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aviso – bwc
NOTA DA AUTORA
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Agradecimentos
Glossário
MOMENTOS DE MÚSICA
PLAYLIST PARA SHANNON
Playlist para Johnny
AVISO – BWC
Esse é o começo.
Chloe. xoxo
Eu gostaria de dedicar Binding 13 a qualquer um que já teve um sonho que
se atreveu a perseguir com fome insaciável.
Esta história é para você.
1
ALTAS EXPECTATIVAS
SHANNON
TUDO MUDOU
SHANNON
BOLAS VOADORAS
Garoto Maravilha cativa a equipe técnica da Academia - O jovem
Johnny Kavanagh, 17, natural de Blackrock, Dublin, atualmente
residente em Ballylaggin County Cork, passou por sua avaliação
médica para garantir sua posição na prestigiada academia de
rúgbi em Cork. Cuidando de uma lesão crônica na virilha desde o
início da temporada passada, o jovem foi liberado pelos médicos
da equipe. O estudante do ensino médio da Tommen College está
pronto para ganhar sua décima quinta capitania pela Academia
neste fim de semana, tendo sido nomeado como titular 13 para a
estimada equipe juvenil. O central do jogo vem chamando a
atenção de treinadores de nível internacional, incluindo clubes
do Reino Unido e do hemisfério sul. Quando solicitado a comentar
sobre a ascensão acelerada do garoto da escola nos rankings, o
técnico da seleção sub-20 da Irlanda, Liam Delaney, disse o
seguinte: "Estamos entusiasmados com o nível de calibre dos
jogadores em ascensão em todo o país. O futuro parece brilhante
para o rúgbi irlandês”. Quando perguntado especificamente sobre
o garoto da escola de Cork, Delaney disse: “Estamos cientes de
Kavanagh desde seus dias de jogador em Dublin e estamos
conversando com seus técnicos e treinadores nos últimos dezoito
meses. Os treinadores do Sub-18 estão impressionados. Mantivemos
um olho afiado em seu progresso e estão impressionados com o
nível de inteligência e maturidade que ele naturalmente exala em
campo. Ele certamente é alguém para ficar de olho quando chegar
a idade.”
JOHNNY
Eu estava exausto.
Sério, eu estava tão cansado que estava tendo dificuldade em manter meus
olhos abertos e meu foco no ponto. Meu dia infernal estava se transformando
em uma semana infernal, e isso era um feito especial, considerando que era
segunda-feira.
Voltar direto para a escola, sem mencionar o treinamento e a academia
seis noites por semana, fazia isso com um cara.
Para ser honesto, eu estava cansado desde o verão passado, tendo
retornado de uma campanha internacional com os sub-18, onde eu estava
jogando ao lado dos melhores da Europa, apenas para ir direto para um
intenso campo de condicionamento de seis semanas em Dublin.
Depois disso, fiz uma pausa de dez dias antes de voltar para a escola e
retomar meus compromissos com meu clube e a Academia.
Eu também estava com fome, o que não era um bom presságio para o meu
temperamento.
Eu não funcionava bem com longos intervalos entre as refeições.
Meu estilo de vida e regime de treinamento intenso exigiam que eu
comesse em horários regulares e distribuídos.
A cada duas horas era ideal para o meu corpo quando eu estava
consumindo uma dieta de 4.500 calorias por dia.
Deixe meu estômago esperando mais de quatro horas, e eu era uma vadia
mal-humorada e irritada.
Não era como se eu estivesse particularmente ansioso para a montanha de
peixe e legumes cozidos no vapor esperando por mim na minha lancheira,
mas eu tinha uma rotina, caramba.
Foder com o meu regime era uma maneira infalível de acordar a fera
faminta dentro de mim.
Estávamos em campo há menos de meia hora e eu já tinha derrotado três
dos meus companheiros de equipe e levado uma bronca do nosso treinador
no processo.
Em minha defesa, cada ataque que fiz neles foi perfeitamente legal, se não
um pouco implacável.
Mas esse era o meu ponto, caramba.
Eu estava muito irritado para recuar um pouco nos garotos que não
estavam nem perto do meu nível de jogo.
Meninos era a palavra apropriada neste caso.
Estes eram meninos.
Eu joguei com homens.
Muitas vezes me perguntei qual era o sentido de jogar no time da escola.
Não faz merda nenhuma por mim.
O nível do clube era básico o suficiente, mas o rúgbi da escola era um
desperdício do meu tempo.
Principalmente esta escola.
Hoje era o primeiro dia de volta após as férias de Natal, mas a equipe da
escola estava treinando desde setembro.
Quatro meses.
Quatro malditos meses e parecíamos mais desorganizados do que nunca.
Pela milionésima vez nos últimos seis anos, me encontro ressentido com a
mudança dos meus pais.
Se tivéssemos ficado em Dublin, eu estaria jogando em um time de
qualidade com jogadores de qualidade e fazendo um progresso real.
Mas não, em vez disso eu estava aqui, no meio da porra de lugar nenhum,
pagando pela falta de um treinador menos do que competente e estourando
minhas bolas para manter nosso lado na mira das eliminatórias.
Ganhamos a Copa da Liga no ano passado porque tínhamos um time
sólido com a capacidade de realmente jogar uma porra de um rúgbi decente.
Com a ausência de vários jogadores do time do ano passado, que agora
estavam na faculdade, minha agitação e preocupação com nossas chances
este ano cresciam a cada minuto.
Eu não era o único que se sentia assim, também.
Havia seis ou sete jogadores excepcionais nesta escola que eram bons o
suficiente para a divisão em que estávamos jogando, e esse era o problema.
Precisávamos de um banco de vinte e três jogadores decentes para se
destacar nesta liga.
Não meia dúzia.
Meu melhor amigo, por exemplo, Gerard Gibson – ou Gibsie para
abreviar, é um excelente exemplo de excepcional.
Ele é, sem sombra de dúvida, o melhor flanker que eu joguei com ou
contra neste nível de rúgbi e poderia facilmente subir na hierarquia com um
pouco de empenho e esforço.
Ao contrário de mim, porém, o rúgbi não era a vida de Gibsie.
Renunciar a festas e namoradas por alguns anos foi um preço pequeno a
pagar por uma carreira profissional no esporte. Se ele dispensasse a bebida e
os cigarros, seria fenomenal.
Gibs não está tão certo disso, porém, escolhendo passar o tempo de
treinamento fodendo seu caminho através da população feminina de
Ballylaggin com prazer, e bebendo até que seu fígado e pâncreas gritassem
em protesto.
Eu achava um desperdício terrível.
Outro passe derrubado de Patrick Feely, nosso mais novo camisa 12 e meu
parceiro no meio-campo, fez com que eu perdesse merda ali mesmo, no
meio do campo.
Arrancando meu protetor bucal, eu o jogo nele, socando-o direto na
mandíbula.
— Vê isso? — Eu rujo — Isso se chama acertar a porra do alvo.
— Desculpe, Capi — o jogador do meio-campo murmura, com o rosto
vermelho, dirigindo-se a mim pelo apelido em campo que ganhei desde que
me tornei capitão do time da escola no quarto ano e ganhei minha primeira
capitania no mesmo ano. — Eu vou fazer melhor.
Eu me arrependo de minhas ações imediatamente.
Patrick era um rapaz decente e um grande amigo meu.
Além de Gibsie, Hughie Biggs e Patrick eram meus amigos mais
próximos.
Gibs, Feely e Hughie já estavam em um círculo íntimo na Scoil Eoin, uma
escola primária só para meninos, quando fui introduzido em sua classe para
o último ano do fundamental.
Ligados por nosso amor compartilhado pelo rúgbi, todos nós continuamos
bons amigos durante o ensino médio, embora tivéssemos formado duplas no
sentido de melhores amigos, com Hughie se alinhando com Patrick e eu com
meu próprio babaca.
Patrick era um rapaz quieto. Ele não merecia minha ira, e o pobre rapaz
definitivamente não merecia ter meu protetor bucal com cuspe lançado em
sua cabeça.
Abaixando a cabeça, corro até ele e bato em seu ombro, murmurando
minhas desculpas.
Viu, era exatamente por isso que eu precisava ser alimentado.
E talvez dar um saco de gelo para o meu pau.
Me encha com bastante carne e vegetais e eu serei uma pessoa diferente.
Uma pessoa tolerante.
Educado até.
Mas meu único foco no momento era não desmaiar de fome e dor,
portanto não tinha tempo para sutilezas.
Tivemos uma partida de qualificação da copa no final desta semana e, ao
contrário de mim, esses rapazes passaram seu tempo livre sendo, bem,
adolescentes.
As férias de Natal eram um excelente exemplo.
Eu passei meu tempo trabalhando como um maníaco para voltar ao
campo, tendo estado lesionado, enquanto esses caras passaram o intervalo
comendo e bebendo a merda da vida.
Eu não tinha nenhum problema em perder uma partida se fôssemos
genuinamente o lado mais desfavorecido.
O que eu não podia aceitar era perder por falta de preparo e falta de
disciplina.
Liga dos meninos da escola ou não.
Isso não foi bom o suficiente na minha opinião.
Fico perturbado além de toda a racionalidade quando uma garota atravessa
o campo, fodidamente passeando pelo campo de treinamento.
Irritado, eu olho para ela, sentindo uma raiva dentro de mim que beirava a
mania.
Isso era o quão ruim era esse time.
Os outros alunos nem se importavam que estivéssemos treinando.
Vários dos rapazes gritaram com ela, mas isso só pareceu me irritar ainda
mais.
Eu não entendia por que eles estavam gritando com ela.
Isso foi culpa deles.
Os tolos reclamando e gritando eram os que precisavam melhorar seu jogo
ou desistir dos seus sonhos de jogar rúgbi.
Em vez de se concentrar no jogo, eles estavam se concentrando na garota.
Malditos vermes.
— Grande demonstração de capitania, Kavanagh — Ronan McGarry,
outro de nossos últimos recrutamentos, e uma vergonha de um scrum-half1,
provoca enquanto corre para trás passando por mim. — Muito exagerado?
— o cara mais jovem provoca.
— Continue correndo — eu o aviso enquanto eu debato em quantos
problemas eu teria se quebrasse suas pernas. Eu realmente não gostava
daquele cara.
— Talvez você devesse seguir seu próprio conselho — Ronan provoca. —
Gentinha de Dublin.
Decidindo que não me importava com punições, eu recupero a bola e a
jogo na cabeça dele.
Certeira e precisa, a bola acerta McGarry na região desejada – seu nariz.
— Se acalme, campeão! — O treinador late, correndo para verificar
Ronan, que estava segurando seu rosto.
Eu bufo com a visão.
Acertei-o com uma bola, não com o punho.
Zé-boceta.
— Este é um esporte de equipe — o treinador ferve, olhando para mim. —
Não o show do Johnny.
— Ah, é? — Eu atiro de volta, rosnando, incapaz de me impedir de
morder a isca. O Sr. Mulcahy, o técnico sênior de rúgbi da escola, não
gostava muito de mim e o sentimento era completamente mútuo.
— Sim — O treinador grita. — É bem assim.
Correndo até onde a bola tinha caído, eu a pego e caminho até ele e
McGarry, não querendo deixar para lá.
— Então você pode querer lembrar esses filhos da puta, — eu rosno,
gesticulando para meus companheiros de equipe — porque eu pareço ser o
único idiota que apareceu no treino hoje!
— Você está cutucando a onça com vara curta, garoto — ele ferve. — Não
pressione.
Incapaz de me impedir de insistir, eu assobio:
— Esse time é a porra de uma piada.
— Vá para os chuveiros, Kavanagh — o treinador ordena, o rosto ficando
em um perigoso tom de roxo, enquanto ele batia um dedo no meu peito. —
Você está fora!
— Estou fora? — Eu jogo de volta, provocando-o. — Do que exatamente?
Eu não estava fora de nada.
O treinador não podia me jogar fora.
Ele poderia me proibir de treinar.
Ele poderia me suspender.
Me dar detenção.
Não fazia a mínima diferença, porque no dia do jogo eu estarei naquele
campo.
— Você não vai fazer nada. — Eu zombo, deixando meu temperamento
tomar conta de mim.
— Não me pressione, Johnny — o treinador avisa. — Uma ligação para
seus treinadores chiques no país e você estará com mais merda do que você
pode se livrar.
Ronan, que estava ao lado do treinador, sorri sombriamente, claramente
encantado com a perspectiva de eu me meter em problemas.
Furioso com a ameaça, mas sabendo que estava derrotado, deixo a bola
cair de minhas mãos, a solto chutando com uma fúria insaciável pulsando
em minhas veias e sem me importar com a direção.
No minuto em que a bola zune do meu pé em minha bota, a raiva dentro
de mim se dissipa em uma corrida, ejetando-se do meu corpo em derrota.
Droga.
Eu estava dando trabalho.
Eu sabia bem.
O treinador me ameaçar com a Academia foi um golpe baixo, mas eu
sabia que merecia.
Eu estava perdendo a cabeça em seu campo, com sua equipe, muito
emocional e sobrecarregado para me recompor.
Nunca em um milhão de anos eu sentiria uma ponta de remorso por
acertar McGarry com a bola, aquele filho da puta merecia muito pior, mas
Feely e o resto dos rapazes eram uma questão completamente diferente.
Eu deveria ser o capitão desse time e estava agindo como um babaca.
Não era bom o suficiente, e fiquei desapontado comigo mesmo pela minha
explosão.
Eu sabia o que havia de errado comigo.
Eu me esbaldei demais nos últimos meses e voltei cedo demais de uma
lesão.
Eu tinha sido liberado pelos meus médicos para voltar a treinar esta
semana, mas um homem cego poderia dizer que eu estava fora do meu jogo
e isso estava me irritando muito.
A perspectiva de fazer malabarismos com a escola, o treinamento, os
compromissos do clube e a Academia enquanto cuidava de uma lesão era
uma pressão para minha mente e meu corpo, e eu estava lutando para
encontrar a pura disciplina que costumava exibir.
De qualquer forma, não era uma desculpa.
Eu pediria desculpas a Patrick depois de comer, e ao resto dos rapazes
também.
O treinador, percebendo a mudança no meu temperamento, assente
rigidamente.
— Bom — ele disse em um tom mais calmo do que antes. — Agora, vá se
limpar e pelo amor de Deus descanse por um maldito dia. Você é apenas
uma criança, Kavanagh, e você parece uma merda.
O homem não gostava muito de mim e brigávamos diariamente como um
velho casal, mas nunca duvidei de suas intenções.
Ele se preocupava com seus jogadores e não apenas com nossa habilidade
de jogar rúgbi. Ele nos encoraja a ter sucesso em todos os aspectos da vida
escolar e estava constantemente cantando sobre a importância dos anos de
exame.
Ele também provavelmente estava certo sobre eu parecer uma merda; eu
certamente me sentia assim.
— É um ano importante para você — ele me lembra. — O quinto ano é
mais crucial para sua saída do que o sexto ano e eu preciso que você
mantenha suas notas altas… oh merda!
— O que? — Eu exijo, assustado.
Seguindo o olhar horrorizado do treinador, eu me viro e fixo os olhos na
bola amassada na beira do campo.
— Oh merda — eu murmuro quando minha mente entende o que eu
estava vendo.
A garota.
A porra da garota que estava saltitando ao redor do campo estava deitada
de costas na grama.
Uma bola estava na grama ao lado dela.
Não uma bola qualquer.
Minha bola sangrenta!
Horrorizado, meus pés estavam se movendo antes que meu cérebro
pudesse alcançá-los. Corro em direção a ela, o coração martelando contra
minhas costelas a cada passo do caminho.
— Ei, você está bem? — Eu chamo, fechando o espaço entre nós.
Um suave gemido feminino sai de seus lábios enquanto ela tentava ficar
de pé.
Ela estava tentando se levantar e falhando miseravelmente, claramente
assustada.
Sem saber o que fazer, me abaixo para ajudá-la a se levantar, mas ela
rapidamente afasta minhas mãos com um tapa.
— Não me toque — ela grita, o tom um pouco arrastado, e o solavanco a
fez cair de joelhos.
— Ok! — Eu automaticamente dou um passo para trás e levanto minhas
mãos. — Eu sinto muito.
Dolorosamente e bem lento, ela fica de pé, balançando de um lado para o
outro, confusão gravada em seu rosto, olhos desfocados.
Agarrando a lateral de sua saia enlameada com uma mão e equilibrando a
bola de rúgbi na outra, ela olha ao redor, desespero em seus olhos.
Sua atenção pousa na bola em suas mãos e depois volta para o meu rosto.
Uma espécie de fúria vidrada brilha em seus olhos enquanto ela meio
cambaleava, meio espreitava em minha direção.
Seu cabelo estava uma bagunça total, caindo frouxamente por seus
ombros pequenos, com pedaços de lama e grama grudados como tentáculos.
Quando ela me alcança, ela bate a bola no meu peito e sussurra:
— Esta é a sua bola?
Fiquei tão impressionado com a visão dessa pequena garota coberta de
lama que apenas balanço a cabeça como um maldito idiota.
Jesus Cristo, quem é essa garota?
Limpando a garganta, pego a bola dela e digo:
— Uh, sim. É a minha bola.
Ela era pequena, seriamente pequena, mal alcançando meu peito em
altura.
— Você me deve uma saia — ela rosna, ainda segurando o tecido pelo
quadril. — E um par de meias — acrescenta ela, olhando para a enorme
lama em sua meia-calça cor de pele.
Seu olhar vaga sobre seu corpo, em seguida, pousa no meu rosto, os olhos
estreitos.
— Ok — eu respondo com um aceno de cabeça, porque com toda a
honestidade, o que diabos eu deveria dizer?
— E um pedido de desculpas — acrescenta a garota antes de cair no chão.
Ela cai pesadamente em sua bunda e grunhe um pequeno grito com
contato.
— Oh, merda — eu murmuro. Jogando a bola para longe, me movo para
ajudá-la. — Eu não queria…
— Pare! — Mais uma vez, ela afasta minhas mãos. — Aí — ela geme,
encolhendo-se quando fala. Estendendo a mão, ela agarra seu rosto com
ambas as mãos e respirando pesadamente. — Minha cabeça.
— Você está bem? — Eu exijo, sem saber o que diabos fazer.
Devo pegar ela contra seus desejos?
Não parecia uma boa ideia.
Mas eu não podia exatamente deixá-la aqui.
— Johnny! — O treinador está berrando. — Ela está bem? Você a
machucou?
— Ela está bem — eu grito de volta, estremecendo quando um som de
soluço rasga de seu peito. — Você está bem, não está?
Essa garota ia me colocar em apuros.
Eu já estava com problemas suficientes do jeito que estava.
Eu estava brigando com o treinador.
Quase decapitar a garota não acabaria bem para mim.
— Por que você fez isso? — ela sussurra, segurando seu pequeno rosto
em suas mãos ainda menores. — Você me machucou.
— Desculpe — eu repito. Eu me sinto estranhamente impotente e era um
sentimento que eu não gostava. — Eu não queria.
Ela fungou então, olhos azuis lacrimejando, e algo dentro de mim estala.
Ah, merda.
Horrorizado, eu jogo minhas mãos para cima e deixo escapar:
— Eu sinto muito — antes de me agachar e pegá-la da grama. — Cristo
— eu murmuro, impotente, enquanto a coloco de pé. — Não chore.
— É meu primeiro dia — ela funga, balançando em seus pés. — Meu
novo começo e estou coberta de merda.
Ela está coberta de merda.
— Meu pai vai me matar — ela continua a engasgar, segurando sua saia
rasgada. — Meu uniforme está arruinado.
Um som de dor e assobio rasga de sua garganta então e a mão que ela
estava usando para segurar sua saia dispara para sua têmpora, fazendo com
que o pedaço de tecido caísse de seu corpo.
Meus olhos se arregalaram por vontade própria, uma reação infeliz de ver
a calcinha de uma mulher.
Uivos e aplausos explodem dos rapazes.
— Oh Deus — ela grita, lutando desajeitadamente para recuperar sua saia.
— Vai, lindinha!
— Dá uma voltinha!
— Vão se foder, seus idiotas! — Eu rujo para meus companheiros de
equipe, entrando na frente da garota para bloquear suas visões.
Eu podia ouvir os rapazes rindo atrás de mim, rindo e falando merda, mas
eu não conseguia me concentrar em uma palavra que eles diziam porque o
som do meu coração martelando no meu peito estava me ensurdecendo.
— Aqui — alcançando a bainha da minha camisa, eu a puxei sobre minha
cabeça e ordeno — Coloque isso.
— Está imunda — ela soluça, mas não me para quando eu puxo para
baixo sobre sua cabeça.
Ela enfia as mãos nas mangas e eu senti um alívio imenso quando a
bainha caiu até os joelhos, cobrindo-a.
Cristo, ela realmente era uma coisinha.
Ela tinha idade suficiente para frequentar a escola secundária?
Ela não parecia ter.
Agora, ela parecia muito, muito jovem e... triste?
— Kavanagh, a garota está bem? — O treinador exige.
— Ela está bem! — Eu repito, minhas palavras são um latido áspero.
— Leve-a para o escritório — ele instruiu. — Se certifique de que Majella
a examine.
Majella era a primeira a ser procurada na escola. Ela trabalhava no
refeitório e era a mulher a procurar quando um estudante sofria uma lesão.
— Certo, senhor — eu falo de volta, nervoso, rapidamente descendo para
pegar sua saia e mochila escolar.
Eu me aproximo e ela se afasta de mim.
— Eu só estou tentando ajudá-la. — Eu afirmo no tom mais gentil que
pude reunir, segurando minhas mãos para cima, como se para mostrar a ela
que eu não queria fazer mal. — Vou levá-la para o escritório.
Ela parecia um pouco atordoada e eu me preocupo de que posso ter lhe
causado uma concussão.
Sabendo da minha sorte, foi exatamente isso que eu fiz.
Maldito inferno.
Jogando a bolsa por cima do ombro, enfio sua saia no cós do meu short,
coloco a mão em suas costas e tento convencê-la a subir a encosta
montanhosa que separa o campo do terreno da escola.
Ela cambaleia em seus pés como um potro bebê, e eu tenho que resistir à
súbita vontade que tive de envolver meu braço em volta de seus ombros.
Alguns minutos depois, era exatamente isso que eu tinha que fazer de
qualquer maneira, porque ela continuava perdendo o equilíbrio.
O pânico tomou conta de mim.
Eu quebrei a porra da garota.
Eu quebrei a cabeça dela.
Eu ia receber uma suspensão por perder a cabeça e ter um mandado de
prisão expedido.
Eu era um babaca.
— Sinto muito — eu continuo a dizer a ela, jogando adagas com os olhos
para cada bastardo intrometido que decidiu parar e olhar para nós enquanto
caminhávamos ao ritmo de um caracol.
Ela estava com minha camisa e caia em torno dela como um vestido.
Eu estava congelando meus peitos ao lado dela em nada além de um par
de shorts, meias e botas de futebol com tachas.
Ah, e a porra da mochila rosa pendurada nas minhas costas.
Eles podiam olhar o quanto quisessem; minha única preocupação era fazer
um exame na cabeça dessa garota.
— Eu estou seriamente fodidamente arrependido.
— Pare de pedir desculpas — ela geme, segurando a cabeça.
— Certo, desculpe — eu murmuro, sentindo-a apoiar seu peso em mim.
— Mas eu sinto muito. Só para que você fique claro.
— Nada está claro — ela resmunga, endurecendo contra o meu toque. —
O chão está girando.
— Ah Cristo, não diga isso. — Eu engasgo, apertando meu braço em
torno de seu corpo rígido. — Por favor, não diga isso, porra.
— Por que você fez isso? — ela choraminga, tão frágil e pequena e
coberta de merda.
— Eu sou um idiota. — Eu a informo, colocando sua mochila rosa de
volta nas minhas costas enquanto eu a puxava mais perto. — Eu ferro muito
com as coisas.
— Você fez isso de propósito?
— O quê? — Suas palavras me derrubaram o suficiente para me fazer
parar. — Não. — Torcendo meu corpo para que eu pudesse olhar para o
rosto dela, eu fiz uma careta e disse: — Eu nunca faria isso com você.
— Você promete?
— Sim — eu grunho, a engachando com meu braço e grudando seu corpo
ao meu lado. — Eu prometo.
Era janeiro.
Estava molhado.
Estava frio.
E por alguma razão estranha e desconcertante, eu estava queimando por
dentro.
Minhas palavras, por qualquer motivo, pareceram aliviar a tensão dentro
dessa garota porque ela solta um suspiro enorme, afrouxa sua estrutura rígida
e me permite suportar todo o seu peso.
4
DE CARA NO CHÃO
JOHNNY
JOHNNY
“Você me garantiu que esse tipo de coisa não aconteceria nesta escola e
veja o que aconteceu no primeiro dia dela!”
“Shannon, eu não sei mais o que fazer com você. Eu realmente não sei,
querida. Eu pensei que este lugar seria diferente para você.”
HORMÔNIOS DESPERTOS
SHANNON
AZUL MEIA-NOITE
JOHNNY
Shannon Lynch tinha olhos da cor azul meia-noite que não saíam da porra da
minha cabeça.
Pelo menos essa é a comparação mais próxima que consegui encontrar nas
inúmeras buscas na internet que fiz.
As pesquisas de gráficos de cores na internet eram confusas, mas não tão
desconcertantes quanto meu cérebro fodido que, como um disco quebrado,
parecia estar preso na repetição.
A trilha sonora de escolha do meu cérebro: Shannon como o rio, com os
lindos olhos azuis, rosto de anjo e o passado conturbado.
Depois de ler seu arquivo, levei vários dias para absorver o conteúdo, e
vários mais antes de encontrar o controle que eu precisava para não dirigir
até BCS e dar uma surra em seus valentões.
Durante toda aquela primeira semana depois das férias de Natal, eu me
preocupei com a garota, esperando para ver se amanhã seria o dia em que ela
voltaria para a escola.
Meus níveis de ansiedade estavam no teto quando sexta-feira chegou e ela
não voltou.
Isso me incomodou tanto que parei no escritório do Sr. Twomey para
checar.
Foi lá que eu soube que, de fato, havia causado uma concussão impiedosa
na garota e que ela estava em casa de repouso pelo resto da semana.
Quando Shannon voltou para a escola na segunda-feira seguinte, fui
chamado direto para o escritório, onde fui recebido pelo Sr. Twomey, Srta.
Nyhan, o monitor do terceiro ano, o Sr. Crowley, o monitor do meu ano, e a
incubadora humana, essa era a Sra. Lynch.
Lá, me foi explicado que, embora eles estivessem cientes que minhas
ações em campo foram acidentais, seria melhor se eu mantivesse distância
dela para evitar incidentes futuros.
Também recebi um saco plástico de sua mãe com minha camisa dentro,
junto com um pedido de desculpas murmurado por me expulsar para
corredor naquele dia – obviamente tentando cobrir sua bunda por colocar as
mãos em um aluno – e outro aviso severo para ficar longe de sua filha.
Furioso por ter sido encurralado em uma intervenção fodida e
desnecessária – para não mencionar ser tratado como um vilão por um erro
honesto – eu respondi com um afiado “Sem problema”, antes de pegar
minha camisa e voltar para a aula com todas as intenções de fazer
exatamente isso.
Eu não precisava desse tipo de aborrecimento na minha vida.
Eu não precisava da ameaça de suspensão pairando sobre minha cabeça.
Isso mexia com meus planos, e não havia nenhuma garota pela qual valesse
a pena colocar meu futuro em risco.
Seguindo as regras, mais para o meu bem do que para o dela, eu fiquei
longe.
Não falei com ela e não me aproximei quando a vi entre as aulas ou no
refeitório durante o intervalo.
Mantive uma distância enorme daquela garota e das complicações que
pareciam segui-la.
Mas por mais chateado que eu estivesse, eu ainda ficava de olho nela nos
corredores.
Chame isso de ser excessivamente protetor com uma garota vulnerável ou
chame de outra coisa, mas eu mantive meus ouvidos abertos quando se
tratava de Shannon Lynch e desliguei qualquer merda que pudesse ser um
problema, certificando-me de que ela tivesse uma transição suave na
Tommen.
No entanto, depois de alguns dias, rapidamente ficou claro que ela não
precisava da ajuda de ninguém.
Shannon era apreciada em Tommen.
Os professores gostavam dela.
Os alunos gostavam dela.
Eu gostava dela.
Esse era o problema.
Além disso, ela tinha seus próprios pequenos guarda-costas na forma das
duas loiras que sempre pareciam ladear onde quer que ela fosse.
Reconheço a mais protetora das duas garotas como irmã de Hughie Biggs,
aquele que joga na posição de abertura3 do nosso time e um dos meus
amigos mais próximos.
A outra loira era a namorada ioiô de Pierce Ó Neill, outro companheiro
meu.
Eu não conseguia lembrar o nome da namorada de Pierce, só que eu
lembrava o quão maldita ela podia ser com a língua e que qualquer cara em
sã consciência deveria manter distância.
Me jogando em minha rotina, tento ignorar e esquecer Shannon, optando
por me concentrar no jogo e ignorar todas as distrações ao meu redor –
bocetas sendo o tipo mais perigoso de distração.
Eu realmente tentei.
Mas então um dos rapazes a trazia na conversa, ou ela passava por mim
no corredor da escola, e eu estava de volta à estaca zero.
Eu não conseguia entender isso e tentei não pensar muito nisso.
Mas isso não a impediu de aparecer em todas as conversas em que eu
estive envolvido desde sua chegada a Tommen.
Rapazes eram idiotas e a idade não significava nada para a maioria deles.
Muitos dos idiotas do meu ano estavam falando sobre ela, pensando sobre
ela e fazendo planos sobre ela, e isso me deixava louco.
Na semana passada, por exemplo, eu realmente expressei minhas
frustrações, dizendo a uma mesa de colegas de classe chocados para se
foderem, que ela tinha apenas quinze anos.
Não importava para eles que ela estava apenas no terceiro ano, e me
incomodava que importava para mim quando realmente não deveria.
Muitos dos terceiros anos ficavam com pessoas do quarto, quinto e
inferno, até mesmo do sexto ano.
Não eu.
Nunca eu.
Ao contrário do resto dos rapazes que não tinham nenhum problema em
brincar com garotas mais novas, eu estava totalmente ciente das implicações
que poderiam surgir.
Eu tive mais do que meu quinhão de palestras de treinadores e ex-
profissionais sobre as repercussões catastróficas que vinham com foder com
a garota errada.
E enquanto eu não estava particularmente orgulhoso do meu
comportamento em relação às meninas ao longo dos anos, eu estabeleci um
limite para qualquer pessoa mais jovem do que eu.
Eu sabia que isso me tornava um hipócrita, considerando que eu estava
mais do que disposto a ir para cama com garotas mais velhas do que eu, mas
eu tinha que estar seguro, caramba. Eu tinha um sonho e uma visão clara do
que precisava fazer para alcançá-lo. Brincar com garotas mais novas era
perigoso.
É por isso que essa garota em particular estava me irritando tanto.
No minuto em que coloquei os olhos nela, algo me atingiu com força no
peito.
Algo desconhecido e desconcertante.
Mais de um mês se passou e eu ainda estava cambaleando.
Estávamos em fevereiro e eu ainda estava silenciosamente obcecado por
Shannon, como o rio.
Não gostava disso e gosto ainda menos dela por ser a única causa da
minha incerteza.
Não fazia sentido.
Ela era um pedacinho de menina – toda membros e ossos. Não havia
curvas nela, e eu duvidava que ela já usava sutiã se eu fosse honesto comigo
mesmo.
Viu?
Muito jovem.
Muito fodidamente jovem.
Mas isso não me impedia de procurá-la na multidão.
E isso não me impedia de olhar quando a encontrava.
Quanto mais eu tentava bloqueá-la, mais eu a procurava.
Até que eu estava procurando por ela entre cada fodida aula.
Às vezes, eu a encontrava me observando de volta.
Ela sempre me dava esse olhar deslumbrado antes de abaixar o rosto.
Eu não tinha certeza do que fazer com nada disso.
Reconheci plenamente que estava tendo uma reação irracional à garota.
Não era normal.
O problema era que eu não conseguia me controlar.
Eu não conseguia desligar meu cérebro.
Bella era outro problema para mim.
Ela estava cansada do que ela chamava de “ficante” e tinha me mandado
uma mensagem algumas semanas atrás para dar um tempo em nossas não-
transas.
Eu sabia que deveria ter sentido algo sobre isso – eu estava dormindo com
a garota por quase oito meses – mas tudo que eu sentia era vazio.
Não havia conexão ali e eu estava cansado de me sentir usado.
Não era como se tivéssemos nos encontrado para uma conversa ou ido ao
cinema, ou algo assim.
Ela não queria isso de mim.
Nem mesmo quando eu ofereci.
Claro, não havia sentimentos envolvidos, e eu nunca estive interessado em
ter um relacionamento com ela, mas depois de passar seis dos oito meses
com meu pau dentro dela, eu não me opus a pagar o jantar da garota ou levá-
la a uma merda de encontro no cinema.
Eu tinha oferecido em muitas ocasiões e ela recusava cada uma.
Porque isso não era público o suficiente.
Porque Bella só me queria quando eu estivesse em plena exibição no pub
ou na escola, onde ela poderia me mostrar para todos os seus amigos como
se eu fosse um touro premiado.
Bella havia me informado por mensagem de texto que ela seguiu em
frente com Cormac Ryan do sexto ano.
Eu meio que suspeitava que algo estava acontecendo entre os dois por um
tempo porque ele estava agindo de forma estranha para caralho perto de
mim.
Cormac recebeu o telefonema da Academia durante o verão. Ele esteve
em algumas sessões com os jovens e competiu em várias rodadas de testes.
Até agora, Cormac não teve sucesso em ganhar um contrato de colocação
permanente e eu não estava prendendo a respiração pelo cara.
Isso não era eu sendo um idiota rancoroso.
Era eu relatando fatos.
Ele era um ala decente, mas precisava seriamente fazer alguma magia se
quisesse chegar ao time principal com o clube.
Se ele conseguisse, bom para ele.
Se ele não conseguisse, eu não dou a mínima.
Cormac estava um ano na minha frente, então nunca fomos amigos, por si
só, mas tendo jogado no mesmo time nos últimos cinco anos, eu esperava
um pouco mais de lealdade.
E se Bella estivesse querendo provocar uma reação em mim transando
com meu companheiro de equipe, ela ficaria muito desapontada porque eu
nunca lhe daria essa satisfação.
Machucava?
Sim.
Eu me sentia traído?
É claro.
Isso significava que eu a queria de volta?
Porra, não.
Porque eu não conseguia lidar com mentirosos, e era isso que ela era.
Eu também não lidava bem com jogos mentais, que era exatamente o que
ela estava tentando fazer comigo.
Terminar comigo, sair com meu companheiro de equipe e depois virar e
inundar minha caixa de entrada e me dizer que ela me queria de volta, era
um excelente exemplo dos jogos que essa garota gostava de jogar comigo.
O que ela não conseguia entender era que não importava quantos jogos ela
tentasse jogar ou quantas vezes ela prometesse me chupar.
Não havia como voltar.
Não para mim.
Talvez eu estivesse morto por dentro, como Bella tinha sugerido no
milhão de mensagens de texto que ela me enviou depois que eu recusei suas
ofertas de resolver as coisas.
Eu não pensava assim.
Eu tinha sentimentos.
Eu me importava com as coisas.
Apenas não com mentirosos.
DIARREIA EXPLOSIVA
SHANNON
Sábado era o meu dia favorito da semana por uma série de razões.
Primeiro: era o primeiro dia do fim de semana e o mais distante da
segunda-feira.
Segundo: não havia escola.
Terceiro e mais importante: era dia de GAA.
Joey, Ollie e Tadhg estavam sempre fora de casa a maior parte do dia de
sábado com treinos e jogos.
Felizmente, isso significava que meu pai também estava fora, participando
de atividades não relacionadas ao consumo de álcool.
O que tornou este sábado em particular melhor do que a maioria foi o fato
de que não só meu pai estava fora de casa o dia todo com os meninos, mas
ele estava indo para uma despedida de solteiro de seu amigo em Waterford
esta noite.
Foi com esse conhecimento, e com a permissão da mamãe, que concordei
em ir à casa de Claire no sábado à tarde para ficar com ela e Lizzie.
Eu tinha todas as minhas tarefas concluídas às três horas – que consistiam
em limpar a casa de cima a baixo, colocar meia dúzia de roupas para lavar e
cozinhar o jantar.
E embora eu quase tenha tido um ataque cardíaco quando o irmão da
Claire, Hughie apareceu do lado de fora da minha casa com sua namorada
para me pegar, eu consegui me recompor o suficiente para subir na parte de
trás do carro dele e aceitar a carona para a casa deles.
Durante toda a noite nós nos empanturramos com junk-food, assistimos a
reprises de One Tree Hill e fofocamos sobre absolutas bobagens.
Foi o melhor sábado que tive em anos.
Às sete horas, eu estava inchada e espalhada na cama de Claire, sofrendo
de uma sobrecarga de açúcar, e ouvindo Lizzie falar sobre o quanto ela
desprezava Pierce.
— Eu não sei o que eu sequer vi nele — ela resmunga pela centésima vez.
— Mas o que quer que fosse, não valia a pena dar a ele meu v-card.
— Não acredito! — Claire grita, pulando de seu lugar nas minhas pernas
para olhar boquiaberta para Lizzie. — Você fez sexo com Pierce?
— Você não é virgem, Lizzie? — Minha boca se abre. — Mas você tem
apenas dezesseis anos.
— Não olhem para mim com julgamento — ela resmunga. — Só porque
vocês nunca viram um pau.
— Eu não vi — Claire oferece, levantando a mão. — Nem mesmo uma
espiadinha.
— Nem eu — eu admito totalmente, balançando a cabeça. — Eu nunca
beijei um menino.
— Isso é apenas triste, Shan — Lizzie retruca.
Eu fico num tom vermelho beterraba.
— Não seja uma vadia — Claire brinca. — Nos conte sobre isso.
Lizzie dá de ombros.
— O que há para dizer?
— Quando isso aconteceu? — Eu pergunto.
— Quinta-feira.
— E você não pensou em nos dizer? — Claire guincha. — Oh meu Deus,
Liz, nós estávamos na escola com você o dia todo na sexta e você nunca
mencionou nada!
Lizzie dá de ombros, mas não responde.
Claire e eu nos encaramos antes de Claire perguntar:
— Onde isso aconteceu?
— No carro dele.
— Ugh — nós duas gememos em simpatia.
Nenhuma garota queria que sua primeira vez acontecesse no banco de trás
de um carro.
— Onde estavam?
— Nos campos do GAA.
— Ugh — nós fizemos coro novamente.
— Sim — Lizzie brinca. — E um conselho de amiga, meninas, não
desistam. — Recostando-se em um travesseiro, Lizzie descansa as costas
contra a cabeceira da cama e pega sua revista antes de acrescentar: — Dói, é
decepcionante, há sangue, e os meninos se transforma em uns idiotas
completos depois.
— Ele terminou com você? — Eu sobressalto.
— Eu vou chutar a bunda dele — Claire sibila.
— Não — responde Lizzie. — Mas ele está agindo de forma fria desde
então.
— Que filho da puta — Claire rosna.
— Sim — Lizzie concorda.
— Doeu muito? — Eu pergunto, curiosa.
— Como um atiçador em brasa sendo enfiado na sua vagina — ela
responde.
Claire e eu estremecemos em solidariedade.
— Você está bem? — Eu pergunto, sentindo uma profunda onda de
simpatia pela minha amiga. Lizzie era dura como uma pedra e raramente
mostrava um pingo de emoção, mas isso era um grande negócio para
qualquer garota.
— Estou sempre bem, Shan — foi sua resposta curta.
— Veja, é exatamente por isso que nada está acontecendo dentro da minha
área — Claire declara com um estremecimento, caindo para trás e
descansando a cabeça nas minhas pernas — Eu acho que morreria se visse
um pênis vindo em minha direção.
— Claire — eu rio. — Pare.
— Ela está falando sério — Lizzie me informa. — Ela tem medo de P.
— É verdade — Claire afirma sem um pingo de vergonha. — Eu só beijei
um garoto, Jamie Kelleher. Nós estávamos saindo por seis semanas no
segundo ano, e quando ele tentou empurrar minha mão na frente de seu jeans
na discoteca da escola, eu gritei com ele.
— Você não fez isso — eu engasgo.
— Oh, ela fez — respondeu Lizzie. — Em plenos pulmões. Causou uma
certa cena na discoteca.
— Eu entrei em pânico — Claire defende, sorrindo timidamente. — Eu
não queria tocar seu pênis.
— O que aconteceu?
— Ele me chamou de puta e terminou comigo ali mesmo na pista de
dança na frente de toda a escola — ela responde.
— Que idiota — eu cuspo.
— Está tudo bem — Lizzie interrompe. — Claire deu as costas para ele,
não foi?
— Não intencionalmente — ela protesta.
— Ah, pare com isso. — Lizzie revira os olhos. — Você sabia exatamente
o que ele faria quando você foi chorar para ele.
— Quem? — Eu pergunto. — O que você fez?
Lizzie sorri.
— Ela foi correndo para sua sombra.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Quem?
— Gibsie — Lizzie me atualiza.
— Oh meu Deus. — Meus olhos se iluminam. — O que ele fez?
— O que você acha que ele fez? — Lizzie pergunta de volta. — Ele caiu
em cima para defender a honra dela.
— Ele não fez isso!
— Ele fez — Claire gorjeia alegremente.
— Ele quebrou o nariz do Jamie — acrescenta Lizzie.
Claire suspira feliz.
— Foi épico.
— Você poderia ter vindo para mim — diz Lizzie. — Eu de bom grado
teria dado uma joelhada nas bolas daquele idiota em seu nome…
A porta do quarto de Claire abre de repente, assustando nós três.
— Oh meu Deus — Claire grita, jogando um travesseiro no garoto alto e
loiro que tinha invadido sua privacidade.
— Eu tenho um problema! — Gibsie anuncia, pegando o travesseiro no ar.
— Gerard! — Claire sibila, encarando. — Você já ouviu falar em bater?
— Não há tempo — ele responde. — Eu preciso de sua ajuda, babe.
— Eu não sou sua babe — Claire resmunga e joga outro travesseiro para
ele. — E se eu estivesse nua aqui?
— Então eu morreria um homem feliz — ele retruca quando o segundo
travesseiro bate contra seu peito. — É o gato.
Ela franze a testa.
— Brian?
— Você nomeou seu gato de Brian? — Eu rio.
— Ele não é meu gato — respondeu Gibsie. — Eu nem gosto de gatos.
Eu fiz uma careta.
— Então de quem ele é?
— Da minha mãe — Gibsie responde. — Ele é seu orgulho e alegria. —
Ele se vira para Claire e diz: — Ele teve um episódio.
— Outro? — Saindo da cama, ela ajusta o short do pijama e caminha em
direção a ele. — Onde?
— Uh... — Dando de ombros timidamente, Gibsie gesticula para a porta.
— Ele está na minha casa? — Claire grita.
— Por que seu gato está na casa dela? — Lizzie faz a pergunta que está na
mente de todos.
— Ele não estava se sentindo bem — responde Gibsie. — Eu o levei para
passear.
— Você levou seu gato para passear? — Lizzie balança a cabeça. —
Garoto, você precisa se internar.
— Não é tão estranho — ele bufa defensivamente. — Eu moro do outro
lado da rua.
— Você colocou uma coleira nele?
— Obviamente. — Gibsie olha para ela como se fosse a coisa mais idiota
que ele já tinha ouvido. — De que outra forma eu poderia levá-lo até aqui?
Lizzie balança a cabeça.
— Então eu mantenho minha declaração anterior.
— Uau, você é um poço de risadas, não é? — Gibsie responde
sarcasticamente. — Pierce é um rapaz de sorte.
Lizzie responde mandando o dedo do meio para ele.
— Foco — Claire retruca, estalando os dedos no rosto de Gibsie. — Onde
ele está agora?
— Ele está no seu banheiro. — Fazendo uma careta, ele acrescenta: —
Ele sofreu um acidente.
— Que tipo de acidente? — Claire rosna.
Ele dá de ombros timidamente.
— O tipo de diarréia explosiva?
— Gerard! — Claire grita, batendo em seu enorme bíceps. — Eu lhe disse
para não trazê-lo aqui depois da última vez.
— Eu estava preocupado — ele geme, esfregando o braço. — Sinto
muito. Mas você tem que me ajudar.
— Peça a Hughie para ajudá-lo — ela rosna, colocando as mãos nos
quadris — Estou cansada de te resgatar.
— Eu não posso — ele geme. — Ele está deixando Katie em casa e
pegando os rapazes antes de sairmos.
— Então por que você ainda está aqui? — Lizzie brinca, enquanto
folheava uma revista.
— Ei — eu repreendo baixinho, cutucando sua costela. — Não seja
malvada.
— Ugh! — Claire rosna quando ela pisa fora do quarto com Gibsie em
seus calcanhares.
— Esse menino é um idiota — Lizzie murmura, sem tirar os olhos de sua
página. — Nossa amiga está apaixonada por um idiota classe A.
— Ele não é tão ruim assim — eu respondo e então recuo rapidamente. —
Espere… você acha que Claire está apaixonada por Gibsie?
Agora Lizzie olha para mim.
— Não é óbvio? — ela pergunta. — Que garota em sã consciência
aguenta anos de flerte e tormento se ela não tem sentimentos sérios por ele?
— Gerard! — Claire grita a plenos pulmões, distraindo nós duas. — Seu
gato está cagando na minha banheira!
— Eu sei — Gibsie geme alto. — Cheira tão mal, e ele não para.
— Eu tenho que ver isso. — Eu rio, saindo da cama. — Você vem?
Lizzie balança a cabeça.
— Não. Eu vi mais do que o suficiente de suas travessuras para durar uma
vida inteira, muito obrigada.
Balançando a cabeça, eu corro para fora do quarto e atravesso o patamar,
alcançando a porta do banheiro para ver um enorme gato persa branco como
a neve, equilibrando-se na beira da banheira da família Biggs.
De pé na porta, observo sua estranha interação com a minha mão sobre a
boca, em parte por causa do cheiro, mas principalmente porque era muito
engraçado.
— Brian! — Gibsie estava rugindo. — Que diabos está errado com você?
— Ele liga a água e pega o chuveiro. — Deus, essa é a pior merda que eu já
cheirei na minha vida.
— Sim, eu sei, Gerard — Claire sibila, cobrindo o nariz e a boca com a
mão enquanto usava a outra para despejar água sanitária na banheira. — Eu
posso sentir o cheiro também, você sabe.
— Ele faz isso de propósito — ele diz a ela, em tom acusador. — Porque
eu o tirei do meu quarto ontem à noite. Ele está me punindo.
— Ele está olhando para você — ela diz a ele.
— Eu sei. — Gibsie estremece. — Basta pegá-lo e colocar na área de
serviço.
— Ele está me encarando agora — Claire guincha, se afastando do gato.
— Ele está tentando te intimidar, babe — Gibsie a convence. — Não olhe
nos olhos.
— Cristo, ele é mais assustador do que o Sr. Mulcahy — Claire geme,
encolhendo-se atrás do enorme corpo de Gibsie.
— Apenas venha por trás dele e o pegue — ele orienta enquanto segurava
a mangueira do chuveiro na frente deles como uma arma. — Mantenha as
patas dele longe de você – segure-o longe do seu corpo e corra.
— Eu não vou pegá-lo, Gerard — Claire sussurra, os olhos arregalados.
— Parece que ele está a dois segundos de me assassinar.
— Eu vou te proteger — ele promete valentemente.
— Você está com medo dele!
— Tudo bem, segure isso — ele resmunga, passando a mangueira para a
minha amiga. — Eu vou colocar o filho da puta para fora.
— Você acha que devemos lavá-lo com uma mangueira? — Claire
perguntou — Ele tem cocô em seus pêlos.
— Porra, não — exclama Gibsie. — A última vez que tentei limpar a
bunda dele, ele me mutilou.
Eu rio alto.
— Não é engraçado Shannon, porra — Gibsie resmunga, me
surpreendendo ao lembrar meu nome. — Eu tive que tomar uma vacina
contra o tétano por causa dele.
— Desculpe — eu rio, colocando uma mão sobre minha boca. — Eu não
estou rindo de você, eu prometo. — Eu ri. — E sim da situação. —
Estudando o felino peludo, acrescento: — Ele se parece com o gato do
Inspetor Gadget.
— Sim, bem, ele certamente é mau o suficiente — responde Gibsie. —
Algumas noites eu acordo e ele está na minha cama, de pé sobre mim com
aqueles olhinhos malvados. — Ele balança sua cabeça. — Eles nunca
deveriam tê-lo castrado. Ele está com um humor homicida desde então. Teria
sido uma vida mais fácil deixar o pobre bastardo manter suas bolas.
— Vá em frente, Gerard — Claire persuade, empurrando Gibsie em
direção à banheira. — Você pode fazer isso. Tenho toda a fé em você.
— Ah foda-se, ok! Ok! — Com os braços estendidos, Gibsie ronda em
direção ao gato. — Aqui gatinho, gatinho — ele persuadi, estendendo a mão
sobre a banheira para pegá-lo. — Bem obediente... isso mesmo... eu amo
obediência... eu amo... eu não vou te machucar – ahhhhh!
Brian rosna e bate a pata em Gibsie, que, por sua vez, grita como uma
menina e mergulha atrás de Claire.
— Obediente é o caralho — ele engasga, arrastando Claire para longe do
gato que estava assobiando e cuspindo em ambos. — Ele me arranhou? —
ele exige, empurrando a mão em seu rosto. — Eu sinto que ele me arranhou.
— Eu não sei — Claire grita, empurrando os dois para o canto do
banheiro. — Mas eu realmente odeio o seu gato — ela aperta,
aconchegando-se debaixo do braço dele.
— Deixe-me ajudar — ofereço, entrando na zona de perigo.
Sufocando minha risada, pego uma toalha do corrimão e me aproximo
com cautela.
— Não faça isso, Shannon — Gibsie avisa enquanto ele e Claire se
agarravam um ao outro, encolhendo-se do gato. — Ele é um bastardo com
tendências violentas.
— Isso não é verdade — eu falo, me agachando na frente da banheira, os
olhos fixos no gato deslumbrante, embora letal. — Você não é um bastardo,
é, Brian? — Eu pergunto quando estendo a mão e acaricio a cabeça de Brian.
Surpreendentemente, ele me deixa acariciá-lo sem problemas.
— Miau — ele resmunga, os pelos se retraindo.
— Está tudo bem — eu o acalmo, acariciando-o em um padrão suave. —
Você está bem.
— Jesus Cristo — Gibsie respirou. — Sua garota aqui é como uma
encantadora de gatos.
— Shannon — Claire guincha. — Por favor, tenha cuidado. Ele é cruel.
Ele pode se voltar contra você em um instante.
— Sim, Shannon — Gibsie concorda. — Tenha muito cuidado. Ele só
deixa minha mãe e Kav segurá-lo. Ele é seriamente perigoso.
— Shh, pessoal, não gritem — eu aviso quando os pelos de Brian
arrepiam de volta. — Vocês dois estão deixando-o nervoso — explico. —
Ele pode sentir sua ansiedade e isso o está fazendo atacar.
Fico sentada lá por mais alguns minutos apenas acariciando e acariciando
seu rosto e orelhas até chegar e pegá-lo.
— Bom menino — eu balbucio amorosamente, segurando-o no meu peito.
Felizmente, fui recompensada com um ronronar profundo.
Lançando meu olhar para Gibsie, pergunto:
— A que distância fica a sua casa?
— Do outro lado da rua — respondeu Gibsie.
— Ok. — Continuo a acariciar Brian. — Você quer que eu o leve até sua
casa para você?
Ele assente agradecido.
Inclino minha cabeça em direção à porta e digo:
— Mostre o caminho.
Gibsie sai nervosamente, mantendo-se longe de mim.
Com cuidado para não perturbar o gato em meus braços, eu o sigo para
fora da casa chique dos Biggs e atravesso a rua para outra propriedade de
três andares de aparência impressionante.
— Você é uma salva-vidas, Pequena Shannon — anuncia Gibsie quando
Brian foi guardado em segurança em sua casa. — Seriamente.
— De nada — respondo, me sentindo tímida agora que minha missão
estava completa e eu estava sozinha com um estranho. — Não foi nada
demais.
— Foi para mim — Gibsie ri enquanto tranca a porta da frente e coloca a
chave de volta no bolso da calça jeans. — Eu estou saindo hoje à noite para
algumas bebidas de aniversário e você acabou de salvar minha bunda de
aparecer coberto de arranhões.
— É seu aniversário? — Eu pergunto, andando ao lado dele enquanto
atravessamos a rua tranquila sem saída de volta para a casa de Claire. —
Hoje?
— Sim, de fato. — Gibsie sorri. — O grande um-ponto-sete.
— Oh, bem, feliz aniversário de dezessete anos — eu respondo. — Espero
que você tenha uma ótima noite.
— Ah, eu só estou indo tomar algumas com os rapazes — ele explica
enquanto caminhava pelo caminho do jardim. — As grandes comemorações
acontecerão no final de maio.
— O que há em maio?
— O décimo oitavo do meu melhor amigo — ele me diz. Sorrindo
conscientemente, ele acrescenta: — Você o conhece, certo? Johnny
Kavanagh?
— Oh. — Meu rosto ficou com um tom brilhante de vermelho com a
menção do nome de Johnny. — Sim, nós nos conhecemos.
— Ele será chamado até então — Gibsie acrescenta com orgulho. — Vai
ser uma dupla celebração e uma sessão e meia nessa noite.
Ser chamado?
Para o que?
Eu queria perguntar a ele sobre isso, mas seguro minha língua, sabendo
que não me faria nenhum bem.
Eu não precisava adicionar mais pensamentos obcecados por Johnny em
minha mente já cheia de Johnny.
— Ele vai sair conosco esta noite — Gibsie continua a divagar, alheio ao
meu rubor. — O que é um maldito milagre em si, considerando que ele
nunca mais sai conosco. — Ele abre a porta da frente da casa dos Biggs e
gesticula para que eu entrasse primeiro. — Hughie está realmente pegando
Kav e Feely depois de deixar Katie em casa. — Olhando para o relógio
pendurado na cozinha, ele acrescenta: — Eles estarão aqui em alguns
minutos. Você deveria esperar aqui embaixo e dizer "Oi." para ele. —
Piscando, ele acrescenta: — Aposto que ele adoraria ver você.
Ele estava me provocando?
Eu não acho.
Mas ele estava definitivamente mexendo comigo.
Eu só não tinha certeza se era para meu benefício ou não.
De qualquer forma, eu não ficaria lá embaixo para dizer oi para ninguém.
— Não, tudo bem — eu murmuro, sentindo cada gota de sangue correr
para o meu rosto. — As meninas estão esperando por mim.
— Faça como quiser, pequena Shannon — Gibsie ri.
— Feliz aniversário. — Oferecendo-lhe um aceno fraco, me viro para
subir a escada. — Tenha uma boa noite.
— Terei — ele fala atrás de mim.
Eu não tinha que me virar para ver que ele estava sorrindo; eu podia ouvir
isso em sua voz.
9
JOHNNY
SHANNON
JOHNNY
HORA DA CONFISSÃO
SHANNON
RASTEJANDO E IMPROVISANDO
JOHNNY
LICENÇAS PROVISÓRIAS
SHANNON
SHANNON
Quando as pessoas dizem que algo é bom demais para ser verdade,
geralmente é.
É exatamente assim que me sinto quando saio do banheiro na terça-feira
no fim de tarde depois da escola e colido com um peito duro.
Surpresa ao encontrar alguém parado do lado de fora do banheiro quando
o sinal final já tinha tocado há muito tempo, solto um pequeno grito.
— Como vai, Shannon? — um garoto loiro, vagamente familiar, pergunta
sorrindo para mim.
Os corredores estavam relativamente vazios, com apenas alguns alunos
vagando pelos corredores, levando-me a acreditar que ele estava esperando
aqui por mim.
Afinal, o banheiro das meninas era um local incomum para um garoto
ficar do lado de fora, especialmente um vestido com uma camisa, shorts e
chuteiras.
Pânico misturado com uma grande dose de cautela queima para a vida
dentro de mim.
— Hum, tudo bem — eu respondo, colocando e depois recolocando meu
cabelo atrás da orelha, um traço de nervosismo. — Como você está?
— Melhor agora que eu estou falando com você — ele anuncia,
confirmando meu pior pesadelo, enquanto se aproximava, as solas de suas
botas batendo contra o chão.
— Você estava esperando aqui por mim? — Eu me forço a perguntar,
precisando da confirmação oral. Não me pergunte por que, mas eu precisava
esclarecer a loucura. — No seu, — eu gesticulo para o seu traje — uniforme
de educação física?
— Eu estava treinando e esqueci meu protetor bucal no meu armário —
explica, nem um pouco envergonhado por nada disso. — Eu vi você indo
para o banheiro quando eu estava indo para o meu armário, então pensei em
esperar para falar com você. — Dando de ombros como se sua explicação
sem sentido fosse perfeitamente aceitável, ele acrescenta: — A propósito,
sou Ronan. Ronan McGarry. Temos aula de francês juntos.
Seu tom era amigável, mas eu sabia que não devia ser enganada.
Amigável pode se transformar em valentão em um milissegundo.
— Sim, eu sei. — Dando um passo para trás para recuperar meu espaço
pessoal, acrescento: — Bem, foi legal da sua parte vir dizer oi, mas eu tenho
que pegar meu ônibus. Ele sai em breve e o motorista não vai esperar...
— Eu vi você no campo naquele dia, Shannon — ele ronrona, a voz baixa,
os olhos brilhando de excitação. — É sobre isso que eu queria falar com
você. — Ele dá mais um passo em minha direção, invadindo meu espaço
mais uma vez. — De calcinha? Aquelas pernas de matar... eu vi você
todinha.
Meu coração afunda.
Cada músculo do meu corpo trava com pavor.
Era isso.
O que eu estava esperando.
A provocação inevitável.
Eu estava vagamente ciente de Ronan McGarry, tendo sentado na frente
dele na aula de francês nas últimas semanas, mas eu não tinha percebido que
ele estava no time de rúgbi.
Eu não tinha notado ele em campo na semana passada, mas então, eu não
tinha notado ninguém além de Johnny naquele dia.
Eu acho que fazia sentido, porém, com o uniforme lamacento que ele
estava usando e a bochecha machucada.
Mas eu não tinha nada para dizer a ele, então mantenho minha boca
fechada e espero que ele fale.
Ele iria.
Eles sempre falam.
— E eu tenho que ser honesto, Shannon. — Ele estende a mão e puxa
minha trança com a mão manchada de lama, não com força, foi de uma
forma mais brincalhona, mas eu não gostei do puxão. — Eu não fui capaz de
parar de pensar em você desde então.
Finja indiferença, Shannon.
Finja que não se importa.
Dando um passo para o lado para libertar meu cabelo de suas mãos, eu
afasto suas palavras com um pequeno encolher de ombros e reajusto minha
bolsa em meus ombros.
Ele me encara por um longo tempo, os olhos dançando de excitação, antes
de dizer:
— Você é uma coisinha tímida, não é?
— Não — eu respondo, a voz baixa, e era a verdade.
Eu não era tímida.
Eu podia ser tão franca e tagarela quanto qualquer um quando estava com
pessoas em quem confiava.
Mas eu era cautelosa.
Eu tinha uma boa razão de ser.
E eu não confiava nele.
— Bem, tímida ou não, você é fodidamente linda sob essas roupas. — Ele
afirma humildemente, mordendo seu lábio inferior enquanto seus olhos
vagavam descaradamente pelo meu corpo. — Eu realmente adoraria ter o
seu número.
Minha boca se abre.
Ele estava falando sério?
Olho boquiaberta para seu rosto, tentando avaliá-lo.
Ele parecia completamente sério.
— Eu, ah, eu, não... — Balançando a cabeça, eu evito por pouco sua mão
mais uma vez quando ele tenta puxar minha trança novamente. — Desculpe,
Ronan, mas eu não dou meu número para estranhos.
A última coisa que eu queria fazer era dar a alguém, além de Claire e
Lizzie, meu número de telefone.
Dar minhas informações significava que os valentões tinham uma linha
direta com minha mente 24 horas por dia, 7 dias por semana.
E embora eu tivesse cometido esse erro uma vez na minha antiga escola,
um novo número de telefone e os resquícios ardentes de sabedoria
conquistada com muito esforço significavam que eu nunca faria isso
novamente.
Ronan zomba.
— Eu não sou um estranho.
— Você é para mim — eu respondo, forçando-me a ficar forte.
— Vamos, Shannon, eu não mordo. — Ele continua a sorrir para mim,
mas era mais duro, seus olhos um pouco mais frios agora. — Apenas me dê
seu número.
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Desculpe, mas eu não te conheço
bem o suficiente para te dar o meu número.
— Você sempre pode me conhecer — ele ronrona, colocando uma mão
firme no meu ombro.
Mesmo que eu não pudesse sentir seu toque através do meu casaco de
inverno grosso, imediatamente recuo do contato, mas ele não move a mão.
— Eu tenho um ônibus para pegar — eu engasgo com as palavras,
repetindo o que foi dito anteriormente. Meus ombros estavam mais rígidos
do que concreto quando acrescento: — Preciso ir agora ou vou perder. — Eu
estava me agarrando à areia movediça, mas eu queria ficar longe desse
garoto. — Sério, o motorista não vai esperar por mim.
— Haverá outro ônibus — ele atira de volta. — Não haverá outro eu.
Querido Deus, eu esperava que não.
— Ouça — Ronan pressiona, o tom assumindo um tom de paquera. — Eu
deveria estar em uma conversa pós-treino com a equipe em campo. O
treinador gosta de nos reunir para conversar sobre estratégia após os treinos.
Ele me diz isso como se realmente pensasse que eu me importava.
Eu não me importo.
Eu só me importava com ele se afastando de mim.
— Mas eu não tenho que ir. — Sua mão foi do meu ombro ao meu
cotovelo. — Eu pude dispensar isso por você. — Sua mão se move para
baixo, traçando a bainha da minha saia. — O que você me diz? — ele
pergunta, inclinando-se no meu ouvido. — Gostaria de voltar para aquele
banheiro e me conhecer um pouco melhor?
— Não — eu rebato, me afastando de seu toque. — Não estou interessada.
— Vamos, Shannon — ele retruca, o tom aquecido agora, os olhos
brilhando com frustração. — Olhe em volta. — Ele aperta a mão no meu
ombro novamente, não gentilmente desta vez. — Ninguém vai nos ver...
Ronan não tem a chance de terminar essa declaração quando foi carregado
– literalmente arrastado pela nuca por um garoto muito maior, muito mais
velho.
— Você é um filho da puta com desejo de morrer, não é? — o garoto
estava dizendo em um tom estranhamente leve enquanto perambulava pelo
corredor com sua mão enorme segurando a nuca de Ronan, forçando-o a se
dobrar e cambalear para acompanhar seus passos largos.
Ele estava vestido com o mesmo traje; uma camisa listrada em preto e
branco, shorts brancos e tênis que faziam barulhos no chão enquanto ele
andava, torrões de lama e grama caindo do calçado.
O único contraste era um número 9 nas costas da camisa de Ronan e um
número 7 no grandalhão.
O reconhecimento imediato me atinge.
Número 7.
Gerard ‘Gibsie’ Gibson.
A paixão de Claire.
O passeador de gatos.
O estranho.
Graças a Deus!
Os alunos ainda vagando no corredor param o que estavam fazendo para
assistir ao drama, mas ninguém intervém.
Nenhuma pessoa intervém em nome de Ronan enquanto o homem/garoto
gigante e louro o conduz pelo corredor.
— Me larga, Gibsie — Ronan estava gritando, tentando e falhando em se
libertar do controle monstruoso do homem. — Eu só estava brincando.
— Você sabe que ele vai te matar, não é? — Gibsie pergunta, com um tom
de humor, enquanto ele levava Ronan até a entrada da frente e então o
jogava cerimoniosamente para fora das portas duplas de vidro.
— Gibsie! — Ronan está gritando, com o rosto vermelho, enquanto lutava
com a maçaneta da porta. — Pare de brincar. Eu só estava sendo amigável
com ela.
— Isso não soou amigável, garoto — Gibsie provocou. — Isso soou
desesperado, e um pouco como um estuprador.
Agora mesmo, os dois garotos estavam empurrando; com Ronan tentando
furiosamente abrir a porta e Gibsie fechando-a com razoável facilidade.
— Deixe-me entrar, Gibsie! — Ronan ruge, puxando a maçaneta como
um lunático. Era um sistema de empurrar e puxar e ele não estava
conseguindo empurrar para dentro. — Eu preciso do meu inalador.
— Não, nem tente essa merda comigo, McGarry — Gibsie grita com uma
risada, segurando a porta fechada quando Ronan tenta a maçaneta. — Você
conhecia as regras, e você não tem asma.
— E daí? — Ronan exige, parecendo indignado. — Você só vai me
trancar fora da escola porque ele proibiu?
O que?
— Absolutamente.
O que diabos eles estavam falando?
— Ele não é meu capitão! — Ronan rosna, pressionando a testa no vidro.
Eu estava tão confusa.
— Ah, mas ele é — Gibsie respondeu, ainda rindo, e eu tinha certeza que
ele estava achando a situação muito divertida. — E cachorros que não
podem se comportar perto da nova amiga do Capi ficam do lado de fora.
— Você vai pagar por isso, Gibs — Ronan sibila. — Juro por Deus, se
você não me deixar entrar, vou contar ao meu tio sobre isso.
— É mesmo?
— Você será expulso do time por isso.
— Pela ameaça, eu vou foder sua mãe, McGarry — Gibsie retruca. — E
então eu vou gozar entre os seios dela, e ela vai adorar cada minuto disso. —
Com outra risada, ele diz: — Vá e conte ao tio-treinador tudo sobre o que eu
planejei com sua irmã.
— Eu vou te matar! — Ronan grita, batendo os punhos contra o vidro.
— Chupa meu pau…
— O que está acontecendo? — uma voz masculina familiar ressoa no ar.
O reconhecimento imediatamente me percorre.
Eu conheço aquele sotaque.
Sem uma decisão consciente, meus olhos procuram desesperadamente o
dono da voz, e quando eu o encontro, caminhando rigidamente para fora do
refeitório, segurando uma bolsa de gelo em sua coxa direita, meu coração
bate descontroladamente contra minhas costelas.
Parado a uns bons seis metros de distância, eu estava em desvantagem
visual, mas estava perto o suficiente para ver como cada centímetro da parte
superior do corpo de Johnny se forçava contra o confinamento de sua
camisa, dos ombros largos aos bíceps do tamanho de um tronco de árvore,
um tronco longo e magro.
Suas pernas eram longas, suas coxas grossas e musculosas, todas cobertas
de grama e lama. Noto o pequeno rasgo na manga de sua camisa, onde seu
bíceps está saliente.
Senhor, ele estava literalmente explodindo para fora do tecido.
Ele estava vestido de forma idêntica aos outros meninos, com a mesma
camisa e shorts, mas era incomparavelmente diferente por causa do tamanho
de seu corpo.
Ele era quase grande demais.
Muito musculoso.
Muito assustador.
Muito bonito.
Muito.
Balançando a cabeça para limpar meus pensamentos errantes, concentrei-
me na discussão acalorada que ocorria no final do corredor.
— O que o pequeno idiota fez agora? — Johnny exige enquanto fechava o
espaço entre ele e Gibsie.
Eu mentalmente noto que ele estava andando com um leve mancar que eu
observei em inúmeras ocasiões.
Era quase imperceptível, mas se você olhasse bem de perto, como eu
sempre fazia, ficava claro que ele tentava manter o peso na perna direita.
Meu olhar dança entre os três; passando de Ronan, que não estava mais
puxando a maçaneta – na verdade, ele se afastou alguns passos da porta –
para Gibsie que estava sorrindo como um gato Cheshire, antes de pousar e
ficar em Johnny.
Sério, tão alto quanto Gibsie era, Johnny se elevava sobre ele.
Havia uma mancha de lama seca em sua bochecha que ele tenta limpar
com as costas da mão livre.
Seu cabelo castanho escuro estava espetado em quarenta direções
diferentes.
Provavelmente de suor, noto mentalmente, ou jogando lá fora na chuva.
Ele estava de tal forma que eu podia ver seu perfil lateral e a forma como
sua carranca se aprofunda enquanto Gibsie fala baixinho em seu ouvido.
Eu não conseguia entender o que eles estavam dizendo e não estava
disposta a deixar o santuário do meu canto do lado de fora do banheiro,
sabendo que sempre poderia entrar e me trancar em um cubículo do banheiro
e ligar para Joey se isso ficasse feio.
Segundos depois, o corpo de Johnny fica visivelmente tenso.
— O quê?
Jogando a bolsa de gelo no chão, suas mãos se fecharam em punhos ao
lado do corpo enquanto ele se virava para encarar o vidro, revelando o
número 13 nas costas.
Ele deu um passo à frente, parando perto da porta quando Gibsie colocou
a mão em seu ombro.
— Você só pode estar de brincadeira comigo! — ele ruge, reagindo ao que
quer que seu amigo tivesse sussurrado em seu ouvido.
A cabeça de Johnny vira na direção de Ronan antes de se virar
rapidamente para mim.
Seus olhos pousam no meu rosto e caramba, ele parece lívido.
Foi apenas um olhar fugaz e ele rapidamente volta sua atenção para
Ronan.
Desta vez eu podia ouvir claramente o que ele estava dizendo.
— Eu vou te dar uma vantagem de cinco segundos, seu cara de pau — ele
ruge através do painel de vidro. — E então eu vou cortar seu pau e te fazer
comer.
— Vai se foder, Kavanagh — Ronan grita de volta, mas seu rosto estava
muito mais pálido do que antes. — Você não pode me tocar.
— Um — Johnny late. — Dois, três, quatro...
— O que você está esperando? — Gibsie grita, acenando com as mãos no
ar de forma encorajadora. — Vá em frente, Forrest7.
Eles realmente iriam brigar?
Por mim?
Isso era realmente sobre mim?
Não poderia ser.
Eles nem me conheciam.
Sem chance.
Eu não gostava de confronto, não conseguia lidar com isso, e isso com
certeza parecia que estava prestes a virar uma bola de neve.
Decidindo me distrair da situação, eu me viro e corro para o banheiro, não
parando até que eu estivesse em segurança em uma das cabines com a porta
trancada atrás de mim.
Com as mãos trêmulas, empurro minha bolsa dos meus ombros,
permitindo que ela batesse no chão de ladrilhos.
Caindo no vaso sanitário fechado, me inclino para frente, descanso os
cotovelos nos joelhos e enterro as mãos no cabelo, cambaleando.
O que diabos aconteceu?
O que foi isso?
O que eu teria feito se Gerard ou Gibsie, ou qualquer que fosse o nome
dele, não tivesse vindo?
Onde eu estaria agora?
Quando minha adrenalina anterior diminui, lágrimas escorrem pelo meu
rosto, mas não era porque eu estava chateada.
Ok, sim, eu estava chateada, mas minhas lágrimas eram de raiva.
Eu estava irritada na verdade.
Quem diabos Ronan McGarry pensava que era?
Mas, quem ele pensava que eu era?
Me convidando para ir para o banheiro com ele.
Deus, ele parecia realmente esperar que eu dissesse sim.
Piscando para afastar minhas lágrimas, eu cerro e depois abro meus
punhos, joelhos batendo enquanto raiva e humilhação me percorrem.
Eu odiava humanos.
Eles eram uma decepção.
E pensar que Deus trocou os dinossauros pelo homem.
Ele deve estar furioso.
Esfregando a mão no meu rosto, eu rapidamente limpo minhas bochechas
úmidas e luto para controlar minhas emoções.
Eu fiquei irritada comigo mesmo por ser o tipo de pessoa que chora
quando está com raiva.
Eu queria ser alguém que grita.
Alguém que grita era muito melhor do que uma chorona.
Eu estava com nojo de mim mesma por congelar também.
Ele não tinha o direito de colocar as mãos em mim e eu não fiz nada para
impedi-lo.
As palavras não pareciam suficientes para aquele garoto, e em vez de
chutá-lo no saco ou dar um tapa em sua mão, eu me calei como sempre fiz.
Eu deveria ter aprendido agora que ser uma molenga não me fazia
nenhum favor, e não revidar também não era uma opção.
Em situações como a que acabou de acontecer, eu tinha que lutar.
Eu precisava parar de deixar o medo tomar conta de mim.
Eu tinha o direito de me defender.
Não era fazer tempestade em um copo d’água para me defender.
Eu sabia disso, mas o problema era que, toda vez que enfrentava um
confronto ou crise, meu corpo – e minha mente – sempre reagem com o
mesmo instinto quebrado: congelar.
As pessoas falam sobre o instinto de luta ou fuga.
Eu não tinha nenhum.
Em vez de lutar ou fugir, congelo.
Cada maldita vez.
Arrastando em algumas respirações firmes, eu exalo uma longa e
lentamente, me esforçando para estabilizar meus nervos e batimentos
cardíacos irregulares.
Leva três tentativas de apertar minha mão antes que eu tivesse a
coordenação para desabotoar com sucesso os botões superiores do meu
casaco e recuperar meu telefone do bolso da minha camisa sob meu suéter.
Tremendo, desbloqueio a tela apenas para liberar uma nova onda de
pânico em minha corrente sanguínea quando meus olhos pousam no relógio
digital no topo da tela.
Eram 17h47.
Meu ônibus sai em ponto às dezessete e meia.
Eu tinha perdido.
Não haveria outro passando pela rota que eu precisava até as 21h45 desta
noite.
— Merda — eu sussurro, rolando rapidamente em minhas listas de
contatos para encontrar o nome do meu irmão.
Pressionando chamada, seguro o telefone no ouvido, mas em vez do típico
som de campainha que vinha ao fazer uma chamada, fui recebida com a voz
robótica pré-gravada, informando-me de que não tinha crédito suficiente
para fazer esta ligação.
— Droga!
Gemendo, rapidamente digito o código que me permitia enviar uma
mensagem de texto gratuita de “me ligue” para Joey.
Quando não obtenho uma resposta imediata, mando outra, e depois
mandei mais três para completar.
Mamãe estava no trabalho e não queria ligar para ela, e eu preferia dormir
aqui neste banheiro do que chamar meu pai para vir me buscar – não que ele
viesse se eu pedisse.
Trinta minutos depois e eu tinha enviado pelo menos mais vinte
mensagens gratuitas de “me ligue” para o meu irmão, mas sem sucesso.
Ele obviamente não tinha seu telefone com ele, ou está para o modo
silencioso.
Minha aposta era que estava no modo silencioso, já que Joey raramente
saía de casa sem ele. Ele provavelmente esqueceu de tirá-lo do modo
silencioso quando saiu da escola.
Eu não sabia mais o que fazer além de esperar na escola até o próximo
ônibus chegar.
Eu sabia que a escola permanecia aberta até tarde para programas pós-
escolares e aulas particulares.
Tecnicamente, nunca fechava, considerando que também era um internato,
mas a área principal ficava aberta até pelo menos 21h.
Meu estômago ronca alto, quebrando o silêncio.
Verificando a hora novamente, noto que agora eram 18h18.
Eu tinha aquelas fatias de pão escondidas na minha lancheira.
Eu poderia ir fazer torradas na área comum enquanto esperava.
Eu estaria em sérios apuros quando chegasse em casa, mas não havia
nenhuma maneira na terra dada por Deus que eu iria caminhar os vinte e
quatro quilômetros para casa.
A caminhada, eu tinha certeza que aguentaria.
Era quem eu poderia encontrar na caminhada que me incomodava.
Me levantando, coloco meu telefone de volta no bolso da camisa, ajeito os
botões do meu casaco, pego minha bolsa e saio da cabine, parando para lavar
as mãos antes de sair da santidade do banheiro.
Eu pressiono meu ouvido na porta e escuto por um longo momento.
Quando nenhum som de violência e gritos vem do outro lado, abro a porta
e saio.
Como um caso horrível de déjà vu, saio do banheiro e vou direto para um
peito duro de músculos.
16
JOHNNY
Minha virilha estava em chamas e meu corpo estava fervendo com uma
raiva mal contida.
Levar uma bota na minha virilha enquanto estou no fundo de um
amontoado durante o treinamento não era minha ideia de uma sessão de
treino produtiva.
Levei uns sólidos cinco minutos respirando pelo nariz enquanto eu estava
deitado no campo antes que eu pudesse confiar no conteúdo do meu
estômago para ficar lá e me levantar.
Resistindo à reação natural de mutilar e matar o culpado, que por acaso
era um Hughie de aparência envergonhada, largo os últimos cinco minutos
de treinamento em favor de ir em busca de uma bolsa de gelo.
Tínhamos a final da liga chegando e meus companheiros idiotas iam me
eliminar antes mesmo de chegarmos lá.
Soltar o final de semana passado foi muito bom, e o escudo foi uma bela
vitória para o time, mas minha visão estava voltada para a taça e a deles
também precisava estar – aparentemente não, no entanto, se o treino lento de
ontem e desempenho desleixado esta noite era qualquer coisa para se passar.
Eu estava saindo do refeitório com um saco de gelo amarrado ao meu saco
e outro pressionado na minha coxa quando a voz de Gibsie ressoa no ar
seguida pela voz irritante de Ronan McGarry.
— O que o pequeno idiota fez agora? — Eu ladro quando eles entraram
em foco, de pé em ambos os lados da porta de entrada de vidro.
— Não perca a cabeça — diz Gibsie em um tom baixo. — Eu tenho tudo
sob controle.
— O quê? — eu exijo.
Gibsie solta um suspiro.
— Ele estava assediando a Shannon fora dos banheiros. — Ele esfregou o
rosto com a mão. — Tentando levá-la ao banheiro com ele.
Meu corpo inteiro fica tenso quando uma névoa vermelha e nebulosa
turva a minha visão.
Eu estava irritado como o inferno com Gibsie sobre a façanha que ele fez
no almoço ontem, mas agora, eu estou grato por sua intromissão.
Jogando a bolsa de gelo no chão, olho pela janela e rosno:
— Você está brincando comigo!
— Não. Ele foi um pouco merda com ela também — Gibsie acrescenta,
olhando pelo vidro para McGarry. — Aparentemente, McGarry tem um
problema com sua audição porque a garota claramente disse não.
Minhas pernas estavam se movendo antes que meu cérebro tivesse a
chance de acompanhar.
Eu o avisei.
Eu avisei aquele merdinha para deixá-la em paz.
Eu ia matar aquele filho da puta.
— Não — Gibsie avisa quando agarra meu ombro e me puxa de volta. —
Ela está bem ali, cara.
Eu me viro para encontrar uma Shannon de olhos arregalados olhando
para mim.
Ela parecia aterrorizada.
— Pelo amor de Deus — eu gemo, me virando rapidamente para não ver
o medo em seus grandes olhos azuis.
Durante todo o dia, eu estava tentando o meu melhor para manter
distância, mas a porra do McGarry tinha acabado de ferrar com isso.
Eu o odiava.
Era uma palavra forte, mas precisa ao avaliar meus sentimentos em
relação ao idiota.
Eu o avisei para ficar longe dela, e ele foi e fez isso de qualquer maneira.
Talvez uma vez que eu usasse meus punhos em vez de minhas palavras,
ele me levasse a sério.
Se não o fizesse, teríamos um problema ainda maior.
Me voltando para Ronan, eu assobio:
— Vou te dar uma vantagem de cinco segundos, seu cara de pau, e então
vou cortar seu pau e te fazer comer.
— Vai se foder, Kavanagh — McGarry cospe. — Você não pode me tocar.
— Um — eu rosno, agarrando a maçaneta da porta. — Dois, três, quatro...
— O que você está esperando? — Gibs ri, fazendo gestos de enxotar com
as mãos. — Vá em frente, Forrest.
— Cinco — eu rosno, em seguida, abro a porta.
McGarry dispara como um cachorro escaldado, correndo em alta
velocidade.
Ele pode se mover tão rápido quanto suas pernas podem levá-lo e ele
ainda não conseguiria me ultrapassar.
Ferido ou não, eu era uma maldita bala.
— Sinto muito — ele ruge por cima do ombro enquanto corria no pátio.
— Pare, me desculpe! Eu não vou chegar perto dela novamente.
— Um pouco tarde demais, idiota — eu atiro de volta, aproximando-me
dele.
Estendendo a mão, agarro a parte de trás de sua camisa e o puxo para uma
parada abrupta.
— Saia de cima de mim — ele sussurra, resistindo contra o meu aperto.
— Vem cá, seu merdinha — eu ladro enquanto o arrasto escada acima
para o salão de educação física.
— Pare ele — Ronan grita para Gibsie que tinha nos seguido. — Gibs,
vamos lá, cara.
— Grandes chances de isso acontecer, garoto — Gibsie responde. — Ao
contrário de sua bunda estúpida, não sou suicida e não tenho intenção de me
colocar na linha de fogo.
Entrando no corredor, marcho pelo corredor e bato a palma da mão contra
a porta do vestiário, abrindo-a.
A equipe estava toda dentro da sala e se vira para olhar para nós.
— Oh, pelo amor de Deus — Hughie geme, nos observando entrar com
um olhar resignado em seu rosto. — O que ele fez agora?
— Ele quebrou as regras — Gibsie ri. — O menino vai encontrar Jesus.
— E nós estávamos indo tão bem — Feely suspira.
— Ah, Johnny? — Cormac Ryan murmura, coçando sua mandíbula. —
Você não deveria estar fazendo isso com o sobrinho do treinador...
— Fique feliz que não é você, seu merda — Eu rosno, mantendo um
aperto mortal em McGarry enquanto o arrastava para os chuveiros.
— Pare ele! — Ronan exige. — Caras, me ajudem!
Ninguém se mexe.
Bom.
Esses rapazes tinham lealdade.
— Acha que você pode colocar suas mãos sobre ela? — Eu assobio
quando estamos nos chuveiros e longe da equipe. Soltando seu pescoço, eu o
empurro contra a parede. — Hein?
— Eu só estava brincando com ela — ele rosna, empurrando a parede. —
Foi uma brincadeira. Cristo, relaxe.
— Eu pareço relaxado para você? — Dou um passo em direção a ele. —
Eu estou rindo, idiota?
— Para trás — adverte McGarry, levantando os punhos na frente dele. —
Eu quero dizer isso, Kavanagh. Volte para o inferno.
— Belas palavras — eu rosno, indo em direção a ele. — Pena que você
não sabe o significado delas.
Ele dá um soco em mim e conseguiu pegar o lado da minha mandíbula.
Movimento perigoso.
— Seu insolente, filho da puta. — Fecho o espaço entre nós, agarro sua
cabeça e enterro minha cabeça na ponte de seu nariz.
Um ruído de trituração extremamente satisfatório enche meus ouvidos.
O fluxo constante de sangue escorrendo por seu rosto faz pouco para
saciar a fúria queimando dentro de mim.
— Ahhh, Cristo! — Ronan ruge, caindo no chão, apertando o nariz. —
Acho que você quebrou meu nariz, Johnny.
— Seu nariz vai curar depois de um tempo. — Agarrando sua camisa, eu
o arrasto para um chuveiro, bato minha mão contra torneira, e observo
enquanto a água gelada caí sobre ele. — Mas sua coluna não. —
Agachando-me na frente dele, seguro seu rosto sob a água. — E isso é
exatamente o que eu vou esmagar se você olhar para ela de novo.
— Eu só estava falando com ela — ele estrangula, com o rosto vermelho.
— Cristo.
— Bem, não fale com ela! — Eu cuspo, olhando para seu fodido rosto
estúpido. — Não olhe para ela, e não a toque, porra. Ela não é para você. —
Com grande esforço, me forço a soltá-lo e recuar. — Estamos claros desta
vez?
— Como cristal. — McGarry murmura baixinho.
— É melhor você falar sério desta vez, garoto — eu digo em um tom de
advertência. — Porque se você me pressionar nisso, eu vou te matar.
— Eu falei — ele resmunga. — Puta merda.
Lanço a Ronan um último olhar mortal antes de voltar para o vestiário.
Sem surpresa, Gibsie está empoleirado no banco com um sorriso de
comedor de merda gravado em seu rosto.
— Ele está vivo?
— Por enquanto — eu falo.
Tirando minhas chuteiras de futebol, pego um par de moletom da minha
bolsa e o visto por cima do meu short.
Eu poderia tomar banho quando chegasse em casa.
Agora, eu precisava dar o fora deste lugar antes que eu explodisse uma
junta da cabeça.
Havia muitos idiotas na minha proximidade, McGarry e Ryan para ser
preciso, e eu não confiava em mim mesmo.
Ironicamente, a letra da música Stuck in the Middle vem à minha mente.
Afastando o pensamento, concentro-me em arrumar minha bolsa.
Quando eu tinha tudo arrumado na minha bolsa de equipamentos, saio do
vestiário sem dizer uma palavra aos meus companheiros de equipe.
Felizmente, Gibsie não me segue.
Eu tinha minha bolsa no banco de trás do meu carro e estava contornando
o lado do motorista quando uma súbita pontada de incerteza me atinge no
estômago.
Ela estava bem?
Devo voltar e ver como ela está?
Não, ela provavelmente foi para casa.
Eu deveria ir para casa.
Mas e se ela não foi?
Você não tem tempo para isso, idiota, meu cérebro sussurra, você tem uma
sessão de fisioterapia em uma hora.
Balançando a cabeça, abro a porta do carro apenas para fechá-la
rapidamente e voltar para a escola.
Você só vai ver como ela está, ter certeza que ela está bem, e então dar o
fora daí, eu digo a mim mesma enquanto caminhava pela escola até o
banheiro feminino. Não há nada de errado com isso.
Mas havia.
Havia algo seriamente errado com esta imagem.
Eu estava do lado de fora do banheiro feminino, esperando uma garota,
que talvez não estivesse lá para começar, sair.
Eu era tão ruim quanto McGarry.
Desgostoso comigo mesmo, me viro para sair.
Eu ando um metro e meio antes de refazer meus passos de volta para o
maldito banheiro.
O que diabos havia de errado comigo?
Eu estava imerso em pensamentos, travando uma batalha interna com
minha consciência, quando a porta do banheiro se abre e um pequeno fiapo
de uma garota sai correndo e bate direto no meu peito.
No minuto em que meus olhos pousam nela, eu sabia que estava em
apuros.
Você deveria ter ido para casa enquanto podia, idiota, minha mente
sibila, não há como sair agora.
Não era essa a verdade?
17
SHANNON
Meu corpo bate em um peito duro e musculoso, fazendo minha mochila cair
no chão com o impacto.
Instintivamente, minhas mãos disparam na frente do meu rosto, o modo de
autopreservação ativado.
Se eu não estivesse tão assustada, teria ficado orgulhosa do grito que rasga
do meu peito.
Foi um progresso.
Duas grandes mãos disparam, capturando meus membros agitados e me
firmando.
— Ei, ei, relaxe. — Eu reconheço a sugestão de um sotaque de Dublin
imediatamente. — Shh, relaxe. Sou só eu.
Caindo de alívio, olho para o rosto dele, registrando a familiaridade.
— Oh Deus. — Minhas palavras saem em um suspiro agudo, enquanto eu
olho para ele, respirando com dificuldade e rápido. — Você quase me deu
um ataque cardíaco.
— Merda, desculpe por isso. — Johnny me solta e dá um passo para trás,
estendendo as mãos à sua frente. — Você ficou tanto tempo no banheiro que
pensei que precisaria chamar uma equipe de resgate ou algo assim.
Ele dá outro passo para trás, então segura a nuca com a mão, parecendo
um pouco desconfortável.
Ele ainda estava vestindo a mesma camisa com as mangas levemente
rasgadas no bíceps, mas havia trocado seu short por uma calça de moletom
cinza e chuteiras por um par de tênis de corrida.
— Eu só queria verificar se você estava bem. — Dando de ombros, ele
deixa cair as mãos para os lados e pergunta: — Você está?
Eu estava?
— Eu acho que sim? — Meu coração estava batendo a 160 quilômetros
por hora e eu me sentia como se estivesse a dois segundos de desmaiar por
causa da adrenalina que corria em minhas veias.
Pressionando a mão no meu peito, respiro fundo algumas vezes para
acalmar meus nervos esgotados antes que eu pudesse falar.
Ele é tão mais alto do que eu que tive que inclinar a cabeça para trás para
poder olhar para o rosto dele quando pergunto:
— Você estava me esperando aqui?
— Ah, sim. — Enfiando as mãos grandes nos bolsos do moletom, Johnny
assente. — Eu queria ter certeza de que você estava bem. Gibsie me contou
o que ele disse a você.
— Ele contou?
— Sim. — Johnny assenti sombriamente. — Aquele filho da puta não vai
incomodá-la novamente.
— Ronan?
Ele acena com a cabeça, o maxilar trincando.
— Ouça, eu preciso que você confie em mim quando eu disser que aquela
pequena cena com McGarry tinha mais a ver comigo do que com você. —
Ele se mexe desconfortavelmente e passa a mão pelo cabelo desgrenhado. —
Ele gosta de ultrapassar os limites, o meu mais do que da maioria.
Ultrapassar os limites?
Mais a ver com ele?
— Oh. — Eu não tinha certeza do que dizer sobre isso.
Eu estava tão confusa.
— Obrigada — acrescento, porque agradecer a ele parecia a coisa certa a
fazer.
— Sem problemas.
— Você, uh, o pegou? — Eu pergunto, então imediatamente me arrependo
da minha pergunta.
Por que eu estava conversando com ele?
Essa era a minha deixa para sair.
Por que eu não estava saindo?
E por que meu coração não parava de tentar sair do meu peito?
Isso ia acontecer toda vez que eu esbarrasse nele?
Se assim for, eu precisava obter uma receita médica.
— Ronan — eu esclareço, cavando um buraco mais fundo. — Você estava
contando até cinco.
— Como eu disse — Johnny responde, mandíbula apertada — Ele não vai
incomodá-la novamente.
Meus olhos se arregalam.
— Você não o matou, não é?
Ele solta uma risada.
— Não, Shannon, eu não o matei.
— Oh, tudo bem. — Eu solto um suspiro pesado. — Isso é bom.
Ele inclina a cabeça para um lado, uma expressão curiosa, voz suave.
— É?
— Bem, eu–eu, sim — eu engasgo. — Acho que é sempre bom evitar
uma acusação de assassinato.
— Eu acho que isso é verdade — ele responde com um sorriso.
— Bem, eu estou, ah, bem — eu digo, o tom um pouco tenso. —
Obrigada por me checar.
Ele arqueia uma sobrancelha escura.
— Tem certeza disso?
— Sim.
— Bom.
— Bom.
Ele não faz nenhum movimento para se afastar e, estranhamente, nem eu.
Nós dois ficamos ali, a poucos metros de distância, com ele olhando para
mim, e eu olhando de volta para ele.
Era difícil explicar o que estava acontecendo, mas quase parecia que ele
estava memorizando minha aparência.
Pelo menos, era isso que eu estava fazendo.
Seus olhos azuis-escuros estavam no meu rosto, movendo-se dos meus
olhos para os meus lábios, e de volta para cima novamente.
Ele estava me encarando abertamente e não fez nenhuma tentativa de ser
discreto sobre isso.
Era desconcertante e emocionante ao mesmo tempo.
Meu telefone vibra contra meu peito então, me assustando, e felizmente
me dando um alívio muito necessário da estranha tensão que nos envolvia.
Desabotoando meu casaco, tiro meu telefone do bolso, olho para o nome
de Joey piscando na tela e rapidamente aperto em aceitar.
— Shannon! O que está acontecendo? — meu irmão exige na linha. —
Você está bem? Aconteceu alguma coisa — sua voz quebra e ele rosna na
linha —, se um daqueles bastardos esnobes fez algo com você, eu vou perder
minha...
— Eu estou bem — eu solto, interrompendo-o no meio do discurso. — Eu
estou bem. Se acalme.
Meus olhos se voltam para Johnny, que ainda estava lá, me observando
com um olhar pensativo.
— Perdi meu ônibus — continuo a dizer, virando as costas para ele para
ganhar alguma compostura muito necessária. — E o próximo não é até
quinze para às dez da noite — eu explico rapidamente, mantendo minha voz
baixa e silenciosa. — Já está escuro e eu não quero andar no caso… — Eu
me paro antes de terminar essa frase, então me apresso para perguntar: —
Você está com Aoife? Vocês podem vir me buscar?
Joey tinha carteira de motorista, mas não tinha carro.
A namorada dele, que ainda estava com uma carteira provisória, tinha um
Opel Corsa de quatorze anos.
Era velho e lento, mas funcionava.
Joey era o motorista nomeado em seu seguro e co-piloto na maioria dos
dias, e eu sabia que ela permitia que ele pegasse emprestado sempre que
quisesse.
— Estou realmente presa, Joe — acrescento, a voz baixa. — Eu não
pediria a você se não estivesse desesperada.
— Ah merda, Shan. Estou trabalhando até as nove — Joey resmunga. —
Fui chamado para cobrir um dos rapazes, e Aoife trabalha até às dez e meia
às terças-feiras, então ela tem o carro. Você tentou a mamãe?
— Ela está trabalhando no turno da tarde — eu murmuro. — E eu não vou
ligar para o papai.
— Não! Jesus, não ligue para ele — Joey concorda, tom duro. Ele suspira
pesadamente na linha e diz: — Olha, desligue e me dê alguns minutos. Vou
ligar para alguns dos rapazes, ver se alguém pode pegá-la. Eu ligo de volta
em alguns minutos.
— Não, não faça isso — eu interrompo rapidamente, o pensamento de
entrar em um carro com um de seus amigos, que por mais tolerantes que
fossem comigo, não era um conceito atraente. — A escola fica aberta até
tarde. Posso esperar aqui até meu ônibus chegar.
Um toque suave no meu ombro desvia minha atenção do meu telefonema.
Girando ao redor, eu olho para cima e cruzo os olhos com Johnny.
— Eu posso te levar para casa — ele diz, olhos azuis fixos nos meus.
— Huh? — Eu abro minha boca, mas nada além de um resmungo sai.
— Meu carro está estacionado lá fora. — Ele inclina a cabeça para a
entrada. — Eu posso te levar para casa.
— Eu, uh, eu... — Balançando a cabeça, respiro fundo e tento novamente.
— Não, não, tudo bem. Você não tem que fazer isso.
— Eu sei que não preciso — ele responde lentamente. — Estou
oferecendo.
— Fazer o que? — Joey late na linha. — Shan? O que está acontecendo?
Com quem você está falando?
— Ah, ah, é apenas esse cara da escola — eu explico, o rosto queimando
com calor.
Johnny arqueia uma sobrancelha.
Eu fico rosa-brilhante.
Minha reação traz um sorriso para seus lábios carnudos.
— Cara? — meu irmão exige, chamando minha atenção de volta para o
nosso telefonema. — Que cara?
— Apenas um cara que eu conheço. — Mordendo o lábio inferior, olho
para Johnny e digo: — Honestamente, está tudo bem. Você não precisa me
levar para casa.
— Espere – quem está te levando para casa, Shannon? — Joey late na
linha, me distraindo mais uma vez. — Por que você está falando com caras
com idade suficiente para te dar carona para casa? Você tem quinze anos!
— Eu sei que idade eu tenho, Joey — eu retruco, com os nervos em
frangalhos. — Olha, relaxa. — Pressionando a palma da mão na testa, eu
digo: — Vou esperar aqui até que meu ônibus chegue.
— Coloque-o no telefone — Joey ordena.
— O quê? — Eu fico boquiaberta. — Quem?
— O rapaz que é apenas um cara que você conhece com um carro — ele
cospe, jogando minhas palavras de volta para mim.
Eu recuo.
— Por quê?
— Porque eu quero falar com ele — Joey responde impacientemente.
Olho para Johnny que estava olhando para mim com expectativa.
Abaixando meu olhar, eu sussurro:
— Por que você quer falar com ele?
— Porque eu quero falar com o filho da puta que se ofereceu para levar
minha irmãzinha para casa em seu carro, é por isso.
Soltando um suspiro impaciente, Johnny pigarreia e estende a mão.
Olho para sua mão e pisco em confusão.
— Me dá seu telefone — ele instrui calmamente.
— Meu telefone?
— Sim. — Johnny assenti. — Seu telefone.
Quando não faço nenhum movimento para entregá-lo, Johnny tira-o da
minha mão e o pressiona contra a orelha.
— Ei, aqui é Johnny — disse ele na linha, segurando meu telefone de
merda em seu ouvido. — Sim, eu conheço sua irmã — Ele faz uma pausa
antes de dizer — Kavanagh – sim, sou eu. — Outra pausa se segue antes que
ele assente. — Obrigado. Foi um desempenho forte em todos os aspectos.
Mortificada, estendo a mão e tento pegar meu telefone, mas ele era muito
alto.
Segurando uma mão entre nós para me manter afastada, Johnny continua a
falar – com meu irmão.
— Provavelmente — diz ele ao telefone. — Sim, é uma jogada arriscada.
Não, os ingressos não estarão à venda para a temporada de verão até maio...
Sim, vou ver o que posso fazer. Mas apenas jogos em casa... Legal.
O quê?
Sério, o quê ?
Confusa não começa a explicar como eu estava me sentindo neste
momento.
— Estou bem ciente — diz Johnny em um tom seco, obviamente
respondendo a algo que Joey estava dizendo. — Não, eu não... Nós somos,
uh, sim, somos amigos... obviamente... uma carteira definitiva... sim... —
Seu olhar piscou para o meu rosto. — Dezessete... eu sei disso... sim, eu
entendo... eu sei a diferença... eu não vou. — Johnny diz antes de encerrar a
ligação e segurar meu telefone para mim.
— O que acabou de acontecer? — Eu recuo, olhando para a tela preta do
meu telefone. — O que ele disse para você?
Johnny dá de ombros, mas não responde minha pergunta.
Em vez disso, ele se abaixa e pega minha mochila da escola.
— Vamos. — Jogando minha bolsa por cima do ombro, ele pressiona a
mão nas minhas costas e me empurra para frente. — O irmão mais velho me
deu permissão para te levar para casa.
— E a sua mochila da escola? — Eu solto, notando que ele estava apenas
carregando a minha.
— Está no carro — ele responde, continuando a me guiar em direção à
porta. — Vamos lá.
Como um cordeiro para o matadouro, vou com ele, sabendo que era uma
ideia terrível, mas incapaz de impedir que meus pés se movessem.
Havia apenas um punhado de alunos nos corredores, mas juro que sinto
cada um de seus olhares enquanto caminhava em direção à porta da frente
com Johnny.
Johnny abre a porta de vidro e espera que eu saía antes de me seguir.
Eu não tinha ideia do que fazer – ou dizer para esse assunto.
Eu estava tão longe da minha zona de conforto que mal conseguia
funcionar.
Eu me sinto um pouco tonta para ser honesta.
Caminhamos lado a lado em silêncio pelo pátio e descemos a alameda em
direção ao estacionamento estudantil.
Embora hoje fosse primeiro de março e o segundo mês da primavera na
Irlanda, estava escuro lá fora, sem mencionar o frio congelante.
Eu não era fã de ficar do lado de fora no escuro, e me vejo grudada nele.
Causador da concussão ou não, alguma parte do meu cérebro me diz que
eu estava segura com esse garoto.
Essa foi provavelmente a parte que sofreu concussão falando.
— Ele não machucou você, machucou? — Johnny pergunta, quebrando o
silêncio quando entramos no estacionamento.
— O quê? — Viro o rosto para olhá-lo. — Não, não, eu estou bem.
— Você tem certeza? — Ele estava olhando para frente, então eu faço o
mesmo, me sentindo muito exposta ao redor dele. — Ele não colocou as
mãos em você?
— Tenho certeza. — Deslizando minhas mãos nos bolsos do meu casaco,
mantenho meu olhar na fila de carros à frente. — Estou bem.
Johnny fica tenso e o movimento faz seu braço esfregar contra o meu.
— Você sabe, você pode me dizer se ele colocou. — Ele enfia a mão no
bolso e pega um molho de chaves. — Você não precisa ter medo.
— Ele não colocou.
— Ok, bom — ele murmura, apertando um botão em uma chave de carro
preta e lustrosa. Luzes piscaram de um veículo próximo e ele nos guia em
direção a ele. — Este é meu.
— Uau — eu murmuro quando eu estou perto o suficiente para ver o
impressionante carro. — Você tem um Audi?
— Eu gosto — ele concorda, abrindo uma das portas traseiras.
— É seu?
— Por que mais eu estaria dirigindo?
Eu me encolho.
— Eu pensei que poderia pertencer a seus pais ou algo assim.
— Não, é meu — ele responde. — Meus pais têm seus próprios carros.
— Oh — eu respiro, boquiaberta com admiração.
Por causa da escuridão, eu não consigo descrever se o carro era preto ou
azul-marinho, mas Deus Todo-Poderoso, escuridão ou não, eu poderia
facilmente dizer que era chique.
E novo.
E rápido.
E caro.
Não é à toa que ele não queria os €65 de volta.
— É um A3? — Eu pergunto, maravilhada.
— Sim — Johnny responde, jogando minha bolsa no banco de trás, onde
se junta a outra mochila e várias outras mochilas, todas com emblemas de
clubes diferentes.
Eu podia localizar uma bolsa esportiva a um quilômetro e meio de
distância, tendo passado a maior parte da minha vida caindo sobre elas.
Eu também estava dolorosamente ciente do fedor de adolescente que
vinha de uma daquelas mochilas. Era semelhante ao fedor que exalava do
quarto de Joey; um odor distinto composto de uma combinação de suor, sexo
e homem.
Espiando por cima do ombro, ignoro o fedor de garoto e me maravilho
com o interior de couro.
— Você gosta de carros ou algo assim? — ele pergunta, virando a cabeça
bem a tempo de me pegar bisbilhotando por cima de seu ombro.
— Na verdade, não. — Dou um passo para trás e dou de ombros, sentindo
uma onda de calor inundar meu rosto e um caminhão inteiro de alívio por ter
sido pega verificando seu carro e não sua bunda naquelas calças.
Porque eu tinha verificado isso também.
Foi difícil não.
Era redonda e firme e...
— Mas meu irmão Joey é, então eu conheço muitos tipos por ouvi-lo —
eu me apresso para explicar e me distrair de meus pensamentos perigosos.
— É um carro rápido.
— Sim, é bastante decente por enquanto.
— Por enquanto?
Assentindo, Johnny fecha a porta traseira e me dá um sorriso rápido antes
de abrir a porta do passageiro da frente.
— Ah, merda — ele resmunga, olhando em desânimo. — Desculpe por
isso. Eu não estava planejando ter ninguém aqui.
Meus olhos observaram a carnificina absoluta que era seu banco da frente.
Puta merda.
Era uma bagunça completa.
— Eu posso sentar na parte de trás se for mais fácil para você? — Eu
ofereço, não querendo incomodá-lo mais do que eu já estava.
— O que… não — Johnny murmura, coçando o queixo. — Apenas me dê
um segundo.
Mergulhando no carro, ele pega um braço cheio de garrafas vazias, meias,
recipientes de plástico, pacotes de goma de mascar, latas de desodorante e
toalhas, e joga-os sobre o encosto do banco.
Ele teve que repetir esse ciclo mais três vezes, jogando o lixo do banco da
frente para o de trás, antes que o espaço ficasse livre – parando no meio do
caminho para embolsar uma carteira preta na qual ele me informou que
estava procurando por isso.
Finalmente, quando ele terminou com a limpeza improvisada, ele sai de
volta, sorrindo timidamente.
— Eu acho que estamos bem agora.
Eu sorrio.
— Obrigada novamente por se oferecer para me deixar em casa.
— Não tem problema — ele responde. — Acho que ainda devo a você
pela cabeça quebrada, hein?
— Você não quebrou — eu sou rápida em esclarecer. — Você apenas
bateu no meu cérebro um pouco.
Johnny faz uma careta.
— Eu meio que fiz, não é?
— Bem — eu medito. — São 24 quilômetros até minha casa. Então, entre
o dinheiro, a ameaça de cortar o pênis de Ronan e a volta para casa, acho que
estamos quites.
— Ele não está na sua turma, está? — Johnny solta um suspiro frustrado.
— Porque isso também pode ser resolvido.
— Nós só temos uma aula juntos duas vezes por semana — eu explico.
A proporção entre homens e mulheres no terceiro ano era fortemente
desequilibrada, com oitenta meninos e apenas cinco meninas.
Todas as cinco meninas foram colocadas na mesma classe, 3A.
Felizmente para mim, Ronan McGarry estava em 3D, então, com exceção
de algumas aulas mistas durante a semana, eu não tenho que olhar para ele.
— Ele nunca falou uma palavra comigo até esta tarde — acrescento.
— Bem, se ele te incomodar, me avise — Johnny rosna. — E eu vou
consertar isso.
— Você vai consertar isso? — eu questiono. — Você faz parecer que está
na máfia ou algo assim.
Johnny solta uma gargalhada e segura a porta aberta, gesticulando com a
mão.
— Vamos, Shannon como o rio. Entre no meu carro.
Ele foi tão inesperado, e eu estava tão distraída por ele, que não senti
nenhuma hesitação.
Eu apenas entro e aperto meu cinto de segurança, observando enquanto
ele fecha minha porta e corre pela frente do carro para o seu lado.
Não é até que ele esteja sentado no banco do motorista ao meu lado com
as portas fechadas, que eu sinto meu batimento cardíaco aumentar e minha
habitual onda de ansiedade se agitar.
— Cristo, está congelando — anuncia Johnny, esfregando as mãos antes
de ligar o motor.
Ele estava certo.
Estava congelando aqui.
— É tarde para pegar um ônibus — ele acrescenta, acendendo a luz no
teto. — As aulas terminam às quatro.
— Sim, eu sei. — Junto minhas mãos, meu corpo inteiro em um feixe de
nervos. — Mas o ônibus meia-cinco é o único que passa pela minha estrada.
— Isso é péssimo.
— Não é tão ruim — eu respondo, ajustando meu cinto de segurança. —
Eu geralmente consigo fazer a maior parte do meu dever de casa antes de
sair da escola à noite.
Um pequeno arrepio me percorre então, ao qual Johnny responde
automaticamente:
— Você está com frio?
Alcançando o aquecedor, ele o liga no máximo, então volta a esfregar as
mãos e tremer.
— Não deve demorar muito para derreter. — acrescenta, apontando para a
fina camada de gelo no pára-brisa.
— Eu estou bem, mas você provavelmente deveria colocar um casaco. —
Eu afirmo, olhando para seus braços nus. — Ou pelo menos um moletom.
Está tipo 2 graus lá fora. Você vai acabar ficando doente.
— Nah, estou acostumado com isso — ele me diz. — Passo a maior parte
de cada inverno em um campo em meio à chuva.
— Jogando rúgbi — eu completo pensativa.
— Sim. — Colocando as mãos perto da boca, ele sopra nelas e continua a
esfregar. — Você pratica algum esporte?
— Não. — Eu balancei minha cabeça e apertei um botão no meu casaco.
— Eu gosto de assistir, no entanto.
Inclinando a cabeça para um lado, ele estuda meu rosto.
— Você assiste muito rúgbi?
Eu podia sentir o peso de seu olhar em minhas bochechas.
Elas estavam em chamas.
— Ah, não — eu murmuro. — Quero dizer, eu assisti a uma partida na
semana passada, e assisto à Irlanda no campeonato das Six Nations todos os
anos, e às vezes acompanho o futebol. Mas é principalmente GAA – futebol
gaélico e hurling. — Olho para ele. — Meu irmão, Joey – o cara no
telefone? Ele joga para Cork.
— Não brinca? — As sobrancelhas de Johnny se erguem. — Nível
sênior?
— Não, ele só tem dezoito anos, então só os níveis menores por enquanto
— respondo. — Mas há rumores de que ele será chamado para a equipe
principal na próxima temporada.
— Sabe, agora que penso nisso, o nome Joey Lynch soa familiar — pensa
Johnny. Ele se vira em seu assento para me encarar, expressão cheia de
interesse. — Ele está na BCS, certo? Um hurler8?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — Ele foi um jogador duplo por anos,
como a maioria das pessoas, mas quando foi chamado para o nível do
condado, ele abandonou o futebol.
— Agradável. — Johnny solta um suspiro. Ele parecia impressionado
quando se encosta na porta e diz: — Não é fácil receber uma ligação para o
nível de condado em qualquer lugar, mas especialmente em Cork, onde a
competição é tão acirrada.
— Realmente não é. — Eu mantenho a posição do meu corpo para a
frente, mas viro minha cabeça para olhar para ele. — As pessoas não
entendem o quão incrivelmente difícil é jogar nesse nível e permanecer lá.
Eles assumem que é fácil para os atletas e que são mimados e têm direito,
mas não veem os enormes sacrifícios nos bastidores que são feitos
diariamente por esses caras.
— Você pode marcar isso — ele responde, balançando a cabeça em
concordância.
Apoiando um pé no banco, Johnny engancha o braço em volta do joelho,
descansa o outro braço no volante e me dá toda a sua atenção.
— Seu irmão está segurando esta oportunidade com as duas mãos?
— Acho que sim — respondo, pensando em meu irmão e sua atitude em
relação à vida.
Isso era estranho.
Eu geralmente não era muito de falar.
Não em torno de estranhos, pelo menos.
Não parecia assim em torno dele, no entanto.
Não esta noite, pelo menos.
Eu me senti estranhamente acessível e o interesse de Johnny no que eu
tinha a dizer me encoraja a continuar falando.
Além disso, meu irmão era um assunto seguro.
Todo mundo amava Joey, inclusive eu, e eu estava muito orgulhosa de
suas conquistas.
— Mas ele ainda está na escola, fazendo seu certificado de conclusão este
ano e, há muitas distrações para ele. Nosso pai quer que ele se concentre em
arremessar 24 horas por dia, 7 dias por semana, mas Joe é um cara sociável.
Ele acha difícil dizer não a seus amigos — continuo a divagar e ele continua
a ouvir atentamente o que eu estou dizendo.
“Honestamente, Joey tem talento e habilidade para jogar em qualquer
nível — eu digo com sinceridade, apreciando cada aceno de cabeça que
Johnny faz enquanto eu falo. — É manter a cabeça que é seu maior
problema, e as distrações estão por toda parte. Todo mundo quer um pedaço
de você quando você está aos olhos do público, e Joey tem dificuldade em
manter os pés no chão. — Aceno com a mão desdenhosa no ar enquanto
falo. — Eu acho que é difícil manter os pés no chão quando você é um
adolescente brincando no mundo de homens e colhendo as recompensas por
isso... — Faço uma pausa, exalando um suspiro pesado antes de acrescentar:
— Você sabe como é com as festas, as meninas, o tratamento especial e tudo
mais.”
— Sim — Johnny responde, esfregando o queixo quase distraidamente.
Ele tinha essa expressão estranha gravada em seu rosto enquanto olha para
mim, uma que eu não conseguia descrever. — Eu sei.
— Foi o mesmo com Darren — eu acrescento pensativa, pensando em
como as vidas dos meus irmãos eram semelhantes aos dezoito anos.
As sobrancelhas de Johnny franzem.
— Darren?
Eu coro.
— Ah, ele é meu irmão mais velho. Ele jogou um ano de nível sênior
antes de desistir.
— Não brinca? — As sobrancelhas de Johnny se erguem. — Por que ele
desistiu?
— A pressão? — Eu ofereço fracamente, sem vontade de mergulhar nos
problemas da minha família. — Acho que ele perdeu o ânimo no jogo.
Há uma pausa longa e plena depois disso, onde nenhum de nós fala.
Era inquietante e traz consigo minhas ansiedades anteriores.
— Desculpe — eu murmuro, colocando meu cabelo atrás da minha
orelha. — Eu provavelmente só te aborreci até dormir com tudo isso. —
Manuseando minha trança nervosamente, olho do para-brisa agora sem gelo
para ele antes de dizer: — Eu diria que estamos prontos para ir.
Johnny não faz nenhum movimento para sair.
Em vez disso, ele me surpreende dizendo:
— E você?
— E quanto a mim? — Eu respondo, me sentindo um pouco nervosa.
— Você é uma jogadora habilidosa de camogie? — Ele me lança um
sorriso. — Já que claramente é de sua família.
— Ah, não — eu respondo, ficando vermelho brilhante. —
Definitivamente não. Eu nunca fui boa nisso. Mas eu amo assistir. Eu amo a
fisicalidade do jogo.
Johnny assente, absorvendo tudo o que eu estava dizendo a ele com
perfeita polidez, apenas para me surpreender quando ele diz:
— Acho que você gostaria de rúgbi.
Minhas sobrancelhas se ergueram com a declaração estranha.
— Acho que o que você quis dizer é que posso morrer jogando rúgbi —
corrijo, gesticulando para o meu corpo. — Se você não notou, eu sou meio
pequena.
Um sorriso enorme se espalha por seu rosto, covinhas emergindo.
— Sim, eu notei — ele ri. — Eu quis dizer que acho que você gostaria de
assistir rúgbi. Se você gosta tanto de GAA, você adoraria a fisicalidade do
rúgbi.
— Eu gosto disso — eu o lembro. — Quando a Irlanda está jogando. —
Não que eu tenha a menor ideia do que está acontecendo, pulo a adição.
— E quanto aos times locais? Rúgbi escolar? Times do interior? Já esteve
em algum jogo antes da semana passada?
Ele estava disparando perguntas mais rápido do que eu poderia responder.
Tento lhe responder o melhor que posso.
— Não, não acompanho nenhum time além do time da seleção e nunca
estive em nenhum outro jogo.
Johnny assente novamente, absorvendo tudo o que eu estava dizendo
como se fosse importante.
— Eu jogo — ele finalmente diz.
— Para Tommen. Sim, eu sei — eu brinco. — Eu vi você, e ainda tenho
um galo na cabeça para provar isso.
Johnny faz uma careta.
— Não — ele pressiona, tom estranhamente sério. — Quero dizer, eu
jogo.
Eu olho fixamente de volta para ele.
— Isso é... bom?
Ele solta uma risada impaciente.
— Você não tem ideia do que estou falando, não é?
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Honestamente não.
Ele considera isso por um longo momento antes de assentir.
— Eu gosto disso.
— Você gosta do que?
— Que você não sabe do que estou falando — ele responde sem hesitar.
— É um pouco insultante e muito reconfortante.
— Uh, bem, de nada? — Eu ofereço, sem saber o que dizer sobre isso. —
Então, rúgbi é sua coisa, hein?
Johnny sorri.
— Você poderia dizer que sim.
Eu sinto como se estivesse faltando algo aqui.
— E você é bom?
Eu acho ele bom.
Eu achei que ele foi o melhor na última sexta-feira, mas não fazia ideia do
esporte.
Seu sorriso se alarga, os olhos levemente enrugados, enquanto ele repete
suas palavras anteriores.
— Você poderia dizer que sim.
Ok, eu definitivamente estou por fora de algo.
— Eu vou ficar envergonhada com isso? — Eu perguntei, quebrando meu
cérebro em busca de informações que pudessem me ajudar.
Eu não tinha nenhuma.
Claro, eu sabia que ele era o capitão do time da escola, e aqueles
fotógrafos e repórteres estavam batendo em seus calcanhares, mas imaginei
que isso tinha a ver com ele ser o capitão e o melhor jogador em campo
naquele dia.
No entanto, eu não conseguia afastar a sensação de que estava perdendo
algo.
— Se eu fizer uma pesquisa na internet sobre você, vou descobrir que
você é uma espécie de deus do rúgbi?
Johnny joga a cabeça para trás e ri.
— Não — ele medita. — Eu não sou nenhum deus.
— Então o quê? — eu pressiono.
Com um sorriso pesaroso, Johnny volta o assunto para mim mais uma vez,
dizendo:
— Então, GAA é sua coisa, hein?
— Bem, eu realmente não tenho muita escolha no assunto — eu respondo,
acompanhando sua diversão. — Eu tenho cinco irmãos e um pai fanático por
GAA, então... — Deixo minhas palavras desaparecerem com um pequeno
encolher de ombros.
— Nenhuma irmã?
— Não — eu respondo. — Só eu e os meninos.
— Como é isso para você?
Sua pergunta me surpreende e levo vários momentos para formar uma
resposta.
— Ok, eu acho.
Ninguém nunca tinha me perguntado isso antes.
Nem mesmo meus pais.
— Isso contribui para uma vida doméstica ocupada — acrescento,
sentindo a necessidade de elaborar. — Fica meio louco às vezes.
— Eu aposto.
Passando a mão do volante para a perna que havia plantado no chão,
Johnny começou a passar a mão grande sobre a frente da calça de moletom,
parando para massagear a coxa com os nós dos dedos.
Eu teria ficado super assustada com a mudança se não fosse pelo fato de
que ele parecia estar fazendo isso inconscientemente, como se estivesse
acalmando uma dor.
— Você é próxima? — ele pergunta, me distraindo do meu olhar.
— Próxima? — Pisco rapidamente. — De quem – meus irmãos?
Ele assente.
Eu penso sobre isso por um momento antes de responder.
— Sou próxima de Joey – o que estava no telefone mais cedo. Ele fez
dezoito anos no Natal, então ele é o mais próximo em idade de mim. Darren
não mora em Cork, e os três mais novos têm apenas onze, nove, e três, então
não somos muito próximos.
— Ele é bom para você?
— Quem, Joey?
Ele assente.
— Sim. — Eu sorrio. — Ele é um ótimo irmão.
— Protetor?
Dou de ombros.
— Às vezes.
Johnny assente pensativo antes de dizer:
— Então, você é a filha do meio?
— Sim, eu sou a terceira.
— Isso é um monte de crianças.
— E você? — Eu viro a mesa contra ele. — Alguma irmã ou irmão?
— Não — ele responde com um encolher de ombros. — Eu sou filho
único.
Uau.
— Como é isso?
— Quieto — ele brinca antes de mudar o centro das atenções de volta para
mim mais uma vez. — Você viveu aqui toda a sua vida?
— Sim. Nascida e criada em Ballylaggin — eu confirmo. — Você é de
Dublin, certo? Você se mudou para cá quando tinha onze anos?
Seus olhos brilham.
— Você se lembra de eu te dizer isso?
Eu balanço a cabeça.
— Cristo, você estava tão fora de si naquele dia, eu não achei que você se
lembraria de nada disso — ele responde pensativo, coçando o queixo.
— Mesmo se eu não tivesse, seu sotaque é um sinal óbvio.
— É?
Assentindo, puxo meu sotaque sulista mais chique e digo:
— Eu sou de Blackrock, querida.
Johnny ri da minha tentativa.
— Nem passou perto.
— Deixe-me adivinhar, você gosta de molhar os pés em Sandycove antes
de ir almoçar no pub D4? — Acrescento com uma risadinha e outro sotaque
forçado.
Minhas bochechas queimam.
Deus, eu era tão estranha.
— Não há nada de chique sobre mim, Shannon — Johnny rebate, o
sorriso desaparecendo. — Eu posso vir de uma área decente, mas meus pais
trabalharam duro por tudo o que têm. Eles vieram do nada e construíram.
— Você tem razão.
Ele não parecia nada chique.
Minha tentativa de personificá-lo foi um fracasso épico.
Que idiota...
Envergonhada pela minha piada rara e mal executada, eu brinco com
minha trança e murmuro:
— Desculpe.
— Não se desculpe — ele responde com desdém, sorrindo novamente. —
Agora, minha mãe, por outro lado, tem um forte sotaque do norte.
Meus olhos se iluminam.
— Como em Fair City?
Johnny torce o nariz.
— Você assiste novelas?
— Eu as amo — admito com um sorriso. — Fair City é o meu favorito.
— Bem, se você ouvisse minha mãe, você estaria em seu ambiente — ele
ri, alheio aos seus estranhos movimentos da mão na coxa. — Meu pai nasceu
e foi criado em Ballylaggin. Então, ele é um nativo de Cork como você. —
Dando de ombros, ele acrescenta: — Suponho que eu pareço uma mistura
fodida de ambos.
Ele não parecia.
Ele não tinha um pingo de sotaque de Cork nele, ele era cem por cento
Dublin, mas eu decidi pular isso e perguntar ao invés:
— Por que sua família se mudou para cá?
— A mãe do meu pai estava doente — explica. — Ela queria voltar para
casa, ah, você sabe, então nos mudamos para cuidar dela. — Soltando as
mãos no colo, ele brinca com os polegares. — Era para ser uma coisa
temporária – eu estava matriculado no Royce College para o setembro
seguinte. Devíamos ir para casa depois do funeral.
— Mas vocês não voltaram para Dublin?
Ele balança sua cabeça.
— Não, os meus pais decidiram que gostavam do modo de vida tranquilo
aqui embaixo, então colocaram a casa em Dublin à venda e fizeram da
mudança algo permanente.
— Como foi... se mudar com essa idade?
Eu não tinha ideia de por que eu estava fazendo essas perguntas.
Eu não conseguia me lembrar de ter falado com uma pessoa aleatória por
tanto tempo antes.
Mas isso era bom e Johnny era interessante.
Ele era diferente.
Fico surpresa com o quão fácil realmente é falar com ele.
— Deve ter sido difícil.
— Foi uma dor de cabeça — Johnny murmura, claramente se lembrando.
— Entrar em uma nova escola no meio do ano letivo. Mudar de clube e me
adotar em um novo time. Pegando o lugar de outro cara no time e depois
lidando com a queda. — Ele balançou a cabeça e passou a mão pelo cabelo.
— Eu tive que repetir o sexto ano por causa da mudança – alguma merda
sobre política ou algo assim.
— Onde?
— Scoil Eoin — ele fala com uma careta. — A escola primária católica só
para meninos.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— A mesma que Hughie Biggs?
Ele assente, sorrindo.
— Sim, foi onde conheci Hughie, Gibs e Feely.
— Esses caras são seus amigos?
Ele assente, sorrindo agora.
— Infelizmente.
— Você se importou? — Eu pergunto então. — Ter que repetir o sexto
ano na Scoil Eoin?
— Eu estava furioso, Shannon.
— Você estava? — Eu pergunto, ignorando a forma como minhas
entranhas estremeceram quando ele disse meu nome.
Na verdade, eu estava tentando desesperadamente ignorar a corrente
elétrica de calor pulsando em minhas veias.
— Sim, eu estava realmente ansioso para ir a Royce com meus amigos e
os rapazes do clube — explica. — Cristo, eu estava furioso com meus pais
quando eles me tiraram e me matricularam em Tommen. — Ele solta uma
pequena risada, então diz: — Seis anos depois e eu ainda estou chateado
com isso.
— Bem, você parece estar se saindo bem aqui. — Eu ofereço, sem saber o
que dizer. — Você tem muitos amigos e ainda está jogando rúgbi e outras
coisas.
— E outras coisas — Johnny ri, muito divertido com minhas palavras. Ele
estuda meu rosto por um longo tempo antes de perguntar: — Você dança?
— Não, por que você pergunta isso?
— Não sei. — Johnny dá de ombros. — Algumas garotas dançam em vez
de praticar esportes. — Seus olhos passam sobre mim por um breve
momento antes de retornar ao meu rosto. — Parece que você poderia ser
uma daquelas... — ele acena com a mão, obviamente procurando por uma
palavra, antes de terminar com: — você sabe, uma daquelas dançarinas de
tutu.
Meus olhos se arregalam.
— Você acha que eu pareço uma bailarina?
Ele assente e uma risada rasga dos meus lábios.
— O quê? — Ele sorri timidamente. — Você é pequena, — ele aponta
para o meu corpo com a mão antes de acrescentar — não é muito longe da
imaginação.
— Bem, eu não sou uma bailarina. — Eu rio. — Ou qualquer outro tipo
de dançarina, por falar nisso. Tenho apenas baixa estrutura.
Johnny arqueia uma sobrancelha divertida.
— Baixa estrutura?
— Você já me viu? — Eu gesticulo para mim mesma. — Eu tenho quinze
anos, mais ou menos um metro e cinquenta e dois, e eu peso tipo 38kg.
— Você pesa seis stones9? — ele suspira, os olhos arregalados em
descrença.
Enquanto isso, meus olhos se arregalam em descrença com a rapidez com
que ele foi capaz de converter quilograma em stones.
Uau.
— Jesus, eu levanto o dobro do que você pesa na academia. — Johnny me
olha antes de perguntar: — Você seriamente tem apenas um metro e meio?
— Se eu ficar realmente em linha reta, eu tenho.
— Cristo, eu tenho 1,90m. — Ele balança sua cabeça. — Você é tão
pequena.
— Exatamente. — Eu faço uma careta. — Baixa estrutura.
— Jesus, não é à toa que você se dobrou como uma cadeira de jardim
quando a bola bateu em você. — Johnny murmura, esfregando o queixo
novamente enquanto seus olhos viajam sobre mim. — Eu poderia ter
quebrado você ao meio.
— Essa é uma maneira de dizer — eu respondo, torcendo meu nariz para
a analogia.
— Sua mãe ainda está furiosa comigo?
— Minha mãe?
— Sim. — Ele assente. — Ela parecia que estava a dois segundos de
arrancar minha cabeça naquele dia.
— Minha mãe levou um susto — eu murmuro. — Ela viu que eu estava
ferida e pulou para a primeira conclusão.
— E a primeira conclusão foi que eu bati em você?
Dou de ombros desconfortavelmente, mas não digo nada.
— Acontece.
— Não, não comigo — ele aponta, o tom um pouco mais grosso agora, os
olhos fixos nos meus. — Nunca comigo.
— Ei agora, não seja tão rápido em negar. — Tento usar do humor. —
Acabei de testemunhar você ameaçar cortar o pênis de Ronan.
— Esse pequeno idiota não conta — foi sua resposta em formato de
grunhido. — Eu não suporto aquele garoto, mas o tio dele é o treinador da
escola, então não tenho escolha a não ser tolerá-lo. Ele está sempre me
provocando e encenando em campo, fazendo acrobacias imprudentes e
causando drama desnecessário. É como cuidar da porra de criança durante as
partidas. Eu juro, é um teste diário para o meu autocontrole não estrangular o
merdinha.
Eu sorrio.
— Então, vocês não são amigos?
Johnny zomba da ideia.
— Definitivamente nada amigos.
— Bem, ele ainda é jovem — eu ofereço otimista. — Então talvez ele
amadureça com o tempo.
— Como você?
— Huh?
— Quero dizer que você está no mesmo ano que ele — ele se apressa para
explicar. — Mas você não age como se tivesse quinze anos.
— Não?
Ele balança sua cabeça.
— Você parece muito mais velha.
— Isso é porque eu sou uma mulher de noventa anos disfarçada de
adolescente — eu brinco.
— Isso é... — Johnny torce o nariz. — Um conceito perturbador.
— Sim — eu murmuro, envergonhada com a minha porcaria de
brincadeira. — Isso é.
— Então, o que você faz? — ele me surpreendeu perguntando.
— O que eu faço? — Eu meio que esperava que ele terminasse a conversa
ali.
— Sim. — Ele assente de forma encorajadora. — No seu tempo livre.
Faço uma pausa e penso sobre sua pergunta.
— Eu realmente não faço nada — eu finalmente digo. — Acho que assisto
televisão e ouço música no meu tempo livre – ah, e leio muito. — Dando de
ombros, acrescento: — Como você pode ver, não sou muito interessante.
Johnny inclina a cabeça para o lado, me estudando com olhos azuis
intensos.
— Que tipos de livros?
— Autobiografias. Ficção. Crime. Suspense. Romance. — Suspiro,
pensando na pilha de livros no meu quarto. — Eu não sou exigente quanto a
gêneros. Eu só tenho que gostar da sinopse. Se a parte de trás do livro pode
me atrair, então sou persuadida.
Johnny me observa enquanto eu falo, seu olhar intenso e perscrutador.
— Você é uma leitora — ele finalmente diz.
Não era uma pergunta, parecia mais como se ele estivesse guardando
aquela informação em sua mente.
— Isso é realmente bom.
— Você lê? — Eu pergunto a ele.
Ele faz uma careta.
— Não tanto quanto eu deveria.
— Então, nada? — eu provoco.
— Honestamente, não — ele admite com um sorriso torto. Aproximando-
se, ele diz: — O último livro que li que não foi recomendado pela escola foi
sobre Chicken Licken e o céu caindo sobre todos os bichinhos falantes –
você conhece esse?
— Sim — eu rio, pensando em Johnny lendo histórias de contos de fadas
para crianças. — Eu leio isso algumas vezes para Sean.
— Sean?
— Meu irmão mais novo — eu explico. — A criança de três anos.
— Você não deveria — avisa Johnny, reprimindo um estremecimento. —
Esse livro me assustou pra caramba. Eu não leio por diversão desde então.
Minha boca se abre.
— Você está falando sério agora?
— Porra, sim, estou falando sério — Johnny retruca, parecendo
comicamente ferido. — Eu era pequeno. Era um daqueles livros que você lê
sozinho com as imagens no lugar das palavras e toda essa merda. Eles
deveriam ter classificado para maiores de 10 anos porque eu juro por Deus,
eu realmente acreditava que todo o maldito céu ia desmoronar sobre mim. —
Ele balança a cabeça com a memória. — Eu dormi sob – ao invés de sobre –
minha cama por três malditas semanas até que meu pai finalmente cedeu e
me mudou para um dos quartos no andar de baixo.
— Por que? — Eu rio alto. — De que adiantaria descer as escadas se o
céu estivesse caindo?
Johnny sorri e suas covinhas se aprofundam em suas bochechas.
— Ah, veja — ele ri, batendo na cabeça com o dedo indicador. — Na
minha mente ingênua de seis anos de idade, eu estava pensando que se o céu
de fato caísse, poderia quebrar o telhado, mas não poderia quebrar o teto do
andar de baixo também. Eu tinha uma chance de sobreviver no nível do solo.
— Você era um espertinho, não era?
— Eu era — Johnny responde, rindo junto comigo. — Um bendito idiota.
— Uau — eu falo rindo entre acessos de riso. — Isso é sobrevivência no
seu melhor.
Ele me dá um sorriso de lobo.
— Um escoteiro original bem aqui.
— Você foi escoteiro?
— Porra, eu era — Johnny fala de volta, rindo mais forte agora. — Eu
estava brincando. — Seus olhos dançaram com diversão. — Por quê? Você
era aquelas que vendiam brownies?
— Ah, definitivamente não. — Eu balanço minha cabeça, sufocando uma
risadinha. — Minhas habilidades de sobrevivência são terríveis.
A voz de Johnny fica um pouco mais grave quando ele diz:
— Eu não tenho certeza sobre isso.
Sua expressão muda então, ficando mais intensa.
Incapaz de aguentar o calor, viro o rosto e olho para o relógio no painel.
Eram 20:25.
Deus, quanto tempo estávamos sentados aqui conversando?
— Diga-me uma coisa — Johnny me distrai dizendo. Ele ainda estava
sorrindo, e seus olhos estavam quentes, seu tom era suave, quando ele
pergunta: — Por que você se transferiu para Tommen?
Sua pergunta me pega desprevenida.
— Eu, uh... — juntando minhas mãos, eu estalo meus dedos e exalo um
suspiro pesado — eu precisava de uma mudança.
— Uma mudança? — Ele arqueia uma sobrancelha incrédula. — No meio
do seu certificado júnior?
— É complicado e meio privado... — minha voz some, e eu viro meu
rosto para olhar pela minha janela, embora tudo que eu pudesse ver era
escuridão lá fora.
Eu não estava confortável com a direção que esta conversa tomou.
Toda vez que eu pensava na minha antiga escola, uma nova onda de terror
me envolvia.
Minhas razões para estar aqui não eram algo que eu estava disposta a falar
com ninguém.
— Ei. — Sinto seus dedos roçarem as costas da minha mão, sua voz mais
próxima agora, suave e sondadora. — Para onde você foi?
Assustada com o contato, minha cabeça vira para trás, meu olhar
vacilando de seu rosto para onde seu polegar ainda estava roçando minha
mão, alisando círculos suaves sobre meus dedos.
Era apenas um toque inofensivo destinado a capturar minha atenção, mas
o que mais me surpreendeu foi que eu não me afastei imediatamente.
A consciência de que eu gostava de seu toque era inquietante, mas não tão
inquietante quanto a vontade que eu tinha de virar minha mão e entrelaçar
meus dedos aos dele.
— Merda. — Afastando a mão, Johnny volta a se encostar na porta,
fazendo uma careta no que parecia desconforto com o movimento.
Sua mão dispara automaticamente para sua coxa novamente.
— Desculpe — ele grunhiu e era um som visivelmente doloroso.
Limpando a garganta, ele acrescenta: — Eu não deveria ter feito isso.
— Está tudo bem — eu sussurro, mordendo nervosamente meu lábio
inferior. — Eu não me importo.
Ele exala uma respiração difícil e, em seguida, passa a mão pelo cabelo
com a mão livre.
— Não, não está bem. — Seu olhar se desvia para minha boca e ele exala
outra respiração difícil. — Não está nada bem de jeito nenhum.
— Está tudo bem — eu tento confortá-lo dizendo. — Não fique bravo
com isso.
— Eu não estou bravo — Johnny fala, mandíbula apertada. — Eu sou
apenas... porra!
Ele está tão irritado.
Meu olhar vacila para sua perna direita, a que estava no chão, e então para
onde os nós de seus dedos ficaram brancos com a pressão que ele estava
usando para massagear sua coxa.
Distraída pela visão, eu solto:
— O que há de errado com você?
As sobrancelhas de Johnny franzem em confusão.
— O que você quer dizer?
— Você tinha uma bolsa de gelo na perna na escola mais cedo. — Eu
afirmo, gesticulando com minha mão para onde ele ainda estava enfiando o
punho em sua coxa. — Você está machucado?
Seu olhar segue o meu para sua coxa e ele rapidamente puxa a mão.
— Jesus, — ele resmunga, parecendo chocado — eu não sabia que estava
fazendo isso.
— Você está se tocando desde que entramos no carro — eu anuncio.
— Jesus Cristo! — Johnny sibila, olhando para mim com horror.
Eu imediatamente me arrependo da minha escolha de palavras e tento
voltar atrás.
— Quero dizer, não se tocando. Obviamente, você não estava “se
tocando”, se tocando...
— Por favor, pare de falar — implora Johnny, levantando a mão.
Fecho a boca e assinto.
Movendo seu corpo com cuidado, ele afunda de volta em seu assento,
estremecendo levemente com o movimento.
Eu assisto em silêncio enquanto ele aperta o cinto de segurança e inala
uma respiração profunda, expelindo-a lentamente.
— Só para ser claro — ele afirma depois de uma longa pausa de silêncio.
— Eu realmente não estava me tocando ou qualquer coisa assim. Eu só
estou...
— Dolorido? — Eu ofereço, lembrando suas palavras daquele dia.
Seu olhar fixo no meu, cauteloso agora.
— Sim — ele admite com um suspiro de dor.
Eu balanço a cabeça em compreensão.
— Você tem uma lesão?
Johnny olha do meu rosto para sua perna, uma expressão frustrada
cruzando suas feições.
— Eu tenho algo, tudo bem, — ele murmura baixinho, e então solta outro
suspiro agitado antes de deixar escapar — eu fodi meu músculo adutor
quando eu tinha dezesseis anos. Foi brutal. Nada ajudou, e estava
comprometendo meu jogo. Eu estava com uma dor constante, Shannon.
Constante. A fisioterapia não estava funcionando e eu não conseguia mais
lidar com a dor, então desisti e fiz uma cirurgia no Natal.
Ele parecia zangado consigo mesmo, o que me leva a perguntar:
— E você está bravo porque?
Johnny balança a cabeça e depois passa a mão pelo cabelo.
Ele fica quieto por tanto tempo que eu não acho que ele fosse me
responder, mas então ele murmura:
— Não está curando.
— Sua perna? — Eu sussurro, preocupação borbulhando dentro de mim.
— Ou seus pontos?
— Ambos? — ele oferece com um aceno resignado de sua cabeça, então
sussurra: — Tudo isso.
Essa era uma admissão estranha entre dois relativamente estranhos, e
tenho a nítida sensação de que Johnny não se abria com frequência.
Ele parecia irritado consigo mesmo, e eu não tinha certeza se era porque
ele estava ferido ou porque ele me contou sobre isso.
De qualquer forma, eu tinha o maior desejo de confortá-lo.
— Bem... — fazendo uma pausa, eu me viro no assento para olhar para
ele, e junto meus pensamentos antes de dizer — normalmente leva muito
mais tempo do que algumas semanas para se recuperar completamente de
uma operação. Você não é uma máquina, Johnny. O processo de cura leva
tempo. Um companheiro da equipe de Joey fez uma cirurgia no ano passado
para reparar seu tendão. Demorou cinco meses até que ele estivesse em
forma.
— Já se passaram dez semanas — ele retruca, seu tom ficando duro,
refletindo a frustração em seus olhos. — Meu cirurgião me disse que estou a
caminho da recuperação total, e meu médico me liberou para jogar depois de
três semanas. Era para ser um procedimento menor, mas parece horrível —
Johnny para e balança a cabeça, exalando uma respiração frustrada. — Não
deveria demorar tanto — ele reitera, olhando para sua coxa como se fosse o
inimigo. — É uma bagunça do caralho.
— Você foi liberado para jogar depois de três semanas? — Eu faço uma
careta. — Isso não parece um período de tempo longo o suficiente para o seu
corpo se curar. — Eu me ouço responder, em tom gentil.
— Sim, bem, eu estava — ele bufa.
— Johnny — eu digo baixinho. — Você provavelmente só deveria voltar
a treinar agora.
Ele balança a cabeça e murmura:
— Você não entende.
Não, definitivamente não, mas isso não me impede de dizer:
— Você disse que seus pontos não cicatrizaram?
Ele me dá um olhar cauteloso, mas não responde.
— Você pode me mostrar? — Eu pergunto. — Eu sou boa com pontos.
Eu tive pontos suficientes.
— Shannon, eu fiz uma cirurgia no meu adutor — Johnny fala, tom
grosso, olhos atados com confusão.
— Eu sei — respondo. — Mas eu vi um milhão de lesões esportivas nas
pernas e joelhos, então talvez eu possa lhe dizer qual é o problema? —
Dando de ombros, acrescento: — Provavelmente está demorando mais para
cicatrizar porque você está de pé o tempo todo.
— Minha perna não é o problema, Shannon.
— Oh, me desculpe, eu só presumi porque eu vi você mancando — eu
respondo. — É a sua coxa?
— Não — ele brinca.
Minhas bochechas mudam de levemente quentes para quentes como uma
fornalha no tempo que levo para registrar que o ferimento de Johnny estava
posicionado muito mais alto do que eu pensei inicialmente.
Minha boca forma um O quando imagens vívidas de partes de meninos
decepadas entram em minha mente.
— Sim — Johnny retruca ironicamente, parecendo frustrado e
desconfortável. — Ah.
— Bem, e–eu... — Divagando, eu balanço minha cabeça e tentei
novamente — Eu não sei como te ajudar com isso.
— Relaxe, eu não ia deixar você examiná-lo — ele fala de volta na
defensiva.
— Sinto muito — eu sussurro, completamente mortificada. — Eu não...
uh, percebi onde estava.
— E a propósito — ele adiciona, os olhos se estreitam — Foi a minha
virilha que eu operei – não no meu pau – então eu gostaria que você tivesse
os fatos antes de você dar com a língua nos dentes.
O quê?
— Dar com a língua nos dentes? — Meus olhos vão de seu rosto para sua
virilha, uma reação imparável de ouvir a palavra “pau” sair de sua boca. —
Eu não...
— Eu sei como as garotas gostam de fofocar — ele fala, flexionando a
mandíbula. — Porra, o que estou fazendo?
Eu fico boquiaberta para ele.
— Fofocar?
Ele estava falando sério?
— Olha, esqueça que eu te disse isso — ele bufa. — Está ficando tarde.
Alcançando entre nós, ele fecha uma mão grande sobre o câmbio e engata
a marcha.
— Para onde estou te levando?
Eu solto um suspiro.
— Eu não faço ideia.
Ele se vira para olhar para mim.
— O que?
Eu me contorço no meu assento.
— O quê?
— Seu endereço, Shannon. — Ele bate os dedos contra o volante com
impaciência. — Você precisa me dizer onde você mora para que eu possa
levá-la para casa.
— Oh. — Deus. — Desculpe. Hum, Elk, terraço em Ballylaggin.
Com um aceno curto, Johnny dá ré para fora de sua vaga de
estacionamento e, em seguida, engata a marcha do carro antes de sair pela
entrada da escola.
Passando rapidamente pela sinalização, Johnny diminui a velocidade para
uma parada temporária quando chegamos à entrada, inclina-se para frente e
verifica os dois lados, antes de entrar na estrada principal na velocidade da
luz.
Inclinando-me para trás no meu assento, levanto a mão e agarro o suporte
de segurar ao lado da porta e me concentro em contar os carros que
passavam por nós em uma tentativa de me distrair da obsessão com o
velocímetro em seu painel.
Eu podia sentir a tensão emanando dele, sua cordialidade anterior
substituída por um silêncio frio, nossa conversa obviamente foi o catalisador
por trás da mudança em seu humor.
O silêncio que nos envolve agora era pesado e desconfortável, e eu estou
irracionalmente decepcionada com isso.
Estou mais que decepcionada.
Eu estou abalada.
Pela primeira vez em uma eternidade, eu estava me divertindo.
Eu tinha me soltado, brincado de um lado para o outro sem medo de, bem,
reagirem.
E então ele puxou o tapete debaixo de mim.
Eu não tinha previsto isso e estava me arrependendo de ter saído daquele
banheiro.
Quando Johnny estende a mão por cima do console e começa a trocar os
CDs no som do carro, tenho que me sentar sobre as mãos para não agarrar o
volante.
Alguns momentos depois, ele escolhe uma música, a faixa número cinco,
e o carro se enche de uma familiar introdução de guitarra, proporcionando
uma distração temporária dos meus pensamentos perturbadores.
Johnny aumenta o volume e The Middle de Jimmy Eat World explode
pelos alto-falantes do carro tão alto que eu posso sentir a vibração do baixo
nos meus ossos.
Eu amo essa música e a considero meu hino.
Falando sério, eu me afogava nas letras diariamente.
Se a música cura o coração partido, então a letra dessa música acalma
minha alma.
Foi em um CD mix que a namorada de Joey fez para ele no Natal. Ele
obviamente não estava interessado no CD que Aoife tinha feito para ele
porque eu o havia roubado de seu quarto no mês passado durante um
momento de espionagem aleatório e Joey ainda não tinha percebido que
tinha sumido.
Estava atualmente no meu discman portátil, que eu ouvia repetidamente
todas as noites antes de dormir.
Concentrando-me na letra da música que eu já sabia de cor, tento controlar
meus nervos, mas a batida do punk rock só parecia encorajar a loucura no
meu motorista designado porque no minuto em que entramos na estrada
principal, Johnny coloca o pé no pedal e pisa fundo.
Quando o velocímetro passa de 120km/h, fecho os olhos e paro de
respirar.
Cobrindo o rosto com as mãos, espio por entre os dedos, gemendo quando
o flash dos faróis dos carros nas pistas opostas passa zunindo por nós.
— Qual é o problema? — Estendendo a mão, ele abaixa o volume do som.
— Shannon? — Sua atenção cintila entre a estrada e meu rosto. — Você está
bem?
— Você está indo rápido demais — eu gaguejo.
— Relaxe, estamos indo no limite — responde ele, mas diminui a
velocidade do carro. — E eu sou um bom motorista. Você está segura
comigo.
— Ok — eu murmurei, ainda sentindo como se estivéssemos indo muito
mais rápido do que 100 quilômetros por hora. — Mas eu me sentiria melhor
se você diminuísse a velocidade.
Exalando pesadamente, Johnny diminui ainda mais a velocidade.
— Feliz agora? — ele perguntou, batendo no painel.
Me inclinando, verifico o velocímetro.
80 quilômetros.
— Sim — eu respiro, meus músculos tensos relaxando levemente. —
Obrigada.
Afundando no meu assento, permito que meu olhar vagasse sobre ele.
Ele estava olhando para a estrada à frente, uma mão apoiada na alavanca
de câmbio, o outro cotovelo encostado na porta.
Como se ele sentisse que eu o observava, Johnny olha de lado e me pega
em flagrante.
Eu sorrio fracamente.
Ele olha calorosamente para mim, sem sorrir.
Meu sorriso desaparece.
Com um grunhido baixo e frustrado, ele volta sua atenção para a estrada.
Balançando a cabeça, ele murmura algo ininteligível sob sua respiração, a
mão apertando o volante.
Me sentindo dispensada, junto as mãos no colo e olho pelo para-brisa, sem
me atrever a lançar outro olhar para ele.
Nós não falamos pelo resto da viagem, com apenas as músicas que
vinham do aparelho de som rompendo o silêncio espesso.
— Ouça — Johnny solta, quebrando o silêncio quando as luzes da cidade
de Ballylaggin apareceram. — O que eu te disse lá atrás? Sobre a minha
cirurgia? — Seu tom era nivelado, educado até, enquanto olhava para frente,
manobrando pelas ruas estreitas e vielas. — Eu apreciaria sua discrição.
Aprecia minha discrição?
Ele estava envergonhado por ter uma virilha machucada?
Ele deveria tentar ter um pai inútil cujos únicos talentos eram torrar seu
dinheiro do subsídio e engravidar sua mãe, enquanto se vende para qualquer
estúpido o suficiente para tê-lo.
Frustrada, me viro para ele e digo:
— Para quem eu contaria, Johnny?
— Seus amigos, — ele responde e então em uma voz muito mais baixa
murmura — meus amigos.
— Bem, eu não vou contar a ninguém — eu digo, irritada e insultada. —
Eu não sou uma fofoqueira.
Ele aperta a mão no volante, mas não responde.
Irritada com a formalidade repentina em sua voz, para não mencionar o
fato de que ele passou os últimos quinze minutos me ignorando, eu olho para
o lado de seu rosto e rosno:
— Por que eu me incomodaria em contar a alguém de qualquer maneira?
— Porque, — ele fala, mantendo sua atenção na estrada. — eu sei como a
maioria das garotas são.
A maioria das garotas?
Se ele me considera como a maioria das garotas, então por que gastar
tanto tempo falando comigo?
Por que me fazer todas essas perguntas e me fazer sentir confortável o
suficiente para respondê-lo se ele me considerava como a maioria das
garotas?
Por que se incomodar comigo?
— Você está sendo ridículo — eu murmurei.
— Estou sendo cuidadoso — Johnny corrige calmamente. — Eu não
deveria ter dito nada para você, foi incrivelmente imprudente da minha
parte, e agora eu estou pedindo que você me faça um favor e guarde isso
para você. Eu tenho muito em jogo aqui, Shannon, e a divulgação disso
realmente pode atrapalhar as coisas para mim. Mais do que você jamais
saberá.
Cruzo os braços sobre o peito.
— Certo.
— Certo? — ele repete com cautela.
— Sim — eu brinco, olhando para frente. — Certo.
— Excelente. — Ele solta um suspiro pesado e diz: — Obrigado —
depois de vários segundos, fala: — Eu aprecio isso.
O silêncio prossegue; espesso, pesado e insuportável.
Eu estava em conflito com o rumo dos acontecimentos.
Ele estava brincando comigo?
Isso tinha sido um grande jogo para ele?
Brincando com minhas emoções sendo gentil e me prendendo em uma
falsa sensação de segurança com toda aquela conversa na escola de conhecer
um ao outro?
Jogando a perspectiva de uma amizade na minha cara com toda aquela
gentileza e conversa fiada e depois estragando tudo?
Não seria a primeira vez que isso acontecia.
Eu deveria ter previsto isso e fico desapontada comigo mesma por baixar
a guarda tão facilmente perto dele.
Droga!
— Você está bem? — ele pergunta, quebrando o silêncio.
Não respondo porque não posso.
Eu estava me concentrando demais em não chorar.
— Shannon, eu não... — Johnny começa a dizer, mas para. Ele esfrega o
queixo e, em seguida, deixa cair a mão de volta no volante. — Eu não... —
Ele para novamente, desta vez balançando a cabeça. — Esqueça.
Eu não sondo ou pressiono para terminar o que ele estava tentando dizer.
Eu não queria ouvir.
Me retirando da fonte atual de minha confusão e frustração, que era meu
motorista designado, concentro todos os meus esforços em ignorá-lo e
manter minhas emoções sob controle.
Se eu pudesse pular do carro agora, eu pularia, mas ele era um piloto
rápido e eu não gostava das minhas chances de sobreviver ao impacto pós-
salto.
— O que você está pensando? — Johnny finalmente diz, virando à
esquerda no meu conjunto habitacional.
Era uma subida profunda e montanhosa até minha casa, com várias
centenas de casas anexas correndo lado a lado em ambos os lados da estrada,
a minha bem no topo.
Muitas das casas estavam fechadas com tábuas, outras estavam em ruínas
com jardins mal cuidados – a minha inclusive – mas agora, eu estava muito
irritada para me importar com o que ele pensava.
Eu viro meu olhar para encará-lo.
— Você quer saber o que estou pensando?
Johnny olha de lado, olhos cheios de calor e frustração mal contida, e me
dá um aceno curto antes de voltar sua atenção para a estrada.
— Tudo bem — eu rebato, piscando para conter a familiar ardência das
lágrimas enquanto eu conto a ele exatamente o que eu estava pensando. —
Acho que você está paranoico com as pessoas descobrindo que você está
machucado porque você sabe que não deveria estar jogando.
As palavras saem da minha boca antes que eu tivesse a chance de me
controlar.
Mas em vez de pedir desculpas ou tentar retirá-las, eu avanço, me
chocando com a emoção em meu tom.
— Eu acho que você está em negação sobre o seu processo de cura e eu
sei que você está ferido. Você manca na escola. Você sabia disso? O tempo
todo. Os outros podem não perceber, mas eu percebo. Eu vejo e você faz isso
o tempo todo! Então, acho que você está jogando um jogo perigoso com seu
corpo, Johnny. E acho que se seus médicos soubessem quanta dor você está
realmente sentindo, não há como eles terem assinado e liberado você para
jogar.
Eu não tinha ideia de onde isso estava vindo, mas as palavras estavam
explodindo para sair da minha boca, então eu as deixo saírem.
— Eu acho que isso foi um erro terrível, eu nunca deveria ter aceitado
uma carona de você. Eu acho que você exagerou esta noite. Eu acho que
você se comportou terrivelmente. E eu acho que seria melhor se você e eu
não conversássemos mais.
Solto um grande suspiro, o peito arfando com o esforço vocal.
Meu rosto estava queimando com calor, mas eu estou orgulhosa de mim
mesma por tirar isso do meu peito.
Não era característico de mim ter uma explosão dessa magnitude com
alguém fora da minha família, mas fico feliz.
Eu acho que isso dizia muito sobre como eu me sentia calorosa e
estranhamente confortável o suficiente em torno desse garoto para perder a
cabeça, mas eu estava muito agitada para mergulhar no funcionamento desse
enigma em particular.
Por enquanto, eu permaneceria fervendo em minha apreensão e decepção.
— Ouça, eu aprecio sua preocupação, — ele finalmente falou, pausando
por um momento antes de acrescentar — pelo menos eu acho que era isso.
Mas não é necessário. Eu tenho isso sob controle...
— Você claramente não tem — eu falo de volta, interrompendo-o.
— Você não tem a menor ideia do que está falando! — ele retruca. — Eu
entendo que você fala por bem, mas eu conheço minha própria merda. Eu
conheço meu próprio corpo.
— E claro, eu não — eu murmuro, virando o rosto para olhar pela janela
do passageiro. — Como a maioria das garotas.
— Não — ele continua a argumentar. — Você não me conhece, Shannon.
A todo vapor, eu solto uma expiração.
— Você está certo, Johnny — eu sussurro em concordância. — Eu não
conheço você.
— Pare de fazer isso! — ele retruca, passando a mão impaciente pelo
cabelo. — Cristo.
— Fazer o quê?
— Torcer minhas palavras — ele retruca com raiva. — Não me dar uma
chance de explicar. É um movimento de garota idiota e eu não posso – porra!
— ele ruge, pisando no freio para evitar uma bicicleta intrusa que estava
espalhada no meio da estrada. — Pelo amor de Deus. O que diabos há de
errado com as pessoas? A estrada parece um maldito lugar para estacionar
uma bicicleta?
— Você pode me deixar sair aqui — eu digo categoricamente, soltando
meu cinto de segurança. — Eu posso andar o resto do caminho.
Eu abro a porta do carro e estou fora do meu assento antes que ele tivesse
a chance de responder.
Batendo a porta, abro a porta dos fundos e pego minha bolsa nas pilhas de
lixo e roupas sujas.
— Shannon, espere, não vá...
— Tchau, Johnny — eu sussurro antes de fechar a porta e cruzar para a
trilha.
Eu não volto quando ele abaixa a janela e chama meu nome três vezes.
E eu não me viro quando ele para na calçada, e opto por deslizar pelo beco
em vez disso, com a cabeça baixa e a pontada de arrependimento amargo
pesando sobre meus ombros.
18
JOHNNY
SHANNON
— Dia bom? — são as palavras com as quais sou recebida quando entro pela
porta da frente depois do meu desastroso passeio de carro com Johnny.
Agora, se qualquer outra pessoa no mundo inteiro tivesse me feito essa
pergunta, eu teria uma resposta, mas era do meu pai que estávamos falando.
Ele estava parado no pequeno corredor, com um jornal enrolado na mão,
me perguntando sobre o meu dia, e esse era um conceito aterrorizante.
— Você está surda porra? — ele exige enquanto olha para mim, o branco
ao redor de seus olhos castanhos estão completamente vermelhos. — Eu te
fiz uma pergunta, garota.
O cheiro de uísque de sua respiração embala meus sentidos e minha
ansiedade dispara enquanto eu mentalmente tentava entender isso.
Ele recebia seus subsídios às quintas-feiras.
Esse era o dia ruim.
Não às terças-feiras
Então eu penso em que dia era e mentalmente me dou um tapa por não
estar preparada.
Hoje era 1º de março.
E era a primeira terça-feira do mês.
Dia de receber subsídio infantil.
O dia em que o governo irlandês fazia seu pagamento mensal em dinheiro
aos pais por cada filho que eles tem.
O que significava centenas de euros desperdiçados em casas de apostas e
pubs.
O que significava que semanas de luta e com pouco seriam suportadas
pela nossa família por causa da incapacidade de meu pai de se controlar.
Meu coração afunda.
Murmurando uma resposta rápida, pego minha chave de casa na
fechadura, enfio-a no meu casaco e desvio de seu corpo enorme com a
intenção de pegar um pacote de biscoitos do armário da cozinha e depois
seguir para o santuário do meu quarto.
Com meu juízo sobre mim e meu cérebro em alerta máximo, consigo
chegar à cozinha, mas como um cheiro ruim, tanto figurativa quanto
literalmente, meu pai me segue.
Papai se encosta no batente da porta, apertando o jornal na mão e
bloqueando minha saída.
— Como foi a escola?
Eu mantenho minhas costas para ele, me ocupando em folhear pacotes de
sopa e latas de feijão quando eu respondo.
— Tudo bem.
— Tudo bem? — ele zombou. — Estamos pagando quatro mil euros por
ano por um tudo bem?
Lá estava.
Lá estava ele.
— Foi bom, pai — eu rapidamente injeto. — Tive um dia produtivo.
— Dia produtivo? — ele imita, tom irônico e cruel. — Não banque a
esperta comigo, garota.
— Eu não banquei.
— E você está atrasada — ele ladra, suas palavras são um insulto bêbado.
— Por que diabos você está atrasada de novo?
— Eu perdi meu ônibus — eu falo espremida, em pânico.
— Malditos ônibus — ele rosna. — Maldita escola particular. Você é um
pé no saco, garota!
Não havia nada a dizer sobre isso, então eu fico quieta.
O jeito que ele sempre me chama de garota, como se fosse algum tipo de
insulto ser mulher, nem me irrita esta noite.
Eu estava no modo de autopreservação total, sabendo o que tinha que
fazer para sair ilesa dessa sala: aguentar a merda dele, manter minha boca
fechada e rezar para que ele me deixasse em paz.
— Você sabe onde sua mãe está, menina? — ele rosna.
Novamente, eu não respondo.
Não era uma pergunta real.
Ele estava me bombardeando com informações antes do ataque.
— Quebrando as costas dela por você! — Papai ruge. — Trabalhando até
o pó porque você é uma putinha mimada que pensa que é melhor que todos.
— Eu não acho que sou melhor que ninguém — eu murmuro, e
imediatamente me arrependo de jogar gasolina verbal em seu temperamento
já ardente.
— Olhe para você — papai zomba, acenando com a mão para mim. —
Em seu uniforme de escola particular chique. Chegando tarde em casa.
Pensando que você é um presente de Deus. Você estava se prostituindo? —
Ele exige, dando alguns passos cambaleantes em minha direção. — É por
isso que você está atrasada de novo? Arranjou um namoradinho?
Eu imediatamente recuo, mas não ouso abrir minha boca para me
defender.
Ele não iria acreditar em mim de qualquer maneira.
Nove em cada dez vezes, piorava.
E dez em cada dez vezes, responder a ele de volta resultava em uma
ardência na bochecha.
— É isso, não é? Você andou brincando com um daqueles idiotas chiques
do rúgbi com o dinheiro de papai na sua preciosa Tommen — ele zomba. —
Abrindo as pernas como a vagabunda suja que você é!
— Eu não tenho namorado, pai — eu gaguejo.
Jogando o braço para trás, ele me acerta no rosto com o papel enrolado.
— Não minta para mim, garota!
— Eu não estou mentindo — eu soluço, segurando minha bochecha em
chamas.
Levar um tapa no rosto com um jornal enrolado pode não parecer uma
coisa dolorosa, mas quando o homem que bate pesa três vezes o que você
pesa, dói.
— Explique isso, então — meu pai exige. Rasgando o jornal, ele folheia
rudemente as páginas até parar na seção de esportes. — Explique-se!
Piscando para afastar as lágrimas, olho para a página que papai estava
apontando e imediatamente sinto meu sangue gelar.
Lá estava eu, todo colorida, sorrindo para o fotógrafo idiota, com o braço
de Johnny em volta da minha cintura, sorridente e com bochechas coradas.
Eu não conseguia pensar na foto ou questionar por que ela foi impressa no
maior jornal da Irlanda, porque eu estava apavorada.
Eu estava com tanto medo que eu podia sentir o gosto.
Você vai morrer, Shannon.
Esta é a noite em que ele vai te matar...
— Ele é o capitão do time de rúgbi — eu me apresso em dizer, tentando
inventar uma mentira para me livrar da surra que eu sabia muito bem que
estava prestes a receber. — Eles ganharam uma grande partida — eu divago,
desesperadamente agarrando-se aos canudos. — O Sr. Twomey, o diretor, me
pediu para tirar uma foto com ele... eu nem o conheço, pai, eu juro!
Eu sabia que deveria ter esperado o próximo movimento do meu pai, ele o
aperfeiçoou em uma arte ao longo dos anos, mas quando ele agarra minha
garganta e me joga contra a geladeira, eu ainda sou pega de surpresa.
Apertando com força, ele sussurra:
— Você está mentindo para mim…
— Eu não... não — eu estrangulo, agarrando suas mãos. — Pai... por
favor... eu não consigo... respirar...
O som da porta da frente abrindo e fechando rapidamente preenche o ar.
Papai solta minha garganta e eu fisicamente caio de alívio.
Ofegando por ar, eu me afasto dele.
Segundos depois, Joey aparece na porta, parecendo um presente enviado
por Deus com o rosto manchado de graxa e macacão coberto de óleo.
Joey dá um tapinha no ombro de papai e o empurra para o lado com
facilidade antes de entrar na cozinha, balançando um molho de chaves em
seus dedos.
— Como vai, família?
Ele parece relaxado e alegre, mas a tensão ao redor de seus olhos me
garante que ele era tudo menos isso.
Agir como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo era o
mecanismo de enfrentamento de Joey.
O meu era ficar muda.
— Joey — papai reconhece, parecendo um pouco mais alerta agora com a
presença do alfa mais dominante na família.
Nosso pai pode ser grande e amargo, mas Joey era maior e mais rápido.
— Os garotos estão na cama? — Joey pergunta, pegando uma lata de coca
na geladeira.
Papai assente, mas não tirou os olhos de mim.
— Onde está mamãe? — Joey pergunta, obviamente tentando aliviar a
tensão. Abrindo a tampa, ele toma um gole profundo, depois enxuga a boca
com as costas da mão. — Ainda no trabalho?
— Sua mãe está no trabalho e essa aqui está atrasada para chegar em casa
de novo — nosso pai ladra. Ele aponta um dedo para mim e balbucia —
Perdeu a porra do ônibus dela aparentemente.
— Eu sei — Joey responde alegremente, antes de voltar sua atenção para
mim. — Como vai, Shan?
— Ei, Joe — eu resmungo, fechando e abrindo meus punhos para impedir
que minhas mãos se movam para minha garganta, enquanto eu tento
desesperadamente controlar meu batimento cardíaco. — Nada. Só com
fome. Eu estava pegando um lanche.
Joey caminha até onde eu estava, pés congelados no chão, e de brincadeira
cutuca minha bochecha com os nós dos dedos.
Foi uma terna demonstração de afeto e uma silenciosa demonstração de
solidariedade.
— Aoife ficou por muito tempo quando ela deixou você em casa?
Meus olhos se arregalam em confusão.
O olhar que meu irmão me dá diz seguir o que diz.
A realização me ocorre.
Meu irmão estava me dando uma brecha.
— Uh, não — eu engasgo, os olhos fixos em Joey. — Ela acabou de me
deixar e foi direto para casa.
Joey piscou em aprovação e, em seguida, estende a mão ao meu redor,
enfiando a mão na parte de trás do armário – aquela que eu não poderia
alcançar sem a ajuda de uma cadeira.
— Aqui. — Puxando um pacote de biscoitos de chocolate, ele os entrega
para mim. — Sem dúvida, isso é o que você está procurando?
— Não é uma casa de caridade — papai fala arrastado.
— Esta é a minha comida, meu velho — Joey retruca friamente, virando-
se para o nosso pai. — Comprei com meu dinheiro. Do meu trabalho.
— Esta é a minha casa!
— Uma casa dada a você pelo governo — Joey responde friamente. —
Por nossa causa.
— Não banque o espertinho comigo, garoto — papai atira de volta, mas
seu tom não tinha a força típica.
Bêbado como estava, nosso pai estava bem ciente de que a merda que ele
fazia comigo não funcionava com meu irmão.
Eles tiveram várias brigas grandes ao longo dos anos, mas a briga que
mais brilhava na minha memória foi a que ocorreu em novembro passado.
O motivo tinha sido normal: infidelidade.
Papai foi pego com outra mulher, sem surpresas, e decidiu nos deixar para
ficar com a outra mulher – novamente, sem surpresas.
A mãe tinha acabado de descobrir que estava grávida no dia em que ele
partiu e foi para a cama.
Joey e eu passamos quase duas semanas cuidando dos meninos mais
novos e limpando a bagunça que nossos pais fizeram.
Quando nosso pai finalmente entrou pela porta, dez dias depois, fedendo a
uísque e jogando merda em mamãe, meu irmão perdeu o controle.
Ele e meu pai acabaram brigando na sala de estar, quebrando móveis e
enfeites enquanto iam um para cima do outro.
Não foi por isso que se destacava, no entanto.
Isso se destacava porque a briga terminou com meu pai enrolado no chão
da sala em posição fetal enquanto meu irmão desferia golpe após golpe
impiedoso em seu rosto.
Foi uma carnificina absoluta e, embora papai tivesse conseguido quebrar o
nariz de Joey, foi meu irmão quem saiu por cima.
Papai estava mal depois da surra que levou e, de uma maneira fodida, isso
funcionou a seu favor, porque a mamãe sentiu pena dele e o aceitou de volta.
Por mais deprimente que aquele dia tenha sido para nós, como filhos de
pais tóxicos, também significou uma mudança de poder.
Os acontecimentos daquele dia mostraram ao nosso pai que ele não era
mais o líder.
Havia um novo líder na cidade – um que levou muitas surras dele e estava
preparado para devolver sua merda a qualquer momento.
— Shannon — Joey diz, no mesmo tom, os olhos fixos em nosso pai. —
Está ficando tarde. Por que você não vai para a cama?
Joey não precisava me dizer duas vezes.
Aproveitando a fuga oferecida como uma vítima de afogamento pegaria
um colete salva-vidas, vou direto para as escadas, parando no meu caminho
quando meu pai bloqueia a passagem.
— Eu não terminei de falar com ela — ele fala arrastado.
— Bem, ela terminou de falar com você — Joey brinca, vindo para ficar
atrás de mim. — Então, saia do caminho dela, velho. Agora.
Há um olhar sólido de trinta segundos entre eles antes que papai
finalmente se afaste.
Saindo correndo da cozinha, subo correndo a escada em alta velocidade,
não parando até que estivesse segura no meu quarto com a porta fechada e a
fechadura trancada.
Mal tendo tempo para recuperar o fôlego, jogo os biscoitos no armário de
cabeceira, tiro o uniforme o mais rápido possível e coloco meu pijama antes
de mergulhar na cama.
Arrastando debaixo das cobertas, alcanço o discman portátil debaixo do
meu travesseiro e puxo as cobertas até o meu queixo.
Eu tinha colocado um tampão de ouvido quando os gritos começaram.
Segundos depois, o som de móveis batendo enche meus ouvidos.
Meu estômago revira e eu rapidamente coloco o outro tampão de ouvido
antes de ligar o velho discman desbotado.
Me atrapalhando com os botões, aperto o play e aumento o volume para o
nível máximo, rezando para que as baterias tivessem energia suficiente para
bloquear o inferno que era minha casa.
Clicando na faixa de metal mais alta e dura do CD, eu me deito no meu
travesseiro e permaneço perfeitamente imóvel, corpo rígido e enrolado em
tensão.
Quatro músicas e meu batimento cardíaco volta ao ritmo normal.
Mais três músicas e a capacidade de formar pensamentos coerentes
retornam.
Nem sempre era assim.
As noites da semana eram geralmente boas, com exceção das quintas-
feiras, quando papai pegava o dinheiro do subsídio no correio.
Os fins de semana podiam ser imprecisos, mas eu era fantástica em evitar
confrontos com meu pai.
Se ele estava bebendo em um dia de semana, eu sempre fazia questão de
estar em casa depois da escola, jantada e trancada no meu quarto às seis
horas.
Se ele bebia nos fins de semana, eu não saía do meu quarto.
No entanto, os eventos de hoje me derrubaram e eu cometi um erro fatal.
Johnny mexeu comigo.
Abaixei a guarda.
Eu esqueci.
O álbum toca até o fim e eu o ligo novamente, repetindo em um loop.
Foi só quando ouço o som da porta do quarto ao lado do meu batendo
acima da música em meus ouvidos que destravo meus músculos tensos.
Ele estava bem.
Exalando uma respiração trêmula, abaixo o volume e escuto com atenção.
Silêncio.
Puxando meus fones de ouvido, tiro as cobertas e saio da cama.
Andando na ponta dos pés até a porta do meu quarto, giro a fechadura e
rastejo pelo corredor vazio.
Tateando até a porta de Joey no escuro, agarrei a maçaneta e entrei.
— Joe? — Eu sussurro quando meus olhos pousam nele. Ele estava
sentado na beirada da cama de cueca boxer, segurando um maço de papel
higiênico na boca. — Você está bem?
— Eu estou ótimo, Shan — ele fala, o tom afiado, enquanto passava o
lenço contra o lábio inferior. — Você deveria ir para a cama.
— Você está sangrando — eu gaguejo, os olhos presos no fluxo de tecido
manchado de sangue.
— É só um lábio cortado — ele retruca, parecendo um pouco irritado. —
Basta voltar para o seu quarto.
Eu não faço.
Eu não posso.
Devo ter pairado em sua porta por um longo tempo, porque quando Joey
olha para mim, sua expressão era resignada. Suspirando pesadamente, ele
passa a mão pelo cabelo e então dá um tapinha no colchão ao lado dele.
— Vem.
Correndo para ele, eu desabo na cama e passo meus braços em volta do
pescoço do meu irmão, me agarrando a ele como se ele fosse a única coisa
segurando meu mundo.
Às vezes eu penso que isso poderia ser verdade.
— Está tudo bem, Shan — ele sussurra, me confortando.
— Desculpe — eu engasgo, apertando meu abraço em seu pescoço.
Lágrimas caem sobre minhas bochechas. — Sinto muito, Joe.
— Não é sua culpa, Shan.
— Mas eu o deixei irritado...
— Não é sua culpa — meu irmão repete, tom severo.
— Eu não quero mais estar aqui, Joe.
— Eu também.
— Estou cansada de sentir medo o tempo todo.
— Eu sei. — Ele dá um tapinha nas minhas costas e então se levanta. —
Um dia desses, tudo vai melhorar. Eu prometo.
Caminhando até seu guarda-roupa, ele abre as portas e arrasta o saco de
dormir familiar e travesseiros extras.
Não preciso perguntar o que ele estava fazendo; não quando eu já sabia e
isso faz meu coração apertar.
Quando Joey termina de arrumar a cama improvisada no chão, ele se joga
nela.
Cruzando os braços atrás da cabeça, ele solta um suspiro pesado.
— Apague a luz, por favor, Shan?
Concordando, me inclino sobre a cama e apago a lâmpada antes de subir
em sua cama vazia.
— Obrigada Joey — eu fungo, limpando meu nariz com as costas da
minha mão, enquanto eu me acomodo debaixo das cobertas.
— Sem problemas.
Virando-me de lado, olho para ele deitado no chão do quarto.
Suas cortinas estavam fechadas, mas os postes de luz na calçada do lado
de fora da casa cobrem o quarto com um tom opaco de cor desbotada,
iluminando as sombras no rosto do meu irmão.
— Ei, Joe?
— Sim?
— Você pode me fazer um favor?
Ele inclina o queixo para cima, me deixando saber que ele está ouvindo.
— Por favor, não faça comigo o que Darren fez conosco. — Cruzando
minhas mãos sob meu rosto, eu sussurro — Não me deixe.
— Eu não vou — meu irmão jura, tom misturado com coragem e
sinceridade. — Eu nunca vou deixar você aqui com ele.
Eu soltei um suspiro trêmulo.
— Mamãe nunca vai deixá-lo…
— Mamãe pode fazer o que diabos ela quiser — Joey interrompe,
endurecendo o tom. — Ela fez a sua escolha quando ela o aceitou de volta da
última vez. Ela pode continuar tendo a prole dele e aturar suas besteiras pelo
resto de sua maldita vida que eu não me importo. Mas você e eu? Nós
ficamos juntos. — Ele vira o rosto para mim e diz: — Quando eu sair desse
buraco de merda, e eu vou sair, vou levar você comigo.
Mordendo o lábio, pergunto:
— E os meninos?
Joey exalou pesadamente, mas não respondeu.
A vovó Murphy, nossa bisavó materna, pega nossos irmãos mais novos na
escola todos os dias e os deixa em casa, alimentados, hidratados e vestidos
para dormir por volta das 20h.
A vovó havia feito o mesmo por Darren, Joey e eu até passarmos para o
ensino médio.
Era um arranjo estranho, considerando que ela e meus pais mal se
falavam, e um sobre o qual eu havia perguntado à vovó. Eu queria saber por
que aos 81 anos ela continuava a ajudar meus pais quando eles claramente
não a apreciavam.
Ela havia criado minha mãe e sua irmã, Alice, quando seus pais faleceram
quando eram crianças, mas você poderia jurar que a vovó era uma estranha
do jeito que nossa mãe a tratava.
Vovó me disse que ela não fazia isso por eles.
Ela fazia isso por nós.
Porque ela nos amava.
E não deveríamos sofrer pelas más decisões de nossos pais.
Ela cuidava de cada um de nós quando nossa mãe estava trabalhando
todas as horas que Deus lhe deu e nosso pai não estava interessado.
A vovó Murphy entra em cena quando nossa mãe e nosso pai saem.
A vovó deixa claro que ela amaria e cuidaria de todas as crianças nascidas
dessa união fodida porque éramos seus bisnetos.
Tadhg, Ollie e Sean estavam relativamente protegidos do tornado que era
nosso pai porque temos a sorte de ter uma bisavó que nos ama.
O problema era que a vovó estava avançando na vida e não podia fazer
isso para sempre.
Ela não podia continuar entrando e salvando o dia.
Sua saúde estava se deteriorando, a velhice se aproximava e o dinheiro era
tão escasso para ela quanto era para nós. A vovó não tinha dinheiro para nos
alimentar além dos nossos três irmãos mais novos, e toda vez que corríamos
para ela com outro problema, outra ruga aparecia em seu rosto e outra
consulta médica se acumulava.
Era por essas e muitas outras razões pelas quais Joey e eu diminuímos
nossas visitas.
— Eles são nossos irmãos — eu sussurro, me arrastando dos meus
pensamentos.
— Eu não sou o pai deles — Joey resmunga. — E quem sabe, talvez
mamãe volte a si antes que eles fodam completamente com eles como
fizeram conosco e Darren. De qualquer forma, não há nada que eu possa
fazer sobre isso. Eu não posso cuidar deles, Shannon. Não tenho condições e
não tenho tempo. Vou nos tirar daqui. É o melhor que posso fazer.
— Você promete?
Ele assente.
— Assim que eu terminar a escola e me estabelecer na faculdade no ano
que vem, vou conseguir um apartamento. Pode levar algum tempo para eu
juntar o dinheiro e ficar de pé, mas vou sair daqui, Shannon. Eu vou tirar
você daqui. Eu posso te prometer isso.
— Eu acredito em você — eu digo a ele.
E eu acredito.
Ele me conta esse plano desde que Darren saiu pela porta cinco anos atrás
e nos deixou para lidar sozinhos com a ira bêbada de nosso pai.
Eu acreditava que meu irmão queria dizer cada palavra que ele estava
dizendo, cada promessa que ele estava fazendo.
O problema era que eu podia ver os sacrifícios inimagináveis que teriam
que ser feitos por meu irmão para que isso funcionasse para nós, e sabia no
fundo do meu coração que a probabilidade de realmente se concretizar era
pequena.
De qualquer forma, a criança dentro de mim se agarrava à promessa por
tudo o que mais era valioso.
E promessas como essa para garotas como eu valiam tudo.
— De qualquer forma, chega de falar besteira dos pais — diz Joey,
olhando para o meu rosto. — Diga-me como você conhece Johnny
Kavanagh.
— O quê? — Eu fico boquiaberta para ele, assustada com a mudança
repentina na conversa.
Não era incomum mudarmos de assunto depois de uma noite como essa e
falarmos sobre coisas ridículas. Para outros, pode parecer estranho que
pudéssemos mudar de uma conversa séria e significativa para um simples
bate-papo, mas era a norma para nós.
Lidamos com as besteiras do nosso pai a vida inteira.
Mudar de assunto vinha naturalmente para nós. Era um mecanismo de
enfrentamento que havíamos aperfeiçoado ao longo dos anos; desvio e
distração.
Mas me perguntando sobre Johnny?
Isso me pegou.
— Kavanagh — Joey confirma, olhos penetrantes e penetrantes. — Como
você conhece o cara?
— Ele estuda na Tommen — eu explico, grata pela meia-escuridão para
que meu irmão não pudesse ver como meu rosto fica vermelho. — Ele está,
uh, no quinto ano, eu acho? — Eu sei. — E eu o vi algumas vezes na escola.
Foi ele que me nocauteou no meu primeiro dia.
A cabeça de Joey vira para mim.
— Foi Kavanagh quem te nocauteou?
— Foi um acidente. — Eu rapidamente desenhei as palavras familiares
que eu tinha falado uma e outra vez no último mês ou assim. — Ele fez um
passe ruim, ou chutou a bola para o lado errado, ou algo assim, de qualquer
forma, ele se desculpou um milhão de vezes, então está tudo bem... —
Termino com um grande suspiro, sem vontade de fornecer mais informações
sobre o assunto. — Águas passadas.
— Bem, merda — Joey medita, coçando o peito. — Você pensaria que um
cara na posição dele não estaria cometendo erros ruins como esse.
— Um cara na posição dele? — eu comento. — Tenho certeza de que ele
não é a única pessoa no mundo a chutar uma bola de merda.
— Não... — Joey dá de ombros. — Ainda assim, eu não acho que eles
cometam esse tipo de erro de colegial na Academia.
— Academia? — Eu exalo um huff. — Chama-se Tommen College, Joe.
Não Academia.
— Não estou falando da sua escola, Shan — disse Joey. — Estou falando
da Academia, você sabe, O Instituto de Progressão Adicional. A Academia é
apenas um apelido.
— O que diabos é o Instituto de Progressão Adicional? E como você o
conhece?
— Exatamente o que parece; um instituto para mais progressão — ele
retrucou sarcasticamente. — E todo mundo sabe quem é Johnny Kavanagh.
Eu não sei.
Eu estou perplexa.
— Então por que o apelido de Academia?
— Porque a Academia soa melhor que o Instituto. — Joey solta uma
risada suave. — Você realmente não tem ideia de quem ele é, não é?
Quando eu não respondo, Joey ri novamente.
— Isso é impagável — ele medita, claramente entretido. — Você estava
no carro dele esta noite e nem sabia.
— Sabia do que? — Eu rebato, me sentindo perturbada e irritada com a
minha falta de compreensão.
As palavras anteriores de Johnny flutuaram na minha cabeça.
“Eu jogo... Não, quero dizer, eu jogo...”
Droga, eu sabia que estava fazendo papel de boba.
— O que? — eu exigi. — Ele é um jogador de rúgbi famoso ou algo
assim?
Joey bufa alto.
— Eu não posso acreditar que você não sabe.
— Me diga!
— Você deveria ter tirado uma foto — acrescenta pensativo. — Oh,
espere – você fez. Qual é a história de você estar nos jornais com ele? O
velho praticamente bateu na minha cara.
— Eu não tenho ideia, Joe. — Eu balanço minha cabeça e exalo
pesadamente. — Eles ganharam uma taça na sexta-feira passada e eu fui
puxada para uma foto com ele. — Eu dou de ombros impotente. — Eu não
tinha ideia de que isso acabaria nos jornais.
— Acabou nos jornais porque ele é Johnny Kavanagh — declara meu
irmão, pronunciando seu nome como se devesse significar algo para mim. —
Vamos lá, Shan.
Quando chego a nada, Joey solta um suspiro impaciente.
— Ele é um grande negócio no circuito do rúgbi. Jesus, você só tem que
ligar um computador ou abrir os jornais para ler tudo sobre ele — ele
continua a dizer. — Ele foi recrutado para a academia de rúgbi quando tinha
quatorze anos ou uma idade insanamente jovem assim.
— Esse é o lugar do instituto? — Eu me mexo, me inclinando para a
beirada da cama para olhá-lo. — Isso é grande coisa ou algo assim?
— É grande coisa, Shan — Joey confirma. — Você tem que ser escolhido
a dedo pelos melhores olheiros irlandeses de rúgbi para passar por provas.
Dinheiro e atração não têm fator. A seleção é baseada puramente em talento
e potencial. Eles ensinam tudo o que precisam saber sobre uma carreira
profissional no rúgbi e têm os melhores treinadores, fisioterapeutas,
nutricionistas e treinadores do país cuidando deles. Eles executam esses
programas de condicionamento e acampamentos insanos para seus
jogadores, e é o melhor lugar para conhecer potenciais olheiros. É como uma
escola de excelência para futuros jogadores profissionais de rúgbi – exceto
que não é uma escola. É uma instalação esportiva de última geração na
cidade. Na verdade, é mais como uma fazenda de filhotes onde eles
produzem jogadores de rúgbi puro-sangue de alto calibre invés de cães.
— Ai credo. — Eu torço meu nariz para cima. — Analogia nojenta, Joe.
— É assim que é — Joey ri. — Apenas os adolescentes mais promissores
do país têm a chance de trabalhar com a Academia, e mesmo assim, é brutal.
Você tem que ser feito de algo especial para passar pelos testes e ter uma
temporada com eles, não passa pela cabeça ser re-selecionado.
Pessoalmente, eu posso respeitar para cacete qualquer um com esse tipo de
autodisciplina.
— Então, ele é bom?
— Ele é melhor do que bom, Shan — meu irmão corrige. — Vi alguns
dos jogos de Kavanagh com a seleção sub-18 que foram ao ar na televisão
durante a campanha de verão e estou lhe dizendo agora, ele é como uma
arma carregada em campo. Dê a ele uma brecha de oportunidade e ele vai
expor a defesa e acertar a porra do alvo todas as vezes. Merda, o cara tem
apenas dezessete anos e esta é sua segunda temporada com a equipe juvenil
irlandesa de sub-18 – e ele passará para os sub-20 quando fizer dezoito anos.
Depois disso, irá a equipe sênior.
Então, Johnny não estava brincando quando disse que jogava.
— Eu não sabia de nada disso — murmuro, me sentindo uma idiota.
Por que ninguém mencionava isso?
Tudo o que as meninas diziam na escola era que ele era incrível no rúgbi e
era capitão do time da escola.
Nunca ouvi falar dessa coisa da academia.
— Você está corando — Joey afirma, parecendo se divertir.
Era uma avaliação completamente precisa, uma que eu furtivamente nego.
— Eu não estou.
Ele bufa.
— Sim, você fodidamente está.
— Está muito escuro para ver isso, então como você sabe que estou
corando?
Joey ri baixinho.
— Então, você admite?
— Não. — Eu mordo de volta um xingamento. — E eu não estou.
Ele zomba.
— Não me venha com essa.
— O quê?
— Você deixou ele te deixar em casa.
Eu fico boquiaberta.
— Sim. Então?
— Você nem entra no carro com Podge, e ele é meu melhor amigo desde
as fraldas — desafia Joey. — Eu nunca vi ou ouvi sobre você ser amiga de
caras.
— Isso é porque eu não tenho amigos — eu rosno. — Ou pelo menos eu
não tinha.
— Então, você é amiga dele?
— Não, eu não sou amiga dele — eu resmungo. — Eu perdi meu ônibus.
Ele me ouviu falando com você no telefone e se ofereceu para me dar uma
carona para casa. Você sabe disso.
— Sim, bem, um conselho, — ele respondeu alegremente. — não coloque
suas esperanças nele.
— Minhas esperanças?
— Sim — Joey boceja preguiçosamente. — Não vai acabar bem.
— O que você – por que eu teria tantas esperanças? — Eu retruco de
volta, nervosa. — E esperanças de quê?
— Qualquer que seja a merda que as adolescentes colocam suas
esperanças — Joey rebate, bocejando novamente. — Correndo o risco de
soar como um irmão super protetor: ele é muito velho e muito experiente
para você.
— Eu não estou colocando minhas esperanças em ninguém — eu nego
acaloradamente antes de acrescentar rapidamente — Por que você está me
contando tudo isso?
— Eu não sou burro, Shan — Joey responde. — Eu estou bem ciente da
maneira como as jovens ficam todos presas e loucas com caras na posição
dele. — Ele se mexe em sua cama improvisada, esticando-se. — Tudo o que
estou dizendo é, não pense nele tirando uma foto com você ou te dando uma
carona para casa hoje à noite. Ele provavelmente faz isso com um monte de
garotas.
— Eu não estava! — Eu agarro. — Eu nem sabia sobre a posição dele até
que você acabou de me dizer. — Eu continuo com: — E eu estou bem ciente
de que ele me oferecendo uma carona foi uma tentativa de compensar a
concussão.
— Você tem certeza?
— É claro.
— Você tem certeza que você sabe que é tudo?
Eu recuo com indignação.
— Sim, Joey.
— Bem, bom — ele suspira. — Porque pelo que li nos jornais, ele sairá
daqui depois do certificado de conclusão, então ficar atrás dele seria uma má
ideia. Os clubes já estão clamando por ele – mesmo no hemisfério sul. É só
uma questão de tempo até que ele seja contratado pelo maior lance.
— E? — Meu tom era defensivo. — Por que eu me importaria? Eu nem
gosto de rúgbi!
— Vai com calma, Shannon — Joey bufa. — Eu só estava tentando lhe
dar um conselho fraternal.
— Bem, não é necessário — eu resmungo, o rosto queimando. — E para
sua informação, ele na verdade não é tão bom — eu decidi jogar lá fora em
um tom de desdém.
Minha briga anterior com Johnny ainda está fresca em minha mente, e eu
tenho uma vontade insana de falar mal dele – mesmo que fosse apenas para
meu irmão.
— Ele é muito mal-humorado e dirige como um maníaco – e seu carro é
uma desgraça, é tão imundo.
— O que ele dirige?
— Um Audi A3. — Eu faço uma careta antes de admitir relutantemente
— É tão fofo.
— Claro que sim. Eles praticamente jogam carros de última geração para
seus jogadores. — Joey solta um suspiro e soa um pouco fangirl quando diz
— Bastardo sortudo.
O silêncio cai ao nosso redor então, enquanto eu silenciosamente
cambaleio pelos meus pensamentos.
Cambaleando, tentei dissolver a informação que Joey havia me dado.
Tento conectá-lo ao Johnny que conheci, mas não consigo.
Ele não parecia um jogador de rúgbi superstar para mim.
Ok, claro, fisicamente ele parecia cada centímetro a descrição de um, mas
ele não era... ele não...
Eu balanço minha cabeça, pensamentos distorcidos com confusão.
Agora que eu sabia exatamente o quanto ele estava interessado no rúgbi,
eu pude entender sua reação irracional esta noite.
Ele não queria que ninguém soubesse sobre seus ferimentos porque estava
com medo.
Ele não tinha admitido, mas agora que eu sabia o que estava em jogo para
ele, fazia todo o sentido.
Se minha futura carreira na qual investi tanto tempo e energia estivesse no
ar por causa de uma lesão, eu faria o que fosse preciso para voltar aos
trilhos.
Mas mentir sobre sua recuperação?
Isso me parece uma jogada arriscada.
Um movimento perigoso.
Ele mesmo disse isso; ele não estava curando direito.
Então, por que arriscar seu corpo assim?
— O que acontece com um menino quando ele rasga o músculo adutor?
A pergunta sai da minha boca antes que eu tivesse a chance de pensar.
— O que – como na virilha?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — O que acontece?
— Depende da gravidade da lesão — Joey responde sem hesitar. — Mas
ele ficaria dolorido para caralho por um tempo. Se fosse ruim, ele
provavelmente precisaria de fisioterapia e reabilitação.
— E se for muito ruim? — Eu mordisco minha unha e pergunto: — E se
fosse ruim o suficiente para ele ter que fazer uma cirurgia lá embaixo?
— Shannon, pare! — Joey estremece visivelmente e segura seu saco —
Eu não quero pensar sobre isso.
— Seria muito ruim? — Continuo pressionando. — Para um menino, isso
é? Doeria?
— Coloque desta forma — Joey fala, ainda estremecendo. — Prefiro
quebrar as duas pernas do que sofrer esse tipo de trauma no meu pacote.
— Doeria andar e outras coisas? — Eu pergunto. — Que tal praticar
esportes?
— Shannon, doeria mijar — Joey brinca. — Não importa correr em um
campo.
Ai Jesus.
Não admira que Johnny estivesse dolorido.
— Por que? — ele pergunta então.
— Oh, eu estava pensando porque Lizzie disse que seu namorado, Pierce,
fez uma cirurgia para reparar o músculo adutor em dezembro. — Dando de
ombros, continuo a mentir entre os dentes. Eu não sabia o sobrenome do
namorado de Lizzie, muito menos a condição de seus músculos adutores. —
Lizzie disse que ele voltou a jogar rú– uh, futebol de novo, mas que ele
ainda está com muita dor. Ela me perguntou se eu sabia alguma coisa sobre
isso desde que você joga hurling. Eu disse a ela que perguntaria a você.
— Bem, você pode dizer a ela que eu disse que o pobre coitado merece
um suprimento ilimitado de morfina — Joey murmura. — E uma cama. E
um suprimento infinito de bolsas de gelo para suas bolas.
— Suas bolas? — Engulo profundamente, olhos arregalados. — Por que
ele precisaria de uma bolsa de gelo para isso?
— Porque quando os cirurgiões abrem você para esse tipo de
procedimento, eles fazem uma incisão logo abaixo do seu – ugh! Eu não
consigo. — Balançando a cabeça, Joey retruca: — Eu não posso nem pensar
nisso sem me solidarizar com o pobre coitado.
— Mas e se...
— Não!
— Mas eu só...
— Boa noite Shannon! — Virando de costas para mim, Joey resmunga: —
Obrigado pelos meus futuros pesadelos.
Caindo de costas, eu embalo o topo da minha cabeça com minhas mãos e
solto uma respiração lenta e firme, esperando acalmar meus pensamentos
trêmulos e fazer minha mente ficar em branco.
Quando o som dos roncos do sono profundo de Joey enche meus ouvidos,
várias horas depois, eu ainda estava bem acordada.
Eu estava cansada.
Eu estava perseguindo o sono, insistindo para que ele viesse, mas por mais
que tentasse, não consigo fazer meu cérebro desligar.
Olhando para o teto, mentalmente folheio meu próprio catálogo pessoal de
mágoa.
Era uma forma doentia de automutilação, porque pensar sobre isso não me
faz bem nenhum, mas ainda assim, revivo cada discussão, comentário cruel e
memória dolorosa que eu suportei; variando de provocações no pátio da
escola aos quatro anos de idade aos comentários feitos por meu pai esta
noite.
Era a forma suprema de masoquismo e um ritual que sempre realizava
depois de um dia ruim.
Fechar os olhos também não ajudava em nada.
Toda vez que eu permito que meus olhos se fechem, as imagens mentais
de Johnny Kavanagh dançam em minhas pálpebras.
Eu não tinha certeza se preferia quando ele era apenas o estranho que me
nocauteou e sorria nos corredores, ou o idiota mal-humorado e reativo que
explodiu fervendo e congelando esta noite.
Eu definitivamente sabia que me arrependia de saber o que eu tinha
descoberto sobre ele.
Descobrir que Johnny era uma estrela de rúgbi em ascensão com uma
futura carreira esportiva brilhante era deprimente por várias razões, mas uma
em particular fica na minha cabeça.
Eu tinha um irmão superstar, um menino bonito que não podia fazer nada
errado aos olhos de ninguém que o elogiava por seu desempenho em campo
e era recompensado com rédea solta.
Joey, por melhor que fosse para mim, também era um mulherengo que
tinha deixado um rastro de corações partidos de Ballylaggin a Cork City.
Ele estava vendo sua namorada, Aoife, exclusivamente por cerca de oito
meses, e ele parecia completamente dedicado a ela, mas o júri ainda estava
em dúvida se ele estava totalmente além de seus velhos hábitos ou não.
A experiência me dizia que meninos eram cachorros.
E pais.
Os pais eram bastardos e os homens não eram confiáveis.
Nem todos os homens, admito a contragosto, mas a maioria era.
Principalmente os atletas.
Sendo irmã de um, tive uma visão da mente desses atletas adolescentes e
sabia que era mais seguro estar relacionada a eles como amigos platônicos,
ou apenas evitá-los como uma praga.
Eles tinham grandes egos, atitudes maiores que a vida e impulsos sexuais
altamente carregados. Leal a suas famílias, sua equipe, e não muito mais.
Confie nos meus hormônios adolescentes teimosos para explodir ao ver
um.
Reconhecendo que era a opção mais segura, eu decido que iria seguir em
frente com os eventos desta noite ao bloquear tudo o que tinha aprendido
sobre Johnny Kavanagh e ao evitar ele.
Eu era jovem, mas não estúpida, e sabia que abrigar qualquer tipo de
sentimento, paixão inofensiva ou não, por um garoto como Johnny
Kavanagh não me faria nenhum favor a longo prazo.
Porque com toda a honestidade, desde o dia em que ele me nocauteou, eu
estava abrigando muitas emoções conflitantes em relação a ele.
Mas a maneira horrível com que Johnny lidou com seu desconforto esta
noite, junto com a conversa de Joey, foi a dose fria e dura de realidade que
eu precisava para voltar ao eixo.
Eu precisava esquecê-lo.
E eu esqueceria.
Eu espero.
20
SHANNON
ENCERRAMENTO
SHANNON
TEMPO EMPRESTADO
JOHNNY
JOHNNY
Eu a vi novamente hoje.
Nós nos cruzamos nada menos que cinco vezes no corredor, e toda vez ela
abaixou a cabeça e passou por mim sem sequer olhar para trás.
Isso não era uma coisa nova, é claro.
Shannon está me ignorando como se eu fosse invisível há mais de uma
semana.
Nove dias para ser exato.
Ser ignorado não me cai bem.
Era um território desconhecido para mim e eu estava aprendendo
rapidamente que não gosto nem um pouco.
Especialmente quando a pessoa que me ignora era a mesma que estava
atormentando todos os meus pensamentos enquanto estou acordado – meus
sonhos também.
Isso mesmo; eu realmente estava sonhando com a garota agora.
Quão bagunçado isso era?
Ontem à noite, por exemplo, sonhei que Shannon estava me assistindo
jogar.
Só que em vez de estarmos no campo da escola, estávamos no Estádio
Aviva em Dublin.
E em vez de usar o preto e branco de Tommen, eu estava usando verde e
branco.
Shannon estava com uma camisa irlandesa combinando, com meu nome e
número nas costas, e ela estava torcendo por mim nas arquibancadas.
Me jogaram a bola, mas quando a peguei, Shannon começou a chorar.
De verdade, seu rosto estava contorcido de dor e ela estava apontando
para mim.
Foi aí que ficou realmente perturbador, porque quando olhei para baixo,
minhas pernas haviam sumido.
Em seu lugar havia dois tocos.
Então comecei a encolher, encolhendo como o cara assustador dos livros
de Harry Potter.
O rosto perturbado de Shannon foi a última coisa que vi antes de acordar.
Foi fodidamente horrível.
Acordei suando e passei uns sólidos cinco minutos dando tapinhas nas
minhas pernas para garantir à minha mente em pânico que elas ainda
estavam lá.
Eu não conseguia afastar a sensação de que era um sinal de alerta.
Do que, eu não tinha ideia, mas eu tinha essa sensação horrível de pavor
na boca do estômago que não ia embora.
Esse sentimento permaneceu comigo o dia todo.
Eu não conseguia me livrar disso.
Eu não conseguia afastar ela.
Nada disso fazia sentido para mim, e eu não tinha a menor ideia de por
que ela era a pessoa para quem eu queria ir.
Não Gibs.
Não minha mãe.
Não meus treinadores.
Eu estava enlouquecendo por dentro, me preocupando até a morte durante
a campanha de verão, e era uma garota que eu mal conhecia, com olhos
profundos de alma, que eu queria confiar.
Porque algo me dizia que eu podia.
Porque em algum lugar dentro de mim, eu sinto que ela me conhece.
Como se ela pudesse me salvar?
Jesus, eu estava perdendo a cabeça...
Depois de uma desastrosa última aula na sexta-feira – onde eu não retive
nem um pingo do que o professor estava tagarelando – eu estava saindo do
prédio principal em direção ao salão de educação física para conversar com
o treinador, quando ouço uma voz familiar chamar meu nome.
Por uma fração de segundo, debato sobre fingir que não a tinha ouvido e
sair pela porta, mas então ela agarra minha mão e me puxa para trás, e as
boas maneiras venceram.
Inalando uma respiração estabilizadora, mentalmente me lembro de ser
legal, antes de me virar para encará-la.
— Bella — eu reconheço com um aceno curto.
Ela parecia tão bem quanto sempre, com seu cabelo preto penteado em um
corte bob e um rosto cheio de maquiagem.
Ela era alta e curvilínea e preenchia seu uniforme escolar em todos os
lugares certos.
Felizmente, eu estava completamente inalterado.
— Ei, Johnny — Bella responde com um sorriso enorme. Ela era alta,
1,80m, mas ela ainda tinha que erguer a cabeça para olhar para mim. —
Como você está?
As palavras “como se você desse a mínima”, estão na ponta da minha
língua, mas eu acalmo minha impaciência e vou com um, “E aí?” ao invés
disso.
— Ah, você sabe, o de sempre — ela responde, colocando o cabelo escuro
atrás das orelhas.
Na verdade, eu não sabia.
Eu não sabia nada sobre ela e ela sabia ainda menos sobre mim.
Nós não conversávamos.
Nós fodíamos.
E essa era uma decisão dela mais do que minha.
— Eu estava saindo do escritório e vi você andando lá fora — Bella
continua a dizer, arrastando o polegar sobre meu pulso. — Então eu pensei
em vir dizer oi.
Libertando minha mão da dela, eu enfio minhas mãos nos bolsos e
balanço para trás em meus calcanhares.
— Oi.
— Sinto que não nos falamos há tanto tempo — acrescenta.
Eu olho para ela.
— Nós conversamos algumas semanas atrás.
Quando você estava tentando se forçar para cima de mim.
E não vamos esquecer a porra de milhões de mensagens e caixas postais
que você me deixou.
— Nós conversamos?
Eu estreito meus olhos.
— Sim, Bella, nós conversamos.
— Oh Deus — ela ri, agindo toda tímida. — Eu estava completamente
bêbada naquela noite — acrescenta. — Eu mal me lembro das coisas. — Ela
dá um passo mais perto. — Eu definitivamente não me lembro de ter visto
você naquela noite.
Eu dou um passo para trás.
— Bem, você viu.
Eu não estava comprando essa mentira conveniente de falta de memória.
Ela usou essa carta muitas vezes comigo.
— De qualquer forma, não foi isso que eu quis dizer. — Ela colocou o
cabelo atrás da orelha e sorriu para mim. — Eu estava falando sobre a última
vez que nos encontramos. Deve ter sido antes do Natal, certo?
Mais como Halloween, penso comigo mesmo, mas estava ansioso para
fugir, então não me opus aos encontros dela. Em vez disso, eu balanço a
cabeça e digo:
— Sim, isso parece certo — Enquanto desejo saber a etiqueta apropriada
para usar ao lidar com garotas vingativas que eu tinha sido tolo o suficiente
para enfiar meu pau dentro.
— Então — ela diz em um tom ofegante. — Como você tem estado?
— Você já me perguntou isso — eu respondo calmamente, tentando
mascarar minha impaciência com a conversa inútil. — Eu estou bem.
— Ah sim, bem, eu também estou bem — Bella responde, exalando um
suspiro alto. — Quero dizer, eu acho que estou um pouco entediada.
Sim, bem, eu também estava entediado.
Com essa conversa.
— Você sabe como é — ela diz pela segunda vez, e pela segunda vez eu
olho fixamente para ela.
Não.
Eu não tinha ideia do que diabos ela estava falando.
— Oh meu Deus! — ela desabafa então, segurando minha mão mais uma
vez. — Eu esqueci totalmente de perguntar: como está sua perna?
Bella não sabia os detalhes da minha cirurgia, só que eu tinha feito um
procedimento no Natal.
Quando eu disse a ela que ficaria fora de ação por um tempo, sua maior
preocupação era quando eu voltaria ao campo, se ainda jogaria ou não pela
Irlanda no verão, e quando eu queria foder de novo.
Além de tudo isso, eu não confiava nela dessa forma.
Fazer sexo com ela era uma coisa, mas confiar nela era outra bem
diferente.
— Melhor — eu respondi em um tom monótono antes de recuperar minha
mão.
— Isso é uma notícia fantástica, querido — ela responde, sorrindo
amplamente — Eu fiquei realmente preocupada com você.
Não, ela não estava mentindo bem.
Se em algum momento Bella estivesse realmente preocupada comigo, ela
teria me perguntado algo diferente de “você está pronto para nos
encontrarmos” ou “se apresse, estou com tesão” no zilhão de mensagens
que ela me enviou.
Ela não teria me fodido como fez com um dos meus companheiros de
equipe.
— Eu aposto — eu falo lentamente, ouvindo o sarcasmo na minha própria
voz.
Agora, eu entendo que em nenhum momento durante o tempo em que
Bella e eu estávamos ficando que fomos algo remotamente sério, mas eu
ainda me sentia traído pela coisa do Cormac.
Aos meus olhos, era sujo pra caralho em ambas as partes, e eu nunca
sairia com uma de suas amigas.
Eu tinha respeito suficiente por ela para mostrar-lhe essa decência.
Obviamente, Bella não tinha o mesmo nível de respeito por mim.
Olho por cima do ombro para a porta e depois para o meu relógio antes de
perguntar:
— Você precisa de mais alguma coisa? Eu tenho que falar com o treinador
sobre um jogo.
— Ah sim — ela suspira. — Você tem a partida do playoff chegando, não
é?
Eu balanço a cabeça rigidamente.
Infelizmente, como tínhamos perdido algumas partidas no início da
temporada e o Royce College de Dublin havia vencido o jogo na semana
passada, isso os igualou em pontos e nos colocou em segundo lugar na liga,
atrás de Levitt.
Foi uma reviravolta inesperada e um pé no saco porque Royce deveria ter
perdido seu último jogo, o que teria facilitado a vida para nós, considerando
que a final já havia sido organizada entre Levitt e Tommen.
A vitória deles havia causado problema nos trabalhos de Tommen porque
Royce era um bando desajeitado e se recusavam a permitir que o playoff
fosse realizado em Cork. Nós tínhamos viajado nos últimos três jogos do
campeonato, então era nossa vez de jogar em casa, mas eles não estavam
gostando.
Eles já haviam desistido de duas outras datas propostas para o playoff –
uma em Cork e outra em Dublin.
Era um golpe insano o que eles estavam fazendo na esperança de nos
enganar e colidir com os horários das partidas.
Eles estavam contestando tudo, desde a hora da partida inicial, até o dia da
semana em que a partida deveria ser realizada, e até a cor das camisas de
visitantes.
Mudar de dia, adiantar as partidas e mudar de local estava tudo dentro dos
direitos de Royce, mas era uma coisa ruim de se fazer e poucas escolas se
comportavam dessa maneira.
O treinador da Royce estava sendo difícil, discutindo sobre onde a partida
deveria ser realizada, e reclamando sobre a injustiça do time de Tommen ter
um jogador internacional no elenco.
O idiota está perdendo tempo porque eu jogo limpo.
Tommen era a minha escola e o treinador tinha o direito de me chamar
para jogar.
Eu teria sido o jogador internacional da Royce se meus pais tivessem
ficado em Dublin, e esse era o verdadeiro problema aqui.
Era por isso que o treinador quis falar comigo imediatamente.
Ele queria passar pela minha próxima agenda porque ele precisava
concordar com uma data.
Estávamos entrando em recesso da escola na próxima sexta-feira para o
feriado da Páscoa, então isso precisava acontecer mais cedo ou mais tarde.
Eu tinha a campanha de verão para focar e olheiros para impressionar,
então abril e maio não funcionariam para mim.
O treinador da Royce também sabe disso, e era por isso que estávamos
neste impasse.
Eu poderia achar o time da escola chato e nada desafiador, mas eu odeio
maus perdedores.
Era com isso em mente que eu tinha planos de enterrar a Royce College o
mais rápido possível.
— Quando vocês vão jogar com eles? — Bella pergunta.
— O mais breve possível.
— Você vai jogar contra seus antigos companheiros e amigos, não é? —
ela pergunta. — Você deveria ter ido para Royce, não é?
— Eu estou aqui agora, não estou? — Eu falo lentamente.
— Você está preocupado em jogar contra seus velhos amigos?
Sim.
— Não.
— Então você está pronto para isso?
Eu olho fixamente para ela.
— Eu estou sempre pronto.
— Eu sei que você está — ela ronrona, em tom de flerte.
Ugh.
Balançando a cabeça, me viro para sair, mas ela fala novamente.
— Eu também queria falar com você sobre outra coisa — acrescenta ela,
dando um passo mais perto.
— Oh? — Eu dou um passo para trás. — O que seria?
— Nós, Johnny — ela ronrona, piscando seus grandes olhos azuis para
mim.
— Não existe um nós, Bella — eu respondo, franzindo a testa. — Nunca
houve.
— Então o que diabos estávamos fazendo no ano passado, Johnny? — ela
cospe, a máscara de colegial inocente escorregando.
Isso foi legal.
Eu sabia o que estava por baixo de qualquer maneira.
Ela não precisava fazer uma performance na minha frente.
Eu estava bem ciente de seu verdadeiro caráter.
— Eu não sei, Bella. — Eu respondo em um tom monótono. — Mas o que
quer que tenha sido, está no passado.
— Você está de sacanagem comigo? — ela exige, plantando as mãos nos
quadris. — Estou tentando resolver as coisas aqui.
Ela está de sacanagem comigo?
— Você terminou com isso — eu brinco. — Você está fodendo meu
companheiro de equipe, Bella. Você mesma me disse. — Com grandes
detalhes em uma mensagem de texto. — Você ficou com ele em Biddies.
Bem na minha frente. Você se senta com ele no almoço. Até onde eu sei, não
há nada para resolver entre nós.
— Não é sério.
— Eu não me importo.
— Eu pensei que estávamos dando um tempo.
— Nós estamos — eu confirmo. — Um permanente.
— Eu não tenho que estar com ele — ela oferece, batendo seus longos
cílios para mim. — Nós podemos nos resolver?
— Não, obrigado — eu respondo em um tom monótono.
— Vamos, Johnny — ela resmunga. — Nós tivemos um bom tempo
juntos.
— Sim, nós tivemos — eu concordo. — Metade do qual você gastou me
enganando pela minhas costas com a porra do meu ala!
Sua boca se abre.
— Do que você está falando?
— Cormac.
— Estou com ele agora — ela bufa. — Não antes.
— Não se preocupe em mentir — eu digo a ela. — Eu já sei que você
estava montando nele enquanto você estava comigo.
— Isso é mentira — ela rebateu. — Quem te disse isso?
— Todo mundo sabe, Bella — eu respondo, então solto um suspiro
cansado. — Eu já sei há um tempo.
Eu apenas optei por bloquear...
— E você não foi discreta — eu decido botar para fora porque,
francamente, eu quero.
— Bem, eu não era sua namorada, Johnny. Nós não éramos exclusivos —
ela defende suas ações dizendo. — E você sumiu completamente do mapa.
Você nunca queria sair ou se encontrar.
— Porque eu estava me recuperando de uma cirurgia! — Eu respondo.
— Por meses? — ela exige, em tom acusador. — Sim, certo, Johnny.
— Eu estava — eu lato.
Eu ainda estou.
— E antes disso? — ela exige. — E as outras seis longas semanas antes
de sua cirurgia, quando você se recusava a se encontrar comigo? Quando
você me ignorava. Qual é a sua desculpa para isso?
— Eu não estava ignorando você.
— Sim, você estava!
— Não, porra, eu não estava. Eu simplesmente não conseguia... —
fechando minha boca, eu balanço minha cabeça e me forço a segurar minha
língua.
Não brigue com garotas, eu me lembro.
Você nunca vai ganhar.
Elas vão distorcer suas palavras.
— Você não estava me dando o que eu queria — ela continua a me
atormentar, dizendo. — Você não estava me dando atenção suficiente! Todas
aquelas cerimônias de premiação e bailes em Dublin no ano passado e você
nunca me convidou para ir — ela sussurra. — Você nunca me quis lá.
— Porque você nunca foi minha namorada. — Eu retruco, jogando suas
palavras anteriores de volta para ela.
— Porque você nunca me pediu para ser sua namorada, Johnny — ela
cospe.
— Não, Bella, porque você nunca me quis — eu atiro de volta. — Você só
queria a parte brilhante da minha vida. A fama. Você nunca se interessou
pela parte real. O verdadeiro eu.
— Isso não é verdade! — ela argumenta.
— Por que você não fala a verdade, Bella? — Eu assobio, perdendo o
controle do meu temperamento. — Você fodeu com Ryan porque achou que
eu não ia estar em forma. Você viu que eu estava lesionado, você pensou que
eu não conseguiria voltar a tempo para a campanha de verão, então você foi
atrás da próxima melhor coisa apenas para estar segura.
Ela corou.
Eu sabia!
— Me peça agora — ela pede, fechando o espaço entre nós. — Me peça
para fazer todas essas coisas e eu farei.
— Eu não quero te pedir — eu digo, soltando seus braços do meu
pescoço.
— Johnny, vamos lá — ela suspira. — Não seja assim.
— Volte para Cormac — eu debocho, completamente desgostoso. — E
reze para que ele suba na hierarquia da Academia para que ele possa levá-la
a todas as festas de premiação que você quer participar. Você só tem chance
de chegar lá agora através dele, Bella, porque terminamos.
— Eu estava machucada, Johnny — ela se engasga. — Eu fiquei com
Cormac porque eu queria te machucar de volta.
— Me machucar de volta? — Eu recuei. — Pelo o que exatamente? Ficar
ferido? Ser apunhalado nas costas por semanas enquanto você montava meu
amigo pelas minhas costas? Ter arruinado suas chances de jantares chiques?
— Eu balanço minha cabeça e zombo dela, lamentando tocá-la com cada
fibra do meu ser. — Jesus, eu sou um bastardo terrível e imprudente.
— Por me ignorar — ela sussurra, as bochechas ficando rosadas. — Por
me usar.
— Eu usei você? — Eu recuo. — Sim, porque era isso que estava
acontecendo.
— Foi assim que você me fez sentir, Johnny!
— Então me desculpe! — Eu retruco, me esforçando para ter paciência no
olhar nessa porra de tempestade de merda induzida por garotas.
— Você tem que ter sentimentos para se arrepender, Johnny — ela retruca.
— E você não tem coração!
Não perca a cabeça.
Aguenta o golpe.
E então afaste-se dela.
Inalando uma respiração calmante, exalo lentamente antes de dizer:
— Bella, me desculpe se em algum momento eu fiz você se sentir
ignorada ou usada. Essa não era minha intenção. Eu sinceramente peço
desculpas pela minha falta de coração e sentimentos e desejo a você nada
além do melhor para todos os seus futuros empreendimentos com meu
companheiro de equipe. Agora, se você não se importa, estou cansado de
andar em círculos com você e tenho coisas reais para fazer.
Eu me movo para a porta, mas ela agarra minha mão novamente, me
puxando para trás.
— Espere – você está com outra pessoa? — ela exige, apertando minha
mão. — É esse o seu problema? — Seus olhos se arregalam. — Oh meu
Deus — ela exclama. — Você está, não é?
Jesus.
O que diabos eu estava pensando ao ficar com essa garota?
— Não, Bella, eu não estou com mais ninguém. — Puxando minha mão
livre, eu balanço minha cabeça e solto um suspiro frustrado. — Mas também
não estou com você. E nunca mais estarei com você novamente.
— Eu ouvi rumores, Johnny! — Bella pressiona, ignorando minhas
palavras. — Sobre você e a novata do terceiro ano. Ouvi dizer que você
bateu em Ronan McGarry por causa dela. E vi aquela foto sua com ela no
jornal.
— Isso não é da sua conta — eu digo com os dentes cerrados enquanto
luto para controlar meu temperamento.
— Vamos, Johnny — ela desafia. — Você nunca tirou uma foto comigo
para a mídia e eu sou a relação mais longa com quem você já teve. Qual é a
história com ela?
— Não é da sua conta — eu cuspo, sem paciência. — Cristo.
— Por que você estava brigando com McGarry por causa dela? — ela
exige. — Por que Cormac me disse que você avisou toda a equipe sobre ela?
— Eu não vou fazer isso com você. — Eu aviso, balançando a cabeça. —
Não mais.
— Pare de se esquivar da pergunta, Johnny — ela sussurra. — Se você
está com outra garota, então eu tenho o direito de saber.
— Eu já te dei a porra de uma resposta — eu rebato, terminando com essa
merda. — Você é a única que não consegue ouvir.
— Você está mentindo! Eu posso ver em seus olhos! — ela grita, alto o
suficiente para acordar os mortos. — Está escrito em todo o seu rosto,
Johnny. Alguma coisa está acontecendo com aquela garota.
— Você precisa se controlar — eu digo, o tom misturado com desgosto.
— Isso é patético.
— Tudo bem — Bella zomba, parecendo totalmente enfurecida. — Se
você não vai me dizer, eu vou perguntar a ela. — Sorrindo sombriamente,
ela acrescenta: — Shannon – esse é o nome dela, certo?
Bem, foda-se.
— Você vai ficar bem longe dela — eu sussurro, ciente de que estávamos
dentro do alcance do escritório.
Enquanto Dee não causaria nenhum problema para mim, eu não
imaginava minhas chances se o Sr. Twomey saísse e visse que eu estava
tendo problemas com outra garota.
— Qualquer merda que esteja acontecendo entre nós não tem nada a ver
com Shannon.
— Qual é o problema? — ela zomba, pressionando cada um dos meus
botões. — Com medo de que eu descubra algo que você não quer que eu
descubra?
— Eu estou falando sério, Bella. — Eu rosno, sentindo uma onda de raiva
crescer dentro de mim. — Eu não estou brincando aqui. Mantenha distância
dela.
— Bem — ela medita, os olhos estreitados. — Olha quem está
demonstrando emoção agora.
Ela estava absolutamente certa.
Eu estava demonstrando emoção.
Porque eu me importo.
Eu me importo muito mais com uma garota que eu mal conhecia do que
com Bella.
Era distorcido, confuso e completamente fodido, mas eu me importo.
Em vez de admitir esse novo desenvolvimento aterrorizante, eu digo:
— Deixe. Ela. Em. Paz.
E então faço o que deveria ter feito na primeira vez que pus os olhos nela.
Eu me afasto de Bella Wilkinson.
— Eu vou fazer você se arrepender por se afastar de mim — ela grita atrás
de mim.
— Acredite em mim, eu já estou arrependido — eu grito de volta. —
Arrependido de ter me aproximado em primeiro lugar.
Furioso, eu me afasto da garota que parecia estar empenhada em tornar
minha vida um inferno.
Carregado de arrependimentos amargos e raiva ardente, viro a esquina do
prédio principal sentindo como se estivesse a dois segundos de quebrar
alguma coisa.
Infelizmente para mim, esse algo acaba por ser uma garota.
Não qualquer garota.
Shannon.
24
EU ESTOU LEVANDO VOCÊ PARA CASA
SHANNON
PROBLEMA
JOHNNY
O GAROTO É UM HERÓI
SHANNON
MANTENHA A CABEÇA
JOHNNY
PAIS SUBSTITUTOS
SHANNON
Eu passo o sábado inteiro cuidando do meu irmão mais novo, Sean, o que
era normal sempre que a vovó decidia fazer uma viagem a Beara para visitar
tia Alice e sua família, e mamãe estava trabalhando.
A diferença neste fim de semana foi que nosso pai se foi e nossa mãe
estava sumida.
Eu sabia que uma tempestade estava se formando.
Meu instinto sempre estava certo.
Depois que Johnny me deixou em casa ontem à noite, houve uma briga
em chamas que resultou em meu pai me dando uma surra, principalmente
por causa daquele recorte de jornal estúpido que ele ainda não deixou para
lá. Mamãe o arrastou de cima de mim, ganhando um tapa na cara por causa
do problema. Ela ordenou que ele fosse embora e nunca mais voltasse.
Papai começou a encher o carro da família com tudo o que tinha, chamou
a mim e mamãe de vadias e saiu correndo bêbado.
A mãe saiu apressada de casa uma hora depois com uma mala de viagem,
entrou num táxi e não foi vista desde então.
Não era incomum para nossa mãe sumir depois de uma discussão.
No entanto, era raro que ela não voltasse.
Eu sabia que ela voltaria.
Era apenas uma questão de quando.
Eu também sabia que meu pai estaria de volta.
Não me deu nenhum conforto vê-lo partir ontem à noite.
Essa não foi a primeira vez que lhe mandaram embora.
E não era a primeira vez que ele me espancava.
Mais cedo ou mais tarde, ele voltaria, prometendo o céu e entregando o
inferno.
Nada mudava.
Isso nunca acontecia.
Tadhg, Ollie e Sean podem acreditar que ele se foi para sempre, mas Joey
e eu sabíamos mais.
Sem a presença de nossos pais, cabia a Joey e a mim cuidar de nossos
irmãos mais novos.
Quando não havia sinal de nenhum de nossos pais esta manhã, Joey
sacrificou sua própria sessão de treinamento com o time de Cork para que
ele pudesse levar Tadhg e Ollie para um jogo de futebol em que ambos
estavam jogando.
Fico com Sean, que passou a maior parte do dia chorando por mamãe.
Foi um desastre.
Incontáveis telefonemas para nossa mãe ficaram sem resposta, então
desisti de tentar falar com ela.
Começando a trabalhar na lista interminável de serviços que me eram
atribuídos semanalmente, limpei a casa de cima a baixo, lavando os rodapés
e trocando todos os lençóis conforme o tempo passava.
Às oito horas da noite de sábado, eu tinha passado por quatro cargas de
roupa lavada, cozinhado o almoço e o jantar para os meus irmãos, dado
banho e vestido Sean para dormir, e tinha limpado a casa a cada centímetro
da minha vida.
Não durou, é claro.
Assim que os garotos entraram pela porta da frente, o caos e a bagunça
recomeçaram.
Equilibrando uma tigela sucrilhos Coco Pops em uma mão e uma garrafa
de leite na outra, uso meu quadril para empurrar a porta da sala de estar e
entro.
— Aqui está, Sean.
Colocando a tigela e o copo de canudo na mesa de café na frente do meu
irmãozinho, eu bagunço seus cachos loiros encaracolados, então me levanto
e estico minhas costas.
— Coma tudo antes de dormir — acrescento, gemendo de alívio quando
sinto os músculos das minhas costas estalarem de volta no lugar.
Eu estava com tanta dor que era difícil andar em linha reta.
— Eu quero a mamãe — Sean responde, fazendo beicinho em seu cereal.
— A mamãe foi embora.
— Mamãe está no trabalho, Sean — repito a mesma frase que disse a ele
cinquenta vezes hoje. Esforçando-me para ter paciência, acrescento: — Ela
estará em casa em breve.
E então corri para fora do cômodo antes que ele tivesse a chance de
perguntar quando.
Eu não tinha uma resposta para ele e eu odiava mentir para ele.
A verdade era que eu não sabia quando mamãe voltaria.
Com os ombros caídos, volto para a cozinha e vou até a chaleira.
Eu preciso de chá.
Muito chá.
29
TROCANDO JAQUETAS
JOHNNY
SHANNON
JOHNNY
No minuto em que piso dentro de Biddies, sei que cometi um erro terrível.
Risca isso: no minuto em que deixei Gibsie abrir aquela garrafa de uísque
do meu pai, eu sabia que tinha cometido um erro terrível.
Depois do banho, tentei convencê-lo a tomar uns drinques em casa
comigo em vez de sair, mas o uísque me fez ceder.
Isso me transforma em um maldito idiota agradável.
E foi exatamente assim que Gibsie conseguiu me convencer a sair do meu
mau-humor, para o que ele chamava de minha “jaqueta da mudança” e para
o banco do passageiro de seu carro.
Eu deveria saber melhor quando ele não estava bebendo comigo.
Idiota.
Me alimentar com o uísque gota a gota era a razão pela qual eu estava
parado na porta do Biddies Bar, três drinques além de embriagado, e
desejando estar em qualquer lugar menos neste maldito pub.
Não só estavam metade das meninas do sexto ano lá dentro.
Mas Bella também.
No minuto em que Bella nos nota, ela pega um Cormac que parecia
nervoso e gruda seu rosto ao dele.
Qualquer que fosse a aparência de entusiasmo que eu tinha despertado
para esta noite sendo um pouco de diversão, voou pela janela ao vê-la.
Não tanto porque ela estava ficando com Cormac na minha frente, embora
isso não ajudasse, mas porque eu ainda estava com raiva pela forma como
ela se comportou na escola ontem.
Tudo o que eu queria que ela fizesse era ir embora.
Apenas vá embora e me deixe em paz.
Com toda a franqueza, não acho que fosse pedir demais.
— Ignore-os — Gibsie murmura no meu ouvido.
— Meio difícil considerando todas as coisas — eu rebato, gesticulando
para onde minha ex/o que quer que tenha sido engole o rosto do meu ala a
menos de três metros de mim.
Instantaneamente sinto meu cérebro ganhar vida e iniciar o processo de
ficar sóbrio porque eu sei exatamente o quão perigosa essa garota era, e
caramba, eu precisava estar em pleno juízo para me defender.
— Compreensível — Gibs diz concordando. — Pelo menos você sabe que
o show é para seu benefício.
— Eu não quero que seja para meu benefício. Eu quero que ela se foda —
eu rosno, reprimindo um estremecimento com a visão. — Por favor, me diga
que eu nunca fiquei assim com ela.
— Bem, eu não sei como você se portava atrás das portas fechadas do
carro — Gibs responde. — Mas você nunca se desaponta assim em público.
— Graças a Deus — eu murmuro.
— Vamos, Johnny. — Apertando a mão no meu ombro, Gibsie me guia
para a mesa em que costumávamos sentar. — Sente-se. Vou pegar uma
rodada de cervejas.
— Vodka, Gibs — eu corrijo, sabendo que ia precisar de algo muito mais
forte do que a cerveja que estava na torneira para passar esta noite. — Uma
vodca dupla e red bull – e um monte de shots.
Foda-se ficar sóbrio.
Eu estava indo com tudo.
Gibsie poderia cuidar de mim pelo menos uma vez.
— Estou dentro, amigo — Gibsie ri antes de desaparecer na multidão.
Ignorando a mesa de garotas da escola que se posicionam
convenientemente na mesa ao lado da nossa, uma mesa que incluía Bella e
Cormac, eu desabo ao lado de Hughie e sua namorada, Katie Wilmot.
— Hughie — eu murmuro como forma de reconhecimento.
Olho para a garrafa de 7up com um canudo saindo da borda que a
namorada de Hughie estava segurando e meus lábios se contraem.
— Tudo bem, Capi? — Hughie reconhece com um sorriso solto. — Como
foi o treino?
Eu grunho minha resposta, muito dolorido e desconfortável para fazer um
esforço e mentir.
Foi uma merda.
Tudo era uma merda.
Meu mundo está uma merda.
E o espetáculo desta noite era a cereja do bolo.
— Feely saiu hoje à noite?
Hughie balança a cabeça.
— Nah, rapaz. Algo aconteceu.
— Sem surpresas aí — eu respondo conscientemente.
— Você quem diz. — Hughie responde com um suspiro cansado.
Patrick era um peixe quieto e, embora fôssemos amigos por sete anos, eu
não sabia muito sobre ele, além do fato de que ele era evasivo, quieto e tinha
uma tendência a desistir de planos de última hora.
Depois de cumprimentar Hughie, inclino minha cabeça para a linda ruiva
enfiada ao seu lado.
— Katie.
— Oi, Johnny — Katie diz com um sorriso tímido enquanto se aconchega
debaixo do braço de Hughie.
Não é de admirar que você esteja se aconchegando, pensei comigo
mesmo.
Eu me aconchegaria também, se eu fosse uma garota tímida de dezesseis
anos sendo submetida à foda horrível na outra mesa.
Katie era muito jovem para estar em um bar, todos nós éramos, mas
parabéns à meu amigo por ter a decência de não enchê-la de bebida.
Não que eu tenha pensado por um minuto que ele faria isso.
Por alguma razão desconhecida, Hughie é obcecado com a pequena ruiva
debaixo do braço.
Tem sido desde que ela entrou pelas portas de Tommen como uma novata.
Estávamos no segundo ano quando Hughie jogou suas cartas com Katie
Wilmot.
Na época, eu – junto com todos os nossos amigos e companheiros de
equipe – pensava que Hughie era um lunático e expressei meus pensamentos
em voz alta regularmente.
Mas agora que eu tinha idade e experiência ao meu lado, eu tinha que
admitir que a situação dele parecia muito mais atraente do que a minha.
Devoção tinha que ser melhor que ser usado.
— Você parece bem esta noite, Katie — eu digo a ela, porque era a
verdade e ela era insegura.
Eu conhecia esse pedacinho de informação porque o namorado dela
muitas vezes me confidenciou sobre o relacionamento deles.
Eu provavelmente sabia muito mais sobre o relacionamento deles do que
Katie se sentiria confortável, mas eu levarei esses detalhes para o túmulo.
Katie sorri timidamente e se aconchega mais perto de Hughie.
— Obrigada.
Hughie me lança um olhar agradecido.
Ele não precisava me agradecer por merda nenhuma.
A namorada dele era linda.
Gibsie dá a volta na mesa alguns momentos depois, me distraindo com
uma bandeja cheia de copos.
— Um brinde, capi — ele anuncia, batendo a bandeja na minha frente.
— Tim tim — Sem me incomodar em perguntar o que estava em oferta
esta noite, sabendo que beberia gasolina com o humor em que estava, eu
pego dois copos da bandeja e os boto para dentro.
E então, por precaução, bebo mais quatro doses antes de decidir pela
minha vodka e red bull.
Eu precisava disso porque assistir ao show na mesa ao lado da nossa não
era divertido.
De onde eu estava sentado, eu tinha uma visão perfeita de Bella montada
em Cormac.
Ele tinha as mãos sob a saia dela, e as pernas dela estavam enroladas em
sua cintura.
Eles poderiam muito bem estar nus e transando, eles estavam sendo tão
óbvios.
Apoiando-se no banco na minha frente, Gibs felizmente bloqueia minha
visão.
— Eu sou mais bonito de se olhar — ele anuncia com uma piscadela e
então começa a beber como se não fosse nada.
Eu sempre poderia depender desse filho da puta.
Seja granizo, chuva ou neve, Gibsie me protege.
Essa era uma noção reconfortante.
— Ryan é um palhaço — Hughie, lendo meus pensamentos, declara em
voz alta. — Ela está fazendo isso de propósito para te irritar, e ele está
deixando ela usá-lo para fazer isso.
— Você teve sorte em escapar, Johnny — Katie concorda com um sorriso
simpático.
Dou de ombros e pego outra dose.
— Ela pode fazer o que quiser. — Pressionando o copo em meus lábios,
viro a bebida e engulo rapidamente. — Ambos podem.
Eu queria dizer isso.
Eu não a quero de volta.
Eu nunca voltaria lá.
Mas isso não significava que isso fosse fácil de assistir.
Porque não era.
Era um ataque intencional e doía.
Principalmente porque Cormac estava concordando com isso.
— Sim, mas esfregar isso na sua cara é nojento — Katie responde,
franzindo a testa para a dupla. — Se fosse o oposto, e você fizesse isso com
uma das amigas de Bella bem na frente dela, ela perderia a cabeça.
— Verdade — ambos Gibs e Hughie concordaram em uníssono.
Nas próximas horas, ignoro Bella e Cormac, concentrando minha atenção
em meus amigos e na banda ao vivo tocando no canto do bar.
Tento relaxar e me soltar juntando-me à conversa, enquanto engulo bebida
após bebida, mas não estava sendo fácil para mim.
Eu estava muito estressado.
Quando eu não estava ativamente tentando evitar Bella e Cormac, minha
mente vagava de volta para a preocupação mesquinha que eu tento tanto não
insistir.
A minha saúde.
O problema era que o álcool correndo em minhas veias estava tornando
impossível para mim bloquear meus medos.
E se eu não conseguisse me recompor?
E se meu corpo não curasse?
O que diabos eu deveria fazer com a minha vida?
Cada julgamento e intenção que eu já possuí estava firmemente aninhado
na cesta rotulada “carreira no rúgbi”.
Agora, aquela cesta estava tombando e eu não tinha forças para detê-la.
Em outras palavras, eu estava completamente indefeso e completamente
ferrado.
— Ok, pessoal, esta próxima música é do Reckless Kelly — o vocalista
anuncia no microfone, me distraindo dos meus pensamentos bêbados. Ele
dedilha sua guitarra e acrescenta: — Wicked Twisted Road.
Inclinando-me para frente, coloco meus cotovelos na mesa e me esforço
para ouvir a letra sobre o barulho da multidão.
Um verso e eu estava viciado.
Bêbado como eu estava, eu sabia que precisava me lembrar disso.
Eu precisava ouvir de novo.
As palavras estavam jorrando direto através de mim.
Sinto elas duras e profundas, relacionando algo feroz a cada linha de cada
verso.
Sem surpresa – mas ainda completamente confuso – é o rosto de Shannon
que passa pela minha mente enquanto as letras forçam seu caminho em meu
cérebro enevoado.
Shannon com os olhos solitários.
Uma vida inteira se esforçando para ser o melhor.
O medo de não ser bom o suficiente.
E a sensação constante de pavor na boca do meu estômago.
Arrastando meu telefone para fora do bolso do meu jeans, eu digito uma
mensagem rápida, esperando que eu estivesse digitando o nome da música
corretamente antes de sair das minhas mensagens, deixando salvo nos meus
rascunhos.
Com meu telefone em minhas mãos, pondero sobre o que faria se tivesse o
número do telefone de Shannon.
Era bom que eu não o tivesse.
Nunca na minha vida eu tinha sido parcial em ligar bêbado, mas agora eu
tinha um desejo ardente de discar o número que não tenho.
Ela atenderia?
Se ela o fizesse, o que eu diria?
Ela falaria comigo?
Porra, eu queria ouvir a voz dela do outro lado da linha.
Essa garota é diferente, meu estúpido cérebro canta. Essa é para guardar.
Eu queria estar de volta ao meu quarto, com meu telefone pressionado no
meu ouvido, ouvindo-a tropeçar em suas palavras enquanto ela me conta
cada um de seus pensamentos.
Eu queria estar de volta aqui com ela, vendo-a corar e sorrir e espiar para
mim através daqueles cílios longos e grossos.
Eu queria estar sentado naquele cinema escuro com ela, sem prestar
atenção na exibição do filme, enquanto eu roubava olhares secretos para ela
e queimava de calor quando eu encontro seus olhos em mim.
Eu só queria ela.
Você poderia amar essa garota toda a sua vida, o pensamento louco
persiste dentro do meu cérebro uma e outra vez, se você apenas se
permitisse.
Uma cotovelada afiada em minhas costelas faz minha cabeça se erguer.
— Que porra? — Viro meu olhar para Hughie, irritado por me distrair do
meu lugar feliz. — Por que a cotovelada?
— Temos companhia — ele murmura, inclinando a cabeça.
— Oh Deus, aqui vamos nós — Katie murmura baixinho.
Com os olhos turvos, sigo seu movimento, meu olhar pousando em
Cormac Ryan assim que ele contorna nossa mesa, o rosto corado e o batom
manchado em sua boca.
No seu encalço estava uma Bella presunçosa.
— Tudo bem, rapazes? — Cormac reconhece, enfiando as mãos nos
bolsos. — Como estão?
Me inclinando para trás em meu assento, dou a ambos um olhar
impassível.
Hughie dá a Cormac um aceno rígido, mas não faz nenhum movimento
para entrar em uma conversa fiada com ele.
Katie nem sequer olha para ele.
Gibsie está olhando para ele; uma expressão assassina substituindo seu
habitual sorriso torto.
— Johnny. — O olhar cauteloso de Cormac pousa em mim — Posso ter
uma palavra com você, cara?
Levo meu tempo olhando-o de cima a baixo antes de decidir:
— Se é sobre isso que você quer falar comigo — Faço um gesto para
Bella que está atrás dele com um sorriso no rosto — Então não há
necessidade. Suas ações falaram claramente por você esta noite.
— Ouça, Johnny, eu não quero nenhum problema — Cormac responde,
correndo uma mão frustrada por seu cabelo preto. — Tudo o que eu queria
fazer era deixar as coisas claras e garantir que não houvesse ressentimentos
entre nós. — Dando de ombros, ele acrescentou: — Nós temos que jogar
juntos e eu não quero nenhum ressentimento.
— A abertura para falar comigo sobre isso foi meses atrás — eu respondo
em um tom monótono. — E considerando que estávamos jogando juntos
quando você decidiu me foder, acho isso difícil de acreditar.
— Não foi assim, cara — Cormac responde, confuso. — Eu pensei que
vocês dois estavam separados na época.
— Eu honestamente não me importo — eu digo a ele. — No que me diz
respeito, ela é problema seu agora.
— Johnny, vamos...
— Agora tchau — eu interrompo, acenando para ele. — E boa sorte com
isso — Eu atiro um olhar mordaz para Bella. — Porque você vai precisar.
— Isso? — Bella cospe. — De quem diabos você pensa que está falando,
Johnny Kavanagh?
— Estou falando de você — eu retruco com um sorriso de escárnio. — E
eu estou me perguntando qual demônio me possuiu para colocar meu pau
dentro de algo tão fodidamente venenoso.
Um coro de risadinhas irrompe ao redor da mesa ao nosso lado.
Gibsie ri alto.
Assim como Hughie e Katie.
Eu teria me sentido mal pelo comentário, mas o álcool correndo pelas
minhas veias era como uma poção da verdade.
— Sim, bem, você foi uma merda total — Bella grita para mim. — E eu
nunca vou tocar em você novamente.
— Louvado seja Jesus, porra — eu respondo sarcasticamente. — Essa é a
melhor notícia que ouvi durante todo o ano.
— Ei, não fala assim! — Cormac avisa, tomando uma postura protetora na
frente dela. — Bella é minha namorada agora, e eu não vou deixar você falar
com ela desse jeito.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Sua namorada?
— Isso mesmo — Bella sussurra, sorrindo. — Eu sou a namorada dele.
— Ah, Cristo. — Esfrego a mão no rosto e gemo. — Eu quase sinto pena
de você, Ryan, porque você claramente não tem ideia de com quem está
lidando.
— Eu sei exatamente quem você é, Kavanagh — ele rosna. — Eu sei tudo
sobre você.
— Não comigo, idiota — eu rosno. — Com ela!
Cormac olha para mim, o rosto ficando vermelho brilhante.
— O que isso deveria significar?
— Isso significa ficar de olho em seus companheiros de equipe, cara — eu
retruquei. — Porque essa não é feita para ser namorada.
Seus olhos se estreitam.
— Vamos lá fora e diga isso na minha cara.
— Eu estou dizendo isso aqui — eu brinco. — Na sua cara.
— Com uma mesa na sua frente e seus amigos ao seu lado — ele provoca.
— Que grande homem você é. Vamos lá fora e fale merda sobre ela na
minha cara.
— Não — Gibsie responde por mim, pegando outro copo. — Não vai
acontecer. Então, você pode continuar andando, vira-casaca, porque ele não
está caindo nessa.
— Foda-se, Gibs. — Cormac olha para ele. — Eu não estava falando com
você.
— Talvez não — Gibs responde, pegando outro. — Mas eu tenho certeza
que estou falando com você. — Empurrando seu banco para trás, ele se
levanta e se endireita com Cormac. — Agora vire sua bunda e leve sua
namoradinha de volta para o buraco de onde vocês dois saíram.
— Ou o que? — Cormac rosna, pressionando sua testa contra a de Gibsie.
Péssima jogada da parte de Ryan.
— Não há nenhum contrato pairando sobre minha cabeça como há o dele,
idiota — Gibsie ferve, empurrando para trás com a testa. — Eu não tenho
nenhuma porra de problema em intervir em nome de Kav e chutar a merda
sempre amorosa de sua bunda traidora.
Com um metro e oitenta, os dois rapazes tinham a mesma altura, mas
Gibsie superava Cormac em uns bons 13 quilos porque em campo, Cormac
era um corredor habilidoso e Gibs era um aríete altamente carregado.
— Oh, pelo amor de Deus — Hughie geme, expressando meus
pensamentos em voz alta. — Ele tinha que empurrá-lo.
— Sim — Katie concorda tristemente. — Ele com certeza tinha.
Gibsie tinha uma natureza descontraída, mas dê a ele algumas bebidas e
um motivo para lutar e ele era alguém que cai dentro.
— Eu não tenho nenhum problema com você, Gibsie — Cormac lati. —
Meu problema é com Kavanagh.
— Bem, isso é muito ruim, porque eu tenho um grande problema com
você — Gibsie rosna. — Quem diabos você pensa que é, vindo aqui com
ela, tentando causar drama?
— Eu estava tentando deixar as coisas claras — Cormac fala, mandíbula
apertada.
— Não, você estava tentando irritá-lo — Gibsie corrigi, rosnando. —
Você estava tentando foder a temporada dele. — Ele empurra Cormac no
peito e reivindica o espaço quando ele cambaleia para trás. — Porque você é
um idiota invejoso e a Academia não quer você.
— Me empurre mais uma vez e eu vou quebrar suas pernas — Cormac
rosna, empurrando Gibsie de volta.
Imperturbável pela ameaça, Gibsie continua em sua fúria.
— Você e aquela vadia estavam tentando acabar com ele porque ele não a
quer, e você não pode fazer isso onde importa. — Pressionando sua testa na
de Cormac, ele sussurra: — No campo.
— Nós não queremos nenhum problema aqui esta noite, rapazes — a
garçonete grita sobre a multidão. — Se acalmem.
— Problema? — Gibsie ri sem humor, e então ele balança o punho,
acertando Cormac direto na mandíbula. — Eu vou arrancar a cabeça desse
filho da puta — ele ruge, batendo nele.
Vários gritos agudos irrompem das meninas ao nosso redor enquanto os
dois rapazes pousam em uma mesa próxima, fazendo cadeiras voarem e
copos caindo no chão.
Eu estou fora do meu assento e me aproximando do meu amigo em
segundos.
— Gibs! — Eu rujo, arrastando-o para longe de Cormac, que estava
recebendo alguns socos.
— Afaste-se, cara — eu ordeno em um tom baixo enquanto eu coloco
uma mão em seu ombro e o puxo de volta para mim. — Esta não é a sua
briga.
— O cacete que não é — ele rosna, avançando com tanta força que eu
tenho que dobrar meus esforços para mantê-lo afastado. — Você é meu
melhor amigo e esse idiota está desrespeitando você há meses.
— Deixe-o — eu respondo calmamente, capturando o olhar de Hughie e
gesticulando para ele vir aqui imediatamente. — Eu não me importo, e nem
você.
— Oh, eu me importo — Gibsie rosna, os olhos fixos em Cormac.
— Tire este lunático de mim ou eu vou matá-lo — Cormac ferveu,
limpando um rastro de sangue de sua boca. — Você é um maldito lunático,
Gerard Gibson.
— Você não vai fazer nada — eu rosno, olhando para Cormac, enquanto
eu assumo uma postura protetora na frente de Gibsie.
Bella, que estava gritando com a cabeça para o lado, decide que este era o
momento perfeito para passar por mim e ficar na cara de Gibsie.
— Seu idiota — ela grita, dando-lhe um tapa no rosto. — Não se atreva a
tocá-lo.
— Saia da frente dele — eu a aviso, empurrando meu melhor amigo atrás
de mim. — Agora.
— Ou o quê? — ela sibila, me dando um tapa no rosto. — Você vai
colocar seu cão de guarda em mim também?
— Você gostou disso? — Eu fervo, nem mesmo vacilando. — Porque essa
é a única maneira de você colocar suas mãos em mim novamente.
Ela recua e me dá um tapa novamente.
Eu rio na cara dela.
— Vá em frente. Vá em frente. Me bata a porra da noite toda. Não vai
mudar nada.
— Pare — Cormac ordena, empurrando-a para trás de suas costas. — Não
bata nele.
— Ele merece — ela grita.
— Porque eu não quero você? — Eu jogo a cabeça para trás e rio. — Ah
sim, porque é assim que a vida funciona.
— Não me faça chamar a polícia para vocês! — a mulher mais velha atrás
do bar grita. — Pacote de pequenos imbecis.
— Não há necessidade disso, Mags — Hughie anuncia, lutando para
interceptar o punho balançando de Gibsie com a mão.
— Tire ele daqui — eu ordeno, arrastando Gibsie de volta mais uma vez.
— Sua casa? — pergunta Hugh.
— Qualquer lugar — Passo a mão pelo meu cabelo em exasperação. —
Basta mantê-lo seguro.
Hughie assente e volta sua atenção para Gibsie.
— Vamos, Rocky Balboa — diz ele brilhantemente. — Antes que você
nos jogue na cadeia hoje a noite.
— Ele pediu por isso — Gibsie balbucia. — Pedaço de merda.
— Eu sei, rapaz — Hughie persuadi. — Vamos. — Envolvendo seu corpo
ao redor do de Gibsie, ele o leva com força para trás para fora do bar.
— Você vem, Johnny? — Katie pergunta, olhando nervosamente entre
mim e Cormac.
— Eu ficarei bem — eu digo a ela e volto minha atenção para Cormac.
— Tem certeza? — Katie persiste. — Você deveria vir com a gente...
— Vá em frente, Katie — eu ordeno, me virando para chamar sua
atenção. — Eu vou fazer o meu próprio caminho para casa.
— Se você tem certeza.
— Eu tenho.
Espero até que Katie tivesse seguido Hughie e Gibsie para fora do bar
antes de voltar minha atenção para Cormac.
— Você quer falar comigo? — Eu rosno, gesticulando em direção à porta.
— Então vamos.
Sem esperar por uma resposta, eu abro caminho pelo bar lotado em
direção à saída, recebendo várias palmas nos ombros e “Grande partida,
Johnny” e “Estou ansioso para vê-lo de verde em junho” enquanto eu tento
o meu melhor para andar em linha reta.
Duvidoso, penso comigo mesmo. Muito fodidamente duvidoso.
Quando chego à porta do pub e saio para a rua, fiquei aliviado por não
encontrar os rapazes do lado de fora esperando por mim.
Alguns minutos depois, a porta se abre e Cormac sai.
— Não ela — eu lato, apontando um dedo para Bella que sai atrás dele. —
Ela fica muito longe de mim.
— É um país livre — Bella rebate, me encarando com adagas. — Eu
posso ir onde diabos eu quiser.
— Ou ela vai, ou eu vou — eu rosno, dirigindo-me a Cormac. — Sua
escolha.
Bella abre a boca para dizer mais alguma coisa, algo rancoroso, sem
dúvida, mas Cormac fala primeiro.
— Volte para dentro — ele diz a ela. — Eu não vou demorar.
— Mas eu...
— Eu preciso falar com ele — Cormac pressiona. — Vá para dentro.
Com o que parecia uma grande relutância, Bella volta para dentro, me
deixando sozinho na rua com Cormac.
— Certo — ele rosna, dando de ombros. — Vamos fazer isso, Kavanagh.
Eu arqueio uma sobrancelha, divertido com a postura de luta que Ryan
tinha tomado.
Se ele pensa que eu ia jogar minha carreira fora por um soco por causa de
Bella, ele estava seriamente enganado.
Shannon – absolutamente, mas Bella? Sem chance.
— Afaste seus punhos, seu maldito idiota — eu ladro. — Eu não vou
tocar em você.
Ele me observa por vários momentos, os olhos cheios de desconfiança,
clareando e esperando que eu ataque.
Era quase cômico.
Quase.
— Acredite ou não, Johnny — ele finalmente quebra a tensão dizendo. —
Eu estava realmente tentando esclarecer as coisas entre nós.
— Quando nós dois estamos cheios de bebida?
— Justo — ele admite. — Mas eu não queria que isso acontecesse.
— Você não queria que o que acontecesse exatamente? — Eu pergunto,
apoiando meu ombro contra a parede do pub para me equilibrar. — Você não
queria me foder, ou você não queria bater no meu melhor amigo e no seu
companheiro de equipe?
O ar da noite me atinge como uma porra de uma bola de demolição e eu
sei muito bem que sem a parede para me apoiar, eu estaria balançando como
a torre de Pisa.
— Gibs me acertou primeiro — Cormac retrucou e então jogou as mãos
para cima. — Ele veio para cima de mim.
— Porque você veio para cima de mim — eu respondo calmamente. —
Porque lhe disse para ir embora e você não quis, e porque eu sou o capitão
dele e isso significa algo para ele.
Cormac faz uma careta com minhas palavras.
Bom.
O filho da puta precisava senti-las.
— E eu não queria te foder — ele acrescenta, as bochechas corando. —
Eu pensei que vocês dois estavam separados. Eu realmente gosto da garota,
Johnny, eu sempre gostei.
— Então tudo que você tinha que fazer era pegar o telefone — eu rebato,
as palavras arrastando apesar dos meus melhores esforços. — E ouvir direto
da fonte.
— Eu deveria ter feito isso — ele finalmente admite.
— Você sabe o que é fodido? — eu medito, expressando meus
pensamentos em voz alta. — É que se você me dissesse que gostava dela, eu
teria recuado. — Cruzando meus braços sobre meu peito, eu olho para ele.
— Eu teria respeitado essa merda por você e agiria como um homem sobre
isso, e eu teria ido embora. Bella e eu nunca fomos sérios. Eu não tive um
relacionamento com ela. Mas eu tive um com você. E você me traiu.
— Capi...
— Não, cale a boca e deixe-me dizer isso. — Exalando pesadamente, eu
digo: — Não é que ela agiu pelas minhas costas com meu companheiro de
equipe. É que meu companheiro de equipe agiu pelas minhas costas com ela.
Cormac geme alto.
— Johnny, cara, eu não queria que isso...
Eu levanto a mão, afastando-o com sua besteira.
— Não me alimente que você não queria que isso acontecesse. Eu fiz
sexo, Cormac, muitas vezes, e nós dois sabemos que quando você coloca seu
pau dentro de uma garota, você sempre quer fazer isso. Isso não acontece
sem você saber.
— Você está certo — ele admite depois de uma longa pausa. — Merda,
cara, você está certo.
— Eu sei que estou — eu respondo, o tom cortante.
— E vocês realmente terminaram? — Ele me observou com uma
expressão cautelosa. — Você não a quer de volta?
Eu balanço minha cabeça e expulso uma respiração frustrada.
— Eu não sei de quantas maneiras eu posso dizer isso, Ryan; eu não quero
fazer nada com aquela garota. Então, vá em frente e faça o que diabos você
quiser com ela. Vão se foder longe de mim, mantenha suas demonstrações
fora da minha frente, e estaremos bem.
— Você está dizendo isso para salvar a cara? — Ele pressiona.
— Eu acho que você já sabe que eu sou direto — eu rosno. — Quando
digo que terminei, estou falando sério.
— Então é isso?
— Sim. — Eu balanço a cabeça. — É isso.
— Por que você não está mais chateado comigo? — ele pergunta, me
dando um olhar desconfiado.
— Porque eu sinto pena de você — eu digo a ele e surpreendentemente
era a verdade.
Eu estava sentindo pena de Cormac.
Também me decepcionei com ele.
Eu era um monte de coisas, mas chateado não era uma delas.
Não agora, pelo menos.
Ele era um peão em um dos jogos de Bella e mesmo que eu estivesse
bêbado, eu podia ver isso tão claro quanto o dia.
— Ouça-me — começo, esforçando-me para não enrolar minhas palavras
enquanto tento lhe dar algumas verdades aprendidas com dificuldade. — Eu
estou neste jogo há muito tempo e sei o que está acontecendo aqui. Bella
está usando você para me atingir e você está deixando ela fazer uma merda
de você.
Só o próprio Deus sabia por que eu estava dando conselhos a ele depois de
me esfaquear pelas costas, mas continuo.
— Ela não pode mais me ter e você é a próxima melhor coisa. — eu falo
— É sobre dinheiro para essa daí, Ryan. Dinheiro e status. — Balançando a
cabeça, acrescento: — Brigar com seu companheiro de equipe por a porra de
uma garota é o começo do fim. Vá por esse caminho e está acabado para
você antes mesmo de começar.
Mesmo em meu estado de embriaguez, eu sei que estava fazendo uma
porra de uma declaração hipócrita.
Justifico minhas razões com o conhecimento de que Shannon valia a pena.
Bella não.
Cormac olha para mim.
— Você acha que é melhor do que eu.
Ele estava falando sério?
Isso foi tudo o que ele tira do meu esforço de ajudá-lo?
— Eu sou melhor que você. — Eu rebato, frustrado por ele não estar me
ouvindo. — Se você quer estar no meu nível, então pise no campo. Trabalhe
mais. Treine mais. Seja melhor para caralho. E abra seus malditos olhos para
o perigo. Porque essa sua suposta namorada vai sugar você até secar, cara.
— Ela é minha namorada — ele rosna. — Então não fale sobre ela assim.
Deus me dê forças...
— Certo — Eu jogo minhas mãos para cima. — Mantenha sua namorada
longe da minha e estaremos bem.
— Você não tem namorada — ele responde lentamente, a expressão
misturada com confusão.
— De mim — eu corrigi, confuso com a palavra derramada. —
Mantenha-a longe de mim e não teremos problemas.
— Então o que acontece agora? — Cormac pergunta, o rosto contorcido
em uma careta de dor. — Nós vamos ter algum problema jogando juntos
depois disso?
— Não.
— Não. — Suas sobrancelhas se erguem. — Por que não?
— Porque eu não sou besta o suficiente para deixar uma garota assim
foder com a minha cabeça — eu disse. — Você é um ala decente e o time
precisa de você. Eu seria um bastardo egoísta se permitisse que meus
problemas pessoais afetassem o time.
— E Bella? — Cormac pergunta depois de uma longa pausa. — Você vai
causar problemas a ela?
— Porque você está com ela? Não — eu digo a ele. — Se ela foder com
Shannon? Absolutamente.
— Shannon?
— Sim, Shannon — eu falo mordaz, tom áspero agora.
Cormac olha fixamente.
— Quem é Shannon?
— Shannon é a razão pela qual você vai acabar com a mandíbula
quebrada.
— Que diabos?
— Bella estava ameaçando ir atrás dela. — Eu rosno. — Se isso
acontecer, eu vou te foder.
Ele empalidece.
— Por que eu?
— Não posso bater em uma garota, o que significa que estarei vindo para
a próxima melhor coisa — explico. — Então, tenha em mente que toda vez
que sua Bella decidir fazer uma ameaça, espalhar um boato desagradável, ou
foder com minha Shannon, eu vou retribuir o favor em seu rosto. Toda
maldita vez.
Cormac empalidece visivelmente, e o visual, embora ligeiramente
nebuloso, foi extremamente satisfatório.
— Bom — eu resmungo, puxando meu telefone do bolso para chamar um
táxi. — Que bom que nos entendemos.
Balançando a cabeça, pisco algumas vezes para clarear a visão enquanto
abro minha agenda telefônica e discava o número rotulado Taxista Gordo.
Maldito Gibsie.
Eu deveria ter pensado melhor antes de deixar meu telefone sozinho com
ele quando fui tomar banho.
A última vez que ele pegou meu telefone, ele renomeou minha mãe para
Peitinhos Doces e Bella de Boceta demoníaca.
Foi tudo merda e risos até que Peitinhos Doces me mandou uma
mensagem no meio da noite, exigindo que eu descesse e destrancasse a porta
da frente porque ela estava do lado de fora e queria entrar.
Sem saber quem diabos estava me mandando mensagem, eu respondi com
mais palavrões do que eu gostaria de pensar antes de ameaçar chamar a
polícia – para minha própria mãe.
Falemos sobre um mal-entendido.
— Você quer dar um aperto de mãos para isso? — Cormac pergunta, me
distraindo da minha missão de levar minha bunda bêbada para casa,
enquanto ele estendia a mão para mim.
— Afaste essa porra de mim. — Eu faço uma careta para sua mão quando
coloco meu telefone no ouvido. — Eu sei onde esteve.
Sua expressão escurece, mas ele teve o bom senso de não abusar da sorte
pela noite.
Com um aceno rígido, Cormac se vira e volta para dentro do bar.
Quando o número de Taxista Gordo toca, tento mais cinco vezes antes de
desistir.
Os táxis por aqui desligam seus telefones nas noites de sábado quando
ficam ocupados, e pelo grande volume de pessoas nas ruas hoje à noite, eu
sei que estaria esperando muito tempo para chegar em casa.
Frustrado, voltei minha atenção para o meu telefone e percorro meus
contatos, procurando o nome de Hughie.
— Aquele imbecil — xingo quando percebo que Gibsie mais uma vez
mudou o nome de cada contato na minha lista.
Petinhos Doces e Boceta demoníaca já estiveram presentes em meus
contatos, junto com novos como Grande Paizão, Bundão, Ligue se for preso,
Não ligue se for preso, e meu favorito: Judas-Puta.
Clicando nesse contato em particular, reconheço o número como sendo de
Cormac.
Ele poderia ficar assim.
Boceta demoníaca, também.
Passo um tempo ridículo tentando encontrar o número de Hughie porque
não consigo descobrir quem diabos era quem no meu telefone.
Depois de clicar acidentalmente o contato Rapidinha e ouvir a voz do
treinador Mulcahy na outra linha, desligo rapidamente.
Cancelando outra chamada recebida do Rei do Clitóris, porque quem em
sã consciência atenderia um número listado assim, eu desligo meu telefone e
o enfio de volta no bolso.
Rabugento, atravesso a rua até a lanchonete e peço meia dúzia de
cheeseburgers e dois sacos de batatas fritas.
Não há necessidade de cuidar da minha dieta agora.
Não quando meu corpo estava determinado a desistir de mim.
Caindo em uma parede do lado de fora da lanchonete, devoro tudo e
engulo com uma garrafa de água.
A gordura tinha um gosto estranho para mim, e eu sei que pagarei por ela
amanhã, mas por enquanto não me importo.
— Johnny Kavanagh? — uma voz vagamente familiar chama meu nome.
— É você?
Eu levanto meu olhar para ver um rapaz alto da minha idade olhando com
expectativa para mim.
Ele está com o braço pendurado no ombro de uma loira atraente.
Fã ou amigo?
Amigo ou fã?
Tento reconhecer o rosto e não consigo, então decido por fã.
— Sem fotos hoje à noite, crianças — eu digo, com o tom arrastado. —
Johnny está fora.
O cara ri, mas não fez nenhum movimento para enfiar uma câmera na
minha cara, o que era bom, considerando minha condição atual.
Em vez disso, ele me choca muito ao dizer:
— Falei com você ao telefone na outra semana. Você conhece minha irmã,
Shannon. Você a deixou em casa depois da escola.
Minha cabeça se ergue e eu me encontro concentrando muito mais no
rapaz na minha frente.
— Você é o arremessador — Faço uma pausa e quebro meu cérebro para o
nome dele. — Joey! — Deixo escapar, orgulhoso de mim mesmo por
conseguir recuperar essa informação no meu estado. — Joey o arremessador
e Shannon como o rio.
— Como o rio? — a garota ri. — Deus, quanto você bebeu?
— Uma carga do tamanho de um rio, pelo que parece — Joey diz
ironicamente, me olhando com curiosidade. — Você acha que deveria ir para
casa, cara? — ele adiciona. — Você parece bastante embriagado.
— Se eu pudesse — eu admiti com um resmungo. — Sem táxi.
— Claro que podemos te dar uma carona, não podemos, baby? — a garota
anuncia, apontando para a rua. — Só estamos estacionados na estrada.
Eu abro minha boca para protestar, mas sai em vez disso:
— Isso seria ótimo, obrigado.
— Sim, claro, sem problemas — Joey concorda, parecendo um pouco
surpreso. Ele se mexe desconfortavelmente por um minuto, em seguida,
inclina a cabeça. — Vamos lá.
Consigo me levantar, mas dá muito trabalho para ficar de pé.
Batendo meu ombro contra a parede, consigo manter o equilíbrio
enquanto sigo atrás deles.
Felizmente, a garota que eu presumi ser a namorada de Joey, não estava
brincando quando ela disse que eles estavam estacionados na estrada.
Mais alguns passos tropeçando e chegamos ao Opal Corsa vermelho.
Pelo menos foi o que eu pensei que fosse.
Era difícil dizer porque minha cabeça estava girando e o carro era um
balde de ferrugem.
Foda-se, porém, eu não estava em condições de questionar seus métodos
de viagem.
Eu estava além de grato pela carona.
— Eu sou Aoife Molloy, a propósito — a garota anuncia, me dando um
sorriso brilhante antes de dar a volta para o lado do passageiro do carro. —
A namorada de Joey, o arremessador — Ela ri dessa última parte antes de
subir no banco da frente.
— Prazer em conhecê-la — eu respondo, mantendo meu peso contra a
parede enquanto Joey abre a porta do lado do motorista e, em seguida,
empurra o banco para frente.
— Três portas — diz ele como explicação. — Você vai ter que subir na
parte de trás.
— Está tudo bem, cara — Me afasto da parede e apoio meu peso contra o
carro antes de me enfiar no pequeno espaço.
Meus esforços foram tão eficazes quanto velejar em um barco de papel,
porque Joey teve que me empurrar de costas para me colocar dentro.
— Cristo — eu murmuro quando finalmente entro.
Afundando no meio do assento, tenho que torcer meu corpo de lado,
minhas pernas voltadas para a janela lateral, para que Joey pudesse empurrar
seu assento para trás.
— Está bem, Kavanagh? — ele grita quando entra e empurra seu assento
para trás mais alguns centímetros.
— Tudo bem — eu resmungo, o corpo esmagado entre as costas de seu
assento e o meu. — Obrigado novamente pela carona.
— Não se preocupe — Joey responde. Ele se inclina e dá um beijo nos
lábios de sua namorada antes de apertar o cinto de segurança. — Para onde
estamos indo?
Direto para sua casa porque eu quero foder sua irmã, eu penso comigo
mesmo, sorrio com a ideia fabulosa, e então afasto o pensamento louco com
um aceno de cabeça.
Provavelmente a amo também, penso comigo mesmo, muito mesmo, antes
de empurrar essa loucura para fora também.
Se ajude, imbecil!
— Cerca de seis quilômetros do outro lado do Tommen College — eu
digo arrastado.
Tento encontrar meu cinto de segurança, mas minhas mãos desajeitadas
não cooperavam.
— Saia pela estrada principal para a cidade. — Desistindo de encontrar
meu cinto, deixo cair minha cabeça contra o encosto e suspiro. — Vou avisar
sobre os desvios quando chegarmos a eles.
— Sem problema.
Ele liga o motor e tinha acabado de entrar na estrada quando sinto o carro
frear de repente.
— Que porra é essa? — Joey ladra segundos antes de duas mãos baterem
no capô de seu carro. — Saia da frente do meu carro, idiota!
— Você está sequestrando meu Centro — Gibsie ruge na janela enquanto
se inclina sobre o capô do carro. — Devolva-o. — Seus olhos disparam de
Joey para mim, o reconhecimento faiscando. — Ei, Capitão. — Ele sorri, a
cabeça pendendo para um lado. — Como vai? Eu estive procurando por
você em todos os lugares.
— E quem é esse palhaço? — Joey pergunta, em tom de escárnio, atenção
voltada para Gibsie que estava tendo uma conversa unilateral comigo através
do para-brisa de seu carro.
— Ele é meu flanqueador — eu resmungo antes de voltar minha atenção
para o homem/criança abraçando o capô. — Gibs! Que porra você está
fazendo, cara! — Eu lato, olhando para o para-brisa. — Você não deveria ter
ido para casa com Hughie?
— Os policiais o pararam por causa de impostos e seguros — ele grita de
volta pelo para-brisa como se respondesse à minha pergunta.
Eu fico boquiaberto.
— E? Hughie está limpo.
— Ele olhou para mim, Johnny, virou aquela sua grande lanterna brilhante
bem nos meus olhos — ele grita de volta. — Entrei em pânico e pulei do
carro. — Dando de ombros, ele acrescenta: — Eu tenho andado pela cidade
desde então. — Ele estreita os olhos. — Eu tentei ligar para você, mas você
continuou me recusando!
Eu olho para ele.
— Você é o Rei do Clitóris?
— Ah, sim — Gibsie ri. — Eu esqueci disso.
— Como está Hughie?
— Pentelhos Ruivos — ele responde como se fosse a coisa mais óbvia de
todas.
Não era.
— Ele é loiro — eu rosno.
— Sua namorada não é.
— Jesus Cristo — eu gemo, esfregando minha testa.
— O que você quer que eu faça com ele? — Joey pergunta.
Dou de ombros e penso em dizer a ele para passar por cima do filho da
puta irritante, mas então eu sei que estarei terrivelmente sozinho sem ele.
E a justiça seja feita, ele levou alguns tapas defendendo minha honra esta
noite.
— Eu provavelmente deveria levá-lo de volta para minha casa — eu
admito a contragosto. — Ou um hospital com seguranças.
Joey murmura algo incoerente baixinho e sai.
Parecia algo como “é melhor vocês dois filhos da puta não vomitarem
neste carro”.
Eu não estou fazendo promessas.
Meu amigo é um vomitador.
Puxando o assento, Joey o arrasta para frente e instrui um Gibsie
embriagado a entrar.
Ele entra.
Mas em vez de subir ou rastejar para dentro, o bastardo se joga no banco
de trás.
— Porra! — Eu rujo, dobrando de dor quando seu cotovelo pousa na
minha virilha.
Lá se vai a última gota bem aqui...
— Merda, cara, eu atingi seu pau? — Gibsie balbucia enquanto tenta e
não consegue passar por cima de mim. — Eu vou pegar gelo para suas bolas
quando chegarmos em casa.
— Sai. De. Cima. De. Mim. — Eu falo nasalado, bastante certo de que
estava ficando roxo de dor, enquanto ele sobe no banco, se ajeitando e me
batendo com os cotovelos e joelhos.
Finalmente, ele consegue arrastar sua bunda para o outro lado do assento.
— Cristo — ele medita, se acomodando ao meu lado. — Esse é o buraco
mais apertado que eu entrei em meses.
Joey volta e liga o motor antes de sair rapidamente pela rua.
— Espero que não haja mais de vocês — ele diz. — O carro está pesando
na parte de trás.
— Desculpe — começo a dizer, mas sou interrompido por Gibsie.
— A culpa é dele, o bastardo gordo — anuncia. Virando-se para mim, ele
acrescenta: — Ei, seu pau está bem, cara? Eu realmente sinto muito por isso.
Espero não ter esmagado suas bolas.
Eu estreito meus olhos para ele.
— Vá se foder, Gerard.
— Eu estava sendo sincero, Jonathon — ele retruca, ferido. — Por isso,
você pode pegar seu próprio maldito gelo hoje à noite, espere!
Agarrando a frente da minha camisa, ele me puxa para ele e cheira minha
boca.
— Seu traidor! — ele solta, parecendo comicamente horrorizado. — Você
foi na lanchonete.
— Sim, eu comi — eu respondo, me empurrando para longe dele. — E foi
fodidamente delicioso, e não me arrependo.
— O que você tinha?
— Alguns cheeseburgers e batatas fritas ao curry.
— Qual o gosto?
— Melhor que sexo.
— Nós deveríamos estar em uma dieta! — Gibsie assobia em um tom
chocado antes de perguntar rapidamente: — Você pediu algo para mim?
— Sim, eu te trouxe um hambúrguer.
— Obrigado, Johnny.
— E então eu fiquei com fome, então eu o comi.
— Você é um monstro.
— Vocês dois são tão estranhos — Aoife ri. — Eles não são engraçados,
Joey?
— Eles são algo, tudo bem — responde o irmão de Shannon.
— Ei. — De repente, percebendo que estava na companhia de estranhos,
Gibsie se inclina no meio de seus assentos e pergunta: — Quem diabos são
vocês?
— Os amigos de Johnny por causa da irmã do meu namorado — explica
Aoife.
— Irmã? — A palavra parece confundir Gibsie, que me encara
inexpressivamente por vários momentos.
Lançando uma oração aos céus para que ele pudesse se controlar, eu
balanço a cabeça e digo:
— Shannon.
Gibsie afunda ao meu lado e franze a testa.
— Shannon?
— Sim, Shannon. — Eu olho para ele.
Os olhos de Gibsie se arregalam então, consciência de repente surgindo
nele.
— Ah, Shannon! — ele exclama. — Ah, sim, a pequena Shannon do
terceiro ano. — Sorrindo, ele me cutuca nas costelas. — O Johnny aqui tem
um quedinha feroz por sua irmã.
— É isso mesmo? — Joey responde com firmeza.
Ah, porra.
— Sim, ele está sempre cuidando dela na escola — Gibsie acrescenta com
uma piscadela. — Se certificando de que ela não está se metendo em
nenhum problema.
Mordo de volta um gemido e resisto à vontade de envolver minhas mãos
em volta do pescoço dele e estrangulá-lo.
Para ser justo, poderia ter sido pior.
Gibsie era capaz de dizer coisas muito piores.
— Isso é lindo — Aoife entra na conversa, e noto o jeito que ela colocou a
mão no joelho do namorado. — Não é gentil da parte dele, Joe?
— Por que? — Joey exige, tom duro e desconfiado. — O que você ganha
com isso?
Suspiro pesadamente e tento pensar em algo crível.
— Porque eu fodi com ela...
— Você o quê? — Joey ruge, pisando no freio.
O súbito solavanco do carro parando faz com que Gibsie e eu voássemos.
Virando-se, Joey olha para mim.
— É melhor você estar brincando agora, Kavanagh, porque eu juro por
Cristo que vou...
— Ferrei! — Corro para explicar, me arrastando de volta para o assento.
— Eu ferrei com ela em seu primeiro dia. A envergonhei em campo quando
eu a nocauteei.
Mas eu quero foder com ela...
Eu quero tanto entrar na sua irmã que você não acreditaria...
As coisas que imagino fazer com ela iriam chocar você...
Espero que o olhar homicida em seus olhos desapareça antes de continuar.
— Achei que devia à garota, então fiquei de olho nas coisas, me
certifiquei de que ela estava se adaptando bem. Não é fácil começar uma
nova escola. — Dando de ombros, eu acrescento: — Não queria que ela
recebesse nenhuma merda desnecessária.
Eu apenas espero seu irmão dar o próximo passo.
Se Joey me batesse, eu não revidaria.
Eu não iria retaliar.
Essa era a coisa assustadora sobre esta situação.
Sentado em seu carro, bêbado, sabendo que eu era mais que capaz de
bater nele, mas sabendo que não o faria.
Por causa dela.
Porque ele era importante para ela.
Porque se eu batesse nele, eu a machucaria.
E machucá-la era ruim.
Machucá-la me faz querer bater em algo mais duro.
Essa noção era mais confusa e complicada do que minha bunda bêbada
pode compreender.
Joey não responde, mas volta sua atenção para a estrada e começa a dirigir
novamente.
Dou um suspiro de alívio.
Me virando para Gibsie, eu murmuro as palavras “mantenha sua boca
fechada”.
Ele responde com um gesto teatral do movimento de um zíper da boca.
Quando chegamos à saída para minha casa, meia hora depois, murmuro
algumas direções curtas.
Joey responde com um aceno de cabeça curto e vira à direita, deixando a
estrada principal para a estrada secundária precária que levava à entrada da
propriedade.
Eu estava me sentindo mais lúcido agora – eu acho que o quase encontro
com a morte nas mãos do irmão de Shannon mexeu com o bom senso e me
deixou sóbrio.
Desejo que o mesmo pudesse ser dito de Gibsie, que estava desmaiado ao
meu lado, roncando como um urso pardo.
Quando Joey para do lado de fora dos portões da propriedade, eu digo:
— Podemos ficar aqui, cara.
— É onde você mora? — O irmão de Shannon pergunta, falando pela
primeira vez desde o quase desastre que foi do nosso erro de comunicação.
Sua atenção estava voltada para os enormes portões de ferro fundido com
as feias águias em cada pilar.
— A que distância fica aquela entrada de carros até a sua casa? — ele
pergunta.
— Cerca de quatrocentos metros.
— Você nunca vai conseguir fazê-lo andar tão longe — ele murmura. —
Eu vou levá-los até a porta.
— 310587 — eu falo o código, que por acaso era a minha data de
nascimento. — Basta digitar isso no bloco ali e eles vão abrir para você.
Joey digita o código no bloco e espera que os portões se abram para
dentro.
— Mais uma vez, eu aprecio isso — eu sinto a necessidade de mencionar.
— Eu sei que está fora do seu caminho.
— Apenas retribuindo o favor — ele responde, dirigindo pela viela
estreita em direção à casa.
— Este lugar é incrível — Aoife diz com um suspiro sonhador. — Olhe
para todas as árvores e – oh meu Deus! Olhe para o tamanho daquela casa —
ela guincha quando a casa aparece, iluminada como uma porra de uma
árvore de Natal.
Mamãe era paranoica para caralho com ladrões em potencial pensando
que a casa estava vazia, então ela tem sensores automáticos e iluminação
cronometrada instalados em todos os lugares.
No quintal.
Na casa.
No gramado.
Era ridículo, mas o eu bêbado estava grato pela iluminação.
Joey desliga o motor e desce, ajustando o assento o máximo possível.
Eu estou muito mais firme em meus pés quando saio do que quando entrei
no carro.
— Obrigado novamente — eu digo antes de chegar na parte de trás e
puxar a bela adormecida para fora do carro. — Eu te devo uma.
Envolvendo um braço em volta da cintura de Gibsie que ainda estava
meio adormecido, eu o arrasto até a porta da frente e luto para pegar minhas
chaves.
Não conseguindo tirá-los do bolso do meu jeans, eu o deixo cair de bunda,
e luto com meu jeans por um longo momento antes de finalmente recuperar
minhas chaves.
— Pare, ok, eu sou sensível — Gibsie geme antes de se enrolar, roncando
novamente.
— Aqui — Joey anuncia quando consigo colocar a chave na estrutura de
madeira, errando o buraco da fechadura por uns bons sete centímetros. —
Me deixe te ajudar.
Grato pela intervenção, entrego minhas chaves e volto minha atenção para
meu amigo.
— Se levante — eu rosno, cutucando-o com meu pé. — Estamos em casa.
O filho da puta não se mexe.
— Gibsie! — eu ladro.
Nada além de roncos.
Droga.
Soltando um suspiro frustrado, me abaixo e agarro seus ombros e tento
puxá-lo do chão.
Joey, que estava com a porta aberta, vem e me ajuda a levantá-lo.
Eu não estava em posição de recusar sua ajuda, então, com cada um de
nós tomando um lado, carregamos sua bunda de peso morto para dentro da
casa.
— Deixa ele aqui — instruo, gesticulando para a sala de estar.
— Tem certeza disso? — Joey pergunta, acendendo a luz. — Esse sofá é
branco, cara.
— É couro — eu murmuro, muito cansado e dolorido para me preocupar
com o conjunto de três peças da minha mãe. Arrastando até o sofá, jogamos
Gibsie no chão — Se ele vomitar, ele vai lavar sozinho pela manhã.
— Justo — Joey responde com um encolher de ombros antes de se virar e
se dirigir para a porta.
Eu o sigo, sem saber realmente o que dizer.
Esta noite tinha passado de deprimente para enfurecedora e
completamente confusa em questão de horas.
— Ouça — Joey diz quando sai para a varanda. — Sobre Shannon.
Aqui vamos nós, penso comigo mesmo.
Eu estava esperando por isso desde que entrei em seu carro de merda.
Comporte-se, Kav, mantenha sua boca fechada.
— O que têm a Shannon? — Eu pergunto, encostado no batente da porta.
— Ela é frágil — ele solta. — Vulnerável.
— Sim. — Minha voz está rouca, então limpo minha garganta e tento
novamente. — Eu, uh, já adivinhei isso.
Joey assente e enfia as mãos nos bolsos.
Eu mantenho minha boca fechada, esperando que ele continue.
— O que estou tentando dizer aqui é que eu aprecio você cuidar da minha
irmã — ele diz finalmente. — Ela teve alguns anos difíceis e Tommen
parece ser um bom ajuste para ela. Então, eu acho que eu espero que você
continue de olho nela na escola, você sabe, certificando-se de que ninguém a
esteja incomodando.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Ah, sim, claro. Isso não é problema.
Ele assente novamente, suas palavras saindo mais rápido agora.
— Ela parece estar se adaptando a Tommen, e ela continua me dizendo
que os adolescentes são legais com ela, mas eu estou na BCS, então não
tenho como saber se ela está bem ou não, e ela nunca conta a ninguém o que
está acontecendo nessa cabeça dela até que seja tarde demais.
Eu faço uma careta.
— Tarde demais?
— As merdas das vadias — ele explica. — Minha irmã tem um alvo nas
costas desde que ela usava fraldas.
— Isso é muito fodido — eu murmuro, já sabendo de tudo isso, mas tendo
o bom senso de não dizer isso ao irmão dela.
— As crianças são cruéis — ele concordou.
— Elas com certeza são — eu murmuro.
Ele me encara por um longo tempo antes de dizer:
— Você vai me contar sobre isso?
Ai Jesus.
O que?
Que porra ele queria que eu dissesse a ele?
Eu quebro meu cérebro e não encontro nada apropriado de classificação
livre para todos os públicos, então mantenho minha boca fechada.
— Namorado de Ciara Maloney — Joey completa, me dando um olhar
estranho. — Um cara de Tommen deu uma surra nele na cidade ontem.
— Oh? — Eu arqueio uma sobrancelha e cruzo os braços sobre o peito. —
Foi é?
Joey sorri.
— Sim, foi.
— Bem, eu espero que ele tenha fodido com ele — eu solto, sentindo meu
corpo vibrar de raiva com a memória daquelas fodidas garotas
desagradáveis. — Ouvi dizer que a namorada dele é uma vadia.
— Ouvi dizer que ele estava mal — responde Joey. — Nariz quebrado.
Alguns pontos.
— Que horrível — eu digo lentamente.
Joey me encara por mais uma longa pausa antes de balançar a cabeça.
— De qualquer forma, eu só queria que você soubesse que eu aprecio que
minha irmã tenha alguém cuidando dela. Quando eu não posso.
Ele se vira para sair apenas para virar de volta.
— Amigo. — Sua palavra tinha uma mordacidade. — Minha irmã precisa
de um amigo, Kavanagh — ele esclarece. — Ela não precisa colocar suas
esperanças em um cara que vai embora no verão.
Eu ouço seu aviso alto e em bom som.
Meu cérebro fodido pode não prestar atenção ao aviso, mas eu
definitivamente escutei.
Sem outra palavra, Joey se vira e vai embora, me deixando parado na
porta, olhando para ele com apenas duas coisas em mente.
A primeira: encontrar uma bolsa de gelo para minhas bolas.
A segunda: fantasiar sobre todas as coisas terrivelmente inapropriadas que
eu desejo fazer com sua irmã.
32
SHANNON
— Acho que você precisa comprar um anel para essa garota, Joe — eu
anuncio enquanto leio e releio o bilhete que Aoife havia deixado na mesa de
cabeceira do meu irmão no domingo de manhã. — Ela é para manter.
— Sim — Joey murmura, coçando o queixo. — Ela deve realmente me
amar.
— Uh, você acha? — Reviro os olhos. — Ela te idolatra.
— Mas eu não entendo por que ela faria isso por mim.
— Eu também — eu provoco. — Especialmente quando você se parece
tanto com o Shrek.
— Sua atrevida filha da puta — ele ri, me empurrando de brincadeira. —
Me dá esse bilhete de novo para eu dar uma olhada.
Eu estendo para ele – o mesmo bilhete que ele já tinha lido pelo menos
uma dúzia de vezes – e então vou até à mesa da cozinha com minha caneca
de chá.
Me sentando, eu assisto meu irmão ler o bilhete novamente, sobrancelhas
franzidas em confusão.
— Por que ela fez isso, Shan? — Balançando a cabeça, ele caminha de
porta de armário em porta de armário, abrindo e fechando-as. — Ela deve ter
se levantado de madrugada para fazer isso. — Ele abriu a geladeira,
revelando uma pilha pesada de mantimentos dentro. — Deve ter custado
uma fortuna para ela.
Joey está certo.
Aoife tinha que ter acordado cedo para fazer isso, considerando que eram
apenas onze horas.
Ele também está certo sobre isso lhe custar uma fortuna.
Encontrei o recibo de €143,67 na lixeira.
— Aqui diz que ela estará de volta por volta de uma hora com os meninos
— ele acrescenta, relendo o bilhete que estava pensando desde que acordou.
— Eles vão primeiro ao playground, e depois ao campo para se divertir
depois disso.
— Você viu isso? — Eu pergunto enquanto folheio sete envelopes
cuidadosamente empilhados, rotulados por dia da semana.
Sacudindo um dos pequenos envelopes marrons na minha mão, eu sorrio
quando ouço o som de moedas batendo.
— Sua namorada distribuiu seu dinheiro em pacotes de orçamentos
diários.
Joey vira boquiaberto para mim.
— O quê?
— Sim — eu rio, colocando o envelope de terça-feira de volta na pilha.
— De jeito nenhum — ele murmura enquanto se aproxima de onde eu
estou e pega um punhado dos minúsculos envelopes retangulares.
— E ela colocou pequenos corações neles para você. — Eu rio. — É tão
fofo.
— É normal ficar bravo com uma pessoa porque ela te ama? — meu
irmão pergunta, olhando os envelopes com confusão. Ele vira seus olhos
verdes para mim e pergunta: — Isso é normal?
— Por que você está me perguntando? — Eu dou de ombros
desconfortavelmente. — Não tenho experiência com esse tipo de coisa.
— Oh, você deveria olhar isso — ele diz com um suspiro, apontando para
a nota de €20 alojada sob as chaves do carro de Aoife e a nota adesiva ao
lado dizendo: Fundos para o café da manhã de Joey e Shannon.
Em letras maiúsculas abaixo estavam as palavras: Alimente sua irmã,
querido. Ela é muito magra.
— Minha namorada me deixou mesada — O tom de Joey estava
misturado com sarcasmo. — Jesus Cristo, Shan.
— Não fique bravo com ela — eu digo a ele. — Ela está tentando nos
ajudar.
— Eu sei. — Ele belisca a ponte de seu nariz e exala pesadamente. — E
eu não estou bravo. Só não sei como lidar com isso.
— Talvez apenas dizendo obrigado? — Eu ofereço. — E um eu também
te amo? Ou flores? Essas também são boas.
Joey sorri.
— Você está cheia de ideias, não está?
Eu sorrio de volta para ele e então suspiro, me forçando a me dirigir ao
elefante na sala – ou à falta dele.
— Você acha que mamãe estará em casa em breve?
A luz nos olhos do meu irmão diminui.
— Eu realmente não dou a mínima para o que ela faz, Shan — ele
responde firmemente. — Desde que aquele idiota fique longe desta casa.
Ele vai voltar, Joey.
Você sabe disso.
Pare de mentir para si mesmo.
— Sim. — Eu mordisco a unha, pensando na resposta dele por um
momento antes de dizer: — O que vamos fazer se mamãe não voltar, Joe?
Era aí que minhas preocupações viviam.
Com minha mãe.
Porque ela nunca nos deixou durante a noite assim antes.
— Nós vamos conseguir, Shan — Joey responde, o pomo de Adão
balançando. — Como sempre fazemos.
— E escola? — Eu sussurro.
— A vovó estará em casa esta noite — Joey declara em um tom de voz
sensato. — Ela vai cuidar os meninos da mesma forma que ela sempre faz
com a escola e todas essas coisas. — Ele esfrega a mão no rosto antes de
acrescentar: — Tudo o que temos que fazer é manter a casa, pagar as contas,
embalar seus almoços de manhã e estar aqui à noite quando ela os deixar.
— Eu deveria ir à excursão da escola depois da Páscoa, mas se ela não
estiver em casa eu vou cancelar...
— Não — ele ladra. — Você não vai.
— Joey. — Suspiro. — Se mamãe não estiver de volta até lá, você não
pode cuidar dos meninos sozinho.
— Eu não vou — ele rebate. — Eu já disse que a vovó vai ajudar – Aoife
também. Não tem como você perder essa viagem. Você precisa sair dessa
merda, Shan. Mais do que qualquer um de nós.
— Tem certeza? — Eu falo baixo.
Ele assente.
Inalando uma respiração firme, eu digo:
— Eu sei que não digo isso muitas vezes, mas eu quero que você saiba
que eu te amo e estou muito grato por você ser meu irmão mais velho.
Joey faz uma careta.
— Você está pegando leve comigo, maninha?
— Não. — Eu coro. — Eu só quero que você saiba que você é importante
para nós. E nós apreciamos tudo o que você faz por nós.
Não nos deixe.
Por favor, nunca me deixe.
— Bem, o mesmo para você, garota — ele responde, parecendo um pouco
estranho.
— Você será um ótimo pai algum dia. — Eu decido provocá-lo e deixá-lo
ainda mais desconfortável.
Joey bufa.
— Sim, isso nunca está acontecendo, porra.
Eu pisco.
— Nunca diga nunca, Joe.
— Acredite em mim, eu já tive o suficiente de bancar o papai para os
filhos de outro homem para valer por uma vida inteira — ele retruca. —
Agora, suba e vista algumas roupas e vamos até o Deli para comer uma
baguete recheada de frango.
— A geladeira está cheia agora — eu o informo.
— Sim. — Ele sorri. — Mas minha namorada me deixou uma ordem
direta e eu não sou nem um pouco besta o suficiente para ignorar isso.
Eu não tinha comido nada desde ontem e meu estômago ronca com a
antecipação.
— Hash browns10 — eu praticamente ronrono enquanto penso sobre o que
eu ia comer. — E algumas geléias e uma latinha de coca-cola.
Pulando da cadeira, corro para a escada com a comida em mente.
— Espere, Shan. Eu quase esqueci... — Interrompendo no meio da frase,
Joey entra na cozinha, voltando alguns momentos depois com um pequeno
embrulho de presente em suas mãos.
Joey me entrega o presente e depois bagunça meu cabelo.
— Feliz doce dezesseis aninhos, Shan.
— Obrigada Joey. — Eu sorrio, segurando o que eu já sabia que era um
CD sob o papel de embrulho rosa.
— Eu te daria mais se eu pudesse — ele me diz com um encolher de
ombros envergonhado. — E eu esqueci de comprar um cartão...
— Pare — eu digo a ele enquanto me afundo no degrau da escada e
rasguei o papel de embrulho apenas para falar com entusiasmo: — Álbum do
McFly! — Com os olhos arregalados de excitação, olho para o CD na minha
mão e sorrio. — Eu realmente queria isso.
— Eu sei — ele bufa. — Você é uma garota. — Deslizando a mão no
bolso da calça jeans, ele joga outra caixa no meu colo. — Este é de Aoife —
explica.
Emocionada com a perspectiva de ganhar dois presentes, rasguei o papel
de embrulho de bolinhas e engasgo quando vejo o que havia dentro.
— Uau — eu respiro, boquiaberta para o frasco de perfume de grife em
minhas mãos. — Isso deve ter custado a ela uma fortuna.
— Ela deve amar você também — brinca Joey.
Reviro os olhos.
— Uh-hum.
— Se apresse e se troque — ele ordena, movendo-se para a porta da
frente. — Eu estarei no carro.
Correndo para o meu quarto com meus presentes a tiracolo, eu os coloco
cuidadosamente na minha cômoda antes de arrancar meu pijama.
Visto um suéter e uma calça de agasalho, rasgo a caixa que continha meu
novo frasco de perfume, me perfumo por toda parte e corro atrás de Joey.
Enfiando meus pés em meus tênis no corredor, pego meu casaco do
corrimão e corro para o carro.
No minuto em que subo no banco do passageiro, o cheiro de álcool agride
meus sentidos.
— Jesus, Joey — tusso enquanto abro a janela. — Cheira como uma
cervejaria aqui.
— Eu sei — Joey responde enquanto liga o motor e se afasta do meio-fio.
— Você pode culpar seus amigos de Tommen por isso.
— Meus amigos? — Eu balanço minha cabeça e olho para seu perfil. —
Do que você está falando?
— Johnny Kavanagh — afirma Joey. — Acabamos o deixando em casa na
noite passada.
— Oh.
Espere.
O quê?
— Você deixou Johnny em casa? — Eu odeio o jeito que minha voz
estava alta e aguda. — Quando... Como... Por quê?
— Ontem à noite, quando estávamos pegando nossa comida — Joey
explica enquanto saía da propriedade e entrava na estrada principal. — Ele
estava jogado contra uma parede do lado de fora da lanchonete da cidade.
Ele estava muito mal.
— Ele estava?
Oh Deus.
Preocupação enche meu peito.
— O que havia de errado com ele?
— Ele estava totalmente bêbado — resmunga Joey. — O amigo dele era
pior.
— Amigo dele? — Eu pergunto, tomando cuidado para mascarar a
emoção na minha voz. — A namorada dele?
— Nah, algum grande filho da puta loiro — Joey corrige e eu
mentalmente relaxo de alívio. — Acho que o nome dele era Gussie ou Gillie
ou algo assim.
— Gibsie — eu confirmo baixinho, pensando em como aqueles dois eram
grudados pelo quadril na escola.
— Esse mesmo. — Joey assente, então solta uma risada baixa. — O
maldito idiota se jogou em cima do carro, exigindo que eu lhe devolvesse o
seu centro — Rindo, ele acrescentou: — Ele parecia sério também. Como se
ele realmente pensasse que eu estava sequestrando Kavanagh.
Minhas sobrancelhas franzem.
— Por que Gibsie chamou Johnny de seu centro?
— A posição de Johnny é no centro no rúgbi — explica. — Ele é o
número 13.
Ah, sim, eu sabia disso.
Me lembro de sua camisa.
— Então, você deixou os dois em casa? — Eu pergunto, sentindo calor. —
Na casa de Johnny?
— Sim — meu irmão confirma. — Tive que ajudar Kavanagh a carregar
aquele cara, Gibsie, para dentro de casa. Ele estava sem pernas, Shan. Uma
bagunça. Nós o deixamos na sala de estar.
— Você entrou na casa de Johnny?
Meu cérebro estava girando, tentando digerir tudo o que meu irmão estava
me dizendo.
Ele estava com Johnny ontem à noite.
Ele estava em sua casa.
Ele estava dentro de sua casa.
Eu queria perguntar se ele perguntou sobre mim, mas consigo evitar que a
pergunta saísse dos meus lábios.
— Sim, Shan, e Jesus Cristo, pela aparência de sua propriedade, sua
família deve ser rica. — Joey solta um suspiro. — Nunca vi nada tão chique
na minha vida...
O som de um telefone tocando corta o ar, distraindo nós dois.
Nós dois procuramos em nossos bolsos.
— Não é o meu — Joey afirma.
— Nem meu — eu murmuro, olhando para o painel e depois para o chão
aos meus pés.
O toque foi interrompido e reiniciado alguns segundos depois, vibrando
alto.
— Verifique o banco de trás — Joey instrui enquanto para no acostamento
da estrada e liga o pisca-alerta.
Soltando o cinto, rastejo entre os assentos e me jogo no banco de trás,
meus olhos procurando o barulho entre os assentos.
— Nada? — Joey pergunta, voltando para o trânsito.
— Não.
Descendo entre os assentos, espio sob o banco do motorista.
— Ah, espere, está aqui! — Eu exclamo, os olhos travando no telefone de
aparência elegante acendendo e vibrando contra o chão. — Eu encontrei.
O toque foi interrompido novamente e eu estendo a mão, pegando o
telefone.
Arrastando de volta para o assento, eu rapidamente aperto meu cinto de
segurança, olhos grudados no telefone.
— Isso é da Aoife? — Olhei para o dispositivo de aparência cara. — Ela
ganhou um telefone novo no Natal?
— Não — responde Joey. — Os pais dela deram uma chapinha para ela
no Natal.
O telefone começa a tocar novamente, a tela se acendendo com o nome
Rei do Clitóris piscando nele.
— Eca, Joe — eu gemo. — Isso é nojento.
— O quê?
— Quem está ligando para este número está listado como Rei do
Clitóris…
Meu irmão joga a cabeça para trás e ri.
— Isso não é engraçado — eu advirto, observando a tela ficar em branco
novamente quando a ligação termina. — Isso é muito perturbador.
— É o cara, o cara Gibsie. Eu ouvi Johnny reclamando com ele sobre
mudar seus contatos ontem à noite — Joey ri. — Ele é o Rei do Clitóris.
O telefone acende novamente, vibrando em minhas mãos e tocando alto.
— Bem, atenda — meu irmão instrui, em tom impaciente. — Ele
provavelmente está procurando por isso.
— Eu não quero. — Empurrando minha mão entre os assentos, tento
empurrar o telefone para meu irmão. — Você atenda.
— Como diabos eu deveria atender? — Joey sibila, afastando minha mão.
— Eu estou dirigindo, Shannon. Apenas atenda o telefone.
— Não — eu recuso, balançando a cabeça. — Eles vão pensar que nós
roubamos.
— Não, eles não vão pensar que nós roubamos — Joey retrucou irritado.
O toque para, e Joey solta um rosnado. — Quando ele tocar de novo, atenda
essa merda!
Como um relógio, o telefone toca cinco segundos depois.
Tremendo, aperto o botão de aceitar e coloco o telefone no ouvido.
— Ah, oi?
— Bem, merda, eu não estava esperando que alguém atendesse — a voz
do outro lado responde. — Você tem o telefone do meu amigo.
— Sim, eu sei. — Fechando meus olhos, eu pressiono a palma da minha
mão na minha testa e exalo pesadamente. — Ele deixou no carro do meu
irmão ontem à noite.
— A noite passada está um pouco nebulosa — Gibsie fala lentamente. —
Então, você pode precisar refrescar minha memória me deixando saber quem
é seu irmão?
— Joey Lynch? — Eu solto, tentando não hiperventilar na frente do meu
irmão. — Ele e sua namorada Aoife deixaram vocês na cidade ontem à
noite. O telefone estava embaixo do assento dele. — Me contorcendo
desconfortavelmente, eu lanço um aviso rápido dizendo: — Acabei de
encontrá-lo há dois minutos.
— Não — Gibsie responde depois de uma longa pausa. — Eu não tenho
nenhuma lembrança de que isso aconteceu.
— Bem, claramente aconteceu — eu retruco, nervosa. — Considerando
que o telefone do seu amigo está no carro do meu irmão.
— Pequena Shannon?— Gibsie parece estar se divertindo. — É você?
— Ah, sim. — Eu fico vermelha. — Sou eu.
— Seu irmão está com você agora? — ele pergunta.
— Sim, mas ele está dirigindo, então ele não vai usar o telefone.
— Ele se lembra onde ele nos deixou na noite passada?
— Espere, eu vou perguntar… — Fazendo uma pausa, eu cubro o
microfone e olho para Joey. — Eles querem saber se você se lembra onde
fica a casa.
Joey assente e eu volto para a ligação.
— Sim, ele se lembra.
— Você pode me colocar no alto-falante?
— Vou tentar. — Clicando em alguns botões, seguro o telefone na orelha
de Joey. — Ok, você está no alto-falante agora.
— Ei cara, como vai? — A voz de Gibsie sai muito mais alta agora,
embora ele estivesse visivelmente rouco.
— Melhor do que você pelo som disso — meu irmão brinca. — O que
você precisa?
— Você pode deixar o telefone de Kav aqui? — ele pergunta. — Sinto
muito te fazer desviar o caminho, cara, mas ele está perdendo a cabeça aqui.
Ele fica estranho para caralho quando se trata de suas informações pessoais.
— O quê eu ganho com isso?— Joey joga de volta, sem perder o ritmo.
— Joey — eu sussurro.
Ele atira um sorriso atrevido de volta para mim.
— Merda, cara, eu não sei — Gibsie murmura. — Um sanduíche e um
bule de chá? Eu não tenho muito a oferecer.
Horrorizada, balanço a cabeça e digo não, mas Joey diz:
— Sim, ótimo. Chegamos em trinta.
— Joey! — Choramingo.
— Um milhão de obrigados — responde Gibsie, parecendo aliviado. —
Você é incrível.
— Não se preocupe — Joey responde, pegando o telefone da minha mão.
— E eu gosto das minhas fatias crocantes — acrescenta antes de cortar a
ligação e largar o telefone no assento ao lado dele. — Um desvio.
— O que você está fazendo? — Eu gaguejo, de olhos arregalados. — Nós
não vamos para lá!
— Qual é o problema? — ele questiona. — Eu pensei que vocês fossem
amigos?
— Eu os conheço da escola, Joey — eu engasgo. — Isso não significa que
eu sou amiga deles!
— Relaxe, estamos apenas levando o telefone do cara.
— E você está ficando para tomar café da manhã!
— Bem, eu dificilmente estou dirigindo tão longe do meu caminho para
nada. — Joey ri. — Além disso, estou com fome.
— Sim, para um baguete de frango — eu o lembro.
— Eu mudei de ideia.
— E quanto a Aoife? — eu exijo. — E os meninos?
— Aoife e as crianças não vão voltar até uma hora — ele responde. — Ela
mesma disse isso.
— Joey, não podemos ir até lá — imploro. — Por favor.
— Shannon Lynch — Joey diz em um tom de provocação. — Está
corando?
— Não — eu resmunguei.
— Você sabe que está tudo bem para mim se você gosta dele, não é?—
Joey ri. — Eu não sou esse tipo de irmão. Tudo que eu quero que você faça é
ter cuidado. Eu lhe disse o que ele é. Ele vai embora no verão, então depende
de você se você quer ficar presa a algo temporário.
— Não quero — eu minto, mortificada. — Então deixa para lá.
— Bem justo — Joey medita. — Então você não deve ter nenhum
problema em parar para comer alguma coisa.
— Você pode fazer o que quiser. — Amuada, cruzo os braços sobre o
peito e bufo. — Eu não vou sair deste carro.
Meia hora de silêncio tenso depois, paramos diante de um par gigantesco
de portões de ferro pintados de preto, e Joey abaixa a janela, estica o braço e
digita algo no bloco.
Alguns momentos depois, os portões se abrem.
Minha boca se abre.
— Você tem a senha do portão dele?
Meu irmão ri em resposta.
Alguns momentos depois, os enormes portões se abrem para dentro e
continuamos por uma longa e sinuosa viela ladeada de árvores enormes de
ambos os lados.
Uma casa aparece alguns minutos depois e eu respiro fundo.
Oh Deus.
Era aqui que ele morava?
Claro que era.
— Uau — eu sussurro para mim mesma, observando a enorme mansão
em estilo vitoriano com um zilhão de janelas e a maior porta da frente que eu
já tinha visto.
— Eu sei — Joey concorda com um suspiro impressionado.
Pressionando minha bochecha contra a janela, olho para os gramados e
jardins espalhados enquanto o som do cascalho esmagado sob os pneus
enche meus ouvidos.
Era de cor cinza-pedra, mas estava envolto em tanta hera que parecia
quase majestoso.
— Parece seis da nossa casa lado a lado — eu sussurro, olhando para a
propriedade. — Há, tipo, doze janelas na parte superior apenas.
Joey para do lado de fora da porta da frente e desliga o motor antes de
sair.
— Você deveria vê-la por dentro — ele diz, estendendo a mão e pegando
o telefone. — Fodidamente incrível.
Meu olhar segue Joey enquanto ele caminhava até a porta da frente, bate
uma vez e depois entra.
Caralho.
Meu irmão acabou de entrar na casa de Johnny Kavanagh.
33
JOHNNY
SHANNON
RESPOSTAS
JOHNNY
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SHANNON
É SEU ANIVERSÁRIO
SHANNON
JOHNNY
É o aniversário dela.
Hoje é o décimo sexto aniversário de Shannon.
E ela está passando ele comigo.
Eu estou feliz.
Quão louco é isso?
Essa garota que antes do Natal era uma total estranha, e desde o Natal, eu
não consigo imaginar passar um dia sem pensar nela.
Eu não quero devolvê-la.
Algo dentro de mim me dizia que se eu fizesse, ela voltaria com outra
contusão.
Pelo menos se eu a mantivesse comigo, ela estaria segura.
Havia algo muito fodido em sua vida.
Algo que me faz querer arrebatá-la e levá-la comigo, onde quer que seja.
Eu não era estúpido.
Eu sabia que alguém tinha colocado aquelas marcas em seu rosto.
E em suas coxas.
E em seus braços.
E eu tinha quase certeza de que se eu desnudasse a garota, eu encontraria
muito mais.
Eu não sabia o que estava acontecendo, ou quem a estava intimidando,
mas eu descobriria.
No entanto, perguntar diretamente a ela estava fora de questão.
Ela era tão malditamente reservada que era quase impossível penetrar nas
paredes que ela construiu ao redor de si mesma.
Acho que posso estar fazendo um bom trabalho, mas se eu empurrar
muito rápido demais, ela vai recuar de volta em sua concha.
Eu quero esmagar aquela porra de concha e os bastardos responsáveis por
fazê-la se esconder lá em primeiro lugar.
Ela era adorável.
Fodidamente adorável.
Ela não precisa esconder nada de seu brilho atrás daquela maldita dor.
Shannon estremece então e o movimento me distrai.
Já eram dez da noite e ela não abriu os olhos uma vez desde que
adormeceu esta tarde.
— Shh — eu sussurro quando ela choraminga em seu sono.
Eu nem tento me impedir de acariciar seu cabelo.
Eu estou além de ajuda quando se trata dela.
Eu estou além da porra de parar.
Tudo dentro de mim está mudando, focando nessa garota.
Aninhando sua bochecha contra minha coxa, Shannon se aconchega mais
perto, enrolando-se na menor bola que eu já vi uma pessoa da idade dela
contorcer seu corpo.
Como a aberração obsessiva que eu era, permito que meu olhar pousasse
em sua bochecha machucada pela milionésima vez esta noite.
Eu sei que não deveria olhar para isso.
Isso faz meu corpo vibrar de raiva.
E ainda assim, eu não consigo me conter.
Olho para a marca em seu rosto até estar suficientemente cheio de raiva
para derrubar uma aldeia inteira, e então volto minha atenção para os
hematomas em suas coxas.
Meu telefone vibra no meu bolso então, e a sensação me tira dos meus
pensamentos assassinos.
Puxando meu telefone, olho para a tela, não reconhecendo o número
piscando na frente dos meus olhos.
Com cuidado para não acordar Shannon, eu deslizo para fora do seu lado e
espero que ela se acalme.
Tirando meu moletom, eu o coloco sobre suas pernas nuas e então saio do
cômodo para atender a ligação.
— Sim? — Eu digo quando eu estou no corredor.
— Como ela está? — A voz de Joey Lynch vem na linha.
— Ela está dormindo — eu respondo, mantendo meu tom baixo porque se
ela acordasse e pedisse para ir para casa, eu honestamente não sabia o que
faria. Eu não posso recusar, mas certamente não quero. — Ela esteve fora o
dia todo.
— Bom — ele responde com um suspiro. — Ela precisava.
— O que está acontecendo, Lynch? — Me movendo para a porta da
frente, eu a abro e entro no ar frio da noite. — Que porra está acontecendo
com sua irmã?
— Eu já te disse — ele retruca. — Pergunte a ela.
— Eu estou perguntando a você — eu rosno.
— Estarei na sua casa em cinco minutos — é tudo o que Joey responde
antes de cortar a ligação e me deixar tão sem noção como sempre.
Furioso e completamente perdido, eu ando pelo corredor, sabendo que eu
preciso me controlar, mas não encontrando a contenção para fazer isso.
Exatamente cinco minutos depois, uma pequena batida vem do outro lado
da minha porta da entrada.
Como o lunático furioso que eu sou, eu estava lá esperando por ele.
Abro a porta com força, abro minha boca, pronto para perder a cabeça
com Joey Lynch, quando a voz de Shannon vem atrás de mim.
— Joe? — ela diz com uma voz sonolenta enquanto paira na porta da sala.
Eu me movo para ir até ela, para dizer a ela para ir para o meu quarto e
ficar lá, mas seu irmão a intercepta antes que eu possa.
— É hora de ir, Shan — Joey anuncia.
— É? — Seus olhos se arregalam em pânico por um breve momento antes
de mudar para a resignação. — Ok.
— Sim. — Ele exala uma respiração pesada. — A mãe precisa de uma
ajuda com as crianças.
— Ela pode ficar — eu me apresso em dizer. Olho para Shannon e
acrescento: — Você pode ficar.
— Não, nós precisamos ir — Joey declara enquanto coloca um braço
protetor em volta do ombro de Shannon e a leva para fora da minha casa. —
Obrigado por sua ajuda, Kavanagh.
Agitado, eu sigo atrás dos dois.
— Obrigada, Johnny — Shannon sussurra, olhando para mim com olhos
tristes enquanto seu irmão a leva para fora. — Por tudo.
— Shannon, você não precisa…
— Vamos, Shan — Joey me interrompe dizendo. — Precisamos chegar
em casa.
— Mamãe está bem? — Shannon pergunta quando seu irmão a leva até o
lado do passageiro e abre a porta.
— Ela vai ficar bem — Joey diz a ela. — Mas precisamos ir para casa.
Eu não tinha a menor ideia de por que minhas pernas me movem para o
lado do passageiro do carro, mas foi o que aconteceu.
Me sentindo impotente, observo enquanto seu irmão a coloca no banco do
passageiro antes de dar a volta no carro para o lado do motorista.
— Tchau Johnny — Shannon sussurra enquanto Joey liga o motor.
Ela se move para fechar a porta do carro, mas minha mão se move para
fora, impedindo-a de fechá-la.
Ela olha para mim com aqueles grandes olhos azuis.
Fique.
Fique comigo, Shannon.
Eu posso mantê-la segura...
— Tchau, Shannon — eu digo a ela em vez disso, e com uma relutância
que beirava ao arrependimento, fecho a porta.
Os pneus do carro de seu irmão derrapam com a força que ele arranca da
minha garagem.
De pé na chuva torrencial, eu o observo levá-la para longe de mim.
39
SHANNON
LINHAS E TRATORES
JOHNNY
BLOQUEIE
SHANNON
SHANNON
MÃES INTROMETIDAS
JOHNNY
SHANNON
— Sem trapaças! — Johnny late uma hora depois. — Isso é trapaça pra
caralho.
— Não, não é — eu rio enquanto digito outro código de trapaça para
carregar a vida do meu boneco — Você nunca disse nada sobre códigos de
trapaça.
— Sim, eu fodidamente disse — Johnny bufa ao meu lado.
— Sem cartões de memória. Comece do zero, e a pessoa que completar
mais missões antes de morrer é a vencedora — eu imito sua voz. — Você
nunca disse nada sobre códigos de trapaça.
— Você é perigosa — Johnny resmunga. — E sorrateira.
— Eu sou a melhor. — Eu gargalho quando termino outra missão. — Eu
tentei avisá-lo.
— Sim, bem, eu não esperava que você fosse a porra do Bill Gates do
GTA, não é?
Eu rio alto, me sentindo completamente à vontade com ele neste
momento.
— Porque eu sou uma menina?
— Porque eu pensei que você era doce — Johnny atira de volta, e eu não
preciso olhar para saber que ele está fazendo beicinho.
Ele está fazendo beicinho por quase uma hora.
Eu rio para mim mesma.
— Agora eu sei melhor — Johnny bufa. — Você é uma pequena demônia.
Mordendo o lábio para me impedir de rir de sua birra, me concentro ainda
mais em fugir dos policiais que me caçam.
— Como você está fazendo isso? — Johnny exige então, claramente
indignado. Pulando para frente, ele acena com a mão para a tela. — Você
tem cinco fodidas estrelas. Cinco. E você ainda não está morta.
Pausando o jogo, me viro e dou-lhe toda a minha atenção.
— Você é um mau perdedor, Sr. Eu Sou Uma Grande Estrela do Rúgbi?
O rosto de Johnny fica com um tom hilário de vermelho.
— Você não gosta quando uma garota te derrota? — Continuo a provocar,
usando as mesmas provocações que deixam Joey furioso quando jogávamos
juntos. — Você não pode levar sua surra como um homem?
— Você tem tanta sorte que você é uma menina agora — Johnny me diz,
os lábios se contraindo.
— Por que? — Eu ri. — Você prefere perder para os meninos?
— Dê-me essa porra de controle — Johnny rosna e então se lança sobre
mim. — O poder está indo para sua cabeça.
— Não! — Eu grito/rio, me virando de lado para proteger o controle. —
Eu não terminei… Ahhhh!
— Dê para mim — Johnny ri enquanto tenta deslizar a mão debaixo do
meu braço.
— Nunca — eu declaro através de ataques de riso. — É meu – pare, por
favor - Ahhhh, estou com cócegas…
— Agora, Shannon, amor, eu sinto muito por isso. Minha ligação de
trabalho demorou mais do que o esperado. — A Sra. Kavanagh anuncia
enquanto entra no quarto de Johnny sem bater, fazendo com que eu salte do
pufe e Johnny gema em desespero.
— Vá para o banheiro e troque essas roupas molhadas — a Sra. Kavanagh
instrui enquanto colocava uma pilha de roupas dobradas no pé da cama dele.
— Vou colocar seu uniforme na secadora e estará pronto antes de você ir.
— Não, não — eu me apresso a dizer, empunhando o controle do
PlayStation na minha frente como se pudesse de alguma forma afastar sua
bondade. — Eu estou bem como estou... obrigada.
— Bobagem, querida — a Sra. Kavanagh diz com um aceno de desdém.
— Você não pode ficar sentada com roupas molhadas. Você vai morrer.
— Mãe — Johnny diz com um suspiro de dor. Ele fica de pé e exala uma
respiração frustrada. — Deixe-a em paz, sim?
— Não seja tão rude, Johnny — adverte a Sra. Kavanagh. — Mostre a
pobre menina o banheiro e me traga suas roupas para secar.
— Eu realmente estou bem — eu engasgo, olhando para Johnny
suplicante. — Estou me secando.
Eu não estou.
Eu estou úmida e com frio, mas estou me divertindo tanto que esqueci
completamente do meu uniforme encharcado.
Eu tinha literalmente esquecido dos meus problemas, minhas roupas
molhadas, meus pais, todos, na última hora.
No momento em que meu cérebro registra a umidade penetrando em meus
ossos, eu tremo por dentro.
Droga.
— Ela acabou de dizer que está bem, mãe — Johnny geme, olhando para
sua mãe com horror. — Deixe-a em paz. Por favor.
Ignorando os protestos de seu filho, ela se vira para mim, sorrindo.
— Um bom banho quente vai te aquecer, amor.
— O–o quê? — Eu murmuro. — Eu não posso tomar banho na sua casa.
— De novo.
Por que as pessoas sempre me dizem para tomar banho na casa desse
garoto?
Deus!
— Claro que você pode — ela responde com o sorriso mais caloroso que
eu já vi.
— Mãe, você pode simplesmente ir? — Johnny fala mordaz. — Agora?
Estávamos no meio de algo aqui.
Ela dá-lhe um olhar duro.
— No meio de quê?
Aceno o controle para ela.
— Eu o venci no PlayStation.
— Não — Johnny corrige. — Ela não me venceu em nada... — Johnny
faz uma pausa para me encarar — Você ainda não ganhou... — e então se
vira para sua mãe e acrescenta: — Ela apenas jogou a régua fora.
— Para o espaço — eu murmuro baixinho.
— Eu ouvi isso — ele atira de volta, sorrindo.
A Sra. Kavanagh olha entre nós e então sorri.
— Ele é um péssimo perdedor, não é?
— Eu não sou, porra!
— Eu sei — eu rio.
— O pai dele é igual — acrescenta a Sra. Kavanagh. — Você deveria vê-
lo se ele perde no tribunal. Fica sem falar por horas.
— Mãe — Johnny retruca. — Você pode nos deixar em paz? Por favor?
— Eu vou — ela responde. — Uma vez que aquela pobre garota tomar
um banho quente e colocar algumas roupas secas nela.
— Ela não quer um…
— Você sabe o que, Shannon, querida? — ela acrescentou, mais uma vez
ignorando seu filho. — Eu poderia ter algo em meu escritório que caiba em
você. — Ela me olha de cima a baixo e bate no lábio antes de dizer: — Você
veste um tamanho seis do Reino Unido?
Assustada, eu apenas fiquei lá enquanto a Sra. Kavanagh me circula,
sobrancelhas franzidas em concentração.
— Mãe! — Johnny fala. — Recue.
— Não, não — Sra. Kavanagh medita, ignorando seu filho.
Franzindo a testa, ela se aproxima e puxa a bainha da minha saia e franze
os lábios.
— Você é um pequeno quatro. — Seus olhos trilham sobre mim. — Com
a estrutura óssea mais incrível. Shannon, amor, é uma pena que você não
seja mais alta. Você seria uma modelo linda...
— Jesus Cristo, mãe — Johnny ladra, passando a mão exasperada pelo
cabelo. — Ela não é uma maldita boneca.
Os olhos de sua mãe se arregalam de animação quando ela diz:
— Você gostaria de vir ver se podemos encontrar algo para você usar no
meu…
— Não, ela não vai — Johnny interrompe enquanto intercepta sua mãe e a
leva até a porta. — Ela não é um projeto, mãe, ou um maldito cabide.
— Tudo bem — Sra. Kavanagh bufa.
— Obrigado — Johnny rosna.
Virando-se para o filho, ela sussurra:
— Porta aberta, Johnathon — e dá-lhe um olhar duro antes de sair do
quarto dele, cantarolando baixinho para si mesma.
Johnny a observa caminhar pelo corredor e sumir de vista antes de fechar
a porta e girar a fechadura.
Exalando pesadamente, ele se vira para olhar para mim.
— Mais uma vez, eu sinto muito por ela. — Johnny dá de ombros
impotente. — Eu não sei o que há de errado com essa mulher hoje.
— Está tudo bem — eu me apresso para acalmá-lo. — Ela é, uh, ela é
muito amigável.
— Sim — ele murmura. — Apenas fique feliz que ela não arrastou você
para aquele quarto de roupas. — Estremecendo, ele acrescenta: — Você
nunca sairia de lá.
— Sério?
— Ah, sim — ele murmura.
— Oh.
— Desculpe novamente por toda a coisa dela avaliando você — ele diz,
parecendo mortificado. — Ela queria uma menina, eles foram informados de
que teriam uma filha, na verdade. — Sorrindo timidamente, ele acrescentou:
— Ela me teve em vez disso.
— Um filho de 1,90 jogando rúgbi — eu medito, sorrindo de volta para
ele. — Eu posso ver por que você pode ter a enganado.
— Sim — ele ri e então aperta o nariz em um ato de vergonha. — Ela e
meu pai queriam um monte de filhos, mas não funcionou assim para eles. —
Ele torceu o nariz então, obviamente pensando em algo pessoal. — Levou-
lhes um monte de tentativas de fertilização in vitro ou alguma merda assim.
— Ele dá de ombros e faz um gesto para si mesmo. — Isso é o que o
dinheiro deles trouxe.
— Você — eu ofereço com um sorriso.
Ele sorri como um lobo.
— Sorte deles, hein?
Sim.
Sorte deles.
— Ela está fora à trabalho a maior parte do tempo — ele continua a dizer.
— Na verdade, ela voa de volta para Londres de manhã por algumas
semanas. Mas quando está em casa ela gosta de se envolver na minha vida.
— É bom — eu digo a ele. — Você tem sorte de ter uma mãe como ela.
— Sim — ele retruca sarcasticamente. — Claro que tenho.
Ele tem.
Johnny não percebe, mas no espaço de uma ou duas horas, a mãe dele se
interessou mais por mim do que minha mãe em meses.
Talvez até anos.
— Ouça, é melhor você tomar um banho e me dar suas roupas — Johnny
diz com um suspiro. — Caso contrário, ela vai voltar e continuar reclamando
sobre pneumonia e toda essa merda.
Ele está falando sério?
Eu deveria mesmo tomar banho na casa dele de novo?
— Estou falando sério — Johnny murmura, lendo meus pensamentos. —
E eu sinto muito.
— Oh. — Corando, eu enrolei minhas mãos na minha frente e dei de
ombros incerta. — Hum, está bem?
Ele me encara por um longo momento antes de balançar a cabeça.
— Venha aqui.
— Venha para onde?
— Aqui — ele instrui, gesticulando para que eu o seguisse até seu
banheiro privativo.
Como um potrinho, corro atrás dele, com as pernas trêmulas e desajeitada.
Pairando na porta de seu banheiro luxuoso, observo quando ele estende a
mão sobre a banheira e liga o chuveiro.
— Você, uh, disse que teve um problema com isso da última vez — ele
murmura com um encolher de ombros.
— Eu disse?
— Uh, sim — ele responde, movendo-se desconfortavelmente. — Você
estava murmurando em seu sono sobre meu chuveiro escaldando você.
Fico de um tom vermelho beterraba.
— Oh, Deus, me desculpe — eu engasgo, me sentindo nervosa
novamente.
— Pare — ele avisa com um sorriso. — Isso foi fofo.
— Fofo? — Eu falo, praticamente hiperventilando.
— Uh, sim, eu vou colocar algumas roupas para você de novo. — As
bochechas de Johnny ficaram coradas de rosa quando ele passa por mim e
corre de volta para seu quarto — O mesmo da última vez.
— Onde vou colocar minhas roupas?
— Basta jogá-las fora para mim quando você estiver nua… ah, quando
você estiver pronta — ele murmura rispidamente. — Vou colocá-las na
secadora — acrescenta antes de fechar a porta e me deixar sozinha em seu
banheiro.
Tremendo, eu afundo na tampa do vaso fechado e exalo uma respiração
irregular.
Oh Deus.
45
EU SOU VIRGEM
JOHNNY
SHANNON
Assim como da última vez que tomei banho no glorioso banheiro de Johnny,
demoro um tempo insano.
Eu não posso evitar.
Eu culpo a força do chuveiro.
E seu sabonete.
E o cheiro dele.
Deus, eu estou perdendo a cabeça.
Quando eu finalmente saio da banheira, eu me enrolo em uma das
enormes e fofas toalhas brancas penduradas em sua prateleira e suspiro
quando o tecido luxuoso roça minha pele.
Johnny nunca entenderia a sorte que teve de crescer em uma casa como
aquela, com pais como os dele e toalhas tão macias.
Por um longo tempo, eu fico ali no meio do banheiro dele, ouvindo
absolutamente nada.
Sem vozes gritando.
Nada de passos pesados.
Nenhuma maçaneta de porta chocalhando.
Sem sentimentos de destruição iminente.
Apenas paz.
Quando o frio finalmente toma conta de mim, eu me seco e coloco meu
sutiã de volta.
Usar um sutiã era uma perda de tempo, considerando que eu não tinha
muito o que esconder e o que eu tinha era feliz e ficava em pé por conta
própria.
Eles certamente não combinam com os seios que aquelas modelos na
parede de seu quarto exibiam orgulhosamente…
No entanto, dez segundos depois de usar meu sutiã, eu estou rapidamente
puxando-o de volta com um estremecimento.
Estava encharcado, junto com minha calcinha.
Passei uma quantidade excessiva de tempo dobrando minha calcinha na
menor bola que pude antes de enrolar meu sutiã em volta delas.
Envergonhada por não ter minha mochila para guardar, fico parada como
uma tola no meio do banheiro, em pânico.
A lógica me diz que eu estava sendo boba, mas o pensamento de Johnny
vendo minha calcinha me faz querer desmaiar um pouco.
Desistindo, eu decido enfiá-los na minha meia-calça embolada antes de
me enrolar em uma toalha e voltar para o quarto dele.
Desta vez, quando eu saio do banheiro, eu estou preparada para Sookie e a
encontro cochilando na cama.
Eu não estou, no entanto, preparada para a visão da bunda nua de Johnny.
Ele está de pé na frente de sua cômoda de costas para mim, uma toalha no
chão a seus pés, e está no processo de puxar uma cueca até as coxas.
Deus, ele ainda tem músculos em sua bunda.
Como isso era possível?
E então Johnny olha por cima do ombro e me pega em flagrante.
— Gosta do que está vendo? — ele brinca, arqueando a sobrancelha.
— Oh, Deus — eu grito e, em seguida, rasgo meu olhar para longe de sua
bunda redonda e apertada. — Eu sinto muito. — Girando, mordo meu lábio
e forço um gemido. — Eu não esperava que alguém estivesse aqui.
— Está tudo bem, Shannon — ele ri. — Não se preocupe com isso.
Me deixe morrer.
Querido Deus, abra o chão e me deixe cair nele.
— Eu, uh... — Balançando minha cabeça, eu aperto minha toalha. — É...
uh…
— Tomei banho no banheiro dos meus pais — explica Johnny. — Eu só
estava vindo para pegar algumas roupas.
— Oh. — Eu solto uma respiração irregular e mudo o peso de pé. — Ok,
sim, isso faz sentido.
— Está tudo bem, Shannon — Johnny diz em um tom gentil. — Está tudo
bem.
— Eu sei disso — eu solto, em pânico.
Ele ri baixinho.
— Então por que você ainda está de frente para a parede?
Droga.
Inalando uma respiração estabilizadora, eu me viro e o encaro.
Meu olhar automaticamente varreu sobre ele e minha frequência cardíaca
dispara.
Pela primeira vez, o rosto de Johnny não era o motivo do meu pulso
acelerado.
Não, isso era por causa do resto dele.
O resto quase nu dele.
Ele está vestindo uma cueca boxer branca apertada e era isso.
Sem camisa.
Sem calças.
Sem suéter.
Sem meias.
Apenas uma cueca Calvin Klein que pendia baixo em seus quadris
recortados em V – idêntico ao par que eu tinha usado na semana passada.
O par com quem eu dormi por noites.
Deus, eu era patética.
Tudo o que eu tinha imaginado desde o momento em que coloquei os
olhos nele estava bem na minha frente.
E com essa visão desobstruída vem a percepção de que tanto minha
imaginação quanto minha memória visual eram uma droga.
Eu já sabia que ele tinha um corpo bonito.
Me lembro de seu peito daquele dia.
Ou pelo menos eu acho que lembro.
Aparentemente não, porque Santa Maria Mãe de Deus, de perto, ele era
outra coisa.
Seu peito estava nu e seus peitorais eram tonificados, seu estômago era
definido.
Quero dizer, ele era seriamente definido.
Não como o tanquinho que meu irmão tem ou qualquer um dos rapazes
que eu tinha visto trocando de camisa depois das partidas de Joey.
Todo o seu corpo era uma massa sólida de músculos duros e esculpidos.
Prendo a respiração enquanto permito que meus olhos vaguem sobre ele,
absorvendo a visão do abdômen ondulado, pele dourada e bronzeada, a trilha
escura de cabelo sob seu umbigo, e aquele jeito incrível que ele cheira.
Como sabão e grama e Johnny.
Não era justo dar tanta beleza a uma pessoa.
Eles poderiam ter espalhado por toda a escola e ele ainda seria perfeito.
— O que aconteceu aqui? — Johnny pergunta então, me distraindo do
meu olhar, enquanto ele se aproxima de onde eu estava e acaricia o polegar
na minha bochecha.
Confusa e exausta, solto um suspiro trêmulo e olho para ele.
— Huh?
— Você tem uma marca vermelha — Johnny murmura, franzindo a testa
para mim. — Eu não percebi isso antes.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Eu tenho?
Ele acenou com a cabeça, olhos azuis fixos nos meus.
— Sim, Shannon, você tem.
Escorregando em torno dele, eu entro no banheiro para verificar no
espelho.
Com certeza, minha bochecha direita estava vermelha e manchada, onde o
resto de mim estava pálido.
Esse seria o tapa do meu pai, penso comigo mesma.
— Bem? — Johnny pergunta, se inclinando na porta.
Me inclino para frente, me esticando sobre a pia para dar uma olhada
melhor no espelho.
Johnny caminha até onde eu estou.
E então ele começa a pairar atrás de mim, seu peito nu esfregando contra
minhas costas, enquanto ele olha para o meu reflexo no espelho, o rosto em
uma carranca profunda.
Eu não acho que ele percebe que estava fazendo isso – roçando seu corpo
contra o meu.
Seu foco tinha se movido da minha bochecha para o meu pescoço.
Sua expressão era sombria, o rosto ficando em um tom escuro de roxo.
— Que porra é essa? — ele assobia.
Sigo seu olhar para as fracas impressões digitais arroxeadas que revestem
meu pescoço.
A consciência me atinge.
O meu pai.
Noite passada.
Oh Deus.
— Eu não sei — respondo, fingindo confusão, decidindo que era mais
seguro manter a história original.
Se eu recuasse agora, Johnny sentiria o cheiro da mentira.
— Você não sabe? — ele pergunta baixinho, os olhos fixos nos meus no
espelho.
Balançando a cabeça, deixo meus ombros caírem.
— Nenhuma ideia.
— Alguém está machucando você, Shannon? — ele pergunta com uma
voz mortalmente calma.
— Ninguém está me machucando, Johnny — eu sussurro, os olhos
colados aos dele no espelho.
Meu coração bate tão forte que eu temo que possa explodir.
Era uma mistura terrível de medo, incerteza e luxúria, tudo em uma bola
complicada de emoções na boca do meu estômago.
Alcançando com uma mão, Johnny segura meu queixo e usa sua mão livre
para gentilmente varrer meu cabelo do meu pescoço.
Ele não pede permissão se poderia me tocar.
Ele apenas faz isso.
Então seus dedos estão traçando as impressões digitais deixadas por meu
pai, seu toque leve como uma pluma fazendo meu corpo inteiro tremer.
— Alguém tocou em você — Johnny sussurra em meu ouvido, colocando
os dedos sobre as marcas. — Eu quero saber quem.
O ar escapa dos meus pulmões em um suspiro audível.
Incapaz de me impedir, eu caio contra seu peito, olhos colados em nosso
reflexo no espelho enquanto ele olha de volta para mim, olhos azuis
queimando buracos em minha alma, esperando por uma explicação que eu
nunca poderia dar a ele.
— Diga-me quem colocou as mãos em você — ele tenta convencer,
enquanto ele está atrás de mim, meu rosto em sua mão e seus dedos em
minha garganta. — E eu vou fazer isso ficar melhor.
Pense, Shannon, pense...
— Bem?
Se apresse...
— Shannon?
— Eu fui esmagada na educação física — é tudo que eu invento.
Johnny não responde.
Ele apenas continua a olhar para o meu pescoço com uma expressão
sombria.
Em pânico, me apresso a acrescentar às minhas mentiras:
— Foi minha culpa. Atrapalhei os meninos durante o futebol e quatro
deles acabaram batendo em mim.
Escorregando para fora do arredor de Johnny, volto para o quarto dele,
colocando algum espaço entre nós.
— Acabei no fundo de um tumulto. Aconteceu pouco antes de você entrar.
— Balançando a cabeça, forço uma pequena risada. — Foi uma carnificina
total.
Johnny paira na porta do banheiro, expressão tensa, olhos afiados e
espertos.
— Então, uma das mãos dos garotos da sua turma por acaso pousou em
seu pescoço? — ele pergunta, tom misturado com descrença. — Seus dedos
por acaso apertaram sua garganta?
Ele não é bobo, penso comigo mesma. Minta melhor, Shannon.
— Não parecia assim na hora. — Dou-lhe um encolher de ombros fraco e
sento-me na beirada de sua cama. — Mas acho que foi isso que aconteceu.
— Você acha? — ele repete, cruzando os braços sobre o peito.
O movimento faz com que seus enormes bíceps inchem.
Ele era seriamente enorme.
Era incrivelmente intimidante.
Mas eu sabia que ele não iria me machucar.
Era uma das poucas coisas na minha vida que eu tinha certeza absoluta.
Esse garoto nunca colocaria as mãos em mim com raiva.
Inalando uma respiração estabilizadora, acrescento:
— Talvez ele me pegou quando estava tentando se levantar.
— Talvez — Johnny medita, concordando com a cabeça.
Eu relaxo de alívio.
— Ou talvez fossem aqueles Legos de novo.
Meu coração afundou.
— Foi isso? — Johnny exige. — Você caiu no mesmo Lego que você caiu
quando machucou seu rosto no seu aniversário, que deixou essas impressões
digitais na garganta?
— Johnny…
— E o hematoma na parte de trás do seu pescoço na vez anterior? Ou a
marca vermelha no seu rosto na vez anterior de novo? Ou os hematomas em
suas coxas? E seus braços? E o resto de você? — Ele olhou para mim. —
Eram aqueles Legos irritantes também?
— Você acha que meu uniforme já está pronto? — Mudo de assunto
perguntando. — Eu provavelmente deveria ir para casa.
Sim, eu preciso sair daqui.
E rápido.
— Não. Não! Não faça isso — Johnny chama a atenção na minha fuga. —
Não tente me ignorar — ele rosna. — Eu quero saber o que aconteceu com
você, Shannon.
— Eu quero ir para casa. — Fungando, eu rapidamente enxugo meu rosto
com as costas da minha mão. — Agora, por favor.
Ele passa a mão pelo cabelo úmido e suspira.
— Cristo, Shannon, não chore!
Ele descruza os braços e se move em minha direção, mas eu balanço a
cabeça e levanto a mão para avisá-lo.
Johnny para e passa a mão pelo cabelo.
— Eu posso ajudá-la — ele implora. — Deixe-me ajudar você.
— Então me ajude pegando minhas roupas. — Eu fungo. — Essa é a
única ajuda que eu preciso de você.
Exalando um gemido de dor, Johnny fecha o espaço entre nós e se agacha
na minha frente.
— Eu quero ajudar você. — Ele coloca as mãos na parte externa das
minhas coxas e olha para mim, os olhos azuis arregalados e sinceros. Ele
aperta minhas coxas suavemente. — Tudo que você tem a fazer é me dizer o
que está acontecendo, ok? — Estendendo a mão, ele colocou uma mecha de
cabelo molhada atrás da minha orelha — Apenas me diga quem está
machucando você e eu vou fazer isso acabar.
Você não pode me ajudar.
Ninguém pode.
Levei essa surra por falar com você.
Por tirar uma fodida foto com você.
Você é a última pessoa que pode me ajudar.
— Eu estou bem, Johnny — eu resmungo, sentindo as lágrimas nos meus
olhos. — Você não precisa me ajudar.
— Você está mentindo para mim — ele rosna, parecendo furioso. — Você
está fodidamente mentindo para mim e eu não posso suportar isso.
— Por favor, me leve para casa — eu falo, me afastando dele. — Apenas
me leve para casa e você não terá que me suportar.
Johnny geme.
— Shannon, vamos lá. Não torça minhas palavras. Você sabe que não foi
isso que eu quis dizer…
— Eu quero ir para casa, Johnny — eu engasgo. — Se você não quer me
levar, então eu vou chamar Joey para vir me pegar.
— Ok — Johnny suspira em resignação. — Tudo bem. — Me soltando,
ele se levanta e ergue as mãos. — Vou pegar suas roupas e levá-la para casa.
Exalando uma respiração trêmula, eu assinto.
— Obrigada.
Ele me observa por um longo momento antes de balançar a cabeça em
resignação.
— Eu já volto, ok?
Assentindo, eu o observo sair do quarto, esperando até que ele fosse
embora antes de cair em sua cama.
— Deus — eu choro, batendo furiosamente as lágrimas traiçoeiras. — Se
recomponha, Shannon.
Nem pense em dizer nada a ele.
O pai dele é advogado.
Você sabe como são esses caras.
Eles vão se envolver e vocês todos serão separados e colocados sob
cuidados.
Como Darren...
A cachorra de Johnny se aproxima de mim, me distraindo do meu colapso,
e coloca a cabeça na minha coxa.
— Oi — eu soluço, deixando cair minha mão em sua cabeça.
Sookie acaricia minha mão com o focinho e lambe meus dedos.
Sua afeição só me faz sentir pior.
Eu não merecia.
Eu tinha acabado de mentir para seu humano.
— Eu gostaria de ter um cachorro — eu sussurro para ela, concentrando
toda a minha atenção nela, desesperada para bloquear meus pensamentos. —
Um igual a você — eu digo a ela enquanto puxo meus pés para cima da
cama e torço meu corpo para encará-la. — Se eu conseguir um cachorro,
será um que se pareça com você, porque você é tão bonita. Sim, você é.
Ela recompensa minha atenção rastejando no meu colo – ou pelo menos
ela tenta.
Ela era um labrador adulto e eu provavelmente peso menos que ela.
— O que você quer? — Eu sussurro, coçando seu pescoço com as duas
mãos. — Huh? — Fazendo carícias em suas orelhas, dou um beijo em seu
nariz. — Você quer que eu te dê amor?
Seu rabo balança como um louco e ela me sufoca com beijos molhados de
cachorro por todo o meu rosto.
Foi uma distração bem-vinda e eu sufoco uma risada com o entusiasmo
dela.
— Que garota boa — eu balbucio, caindo em um jogo brincalhão de luta
livre com ela. — Isso mesmo. Você é a melhor garota. Você é.
Encorajada pela minha resposta, Sookie sobe em mim, empurrando todo o
seu peso para baixo no meu peito e me fazendo cair de volta nos
travesseiros.
— O quê? — Eu rio através das minhas lágrimas enquanto acaricio suas
orelhas. — Você gosta de mim?
Ela geme profundamente em sua garganta, sua aprovação óbvia quando
ela se estica em cima de mim e acaricia meu rosto com o nariz molhado.
— Obrigada — eu elogio quando ela bate a pata no meu ombro. — Você é
uma garota tão educada, me dando a pata.
— Seu uniforme ainda está úmido, mas eu o trouxe de qualquer maneira...
Assustada com a voz de Johnny, tento me sentar, mas não consigo porque
Sookie ainda estava no modo de jogo com força total.
— Sookie, para baixo — Johnny ordena em um tom de voz apertado, os
olhos colados nos meus.
Obediente, Sookie imediatamente sai de cima de mim e desajeitadamente
pula da cama, suas patas escorregando no chão de madeira.
— Fora — Johnny ordena enquanto segura a porta aberta, ainda me
observando.
Sookie sai do quarto e ele rapidamente fecha a porta, a expressão
estrondosa.
Deus…
— Desculpe — eu resmungo, me apoiando nos cotovelos. — Eu estava
apenas, uh, brincando com sua cachorra.
— Não se desculpe — Johnny responde com uma voz tensa enquanto
caminha até a cama, larga meu uniforme e depois afunda na beirada.
De costas para mim, Johnny se inclina para frente, seus músculos
flexionando sob sua pele dourada, descansando os cotovelos nas coxas e
inala o que parecia várias respirações calmantes.
E então ele faz algo que eu sabia que me faria perder incontáveis anos de
sono: ele se vira para mim, agarra os dois lados da minha toalha e os
empurra juntos.
Para me cobrir, eu percebo.
Porque eu obviamente estava mostrando os peitos para ele.
Porque vamos ser sinceros, esse era exatamente o tipo de sorte que eu
tinha.
— Eu sinto muito — eu engasgo, mortificada.
— Está tudo bem — ele me diz em um tom de voz grave.
— Eu... você viu meu...
Ele assente.
Oh Deus!
— Eu sinto muitíssimo.
— Pare de pedir desculpas — ele responde, a voz tensa. — Não há nada
para se desculpar.
— Sinto muito que você teve que ver isso — eu solto.
Johnny balança a cabeça e vira as costas para mim novamente.
— Não se desculpe comigo por te ver — ele geme, deixando cair a cabeça
entre as mãos. — Porra!
Meu coração está batendo tão forte no meu peito neste momento que eu
me encontro respirando mais rápido, exalando em respirações curtas e
inchadas.
O que eu deveria fazer?
Correr?
Sair?
Me esconder?
Me jogar nele?
Eu não sei.
Eu não tenho ideia do que fazer.
Eu só sei que meu corpo está enraizado em seu colchão, olhos grudados
em suas costas musculosas.
— Eu vou te levar para casa agora — Johnny finalmente declara baixinho,
a cabeça ainda em suas mãos.
— Sim, tudo bem — eu sussurro enquanto o som do meu pulso martela
em meus ouvidos.
— É isso que vou fazer — ele acrescenta, embora eu não tivesse certeza
se ele estava falando comigo ou consigo mesmo. — Vou te levar para casa
— ele repete, mas não fez nenhum movimento para se levantar.
Vários segundos se passaram onde ele permanece completamente imóvel.
Incapaz de suportar a tensão crescendo dentro de seu quarto, estendo a
mão e toco sua omoplata.
— Johnny?
Um pequeno tremor percorre seu corpo enorme.
E então ele se vira para mim.
— Eu não posso ficar sozinho com você assim. — Ele sussurra, os olhos
fixos nos meus. — Eu... — Ele exala uma respiração irregular. — Não
aqui... não quando você está assim.
Seus olhos estão quentes e cheios de incerteza e vagando
descontroladamente pelo meu corpo.
Seu peito está subindo e descendo em um ritmo rápido, espelhando o meu.
Olho em seus olhos, sentindo meu coração apertar tão apertado que era
difícil respirar.
Em um olhar, eu sinto como se tivesse colidido com ele.
Era instantâneo e chocante.
Meus sentimentos explodem dentro de mim, absorvendo o garoto e tudo o
que ele era como uma esponja desesperada por água.
Eu estava desesperada por ele.
Todo ele.
Cada pedaço e parte.
Hormônios em fúria, encorajados por minhas emoções esgotadas, anulam
meu bom senso naquele momento, me levando a fazer algo completamente
fora do personagem.
Soltando uma respiração instável, estendo a mão, agarro o pescoço de
Johnny e puxo seu rosto para o meu.
E então eu o beijo.
Eu não tenho ideia do que fazer a seguir, minha bravura me abandonando
no meu momento de necessidade, enquanto eu me ajoelho em sua cama e
seguro seu rosto em minhas mãos.
Os olhos de Johnny estão bem abertos e travados nos meus, claramente
atordoados, enquanto eu pressiono meus lábios nos dele.
Mas ele não está me beijando de volta.
Na verdade, eu tenho quase certeza de que ele não está respirando.
Minhas ações o transformaram em pedra em minhas mãos.
Meus olhos estão arregalados e esbugalhados na minha cabeça quando eu
quebro o beijo e olho com horror de volta para ele.
— Eu sinto muito — eu solto, mortificada.
— Está tudo bem — ele me diz, respirando com dificuldade.
— Não. — Eu balanço minha cabeça furiosamente. — Não, não está tudo
bem.
— Shannon, está tudo bem…
— Oh meu Deus! O que eu fiz?
— Shannon — Johnny fala convincente, tom mais firme agora. — Pare.
Está tudo bem…
— Não está tudo bem — eu solto enquanto saio da cama e recuo, batendo
em sua cômoda no processo. — Eu só, oh Deus!
Cambaleando para trás, balanço a cabeça e estendo a mão para avisá-lo
quando ele deu um passo em minha direção.
— Eu realmente sinto muito.
— Shannon, está tudo bem — Johnny diz enquanto levanta as mãos. —
Apenas pare de se mover por um segundo e fale comigo, ok?
Eu não paro de me mover.
E não paro para falar.
Porque eu não posso.
Eu estou em modo de pânico com força total e, pela primeira vez, meu
instinto de fuga havia aparecido.
— Eu preciso ir — eu anuncio, mortificada.
— Não, você não precisa — ele responde calmamente. — Nós podemos
falar sobre isso.
— Não! — Balançando a cabeça, eu deslizo ao redor de Johnny e pego
minhas roupas da cama. — Eu preciso ir — acrescento antes de correr para o
banheiro e me trancar lá dentro.
— Shannon, vamos lá — Johnny grita, batendo na porta. — Abra a porta.
Sem palavras, cambaleio até o banheiro, empurro a tampa para baixo e
desabo em cima.
— Oh, Deus — eu respirei, enquanto eu deixo minha cabeça cair em
minhas mãos.
O que diabos eu acabei de fazer?
Não só me mostrei a Johnny Kavanagh, mas fui mais longe e o beijei.
O meu primeiro beijo.
A primeira vez que coloquei meus lábios em um garoto.
E ele não retribuiu.
Oh meu Deus...
O que diabos eu estava pensando?
Por que eu estava sentindo como se meu coração estivesse se partindo em
um milhão de pedaços?
E o mais importante, como eu ia sair desse banheiro?
Porque não havia como enfrentar Johnny agora.
Na verdade, eu tinha quase certeza de que nunca mais poderia enfrentá-lo.
47
JOHNNY
SHANNON
JOHNNY
SHANNON
JOHNNY
Eu dirijo todo o caminho para casa no piloto automático com meu cérebro
cambaleando, meus hormônios em fúria e a vida dando uma pequena
reviravolta na história de cabelos castanhos no meu caminho.
Eu estou tão consumido pelos meus pensamentos que não é até que
estaciono no meu lugar habitual nos fundos que noto que sua mochila ainda
está no meu carro.
Gemendo, bato com a cabeça no volante e rezo por uma intervenção.
Eu precisava de uma.
Porque essa garota vai me arruinar.
Meia hora depois, eu estou do lado de fora da porta da frente de Shannon
com as palmas das mãos suadas e o coração acelerado.
O que diabos eu estou fazendo aqui?
Isso é loucura.
Coloque a mochila no chão e vá embora, a parte sensata de mim instrui.
Mas é claro que eu não escuto.
Não, porque eu tinha que bater na porta em vez disso.
O som de passos na escada vem do outro lado da porta, seguido por uma
chave girando na fechadura, e então ela está lá, parada na minha frente,
obliterando qualquer senso de ir embora.
— Oi, Johnny — Shannon diz em uma voz ofegante, olhando para mim
com os olhos arregalados e letais. — Você voltou.
Sim, eu estou de volta.
Como um cheiro ruim de merda que parece segui-la.
— Uh, sim, estou de volta. — Balançando a cabeça, puxo sua bolsa do
meu ombro e a estendo para ela. — Você esqueceu isso no meu carro de
novo.
— Eu sinto muito. — Ela cora no tom mais adorável de rosa. — Você
estava batendo por muito tempo? — Ela pegou sua bolsa e, em seguida, joga
para dentro da casa. — Eu estava no banho.
Sim, eu poderia ver.
Seu cabelo comprido está solto, fluindo pelo seu corpo em cachos úmidos,
ela está vestindo uma blusa branca e o menor par de shorts de pijama que eu
já tinha visto na minha vida e tudo que meu cérebro conseguia registrar era
pele nua – muita pele nua.
— Não se desculpe — eu digo bruscamente, tentando me concentrar em
minhas palavras e não em meus pensamentos rebeldes. — E não, acabei de
chegar.
— Bem, obrigada por trazê-la de volta para mim — diz Shannon,
arrastando minha atenção de volta para seu rosto. — Eu nem percebi. Eu
teria entrado em pânico pela manhã.
— Mais uma vez, não é incômodo — eu respondo e então continuo a
olhar para ela como uma porra de um idiota.
Bem, isso não era nada estranho.
Mova seus pés, Johnny.
Deixe a garota em paz.
— Você tem treino esta noite? — ela pergunta.
Sim.
— Não.
— Você quer entrar? — ela oferece nervosamente.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Entrar?
Ela morde o lábio inferior e dá de ombros.
Ela parece insegura.
Como se ela não devesse estar me convidando para sua casa.
— Você quer que eu entre? — Eu pergunto com uma carranca.
Ela assente timidamente e abre a porta para dentro.
— Se você quiser?
Não faça isso, cara, meu cérebro avisa, não se coloque no caminho da
tentação.
Contra meu melhor julgamento, entro.
Enfiando as mãos nos bolsos, observo Shannon trancar a porta
rapidamente novamente.
Concentro minha atenção nela e não no ambiente ao meu redor em ruínas.
O lugar está arrumado, mas as paredes precisam urgentemente de reboco e
uma nova camada de tinta.
— Não haverá ninguém em casa até a noite — ela anuncia enquanto me
conduz pelo corredor curto até a cozinha.
Essa não era uma boa informação.
Nem um pouco.
— Você gostaria de uma lata de Coca-Cola? — Abrindo a geladeira, ela
pega duas latinhas e sorri. — Joey é viciado e sempre compra coisas de
marca de verdade.
Ela estende uma lata para mim e eu balanço minha cabeça.
— Eu não posso beber isso — eu respondo, e então me sinto como um
idiota quando seu sorriso desmancha.
— Oh.
— Eu quero — eu rapidamente asseguro a ela. — Mas eu estou em dieta.
— Ah, sim — ela murmura, colocando uma das latas de volta na
geladeira. — Eu esqueci sobre a coisa do rúgbi.
Eu mordo de volta um sorriso.
— Sim, a coisa do rúgbi.
Ela olha para mim então, parecendo tão insegura quanto eu.
— Você quer subir no meu quarto?
Minhas sobrancelhas sobem – combinando com o aumento repentino na
minha frequência cardíaca.
— Seu quarto?
Corando, ela coloca o cabelo atrás da orelha, e se apressa para dizer:
— É só que eu normalmente não fico aqui... quero dizer, eu fico, mas eu
não... porque... eu... — Sua voz some e ela suspira pesadamente. — Não
importa, foi estúpido...
— Ok.
Seus olhos se arregalam.
— Ok?
Eu balanço a cabeça.
— Lidere o caminho.
Eu espero até que Shannon se vire antes de bater a palma da minha mão
na minha testa.
Eu sou tão estúpido.
Isso era pior do que entrar.
Isso é errado.
Eu sabia que era.
E ainda assim, eu a sigo por uma escada estreita, evitando Legos
espalhados e pisando em brinquedos infantis na subida.
O quarto que Shannon me leva na frente da casa era uma caixa
glorificada.
Ela dá um passo em volta de mim, o que não é fácil em quartos pequenos,
e gira a fechadura da porta antes de andar os quatro passos necessários para
chegar à cama.
Enquanto isso, eu estou como um idiota em seu quarto minúsculo, sem
saber o que diabos eu devo fazer agora.
A cama de solteiro empurrada contra o outro lado do quarto ocupa toda a
largura da parede. Há um armário de cabeceira ao lado, uma cômoda
encostada na parede oposta, e não muito mais.
— É uma casa pequena para uma família de oito pessoas — Shannon
reconhece calmamente, notando meu olhar. Ela coloca sua Coca-Cola no
armário ao lado da cama e dá de ombros. — Eu sou a única garota, então eu
fico com o quarto que parece uma caixa.
— É um bom quarto — eu respondo enquanto caminho até sua cama e me
sento.
Eu já estava na zona de perigo.
Eu poderia muito bem ficar confortável.
— Não minta — ela diz com um sorriso triste. — É um lixo.
— Não — eu corrijo. — É legal.
Olho ao redor de seu minúsculo quarto pintado de roxo, procurando por
uma televisão e vejo nada.
Ela não tem uma.
Também não tinha sistema de som.
Mas ela tinha livros.
Muitos deles.
— Você não estava brincando quando disse que gosta de ler. — Eu
medito, olhando várias pilhas de livros empilhados ordenadamente no chão
do quarto dela sob o parapeito da janela. Virando-me para encará-la, eu
sorrio. — Você é uma pequena espertinha, Shannon Lynch?
— Acredite em mim, eu gostaria de poder me chamar de espertinha — ela
responde com uma careta. — Adoro ler, mas não sou academicamente
inteligente.
Eu faço uma careta para ela em descrença.
— Mentira.
— Não, eu realmente não estou mentindo — ela responde, balançando a
cabeça. — Eu tenho que trabalhar muito para acompanhar minhas aulas, e a
maioria delas são matérias de nível comum.
— Que assuntos lhe dão mais problemas? — Eu pergunto, relaxando na
conversa.
Isso, eu posso lidar.
Aprender mais sobre ela alimenta a fera – e distrai a outra fera.
— Negócios — responde Shannon, torcendo o nariz com o pensamento.
— E matemática, eu sou terrível com números.
— Essas são minhas melhores matérias — eu medito, coçando minha
mandíbula. — Vou fazer Negócios e Contabilidade para o certificado de
conclusão no ano que vem.
— O que mais você está fazendo? — ela pergunta, parecendo
genuinamente interessada.
— Irlandês, Inglês, Matemática, Contabilidade, Negócios... — Eu me
movo até que minhas costas estejam encostadas na parede antes de continuar
— História e Francês.
— Por que francês?
Porque há uma grande chance de eu me mudar para lá assim que
terminar a escola.
— Eu preciso de um idioma para a universidade — eu digo em vez disso.
— O francês foi um bom ajuste para mim.
— Nível superior? — Shannon pergunta, parecendo impressionada.
Eu aceno com a cabeça.
— Sério? — Seus olhos se arregalam. — Quais?
— Todos elas.
— Por que não estou surpresa? — Shannon brinca enquanto enfia as
pernas embaixo dela e se senta de frente para mim. — E você chamou a mim
de espertinha.
— A escola nunca foi um problema para mim — eu admito com uma
carranca.
— Sorte sua — ela sussurra. — Eu passei raspando no fundamental.
— Eu posso te ajudar — eu me ouço oferecer sem pensar.
— O que, tipo agora? — ela chiou.
— Ou mais tarde. — Dou de ombros, fingindo indiferença. — Quando
você quiser.
— Isso é algo que você faz? — Shannon pergunta, me observando com
aqueles olhos grandes e incertos dela. — Você ensina outros alunos?
Eu te ensinaria.
— Você tem seu certificado júnior chegando em junho, certo? — Eu
pergunto em vez disso.
Shannon assente.
— Eu já passei por isso — eu explico, tentando desesperadamente manter
meu tom impassível e leve. — Se você precisar de alguém para te ajudar
com os estudos, então é só me avisar.
— Você faria isso por mim? — ela pergunta, a voz suave.
Eu faria praticamente qualquer coisa por você.
— Sim — eu respondo, incapaz de manter a aspereza fora do meu tom. —
Eu faria.
— Mas você está tão ocupado.
— Não importa.
— Por que você está sempre tentando me ajudar, Johnny? — ela sussurra,
olhos azuis queimando buracos dentro de mim.
Ali está a pergunta de um milhão de dólares.
E eu não tenho a porra da ideia de como responder.
— Porque eu quero — eu finalmente digo, decidindo sobre a verdade. —
Eu quero te ajudar, Shannon.
— Você quer? — ela suspira.
— Eu quero. — Arrancando meu olhar dela antes que eu faça algo
estúpido, eu me viro para ficar confortável em sua pequena cama e digo: —
Agora, vá pegar seus livros e você pode me mostrar o que você está achando
difícil.
— Sim, tudo bem — Shannon responde enquanto se levanta da cama e
corre para a porta. — Tem certeza? — ela para na porta para me perguntar.
Não.
— Eu sempre tenho certeza, Shannon.
Sorrindo, ela assente e então desce correndo as escadas para pegar sua
mochila.
— Porra. — Puxando meu telefone do bolso, digito uma mensagem rápida
de SOS para Gibsie, apenas para excluí-la antes de enviá-la.
Exalando uma respiração frustrada, eu digito outra mensagem, essa para
Jason, avisando-o que eu não iria fazer a sessão de hidro esta tarde e então
rapidamente desligo o meu telefone antes que ele possa ligar para me dar
uma ladainha de insultos.
Eu já sei que estou fazendo errado.
Eu tinha perdido a sessão de ontem e mais duas semanas atrás.
Por causa dela.
Porque quando ela pula, eu pulo atrás dela.
Não preciso do meu treinador para me dizer algo que eu já sei.
Ele me diria que eu preciso colocar minha cabeça de volta no jogo.
Ele gritaria comigo e me diria para focar no meu futuro – no próximo teste
de condicionamento físico, eu preciso passar mais do que precisava respirar.
O problema era que eu não consigo me concentrar.
Porque minha cabeça se foi.
Pela culatra.
Perdido dentro da garota em cujo quarto eu estava sentado.
Eu estou colocando o meu telefone de volta no bolso da minha calça da
escola quando Shannon volta com sua mochila.
— Eu acho que as aulas de negócios não seriam tão difíceis se eu pudesse
lidar com o lado matemático disso — ela diz em um tom ligeiramente sem
fôlego enquanto ela arrasta sua bolsa para a cama.
Largando-a no chão, ela corre de volta para a porta e rapidamente a tranca
antes de retomar sua posição na cama, de pernas cruzadas e de frente para
mim.
— Eu tinha problemas para me concentrar na minha antiga escola —
acrescenta ela, enquanto vasculha sua bolsa. — Consegui acompanhar
minhas aulas de idiomas, mas deixei a matemática de lado.
Eu sabia disso.
Eu li tudo sobre isso em seu arquivo.
— Isso é compreensível — eu digo a ela, balançando a cabeça.
Shannon olha para mim com uma expressão cautelosa.
— Por que isso é compreensível?
Merda.
Porra.
— Porque você tem que fazer um número louco de matérias para o
certificado júnior — eu blefo. Dando de ombros, acrescento: — Não dá para
ser boa em todos eles.
— Eu aposto que você conseguia — ela responde, voltando sua atenção
para sua bolsa, desastre evitado. Ela puxa seu livro de matemática e o deixa
cair na cama entre nós. — Deixe-me adivinhar, você também fez todas as
matérias de nível superior para o seu certificado júnior?
— Dê-me esse livro — eu resmungo, me sentindo embaraçado.
— Todas suas notas foram A? — ela brinca.
— Não — eu retruco, folheando as páginas de seu livro. — Eu tirei um C
em ciências de nível comum — eu digo a ela e então suspiro antes de admitir
— O resto eram de nível A mais.
— Sério?
Eu balanço a cabeça, me sentindo quente e desconfortável.
— Você é inteligente?
Eu apenas dou de ombros.
— Bem, eu tirei meu único A em ciências — ela medita. — É minha
única matéria de nível superior.
— Bem, eu tiro meu chapéu para você — eu murmuro. — Porque eu
detesto a ciência.
— Pare — ela ri. — A ciência não é tão ruim.
Eu arqueio uma sobrancelha.
— Oh, como matemática não é?
Ela faz uma careta.
— Ok, ponto justo.
— Vamos — eu digo com um sorriso malicioso, refocando minha atenção
no livro em minhas mãos. — Pegue seu caderno e eu vou te ensinar.
— Você vai me ensinar? — Ela ri e Cristo, era um som adorável.
Shannon não ri o suficiente.
Eu quebro meu cérebro pensando em outras coisas que eu posso fazer para
obter uma repetição daquele som.
Eu tenho um monte de ideias – ideias terríveis, horríveis.
Concentre-se, Kavanagh...
Então eu me concentro.
Durante a próxima hora, mais ou menos, passo por seu trabalho com ela,
observando cuidadosamente enquanto ela tenta resolver cada problema.
Ela não estava brincando quando disse que achava matemática difícil.
Shannon está seriamente lutando com o assunto.
Ver sua luta me dá vontade de pular e arrasar, que era exatamente o que eu
parecia estar fazendo enquanto estou deitado de lado, com minhas longas
pernas penduradas ao lado de sua cama, quebrando cada soma, equação,
fração, e porcentagem que vem em nosso caminho.
Um de seus maiores problemas era que ela não tinha ideia de como usar
sua calculadora com eficiência.
Rapidamente, eu descubro que ela não tem ideia sobre Seno, Cosseno e
Tangente.
Ela estava blefando e fingindo que sabia o que estava fazendo quando
claramente não sabia.
Quando ela finalmente cede e joga a calculadora no meu colo e admite
que não tinha a menor ideia do que estava fazendo, acabo gastando mais
quarenta e cinco minutos passando por métodos básicos com ela.
Quando ela finalmente começa a resolver os problemas sem eu pairar
sobre seu caderno com uma borracha, parece que eu tinha feito um maldito
feito, eu estava tão orgulhoso dela.
Era ridículo quanta satisfação genuína eu tive quando aqueles grandes
olhos azuis se iluminaram quando ela conseguiu resolver um problema.
É bem no momento que eu estou começando a pensar que Gibsie tinha
razão, e que eu posso fazer essa coisa de amigo, quando enfrento um
problema meu.
Eu tolamente permito que meus olhos se desviem do caderno, que
Shannon está rabiscando furiosamente, e comecem a percorrer seu corpo.
Ela ainda está sentada de pernas cruzadas e de frente para mim, mas ela
está inclinada para frente, trabalhando duro em uma soma, o que faz com
que o top de corda que ela estava usando caia, dando-me uma visão gloriosa
de seus seios sem sutiã.
Doce Jesus Cristo.
Eu adoro peitos.
E os peitos que pertencem a essa garota eram ainda mais atraentes.
Eles eram pequenos e animados com mamilos com pontas rosadas e
seixos.
Ela é tão fodidamente linda.
Eu estou instantaneamente duro.
— Você está bem? — Shannon pergunta, colocando sua pequena mão no
meu antebraço.
— Huh? — Eu bato meu olhar para o rosto dela, totalmente fodidamente
preso.
— Você está bem? — ela repete, olhos azuis fixos nos meus, expressão
inocente.
Eu estou o mais longe possível de estar bem.
Mas para o bem dela, forço um pequeno aceno de cabeça e digo:
— Sim, estou ficando com um pouco de fome.
Que porra é essa, Johnny?
— Posso pegar algo para você? — ela rapidamente pergunta. — O que
você gostaria de comer?
Você.
Eu gostaria de comer você, Shannon.
— Nós provavelmente deveríamos pensar em encerrar isso — eu digo
bruscamente. — Está ficando tarde.
Faço um grande esforço para verificar meu relógio apenas para franzir a
testa quando percebo que na verdade está ficando tarde.
— Merda — eu murmuro. — São seis e meia.
Nós estávamos em seu quarto por quatro horas?
Para onde diabos foi o tempo?
Eu nunca perco uma refeição.
Eu nem estou dolorido.
Eu não consigo me lembrar da última vez que passei quatro horas sentado.
Isso nunca aconteceu.
Jesus, essa garota está me fazendo perder o controle de tudo.
— Hum, sim, claro, claro — Shannon murmura, tropeçando sobre suas
palavras daquele jeito adorável que ela faz quando está nervosa.
Não se preocupe, querida, penso comigo mesmo, também estou nervoso.
— Eu realmente aprecio você me ajudar — acrescenta ela, fechando seus
livros e enfiando-os de volta em sua mochila. — Você me ajudou muito. —
Ela solta um suspiro antes de acrescentar: — De novo.
— Nós podemos fazer isso de novo — eu ofereço. — Se você quiser?
Seu rosto se ilumina e ela se aproxima de mim.
— Sério?
Eu balanço a cabeça lentamente e resisto ao desejo de alcançá-la e tocá-la.
— Você não se importaria? — Shannon pergunta, de olhos arregalados,
enquanto ela se aproxima timidamente até que seus joelhos toquem minha
coxa esquerda.
— Não, Shannon. — Falhando miseravelmente, estendo a mão e coloco
uma mecha de cabelo rebelde atrás da orelha. — Eu não me importaria.
Pare com isso, Johnny.
Pare com isso agora!
Eu tento.
Eu realmente, sendo honesto com Deus, tento fazer meu corpo sair de sua
cama, mas ela está lá, ela está fodidamente lá, e eu não consigo encontrar um
pingo de determinação dentro de mim.
Eu apenas sento lá, sabendo o que está por vir, sabendo que é a pior coisa
possível que eu posso permitir que aconteça, e ainda querendo mais do que
minha próxima respiração.
— Talvez na biblioteca da próxima vez — eu finalmente encontro as
palavras para dizer. — Ou escola.
Seu pequeno rosto em forma de coração acena para cima e para baixo.
— Ok.
— Porque eu não deveria estar aqui — acrescento fracamente. — No seu
quarto.
— Eu sei — ela responde, a voz baixa e incerta.
— É, uh... — Engulo profundamente. — Eu provavelmente deveria ir para
casa agora.
— Johnny? — ela sussurra.
— Sim?
— Oi — ela suspira, se aproximando.
— Oi — eu murmuro, agarrando seu edredom com tanta força que eu
tenho quase certeza de que vou rasgar o tecido.
— Johnny? — Shannon sussurra novamente.
— Sim?
— Eu vou te abraçar agora. — Ela engata sua perna sobre a minha. —
Tudo bem?
Não faça isso.
Você nunca vai superar essa garota.
— Sim — eu exalei uma respiração irregular, sentindo meu coração bater
contra minhas costelas, enquanto ela paira acima de mim. — Tudo bem.
— Obrigada por hoje — ela sussurra no meu ouvido enquanto ela me
monta.
— De nada — eu respondo bruscamente, me agarrando ao meu
autocontrole por tudo que me valia.
Não coloque as mãos sobre ela.
Tarde demais.
Minhas mãos se movem por vontade própria, disparando para prender
seus quadris.
A sensação de tê-la em cima de mim era demais.
Foi tudo muito fodido.
— Eu deveria ir — eu gemo, enquanto a arrasto no meu colo, incapaz de
me impedir de empurrar para cima.
Foda-se a dor na minha virilha.
Eu estou em chamas por essa garota.
Shannon passa os braços em volta dos meus ombros e cautelosamente
balança os quadris em cima de mim no melhor e mais fodido abraço que eu
já recebi.
— Eu não quero que você vá — ela geme… ela realmente geme no meu
ouvido.
Gemendo, me sento para frente e a puxo rudemente contra mim,
abraçando-a e balançando-a, e perdendo minha mente nela.
Você está brincando com fogo.
Essa garota vai arruinar você.
Porra.
— Eu deveria ir — eu continuo a dizer a ela enquanto enterro meu rosto
em seu lindo pescoço e rezo para que a intervenção divina me impeça antes
que eu pegue algo dela que eu não possa devolver.
Antes que ela tire algo de mim que eu nunca poderia recuperar.
Porque eu nunca tinha sentido tanto por ninguém.
E foi com esse conhecimento que eu soube que nunca poderia ser egoísta
com ela.
— Shannon, eu realmente preciso ir para casa agora — eu digo a ela, o
tom grosso e rouco. — Sério.
— Ah... claro. Eu sinto muito. — Ela sussurra enquanto saí do meu colo.
— Se é o que você quer? — ela acrescenta, recuando para o canto mais
distante de sua cama.
Não.
Não, não é isso que eu quero.
Mas era a coisa certa a fazer.
Merda para o inferno!
Com autocontrole que eu não sabia que possuía, eu desço da cama dela e
me levanto.
Mantendo minhas costas para Shannon, vou até à janela dela e finjo olhar
para fora, enquanto discretamente reorganizo o enorme problema em minhas
calças.
Eu sei que provavelmente estou enlouquecendo Shannon por ficar aqui
assim, mas não consigo andar até me acalmar.
Eu estou machucado e com tesão.
Era uma combinação terrível.
Inalando várias respirações calmantes, eu cerro meus olhos e me esforço
para controlar, e penso em todas as coisas nada sexy imagináveis, desde
minha avó morta, que Deus abençoe sua alma, até Gibsie vestido de mulher.
No momento em que Shannon fala novamente, eu tinha conseguido me
acalmar.
— Johnny? — ela diz em voz baixa de seu poleiro na cama. — Eu sinto
muito.
— Não se desculpe — eu respondo, tom grosso e rouco, confiante de que
eu não iria traumatizá-la quando me virasse. — Está tudo bem. Eu uh,
apenas... eu vou para casa agora.
— Ok. — Ela assente timidamente e desce da cama. — Eu vou
acompanhá-lo para fora.
Mantenho um amplo espaço de seu corpo enquanto a sigo, sabendo que se
não o fizer, há uma boa chance de levá-la de volta para aquele quarto e
arruinar além do reparo.
Como toda vez que eu me afastava dessa garota, quanto mais perto eu
chego de ir embora, mais deprimido eu me sinto.
— Então, acho que te vejo amanhã? — Shannon diz quando eu saio.
— Sim. — Enfiando a mão no bolso, tiro as chaves do carro. — Você
definitivamente vai.
— Obrigada novamente por hoje.
— Obrigado por me mostrar o seu quarto — eu respondo, encolhendo-me
internamente com o comentário estúpido.
— Ah, sem problemas. Você pode vir a qualquer momento — respondeu
Shannon, sorrindo.
Eu sorrio para seu erro verbal.
— Oh Deus. — Ela tapa a boca com a mão, os olhos esbugalhados. — Eu
não...
— Relaxe — eu rio. — Eu sei o que você quis dizer.
Dou um passo à frente então, porque eu era um bastardo masoquista com
uma propensão a me torturar e dou um beijo em sua bochecha.
— Tchau, Shannon.
— Tchau, Johnny — ela sussurra, tremendo na soleira da porta.
Eu me viro e caminho direto para o meu carro, sem me atrever a olhar
para ela.
Masoquista ou não, se eu virasse e olhasse para aqueles olhos azuis da
meia-noite novamente, eu ia me afogar neles.
52
DESPERTAR RUDE
SHANNON
— O que você está fazendo acordada? — Papai ladra quando entro na sala
mais tarde naquela noite para pegar meu telefone que eu tinha esquecido
tolamente no sofá quando estava fazendo uma limpeza de emergência depois
que Johnny saiu.
— Eu deixei meu telefone aqui embaixo — explico rapidamente. Eu
estava tão distraída com Johnny que tive que fazer todas as minhas tarefas
em tempo recorde.
— Então pegue e vá — papai ordena. — O United está jogando.
Não era como se eu deixasse coisas espalhadas pelo lugar, mas minha
cabeça estava nas nuvens.
Na nuvem do Johnny, para ser mais precisa.
Eu sei que tinha jogado um jogo perigoso de roleta russa ao levá-lo para o
meu quarto essa tarde.
Se meu pai tivesse voltado para casa, ele teria me matado.
O problema era que, se a oportunidade se apresentasse, eu sei que faria de
novo.
Tê-lo no meu espaço assim, mesmo que por pouco tempo, foi
maravilhoso.
Foi pessoal.
E me senti segura.
Como se nada pudesse me tocar quando ele está perto.
De uma forma confusa, acho que fiz de propósito?
Como eu meio que esperava que meu pai voltasse para casa apenas para
que ele pudesse ver o menino enorme que eu sei que não o deixaria me
machucar.
Esse era um pensamento louco.
Eu estou ficando louca.
Pensar em Johnny sentado na minha cama, oferecendo-se para me ensinar,
fez meu coração bater forte contra minhas costelas.
Ele era tão inteligente.
Na verdade, ele era incrivelmente inteligente e paciente e um milhão de
outras coisas incríveis.
Depois que ele saiu, passei o resto da noite em sobrecarga emocional,
pensando em como eu havia me comportado de forma imprudente.
Eu não tinha ideia do que estava pensando quando subi em seu colo
daquele jeito, mas não me importo porque Johnny me abraçou de volta.
Ele me segurou contra seu corpo e me abraçou tão forte que eu ainda
estou tremendo com o contato.
E então ele me deu um beijo de despedida.
Tudo bem, foi na bochecha, mas ainda assim.
Seus lábios tocaram meu corpo sem coerção.
Eu nem me importo com Bella agora.
Não essa noite, pelo menos.
É difícil me debruçar sobre o negativo quando algo tão incrivelmente
positivo tinha acabado de acontecer comigo.
Eu entendo que ele não me vê do jeito que eu o vejo, e entendo que nunca
seriamos nada mais do que amigos, mas eu não me importo porque ele
parece estar por perto.
Ele parece determinado a me ajudar.
Eu não tenho certeza do que estava acontecendo, mas o que quer que
fosse, eu não quero que pare.
Eu estou feliz por ser sua amiga.
Eu só quero mantê-lo na minha vida.
De qualquer maneira que eu possa.
Eu quero que ele fique...
— Você é surda? — a voz arrastada de meu pai penetra em meus
pensamentos, me trazendo de volta à realidade com um estrondo deprimente.
— Huh?
— Eu disse para sair da porra do caminho — papai late, jogando o
controle remoto em mim. — Eu não posso ver o jogo com você na frente!
O controle remoto bate no meu quadril e cai no chão, resultando nas
baterias voando e rolando para baixo do sofá.
— Desculpe — eu me apresso para fora do seu caminho da televisão e
rapidamente me arrasto para recuperar as baterias e colocá-las de volta no
controle remoto para ele.
— Por que você está agindo assim? — Papai pergunta então, me olhando
com desconfiança turva.
Expirando lentamente, coloco o controle remoto na mesa de café e pego
meu telefone antes de me virar para olhar para ele.
— Agindo assim como, pai?
— De forma estranha — ele acusa, olhando para mim. — Sorrindo para si
mesma.
Eu dou de ombros como minha resposta, sem saber como responder a
isso.
— O que está acontecendo? — ele rosna, me observando como um falcão,
seus olhos castanhos duros e inflexíveis.
— Nada está acontecendo — eu respondo calmamente.
Ele empurra sua poltrona para baixo e se levanta.
O movimento evoca um tsunami de terror para inundar meu corpo e eu
corri para trás.
— Me dá isso — ele instrui, estendendo a mão para mim.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Meu telefone?
— Sim, seu telefone — ele zomba. — Me dê isto.
Tremendo, caminho até ele e o coloco em sua palma.
Imediatamente, ele começa a percorrer minhas mensagens e a lista de
chamadas.
Eu não entendo o porquê, considerando que ele estava passando tanto que
eu duvido que ele pudesse ler em seu estado.
Mas eu não ouso me mexer, sabendo que se eu saísse, isso poderia ficar
uma bagunça.
— Onde está o número dele? — ele exige, segurando meu telefone em sua
mão enorme.
— O número de quem, pai? — Eu murmuro.
— O rapaz farejando ao seu redor — ele rosna. — O figurão dos jornais.
Meu coração afunda.
— O quê?
Seu olhar passa do meu telefone para mim.
— Fran, da porta ao lado, disse que viu um rapaz da sua escola dirigindo
por aqui — ele balbucia. — Ela disse que o viu te deixar da escola hoje. —
Ele volta sua atenção para o meu telefone. — Onde está o número dele?
Onde estão as mensagens dele? Com quem diabos você está andando? É ele?
Aquele idiota do rúgbi? O idiota do Kavanagh?
Caramba, Fran!
— Ninguém, pai — eu minto por entre os dentes. — Eu fiquei doente na
escola hoje e Claire e seu irmão Hughie me trouxeram para casa.
— Hughie Biggs? — Papai assobia, balançando em seus pés novamente.
— Aquele babaca saltitante? É por isso que você está andando com um
sorriso de merda no rosto?
— O que – não! — Eu balanço minha cabeça e me afasto. — Não estou
com Hughie. Não estou com ninguém.
— Eu não acredito em você — ele rosna.
— Eu não estou mentindo — eu engasgo. — Eu não tenho namorado.
— Você não tem que ter um namorado para se prostituir — ele assobia. —
Pergunte isso à sua mãe.
— Eu não estou saindo com ninguém — eu solto, em pânico. — Juro por
Deus, não estou!
Estendendo a mão, ele aperta uma mão musculosa no meu ombro e
pressiona com força.
— Se você estiver mentindo para mim...
— Eu não estou, pai — eu grito, cedendo sob a força de seu toque. — Por
favor...
Minhas palavras são interrompidas quando o punho do meu pai acerta
minha bochecha, me atingindo com tanta força que minha cabeça cai para
trás com a força.
Revide, Shannon.
Pegue algo.
Qualquer coisa.
Faça alguma coisa.
A dor queima meu rosto, lágrimas enchem meus olhos e, ainda assim, eu
não faço nada.
Eu não revido.
Eu não tento correr.
Eu só fico lá.
— Venha aqui — ele rosna. Mantendo a mão no meu ombro, dedos
cravados em meus ossos, papai me leva para a cozinha, não parando até que
estivéssemos na pia.
— Ligue-a — ele instrui.
Sem hesitar, estendo a mão e abro a torneira.
— Encha isso — ele ordena, derrubando um copo de cerveja do
escorredor e na bacia da pia.
Felizmente, não quebrou e eu corro para encher o copo, resistindo à
vontade de dobrar e rolar para me libertar de seu aperto.
— Vê isso? — ele assobia quando deixa cair meu telefone na água. — Viu
isso, garota?
Imóvel, eu balanço a cabeça, vendo meu telefone afundar no fundo do
copo de cerveja.
— Se eu descobrir que você está mentindo para mim, não será o seu
telefone que eu vou afogar — ele rosna, enfiando os dedos com tanta força
no meu ombro que minhas costas se curvam sem a permissão do meu
cérebro. — Você me escutou?
— Eu te escutei — eu choramingo, tremendo da cabeça aos pés.
— Não vá correndo para o seu irmão com histórias também — ele
sussurra no meu ouvido. Empurrando-me para longe, ele acrescenta: — Ou
eu vou fodidamente jogar vocês dois na rua.
Eu gostaria que você fizesse isso, eu mal me impeço de dizer.
Porque o que aconteceria com Tadhg, Ollie e Sean se fôssemos embora?
Tadhg era o próximo da fila, portanto, ele sofreria o impacto da ira de meu
pai.
Esse conceito era abominável para mim.
Estendendo a mão, esfrego minha bochecha e me forço a não chorar.
Ele me dá um último olhar antes de balançar a cabeça.
— Vá em frente, saia da minha vista.
Sem outra palavra, corro para fora do quarto com lágrimas ardendo em
meus olhos.
Te odeio! Eu grito em silêncio enquanto faço a familiar corrida para o meu
quarto, eu te odeio!
Correndo para o meu quarto, tomo a decisão consciente de passar na ponta
dos pés pelo quarto de Joey, forçando-me a não fazer barulho, e então
rapidamente me tranco dentro do meu quarto.
Apagando a luz do meu quarto, me jogo na cama, joguei as cobertas sobre
minha cabeça e agarro meu discman.
Menos de dois minutos depois, há uma batida suave na porta do meu
quarto.
— Shan? — A voz de Joey vem do outro lado do quadro. — Tudo certo?
Eu debato em não responder a ele, mas decidi por não, sabendo que ele
iria automaticamente pular para a conclusão certa e todo o inferno iria
acontecer.
Ele tinha acabado de voltar da Aoife esta noite.
Eu não queria que ele fosse embora de novo.
Então, em vez disso, falo de volta:
— Estou bem, Joe. Apenas cansada.
Há uma longa pausa antes que ele fale novamente.
— Tem certeza?
— Sim — eu resmungo, pressionando meus dedos no meu lábio inferior
para que não oscilar e minha voz não trema.
— Você não parece bem — meu irmão responde.
Droga.
Limpando a garganta, acrescento:
— Estou tendo questões femininas.
— Questões femininas? — ele fala de volta, parecendo confuso.
— Estou menstruada.
— Pelo amor de Deus, eu realmente não precisava saber disso, Shan —
Joey geme, e eu o imagino estremecendo do outro lado da porta.
Alguns momentos depois, o som da porta do quarto dele se fechando
enche meus ouvidos.
Soltando uma respiração irregular, eu afasto as lágrimas quentes
queimando minhas bochechas.
Um dia desses, eu vou sair dessa casa.
E quando saísse, nunca mais voltaria.
É com esse pensamento, esse pequeno resquício de esperança, e o CD de
mixagem de Johnny tocando em meus ouvidos, que adormeço.
53
PRESENTES PEGAJOSOS
JOHNNY
CORRETIVO
SHANNON
— Eu vou matar essa cadela — Lizzie sussurra mais tarde naquele dia
durante o almoço.
A notícia se espalhou pela escola sobre o incidente com Bella ontem e
minha amiga está cheia de raiva.
— Sério — Lizzie acrescenta, olhando para a mesa do lado oposto do
refeitório que acomodava pelo menos cinquenta alunos, um dos quais sendo
Bella Wilkinson.
— Se ela olhar aqui mais uma vez, eu vou lá e arranco essas extensões
brilhantes do cabelo dela.
— Elas são muito ruins — Claire concorda com uma careta.
— Ruins? — Lizzie dispara. — Parece que ela prendeu algas pretas no
cabelo. — Murmurando outra coisa baixinho, ela acrescenta: — Ela é uma
monstra.
— Apenas ignore ela — eu imploro, escolhendo manter meus olhos fixos
no meu sanduíche e não na mesa que eu estou recebendo olhares mortais.
É mais seguro manter minha cabeça baixa.
Durante todo o dia, em todos os lugares que fui, olhos curiosos me
seguem.
Eu não sei como lidar com esse tipo de atenção.
Eu preciso não balançar o barco.
E passar tempo com Johnny é tão bom quanto virar o navio.
Eu tinha esbarrado com ele pelo menos três vezes entre as aulas hoje, e
cada vez ele me deu aquele sorriso lindo de covinhas duplas, me perguntou
como estava indo meu dia, e então me disse que me pegaria mais tarde.
Eu posso sentir seus olhos em mim agora do outro lado do refeitório.
E isso me aterroriza.
Pela primeira vez em minha vida acadêmica, recebi um belo manto de
invisibilidade em Tommen.
Johnny Kavanagh ameaça tirar isso de mim e eu não sou corajosa o
suficiente para deixá-lo.
Toda a bondade da noite passada foi sugada pelas ameaças do meu pai e
pelo medo da ira de Bella.
Agora, eu estou com medo novamente.
De Bela.
Do meu pai.
Das outras meninas dessa escola.
Dos meus sentimentos.
De Johnny.
Da minha própria maldita sombra.
— E ela teve a coragem de te chamar de vadia — Lizzie continua a
reclamar, comigo e Claire olhando impotente. — Ela é quem monta Cormac
Ryan ali.
— Não importa — eu rapidamente digo a ela, rezando para que ela
simplesmente deixe para lá.
— Isso importa, Shannon — Lizzie retruca. — Ninguém pode fazer isso
com você. Não aqui. Não de novo!
— Liz — Claire diz em um tom baixo de advertência. — Deixe isso pra
lá, ok?
— Nós vamos ter nossas férias na sexta-feira — eu sussurro, mais para
mim mesma do que para as meninas, enquanto eu tento desesperadamente
me acalmar. — Duas semanas sem Bella.
— Exatamente — Claire oferece gentilmente. — Todo mundo vai ter
esquecido disso quando voltarmos.
— Eu não posso acreditar em você — Lizzie retrucou, olhando para
Claire. — Como você está bem com essa cadela falando merda sobre a nossa
melhor amiga?
— Eu não estou bem com isso — Claire responde uniformemente. — Só
sei que fazer uma cena é a última coisa que alguém precisa.
— Você sabe o que todo mundo está dizendo? — Lizzie exige, e então
continua antes que qualquer um de nós tivesse a chance de responder. —
Todos estão dizendo que Shannon está fazendo sexo com Johnny Kavanagh.
— Ótimo — eu gemo e deixei cair minha cabeça em minhas mãos.
Claire coloca uma mão calmante no meu ombro.
— Bem, não é verdade.
— Eu sei disso — Lizzie bufa. — Mas Bella anda dizendo que Shannon é
a razão dela e Johnny terminarem — Lizzie sibila. — Por causa daquela
cadela e suas mentiras, todo mundo na escola está falando sobre a nossa
amiga e dizendo que ela deve ter um chá de boceta de virar a cabeça daquele
grande idiota…
— Não! — Claire sibila. — Não repita isso.
— Eu estou indo para casa — eu solto, empurrando minha cadeira para
trás, pronta para fugir.
— Não — Claire responde calmamente, me empurrando de volta para o
meu lugar. — Você não está.
— O diabo você está indo para casa — Lizzie rosna. — Você não fez nada
de errado.
Errada ou não, eu não ia ficar aqui.
Sacudindo a mão de Claire, eu empurro minha cadeira para trás e me
levanto.
— Desculpe — eu engasgo, olhando para minhas amigas. — Mas eu não
posso fazer isso de novo.
— Nós vamos com você — Claire chama atrás de mim. — Shan, apenas
não corra...
— Não, está tudo bem — eu murmuro. — Vocês ficam. Eu só... estou
indo agora. — Me virando, empurro as mesas e cadeiras que bloqueiam meu
caminho e corro para a saída.
No entanto, eu não antecipo a mão que serpenteia para fora da mesa de
rúgbi na porta e agarra meu pulso, me puxando para uma parada abrupta.
— O que há de errado? — Johnny está sentado em sua cadeira, com a mão
em volta do meu pulso, olhando para mim com uma expressão preocupada.
— Shannon?
Balançando a cabeça, puxo minha mão, mas Johnny não a solta.
Em vez disso, ele me puxa para mais perto dele, tornando isso muito pior.
— O que está acontecendo? — ele pergunta.
— Eu, uh, preciso ir para casa. — Eu apertei, olhando ao redor
nervosamente e encontrando vários pares de olhos vidrados no meu rosto.
Voltando-me para Johnny, sussurro: — Preciso ir agora.
— Casa? — Johnny franze a testa. — Por quê?
— Dê uma olhada ao redor, Senhor Gostosão — Lizzie sibila, vindo para
ficar ao meu lado. — Ou melhor ainda, abra seus ouvidos.
— Meus olhos estão abertos — Johnny responde enquanto solta minha
mão e volta sua atenção para Lizzie. — E meus ouvidos estão bem aqui.
— Lizzie — eu resmungo, balançando minha cabeça. — Para com isso.
— Não, se ela tem algo a me dizer, então ela pode dizer — Johnny fala
lentamente. — Vá em frente.
— Tudo bem — Lizzie rosna, pegando minha mão que Johnny havia
soltado. — Sua vadia má/projeto de namorada está espalhando mentiras
sobre a minha amiga, e eu estou te responsabilizando inteiramente por não
endireitar os fatos ou colocá-la em seu lugar.
— Do que ela está falando? — Gibsie, que está sentado do outro lado da
mesa de Johnny, pergunta.
— Não faço ideia — Johnny retruca.
— Estou falando sobre a reputação da minha amiga ser manchada porque
você foi estúpido o suficiente para enfiar seu pau dentro daquela garota —
Lizzie rosna.
— Que garota? — Hughie Biggs vira a cabeça de onde estava acariciando
o pescoço da namorada para perguntar. — Em quem você enfiou seu pau,
Capi?
— Vai se foder, Hughie — Johnny retruca, os olhos passando rapidamente
para mim.
Eu coro escarlate e desvio meu olhar do dele.
— Oh, Jesus — outro menino que anda com eles pergunta. Patrick Feely,
acho que me lembro de Claire chamando ele uma vez. — O que você fez
agora, Gibs?
— Não fui eu, Feely — Gibsie ri.
— Sim — Patrick murmura. — Uma vez.
— Vocês podem parar de me distrair? — Lizzie late. — Estou tentando
resolver algo aqui.
— Amor — um menino de cabeça raspada chama de alguns assentos
acima da mesa enorme. — O que você está fazendo?
— Cuide da sua maldita vida — Lizzie retruca.
— Amor...
— Estamos em uma briga agora, Pierce Ó Neill, então nem olhe para
mim.
Soltando o que soa como um gemido de dor, Pierce empurra sua cadeira
para trás e contorna a mesa em nossa direção.
— Santo Deus — Gibsie finge tossir, batendo palmas enquanto passa.
— Desculpe — Pierce anuncia, com as mãos no ar enquanto se aproxima
de sua namorada com cautela. — É tudo culpa minha.
— Do que é que está arrependido? — Ela pergunta a ele.
— Tudo? — Pierce responde, embora soe mais como uma pergunta. — O
que você quer que eu me desculpe?
— Havia um ponto para sua grande conversa aí? — Johnny pergunta,
chamando a atenção de todos de volta para ele.
— Sim — Lizzie rosna, lançando adagas para ele.
— Então fale — ele responde friamente.
— Tudo bem — Lizzi sibila. — Eu estava falando sobre Bella dizendo a
todos que a razão pela qual você terminou as coisas é porque você está
transando com Shannon. Eu estava falando sobre todo mundo dizendo que
minha amiga deve ser uma foda fantástica para virar sua cabeça estúpida de
bola de rúgbi.
— A cabeça dele não tem o formato de uma bola de rúgbi — Gibsie
zomba. — Você disse isso sobre a minha cabeça também.
— Agora não, Gerard — Claire adverte enquanto se joga na cadeira ao
lado dele.
— Ela está mentindo — Johnny retruca, eriçado de tensão.
— Obviamente — Lizzie zomba, sacudindo a mão de Pierce enquanto ele
tenta colocá-la em seu ombro. — Então agora eu quero saber o que você vai
fazer sobre isso?
— Nada — eu resmungo. — Ele não vai fazer nada sobre isso porque não
há nada a fazer!
— A culpa é sua, Johnny — Lizzie continua a falar sobre mim. — Isso é
com você. Ela é sua ex louca. Então, conserte isso.
Johnny permanece completamente imóvel por cerca de quinze segundos,
os olhos fixos em Lizzie, sem dizer uma única palavra, antes de entrar em
ação.
Ele empurra a cadeira para trás e se levanta, os olhos fixos em mim.
— Vamos.
— O-o quê? — Eu engasgo, boquiaberta para ele.
— Venha comigo — ele ordena, estendendo a mão para mim. — Estamos
resolvendo isso, agora.
Olho para Lizzie, que estava com as mãos cruzadas sobre o peito e uma
expressão satisfeita no rosto, para Gibsie que parece em êxtase, para Claire
que está se encolhendo, para os outros garotos que parecem simplesmente
confusos, antes de finalmente escolher Johnny.
Ele parece furioso.
E expectante.
— Não — eu solto, balançando minha cabeça. — De jeito nenhum. Eu
não vou lá.
— Ela vai se desculpar com você publicamente — ele me diz. — Ela vai
esclarecer para todo mundo, publicamente! — Ele olha ao redor da sala
antes de acrescentar: — E eu vou endireitar todas as outras merdas que
foram junto com as mentiras dela, publicamente!
— Não. — Meus olhos se arregalam de horror. — Está tudo bem. Eu não
quero um pedido de desculpas.
Ele exala uma respiração frustrada.
— Não está tudo bem, Shannon...
— Eu não vou lá — repito, tremendo com o pensamento. — Eu não
quero.
— Tudo bem — Johnny rosna, dando um passo ao meu redor. Ele chuta
uma cadeira para fora do caminho, fazendo Pierce e Lizzie se afastarem
como o Mar Vermelho antes de contornar a mesa. — Eu mesmo vou resolver
isso.
— Não... — Correndo atrás dele, eu pego a manga de seu suéter e afundo
meus calcanhares. — Por favor, não.
Johnny me arrasta por cerca de um metro e meio antes de finalmente
parar.
— Então o que você quer que eu faça? — ele exige, virando-se para me
encarar.
— Nada! — Eu gaguejo, ainda segurando sua manga. — Absolutamente
nada.
— Eu não posso fazer nada. — Ele passa a mão livre pelo cabelo,
claramente agitado. — Eles estão falando de você.
— Não importa. — Eu balanço minha cabeça, ignorando os olhares que
eu sei que estou recebendo, e puxo sua manga. — Eu não me importo.
Johnny me encara por um longo momento antes de balançar a cabeça.
— Sim, bem, eu sei — ele finalmente diz. — Eu fodidamente me importo!
— Por que não saímos daqui pelo resto do dia? — Gibsie intervém,
enquanto ele praticamente cai da cadeira em sua tentativa de interceptar
Johnny. — Dar um tempo do drama — ele acrescenta enquanto aperta as
mãos nos ombros de Johnny. — E se divertir um pouco.
Johnny olha para ele.
— Do que você está falando?
— Bom plano, cara — Hughie oferece enquanto desliza sobre a mesa e se
move para ficar ao lado de Gibsie.
— Estou pronta para isso — Claire fala.
Gibsie lança-lhe um olhar agradecido.
— Sua mãe voltou para Londres, não é? — ele pergunta, desviando o
olhar de Claire para olhar seu amigo, as mãos ainda presas em seus ombros.
— Você tem uma casa vazia?
Johnny assente lentamente, o olhar oscilando entre Gibsie, Hughie e a
mesa atrás deles.
— Ela saiu ontem de manhã.
— Então vamos para sua casa e sair por uma hora. — Gibsie afirma
calmamente antes de virar seus olhos cinzas para mim. — O que você acha,
pequena Shannon? — Ele me dá um olhar significativo. — Gostaria de sair
daqui antes que Kav transforme o refeitório em uma cena de Game of
Thrones?
Estremeço com o pensamento, tendo lido todos aqueles livros.
— Na verdade, o Thor está fazendo sentido pela primeira vez — Lizzie
diz, colocando seus dois centavos. Ela se vira para mim e disse: — Vá com
isso.
Vai com isso?
Vai com o quê?
— Uh... tudo bem?
— Perfeito! — Gibsie executa um pequeno rufar de tambores no peito de
Johnny antes de passar um braço por cima do ombro e guiá-lo para a saída.
— Vamos — ele chama por cima do ombro antes de desaparecer pelo arco.
— Agora.
Eu não tenho ideia do que está acontecendo, mas eu acompanho os outros
enquanto seguimos atrás de Johnny e Gibsie.
— Eles provavelmente estão indo para algum lugar para que ela possa
chupar o pau dele — uma voz terrivelmente familiar grita alto o suficiente
para mais uma vez chamar a atenção de todos. — Você sabe sobre aquele
povinho de Elk Terrace. Eles estão prontos para qualquer coisa.
— Ah, porra, não — Johnny rosna quando se liberta de Gibsie e passa por
todos nós. — Isso está sendo resolvido agora — ele ruge enquanto dá a
volta na mesa e caminha em direção a Bella.
— Pelo amor de Deus — Hughie geme.
— Você simplesmente não pode evitar, pode? — Johnny ruge, apontando
um dedo no rosto de Bella.
— Eu não fiz nada — Bella ri. — Exceto dizer a verdade.
— A verdade? — Johnny sibila, claramente lívido. — Você não saberia a
verdade se ela batesse na sua cara.
Eu não tenho ideia de que parte do meu corpo minha bravura repentina
irrompe, mas vem forte e rápido, e impulsiona minhas pernas em direção a
ele.
— Johnny, não — eu solto enquanto o sigo.
Pela primeira vez na minha vida, eu estou feliz por ser pequena.
Isso me permite deslizar para o pequeno espaço entre Johnny e a mesa
sobre a qual ele estava inclinado.
— Johnny — eu respiro, pressionando com força em seu peito. — Vamos.
Ele não olha para mim.
— Johnny — eu repito, estendendo a mão e tocando seu rosto.
Ele estala seu olhar furioso em mim.
— Vamos embora — eu ordeno, olhando para ele com meu coração na
boca. — Por favor.
Uma veia pulsa na têmpora de Johnny enquanto ele olha para mim,
parecendo mais furioso do que eu já o tinha visto.
Não ouso respirar enquanto o observo fazer sua escolha.
Finalmente, ele solta um rosnado furioso e assente rigidamente.
Eu exalo uma respiração irregular.
Graças a Deus…
— Mantenha o nome dela fora da porra da sua boca — ele rosna, o peito
arfando, enquanto me permite empurrá-lo para trás para longe da mesa.
— Ela é uma puta suja de uma casa de prostituição — Bella diz
maldosamente. — Não há mentira nisso.
— É melhor você tomar cuidado com a porra da sua boca — Johnny
rosna, passando por mim.
Meu coração afunda.
Eu tentei e falhei.
— Por quê? O que você vai fazer se eu não fizer isso, Johnny? — Bella
sibila, pulando da cadeira e batendo no peito dele. — Bater em mim?
— Não... — Johnny faz uma pausa para arrastar quem Lizzie chama de
Cormac Ryan para fora de sua cadeira — Eu vou bater nele.
E então ele dá um soco no rosto de Cormac Ryan.
Ao contrário de ontem, não espero para ver o resultado.
Em vez disso, dou meia-volta e saio correndo do refeitório.
Porque eu sei que isso pode acontecer de duas maneiras.
De qualquer forma, eu perco.
Eu testemunhei incidentes como este, onde Joey saltou para defender
minha honra.
Não faz diferença para garotas como aquela.
Eu sempre perco.
55
ESFRIE A CABEÇA
JOHNNY
AMEAÇAS CARREGADAS
JOHNNY
EXCURSÕES INESPERADAS
SHANNON
Não voltei às minhas últimas três aulas na quarta-feira e fiquei em casa sem
ir à escola na quinta-feira.
Eu sei que é errado faltar à escola, mas eu simplesmente não consigo
encarar isso.
Era demais.
Bella, Johnny, os olhares, os sussurros.
Era demais.
Me sinto emocionalmente esgotada e fisicamente espancada, e preciso de
algum tempo para pensar antes de voltar.
Minha tentativa de respirar um pouco foi um desastre completo que
consistiu em meu pai perdendo a cabeça comigo na noite passada por
queimar o jantar e resultou em um soco no rosto.
Aparentemente, eu não posso cozinhar espaguete à bolonhesa por nada.
E, aparentemente, isso era crime o suficiente para ganhar outra famosa
asfixia.
Eu me sinto um lixo absoluto essa manhã, mas eu teria rastejado em
minhas mãos e joelhos para fora daquela casa se eu precisasse.
Nada que Bella fez comigo na escola poderia chegar perto do que ele é
capaz de fazer comigo em casa.
Quando finalmente chego à escola – mais de uma hora atrasada porque
dormi demais sem a ajuda do meu confiável alarme do telefone – quase
tenho minha cabeça arrancada pelo Sr. Mulcahy, nosso professor de
educação física, por atrasar o show.
— Que show? — Eu pergunto, porque eu honestamente não sei o que
diabos está acontecendo.
Aparentemente, eu não sou considerada digna dessa informação porque,
em vez de explicar o que está acontecendo, o Sr. Mulcahy praticamente me
empurra para um ônibus escolar lotado e me instrui a encontrar um lugar e
rápido.
O que me traz à minha atual situação induzida pelo terror enquanto eu
estou na frente do ônibus, completamente perdida sobre o que estava
acontecendo ou por que eu estou sendo forçada a entrar em um ônibus
escolar cheio de rostos desconhecidos.
— Shan! — Claire grita, sinalizando para mim.
Em pânico, meus olhos a procuram na terceira fila da frente com Lizzie
sentada ao lado dela.
Todas as garotas no ônibus parecem estar sentadas na frente perto do
motorista.
Havia apenas quatro outras garotas na minha classe, e Shelly e Helen
estavam emparelhadas no banco atrás das minhas amigas.
Várias outras garotas do sexto ano estão sentadas perto delas, incluindo
uma brilhante Bella e um enorme garoto de cabelos escuros com o braço em
volta dela e seu rosto acariciando seu pescoço.
Forçando-me a não olhar para Bella, eu me arrasto até Lizzie e Claire.
— O que está acontecendo? — Eu sussurro quando as alcanço.
— É dia de jogo — Claire me diz, o sorriso desaparecendo. — Lembra?
Eu olho fixamente para ela.
— Dia de jogo o quê?
Os olhos de Claire se arregalam.
— Oh meu Deus — ela sussurra/silva. — Enviei uma mensagem na noite
de terça-feira sobre isso.
— Uma mensagem? — Eu murmuro. — Eu não recebi nenhuma
mensagem.
— Ela é nova, então provavelmente não está no sistema — Lizzie
murmura.
Não, não recebi a mensagem porque meu telefone estava flutuando na
água na terça-feira à noite.
— O que está acontecendo, pessoal? — Eu engasgo, aterrorizada agora.
Olho ao redor nervosamente.
— O playoff é hoje — explica Lizzie. — Entre Tommen e Royce.
Eu olhei fixamente de volta para ela.
— Huh?
— Pelo amor de Deus, Claire — Lizzie geme. — Eu não posso acreditar
que você não a avisou!
— Eu pensei que ela sabia! — Claire responde, com o rosto vermelho. —
Desculpe, Shan. Achei que você sabia que o jogo era hoje.
— Não, não, não — eu gaguejo. — A partida de Donegal não é até depois
das férias. — Que deveriam começar hoje. — Lembram?
— Royce College ganhou seus últimos três jogos — Lizzie me diz, com
um tom de simpatia.
Aparentemente, eu pareço tão perplexa quanto petrificada porque Lizzie
não lança olhares de simpatia por nada.
— Ganhar o último jogo deles colocou o Royce College em segundo lugar
na tabela com Tommen — ela apressa-se a explicar. — Royce e Tommen
estão tendo um playoff hoje para ver quem joga contra Levitt na final.
Aperto o nariz, lutando para compreender o que estava sendo dito.
— Mas deveríamos estar indo para Donegal depois da Páscoa!
— Não haverá uma viagem de Donegal se os meninos não ganharem hoje
— explica Claire.
— Por que vocês não me falaram sobre isso?
— Não sabíamos ao certo quando o jogo seria realizado.
— Por quê?
— Porque Royce está fazendo joguinho — Lizzie oferece. —
Dificultando as coisas para Tommen na esperança de que Johnny não esteja
disponível.
— O quê?
— Ele tem uma agenda — explica Claire. — Tudo o que ele faz
relacionado ao rúgbi tem que passar pela Academia. — Dando de ombros,
ela acrescenta: — Eu acho que eles estavam esperando para pegar Tommen
em uma encruzilhada.
— O que eles não conseguiram — Lizzie zomba. — Uma pena para eles.
— Oh, Deus — eu murmuro, nervosa. — Onde isso está acontecendo?
— Dublin — Claire faz uma careta.
— Não tenho permissão para ir a Dublin. — Meus olhos se arregalam. —
Se meu pai descobrir...
— É apenas uma viagem de um dia — ela me interrompe para dizer. —
Para cima e para baixo. Estaremos em casa às dez.
— Dez? — Eu choramingo. — Esta noite?
Oh Deus.
Eu estou tão morta.
— Gente, eu não posso ir — eu resmungo, entrando em pânico ao pensar
no que meu pai diria se eu chegasse em casa às 22h. — Eu não tenho
dinheiro e meus pais não sabem...
— Senhorita Lynch! — Sr. Mulcahy ruge, cortando Claire e chamando a
atenção de todos no ônibus para nós. — Sente-se!
— Vou me mexer — Lizzie intervém, levantando-se. — Shannon, você
pode sentar aqui…
— Sente-se, Srta. Young — Sr. Mulcahy estala — Senhorita Lynch é
quem está nos tirando do cronograma com suas poucas habilidades de
programação. Ela pode encontrar um lugar para si mesma.
— Está tudo bem — eu engasgo, mortificada. — Eu vou encontrar um
lugar.
— Hoje seria ótimo — ele resmunga.
Com a cabeça baixa e a voz impaciente do Sr. Mulcahy no meu ouvido,
tenho que fazer a temida caminhada da vergonha, arrastando os pés pelo
corredor central com a mochila nas costas, espiando de um lado para o outro
para ver se há um lugar livre.
Não há.
Acabo tendo que andar todo o caminho até a parte de trás do ônibus para
onde a equipe está ficando.
Quanto mais para trás no ônibus eu ando, mais alto a agitação cresce.
Eu quero me virar.
Eu quero descer desse ônibus e ir para casa.
Não, eu mentalmente fortaleço minha determinação. Não. Você não corre
mais.
Você está bem.
Você está bem.
Quem se importa se eles estão olhando para você.
Eles não te conhecem.
Apenas respire.
Finalmente, quando chego à parte de trás do ônibus e vejo a última fila,
minhas bochechas estão tão quentes que tenho certeza de que estou
irradiando calor.
Honestamente, se alguém pressionasse uma erupção no meu rosto, teria
chiado.
Toda a parte de trás está cheia de membros do time de rúgbi.
Ai Jesus.
Eu estou na zona de perigo.
Com o canto do olho, noto que o assento da janela à minha direita, bem na
frente da fileira de trás, está vago.
Caindo de alívio, aperto as alças da minha bolsa e viro meu corpo para
deslizar na fila, apenas para imediatamente parar no meu caminho quando
noto quem estava esparramado no assento do corredor.
Meu coração dispara no meu peito.
Johnny está com fones de ouvido, e a música que saí deles está tão alta
que eu posso ouvir claramente o som de Jay-Z cantando sobre ter noventa e
nove problemas.
Eu te entendo, Jay-Z...
Ele não está olhando para mim.
Ele não está olhando para ninguém.
Todo o seu foco está no iPod em suas mãos.
Espalhado em cima do assento ao lado dele – o único assento restante em
todo o ônibus – está uma pilha de malas de equipamentos, obviamente
pertencentes à equipe.
Oh Deus.
Limpando minha garganta, eu gesticulo para o assento.
Ele não olha para cima.
Seu cabelo perfeitamente penteado era a única parte de sua cabeça que eu
posso ver enquanto ele olha para o iPod em suas mãos.
O motor do ônibus ruge para a vida, vibrando sob meus pés, e uma
enorme quantidade de pânico se instala.
Estendi a mão e bati em seu ombro antes de rapidamente puxar minha
mão de volta.
A cabeça de Johnny se ergue e o lampejo de aborrecimento em suas
feições rapidamente se transforma em um olhar de surpresa quando ele me
olha duas vezes.
— Shannon?
— Eu preciso me sentar — eu me atrapalho nas palavras, mortificada
pelos sons de vaias e comentários insinuantes vindo do resto dos rapazes.
Nas últimas duas noites, eu tinha lutado com minhas emoções por ele, mal
dormindo e me afogando em pânico e dúvidas.
Agora que me deparo com a perspectiva inesperada de passar várias horas
ao lado de Johnny, eu posso me sentir perdendo por dentro.
Sério, meu estômago está revirando e eu estou bastante certa de que se eu
não me sentasse logo, eu ia vomitar.
Deus...
Com as sobrancelhas franzidas, Johnny continua a olhar para mim,
enquanto eu continuo a balbuciar.
— Não há mais nenhum lugar no ônibus e o motorista está partindo agora,
então eu preciso que você me deixe entrar... — Eu olho dele para a horda de
pessoas nos observando, e então para o assento vago — Você pode apenas
empurrar ou mover as malas para que eu possa sentar, por favor?
— Desculpe — Johnny diz em um tom de desculpas. Ele estende a mão e
arranca seus fones de ouvido. — Eu não escutei nada.
Uma enxurrada de risos irrompe dos meninos na fileira de trás.
Ficando escarlate, aponto para a pilha de malas no banco ao lado dele e
sussurro:
— Eu não tenho onde sentar.
— Merda, sim, desculpe — Johnny responde e rapidamente começa a
jogar as malas no chão aos meus pés. — Dê-me um segundo para limpar
isso.
— Pelo amor de Deus, Lynch, sente-se aí atrás! — O Sr. Mulcahy late da
frente do ônibus. — E aperte o cinto!
Envergonhada, olhei de volta para Claire pedindo ajuda, mas travo os
olhos em uma Bella enfurecida.
Ah, porra.
Ela vai te matar, Shannon.
Bella Wilkinson vai matar você.
Se seu pai não chegar primeiro...
Mortificada, dou um mergulho para o assento, tentando passar pelas
pernas excessivamente longas de Johnny, ao mesmo tempo em que ele se
estica para depositar outra bolsa.
O resultado final não foi bonito.
Envolveu muita agitação, membros emaranhados, e um dos meus joelhos
conectando com força total com o nariz dele e um coro de oooohhs e oh
merdas dos caras ao nosso redor.
— Jesus Cristo, porra — Johnny assobia. Inclinando-se contra o encosto
de cabeça, ele segura o rosto e rosna. — Puta merda, Shannon!
Eu bato a mão na minha boca, os olhos arregalados.
— Eu sinto muitíssimo!
— Vá em frente, menino Johnny! — um dos caras grita da fileira de trás.
— Faça algo!
— Vai se foder, Luke — Johnny retruca.
Ele toca seu nariz duas vezes, verificando se há sangue, e quando ele está
satisfeito que não há nenhum, ele solta o que soou como um rosnado
agravado.
— Eu realmente não queria fazer isso. — Eu engasgo, mortificada,
enquanto eu tento desesperadamente e não consigo me desembaraçar entre
suas coxas.
Não era uma tarefa fácil com minha mochila nas costas.
Eu tinha um dia inteiro de livros na minha bolsa, tendo sido incapaz de ir
ao meu armário antes de ser empurrada para este ônibus, e o peso amarrado
às minhas costas está me desequilibrando.
Segurando a parte de trás do encosto de cabeça de Johnny, levanto uma
perna e tentei passar por cima de sua perna, mas meu pé deve ter viajado
perigosamente perto de sua área porque Johnny estende a mão e agarra meu
tornozelo, segurando meu pé no lugar, fazendo com que meu saia suba.
— Cuidado! — ele late enquanto seus olhos brilham com preocupação. —
Pare de se mexer.
Eu não o culpo por parecer preocupado.
Eu era um fardo.
Balançando a cabeça, Johnny exala uma respiração pesada, solta meu
tornozelo, e então fica de pé. Foi um movimento terrível que resultou em
nossos corpos sendo esmagados sem um centímetro de espaço de sobra.
— Eu teria me movido, você sabe — explica Johnny, os olhos fixos em
mim. Estamos tão próximos que eu posso sentir o cheiro de sua colônia. —
Se você tivesse me dado uma meia chance.
Abro a boca para responder, mas tudo o que sai é uma lufada de ar.
É impossível formar palavras quando eu estou completamente enfiada
entre seu peito e o assento na frente, minha estúpida mochila tornando
impossível para mim escapar.
— Eles vão transar ou o quê? — alguém grita.
— Parece com isso, porra — outro ri.
— O que diabos está acontecendo aí atrás? — O Sr. Mulcahy ruge a
plenos pulmões. — Kavanagh! Lynch! Arrumem o banco e tomem seus
lugares!
Todos no ônibus explodem em assobios e risadas.
Enquanto isso, eu morro por dentro.
— Estamos fodidamente tentando! — Johnny rugiu de volta. — Dê-nos
um maldito minuto, sim?
— Quão difícil é sentar em uma maldita cadeira, Kavanagh? — o
professor exige.
— Muito, aparentemente — Johnny murmura baixinho antes de voltar sua
atenção para mim.
— Vá para a esquerda na três — ele instrui. — Um, dois...
Meus olhos se arregalam.
— Minha esquerda ou sua esquerda?
— Jesus. — Murmurando uma série de xingamentos baixinho, Johnny
resmunga: — Não importa, apenas venha aqui — e então começa a agarrar
minha cintura, puxar meu corpo para mais perto do dele – no entanto, isso
era possível – e depois nos virar de lado.
Ele solta minha cintura e eu praticamente caio no banco da janela, com o
rosto em chamas, o corpo tremendo.
Assim que estamos sentados, o ônibus começa a se mover sob nossos pés.
— Obrigada — eu resmungo, enquanto me pressiono no meu assento, os
ombros caindo.
— Sem problemas — Johnny murmura enquanto se recosta, tocando a
ponte de seu nariz. — Cristo, você é um pouco passiva, não é?
— Ah, sim — eu consigo responder, embora minha voz fosse ao mesmo
tempo ofegante e aguda. — Eu realmente sinto muito por ter dado uma
joelhada no seu nariz.
Deslizando minha bolsa dos meus ombros, eu a empurro para o chão e
caio para trás.
Johnny vira-se para olhar para mim, um pequeno sorriso puxando seus
lábios.
— Tem certeza que você não estava sendo astuta e tentando me fazer
pagar de volta pelo show?
— O que – não! — Eu recuo, balançando a cabeça. — Claro que não. Eu
realmente não queria...
— Relaxe, Shannon — ele ri. — Eu só estou brincando com você.
Sim, ele certamente está brincando comigo.
Minha capacidade de respirar por um fio.
Meu batimento cardíaco irregular também.
Johnny se mexe na cadeira então, obviamente tentando encontrar a
posição confortável que ele tinha antes que eu o perturbasse.
— Eu odeio viajar em ônibus — explica ele, quando finalmente se
acomoda.
Ele estica as pernas, dobrando a perna esquerda de tal forma que descansa
contra o meu joelho.
Quando ele não mexe a perna, optando por deixá-la ali, eu me forço a não
tremer.
Fica claro que ele não estava fazendo isso de propósito.
Ele tinha 1,90m e era grande demais para o pequeno espaço que lhe foi
alocado.
Ainda assim, porém, está muito perto.
Ele está muito perto.
Há muita proximidade.
— Você está do meu lado — eu sussurro, cutucando sua coxa com meu
joelho, rezando por um afastamento.
Não acontece.
Ele não move a perna.
Em vez disso, ele arqueia uma sobrancelha e diz:
— Você está no meu ônibus.
Minhas bochechas ficam vermelhas e brilhantes.
Abaixando a cabeça, concentro-me em puxar um fio invisível no meu
suéter da escola, o único suéter da escola atualmente à vista em todo o
ônibus.
O memorando sem uniforme foi outro que não recebi.
Deus...
— Eu estou brincando — diz Johnny, me tirando dos meus pensamentos.
— Eu sei — respondo, embora não soubesse.
Eu não consigo lê-lo.
Eu estou confusa.
Eu me sinto perturbada.
E eu quero sair desse ônibus.
— Então, sua turma foi escolhida para vir ao jogo? — ele pergunta,
oferecendo alguma conversa.
Eu balanço a cabeça e tento ignorar a sensação de sua perna na minha.
— Aparentemente.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Aparentemente?
Solto um suspiro pesado.
— Eu nem sabia sobre esse jogo estúpido até entrar na escola e ser jogada
neste ônibus.
— Jogo estúpido? — ele zomba. — Obrigado por isso.
— Desculpe.
— Não se preocupe com isso — ele responde. — Então, você realmente
não tinha ideia sobre o jogo?
Eu balanço minha cabeça.
— Nenhuma ideia.
— Merda — ele murmura. — Então, você não trouxe nada com você?
— Eu tenho todos os livros que preciso para todas as nove aulas de hoje.
— Eu ofereço fracamente, ombros caídos.
— Se ficar tarde, talvez tenhamos que ficar lá — afirma com uma
carranca.
— O quê? — Eu murmuro. — Por favor, não diga isso.
Johnny dá de ombros se desculpando.
— Acontece.
— Deus — eu respiro.
— Você quer correr para casa e pegar uma bolsa? — ele pergunta. — Eu
posso ter uma palavrinha com o treinador e pedir a ele para parar na sua
casa…
— Não — eu solto. — Deus, não, está tudo bem.
— Tem certeza?
Eu balanço a cabeça.
— Ouça, eu vou te levar para casa depois do jogo hoje à noite — Johnny
diz com uma carranca profunda. — Se é com isso que você está preocupada?
— Preocupada? — Eu balanço minha cabeça. — Eu não estou
preocupada.
— Você parece preocupada — ele diz baixinho, os olhos fixos nos meus.
— Uh, eu só estou... — Lutando contra uma onda de ansiedade, eu
pergunto: — Posso pegar seu telefone emprestado, por favor? —
Contorcendo-me desconfortavelmente, acrescento: — Preciso avisar meu
irmão que chegarei tarde em casa.
E então eu preciso pedir a Joey para fazer meus preparativos para o
funeral porque eu sou uma garota morta...
— Sim, não se preocupe — responde Johnny. Ele desliza a mão no bolso e
tira seu telefone de aparência elegante de lá antes de me entregar o
dispositivo preto brilhante.
— Um. — Olho para a tela, sem noção. — Você pode desbloqueá-lo para
mim?
— Merda, sim, desculpe — ele murmura quando estende a mão e
desbloqueia a tela.
Quando continuo a mexer em seu telefone, ele o tira da minha mão e me
instrui a discar o número.
— Obrigada — eu sussurro, pegando o telefone de volta dele.
Apertando o botão verde de chamada, seguro-o no ouvido e rezo para que
Joey atenda.
Vários toques depois e eu estou conectado à sua caixa postal.
— Ei, aqui é Joey. Você sabe o que fazer…
— Joe — eu falo, abaixando meu rosto. — Sou eu, Shannon. Estou a
caminho de Dublin com a escola. Eu não vou voltar até tarde da noite. Você
pode avisar a mãe? Ele está com meu telefone, então ligue para lá. Você não
vai conseguir falar comigo, mas estou bem, Joe. Não se preocupe com...
O telefone toca, avisando que eu não tenho mais tempo.
Encerrando a ligação, devolvo o telefone a Johnny e exalo trêmula.
— Obrigada.
— Quem está com seu telefone? — Johnny pergunta, guardando seu
telefone.
— Oh, uh, meu pai — eu murmuro.
— Por que?
Dou de ombros, mas não respondo.
— Isso é diferente — ele diz então.
Eu olho fixamente para ele.
— Huh?
Ele estende a mão e tocou minha bochecha.
— A maquiagem.
— Oh. — Eu abaixo meu rosto, sentindo-me incrivelmente grata pela
maleta de maquiagem que Claire tinha me dado na quarta-feira de manhã.
Era cem por cento necessária. — Eu sei.
Johnny se mexe na cadeira então, obviamente tentando ficar confortável.
Abaixando minha cabeça, concentro-me em puxar o mesmo fio invisível
no meu suéter da escola.
— Você está com raiva de mim?
Sua pergunta me pega e eu olho para os olhos azuis penetrantes.
— Com raiva de você?
Johnny assente lentamente.
— Pelo que eu fiz no refeitório?
Meu coração bate violentamente, enquanto eu avalio sua pergunta.
Eu estou envergonhada.
Eu estou insegura.
Eu estou com medo.
Mas eu não estou brava com ele.
— Não — eu finalmente respondo. — Eu não estou brava com você.
— Você não voltou — ele diz, a voz baixa.
Dou de ombros e abaixo o olhar.
— Estava doente.
— Você está melhor agora?
— Eu acho — eu respondo, a voz baixa.
— Foi a sua menstruação? — Johnny me surpreende perguntando
diretamente.
Deus.
— Uh... sim. — Com o rosto vermelho, me mexo desconfortavelmente.
— Mas eu estou bem agora.
— Não faça isso — Johnny diz com uma carranca.
— Não faça o quê?
— Ficar envergonhada. — Ele cutuca meu ombro com o dele. — É
natural, Shannon.
Oh Deus.
Eu estou além de envergonhada.
Nesta fase, eu estou oscilando para a humilhação.
— Ok? — Eu solto.
Ele balança a cabeça e sorri.
— Você ouviu a faixa nove?
Agora eu estou envergonhada novamente.
— Eu ouvi — eu sussurro.
— Você gostou?
— Hum. — Dou de ombros, sem saber o que dizer.
— O que há de errado?
— Eu não sei o que fazer com isso, na verdade?
Ele franze a testa, esperando por uma explicação.
Eu me mexo desconfortavelmente antes de dizer:
— Fuck her Gently12?
Johnny fica boquiaberto pra mim.
— O quê?
— Faixa nove do CD? — Dou de ombros. — Era Fuck Her Gently do
Tenacious D.
— Droga.
— Não, essa é do Blink 18213 e foi a faixa quatro do CD — respondo.
— Porra.
— Não — eu corrijo. — FACK14 do Eminem era a faixa dez.
— O que – não! — Johnny balança a cabeça e geme. — Jesus, o que mais
estava nele?
Eu penso sobre isso por um momento antes de dizer:
— Pretty Fly for a White Guy, The Ballad of Chasey Laine, hum, Stacey's
Mom, The Bad Touch, Pony, e algumas outras que eu não consigo lembrar.
Johnny geme novamente.
— Eu te dei o CD errado.
— Você deu?
Ele assente lentamente.
— Isso era de Gibsie.
— O que você pretendia me dar?
Johnny tem uma expressão contraída quando diz:
— Uma música do Maroon 5.
— Oh? — Eu olho para ele. — Qual delas?
Ele se mexe em desconforto.
— She Will Be Loved15.
Oh.
Uau.
Quando eu não respondo, porque francamente não posso, Johnny me faz
mais algumas perguntas aleatórias, claramente tentando iniciar uma
conversa.
Quando tudo que eu dou a ele em troca são algumas respostas
monossilábicas, ele se recosta em seu assento com o braço roçando no meu e
puxa seu iPod de volta.
Ele brinca com os botões na tela de aparência elegante, folheando música
após música, até finalmente se decidir por Dayghters do John Mayer.
— Só pedir se você quiser usar meu telefone de novo, ok? — ele oferece
antes de colocar os fones de ouvido em seus ouvidos. — Ou precisar de mais
alguma coisa.
Ele aumenta o volume em seu iPod tão alto que eu não preciso pegar meu
Discman para entretenimento, não quando eu posso ouvir claramente cada
palavra do meu assento.
Grata pelo alívio de sua intensidade, solto um suspiro trêmulo e tento
controlar meus nervos.
Não foi fácil, no entanto.
Não com a raiz de toda a minha ansiedade sentada ao meu lado.
E as palavras dessa música me atormentando.
Se ele soubesse o quão verdadeiras aquelas letras eram, penso comigo
mesma.
Apenas se...
58
JOHNNY
SHANNON
ESTRANGULAMENTO DO CUPIDO
JOHNNY
SHANNON
JOHNNY
SHANNON
Eu não tenho uma explicação racional para o motivo de ter passado a última
hora e meia do lado de fora da sede do clube sob a chuva torrencial.
Eu não quero pensar muito sobre isso.
Meus sentimentos estão me preocupando, mas não tanto quanto o que está
acontecendo dentro daquele vestiário.
Eu deveria ter voltado para o ônibus com Claire e Lizzie e todos os outros
da nossa escola, mas não consegui.
Eu não consigo fazer meus pés se moverem na direção do bom senso.
Em vez disso, espero.
E eu me preocupo.
E luto desesperadamente contra a vontade de invadir o vestiário dos
visitantes.
Esgueirando-se do lado de fora na escuridão, observo os jogadores de
Royce e Tommen saírem da sede do clube, seguidos pelos treinadores, Sr.
Mulcahy e o médico da partida.
Ninguém parecia me notar e eu não estou surpresa.
Todos aqueles garotos parecem ser pelo menos 30 centímetros mais altos
que eu.
Isso é, até Gibsie sair.
— Ei, pequena Shannon — ele diz, me notando imediatamente. — O que
você está fazendo parada aqui na chuva?
— Oh, eu estava apenas... eu queria... ele está... e eu... — Batendo minhas
mãos impotente, eu desisto e dou de ombros. — Eu estou preocupada.
— Com Johnny?
Meus ombros caem e eu balanço a cabeça em derrota.
— É ruim?
Gibsie franze a testa, parecendo incerto.
— Vamos, Gibsie — eu imploro. — Apenas me diga.
— Ele está bem, pequena Shannon...
— Não minta para mim — eu falo. — Por favor. — Exalando uma
respiração irregular, eu continuo — Eu preciso saber.
— Ele está mal — ele admite calmamente. — Dependendo do que os
médicos disserem quando ele chegar ao hospital, ele está encarando um sério
tempo fora do jogo. — Exalando pesadamente, ele passa a mão pelo cabelo.
— Ele está fora da final, com certeza.
— Eu não quero saber se ele pode jogar rúgbi ou não. — Eu aperto
enquanto uma onda de culpa me engole. — Eu quero saber se ele está bem!
Ele. Johnny! A pessoa. Não o maldito jogador de rúgbi!
Gibsie inclina a cabeça para o lado, me estudando com um olhar curioso.
— Bem, não é uma para se manter? — ele finalmente medita, em tom
baixo.
— O que?
— Deixa para lá. — Gibsie balança a cabeça e exala pesadamente. —
Ouvi o ônibus ligando para os hoteis para ver se algum lugar pode nos
hospedar para passar a noite.
Fazendo uma careta, ele acrescenta:
— Acredita que Johnny será levado direto para a cirurgia esta noite.
Oh Deus.
Meu coração afunda.
Eu sabia que ele não deveria jogar.
Eu sabia que ele estava ferido.
Eu sabia e não fiz nada.
Eu deveria ter dito algo para sua mãe.
Eu deveria ter dito algo ao treinador.
Eu sabia que ele estava jogando lesionado.
Como sempre, eu não fiz merda nenhuma.
— Isso é minha culpa — eu engasgo.
— Porque você sabia? — sussurra Gibsie.
Abaixo a cabeça em vergonha.
— Então é minha culpa também — ele me diz. — Entre, pequena
Shannon — ele acrescenta, me dando um pequeno sorriso. — Ele está lá
sozinho, esperando sua carona para o hospital.
— Uh, talvez eu não devesse…
— Você deve — ele me interrompe dizendo.
— Eu devo? — Eu pergunto, incerta.
Gibsie assente.
— Você deve.
E sem outra palavra, ele caminhou na direção do estacionamento para o
ônibus escolar.
Fico ali por mais cinco minutos tentando me convencer a descer da borda
da qual eu estou ameaçando pular.
Não funciona.
Nada parece fazer mais sentido.
Nada, exceto encontrá-lo.
Tremendo da cabeça aos pés, dou um mergulho e corro para dentro do
prédio e pelo corredor de piso de concreto, não parando até que eu esteja do
lado de fora de uma porta branca com a palavra Visitantes gravada nela.
Inalando uma respiração enorme e firme, empurro a porta para dentro e
entro no vestiário vazio, apenas para ser imediatamente agredida pelo fedor
do calor profundo.
É tão potente que faz meus olhos lacrimejarem.
Vapor está flutuando de um arco que eu presumo que leva à área do
chuveiro.
A maioria dos vestiários tem o mesmo layout: sala grande, paredes de
tijolos brancos, bancos de madeira alinhados em ambos os lados do cômodo
e chuveiros situados nos fundos.
Ele está no chuveiro, sua idiota.
O que você está fazendo?
Saia.
Saia agora!
Envergonhada, eu me viro e corro para a porta, apenas para parar no meu
caminho quando Johnny chama meu nome.
— Shannon?
Mortificada, eu me viro para encará-lo.
— Oi — eu solto, me forçando a respirar, embora parecesse que meu
coração acelera no meu peito ao vê-lo.
Johnny tem uma toalha pendurada no ombro, segura uma muleta de metal
com a mão e tem uma expressão de dor no rosto. Ele está mais uma vez
usando uma Calvin Klein.
A dessa noite é preta.
— Oi — Johnny responde, me distraindo dos meus pensamentos
perigosos. — O que você está fazendo aqui?
— Eu queria checar você. — Eu solto, tentando desesperadamente não
olhar para a forma como os músculos de seu estômago se contraem quando
ele vai até o banco, colocando todo o seu peso na muleta. — Eu estava
preocupada.
Ele está mancando de novo, descaradamente óbvio agora, e eu estou
instantaneamente alerta.
Alerta e preocupada.
— Estou preocupada — eu murmuro.
— Um daqueles babacas do Royce me cortou com o sapato — Johnny
resmunga.
Ele se senta cautelosamente, apoia a muleta ao lado dele e coloca a toalha
sobre a coxa direita.
— Cortou você? — Eu engasgo, horrorizada.
Oh, Deus.
Exalando pesadamente, Johnny se inclina para trás e descansa a cabeça
contra a parede de azulejos em suas costas.
— Idiotas.
— Você não se levantou, Johnny — eu sussurro, mordendo meu lábio.
Meu olhar vai para sua coxa. — Por muito tempo.
— Desmaiei de dor — ele relutantemente admite.
— Eles estão mandando você para o hospital? — Eu pergunto, me
forçando a ficar onde estou e não correr para ele como eu quero
desesperadamente. — Para exames?
— É protocolo, dadas as circunstâncias. — Exalando pesadamente, ele se
inclina para trás e descansa a cabeça contra a parede de azulejos em suas
costas. — É uma piada do caralho.
Mentiroso.
Eu sei que você vai fazer uma cirurgia.
— Quão ruim é, Johnny? — Eu me forço a perguntar.
Ele estala seu olhar em mim, olhos azuis cheios de calor.
— Eu estou bem, Shannon.
Mais mentiras.
Eu posso ouvir quanta dor ele está sentindo pela maneira como ele está
rangendo suas palavras enquanto fala.
Ele está sofrendo.
E ele está com medo.
— Tem certeza? — eu pressiono.
Ele olha para mim, olhos azuis cheios de calor.
— Você tem?
— Não sei. — Eu dou de ombros impotente. — Estou com tanto medo por
você.
Johnny arqueia uma sobrancelha com a minha resposta e eu fico vermelha
como uma beterraba.
— Eu deveria deixar você em paz. — Junto minhas mãos e engulo
profundamente. — Eu vou esperar no ônibus.
Eu me viro e corro para a porta.
— Você pode ficar comigo?
Meus pés param e meu coração acelera.
Eu me viro para olhar para ele.
— Huh?
— Por favor — Johnny resmunga. — Eu não quero ficar sozinho.
Meu coração aperta com força no meu peito, dificultando respirar.
— Posso ir buscar Gibsie? — Eu ofereço fracamente.
Johnny balança a cabeça.
— Eu só quero você.
Eu sei que deveria ir embora.
Eu deveria sair desta sala e tomar meu lugar no ônibus.
Seria a coisa certa a fazer.
A coisa sensata.
Mas eu não faria.
Porque eu não posso deixá-lo.
Desajeitadamente, me movo em direção a ele, não parando até que eu
esteja sentada ao lado dele.
Meu cérebro está desconfiado e cauteloso, mas meu coração não está, e
meu corpo está mais que feliz em compensar por ambos.
Eu estou fisicamente atraída por ele, emocionalmente conectada e
mentalmente aterrorizada.
Isso cria um terrível campo de batalha de angústia dentro de mim.
A preocupação com esse menino é desenfreada dentro de mim.
Eu não entendo, e neste momento, eu não me importo.
O alívio que senti quando entrei por aquela porta e o vi vivo e respirando
ainda está me dominando. Eu sei que ele estava apavorado com suas
perspectivas de jogar rúgbi, mas tudo em que eu consigo pensar era que ele
está inteiro.
É esse alívio esmagador e preocupação correndo em minhas veias que
provocam meu próximo movimento.
— Está tudo bem — eu prometo, pegando sua grande mão na minha. —
Você vai ficar bem.
Johnny endurece, mas não puxa sua mão da minha.
Eu também não solto.
Eu apenas puxo sua mão para o meu colo e seguro com força.
— Estou com dor, Shannon — ele confessa, abaixando a cabeça. — Estou
com tanto medo.
— Eu sei que você está — eu sussurro, me aproximando, os dedos se
contorcendo com o desejo que eu tenho dentro de mim de verificar o dano
que ele está escondendo debaixo daquela toalha. — Eles lhe deram alguma
coisa para a dor?
Johnny exalou uma respiração irregular.
— Sim, o médico me deu uma injeção de algo – um relaxante muscular,
eu acho.
— Está ajudando?
Ele balança sua cabeça.
— Aposto que você gostaria de não ter desperdiçado aqueles ibuprofenos
comigo agora, hein? — Eu brinco, tentando distraí-lo do desconforto óbvio
que ele está sentindo. — Eles seriam úteis agora.
— Um tranquilizante seria útil — ele retruca tristemente, seus grandes
ombros caídos.
— Deixe-me ver você. — Eu instruo suavemente.
Mantendo minha mão direita em volta da dele, uso minha esquerda para
alcançar e virar seu queixo.
— Aqueles filhos da puta — eu murmuro, olhando para o hematoma roxo
na lateral de sua bochecha, e aquele corte acima de sua testa que mais uma
vez está coagulando. — Seu pobre rosto.
Johnny ri então.
— O que é engraçado? — Eu pergunto, emocionada ao ouvir aquele som
sair dele.
— É estranho ouvir você dizer filho da puta — ele explica com um sorriso
cansado.
— Eu sou bastante parcial para xingar, sabe — eu digo a ele, tentando
desesperadamente distraí-lo de sua dor.
— Não, você não é — ele responde rispidamente, inteligente demais para
seu próprio bem. — Você só está dizendo isso para me distrair.
— Está funcionando?
Ele assente rigidamente.
— Não pare.
Quebrando meu cérebro por algo a dizer, eu deixo meu olhar vagar sobre
ele, absorvendo cada sulco e borda dura até me fixar na mão embrulhada na
minha.
Sua mão era grande e masculina, os nós dos dedos de uma forma estranha
do que eu presumo que fossem anos de trabalho árduo. Seus dedos são
longos, suas unhas estão cortadas e ele tem uma longa cicatriz nas costas de
sua mão esquerda.
Eu levanto uma sobrancelha para isso.
Passando meus dedos sobre a linha irregular nas costas de sua mão, eu
pergunto:
— O que aconteceu aqui?
— Pisaram na minha mão — ele explica, olhando para nossas mãos
unidas. — Uma pisada na minha mão suja durante um ruck em uma
semifinal do clube há dois anos, resultando em sete pontos e tétano.
Eu estremeço.
— Ai.
Ele expele uma respiração áspera.
— Sim.
— Você tem mais?
— Eu tenho alguns — ele responde, me olhando com curiosidade.
— Posso ver?
Johnny me observa por um longo momento antes de assentir lentamente.
— Se você quiser.
— Sim — respondo, querendo manter sua mente ocupada enquanto
espero a ambulância chegar.
— Eu quebrei isso mais vezes do que me lembro — Johnny me diz,
apontando para o nariz. — A pior época foi no verão passado. — Ele faz
uma careta antes de acrescentar: — Eles tiveram que lixar o osso e quebrá-lo
novamente para colocá-lo de volta no lugar.
Meus olhos se arregalam.
— De volta ao lugar?
— Sim. — Ele sorri. — Eu estava andando por aí com meu nariz tocando
minha bochecha.
— Deus — eu gemo, o estômago revirando. — Isso é bárbaro.
— Isso é rúgbi — ele ri e então grunhe alto, encolhendo-se de dor.
— O que mais? — Me apresso a perguntar.
Soltando um suspiro de dor, Johnny me dá um resumo detalhado de seu
apêndice estourando quando ele tinha treze anos e, em seguida, seu
estômago virando do avesso quando ele estava em recuperação, resultando
em outra inspeção e interação próxima e pessoal com a sua cicatriz na
barriga.
Barriga era uma palavra estúpida para descrevê-lo.
Era um termo muito suave, muito inocente para descrever o que ele tem.
Os meninos tinham barrigas.
Fica bem claro que Johnny não era mais um menino.
Aqueles abdominais e aquele rastro de cabelo escuro sob o umbigo
atribuídos a isso.
Johnny se inclina para a frente e aponta para um pedaço de pele
desgastada de aparência repugnante acima do joelho direito.
— Este me colocou no banco por um verão inteiro.
— O que aconteceu? — Eu exclamo. — Rúgbi?
— Pela primeira vez, não. Esse aconteceu fora do campo quando eu tinha
dez anos — responde ele. — Alguns dos rapazes mais velhos da minha
escola me desafiaram a pular do penhasco em Sander's Point…
— Sander’s Point?
— É um ponto de mergulho de quinze metros que costumávamos ficar em
casa — explica Johnny. — Eu era um pequeno bastardo louco naquela
época, enfrentando os grandes caras, pensando que eu era o maldito incrível
hulk. — Ele balança a cabeça e sorri com carinho. — Acontece que eu não
era e eu tenho os raios-x e uma semana no hospital para provar isso.
— Jesus — eu exclamo. — Você tinha apenas dez anos! Você poderia ter
morrido.
— Estou maior agora. — Ele sorri tristemente. — Mais difícil de quebrar.
— Sim. — Aperto sua mão com força. — Você é.
Johnny me mostra vários outros ferimentos de batalha, rindo toda vez que
eu gemo ou engasgo.
A conversa parece distraí-lo de sua dor e eu estou feliz.
Seus ombros não estão mais tão tensos, e quanto mais conversávamos,
mais a rigidez em seu corpo evapora.
— Ah, e eu fraturei minha bochecha quando eu tinha quatorze anos. —
Johnny inclina o rosto para perto do meu. — Viu? — Ele aponta para uma
linha frágil e prateada no ponto alto de sua bochecha esquerda. — Você mal
pode ver agora, mas isso doía como uma cadela.
— Ah, sim — eu medito, inspecionando a cicatriz fina. — Eu nunca tinha
notado isso antes. — Desviei meus olhos para sua sobrancelha. Incapaz de
me conter, estendo a mão e passo meu polegar sobre sua testa novamente. —
Por que isso sempre sangra?
— Não teve a chance de se curar — ele explica, mantendo-se
perfeitamente imóvel enquanto eu o toco de forma inadequada. — Vai fechar
corretamente assim que a temporada acabar.
— Oh — eu sussurro, procurando em seu rosto por mais feridas de batalha
escondidas.
Quando meus olhos alcançam os dele novamente, eu o encontro me
observando, seus olhos azuis-escuros aquecidos e presos nos meus.
— O jogador de Royce te machucou aí? — Inclino minha cabeça para
onde a toalha estava sobre sua coxa. — É por isso que você desmaiou?
Johnny assente com relutância.
— Posso ver? — Eu pergunto, minha voz pouco mais que um sussurro.
Ele fica tenso.
— Por favor?
Ele balança a cabeça lentamente.
— Shannon, eu não acho que seja uma boa ideia.
— Por favor? — Eu repito, olhando para ele nervosamente. — Eu já sei
que está lá e você me mostrou os outros.
— É ruim, Shannon — ele responde rispidamente. — Acredite em mim,
você não quer ver isso.
— Você pode confiar em mim — eu sussurro. — Eu não vou contar.
Johnny me encara por um longo momento, olhos fixos nos meus, antes de
exalar pesadamente.
Ombros caídos, ele deixa cair as mãos para os lados, mas não faz nenhum
movimento para me mostrar.
— Posso? — Eu pergunto.
Ele fecha os olhos e assente rigidamente.
Ele está me dando as rédeas, percebo, para fazer o que eu deseje.
Trêmula, eu levanto a toalha e olho para o que parecia ser uma cicatriz
recentemente costurada na parte interna de sua coxa direita.
Sua coxa está inchada, de cor púrpura, e a cicatriz chorosa e de aparência
raivosa estava parcialmente escondida pelo tecido de sua cueca.
— Oh Deus, Johnny — eu exclamo, deslizando para fora do banco e para
o chão para dar uma olhada melhor.
— Não me machuque — ele avisa em um tom dolorosamente vulnerável.
— Eu não vou — eu prometo enquanto me ajoelho entre suas pernas e
espero que ele me dê o sinal verde.
Assentindo rigidamente, Johnny inclina a cabeça para trás e fecha os
olhos, a mandíbula apertada com força.
Gentilmente, alcanço a barra da perna de sua cueca boxer e
cuidadosamente levanto o tecido para longe de sua carne, apenas para ofegar
com a visão.
Sua coxa é peluda, com exceção de um pedaço de pele de quinze
centímetros.
E aquele pedaço particular de pele de quinze centímetros está inchado,
com aparência raivosa, e uma horrenda cor acastanhada, amarela.
— Está escorrendo — eu sussurro, alisando meus dedos sobre a trilha
irregular e desigual onde eles o costuraram de volta. Os pontos frágeis, mal
cicatrizados, claramente foram abertos pela bota do jogador de Royce que
atingiu sua virilha. O pus que vaza da ferida era de uma cor amarelo-
avermelhada. — Johnny, isso é ruim.
— Eu sei — ele fala, os olhos ainda cerrados. — O doutor me disse.
Gentilmente, traço a cicatriz e os hematomas ao redor com meus dedos.
— Dói quando eu te toco assim?
— Dói — ele responde, tom rouco.
Exalando uma respiração pesada, eu acaricio sua coxa e luto contra a
vontade de pressionar um beijo em seu corte.
— Por uma razão totalmente diferente — ele murmura.
E foi aí que percebi o que estou fazendo, o que estava fazendo no último
minuto.
Eu estou sentada de joelhos entre suas pernas, acariciando a parte interna
de sua coxa, tentando aliviar sua dor.
Meus olhos vão para a zona de perigo e minha boca fica seca.
Então é por isso que as pessoas se referem a isso como armar uma
barraca.
Eu não tenho certeza se essa afirmação se aplica a essa raça particular de
adolescente porque Johnny não está apenas armando uma barraca naquelas
cuecas – ele estava armando uma marquise.
Soltando um gemido baixo, ele empurra minha mão e se move para fechar
suas coxas, mas eu o paro.
Eu o paro.
— Não — eu murmuro, a voz ofegante e suave.
Eu posso sentir o calor de seu olhar no meu rosto.
Ele se move para fechar as pernas novamente e eu balanço minha cabeça.
Seus olhos estão abertos novamente, suas pupilas estão escuras e
dilatadas.
— O que você está fazendo? — ele sussurra, mordendo o lábio inferior
inchado.
Eu não sei o que estou fazendo.
Eu não sei o que estou pensando.
Eu não consigo falar.
Eu mal consigo respirar.
Eu estou enlouquecendo aqui de joelhos no meio de um vestiário em
Dublin.
E era tudo culpa dele.
Um deslize temporário na sanidade me faz inclinar para frente e dar um
beijo em sua coxa.
O som que sai do peito de Johnny é um gemido de dor e gutural.
— Shannon, por favor…
Eu o beijo novamente.
— Foda-se — ele grunhe, as pernas tremendo agora. — Não posso...
A terceira vez que o beijo, ele agarra meu cabelo e puxa meu rosto para o
dele.
— Shannon — Johnny geme, soando ao mesmo tempo dolorido e sem
fôlego, enquanto ele gentilmente pressiona sua testa na minha. — Nós não
podemos…
Eu silencio o que ele está prestes a dizer, colocando meus lábios nos dele.
E assim como antes, ele se transforma em pedra.
— Desculpe — eu exclamo, me afastando. — Eu fiz de novo.
— Está tudo bem — ele me diz, respirando com dificuldade como antes.
— Não, não, não — eu solto enquanto me levanto e me lanço para a porta.
— Você está ferido! Você está esperando para ir para o hospital, pelo amor
de Deus, e eu apenas, oh Deus! Eu sinto muito.
— Shannon, espere — Johnny grita enquanto luta para pegar sua bolsa. —
Espere!
Eu não espero.
Em vez disso, faço o que deveria ter feito antes.
Eu fujo de Johnny Kavanagh.
Correndo para a porta, eu a abro.
Ela abre cerca de dez centímetros antes de se fechar novamente – a palma
da mão pressionada contra ela – sem dúvida.
— Espere — ele ordena, ficando tão perto de mim que eu posso sentir seu
peito subindo e descendo contra meu pescoço.
Com meu coração martelando no meu peito, eu me viro e olho para
Johnny enquanto ele me enjaula com seu corpo grande.
— Eu sinto muito — eu sussurro, incapaz de tirar meus olhos dos dele. —
Eu só... eu... — Balançando minha cabeça, eu exalo uma respiração irregular
e sussurrei — Eu não deveria ter feito isso.
Ele balança a cabeça e usa sua muleta para se aproximar, pressionando seu
corpo contra o meu.
— Eu também sinto — ele responde rispidamente, o olhar passando dos
meus olhos para a minha boca.
— Por que você está arrependido? — Eu suspiro, tremendo da cabeça aos
pés.
Ele segura meu rosto com a mão livre e inclina meu queixo para cima.
— Porque eu não deveria fazer isso — ele sussurra.
E depois ele me beija.
No momento em que seus lábios esmagam contra os meus, uma feroz
explosão de calor percorre meu corpo, acendendo uma deliciosa e ardente
dor na minha barriga.
Incapaz de pensar direito, muito menos respirar, faço a única coisa que
posso fazer, dada a circunstância: estendo a mão e agarro seus antebraços e o
beijo de volta.
Este era meu primeiro beijo de verdade, sem contar o desastre em seu
quarto, e eu não tenho ideia do que estou fazendo.
Eu só sei que eu quero que ele nunca pare.
Quando sinto uma de suas mãos descendo pelo meu braço e pousando no
meu quadril, perco o controle.
Eu me afasto completa e totalmente dos meus sentidos.
Tremendo incontrolavelmente, deixo minhas costas caírem contra o
batente da porta enquanto meus quadris empurram mais perto dele.
Eu estou me afogando em meus sentimentos enquanto eles me atravessam
como uma bola de demolição.
Quanto mais ele me beija, mais meu corpo treme incontrolavelmente.
Quanto mais eu procuro.
Eu gemo em sua boca quando sinto a ponta de sua língua contra meu lábio
inferior.
Percebendo que ele está esperando que eu abra minha boca para ele,
separo meus lábios e prendo a respiração quando sinto sua língua deslizar
dentro da minha boca.
Gentilmente, ele toca sua língua contra a minha em movimentos lentos e
pacientes.
Oh, Deus.
Oh, doce menino Jesus.
Eu estou beijando Johnny Kavanagh.
Johnny Kavanagh está me beijando de volta.
Ele está com a língua na minha boca, a mão no meu cabelo e meu coração
está nas mãos dele.
Isso era...
Isso era...
Tudo o que eu nunca esperei e muito mais.
Incerta, eu timidamente serpenteio minha língua para fora e acaricio a
dele.
Johnny me recompensa com um rosnado baixo e aprovador que vem de
algum lugar no fundo de seu peito.
Tremendo, passo meus braços em volta de sua cintura e o puxo para mais
perto de mim, sem saber o que estou fazendo, mas sabendo que meu corpo
precisa de mais.
Minha confiança cresce com cada roçar de nossos lábios, com cada duelo
de nossas línguas, até que eu estou ronronando em seus braços, balançando
meu corpo contra ele impacientemente, enquanto nos movemos
desajeitadamente para o banco mais próximo.
Como isso está acontecendo?
Por que isso está acontecendo?
Eu não sei.
Eu não sei e não me importo.
Johnny cambaleia para trás e afunda com força no banco de madeira.
O impacto faz com que um grunhido de dor saísse de seu peito, mas ele
nunca tira os lábios dos meus enquanto joga a muleta para longe e me puxa
entre suas pernas.
Suas mãos se movem do meu rosto para a minha cintura, apertando com
força, e o movimento faz um gemido sair da minha garganta.
Ele responde ao meu pequeno suspiro de prazer surpreso com um
grunhido baixo de aprovação.
— Você está bem? — Eu suspiro contra seus lábios enquanto seguro em
seus ombros.
— Apenas continue me beijando — ele exclama. — Eu te quero tanto.
Eu estremeço violentamente.
— Você quer?
— Tanto, porra — ele geme contra meus lábios, e então suas mãos estão
em minhas coxas, seus dedos subindo minha saia justa até meus quadris
antes de me puxar para baixo em seu colo, me encorajando a montar nele.
Consciente de sua lesão, eu engato uma coxa de cada lado dele e pairo
sobre seu colo, mantendo meu peso fora dele, enquanto eu seguro seu lindo
rosto entre minhas pequenas mãos e o beijo de volta com tudo que eu tenho
em mim.
Johnny estremece ao meu toque, mas não me afasto.
Eu não posso evitar.
Eu quero tocar seu rosto.
Eu quero tocá-lo em todos os lugares.
— Eu estou fazendo a coisa certa? — Eu suspirei contra seus lábios, me
sentindo dolorosamente consciente da minha inexperiência.
— Mais do que certo — ele me assegura, reivindicando minha boca mais
uma vez.
— Este é o meu primeiro beijo. — Eu gemo contra seus lábios.
— Você é fodidamente perfeita — ele me assegurou, enchendo minha
boca com sua língua quente.
Caindo de volta em um beijo profundo e drogado, eu me permito relaxar e
absorver as sensações sacudindo através de mim.
Ele parece tão bom.
Seus lábios são tão macios.
Seu corpo está tão duro.
Ele cheira tão bem.
Ele tem um gosto tão doce.
Eu estou me afogando em sentimentos.
Incapaz de me impedir, passo a mão pelo seu cabelo molhado e puxo.
Ele recompensa minha bravura com um grunhido baixo enquanto coloca
as mãos em meus quadris e me arrasta para baixo em seu colo ao mesmo
tempo em que empurra seus quadris para cima.
Ofegando em sua boca, eu vou de boa vontade, muito consumida na
sensação inebriante e deliciosa de seu corpo pressionado contra o meu para
contemplar que isso pode estar machucando ele.
Ele está claramente gostando disso.
Eu posso sentir seu prazer enquanto ele se pressiona contra mim.
Aninhado entre minhas pernas, Johnny não pressiona por mais.
Em vez disso, ele continua a me beijar com movimentos quentes de sua
língua, me arruinando apenas com a boca.
Ele está me deixando quente e dolorida por toda parte.
Perdendo o controle de mim mesma e perseguindo a pressão, eu gemo em
sua boca e afundo com força em seu colo.
Johnny grunhe em minha boca e eu congelo, de repente ciente de seu
ferimento.
— Eu estou machucando você? — Eu pergunto contra seus lábios.
— Só se você parar. — Ele ata a mão na parte de trás do meu cabelo e
aprofunda o beijo.
Eu acho que estou apaixonada por você.
Acho que estou me apaixonando.
Por favor, não me machuque.
Por favor, nunca me machuque.
Minha mente está correndo com pensamentos enlouquecidos, induzidos
pela luxúria, todos direcionados a Johnny.
Eu não consigo parar de cair à beira do suicídio emocional.
Eu estou faminta por ele.
Voraz.
Eu preciso desse menino.
Eu estou desesperada por ele.
Eu sofro e anseio e admito isso agora, com uma mente aberta e um
coração vulnerável.
Quanto mais eu balanço contra ele, mais ele me encoraja a me mover,
puxando meus quadris, moendo nossos corpos juntos.
Eu estou tão envolvida em nosso beijo que não ouço a porta do vestiário
abrir e fechar, e eu estou apenas vagamente ciente de alguém limpando a
garganta.
É só quando o treinador Mulcahy fala, que a realidade desaba sobre mim
com um tremendo estrondo.
— Vejo que está se sentindo melhor.
— Porra — Johnny geme em minha boca.
Assustada, quebro o beijo e tento sair do colo de Johnny.
Tento pode ser a palavra apropriada porque Johnny segura minha mão e
me puxa de volta para ele.
Quando ele se abaixa e ajusta minha saia, empurrando-a de volta para
baixo, eu quase morro no local.
— Comportamento impróprio em terreno da escola, Kavanagh — o
treinador Mulcahy retruca, lançando olhares ferozes para nós dois. — Que
diabos está errado com você?
Meu olhar pousa nos dois paramédicos de aparência divertida atrás do
treinador, e eu choramingo alto.
— Nós não estamos no terreno da escola, senhor — Johnny responde
calmamente enquanto me puxa para sentar ao lado dele.
— Você está no horário da escola — o treinador late.
— Na verdade, não estamos — Johnny rebate, pegando minha mão na
dele.
Eu estou incrivelmente grata por seu toque neste momento.
Era uma âncora me estabilizando e me impedindo de vomitar por
ansiedade.
Algo que eu sou conhecida por fazer.
— São nove e meia da noite — Johnny acrescenta com um encolher de
ombros. — Bem depois do horário escolar.
— É um comportamento inapropriado — Treinador grita, virando um
olhar furioso para nós. — Não me dê detalhes técnicos. Vocês dois têm
menos de dezoito anos. — Claramente furioso, ele acrescenta: — Vou ter
que relatar isso ao Sr. Twomey e seus pais.
— Oh, Deus — eu exclamo, em pânico. — Por favor, não fale.
— Um beijo? — Johnny zomba, apertando minha mão trêmula. — Você
vai denunciar uma porra de um beijo? — Ele ri sem humor. — Dê um
passeio pelo corredor daquele ônibus, treinador. Tenho certeza que você vai
achar pior do que beijar acontecendo.
— Você é um aluno menor de idade que está sozinho com uma colega
menor de idade em um vestiário — responde o professor com veemência. —
Em uma posição extremamente comprometedora. — O treinador se vira para
mim então. — É esse tipo de reputação que você quer começar em Tommen,
Srta. Lynch? — Ele demanda. — Você quer ser uma dessas garotas?
Lágrimas picam meus olhos e eu rapidamente balanço minha cabeça.
— Ei, não fale com ela assim — Johnny retruca, inclinando-se para frente,
protegendo-me da visão do Sr. Mulcahy.
— Vamos, Johnny! — O treinador resmunga impacientemente. — Pense
em como isso parece.
— Eu não dou a mínima para o que parece — Johnny rosna. Ele se põe de
pé apenas para cambalear rapidamente para trás e cair no banco com um
grunhido de dor. — Você não fala sobre ela assim — ele morde, as narinas
dilatadas. — Ninguém fala sobre ela assim.
— Olhe para você! — O treinador exige, apontando para a metade inferior
de Johnny. — Olhe para a condição em que você está.
Johnny não olha, mas eu sim.
Olho e solto um suspiro estrangulado com a visão.
O sangue escorre de onde o jogador de Royce o havia aberto com suas
botas.
— Johnny — eu murmuro, pegando sua mão novamente.
Oh Deus, sua mão está tremendo.
Eu me viro para olhar para ele.
O corpo inteiro de Johnny está tremendo.
Seu rosto está contorcido de dor.
Ele está chacoalhando da cabeça aos pés.
— Você está ferido, garoto — o treinador retruca. — Você está me
ouvindo? Seu corpo está desmoronando e você está aqui fazendo merda com
uma garota!
— Tudo bem, todos se acalmem — o paramédico ordena enquanto
marcha até Johnny e se ajoelha na frente dele. — O que temos aqui, filho?
— Eu já disse ao médico — Johnny solta, tremendo violentamente agora.
— Sem gracinhas — responde o paramédico.
— Adutor lesionado. — Exalando uma respiração irregular, Johnny cai
para trás e fecha os olhos. — Fui operado no dia 20 de dezembro — explica
ele, parecendo completamente derrotado. — Não está curado.
— Porque ele não deu a seu corpo a chance de se curar — o treinador
interrompeu. — Seu companheiro de equipe e amigo me disse que este tem
sido um problema contínuo que ele está escondendo de nós.
— Como você desse a mínima — Johnny rosna, os olhos brilhando com
fúria. — Você tem seus troféus e sua final garantidos, não é?
— Claro, eu me importo, seu idiota — o treinador retruca. — Eu me
importo muito com você, mas a razão está além de mim!
— Recebemos um relatório de que você ficou inconsciente por vários
minutos durante uma partida de rúgbi — pergunta a outra paramédica,
tomando notas.
— De dor — Johnny admite rispidamente. — Não houve nenhum
ferimento na cabeça.
— Ainda — o treinador fala. — Ainda há tempo para isso.
— Porra, tente — Johnny murmura desanimado. Sua cabeça pende um
pouco e ele vira a cabeça para cima, ainda tremendo.
— Ei, ei, está tudo bem — eu sussurro, segurando seu rosto para firmá-lo.
— Você está bem.
Ele balança a cabeça novamente, os olhos ligeiramente vidrados antes de
encontrar o foco no meu rosto.
— Sinto muito — ele murmura, a voz um pouco arrastada.
— Pelo quê?
— Por não... — Ele fecha os olhos e exala um gemido de dor — beijar
você de volta naquela noite.
— Não se preocupe com isso — eu sussurro, segurando seu rosto com as
mãos. — Nem pense nisso agora, ok?
— Eu queria — ele grunhe, cerrando os olhos enquanto um enorme
arrepio percorre seu corpo. — Eu prometo.
— Johnny, está tudo bem — eu resmungo, piscando para afastar as
lágrimas.
Ele parece estar com tanta dor que eu mal posso aguentar.
— Ele precisa ter tudo verificado — o treinador late então, o tom
misturado com preocupação. — Exame de sangue. Raios-X. Exames. Tudo o
que ele lhe disser, ignore. Ele é um merdinha atrevido que não vai te dizer
quando há um problema.
— Entendido — a paramédica com a prancheta medita.
— Ele está sob contrato com a Academia Irlandesa de Rúgbi —
acrescenta o treinador, esfregando o rosto com a mão. — Todas as suas notas
estão em Cork, mas ele precisa ser embrulhado em algodão…
— Entendido — O paramédico responde. Virando-se para Johnny, ele
pisca. — Você não é o primeiro filhote da academia que tratei.
— Talvez sua namorada possa sair, Johnny — a paramédica sugere.
A resposta de Johnny ao seu pedido foi apertar minha mão.
Deus, ele está tremendo tanto que meu corpo inteiro está vibrando com o
contato.
— Sim. — O treinador assente e voltou sua atenção para mim. —
Senhorita Lynch, eu sugiro que você vá para o seu lugar no ônibus — O
treinador late, me dispensando.
— Você está bem? — Eu pergunto, me virando para olhar para Johnny.
Ele não parece bem.
Parece um animal encurralado.
Ferido e desesperado.
Ele me encara por um longo momento, olhos azuis agitados de ansiedade,
antes de assentir em resignação e soltar minha mão.
— Eu posso ficar? — Eu sussurro, sem saber se deixá-lo era a coisa certa
a fazer. — Ou esperar lá fora?
Não parecia certo deixá-lo.
Parecia tudo errado na verdade.
— Vou ficar bem — Johnny me diz, me dando uma piscadela antes de
grunhir de dor quando o paramédico cutuca sua coxa. — Porra!
— Fora, senhorita Lynch — o treinador late, me empurrando em direção à
porta.
— Posso ir com ele? — Eu me ouço perguntar. — Por favor?
— Você pode voltar para o ônibus como eu te disse — ele ordena. —
Agora fora!
Vergonha, culpa e responsabilidade enchem meu corpo enquanto me
movo para a porta.
— Tchau, Johnny — eu sussurro, pairando na porta, lutando contra a
vontade de correr de volta para ele.
Seus olhos cheios de dor pousam nos meus.
— Tchau, Shannon.
Eu te amo.
Eu estou tão apaixonada por você.
Por favor, fique bem.
64
JOGO DE ESPERA
SHANNON
ENCONTRE A GAROTA
JOHNNY
SHANNON
PLANO B
JOHNNY
Tudo dói.
Minhas bolas.
Minhas pernas.
Meu pau.
Minha cabeça.
Sinto como se tivesse sido ceifado por um trem de carga.
Há pressão no meu peito.
Algo não está certo.
E eu posso sentir o cheiro de coco?
E então me lembro.
Acabou.
Todo o meu trabalho duro.
Todos os anos de sessões de treinos incansáveis e extenuantes foram em
vão.
Porque meu corpo desistiu de mim.
E agora eu estou quebrado.
Acordando bruscamente, abro os olhos, me sentindo em pânico e à beira
de um colapso nervoso.
Por alguns momentos, eu olho para o teto, apenas absorvendo a
devastação que lava meu coração como uma onda de destruição.
Inalando várias respirações profundas, me movo para sentar, apenas para
cair de volta quando noto a pequena estrutura enrolada na cama ao meu lado.
Puta merda.
— Shannon?
— Hum?
— Shannon — eu murmuro, cutucando-a com minha mão. — Acorda.
Bocejando baixinho, ela sai de onde está aninhada na dobra do meu braço.
— Você está acordado — ela diz, sorrindo para mim.
Eu balanço a cabeça com cautela.
— Você se lembra de onde você está?
Eu balanço a cabeça novamente.
— Você se lembra do jogo?
— Eu me lembro por que eu estou aqui — eu resmungo, sentindo a boca
seca e rouca. — Eu não me lembro por que você está aqui.
Shannon olha para mim por um longo momento e então seus olhos se
arregalam e ela rapidamente sai da cama.
— Você queria que eu ficasse com você — ela explica em um tom calmo,
juntando as mãos.
Eu faço uma careta.
— Eu queria?
Eu não consigo me lembrar.
Era uma névoa.
Shannon assente.
— Sim, eu vim ver você com Gibsie esta manhã, bem, eram seis horas da
manhã, então acho que você entende como ontem à noite? Eu não sei...
— Quanto tempo? — Eu a interrompo perguntando.
Eu estou me sentindo muito desesperado para ouvir divagações.
Shannon olha fixamente para mim.
— Huh?
— Quanto tempo eu estou fora? — Eu falo.
Ela consulta o relógio.
— São 11:45, então perto de seis horas.
— Não. — Eu balanço minha cabeça e expulso um grunhido frustrado. —
Quanto tempo eu estou fora?
Ela balança a cabeça.
— Não entendo.
— Quanto tempo eu estou fora por causa da lesão! — Eu sibilo, apertando
os lençóis enquanto a devastação chega a moradia do meu coração partido.
— Johnny, não importa...
— Isso importa, Shannon — eu rebato, a voz embargada. — Isso importa
para mim.
Ela apenas olha para mim com aqueles grandes olhos cheios de medo,
preocupação e simpatia.
Eu não posso lidar.
Não agora.
Eu não quero que ela me veja desmoronar.
Eu não posso lidar com isso.
— Você pode me passar isso, por favor? — Aponto para o gráfico
pendurado no pé da minha cama. — Eu preciso ver.
Ela morde o lábio, olhando para o meu gráfico nervosamente.
— Johnny, talvez você devesse esperar por um médico...
— Eu preciso ver a porra do gráfico — eu solto. — Eu preciso ver por
mim mesmo.
Shannon se encolhe e eu me sinto pior do que nunca.
— Por favor. — Eu exalo um suspiro pesado. — Me passa o gráfico.
Sem outra palavra, ela me entrega a prancheta.
— Obrigado.
Ela abaixou a cabeça e funga.
Porra.
Porra!
— Você pode ir encontrar meu pai? — Eu pergunto, tentando
desesperadamente discutir minhas emoções.
Ela olha para mim toda solitária e magoada.
— Se é o que você quer?
Eu mordo de volta um gemido e assinto.
— Isso é o que eu quero.
— E– e sua mãe?
— Não, apenas meu pai — eu a aviso. — Só meu pai.
— Uh, ok — Shannon sussurra, olhando incerta para a porta.
Prendo a respiração, desesperado para não desmoronar na frente dela.
— Posso ir? — ela diz, mas era mais uma pergunta.
Eu balanço a cabeça rigidamente, resistindo à vontade de implorar para
ela ficar e me abraçar e fazer promessas que nenhum de nós poderá cumprir.
Ela não pode consertar isso para mim, e eu estou com medo de perder
mais do que já tinha perdido.
Eu sei que ela é frágil e não quero assustá-la. Se ela ficar neste quarto, é
exatamente isso que eu vou acabar fazendo.
Se eu fizer isso – se ela ver o meu lado feio, a fraqueza em mim – eu a
perderei também.
Eu não posso perdê-la também.
Com o coração martelando, eu a vejo abrir a porta e parar na porta.
— Tchau Johnny — ela sussurra, olhando para mim uma última vez.
Engulo profundamente antes de soltar as palavras
— Tchau, Shannon.
Espero até que a porta se feche atrás dela antes de arrancar as cobertas do
meu corpo para verificar os danos.
Jesus Cristo.
Abaixando minha cabeça no travesseiro, mordo meu punho e sufoco meu
choro.
Quando meu pai entra na sala trinta minutos depois, ele está sozinho.
— Bom dia, garanhão — ele diz com um sorriso.
— Pai — eu engasgo, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
No minuto em que papai vê minha expressão, seu sorriso cai.
Colocando seu copo de plástico na minha mesa de cabeceira, ele afunda
na beirada da minha cama e me puxa em seus braços.
— Johnny — ele suspirou. — Deixe tudo sair, filho.
E é ali que eu choro como uma maldita criança no ombro do meu pai.
— O que estou encarando? — Engasgo quando as palavras me encontram.
— Seis semanas no mínimo — ele me diz com aquela honestidade que eu
o respeito.
— Pai, acabou. — Eu balanço minha cabeça e resisto à vontade de rugir.
— A campanha de verão.. O sub-20... acabou para mim!
— Não acabou — ele me assegura. — Adiou, mas não é impossível.
— Adiou — eu solto, sentindo meu coração bater tão forte que penso que
pode parar completamente. — Porra.
— Não se esqueça de quem você é. — Ele se levanta e me ajuda a sentar
na beirada da cama. — Você é meu filho — acrescenta, abaixando meus pés
no chão. — E você é um lutador.
Eu abaixo minha cabeça.
— Eu não me sinto como um lutador.
— Você é um lutador desde o dia em que nasceu. — Ele corrige,
levantando meu queixo de volta e me forçando a encontrar seu olhar de
olhos azuis. — Você nunca deixou nada atrapalhar seus objetivos, e com
certeza não vai deixar seis semanas te parar.
— E se eu não conseguir? — Eu engasgo, expressando meu maior medo.
— Se eu não estiver em forma até lá?
— Então você não consegue — ele responde simplesmente.
Eu balanço minha cabeça e solto um soluço de dor.
— Pai, eu não posso lidar...
— Se você não conseguir neste verão, não conseguirá neste verão —
repete ele. — Você ainda é Johnny Kavanagh. Você ainda é um estudante de
honra. Você ainda é um bom homem. E você ainda é minha melhor decisão.
Pela milionésima vez na minha vida, me vejo olhando para o homem que
me criou e pensando: algum dia serei tão forte quanto você?
Observo meu pai enquanto ele puxa uma cadeira e a coloca na minha
frente.
— Agora — ele diz enquanto se senta e afrouxa a gravata. — Vamos cair
na real, filho.
Ah, merda.
— Real? — Eu resmungo.
Papai assente.
— Diga que você não vai chegar aos sub-20 em junho…
— Pai, eu não posso…
— Ouça-me — ele diz calmamente.
Triste, eu assinto.
— Diga que você não chega lá em junho — papai continua a dizer,
expressando meu pior pesadelo em voz alta. — É devastador. Sua mãe e eu
entendemos. Você pode pensar que não, mas nós trouxemos você para este
mundo, e cada momento doloroso em sua vida que você suporta, e cada
obstáculo que você tropeça, estamos lá, Johnny. Estamos bem atrás de você,
sentindo tudo. Sua dor, frustração e seus medos. Está tudo espelhado de
volta para nós. Suas conquistas são nossas e sua mágoa é nossa. Porque você
é tudo o que temos, Johnny. Só você. É isso.
Agora eu me sinto pior do que quando acordei.
— Pai...
— Quando você for mais velho e tiver seus próprios filhos, um filho seu,
você entenderá o que quero dizer — acrescenta, calmo como sempre. —
Mas por enquanto, você vai ter que acreditar na minha palavra.
Eu balanço a cabeça, me sentindo um merda e sabendo muito bem o que
está por vir.
— O que você fez, Johnny? — Meu pai diz. — O perigo em que você se
colocou? — Ele balança a cabeça e exala uma respiração trêmula. — Não há
palavras para compreender como ficamos devastados ao receber aquele
telefonema ontem à noite. — Ele se inclina para frente em seu assento e
junta as mãos. — Saber que nosso menino estava arriscando sua saúde e seu
futuro assim, e que ele estava há meses.
Meus ombros caem de vergonha.
— Sinto muito, pai.
— Eu não preciso de um pedido de desculpas — meu pai responde sem
uma pitada de raiva em seu tom. — Eu preciso que você entenda. Dar um
passo para trás deste sonho que você está perseguindo e perceber que sua
vida já está acontecendo.
— Eu só quero tanto, pai — eu confesso, mordendo meu lábio. — Tanto,
porra.
— E eu quero isso para você — ele me diz. — Eu quero que você persiga
seus sonhos, Johnny. Eu quero que você os torne realidade. Eu quero que
tudo que você quer da vida aconteça para você. Mas eu preciso que você
faça tudo isso com a cabeça firme. — Ele se recosta na cadeira e me encara
por um longo momento antes de falar novamente. — Até os melhores caem
às vezes, filho. O que você faz a seguir – com pensamento claro, calculado e
lógico – é o que vai definir você.
Sim.
Eu entendo.
Eu o ouço.
Exalando um suspiro pesado, eu esfrego a mão no meu rosto e pergunto:
— Então, qual é o plano?
Papai sorri.
Eu faço uma careta para ele.
— Por que você está olhando assim para mim?
Ele inclinou a cabeça para um lado, ainda sorrindo.
— Estou apenas olhando para o meu menino e me sentindo grato por ver o
fogo em seus olhos novamente.
Eu dou de ombros impotente.
— Tinha ido embora?
— Não por muito tempo — ele me diz. — E o plano é recuperação e
repouso na cama. 7, 10 dias.
Eu exalo uma respiração irregular.
— Jesus, pai.
— Esse é o plano, filho — papai diz severamente. — A partir daí, vamos
avançar com a reabilitação.
— A Academia? — Eu engulo profundamente. — O treinador Dennehy
entrou em contato com você?
— Eles estão furiosos com você — papai responde, sem medir suas
palavras. — O que é de se esperar quando o centro número um do país quase
termina sua carreira antes de seu aniversário de dezoito anos.
Eu gemo.
— Cristo, não diga isso assim.
— A verdade é sempre melhor do que uma mentira — ele retruca com um
sorriso conhecedor. — Mais doloroso, mas muito mais benéfico a longo
prazo.
— Você é um advogado — eu bufo. — Você é pago com uma fortuna do
caralho para mentir.
— Não para você — papai responde com um sorriso. — Você obtém meus
serviços gratuitamente e cem por cento verdadeiros.
Sorrindo, ele acrescenta:
— Se você quer alguém para acalmá-lo, então você deve ter essa conversa
com sua mãe.
— Sim, bem — eu murmuro. — Você poderia suavizar um pouco, com
bordas, pai. Isso dói.
— As picadas vão te deixar mais forte — ele me diz. — Há um mundo
grande e ruim lá fora, filho. São tudo arestas afiadas.
— E o meu contrato com a academia? — ouso perguntar.
— Ainda muito em vigor.
Eu exalo um enorme suspiro de alívio.
— Não se surpreenda — papai medita. — Você é brilhante. Um idiota
descuidado, obstinado e suicida com uma mente brilhante para o rúgbi e o
talento para levá-lo a qualquer nível que você deseja ir. Eles sabem disso,
Johnny. Eles não vão deixar você ir.
Quando ele me diz isso, eu sei que não é mentira.
Ele não vai me enganar.
— Você acha que eu vou conseguir, pai? — Eu pergunto então, olhando
para o rosto do meu pai. — Você acha que eu posso fazer isso?
— Sim — ele responde sem hesitação.
Meu coração acelera.
— Sério?
Meu pai assente.
— Sim, Johnny. De verdade
Com essas palavras, sinto uma pequena raiz de esperança brotar dentro de
mim.
Eu posso puxar isso de volta da borda.
Eu posso fazer isto.
Meu pai acha que eu consigo.
— Mas você está dispensado de seus deveres — papai acrescenta.
Eu suspiro pesadamente.
— Esperado.
— E o treinador Dennehy vai ter uma conversa acalorada com você.
Eu faço uma careta.
— Também esperado.
— E você precisará passar por três avaliações separadas antes de pisar em
um campo novamente, seja na academia, no clube ou no rúgbi da escola —
ele diz. — E esses pés devem ficar firmemente fora da grama até maio.
— Encantador. — Passo a mão pelo meu cabelo e suspiro. — Jesus.
— Não entre em pânico — ele diz calmamente. — Você conhece o plano.
Está aí. Bem na sua frente. Parte de voltar ao time é se curar. Descansar seu
corpo agora é tão crucial quanto qualquer outro treino ou compromisso de
rúgbi.
Eu entendo.
— É uma merda — eu murmuro.
— Olhe por este lado — papai oferece com um sorriso. — Você terá
tempo ilimitado em suas mãos para passar com Gibsie.
— Ai, Jesus.
Papai ri.
— Quem eu presumo que nunca vai deixar você viver depois da noite
passada.
— Não. — Eu faço uma careta. — Ele provavelmente não vai. — Olho
para ele e pergunto: — Então, por quanto tempo vou ficar preso no hospital?
— Mais alguns dias — papai responde. — Nós vamos te levar para casa
então, e você pode começar a reabilitação.
— Você realmente acredita que eu consigo mudar isso, pai?
Papai assente.
— Se você começar a seguir as regras, com certeza, você pode mudar
isso.
Eu balanço minha cabeça novamente.
— Por que diabos eu não falei com você meses atrás?
— Porque eu sou um pai workaholic que deveria ter passado mais tempo
focando em manter meu filho fora de perigo, ao invés de manter os filhos de
outros pais fora da prisão — ele responde.
— Pai, para — eu aviso. — Não é sua culpa. Ou da mamãe.
— Não, é sua — ele concorda, novamente me ferindo com a verdade. —
Mas, você é jovem e inexperiente e teimoso, e eu deveria estar lá para
controlar você. Eu estarei lá, Johnny — ele acrescenta então. — Mais.
— Eu não culpo você por amar seu trabalho — respondo. — Eu sou o
mesmo.
Ele sorri.
— Eu sei que você é. Limpei minha agenda para o resto das férias da
Páscoa.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Você está voltando para casa?
— Eu estou, filho.
— E mãe?
Meu pai ri.
— Oh, Johnny, se ela pudesse, ela colocaria você de volta em um carrinho
de bebê e o empurraria com ela. Ela não vai deixar você fora de vista dela.
— Porra.
— Você precisa ganhá-la de volta, filho.
— A confiança?
Papai assente.
— Isso mesmo.
— Então, onde ela está? — Eu resmungo, pensando em quanto choro eu
ia enfrentar da minha mãe.
— Ela vai voltar daqui a pouco — papai diz. — Ela foi buscar algumas
roupas para você.
— E Gibsie?
— Ele está na cantina — ele responde com um sorriso. — A garota atrás
do balcão está tentando chamar sua atenção.
— Eu aposto — eu murmurei.
Filho da puta com tesão.
— Gibsie vai ficar conosco até levarmos você para casa em Cork — papai
diz então. — E provavelmente enfrentando suspensão quando você voltar
das férias de Páscoa.
Sorrindo, papai acrescenta:
— Você deveria ter ouvido como ele chamou seu treinador quando chegou
ao hospital mais cedo, foi por isso que demorei tanto para voltar para você.
Gerard recusa-se a voltar no ônibus. Aparentemente, ele fugiu do hotel para
vê-lo nas primeiras horas desta manhã. Ele está com sérios problemas com
seu diretor. Eu tive que ligar para a escola e seus pais antes que o treinador
Mulcahy concordasse em deixá-lo ficar conosco.
— Oh, pelo amor de Deus — eu gemo. — Não posso levá-lo a lugar
nenhum.
— Ele é um amigo leal para você, Johnny — papai responde. — Você tem
sorte de tê-lo.
Eu sei.
— E Shannon? — Eu resmungo, estremecendo com a memória de quão
horrível eu reagi em relação a ela quando acordei. — Ela está bem? Ela está
na cantina com Gibs? — Engulo profundamente, sentindo-me incrivelmente
exposto neste momento. — Você pode ir buscá-la para mim, pai? Eu
realmente preciso falar com ela.
Papai suspira pesadamente.
— Shannon foi para casa, Johnny.
Meu coração afunda.
— Ela me deixou — eu murmuro.
Era isso.
Esse era o início de tudo.
Eu não valia merda nenhuma sem o rúgbi.
— Não. Ela ficou com você — papai corrige — Quando você estava louco
e qualquer um em sã consciência teria corrido para as colinas, aquela garota
ficou ao lado da sua cama, ouvindo você falar da sua bunda.
— Sim, bem, ela se foi agora, não é? — Eu murmuro, sentindo uma pena
para caralho de mim mesmo.
— Quando você estava de costas para a parede na noite passada, quem
sentou aqui com você?
Eu o encaro.
— Quem segurou sua mão, Johnny?
— Pai...
— Quem esperou a ambulância com você?
— Pai, pare...
— Quem foi verificar você quando você estava no seu pior?
Eu olho para ele.
Ele sabe...?
— Sim, estou bem ciente do que aconteceu entre vocês dois naquele
vestiário. — Papai sorri. — Seu treinador me contou tudo sobre a posição
comprometedora em que ele encontrou você e Shannon.
— Aquele maldito traidor — eu resmungo.
— Ele é seu professor, Johnny. Ele tem que relatar incidentes dessa
natureza. Ele não tem escolha. É obrigatório.
— Os pais dela?
— Eu presumo que eles estão cientes da situação.
Eu balanço minha cabeça.
— Pelo amor de Deus.
Ele suspira pesadamente antes de acrescentar:
— Eu suspeito que ela mesma esteja com problemas por se esgueirar até
aqui.
— Porra. — Deixo cair minha cabeça em minhas mãos e ignoro a dor
lancinante que sobe pelas minhas pernas. — Porra, pai, eu fui um completo
idiota com ela quando acordei.
— Então conserte — ele responde calmamente.
— Você não entende — eu solto, me sentindo o pior pedaço de merda do
planeta. — Entrei em pânico e reagi com ela, mas ela é frágil, pai. Ela é
tão... E eu estou tão...
— Apaixonado por ela? — Papai sorri. — Sim, todos nós sabemos,
Johnny. Você gritou aos quatro ventos ontem à noite.
— Merda — eu gemo. — Ela ficou apavorada?
— Sua mãe certamente ficou — papai ri. — Quando você disse a ela que
Shannon seria mãe de seus filhos.
— Jesus Cristo — eu choramingo. — Por que você não me parou?
— Nós não poderíamos — ele responde. — Você só se contentaria com
Shannon. Você adormeceu em seus braços.
Ugh.
Cristo.
— Vou tomar um café e dar uma olhada naquele seu melhor amigo —
meu pai anuncia enquanto se levanta da cadeira. — Mas você pode me fazer
um favor? Quando sua mãe chegar mais tarde, você pode acalmá-la?
Sorrindo, ele acrescenta:
— Algumas das coisas sobre as quais você estava reclamando ontem à
noite abalaram a pobre mulher.
— Eu não me lembro de uma maldita coisa — eu gemo. — Tudo está
nebuloso.
— Você pode não se lembrar — papai ri enquanto caminha até a porta e a
abria. — Mas ela vai se lembrar pelo resto de sua vida.
Espero até meu pai sair do quarto antes de pegar meu telefone.
Meu pai.
Meu pai.
Por que diabos eu estou ouvindo Shannon dizer essas palavras?
E por que meu coração está me dizendo que era algo vital?
Jesus, eles devem ter me nocauteado com alguma merda forte, drogas de
classe A.
Foco, Johnny.
Lembre.
Percorro meus contatos com a intenção de ligar para ela para pedir
desculpas, apenas para cair em desânimo quando lembro que não tenho o
número dela.
E mesmo que eu tivesse, eu não posso ligar para ela.
Porque o pai dela pegou o telefone dela.
Meu pai.
Meu pai.
O que eu estou perdendo aqui?
68
MEDOS FRUSTRADOS
SHANNON
O FIM
OBRIGADA
O destino os uniu.
O amor os liga.
Johnny Kavanagh tem tudo a seu favor. No campo de rúgbi, ele é uma força a ser reconhecida.
Preparado para o estrelato, ele está indo direto para o topo. Nada pode ficar em seu caminho, certo?
Nem mesmo a tímida novata do Tommen College. Aquela com os olhos tristes e hematomas
escondidos. A que o distrai como ninguém nunca fez.
Atormentado com uma lesão oculta e desesperado para impressionar os olheiros que observam
cada movimento seu, Johnny foi colocado em um pedestal tão alto que não tem espaço para cometer
erros.
Esforçando-se para manter o equilíbrio, e no auge da Campanha Internacional de Verão, Johnny
precisa manter a cabeça no jogo. Ele precisa manter o foco e não pode permitir que as distrações
atrapalhem tudo.
Mas o que acontece quando uma garota solitária com olhos tristes se torna a única imagem?
A vida nunca foi fácil para Shannon Lynch. Intimidada e torturada, ela chega ao Tommen College
no meio do ano letivo rezando por um novo começo e desesperada para se livrar dos demônios que a
atormentam.
Em seu primeiro dia na prestigiosa escola particular, ela entra em contato com o notório Johnny
Kavanagh.
Jogada sobre seus sentimentos por ele, e desesperada para se manter invisível, Shannon se vê mais
uma vez alvo de valentões enquanto forma uma frágil aliança com a estrela em ascensão do rúgbi.
Caindo em uma amizade complicada e lutando com sua química inegável, Johnny e Shannon
devem enfrentar obstáculos que ameaçam seu relacionamento.
Dois adolescentes de lados opostos dos trilhos colidem.
Amizade, primeiro amor, ascensão na fama, segredos horripilantes e dor, todos se encontram em
Binding 13.
Corações estão se unindo e vidas estão se entrelaçando em Binding 13.
Binding 13 é a explosiva primeira parte de uma nova série de Chloe Walsh. Sediada na Irlanda, a
série Boys Of Tommen vai cativar e atrair você para o mundo do rúgbi, do amor e de corações
adolescente partidos.
GLOSSÁRIO
[←1]
Essa posição do jogo de rúgbi é formada por jogadores que ajudarão a Abertura (fly-half, no
inglês) a organizar o jogo; responsáveis por retirar a bola dos rucks e dos scrums, tendo como
ponto forte o chute.
[←2]
A protagonista faz uma piada com o próprio nome, sendo uma referência a música “Like a
River” (Como um rio, em tradução livre), da cantora Shannon J. Wexelberg.
[←3]
A posição de Abertura no jogo de rúgbi tem como objetivo a organização do jogo, jogando com
a camisa 10, responsável pela maior quantidade de pontos de um time em chutes e conversões,
assim como é quem vai ditar a direção e o ritmo de uma partida.
[←4]
Culchies é uma gíria irlandesa que se refere a uma pessoa que mora fora de Dublin, uma pessoa
do interior.
[←5]
É uma competição anual da rúgbi entre as equipes da Escócia, França, Inglaterra, Irlanda, Itália
e País de Gales.
[←6]
Man of the Match significa, em tradução livre, o Homem da Partida/do Jogo.
[←7]
Referência ao filme Forrest Gump.
[←8]
Huler é a posição de arremessador no Hurling.
[←9]
Stones é uma unidade de medida de massa, utilizada no sistema imperial do Reino Unido, e
alguns demais países da Comunidade Britânica das Nações.
[←10]
Um alimento de café da manhã bastante popular entre estadunidenses e britânicos consistindo
em batatas picadas que foram fritas até dourar.
[←11]
Um trecho de uma canção do Beatles, explicada nas linhas abaixo, que em tradução seria “Se
remexa, baby”.
[←12]
Tradução: Foda ela com gentileza.
[←13]
No texto original, Johnny fala “Dammit” xingando, mas Shannon acha que ele está falando da
música “Dammit” do Blink 182.
[←14]
No texto original, Johnny fala “Fuck”, como xingamento, mas Shannon entende como a música
FACK do Eminem.
[←15]
Tradução: “Ela será amada”.
Table of Contents
tabela de conteúdos
aviso – bwc
Nota da autora
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49
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51
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54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
Agradecimentos
Glossário
Momentos de música
Playlist para Shannon
Playlist para Johnny