— E agora você sabe? — ele perguntou, voz baixa, tom áspero. — Agora
você acha que entendeu?
— Não, não realmente. — Mordo o lábio antes de acrescentar: — Mas eu
entendo o medo, o que torna mais fácil para mim entender por que você
sentiria a necessidade de brincar com a dor.
A rigidez em seus ombros volta e ele fica quieto por tanto tempo que
desisto de esperar por uma resposta.
— Bem, isso é tudo que eu precisava dizer — eu sussurro. — Tchau,
Johnny.
E então eu me viro e vou embora.

Como prometi a mim mesma, não procurei Johnny Kavanagh depois


disso.
Esclareci as coisas e fui embora.
Durante todo o dia, evitei os corredores pelos quais sabia que ele passava
entre as aulas – aquele que mapeei nas semanas anteriores – e evitei o
refeitório no grande intervalo.
Ele estava sentado com uma multidão de jogadores de rúgbi bem na
entrada, então não era uma questão de poder ignorá-lo ali.
Foi uma evasão desnecessária da minha parte, porque nas poucas ocasiões
em que nossos caminhos se cruzaram durante o dia, Johnny me ignorou
obedientemente; sem sorrisos, sem contato visual, e eu, por sua vez, fingi
que não me importava.
Eu não devia.
Eu sei.
Eu ainda me importo, embora...
Como o masoquista que eu era, eu cedi à curiosidade por ele e fiz minha
pesquisa durante a aula de informática naquela tarde.
As buscas na internet na sala de informática, para não mencionar o boca a
boca de minhas amigas, apenas solidificaram o que Joey me disse.
Johnny Kavanagh era um grande negócio.
Me jogando em meu trabalho escolar, tento bloquear todos os
pensamentos sobre ele, mas era uma coisa difícil de fazer – com ele sendo o
assunto na ponta da língua da maioria das pessoas na escola.
Eu não conseguia escapar dele.
Quando confessei a Claire durante o almoço que Johnny me deixou em
casa, suas pupilas estavam tão dilatadas que pensei que ela estava prestes a
ter um derrame.
Foi uma confissão da qual me arrependi instantaneamente, considerando
que ela não havia deixado o assunto de lado.
Se ela não estava me fazendo perguntas sobre o que conversamos,
nenhuma das quais eu divulguei, ela estava apontando para ele nos
corredores, ou rabiscando corações com SL e JK dentro em nossos cadernos
de lição de casa.
Felizmente para mim, eu tinha o dom de distração e negação, e depois de
algumas horas sem morder a isca, ela desistiu de obter mais informações de
mim.
Fiquei feliz porque não queria que ninguém soubesse o quanto eu era uma
bagunça por dentro.
Ela sabia que eu gostava dele e isso era ruim o suficiente.
O único lado positivo de toda a provação era o fato de que Ronan
McGarry não tinha sequer olhado na minha direção o dia todo.
Durante o francês, em vez de se sentar atrás de mim, ele se sentou do
outro lado da sala de aula e obedientemente me ignorou como se eu não
existisse.
Isso funcionou perfeitamente.
Eu não queria atenção de ninguém, muito menos dele.
Eu não deixei de notar o hematoma fresco sob o olho esquerdo ou o lábio
cortado que ele estava ostentando, no entanto.
Um lábio cortado que eu sabia em meu coração, tinha sido providenciado
por Johnny.
Deixar meu casaco em casa parecia uma ideia estúpida na caminhada até o
ponto de ônibus depois da escola, especialmente porque cada peça de roupa
que eu tinha estava encharcada.
Não. Eu balanço minha cabeça. Pensando bem, prefiro me afogar.
Era melhor do que aceitar a patética oferta de paz de minha mãe que veio
na forma de meu casaco.
Outros dias era chocolate ou uma xícara de chá, ou um novo par de
presilhas, ou alguma outra forma de suborno dado com a intenção de me
calar.
Eu sabia muito bem que a mensagem de texto que recebi dela no pequeno
intervalo dizendo “Eu não vou causar problemas para o garoto” tinha sido
enviada com a esperança de receber uma mensagem de texto recíproca
minha dizendo o mesmo.
Não respondi por dois motivos.
Um, eu não tinha crédito.
Dois, ela não merecia ficar tranquila.
Por que ela deveria, quando passei toda a minha vida em constante mal-
estar?
Eu joguei com ela ameaçando contar ao diretor.
Ela não era a única abalada pela minha reação instável.
Eu me senti como um animal enjaulado, encurralado.
Eu nunca tinha contra-atacado assim antes.
Eu nunca me senti tão forte sobre algo.
Meu pequeno ato de desafio foi inútil porque eu seria a única que
provavelmente acabaria ficando doente, mas honestamente, se eu tivesse
pegado meu casaco esta manhã, teria sido o mesmo que fechar os olhos para
o que aconteceu.
E eu me recuso a fazer isso.
Quando eu entro pela porta da frente, eu obedientemente ignoro meu pai
que estava na cozinha, e vou direto para o meu quarto, sabendo que eu
preferiria morrer de fome do que pisar naquela cozinha e encará-lo.
Sóbrio ou não esta noite, eu o detestava com cada fibra do meu ser.
De volta à casa da dor, eu fecho a porta do meu quarto e rapidamente tiro
minhas roupas molhadas antes de colocar meu pijama.
Com o canto do olho, noto um envelope na minha cama com o brasão do
Tommen College gravado na frente.
Estendendo a mão, pego o envelope e o rasgo.
Meus olhos se arregalam enquanto eu olho para a autorização.
Minha mãe tinha assinado.
Com o papel da autorização preso firmemente na minha mão, eu me jogo
de volta na minha cama e solto uma respiração irregular.
Eu estava indo para Donegal.
22

TEMPO EMPRESTADO

JOHNNY

Todos os sábados, desde os seis anos de idade, eu passo o dia em um campo


com uma bola de rúgbi em mãos e sonhos vívidos piscando na frente dos
meus olhos.
À medida que cresci, esses sábados evoluíram de jogar bola com meu pai,
para jogar com as crianças, então exercícios e partidas com meu clube, e
depois treinar no Instituto Nacional de Progressão Profunda de Rúgbi –
também conhecido como A Academia – quando fiz quatorze anos.
A rotina mudou, os tons variaram, mas o sonho permaneceu o mesmo.
O objetivo era sempre o mesmo.
Jogar pelo meu país.
E ser o melhor.
Este sábado foi diferente.
Porque eu estou com problemas.
Porque eu errei no treino da academia.
Mostrei minha fraqueza e eles estavam atrás de mim.
Eu estava lento e distraído, estragando a esquerda, direita e centro a
manhã toda até que o treinador puxou minha bunda para fora do campo e
para o escritório.
Ele exigiu saber o que havia de errado comigo.
Meu problema era simples.
Eu não consigo me mover direito.
Meu corpo está desmoronando.
E minha cabeça está presa em uma garota.
Mentindo descaradamente, consigo sair da zona de perigo e evitar mais
exames e testes, mas ainda assim acabo sendo dispensado do treinamento
mais cedo e instruído a voltar na próxima semana com a cabeça limpa.
Improvável.
Deprimido e desmoralizado, dirijo por horas, tentando controlar minha
cabeça.
Meu corpo eu não podia fazer nada, mas minha cabeça?
Eu precisava focar minha cabeça no jogo.
O problema é que a deixei com Shannon Lynch.
Todos os meus grandes planos de esquecê-la voaram pela janela no
minuto em que ela marchou até mim na escola na quarta-feira passada e
exigiu conversar.
Eu estava tão fodidamente ferrado, eu não podia fazer nada além de ficar
ali, boquiaberto como um idiota para a garota pequena puxando cada uma
das minhas cordas.
Se isso não bastasse, ela foi e explodiu a porra da minha mente em
pedaços ao se desculpar comigo.
Eu não esperava e não merecia.
Eu não era estúpido
Eu sabia que tinha feito mal a ela.
Eu sabia que exagerei.
Se ela tivesse me dado meio minuto para trabalhar com meus
pensamentos, eu teria esclarecido.
Mas ela não deu.
Em vez disso, ela se afastou de mim – de novo – e não olhou na minha
direção na escola desde então.
Uma parte de mim pensou que poderia ser para o melhor.
Se ela continuasse me evitando, como eu sabia que precisava evitá-la,
então talvez eu pudesse passar por essa fase estranha e esquecê-la.
Mas então eu fui atingido com uma pontada de arrependimento amargo no
meu peito quando ela passou por mim no corredor sem olhar duas vezes, seu
shampoo com cheiro de coco atingindo meus sentidos como uma bola de
demolição, e eu sabia que não ia funcionar para mim.
Não havia nada esquecível sobre a garota, e eu me vejo gravitando em
direção a ela, querendo encontrá-la olhando para mim, e então ficando
frustrado quando ela não o faz.
Saber que eu ouviria o que ela tivesse de falar, sempre que ela quisesse
falar, independentemente do tempo ou da inconveniência, era um conceito
assustador.
Durante toda a semana, eu me vi andando deprimido pela escola, sem
ouvir uma única palavra que qualquer um dos meus professores jorrava.
Eu não conseguia me concentrar em nada, e era tudo culpa dela.
Furioso comigo mesmo por ser tão estúpido e deixar uma desconhecida
me ferrar assim, eu a forço a ir para o fundo da minha mente, aumento o som
do meu carro ao máximo e tento tirá-la da cabeça.
Quando chego em casa depois do treino, Gibsie estava sentado na varanda
dos fundos esperando por mim e eu imediatamente me arrependo de ter
mandado uma mensagem de texto gigante de quatro páginas sobre garotas
fodidas na noite passada.
— Nós vamos sair — ele anuncia no minuto em que saio do carro.
— Não. — Afastando sua mão quando chego à porta dos fundos, eu o
empurro e dou um passo para o lado para ele passar. — Não vamos.
— Sim — ele argumenta, entrando na minha casa. — Nós vamos, porra.
Segurando a porta dos fundos aberta, solto um assobio e espero minha
garota vir correndo.
Saindo da garagem, Sookie corre em minha direção.
— Boa menina — eu balbucio, encorajando-a a se apressar antes que os
outros dois percebam.
Abaixando a mão, eu a ajudo a subir o degrau antes de fechar a porta
rapidamente novamente.
— Eu realmente não estou a fim disso hoje à noite — eu explico, andando
pela cozinha até o corredor com Sookie em minhas pernas. — Vá em frente,
no entanto. Eu vou ficar aqui.
— Você não vai passar outra noite de sábado sozinho na mansão —
Gibsie argumenta, seguindo atrás de mim. — Você vai sair comigo.
Gibsie se refere à minha casa como a mansão – fazia isso desde que nossa
amizade fodida se formou na sexta classe da escola primária e eu trouxe o
idiota para casa para jogar PlayStation.
Ele sabe que isso me irrita para caralho, então ele continua.
Era uma grande propriedade de oito quartos no campo, com gramados e
jardins ao longo de vários hectares, todos cercados com cercas para que os
cães da família pudessem andar livremente sem restrições.
Os proprietários anteriores costumavam operar um centro equino na
propriedade, por isso estava cheio de baias e galpões sem uso, e o único
acesso à propriedade era pela entrada com portão eletrônico na frente.
Mamãe falava muitas vezes em comprar um cavalo para os estábulos, mas
felizmente meu pai a convenceu a deixar essa ideia em particular para lá.
Ela é desesperada quando se trata de animais.
O problema era que ela viaja muito, então não era prático ou justo.
Três cães estavam onde meu pai traçou o limite.
Meus pais tinham convertido uma das garagens em uma academia para
exercícios em casa.
Eles apoiaram meu estilo de vida e encorajaram meus sonhos, mesmo que
nem sempre concordassem com meus métodos de persegui-los.
Tínhamos também um anexo separado, construído há vários anos, que
continha uma jacuzzi e uma sauna. Era um salva-vidas após as partidas.
Nossos vizinhos mais próximos moravam a um quilômetro e meio da
estrada, por isso era bastante isolado, e a casa estava voltada para o sul, de
modo que capturava constantemente o sol.
Mesmo que eu sentisse falta do barulho e da agitação de Dublin e passei
dois anos inteiros tentando me acostumar com o silêncio, eu não podia negar
que onde eu morava agora era lindo para caralho.
Não é uma mansão, apenas um bom lugar para se viver.
— Vamos, Johnny — Gibsie implora. — Você está com um humor
horrível há semanas.
— Eu me pergunto por que — eu resmungo. — Ouça, cara, eu sei que
você tem boas intenções, — Fiz uma pausa para cerrar os dentes quando
uma dor no nervo sobe pela minha perna — mas não vou sair hoje à noite.
— Por causa de Bella? — Gibsie pergunta, encostado no corrimão. — Ou
por causa de Shannon?
— Por minha causa — eu rebato, eriçado. — Porque eu estou morto de
cansaço.
Forçando-me a não mancar, eu chego à escada, respiro fundo e pressiono
minhas pernas a obedecer e não me deixar cair.
Como fizeram antes.
— Você está mancando, Johnny — Gibsie reconhece em um tom calmo
enquanto me segue até o meu quarto.
— Mantenha a porra da sua voz baixa — eu assobio, abrindo a porta do
meu quarto. — Minha mãe está em seu escritório.
— Bem, você está — ele responde em um tom estranhamente sério. —
Você está bem?
— Tive uma queda no treinamento, – eu faço uma pausa para levantar
Sookie na minha cama — nada que uma noite de sono não resolva.
— Você tem certeza que isso é tudo? — Gibsie pergunta, afundando em
um dos pufes perto da TV – o “seu” pufe. — Se você não quer que sua mãe
saiba, eu posso levá-lo ao hospital para dar uma olhada...
— Eu estou bem. — Caminhando até o pufe ao lado dele, eu afundo ao
seu lado apenas para assobiar quando uma dor aguda dispara pela minha
pélvis. — Absolutamente fodidamente bem.
Gibsie balança a cabeça e pega o controle remoto, felizmente mantendo
seus pensamentos para si mesmo pela primeira vez.
Ligando a televisão, ele começa a navegar pelos canais.
— O que você quer assistir?
— Você pode sair — eu digo a ele, esticando minhas pernas na minha
frente. — Eu não estou te segurando.
— Não. — Levantando-se, ele caminha até o PS2 e o liga antes de se
sentar ao meu lado. — Eu só estava tentando tirar você de casa.
— Aprecio isso — eu murmuro, pegando o controle que ele estende para
mim. — Mas não esta noite.
— Você vai fazer parte desse time, Johnny — ele murmura enquanto
preparava um jogo de FIFA 2005. — Você sabe disso, certo?
Exalando uma respiração firme, forço o pânico que ameaça me engolir de
volta e me concentro na tela na minha frente.
— Você vai — ele acrescenta calmamente.
— Espero que sim — eu digo, me concentrando demais no controle na
minha mão. — Eu realmente quero, Gibs.
Caso contrário, eu perderia a cabeça.
— Você quer ficar bêbado? — ele oferece então. — Aqui – com o uísque
do seu pai, e nenhuma grudenta te seguindo e te atormentando?
Eu penso sobre isso por um minuto e exalo um suspiro pesado.
— Sim, cara — eu respondo com um aceno de cabeça. — Eu realmente
fodidamente quero.
23

EXES DE JEITO NENHUM

JOHNNY

Eu a vi novamente hoje.
Nós nos cruzamos nada menos que cinco vezes no corredor, e toda vez ela
abaixou a cabeça e passou por mim sem sequer olhar para trás.
Isso não era uma coisa nova, é claro.
Shannon está me ignorando como se eu fosse invisível há mais de uma
semana.
Nove dias para ser exato.
Ser ignorado não me cai bem.
Era um território desconhecido para mim e eu estava aprendendo
rapidamente que não gosto nem um pouco.
Especialmente quando a pessoa que me ignora era a mesma que estava
atormentando todos os meus pensamentos enquanto estou acordado – meus
sonhos também.
Isso mesmo; eu realmente estava sonhando com a garota agora.
Quão bagunçado isso era?
Ontem à noite, por exemplo, sonhei que Shannon estava me assistindo
jogar.
Só que em vez de estarmos no campo da escola, estávamos no Estádio
Aviva em Dublin.
E em vez de usar o preto e branco de Tommen, eu estava usando verde e
branco.
Shannon estava com uma camisa irlandesa combinando, com meu nome e
número nas costas, e ela estava torcendo por mim nas arquibancadas.
Me jogaram a bola, mas quando a peguei, Shannon começou a chorar.
De verdade, seu rosto estava contorcido de dor e ela estava apontando
para mim.
Foi aí que ficou realmente perturbador, porque quando olhei para baixo,
minhas pernas haviam sumido.
Em seu lugar havia dois tocos.
Então comecei a encolher, encolhendo como o cara assustador dos livros
de Harry Potter.
O rosto perturbado de Shannon foi a última coisa que vi antes de acordar.
Foi fodidamente horrível.
Acordei suando e passei uns sólidos cinco minutos dando tapinhas nas
minhas pernas para garantir à minha mente em pânico que elas ainda
estavam lá.
Eu não conseguia afastar a sensação de que era um sinal de alerta.
Do que, eu não tinha ideia, mas eu tinha essa sensação horrível de pavor
na boca do estômago que não ia embora.
Esse sentimento permaneceu comigo o dia todo.
Eu não conseguia me livrar disso.
Eu não conseguia afastar ela.
Nada disso fazia sentido para mim, e eu não tinha a menor ideia de por
que ela era a pessoa para quem eu queria ir.
Não Gibs.
Não minha mãe.
Não meus treinadores.
Eu estava enlouquecendo por dentro, me preocupando até a morte durante
a campanha de verão, e era uma garota que eu mal conhecia, com olhos
profundos de alma, que eu queria confiar.
Porque algo me dizia que eu podia.
Porque em algum lugar dentro de mim, eu sinto que ela me conhece.
Como se ela pudesse me salvar?
Jesus, eu estava perdendo a cabeça...
Depois de uma desastrosa última aula na sexta-feira – onde eu não retive
nem um pingo do que o professor estava tagarelando – eu estava saindo do
prédio principal em direção ao salão de educação física para conversar com
o treinador, quando ouço uma voz familiar chamar meu nome.
Por uma fração de segundo, debato sobre fingir que não a tinha ouvido e
sair pela porta, mas então ela agarra minha mão e me puxa para trás, e as
boas maneiras venceram.
Inalando uma respiração estabilizadora, mentalmente me lembro de ser
legal, antes de me virar para encará-la.
— Bella — eu reconheço com um aceno curto.
Ela parecia tão bem quanto sempre, com seu cabelo preto penteado em um
corte bob e um rosto cheio de maquiagem.
Ela era alta e curvilínea e preenchia seu uniforme escolar em todos os
lugares certos.
Felizmente, eu estava completamente inalterado.
— Ei, Johnny — Bella responde com um sorriso enorme. Ela era alta,
1,80m, mas ela ainda tinha que erguer a cabeça para olhar para mim. —
Como você está?
As palavras “como se você desse a mínima”, estão na ponta da minha
língua, mas eu acalmo minha impaciência e vou com um, “E aí?” ao invés
disso.
— Ah, você sabe, o de sempre — ela responde, colocando o cabelo escuro
atrás das orelhas.
Na verdade, eu não sabia.
Eu não sabia nada sobre ela e ela sabia ainda menos sobre mim.
Nós não conversávamos.
Nós fodíamos.
E essa era uma decisão dela mais do que minha.
— Eu estava saindo do escritório e vi você andando lá fora — Bella
continua a dizer, arrastando o polegar sobre meu pulso. — Então eu pensei
em vir dizer oi.
Libertando minha mão da dela, eu enfio minhas mãos nos bolsos e
balanço para trás em meus calcanhares.
— Oi.
— Sinto que não nos falamos há tanto tempo — acrescenta.
Eu olho para ela.
— Nós conversamos algumas semanas atrás.
Quando você estava tentando se forçar para cima de mim.
E não vamos esquecer a porra de milhões de mensagens e caixas postais
que você me deixou.
— Nós conversamos?
Eu estreito meus olhos.
— Sim, Bella, nós conversamos.
— Oh Deus — ela ri, agindo toda tímida. — Eu estava completamente
bêbada naquela noite — acrescenta. — Eu mal me lembro das coisas. — Ela
dá um passo mais perto. — Eu definitivamente não me lembro de ter visto
você naquela noite.
Eu dou um passo para trás.
— Bem, você viu.
Eu não estava comprando essa mentira conveniente de falta de memória.
Ela usou essa carta muitas vezes comigo.
— De qualquer forma, não foi isso que eu quis dizer. — Ela colocou o
cabelo atrás da orelha e sorriu para mim. — Eu estava falando sobre a última
vez que nos encontramos. Deve ter sido antes do Natal, certo?
Mais como Halloween, penso comigo mesmo, mas estava ansioso para
fugir, então não me opus aos encontros dela. Em vez disso, eu balanço a
cabeça e digo:
— Sim, isso parece certo — Enquanto desejo saber a etiqueta apropriada
para usar ao lidar com garotas vingativas que eu tinha sido tolo o suficiente
para enfiar meu pau dentro.
— Então — ela diz em um tom ofegante. — Como você tem estado?
— Você já me perguntou isso — eu respondo calmamente, tentando
mascarar minha impaciência com a conversa inútil. — Eu estou bem.
— Ah sim, bem, eu também estou bem — Bella responde, exalando um
suspiro alto. — Quero dizer, eu acho que estou um pouco entediada.
Sim, bem, eu também estava entediado.
Com essa conversa.
— Você sabe como é — ela diz pela segunda vez, e pela segunda vez eu
olho fixamente para ela.
Não.
Eu não tinha ideia do que diabos ela estava falando.
— Oh meu Deus! — ela desabafa então, segurando minha mão mais uma
vez. — Eu esqueci totalmente de perguntar: como está sua perna?
Bella não sabia os detalhes da minha cirurgia, só que eu tinha feito um
procedimento no Natal.
Quando eu disse a ela que ficaria fora de ação por um tempo, sua maior
preocupação era quando eu voltaria ao campo, se ainda jogaria ou não pela
Irlanda no verão, e quando eu queria foder de novo.
Além de tudo isso, eu não confiava nela dessa forma.
Fazer sexo com ela era uma coisa, mas confiar nela era outra bem
diferente.
— Melhor — eu respondi em um tom monótono antes de recuperar minha
mão.
— Isso é uma notícia fantástica, querido — ela responde, sorrindo
amplamente — Eu fiquei realmente preocupada com você.
Não, ela não estava mentindo bem.
Se em algum momento Bella estivesse realmente preocupada comigo, ela
teria me perguntado algo diferente de “você está pronto para nos
encontrarmos” ou “se apresse, estou com tesão” no zilhão de mensagens
que ela me enviou.
Ela não teria me fodido como fez com um dos meus companheiros de
equipe.
— Eu aposto — eu falo lentamente, ouvindo o sarcasmo na minha própria
voz.
Agora, eu entendo que em nenhum momento durante o tempo em que
Bella e eu estávamos ficando que fomos algo remotamente sério, mas eu
ainda me sentia traído pela coisa do Cormac.
Aos meus olhos, era sujo pra caralho em ambas as partes, e eu nunca
sairia com uma de suas amigas.
Eu tinha respeito suficiente por ela para mostrar-lhe essa decência.
Obviamente, Bella não tinha o mesmo nível de respeito por mim.
Olho por cima do ombro para a porta e depois para o meu relógio antes de
perguntar:
— Você precisa de mais alguma coisa? Eu tenho que falar com o treinador
sobre um jogo.
— Ah sim — ela suspira. — Você tem a partida do playoff chegando, não
é?
Eu balanço a cabeça rigidamente.
Infelizmente, como tínhamos perdido algumas partidas no início da
temporada e o Royce College de Dublin havia vencido o jogo na semana
passada, isso os igualou em pontos e nos colocou em segundo lugar na liga,
atrás de Levitt.
Foi uma reviravolta inesperada e um pé no saco porque Royce deveria ter
perdido seu último jogo, o que teria facilitado a vida para nós, considerando
que a final já havia sido organizada entre Levitt e Tommen.
A vitória deles havia causado problema nos trabalhos de Tommen porque
Royce era um bando desajeitado e se recusavam a permitir que o playoff
fosse realizado em Cork. Nós tínhamos viajado nos últimos três jogos do
campeonato, então era nossa vez de jogar em casa, mas eles não estavam
gostando.
Eles já haviam desistido de duas outras datas propostas para o playoff –
uma em Cork e outra em Dublin.
Era um golpe insano o que eles estavam fazendo na esperança de nos
enganar e colidir com os horários das partidas.
Eles estavam contestando tudo, desde a hora da partida inicial, até o dia da
semana em que a partida deveria ser realizada, e até a cor das camisas de
visitantes.
Mudar de dia, adiantar as partidas e mudar de local estava tudo dentro dos
direitos de Royce, mas era uma coisa ruim de se fazer e poucas escolas se
comportavam dessa maneira.
O treinador da Royce estava sendo difícil, discutindo sobre onde a partida
deveria ser realizada, e reclamando sobre a injustiça do time de Tommen ter
um jogador internacional no elenco.
O idiota está perdendo tempo porque eu jogo limpo.
Tommen era a minha escola e o treinador tinha o direito de me chamar
para jogar.
Eu teria sido o jogador internacional da Royce se meus pais tivessem
ficado em Dublin, e esse era o verdadeiro problema aqui.
Era por isso que o treinador quis falar comigo imediatamente.
Ele queria passar pela minha próxima agenda porque ele precisava
concordar com uma data.
Estávamos entrando em recesso da escola na próxima sexta-feira para o
feriado da Páscoa, então isso precisava acontecer mais cedo ou mais tarde.
Eu tinha a campanha de verão para focar e olheiros para impressionar,
então abril e maio não funcionariam para mim.
O treinador da Royce também sabe disso, e era por isso que estávamos
neste impasse.
Eu poderia achar o time da escola chato e nada desafiador, mas eu odeio
maus perdedores.
Era com isso em mente que eu tinha planos de enterrar a Royce College o
mais rápido possível.
— Quando vocês vão jogar com eles? — Bella pergunta.
— O mais breve possível.
— Você vai jogar contra seus antigos companheiros e amigos, não é? —
ela pergunta. — Você deveria ter ido para Royce, não é?
— Eu estou aqui agora, não estou? — Eu falo lentamente.
— Você está preocupado em jogar contra seus velhos amigos?
Sim.
— Não.
— Então você está pronto para isso?
Eu olho fixamente para ela.
— Eu estou sempre pronto.
— Eu sei que você está — ela ronrona, em tom de flerte.
Ugh.
Balançando a cabeça, me viro para sair, mas ela fala novamente.
— Eu também queria falar com você sobre outra coisa — acrescenta ela,
dando um passo mais perto.
— Oh? — Eu dou um passo para trás. — O que seria?
— Nós, Johnny — ela ronrona, piscando seus grandes olhos azuis para
mim.
— Não existe um nós, Bella — eu respondo, franzindo a testa. — Nunca
houve.
— Então o que diabos estávamos fazendo no ano passado, Johnny? — ela
cospe, a máscara de colegial inocente escorregando.
Isso foi legal.
Eu sabia o que estava por baixo de qualquer maneira.
Ela não precisava fazer uma performance na minha frente.
Eu estava bem ciente de seu verdadeiro caráter.
— Eu não sei, Bella. — Eu respondo em um tom monótono. — Mas o que
quer que tenha sido, está no passado.
— Você está de sacanagem comigo? — ela exige, plantando as mãos nos
quadris. — Estou tentando resolver as coisas aqui.
Ela está de sacanagem comigo?
— Você terminou com isso — eu brinco. — Você está fodendo meu
companheiro de equipe, Bella. Você mesma me disse. — Com grandes
detalhes em uma mensagem de texto. — Você ficou com ele em Biddies.
Bem na minha frente. Você se senta com ele no almoço. Até onde eu sei, não
há nada para resolver entre nós.
— Não é sério.
— Eu não me importo.
— Eu pensei que estávamos dando um tempo.
— Nós estamos — eu confirmo. — Um permanente.
— Eu não tenho que estar com ele — ela oferece, batendo seus longos
cílios para mim. — Nós podemos nos resolver?
— Não, obrigado — eu respondo em um tom monótono.
— Vamos, Johnny — ela resmunga. — Nós tivemos um bom tempo
juntos.
— Sim, nós tivemos — eu concordo. — Metade do qual você gastou me
enganando pela minhas costas com a porra do meu ala!
Sua boca se abre.
— Do que você está falando?
— Cormac.
— Estou com ele agora — ela bufa. — Não antes.
— Não se preocupe em mentir — eu digo a ela. — Eu já sei que você
estava montando nele enquanto você estava comigo.
— Isso é mentira — ela rebateu. — Quem te disse isso?
— Todo mundo sabe, Bella — eu respondo, então solto um suspiro
cansado. — Eu já sei há um tempo.
Eu apenas optei por bloquear...
— E você não foi discreta — eu decido botar para fora porque,
francamente, eu quero.
— Bem, eu não era sua namorada, Johnny. Nós não éramos exclusivos —
ela defende suas ações dizendo. — E você sumiu completamente do mapa.
Você nunca queria sair ou se encontrar.
— Porque eu estava me recuperando de uma cirurgia! — Eu respondo.
— Por meses? — ela exige, em tom acusador. — Sim, certo, Johnny.
— Eu estava — eu lato.
Eu ainda estou.
— E antes disso? — ela exige. — E as outras seis longas semanas antes
de sua cirurgia, quando você se recusava a se encontrar comigo? Quando
você me ignorava. Qual é a sua desculpa para isso?
— Eu não estava ignorando você.
— Sim, você estava!
— Não, porra, eu não estava. Eu simplesmente não conseguia... —
fechando minha boca, eu balanço minha cabeça e me forço a segurar minha
língua.
Não brigue com garotas, eu me lembro.
Você nunca vai ganhar.
Elas vão distorcer suas palavras.
— Você não estava me dando o que eu queria — ela continua a me
atormentar, dizendo. — Você não estava me dando atenção suficiente! Todas
aquelas cerimônias de premiação e bailes em Dublin no ano passado e você
nunca me convidou para ir — ela sussurra. — Você nunca me quis lá.
— Porque você nunca foi minha namorada. — Eu retruco, jogando suas
palavras anteriores de volta para ela.
— Porque você nunca me pediu para ser sua namorada, Johnny — ela
cospe.
— Não, Bella, porque você nunca me quis — eu atiro de volta. — Você só
queria a parte brilhante da minha vida. A fama. Você nunca se interessou
pela parte real. O verdadeiro eu.
— Isso não é verdade! — ela argumenta.
— Por que você não fala a verdade, Bella? — Eu assobio, perdendo o
controle do meu temperamento. — Você fodeu com Ryan porque achou que
eu não ia estar em forma. Você viu que eu estava lesionado, você pensou que
eu não conseguiria voltar a tempo para a campanha de verão, então você foi
atrás da próxima melhor coisa apenas para estar segura.
Ela corou.
Eu sabia!
— Me peça agora — ela pede, fechando o espaço entre nós. — Me peça
para fazer todas essas coisas e eu farei.
— Eu não quero te pedir — eu digo, soltando seus braços do meu
pescoço.
— Johnny, vamos lá — ela suspira. — Não seja assim.
— Volte para Cormac — eu debocho, completamente desgostoso. — E
reze para que ele suba na hierarquia da Academia para que ele possa levá-la
a todas as festas de premiação que você quer participar. Você só tem chance
de chegar lá agora através dele, Bella, porque terminamos.
— Eu estava machucada, Johnny — ela se engasga. — Eu fiquei com
Cormac porque eu queria te machucar de volta.
— Me machucar de volta? — Eu recuei. — Pelo o que exatamente? Ficar
ferido? Ser apunhalado nas costas por semanas enquanto você montava meu
amigo pelas minhas costas? Ter arruinado suas chances de jantares chiques?
— Eu balanço minha cabeça e zombo dela, lamentando tocá-la com cada
fibra do meu ser. — Jesus, eu sou um bastardo terrível e imprudente.
— Por me ignorar — ela sussurra, as bochechas ficando rosadas. — Por
me usar.
— Eu usei você? — Eu recuo. — Sim, porque era isso que estava
acontecendo.
— Foi assim que você me fez sentir, Johnny!
— Então me desculpe! — Eu retruco, me esforçando para ter paciência no
olhar nessa porra de tempestade de merda induzida por garotas.
— Você tem que ter sentimentos para se arrepender, Johnny — ela retruca.
— E você não tem coração!
Não perca a cabeça.
Aguenta o golpe.
E então afaste-se dela.
Inalando uma respiração calmante, exalo lentamente antes de dizer:
— Bella, me desculpe se em algum momento eu fiz você se sentir
ignorada ou usada. Essa não era minha intenção. Eu sinceramente peço
desculpas pela minha falta de coração e sentimentos e desejo a você nada
além do melhor para todos os seus futuros empreendimentos com meu
companheiro de equipe. Agora, se você não se importa, estou cansado de
andar em círculos com você e tenho coisas reais para fazer.
Eu me movo para a porta, mas ela agarra minha mão novamente, me
puxando para trás.
— Espere – você está com outra pessoa? — ela exige, apertando minha
mão. — É esse o seu problema? — Seus olhos se arregalam. — Oh meu
Deus — ela exclama. — Você está, não é?
Jesus.
O que diabos eu estava pensando ao ficar com essa garota?
— Não, Bella, eu não estou com mais ninguém. — Puxando minha mão
livre, eu balanço minha cabeça e solto um suspiro frustrado. — Mas também
não estou com você. E nunca mais estarei com você novamente.
— Eu ouvi rumores, Johnny! — Bella pressiona, ignorando minhas
palavras. — Sobre você e a novata do terceiro ano. Ouvi dizer que você
bateu em Ronan McGarry por causa dela. E vi aquela foto sua com ela no
jornal.
— Isso não é da sua conta — eu digo com os dentes cerrados enquanto
luto para controlar meu temperamento.
— Vamos, Johnny — ela desafia. — Você nunca tirou uma foto comigo
para a mídia e eu sou a relação mais longa com quem você já teve. Qual é a
história com ela?
— Não é da sua conta — eu cuspo, sem paciência. — Cristo.
— Por que você estava brigando com McGarry por causa dela? — ela
exige. — Por que Cormac me disse que você avisou toda a equipe sobre ela?
— Eu não vou fazer isso com você. — Eu aviso, balançando a cabeça. —
Não mais.
— Pare de se esquivar da pergunta, Johnny — ela sussurra. — Se você
está com outra garota, então eu tenho o direito de saber.
— Eu já te dei a porra de uma resposta — eu rebato, terminando com essa
merda. — Você é a única que não consegue ouvir.
— Você está mentindo! Eu posso ver em seus olhos! — ela grita, alto o
suficiente para acordar os mortos. — Está escrito em todo o seu rosto,
Johnny. Alguma coisa está acontecendo com aquela garota.
— Você precisa se controlar — eu digo, o tom misturado com desgosto.
— Isso é patético.
— Tudo bem — Bella zomba, parecendo totalmente enfurecida. — Se
você não vai me dizer, eu vou perguntar a ela. — Sorrindo sombriamente,
ela acrescenta: — Shannon – esse é o nome dela, certo?
Bem, foda-se.
— Você vai ficar bem longe dela — eu sussurro, ciente de que estávamos
dentro do alcance do escritório.
Enquanto Dee não causaria nenhum problema para mim, eu não
imaginava minhas chances se o Sr. Twomey saísse e visse que eu estava
tendo problemas com outra garota.
— Qualquer merda que esteja acontecendo entre nós não tem nada a ver
com Shannon.
— Qual é o problema? — ela zomba, pressionando cada um dos meus
botões. — Com medo de que eu descubra algo que você não quer que eu
descubra?
— Eu estou falando sério, Bella. — Eu rosno, sentindo uma onda de raiva
crescer dentro de mim. — Eu não estou brincando aqui. Mantenha distância
dela.
— Bem — ela medita, os olhos estreitados. — Olha quem está
demonstrando emoção agora.
Ela estava absolutamente certa.
Eu estava demonstrando emoção.
Porque eu me importo.
Eu me importo muito mais com uma garota que eu mal conhecia do que
com Bella.
Era distorcido, confuso e completamente fodido, mas eu me importo.
Em vez de admitir esse novo desenvolvimento aterrorizante, eu digo:
— Deixe. Ela. Em. Paz.
E então faço o que deveria ter feito na primeira vez que pus os olhos nela.
Eu me afasto de Bella Wilkinson.
— Eu vou fazer você se arrepender por se afastar de mim — ela grita atrás
de mim.
— Acredite em mim, eu já estou arrependido — eu grito de volta. —
Arrependido de ter me aproximado em primeiro lugar.
Furioso, eu me afasto da garota que parecia estar empenhada em tornar
minha vida um inferno.
Carregado de arrependimentos amargos e raiva ardente, viro a esquina do
prédio principal sentindo como se estivesse a dois segundos de quebrar
alguma coisa.
Infelizmente para mim, esse algo acaba por ser uma garota.
Não qualquer garota.
Shannon.
24
EU ESTOU LEVANDO VOCÊ PARA CASA

SHANNON

Eu sempre sabia quando havia uma tempestade se formando em casa.


Eu sempre podia sentir isso.
Era como um sexto sentido de algum tipo, me avisando e alertando meu
corpo para perigo e dor.
Durante todo o dia na escola na sexta-feira, tive a sensação mais
angustiante de pavor alojada na boca do meu estômago.
Essa sensação de pavor me seguiu durante o dia inteiro, e nenhuma
quantidade de respirações profundas ou exercícios calmantes poderia tirar
isso do meu coração.
Era tão severa, tão potente e transparente, que eu estava realmente com
medo de ir para casa.
O ocorrido na noite de quarta-feira não ajudava em nada.
Foi uma noite que consistiu em meus pais gritando um com o outro tão
alto que os policiais vieram até a porta, tendo recebido uma ligação anônima
sobre perturbação de paz.
Minha paz.
Porque eu liguei.
Porque eu tinha medo que ele a machucasse.
Furiosa com a minha mãe ou não, eu não podia suportar a ideia dele
batendo nela lá embaixo enquanto eu me escondia no meu quarto como a
covarde que eu sou.
Joey estava mais uma vez com Aoife, e eu não era grande o suficiente ou
corajosa o suficiente para salvá-la eu mesma.
Felizmente, meu pai não tinha encostado um dedo em mamãe e, assim que
convenceu os policiais de que sua esposa estava tendo um surto relacionado
à gravidez, ele foi embora.
Claro, ele voltou ontem de manhã com um buquê de flores e uma
promessa de nunca mais fazer o que diabos ele tinha feito dessa vez.
Funcionou.
Ela o abraçou e o beijou, e eu tinha quase certeza de que se ela já não
estivesse grávida, ela estaria depois de passar a manhã trancada no quarto
com ele.
Eu a odiava.
Às vezes mais do que eu o odiava.
Ontem foi um desses momentos.
Quando voltei para a escola na sexta-feira de manhã, estava com o
pescoço dolorido e uma séria falta de esperança.
Ah, sim, porque embora papai e mamãe estivessem apaixonados de novo,
eu ainda era seu alvo favorito.
Aparentemente, ele ainda não superou aquela foto minha com Johnny.
Algo que me lembrei ontem à noite, quando tolamente fiz uma corrida até
a cozinha para pegar comida e me vi presa em sua birra de bêbado.
Ele acrescentou contusões recentes a contusões antigas e eu passei boa
parte da noite contemplando os piores pensamentos possíveis.
Quando a última aula do dia terminou, meu corpo estava tão dolorido de
tensão que eu mal conseguia fazer meus pés andarem em linha reta do prédio
de ciências ao prédio principal, onde eu precisava chegar.
Eu sabia que tinha que voltar para casa e o pensamento estava me
paralisando.
Eu não queria que o fim de semana chegasse e agora ele estava aqui, me
encarando.
Era uma perspectiva aterrorizante.
Eu tive uma dor horrível e incômoda no estômago durante todo o dia que
estava beirando o insuportável.
Minha mente está tão sobrecarregada, percorrendo lista após lista de
potenciais problemas que eu poderia enfrentar quando entrasse pela porta da
frente, que eu não estava prestando atenção na chuva caindo sobre mim ou
nos alunos que passavam zunindo.
Eu não estava prestando atenção em nada.
Porque eu sabia.
Eu só sabia no fundo do meu coração e da minha alma que o perigo estava
próximo.
Eu não sabia onde, ou quando, ou como isso poderia acontecer.
Mas eu sabia que estava chegando.
No entanto, o perigo que eu estava prevendo chegou prematuramente
quando dobrei a esquina do prédio principal e colidi com um sólido peito
masculino.
Eu estava tão despreparada para o contato, tão profundamente presa em
meus próprios pensamentos, que não tive tempo de me equilibrar ou
amortecer minha queda.
Eu caio como um baralho de cartas, nada páreo para a pessoa que eu tinha
batido, e desabo de bunda no chão frio e molhado.
— Oh, merda, eu sinto muito — uma voz profunda e familiar diz acima de
mim.
Eu não precisava olhar para cima para saber com quem eu havia
esbarrado, no entanto.
Eu reconheceria sua voz em qualquer lugar.
— Shannon, você está bem? — Johnny pergunta enquanto larga sua
mochila no chão e se abaixa para me ajudar a levantar.
— Eu estou bem — eu murmuro, afastando sua mão.
Eu não precisava dele me tocando.
Eu já estava muito afetada por ele.
Mantendo meus olhos fixos no concreto, eu me viro sobre minhas mãos e
joelhos e me levanto.
— Sinto muito — ele continua a dizer.
— Está tudo bem — eu sussurro, ajeitando minha saia para baixo. —
Estou bem.
— Você está?
Eu balanço a cabeça, mas mantenho meu olhar baixo.
Eu não consigo olhar para ele.
Eu não quero que ele me veja.
Não assim.
— Shannon?
— Eu preciso ir — eu resmungo, e então dou a volta nele, movendo-me
para o prédio principal.
Com a cabeça baixa, corro para o prédio principal e vou direto para o
vestiário do terceiro ano.
Respira.
Pare de entrar em pânico.
Apenas respira.
Quando chego ao armário do terceiro ano, que felizmente estava vazio,
deixo minha mochila cair dos meus ombros e pressiono minha testa contra o
metal frio e duro, inalando respirações agudas e audíveis.
Tremendo, inclino meus antebraços contra o armário e apenas segurei
minha cabeça, tentando desesperadamente controlar esse terror ridículo que
ameaçava me possuir e impedir que meu corpo entre em modo de vômito.
Minhas pernas tremem tanto que eu sei que não chegaria ao banheiro a
tempo, então minha única esperança era me acalmar antes de vomitar.
Tarde demais, penso comigo mesmo quando minhas pernas se dobram sob
mim.
Eu caio no chão sobre minhas mãos e joelhos, enquanto meu estômago se
esvazia bem ali no meio da escola.
Eu não tinha muito no estômago para começar, eu nunca tinha
normalmente, mas a água e meia barra de chocolate que eu tinha no almoço
volta de forma gloriosa.
O som de passos batendo no corredor enche meus ouvidos e eu gemo para
mim mesma, sabendo que eu nunca em um milhão de anos reviveria isso.
Momentos depois, sinto uma mão nas minhas costas quando alguém se
ajoelha ao meu lado e puxa meu cabelo para trás do meu rosto.
— Está tudo bem — a voz de Johnny enche meus ouvidos enquanto ele
esfrega círculos suaves sobre minha coluna com sua mão grande. — Shh,
você está bem.
Oh Deus, não.
Por que ele fez isso?
Por que ele me seguiu?
Ele não deveria falar comigo.
Esse era o plano.
Eu vomito por uns sólidos dois minutos antes que meu estômago
finalmente se acalme, e o tempo todo ele se manteve ajoelhado ao meu lado,
segurando meu cabelo para fora do meu vômito, e esfregando minhas costas.
— Você está bem? — Johnny pergunta, quando eu estava respirando de
novo e não de boca aberta.
Eu balanço a cabeça fracamente, e então sinto sua mão ainda nas minhas
costas.
Eu me encolho por instinto.
— O que é isso? — Eu o ouço perguntar momentos antes de seus dedos
roçarem meu pescoço, logo acima da gola da minha camisa da escola. —
Seu pescoço está machucado.
O pânico toma conta do meu coração quando o sinto afastar mais do meu
cabelo e tocar meu pescoço novamente.
— Shannon? — Johnny repete. — Como você conseguiu isso?
— É velho — eu resmungo, ainda ofegante.
— Não parece velho — ele responde, tocando meu pescoço.
— Bem, é — eu me engasgo, afastando seu toque.
Felizmente, ele obedece e se afasta de mim.
Fraca e mortificada, permaneço exatamente onde estou sentada, apenas
olhando para o chão enquanto uma onda de total humilhação passa por mim.
— Shannon? — ele diz em um tom suave, a mão nas minhas costas mais
uma vez. — Você está bem?
Assentindo fracamente, eu me afasto para uma posição ajoelhada, com as
mãos no colo, olhando para baixo.
— Espere aqui, ok? — Johnny ordena enquanto se levanta para ficar de
pé. — Eu vou chamar o zelador.
— Não, não — eu engasgo, mortificada. — Eu vou limpar.
— Não, você não vai — ele argumenta. — Está tudo bem. Apenas espere
aqui por mim e eu já volto.
No momento em que ouço seus passos se afastando, me levanto, pego
minha mochila e corro para o banheiro mais próximo nesta ala da escola.
Correndo para dentro, vou direto para a pia, abro o zíper do bolso da
frente da minha mochila e pego a escova de dentes e a pasta para viagem que
eu carregava religiosamente comigo.
Eu era uma pessoa ansiosa e minha ansiedade me deixava doente.
Aconteceu nos lugares mais inadequados e inconvenientes, geralmente na
escola, como hoje, então eu estava sempre preparada.
Tremendo da cabeça aos pés, e com lágrimas queimando meus olhos, eu
rapidamente escovo meus dentes, engasgando quando a escova cutuca minha
garganta.
Quando termino de limpar minha boca, lavo a escova de dentes e a coloco
de volta dentro da pequena bolsa com a pasta antes de colocá-la de volta na
minha mochila.
Você está bem, eu mentalmente me convenço enquanto lavo minhas mãos
e jogo água no meu rosto, tudo vai ficar bem.
Eu sabia que não estava, no entanto.
Não importa o quanto eu tentasse mentir para mim mesma, nada estava
bem na minha vida.
Fungando, coloco minha mochila nas costas, empurro uma das portas do
cubículo do banheiro e pego uma garrafa de desinfetante escondida atrás da
cisterna.
Caminhando de volta para a pia, tiro algumas dúzias de toalhas de papel
do dispenser e volto para a cena do crime.
Mas se foi.
Foi limpo pelo zelador que ia pelo corredor com um esfregão e um balde
atrás dele.
— Eu disse para você esperar por mim — uma voz familiar vem de perto.
Me virando, encontro Johnny encostado nos armários.
— Eu tive que escovar os dentes — eu solto, fungando.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Na escola?
— Isso acontece muito — eu falo com a voz nasalada.
Ele franze a testa, me observando com aqueles olhos azuis intensos.
— Você está se sentindo melhor agora?
Eu balanço a cabeça, mortificada.
— Estou bem.
— Bom. — Desencostando dos armários, Johnny caminha até onde eu
estou e pega o desinfetante e as toalhas de papel das minhas mãos.
Cambaleando, eu vejo quando ele abre a porta do banheiro feminino e
joga o desinfetante e as toalhas de papel de volta para dentro.
— Estou te levando para casa. — Ele diz enquanto tira minha mochila dos
meus ombros e a pendura no ombro esquerdo.
Meus olhos se arregalam.
— Não, não, você não tem...
— Estou te levando para casa — ele repete, os olhos azuis fixos nos meus.
— Vamos.
— Por que? — Eu resmungo.
Johnny franze a testa.
— Porque o que?
— Por que você está me ajudando?
Ele me encara por um longo momento antes de exalar um suspiro pesado.
— Porque eu quero.
— Você quer?
Ele assente.
— Você tem um casaco?
— Um casaco? — Eu resmungo, me sentindo impotente enquanto olho
para este lindo garoto.
— Sim, está caindo o mundo com a chuva lá fora.
— Eu, uh... — Eu pressiono minha mão na minha testa, me esforçando
para organizar meus pensamentos. — Está no cabide — eu finalmente
consigo dizer. — No prédio da ciência.
Com os olhos arregalados, observo Johnny abrir o zíper do casaco preto
que está vestindo e colocá-lo sobre meus ombros.
— Vamos — ele diz em um tom de persuasão enquanto coloca um braço
em volta dos meus ombros, me coloca ao seu lado e me leva para fora da
escola. — Eu cuidarei de você.
25

PROBLEMA

JOHNNY

Eu machuquei Shannon Lynch sem querer.


De novo.
Eu a fiz cair na escola.
De novo.
E então ela foi e quase me deu um ataque cardíaco.
Honestamente, nunca senti medo como quando a vi cair no chão ao lado
de seu armário.
Eu sabia que era uma ideia estúpida segui-la de volta à escola, mas eu
precisava ver como ela estava.
Para ser honesto, eu estava com medo de Bella interceptá-la.
Encontrá-la no chão daquela forma foi além de aterrorizante.
Meu coração literalmente parou no meu peito quando a vi e só começou a
bater de volta quando cheguei até ela e percebi que ela estava bem.
Ela estava mortificada, mas ela estava bem.
Eu não me importava com vômito.
Todo mundo vomitava.
Até garotas.
Aparentemente, essa garota faz muito isso.
Me lembro exatamente do que estava escrito no arquivo.
Ela vomitava muito.
Isso me preocupa.
Mais do que deveria.
O que me preocupa ainda mais foi por que isso aconteceu.
Shannon claramente vomitava de ansiedade.
Tanto quanto foi descrito em seu arquivo escolar.
Pelo amor de Deus, ela trazia uma escova de dentes para a escola com ela.
Eu estava queimando com minha própria forma de ansiedade pela
necessidade de saber o que a havia perturbado.
Eu não queria abusar da minha sorte, ou piorar a situação, então mantenho
minha boca fechada.
Colocá-la no meu carro provavelmente não era minha melhor ideia, dado
o fato de que ela parecia querer nunca mais falar comigo, mas eu não a
deixaria aqui para pegar a merda de um ônibus.
Ela não falou uma única palavra comigo durante todo o caminho até sua
casa – com exceção de se desculpar a porra de um milhão vezes por algo que
ela obviamente não podia controlar.
Eu não sabia o que fazer ou dizer para deixá-la à vontade.
Eu continuei dizendo a ela que estava tudo bem, mas ela não estava me
ouvindo.
Era como se ela estivesse presa em sua própria cabeça, se preocupando até
a morte com algo que eu não podia ver
Eu me sentia impotente.
Eu queria ajudá-la, mas era uma coisa impossível de fazer quando eu não
conseguia ver quem ela estava enfrentando.
— Sinto muito — Shannon me diz quando paro do lado de fora de sua
casa, depois de passar cinco minutos inteiros tentando convencê-la a me
dizer qual era a dela. — Eu realmente sou tão...
— Você não tem nada para se desculpar — eu digo a ela antes de desligar
o motor e me virar para olhar para ela.
Jesus Cristo, o que estava errado?
Alguém tinha causado problemas a ela na escola?
Alguém estava dando-lhe problemas de novo?
Ela parecia aterrorizada.
— Johnny, eu, uh... — suas palavras vão sumindo enquanto ela olha para
a pequena casa com terraço no final da rua e depois de volta para mim. —
Por favor, não conte — ela finalmente diz, a voz baixa, os olhos arregalados
e cheios de lágrimas não derramadas.
Eu faço uma careta, sentindo meu coração acelerar.
— Contar o que, Shannon?
Ela coloca o cabelo atrás das orelhas e exala uma respiração trêmula.
— O que eu fiz na escola.
Minhas mãos tremem no volante enquanto eu luto contra a vontade de
puxá-la para o meu colo e abraçá-la.
— Eu não vou contar nada a ninguém — eu digo em um tom tão gentil
quanto eu consigo conjurar.
— Você promete? — ela resmunga.
Eu aceno com a cabeça.
— Eu prometo.
Shannon exala outra respiração irregular.
— Desculpe... isso só... acontece quando eu fico com medo.
Meu sangue gela.
— Do que você tem medo, Shannon? — Eu me surpreendo com o quão
calmo eu soo quando estou a dois segundos de perder a cabeça aqui neste
carro. — Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu? — ela sussurra, mordendo o lábio inferior.
— Na escola? — Eu balanço a cabeça lentamente — Alguém estava te
incomodando?
Ela fecha os olhos e morde ainda mais o lábio, com tanta força que eu
estendo a mão e o puxo para fora de seus dentes.
— Não — eu peço.
Seus olhos se abrem.
— Huh?
— Você vai se machucar — eu digo a ela, retraindo minha mão, embora
fosse a última coisa que eu queira fazer.
— Sinto muito — ela sussurra.
— Você não precisa se desculpar — eu respondo em um tom grosso.
Shannon abaixa o olhar para suas mãos entrelaçadas e depois de uma
longa e dolorosa pausa para silêncio, ela acena para si mesma.
— É melhor eu entrar agora — ela finalmente diz, a voz baixa. —
Obrigada pela carona.
Eu observo enquanto ela solta o cinto de segurança e abre a porta e o
pânico toma vida dentro do meu estômago, o que não fazia sentido porque
eu não sabia com o que diabos eu estava me preocupando.
— Você me diria, certo? — Eu a chamo quando ela está fora do meu
carro. — Se algo estivesse acontecendo com você? — Me inclinei sobre o
banco do passageiro para olhar para ela, sabendo que estava fazendo uma
confusão com isso, mas precisando dizer de qualquer maneira. — Você me
diria se alguém estivesse lhe causando problemas na escola?
Shannon fica com a mão segurando a porta do meu carro por um longo
momento, grandes olhos azuis fixos nos meus.
Finalmente, ela assente.
Sinto meu corpo ceder de alívio.
— Tchau, Johnny — ela sussurra e então fecha a porta.
— Tchau, Shannon — murmuro para mim mesmo enquanto giro a chave
no motor.
Eu preciso sair daqui antes que eu faça algo realmente estúpido, como
colocá-la de volta no meu carro e levá-la para casa comigo.
Porque uma falha fodida no meu cérebro me diz para fazer exatamente
isso.
Deixá-la parecia tão errado.
Vá embora, Johnny.
Dê a volta com o carro e vá embora.
Ela está bem.
Ela está perfeitamente bem.
Concentre-se no jogo, Kav.
Você tem treinamento.
Você não precisa perder a cabeça por uma garota.
Balançando a cabeça, coloco o carro em marcha e me forço a me controlar
e apenas dirigir.
Não funciona.
Porque eu não posso ir.
Colocando o carro em ponto morto, abro a porta do carro e saio.
— Espera!
Shannon se vira e me encara com os olhos arregalados.
— Huh?
O que você está fazendo, Kav?
Que porra você está fazendo?
— Venha comigo. — As palavras saem da minha boca antes que eu tenha
a chance de me impedir ou retirá-las.
— Ir aonde com você? — Shannon sussurra, olhando rapidamente de mim
para a casa na rua.
Não sei, Shannon.
Eu não sei porra.
Eu não tenho nenhuma maldita ideia do que está acontecendo comigo.
Eu só sei que meu instinto está me dizendo para não deixá-la agora.
— Qualquer lugar? — Eu ofereço, e então limpo minha garganta antes de
acrescentar — Nós poderíamos dar uma volta de carro? Ou comer alguma
coisa?
Jesus, o que havia de errado comigo?
Eu vejo algo brilhar em seus olhos então, algo que parecia muito com
alívio.
— Você quer que eu... — Shannon pergunta em voz baixa. — Vá com
você?
Eu balanço a cabeça, incerto.
— Sim, Shannon. — Minha voz soa grossa. — Eu quero que você venha
comigo.
26

O GAROTO É UM HERÓI

SHANNON

Eu estava de volta no carro dele.


Eu não tinha ideia para onde estávamos indo, ou por que Johnny tinha me
pedido para ir com ele em primeiro lugar depois de me levar para casa, mas
neste momento, eu não me importo.
Eu não me importo que ele tivesse ferido meus sentimentos na semana
passada.
E eu não me importava que eu pudesse ter problemas por estar com ele.
Quando ele abriu a porta do passageiro de seu carro e me ofereceu uma
fuga temporária do inferno que era minha casa, eu aceitei.
Eu mais do que aceitei.
Eu praticamente mergulhei no assento.
Quarenta e cinco minutos depois, me encontro sentada em frente a ele em
um bar na cidade chamado Biddies, com uma tigela de sopa pela metade na
minha frente, uma garrafa de coca e um coração acelerado.
No momento em que entramos pela porta do bar movimentado, todos lá
dentro se viraram e se concentraram em Johnny.
Foi incrivelmente intimidante apenas vê-lo tentar lidar com a atenção
lançada nele.
Eu me sentia sobrecarregada, então não conseguia imaginar como deveria
ser para Johnny.
Ele tinha apenas dezessete anos.
Assim como naquele dia em campo com os repórteres, Johnny não foi
nada além de profissional, aceitando apertos de mão e palmas no ombro
enquanto esperávamos no bar por uma das garçonetes.
Eu estava tão distraída com a atenção que ele recebia, e com a mão que
ele mantinha na parte inferior das minhas costas enquanto falava, que eu
apenas balancei a cabeça quando ele se inclinou no meu ouvido e me
perguntou se eu estava com fome.
Demorou mais cinco minutos conversando com pessoas aleatórias antes
de finalmente nos sentarmos na única mesa vazia no bar.
Fiquei absolutamente mortificada por ele ter me comprado comida, e eu
teria protestado e me oferecido para pagar, mas não tinha dinheiro.
Eu não tinha nada para oferecer a este menino.
Nada mesmo.
— Como você está se sentindo agora? — Johnny pergunta, me tirando dos
meus pensamentos.
Minha cabeça se ergue de onde eu estava olhando para minhas mãos, e eu
o encontro me observando do outro lado da pequena mesa redonda.
Aquela queimadura familiar acende dentro da minha barriga quando me
forço a encontrar seu olhar. Eu tinha o casaco dele bem apertado em volta de
mim, mas isso não me impede de tremer.
— Estou, uh, estou me sentindo muito melhor agora — eu respondo,
corando com o peso de seu olhar. — Obrigada.
— Bom. — Johnny recosta-se na cadeira, os olhos ainda fixos em mim, e
coloca a cerveja na mesa distraidamente. — Fico feliz.
— Obrigada pelo jantar — acrescentei, me sentindo tímida e estranha e
um milhão de outras emoções. — Eu realmente gostei disso.
Por alguma razão, minhas palavras arrancam um sorriso enorme de
Johnny.
— Você considera uma tigela de sopa como o jantar? — ele pergunta,
sorrindo tão largo que suas covinhas aparecem.
— Bem, era uma tigela enorme. — Eu ofereço com um encolher de
ombros. — Então, sim, eu considero um jantar.
— É sopa, Shannon — Johnny ri. — É praticamente água.
— Por que? — Olho para o prato vazio e a tigela na frente dele. — Você
ainda está com fome?
Ele não podia estar.
Acabei de vê-lo engolir uma tigela gigantesca de sopa, antes de comer
uma montanha de vegetais e frango.
Era fisicamente impossível ficar com fome depois de consumir aquele
tanto de comida.
Johnny bufou.
— Isso foi um lanchinho.
— Um lanchinho? — Apoio meus cotovelos na mesa e pergunto: — Você
está planejando jantar novamente quando chegar em casa?
— Provavelmente vou comer pelo menos mais quatro vezes antes de ir
para a cama — ele me diz.
Minha boca se abre.
— Mas são cinco horas.
— Eu sei. — Ele balança a cabeça, sorrindo com tristeza. — Você deveria
ver o que eu coloco para dentro diariamente. Provavelmente te chocaria.
— Bem, você não é gordo para um cara que come tanto. — Eu solto e
imediatamente me arrependo das minhas palavras.
Johnny ri baixinho.
— Não, eu não sou.
Eu fico vermelha no tom carmesim.
— Desculpa — eu solto. — Eu não queria chamar você de...
— Não se desculpe — ele me diz, ainda sorrindo. — Eu treino.
Duramente. Preciso de combustível para bombear meu corpo.
— Por causa do rúgbi? — Eu pergunto, colocando meu cabelo úmido
atrás das orelhas.
Johnny assente.
— Preciso consumir 4.500 calorias diariamente quando estou treinando.
Meu queixo cai novamente.
— Como isso é humanamente possível?
Johnny sorri.
— Eu faço isso funcionar.
— Como? — Eu pergunto, completamente intrigada agora.
— Ao espaçar minhas refeições — explica. — Coma as coisas certas na
hora certa. — Ele dá de ombros antes de acrescentar: — Eu costumo comer
a cada duas ou três horas. Meu nutricionista diz que é o melhor ajuste para o
meu corpo.
— Então, você tem uma programação de alimentação? — Rindo,
acrescento: — Como um bebê.
Johnny me dá um sorriso indulgente e toma um grande gole de sua laranja
diluída.
Ignorando o grupo barulhento de garotas em uma mesa próxima, me
concentro no garoto na minha frente.
— Então, você não pode ter nada das coisas boas?
— Defina bom?
— Coca-cola. Chocolate. Sorvete. Batatas fritas — eu digo uma lista de
minhas guloseimas favoritas. — Jujubas. Cereais de chocolate. Pizza.
Cheeseburgers. Salgadinhos. Comida chinesa. Donuts...
— Estou no meio de uma temporada — Johnny interrompe, me dando um
olhar afrontado. — A única coisa que entra no meu corpo é orgânica, nada
processado e carregado de proteína.
Eu fico boquiaberta para ele.
— Nem mesmo uma bolacha maria?
Johnny balança a cabeça.
— Por que – oh meu Deus! É porque você teria problemas com o pessoal
da academia de rúgbi? — Meus olhos se arregalam com a injustiça. — Meu
irmão Joey me contou sobre como eles cuidam dos meninos mais jovens
como se fossem cachorrinhos. — Horrorizada, pergunto: — Eles te dão uma
lista de alimentos proibidos e depois te punem se você os comer?
— Não — Johnny fala lentamente, franzindo a testa agora. — Que tipo de
lugar você acha que a Academia é?
— Se você não tem permissão para comer guloseimas, então é um lugar
terrível — eu respondo solenemente.
— Comer coisas saudáveis é a minha escolha — ele explica, me
observando com uma expressão confusa. — Eu não sou obrigado a fazer
nada. Minha vida está nos meus termos. E não encher meu rosto com merda
processada carregada de açúcar é chamado de ser saudável e exercitar o
autocontrole.
— Mas o tempo todo? — eu questiono. — Como 24 horas por dia, 7 dias
por semana?
— Eu tenho uma política de tudo ou nada — responde ele. — Ou estou
dentro de algo ou não estou perdendo meu tempo. Não adianta fazer algo
meio idiota.
— Bem, estou triste por você — eu anuncio — Você não sabe o que está
perdendo.
Deslizando a mão no bolso da saia, tiro a barra de chocolate meio comida
– minha marca favorita – dei uma olhada rápida para verificar se a garçonete
não estava me observando trazer comida para o local, antes de pendurá-la na
frente de seu rosto.
— O cheiro é a melhor parte — eu digo a ele. — E você obtém endorfinas
com isso também.
Seus lábios se contraem.
— Eu treino seis horas por dia, Shannon. Não preciso suplementar
endorfinas com uma barra de chocolate.
Rasgando o embrulho, eu a seguro na frente de seu nariz por alguns
momentos.
— Cheire — eu encorajo, me sentindo estranhamente à vontade com ele.
— Vá, faça.
— Sai fora — Johnny ri, gentilmente afastando minha mão.
— Você que perde. — eu digo com um encolher de ombros, então mordo
um quadrado de chocolate, gemendo quando o delicioso chocolate atinge
minha língua.
— Você que ganha. — ele zomba, enquanto girava um pedaço de gelo ao
redor de seu copo.
— Uau — eu bufo, colocando o chocolate de volta no meu bolso. — Se
eu fosse uma garota grande, você poderia ter ferido seriamente meus
sentimentos.
— O quê? — Pânico brilha em seu rosto. — Porra, não! Foi uma piada. —
Ele se inclinou para frente em seu assento. — Eu não quis dizer... eu não
estava te chamando de gorda... Você é a menor coisa que eu já... Merda, você
é tão pequena que eu poderia...
— Relaxe — eu rio. — Eu não estou ofendida.
Johnny me encara por um longo tempo e então solta um suspiro pesado.
— Jesus Cristo, eu quase tive um ataque cardíaco aqui. — Esfregando o
peito, ele sorri maliciosamente. — Eu sei o quão loucas a maioria das
garotas podem ficar por causa do peso.
— Bem, eu não sou como a maioria das garotas — eu respondo com uma
careta e gesticulo para mim mesma. — Como você pode ver.
— Não — Johnny confirma baixinho, os olhos seguindo os movimentos
da minha mão. — Não, você não é.
Houve uma pausa longa e desconfortável onde nós dois nos encaramos.
O silêncio era desconcertante, mas não tão enervante quanto a intensidade
em seus olhos azuis.
Eles eram muito perspicazes.
Muito oniscientes.
Muito.
— Você quer outra coca-cola? — Johnny pergunta, quebrando a tensão.
— Uh... — Olho para o meu relógio e depois de volta para ele. — Não
sei.
Johnny franze a testa.
— Você não sabe?
Sim.
Não.
Vá para casa antes que seu pai descubra que você está em um bar e te
mate.
Não, fique aqui com ele.
Deus...
Eu dou de ombros impotente.
— Bem, você está com sede? — ele pergunta. — Você acha que gostaria
de outra bebida?
— Eu... — Olho ao redor nervosamente, apenas para encontrar dezenas de
pares de olhos focados em nossa mesa.
Meu batimento cardíaco dispara.
Eu não gosto disso.
Nem um pouco.
— Shannon? — Johnny diz, capturando minha atenção mais uma vez. Ele
estava olhando para mim com expectativa, a carteira na mão. — Te compro
outra bebida?
— Uh... — Me aproximando, me inclino sobre a mesa e gesticulo para
Johnny se aproximar.
Franzindo o cenho, ele se inclina.
— Johnny — eu sussurro em seu ouvido. — Sinto que estamos sendo
observados.
Me afastando, olho em volta novamente e noto que a mesa de
adolescentes de alguma forma se aproximou da nossa. Meus olhos vão para
os dele e eu balanço a cabeça vigorosamente.
— As pessoas definitivamente estão nos observando, Johnny.
Johnny parecia incrivelmente irritado quando exalou pesadamente e passa
a mão pelo cabelo.
— Sinto muito por isso.
— É por causa do rúgbi?
Ele me dá um aceno de cabeça resignado.
— Sinto muito. Apenas os ignore
— Como? — Eu resmungo, me sentindo muito exposta neste momento.
Johnny me encara por um longo momento, sem falar, antes de empurrar a
cadeira para trás e se levantar.
— Vamos — ele anuncia, estendendo a mão para mim. — Vou pegar outra
bebida e vamos sentar no salão.
— Salão?
— É mais tranquilo. — Ele olhou ao redor e murmura — Talvez nós
tenhamos um pouco de paz e fodida tranquilidade — baixinho.
Ele também não gosta disso.
Ele pode agir como se isso não o incomodasse.
Mas isso não era algo com o qual ele estava confortável.
Era com essa percepção que me encontro pegando sua mão estendida.
Sobrecarregada, sigo Johnny até o bar onde ele pede mais bebidas, antes
de passar por uma porta ao lado do bar e entrar em uma sala mal iluminada.
Esta sala tinha uma sensação mais jovem, com mesas de sinuca e dardos
nas paredes, e uma jukebox tocando no canto.
Noto vários adolescentes descansando enquanto ostentavam uma
variedade de diferentes uniformes escolares do distrito local.
Como quando entramos no bar principal, todos se viram para olhar para
ele, mas depois de alguns acenos de cabeça e “como vai, Kav”, eles voltam
para suas companhias.
Johnny me leva até uma mesa no canto mais distante do salão, mas desta
vez em vez de sentar do outro lado da mesa, ele coloca nossas bebidas na
mesa e se senta no banco de couro ao meu lado.
Dali, tínhamos uma visão perfeita do resto da sala, com a vantagem de
estar um pouco fora do caminho.
Você deveria ir para casa, Shannon, meu bom senso ordena, você não
deveria estar aqui.
— Melhor? — Johnny pergunta, sentando-se ao meu lado.
Eu balanço a cabeça e pego minha coca, olhos fixos no que acontecia ao
meu redor.
Eu podia ver vários garotos do outro lado do salão vestindo uniformes da
BCS, e isso me faz querer rastejar para debaixo da mesa e me esconder.
Eu estava tão nervosa que tive que usar as duas mãos para impedir que a
garrafa tremesse.
Ver Ciara Maloney, minha maior torturadora da minha antiga escola, e a
doadora da cicatriz da minha pálpebra, sentada entre eles, faz meu corpo
inteiro se contorcer de pavor.
Como se ela pudesse sentir que eu a observava, Ciara vira o rosto na
minha direção.
Excelente.
Simplesmente ótimo.
No momento em que ela me reconhece, aquele brilho familiar de intenção
maliciosa brilha em seus olhos por cerca de dois segundos antes de seu olhar
se mover para Johnny que estava sentado ao meu lado.
Sua boca se abre visivelmente e ela começou a cutucar a garota sentada ao
lado dela, Hannah Daly – sua melhor amiga e outra das minhas valentonas.
Estávamos sendo observados novamente.
Mas agora, tinha mais a ver comigo sendo odiada do que ele sendo a
celebridade local.
Em pânico, baixo meu olhar para a garrafa de vidro apertada entre minhas
mãos.
Respire, Shannon.
Apenas respire...
— Você é uma mentirosa, putinha — Ciara rosna enquanto ela me prende
na parede atrás da escola e olha para mim. — Você estava olhando para ele.
Sabendo que era mais seguro não dizer nada, mantenho minha boca
fechada e me preparo mentalmente para a surra que eu sabia que receberia.
— Me responda, vadia! — ela rosna, batendo meus ombros no concreto,
fazendo com que o ar expelisse dos meus pulmões em um gemido alto e
doloroso.
Várias das garotas ao nosso redor riem e zombam quando um gemido sai
da minha garganta.
Eu já estava sofrendo de mais maneiras do que qualquer uma dessas
garotas poderia compreender – o último surto de uísque do meu pai era a
causa da minha dor – e elas estavam gostando do meu óbvio desconforto.
Não era nada novo para mim.
Eu estou acostumada a ser ridicularizada.
Eu estou acostumada a ser o saco de pancadas.
E eu me odeio por aceitar isso.
Quando Ciara me empurra contra a parede novamente, eu me forço a
engolir o soluço que ameaça sair da minha garganta, em vez disso forçando
as palavras:
— Eu não olhei para o seu namorado. Ele olhou para mim.
Essa era a verdade.
O namorado dela tinha o hábito horrível de me encarar.
Minha explicação me rendeu um tapa no rosto e um puxão no meu cabelo
com tanta força que cambaleio para frente, me sentindo fraca e impotente.
— Eu vou te destruir porra — ela sussurra no meu ouvido antes de rasgar
as unhas na lateral da minha bochecha.
Vá em frente, penso comigo mesma.
Mas você não pode destruir o que já está quebrado...
— Relaxe — Johnny sussurra no meu ouvido, me distraindo das minhas
memórias. — Você está segura comigo.
Suas palavras me jogam de volta ao presente e eu viro meu rosto para
olhar para ele.
Deus, ele era tão bonito, era doloroso.
Tudo sobre Johnny Kavanagh era pura perfeição.
Ele era grande e forte, e seu rosto?
Oh Deus, seu rosto era o melhor rosto que eu já tinha visto.
— Por que eu não estaria segura? — Era uma pergunta defensiva feita por
desespero porque esse garoto estava mexendo comigo como ninguém tinha
feito antes.
Eu não conseguia entender nada disso, e meu pobre coração estava
trabalhando em excesso para acompanhar os sentimentos bombardeando
meu corpo por causa de sua proximidade.
Medo, incerteza, luxúria e pânico estavam chutando minha bunda.
— Eu só estou deixando você saber que você está — ele respondeu, olhos
azuis fixos nos meus. — Ok?
Exalando uma respiração irregular, eu balanço a cabeça e me aproximo
dele.
Se eu pudesse, eu subiria em seu colo e enterraria meu rosto em seu peito
neste momento, mas ele era um estranho para mim e isso seria socialmente
desaprovado, então resolvo me aproximar dele.
Eu sei que ele provavelmente acha que eu estou louca, mas eu estava a
dois segundos de ter um ataque de pânico completo e sua presença estava me
acalmando.
Johnny olha para mim com olhos curiosos antes de voltar sua atenção para
a mesa dos sextos anos da BCS.
Eu vejo então, uma faísca de reconhecimento ilumina os olhos de Johnny
antes de seu rosto assumir uma expressão endurecida.
— Podemos ir agora? — Eu sussurro, o coração batendo rapidamente
enquanto resisto à vontade de me enterrar ao seu lado. — Por favor?
— Nós iremos quando estivermos prontos para ir — ele diz em uma voz
tão baixa e suave que era quase inaudível. — Levante sua cabeça, Shannon
como o rio. — Momentos depois, ele passa o braço por cima do meu ombro
e me puxa para o seu lado. — Ninguém vai te machucar.
Aliviada, me aproximo, perto demais para estranhos sentarem juntos, mas
não me importo.
Ele era grande e forte e tenho a nítida sensação de que ele está me dizendo
a verdade.
Eu acredito nele quando ele me diz que eu estou segura com ele.
— Aquelas garotas? — ele pergunta, inclinando o rosto para baixo para
olhar para mim enquanto fala. — Qual é a história?
— Não há história — eu resmungo, segurando minha garrafa com um
aperto de morte.
— Por que eu acho tão difícil de acreditar?
Dou de ombros e abaixo meu queixo, deixando meu cabelo cair para
frente, desejando ter a capa da invisibilidade de Harry Potter enrolada em
meu corpo para que eu pudesse escapar dessa situação sem mais dor.
Eu não aguento mais.
— Olhe para mim.
Eu não olho.
— Olhe para mim — ele repete, tom calmo e persuasivo.
Eu não posso.
Eu o sinto se mover ao meu lado e então seus dedos estão no meu queixo,
inclinando meu rosto para o dele.
— Você está segura — ele sussurra, segurando meu rosto em sua mão, os
olhos perfurando buracos direto na minha alma. — Eu prometo.
Aquela palavra.
Deus.
Essa palavra me quebra.
Era demais.
Minha vida.
Essas garotas.
Meu pai.
E no meio disso tudo, eu só conseguia ver ele.
Esse garoto.
27

MANTENHA A CABEÇA

JOHNNY

O que me deu na cabeça para trazer Shannon ao Biddies, eu nunca


entenderei completamente, mas ela está aqui agora, e parecendo mais
chateada do que quando eu a encontrei vomitando na escola uma hora atrás.
Então, eu também.
Eu estava tentando mascarar a minha fúria, mas juro por Deus que estava
perto de matar alguém.
Genuinamente.
Verdadeiramente.
Absoluta e fodidamente.
Shannon ficou petrificada com essas garotas.
Seu corpo estava tremendo.
Tremendo.
E era por isso que ela estava atualmente dobrada ao meu lado com meu
braço enrolado firmemente em torno de seus ombros frágeis.
Eu sabia que estava passando por cima dos limites aqui, mas me recuso a
deixá-la fugir desses filhos da puta.
Eu sabia que não deveria tocá-la, mas como diabos eu não poderia?
Como eu poderia deixá-la sentada ali, parecendo tão assustada e insegura?
Eu não posso.
Para ser honesto, foi uma coisa boa ela estar me tocando porque eu estava
a um passo de explodir algumas cabeças e ser jogado atrás das grades.
Esse não era eu.
Eu não era um reator nuclear.
Eu pensei merdas, no entanto.
Não quando se trata dessa garota...
A loira de uniforme da BCS do outro lado do salão chama minha atenção
novamente e sorri.
Eu encontro seu sorriso com um olhar frio e duro e me deleito com uma
espécie de prazer doentio quando seu sorriso desaparece e o medo enche
seus olhos.
Fique com medo, porra, penso comigo mesmo, você não tem ideia de com
quem está mexendo.
Eu poderia arruinar essas pessoas.
Eu quero.
Cada célula do meu cérebro estava projetando nada além de raiva e
vingança, exigindo que eu pegasse de volta o que eles tiraram de Shannon.
Tirar o orgulho deles como eles levaram o dela.
Assustá-los como eles a assustaram.
Infligir dor a eles como eles a torturaram.
Eu posso sentir o gosto da minha raiva.
Era fodidamente potente.
Droga, eu preciso me controlar, mas toda vez que tento, eu ficava
pensando no arquivo dela.
Uma dessas vadias foi quem cortou o rabo de cavalo?
Eu tenho um mau pressentimento sobre a loira.
Outro problema que eu estava tendo que me faria perder a cabeça era o
jeito que esses idiotas estavam olhando para ela.
Ansiosamente.
Eles precisavam evitar dirigir a porra de seus olhos para essa garota
porque eu não consigo lidar com isso.
Eles não precisam olhar em sua direção.
Para sempre.
Eu tinha meu braço em volta dela, pelo amor de Deus.
Pegue a porra da dica.
Não é à toa que a loira estava chateada, penso comigo mesma. O molenga
de cabelo escuro estava claramente saindo com ela e ainda assim ele estava
olhando para Shannon como se ela fosse o jantar.
Meu jantar, seu nojento, eu quero rugir.
— Estou pronta para ir agora — Shannon diz, me arrastando de meus
pensamentos e meu olhar do idiota de cabelos escuros olhando para ela do
outro lado da sala.
Ela coloca sua garrafa vazia na mesa e olha para mim com aqueles
grandes olhos azuis.
— Se estiver tudo bem?
Se acalma, coração.
Se acalma.
Forço um sorriso.
— Sim, Shannon, tudo bem.
Por razões óbvias, mantenho meu braço em volta dela enquanto passamos
pela mesa dos babacas de sua antiga escola. Eu não perco o jeito que seus
dedos se enroscaram no meu suéter, ou como seu corpo inteiro enrijece
quando uma das garotas faz algum comentário indireto sobre vadias
perseguindo paus de ricos.
Mantendo minha cabeça, eu a levo para fora do salão e então a puxo para
uma parada no bar.
— Você pode me fazer um favor?
Shannon olha para mim com os olhos arregalados, assentindo.
— Sim, claro.
Tiro a carteira e as chaves do bolso e entrego a ela.
— Você pode acertar a conta com a garçonete e esperar no carro por mim?
Seu rosto empalidece.
— Por que?
— Eu preciso falar com um dos meus amigos — eu minto, sorrindo para
ela. — Eu já te encontro.
Ela me olha com cautela por um longo momento antes de soltar um
suspiro.
— Claro — ela finalmente diz, parecendo aliviada. — Eu posso fazer isso.
— Obrigado — eu respondo.
Espero até que Shannon tivesse se movido para o bar antes de girar nos
calcanhares e voltar para o salão, não parando até que eu estivesse na frente
da mesa dos idiotas.
— Agora — eu zombo, olhando para seus rostos. — Quem quer chamar
minha namorada de vadia na minha cara?
Eu jogo a palavra namorada para ter um efeito máximo do dano que eu
estava prestes a causar.
Várias cabeças viram na minha direção e eu não dou a mínima.
Alguém ia pagar por sua dor.
— Bem? — Eu exijo, olhando para a loira. — Você? — Eu pergunto antes
de virar meu olhar para a ruiva sentada ao lado dela. — Ou você?
— Ouça, eu não sei o que ela disse para você — a loira começa a dizer,
mas eu a interrompo com um aceno de cabeça.
— Esse é o seu cara? — Eu pergunto, inclinando minha cabeça para o
idiota de cabelo escuro que estava cobiçando Shannon menos de cinco
minutos atrás, mas estava convenientemente quieto agora. — É ele?
O rosto da loira fica vermelho e ela assente.
— Bom saber — eu medito, e então estendo a mão sobre a mesa, agarro
seu suéter da escola, e bato meu punho em seu rosto.
— Que porra você está fazendo? — o rapaz rosna, dobrando-se.
— Estou jogando pelas regras, idiota. — Eu cuspo enquanto o arrasto para
fora da mesa e bato nele novamente.
Ambas as meninas começam a gritar e se debater.
Um de seus amigos faz menção de se aproximar de mim.
— Eu te desafio porra — eu rosno, enquanto eu continuava a bater em seu
amigo.
Ele dá um passo seguro para trás e ergue as mãos.
Reviro os olhos.
Maldito covarde.
Eu perdi a conta do número de brigas que Gibs teve em meu nome ao
longo dos anos, e vice-versa.
Esse idiota precisa ter amigos melhores.
— Pare! — a loira chora quando eu continuo a bater meu punho no rosto
de seu namorado. — Você está machucando ele!
— Oh, você percebe isso, não é? — eu cuspo. — Então você é capaz de
distinguir o certo do errado?
— Qual é o seu problema? — ela chora. — Nós não fizemos nada com
você!
— Você com certeza fez alguma coisa com ela. — Eu rosno. — E quando
você fode com ela, você fode comigo.
A loira empalidece e eu solto seu namorado.
Ele afunda no chão, segurando seu rosto e gemendo como um molenga.
Ela vai direto para ele.
— Você gostou disso? — Eu pergunto, olhando para o idiota cujo rosto eu
tinha acabado de reorganizar. — Isso foi legal?
— Jesus, cara — o cara geme, segurando o nariz para estancar o sangue.
— Eu não fiz nada com você.
— Não — eu fervo. — E a minha garota, — eu aponto para a porta da
sala — não fez nada com a sua garota, mas isso não a impediu de aterrorizá-
la. — Olho para a loira. — De cortar o cabelo e dar uma surra nela!
O rosto da loira fica escarlate.
Eu sabia.
— Pelo amor de Deus, Ciara — o cara de cabelos escuros geme enquanto
sacode a mão do loiro. — O que você fez com ela agora?
— Nada — Ciara argumenta. — Eu nem a vejo desde o Natal, querido.
— Você gosta de ser aterrorizado? — Eu pergunto a ele, dando um passo
mais perto — Como é a sensação de não ter poder?
— Eu entendi, cara — o cara geme, acenando com a mão na minha frente.
— Alto e claro.
— Certifique-se de que sua namorada entenda — eu sussurro, olhando
para ele. — Porque se ela não entender... — eu paro para apontar tanto para
a loira quanto para a ruiva antes de continuar — se ela ou qualquer uma de
suas amigas vagabundas olhar para minha namorada de novo, eu vou atrás
de você.
Fico ali por um longo minuto, dando a cada uma daquelas escórias do
BCS um olhar, e esperando por uma resposta.
Quando eu não consigo uma, como eu sabia que não conseguiria, eu me
viro e vou embora, apenas para parar na porta.
Chame isso de infantil, mas não consigo me impedir de voltar para a mesa
deles e virá-la.
Sentindo-me ridiculamente satisfeito quando suas bebidas derramam e
caem no chão, giro nos calcanhares e saio.
— Johnny! — Liam, o proprietário, late enquanto contornava o bar
principal. — Que porra você está fazendo, garoto?
Porra, porra.
Inalando uma respiração calmante, eu me viro para encará-lo.
— Sinto muito por causar problemas em seu bar. Isso não vai acontecer de
novo.
— Problemas? — Ele arqueia uma sobrancelha. — Eu vi você nas
câmeras. Você poderia ter matado aquele garoto.
Agitado, passo a mão pelo meu cabelo.
— Aqueles idiotas estavam causando problemas para minha namorada —
eu digo. — Agora, sinto muito por ter resolvido o problema em seu bar e
pagarei por qualquer vidro quebrado ou dano que causei, mas esta será a
última vez que coloco dinheiro em seu bar.
Liam hesita.
— Jesus Cristo, relaxe, Johnny, eu não estou barrando você.
— Eu não me associo com escória, Liam — eu digo a ele em um tom
tenso. Apontando para a porta da sala, acrescento: — E esses filhos da puta
são os mais escrotos que você pode ter. Então vá em frente e continue
servindo-os, e eu vou em frente e encontrar um novo bar para minha equipe.
— Johnny, cara, espera...
— Não, eu acho que não — eu assobio, afastando seu braço enquanto eu
caminho para a porta. — Tenho uma reputação a zelar e não posso fazer isso
em um lugar que serve canalhas.
— Essa será a última vez deles aqui — Liam grita atrás de mim. —
Preparo o seu de sempre amanhã?
Paro na porta e volto.
— Eu estarei de volta quando a clientela não consistir em malditos
valentões cruéis.
E então eu me viro e saio.
Shannon está sentada no banco do passageiro do meu carro quando entro.
— Sinto muito por isso — eu digo a ela enquanto fecho a porta e coloco
meu cinto de segurança. — Eu fiquei preso na conversa.
— Não, não — Shannon se apressa a dizer com aquela pequena voz dela.
— Está tudo bem. Você não precisa se desculpar comigo.
Sim, eu preciso.
Eu a deixei aqui em um carro gelado por meia hora.
Não era bom o suficiente.
Não para ela.
— Você está bem? — Eu pergunto, me virando para olhar para ela.
— Sim, e muito obrigada por pagar — digo ela e eu observo enquanto
suas bochechas ficam em um tom brilhante de rosa. — Eu realmente gostei
disso.
Ela estava falando sério?
Ela estava realmente me agradecendo por isso?
Cristo, essa garota era diferente de qualquer uma das outras.
— Isso não é problema, Shannon — eu respondo, olhando para ela com
curiosidade ardente. — Foram apenas algumas garrafas de Coca-Cola e uma
tigela de sopa.
— Bem, isso significa muito para mim, então obrigada — ela sussurra,
colocando aquele lindo cabelo dela atrás da orelha.
Seus olhos queimam buracos tão profundos em mim que eu tenho que
desviar o olhar antes de me perder completamente na garota.
Era demais.
Ela era demais para caralho.
— Uh, aqui estão suas coisas — ela diz, gentilmente colocando minhas
chaves e carteira na minha coxa esquerda.
Minha coxa boa, percebo.
Merda, essa garota era demais.
— Você pode contar aqui se quiser — acrescenta Shannon. — Sua
carteira, quero dizer. — Ela coloca outra mecha de cabelo atrás da orelha. —
Eu não vou me sentir insultada.
Que porra?
Eu a encaro.
— O quê?
Shannon cora.
— Bem, eu só – eu pensei que você poderia...
— Eu confio em você — eu digo a ela. — Eu não estou contando nada.
Isso nunca passou pela minha cabeça, ok?
— Tem certeza? — ela sussurra, me matando com aqueles olhos grandes.
Eu balanço a cabeça e resisto ao desejo de me inclinar e beijar a merda
daqueles lábios inchados.
— Tenho absoluta certeza.
O sorriso que ilumina seu rosto era tão marcante que faz meu coração
disparar de forma imprudente.
Eu apenas a encaro por um longo momento, me perguntando como diabos
eu cheguei aqui, e como diabos eu vou sair.
— É melhor eu te levar para casa — eu finalmente digo enquanto enfio
minha chave na ignição e ligo o motor.
— Claro — Shannon responde, ainda sorrindo para mim.
Eu tenho que desviar o olhar.
Eu não posso arriscar outro olhar para ela.
Não essa noite.
Tire sua cabeça dessa garota antes que você faça algo estúpido como
perder seu coração, assim como sua cabeça, meu cérebro sibila enquanto eu
saio do estacionamento, os nervos disparados.
Tarde demais, idiota, meu coração provoca.
— Ou — eu me ouço dizer, cedendo à necessidade urgente que eu tinha
dentro de mim de manter essa garota aqui comigo.
Shannon olha para mim com olhos brilhantes.
— Ou?
Não faça isso, Johnny.
Não se coloque no caminho da tentação.
— Nós poderíamos ir ver um filme? — Eu ofereço, sabendo que estava
ferrado no minuto em que as palavras saíram da minha boca.
— Um f–filme? — Shannon solta.
Oh, Jesus.
Eu balanço a cabeça incerto.
— Se você quiser?
— No cinema? — ela pergunta, as bochechas corando.
Dou de ombros.
— Ou na minha casa.
Seu filho da puta estúpido.
— Eu... eu não... eu não tenho exatamente, — ela faz uma pausa para
colocar o cabelo atrás das orelhas antes de dizer — permissão para ir.
— Você não tem permissão para ir para onde? — Eu pergunto, sentindo
uma enorme pontada de decepção se instalar no meu estômago.
— Hum, em qualquer lugar? — ela oferece com um encolher de ombros
impotente. — Meus pais são meio protetores.
Compreensível.
Se eu estivesse no lugar deles, eu também a protegeria, considerando o
que Shannon passou em sua antiga escola.
Inferno, eu estava protetor agora.
— Mas eu quero — ela acrescenta, sorrindo timidamente para mim. — Eu
adoraria, na verdade – se você quiser isso?
Bem merda.
Porra.
O que diabos eu deveria fazer agora?
Minha mãe estava em casa, então isso estava fora de cogitação.
Me forçando a me concentrar na estrada à minha frente e não na garota
sentada ao meu lado, ligo a seta e entro na estrada de acesso à cidade.
— Cinema, então — eu respondo em um tom tão alegre quanto eu posso
reunir enquanto por dentro eu estava queimando como o inferno.
28

PAIS SUBSTITUTOS

SHANNON

Eu passo o sábado inteiro cuidando do meu irmão mais novo, Sean, o que
era normal sempre que a vovó decidia fazer uma viagem a Beara para visitar
tia Alice e sua família, e mamãe estava trabalhando.
A diferença neste fim de semana foi que nosso pai se foi e nossa mãe
estava sumida.
Eu sabia que uma tempestade estava se formando.
Meu instinto sempre estava certo.
Depois que Johnny me deixou em casa ontem à noite, houve uma briga
em chamas que resultou em meu pai me dando uma surra, principalmente
por causa daquele recorte de jornal estúpido que ele ainda não deixou para
lá. Mamãe o arrastou de cima de mim, ganhando um tapa na cara por causa
do problema. Ela ordenou que ele fosse embora e nunca mais voltasse.
Papai começou a encher o carro da família com tudo o que tinha, chamou
a mim e mamãe de vadias e saiu correndo bêbado.
A mãe saiu apressada de casa uma hora depois com uma mala de viagem,
entrou num táxi e não foi vista desde então.
Não era incomum para nossa mãe sumir depois de uma discussão.
No entanto, era raro que ela não voltasse.
Eu sabia que ela voltaria.
Era apenas uma questão de quando.
Eu também sabia que meu pai estaria de volta.
Não me deu nenhum conforto vê-lo partir ontem à noite.
Essa não foi a primeira vez que lhe mandaram embora.
E não era a primeira vez que ele me espancava.
Mais cedo ou mais tarde, ele voltaria, prometendo o céu e entregando o
inferno.
Nada mudava.
Isso nunca acontecia.
Tadhg, Ollie e Sean podem acreditar que ele se foi para sempre, mas Joey
e eu sabíamos mais.
Sem a presença de nossos pais, cabia a Joey e a mim cuidar de nossos
irmãos mais novos.
Quando não havia sinal de nenhum de nossos pais esta manhã, Joey
sacrificou sua própria sessão de treinamento com o time de Cork para que
ele pudesse levar Tadhg e Ollie para um jogo de futebol em que ambos
estavam jogando.
Fico com Sean, que passou a maior parte do dia chorando por mamãe.
Foi um desastre.
Incontáveis telefonemas para nossa mãe ficaram sem resposta, então
desisti de tentar falar com ela.
Começando a trabalhar na lista interminável de serviços que me eram
atribuídos semanalmente, limpei a casa de cima a baixo, lavando os rodapés
e trocando todos os lençóis conforme o tempo passava.
Às oito horas da noite de sábado, eu tinha passado por quatro cargas de
roupa lavada, cozinhado o almoço e o jantar para os meus irmãos, dado
banho e vestido Sean para dormir, e tinha limpado a casa a cada centímetro
da minha vida.
Não durou, é claro.
Assim que os garotos entraram pela porta da frente, o caos e a bagunça
recomeçaram.
Equilibrando uma tigela sucrilhos Coco Pops em uma mão e uma garrafa
de leite na outra, uso meu quadril para empurrar a porta da sala de estar e
entro.
— Aqui está, Sean.
Colocando a tigela e o copo de canudo na mesa de café na frente do meu
irmãozinho, eu bagunço seus cachos loiros encaracolados, então me levanto
e estico minhas costas.
— Coma tudo antes de dormir — acrescento, gemendo de alívio quando
sinto os músculos das minhas costas estalarem de volta no lugar.
Eu estava com tanta dor que era difícil andar em linha reta.
— Eu quero a mamãe — Sean responde, fazendo beicinho em seu cereal.
— A mamãe foi embora.
— Mamãe está no trabalho, Sean — repito a mesma frase que disse a ele
cinquenta vezes hoje. Esforçando-me para ter paciência, acrescento: — Ela
estará em casa em breve.
E então corri para fora do cômodo antes que ele tivesse a chance de
perguntar quando.
Eu não tinha uma resposta para ele e eu odiava mentir para ele.
A verdade era que eu não sabia quando mamãe voltaria.
Com os ombros caídos, volto para a cozinha e vou até a chaleira.
Eu preciso de chá.
Muito chá.
29

TROCANDO JAQUETAS

JOHNNY

Meu dia de treino na academia no sábado foi um fiasco.


Eu estava fraco e isso se mostrou em campo.
Fui chamado ao escritório do treinador no meio da manhã, onde recebi
algo que considero semelhante à porra da Inquisição espanhola do treinador
Dennehy.
Depois, fui direto para o médico da equipe para mais um exame, seguido
de um check-up com Janice, a fisioterapeuta.
Como meu treinador havia previsto, falhei nos exames físicos e médicos
que me foram feitos.
Dolorido e desmoralizado, recebi um discurso sobre os perigos da não
divulgação da dor antes de ser mandado para casa com outra maldita receita
e uma carta formal informando que eu estava temporariamente dispensado
de todos os treinamentos e deveres da academia até meu próximo teste de
condicionamento físico em três semanas.
Se eu falhasse na minha próxima rodada de testes, estaria de volta a faca e
fora de ação por mais quatro a seis semanas.
Isso significava que seria do início ao meio de maio antes que eu pudesse
ver um arremesso novamente.
Isso significava que eu perderia minha chance.
De jeito nenhum eu estaria em forma em duas ou quatro semanas para
chegar ao time sub-20.
Então, sim, era seguro dizer que eu estava realmente ferrado.
Meu único consolo era que eu ainda podia participar de treinamentos
leves com minha escola e clube – não havia porra nenhuma que eles
pudessem fazer para impedir isso, mas não havia muito a que se agarrar em
forma de esperança.
Não quando era uma garantia de que meus treinadores no Ballylaggin
RFC e Tommen receberiam a mesma carta.
Havia pouca chance de conseguir algum tempo de jogo agora com o
clube.
Não havia como o treinador Mulcahy me colocar no banco, ele não podia
pagar para ver, mas isso era apenas uma merda de colegial.
Furioso por ser excluído dos próximos jogos juvenis, eu estava fervendo
de tensão quando chego em casa esta tarde para uma – felizmente – casa
vazia.
Mamãe tinha ido para Dublin para passar o fim de semana com meu pai,
então eu não tive que enfrentar o interrogatório dos meus pais por alguns
dias.
Eu quero chorar – eu não vou, mas eu quero.
Eu deveria ter trabalhado com a dor.
Eu nunca deveria ter feito aquela maldita cirurgia.
Se não fizesse, ainda teria chance de ser titular na campanha europeia sub-
20 em junho.
O Sub-20 era um grande salto em relação ao Sub-18 e eu estava no
caminho certo para dar o salto.
Agora não.
Se eu não conseguisse me recompor, ninguém iria me querer.
Não com um corpo quebrado.
Passo o resto da tarde na minha academia em casa, trabalhando meu corpo
até os ossos, desesperado para apagar o sentimento horrível de desespero que
ameaçava tomar conta de mim.
Este último revés foi a cereja no topo do ano do inferno.
Para ser honesto, eu estava me arrependendo de voltar para a escola
depois das férias de Natal.
Eu deveria ter ficado na minha maldita cama e pedir para minha mãe me
escrever três meses de atestados médicos ou alguma merda.
Tudo tinha ido para o inferno para mim desde então.
Meu corpo.
Meu cérebro.
Minha linha de pensamento.
Eu estava em todo lugar.
No meio do meu colapso pessoal, minha mente continuava a se concentrar
na única pessoa que eu precisava não pensar.
Shannon como o rio, com aqueles olhos azuis da meia-noite...
— Você está com problemas, Kavanagh, e eu estou preparando uma
intervenção — a voz de Gibsie perfura meus pensamentos, me fazendo
perder momentaneamente o foco e quase me machuco com a barra de 127
quilos.
— Cristo — eu engasgo, travando meus músculos no lugar bem a tempo
de me salvar de certa asfixia. — Não se aproxime de mim assim, seu maldito
idiota. — Olho para cima do meu poleiro para encontrar meu melhor amigo
parado na porta da minha garagem. — Eu poderia ter me matado.
— Sim, você poderia. — Desdobrando os braços, Gibsie caminha até
onde eu estava e agarra a barra. Colocando-a de lado, ele pega uma toalha no
suporte e a deixa cair no meu peito antes de dizer:
— Não faça isso sozinho de novo. — Ele aponta para a barra empilhada,
com uma expressão de desaprovação. — É altamente irresponsável.
Deitando, eu deixo minha cabeça cair de volta no banco e arrasto algumas
respirações irregulares antes de tentar falar.
— Você está me dando uma palestra sobre responsabilidade? — Exalando
uma risada sem fôlego, pego a toalha do meu peito e me limpo. — Jesus, o
hipócrita em você está maduro hoje, rapaz.
— Não tente me jogar fora da minha missão com suas brincadeiras de
merda — ele atira de volta. — Eu tenho planos para você.
— Não sei sobre o que você está falando, Gibs. — Me puxando para uma
posição sentada, respiro mais algumas vezes antes de me levantar. — Mas
seja o que for, eu não estou com vontade.
— Que seja. — Gibsie responde alegremente. — Ainda vamos sair. — Ele
me segue até a geladeira no canto da minha academia e pega uma lata de
coca. — Então, vá cagar, tomar um banho e fazer a barba, porque os rapazes
vão nos encontrar em Biddies às oito e meia.
Abrindo a tampa de uma garrafa de água, eu esvazio o conteúdo antes de
responder.
— Não — eu respiro, encharcado de suor e me sentindo um merda. —
Não vão.
Liam tinha me telefonado nada menos que três vezes ontem para tentar me
acalmar, então essa não era a razão pela qual eu não queria sair.
Meu problema era que eu estava perto do meu ponto de ruptura.
Eu estava a uma conversa de perder minha maldita mente.
— Nós fodidamente vamos — Gibsie rebate. — Recebi sua mensagem
sobre o seu treinador te mandar para casa hoje, e eu tenho que ser honesto
com você, cara, estou aliviado que eles estão começando a ver através de sua
mentira de “estou bem, não dói”.
— Uau. — Eu arqueio uma sobrancelha. — Muito obrigado, amigo.
— Não me venha com essa merda — Gibsie atira de volta. — Você sabe
que eu quero que você entre nesse time em junho mais do que qualquer um,
mas não correndo o risco de danos permanentes. — Ele balança sua cabeça.
— É um preço muito alto a pagar.
— Você não entendeu — eu murmuro, lamentando a mensagem de
desabafo que eu enviei para ele mais cedo.
— Não, com toda a honestidade, eu provavelmente não entendo —
responde Gibsie. — Eu nunca investi em nada como você está com o rúgbi,
mas eu vejo o que você está fazendo para si mesmo. Eu vejo isso, Johnny.
— Sim, bem — eu resmungo. — A menos que eu possa fazer um milagre
e me recompor, está tudo no lixo.
— É exatamente por isso que você está saindo comigo — ele argumenta.
— Você precisa relaxar e tirar sua mente do rúgbi.
Sorrindo, ele aponta para si mesmo e diz:
— E que homem melhor para ajudá-lo a fazer isso?
— Eu não sei, Gibs. — Jogando a garrafa vazia na lixeira próxima, passei
a mão pelo meu cabelo e suspiro. — Estou bastante destruído.
Essa era a verdade.
A exaustão era normal para mim e especialmente ultimamente. Eu estava
dolorido pra caralho e isso não estava ajudando meu mau-humor.
— Eu provavelmente vou desmaiar na frente da televisão durante a noite.
— Um maldito robô é o que você é — Gibsie retrucou. — Bem, não esta
noite.
Apertando a mão no meu ombro, ele me empurra para a porta da garagem
aberta.
— Você não tem sessões de manhã, amanhã cedo, ou qualquer uma dessas
besteiras da academia para impedi-lo de curtir uma noite com seus amigos.
Eu permito que ele me leve para fora por uma razão singular; eu estava
cansado demais para cravar meus calcanhares.
— Hoje à noite, nós vamos espairecer e... — ele aperta meu ombro para
dar ênfase e me guiou na direção da minha casa — você vai ser humano.
Amanhã você pode ir direto para a sua forma de robô, chatíssimo.
— Estou muito dolorido — eu resmungo.
— Claro que você está dolorido — ele retruca. — Você não está dando
tempo ao seu corpo para se curar, você nunca descansa, e você não tem uma
boceta há meses. — Piscando, ele acrescenta: — É hora de tirar suas bolas
do gelo e colocar sua jaqueta da mudança.
— Minha jaqueta da mudança? — Um sorriso se abre em meio a meu
mau-humor. — O que nós temos, treze de novo e indo para a discoteca de
menores?
— Estou vestindo minha camiseta de mudança — ele responde com
orgulho, flexionando seus bíceps para dar ênfase. — Tem uma taxa de
sucesso de cem por cento.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Provavelmente porque a etiqueta na parte de trás diz que é para idades
de 12 a 13 anos.
— Aqui agora. — Gibsie sorri amplamente. — Não tenha inveja da minha
forma espetacular.
— Está mais para a sua besteira espetacular.
Sacudindo sua mão quando chegamos à porta dos fundos, eu a abro e dou
um passo para o lado para ele passar e então me dirijo para minha parte
favorita da minha casa: a geladeira.
— Esse é o plano — afirma Gibsie. Perambulando pela minha cozinha
como se fosse dele – e poderia muito bem ter sido pela quantidade de tempo
que ele passa aqui – ele caminha até os armários e pega uma frigideira e uma
faca da gaveta antes de puxar um banquinho da ilha central e afundar. — E
você não está me dando nenhuma desculpa de merda esta noite.
— Quem vai?
— Hughie e Katie estão nos encontrando lá — Ele fez uma pausa e então
diz — E Pierce e Feely podem mostrar seus rostos.
— Alguma das meninas da escola vai?
— Katie — Gibsie retruca em um tom de voz ‘duh’.
— Além de Katie — eu rebato.
Katie era uma exceção.
Hughie raramente saí do lado da garota.
— Não. — Gibsie franze a testa para mim. — Por que elas estariam?
Eu o nivelo com uma expressão de WTF.
— Porque elas sempre aparecem.
— Importa se elas aparecerem?
— Eu não estou com vontade de lidar com elas.
— Você quer dizer que não está com vontade de lidar com a louca —
Gibsie corrige com uma careta.
— Não, não estou — respondo, vasculhando a geladeira. — Eu não vou
lidar com ela neste fim de semana. — Com meus braços carregados com
suprimentos para sanduíches, caminho até a ilha e os jogo sobre a bancada
de mármore preto. — Eu preciso de uma pausa, Gibs.
Gibsie balança a cabeça e pega o pão.
— O que aconteceu? — Pegando uma faca e o pacote de presunto cozido,
ele pergunta: — Ela está entrando em contato com você de novo?
— Quando ela não está? — Eu mastigo enquanto lentamente corto um
tomate. — É um fluxo constante de mensagens de texto e telefonemas.
Todo maldito tempo.
Eu parei de ler as mensagens de Bella semanas atrás, mas ainda me deixa
louco sempre que meu telefone acende porque nove em cada dez vezes, era
ela na outra linha.
— Você deve ser fodidamente incrível na cama — Gibsie medita. — Se
ela está caçando você assim.
— Não é o ponto, Gibs — eu rosnei. — Não significa não, cara.
— Você pode mudar seu número — ele oferece.
— Qual é o ponto? — Eu resmungo. — Ela só vai encontrar uma maneira
de conseguir o meu novo.
— Eu sei que estou sempre dizendo isso, mas eu realmente tenho que
dizer mais uma vez, cara. — Espalhando duas fatias de pão com manteiga,
Gibsie coloca camadas de queijo, despeja meia dúzia de fatias de carne em
cima, e então começa a dobrar seu sanduíche ao meio e enfiá-lo na boca
antes de continuar: — Eu não sei como você colocou seu pau dentro daquela
garota.
— Eu enlouqueci — eu digo, me concentrando demais em espalhar a
manteiga uniformemente na minha fatia. — Foi assim.
— Você pode falar — Gibsie retrucou, fazendo outro sanduíche. — Você
ficou cego pelos peitos grandes — acrescenta ele entre grandes garfadas de
presunto e queijo. — E boceta chique.
— Sim. — Jogando a faca no balcão, eu coloco meu pão em camadas
uniformemente com fatias de tomate e adiciono alguns pedaços de frango
fresco antes de dobrá-lo. — Bem, eu não estou mais cego. — Pegando meu
sanduíche, dou uma grande mordida, mastigando e engolindo antes de
acrescentar: — Estou vendo tudo claramente agora.
— Você precisa arrumar uma namorada, cara — Gibsie declara. — É a
única maneira de você se livrar de Bella.
— Eu não quero arrumar uma namorada — eu digo. — Estou muito
ocupado para uma namorada, Gibsie. Você sabe disso.
— Até para a pequena Shannon? — ele solta com um sorriso.
Meu coração salta no meu peito ao som de seu nome.
Cristo...
— O que eu te disse sobre ela? — Eu rebato, jogando o restante do meu
sanduíche no meu prato, sem apetite. — O que diabos eu tenho dito a você
nos últimos dois meses?
— Não é o que você está dizendo — ele respondeu com uma risadinha. —
É como você está agindo.
— Eu não vou lá — eu rosno. — Eu disse isso uma centena de fodidas
vezes.
— E você pode dizer mais uma centena — Gibsie retruca com uma risada.
— E eu ainda não vou acreditar em você.
Jesus Cristo.
— Você gosta da garota — ele continua a zombar. — Talvez você até a
amaaaaaa…
— Se eu concordar em ir para Biddies, você vai parar de falar sobre isso?
— Eu pergunto, desesperado para detê-lo antes que ele entre no modo Gibsie
completo e me deixasse louco. — Você vai deixar para lá?
Meu melhor amigo assente ansiosamente.
— Absolutamente.
— Certo. — Suspiro em derrota e me movo para a porta. — Eu vou tomar
um banho.
— Bom homem — Gibsie chama atrás de mim. — Vou chamar um táxi
para nós.
Eu me viro para encará-lo.
— Eu posso nos levar...
— Não, você não pode — Gibsie interrompe, segurando o telefone no
ouvido. — Nós estamos indo para o abate. Nós dois.
Ombros caídos, eu me viro e faço meu caminho para o meu quarto.
Maldito Gibsie.
30

NÓS VAMOS CONSEGUIR

SHANNON

— Como está o rosto, Shan? — Joey pergunta quando entrei na cozinha um


pouco depois da meia-noite.
Ele e Aoife estão sentados à mesa com canecas de café na frente e
parecem preocupados.
— Jesus — ele murmurou, estremecendo ao me ver.
— Eu estou bem, Joe. — Forço um sorriso para confortá-lo. — Parece
pior do que é.
Isso era mentira.
Meu rosto estava me matando.
Cada centímetro do meu corpo estava em agonia.
Eu estava roxa e azul da cabeça aos pés.
Felizmente, a única evidência visível da noite passada foi um pequeno
olho roxo mais próximo da minha bochecha.
Foi o resto do meu corpo que sofreu o impacto de sua fúria.
Minha única graça salvadora era que estava frio e eu podia esconder meus
hematomas com calças de moletom largas e camisas de manga comprida.
Minha mentira não parecia confortar meu irmão, no entanto.
Ele apenas olha para mim, parecendo quebrado e derrotado.
— Sinto muito, Shan — meu irmão engasga, deixando cair a cabeça entre
as mãos. — Eu deveria estar aqui.
Joey tinha ido ao cinema com Aoife na noite passada e eu estava feliz.
Se ele estivesse aqui, eu sabia em meu coração que alguém teria deixado
esta casa em um saco para cadáveres.
— Não é sua culpa — eu digo a ele bruscamente. — Nada do que
aconteceu ontem à noite foi culpa sua. Você tem direito a ter uma vida, Joey.
— Você conseguiu fazer Sean dormir? — Aoife pergunta, sorrindo
tristemente para mim enquanto felizmente muda de assunto.
— Finalmente. — Eu suspiro pesadamente. — Tadhg e Ollie estão
dormindo. Mas Sean... Deus, ele está muito mal com mamãe. — Coloco meu
cabelo desgrenhado atrás das orelhas e me encosto no balcão da cozinha. —
Ele estava soluçando por horas. Ele acabou chorando até dormir.
— Filhas da puta — Joey murmura baixinho.
— Joey — Aoife persuadi. — Não diga isso.
— Dizer o que, querida? — ele rebate calorosamente. — A verdade?
Porque isso é o que eles são. Um bando de filhas da puta de merda.
— Ela ainda é sua mãe — Aoife responde tristemente.
— E ela é pior do que ele — meu irmão retruca. — Deixando essas
crianças aqui sozinhas. — Ele passa a mão pelo cabelo loiro e rosna. — Ela
poderia pegar o telefone e falar com os meninos, mas não, como sempre, ela
corre e enterra a cabeça na areia.
Ao contrário de Aoife, não vacilo com as palavras do meu irmão.
Elas podem ser difíceis de ouvir, mas elas não continham nada além da
verdade.
A namorada de Joey estava absolutamente deslumbrante com uma figura
invejosa, longos cabelos loiros e um rosto bonito, mas esta noite ela parecia
abalada.
Aoife era apaixonada pelo meu irmão, então imagino que isso explique o
olhar horrorizado em seu rosto e a maneira como ela constantemente acaricia
os dedos nas costas da mão dele.
— Vamos ver com o que estamos lidando — diz Joey com um suspiro.
Enfiando a mão no bolso da calça jeans, ele tira a carteira, joga-a sobre a
mesa, e então volta para pegar o troco que chacoalha em sua calça jeans.
— Eu não recebo de novo até a próxima quinta-feira — ele murmura mais
para si mesmo do que para nós, enquanto joga o conteúdo de sua carteira na
mesa e começava a contar. — O que nos deixa exatamente com... — ele faz
uma pausa para empilhar algumas moedas. — Oitenta e sete euros e trinta
centavos pelos próximos seis dias.
— Isso é bom, certo? — Aoife oferece com otimismo forçado.
Joey assente com cautela.
— Deve funcionar.
— Você sabe que eu ajudaria se pudesse — eu murmuro, me sentindo
como um peso morto no pescoço do meu irmão. — Mas ele não vai me
deixar conseguir um emprego...
— Pare — Joey ordena. — Nem pense em assumir a culpa por isso, Shan.
Mas eu assumo.
Eu me sinto incrivelmente culpada.
Havia algo em mim que causava toda essa dor.
Se eu não estivesse nesta casa, eu tinha quase certeza de que minha
família não teria metade dos problemas que eles tinham.
A mãe levou uma surra do meu pai por minha causa.
Por que ele me odiava.
Eu era o problema.
Joey exala pesadamente.
— Verifique a geladeira para mim.
Relutantemente, eu faço o que me foi dito.
Puxando a geladeira aberta, eu segurei a porta para Joey ver por si mesmo.
— Puta merda — ele rosna mais uma vez, observando as prateleiras quase
vazias dentro da geladeira.
— Os armários são os mesmos — decido falar antes que ele me pedisse
para abri-los também. — Mamãe geralmente faz as compras no sábado.
— Geralmente — Joey diz amargamente.
— Ela não iria embora assim, Joe — eu sussurro. — Ela nunca nos
deixaria sem as compras.
— Bem, ela nos deixou. — ele retruca. — E é ótimo, Shan. Nós vamos
conseguir.
— Ok — eu resmungo.
Passando a mão pelo cabelo, Joey apoia os cotovelos na mesa e murmura
alguns palavrões incoerentes para si mesmo antes de dizer:
— Vou falar com Mark pela manhã. Ele tem uma vaga na estufa
disponível na cidade pela próxima semana. Vou perguntar se ele precisa de
um trabalhador.
— De jeito nenhum, Joey. Você não pode faltar à escola — adverte Aoife.
— É ano de conclusão.
— Não, querida — Joey responde cansado. — Eu não posso deixar as
crianças passarem fome, e só Deus sabe quando essa vadia vai voltar.
— Eu posso te ajudar com…
— Eu não estou pegando seu dinheiro, Aoife — Joey a corta dizendo. —
Então, por favor, não ofereça.
— Joey, eu quero te ajudar.
— E eu te amo por isso, mas não vou aceitar esmolas da minha namorada.
— Você sabe onde ela está? — Aoife perguntou então, dirigindo a
pergunta para mim.
Ela estava claramente desesperada para confortá-lo e não sabia como.
Eu queria dizer a ela que ela não podia, nós estávamos muito danificados,
mas eu seguro minha língua e abordo sua pergunta em vez disso.
— Eu presumo que ela foi encontrá-lo.
Era um pensamento deprimente, mas mais do que provavelmente a
verdade.
— Gente — Aoife diz em um tom nervoso. — Não briguem comigo por
isso, mas vocês não deveriam pensar em chamar as autoridades?
Joey fica boquiaberto como se ela tivesse crescido três cabeças.
O pânico explode dentro do meu peito.
Aoife, percebendo nossas reações, fica vermelho brilhante.
— Ele não pode continuar fazendo isso com vocês — ela explica
rapidamente. — E vocês dois estão aqui sozinhos cuidando de três crianças
pequenas... Não é certo ou justo com nenhum de vocês.
— Não, não é certo ou justo para nós — Joey retruca. — Mas Shannon e
eu já estivemos nesse caminho antes e não há nenhuma maneira de
voltarmos lá.
— Joey! — Eu assobio, balançando a cabeça.
— Olhe para nós, Shan — ele geme. — Ela já pode ver como estamos
fodidos.
Eu sabia disso, mas continuo a balançar a cabeça.
Ignorando meus protestos silenciosos, Joey faz um discurso retórico,
revelando nosso maior medo, aquele que nos manteve em silêncio durante a
maior parte de nossas vidas.
— Quando éramos pequenos. Antes dos meninos nascerem – quando
éramos apenas Darren, Shannon e eu – nós três fomos colocados sob
cuidados por seis meses.
Os olhos de Aoife se arregalam e eu sufoco um gemido.
— Você nunca me disse isso.
— Não é algo que eu saia por aí falando, querida — ele responde
rispidamente. — Além disso, eu tinha apenas seis anos na época.
Ele inclina a cabeça para mim e diz:
— Shan tinha apenas três anos. Mamãe nos colocou em cuidados
voluntários – disse que estava muito doente para cuidar de nós na época. Nos
deixou e fomos embora. Shannon e eu tivemos sorte. Fomos colocados
juntos com uma boa família. — Exalando pesadamente, ele acrescenta: —
Darren tinha onze anos na época e não teve tanta sorte.
Lágrimas enchem meus olhos porque eu sabia o que Joey ia dizer em
seguida.
— Joe, por favor, não — eu imploro.
— Ele foi enviado para uma casa de cuidados onde coisas aconteceram
com ele — Joey engole em seco. — Coisas que não deveriam acontecer com
crianças.
Aoife tapou a boca com a mão.
— Você está falando de...
Joey assente rigidamente.
Lágrimas enchem seus olhos.
— Oh, amor.
— Não — ele sussurra, balançando a cabeça. — Isso não aconteceu
comigo.
— Eu sei — Aoife engasga, pegando sua mão. — Eu só... é horrível.
— De qualquer forma, quando a saúde de mamãe melhorou, ela foi ao
tribunal e conseguiu nos recuperar — ele rapidamente se apressa. — Tudo
veio à tona no tribunal sobre o que aconteceu naquela casa de cuidados, e
porque ela voluntariamente nos abandonou por causa de “problemas de
saúde”, ela foi de alguma forma re-concedida a custódia. — Joey olha para
suas mãos unidas por um longo momento antes de continuar. — Darren
nunca mais foi o mesmo, e nem nosso pai.
Suspirando cansado, ele acrescenta:
— Ele na verdade não era um cara tão ruim antes disso. Mas depois que
tudo veio à tona sobre Darren, o velho perdeu a porra da cabeça. Ele não
consegue superar isso e se voltou para a bebida. Teve essa noção ridícula em
sua cabeça de que o que aconteceu com Darren de alguma forma o
transformou.
Joey balança a cabeça e solta um suspiro frustrado.
— Se ele tivesse prestado atenção em nós crescendo, ele saberia mais.
— Eu não sei o que dizer — Aoife sussurra, olhando de mim para Joey.
— Não está certo o que acontece nesta casa, mas é melhor do que o que
está lá fora em algumas dessas casas — afirma Joey. — De jeito nenhum eu
vou deixar minha irmã e irmãos irem para os cuidados, querida. De jeito
nenhum. Pelo menos quando eles estão aqui, eles estão todos em um só lugar
e eu posso mantê-los um pouco seguros.
— Vocês têm alguém para quem possam ligar? — ela pergunta, olhos
atados com preocupação. — Um parente ou um amigo da família?
— A vovó tem oitenta e um — eu sussurro, enxugando minhas lágrimas.
— Ela é muito velha e frágil para...
— Eu e Shannon temos um ao outro — Joey interrompe, gesticulando um
dedo entre nós. — É isso.
— Não mais – Aoife diz ao meu irmão. — Você me tem. — Estendendo a
mão sobre a mesa, ela cobre a mão dele com a dela e sorri fracamente. —
Todos vocês.
Os ombros de Joey caem visivelmente quando ela levanta a mão e
pressiona os lábios dele em seus dedos.
— Cristo, eu te amo — ele diz a ela, a voz baixa e rouca.
Eu me afasto porque era muito difícil de assistir.
Adoro Aoife Molloy.
Eu realmente amo a garota como uma irmã.
Mas também me ressinto dela.
Porque eu sabia exatamente como o amor incondicional, a afeição e a
segurança eram atraentes para alguém como Joey.
Era o mesmo para mim.
E porque eu sabia em meu coração e alma exatamente como isso iria
acontecer.
Dela, Joey estava recebendo uma forma de amor que lhe foi negada
durante toda a vida.
E se aquela garota pulasse, ele pularia junto com ela.
Eu não o culparia.
Dada a chance, eu pularia também.
Mas saber que seu tempo nesta casa estava chegando ao fim tornava
difícil para mim respirar.
Eu podia senti-lo descendo os trilhos como um trem de carga.
Nosso pai estaria de volta.
Ele sempre voltava.
E eu honestamente não conseguia ver meu irmão por perto uma vez que
ele voltasse.
Ele levou dezoito anos de espancamentos e abusos.
Eu não tinha certeza se ele poderia aguentar muito mais.
— Ok! — Aoife bate palmas e se levanta. Fungando, ela enxuga as
lágrimas de seu rosto e força um sorriso brilhante. — Estou morrendo de
fome e sei que vocês dois também devem estar. Então, eu vou ir ao mercado
rapidinho para comprar algo baratinho e será meu deleite.
Joey balança a cabeça.
— Aoife, eu te disse...
— Meu deleite, querido — ela interrompe, dando ao meu irmão um olhar
duro. — Agora, você vem comigo?
— Sim, eu vou — Joey murmurou, ficando de pé. — Você não está
dirigindo pela cidade no meio da noite sozinha.
— Você vai ficar bem sozinha, Shan? — Aoife pergunta, sorrindo
tristemente.
Eu balanço a cabeça.
— Eu ficarei bem.
— O que você gostaria de comer?
— Nada, obrigada — eu respondo, forçando um bocejo. — Eu estou indo
para a cama.
— Não me diga que você é tão teimosa quanto seu irmão e não aceita um
maldito pacote de batatas? — Aoife franze a testa. — Você é muito magra,
garota — ela acrescenta, preocupação atada em seus olhos novamente. —
Precisamos colocar um pouco de carne nesses ossos.
Eu sorrio para sua expressão nervosa.
— Eu honestamente estou muito cansada para comer.
— Você tem certeza? — Ela não parece convencida.
— Estou.
— Não vamos demorar muito, Shan — Joey grita por cima do ombro
enquanto conduz Aoife para fora da cozinha.
— Tome seu tempo — eu chamo de volta. — Os meninos estão bem e eu
estarei na cama.
Espero até ouvir a chave girar na fechadura antes de ir para a cama na
ponta dos pés.
Deslizando para dentro do meu quarto, não me incomodo em acender a
luz.
Eu não estava mentindo quando disse que estava cansada.
Rastejando na minha cama, eu me enfio debaixo do edredom e me
aconchego, sabendo que dormiria melhor esta noite, agora que meus pais se
foram, do que eu durmo em meses.
Era assim que minha vida era uma bagunça.
31

GAROTAS MAL-INTENCIONADAS E BAFO DE HAMBÚRGUER

JOHNNY

No minuto em que piso dentro de Biddies, sei que cometi um erro terrível.
Risca isso: no minuto em que deixei Gibsie abrir aquela garrafa de uísque
do meu pai, eu sabia que tinha cometido um erro terrível.
Depois do banho, tentei convencê-lo a tomar uns drinques em casa
comigo em vez de sair, mas o uísque me fez ceder.
Isso me transforma em um maldito idiota agradável.
E foi exatamente assim que Gibsie conseguiu me convencer a sair do meu
mau-humor, para o que ele chamava de minha “jaqueta da mudança” e para
o banco do passageiro de seu carro.
Eu deveria saber melhor quando ele não estava bebendo comigo.
Idiota.
Me alimentar com o uísque gota a gota era a razão pela qual eu estava
parado na porta do Biddies Bar, três drinques além de embriagado, e
desejando estar em qualquer lugar menos neste maldito pub.
Não só estavam metade das meninas do sexto ano lá dentro.
Mas Bella também.
No minuto em que Bella nos nota, ela pega um Cormac que parecia
nervoso e gruda seu rosto ao dele.
Qualquer que fosse a aparência de entusiasmo que eu tinha despertado
para esta noite sendo um pouco de diversão, voou pela janela ao vê-la.
Não tanto porque ela estava ficando com Cormac na minha frente, embora
isso não ajudasse, mas porque eu ainda estava com raiva pela forma como
ela se comportou na escola ontem.
Tudo o que eu queria que ela fizesse era ir embora.
Apenas vá embora e me deixe em paz.
Com toda a franqueza, não acho que fosse pedir demais.
— Ignore-os — Gibsie murmura no meu ouvido.
— Meio difícil considerando todas as coisas — eu rebato, gesticulando
para onde minha ex/o que quer que tenha sido engole o rosto do meu ala a
menos de três metros de mim.
Instantaneamente sinto meu cérebro ganhar vida e iniciar o processo de
ficar sóbrio porque eu sei exatamente o quão perigosa essa garota era, e
caramba, eu precisava estar em pleno juízo para me defender.
— Compreensível — Gibs diz concordando. — Pelo menos você sabe que
o show é para seu benefício.
— Eu não quero que seja para meu benefício. Eu quero que ela se foda —
eu rosno, reprimindo um estremecimento com a visão. — Por favor, me diga
que eu nunca fiquei assim com ela.
— Bem, eu não sei como você se portava atrás das portas fechadas do
carro — Gibs responde. — Mas você nunca se desaponta assim em público.
— Graças a Deus — eu murmuro.
— Vamos, Johnny. — Apertando a mão no meu ombro, Gibsie me guia
para a mesa em que costumávamos sentar. — Sente-se. Vou pegar uma
rodada de cervejas.
— Vodka, Gibs — eu corrijo, sabendo que ia precisar de algo muito mais
forte do que a cerveja que estava na torneira para passar esta noite. — Uma
vodca dupla e red bull – e um monte de shots.
Foda-se ficar sóbrio.
Eu estava indo com tudo.
Gibsie poderia cuidar de mim pelo menos uma vez.
— Estou dentro, amigo — Gibsie ri antes de desaparecer na multidão.
Ignorando a mesa de garotas da escola que se posicionam
convenientemente na mesa ao lado da nossa, uma mesa que incluía Bella e
Cormac, eu desabo ao lado de Hughie e sua namorada, Katie Wilmot.
— Hughie — eu murmuro como forma de reconhecimento.
Olho para a garrafa de 7up com um canudo saindo da borda que a
namorada de Hughie estava segurando e meus lábios se contraem.
— Tudo bem, Capi? — Hughie reconhece com um sorriso solto. — Como
foi o treino?
Eu grunho minha resposta, muito dolorido e desconfortável para fazer um
esforço e mentir.
Foi uma merda.
Tudo era uma merda.
Meu mundo está uma merda.
E o espetáculo desta noite era a cereja do bolo.
— Feely saiu hoje à noite?
Hughie balança a cabeça.
— Nah, rapaz. Algo aconteceu.
— Sem surpresas aí — eu respondo conscientemente.
— Você quem diz. — Hughie responde com um suspiro cansado.
Patrick era um peixe quieto e, embora fôssemos amigos por sete anos, eu
não sabia muito sobre ele, além do fato de que ele era evasivo, quieto e tinha
uma tendência a desistir de planos de última hora.
Depois de cumprimentar Hughie, inclino minha cabeça para a linda ruiva
enfiada ao seu lado.
— Katie.
— Oi, Johnny — Katie diz com um sorriso tímido enquanto se aconchega
debaixo do braço de Hughie.
Não é de admirar que você esteja se aconchegando, pensei comigo
mesmo.
Eu me aconchegaria também, se eu fosse uma garota tímida de dezesseis
anos sendo submetida à foda horrível na outra mesa.
Katie era muito jovem para estar em um bar, todos nós éramos, mas
parabéns à meu amigo por ter a decência de não enchê-la de bebida.
Não que eu tenha pensado por um minuto que ele faria isso.
Por alguma razão desconhecida, Hughie é obcecado com a pequena ruiva
debaixo do braço.
Tem sido desde que ela entrou pelas portas de Tommen como uma novata.
Estávamos no segundo ano quando Hughie jogou suas cartas com Katie
Wilmot.
Na época, eu – junto com todos os nossos amigos e companheiros de
equipe – pensava que Hughie era um lunático e expressei meus pensamentos
em voz alta regularmente.
Mas agora que eu tinha idade e experiência ao meu lado, eu tinha que
admitir que a situação dele parecia muito mais atraente do que a minha.
Devoção tinha que ser melhor que ser usado.
— Você parece bem esta noite, Katie — eu digo a ela, porque era a
verdade e ela era insegura.
Eu conhecia esse pedacinho de informação porque o namorado dela
muitas vezes me confidenciou sobre o relacionamento deles.
Eu provavelmente sabia muito mais sobre o relacionamento deles do que
Katie se sentiria confortável, mas eu levarei esses detalhes para o túmulo.
Katie sorri timidamente e se aconchega mais perto de Hughie.
— Obrigada.
Hughie me lança um olhar agradecido.
Ele não precisava me agradecer por merda nenhuma.
A namorada dele era linda.
Gibsie dá a volta na mesa alguns momentos depois, me distraindo com
uma bandeja cheia de copos.
— Um brinde, capi — ele anuncia, batendo a bandeja na minha frente.
— Tim tim — Sem me incomodar em perguntar o que estava em oferta
esta noite, sabendo que beberia gasolina com o humor em que estava, eu
pego dois copos da bandeja e os boto para dentro.
E então, por precaução, bebo mais quatro doses antes de decidir pela
minha vodka e red bull.
Eu precisava disso porque assistir ao show na mesa ao lado da nossa não
era divertido.
De onde eu estava sentado, eu tinha uma visão perfeita de Bella montada
em Cormac.
Ele tinha as mãos sob a saia dela, e as pernas dela estavam enroladas em
sua cintura.
Eles poderiam muito bem estar nus e transando, eles estavam sendo tão
óbvios.
Apoiando-se no banco na minha frente, Gibs felizmente bloqueia minha
visão.
— Eu sou mais bonito de se olhar — ele anuncia com uma piscadela e
então começa a beber como se não fosse nada.
Eu sempre poderia depender desse filho da puta.
Seja granizo, chuva ou neve, Gibsie me protege.
Essa era uma noção reconfortante.
— Ryan é um palhaço — Hughie, lendo meus pensamentos, declara em
voz alta. — Ela está fazendo isso de propósito para te irritar, e ele está
deixando ela usá-lo para fazer isso.
— Você teve sorte em escapar, Johnny — Katie concorda com um sorriso
simpático.
Dou de ombros e pego outra dose.
— Ela pode fazer o que quiser. — Pressionando o copo em meus lábios,
viro a bebida e engulo rapidamente. — Ambos podem.
Eu queria dizer isso.
Eu não a quero de volta.
Eu nunca voltaria lá.
Mas isso não significava que isso fosse fácil de assistir.
Porque não era.
Era um ataque intencional e doía.
Principalmente porque Cormac estava concordando com isso.
— Sim, mas esfregar isso na sua cara é nojento — Katie responde,
franzindo a testa para a dupla. — Se fosse o oposto, e você fizesse isso com
uma das amigas de Bella bem na frente dela, ela perderia a cabeça.
— Verdade — ambos Gibs e Hughie concordaram em uníssono.
Nas próximas horas, ignoro Bella e Cormac, concentrando minha atenção
em meus amigos e na banda ao vivo tocando no canto do bar.
Tento relaxar e me soltar juntando-me à conversa, enquanto engulo bebida
após bebida, mas não estava sendo fácil para mim.
Eu estava muito estressado.
Quando eu não estava ativamente tentando evitar Bella e Cormac, minha
mente vagava de volta para a preocupação mesquinha que eu tento tanto não
insistir.
A minha saúde.
O problema era que o álcool correndo em minhas veias estava tornando
impossível para mim bloquear meus medos.
E se eu não conseguisse me recompor?
E se meu corpo não curasse?
O que diabos eu deveria fazer com a minha vida?
Cada julgamento e intenção que eu já possuí estava firmemente aninhado
na cesta rotulada “carreira no rúgbi”.
Agora, aquela cesta estava tombando e eu não tinha forças para detê-la.
Em outras palavras, eu estava completamente indefeso e completamente
ferrado.
— Ok, pessoal, esta próxima música é do Reckless Kelly — o vocalista
anuncia no microfone, me distraindo dos meus pensamentos bêbados. Ele
dedilha sua guitarra e acrescenta: — Wicked Twisted Road.
Inclinando-me para frente, coloco meus cotovelos na mesa e me esforço
para ouvir a letra sobre o barulho da multidão.
Um verso e eu estava viciado.
Bêbado como eu estava, eu sabia que precisava me lembrar disso.
Eu precisava ouvir de novo.
As palavras estavam jorrando direto através de mim.
Sinto elas duras e profundas, relacionando algo feroz a cada linha de cada
verso.
Sem surpresa – mas ainda completamente confuso – é o rosto de Shannon
que passa pela minha mente enquanto as letras forçam seu caminho em meu
cérebro enevoado.
Shannon com os olhos solitários.
Uma vida inteira se esforçando para ser o melhor.
O medo de não ser bom o suficiente.
E a sensação constante de pavor na boca do meu estômago.
Arrastando meu telefone para fora do bolso do meu jeans, eu digito uma
mensagem rápida, esperando que eu estivesse digitando o nome da música
corretamente antes de sair das minhas mensagens, deixando salvo nos meus
rascunhos.
Com meu telefone em minhas mãos, pondero sobre o que faria se tivesse o
número do telefone de Shannon.
Era bom que eu não o tivesse.
Nunca na minha vida eu tinha sido parcial em ligar bêbado, mas agora eu
tinha um desejo ardente de discar o número que não tenho.
Ela atenderia?
Se ela o fizesse, o que eu diria?
Ela falaria comigo?
Porra, eu queria ouvir a voz dela do outro lado da linha.
Essa garota é diferente, meu estúpido cérebro canta. Essa é para guardar.
Eu queria estar de volta ao meu quarto, com meu telefone pressionado no
meu ouvido, ouvindo-a tropeçar em suas palavras enquanto ela me conta
cada um de seus pensamentos.
Eu queria estar de volta aqui com ela, vendo-a corar e sorrir e espiar para
mim através daqueles cílios longos e grossos.
Eu queria estar sentado naquele cinema escuro com ela, sem prestar
atenção na exibição do filme, enquanto eu roubava olhares secretos para ela
e queimava de calor quando eu encontro seus olhos em mim.
Eu só queria ela.
Você poderia amar essa garota toda a sua vida, o pensamento louco
persiste dentro do meu cérebro uma e outra vez, se você apenas se
permitisse.
Uma cotovelada afiada em minhas costelas faz minha cabeça se erguer.
— Que porra? — Viro meu olhar para Hughie, irritado por me distrair do
meu lugar feliz. — Por que a cotovelada?
— Temos companhia — ele murmura, inclinando a cabeça.
— Oh Deus, aqui vamos nós — Katie murmura baixinho.
Com os olhos turvos, sigo seu movimento, meu olhar pousando em
Cormac Ryan assim que ele contorna nossa mesa, o rosto corado e o batom
manchado em sua boca.
No seu encalço estava uma Bella presunçosa.
— Tudo bem, rapazes? — Cormac reconhece, enfiando as mãos nos
bolsos. — Como estão?
Me inclinando para trás em meu assento, dou a ambos um olhar
impassível.
Hughie dá a Cormac um aceno rígido, mas não faz nenhum movimento
para entrar em uma conversa fiada com ele.
Katie nem sequer olha para ele.
Gibsie está olhando para ele; uma expressão assassina substituindo seu
habitual sorriso torto.
— Johnny. — O olhar cauteloso de Cormac pousa em mim — Posso ter
uma palavra com você, cara?
Levo meu tempo olhando-o de cima a baixo antes de decidir:
— Se é sobre isso que você quer falar comigo — Faço um gesto para
Bella que está atrás dele com um sorriso no rosto — Então não há
necessidade. Suas ações falaram claramente por você esta noite.
— Ouça, Johnny, eu não quero nenhum problema — Cormac responde,
correndo uma mão frustrada por seu cabelo preto. — Tudo o que eu queria
fazer era deixar as coisas claras e garantir que não houvesse ressentimentos
entre nós. — Dando de ombros, ele acrescentou: — Nós temos que jogar
juntos e eu não quero nenhum ressentimento.
— A abertura para falar comigo sobre isso foi meses atrás — eu respondo
em um tom monótono. — E considerando que estávamos jogando juntos
quando você decidiu me foder, acho isso difícil de acreditar.
— Não foi assim, cara — Cormac responde, confuso. — Eu pensei que
vocês dois estavam separados na época.
— Eu honestamente não me importo — eu digo a ele. — No que me diz
respeito, ela é problema seu agora.
— Johnny, vamos...
— Agora tchau — eu interrompo, acenando para ele. — E boa sorte com
isso — Eu atiro um olhar mordaz para Bella. — Porque você vai precisar.
— Isso? — Bella cospe. — De quem diabos você pensa que está falando,
Johnny Kavanagh?
— Estou falando de você — eu retruco com um sorriso de escárnio. — E
eu estou me perguntando qual demônio me possuiu para colocar meu pau
dentro de algo tão fodidamente venenoso.
Um coro de risadinhas irrompe ao redor da mesa ao nosso lado.
Gibsie ri alto.
Assim como Hughie e Katie.
Eu teria me sentido mal pelo comentário, mas o álcool correndo pelas
minhas veias era como uma poção da verdade.
— Sim, bem, você foi uma merda total — Bella grita para mim. — E eu
nunca vou tocar em você novamente.
— Louvado seja Jesus, porra — eu respondo sarcasticamente. — Essa é a
melhor notícia que ouvi durante todo o ano.
— Ei, não fala assim! — Cormac avisa, tomando uma postura protetora na
frente dela. — Bella é minha namorada agora, e eu não vou deixar você falar
com ela desse jeito.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Sua namorada?
— Isso mesmo — Bella sussurra, sorrindo. — Eu sou a namorada dele.
— Ah, Cristo. — Esfrego a mão no rosto e gemo. — Eu quase sinto pena
de você, Ryan, porque você claramente não tem ideia de com quem está
lidando.
— Eu sei exatamente quem você é, Kavanagh — ele rosna. — Eu sei tudo
sobre você.
— Não comigo, idiota — eu rosno. — Com ela!
Cormac olha para mim, o rosto ficando vermelho brilhante.
— O que isso deveria significar?
— Isso significa ficar de olho em seus companheiros de equipe, cara — eu
retruquei. — Porque essa não é feita para ser namorada.
Seus olhos se estreitam.
— Vamos lá fora e diga isso na minha cara.
— Eu estou dizendo isso aqui — eu brinco. — Na sua cara.
— Com uma mesa na sua frente e seus amigos ao seu lado — ele provoca.
— Que grande homem você é. Vamos lá fora e fale merda sobre ela na
minha cara.
— Não — Gibsie responde por mim, pegando outro copo. — Não vai
acontecer. Então, você pode continuar andando, vira-casaca, porque ele não
está caindo nessa.
— Foda-se, Gibs. — Cormac olha para ele. — Eu não estava falando com
você.
— Talvez não — Gibs responde, pegando outro. — Mas eu tenho certeza
que estou falando com você. — Empurrando seu banco para trás, ele se
levanta e se endireita com Cormac. — Agora vire sua bunda e leve sua
namoradinha de volta para o buraco de onde vocês dois saíram.
— Ou o que? — Cormac rosna, pressionando sua testa contra a de Gibsie.
Péssima jogada da parte de Ryan.
— Não há nenhum contrato pairando sobre minha cabeça como há o dele,
idiota — Gibsie ferve, empurrando para trás com a testa. — Eu não tenho
nenhuma porra de problema em intervir em nome de Kav e chutar a merda
sempre amorosa de sua bunda traidora.
Com um metro e oitenta, os dois rapazes tinham a mesma altura, mas
Gibsie superava Cormac em uns bons 13 quilos porque em campo, Cormac
era um corredor habilidoso e Gibs era um aríete altamente carregado.
— Oh, pelo amor de Deus — Hughie geme, expressando meus
pensamentos em voz alta. — Ele tinha que empurrá-lo.
— Sim — Katie concorda tristemente. — Ele com certeza tinha.
Gibsie tinha uma natureza descontraída, mas dê a ele algumas bebidas e
um motivo para lutar e ele era alguém que cai dentro.
— Eu não tenho nenhum problema com você, Gibsie — Cormac lati. —
Meu problema é com Kavanagh.
— Bem, isso é muito ruim, porque eu tenho um grande problema com
você — Gibsie rosna. — Quem diabos você pensa que é, vindo aqui com
ela, tentando causar drama?
— Eu estava tentando deixar as coisas claras — Cormac fala, mandíbula
apertada.
— Não, você estava tentando irritá-lo — Gibsie corrigi, rosnando. —
Você estava tentando foder a temporada dele. — Ele empurra Cormac no
peito e reivindica o espaço quando ele cambaleia para trás. — Porque você é
um idiota invejoso e a Academia não quer você.
— Me empurre mais uma vez e eu vou quebrar suas pernas — Cormac
rosna, empurrando Gibsie de volta.
Imperturbável pela ameaça, Gibsie continua em sua fúria.
— Você e aquela vadia estavam tentando acabar com ele porque ele não a
quer, e você não pode fazer isso onde importa. — Pressionando sua testa na
de Cormac, ele sussurra: — No campo.
— Nós não queremos nenhum problema aqui esta noite, rapazes — a
garçonete grita sobre a multidão. — Se acalmem.
— Problema? — Gibsie ri sem humor, e então ele balança o punho,
acertando Cormac direto na mandíbula. — Eu vou arrancar a cabeça desse
filho da puta — ele ruge, batendo nele.
Vários gritos agudos irrompem das meninas ao nosso redor enquanto os
dois rapazes pousam em uma mesa próxima, fazendo cadeiras voarem e
copos caindo no chão.
Eu estou fora do meu assento e me aproximando do meu amigo em
segundos.
— Gibs! — Eu rujo, arrastando-o para longe de Cormac, que estava
recebendo alguns socos.
— Afaste-se, cara — eu ordeno em um tom baixo enquanto eu coloco
uma mão em seu ombro e o puxo de volta para mim. — Esta não é a sua
briga.
— O cacete que não é — ele rosna, avançando com tanta força que eu
tenho que dobrar meus esforços para mantê-lo afastado. — Você é meu
melhor amigo e esse idiota está desrespeitando você há meses.
— Deixe-o — eu respondo calmamente, capturando o olhar de Hughie e
gesticulando para ele vir aqui imediatamente. — Eu não me importo, e nem
você.
— Oh, eu me importo — Gibsie rosna, os olhos fixos em Cormac.
— Tire este lunático de mim ou eu vou matá-lo — Cormac ferveu,
limpando um rastro de sangue de sua boca. — Você é um maldito lunático,
Gerard Gibson.
— Você não vai fazer nada — eu rosno, olhando para Cormac, enquanto
eu assumo uma postura protetora na frente de Gibsie.
Bella, que estava gritando com a cabeça para o lado, decide que este era o
momento perfeito para passar por mim e ficar na cara de Gibsie.
— Seu idiota — ela grita, dando-lhe um tapa no rosto. — Não se atreva a
tocá-lo.
— Saia da frente dele — eu a aviso, empurrando meu melhor amigo atrás
de mim. — Agora.
— Ou o quê? — ela sibila, me dando um tapa no rosto. — Você vai
colocar seu cão de guarda em mim também?
— Você gostou disso? — Eu fervo, nem mesmo vacilando. — Porque essa
é a única maneira de você colocar suas mãos em mim novamente.
Ela recua e me dá um tapa novamente.
Eu rio na cara dela.
— Vá em frente. Vá em frente. Me bata a porra da noite toda. Não vai
mudar nada.
— Pare — Cormac ordena, empurrando-a para trás de suas costas. — Não
bata nele.
— Ele merece — ela grita.
— Porque eu não quero você? — Eu jogo a cabeça para trás e rio. — Ah
sim, porque é assim que a vida funciona.
— Não me faça chamar a polícia para vocês! — a mulher mais velha atrás
do bar grita. — Pacote de pequenos imbecis.
— Não há necessidade disso, Mags — Hughie anuncia, lutando para
interceptar o punho balançando de Gibsie com a mão.
— Tire ele daqui — eu ordeno, arrastando Gibsie de volta mais uma vez.
— Sua casa? — pergunta Hugh.
— Qualquer lugar — Passo a mão pelo meu cabelo em exasperação. —
Basta mantê-lo seguro.
Hughie assente e volta sua atenção para Gibsie.
— Vamos, Rocky Balboa — diz ele brilhantemente. — Antes que você
nos jogue na cadeia hoje a noite.
— Ele pediu por isso — Gibsie balbucia. — Pedaço de merda.
— Eu sei, rapaz — Hughie persuadi. — Vamos. — Envolvendo seu corpo
ao redor do de Gibsie, ele o leva com força para trás para fora do bar.
— Você vem, Johnny? — Katie pergunta, olhando nervosamente entre
mim e Cormac.
— Eu ficarei bem — eu digo a ela e volto minha atenção para Cormac.
— Tem certeza? — Katie persiste. — Você deveria vir com a gente...
— Vá em frente, Katie — eu ordeno, me virando para chamar sua
atenção. — Eu vou fazer o meu próprio caminho para casa.
— Se você tem certeza.
— Eu tenho.
Espero até que Katie tivesse seguido Hughie e Gibsie para fora do bar
antes de voltar minha atenção para Cormac.
— Você quer falar comigo? — Eu rosno, gesticulando em direção à porta.
— Então vamos.
Sem esperar por uma resposta, eu abro caminho pelo bar lotado em
direção à saída, recebendo várias palmas nos ombros e “Grande partida,
Johnny” e “Estou ansioso para vê-lo de verde em junho” enquanto eu tento
o meu melhor para andar em linha reta.
Duvidoso, penso comigo mesmo. Muito fodidamente duvidoso.
Quando chego à porta do pub e saio para a rua, fiquei aliviado por não
encontrar os rapazes do lado de fora esperando por mim.
Alguns minutos depois, a porta se abre e Cormac sai.
— Não ela — eu lato, apontando um dedo para Bella que sai atrás dele. —
Ela fica muito longe de mim.
— É um país livre — Bella rebate, me encarando com adagas. — Eu
posso ir onde diabos eu quiser.
— Ou ela vai, ou eu vou — eu rosno, dirigindo-me a Cormac. — Sua
escolha.
Bella abre a boca para dizer mais alguma coisa, algo rancoroso, sem
dúvida, mas Cormac fala primeiro.
— Volte para dentro — ele diz a ela. — Eu não vou demorar.
— Mas eu...
— Eu preciso falar com ele — Cormac pressiona. — Vá para dentro.
Com o que parecia uma grande relutância, Bella volta para dentro, me
deixando sozinho na rua com Cormac.
— Certo — ele rosna, dando de ombros. — Vamos fazer isso, Kavanagh.
Eu arqueio uma sobrancelha, divertido com a postura de luta que Ryan
tinha tomado.
Se ele pensa que eu ia jogar minha carreira fora por um soco por causa de
Bella, ele estava seriamente enganado.
Shannon – absolutamente, mas Bella? Sem chance.
— Afaste seus punhos, seu maldito idiota — eu ladro. — Eu não vou
tocar em você.
Ele me observa por vários momentos, os olhos cheios de desconfiança,
clareando e esperando que eu ataque.
Era quase cômico.
Quase.
— Acredite ou não, Johnny — ele finalmente quebra a tensão dizendo. —
Eu estava realmente tentando esclarecer as coisas entre nós.
— Quando nós dois estamos cheios de bebida?
— Justo — ele admite. — Mas eu não queria que isso acontecesse.
— Você não queria que o que acontecesse exatamente? — Eu pergunto,
apoiando meu ombro contra a parede do pub para me equilibrar. — Você não
queria me foder, ou você não queria bater no meu melhor amigo e no seu
companheiro de equipe?
O ar da noite me atinge como uma porra de uma bola de demolição e eu
sei muito bem que sem a parede para me apoiar, eu estaria balançando como
a torre de Pisa.
— Gibs me acertou primeiro — Cormac retrucou e então jogou as mãos
para cima. — Ele veio para cima de mim.
— Porque você veio para cima de mim — eu respondo calmamente. —
Porque lhe disse para ir embora e você não quis, e porque eu sou o capitão
dele e isso significa algo para ele.
Cormac faz uma careta com minhas palavras.
Bom.
O filho da puta precisava senti-las.
— E eu não queria te foder — ele acrescenta, as bochechas corando. —
Eu pensei que vocês dois estavam separados. Eu realmente gosto da garota,
Johnny, eu sempre gostei.
— Então tudo que você tinha que fazer era pegar o telefone — eu rebato,
as palavras arrastando apesar dos meus melhores esforços. — E ouvir direto
da fonte.
— Eu deveria ter feito isso — ele finalmente admite.
— Você sabe o que é fodido? — eu medito, expressando meus
pensamentos em voz alta. — É que se você me dissesse que gostava dela, eu
teria recuado. — Cruzando meus braços sobre meu peito, eu olho para ele.
— Eu teria respeitado essa merda por você e agiria como um homem sobre
isso, e eu teria ido embora. Bella e eu nunca fomos sérios. Eu não tive um
relacionamento com ela. Mas eu tive um com você. E você me traiu.
— Capi...
— Não, cale a boca e deixe-me dizer isso. — Exalando pesadamente, eu
digo: — Não é que ela agiu pelas minhas costas com meu companheiro de
equipe. É que meu companheiro de equipe agiu pelas minhas costas com ela.
Cormac geme alto.
— Johnny, cara, eu não queria que isso...
Eu levanto a mão, afastando-o com sua besteira.
— Não me alimente que você não queria que isso acontecesse. Eu fiz
sexo, Cormac, muitas vezes, e nós dois sabemos que quando você coloca seu
pau dentro de uma garota, você sempre quer fazer isso. Isso não acontece
sem você saber.
— Você está certo — ele admite depois de uma longa pausa. — Merda,
cara, você está certo.
— Eu sei que estou — eu respondo, o tom cortante.
— E vocês realmente terminaram? — Ele me observou com uma
expressão cautelosa. — Você não a quer de volta?
Eu balanço minha cabeça e expulso uma respiração frustrada.
— Eu não sei de quantas maneiras eu posso dizer isso, Ryan; eu não quero
fazer nada com aquela garota. Então, vá em frente e faça o que diabos você
quiser com ela. Vão se foder longe de mim, mantenha suas demonstrações
fora da minha frente, e estaremos bem.
— Você está dizendo isso para salvar a cara? — Ele pressiona.
— Eu acho que você já sabe que eu sou direto — eu rosno. — Quando
digo que terminei, estou falando sério.
— Então é isso?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — É isso.
— Por que você não está mais chateado comigo? — ele pergunta, me
dando um olhar desconfiado.
— Porque eu sinto pena de você — eu digo a ele e surpreendentemente
era a verdade.
Eu estava sentindo pena de Cormac.
Também me decepcionei com ele.
Eu era um monte de coisas, mas chateado não era uma delas.
Não agora, pelo menos.
Ele era um peão em um dos jogos de Bella e mesmo que eu estivesse
bêbado, eu podia ver isso tão claro quanto o dia.
— Ouça-me — começo, esforçando-me para não enrolar minhas palavras
enquanto tento lhe dar algumas verdades aprendidas com dificuldade. — Eu
estou neste jogo há muito tempo e sei o que está acontecendo aqui. Bella
está usando você para me atingir e você está deixando ela fazer uma merda
de você.
Só o próprio Deus sabia por que eu estava dando conselhos a ele depois de
me esfaquear pelas costas, mas continuo.
— Ela não pode mais me ter e você é a próxima melhor coisa. — eu falo
— É sobre dinheiro para essa daí, Ryan. Dinheiro e status. — Balançando a
cabeça, acrescento: — Brigar com seu companheiro de equipe por a porra de
uma garota é o começo do fim. Vá por esse caminho e está acabado para
você antes mesmo de começar.
Mesmo em meu estado de embriaguez, eu sei que estava fazendo uma
porra de uma declaração hipócrita.
Justifico minhas razões com o conhecimento de que Shannon valia a pena.
Bella não.
Cormac olha para mim.
— Você acha que é melhor do que eu.
Ele estava falando sério?
Isso foi tudo o que ele tira do meu esforço de ajudá-lo?
— Eu sou melhor que você. — Eu rebato, frustrado por ele não estar me
ouvindo. — Se você quer estar no meu nível, então pise no campo. Trabalhe
mais. Treine mais. Seja melhor para caralho. E abra seus malditos olhos para
o perigo. Porque essa sua suposta namorada vai sugar você até secar, cara.
— Ela é minha namorada — ele rosna. — Então não fale sobre ela assim.
Deus me dê forças...
— Certo — Eu jogo minhas mãos para cima. — Mantenha sua namorada
longe da minha e estaremos bem.
— Você não tem namorada — ele responde lentamente, a expressão
misturada com confusão.
— De mim — eu corrigi, confuso com a palavra derramada. —
Mantenha-a longe de mim e não teremos problemas.
— Então o que acontece agora? — Cormac pergunta, o rosto contorcido
em uma careta de dor. — Nós vamos ter algum problema jogando juntos
depois disso?
— Não.
— Não. — Suas sobrancelhas se erguem. — Por que não?
— Porque eu não sou besta o suficiente para deixar uma garota assim
foder com a minha cabeça — eu disse. — Você é um ala decente e o time
precisa de você. Eu seria um bastardo egoísta se permitisse que meus
problemas pessoais afetassem o time.
— E Bella? — Cormac pergunta depois de uma longa pausa. — Você vai
causar problemas a ela?
— Porque você está com ela? Não — eu digo a ele. — Se ela foder com
Shannon? Absolutamente.
— Shannon?
— Sim, Shannon — eu falo mordaz, tom áspero agora.
Cormac olha fixamente.
— Quem é Shannon?
— Shannon é a razão pela qual você vai acabar com a mandíbula
quebrada.
— Que diabos?
— Bella estava ameaçando ir atrás dela. — Eu rosno. — Se isso
acontecer, eu vou te foder.
Ele empalidece.
— Por que eu?
— Não posso bater em uma garota, o que significa que estarei vindo para
a próxima melhor coisa — explico. — Então, tenha em mente que toda vez
que sua Bella decidir fazer uma ameaça, espalhar um boato desagradável, ou
foder com minha Shannon, eu vou retribuir o favor em seu rosto. Toda
maldita vez.
Cormac empalidece visivelmente, e o visual, embora ligeiramente
nebuloso, foi extremamente satisfatório.
— Bom — eu resmungo, puxando meu telefone do bolso para chamar um
táxi. — Que bom que nos entendemos.
Balançando a cabeça, pisco algumas vezes para clarear a visão enquanto
abro minha agenda telefônica e discava o número rotulado Taxista Gordo.
Maldito Gibsie.
Eu deveria ter pensado melhor antes de deixar meu telefone sozinho com
ele quando fui tomar banho.
A última vez que ele pegou meu telefone, ele renomeou minha mãe para
Peitinhos Doces e Bella de Boceta demoníaca.
Foi tudo merda e risos até que Peitinhos Doces me mandou uma
mensagem no meio da noite, exigindo que eu descesse e destrancasse a porta
da frente porque ela estava do lado de fora e queria entrar.
Sem saber quem diabos estava me mandando mensagem, eu respondi com
mais palavrões do que eu gostaria de pensar antes de ameaçar chamar a
polícia – para minha própria mãe.
Falemos sobre um mal-entendido.
— Você quer dar um aperto de mãos para isso? — Cormac pergunta, me
distraindo da minha missão de levar minha bunda bêbada para casa,
enquanto ele estendia a mão para mim.
— Afaste essa porra de mim. — Eu faço uma careta para sua mão quando
coloco meu telefone no ouvido. — Eu sei onde esteve.
Sua expressão escurece, mas ele teve o bom senso de não abusar da sorte
pela noite.
Com um aceno rígido, Cormac se vira e volta para dentro do bar.
Quando o número de Taxista Gordo toca, tento mais cinco vezes antes de
desistir.
Os táxis por aqui desligam seus telefones nas noites de sábado quando
ficam ocupados, e pelo grande volume de pessoas nas ruas hoje à noite, eu
sei que estaria esperando muito tempo para chegar em casa.
Frustrado, voltei minha atenção para o meu telefone e percorro meus
contatos, procurando o nome de Hughie.
— Aquele imbecil — xingo quando percebo que Gibsie mais uma vez
mudou o nome de cada contato na minha lista.
Petinhos Doces e Boceta demoníaca já estiveram presentes em meus
contatos, junto com novos como Grande Paizão, Bundão, Ligue se for preso,
Não ligue se for preso, e meu favorito: Judas-Puta.
Clicando nesse contato em particular, reconheço o número como sendo de
Cormac.
Ele poderia ficar assim.
Boceta demoníaca, também.
Passo um tempo ridículo tentando encontrar o número de Hughie porque
não consigo descobrir quem diabos era quem no meu telefone.
Depois de clicar acidentalmente o contato Rapidinha e ouvir a voz do
treinador Mulcahy na outra linha, desligo rapidamente.
Cancelando outra chamada recebida do Rei do Clitóris, porque quem em
sã consciência atenderia um número listado assim, eu desligo meu telefone e
o enfio de volta no bolso.
Rabugento, atravesso a rua até a lanchonete e peço meia dúzia de
cheeseburgers e dois sacos de batatas fritas.
Não há necessidade de cuidar da minha dieta agora.
Não quando meu corpo estava determinado a desistir de mim.
Caindo em uma parede do lado de fora da lanchonete, devoro tudo e
engulo com uma garrafa de água.
A gordura tinha um gosto estranho para mim, e eu sei que pagarei por ela
amanhã, mas por enquanto não me importo.
— Johnny Kavanagh? — uma voz vagamente familiar chama meu nome.
— É você?
Eu levanto meu olhar para ver um rapaz alto da minha idade olhando com
expectativa para mim.
Ele está com o braço pendurado no ombro de uma loira atraente.
Fã ou amigo?
Amigo ou fã?
Tento reconhecer o rosto e não consigo, então decido por fã.
— Sem fotos hoje à noite, crianças — eu digo, com o tom arrastado. —
Johnny está fora.
O cara ri, mas não fez nenhum movimento para enfiar uma câmera na
minha cara, o que era bom, considerando minha condição atual.
Em vez disso, ele me choca muito ao dizer:
— Falei com você ao telefone na outra semana. Você conhece minha irmã,
Shannon. Você a deixou em casa depois da escola.
Minha cabeça se ergue e eu me encontro concentrando muito mais no
rapaz na minha frente.
— Você é o arremessador — Faço uma pausa e quebro meu cérebro para o
nome dele. — Joey! — Deixo escapar, orgulhoso de mim mesmo por
conseguir recuperar essa informação no meu estado. — Joey o arremessador
e Shannon como o rio.
— Como o rio? — a garota ri. — Deus, quanto você bebeu?
— Uma carga do tamanho de um rio, pelo que parece — Joey diz
ironicamente, me olhando com curiosidade. — Você acha que deveria ir para
casa, cara? — ele adiciona. — Você parece bastante embriagado.
— Se eu pudesse — eu admiti com um resmungo. — Sem táxi.
— Claro que podemos te dar uma carona, não podemos, baby? — a garota
anuncia, apontando para a rua. — Só estamos estacionados na estrada.
Eu abro minha boca para protestar, mas sai em vez disso:
— Isso seria ótimo, obrigado.
— Sim, claro, sem problemas — Joey concorda, parecendo um pouco
surpreso. Ele se mexe desconfortavelmente por um minuto, em seguida,
inclina a cabeça. — Vamos lá.
Consigo me levantar, mas dá muito trabalho para ficar de pé.
Batendo meu ombro contra a parede, consigo manter o equilíbrio
enquanto sigo atrás deles.
Felizmente, a garota que eu presumi ser a namorada de Joey, não estava
brincando quando ela disse que eles estavam estacionados na estrada.
Mais alguns passos tropeçando e chegamos ao Opal Corsa vermelho.
Pelo menos foi o que eu pensei que fosse.
Era difícil dizer porque minha cabeça estava girando e o carro era um
balde de ferrugem.
Foda-se, porém, eu não estava em condições de questionar seus métodos
de viagem.
Eu estava além de grato pela carona.
— Eu sou Aoife Molloy, a propósito — a garota anuncia, me dando um
sorriso brilhante antes de dar a volta para o lado do passageiro do carro. —
A namorada de Joey, o arremessador — Ela ri dessa última parte antes de
subir no banco da frente.
— Prazer em conhecê-la — eu respondo, mantendo meu peso contra a
parede enquanto Joey abre a porta do lado do motorista e, em seguida,
empurra o banco para frente.
— Três portas — diz ele como explicação. — Você vai ter que subir na
parte de trás.
— Está tudo bem, cara — Me afasto da parede e apoio meu peso contra o
carro antes de me enfiar no pequeno espaço.
Meus esforços foram tão eficazes quanto velejar em um barco de papel,
porque Joey teve que me empurrar de costas para me colocar dentro.
— Cristo — eu murmuro quando finalmente entro.
Afundando no meio do assento, tenho que torcer meu corpo de lado,
minhas pernas voltadas para a janela lateral, para que Joey pudesse empurrar
seu assento para trás.
— Está bem, Kavanagh? — ele grita quando entra e empurra seu assento
para trás mais alguns centímetros.
— Tudo bem — eu resmungo, o corpo esmagado entre as costas de seu
assento e o meu. — Obrigado novamente pela carona.
— Não se preocupe — Joey responde. Ele se inclina e dá um beijo nos
lábios de sua namorada antes de apertar o cinto de segurança. — Para onde
estamos indo?
Direto para sua casa porque eu quero foder sua irmã, eu penso comigo
mesmo, sorrio com a ideia fabulosa, e então afasto o pensamento louco com
um aceno de cabeça.
Provavelmente a amo também, penso comigo mesmo, muito mesmo, antes
de empurrar essa loucura para fora também.
Se ajude, imbecil!
— Cerca de seis quilômetros do outro lado do Tommen College — eu
digo arrastado.
Tento encontrar meu cinto de segurança, mas minhas mãos desajeitadas
não cooperavam.
— Saia pela estrada principal para a cidade. — Desistindo de encontrar
meu cinto, deixo cair minha cabeça contra o encosto e suspiro. — Vou avisar
sobre os desvios quando chegarmos a eles.
— Sem problema.
Ele liga o motor e tinha acabado de entrar na estrada quando sinto o carro
frear de repente.
— Que porra é essa? — Joey ladra segundos antes de duas mãos baterem
no capô de seu carro. — Saia da frente do meu carro, idiota!
— Você está sequestrando meu Centro — Gibsie ruge na janela enquanto
se inclina sobre o capô do carro. — Devolva-o. — Seus olhos disparam de
Joey para mim, o reconhecimento faiscando. — Ei, Capitão. — Ele sorri, a
cabeça pendendo para um lado. — Como vai? Eu estive procurando por
você em todos os lugares.
— E quem é esse palhaço? — Joey pergunta, em tom de escárnio, atenção
voltada para Gibsie que estava tendo uma conversa unilateral comigo através
do para-brisa de seu carro.
— Ele é meu flanqueador — eu resmungo antes de voltar minha atenção
para o homem/criança abraçando o capô. — Gibs! Que porra você está
fazendo, cara! — Eu lato, olhando para o para-brisa. — Você não deveria ter
ido para casa com Hughie?
— Os policiais o pararam por causa de impostos e seguros — ele grita de
volta pelo para-brisa como se respondesse à minha pergunta.
Eu fico boquiaberto.
— E? Hughie está limpo.
— Ele olhou para mim, Johnny, virou aquela sua grande lanterna brilhante
bem nos meus olhos — ele grita de volta. — Entrei em pânico e pulei do
carro. — Dando de ombros, ele acrescenta: — Eu tenho andado pela cidade
desde então. — Ele estreita os olhos. — Eu tentei ligar para você, mas você
continuou me recusando!
Eu olho para ele.
— Você é o Rei do Clitóris?
— Ah, sim — Gibsie ri. — Eu esqueci disso.
— Como está Hughie?
— Pentelhos Ruivos — ele responde como se fosse a coisa mais óbvia de
todas.
Não era.
— Ele é loiro — eu rosno.
— Sua namorada não é.
— Jesus Cristo — eu gemo, esfregando minha testa.
— O que você quer que eu faça com ele? — Joey pergunta.
Dou de ombros e penso em dizer a ele para passar por cima do filho da
puta irritante, mas então eu sei que estarei terrivelmente sozinho sem ele.
E a justiça seja feita, ele levou alguns tapas defendendo minha honra esta
noite.
— Eu provavelmente deveria levá-lo de volta para minha casa — eu
admito a contragosto. — Ou um hospital com seguranças.
Joey murmura algo incoerente baixinho e sai.
Parecia algo como “é melhor vocês dois filhos da puta não vomitarem
neste carro”.
Eu não estou fazendo promessas.
Meu amigo é um vomitador.
Puxando o assento, Joey o arrasta para frente e instrui um Gibsie
embriagado a entrar.
Ele entra.
Mas em vez de subir ou rastejar para dentro, o bastardo se joga no banco
de trás.
— Porra! — Eu rujo, dobrando de dor quando seu cotovelo pousa na
minha virilha.
Lá se vai a última gota bem aqui...
— Merda, cara, eu atingi seu pau? — Gibsie balbucia enquanto tenta e
não consegue passar por cima de mim. — Eu vou pegar gelo para suas bolas
quando chegarmos em casa.
— Sai. De. Cima. De. Mim. — Eu falo nasalado, bastante certo de que
estava ficando roxo de dor, enquanto ele sobe no banco, se ajeitando e me
batendo com os cotovelos e joelhos.
Finalmente, ele consegue arrastar sua bunda para o outro lado do assento.
— Cristo — ele medita, se acomodando ao meu lado. — Esse é o buraco
mais apertado que eu entrei em meses.
Joey volta e liga o motor antes de sair rapidamente pela rua.
— Espero que não haja mais de vocês — ele diz. — O carro está pesando
na parte de trás.
— Desculpe — começo a dizer, mas sou interrompido por Gibsie.
— A culpa é dele, o bastardo gordo — anuncia. Virando-se para mim, ele
acrescenta: — Ei, seu pau está bem, cara? Eu realmente sinto muito por isso.
Espero não ter esmagado suas bolas.
Eu estreito meus olhos para ele.
— Vá se foder, Gerard.
— Eu estava sendo sincero, Jonathon — ele retruca, ferido. — Por isso,
você pode pegar seu próprio maldito gelo hoje à noite, espere!
Agarrando a frente da minha camisa, ele me puxa para ele e cheira minha
boca.
— Seu traidor! — ele solta, parecendo comicamente horrorizado. — Você
foi na lanchonete.
— Sim, eu comi — eu respondo, me empurrando para longe dele. — E foi
fodidamente delicioso, e não me arrependo.
— O que você tinha?
— Alguns cheeseburgers e batatas fritas ao curry.
— Qual o gosto?
— Melhor que sexo.
— Nós deveríamos estar em uma dieta! — Gibsie assobia em um tom
chocado antes de perguntar rapidamente: — Você pediu algo para mim?
— Sim, eu te trouxe um hambúrguer.
— Obrigado, Johnny.
— E então eu fiquei com fome, então eu o comi.
— Você é um monstro.
— Vocês dois são tão estranhos — Aoife ri. — Eles não são engraçados,
Joey?
— Eles são algo, tudo bem — responde o irmão de Shannon.
— Ei. — De repente, percebendo que estava na companhia de estranhos,
Gibsie se inclina no meio de seus assentos e pergunta: — Quem diabos são
vocês?
— Os amigos de Johnny por causa da irmã do meu namorado — explica
Aoife.
— Irmã? — A palavra parece confundir Gibsie, que me encara
inexpressivamente por vários momentos.
Lançando uma oração aos céus para que ele pudesse se controlar, eu
balanço a cabeça e digo:
— Shannon.
Gibsie afunda ao meu lado e franze a testa.
— Shannon?
— Sim, Shannon. — Eu olho para ele.
Os olhos de Gibsie se arregalam então, consciência de repente surgindo
nele.
— Ah, Shannon! — ele exclama. — Ah, sim, a pequena Shannon do
terceiro ano. — Sorrindo, ele me cutuca nas costelas. — O Johnny aqui tem
um quedinha feroz por sua irmã.
— É isso mesmo? — Joey responde com firmeza.
Ah, porra.
— Sim, ele está sempre cuidando dela na escola — Gibsie acrescenta com
uma piscadela. — Se certificando de que ela não está se metendo em
nenhum problema.
Mordo de volta um gemido e resisto à vontade de envolver minhas mãos
em volta do pescoço dele e estrangulá-lo.
Para ser justo, poderia ter sido pior.
Gibsie era capaz de dizer coisas muito piores.
— Isso é lindo — Aoife entra na conversa, e noto o jeito que ela colocou a
mão no joelho do namorado. — Não é gentil da parte dele, Joe?
— Por que? — Joey exige, tom duro e desconfiado. — O que você ganha
com isso?
Suspiro pesadamente e tento pensar em algo crível.
— Porque eu fodi com ela...
— Você o quê? — Joey ruge, pisando no freio.
O súbito solavanco do carro parando faz com que Gibsie e eu voássemos.
Virando-se, Joey olha para mim.
— É melhor você estar brincando agora, Kavanagh, porque eu juro por
Cristo que vou...
— Ferrei! — Corro para explicar, me arrastando de volta para o assento.
— Eu ferrei com ela em seu primeiro dia. A envergonhei em campo quando
eu a nocauteei.
Mas eu quero foder com ela...
Eu quero tanto entrar na sua irmã que você não acreditaria...
As coisas que imagino fazer com ela iriam chocar você...
Espero que o olhar homicida em seus olhos desapareça antes de continuar.
— Achei que devia à garota, então fiquei de olho nas coisas, me
certifiquei de que ela estava se adaptando bem. Não é fácil começar uma
nova escola. — Dando de ombros, eu acrescento: — Não queria que ela
recebesse nenhuma merda desnecessária.
Eu apenas espero seu irmão dar o próximo passo.
Se Joey me batesse, eu não revidaria.
Eu não iria retaliar.
Essa era a coisa assustadora sobre esta situação.
Sentado em seu carro, bêbado, sabendo que eu era mais que capaz de
bater nele, mas sabendo que não o faria.
Por causa dela.
Porque ele era importante para ela.
Porque se eu batesse nele, eu a machucaria.
E machucá-la era ruim.
Machucá-la me faz querer bater em algo mais duro.
Essa noção era mais confusa e complicada do que minha bunda bêbada
pode compreender.
Joey não responde, mas volta sua atenção para a estrada e começa a dirigir
novamente.
Dou um suspiro de alívio.
Me virando para Gibsie, eu murmuro as palavras “mantenha sua boca
fechada”.
Ele responde com um gesto teatral do movimento de um zíper da boca.
Quando chegamos à saída para minha casa, meia hora depois, murmuro
algumas direções curtas.
Joey responde com um aceno de cabeça curto e vira à direita, deixando a
estrada principal para a estrada secundária precária que levava à entrada da
propriedade.
Eu estava me sentindo mais lúcido agora – eu acho que o quase encontro
com a morte nas mãos do irmão de Shannon mexeu com o bom senso e me
deixou sóbrio.
Desejo que o mesmo pudesse ser dito de Gibsie, que estava desmaiado ao
meu lado, roncando como um urso pardo.
Quando Joey para do lado de fora dos portões da propriedade, eu digo:
— Podemos ficar aqui, cara.
— É onde você mora? — O irmão de Shannon pergunta, falando pela
primeira vez desde o quase desastre que foi do nosso erro de comunicação.
Sua atenção estava voltada para os enormes portões de ferro fundido com
as feias águias em cada pilar.
— A que distância fica aquela entrada de carros até a sua casa? — ele
pergunta.
— Cerca de quatrocentos metros.
— Você nunca vai conseguir fazê-lo andar tão longe — ele murmura. —
Eu vou levá-los até a porta.
— 310587 — eu falo o código, que por acaso era a minha data de
nascimento. — Basta digitar isso no bloco ali e eles vão abrir para você.
Joey digita o código no bloco e espera que os portões se abram para
dentro.
— Mais uma vez, eu aprecio isso — eu sinto a necessidade de mencionar.
— Eu sei que está fora do seu caminho.
— Apenas retribuindo o favor — ele responde, dirigindo pela viela
estreita em direção à casa.
— Este lugar é incrível — Aoife diz com um suspiro sonhador. — Olhe
para todas as árvores e – oh meu Deus! Olhe para o tamanho daquela casa —
ela guincha quando a casa aparece, iluminada como uma porra de uma
árvore de Natal.
Mamãe era paranoica para caralho com ladrões em potencial pensando
que a casa estava vazia, então ela tem sensores automáticos e iluminação
cronometrada instalados em todos os lugares.
No quintal.
Na casa.
No gramado.
Era ridículo, mas o eu bêbado estava grato pela iluminação.
Joey desliga o motor e desce, ajustando o assento o máximo possível.
Eu estou muito mais firme em meus pés quando saio do que quando entrei
no carro.
— Obrigado novamente — eu digo antes de chegar na parte de trás e
puxar a bela adormecida para fora do carro. — Eu te devo uma.
Envolvendo um braço em volta da cintura de Gibsie que ainda estava
meio adormecido, eu o arrasto até a porta da frente e luto para pegar minhas
chaves.
Não conseguindo tirá-los do bolso do meu jeans, eu o deixo cair de bunda,
e luto com meu jeans por um longo momento antes de finalmente recuperar
minhas chaves.
— Pare, ok, eu sou sensível — Gibsie geme antes de se enrolar, roncando
novamente.
— Aqui — Joey anuncia quando consigo colocar a chave na estrutura de
madeira, errando o buraco da fechadura por uns bons sete centímetros. —
Me deixe te ajudar.
Grato pela intervenção, entrego minhas chaves e volto minha atenção para
meu amigo.
— Se levante — eu rosno, cutucando-o com meu pé. — Estamos em casa.
O filho da puta não se mexe.
— Gibsie! — eu ladro.
Nada além de roncos.
Droga.
Soltando um suspiro frustrado, me abaixo e agarro seus ombros e tento
puxá-lo do chão.
Joey, que estava com a porta aberta, vem e me ajuda a levantá-lo.
Eu não estava em posição de recusar sua ajuda, então, com cada um de
nós tomando um lado, carregamos sua bunda de peso morto para dentro da
casa.
— Deixa ele aqui — instruo, gesticulando para a sala de estar.
— Tem certeza disso? — Joey pergunta, acendendo a luz. — Esse sofá é
branco, cara.
— É couro — eu murmuro, muito cansado e dolorido para me preocupar
com o conjunto de três peças da minha mãe. Arrastando até o sofá, jogamos
Gibsie no chão — Se ele vomitar, ele vai lavar sozinho pela manhã.
— Justo — Joey responde com um encolher de ombros antes de se virar e
se dirigir para a porta.
Eu o sigo, sem saber realmente o que dizer.
Esta noite tinha passado de deprimente para enfurecedora e
completamente confusa em questão de horas.
— Ouça — Joey diz quando sai para a varanda. — Sobre Shannon.
Aqui vamos nós, penso comigo mesmo.
Eu estava esperando por isso desde que entrei em seu carro de merda.
Comporte-se, Kav, mantenha sua boca fechada.
— O que têm a Shannon? — Eu pergunto, encostado no batente da porta.
— Ela é frágil — ele solta. — Vulnerável.
— Sim. — Minha voz está rouca, então limpo minha garganta e tento
novamente. — Eu, uh, já adivinhei isso.
Joey assente e enfia as mãos nos bolsos.
Eu mantenho minha boca fechada, esperando que ele continue.
— O que estou tentando dizer aqui é que eu aprecio você cuidar da minha
irmã — ele diz finalmente. — Ela teve alguns anos difíceis e Tommen
parece ser um bom ajuste para ela. Então, eu acho que eu espero que você
continue de olho nela na escola, você sabe, certificando-se de que ninguém a
esteja incomodando.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Ah, sim, claro. Isso não é problema.
Ele assente novamente, suas palavras saindo mais rápido agora.
— Ela parece estar se adaptando a Tommen, e ela continua me dizendo
que os adolescentes são legais com ela, mas eu estou na BCS, então não
tenho como saber se ela está bem ou não, e ela nunca conta a ninguém o que
está acontecendo nessa cabeça dela até que seja tarde demais.
Eu faço uma careta.
— Tarde demais?
— As merdas das vadias — ele explica. — Minha irmã tem um alvo nas
costas desde que ela usava fraldas.
— Isso é muito fodido — eu murmuro, já sabendo de tudo isso, mas tendo
o bom senso de não dizer isso ao irmão dela.
— As crianças são cruéis — ele concordou.
— Elas com certeza são — eu murmuro.
Ele me encara por um longo tempo antes de dizer:
— Você vai me contar sobre isso?
Ai Jesus.
O que?
Que porra ele queria que eu dissesse a ele?
Eu quebro meu cérebro e não encontro nada apropriado de classificação
livre para todos os públicos, então mantenho minha boca fechada.
— Namorado de Ciara Maloney — Joey completa, me dando um olhar
estranho. — Um cara de Tommen deu uma surra nele na cidade ontem.
— Oh? — Eu arqueio uma sobrancelha e cruzo os braços sobre o peito. —
Foi é?
Joey sorri.
— Sim, foi.
— Bem, eu espero que ele tenha fodido com ele — eu solto, sentindo meu
corpo vibrar de raiva com a memória daquelas fodidas garotas
desagradáveis. — Ouvi dizer que a namorada dele é uma vadia.
— Ouvi dizer que ele estava mal — responde Joey. — Nariz quebrado.
Alguns pontos.
— Que horrível — eu digo lentamente.
Joey me encara por mais uma longa pausa antes de balançar a cabeça.
— De qualquer forma, eu só queria que você soubesse que eu aprecio que
minha irmã tenha alguém cuidando dela. Quando eu não posso.
Ele se vira para sair apenas para virar de volta.
— Amigo. — Sua palavra tinha uma mordacidade. — Minha irmã precisa
de um amigo, Kavanagh — ele esclarece. — Ela não precisa colocar suas
esperanças em um cara que vai embora no verão.
Eu ouço seu aviso alto e em bom som.
Meu cérebro fodido pode não prestar atenção ao aviso, mas eu
definitivamente escutei.
Sem outra palavra, Joey se vira e vai embora, me deixando parado na
porta, olhando para ele com apenas duas coisas em mente.
A primeira: encontrar uma bolsa de gelo para minhas bolas.
A segunda: fantasiar sobre todas as coisas terrivelmente inapropriadas que
eu desejo fazer com sua irmã.
32

DIAS DE FOLGA E IRMÃOS DEMONÍACOS

SHANNON

— Acho que você precisa comprar um anel para essa garota, Joe — eu
anuncio enquanto leio e releio o bilhete que Aoife havia deixado na mesa de
cabeceira do meu irmão no domingo de manhã. — Ela é para manter.
— Sim — Joey murmura, coçando o queixo. — Ela deve realmente me
amar.
— Uh, você acha? — Reviro os olhos. — Ela te idolatra.
— Mas eu não entendo por que ela faria isso por mim.
— Eu também — eu provoco. — Especialmente quando você se parece
tanto com o Shrek.
— Sua atrevida filha da puta — ele ri, me empurrando de brincadeira. —
Me dá esse bilhete de novo para eu dar uma olhada.
Eu estendo para ele – o mesmo bilhete que ele já tinha lido pelo menos
uma dúzia de vezes – e então vou até à mesa da cozinha com minha caneca
de chá.
Me sentando, eu assisto meu irmão ler o bilhete novamente, sobrancelhas
franzidas em confusão.
— Por que ela fez isso, Shan? — Balançando a cabeça, ele caminha de
porta de armário em porta de armário, abrindo e fechando-as. — Ela deve ter
se levantado de madrugada para fazer isso. — Ele abriu a geladeira,
revelando uma pilha pesada de mantimentos dentro. — Deve ter custado
uma fortuna para ela.
Joey está certo.
Aoife tinha que ter acordado cedo para fazer isso, considerando que eram
apenas onze horas.
Ele também está certo sobre isso lhe custar uma fortuna.
Encontrei o recibo de €143,67 na lixeira.
— Aqui diz que ela estará de volta por volta de uma hora com os meninos
— ele acrescenta, relendo o bilhete que estava pensando desde que acordou.
— Eles vão primeiro ao playground, e depois ao campo para se divertir
depois disso.
— Você viu isso? — Eu pergunto enquanto folheio sete envelopes
cuidadosamente empilhados, rotulados por dia da semana.
Sacudindo um dos pequenos envelopes marrons na minha mão, eu sorrio
quando ouço o som de moedas batendo.
— Sua namorada distribuiu seu dinheiro em pacotes de orçamentos
diários.
Joey vira boquiaberto para mim.
— O quê?
— Sim — eu rio, colocando o envelope de terça-feira de volta na pilha.
— De jeito nenhum — ele murmura enquanto se aproxima de onde eu
estou e pega um punhado dos minúsculos envelopes retangulares.
— E ela colocou pequenos corações neles para você. — Eu rio. — É tão
fofo.
— É normal ficar bravo com uma pessoa porque ela te ama? — meu
irmão pergunta, olhando os envelopes com confusão. Ele vira seus olhos
verdes para mim e pergunta: — Isso é normal?
— Por que você está me perguntando? — Eu dou de ombros
desconfortavelmente. — Não tenho experiência com esse tipo de coisa.
— Oh, você deveria olhar isso — ele diz com um suspiro, apontando para
a nota de €20 alojada sob as chaves do carro de Aoife e a nota adesiva ao
lado dizendo: Fundos para o café da manhã de Joey e Shannon.
Em letras maiúsculas abaixo estavam as palavras: Alimente sua irmã,
querido. Ela é muito magra.
— Minha namorada me deixou mesada — O tom de Joey estava
misturado com sarcasmo. — Jesus Cristo, Shan.
— Não fique bravo com ela — eu digo a ele. — Ela está tentando nos
ajudar.
— Eu sei. — Ele belisca a ponte de seu nariz e exala pesadamente. — E
eu não estou bravo. Só não sei como lidar com isso.
— Talvez apenas dizendo obrigado? — Eu ofereço. — E um eu também
te amo? Ou flores? Essas também são boas.
Joey sorri.
— Você está cheia de ideias, não está?
Eu sorrio de volta para ele e então suspiro, me forçando a me dirigir ao
elefante na sala – ou à falta dele.
— Você acha que mamãe estará em casa em breve?
A luz nos olhos do meu irmão diminui.
— Eu realmente não dou a mínima para o que ela faz, Shan — ele
responde firmemente. — Desde que aquele idiota fique longe desta casa.
Ele vai voltar, Joey.
Você sabe disso.
Pare de mentir para si mesmo.
— Sim. — Eu mordisco a unha, pensando na resposta dele por um
momento antes de dizer: — O que vamos fazer se mamãe não voltar, Joe?
Era aí que minhas preocupações viviam.
Com minha mãe.
Porque ela nunca nos deixou durante a noite assim antes.
— Nós vamos conseguir, Shan — Joey responde, o pomo de Adão
balançando. — Como sempre fazemos.
— E escola? — Eu sussurro.
— A vovó estará em casa esta noite — Joey declara em um tom de voz
sensato. — Ela vai cuidar os meninos da mesma forma que ela sempre faz
com a escola e todas essas coisas. — Ele esfrega a mão no rosto antes de
acrescentar: — Tudo o que temos que fazer é manter a casa, pagar as contas,
embalar seus almoços de manhã e estar aqui à noite quando ela os deixar.
— Eu deveria ir à excursão da escola depois da Páscoa, mas se ela não
estiver em casa eu vou cancelar...
— Não — ele ladra. — Você não vai.
— Joey. — Suspiro. — Se mamãe não estiver de volta até lá, você não
pode cuidar dos meninos sozinho.
— Eu não vou — ele rebate. — Eu já disse que a vovó vai ajudar – Aoife
também. Não tem como você perder essa viagem. Você precisa sair dessa
merda, Shan. Mais do que qualquer um de nós.
— Tem certeza? — Eu falo baixo.
Ele assente.
Inalando uma respiração firme, eu digo:
— Eu sei que não digo isso muitas vezes, mas eu quero que você saiba
que eu te amo e estou muito grato por você ser meu irmão mais velho.
Joey faz uma careta.
— Você está pegando leve comigo, maninha?
— Não. — Eu coro. — Eu só quero que você saiba que você é importante
para nós. E nós apreciamos tudo o que você faz por nós.
Não nos deixe.
Por favor, nunca me deixe.
— Bem, o mesmo para você, garota — ele responde, parecendo um pouco
estranho.
— Você será um ótimo pai algum dia. — Eu decido provocá-lo e deixá-lo
ainda mais desconfortável.
Joey bufa.
— Sim, isso nunca está acontecendo, porra.
Eu pisco.
— Nunca diga nunca, Joe.
— Acredite em mim, eu já tive o suficiente de bancar o papai para os
filhos de outro homem para valer por uma vida inteira — ele retruca. —
Agora, suba e vista algumas roupas e vamos até o Deli para comer uma
baguete recheada de frango.
— A geladeira está cheia agora — eu o informo.
— Sim. — Ele sorri. — Mas minha namorada me deixou uma ordem
direta e eu não sou nem um pouco besta o suficiente para ignorar isso.
Eu não tinha comido nada desde ontem e meu estômago ronca com a
antecipação.
— Hash browns10 — eu praticamente ronrono enquanto penso sobre o que
eu ia comer. — E algumas geléias e uma latinha de coca-cola.
Pulando da cadeira, corro para a escada com a comida em mente.
— Espere, Shan. Eu quase esqueci... — Interrompendo no meio da frase,
Joey entra na cozinha, voltando alguns momentos depois com um pequeno
embrulho de presente em suas mãos.
Joey me entrega o presente e depois bagunça meu cabelo.
— Feliz doce dezesseis aninhos, Shan.
— Obrigada Joey. — Eu sorrio, segurando o que eu já sabia que era um
CD sob o papel de embrulho rosa.
— Eu te daria mais se eu pudesse — ele me diz com um encolher de
ombros envergonhado. — E eu esqueci de comprar um cartão...
— Pare — eu digo a ele enquanto me afundo no degrau da escada e
rasguei o papel de embrulho apenas para falar com entusiasmo: — Álbum do
McFly! — Com os olhos arregalados de excitação, olho para o CD na minha
mão e sorrio. — Eu realmente queria isso.
— Eu sei — ele bufa. — Você é uma garota. — Deslizando a mão no
bolso da calça jeans, ele joga outra caixa no meu colo. — Este é de Aoife —
explica.
Emocionada com a perspectiva de ganhar dois presentes, rasguei o papel
de embrulho de bolinhas e engasgo quando vejo o que havia dentro.
— Uau — eu respiro, boquiaberta para o frasco de perfume de grife em
minhas mãos. — Isso deve ter custado a ela uma fortuna.
— Ela deve amar você também — brinca Joey.
Reviro os olhos.
— Uh-hum.
— Se apresse e se troque — ele ordena, movendo-se para a porta da
frente. — Eu estarei no carro.
Correndo para o meu quarto com meus presentes a tiracolo, eu os coloco
cuidadosamente na minha cômoda antes de arrancar meu pijama.
Visto um suéter e uma calça de agasalho, rasgo a caixa que continha meu
novo frasco de perfume, me perfumo por toda parte e corro atrás de Joey.
Enfiando meus pés em meus tênis no corredor, pego meu casaco do
corrimão e corro para o carro.
No minuto em que subo no banco do passageiro, o cheiro de álcool agride
meus sentidos.
— Jesus, Joey — tusso enquanto abro a janela. — Cheira como uma
cervejaria aqui.
— Eu sei — Joey responde enquanto liga o motor e se afasta do meio-fio.
— Você pode culpar seus amigos de Tommen por isso.
— Meus amigos? — Eu balanço minha cabeça e olho para seu perfil. —
Do que você está falando?
— Johnny Kavanagh — afirma Joey. — Acabamos o deixando em casa na
noite passada.
— Oh.
Espere.
O quê?
— Você deixou Johnny em casa? — Eu odeio o jeito que minha voz
estava alta e aguda. — Quando... Como... Por quê?
— Ontem à noite, quando estávamos pegando nossa comida — Joey
explica enquanto saía da propriedade e entrava na estrada principal. — Ele
estava jogado contra uma parede do lado de fora da lanchonete da cidade.
Ele estava muito mal.
— Ele estava?
Oh Deus.
Preocupação enche meu peito.
— O que havia de errado com ele?
— Ele estava totalmente bêbado — resmunga Joey. — O amigo dele era
pior.
— Amigo dele? — Eu pergunto, tomando cuidado para mascarar a
emoção na minha voz. — A namorada dele?
— Nah, algum grande filho da puta loiro — Joey corrige e eu
mentalmente relaxo de alívio. — Acho que o nome dele era Gussie ou Gillie
ou algo assim.
— Gibsie — eu confirmo baixinho, pensando em como aqueles dois eram
grudados pelo quadril na escola.
— Esse mesmo. — Joey assente, então solta uma risada baixa. — O
maldito idiota se jogou em cima do carro, exigindo que eu lhe devolvesse o
seu centro — Rindo, ele acrescentou: — Ele parecia sério também. Como se
ele realmente pensasse que eu estava sequestrando Kavanagh.
Minhas sobrancelhas franzem.
— Por que Gibsie chamou Johnny de seu centro?
— A posição de Johnny é no centro no rúgbi — explica. — Ele é o
número 13.
Ah, sim, eu sabia disso.
Me lembro de sua camisa.
— Então, você deixou os dois em casa? — Eu pergunto, sentindo calor. —
Na casa de Johnny?
— Sim — meu irmão confirma. — Tive que ajudar Kavanagh a carregar
aquele cara, Gibsie, para dentro de casa. Ele estava sem pernas, Shan. Uma
bagunça. Nós o deixamos na sala de estar.
— Você entrou na casa de Johnny?
Meu cérebro estava girando, tentando digerir tudo o que meu irmão estava
me dizendo.
Ele estava com Johnny ontem à noite.
Ele estava em sua casa.
Ele estava dentro de sua casa.
Eu queria perguntar se ele perguntou sobre mim, mas consigo evitar que a
pergunta saísse dos meus lábios.
— Sim, Shan, e Jesus Cristo, pela aparência de sua propriedade, sua
família deve ser rica. — Joey solta um suspiro. — Nunca vi nada tão chique
na minha vida...
O som de um telefone tocando corta o ar, distraindo nós dois.
Nós dois procuramos em nossos bolsos.
— Não é o meu — Joey afirma.
— Nem meu — eu murmuro, olhando para o painel e depois para o chão
aos meus pés.
O toque foi interrompido e reiniciado alguns segundos depois, vibrando
alto.
— Verifique o banco de trás — Joey instrui enquanto para no acostamento
da estrada e liga o pisca-alerta.
Soltando o cinto, rastejo entre os assentos e me jogo no banco de trás,
meus olhos procurando o barulho entre os assentos.
— Nada? — Joey pergunta, voltando para o trânsito.
— Não.
Descendo entre os assentos, espio sob o banco do motorista.
— Ah, espere, está aqui! — Eu exclamo, os olhos travando no telefone de
aparência elegante acendendo e vibrando contra o chão. — Eu encontrei.
O toque foi interrompido novamente e eu estendo a mão, pegando o
telefone.
Arrastando de volta para o assento, eu rapidamente aperto meu cinto de
segurança, olhos grudados no telefone.
— Isso é da Aoife? — Olhei para o dispositivo de aparência cara. — Ela
ganhou um telefone novo no Natal?
— Não — responde Joey. — Os pais dela deram uma chapinha para ela
no Natal.
O telefone começa a tocar novamente, a tela se acendendo com o nome
Rei do Clitóris piscando nele.
— Eca, Joe — eu gemo. — Isso é nojento.
— O quê?
— Quem está ligando para este número está listado como Rei do
Clitóris…
Meu irmão joga a cabeça para trás e ri.
— Isso não é engraçado — eu advirto, observando a tela ficar em branco
novamente quando a ligação termina. — Isso é muito perturbador.
— É o cara, o cara Gibsie. Eu ouvi Johnny reclamando com ele sobre
mudar seus contatos ontem à noite — Joey ri. — Ele é o Rei do Clitóris.
O telefone acende novamente, vibrando em minhas mãos e tocando alto.
— Bem, atenda — meu irmão instrui, em tom impaciente. — Ele
provavelmente está procurando por isso.
— Eu não quero. — Empurrando minha mão entre os assentos, tento
empurrar o telefone para meu irmão. — Você atenda.
— Como diabos eu deveria atender? — Joey sibila, afastando minha mão.
— Eu estou dirigindo, Shannon. Apenas atenda o telefone.
— Não — eu recuso, balançando a cabeça. — Eles vão pensar que nós
roubamos.
— Não, eles não vão pensar que nós roubamos — Joey retrucou irritado.
O toque para, e Joey solta um rosnado. — Quando ele tocar de novo, atenda
essa merda!
Como um relógio, o telefone toca cinco segundos depois.
Tremendo, aperto o botão de aceitar e coloco o telefone no ouvido.
— Ah, oi?
— Bem, merda, eu não estava esperando que alguém atendesse — a voz
do outro lado responde. — Você tem o telefone do meu amigo.
— Sim, eu sei. — Fechando meus olhos, eu pressiono a palma da minha
mão na minha testa e exalo pesadamente. — Ele deixou no carro do meu
irmão ontem à noite.
— A noite passada está um pouco nebulosa — Gibsie fala lentamente. —
Então, você pode precisar refrescar minha memória me deixando saber quem
é seu irmão?
— Joey Lynch? — Eu solto, tentando não hiperventilar na frente do meu
irmão. — Ele e sua namorada Aoife deixaram vocês na cidade ontem à
noite. O telefone estava embaixo do assento dele. — Me contorcendo
desconfortavelmente, eu lanço um aviso rápido dizendo: — Acabei de
encontrá-lo há dois minutos.
— Não — Gibsie responde depois de uma longa pausa. — Eu não tenho
nenhuma lembrança de que isso aconteceu.
— Bem, claramente aconteceu — eu retruco, nervosa. — Considerando
que o telefone do seu amigo está no carro do meu irmão.
— Pequena Shannon?— Gibsie parece estar se divertindo. — É você?
— Ah, sim. — Eu fico vermelha. — Sou eu.
— Seu irmão está com você agora? — ele pergunta.
— Sim, mas ele está dirigindo, então ele não vai usar o telefone.
— Ele se lembra onde ele nos deixou na noite passada?
— Espere, eu vou perguntar… — Fazendo uma pausa, eu cubro o
microfone e olho para Joey. — Eles querem saber se você se lembra onde
fica a casa.
Joey assente e eu volto para a ligação.
— Sim, ele se lembra.
— Você pode me colocar no alto-falante?
— Vou tentar. — Clicando em alguns botões, seguro o telefone na orelha
de Joey. — Ok, você está no alto-falante agora.
— Ei cara, como vai? — A voz de Gibsie sai muito mais alta agora,
embora ele estivesse visivelmente rouco.
— Melhor do que você pelo som disso — meu irmão brinca. — O que
você precisa?
— Você pode deixar o telefone de Kav aqui? — ele pergunta. — Sinto
muito te fazer desviar o caminho, cara, mas ele está perdendo a cabeça aqui.
Ele fica estranho para caralho quando se trata de suas informações pessoais.
— O quê eu ganho com isso?— Joey joga de volta, sem perder o ritmo.
— Joey — eu sussurro.
Ele atira um sorriso atrevido de volta para mim.
— Merda, cara, eu não sei — Gibsie murmura. — Um sanduíche e um
bule de chá? Eu não tenho muito a oferecer.
Horrorizada, balanço a cabeça e digo não, mas Joey diz:
— Sim, ótimo. Chegamos em trinta.
— Joey! — Choramingo.
— Um milhão de obrigados — responde Gibsie, parecendo aliviado. —
Você é incrível.
— Não se preocupe — Joey responde, pegando o telefone da minha mão.
— E eu gosto das minhas fatias crocantes — acrescenta antes de cortar a
ligação e largar o telefone no assento ao lado dele. — Um desvio.
— O que você está fazendo? — Eu gaguejo, de olhos arregalados. — Nós
não vamos para lá!
— Qual é o problema? — ele questiona. — Eu pensei que vocês fossem
amigos?
— Eu os conheço da escola, Joey — eu engasgo. — Isso não significa que
eu sou amiga deles!
— Relaxe, estamos apenas levando o telefone do cara.
— E você está ficando para tomar café da manhã!
— Bem, eu dificilmente estou dirigindo tão longe do meu caminho para
nada. — Joey ri. — Além disso, estou com fome.
— Sim, para um baguete de frango — eu o lembro.
— Eu mudei de ideia.
— E quanto a Aoife? — eu exijo. — E os meninos?
— Aoife e as crianças não vão voltar até uma hora — ele responde. — Ela
mesma disse isso.
— Joey, não podemos ir até lá — imploro. — Por favor.
— Shannon Lynch — Joey diz em um tom de provocação. — Está
corando?
— Não — eu resmunguei.
— Você sabe que está tudo bem para mim se você gosta dele, não é?—
Joey ri. — Eu não sou esse tipo de irmão. Tudo que eu quero que você faça é
ter cuidado. Eu lhe disse o que ele é. Ele vai embora no verão, então depende
de você se você quer ficar presa a algo temporário.
— Não quero — eu minto, mortificada. — Então deixa para lá.
— Bem justo — Joey medita. — Então você não deve ter nenhum
problema em parar para comer alguma coisa.
— Você pode fazer o que quiser. — Amuada, cruzo os braços sobre o
peito e bufo. — Eu não vou sair deste carro.
Meia hora de silêncio tenso depois, paramos diante de um par gigantesco
de portões de ferro pintados de preto, e Joey abaixa a janela, estica o braço e
digita algo no bloco.
Alguns momentos depois, os portões se abrem.
Minha boca se abre.
— Você tem a senha do portão dele?
Meu irmão ri em resposta.
Alguns momentos depois, os enormes portões se abrem para dentro e
continuamos por uma longa e sinuosa viela ladeada de árvores enormes de
ambos os lados.
Uma casa aparece alguns minutos depois e eu respiro fundo.
Oh Deus.
Era aqui que ele morava?
Claro que era.
— Uau — eu sussurro para mim mesma, observando a enorme mansão
em estilo vitoriano com um zilhão de janelas e a maior porta da frente que eu
já tinha visto.
— Eu sei — Joey concorda com um suspiro impressionado.
Pressionando minha bochecha contra a janela, olho para os gramados e
jardins espalhados enquanto o som do cascalho esmagado sob os pneus
enche meus ouvidos.
Era de cor cinza-pedra, mas estava envolto em tanta hera que parecia
quase majestoso.
— Parece seis da nossa casa lado a lado — eu sussurro, olhando para a
propriedade. — Há, tipo, doze janelas na parte superior apenas.
Joey para do lado de fora da porta da frente e desliga o motor antes de
sair.
— Você deveria vê-la por dentro — ele diz, estendendo a mão e pegando
o telefone. — Fodidamente incrível.
Meu olhar segue Joey enquanto ele caminhava até a porta da frente, bate
uma vez e depois entra.
Caralho.
Meu irmão acabou de entrar na casa de Johnny Kavanagh.
33

REI DO CLITÓRIS É UM FARDO

JOHNNY

Eu estava no processo de tirar o colchão da cama quando Gibsie entra no


meu quarto, assobiando para si mesmo.
— Eu localizei seu telefone, Kav — ele anuncia com orgulho.
— Graças a Deus. — Eu caio para frente em alívio e deixo meu colchão
cair de volta na base. — Onde estava?
— No carro de Joey.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Joey, o arremessador?
Gibsie assente.
— Aparentemente.
— Seu idiota — eu resmungo. — Isso é tudo culpa sua.
— Eu sei — ele gorjeia alegremente. — Mas ele está trazendo para você.
— É? — Suspiro de alívio. — Justo.
Agarrando meu edredom do chão, eu o jogo de volta na cama e então
cuidadosamente levanto Sookie de volta.
— Boa menina — eu falo, me sentindo terrível por perturbá-la em
primeiro lugar.
— Isso é seriamente anti-higiênico, Johnny — Gibsie afirma com uma
carranca. — Deixá-la dormir na sua cama assim? — Ele estremece. —
Péssimo, cara.
— E você é referência em higiene — eu rosno, virando para encará-lo. —
Ela é mais limpa do que você. — Lhe lanço um olhar de reprovação antes de
acrescentar: — Pelo menos Sook não vomita em si mesma durante o sono e
rola no sofá da minha mãe.
— Você prometeu que não iria falar sobre isso de novo — ele engasga,
parecendo ferido. — Destruidor de promessas.
— Gibs — eu digo, tentando ter paciência. — Estou cansado. Fiquei
acordado a noite toda cuidando da sua bunda bêbada. Passei metade da noite
virando você de lado para que você não se engasgasse, e enrolando você
como um maldito bebê, e a outra metade eu passei limpando seu vômito.
Você destruiu a sala de estar. Você rebocou o banheiro do andar de baixo
com vômito. Você quase me sufocou até a morte com seus peidos dignos do
Guinness quando eu o trouxe aqui. Me dá algumas horas para superar isso
primeiro antes de me pedir para não falar disso.
— Bem, pelo menos eu limpei todos os fragmentos — Gibsie responde
timidamente. — E a sala de estar, hall e banheiro estão de volta à sua antiga
glória.
— Bom — eu lato. — Então, você deveria ter feito isso. É a porra do seu
vômito.
— Você me fez dormir no chão, Johnny! — ele bufa. — Isso foi malvado.
— Porque você não pode ser confiável com coisas boas.
— Nem mesmo com uma cama?
— Sim, Gerard, nem mesmo com uma cama.
— Sim, bem, eu sou seu melhor amigo e você me colocou no chão — ele
retruca com um bufo. — O cachorro fica no pé da sua cama e eu fico com a
porra do chão.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Você está dizendo que quer dormir ao pé da minha cama?
Gibsie olha para mim por vários segundos antes de rir.
— Sim, tudo bem, eu não tenho ideia de onde eu estava indo com isso.
— Nem eu, cara — eu murmuro com um aceno de cabeça. — Nem eu.
— A propósito — Gibsie diz com um sorriso travesso. — Eu disse a seu
cara Joey que eu faria alguns sanduíches torrados para compensar.
— Tudo bem. Apenas mantenha tudo arrumado. Minha mãe estará de
volta pela manhã. — Eu respondo, muito cansado para contemplar a terrível
ideia que era ter Joey Lynch em minha casa quando ele estava claramente
cético em relação às minhas intenções em relação a sua irmã.
E com razão...
Gibsie olha para mim com expectativa.
— Não olhe para mim assim — eu digo a ele. — Você sabe onde fica a
cozinha. Eu não estou cozinhando para você.
— Eu não estou acostumado com o gás. — Gibsie dá de ombros
impotente. — Temos fogão elétrico em casa.
— Sua mãe é uma padeira — eu rebato. — Como você não sabe como
trabalhar com um maldito fogão?
— E a sua é uma designer de moda chamativa — ele retruca. — Mas eu
não vejo você andando por aí com casacos de pele e bolsas Prada.
— Você é um bebê, você sabe disso? — Eu rosno. — Você é como uma
criança grande demais que eu tenho a custódia para cuidar.
Passando por ele, desço as escadas para a cozinha.
— Pegue a panela – e o que quer que você esteja planejando fazer — eu
ordeno. — E eu não estou cozinhando para você. — Eu resmungo enquanto
eu ando até o fogão e ligo o gás. —Você é mais do que capaz de fazer isso
sozinho.
— Espero que sim — Gibsie ri, arrastando os braços para mim com os
braços cheios de produtos de carne de porco e uma bandeja de ovos.
— Acha que você pode se virar sem queimar a casa? — Eu brinco
enquanto me afasto do fogão.
— Com certeza — Gibsie responde enquanto começa a trabalhar,
inclinando-se precariamente perto da chama.
Eu o olho com cautela, não convencido.
— Não se queime.
— Ok, pai — ele zomba antes de perguntar: —Você tem bolinhos? —
Virando-se para mim, ele acrescenta: — Eu adoraria um dos bolinhos de sua
mãe com meu chá.
Eu balanço minha cabeça e seguro minha língua, decidindo apenas deixar
a loucura passar sobre minha cabeça.
— Pode haver um lote no freezer, você terá que aquecê-los no forno
primeiro.
— Eu sei disso — ele zomba.
— Sabe? — Eu murmuro sob a minha respiração.
Ele era risco.
Um grande, estúpido, leal como eles vem, um risco.
— Eu já te contei sobre a vez que sua garota me salvou de Brian? —
Gibsie pergunta enquanto ele quebra um ovo na frigideira, me distraindo dos
meus pensamentos.
— Brian? — Eu questiono, pensando no malvado bastardo do gato da Sra.
Gibson. — Shannon salvou você de Brian?
— Ela com certeza salvou — ele medita. Agarrando uma espátula da
prateleira, ele a gira em sua mão enquanto fala. — Eu amo como você nem
nega mais que ela é sua, cara.
— Foda-se — eu resmungo. A curiosidade leva a melhor sobre mim
então, e eu sento minha bunda em um banquinho na ilha e olho para ele. —
Me conte.
Gibsie ri da minha resposta.
— Foi o dia do meu aniversário no mês passado — ele explica, jogando
meia dúzia de salsichas na gordura escaldante. — Eu levei Brian para
passear na casa do Hughie, você sabe como ele fica quando fica sozinho por
muito tempo.
— Sim. — Eu balanço a cabeça, sem piscar com essa informação.
Houve pelo menos nove ocasiões nos últimos dezoito meses em que ele
chegou à minha casa com o gato parecido com o Inspetor Gadget.
— Ele perdeu a cabeça, cara — ele diz. — Ficou maluco. Soltou a coleira
e foi para o banheiro. Cagou na banheira.
— Como seu dono — eu brinco.
— Minha mãe nunca cagou na banheira de ninguém — Gibsie rosna.
— Não sua mãe — eu retruco. — Você.
Gibsie franze a testa e inclina a cabeça para o lado, claramente quebrando
o cérebro para a memória.
Resolvo ajudá-lo.
— Jogo fora contra aquela escola em Tipperary no terceiro ano?
O reconhecimento surge em suas feições.
—Ah, sim — ele ri. — Não era uma banheira. Era um chuveiro em seus
vestiários da escola e aqueles bastardos mereciam. E em minha defesa, eu
tinha apenas quatorze anos.
— Em defesa de Brian, ele é apenas um gato — eu retruco.
— Esse filho da puta sabe exatamente o que está fazendo — Gibsie
resmunga. — De qualquer forma, ele destruiu o banheiro, Johnny, e foi atrás
de nós quando tentamos pegá-lo. Shannon simplesmente entrou e pegou o
filho da puta peludo e o levou para casa. E você sabe o que ele fez com ela?
Ronronou. Ele estava em seu maldito conforto, cara. Encantado com a vida
sendo aconchegado nela.
Brian sortudo.
— Por que só estou ouvindo sobre isso agora? — Eu pergunto, tentando
manter meu tom neutro.
— Desculpe — Gibsie ri. — Eu não sabia que tinha que te contar toda vez
que falo com a garota.
— Não — eu murmurei. — Eu apenas…
O som de batidas na porta da frente enche meus ouvidos momentos antes
de uma porta se fechar enchendo o ar.
— Kavanagh? — uma voz profunda chama.
— Aqui em cima! — Gibsie grita, respondendo por mim. Virando-se para
mim, ele pisca e diz: — Se comporte, cara. O irmão mais velho está aqui.
Brilhante.
Fodidamente perfeito.
— Jesus Cristo — Joey Lynch declara quando entra na cozinha alguns
momentos depois com meu telefone na mão e exibindo uma beleza de olho
direito roxo que eu estava bêbado demais para notar na noite passada.
Na clara luz do dia, me encontro avaliando esse cara.
Ele era alto, mas eu tinha uns bons sete centímetros sobre ele, como eu
tinha na maioria dos rapazes da nossa idade.
Ele estava obviamente em boa forma também, mas era aquele físico típico
de arremessador com músculos magros e cortados, construído para agilidade
e velocidade, em vez de ter qualquer músculo grande.
— Você deveria ter um guia turístico na porta da frente — acrescenta,
olhando ao redor da minha cozinha antes de fixar seu olhar em mim. — Esta
casa é como um museu.
— Isso é — Gibsie ri. — É uma mansão.
Empurrando o banco, fecho o espaço entre nós e o cumprimento.
— Obrigado por isso — eu digo, pegando meu telefone dele. — Agradeço
por dirigir todo o caminho com isso.
— Sim, bem, o Rei do Clitóris foi muito persuasivo — ele retruca com um
sorriso malicioso. Voltando seu olhar para Gibsie, ele arqueia uma
sobrancelha em expectativa. — Como vai minha comida, chef?
— Mais rápido que uma prostituta em um bordel, bom senhor — Gibsie
chama de volta por cima do ombro. — Ovo?
— Cara — Joey medita, passando até onde Gibsie estava se abaixando e
evitando respingos de óleo. — Você tem idade suficiente para usar o fogão
sem sua mãe?
Cristo, esse cara tinha culhão para entrar na minha casa e exigir comida.
Curiosamente, eu gostei.
Joey Lynch parece alguém direto.
Eu respeito isso em uma pessoa.
— Duvido — Gibsie responde com uma risada. — É a minha primeira
vez.
Gibsie mexe nos botões do fogão e uma enorme chama voa para cima,
queimando sua sobrancelha.
— Jesus Cristo! — Gibsie ruge, batendo em seu rosto. — Estou em
chamas.
— Me dá essa coisa antes que você se machuque — Joey ordena, pegando
a espátula da mão de Gibsie, e entrando para virar as fatias e os ovos.
Ajustando o fogão para fogo médio, Joey arranca o pano de prato do
ombro do meu melhor amigo e começa a limpar os respingos de gordura.
— Malditos garotos de escola particular — ele murmura baixinho. —
Acostumados a terem tudo feito para vocês.
— Merda, Kav — Gibsie ri, dando um passo para trás do fogão. — Eu
estava errado. Esse filho da puta aqui é o papai.
— Me faz um favor, Kav — Joey chama por cima do ombro. — Vá ver
como está minha irmã, por favor?
Meu coração salta no meu peito.
— Shannon?
Joey assente e pega um prato na bancada. Colocando vários pedaços de
bacon no prato, ele acrescenta:
— Ela está no carro.
— Por que você a deixaria no carro? — Eu exijo, tom firme. — Está
congelando lá fora.
— Porque ela não entraria por minha causa — Joey dispara de volta no
que soa como um tom de “duh”. — Você pode tentar fazer com que ela
entre, se quiser, mas ela não está se mexendo.
Ele não precisa me perguntar duas vezes.
Ou me dar permissão uma vez, na verdade.
Eu já estava de pé e me movendo para a porta da frente.
34

MALTRATADA POR CÃES E SENTIMENTOS

SHANNON

Me sentindo chocada, me sento no banco de trás do carro de Aoife e olho


para a casa Kavanagh, debatendo minhas opções.
Devo entrar?
Devo esperar aqui fora?
Devo me enrolar em uma bola e fingir que não estou aqui?
A mãe dele está lá dentro?
O pai dele está lá?
Fiquei mortificada com o que aconteceu na sexta-feira e, embora estivesse
bem quando estávamos juntos no pub e no cinema, passei as duas últimas
noites acordada e me afogando em humilhação por vomitar na frente de
Johnny.
Eu fui jogada para fora de controle por esse garoto, e estar em seu espaço
pessoal era algo que eu não sabia como lidar.
Eu não tinha certeza se poderia lidar com meus sentimentos por ele.
Meu processo de pensamento foi interrompido quando dois pares de
enormes patas amarelas batem contra a janela.
Assustada, eu viro meu olhar para encontrar dois cães idênticos com
coleiras rosa-brilhante olhando para mim, ganindo alto, com suas bocas
abertas e línguas penduradas para um lado.
Sem pensar duas vezes, deslizo o assento de Joey para frente e saio do
carro.
No segundo em que meus pés batem no cascalho, sou agredida com beijos
e lambidas enquanto os dois cães tentam escalar meu corpo.
— Oi, pessoal! — Me abaixo e acaricio os dois.
Minha afeição só parece lhes agitar porque uma das cachorras pula em
mim, suas patas batendo com força no meu peito.
— Uau.
Perdendo o equilíbrio, desabo de bunda com um alto ooof.
No minuto em que eu estou no chão, ambos mergulharam para mim,
babando por todo o meu rosto e pescoço.
Rindo, tento abaixar o rosto, mas foi inútil, porque esses cães eram
persistentes com seu amor.
O que eu não percebi no carro foi que ambos os cães tinham rolado
claramente em esterco de vaca ultimamente porque não só suas pelagens
estavam emaranhados com lama, mas eles fediam muito.
Depois de uma batalha infrutífera para me levantar, eu acabo deitada de
costas no cascalho encharcado de chuva, enquanto eles cheiram e me
apalpam e basicamente lambem cada centímetro de pele exposta.
— Vocês são um par amigável — eu rio, desistindo de qualquer tentativa
de escapar. Eu podia sentir a umidade penetrando em minhas roupas, mas
não faço nenhum movimento para me levantar.
Eu não poderia se eu quisesse.
— Oi — eu rio, sorrindo para aquela que decidiu que meu estômago era o
lar perfeito para sua bunda.
Ela tinha suas patas pressionadas firmemente em meus ombros enquanto
lambe meu rosto.
— Você é uma garota adorável, não é? — Eu balbucio, quando me abaixo
e desvio uma língua para a boca.
Era bem inútil, considerando que a outra estava parada ao lado da minha
cabeça, lutando por atenção.
— Cuidado — eu aviso o que estava na minha cabeça. — Meu rosto é
frágil.
— Bonnie! Cupcake! Saiam de cima dela — uma voz familiar ordena nas
proximidades, mas nenhuma das cachorras escuta.
Em vez disso, elas pareciam aumentar seus esforços de me amar em um
coma canino.
Alguns momentos depois, um par de mãos engancham sob minhas axilas.
Assustada com o contato repentino, meus membros travaram por vontade
própria enquanto eu sou levantada do chão.
Johnny me coloca de pé e, em seguida, rapidamente me empurra para trás
dele enquanto as cachorras se lançam em nossa direção.
— Não! — ele pede. Mantendo um braço em volta de mim, ele estende o
outro em advertência. — Bonnie — ele rosna. — Você é uma garota má. —
Seus olhos dispararam para a outra cachorra que estava se aproximando. —
Cupcake, nem pense em puxar essa merda.
Enfiando a mão no bolso, ele tira uma bola de tênis e acena na frente das
cachorras, capturando suas atenções instantaneamente.
— Sim, vocês veem isso, não veem? — Johnny persuade e depois joga
pelo pátio.
Aterrissa em algum lugar fora de vista e as duas cachorras correm atrás
dela.
Eu aproveito a oportunidade de sua distração momentânea para puxar o
elástico de cabelo e colocar meu cabelo sobre meu ombro esquerdo,
escondendo o lado do meu rosto de sua visão.
— Desculpe por elas — Johnny diz, uma vez que as cachorras estavam
fora de vista. Virando-se para mim, ele me dá uma rápida olhada e faz uma
careta. — Jesus, elas destruíram você.
Fico tão atordoada ao vê-lo, tão completamente sem saber o que fazer ou
dizer, que levo alguns momentos para limpar a cabeça e registrar que ele
estava falando comigo.
— Huh?
— Suas roupas — ele explica, gesticulando para cima e para baixo.
Olho para mim mesma e reprimo um gemido.
Sim, ele estava certo.
Fui destruída em uma combinação de lama, chuva, tufos de cabelo e baba
de cachorro.
— Ah, ah, sim. — Mortificada, tento limpar as mãos na calça do agasalho,
mas a baba gruda nos dedos. — Sim, eu estou — eu ofereço, forçando uma
pequena risada, quando tudo que eu queria fazer era mergulhar na parte de
trás do carro de Aoife e desaparecer.
— Desculpe por elas — Johnny se desculpa, parecendo um pouco
envergonhado. — Aquelas duas são selvagens.
Balançando a cabeça, exalo um suspiro pesado e digo:
— Não, está tudo bem. Eu não me importo. Bonnie e Cupcake são muito
fofas.
— Bonnie e Cupcake são muito destreinadas — Johnny corrige com uma
careta. Enfiando as mãos nos bolsos da calça de moletom cinza que estava
vestindo, ele acrescenta: — Elas são as cachorras da minha mãe. Ela as trata
como se fossem humanas, então elas acreditam que são.
— Seus pais estão em casa? — Eu pergunto, me sentindo incrivelmente
nervosa com o pensamento de meu irmão estar confinado com um de seus
pais.
Joey não pensava direito e fala o que vem na telha.
Era bem possível que ele falasse sobre o incidente da concussão.
— Não, eles estão lá em cima em Dublin — Johnny me diz. — Meu pai
está trabalhando lá no momento.
Meus olhos se arregalam.
— Você está sozinho em casa?
Ele sorri.
— Eu não tenho quatro anos.
— Eu sei disso — eu respondo, corando.
— Meus pais viajam a trabalho — explica ele, tendo piedade de mim. —
Normalmente estou sozinho.
Por alguma razão, essas palavras me incomodam.
Normalmente estou sozinho.
Essa era uma declaração triste.
Franzindo a testa, Johnny estende a mão e segura – sim, literalmente
segura – meu queixo em sua mão.
— Que porra é essa? — ele exige, a voz mortalmente calma, enquanto
seus olhos azuis brilham em chamas.
— O quê? — Eu solto, em pânico.
Inclinando meu queixo para cima, ele escova meu cabelo do meu ombro e
solta um rosnado baixo.
— Isso — ele rosna, arrastando o polegar sobre minha bochecha. — E
isso — acrescenta ele, deslizando a curva do meu olho.
O contato era tão suave que me fez pular de nervos ao invés de dor.
Ele tira a mão do meu rosto, mas permanece exatamente onde estava, tão
perto que eu podia ver a veia correndo em seu pescoço enquanto ele aperta e
abre a mandíbula.
— Shannon, o que aconteceu com seu rosto?
— Oh isso? — Rindo nervosamente, coloco meu cabelo atrás da orelha.
Eu imediatamente me arrependo da ação quando sinto a baba se esvair
entre meus dedos e meu cabelo.
Não era ruim o suficiente parecer uma sem-teto, eu tinha que ir e
adicionar o cabelo encharcado de baba à equação.
— Sim, isso — Johnny fala de forma mordaz, olhando para minha
bochecha. — Quem fez isso com você?
— Ninguém. Eu caí na torre de Lego do meu irmão ontem à noite e quase
me machuquei na mesa da cozinha — a frase que eu tinha ensaiado com
perfeição para a escola amanhã sai da minha boca com a precisão necessária
para soar crível.
Eu estava contando mentiras por tanto tempo sobre de onde vieram os
cortes e hematomas no meu corpo, que a mentira sai sem esforço dos meus
lábios.
— Você espera que eu acredite nisso? — Johnny me surpreende dizendo.
Eu faço uma careta para ele.
Essa foi uma boa linha.
Era uma linha crível.
Por que ele não estava aceitando?
— Sim — eu falo, perturbada por sua franqueza. — Porque foi isso que
aconteceu.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Você está honestamente tentando me dizer que você deu a si mesma
um olho roxo?
Eu dou de ombros sem compromisso.
— Acontece.
— Normalmente não — ele fala de forma mordaz. — Você deve ter
corrido a toda velocidade para se machucar assim — acrescenta, os olhos
fixos nos meus em descrença. — Você estava correndo? — ele pergunta. —
De alguma coisa? — Ele se aproxima. — Ou alguém?
A autopreservação ruge para a vida dentro de mim; os rostos dos meus
três irmãos mais novos são a força motriz por trás das minhas próximas
palavras.
— O que exatamente você está tentando dizer?
— Eu não estou tentando dizer nada aqui, Shannon — ele responde com
veemência. — Eu estou pedindo que você me diga a verdade.
— Eu estou lhe dizendo a verdade — eu rebato, a voz embargada. — Pare
de me pressionar — Lágrimas pinicam meus olhos e eu rapidamente as
afasto. — Deus!
Eu me sinto péssima por mentir especialmente para ele, mas eu não posso
exatamente virar e dizer “oh sim, quando meu pai está bêbado, ele gosta de
me bater e me empurrar como uma boneca de pano”.
Foi nesse exato momento que os céus decidem se abrir acima de nós,
lançando uma chuva torrencial de março e nos encharcando.
Agradecida pela chuva, eu me viro e corri de volta para o carro.
— Não faça isso — Johnny grita atrás de mim. — Não volte para o
maldito carro.
Eu balanço minha cabeça e abro a porta.
— Desculpe, ok? — Johnny estende a mão ao meu redor e fecha a porta
do carro novamente. — Eu não vou te pressionar — Virando-me para
encará-lo, ele diz: — Eu não vou dizer mais uma palavra sobre isso.
Ele estende a mão para tocar meu rosto, mas rapidamente desvia seus
movimentos, segurando a parte de trás de seu pescoço.
— Ok?
Assentindo, solto uma respiração irregular.
— Ok.
Johnny exalou pesadamente, expressão cheia de alívio.
— Agora, você entra comigo?
— Eu provavelmente deveria apenas esperar no carro. — Eu murmuro,
mal capaz de olhá-lo nos olhos. — Eu não quero atrapalhar, ao contrário do
meu irmão idiota que aparentemente não tem escrúpulos em entrar na casa
de estranhos e comer sua comida.
— Primeiro, eu não sou um estranho para você, e você não está
atrapalhando — Johnny corrige rispidamente enquanto a chuva caí sobre nós
dois. — Em segundo lugar, estou convidando você para minha casa —
acrescenta, passando a mão pelo cabelo agora encharcado. — Você está
ficando encharcada. — Seu olhar viaja sobre mim mais uma vez antes de
inclinar a cabeça em direção à casa. — Eu quero que você entre.
— Tem certeza? — Eu resmungo.
Ele assente lentamente.
— Com certeza.
— Hum, tudo bem — eu sussurro incerta. — Você tem certeza que você
tem certeza?
— Tenho certeza que tenho certeza — brinca Johnny. — Vamos.
Johnny se vira e corre para a porta da frente, apenas para se virar e correr
de volta para onde eu estava enraizada no chão.
Ele coloca as mãos em meus ombros e me acompanha até a casa.
— Viu? — ele persuade quando nós dois estávamos dentro com a enorme
porta fechada atrás de nós. — Isso não foi tão ruim, foi?
Eu balanço minha cabeça.
Johnny se sacode como um cachorro faria, fazendo com que gotas de
chuva se espalhassem por toda parte.
— Você está rindo de mim, Shannon como o rio? — ele brinca, notando
meu sorriso.
Eu balanço minha cabeça novamente.
Ele sorri um dos grandes sorrisos de covinhas duplas que fazem meu
coração disparar antes de gesticular para que eu o seguisse pelo longo
corredor de entrada até um espaçoso hall de entrada com dois enormes arcos
de cada lado da sala, levando Deus sabe para onde.
Com o cuidado de manter os lábios pressionados – e não deixar minha
boca se abrir como eu queria – dou uma olhada na enorme escadaria que
ocupa o centro da sala, com seus intrincados balaústres de madeira com as
pequenas cabeças de leão esculpidas no topo.
Meu olhar sobe para o topo da escada, onde ambos os lados do patamar
eram claramente visíveis através do corrimão de madeira que eventualmente
se unia à parede de cada lado.
— É uma casa velha — Johnny diz como explicação. — Como cento e
cinquenta anos ou algo assim. — Ele parecia desconfortável enquanto
falava. — Minha mãe não queria mudar muito o projeto original quando a
compramos. Renovamos a maioria dos quartos e colocamos uma nova
cozinha, mas mamãe queria manter algumas das partes originais. — Dando
de ombros, ele acrescenta: — Ela diz que o lugar tem personalidade ou
alguma merda assim.
— Ela está certa — eu respiro, dando uma volta completa de 360 graus
para que eu pudesse ver os tetos ridiculamente altos e os candelabros de
cristal. — Eu acho que você poderia encaixar toda a minha casa neste
corredor.
— Johnny! — A voz de Gibsie troveja do arco à esquerda. — A gororoba
está servida.
— Está com fome? — Johnny pergunta enquanto me conduz pelo longo
corredor até a porta no final. — Conhecendo Gibsie, depois de fritar o
conteúdo da geladeira, ele está.
Eu balanço minha cabeça, meus braços se movendo para envolver meu
corpo quase protetoramente, enquanto eu o sigo.
— Estou bem.
No momento em que Johnny abre a porta da cozinha, somos banhados
pela luz do sol e pelo delicioso aroma de assadeiras cozinhando.
— Ei, é a pequena Shannon — Gibsie gorjeia, virando de sua posição em
um fogão de aparência impressionante para sorrir e acenar uma espátula para
mim. — Johnny conseguiu convencê-la a entrar, ou foi o cheiro da porra da
minha comida incrível que a atraiu?
— Está chovendo — eu murmurei, reprimindo um calafrio quando a
umidade das minhas roupas começa a penetrar na minha pele.
— Você cozinhou um ovo, Gibs, sob minha supervisão — Joey, que
estava sentado em um banquinho na ilha central, fala. — Você não é Darina
Allen.
— Obrigado por isso, Lynchy. — Com a frigideira na mão, Gibsie
caminha até onde meu irmão estava sentado e coloca um ovo em seu prato.
— Eu gosto das minhas partes masculinas.
Estendendo a mão sobre o balcão, Joey pega o bule coberto de chá
aconchegante e serve duas xícaras de chá antes de balançar o bule em nossa
direção.
— Shan, Kavs, querem?
Gibs?
Lynchy?
Kavs?
Isso era típico de Joey – acender uma amizade tão facilmente quanto ele
podia estalar os dedos.
Um súbito choque de ciúme queima dentro de mim, a injustiça de como a
vida era fácil para o meu irmão me fazendo sentir mal.
Esse tom de ciúme foi rapidamente apagado pelo enorme tsunami de
culpa que me envolve.
Joey não tinha nada fácil.
Ele tira o melhor de cada situação.
Ele estava apenas tentando sobreviver como o resto de nós.
— Posso pegar uma toalha ou algo assim? — Johnny oferece em um tom
baixo, olhando para mim. Franzindo a testa, ele acrescenta: — Você está
encharcada.
— Puta merda — Joey ladra então, me assustando. — O que em nome de
Jesus aconteceu com você?
Colocando o bule para baixo, ele se levanta e caminha em minha direção.
Inclinando-se mais perto, Joey dá uma cheirada em mim e então
rapidamente se afasta.
— Jesus Cristo, Shannon — ele engasga. — O que... você rolou em merda
de cachorro?
Uau, que tato, irmão mais velho, muito obrigada...
— Não! — Eu hesito e então tento me cheirar discretamente. — Eu não
estou fedida.
— Você não está fedida?— Joey atira de volta zombeteiramente. — Você
está tão fedida que meus olhos estão lacrimejando.
Deus, Joey!
— Minhas cachorras a atacaram — Johnny intervém rapidamente,
passando outra mão pelo cabelo. Gotas de água continuam a pingar de seus
ombros largos para os ladrilhos do chão enquanto ele fala. — Elas a
derrubaram do lado de fora e rolaram em cima dela.
— Huh — meu irmão fala mordaz. — Engraçado como minha irmã
sempre parece ser atacada e machucada quando você está perto dela,
Kavanagh.
O maxilar de Johnny aperta, mas ele não responde.
Voltando sua atenção para mim, Joey diz:
— Você precisa tirar essas roupas molhadas, Shan, antes de pegar
pneumonia.
Abro a boca para responder, mas meu irmão continua sem me dar chance.
— Você tem algo que ela possa usar?— Joey pergunta, olhando para
Johnny. — Ou algum alvejante para mascarar esse cheiro horrível?
Johnny assente lentamente.
— Sim, eu posso encontrar algo…
— Ou podemos simplesmente ir embora? — Eu ofereço, olhando para
meu irmão, rezando para que ele entendesse a dica. — Devemos ir para
casa, Joey.
— Você não vai entrar no carro da minha namorada com esse cheiro —
Joey retruca.
— Não seja um idiota — eu rosno. — Me leve para casa.
— Vocês não podem ir para casa ainda. Nós não tomamos chá nem
conversamos — Gibsie salta. — E eu tenho bolinhos assando no forno.
— Você assou bolinhos? — Eu pergunto, momentaneamente me
distraindo. — Você?
— Sim, eu — Gibsie retruca, parecendo um pouco ferido. — Você deve
saber que eu sou um padeiro maravilhoso.
— Desculpe — eu respondo rapidamente, não querendo ofendê-lo. —
Você simplesmente não me parece um padeiro.
— Relaxe, eu estou totalmente zoando com você — ele ri. — Não faço
ideia do que estou fazendo. — Ele aponta para o fogão e diz: — Pelo que
sei, esses bolinhos podem ser assassinos.
— Bolinhos assassinos? — Eu torci meu nariz com o conceito. — Então
eu espero que você não se importe se eu passar.
Gibsie ri.
— Gosto de você.
Ele olha por cima da minha cabeça e diz:
— Eu gosto dela — antes de voltar sua atenção para mim: — Mas não do
cheiro. — Ele prende o nariz com os dedos e acrescenta: — Seu irmão está
certo, você precisa se trocar.
— Tudo bem, eu estou indo para casa... — eu começo a dizer, mas mais
uma vez, sou interrompido, desta vez por Gibsie.
— Johnny, ela pode tomar banho aqui, não pode?
Meus olhos se arregalam.
— O quê?
— Uh, sim, eu acho — Johnny, que ainda estava atrás de mim, responde
lentamente. — Se ela quiser?
Joey, que havia retornado ao seu banco na ilha, acena com a cabeça.
— Boa ideia, Gibs — ele concorda entre garfadas de ovo e salsicha. —
Lave esse cheiro de cachorro molhado de você, antes que tenhamos que
dirigir para casa no pequeno carro.
— Eu não estou fedida — eu murmuro.
— Você fede — Gibsie e Joey dizem em uníssono.
— Vão se foder vocês dois e deixem-na em paz — Johnny fala, soando
irritado. — Ela não fede.
— Você não sente o cheiro porque é imune — Gibsie retruca. Virando-se
para Joey, ele diz: — Ele deixa a vira-lata dormir em sua cama todas as
noites.
— Chame minha cachorra de vira-lata de novo e você vai vestir aquela
frigideira — avisa Johnny.
— Minhas sinceras desculpas, cara. — Gibsie joga as mãos para cima em
rendição. — Eu nunca quis insultar sua preciosa cachorra.
Ignorando as risadinhas e brincadeiras, eu me viro e olho para Johnny.
— Eu sinto muito por isso.
Sua atenção passa dos meninos para mim e ficou lá.
— Está tudo bem, Shannon. — Sua voz estava impassível, mas seus olhos
ardiam com algo que eu tinha medo de decifrar porque eu tinha a nítida
sensação de que, neste momento, meus olhos espelham os dele. — Você
pode se lavar no meu banheiro.
— Não, honestamente, está tudo bem. — Meu rosto estava queimando de
vergonha. — Eu não tenho que tomar banho em sua casa.
— Ah, sim, porra — Joey grita. — Eu quis dizer isso quando eu disse que
você não vai entrar no carro de Aoife desse jeito. Eu posso correr de você
com o estado em que você está.
— Pelo amor de Deus — Johnny retruca.
Abrindo a porta da cozinha, ele pega minha mão e praticamente me
arrasta pelo corredor.
— Vamos — ele ordena. — Eu vou cuidar de você.
— Uh, ok — eu engasgo, porque com toda a honestidade que esperança
eu tinha de dizer não quando um jogador de rúgbi gigantesco estava me
arrastando pela casa dele?
— Só para constar — Johnny fala por cima do ombro enquanto me puxa
escada acima, virando à direita quando chegamos ao andar de cima. — Eu
não acho que você está tão fedida.
— Hum, obrigada? — Eu me engasgo, sem saber qual seria a resposta
apropriada para um garoto dizendo que você não fede tanto e muito sem
fôlego para pensar em algo melhor.
Ele estava se movendo rápido, minha mão ainda enrolada na dele, e eu
tive que correr para acompanhar seus passos largos.
Ele não para de se mover até que estamos no final do patamar e do lado de
fora de uma porta fechada.
Percebo que havíamos passado por pelo menos meia dúzia de outras
portas nesta seção do patamar, mas eu estava muito tonta de tentar
acompanhá-lo para realmente fazer um balanço dos meus arredores.
Soltando minha mão, Johnny empurra a porta para dentro e entra,
gesticulando para que eu o siga.
Eu sigo – e foi como entrar em uma versão de quarto do hall da fama.
O quarto era enorme, as paredes eram azuis e a enorme cama de dossel
ocupava o centro do palco.
Havia um centro de entretenimento em frente à cama que parecia um
cinema em miniatura, mas nenhum desses detalhes foi o que me chamou a
atenção.
Foram as fileiras e mais fileiras de troféus e medalhas ordenando as
paredes que chamaram minha atenção imediata.
Camisas emolduradas cobriam as paredes, junto com vários bonés e
pôsteres de aparência peculiar do time irlandês de rúgbi.
Havia uma enorme escrivaninha de carvalho instalada no espaço na
parede oposta entre duas janelas.
Em cima da mesa havia um laptop de aparência cara e pilhas de livros
escolares e provas.
Acima dele estava pendurado um enorme quadro de cortiça, preso à
parede.
Presos ao quadro estavam inúmeras fotografias – de diferentes atletas
famosos.
Todos os quais Johnny estava ao lado nas fotos.
— Então — Johnny diz com um encolher de ombros. — Este é meu
quarto.
Ele caminha até sua cama e chuta várias peças de roupa para debaixo dela.
— É um bom quarto — eu respondo, mordendo meu lábio enquanto olho
ao redor.
No típico estilo de adolescente, era uma bagunça completa com os
cartazes obrigatórios de garotas seminuas com seios enormes ordenando as
paredes.
Roupas estavam espalhadas por toda parte, e controles de PlayStation e
jogos espalhados pelo chão ao lado da TV ao lado de dois pufes de couro.
— Você pode tomar banho aqui — Johnny diz então. Balançando a
cabeça, ele entra em ação, movendo-se para uma porta no canto esquerdo de
seu quarto, perto de sua cama.
— Você tem certeza? — Eu solto, me sentindo incrivelmente intimidada
por estar em seu espaço pessoal e potencialmente removendo todas as
minhas roupas.
Nós éramos estranhos.
Parecia errado estar em seu espaço.
Parecia errado, mas parecia tão certo...
— Sim, não há problema — ele responde rapidamente, abrindo a porta
para mim. Ele enfia a cabeça para dentro por um breve momento antes de
sair. — Tem toalhas limpas na prateleira. Use o que quiser.
Caralho.
Isso era uma loucura.
Era surreal demais.
Saí de casa esta manhã para comprar hash browns e uma lata de coca-cola,
e agora estava no quarto de Johnny Kavanagh, prestes a tomar banho em seu
banheiro privativo.
Como isso estava acontecendo?
— Você quer que eu jogue suas roupas na secadora enquanto você está no
chuveiro? — ele pergunta, me assustando de volta ao presente.
— As minhas roupas? — Minhas mãos se movem para o meu peito e eu
rapidamente balancei minha cabeça. — Uh, não, tudo bem.
Ele assente rigidamente e eu o vejo chutar várias outras peças de roupa
para debaixo da cama.
— Eu te daria algo da minha mãe, mas ela tranca o closet dela quando ela
viaja.
— O closet dela?
— Sim, ela, uh, minha mãe trabalha com roupas. — Johnny se mexe
desconfortavelmente. — É mais uma porra de um guarda-roupa gigante de
um quarto se você me perguntar, mas ela chama de escritório dela. — Ele
sorri então, claramente pensando em algo engraçado. — Gibs entrou lá uma
vez e destruiu uma peça importante para uma nova linha em que ela estava
trabalhando, então ela a mantém trancada quando está em Londres agora.
— Sua mãe desenha roupas?
— Sim.
Meus olhos se arregalam.
— Como um designer de moda?
Johnny assente
— Em Londres?
Outro aceno.
— Sério?
— Sim.
Uau...
— O que seu pai faz? — eu murmuro. — Um médico?
— Não, ele é um advogado — ele responde sem pestanejar.
Jesus.
Sua mãe era designer de moda e seu pai era um advogado de classe alta.
Bem, pelo menos isso explica a mansão em que estou.
O olhar de Johnny dispara para o armário de cabeceira e ele se apressa e
abre a gaveta de cima antes de varrer o conteúdo de cima para a gaveta.
— Eu vou encontrar algo meu para você se trocar — ele murmura, as
bochechas ficando levemente rosadas, enquanto ele fecha a gaveta e chuta
um monte de papéis que tinham caído de seu armário debaixo da cama. —
Vou deixar algumas roupas na cama caso você queira... Basta escolher o que
quiser.
Hesito, dando um passo para frente e três para trás, antes de respirar fundo
e caminhar até a porta do banheiro.
Johnny dá um passo para o lado para eu passar, mas ele era tão grande que
eu ainda consegui encostar nele.
— Obrigada, Johnny — eu sussurro antes de correr para o banheiro dele
com uma caixa furiosa de hormônios e um coração martelando.
— De nada, Shannon — eu o ouço dizer antes de fechar a porta.
Ai, Jesus.
O que diabos está acontecendo?
35

RESPOSTAS

JOHNNY

— Eu tenho uma pergunta, Joey, o arremessador — eu rosno quando volto


para a cozinha, tendo depositado sua irmã nua no meu chuveiro.
— Vá em frente, Sr. Rúgbi — Joey retruca, imperturbável.
Viro meu olhar para Gibsie e gesticulo para a porta.
— Eu preciso de um minuto, Gibs.
Meu melhor amigo deve ter visto a fúria em meus olhos porque pela
primeira vez em sua vida, ele não faz um comentário espertinho ou uma
piada.
Ele apenas se levanta e sai da cozinha, fechando a porta atrás de si.
— Agora — eu digo quando estávamos sozinhos, os olhos fixos em Joey
—, quem diabos está colocando as mãos em sua irmã?
As sobrancelhas de Joey se erguem.
— Sim, você me ouviu — eu rosno. — Eu a encontrei agachada na escola
na sexta-feira, vomitando suas tripas. — Passo a mão pelo meu cabelo,
furioso e além de agitado. — Algo está acontecendo com ela e eu quero
saber o que é.
— Por quê?
— Porque eu quero consertar isso.
— Por quê?
— Porque ninguém deveria colocar nada nela — eu ladro.
— O que ela te disse? — ele pergunta calmamente.
— Que ela caiu sobre Legos — eu digo.
Caiu sobre Legos minha bunda.
Caiu em um punho era mais parecido com isso.
Joey me estuda com olhos verdes afiados por um longo momento antes de
assentir.
— Se Shannon disse que foi isso que aconteceu, então foi isso que
aconteceu.
— Não, não! Não me venha com essa merda — eu assobio, frustrado. —
Essa não é a primeira vez que a vejo com hematomas. — Me lembro
distintamente de uma marca vermelha em seu rosto algumas semanas atrás, e
essa marca na parte de trás do pescoço na sexta-feira. — O que está
acontecendo com ela?
Joey se recosta em seu banquinho, me olhando com uma porra de
expressão superior que eu odeio.
Ele sabe algo que eu não sei, e isso estava me deixando louco.
Sim, eu não tinha certeza se gostava mais de Joey, o arremessador.
— Quem está machucando sua irmã? — Eu repito.
Ele precisa me dar algo antes que eu tirasse conclusões precipitadas e
chutasse sua bunda.
— São aquelas idiotas da sua escola?
Elas a fizeram pagar pelo que eu fiz no bar na sexta-feira?
— Foram elas? — eu exijo. — Aquelas garotas?
Joey permanece em silêncio.
— Ela está se machucando? — Eu pergunto.
Ele continua a me encarar.
— Você está machucando ela?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Cara, é melhor você começar a falar, porque irmão ou não irmão dela,
eu vou chutar sua bunda.
— Você vai precisar falar com Shannon — ele finalmente diz. — Eu não
posso lhe dar as respostas que você quer.
— Sim, você pode — eu rebato. — Apenas abra a boca e fale.
— Não. — Ele balança sua cabeça. — Eu não posso e não vou. Se ela
confia em você o suficiente, ela vai te dizer. Se ela não confia, ela não vai
falar. De qualquer forma, não é minha decisão.
— O que diabos isso quer dizer? — Eu exijo, furioso. — Não é sua
decisão?
— Exatamente o que parece — Joey rebate. — Isso significa que não é
minha decisão. Mas posso garantir que nunca coloquei minhas mãos na
minha irmã — acrescenta, me dando um olhar duro. — Ou qualquer em
outra mulher, a propósito.
— Eu quero saber o que está acontecendo aqui, Lynch — eu rebato,
lutando por cada pedaço de controle que eu poderia reunir. — Se ela está
sendo intimidada ou algo assim, então eu posso ajudar. Eu posso consertar
isso se você me disser.
Suas sobrancelhas se erguem.
— Você pode consertar isso?
— Por ela? — Eu balanço a cabeça com determinação. — Com certeza.
— Você gosta dela. — Ele arqueia outra sobrancelha para mim e inclina a
cabeça para um lado. — Talvez até mais do que gostar dela.
Eu não me incomodo em negar.
Não para ele.
Esse não era Gibsie, ou um dos caras da escola tentando me irritar.
Esse era seu irmão.
Eu sabia mais do que vomitar mentiras neste momento.
— Quero saber o que está acontecendo — foi tudo o que respondi. — Eu
preciso.
— Ouça, eu adoraria te dizer — Joey finalmente diz com um suspiro
pesado. — Eu não teria nenhum maldito problema em expor tudo para você.
Não tenho nada a esconder. Mas ela... — ele aponta para a porta atrás de
mim — não vai querer que eu faça isso. Ela morre se saber que alguém sabe
dos assuntos dela. Depois de toda a merda que aconteceu com ela na BCS,
ela quer aquela ficha limpa em Tommen. Eu quero isso para ela também.
— Então ela está sendo intimidada? — Meu coração afunda. — Alguém
em Tommen? — Se alguém na minha escola fez isso com o rosto dela, então
eu vou queimar a porra da escola. — Ou de sua antiga escola?
Eu tenho dificuldade em acreditar que aqueles idiotas do bar seriam
estúpidos o suficiente para fazer outra merda com ela.
Me chame de convencido, mas eu assustei a merda para fora deles na
sexta-feira.
Joey me encara por um longo momento antes de balançar a cabeça.
— Ouça, Kavanagh — ele finalmente diz. — Se você quer saber o que se
passa dentro dessa cabeça dela, então faça valer a pena.
— Fazer valer a pena? — Eu faço uma careta para suas palavras. —
Como?
— Você é um cara esperto — ele retruca. — Você vai descobrir.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu não...
Minhas palavras foram cortadas pelo som do telefone de Joey quando toca
alto.
Calmo como uma brisa, ele ergue um dedo e tira o telefone do bolso, olha
para a tela e murmura uma série de xingamentos antes de pressioná-lo no
ouvido.
— Que porra você quer? — ele perde a cabeça.
Saindo do banco, Joey caminha até o fogão e vira as costas para mim
enquanto fala em voz baixa.
— Não, você foi informado... não há volta... eu não dou a mínima para o
quanto você está arrependido... não... Ela está onde?
Eu assisto como todo o corpo de Joey endurece.
Eu me esforço para ouvir a pessoa na outra linha, mas era impossível.
— Quando isso aconteceu... e o bebê... tudo bem... não... que porra você
quer que eu diga... por que eu ficaria triste... é um maldito alívio é o que é...
tudo bem... sim, eu estarei lá... Eu apenas disse que estarei lá, não disse?
Joey olha para trás e me pega olhando.
Eu arqueio uma sobrancelha, não dando a mínima para que ele soubesse
que eu estava escutando.
Isso é o que eu estou fazendo.
Eu não estou prestes a negar.
— Estarei lá — Joey diz em tom baixo. — Estou a caminho.
Com isso, ele encerra a ligação e enfia o telefone no bolso.
— Eu preciso ir — ele diz naquele tom calmo, frio e controlado dele.
— Ir? — Eu fico boquiaberto para ele. — Para onde?
— Eu tenho um lugar que eu preciso estar — é tudo que ele responde,
então se move para a porta.
— Espera aí — eu ordeno, entrando em seu caminho. — Sua irmã está no
chuveiro.
— Sim. — Ele esfrega o queixo e diz: — Vou precisar que você a segure
por mim.
— Segurar ela? — Eu balanço minha cabeça, lutando para compreender o
que diabos estava acontecendo. — Você só quer que eu segure sua irmã?
— Foi o que eu disse, não foi? — Joey joga de volta com força.
— Você não está dizendo nada — eu rosno. — Esse é o problema. Você
não está me dizendo merda nenhuma!
— Eu te disse — ele retruca. — Eu disse para você perguntar a Shannon.
— Então, você vai o que, apenas vai deixá-la aqui? — eu exijo. — Por
quanto tempo?
— Eu não sei — Joey retruca.
— Você não sabe?
— Sim, eu não sei porra — ele cospe. — Isso é um problema?
— Não é um problema que ela esteja aqui — eu rosno. — É um problema
que você está deixando ela aqui e eu não tenho a maldita ideia do que dizer a
ela.
— Tudo bem — Joey retruca, olhando para mim com olhos verdes em
chamas. — Diga à minha irmã que nosso pai acabou de ligar. Nossa mãe
teve um aborto espontâneo na sexta à noite, e ele está voltando do hospital
com ela agora.
— Merda — eu murmuro.
— Você não nem imagina, porra— Joey fala enquanto passa por mim e
corre pelo corredor.
— Você quer que eu a leve direto para casa? — Eu pergunto, não tendo
nenhuma maldita ideia de como lidar com isso. Eu o sigo, me sentindo
completamente perdido. — Ou levá-la para o hospital...
— Eu quero que você segure ela — Joey ruge. Parando na porta da frente,
ele se vira e olha para mim. — Você pode fazer isso, Johnny Kavanagh?
Você pode cuidar da minha irmã para mim?
— Sim — eu digo, não gostando de seu tom, mas sabendo que ele devia
estar sentindo algum tipo de dor. — Eu posso.
— Bom — ele retruca. — Eu vou ligar quando puder passar para buscá-la.
Apenas fique com ela até eu ligar para você, ok?
Poder buscá-la?
Porra, o que ele achava que sua irmã era?
Um maldito pacote?
Sabendo que o cara deve estar passando por um inferno agora, eu
simplesmente balanço a cabeça e digito meu número no telefone que ele
estende para mim e o devolvo.
— Gussie! — Joey late, deslizando o telefone de volta no bolso. — Estou
saindo agora se você quiser dar uma volta na cidade para pegar seu carro.
Gibsie coloca a cabeça para fora da porta da sala.
— Tudo bem? — ele pergunta, olhando entre nós em confusão.
— Vá em frente — eu digo a Gibsie, gesticulando para que ele siga Joey,
que estava andando pela calçada até seu carro.
— Tem certeza disso?
Eu balanço a cabeça rigidamente.
Felizmente, Gibsie tem o bom senso de não fazer perguntas.
Em vez disso, ele me dá uma rápida saudação e corre atrás do irmão de
Shannon.
Exalando uma respiração irregular, eu caminho até a porta e a fecho
silenciosamente.
Que porra eu ia fazer?
36

MÁS NOTÍCIAS

SHANNON

Levo um tempo ridículo para acertar a temperatura no chuveiro de Johnny,


porque, aparentemente, ele gosta de incinerar sua pele ao tomar banho.
Quando finalmente abaixo a temperatura para um calor suportável e sinto
os jatos de energia lavarem meu corpo, tenho dificuldade em sair.
Sério, seu chuveiro era incrível.
Era um combo – uma banheira com chuveiro no teto – e eu tinha que ficar
em uma banheira oval com uma cortina fechada, mas juro que isso só
contribui para a lavagem mais luxuosa da minha vida.
Usar seu xampu e sabonete parecia estranhamente inapropriado, como se
não fosse algo que eu deveria estar fazendo, mas eu estava imunda e
definitivamente fedorenta, então ensaboo meu corpo com amostras de todas
as garrafas disponíveis e elegantes na prateleira.
Quando estou finalmente limpa e cheirando a sabonete líquido de menino
– em vez de cachorro molhado – saio, me enrolo em uma toalha limpa e
enrolo minhas roupas sujas em uma bola.
O cheiro das minhas roupas era tão nojento que imediatamente deixo cair
o embrulho e tenho que respirar pela boca por vários momentos para me
impedir de engasgar.
Joey e Gibsie estavam certos.
Eu realmente fedia.
Não havia como eu colocar qualquer coisa que eu possuía de volta sem
vomitar.
Pressionando meu ouvido contra a porta, escuto atentamente para ter
certeza de que seu quarto estava vazio antes de destrancar a porta e sair.
Vendo que estava vazio, eu exalo um suspiro de alívio e vou na ponta dos
pés até sua cama, onde uma enorme pilha de roupas estava espalhada em
uma pilha na beira do colchão.
Colocando meu cabelo úmido sobre um ombro, começo a vasculhar a
pilha de roupas que ele havia colocado para mim.
Vasculhando meia dúzia de camisetas, peguei a menor – que por acaso era
tamanho XL.
Era de cor azul, suave ao toque e cheirava a Johnny.
Eu rapidamente dou de ombros.
A bainha cai até o meio da minha coxa, as mangas curtas atingindo meus
cotovelos, deixando-me saber que eu era praticamente um hobbit em
comparação a ele.
Tremendo de frio, passo a vasculhar as calças, minha ansiedade
aumentando com cada par de calças de moletom gigante que pego.
Seguro um par contra o meu corpo e solto um soluço frustrado quando
eles chegam ao meu peito.
Meus olhos pousam no par de boxers brancas espalhadas no meio da pilha
e eu solto um suspiro.
Ele pretendia deixar aquelas lá?
Elas foram colocadas para mim?
Isso era estranho?
Santo inferno, elas eram da Calvin Klein?
Em uma inspeção mais próxima, confirmo que eram, de fato, cuecas
chiques.
Minha calcinha veio em um pacote de sete por cinco libras.
Nesse momento, eu tenho plena consciência de nossas diferenças sociais.
Sua mãe era uma designer de moda, pelo amor de Deus.
A minha era uma faxineira.
Seu pai era advogado.
O meu também passa muito tempo no tribunal, do outro lado da lei.
Sua casa cheira a dinheiro e luxo.
A minha cheira a uísque e dor.
Olho para a calça de moletom em minhas mãos e depois de volta para as
boxers de cintura elástica na cama.
Se alguma coisa pertencente a Johnny ia se encaixar em mim, mesmo que
remotamente, seriam essas.
Tentando não pensar muito sobre isso, eu pego a boxer e rapidamente
entro nela e a puxo para cima.
Eu presumo que ela era boxer justa, mas em mim ela era solta e folgada,
no entanto ela está ficando nos meus quadris.
O que você está fazendo?
O que diabos você está fazendo?
O pênis de Johnny tocou nessas coisas.
E agora sua vagina tocou também.
Você está praticamente transando com ele!
A incerteza toma conta então e eu rapidamente a tiro antes de pegar a
calça de moletom de volta e entrar nela.
Como eu previ, sua calça de moletom fica enorme em mim, chegando até
meu peito, e no momento em que soltei o cós, ela cai até os meus tornozelos.
Puxando-a de volta, agarro o cós e me arrasto desajeitadamente para o
banheiro, tentando não tropeçar nas pernas no processo.
Recuperando meu prendedor de cabelo de onde o havia deixado no
chuveiro, dou um nó solto na lateral da calça e prendo-a.
Por cerca de dois segundos, até que ela caiu no chão novamente.
Melancólica, eu puxo a cueca boxer de volta, ignoro a voz na minha
cabeça me dizendo que isso está errado, recupero meu laço de cabelo da
calça de moletom traidora e dou um nó firme na boxer.
Sem saber o que fazer a seguir, eu volto ao quarto dele e começo a dobrar
as roupas descartadas.
Eu não tinha a menor ideia do por que que estou fazendo isso, mas tinha a
sensação de que ele não faria isso e não queria que ele ficasse com roupas
amassadas porque ele as arrastou para fora de seu guarda-roupa para meu
benefício.
Eu estava dobrando a última camiseta da cama de Johnny quando noto
algo saindo debaixo da cama.
Algo que se parece comigo.
Me abaixando, pego o jornal com as mãos trêmulas e apenas olho para a
nossa foto.
Ele guardou.
No quarto dele.
Debaixo da sua cama.
Meu coração salta contra meu peito.
Não significa nada.
É uma bela imagem.
Isso é tudo.
Não leia isso.
Eu estava completamente absorta em meus pensamentos quando um
gemido baixo vem de algum lugar próximo.
Largando o jornal no chão, eu permaneço completamente imóvel e escuto
com atenção.
Alguns segundos depois, o barulho de gemido veio novamente.
Da cama!
Apavorada, pego uma camiseta dobrada aleatoriamente em minhas mãos
com um aperto mortal e abaixo meu rosto para onde seu edredom estava
enrolado no pé da cama.
Eu tenho certeza de que era de onde vinham os gemidos.
— Olá? — Eu sussurro, os olhos fixos no edredom.
Isso se move em resposta, a colcha se movendo para frente e para trás
rapidamente.
— Oh meu Deus — eu grito, cambaleando para trás.
Largando a camiseta de Johnny no chão, pressiono a mão no meu peito e
observo a cama como se fosse uma cena de O Poltergeist.
— Tem alguém aí? — Eu pergunto quando minha voz volta.
Eu tinha que estar imaginando isso.
Não tinha realmente se movido.
Eu estou apenas hiperalerta.
Eu estou perdendo minha maldita mente.
— Olá?
O edredom se move novamente.
— Oh meu Deus!
O edredom começa a subir.
Ah, foda-se!
Desta vez, quando eu grito, é no topo dos meus pulmões, enquanto me
afasto da cama.
Batendo contra a cômoda atrás de mim, perco o equilíbrio e caio de cara
no chão, roçando meu queixo no piso de madeira no processo.
Sem me deixar intimidar por meu rosto plantado, eu me levanto, apenas
para desmoronar em um emaranhado quando meus pés ficaram presos em
suas calças gigantes que eu tinha esquecido de pegar.
Chutando meu pé livre, e ainda gritando, eu me arrasto para fora do chão e
corro para a porta do quarto.
Ela balança para dentro ao mesmo tempo em que eu estou puxando a
maçaneta e sou recebida por um Johnny de aparência perplexa.
— O que há de errado? — ele exige, olhos brilhando com preocupação.
— Shannon, o que diabos aconteceu?
— Tem algo no seu quarto! — Eu grito, atacando ele. — Oh meu Deus —
eu meio soluço/grito enquanto rastejava para cima de seu corpo enorme e
envolvia meus braços e pernas ao redor dele. — Você tem que me salvar!
— O que você quer dizer com algo no meu quarto? — Johnny exige
quando seus braços vem ao redor da minha cintura. — Shannon?
Ele tenta me tirar de cima dele, mas eu seguro mais apertado, apertando
minhas coxas e braços o mais forte que pude.
Exalando pesadamente, ele esfrega minhas costas com uma mão e
pergunta em um tom muito mais suave
— O que aconteceu?
— Há algo em sua cama.
Apertando meus olhos fechados, eu me agarro ao seu corpo por tudo que
eu me importava.
— Debaixo das cobertas — eu engasgo quando um enorme
estremecimento passa por mim. — Eu não estou brincando. Eu o vi se mover
– duas vezes!— Eu enterro meu rosto em seu pescoço e engasgo — Eu acho
que você tem um fantasma na sua cama!
— Shannon, eu não tenho um fantasma na minha cama — Johnny
respondeu, parecendo se divertir agora.
— Sim, você tem — eu rebato, estremecendo novamente. — Eu vi, e não
ria de mim.
— Eu não estou rindo de você — ele me diz, enquanto ri. — Vamos lá, eu
vou provar a você que não há nenhum fantasma aqui.
Ele se move para entrar no quarto e minhas mãos disparam, agarrando o
batente da porta para detê-lo.
— Me leva para casa — eu imploro, com os olhos arregalados e
horrorizada — Por favor. Não me leve aí. Estou apavorada, Johnny!
Ele me leva de volta de qualquer maneira, marchando para o cômodo
comigo presa em torno dele como um bebê macaco.
— Olhe para o seu fantasma, Shannon — ele ri quando chegamos à cama.
— Não posso. — Fecho os olhos e balanço a cabeça, enterrando meu
rosto na curva de seu pescoço. — Eu não quero ver.
Ele cheira tão bem, qualquer colônia que ele estava usando estava
flutuando no meu nariz, então pelo menos eu poderia morrer sentindo o
cheiro de algo maravilhoso.
Um latido enche meus ouvidos então, me parando no meio do colapso.
— Ei, bebê — Johnny arrulha. — Você assustou pra caralho a minha
amiga aqui.
Bebê?
Lentamente, eu levanto minha cabeça e me viro para encarar a cama.
Uma labradora preta aparece debaixo de seu edredom.
Um tsunami de alívio me atinge, seguido rapidamente por uma generosa
dose de realidade.
A cachorra sai de debaixo das cobertas, abanando o rabo com tanta força
que bate no colchão.
— Shannon, esta é a Sookie — Johnny ri. — Seu fantasma.
— Oh. — Soltando meus braços e pernas, deslizo para baixo em seu
corpo, cada centímetro da minha pele queimando de vergonha. — Ah, isso
faz mais sentido.
Me sentindo tonta, afundo na beirada de sua cama, pressiono minha mão
no meu peito e exalei uma respiração trêmula.
— Sua cachorra — eu ofego, respirando com dificuldade. — Dorme na
sua cama.
Não era uma pergunta.
Eu estava apenas tentando juntar tudo.
— Eu disse oi e ela abanou o rabo. Eu pensei que ela era um...
— Fantasma? — Johnny oferece, sorrindo.
Eu balanço minha cabeça.
— Não faça piadas — eu sussurro, ainda tremendo enquanto a adrenalina
dentro de mim se dissipa lentamente. — Ainda não.
Sookie toca seu nariz molhado na minha coxa nua e se aninha
suavemente, me distraindo.
— Olhe para você — eu sussurro, dando-lhe minha atenção.
Estava claro pelo cabelo branco em seu rosto que ela era uma cadela
velha.
— Você é tão doce. — Estendendo a mão, coloco minha mão em sua
cabeça e acaricio levemente.
— Agora esta é doce — afirma Johnny — Ela é minha, e muito mais
comportada do que as outras duas.
— Bem, Sookie, você quase me deu um ataque cardíaco com suas
impressionantes habilidades de se esconder — acrescento, sentindo meu
coração voltar lentamente ao seu ritmo natural. — Mas você ainda é muito
doce.
— Você está bem? — Johnny pergunta, tom sério agora.
Sinto o colchão se mexer ao meu lado, mas não tiro os olhos de sua
cachorra.
— Eu deveria ter avisado que ela estava aqui — acrescenta. — Estou tão
acostumado com ela que esqueci totalmente. Ela pode desmaiar por horas
aqui em cima.
— Está tudo bem — eu sussurro, mantendo minha atenção em Sookie.
— Está tudo bem ou você está bem?
Eu mordo meu lábio e penso sobre isso por um momento antes de dizer:
— Está tudo bem e eu vou ficar bem.
Deixando cair minha cabeça em minhas mãos, soltei um gemido baixo.
— Deus, estou tão envergonhada. Vocês me ouviram gritando lá embaixo
na cozinha?
— Na verdade, era só eu — ele responde. — Eu estava subindo para falar
com você quando ouvi você gritar.
Meu batimento cardíaco acelera.
— Falar comigo?
— Sim, seu irmão teve que sair enquanto você estava no chuveiro.
— Joey se foi? — Eu murmuro, sentindo uma onda repentina de pânico
correr por mim. — Algo está errado?
Johnny assente e junta as mãos, os cotovelos apoiados nas coxas enormes.
— O que foi? — Eu pressiono. — Diga-me, Johnny!
— É, ah, é sua mãe, Shannon — ele finalmente diz, em tom áspero.
— E a minha mãe? — Eu sussurro. — Oh meu Deus, ela está morta?
— Não, não, porra não — Johnny se apressa a dizer. Virando-se para
mim, ele exalou um suspiro de dor, pegou minha mão trêmula em sua mão
grande e quente e diz: — Ela teve um aborto espontâneo.
Ela teve um aborto espontâneo.
Sua mãe perdeu o bebê, Shannon.
Sinta algo!
Sinta alguma coisa, caramba!
Eu estava morta por dentro.
Eu tinha que estar.
Isso, ou eu era completamente má.
Não havia outra explicação para isso.
Sentir alívio pela perda de uma gravidez era o crime mais repugnante,
horrível e imperdoável da face do planeta.
E era a primeira coisa que senti quando aquelas palavras saíram da boca
de Johnny.
Uma onda esmagadora de puro alívio inunda meu corpo por um breve
momento enquanto meu cérebro registra a gratidão que cerca meu coração
ao saber que outra criança não nasceria naquele inferno.
Já era ruim o suficiente termos nascido nesta vida.
— Eu sinto muito, Shannon — Johnny diz, apertando minha mão. — Eu
odeio ter que te dizer isso.
— Ela está bem? — Eu murmuro, quando as palavras me encontraram.
Johnny assente.
— Seu irmão disse que ela está bem, e que ela teve um aborto espontâneo
na sexta-feira – embora você provavelmente soubesse que ela estava no...
— Sim — eu minto rapidamente para encobrir a carnificina, sentindo as
lágrimas pinicando meus olhos enquanto o desgosto e o ódio a mim mesma
tomam conta. — Sabíamos que havia um problema.
Foi isso que aconteceu?
Foi para lá que ela foi?
Ela estava sozinha no hospital durante todo o fim de semana e nenhum de
nós sabia?
Estávamos reclamando sobre ela ser uma mãe ruim e ela estava deitada
em uma cama de hospital, perdendo seu bebê.
Oh Deus.
— É claro. — Johnny assente e exala outro suspiro pesado. — Joey me
disse para lhe dizer que seu pai vai buscá-la no hospital e que os dois estarão
em casa em breve.
Meu corpo congela.
A dor pesada e a antecipação temerosa se estabelecem em meus ombros
como a mão de um velho amigo.
Isso é como eu estava familiarizado com o sentimento de medo.
Meu coração não poderia ter afundado ainda mais se eu amarrasse pesos
nele e o jogasse no oceano.
Ele estava de volta.
Por que ele voltou?
Por que ele não podia simplesmente ir embora para sempre?
— Seu irmão quer que você fique aqui por um tempo. Ele disse que
ligaria quando pudesse vir buscar você –— Johnny faz uma pausa antes de
acrescentar — mas eu posso te levar para casa quando você quiser, ok?
— Joey não deveria ter colocado você nessa posição — eu murmuro,
lutando para manter minhas emoções sob controle. — Eu sinto muito por
isso. — Me levanto para sair. — Eu posso ir agora.
— Shannon. — A mão de Johnny serpenteia e envolve meu pulso. — Eu
não quero que você vá — ele diz rispidamente, me puxando de volta para
baixo ao lado dele. — Eu quero você aqui — Ele descansa a mão na cama
bem atrás das minhas costas e se inclina para perto. — Eu quero que você
fique comigo.
Eu balanço minha cabeça, incapaz de formar uma única palavra.
Eu estava com um gosto horrível na boca.
Combina com o que estava na boca do meu estômago.
Destino iminente, eu reconheço.
Isso é o que eu estava provando e sentindo agora.
Meu pai estava de volta.
Uma vez que eu saísse desta casa e voltasse para a minha, o círculo
vicioso e interminável continuaria.
De repente, eu nunca quis sair deste cômodo.
Não chore, Shannon Lynch, aviso a mim mesma. Não derrame outra
lágrima!
Abaixo a cabeça e pisco repetidamente, tentando desesperadamente lutar
contra as lágrimas que ameaçam escorrer pelo meu rosto em gotas grandes e
gordas.
Não funciona.
Uma lágrima desliza pelo meu rosto, seguida em rápida sucessão por outra
e depois outra.
— Eu vou te abraçar — Johnny sussurra em meu ouvido. — Me diga se
isso não estiver bem?
Fungando, me viro e enterro meu rosto em seu lado, respondendo sua
pergunta com ações.
Os braços de Johnny vem ao meu redor, me puxando para perto, e eu
agarro sua camisa na minha mão, apertando o tecido com força, enquanto
soluços percorrem meu corpo.
— Estou aqui para você — ele me diz, a voz rouca e grossa, enquanto sua
mão se move em círculos lentos sobre minhas costas. — Se você precisar de
alguém para conversar, — ele me puxa para mais perto — estou bem aqui.
Eu não consigo parar de chorar e não tinha certeza se era o medo de
enfrentar meu pai me levando ao limite, ou o aborto da minha mãe, ou as
emoções crescendo dentro de mim por causa desse garoto em cujos braços
eu estava atualmente.
Incapaz de me controlar, e buscando desesperadamente o conforto e a
segurança que escorre dele em ondas, faço algo incrivelmente imprudente.
Eu rastejo em seu colo.
Todo o corpo de Johnny fica tenso e suas mãos caem do meu corpo, mas
eu não paro.
Eu não posso.
Com meus joelhos em cada lado de suas coxas, passo meus braços ao
redor dele e enterro meu rosto em seu pescoço.
— O que você quer que eu faça, Shannon? — Johnny me fala. — Diga-
me o que fazer aqui.
— Me segura — eu soluço, enterrando meu rosto em seu pescoço. — Não
me deixe ir.
— Ok. — Sua grande mão segura a parte de trás da minha cabeça e a
outra se moveu para minhas costas enquanto ele me segura em seu peito,
lentamente me balançando em seu colo. — Eu não vou — ele sussurra, me
dobrando em seus braços.
Tremendo, me agarro ao seu corpo e rezo para que ele fosse minha força
neste momento, porque eu não posso mais fazer isso.
Eu não posso viver assim.
Eu estive tão sozinha.
Toda a minha vida.
Eu estou tão assustada.
37

É SEU ANIVERSÁRIO

SHANNON

Eu passo sólidos vinte minutos enrolada nos braços de Johnny enquanto


tento desesperadamente controlar minhas emoções.
Finalmente, quando eu não sinto que tenho outra lágrima dentro do meu
corpo para derramar, eu me afasto para olhar para ele.
Seus olhos azuis queimam com simpatia enquanto ele me observa com
cuidado.
— Oi — eu fungo, me sentindo envergonhada.
— Oi — Johnny diz bruscamente enquanto alisa meu cabelo úmido para
trás do meu rosto e por cima do meu ombro.
— Obrigada — eu murmuro, resistindo à vontade de pressionar minha
bochecha em sua mão.
— Pelo quê? — ele pergunta com a voz grossa, colocando mechas soltas
de cabelo atrás das minhas orelhas.
— Por me segurar e não me soltar — eu falo fracamente.
Ele sorri tristemente.
— A qualquer momento.
— Você quer que eu vá embora agora? — Eu pergunto, me sentindo
incerta. — Agora que eu encharquei sua camisa e pescoço?
Johnny balança a cabeça e repete as mesmas palavras de antes:
— Quero que você fique comigo.
— Você quer? — Eu fungo, apertando meu aperto em seu pescoço.
Ele assente lentamente.
— Quero.
— Ok — eu sussurro, o coração batendo violentamente.
— Você quer falar sobre isso? — ele pergunta então, olhos azuis
queimando buracos nos meus.
Eu rapidamente balanço minha cabeça, sabendo que eu queria bloquear
tudo e me concentrar na única coisa boa da minha vida.
Ele.
Johnny me olha com cautela.
— Você tem certeza?
— Eu quero esquecer isso — eu confesso. — Eu nem quero pensar nisso.
De jeito nenhum... pelo menos até eu ter que ir para casa e encarar isso.
— Se é isso que você quer, então é isso que faremos — Johnny responde
com voz rouca.
Eu caio de alívio.
Este menino.
Deus.
— Está com fome? — ele oferece então, liberando meus quadris e
removendo a sensação reconfortante de suas mãos na minha pele.
Meu estômago ronca com sua oferta enquanto eu relutantemente saio de
seu colo.
— Vou tomar isso como um sim — Johnny diz com uma pequena risada.
Balançando a cabeça, ele se levanta e ajuda Sookie a sair da cama antes de
se virar para sorrir para mim.
— Vamos, Shannon como o rio. — Ele inclina a cabeça em direção à
porta. — Deixe-me alimentá-la.
Com as pernas trêmulas, sigo Johnny e Sookie, vagando pelo longo
corredor até a escada gigantesca.
Eu tenho que lutar contra o sorriso que ameaça se libertar quando Johnny
para no topo da escada para pegar Sookie e então começa a carregar a
enorme Labrador, de no mínimo de 36 quilos, escada abaixo como se ela
fosse um bebê embalado em seus braços.
Sorrindo, eu os sigo.
— Artrite — ele explica em um tom envergonhado quando me pega
olhando. — Velhice. — Ele a coloca no chão com cuidado quando chega ao
térreo e a observa caminhar pelo corredor antes de acrescentar: — Mas ela é
jovem de coração.
No minuto em que meus pés descalça tocaram os azulejos frios, eu solto
um gritinho e pulo de volta para o degrau acarpetado.
— Deus — eu grito, tremendo. — O chão está tão frio.
— Espere aí — Johnny diz e então salta de volta escada acima apenas
para voltar alguns minutos depois segurando um par de meias.
Ele me entrega as meias e eu me sento no degrau para colocá-las.
— Obrigada — eu sussurro, puxando as enormes meias pretas em meus
pés.
Abaixo e vejo que eram meias da marca Nike.
E não falsas também.
— Sem problemas — responde Johnny, me observando. Coçando o
queixo, acrescenta: — Não sei por que não pensei em meias.
— Está tudo bem — eu asseguro a ele, puxando-as até minhas
panturrilhas antes de me levantar. — Eu, uh... — Eu dou de ombros
impotente e gesticulo para minhas pernas nuas, cobertas apenas nas coxas
por sua cueca boxer. — Eu não conseguia manter suas calças levantadas.
Seus lábios se contraem em diversão.
— Não?
Eu balanço minha cabeça, bochechas queimando.
— Eu sou muito pequena.
— Tudo bem — ele responde bruscamente. — Eu gosto disso.
— Você gosta disso?
— Quero dizer, eu... — Ele balança a cabeça e exala um suspiro. —
Quero dizer, eu não me importo.
— Seus pais se importam? — Eu coloquei meu cabelo atrás da orelha
nervosamente. — Quero dizer, eles não vão pensar...
— Não — responde Johnny, mas parecia distraído.
— Tem certeza?
Seu olhar vaga sobre mim então, fazendo minha pele inundar com calor.
— Não, é, uh, bom.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Bom?
Ele cora, me fazendo corar um tom muito mais profundo de vermelho.
Oh Deus...
— Somos apenas nós — ele acrescentou com uma tosse. — Minha mãe
não estará de volta até de manhã.
— Oh, tudo bem.
— Então, o que você está com vontade? — Johnny pergunta, felizmente
voltando o assunto para a comida.
— Eu não sou exigente — eu murmuro, seguindo-o por um longo
corredor até a porta no final.
Paro na porta, admirando a bela e moderna cozinha à minha frente.
Não se parece em nada com o resto da casa que era tradicional e
majestosa.
— Graças a Deus — Johnny responde, chamando minha atenção para
onde ele estava em uma enorme ilha de mármore preto, checando seu
telefone. — Porque minhas habilidades na cozinha são bem básicas, e Gibsie
limpou a geladeira mais cedo.
— Eu posso cozinhar? — Eu ofereço timidamente.
— O que… não — ele rapidamente dispensa, me dando um sorriso
pesaroso. — Você é minha convidada. Você não está cozinhando para mim.
— Eu não me importo — eu respondo.
— Bem, eu me importo — ele me diz enquanto joga o telefone no balcão
e me dá toda a atenção. — Misto quente está bom para você?
Eu sorrio brilhantemente.
— Parece bom.
— Boa escolha — ele ri. — Porque eram sanduíches ou cereais.
— Nós podemos apenas comer cereal — eu ofereço. — Eu não me
importo.
Johnny pisca e diz:
— Vamos nos esforçar e ter ambos.
Eu não protesto.
Eu estava mais que feliz em derrubar o que quer que fosse colocado na
minha frente.
— Você bebe chá?
— Só um balde — eu respondo com um sorriso. — Dois saquinhos do chá
Barry com dois açúcares e uma pequena gota de leite.
Ele ri.
— Então você é uma garota do chá, não do café.
Eu engasgo.
— Ugh. Eu odeio café.
Johnny sorri e aponta para a grande ilha de mármore no meio da cozinha.
— Se senta — ele instrui enquanto se move para os armários e começa a
vasculhar. — Vou jogar os sanduíches na torradeira e podemos comer o
cereal enquanto esperamos.
— Obrigada por isso — eu digo baixinho.
— Pelo o quê? — ele pergunta enquanto prepara os sanduíches em tempo
recorde.
— Cozinhar para mim — eu respondo, observando as costas de Johnny
enquanto ele trabalha.
Ele está vestindo uma camiseta cinza e o tecido de sua camisa se estende
gloriosamente ao longo de suas costas largas.
— Eu dificilmente chamaria misto quente de presunto e queijo de
cozinhar para você — Johnny retruca com um sorriso de lobo.
— Bem, ninguém cozinha para mim, então eu aprecio isso — eu digo a
ele, ainda pairando na porta. — Eu faço a maior parte da comida em casa.
— É? — Ele parece surpreso. — Por que isso?
— Porque eu sou a única garota — eu murmuro. — E a maior parte do
trabalho doméstico recai sobre meus ombros.
— E? — Johnny responde, ainda de costas para mim. — Ter uma vagina
não te conecta automaticamente a um fogão – ou a uma porra de um
aspirador de pó. — Ele balança sua cabeça. — Cristo, se eu sequer pensasse
em puxar essa merda sexista na minha mãe, ela cortaria minhas bolas.
— Essa é uma maneira saudável de encarar a vida — eu digo a ele,
emocionada com suas palavras.
— Essa é a única maneira de abordar a vida — ele corrigiu. — Estamos
no século XXI — acrescenta. — Não nos anos de mil e oitocentos e bolinha.
Ele coloca os sanduíches na torradeira e se vira para mim.
— Você pode se sentar, Shannon — ele diz gentilmente. — Está tudo
bem.
— Ah, tudo bem? — Caminhando até a ilha, me movo para um dos
bancos apenas para queimar de vergonha quando não consigo me levantar.
Tento novamente e falho miseravelmente.
— Existe uma mola para baixar isso?
Eu sabia que era pequena, mas isso era simplesmente ridículo.
O assento de couro do banco estava roçando minhas costelas.
— Huh? — Johnny chama por cima do ombro enquanto vasculha a
geladeira com uma caixa de cereal debaixo do braço.
— O banco — eu respondo, com o rosto vermelho. — Eu não consigo
alcançar.
Ele lança um rápido olhar por cima do ombro e sorri quando percebe
minha situação.
— Havia — ele explica, andando até mim. Ele coloca uma caixa de
Cheerios e meio litro de leite na ilha. — Mas Gibsie tem o hábito de quebrar
tudo o que toca.
Sem avisar, Johnny agarra meus quadris e me levanta no banco.
— Ele gosta de fingir que é um foguete decolando — acrescenta, sem
saber como eu estava afetada por seu toque.
Caminhando até outro armário, ele pega duas tigelas e, em seguida, abre
uma gaveta e pega duas colheres.
— O filho da puta quebrou todos os seis bancos uma semana depois que
minha mãe os comprou. — Ele coloca as colheres e tigelas na ilha e sorri
para mim. — Eles estão todos presos na altura máxima.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Você está zombando de mim?
Johnny sorri.
— Eu nunca faria isso. — Empurrando uma tigela e uma colher para mim,
ele acrescentou: — Cheerios funcionam para começar? Eu tenho Rice
Krispies, se você preferir?
— Cheerios funcionam.
Johnny se acomoda no banco ao lado do meu e pega a caixa de cereal.
Seu braço roça no meu enquanto ele despeja cereais em nossas tigelas e eu
estremeço novamente.
— Está com frio? — ele pergunta, virando-se para olhar para mim.
Eu balanço minha cabeça.
— Estou bem.
— Tem certeza? — ele pergunta, derramando leite mais uma vez em
ambas as nossas tigelas.
Eu balanço a cabeça.
— Tem certeza que seus pais não vão se importar que eu esteja aqui?
Ele franze a testa.
— Por que eles se importariam?
— Eu não sei — eu me apresso a dizer.
— Está tudo bem — ele me assegura. — Eles não vão se importar.
— Sim, ok. — Incapaz de suportar o calor de seu olhar, abaixo meu olhar
para minha tigela. — Eu suponho que eles estão acostumados com você
recebendo garotas.
— O que isso deveria significar? — ele pergunta, o tom um pouco brusco.
— Nada. — Enrubescendo, pego minha colher e enfio uma colherada de
Cheerios na minha boca.
— Shannon? — Johnny pergunta, os olhos ainda treinados no meu rosto.
Eu dou de ombros impotente.
— Eu não trago garotas aqui.
— Não?
— Não — ele confirma. — Eu não trago.
— E quanto a Bella? — as palavras saem da minha boca antes que eu
tenha a chance de recuperá-las.
— O que sobre a Bella? — ele pergunta com uma carranca.
— Você não tem, tipo, um lance com ela?
A carranca de Johnny se aprofunda.
— Isso é passado.
— Eu sinto muito. — Pego uma colher de cereal, mastigo e engulo antes
de acrescentar: — Vocês dois estavam saindo por um longo tempo, então
presumi que ela vinha a sua casa.
Johnny se vira e me dá uma expressão vazia.
— Estávamos?
Eu faço uma careta.
— Vocês não estavam?
Ele dá de ombros e volta sua atenção para sua tigela.
— Não.
— Ah, tudo bem — eu murmuro, completamente confusa.
— Nós não estávamos juntos assim, Shannon — Johnny explica antes de
enfiar uma enorme colher de cereal em sua boca.
— Então como era? — Eu pergunto. — Você e ela?
Eu sabia que deveria parar de torcer por informações, mas não posso
evitar.
Eu tinha que saber.
Johnny enfia outra colher de cereal na boca, mastiga por um momento e
depois engole antes de se virar para olhar para mim.
— Honestamente?
Eu balanço a cabeça.
— Era físico — ele admite, parecendo desconfortável. — Era apenas
sexo, Shannon.
— Apenas sexo — eu repito, minhas palavras eram pouco mais que um
sussurro.
— Sim — ele responde. — E antes que você diga, eu sei como isso soa.
Mas é verdade, e era o mesmo para ela. Então, não vá pensando que eu sou o
cara mau e que ela queria algo a mais de mim também, porque ela
absolutamente não queria.
— E você tem certeza disso?
— Sim, eu tenho — ele retruca um pouco na defensiva agora. — Ela não
estava interessada em mim como pessoa. Ela estava feliz com o que eu podia
fazer em campo e sob sua saia. Era puramente físico. E quando eu não pude
dar a ela o que ela queria, ela passou para o meu companheiro de equipe.
— Isso é muito terrível — eu sussurro, as bochechas queimando.
— Sim, bem, às vezes as coisas não são todas cor-de-rosa — ele
resmunga. — Às vezes foder é apenas foder.
— Você pode parar de falar sobre isso agora. — Eu sussurro, empurrando
minha tigela para longe.
— Você está certa — ele geme, deixando cair a colher de volta em sua
tigela. — Você não precisa estar ouvindo isso. Você só tem quinze anos, pelo
amor de Deus. — Ele balança sua cabeça. — Que porra eu estou pensando
em falar sobre esse tipo de merda com você?
— Eu tenho dezesseis — eu o informo. — E eu não sou uma criança.
A cabeça de Johnny vira para mim, expressão cautelosa.
— Você tem quinze anos.
— Não, eu não tenho — eu corrijo. — Eu tenho dezesseis anos.
Johnny franze a testa.
— Desde quando?
— Desde hoje — respondo.
Johnny fica boquiaberto comigo.
— É seu aniversário?
Dou de ombros.
— Por que você não disse nada?
— Não sei. — Eu dou de ombros novamente. — Esqueci?
— Shannon, vamos lá.
— Porque não é grande coisa — eu me apresso para dispensar. — É
apenas mais um dia.
Um dia ruim.
Um dia terrível.
Brilhante só porque estou com você...
— Não, Shannon — Johnny argumentou, parecendo estar completamente
perdido. — É grande coisa.
— Johnny, hoje é meu aniversário — eu digo, envergonhada. — É isso.
— Eu gostaria de saber antes — ele resmunga. — Eu teria comprado um
presente para você.
— Eu não preciso de um presente — eu engasgo, o coração palpitando. —
Não seja bobo.
Johnny balança a cabeça e murmura:
— Sim, bem, se você me dissesse, eu poderia ter lhe dado algo melhor do
que uma maldita tigela de Cheerios.
— E um misto quente — eu ofereço fracamente.
Johnny suspira pesadamente.
— E um misto quente.
— Eles não deveriam estar prontos agora? — Eu pergunto.
— Merda!
Empurrando seu banquinho para trás, Johnny corre até a sanduicheira e os
puxa para fora.
— Não estão bem queimados — ele anuncia com uma carranca. — Mas
eles estão bem no caminho.
— Está tudo bem — eu asseguro a ele enquanto pulo do banco. — Eu
gosto deles crocantes.
Levantando nossas duas tigelas, vou até a pia para lavar.
— Nem pense nisso — Johnny avisa enquanto serve nossos sanduíches.
— Pensar sobre o que? — Eu pergunto, confusa.
— Você não está lavando uma maldita coisa no seu aniversário — afirma,
segurando um prato em cada mão.
— Eu não me importo...
— E seu rosto. — Ele balança sua cabeça. — E sua mãe. Cristo, é seu
aniversário.
— Você disse que poderíamos esquecer isso — eu solto, sentindo minha
voz tremer, enquanto o pânico se instala.
Eu não queria pensar sobre isso.
Eu sabia o que estava por vir quando sair desta casa.
E eu queria esquecer.
Por mais algumas horas, eu queria fingir que o inferno não estava
esperando por mim do outro lado da porta da frente.
Johnny parece querer lutar comigo, mas ele balança a cabeça e exala um
rosnado baixo.
— Você está certa. Me desculpe — ele finalmente diz. — Deixe as tigelas
na pia e venha comigo. Vou resolver isso mais tarde.
Era contra minha natureza deixar uma bagunça atrás de mim, mas
obedeço às instruções de Johnny e o sigo de volta pelo corredor até uma
grande sala de estar com um fogo crepitante já queimando na lareira.
Sem pensar nisso, vou direto para ele, gemendo de alívio quando o calor
flutuou contra minhas pernas e mãos nuas.
Johnny coloca os pratos na mesa de vidro em frente ao fogo e depois
arrasta o sofá da parede, colocando-o bem na frente da lareira.
— Você não tem que fazer isso para meu benefício — eu me apresso em
dizer.
— Está congelando — ele explica. — E esta casa é tão grande que leva
uma eternidade para aquecer. — Acenando com a mão na frente do sofá, ele
diz: — Sinta-se em casa. Estarei de volta em um segundo.
Sem outra palavra, Johnny sai, deixando-me sozinha em sua enorme sala
de estar.
Atordoada demais para fazer qualquer coisa além de olhar, eu permaneço
perto do fogo, aquecendo minhas costas da mão e disputando minhas
emoções em contato.
Quando Johnny volta alguns minutos depois, traz duas canecas de chá.
— Dois açúcares e uma pequena gota de leite — ele anuncia com uma
piscadela, colocando as canecas ao lado de nossos pratos.
— Obrigada — eu sussurro, esmagada por sua bondade.
Johnny sentou-se em uma ponta do sofá e arqueou uma sobrancelha para
mim.
Depois de alguns minutos de debate interno, eu o sigo cautelosamente,
pegando a outra ponta do sofá, deixando um espaço entre nós.
Agarrando o controle remoto, Johnny liga a televisão que estava montada
na parede acima da lareira.
Era enorme.
Pelo menos 80 polegadas.
— Alguma preferência? — ele me pergunta, percorrendo o guia de canais
na tela.
Eu balanço minha cabeça.
— O que você quiser.
— A aniversariante escolhe.
Eu coro.
— Surpreenda-me.
Johnny olha para a televisão e sorri timidamente.
— A Irlanda está jogando no Six Nations daqui a pouco. — Dando de
ombros, ele acrescenta: — Eu estava pensando em assistir.
— Então coloque — eu encorajo.
Suas sobrancelhas se erguem.
— Você não se importa?
— É a sua televisão — eu respondo. — Por que eu me importaria?
— Se você ficar entediada, apenas me diga, — ele murmura enquanto liga
a televisão, a atenção imediatamente colada na tela — e podemos colocar
outra coisa.
Quando a equipe principal irlandesa entra em campo para o hino nacional,
o rosto inteiro de Johnny se ilumina.
Seus olhos dançam de excitação enquanto ele bate a mão no sofá.
Ele parece muito jovem.
E adorável.
Espero Johnny pegar seu sanduíche antes de pegar o meu e dar uma
pequena mordida.
O gosto de presunto e queijo derretido goteja na minha língua e eu gemo
antes de me apressar para devorá-lo.
— Eu vou estar lá um dia — afirma Johnny, inclinando a cabeça na
direção da televisão. — Um dia desses serei eu, Shannon.
— Eu sei — eu respondo, acreditando em cada palavra. Mordendo o
lábio, me viro para encará-lo e digo: — Não se esqueça de mim quando você
for um jogador de rúgbi rico e famoso.
— Você nunca sabe — ele diz com um sorriso. — Eu posso levar você
comigo para que você possa torcer por mim nas arquibancadas.
Por favor faça.
Por favor, me leva embora com você.
— Você é muito seguro de si mesmo — eu digo em vez disso.
— Você pode usar meu número e gritar “Johnny, Johnny” das
arquibancadas — ele riu antes de se sentar para assistir ao jogo.
Não me tente...
Sentada no sofá na sala de estar de seus pais com uma lareira crepitando e
a chuva caindo do lado de fora da enorme janela da sacada, sinto meu corpo
relaxar lentamente enquanto tento acompanhar a partida.
Eu não estava forçando a conversa para quebrar silêncios desconfortáveis
porque não havia nenhum.
Neste momento, estar aqui com ele era tão fácil quanto respirar.
Era uma reação estranha estar tão perto de Johnny, mas aqui estava.
Eu estava gostando de estar com ele.
Ele não me pressiona para falar e eu gosto disso.
Ele apenas se senta ao meu lado, com uma enorme almofada entre nós e
Sookie aos nossos pés, enquanto grita ordens para a televisão.
Quando Johnny estica as pernas em cima da mesa de café, espero uns
bons dez minutos antes de tentar fazer o mesmo, apenas para falhar
epicamente quando meus dedos mal tocaram o canto antes de bater no chão.
Rindo baixinho, Johnny estende a mão e arrasta a mesa para mais perto do
sofá.
Envergonhada, mantenho meus pés firmes no chão.
Menos de um minuto depois, Johnny estende a mão, levanta minhas
pernas e as coloca sobre a mesa.
Eu me viro para olhar para ele, mas sua atenção estava de volta na tela.
De vez em quando, Johnny pausava a partida para colocar um pouco de
carvão ou blocos no fogo antes de voltar a se sentar no sofá.
Depois da terceira vez que ele fez isso, eu puxo a almofada do seu
caminho quando ele se senta novamente e a seguro contra o meu peito.
No final da partida, nossos ombros estão se tocando.
Eu não me afasto.
Ele era grande e sólido e quente e eu gostava de senti-lo ao meu lado.
Um pouco mais tarde, quando meus olhos começam a fechar, ele levanta o
braço, e eu nem vacilo quando ele o desce ao redor do meu ombro.
Em vez disso, eu aninho minha bochecha contra o seu lado e fecho meus
olhos, me permitindo cair no sono sem um pingo de medo em meu coração,
porque não poderia existir isso dentro de mim, não quando esse garoto
estava com o braço em volta de mim.
38

JOHNNY

É o aniversário dela.
Hoje é o décimo sexto aniversário de Shannon.
E ela está passando ele comigo.
Eu estou feliz.
Quão louco é isso?
Essa garota que antes do Natal era uma total estranha, e desde o Natal, eu
não consigo imaginar passar um dia sem pensar nela.
Eu não quero devolvê-la.
Algo dentro de mim me dizia que se eu fizesse, ela voltaria com outra
contusão.
Pelo menos se eu a mantivesse comigo, ela estaria segura.
Havia algo muito fodido em sua vida.
Algo que me faz querer arrebatá-la e levá-la comigo, onde quer que seja.
Eu não era estúpido.
Eu sabia que alguém tinha colocado aquelas marcas em seu rosto.
E em suas coxas.
E em seus braços.
E eu tinha quase certeza de que se eu desnudasse a garota, eu encontraria
muito mais.
Eu não sabia o que estava acontecendo, ou quem a estava intimidando,
mas eu descobriria.
No entanto, perguntar diretamente a ela estava fora de questão.
Ela era tão malditamente reservada que era quase impossível penetrar nas
paredes que ela construiu ao redor de si mesma.
Acho que posso estar fazendo um bom trabalho, mas se eu empurrar
muito rápido demais, ela vai recuar de volta em sua concha.
Eu quero esmagar aquela porra de concha e os bastardos responsáveis por
fazê-la se esconder lá em primeiro lugar.
Ela era adorável.
Fodidamente adorável.
Ela não precisa esconder nada de seu brilho atrás daquela maldita dor.
Shannon estremece então e o movimento me distrai.
Já eram dez da noite e ela não abriu os olhos uma vez desde que
adormeceu esta tarde.
— Shh — eu sussurro quando ela choraminga em seu sono.
Eu nem tento me impedir de acariciar seu cabelo.
Eu estou além de ajuda quando se trata dela.
Eu estou além da porra de parar.
Tudo dentro de mim está mudando, focando nessa garota.
Aninhando sua bochecha contra minha coxa, Shannon se aconchega mais
perto, enrolando-se na menor bola que eu já vi uma pessoa da idade dela
contorcer seu corpo.
Como a aberração obsessiva que eu era, permito que meu olhar pousasse
em sua bochecha machucada pela milionésima vez esta noite.
Eu sei que não deveria olhar para isso.
Isso faz meu corpo vibrar de raiva.
E ainda assim, eu não consigo me conter.
Olho para a marca em seu rosto até estar suficientemente cheio de raiva
para derrubar uma aldeia inteira, e então volto minha atenção para os
hematomas em suas coxas.
Meu telefone vibra no meu bolso então, e a sensação me tira dos meus
pensamentos assassinos.
Puxando meu telefone, olho para a tela, não reconhecendo o número
piscando na frente dos meus olhos.
Com cuidado para não acordar Shannon, eu deslizo para fora do seu lado e
espero que ela se acalme.
Tirando meu moletom, eu o coloco sobre suas pernas nuas e então saio do
cômodo para atender a ligação.
— Sim? — Eu digo quando eu estou no corredor.
— Como ela está? — A voz de Joey Lynch vem na linha.
— Ela está dormindo — eu respondo, mantendo meu tom baixo porque se
ela acordasse e pedisse para ir para casa, eu honestamente não sabia o que
faria. Eu não posso recusar, mas certamente não quero. — Ela esteve fora o
dia todo.
— Bom — ele responde com um suspiro. — Ela precisava.
— O que está acontecendo, Lynch? — Me movendo para a porta da
frente, eu a abro e entro no ar frio da noite. — Que porra está acontecendo
com sua irmã?
— Eu já te disse — ele retruca. — Pergunte a ela.
— Eu estou perguntando a você — eu rosno.
— Estarei na sua casa em cinco minutos — é tudo o que Joey responde
antes de cortar a ligação e me deixar tão sem noção como sempre.
Furioso e completamente perdido, eu ando pelo corredor, sabendo que eu
preciso me controlar, mas não encontrando a contenção para fazer isso.
Exatamente cinco minutos depois, uma pequena batida vem do outro lado
da minha porta da entrada.
Como o lunático furioso que eu sou, eu estava lá esperando por ele.
Abro a porta com força, abro minha boca, pronto para perder a cabeça
com Joey Lynch, quando a voz de Shannon vem atrás de mim.
— Joe? — ela diz com uma voz sonolenta enquanto paira na porta da sala.
Eu me movo para ir até ela, para dizer a ela para ir para o meu quarto e
ficar lá, mas seu irmão a intercepta antes que eu possa.
— É hora de ir, Shan — Joey anuncia.
— É? — Seus olhos se arregalam em pânico por um breve momento antes
de mudar para a resignação. — Ok.
— Sim. — Ele exala uma respiração pesada. — A mãe precisa de uma
ajuda com as crianças.
— Ela pode ficar — eu me apresso em dizer. Olho para Shannon e
acrescento: — Você pode ficar.
— Não, nós precisamos ir — Joey declara enquanto coloca um braço
protetor em volta do ombro de Shannon e a leva para fora da minha casa. —
Obrigado por sua ajuda, Kavanagh.
Agitado, eu sigo atrás dos dois.
— Obrigada, Johnny — Shannon sussurra, olhando para mim com olhos
tristes enquanto seu irmão a leva para fora. — Por tudo.
— Shannon, você não precisa…
— Vamos, Shan — Joey me interrompe dizendo. — Precisamos chegar
em casa.
— Mamãe está bem? — Shannon pergunta quando seu irmão a leva até o
lado do passageiro e abre a porta.
— Ela vai ficar bem — Joey diz a ela. — Mas precisamos ir para casa.
Eu não tinha a menor ideia de por que minhas pernas me movem para o
lado do passageiro do carro, mas foi o que aconteceu.
Me sentindo impotente, observo enquanto seu irmão a coloca no banco do
passageiro antes de dar a volta no carro para o lado do motorista.
— Tchau Johnny — Shannon sussurra enquanto Joey liga o motor.
Ela se move para fechar a porta do carro, mas minha mão se move para
fora, impedindo-a de fechá-la.
Ela olha para mim com aqueles grandes olhos azuis.
Fique.
Fique comigo, Shannon.
Eu posso mantê-la segura...
— Tchau, Shannon — eu digo a ela em vez disso, e com uma relutância
que beirava ao arrependimento, fecho a porta.
Os pneus do carro de seu irmão derrapam com a força que ele arranca da
minha garagem.
De pé na chuva torrencial, eu o observo levá-la para longe de mim.
39

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SHANNON

— Você está sentindo isso também? — Joey fala, as mãos agarrando o


volante com tanta força que deixa os nós dos dedos brancos, enquanto nos
afastávamos da casa de Johnny Kavanagh.
— Sentindo o quê? — Eu falo com a voz nasalada.
Joey me olha nos olhos e me faz sentir um pouco menos sozinha em
minha desgraça quando diz:
— Alívio?
Eu balanço a cabeça, me odiando por sequer pensar nisso, mas eu sinto.
E ele também.
— Ela está bem? — Eu resmungo, quando as palavras me encontram
novamente.
Joey assente rigidamente.
— Deve estar.
— Foi isso que aconteceu? — Eu sussurrei, sentindo as lágrimas
pinicando meus olhos enquanto o desgosto e o ódio a mim mesma tomam
conta. — Ela esteve no hospital todo o fim de semana e nós não sabíamos?
Mais uma vez, meu irmão assente rigidamente.
— Oh, Joey — eu soluço — Ela estava sozinha.
— Ela o aceitou de volta — Joey fala, mandíbula apertada. — Ele estava
com ela, e ele está em casa agora.
— O que nós vamos fazer? — Eu pergunto, precisando que ele tivesse as
respostas que eu não tinha. — Joe?
— Eu não sei — ele finalmente fala, a voz falhando. — Eu não sei mais o
que fazer, Shannon.
— Está tudo bem — eu me forço a dizer. — Você não precisa saber. Você
tem apenas dezoito anos.
— Eu não posso ficar lá, Shan — ele finalmente diz, com o rosto
inundado de culpa. — Eu não posso mais viver assim.
— Eu sei — eu respiro, me sentindo fraca ao ouvir aquelas palavras
saírem de sua boca.
Eu ouvi essas palavras antes.
De Darren.
— Acho que devemos considerar o que Aoife disse — acrescenta Joey, a
voz cheia pela emoção.
— E o que Aoife disse? — Eu falo, horrorizada.
— Denunciar.
— Você deve estar brincando — eu brinco.
Joey olha para mim com olhos culpados, mas não responde.
— Eu não estou indo para outra casa — eu cuspo, me sentindo traída. —
Você está bem. Você vai viver sua própria vida e ir embora. Eu serei
colocada em um lar adotivo!
— Shannon, ela estava falando comigo ontem à noite sobre o meu futuro,
e ela fazia muito sentido…
— Seu futuro — eu caçoo.
Joey geme alto.
— Não só eu, Shannon. Todos nós…
— Eu não posso acreditar que você sequer pensaria depois do que
aconteceu com Darren! — Eu grito, perdendo todo o controle sobre minhas
emoções. — Como você pode pensar em fazer isso conosco, Joey?
Meu pai me aterroriza.
Ele me bate.
Eu vivo com medo constante.
Mas ele nunca me tocou assim.
Ele nunca me estuprou.
Que é exatamente o que aconteceu com Darren repetidamente por meses e
meses, repetidamente até que quase o mataram.
Li os relatórios anos depois do ocorrido.
Eu sabia tudo sobre as cirurgias que ele teve que fazer para reparar o dano
que aqueles bastardos causaram a ele.
E agora Joey estava pensando em arriscar isso?
Volte.
Faça a volta com o carro e volte para ele.
Volte para Johnny.
Diga a ele.
Diga a ele e o deixe ajudá-la.
Ele lhe disse que ajudaria.
Não, sua idiota, ele não pode ajudá-la.
Ninguém pode.
Seu próprio irmão está desistindo de você!
— Se você quer ir, então vá! — Eu grito enquanto lágrimas quentes
escorrem pelo meu rosto. — Vá embora e nos deixe. Vá ficar com Aoife e
tenham uma vida maravilhosa juntos. Eu protegerei os meninos.
— Você não pode nem se proteger! — Joey ruge. — Eu estou fazendo
isso, Shannon.
— Então talvez você e papai tenham sorte e ele vai acabar comigo da
próxima vez. — Eu assobio enquanto um enorme soluço me atravessa. —
Vai poupar a você a preocupação, e a ele a energia.
— Não diga isso, Shannon! — Joey berra, batendo a mão no volante.
— Por que não? — Eu falo entre suspiros. — É a verdade.
— Shannon, respire — Joey ordena em um tom mais suave quando ele
estende a mão e esfrega minhas costas. — Respire.
Eu não consigo
Eu não consigo respirar, porra.
Me inclinando para frente, tento desesperadamente puxar o ar para os
meus pulmões.
— Boa menina — Joey persuade enquanto dirige com uma mão e esfrega
minhas costas com a outra. — Bom e lentamente.
Quando voltamos para casa, consigo me acalmar a ponto de conseguir
realmente arrastar o ar para os meus pulmões.
Por vários minutos, ficamos sentados do lado de fora da casa, olhando
para o carro do nosso pai estacionado na garagem.
Eu não queria entrar naquela casa.
E nem Joey.
Nós dois estávamos completamente ferrados.
Não, você está ferrada. Ele vai ficar bem...
— Shannon? — A voz de Joey atravessa meus pensamentos.
Eu não olho para ele.
Eu também não respondo.
— Você está me ouvindo? — ele perguntou.
Eu balanço a cabeça fracamente, mantendo meus olhos fixos no carro.
— A próxima vez que ele colocar as mãos em você, eu quero que você
revide.
Eu endureço.
— Você está me ouvindo?
Eu balanço a cabeça.
— Se ele te tocar de novo, Shannon, então eu quero que você pegue a faca
mais afiada que você puder, e eu quero que você a enfie no coração dele.
Fungando, eu me viro para olhar para ele.
— Você não vai voltar, não é?
Joey apenas olha para mim, os olhos cheios de lágrimas.
— Eu não posso — ele sussurra enquanto uma lágrima rola pelo seu rosto.
— Se eu voltar para dentro daquela casa, vou matar os dois.
Eu observo seu rosto, registro a verdade que ele está me dizendo, e então
solto meu cinto de segurança e abro a porta.
— Adeus, Joey — eu sussurro entorpecida, e então eu saio e entro.
40

LINHAS E TRATORES

JOHNNY

Eu estava com um humor horrível na segunda de manhã que foi


parcialmente impulsionado pela dor terrível que eu estava sentindo, mas
principalmente atribuído ao fato de que eu não tinha pregado os olhos na
noite passada.
Durante toda a noite, eu tinha me revirei na cama pensando em Shannon.
Durante toda a maldita noite, fiquei acordado com apenas meus
arrependimentos para me fazer companhia – e aquela maldita foto do jornal.
Eu deveria tê-la impedido.
Eu não deveria ter deixado ele levá-la.
Ora, eu não tinha nenhuma pista, mas havia uma voz dentro da minha
cabeça gritando para eu protegê-la.
Eu queria.
Eu só não sabia do que eu precisava para protegê-la.
Ou de quem.
Eu estava completamente sem pistas, armado e pronto para ir à guerra por
uma garota que eu não conhecia, contra um inimigo que ninguém me conta
quem é.
Jesus, eu estou tão fodido da cabeça por ela.
Estou ficando fora de controle.
Ela está atrapalhando meu modo de vida perfeitamente satisfeito, e eu não
sei como lidar com isso.
A garota fode com a minha cabeça e me deixa fraco e vacilante.
Não está certo, e ela não tem que entrar na minha vida neste momento
crucial.
Ela era como um tornado que eu nunca vi chegando.
O único problema que eu não previ ao fazer meus planos.
A única pessoa por quem eu posso arruinar todo o meu trabalho duro.
E a coisa mais estressante sobre tudo isso era que eu gostava.
Eu gosto do fato de que ela estava virando minha vida de cabeça para
baixo e encorajando noções e sentimentos nunca vistos dentro de mim, e
então eu odeio que eu gosto.
Eu estava completamente viciado em cada coisa sobre a garota e não tinha
nada a ver com o físico – e o físico era perfeito para caralho.
Mais importante, ela não olha para mim como se eu fosse um vale-
refeição.
Ela olha através de todas as besteiras.
Me vê.
Apenas me vê.
E isso me faz querer arrumar alguma merda e colocar ela bem no centro
do meu mundo.
Eu sei que preciso me controlar.
Exceto que eu não posso.
Porque ela é viciante.
E eu estou obcecado.
Perdi a conta do número de caras com quem joguei rúgbi ao longo das
temporadas que desistiram ou perderam a forma por causa de uma garota.
Eu não posso permitir que isso aconteça comigo.
Há muito em jogo.
Tudo está em jogo.
Antes de Shannon, eu nunca tive nenhum problema de concentração.
Antes dela, eu nunca tive dúvidas sobre nada.
Eu sabia exatamente quem eu era, de onde eu tinha vindo e para onde
estava indo.
E agora?
Agora eu estou uma bagunça.
Eu não preciso disso.
Eu não preciso dessa porra de estresse.
Eu tinha exames de aptidão em menos de três semanas que eu precisava
me concentrar.
Exames que, se eu não passasse, colocariam todo o meu futuro em risco.
Era nisso que eu precisava me concentrar.
Minha carreira.
Não numa garota.
No momento em que chego à escola, eu estou distraído, desequilibrado e
enlouquecendo.
Há algo muito errado comigo e eu preciso de uma intervenção imediata.
— Preciso de um favor — são as primeiras palavras que saem da minha
boca quando encontro Gibsie do lado de fora da sala de carpintaria antes da
primeira aula. — Sério! — Exalando uma respiração áspera, eu o empurro
pelo corredor em direção à área comum do quinto ano. — Você precisa me
ajudar.
— Ok, mas eu tenho aula em dois minutos — Gibsie reclama, arrastando
os pés na minha frente.
— Eu também, Gibs — eu rebato, conduzindo-o para a sala comunal,
felizmente, vazia. — Aula dupla de contabilidade com Dan Peludo. Mas isso
é muito mais urgente do que eu balancear planilhas e você projetando a
porra de uma mesa de centro para sua mãe.
— Tudo bem, rapaz, relaxe — ele me convence. Sacudindo de meu
aperto, ele caminha até uma das mesas e puxa uma cadeira. Largando sua
bolsa no chão, ele se senta e me encara. — Sou todo ouvidos.
Batendo a porta atrás de nós, pego uma poltrona de couro e a empurro
contra a porta antes de cair na cadeira.
— Você estava certo, Gibs — eu gemo. — Estou tão ferrado.
— Eu estou? — Suas sobrancelhas se erguem em surpresa. — Sobre o
que? — Antes que eu tivesse a chance de responder, seus olhos se arregalam
em uma consciência cômica. — Sobre você se masturbar? — Ou, pelo
menos, teria sido cômico se não fosse tão deprimente. — Puta merda,
Johnny. Você não tem feito ou não pode?
— Eu tentei, falhei, não tentei desde então, então agora tenho quase
certeza de que não posso — decido falar.
Não faz sentido tentar evitar a pergunta.
Ele não ia deixar passar, e eu tinha problemas maiores agora do que minha
testosterona temperamental.
— Há quanto tempo?
— Antes do Natal — respondo rapidamente antes de dizer — mas esse
não é o problema aqui.
— Jesus, Kav, eu diria que isso é um grande problema, cara. — Gibsie
solta um assobio baixo. — Você já experimentou lubrificante?
— O que – não! Pare de falar sobre o meu pau — eu lato, então passo a
mão frustrada pelo meu cabelo. — É ela, cara. Você estava certo. Estou
completamente fodido da cabeça, e preciso que você me impeça de fazer
algo estúpido com aquela garota.
— Qual garota?
— Que garota você acha, idiota? — Eu rosno. — Shannon.
— Ah, essa garota. — Gibsie ri. — A ressuscitadora.
— Pare de rir. Não é engraçado. Eu preciso da sua ajuda. — Eu rebato,
nervoso — E ressuscitadora não é uma palavra.
— Sim, é — Gibsie desafia. — Jesus ressuscitou. Foi uma ressurreição
realizada por Deus: o ressuscitador. Semelhante a Shannon: a ressuscitadora
de suas bolas naquele dia fora do ginásio de educação física. — Rindo, ele
acrescenta com uma voz profunda: — Ela aparecerá e ele se levantará.
— O que fez de Deus um ressurreicionista — eu rosno. — Em nenhum
lugar da língua inglesa ele foi chamado de um maldito ressuscitador.
— Estou falando da Bíblia, não do dicionário.
— Você está falando da sua bunda — eu rebato.
— O exterminador é chamado da porra de exterminador, idiota — Gibsie
retruca. — Não um maldito terminista.
— Terminista — eu medito. — Outra palavra que não é uma palavra.
— Bem, ressuscitador é uma palavra.
— Não, não é, caralho — Eu balanço minha cabeça, irritado. — Não é
foneticamente ou gramaticalmente correto.
— Gramaticalmente correto?— Gibsie rebate a mim. — Olhe para você,
senhor inglês de nível superior, pensando que sabe tudo com seu Grande
Gatsby e Shakespeare. Bem, não desta vez. — Ele bate em sua têmpora. —
Desta vez, eu sou o inteligente.
— Se chama compreensão básica, Senhor Inglês no nível do fundamental,
e estou lhe dizendo agora que você está errado.
Ele coça a cabeça.
— Concentre-se, Gibs — eu ordeno. — Eu preciso de sua ajuda aqui,
cara.
— Eu não posso — ele resmunga, sobrancelhas franzidas profundamente.
— Eu sei que estou certo, Johnny, eu vou à missa todo domingo, você sabe.
— Bom para você — eu zombo. — Talvez você devesse orar a Jesus por
algum bom senso... — Minhas palavras saem da minha língua quando ele se
aproxima de mim e arrasta meu assento para fora do caminho. — Droga,
Gibs! — eu lato. — Onde diabos você está indo?
— Para a biblioteca — ele joga de volta, abrindo a porta. — Você está
errado. Estou pesquisando no Google. E então estou imprimindo e
publicando em toda a porra da escola — acrescenta enquanto sai da sala. —
Me assista ressuscitar a verdade.
— Tudo bem — eu murmuro, cansado. — Vá em frente.
Menos de dez minutos depois, Gibsie volta com uma expressão tímida.
— Não é uma palavra — ele anuncia, voltando pela porta.
— Eu sei — eu brinco. — Agora que você tem isso resolvido em sua
cabeça, você acha que pode me ajudar?
— Eu simplesmente não entendo — Gibsie geme, se jogando na poltrona
em frente à minha. — Como não é uma palavra?
— Gibsie, por favor!
— Eu só quero a palavra, Johnny.
— Tudo bem, é sua palavra — eu concordo, exasperado. — Você pode tê-
la. Porra, ligue para o Dicionário de Oxford e marque a maldita palavra
sangrenta para tudo o que me importa. Apenas me ajude.
— Sim, bem, eu poderia fazer isso — Gibsie bufa, passando a mão pelo
cabelo loiro. — Certo, me conte sobre o seu problema.
Eu exalo um suspiro pesado.
— Eu gosto dela.
— Okaaay — ele fala lentamente. — Diga-me qual é o problema?
— Esse é o meu problema — eu digo. — Eu gosto dela, Gibs. Acho que
gosto muito dela, cara. Gosto muito mesmo. Muito mais do que gosto.
Cristo!
Ele dá de ombros.
— Ainda não vejo o problema aqui, rapaz.
— Eu. Não. Quero. Gostar. Dela — eu soletro para ele, sem paciência
agora.
— Porque ela tem quinze anos e você tem dezessete?
— Ela tem dezesseis — eu admiti com um gemido. — O aniversário dela
foi ontem.
— Então você sabe que a idade é uma merda, não é? — Gibsie contra-
ataca. — Você está se agarrando a migalhas, cara. A coisa da idade é uma
desculpa grande e gorda porque sua Shannon te abalou e você está em
pânico porque você nunca se sentiu abalado um dia em sua vida.
— Eu estou abalado — admito sem hesitação. — Completamente
fodidamente abalado.
— Isso é brilhante — Gibsie ri alegremente, apreciando completamente
meu raro colapso.
— Não é uma questão de rir — eu rebato.
— Você está brincando comigo? — ele bufa. — É a coisa mais engraçada
que já ouvi em anos.
Percebendo minha expressão assassina, ele para de rir e gesticula para que
eu continue.
Inclinando para frente, ignoro a dor na minha virilha e descanso os
cotovelos nas coxas.
— Eu a levei para casa na outra semana, cara. Ela perdeu o ônibus por
causa daquela façanha que McGarry fez do lado de fora dos banheiros, e eu
não podia deixá-la lá…
— E você só está me contando agora? — ele acusa.
Eu dou de ombros impotente.
— Eu sei que deveria ter ido embora, mas não fui. Eu a coloquei no meu
carro e conversamos, por horas. E não apenas sobre rúgbi, Gibs. Sobre todas
as besteiras aleatórias e sem sentido que deveriam ter me entediado até a
morte. Não aconteceu. Foi como naquele dia em que eu a nocauteei e passei
uma hora do lado de fora do escritório de Twomey conversando com ela, só
que melhor porque ela estava em pleno juízo. Ela é tão fácil de conversar,
Gibs. Tipo você não acreditaria. — Solto um suspiro pesado e digo: — Eu
não queria deixá-la ir, cara.
Gibsie esfrega o queixo.
— Merda.
— Exatamente. — Me inclinando para frente, junto minhas mãos
frouxamente e olho para meu melhor amigo. — Em todos os anos que você
me conhece, Gibs, quando isso já aconteceu comigo?
— É definitivamente a primeira vez para você — ele concorda, com uma
expressão pensativa.
— Está ficando pior — eu murmuro.
— Pior? — Ele franze a testa. — Como?
— Eu contei a ela sobre minha cirurgia.
As sobrancelhas de Gibsie se erguem.
— Você está falando sério?
— Tão sério quanto um ataque cardíaco. — Solto um suspiro frustrado. —
Eu contei tudo a ela e então perdi minha cabeça com ela.
— Por que?
— Eu entrei em pânico, Gibs — eu retruco defensivamente. — Ele escapa
e eu entro em pânico. Você sabe o que aconteceria se a notícia chegasse aos
treinadores do Sub-20 de que eu não estou totalmente em forma.
Não que isso importasse muito agora, penso amargamente. Se eu não me
recompor, meus sonhos iriam pelo ralo.
— E você acha que ela falaria? — ele pergunta.
— Honestamente, não, cara. Eu não acho que ela seja o tipo de garota que
fala sobre ninguém — eu digo a ele. — Mas eu sou sempre tão cuidadoso, e
eu perdi a cabeça e isso me assustou. Eu estava mais irritado comigo mesmo
do que qualquer coisa e exagerei. — Abaixando a cabeça de vergonha,
acrescento: — Tenho certeza de que a fiz chorar.
— Então, você se ferrou?
— Você pensaria que sim — eu murmuro. — Mas então ela veio até mim
na escola na manhã seguinte e se desculpou comigo.
— Por que?
— Sei lá porra, cara.
— Você a corrigiu?
— Não pude, ela foi embora antes que eu tivesse a chance — eu
murmuro. — E então eu fiz isso de novo na sexta-feira.
— Fez o quê?
— A coloquei no meu carro — eu admito.
— Bem, merda.
— E então eu fiz mais uma.
— Como?— Gibsie me olha com cautela. — O que você fez, Johnny?
— Eu a deixei em casa. — Expulsando outra respiração frustrada, eu caio
para trás em meu assento e gemo. — Mas então eu a peguei de volta.
— Que porra é essa?
— Eu sei — eu lato. — Eu sei.
— Como você pega uma garota, Johnny?
Eu dou de ombros, impotente.
— Sei lá porra, mas eu fiz isso.
— Por que?
— Porque eu não podia deixá-la ir — eu admito sinceramente, mantendo
a parte sobre Shannon estar mal. — Eu não podia deixá-la me deixar, rapaz.
— Você a pegou?
— O que eu acabei de te dizer sobre o meu pau?
— Ok, você tentou pegá-la?
— O que… não! — eu lato. — Eu a levei para Biddies, idiota.
— Isso deveria significar algo para mim? — Gibsie atira de volta. — É
comigo que você está falando, cara. Estou bem fodidamente ciente do que
acontece no lugar. — Rindo, ele acrescenta: — Eu geralmente estou no meio
disso.
— Não, eu não a peguei. E não diga sobre pegações.
— Por que não?
— Não sobre ela. — Me inclinando para trás, belisco a ponta do meu
nariz e suspiro. — Só... não sobre ela, ok?
— Tudo bem, você fez amor com ela? — ele provocou. — No
estacionamento? Ou nos banheiros? Ou naquele lugar legal na parte de trás
do salão?
— Você é um babaca — eu rosno. — Um idiota completo e absoluto.
— Oh, meu Jesus! — Gibsie se encolhe e bate a mão na boca. — Ah, não
— ele geme. — Não funcionaria, não é?
— Meu pau funciona, Gibs! — Eu falo. — Eu fico duro, idiota. Só dói
quando eu…
— Quando você o quê? — ele perguntou, os olhos arregalados.
— Eu não consigo terminar — eu murmuro.
— Você não pode gozar? — ele engasga. — Como assim?
— Quero dizer, eu suponho que eu poderia se eu tentasse. — Eu suspiro
desanimado. — Mas a última vez que tentei foi tão doloroso que vomitei e
quase desmaiei.
— Jesus. Quando foi a última vez que você tentou?
— Noite de St. Stephen.
— Puta merda — Gibsie ofega. — Johnny, isso foi há meses. Você precisa
gozar, cara.
— Porra, você não acha que eu sei disso? — Eu falo mordaz. — Não é
como se eu estivesse gostando disso, Gibs.
— Isso não é natural.
— Sim, Gibs, é meu pau. Estou bem ciente de como é anormal.
— Não é à toa que você está mancando — ele murmura. — Suas bolas
estão tão cheias de porra que estão pesando em você.
— Não é engraçado, Gibs.
— Oh, Jesus. E se eles te costuraram errado? — ele sibila, olhos
esbugalhados. — Porra, cara, e se eles cortaram um cordão de esperma
quando estavam mexendo perto de suas bolas?
— Um cordão de esperma? — Eu fico boquiaberto para ele. — Que tipo
de droga que você está tomando?
— Eu li sobre esse procedimento, você sabe — afirma, parecendo
horrorizado. — Tantas coisas podem dar errado…
— Não. — Eu balanço minha cabeça, enterrando meu terror. — Elas não
podem.
— Sim, cara — ele engasga. — Elas realmente podem. Eles cortam você
tão perto do seu…
— Você pode parar! — Eu lato, estremecendo agora. — Jesus Cristo, eu
não posso ouvir isso.
— Eu sinto muito. — Sufocando uma careta, ele acena com a mão para
mim e diz: — Termine de me contar sobre o que aconteceu com Shannon.
— Eu não toquei nela. — Me movendo desconfortavelmente, eu murmuro
— Mas eu queria. — Eu deixo minha cabeça cair em minhas mãos e gemo.
— Depois de Biddies, eu sabia que precisava deixá-la em casa, mas não
podia, Gibs. Eu não podia, porra. Então eu a levei ao maldito cinema, ao
invés disso. Eu apenas... precisava de mais tempo com ela, sabe? Tipo, não
foi o suficiente. Eu precisava de mais...
— Mais? — Ele arqueia uma sobrancelha. — Mais do que, Johnny?
— Mais dela — eu respondo tristemente. — É tudo mais quando se trata
dela. — Eu balanço minha cabeça e suspiro pesadamente. — Jesus, eu a
quero tanto que não consigo pensar direito, Gibs.
— Carambolas — Gibsie medita.
— E eu dei uma surra em um idiota da velha escola dela no bar — eu
admito.
— Seu idiota do caralho — Gibsie retruca. — Alguém viu?
— Liam — eu murmuro, puxando meu cabelo. — Eu perdi a cabeça, cara.
Eles disseram algo sobre ela, e eu perdi o controle total e absoluto dos meus
sentidos.
— Você tem sorte que não voltou para Dennehy — ele aponta.
— Sim, Gibs — eu resmungo. — Estou bem ciente de quão perto cheguei
de me ferrar.
Não preciso de mais ninguém para me dizer...
— E ontem? — ele pergunta. — Na sua casa? O que foi isso?
Eu balanço minha cabeça e afundo na minha cadeira.
— A mãe dela teve um aborto espontâneo.
— Merda.
— Sim.
— Ela está bem?
— Não sei. — Eu dou de ombros, impotente. — Ele a tirou de mim.
— Quem a tirou?
— Joey, o arremessador.
— Bem, ele é irmão dela, cara — Gibsie oferece. — Ele obviamente ia
voltar para buscá-la.
— Eu não dou a mínima — eu rebato, pensando em seu rosto machucado.
— Eu não queria que ela fosse embora, Gibs, e ele simplesmente a tirou de
mim. E eu deixei!
— Você sabe que não tem permissão para manter humanos como animais
de estimação, não é? — ele pergunta em um tom irônico. — Você sabe que
são apenas cães e gatos, certo?
— Vai. Se. Foder — eu rosno.
— Relaxe — ele murmura. — Eu estava brincando com você.
— Bem, não é engraçado, Gibs — eu retruco. — Nada disso é divertido.
Levou tudo em mim para deixá-la ir com seu irmão ontem à noite. Tudo,
porra.
— Bem, cara — Gibsie finalmente diz, soltando um suspiro. — Diga-se
de passagem que pelo menos você pode finalmente admitir que gosta dela.
— Mas eu não quero malditamente gostar dela — eu digo. — Esse é o
ponto. Eu não tenho tempo para gostar dela. Eu não posso tê-la ocupando
minha cabeça, Gibs. Você sabe o que está em jogo para mim. Eu preciso
ficar no caminho certo, e essa garota faz minha mente desviar-se tanto da
trilha precisa que é ridículo.
Eu já estou em apuros.
— Bem, obviamente, você não tem nenhum controle sobre isso — Gibsie
respondeu em um tom estranhamente sério. — Não pode evitar gostar de
quem você gosta, Johnny. Essa é a vida.
— Não minha vida — argumento fracamente. — Não é assim que eu
funciono.
— É assim que todos nós funcionamos — ele corrige.
— A coisa é, Shannon não é apenas uma garota qualquer, Gibs — eu
solto. — Ela é diferente. Ela não é um casinho, ou uma foda e tchau, ou uma
grudenta procurando uma noitada. Eu não posso fodê-la para fora do meu
sistema. Ela nem sabia quem eu sou, cara. Ela não tinha nenhuma ideia,
porra. E era genuíno. Ela não estava fingindo. Eu conheci o suficiente dessas
interesseiras para durar uma vida inteira e eu poderia dizer que ela não tinha
ideia. — Eu balanço minha cabeça e caio contra o estofado. — E além de
tudo isso, ela é frágil.
— Frágil?
— Frágil — confirmo, sem vontade de dar mais informações.
— É por causa do que você leu nesse arquivo?
Eu olho para ele, tenso.
— Relaxe — ele me convence, levantando as mãos. — Eu nunca li. Eu
apenas devolvi para Dee.
Eu exalo pesadamente e assinto.
— Apenas acredite em mim quando digo que essa garota é uma linha que
não posso cruzar.
— Então não cruze — Gibsie respondeu depois de uma longa pausa. —
Se ela está te atrapalhando tanto quando você mal a conhece, então é melhor
você ir embora agora, cara.
— Essa é a coisa, cara... eu não sei se eu posso — eu admito com a voz
rouca. — Você sabe como eu sou quando coloco algo na minha cabeça. Eu
perco o controle de mim mesmo e vou com tudo.
— Claro que sim — Gibsie ri. — Você arrasa. Tudo e todos que ficam em
seu caminho.
— Bem, me pare!
— Pare a si mesmo — Gibsie bufa. — Exercite esse famoso autocontrole.
— Sorrindo, ele acrescenta: — Você teve bastante ultimamente.
— Você não entende, Gibs. A noite passada quase me matou. Eu juro, eu
passei a noite inteira acordado, olhando para minhas chaves e me forçando a
ficar na minha cama e não dirigir até lá e trazê-la para casa comigo — eu
admito mal-humorado. — Eu não tenho um pingo de autocontrole quando se
trata dela, e é por isso que preciso de sua ajuda.
— Então, o que você está me pedindo para fazer aqui, Johnny? — ele
pergunta, sorrindo. — Você está dizendo que quer que eu bloqueie você?
— Eu estou dizendo que se você me ver ultrapassando um limite, me puxe
de volta — eu digo. — Eu não confio em mim perto dela.
— Você percebe que as linhas que existem entre vocês dois são as que
você desenhou em sua cabeça?
— Eu não posso ir lá com ela, Gibs, e eu não vou.
— Você está falando sério?
Eu balanço a cabeça.
— Ela é muito perigosa para mim.
— Porque?
— Eu acabei de te dizer! — Eu falo.
— Não. — Ele balança a cabeça lentamente. — Você basicamente andou
em círculos aqui, cara. — Dando de ombros, ele acrescenta: — Eu não ouvi
um argumento decente contra ela ainda.
Eu não lhe respondo por três razões.
A primeira, ele não entenderia.
Segundo, ele não acreditaria em mim.
Terceiro, eu não tinha certeza se eu acreditava em mim mesmo.
— Então, você está feliz em apenas dar um passo para trás e assistir
McGarry ou algum outro palhaço na escola fazer um movimento? — Gibsie
pergunta então. — Você está completamente bem com isso?
A maneira como meu corpo se enrola automaticamente com a tensão é
resposta suficiente.
— Ela é uma garota linda, Johnny, com muito interesse direcionado a ela
— Gibsie afirma calmamente. — Não pode ter as duas coisas, cara.— Ele
encolhe os ombros. — Ou você a quer ou não quer. Ou você vai em frente,
ou dá um passo atrás.
— Não — eu rosno, tenso.
Era tudo que eu podia dizer.
Simplesmente não.
— E você tem certeza que não quer tentar a coisa toda de namorar com
ela? — ele pergunta.
— Não funcionaria — eu gemo. — Além do fato de que sou muito velho
para ela, e ela provavelmente não sente o mesmo, estou muito ocupado e
muito indisponível para me comprometer com qualquer coisa que se
assemelhe remotamente a um relacionamento.
— Quem disse?
— Você sabe como é minha vida, Gibs. — Eu exalei outro suspiro pesado.
— Você sabe por que sou desapegado. É muita pressão e não posso me dar
ao luxo de perder o foco. Não tenho uma hora livre no dia, e assim que o
verão chegar, estarei fora daqui. — Eu dou de ombros, impotente. — Como
isso é justo com alguma garota?
— Verdade — Gibsie medita. — Mas ela claramente não é uma garota
qualquer.
— Exatamente — eu grito. — Ela é muito... mais... muito... melhor...
muito... importante... — Parando, eu esfrego a mão no meu rosto. — Isso
nunca funcionaria — eu finalmente digo, com um tom cansado. — Eu
acabaria indo embora, eles escreveriam um monte de merda nos jornais e
online como sempre fazem enquanto eu estou fora, ela ficaria paranoica, eu
ficaria chateado, ela acabaria se machucando, e nós dois acabaríamos
completamente miseráveis.
— Uau — Gibsie respira. — Você pensou muito sobre isso, não é?
Cada minuto do dia desde que eu coloquei os olhos nela pela primeira
vez.
Eu balanço a cabeça tristemente.
— Então seja amigo dela — ele oferece.
Eu levanto minha cabeça.
— Amigo dela?
— Sim, idiota, amigo dela — Gibsie fala sarcasticamente. — Você está
ciente do conceito de amizade? Acredite ou não, você é realmente muito
bom nisso. E se algo mais estiver fora das cartas, e você não pode ficar longe
dela, então o cartão de amizade é sua melhor aposta.
— Mas ela é uma garota, Gibs.
Ele revira os olhos.
— Sim, Johnny, eu sei.
— Eu não tenho nenhuma garota que seja minha amiga.
— Bem, então, ela pode ser sua primeira.
Eu pondero o pensamento.
Eu poderia ser amigo de Shannon?
Eu poderia ser apenas amigo dela?
— Amigos — eu repito, levantando meu olhar para ele. — Eu acho que eu
poderia tentar?
— Agora você sabe do que está falando — Gibsie encoraja com um
sorriso satisfeito.
Eu poderia ser seu amigo.
Eu seria um bom amigo para ela.
Eu poderia tornar a vida mais fácil para ela.
Eu queria fazer isso por ela.
— Mas e se ela não quiser ser minha amiga? — Eu pergunto, sentindo
aquela onda desconhecida de incerteza que parece acompanhar qualquer
pensamento que eu tenho dessa garota.
— Mantenha essa patética conversa de merda e eu não vou querer ser seu
amigo, seu grande zé-boceta — Gibsie bufa. — E se ela não quiser ser
minha amiga — Ele zomba e então bufa — Vá para casa e encontre suas
bolas – lembre-se quem diabos você é – e enquanto você está procurando, dá
uma mãozinha para o seu pau. Mesmo se você desmaiar de dor, ter um
orgasmo tem que valer a pena.
— Então, você vai me ajudar? — Eu pergunto, escolhendo ignorar sua
última piada.
— A ter um orgasmo?— Gibsie joga de volta com um aceno de cabeça.
— Eu te amo, cara. Mas não o suficiente para bater uma para você.
— Vai se foder — eu resmungo.
— Relaxe — ele ri. — Estou brincando.
— Sim, minha vida é uma grande piada para você, não é? — Eu rebato.
— Não seja tão sensível — ele ri.
— Gibs — eu aviso. — Eu não estou brincando aqui. Eu preciso que você
me ajude com isso.
Ele solta um suspiro pesado.
— É o que você realmente quer?
Não.
— Tem que ser — eu resmungo.
— Tudo bem, cara, eu te ajudo — Gibsie respondeu com um suspiro. —
Mesmo que isso nunca funcione, você está fadado ao fracasso, e eu
provavelmente vou acabar dando o discurso de padrinho em seu casamento
em uma idade ridiculamente jovem, porque você terá arruinado com as
coisas, mas por enquanto, eu absolutamente vou ajudá-lo a enterrar sua
cabeça na areia.
— Isso não é engraçado, Gibs — eu rebato, irritado.
— Eu sei — ele responde, enquanto ele ri para caramba. — Isto é hilário.
— Nem um pouco — eu gemo.
41

BLOQUEIE

SHANNON

Passo a semana seguinte em casa, fora da escola, cuidando de meus irmãos e


minha mãe, que, como eu suspeitava, não está falando comigo.
Ela não estava falando com nenhum de nós.
Exceto ele.
Ele está de volta.
Assim como eu sabia que ele estaria.
O aborto tinha sido a oportunidade perfeita para meu pai abrir caminho de
volta para as emoções frágeis de minha mãe.
Quando ele voltou naquela noite, Joey foi embora.
Ele foi embora e não voltou para casa por três dias.
Naqueles três dias, vivi aterrorizada, temendo que ele nunca voltasse para
casa.
Ele finalmente voltou.
Mas eu sei que não será para sempre.
Um dia desses, Joey sairá por aquela porta da frente como Darren tinha
feito e nunca mais voltará.
A mãe volta ao trabalho no sábado seguinte.
Como um robô, ela veste seu uniforme de limpeza, desce as escadas,
prepara uma xícara de café, fuma sete cigarros e sai para o trabalho.
Eu sei que mamãe não deveria estar trabalhando em sua condição, ela
claramente não estava no estado de espírito certo, mas quando tento dizer a
ela, tudo o que ela fez foi me dar um meio sorriso, beijar minha bochecha e
sair pela porta.
Passo o dia inteiro me preocupando muito com minha mãe e ouvindo meu
pai me dizer que era tudo culpa minha que ela tivesse perdido o bebê.
Eu era a puta.
Eu o fiz perder a paciência.
Eu era a culpada por ele colocar as mãos em mim.
E eu fui a razão pela qual ele empurrou a mamãe quando ela tentou tirá-lo
de cima de mim naquela noite.
Eu era a razão pela qual ele a batia.
Era tudo por minha conta.
Porque eu era uma puta.
Isso mesmo, eu era uma garota de dezesseis anos que nunca havia beijado
um menino, mas para meu pai, eu era uma vagabunda.
Quando ele quebrou sua promessa de sobriedade para minha mãe ontem à
noite, eu nem fiquei surpresa.
Quando ele usou meu pescoço como um brinquedo de apertar, eu nem
vacilei.
Eu estava tão cansada.
Uma parte de mim rezou para que ele acabasse com isso.
Apesar de Joey ter descido a escada correndo e arrastado papai de cima de
mim, o estrago já estava feito.
Ele acrescentou contusões recentes a contusões antigas e eu passo boa
parte da noite contemplando os piores pensamentos possíveis.
Não há alívio disso.
Eu não tenho saída.
Não naquela casa.
Não em um lar temporário.
Eu estou presa.
Quando desço do ônibus e entro pelas portas do Tommen esta manhã, o
alívio que inunda meu corpo era tão potente que posso senti-lo.
Retornar depois de uma semana no inferno parece a maior recompensa
por sobreviver.
Ver Claire e Lizzie novamente, e saber que elas me amam, ouvir que me
amam, ajuda a reconstruir algo dentro do meu corpo.
Quando me presenteiam com um cupcake de aniversário atrasado e
presentes no almoço, quase choro.
Quando lhes dou a versão resumida do que aconteceu com mamãe, elas
me conhecem bem o suficiente para deixar de canto.
Eu não quero falar sobre isso, pensar sobre isso, ou ser lembrada disso.
Nunca mais.
Claire e Lizzie sabem disso e respeitam meus desejos.
Seguindo os movimentos, vou a todas as minhas aulas e apago minha
família da minha mente pelas próximas sete horas.
Foi maravilhoso.
42

PEGANDO SAPATOS E SENTIMENTOS

SHANNON

Minhas duas últimas aulas na segunda-feira foram de educação física, e por


causa da chuva torrencial lá fora, o Sr. Mulcahy teve pena de nós e
organizou um jogo de futebol no salão de basquete interior.
O Sr. Mulcahy era o treinador de rúgbi da escola e estava bastante
evidente na maneira como ele se recostava em uma cadeira dobrável na linha
lateral, os olhos focados na prancheta em sua mão, que ele não estava
preocupado com nossa educação física.
Além disso, consigo dar uma espiada na referida prancheta quando tento e
não consigo sair do jogo, e estava coberto de rabiscos e coisas relacionadas
ao rúgbi.
Eu acabo sendo convocada para a equipe com Claire, graças a Deus, e
algumas outras garotas, enquanto Lizzie consegue se livrar da participação e
vai para a biblioteca.
Desejo ser tão persuasiva quanto ela.
Em vez disso, eu estou usando um colete amarelo e tentando correr e não
ser esmagada até a morte pelos meninos.
Com Lizzie vivendo na biblioteca, restam apenas quatro garotas na quadra
para jogar com os outros dezoito garotos do 3A.
Eu era de longe a pior.
Shelly e Helen, as outras duas garotas da minha classe, não eram muito
melhores, mas eu tinha a sensação de que tinha mais a ver com o
desinteresse geral delas pelo jogo do que com a falta de habilidade.
Claire era incrível nos esportes, a melhor garota da quadra, e os rapazes a
tratavam com o respeito que ela merecia, passando a bola para ela sempre
que ela conseguia se libertar.
Até agora, ela havia marcado duas vezes.
Para ser justa, meus companheiros de time tentaram isso comigo no início
do jogo, mas depois de tropeçar e custar um gol ao nosso time, eles me
evitam.
Achei que poderia ser para o melhor.
— Você está se divertindo? — Claire pergunta, correndo em minha
direção quando um dos garotos do nosso time marcou novamente.
Ela estava vestindo a mesma camisa preta, shorts brancos e colete amarelo
que eu, mas ao contrário de mim, suas roupas de treino realmente se
encaixam em seu corpo.
Seu rabo de cavalo longo, loiro e encaracolado balança de um lado para o
outro enquanto ela se move.
Suas bochechas estão vermelhas, seus olhos brilham de excitação.
Ela estava repugnantemente deslumbrante.
— Não é esta a melhor maneira de terminar o dia?
— Uh, sim, com certeza! — Finjo um sorriso e dou a ela dois polegares
entusiasmados.
— Você odeia isso, não é? — Ela ri e descansa o cotovelo no meu ombro.
O fato de que ela poderia fazer isso com facilidade só mostra o quão
pequena eu sou. — Não se preocupe. Faltam apenas mais dez minutos.
— Futebol não é realmente minha... –— Eu paro para me abaixar,
evitando por pouco uma bola no rosto. — Não é minha praia — começo a
dizer, mas Claire já está correndo atrás da bola, gritando com nossos
companheiros de time que ela estava “livre”.
Momentos depois, uma debandada de adolescentes vem correndo pela
quadra em minha direção, caçando a bola de futebol desonesta.
Então, eu faço o que qualquer pessoa sã de 1,52m na minha posição faria,
corro até a parede e apoio minhas costas nela.
Evitando por pouco outro atropelamento, decido que tive o bastante
educação física por um dia. Eu tive uma dor horrível no estômago durante
todo o dia e correr não estava ajudando as coisas.
Meu corpo estava em pedaços.
Eu estava com tanta dor que eu mal posso suportar.
Para ser honesta, eu tenho a sensação de que a dor de estômago que eu
estava sofrendo foi induzida pela ansiedade e relacionada ao meu pai.
Entraríamos de férias da escola na sexta-feira por duas semanas inteiras, e
cada vez que eu me permito pensar em todos aqueles dias presa em minha
casa com meu pai, a dor aumentava.
A maioria das pessoas está ansiosa para fugir para as férias.
Enquanto isso, eu sou uma bagunça.
Exausta, tiro meu colete e procuro pelo sr. Mulcahy no corredor, para
perguntar se eu poderia ser dispensada mais cedo e me sentar no vestiário.
Meu coração dispara no meu peito quando o encontro parado na entrada
do corredor, falando com ninguém menos que Johnny Kavanagh.
Oh Deus.
Há quanto tempo ele estava parado ali?
Certamente tempo suficiente para ver minha patética tentativa de fugir da
morte.
Durante todo o dia, eu o senti me observando.
Onde quer que eu fosse, eu juro que podia sentir os olhos em mim.
Eu sei que ele quer falar comigo, e era por isso que passei o dia me
esquivando dele.
Ele teria perguntas sobre a semana passada.
Ele gostaria de saber.
E ele não acreditaria nas minhas mentiras.
Isso era aterrorizante.
Porque ele era esperto demais para uma garota na minha posição ficar
com ele.
Quando estou com ele, esqueço de mentir e me esconder.
Eu esqueço de tudo.
O Sr. Mulcahy está batendo na prancheta em sua mão, imerso em uma
conversa com Johnny – cuja atenção estava oscilando entre o que quer que
estivesse na prancheta e, bem, eu.
Eu estou exatamente em frente a ele, com a distância entre nós, mas juro
que posso sentir o calor de seu olhar até os dedos dos pés.
Toda vez que ele muda sua atenção da prancheta para mim, eu sou
atingida por um olhar tão acalorado e cheio de intensidade que eu não
consigo descobrir o que estou vendo.
Era raiva?
Era frustração?
Era outra coisa?
Eu não posso dizer.
Eu não tenho que pensar muito sobre isso, porque alguns segundos depois,
o Sr. Mulcahy apita e instrui nossa classe a deixar a quadra e arrumar as
bolsas.
O treinador e Johnny permanecem na entrada, discutindo profundamente,
enquanto nossa classe passa por eles para os vestiários.
Sentindo que era a opção mais segura, vou direto para Claire,
enganchando meu braço no dela, e fazendo um zilhão de perguntas sem
sentido sobre o jogo que acabamos de jogar, bem, o jogo que ela acabou de
jogar.
Eu mantenho meus olhos em seu rosto, ouvindo atentamente suas
respostas, quando passamos por eles.
Não foi até que eu estava segura no vestiário das meninas que eu solto a
respiração trêmula que eu estou segurando.
— Ai, Shannon, o que diabos está errado com você? — Claire exige no
segundo que a porta do vestiário se fecha atrás de nós.
— Huh?
— Meu braço? — Claire solta. — Você está intencionalmente tentando
cortar minha circulação?
Meu olhar dispara para o braço dela, mais especificamente para onde
meus dedos estavam cavando em sua pele.
— Oh meu Deus! — Soltando-a, eu bato uma mão sobre minha boca. —
Eu sinto muitíssimo.
— Qual é o problema? — Ela dá um passo mais perto, a preocupação
espirra em suas feições. — Você parecia realmente assustada.
— Nada — eu respondo rapidamente. — Eu estou bem. É só que... — Eu
balanço minha cabeça e solto uma respiração irregular. — Eu não esperava
que ele estivesse lá fora.
— Johnny?
Eu balanço a cabeça lentamente.
Seus olhos se arregalam então.
— Oh meu Deus! — Apontando um dedo para meu rosto, ela sussurra e
grita — Você mentiu para mim! Algo aconteceu na outra semana, não foi?
— Não. — Eu balanço minha cabeça, as bochechas em chamas. — Nada
aconteceu.
— Ele estava olhando para você lá atrás, como se estivesse te absorvendo
completamente — ela sussurra, parecendo um pouco tonta. — Aconteceu
alguma coisa? Por favor, me diga que algo aconteceu...
— Eu prometo a você que nada aconteceu entre nós — eu falo rápido, me
arrependendo de ter mencionado isso. — E ele não estava me olhando.
— Mas você queria?
Abro minha boca para negar, mas Claire me interrompeu.
— Ha! Nem minta, eu posso ver através de você. — Ela ri. — Até suas
orelhas estão corando.
— Claire, por favor, você não pode contar a ninguém! — Eu solto,
mortificada.
— Eu já prometi a você que não faria isso.
Eu caio de alívio.
— Obrigada.
— Mas você deve saber que ele estava olhando para você, Shan. Como se
estivesse olhando seriamente para você. — Claire bate palmas, gritando
alto. — Oh Deus, isso me deixa tão feliz.
— Não, ele não estava, e eu não, eu não posso… Eu só... — Engasgando
com minhas palavras, inalo uma respiração calmante e tento novamente —
Nós brigamos naquela noite no carro dele.
— Brigaram? — As sobrancelhas de Claire se erguem. — Sobre o quê?
— Não importa — eu murmuro, corando — E eu...
— Você o quê?
— Ele me deixou em casa novamente na sexta-feira antes do meu
aniversário.
Seu rosto inteiro se ilumina.
— Oh meu Deus!
— E então eu vomitei na frente dele — eu admito tristemente. —
Possivelmente nele.
Ele estava muito perto da zona de perigo.
Enquanto ele segurava meu cabelo.
Claire se encolhe em simpatia.
— No carro dele?
— Não — eu respondo fracamente. — Na escola. No meu armário.
Ela sorri tristemente.
— E ele deixou você em casa depois?
— E então eu...
— Você o quê, Shan?
— Fui ao pub com ele.
— Pub? — ela exclama. — Que pub?
Eu penso sobre isso por um momento antes de me lembrar do nome.
— Biddies, eu acho?
— Oh meu Deus — ela engasga. — Esse é o pub dele.
— O que? — Meus olhos se arregalam. — A família dele é dona?
Não me surpreenderia.
— Não, não — Claire se apressa em dizer. — Eles não são donos, mas é
como seu pub. Seu lugar. Seu... seu... QG.
— Afinal, o que isso quer dizer?
— É para onde todos eles vão — Claire diz. — Todos os garotos do time.
Biddies é o ponto de encontro deles.
— Oh — eu respiro, nervosa. — Ok.
— Então, — ela medita. — o que vocês fizeram no bar?
— Ele me comprou o jantar — confesso.
— Espere, por que ele te levou para Biddies se você estava doente?
Dou de ombros.
— Ele me levou para casa, mas quando chegamos à minha casa, ele me
pediu para dar uma volta com ele. — Franzindo a testa, acrescento: — E ele
me levou ao cinema depois de Biddies.
— Não acredito! — ela dá um gritinho.
— E no meu aniversário, acabei indo para a casa dele.
— O quê? — Claire realmente grita. — Na casa dele?
— Foi culpa do Joey. Mas eu estava lá... e tomei um banho... e então ele
cozinhou para mim... e eu adormeci nele... — Eu rapidamente fecho minha
boca quando a porta se abre e Shelley e Helen entram explodindo na sala.
Claire ergue as sobrancelhas para mim, mas não diz mais nada.
Uma olhada em seu rosto, porém, e fica claro que esta conversa estava
longe de terminar para ela.
Aproveito isso como minha oportunidade de pegar meu uniforme do
banco e deslizar em um dos chuveiros para me trocar.
Eu não era uma puritana ou qualquer coisa assim, mas eu era seriamente
carente em comparação com essas garotas.
Poupando-me de alguma humilhação desnecessária, eu sempre me troco
em uma das cabines com uma cortina fechada com meu sutiã ao redor do
corpo.
Quando coloco meu uniforme de volta e meus nervos esgotados sob
controle, volto para as meninas bem a tempo de ouvir o último drama de
Shelly e Helen.
Shelly era uma morena alta com o tipo de curvas que eu esperava ter um
dia. Helen era a versão ruiva mais baixa, um pouco menos curvilínea de
Shelly.
Elas eram grandes fofoqueiras e passam seus dias grudadas uma ao lado
da outra, sussurrando e rindo, mas eu conheço um tipo muito pior do que
elas.
Na verdade, eu meio que gosto de ambas de um jeito “elas são
completamente inofensivas se você não contar a elas suas coisas”.
— Deus, ele é uma viagem!— Shelly continua a gritar.
Ela está de sutiã e calcinha, completamente à vontade com seu corpo, e
fazendo gestos animados para sua melhor amiga.
— Juro por Deus, infernos, eu escalaria aquele garoto como uma
montanha. — Ela joga o longo rabo de cavalo sobre o ombro e finge
desmaiar. — Ele seria incrível nisso também.
— Não minta, Shell — Helen retruca com uma risadinha. — Se ele
olhasse para você por tempo suficiente, você desmaiaria de choque.
— Eu desmaiaria — Shelly concorda com uma risada. — Mas então ele
pode me reviver. — Balançando as sobrancelhas finas, ela acrescenta —
com a língua dele.
— De quem estamos falando, meninas? — Claire intervém com um
sorriso amigável. Ela estava sentada no banco, abotoando a camisa da
escola. — Alguém interessante?
— Quem você acha? — Shelly provoca com um sorriso enorme. — O
próprio Senhor Sexo Ambulante.
— Você o viu nos observando? — Helen acrescenta animadamente,
mordendo o lábio inferior. — Ele estava. Eu o vi. Ele estava totalmente nos
observando quando estávamos na quadra.
— Meu sonho. — Shelly suspira/desmaia. — Deus, por que os rapazes do
nosso ano não podem se parecer com ele?
— Eu sei — Helen concorda sonhadoramente. — Esse menino é cem por
cento daqui, sensualidade de Cork.
— Ele não é daqui — eu me ouço interrompê-la. — Ele é de Dublin.
— Não... — Helen desafia com uma expressão confusa gravada em seu
rosto. — Ele é de Ballylaggin.
— Se é Johnny Kavanagh que vocês estão falando, então Shannon está
certa — Claire interrompe. — Honestamente, meninas, se vocês fossem e
falassem com o menino, saberiam imediatamente que ele é de Dublin.
— Ele não é de Dublin — Shelly saltou, parecendo levemente
horrorizada. — Ele é de Cork.
— Desculpe desapontá-la, mas Johnny é um grande e azul Dubliner —
Claire rebate, sorrindo. — Deus, meninas, no minuto em que ele abre a boca,
é tão óbvio.
— Bem, o pai dele é de Cork, então ele é meio corkoniano — Shelly
resmunga. — E ele mora em Cork.
— E ele nasceu e foi criado em Dublin, o que faz dele um dubliner —
Claire ri. — Pergunte a ele que cores ele usará no dia da All Ireland Final —
acrescenta. — Eu posso te prometer que não será vermelho.
Shelly claramente leva a rivalidade esportiva de Cork e Dublin a sério
porque ela parece terrivelmente perturbada com a notícia.
— Você não sabe disso — ela desafia. — Ele se mudou para cá quando
era pequeno. Ele provavelmente apoia Cork e Munster agora.
— Na verdade, eu sei disso — Claire responde, sorrindo. — Em setembro,
Hughie chamou todos os rapazes do time para assistir à final do hurling, e
adivinha quem era o único vestindo azul em um mar de camisas vermelhas?
— Bem, eu não me importo,— Helen suspira. — o sotaque só o torna
mais sexy.
— Exatamente — Shelly funga. — Eu ainda escalaria ele como uma
montanha.
— Então é melhor você se apressar nessa escalada, Shell. — Rindo, Claire
continua a esfregar sal nas feridas abertas de Shelly, acrescentando: —
Porque ele vai sair daqui depois que ele terminar a escola. Ele não vai ficar
em Cork. Ele vai voltar direto para Dublin e eles vão recebê-lo de braços
abertos. Porque ele é de lá, não daqui.
— Como você sabe de tudo isso?— Helen pergunta, olhando para Claire
como se ela tivesse crescido duas cabeças.
— Porque eu passo meu tempo cercada por garotos que jogam rúgbi com
ele — Claire responde. — Eu ouvi Hughie e Gerard falando sobre como
Johnny vai ficar na Irlanda apenas por alguns anos. Os garotos acham que
ele provavelmente jogará no exterior por alguns anos, enquanto o centro
atual de sua equipe se desfaz e Johnny ganha experiência de jogo em nível
sênior. A aposta do meu irmão é a França – os clubes de lá têm muito
dinheiro para jogar fora. Então eles vão trazê-lo para casa como um jogador
de classe mundial com o mundo de experiência em seu currículo e juventude
ainda do seu lado.
— Deus — eu murmuro, me sentindo um pouco enjoada com essa
conversa. — Você o faz soar como um pedaço de carne.
— Porque é isso que ele é no mundo deles, Shan — Claire respondeu,
voltando sua atenção para mim. — Um pedaço grande, gordo e suculento de
bife premium.
— Eu não posso começar a imaginar como é estar sob tanta pressão — eu
sussurro, meus pensamentos imediatamente voltando para aquela noite em
seu carro.
Não é à toa que ele reagiu tão mal.
Eu tinha visto a atenção que as pessoas davam a ele quando estávamos
fora.
A vida inteira de Johnny está sendo jogada na frente do país.
Todo mundo fala dele.
O tempo todo.
Acho que se eu fosse ele, rastejaria para debaixo da cama e me
esconderia.
Uma enorme onda de simpatia enche meu peito, totalmente dirigida a ele.
— Coitado — eu murmuro, pensando em como ele deve estar desesperado
para esconder seu ferimento.
— Coitado? — Helen zomba e faz um barulho de pffft. — Não há nada de
coitado em Johnny Kavanagh, Shannon. O lindo e perfeito para montar em
forma de um garoto está indo direto para as ligas profissionais. Ele já está
aparecendo em blogs e revistas populares de rúgbi. Isso soa como alguém
coitado para você?
— Você deveria ver as multidões e a mídia em seus jogos locais —
acrescenta Helen com um suspiro de sonho. — É insano.
Eu sei.
Eu vi.
Talvez ele fosse para as ligas profissionais ou talvez não.
Eu não acho que era da nossa conta falar sobre ele assim.
Esta era a vida dele que estava sendo discutida abertamente e eu não estou
confortável.
— Você está muito quieta aí, Shannon — Shelly declara enquanto seus
olhos me avaliam com grande interesse. — Nem mesmo finja que ele não é
o garoto mais bonito que você já viu.
Ele é, de longe, o garoto mais bonito que eu já tinha visto em carne e osso.
No entanto, tenho a nítida sensação de que sem o fascínio da fama e do
dinheiro que estava ligado a ele, essas garotas não seriam tão obcecadas.
Então, novamente, talvez elas fossem.
Enquanto isso, eu não consigo me importar menos com o formato da bola
que ele chuta em um campo.
O rúgbi é um esporte.
É um jogo.
Não era tudo o que ele era.
Era apenas uma parte dele.
A única parte que importava para essas garotas, aparentemente.
Era nojento e eu me recuso a participar de uma conversa que me lembra
muito das conversas que as garotas mais velhas tinham sobre Joey.
— Eu acho — Eu dou de ombros evasivamente. — Ele é um jogador
muito bom.
As duas garotas riem.
— Ela está totalmente corada — Shelly brinca. — Olha, nem se
incomode, Shan.
Eu faço uma careta.
— Incomodar com o quê?
— Gostar dele — ela responde. — Johnny nem olha de lado para as
meninas do seu próprio ano, muito menos para as meninas do terceiro ano.
— Na verdade, isso não é verdade — Claire diz de volta. — Ele deu a ela
uma carona da escola para casa — Ela me lança um sorriso malicioso. —
Duas vezes.
Corando, fiz uma nota mental para nunca mais contar nada a Claire
novamente.
Ambas as meninas voltam seus olhares para mim.
— Sua cadela sortuda — Shelly suspira com os olhos arregalados.
— Você estava no carro dele?— Helen exige.
Dou de ombros, me sentindo muito exposta neste momento, mas não
respondo.
— E ela estava nos jornais com ele — acrescenta Claire. — Hughie me
mostrou. Todos os rapazes estavam falando sobre isso porque Johnny nunca
tira fotos com garotas.
— Ele nunca está nos jornais com garotas — acusou Helen. — Quando
isto aconteceu?
— Antes de sair para jantar com ele no Biddies — Claire oferece com um
sorriso enorme. — E antes do cinema. Ah, e depois que ela passou o seu
aniversário na casa dele.
— Ah puta que pariu! — As duas garotas ficam chocadas ao mesmo
tempo.
— Você pontuou com ele?— Helen pergunta, na verdade, era mais uma
exigência. — Oh meu Deus, você montou o Johnny?
Claire olha para mim com uma expressão de expectativa.
— Não! Deus, é claro que não — eu engasgo, gaguejando em minhas
palavras. — Por que você pergunta isso?
— Ah, porque ele é Johnny Kavanagh. — Shelly revira os olhos
sarcasticamente. — E você estava na casa dele. Qualquer garota em sã
consciência iria querer montá-lo.
— Não Lizzie — Claire acena com a mão no ar. — Ela despreza os
jogadores de rúgbi.
— Isso é porque Lizzie está brigando com Pierce. Ela vai adorar os
jogadores de rúgbi de novo na próxima semana, quando ele a alisar de novo
— Shelly retruca, então rapidamente volta sua atenção para mim. — Oh meu
Deus! — Colocando as mãos nos quadris, ela grita: — Você viu o quarto
dele? Como é? Ele tem uma cama enorme? Aposto que é enorme. Ele está te
dando carona para casa depois da escola de novo? É por isso que ele está
aqui? Deus, vocês dois são um casal?
— Oh Deus, Bella vai ficar louca — Helen interrompe. — Ela vai surtar
quando descobrir que você está atrás do cara dela.
— Johnny não é namorado de Bella — Claire bufou. — Ela, por outro
lado, é a garota de todos.
— Na verdade, — Shelly entra na conversa, levantando um dedo. — Eu
ouvi algumas das meninas do sexto ano no banheiro outro dia falando sobre
Bella estar com Cormac Ryan agora. — Arqueando uma sobrancelha, ela
acrescenta: — Aparentemente, ela está transando com ele há séculos.
— Enquanto ela estava com Johnny?— Helena ofega.
— Mmm-hmm — Shelly diz. — Menina estúpida, hein?
— Bem, Cormac é um cara bonito — Helen responde com uma carranca.
— Mas ele não é nenhum Johnny Kavanagh.
— Pois é! — Shelly concorda.
Claire faz uma meia reverência dramática.
— E aí está — diz ela. — A menina de todos.
— Ainda assim. — Helen roe a unha, olhando rapidamente para o meu. —
Bella não vai ficar feliz com você.
— Ela não é dona dele — Claire zomba. — Eles nunca foram um casal de
verdade, e mesmo se fossem, Bella não pode falar. Todo mundo sabe que ela
está dando para metade da escola pelas costas dele há meses.
— Sim, mas ele é o cavalo dela na corrida — raciocinou Helen. —
Operação Agarrar o Camisa Treze, alguém lembra?
— Ugh, essas garotas são uma droga — Claire resmunga. — Achei que
aquela competição estúpida tinha acabado no ano passado.
— Acabou — Shelly diz em um tom amuado. — Bella ganhou.
— Operação Agarrar o quê?— Eu resmungo.
— O Camisa Treze — Helen repete, olhando para mim como se eu não
tivesse a menor ideia.
Neste caso, eu tinha.
— Afinal, o que isso quer dizer?
— As meninas do quinto e sexto ano tiveram essa competição estúpida no
ano passado para ver quem conseguia ficar com Johnny — Claire resmunga.
— Elas chamaram de Operação Agarrar o Camisa Treze porque são
completamente tristes e sem originalidade. — Ela faz uma careta antes de
acrescentar: — Aparentemente, Bella ganhou.
— Eu não entendo — eu admito, mortificada.
— O número da camisa de Johnny é treze — Claire explica, parecendo
completamente enojada. — E agarrar é uma referência de rúgbi para se
envolver em um scrum, embora, eu tenho certeza que essas garotas queriam
dizer se envolver com Johnny em uma posição totalmente diferente.
— O que… por que elas fariam isso com ele?
— Porque ele é incrivelmente exigente — Shelly geme. — E raramente
olha para qualquer uma das garotas por aqui. Ele é um completo esnobe
quando se trata de com quem está.
— Suponho que ele pode se dar ao luxo de estar com o tipo de mulher que
está por aí nessas turnês — Helen continua.
— Verdade — Shelly diz tristemente. — Você viu aquelas garotas de sua
última turnê?
— A modelo?— Helen perguntou e deu um aceno resignado. — Ela tinha
uns vinte e sete.
— Eles estavam por toda a internet — Shelly suspira.
— Bella não ficará feliz com a competição — Helen oferece com uma
careta. — Shan, você deve ficar longe dele, porque ela vai arrancar seus
olhos.
— Ela é uma cadela — Shelly concorda. — Não importa se eles estão
dando um tempo agora ou não. Ela vai surtar com você.
— Eles não estão dando um tempo porque nunca estiveram em um
relacionamento — Claire resmunga. — Eles eram amigos de foda versão
premium, garotas. Dificilmente era o romance do século.
— Não importa — Helen rebate. — Você sabe como ela é, Claire. Aos
olhos de Bella, ela e Johnny estão dando um tempo, e ela vai perder a cabeça
se alguém ficar em seu caminho.
— Eu não estou com ele — eu solto, o medo de ter meus olhos arrancados
por uma garota do sexto ano faz meu estômago revirar violentamente. Não
seria a primeira vez, e eu ainda tinha uma leve cicatriz na pálpebra direita
para provar isso. — Juro.
— Shannon, relaxe — Claire interrompe, vindo para ficar ao meu lado. —
Ninguém vai tocar em você.
— Eu não teria tanta certeza sobre isso — Helen solta, parecendo
preocupada. — Bella pode ser bem cadela quando ela quer ser.
— Oh é? — Claire retruca, colocando a mão no meu ombro. — Bem, eu
também posso.
— O–o quê? — Eu sussurro, sentindo como se meu estômago estivesse
prestes a cair da minha bunda. — Mas eu não estava... eu não estou... eu não
fiz nada…
O som do sinal da escola tocando enche meus ouvidos, me interrompendo,
e em vez de tentar explicar minha saída dessa conversa confusa, pego minha
bolsa de equipamentos e corro para a porta.
— Shannon, espere! — Claire me chama — Espere por mim!
Eu não espero.
Em vez disso, corro a toda velocidade para fora do salão de educação
física, passando pelos rapazes que saíam do vestiário masculino e
tropeçando escada abaixo na minha tentativa de ficar o mais longe possível
de um confronto em potencial.
Eu não posso aceitar isso.
Hoje não.
Eu não posso ter outra briga.
Não com meus pais, ou Bella Wilkinson, ou qualquer outra pessoa.
Eu simplesmente não posso.
Era demais.
Chego à viela que levava para fora da escola, os pés ainda batendo contra
o concreto, quando o salto do meu sapato fica preso em uma rachadura no
meio da estrada e quase me faz cair de cabeça no asfalto molhado.
Felizmente, consigo me endireitar a tempo de me salvar de outra
concussão.
Consciente de que vários alunos estão assistindo abertamente a minha
mini-queda, desacelero para uma caminhada rápida.
Mancando até a trilha, espero que uma grande multidão de meninos passe
antes de entrar no passo vários metros atrás deles.
Jesus.
Helen e Shelly estão certas?
Bella vai vir atrás de mim?
Porque Johnny me deu uma carona?
Oh Deus, meu coração, meu pobre e esgotado coração está batendo nas
minhas costelas.
Meu estômago está revirando.
Sinto que vou ficar doente.
Não, reformule isso para que eu irei ficar doente.
Subindo a cerca baixa que separa o caminho de uma área arborizada,
corro para os arbustos, largo minha bolsa na grama molhada, me agacho
atrás da árvore mais próxima e vomito violentamente.
Havia muito pouco no meu estômago, mas a maçã que eu comi mais cedo
surge de forma gloriosa.
Tremendo de repulsa, permaneço agachada, inalando várias respirações
calmantes, enquanto tento me acalmar.
Meu corpo inteiro está tremendo violentamente, e eu não tenho certeza se
era da chuva caindo sobre mim ou do puro terror em meu coração.
Eu suspeitava de ambos.
Vários minutos depois, quando tenho certeza de que posso me mover
novamente, me levanto cautelosamente e limpo a boca com as costas da
mão.
Pressionando a mão no meu estômago, exalo uma respiração irregular e
olho ao redor.
Felizmente, consegui me posicionar fora da vista da pista.
Desta vez.
Enfio a mão na minha mochila para pegar minha garrafa de água apenas
para perceber que, na minha pressa, peguei a mochila errada.
Minha mochila está na sala de educação física.
— Merda — eu resmungo.
Com os ombros caídos, penduro minha bolsa de equipamentos nas costas
e faço meu caminho de volta para a estrada.
Eu não me incomodo em correr desta vez.
Eu estou sem energia.
Eu estou sem nada.
Se Bella quiser me machucar, então nenhuma fuga mudará isso.
Ela encontraria um jeito.
Eles sempre encontram.
O preocupante era que eu não sabia como ela era.
Eu não sabia em quem ficar de olho.
Todo mundo, meu cérebro insiste. Não confie em ninguém.
Com a chuva caindo sobre mim, escorrendo pelas minhas roupas, caminho
lentamente de volta para a sala de educação física com a cabeça baixa e
distraída.
Há um fluxo constante de água corrente correndo pela estrada e o
gramado à esquerda do caminho está tão debaixo d'água que eu tenho o
cuidado de evitar quando atravesso em direção ao prédio da educação física.
Ao contrário de antes, quando eu estava correndo e não prestando atenção
no clima, eu estava dolorosamente ciente do meu entorno agora – e do clima
irlandês de merda.
Deus, se não parasse de chover logo, a cidade ficaria em alerta de
enchente.
Não era uma coisa incomum para Cork no inverno e às vezes no início da
primavera.
Inferno, poderia até inundar no verão em Cork.
Sem a proteção do casaco que eu tinha deixado no meu armário, minhas
roupas estavam completamente encharcadas.
Meus pés estavam molhados, minhas meias encharcadas de correr
tentando encontrar um lugar na floresta para vomitar. A sensação do meu
uniforme molhado grudado na minha pele igualmente molhada me fez sentir
tanto nojo quanto frio.
Todo mundo tinha ido quando eu finalmente volto para o corredor, o
barulho e a agitação anteriores dos meus colegas visivelmente ausentes.
Grata pelo abrigo temporário da monção lá fora, vou direto para os
vestiários femininos e dou um suspiro de alívio quando vejo minha mochila
no banco onde a havia deixado.
Eu ainda estava me acostumando com minhas coisas não sendo tocadas
nesta escola.
Vou até minha bolsa e a pego, apenas para notar uma página rasgada de
um caderno flutuando no chão.
Eu ignoro.
Encharcada até a pele, pego minha bolsa de emergência, caminho até o
banheiro e rapidamente escovo os dentes, engasgando quando a escova
cutuca minha garganta.
Quando termino de limpar minha boca, lavo a escova de dentes e a enfio
de volta dentro do pequeno saco com a pasta e volto para pegar minha bolsa.
Verificando meu relógio, noto que são 16:25.
Além do short e da camisa e uma calcinha limpa, coisa que sempre
carregava, eu não tinha uma muda de roupa na escola, então teria que sofrer
até chegar em casa.
Meu ônibus não chegaria por mais uma hora, mas eu sabia que preferia
esperar no ponto de ônibus do que arriscar esbarrar em Bella dentro da
escola.
Mesmo que eu não soubesse como Bella era, eu não estava preparada para
me colocar nesse nível de preocupação.
Nem mesmo pelo o meu casaco que ainda está no meu armário.
A chuva vale a minha paz de espírito.
Colocando minha bolsa de emergência de volta no bolso da frente da
minha mochila, eu a coloco nas minhas costas e coloco as alças da minha
bolsa em meus ombros, antes de pegar o bilhete.
Shan,
Eu deveria ter mantido minha boca grande fechada. Eu realmente não
queria te chatear. Achei que estávamos todas brincando e fui pega na
brincadeira. Às vezes, esqueço todas as coisas horríveis que aquelas garotas
fizeram com você. É difícil porque você parece tão feliz aqui... e diferente?
Diferente no bom sentido.
E não ligue para Shelly e Helen. Elas são completas vadias do drama.
Bella não vai encostar um dedo em você. Eu prometo.
De qualquer forma, sinto muito e, por favor, me mande uma mensagem
quando chegar em casa.
Com amor, Claire. xxx
Eu leio o bilhete mais três vezes antes de enfiá-lo no bolso da minha saia.
Então eu coloco minha bolsa de equipamentos debaixo do banco ao lado da
de Claire antes de sair do vestiário.
Eu não estou brava com Claire.
A brincadeira delas era perfeitamente normal.
Era com a minha reação à brincadeira que eu estava com raiva.
Minha reação exagerada e constante a tudo.
Eu precisava trabalhar isso em mim.
Eu precisava parar de ter medo o tempo todo.
Era difícil, porém, quando passo a maior parte das minhas horas de vigília
em um estado constante de paranoia e ansiedade.
Joey me disse que eu tinha que revidar.
Ele disse isso de novo ontem à noite quando ele estava esfregando minhas
costas enquanto eu tentava respirar através de um ataque de pânico.
Ele me disse que se ele colocasse as mãos em mim novamente eu deveria
pegar uma arma.
Eu estava com medo, no entanto.
Eu estava com medo de desencadear algo que eu poderia não ser capaz de
controlar.
Foi por causa da minha falta de ação que meu irmão acabou levando uma
surra na noite passada.
Eu sabia que Joey não me culpava por seu nariz quebrado, mas a
mensagem de texto que recebi dele mais cedo, me informando que ele
passaria a noite com Aoife, tornava a perspectiva de ir para casa
aterrorizante.
Ele estava saindo e eu não o culpo.
Se eu tivesse um lugar seguro para ir, me lançaria contra ele.
Isso é o que Aoife era para meu irmão.
Joey tinha Aoife e eu não tinha ninguém.
Absorta em pensamentos, eu estou na parte inferior dos degraus do lado
de fora do prédio de educação física quando o som do meu nome sendo
chamado dispara pelo ar.
— Shannon.
Me virando, observo Johnny descer correndo os degraus íngremes do
prédio, puxando o capuz de sua jaqueta azul-marinho enquanto desce.
Não exagere e corra, eu ordeno silenciosamente enquanto meus pés se
contorcem embaixo de mim. Apenas diga oi.
Percebendo que estava fisicamente concordando com minhas afirmações
mentais, limpo a garganta e ofereço um fraco:
— Oi, Johnny.
— Oi, Shannon — ele solta, parando na minha frente. — Como tá indo?
— Ok — eu aperto enquanto tento manter minhas feições impassíveis. Era
uma façanha impossível quando cada gota de sangue no meu corpo estava
correndo para o meu rosto, encorajada pelo meu estrondoso batimento
cardíaco. — Você, uh, estava no corredor?
— Sim. — Johnny assentiu. — Eu tinha algumas coisas que eu precisava
repassar com o treinador. — Um pequeno sorriso puxou seus lábios. — Você
não estava brincando quando disse que não praticava nenhum esporte, hein?
Eu fico vermelha de vergonha.
— Ah, não, eu não estava.
— Como está sua mãe?— ele pergunta, olhos azuis afiados e sondando.
— Oh, ela está uh... — Faço uma pausa para colocar uma mecha de
cabelo encharcada atrás da minha orelha — Ela está muito melhor agora.
— Isso é bom — ele diz, e parecia que ele realmente quis dizer isso. —
Você estava em casa ajudando ela na semana passada? É por isso que você
não veio para a escola?
— Hum, sim, ela precisava de ajuda depois do, uh, do... — Eu balanço
minha cabeça antes de acrescentar: — Mamãe está bem agora. Ela voltou ao
trabalho e tudo mais.
As sobrancelhas de Johnny se erguem.
— Tão cedo?
Pois é, Sr. Sabichão.
Dou de ombros.
— Isso é o que ela queria.
— E você? — Johnny pergunta então.
Eu faço uma careta.
— O que tem eu?
Seus olhos azuis queimam buracos nos meus quando ele diz:
— Você está bem?
— Eu estou bem — eu murmuro, me sentindo incrivelmente nervosa por
estar tão perto dele novamente.
— Sabe... — ele medita. — Estou começando a realmente não gostar
dessa palavra.
— Bem, eu estou — eu solto. — Ok, eu quero dizer.
— Isso é bom — disse ele. — E sua família...
— Eu realmente não quero falar sobre isso — eu digo em voz baixa.
Nunca mais. — Estamos seguindo em frente, então prefiro não ser lembrada
— acrescento. — Se estiver tudo bem?
— Merda, sim — ele murmura. — Eu não vou dizer mais uma palavra
sobre isso.
Eu caio de alívio.
— Eu também sinto muito — eu resmungo. — Pelo jeito que nos
impusemos a você em sua casa naquele dia.
— O quê?— Johnny franze a testa para mim. — Você não me impôs.
— Eu realmente impus — eu admito, envergonhada. — E Joey também.
— Shannon, eu não me sinto assim — ele me diz, em tom áspero. — Não
mesmo, então não pense assim. Ok?
— Ok. — Eu balanço a cabeça. — Bem, eu provavelmente deveria ir
agora. — Sorrindo fracamente, lhe ofereço um pequeno aceno e digo, antes
de virar os calcanhares e ir embora: — Tchau, Johnny.
Veja, progresso!
Eu não estava correndo.
— Espere, — Johnny grita, sua voz vindo de perto de mim. — você está
indo andando para casa?
Irracionalmente afetada por sua proximidade, agarro as alças da minha
bolsa e assinto, mas não paro de andar.
— Neste tempo? — ele pergunta, caminhando ao meu lado.
— Não, estou apenas caminhando para o ponto de ônibus — eu explico
baixinho, mantendo meus olhos fixos na trilha à minha frente, com cuidado
para evitar o transbordamento da água da chuva que parecia estar
borbulhando de cada ralo.
Não era uma tarefa fácil, com meu coração tentando sair do meu peito.
Isso era outra coisa que eu precisava trabalhar: controlar a reação do meu
corpo em torno desse garoto.
Ele estava andando ao meu lado e cada vez que dava um passo, seu braço
roça no meu.
Era claramente acidental, eu duvidava que ele tivesse notado isso, e ele
era tão grande que eu tinha certeza que ele não poderia evitar, mas isso não
significava que meu corpo não reagia à sensação dele.
Pelo menos eu estava queimando agora.
Ajuda com a umidade.
— A que horas seu ônibus passa? — Johnny pergunta, a voz profunda e
grave.
Tremendo, eu tiro uma gota de chuva do meu lábio com a minha língua
antes de responder:
— Eu pego o ônibus às dezessete e meia todos os dias.
— Isso é daqui a uma hora.
Eu não respondo.
Eu apenas continuo andando.
— Você está pensando em ficar parada na chuva por uma hora? — ele
pergunta, entrando na minha frente e me parando no meu caminho.
Nós dois éramos como ratos encharcados pela chuva, e eu tenho que
desviar os olhos para não admirar a forma como seu cabelo molhado gruda
em sua testa.
Ele tem um cabelo lindo.
Ele tem um cheiro maravilhoso, também.
Um que eu não consigo me impedir de inalar enquanto ele está muito
perto de mim para me confortar.
Desodorante Lynx, grama recém-cortada e cheiro de garoto, tudo em um.
Quem eu estava enganando, ele era lindo em tudo.
Quando arrasto meus pensamentos de volta para o presente e dou de
ombros, Johnny solta um rosnado impaciente, seus penetrantes olhos azuis
queimando buracos em mim.
— Vamos, — ele disse rispidamente. — Vou levá-la para casa.
Oh não.
Doce menino Jesus, não.
— Não. — Eu rapidamente balanço minha cabeça. — Está tudo bem.
Ele arqueou uma sobrancelha, ocupando todo o meu espaço pessoal com
sua estrutura gigantesca.
— Por que não?
— Porque você já me deixou em casa — eu respondo, dando um passo
seguro para trás.
— E? — ele responde, dando outro passo em minha direção.
— Então, isso é o suficiente. — Eu enfio meu queixo no meu peito e tento
dar um passo ao redor dele. — Obrigada de qualquer maneira.
Mais uma vez, Johnny bloqueia meu caminho, me prendendo com sua
enorme estrutura.
E assim como antes, eu tenho que esticar meu pescoço para olhar para ele.
— Você prefere ficar na chuva por uma hora do que pegar carona comigo?
— Ele pergunta, olhos selvagens e aquecidos. — Por que?
Porque sua namorada ioiô pode ou não querer causar danos corporais
graves a mim.
Porque a primeira vez que entrei em um carro com você, acabou mal.
Porque na segunda vez que entrei em um carro com você, quase lhe contei
segredos.
E principalmente porque a maneira como você me faz sentir me assusta.
Quando eu não respondo, porque eu honestamente não posso, Johnny
solta outro grunhido, mas este parecia que ele estava frustrado.
— Você está com raiva de mim?
— Com raiva de você? — Eu balanço minha cabeça, olhos arregalados.
— Não, não, claro que não estou.
— Então por que você está agindo assim?
— Agindo como?
— Me evitando — ele diz calmamente.
— Eu não estou — eu minto. — Eu só... eu só...
— Você apenas o que, Shannon?
Dou de ombros, sem palavras.
Ele balança a cabeça, larga a mochila no chão e, em seguida, estende a
mão, tirando minha mochila dos meus ombros – ambos os ombros, e com o
mínimo de esforço.
Chocada, eu vejo quando ele jogou minha bolsa no chão ao lado da dele
antes de baixar o zíper de sua jaqueta de grife e encolher os ombros.
— O–o que você está fazendo? — Eu falo, os dentes batendo de frio.
— O que você acha que eu estou fazendo? — ele rebate quando chega
atrás de mim e coloca o capuz de sua jaqueta na minha cabeça e a envolve
em volta dos meus ombros. — Você está ficando encharcada aqui.
— Mas você não vai ter uma jaqueta — eu solto.
— Mas você vai — ele retruca. — Agora, você vai colocar os braços nas
mangas, ou eu vou ter que fazer isso por você?
Quando falho em ajudá-lo - francamente, eu estava muito atordoada para
fazer qualquer coisa além de ficar boquiaberta - Johnny agarrou as duas
pontas da jaqueta e fecha o zíper até meu queixo, deixando minhas mãos
presas ao lado do corpo, as mangas vazias balançando ao meu lado.
Ele puxa o capuz para frente, cobrindo meu cabelo da chuva, e então se
abaixa e pega nossas duas mochilas.
— Agora — ele diz, balançando a cabeça em aprovação, enquanto joga
uma bolsa por cima de cada ombro. — Vamos. Vou te levar para casa.
Mamãe provavelmente está esperando nos portões.
— Sua mãe? — Eu solto.
— Sim — ele responde. — Meu carro está na garagem para um serviço.
— Mas eu não conheço sua mãe — eu solto. Tentei agitar meus braços
para dar ênfase, mas o zíper da jaqueta me dá pouco espaço para fazê-lo.
— Você conhece a mim — é a sua resposta.
Abro a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas Johnny saiu
andando pela calçada – com a minha mochila.
— Mova suas pernas, Shannon — ele grita por cima do ombro, sem olhar
para mim. — Antes que nós dois tenhamos uma pneumonia.
Fico tão chocado com suas ações que faço exatamente o que Johnny me
diz.
Eu movo minhas pernas.
Correndo atrás dele, contorno as poças de chuva e as rachaduras na
calçada.
Foi difícil o suficiente acompanhá-lo em meus saltos de cinco
centímetros, e quase impossível manter o equilíbrio com meus braços presos
ao meu lado.
— Merda — eu grito quando calculei mal um salto e caí na poça gelada.
Também não era uma poça normal.
Não, isso era uma poça irlandesa, consistindo de uns bons dez centímetros
de água da chuva lamacenta, lamacenta e gelada.
Imediatamente, a água começa a encher meus sapatos, tornando
insuportável andar.
Pulando em um pé, eu luto com um braço por baixo da jaqueta e tiro meu
sapato.
Virando-o de cabeça para baixo, observei com desânimo quando um jorro
de água se derrama.
Minha pobre meia estava encharcada.
Minhas panturrilhas estavam salpicadas de folhas e lama marrom.
Eu gemo em desânimo quando coloco meu pé de volta no meu sapato,
então começo a esvaziar o outro sapato.
— O que você está fazendo? — Johnny gritou à minha frente.
— Tem água no meu sapato — eu grito de volta, enquanto murmuro uma
série de palavrões todos direcionados ao clima irlandês. — Eu não posso
andar com eles assim. Apenas me dê um segundo, whoa...
Meu sapato escorrega do meu alcance e eu pulo para ele.
Má ideia, considerando que eu estava me equilibrando em um pé e meus
braços estão presos.
Me sentindo como um macarrão, consigo agarrar meu sapato no ar, apenas
para perdê-lo novamente quando não consigo encontrar o equilíbrio.
Meu sapato voa da minha mão e eu cambaleio para trás, tentando e
falhando em me manter de pé.
Sabendo que era uma causa perdida, desisto da batalha e preparo meu
corpo para o impacto que certamente sentiria.
Caio para trás, minha bunda roçando o concreto por um breve momento,
antes de ser levantada de volta.
Com uma mão em punho na frente da jaqueta que eu estava vestindo,
Johnny literalmente me segura pairando no chão como se meu corpo fosse
algo obscenamente minúsculo e sem peso.
Não era.
Eu pesava trinta e nove quilos e meio, mas você não teria adivinhado pelo
jeito que ele me pendura em um braço.
— Boa pegada — eu finalmente respiro, olhando para o rosto dele com
uma mistura de choque e admiração, enquanto ele segura meu corpo inteiro
com uma mão.
Seus lábios se contraem.
— Obrigado.
— Bem, você é definitivamente melhor pegando do que jogando.
Sorrindo, Johnny me arrasta para os meus pés antes de abrir o zíper da
jaqueta e liberar minhas mãos.
— Melhor? — ele pergunta, suas mãos parando nas leves curvas da minha
cintura.
Não realmente porque eu posso sentir o calor de suas mãos no meu corpo,
e mesmo que uma camada completa de roupas separasse seu toque da minha
carne, eu ainda o sentia até os dedos dos pés.
Isso era ruim.
Isso não era tão bom.
Com o rosto vermelho e corado, eu me agarro em seus antebraços, me
equilibrando no meu único pé coberto, e deixo escapar a única coisa que eu
conseguia pensar neste momento.
— Eu não quero levar uma surra.
Suas mãos apertam minha cintura enquanto ele olha para o meu rosto.
— Quem iria bater em você?
— Sua namorada.
— Eu não tenho uma namorada — ele responde lentamente, cautela e
confusão gravadas em seu rosto. — Você sabe disso.
— Bella.
— Ela disse algo para você? — Johnny exige, tom duro, expressão
zangada.
Eu balanço minha cabeça.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Não?
— Não — eu confirmo baixinho.
— Você tem certeza que ela não disse nada para você? — ele sonda.
— Tenho certeza — respondo. — Mas eu não quero dar a ela uma razão
para isso.
Johnny olha fixamente para mim e repete sua declaração anterior com
alguns ajustes.
— Ela nunca foi minha namorada, Shannon.
— Sim, bem, algumas garotas da minha classe estavam dizendo que você
tinha um…
— Você estava falando de mim? — ele interrompe, um tom duro em seu
tom. — Com elas?
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Eles estavam falando sobre
você. Para mim.
Johnny arqueia uma sobrancelha indignado.
— Existe uma diferença?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — Uma grande. — Engulo
profundamente e balanço a cabeça. — Ouça, Johnny, eu não preciso... eu não
posso entrar em mais nada... — Exalando uma respiração irregular, eu me
forço a olhar para ele. — Eu não quero me machucar porque você falou
comigo. — Minhas palavras saíram rápidas e ofegantes. — Eu não preciso
desse tipo de problema na minha vida. Eu não sou uma lutadora. Eu preciso
manter minha cabeça baixa e terminar a escola sem drama.
Há uma longa pausa de silêncio onde nenhum de nós fala.
— Você acha que eu deixaria alguém te machucar? — Johnny finalmente
pergunta, seus olhos escuros e intensos e focados apenas no meu rosto. —
Você acha que eu deixaria algo ruim acontecer com você, Shannon como o
rio?
Olho para ele, sem saber o que dizer e incerta dos meus sentimentos.
Quando eu não respondo, Johnny solta um rosnado baixo e balança a
cabeça, fazendo com que gotas de chuva caíssem no meu rosto.
— Porque eu não vou — ele responde sua própria pergunta dizendo. —
Nada de ruim vai acontecer com você. — Ele acrescenta, olhos azuis-
escuros e fixos nos meus. — Porque eu não vou deixar ninguém te
machucar, ok?
Eu balanço a cabeça incerta.
— Ok?
Ele me observa com cuidado, os olhos aquecidos e presos nos meus.
— Você acredita em mim?
— Eu quero — eu respiro enquanto meus dedos cavavam nas planícies
duras de seus ombros, a reação impotente do meu corpo às suas palavras.
Deus, eu quero...
— Bom — ele respondeu rispidamente, se aproximando, as mãos
apertando minha cintura. — Eu quero isso também.
Um estranho peso cai sobre nós enquanto o ciclo interminável de chuva
continua a cair.
Como uma sensação de pressão.
Como se o ar tivesse ficado rarefeito ao nosso redor.
Ele está olhando para mim, parecendo irritado e animado.
Era um olhar confuso.
Eu não sei o que fazer com isso.
Um enorme SUV Range Rover preto para ao nosso lado, quebrando a
estranha tensão e me salvando de deixar escapar algo perigoso.
A janela escurecida abaixa e a cabeça de uma mulher aparece.
— Johnny? — a mulher dentro do Range Rover grita. Ela era loira e
bonita e parecia levemente horrorizada enquanto olhava para nós. — O que
você está fazendo com essa pobre garota?
— Essa é minha mãe — Johnny murmura, olhando brevemente para sua
mãe antes de voltar sua atenção para mim. — Vamos.
— Espere! — Eu resmungo, agarrando seus braços antes que ele pudesse
ir, ainda me equilibrando em um pé. — E o meu sapato?
Johnny olha para os meus pés e depois para trás.
Soltando um suspiro pesado, ele engancha um braço em volta da minha
cintura, me puxa para o seu lado, me levanta do chão e nos leva até o carro.
Ele abre a porta de trás com uma mão e me coloca no banco de trás com a
outra antes de correr de volta para a trilha para recuperar nossas mochilas
caídas.
— Estou encharcada — aviso, me sentindo envergonhada com a ideia de
arruinar o caro estofamento do carro. — Sério, Johnny — acrescento com
um arrepio quando ele volta para a porta com nossas mochilas. — Estou
encharcada além das minhas roupas.
Seus lábios se contraem por um breve momento e então ele balança a
cabeça como se estivesse acenando para um pensamento indesejável que lhe
ocorre.
— Mãe, esta é minha... ah, esta é Shannon — ele reconhece, parecendo
claramente desconfortável. Ele lança um olhar nervoso para mim e então se
vira para sua mãe, limpando a garganta duas vezes antes de acrescentar —
Ela é minha... uh... ela é nova. — Ele me empurra ainda mais para o banco
de trás do jipe de sua mãe e então joga as duas mochilas ao meu lado. — Eu
disse a ela que a deixaríamos em casa.
— Olá, Shannon — sua mãe disse, virando-se em seu assento para me
lançar um sorriso de megawatt.
— Shannon, esta é minha mãe — ele anuncia rispidamente. — Eu vou,
ah, ir buscar o seu sapato.
Ele fecha a porta do carro então, me trancando lá dentro com sua mãe, e
sai correndo.
Mortificada, eu desabo no banco de trás do Range Rover de sua mãe.
Bem, isso não é estranho.
Isso não é nada estranho.
Tentar não hiperventilar com desconforto ardente era surpreendentemente
difícil, considerando que eu tinha certeza de que a hipotermia total estava se
instalando.
— P-prazer em conhecê-la, Sra. Kavanagh — eu falo, os joelhos
balançando inquietos, enquanto eu esfrego minhas mãos para cima e para
baixo em meus braços.
Eu estou tão incrivelmente fora da minha zona de conforto que não tenho
ideia do que fazer.
Saber que eu estou pingando água por todo o interior de couro do carro
dessa gentil senhora também não estava ajudando.
— O-obrigada p-pela c-carona.
— É Edel, querida — ela responde, parecendo distraída enquanto
observava pela janela. — O que, em nome de Jesus, aquele meu filho está
fazendo agora?
Murmurando vários palavrões para si mesma, a Sra. Kavanagh aperta um
botão na porta e sua janela abaixa.
— Johnny! — ela chama. — O que você está fazendo correndo na chuva,
seu maldito idiota? Entre!
— Ele está procurando um sapato — eu aponto, com bochechas em
chamas. — Meu sapato, eu deixei cair. — Mais como arremessei. — Ele está
tentando encontrá-lo para mim.
A Sra. Kavanagh se vira para sorrir para mim, mas seu sorriso vacila, sua
expressão se transformando em uma carranca preocupada.
— Oh, Deus — ela engasga. — Olhe para você tremendo. Você deve estar
morrendo de frio.
Eu estou morrendo.
Eu estou além de morta.
Meu corpo está sacudindo violentamente enquanto a umidade das minhas
roupas continua a agredir minha pele.
A mãe de Johnny liga o aquecedor no máximo, e eu gemo de alívio
quando uma onda de calor atinge meu rosto.
Ela desliza o cardigã de tricô grosso que está usando de seus ombros e o
coloca sobre minhas pernas.
— Agora, pequenina — ela diz em um tom reconfortante. — Nós vamos
te aquecer em algum momento.
— M-m-muito o-obrigada — eu respondo enquanto lentamente murcho
por dentro. Seu pequeno ato de bondade era esmagador para mim. — Eu não
quero s-sujar seu c-cardigã.
— É para isso que servem as máquinas de lavar — ela responde, o sorriso
retornando.
Uau, a mãe de Johnny era linda.
E extremamente bem vestida.
Sério, suas roupas eram como uau.
Tudo combinava, dos brincos ao cinto.
Designer de moda, lembre-se, meu cérebro sibila, é claro que ela parece
bem.
Com cabelos loiros e olhos castanhos, a Sra. Kavanagh não se parece
muito com o filho, mas ele definitivamente herdou sua estrutura óssea e
lábios carnudos.
Johnny estava certo sobre seu sotaque de Dublin, porém, era pesado e
muito mais distinto do que o dele.
— Parece que você tem um fã — acrescenta a Sra. Kavanagh, apontando
para onde Johnny estava correndo para cima e para baixo na calçada,
vasculhando o chão e os buracos para o meu sapato perdido.
Merda, eu espero que não tivesse flutuado na água do ralo.
Meu pai iria surtar se eu voltasse para casa com outra despesa.
— Ele fez um trabalho terrível em deixá-la em paz. — A Sra. Kavanagh
acrescenta com um sorriso. — Eu vi você nos jornais com ele na outra
semana. Linda foto, querida. Vocês dois parecem absolutamente
deslumbrantes juntos.
Será que ela pensou...
— O quê? Oh não – não! — Coro um tom feio de vermelho beterraba. —
Não é assim.
— Oh não? — Ela sorri. — Eu pensei que talvez Johnny tivesse arranjado
uma namoradinha enquanto eu estava fora.
— Hum, não. — Eu me contorço em desconforto. — Somos apenas...
— Amigos? — Sra. Kavanagh brinca, um pequeno sorriso puxando o
canto de seus lábios. — Foi o que eu ouvi.
Nós somos amigos?
Eu não tinha certeza.
Talvez ele ainda estivesse tentando fazer as pazes.
Eu balanço a cabeça e digo:
— Sim, somos apenas amigos.
— Ah, isso é uma pena — ela responde depois de uma longa pausa. —
Por um momento, pensei que você tinha conseguido fazer o impossível.
— O impossível?
— Distraí-lo do rúgbi.
— Oh. — Eu junto minhas mãos, sem saber como responder a isso. —
Bem, eu não distrai — é tudo que eu pensei, seguido de: — Nós somos
apenas amigos.
Quando a Sra. Kavanagh fala novamente, sua testa está franzida em
preocupação.
— Eu amo meu filho com todo meu coração, mas às vezes, eu gostaria
que ele se lembrasse de ter dezessete anos e se libertasse um pouco. Se
divertisse. Se apaixonasse. Quebrasse as regras. Fosse um adolescente em
vez de uma…
— Máquina? — Eu ofereço calmamente.
— Sim — sua mãe concorda, assentindo ansiosamente. — Sua dieta de
alimentos, o treinamento, as viagens, os patrocinadores, tudo isso... é
assustador. — Ela suspira novamente, franzindo as sobrancelhas. — Eu só
quero que ele se solte de vez em quando. Eu sei como isso soa vindo de uma
mãe, mas ele é tão controlado. Cada parte de sua vida é completamente
estruturada e planejada. É esmagador para mim como sua mãe assistir a isso.
Não consigo imaginar como é ter dezessete anos e viver assim, dia após dia.
Mas é tudo rúgbi, rúgbi e mais rúgbi com Johnny. Ele come, dorme e respira
o maldito esporte.
Eu abro minha boca para dizer alguma coisa – qualquer coisa – mas a Sra.
Kavanagh continua.
— Ele acorda e treina. Ele vai para a escola e treina. Ele volta para casa e
treina. E então ele vai para a cama e repete todo o ciclo novamente no dia
seguinte.
— Parece exaustivo — eu concordo, me sentindo um pouco
desconfortável com a visão repentina e profunda que ela está me dando
sobre a vida de Johnny.
— É certamente exaustivo vê-lo. — Com um pequeno suspiro, ela toca a
testa e diz: — Eu só gostaria que ele pudesse encontrar uma saída para a
frustração ou raiva, ou o que quer que esteja acumulado dentro dele. Tenho
medo de que um dia desses ele exploda.
Eu não tenho ideia do que dizer em resposta.
Meu cérebro está lutando para registrar todas as novas informações sobre
Johnny.
— E acabei de perceber que estou divagando — Sra. Kavanagh diz então,
rindo baixinho. — Desculpe. Meu marido está sempre me alertando sobre
isso.
— Tudo bem — eu respondo enquanto um pequeno arrepio percorre meu
corpo. — Eu não me importo.
E eu não me importo.
Eu me sinto estranhamente à vontade de ouvi-la falar.
A mãe de Johnny é legal e amigável e completamente o oposto do tipo de
mãe para quem eu voltaria para casa.
— Então, me diga como você e Johnny se conheceram? — ela pergunta.
— Vocês estão na mesma classe? Como vocês fizeram amizade um com o
outro?
— Uh, não, estou no terceiro ano — eu respondo, me mexendo no meu
lugar.
— Sério? — Os olhos da Sra. Kavanagh se arregalam. — Eu pensei que
você fosse muito mais velha.
Eu sorrio com o elogio, pelo menos eu estava levando isso como um
elogio.
Não era sempre que alguém me confundia por ser mais velha do que eu
era.
— Tenho dezesseis anos. Deveria estar no quarto ano — eu explico,
encantada comigo mesma por parecer mais velha. — Mas eu fui retida na
escola primária.
— Johnny também — Sra. Kavanagh me diz com um sorriso caloroso.
— No sexto ano — eu respondo com um pequeno aceno de cabeça. — Ele
não ficou feliz.
— Não — ela ri. — Ele certamente não ficou. — Sorrindo, ela acrescenta:
— Vocês devem se conhecer bem se ele lhe contou a história de “meus pais
arruinaram minha vida quando me mudaram para cá”.
— Não muito bem — eu me pego explicando — Honestamente, Johnny
se oferecendo para me deixar em casa é provavelmente apenas mais uma de
suas maneiras de tentar compensar por me nocautear no campo.
— Como? — A Sra. Kavanagh balbucia, os olhos esbugalhados.
— Foi um acidente — eu interrompo rapidamente. — Ele não queria que
isso acontecesse. Se alguém é culpado, então sou eu. Eu não deveria ter ido
lá. Eu o distraí. Mas ele cuidou bem de mim depois. — Solto um suspiro
antes de acrescentar: — Ele foi muito gentil.
— E quando esse acidente aconteceu?
— Em janeiro — eu explico, minha mão se movendo automaticamente
para a parte de trás da minha cabeça. — Os médicos do hospital disseram
que está tudo bem, e o pequeno inchaço desapareceu há muito tempo, mas
Johnny está tentando me compensar desde que aconteceu.
— Ele está?
— Eu acho que ele ainda se sente responsável por isso acontecer — eu
digo com um encolher de ombros. — Nós dois sabemos que ele não queria
que isso acontecesse. Nenhum de nós queria. Foi um acidente completo. Mas
está tudo resolvido agora.
— E então ele deveria se sentir responsável! — O rosto da Sra. Kavanagh
fica com um tom branco mortal quando ela sussurra: — Eu vou castrar
aquele merdinha…
— Oh meu Deus, não! — Eu grito.
Pensando em minhas palavras, de repente percebo o quão ruim isso deve
ter soado para a Sra. Kavanagh e, desesperada para limpar o olhar de terror
de seu rosto, eu rapidamente esclareço:
— Me atingiu na cabeça. Johnny me nocauteou. Um acidente.
Oh, meu Deus, me deixe morrer.
— Me bateu — enfatizo pela décima vez. — O inchaço estava na minha
cabeça.
— Como ele te nocauteou? — sua mãe pergunta, parecendo perturbada e
ainda assim imensamente aliviada.
Eu suspiro pesadamente.
— Com suas bolas.
— Com suas bolas? — ela repete, parecendo horrorizada. — Johnny
nocauteou você com as bolas?
— Bola — eu enfatizo, me contorcendo no meu lugar. — Apenas uma
bola... — Eu paro de falar, sabendo que estou fazendo uma confusão.
— Bolas? Inchaço? Nocauteando você? — A Sra. Kavanagh solta um
suspiro pesado. — Shannon, amor, por favor, explique isso para mim antes
que eu tenha um derrame.
— Eu não estou grávida nem nada! — Eu solto, sentindo a necessidade de
deixar isso claro. — Eu nunca estive grávida — acrescento para
esclarecimento. — Não de seu filho ou qualquer outra pessoa.
— É bom saber — sua mãe respondeu, em um tom um pouco menos
agressivo. — Agora, me diga o que aconteceu.
— Oh, Deus... — Eu pressiono minhas mãos em minhas bochechas
queimando e inalo uma respiração firme antes de tentar novamente — Eu me
transferi para Tommen depois das férias de Natal. Era meu primeiro dia e eu
estava atrasada para uma aula, então eu atravessei o campo onde eles
estavam praticando rúgbi. Johnny chutou a bola e ela me acertou na nuca. Eu
caí na beira do campo e bati minha cabeça no chão. Devo ter batido em uma
pedra ou algo assim quando cai porque eu desmaiei. Ainda estava tudo meio
confuso, mas Johnny me ajudou a ir até o escritório e esperou comigo até
minha mãe chegar à escola. Mamãe me levou ao hospital para ser
examinada. — Solto um suspiro trêmulo e acrescento: — É isso.
A Sra. Kavanagh me observa por um longo e desconfortável momento,
obviamente medindo minhas palavras.
Acho que ela percebe que eu estou dizendo a verdade porque sua voz está
cheia de preocupação quando ela finalmente pergunta:
— E você estava bem?
— Sim. — Eu balanço a cabeça, aliviada por ter esclarecido a desastrosa
falha de comunicação. — Foi apenas uma concussão moderada.
— Oh, Jesus — ela solta. — Shannon, amor, eu sinto muito.
Alcançando o console, ela pega uma bolsa de grife do chão e a abre.
— Suas contas do hospital — ela começa a dizer, o tom distraído
enquanto vasculha sua bolsa. — Você sabe quanto elas são, droga, eu deixei
minha carteira no balcão da cozinha. Eu vou precisar do número de telefone
da sua mãe. — Ela continua a vasculhar sua linda bolsa de grife. — Por que
a escola não me contatou?
— O quê? — Eu fico boquiaberta e balanço a cabeça. — Não, não, Sra.
Kavanagh. Está tudo bem. Não houve nenhuma conta. Eu tenho um plano de
saúde.
Ela me observa por vários segundos antes de finalmente tirar a mão da
bolsa.
Fico feliz por ela ter feito isso porque eu tinha um aperto firme na
maçaneta da porta e estava a dois segundos de sair deste jipe – com sapato
ou sem sapato.
— Bem, eu sinto muito pelo que aconteceu com você, Shannon — ela
finalmente diz, colocando sua bolsa de volta no chão do lado do passageiro.
— Mas eu ainda gostaria de falar com seus pais para pedir desculpas. Talvez
eu possa fazer isso quando eu te deixar em casa…
— Não há necessidade — eu solto, sentindo meu peito apertar com pânico
enquanto o sangue em minhas veias se transforma em gelo. — Minha mãe
trabalha o tempo todo, então ela não vai estar em casa e meu pai não está...
ele não vai... por favor, não ligue... ele não está... — Minhas palavras
embolam na minha língua e eu exalo uma respiração irregular e solto as
palavras: — Não é necessário.
A Sra. Kavanagh mordisca o lábio inferior incerta enquanto estuda meu
rosto.
Seus olhos castanhos estavam cheios de preocupação silenciosa, sua
expressão combinando.
— Shannon, amor, eu não…
É nesse exato momento que a porta do passageiro da frente se abre,
assustando nós duas, e fazendo a Sra. Kavanagh – felizmente – parar de
falar.
— Porra, está congelando lá fora! — Johnny anuncia enquanto pula para
dentro e se sacude, fazendo com que a água espirre por toda parte. — Eu
diria que é hora de fechar as escotilhas e guardar os bodes de borrachas,
meninas. O tempo está uma merda.
— Diz o gênio correndo em uma tempestade pela última meia hora —
brinca sua mãe. — Estamos em alerta laranja para inundações, você sabe. A
quarta em um mês.
— Você sabe que eu não sou um desistente, mãe — Johnny rebate,
segurando meu sapato em triunfo.
Virando-se em seu assento para me encarar, ele arqueia uma sobrancelha e
diz:
— Dica para a próxima vez que fizermos isso? — Seu tom é sério, mas
seus olhos dançam com malícia, enquanto a água pinga de seu cabelo
achatado pela chuva em sua testa. — Mantenha seus sapatos em seus pés.
Piscando, ele joga meu sapato no meu colo antes de se virar e pegar seu
cinto de segurança.
— Desculpe — eu murmuro, com o rosto vermelho.
Pegando o sapato viscoso do meu colo, eu relutantemente deslizo meu pé
para dentro, estremecendo com a sensação de esmagamento.
— Obrigada por salvar meu sapato.
— Sim, bem, me agradeça aprendendo a andar neles — Johnny retruca
em um tom de provocação.
Eu coro em um tom vermelho beterraba.
— Hum, sim, tudo bem.
— Cristo, isso é chuva para caralho em março.
— Cuidado com sua linguagem — Sra. Kavanagh repreende enquanto ela
liga o motor e arrancava. — E o que é isso que eu ouvi sobre você nocautear
Shannon?
Johnny vira-se e olha para mim, a expressão em seu rosto dizia sério?
Eu afundo no meu assento.
— Bem?
— Pelo amor de Deus, mãe!
— O que eu te disse sobre sua língua? — Sra. Kavanagh estalou. — Esfria
a cabeça, Johnny.
— Cristo. — Johnny caiu contra o encosto de cabeça e gemeu. — Eu já
levei bronca de Twomey, Lane, do treinador e da mãe de Shannon. Por favor,
não você também.
— Bem? — A Sra. Kavanagh pergunta, lançando um rápido olhar para o
filho antes de voltar a se concentrar na estrada. — Você não acha que eu
deveria ter sido avisada?
— Desculpe — eu solto, apertando minhas mãos ansiosamente. — Sua
mãe pensou que eu era sua... que nós éramos... que você me pegou... com
suas bolas grávidas... ugh... — Limpando minha garganta, eu sussurro —
Sinto muito.
Johnny se vira para mim e sorri.
— Minhas bolas grávidas?
— Não, eu grávida e suas bolas. — Eu gaguejo e então me encolho com
minhas palavras. — Deixa para lá.
Ignorando minha divagação, Johnny vira-se para a mãe e diz:
— Foi um acidente. Ela estava em campo durante o treino. Eu nem a vi
até que a bola a atingiu na cabeça.
— Sim, eu sei disso agora. Shannon explicou — responde a Sra.
Kavanagh. — Espero que você tenha se desculpado com ela, Johnny.
— Claro, eu me desculpei com ela — Johnny bufa, os ombros rígidos.
Do meu lugar no centro do banco de trás, observo enquanto ele passa a
mão sobre sua coxa – sua coxa ferida.
Balançando a cabeça, Johnny exala uma respiração frustrada e murmura:
— Eu tenho me desculpado desde então.
— Ainda assim, eu gostaria de ter sido informada sobre isso quando
aconteceu.
— Bem, agora você sabe — ele fala. — Foi um acidente. Eu não queria
que isso acontecesse, e eu não saio por aí batendo na cabeça das garotas
atoa.
— Não fique tão na defensiva, Johnny — ela responde, suavizando o tom.
— Ninguém está acusando você de fazer isso de propósito, querido.
— Sim, porra, certo — ele murmura. — Apenas deixe para lá, mãe.
Ele parece agitado, não, era mais que isso.
Ele soava como se estivesse com dor.
O que ele mais do que provavelmente está.
Minhas memórias de nossa conversa em seu carro flutuam em minha
mente em gloriosos detalhes coloridos.
Não está cicatrizando rápido o suficiente.
É uma bagunça do caralho.
Estou dolorido.
Não conte a ninguém.
A preocupação desperta dentro de mim e me pergunto se sua mãe sabia
quanta dor ele estava sentindo.
Eu duvido.
Com base na minha interação limitada com a mulher, ela não me parece o
tipo de pessoa que conscientemente permitiria que seu filho se colocasse em
perigo.
— Você está indo na direção errada — declara Johnny quando a Sra.
Kavanagh vira à esquerda no cruzamento em vez de seguir direto para a
rodovia. — Shannon mora na cidade de Ballylaggin, do outro lado.
— Oh, eu sei, querido — Sra. Kavanagh disse. — Eu apenas pensei que
poderia ser uma boa ideia ter Shannon por perto para o chá.
— Chá? — Eu murmuro.
Johnny suspirou pesadamente.
— Mãe.
— Você bebe chá, Shannon, querida? — A Sra. Kavanagh pergunta.
— Hum... sim?
— Mãe — Johnny assobia em um tom baixo. — O que você está fazendo?
— As meninas estão no banho e tosa da cidade e precisam ser buscadas às
sete — explica a Sra. Kavanagh. — São quase cinco horas agora. Não faz
sentido dirigir até Ballylaggin com Shannon, só para dirigir de volta para as
cachorras.
— Então busque-as agora — ele sussurra, tenso.
— Eu não posso — Sra. Kavanagh responde alegremente. — Eu deixei
minha carteira em casa.
— Mãe, não — Johnny diz em tom de advertência enquanto balança a
cabeça lentamente. — Ela quer ir para casa.
— Shannon não se importa se passarmos em casa por uma hora antes de
deixá-la em casa — responde a Sra. Kavanagh.
— Não mesmo até que pergunte a ela — Johnny cospe.
— Shannon? — A Sra. Kavanagh me chama de volta. — Você se importa,
querida?
Diga não, Shannon.
Diga a ela que você se importa.
Se ele descobrir, ele vai te matar.
Você sabe que isso está errado.
Este menino não é seguro para você...
— Eu não me importo — eu solto, dilacerada pelo medo dentro do meu
coração e a curiosidade ardente em meu corpo. — Está tudo bem por mim.
— Viu?— sua mãe brinca, acariciando a bochecha de Johnny. — Shannon
não se importa, querido.
Johnny se vira e me dá um olhar de desculpas.
Eu não sei o que dizer ou fazer, então apenas dou de ombros e sorrio
fracamente para ele.
Ele me encara por um longo tempo antes de exalar uma respiração cortada
e se virar para o para-brisa.
Oh Deus.
Oh senhor.
Oh, doce e misericordioso menino Jesus...
Respire, Shannon, apenas respire...
Permaneço calada, observando Johnny e sua mãe interagirem, e falando
apenas quando me fazem uma pergunta direta.
Era estranho, desconfortável, e eu estava dolorosamente ciente de sua
presença o tempo todo, meu corpo em alerta máximo.
Pelo o quê, eu não fazia ideia.
Mas toda vez que eu estou perto dele, eu acho difícil respirar.
Depois de alguns minutos viajando por uma estrada secundária estreita,
paramos diante dos familiares portões de ferro preto.
A Sra. Kavanagh abaixa a janela, estica o braço e digita o código no
teclado.
E assim como quando eu vim aqui com Joey há pouco mais de uma
semana, os enormes portões se abrem.
Me concentrando na minha respiração, tento não me concentrar em quão
bonita sua casa é e quão inferior eu me sinto por estar, mais uma vez, prestes
a entrar nela.
— Agora — anuncia a Sra. Kavanagh, estacionando do lado de fora do
que parecia ser uma porta de dois metros e meio de altura. — Traga sua
amiga para dentro, querido, e dê algo quente e seco para ela se vestir.
Ela desliga o motor e solta o cinto de segurança.
— Eu devo fazer uma ligação rápida para o trabalho e então eu faço algo
para vocês dois comerem.
— Mãe... — Johnny começa a dizer, mas a Sra. Kavanagh sai do carro e
corre para destrancar a porta da frente.
Atordoada, não posso fazer nada além de ver a Sra. Kavanagh desaparecer
na casa, deixando-nos sozinhos em seu Range Rover.
— Eu sinto muito por isso — Johnny anuncia, me distraindo do meu
tumulto interior. Ele se vira em seu assento para me encarar. — Eu não tenho
ideia do que ela estava pensando.
— Está tudo bem — eu respondo, apertando minhas mãos com força. —
Sua mãe é muito legal.
— Ela é de boa — Johnny murmura baixinho enquanto olha por cima do
ombro para a casa. — E a sua mãe?
Minhas sobrancelhas se erguem.
— O que tem ela?
— Você precisa estar em casa? — ele pergunta, encolhendo-se um pouco
em desconforto óbvio. — Ajudá-la ou algo assim?
— Ela está no trabalho — eu respondo baixinho.
— Merda, sim, você já disse isso — ele murmura, passando a mão pelo
cabelo encharcado. — Você está bem?
Eu balanço a cabeça.
— E você já disse isso também — ele murmura com um aceno de cabeça.
— Merda, você me disse para não falar sobre isso.
— Eu sei — eu sussurro.
— Está feito — ele promete. — Eu não vou trazer isso à tona novamente.
Eu sorrio fracamente.
— Obrigada.
Ele olha para mim por um longo momento, como se estivesse tentando
descobrir algo em sua cabeça, antes de exalar um suspiro pesado.
— Certo. É melhor entrarmos.
— Eu não preciso — eu rapidamente ofereço, me sentindo estranha e
insegura. — Eu posso esperar aqui fora se você preferir?
— O que – não! — Ele sai e abre minha porta. — Eu não quero isso.
— Tem certeza? — Eu sussurro, sentindo meu coração bater instável no
meu peito.
Johnny assente, mas parece tão incerto quanto eu.
— Eu quero que você entre, Shannon.
— Você quer?
— Eu quero.
Inalando uma respiração profunda e firme, saio do carro e olho para o
rosto dele, me sentindo muito pequena e muito perdida.
Eu preciso dele para assumir a liderança aqui.
Esse era um território desconhecido para mim.
Eu não sei como abordar isso.
— Vamos — Johnny finalmente diz, felizmente assumindo o controle da
estranha situação em que nos encontrávamos, enquanto segura meu cotovelo
e nos tira da chuva.
Quando entramos na casa, Johnny solta meu cotovelo e fecha a porta atrás
de nós.
Enquanto isso, eu estou no enorme saguão de entrada e tento o meu
melhor para não olhar para a mesa antiga do corredor que revestia a parede
ou para o cabide de aparência cara do lado de dentro da porta, e eu
definitivamente tento não ficar boquiaberta para o enorme relógio de
pêndulo, tiquetaqueando alto, ou as inúmeras pinturas que revestem as
paredes de marfim imaculadas.
Quando Johnny tira os sapatos, eu automaticamente o copio, não querendo
espalhar lama nos azulejos estampados em preto e branco perfeitamente
polidos.
Eu estava neste mesmo salão há pouco mais de uma semana, mas estava
nervosa demais para observar o que me cercava.
Eu ainda estou nervosa.
Talvez ainda mais nervosa.
Mas hoje era diferente.
Não havia Joey ou Gibsie para me distrair.
Era só eu e Johnny.
E sua mãe.
Oh Deus...
43

MÃES INTROMETIDAS

JOHNNY

Há algo muito errado comigo.


Correr por vinte minutos em uma chuva torrencial por um sapato era uma
boa indicação de que essa garota estava me fazendo perder a cabeça.
No minuto em que vi Shannon correndo pelo salão de educação física,
uma onda monstruosa de proteção surgiu dentro do meu corpo ao vê-la
tentando se proteger de ser pisoteada, e eu sabia que meu problema era
maior do que eu imaginava.
Eu tive o desejo mais insano de entrar na quadra e dizer a seus colegas
para se afastarem dela.
Durante toda a semana passada, eu estava me comportando como um
stalker doido, cuidando dela nos corredores e ficando cada vez mais agitado
quando ela não aparecia.
Eu fiquei com as antenas ligadas na esperança de esmagar qualquer merda
que possa estar acontecendo sem o meu conhecimento, deixando claro que
quem fodia com ela, fodia comigo.
Graças a Deus ela voltou para a escola hoje, porque eu tinha planos de
dirigir até lá essa noite se ela não voltasse.
Cada minuto de cada dia desde o dia em que seu irmão a tirou de mim, eu
tinha sido atormentado pela preocupação.
Eu não sabia por que eu estava me comportando assim.
Eu só sabia que algo dentro de mim exigia que eu a protegesse.
Eu não tinha a menor ideia do que era aquela coisa ou por que eu estava
sentindo isso, mas era tão forte que eu praticamente podia sentir o gosto.
Eu não tinha ideia de como lidar com o aborto da mãe dela.
Nenhuma maldita ideia de como confortá-la sem ser muito duro.
Eu parecia ter o hábito de fazer isso quando se tratava dessa garota.
Eu sabia que precisava dar um passo para trás.
Mas eu não podia.
Minha reação a ela só se intensificou quando eu a vi indo embora na
chuva, toda pequena e incerta, e eu entrei de cabeça.
Ela claramente não queria que eu a deixasse em casa e eu insisti mesmo
assim.
Fiz mais do que insistir; eu a coloquei fisicamente no banco de trás do
Range Rover da minha mãe, muito irritado e perturbado por meus
sentimentos para dar um passo para trás e ouvir.
Sim, foi uma jogada estúpida.
Eu não deveria ter colocado minhas mãos nela.
Útil ou não, não era o jeito certo de levar com essa garota.
A pior parte era saber que se minha mãe não tivesse aparecido quando
apareceu, havia uma grande chance de eu tê-la beijado.
Eu queria.
Seriamente.
E isso era além de aterrorizante.
Pior novamente foi o fato de minha mãe intrometida ter me fodido e
levado a Shannon lá em casa.
Deixou a carteira dela em casa, minha bunda.
A mulher tinha um cartão de crédito no bolso de trás o tempo todo.
Ela fez isso de propósito.
Eu sabia.
Mamãe sabia disso.
A única que não sabia – graças a Deus – era Shannon.
Agora ela está aqui, de pé na minha casa, olhando para mim com aqueles
olhos grandes e solitários, esperando que eu faça alguma coisa, e eu estou
completamente fora de controle.
— Você quer subir para meu quarto? — Eu pergunto, porque,
francamente, o que diabos eu deveria fazer com ela?
Levá-la para a cozinha e deixar mamãe disparar cinquenta perguntas nela?
De jeito nenhum.
Se ela estava aqui, então ela estava aqui comigo.
Ela era minha e eu não queria compartilhar.
— Ah, tudo bem? — ela responde nervosamente, embora soasse mais
como uma pergunta. — Se você quiser?
Jesus, ela precisava parar de me perguntar o que eu queria que ela fizesse.
Se ela continuasse, eu poderia ser estúpido o suficiente para lhe dizer a
verdade.
E então nós dois estávamos ferrados.
Decidindo que era mais seguro não responder isso, eu simplesmente
gesticulo para a escada e começo a andar, só indo até o terceiro degrau
quando percebo que ela não estava me seguindo.
Quando me viro, encontro Shannon exatamente onde eu a deixei, me
observando com uma expressão nervosa.
Ela tinha os braços em volta de si mesma de forma protetora, com seus
longos cabelos castanhos encharcados da chuva e grudados em mechas
molhadas em seu rosto, e em toda a minha vida, eu nunca tinha visto nada
tão bonito.
Jesus.
Como eu deveria lidar com isso?
Como eu deveria lidar com ela?
— Johnny! — Ouço mamãe chamar do corredor. — Você pegou algo para
Shannon se vestir? A pobre garota está como um rato afogado pela chuva.
— Estou bem, Johnny — Shannon se apressa em me dizer. —
Honestamente, eu estou.
Eu a olho com inquietação.
Ela estava tremendo como uma louca e há uma pequena poça se formando
ao redor dela com a água pingando de suas roupas.
Cristo...
— Vamos, está tudo bem — eu convenço, refazendo meus passos. — Eu
vou cuidar de você.
E então eu pego a mão dela na minha e a levo escada acima, sabendo que
isso era uma porra de uma ideia terrível, mas me resigno a fazê-la de
qualquer maneira.
Eu estou completamente fodido.
44

ENTÃO, ESTE É O MEU QUARTO - DE NOVO

SHANNON

Johnny Kavanagh está segurando minha mão.


Ele está segurando minha mão e me levando para o andar de cima.
De novo.
Para o quarto dele.
De novo.
Onde ele dorme.
Na cama dele.
Provavelmente com muita pouca roupa.
Oh Deus...
Ao contrário da última vez que fiz esse caminho com Johnny, ele anda no
meu ritmo, me dando a chance de apreciar a maravilha absoluta que era sua
casa. Quero dizer, era difícil colocar em palavras o quão impressionante era.
Ao contrário da cozinha enorme e moderna que ele me levou na semana
passada, esta ala da casa era tradicional e quase real?
Todo o andar de cima era feito de piso de madeira manchado e lindo papel
de parede estampado que era tão limpo e brilhante que parecia seda.
Por tudo que eu sabia sobre tecidos e desenhos, poderia estar certo.
Essa casa inteira e o garoto segurando minha mão cheiram a dinheiro.
Montanhas e montanhas de dinheiro.
Era aterrorizante.
O chão range um pouco sob nossos pés enquanto descemos a ala direita da
casa, passando por nada menos que cinco outras portas, até chegarmos à
porta que eu sabia que era dele.
Johnny empurra a porta para dentro e nos leva para o seu quarto, ainda
segurando minha mão, ainda fazendo meu coração pular violentamente.
Infelizmente, ele solta minha mão alguns momentos depois, e a falta de
contato me faz sentir estranhamente desolada.
— Então, este é o meu quarto — ele diz com um sorriso, acenando com a
mão ao redor do quarto ainda bagunçado. — Novamente.
— E ainda é um bom quarto. — Eu ofereço com um sorriso tímido.
Ele sorri.
— Eu não sou o melhor dono de casa.
Eu posso dizer.
Me sentindo dolorosamente desconfortável por ficar no meio de seu
quarto, vou até a pilha de DVDs ao lado de sua televisão, esperando que eu
conhecesse um dos títulos para poder iniciar uma conversa em vez de apenas
ficar aqui como um manequim.
Meu rosto arde de calor quando leio o título na caixa do DVD no topo da
pilha: Prazer na Boceta XXX.
— Porra — Johnny murmura quando percebe para onde eu estava
olhando. Ele corre e joga o pornô atrás da TV. — Isso é... ah... —
Interrompendo-se, ele exala um suspiro pesado e esfrega o rosto com a mão.
— Desculpe por isso. Eu não trago garotas aqui. — Ele franze a testa por um
momento antes de acrescentar: — Exceto você.
Contorcendo-me desconfortavelmente, eu respondo:
— Não se preocupe com isso.
— Então — ele medita.
— Então — eu sussurro.
— Isso é muito estranho — Johnny murmura.
— Sim — eu concordo quando um pequeno sorriso surge em meu rosto.
Johnny nota meu sorriso e sorri de volta para mim.
— Aposto que você não planejou passar a noite presa aqui, hein?
— Eu realmente não me importo — eu digo a ele, e surpreendentemente,
eu quero dizer isso.
Estar aqui atrasa a volta para casa para outra noite de drama.
E estar aqui com Johnny era meio assustador.
Eu queria estar aqui com ele.
Eu quero ele, ponto.
— Então — Johnny diz novamente, se movendo inquieto enquanto ele
passa a mão pela coxa. — O que você quer fazer?
— Eu não me importo — eu respondo. — Eu faço o que você quiser
fazer?
— Porra. — Johnny cerra os olhos e geme.
— Oh Deus, você está bem? — Me apresso a perguntar, bem ciente de
que ele estava com dor.
— Tudo bem — ele me assegura em um tom tenso.
— Tem certeza? — Eu pergunto, incerta novamente.
Seus olhos azuis estão selvagens e cheios de incerteza quando ele diz:
— Estou meio que fora da minha zona de conforto aqui, Shannon.
— Você quer que eu vá embora?
Ele balança sua cabeça.
— Tem certeza?
Ele assente lentamente.
— Eu quero que você fique.
— Ok — eu suspiro.
Inalando uma respiração estabilizadora, eu envolvo meus braços ao redor
da minha cintura e caminho até sua enorme mesa onde montanhas de livros
escolares estão fechadas.
— Você é um bom aluno? — Eu pergunto, lançando um olhar por cima do
ombro.
— Sou decente — responde Johnny, me seguindo.
— Nenhum exemplar de Chicken Licken?
Johnny ri alto.
— Não. — Vindo para ficar atrás de mim, ele riu — Definitivamente nada
de Chicken Licken.
Com o rosto em chamas, mantenho minha atenção em sua mesa, passando
o dedo sobre as provas e livros enquanto meu olhar vaga para o quadro de
cortiça acima da mesa.
— Uau, você conheceu muitas pessoas famosas — eu sussurro, o olhar
passando de foto em foto de Johnny com uma variedade de diferentes
celebridades e atletas. — Qual desses caras é o seu herói?
Presumo que um fosse.
Ele é um adolescente.
Todos eles têm heróis.
Johnny estende a mão ao meu redor e puxa uma das fotos do quadro.
A tachinha que o segura caiu sobre sua mesa.
— Vê esse? — ele pergunta enquanto está atrás de mim com o braço
esticado ao redor do meu corpo para que eu pudesse ver.
Respire, Shannon, apenas respire...
Me forçando a me concentrar em sua pergunta, e não na forma como meu
corpo estava reagindo à sua proximidade, eu olho para a foto em suas mãos.
— Vejo — eu sussurro, olhando para a única fotografia que não parecia
ter uma celebridade nela.
Eu imediatamente reconheço a loira deslumbrante deitada na toalha de
piquenique na grama como uma versão mais jovem da Sra. Kavanagh.
Ela tinha enormes óculos escuros cobrindo seus olhos e um grande chapéu
branco e flexível empoleirado em sua cabeça enquanto ela sorri para um
homem.
O homem em questão – um homem bonito que parece uma versão mais
velha de Johnny – estava de pé sobre ela e em seus ombros estava sentado
um menino pequeno de cabelos escuros de não mais que cinco ou seis anos.
O menino estava vestido com uma camisa listrada de azul-claro e branco e
shorts brancos.
Seu cabelo estava arrepiado em quarenta direções diferentes, e ele
segurava orgulhosamente uma bola de rúgbi acima de sua cabeça e sorria
com aquele sorriso enorme, de covinhas duplas e desdentado.
— Esta é a minha foto favorita — Johnny diz, me tirando dos meus
pensamentos. Ele toca na foto. — E ele é meu herói.
— Seu pai? — Eu sussurro, os olhos colados na foto. — É você com sua
mãe e seu pai?
— Sim — respondeu Johnny. — Em toda a nossa glória.
— E é sua foto favorita porque é de você e seus pais?
Johnny deu de ombros e o movimento fez com que seu peito duro roçasse
minhas costas.
— É em parte por isso que é a minha favorita.
Estremeço involuntariamente.
— Qual é a outra parte? — Eu sussurro.
— Porque é real.
— Real?
— Inocente. Bom. Puro. Antes dos holofotes — ele explica. — Quando
tudo o que importava para mim era uma bola e meus pais.
— Oh — eu suspiro, olhando para o que parecia ser o garotinho mais feliz
do mundo. — Bem, você era uma criança linda.
— Era? — Johnny brinca. — Como assim, eu não sou mais?
— Uh, não, quero dizer sim, é claro… eu não… hum, você tem todos os
seus dentes agora. — Eu gaguejo, me sentindo confusa e tola por expressar
meus pensamentos em voz alta.
Johnny ri da minha resposta.
— Eu só estou brincando com você, Shannon.
Envergonhada, coloco a foto na mesa e dou a volta nele, precisando
colocar algum espaço entre nós.
Eu não consigo pensar quando estou tão perto dele.
— Você joga GTA? — Eu pergunto então, olhando para a caixa do
PlayStation no chão com entusiasmo.
— Sim. — Johnny me olha com curiosidade — E você?
Eu balanço a cabeça.
— Eu sou incrível.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— É mesmo?
— Uh-hum. — Eu era terrível na maioria das coisas na vida, mas arrasava
no GTA. — Joey tem Vice City e San Andreas e eu zerei os dois jogos.
Suas sobrancelhas se erguem.
— Em uma semana.
Sua boca se abre.
— Não.
— Ah, sim. — Eu balanço a cabeça, sorrindo orgulhosamente. — Eu sou
a melhor.
Johnny inclina a cabeça para um lado, me dando um sorriso curioso.
— Você quer jogar um jogo?
Eu sorrio.
— Se você quiser?
Ele sorri.
— Você acha que é tão boa assim?
— Eu sei que sou — respondo, e pela primeira vez na minha vida, tive a
confiança de dizer isso.
Não dizia muito sobre mim como pessoa quando tudo que eu me
destacava na vida era arrasar no GTA, mas era melhor que nada.
— Bem, garotinha, é melhor você ter certeza disso — Johnny retruca com
um sorriso malicioso. — Porque eu sou o melhor.
Eu bufo.
— Apostado, garotinho.
Johnny balança a cabeça, claramente se divertindo com o meu papo
furado, e então se apressa para ligar o jogo.
— Sem cartões de memória — ele chamou por cima do ombro. —
Começando do zero, e a pessoa que completar mais missões antes de morrer
é a vencedora, e as damas primeiro.
— Isso é comigo — respondo, aceitando o controle que ele me estende.
— Porque você é uma garota?
— Porque eu sou a melhor.
— Você, uh... — Johnny coça a cabeça e gesticula para sua cama. — Quer
fazer isso aqui?
— Na sua cama? — Eu solto.
Ele dá de ombros, parecendo tão incerto quanto eu.
— Ou nos pufes, se você preferir?
— Uh, sim, tudo bem — eu respondo. Caminhei até os pufes de couro que
estavam lado a lado, apenas para hesitar e me virar para olhar para ele. — Se
você quiser que eu…
— Sente sua bunda, pequena Lynch, para que eu possa vencê-la —
Johnny me interrompe, tom misturado com diversão.
Afundo em um dos pufes e dou a ele minha melhor expressão de você está
perdendo.
— Você deveria ficar confortável — eu noto quando ele se esparrama no
pufe ao lado do meu. — Você vai ficar assistindo por um tempo. — Clicando
no jogo, eu manuseio meu controle, a atenção voltada para sua enorme tela
de televisão, e murmuro — Um longo tempo.

— Sem trapaças! — Johnny late uma hora depois. — Isso é trapaça pra
caralho.
— Não, não é — eu rio enquanto digito outro código de trapaça para
carregar a vida do meu boneco — Você nunca disse nada sobre códigos de
trapaça.
— Sim, eu fodidamente disse — Johnny bufa ao meu lado.
— Sem cartões de memória. Comece do zero, e a pessoa que completar
mais missões antes de morrer é a vencedora — eu imito sua voz. — Você
nunca disse nada sobre códigos de trapaça.
— Você é perigosa — Johnny resmunga. — E sorrateira.
— Eu sou a melhor. — Eu gargalho quando termino outra missão. — Eu
tentei avisá-lo.
— Sim, bem, eu não esperava que você fosse a porra do Bill Gates do
GTA, não é?
Eu rio alto, me sentindo completamente à vontade com ele neste
momento.
— Porque eu sou uma menina?
— Porque eu pensei que você era doce — Johnny atira de volta, e eu não
preciso olhar para saber que ele está fazendo beicinho.
Ele está fazendo beicinho por quase uma hora.
Eu rio para mim mesma.
— Agora eu sei melhor — Johnny bufa. — Você é uma pequena demônia.
Mordendo o lábio para me impedir de rir de sua birra, me concentro ainda
mais em fugir dos policiais que me caçam.
— Como você está fazendo isso? — Johnny exige então, claramente
indignado. Pulando para frente, ele acena com a mão para a tela. — Você
tem cinco fodidas estrelas. Cinco. E você ainda não está morta.
Pausando o jogo, me viro e dou-lhe toda a minha atenção.
— Você é um mau perdedor, Sr. Eu Sou Uma Grande Estrela do Rúgbi?
O rosto de Johnny fica com um tom hilário de vermelho.
— Você não gosta quando uma garota te derrota? — Continuo a provocar,
usando as mesmas provocações que deixam Joey furioso quando jogávamos
juntos. — Você não pode levar sua surra como um homem?
— Você tem tanta sorte que você é uma menina agora — Johnny me diz,
os lábios se contraindo.
— Por que? — Eu ri. — Você prefere perder para os meninos?
— Dê-me essa porra de controle — Johnny rosna e então se lança sobre
mim. — O poder está indo para sua cabeça.
— Não! — Eu grito/rio, me virando de lado para proteger o controle. —
Eu não terminei… Ahhhh!
— Dê para mim — Johnny ri enquanto tenta deslizar a mão debaixo do
meu braço.
— Nunca — eu declaro através de ataques de riso. — É meu – pare, por
favor - Ahhhh, estou com cócegas…
— Agora, Shannon, amor, eu sinto muito por isso. Minha ligação de
trabalho demorou mais do que o esperado. — A Sra. Kavanagh anuncia
enquanto entra no quarto de Johnny sem bater, fazendo com que eu salte do
pufe e Johnny gema em desespero.
— Vá para o banheiro e troque essas roupas molhadas — a Sra. Kavanagh
instrui enquanto colocava uma pilha de roupas dobradas no pé da cama dele.
— Vou colocar seu uniforme na secadora e estará pronto antes de você ir.
— Não, não — eu me apresso a dizer, empunhando o controle do
PlayStation na minha frente como se pudesse de alguma forma afastar sua
bondade. — Eu estou bem como estou... obrigada.
— Bobagem, querida — a Sra. Kavanagh diz com um aceno de desdém.
— Você não pode ficar sentada com roupas molhadas. Você vai morrer.
— Mãe — Johnny diz com um suspiro de dor. Ele fica de pé e exala uma
respiração frustrada. — Deixe-a em paz, sim?
— Não seja tão rude, Johnny — adverte a Sra. Kavanagh. — Mostre a
pobre menina o banheiro e me traga suas roupas para secar.
— Eu realmente estou bem — eu engasgo, olhando para Johnny
suplicante. — Estou me secando.
Eu não estou.
Eu estou úmida e com frio, mas estou me divertindo tanto que esqueci
completamente do meu uniforme encharcado.
Eu tinha literalmente esquecido dos meus problemas, minhas roupas
molhadas, meus pais, todos, na última hora.
No momento em que meu cérebro registra a umidade penetrando em meus
ossos, eu tremo por dentro.
Droga.
— Ela acabou de dizer que está bem, mãe — Johnny geme, olhando para
sua mãe com horror. — Deixe-a em paz. Por favor.
Ignorando os protestos de seu filho, ela se vira para mim, sorrindo.
— Um bom banho quente vai te aquecer, amor.
— O–o quê? — Eu murmuro. — Eu não posso tomar banho na sua casa.
— De novo.
Por que as pessoas sempre me dizem para tomar banho na casa desse
garoto?
Deus!
— Claro que você pode — ela responde com o sorriso mais caloroso que
eu já vi.
— Mãe, você pode simplesmente ir? — Johnny fala mordaz. — Agora?
Estávamos no meio de algo aqui.
Ela dá-lhe um olhar duro.
— No meio de quê?
Aceno o controle para ela.
— Eu o venci no PlayStation.
— Não — Johnny corrige. — Ela não me venceu em nada... — Johnny
faz uma pausa para me encarar — Você ainda não ganhou... — e então se
vira para sua mãe e acrescenta: — Ela apenas jogou a régua fora.
— Para o espaço — eu murmuro baixinho.
— Eu ouvi isso — ele atira de volta, sorrindo.
A Sra. Kavanagh olha entre nós e então sorri.
— Ele é um péssimo perdedor, não é?
— Eu não sou, porra!
— Eu sei — eu rio.
— O pai dele é igual — acrescenta a Sra. Kavanagh. — Você deveria vê-
lo se ele perde no tribunal. Fica sem falar por horas.
— Mãe — Johnny retruca. — Você pode nos deixar em paz? Por favor?
— Eu vou — ela responde. — Uma vez que aquela pobre garota tomar
um banho quente e colocar algumas roupas secas nela.
— Ela não quer um…
— Você sabe o que, Shannon, querida? — ela acrescentou, mais uma vez
ignorando seu filho. — Eu poderia ter algo em meu escritório que caiba em
você. — Ela me olha de cima a baixo e bate no lábio antes de dizer: — Você
veste um tamanho seis do Reino Unido?
Assustada, eu apenas fiquei lá enquanto a Sra. Kavanagh me circula,
sobrancelhas franzidas em concentração.
— Mãe! — Johnny fala. — Recue.
— Não, não — Sra. Kavanagh medita, ignorando seu filho.
Franzindo a testa, ela se aproxima e puxa a bainha da minha saia e franze
os lábios.
— Você é um pequeno quatro. — Seus olhos trilham sobre mim. — Com
a estrutura óssea mais incrível. Shannon, amor, é uma pena que você não
seja mais alta. Você seria uma modelo linda...
— Jesus Cristo, mãe — Johnny ladra, passando a mão exasperada pelo
cabelo. — Ela não é uma maldita boneca.
Os olhos de sua mãe se arregalam de animação quando ela diz:
— Você gostaria de vir ver se podemos encontrar algo para você usar no
meu…
— Não, ela não vai — Johnny interrompe enquanto intercepta sua mãe e a
leva até a porta. — Ela não é um projeto, mãe, ou um maldito cabide.
— Tudo bem — Sra. Kavanagh bufa.
— Obrigado — Johnny rosna.
Virando-se para o filho, ela sussurra:
— Porta aberta, Johnathon — e dá-lhe um olhar duro antes de sair do
quarto dele, cantarolando baixinho para si mesma.
Johnny a observa caminhar pelo corredor e sumir de vista antes de fechar
a porta e girar a fechadura.
Exalando pesadamente, ele se vira para olhar para mim.
— Mais uma vez, eu sinto muito por ela. — Johnny dá de ombros
impotente. — Eu não sei o que há de errado com essa mulher hoje.
— Está tudo bem — eu me apresso para acalmá-lo. — Ela é, uh, ela é
muito amigável.
— Sim — ele murmura. — Apenas fique feliz que ela não arrastou você
para aquele quarto de roupas. — Estremecendo, ele acrescenta: — Você
nunca sairia de lá.
— Sério?
— Ah, sim — ele murmura.
— Oh.
— Desculpe novamente por toda a coisa dela avaliando você — ele diz,
parecendo mortificado. — Ela queria uma menina, eles foram informados de
que teriam uma filha, na verdade. — Sorrindo timidamente, ele acrescentou:
— Ela me teve em vez disso.
— Um filho de 1,90 jogando rúgbi — eu medito, sorrindo de volta para
ele. — Eu posso ver por que você pode ter a enganado.
— Sim — ele ri e então aperta o nariz em um ato de vergonha. — Ela e
meu pai queriam um monte de filhos, mas não funcionou assim para eles. —
Ele torceu o nariz então, obviamente pensando em algo pessoal. — Levou-
lhes um monte de tentativas de fertilização in vitro ou alguma merda assim.
— Ele dá de ombros e faz um gesto para si mesmo. — Isso é o que o
dinheiro deles trouxe.
— Você — eu ofereço com um sorriso.
Ele sorri como um lobo.
— Sorte deles, hein?
Sim.
Sorte deles.
— Ela está fora à trabalho a maior parte do tempo — ele continua a dizer.
— Na verdade, ela voa de volta para Londres de manhã por algumas
semanas. Mas quando está em casa ela gosta de se envolver na minha vida.
— É bom — eu digo a ele. — Você tem sorte de ter uma mãe como ela.
— Sim — ele retruca sarcasticamente. — Claro que tenho.
Ele tem.
Johnny não percebe, mas no espaço de uma ou duas horas, a mãe dele se
interessou mais por mim do que minha mãe em meses.
Talvez até anos.
— Ouça, é melhor você tomar um banho e me dar suas roupas — Johnny
diz com um suspiro. — Caso contrário, ela vai voltar e continuar reclamando
sobre pneumonia e toda essa merda.
Ele está falando sério?
Eu deveria mesmo tomar banho na casa dele de novo?
— Estou falando sério — Johnny murmura, lendo meus pensamentos. —
E eu sinto muito.
— Oh. — Corando, eu enrolei minhas mãos na minha frente e dei de
ombros incerta. — Hum, está bem?
Ele me encara por um longo momento antes de balançar a cabeça.
— Venha aqui.
— Venha para onde?
— Aqui — ele instrui, gesticulando para que eu o seguisse até seu
banheiro privativo.
Como um potrinho, corro atrás dele, com as pernas trêmulas e desajeitada.
Pairando na porta de seu banheiro luxuoso, observo quando ele estende a
mão sobre a banheira e liga o chuveiro.
— Você, uh, disse que teve um problema com isso da última vez — ele
murmura com um encolher de ombros.
— Eu disse?
— Uh, sim — ele responde, movendo-se desconfortavelmente. — Você
estava murmurando em seu sono sobre meu chuveiro escaldando você.
Fico de um tom vermelho beterraba.
— Oh, Deus, me desculpe — eu engasgo, me sentindo nervosa
novamente.
— Pare — ele avisa com um sorriso. — Isso foi fofo.
— Fofo? — Eu falo, praticamente hiperventilando.
— Uh, sim, eu vou colocar algumas roupas para você de novo. — As
bochechas de Johnny ficaram coradas de rosa quando ele passa por mim e
corre de volta para seu quarto — O mesmo da última vez.
— Onde vou colocar minhas roupas?
— Basta jogá-las fora para mim quando você estiver nua… ah, quando
você estiver pronta — ele murmura rispidamente. — Vou colocá-las na
secadora — acrescenta antes de fechar a porta e me deixar sozinha em seu
banheiro.
Tremendo, eu afundo na tampa do vaso fechado e exalo uma respiração
irregular.
Oh Deus.
45
EU SOU VIRGEM

JOHNNY

Eu estou com tantos problemas.


Pela primeira vez, meus problemas não tem nada a ver com minha lesão e
tudo a ver com a garota nua no meu banheiro.
— Que diabos foi isso? — Eu sibilo quando encontro minha mãe na
cozinha.
— Olá, querido — minha mãe responde, enquanto continua a cortar
cenouras, claramente alheia à minha indignação.
— Olá? — Eu recuo. — Isso é tudo que você tem a dizer?
Colocando a faca na tábua de cortar, ela se vira para mim.
— Essa garota é frágil, Johnny. — Minha mãe mordisca o lábio,
sobrancelhas franzidas em preocupação. — Há algo sobre ela que me faz
querer envolver meus braços ao redor dela e afagar a tristeza de seus olhos.
Sim, eu conheço a sensação.
Eu conheço esse sentimento muito bem.
— Então, você a força a vir aqui? — eu assobio. — Me diga como isso foi
uma boa ideia?
— Oh, Deus — mamãe estrangulou. — Eu não a chateei, não é?
— Não, ela está bem — eu digo — Mas eu não estou.
Eu estava tão longe de estar bem, a palavra era um pontinho no meu radar.
— O que há de errado, bebê?
— O que há de errado? — Eu praticamente cuspo. — Mãe, você acabou
de me enganar! O que você estava pensando ao trazê-la aqui?
— Vocês estavam se divertindo lá em cima — mamãe diz com um sorriso.
— Ela estava chutando sua bunda no PlayStation, hein?
Sim, ela estava.
Shannon estava chutando minha bunda no GTA e arruinando outras partes
da minha anatomia.
Eu não tinha ideia de como acabei tendo minha bunda chutada por aquela
garota pequena, mas foi o que aconteceu.
Vê-la dominar completamente o meu PlayStation era tão fodidamente
quente.
Sério, suas habilidades com um controle e sua capacidade de chutar minha
bunda como ela fez, só a tornaram infinitamente mais sexy.
Ela era fodidamente perfeita.
Eu estou tão envolvido com ela que eu podia ter sentado lá a noite toda,
apenas estando com ela.
E então minha mãe tem que estragar tudo e tornar tudo estranho e tenso
novamente.
Jesus, ela estava nua no meu quarto.
Nua.
Eu não posso lidar com isso.
Não quando tudo que eu queria fazer era ficar nu com ela.
Eu tinha apenas dezessete anos.
Essa era uma tentação que eu duvidava que um homem com o dobro da
minha idade pudesse resistir.
Eu balanço minha cabeça e expulso uma respiração frustrada.
— Por que, mãe, por que em nome de Deus você faria isso comigo? E
isso... — Eu levanto o suéter de Shannon e balanço ao redor — Por que você
faria ela tomar banho aqui?
— Ela tomou banho?
— Ela está atualmente no meu chuveiro.
— Oh isso é bom.
Bom?
— O que você está tentando fazer comigo, mãe? — eu exigi. — Por que
você faria isso?
— Ela estava molhada! — Mamãe defende. — E você também —
acrescenta ela com um olhar preocupado. — Vá trocar de roupa antes que
pegue pneumonia.
— Eu vou — eu rosno. — Quando você vai me dizer por que você me
ferrou?
— Eu não ferrei você, Johnny — mamãe responde. — Não seja dramático
demais.
— Você sabia que eu tinha uma sessão de fisioterapia que eu tinha que ir
esta noite.
Desde que fui banido do campo, Jason, meu personal trainer, queria minha
bunda na piscina todas as noites pelo resto da semana.
E agora?
Agora eu estava tentando descobrir como me livrar de uma situação que
só tinha um resultado atraente.
Shannon nua na minha cama.
Comigo nu em cima dela.
De preferência dentro dela.
Se meu pau fodido aguentasse.
Pare com isso, idiota.
Pare com esses pensamentos!
— Você sabia que eu precisava que você me levasse porque eu não tenho
meu maldito carro. — Eu assobio, frustrado. — E agora? Agora, eu tenho
uma garota nua no meu quarto, mãe. Uma porra de uma garota nua e eu
estou segurando suas malditas roupas.
Indo em direção a ela, jogo o uniforme molhado de Shannon no balcão e
olho para ela.
— Que tipo de mãe faz isso com o filho?
— Bem, você está aqui comigo — mamãe responde calmamente, dando
um tapinha na minha bochecha. — Então, eu criei você bem.
— Mãe — eu rosno.
— Eu pensei que você poderia ter um descanso — ela bufa. — Você
parece tão cansado, querido.
Me dê força...
— E você estava se divertindo muito — ela acrescenta com um sorriso
pesaroso. — Eu não vejo você relaxar assim há anos.
Verdade.
Mas não é o ponto.
— E meu carro? — eu exijo. — O que eu devo fazer sem meu carro?
— Seu pai vai buscá-lo a caminho de casa esta noite — ela responde,
tendo uma maldita resposta para tudo. — Houve alguns problemas com o
caso, então ele estará em casa essa noite e me levará ao aeroporto pela
manhã. — Ela consulta o relógio e suspira feliz. — Ele deve estar em casa a
qualquer minuto, ele deixou Dublin há mais de três horas.
Normalmente, quando minha mãe me pressiona, meu pai suaviza as
coisas, mas não desta vez.
Não, porque por mais feliz que eu estivesse em saber que meu pai estará
em casa à noite, mamãe tinha ido longe demais dessa vez.
Ela se intrometeu em algo que eu não queria que ninguém se intrometesse.
Ela se intrometeu com Shannon.
— Por que você fez isso? — Eu repito.
— Porque eu acho que vocês dois estão se acobertando — mamãe diz
com um sorriso. — Vocês ficam tão fofos juntos.
— Se acobertando? — Eu fico boquiaberto para minha mãe. — Do que
você está falando? Você sabe que eu não uso drogas! Eu sou testado o tempo
todo.
— Não, amor — mamãe ri. — Se acobertando como se estivessem
secretamente ficando um com outro. — Dando de ombros, ela acrescenta: —
Eu estava tentando fazer com que você soubesse que eu estou bem com você
ter uma namorada, e eu estava tentando fazer Shannon se sentir bem-vinda.
Deus.
Esta mulher.
— Bem, eu posso garantir a você que eu não estou acobertando nem nada
do tipo, cocaína ou garotas. — Eu rebato. — Somos apenas amigos.
— Ela é uma garota adorável, Johnny — mamãe oferece. — Parece gostar
muito de você. — Ela se vira para olhar para mim quando diz: — Você
poderia escolher muito pior do que uma garota legal como ela.
— Sim, bem, eu não a vejo assim.
Mentira.
Mentira.
Mentira descarada.
— Ela é apenas uma amiga.
Mais mentiras.
— É isso, mãe.
— Você honestamente acha que pode me vender essa merda, Johnny
Kavanagh? — Minha mãe rebate, os lábios se contraindo. — Eu sou sua
mãe. Eu trouxe você para este mundo, e eu sei cada vez que você me conta
uma mentira.
— Eu não estou mentindo — eu minto.
— Você está mentindo para mim agora.
— Eu não estou, porra.
— Tudo bem se você fizer isso, querido — mamãe diz em um tom
tranquilizador.
— Nós somos amigos — eu digo. — É isso.
— Mas você gosta dela? — mamãe pergunta depois de uma longa pausa
de silêncio.
Eu me viro para olhar para ela.
— O quê?
— Shannon — mamãe completa, tom gentil e persuasivo. — Você gosta
dela.
Eu balanço minha cabeça e exalo pesadamente, sem fazer nenhum
movimento para responder.
Essa conversa era além de perturbadora.
— Apenas vá com cuidado e tenha paciência. Ela é mais nova que você, e
como tenho certeza que você está mais que ciente, você precisa se mover no
ritmo dela.
— Mãe, por favor — eu inclino minha cabeça para trás e suspiro. —
Apenas dê uma pausa.
— Tudo o que estou tentando dizer é que tome cuidado — mamãe
responde. — Não a quebre, Johnny. — Ela segura minha bochecha e sorri
tristemente. — Não quando ela já parece fraturada.
— Não se preocupe — eu murmuro. — Eu não tenho intenção de ir lá
com ela.
— Ir lá com ela? — Mamãe questiona. — Onde é lá?
— Um relacionamento — eu mordo. — Sentimentos e merdas.
— Ah, aí. — Mamãe fica quieta por um longo momento antes de dizer: —
Tem certeza de que já não está aí, querido?
Cristo, eu esperava que não.
Para o nosso bem.
— Ela tem quinze anos — eu decido colocar para lá fora, não querendo
deixar de lado meu aborrecimento por sua intromissão. — Você entende
isso, não é?
Os olhos de mamãe se arregalam.
— Eu pensei que ela tinha dezesseis anos?
— Não, mãe, ela tem quinze anos — eu assobio.
— Não, Johnny — mamãe respondeu, as sobrancelhas franzidas. —
Tenho certeza que ela tem dezesseis anos.
Minha boca se abriu.
Merda.
Ela estava certa.
Droga.
— Isso é pior de novo — eu falo, nervoso. — Há uma garota nua de
dezesseis anos no quarto do seu filho de dezessete anos agora, uma que você
colocou lá, devo acrescentar!
— Johnny, amor, você precisa relaxar…
— E como você propõe que eu faça isso? — eu exijo. — Quando você
coloca uma adolescente nua no meu quarto?
— Ah, querido — mamãe murmura, mordendo o lábio. — Acho que é
hora de batermos um papo.
— Bater um papo? — Eu fico boquiaberto para ela. — Estamos
conversando. Estamos tendo uma porra de uma conversa muito importante,
mãe. Sobre a falta de limites nesta família. Sobre você precisar respeitar
meus limites!
— Sobre você e Shannon.
— E eu e Shannon?
— Sobre seus sentimentos.
Eu fico boquiaberto para ela.
— Meus sentimentos?
— E suas intenções, amor — mamãe responde.
— Minhas intenções?
Que porra?
— Eu sei que são os estágios iniciais e o que estou prestes a falar com
vocês está muito distante para vocês dois, mas é importante que vocês
saibam sobre isso.
Eu a olho com cautela.
— Sobre o quê?
— Sobre sexo, querido.
Minha boca se abre.
— Por que você não está me ouvindo? Por que ninguém está me ouvindo
mais?
— Eu sei que seu pai falou com você alguns anos atrás sobre os pássaros e
as abelhas. — Ela coloca a mão no meu ombro e me guia até a ilha,
obviamente não ouvindo porra nenhuma, de novo. — Mas, considerando este
último desenvolvimento, acho que pode ser uma boa ideia falarmos sobre
isso. Só para ficarmos todos claros sobre o quão importante é levar as coisas
devagar.
— Último desenvolvimento? — Eu afundo em um banquinho e fico
boquiaberto para ela. — Não estou tendo nenhum maldito desenvolvimento.
Não precisamos conversar sobre nada.
— Mesmo assim... — Dando de ombros, mamãe se senta no banquinho ao
meu lado e dá um tapinha na minha coxa — Não faria mal refrescar sua
memória.
— Eu sinceramente espero que você esteja brincando, mãe — eu falo.
— Talvez devêssemos chamar Shannon para baixo, para que eu possa
falar com vocês dois sobre isso…
— Não se atreva — eu solto. — Você a deixa em paz.
Você a traumatizou o suficiente!
— Ok, então — ela responde. — Eu vou falar com você sobre isso.
— Por favor, não…
— Sexo é uma coisa linda, querido — mamãe diz naquele tom maternal
que atualmente me dá vontade de enfiar lápis nos ouvidos. — Quando é
entre duas pessoas que se amam e estão comprometidas uma com a outra.
Eu levanto uma mão.
— Somos apenas amigos.
— Uh-huh — mamãe brinca com um sorriso incrédulo. — Isso é o que
todos dizem.
— Essa é a maldita verdade — eu rebato. — Isso é tudo o que somos.
Jesus, até sua mãe pode ver através de você...
— É completamente natural querer sentir prazer com um parceiro —
mamãe continua a dizer, ignorando meus apelos. — Quando vocês dois
tiverem idade suficiente para entender completamente o ato de amar.
— Jesus Cristo — eu gemo. — Por favor, pare.
— Mas, eu sei como essas coisas podem acontecer. Nem todo mundo
espera, não importa o quão importante seja esperar... — ela faz uma pausa
para me encarar conscientemente — Quando isso acontecer – o que eu
espero que seja daqui a muito, muito tempo – então é preciso usar camisinha
— pressiona. — Você sabe como colocar uma corretamente, amor? Seu pai
explicou como funciona? Você precisa ter certeza de que o eixo de sua parte
íntima está…
— Eu não posso ouvir isso. — Eu gemo em desespero. — Sério, mãe.
— Sexo na vida real não é nada parecido com o que acontece naqueles
filmes azuis que Gerard te dá — Mamãe continua. — É importante saber que
uma mulher tem necessidades. Na vida real, nem todas as garotas gritam e se
comportam como estrelas pornô. E você precisa respeitar o corpo de uma
garota o tempo todo...
— Por favor. — Aperto meus punhos nas órbitas dos olhos com tanta
força que vejo estrelas. — Simplesmente pare.
— Estou tentando te ajudar, amor, então você sabe o que esperar.
— Eu sei o que esperar, mãe. — Eu gemo enquanto penso em tomar
banho com água sanitária. — Eu não sou uma maldita criança sangrando.
A cabeça da minha mãe vira para mim, os olhos arregalados.
— Então você não é...
— Não, mãe. — Eu deixo minha cabeça cair em minhas mãos e luto
contra a vontade de chorar. — Eu não sou virgem.
— Oh, querido... tudo bem. Tudo bem, amor. Isso está perfeitamente bem
— ela divaga, o tom forçado. — Eu apenas presumi que já que você nunca
trouxe uma garota para casa antes, ou falou sobre namoradas, que você não
estava procurando nenhuma parceira amorosa…
— Continue falando e eu vou pular pela janela — eu a aviso. — Eu não
estou brincando. Eu vou subir e me jogar da porra do telhado.
— Eu sei que é desconfortável, mas você pode falar sobre esse tipo de
coisa comigo, filho — mamãe insiste. — Eu também fui uma adolescente
uma vez, você sabe — acrescenta ela, estendendo a mão para dar um tapinha
no meu ombro. — Eu entendo todos os desejos que seu corpo está passando,
e uma perspectiva feminina pode ser útil.
— Como isso é útil? — Eu engasgo, horrorizado. — Eu pensei que você
me amava.
Mamãe ri baixinho.
— Claro que eu te amo.
— Então por que você está fazendo isso comigo? — Eu engasgo. — Por
que você está se intrometendo na minha vida?
— Porque eu não sou cega, Johnathon — mamãe responde, me dando o
nome completo para me deixar saber o quão séria ela estava falando sobre
isso. — Eu vejo o jeito que você olha para Shannon, e o jeito que ela olha
para você.
— Nós somos apenas amigos — eu digo.
— Vocês estão apaixonados.
Meu queixo cai.
— Nós malditamente não estamos.
O olhar que minha mãe me dá era de incredulidade.
— Você está levando as coisas no ritmo dela?
— Estou falando sério, mãe — eu rebato. — Somos apenas amigos. Eu
não toquei nela.
Minha mãe visivelmente cede de alívio.
— Então, você não fez, uh, vamos chamá-lo o ato, com Shannon…
— Jesus Cristo, não, mãe! — Eu lato, interrompendo-a antes que ela
causasse um trauma permanente no meu cérebro.
— Oh, isso é bom — minha mãe suspira. — Você é um bom menino.
Um bom menino?
Eu era um maldito cachorro?
E não havia nada de bom no que eu queria fazer com Shannon Lynch.
— Obrigado por assumir automaticamente que eu sou um bastardo, mãe
— eu zombo — Eu realmente aprecio a falta de fé que minha própria mãe
tem em minha bússola moral.
— Bem, você joga a bomba de que não é virgem em mim no mesmo dia
em que traz sua namorada para casa — mamãe bufa. — A primeira garota
com quem eu te vi, posso acrescentar. O que eu deveria pensar? Eu estava
tentando te preparar para o futuro.
— Primeiro e pela última vez, Shannon não é minha namorada. — Eu
rebato, nervoso. — Segundo, eu não sou virgem desde o primeiro ano. E
terceiro, eu consigo colocar uma camisinha no escuro com uma mão
amarrada atrás das minhas costas, então eu não preciso de conversa sobre
sexo, dicas, ou qualquer uma dessas merdas.
Mamãe engasga com horror e eu mentalmente chuto minha bunda.
— Eu estou mentindo — eu a bajulo. — Eu sou virgem.
— Primeiro ano — ela soluça. — Primeiro ano!
— Não, não, não — eu me apresso para assegurá-la. — Eu sou virgem,
mãe. Eu sou.
— Não — ela choraminga, balançando a cabeça. — Você não é.
O que diabos eu deveria fazer agora?
Cristo, onde estava meu pai quando preciso dele?
— Você tinha apenas quatorze anos no primeiro ano — ela continua a
lamentar.
— Treze — eu murmuro baixinho enquanto eu a seguro no meu peito e
acaricio suas costas.
— Santa Maria, Mãe de Deus — ela soluça mais forte, claramente me
ouvindo.
Merda.
Carambolas.
— Sou virgem — continuo a dizer repetidamente enquanto minha mãe
chora no meu suéter da escola. — Estou me guardando para o casamento,
mãe.
— É o rúgbi — ela soluçou, agarrando meu suéter. — Eu culpo o maldito
rúgbi por isso.
— Pelo quê?
— Por você perder sua inocência! — Mamãe sibila. Ela olha para mim e,
em seguida, explode em outro ataque de lágrimas — Aqueles garotos com
quem você joga, eles são velhos demais para você e obviamente o desviaram
do bom caminho.
Não, mãe, meu pau me desviou do bom caminho quando a puberdade
começou...
— E ela está no seu quarto — mamãe lamenta, deixando cair a cabeça
contra o meu peito novamente. — Oh, meu Deus.
— Porque você a trouxe aqui, mãe, não eu — eu respondo enquanto
continuo a esfregar suas costas. — Digamos, por uma questão de conclusão,
que eu estivesse com Shannon? O que eu não estou — eu rapidamente
esclareço. — Mas se eu estivesse e você estava preocupada de que eu não
fizesse nada de bom, então por que diabos você a trouxe aqui?
— Porque eu ainda tinha a impressão de que você era virgem quando eu a
trouxe aqui, não é? — Mamãe bufa, batendo no meu peito. — Eu pensei que
você estava tendo sua primeira paixão. Eu pensei que estava pegando você a
tempo.
Ponto justo.
— Mãe, tenho quase dezoito anos — tento confortá-la dizendo. — Você
era casada com o pai quando tinha dezoito anos.
— Isso é diferente — ela soluça.
— Como?
— Porque você é meu bebê — mamãe funga. — Oh, Deus, meu bebê é
sexualmente ativo.
— Não, eu não sou — eu convenço, abraçando-a. — Eu prometo, eu não
vou fazer sexo. — Agora. — Eu não vou, mãe.
— Você está pelo menos sendo seguro? — ela engasga, olhando para mim
com grandes olhos castanhos cheios de lágrimas.
— Estou jogando um maldito PlayStation com a garota — eu solto. —
Isso não deveria dizer o quão seguro eu estou sendo?
— Isso é verdade. — Minha mãe assente e funga.
Suspiro.
— Obrigado.
— Então, eu não tenho que me preocupar, não é? — ela adiciona. — Estar
seguro? — Ela funga. — Usando, oh, meu Deus, preservativos...
— Não, mãe, você não precisa se preocupar porque eu não estou fazendo
sexo — eu me agarro à história dita, e a puxo de volta para o meu peito. —
Então apenas relaxe.
Como diabos eu me meti nessa situação?
Para onde minha vida estava chegando?
No espaço de um dia, aborreci nada menos que três mulheres.
Aquela que me criou dizendo a ela que eu não sou mais inocente.
Aquela que me usou dizendo a ela por mensagem de texto para se foder.
E aquela que explodiu a porra da minha mente.
Jesus Cristo, meu pau tinha muito a responder.
Para ser justo, eu não acho que realmente chateei Shannon hoje, mas ainda
era cedo, e eu estava correndo com muita sorte, então minhas chances de sair
desse encontro glorificado sem estragar tudo eram pequenas.
— Mãe — eu digo depois de dez minutos sólidos dela fungando no meu
peito. — Eu vou ter que voltar para Shannon agora.
— Ok, amor — ela funga. — Você não vai fazer nada…
— Não, mãe — eu convenço, me libertando de seu aperto e me
levantando. — Eu não vou encostar um dedo nela porque somos apenas
amigos, e eu sou virgem.
— Eu sei que você não é — ela resmunga. — Mas estou confiando em
você para fazer a coisa certa.
— Você pode confiar em mim, porque nada está acontecendo entre nós —
eu repito pela milionésima vez. — Mas eu preciso tomar um banho porque
estou encharcado, então vou usar seu banheiro, ok? — Me aproximo da
porta apenas para me virar e dizer: — Me ligue quando for hora de pegar
seus cães bestas...
— Sobre isso... — mamãe funga.
— Você mentiu, não foi? — Eu dou a ela um olhar acusador. — Você não
tem que pegar Bonnie e Cupcake esta noite, não é?
Claro, ela mentiu.
Um olhar para sua expressão tímida e era fácil de ver.
— Sua intrometida — acuso.
— Seu transudo — mamãe retruca em um tom igualmente acusador.
Porra, porra.
Eu não ia ganhar aqui.
Erguendo minhas mãos em derrota, eu corro para fora da cozinha antes
que ela me afogue em um novo balde de lágrimas.
46

AS CONSEQUÊNCIAS DE BEIJAR MENINOS EM QUARTOS

SHANNON

Assim como da última vez que tomei banho no glorioso banheiro de Johnny,
demoro um tempo insano.
Eu não posso evitar.
Eu culpo a força do chuveiro.
E seu sabonete.
E o cheiro dele.
Deus, eu estou perdendo a cabeça.
Quando eu finalmente saio da banheira, eu me enrolo em uma das
enormes e fofas toalhas brancas penduradas em sua prateleira e suspiro
quando o tecido luxuoso roça minha pele.
Johnny nunca entenderia a sorte que teve de crescer em uma casa como
aquela, com pais como os dele e toalhas tão macias.
Por um longo tempo, eu fico ali no meio do banheiro dele, ouvindo
absolutamente nada.
Sem vozes gritando.
Nada de passos pesados.
Nenhuma maçaneta de porta chocalhando.
Sem sentimentos de destruição iminente.
Apenas paz.
Quando o frio finalmente toma conta de mim, eu me seco e coloco meu
sutiã de volta.
Usar um sutiã era uma perda de tempo, considerando que eu não tinha
muito o que esconder e o que eu tinha era feliz e ficava em pé por conta
própria.
Eles certamente não combinam com os seios que aquelas modelos na
parede de seu quarto exibiam orgulhosamente…
No entanto, dez segundos depois de usar meu sutiã, eu estou rapidamente
puxando-o de volta com um estremecimento.
Estava encharcado, junto com minha calcinha.
Passei uma quantidade excessiva de tempo dobrando minha calcinha na
menor bola que pude antes de enrolar meu sutiã em volta delas.
Envergonhada por não ter minha mochila para guardar, fico parada como
uma tola no meio do banheiro, em pânico.
A lógica me diz que eu estava sendo boba, mas o pensamento de Johnny
vendo minha calcinha me faz querer desmaiar um pouco.
Desistindo, eu decido enfiá-los na minha meia-calça embolada antes de
me enrolar em uma toalha e voltar para o quarto dele.
Desta vez, quando eu saio do banheiro, eu estou preparada para Sookie e a
encontro cochilando na cama.
Eu não estou, no entanto, preparada para a visão da bunda nua de Johnny.
Ele está de pé na frente de sua cômoda de costas para mim, uma toalha no
chão a seus pés, e está no processo de puxar uma cueca até as coxas.
Deus, ele ainda tem músculos em sua bunda.
Como isso era possível?
E então Johnny olha por cima do ombro e me pega em flagrante.
— Gosta do que está vendo? — ele brinca, arqueando a sobrancelha.
— Oh, Deus — eu grito e, em seguida, rasgo meu olhar para longe de sua
bunda redonda e apertada. — Eu sinto muito. — Girando, mordo meu lábio
e forço um gemido. — Eu não esperava que alguém estivesse aqui.
— Está tudo bem, Shannon — ele ri. — Não se preocupe com isso.
Me deixe morrer.
Querido Deus, abra o chão e me deixe cair nele.
— Eu, uh... — Balançando minha cabeça, eu aperto minha toalha. — É...
uh…
— Tomei banho no banheiro dos meus pais — explica Johnny. — Eu só
estava vindo para pegar algumas roupas.
— Oh. — Eu solto uma respiração irregular e mudo o peso de pé. — Ok,
sim, isso faz sentido.
— Está tudo bem, Shannon — Johnny diz em um tom gentil. — Está tudo
bem.
— Eu sei disso — eu solto, em pânico.
Ele ri baixinho.
— Então por que você ainda está de frente para a parede?
Droga.
Inalando uma respiração estabilizadora, eu me viro e o encaro.
Meu olhar automaticamente varreu sobre ele e minha frequência cardíaca
dispara.
Pela primeira vez, o rosto de Johnny não era o motivo do meu pulso
acelerado.
Não, isso era por causa do resto dele.
O resto quase nu dele.
Ele está vestindo uma cueca boxer branca apertada e era isso.
Sem camisa.
Sem calças.
Sem suéter.
Sem meias.
Apenas uma cueca Calvin Klein que pendia baixo em seus quadris
recortados em V – idêntico ao par que eu tinha usado na semana passada.
O par com quem eu dormi por noites.
Deus, eu era patética.
Tudo o que eu tinha imaginado desde o momento em que coloquei os
olhos nele estava bem na minha frente.
E com essa visão desobstruída vem a percepção de que tanto minha
imaginação quanto minha memória visual eram uma droga.
Eu já sabia que ele tinha um corpo bonito.
Me lembro de seu peito daquele dia.
Ou pelo menos eu acho que lembro.
Aparentemente não, porque Santa Maria Mãe de Deus, de perto, ele era
outra coisa.
Seu peito estava nu e seus peitorais eram tonificados, seu estômago era
definido.
Quero dizer, ele era seriamente definido.
Não como o tanquinho que meu irmão tem ou qualquer um dos rapazes
que eu tinha visto trocando de camisa depois das partidas de Joey.
Todo o seu corpo era uma massa sólida de músculos duros e esculpidos.
Prendo a respiração enquanto permito que meus olhos vaguem sobre ele,
absorvendo a visão do abdômen ondulado, pele dourada e bronzeada, a trilha
escura de cabelo sob seu umbigo, e aquele jeito incrível que ele cheira.
Como sabão e grama e Johnny.
Não era justo dar tanta beleza a uma pessoa.
Eles poderiam ter espalhado por toda a escola e ele ainda seria perfeito.
— O que aconteceu aqui? — Johnny pergunta então, me distraindo do
meu olhar, enquanto ele se aproxima de onde eu estava e acaricia o polegar
na minha bochecha.
Confusa e exausta, solto um suspiro trêmulo e olho para ele.
— Huh?
— Você tem uma marca vermelha — Johnny murmura, franzindo a testa
para mim. — Eu não percebi isso antes.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Eu tenho?
Ele acenou com a cabeça, olhos azuis fixos nos meus.
— Sim, Shannon, você tem.
Escorregando em torno dele, eu entro no banheiro para verificar no
espelho.
Com certeza, minha bochecha direita estava vermelha e manchada, onde o
resto de mim estava pálido.
Esse seria o tapa do meu pai, penso comigo mesma.
— Bem? — Johnny pergunta, se inclinando na porta.
Me inclino para frente, me esticando sobre a pia para dar uma olhada
melhor no espelho.
Johnny caminha até onde eu estou.
E então ele começa a pairar atrás de mim, seu peito nu esfregando contra
minhas costas, enquanto ele olha para o meu reflexo no espelho, o rosto em
uma carranca profunda.
Eu não acho que ele percebe que estava fazendo isso – roçando seu corpo
contra o meu.
Seu foco tinha se movido da minha bochecha para o meu pescoço.
Sua expressão era sombria, o rosto ficando em um tom escuro de roxo.
— Que porra é essa? — ele assobia.
Sigo seu olhar para as fracas impressões digitais arroxeadas que revestem
meu pescoço.
A consciência me atinge.
O meu pai.
Noite passada.
Oh Deus.
— Eu não sei — respondo, fingindo confusão, decidindo que era mais
seguro manter a história original.
Se eu recuasse agora, Johnny sentiria o cheiro da mentira.
— Você não sabe? — ele pergunta baixinho, os olhos fixos nos meus no
espelho.
Balançando a cabeça, deixo meus ombros caírem.
— Nenhuma ideia.
— Alguém está machucando você, Shannon? — ele pergunta com uma
voz mortalmente calma.
— Ninguém está me machucando, Johnny — eu sussurro, os olhos
colados aos dele no espelho.
Meu coração bate tão forte que eu temo que possa explodir.
Era uma mistura terrível de medo, incerteza e luxúria, tudo em uma bola
complicada de emoções na boca do meu estômago.
Alcançando com uma mão, Johnny segura meu queixo e usa sua mão livre
para gentilmente varrer meu cabelo do meu pescoço.
Ele não pede permissão se poderia me tocar.
Ele apenas faz isso.
Então seus dedos estão traçando as impressões digitais deixadas por meu
pai, seu toque leve como uma pluma fazendo meu corpo inteiro tremer.
— Alguém tocou em você — Johnny sussurra em meu ouvido, colocando
os dedos sobre as marcas. — Eu quero saber quem.
O ar escapa dos meus pulmões em um suspiro audível.
Incapaz de me impedir, eu caio contra seu peito, olhos colados em nosso
reflexo no espelho enquanto ele olha de volta para mim, olhos azuis
queimando buracos em minha alma, esperando por uma explicação que eu
nunca poderia dar a ele.
— Diga-me quem colocou as mãos em você — ele tenta convencer,
enquanto ele está atrás de mim, meu rosto em sua mão e seus dedos em
minha garganta. — E eu vou fazer isso ficar melhor.
Pense, Shannon, pense...
— Bem?
Se apresse...
— Shannon?
— Eu fui esmagada na educação física — é tudo que eu invento.
Johnny não responde.
Ele apenas continua a olhar para o meu pescoço com uma expressão
sombria.
Em pânico, me apresso a acrescentar às minhas mentiras:
— Foi minha culpa. Atrapalhei os meninos durante o futebol e quatro
deles acabaram batendo em mim.
Escorregando para fora do arredor de Johnny, volto para o quarto dele,
colocando algum espaço entre nós.
— Acabei no fundo de um tumulto. Aconteceu pouco antes de você entrar.
— Balançando a cabeça, forço uma pequena risada. — Foi uma carnificina
total.
Johnny paira na porta do banheiro, expressão tensa, olhos afiados e
espertos.
— Então, uma das mãos dos garotos da sua turma por acaso pousou em
seu pescoço? — ele pergunta, tom misturado com descrença. — Seus dedos
por acaso apertaram sua garganta?
Ele não é bobo, penso comigo mesma. Minta melhor, Shannon.
— Não parecia assim na hora. — Dou-lhe um encolher de ombros fraco e
sento-me na beirada de sua cama. — Mas acho que foi isso que aconteceu.
— Você acha? — ele repete, cruzando os braços sobre o peito.
O movimento faz com que seus enormes bíceps inchem.
Ele era seriamente enorme.
Era incrivelmente intimidante.
Mas eu sabia que ele não iria me machucar.
Era uma das poucas coisas na minha vida que eu tinha certeza absoluta.
Esse garoto nunca colocaria as mãos em mim com raiva.
Inalando uma respiração estabilizadora, acrescento:
— Talvez ele me pegou quando estava tentando se levantar.
— Talvez — Johnny medita, concordando com a cabeça.
Eu relaxo de alívio.
— Ou talvez fossem aqueles Legos de novo.
Meu coração afundou.
— Foi isso? — Johnny exige. — Você caiu no mesmo Lego que você caiu
quando machucou seu rosto no seu aniversário, que deixou essas impressões
digitais na garganta?
— Johnny…
— E o hematoma na parte de trás do seu pescoço na vez anterior? Ou a
marca vermelha no seu rosto na vez anterior de novo? Ou os hematomas em
suas coxas? E seus braços? E o resto de você? — Ele olhou para mim. —
Eram aqueles Legos irritantes também?
— Você acha que meu uniforme já está pronto? — Mudo de assunto
perguntando. — Eu provavelmente deveria ir para casa.
Sim, eu preciso sair daqui.
E rápido.
— Não. Não! Não faça isso — Johnny chama a atenção na minha fuga. —
Não tente me ignorar — ele rosna. — Eu quero saber o que aconteceu com
você, Shannon.
— Eu quero ir para casa. — Fungando, eu rapidamente enxugo meu rosto
com as costas da minha mão. — Agora, por favor.
Ele passa a mão pelo cabelo úmido e suspira.
— Cristo, Shannon, não chore!
Ele descruza os braços e se move em minha direção, mas eu balanço a
cabeça e levanto a mão para avisá-lo.
Johnny para e passa a mão pelo cabelo.
— Eu posso ajudá-la — ele implora. — Deixe-me ajudar você.
— Então me ajude pegando minhas roupas. — Eu fungo. — Essa é a
única ajuda que eu preciso de você.
Exalando um gemido de dor, Johnny fecha o espaço entre nós e se agacha
na minha frente.
— Eu quero ajudar você. — Ele coloca as mãos na parte externa das
minhas coxas e olha para mim, os olhos azuis arregalados e sinceros. Ele
aperta minhas coxas suavemente. — Tudo que você tem a fazer é me dizer o
que está acontecendo, ok? — Estendendo a mão, ele colocou uma mecha de
cabelo molhada atrás da minha orelha — Apenas me diga quem está
machucando você e eu vou fazer isso acabar.
Você não pode me ajudar.
Ninguém pode.
Levei essa surra por falar com você.
Por tirar uma fodida foto com você.
Você é a última pessoa que pode me ajudar.
— Eu estou bem, Johnny — eu resmungo, sentindo as lágrimas nos meus
olhos. — Você não precisa me ajudar.
— Você está mentindo para mim — ele rosna, parecendo furioso. — Você
está fodidamente mentindo para mim e eu não posso suportar isso.
— Por favor, me leve para casa — eu falo, me afastando dele. — Apenas
me leve para casa e você não terá que me suportar.
Johnny geme.
— Shannon, vamos lá. Não torça minhas palavras. Você sabe que não foi
isso que eu quis dizer…
— Eu quero ir para casa, Johnny — eu engasgo. — Se você não quer me
levar, então eu vou chamar Joey para vir me pegar.
— Ok — Johnny suspira em resignação. — Tudo bem. — Me soltando,
ele se levanta e ergue as mãos. — Vou pegar suas roupas e levá-la para casa.
Exalando uma respiração trêmula, eu assinto.
— Obrigada.
Ele me observa por um longo momento antes de balançar a cabeça em
resignação.
— Eu já volto, ok?
Assentindo, eu o observo sair do quarto, esperando até que ele fosse
embora antes de cair em sua cama.
— Deus — eu choro, batendo furiosamente as lágrimas traiçoeiras. — Se
recomponha, Shannon.
Nem pense em dizer nada a ele.
O pai dele é advogado.
Você sabe como são esses caras.
Eles vão se envolver e vocês todos serão separados e colocados sob
cuidados.
Como Darren...
A cachorra de Johnny se aproxima de mim, me distraindo do meu colapso,
e coloca a cabeça na minha coxa.
— Oi — eu soluço, deixando cair minha mão em sua cabeça.
Sookie acaricia minha mão com o focinho e lambe meus dedos.
Sua afeição só me faz sentir pior.
Eu não merecia.
Eu tinha acabado de mentir para seu humano.
— Eu gostaria de ter um cachorro — eu sussurro para ela, concentrando
toda a minha atenção nela, desesperada para bloquear meus pensamentos. —
Um igual a você — eu digo a ela enquanto puxo meus pés para cima da
cama e torço meu corpo para encará-la. — Se eu conseguir um cachorro,
será um que se pareça com você, porque você é tão bonita. Sim, você é.
Ela recompensa minha atenção rastejando no meu colo – ou pelo menos
ela tenta.
Ela era um labrador adulto e eu provavelmente peso menos que ela.
— O que você quer? — Eu sussurro, coçando seu pescoço com as duas
mãos. — Huh? — Fazendo carícias em suas orelhas, dou um beijo em seu
nariz. — Você quer que eu te dê amor?
Seu rabo balança como um louco e ela me sufoca com beijos molhados de
cachorro por todo o meu rosto.
Foi uma distração bem-vinda e eu sufoco uma risada com o entusiasmo
dela.
— Que garota boa — eu balbucio, caindo em um jogo brincalhão de luta
livre com ela. — Isso mesmo. Você é a melhor garota. Você é.
Encorajada pela minha resposta, Sookie sobe em mim, empurrando todo o
seu peso para baixo no meu peito e me fazendo cair de volta nos
travesseiros.
— O quê? — Eu rio através das minhas lágrimas enquanto acaricio suas
orelhas. — Você gosta de mim?
Ela geme profundamente em sua garganta, sua aprovação óbvia quando
ela se estica em cima de mim e acaricia meu rosto com o nariz molhado.
— Obrigada — eu elogio quando ela bate a pata no meu ombro. — Você é
uma garota tão educada, me dando a pata.
— Seu uniforme ainda está úmido, mas eu o trouxe de qualquer maneira...
Assustada com a voz de Johnny, tento me sentar, mas não consigo porque
Sookie ainda estava no modo de jogo com força total.
— Sookie, para baixo — Johnny ordena em um tom de voz apertado, os
olhos colados nos meus.
Obediente, Sookie imediatamente sai de cima de mim e desajeitadamente
pula da cama, suas patas escorregando no chão de madeira.
— Fora — Johnny ordena enquanto segura a porta aberta, ainda me
observando.
Sookie sai do quarto e ele rapidamente fecha a porta, a expressão
estrondosa.
Deus…
— Desculpe — eu resmungo, me apoiando nos cotovelos. — Eu estava
apenas, uh, brincando com sua cachorra.
— Não se desculpe — Johnny responde com uma voz tensa enquanto
caminha até a cama, larga meu uniforme e depois afunda na beirada.
De costas para mim, Johnny se inclina para frente, seus músculos
flexionando sob sua pele dourada, descansando os cotovelos nas coxas e
inala o que parecia várias respirações calmantes.
E então ele faz algo que eu sabia que me faria perder incontáveis anos de
sono: ele se vira para mim, agarra os dois lados da minha toalha e os
empurra juntos.
Para me cobrir, eu percebo.
Porque eu obviamente estava mostrando os peitos para ele.
Porque vamos ser sinceros, esse era exatamente o tipo de sorte que eu
tinha.
— Eu sinto muito — eu engasgo, mortificada.
— Está tudo bem — ele me diz em um tom de voz grave.
— Eu... você viu meu...
Ele assente.
Oh Deus!
— Eu sinto muitíssimo.
— Pare de pedir desculpas — ele responde, a voz tensa. — Não há nada
para se desculpar.
— Sinto muito que você teve que ver isso — eu solto.
Johnny balança a cabeça e vira as costas para mim novamente.
— Não se desculpe comigo por te ver — ele geme, deixando cair a cabeça
entre as mãos. — Porra!
Meu coração está batendo tão forte no meu peito neste momento que eu
me encontro respirando mais rápido, exalando em respirações curtas e
inchadas.
O que eu deveria fazer?
Correr?
Sair?
Me esconder?
Me jogar nele?
Eu não sei.
Eu não tenho ideia do que fazer.
Eu só sei que meu corpo está enraizado em seu colchão, olhos grudados
em suas costas musculosas.
— Eu vou te levar para casa agora — Johnny finalmente declara baixinho,
a cabeça ainda em suas mãos.
— Sim, tudo bem — eu sussurro enquanto o som do meu pulso martela
em meus ouvidos.
— É isso que vou fazer — ele acrescenta, embora eu não tivesse certeza
se ele estava falando comigo ou consigo mesmo. — Vou te levar para casa
— ele repete, mas não fez nenhum movimento para se levantar.
Vários segundos se passaram onde ele permanece completamente imóvel.
Incapaz de suportar a tensão crescendo dentro de seu quarto, estendo a
mão e toco sua omoplata.
— Johnny?
Um pequeno tremor percorre seu corpo enorme.
E então ele se vira para mim.
— Eu não posso ficar sozinho com você assim. — Ele sussurra, os olhos
fixos nos meus. — Eu... — Ele exala uma respiração irregular. — Não
aqui... não quando você está assim.
Seus olhos estão quentes e cheios de incerteza e vagando
descontroladamente pelo meu corpo.
Seu peito está subindo e descendo em um ritmo rápido, espelhando o meu.
Olho em seus olhos, sentindo meu coração apertar tão apertado que era
difícil respirar.
Em um olhar, eu sinto como se tivesse colidido com ele.
Era instantâneo e chocante.
Meus sentimentos explodem dentro de mim, absorvendo o garoto e tudo o
que ele era como uma esponja desesperada por água.
Eu estava desesperada por ele.
Todo ele.
Cada pedaço e parte.
Hormônios em fúria, encorajados por minhas emoções esgotadas, anulam
meu bom senso naquele momento, me levando a fazer algo completamente
fora do personagem.
Soltando uma respiração instável, estendo a mão, agarro o pescoço de
Johnny e puxo seu rosto para o meu.
E então eu o beijo.
Eu não tenho ideia do que fazer a seguir, minha bravura me abandonando
no meu momento de necessidade, enquanto eu me ajoelho em sua cama e
seguro seu rosto em minhas mãos.
Os olhos de Johnny estão bem abertos e travados nos meus, claramente
atordoados, enquanto eu pressiono meus lábios nos dele.
Mas ele não está me beijando de volta.
Na verdade, eu tenho quase certeza de que ele não está respirando.
Minhas ações o transformaram em pedra em minhas mãos.
Meus olhos estão arregalados e esbugalhados na minha cabeça quando eu
quebro o beijo e olho com horror de volta para ele.
— Eu sinto muito — eu solto, mortificada.
— Está tudo bem — ele me diz, respirando com dificuldade.
— Não. — Eu balanço minha cabeça furiosamente. — Não, não está tudo
bem.
— Shannon, está tudo bem…
— Oh meu Deus! O que eu fiz?
— Shannon — Johnny fala convincente, tom mais firme agora. — Pare.
Está tudo bem…
— Não está tudo bem — eu solto enquanto saio da cama e recuo, batendo
em sua cômoda no processo. — Eu só, oh Deus!
Cambaleando para trás, balanço a cabeça e estendo a mão para avisá-lo
quando ele deu um passo em minha direção.
— Eu realmente sinto muito.
— Shannon, está tudo bem — Johnny diz enquanto levanta as mãos. —
Apenas pare de se mover por um segundo e fale comigo, ok?
Eu não paro de me mover.
E não paro para falar.
Porque eu não posso.
Eu estou em modo de pânico com força total e, pela primeira vez, meu
instinto de fuga havia aparecido.
— Eu preciso ir — eu anuncio, mortificada.
— Não, você não precisa — ele responde calmamente. — Nós podemos
falar sobre isso.
— Não! — Balançando a cabeça, eu deslizo ao redor de Johnny e pego
minhas roupas da cama. — Eu preciso ir — acrescento antes de correr para o
banheiro e me trancar lá dentro.
— Shannon, vamos lá — Johnny grita, batendo na porta. — Abra a porta.
Sem palavras, cambaleio até o banheiro, empurro a tampa para baixo e
desabo em cima.
— Oh, Deus — eu respirei, enquanto eu deixo minha cabeça cair em
minhas mãos.
O que diabos eu acabei de fazer?
Não só me mostrei a Johnny Kavanagh, mas fui mais longe e o beijei.
O meu primeiro beijo.
A primeira vez que coloquei meus lábios em um garoto.
E ele não retribuiu.
Oh meu Deus...
O que diabos eu estava pensando?
Por que eu estava sentindo como se meu coração estivesse se partindo em
um milhão de pedaços?
E o mais importante, como eu ia sair desse banheiro?
Porque não havia como enfrentar Johnny agora.
Na verdade, eu tinha quase certeza de que nunca mais poderia enfrentá-lo.
47

MENINAS CHORANDO E CORAÇÕES ARDENTES

JOHNNY

Alguém colocou as mãos nela.


Esses tipos de marcas não acontecem em uma maldita partida, nunca
durante um jogo de futebol na aula de educação física.
Era ridículo, e ela era ridícula por me dar essa desculpa.
O que ela acha que eu sou, algum idiota rude que não sabe a diferença
entre uma contusão acidental e uma agressão?
Eu jogo rúgbi.
Passei toda a minha vida causando lesões e nocauteando rapazes.
Eu sei a maldita diferença entre dano acidental e dano intencional.
Alguém apertou sua garganta, e eles fizeram isso com tanta força que
deixaram a porra de impressões digitais nela.
Se ela estava sendo intimidada em Tommen, então eu iria descobrir.
Se fosse McGarry, eu acabaria em uma cela.
Se fossem aqueles filhos da puta do BCS, então eles poderiam me trancar
em uma camisa de força.
Eu estava cerca de dez segundos longe de dar uma de CSI sobre a
situação, mas então seus grandes olhos azuis se encheram de lágrimas e eu
fui jogado em outra bola curva.
Eu não tinha ideia de como lidar com as lágrimas das garotas.
E as lágrimas de garota vindas daquela garota em particular me afetam de
forma feroz.
E lá estava o meu ponto fraco...
Indo contra todos os instintos do meu corpo, porque meu julgamento está
nublado com o desejo que eu tinha de confortá-la, eu cedi aos seus apelos
para pegar suas roupas e levá-la para casa.
Mas então eu a vi – porra, eu vi ela toda – esparramada na minha cama,
com minha cachorro em cima dela, e sua toalha aberta, e meu cérebro
desligou, o corpo assumiu.
E então ela foi e explodiu meu mundo cuidadosamente construído
colocando sua boca na minha.
Shannon me beijou e eu congelei.
Eu fiquei chocado completamente, atacado por todas as emoções e
sensações anormais e estranhas que uma pessoa pode pensar.
Eu não esperava.
Eu não a esperava.
Tudo me atinge como uma colisão frontal naquele exato momento e eu me
calo, me sentindo mais exposto e vulnerável naquele momento do que em
toda a minha vida.
Ao contrário de quão bom meu corpo sentiu ao ter seus lábios nos meus,
ou quão mais duro meu coração tinha que trabalhar quando ela estava por
perto, minha cabeça sabia mais.
Não era bom.
Não era nada bom, porra.
Levou cada grama de autocontrole que eu tinha dentro do meu corpo para
me segurar.
Especialmente quando tudo dentro de mim exige que eu faça o oposto.
Eu sabia, porém.
Eu sabia que se cedesse à necessidade ardente dentro de mim e a beijasse
de volta, então seria isso.
Eu estaria completamente fodido.
E Shannon também.
Porque minha presença aqui era temporária e aquela garota cheira a
permanência.
O melhor que eu posso oferecer era amizade, mesmo que fosse a última
coisa que eu quisesse.
— Shannon? — Descansando minha testa contra a estrutura de madeira,
continuo a bater. — Por favor, você pode sair? — Ela se trancou no meu
banheiro trinta minutos atrás e não saiu desde então. — Por favor?
Silêncio.
Expirando pesadamente, eu bato novamente.
— Apenas abra a porta e podemos conversar sobre isso.
Nada.
— Por favor, Shannon — eu rosno, resistindo à vontade de bater minha
cabeça contra a moldura. — Apenas saia. Você nem precisa falar comigo se
não quiser. Vou te levar para casa e não direi uma palavra se você...
Deixo minhas palavras morrerem quando o som da fechadura soa.
Momentos depois, a porta do meu banheiro se abre e lá está ela,
completamente vestida com seu uniforme úmido, com olhos inchados e
bochechas manchadas.
Porra.
Eu a fiz chorar.
De novo.
— Estou pronta para ir para casa agora — ela me diz em voz baixa, não
encontrando meus olhos. — Se estiver tudo bem?
— Sim, claro que está tudo bem — eu respondo com a voz grossa.
— Obrigada. — Com a cabeça baixa, Shannon passa por mim e caminha
até a porta do meu quarto.
Ela parece tão vulnerável e incerta que tudo que eu quero fazer é envolvê-
la em meus braços.
Meu coração está em chamas.
Se recomponha, Kavanagh.
Não faça nada estúpido.
Não a beije.
Você sabe que não vai conseguir parar.
Com grande esforço, não vou até ela e vou até o meu guarda-roupa.
— Apenas me dê um segundo, ok? — Eu digo a ela.
Ela assente e abaixa o olhar para as mãos entrelaçadas.
Suspirando, abro meu guarda-roupa e rapidamente visto uma camiseta,
calça de moletom e blusa de moletom.
Agarrando um par de meias da minha cômoda, eu afundo na minha cama
e as coloco antes de pisar em um par de tênis.
Todo o tempo, Shannon fica em silêncio na minha porta com seu cabelo
molhado caindo para frente, escondendo seu rosto.
Ela parecia tão solitária neste momento que fisicamente me dói olhar para
ela.
Porque eu sabia que era responsável por aquele olhar.
E meu coração está exigindo que eu faça o que é certo.
Eu quero.
Eu só não sabia como fazer sem machucar nós dois.
— Aqui — eu digo, pegando uma jaqueta do pé da minha cama. —
Coloque isso.
Seus olhos nervosos disparam para a jaqueta que eu estou segurando para
ela e ela imediatamente começa a balançar a cabeça.
— Não, não, não — ela resmunga. — Eu estou b…
— Você está bem. Sim, eu sei. — Respondo enquanto me levanto e fecho
o espaço entre nós. — Mas ainda está chovendo lá fora, e eu não estou bem
com você ficar doente. Coloque.
— Tem certeza? — ela pergunta, estendendo a mão hesitante.
Cristo, essa garota estava me matando...
— Total. — Entregando a ela minha jaqueta, me movo para a porta,
tomando cuidado para não roçar nela, sabendo que meu pobre pau não
aguentaria a pressão.
Espero que ela colocasse a jaqueta e então saio do meu quarto, sabendo
que ela está comigo, embora ela ficasse atrás.
Isso parecia tão ruim – como o oposto da coisa certa a fazer, o que não
fazia sentido porque eu estava pensando com meu cérebro agora, e não com
meu pau.
— Eu preciso pegar as chaves da minha mãe — eu digo a ela quando
estamos no andar de baixo. — Me dê um segundo, ok?
— Hum, sim, tudo bem — Shannon responde enquanto desliza as mãos na
minha jaqueta que está nadando nela. — Eu espero aqui?
Ela está me perguntando?
Parecia que ela estava.
Eu não tenho certeza porque ela não olha para mim.
Eu não posso avaliar como ela está se sentindo porque a janela para suas
emoções eram seus olhos que estavam vidrados em seus pés.
Era foda, mas eu sabia que precisava dar espaço a ela agora.
O problema era que, quanto mais perto da porta da frente chegávamos,
mais deprimido eu me sinto.
Meu pau está devastado.
Meu peito está queimando.
Meu cérebro está em dúvida.
Eu estou completamente fodido.
48

VOCÊ ESTÁ BEM

SHANNON

Não há palavras para explicar a turbulência de emoções que passam pelo


meu corpo.
Me esforçando para ter controle, me concentro em respirar em padrões
lentos e profundos.
Eu não sei o que fazer.
Pedir desculpas não parecia cortá-lo.
Além disso, eu já tinha feito isso.
Eu penso em dizer a ele que eu tinha perdido temporariamente o controle
dos meus sentidos lá atrás, mas eu penso que ele já deveria saber disso.
Completamente mortificada por minhas ações, olhei pelo pára-brisa para o
céu escuro e ignoro o garoto sentado no banco do motorista ao meu lado.
— Vamos falar sobre isso? — Johnny finalmente pergunta depois de
vários minutos de silêncio tenso.
Eu balanço minha cabeça, bochechas queimando de vergonha, e continuo
a olhar pela janela para o nada.
— Você vai falar comigo? — ele pergunta então, a voz baixa e áspera.
Mais uma vez, eu balanço minha cabeça, envergonhada demais para olhar
para ele.
— E aí? — Ele demanda. — Você vai simplesmente me ignorar
completamente?
Eu dou de ombros impotente.
Eu sei o que está por vir se conversássemos.
Ele ia me dar a palestra.
E agora, com minhas emoções desgastadas e meu estômago revirando de
ansiedade, eu honestamente não acho que poderia ouvir essa conversa.
Eu não posso aceitar sua rejeição.
— Shannon — Johnny rosna, claramente frustrado.
Ligando a seta, ele para no acostamento da estrada e desliga o motor.
Oh não.
Oh, por favor, Deus, não.
— Shannon. — Se virando em seu assento, ele empurra o braço que nos
separa e torce seu corpo para me encarar. — Precisamos conversar sobre o
que aconteceu há pouco.
— Desculpe — eu me adianto e falo primeiro. Com o meu coração
martelando no meu peito, eu me viro no meu lugar e o encaro. — Eu sinto
muitíssimo.
— Eu não quero que você se desculpe — ele responde, olhos azuis
queimando nos meus. — O que aconteceu no meu quarto? — Balançando a
cabeça, ele solta um grunhido de dor. — Eu não esperava, eu não esperava
você. — Sua respiração abana meu rosto enquanto ele fala, fazendo meu
corpo tremer involuntariamente. — Não me arrependo — acrescenta. — E
eu não me arrependo de você ter feito isso…
— Mas? — Eu preencho, mantendo meus olhos treinados em minhas
mãos cruzadas no meu colo, sabendo muito bem que havia um mas vindo.
— Mas eu vou embora em alguns meses, Shannon — Johnny finalmente
diz. — Quando o verão chegar, estarei fora daqui e não voltarei até que as
aulas comecem.
— Eu sei — eu sussurro, apertando minhas mãos com força.
Joey me contou tudo sobre isso.
Ele estava indo embora para ser uma grande estrela.
— É assim que é para mim — acrescenta Johnny rispidamente. — E só
vai piorar, períodos mais longos de distância. Mais viagens. Mudanças
permanentes. Isso é o que está acontecendo para mim. Muito em breve. Não
seria justo da minha parte não te falar isso agora. — Ele suspira cansado e
passa a mão pelo cabelo completamente desgrenhado. — Você precisa saber
que eu não vou ficar aqui por muito mais tempo.
— Eu sei — eu sussurro, sentindo a dor ardente no meu peito. — E eu sei
que não deveria ter beijado você. — Eu engasgo, a voz rasgada. — Ok? Eu
sei disso. Foi errado. Eu entendo. Eu só... eu só...
— Você apenas o que, Shannon? — ele sonda.
— Eu pensei que você gostasse de mim — eu solto.
— Jesus Cristo — Johnny geme, deixando cair a cabeça entre as mãos. —
Claro, eu gosto de você. — Ele puxa o cabelo e suspira. — Eu acho que está
bem claro que eu sou louco por você. — Exalando um gemido de dor, ele
acrescenta: — Mas eu vou fazer dezoito anos em maio, Shannon.
— Eu tenho dezesseis — eu sussurro.
— Eu sei, Shannon, porra, eu sei — ele geme, a voz rasgada. — Mas
estou tentando fazer a coisa certa aqui.
Meu coração acelera incerto.
Eu não sei o que pensar ou como sentir.
Ele está me rejeitando e me dizendo que gostava de mim de uma só vez e
era demais para o meu coração aguentar.
— Para quem? — Eu resmungo.
— Para nós dois — Johnny solta. — Minha carreira está decolando e
preciso manter o foco. E você merece alguém que possa colocá-la em
primeiro lugar. — Ele passa a mão pelo cabelo novamente, parecendo
estressado e cansado. — Eu não posso fazer isso.
Ele me olha bem nos olhos e diz:
— Eu quero, eu realmente quero. Mas não estou em posição de fazer isso
por você. — Exalando pesadamente, ele acrescenta — Eu não posso te dar
um relacionamento, Shannon, e seria egoísta da minha parte pedir a você
algo que eu não posso seguir.
Lá está.
A rejeição que eu estou esperando.
— Eu não te pedi um relacionamento, Johnny — eu solto, completamente
humilhada. — Eu nunca te pedi nada. Então, não se preocupe em me rejeitar
gentilmente porque é desnecessário.
Johnny solta um grunhido frustrado.
— Eu não estou tentando te rejeitar, Shannon, estou tentando descobrir
isso com você…
— Ouça, Johnny, estou muito cansada — sussurro, me virando para a
janela. — Eu só quero ir para casa agora.
— Vamos, Shannon — ele geme, o tom agitado agora. — Você não pode
evitar isso.
Eu tenho toda a intenção de evitá-lo pelo resto da minha vida.
Eu planejo começar a evitar assim que saísse deste carro.
— Shannon, fale comigo.
Eu permaneço em silêncio.
— Shannon, vamos lá — implora Johnny. — Não seja assim.
Eu não acho que há qualquer outra maneira que eu possa dar o braço a
torcer pelas circunstâncias.
Eu o beijei.
Ele me rejeitou.
Eu me expus para ele.
Ele me rejeitou.
Era minha culpa.
Cem por cento.
Eu aceito a responsabilidade pela minha imprudência.
Mas isso não significa que eu sou forte o suficiente para ouvir as
dolorosas repercussões verbais de minhas ações.
— Apenas fale comigo — Johnny exige, não querendo deixar isso para lá.
— O que dizer? — Eu murmuro, me virando para olhar para ele, cedendo
à sua sondagem implacável. — Você não me quer. Eu ouvi você. Entendi a
mensagem.
— Você claramente não entendeu se foi isso que você concluiu disso —
ele retruca, parecendo furioso.
Quando eu não respondo, Johnny literalmente rosna.
— Tudo bem, se você não quer discutir isso, então eu não direi mais uma
palavra — ele anuncia, jogando as mãos para o ar. — É isso que você quer,
Shannon?
— Isso é o que eu quero, Johnny — eu sussurro.
— Faça como quiser — ele fala, ligando o motor novamente. — Desisto.
Com suas palavras de rejeição ecoando em meus ouvidos, e minhas
emoções em turbulência, eu cerro meus olhos e rezo para que o tempo
acelere.
Eu tenho a pior dor no estômago para combinar com a dor latejante no
meu peito que parece florescer e queimar a cada quilômetro que ele andava.
Quando Johnny para na minha rua, eu minto como sempre que ele me
deixou em casa e digo a ele que minha casa era a do outro lado da rua,
sabendo muito bem que se meu pai me visse saindo de seu carro, eu estaria
praticamente morta.
No entanto, não previ que ele pudesse desligar o motor novamente, o que
foi exatamente o que ele fez.
— Você está bem? — ele pergunta, virando-se em seu assento para me
encarar.
— Sim — eu murmuro.
Ele assente lentamente.
— Shannon, escute…
— Você não precisa dizer mais nada — eu rapidamente o paro dizendo. —
Não vai acontecer de novo.
Ele franze a testa.
— Não, não era isso o que eu era…
— Desculpe — eu solto e então agarro a maçaneta e empurro a porta
aberta. — Eu realmente sinto muito. — Desafivelado meu cinto, eu saio do
jipe e bato a porta antes que ele pudesse dizer outra palavra.
Eu não poderia lidar com mais.
Não essa noite.
Mortificada, fico do lado de fora do muro do jardim do meu vizinho até
ficar claro que Johnny estava esperando que eu entrasse antes de sair, e então
faço a única coisa que pude, eu abaixo minha cabeça e corro pela trilha até
minha casa real, sem me atrever a olhar para ele.
Deslizando para dentro, fecho a porta atrás de mim e exalo uma respiração
irregular antes de olhar rapidamente o andar de baixo.
A casa está vazia.
Ollie, Tadhg e Sean iam para a casa da vovó Murphy durante a semana,
com exceção das sextas-feiras, quando a vovó os deixa direto em casa depois
da escola, porque ela ia a Beara nos fins de semana para visitar a neta e não
estaria em casa antes das oito da noite.
Joey e mamãe trabalham às segundas-feiras, e meu pai mantém um
banquinho aquecido nas casas de apostas quase todas as noites.
Nada mudava.
Aborto ou nenhum aborto, minha família fodida continua normalmente...
Agradecida por ter evitado outro confronto inútil, tiro meus sapatos e
corro escada acima para tirar minhas roupas úmidas.
Tínhamos uma secadora de segunda mão na despensa que eu não deveria
usar por causa do quão difícil era a eletricidade, mas eu ia usá-la esta noite.
Eu não tenho escolha.
De volta à casa da dor, fecho a porta do meu quarto e rapidamente tiro
minhas roupas molhadas antes de colocar meu pijama.
Eu estou no meio da escada com meu uniforme enrolado em minhas mãos
quando ouvi uma batida na porta da frente.
Parando no meio do passo, aperto os olhos e tento ver quem poderia ser a
sombra alta do lado de fora do vidro fosco.
Outra batida vem, mais alta desta vez, então eu desço correndo os degraus
restantes e abro a porta, apenas para encontrar Johnny parado do lado de fora
na chuva, parecendo uma espécie de anjo meio-encharcado.
Instantaneamente, meu coração dispara no meu peito e então começa a
bater tão forte que era quase doloroso.
Sério, Deus?
Por quê?
— Oi — eu sussurro, segurando a porta com força. O degrau em nossa
casa tinha pelo menos um pé de altura, mas eu ainda me encontro olhando
para ele.
— Oi — Johnny responde, olhos azuis fixos nos meus. — Você vive na
casa 95.
Eu balanço a cabeça, mortificada.
— Eu pensei que sua casa era o número 81? — Ele franze a testa. — É
onde eu tenho deixado você?
Dou de ombros impotente, me sentindo perdida.
— Bem, você deixou sua mochila no carro. — Tirando minha mochila de
seu ombro direito, ele a estende para mim.
— Desculpe — eu murmuro, sentindo minhas bochechas corarem mais
uma vez. — Sua jaqueta está no meu quarto, eu vou buscá-la. — Eu me viro
para subir a escada, mas ele me para com a mão no meu pulso.
— Não se preocupe com isso — ele explica, rapidamente retraindo a mão.
— Eu pego com você na escola ou algo assim.
— Ok.
Enfiando as mãos nos bolsos, Johnny balança nos calcanhares, me
considerando por um breve momento antes de soltar um suspiro.
— Você está bem?
— Sim — eu sussurro, não me sentindo nem um pouco bem.
— Shannon, eu não quero que você pense que eu não quero você…
— Por favor, não diga nada — eu imploro, além de estar mortificada nesta
fase. — Por favor.
— As coisas estão complicadas para mim agora…
— Johnny, por favor, esqueça que isso aconteceu.
Ele me encara por um momento dolorosamente longo antes de assentir
rigidamente.
— Se é o que você quer.
Eu cedo um pouco.
— É.
Seu olhar vai para o meu pescoço então, e sua expressão instantaneamente
escurece.
— Eu preciso entrar agora — eu digo, com medo dele começar de onde
ele tinha parado.
— Certo — ele diz com um pequeno aceno de cabeça. — Claro, sim, e é
melhor eu ir.
— Ok.
— Acho que vejo você amanhã — Johnny diz, e então se vira e se afasta
de mim.
Me sentindo desolada, mordo meu lábio enquanto o observo se afastar.
— Tchau, Johnny.
— Tchau, Shannon — ele grita de volta, lançando um sorriso rápido por
cima do ombro.
Oh Deus.
Com meu coração batendo inquieto no meu peito, fecho a porta e me
arrasto de volta pela escada.
Eu preciso me deitar por um minuto para poder processar meus
pensamentos.
Deslizando de volta para dentro do meu pequeno quarto, vou direto para a
minha cama de solteiro com a intenção de encostar no colchão, apenas para
parar quando meus olhos pousam na jaqueta de Johnny espalhada na minha
cama.
Como a estranha que eu sou, afundo no pé da minha cama, pego sua
jaqueta e a seguro contra meu peito.
Seu cheiro está em toda parte.
Em sua jaqueta.
Em mim.
Segurando o tecido encharcado, eu inalo profundamente, sentindo o
cheiro familiar de seu desodorante, e então me castigo mentalmente por ser
uma estranha.
O que eu estava fazendo?
Por que eu estava me permitindo sentir essas emoções?
Elas eram perigosas.
Eu tenho que parar.
Ele não quer você.
Ninguém quer.
Me sentindo mal do estômago com arrependimento e ansiedade, puxo as
cobertas, subo na minha cama, e então me enrolo na menor bola que
possível.
Tudo dói.
Meu corpo.
Meu cérebro.
Meu coração.
Respirando lentamente, tento livrar minha mente de todos os pensamentos
ruins que me atormentavam.
Cada lembrança embaraçosa e destruidora de alma de quão ridiculamente
estúpida eu tinha me comportado.
Não dura muito.
Quinze minutos em meu luto silencioso, o som da porta da frente batendo
enche meus ouvidos.
Não menos que três minutos depois, a porta do meu quarto voa para
dentro.
— Cadê o jantar?
Permanecendo perfeitamente imóvel, agarro o edredom enquanto meu
corpo se enrola com ansiedade.
— Eu esqueci.
— Bem, saia dessa maldita cama e desça as escadas — papai rosna da
minha porta. — Você tem trabalhos a fazer nesta casa, garota, e isso inclui
preparar o jantar. Já é hora de você ganhar seu sustento.
— Eu me sinto doente — eu murmuro.
Não era mentira.
Meu estômago está doendo.
— Você vai se sentir muito mais doente se não tirar seu corpo inútil dessa
cama — meu pai avisou. — Doente. Sua mãe está doente pra caralho e ela
está trabalhando para pagar suas mensalidades da escola maldita, sua putinha
ingrata.
Eu sabia que ele não tinha bebido hoje, mas meu pai sóbrio ainda era
aterrorizante para mim.
— Você tem cinco minutos para descer as escadas, garota — acrescenta.
— Não me faça voltar para você.
Ele bate a porta do meu quarto e, enquanto eu o ouço descer as escadas,
debato minhas opções.
Ficar onde eu estava e levar uma surra, ou fazer o que ele pediu e arriscar
uma de qualquer maneira?
Não há escolha.
Nunca houve.
Não para mim de qualquer maneira.
Afastando as cobertas, saio da cama e volto para o inferno.

— Você ainda está falando comigo? — São as primeiras palavras que


saem da boca de Claire quando atendo seu telefonema mais tarde naquela
noite.
Eu estava terminando de limpar o chão da cozinha antes de dormir, tendo
feito o jantar e lavado todos os pratos.
Equilibrando meu telefone entre o ouvido e o ombro, despejo a água do
balde de esfregão na pia da cozinha e rapidamente os guardo na despensa.
— Considerando que acabei de atender sua ligação, eu diria que é bastante
óbvio que ainda estou falando com você. — Respondo em um tom abafado.
Já eram onze da noite, mas meu pai ainda estava na sala assistindo a um
jogo na televisão, e eu sei que não devia perturbá-lo.
— Eu sinto muito — Claire geme na linha. — Eu não queria envergonhá-
la hoje, eu juro. Eu estava cansada de ouvir aquelas duas falando sobre
Johnny e queria colocá-las em seu lugar.
— Não se preocupe com isso. — Agarrando a jaqueta de Johnny da
secadora, apago a luz da cozinha e saio. — Eu não estou brava —
acrescento, minha voz é pouco mais que um sussurro.
— Você pode falar agora? — ela questiona.
— Sim — eu sussurro, rastejando em direção à escada. — Apenas me dê
dois segundos.
— Ok — ela responde.
Segurando meu telefone no peito, subo a escada na ponta dos pés,
evitando cada rangido com precisão especializada.
— Ok, estou de volta — eu digo a ela em um tom mais audível uma vez
que eu estou em segurança dentro do meu quarto com a porta trancada.
— Você tem certeza que não está com raiva de mim?
Balanço a cabeça e me jogo na cama.
— Eu realmente não estou.
— Oh, graças a Deus — Claire suspira alto. — Eu estive um desastre a
noite toda me preocupando com isso. Eu não estarei na aula amanhã e eu
estava com medo que você não atendesse quando eu ligasse.
Meu coração afunda.
— Você não vai para a escola amanhã?
— Eu tenho aquela blitz de hóquei com a escola — ela explica. — Mas
Lizzie estará lá.
Pelo menos há isso.
— Bem, eu não estou brava.
— Você tem certeza?
— Tenho boas notícias — eu digo, decidindo mudar de assunto. Caso
contrário, acabaríamos indo e voltando a noite toda. — Eu esqueci de te
dizer na semana passada, mas acho que você vai gostar.
— Desembuche, Lynch.
— Mamãe assinou os formulários. Eu os entreguei na outra semana. —
Exalando pesadamente, eu digo: — Tenho permissão para ir a Donegal com
você depois da Páscoa.
Eu tenho que segurar o telefone longe do meu ouvido por alguns
momentos enquanto Claire grita sua excitação para fora de seu sistema.
— Esta é a melhor notícia de todos os tempos — ela se emociona. — Você
não tem ideia de como você acabou de me fazer feliz. Eu pensei que ia ficar
presa em um condado estrangeiro por dois dias com Lizzie e Pierce — ela
continua a dizer. — E você sabe o quão fodido é o relacionamento deles.
— Um condado estrangeiro — eu rio, então grunho quando uma dor
aguda ricocheteia através do meu lado.
— Você está bem?
— Sim, é apenas meu estômago — eu respondo, acariciando a curva da
minha barriga. — Isso tem me incomodado o dia todo. — Preocupando meu
lábio, eu acrescento: — Espero não ter pegado algo.
— Então é melhor você tomar um pouco de paracetamol e acabar com
isso — Claire retruca alegremente. — Porque nós estamos indo para
Donegal, gatinha! Woo!
— Depois da Páscoa — eu a lembro.
— E? — ela retruca. — Ainda é a melhor notícia de todos os tempos.
Eu rio do entusiasmo dela porque, com toda a honestidade, como não
poderia?
Era infeccioso.
— Então, você descobriu como você vai lidar com quarenta e oito horas
perto de Gerard? — Eu pergunto com uma cadência provocante no meu
tom, grata pela distração da minha vida.
Claire geme alto.
— Ele me deixa louca, Shan.
— Ele gosta de você — eu digo a ela. — E antes que você me desligue e
me diga que ele gosta de todo mundo, quero dizer que ele realmente gosta de
você, Claire. É óbvio quando vocês estão juntos que ele está afim de você.
Realmente era.
Na escola, eles observavam os movimentos um do outro constantemente.
Ele estava sempre vindo até ela, contando piadas e conversando
aleatoriamente.
Eles se comportam como um velho casal quando estão juntos, com
brincadeiras espirituosas e respostas rápidas, e eu não consigo descobrir por
que eles ainda não são um casal.
Parece tão inevitável.
— Tê-lo agindo assim comigo não é um elogio — Claire resmunga
quando eu a chamo. Bufando, ela acrescenta: — Qualquer garota que passa
por aquele garoto vira a cabeça dele.
— Sim, mas você não virou a cabeça dele, Claire — eu digo a ela. — Eu
acho que você transformou o coração dele.
— Você não pode transformar algo que não está lá, Shan — ela responde,
com um tom triste.
— Eu não acredito nisso — eu retruco.
— Isso é porque você não o conhece como eu — era tudo o que ela
responde.
— Bem, eu acho que você e Gibsie juntos fazem sentido — eu pressiono.
— Muito mais do que Lizzie e Pierce.
— Isso não seria difícil — Claire ri. — Eu e o Sr. Mulcahy fazemos mais
sentido do que esses dois.
— Verdade — eu medito.
— Então, aqui está o que vamos fazer — ela diz então. — Você pode me
manter focada e longe de Gerard quando estivermos em Donegal, e eu farei
o mesmo por você com Johnny.
Eu exalo uma respiração trêmula.
— Sobre isso...
— Continue... — ela insisti.
Apertando meus olhos fechados, eu solto:
— Ele me deixou em casa novamente.
— O quê? — Claire grita.
Eu solto um suspiro.
— Eu sei.
— Oh meu Deus, Shan, o que é isso?
— Eu realmente não sei. — Eu gemo, esfregando meu rosto com a mão.
— Estou tão confusa.
— Confusa?
Decidindo dar a ela uma revelação completa, eu sussurro:
— Ele não apenas me deixou em casa, Claire. Eu fui até a casa dele
novamente.
— Não acredito! — ela engasga.
Assentindo, eu gemo em minha mão.
— E eu o beijei.
— Meu deus do céu! — ela repete, mais alto agora, e em um tom muito
mais animado. — Onde isso aconteceu?
— No quarto dele — eu confesso, e então relutantemente acrescento —
Na cama dele.
— Oh. Meu. Deus. — ela grita. — Oh meu Deus, Shan!
— Ele não me beijou de volta — eu admito, fazendo uma careta.
— Aquele maldito idiota — ela rosna, o tom mudando instantaneamente.
— Eu sou a idiota, Claire — eu me apresso em dizer, me sentindo tão
mortificada agora quanto eu estava em seu carro no caminho da vergonha
para casa. — O que diabos eu estava pensando?
— Ele foi malvado com você? — ela exige. — Porque eu vou chutar sua
bunda grande de amante de rúgbi se ele tiver sido malvado com você…
— Ele não foi malvado comigo, Claire — eu resmungo. — Ele foi...
adorável.
— Não, Shannon, você é adorável. Ele é um idiota — Claire corrigi com
raiva. — Porque só um idiota completo leva minha melhor amiga para a casa
dele, a leva para o quarto dele, e então, quando ela se expõe pela primeira
vez na vida, ele vai e a rejeita.
— Eu o beijei, Claire — eu sussurro. — Não o contrário.
— E ele claramente não merecia seu beijo — Claire corta. — Você é boa
demais para o grande idiota.
— Eu pensei que você gostava de Johnny?
— Eu gostava — ela concorda com raiva. — Eu costumava pensar que ele
era um cara legal. Eu costumava pensar que ele era melhor que essa
reputação dele — ela rosna. — Não mais.
— É minha culpa, Claire.
— Não, Shan — ela rosna. — Ele levou você, e você merece muito
melhor do que ter um idiota do rúgbi fazendo isso.
— Ele realmente não fez — eu admito. — Foi tudo eu.
— Eu não me importo — ela corta. — Ele é um idiota.
— O que eu faço agora? — Eu pergunto, me sentindo insegura.
— O que você quer dizer?
— Eu tenho a jaqueta dele. — Eu confesso. — Eu preciso devolvê-la a
ele.
— Por que você está com a jaqueta dele?
— Ele me deu... — Fiz uma pausa antes de acrescentar: — Na verdade,
essa é a segundo que ele me dá. Ele me deu seu casaco depois da escola
também, mas aquele estava encharcado da chuva, então ele me deu outro.
— Aí está — ela retruca. — Iludindo você!
— Eu não acho que era isso que ele estava fazendo — argumento
fracamente. — Ele estava apenas sendo legal, Claire. — Expirando
pesadamente, acrescento: — Ele é apenas um cara muito bom.
— Tudo bem — ela suspira, cedendo um pouco a sua raiva. — Apenas
devolva o casaco para ele na escola amanhã e termine com o grande idiota.
— Ok — eu respondo, triste com o pensamento.
— Ele é um tolo, você sabe — acrescenta. — Você é linda, e gentil, e
doce, e leal, e um milhão de outras coisas brilhantes que ele nunca
encontrará em prostitutas como aquela Bella Wilkinson.
— Obrigada — eu respondo, apreciando sua tentativa de me consolar.
Não é verdade, é claro, mas suas palavras ajudam. — Mas você não tem
permissão para odiá-lo por causa disso.
— Sério? — ela geme. — Sério?
— Ele não fez nada de errado, Claire — eu empurro. — Sério. Ele não
poderia ter sido mais legal comigo.
— Então por que ele não te beijou de volta? — ela exige.
— Porque ele não me quer — eu digo. — Obviamente.
— Então ele é louco — ela resmunga. — Se eu tivesse um pênis ou
gostasse de garotas, eu iria querer você.
— Obrigada — eu meio soluço/meio rio. — Se eu tivesse um pênis ou
gostasse de garotas, eu iria querer você também.
— Então, nós realmente não vamos odiá-lo?
— Não — eu respondo. — Nós realmente não vamos.
— Ugh — Claire geme. — Tudo bem.
— Você é uma grande amiga, Claire — eu digo a ela. — Eu não sei o que
eu faria sem você.
— Eu sou uma amiga grande o suficiente para obter os detalhes?
— Que tipo de detalhes? — Eu pergunto nervosamente. — O que você
quer saber?
— Todos os detalhes — ela responde.
Ugh.
— É tão embaraçoso — eu sussurro. — Humilhante, na verdade.
— Ok, me desculpe — ela responde rapidamente. — Você não tem que
falar sobre isso.
— Ele é lindo — eu sussurro depois de uma pausa.
— Sim, sim — ela resmunga. — Todo mundo já sabe disso.
— Não, Claire — eu insisto. — Quero dizer, ele é muito bonito. —
Fechando meus olhos, eu sussurro: — Sob as roupas.
— Oh meu Deus! — ela gritou no meu ouvido. — Como você sabe o que
está debaixo da roupa dele?
— Porque ele tomou banho e estava apenas meio vestido quando eu saí…
— Saiu de onde?
— Do chuveiro dele.
— Espera! — Claire grita — Você tomou banho com Johnny Kavanagh?
— O que – não! — Eu balanço minha cabeça. — Tomei banho no
chuveiro dele.
— Ok, você precisa levar isso de volta ao início, porque estou perdendo o
controle da minha imaginação imunda aqui.
— Nós dois estávamos encharcados da chuva — explico com um suspiro
cansado. — Sua mãe levou minhas roupas para secá-las. Eu usei o chuveiro
em seu banheiro. Ele tomou um banho separado. E então nós dois acabamos
no quarto dele.
— Sem roupa?
— Ele estava de cueca — eu respondo, resistindo à vontade de contar a
ela sobre o que eu vi antes que ele vestisse a bermuda. — É isso.
— E você? — ela pressiona.
— Apenas uma toalha. — Mordo o lábio, sentindo meu rosto queimar
com o calor. — Eu acho que eu mostrei a ele meus, uh, você sabe... e eu
realmente não sei como isso aconteceu, mas nós dois acabamos na cama
dele. — Eu me apresso em dizer, mantendo minha voz baixa. — E então ele
estava bem ali, com o seu rosto tão perto do meu... — Exalando uma
respiração irregular, eu acrescento — E eu simplesmente perdi a cabeça e o
beijei.
— Deus — Claire ofega. — É como assistir a um acidente de trem, só que
em vez de assistir, estou ouvindo.
— Eu sei — eu gemo. — E então eu entrei em pânico e me tranquei no
banheiro dele. — Eu me encolhi com a memória. — E ele foi tão gentil
comigo, Claire. Quero dizer, ele poderia ter surtado e me expulsado, mas ele
continuou falando comigo do outro lado da porta, tentando me convencer a
sair…
— Ugh, eu não posso — ela geme. — Dói muito meu coração.
— Ele prometeu que não falaria sobre isso se eu saísse — continuo a falar
apesar dos protestos dela, precisando tirar isso do meu peito. — Claro, ele
mentiu. Quando estava de volta em seu carro, ele me deu a palestra…
— Não a palestra — ela suspira. — Por favor, me diga que ele não te deu
a palestra.
— Ele deu — eu solto. — E então ele continuou me dizendo que eu não
precisava me desculpar e acho que ele quis dizer isso, mas eu estou tão
envergonhada por tudo isso. Eu juro, eu nunca vou me expor assim por
ninguém nunca mais.
— Droga — Claire suspira. — Eu gostaria de não ter aquela partida
estúpida amanhã. Eu não quero que você fique sozinha na escola enquanto
você está se sentindo assim.
— Eu também — eu concordo tristemente. — Pelo menos Lizzie estará lá.
— Talvez não mencione isso para Liz — Claire interrompe. — Ela vai
cortar o pau dele imediatamente.
— Ninguém pode saber sobre isso, Claire — eu sussurro. — Ninguém.
— Concordo.
Agarro meu estômago quando outra dor lancinante ricocheteia através de
mim, me fazendo gemer mais uma vez de dor.
— Ei, talvez você devesse tirar folga amanhã — ela oferece, parecendo
preocupada. — Você não soa muito bem.
— Eu vou ficar bem — eu sussurro.
E eu ficaria.
Eu espero.
49
EU FODI TUDO

JOHNNY

— Bom dia — Gibsie cumprimenta, afundando no banco do passageiro do


meu carro na terça de manhã. — Como foi o treino ontem?
— Eu fodi tudo! — Eu solto.
— Você fodeu tudo? — Gibsie arqueia uma sobrancelha enquanto coloca
o cinto. — No treino?
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Eu não fui.
— Por que não?
— Porque eu fodi tudo!
— Como?
— Porra. — Gemendo, mudo a marcha e me afasto de sua casa. — Tão
fodidamente ruim. — Apertando minhas mãos no volante, soltei um rosnado
de dor. — Tão fodido, fodidamente ruim, Gibs.
— Você vai dizer alguma coisa além da palavra foda? — ele fala
lentamente enquanto tira um CD em branco de sua mochila e o coloca na
minha caixa de CD. — A propósito, eu gravei isso para você ontem à noite
— acrescenta com um sorriso. — Eu acho que você vai gostar.
— Obrigado — eu resmungo, distraído demais para me concentrar em
qualquer outra coisa além dos meus pensamentos furiosos.
— Agora — Gibsie diz, puxando um maço de cigarros. Ele coloca um
entre os lábios e acende. — Você vai me dizer como você fodeu tudo?
— Abaixe a janela — eu resmungo. — Você sabe que eu não suporto o
cheiro dessas coisas.
— Eu presumo que esse colapso tenha algo a ver com a pequena
Shannon? — ele oferece enquanto abaixa a janela e exala uma nuvem de
fumaça dela.
Eu balanço a cabeça novamente, me sentindo em pânico.
A noite toda, eu estive esperando para tirar essa merda do meu peito.
Eu mal consigo respirar com a pressão no meu corpo, isso, e meus
arrependimentos, e o cheiro dela em meus lençóis.
Eu não consegui nem curtir o jantar com meu pai, algo que, por causa de
horários conflitantes, não conseguimos fazer desde o dia de Ano Novo.
Durante todo o jantar da noite passada, eu estava muito perdido dentro da
minha própria cabeça.
Eu estou muito preso nela.
"Eu pensei que você gostava de mim."
Bem, me foda, meu coração quase rachou quando ela disse essas palavras.
— O que você fez, Johnny? — Gibsie pergunta, me arrastando dos meus
pensamentos.
— Eu fiz isso de novo — eu admito.
Ele me olha com cautela.
— Você deu carona para ela de novo?
Assentindo, solto um gemido estrangulado.
— Exceto desta vez, eu fui mais longe e a forcei a pegar uma carona
depois da escola.
— Johnny…
— Eu literalmente a peguei e a coloquei na porra do carro, Gibs. —
Expulsando outra respiração frustrada, eu caio para trás em meu assento e
gemo. — Com minha mãe.
Ele ri.
— Você é um idiota.
— Eu sei — eu gemo. — E então minha mãe fez o que ela faz de melhor.
— Ela se intrometeu — Gibsie completa conscientemente.
— Trouxe-a para a casa.
As sobrancelhas de Gibsie se erguem.
— Sua casa?
— Ah sim — eu assobio, ainda me sentindo amargo. — Então ela foi e
me deu a conversa.
Gibsie estremece.
— Ai, Jesus.
— Eu sei, rapaz. — Eu balanço minha cabeça, me forçando a me
concentrar na estrada. — Foi brutal.
— Onde estava Shannon quando essa conversa estava acontecendo?
— Essa é a pior parte — eu respondo com uma careta, enquanto dirijo
para a escola. — Minha mãe decidiu que seria uma ideia maravilhosa fazer
Shannon tomar um maldito banho. — Eu lanço-lhe um olhar bravo. —
Outro.
— Você está de sacanagem? — Gibsie ri.
— Eu não estou te sacaneando — eu digo, virando a viela familiar para
Tommen. — Minha mãe também achou que era uma porra de uma ideia
fabulosa pegar suas roupas e colocá-las na secadora.
— Pare. Eu não posso. Isso não tem preço. — Ele joga a cabeça para trás
e uiva de rir. — Mamãe Kavanagh é uma ajudante melhor do que eu!
— Foco, Gibs! — Eu lato quando entro no estacionamento. — Foi ruim.
Realmente muito ruim.
— Quão ruim? — ele pergunta.
Entro na minha vaga habitual de estacionamento e desligo o motor.
— Quão ruim, Johnny? — Gibsie sonda.
Exalando um rosnado de dor, eu me viro no meu assento para encará-lo.
— Ela me beijou.
Os olhos de Gibsie se iluminam.
— É?
Eu balanço a cabeça.
— Na minha cama. Em uma toalha. Parecendo um maldito sonho
molhado. Ela apenas colocou a maldita boca em mim, Gibs.
— Em uma toalha?
— Mãe teve suas roupas, lembra? — Eu estrangulo. — Ela estava
enrolada em uma toalha e nada mais.
Gibsie sorri.
— Nada mais?
— Nada mais — repito, pronunciando a palavra nada.
— Você viu…
— Sim — eu rebato e então gemo alto. — Porra.
— E?
— Perfeito.
— Porra.
— Sim.
— Bem, merda, cara — Gibsie medita, expressão pensativa enquanto ele
coça a mandíbula. — Eu nunca teria imaginado que ela faria o primeiro
movimento. — Virando-se para olhar para mim, ele pergunta: — O que você
fez?
— Congelei — eu admito com uma expiração dolorosa. — Eu congelei
completamente, cara. E então ela entrou em pânico e se trancou no banheiro.
Foi um desastre. Levei séculos para convencê-la a sair e, mesmo assim, ela
não falou mais do que três palavras para mim na carona de volta para a casa
dela.
— Isso... — Gibsie balança a cabeça — é um desastre.
— Do mais alto nível — eu concordo tristemente. — Tentei conversar
com ela, mas ela não queria, rapaz. Ela não queria ouvir uma palavra do que
eu tinha a dizer.
— O que você tentou dizer a ela?
— A verdade? — Eu ofereço cansado. — Que estou indo embora em
alguns meses e não posso me comprometer com ela.
— Você é um pouco estúpido para um gênio, não é?— Gibsie medita.
Eu me viro para encará-lo.
— Desculpa?
— Você a leva para casa várias vezes, você a leva para o pub, para o
cinema, você a leva para sua casa, duas vezes, e então ela te beija e você a
rejeita — ele retruca. — O que você esperava que ela fizesse? Se sentasse e
te ouvisse?
— Eu não a rejeitei porra — eu cuspo. — Eu nunca a rejeitaria!
— Ah, tudo bem — Gibsie ri. — Claro, você não fez.
— E foi você quem me disse para ser amigo dela — acuso.
— Bem, eu estava errado — ele diz. — Você não pode fazer isso. Nunca
vai funcionar. Desista agora.
— Sim, vai — eu assobio. — Tem que funcionar.
— Por que tem que funcionar? — ele pergunta.
— Porque eu preciso dela... — Eu balanço minha cabeça e solto outra
respiração frustrada. — Porque eu quero mantê-la em minha vida.
— Você quer ficar com ela, ponto final — Gibsie rebate. — Porque você
está apaixonado por aquela garota.
— Pare com isso — eu aviso.
— Tudo bem. — Ele joga as mãos para cima. — Não direi mais nada
sobre isso.
Ficamos em silêncio por um longo tempo enquanto Gibsie fuma outro
cigarro antes que eu finalmente o quebrasse dizendo:
— Você sabia que ela é insanamente boa no PlayStation?
Gibsie olha para mim com surpresa.
— Não brinca?
Eu balanço a cabeça.
— Ela chutou minha bunda, cara. Eu nunca vi ninguém completar missões
tão rápido quanto ela.
Ele exala outra nuvem de fumaça e joga o cigarro pela janela.
— Ela tinha uma cola com ela?
— Ela não precisava de uma — eu murmuro enquanto aperto um botão e
fecho as janelas. — Ela tinha todos os malditos códigos memorizados.
— Oh, Deus — Gibsie geme. — Isso é tão fodidamente sexy.
Aponto para a porta do passageiro.
— Saia do meu carro.
— Eu não estou pensando nela assim — ele ri enquanto abre a porta e saí.
Sim, ele fodidamente estava.
50

VAZAMENTOS DE MENSTRUAÇÃO E GAROTOS-HERÓIS

SHANNON

Quando acordo na terça-feira de manhã, levo um tempo ridículo para me


arrastar para fora da cama.
Eu estou com tanta dor que tudo que eu quero fazer é enterrar minha
cabeça sob o edredom e ficar lá.
Saber que ficar em casa sem ir à escola significava passar o dia todo na
mesma casa que meu pai era um incentivo grande o suficiente para ir à
escola.
Mas o pensamento de ter que enfrentar Johnny novamente significava que
era escapar por um triz.
Eu não me sinto bem.
Minha mente está cambaleando e meu corpo está em agonia.
No momento em que desço do ônibus em Tommen, meu corpo parece que
está tentando se cortar de dentro para fora e começa com meu estômago.
Eu tenho a jaqueta de Johnny lavada, seca e embrulhada em uma sacola
plástica no bolso da frente da minha mochila, pronta para devolver a ele,
como Claire e eu discutimos.
Eu pretendo devolvê-la a ele e fugir.
Melhor ainda, se eu vir Gibsie, eu posso dar a ele e acabar com isso.
Durante toda a manhã, eu o procuro nos corredores, mas nunca nos
cruzamos.
Um milhão de pensamentos e preocupações ridículos enchem minha
mente.
Ele está machucado?
Eu já sabia que ele estava ferido.
Mas era pior?
Era sua coxa?
Ele está no hospital?
Ele está mal?
Deus, eu era patética.
Eu teria insistido ainda mais em sua ausência se não fosse pela dor terrível
no meu estômago exigindo toda a minha atenção.
Meu estômago está doendo, com cada um dos meus músculos abdominais
agonizantemente contraindo como um ataque de lâminas me cortando de
dentro para fora.
Isso não era induzido pela ansiedade.
Não, isso definitivamente era outra coisa.
A dor era tão forte que mal consigo me concentrar nos trabalhos da escola,
e não tenho as meninas para me distrair porque Claire está naquele jogo fora
com o time de hóquei feminino, e Lizzie não tinha aparecido na escola hoje.
Sabendo da minha sorte, Lizzie está doente e vomitando as tripas e eu
estou me preparando para o mesmo.
Seguindo os movimentos, vou a todas as minhas aulas, sento sozinha,
tento me misturar com o papel de parede e rezo para não desmaiar.
Quando chega o grande intervalo, eu tinha tido aulas suficientes para um
dia e estava preparada para fazer algumas coisas moralmente questionáveis
por um par de paracetamol e um copo de água.
No entanto, meu dia dá uma virada predominante para o pior quando uma
garota do sexto ano me puxa de lado no corredor e pronuncia as palavras que
toda adolescente na face do planeta teme ouvir na escola.
— Com licença, hum, mas acho que você está vazando.
Porque eu era eu, meu cérebro leva vários segundos para compreender o
que ela estava dizendo, e vários mais antes de eu entender o que ela queria
dizer.
No minuto que eu entendo, desejo que o chão se abra e me engula inteira.
Risque isso, eu quero explodir em chamas e me desintegrar no ar porque
ter uma garota do sexto ano apontando o fato de que você está vazando no
meio do corredor da escola tem esse efeito em uma garota.
Mortificada, corro para o banheiro feminino para investigar.
Felizmente o banheiro está vazio quando entro.
Largando minha mochila no chão, fiquei de costas para o espelho e viro a
cabeça.
— Oh, Deus, não! — Eu soluço/ofego quando meu olhar pousa na
mancha de sangue na parte de trás da minha saia cinza da escola.
Também não era uma pequena mancha.
Claro que não era.
Era de mim que estávamos falando, e eu nunca faço a parte do
constrangimento e da vergonha pela metade.
Então, era isso.
Hoje era o dia em que a mãe natureza decidiu me fazer uma visita.
Nove dias depois do meu aniversário de dezesseis anos.
Antes tarde do que nunca.
No meio da escola.
Ah, querido Jesus.
Bem, pelo menos as dores de estômago excruciantes faziam sentido agora.
Em minha defesa, como diabos eu deveria saber?
Nunca na minha vida eu tinha encontrado uma facada pélvica tão
angustiante.
Porque essa era a minha primeira menstruação de fato.
Agarrando minha mochila e um punhado de toalhas de papel, corro para
uma das cabines e tranco a porta atrás de mim.
Saindo da minha saia, tiro minha meia-calça e calcinha, chorando quando
o sangue mancha minhas pernas.
Oh Deus.
Não entre em pânico, Shannon.
Não surte.
Inalando uma respiração estabilizadora, eu rapidamente começo a
trabalhar em me limpar com apenas um pensamento em minha mente.
Fugir.
Assim que eu tiver uma aparência razoavelmente respeitável, eu vou
direto para casa para enterrar minha cabeça sob meus cobertores e morrer de
vergonha em paz.
Pegando meu telefone, eu mando uma mensagem a cobrar para Joey
porque, como de costume, eu não tinha nenhum maldito crédito, e também
como de costume, eu precisava que ele viesse me salvar.
Ele não responde.
Cavando dentro da minha bolsa, eu procuro o absorvente que eu sei que
não encontraria porque por que diabos eu encontraria um?
Era como se a mãe natureza tivesse decidido me agraciar com três anos de
dores menstruais e vergonha neste exato momento.
Deus.
Grunhindo uma respiração áspera, eu aperto meu estômago e fico parada,
esperando encontrar algum alívio.
Não encontro.
Também torço pelo dinheiro que não tinha para comprar pelo menos
absorventes que não posso pagar na loja de conveniência.
Dois euros.
Tudo que eu precisava era de uma patética moeda de dois euros e eu nem
tinha isso.
Felizmente, encontro uma calcinha reserva, então faço um absorvente
improvisado com toalhas de papel enquanto as lágrimas escorrem pelo meu
rosto.
Eu estou bem ciente de que eu não preciso estar chorando por isso.
Era perfeitamente normal.
Mas eu estava chateada, envergonhada e despreparada.
Pela primeira vez na minha vida, eu desejo que as coisas pudessem correr
bem para mim.
Eu estou tão cansada da minha vida fodida.
Eu preciso de um alívio.
Limpo minha saia o melhor que pude antes de colocá-la de volta.
Então eu arranco meu suéter e amarrei na minha cintura para esconder a
mancha da vergonha.
Minhas pernas estavam nuas, meus braços sem mangas, e eu parecia
totalmente deslocada para o clima de março.
Fungando, vasculho minha bolsa sem rumo, meus dedos pairando sobre o
saco plástico que continha a jaqueta de Johnny.
Puxando a jaqueta para fora da sacola plástica, rapidamente enfio minha
meia-calça e calcinha dentro da sacola e as enterro no fundo da minha
mochila.
Saindo da cabine, me arrasto até a pia, largo minha mochila e a jaqueta no
chão e esfrego minhas mãos com uma quantidade generosa de sabão,
incapaz de parar as lágrimas estúpidas que escorrem pelo meu rosto.
— Você está bem? — uma voz feminina pergunta, me assustando.
Fungando, me viro para ver uma garota em um uniforme combinando sair
do cubículo no final do banheiro, aquele com a placa de limpeza.
Uma espessa nuvem de fumaça flutua ao redor dela, sem ser detectada
pelo alarme de fumaça desmontado no teto.
Eu estava tão envolvida em meu colapso pessoal que não percebi que
havia mais alguém aqui.
— Desculpe — eu murmuro. — Eu não sabia que mais alguém estava
aqui.
— Ainda está chovendo lá fora — ela anuncia, sacudindo uma caixa de
cigarros na frente dela. — Eu não gosto de ficar do lado de fora na chuva
para fumar.
Meu uniforme é a única coisa que eu tinha em comum com a garota
parada na minha frente.
Ela era muito mais velha do que eu – e muito mais bonita.
Seu cabelo preto estava cortado em um daqueles elegantes cortes de
cabelo estilo bob que todas as celebridades usavam atualmente e seu rosto é
impecável.
Ela era alta e tinha um formato de ampulheta de arrasar com peitos
enormes salientes contra o tecido de seu suéter azul-marinho.
Ela caminha até onde eu estou e se inclina contra a pia ao lado da minha.
— Por que você está chorando?
— Oh, eu estou bem — eu rapidamente desvio. — Não é nada.
— Não soa como nada — ela medita, olhos azuis-claros fixos nos meus.
— Você estava chorando como um bebê lá dentro.
Dou de ombros, sentindo meu rosto queimar de vergonha.
— Dia ruim?
Mais como uma vida ruim...
Eu exalo pesadamente.
— Você pode dizer isso.
— Eu tive alguns desses — ela responde.
Eu duvido.
Ela parece perfeita demais para ter visto um dia ruim em sua vida.
Ela inclina a cabeça para um lado, estudando meu rosto.
— Você é a nova garota.
Eu balanço a cabeça.
— Da escola pública?
Meu coração afunda.
O medo pinica minha pele.
Mas consigo assentir e permanecer impassível.
— Qual é o seu nome mesmo?
— Hum, é Shannon — eu respondo, a voz baixa. — Shannon Lynch.
— Shannon. — Reconhecimento brilha em seus olhos, e eu não tenho
certeza se gosto disso.
Sentindo-me desconfortável, passo ao redor dela e me movo para o
aquecedor e dou três segundos para secar minhas mãos antes de pegar
minhas coisas.
— Eu sou Bella — ela anuncia, empurrando a pia. — E isso... — ela
arranca a jaqueta das minhas mãos. — Não pertence a você.
Meu coração cai no chão.
— Como você conseguiu isso? — ela pergunta. Seu tom ainda era leve,
mas sua expressão era estrondosa. — Johnny deu a você?
— Oh, não, me desculpe — eu respondo sem jeito, ajustando minha
mochila em meus ombros. — Eu devo ter pego no cabide por engano.
— Não minta — ela avisa. — Como você conseguiu a jaqueta dele?
— Ele me deu — eu sussurro enquanto um leve tremor percorre meu
corpo.
Ela arqueia uma sobrancelha finamente depilada.
— Johnny apenas te deu a jaqueta dele?
Eu balanço a cabeça e engulo profundamente.
— Quando? — ela exige.
— Ontem.
Seus olhos se estreitam.
— Por quê?
— Estava chovendo.
— E? É a Irlanda. — Ela coloca a mão no quadril e olha para mim. —
Está sempre chovendo.
Eu me mexo desconfortavelmente.
— Ele estava apenas sendo legal.
— Johnny não é legal e especialmente com estranhas aleatórias — ela
cospe.
Dando de ombros, me movo para passar por ela, mas ela estende a mão,
bloqueando meu caminho.
Eu me encolho.
— Espere — ela ordena, o olhar vacilando da jaqueta em sua mão para o
meu rosto. — Eu não terminei de falar com você.
Se ela bater em você, então bata de volta, Shannon, eu mentalmente
cantarolo o conselho do meu irmão na minha cabeça repetidamente. Você
não é saco de pancadas de ninguém. Não deixe ninguém te bater por aí.
— Um passarinho me disse que você estava pegando carona com ele.
Não parecia uma pergunta, então não respondo.
Eu tive brigas suficientes com garotas como Bella no meu currículo para
saber que tudo o que eu dissesse poderia e seria usado contra mim.
Era mais seguro ficar em silêncio.
— Você sabe quem eu sou? — ela finalmente pergunta.
Eu balanço a cabeça.
— Você sabe quem ele é?
Eu balanço a cabeça.
— Agora, você sabe o que você é?
Dou de ombros.
— Uma ninguém — Bella diz suavemente. — Você não é nada, garotinha.
Não para ele. Não para mim. — Ela se aproxima e eu tenho que me forçar a
não vacilar. — Então, seja qual for o jogo que você está jogando, você
precisa dar um passo para trás porque... — Ela faz uma pausa para tirar um
fio de cabelo do meu ombro, sorrindo docemente para mim. — Qualquer
pequeno drama que você estava tendo na cabine do banheiro vai empalidecer
em comparação ao inferno que eu vou causar para você, se você sequer
pensar em ir atrás dele.
— Eu não quero ele — eu engasgo, me sentindo perto de desmaiar.
E ele não me quer.
Bella joga a cabeça para trás e ri.
— Todo mundo o quer — ela finalmente responde, ainda rindo sem
humor. — E aqui está um aviso: você não é nada de especial. Johnny só está
sendo legal com você porque você foi uma putinha estúpida que se envolveu
em um de seus treinos e causou uma tonelada de problemas.
Meu coração afunda.
— Você pensou que eu não sabia sobre sua pequena exibição em campo
naquele dia? — Ela arqueia uma sobrancelha. — Eu sei tudo o que acontece
por aqui.
— Foi um acidente — eu sussurro, sentindo meus olhos se encherem de
lágrimas.
— Acredito — ela zomba. — Você estava procurando por sua atenção e
você conseguiu.
— Não — eu murmuro. — Eu não estava.
— Ah, por favor — ela sussurra. — Desde que você apareceu aqui, você
não causou nada além de problemas. Brigando com Ronan McGarry? — Ela
arqueia uma sobrancelha. — Eu aposto que você adorou isso, não é?
Eu balanço minha cabeça, mortificada.
— Espero que você saiba que ele está sendo legal com você porque ele
não tem escolha — acrescenta ela, olhando para mim. — Porque sua mãe
tentou suspendê-lo e ele precisa manter a ficha limpa para a Academia.
Minha boca se abre.
— Você pensou que eu não sabia disso, também? — Ela ri baixinho. —
Eu sei tudo sobre você. Todos os seus pequenos segredos. Todos os
esqueletos em seu armário.
— Eu não... eu não... não é...
— Guarde para você — Bella retruca. — Seu pequeno ato de pobre
vítima, de coitadinha, não vai funcionar comigo. Estou deixando você saber
que o que aquelas garotas, naquela escola de merda de onde você veio,
fizeram com você, vai parecer um passeio ao parque em comparação com o
que eu farei se você não recuar. — Ela me dá um olhar duro antes de
acrescentar — Essa sou eu sendo amigável, Shannon. Eu não vou ser tão
legal se eu tiver que te falar de novo.
— Você não vai precisar — eu solto.
Não dando a ela a chance de responder, eu deslizo ao redor dela e saio
correndo do banheiro.
Eu preciso dar o fora daqui e rápido.
Como é hora do almoço e chove lá fora, os corredores estão cheios de
outros alunos se abrigando da chuva.
Com meu coração martelando rapidamente no meu peito, eu caminho pela
multidão com a cabeça baixa e minha mente focada na saída.
Eu só consigo chegar a um metro e meio da porta do banheiro quando
bato em uma parede de músculos duros.
O impacto me faz saltar para trás e cair em uma pilha no chão.
— Uau, merda — uma voz familiar grunhe. — Me desculpe por isso.
Duas mãos grandes envolvem meus braços e me puxam para cima.
— Eu não vi você lá, Pequena Shannon — Gibsie ri enquanto me
colocava de pé. — Você está bem?
Eu tinha procurado o suficiente para saber que onde quer que Gerard
Gibson estivesse, Johnny Kavanagh nunca estava muito longe, e vice-versa.
Esse era um conceito preocupante, considerando a guerra que acabou de
ser declarada contra mim.
Eu balanço a cabeça uma vez e tento desviar dele.
O problema era que Gibsie intercepta meu movimento e bloqueia meu
caminho.
— Ei — ele fala, o tom de repente sério. — Você está bem , eu machuquei
você ou algo assim?
— Estou b-bem — eu fungo, tentando desesperadamente manter meus
soluços sob controle.
Não funciona.
No minuto em que ele se agacha e faz contato visual comigo, um enorme
soluço percorre meu corpo.
— Merda — ele murmura, olhando ao redor nervosamente. — Eu
machuquei você.
— N-não, você n-não machucou. Eu só p-pre-preciso ir para casa. — Eu
gaguejo, chorando como um bebê bem na frente dele. — Bem a-agora.
Era tudo demais para mim.
O sangue.
As ameaças.
O pânico.
Era demais e eu estou enlouquecendo.
— Devo te abraçar?
Eu balanço minha cabeça.
— Devo te levar para casa?
Eu dou de ombros, impotente.
— Agora mesmo?
Eu fungo em resposta.
— Sim, uh, ok — Gibsie responde, o tom misturado com confusão. — Eu
vou te levar para casa agora.
— Shannon?
O som do meu nome sendo chamado, seguido alguns momentos depois
por Johnny vindo para ficar ao lado de Gibsie, apenas confirma minha teoria
sobre a dupla sempre andando grudados.
— O que há de errado? — Johnny exige, me olhando com preocupação.
Ele se vira para Gibsie. — O que você fez com ela?
— Nada rapaz — Gibsie responde rapidamente, levantando as mãos. —
Juro.
— Ela está chorando para caralho, Gibs — Johnny rosna, encarando seu
amigo. — Você obviamente fez alguma coisa.
O pânico ruge dentro de mim, instigado pela visão de Bella parada do lado
de fora da porta do banheiro, observando nossa interação com uma
expressão sombria.
Eu conheço bem aquele olhar.
Ele vem com uma promessa de dor.
— Shannon — Johnny rosna, voltando seu olhar para mim. — O que
aconteceu?
— Por favor, não fale comigo — eu engasguei antes de contornar ele.
Os reflexos de Johnny se movem muito mais rápidos do que os meus
porque sua mão dispara, dedos envolvendo a curva do meu cotovelo.
— Shannon?
— Não me toque! — Eu sibilo, entro em pânico, e puxo meu braço livre.
Johnny cambaleia para trás como se eu tivesse batido nele.
— Qual é o seu problema?
— Johnny, cara — Gibsie interrompe, seguindo atrás de nós. — Talvez
você devesse ouvi-la...
— Gibsie, talvez você devesse se foder e nos deixar em paz — Johnny
retruca acaloradamente. — Isso é privado.
— Faça como quiser, Irritadinho — Gibsie diz antes de sair.
— Shannon, o que há de errado? — Johnny repete, todo o seu foco no
meu rosto. — É por causa do que aconteceu ontem à noite? Porque você não
precisa…
— Não — eu solto, implorando ao Senhor para ter misericórdia de mim e
não ter Johnny falando sobre ontem à noite no meio da escola. — Não é
sobre a noite passada.
— Então o que há de errado? — Ele demanda. — Fala comigo!
— Eu só preciso que você me deixe em paz. — Eu engasgo, me movendo
para dar a volta nele novamente.
— Eu vou... — Johnny segura meu braço mais uma vez quando tento me
esquivar dele, e me puxa para trás antes de terminar — Uma vez que você
me diga o que diabos está acontecendo?
Meu olhar pisca para onde Bella está me encarando com adagas.
Estremeço ao ver sua expressão ameaçadora e Johnny percebe.
Ele estica a cabeça e todo o seu corpo fica visivelmente tenso.
— Jesus Cristo — ele rosna, passando a mão pelo cabelo no que parece
um movimento de óbvia frustração. — O que ela fez?
Eu balanço minha cabeça.
— Nada.
— Shannon, me diga o que ela disse a você. — Ele vira seu olhar duro
para mim. — Eu sei que ela disse algo para você.
Quando eu não respondo, Johnny balança a cabeça.
— Tudo bem — ele rosnou, virando as costas para mim. — Eu vou
descobrir por mim mesmo.
— Espere... — pegando pelas costas o moletom azul-marinho que ele está
usando sobre seu uniforme, eu o arrasto de volta para mim — Por favor, não
diga nada.
— Não diga nada? — Johnny fica boquiaberto para mim. — Shannon, se
ela está te causando problemas, então eu definitivamente vou dizer alguma
coisa. — Ele se vira para encarar Bella. — Um monte de merda.
— Ela não falou! — Eu minto, desesperada para desarmar a situação e
impedir que isso explodisse. — Juro.
— Nem pense em mentir para mim de novo — Johnny retruca, parecendo
furioso. — Você está chorando e há uma garota ali com uma vingança contra
mim atirando punhais em nós. — Estreitando os olhos, ele fala — Eu estou
fazendo as contas aqui, Shannon, e dois mais dois é igual a uma vadia má.
— Não, você está errado, eu só... — Minhas palavras são interrompidas e
eu grunho quando uma dor aguda ricocheteia na minha barriga.
— Merda. — Sua mão dispara e agarra meu cotovelo, me firmando. —
Você está bem?
— Sim — eu solto, respirando pelo nariz, enquanto eu agarrava meu lado.
— Estou bem.
— Jesus Cristo — Johnny exclama, olhando para mim com uma
expressão horrorizada. — Ela bateu em você?
— O que – não! — Eu gaguejo, em pânico.
Seu olhar escurece.
— É ela? Ela está te dando merda? — Ele estende a mão e toca meu
pescoço. — Foi ela?
Eu balanço minha cabeça.
— Não minta para mim, Shannon — ele rosna. — Eu odeio mentirosos.
— Eu não estou mentindo para você!
— Então me diga o que está acontecendo — ele exige, passando a mão
pelo cabelo. Exalando um grunhido frustrado, ele acrescenta: — Por favor,
me diga antes que eu perca a cabeça e tenha um colapso.
Oh, Deus.
Mortificada, aceno para Johnny se aproximar e, quando ele o faz, fico na
ponta dos pés e sussurro em seu ouvido:
— Estou menstruada.
Fecho os olhos quando digo isso, mentalmente me chutando por dizer isso
a ele.
— É a minha primeira vez — eu rapidamente divago, observando seu
perfil lateral cuidadosamente enquanto eu o satisfaço com meu pior
pesadelo. — E eu estou com uma dor horrível.
Balançando de volta em meus calcanhares, eu exalo trêmula e espio seu
rosto, esperando que ele se vire e corra para as colinas.
Johnny certamente parece horrorizado, e todo o seu corpo congelou, mas
ele não corre, e a mão que ele tem no meu cotovelo também não se move.
Ele aperta.
Enraizada no local, eu olho para ele com terror enquanto ele me
espelhava.
— Você vem, Kav? — um de seus amigos grita.
Johnny acena com a mão, gesticulando que está ocupado.
— Johnny?
— Vai se foder, Feely — ele rosna. — Estou conversando aqui.
— Tudo bem, cara, mas estamos indo para a cidade para almo…
— Eu disse que estou conversando aqui! — Johnny rosnou. — Não me
irrita.
— Eu provavelmente não deveria ter te dito isso. — Eu rapidamente
determino, dando um passo para trás, coloco algum espaço entre nós,
bochechas queimando em um tom escarlate que não faz jus. — Vá em frente
com seu amigo. Estou bem.
— Isso é o que está errado? — ele pergunta, ignorando minhas palavras,
olhos azuis procurando os meus. — É por isso que você está chorando?
— Sim — eu sussurro.
— Você está com dor?
Mordo o lábio e forço outro pequeno aceno de cabeça.
Ele solta um suspiro.
— Eu tenho um pouco de ibuprofeno na minha bolsa de equipamentos
para a minha coxa — Ele olha para mim com uma expressão esperançosa. —
Isso ajuda?
— Deus, sim — eu suspiro, sentindo uma onda de gratidão tomar conta de
mim com o pensamento de alívio da dor.
— Minha bolsa está no vestiário no salão de educação física — afirma,
gesticulando em direção à entrada. — Vem comigo.
Olho incerta para onde Bella ainda está me observando e debato meu
próximo passo antes de decidir ir com Johnny.
Eu preciso do remédio e ele está me jogando um colete salva-vidas, me
oferecendo uma fuga temporária.
Vergonha ou dor, Shannon, vergonha ou dor?
Vergonha, decido, e acompanho-o.
— Vadia! — Bella grita alto o suficiente para chamar a atenção de todos.
Eu gemo internamente.
— Isso mesmo — ela frita quando meu passo vacila. — Estou falando de
você, vadia!
— Não — eu imploro quando o senti endurecer ao meu lado. — Johnny,
por favor, não faça nada…
Johnny não me dá a chance de terminar antes de se virar e ir até onde
Bella está.
— Você está falando de si mesma, porra!
Congelada no ponto mortal, eu assisto sua interação acalorada, sabendo
que esta era minha oportunidade perfeita para fugir, mas incapaz de fazer
minhas pernas correrem.
Eu estou exausta de fugir, e em algum lugar no fundo da minha mente, eu
me pergunto se esse garoto é o único a me ancorar.
Certamente parece assim quando eu o ouço rugir palavrões de volta para
uma Bella esganiçada.
Uma grande multidão está se reunindo para assistir, e isso não parece
perturbar Johnny nem um pouco.
— Deixe ela em paz — ele ladra. — Ela não é da sua conta.
— Você é da minha conta — Bella grita de volta para ele.
Johnny joga as mãos no ar.
— Você está delirando.
— Acho que você mentiu para mim quando disse que nada estava
acontecendo? — ela rosna.
— Faça do jeito que você quiser, Bella. Eu não dou a mínima para o que
você pensa — ele retruca. — Basta deixá-la fora de seu esquema de merda.
Ele está me defendendo.
Não meu irmão.
Não Claire.
Não Lizzie.
Não um professor.
Não, esse menino que fez meu coração dar uma guinada em meu peito em
intervalos regulares e meu senso comum terem uma parada cardíaca, está
parado no meio do corredor da escola, defendendo minha honra.
Ele me rejeitou na noite passada, e hoje ele está enfrentando meus
valentões.
Minha mente está girando, eu me sinto tão confusa.
— Ela, Johnny? — Bella sibila, lançando um olhar mordaz para mim. —
Seriamente?
— Fique longe dela — ele adverte em um tom ameaçador. — Pressione
isso e você não vai gostar dos resultados.
— Você está me ameaçando? — ela sibila. — O que você acha que seus
treinadores da Academia vão dizer sobre isso?
— Por que você não liga para eles e descobre? — ele cospe antes de se
virar e voltar para onde eu estou.
Sua expressão era tão estrondosa que me sinto encolher.
— Vamos — Johnny ordena quando me alcança. Ele coloca a mão na
parte inferior das minhas costas e me pede para andar. — Nós estamos indo
embora.
Insegura, eu o deixo me guiar para longe da multidão que encara.
— Aonde estamos indo? — Eu sussurro, correndo para manter seu ritmo.
— Longe daqui — ele morde, apertando a mandíbula.
— Por quê?
— Porque se eu ficar aqui e ela disser algo para você, eu vou perder a
cabeça. Se você ficar aqui e ela disser algo para você, eu vou perder a cabeça
— ele explica em um tom tenso. — Portanto, eu preciso ir... — ele faz uma
pausa para abrir a porta de vidro e me conduzir para fora — e você precisa
vir comigo — ele termina, me levando para a chuva.
— Eu, uh, sim, tudo bem — eu sussurro enquanto corro ao lado dele.
Minhas emoções estão querendo por mim enquanto ele me conduz pelo
pátio.
— Você mentiu para mim, Shannon — Johnny declara baixinho enquanto
nos conduz para o salão de educação física. — Ela disse algo para você.
— Eu não queria causar nenhum problema — admito.
— Essa não era a sua decisão para tomar — responde ele. — Você mentiu
sobre ela bater em você também? Sobre por que você está com dor?
— Não — eu resmungo. — Essa parte é verdade.
Lamentavelmente.
— E seu pescoço?
— Não foi ela — é tudo que eu respondo.
Johnny fica quieto por um longo momento.
— Nunca mais minta para mim — ele finalmente diz em um tom calmo,
enquanto me lança um olhar de soslaio. — Eu não aguento.
— Eu não vou — eu digo a ele, odiando a mentira que cai dos meus
lábios.
Chegamos ao salão de educação física e corremos para dentro, ambos
felizes por sair da chuva.
Eu me arrasto atrás dele, esta área da escola era mais o forte dele do que o
meu.
Eu mantenho meus olhos treinados em suas costas, andando atrás dele.
Eu hesito quando ele entra no vestiário masculino, mas então ele segura a
porta aberta para mim e gesticula para que eu entre com um olhar de
expectativa.
Como um potro arisco, corro para dentro apenas para pular de surpresa
quando a porta pesada se fecha atrás de nós.
O cheiro avassalador de adolescente é a primeira coisa que me atinge.
O fedor de suor, desodorante e fluidos corporais é tão forte que tenho que
conter a vontade de vomitar.
Não era um cheiro que eu não conhecia – Joey, lembra? – mas esse fedor
em particular era de dar água nos olhos, intensificado pelo fato de que
quarenta ou mais do sexo oposto usam esta sala a todo momento.
Me sentindo completamente deslocada e com minhas narinas
completamente violadas, observo Johnny caminhar até um banco no lado
direito da sala.
Ele afunda no banco, puxa uma bolsa de debaixo de suas pernas e
rapidamente abre o zíper.
— Venha aqui — ele ordena enquanto vasculha dentro de sua bolsa,
tirando meias, latas de desodorante e garrafas vazias de Lucozade sport. —
Venha aqui, Shannon — ele repete calmamente.
Então eu vou.
Caminho até onde ele está.
Johnny dá uma cotovelada em uma mochila aleatória do banco e aponta
para o espaço que ele abriu.
— Se sente.
Olho para o banco com cautela.
Balançando a cabeça, Johnny estende a mão e agarra minha mão.
— Se sente — ele convence, me puxando para o banco ao lado dele.
Nossos ombros se tocam e eu deslizo alguns centímetros para longe, antes
de envolver meus braços em volta do meu estômago.
Ele era grande e forte e intimidantemente bonito.
Eu me sinto muito pequena perto dele.
Muito jovem.
Muito incerta.
Muito rejeitada.
Eu estou intimidada, não porque ele é assustador, ele não é, ou pelo menos
eu não o acho assustador. Tenho certeza que ele aterroriza os caras que joga,
mas não é isso que está acontecendo aqui.
Não para mim.
Não, fico intimidada porque ele era assim e eu era infinitamente inferior.
Qualquer centelha de esperança que eu tinha em meu coração se apagou.
Ele nunca olharia para mim quando pode ter Bella à sua disposição.
Eles combinam.
Ele combina com ela.
Alguém que parece um modelo da página três.
Alguém que parece uma mulher digna disso.
Eu sou uma adolescente com um caso grave de luxúria.
— Porra, finalmente — Johnny murmura, tirando uma caixa retangular de
ibuprofeno do bolso lateral de sua bolsa.
Ele tira dois comprimidos pequenos do invólucro de alumínio e os estende
para mim.
Desajeitadamente, tento e não consigo tirar os comprimidos de seus
dedos.
Corada, tento de novo e de novo, falhando miseravelmente até que
consigo derrubá-los de suas mãos completamente.
— Relaxe — ele encoraja, abaixando-se para pegar as pílulas. Eu o vejo
limpá-las na manga de seu moletom e então ele me surpreende com três
palavras: — Abre a boca.
Eu fico boquiaberta.
— Eu posso fazer isso.
— Você obviamente não pode — ele atira de volta, sorrindo. — Abra sua
boca.
Eu sento lá, perplexa, por vários longos segundos antes de finalmente
abrir minha boca.
Ele deixa cair as duas pequenas pílulas na minha língua e pisca.
Alcançando sua bolsa, ele enfia uma garrafa de água tampada em minhas
mãos e diz:
— Beba.
Eu faço.
Como um cão bem treinado, faço exatamente o que ele me manda.
Irritada comigo mesma por ser tão complacente, e depois irritada ainda
mais por estar chateada com um garoto que está claramente tirando um
tempo do seu horário de almoço para me ajudar, engulo os comprimidos e
suspiro.
Espero Johnny se levantar e me dizer que precisa voltar para seus amigos,
mas ele não o faz.
Ele apenas senta lá comigo enquanto o alívio da dor faz efeito.
Ele não zomba ou corre.
Ele não reage da maneira que a maioria dos meninos faria.
Ele assume o controle da situação.
Eu sei que ele é excepcionalmente especial e que não tem nada a ver com
suas capacidades esportivas.
Ele é excepcional por dentro também.
— Você precisa voltar para o almoço? — Eu murmuro. — Eu vou ficar
bem em um pouco…
— Estou feliz em ficar — Johnny rapidamente me interrompe dizendo.
Ele esfrega o pescoço com a mão e diz: — Eu gosto da paz e sossego.
Então, nós sentamos.
Sentamos e não dissemos nada.
Nem uma única palavra.
Eu estou sentindo uma infinidade de emoções agora, variando de
vergonha a mortificação e medo, mas a cada minuto que passa, lentamente
me acalmo.
Vários longos minutos de silêncio tácito se passam entre nós quando
Johnny finalmente o quebra, limpando a garganta.
— Como está agora?
— Não é tão ruim — eu sussurro, aliviada com a velocidade com que a
medicação está funcionando. — Eu não sinto mais como se estivesse sendo
esfaqueada por mil facas cegas.
Ele franze a testa horrorizado e eu balanço minha cabeça, irritada comigo
mesma por mais uma vez revelar muita informação para ele.
— Eu não sei nada sobre o que está acontecendo com seu, uh, seu corpo
— acrescenta ele, as bochechas ficando rosadas. — Mas eu espero que isso
dê o fora logo.
Suas palavras, tão grosseiras e infantis, mas sinceras e carinhosas, causam
uma pequena risada no meu nervosismo.
— Eu não acho que funciona assim — eu respondi, forçando-me a olhá-lo
nos olhos. — Mas obrigada por me ajudar.
— Tenho que dizer, é a primeira vez para mim. — Ele franze a testa com
o pensamento antes de murmurar — Graças a Deus.
— Oh, Deus, me desculpe. — Eu pulo para sair, mas ele segura minha
mão, me puxando de volta para o banco.
— Eu não quero que você se desculpe — ele diz rispidamente. — Não há
nada para se desculpar. Eu só quis dizer que não tenho irmãs, então essa
merda é estranha para mim.
— Eu aposto — eu murmuro, envergonhada.
Ele pensa em mim como uma irmã?
Certamente soa como ele pensasse.
Ele certamente reagiu ao meu beijo como ele se pensasse.
Eu estava na zona da irmã?
— Pare de pensar demais — Johnny instrui em um tom de persuasão, me
distraindo da minha batalha interna. — Está tudo bem.
Eu me viro para olhar para ele.
— O que faz você pensar que estou pensando demais?
Ele dá de ombros, sorrindo esse incrível sorriso de menino para mim.
— Estou errado?
Não.
Não, claro que não está.
Pensar demais era minha especialidade.
Droga.
— Eu não posso evitar — eu admito, sentindo meu rosto esquentar. — É
da minha natureza. Eu sou especialista em me preocupar.
— Bem — ele suspirou. — Uma coisa que você não precisa se preocupar
é com Bella.
No minuto em que ouço o nome dela, automaticamente começo a me
preocupar.
Preocupar e pensar demais.
O que ela dirá a seguir?
O que ela fará?
Eu me escondo dela na próxima vez que ela me encontrar no banheiro?
Devo fugir agora?
— Pare — Johnny ordena, interceptando meu pânico. — Você não precisa
se preocupar com ela. — Ele se recosta na parede e engancha as mãos no
colo. — Se ela sequer pensar em vir até você de novo, eu vou saber sobre
isso e vou resolver isso.
— Ela está com sua jaqueta — eu solto. — Eu lavei e trouxe para a escola
para devolver a você, mas ela, uh, tirou de mim.
— Eu tenho muito mais jaquetas — responde ele. — Só lamento que ela
tenha te causado problemas por mim. Isso não deveria ter acontecido com
você. Eu diria que ela é psicótica, mas você provavelmente já descobriu isso
sozinha.
— Ela está louca por você, Johnny — eu digo a ele, a voz baixa.
E eu também...
— Ela é louca pelo meu estilo de vida — ele corrige com um suspiro
pesado. — Ela nem me conhece, Shannon.
— O que você quer dizer?
— Eu sou um prêmio para ela. Um troféu brilhante — ele murmura
baixinho. — Isso é tudo que eu sou para a maioria das pessoas.
— Não para mim — eu digo a ele.
Johnny olha para mim.
Eu me forço a não me virar.
— Não? — Eu posso ver frustração e esperança piscando em seus olhos
azuis.
— Não — eu confirmo baixinho.
— Bem, é bom saber — ele responde, olhos azuis fixos nos meus, tom
áspero.
— Eu realmente sinto muito pelo que fiz ontem à noite — eu sussurro,
forçando-me a me dirigir ao elefante na sala.
— Shannon — Johnny se inclina para frente, apoia os cotovelos nas coxas
e suspira pesadamente. — Não há nada para se desculpar.
— Há — eu murmuro. — Eu não deveria ter feito isso. — Balançando a
cabeça, resisto à vontade de fugir, optando por ser adulta sobre a situação.
Coisa complicada de fazer, dada a minha idade e emoções desenfreadas em
torno desse garoto, mas eu faço isso. — Não vai acontecer de novo.
— Eu não quero que você se desculpe, Shannon — ele responde
rispidamente.
Eu exalo trêmula.
— Não?
Ele balança a cabeça lentamente.
— Não.
E assim, o ar muda ao nosso redor.
— Eu provavelmente deveria ir — eu sussurro, rapidamente quebrando a
tensão.
Me levanto antes de fazer algo estúpido, como beijá-lo.
Oh espere, eu já fiz isso.
Ugh...
— Há um ônibus indo na minha rota às 2 horas com o meu nome nele.
E se eu chegar em casa antes das seis, não terei que lidar com meu pai.
Johnny franze a testa.
— Você não vai voltar para a aula?
Eu balanço minha cabeça.
— Não, eu preciso ir para casa e uh, me organizar.
— Sim, uh, certo — ele murmura. — É claro. — Ele consulta o relógio e
diz: — São quinze para as duas agora — antes de voltar seu olhar para mim.
— Eu vou levá-la.
Abro a boca para dizer não, mas Johnny fala primeiro.
— Eu quero te levar para casa — ele me diz. — Eu preciso ter certeza de
que você está bem.
— Por quê?
— Eu só preciso. — Levantando-se, Johnny pega minha bolsa e a joga por
cima do ombro antes de se virar para olhar para mim. — Deixe-me levá-la
para casa, Shannon.
Não faça isso, Shannon.
Não se coloque nisso novamente.
E não se atreva a ter esperanças.
Eu solto uma respiração irregular.
— Sim, ok.
51

PERDENDO O CONTROLE DE MIM MESMO

JOHNNY

Shannon está no meu carro de novo.


Lá se vai a ideia de não desmoronar.
Eles também podem colocar um adesivo de alerta na minha testa e ligar
meus sinais, eu parecia fazer muito disso perto dessa garota.
E eu estou nervoso, tanto que meu estúpido coração poderia ter sido um
forte candidato ao ouro olímpico no boxe, batendo tão forte no meu peito.
Maldita Bella.
Ela precisa ter a porra de uma vida e parar de interferir na minha.
Ela precisa dar um passo para trás e deixar ir.
Brincar com Shannon era algo que eu não toleraria.
Eu espero que ela tenha entendido essa mensagem em alto e bom som
hoje, porque eu não estou brincando.
Não quando se trata da garota sentada ao meu lado.
— Você está quente o suficiente? — Ligar o aquecedor na cara dela
provavelmente não foi minha ideia mais brilhante, mas eu não sabia o que
fazer.
Eu tenho um total de zero experiências com a porra do funcionamento do
corpo feminino.
Eu só sei sobre as partes divertidas.
Eu já tinha forçado meu moletom sobre sua cabeça e enfiado comprimidos
em sua garganta na minha patética tentativa de ajudar.
Eu quero torná-la melhor.
Eu quero acertar.
De qualquer forma que ela precise que eu faça isso.
Eu só não sei como.
Tudo o que ela precisar de mim, eu estou mais que disposto a fornecer.
Esse é um pensamento sério.
Jesus Cristo, eu me abri para o perigo com essa garota.
— Eu estou bem — Shannon responde enquanto se acomoda no banco do
passageiro do meu carro.
Ela puxa seu longo cabelo castanho da gola do meu moletom e o coloca
sobre o ombro.
— Obrigada novamente — ela acrescenta timidamente. — Eu prometo
que vou devolver este para você.
— Sem problemas. — Apertando minha mandíbula, eu me forço a manter
meus olhos na estrada e não no jeito que sua saia está escondida sob a bainha
do meu moletom e quão alto o tal moletom sobe pelas coxas nuas quando ela
está sentada. — Fique com ele.
— Como?
— O moletom. — Limpando minha garganta, eu aperto minha mão no
volante para me impedir de fazer algo imprudente. — Fique com ele.
— Por quê?
Eu podia sentir seus olhos azuis em mim, eu sabia que parecia grosso,
mas eu posso, e a sensação faz meus braços se arrepiarem.
Dou de ombros.
— Porque fica bem em você.
Johnny, seu idiota maldito!
— Você está se sentindo melhor? — Corro para perguntar, e distrair. — O
ibuprofeno ajudou?
Olho para ela e reprimo um gemido.
Ela é tão fodidamente linda que era doloroso, com aqueles grandes olhos
azuis olhando para mim inocentes e cheios de incerteza.
Eu não preciso da tentação de estar tão perto dela.
O problema era que, toda vez que ela foge, eu me vejo correndo atrás
dela, desesperado para estar com ela.
— Estou bem, Johnny — ela responde em voz baixa. — Você me ajudou.
— Ela sorri timidamente. — De novo.
Volto meu olhar para a estrada e luto para manter meu corpo sob controle.
— Não há problema. — Eu não tenho ideia do que essa garota está
fazendo comigo, mas eu estou queimando o inferno. — A qualquer
momento.
— Eu gosto da sua música — Shannon diz então, me dando uma bem-
vinda distração dos meus pensamentos rebeldes. — Você tem bom gosto.
— Vá em frente — eu encorajo quando seus dedos flutuam em direção ao
aparelho de som. Estendendo a mão, pego meu iPod que está conectado ao
meu aparelho de som do painel e entrego a ela. — Encontre algo que você
goste.
— Tem certeza? — ela pergunta, a voz baixa e incerta.
Eu balanço a cabeça e sorrio, tentando tranquilizá-la.
Deve ter funcionado porque ela sussurra:
— Eu amo todas elas — enquanto ela começa a folhear faixa após faixa.
— Você tem um gosto incrível.
— Obrigado. — Eu me mexo desconfortavelmente, sentindo uma
sensação estranha de formigamento na boca do meu estômago. — Eu gosto
de música boa.
Passar incontáveis horas malhando sozinho me deu a oportunidade de
ampliar meu gosto.
— Eu também — ela concorda. — E suas músicas são épicas.
Não que eu não esteja acostumado a receber elogios.
Era só que eles geralmente giram em torno do rúgbi.
Shannon claramente não fica impressionada ou perturbada pelo meu
papel.
Era tanto um alívio quanto uma preocupação.
Eu não sei como lidar com isso.
Ela está confundindo todas as merdas dentro de mim.
— Eu não teria te imaginado como um fã de Beatles — Shannon medita,
parando em uma faixa antiga. — Here Comes The Sun? — ela questiona,
sobrancelha arqueada. — Você gosta dessa?
— É a minha favorita deles — eu digo a ela, palmas das mãos suando sob
seu escrutínio.
— Minha também — ela diz suavemente. — Minha bisavó Murphy
costumava cantar isso para mim quando eu era pequena.
Olho para ela.
— É?
Shannon assente em confirmação.
— Sim, sempre que eu ficava com medo ou nervosa, ela sempre me
sentava em seu colo e cantava essas letras no meu ouvido. — Ela suspirou
satisfeita. — E sempre funcionava.
Por alguma razão desconhecida, faço uma anotação mental daquela
informação e a guardo para referência futura.
Shannon fica em silêncio então, claramente imersa na música.
Enquanto isso, eu segurei o volante com um aperto mortal, tentando
desesperadamente me concentrar na estrada à frente e não na garota sentada
ao meu lado, fodendo meus planos tão definidos.
— Você tem um iPod? — Eu pergunto quando paro do lado de fora da
casa dela – sua casa real desta vez.
Eu estava enrolando, não querendo que ela saia do meu carro.
A pontada de decepção que sinto quando chegamos ao nosso destino era a
mesma que me consumia toda vez que ela partia, e isso foi incrivelmente
desconcertante.
— Eu poderia colocar um pouco da minha música nele para você? — Eu
ofereço. — Se você quiser?
— Eu? — Shannon cora um tom rosa-brilhante e balança a cabeça. — Uh,
não, eu nunca poderia pagar um desses. — Ela desafivela o cinto de
segurança. — Eu uso um discman antigo do Joey para ouvir música.
Eu balanço a cabeça com indiferença enquanto mentalmente chuta a
merda para fora de mim por ser tão estúpido.
— Você gosta dos clássicos? — Eu solto, me sentindo em pânico quando
ela alcança a maçaneta da porta.
— Sim — ela responde, virando-se para mim, os olhos brilhando de
excitação. — E você?
— Eu gosto de um monte de coisas — eu digo a ela.
Você, acima de tudo.
— Shake it off baby11?
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Com licença?
— Shake it off baby. — Shannon olha para mim toda inocente e fofa. —
Você gosta disso?
Levo alguns segundos para perceber que ela não está me chamando de
baby e que ela estava se referindo a uma música.
— Você quer dizer Twist and Shout — eu corrijo rapidamente. — Sim, é
boa.
— Você gosta de Reckless Kelly? — ela pergunta então.
Eu balanço minha cabeça.
— Acho que nunca ouvi falar deles.
— Eles lançaram essa nova música chamada Wicked Twisted Road —
explica ela. — Tem certeza que não ouviu?
Meu coração para no meu peito.
Aquela música do pub.
Aquela que fodeu com a minha cabeça.
Jesus...
— Você deveria — Shannon continua a dizer. — Ouvir, quero dizer. —
Suas bochechas ficam rosadas quando ela diz: — Ela me lembra você.
Abalado.
Eu estou completamente fodidamente abalado por essa garota.
Parcialmente porque eu me identifico com as palavras dessa música, mas
principalmente porque ela me relacionou as palavras da música.
Seus lábios vermelhos e bochechas rosadas eram fodidamente lindos e eu
tenho que tomar um momento antes que eu possa formar uma frase coerente
e não soar como um idiota.
— Eu vou ouvir — é tudo que eu invento.
— Bem, obrigada por me salvar — ela sussurra. Seus olhos dispararam
dos meus olhos para a minha boca várias vezes antes de ela se inclinar e
pressionar os lábios na minha bochecha. — De novo.
Foi o beijo mais curto, mais breve e nada sexy, mas veio de seus lábios e
isso mudou tudo.
Assim como a noite passada tinha mudado tudo.
Aprofundou tudo o que eu estava tentando desesperadamente negar.
Os sinais dos quais eu estava me escondendo.
Eles dispararam como pôsteres de neon nas laterais dos prédios.
Eu estou tão fodidamente desequilibrado por essa garota.
Atordoado, não consigo fazer nada além de olhar para ela e murmurar as
palavras:
— De nada.
Com as bochechas vermelhas brilhantes, Shannon empurra a porta do
carro e se move para sair.
— Espera! — Eu lamentavelmente chamo, serpenteando uma mão e
pegando seu pulso.
Shannon olha para mim com os olhos arregalados.
Deixe-a ir, idiota.
Deixe a garota ir.
Você não pode fazer o certo por ela.
— Aqui... — Alcançando o porta-luvas, eu puxo um estojo de couro e
rapidamente folheio um monte de CDs de mixagem, parando quando
encontro o que eu quero — Ouça a faixa nove. — Eu praticamente empurro
o CD em sua mão e dou de ombros — Me lembra você.
— Ah, tudo bem — ela responde, segurando o CD com cuidado. — Eu
vou.
— Bom.
— Obrigada.
— Tchau, Johnny — ela sussurra antes de fechar a porta rapidamente e
sair correndo.
— Tchau, Shannon — eu respondo rapidamente, observando cada
movimento dela enquanto ela se afasta de mim.
Problema.
Eu estou com tantos problemas.

Eu dirijo todo o caminho para casa no piloto automático com meu cérebro
cambaleando, meus hormônios em fúria e a vida dando uma pequena
reviravolta na história de cabelos castanhos no meu caminho.
Eu estou tão consumido pelos meus pensamentos que não é até que
estaciono no meu lugar habitual nos fundos que noto que sua mochila ainda
está no meu carro.
Gemendo, bato com a cabeça no volante e rezo por uma intervenção.
Eu precisava de uma.
Porque essa garota vai me arruinar.
Meia hora depois, eu estou do lado de fora da porta da frente de Shannon
com as palmas das mãos suadas e o coração acelerado.
O que diabos eu estou fazendo aqui?
Isso é loucura.
Coloque a mochila no chão e vá embora, a parte sensata de mim instrui.
Mas é claro que eu não escuto.
Não, porque eu tinha que bater na porta em vez disso.
O som de passos na escada vem do outro lado da porta, seguido por uma
chave girando na fechadura, e então ela está lá, parada na minha frente,
obliterando qualquer senso de ir embora.
— Oi, Johnny — Shannon diz em uma voz ofegante, olhando para mim
com os olhos arregalados e letais. — Você voltou.
Sim, eu estou de volta.
Como um cheiro ruim de merda que parece segui-la.
— Uh, sim, estou de volta. — Balançando a cabeça, puxo sua bolsa do
meu ombro e a estendo para ela. — Você esqueceu isso no meu carro de
novo.
— Eu sinto muito. — Ela cora no tom mais adorável de rosa. — Você
estava batendo por muito tempo? — Ela pegou sua bolsa e, em seguida, joga
para dentro da casa. — Eu estava no banho.
Sim, eu poderia ver.
Seu cabelo comprido está solto, fluindo pelo seu corpo em cachos úmidos,
ela está vestindo uma blusa branca e o menor par de shorts de pijama que eu
já tinha visto na minha vida e tudo que meu cérebro conseguia registrar era
pele nua – muita pele nua.
— Não se desculpe — eu digo bruscamente, tentando me concentrar em
minhas palavras e não em meus pensamentos rebeldes. — E não, acabei de
chegar.
— Bem, obrigada por trazê-la de volta para mim — diz Shannon,
arrastando minha atenção de volta para seu rosto. — Eu nem percebi. Eu
teria entrado em pânico pela manhã.
— Mais uma vez, não é incômodo — eu respondo e então continuo a
olhar para ela como uma porra de um idiota.
Bem, isso não era nada estranho.
Mova seus pés, Johnny.
Deixe a garota em paz.
— Você tem treino esta noite? — ela pergunta.
Sim.
— Não.
— Você quer entrar? — ela oferece nervosamente.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Entrar?
Ela morde o lábio inferior e dá de ombros.
Ela parece insegura.
Como se ela não devesse estar me convidando para sua casa.
— Você quer que eu entre? — Eu pergunto com uma carranca.
Ela assente timidamente e abre a porta para dentro.
— Se você quiser?
Não faça isso, cara, meu cérebro avisa, não se coloque no caminho da
tentação.
Contra meu melhor julgamento, entro.
Enfiando as mãos nos bolsos, observo Shannon trancar a porta
rapidamente novamente.
Concentro minha atenção nela e não no ambiente ao meu redor em ruínas.
O lugar está arrumado, mas as paredes precisam urgentemente de reboco e
uma nova camada de tinta.
— Não haverá ninguém em casa até a noite — ela anuncia enquanto me
conduz pelo corredor curto até a cozinha.
Essa não era uma boa informação.
Nem um pouco.
— Você gostaria de uma lata de Coca-Cola? — Abrindo a geladeira, ela
pega duas latinhas e sorri. — Joey é viciado e sempre compra coisas de
marca de verdade.
Ela estende uma lata para mim e eu balanço minha cabeça.
— Eu não posso beber isso — eu respondo, e então me sinto como um
idiota quando seu sorriso desmancha.
— Oh.
— Eu quero — eu rapidamente asseguro a ela. — Mas eu estou em dieta.
— Ah, sim — ela murmura, colocando uma das latas de volta na
geladeira. — Eu esqueci sobre a coisa do rúgbi.
Eu mordo de volta um sorriso.
— Sim, a coisa do rúgbi.
Ela olha para mim então, parecendo tão insegura quanto eu.
— Você quer subir no meu quarto?
Minhas sobrancelhas sobem – combinando com o aumento repentino na
minha frequência cardíaca.
— Seu quarto?
Corando, ela coloca o cabelo atrás da orelha, e se apressa para dizer:
— É só que eu normalmente não fico aqui... quero dizer, eu fico, mas eu
não... porque... eu... — Sua voz some e ela suspira pesadamente. — Não
importa, foi estúpido...
— Ok.
Seus olhos se arregalam.
— Ok?
Eu balanço a cabeça.
— Lidere o caminho.
Eu espero até que Shannon se vire antes de bater a palma da minha mão
na minha testa.
Eu sou tão estúpido.
Isso era pior do que entrar.
Isso é errado.
Eu sabia que era.
E ainda assim, eu a sigo por uma escada estreita, evitando Legos
espalhados e pisando em brinquedos infantis na subida.
O quarto que Shannon me leva na frente da casa era uma caixa
glorificada.
Ela dá um passo em volta de mim, o que não é fácil em quartos pequenos,
e gira a fechadura da porta antes de andar os quatro passos necessários para
chegar à cama.
Enquanto isso, eu estou como um idiota em seu quarto minúsculo, sem
saber o que diabos eu devo fazer agora.
A cama de solteiro empurrada contra o outro lado do quarto ocupa toda a
largura da parede. Há um armário de cabeceira ao lado, uma cômoda
encostada na parede oposta, e não muito mais.
— É uma casa pequena para uma família de oito pessoas — Shannon
reconhece calmamente, notando meu olhar. Ela coloca sua Coca-Cola no
armário ao lado da cama e dá de ombros. — Eu sou a única garota, então eu
fico com o quarto que parece uma caixa.
— É um bom quarto — eu respondo enquanto caminho até sua cama e me
sento.
Eu já estava na zona de perigo.
Eu poderia muito bem ficar confortável.
— Não minta — ela diz com um sorriso triste. — É um lixo.
— Não — eu corrijo. — É legal.
Olho ao redor de seu minúsculo quarto pintado de roxo, procurando por
uma televisão e vejo nada.
Ela não tem uma.
Também não tinha sistema de som.
Mas ela tinha livros.
Muitos deles.
— Você não estava brincando quando disse que gosta de ler. — Eu
medito, olhando várias pilhas de livros empilhados ordenadamente no chão
do quarto dela sob o parapeito da janela. Virando-me para encará-la, eu
sorrio. — Você é uma pequena espertinha, Shannon Lynch?
— Acredite em mim, eu gostaria de poder me chamar de espertinha — ela
responde com uma careta. — Adoro ler, mas não sou academicamente
inteligente.
Eu faço uma careta para ela em descrença.
— Mentira.
— Não, eu realmente não estou mentindo — ela responde, balançando a
cabeça. — Eu tenho que trabalhar muito para acompanhar minhas aulas, e a
maioria delas são matérias de nível comum.
— Que assuntos lhe dão mais problemas? — Eu pergunto, relaxando na
conversa.
Isso, eu posso lidar.
Aprender mais sobre ela alimenta a fera – e distrai a outra fera.
— Negócios — responde Shannon, torcendo o nariz com o pensamento.
— E matemática, eu sou terrível com números.
— Essas são minhas melhores matérias — eu medito, coçando minha
mandíbula. — Vou fazer Negócios e Contabilidade para o certificado de
conclusão no ano que vem.
— O que mais você está fazendo? — ela pergunta, parecendo
genuinamente interessada.
— Irlandês, Inglês, Matemática, Contabilidade, Negócios... — Eu me
movo até que minhas costas estejam encostadas na parede antes de continuar
— História e Francês.
— Por que francês?
Porque há uma grande chance de eu me mudar para lá assim que
terminar a escola.
— Eu preciso de um idioma para a universidade — eu digo em vez disso.
— O francês foi um bom ajuste para mim.
— Nível superior? — Shannon pergunta, parecendo impressionada.
Eu aceno com a cabeça.
— Sério? — Seus olhos se arregalam. — Quais?
— Todos elas.
— Por que não estou surpresa? — Shannon brinca enquanto enfia as
pernas embaixo dela e se senta de frente para mim. — E você chamou a mim
de espertinha.
— A escola nunca foi um problema para mim — eu admito com uma
carranca.
— Sorte sua — ela sussurra. — Eu passei raspando no fundamental.
— Eu posso te ajudar — eu me ouço oferecer sem pensar.
— O que, tipo agora? — ela chiou.
— Ou mais tarde. — Dou de ombros, fingindo indiferença. — Quando
você quiser.
— Isso é algo que você faz? — Shannon pergunta, me observando com
aqueles olhos grandes e incertos dela. — Você ensina outros alunos?
Eu te ensinaria.
— Você tem seu certificado júnior chegando em junho, certo? — Eu
pergunto em vez disso.
Shannon assente.
— Eu já passei por isso — eu explico, tentando desesperadamente manter
meu tom impassível e leve. — Se você precisar de alguém para te ajudar
com os estudos, então é só me avisar.
— Você faria isso por mim? — ela pergunta, a voz suave.
Eu faria praticamente qualquer coisa por você.
— Sim — eu respondo, incapaz de manter a aspereza fora do meu tom. —
Eu faria.
— Mas você está tão ocupado.
— Não importa.
— Por que você está sempre tentando me ajudar, Johnny? — ela sussurra,
olhos azuis queimando buracos dentro de mim.
Ali está a pergunta de um milhão de dólares.
E eu não tenho a porra da ideia de como responder.
— Porque eu quero — eu finalmente digo, decidindo sobre a verdade. —
Eu quero te ajudar, Shannon.
— Você quer? — ela suspira.
— Eu quero. — Arrancando meu olhar dela antes que eu faça algo
estúpido, eu me viro para ficar confortável em sua pequena cama e digo: —
Agora, vá pegar seus livros e você pode me mostrar o que você está achando
difícil.
— Sim, tudo bem — Shannon responde enquanto se levanta da cama e
corre para a porta. — Tem certeza? — ela para na porta para me perguntar.
Não.
— Eu sempre tenho certeza, Shannon.
Sorrindo, ela assente e então desce correndo as escadas para pegar sua
mochila.
— Porra. — Puxando meu telefone do bolso, digito uma mensagem rápida
de SOS para Gibsie, apenas para excluí-la antes de enviá-la.
Exalando uma respiração frustrada, eu digito outra mensagem, essa para
Jason, avisando-o que eu não iria fazer a sessão de hidro esta tarde e então
rapidamente desligo o meu telefone antes que ele possa ligar para me dar
uma ladainha de insultos.
Eu já sei que estou fazendo errado.
Eu tinha perdido a sessão de ontem e mais duas semanas atrás.
Por causa dela.
Porque quando ela pula, eu pulo atrás dela.
Não preciso do meu treinador para me dizer algo que eu já sei.
Ele me diria que eu preciso colocar minha cabeça de volta no jogo.
Ele gritaria comigo e me diria para focar no meu futuro – no próximo teste
de condicionamento físico, eu preciso passar mais do que precisava respirar.
O problema era que eu não consigo me concentrar.
Porque minha cabeça se foi.
Pela culatra.
Perdido dentro da garota em cujo quarto eu estava sentado.
Eu estou colocando o meu telefone de volta no bolso da minha calça da
escola quando Shannon volta com sua mochila.
— Eu acho que as aulas de negócios não seriam tão difíceis se eu pudesse
lidar com o lado matemático disso — ela diz em um tom ligeiramente sem
fôlego enquanto ela arrasta sua bolsa para a cama.
Largando-a no chão, ela corre de volta para a porta e rapidamente a tranca
antes de retomar sua posição na cama, de pernas cruzadas e de frente para
mim.
— Eu tinha problemas para me concentrar na minha antiga escola —
acrescenta ela, enquanto vasculha sua bolsa. — Consegui acompanhar
minhas aulas de idiomas, mas deixei a matemática de lado.
Eu sabia disso.
Eu li tudo sobre isso em seu arquivo.
— Isso é compreensível — eu digo a ela, balançando a cabeça.
Shannon olha para mim com uma expressão cautelosa.
— Por que isso é compreensível?
Merda.
Porra.
— Porque você tem que fazer um número louco de matérias para o
certificado júnior — eu blefo. Dando de ombros, acrescento: — Não dá para
ser boa em todos eles.
— Eu aposto que você conseguia — ela responde, voltando sua atenção
para sua bolsa, desastre evitado. Ela puxa seu livro de matemática e o deixa
cair na cama entre nós. — Deixe-me adivinhar, você também fez todas as
matérias de nível superior para o seu certificado júnior?
— Dê-me esse livro — eu resmungo, me sentindo embaraçado.
— Todas suas notas foram A? — ela brinca.
— Não — eu retruco, folheando as páginas de seu livro. — Eu tirei um C
em ciências de nível comum — eu digo a ela e então suspiro antes de admitir
— O resto eram de nível A mais.
— Sério?
Eu balanço a cabeça, me sentindo quente e desconfortável.
— Você é inteligente?
Eu apenas dou de ombros.
— Bem, eu tirei meu único A em ciências — ela medita. — É minha
única matéria de nível superior.
— Bem, eu tiro meu chapéu para você — eu murmuro. — Porque eu
detesto a ciência.
— Pare — ela ri. — A ciência não é tão ruim.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Oh, como matemática não é?
Ela faz uma careta.
— Ok, ponto justo.
— Vamos — eu digo com um sorriso malicioso, refocando minha atenção
no livro em minhas mãos. — Pegue seu caderno e eu vou te ensinar.
— Você vai me ensinar? — Ela ri e Cristo, era um som adorável.
Shannon não ri o suficiente.
Eu quebro meu cérebro pensando em outras coisas que eu posso fazer para
obter uma repetição daquele som.
Eu tenho um monte de ideias – ideias terríveis, horríveis.
Concentre-se, Kavanagh...
Então eu me concentro.
Durante a próxima hora, mais ou menos, passo por seu trabalho com ela,
observando cuidadosamente enquanto ela tenta resolver cada problema.
Ela não estava brincando quando disse que achava matemática difícil.
Shannon está seriamente lutando com o assunto.
Ver sua luta me dá vontade de pular e arrasar, que era exatamente o que eu
parecia estar fazendo enquanto estou deitado de lado, com minhas longas
pernas penduradas ao lado de sua cama, quebrando cada soma, equação,
fração, e porcentagem que vem em nosso caminho.
Um de seus maiores problemas era que ela não tinha ideia de como usar
sua calculadora com eficiência.
Rapidamente, eu descubro que ela não tem ideia sobre Seno, Cosseno e
Tangente.
Ela estava blefando e fingindo que sabia o que estava fazendo quando
claramente não sabia.
Quando ela finalmente cede e joga a calculadora no meu colo e admite
que não tinha a menor ideia do que estava fazendo, acabo gastando mais
quarenta e cinco minutos passando por métodos básicos com ela.
Quando ela finalmente começa a resolver os problemas sem eu pairar
sobre seu caderno com uma borracha, parece que eu tinha feito um maldito
feito, eu estava tão orgulhoso dela.
Era ridículo quanta satisfação genuína eu tive quando aqueles grandes
olhos azuis se iluminaram quando ela conseguiu resolver um problema.
É bem no momento que eu estou começando a pensar que Gibsie tinha
razão, e que eu posso fazer essa coisa de amigo, quando enfrento um
problema meu.
Eu tolamente permito que meus olhos se desviem do caderno, que
Shannon está rabiscando furiosamente, e comecem a percorrer seu corpo.
Ela ainda está sentada de pernas cruzadas e de frente para mim, mas ela
está inclinada para frente, trabalhando duro em uma soma, o que faz com
que o top de corda que ela estava usando caia, dando-me uma visão gloriosa
de seus seios sem sutiã.
Doce Jesus Cristo.
Eu adoro peitos.
E os peitos que pertencem a essa garota eram ainda mais atraentes.
Eles eram pequenos e animados com mamilos com pontas rosadas e
seixos.
Ela é tão fodidamente linda.
Eu estou instantaneamente duro.
— Você está bem? — Shannon pergunta, colocando sua pequena mão no
meu antebraço.
— Huh? — Eu bato meu olhar para o rosto dela, totalmente fodidamente
preso.
— Você está bem? — ela repete, olhos azuis fixos nos meus, expressão
inocente.
Eu estou o mais longe possível de estar bem.
Mas para o bem dela, forço um pequeno aceno de cabeça e digo:
— Sim, estou ficando com um pouco de fome.
Que porra é essa, Johnny?
— Posso pegar algo para você? — ela rapidamente pergunta. — O que
você gostaria de comer?
Você.
Eu gostaria de comer você, Shannon.
— Nós provavelmente deveríamos pensar em encerrar isso — eu digo
bruscamente. — Está ficando tarde.
Faço um grande esforço para verificar meu relógio apenas para franzir a
testa quando percebo que na verdade está ficando tarde.
— Merda — eu murmuro. — São seis e meia.
Nós estávamos em seu quarto por quatro horas?
Para onde diabos foi o tempo?
Eu nunca perco uma refeição.
Eu nem estou dolorido.
Eu não consigo me lembrar da última vez que passei quatro horas sentado.
Isso nunca aconteceu.
Jesus, essa garota está me fazendo perder o controle de tudo.
— Hum, sim, claro, claro — Shannon murmura, tropeçando sobre suas
palavras daquele jeito adorável que ela faz quando está nervosa.
Não se preocupe, querida, penso comigo mesmo, também estou nervoso.
— Eu realmente aprecio você me ajudar — acrescenta ela, fechando seus
livros e enfiando-os de volta em sua mochila. — Você me ajudou muito. —
Ela solta um suspiro antes de acrescentar: — De novo.
— Nós podemos fazer isso de novo — eu ofereço. — Se você quiser?
Seu rosto se ilumina e ela se aproxima de mim.
— Sério?
Eu balanço a cabeça lentamente e resisto ao desejo de alcançá-la e tocá-la.
— Você não se importaria? — Shannon pergunta, de olhos arregalados,
enquanto ela se aproxima timidamente até que seus joelhos toquem minha
coxa esquerda.
— Não, Shannon. — Falhando miseravelmente, estendo a mão e coloco
uma mecha de cabelo rebelde atrás da orelha. — Eu não me importaria.
Pare com isso, Johnny.
Pare com isso agora!
Eu tento.
Eu realmente, sendo honesto com Deus, tento fazer meu corpo sair de sua
cama, mas ela está lá, ela está fodidamente lá, e eu não consigo encontrar um
pingo de determinação dentro de mim.
Eu apenas sento lá, sabendo o que está por vir, sabendo que é a pior coisa
possível que eu posso permitir que aconteça, e ainda querendo mais do que
minha próxima respiração.
— Talvez na biblioteca da próxima vez — eu finalmente encontro as
palavras para dizer. — Ou escola.
Seu pequeno rosto em forma de coração acena para cima e para baixo.
— Ok.
— Porque eu não deveria estar aqui — acrescento fracamente. — No seu
quarto.
— Eu sei — ela responde, a voz baixa e incerta.
— É, uh... — Engulo profundamente. — Eu provavelmente deveria ir para
casa agora.
— Johnny? — ela sussurra.
— Sim?
— Oi — ela suspira, se aproximando.
— Oi — eu murmuro, agarrando seu edredom com tanta força que eu
tenho quase certeza de que vou rasgar o tecido.
— Johnny? — Shannon sussurra novamente.
— Sim?
— Eu vou te abraçar agora. — Ela engata sua perna sobre a minha. —
Tudo bem?
Não faça isso.
Você nunca vai superar essa garota.
— Sim — eu exalei uma respiração irregular, sentindo meu coração bater
contra minhas costelas, enquanto ela paira acima de mim. — Tudo bem.
— Obrigada por hoje — ela sussurra no meu ouvido enquanto ela me
monta.
— De nada — eu respondo bruscamente, me agarrando ao meu
autocontrole por tudo que me valia.
Não coloque as mãos sobre ela.
Tarde demais.
Minhas mãos se movem por vontade própria, disparando para prender
seus quadris.
A sensação de tê-la em cima de mim era demais.
Foi tudo muito fodido.
— Eu deveria ir — eu gemo, enquanto a arrasto no meu colo, incapaz de
me impedir de empurrar para cima.
Foda-se a dor na minha virilha.
Eu estou em chamas por essa garota.
Shannon passa os braços em volta dos meus ombros e cautelosamente
balança os quadris em cima de mim no melhor e mais fodido abraço que eu
já recebi.
— Eu não quero que você vá — ela geme… ela realmente geme no meu
ouvido.
Gemendo, me sento para frente e a puxo rudemente contra mim,
abraçando-a e balançando-a, e perdendo minha mente nela.
Você está brincando com fogo.
Essa garota vai arruinar você.
Porra.
— Eu deveria ir — eu continuo a dizer a ela enquanto enterro meu rosto
em seu lindo pescoço e rezo para que a intervenção divina me impeça antes
que eu pegue algo dela que eu não possa devolver.
Antes que ela tire algo de mim que eu nunca poderia recuperar.
Porque eu nunca tinha sentido tanto por ninguém.
E foi com esse conhecimento que eu soube que nunca poderia ser egoísta
com ela.
— Shannon, eu realmente preciso ir para casa agora — eu digo a ela, o
tom grosso e rouco. — Sério.
— Ah... claro. Eu sinto muito. — Ela sussurra enquanto saí do meu colo.
— Se é o que você quer? — ela acrescenta, recuando para o canto mais
distante de sua cama.
Não.
Não, não é isso que eu quero.
Mas era a coisa certa a fazer.
Merda para o inferno!
Com autocontrole que eu não sabia que possuía, eu desço da cama dela e
me levanto.
Mantendo minhas costas para Shannon, vou até à janela dela e finjo olhar
para fora, enquanto discretamente reorganizo o enorme problema em minhas
calças.
Eu sei que provavelmente estou enlouquecendo Shannon por ficar aqui
assim, mas não consigo andar até me acalmar.
Eu estou machucado e com tesão.
Era uma combinação terrível.
Inalando várias respirações calmantes, eu cerro meus olhos e me esforço
para controlar, e penso em todas as coisas nada sexy imagináveis, desde
minha avó morta, que Deus abençoe sua alma, até Gibsie vestido de mulher.
No momento em que Shannon fala novamente, eu tinha conseguido me
acalmar.
— Johnny? — ela diz em voz baixa de seu poleiro na cama. — Eu sinto
muito.
— Não se desculpe — eu respondo, tom grosso e rouco, confiante de que
eu não iria traumatizá-la quando me virasse. — Está tudo bem. Eu uh,
apenas... eu vou para casa agora.
— Ok. — Ela assente timidamente e desce da cama. — Eu vou
acompanhá-lo para fora.
Mantenho um amplo espaço de seu corpo enquanto a sigo, sabendo que se
não o fizer, há uma boa chance de levá-la de volta para aquele quarto e
arruinar além do reparo.
Como toda vez que eu me afastava dessa garota, quanto mais perto eu
chego de ir embora, mais deprimido eu me sinto.
— Então, acho que te vejo amanhã? — Shannon diz quando eu saio.
— Sim. — Enfiando a mão no bolso, tiro as chaves do carro. — Você
definitivamente vai.
— Obrigada novamente por hoje.
— Obrigado por me mostrar o seu quarto — eu respondo, encolhendo-me
internamente com o comentário estúpido.
— Ah, sem problemas. Você pode vir a qualquer momento — respondeu
Shannon, sorrindo.
Eu sorrio para seu erro verbal.
— Oh Deus. — Ela tapa a boca com a mão, os olhos esbugalhados. — Eu
não...
— Relaxe — eu rio. — Eu sei o que você quis dizer.
Dou um passo à frente então, porque eu era um bastardo masoquista com
uma propensão a me torturar e dou um beijo em sua bochecha.
— Tchau, Shannon.
— Tchau, Johnny — ela sussurra, tremendo na soleira da porta.
Eu me viro e caminho direto para o meu carro, sem me atrever a olhar
para ela.
Masoquista ou não, se eu virasse e olhasse para aqueles olhos azuis da
meia-noite novamente, eu ia me afogar neles.
52

DESPERTAR RUDE

SHANNON

— O que você está fazendo acordada? — Papai ladra quando entro na sala
mais tarde naquela noite para pegar meu telefone que eu tinha esquecido
tolamente no sofá quando estava fazendo uma limpeza de emergência depois
que Johnny saiu.
— Eu deixei meu telefone aqui embaixo — explico rapidamente. Eu
estava tão distraída com Johnny que tive que fazer todas as minhas tarefas
em tempo recorde.
— Então pegue e vá — papai ordena. — O United está jogando.
Não era como se eu deixasse coisas espalhadas pelo lugar, mas minha
cabeça estava nas nuvens.
Na nuvem do Johnny, para ser mais precisa.
Eu sei que tinha jogado um jogo perigoso de roleta russa ao levá-lo para o
meu quarto essa tarde.
Se meu pai tivesse voltado para casa, ele teria me matado.
O problema era que, se a oportunidade se apresentasse, eu sei que faria de
novo.
Tê-lo no meu espaço assim, mesmo que por pouco tempo, foi
maravilhoso.
Foi pessoal.
E me senti segura.
Como se nada pudesse me tocar quando ele está perto.
De uma forma confusa, acho que fiz de propósito?
Como eu meio que esperava que meu pai voltasse para casa apenas para
que ele pudesse ver o menino enorme que eu sei que não o deixaria me
machucar.
Esse era um pensamento louco.
Eu estou ficando louca.
Pensar em Johnny sentado na minha cama, oferecendo-se para me ensinar,
fez meu coração bater forte contra minhas costelas.
Ele era tão inteligente.
Na verdade, ele era incrivelmente inteligente e paciente e um milhão de
outras coisas incríveis.
Depois que ele saiu, passei o resto da noite em sobrecarga emocional,
pensando em como eu havia me comportado de forma imprudente.
Eu não tinha ideia do que estava pensando quando subi em seu colo
daquele jeito, mas não me importo porque Johnny me abraçou de volta.
Ele me segurou contra seu corpo e me abraçou tão forte que eu ainda
estou tremendo com o contato.
E então ele me deu um beijo de despedida.
Tudo bem, foi na bochecha, mas ainda assim.
Seus lábios tocaram meu corpo sem coerção.
Eu nem me importo com Bella agora.
Não essa noite, pelo menos.
É difícil me debruçar sobre o negativo quando algo tão incrivelmente
positivo tinha acabado de acontecer comigo.
Eu entendo que ele não me vê do jeito que eu o vejo, e entendo que nunca
seriamos nada mais do que amigos, mas eu não me importo porque ele
parece estar por perto.
Ele parece determinado a me ajudar.
Eu não tenho certeza do que estava acontecendo, mas o que quer que
fosse, eu não quero que pare.
Eu estou feliz por ser sua amiga.
Eu só quero mantê-lo na minha vida.
De qualquer maneira que eu possa.
Eu quero que ele fique...
— Você é surda? — a voz arrastada de meu pai penetra em meus
pensamentos, me trazendo de volta à realidade com um estrondo deprimente.
— Huh?
— Eu disse para sair da porra do caminho — papai late, jogando o
controle remoto em mim. — Eu não posso ver o jogo com você na frente!
O controle remoto bate no meu quadril e cai no chão, resultando nas
baterias voando e rolando para baixo do sofá.
— Desculpe — eu me apresso para fora do seu caminho da televisão e
rapidamente me arrasto para recuperar as baterias e colocá-las de volta no
controle remoto para ele.
— Por que você está agindo assim? — Papai pergunta então, me olhando
com desconfiança turva.
Expirando lentamente, coloco o controle remoto na mesa de café e pego
meu telefone antes de me virar para olhar para ele.
— Agindo assim como, pai?
— De forma estranha — ele acusa, olhando para mim. — Sorrindo para si
mesma.
Eu dou de ombros como minha resposta, sem saber como responder a
isso.
— O que está acontecendo? — ele rosna, me observando como um falcão,
seus olhos castanhos duros e inflexíveis.
— Nada está acontecendo — eu respondo calmamente.
Ele empurra sua poltrona para baixo e se levanta.
O movimento evoca um tsunami de terror para inundar meu corpo e eu
corri para trás.
— Me dá isso — ele instrui, estendendo a mão para mim.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Meu telefone?
— Sim, seu telefone — ele zomba. — Me dê isto.
Tremendo, caminho até ele e o coloco em sua palma.
Imediatamente, ele começa a percorrer minhas mensagens e a lista de
chamadas.
Eu não entendo o porquê, considerando que ele estava passando tanto que
eu duvido que ele pudesse ler em seu estado.
Mas eu não ouso me mexer, sabendo que se eu saísse, isso poderia ficar
uma bagunça.
— Onde está o número dele? — ele exige, segurando meu telefone em sua
mão enorme.
— O número de quem, pai? — Eu murmuro.
— O rapaz farejando ao seu redor — ele rosna. — O figurão dos jornais.
Meu coração afunda.
— O quê?
Seu olhar passa do meu telefone para mim.
— Fran, da porta ao lado, disse que viu um rapaz da sua escola dirigindo
por aqui — ele balbucia. — Ela disse que o viu te deixar da escola hoje. —
Ele volta sua atenção para o meu telefone. — Onde está o número dele?
Onde estão as mensagens dele? Com quem diabos você está andando? É ele?
Aquele idiota do rúgbi? O idiota do Kavanagh?
Caramba, Fran!
— Ninguém, pai — eu minto por entre os dentes. — Eu fiquei doente na
escola hoje e Claire e seu irmão Hughie me trouxeram para casa.
— Hughie Biggs? — Papai assobia, balançando em seus pés novamente.
— Aquele babaca saltitante? É por isso que você está andando com um
sorriso de merda no rosto?
— O que – não! — Eu balanço minha cabeça e me afasto. — Não estou
com Hughie. Não estou com ninguém.
— Eu não acredito em você — ele rosna.
— Eu não estou mentindo — eu engasgo. — Eu não tenho namorado.
— Você não tem que ter um namorado para se prostituir — ele assobia. —
Pergunte isso à sua mãe.
— Eu não estou saindo com ninguém — eu solto, em pânico. — Juro por
Deus, não estou!
Estendendo a mão, ele aperta uma mão musculosa no meu ombro e
pressiona com força.
— Se você estiver mentindo para mim...
— Eu não estou, pai — eu grito, cedendo sob a força de seu toque. — Por
favor...
Minhas palavras são interrompidas quando o punho do meu pai acerta
minha bochecha, me atingindo com tanta força que minha cabeça cai para
trás com a força.
Revide, Shannon.
Pegue algo.
Qualquer coisa.
Faça alguma coisa.
A dor queima meu rosto, lágrimas enchem meus olhos e, ainda assim, eu
não faço nada.
Eu não revido.
Eu não tento correr.
Eu só fico lá.
— Venha aqui — ele rosna. Mantendo a mão no meu ombro, dedos
cravados em meus ossos, papai me leva para a cozinha, não parando até que
estivéssemos na pia.
— Ligue-a — ele instrui.
Sem hesitar, estendo a mão e abro a torneira.
— Encha isso — ele ordena, derrubando um copo de cerveja do
escorredor e na bacia da pia.
Felizmente, não quebrou e eu corro para encher o copo, resistindo à
vontade de dobrar e rolar para me libertar de seu aperto.
— Vê isso? — ele assobia quando deixa cair meu telefone na água. — Viu
isso, garota?
Imóvel, eu balanço a cabeça, vendo meu telefone afundar no fundo do
copo de cerveja.
— Se eu descobrir que você está mentindo para mim, não será o seu
telefone que eu vou afogar — ele rosna, enfiando os dedos com tanta força
no meu ombro que minhas costas se curvam sem a permissão do meu
cérebro. — Você me escutou?
— Eu te escutei — eu choramingo, tremendo da cabeça aos pés.
— Não vá correndo para o seu irmão com histórias também — ele
sussurra no meu ouvido. Empurrando-me para longe, ele acrescenta: — Ou
eu vou fodidamente jogar vocês dois na rua.
Eu gostaria que você fizesse isso, eu mal me impeço de dizer.
Porque o que aconteceria com Tadhg, Ollie e Sean se fôssemos embora?
Tadhg era o próximo da fila, portanto, ele sofreria o impacto da ira de meu
pai.
Esse conceito era abominável para mim.
Estendendo a mão, esfrego minha bochecha e me forço a não chorar.
Ele me dá um último olhar antes de balançar a cabeça.
— Vá em frente, saia da minha vista.
Sem outra palavra, corro para fora do quarto com lágrimas ardendo em
meus olhos.
Te odeio! Eu grito em silêncio enquanto faço a familiar corrida para o meu
quarto, eu te odeio!
Correndo para o meu quarto, tomo a decisão consciente de passar na ponta
dos pés pelo quarto de Joey, forçando-me a não fazer barulho, e então
rapidamente me tranco dentro do meu quarto.
Apagando a luz do meu quarto, me jogo na cama, joguei as cobertas sobre
minha cabeça e agarro meu discman.
Menos de dois minutos depois, há uma batida suave na porta do meu
quarto.
— Shan? — A voz de Joey vem do outro lado do quadro. — Tudo certo?
Eu debato em não responder a ele, mas decidi por não, sabendo que ele
iria automaticamente pular para a conclusão certa e todo o inferno iria
acontecer.
Ele tinha acabado de voltar da Aoife esta noite.
Eu não queria que ele fosse embora de novo.
Então, em vez disso, falo de volta:
— Estou bem, Joe. Apenas cansada.
Há uma longa pausa antes que ele fale novamente.
— Tem certeza?
— Sim — eu resmungo, pressionando meus dedos no meu lábio inferior
para que não oscilar e minha voz não trema.
— Você não parece bem — meu irmão responde.
Droga.
Limpando a garganta, acrescento:
— Estou tendo questões femininas.
— Questões femininas? — ele fala de volta, parecendo confuso.
— Estou menstruada.
— Pelo amor de Deus, eu realmente não precisava saber disso, Shan —
Joey geme, e eu o imagino estremecendo do outro lado da porta.
Alguns momentos depois, o som da porta do quarto dele se fechando
enche meus ouvidos.
Soltando uma respiração irregular, eu afasto as lágrimas quentes
queimando minhas bochechas.
Um dia desses, eu vou sair dessa casa.
E quando saísse, nunca mais voltaria.
É com esse pensamento, esse pequeno resquício de esperança, e o CD de
mixagem de Johnny tocando em meus ouvidos, que adormeço.
53

PRESENTES PEGAJOSOS

JOHNNY

Desde os seis anos de idade, eu estou focado apenas no rúgbi.


Acredito em mim e nas minhas habilidades.
Há algo dentro de mim que brilha para a vida, uma sensação quase
dançante vibrando sobre minha pele, quando eu tenho a bola em minhas
mãos.
Eu sabia que estava indo para a Academia, e quando cheguei lá não fiquei
nem um pouco surpreso.
Eu tinha tanta certeza do meu futuro.
Me recuso a aceitar qualquer outro caminho na vida.
Uma carreira no rúgbi profissional era meu objetivo, meu propósito, meu
maldito destino, e eu estou agarrando-o com as duas mãos.
Eu não sou impulsivo.
Eu sou firme.
Orientado para o objetivo.
Dirigido.
Determinado.
Eu provavelmente tinha muitos outros traços negativos também, mas me
concentro apenas nos meus pontos fortes.
As únicas fraquezas que eu estou interessado em aprender são aquelas que
afetam meu jogo.
Uma vez descoberto, trabalho como um louco para me corrigir.
Eu sou uma pessoa bastante determinada.
Eu não brinco de adivinhar minhas decisões ou qualquer uma dessas
merdas.
Tomo uma decisão e me apego a ela.
Como quando eu tinha seis anos e decidi que faria carreira com minha
paixão.
Claro.
Ou quando decidi que uma licenciatura em Administração era a
alternativa perfeita para mim.
Simples.
Eu fiz uma escolha e me apeguei a ela.
Eu tenho que ser muito cuidadoso com minhas escolhas, porque uma vez
que eu tomo uma decisão, uma vez que eu decido algo, ou pior, meu
coração, era da minha natureza seguir com uma fome obsessiva.
Sem voltar atrás, sem duvidar, e sem mudar de ideia.
Minha personalidade provavelmente tinha muito a ver com minha
hesitação.
Eu não me conecto com as pessoas por puro prazer, e nunca com garotas.
Eu estou bem ciente de que possuo uma personalidade obsessiva.
Era a razão pela qual eu estou na minha posição tão cedo na minha
carreira.
Saber disso só torna minha situação atual ainda mais deprimente.
Em questão de meses, eu perdi minha cabeça para uma porra de uma
garota.
E meu coração?
Porra, o pedaço de pedra funcionava depois de tudo, e me jogou uma bola
curva ao se prender a uma garota do terceiro ano magricela com tranças
marrons e olhos azuis que queimam minha alma.
Eu preciso ser muito cuidadoso com o meu próximo passo, porque uma
vez que eu decidisse que ela era a garota para mim, seria isso.
Uma vez que eu me comprometesse, uma vez que meu coração a
clamasse, eu poderia colocar uma etiqueta na minha testa dizendo sou seu,
por favor, seja gentil comigo porque estou aqui para ficar.
A parte mais assustadora de tudo era saber que eu estou me segurando
pela pele dos meus dentes, com o mergulho parecendo mais atraente cada
vez que eu coloco os olhos nela.
— O que você está fazendo?— Gibsie pergunta quando ele entra no meu
quarto sem bater na noite de terça-feira, felizmente me distraindo dos meus
pensamentos.
— O que parece que estou fazendo? — Largando minha caneta na minha
mesa, viro minha cadeira giratória e olho para ele. — Dever de casa.
Não era incomum Gibsie chegar em minha casa a qualquer hora do dia ou
da noite.
Eu estou feliz por ele não estar com a porra do gato desta vez.
Era mais do que uma possibilidade com ele.
— Cara, você é um idiota. — Gibsie joga sua mochila ao lado da minha
mesa e depois se joga na minha cama, cruzando os braços atrás da cabeça.
— Você recebeu uma mensagem do treinador?
— Sim — respondo, terminando um problema de trigonometria que eu
estava resolvendo quando ele entrou. — Vamos torcer para que ele consiga
prender outra pessoa além da Sra. Moore para ajudar o acompanhante desta
vez.
Gibsie estremece.
— Essa mulher é uma merda.
— Sim, ela é — eu concordo.
O treinador havia enviado uma mensagem de grupo cerca de uma hora
atrás, nos informando que Royce finalmente concordou em jogar conosco.
Esta sexta.
Em Dublin.
No terreno da escola.
Com a condição de eu não jogar.
Sorrio para mim mesmo, feliz por ter tanto efeito sobre esses treinadores.
— Desgraçados de Dublin — Gibsie resmunga então. — Tornam a vida
difícil para todos.
— Olá, idiota? — Eu recuei. — Eu sou um canalha de Dublin!
— Não você — ele responde, parecendo embaraçado.
— Que seja, seu culchie, selvagem das montanhas — eu resmungo
enquanto rabisco a resposta para a pergunta B.
— Você sabe que isso não é socialmente aceitável — Gibsie retrucou. —
Me chamar de culchie.
— Então está me chamando de Jackeen — eu retruco. — No entanto,
você faz isso diariamente.
— Você é um Jackeen — ele argumenta.
Reviro os olhos.
— E você é um maldito culchie fedorento.
— Vai se foder, garoto da cidade.
— Vai se foder você, menino do campo.
— Idiota da cidade.
— Mancha de punheta rebelde.
Gibsie ri.
— Como somos amigos?
— Estou me perguntando isso há anos, cara — respondo, o olhar fixo no
meu trabalho. — É um dos maiores mistérios não resolvidos da vida.
— Eu tenho dever de casa — ele anuncia então.
— Eu sei — eu respondo, sem perder o ritmo. — Eu amo o jeito que você
não tão sutilmente deixou cair sua bolsa na minha mesa.
— Eu não posso fazer isso — ele geme.
— Não — eu corrijo calmamente. — Você pode. — Pegando minha
calculadora, trabalho na fórmula que preciso e rabisco meus resultados. —
Você é preguiçoso pra caralho.
— É difícil — ele geme.
— A vida é difícil, Gibs — eu digo. — Pegue seus livros. Eu não vou
fazer isso por você de novo.
— Mas você é muito melhor nisso do que eu — ele geme.
— Diz o cara que acabou de me chamar de espertinho cinco minutos atrás
— eu retruco.
— Você sabe que isso é um elogio — ele argumenta. — Vamos, Johnny...
— Tudo bem, mas estou cansado e preciso ir à piscina antes da escola de
manhã, então só estou fazendo um dever de casa. — Eu rebato, terminando
meu próprio trabalho. — Escolha o seu veneno.
— Inglês — ele me diz com um aceno de cabeça. — Eu tenho um ensaio
para amanhã.
Exalando um suspiro pesado, eu abro sua bolsa e tiro seu livro de inglês.
— Você sabe que vai ter que ler os livros antes dos exames do ano que
vem? — Eu adiciono. — Toda a lição de casa do mundo não vai te ajudar se
você entrar lá sem estudar.
Gibsie sorri.
— Eu prometo que vou ficar em dia ns férias da Páscoa, papai.
— Não me venha com essa merda de papai — eu resmungo enquanto
rapidamente me preparo para sua tarefa. — Você precisa começar a abaixar a
cabeça, Gibs — acrescento antes de ficar preso. — Nós vamos terminar a
escola na sexta-feira, cara. Você precisa usar essas duas semanas de folga
para colocar as coisas em dia.
— Eu vou — ele resmunga.
— É melhor você colocar — eu aviso.
Gibsie me deixa trabalhar em silêncio por cerca de vinte minutos, o que
foi um recorde de todos os tempos para ele, antes de quebrar minha
concentração perguntando:
— Você resolveu aquela façanha que a Bella fez na escola?
— Porra, eu resolvi — eu rosno, instantaneamente irritada com a
memória. — Eu enviei a ela uma mensagem de texto mais cedo para ela
entender a mensagem.
— Shannon está bem? — ele perguntou. — O que foi dito?
— Nada de bom — eu murmuro, terminando um parágrafo. — Ela não
quis me dizer, rapaz, mas você e eu sabemos o quão venenoso foi se saiu da
boca de Bella.
— Ugh — ele geme. — Eu não sei como você a tocou.
— Nem eu — admito com um estremecimento.
— A propósito? — Gibsie medita, me distraindo mais uma vez. — Você
estragou de novo.
Eu me viro para encará-lo.
— Eu não estraguei.
— Sim, cara, você estragou — ele ri. — Eu tentei impedi-lo, depois do
seu discurso “me salve, Gibsie, por favor, salve-me de mim mesmo” na outra
semana, e você foi em frente e estragou tudo como um trem de carga.
— Bem, o que diabos eu deveria fazer? — Eu mordo, jogando minha
caneta de lado. — Apenas ficasse para trás e não fizesse nada enquanto Bella
chamou ela de vadia na frente de metade da escola por minha causa?
— Bella chamou Shannon de vadia? — Gibsie zomba, afofando um
travesseiro. — Olha quem fala.
— Eu sei — eu resmungo. — Foi o que eu disse.
— Então, você desapareceu da escola com Shannon e não voltou depois
do almoço — acrescenta, arqueando uma sobrancelha. — Você deu carona
para ela de novo?
— Talvez — eu mordo.
— Você fez alguma coisa além de deixá-la em casa?
— Como o quê?
— Não sei. — Ele encolhe os ombros. — Se convidar para um chá ou
alguma façanha típica de Johnny como essa?
Eu abaixo minha cabeça.
— Culpado — Gibsie ri.
— Cala a boca — eu murmuro, me afastando da minha mesa.
Eu estava acabado pela noite.
Qualquer que fosse a concentração que eu tinha, já havia desaparecido há
muito tempo.
— Tem um A- aqui — eu digo a ele, gesticulando para seu ensaio de
cinco páginas bem escrito. — Seja fodidamente agradecido.
— Estou agradecido, — ele me assegura com um sorriso radiante antes de
dizer — e acho que você precisa revisitar a noção de amigo. Eu lhe disse
esta manhã e estou dizendo de novo, que nunca vai funcionar.
— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Você está errado. Eu posso fazer
a coisa de amigo.
— Você claramente não pode — Gibsie ri. — Garanhão.
— Eu a ajudei hoje — eu digo, ficando tenso. — Isso é o que os amigos
fazem pelos amigos.
— A propósito, Robbie Mac me perguntou se eu poderia pegar o número
dela com Claire para ele durante o almoço — Gibsie afirma em um tom
impassível. Puxando-se para descansar nos cotovelos, ele olha para mim e
acrescenta: — Disse que adoraria levar a pequena Shannon ao cinema no fim
de semana.
— Espero que você acerte esse filho da puta! — eu assobiei. — Gibs, é
melhor você não ter dado o número dela para aquele idiota.
Ele se joga de volta na cama e ri.
— Estou brincando com você. Robbie não é suicida. Todos os rapazes
ouviram você alto e claro naquele dia, Capi.
Eu olho para ele.
— Isso não é engraçado.
— É hilário — ele ri. — Você é uma causa perdida com aquela garota. —
Sorrindo, ele acrescentou: — É melhor colocar seu pau e bolas em ordem,
cara. Nenhuma garota quer um pau quebrado.
— Eu não... — Pausando, eu belisco a ponta do meu nariz e chamo cada
gota de paciência dentro de mim antes de continuar — Eu não vou chegar a
esse nível com ela, e meu pau e minhas bolas são da minha conta.
— Eu só estou cuidando de você — Gibsie responde. — Ah, eu quase
esqueci –— Ele enfia a mão no bolso da calça jeans e pega uma garrafa
tamanho viagem. — Aqui — ele diz, jogando a garrafa do outro lado da sala
para mim. — Das minhas bolas para as suas.
Eu pego no ar e leio a descrição na garrafa.
— Lubrificante? — eu lati. — Meu Deus, Gibs.
— Ei, não desista até que você tente — ele zomba. — Eu fiz um esforço
enorme vasculhando uma dúzia de químicos diferentes para conseguir isso
para você. — Balançando as sobrancelhas, ele acrescenta: — O farmacêutico
me disse que é um toque sensível.
Eu o encaro.
— Está meio vazio.
Ele encolhe os ombros.
— Eu tive que testá-lo antes de poder recomendá-lo a você.
Eu imediatamente deixo cair a garrafa no chão do meu quarto.
— Você é nojento pra caralho. — Eu gemo, enxugando minhas mãos nas
minhas coxas. — Cristo.
— Não seja um puritano — Gibsie ri. — É perfeitamente normal.
— Lubrificante é normal — eu concordo. — Você, por outro lado, não é.
— Eu não vejo qual é o problema — ele bufa. — Eu comprei um presente
para você. Não há nada de estranho nisso. Você deveria estar me
agradecendo por me interessar por sua vida.
— Cara, você acabou de comprar um presente para o meu pau — eu
zombo — Não tem como ficar mais estranho do que isso.
— Que seja, cara. — Ele dá de ombros, indiferente. — Eu não me importo
com o que os outros pensam.
— Sim, Gibs — eu respondo. — Acho que já estabelecemos isso.
— Mas você sabe quem vai se importar? — ele medita, sorrindo. — Sua
Shannon.
— Ela não é minha Shannon — eu lato.
— E ela nunca será se você não resolver a porra do seu problema! — ele
rebate.
Jesus Cristo…
— Nada mudou — eu digo em um tom tão paciente quanto eu posso
reunir. — Eu não posso, não vou e nunca vou lá.
Mentiras.
Mentiras.
Mentiras.
Meu melhor amigo me encara por um longo momento antes de perguntar:
— Você tem certeza disso, Johnny?
Nem um pouco.
— Absolutamente.
— Como quiser — Gibsie retruca.
— Obrigado.
— Mas só para você saber? — ele acrescentou: — Ela sempre foi sua
Shannon.
54

CORRETIVO

SHANNON

— Não pergunte — eu aviso quando encontro Claire do lado de fora do


banheiro feminino na quarta-feira de manhã, com uma expressão horrorizada
no rosto.
Passando meu braço pelo dela, eu a puxo para o banheiro.
— Apenas me ajude a esconder isso.
— Shannon, eu... eu... — Claire balança a cabeça e olha para mim. —
Shan...
— Por favor — eu rebato, largando minha bolsa no chão do banheiro e
pegando suas mãos. — Me ajude.
Lágrimas enchem seus olhos.
— Não faça isso — eu imploro, apertando suas mãos. — Apenas ajude.
Ela continua a olhar para mim por um longo momento com uma expressão
quase de transe antes de finalmente sair dela.
— Ok — ela funga e então me oferece um sorriso brilhante. — Eu sei o
truque.
Eu exalo um enorme suspiro de alívio.
— Obrigada.
Vinte minutos depois, olho para meu reflexo no espelho e mal me
reconheço.
— Eu tive que deixar os olhos esfumados e cheio de glamour no seu rosto
para combinar com o tom de base que usei para cobrir o seu... — Sua voz
falha e ela limpa a garganta várias vezes antes de acrescentar: — Bem, o que
você acha?
— Whoa — eu respiro, tocando meus lábios pintados de vermelho. —
Meus lábios são enormes.
— Sim, eles são — Claire concorda. — As mulheres pagam milhares de
euros por lábios como os seus e você nem os aprecia.
— E meus olhos. — Eu balanço minha cabeça e fico boquiaberta comigo
mesma, agitando meus cílios com admiração. — Uau, esses são...
— Lindos? — Claire oferece, vindo para ficar ao meu lado. — Porque
você é doentiamente linda.
— É a maquiagem — eu asseguro a ela, envergonhada.
— É a garota — Claire corrige enquanto coloca um braço em volta do
meu ombro.
Eu vacilo com o contato, ainda sensível pela explosão do meu pai, e o
rosto de Claire cai.
— Shannon, eu não posso manter...
A porta do banheiro se abre e Lizzie entra no banheiro, fazendo com que
Claire feche sua boca e eu caia de alívio.
— Vamos, meninas — diz ela, acenando com a mão para nós. — Estamos
atrasadas para a aula.
Nunca na minha vida eu tinha sido mais grata por vê-la como eu estava
neste momento.

— Eu vou matar essa cadela — Lizzie sussurra mais tarde naquele dia
durante o almoço.
A notícia se espalhou pela escola sobre o incidente com Bella ontem e
minha amiga está cheia de raiva.
— Sério — Lizzie acrescenta, olhando para a mesa do lado oposto do
refeitório que acomodava pelo menos cinquenta alunos, um dos quais sendo
Bella Wilkinson.
— Se ela olhar aqui mais uma vez, eu vou lá e arranco essas extensões
brilhantes do cabelo dela.
— Elas são muito ruins — Claire concorda com uma careta.
— Ruins? — Lizzie dispara. — Parece que ela prendeu algas pretas no
cabelo. — Murmurando outra coisa baixinho, ela acrescenta: — Ela é uma
monstra.
— Apenas ignore ela — eu imploro, escolhendo manter meus olhos fixos
no meu sanduíche e não na mesa que eu estou recebendo olhares mortais.
É mais seguro manter minha cabeça baixa.
Durante todo o dia, em todos os lugares que fui, olhos curiosos me
seguem.
Eu não sei como lidar com esse tipo de atenção.
Eu preciso não balançar o barco.
E passar tempo com Johnny é tão bom quanto virar o navio.
Eu tinha esbarrado com ele pelo menos três vezes entre as aulas hoje, e
cada vez ele me deu aquele sorriso lindo de covinhas duplas, me perguntou
como estava indo meu dia, e então me disse que me pegaria mais tarde.
Eu posso sentir seus olhos em mim agora do outro lado do refeitório.
E isso me aterroriza.
Pela primeira vez em minha vida acadêmica, recebi um belo manto de
invisibilidade em Tommen.
Johnny Kavanagh ameaça tirar isso de mim e eu não sou corajosa o
suficiente para deixá-lo.
Toda a bondade da noite passada foi sugada pelas ameaças do meu pai e
pelo medo da ira de Bella.
Agora, eu estou com medo novamente.
De Bela.
Do meu pai.
Das outras meninas dessa escola.
Dos meus sentimentos.
De Johnny.
Da minha própria maldita sombra.
— E ela teve a coragem de te chamar de vadia — Lizzie continua a
reclamar, comigo e Claire olhando impotente. — Ela é quem monta Cormac
Ryan ali.
— Não importa — eu rapidamente digo a ela, rezando para que ela
simplesmente deixe para lá.
— Isso importa, Shannon — Lizzie retruca. — Ninguém pode fazer isso
com você. Não aqui. Não de novo!
— Liz — Claire diz em um tom baixo de advertência. — Deixe isso pra
lá, ok?
— Nós vamos ter nossas férias na sexta-feira — eu sussurro, mais para
mim mesma do que para as meninas, enquanto eu tento desesperadamente
me acalmar. — Duas semanas sem Bella.
— Exatamente — Claire oferece gentilmente. — Todo mundo vai ter
esquecido disso quando voltarmos.
— Eu não posso acreditar em você — Lizzie retrucou, olhando para
Claire. — Como você está bem com essa cadela falando merda sobre a nossa
melhor amiga?
— Eu não estou bem com isso — Claire responde uniformemente. — Só
sei que fazer uma cena é a última coisa que alguém precisa.
— Você sabe o que todo mundo está dizendo? — Lizzie exige, e então
continua antes que qualquer um de nós tivesse a chance de responder. —
Todos estão dizendo que Shannon está fazendo sexo com Johnny Kavanagh.
— Ótimo — eu gemo e deixei cair minha cabeça em minhas mãos.
Claire coloca uma mão calmante no meu ombro.
— Bem, não é verdade.
— Eu sei disso — Lizzie bufa. — Mas Bella anda dizendo que Shannon é
a razão dela e Johnny terminarem — Lizzie sibila. — Por causa daquela
cadela e suas mentiras, todo mundo na escola está falando sobre a nossa
amiga e dizendo que ela deve ter um chá de boceta de virar a cabeça daquele
grande idiota…
— Não! — Claire sibila. — Não repita isso.
— Eu estou indo para casa — eu solto, empurrando minha cadeira para
trás, pronta para fugir.
— Não — Claire responde calmamente, me empurrando de volta para o
meu lugar. — Você não está.
— O diabo você está indo para casa — Lizzie rosna. — Você não fez nada
de errado.
Errada ou não, eu não ia ficar aqui.
Sacudindo a mão de Claire, eu empurro minha cadeira para trás e me
levanto.
— Desculpe — eu engasgo, olhando para minhas amigas. — Mas eu não
posso fazer isso de novo.
— Nós vamos com você — Claire chama atrás de mim. — Shan, apenas
não corra...
— Não, está tudo bem — eu murmuro. — Vocês ficam. Eu só... estou
indo agora. — Me virando, empurro as mesas e cadeiras que bloqueiam meu
caminho e corro para a saída.
No entanto, eu não antecipo a mão que serpenteia para fora da mesa de
rúgbi na porta e agarra meu pulso, me puxando para uma parada abrupta.
— O que há de errado? — Johnny está sentado em sua cadeira, com a mão
em volta do meu pulso, olhando para mim com uma expressão preocupada.
— Shannon?
Balançando a cabeça, puxo minha mão, mas Johnny não a solta.
Em vez disso, ele me puxa para mais perto dele, tornando isso muito pior.
— O que está acontecendo? — ele pergunta.
— Eu, uh, preciso ir para casa. — Eu apertei, olhando ao redor
nervosamente e encontrando vários pares de olhos vidrados no meu rosto.
Voltando-me para Johnny, sussurro: — Preciso ir agora.
— Casa? — Johnny franze a testa. — Por quê?
— Dê uma olhada ao redor, Senhor Gostosão — Lizzie sibila, vindo para
ficar ao meu lado. — Ou melhor ainda, abra seus ouvidos.
— Meus olhos estão abertos — Johnny responde enquanto solta minha
mão e volta sua atenção para Lizzie. — E meus ouvidos estão bem aqui.
— Lizzie — eu resmungo, balançando minha cabeça. — Para com isso.
— Não, se ela tem algo a me dizer, então ela pode dizer — Johnny fala
lentamente. — Vá em frente.
— Tudo bem — Lizzie rosna, pegando minha mão que Johnny havia
soltado. — Sua vadia má/projeto de namorada está espalhando mentiras
sobre a minha amiga, e eu estou te responsabilizando inteiramente por não
endireitar os fatos ou colocá-la em seu lugar.
— Do que ela está falando? — Gibsie, que está sentado do outro lado da
mesa de Johnny, pergunta.
— Não faço ideia — Johnny retruca.
— Estou falando sobre a reputação da minha amiga ser manchada porque
você foi estúpido o suficiente para enfiar seu pau dentro daquela garota —
Lizzie rosna.
— Que garota? — Hughie Biggs vira a cabeça de onde estava acariciando
o pescoço da namorada para perguntar. — Em quem você enfiou seu pau,
Capi?
— Vai se foder, Hughie — Johnny retruca, os olhos passando rapidamente
para mim.
Eu coro escarlate e desvio meu olhar do dele.
— Oh, Jesus — outro menino que anda com eles pergunta. Patrick Feely,
acho que me lembro de Claire chamando ele uma vez. — O que você fez
agora, Gibs?
— Não fui eu, Feely — Gibsie ri.
— Sim — Patrick murmura. — Uma vez.
— Vocês podem parar de me distrair? — Lizzie late. — Estou tentando
resolver algo aqui.
— Amor — um menino de cabeça raspada chama de alguns assentos
acima da mesa enorme. — O que você está fazendo?
— Cuide da sua maldita vida — Lizzie retruca.
— Amor...
— Estamos em uma briga agora, Pierce Ó Neill, então nem olhe para
mim.
Soltando o que soa como um gemido de dor, Pierce empurra sua cadeira
para trás e contorna a mesa em nossa direção.
— Santo Deus — Gibsie finge tossir, batendo palmas enquanto passa.
— Desculpe — Pierce anuncia, com as mãos no ar enquanto se aproxima
de sua namorada com cautela. — É tudo culpa minha.
— Do que é que está arrependido? — Ela pergunta a ele.
— Tudo? — Pierce responde, embora soe mais como uma pergunta. — O
que você quer que eu me desculpe?
— Havia um ponto para sua grande conversa aí? — Johnny pergunta,
chamando a atenção de todos de volta para ele.
— Sim — Lizzie rosna, lançando adagas para ele.
— Então fale — ele responde friamente.
— Tudo bem — Lizzi sibila. — Eu estava falando sobre Bella dizendo a
todos que a razão pela qual você terminou as coisas é porque você está
transando com Shannon. Eu estava falando sobre todo mundo dizendo que
minha amiga deve ser uma foda fantástica para virar sua cabeça estúpida de
bola de rúgbi.
— A cabeça dele não tem o formato de uma bola de rúgbi — Gibsie
zomba. — Você disse isso sobre a minha cabeça também.
— Agora não, Gerard — Claire adverte enquanto se joga na cadeira ao
lado dele.
— Ela está mentindo — Johnny retruca, eriçado de tensão.
— Obviamente — Lizzie zomba, sacudindo a mão de Pierce enquanto ele
tenta colocá-la em seu ombro. — Então agora eu quero saber o que você vai
fazer sobre isso?
— Nada — eu resmungo. — Ele não vai fazer nada sobre isso porque não
há nada a fazer!
— A culpa é sua, Johnny — Lizzie continua a falar sobre mim. — Isso é
com você. Ela é sua ex louca. Então, conserte isso.
Johnny permanece completamente imóvel por cerca de quinze segundos,
os olhos fixos em Lizzie, sem dizer uma única palavra, antes de entrar em
ação.
Ele empurra a cadeira para trás e se levanta, os olhos fixos em mim.
— Vamos.
— O-o quê? — Eu engasgo, boquiaberta para ele.
— Venha comigo — ele ordena, estendendo a mão para mim. — Estamos
resolvendo isso, agora.
Olho para Lizzie, que estava com as mãos cruzadas sobre o peito e uma
expressão satisfeita no rosto, para Gibsie que parece em êxtase, para Claire
que está se encolhendo, para os outros garotos que parecem simplesmente
confusos, antes de finalmente escolher Johnny.
Ele parece furioso.
E expectante.
— Não — eu solto, balançando minha cabeça. — De jeito nenhum. Eu
não vou lá.
— Ela vai se desculpar com você publicamente — ele me diz. — Ela vai
esclarecer para todo mundo, publicamente! — Ele olha ao redor da sala
antes de acrescentar: — E eu vou endireitar todas as outras merdas que
foram junto com as mentiras dela, publicamente!
— Não. — Meus olhos se arregalam de horror. — Está tudo bem. Eu não
quero um pedido de desculpas.
Ele exala uma respiração frustrada.
— Não está tudo bem, Shannon...
— Eu não vou lá — repito, tremendo com o pensamento. — Eu não
quero.
— Tudo bem — Johnny rosna, dando um passo ao meu redor. Ele chuta
uma cadeira para fora do caminho, fazendo Pierce e Lizzie se afastarem
como o Mar Vermelho antes de contornar a mesa. — Eu mesmo vou resolver
isso.
— Não... — Correndo atrás dele, eu pego a manga de seu suéter e afundo
meus calcanhares. — Por favor, não.
Johnny me arrasta por cerca de um metro e meio antes de finalmente
parar.
— Então o que você quer que eu faça? — ele exige, virando-se para me
encarar.
— Nada! — Eu gaguejo, ainda segurando sua manga. — Absolutamente
nada.
— Eu não posso fazer nada. — Ele passa a mão livre pelo cabelo,
claramente agitado. — Eles estão falando de você.
— Não importa. — Eu balanço minha cabeça, ignorando os olhares que
eu sei que estou recebendo, e puxo sua manga. — Eu não me importo.
Johnny me encara por um longo momento antes de balançar a cabeça.
— Sim, bem, eu sei — ele finalmente diz. — Eu fodidamente me importo!
— Por que não saímos daqui pelo resto do dia? — Gibsie intervém,
enquanto ele praticamente cai da cadeira em sua tentativa de interceptar
Johnny. — Dar um tempo do drama — ele acrescenta enquanto aperta as
mãos nos ombros de Johnny. — E se divertir um pouco.
Johnny olha para ele.
— Do que você está falando?
— Bom plano, cara — Hughie oferece enquanto desliza sobre a mesa e se
move para ficar ao lado de Gibsie.
— Estou pronta para isso — Claire fala.
Gibsie lança-lhe um olhar agradecido.
— Sua mãe voltou para Londres, não é? — ele pergunta, desviando o
olhar de Claire para olhar seu amigo, as mãos ainda presas em seus ombros.
— Você tem uma casa vazia?
Johnny assente lentamente, o olhar oscilando entre Gibsie, Hughie e a
mesa atrás deles.
— Ela saiu ontem de manhã.
— Então vamos para sua casa e sair por uma hora. — Gibsie afirma
calmamente antes de virar seus olhos cinzas para mim. — O que você acha,
pequena Shannon? — Ele me dá um olhar significativo. — Gostaria de sair
daqui antes que Kav transforme o refeitório em uma cena de Game of
Thrones?
Estremeço com o pensamento, tendo lido todos aqueles livros.
— Na verdade, o Thor está fazendo sentido pela primeira vez — Lizzie
diz, colocando seus dois centavos. Ela se vira para mim e disse: — Vá com
isso.
Vai com isso?
Vai com o quê?
— Uh... tudo bem?
— Perfeito! — Gibsie executa um pequeno rufar de tambores no peito de
Johnny antes de passar um braço por cima do ombro e guiá-lo para a saída.
— Vamos — ele chama por cima do ombro antes de desaparecer pelo arco.
— Agora.
Eu não tenho ideia do que está acontecendo, mas eu acompanho os outros
enquanto seguimos atrás de Johnny e Gibsie.
— Eles provavelmente estão indo para algum lugar para que ela possa
chupar o pau dele — uma voz terrivelmente familiar grita alto o suficiente
para mais uma vez chamar a atenção de todos. — Você sabe sobre aquele
povinho de Elk Terrace. Eles estão prontos para qualquer coisa.
— Ah, porra, não — Johnny rosna quando se liberta de Gibsie e passa por
todos nós. — Isso está sendo resolvido agora — ele ruge enquanto dá a
volta na mesa e caminha em direção a Bella.
— Pelo amor de Deus — Hughie geme.
— Você simplesmente não pode evitar, pode? — Johnny ruge, apontando
um dedo no rosto de Bella.
— Eu não fiz nada — Bella ri. — Exceto dizer a verdade.
— A verdade? — Johnny sibila, claramente lívido. — Você não saberia a
verdade se ela batesse na sua cara.
Eu não tenho ideia de que parte do meu corpo minha bravura repentina
irrompe, mas vem forte e rápido, e impulsiona minhas pernas em direção a
ele.
— Johnny, não — eu solto enquanto o sigo.
Pela primeira vez na minha vida, eu estou feliz por ser pequena.
Isso me permite deslizar para o pequeno espaço entre Johnny e a mesa
sobre a qual ele estava inclinado.
— Johnny — eu respiro, pressionando com força em seu peito. — Vamos.
Ele não olha para mim.
— Johnny — eu repito, estendendo a mão e tocando seu rosto.
Ele estala seu olhar furioso em mim.
— Vamos embora — eu ordeno, olhando para ele com meu coração na
boca. — Por favor.
Uma veia pulsa na têmpora de Johnny enquanto ele olha para mim,
parecendo mais furioso do que eu já o tinha visto.
Não ouso respirar enquanto o observo fazer sua escolha.
Finalmente, ele solta um rosnado furioso e assente rigidamente.
Eu exalo uma respiração irregular.
Graças a Deus…
— Mantenha o nome dela fora da porra da sua boca — ele rosna, o peito
arfando, enquanto me permite empurrá-lo para trás para longe da mesa.
— Ela é uma puta suja de uma casa de prostituição — Bella diz
maldosamente. — Não há mentira nisso.
— É melhor você tomar cuidado com a porra da sua boca — Johnny
rosna, passando por mim.
Meu coração afunda.
Eu tentei e falhei.
— Por quê? O que você vai fazer se eu não fizer isso, Johnny? — Bella
sibila, pulando da cadeira e batendo no peito dele. — Bater em mim?
— Não... — Johnny faz uma pausa para arrastar quem Lizzie chama de
Cormac Ryan para fora de sua cadeira — Eu vou bater nele.
E então ele dá um soco no rosto de Cormac Ryan.
Ao contrário de ontem, não espero para ver o resultado.
Em vez disso, dou meia-volta e saio correndo do refeitório.
Porque eu sei que isso pode acontecer de duas maneiras.
De qualquer forma, eu perco.
Eu testemunhei incidentes como este, onde Joey saltou para defender
minha honra.
Não faz diferença para garotas como aquela.
Eu sempre perco.
55

ESFRIE A CABEÇA

JOHNNY

— Que porra vocês estão fazendo? — Eu rosno quando Gibsie e Hughie me


arrastam para fora do refeitório antes que eu tenha a chance de dar um
segundo soco em Cormac.
— Impedindo você de fazer algo realmente estúpido — Gibsie explica
calmamente enquanto me conduz para fora do prédio principal. — Mais uma
vez, demolidor.
— O que você estava pensando? — Hughie exige quando chegamos ao
pátio e estávamos fora da vista do escritório. — Você sabe quantos
problemas você teria com a Academia se eles soubessem que você está
brigando na escola!
— Foda-se a Academia — eu rosno, sacudindo suas mãos. — Eu estava
tentando defender ela.
— Bem, tudo o que você acabou fazendo foi envergonhar a garota —
Hughie late. — Parabéns, Capi. Como se ela não tivesse merda suficiente
para lidar. Você só fez dela o alvo de cada uma de suas fãs.
Furioso, passo a mão pelo cabelo para me impedir de dar um soco em um
dos meus amigos.
— Você ouviu o que ela disse lá atrás — eu sibilo, sentindo meu corpo
vibrar de raiva. — O que você esperava que eu fizesse?
— Ela não queria que você a defendesse, cara — Gibsie acrescenta. —
Ela te disse isso.
— Bem, ela está errada — eu cuspo.
— Bem, agora ela se foi — Gibsie me diz. — Então esfria a cabeça.
Ela se foi?
Isso me dá uma pausa para pensar.
Me virando, vejo Claire, a víbora e Kate todas ao nosso lado, mas nada da
Shannon.
— Sim, ela definitivamente se foi — Feely acrescenta enquanto caminha
até nós com as mãos enfiadas nos bolsos.
— Você está com a novata, Capi? — Pierce pergunta, juntando-se ao
círculo interminável da porra do incômodo. — Você manteve aquela em
silêncio.
— O que… não — eu murmuro, exalando um suspiro cansado enquanto a
raiva se dissipa do meu corpo. — Eu não sei mais o que eu sou. Eu não sei o
que diabos está acontecendo comigo.
— Bem — Lizzie salta. — Você acabou de ganhar alguns pontos
importantes em meus olhos. — Ela dá um tapinha no meu braço. — E confie
em mim, eu não dou isso com frequência.
— Não mesmo — Pierce oferece com uma careta de conhecimento.
— Ainda estamos indo para a sua casa? — Feely perguntou. — Parece
inútil voltar agora.
Eu balanço minha cabeça, precisando de um maldito minuto para
trabalhar em meus pensamentos.
O que diabos aconteceu?
Como eu me permiti perder o controle assim?
E onde diabos ela foi?
Ela está bem?
Eu ia matar alguém.
Eu posso sentir a raiva crescendo dentro de mim ao pensar na expressão
resignada de Shannon.
Sim, ela parecia resignada.
Ela deveria estar furiosa.
Em vez disso, ela apenas aceitou.
Pode ter sido assim que funcionava para ela na BCS, mas não era assim
que as coisas aconteciam em Tommen.
Ela não era a porra do alvo de ninguém, e eu ia ter certeza disso.
— Johnny?
O som do meu nome sendo chamado me desperta dos meus pensamentos.
— O quê? — Eu levanto meus olhos e olho em volta para meus amigos,
me sentindo completamente perdido.
— Nós vamos?— Hughie pergunta, me dando um olhar estranho.
— Para onde? — Eu rebato, eriçado, não gostando nem um pouco desse
tipo de atenção.
Eu sinto como se estivesse aqui nu com meus sentimentos fodidos em
plena exibição, dando a todos os sete, um vislumbre de algo que eu mesmo
não entendia.
— Eu deveria encontrá-la — digo a mim mesmo mais do que qualquer
outra pessoa. Em pânico, eu me viro então, fazendo um 360 completo. — Eu
deveria ver como ela está.
— Não — Hughie diz calmamente, — Você deveria ir para casa e se
refrescar. Ela obviamente não quer vir conosco, cara. É por isso que ela se
foi.
Viro meu olhar para ele.
— Porra, e você saberia sobre o que ela quer?
As sobrancelhas de Hughie se erguem em surpresa.
— Dê-me as chaves de sua casa, Capi — Gibsie ordena então, parando na
minha frente.
Sem questioná-lo, eu tiro minhas chaves do bolso e entrego a ele.
— Nós vamos alcançá-los — Gibsie diz aos nossos amigos enquanto
jogava minhas chaves para Hughie e, em seguida, pendura um braço sobre
meu ombro, levando-me de volta para a sala de educação física.
Vou com ele porque minha mochila está no corredor e eu não tinha ideia
do que mais fazer.
— Você está bem? — Gibsie pergunta quando entramos no vestiário
vazio.
— Não! — Eu rujo. — Estou tão longe de estar bem, não sei mais o que a
porra da palavra significa.
— Eu sei que agora não é hora de dizer isso, mas vou dizer de qualquer
maneira — diz Gibsie. — Eu te disse. Eu te disse na porra do quarto ano
quando ela começou a farejar, que ela era uma má notícia.
— Eu não preciso ser lembrado. — Eu cuspo enquanto eu caminho até o
banco e pego minhas coisas. — Eu sei que fodi tudo.
— Você fodeu — ele concorda, sem se incomodar em mentir, enquanto
pega sua própria bolsa. — Você viu um par de peitos bonitos, uma vida fácil,
e você deixou seu pau que funcionava pensar por você. — Dando de
ombros, ele joga sua bolsa por cima do ombro e diz: — Este é o resultado.
Outra grudenta que não vai deixar essa porra para lá.
— Bem, meu pau não está mais pensando — eu digo.
— Graças a Deus. E se serve de consolo, eu teria perdido minha cabeça
também — ele me diz. — Se alguma cadela falasse sobre Claire assim, eu
teria explodido dez juntas de cabeças.
— É minha culpa o que aconteceu com ela — eu rosno. — Bella está na
cola de Shannon por minha causa.
— Não — Gibsie corrige e então balança a cabeça. — Ok, sim, ela está na
cola dela por sua causa, mas isso não é culpa sua, cara.
— Ela não vai me deixar em paz, Gibs. — Exalando uma respiração
irregular, passo a mão pelo meu cabelo e rosno. — Ela não vai parar.
— Você poderia falar com seu pai sobre conseguir, eu não sei, como uma
ordem de restrição ou algo assim?
— Pelo quê, Gibs? — Eu atiro de volta, nervosa. — Ser irritante na
escola?
— E seguir você pelos pubs — ele interrompe.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, a única restrição que deveria ter sido feita era eu conter meu pau.
Gibsie ri enquanto saímos do vestiário.
— Restringindo seu pau.
— Não é engraçado — eu lato. — Eu não transo com ela desde o
Halloween. É março agora, Gibs. Porra de março. Você pensaria que ela
deixaria passar agora.
— Você deveria ter parado as coisas naquela época. — Ele abre a porta do
corredor e nós dois saímos para o raro sol da tarde. — Você deixou passar
para janeiro, Johnny.
— Sim, bem, eu tinha muita coisa em mente. — Eu bufo, descendo os
degraus. — E ela terminou, então não tenho a menor ideia de por que ela
simplesmente não vai embora.
— Você sabe por que ela não vai embora, cara — Gibsie responde,
cutucando meu ombro enquanto caminhávamos para o estacionamento.
Eu suspiro pesadamente.
Sim, eu sei.
Maldito rúgbi.
— Você pode me prometer uma coisa? — ele diz então, enquanto pega as
chaves do carro e destrava seu Ford Focus novinho em folha.
— Sim, cara — eu suspiro, jogando minhas malas no porta-malas do
carro.
— Prometa que você nunca vai voltar lá, não importa o quão tentador
seja.
Eu recuso para ele.
— Gibs, eu não voltaria lá nem se ela fosse a última garota no maldito
planeta.
Ele ri da minha resposta e sobe no banco do motorista.
— Estou falando sério — eu digo a ele, afundando no banco do
passageiro. — Eu não tocaria naquela garota de novo nem se ela fosse a
única cura para o meu pau nada ejaculatório... — Faço uma pausa para
apertar o cinto de segurança. — Eu preferiria andar por aí pelo resto da
minha vida com bolas azuis e um pau murcho do que colocar minhas mãos
nela novamente. Isso é o quanto ela me repugna.
— Bem, bom para você.— Gibsie liga o motor. — Porque aquela garota
quer tanto amarrar sua bunda que é assustador.
— Não haverá como me amarrar a ninguém — eu atiro de volta. — E
especialmente não a ela.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Você tem certeza disso?
— Apenas cale a boca e coloque o cinto de segurança — eu instruo,
procurando por qualquer coisa que ele pudesse bater. — E verifique seus
espelhos.
— Sim, papai — Gibsie murmura, obedecendo às minhas ordens.
— Ok, você pode ir agora, com calma e devagar — eu digo a ele quando
eu estou confiante que ele pode sair de sua vaga de estacionamento sem
causar danos corporais graves, o que ele era capaz de fazer. — Devagar,
Gibs.
— Agarrar o camisa treze — Gibsie ri enquanto se afasta muito
fodidamente rápido para o conforto. — A pequena Shannon arruinou essa
merda.
— Acalme sua bunda — eu lato, resistindo à vontade de pegar o volante.
— E o que diabos significa Agarrar o camisa Treze?
— Você não sabia disso?
Eu balanço minha cabeça.
— Obviamente não, já que estou perguntando a você.
— É o que dizem, cara — explica Gibsie.
— Quem? — Eu exijo enquanto agarrei o Puta Merda e jogo algumas Ave
Marias para o homem no andar de cima.
Não deixe esse filho da puta me matar.
— As meninas da escola — ele ri, entrando na estrada principal sem
checar nos dois sentidos, e evitando por pouco uma van de leite. — Isso é o
que eles dizem sobre você.
Ai Jesus.
Eu ia morrer nesse carro.
Ele ia tirar minha maldita vida.
Saudando timidamente o leiteiro que está balançando o punho para nós,
me viro para encarar Gibsie.
— Elas me chamam de Agarrar o camisa Treze? — Eu balanço minha
cabeça. — Por quê? Eu não entendo.
— Não é como elas chamam você — ele corrige — É o que elas querem
fazer com você.
— O quê?
— Você é o número 13 — ele ri. — E eles querem se unir a você. — Ele
se vira para balançar as sobrancelhas para mim. — Estilo Scrum.
— Isso é... tão fodidamente assustador — eu resmungo, estremecendo. —
Coloque seus olhos na estrada!
— Cem por cento — Gibsie ri, voltando sua atenção para o pára-brisa. —
Claire me contou sobre isso no ano passado. Ela disse que ouviu um monte
de garotas do sexto ano falando sobre algo chamado “Operação Agarrar o
Camisa Treze” no banheiro.
— Jesus Cristo — eu rosno.
— Bem na época em que você começou a transar Bella — ele completa.
— Faça as contas.
Eu não preciso.
Eu já tinha percebido.
— Oh, pelo amor de Deus — eu gemo.
— Sim — Gibsie concorda com uma careta. — Fique feliz por ter saído
disso, Johnny. Fique muito feliz pra caralho.
Eu estou.
Mais do que palavras podem expressar.
— O que eu vou fazer, Gibs?
— Sobre Shannon?
Eu balanço a cabeça tristemente.
— Desistir — ele responde sem hesitação.
— Eu não posso — eu resmungo.
— Você pode — ele me assegura. — Você só está com medo.
Sim, eu estou com medo.
Eu estou fodidamente apavorado com meus sentimentos por ela.
— Eu nem sinto que tenho mais escolha — confesso. — Estou
enlouquecendo, Gibs.
— Não, sua mente ainda está aí — Gibsie ri, dando um tapinha no meu
ombro. — É o seu coração que você está perdendo, cara.
— Foda-se — eu solto, mordendo meu lábio enquanto puro terror toma
meu peito.
— Sim — ele concorda. — Terrivelmente inconveniente, não é?
— Eu quem digo, porra — eu murmuro.
56

AMEAÇAS CARREGADAS

JOHNNY

Ela não voltou para a escola na quinta-feira.


Eu sei disso porque eu a procurei nos corredores entre todas as minhas
aulas.
Ela nunca apareceu.
Não cai bem para mim, sabendo que havia uma grande possibilidade de
Shannon estar abandonando a escola por causa do que aconteceu no
refeitório.
Não me cai bem porque eu sei que era minha culpa.
Eu não consigo me concentrar na merda das aulas o dia todo.
Cada lição, palavra e comando passa batido sobre minha cabeça, porque
deixei minha cabeça com ela.
Ela está bem?
Ela está brava comigo?
Devo ir até lá?
Devo deixá-la em paz?
Eu não sei.
E eu nem sequer tinha o número do telefone dela para ligar e verificar.
Nós iríamos sair da escola amanhã por duas semanas.
Eu tinha um jogo em Dublin amanhã.
E se eu não a visse antes disso?
E se ela não voltasse para a escola?
Que porra eu ia fazer então?
Jesus Cristo, eu estava perdendo a cabeça.
Usando cada grama de autocontrole que eu tenho dentro de mim, eu me
forço a empurrá-la para fora da minha mente, enquanto eu saio para treinar
depois da escola.
Porque eu não precisava disso – eu não precisava desses sentimentos –
fodendo com o meu jogo.
— Você está com ela? — Bella exige quando chego à entrada da sala de
educação física depois da escola, me tirando dos meus pensamentos.
Balançando a cabeça, continuo andando com toda a intenção de ignorá-la,
mas ela agarra meu braço e sussurra:
— Responda-me.
— Cuide da porra da sua vida — eu rebato, reprimindo a vontade de
estremecer com o toque dela. — E fique fora da minha vida.
Eu preciso que ela não chegue perto de mim hoje.
Eu estou cheio de raiva e minha língua não é algo que eu acho que posso
controlar se ela me pressionar.
— Responda à porra da pergunta, Johnny — Bella sussurra em um tom de
advertência.
— E se eu estiver? — Eu retruco, olhando para ela. — O que isso tem a
ver com você?
— Então você é um idiota do caralho — ela sussurra, os olhos brilhando
com uma mistura de mágoa e raiva. — Porque aquela garota tem virgem
escrito nela.
— Nem tudo é sobre sexo, Bella — eu rebato, soltando meu braço. — E
não coloque suas mãos em mim de novo — acrescento, meu tom misturado
com desdém. — Seu toque não é bem-vindo.
— Nem tudo é sobre sexo? — ela zomba. — Ha. Eu vou te dar um mês
com a santinha antes que você fique entediado e se perca.
— Eu estava entediado com você depois de uma noite — eu zombo.
— Então por que você continuou voltando para mais? — ela exigiu.
— Porque eu era preguiçoso e você era tão fácil. — Eu perco a paciência
e sussurro — Você estava a um telefonema de distância, Bella, uma
mensagem rápida para molhar meu pau. Isso é tudo que você sempre foi para
mim.
Eu espero pela mão que bate na minha bochecha.
Eu mereço um tapa.
Nenhuma garota merece ser chamada de fácil, independentemente de quão
verdadeiro fosse.
Era um golpe baixo e pelo qual me vejo pedindo desculpas.
— Eu não quis dizer isso — eu mordo. — Isso foi algo merda de dizer.
— Sim, Johnny, foi — ela bufa, cruzando os braços sobre o peito.
— Eu sei — eu rebato, não encontrando um pingo de paciência dentro de
mim para lidar com essa garota. — É por isso que eu disse que foi.
— Por que você está sendo assim? — Bella pergunta, seu tom assumindo
um tom mais suave. — Por que você está sendo cruel comigo?
— Eu não estou sendo nada com você — eu digo. — Eu só quero começar
a treinar, e você está bloqueando meu caminho.
— Porque eu quero falar com você — ela responde com veemência.
— Nós não temos nada a dizer um ao outro, Bella. — Eu digo a ela com
um aceno de cabeça. — Não mais.
— Você me viu? — ela pergunta então, claramente me provocando. —
Com seu companheiro de equipe?
— Eu não dou a mínima para o que você faz com meus companheiros de
equipe — respondo calmamente.
— Eu não quero ele.
— Isso é problema seu.
— Eu quero que você de volta.
— Você não pode me ter de volta.
— Johnny.
— Bella.
— Vamos lá!
— Não, porra, obrigado.
Bella olha para mim por um longo momento antes de gritar e bater o pé.
Eu não estou brincando, ela realmente bateu o pé.
— Por que você está sendo tão irracional? — ela sibila. — Me desculpe,
te trai, ok? Me desculpe!
— Tudo bem, você está mais que perdoada. — Eu rebato, passando a mão
pelo meu cabelo em pura frustração. — Agora vá em frente com Cormac ou
quem diabos você quiser. Eu realmente não me importo. Apenas me deixe
em paz!
— Você está honestamente dizendo que você está bem comigo estando
com Cormac? — ela exige, bloqueando a porta quando eu tento passar por
ela. — Ele me convidou para sair, sabe? Eu sou namorada dele agora. Você
não sente ciúmes?
— Eu. Não. Dou. A. Mínima — eu digo. — Eu não sei o que mais posso
fazer ou dizer para tornar isso mais claro para você.
— Você realmente acha que essa cadela é melhor do que eu? — ela exige.
— Sério, Johnny? Falamos de rebaixamento. Ela já possui um par de peitos?
— Não fale merda sobre ela — eu avisei. — Diga o que diabos você
quiser sobre mim, mas mantenha o nome dela fora da sua língua.
— É a verdade — ela cospe. — Ela é uma agulha premiada. — Dando de
ombros, ela acrescenta: — Ela parece anoréxica.
— E você parece e soa como uma cadela de coração frio. — Reprimindo
o desejo de perder a cabeça aqui fora do corredor, reúno toda a calma que
posso e sibilo: — Se você foder com ela mais uma vez, eu vou arruinar você.
Ela olha para mim.
— Eu gostaria de ver você tentar.
— Eu vou arruinar você — eu repito, a voz mortalmente fria. — Sua
reputação. Seu status. Seus amigos. Seus relacionamentos futuros. Tudo. Se
você foder com Shannon Lynch novamente, vou tirar tudo de você.
Seus olhos se arregalam.
— Johnny...
— Você sabe que eu posso — eu acrescento, mantendo minha voz baixa.
— Ao contrário de suas crenças, eu tenho mais coisas para mim do que uma
camisa de centro e um pau.
— E se eu te disser que estou grávida? — ela engasga. — O que você
diria então?
Jogo minha cabeça para trás e rio.
— Você é inacreditável.
— Pare de rir — ela finge soluçar. — Não é engraçado.
— Eu diria para você falar com Cormac porque eu não toco em você há
quatro meses e meio. — Zombando de desgosto, acrescento: — Além disso,
tenho certeza que você já teria usado isso contra mim. Tenho certeza de que
já estaria aparecendo também.
— Não necessariamente — ela retruca.
— Você está dizendo que eu te engravidei, Bella? — Eu piro. — Tenha
muito cuidado como você vai responder em seguida.
Ela sabe quem era meu pai.
Ela sabe onde suas mentiras a levariam se empurrasse essa merda para
mim.
Bella me encara por um longo momento antes de resmungar:
— Não, eu não estou grávida.
— Eu sei — eu zombo.
— Foi uma pergunta hipotética — ela retruca defensivamente.
— Não — eu corrijo. — Foi uma manipulação fracassada.
— Eu te amo — ela soluça. — Me desculpe por querer fazer isso
funcionar.
— Bem, não me ame — eu lati, agitado. — Porque eu não te amo e nunca
vou te amar de volta! — Virando para o lado, passo por ela e caminho para o
corredor. — De agora em diante, fique longe de mim.
57

EXCURSÕES INESPERADAS

SHANNON

Não voltei às minhas últimas três aulas na quarta-feira e fiquei em casa sem
ir à escola na quinta-feira.
Eu sei que é errado faltar à escola, mas eu simplesmente não consigo
encarar isso.
Era demais.
Bella, Johnny, os olhares, os sussurros.
Era demais.
Me sinto emocionalmente esgotada e fisicamente espancada, e preciso de
algum tempo para pensar antes de voltar.
Minha tentativa de respirar um pouco foi um desastre completo que
consistiu em meu pai perdendo a cabeça comigo na noite passada por
queimar o jantar e resultou em um soco no rosto.
Aparentemente, eu não posso cozinhar espaguete à bolonhesa por nada.
E, aparentemente, isso era crime o suficiente para ganhar outra famosa
asfixia.
Eu me sinto um lixo absoluto essa manhã, mas eu teria rastejado em
minhas mãos e joelhos para fora daquela casa se eu precisasse.
Nada que Bella fez comigo na escola poderia chegar perto do que ele é
capaz de fazer comigo em casa.
Quando finalmente chego à escola – mais de uma hora atrasada porque
dormi demais sem a ajuda do meu confiável alarme do telefone – quase
tenho minha cabeça arrancada pelo Sr. Mulcahy, nosso professor de
educação física, por atrasar o show.
— Que show? — Eu pergunto, porque eu honestamente não sei o que
diabos está acontecendo.
Aparentemente, eu não sou considerada digna dessa informação porque,
em vez de explicar o que está acontecendo, o Sr. Mulcahy praticamente me
empurra para um ônibus escolar lotado e me instrui a encontrar um lugar e
rápido.
O que me traz à minha atual situação induzida pelo terror enquanto eu
estou na frente do ônibus, completamente perdida sobre o que estava
acontecendo ou por que eu estou sendo forçada a entrar em um ônibus
escolar cheio de rostos desconhecidos.
— Shan! — Claire grita, sinalizando para mim.
Em pânico, meus olhos a procuram na terceira fila da frente com Lizzie
sentada ao lado dela.
Todas as garotas no ônibus parecem estar sentadas na frente perto do
motorista.
Havia apenas quatro outras garotas na minha classe, e Shelly e Helen
estavam emparelhadas no banco atrás das minhas amigas.
Várias outras garotas do sexto ano estão sentadas perto delas, incluindo
uma brilhante Bella e um enorme garoto de cabelos escuros com o braço em
volta dela e seu rosto acariciando seu pescoço.
Forçando-me a não olhar para Bella, eu me arrasto até Lizzie e Claire.
— O que está acontecendo? — Eu sussurro quando as alcanço.
— É dia de jogo — Claire me diz, o sorriso desaparecendo. — Lembra?
Eu olho fixamente para ela.
— Dia de jogo o quê?
Os olhos de Claire se arregalam.
— Oh meu Deus — ela sussurra/silva. — Enviei uma mensagem na noite
de terça-feira sobre isso.
— Uma mensagem? — Eu murmuro. — Eu não recebi nenhuma
mensagem.
— Ela é nova, então provavelmente não está no sistema — Lizzie
murmura.
Não, não recebi a mensagem porque meu telefone estava flutuando na
água na terça-feira à noite.
— O que está acontecendo, pessoal? — Eu engasgo, aterrorizada agora.
Olho ao redor nervosamente.
— O playoff é hoje — explica Lizzie. — Entre Tommen e Royce.
Eu olhei fixamente de volta para ela.
— Huh?
— Pelo amor de Deus, Claire — Lizzie geme. — Eu não posso acreditar
que você não a avisou!
— Eu pensei que ela sabia! — Claire responde, com o rosto vermelho. —
Desculpe, Shan. Achei que você sabia que o jogo era hoje.
— Não, não, não — eu gaguejo. — A partida de Donegal não é até depois
das férias. — Que deveriam começar hoje. — Lembram?
— Royce College ganhou seus últimos três jogos — Lizzie me diz, com
um tom de simpatia.
Aparentemente, eu pareço tão perplexa quanto petrificada porque Lizzie
não lança olhares de simpatia por nada.
— Ganhar o último jogo deles colocou o Royce College em segundo lugar
na tabela com Tommen — ela apressa-se a explicar. — Royce e Tommen
estão tendo um playoff hoje para ver quem joga contra Levitt na final.
Aperto o nariz, lutando para compreender o que estava sendo dito.
— Mas deveríamos estar indo para Donegal depois da Páscoa!
— Não haverá uma viagem de Donegal se os meninos não ganharem hoje
— explica Claire.
— Por que vocês não me falaram sobre isso?
— Não sabíamos ao certo quando o jogo seria realizado.
— Por quê?
— Porque Royce está fazendo joguinho — Lizzie oferece. —
Dificultando as coisas para Tommen na esperança de que Johnny não esteja
disponível.
— O quê?
— Ele tem uma agenda — explica Claire. — Tudo o que ele faz
relacionado ao rúgbi tem que passar pela Academia. — Dando de ombros,
ela acrescenta: — Eu acho que eles estavam esperando para pegar Tommen
em uma encruzilhada.
— O que eles não conseguiram — Lizzie zomba. — Uma pena para eles.
— Oh, Deus — eu murmuro, nervosa. — Onde isso está acontecendo?
— Dublin — Claire faz uma careta.
— Não tenho permissão para ir a Dublin. — Meus olhos se arregalam. —
Se meu pai descobrir...
— É apenas uma viagem de um dia — ela me interrompe para dizer. —
Para cima e para baixo. Estaremos em casa às dez.
— Dez? — Eu choramingo. — Esta noite?
Oh Deus.
Eu estou tão morta.
— Gente, eu não posso ir — eu resmungo, entrando em pânico ao pensar
no que meu pai diria se eu chegasse em casa às 22h. — Eu não tenho
dinheiro e meus pais não sabem...
— Senhorita Lynch! — Sr. Mulcahy ruge, cortando Claire e chamando a
atenção de todos no ônibus para nós. — Sente-se!
— Vou me mexer — Lizzie intervém, levantando-se. — Shannon, você
pode sentar aqui…
— Sente-se, Srta. Young — Sr. Mulcahy estala — Senhorita Lynch é
quem está nos tirando do cronograma com suas poucas habilidades de
programação. Ela pode encontrar um lugar para si mesma.
— Está tudo bem — eu engasgo, mortificada. — Eu vou encontrar um
lugar.
— Hoje seria ótimo — ele resmunga.
Com a cabeça baixa e a voz impaciente do Sr. Mulcahy no meu ouvido,
tenho que fazer a temida caminhada da vergonha, arrastando os pés pelo
corredor central com a mochila nas costas, espiando de um lado para o outro
para ver se há um lugar livre.
Não há.
Acabo tendo que andar todo o caminho até a parte de trás do ônibus para
onde a equipe está ficando.
Quanto mais para trás no ônibus eu ando, mais alto a agitação cresce.
Eu quero me virar.
Eu quero descer desse ônibus e ir para casa.
Não, eu mentalmente fortaleço minha determinação. Não. Você não corre
mais.
Você está bem.
Você está bem.
Quem se importa se eles estão olhando para você.
Eles não te conhecem.
Apenas respire.
Finalmente, quando chego à parte de trás do ônibus e vejo a última fila,
minhas bochechas estão tão quentes que tenho certeza de que estou
irradiando calor.
Honestamente, se alguém pressionasse uma erupção no meu rosto, teria
chiado.
Toda a parte de trás está cheia de membros do time de rúgbi.
Ai Jesus.
Eu estou na zona de perigo.
Com o canto do olho, noto que o assento da janela à minha direita, bem na
frente da fileira de trás, está vago.
Caindo de alívio, aperto as alças da minha bolsa e viro meu corpo para
deslizar na fila, apenas para imediatamente parar no meu caminho quando
noto quem estava esparramado no assento do corredor.
Meu coração dispara no meu peito.
Johnny está com fones de ouvido, e a música que saí deles está tão alta
que eu posso ouvir claramente o som de Jay-Z cantando sobre ter noventa e
nove problemas.
Eu te entendo, Jay-Z...
Ele não está olhando para mim.
Ele não está olhando para ninguém.
Todo o seu foco está no iPod em suas mãos.
Espalhado em cima do assento ao lado dele – o único assento restante em
todo o ônibus – está uma pilha de malas de equipamentos, obviamente
pertencentes à equipe.
Oh Deus.
Limpando minha garganta, eu gesticulo para o assento.
Ele não olha para cima.
Seu cabelo perfeitamente penteado era a única parte de sua cabeça que eu
posso ver enquanto ele olha para o iPod em suas mãos.
O motor do ônibus ruge para a vida, vibrando sob meus pés, e uma
enorme quantidade de pânico se instala.
Estendi a mão e bati em seu ombro antes de rapidamente puxar minha
mão de volta.
A cabeça de Johnny se ergue e o lampejo de aborrecimento em suas
feições rapidamente se transforma em um olhar de surpresa quando ele me
olha duas vezes.
— Shannon?
— Eu preciso me sentar — eu me atrapalho nas palavras, mortificada
pelos sons de vaias e comentários insinuantes vindo do resto dos rapazes.
Nas últimas duas noites, eu tinha lutado com minhas emoções por ele, mal
dormindo e me afogando em pânico e dúvidas.
Agora que me deparo com a perspectiva inesperada de passar várias horas
ao lado de Johnny, eu posso me sentir perdendo por dentro.
Sério, meu estômago está revirando e eu estou bastante certa de que se eu
não me sentasse logo, eu ia vomitar.
Deus...
Com as sobrancelhas franzidas, Johnny continua a olhar para mim,
enquanto eu continuo a balbuciar.
— Não há mais nenhum lugar no ônibus e o motorista está partindo agora,
então eu preciso que você me deixe entrar... — Eu olho dele para a horda de
pessoas nos observando, e então para o assento vago — Você pode apenas
empurrar ou mover as malas para que eu possa sentar, por favor?
— Desculpe — Johnny diz em um tom de desculpas. Ele estende a mão e
arranca seus fones de ouvido. — Eu não escutei nada.
Uma enxurrada de risos irrompe dos meninos na fileira de trás.
Ficando escarlate, aponto para a pilha de malas no banco ao lado dele e
sussurro:
— Eu não tenho onde sentar.
— Merda, sim, desculpe — Johnny responde e rapidamente começa a
jogar as malas no chão aos meus pés. — Dê-me um segundo para limpar
isso.
— Pelo amor de Deus, Lynch, sente-se aí atrás! — O Sr. Mulcahy late da
frente do ônibus. — E aperte o cinto!
Envergonhada, olhei de volta para Claire pedindo ajuda, mas travo os
olhos em uma Bella enfurecida.
Ah, porra.
Ela vai te matar, Shannon.
Bella Wilkinson vai matar você.
Se seu pai não chegar primeiro...
Mortificada, dou um mergulho para o assento, tentando passar pelas
pernas excessivamente longas de Johnny, ao mesmo tempo em que ele se
estica para depositar outra bolsa.
O resultado final não foi bonito.
Envolveu muita agitação, membros emaranhados, e um dos meus joelhos
conectando com força total com o nariz dele e um coro de oooohhs e oh
merdas dos caras ao nosso redor.
— Jesus Cristo, porra — Johnny assobia. Inclinando-se contra o encosto
de cabeça, ele segura o rosto e rosna. — Puta merda, Shannon!
Eu bato a mão na minha boca, os olhos arregalados.
— Eu sinto muitíssimo!
— Vá em frente, menino Johnny! — um dos caras grita da fileira de trás.
— Faça algo!
— Vai se foder, Luke — Johnny retruca.
Ele toca seu nariz duas vezes, verificando se há sangue, e quando ele está
satisfeito que não há nenhum, ele solta o que soou como um rosnado
agravado.
— Eu realmente não queria fazer isso. — Eu engasgo, mortificada,
enquanto eu tento desesperadamente e não consigo me desembaraçar entre
suas coxas.
Não era uma tarefa fácil com minha mochila nas costas.
Eu tinha um dia inteiro de livros na minha bolsa, tendo sido incapaz de ir
ao meu armário antes de ser empurrada para este ônibus, e o peso amarrado
às minhas costas está me desequilibrando.
Segurando a parte de trás do encosto de cabeça de Johnny, levanto uma
perna e tentei passar por cima de sua perna, mas meu pé deve ter viajado
perigosamente perto de sua área porque Johnny estende a mão e agarra meu
tornozelo, segurando meu pé no lugar, fazendo com que meu saia suba.
— Cuidado! — ele late enquanto seus olhos brilham com preocupação. —
Pare de se mexer.
Eu não o culpo por parecer preocupado.
Eu era um fardo.
Balançando a cabeça, Johnny exala uma respiração pesada, solta meu
tornozelo, e então fica de pé. Foi um movimento terrível que resultou em
nossos corpos sendo esmagados sem um centímetro de espaço de sobra.
— Eu teria me movido, você sabe — explica Johnny, os olhos fixos em
mim. Estamos tão próximos que eu posso sentir o cheiro de sua colônia. —
Se você tivesse me dado uma meia chance.
Abro a boca para responder, mas tudo o que sai é uma lufada de ar.
É impossível formar palavras quando eu estou completamente enfiada
entre seu peito e o assento na frente, minha estúpida mochila tornando
impossível para mim escapar.
— Eles vão transar ou o quê? — alguém grita.
— Parece com isso, porra — outro ri.
— O que diabos está acontecendo aí atrás? — O Sr. Mulcahy ruge a
plenos pulmões. — Kavanagh! Lynch! Arrumem o banco e tomem seus
lugares!
Todos no ônibus explodem em assobios e risadas.
Enquanto isso, eu morro por dentro.
— Estamos fodidamente tentando! — Johnny rugiu de volta. — Dê-nos
um maldito minuto, sim?
— Quão difícil é sentar em uma maldita cadeira, Kavanagh? — o
professor exige.
— Muito, aparentemente — Johnny murmura baixinho antes de voltar sua
atenção para mim.
— Vá para a esquerda na três — ele instrui. — Um, dois...
Meus olhos se arregalam.
— Minha esquerda ou sua esquerda?
— Jesus. — Murmurando uma série de xingamentos baixinho, Johnny
resmunga: — Não importa, apenas venha aqui — e então começa a agarrar
minha cintura, puxar meu corpo para mais perto do dele – no entanto, isso
era possível – e depois nos virar de lado.
Ele solta minha cintura e eu praticamente caio no banco da janela, com o
rosto em chamas, o corpo tremendo.
Assim que estamos sentados, o ônibus começa a se mover sob nossos pés.
— Obrigada — eu resmungo, enquanto me pressiono no meu assento, os
ombros caindo.
— Sem problemas — Johnny murmura enquanto se recosta, tocando a
ponte de seu nariz. — Cristo, você é um pouco passiva, não é?
— Ah, sim — eu consigo responder, embora minha voz fosse ao mesmo
tempo ofegante e aguda. — Eu realmente sinto muito por ter dado uma
joelhada no seu nariz.
Deslizando minha bolsa dos meus ombros, eu a empurro para o chão e
caio para trás.
Johnny vira-se para olhar para mim, um pequeno sorriso puxando seus
lábios.
— Tem certeza que você não estava sendo astuta e tentando me fazer
pagar de volta pelo show?
— O que – não! — Eu recuo, balançando a cabeça. — Claro que não. Eu
realmente não queria...
— Relaxe, Shannon — ele ri. — Eu só estou brincando com você.
Sim, ele certamente está brincando comigo.
Minha capacidade de respirar por um fio.
Meu batimento cardíaco irregular também.
Johnny se mexe na cadeira então, obviamente tentando encontrar a
posição confortável que ele tinha antes que eu o perturbasse.
— Eu odeio viajar em ônibus — explica ele, quando finalmente se
acomoda.
Ele estica as pernas, dobrando a perna esquerda de tal forma que descansa
contra o meu joelho.
Quando ele não mexe a perna, optando por deixá-la ali, eu me forço a não
tremer.
Fica claro que ele não estava fazendo isso de propósito.
Ele tinha 1,90m e era grande demais para o pequeno espaço que lhe foi
alocado.
Ainda assim, porém, está muito perto.
Ele está muito perto.
Há muita proximidade.
— Você está do meu lado — eu sussurro, cutucando sua coxa com meu
joelho, rezando por um afastamento.
Não acontece.
Ele não move a perna.
Em vez disso, ele arqueia uma sobrancelha e diz:
— Você está no meu ônibus.
Minhas bochechas ficam vermelhas e brilhantes.
Abaixando a cabeça, concentro-me em puxar um fio invisível no meu
suéter da escola, o único suéter da escola atualmente à vista em todo o
ônibus.
O memorando sem uniforme foi outro que não recebi.
Deus...
— Eu estou brincando — diz Johnny, me tirando dos meus pensamentos.
— Eu sei — respondo, embora não soubesse.
Eu não consigo lê-lo.
Eu estou confusa.
Eu me sinto perturbada.
E eu quero sair desse ônibus.
— Então, sua turma foi escolhida para vir ao jogo? — ele pergunta,
oferecendo alguma conversa.
Eu balanço a cabeça e tento ignorar a sensação de sua perna na minha.
— Aparentemente.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Aparentemente?
Solto um suspiro pesado.
— Eu nem sabia sobre esse jogo estúpido até entrar na escola e ser jogada
neste ônibus.
— Jogo estúpido? — ele zomba. — Obrigado por isso.
— Desculpe.
— Não se preocupe com isso — ele responde. — Então, você realmente
não tinha ideia sobre o jogo?
Eu balanço minha cabeça.
— Nenhuma ideia.
— Merda — ele murmura. — Então, você não trouxe nada com você?
— Eu tenho todos os livros que preciso para todas as nove aulas de hoje.
— Eu ofereço fracamente, ombros caídos.
— Se ficar tarde, talvez tenhamos que ficar lá — afirma com uma
carranca.
— O quê? — Eu murmuro. — Por favor, não diga isso.
Johnny dá de ombros se desculpando.
— Acontece.
— Deus — eu respiro.
— Você quer correr para casa e pegar uma bolsa? — ele pergunta. — Eu
posso ter uma palavrinha com o treinador e pedir a ele para parar na sua
casa…
— Não — eu solto. — Deus, não, está tudo bem.
— Tem certeza?
Eu balanço a cabeça.
— Ouça, eu vou te levar para casa depois do jogo hoje à noite — Johnny
diz com uma carranca profunda. — Se é com isso que você está preocupada?
— Preocupada? — Eu balanço minha cabeça. — Eu não estou
preocupada.
— Você parece preocupada — ele diz baixinho, os olhos fixos nos meus.
— Uh, eu só estou... — Lutando contra uma onda de ansiedade, eu
pergunto: — Posso pegar seu telefone emprestado, por favor? —
Contorcendo-me desconfortavelmente, acrescento: — Preciso avisar meu
irmão que chegarei tarde em casa.
E então eu preciso pedir a Joey para fazer meus preparativos para o
funeral porque eu sou uma garota morta...
— Sim, não se preocupe — responde Johnny. Ele desliza a mão no bolso e
tira seu telefone de aparência elegante de lá antes de me entregar o
dispositivo preto brilhante.
— Um. — Olho para a tela, sem noção. — Você pode desbloqueá-lo para
mim?
— Merda, sim, desculpe — ele murmura quando estende a mão e
desbloqueia a tela.
Quando continuo a mexer em seu telefone, ele o tira da minha mão e me
instrui a discar o número.
— Obrigada — eu sussurro, pegando o telefone de volta dele.
Apertando o botão verde de chamada, seguro-o no ouvido e rezo para que
Joey atenda.
Vários toques depois e eu estou conectado à sua caixa postal.
— Ei, aqui é Joey. Você sabe o que fazer…
— Joe — eu falo, abaixando meu rosto. — Sou eu, Shannon. Estou a
caminho de Dublin com a escola. Eu não vou voltar até tarde da noite. Você
pode avisar a mãe? Ele está com meu telefone, então ligue para lá. Você não
vai conseguir falar comigo, mas estou bem, Joe. Não se preocupe com...
O telefone toca, avisando que eu não tenho mais tempo.
Encerrando a ligação, devolvo o telefone a Johnny e exalo trêmula.
— Obrigada.
— Quem está com seu telefone? — Johnny pergunta, guardando seu
telefone.
— Oh, uh, meu pai — eu murmuro.
— Por que?
Dou de ombros, mas não respondo.
— Isso é diferente — ele diz então.
Eu olho fixamente para ele.
— Huh?
Ele estende a mão e tocou minha bochecha.
— A maquiagem.
— Oh. — Eu abaixo meu rosto, sentindo-me incrivelmente grata pela
maleta de maquiagem que Claire tinha me dado na quarta-feira de manhã.
Era cem por cento necessária. — Eu sei.
Johnny se mexe na cadeira então, obviamente tentando ficar confortável.
Abaixando minha cabeça, concentro-me em puxar o mesmo fio invisível
no meu suéter da escola.
— Você está com raiva de mim?
Sua pergunta me pega e eu olho para os olhos azuis penetrantes.
— Com raiva de você?
Johnny assente lentamente.
— Pelo que eu fiz no refeitório?
Meu coração bate violentamente, enquanto eu avalio sua pergunta.
Eu estou envergonhada.
Eu estou insegura.
Eu estou com medo.
Mas eu não estou brava com ele.
— Não — eu finalmente respondo. — Eu não estou brava com você.
— Você não voltou — ele diz, a voz baixa.
Dou de ombros e abaixo o olhar.
— Estava doente.
— Você está melhor agora?
— Eu acho — eu respondo, a voz baixa.
— Foi a sua menstruação? — Johnny me surpreende perguntando
diretamente.
Deus.
— Uh... sim. — Com o rosto vermelho, me mexo desconfortavelmente.
— Mas eu estou bem agora.
— Não faça isso — Johnny diz com uma carranca.
— Não faça o quê?
— Ficar envergonhada. — Ele cutuca meu ombro com o dele. — É
natural, Shannon.
Oh Deus.
Eu estou além de envergonhada.
Nesta fase, eu estou oscilando para a humilhação.
— Ok? — Eu solto.
Ele balança a cabeça e sorri.
— Você ouviu a faixa nove?
Agora eu estou envergonhada novamente.
— Eu ouvi — eu sussurro.
— Você gostou?
— Hum. — Dou de ombros, sem saber o que dizer.
— O que há de errado?
— Eu não sei o que fazer com isso, na verdade?
Ele franze a testa, esperando por uma explicação.
Eu me mexo desconfortavelmente antes de dizer:
— Fuck her Gently12?
Johnny fica boquiaberto pra mim.
— O quê?
— Faixa nove do CD? — Dou de ombros. — Era Fuck Her Gently do
Tenacious D.
— Droga.
— Não, essa é do Blink 18213 e foi a faixa quatro do CD — respondo.
— Porra.
— Não — eu corrijo. — FACK14 do Eminem era a faixa dez.
— O que – não! — Johnny balança a cabeça e geme. — Jesus, o que mais
estava nele?
Eu penso sobre isso por um momento antes de dizer:
— Pretty Fly for a White Guy, The Ballad of Chasey Laine, hum, Stacey's
Mom, The Bad Touch, Pony, e algumas outras que eu não consigo lembrar.
Johnny geme novamente.
— Eu te dei o CD errado.
— Você deu?
Ele assente lentamente.
— Isso era de Gibsie.
— O que você pretendia me dar?
Johnny tem uma expressão contraída quando diz:
— Uma música do Maroon 5.
— Oh? — Eu olho para ele. — Qual delas?
Ele se mexe em desconforto.
— She Will Be Loved15.
Oh.
Uau.
Quando eu não respondo, porque francamente não posso, Johnny me faz
mais algumas perguntas aleatórias, claramente tentando iniciar uma
conversa.
Quando tudo que eu dou a ele em troca são algumas respostas
monossilábicas, ele se recosta em seu assento com o braço roçando no meu e
puxa seu iPod de volta.
Ele brinca com os botões na tela de aparência elegante, folheando música
após música, até finalmente se decidir por Dayghters do John Mayer.
— Só pedir se você quiser usar meu telefone de novo, ok? — ele oferece
antes de colocar os fones de ouvido em seus ouvidos. — Ou precisar de mais
alguma coisa.
Ele aumenta o volume em seu iPod tão alto que eu não preciso pegar meu
Discman para entretenimento, não quando eu posso ouvir claramente cada
palavra do meu assento.
Grata pelo alívio de sua intensidade, solto um suspiro trêmulo e tento
controlar meus nervos.
Não foi fácil, no entanto.
Não com a raiz de toda a minha ansiedade sentada ao meu lado.
E as palavras dessa música me atormentando.
Se ele soubesse o quão verdadeiras aquelas letras eram, penso comigo
mesma.
Apenas se...
58

ONDE ESTÁ MINHA CABEÇA?

JOHNNY

Eu apenas perguntei a ela sobre sua menstruação.


O que diabos há de errado comigo?
Você tinha mesmo que perguntar a uma garota sobre a menstruação dela?
Eu não tenho nenhuma porra de ideia.
Cristo, eu preciso que os médicos examinassem meu cérebro, bem como
minhas bolas, porque há algo solto chacoalhando lá em cima.
Shannon está sentada bem ao meu lado, seu cheiro está no meu nariz, seu
braço está tocando o meu, e eu mal consigo formar uma frase coerente.
Sério, isso não é normal.
Eu passei minha vida inteira em exibição, como um maldito pônei, e nada
nunca me intimidou.
Mas ela intimida.
Essa menina aqui intimida.
Talvez eu tenha deixado isso de lado por tanto tempo que eu recuperei
minha virgindade, porque eu certamente sinto como se tivesse voltado ao
status virginal.
Nenhum cara que se preze da minha idade, com meu tipo de experiência
de vida, estremece por causa de uma garota.
Porra, estremecer.
E, no entanto, aqui está eu, tentando fazer meu corpo se acalmar para que
eu possa pelo menos fingir que eu era meio normal e não assustá-la de volta
para a concha que ela gosta de se esconder dentro.
As perguntas que minha boca estava jorrando eram além de embaraçosas,
mas eu não consigo me controlar.
Ela está maquiada.
Um maldito rosto cheio de maquiagem que me dá vontade de chorar.
Ela é linda sem colocar nada em seu rosto, mas saber que ela está usando
ao redor de todos os meus companheiros de equipe me deixa desconfortável.
Eu sei que eles estão olhando para ela.
Na última meia hora sozinho, eu tive que dar a Luke o olhar mortal para
que ele parasse de olhar para ela de seu lugar do outro lado da fileira.
Estou tão fora de ordem que eu me encontro me mexendo no meu lugar
apenas para que eu possa bloqueá-la da visão dele, e de todos os outros.
Graças a Deus pelo fato da Sra. Moore, que foi forçada a ajudar o
treinador a acompanhar a viagem.
A orientadora de Tommen era louca, mas ela tem uma série de jogos e
exercícios de união de equipe planejados para a viagem de ônibus de três
horas e meia.
Ela até tem um saco de ovos de páscoa, porra, e pequenos gráficos de
prêmios laminados como prêmios.
Ela faz isso toda vez que se junta a nós em um jogo fora de casa, e
geralmente eu simplesmente ignoro a mulher até que ela desiste e me deixa
em paz.
Eu sempre me sento sozinho para que ela não possa me juntar com a
pessoa ao meu lado e me fazer realizar aqueles malditos exercícios de
sentimentos – e Deus me livre de tempo de reflexão – que ela tanto ama.
Mas hoje?
Hoje eu me vejo participando dos chatos quizzes e jogos de charadas, para
não mencionar, o maldito eu-espio-com-meus-olhinhos.
Eu sei que Gibsie, Hughie e Feely estão rindo para caramba de mim na
parte de trás do ônibus, eles sabem que eu nunca participo desses jogos, mas
eu não dou a mínima porque jogar esses jogos significa que Shannon tinha
que conversar comigo.
Toda vez que eu ganho, a garota ao meu lado sorri.
Toda vez que eu lhe entrego outro ovo de páscoa ou um pequeno prêmio
estúpido, ela se esgueira ainda mais para fora daquela concha em que está se
escondendo.
Isso vale as zombarias que eu vou ganhar da minha equipe.
Ela vale tudo.
59

SUSSURROS SILENCIADOS E VERDADEIRAS CORES

SHANNON

Sentar em um ônibus com Johnny Kavanagh era inesperadamente brilhante.


Quando a Sra. Moore, nossa excêntrica conselheira, chama a atenção de
todos e começa a distribuir quizzes e jogos para nós jogarmos, eu esperava
que Johnny a ignore – porque, convenhamos, ele era um maldito astro do
rúgbi.
Mas não foi isso que ele fez.
Não, Johnny jogou.
Como estávamos sentados juntos, formamos uma equipe para os jogos e
tarefas, e conseguimos trabalhar juntos em uma estranha espécie de
harmonia, completando nossos jogos e atividades com facilidade.
Os jogos que nos deram eram bobos e infantis, mas depois de cerca de
uma hora, me sinto completamente relaxada com ele.
Também tem o fato que meu parceiro parece ser esse gênio esquisito que,
quando cada par recebe um cubo mágico para resolver, completa o nosso
com facilidade em menos de dez minutos.
Foi realmente impressionante, considerando que nenhuma outra pessoa no
ônibus havia resolvido seu cubo.
Todos os testes que nos deram, ou tarefa competitiva contra as outras
duplas, nós ganhamos.
Bem, Johnny ganhou.
Mas ele era meu companheiro de equipe, então isso significa que eu
ganhei também.
Eu nunca tinha ganhado tantas competições sem sentido na minha vida –
ou ovos de Páscoa.
Eu nunca tinha ganhado nada antes de hoje, na verdade.
Tínhamos uma pilha de doze ovos de chocolate no chão porque o garoto
parece brilhar e se destacar em tudo o que ele coloca em mente.
Doze ovos.
Tadhg, Ollie e Sean ficarão emocionados.
Era tão divertido estar com Johnny, e fico tão imersa em jogar com ele,
que não tenho tempo para me preocupar.
Curiosa e intrigada, eu o estudo durante nossas sessões de reflexão – o que
era uma coisa que a Sra. Moore gosta de fazer – absorvendo cada pequeno
detalhe, tomando nota da variedade escolhida de músicas que ele ouve e a
maneira como ele cronometra sua ingestão de alimentos, e quantas vezes ele
batuca o dedo na coxa, o que era constantemente.
Ele parece frio, calmo e composto, mas se você olhasse debaixo da
superfície, poderia ver que ele era como um animal enjaulado dentro deste
ônibus.
Johnny era grande demais para o assento, atrofiado demais dentro das
fileiras minúsculas, largo demais para ser realmente confortável, e se rebela
se esparramando em qualquer oportunidade, independentemente de me tocar
ou não.
Eu tenho certeza de que ele está fazendo isso porque precisava esticar as
pernas longas.
Durante nossa primeira sessão de reflexão, quarenta minutos depois da
viagem, Johnny enfia a mão na bolsa e tira uma garrafa shaker de aparência
cara, cujo conteúdo ele engole em segundos.
Na sessão seguinte, consulta o relógio e come uma banana.
Na seguinte, ele faz outra checagem de tempo e devora uma barra de
proteína.
Eu estou muito consciente dele, mas era impossível não estar.
Quando o motorista do ônibus para em algum posto de gasolina, duas
horas depois, o resto da equipe e os alunos correm para usar o banheiro e
comprar suprimentos, mas Johnny não desce do ônibus.
— Você quer entrar na loja? — ele pergunta, oferecendo-se para se mover
para mim.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, tudo bem, eu não estou com fome.
E eu não tenho dinheiro.
— Tem certeza? — ele pergunta, abaixando-se de volta em seu assento, as
pernas roçando as minhas no processo. — Eu posso te dar algo se você…
— Não, não, eu não preciso de nada. — Eu rapidamente o corto. —
Obrigada por oferecer.
— Você tem certeza?
— Eu tenho.
Johnny então começa a procurar em sua bolsa interminável de
suprimentos e recupera um recipiente hermético e um garfo.
Observo com o canto do olho quando ele puxa a tampa, revelando uma
seleção de legumes cozidos no vapor, quatro peitos de frango simples e sem
pele e alguns sachês de pimenta-preta.
— Você vai esquentar isso? — Eu me ouço perguntar, minha boca
perguntando sem a permissão do meu cérebro.
— Por que? — Ele se vira para sorrir para mim. — Você tem um
microondas em sua bolsa?
— Não, mas eles podem ter um na loja — eu digo, me forçando a não
desviar o olhar. — Vai ter um gosto melhor se estiver quente.
— Nah, estou acostumado com isso — ele respondeu e então enfia uma
garfada na boca. — Além disso, estou comendo como combustível, não pelo
gosto.
— Isso soa terrível — eu solto.
Johnny sorri entre mordidas.
— É o que é.
— Você quer ir sentar com eles para o almoço? — Aponto a janela para
onde um grupo de companheiros de equipe de Johnny estão sentados ao
redor de uma mesa de piquenique do lado de fora da loja, mastigando e
conversando. — Eu não me importo — acrescento, não querendo que ele se
sinta como se tivesse que ficar aqui comigo quando seus amigos estão todos
juntos lá.
— Estou feliz aqui — ele rapidamente descarta.
— Você realmente nunca tem permissão para comer comida normal? —
Eu não posso deixar de perguntar, lembrando o que ele me disse naquele dia
no pub. — Eu sei que você está treinando... — Eu torço meu nariz com o
pensamento antes de acrescentar: — Mas você realmente nunca tem um dia
de folga?
Agora Johnny vira-se para olhar para mim.
— Você não considera frango e vegetais como comida normal?
— Bem, sim, claro que sim. — Murmurei, afastando meu desconforto. —
Mas todos os outros rapazes do seu time estão comendo rolinhos de filé de
frango e lanches. E você está comendo uma refeição pré-embalada.
— Sim, bem, todos os outros rapazes da equipe não têm uma nutricionista
malvada para enfrentar — explica ele entre mordidas. — Ou um caminhão
cheio de treinadores e técnicos respirando em seus pescoços.
Huh.
Eu penso sobre isso por um momento.
— Você se importa? — Eu pergunto então.
Ele sorri.
— Não, baby, eu não me importo.
Meu coração para no meu peito.
O rosto de Johnny cora e ele balança a cabeça.
— Quero dizer…
— Está tudo bem — eu sussurro. — Está bem.
Ele olha para mim com uma expressão de dor e então exala pesadamente.
Balançando a cabeça, ele coloca a lancheira de volta na mochila e esfrega
a testa.
Desesperada para quebrar a tensão pegajosa que nos envolve, eu solto:
— Ensine-me sobre rúgbi.
Johnny olha para mim com surpresa.
— Você quer que eu... — Sua voz some e ele arqueia uma sobrancelha. —
Por que?
— Estou sendo forçada a assistir vocês jogarem de novo — respondo. —
Eu deveria saber o que estou assistindo.
Dando de ombros, acrescento:
— Tipo, em que posição você joga no time?
— Eu jogo pela área do centro — explica ele, ainda olhando para mim
com uma expressão confusa. — Fora do centro é onde me sinto mais
confortável.
— Ok. — Eu balanço a cabeça, absorvendo a informação. — Então, você
vai nos scrums e outras coisas?
Johnny bufa.
— O que? — Eu atiro de volta defensivamente. — Eu só assisti a um de
seus jogos e as regras e posições ficaram apagdas da minha cabeça. Eu já te
disse que sou uma garota de GAA.
— Eu sei. — Rindo, ele ergue as mãos e diz: — Eu não estou julgando.
— Mas você está rindo — eu advirto.
Ele me encara por um longo momento antes de perguntar:
— Você realmente quer que eu te ensine?
Eu balanço a cabeça.
— Eu quero saber.
Johnny solta um suspiro e assente.
— Por que não — ele medita. — Vai passar o tempo antes da próxima
tarefa de merda que a maluca nos der.
— Eu acho que vamos meditar quando estivermos de volta na estrada —
eu rio.
— Pare. — Johnny estremece. — Você tem uma caneta e papel na sua
bolsa?
Eu faço uma careta para o seu pedido, mas não o questiono.
Em vez disso, coloco minha mão no bolso da frente da minha mochila,
pego um pequeno caderno e uma caneta e entrego a ele.
— Que porra é essa? — Johnny perguntou, olhando para a bolinha rosa e
fofa pendurada em cima da caneta de boas-vindas ao Tommen que Claire me
comprou. — Cristo. — Ele sacude a bola, fazendo-a brilhar, então volta seu
olhar acusador para mim. — Você poderia ser mais garota que isso?
— Você disse que não julgaria — eu murmuro, sentindo minhas
bochechas queimarem. — E eu sou uma garota.
— Certo. — Balançando a cabeça, ele volta sua atenção para o meu bloco
de notas. — Vamos fazer isso — ele anuncia, limpando a garganta. —
Prepare-se para estudar.
Ele me dá um sorriso indulgente antes de acrescentar:
— De novo.
Eu sorrio.
— Sou toda ouvidos.
Johnny abre meu caderno em uma página em branco e começa a esboçar
uma grade com quinze pequenas caixas, explicando enquanto desenha.
Dentro de cada caixa, ele rabisca palavras como Pilares, Hooker, Ala
Direita, Ala Esquerda, e então explica cada posição.
Ao lado de cada caixa, ele atribui um número.
Ao lado da caixa rotulada Centro de Fora, ele escreve 13.
— Centro de fora, é você, certo? — Eu pergunto. — Você é o 13?
Johnny assente.
— Azar para alguns — eu medito.
— Não para mim — ele retruca com um sorriso.
— E lá se vai sua oportunidade de fingir modéstia.
— Não há sentido — ele responde com um encolher de ombros
indiferente. — Eu sou o que sou e não peço desculpas por isso. — Ele bate
levemente a caneta no meu nariz. — Agora, concentre-se.
Então eu faço.
— Você tem os atacantes: números de 1 a 8. Então, esses são seus dois
adereços, dois flancos, um hooker, seus dois bloqueios e seu número 8.
Esses caras são geralmente os maiores e mais pesados jogadores — explica
ele enquanto rabisca pequenas notas.
A caligrafia de Johnny era surpreendentemente elegante para um cara:
pequena, bonita e fácil de ler.
Guardo esse fragmento de informação em minha mente por segurança.
— E então você tem a retaguarda — ele anuncia, chamando minha
atenção de volta para ele. — Números 9 a 15. Esse é o seu scrum-half, meio-
campo, dois centros, dois alas e seu zagueiro. Eles são os jogadores menores,
mais leves e geralmente mais rápidos do time. — Com um suspiro satisfeito,
ele acena com a mão na frente da página. — E aí está: as quinze posições
que compõem um time de rúgbi.
— Então, esses caras são os atacantes? — Eu perguntei, apontando para
os números de 1 a 8.
Johnny assente.
— Exatamente.
— Como no futebol?
— Não, não como no futebol — ele praticamente engasga com as
palavras, horrorizado. — Nada como futebol.
— Gaélico?
— Não — ele resmunga, beliscando a ponte de seu nariz.
— Hurling?
— O que – não! Pare de falar. — Aturdido, ele passa a mão pelo cabelo e
rosna. — Esqueça outros esportes por um tempo e apenas ouça.
— Você não foi um professor tão mandão na outra noite — eu resmungo.
— E você também não foi uma estudante tão exigente — ele retruca,
batendo a caneta contra o bloco de notas. — Agora, concentre-se.
Exalando uma respiração frustrada, ele diz:
— No rúgbi, a parte da defesa está posicionada atrás dos atacantes no
início do jogo. Essa é a norma. É assim que é jogado.
— Então, todos esses caras aqui formam o scrum? — Perguntei apontando
para os números de 1 a 8. — Os atacantes?
Franzindo a testa, acrescento:
— E eles se juntam, preparam e se envolvem com o outro time quando o
árbitro pede um gol?
— Sim — ele concorda, balançando a cabeça encorajadoramente.
— O que é se juntar? — Eu pergunto, pensando no que Claire, Helen e
Shelly me contaram sobre as garotas do sexto ano tendo uma competição
para amarrá-lo.
— A vinculação é quando sua primeira fila se conecta com a primeira fila
da oposição — explica Johnny.
— Como esmagar uns aos outros? — Eu pergunto. — Conectando à
força?
— É um pouco mais complicado e técnico do que isso, mas sim — ele
responde, torcendo o nariz com o pensamento. — Para o bem da nossa lição,
vamos chamar assim.
Eu faço uma careta com a ideia, não achando nem um pouco atraente,
antes de perguntar:
— E o scrum-half joga a bola no gol?
— Exatamente.
— E a bola tem que ser jogada para trás e atrás dos jogadores o tempo
todo? Um passe ou arremesso para a frente resulta em pênalti?
— Sim. — Seus olhos se iluminam. — Isso é muito bom, Shannon.
Eu fico rosa-brilhante com o elogio.
Encorajada, eu o escuto atentamente.
Rúgbi parece ser sua vida e eu quero aprender tudo sobre isso.
Cada pequenino, minúsculo e insignificante detalhe.
Era patético em todos os níveis, mas me consolo dizendo a mim mesma
que era uma maneira inofensiva de passar o tempo.
Johnny continua a falar, tentando me ensinar as regras do jogo e os papéis
de cada jogador individualmente, sem mencionar as diferentes jogadas e
formações.
Para ser honesta, há uma enorme quantidade de informações para
assimilar e muitas delas passam despercebidas, mas quando ele começa a
explicar sobre o papel de um centro, eu escuto atentamente.
— Então, em uma equipe, você tem dois centros: o centro interno e o
centro externo. Jogar no centro significa que meu trabalho é quebrar a linha
defensiva do adversário — explica. — Também temos que manter nossa
própria linha defensiva, ler o jogo do adversário, antecipar a direção da bola,
saber quando fazer um ataque defensivo e saber quando não fazer.
— Isso soa incrivelmente complicado — eu admito, me sentindo um
pouco sobrecarregada e impressionada.
— Não é uma posição fácil de ser responsável — concorda Johnny. —
Todo mundo fala sobre o meio-campo, mas os dois centros são fundamentais
para jogar. Acho que você pode dizer que eles são o meio-campo de um time
de rúgbi.
— Mas você disse que estava atrás.
— Eu estou atrás.
— Mas você acabou de dizer que era um meio-campo.
— Eu sou.
— Como?
— Jesus, por favor, pare de fazer perguntas e me ouça. — Johnny aperta a
ponta do nariz e murmura vários palavrões baixinho. — Estou explicando
isso o melhor que posso, Shannon.
— Desculpe — eu murmuro. — Não fique bravo comigo por isso.
— Eu não estou ficando bravo com você. Estou tentando... — Johnny para
e respira fundo antes de tentar novamente. — Além dos 9 e 10 que tendem a
controlar o jogo, a velocidade e a direção do jogo, os centros são os craques
— explica ele, com um tom mais suave agora. — Nós protegemos o meio-
campo, tomamos cuidado com o scrum-half, levamos uma surra dos
atacantes adversários que são muito maiores do que nós. Somos menores,
mais rápidos e mais ágeis do que os atacantes. Nós temos que estar em
ordem para jogar a bola rápida e se conectar e ajudar outros membros de
nossa equipe.
— Mas... — Eu levanto minha mão e espero que ele me desse o sinal
verde antes de continuar — Eu vi você jogar. Você é o maior cara do time.
Johnny balança a cabeça, os lábios se contraindo.
— Isso é rúgbi escolar. A maioria dos caras nas ligas escolares jogam por
diversão. No rúgbi profissional e competitivo, eu não sou o cara mais forte.
— Mas você é enorme! — eu exclamo.
— Eu sou alto — ele corrige antes de continuar rapidamente. — A
velocidade é vital para um centro. Eu preciso ser ágil em meus pés e acelerar
para caralho quando a oportunidade chega.
Eu penso que Johnny é enorme, mas o que eu sei?
Aparentemente, não muito.
— Segurar e defender, esse é o meu trabalho como camisa 13 — ele diz.
— Segurar a linha e defendê-la. Competir no chão ou derrubar um ruck. Isso
é comigo também — acrescenta. — 12 e 13 jogam perto um do outro.
— Quem é o seu 12 no time da escola?
Johnny inclina a cabeça para o grupo de meninos.
— Patrick Feely.
— Oh. — Eu balancei a cabeça. — E vocês são bons amigos, certo?
Ele assente.
— Sim, ele é um bom amigo. Estou constantemente cuidando de Feely e
vice-versa. Se ele tem a bola, eu preciso estar em suas costas, pronto para
receber o passe e capitalizar conectando com um dos alas.
— Alas?
— 11 e 14 — explica.
Eu balanço a cabeça.
— Ok. 11 e 14 são os alas.
— Exatamente. Agora, há uma confiança necessária entre seus dois
centros, 12 e 13 — explica. — Precisa-se ter uma fé completa um no outro,
conhecer seu parceiro como a palma da sua mão, ler suas jogadas, suas
linguagens corporais – inferno, você precisa ler seus pensamentos às vezes.
— Por quê?
— Porque se eu estou levando a oposição para fora, estou dependendo do
12 para controlar o interior e vice-versa. Se um de nós faz merda, o outro
sofre, resultando em sofrimento para todo o time. — Ele exala uma
respiração pesada e diz: — É uma parceria estreita que precisa de
comunicação transparente.
— Você não podia ter tornado a vida um pouco mais fácil para você,
podia? — Eu respirei, me sentindo intimidada. — Você tinha que escolher a
posição mais desafiadora da equipe.
— Cada posição é um desafio — ele diz. — Como os raios de uma roda,
se um cair, todos caímos.
— Você chuta?
Johnny deu de ombros.
— Eu posso, e faço quando preciso, como chutes em linha ou o grubber
estranho, mas não é a grande parte do meu jogo.
— Grubber?
— Um chute em campo para perseguir.
— Mas você não faz isso com frequência?
— Não com tanta frequência.
— Por que não?
— Porque geralmente estou ocupado competindo pela bola e defendendo
a linha. Eu preciso ser capaz de enfrentar a oposição tanto no ataque quanto
na defesa. Meu corpo precisa estar pronto para as pancadas que levo, e eu
levo pancadas para caralho, Shannon.
— Por que você faz isso?
— O que você quer dizer?
— Rúgbi — explico. — Por que você faz isso?
— Eu amo isso — ele responde simplesmente. — Tudo sobre isso. A
forma da bola. A fisicalidade do jogo. A adrenalina. A pressão. As
recompensas. Me move. Eu amo o jogo.
Eu te amo, eu quase deixo escapar, segurando as três palavras
aterrorizantes bem a tempo.
Oh meu Deus!
De onde veio isso?
Eu não amo Johnny.
Eu nem o conheço.
Não bem, pelo menos.
E claro, as partes que eu sei sobre ele eram partes boas, partes decentes,
partes bonitas, mas isso de forma alguma significa que eu sinto algo mais
profundo por Johnny do que uma atração física óbvia e uma paixão
adolescente.
É ridículo.
Eu sou ridícula.
Pare de mentir para si mesma, meu cérebro sibila, você o ama com cada
pedaço do seu coração fraturado...
Assustada e desorientada com o pensamento perturbador, levo alguns
momentos para perceber que ele ainda está falando comigo.
— ... você ainda tem uma tonelada de besteiras extras que eu não vou
entrar em detalhes e te aborrecer. — Eu consigo pegá-lo dizendo.
Ele está se mexendo de novo, as pernas esticadas em um ângulo estranho.
— Você está bem? — Eu pergunto.
— Sim. — Ele deixa cair a mão na coxa, mas rapidamente a puxa de
volta, lançando-me um olhar cauteloso. — Eu realmente odeio essas longas
viagens de ônibus — diz ele como explicação. — Estou muito apertado.
— Então, é por isso que você prefere sentar sozinho? — Eu ofereço,
dando-lhe uma saída. — Para o espaço para as pernas?
— Sim. — Johnny assente, os olhos brilhando de alívio. — Sendo do
tamanho que sou, é apenas mais fácil.
— Você se senta sozinho em suas aulas também?
Ele assente.
— Sim, eu prefiro assim.
— Por que?
— Porque eu sou largo — ele responde. — E essas mesas são estreitas
para caralho.
Ele é amplo.
Ele é enorme.
E bonito.
Johnny olha de lado para mim, sorrindo, e diz:
— Eu me sentaria com você, no entanto.
Meu coração salta no meu peito.
— Você sentaria?
Ele sorri.
— Você é tão pequena que nem conta.
Eu bufo uma respiração.
— Eu ainda conto.
— Você sabe o que quero dizer — ele ri baixinho. — Não há luta por
espaço para as pernas.
Ele olha para os meus pés, com o sorriso ainda firme, e brinca:
— Seus pés estão tocando o chão?
— Claro — eu confirmo, então rapidamente tateei o chão com os dedos
dos pés para ver se eu estou certa. — Viu? — Eu retruco, feliz por descobrir
que eu estou, de fato, certa. Tudo bem, meus dedos mal tocam o chão, mas
há um contato definitivo na ponta dos pés acontecendo. — Ha-ha.
— Ha-ha? — Johnny joga a cabeça para trás e ri. — Você tem quatro
anos?
— Diz o cara me zombando da minha altura — eu respondo, dando-lhe o
meu melhor olhar indignado.
— Só estou relatando fatos — ele responde inocentemente. Um sorriso
travesso se espalha por seu rosto antes de ele acrescentar: — Eu estava meio
que esperando que você trouxesse um assento de elevação no ônibus.
Contra o meu melhor julgamento, eu abro um sorriso com sua observação.
Havia algo em seu tom que me garante que esse não era um
comportamento vingativo.
Johnny está sendo brincalhão.
Era estranho, inesperado e surpreendentemente bem-vindo.
— Decidi deixar em casa — me impressiono retrucando. — Graças a
Deus eu deixei, porque mal há espaço suficiente aqui com o seu ego.
— Shannon Lynch sabe brincar. — Johnny se inclina para trás, soando e
parecendo relutantemente impressionado. — Quem teria adivinhado?
— Bem, obviamente não você. — Eu sorrio docemente para ele,
ignorando a agitação no meu estômago quando ele disse meu nome,
enquanto meu corpo relaxa lentamente, e meu senso de humor espia por
cima das minhas paredes protetoras, intrigada com a persuasão desse garoto.
— Bem, merda. — Johnny está sorrindo agora. — Você é uma coisinha
sarcástica quando quer ser, não é?
Sentindo uma súbita explosão de risada, dou de ombros e digo:
— Eu sei que você é, mas eu sou?
— Agora você está sendo uma brincalhona.
— Eu sei que você é, mas eu sou? — Eu repito, sorrindo.
— Paus e pedras vão quebrar meus ossos — ele brinca, jogando junto
agora. — Mas garotas nunca vão me machucar.
— São palavras que nunca vão me machucar — corrijo, me encontrando
espelhando seu sorriso. — Não meninas.
— Não no meu mundo — ele responde com uma risada baixa.
— Mentiroso, mentiroso — eu solto — Mentira tem perna curta.
Um bufo alto sai dele.
— Eu suponho que você vai me dar toda a baboseira de “cadela significa
cachorro, cachorro significa natureza, e natureza significa beleza” em
seguida? — ele ri.
— Isso depende — eu desafio, sentindo-me à vontade e no limite em
torno dele.
Eu estou começando a perceber que eu monto uma onda turbulenta de
emoções sempre que estou com ele.
Uma onda de emoções que me deixa doente de nervosa e tonta de
excitação ao mesmo tempo.
Não faz sentido para mim.
Mas seus sorrisos são viciantes.
Quanto mais ele oferece, mais eu anseio.
Johnny se inclina para mais perto, os olhos brilhando de excitação.
— Do quê?
— Sobre se você está ou não me chamando de cadela — eu completo.
— Eu nem sonharia com isso — Johnny responde em um tom sarcástico.
— Além disso, se eu fizesse, você provavelmente contaria à minha mãe
sobre mim.
— Você sabe que eu não queria fazer isso — eu protesto. — Eu nunca
quis colocar você em problemas com ninguém.
— Claro que sim — Johnny pressiona, me lançando uma piscadela
provocante. — Sempre que você está perto de mim, o problema vem
rapidamente. — Ele sorri, revelando as covinhas em ambas as bochechas. —
Se eu não soubesse melhor, eu pensaria que você gosta de me colocar no
auge da merda com as autoridades.
Eu não sou ingênua o suficiente para não reconhecer o fato de que essa
conversa está borrando a linha entre brincadeira e flerte.
Pelo menos é assim que me sinto.
Johnny provavelmente nem pensa assim.
Não importa, porém, porque quando ele me olha desse jeito, todo
sorridente e com os olhos interessados, eu não consigo parar de jogar junto.
Forço um rubor e respondo:
— Isso não é verdade.
— Oh não? — Ele me dá outra piscadela provocante antes de acrescentar:
— Agora, quem é a mentirosa com pernas curtas?
— Isso ainda seria você — eu respondi. — E eu não estou vestindo rosa.
Ele franze a testa em confusão.
— Huh?
— Rosa para fazer os meninos piscarem — eu esclareço, sentindo-me
orgulhosa por fazê-lo tropeçar neste joguinho que pareciamos estar jogando.
— Estou vestindo azul, não rosa. Não há necessidade de piscar para mim.
Com um sorriso diabólico gravado em seu rosto, Johnny se inclina em
meu ouvido e sussurra:
— Acho que posso fazer essas suas lindas bochechas ficarem rosadas.
Eu fico tom escarlate.
— O-o quê?
— Muito fácil — ele ri, completamente encantado consigo mesmo.
Bem ciente de que ele tem a vantagem, mas ficando aquém de um retorno
decente para uma avaliação infelizmente precisa, eu recorro a mostrar minha
língua para ele.
O olhar de Johnny cai para minha boca, seus olhos dançando com malícia
quando ele diz:
— Continue mostrando sua língua para mim e eu vou pegá-la.
Eu guardo minha língua de volta e fico boquiaberta para ele.
— Okay, certo.
— Experimente — ele se atreve, sorrindo. — Prossiga.
Meus olhos se arregalam e eu empurro para trás.
Eu não confio nele para não seguir com a ameaça.
Minha reação só faz Johnny rir ainda mais.
— Pare de me olhar assim — ele ordena, pressionando uma mão ao seu
lado para não rir.
— Assim como? Eu não estou fazendo nada! — Eu retruco, incapaz de
parar o sorriso se espalhando pelos meus lábios. — Você é quem está
ameaçando roubar minha língua.
— É aquele olhar nervoso e de olhos arregalados que você tem — explica
Johnny, ainda rindo para si mesmo. — Não se preocupe — ele medita,
sorrindo para mim. — Eu não vou roubar sua língua.
Eu finjo descrença.
— Eu não tenho certeza se acredito em você.
— Você acredita em mim — ele me assegura em um tom confiante.
— Ah, eu acredito? — Eu arqueio uma sobrancelha. — O que te dá tanta
certeza?
— Porque você confia em mim — ele responde com um sorriso enorme
de megawatt.
— Eu não confio em ninguém, Johnny — eu emendo baixinho, sentindo
meu humor despreocupado evaporar no ar, substituído pelo familiar peso do
desespero que paira sobre minha cabeça como uma nuvem de chuva
constante.
Johnny fica em silêncio por um longo momento, obviamente ponderando
minhas palavras.
— Por causa de algo que aconteceu? — ele finalmente pergunta. — No
seu passado?
— Por causa de um monte de coisas — é tudo que eu respondo, incapaz e
sem vontade de lhe dar mais.
— Coisas ruins? — ele pressiona, a voz baixa e sondando.
— Coisas pessoais — eu resmungo, não gostando do rumo súbito e sério
que essa conversa tomou. Limpo a garganta e acrescento: — Coisas
particulares.
— Coisas que tornam difícil confiar nas pessoas — Johnny finalmente
supõe, me observando atentamente.
— Não. — Balançando a cabeça, junto minhas mãos com força e exalo
uma respiração pesada. — Coisas que tornam impossível confiar nas
pessoas.
— Você quer falar sobre isso?
Eu balanço minha cabeça.
— Você sabe o que dizem sobre um problema compartilhado — ele
pressiona.
— Nem sempre — eu sussurro.
Ele me estuda por um longo momento, obviamente refletindo sobre
minhas palavras.
— Você quer saber o que eu acho? — ele finalmente pergunta.
— O que é?
— Eu acho que você não quer confiar em ninguém — afirma,
continuando a pressionar por mais. — Mas você confia em mim apesar
disso.
Abro a boca para negar, mas paro de repente, sem entender suas palavras.
Ele está certo?
Eu confio nele?
Talvez eu tenha confiado à minha maneira peculiar.
Quer dizer, eu confio que ele não tentaria intencionalmente me machucar
ou me sabotar.
Eu confio que ele é uma boa pessoa com um coração bondoso e uma linda
mente.
Mas todo o resto?
As partes assustadoras?
Os sentimentos aterrorizantes que ele provoca que eu não ouso ler por
medo do desconhecido?
Eu não tenho tanta certeza.
— Porque você pode, Shannon — a voz de Johnny atravessa meus
pensamentos. — Você pode confiar em mim. — Seu olhar está travado no
meu, seus olhos azuis incrivelmente intensos queimando buracos dentro de
mim. — Eu não vou te machucar.
— Eu não tenho medo de você — eu retruco defensivamente, me sentindo
desconcertada por sua avaliação assustadoramente precisa.
— Bom — Johnny responde calmamente, os olhos fixos nos meus. — Eu
não quero que você tenha.
— Bem, eu não tenho.
— Fico feliz.
Sentindo-me incrivelmente exposta e vulnerável, eu apenas sento lá,
incapaz de formar uma frase coerente, enquanto eu olho para o garoto que
está jogando meu coração pelos ares desde aquele primeiro dia.
Ele vai te decepcionar, a parte defensiva do meu cérebro argumenta. Ele
vai te machucar mais do que todos os outros.
— Eu não vou fazer isso — declara Johnny, aparentemente capaz de ler
meus pensamentos. — Tudo isso o que você está acostumada — ele continua
a dizer, os olhos fixos nos meus. — Ou com quem você está acostumada. O
que quer que seja responsável por esse olhar triste em seus olhos... — ele faz
uma pausa para passar o polegar sobre minha bochecha. — Esse não sou eu,
eu não sou assim, e eu não vou fazer isso com você.
— Você promete? — Eu sussurro, então rapidamente me repreendo.
Quando eu estou ansiosa, eu sempre peço por uma promessa.
Era um hábito terrível que eu tinha por passar anos da minha vida vivendo
em um estado constante de ansiedade incerta.
Normalmente, eu peço essas promessas ao meu irmão, e Joey me fornece
uma abundância delas para diminuir um pouco o estresse.
Seja meu irmão cumprindo essas promessas ou não, a pequena afirmação,
por mais impossível ou ridícula que seja, aplaca algo dentro de mim por um
tempo, tornando a vida um pouco mais suportável.
— Eu prometo — Johnny me surpreende ao dizer.
Naquele momento, e com essas duas pequenas palavras, Johnny
Kavanagh, sem saber, abre um buraco na parede ao redor do meu coração.
— Por favor, não faça isso — eu sussurro/imploro, enquanto tento
freneticamente consertar o buraco que ele havia deixado em mim com
facetas de informações como: não se apegue porque ele está indo embora
em breve, e experiências passadas como a noite que ele me machucou, ou
pior, na noite em que me rejeitou.
Johnny franze a testa.
— Fazer o quê?
— Promessas — eu suspiro, o coração batendo contra minhas costelas. —
Por favor, não.
— Eu acabei de fazer — ele me diz sem desculpas. — Botei para fora, e
eu não vou retirar.
Meu estômago revira.
Meu coração dispara.
Meu corpo inteiro treme.
Isso não é seguro, meu cérebro avisa.
Bloqueie ele.
Proteja-se.
Não o deixe entrar.
— Eu não volto atrás na minha palavra, Shannon — acrescenta Johnny. —
Então, você vai ter que lidar com isso.
Então ele abaixa sua atenção para o caderno ainda em suas mãos e começa
a rabiscar furiosamente algo dentro antes de devolvê-lo para mim um minuto
ou mais depois.
— O que você me diz? — ele pergunta com um sorriso.
Olho para a página e sufoco uma risada.
Em letras maiúsculas estavam as palavras: Shannon, como o rio. Por
favor, seja minha amiga?
Duas caixas desenhadas à mão foram esboçadas abaixo da escrita.
Uma caixa tem um sim sobre ela, e a outra tem um não.
A caixa ‘sim’ tem um rosto sorridente.
A caixa ‘não’ tem uma cara triste.
Na parte inferior da página estavam as palavras: Assinado por, ao lado de
uma linha ligeiramente torta com sua assinatura rabiscada nela. Abaixo da
linha com o nome de Johnny há uma linha vazia para o meu nome e ele data
o bilhete do dia 10 de janeiro de 2005, meu primeiro dia na Tommen.
Uma nota lateral afirma: PS: Shannon promete não processar Johnny
quando ele for contratado por ligas profissionais por quaisquer lesões que
ele possa ou não ter causado a ela na data mencionada acima. Este é um
aviso válido, eu não estou brincando, ocupa as últimas linhas da página.
Era ridículo, adorável, e eu não consigo tirar o sorriso estúpido do meu
rosto.
— Para ser justo, acho que somos amigos há um tempo — Johnny oferece
com um sorriso de menino. — Estou apenas colocando no papel para que
você possa parar de se abaixar e se esquivar de mim na escola.
— Eu não tenho me esquivado de você na escola — eu nego rapidamente,
rápido demais.
Johnny arqueia uma sobrancelha e o olhar que ele me dá grita mentira.
— Tudo bem, eu tenho evitado você na escola. — Eu admito, mortificada.
— Eu gosto de honestidade — ele encoraja com uma cadência provocante
em sua voz. — É a base de uma amizade sólida.
Eu rio e sorrio para a nota.
— E você realmente quer que eu assine isso?
— Exercitei muita imaginação para redigir isso — retruca Johnny. — Eu
ficaria insultado se você não assinasse.
Eu balanço minha cabeça e reprimo um sorriso.
— Você é ridículo.
— Aviso justo, no entanto, — ele ri. — Eu não tenho irmãs e nunca fui
amigo de uma garota antes, então se eu estragar tudo ou disser a coisa
errada, você precisará ter paciência comigo.
— Bem, eu tenho muitos irmãos, — respondo — então estou acostumada
com garotos dizendo a coisa errada.
Marcando a caixa “sim”, assino meu nome na página e, em seguida, rasgo
do meu caderno antes de devolvê-lo a Johnny.
O sorriso com que Johnny me recompensa era amplo, genuíno e
incrivelmente bonito.
Deus, ele parece uma pessoa diferente quando sorri.
Todo o seu rosto se transforma.
Seus olhos se iluminam.
As covinhas em suas bochechas são visíveis.
Ele é simplesmente lindo, e eu quase digo isso a ele.
Felizmente, eu me paro bem a tempo, reunindo invés disso:
— Você é brilhante.
As sobrancelhas de Johnny se erguem, uma expressão interrogativa,
enquanto eu afundo ainda mais no meu assento.
— Eu pareço brilhante? — ele pergunta enquanto me observa com
interesse, um pequeno sorriso ainda provoca seus lábios.
— Está em condição brilhante, — eu rapidamente corrijo e então limpo
minha garganta várias vezes, ganhando algum tempo para procurar por uma
mentira, antes de encontrar uma e acrescentar — considerando que você está
carregando um ferimento tão grave.
Um lampejo de pânico ilumina seus olhos por um breve momento antes
que as persianas se fechem.
E assim, a versão brincalhona e carinhosa de Johnny se foi.
— Não vá ai, Shannon — ele avisa, seus lábios sorridentes achatados em
uma linha fina, enquanto seu corpo inteiro fica visivelmente tenso. Ele olha
ao redor, notando a fila de estudantes espalhados no ônibus, antes de voltar
sua atenção para mim. — E especialmente não aqui.
Sua reação era como um tapa na cara.
— Você está bem? — Eu pergunto, odiando o quão insegura eu pareço. —
Você sabe que eu não quis dizer...
— Eu estou bem — ele interrompe. — E eu sei. Está tudo bem. Eu só... eu
não posso... por favor, esqueça.
Rejeição e a dispensa nunca foram sentimentos agradáveis de se suportar,
que era exatamente o que acontecia comigo sempre que eu tolamente me
abro para esse garoto.
Ele tem um talento especial para me iludir com palavras e sorrisos e falsas
esperanças, apenas para me esmagar com o silêncio.
Dói mais do que deveria.
Isso me esmaga.
Vários estudantes voltam para o ônibus então, e suas conversas
barulhentas distrai a nós dois.
— Já estava na hora, porra — Johnny murmura baixinho.
Afastando-me de sua súbita mudança de humor, concentro-me na fila de
alunos, todos empilhados de volta no ônibus.
Vários rapazes da equipe passam pelo nosso assento, parando para dar um
tapinha no ombro de Johnny enquanto andam.
Ele ignora todos eles, mantendo sua atenção colada na folha de papel em
suas mãos.
— Trocando cartas de amor? — Gibsie provoca enquanto desce para a
parte de trás do ônibus. — Que romântico!
— Vá se foder, Gibs — Johnny retruca, parecendo irritado, enquanto
dobra o bilhete e o enfia no bolso. — Eu não estou no clima para sua merda
hoje.
— Sim, bem, eu diria para você ir se foder de volta, mas eu posso ver que
você já resolveu isso — Gibsie responde com uma risada.
Seu comentário recebe muita atenção de outros alunos que decidem entrar
na onda e lançar comentários sugestivos.
— Viu isso, pessoal? Eles ficaram no ônibus quando estávamos lá dentro.
— Ele não está com fome para o que eles tinham na loja.
— Arrasou!
— Boa, menino Johnny!
— Isso aí, garoto!
Ansiosa, eu me estico para sinalizar Claire e Lizzie, rezando para que uma
delas troque de lugar comigo, mas rapidamente afundo no meu lugar quando
meus olhos pousaram em Ronan McGarry duas fileiras acima no lado oposto
do ônibus. Outra dúzia de filas está Bella.
Sentindo-me presa, eu olho para Johnny, que se virou em seu assento, e
está trocando insultos verbais com os caras na fileira atrás de nós.
— Ele marca no campo, ele marca no ônibus. Quantos gols você fez nela,
Johnny?
Eu queimo de vergonha e abaixo minha cabeça, aprendendo rapidamente
que passar qualquer quantidade de tempo com Johnny significa receber
muita atenção.
Atenção indesejada.
Eu não entendo direito o que foi dito em seguida, mas Johnny salta de seu
assento e caminha para a parte de trás do ônibus, então eu presumo que era
do tipo explícito.
Eu não ouso olhar.
Em vez disso, mantenho minha cabeça baixa e meu olhar fixo em minhas
mãos trêmulas.
— Que porra você disse sobre ela?
— Eu estava brincando, ah, porra, pare! Jesus, relaxe! Foi uma piada.
— Estou rindo, Robbie?
— Relaxa, Capitão.
— Eu estou rindo, seu idiota?
— Não. Cristo – ai! Pare.
— Você acha que ela está rindo?
— Não.
— Não — Johnny zomba. — Não me empurre de novo, seu pequeno
culchie idiota.
— Desculpa.
— Diga isso de novo.
— Desculpe, Johnny…
— Para ela! — Johnny ruge, alto o suficiente para chamar a atenção de
todo o ônibus. — Peça desculpas a ela. Agora.
— Desculpa, Shannon — um coro de vozes masculinas fala.
— Hum, tudo bem? — Eu falo de volta, porque o que mais eu posso
fazer?
— Malditos idiotas — Johnny rosna quando ele volta para seu assento ao
meu lado um minuto depois.
Cutucando minha perna com a dele, ele chama minha atenção de volta
para ele.
— Não se importe com eles — ele disse em um tom baixo. — Isso é sobre
mim, não você, ok?
Assentindo, solto um suspiro trêmulo e me viro para olhar pela janela.
Ele me machucou.
Ele me dispensou.
E então ele pulou e defendeu minha honra.
E agora?
Agora, eu estava tão confusa que machuca meu cérebro.
O ônibus ganha vida alguns minutos depois e estávamos de volta à
estrada.
A Sra. Moore chama a atenção de todos e anuncia um momento de
reflexão.
Nunca fiquei tão aliviada ao ouvir essas palavras.
Sentada em silêncio, tento trabalhar com minhas emoções desenfreadas.
— Shannon, me desculpe.
Assustada, eu me viro para olhar para Johnny, me perguntando se eu
estava ouvindo coisas, apenas para encontrá-lo olhando diretamente para
mim com uma expressão de expectativa.
— O quê?
— Eu sou um idiota. — Johnny balança a cabeça e exala uma respiração
frustrada. — Eu digo para você confiar em mim e então eu me viro e ajo
assim? — ele se apressa para explicar, apenas para tropeçar em seu próximo
obstáculo de palavras — Eu não deveria... é só que... eu normalmente
nunca... eu não... você é a única garota que eu... — Ele solta um suspiro e
gesticula entre nós antes de finalmente dizer: — Eu não sou bom nisso,
Shannon.
— Não é bom em quê? — Agora é a minha vez de parecer confusa. —
Conversar? Porque você não tem que falar sobre isso. Eu não pedi.
— Você não está me ouvindo — ele retruca, então balança a cabeça,
parecendo irritado consigo mesmo. — Não. Eu não estou dizendo isso
direito.
— Dizendo o que direito?
Johnny passa a mão frustrado pelo cabelo e solta um suspiro áspero.
— Eu exagerei — ele finalmente diz.
— Sim — eu respondo categoricamente. — Você é muito bom nisso.
Decepcionada, cruzo os braços sobre o peito e depois me viro para a
janela, mas ele agarra meu braço, me puxando de volta para encará-lo.
— Não faça isso — ele diz, a voz baixa e rouca, mantendo a mão no meu
braço.
Solto um suspiro trêmulo, forçando meu corpo a não pirar com o contato,
e pergunto:
— Fazer o quê?
— Me bloquear.
— O sujo falando do mal lavado — eu rebato, virando o rosto.
— Você não pode me ignorar — Johnny pressiona, tentando brincar. —
Temos um contrato de amizade.
Eu não estou rindo.
— Então rasgue isso — eu digo a ele, então puxo meu braço livre.
— Shannon, deixe-me explicar.
— Me deixe em paz.
— Shannon, vamos…
— Não.
— Olhe para mim.
Cruzo os braços sobre o peito.
— Não.
Johnny suspira.
— Shannon, por favor.
— Eu disse não! — Eu agarro. — Você fez isso comigo no seu carro e
está fazendo de novo agora. Isso é um padrão. Eu não gosto desse tipo de
padrão. Então, não!
Johnny solta um grunhido frustrado.
Segundos depois, sinto sua mão no meu pescoço quando ele se inclina
sobre o meu assento e puxa meu corpo de lado para encará-lo.
Atordoada, eu não posso fazer nada além de olhar para ele.
— O–o que você está fazendo?
Os olhos de Johnny estão selvagens e aquecidos, em pânico e
interessados, enquanto piscam dos meus olhos para os meus lábios.
Por um breve momento, penso que ele está prestes a me beijar.
Mas ele não o faz.
Claro que não.
Em vez disso, ele solta uma respiração irregular, segura o lado do meu
pescoço, trazendo-me para mais perto, e toca sua bochecha na minha.
Pressionando os lábios no meu ouvido, em uma voz pouco mais que um
sussurro, ele diz:
— Estou com medo, Shannon.
— Medo?
Eu o sinto assentir, sua bochecha barbuda esfregando contra a minha.
— Sobre o quê?
— Você.
— Eu? — Meu coração salta no meu peito. — Por quê?
— O que eu te disse naquela noite? — ele sussurra, gentilmente
segurando o lado do meu pescoço com sua mão enorme. — Toda essa merda
sobre minha cirurgia e quanta dor estou sentindo? Estou furioso comigo
mesmo por perder a cabeça e dizer algo que pode ser usado contra mim. Eu
te dei poder sobre mim e agora estou entrando em pânico, ok? Eu perdi a
calma com você no carro porque você atingiu um nervo. Porque você
apontou minhas besteiras. Porque você estava certa.
— Eu estava?
Ele assente e o movimento faz sua bochecha esfregar contra a minha.
— Eu não sou idiota — ele continua a sussurrar. — Eu sei o que estou
arriscando jogando, mas tenho tudo que planejei para os próximos quinze
meses, depositado no meu corpo. É a minha carreira — ele me diz, a voz
quase inaudível.
Suas palavras vem tão baixas e rápidas, misturadas com um sotaque de
Dublin, que era uma luta para acompanhá-las.
— É o meu futuro, e eu não posso suportar vê-lo escorregar pelos meus
dedos. Eu trabalhei muito duro para chegar a essa posição para deixar tudo
ir. Eles estão me fazendo fazer um teste, Shannon. Eu não contei a ninguém
sobre isso. E se não passar – se eles descobrirem que eu não estou cem por
cento – eles vão me tirar e eu vou ficar fora por meses, Shannon. Meses.
Pode não parecer um grande negócio para você, mas para mim, é a minha
vida. Vou perder minha chance com os sub-20 em junho. Vou perder tudo.
Vou perder tudo. Isso não pode acontecer.
Seus lábios roçam o lóbulo da minha orelha enquanto ele fala.
Não era um movimento intencional ou remotamente flerte, ele está
claramente agitado, mas eu ainda tenho que reprimir um calafrio com o
contato.
— E você sabe de tudo isso? Eu contando a você? Sabendo que isso pode
virar contra mim? — Johnny suspira pesadamente, seu hálito quente
abanando a curva do meu queixo. — Eu não faço isso, Shannon. Eu não fico
vulnerável a ninguém. Nunca. — Seus dedos tremem contra meu pescoço
enquanto ele fala. — E me assusta pra caralho que eu entreguei esse tipo de
poder para você.
— Então por que você fez isso? — Eu pergunto, enquanto um pequeno
arrepio rolou pela minha espinha.
Inclinando-me para trás para poder olhar para o rosto dele, pergunto:
— Por que você me contou?
Ele parece tão indefeso quando dá de ombros.
— Eu tenho me feito a mesma pergunta por um longo tempo e eu ainda
não tenho uma resposta, Shannon — ele resmunga, atormentados olhos azuis
fixos nos meus. — Eu não entendo o que está acontecendo entre nós.
Percebo que estou testemunhando um raro momento de vulnerabilidade de
Johnny, e meu coração mal consegue aguentar a pressão.
Vê-lo assim... tão exposto e desprotegido?
Faz algo comigo.
Me faz sentir protetora.
Como se eu precisasse protegê-lo ou algo assim, o que era insano porque
um olhar para o menino e era óbvio que ele não precisa da proteção de
ninguém.
Mas eu ainda sinto.
Eu o observo me observando por um longo momento, absorvendo sua
expressão derrotada e o jeito que ele olha para mim quase esperançoso,
como se eu tivesse as respostas para todas as suas perguntas.
Eu não tenho.
A coisa certa a fazer seria confortá-lo com palavras de segurança.
Eu não faço isso.
Em vez disso, sussurrei a minha verdade.
— Eu não quero que você jogue. — Jogando a cautela ao vento e me
movendo por instinto, eu coloco minhas pernas embaixo de mim, me
aproximo e pressiono meus lábios em seu ouvido. — Não hoje, e não
amanhã. Eu não quero que você vá lá fora e se coloque em perigo, Johnny.
Eu não quero que você se machuque. Eu quero que você pare. Eu quero que
você descanse seu corpo. Eu quero que você cuide de si mesmo.
— Shannon...
— Deixe-me terminar — eu sussurro.
Ele assente rigidamente.
Tremendo, estendo a mão e seguro sua mandíbula.
— Eu quis dizer isso quando eu disse a você que não contaria a ninguém.
Sinto seu corpo ficar rígido, mas não me afasto, a necessidade de
confortá-lo me empurrando para frente.
— Eu não concordo com suas escolhas — eu murmuro. — Mas eu
respeito que eles são suas para tomar.
Algo dentro desse menino me chama.
Eu não tinha ideia do que era essa coisa, mas me faz corajosa.
Isso me fez querer sair da minha zona de conforto e ajudá-lo – mesmo que
ajudá-lo significasse fazer a coisa errada.
— Eu posso guardar um segredo, Johnny Kavanagh — eu sussurro,
acariciando sua bochecha com meus dedos. — E eu prometo que vou manter
o seu.
Com a mão ainda segurando o lado do meu pescoço, Johnny exala um
suspiro pesado e deixa sua cabeça cair para frente, seu cabelo escovando
meu pescoço.
— Estou com tanta dor, Shannon — ele confessa, tom grosso e áspero. —
O tempo todo — ele acrescenta, cobrindo minha mão com a dele. — Dói
tanto que mal consigo dormir à noite. Não consigo me concentrar em merda
nenhuma na escola. Estou fodendo tudo em campo. No treinamento. Tudo
está indo para o inferno, e a única pessoa com quem posso falar sobre isso é
uma garota que eu mal conheço. — Exalando uma respiração pesada, ele me
puxa para mais perto. — Você é a única coisa que me distrai, a única coisa
em que posso me concentrar, e eu nem te conheço. Eu me sinto mais perto
de você do que dos meus próprios companheiros de equipe. Estou lhe
dizendo coisas que não diria aos meus melhores amigos. Quão fodido é isso?
— Não é fodido. — Meu coração bate tão forte contra minhas costelas
que torna minha respiração difícil e rápida. — Está tudo bem.
— Não está tudo bem — Johnny refuta, enterrando o rosto no meu
pescoço. — Nenhuma maldita coisa sobre o que está acontecendo na minha
vida agora está bem.
Em um momento, ele está com o rosto enterrado no meu pescoço e no
próximo ele se foi.
— Porra — Johnny rosna, afastando-se de mim como se eu o tivesse
escaldado. — Porra! — ele repete, passando a mão pelo cabelo. — Eu fiz
isso de novo. Eu fiz isso de novo, porra.
Atordoada, permaneço de joelhos, observando cada movimento dele.
— Existe alguma chance de você esquecer tudo o que eu disse? — ele
pergunta em um tom desanimado, enquanto olho para mim, os olhos
queimando com desespero.
Incapaz de formar palavras, eu apenas olho para ele, balançando a cabeça.
Eu não posso fingir.
Não mais.
— Não. — Johnny concorda tristemente e esfrega o rosto com a palma da
mão, — Acho que não.
O raciocínio por trás da minha próxima declaração foi baseado no instinto
humano básico ao invés do pensamento, encorajado pela necessidade
desesperada que eu tinha dentro do meu peito de impedir que esse menino se
machuque.
— Eu sofri bullying — eu solto, assustando nós dois com a admissão.
Eu quero deixá-lo à vontade, e a única maneira que eu consigo pensar em
fazer isso acontecer era dar a ele uma confissão profundamente privada
minha.
— Muito — eu esclareço, minha voz pouco mais do que um sussurro.
Os olhos de Johnny travam nos meus.
— Na sua antiga escola?
— Sim. — Eu balanço a cabeça, e então balanço minha cabeça. — Não
apenas na BCS. Acontecia em todos os lugares.
— Em todos os lugares? — Johnny repete lentamente, as sobrancelhas
franzidas profundamente.
— Em todos os lugares — eu confirmo, mordendo meu lábio para impedi-
lo de balançar.
— Por quanto tempo? — ele finalmente pergunta, movendo seu corpo de
volta para me encarar.
— Minha vida inteira — eu ofereço cansada, me forçando a manter
contato visual. — Não consigo me lembrar de uma época em que não fosse
odiada por todos.
— O que? — ele hesita, parecendo horrorizado. — Não! Shannon, você
não deveria estar pensando assim…
— É a verdade, Johnny — eu sou rápida em esclarecer. — Eu sou
desagradável. É um fato. Puro e simples.
— Isso é besteira — ele rosna. — Você não é desagradável.
— Não é besteira — eu rebato. — Eu sou desagradável.
— Eu gosto de você — Johnny retruca sem um pingo de hesitação.
Bem, eu te amo, Johnny Kavanagh!
Mesmo que você vá embora.
Mesmo que você não sinta o mesmo.
Mesmo que amar você vá partir meu coração.
Eu te amo com tudo que tenho.
E provavelmente sempre amarei.
— Bem, isso faz de você um dos poucos. — Eu exalo uma respiração
trêmula. — Eu era odiada enquanto crescia, Johnny! Seriamente odiada.
Ninguém queria brincar comigo. Ninguém me queria em seu time na aula de
educação física, ou para sentar comigo na aula, e eu nunca fui convidada
para as festas de aniversário das outras crianças. Eu era constantemente
importunada. Pelo meu cabelo. Pelo meu tamanho. Minhas roupas. Meus
livros escolares de segunda mão. O carro que minha família tinha. O lugar
de onde eu vinha. Por respirar. Não importava o que eu fizesse ou o quanto
eu tentasse me juntar com as outras crianças, elas sempre encontraram um
defeito em mim. — Eu balanço minha cabeça e suspiro cansada. — Eu tive
duas amigas toda a minha vida. É isso.
— Claire Biggs e a namorada do Pierce Ó Neill? — Johnny pergunta, a
voz grossa.
— Lizzie Young — eu confirmo com um aceno de cabeça. — Sim, elas
foram para a minha escola primária e, honestamente, se não fosse por elas,
eu estaria completamente sozinha.
— Mas elas se transferiram para Tommen depois da escola primária?
— Elas se transferiram.
— E você foi para a BCS?
— Sim — eu murmuro.
A perplexidade está gravada no rosto de Johnny, como se isso fosse difícil
para ele compreender.
E para um cara como ele, provavelmente era.
Ele não era de poucos amigos ou poucas fangirls adoradoras.
Ele é popular e uma grande estrela.
Ele não tem a menor ideia de como era estar do outro lado do espectro da
popularidade.
Onde eu vivo.
O tom de Johnny é cuidadoso quando ele pergunta:
— Foi o mesmo para você lá?
— Não. — Inalando uma respiração estabilizadora, continuo a me abrir
para o perigo. — Foi pior.
Johnny fica em silêncio por um longo momento antes de perguntar:
— Eles te machucaram lá?
Reprimindo um estremecimento, forço um pequeno aceno de cabeça.
— Shannon?
— Todos os dias — confesso.
— Cristo — ele praticamente rosna enquanto passa a mão pelo cabelo. —
Não é à toa que sua mãe perdeu a cabeça comigo naquele dia.
Eu suspiro pesadamente.
— Não foi a primeira ida da escola para o pronto-socorro.
— Jesus. — Ele solta um suspiro áspero e me puxa para mais perto. —
Quão ruim era?
Dou de ombros impotente, incapaz de pronunciar as palavras, ou talvez eu
não esteja disposta a verbalizar o trauma.
Eu quero que isso desapareça da minha memória.
Eu quero que essa parte da minha vida fosse apagada para sempre.
— Shannon? — Johnny pressiona, o tom dolorosamente suave, enquanto
ele me puxa tão perto que meus joelhos tocam sua coxa. Mantendo um braço
enganchado nas minhas costas, ele se inclina e repete sua pergunta anterior.
— Quão ruim era?
A ponto de eu querer morrer.
— Ruim o suficiente que minha mãe teve que se enterrar em dívidas para
me transferir para Tommen — eu admito, minha voz quase inaudível. — E
ruim o suficiente para eu deixá-la fazer isso — acrescento, forçando-me a
olhar para ele e odiando a expressão simpática que eu o encontro usando.
— Aquelas garotas? — ele pergunta então. — No bar?
Eu balanço a cabeça.
— Ciara foi a pior.
Seus olhos escurecem.
— A loira.
Eu balanço a cabeça fracamente.
— Eu não podia voltar para a BCS depois do Natal. Aconteceu muita
coisa e estava ficando fora de controle.
— Ficando fora de controle? — Johnny olha fixamente para mim. —
Certamente estava fora de controle há anos.
— Ah, eu sei — eu concordo. — Mas estava realmente começando a
afetar meu irmão e meus pais ficaram preocupados.
— Seu irmão — Johnny responde categoricamente.
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — Joey estava sendo constantemente
suspenso por brigar por mim. Ele já tinha quatro suspensões por minha causa
no Natal, e mamãe estava petrificada pela perspectiva dele ser expulso em
seu ano final. Papai estava furioso porque achava que o comportamento de
Joey custaria a ele seu lugar nas ligas menores. Foi um pesadelo total. —
Dando de ombros, solto um suspiro pesado e digo: — No final, mamãe
convenceu nosso pai de que seria melhor para Joey se eles me tirassem da
BCS.
— E você? — Johnny pergunta, olhos azuis fixos nos meus. — Foi
melhor para você?
— Foi a melhor decisão que já foi tomada por mim — respondo sem
hesitar.
— E Tommen? — Johnny pressiona, todo o seu foco em mim. — Como é
isso para você?
— Além do problema com Ronan, eu não tive nenhum problema em
Tommen — eu respondo honestamente, as bochechas queimando sob sua
observação afiada. — Ah, e Bella declarando guerra contra mim por falar
com você.
— E isto? — Ele arrastou os dedos pelo meu pescoço, olhos azuis me
queimando. — Eu preciso saber sobre isso.
Eu tremi em seu toque.
— Eu te disse.
— Não minta para mim — ele tenta me persuadir.
— Então não me obrigue — eu imploro, sabendo que estava entregando
tudo a ele – meu coração, meus segredos, minha confiança – e não conseguia
parar. — Por favor, não me pressione.
— Shannon... — ele começa e então para rapidamente. Ele me encara por
um longo momento antes de finalmente assentir. — Por enquanto.
Eu caio de alívio.
— Obrigada.
— Mas eu vou descobrir — ele sussurra. — Quer você me diga ou não. —
Ele acaricia minha bochecha com o polegar. — Eu vou descobrir e vou fazê-
los sofrer.
Meu coração para no meu peito.
Eu sabia disso.
Ele não iria deixar de lado
Eu pude ver em seus olhos naquela noite em seu quarto.
Johnny Kavanagh está empenhado em expor meus segredos.
— E Bella não vai fazer merda nenhuma — Johnny continua, tom áspero,
olhos aquecidos e intensos — Se ela vai para a guerra contra você, então ela
vai para a guerra comigo também.
— Eu não gosto de guerra ou confronto — eu respondo nervosamente,
entrando em pânico com o pensamento de sua ex aterrorizante e o dano que
ela é capaz de me causar. — Eu não quero que ela me odeie, Johnny. Eu não
fiz nada de errado.
— Ela está ameaçada por você — ele diz rispidamente. — A reação dela a
você é baseada no ciúme.
— Ameaçada por mim? — Eu balanço minha cabeça. — Por quê?
— Porque você é linda — ele afirma, fazendo com que minhas bochechas
fiquem rosadas.
Um menino nunca tinha me chamado de linda antes.
Não assim.
Não com tanta certeza.
Não com tanta sinceridade.
Johnny disse isso, porém, e meu coração está batendo no meu peito como
um pássaro doido enjaulado, lutando para escapar.
Ele limpa a garganta então, parecendo um pouco desconfortável, e por um
momento eu penso que ele está prestes a retirar o elogio, mas então ele
endurece suas feições, coloca uma mecha solta de cabelo atrás da minha
orelha e sussurra:
— Por dentro e por fora.
Essas palavras extras fazem uma mágica.
Essas palavras extras me arruínam.
Eu posso sentir meu corpo tremer quando viro meu olhar para o dele,
travando os olhos.
— Eu sou?
Ele assente lentamente.
— Inteiramente.
Oh, Deus.
Meu coração.
Eu não posso lidar com isso.
Eu não consigo lidar com ele...
Em pânico e incerta por meus sentimentos, eu rapidamente me apresso:
— Estamos em igualdade de condições agora. Eu conheço seus segredos e
agora você conhece os meus, então você pode ter certeza de que eu não vou
anunciar sua lesão para todo o mundo inteiro — eu digo a ele, me sentindo
vulnerável e exposta. — Não quando você tem meus segredos.
— Sim, acho que estamos — Johnny responde em um tom pensativo,
antes de recuar rapidamente. — Espere, você me disse tudo isso para que eu
tivesse vantagem sobre você?
Dou de ombros.
Johnny franze a testa.
— Por que você faria isso?
— Eu estava tentando fazer você se sentir seguro — eu solto.
— Você quer me fazer sentir seguro? — A expressão no rosto de Johnny é
uma que eu não consigo decifrar enquanto ele olha para mim com olhos
azuis cheios de tempestade. — Por quê?
— Porque você está apavorado por eu saber sobre sua, uh, sua... — Eu
aponto para sua virilha, bochechas em chamas, e então solto um suspiro —
Está claramente perturbando você, e eu queria fazer você se sentir melhor.
Eu queria te dar isso para que você não se sinta encurralado.
— Eu não entendo. — Johnny balança a cabeça em óbvia confusão. —
Quero dizer, estou feliz que você me disse, estou muito honrado, mas você
está me dizendo algo extremamente pessoal como isso, com a expectativa de
que eu usaria contra você e me sentiria bem com isso? O fato de você estar
bem com isso – que você pensou que eu ficaria bem com isso? — Ele solta
um suspiro. — Essa é a parte que eu não entendo.
— Talvez você estivesse certo sobre eu confiar em você apesar do meu
histórico — eu sussurro, sentindo uma enxurrada de calor e gelo colidindo
dentro do meu peito.
Suas sobrancelhas se erguem.
— Então, você confia em mim.
O encolher de ombros que dou a ele é indefeso, porque é exatamente
assim que me sinto neste momento: desarmada e totalmente desamparada.
— Palavras, Shannon — ele empurra, tom áspero. — Eu preciso das
palavras.
— O que você quer que eu diga? — Eu murmuro.
— Diga-me por que você confia em mim.
— Porque quando estou com você, eu me sinto...
— Você se sente?
— Segura, ok? — Eu solto. — Quando você está por perto, eu me sinto
segura.
— Porque você está — Johnny confirma em um tom áspero. — Eu já te
disse que não vou te machucar, e eu espero para caralho que eu tenha te
mostrado isso também.
Eu exalo uma respiração irregular e abaixo meu rosto, desesperada para
esconder o quão profundamente aquelas palavras me afetam.
— Shannon, olhe para mim.
Eu balanço minha cabeça, recusando seu pedido.
Eu não posso.
Era demais.
Ele era demais.
— Olhe para mim — ele repete, tom suave e persuasivo.
Quando não faço nenhum movimento para obedecer, Johnny levanta meu
queixo com a mão, forçando nossos olhares a se encontrarem, olhos azuis
queimando buracos nos meus.
— Você. Está. Segura — afirma, pronunciando cada palavra com lentidão
dolorosa, enquanto arrasta a ponta do polegar pelo meu queixo. — O que
aconteceu com você na sua antiga escola — ele diz, empurrando as barreiras
mais uma vez. — Não vai te seguir até Tommen.
Com os olhos azuis brilhando com sinceridade e determinação, ele
acrescenta:
— Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você aqui. — Ele
pressiona sua testa na minha e exala um suspiro de dor. — E se você apenas
me disser onde mais eu preciso para mantê-la segura, eu farei isso também.
— Porquê? — É uma palavra carregada com tantos pensamentos e noções
não ditas, mas era tudo que eu consigo pensar.
Johnny hesita por um momento e então diz:
— Porque eu me importo.
— Por quê?
— Eu só me importo. — Ele dá de ombros impotente. — Eu não posso
evitar.
— Foi você, não foi? — Eu sussurro. — Você é a razão pela qual ninguém
me causou problemas sobre o incidente da bola? Você está me protegendo?
Ele olha para mim com cautela, mas não responde.
— Vamos, Johnny — eu suspiro. — Eu não sou besta. Eu sei que você
teve algo a ver com isso. Eu fiquei semi nua na frente de um campo de
garotos. Eu vomitei do lado de fora do meu armário, pelo amor de Deus.
Fofocas como essas não apenas evaporam como ar.
— Eu disse a você naquele dia do lado de fora do escritório de Twomey
que não deixaria ninguém te machucar — ele finalmente admite.
Sim, ele falou.
Ele prometeu.
E ele manteve isso...
— Bem, obrigada por se importar — eu suspiro.
— Obrigado por valer a pena — Johnny responde, a mão ainda na minha
bochecha.
Tremendo com o contato, eu me inclino em seu toque, buscando mais.
Eu estou tentando tanto me controlar, mas era praticamente impossível
fazer isso quando ele está com as mãos no meu corpo.
Eu quero rastejar em seu colo e eu quero correr para longe dele de uma
vez.
Não faz sentido para mim.
Eu estou incrivelmente confusa.
Meus sentimentos me aterrorizam.
Suas palavras.
Os olhos dele.
Suas ações.
Ele me pegou de jeito.
Eu estou me perdendo.
— Como estão os pombinhos? — uma voz familiar ressoa perto do meu
ouvido.
Assustada, eu olho por cima do ombro de Johnny para encontrar um
Gibsie sorridente.
— Ei, pequena Shannon — Gibsie fala lentamente com uma piscadela
travessa. — Não se importe comigo. Eu só preciso pegar meu amigo
emprestado por um segundo.
Oh Deus.
Mortificada, eu rapidamente me arrasto para trás, quebrando o contato.
Johnny murmura uma série de palavrões ininteligíveis baixinho antes de
se virar.
— É melhor que isso seja importante para caralho — ele retruca, os
ombros tensos.
— Isso depende — Gibsie responde com indiferença.
— De quê? — Johnny late.
— Se você ainda quer ou não, que eu te lembre daquela coisa que você me
pediu para te lembrar?
— Coisa? — Johnny balança a cabeça. — Que coisa? Que porra você está
falando?
— Limites e detonar, meu amigo — Gibsie retruca com um olhar
significativo.
Eu não tenho ideia do que Gibsie estava se referindo, mas fica claro que
Johnny tem, porque ele exalou uma respiração alta, expelindo a palavra
“merda” com ela.
— De nada — Gibsie responde, dando um tapinha no ombro de Johnny
antes de voltar para o seu lugar.
— O que foi isso? — Pergunto quando estávamos relativamente sozinhos
novamente.
— Hum? — Johnny responde, obviamente distraído.
Ele continua se virando para olhar para seu amigo.
— Você está bem? — Eu sussurro.
— O quê? Sim, sim, estou ótimo. — Ele lança um olhar rápido para mim
e então se vira para falar outra coisa para Gibsie.
Eu não consigo entender o que eles estão dizendo um para o outro.
Eles parecem estar se comunicando através da linguagem corporal,
embora fosse bastante fácil descobrir o que Johnny queria dizer quando dá o
dedo do meio a Gibsie.
Balançando a cabeça, desisto de tentar decifrar o código de sua conversa
silenciosa e volto minha atenção para o iPod de Johnny – algo que ele tinha
me dado para ouvir durante uma de nossas pausas para reflexão mais cedo.
Colocando os fones de ouvido em meus ouvidos, eu cuidadosamente
percorro suas playlists e quase tenho um ataque cardíaco quando meus olhos
pousam em uma chamada Músicas para Shannon.
Com meu coração acelerado, dou uma olhada rápida em Johnny, mas ele
ainda está totalmente imerso em uma linguagem de sinais vulgares com
Gibsie.
Exalando uma pequena lufada de ar dos meus pulmões, pressiono a
playlist e rapidamente percorro a lista de músicas.
Coldplay – Yellow
Guns N' Roses – Sweet Child O' Mine
Bonecas Goo Goo – Íris
The Fureys – When You Were Sweet Sixteen
Howie Day – Colide
Declan Ó Rourke – Whatever Else Happens
The Offspring – Want You Bad
Busted – Fall At Your Feet
Aerosmith – Crazy
Counting Crows – Colorblind
David Gray - This Year’s Love
Bon Jovi – In These Arms
Westlife – World of Our Own
Eagle-Eye Cherry – Save Tonight
Metallica – Tuesday’s Gone
Snow Patrol – Run
The Verve - Lucky Man
HIM – Wicked Game
The La's – There She Goes
Eram músicas de amor.
Todas elas eram músicas de amor.
Salvas em uma playlist com meu nome.
Por quê?
Por que ele faria isso?
Ele...?
Não. Não, ele não gostava.
Claro que não.
Então por que...
— Shannon, podemos conversar? — A voz de Johnny penetra em meus
pensamentos, me assustando e me fazendo largar seu iPod.
Felizmente, cai no meu colo e não no chão do ônibus.
Eu me viro para encará-lo, sentindo meu coração bater violentamente no
meu peito.
— Conversar?
— Sim. — Johnny assente lentamente, olhos azuis-escuros e quentes. —
Eu preciso falar com você sobre uma coisa.
— Uh, sim, ok... — Limpando as palmas das mãos na minha saia, eu
exalo uma respiração instável antes de acrescentar: — O que você quer
falar?
— Aqui não — Johnny diz, olhando ao redor do ônibus. — Hoje à noite
— ele acrescenta, os olhos fixos nos meus novamente. — Depois da partida.
Vou te levar para casa e podemos conversar no meu carro?
— Uh... — Eu mordo meu lábio, me sentindo em pânico com o
pensamento de ter que esperar tanto tempo. — Se é o que você quer?
— Provavelmente é melhor — ele responde rispidamente.
Oh Deus.
Era ruim?
Ele vai me dizer algo terrível?
— Não fique tão assustada — Johnny diz, me distraindo mais uma vez
dos meus pensamentos. — Eu não vou te machucar. — Estendendo a mão,
ele inclina meu queixo para cima com as costas da mão e me dá um pequeno
sorriso. — Eu prometo.
Eu estou tão perdida nesse garoto que mal consigo respirar.
— Tudo bem, pessoal, o tempo de reflexão acabou — a Sra. Moore grita,
batendo palmas para chamar a atenção de todos. — Só temos quarenta
minutos antes de chegarmos a Dublin, então proponho outro quiz.
— Pelo amor de Deus — Johnny geme, soltando a mão. — Não outro
maldito quiz.
Eu rio de sua reação.
— O que é engraçado? — ele pergunta, sorrindo para mim. — Não me
diga que você realmente gosta dessas coisas?
Eu gosto de estar com você.
— Estou no time vencedor — eu provoco, cutucando seu ombro com o
meu. — Claro, eu estou gostando disso.
— Verdade — Johnny concorda com um sorriso torto. Tirando da mochila
a pilha de prêmios que havíamos coletado ao longo das tarefas do dia, ele os
coloca no meu colo e diz: — Nós formamos um time muito bom, Shannon
como o rio.
Sim.
Sim, nós formamos.
Espero que todos desçam do ônibus antes de deslizar para fora do meu
assento.
— Boa sorte hoje — eu digo enquanto pairo no corredor, observando
Johnny enquanto ele vasculha as bolsas descartadas na parte de trás do
ônibus, claramente procurando as suas.
— Huh? — Johnny responde, obviamente distraído, enquanto murmura
algo baixinho sobre bastardos bagunceiros.
Ele parece estressado.
Quanto mais nos aproximávamos do Royce College, mais agitado ele
ficava.
Agora que estávamos aqui, Johnny estava vibrando de tensão.
Eu entendo o porquê.
Ele deveria ter ido para a escola daqui, o que significa que ele
provavelmente estaria jogando contra seus velhos amigos e companheiros de
equipe.
Era muita pressão.
E ele está escondendo uma lesão.
— A partida — eu esclareço. — Eu espero que você ganhe. — Dou-lhe
um pequeno aceno antes de correr pelo corredor em direção à saída,
desesperada para colocar algum espaço muito necessário entre Johnny
Kavanagh e meu coração.
— Shannon? — Johnny me chama.
Parando na porta, eu me viro para olhar para ele.
— Sim?
Seus olhos azuis queimam buracos dentro de mim quando ele diz:
— Obrigado.
— Pelo que? — Eu sussurro.
Johnny sorri.
— Por não ser nada como o resto deles.
— Ah, ok?
— Vejo você daqui a pouco, ok?
Eu balanço a cabeça.
— Tchau Johnny.
Me sentindo fora de ordem, saio correndo do ônibus, onde sou
imediatamente interceptada por Shelly e Helen.
Enganchando seus braços nos meus, elas me levam para longe do ônibus.
— Garota, você tem algumas explicações a dar — Shelly diz
animadamente.
— E nós queremos todos os detalhes — Helen concorda com um aceno de
cabeça.
— Detalhes? — Eu pergunto, sentindo-me corada pela emboscada delas.
— Sobre o que?
— Nem pense nisso — alerta Helen. — Você acabou de passar três horas
perto de Johnny.
— Eu não tive escolha — respondo. — O assento ao lado dele era o único
que restava.
— O que vocês falaram sobre? — Shelly pergunta, os olhos dançando
com entusiasmo. — O que ele disse para você?
— Não sei. — Dou de ombros, me sentindo estranha. — Apenas coisas.
— Apenas coisas? — Helen gagueja.
— Shannon, estou tentando viver indiretamente através de você aqui.
Você tem que me dar mais do que “apenas coisas’ — Shelly bufa.
— Afastem-se, abutres — Lizzie late. — Vão e encontre outra carcaça
para brigar.
Ela está encostada na parte de trás do ônibus, com um menino enorme
parado na frente dela.
Eu imediatamente o reconheço como Pierce.
Eu decido que eles tem que voltar a ficarem juntos quando eu vejo as
mãos dela na cintura dele, e o jeito que ele está acariciando seu pescoço.
Claire, Gibsie, Hughie, treinador Mulcahy e Patrick Feely estão por perto,
embora não estivessem prestando atenção em nós.
Na verdade, todos parecem estar em um debate sobre alguma coisa
enquanto circulam o treinador Mulcahy.
— Lizzie! — Shelly choraminga. — Eu só estava perguntando.
— Se você quer saber sobre o que Johnny Kavanagh fala, então vá e
pergunte a Johnny Kavanagh — Lizzie retruca. — Não Shannon. —
Voltando o olhar para mim, ela disse: — Vamos, Shan. Estamos aqui.
Grata por sua interrupção, eu deslizo para fora do meio das fofoqueiras,
dou-lhes um aceno rápido, ignoro suas expressões desapontadas, e então
corro para minhas amigas.
Quanto mais perto eu chego dos meus amigos, mais alta a discussão entre
os outros parecia ficar.
— Ele está jogando, treinador — Hughie está rosnando. — Eles não
podem fazer isso.
— Eu concordo, Biggs — o treinador responde com um telefone no
ouvido. — Essa porcaria não vai funcionar – Olá, sim, eu gostaria de falar
com o diretor. — Com o celular preso ao ouvido, o treinador sai correndo,
gritando ordens ao telefone.
— Que bando de idiotas — Gibsie diz com raiva.
— Maricas — Hughie concorda.
— Para ser justo, — reflete Patrick Feely, — o time parece disposto a
jogar. É o técnico deles que está com problema.
— Problema? — Eu pergunto, me aproximando de Claire porque a boca
de Lizzie está sendo ocupada pela língua de Pierce. — O que está
acontecendo? A partida foi cancelada?
— O treinador de Royce está se recusando a permitir que seu time jogue
se o treinador jogar com Johnny — Claire explica, parecendo tão furiosa
quanto todos os outros.
— O que? — Eu fico boquiaberta para ela. — Por quê?
— Porque eles são um bando de covardes que estão com muito medo de
jogar contra ele? — Gibsie oferece, tom misturado com sarcasmo. —
Idiotas.
— Então, o que, eles estão tentando puni-lo por ser um bom jogador? —
Eu pergunto, francamente chocada.
— Acho que tem mais a ver com ser um jogador com quinze
internacionalizações pela Irlanda, Shan — responde Hughie.
— Internacionalizações para a Irlanda?
— A quantidade de vezes que ele jogou por seu país — explica
rapidamente.
— E daí? — Eu atirei de volta defensivamente. — Ele ganhou cada uma
delas. Elas. não foram entregues a ele.
— Eu não estou discutindo com você — Hughie responde, rindo. — Isso
apenas intimida alguns treinadores.
— O que está acontecendo? — A voz de Johnny enche meus ouvidos,
momentos antes de ele ficar ao meu lado.
Seu braço roça no meu e mesmo havendo várias camadas de roupas entre
nós, minha pele ainda arrepia.
— A merda de sempre — Gibsie o informou. — Eles não vão jogar se
você estiver jogando.
Johnny dá de ombros com indiferença.
— Ah, bem.
Eu me viro para olhar para ele, atordoada por sua falta de resposta.
— Isso acontece muito — Johnny, notando minha expressão, explica
rapidamente: — O treinador vai resolver isso, — antes de se virar para os
meninos e dizer: — reúnam os rapazes no vestiário e começaremos os
aquecimentos.
Assentindo, tanto Hughie quanto o outro garoto correm na direção da sede
do clube, chamando os companheiros de equipe enquanto vão.
— Johnny, cara, isso pode levar horas para esclarecer — Gibsie geme.
Com todos os vestígios de sua vulnerabilidade anterior há muito
desaparecidos, Johnny diz:
— Então teremos horas de prática. Agora mexa sua bunda.
— Faça uma oração por mim — diz Gibsie a Claire. Ele então mergulha
em direção a ela e dá um beijo alto e carinhoso em sua bochecha antes de
correr para longe.
— Ugh, Geraldo! — Claire grita a ele, enxugando a bochecha corada com
a manga.
— Pierce — Johnny retruca, voltando sua atenção para o garoto de cabeça
raspada com a língua na garganta da minha amiga. — Saia da boca da garota
e entre em campo.
Murmurando baixinho algo como “capitão empata-foda”, Pierce dá um
beijo final nos lábios de Lizzie antes de correr em direção ao time.
Johnny inclina a cabeça para mim.
— Você está bem?
Eu balanço a cabeça.
Ele estende a mão e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha,
em seguida, sussurra:
— Te vejo mais tarde — e então se vira e corre para se juntar a seus
companheiros de equipe.
Uau, penso comigo mesma, determinação corre nas veias desse garoto
tão potente quanto o terror que corre nas minhas.
— Johnny? — Chamo por ele, incapaz de me conter.
Quando ele para de correr e se vira para mim, corro para fechar o espaço
entre nós, não parando até estar bem na frente dele.
— O que há de errado? — ele pergunta, franzindo a testa para mim em
confusão.
— Nada, eu só... — Balançando a cabeça, estendo a mão e seguro seu
pescoço, puxando seu rosto para o meu. Ficando na ponta dos pés, eu
sussurro em seu ouvido: — Eu preciso que você fique seguro lá fora, ok? —
Resistindo à vontade de me dobrar nele, solto seu pescoço e dou um passo
para trás. — Tome cuidado. — Dou outro passo para trás, os olhos fixos nos
dele. — Ok?
Johnny assente lentamente, olhos azuis aquecidos.
— Ok.
— Tchau, Johnny — eu sussurro e então me viro.
Johnny pega minha mão e me puxa de volta para encará-lo.
— Você vai voltar para casa comigo esta noite? — ele pergunta
rispidamente, os olhos queimando com calor, enquanto ele brinca com
aquele fio de cabelo rebelde meu. — Você ainda quer fazer isso?
— Sim — eu sussurro, me aproximando, incapaz de resistir à vontade de
amarrar meus dedos em sua camisa. — Eu quero.
— Shannon, eu estou tão... — Ele exala uma respiração afiada e balança a
cabeça. — Esta noite. — Sua mão se move do meu cabelo para a minha
bochecha. — Vamos conversar hoje à noite.
— Ok, Johnny — eu suspiro, inclinando minha bochecha em sua grande
palma.
Sem outra palavra, ele se inclina e dá um beijo demorado na minha testa.
E então ele se vira e vai embora.
Cambaleando, eu o observo até que ele desaparece na sede do clube e
então volto para minhas amigas.
Confusa é um eufemismo para como eu estou me sentindo.
A profundidade dos meus sentimentos por ele não é saudável.
A adoração, a luxúria, a paixão franca que eu tenho por ele... é
insanidade.
Eu nunca senti tanto.
Eu nunca me senti tão consumida.
60

ESTRANGULAMENTO DO CUPIDO

JOHNNY

Se os sentimentos fossem objetos, então eu estou oscilando à beira de um


grande precipício, e se as garotas fossem armas, então Shannon Lynch é a
maior arma de destruição em massa que meu coração já foi exposto.
Porque eu estou fodido.
Eu não me incomodo mais em negar.
Não há sentido.
Eu nunca senti tanto por outra pessoa em toda a minha vida.
Leva cada grama de autocontrole que eu tenho dentro do meu corpo para
me afastar dela lá atrás.
Especialmente quando tudo dentro de mim exigia que eu a arranque do
mundo e a mantenha só para mim.
“Eu preciso que você fique seguro lá fora, ok?”
Sim, nesta fase, era seguro dizer que eu estou completamente fodido
quando se trata daquela garota.
Eu não posso mais fazer isso.
Eu não posso lutar contra meus sentimentos.
Assim como aquele jogo no PlayStation, ela está chutando minha bunda.
Quando ela me contou sobre o bullying, algo que eu infelizmente já sabia,
senti algo estalar dentro de mim.
Senti a última parte da minha determinação evaporando.
A vulnerabilidade que eu tinha visto em seus olhos quando ela expôs seus
segredos para meu benefício foi meu ponto de ruptura.
As garotas que eu conheço não fazem isso.
Elas não agem como Shannon.
Se Gibsie não tivesse vindo, eu a teria beijado.
Eu sei que teria.
Eu já sei como eram aqueles lábios.
Eu quero tanto prová-los novamente.
Eu voltaria a prová-los.
Eu estou faminto por ela e tudo o que ela é.
Cada parte dela.
Dentro e fora.
Eu quero lutar todas as suas batalhas. Eu quero dar a ela todos os seus
sorrisos e fazê-la rir e afastá-la do resto do mundo e mantê-la só para mim.
Eu só quero ela.
Para manter comigo.
Eu sei que é incrivelmente egoísta da minha parte, e sei que
provavelmente acabarei fodendo tudo e partindo o coração dela, mas o
problema é que meu coração também está envolvido.
Eu preciso falar com ela esta noite porque eu preciso colocar isso lá fora.
Eu não posso passar mais um dia sem tirar isso do meu peito.
Meses querendo, desejando e ansiando por ela me deixaram em um ponto
onde eu não consigo mais enxergar direito.
Porque eu desenvolvi sentimentos por Shannon.
Enormes sentimentos de merda.
Permanentes.
Eu sei que sou velho demais para ela.
Eu sei que ela é muito doce e pura para ser arrastada para os holofotes que
vem com a minha vida.
E eu sei que ela está muito quebrada para um cara como eu se envolver.
Mas eu já sinto como se estivesse me afogando com ela.
Isso é o quão consumido eu estou por essa garota.
Isso é o quanto eu amo ela.
Porra.
61

RESPIRE, SHANNON, APENAS RESPIRE

SHANNON

Todos do Royce College são péssimos.


Sério, eles são patéticos.
O jogo foi adiado por mais de duas horas porque os treinadores da Royce
deram um chilique muito público sobre Johnny jogar.
Foi embaraçoso.
Duas horas de pé na chuva, enquanto os treinadores da Royce tentaram
tudo ao seu alcance para tirar Johnny do jogo.
Eles estão reclamando e delirando sobre como era injusto ter um jogador
internacional irlandês jogando na liga.
Esse era um jogo de rúgbi da escola.
Johnny era um estudante de uma das escolas.
Ele era menor de idade.
Ele tinha o direito de jogar se quisesse.
Não há regras sendo quebradas por Tommen.
Finalmente, depois de vários telefonemas para a diretoria, uma revelação
embaraçosa e muito pública do livro de regras e inúmeras discussões aos
gritos entre o técnico Mulcahy e o técnico da Royce, as equipes entram em
campo às seis e meia – com Johnny entrando no campo em sua camisa
número 13, com um sorriso de merda no rosto.
No início do jogo, fica claro por que o técnico da Royce foi tão contra
deixar Johnny jogar.
Sua equipe era terrível.
Bem, talvez não terrível, mas eles não eram páreo para um time de
Tommen empolgado.
Como eles conseguem ficar em segundo na tabela com Tommen está além
do meu entendimento, porque realmente não há competição.
O enorme volume de orgulho que ruge para a vida dentro de mim ao vê-lo
enfrentar seus velhos amigos e chutar suas bundas é assustador.
Eu estou ridiculamente envolvida com esse garoto e me vejo gritando e
torcendo por ele nos bastidores, ignorando os olhares mortais que recebo de
Bella e suas amigas.
Eu não me importo.
Eu estou tão orgulhosa dele.
Ao intervalo, Tommen vence por 48-3.
Cinco minutos antes do final do jogo e parece ainda pior para Royce, com
Tommen garantindo mais três tentativas no segundo tempo.
Tudo está indo do jeito de Tommen até a jogada final do jogo.
Faltando menos de um minuto, Johnny tira a bola de um dos atacantes de
Royce.
Parece ser a coisa dele: dar o golpe final no último minuto do jogo.
Com velocidade inigualável por qualquer outra pessoa em campo, Johnny
arrasa o campo, perseguindo o último placar do jogo.
É um borrão de movimentos que resulta em ele aterrar a bola segundos
antes de uma debandada de jogadores adversários esmagá-lo.
A tentativa é premiada.
A equipe começa a comemorar.
Mas ele não está se recuperando.
O irmão de Claire, Hughie, se posiciona na frente dos postes e
rapidamente chuta a conversão, garantindo a vitória, antes de correr para
Johnny – que ainda não está se levantando.
— Claire — eu murmuro, agarrando o braço da minha amiga enquanto eu
assisto com horror enquanto nossos colegas comemoram ao nosso redor. —
Ele está se movendo?
Todos da nossa escola estão torcendo e aplaudindo, os rapazes do time
estão se abraçando em comemoração, mas Johnny ainda está caído de
bruços atrás da linha de jogada.
Hughie, junto com vários jogadores do Royce College, estão ajoelhados
ao lado dele.
Um deles está acenando com a mão para os treinadores na linha lateral.
Outro está rugindo para o árbitro.
Hughie está chamando o treinador Mulcahy.
— Claire — eu repito, em pânico. — O que está acontecendo?
— Não sei! — ela estrangula, parecendo igualmente em pânico agora.
Um enxame de camisas pretas e brancas vem correndo em sua direção,
reunindo ao redor do seu capitão.
Eu pulo, meus pés se movendo por vontade própria, e empurro a multidão.
— Ele está morto? — Eu grito, a mão ainda entrelaçada na de Claire que
estava me seguindo de perto. — Oh meu Deus, Claire, ele está morto?
— Não, não, não — ela continua repetindo, mas ela não parece ter
certeza.
— Claire!
— Eu não sei, Shannon — ela grita.
Não chegamos muito longe, apenas chegando à beira do campo antes de
sermos engolidas pela multidão de outros alunos.
Pulando, tento ver acima de seus ombros, mas eu era muito baixa.
Pensando rápido, caio de joelhos e espiei entre suas pernas.
Johnny ainda está no chão.
Rosto para baixo.
Imóvel.
Com o canto do olho, vejo dois homens com camisas amarelos correndo
para o campo com uma maca a reboque.
O tempo parece ter parado então, enquanto eu os observo ajoelhar ao lado
de Johnny e começar a trabalhar para colocá-lo na maca.
Os gritos e aplausos se transformam em sussurros abafados enquanto
todos observam.
Meu coração, que parece estar parado no peito nos últimos minutos, bate
violentamente contra minhas costelas quando Johnny se senta lentamente.
Seus olhos estão abertos, seu peito está se movendo e, embora parecesse
estar com muita dor, ele está vivo.
Ele está balançando a cabeça e afastando todas as ofertas de ser erguido na
maca.
Eu não consigo ouvir o que está sendo dito, mas seus lábios se movem
rapidamente enquanto ele continua a balançar a cabeça e latir algo para os
médicos.
Finalmente, os homens desistem de tentar ajudá-lo e recuam.
A multidão, tanto os torcedores de Tommen quanto Royce, começam a
aplaudir quando Johnny finalmente se levanta.
Seus braços estão pendurados sobre os ombros de Hughie e Gibsie, e sua
cabeça está curvada, enquanto ele manca para fora do campo.
Como eles praticamente o levaram para fora do campo.
Por um momento, eu apenas me ajoelho ali, de quatro na grama lamacenta
e respiro, permitindo que o tsunami de alívio tome conta de mim enquanto
eu o observo partir.
Não entendo minha reação e não me importo.
Ele está bem.
Ele está bem.
E eu posso finalmente respirar novamente.
62

O TEMPO ACABOU, CARA

JOHNNY

— Isso acabou, Johnny! — Gibsie sibila no meu ouvido enquanto me ajuda


a sair do chuveiro e a subir na cama dobrável que eu tenho passado a última
hora sendo cutucado, cutucado e costurado pelo médico de emergência no
local.
— Você pode manter sua maldita voz baixa? — Eu assobio, olhando para
a porta que nos separa do resto do time. — Eu não quero que ninguém saiba.
— Muito tarde para isso — Gibsie retruca. — Você deixou um rastro de
sangue da sede do clube para o campo.
— Jesus — eu estrangulo, tremendo.
— Isso vai parar agora mesmo, Johnny — ele avisa novamente enquanto
puxa um short pelas minhas coxas, tomando cuidado para não incomodar
minha virilha. — Chega de treinamento — ele rosna, ajustando o cós em
meus quadris. — Chega de esconder sua dor. — Ele caminha até o banco e
pega uma toalha. — Chega de mentiras. — Ele limpa uma mancha de
sangue da minha coxa. — Não mais, porra!
— Eu vou ficar bem — eu solto, tremendo da cabeça aos pés.
— Bem?— Gibsie cospe, parando no meio do ritmo para me encarar. —
Ah sim, porque você parece fodidamente bem agora, com a porra do seu
mini Johnny sangrando por toda a cama.
— Pare…
— Você está se matando. Você percebe isso, certo? Você entende que está
colocando sua vida inteira em risco por uma porra de uma camisa verde que
não significa nada a longo prazo.
— Gibs, para, cara — eu imploro. — Eu não posso ouvir isso agora.
— Ah, você vai ouvir!
— Porra, eu não posso ouvir isso — eu engasgo, a voz embargada. —
Ok? Eu não posso...
— Olhe para você! — Gibsie exige, apontando um dedo na minha virilha.
— Olhe para a condição em que você está.
O sangue escorre do corte na minha perna, onde meus pontos estavam.
— Isso deveria ter cicatrizado semanas atrás — ele assobia. — É março,
Johnny. A porra de março, e você está andando com a perna meio aberta.
— Ela abriu com as pisadas — eu engasgo. — Poderia ter acontecido com
qualquer um.
— Sim, bem, ela não teria sido capaz de abrir desse jeito se você tivesse
deixado seu corpo se curar adequadamente em primeiro lugar! — Gibsie
ruge na minha cara. — Você está fraco. Seu corpo não está se curando. E
você quase decapitou seu pau!
Gemendo, deixo cair minha cabeça para trás na cama médica dobrável e
solto um suspiro de dor.
— Não é tão ruim assim.
— Não é tão ruim assim? — ele praticamente grita com uma expressão
furiosa gravada em seu rosto. — Cara, sua perna parece que está a cerca de
quatro horas de uma septicemia completa!
— Gibs...
— Não, Johnny! — ele retruca, balançando a cabeça. — Você ouviu o que
o médico disse. Você ouviu o quão sério ele disse que poderia ter sido!
— Eu o ouvi, Gibs — eu murmuro, cobrindo meu rosto com meu braço.
Claro, eu ouvi o que ele disse.
Como diabos eu posso ter perdido quando ele explodiu meu mundo em
pedaços?
Cirurgia.
Mais uma merda de cirurgia.
Imediatamente.
O que significa mais tempo.
Tempo que eu não tenho de sobra.
Está acabado.
A campanha de verão.
Os sub-20.
Eu posso senti-la escorregando por entre meus dedos.
Tudo está sendo tirado de mim.
E eu não consigo lidar com isso.
— O treinador ligou para Dennehy na Academia. — Exalando uma
respiração irregular, ele dá um passo para trás e ergue as mãos. — E eu já
liguei para sua mãe.
— Jesus Cristo — eu solto, sentindo as lágrimas enchendo meus olhos.
— Ela está pegando o próximo vôo para Dublin — acrescenta. — Liguei
para o seu pai também. Ele vai nos encontrar no hospital.
Eu balanço minha cabeça, incapaz de lidar com o que eu estou ouvindo.
Incapaz de respirar através da devastação absoluta que me atravessa.
— Você vai jogar de novo, Johnny — Gibsie diz em um tom mais calmo.
— Só não vai ser agora.
— Agora é quando importa — eu solto. — Agora é tudo o que importa.
— Não, cara — ele corrige. — Deixá-lo saudável é tudo o que importa.
— O que eu vou fazer, Gibs? — Eu engasgo, mantendo minha mão sobre
meu rosto. — É toda a minha vida.
Eu o ouço exalar pesadamente, e então sua mão está no meu ombro.
— Nós vamos descobrir isso, Johnny. — Ele aperta meu braço. — Apenas
descanse aqui um pouco e deixe os remédios fazerem efeito. A ambulância
não vai demorar muito, cara.
— Eu não quero ir lá fora. — Eu balanço minha cabeça. — Eu não quero
que eles vejam.
— Ninguém sabe nenhum detalhe — ele me assegura. — Só que você
caiu e foi nocauteado.
— Não diga — eu imploro. — Por favor... eu não posso...
— Eu não vou — ele promete.
63

OPS, EU FIZ DE NOVO

SHANNON

Eu não tenho uma explicação racional para o motivo de ter passado a última
hora e meia do lado de fora da sede do clube sob a chuva torrencial.
Eu não quero pensar muito sobre isso.
Meus sentimentos estão me preocupando, mas não tanto quanto o que está
acontecendo dentro daquele vestiário.
Eu deveria ter voltado para o ônibus com Claire e Lizzie e todos os outros
da nossa escola, mas não consegui.
Eu não consigo fazer meus pés se moverem na direção do bom senso.
Em vez disso, espero.
E eu me preocupo.
E luto desesperadamente contra a vontade de invadir o vestiário dos
visitantes.
Esgueirando-se do lado de fora na escuridão, observo os jogadores de
Royce e Tommen saírem da sede do clube, seguidos pelos treinadores, Sr.
Mulcahy e o médico da partida.
Ninguém parecia me notar e eu não estou surpresa.
Todos aqueles garotos parecem ser pelo menos 30 centímetros mais altos
que eu.
Isso é, até Gibsie sair.
— Ei, pequena Shannon — ele diz, me notando imediatamente. — O que
você está fazendo parada aqui na chuva?
— Oh, eu estava apenas... eu queria... ele está... e eu... — Batendo minhas
mãos impotente, eu desisto e dou de ombros. — Eu estou preocupada.
— Com Johnny?
Meus ombros caem e eu balanço a cabeça em derrota.
— É ruim?
Gibsie franze a testa, parecendo incerto.
— Vamos, Gibsie — eu imploro. — Apenas me diga.
— Ele está bem, pequena Shannon...
— Não minta para mim — eu falo. — Por favor. — Exalando uma
respiração irregular, eu continuo — Eu preciso saber.
— Ele está mal — ele admite calmamente. — Dependendo do que os
médicos disserem quando ele chegar ao hospital, ele está encarando um sério
tempo fora do jogo. — Exalando pesadamente, ele passa a mão pelo cabelo.
— Ele está fora da final, com certeza.
— Eu não quero saber se ele pode jogar rúgbi ou não. — Eu aperto
enquanto uma onda de culpa me engole. — Eu quero saber se ele está bem!
Ele. Johnny! A pessoa. Não o maldito jogador de rúgbi!
Gibsie inclina a cabeça para o lado, me estudando com um olhar curioso.
— Bem, não é uma para se manter? — ele finalmente medita, em tom
baixo.
— O que?
— Deixa para lá. — Gibsie balança a cabeça e exala pesadamente. —
Ouvi o ônibus ligando para os hoteis para ver se algum lugar pode nos
hospedar para passar a noite.
Fazendo uma careta, ele acrescenta:
— Acredita que Johnny será levado direto para a cirurgia esta noite.
Oh Deus.
Meu coração afunda.
Eu sabia que ele não deveria jogar.
Eu sabia que ele estava ferido.
Eu sabia e não fiz nada.
Eu deveria ter dito algo para sua mãe.
Eu deveria ter dito algo ao treinador.
Eu sabia que ele estava jogando lesionado.
Como sempre, eu não fiz merda nenhuma.
— Isso é minha culpa — eu engasgo.
— Porque você sabia? — sussurra Gibsie.
Abaixo a cabeça em vergonha.
— Então é minha culpa também — ele me diz. — Entre, pequena
Shannon — ele acrescenta, me dando um pequeno sorriso. — Ele está lá
sozinho, esperando sua carona para o hospital.
— Uh, talvez eu não devesse…
— Você deve — ele me interrompe dizendo.
— Eu devo? — Eu pergunto, incerta.
Gibsie assente.
— Você deve.
E sem outra palavra, ele caminhou na direção do estacionamento para o
ônibus escolar.
Fico ali por mais cinco minutos tentando me convencer a descer da borda
da qual eu estou ameaçando pular.
Não funciona.
Nada parece fazer mais sentido.
Nada, exceto encontrá-lo.
Tremendo da cabeça aos pés, dou um mergulho e corro para dentro do
prédio e pelo corredor de piso de concreto, não parando até que eu esteja do
lado de fora de uma porta branca com a palavra Visitantes gravada nela.
Inalando uma respiração enorme e firme, empurro a porta para dentro e
entro no vestiário vazio, apenas para ser imediatamente agredida pelo fedor
do calor profundo.
É tão potente que faz meus olhos lacrimejarem.
Vapor está flutuando de um arco que eu presumo que leva à área do
chuveiro.
A maioria dos vestiários tem o mesmo layout: sala grande, paredes de
tijolos brancos, bancos de madeira alinhados em ambos os lados do cômodo
e chuveiros situados nos fundos.
Ele está no chuveiro, sua idiota.
O que você está fazendo?
Saia.
Saia agora!
Envergonhada, eu me viro e corro para a porta, apenas para parar no meu
caminho quando Johnny chama meu nome.
— Shannon?
Mortificada, eu me viro para encará-lo.
— Oi — eu solto, me forçando a respirar, embora parecesse que meu
coração acelera no meu peito ao vê-lo.
Johnny tem uma toalha pendurada no ombro, segura uma muleta de metal
com a mão e tem uma expressão de dor no rosto. Ele está mais uma vez
usando uma Calvin Klein.
A dessa noite é preta.
— Oi — Johnny responde, me distraindo dos meus pensamentos
perigosos. — O que você está fazendo aqui?
— Eu queria checar você. — Eu solto, tentando desesperadamente não
olhar para a forma como os músculos de seu estômago se contraem quando
ele vai até o banco, colocando todo o seu peso na muleta. — Eu estava
preocupada.
Ele está mancando de novo, descaradamente óbvio agora, e eu estou
instantaneamente alerta.
Alerta e preocupada.
— Estou preocupada — eu murmuro.
— Um daqueles babacas do Royce me cortou com o sapato — Johnny
resmunga.
Ele se senta cautelosamente, apoia a muleta ao lado dele e coloca a toalha
sobre a coxa direita.
— Cortou você? — Eu engasgo, horrorizada.
Oh, Deus.
Exalando pesadamente, Johnny se inclina para trás e descansa a cabeça
contra a parede de azulejos em suas costas.
— Idiotas.
— Você não se levantou, Johnny — eu sussurro, mordendo meu lábio.
Meu olhar vai para sua coxa. — Por muito tempo.
— Desmaiei de dor — ele relutantemente admite.
— Eles estão mandando você para o hospital? — Eu pergunto, me
forçando a ficar onde estou e não correr para ele como eu quero
desesperadamente. — Para exames?
— É protocolo, dadas as circunstâncias. — Exalando pesadamente, ele se
inclina para trás e descansa a cabeça contra a parede de azulejos em suas
costas. — É uma piada do caralho.
Mentiroso.
Eu sei que você vai fazer uma cirurgia.
— Quão ruim é, Johnny? — Eu me forço a perguntar.
Ele estala seu olhar em mim, olhos azuis cheios de calor.
— Eu estou bem, Shannon.
Mais mentiras.
Eu posso ouvir quanta dor ele está sentindo pela maneira como ele está
rangendo suas palavras enquanto fala.
Ele está sofrendo.
E ele está com medo.
— Tem certeza? — eu pressiono.
Ele olha para mim, olhos azuis cheios de calor.
— Você tem?
— Não sei. — Eu dou de ombros impotente. — Estou com tanto medo por
você.
Johnny arqueia uma sobrancelha com a minha resposta e eu fico vermelha
como uma beterraba.
— Eu deveria deixar você em paz. — Junto minhas mãos e engulo
profundamente. — Eu vou esperar no ônibus.
Eu me viro e corro para a porta.
— Você pode ficar comigo?
Meus pés param e meu coração acelera.
Eu me viro para olhar para ele.
— Huh?
— Por favor — Johnny resmunga. — Eu não quero ficar sozinho.
Meu coração aperta com força no meu peito, dificultando respirar.
— Posso ir buscar Gibsie? — Eu ofereço fracamente.
Johnny balança a cabeça.
— Eu só quero você.
Eu sei que deveria ir embora.
Eu deveria sair desta sala e tomar meu lugar no ônibus.
Seria a coisa certa a fazer.
A coisa sensata.
Mas eu não faria.
Porque eu não posso deixá-lo.
Desajeitadamente, me movo em direção a ele, não parando até que eu
esteja sentada ao lado dele.
Meu cérebro está desconfiado e cauteloso, mas meu coração não está, e
meu corpo está mais que feliz em compensar por ambos.
Eu estou fisicamente atraída por ele, emocionalmente conectada e
mentalmente aterrorizada.
Isso cria um terrível campo de batalha de angústia dentro de mim.
A preocupação com esse menino é desenfreada dentro de mim.
Eu não entendo, e neste momento, eu não me importo.
O alívio que senti quando entrei por aquela porta e o vi vivo e respirando
ainda está me dominando. Eu sei que ele estava apavorado com suas
perspectivas de jogar rúgbi, mas tudo em que eu consigo pensar era que ele
está inteiro.
É esse alívio esmagador e preocupação correndo em minhas veias que
provocam meu próximo movimento.
— Está tudo bem — eu prometo, pegando sua grande mão na minha. —
Você vai ficar bem.
Johnny endurece, mas não puxa sua mão da minha.
Eu também não solto.
Eu apenas puxo sua mão para o meu colo e seguro com força.
— Estou com dor, Shannon — ele confessa, abaixando a cabeça. — Estou
com tanto medo.
— Eu sei que você está — eu sussurro, me aproximando, os dedos se
contorcendo com o desejo que eu tenho dentro de mim de verificar o dano
que ele está escondendo debaixo daquela toalha. — Eles lhe deram alguma
coisa para a dor?
Johnny exalou uma respiração irregular.
— Sim, o médico me deu uma injeção de algo – um relaxante muscular,
eu acho.
— Está ajudando?
Ele balança sua cabeça.
— Aposto que você gostaria de não ter desperdiçado aqueles ibuprofenos
comigo agora, hein? — Eu brinco, tentando distraí-lo do desconforto óbvio
que ele está sentindo. — Eles seriam úteis agora.
— Um tranquilizante seria útil — ele retruca tristemente, seus grandes
ombros caídos.
— Deixe-me ver você. — Eu instruo suavemente.
Mantendo minha mão direita em volta da dele, uso minha esquerda para
alcançar e virar seu queixo.
— Aqueles filhos da puta — eu murmuro, olhando para o hematoma roxo
na lateral de sua bochecha, e aquele corte acima de sua testa que mais uma
vez está coagulando. — Seu pobre rosto.
Johnny ri então.
— O que é engraçado? — Eu pergunto, emocionada ao ouvir aquele som
sair dele.
— É estranho ouvir você dizer filho da puta — ele explica com um sorriso
cansado.
— Eu sou bastante parcial para xingar, sabe — eu digo a ele, tentando
desesperadamente distraí-lo de sua dor.
— Não, você não é — ele responde rispidamente, inteligente demais para
seu próprio bem. — Você só está dizendo isso para me distrair.
— Está funcionando?
Ele assente rigidamente.
— Não pare.
Quebrando meu cérebro por algo a dizer, eu deixo meu olhar vagar sobre
ele, absorvendo cada sulco e borda dura até me fixar na mão embrulhada na
minha.
Sua mão era grande e masculina, os nós dos dedos de uma forma estranha
do que eu presumo que fossem anos de trabalho árduo. Seus dedos são
longos, suas unhas estão cortadas e ele tem uma longa cicatriz nas costas de
sua mão esquerda.
Eu levanto uma sobrancelha para isso.
Passando meus dedos sobre a linha irregular nas costas de sua mão, eu
pergunto:
— O que aconteceu aqui?
— Pisaram na minha mão — ele explica, olhando para nossas mãos
unidas. — Uma pisada na minha mão suja durante um ruck em uma
semifinal do clube há dois anos, resultando em sete pontos e tétano.
Eu estremeço.
— Ai.
Ele expele uma respiração áspera.
— Sim.
— Você tem mais?
— Eu tenho alguns — ele responde, me olhando com curiosidade.
— Posso ver?
Johnny me observa por um longo momento antes de assentir lentamente.
— Se você quiser.
— Sim — respondo, querendo manter sua mente ocupada enquanto
espero a ambulância chegar.
— Eu quebrei isso mais vezes do que me lembro — Johnny me diz,
apontando para o nariz. — A pior época foi no verão passado. — Ele faz
uma careta antes de acrescentar: — Eles tiveram que lixar o osso e quebrá-lo
novamente para colocá-lo de volta no lugar.
Meus olhos se arregalam.
— De volta ao lugar?
— Sim. — Ele sorri. — Eu estava andando por aí com meu nariz tocando
minha bochecha.
— Deus — eu gemo, o estômago revirando. — Isso é bárbaro.
— Isso é rúgbi — ele ri e então grunhe alto, encolhendo-se de dor.
— O que mais? — Me apresso a perguntar.
Soltando um suspiro de dor, Johnny me dá um resumo detalhado de seu
apêndice estourando quando ele tinha treze anos e, em seguida, seu
estômago virando do avesso quando ele estava em recuperação, resultando
em outra inspeção e interação próxima e pessoal com a sua cicatriz na
barriga.
Barriga era uma palavra estúpida para descrevê-lo.
Era um termo muito suave, muito inocente para descrever o que ele tem.
Os meninos tinham barrigas.
Fica bem claro que Johnny não era mais um menino.
Aqueles abdominais e aquele rastro de cabelo escuro sob o umbigo
atribuídos a isso.
Johnny se inclina para a frente e aponta para um pedaço de pele
desgastada de aparência repugnante acima do joelho direito.
— Este me colocou no banco por um verão inteiro.
— O que aconteceu? — Eu exclamo. — Rúgbi?
— Pela primeira vez, não. Esse aconteceu fora do campo quando eu tinha
dez anos — responde ele. — Alguns dos rapazes mais velhos da minha
escola me desafiaram a pular do penhasco em Sander's Point…
— Sander’s Point?
— É um ponto de mergulho de quinze metros que costumávamos ficar em
casa — explica Johnny. — Eu era um pequeno bastardo louco naquela
época, enfrentando os grandes caras, pensando que eu era o maldito incrível
hulk. — Ele balança a cabeça e sorri com carinho. — Acontece que eu não
era e eu tenho os raios-x e uma semana no hospital para provar isso.
— Jesus — eu exclamo. — Você tinha apenas dez anos! Você poderia ter
morrido.
— Estou maior agora. — Ele sorri tristemente. — Mais difícil de quebrar.
— Sim. — Aperto sua mão com força. — Você é.
Johnny me mostra vários outros ferimentos de batalha, rindo toda vez que
eu gemo ou engasgo.
A conversa parece distraí-lo de sua dor e eu estou feliz.
Seus ombros não estão mais tão tensos, e quanto mais conversávamos,
mais a rigidez em seu corpo evapora.
— Ah, e eu fraturei minha bochecha quando eu tinha quatorze anos. —
Johnny inclina o rosto para perto do meu. — Viu? — Ele aponta para uma
linha frágil e prateada no ponto alto de sua bochecha esquerda. — Você mal
pode ver agora, mas isso doía como uma cadela.
— Ah, sim — eu medito, inspecionando a cicatriz fina. — Eu nunca tinha
notado isso antes. — Desviei meus olhos para sua sobrancelha. Incapaz de
me conter, estendo a mão e passo meu polegar sobre sua testa novamente. —
Por que isso sempre sangra?
— Não teve a chance de se curar — ele explica, mantendo-se
perfeitamente imóvel enquanto eu o toco de forma inadequada. — Vai fechar
corretamente assim que a temporada acabar.
— Oh — eu sussurro, procurando em seu rosto por mais feridas de batalha
escondidas.
Quando meus olhos alcançam os dele novamente, eu o encontro me
observando, seus olhos azuis-escuros aquecidos e presos nos meus.
— O jogador de Royce te machucou aí? — Inclino minha cabeça para
onde a toalha estava sobre sua coxa. — É por isso que você desmaiou?
Johnny assente com relutância.
— Posso ver? — Eu pergunto, minha voz pouco mais que um sussurro.
Ele fica tenso.
— Por favor?
Ele balança a cabeça lentamente.
— Shannon, eu não acho que seja uma boa ideia.
— Por favor? — Eu repito, olhando para ele nervosamente. — Eu já sei
que está lá e você me mostrou os outros.
— É ruim, Shannon — ele responde rispidamente. — Acredite em mim,
você não quer ver isso.
— Você pode confiar em mim — eu sussurro. — Eu não vou contar.
Johnny me encara por um longo momento, olhos fixos nos meus, antes de
exalar pesadamente.
Ombros caídos, ele deixa cair as mãos para os lados, mas não faz nenhum
movimento para me mostrar.
— Posso? — Eu pergunto.
Ele fecha os olhos e assente rigidamente.
Ele está me dando as rédeas, percebo, para fazer o que eu deseje.
Trêmula, eu levanto a toalha e olho para o que parecia ser uma cicatriz
recentemente costurada na parte interna de sua coxa direita.
Sua coxa está inchada, de cor púrpura, e a cicatriz chorosa e de aparência
raivosa estava parcialmente escondida pelo tecido de sua cueca.
— Oh Deus, Johnny — eu exclamo, deslizando para fora do banco e para
o chão para dar uma olhada melhor.
— Não me machuque — ele avisa em um tom dolorosamente vulnerável.
— Eu não vou — eu prometo enquanto me ajoelho entre suas pernas e
espero que ele me dê o sinal verde.
Assentindo rigidamente, Johnny inclina a cabeça para trás e fecha os
olhos, a mandíbula apertada com força.
Gentilmente, alcanço a barra da perna de sua cueca boxer e
cuidadosamente levanto o tecido para longe de sua carne, apenas para ofegar
com a visão.
Sua coxa é peluda, com exceção de um pedaço de pele de quinze
centímetros.
E aquele pedaço particular de pele de quinze centímetros está inchado,
com aparência raivosa, e uma horrenda cor acastanhada, amarela.
— Está escorrendo — eu sussurro, alisando meus dedos sobre a trilha
irregular e desigual onde eles o costuraram de volta. Os pontos frágeis, mal
cicatrizados, claramente foram abertos pela bota do jogador de Royce que
atingiu sua virilha. O pus que vaza da ferida era de uma cor amarelo-
avermelhada. — Johnny, isso é ruim.
— Eu sei — ele fala, os olhos ainda cerrados. — O doutor me disse.
Gentilmente, traço a cicatriz e os hematomas ao redor com meus dedos.
— Dói quando eu te toco assim?
— Dói — ele responde, tom rouco.
Exalando uma respiração pesada, eu acaricio sua coxa e luto contra a
vontade de pressionar um beijo em seu corte.
— Por uma razão totalmente diferente — ele murmura.
E foi aí que percebi o que estou fazendo, o que estava fazendo no último
minuto.
Eu estou sentada de joelhos entre suas pernas, acariciando a parte interna
de sua coxa, tentando aliviar sua dor.
Meus olhos vão para a zona de perigo e minha boca fica seca.
Então é por isso que as pessoas se referem a isso como armar uma
barraca.
Eu não tenho certeza se essa afirmação se aplica a essa raça particular de
adolescente porque Johnny não está apenas armando uma barraca naquelas
cuecas – ele estava armando uma marquise.
Soltando um gemido baixo, ele empurra minha mão e se move para fechar
suas coxas, mas eu o paro.
Eu o paro.
— Não — eu murmuro, a voz ofegante e suave.
Eu posso sentir o calor de seu olhar no meu rosto.
Ele se move para fechar as pernas novamente e eu balanço minha cabeça.
Seus olhos estão abertos novamente, suas pupilas estão escuras e
dilatadas.
— O que você está fazendo? — ele sussurra, mordendo o lábio inferior
inchado.
Eu não sei o que estou fazendo.
Eu não sei o que estou pensando.
Eu não consigo falar.
Eu mal consigo respirar.
Eu estou enlouquecendo aqui de joelhos no meio de um vestiário em
Dublin.
E era tudo culpa dele.
Um deslize temporário na sanidade me faz inclinar para frente e dar um
beijo em sua coxa.
O som que sai do peito de Johnny é um gemido de dor e gutural.
— Shannon, por favor…
Eu o beijo novamente.
— Foda-se — ele grunhe, as pernas tremendo agora. — Não posso...
A terceira vez que o beijo, ele agarra meu cabelo e puxa meu rosto para o
dele.
— Shannon — Johnny geme, soando ao mesmo tempo dolorido e sem
fôlego, enquanto ele gentilmente pressiona sua testa na minha. — Nós não
podemos…
Eu silencio o que ele está prestes a dizer, colocando meus lábios nos dele.
E assim como antes, ele se transforma em pedra.
— Desculpe — eu exclamo, me afastando. — Eu fiz de novo.
— Está tudo bem — ele me diz, respirando com dificuldade como antes.
— Não, não, não — eu solto enquanto me levanto e me lanço para a porta.
— Você está ferido! Você está esperando para ir para o hospital, pelo amor
de Deus, e eu apenas, oh Deus! Eu sinto muito.
— Shannon, espere — Johnny grita enquanto luta para pegar sua bolsa. —
Espere!
Eu não espero.
Em vez disso, faço o que deveria ter feito antes.
Eu fujo de Johnny Kavanagh.
Correndo para a porta, eu a abro.
Ela abre cerca de dez centímetros antes de se fechar novamente – a palma
da mão pressionada contra ela – sem dúvida.
— Espere — ele ordena, ficando tão perto de mim que eu posso sentir seu
peito subindo e descendo contra meu pescoço.
Com meu coração martelando no meu peito, eu me viro e olho para
Johnny enquanto ele me enjaula com seu corpo grande.
— Eu sinto muito — eu sussurro, incapaz de tirar meus olhos dos dele. —
Eu só... eu... — Balançando minha cabeça, eu exalo uma respiração irregular
e sussurrei — Eu não deveria ter feito isso.
Ele balança a cabeça e usa sua muleta para se aproximar, pressionando seu
corpo contra o meu.
— Eu também sinto — ele responde rispidamente, o olhar passando dos
meus olhos para a minha boca.
— Por que você está arrependido? — Eu suspiro, tremendo da cabeça aos
pés.
Ele segura meu rosto com a mão livre e inclina meu queixo para cima.
— Porque eu não deveria fazer isso — ele sussurra.
E depois ele me beija.
No momento em que seus lábios esmagam contra os meus, uma feroz
explosão de calor percorre meu corpo, acendendo uma deliciosa e ardente
dor na minha barriga.
Incapaz de pensar direito, muito menos respirar, faço a única coisa que
posso fazer, dada a circunstância: estendo a mão e agarro seus antebraços e o
beijo de volta.
Este era meu primeiro beijo de verdade, sem contar o desastre em seu
quarto, e eu não tenho ideia do que estou fazendo.
Eu só sei que eu quero que ele nunca pare.
Quando sinto uma de suas mãos descendo pelo meu braço e pousando no
meu quadril, perco o controle.
Eu me afasto completa e totalmente dos meus sentidos.
Tremendo incontrolavelmente, deixo minhas costas caírem contra o
batente da porta enquanto meus quadris empurram mais perto dele.
Eu estou me afogando em meus sentimentos enquanto eles me atravessam
como uma bola de demolição.
Quanto mais ele me beija, mais meu corpo treme incontrolavelmente.
Quanto mais eu procuro.
Eu gemo em sua boca quando sinto a ponta de sua língua contra meu lábio
inferior.
Percebendo que ele está esperando que eu abra minha boca para ele,
separo meus lábios e prendo a respiração quando sinto sua língua deslizar
dentro da minha boca.
Gentilmente, ele toca sua língua contra a minha em movimentos lentos e
pacientes.
Oh, Deus.
Oh, doce menino Jesus.
Eu estou beijando Johnny Kavanagh.
Johnny Kavanagh está me beijando de volta.
Ele está com a língua na minha boca, a mão no meu cabelo e meu coração
está nas mãos dele.
Isso era...
Isso era...
Tudo o que eu nunca esperei e muito mais.
Incerta, eu timidamente serpenteio minha língua para fora e acaricio a
dele.
Johnny me recompensa com um rosnado baixo e aprovador que vem de
algum lugar no fundo de seu peito.
Tremendo, passo meus braços em volta de sua cintura e o puxo para mais
perto de mim, sem saber o que estou fazendo, mas sabendo que meu corpo
precisa de mais.
Minha confiança cresce com cada roçar de nossos lábios, com cada duelo
de nossas línguas, até que eu estou ronronando em seus braços, balançando
meu corpo contra ele impacientemente, enquanto nos movemos
desajeitadamente para o banco mais próximo.
Como isso está acontecendo?
Por que isso está acontecendo?
Eu não sei.
Eu não sei e não me importo.
Johnny cambaleia para trás e afunda com força no banco de madeira.
O impacto faz com que um grunhido de dor saísse de seu peito, mas ele
nunca tira os lábios dos meus enquanto joga a muleta para longe e me puxa
entre suas pernas.
Suas mãos se movem do meu rosto para a minha cintura, apertando com
força, e o movimento faz um gemido sair da minha garganta.
Ele responde ao meu pequeno suspiro de prazer surpreso com um
grunhido baixo de aprovação.
— Você está bem? — Eu suspiro contra seus lábios enquanto seguro em
seus ombros.
— Apenas continue me beijando — ele exclama. — Eu te quero tanto.
Eu estremeço violentamente.
— Você quer?
— Tanto, porra — ele geme contra meus lábios, e então suas mãos estão
em minhas coxas, seus dedos subindo minha saia justa até meus quadris
antes de me puxar para baixo em seu colo, me encorajando a montar nele.
Consciente de sua lesão, eu engato uma coxa de cada lado dele e pairo
sobre seu colo, mantendo meu peso fora dele, enquanto eu seguro seu lindo
rosto entre minhas pequenas mãos e o beijo de volta com tudo que eu tenho
em mim.
Johnny estremece ao meu toque, mas não me afasto.
Eu não posso evitar.
Eu quero tocar seu rosto.
Eu quero tocá-lo em todos os lugares.
— Eu estou fazendo a coisa certa? — Eu suspirei contra seus lábios, me
sentindo dolorosamente consciente da minha inexperiência.
— Mais do que certo — ele me assegura, reivindicando minha boca mais
uma vez.
— Este é o meu primeiro beijo. — Eu gemo contra seus lábios.
— Você é fodidamente perfeita — ele me assegurou, enchendo minha
boca com sua língua quente.
Caindo de volta em um beijo profundo e drogado, eu me permito relaxar e
absorver as sensações sacudindo através de mim.
Ele parece tão bom.
Seus lábios são tão macios.
Seu corpo está tão duro.
Ele cheira tão bem.
Ele tem um gosto tão doce.
Eu estou me afogando em sentimentos.
Incapaz de me impedir, passo a mão pelo seu cabelo molhado e puxo.
Ele recompensa minha bravura com um grunhido baixo enquanto coloca
as mãos em meus quadris e me arrasta para baixo em seu colo ao mesmo
tempo em que empurra seus quadris para cima.
Ofegando em sua boca, eu vou de boa vontade, muito consumida na
sensação inebriante e deliciosa de seu corpo pressionado contra o meu para
contemplar que isso pode estar machucando ele.
Ele está claramente gostando disso.
Eu posso sentir seu prazer enquanto ele se pressiona contra mim.
Aninhado entre minhas pernas, Johnny não pressiona por mais.
Em vez disso, ele continua a me beijar com movimentos quentes de sua
língua, me arruinando apenas com a boca.
Ele está me deixando quente e dolorida por toda parte.
Perdendo o controle de mim mesma e perseguindo a pressão, eu gemo em
sua boca e afundo com força em seu colo.
Johnny grunhe em minha boca e eu congelo, de repente ciente de seu
ferimento.
— Eu estou machucando você? — Eu pergunto contra seus lábios.
— Só se você parar. — Ele ata a mão na parte de trás do meu cabelo e
aprofunda o beijo.
Eu acho que estou apaixonada por você.
Acho que estou me apaixonando.
Por favor, não me machuque.
Por favor, nunca me machuque.
Minha mente está correndo com pensamentos enlouquecidos, induzidos
pela luxúria, todos direcionados a Johnny.
Eu não consigo parar de cair à beira do suicídio emocional.
Eu estou faminta por ele.
Voraz.
Eu preciso desse menino.
Eu estou desesperada por ele.
Eu sofro e anseio e admito isso agora, com uma mente aberta e um
coração vulnerável.
Quanto mais eu balanço contra ele, mais ele me encoraja a me mover,
puxando meus quadris, moendo nossos corpos juntos.
Eu estou tão envolvida em nosso beijo que não ouço a porta do vestiário
abrir e fechar, e eu estou apenas vagamente ciente de alguém limpando a
garganta.
É só quando o treinador Mulcahy fala, que a realidade desaba sobre mim
com um tremendo estrondo.
— Vejo que está se sentindo melhor.
— Porra — Johnny geme em minha boca.
Assustada, quebro o beijo e tento sair do colo de Johnny.
Tento pode ser a palavra apropriada porque Johnny segura minha mão e
me puxa de volta para ele.
Quando ele se abaixa e ajusta minha saia, empurrando-a de volta para
baixo, eu quase morro no local.
— Comportamento impróprio em terreno da escola, Kavanagh — o
treinador Mulcahy retruca, lançando olhares ferozes para nós dois. — Que
diabos está errado com você?
Meu olhar pousa nos dois paramédicos de aparência divertida atrás do
treinador, e eu choramingo alto.
— Nós não estamos no terreno da escola, senhor — Johnny responde
calmamente enquanto me puxa para sentar ao lado dele.
— Você está no horário da escola — o treinador late.
— Na verdade, não estamos — Johnny rebate, pegando minha mão na
dele.
Eu estou incrivelmente grata por seu toque neste momento.
Era uma âncora me estabilizando e me impedindo de vomitar por
ansiedade.
Algo que eu sou conhecida por fazer.
— São nove e meia da noite — Johnny acrescenta com um encolher de
ombros. — Bem depois do horário escolar.
— É um comportamento inapropriado — Treinador grita, virando um
olhar furioso para nós. — Não me dê detalhes técnicos. Vocês dois têm
menos de dezoito anos. — Claramente furioso, ele acrescenta: — Vou ter
que relatar isso ao Sr. Twomey e seus pais.
— Oh, Deus — eu exclamo, em pânico. — Por favor, não fale.
— Um beijo? — Johnny zomba, apertando minha mão trêmula. — Você
vai denunciar uma porra de um beijo? — Ele ri sem humor. — Dê um
passeio pelo corredor daquele ônibus, treinador. Tenho certeza que você vai
achar pior do que beijar acontecendo.
— Você é um aluno menor de idade que está sozinho com uma colega
menor de idade em um vestiário — responde o professor com veemência. —
Em uma posição extremamente comprometedora. — O treinador se vira para
mim então. — É esse tipo de reputação que você quer começar em Tommen,
Srta. Lynch? — Ele demanda. — Você quer ser uma dessas garotas?
Lágrimas picam meus olhos e eu rapidamente balanço minha cabeça.
— Ei, não fale com ela assim — Johnny retruca, inclinando-se para frente,
protegendo-me da visão do Sr. Mulcahy.
— Vamos, Johnny! — O treinador resmunga impacientemente. — Pense
em como isso parece.
— Eu não dou a mínima para o que parece — Johnny rosna. Ele se põe de
pé apenas para cambalear rapidamente para trás e cair no banco com um
grunhido de dor. — Você não fala sobre ela assim — ele morde, as narinas
dilatadas. — Ninguém fala sobre ela assim.
— Olhe para você! — O treinador exige, apontando para a metade inferior
de Johnny. — Olhe para a condição em que você está.
Johnny não olha, mas eu sim.
Olho e solto um suspiro estrangulado com a visão.
O sangue escorre de onde o jogador de Royce o havia aberto com suas
botas.
— Johnny — eu murmuro, pegando sua mão novamente.
Oh Deus, sua mão está tremendo.
Eu me viro para olhar para ele.
O corpo inteiro de Johnny está tremendo.
Seu rosto está contorcido de dor.
Ele está chacoalhando da cabeça aos pés.
— Você está ferido, garoto — o treinador retruca. — Você está me
ouvindo? Seu corpo está desmoronando e você está aqui fazendo merda com
uma garota!
— Tudo bem, todos se acalmem — o paramédico ordena enquanto
marcha até Johnny e se ajoelha na frente dele. — O que temos aqui, filho?
— Eu já disse ao médico — Johnny solta, tremendo violentamente agora.
— Sem gracinhas — responde o paramédico.
— Adutor lesionado. — Exalando uma respiração irregular, Johnny cai
para trás e fecha os olhos. — Fui operado no dia 20 de dezembro — explica
ele, parecendo completamente derrotado. — Não está curado.
— Porque ele não deu a seu corpo a chance de se curar — o treinador
interrompeu. — Seu companheiro de equipe e amigo me disse que este tem
sido um problema contínuo que ele está escondendo de nós.
— Como você desse a mínima — Johnny rosna, os olhos brilhando com
fúria. — Você tem seus troféus e sua final garantidos, não é?
— Claro, eu me importo, seu idiota — o treinador retruca. — Eu me
importo muito com você, mas a razão está além de mim!
— Recebemos um relatório de que você ficou inconsciente por vários
minutos durante uma partida de rúgbi — pergunta a outra paramédica,
tomando notas.
— De dor — Johnny admite rispidamente. — Não houve nenhum
ferimento na cabeça.
— Ainda — o treinador fala. — Ainda há tempo para isso.
— Porra, tente — Johnny murmura desanimado. Sua cabeça pende um
pouco e ele vira a cabeça para cima, ainda tremendo.
— Ei, ei, está tudo bem — eu sussurro, segurando seu rosto para firmá-lo.
— Você está bem.
Ele balança a cabeça novamente, os olhos ligeiramente vidrados antes de
encontrar o foco no meu rosto.
— Sinto muito — ele murmura, a voz um pouco arrastada.
— Pelo quê?
— Por não... — Ele fecha os olhos e exala um gemido de dor — beijar
você de volta naquela noite.
— Não se preocupe com isso — eu sussurro, segurando seu rosto com as
mãos. — Nem pense nisso agora, ok?
— Eu queria — ele grunhe, cerrando os olhos enquanto um enorme
arrepio percorre seu corpo. — Eu prometo.
— Johnny, está tudo bem — eu resmungo, piscando para afastar as
lágrimas.
Ele parece estar com tanta dor que eu mal posso aguentar.
— Ele precisa ter tudo verificado — o treinador late então, o tom
misturado com preocupação. — Exame de sangue. Raios-X. Exames. Tudo o
que ele lhe disser, ignore. Ele é um merdinha atrevido que não vai te dizer
quando há um problema.
— Entendido — a paramédica com a prancheta medita.
— Ele está sob contrato com a Academia Irlandesa de Rúgbi —
acrescenta o treinador, esfregando o rosto com a mão. — Todas as suas notas
estão em Cork, mas ele precisa ser embrulhado em algodão…
— Entendido — O paramédico responde. Virando-se para Johnny, ele
pisca. — Você não é o primeiro filhote da academia que tratei.
— Talvez sua namorada possa sair, Johnny — a paramédica sugere.
A resposta de Johnny ao seu pedido foi apertar minha mão.
Deus, ele está tremendo tanto que meu corpo inteiro está vibrando com o
contato.
— Sim. — O treinador assente e voltou sua atenção para mim. —
Senhorita Lynch, eu sugiro que você vá para o seu lugar no ônibus — O
treinador late, me dispensando.
— Você está bem? — Eu pergunto, me virando para olhar para Johnny.
Ele não parece bem.
Parece um animal encurralado.
Ferido e desesperado.
Ele me encara por um longo momento, olhos azuis agitados de ansiedade,
antes de assentir em resignação e soltar minha mão.
— Eu posso ficar? — Eu sussurro, sem saber se deixá-lo era a coisa certa
a fazer. — Ou esperar lá fora?
Não parecia certo deixá-lo.
Parecia tudo errado na verdade.
— Vou ficar bem — Johnny me diz, me dando uma piscadela antes de
grunhir de dor quando o paramédico cutuca sua coxa. — Porra!
— Fora, senhorita Lynch — o treinador late, me empurrando em direção à
porta.
— Posso ir com ele? — Eu me ouço perguntar. — Por favor?
— Você pode voltar para o ônibus como eu te disse — ele ordena. —
Agora fora!
Vergonha, culpa e responsabilidade enchem meu corpo enquanto me
movo para a porta.
— Tchau, Johnny — eu sussurro, pairando na porta, lutando contra a
vontade de correr de volta para ele.
Seus olhos cheios de dor pousam nos meus.
— Tchau, Shannon.
Eu te amo.
Eu estou tão apaixonada por você.
Por favor, fique bem.
64

JOGO DE ESPERA

SHANNON

— Shan? — Claire sussurra em meu ouvido. — Você ainda está acordada?


— Estou acordada — eu resmungo enquanto deito de lado,
completamente imóvel, e olho pela janela para as luzes da cidade da capital.
Eu não tinha saído dessa posição exata desde que fui empurrada para o
quarto de hotel com Claire, Lizzie, Shelly e Helen várias horas atrás, e
mandada para ficar parada por uma exausta Sra. Moore.
As meninas já haviam adormecido há muito tempo, com Lizzie na cama
de solteiro ao lado da nossa, e Shelly e Helen na cama de casal do lado
oposto do quarto.
Não eu, no entanto.
Eu não tinha pregado um olho.
Eu estou me afogando em minha preocupação.
De vez em quando, eu confiro a hora no relógio analógico na mesa de
cabeceira.
05:38 foi sua leitura mais recente.
Johnny está lá fora em algum lugar, deitado em um daqueles hospitais
grandes e iluminados, tendo Deus sabe o que sendo feito com seu corpo.
Eu não sei o que está acontecendo.
Ninguém me diz nada.
Eu não tenho o número do telefone dele e, mesmo que tivesse, não tinha
telefone para usar.
Meu coração está congelado no meu peito.
Um medo diferente de qualquer outro que eu tinha experimentado antes
me bate.
Eu estou apavorada por ele.
— Você acha que ele está fora da cirurgia agora? — Claire pergunta.
Dou de ombros, sentindo-me dormente até os ossos.
Movendo-se para o lado dela na pequena cama de solteiro que estamos
compartilhando, Claire passa o braço em volta de mim.
— Eles estão levando ele por volta da meia-noite, não foi isso que Gerard
disse?
Mais uma vez, dou de ombros impotente.
Eu não fazia ideia.
— Ele vai ficar bem, Shan — ela sussurra, me apertando com força. —
Estou certa disso.
— Eu sinto que não consigo respirar — confesso enquanto lágrima após
lágrima cai dos meus cílios. — Claire, estou com tanto medo por ele, e meu
corpo está congelado.
— Isso é compreensível — ela responde, esfregando meu braço
suavemente.
— É? — Eu exclamo, lutando contra a vontade de gritar. — Porque não
tenho ideia de por que sinto que estou morrendo agora. — Fungando, inalo
várias respirações trêmulas, desesperada para controlar minhas emoções. —
Nunca tive tanto medo em toda a minha vida.
— Shan — Claire suspira suavemente. — Você está se sentindo assim
porque se importa com Johnny.
Assentindo, fecho os olhos com força e tenciono o meu corpo para
impedir que os tremores passem por mim.
— E talvez porque você o ama?
Exalando uma respiração irregular, eu rolo de costas e viro meu rosto para
olhar para a minha melhor amiga.
— Eu estou tão apaixonada por ele, Claire — eu confesso, e então começo
a chorar. — Eu o amo tanto que o pensamento dele não estar bem está me
matando.
— Johnny sabe como você se sente?
Eu balanço minha cabeça e choro mais.
— Eu não deveria tê-lo deixado — eu soluço. — Eu deveria ter ficado
com ele.
— Você não pode — ela diz em um tom gentil. — O Sr. Mulcahy nunca
teria te permitido.
— Ele parecia tão assustado, Claire — eu exclamo enquanto meu corpo se
agita com soluços. — Você não o viu, mas ele estava com tanto medo. E
então eles o levaram naquela ambulância. Eu o vi ir. Eu vi eles levarem ele
embora. E agora? Agora eu não sei onde ele está ou se ele está sozinho...
— Está tudo bem — ela persuade, envolvendo-me em seus braços. —
Shh, está tudo bem. Tudo vai ficar bem.
— E se algo acontecer com ele? — Eu soluço, agarrando-a pela preciosa
vida. — E se algo der errado na cirurgia...
— Não — ela interrompe, sua voz um sussurro severo. — Ele vai ficar
bem...
Uma batida suave na porta me assusta e nos faz pular na cama.
Meus olhos disparam para as três garotas adormecidas e depois de volta
para Claire.
Ela olha para mim, com os olhos arregalados.
— Meninas — uma voz familiar e abafada veio do outro lado da porta do
quarto do hotel. — Me deixem entrar.
Claire levanta a mão, gesticulando para que eu fique onde estou, antes de
deslizar para fora da cama e atravessar o quarto na ponta dos pés.
— Gerard? — ela sussurra, pressionando o ouvido na porta.
— Sim, sou eu, baby — a voz de Gibsie vem do outro lado.
Graças a Deus.
Saindo da cama, corro para a porta assim que Claire a abre.
Nós duas estremecemos quando a luz do corredor quase nos cega.
— Ei — Gibsie admite enquanto ele está na porta enrolado em um casaco
e gorro. — Pensei que vocês estariam acordadas.
— O que está acontecendo? — Claire rapidamente pergunta a ele. — Você
ouviu alguma coisa?
— Johnny está bem? — eu exijo. — Ele já saiu da cirurgia?
— Você estava falando com os pais dele? — Claire pergunta. — A mãe
dele está com ele?
— Ele está bem? — Eu repito, levantando a voz.
— Uma de cada vez, meninas, Cristo — Gibsie murmura enquanto volta
para o corredor e gesticula para que o seguíssemos.
Nós duas vamos sem hesitação.
— Acabei de falar com o pai dele — Gibsie declara enquanto se encosta
na parede, parecendo pálido e exausto. — Isso não sai daqui — acrescenta,
lançando-nos olhares de advertência. — Está claro?
Nós duas assentimos.
Gibsie, por sua vez, assente, cansado.
— Ele está fora da cirurgia, tudo correu bem — acrescenta rapidamente,
olhando para mim. — Seu garoto está bem, pequena Shannon. Respire
fundo.
— Graças a Deus — eu respiro, pressionando minha mão no meu peito.
O alívio que inunda meu corpo é tão forte que tenho que dar alguns passos
para trás e me apoiar na parede oposta.
— Quando o abriram, encontraram uma adesão enorme de onde operaram
seu adutor no Natal — explica. — Aparentemente, era muito ruim.
— Quão ruim? — Eu sussurro, entrando em pânico novamente.
Gibsie faz uma careta.
— De acordo com o pai dele, estava bloqueando o esperma de Johnny ou
alguma catástrofe horrível como essa. — Estremecendo, ele acrescenta: —
Poderia ter prejudicado seriamente suas chances de ter uma família mais
adiante.
— Isso é o que estava causando a ele toda essa dor? — Eu resmungo,
devastada por pensar que ele estava em tanta agonia. — Oh Deus.
— Não apenas isso — Gibsie diz com um suspiro. — Ele tem uma
infecção grave na perna e o Sr. John disse que eles tiveram que realizar algo
chamado cirurgia concomitante porque Johnny tinha algo chamado pubalgia
atleta que eles não detectaram em seus últimos testes e exames?
— Que diabo é isso? — Claire ofegou.
— Sei lá que porra é, baby — Gibsie diz a ela. — Eu não sou médico, e
eu não tenho um pingo de ideia do que diabos isso significa, mas o que quer
que seja, estava paralisando ele.
— É uma hérnia esportiva — eu sussurro, lembrando de ler sobre isso
uma vez em um artigo na escola.
— Isso é muito ruim, certo? — Claire pergunta.
— É excruciante — eu engasgo, empalidecendo com o pensamento de
quanta dor Johnny deve ter sofrido nos últimos meses. — Ele deve ter
sentido muita dor jogando com esse tipo de lesão.
Gibsie assente sombriamente.
— Os médicos disseram ao pai que não sabem como ele andava com a
dor, muito menos como continuou jogando rúgbi.
— Ele está acordado? — Claire pergunta com uma expressão
esperançosa.
Gibsie balança a cabeça.
— Não, ele ainda está em recuperação.
— Você vai vê-lo? — Eu pergunto.
— Inferno sim, eu vou vê-lo — Gibsie resmunga. — E você vem comigo.
— Eu?
— Sim, você, pequena Shannon — Gibsie responde. — Ele vai querer ver
você.
— Ele vai?
Ele assente.
— Vá se vestir. Vou chamar um táxi.
— E o Sr. Mulcahy? — Claire acrescentou, mordendo o lábio. — Ele e a
Sra. Moore disseram que não podemos sair de nossos quartos.
— O treinador pode beijar minha bunda branca como lírio — Gibsie
retruca sem hesitar. — É o meu melhor amigo deitado em uma cama de
hospital, baby.
— Mas, Gerard, são apenas seis da manhã — Claire acrescenta, parecendo
preocupada. — E eu não quero que você tenha problemas... — ela faz uma
pausa para olhar para mim — qualquer um de vocês.
— Nas palavras do grande Freddie Mercury: não me pare agora — ele diz
a ela. — Apenas volte para a cama e eu vou te mandar uma mensagem daqui
a pouco.
— Shannon, não vá — Claire se vira para mim e diz, os olhos cheios de
preocupação. — Se você for pega, e eles contarem ao seu pai..
— Eu estou indo — eu resmungo, parando-a antes que ela possa terminar
a frase.
Eu sei o que aconteceria.
Eu também sei que isso aconteceria independentemente.
Eu estou aqui em Dublin quando deveria estar em casa.
Ele ia me matar de qualquer maneira.
Eu tinha que ir.
Correndo de volta para o quarto, coloquei meu uniforme de volta – não é
fácil no escuro e com colegas de quarto dormindo – e então rapidamente
corri de volta para o corredor onde Claire ainda está com Gibsie.
— Você cuida dela, Gerard Gibson, está me ouvindo? — ela estava
sussurrando. — Não a deixe sozinha em nenhum momento por qualquer
motivo. E se você for pego, então você a cobre, ok? Eu não me importo com
o que você tenha que fazer, mas descubra algo para ela não ser culpada por
isso...
— Pequena Shannon — Gibsie anuncia, cutucando o ombro de Claire
para alertá-la do fato de que eu estou de volta e posso ouvi-los.
— Oi — eu suspiro, alisando meu casaco.
— Pronta para uma fuga da cadeia? — ele acrescenta com um sorriso.
Olho para Claire que está mordendo o lábio e balançando a cabeça antes
de voltar para Gibsie.
Forçando a imagem do rosto do meu pai para fora da minha mente, eu
exalo uma respiração irregular e assinto.
— Estou pronta.
65

ENCONTRE A GAROTA

JOHNNY

Quando abro os olhos, é para um quarto escuro e o som de monitores


apitando.
Sem saber onde diabos eu estou, automaticamente começo a entrar em
pânico e rasgar os fios amarrados ao meu peito e braços.
Há alguns presos no meu nariz também, e eu bato neles, tentando me
libertar.
Minhas mãos estão estranhas – como se não me pertencessem.
Minha cabeça parece o mesmo.
Meus globos oculares estão rolando na minha cabeça por vontade própria.
Sério, eu não consigo lidar com eles.
Tento me concentrar, tento muito dar sentido ao meu redor, mas meus
olhos continuam vibrando e a sala está girando.
Eu estou chapado?
Gibsie me deixou chapado?
Aquele bastardo
— Johnny, está tudo bem, filho. — A voz do meu pai vem de perto. —
Não fique puxando seu intravenoso. Você vai se machucar.
— Pai?
— Estou bem aqui, filho.
O som de uma cadeira raspando azulejos enche meus ouvidos.
— Pai — eu resmungo, me acalmando quando sinto sua mão quente
cobrir a minha. — Onde estou?
Eu não posso vê-lo, mas eu sei que ele está perto.
Sua voz está bem ali perto do meu ouvido, me fazendo sentir seguro.
Sua mão tocou minha testa, escovando meu cabelo para trás, assim como
ele costumava me fazer sentir quando eu era pequeno.
— Você está na sala de recuperação, filho.
Jesus Cristo, eu estou?
Eu consigo me lembrar da viagem de ambulância para o hospital.
Tudo está embaçado.
E indolor.
Eu não sinto dor.
Nenhuma.
— Você fez uma cirurgia, filho — meu pai explica.
— Porra — eu resmungo. — Meu pau ainda está aí?
— Ainda está aí — papai ri baixinho.
— E minhas bolas?
— Também aí — ele medita. — Tudo funcionando.
Eu exalo uma respiração irregular.
— Graças a Deus.
— Você se lembra do jogo ontem à noite? — ele pergunta. — Você estava
mal, filho.
— Eu me lembro da garota — eu falo arrastado. — Por que está tudo
escuro?
— Porque você deveria estar dormindo — meu pai me diz. — São seis
horas da manhã. Ainda está escuro lá fora.
— Então, não há luzes em nenhum lugar? — Eu pergunto, confuso. —
Todas elas se foram?
Ouço sua risada silenciosa.
— Sem luzes por mais algumas horas, Johnny.
— Você tem certeza que meu pau ainda está aí? — Eu chuto meus pés,
mas eles não estão cooperando. — Eu realmente gosto do meu pau, pai. Eu
vou chorar se ele sumir.
— A maioria dos rapazes gosta dessa parte da anatomia, Johnny — papai
ri. — E eu prometo que ainda está lá.
— Verifique para mim — eu murmuro, me sentindo tonto pra caralho. —
Apenas para ter certeza.
Ouço meu pai suspirar pesadamente e então sinto as cobertas sendo
levantadas do meu corpo.
— Tudo aí, garoto — ele me assegura antes de colocar as cobertas em
volta de mim mais uma vez.
— Não está funcionando mais, pai — eu gemo, sentindo uma enorme
onda de devastação encher meu corpo. — Eu quebrei.
— Os médicos consertaram — ele convence. — Está de volta em
funcionamento novamente.
— Eu posso bater uma de novo?
— Sim, Johnny — ele ri. — Em algumas semanas, você pode bater do
fundo de seu coração.
— Minha cabeça está nebulosa, pai — eu gaguejo. — Tudo está quente e
formigando... e eu me sinto grogue como bolas.
— Isso é o remédio, Johnny. Está te deixando sonolento — ele me diz. —
Volte a dormir e você vai se sentir melhor em pouco tempo.
— Como ele está? — uma voz desconhecida pergunta, trazendo consigo
um pequeno flash de luz e o som de uma porta clicando.
— Falando do pau dele — meu pai diz à voz.
— Ah, isso é a morfina — a voz medita, aproximando-se. — Tente fazê-lo
dormir. Estarei de volta em uma hora para checá-lo.
— Pai, há uma garota — eu anuncio quando a porta clica novamente.
— Eu sei, Johnny — papai diz calmamente. — Aquela era sua enfermeira.
— Não, não, não — eu digo, balançando minha cabeça. — Há uma
garota, pai. Uma garota.
— Onde filho?
— Tem uma garota no ônibus — eu falo arrastado. — Eu preciso que
você a encontre para mim.
— Não há nenhuma garota, querido — papai convence. — Também não
há ônibus. Você está drogado com morfina.
— Oh, porra — eu gemo. — Eu estou morrendo ou algo assim?
— Não, Johnny, querido, você não está morrendo.
— Obrigado porra — eu gemo. — Porque eu quero ver aquela garota de
novo.
— Ok, Johnny. Apenas relaxe, amigo.
— Não, não, não, pai, estou falando sério — eu gaguejo. — Eu acho que
eu amo aquela garota.
— Bem, quem é essa garota?
— Ela é um rio — eu suspiro e fecho os olhos. — Eu estou mantendo ela,
pai.
— Ok, filho — ele persuade. — Você fica com a garota.
— Ela faz meu coração disparar, tipo, uau.
— É mesmo? — ele medita.
— Tanto, pai — eu suspiro. — Boom, boom, boom, porra. — Eu balanço
minha cabeça. — O tempo todo.
— Ele está acordado? — a voz de minha mãe enche meus ouvidos,
seguida por outro flash de luz e o som de outra porta clicando.
— Ele está algo, certamente — papai riu.
— Johnny, amor, é a mamãe.
— Mãe — eu digo, sentindo sua mão tocar minha bochecha. — Não fique
chateada.
— Estou além de chateada — ela soluça. — Você poderia ter morrido.
— Ela está chorando, pai? — Eu gaguejo, batendo em algo tocando meu
nariz. — É porque eu fiz sexo. — Sorrindo, acrescento: — Muito sexo. —
Eu rio para mim mesmo, mas parece engraçado. — Brincadeira, mãe... sem
boceta para mim.
— Edel, amor, ele está chapado para cacete — ouço meu pai dizer. — Ele
não vai se lembrar de uma palavra disso. É melhor esperar para falar com ele
até que ele volte bem.
— A conversa — eu gemo alto. — Todas as malditas conversas.
— Johnny, amor…
— Sexo é uma coisa linda — eu disse arrastado. — Quando está entre
dois blá, blá, blá, blá.
Mamãe ri.
— Então, você me escute.
— Mãe! — eu exclamo — Você conhece a garota!
— Que garota, amor?
— A minha garota. — Bato a mão no nariz, coçando o arranhão ou
arranhando a coceira.
Eu não sei de mais nada, mas eu me sinto ótimo para caralho.
— Viu, pai? — Eu bato no meu peito. — Boom, boom, boom, porra.
— Do que ele está falando, John?
— Só Deus sabe — meu pai responde, parecendo completamente
divertido. — Mas é o melhor entretenimento que tive em anos.
— Meu pau funciona de novo, mãe — eu rio arrastado. — O pai
verificou. Minhas bolas estão lá também.
— Oh, Jesus — murmura.
— Está tudo bem — eu balbucio, esmagando meus lábios. — Ela tem
dezesseis agora, e eu tenho... — Eu dou um tapa na minha testa. —
Dezessete.
— Do que você está falando, Johnny?
— As frações, mãe — eu gemo. — Elas estão se aproximando.
— Frações de quê, amor?
— Não muito mais para esperar. — Suspiro. — Obrigado, porra, porque
eu estou apaixonado.
— Você está apaixonado?
Eu balanço a cabeça alegremente.
— E ela é um rio.
— Bem, isso é... adorável, bichinho — mamãe concorda, parecendo
confusa. — Bom menino.
— Eu vou navegar meu barco pelo rio dela — eu rio. — Meu barco de
pau.
— Eles podem apagá-lo de volta? — Mãe resmunga. — Ele vai me dar
um derrame com toda essa conversa.
— Está tudo bem, mãe — eu falo. — Eu vou manter ela também. Fazer
todos os meus bebês com ela porque minhas bolas funcionam, e papai diz
que eu posso bater uma de novo. Woo!
— John! — Mamãe engasga. — O que você tem dito ao nosso filho?
Papai ri.
— Ele tem dezessete anos, Edel. É a primeira coisa que ele vai perguntar
depois de uma cirurgia como essa.
— Oh, querido Jesus — mamãe geme.
— E eu vou comprar um anel para ela... e um cachorro... e navegar em um
barco... e eu vou olhar para os peitos dela porque eu posso. — Suspiro de
contentamento. — Ela tem os melhores peitos, pai.
— Toc, toc — uma voz familiar grita, seguida por mais luz e mais portas
abrindo. — Como está o paciente?
— Gerard — mamãe suspira feliz.
— Gibs! — Eu chamo, procurando no quarto pelo meu melhor amigo e
saindo vazio. — Gibs, cara. Que merda de droga você me deu?
— Ele está muito... chapado agora, Gibs — papai explica. — Não ligue
para o que ele está dizendo.
— É mesmo? — Gibsie ri. — Ei, amigo. Como vai?
— Eles consertaram meu pau, Gibs. — Com muito esforço, consigo
levantar um polegar e acenar com a mão sem rumo. — Dias felizes.
— Woohoo — Gibsie aplaude, pegando minha mão. — Melhor notícia
que ouvi o ano todo. — Ele aperta minha mão. — Você sabe o que isso
significa, não é?
— Mudando de jaquetas — eu digo arrastado.
— Exatamente — Gibsie ri. — Assim que você estiver de pé novamente,
eu vou te levar para sair.
— Rapazes — mamãe repreende. — Gerard, não o encoraje.
— Você entendeu, Gibs — eu gaguejo feliz. — Você me entende.
— Eu entendo você, amigo — ele concorda, apertando minha mão. — Ele
não deveria estar apagado ainda?
— Ele deveria — meu pai responde, parecendo divertido. — Mas o rapaz
é forte como um boi.
— Eu sou um touro — eu gaguejo.
Gibsie ri.
— Você é um touro?
Eu balanço a cabeça.
— Com bolas grandes.
Gibsie ri.
— Grandes bolas que funcionam.
— Eu vou usar aquele lubrificante, Gibs — eu murmuro, me virando para
encontrá-lo. — Ei, onde você foi?
— Estou bem aqui — ele me diz, acariciando minha cabeça. — E eu vou
te comprar um tubo grande assim que estivermos em casa.
— Você é meu melhor amigo — eu digo a ele, mas ele parece um
travesseiro. — Eu amo sua grande cabeça de bola de rúgbi.
Mamãe geme.
— Ah, Johnny.
— Ouça — Gibsie diz em um tom sério. — Eu trouxe uma amiga para vê-
lo.
— Você é meu amigo — eu respondo com um suspiro. — Meu amigo
favorito, porra.
— Eu sei que sou, amigo — Gibsie concorda, apertando minha mão. — E
você é o meu.
— Uma amiga? — Mamãe questiona.
— Sim, uh, ela está lá fora.
— Você a encontrou, Gibs! — exclamo. — Obrigado, porra. Achei que a
tinha perdido.
— Eu encontrei, amigo — Gibsie ri baixinho. — Eu trouxe Shannon de
volta para você.
— Shannon como o rio — suspiro contente.
— Shannon Lynch? — Exclama mamãe. — É sobre quem ele está
divagando?
— Ah, sim — Gibsie medita.
— O que aconteceu com “sermos amigos”, Johnny? — Mamãe perguntou.
— Eu menti — eu rio. — Eu estive mentindo o tempo todo.
— Ah, Johnny — mamãe suspira. — Você nunca teve que mentir, amor.
Eu gosto dessa garota.
— Ela é minha — eu resmungo. — Você não pode tê-la.
Gibsie ri alto.
— Todo mundo sabe disso, Capitão.
Torcendo minha cabeça, tento encontrar meu pai.
— Pai?
— Ainda estou aqui — papai me assegura, apertando minha mão direita.
— Ela é a escolhida — eu sussurro, tentando observá-lo na escuridão. —
Com os peitos perfeitos.
— Você viu os peitos dela? — pergunta Gibis.
Eu balanço a cabeça alegremente.
— Sim.
— Quando?
— Quando ela estava usando minha calculadora — eu gaguejo. — Eu a
amo, Gibs. Tanto. Para cacete.
— Eu sei que sim — Gibsie medita, dando um tapinha no meu ombro. —
Demolidor.
Dou de ombros.
— E eu nem estou arrependido.
— Gerard, talvez você não devesse trazer Shannon aqui — mamãe diz,
parecendo preocupada. — Ele é parcial para dizer qualquer coisa agora.
— Não, não, não — eu resmungo, não me sentindo feliz agora. — Eu
quero vê-la.
— Johnny, amor, ela pode vir te visitar quando você for mais você
mesmo...
— Shannon? — Eu rujo, chamando seu nome a plenos pulmões. —
Shannon?
— Deixe a garota entrar, Edel — papai medita. — Ele vai gritar por todo
o lugar como uma criança de qualquer forma.
— Shannon!
— Oh Jesus, tudo bem! — Mamãe murmura. — É melhor você se
comportar, Johnathon.
O som de saltos altos batendo nos ladrilhos enche meus ouvidos, e então
fico cego pela luz.
Alguns momentos se passam em sussurros abafados.
E então eu ouço essas duas palavras.
— Oi, Johnny.
— Boom, boom, boom, porra, pai — eu gemo, batendo a mão no meu
peito. — Estou acabado.
66
EU NÃO VOU TE DEIXAR

SHANNON

— Shannon, querida — Sra. Kavanagh reconhece quando ela sai do quarto


de hospital de Johnny e me encontra escondida no corredor. — É incrível ver
você de novo.
— Oi, Sra. Kavanagh — eu murmuro, me sentindo incrivelmente incerta.
Eu estou espreitando do lado de fora do quarto de Johnny por mais de dez
minutos, me forçando a não empurrar a porta.
Eu sei que seus pais estão lá, e isso deveria ter me aterrorizado, mas não.
Porque eu preciso ver aquele garoto mais do que preciso ter medo.
Empurrando a parede, junto minhas mãos e pergunto:
— Johnny está bem?
— Bem — ela diz, mordendo o lábio. — Ele está um pouco fora de si
agora, amor.
Oh, Deus.
A preocupação explode dentro de mim.
— Posso vê-lo? — Eu me forço a ser corajosa e perguntar.
A Sra. Kavanagh franze a testa.
— Por favor? Eu serei muito rápida — eu imploro, esperando que sua mãe
tenha misericórdia do meu coração frágil. — Eu só preciso vê-lo... uh, quero
dizer, eu preciso verificar se ele está... bem.
Com um suspiro pesado, a Sra. Kavanagh assente e gesticula para que eu
entre.
Com os pés vacilantes, entro no quarto escuro, iluminado apenas pelas
luzes da cidade que brilham do outro lado da vidraça.
Meus olhos imediatamente dispararam para a cama no meio do quarto.
Há um homem sentado em uma cadeira à direita de Johnny, e Gibsie está
à sua esquerda.
Imediatamente eu reconheço o homem como aquele da fotografia no
quarto de Johnny naquele dia.
O herói.
Seu pai está segurando a mão de Johnny, sentado ao lado de sua cama, e
parecendo seu filho trinta anos no futuro.
Enquanto isso, eu apenas fico ali, no meio de seu quarto de hospital, com
meu coração martelando no meu peito, e meus olhos grudados em seu corpo
caído.
— Oi, Johnny — eu digo, minha voz pouco mais que um sussurro.
— Boom, boom, boom, porra, pai — Johnny gagueja, apertando o peito.
— Estou acabado.
Sua escolha de palavras faz Gibsie rir alto e a Sra. Kavanagh, que se
juntou a nós, gemer de desespero.
— Traga as luzes de volta, pai — Johnny instrui, arrastando suas palavras.
— Ilumine o mundo. Você precisa ver essa garota.
— Johnny — sua mãe diz em um tom de advertência. — Comporte-se.
— Eu quero vê-la, mãe — ele geme. — Eu não posso vê-la.
Meu coração salta no meu peito.
— Eu? — Eu solto.
— Sempre você — Johnny geme — Bolas de merda.
— Ele não é ele mesmo, Shannon — a Sra. Kavanagh se apressa em dizer.
— Não se importe com nada que saia da boca dele.
— Uh... — Eu olho para ela e assinto incerta. — Ok?
Seu pai acende uma pequena luz no teto, banhando o quarto com um
brilho suave.
Com meu coração acelerado, vejo Johnny ligado a uma máquina de bipe
ao lado de sua cama.
Ele tem fios amarrados em seu peito nu, e um saindo de seu braço que
estava preso a um gotejamento.
Pela primeira vez, consigo não cobiçar seu peito nu, concentrando-me em
seu rosto bonito, machucado e cansado.
— Viu ela, pai? Viu? Tão linda para caralho! — Johnny anuncia. — Eu
disse a todos vocês.
Oh, Deus...
— Oh, Johnny — sua mãe suspira.
— Deixe-o em paz, Edel — seu pai ri. — Ele não pode se impedir agora.
— Shannon — Johnny gagueja, soando terrivelmente grogue. — Ela está
muito longe.
— Estou aqui, Johnny — eu murmuro.
— Você está aqui? — Ele assente, mais para si mesmo do que para
qualquer outra pessoa. — Não me deixe de novo.
Meu coração aperta no meu peito e minhas palavras saem em um pequeno
sopro.
— Eu não vou.
Eu me sinto incrivelmente desconfortável, tendo seus pais na sala, mas eu
empurro esses sentimentos e faço minhas pernas caminharem em direção a
ele.
— Como você está se sentindo? — Eu pergunto, fechando o espaço entre
nós, escolhendo dar a volta ao lado de Gibsie na cama. — Você está bem?
— Chegue mais perto — Johnny ronrona, seus olhos turvos treinados no
meu rosto, enquanto ele curva o dedo para mim. — Eu quero te mostrar uma
coisa.
— Ah, tudo bem?
Dando um passo em torno de Gibsie, vou para a cabeceira dele.
— Não se atreva! — A Sra. Kavanagh late, fazendo-me recuar e Johnny
gemer.
— Desmancha-prazeres — Johnny bufa.
— John, coloque esses cobertores debaixo do colchão — ela instrui antes
de virar seu olhar para seu filho. — Eu não me importo com o quão chapado
você está, Johnathon Robert Kavanagh Jr., eu vou castrá-lo se você pensar
em mostrar a ela.
— Me mostrar o quê? — Eu pergunto nervosamente.
— Meu pau — Johnny anuncia, virando-se para me encarar. — Você quer
ver? — Ele sorri preguiçosamente para mim. — Está tudo melhor agora.
Gibsie joga a cabeça para trás e uiva de tanto rir.
O Sr. Kavanagh junta-se a ele.
— E Jesus chorou — soluça a Sra. Kavanagh.
— Ele está chapado, pequena Shannon — Gibsie explica, ainda rindo. —
Para cacete.
— Oh, bem, tudo bem — eu sussurro, sentindo minhas bochechas
queimarem de vergonha.
— Segure minha mão — Johnny instrui, agitando a mão para mim.
Olho para sua mãe, sem saber se ela se importaria que eu tocasse seu filho
nessa condição.
A Sra. Kavanagh apenas suspira e assente.
— Eu estava preocupada com você — eu digo a ele, pegando sua grande
mão na minha. — Você me deu um susto terrível.
— E eu estava preocupado com você — responde Johnny, de olhos
arregalados e sincero. — Estou sempre preocupado com você.
Ele puxa com força e me arrasta para a cama.
— Johnny!
— Está tudo bem — eu asseguro ao Sr. Kavanagh antes de tomar um
assento incerto na beirada de sua cama.
Eu não tinha escolha nisso.
Era sentar na beira da cama de Johnny ou deixá-lo me puxar para cima
dele porque ele não está me soltando.
— Eu não sabia onde você estava — Johnny continua a me dizer enquanto
balança a cabeça, parecendo todo perturbado e confuso. — Eu pensei que
tinha perdido você... e minha cabeça? Minha cabeça está doidinha como as
bolas, baby.
Ele te chamou de baby.
Ele te chamou de baby novamente.
— Estou aqui agora — eu sussurro, incapaz de parar meu sorriso com o
quão adorável ele está neste momento. — E você vai ficar bem.
— Eu te amo, Shannon como o rio — ele balbucia.
Meu coração parou.
Ele acabou de dizer?
Não.
Não, claro que não.
— Eu te amo pra caralho — Johnny diz novamente.
Oh, Deus.
Ele falou.
Ele absolutamente falou.
Duas vezes.
Ele está chapado, Shannon.
Ele não sabe o que está dizendo.
Não leve isso a sério.
— Gibs?
— Sim, cara?
— Minhas bolas não estouraram. — Johnny suspira feliz. — Sem
explosões de bolas.
Gibsie ri.
— Bom saber, Capitão.
— Veja, mãe — Johnny diz em um insulto grogue. — Ela vai ter meus
bebês... — Ele vira a cabeça de um lado para o outro até encontrar meu
rosto. E então ele sorri. — Você terá meus bebês, não é?
— Eu... — Limpo minha garganta e exalo uma respiração irregular. —
Eu...
— Shannon, eu sinto muito — Sra. Kavanagh fala.
— Diga — Johnny geme, segurando minha mão. — Diga-me que você
terá meus bebês.
— Johnny...
— Apenas me diga que você vai — ele implora em voz alta. — Apenas
diga, Shannon! Por favor! Eu não aguento.
— Claro? — Eu murmuro, me sentindo fraca. — O que você quiser,
Johnny.
— Gibs — Johnny chama alegremente. — Você ouviu isso, cara?
— Claro que sim, demolidor.
— Eu não fiz bem, pai? — ele continua a delirar. — Viu? Eu a encontrei!
— Você fez um ótimo trabalho — concorda o sr. Kavanagh.
— Desculpe, pessoal, mas o Sr. Kavanagh só tem permissão para um
membro da família ficar com ele fora do horário de visita — uma enfermeira
fala da porta, tanto me assustando quanto me salvando de ter que responder à
declaração de Johnny. — Se vocês são todos da família, podem revesar —
acrescenta. — Há uma sala de família no terceiro andar, mas vou ter que
pedir a três de vocês que saiam.
— Eu vou ficar — anunciou a Sra. Kavanagh. — John, você pode levar
Shannon e Gerard para um café da manhã. Eu te ligo em algumas horas.
— Ouça, eu tenho que ir — eu sussurro, voltando minha atenção para
Johnny, o coração ainda martelando no meu peito. — Vou tentar voltar mais
tarde antes que o ônibus parta, ok?
— Não, não, não — Johnny geme, segurando minha mão com as suas. —
Você disse que não me deixaria.
Oh, Deus.
— Johnny, eu sei, mas eu tenho que ir — eu sussurro, nervosa. — É só
família.
— Ela é minha esposa — ele anuncia então, explodindo minha mente.
— Johnathon Kavanagh — sua mãe retruca. — Pare com isso agora! Você
vai assustar a garota.
— Do que você está falando? — Johnny gagueja. — Eu não estou
assustando ela. Eu a amo.
— Johnny, eu vou voltar — eu convenço, exalando uma respiração
trêmula. — Eu prometo que vou voltar, ok?
Tento soltar minha mão da dele, mas ele não a solta.
Ele está balançando a cabeça e olhando para mim com olhos grandes,
largos e altos como uma pipa.
— Eu tenho que ir — eu repito, me sentindo completamente dividida. —
Eu sinto muito.
— Eu vou com você — ele anuncia, e então começa a usar uma mão para
rasgar seus fios.
— Pare com isso — eu ordeno, capturando sua mão desonesta com a
minha livre. — Você vai se machucar.
— Eu quero você — ele geme, puxando meus braços. — Só você.
Perplexa, olho para os pais dele que estão assistindo nossa pequena luta.
O Sr. Kavanagh simplesmente balança a cabeça e leva um risonho Gibsie
para fora do quarto.
— Eu vou — prometo à Sra. Kavanagh. — Eu só preciso... — minhas
palavras são interrompidas quando Johnny passa os braços em volta da
minha cintura e se agarra a mim. — Você é um lagarto — murmuro em
desespero, sentindo os olhos de sua mãe no meu rosto.
— Apague as luzes e fique comigo, Shannon como o rio.
— Eu sinto muito por isso. — Eu sussurro enquanto tento e não consigo
me libertar de seu aperto. — Vou demorar um minuto...
— Fique com ele.
Meu olhar estala.
— Huh?
— Não há nenhum ponto em agitá-lo — ela declara calmamente, o olhar
fixo em seu filho, que está acariciando meu estômago. — Se você se sente
confortável em ficar com ele, Shannon, então você pode ficar.
Eu não queria deixá-lo.
Não no vestiário do Royce.
E não agora.
Nunca.
Assentindo lentamente, eu sussurro:
— Eu vou cuidar dele.
— Está bem então. — A Sra. Kavanagh suspira pesadamente. — Eu
estarei de volta em pouco tempo.
E então ela se vira e sai do quarto.
— Você está com problemas comigo — eu digo a Johnny uma vez que a
porta se fecha, deixando-nos sozinhos. — Quando você voltar aos seus
sentidos, vamos falar sobre o que você acabou de fazer.
— Eu não me importo — ele balbucia grogue. — Consegui o que queria.
— E o que foi isso? — Eu pergunto. — Envergonhar sua mãe?
— Você — ele balbucia. — Consegui você.
Oh, Deus.
Meu coração.
— Johnny, você está dizendo coisas estranhas agora — eu suspiro.
E você precisa parar.
Porque dói.
— Olhe para esse rosto — ele sussurra, olhando para mim com uma
expressão peculiar. — Eu vou manter você.
— Ok. — Cedendo à sua loucura, eu o convenço a se deitar em seu
travesseiro. — Você pode me manter.
Sentada ao lado dele, eu me inclino para frente, descanso um braço em um
lado de sua cabeça e acaricio sua bochecha com minha mão livre.
Suas mãos ainda estão em volta da minha cintura, mas não com tanta
força agora.
— Feche os olhos — eu digo a ele suavemente. — Estarei aqui quando
você acordar.
— Fala que você me ama — ele implora.
— Johnny...
— Fala.
Inalando uma respiração firme, eu sussurro:
— Johnny, eu te amo.
— Obrigado porra — ele geme, exalando alto.
— Você não vai se lembrar disso — acrescento trêmula. — Mas eu vou.
O que é a única razão pela qual eu estou dizendo a ele a minha verdade.
— Eu amo seus peitos — ele me informa então.
— Você não os viu.
Ele assente solenemente.
— Eu vi.
Eu balanço minha cabeça.
— Não, você deve estar pensando em outra pessoa.
— Eu só penso em você — ele responde. — Só você.
Meu coração.
Meu pobre, pobre coração.
Não tenho chance contra esse garoto.
— E sua boceta. — Ele fecha os olhos e geme. — Eu também a vi.
Sim.
Sim, ele viu.
Oh, graças a Deus ele não disse isso na frente de seus pais...
— É minha.
— O que é sua? — Eu pergunto.
— Você. — Ele suspira e aperta seu abraço em mim. — E sua boceta
perfeita e pequena.
— Johnny — eu suspiro. — Você não pode dizer coisas assim.
— Toca no meu pau.
— Não, Johnny, eu não vou tocar no seu pau.
— Tem certeza?
Eu rio.
— Tenho certeza.
— Mas você vai, certo? — ele pergunta, parecendo desamparado. —
Algum dia?
— Algum dia — eu sussurro em seu ouvido. — Eu prometo.
Ele sorri para mim com essa expressão adorável e bêbada.
— Me dá um beijo — ele ronrona.
Balançando a cabeça, me inclino para frente e pressiono meus lábios nos
dele.
— Não me deixe — ele geme então, o rosto se contorcendo de dor. — Eu
não estou bem, mas... mas não se vá?
— O quê?
— Eu estou... quebrado.
Eu balanço minha cabeça.
— Você não está quebrado.
Johnny geme como se estivesse com dor.
— Acabou o... rúgbi — ele balbucia e então balança a cabeça.
— Não importa.
Ele assente solenemente.
— Sim.
— Olhe para mim... — Eu inclino seu rosto para o meu. — Johnny
Kavanagh, abra os olhos e olhe para mim.
Com muito esforço, ele consegue.
Espero vários segundos para que ele se concentre no meu rosto antes de
continuar.
— Você vale muito mais do que o rúgbi. — Eu beijo seus lábios porque,
francamente, eu tenho um problema com beijos inapropriados quando se
trata desse garoto. — Se você nunca pegasse uma bola de rúgbi pelo resto de
sua vida, isso não importaria para mim.
— Eu acho que eu preciso de você para sempre — ele balbucia.
— Acho que preciso de você para sempre também — confesso.
— Você é tão bonita — ele balbucia. — Naquele primeiro dia. Boom.
— Boom? — Eu rio.
Ele assente solenemente.
— Boom.
— Ouça, eu vou sentar na cadeira ao lado da sua cama. — Eu falo
enquanto tento me desembaraçar de seus fios e mãos escorregadias. — Então
você pode dormir um pouco.
Johnny balança a cabeça e me puxa para mais perto.
— Dorme comigo.
— Johnny, você acabou de sair de uma cirurgia — eu suspiro — Precisa
de descanso.
— Se isso é amor, então é você — ele responde, me arrastando para baixo
para deitar ao lado dele.
— Huh? — Eu pergunto enquanto deslizo para o meu lado e tento o meu
melhor para não cutucar suas pernas.
— Você — ele murmura sonolento, soltando um braço pesado em volta
dos meus ombros.
— Eu o quê? — Eu sussurro quando coloco minha mão em seu estômago
e me aconchego ao seu lado.
— Você é amor. — Ele suspira satisfeito. — Fique comigo.
Sempre.
— Eu vou ficar com você — eu sussurro, sentindo mais neste momento
do que eu posso suportar.
— Quem está te deixando triste? — ele pergunta então, a voz arrastada e
sonolenta. — Me diga, baby.
— Ninguém, Johnny.
— Você mente e isso machuca meu coração — ele geme, apertando seu
aperto em mim. — Todas essas marcas. Dói quando eu sei que alguém está
machucando minha Shannon.
— Johnny...
— Quem está machucando você, baby? — ele balbucia sonolento. Ele
boceja alto e então suspira. — Eu resolvo isso.
— É um segredo — eu respiro, sentindo meu corpo tremer.
— Eu não vou contar — ele sussurra.
Inalando uma respiração trêmula, eu cerro meus olhos e pressiono meus
lábios em seu ouvido.
— Meu pai.
Espero vários segundos para que ele diga alguma coisa.
Ele não fala.
Quando abro os olhos e olho para o rosto dele, percebo o porquê.
Johnny está dormindo.
67

PLANO B

JOHNNY

Tudo dói.
Minhas bolas.
Minhas pernas.
Meu pau.
Minha cabeça.
Sinto como se tivesse sido ceifado por um trem de carga.
Há pressão no meu peito.
Algo não está certo.
E eu posso sentir o cheiro de coco?
E então me lembro.
Acabou.
Todo o meu trabalho duro.
Todos os anos de sessões de treinos incansáveis e extenuantes foram em
vão.
Porque meu corpo desistiu de mim.
E agora eu estou quebrado.
Acordando bruscamente, abro os olhos, me sentindo em pânico e à beira
de um colapso nervoso.
Por alguns momentos, eu olho para o teto, apenas absorvendo a
devastação que lava meu coração como uma onda de destruição.
Inalando várias respirações profundas, me movo para sentar, apenas para
cair de volta quando noto a pequena estrutura enrolada na cama ao meu lado.
Puta merda.
— Shannon?
— Hum?
— Shannon — eu murmuro, cutucando-a com minha mão. — Acorda.
Bocejando baixinho, ela sai de onde está aninhada na dobra do meu braço.
— Você está acordado — ela diz, sorrindo para mim.
Eu balanço a cabeça com cautela.
— Você se lembra de onde você está?
Eu balanço a cabeça novamente.
— Você se lembra do jogo?
— Eu me lembro por que eu estou aqui — eu resmungo, sentindo a boca
seca e rouca. — Eu não me lembro por que você está aqui.
Shannon olha para mim por um longo momento e então seus olhos se
arregalam e ela rapidamente sai da cama.
— Você queria que eu ficasse com você — ela explica em um tom calmo,
juntando as mãos.
Eu faço uma careta.
— Eu queria?
Eu não consigo me lembrar.
Era uma névoa.
Shannon assente.
— Sim, eu vim ver você com Gibsie esta manhã, bem, eram seis horas da
manhã, então acho que você entende como ontem à noite? Eu não sei...
— Quanto tempo? — Eu a interrompo perguntando.
Eu estou me sentindo muito desesperado para ouvir divagações.
Shannon olha fixamente para mim.
— Huh?
— Quanto tempo eu estou fora? — Eu falo.
Ela consulta o relógio.
— São 11:45, então perto de seis horas.
— Não. — Eu balanço minha cabeça e expulso um grunhido frustrado. —
Quanto tempo eu estou fora?
Ela balança a cabeça.
— Não entendo.
— Quanto tempo eu estou fora por causa da lesão! — Eu sibilo, apertando
os lençóis enquanto a devastação chega a moradia do meu coração partido.
— Johnny, não importa...
— Isso importa, Shannon — eu rebato, a voz embargada. — Isso importa
para mim.
Ela apenas olha para mim com aqueles grandes olhos cheios de medo,
preocupação e simpatia.
Eu não posso lidar.
Não agora.
Eu não quero que ela me veja desmoronar.
Eu não posso lidar com isso.
— Você pode me passar isso, por favor? — Aponto para o gráfico
pendurado no pé da minha cama. — Eu preciso ver.
Ela morde o lábio, olhando para o meu gráfico nervosamente.
— Johnny, talvez você devesse esperar por um médico...
— Eu preciso ver a porra do gráfico — eu solto. — Eu preciso ver por
mim mesmo.
Shannon se encolhe e eu me sinto pior do que nunca.
— Por favor. — Eu exalo um suspiro pesado. — Me passa o gráfico.
Sem outra palavra, ela me entrega a prancheta.
— Obrigado.
Ela abaixou a cabeça e funga.
Porra.
Porra!
— Você pode ir encontrar meu pai? — Eu pergunto, tentando
desesperadamente discutir minhas emoções.
Ela olha para mim toda solitária e magoada.
— Se é o que você quer?
Eu mordo de volta um gemido e assinto.
— Isso é o que eu quero.
— E– e sua mãe?
— Não, apenas meu pai — eu a aviso. — Só meu pai.
— Uh, ok — Shannon sussurra, olhando incerta para a porta.
Prendo a respiração, desesperado para não desmoronar na frente dela.
— Posso ir? — ela diz, mas era mais uma pergunta.
Eu balanço a cabeça rigidamente, resistindo à vontade de implorar para
ela ficar e me abraçar e fazer promessas que nenhum de nós poderá cumprir.
Ela não pode consertar isso para mim, e eu estou com medo de perder
mais do que já tinha perdido.
Eu sei que ela é frágil e não quero assustá-la. Se ela ficar neste quarto, é
exatamente isso que eu vou acabar fazendo.
Se eu fizer isso – se ela ver o meu lado feio, a fraqueza em mim – eu a
perderei também.
Eu não posso perdê-la também.
Com o coração martelando, eu a vejo abrir a porta e parar na porta.
— Tchau Johnny — ela sussurra, olhando para mim uma última vez.
Engulo profundamente antes de soltar as palavras
— Tchau, Shannon.
Espero até que a porta se feche atrás dela antes de arrancar as cobertas do
meu corpo para verificar os danos.
Jesus Cristo.
Abaixando minha cabeça no travesseiro, mordo meu punho e sufoco meu
choro.
Quando meu pai entra na sala trinta minutos depois, ele está sozinho.
— Bom dia, garanhão — ele diz com um sorriso.
— Pai — eu engasgo, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
No minuto em que papai vê minha expressão, seu sorriso cai.
Colocando seu copo de plástico na minha mesa de cabeceira, ele afunda
na beirada da minha cama e me puxa em seus braços.
— Johnny — ele suspirou. — Deixe tudo sair, filho.
E é ali que eu choro como uma maldita criança no ombro do meu pai.
— O que estou encarando? — Engasgo quando as palavras me encontram.
— Seis semanas no mínimo — ele me diz com aquela honestidade que eu
o respeito.
— Pai, acabou. — Eu balanço minha cabeça e resisto à vontade de rugir.
— A campanha de verão.. O sub-20... acabou para mim!
— Não acabou — ele me assegura. — Adiou, mas não é impossível.
— Adiou — eu solto, sentindo meu coração bater tão forte que penso que
pode parar completamente. — Porra.
— Não se esqueça de quem você é. — Ele se levanta e me ajuda a sentar
na beirada da cama. — Você é meu filho — acrescenta, abaixando meus pés
no chão. — E você é um lutador.
Eu abaixo minha cabeça.
— Eu não me sinto como um lutador.
— Você é um lutador desde o dia em que nasceu. — Ele corrige,
levantando meu queixo de volta e me forçando a encontrar seu olhar de
olhos azuis. — Você nunca deixou nada atrapalhar seus objetivos, e com
certeza não vai deixar seis semanas te parar.
— E se eu não conseguir? — Eu engasgo, expressando meu maior medo.
— Se eu não estiver em forma até lá?
— Então você não consegue — ele responde simplesmente.
Eu balanço minha cabeça e solto um soluço de dor.
— Pai, eu não posso lidar...
— Se você não conseguir neste verão, não conseguirá neste verão —
repete ele. — Você ainda é Johnny Kavanagh. Você ainda é um estudante de
honra. Você ainda é um bom homem. E você ainda é minha melhor decisão.
Pela milionésima vez na minha vida, me vejo olhando para o homem que
me criou e pensando: algum dia serei tão forte quanto você?
Observo meu pai enquanto ele puxa uma cadeira e a coloca na minha
frente.
— Agora — ele diz enquanto se senta e afrouxa a gravata. — Vamos cair
na real, filho.
Ah, merda.
— Real? — Eu resmungo.
Papai assente.
— Diga que você não vai chegar aos sub-20 em junho…
— Pai, eu não posso…
— Ouça-me — ele diz calmamente.
Triste, eu assinto.
— Diga que você não chega lá em junho — papai continua a dizer,
expressando meu pior pesadelo em voz alta. — É devastador. Sua mãe e eu
entendemos. Você pode pensar que não, mas nós trouxemos você para este
mundo, e cada momento doloroso em sua vida que você suporta, e cada
obstáculo que você tropeça, estamos lá, Johnny. Estamos bem atrás de você,
sentindo tudo. Sua dor, frustração e seus medos. Está tudo espelhado de
volta para nós. Suas conquistas são nossas e sua mágoa é nossa. Porque você
é tudo o que temos, Johnny. Só você. É isso.
Agora eu me sinto pior do que quando acordei.
— Pai...
— Quando você for mais velho e tiver seus próprios filhos, um filho seu,
você entenderá o que quero dizer — acrescenta, calmo como sempre. —
Mas por enquanto, você vai ter que acreditar na minha palavra.
Eu balanço a cabeça, me sentindo um merda e sabendo muito bem o que
está por vir.
— O que você fez, Johnny? — Meu pai diz. — O perigo em que você se
colocou? — Ele balança a cabeça e exala uma respiração trêmula. — Não há
palavras para compreender como ficamos devastados ao receber aquele
telefonema ontem à noite. — Ele se inclina para frente em seu assento e
junta as mãos. — Saber que nosso menino estava arriscando sua saúde e seu
futuro assim, e que ele estava há meses.
Meus ombros caem de vergonha.
— Sinto muito, pai.
— Eu não preciso de um pedido de desculpas — meu pai responde sem
uma pitada de raiva em seu tom. — Eu preciso que você entenda. Dar um
passo para trás deste sonho que você está perseguindo e perceber que sua
vida já está acontecendo.
— Eu só quero tanto, pai — eu confesso, mordendo meu lábio. — Tanto,
porra.
— E eu quero isso para você — ele me diz. — Eu quero que você persiga
seus sonhos, Johnny. Eu quero que você os torne realidade. Eu quero que
tudo que você quer da vida aconteça para você. Mas eu preciso que você
faça tudo isso com a cabeça firme. — Ele se recosta na cadeira e me encara
por um longo momento antes de falar novamente. — Até os melhores caem
às vezes, filho. O que você faz a seguir – com pensamento claro, calculado e
lógico – é o que vai definir você.
Sim.
Eu entendo.
Eu o ouço.
Exalando um suspiro pesado, eu esfrego a mão no meu rosto e pergunto:
— Então, qual é o plano?
Papai sorri.
Eu faço uma careta para ele.
— Por que você está olhando assim para mim?
Ele inclinou a cabeça para um lado, ainda sorrindo.
— Estou apenas olhando para o meu menino e me sentindo grato por ver o
fogo em seus olhos novamente.
Eu dou de ombros impotente.
— Tinha ido embora?
— Não por muito tempo — ele me diz. — E o plano é recuperação e
repouso na cama. 7, 10 dias.
Eu exalo uma respiração irregular.
— Jesus, pai.
— Esse é o plano, filho — papai diz severamente. — A partir daí, vamos
avançar com a reabilitação.
— A Academia? — Eu engulo profundamente. — O treinador Dennehy
entrou em contato com você?
— Eles estão furiosos com você — papai responde, sem medir suas
palavras. — O que é de se esperar quando o centro número um do país quase
termina sua carreira antes de seu aniversário de dezoito anos.
Eu gemo.
— Cristo, não diga isso assim.
— A verdade é sempre melhor do que uma mentira — ele retruca com um
sorriso conhecedor. — Mais doloroso, mas muito mais benéfico a longo
prazo.
— Você é um advogado — eu bufo. — Você é pago com uma fortuna do
caralho para mentir.
— Não para você — papai responde com um sorriso. — Você obtém meus
serviços gratuitamente e cem por cento verdadeiros.
Sorrindo, ele acrescenta:
— Se você quer alguém para acalmá-lo, então você deve ter essa conversa
com sua mãe.
— Sim, bem — eu murmuro. — Você poderia suavizar um pouco, com
bordas, pai. Isso dói.
— As picadas vão te deixar mais forte — ele me diz. — Há um mundo
grande e ruim lá fora, filho. São tudo arestas afiadas.
— E o meu contrato com a academia? — ouso perguntar.
— Ainda muito em vigor.
Eu exalo um enorme suspiro de alívio.
— Não se surpreenda — papai medita. — Você é brilhante. Um idiota
descuidado, obstinado e suicida com uma mente brilhante para o rúgbi e o
talento para levá-lo a qualquer nível que você deseja ir. Eles sabem disso,
Johnny. Eles não vão deixar você ir.
Quando ele me diz isso, eu sei que não é mentira.
Ele não vai me enganar.
— Você acha que eu vou conseguir, pai? — Eu pergunto então, olhando
para o rosto do meu pai. — Você acha que eu posso fazer isso?
— Sim — ele responde sem hesitação.
Meu coração acelera.
— Sério?
Meu pai assente.
— Sim, Johnny. De verdade
Com essas palavras, sinto uma pequena raiz de esperança brotar dentro de
mim.
Eu posso puxar isso de volta da borda.
Eu posso fazer isto.
Meu pai acha que eu consigo.
— Mas você está dispensado de seus deveres — papai acrescenta.
Eu suspiro pesadamente.
— Esperado.
— E o treinador Dennehy vai ter uma conversa acalorada com você.
Eu faço uma careta.
— Também esperado.
— E você precisará passar por três avaliações separadas antes de pisar em
um campo novamente, seja na academia, no clube ou no rúgbi da escola —
ele diz. — E esses pés devem ficar firmemente fora da grama até maio.
— Encantador. — Passo a mão pelo meu cabelo e suspiro. — Jesus.
— Não entre em pânico — ele diz calmamente. — Você conhece o plano.
Está aí. Bem na sua frente. Parte de voltar ao time é se curar. Descansar seu
corpo agora é tão crucial quanto qualquer outro treino ou compromisso de
rúgbi.
Eu entendo.
— É uma merda — eu murmuro.
— Olhe por este lado — papai oferece com um sorriso. — Você terá
tempo ilimitado em suas mãos para passar com Gibsie.
— Ai, Jesus.
Papai ri.
— Quem eu presumo que nunca vai deixar você viver depois da noite
passada.
— Não. — Eu faço uma careta. — Ele provavelmente não vai. — Olho
para ele e pergunto: — Então, por quanto tempo vou ficar preso no hospital?
— Mais alguns dias — papai responde. — Nós vamos te levar para casa
então, e você pode começar a reabilitação.
— Você realmente acredita que eu consigo mudar isso, pai?
Papai assente.
— Se você começar a seguir as regras, com certeza, você pode mudar
isso.
Eu balanço minha cabeça novamente.
— Por que diabos eu não falei com você meses atrás?
— Porque eu sou um pai workaholic que deveria ter passado mais tempo
focando em manter meu filho fora de perigo, ao invés de manter os filhos de
outros pais fora da prisão — ele responde.
— Pai, para — eu aviso. — Não é sua culpa. Ou da mamãe.
— Não, é sua — ele concorda, novamente me ferindo com a verdade. —
Mas, você é jovem e inexperiente e teimoso, e eu deveria estar lá para
controlar você. Eu estarei lá, Johnny — ele acrescenta então. — Mais.
— Eu não culpo você por amar seu trabalho — respondo. — Eu sou o
mesmo.
Ele sorri.
— Eu sei que você é. Limpei minha agenda para o resto das férias da
Páscoa.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Você está voltando para casa?
— Eu estou, filho.
— E mãe?
Meu pai ri.
— Oh, Johnny, se ela pudesse, ela colocaria você de volta em um carrinho
de bebê e o empurraria com ela. Ela não vai deixar você fora de vista dela.
— Porra.
— Você precisa ganhá-la de volta, filho.
— A confiança?
Papai assente.
— Isso mesmo.
— Então, onde ela está? — Eu resmungo, pensando em quanto choro eu
ia enfrentar da minha mãe.
— Ela vai voltar daqui a pouco — papai diz. — Ela foi buscar algumas
roupas para você.
— E Gibsie?
— Ele está na cantina — ele responde com um sorriso. — A garota atrás
do balcão está tentando chamar sua atenção.
— Eu aposto — eu murmurei.
Filho da puta com tesão.
— Gibsie vai ficar conosco até levarmos você para casa em Cork — papai
diz então. — E provavelmente enfrentando suspensão quando você voltar
das férias de Páscoa.
Sorrindo, papai acrescenta:
— Você deveria ter ouvido como ele chamou seu treinador quando chegou
ao hospital mais cedo, foi por isso que demorei tanto para voltar para você.
Gerard recusa-se a voltar no ônibus. Aparentemente, ele fugiu do hotel para
vê-lo nas primeiras horas desta manhã. Ele está com sérios problemas com
seu diretor. Eu tive que ligar para a escola e seus pais antes que o treinador
Mulcahy concordasse em deixá-lo ficar conosco.
— Oh, pelo amor de Deus — eu gemo. — Não posso levá-lo a lugar
nenhum.
— Ele é um amigo leal para você, Johnny — papai responde. — Você tem
sorte de tê-lo.
Eu sei.
— E Shannon? — Eu resmungo, estremecendo com a memória de quão
horrível eu reagi em relação a ela quando acordei. — Ela está bem? Ela está
na cantina com Gibs? — Engulo profundamente, sentindo-me incrivelmente
exposto neste momento. — Você pode ir buscá-la para mim, pai? Eu
realmente preciso falar com ela.
Papai suspira pesadamente.
— Shannon foi para casa, Johnny.
Meu coração afunda.
— Ela me deixou — eu murmuro.
Era isso.
Esse era o início de tudo.
Eu não valia merda nenhuma sem o rúgbi.
— Não. Ela ficou com você — papai corrige — Quando você estava louco
e qualquer um em sã consciência teria corrido para as colinas, aquela garota
ficou ao lado da sua cama, ouvindo você falar da sua bunda.
— Sim, bem, ela se foi agora, não é? — Eu murmuro, sentindo uma pena
para caralho de mim mesmo.
— Quando você estava de costas para a parede na noite passada, quem
sentou aqui com você?
Eu o encaro.
— Quem segurou sua mão, Johnny?
— Pai...
— Quem esperou a ambulância com você?
— Pai, pare...
— Quem foi verificar você quando você estava no seu pior?
Eu olho para ele.
Ele sabe...?
— Sim, estou bem ciente do que aconteceu entre vocês dois naquele
vestiário. — Papai sorri. — Seu treinador me contou tudo sobre a posição
comprometedora em que ele encontrou você e Shannon.
— Aquele maldito traidor — eu resmungo.
— Ele é seu professor, Johnny. Ele tem que relatar incidentes dessa
natureza. Ele não tem escolha. É obrigatório.
— Os pais dela?
— Eu presumo que eles estão cientes da situação.
Eu balanço minha cabeça.
— Pelo amor de Deus.
Ele suspira pesadamente antes de acrescentar:
— Eu suspeito que ela mesma esteja com problemas por se esgueirar até
aqui.
— Porra. — Deixo cair minha cabeça em minhas mãos e ignoro a dor
lancinante que sobe pelas minhas pernas. — Porra, pai, eu fui um completo
idiota com ela quando acordei.
— Então conserte — ele responde calmamente.
— Você não entende — eu solto, me sentindo o pior pedaço de merda do
planeta. — Entrei em pânico e reagi com ela, mas ela é frágil, pai. Ela é
tão... E eu estou tão...
— Apaixonado por ela? — Papai sorri. — Sim, todos nós sabemos,
Johnny. Você gritou aos quatro ventos ontem à noite.
— Merda — eu gemo. — Ela ficou apavorada?
— Sua mãe certamente ficou — papai ri. — Quando você disse a ela que
Shannon seria mãe de seus filhos.
— Jesus Cristo — eu choramingo. — Por que você não me parou?
— Nós não poderíamos — ele responde. — Você só se contentaria com
Shannon. Você adormeceu em seus braços.
Ugh.
Cristo.
— Vou tomar um café e dar uma olhada naquele seu melhor amigo —
meu pai anuncia enquanto se levanta da cadeira. — Mas você pode me fazer
um favor? Quando sua mãe chegar mais tarde, você pode acalmá-la?
Sorrindo, ele acrescenta:
— Algumas das coisas sobre as quais você estava reclamando ontem à
noite abalaram a pobre mulher.
— Eu não me lembro de uma maldita coisa — eu gemo. — Tudo está
nebuloso.
— Você pode não se lembrar — papai ri enquanto caminha até a porta e a
abria. — Mas ela vai se lembrar pelo resto de sua vida.
Espero até meu pai sair do quarto antes de pegar meu telefone.
Meu pai.
Meu pai.
Por que diabos eu estou ouvindo Shannon dizer essas palavras?
E por que meu coração está me dizendo que era algo vital?
Jesus, eles devem ter me nocauteado com alguma merda forte, drogas de
classe A.
Foco, Johnny.
Lembre.
Percorro meus contatos com a intenção de ligar para ela para pedir
desculpas, apenas para cair em desânimo quando lembro que não tenho o
número dela.
E mesmo que eu tivesse, eu não posso ligar para ela.
Porque o pai dela pegou o telefone dela.
Meu pai.
Meu pai.
O que eu estou perdendo aqui?
68

MEDOS FRUSTRADOS

SHANNON

Eu não quero ir para casa.


Mas eu sei que preciso.
Eu não quero ser espancada.
Mas eu sei que vou.
De uma maneira confusa, aceito meu destino.
Eu sei que não há outra saída.
Portanto, não fico surpresa quando a primeira coisa que me cumprimenta
quando entro pela porta da frente no sábado à noite é o punho do meu pai.
A força do golpe tira o ar dos meus pulmões e eu caio no chão do corredor
sobre minhas mãos e joelhos.
— Eu sabia! — Papai rosna enquanto se eleva acima de mim, olhos turvos
e fedendo a uísque. — Porra, eu sabia que você estava se prostituindo — ele
ruge — Eu disse a sua mãe e ela não acreditou em mim.
Eu não tenho a chance de responder ou me defender antes que ele
estendesse a mão e agarrasse meu cabelo, me arrastando ainda mais para
dentro da casa.
— Saia de cima de mim — eu grito, agarrando sua mão enquanto ela
dolorosamente crava em meu couro cabeludo. — Pare!
É isso.
Este é o dia em que você morre.
— Você é uma pequena vagabunda — meu pai rosna, não parando até que
estávamos na cozinha.
Ele literalmente me arrasta pelos os meus pés apenas para me arremessar
para longe como uma boneca de pano.
Meu rosto bate no canto da mesa da cozinha com um baque e eu desabo
no chão, caindo com força nos azulejos frios da cozinha.
— Sua escola de vagabundas ligou! — Papai ruge, suas palavras
arrastando enquanto ele fecha o espaço entre nós. — Me disse o que seu
professor te pegou fazendo, sua putinha suja!
— Eu não fiz nada! — Eu grito enquanto lágrimas quentes escorrem pelo
meu rosto. — Estou sangrando — eu soluço, segurando o lado do meu rosto
enquanto a umidade escorria pelos meus dedos.
— Você vai estar sangrando muito pior quando eu terminar com você! —
Papai ruge na minha cara.
Agarrando meu braço, ele me sacode com tanta força que minha cabeça se
move para frente e para trás violentamente.
— Sua pequena vagabunda, andando na porra dos vestiários.
— Eu não estava! — Eu grito, tentando me libertar de seu aperto. — Saia
de cima de mim!
— Você quer acabar como sua mãe? — ele zomba. — É isso? — Ele me
sacode mais forte. — Você quer transar e ter um bebê aos dezesseis anos?
— Sai de cima dela! — uma voz grita.
Meus olhos pousam em meu irmão de onze anos parado na porta e meu
coração afunda.
— Não, Tadhg — eu solto. — Volte para cima.
— Cai fora, garoto — papai late, me soltando. — Se você sabe o que é
bom para você.
— Deixe minha irmã em paz — Tadhg rosna, dando um passo para a
cozinha.
— Sua irmã é uma puta — papai fala arrastado, concentrando sua atenção
no meu irmãozinho. — Você vai defender uma puta, garoto?
— Ollie — Tadhg grita corajosamente — Peça ajuda.
Com o canto do olho, eu noto meu irmão de nove anos encolhido no
corredor com Sean de três anos debaixo do braço.
Todos os três meninos eram reencarnações de nosso pai, com cabelos
loiros cor de areia e grandes olhos castanhos, e todos os três meninos neste
momento estão olhando para nosso pai com horror.
— Leve suas bundas para cima antes que eu os bata — papai rosna.
Sean corre para a escada e Ollie mergulha para a porta da frente.
Mas Tadhg fica onde está.
— Você não pode fazer isso com ela — ele desafia, olhando para nosso
pai com o queixo levantado. — Joey diz que não batemos em garotas.
Tremendo, me levanto e corro para interceptar Tadhg antes que nosso pai
possa.
— Vá para a porta ao lado de Fran e telefone para Joey — eu imploro,
enquanto tento empurrá-lo para fora da cozinha e fora de perigo.
Mesmo tendo apenas onze anos, ele já é mais alto e mais forte do que eu.
Mas ele era meu irmãozinho e eu o protegeria com minha vida.
— Por favor, Tadhg — eu imploro. — Apenas vá.
Tadhg não se mexe.
— Eu vou te proteger — ele me diz antes de se virar para o nosso pai.
Oh Deus, não...
— Eu não tenho medo de você! — ele sibila, tomando uma postura
protetora na minha frente. — Você se acha durão, mas não passa de um
canalha alcoólatra que anda por aí batendo em garotas!
Nosso pai dá um passo ameaçador para mais perto e meu coração dá um
pulo de pavor.
Por puro pânico, jogo meus braços em volta do meu irmãozinho e me
preparo para o impacto.
O golpe vem entre o meio das minhas omoplatas, levando consigo o ar
dos meus pulmões e as minhas pernas debaixo de mim.
Dobrando no chão, eu me enrolo na menor bola que posso enquanto a bota
do meu pai bate nas minhas costas repetidamente.
— Pare! — Tadhg está gritando, batendo com os punhos nas costas de
nosso pai. — Você está matando ela.
— Tadgh, corra... — Ofegante, tento me levantar, mas papai pega meu
rabo de cavalo e me arrasta do chão.
— Você é uma mentirosa do caralho — ele rosna segundos antes de seu
punho acertar meu rosto. — Uma prostituta suja.
— Shannon! — meu irmãozinho grita, debatendo-se impotente. —
Shannon!
— Desculpe — eu solto, tossindo quando o sangue escorria na parte de
trás da minha garganta. — Por favor pare…
Outro soco no meu rosto faz meus dentes baterem com tanta força na
minha boca que minhas pernas cedem mais uma vez e eu desabo no chão,
sentindo um pedaço do meu cabelo arrancar do meu couro cabeludo.
— Deixe-a em paz — Tadhg soluça, jogando seus braços ao redor do meu
corpo. — Por favor, não a machuque.
Ouço o grito do meu irmãozinho quando ele é arrastado para longe de
mim.
— Pai — eu engasgo, tentando desesperadamente arrastar o ar para os
meus pulmões. — Pai, por favor, apenas…
Sua bota acerta meu rosto e eu perco o foco.
Minha cabeça cai.
Meus olhos rolam para trás.
Ele vai acabar com você.
Acabou.
Tremendo, eu me enrolo o mais pequena que posso e cerro os olhos.
Você está de volta naquele quarto com Johnny.
Ele está dizendo que te ama.
Você está bem.
Chute após chute após chute.
Resmungando e ofegando, tento desesperadamente me agarrar à imagem
de seu rosto.
Está desaparecendo.
Meu corpo não está doendo tanto.
Eu não estou sentindo os chutes ou os golpes agora.
Eu não consigo ouvir os gritos dos meus irmãos.
Tudo está quente.
Quente e leve.
Você está morrendo.
Basta fechar os olhos e ceder.
Feche os olhos, Shannon, e tudo acabará em breve...
— Ele está vindo! — Eu ouço meu outro irmãozinho, Ollie, gritar
enquanto o som da porta da frente batendo enche meus ouvidos. — Saia de
cima da minha irmã!
Usando cada grama de energia que resta dentro do meu corpo, me forço a
cobrir a cabeça com as mãos e me proteger dos golpes do meu pai.
Fique acordada.
Ainda não acabou.
Você não vai morrer nesta casa.
Hoje não.
Pude ouvir vozes então: tanto a de mamãe quanto a de Joey.
Joey.
Eu podia ouvir Joey.
Ele está aqui.
E de repente a dor se foi.
O chute para.
A sensação de dois pares de mãos envolvendo meu corpo enche meus
sentidos – o que resta deles – e eu abro meus olhos para a visão dos meus
irmãos tentando proteger meu corpo com o deles.
Tadhg está sangrando.
Pelo menos, eu penso que ele está.
Sua bochecha está manchada de sangue vermelho brilhante.
Talvez seja o meu sangue.
Eu não posso dizer mais.
Ofegante, luto para arrastar o ar em meus pulmões, enquanto minha visão
turva por vários segundos antes de finalmente entrar em foco.
Minha mãe está parada no meio da cozinha.
Meu pai se afasta vários metros de mim, olhando cautelosamente para a
porta.
Mamãe dá uma olhada em mim, Ollie e Tadgh amontoados no chão e
começa a chorar.
Joey, que está congelado na porta, tem uma reação diferente.
Largando sua bolsa de equipamentos no chão, ele pula para cima de papai,
lançando-o no chão.
— Seu filho da puta — ele rosna enquanto enterra os punhos no rosto do
nosso pai. — Seu maldito animal sujo!
Recuando, ele dá um soco em nosso pai e então pula de pé.
— Bata em mim — ele exige, arrastando papai do chão. — Vamos, idiota.
— Empurrando o peito, ele gesticula para o pai socá-lo. — Bata em alguém
do seu tamanho, porra.
— Joey! — Mamãe grita. — Por favor, não...
— Cala a boca! — Joey ruge de volta para ela. — Você é a desculpa mais
patética para uma mãe que já andou na terra.
— Seu merdinha. — Papai balança o punho e bate a bochecha do meu
irmão. — Eu vou te ensinar boas maneiras ainda, garoto!
— Você viu isso? — Joey exige, dirigindo sua pergunta para mamãe. —
Você viu ele me bater? — Esquivando-se de outro soco de nosso pai, Joey
recua e nivela nosso pai com um soco no rosto. — Você não pode ver o que
ele está fazendo com seus filhos?
Sangue espirra em todos os lugares.
Papai cambaleia para trás, caindo no chão, e Joey mergulha em cima dele.
— Joey — eu estrangulo, agarrando meu peito, sentindo como se meu
esterno estivesse prestes a desmoronar dentro do meu corpo. — Pare! Ele
não vale a pena ir para a prisão.
Joey não para.
Ele apenas continua batendo.
— Saia de cima dele — mamãe está gritando — Joey, pare, você vai
matá-lo!
— Bom! — Joey ruge enquanto monta em nosso pai e continua a bater
nele.
Seus punhos estão se movendo tão rápido que eu mal consigo manter o
foco.
— Joey... — Cuspindo um bocado de sangue, me apoio em minhas mãos e
joelhos e arrasto meu corpo quebrado até meu irmão, desesperada para
salvá-lo de fazer algo que ele não pode voltar atrás. — Você prometeu — eu
gaguejo enquanto eu fracamente tento puxar seu braço. Sentindo-me tonta,
eu balanço minha cabeça e tento novamente, forçando minhas mãos a
obedecer enquanto eu agarro seu antebraço. — Você prometeu que nunca me
deixaria.
Minhas palavras parecem penetrar em meu irmão porque ele exala um
suspiro derrotado e se inclina para trás.
Assentindo rigidamente, Joey deixa seus braços caírem para os lados e
desce de papai.
— Teddy — mamãe soluça, balançando a cabeça. Agarrando seu
estômago, ela se ajoelha ao lado de nosso pai. — Oh, Deus, Teddy, o que
você fez?
Entorpecida, eu me arrasto de volta para onde Ollie está sentado com as
costas pressionadas contra a geladeira, chorando incontrolavelmente.
Tadhg, por outro lado, está olhando para nosso pai com um olhar
aterrorizante no rosto.
Eu conheço o olhar.
Era o mesmo olhar que Joey tem.
— Está tudo bem — eu sussurro, tentando e falhando miseravelmente
para confortar Ollie. — Shh, está tudo bem.
— Eu pensei que você ia morrer — ele soluça, jogando seus braços em
volta de mim, e me fazendo estremecer de dor.
— Ollie — Joey late, virando-se para nos encarar. — Suba e chame Sean.
— Por que? — nosso irmão mais novo funga.
— Porque nós vamos embora! — Joey afirmou bruscamente. — Nós não
vamos ficar em uma casa com esse pedaço de merda um dia a mais.
Sem outra palavra, Ollie foge dos meus braços e corre para as escadas.
— Tadhg — Joey diz, fazendo uma careta quando nota o olhar de ódio no
rosto do nosso irmãozinho. — Vá com Ollie.
— Mas eu...
— Por favor — Joey retruca, passando a mão pelo cabelo loiro e deixando
as mechas vermelhas. — Suba e faça as malas, garoto.
Tadhg dá a Joey um olhar duro antes de finalmente assentir e sair da sala.
Voltando sua atenção para mim, Joey caminha até onde eu estou caída no
chão e cai de joelhos ao meu lado.
— Você está bem — ele sussurra em meu ouvido, me puxando em seus
braços. — Estou aqui... estou aqui, Shan.
Entorpecida até os ossos, eu apenas sento lá, caída contra seu corpo
grande, minhas mãos penduradas frouxamente ao meu lado, enquanto meu
irmão tenta me confortar.
Todo o meu foco está em nossos pais.
— Você está sangrando — mamãe engasga enquanto ela enxuga o rosto
do papai com a manga do suéter. — Oh, Deus, Teddy.
Suas palavras deixam todo o corpo de Joey tenso.
— Você está fodidamente cega? — ele ruge.
Virando-se para encará-los, ele gentilmente tira meu cabelo do meu rosto
e aponta para mim.
— Ela está sangrando — Joey rosna, apontando para o meu rosto. —
Shannon. Sua filha!
— Shannon — mamãe chora enquanto se encolhe de horror. — Oh
querida, seu rosto.
Eu não me importo mais com a minha aparência.
Não me importo.
Porque minha mãe apenas acabou com meu mundo.
Ela foi até ele.
Ele nos venceu.
Nos aterrorizou.
Nos torturou.
E ela foi até ele.
Ela o escolheu.
Nossa própria mãe.
— Não venha com “oh querida” para ela — Joey rosna enquanto se
levanta e me ajuda a levantar. Com o braço em volta dos meus ombros, ele
me leva até a mesa e me abaixa em uma cadeira. — Você está bem — ele
continua sussurrando, e eu não tenho certeza se ele está me dizendo isso ou a
si mesmo. — Você está bem. Estou aqui. Estou bem aqui, Shan.
Agarrando um pano de prato do escorredor, Joey volta para mim e
pressiona-o na lateral do meu rosto enquanto eu apenas sento lá, olhando do
outro lado da sala para as pessoas que nos trouxeram ao mundo.
— Shannon — papai fala arrastado, balançando a cabeça como se
estivesse acordando de um sono profundo. — Eu não queria...
— Não fale com ela, porra! — Joey ruge, dando um passo ameaçador em
direção a ele. — Eu vou te matar — ele ferve, tom mortalmente frio e
terrivelmente sincero. — Você está me ouvindo? Eu vou cortar a porra da
sua garganta se você olhar para a minha irmã novamente.
Ollie, Tadhg e Sean correm para a cozinha com mochilas nas costas.
Todos os três vão direto para Joey.
Porque ele é o nosso protetor.
Ele é a razão de estarmos todos inteiros.
Ele é nosso herói.
— Agora, é assim que isso vai acontecer — Joey rosna, parando na frente
de nós quatro, nos protegendo de nossos pais. — Ou você... — ele aponta
para nossa mãe, — encontre algum instinto maternal no fundo desse seu
coração frio de merda e expulse esse bastardo para sempre, ou eu vou tirar
essas crianças desta casa e elas nunca mais voltarão.
— Joey — mamãe soluça. — Eu sinto muito...
— Não se desculpe — meu irmão cospe — Proteja seus filhos e coloque
ele para fora.
— Joey, eu...
— Faça uma escolha, mãe — Joey rosna enquanto olha para nossa mãe —
Ele ou nós?

O FIM
OBRIGADA

Muito obrigado por ler o Binding 13.


A história de Johnny e Shannon continua em Keeping 13, livro dois da
série Boys Of Tommen, em breve.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer a todas as pessoas que deram uma


chance aos meus livros e se apaixonaram pelos meus personagens. Este é o
meu vigésimo lançamento e sou incrivelmente grata pelo apoio que recebi.
Quero agradecer ao meu marido e filhos por serem exatamente quem são e
fazerem valer a pena todas as noites sem dormir e os temidos prazos. Eu
amo vocês com tudo dentro de mim, e estou tão feliz em chamá-los de
minha família. Com amor, mamãe. XX.
Como sempre, preciso agradecer à minha mão direita Aleesha Davis por
seu apoio e dedicação incondicionais. Sem ela, este livro não teria a menor
chance. Na verdade, ainda estaria no meu computador. Garota, nenhum
escritor já teve um amigo melhor. Nosso relacionamento comercial ao longo
dos anos se transformou em uma amizade peculiar – e às vezes distorcida.
Mas não há mais ninguém no mundo com quem eu prefira unir minha alma e
minhas palavras do que você. Obrigado por ser a outra parte disso. É o lado
da publicação que poucas pessoas reconhecem, mas você é crucial para mim
e para minhas histórias, e quero agradecer do fundo do meu coração por ser
uma pessoa incrível e honesta. Eu sou grata por você!
Minha Brooke! O que posso dizer? Você menina, é um inferno de ser
humano. Eu amo você até os ossos e agradeço a Deus que você me enviou
uma mensagem naquela noite após o lançamento de Inevitable. Não enviar
mensagens para você diariamente parece estranho para mim agora, e eu amo
o jeito que você me recebe. Sou muito grata por sua amizade e habilidades
loucas com minhas palavras. Obrigada por ser a pura classe. Te amo muito.
Meus trevos! Meninas, eu digo isso todas às vezes, mas sem vocês, eu não
estaria fazendo isso. Vocês me dão a motivação e o apoio que preciso para
passar pelos meus dias sombrios e me faz rir duas vezes pelo menos vinte
vezes por dia. Eu realmente espero que a história de Johnny e Shannon tenha
valido a espera, e vocês os amem tanto quanto eu.
Mãe! Você foi uma rocha durante todo o processo de escrita de Binding
13, e apesar de brigarmos como cães e gatos diariamente, você é minha
salvação. Eu te amo agora e sempre.
Minha pequena Lizzie – enquanto escrevo isso, você está no hospital, e
quero que saiba que estou pensando em você e te amo muito. Você foi um
excelente apoio para mim durante este livro, e sou muito grata por sua
companhia durante as noites de trabalho. Te amo, prima.
SINOPSE:
O primeiro, último e único amor verdadeiro dele sempre foi o rúgbi.
Até agora.

Ele quer salvá-la.


Ela quer se esconder.

Ela está danificada.


Ele está determinado.

O destino os uniu.
O amor os liga.
Johnny Kavanagh tem tudo a seu favor. No campo de rúgbi, ele é uma força a ser reconhecida.
Preparado para o estrelato, ele está indo direto para o topo. Nada pode ficar em seu caminho, certo?
Nem mesmo a tímida novata do Tommen College. Aquela com os olhos tristes e hematomas
escondidos. A que o distrai como ninguém nunca fez.
Atormentado com uma lesão oculta e desesperado para impressionar os olheiros que observam
cada movimento seu, Johnny foi colocado em um pedestal tão alto que não tem espaço para cometer
erros.
Esforçando-se para manter o equilíbrio, e no auge da Campanha Internacional de Verão, Johnny
precisa manter a cabeça no jogo. Ele precisa manter o foco e não pode permitir que as distrações
atrapalhem tudo.
Mas o que acontece quando uma garota solitária com olhos tristes se torna a única imagem?
A vida nunca foi fácil para Shannon Lynch. Intimidada e torturada, ela chega ao Tommen College
no meio do ano letivo rezando por um novo começo e desesperada para se livrar dos demônios que a
atormentam.
Em seu primeiro dia na prestigiosa escola particular, ela entra em contato com o notório Johnny
Kavanagh.
Jogada sobre seus sentimentos por ele, e desesperada para se manter invisível, Shannon se vê mais
uma vez alvo de valentões enquanto forma uma frágil aliança com a estrela em ascensão do rúgbi.
Caindo em uma amizade complicada e lutando com sua química inegável, Johnny e Shannon
devem enfrentar obstáculos que ameaçam seu relacionamento.
Dois adolescentes de lados opostos dos trilhos colidem.
Amizade, primeiro amor, ascensão na fama, segredos horripilantes e dor, todos se encontram em
Binding 13.
Corações estão se unindo e vidas estão se entrelaçando em Binding 13.
Binding 13 é a explosiva primeira parte de uma nova série de Chloe Walsh. Sediada na Irlanda, a
série Boys Of Tommen vai cativar e atrair você para o mundo do rúgbi, do amor e de corações
adolescente partidos.
GLOSSÁRIO

GAA: GAA é uma sigla para “Gaelic Athletic Association” (Associação


Atlética Gaélica, em tradução livre), que é uma organização focada na
promoção dos jogos gaélicos como Hurling, Camogie, Handebol e Futebol
Gaélico, sendo a maior organização esportiva da Irlanda.
Culchie: Uma pessoa do campo ou de um condado fora de Dublin.
Geralmente usado como um insulto amigável.
Jackeen: Uma pessoa de Dublin. Um termo às vezes usado por pessoas
de outros condados da Irlanda para se referir a uma pessoa de Dublin.
Camogie: A versão feminina do hurling.
Hurling: Um esporte irlandês jogado com hurleys e sliotars.
Scoil Eoin: O nome da escola primária de Johnny.
Noite de St. Stephen: Versão irlandesa do Boxing Day. Ocorre dia 26 de
dezembro.
MOMENTOS DE MÚSICA
Shannon enquanto seus sentimentos se aprofundam por Johnny: The
Chainsmokers – Don't Let me Down
Johnny quando seus sentimentos se aprofundam por Shannon: Dean
Lewis – Lose My Mind
Shannon e Johnny no vestiário em Dublin: James Last – Here Comes the
Sun
No quarto de Johnny, quando Shannon está chorando: Imaginary Future
– Here Comes the Sun
Os sentimentos de Joey por Aoife: Walking on Cars – Flying High Falling
Low
Gibsie e Johnny na maioria de suas cenas: Chester See & Ryan Higa –
Bromance
A briga de Joey com seu pai: The Red Jumpsuit Apparatus – Face Down
Johnny perdendo a briga dentro de si sobre os sentimentos por
Shannon: Jamie Lawson – Ahead of Myself
Johnny quando percebe que está se apaixonando por Shannon: The
Killers – Mr. Brightside
Quando Shannon sobe para o quarto dele pela primeira vez: The Fray –
I'll Look After You
Johnny após a cirurgia com o pai: X Ambassadors – Unsteady.
Shannon na cena final: Raign – Knocking on Heaven's Door
PLAYLIST PARA SHANNON
Adele – River Lea
Boy & Bear – Fall at Your Feet
Joshua Radin – Here Comes the Sun
Astroline – Close My Eyes
Adele – One and Only
Sia – Breathe Me
Raign – Knocking on Heaven’s Door
Natalie Merchant – My Skin
Carly Rae Jepson – I Really Like You
Nora Jones – Come Away With Me
The Fray – You Found Me
Imelda May – Johnny Got a Boom Boom
Jessica Simpson – With You
Robyn – Dancing On My Own
Natasha Bedingfield – Wild Horses
Hayley Williams – Airplanes
Paramore – The Only Exception
Lady Gaga – Paparazzi
Pink – Family Portrait
Madonna – Crazy For You
The Corrs – Runaway
Miley Cyrus – Malibu
Hunter Hayes – Invisible
Camilla Cabello – Consequences
Taylor Swift – Love Story
Anne–Marie – 2002
Celine Dion – A New Day Has Come
The Chainsmokers – Don’t Let Me Down
Kate Nash – Nicest Thing
Haley Reinhart – Can’t Help Falling In Love
Rachel Platten – Stand by You
Anne–Marie – Alarm
Paramore – Still into You
Katrina e the Waves – Walking on Sunshine
Anna Nalick – Breathe (2am)
PLAYLIST PARA JOHNNY
The Coronas – Give Me A Minute
Picture This – 95
Lewis Capaldi – Bruises
Kid Rock – First Kiss
Picture This – Jane
Troye Sivan – YOUTH (Acoustic)
John Mayer – Daughters
Eminem – Superman (Remix)
Gym Class Heroes – Cupid's Chokehold
Eagle–Eye – Save Tonight
Bend Sinister – Shannon
Gym Class Heroes – Stereo Hearts
MAX – I’ll Come Back for You
Ed Sheeran – Give me Love
You Me At Six – Take On The World
Chuck Berry – Johnny B. Goode
Richie Valens – We Belong Together
Reckless Kelly – Wicked Twisted Road
Nelly & Tim McGraw – Over and Over Again
Jamie Lawson – Ahead of Myself
Jason Derulo – Trumpets
Jamie Lawson – A Little Mercy
A1 – Same Old Brand New You
Jamie Lawson – Can’t See Straight
Making april – Paparazzi
Jamie Lawson – Don’t Let me Let you Go
Jamie Lawson – In Our Own Worlds
Jamie Lawson – I’m Gonna Love You
Westlife – Bop Bop Baby
David Gray – This Year’s Love
New Hollow – She Ain’t You
Nelly Furtado – Try (Douglas George cover)
Imagine Dragons – Thunder
Scouting for Girls – Heartbeat
Picture This – You & I
Scouting for Girls – Marry Me
Placebo – Every You Every Me
Boyzone – Love me for a Reason
The Script – Nothing
Every Avenue – Only Place I Call Home
Justin Timberlake – Mirrors
Blake Shelton – Sangria
New Hollow – She Ain’t You
Notas

[←1]
Essa posição do jogo de rúgbi é formada por jogadores que ajudarão a Abertura (fly-half, no
inglês) a organizar o jogo; responsáveis por retirar a bola dos rucks e dos scrums, tendo como
ponto forte o chute.
[←2]
A protagonista faz uma piada com o próprio nome, sendo uma referência a música “Like a
River” (Como um rio, em tradução livre), da cantora Shannon J. Wexelberg.
[←3]
A posição de Abertura no jogo de rúgbi tem como objetivo a organização do jogo, jogando com
a camisa 10, responsável pela maior quantidade de pontos de um time em chutes e conversões,
assim como é quem vai ditar a direção e o ritmo de uma partida.
[←4]
Culchies é uma gíria irlandesa que se refere a uma pessoa que mora fora de Dublin, uma pessoa
do interior.
[←5]
É uma competição anual da rúgbi entre as equipes da Escócia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália
e País de Gales.
[←6]
Man of the Match significa, em tradução livre, o Homem da Partida/do Jogo.
[←7]
Referência ao filme Forrest Gump.
[←8]
Huler é a posição de arremessador no Hurling.
[←9]
Stones é uma unidade de medida de massa, utilizada no sistema imperial do Reino Unido, e
alguns demais países da Comunidade Britânica das Nações.
[←10]
Um alimento de café da manhã bastante popular entre estadunidenses e britânicos consistindo
em batatas picadas que foram fritas até dourar.
[←11]
Um trecho de uma canção do Beatles, explicada nas linhas abaixo, que em tradução seria “Se
remexa, baby”.
[←12]
Tradução: Foda ela com gentileza.
[←13]
No texto original, Johnny fala “Dammit” xingando, mas Shannon acha que ele está falando da
música “Dammit” do Blink 182.
[←14]
No texto original, Johnny fala “Fuck”, como xingamento, mas Shannon entende como a música
FACK do Eminem.
[←15]
Tradução: “Ela será amada”.
Table of Contents
tabela de conteúdos
aviso – bwc
Nota da autora
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
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21
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26
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28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
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44
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46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
Agradecimentos
Glossário
Momentos de música
Playlist para Shannon
Playlist para Johnny

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