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Isa Feijó

Brasil 2022
Copyright© Isa Feijó / Editora Calíope
Revisão: Edutora Calíope
Supervisão: Antony Isidoro
Capa e Diagramação: Isa Feijó
Todos os direitos reservados

É proibida a reprodução de qualquer parte desta obra, por


qualquer meio, sem a autorização da autora ou editora. Também é
proibida a distribuição desta obra por meio de PDF ou qualquer
outra forma, que não tenha sido escolhida pela autora ou editora do
livro. Violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, tanto a história quanto os nomes
são de criação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas
ou acontecimentos da vida real, são meras coincidências.
Selos Calíope
Dedicatória
Dedico esse livro a minha irmã Beatriz, mesmo que,
provavelmente ela nem vá ler. Tiz, muito obrigada por ser
minha companheira mesmo com um oceano nos separando.
E por ser tão louca (e assustadora) como é, me obrigando a
assistir suas séries preferidas para não precisar surtar
sozinha. De modo indireto, esse livro só existe por sua
causa. (Não, eu não vou te pagar nada como agradecimento
e você nem deveria estar lendo) Te amo!!!
Também dedico ao Mike e Nágila. Mike, obrigada por
amar tanto essa história e me inspirar a escrever partes
dela. Nágila, obrigada por me ameaçar fisicamente para
publicar, talvez esse livro nem estivesse aqui agora se não
fosse isso.
Aviso
A HRT realmente existe, é uma unidade tática de elite
do FBI que foi criada para responder em situações de alto
risco, principalmente em ataques terroristas. Apesar de eu,
como autora, ter usado o artificio da licença poética para
modificar alguns procedimentos de acordo com o
desenvolvimento da história, quando a HRT é acionada, é
porque a situação está extrema. Então não ache que
exagerei tanto assim na rotina deles.
O segundo aviso é que a história foi construída para
dar ao leitor a sensação de que está assistindo a uma série
de ação policial. Então pode encarar os capítulos como
episódios e, desta vez, ninguém vai amargar um
queerbaiting no final.
Epígrafe

O que for preciso


Porque adoro a adrenalina nas minhas veias
Faço o que for preciso
Porque amo a sensação de quando rompo
meus limites
O que for preciso
Você me leva até o topo, estou pronto para
O que for preciso
Porque adoro a adrenalina nas minhas veias
Faço o que for preciso

Whatever It Takes – Imagine Dragons


O espaço era muito apertado, e a poeira ainda não tinha
baixado. O corpo dele doía, e Alex sentiu sangue escorrer pela
lateral do seu rosto. Também sentia que suas costelas do lado
direito estavam incomodando um pouco. Mas não era com o próprio
corpo que o capitão Mitchell estava preocupado.
— Andie! Andie! — Ele tateou as cegas procurando pelo
parceiro. — ANDY!
— Eu estou aqui — a voz baixa soou um pouco mais à sua
esquerda, e Alex se arrastou até ele, mesmo não conseguindo
enxergar quase nada à sua frente.
— Como você está?
— Como você acha que eu estou? Acabaram de tentar
explodir a gente, estamos presos debaixo de sei lá quantas
toneladas de concreto, estamos feridos e provavelmente
morreremos aqui — o detetive resmungou. Ele estava coberto de
tanta poeira, que seus cabelos loiros pareciam cinzas.
— Pelo menos eu já sei que você está bem. — Alex
conseguiu chegar até ele e começou a tatear o amigo à procura de
ferimentos graves.
— Tire as mãos de mim. — Andy bateu nas mãos dele, mas
Alex não se importou, ele precisava saber como o outro estava. —
Eu estou bem, provavelmente estarei morto em algumas horas, mas
estou bem. Alguns ferimentos e uma leve dificuldade de respirar,
mas nada fora da rotina.
— Tudo normal então. — Alex se largou ao lado do amigo,
um deitado ao lado do outro, a ponto de seus braços estarem juntos.
— Por que correu atrás de mim?
— Ah, claro, nada de “obrigado, meu bom amigo Andy, por
ter salvado a minha vida e ter me impedido de explodir em milhões
de pedacinhos” — zombou. — De nada, Mitchell, foi um prazer
salvar a sua vida.
— Eu estou falando sério. Tudo estava sob controle.
— Não sei se você percebeu, mas nada está sob controle.
Não estava antes, não está agora.
— Se você tivesse seguido o plano, você estaria fora do
prédio na hora da explosão e estaria a salvo — Alex insistiu. Os dois
falavam olhando para o alto. A placa de concreto que havia
impedido que eles fossem esmagados estava tão perto, que, se
esticassem o braço, poderiam tocá-la, mesmo estando deitados no
chão.
— Se eu tivesse seguido o plano, você estaria morto, e não
vejo vantagem nenhuma nisso. — Andy mantinha a pose de
rabugento, mas Mitchell notou o leve tremor. Ele tentava esconder,
mas Alex reconhecia o medo naquelas palavras.
— Mas agora você pode morrer comigo — Alex sussurrou.
— Bem, há jeitos piores de morrer. — Andy tentou dar de
ombros, mas o pequeno movimento doeu. — Eu já quase morri
queimado, afogado, eletrocutado, envenenado, baleado, torturado...
— Teve aquela vez que fomos infectados com o vírus
daquela arma química, lembra? — Alex apontou.
— Claro, como pude esquecer? Tivemos febre tão alta, que
começamos a delirar.
— Você nunca me disse com o que delirou. A minha
alucinação foi o meu pai — Mitchell comentou.
— Foi com os meus filhos, eu já lhe falei.
— Qual é, não foi só com isso. — Ele olhou para o amigo. —
Teve mais coisas, e você sabe.
— Assim como você não me contou tudo o que viu, não vou
contar tudo o que vi. — Andy fez aquilo de franzir os lábios, como
ele sempre fazia.
— Nós podemos morrer, e você não vai me contar isso? Vai
realmente levar esse segredo para o nosso túmulo?
— Nosso túmulo? — Andy perguntou.
— Quer dizer, não vão nos enterrar juntos, mas vamos ser
enterrados lado a lado, então é quase como se fosse o mesmo.
— Você quer dizer que, além de passar quase 24 horas por
dia, ainda vamos passar eternidade juntos?
— Sim, somos parceiros.
— Nem pensar, até porque eu quero ser cremado e que
minhas cinzas sejam jogadas no gramado do New Orleans Saints —
o detetive disse solene.
— Sério? Em um campo de futebol americano? — Mitchell
zombou.
— Qual o problema?
— Fora que suas cinzas vão ser pisoteadas até que não
sobre mais nada, nenhum problema. E qual a lógica de querer suas
cinzas no gramado de um time de New Orleans, sendo que você é
de Austin?
— Vai me julgar pelo time pelo qual eu torço? Eu acompanho
o Saints desde que sou criança, deixe-me torcer para quem eu
quiser! — ele resmungou. — E qual o seu plano?
— Eu quero ser cremado, mas quero que minhas cinzas
sejam jogadas no oceano.
— Jura? Que coisa mais clichê. — Andy revirou os olhos.
— Ah, por que ser pisoteado pela eternidade é muito melhor,
não é?
— Sim!
— Ok, chegamos a um impasse — Alex disse calmamente.
— Como nossas cinzas vão ficar juntas se não decidimos o local?
Porque eu não vou ter minhas cinzas jogadas em um campo de
futebol.
— E eu nem gosto do oceano. Por que eu ia querer passar a
eternidade nele até ser devorado por um peixe? — Andy sabia o
que Alex estava fazendo, distraindo-o para que ganhassem tempo,
fosse para pensar em algum plano mirabolante ao estilo Alex
Mitchell, fosse para dar tempo para a equipe os encontrar ou para
que morressem em paz, sem medo.
— Certo, nem gramado, nem oceano. O que você sugere?
— Um lugar seco, quentinho e tranquilo.
— Que tal um vulcão? — Mitchell sugeriu. — No Havaí tem
vários, podemos escolher um.
— Um vulcão?
— Sim, seco, quentinho e tranquilo. — Alex enumerou com
os dedos. — Normalmente tem um parque em volta, então a
paisagem é bonita.
— Por que não vamos para a Louisiana, mas vamos para o
Havaí?
— Andie, todo mundo quer ir para o Havaí. Nós já fomos três
vezes, e até você gostou!
— Eu mal aproveitei o lugar, porque você é pior que criança,
ainda mais com os gêmeos. Só me dão trabalho. Amy é a única
sensata desta família.
— Você se divertiu, sim, eu lembro! E nossas primeiras férias
em família foram lá, viu? É um lugar especial que faz parte da nossa
história — Mitchell disse dramático, e Andy revirou os olhos.
— Que seja, eu vou estar morto mesmo.
— Então podemos voltar à ideia do oceano.
— NÃO!
— Você é tão sensível às vezes. — O capitão revirou os
olhos.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, cada um
pensando em sua vida, mas ouvindo a respiração do outro. Alex
repensou em tudo que sempre quisera falar, mas nunca havia tido
coragem. Quantas coisas na sua vida teriam mudado se ele tivesse
tomado atitudes diferentes?
Andy suspirou. Ele não queria morrer, não mesmo, mas
estava começando a acreditar que tinha chegado ao fim. Tinha sido
uma vida incrível, talvez um dos seus filhos escrevesse sobre ele
um dia e contasse todas as aventuras que ele tinha vivido. O
detalhe que, provavelmente, ficaria de fora era que a aventura que
ele mais quis viver foi a única que ele nunca teve coragem.
Quando Alex se mexeu ao seu lado, Andy contou
mentalmente os segundos até que Mitchell começasse a falar,
porque era obvio que ele não deixaria o silêncio durar por muito
tempo.
— Vai, me diz! — ele pediu.
— Dizer o quê? — Andy olhou para ele. Os olhos já tinham
se acostumado com o escuro, e ele conseguia enxergar Alex agora.
— O que você alucinou?
— Isso de novo? — Ele revirou os olhos.
— Andie! Por que você não quer contar? É algum segredo?
— Naquela época eu achei que fosse morrer e não lhe contei.
Hoje, que eu também acho que vou morrer, não vou contar do
mesmo jeito. Vai que sejamos salvos? Aí eu seria obrigado a matá-
lo por saber o meu segredo.
— Você é muito dramático.
— Dramático? Então me conte, Alex, o que você viu além do
seu pai?
— Eu vi meu pai — Alex desviou da pergunta, voltando a
olhar para cima naquele escuro quase completo.
— Não, você achou que eu tinha desmaiado, mas eu o ouvi
falando para o Eli que tinha visto o seu pior pesadelo. Como sei que
seu pai sempre foi o seu herói, então não era o seu pesadelo. O que
era?
— Nada — o capitão disse, encerrando a discussão.
Eles ficaram um tempo em silêncio, apenas olhando para o
nada. A cada minuto que passavam ali, a situação só piorava. O ar
ia acabando aos poucos, e eles não tinham ideia de quanto tempo
ainda tinham. Horas? Talvez aguentassem um dia? Dois?
— Eu só queria ter me despedido da Amy — Andy sussurrou
por fim. Gwen e Evan eram muito pequenos para entender tudo
aquilo, ele esperava que Amy cuidasse dos irmãos mais novos por
ele.
— Ainda há esperanças. Todos sabem que estamos aqui,
eles vão nos salvar — Alex tentou ser otimista, mas Andy sorriu de
canto, tentando se conformar com o pior.
— Está tudo bem, Alex, estou tentando aceitar o fato de que
desta vez já era. Já escapei da morte várias vezes, a maioria depois
que conheci você, então eu sabia que um dia esse momento
chegaria. Pelo menos vou morrer consciente de que impedimos
aquele louco de explodir um hospital e não vou morrer sozinho,
estaremos junto até o fim. — O detetive suspirou, resignado.
— Desde que me conheceu? — Alex perguntou revoltado.
— De tudo o que eu lhe falei, você só escutou essa parte?
— A culpa não é minha se você é que atrai essas coisas.
— Eu atraio? Eu? — Andy estava tão irritado que bateu, do
jeito que conseguiu, no parceiro. — Você que age como um louco,
sempre correndo no meio de tiroteios e explosões como um maldito
ninja marinheiro!
— Maldito ninja marinheiro? Jura? Podemos morrer, e essa
vai ser a última coisa que você me disse?
— Eu poderia chamá-lo de filho da puta, mas já encontrei sua
mãe, e seria desrespeitoso — Andy bufou. — E não sou eu quem
pega o carro do parceiro e dirige como se estivesse jogando GTA na
vida real. Aliás, por que sempre usamos o meu carro e por que
sempre é você que dirige?
— Porque eu dirijo melhor — Alex falou como se fosse óbvio.
— Todo dia você rouba as minhas chaves e dirige como se
seu sobrenome fosse Toretto. Você tem noção do quanto eu gasto
com a manutenção do meu carro por mês? Principalmente com
você sempre batendo meu carro em outros carros, andando na
contramão, arranhando toda pintura...
— Ok, vamos fazer assim: se sairmos daqui, eu passo a
pagar as contas do seu carro, está bem?
— Ótimo, eu vou cobrar mesmo! — Andy concordou. — Já
que estamos falando em pagar, que tal me pagar por todas as vezes
que saímos para comer e você, convenientemente, esqueceu a
carteira?
— Acontece, sou esquecido. — Alex deu de ombros.
— Engraçado, nunca o vi esquecendo uma arma, você
sempre tem várias delas, inclusive, granadas, mas a carteira, na
hora de pagar a conta, nunca sabe onde foi parar? — O loiro olhou
para o capitão.
— Como eu disse, acontece — Alex repetiu.
— Outra coisa que vamos acrescentar nesta lista de coisas
que você vai me pagar é um jantar por semana.
— O quê? Por semana?
— Sim, vamos estabelecer um dia da semana, e você vai me
levar para jantar e pagar a conta com o seu dinheiro, que estará na
sua carteira. E nada de “esquecer” a sua carteira!
— Claro, mais alguma coisa? — Mitchell bufou.
— A lista é imensa, mas vamos começar por isso — Andy
respondeu.
Os dois suspiraram, a dor estava incomodando, mas eles
podiam aguentar. Se as placas de concreto se mexessem, eles
seriam esmagados, e era por isso que sabiam quão difícil seria o
resgate. Talvez eles só morressem ali mesmo.
— Que tal às terças? — Alex sugeriu do nada.
— O quê?
— Para os jantares que você falou, que tal às terças?
— Por que às terças?
— Se tivermos folgas no fim de semana, as crianças vêm
para sua casa. Na segunda você é uma péssima companhia e tem
jogo da NFL, assim como nas quintas, sempre assistimos. Então
sobram terça e quarta.
— Mas e a sexta?
— Sexta é final de semana.
— Não, sexta é durante a semana. Finais de semana são
sábado e domingo — o detetive explicou.
— Você vai implicar com tudo o que eu falo?
— Eu posso morrer daqui há alguns segundos, deixe-me ter
meus últimos momentos de prazer.
— Vão conseguir resgatar a gente, e aí você vai ter que
admitir que é um dramático pessimista — Alex apontou para o
parceiro, que revirou os olhos.
— Admito, e logo depois você vai ter que começar a pagar as
contas do meu carro e me levar para jantar toda semana — Andy
retrucou —, e eu aceito às terças.
— Nossa, que milagre, o detetive Andrew Malloy concordou
com alguma coisa que eu falei. Você está ouvindo isso? Até os
anjos estão chocados.
— Ótimo momento para falar sobre ouvir anjos — Andy o
provocou —, quando estamos prestes a morrer.
— Andie — Alex o chamou depois de eles ficarem minutos
em silêncio.
— O quê?
— Qual foi sua alucinação?
— De volta com isso? — o detetive esbravejou.
— Nós podemos morrer, e eu vou ficar sem saber o que era?
— Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim — Andy
retrucou.
— Eu sei tudo sobre você — Alex respondeu, ofendido.
— Claro que não!
— Claro que sim!
— Não, não sabe, mas eu sei sobre você.
— Se é assim, que tal eu contar um segredo e você contar
outro? Vamos ver quem vai ficar mais chocado? — Mitchell sugeriu.
— Vamos até apostar, porque você vai perder feio — Andy
falou rindo.
— Certo. Se eu ganhar, você vai ter que fazer algo que eu
quero. Se você ganhar, eu faço algo que você quer — o capitão
sugeriu.
— Aceito. Você começa.
— Quando eu estava no treinamento da marinha, eu era o
mais novo. Por isso, alguns dos cadetes mais velhos pegavam no
meu pé, e eu não podia responder. Uma noite eu me irritei, sabotei o
carro de um dos tenentes e incriminei o grupo que me enchia o
saco. Eles ficaram presos por um mês, perderam uma promoção, e
ninguém nunca soube que fui eu.
— Apesar de ser assustador pensar que você já tinha essa
mente maléfica com dezesseis anos, não me surpreende, porque é
algo que você faria. — Andy deu de ombros.
— Seu segredo é tão ruim assim? — Alex perguntou, e o loiro
sorriu malicioso.
— Sou bissexual.
— O quê? — Alex girou seu pescoço tão rápido, que até
estralou e começou doer. Seus olhos estavam arregalados, e ele
sentiu que aquele foi um daqueles momentos em que o cérebro tem
um apagão temporário e não consegue registrar o que está
acontecendo ao redor.
— É isso, sou bissexual.
— Desde quando? — Mitchell ainda estava com problemas
para acreditar que aquilo era real.
— Que pergunta é essa? Desde que eu nasci. — Andy fez
careta.
— E por que EU nunca soube disso?
— O que você queria que eu fizesse? Quando nos
conhecemos, você tinha roubado meu currículo do departamento de
polícia e estava me obrigando a me transferir para a sua unidade da
HRT! Eu estava mais preocupado com outras coisas no momento.
— Ok, mas somos amigos há muito tempo. Por que você
nunca contou?
— Sei lá, Alex, nunca falamos sobre sexualidade, nunca
achei que fosse necessário. Se eu tivesse namorado um homem, eu
falaria, só não aconteceu. — O detetive deu de ombros. — Por quê?
Não vai me dizer que você é um homofóbico e vai começar a me
odiar agora.
— O quê? Não! — Mitchell exclamou. Ele virou seu corpo
totalmente para o amigo, mesmo que isso tenha exigido um pouco
esforço e tenha feito suas costelas incomodarem. — Alguma vez eu
dei a entender que eu não o aceitaria e foi por isso que você não me
contou?
— Claro que não. Primeiro, você não tem que aceitar porra
nenhuma, eu sou muito bem resolvido com a minha sexualidade, e
não é a opinião de outra pessoa que vai interferir nisso. Segundo, se
eu achasse que você é esse tipo de gente, eu nem o manteria na
minha vida. Já basta minha ex.
— Barbara não gosta de você ser bi?
— Ela acha que isso foi só “uma fase”, mas me pediu para
não falar com as crianças, principalmente Amy, porque isso pode os
influenciar. — Andy revirou os olhos.
— Que idiota! — Alex exclamou, e Andy sorriu concordando.
— Como podemos ver, eu ganhei a aposta. Então, se
sairmos vivos daqui, eu penso em algo que eu queira que você faça.
— Espera, como vou saber que você não está inventando só
para ganhar a aposta?
— Você está brincando?
— Não, como posso ter certeza?
— Por favor — Andy revirou os olhos. — Como eu provo para
você que sou bissexual?
Os dois se encaram, mesmo no ambiente com pouca luz, um
olhando nos olhos do outro. A boca de Alex secou, e ele não ia falar
o que estava pensando, mas seu coração acelerou um pouco.
— Já sei — o detetive sorriu — tem vários clubes LGBT em
South Beach. Vamos lá, e você pode ver por seus próprios olhos.
Alex parou por um segundo e pensou neles em um clube.
Não era como se nunca tivessem saído juntos, mas ele teria que ver
Andy beijando outro homem, e era esse problema.
— Não mesmo. — O capitão negou com a cabeça.
— Então vai ter que acreditar nas minhas palavras. — Ele
deu de ombros.
O detetive suspirou e voltou aos seus pensamentos. Ele tinha
visto Amy crescer e tinha muito orgulho da sua princesa. Evan e
Gwen tinham sete, quase oito anos. Ele tinha largado toda sua vida
no Texas para viver na Flórida, perto dos filhos, e não se arrependia.
Pena que isso durou bem menos tempo do que ele pensava que
seria, mas foram oito anos incríveis.
Ele também sentia por sua família. Seus pais já tinham
perdido um filho em acidente de carro anos antes, agora perderiam
o outro. Esperava que o fato de ele morrer em um ato heroico
abrandasse a dor e tivessem orgulho dele. Também tinha sua
equipe, sua “Ohana”, como dizia Alex. Ele os amava como sua
família verdadeira, sabia que seria difícil para eles perder o capitão
e o subcapitão de uma vez, mas eles eram capazes de se reerguer
e seguir em frente. Andy tinha muito orgulho de todos eles.
Pensar que morreria ao lado de Alex era, de um jeito bizarro,
confortador. Talvez ele sempre soubesse que isso aconteceria,
principalmente pelo jeito que aquele psicopata dirigia. Eles eram
uma boa dupla, provavelmente Alex era a pessoa mais importante
de sua vida (tirando seus filhos, que eram outro patamar). Eles se
entendiam só pelo olhar, poderiam terminar as frases um do outro,
sempre sabiam quando o outro precisava de alguma coisa, mesmo
que essa coisa fosse apenas um simples abraço. Mal sempre dizia
que não dava para saber quando terminava Andy e quando
começava Alex, porque eles eram tão conectados, que eram quase
um só.
Bem, o detetive até podia se fazer de ofendido e dizer que
“nunca seria igual àquele psicopata”, mas, no fundo, ele
concordava. Andy amava Alex no sentido real da palavra, e era até
meio poético morrerem juntos.
O loiro revirou os olhos mentalmente, devia ser a falta de
oxigênio no seu cérebro que estava o fazendo pensar assim. Ele
sabia sobre seus sentimentos, mas aquilo acabava ali, literalmente.
— Andy — Alex sussurrou.
— Sim? — Ele se virou para o amigo, e estavam mais
próximos do que ele pensava.
— Sobre os segredos..., eu estava pensando....
— Nem vem, você não vai tirar a minha vitória — Andy
brincou, e Alex engoliu em seco.
— Não é isso, eu...
Ele não teve tempo de terminar a frase, um barulho muito alto
veio de cima, tudo começou a tremer e poeira caía sobre eles.
Algumas partes do concreto se soltaram da grande placa e caíram
perto deles.
— Andy! — Alex conseguiu puxá-lo antes que fosse
esmagado por uma grande pedra. Eles tossiam e não conseguiam
respirar direito, o pó se prendia nas vias respiratórias e os asfixiava
aos poucos. — Andy, como você está?
— Eu... não consigo respirar... Não... consigo...
— Não! — Ele segurou o rosto do detetive entre as mãos. —
Por favor, Andy, respire comigo, devagar. Andy, não feche os olhos,
por favor!
— Alex... — Ele se agarrou às mangas da blusa do parceiro
como se aquilo fosse salvar sua vida, por mais que puxasse o ar,
parecia que não vinha o suficiente.
— Não, Andy, você não pode me deixar... Andy... Por favor...
— Alex estava ignorando sua própria necessidade de oxigênio, pelo
desespero de ver Andy morrendo na sua frente.
Mais barulho, mais poeira por todos os lados e mais pedras
se soltando. Alex se debruçou sobre Andy, protegendo-o com o
próprio corpo. Ele repetia o tempo inteiro “Eu não posso perder
você! Eu não posso perder você”.
— Alex! Andy! — eles ouviram uma voz conhecida os
chamar.
Alex abriu os olhos confusos, e havia luz. Ele não estava
entendendo o que estava acontecendo, mas alguém o puxou pelos
ombros. Falavam com ele, mas estavam tentando tirar Andy dos
seus braços, e ele não queria soltar. O detetive ainda estava
agarrado em sua roupa, ele também não queria se soltar, então
ninguém iria tirá-lo dali. Alex lutaria por ele.
— Alex, solte o Andy. Alex, sou eu.
O capitão piscava sem conseguir enxergar direito, sua visão
estava turva, ele não conseguia pensar direito.
— Alex é o Eli, solte o Andy — a voz continuou.
— Eli? — ele perguntou confuso, sua voz falhando e saindo
áspera.
— Sim. Solte o Andy, vocês precisam de atendimento
médico.
Alex olhou para o lado, e Maddy estava com Andy. Tinha
mais gente, e eles os puxavam. Logo estava olhando para o céu
noturno, e colocaram uma máscara de oxigênio no seu rosto. Ele
olhou para o lado, e Andy estava na outra maca, os dois sendo
atendidos. Havia muita gente atrás da barricada da polícia.
— Dramático pessimista — ele disse com a garganta
machucada, apontando para Andy, que sorriu.
— Jantar — o outro respondeu, apontando de volta.
Eles foram levados para as ambulâncias, e Alex relaxou,
sentindo os medicamentos fazerem efeito. Eli estava ao seu lado, e
Maddy se mantinha com o loiro. Andy estava vivo, então tudo estava
bem.
8 anos antes

— Com licença — o loiro falou na recepção do escritório da


HRT. — Sou o detetive Andrew Malloy. Pediram que eu viesse aqui.
— Claro. — A moça sorriu, conferindo no computador. —
Você tem uma reunião com o Capitão Mitchell, vou avisar que já
chegou e pedir que alguém o leve até lá.
— Obrigado — ele respondeu, escondendo o seu
nervosismo.
Andrew olhou em volta, ele não tinha a menor ideia de por
que fora chamado para uma reunião no prédio do FBI, mais
precisamente no departamento da HRT. Ele não era da polícia
especializada. Não mais. Seus anos como Texas Ranger tinham
ficado para trás, junto com sua vida no Texas.
— Detetive Malloy, sou o agente Eli Benson. — O homem
sorriu simpático, estendendo sua mão para ele.
Eli era mais alto que Andrew, aparentava ter descendência
latina, tinha os cabelos negros que formavam grossos cachos e
olhos escuros. Ele parecia ser bem tranquilo, e se tinha alguma
coisa de que Andrew sempre se orgulhara, eram seus instintos. Eli
parecia ser o tipo de pessoa com quem você poderia tomar uma
cerveja e conversar por horas.
— Prazer. — Andrew aceitou o aperto de mão.
— Também faço parte da HRT e vou levá-lo até a sala do
Capitão Mitchell.
— Com licença, mas você sabe por que me chamaram aqui?
— o loiro perguntou enquanto caminhava pelo corredor.
— Quem sabe? — Eli deu de ombros. — Alex, o capitão
Mitchell, tem um jeito, digamos, próprio de encarar o mundo. Se ele
resolveu chamá-lo aqui, é porque ele deve ter algum plano grande
que envolve você.
— Envolve a mim? — Andrew perguntou, espantando.
— Sou amigo do Alex por boa parte da minha vida, mas
ninguém consegue entrar na cabeça dele ou o entender de verdade.
Deve ser um tipo de labirinto do qual ninguém encontra a saída —
ele brincou. — Mas não se preocupe, ele é uma pessoa muito
inteligente e justa, o melhor tipo de amigo que se pode ter.
— Por que parece que você está me preparando para algo?
— Andrew perguntou, desconfiado.
— Como eu não faço a menor ideia do que vai vir da cabeça
do meu amigo, já estou preparando terreno. — Eli riu.
Andrew ia retrucar, mas se calou quando entraram no
departamento da HRT. A primeira parte era um salão grande com
algumas mesas equipadas dos melhores computadores e
dispositivos disponíveis. Até havia um telão ao fundo, mas no
momento estava desligado.
À direita tinha uma grande sala de reuniões com paredes de
vidro. Era possível ver tudo o que acontecia ali. Mas Andrew não se
enganou, porque ele conhecia aquele tipo de sala. Bastava apenas
um comando para o vidro se escurecer completamente, dando
privacidade às pessoas ali dentro.
Mais à frente tinha uma cozinha completa com diferentes
cafeteiras, geladeiras, micro-ondas, armários, mesas, louça... Ele
quase chorou pensando que as pessoas ali podiam tomar um café
fresco sempre que quisessem, e não o café insosso e requentado
que ele tinha na delegacia.
— Caramba — ele acabou soltando.
— Bem-vindo ao FBI — Eli sorriu e o conduziu pelo corredor,
chegando até uma porta na qual estava escrito “Capitão Alex
Mitchell”.
Andrew respirou fundo e secou suas mãos na calça. Ele
estava nervoso, afinal não sabia o que encontraria. A porta era de
madeira escura, mas parte das paredes era de vidro, o que daria
visão do escritório se as cortinas venezianas não estivessem
completamente fechadas.
Eli bateu na porta e entrou, Andrew o seguindo de perto.
— Alex, o detetive que você chamou está aqui.
— Claro, obrigado. — Alex sorriu educado.
— Boa sorte — Eli sussurrou para Andrew e toda a calma
que o detetive tinha conseguido reunir foi pelo ralo.
— Prazer. — Alex se levantou e estendeu a mão para
Andrew, que aceitou ainda um pouco desconfiado. — Sente-se.
Enquanto se sentava, Andrew analisou o homem à sua
frente. Alex Mitchell era alto, cerca de 1.85, tinha olhos azuis e
cabelos pretos, quase um projeto de Superman. O que o Clark Kent
da Flórida queria com ele?
— Você é algum tipo de cowboy? — o capitão perguntou,
deixando o loiro surpreso, porque ele não esperava por aquilo.
— Como?
— Você é um cowboy? Porque se veste como um — ele
indicou as roupas de Andy, que não sabia se ficava ofendido ou não.
O que tinha de errado em usar camisa, colete e jeans?
— Pode-se dizer que eu era.
— Mas você tem aquele chapéu? — O moreno fazia o sinal
de colocar o chapéu na cabeça. — Aquele grande, como é o nome?
— Stetson? — o loiro perguntou, confuso, e o outro
concordou com a cabeça. — Tenho, eu trouxe um comigo, que eu
deixo em casa, e o resto está na casa dos meus pais — ele
respondeu um pouco hesitante.
— Imaginei que você teria. Apesar de quase ninguém se
vestir assim, esse estilo combina com você.
— Obrigado? — Andrew estava muito confuso. — Mas o que
isso tem a ver com a reunião?
— Nada, eu só estava na dúvida.
— Então sobre o que é a reunião? — ele perguntou,
exasperado.
— Eu li o seu currículo — Alex disse para ele.
— Você leu o meu currículo? Eu nunca mandei currículo para
a HRT.
— Sim, eu estava no escritório do Sargento Shefter e vi seu
currículo, então o levei embora para ler melhor — ele respondeu
como se aquilo explicasse tudo.
— Então você roubou o meu currículo. Agentes do FBI
podem fazer isso?
— Teoricamente eu não sou do FBI, eu sou um agente
federal, mas sou capitão da HRT — Alex o corrigiu.
— A HRT não é um tipo de polícia do FBI?
— Sim, somos ligados a eles, mas respondo ao meu
comandante, que responde ao estado, assim como o FBI. E, na
verdade, somos uma unidade tática, não uma polícia em si. Como a
SWAT.
— Mas a SWAT está ligada à polícia, e a HRT ao FBI, então
você é um agente do FBI.
— Se todo agente federal for do FBI, carteiros, que também
são um tipo de agentes federais, também são agentes do FBI? —
Alex perguntou, e Andrew parou por um momento, realmente
pensando naquilo.
— Por incrível que pareça, você tem razão.
Imediatamente Alex sorriu como se tivesse recebido um
presente.
— O que foi? — o loiro perguntou, tentando ignorar que tinha
percebido que Alex, realmente, era um homem bonito.
— Nada. Precisamos falar da sua transferência.
— Minha transferência? Ok, eu pedi transferência do Texas
para a Flórida há dois meses e moro aqui há cerca de três semanas.
— Não, isso eu já sei.
— Já sabe?
— Claro que sim, mas estou falando da sua transferência do
departamento de polícia para a HRT.
— Espere, o quê?
— Você tem um jeito um pouco dramático, já lhe falaram
isso?
— Sim, mas eu discordo. Porém podemos voltar ao assunto
principal. Como assim transferência para a HRT? Eu não pedi para
ser transferido para cá.
— Mas eu pedi — Alex sorriu, e Andrew até podia ter achado
o outro bonito, mas ele adoraria socá-lo naquele momento.
— E por que fez isso sem nem perguntar a minha opinião?
— Eu preciso de um segundo no comando, li seu currículo, vi
suas referências, investiguei sua vida...
— Investigou a minha vida? Com que direito?
— Estamos no prédio do FBI — o capitão disse como se
fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Mas você disse que não era do FBI!
— Mas estou no mesmo prédio que eles, agora posso
continuar minha explicação?
— Claro, vou adorar saber em que momento você decidiu me
transferir sem o meu consentimento — o loiro respondeu irônico.
— Como eu estava tentando dizer, eu preciso de um segundo
no comando, por isso estava à procura de alguém, e foi quando me
deparei com seu currículo.
— Que você roubou.
— Sim, podemos dizer que eu roubei. — Alex revirou os
olhos. — Eu estou tentando promovê-lo aqui, e você fica se
prendendo nesses detalhes.
— O quê?
— É, eu quero você seja subcapitão!
— Você é louco?
— É assim que você responde a promoções?
— Claro que não, mas isso é insano!
— Por quê?
— Você não me conhece. E se eu for um psicopata? Além de
que eu não tenho experiência nessa área, sou um detetive, não
especialista em regastes.
— Não fazemos só isso, também agimos diretamente em
investigações, salvamentos, negociações, ações táticas...
— Ok, mas você me entendeu. Eu sou um detetive, só isso.
— Só isso? — Alex sorriu de canto. — Você morava em
Austin, no Texas. Assim que terminou a faculdade de business
entrou para polícia, mas, quando terminou o treinamento, já passou
para os Rangers. Você nunca foi “só um detetive”, senhor Malloy.
— Não precisa me falar meu currículo, eu o vivi — Andrew
disse entredentes.
— Mas acho que preciso lembrá-lo, já que, aparentemente,
você se esqueceu de tudo que viveu. Você investigou casos de
assassinato, corrupção, enfrentou grupos inteiros de policiais,
prendeu políticos, perseguiu contrabandistas... Suas ações são
impressionantes, detetive Malloy. Você fez tudo o que fez tendo um
recurso limitado. Imagine o que faria se tivesse acesso aos
melhores equipamentos.
Alex e Andrew se encararam por um tempo. O capitão estava
convicto do que falava, ele queria Andrew Malloy no seu time e não
mediria esforços para aquilo acontecer. Ele teria Andrew, e pronto.
Já o detetive estava em uma briga interna. Era óbvio que sair
da posição de detetive e ser um subcapitão de uma equipe de HRT
era uma grande promoção e qualquer um ficaria honrado. Mas ele
também se sentia encurralado e não gostava disso. Tinha a
impressão de que, se permitisse, Alex Mitchell entraria na sua vida
de um jeito que seria impossível tirá-lo depois, e ele não sabia se
aquilo era bom.
— Pense na sua filha — Alex usou mais uma cartada.
— Minha filha? — Andrew não permitia que ninguém falasse
de Amy.
— Se você for um agente federal, ela se tornará proteção
federal também. Se algo acontecer a ela, por menor que seja, torna-
se prioridade. Você terá recursos para manter sua filha protegida.
— Eu tenho mais dois filhos, eles ainda não nasceram —
Andrew disse a contragosto, revoltado consigo mesmo por estar
considerando aceitar aquilo.
— Perdão, nada aqui menciona que você tem um
relacionamento — o capitão respondeu, relendo as informações.
— Não tenho, é que... É uma longa história. A mãe deles é a
minha ex-esposa, mãe da Amy...
— Você engravidou sua ex?
— É uma longa história — ele repetiu.
— Você engravidou sua ex e ainda de gêmeos?
— Eu já disse que é uma longa história.
— Não importa o quão longa, eu quero ouvi-la.
— Isso não é uma entrevista de emprego?
— Depende, você vai aceitar o emprego?
— Por Deus, você sempre é tão irritante?
— Não deveria falar assim comigo, posso ser seu futuro
chefe — Alex o provocou.
— Mas ainda não é — Andrew bufou.
— Isso quer dizer que tenho chances de ser? — O capitão
sorriu, e o detetive agradeceu por não estar armado.
— Alguém já lhe disse que você é extremamente irritante?
— Muitas pessoas falam coisas bem piores, mas ninguém
tem coragem de dizer na minha cara. — Alex sorriu malvado. —
Você ter coragem de falar isso me faz pensar que é desinformado
sobre quem eu sou ou não liga a mínima.
— Os dois. Quando recebi o e-mail ontem foi a primeira vez
que ouvi falar do seu nome. Mas, mesmo que já o conhecesse, não
me importaria em lhe dizer que você é irritante, egocêntrico e
confuso!
— Eu gosto de você — Alex disse, sorrindo. — Vai ser
divertido trabalharmos juntos. Espero que seja uma longa parceria.
— Eu ainda não aceitei! E como assim parceria?
— Preciso escolher um novo parceiro até sexta-feira e escolhi
você. — Ele deu de ombros. — Bem-vindo à equipe.
— Eu ainda não aceitei! E por que eu ia querer ser seu
parceiro?
— Sabe, somos mais parecidos do que pensa — ele o
provocou.
— Não acho. Até onde me lembro, minha sanidade continua
intacta.
— Você é detetive e pai, ainda engravidou a ex e de gêmeos,
não tem como ter saúde mental estável.
— Por que eu lhe contei isso?
— Vai contar o resto da história?
— Não!
— Mas temos coisas em comum. Você foi um Texas Ranger,
meu primo era um Ranger.
— Seu primo é do Texas? — ele perguntou, confuso.
— Não, de São Francisco. Quer dizer, ele nasceu no Reino
Unido, mas a família é de São Francisco, ele mora lá.
— Então como ele foi um Texas Ranger?
— Ah, não. Ele foi um Ranger, do exército, sabe?
— Um boina preta? Isso não é de nem longe parecido com o
que eu fazia!
— Mas o nome é igual.
— Meu Deus, você está me testando? É isso?
— Ok, depois voltamos a esse assunto. — Alex deu de
ombros de novo. — Esta é a lista de documentos que você precisa
entregar, e você precisa passar em um dos médicos indicados para
ser liberado para o trabalho. Mas tudo isso é só por causa da
burocracia. Efetivamente, assim que assinar, já está dentro.
— Preciso lembrá-lo que eu ainda não aceitei? E essa foi a
entrevista de emprego mais bizarra que eu já vi.
— Por que fica fingindo que não quer? O salário é bem maior,
e tem um seguro saúde excelente. Acredite em mim, eu já usei
muitas vezes.
— Nessa parte eu acredito. Não quero nem pensar em como
você é em campo. — Andrew suspirou. — Preciso ver o que é
melhor para meus filhos.
— Se você aceitar, sua filha ganha uma vaga na Elion
Academy. Lá tem umas das melhores estruturas e é considerada
uma das melhores escolas do país. Como é próxima do nosso
escritório, também estará próximo a ela, fora que a segurança dela
será garantida.
— A lista de espera é de anos. Está me dizendo que, se eu
assinar minha transferência, Amy vai estudar nesse colégio?
— Eu falei com a diretora. Você assinando, eu aviso a ela, e
Amy está dentro. Como terá mais filhos, eles também poderão
entrar quando tiverem idade.
— Sabe que isso é muito sujo, até para você — Andrew
resmungou, pegando o documento e a caneta. — Usar a filha de
alguém como chantagem para a pessoa aceitar o emprego.
— Mas funcionou. — Alex sorria enquanto Andrew assinava
todas as vias da papelada, tornando-se um membro da HRT. — Vou
avisar a Senhora Nicholls. Você pode levar Amy para conhecer a
nova escola amanhã mesmo.
— Que bom — o loiro resmungou, devolvendo os papéis. Ele
não acreditava que estava aceitando aquela loucura. — E tenho
uma exigência. Eu não quero ser chamado de agente. Sou um
detetive e tenho muito orgulho disso, quero continuar sendo
chamado assim!
— Por mim tudo bem. — O moreno sorria, parecia realmente
feliz. — Eu sei que nosso início foi estranho, mas tenho certeza de
que seremos bons amigos.
— Mal posso esperar. — Andrew saiu do escritório e
encontrou Eli acompanhado de uma mulher que também parecia ter
descendência latina e um rapaz negro de óculos.
— Então você entrou para a equipe, não é? — Eli perguntou,
mas sorria e parecia já saber a resposta.
— Sim — o loiro suspirou.
— Bem-vindo ao grupo. Aqui trabalhamos demais e não
recebemos tão bem quanto deveríamos, mas é divertido, você vai
gostar. — A mulher sorriu. — Eu sou Madison Benson, mas pode
me chamar de Maddy.
— Eu sou Malcom Carr, mas todos me chamam de Mal — o
rapaz se apresentou. — Eu não saio em campo, meu lance é
tecnologia, computadores.
— O nerd do grupo. Não vai em campo, mas é quem sempre
salva todo mundo — o loiro disse, e o outro sorriu. — E vocês têm o
mesmo sobrenome. São parentes? — Andrew perguntou, indicando
Eli e Maddy.
— Primos, quase irmãos. — O moreno deu de ombros. — Eu
sei que não é comum parentes trabalhando na mesma unidade,
mas, como eu disse, Alex tem um jeito próprio de trabalhar. Vamos,
eu o levo até a recepção.
— Certo. — O loiro se despediu e seguiu o outro, esperando,
porque ele sabia que, se Eli tinha ido com ele, era porque queria
falar algo.
— Olha, Alex é meu melhor amigo, eu morreria e mataria por
ele. Mas também sei que você será o parceiro dele, por isso preciso
avisar você de uma coisa.
— O quê? Que ele é louco? Pelo pouco tempo que passei
com ele, já deu para perceber isso.
— Não. Quer dizer, também. Alex não segue as regras
normais, ele joga de acordo com o próprio jogo e sempre faz o que
acha que precisa fazer. Ele não mede consequências e tem um
nível de autoproteção bem baixo, ainda mais considerando que ele
era um Navy.
— Navy? — Andrew perguntou, mas aquilo não o
surpreendia. Alex Mitchell tinha uma aura de poder e força à sua
volta. O loiro não tinha se sentido ameaçado, mas sabia que Alex
poderia intimidar qualquer um.
— Sim, ele deixou a marinha há alguns anos e assumiu como
capitão da HRT. Ele trouxe Maddy e eu consigo, depois contratou
Mal. Mas não era isso que eu queria lhe dizer.
— E o que seria?
— Cuidado, muito cuidado. Alex beira a inconsequência
muitas vezes. Mas, acima de tudo, ele é tipo um imã para situações
perigosas. Se algo potencialmente perigoso for acontecer, vai ser ao
lado dele. E a pior parte é que ele não desperdiça chance nenhuma
de se jogar no perigo. Achei que, como novo parceiro dele, você
deveria saber disso.
— Obrigado pelo aviso? — Andrew perguntou, incerto.
— Apesar de tudo, não se assuste, agora você faz parte da
família!
Andrew concordou, mas sem saber se aquilo era uma coisa
boa.
1 Semana trabalhando juntos
— Eu me demito! — Andrew gritou.
— E por quê?
— Você ainda me pergunta? Estamos perdidos no meio de
uma FLORESTA! Por sua culpa!
— Fomos sequestrados, quase fomos torturados, mas
conseguimos escapar. Eu nos salvei! — Alex respondeu, revoltado.
— Fomos sequestrados porque eu lhe disse para esperar
reforços. Você esperou? É claro que não! Seu... Seu... animal!
— Eu ainda sou o seu chefe!
— Não mais. Quando voltarmos para a cidade, eu vou me
demitir!

2 Semanas trabalhando juntos


— Você o quê? — Andrew perguntou, espantado.
— Eu atirei nele — Alex deu de ombros.
— Você atirou no seu parceiro?
— Sim e ele mereceu.
— Ótimo, agora vou começar a usar colete a prova de balas
quando estiver com você — o loiro resmungou.
— Andy, ele era corrupto e mereceu. Você não é corrupto, é?
— Claro que não. E, se eu fosse, acha que eu lhe contaria?
— O detetive revirou os olhos. — E eu já disse, todos me chamam
de Drew.
— Eu não sou “todos” e eu o chamo de Andy!
— Você é louco, eu já lhe disse isso?
— Todos os dias.

3 Semana trabalhando juntos


— Então ela ia se casar com esse tal de Eric, descobriu que
ele a traiu dias antes do casamento e foi atrás de você, o ex-marido,
para desabafar?
— Sim — Andrew suspirou. Eles estavam no bar, assistindo
esportes.
— Sabe que ela não foi conversar, né? Ela foi pagar a traição
na mesma moeda.
— Não, só aconteceu — o loiro disse na defensiva, e Alex
revirou os olhos para ele.
— Besteira. Se fosse assim, iria atrás das amigas, mas foi
atrás de você, porque queria devolver a traição. Só não contava que
iria engravidar. — O capitão tomou mais um gole da sua cerveja.
— Eu só descobri da gravidez dois meses depois do
casamento e porque Amy ouviu a mãe contando para a tia. Ela
ainda não sabia se queria que eu soubesse. — O loiro suspirou de
novo. — Eu fui atrás, e eles tiveram a cara de pau de me dizer que,
mesmo que fosse meu, Eric assumiria, e ninguém precisaria saber.
— Filhos da put... Continue.
— Eu disse que não e exigi o teste de DNA. Eu ia esperar até
nascerem, mas Eric pagou um exame caro que dá para fazer ainda
durante a gravidez. Então descobri que eu teria um casal de
gêmeos.
— Pelos menos você também está participando da escolha
dos nomes? — Alex perguntou irônico.
— Ainda estamos escolhendo, mas todos os de menina que
eu gosto Barbara descarta, e para o menino ela decidiu que devia
ser uma homenagem ao Eric, já que “ele aceitou toda essa situação
e ainda vai bancar as crianças”, como se eu fosse um miserável —
o loiro bufou.
— Se quiser, o matamos e escondemos o corpo, ninguém
nunca vai achar nada — o capitão sugeriu, e Andrew riu, mas
depois ficou pensando, era brincadeira, né?

1 mês trabalhando juntos


— Desacelere! Seu louco psicopata! Desacelere!
— Se eu desacelerar, nós vamos perder os suspeitos! — Alex
retrucou, pisando mais forte no acelerador.
— Se nós morrermos, não vamos prendê-los do mesmo jeito!
Alex tinha enlouquecido quando tinha visto o carro de Andy.
Era um Ford Mustang GT500 preto com detalhes em azul. Andy
tinha dirigido com ele do Texas até a Flórida.
Na verdade, quando decidiu se mudar para a Flórida e largar
toda a sua vida para trás para ficar perto dos filhos, Andrew reuniu
tudo o que tinha valor emocional, o que não poderia ficar sem (como
sua cafeteira novinha) e colocou dentro o carro. O resto ele vendeu
ou deixou com os pais, então partiu para uma viagem de quase 15
horas sem ter noção nenhuma do seu futuro.
Mas agora ele via esse futuro cada vez menor, já que Alex
tinha uma mania irritante de roubar suas chaves para dirigir o seu
carro. E Alex dirigia como se estivesse fazendo teste para elenco de
Velozes e Furiosos.
— Eu não vou ver meus filhos nascendo — Andrew se
agarrava ao banco, verificando toda hora se o cinto de segurança
estava bem preso.
— Você é muito dramático, Andie — Alex zombou.
— Você me encheu o saco por semanas para aceitá-lo me
chamando de Andy, agora resolveu trocar o apelido e me chamar de
Andie e não Andy?
— Porque todo mundo está te chamando de Andy e eu não
sou todo mundo — o moreno respondeu como se fosse obvio.

2 meses trabalhando juntos


— Andie! Andie! — Alex gritava no mar escuro, nadando
pelas águas geladas sem conseguir enxergar nada.
— Aqui... — Andy respondeu com voz quebrada. Seu corpo
estava congelando, e ele lutava para não perder a consciência.
— Peguei você, vai ficar tudo bem, eu prometo — Alex
garantiu, segurando o parceiro.
Bandidos tinham feito Andy e Maddy de reféns, enquanto o
resto da equipe lutava contra o tempo para salvá-los. O detetive
conseguiu ajudar a colega a escapar, mas foi torturado e jogado no
mar, ficando horas à deriva. Alex não desistiu nem por um minuto
até finalmente encontrá-lo.
— Eu sabia que você vinha... — Andy murmurou. — Você
não é nem louco... de me largar... aqui...
— Eu nunca vou deixar você.

3 meses trabalhando juntos


— Este é o Evan, e esta é a Gwen — Andy mostrava os filhos
recém-nascidos para os amigos.
Além de Eli, Maddy e Mal, ele tinha ficado amigo de Kane
D’Amico, o dono do restaurante favorito deles e que sempre sabia
todas as fofocas que aconteciam por aí.
Andy segurava Evan, que estava enrolado em um cobertor
azul, e Alex segurava Gwen, que estava em um cobertor roxo. Eles
ainda estavam no berçário, a mãe dos bebês já tinha sido levada
para o quarto.
— Olha, Amy, seus irmãos são lindos — Maddy disse para a
pequena Amy, de apenas oito anos.
Desde que ela tinha conhecido seus novos tios, tinha se
apaixonado por eles. Certo que Andy ficava preocupado com o tipo
de influência que Alex seria para ela, mas tudo ia bem. O moreno
era apaixonado pela menina, até brincava de chá da tarde com ela,
e faziam as unhas juntos.
— Já contou para Barbara que sugeriu o nome Evan porque
é meu segundo nome, e não porque começa com E, assim como
Eric? — Alex perguntou em voz baixa enquanto eles colocavam os
bebês no berço.
— Não e, também, não contei que você sugeriu Gwen porque
é fã da Gwen Stefani, não por causa do significado do nome —
Andy respondeu no mesmo tom de voz. — Deixe eles descobrirem
sozinhos.

6 meses trabalhando juntos


— Então seu pai morreu e lhe deixou uma casa com uma
praia particular? — Eles estavam na casa de Alex, conversando e
esperando as pizzas chegarem depois de um longo dia de trabalho.
— Sim, ele comprou este terreno antes de se casar com a
minha mãe, uns trinta e cinco anos atrás. Aqui não tinha nada.
Disseram que ele foi louco de investir dinheiro assim, mas ele
construiu esta casa.
— Mesmo que esta área não fosse tão valorizada, ainda
devia valer muito dinheiro, estamos em Miami.
— Meu avô morreu e deixou uma quantia que foi dividida
entre os três filhos, meu pai, minha tia, Kim, que mora no Havaí, e
meu tio, Ryan, que mora em São Francisco com a família — o
capitão explicou. — Meu pai foi transferido para trabalhar aqui, se
apaixonou, comprou um terreno e construiu a casa. Ele morreu
quando eu ainda era adolescente. Meus tios cuidaram de tudo por
mim até eu poder assumir a casa e reformar para deixar do jeito que
eu queria.
— Sua mãe nunca quis saber da casa?
— Eles se separam quando eu era criança. Acho que ela
nunca mais voltou aqui. — Ele deu de ombros, mas Andy sentiu a
dor dele.
— Se você gostava de ficar sozinho, acabou de se ferrar.
Depois que Amy soube que você tem uma praia particular, ela
planeja passar aqui todo o tempo livre que tiver.
— Acho que posso lidar com isso. — Alex sorriu.

9 meses trabalhando juntos


— Isto está horrível, pelo amor de Deus, Andie. Está tentando
nos matar? — Alex disse, jogando toda a comida fora.
— Exagerado. — Ele tentou colocar mais uma garfada na
boca, mesmo a comida sendo intragável, mas Alex arrancou o prato
e jogou o conteúdo fora. — Eu ia comer!
— Não vou deixá-lo ter uma intoxicação. Você nunca mais
cozinha!
— Por quê? — perguntou, indignado.
— Você quase colocou fogo na cozinha!
— Foi um acidente!
— Nunca mais!

1 ano trabalhando juntos


— Foda-se! Eu vou embora! — Andy gritou, saindo da casa
de Alex.
— Pode ir! — o moreno gritou de volta. — Eu não me
importo!
— Antes que eu me esqueça, eu me demito! — foi a última
coisa que o loiro disse antes de entrar no seu carro e partir.
A chuva caía muito forte, e Andy achou um pouco irônico, já
que era assim que se sentia. Alex e ele viviam brigando, mas agora
tinha sido demais. Ele não sabia como teria coragem de sair da
equipe e deixar essa família que ele já amava, mas ele nunca se
permitiria ficar em um lugar onde não era desejado.
Mesmo que ainda amasse Barbara, ele terminara o
casamento, que já não fazia bem aos dois. Quando ela surgiu em
sua casa dias antes do seu segundo casamento e eles tiveram
aquela noite juntos, antes de ir ela falou que poderia desistir do
casamento se ele quisesse, mas ele não falou nada. Se ela o
amasse, não estaria naquela situação, e ele entendeu que aquilo
não era para eles.
Mas, de algum jeito bizarro, deixar Alex e toda a equipe doía
mais do que deixar Barbara se casar com outro homem.
As batidas na sua porta o assustaram, ainda mais porque só
havia uma pessoa que seu porteiro nunca avisava que estava
subindo. Andy abriu a porta e se deparou com Alex totalmente
molhado.
— Por favor, não vá embora, não me deixe — ele implorou,
seus olhos estavam vermelhos de lágrimas.
— Alex, entre, você vai ficar doente. Você é louco de vir
nessa chuva. Eu vou cuidar de você. — O loiro o puxou para o
banheiro e o fez se sentar na beira da banheira.
— Andie, por favor. — Alex segurou as mãos do loiro, que
tentava secar seu cabelo. — Não vá embora. Perdoe-me, não me
deixe.
— Eu nunca vou deixar você.

1 ano e meio trabalhando juntos


— Então você passou sua infância e adolescência no Havaí?
— Andy perguntou.
— Meu pai era da marinha, mas vivia em missões. Como só
morávamos meu pai e eu aqui na Flórida, e meu tio Ryan estava
morando na Inglaterra com a família, ele me mandava para a casa
da minha tia. Eu só vinha para cá quando meu pai não estava em
missão. Mas, depois da morte dele, morei oficialmente com a minha
tia até ter idade para também entrar na marinha.
— Sua tia parece ser uma pessoa legal.
— Ela é incrível. — Alex sorria falando dela. — Tio Ryan já
tinha voltado do Reino Unido e queria que eu morasse com ele.
Quase fui, por causa dos meus primos, mas minha tia Kim me criou,
eu preferi ficar com ela. Ela mora em Honolulu, tem uma loja de
coisas esotéricas, vê a auras das pessoas, acredita em energias,
essas coisas. — Ele sorria ainda mais. — Ela é meio doida às
vezes, mas é uma das melhores pessoas do mundo.
— Talvez você tenha puxado a loucura dela — o loiro o
provocou. — É por ter morado lá que você nos chama de Ohana?
— Sim. Eu aprendi que Ohana é mais do que ligação
sanguínea. É amar, respeitar e cuidar. Sua Ohana está com você
quando você precisa, seja comemorando ou lutando por você. É
uma ligação de amor e confiança.
Mitchell sorria alegre falando sobre aquilo, e Andy nunca o
achara tão bonito.
2 anos trabalhando juntos
— Papa — Alex falou, segurando Evan e indicando a si
mesmo enquanto o menino ria. Então o virou para Andy. — Mama.
— Pare com isso! — Andy jogou no moreno um dos bodys
que estava dobrando para guardar, e o bebê riu ainda mais.
Era o final de semana de Andy com as crianças. Eles
estavam na casa de Alex, que tinha mais espaço. Enquanto Andy
dobrava a roupa que tinha sido lavada, Alex estava sentado no chão
com os bebês. Gwen estava dormindo no tapetinho, e o moreno
estava “ensinando” palavras para Evan. Já Amy estava terminando
o dever de casa.
Um final de semana normal em família.

2 anos e meio trabalhando juntos


— Andie, essa é a minha tia, Kim — Alex a apresentou,
orgulhoso.
Eles tinham ido buscá-la no aeroporto. A mulher tinha longos
cabelos castanho-escuros e olhos claros, como o sobrinho. Andy
esperava que ela gostasse dele, porque sabia o quão importante ela
era para Alex.
— Olá...
Antes mesmo que ele falasse algo, a mulher o abraçou
apertado.
— Eu queria muito conhecê-lo sem ser por videochamadas.
Você é mais bonito pessoalmente. — Ela sorriu, e ele corou um
pouco. — Muito obrigada por cuidar do meu menino! Eu consigo ver
como as almas de vocês estão interligadas, é uma ligação de outras
vidas, eu garanto. Agora vamos logo, porque eu quero conhecer as
crianças.

3 anos trabalhando juntos


— Não! Alex! Você não vai fazer isso comigo, Alex! — Andy
fazia a massagem cardiopulmonar no capitão, que estava caído no
chão, inconsciente.
Maddy tentava estancar o forte sangramento do ferimento a
bala no abdômen de Alex. Ela segurava as lágrimas, implorando
baixinho para que o socorro chegasse a tempo.
Já Andy não parava, ele não deixaria seu parceiro morrer,
Alex não tinha esse direito! Ele tinha mudado sua vida, tinha se
enraizado nela, tornando-se o centro de tudo. Ele não iria deixá-lo.
Ele tinha prometido nunca o deixar, e Andy não permitiria que isso
acontecesse!
O detetive foi na ambulância. Ficou no hospital, nervoso,
quase surtando sem notícias. Lá ele descobriu que era o contato de
emergência do capitão. De todas as pessoas, inclusive, da sua
família, Alex o tinha colocado como seu contato de emergência.
Andy se sentou em um canto e se permitiu chorar.
Alex tinha perdido o pai há muito tempo, não tinha irmãos, e
sua mãe trabalhava em uma embaixada fora do país. Ela não via o
filho havia anos. Os tios moravam em outros estados. Apesar de o
amarem muito e sempre ligarem, eles moravam longe.
Andy sabia que Alex não tinha ninguém por ali e, apesar de
Andy ter seus filhos, ele também estava um pouco sozinho. Um era
a família do outro. Um era tudo o que o outro tinha. Ele não podia
perder Alex!

3 anos e meio trabalhando juntos


— Alex — a mulher disse a contragosto.
— Barbara — o capitão respondeu no mesmo tom.
— O que é? Vão ficar se encarando como se estivessem no
velho oeste? Que eu me lembre, o cowboy aqui sou eu — Andy
zombou deles.
— As crianças estão vindo — a mulher disse por fim. —
Espero que saia tudo bem nesse acampamento.
— Não se preocupe, eu cuido muito bem da nossa família —
Alex a provocou, colocando o braço sobre o ombro de Andy.
— Dada! Tio Alex! — Gwen foi a primeira a chegar, jogando-
se no moreno. Logo atrás veio Evan, pulando no pai.
— Dada! — Amy abraçou o pai.
— Vai ficar me chamando assim também, mocinha? — ele
brincou com a filha, que riu concordando.
— Vamos, princesa. — Alex levantou Amy, colocando-a no
seu ombro. — Tchau! — ele acenou para a mulher na porta, que
bufou irritada. Andy riu da situação.

4 anos trabalhando juntos


— Hora do bolo! — Andy disse para os gêmeos, que batiam
palmas.
— Aqui — Alex falou orgulhoso, colocando o enorme bolo em
formato de prancha de surfe na frente das crianças. “Evan e Gwen”
estava escrito no bolo de um jeito estilizado.
— Alex, o que é isso? — o detetive apontou para o bolo.
— Um bolo — ele se fez de inocente.
— Você me prometeu que ia se comportar e ia comprar um
bolo normal!
— Mas é um bolo normal, é chocolate com morango, não foi
isso que você pediu? — Alex perguntou para Amy, que concordou
rindo.
— Eu disse baunilha! — Andy brigou.
— Quem compra bolo de baunilha para um aniversário de
criança? — o capitão respondeu como se o outro fosse louco.
A festa estava acontecendo no restaurante de Kane, o amigo
deles. Barbara e Eric tinham dado uma grande e chique festa para
os gêmeos. Mas Andy e Alex organizaram uma pequena reunião só
com os amigos. No aniversário de Amy, eles a levariam para a
Califórnia, na casa dos tios de Alex.
— E por que um bolo em formato de prancha?
— Eu gostei — Amy interferiu —, também quero um.
— É claro que você gostou, porque a senhorita é uma
traidora — Andy apontou para a filha.
— No seu aniversário faremos um maior — Alex garantiu.
— Estou ferrado com vocês — o detetive revirou os olhos.
— Percebeu agora? — Eli perguntou rindo.
— Bolo! — Gwen disse, puxando a camisa do pai. — Dada,
bolo!
— Ok, mocinha, vamos lá — ele disse, suspirando, e Alex
sorriu vitorioso.

4 anos e meio trabalhando juntos


— Chegue mais perto, e eu o mato — o criminoso avisou.
— Solte-o agora — Andy rosnou.
Ele estava furioso de um jeito que nunca tinha estado. Alex
estava ferido, os criminosos o tinham sequestrado do quarto do
hotel, ele tinha sido sedado, torturado e tinha cortes pelo corpo.
Andy havia atravessado dois estados dirigindo como louco,
seguindo cada pista e sem tempo de esperar o reforço. Agora ele
estava cara a cara com o criminoso e não sairia de lá sem Alex.
— Robin! Trevor! — o criminoso gritou por seus capangas,
mas Andy sorriu de canto.
— Ninguém virá ajudá-lo, mas não se preocupe, você vai
encontrar seus amigos em breve — o loiro disse. — Sua última
chance, solte-o e se entregue.
— Vá para o inferno!
— Primeiro você.
Com o resto das suas forças, Alex se jogou no chão e Andy
disparou várias vezes contra o criminoso, que nem teve tempo de
reagir.
— Alex! — Ele correu até o parceiro. — Vim buscar você.
— Eu sabia que você viria.

5 anos trabalhando juntos


— O que você está fazendo aqui? — Andy perguntou. Ele
estava de pijama, jogado no sofá, e Alex entrou com sua própria
chave no apartamento do loiro e ainda usava um smoking.
— Você está doente, vim cuidar de você.
— Você estava em um encontro com a sua namorada, não
precisava ter vindo. Eu lhe disse que estou bem, é só uma gripe, vai
passar.
— Andie, pare de reclamar, vou cuidar de você, sim! Passei
no Kane, ele fez uma sopa especial para você. Vá para sua cama,
que eu já levo a sopa e os remédios.
— Não quero — o loiro resmungou, teimoso.
— Não está conseguindo andar direito? — Alex perguntou, e
Andy odiou como ele o conhecia tão bem. — Eu levo você.
— Alex, não! — Mas era tarde demais, Alex o pegou no colo
e o levou para cama. Se não fosse tão teimoso, Andy o agradeceria,
já que estava tentando sair do sofá havia horas, mas se sentia muito
fraco.
Enquanto estava esquentando a sopa, o capitão recebeu
uma mensagem.

Alex guardou o celular no bolso e colocou a sopa no prato. Ele não


se importava se seu relacionamento acabasse. Para ele só
importava que Andy estivesse bem.

5 anos e meio trabalhando juntos


— Andie...
— Não.
— Mas eu não falei nada.
— Melhor mesmo, eu não quero ouvir sua voz. Deixe-me
morrer em paz!
— Andie — lamentou —, eu não fiz nada.
— Nada? Nada, Alex? Estamos à deriva, nossa água está
acabando, e não sabemos quando nos encontrarão. Eu lhe disse
que não era seguro, que era melhor pensar direito, mas não, seu
psicopata, você tem que se jogar no perigo e abraçá-lo, não é?
— Impedimos que um perigoso criminoso ligado ao tráfico
humano escapasse, ele nunca mais fará vítimas, isso não o
consola? — o capitão disse. Eles estavam em um barco
improvisado flutuando pelo oceano.
— Claro, ele virou comida de peixe, que bom para os peixes.
Mas logo vamos nos juntar a ele! E não fale comigo!
Andy suspirou, Alex ainda ia matá-lo.

6 anos trabalhando juntos


— Alex! — Andy o chamou, mas já era tarde.
— O que você disse? — o capitão perguntou para o outro
homem.
— Que o seu detetive é um incompetente, que ele deveria
mudar de profissão e que ele é estúpido — o agente da embaixada
argentina disse. — Por quê? Veio defender o namoradinho?
Alex socou o homem.
Com força.
Andy e Eli tiveram que puxá-lo para longe, e aquilo quase
virou um incidente internacional.

6 anos e meio trabalhando juntos


— Não, Alex, você não pode adotar um cachorro.
— Andie, olha a carinha dele — o capitão fez carinho no
pastor alemão.
— Ele é lindo, mas é um cachorro enorme que precisa de
atenção.
— E precisa de um lar. Ele está se aposentando, precisa de
amor e carinho. Bruce serviu a este país, e você quer negar a ele
uma casa? — Alex se fez de indignado.
— Dada, por favor — Gwen implorou com lágrimas nos olhos,
já abraçada ao cachorro.
— Nós vamos ajudar o tio Alex a cuidar dele — Evan
prometeu.
— É, acho que já era — Amy riu, os gêmeos tinham se unido
a Alex para convencer Andy a aceitar a adoção de Bruce.
Certo que a casa era de Alex, então ele não precisaria da
permissão do parceiro para nada, mas não era assim que eles
funcionavam.
— Tenho certeza de que Bruce fará sua família muito feliz —
o responsável pela adoção entregou os papeis para Andy, que
suspirou. — Vocês formam uma família muito bonita.
— Obrigado — o detetive nem se deu ao trabalho de explicar.

7 anos trabalhando juntos


— Querem mais coisas? — Julia, a tia de Alex, perguntou
para eles.
Eles estavam em São Francisco para o aniversário de Ryan
Mitchell, tio de Alex. Foi uma luta conseguir que Barbara assinasse
a autorização para que eles viajassem com as crianças, mas tinham
conseguido embarcar a tempo.
Era uma típica reunião da família Mitchell, com muita comida,
muitas conversas e muitos esportes, já que era uma família cheia de
homens altos e fortes, em sua maioria militares.
Amy tinha se dado muito bem com a neta mais velha de
Ryan, e as duas passavam o tempo todo juntas. Os gêmeos
também tinham feito amizades e corriam de um lado para outro com
as outras crianças.
— Que bom que conseguiram vir — Charles, o primo de Alex,
falou, trazendo mais cervejas. Ele e Alex eram bem parecidos, mas
enquanto Alex era capitão da HRT, Charles era capitão da SWAT.
— A ex do Andie demorou para assinar aquela autorização,
ela ficou dizendo que “não sabia se era seguro”. — Alex revirou os
olhos. Ele e Barbara nunca foram melhores amigos.
— Que ridículo. Não existe lugar mais seguro para essas
crianças do que aqui — Sam, o primo mais velho, disse. — E eu já
falei para vocês, deveriam se transferir aqui para São Francisco e
morar perto de nós. Minha esposa é advogada, entramos com
pedido de guarda para vocês virem com as crianças. Gente para
cuidar deles é que não vai faltar — ele indicou a casa cheia.
Andy tinha amado aquilo. A família Mitchell simplesmente
aceitou ele e seus filhos como parte da família.
— Sempre tem a outra opção — Alex cantarolou.
— Alex, por Deus, não vamos matar ninguém! — O detetive
passou a mão pelo rosto.

7 anos e meio trabalhando juntos


Era Halloween, e eles estavam levando as crianças em uma
festa a fantasia. Era um evento grande e teria até um concurso de
fantasias. Evan e Gwen decidiram os temas. Alex estava vestido de
Superman, Andy de Batman, Amy era a Batgirl, Evan o Robin e
Gwen a Supergirl.
Gwen fez questão de que Bruce fosse fantasiado de Batcão.
Andy tentou argumentar com ela que isso nem devia existir, mas,
quando viu, Alex e Gwen estavam colocando uma capa preta e um
colete com o símbolo do Batman no cachorro.
Dias atuais

Alex abriu os olhos, mas a claridade incomodou, então


precisou piscar várias vezes para que sua visão se adaptasse.
Percebeu que estava no hospital, o que não era novidade,
considerando seu histórico. Tinha um medidor de batimentos
cardíaco preso no peito, uma IV presa no braço e um cateter nasal
lhe entregando oxigênio, fora aquela constrangedora camisola
hospitalar.
— Andie! — ele sussurrou com sua voz quebrada.
Estava separado de todos por cortinas fechadas. Ele
conseguia ouvir pessoas lá fora e o bip bip dos seus batimentos
cardíacos soando da máquina, mas não havia nenhum Andie.
Ele demorou alguns segundos para conseguir se levantar.
Precisava sair dali para achar seu parceiro. E precisava fazer isso
agora!
— Ei, calma aí — Eli disse, passando pela cortina. — Você
precisa voltar para a cama.
— Não… Eu preciso… ir até… — Ele se sentiu um pouco
tonto e precisou parar onde estava. — Vou procurar…
— Você vai voltar para a cama e descansar um pouco — Eli
disse, conduzindo-o de volta à maca e o fazendo se sentar. —
Agora você me diz o que está procurando, que vou buscar.
— Andy — Alex ofegou. Ter tirado o oxigênio tinha sido uma
péssima ideia, por isso o Eli o ajudou a recolocar.
— Era por isso essa confusão toda? — O agente sorriu,
então abriu a cortina lateral esquerda, e lá estava Andy, deitado em
sua maca e dormindo tranquilamente.
Mitchell suspirou aliviado, Andy estava bem. Ele até se deitou
de volta. Agora era só se recuperarem.
— Acalmou? — Eli brincou.
— Ele está bem?
— Sim, ele está bem, só está descansando, como você
também deveria estar. — Eli estava se divertindo com a
preocupação do amigo. — Vai conseguir dormir ou preciso empurrar
sua cama até a do Andy?
— Pare com isso. — Alex revirou os olhos. — Eu estou com
sede.
— Vou pegar água para você. — O agente saiu, mas sem
esconder o sorriso.
Alex respirou fundo, fez os exercícios de respiração para que
seus batimentos ficassem sob controle, senão algum médico iria lá
para encher o saco. Por alguns segundos, ele chegara a acreditar
que era o fim. Havia sido aterrorizante ver Andy sem conseguir
respirar, mas sua Ohana conseguira salvá-los.
Ele olhou para o parceiro. O detetive também tinha um
cateter nasal, uma IV no braço, vestia aquela camisola de hospital
horrível, apesar de estar coberto com lençol, e tinha um curativo na
lateral da testa. Mas o importante era que seu peito continuava
subindo a cada respiração e a máquina mostrava que seus
batimentos cardíacos estavam regulares. Perfeito.
O peso do segredo de Andy atingiu o capitão de uma vez. Ele
estava falando a verdade? O que aquilo significava? Deveria
significar alguma coisa?
— Se continuar a me encarar enquanto durmo, vou pedir uma
medida protetiva contra você — Andy murmurou, abrindo os olhos
devagar.
— Vai ficar difícil, contando que eu sou o seu chefe — Alex
brincou e viu o detetive sorrir de volta. — Estou feliz que esteja bem.
— Você é tão teimoso, que não ia deixar a gente morrer. Se a
equipe não nos resgatasse, era capaz de você cavar o caminho de
saída nas unhas — Andy respondeu. Ele tentou se esticar, mas
doeu a costela. — Alex, obrigado por não me fazer desistir e, sabe,
por estar lá comigo.
— Foi o contrário, você que entrou naquele prédio para me
salvar. Se não fosse por você, eu estaria morto — o capitão o
corrigiu.
— Ok, eu consigo aceitar isso. — O loiro riu, mas acabou
tossindo. — Merda!
— Andy — Eli disse, passando pela cortina. Ele deixou a
água na mesa ao lado da maca do chefe e foi até o loiro. — Que
bom que você acordou. O Alex não estava aguentando de
preocupação.
— Qual é? — Alex revirou os olhos, mas Andy riu.
— É que ele me ama, não pode viver sem mim. Acabou de
admitir que fui eu que salvei a vida dele.
— E eu perdi isso? — Eli se fez de chateado.
— Se não há provas, não aconteceu — o capitão comentou,
bebendo sua água.
— Devagar, se não vai passar mal — Eli o avisou. — Irmão, é
sério, vai com calma.
— Ô animal, beba essa água devagar — Andy falou.
Alex revirou os olhos de novo, mas começou a tomar a água
em pequenos goles.
— Bom saber que as coisas já voltaram ao normal — o
agente brincou.
— Andie — Amy falou, passando pela cortina e correndo até
o pai. — Eu fiquei preocupada.
— Oi, minha princesa — ele disse com ternura, abraçando-a.
— Eu estou bem, perdoe-me por ter preocupado você.
— Dada. — Evan e Gwen correram para a maca do pai,
ficando nas pontas do pé para vê-lo, então Eli os levantou,
colocando-os na maca.
— Tio Alex. — Amy abraçou o capitão com força. — Por que
são sempre vocês dois que se metem nessas coisas?
— Eu também não sei, princesa — Alex respondeu,
retribuindo o abraço. — Não é de propósito.
— Sei. — Ela o encarou desacreditada e o abraçou de novo.
— Eu estava enlouquecendo sem poder vir aqui ver vocês.
— Amy, que tal todos nós jantarmos juntos na próxima terça?
— Andy sugeriu, ele ainda estava abraçado com Evan. — É o tio
Alex que vai pagar.
— Você? — ela perguntou, ainda mais desacreditada. —
Aceito, mas duvido que você vá pagar.
— Está me chamando de caloteiro? — o capitão se fez de
ofendido, fazendo a garota rir.
— Irmão, você não tem moral nenhuma — Eli respondeu —,
mas desde quando o Alex se oferece para pagar alguma coisa?
— Acho que ele acreditou que íamos morrer e prometeu me
levar para jantar toda terça, sendo que é ele que vai pagar. Como
estamos vivos, vai ter que cumprir.
— Espere, não estipulamos um prazo final para esse acordo
— o moreno disse.
— Isso mesmo, sem prazo final, quer dizer que vai durar
muito, muito tempo — o loiro provocou.
— Deixe-me ver se entendi. Vocês estavam presos naquele
lugar, à beira da morte. Enquanto eu chorava sem parar, sem
notícias, vocês estavam combinando que, caso sobrevivessem,
teriam encontros semanais em forma de jantares? E o tio Alex que
vai pagar por isso? — Amy não acreditava naquilo.
— Sim — os dois responderam. A menina começou a negar
com a cabeça enquanto ria, talvez de desespero.
— Andie — Evan o chamou —, Amy disse que você é um
herói e por isso que está no hospital. Mamãe disse que você é
louco.
— Louco é aquele ali. — Ele apontou para Alex. — Eu sou só
um pouco dedicado ao meu trabalho.
— Mas é claro. — Amy revirou os olhos, e Eli começou a rir.

Era noite, todos os seus amigos tinham os visitado e fizeram


tanta bagunça, que quase foram expulsos. Na hora de irem embora,
Maddy e Alan, seu noivo, avisaram que buscariam o cachorro de
Alex e o levariam para casa com eles, já que ele teria que passar a
noite no hospital em observação. Aliás, ele tinha achado aquilo
exagero, mas Andy o mandou calar a boca e falou que eles iam ficar
aquela noite, sim.
Mitchell respirou fundo, virando-se na maca. Era
desconfortável dormir daquele jeito, mesmo que, segundo Andy, ele
já devesse estar acostumado. Ele tivera alguns cochilos, mas não
conseguia relaxar e descansar de fato. Algo na sua mente o
mantinha acordado, como um grande sinal apitando que algo estava
errado.
— Se você se revirar de novo, vou até aí bater em você —
Andy resmungou de olhos fechados.
— Não estou conseguindo dormir — o outro se justificou.
— Percebi, mas agora nem eu estou conseguindo. — Ele
abriu os olhos e encarou Mitchell. — O que foi?
— Nada, eu só estou me sentindo estranho, impaciente.
— Estranho e impaciente é o seu normal — Andy brincou. —
Mas o que está o incomodando tanto?
— Realmente não sei — Alex suspirou.
— Alex, você quase morreu, é normal se sentir assim. Foi
uma experiência complicada, e você se cobra demais, o tempo todo
você age como se fosse o responsável por tudo e precisasse manter
todos a salvo. A equipe inteira está bem, você está bem, eu estou
bem. É nisso que você deveria pensar.
— Ok — ele suspirou. Andy tinha razão, todos estavam bem,
então por que ele ainda sentia que tinha algo errado?
— Certo — o loiro suspirou. — Sobre o que você quer
conversar?
— Achei que você ia dormir.
— Eu ia, mas, pelo jeito, você não vai, então eu também não
vou. O que nos resta é conversar para ver se conseguimos distrair
sua mente, para você relaxar e dormir. Voltando à minha pergunta,
sobre o que quer conversar?
— Não sei. Alguma sugestão? — Alex perguntou,
escondendo o sorriso.
— E aquela garota com quem você estava saindo? Não a vi
mais.
— Não deu certo. — Mitchell deu de ombros. — Ela queria
alguém que estivesse sempre à disposição, que sempre tivesse
encontros, um cara para apresentar para a família, sabe? Essas
coisas.
— Tipo um relacionamento sério e estável? — Andy o
provocou.
— Sim, mas eu não consigo confiar completamente em
alguém. E o ideal de relacionamento que ela tinha não parecia ser
algo a ver comigo. Não me vejo indo em encontros regulares,
sempre levando para tomar café da manhã, contando tudo sobre a
minha vida, apresentando para a minha família. E eu amo todos da
minha família, mas sabemos como eles podem ser intensos. Eu
nem sei como meus primos conseguiram ter relacionamentos.
— Ser de uma família onde a maioria é de diferentes áreas
militares pode ser um pouco complicado, mas eles são legais. E se
a pessoa com quem você tiver um relacionamento ama você, ela
não vai se importar com isso. Fora que vocês juntos são divertidos.
— Eu ainda sou um Navy. Pode ser raro, mas ainda me
chamam para missões. Você sabe como é, eu posso ficar dias
longe, sem comunicação nenhuma. E quando isso acontecer? Para
manter um relacionamento, a pessoa teria que entender como pode
ser um caos a minha vida. Como posso trazer alguém para isso? Eu
odeio quando vão à minha casa e tiram algo do lugar ou mexem nas
minhas coisas. Não consigo dividir meu espaço.
— Eu realmente o entendo, mas você se cobra demais.
Relacionamentos devem vir de forma natural, quando você
perceber, já estará apaixonado. Não tem uma regra para isso, então
pare de pensar em hipóteses do que pode ou não acontecer. Você
só vai descobrir se tentar. Da próxima vez vá de mente aberta para
as possibilidades, só se permita — o detetive aconselhou.
— Vou tentar. Mas e você e a Ashley?
— Elizabeth — o loiro o corrigiu, revirando os olhos. Ele ia
fazer isso toda vez?
— Quem?
— Minha namorada chama Elizabeth.
— Você trocou de namorada? — Alex se fez de confuso.
— Não, idiota, o nome dela sempre foi Elizabeth. Por que
você sempre a chama de Ashley?
— Porque eu sempre achei que fosse Ashley.
— Eu já lhe falei milhares de vezes que é Elizabeth!
— Ok, da próxima vez eu a chamo de Elizabeth.
— Não vai ter próxima vez, nós terminamos.
— Por quê?
— Rotina. Tanto o trabalho dela quanto o meu estavam
pesando. Mas, antes que você comece, foi um término tranquilo.
Nós conversamos bastante e entendemos que agora não era um
bom momento para ambos. Talvez no futuro nós voltemos, por
enquanto não. Como eu disse, relacionamentos são sobre confiança
e comunicação. Se você não pode se comunicar com a pessoa com
quem está e confiar nela, então não deveria estar com ela.
— Desde quando você entende tanto de relacionamentos? —
Alex perguntou depois de alguns momentos em silêncio.
— Primeiro, em comparação a você, qualquer um sabe muito
sobre relacionamentos. Segundo, eu já fui casado, lembra?
— Com a Barbara, e o relacionamento de vocês não é um
sinônimo de normal.
— Não foi tão ruim assim — o detetive se defendeu.
— Ela queria esconder que você era o pai do Evan e da
Gwen.
— Ok, esse não foi o nosso melhor momento, mas isso foi só
depois que nos separamos.
— Aliás, quem engravida a ex-mulher? — o moreno zombou.
— Corrigindo, esse não foi o MEU melhor momento — Andy
respondeu, rindo —, mas eu amo meus filhos e não os trocaria por
nada.
— Eu também amo os seus filhos, só acho a sua relação com
sua ex meio bizarra. Ela sempre está a volta, tentando chamar a sua
atenção. Qualquer coisa que acontece, ela liga para você, e não
para o marido dela. Parece que ela quer que você seja propriedade
dela e não consegue vê-lo sendo feliz.
— Você não é o maior fã dela.
— Ela parece aqueles animais predadores que ficam
espreitando nas sombras até a presa estar vulnerável e então
atacam. — Alex fazia os gestos com as mãos para dramatizar a
cena.
— E eu sou a presa? — Andy riu.
— Sim, você tem esses olhinhos brilhantes bonitinhos e é
todo bom moço, querendo fazer o certo e ajudar as pessoas —
Mitchell enumerava.
— Cale a boca! — o loiro falou aos risos. Se ele tivesse algo
em mãos, teria jogado no amigo. — Vá dormir.
— Ok. — O moreno ria. — Boa noite, Andy
— Boa noite, Alex.

— Bom dia, capitão Mitchell. — A simpática médica sorria


para ele.
— Bom dia, doutora Banton — ele respondeu educado, lendo
o crachá preso no jaleco branco.
— Eu vim verificar como você está para poder lhe dar alta —
ela disse, pegando em seu braço. Atrás dela, Andy revirou os olhos
e deitou a cabeça no travesseiro.
— Já estou bem, eu só quero ir embora — Alex respondeu,
olhando da médica para o amigo.
— Sim, você está ótimo — a médica respondeu, apertando
seu braço levemente. Andy fez sinal de arma com os dedos e fingiu
dar um tiro na própria cabeça.
— Obrigado? — Mitchell esperou a médica começar anotar
coisas na prancheta e perguntou sem voz para o amigo o que
estava acontecendo. Andy não respondeu, apenas negou com a
cabeça e fez cara de descaso.
— Então, eu posso chamá-lo de Alex? — a médica
perguntou.
— Pode, claro — ele respondeu, vendo Andy revirar os olhos
de novo.
A médica encostou o estetoscópio nas suas costas e ficou
ouvindo sua respiração. Ela fez mais algumas perguntas e
continuou fazendo anotações, mas o tempo todo estava o tocando
demais. Inclusive, chegou a passar a ponta do dedo pelas suas
costas.
— Conseguiu tomar café da manhã? — ela perguntou.
— Sim, normal.
— Teve alteração de apetite?
— Acho que não, eu jantei ontem à noite e comi hoje de
manhã sem problemas — ele respondeu, confuso.
— Idiota — Andy murmurou vendo a cena, porque era óbvio
que a médica estava dando em cima dele, e Alex era muito tapado
para entender ou ele estava gostando.
— Que ótimo — ela sorria. — Então, quem sabe, podemos
sair para jantar algum dia?
— Com licença — Andy interferiu. — Antes de vocês
continuarem esse flerte, você poderia me examinar e me dar alta?
Eu gostaria muito de ir embora. Prometo que depois vocês podem
voltar a fazer o que estão fazendo.
— Bom dia — Eli disse, entrando no quarto com Amy. Os
dois então perceberam o clima estranho. — Tudo bem aqui?
— Claro, tudo ótimo — Andy respondeu. — Então, doutora?
O quarto ficou em um silêncio constrangedor enquanto a
médica os examinava. Amy e Eli não entenderam nada, mas
também não puxaram assunto. A médica assinou os papeis de alta
e entregou aos dois. Junto dos papeis de Alex, entregou o número
do seu telefone e piscou para o capitão.
— O que aconteceu lá dentro? — Amy perguntou enquanto
passavam pela recepção do hospital.
— Nada, princesa, não precisa se preocupar. — Andy sorria
presunçoso e abraçou a filha. — Vamos para casa.
— Ah, eu entendi. — Eli sorriu, apontando para o papel com
o número da médica nas mãos do capitão.
— Não foi nada — Alex respondeu rápido, amassando o
papel e o jogando fora.
— Sem estresse, eu não falei nada. — Eli levantou as mãos
em sinal de paz, mas ria do amigo.
O agente passou na casa de Andy para deixá-lo lá junto com
Amy, que jurou que cuidaria muito bem do pai, depois levou Alex
para sua casa, que estava vazia, já que seu cachorro ainda estava
com Maddy. Ela amava tanto Bruce, que, em qualquer oportunidade
possível, estava levando o cachorro com ela.
— Tem certeza de que não quer que eu fique aqui? — Eli
perguntou.
— Tenho. Vou tomar um banho e descansar, depois eu peço
algo para comer — o capitão garantiu.
— Certo, mas qualquer coisa você me liga. E lembre-se de
que não é para fazer nenhum tipo de esforço.
— Eu sei, mamãe — Alex zombou —, vou ficar quietinho aqui
em casa.
— Como se isso fosse possível. — O agente revirou o olho
abrindo a porta.
— Você está andando demais com o Andy, já está falando
como ele.
— Mas, se fosse ele aqui, ele conseguiria mantê-lo na linha
— Eli devolveu. — Aliás, nem sei como ele consegue.
— Como assim?
— Irmão, eu conheço você há muito tempo, e só existe uma
pessoa no mundo que você ouve, e essa pessoa é o Andy.
— Não acho. Eu sempre ouço os conselhos dos meus tios,
por exemplo.
— Mas tem uma diferença gigantesca entre ouvir e seguir os
conselhos. Você pode ouvir seus tios ou até a mim, mas, se Andy
lhe disser alguma coisa, você encara como lei.
— Você está exagerando.
— Não pode fugir das verdades, irmão — Eli riu. — Estou
indo. Até mais.
Alex fechou a porta e olhou em volta, ele estava na sua casa,
o seu lar, seu lugar seguro, mas junto veio o silêncio. Não que ele
não gostasse do silêncio, porque ele realmente amava. Às vezes o
mundo era muito barulhento, e tudo que ele precisava era voltar
para sua casa, deitar-se na sua cama e ficar ouvindo as ondas do
mar ao fundo.
Porém, naquele momento, o silêncio era esmagador. Trazia
uma sensação de abandono, como algo faltando. O problema era
que Alex sabia que esse sentimento não vinha da casa, mas de
dentro dele. Era em seu interior que estava quebrado, mas ele não
fazia a menor ideia de como consertar.
Tomou um longo banho frio. Ele não era de enrolar tanto no
chuveiro, mas sentiu que precisava. Esfregou muito bem sua pele,
tirando qualquer resquício de poeira que pudesse ter sobrado
daquele prédio em ruinas. Depois desceu as escadas e resolveu
fazer um lanche.
O dia foi monótono. Se Bruce, seu cachorro, estivesse em
casa, eles poderiam ter saído para uma corrida, mas Maddy avisou
que só o traria no dia seguinte, para que descansasse
completamente. Esse era o problema de ter amigos tão próximos,
eles te conheciam muito bem.
— O que será que Andy está fazendo? — acabou
murmurando a pergunta distraído, mas balançou a cabeça e tentou
voltar a prestar atenção no terrível filme de ação que estava
passando na televisão.
O dia não passava, já tinha passado da hora do almoço e ele
ainda estava largado no sofá, sem coragem ou animo para se
mexer. Se fosse um dia normal ou eles estariam investigando um
caso e Andy estaria xingando Alex de psicopata por causa do seu
modo de dirigir, ou estaria voltando do almoço.
Se tivessem ido almoçar, teriam ido ao restaurante do Kane,
já que Andy era viciado em comida italiana. Em algum momento,
Kane se juntaria à mesa deles e contaria sobre sua nova conquista,
já que ele não conseguia passar mais de um mês com a mesma
mulher. Quando eles estivessem voltando para o escritório, Andy
perguntaria como que Kane conseguia conquistar tanta gente se
sempre estava usando terno branco, independentemente da
ocasião.
Alex sorriu com os pensamentos, até perceber que todo o
seu foco sempre voltava para Andy. Ele sabia como seu parceiro
falaria, o que ele pediria, qual seria a sua reação, como ele estaria
vestido... Bem, ele sempre pensara que sabia tudo sobre Andy.
Aparentemente agora ele sabia.
Bissexual... Por que ele nunca lhe disse?
Não que fizesse alguma diferença, porque não fazia, ele só
não entendia por que Andy nunca tinha contado. Eles eram
melhores amigos havia anos. Você não esconde algo assim do seu
melhor amigo, do seu parceiro, não é? Por que ficar quieto? Alex
não estava bravo, claro que não, era só que ele achava que Andy
deveria ter falado antes porque... porque... porque eles eram
amigos.
— Não é da minha conta mesmo, ele faz o que quiser da vida
dele — Alex falou sozinho e deu de ombros. — Eu não conto tudo
da minha vida também.
Certo, era mentira, ele contava, sim. Exceto as coisas que
eram sigilosas das missões como capitão, mas o resto Andy sabia.
Ele ficou batucando seus dedos no braço do sofá. Será que
Andy já tinha se envolvido com outro homem? Se sim, ele tinha
namorado de verdade ou foram casos de algumas noites? Andy
conheceu Barbara quando já era agente, antes disso ele teve uma
vida, fez coisas, aproveitou momentos...
— Por que eu estou pensando nisso? — esbravejou para si
mesmo.
A questão era que ele não conseguia parar de pensar nisso
desde que Andy contou que era bissexual. O pior era que ele só
havia contado por achar que eles iam morrer, então, se não fosse
por essa situação, Alex não saberia disso até agora.
— Por que isso é tão importante? — ele brigou consigo
mesmo, desligando a TV. — Que merda!
Sexualidade é só uma característica, não era para ter mexido
tanto com ele, mas ele não conseguia pensar em outra coisa. E não
era de um jeito ruim, com nojo ou qualquer merda assim. Era algo
parecido com curiosidade. Ele queria saber mais, e isso o estava
deixando louco.
Se ele não fosse um militar altamente treinado, teria dado um
pulo de susto quando seu celular começou a tocar, rompendo o
silêncio incômodo da casa.
— Oi, princesa, está tudo bem? — ele perguntou,
preocupado com a ligação de Amy.
— Oi, tio, está sim. Liguei para saber como você está — Amy
respondeu, e ele quase podia ver a menina sorrindo.
— Morrendo de tédio — respondeu sincero, e ela riu.
— Dada também, então pensei em juntar vocês dois na
mesma casa, assim posso cuidar dos dois juntos, o que acha?
Ele sorriu com sugestão.
— Não vou atrapalhar?
— Por favor, tio Alex — ela bufou. — Aposto que você nem
almoçou direito. Vou só arrumar as nossas coisas e vamos aí. Assim
eu estudo enquanto um faz companhia para o outro.
— Eu não sou um cachorro para precisar de companhia —
ele ouviu Andy bufar ao fundo.
— Não, mas tem horas que age como um bebê — a menina
respondeu para o pai, o que fez Alex rir.
— Tudo bem, princesa, podem vir. Quer que eu vá buscá-los?
— Não mesmo. Primeiro que você precisa descansar, é
recomendação médica. E segundo que dirigir depois da quantidade
de remédios que vocês tomaram pode ser perigoso.
— Mas eu posso pegar um táxi, assim ajudo você a trazer o
que for preciso.
— E me fazer perder a oportunidade de dirigir o Mustang?
Nem pensar.
— Eu sabia! — Andy gritou por trás dela. — Qual o problema
de vocês dois com o meu carro? Ele é meu!
— Em quinze minutos chegamos — Amy disse, rindo. — Vou
fazer uma mochila para o Dada e eu, porque vamos dormir aí, tudo
bem?
— Tudo bem. Vai querer passar no mercado para comprar
alguma coisa? — Alex perguntou, já indo se trocar. Ele podia não
verbalizar, mas amava a preocupação da garota.
— Não, está tudo bem. Antes de buscarmos vocês, o tio Eli
me levou no mercado e nós compramos muita coisa. Não sei como
meu pai sobrevive aqui, praticamente não tem comida.
— É por isso que eu tenho que levá-lo para comer fora —
Alex brincou, disfarçando que tinha ficado incomodado com o “tio
Eli”. Ser o tio era o cargo dele.
— Sim — ela riu. — Estamos indo.
Ele trocou de roupa correndo e deu uma leve ajeitada na
casa. Alex era um pouco neurótico com seu lar, e só quem ele
autorizava podia entrar ali. Parou um minuto na cozinha para tomar
um copo com água e tentar se controlar. Por Deus, as últimas vinte
e quatro horas foram tão intensas, que ele estava nervoso para
encontrar Andy, sendo que era uma coisa que ele fazia todos os
dias havia oito anos. Ele sentia que ia enlouquecer.
— Oi, tio. — Amy sorriu. Ela estava ao volante do Mustang e
parecia bem feliz com aquilo.
— Oi — Alex falou, chegando perto do carro.
— Olá — Andy respondeu a contragosto.
— Que mau humor é esse?
— Amy não me deixa fazer nada, e eu estou falando nada
mesmo — ele bufou, saindo do carro.
Andy estava vestindo uma camiseta preta e uma calça de
moletom cinza, confortável para ficar em casa. Como ele não era,
digamos, alto, a barra da calça ficava raspando no chão, o que era
fofo e... Alex desviou o olhar na hora. Que merda foi aquela?
— Vocês vieram rápido — o capitão disse, colocando na
cozinha as sacolas que Amy havia trazido.
— Bem, eu aprendi a dirigir com você. — Ela riu.
— Deu para perceber — Andy resmungou.
— Ignore, Andie está rabugento hoje. Por isso, eu precisava
trazê-lo aqui, para ver se você consegue melhorar o humor dele.
— Jura? Ele? Por favor, a coisa que o Alex mais faz é me
irritar. — Andy sumiu no corredor, indo até a sala, como se aquela
casa fosse sua.
— Eu vou ver o que posso fazer — Mitchell respondeu à
garota.
— Ótimo. Eu vou estar na cozinha. Se precisarem, me
chamem. Divirtam-se, crianças!
— A que está assistindo? — Alex perguntou, sentando-se ao
lado dele no sofá.
— Nada, na verdade eu estou procurando algo. Incrível como
você pode ter todos os canais do mundo, mas terá algum momento
em que não terá nada bom passando — o loiro respondeu.
— Olhe, está passando John Wick. Eu gosto desse filme.
— É claro que gosta, ele mata todo mundo, é a sua cara. —
Andy deu de ombros, mas deixou o filme passando.
— Ele tem direito. A mulher dele morreu, e mataram o
cachorro.
— Alex, você não precisaria que matassem o seu cachorro
para atropelar alguém. Ou para explodir algo.
— Não entendi o que você quis dizer — o capitão disse
cínico.
— Você já derrubou um portão só porque o cara não queria
abrir — Andy o lembrou.
— Nós precisávamos interrogá-lo — Alex se justificou como
se fosse obvio.
— Aqui, crianças. — Amy lhes entregou um balde de
pipoca. — Vou voltar para a cozinha, para fazer o meu dever.
— Tudo bem, princesa — Andy sorriu para a filha. A garota
beijou a testa do pai, depois a de Alex e voltou para a cozinha,
sorrindo.
Os dois se ajeitaram melhor no sofá e ficaram assistindo ao
filme. Alex demorou para perceber que a sensação de algo faltando
não estava mais lá.
Duas semanas
Duas malditas semanas!
Fazia duas semanas desde a explosão que os deixara
soterrados embaixo de um prédio. Duas semanas desde que eles
resolveram que seria divertido confidenciar seus maiores segredos
um para o outro. Duas semanas que aquele momento não saía da
cabeça de Alex.
Eles tinham seguido com a vida normalmente. Tinham
investigado novos casos, prendido novos bandidos, e Andy
realmente estava levando a sério a ideia de fazer Alex pagar pela
manutenção do carro. Ah, também tinha os jantares, dos quais Andy
não se esqueceu, e eles já tinham ido a dois.
Na verdade, os jantares eram divertidos. Eles se davam
muito bem. No primeiro, a equipe inteira foi, além dos filhos de Andy.
Alex pagou a parte da família Malloy inteira. No segundo, eles foram
sozinhos a um bar de esportes, o que acabou sendo muito legal.
Eles passaram horas conversando sobre muitas coisas e, ao
mesmo tempo, sobre nada.
O problema — porque sempre tem um problema — foi que
Alex percebeu que estava reparando demais em Andy. Ele já tinha
notado as tonalidades de azul claro dos seus olhos, o jeito que ele
segurava a cerveja, como ele sempre franzia os lábios quando não
gostava de alguma coisa e acabava olhando para o lado para não
responder. E ele achava fofo e engraçado o jeito como Andy falava
com as mãos quando ficava irritado. Por isso, ele começou a irritá-lo
mais do que deveria, até Andy ameaçar dar um tiro na sua cabeça,
o que o fez rir.
Mas isso tudo acabou se tornando demais. Alex não estava
conseguindo lidar com a sua mente. Ele estava com dificuldade de
manter o foco em qualquer coisa. Quando estava na investigação,
em campo, ele conseguia se concentrar, mas fora disso seus
pensamentos não eram seus. Invariavelmente iam até seu parceiro.
Por mais que ele tentasse, não conseguia escapar disso.
Era como um enorme looping em sua mente. Andy, a risada
dele, ele estressado, ele brincando, ele com os filhos, ele surfando
(ou achando que está fazendo isso), ele sério, ele trabalhando, ele
xingando alguém, ele sorrindo... Ele o tempo todo!
— ALEX! — Andy gritou da porta do escritório.
— O quê? — ele respondeu, confuso.
— Estou o chamando há um tempo. Vamos almoçar? — o
loiro disse, chegando perto.
— Sim, claro, eu... — a voz dele morreu. O detetive estava de
pé na sua frente, com as mãos no pescoço e movimentando-o para
os lados. Seus olhos estavam fechados, e seu corpo, levemente
esticado para trás. Assim que Alex começou a falar, Andy abriu seus
olhos, encarando-o diretamente.
— Você o quê?
— Eu tenho um compromisso na hora do almoço, já estava
me esquecendo. Não vou poder almoçar com você — ele
respondeu, levantando-se e já pegando suas coisas.
— O que você vai fazer? Quer que eu vá junto?
— Não, é... pessoal.
— Pessoal?
— Sim, muito pessoal — Alex disse, saindo pela porta e
deixando Andy sozinho na sala. — Até mais tarde.
— Ok, isso foi estranho — o loiro falou sozinho.
— Alex não vai almoçar com a gente? — Maddy perguntou
da porta.
— Não, ele disse que tem um “compromisso pessoal” —
Andy respondeu, acompanhando a colega até o elevador, Eli e Mal
os encontrando no caminho.
— O chefe anda estranho, não é? — Maddy disse, apertando
o botão do elevador.
— É o Alex. Quando ele não é estranho? — Andy brincou.
— Isso é verdade. — Mal riu. — Mas até eu reparei que ele
anda diferente, e olha que eu não reparo em quase nada à minha
volta.
— Aconteceu alguma coisa com ele? — a agente perguntou
para o detetive.
— Nada novo que eu saiba — Andy respondeu, dando de
ombros. — E você, Eli?
— Sério mesmo que ainda me pergunta? — Eli respondeu,
rindo enquanto saía do elevador e deixando os três confusos para
trás.
Andy almoçou com os amigos no restaurante do Kane, como
sempre. Voltaram, e cada um ficou preso em seu escritório. Ele
odiava burocracia, ter um monte de relatórios para preencher. Como
explicar de modo profissional que eles só conseguiram prender o
suspeito porque seu parceiro escalou uma árvore, depois pulou em
uma sacada, conseguiu passar para a outra e invadiu um quarto, e
que, para escapar dele, o suspeito se jogou na piscina do hotel,
então Andy se sentou na espreguiçadeira para esperar o suspeito
sair da piscina e o prendeu?
Alex chegou depois de todo mundo e se trancou no seu
escritório. Ficou lá por horas e, quando chegou a hora de irem
embora, ele apenas deu a desculpa de que tinha “coisas para fazer”
e que ficaria até mais tarde. Andy até se ofereceu para ajudá-lo,
mas o moreno negou na hora.
— Alex, é sério, não vou ficar com as crianças hoje, eu posso
ajudá-lo. Assim terminamos mais rápido e podemos ir comer uma
pizza ou algo assim.
— Não dá, Andy, eu realmente preciso fazer isso sozinho. —
Ele não tirava os olhos da tela do computador. Alex odiava ficar
muito tempo no computador.
— Se tivesse algo acontecendo, independentemente do que
fosse, você me contaria, não é?
— Claro. Por que a pergunta? — Ele desviou os olhos da tela
e encarou o detetive.
Andy o conhecia muito bem para saber que ele estava
mentindo. Estava acontecendo algo, mas ele não tinha a menor
ideia do que era.
— Se você quer assim, ok — Andy disse, irritado, antes de
sair do escritório.
Ele dirigiu para casa bravo, perguntando-se o que esse idiota
estava fazendo. Já havia dias que Alex estava daquele jeito, longe,
fugindo, desviando o olhar, sem conversar direito. E, quando Andy
perguntava o que estava acontecendo, o idiota tinha a cara de pau
de responder “nada”.
— Imbecil! — Andy bateu no volante. — Por que você
sempre tem que ser assim?
Aquele idiota sempre fazia aquilo. Quando tinha problemas,
ele se afastava. Ele não podia agir como uma pessoa normal e
conversar, contar o que estava acontecendo? Não, ele tinha que
agir como um vigilante justiceiro solitário e tentar resolver tudo
sozinho.
Não importava quantas vezes Andy tinha estado do lado dele,
como tinha se jogado em inúmeros perigos por ele sem hesitar. Já
tinham roubado avião, helicóptero, entrado em prédio em chamas,
sequestrado criminosos...
Andy chegou bravo em casa. Quando ele achava que Alex
não podia ser mais idiota, o moreno ia lá e mostrava que ele estava
enganado. Mania irritante de querer resolver tudo sozinho.
— Talvez eu devesse atirar nele, já que de armas aquele
animal entende — ele esbravejou, colocando a sua lasanha
congelada no micro-ondas.
Alex acordou assustado. Seu corpo estava coberto de suor, e
a casa ainda estava escura, nem tinha amanhecido ainda. Ele
passou as mãos pelo rosto. Que merda de sonho tinha sido aquela?
Pareciam estar de folga. Andy e seus filhos estavam na casa
de Alex, mas não eram visitas, eles moravam lá.
Alex corria atrás de Evan e Gwen. As crianças riam muito
enquanto tentavam escapar. O capitão fingia que ia pegá-los, mas
os deixava fugir no último minuto.
— Se passarem mal à noite, é você quem vai cuidar deles e
limpar o vômito — Andy o avisou. Ele e Amy estavam a mesa para o
almoço.
— Deixe as crianças se divertirem. — Alex chegou perto do
loiro e beijou o seu rosto.
— É, deixe eu me divertir — Evan imitou o moreno.
— Ah, não, dois Mitchells na minha casa eu não consigo, não
vou sobreviver a isso — ele dramatizou.
— Eu também quero ser Mitchell. — Gwen pulou
alegremente.
— Andie — Amy falou entre risos —, quando vocês se
casarem, você não vai ser Mitchell também?
— Não precisa me lembrar disso — Andy suspirou.
— Quem mandou perder a aposta? — Alex riu dele,
abraçando-o.
— Você me roubou, eu já disse — o loiro reclamou. — Aquilo
não foi justo.
— Tem que aprender a aceitar quando perde — o moreno o
provocou, mas, quando o detetive se virou revoltado, Alex o beijou
antes que ele falasse algo.
Ele amava os lábios do seu noivo. Eram perfeitos e se
encaixavam nos seus. Andy envolveu seu pescoço, aprofundando
ainda mais o beijo, eles tinham a tendência de se esquecer do
mundo à volta quando se beijavam. Não importava quantas vezes
fizessem aquilo, nunca era o suficiente.
— Ew! — Evan e Gwen exclamaram juntos.
— Shiu — Amy os reprendeu. — É fofo!
— Espero que você não tenha tirado outra foto — Andy
apontou para a filha, que sorriu culpada e abaixou o celular.
— Não, imagina. — Ela começou a andar para trás.
— Amy! — Andy deu dois passos na direção da garota, que
saiu correndo e se escondeu atrás de Alex.
— Socorro. — Ela gritou.
— Amor, ela só está fazendo registros para o casamento —
ele justificou, mesmo que todo mundo soubesse que não era só por
isso.
— Você os protege demais — Andy o acusou, e Alex sorriu,
abraçando-o. Sabia que tinha ganhado.
O dia passou rápido, foi divertido, e eles amavam passar as
folgas em família. Depois de jantarem, assistiram a um filme, que
teve que ser uma animação, já que os gêmeos estavam acordados.
Mais tarde as crianças já estavam na cama, dormindo, e eles
estavam no quarto deles.
— Andy — Alex gemeu. Eles estavam na cama, beijando-se,
já quase sem roupa.
O loiro beijava seu pescoço, mas a mão estava por dentro da
sua boxer. Ele o masturbava lentamente, e Alex amava e odiava na
mesma intensidade o quanto Andy conhecia o seu corpo. Ele sabia
o que fazer para lhe dar prazer.
— Nem começamos ainda — ele sussurrou no seu ouvido.
As duas boxers estavam fora. Alex e Andy se beijavam
furiosamente, os paus deles se esfregavam, o prazer estava cada
vez maior, e eles gemiam um na boca do outro. Os dois se mordiam
e lambiam, apertavam-se. O calor estava alto, e eles queriam mais.
— Eu quero você — Alex rosnou contra seu ouvido.
— Você me tem, faça o que quiser — Andy respondeu
gemendo.
Alex virou o noivo, beijando suas costas, espalhou o
lubrificante na entrada do loiro e no seu pau, então o penetrou com
calma, sentindo cada parte. Os dois gemeram enquanto se
movimentavam juntos, buscando o próprio prazer e o do outro. Eles
se conheciam, sabiam onde o parceiro mais gostava. Eles se
provocavam e se marcavam. Eles gostavam da intensidade.
— Alex..., eu estou... — ele gemia alto, estavam tão perto.
Alex acordou assustado. Demorou alguns segundos para
entender o que estava acontecendo. As crianças não estavam
dormindo nos quartos de hospedes, Andy não estava na sua cama,
eles não iriam se casar e não estavam transando. Ele estava
sozinho.
Esfregou seu rosto, estava muito confuso e perdido. Isso
nunca tinha acontecido antes. Ele nunca tivera esse tipo de sonho
com ninguém, muito menos com o seu parceiro. Certo, quando era
adolescente podia ter tido algum sonho erótico, mas aquele tinha
sido real demais.
Não tinha sido só o sexo, que por si só já era uma coisa que
podia ter pirado sua cabeça, apesar de ter sido muito bom. Mas teve
toda a cena antes, em que eles eram uma família e estavam prestes
a se casar. Tudo era doméstico: o jeito que as crianças o tratavam,
ele e Andy se beijando como se fosse rotina, como ele sentia seu
coração disparado, como ele sorria muito e como ele carregou Evan
para a cama enquanto Andy carregava Gwen como se fosse algo
natural. O modo como encontrou com Andy no corredor e eles foram
para a própria cama. Ninguém precisou falar nada, eles só sorriam e
se beijavam, um sabia o que o outro queria.
As cenas tinham sido muito reais. Tudo parecia confortável e
caseiro demais, como se sempre tivesse sido assim, como se aquilo
fosse o que realmente deveria ser. Essas pequenas cenas lhe
trouxeram um sentimento de pertencer a algo, de ter uma família,
mas de um jeito que Alex nunca havia tido, o que foi uma merda,
porque só esfregou em sua cara algo que ele não possuía. Como
acordar de um sonho desse sozinho na cama, em uma casa escura
e vazia? Como continuar a vida normalmente, ignorando que aquele
sonho tinha lhe mostrado que, no fundo, ele sempre quisera viver
algo assim, mas que isso era inacessível a ele?
— Porra, eu vou ficar louco! — ele esbravejou para a
escuridão.
Quando se mexeu para se levantar, foi que se deu conta do
quanto seu pau estava duro. Ele se jogou na cama, bufando de
frustração. Óbvio que estava duro, nem tempo de gozar no sonho
ele havia tido.
— Não, você é um homem adulto, treinado pela elite da
marinha, dono do próprio corpo. Você não vai passar por essa
humilhação! — disse para si mesmo. — Você não vai se tocar como
um adolescente cheio de hormônios! — repetiu aquilo por várias
vezes, mas acabou percebendo que não faria diferença nenhuma.
Bufou irritado e teve que ir para o banho.
Até tentou um banho gelado, mas não deu resultado. Bastou
encostar no próprio pau para que as cenas mais quentes do sonho
viessem à sua mente. Ele nem se deu ao trabalho de esconder os
gemidos, estava sozinho mesmo. Estava muito excitado, e as
lembranças do sonho o empurraram da borda, fazendo-o gozar.
Encostou sua testa na parede fria. A água escorria pelo seu
corpo. Ele ainda estava ofegante e sentindo o prazer se esvaindo.
Talvez se sentisse um pouco culpado pelo que tinha feito. Devia ser
muito errado se masturbar pensando no seu parceiro de trabalho,
ainda mais porque Alex era o chefe e ele nem queria pensar no que
aconteceria se alguém descobrisse. Mas aquilo tinha sido muito
bom.
Ele sabia que deveria se preocupar com o quão aquilo era
errado, mas resolveu se dar alguns minutos de folga. Ele teria que
lidar com muita coisa em breve.
Seu cachorro começou a latir enquanto se aproximava da sua
casa, e foi só quando chegou da sua corrida matinal que viu que o
Mustang estava estacionado ali em frente. Alex parou e tirou os
fones de ouvido. Por que Andy estava ali naquele horário? Ele sabia
que só alguma coisa muito grave faria o detetive ter vindo tão cedo.
Andy enrolava na cama o quanto podia, ele não teria levantado
naquela hora de bom grado. E só a ideia de Andy estar precisando
de ajuda o fez correr todo o caminho até a porta da cozinha, Bruce o
ultrapassando e entrando primeiro.
— Andy? Andy? — ele o chamou, assustado.
— Aqui. — O parceiro estava confortavelmente sentado na
sua mesa, fazendo carinho no cachorro. — Por que nunca tem café
pronto na sua casa? Sorte que comprei antes de vir. — Ele apontou
para os dois copos de café cheios em cima da mesa. Ao seu lado
havia um saquinho branco cheio de panquecas e outro com os
muffins que Andy amava.
— Você está bem? Aconteceu alguma coisa? — Alex
perguntou, ainda preocupado.
— Eu estou ótimo, mas não posso dizer o mesmo de você.
Está com olheiras terríveis. O que aconteceu? Não dormiu bem?
— Sim, então, eu não ando dormindo muito bem. — Ele
desviou o olhar de novo, virando de costas para encher o pote de
água do cachorro e depois colocá-lo no chão. — Por que você veio
aqui nesse horário? Você odeia acordar cedo.
— Vim cedo para tomarmos café juntos antes de irmos
trabalhar, assim você não pode escapar como tem feito a semana
inteira. — Andy sorriu triunfante.
— O quê? Do que você está falando?
— Não se faça de desentendido, você sabe muito bem do
que eu estou falando. — O detetive se levantou e foi até Alex, que
até olhou para os lados, pensando em como poderia fugir. — Nem
pense nisso.
— Nisso o quê? — ele se fez de desentendido.
— Alex, eu juro, ou você começa a falar por que está
estranho esses dias ou eu vou atirar em você. — O loiro estava
próximo demais, olhando diretamente em seus olhos, seus corpos
quase se tocando.
— Você está imaginando coisas. — Ele desviou do amigo e
foi até a mesa da cozinha. Bruce bebeu muita água e foi para sala,
ignorando os dois, para se deitar no sofá. — Lembrou de comprar o
muffin de banana?
— Ah, não, não mesmo — Andy falou irritado e puxou Alex
pelo braço, o virando de frente para si. — Nós vamos conversar e
vai ser agora.
— Eu acabei de chegar de uma corrida, nem tomei café ainda
— ele desconversou.
— Certo, vá lá tomar banho — o loiro disse, tirando a mão do
braço do outro. — Você está meio nojento mesmo, todo suado. Mas
eu vou estar aqui, esperando você, e nós vamos conversar.
— Andy, isso não tem...
— Alex, você vai tomar banho, vestir uma roupa e descer
para tomarmos café da manhã. Se você enrolar ou inventar alguma
desculpa para não conversarmos, só vai provar meu ponto de que
está escondendo algo, entendeu?
— Quer dizer que o único jeito de eu provar que não
precisamos ter essa conversa é tendo essa conversa?
— Sim, que bom que você entendeu. — Andy sorriu batendo
no ombro do moreno. — Vá logo.
— Isso é uma besteira — Alex resmungou, saindo da cozinha
e subindo as escadas.
Andy suspirou e se sentou na cadeira. Ele ia resolver isso de
uma vez por todas. Tentou dar espaço para Alex, mas aquele
cabeça dura estúpido não sabia resolver as coisas como uma
pessoa normal. Sempre tinha que ter aquele drama todo. Ele se
afastava, aí dava alguma merda, e Andy, que jurava que nunca mais
ia correr atrás, tinha que sair correndo para ajudar. Dessa vez ele
não ia deixar chegar a esse nível. Eles iam se sentar e conversar
como pessoas normais.
— Seu dono é um idiota — ele disse para o cachorro, que
piscou como se concordasse.
O detetive ignorou totalmente o barulho do chuveiro ligado e
manteve sua mente no seu muffin de chocolate, não nas imagens
do que poderia estar acontecendo no banheiro do andar superior.
Não, ele não estava imaginando nada. E não tinha nada a ver com a
imagem do capitão todo suado usando só uma bermuda para
corrida. É claro que não, ele estava acostumado com Alex
desfilando com pouca roupa por aí, sem camisa ou com a camiseta
colada no corpo de tão molhada. Eles iam à praia e surfavam juntos,
não havia nenhuma novidade no corpo do outro, então não havia
motivo para imaginar seu amigo, parceiro de trabalho, ensaboando-
se sob a água que caia do chuveiro. Motivo nenhum.
Alex tomou um banho rápido, sabia quando Andy estava
irritado e não era bom o deixar esperando ainda mais. O problema
era: o que ele falaria? Que a conversa sobre a sexualidade de Andy
tinha mexido tanto com ele que ele não conseguia pensar em outra
coisa? Que isso o estava fazendo reavaliar a própria sexualidade?
Primeiro ele ia ter que encontrar coragem para olhar nos
olhos do amigo depois do havia acontecido no chuveiro de
madrugada. Ele se sentia muito errado pelo que tinha feito e
provavelmente nunca iria admitir, mas tinha sido bom...
— Pare com isso! — brigou consigo mesmo.
Vestiu sua camiseta preta, sua calça cargo escura, as botas,
tudo no automático, porque nem estava pensando direito no que
estava fazendo. Outra coisa que ele teria que explicar era o
sentimento de vazio que estava enfrentando.
— Calça cargo, que novidade — Andy zombou quando ele
voltou para a cozinha.
— Perdão, quer eu volte e me vista a rigor para tomarmos
café da manhã?
— Não, tudo bem, mas da próxima vez se arrume mais. — O
loiro sorriu.
Alex respirou fundo, sentou-se e pegou seu café. Ele viu que
Andy tinha deixado a manteiga na mesa, ao lado de uma colher, e
sorriu de canto.
— Isso é nojento, eu já disse.
— Isso é recomendado por nutricionistas, você deveria
experimentar — Alex respondeu, pegando uma colher de manteiga
e misturando no seu café. O loiro fez cara de nojo o tempo todo.
— É que eu gosto de manter a comida dentro do meu
estômago, o que não aconteceria caso eu bebesse essa nojeira.
— A combinação do café e da manteiga traz mais energia do
que tudo isso que você está comendo — ele apontou para as
panquecas e os muffins.
— A diferença é que isto é bom e isso aí é nojento. Sabe,
acho que, se ficarmos quietos, podemos escutar o grito de
desespero das almas dos plantadores de café vendo pessoas como
você fazerem uma desonra dessa com a herança que eles deixaram
no mundo.
— Isso foi muito dramático, até para você.
— Posso ser dramático, mas isso que você está bebendo
continua sendo nojento.
— Ok, veio até aqui para reclamar do jeito como eu tomo
meu café?
— Não, estou lhe dando um tempo para beber o seu café e
pensar em como vai explicar o que está acontecendo.
— Andy, não...
— Eu juro, Alex, se disser “não é nada”, eu vou enfiar esse
muffin na sua garganta — o detetive o interrompeu. — Apenas me
fale a verdade, seja o que for, podemos resolver juntos.
— Não há o que resolver. — O moreno engoliu em seco.
— Isso tem alguma coisa a ver com o que eu lhe contei
naquele dia? — o loiro perguntou em voz baixa, olhando para o
próprio copo. — Desde esse dia que você está estranho. O
problema sou eu?
— O quê? Não! Você nunca seria um problema.
— Então o que é? — Andy o encarou com seus olhos azul-
claros, esperando por uma resposta que Alex se debatia muito para
dar, mas ele não conseguiu.
— Eu me sinto sozinho — o capitão respondeu em um
sussurro.
— Por quê? — o outro perguntou, preocupado.
— Você tem seus filhos, Eli e Maddy têm a família inteira
aqui, fora que Maddy tem Alan, e Eli está começando um
relacionamento novo. Mas quem eu tenho fora vocês? Meu pai
morreu. Eu o amava, mas não passei tanto tempo assim com ele.
Minha mãe manda um e-mail a cada seis meses, isso quando não
esquece. Minha tia mora no Havaí, e meus tios, na Califórnia, do
outro lado do país.
— Alex, não é assim, você tem a gente.
— É diferente. Quando saímos do serviço, vocês têm
pessoas para ver. Quando estamos de folga podem fazer planos. E
eu? — ele suspirou. — Eu tenho pensado ultimamente que me sinto
sozinho.
— É isso que tem o consumido nos últimos dias?
— Sim... Bem, é complicado... Quer saber? Esqueça. É só
uma idiotice que vai passar logo — ele disse, tentando se levantar,
mas Andy segurou sua mão.
— Não é idiotice se está o afetando — o detetive falou sério.
— Eu não percebi que você estava se sentindo assim, perdoe-me.
— Por que você está pedindo perdão?
— Você mesmo diz que somos família, e família se ajuda e
se apoia, assim como você fez comigo várias vezes. Eu deveria ter
percebido que você não estava bem, eu sempre achei que você
gostava de ficar sozinho.
— Digamos que eu só tenha pensado nisso recentemente —
ele respondeu, desviando o olhar.
— Tudo bem, não importa, nós somos uma família, e famílias
ficam juntas, não é? — Andy disse como se tivesse resolvido o
problema. — Já que minha família está longe, assim como a sua,
nós somos a família um do outro, nós ficamos juntos.
— Espere, o quê?
— Amanhã é o jogo de futebol do Evan, e você vai comigo.
Neste final de semana, vamos levar Gwen, Evan e Amy ao parque
aquático. Horas intermináveis com duas crianças cheias de energia
e uma adolescente que não sai do celular, vai ser horrível, mas você
vai amar.
— Tem certeza? — Alex perguntou, rindo.
— Mas é claro que tenho, quanto mais reforços, melhor. —
Andy sorriu. Era aquele sorriso que deixava os olhos apertadinhos.
— Ah, Barbara resolveu que quer colocar Evan e Gwen nos
Lobinhos.
— Eles não são novos demais?
— Sim, mas o Eric conhece alguém e conseguiu liberar a
entrada deles. — Andy revirou os olhos.
— Então eles têm idade suficiente para acampar, mas não
para eu ensiná-los a surfar? — Alex perguntou, revoltado. — Vamos
tirar uns dias de folga e vamos levar as crianças para praia. Eu vou
ensiná-los, e, se eles quiserem, vão poder competir em breve!
— Oh, Deus — Andy suspirou.
— Estou no meio de uma missão do trabalho, que, só para
constar, é muito mais importante do que perder a hora em um SPA,
e não me importa quanto custa a porcaria de massagem — Andy
esbravejava no celular. — Mesmo assim, eu tenho responsabilidade
e estarei lá quando o meu filho entrar em campo, ouviu? Que bom!
— Barbara? — Alex perguntou, fechando o colete e
colocando a escuta no ouvido.
— Para me tirar assim do sério, quem mais seria? Estava me
enchendo a paciência para que eu não perdesse a hora do jogo do
Evan, mas eu falei que sou uma pessoa responsável, que ela não
tem que ficar me lembrando de nada e que vou chegar na hora
certa. — Ele suspirou. — Eu vou chegar na hora certa, não vou?
— Claro que sim, só temos que invadir aquele lugar e tirar o
senador Stewart de lá — Mitchell falou como se fosse muito simples
invadir um prédio para resgatar um refém que está sendo mantido lá
por extremistas armados.
— Tranquilo — Maddy disse, preparando sua arma —, não
deve demorar.
— Vocês são loucos, eu já disse isso? — Andy perguntou,
vagando seu olhar entre Maddy e Alex, que riram.
— Irmão, você é um de nós, não se esqueça disso — Eli o
lembrou.
— Alguém tinha que ser o racional desta equipe! — o detetive
exclamou.
— Vamos lá — Mitchell avisou. — Fiquem com as escutas o
tempo todo. Mal está com as plantas do prédio e está tendo visões
de calor. Ele vai nos guiar.
— Correto — Mal respondeu nos aparelhos que todos tinham
nos ouvidos. Apesar de estar no escritório, já que ele praticamente
nunca saía em campo, ele era muito importante em todas as
missões.
— Eli e Maddy entram pelo lado direito, há uma porta e uma
janela aqui. O objetivo é limpar a saída e eliminar alvos nesse
perímetro. Andy e eu entraremos pela janela no primeiro andar e
iremos até onde estão mantendo o senador — Alex continuou.
— Claro que vamos — Andy resmungou.
— Quando limparmos a parte debaixo, liberamos a entrada
da polícia e depois vamos atrás de vocês — Eli concordou.
— Vamos lá — Alex disse por fim.
As duplas se separaram, cada uma seguindo para uma das
laterais do prédio. A polícia continuava com as negociações, que
não estavam indo a lugar nenhum. A equipe sabia que os
sequestradores só estavam tentando ganhar tempo e não ia esperar
para saber o que aconteceria quando o tempo terminasse.
Alex e Andy foram pela lateral do prédio. Não havia janelas
no térreo. Uma grande árvore estava ao lado da construção, eles
teriam que escalá-la e pular pela janela, que estava entreaberta.
Mitchell nem hesitou e se impulsionou para cima do galho mais
próximo.
— A pergunta não é se eu vou chegar a tempo de assistir ao
jogo do Evan. É se eu vou estar vivo para assistir ao jogo do Evan
— Andy murmurou para si mesmo enquanto também subia na
árvore.
— Eu vou pular primeiro — Alex disse, esperando a liberação
de Mal. — Está vazia. Vou entrar lá, mas talvez o barulho chame
atenção. Eu preciso que você me cubra.
— Tudo bem — o detetive concordou, Alex estava no seu
modo “sério e frio”, que era, digamos, interessante.
— Tem duas pessoas no corredor, mas, se for rápido, já
estará no quarto quando eles chegarem — Mal informou.
— Positivo. — O moreno pegou impulso e pulou na direção
da janela, conseguindo se apoiar nela e passar o corpo para dentro.
— Capitão, eles estão se aproximando — Mal avisou.
Alex se posicionou atrás da porta. Quando os dois homens
armados passaram, ele acertou um com o rifle e deu uma
cotovelado no outro. Segurou o braço deste antes que ele
conseguisse atirar, torceu-o e socou seu rosto com força, batendo-o
contra a parede, o que o fez desmaiar.
Um tiro veio de trás, e o capitão se virou a tempo de ver o
segundo homem caindo no chão, uma mancha de sangue
escorrendo pela parede. Ele olhou para Andy, que estava abaixando
o próprio rifle depois do tiro perfeito.
— Entramos — a voz de Eli soou pela escuta, atraindo a
atenção de Mitchell, que no momento observava os movimentos de
Andy enquanto este passava pela janela.
— Nós também — o capitão respondeu.
Eles andaram pelo corredor com armas em punho, Alex
sempre à frente e Andy um passo atrás. Os dois seguiam o mais
silenciosamente possível, verificando cada novo cômodo.
— À esquerda — Mal avisou, e eles olharam pela porta
entreaberta. Viram três homens, dois mexendo em um notebook
cada e um perto da janela, armado.
— HRT, mãos para cima — Mitchell disse em voz alta.
Os dois nos computadores levantaram as mãos, o da janela
levantou a arma, mas o capitão foi mais rápido. Apenas dois tiros, e
o corpo sem vida bateu contra a janela, quebrando o vidro. O
barulho ecoou pelo corredor.
— Vamos ser discretos, sem chamar a atenção — Andy
resmungou enquanto algemava os homens.
— O que você queria que eu fizesse? — Alex perguntou.
Quando eles foram sair do quarto, quase foram atingidos por
vários tiros.
— Que você esperasse eu fechar a porta? — Andy sugeriu.
— Eli, Maddy?
— Estamos aqui — ela disse. Alex respondia ao tiroteio. —
Estamos liberando a entrada e já encontraremos vocês.
— Ótimo, precisamos de reforços — o loiro respondeu.
— Eu tenho uma ideia — Alex disse animado.
— É claro que ele tem — o detetive suspirou, também
trocando tiros. — Por favor, Alex, não vá se matar.
— Calma, está tudo sob controle, só preciso que você me
cubra — ele respondeu.
Alex derrubou a mesa de madeira e a arrastou até a porta.
Ele teve que quebrar parte dos pés da mesa para que ela passasse,
mas ele fez isso sem problemas, e Andy achou melhor não
comentar nada do que pensou sobre aquela cena.
O capitão empurrou a mesa até que ela tampasse parte do
corredor. A essa altura, o detetive já tinha entendido e estava
xingando mentalmente o parceiro com todas as ofensas em que
conseguia pensar enquanto ainda trocava tiros com os bandidos. O
moreno correu e se escondeu atrás da mesa. Ele teria sido alvejado
por balas, se não fosse por Andy estar o cobrindo. Alex usou a
madeira como escudo e atirou nos bandidos.
Eles trabalhavam perfeitamente juntos, a conexão entre eles
era tamanha, que um não precisava nem olhar para o outro para
saber como agir. Quando Alex se levantou por trás da mesa, ainda
atirando, Andy passou por trás dele, mudando os ângulos dos tiros,
e os bandidos, que estavam escondidos, foram pegos de surpresa,
não tiveram como reagir.
— O reforço não é mais urgente — Alex disse na escuta.
— Que surpresa — Eli respondeu.
Eles avançaram pelo corredor, mantendo o mesmo
posicionamento. Seguiram o caminho indicado por Mal até a última
porta à direita. Alex contou até três, e eles invadiram o lugar. O
senador Stewart estava sentado em uma cadeira no meio do quarto,
um pouco machucado, mas consciente. Ao seu redor havia três
homens armados, dois com fuzis e um com uma pistola automática.
O que estava com a pistola a segurava encostada na cabeça do
senador.
— Abaixe a arma — Andy ordenou, mantendo este último
bandido na mira.
— FBI, eu suponho. — Ele mantinha um sorriso arrogante no
rosto. — Vocês estão em menor número, é melhor abaixarem as
armas.
— Abaixe sua arma. Eu não vou repetir outra vez — o
detetive avisou.
— Nós somos três — o outro provocou.
— Ah, é? — o loiro perguntou. Na mesma hora, Alex atirou
rapidamente nos dois homens com metralhadoras, que caíram no
chão. — Agora é só você.
— Eu... vou matar o senador — ele respondeu, claramente
sem confiança nenhuma. Agora ele estava sob a mira de dois rifles.
— Eu nem votei nele mesmo. — Andy deu de ombros. O
senador o olhou revoltado, e o bandido, confuso. Esse segundo de
desorientação foi o que Mitchell precisou para bater no bandido e
jogá-lo no chão. — Nada pessoal — o detetive disse, desamarrando
o senador.
— Tudo bem... Eu entendo. — O político respondeu.
— Alex — Eli o chamou do corredor.
— Aqui — ele gritou em reposta, e os amigos entraram no
cômodo, sendo seguidos por policiais.
— Nem nos esperaram para a diversão — Maddy negou com
a cabeça.
— Sabe como é, a gente não se aguenta. — Andy deu de
ombros, fazendo Alex sorrir.
— Dada! — Evan veio correndo e abraçou o pai.
— Oi, campeão! Eu falei que viria — ele disse, abraçando-o
forte.
— Tio Alex. — O menino o abraçou também. — Vocês vão
me ver jogar?
— Claro que sim, campeão, nós não perderíamos isso por
nada — Mitchell respondeu, bagunçando o cabelo do menino.
— Mamãe disse que achava que o papai não viria, mas ele
prometeu que viria — Gwen falou, sorrindo.
Apesar de ela não jogar futebol como o irmão, tinha feito
questão de ficar com a mãe de um colega esperando pelo pai. Algo
pelo qual Andy agradeceu, porque era mais fácil do que ter que ir
até casa de Barbara e pegar a filha mais nova para só então ir ao
jogo.
— Sua mãe é um pouco, digamos, complicada. Ela deve ter
entendido errado — Andy suspirou.
— Amy disse que mamãe é boba e é sempre para perguntar
para o Dada primeiro. — Evan sorria inocente.
— Sua irmã é muito esperta — Alex concordou.
— Pare com isso. — O detetive bateu no braço do moreno.
— E você, mocinho, não pode chamar sua mãe de boba, tudo bem?
— Tá — Evan concordou.
— Evan, venha — o técnico o chamou, já reunindo o time dos
pequenos atletas.
— Vá lá, campeão, e eu quero que se divirta, tudo bem?
Ganhar é legal, mas se divertir é muito mais, entendeu? — Andy
perguntou, e o menino concordou com a cabeça.
— Mostre para eles quem é que manda — Alex falou e trocou
um high-five animado com Evan antes de o menino correr de volta
ao campo.
— Mostrar quem é que manda? Sério? — o detetive
perguntou enquanto eles tomavam seus lugares na arquibancada.
— Você brigou comigo porque da última vez eu mandei
acabar com eles — Mitchell se justificou.
— Porque são crianças, Alex, crianças. Eles não estão
disputando a Champions League, estão só se divertindo.
— E por isso o Evan não precisa dar o melhor dele e vencer?
— Quer saber? Eu desisto de você. — Andy se virou para o
jogo que ainda nem tinha começado.
— O quê? Eu não fiz nada — Alex respondeu, indignado. —
Gwen, quer um sorvete?
— Mal começou o jogo, e já está entupindo a criança de
doces. — O detetive revirou os olhos.
— Eu compro um para você também — o moreno o
provocou, já Gwen ria.
O jogo começou. Como eram crianças, a partida era
paralisada muitas vezes. Alex gritou em todas elas, ora para xingar,
ora para defender o time de Evan.
— Olá, como estão? — Maddy chegou até eles. Junto dela
estavam Alan, Eli, Kane e Mal.
— Bem, estamos na metade do segundo tempo, até agora
ninguém fez gol, e Alex vai nos fazer ser expulsos daqui. — Andy
deu de ombros.
— Isso é um exagero, não é, Gwen? — Alex perguntou para
a menina.
— Sim — ela concordou, rindo.
— Mais uma traidora. Já não basta sua irmã? — O detetive
fez cócegas na barriga da filha, que ria alto.
— Na Itália o futebol é muito famoso, mas eu gosto mais de
lutas — Kane disse com seu sotaque carregado.
— Eu também. Vou trocar de faixa daqui a duas semanas —
Gwen fez o número dois com os dedos.
— E estaremos lá — Alex bagunçou os cabelos da menina.
Ele e Andy faziam questão de estar presentes em todos os jogos,
competições e apresentações das crianças.
— Só vamos torcer para que os juízes não expulsem seu tio
de novo, não é? — Andy o provocou.
— Só aconteceu uma vez — o moreno se defendeu.
— Ah, entendi — Alan falou para Maddy e Eli. — Papai e
mamãe.
— O quê? — Alex e Andy perguntaram juntos.
— Nada não. — Maddy riu. — Vai lá, Evan!
— Ah, qual é, aquele garoto o chutou! — Alex gritou, e o juiz
olhou feio para ele. — O que foi? Olhe para o jogo e veja esses
jogadores direito.
— Eu falei, vamos ser expulsos — Andy disse para os outros,
que riram.
— Oi, Dada — Amy se aproximou com três amigas.
— Olá, princesa. Estava na escola até agora?
— Sim, as provas estão chegando — ela disse, revirando os
olhos. — Estas são as minhas amigas, Serena, Makayla e Alicia.
— Olá, garotas — Andy as cumprimentou. — Estes são
Gwen, Eli, Maddy, Alan, Mal, Kane e o estressado aqui é o Alex.
Alex, pelo amor, cumprimente as meninas. — O loiro puxou a
manga da camiseta do moreno.
— Ah, oi. — Ele se virou rapidamente para elas, mas já
voltou a assistir ao jogo. — Vai, Evan!
— Ignorem, ele é um pouco competitivo — Eli falou para as
meninas, sorrindo.
— Isso, ragazzo! — Kane gritou quando Evan começou a
correr com a bola.
— Devo gritar agora? — Mal perguntou para Maddy.
— Só se ele marcar o gol — ela respondeu.
— Ok.
— Vai, Evan! Vai, filho, isso, está indo muito bem! Continue
correndo!
— Ai! — Gwen exclamou dramaticamente batendo na própria
testa quando o irmão foi derrubado.
— Isso deve ter doído — Kane fez careta.
— Tudo bem, campeão, é só se levantar, você foi muito bem
— o detetive falou para o filho.
— Juiz, seu burro, não vai dar falta? Isso é falta! — Alex
estava a ponto de invadir o campo e ele mesmo puxar o cartão
vermelho.
— Quer vir no meu lugar? — O juiz gritou bravo com ele.
— Não! — Andy se levantou, puxando Alex de volta. — Volte
a cuidar do jogo.
— Faça-o calar a boca — o arbitro reclamou.
— Andy, eu vou bater nele — Alex avisou sério.
— Não vai, não — Andy respondeu. — Sente-se aí.
— Quer que ele cale a boca? É só trabalhar direito! — Amy
gritou. — Aquilo foi falta!
— Ah, não, eu mereço — o loiro revirou os olhos enquanto
Amy e Alex trocavam um high-five.
— Quem diria, futebol pode ser mesmo divertido — Mal
comentou.
— Eu lhe disse — Eli sorria.
— Fotos — Amy avisou, pegando o celular e tirando de
todos.
— Ele pegou a bola de novo — Alan avisou.
— Vai, filho, você consegue! — Andy gritava. Ele tinha se
levantado e estava ao lado de Alex, os dois torciam juntos.
— Isso, Evan, derruba ele, vai. — O moreno pulava junto.
— Ragazzo, corre — Kane também torcia. Todos gritavam,
encorajando, mas era claro que o capitão e o detetive eram os mais
empolgados.
Evan correu, conseguiu desviar do jogador do outro time,
mas o outro tentou empurrá-lo. Assim como Alex tinha dito, ele
bateu com o ombro no outro menino, derrubando-o, então chutou e
fez o gol. Na hora ele se virou espantado para o pai e Alex, que
pulavam como loucos, abraçando-se.
— Ele derrubou meu filho, merecia ser expulso! — Um
homem gritou.
— Não, você não vai fazer nada — Andy avisou Alex.
— Mas...
— Não, Alex, você vai ficar aqui mesmo — o loiro o
interrompeu. — Gwen está aqui, e Evan no campo olhando, não
vamos ser um péssimo exemplo para as crianças.
— Trinta que Alex vai atrás do cara — Maddy falou para o
primo.
— Vinte que vai ser o Andy — Eli respondeu.
— Pelo pouco que conheço deles, os dois são meio
imprevisíveis, mas Alex parece o mais louco — Alan disse,
pensativo.
— Considerando o histórico, eu diria que o capitão Mitchell
seria o mais propenso a fazer algo — Mal disse, analisando a
situação.
— Não sei, é difícil falar, esses dois são muito parecidos —
Kane opinou. O pai do outro garoto falou mais alguma coisa, e Andy
segurou Alex de novo. — Ok, eu vou no Alex.
— Aposto no meu pai — Amy falou. Ela e Eli trocaram um
soquinho.
— O pai desse moleque devia ensinar ele a ser homem — o
pai do outro garoto vociferou novamente.
— Você falou o que do meu filho? Não, espere aí que vou lhe
ensinar como se resolve as coisas — o loiro disse, descendo a
arquibancada e andando até ele, que se assustou. — Não queria
saber quem era o pai? Estou aqui!
— Vai, dada! — Gwen gritou, batendo palmas.
— Não, Andy — Maddy reclamou, pegando a carteira e
entregando o dinheiro para Eli e Amy.
— Eu conheço o meu pai. — Amy deu de ombros.
— Andie! — Alex correu atrás do detetive.
— Venha cá, covarde, não fuja não. Na hora de xingar uma
criança, teve coragem, agora não quer me encarar? — Andy
apontou o dedo para o homem, que resolveu se afastar. — Babaca.
— Já se acalmou?
— Sim — Andy suspirou, tentando se controlar.
— Por que eu não posso bater no cara, mas você pode? —
Alex perguntou, cruzando os braços.
— Eu nem vou discutir isso.
— Andie! Tio Alex! — Evan correu até eles quando o jogo
acabou. — Eu fiz um gol, vocês viram?
— Sim, parabéns! Você jogou muito. — Andy o abraçou e
bagunçou os cabelos do filho, que sorria.
— Você foi incrível! — Alex jogou o menino para cima, e Evan
ria muito.
— Ei, calma aí, não quero voltar naquele hospital tão cedo —
o detetive brincou.
— Também quero! — Gwen pediu.
— Venha cá. — Andy a colocou nos seus ombros.
— Alex, também queremos cumprimentar o campeão —
Maddy brincou.
— Que tal comermos pizza para comemorar? — Kane
sugeriu.
— Nós vamos no seu negócio para comemorar? Você está
ganhando em cima da vitória do menino ou dará comida de graça a
todos? — Mal perguntou.
— De graça seria muito prejuízo, mio caro, mas posso fazer
um desconto camarada para a minha Ohana. — Todos do grupo
tinham adotado a expressão “Ohana”, coisa de Alex.
— Amy, vocês e suas amigas vão com a gente?
— Sim. Serena está com o carro dela, nos encontramos lá —
a garota respondeu.
— Você tem carteira de motorista? — O detetive perguntou
para a menina loira, e Amy revirou os olhos.
— Tenho, sim. Aqui — ela tirou a carteira da bolsa e a
entregou para o loiro, que leu e passou para Alex que também
conferiu as informações.
— Pai! Isso não é demais?
— Não, demais seria se eu puxasse os antecedentes
criminais das suas amigas, o que eu não vou fazer — Andy falou
enquanto Alex devolvia carta de motorista da garota.
— Não ainda — Maddy comentou.
As garotas arregalaram os olhos, e Amy negou com a
cabeça.
Como sempre, Alex dirigiu e Andy estava no banco do
carona, mesmo que fosse o seu próprio carro. Evan e Gwen
estavam no banco traseiro. O menino contava empolgado tudo o
que tinha acontecido no jogo, e a menina contava tudo o que tinha
havido na arquibancada enquanto os adultos reagiam como se tudo
fosse novidade para eles.
— Refeição especial para o nosso campeão. — Kane colocou
uma enorme pizza na frente de Evan, que estava sentado no colo
do Alex enquanto Gwen estava no colo de Andy.
— Coma com calma — Andy avisou, mas foi só olhar para o
outro lado, que Alex e Evan atacaram pizza.
Alan estava contando uma história engraçada do último caso
em que trabalhara, sobre um falsificador de artes que tinha se
metido numa confusão imensa.
— Demoraram. Passaram em algum lugar? — Andy
perguntou para a filha. Alan e Eli se levantaram para juntar outra
mesa para acomodar todos.
— Elas quiseram se trocar, está muito calor. — Amy,
entediada, indicou as amigas, que realmente tinham mudado de
roupa.
— Entendi. — Maddy riu e trocou um olhar compreensivo
com Amy. Andy ficou sem entender.
— O que foi? — Alex perguntou, e Andy deu de ombros.
— Ah, não, eu disse para ir com calma, e vocês se sujaram
todos. Como alguém se suja comendo pizza? — Ele reclamou,
pegando o guardanapo e limpando a boca do filho. — Você é adulto
— disse, limpando o rosto de Alex —, aja como tal.
— Tio Alex está com a boca toda suja. — Gwen riu.
— Porque o tio Alex age como um animal — Andy
resmungou, terminando de limpar o outro, que revirou os olhos.
— Eu disse — Amy comentou, bebendo seu suco e olhando
para as amigas.
— É daí para pior — Maddy completou.
— Eu acho que entendi e concordo com as duas — Mal
comentou.
— Do que vocês estão falando? — Alan perguntou, mas Amy
e Maddy apenas riram.

— Prontos? — O monitor perguntou e os cinco concordaram.


— Certo, vamos lá.
Era final de semana, e eles tinham ido para o parque
aquático. Evan e Gwen mal conseguiram dormir na noite anterior.
Acordaram muito cedo, pulado em cima do pai e ficaram esperando,
olhando pela janela, ansiosos até verem o carro de Alex chegando.
Este também estava animado. Tinha levado café da manhã e
foi o caminho todo conversando com os menores. Já Andy e Amy
concordaram que poderiam dormir um pouco mais, mas não tiveram
a chance.
— Tio Alex, eu vou precisar da sua ajuda. Quero entrar para
a turma de atletismo e preciso treinar — Amy disse, distraída.
— Claro, princesa, quando quiser.
— Devo ficar com ciúmes? — Andy perguntou. Ele estava
com óculos escuros e a cabeça apoiada no vidro da janela.
— Dada, o melhor horário para o treino é bem cedo, você vai
acordar às cinco da manhã para treinar comigo?
— Boa sorte nos treinos — o loiro respondeu.
Assim que chegaram ao parque, já se trocaram e foram
aproveitar as atrações. Mesmo que Gwen e Evan já soubessem
nadar, Alex e Andy ficaram atentos, sempre os acompanhando. E
Amy, como sempre, registrava todos os momentos.
— Tudo bem mesmo? — Andy perguntou para Evan. Eles
estavam em um brinquedo em que cinco pessoas entravam em uma
boia gigante para descer um grande toboágua.
— Chegue aqui mais perto. Qualquer coisa, eu seguro você
— Alex disse para o menino, que se aproximou dele.
Gwen estava entre Alex e Andy, por isso estava mais segura,
mas Evan estava entre Alex e Amy, por isso o moreno ficou com
medo de o pequeno não se segurar direito.
— Sorriam — falou Amy, que segurava uma GoPro para
filmar, e eles fizeram isso, exceto Evan e Alex, que fizeram careta.
A boia começou a deslizar. Gwen, Evan e Andy gritaram
brincando. Alex ria deles, mas sem tirar os olhos de Evan, para o
caso de precisar ajudá-lo. Amy filmava enquanto mostrava a língua
para a câmera junto com o pai. Quando a boia chegou na piscina,
espirrou água para todos os lados.
— De novo — Gwen pediu, aos risos.
— Protetor — Andy avisou um tempo depois.
— Eu quero ir para a piscina — Evan reclamou.
— Sem protetor, sem piscina — ele respondeu, e o filho
bufou, mas teve que aceitar. Andy passou protetor no rosto das
filhas, depois no do menino. — Você não vai escapar — ele avisou
Alex, que teve que aceitar.
— Vou pegar uma bebida — Amy disse, indo para o bar da
piscina.
— Pronto — o loiro sorriu, e Alex teve que desviar o olhar
quando percebeu que estava encarando demais.
Eles estavam sentados na beira da piscina enquanto Evan e
Gwen brincavam com dois coleguinhas que fizeram na hora.
Conversavam sobre qualquer coisa, provocando um ao outro, e
ficavam de olho nas crianças.
— Amy está demorando — Andy comentou, olhando para
trás.
— Eu vou lá, quer alguma coisa? — Alex perguntou.
— Melhor pegar água e sucos.
Alex chegou perto do bar e viu Amy conversando com um
rapaz. Ele parecia ter por volta de 18 anos e sorria demais para a
menina, o que não agradou o capitão. Ele chegou perto e cruzou os
braços, apenas encarando o rapaz.
— Alex — Amy se assustou. — Oi, este é o Pete.
— Prazer — Alex disse, apertando a mão do garoto forte
demais. — Você estava demorando, então vim ver se tinha
acontecido alguma coisa.
— Está tudo bem, eu encontrei com o Pete e ficamos
conversando.
— Ele é seu... — o menino deixou a pergunta no ar.
— O quê? Não! Não, eca, não mesmo — Amy respondeu,
com nojo.
— Você insinuou o quê? — Alex perguntou sério.
— Perdão, perdão. Ele é o seu pai?
— Mais ou menos — a garota suspirou, bebendo seu suco.
— Acho melhor eu ir embora. Até mais, Amy. — Pete sorriu
sem graça e se afastou.
— Sabe, um dia eu vou namorar — Amy disse para Alex
enquanto fazia os pedidos no bar.
— Eu sei, mas, quando isso acontecer, seu pai e eu
estaremos aqui para nos certificarmos de que esse cara não vai
fazer nada de errado com você. — Ele sorriu cínico.
— Deus, eu vou morrer sozinha — ela suspirou.
— Tudo bem? — Andy perguntou quando eles voltaram.
— Claro, tranquilo — Alex respondeu.
— Vamos tirar foto em família — Amy mudou de assunto,
pegando o celular.
Depois das fotos, que foram várias, Alex e Andy estavam
ajudando Evan e Gwen a ficar de pé nas pequenas pranchas de surf
que o parque disponibilizava. Alex prometeu que, assim que
possível, levaria os dois para praia e os ensinaria a surfar de
verdade. As crianças ficaram muito animadas, para desespero de
Andy
Os quatro foram em vários brinquedos. Alex e Amy foram no
maior toboágua, que era gigante, e Andy ficou os chamando de
loucos.
— Tudo bem, filho? — Andy indagou. Ele tinha levado Evan
para o alto de um toboágua infantil.
— Eu estou com medo — o menino disse, inseguro.
— Tudo bem, filho, é normal ter medo — o pai falou. — Se
você quiser descer as escadas, eu vou com você. Mas se você
quiser escorregar, o tio Alex está lá embaixo o esperando.
— E se eu me afogar?
— Evan, você confia em mim, não é? — ele perguntou, e o
menino confirmou com a cabeça. — Do mesmo jeito que você confia
em mim, você pode confiar no tio Alex, ele nunca vai deixar nada
ruim acontecer com você. Então, se você quiser, respire fundo,
escorregue neste toboágua e vai perceber que se divertiu muito.
Tudo bem?
— Sim — ele respondeu, animado.
Quando voltaram para casa, já era noite. Eles
encomendaram umas pizzas. Mal assistiram a um filme, e os
pequenos já estavam dormindo. Andy os colocou na cama, Alex e
Amy arrumaram a cozinha, ela mostrou as diversas gravações que
tinha feito durante o dia. Alex ria muito com Amy, mas ele percebeu
que fazia muito tempo que não se divertia daquele jeito, que aquele
dia havia sido um dos melhores da sua vida, que eles realmente
pareciam uma família, e ele não sabia o que fazer com essa
constatação.
O sonho martelou na sua cabeça, mas ele tentou ignorá-lo ao
máximo.
— Boa noite, dada. Boa noite, tio Alex. — Amy os abraçou
antes de ir dormir.
— Acho melhor eu ir embora — o moreno comentou quando
estavam só os dois na parte debaixo da casa.
— O quê? — Andy perguntou, distraído. Estava pegando
duas cervejas na geladeira. Ele nem perguntou se Alex queria,
apenas as abriu e passou uma para ele.
— Eu disse que é melhor eu ir embora.
— Por quê? — Andy perguntou como se aquilo fosse uma
grande bobagem. — Fique aí. Se quiser, pode dormir aqui em casa.
Amanhã não vamos trabalhar mesmo. — Ele deu de ombros.
— Eu não sei, não quero atrapalhar — ele disse vacilante.
— Atrapalhar? Alex, você já é desta família, não tem mais
como sair — Andy brincou, batendo no braço do moreno.
— Tudo bem, eu fico — ele suspirou, sorrindo.
— Chegamos — Alex gritou quando abriu a porta de sua
casa.
— Dada! Tio Alex! — Gwen e Evan correram para receber os
dois
— Desculpe o atraso — Andy disse para a filha mais velha.
Os menores já o tinham cumprimentado e agora brincavam de se
pendurar no moreno.
— Tudo bem, foram só alguns minutos — Amy respondeu,
abraçando-o. — Estavam no trabalho?
— Sim, tivemos que falar com um informante antes de vir —
Alex respondeu, cumprimentando a garota.
— Vocês não bateram no cara, não é? — ela brincou.
— Batemos no cara, Alex? — Andy se virou para o moreno,
que cruzou os braços.
— Não, eu não bati em ninguém.
— E como você chama aquilo? — o loiro perguntou.
— Ele que se chocou contra o banco de madeira. — Alex deu
de ombros.
— Ok, acho que não quero saber o resto da história — Amy
falou.
— Eu quero — a amiga dela disse.
— Vocês se lembram das minhas amigas, não é? Serena,
Alicia e Makayla — ela indicou as meninas, que olhavam Alex e
Andy como super-heróis. — E este é o Ian. Nós estamos fazendo
aquele trabalho de que lhe falei.
— Olá — os dois os cumprimentaram.
Como Alex e Andy se atrasariam no trabalho, o loiro tinha
pedido para a filha mais velha levar os menores para casa de Alex e
cuidar deles enquanto ele não chegava. Ela disse que não tinha
problemas, mas tinha pedido para os amigos irem junto, porque
estavam fazendo um trabalho para a escola.
— Perdoem-me por ter feito vocês virem até aqui — o loiro
pediu.
— Eu não vou reclamar de ter que vir estudar num deck de
frente para uma praia particular — Alicia brincou.
— Agora que eles não largam mais do meu pé — Amy
zombou.
— Quando terminarem, nos avisem que pedimos comida.
Alex paga — o detetive falou.
— E ele não vai perder a carteira nesse meio tempo? — Amy
provocou.
— Vai sim, mas eu roubei o cartão dele. Agora ele está
ferrado. — Andy saiu para cozinha, e Alex foi atrás dele, indignado.
— Como assim roubou o meu cartão? Andie!
— Sua família é sempre assim? — Serena perguntou.
— Não, hoje estão comportados. — Ela deu de ombros.

— Eu não sou divertido? Eu? — Andy perguntou, revoltado.


Eles estavam servindo a mesa para todos jantarem. — E o que você
acha divertido? Jogar-se em tiroteios? Pilotar helicópteros pegando
fogo? Saltar de um prédio para outro? Lutar com tubarões?
— O quê? Eu nunca lutei com um tubarão — Alex respondeu
como se fosse obvio.
— E nem deveria ter pilotado um helicóptero pegando fogo
ou ficar fazendo parkour nos telhados da cidade durante
perseguições, mesmo assim faz. Então não me surpreenderia se
acabasse lutando com um tubarão.
— Você fala como se eu fizesse essas coisas todos os dias.
— O capitão revirou os olhos, e Andy ficou o encarando. — Ok, eu
“faço parkour nos telhados da cidade”, mas só quando é necessário.
E eu só pilotei um helicóptero pegando fogo uma vez.
— Uma vez, Alex? Uma vez?
— A outra não conta. O helicóptero pegou fogo enquanto eu
já estava pilotando, não foi antes, então, tecnicamente, eu só pousei
um helicóptero pegando fogo.
— Ele estava no ar, você no manche, e tinha fogo por todo
lado. — Andy fazia gestos com as mãos, encenando a situação. —
É mesma coisa.
— Não é, e foi um acidente ele pegar fogo.
— No caso, o acidente foi um grupo de terroristas armados
que estavam atirando contra nós, tentando nos matar.
— Sim, você entendeu.
— Já estão discutindo de novo? — Amy perguntou, rindo,
chegando até eles.
— Amy, decida a questão — Alex falou. — Princesa, se você
está pilotando um helicóptero, e ele pega fogo no ar, o que
acontece?
— Você tem que pousar? — ela respondeu em tom de
pergunta, confusa.
— Então você pousou um helicóptero pegando fogo, não
voou com ele, não é?
— Sim? — Ela ainda estava sem entender. Seus amigos
apenas assistiam à discussão, maravilhados.
— Viu? — Alex virou vitorioso para o parceiro.
— Mas por que vocês estão falando de helicópteros
pegando... Tio Alex, você fez isso?
— Oh, você pilotou um helicóptero pegando fogo? — Ian, o
amigo de Amy, perguntou, totalmente admirado.
— Duas vezes. — O detetive usou os dedos para frisar.
— Na verdade, foram três — Alex confessou, coçando a
nuca. — Lembra aquela vez que estávamos em Key West e aqueles
contrabandistas meio que o sequestraram, você tomou um tiro e
acabou desmaiando?
— Meio que me sequestraram? — Andy exclamou,
indignado. — E você está dizendo que eu poderia ter morrido por
causa da hemorragia ou carbonizado? Que beleza, perfeito isso.
— Oh, Deus — Amy suspirou. — Eu deveria chamar o tio Eli.
— Sua família é muito maneira — Alicia disse para a garota,
que só olhou feio para a amiga. — Sério, meu pai é investidor, a
coisa mais perigosa que ele já fez foi jogar golfe em um gramado
molhado.
— Amiga, por favor, me convida para o próximo almoço de
família — Ian pediu. Eles assistiam à brida de Andy e Alex, em que
Alex dizia que o detetive estava exagerando, e Andy respondia
chamando Alex de psicopata.

— Onde está o Alex? — Andy berrou na confusão que estava


o local.
— Eu não sei, não consigo encontrá-lo — Eli respondeu,
também preocupado.
— Merda! Alex? Alex? Responda! — Andy gritava na escuta,
procurando por ele.
Estavam investigando uma quadrilha por tráfico de armas,
mas o caso escalonou muito rápido, e, se não fosse pela ação
rápida da HRT, eles não teriam descoberto que, na verdade, era um
grupo terrorista do leste europeu que estava usando a cidade para
traficar armas que iam desde rifles a lança-granadas. O confronto foi
intenso, houve trocas de tiros, policiais e terroristas feridos, alguns
mortos. Tudo tinha virado uma confusão muito rapidamente, e agora
Andy estava procurando Alex e não o encontrava. Ele também não
respondia, e isso era um péssimo sinal.
— Sargento, você viu o Alex? — ele perguntou para o
sargento da polícia.
— Achei que estivesse com você, porque, depois que ele
entrou pelo lado oeste, eu não o vi mais.
— Isso não é nada bom. — O loiro correu de volta à equipe.
— Mal, rastreie o celular de Alex, eu estou com um péssimo
pressentimento.
— Certo. — Ele obedeceu na hora. Seus dedos voavam pelo
teclado, e ele conferiu a informação duas vezes até responder,
confuso. — Ele está aí.
— Aqui? — Andy questionou, desnorteado, então ouviu
barulhos muito altos de tiros e de carro derrapando.
Uma das minivans de carga, que estavam estacionadas no
fundo do prédio abandonado, rompeu o bloqueio policial. A porta
dos fundos estava aberta, e dela um terrorista atirava com um fuzil.
O carro foi jogado para cima dos policiais, que precisaram saltar da
frente para não serem atropelados. Andy não pensou, apenas pulou
dentro do carro e começou a perseguir a van. Ele sabia — de algum
jeito ele só sabia — que Alex estava dentro da van, e ele iria
resgatá-lo.
— Andy — a voz de Eli soou pela escuta —, Mal está
rastreando o celular de Alex.
— Ele está na van, eu sei — o detetive respondeu.
A van fazia manobras bruscas, jogando-se contra carros e
tentando causar acidentes. Andy desviava de todas as tentativas.
Todos aqueles anos servindo de copiloto para Alex Mitchell tinham
que ter servido para alguma coisa além de quase morrer do
coração.
— Merda! — ele gritou quando teve que escapar dos tiros. Os
idiotas estavam abrindo fogo em via pública. Andy não tinha como
revidar, apenas se esquivar.
Os terroristas furaram o sinal vermelho, e Andy foi atrás. Por
pouco, ele não se envolveu em um sério acidente de carro, mas não
iria pensar nisso naquele momento. Seu foco era Alex. O bandido
armado estava encostado na porta aberta da van, pronto para atirar
de novo em Andy.
— Foda-se, é ele quem vai pagar mesmo — Andy
resmungou, então acelerou o carro, jogando-o cotra a porta e
causando um barulho bem alto de metal raspando em metal.
A força foi tamanha, que a porta foi quase arrancada, mas o
bandido não tinha como se segurar então também caiu, rolando pela
rodovia. Se sobrevivesse, seria preso por uma das viaturas que
vinham atrás. Mas Andy nem olhou pelo espelho para ver o que
aconteceria, apenas seguiu atrás da van.
— Onde eles estão indo? — Maddy perguntou pela escuta.
— Não tem como escapar.
— Devem ter pego o Alex como moeda de troca — o detetive
respondeu.
— Eles não sabem onde se meteram — Eli falou
sombriamente.
— Não mesmo — Andy concordou em tom perigoso. Poucas
coisas o faziam perder a cabeça a ponto de ficar furioso. Irritado,
sim; bravo, constantemente; mas furioso, só quando mexiam com
quem ele amava, e ele se sentia em fúria no momento.
— Andy! — Maddy gritou, assustada, quando a van se
chocou contra o Mustang, fazendo o carro de detetive rodopiar na
pista.
— Estou bem — ele respondeu, conseguindo retomar o
controle do carro e voltar à perseguição, ignorando a dor causada
pela batida que sua cabeça havia levado.
— Acho que sei onde estão indo, mesmo que não faça
sentido — Eli informou. — É a Lincoln Road.
— É um lugar cheio de civis, tem vários restaurantes e bares
ao redor, por que ir para lá? — a agente perguntou.
— Os explosivos! — Andy socou o volante. — Esses filhos da
puta vão fazer alguma coisa.
Os três ficaram em silêncio por alguns segundo. Os corações
estavam tão disparados, que eles tinham a impressão de que
poderiam ouvir as batidas uns dos outros pelas escutas. Andy sentia
o peso do momento, mas ele não perderia Alex.
— Andy, o que fazemos? — Maddy perguntou por fim. Sem
Alex ali, era ele quem estava no comando.
— Eli, você tem certeza de que eles estão indo para esse
parque? — o detetive indagou, sério.
— Sim — o agente respondeu.
— Eu confio em você. — Andy pensava nas possibilidades.
— Tem algum atalho para chegarem lá antes?
— Acho que conheço um caminho. — Eli sorriu de canto.
— Vão para o parque e interceptem a van lá. Eu continuo a
perseguindo para não desconfiarem. Chamem reforços, avisem que
eles estão com um refém, que estão armados e, provavelmente,
com explosivos junto. Ninguém atira!
— Segure-se, prima — Eli disse a Maddy antes de fazer uma
manobra de 90º e sumir por uma estreita rua paralela.
— Não mesmo — Andy resmungou para si mesmo quando a
van tentou despistá-lo. Ele teve que entrar na contramão, buzinando
como louco, subiu na calçada, mas deu a volta e se chocou contra o
veículo dos terroristas.
Ele não podia bater com força, não sem saber o estado de
Alex e nem se realmente havia explosivos lá, mas ele guiou a van
para onde queria. A Lincoln Road devia estar lotada naquele
horário. Por isso, ele fez os terroristas perderem a entrada principal,
induzindo-os a seguir pela lateral.
Os bandidos giraram o carro, jogando-o contra a cerca viva,
mas Andy conseguiu continuar os seguindo, buzinando o tempo
todo para que as pessoas escutassem e saíssem do caminho. A van
atravessava o parque, tentando chegar até a parte mais
movimentada, mas o carro de Eli os cortou, impedindo sua
passagem Andy parou o Mustang atrás, e a van ficou presa entre
eles.
— Saiam do carro agora! — Andy gritou, saindo armado do
carro, assim como Maddy e Eli. Mais viaturas chegaram no mesmo
instante, cercando a todos. — Eu mandei sair!
As portas dianteiras da van se abriram, e por elas saíram dois
bandidos armados. Da porta traseira saiu mais um, mas ele tinha
sua arma encostada na cabeça de Alex, que parecia levemente
drogado. O capitão usava um colete preto com explosivos presos a
ele.
— Andie? — Alex perguntou, tonto, olhando para Andy, que
engoliu em seco.
— Tudo bem, Alex, eu vou tirá-lo dessa — Andy falou
calmamente, mesmo que por dentro tremesse.
— Abaixem as armas — Eli, que estava de frente com os
bandidos, ordenou.
— Se vocês se aproximarem, eu aperto o botão, e a
contagem regressiva começa. — Um deles mostrou o celular em
sua mão. — Vocês vão nos deixar sair daqui, e ninguém irá atrás de
nós.
— Detetive Malloy — uma voz desconhecida soou na escuta
—, sou o Agente Mays, e nós assumimos agora. Por isso...
— Eu não me importo quem é você e o que você que acha
que pode fazer — Andy respondeu, irritado, seus olhos ainda fixos
em Alex. — Evacuem todo o parque e as redondezas. Façam o
maior perímetro que puderem e tragam o esquadrão antibomba
aqui.
— Preste atenção, você não...
— Agora! — ele respondeu antes de tirar a escuta, deixando-
a caída pelo seu ombro.
Havia mais policiais ao redor, um negociador estava vindo, o
esquadrão antibomba devia estar a caminho. Eli, por estar à frente,
era o que falava com os bandidos. Andy se dividia entre olhar para
sua equipe e vigiar Alex. O capitão olhava para ele o tempo todo,
como se já se despedisse.
— Não, você vai embora para casa comigo — o detetive
apenas mexeu os lábios, sem sair som algum, mas Alex concordou.
Ninguém soube o que aconteceu direito em seguida, mas um
dos bandidos ergueu sua arma como se fosse atirar, alguns policiais
reagiram, e tiros foram trocados.
— Não, cessar fogo! Cessar fogo! — Andy gritou,
desesperado, mas o desastre já tinha acontecido, ele viu a pequena
luz verde do colete ficar vermelha. — NÃO!
Ele correu até o parceiro. Dois dos bandidos estavam mortos,
o terceiro não parecia bem, e Alex estava caído de joelhos no chão,
mas não aprecia ter sido atingido.
— Não, Andy, não. — O moreno estava recobrando a
consciência. — Não tem como tirar o colete.
— Tem que ter! — Andy falou, aflito,
— ANDIE! — Alex colocou suas mãos no rosto do detetive
para chamar sua atenção. — Se eu tirar o colete, ele explode.
— Ele tem razão, vocês têm uma hora — o bandido disse.
Escorria sangue da sua boca.
— Chefe — Maddy chamou, preocupada, quando chegou
com Eli até ele, percebendo a situação. — Não!
— Vão com esse filho da puta. — Andy indicou o bandido. —
Vocês precisam achar o código que desativa a bomba. — Ele
mostrou o pequeno celular conectado ao colete, de onde os fios
saíam direto para os explosivos.
— E você? — Eli perguntou, mesmo sabendo o que ele faria.
— Eu vou ficar com ele — ele respondeu, suas mãos ainda
estavam nos braços do parceiro.
— O quê? Não, Andy, você tem que ir com eles! Não é
seguro! Vá embora, isto pode explodir.
— Só sendo muito burro para achar que eu vou deixá-lo —
Andy respondeu, olhando diretamente nos olhos de Alex.
— Andy, não! Isso é uma ordem, você...
— Eu sou o subcapitão desta equipe, e, como você está
impossibilitado de liderar, essa é a minha função. Então, Alex, por
favor, cale a boca! — Andy disse e se virou para seus dois colegas.
— Maddy, Eli, vão agora. Usem qualquer recurso necessário,
quebrem qualquer regra, vocês têm carta branca para o que
precisarem, mas encontrem esse código!
Alex e Andy ficaram sozinhos em um raio de, pelo menos, 30
metros. Vários policiais ao redor e até alguns civis corajosos
assistiam a tudo de longe. O esquadrão antibomba verificou o
explosivo e confirmou o que Alex havia dito: se Eli e Maddy não
encontrassem o código, logo a bomba explodiria.
— Você deveria ir — Alex pediu mais uma vez. Eles já
estavam lá havia meia hora. Mesmo que a equipe, sendo ajudada
por Alan, Mal e, incrivelmente, Kane, tivesse feito avanços, não
tinha achado o código ainda.
— Vai gastar nosso tempo de conversa com algo que não vai
acontecer? — Andy respondeu. — Eu não vou deixá-lo.
— Não pode morrer por mim.
— Como se você não fosse fazer o mesmo se nossos papéis
fossem inversos. Por que é tão difícil acreditar que eu não vou
embora?
— Você já quase foi uma vez.
— Mas desisti, e foi para ficar ao seu lado, você sabe. Você
também já sumiu algumas vezes pelo mundo, e eu também tive
medo de que você não voltasse. Um prometeu nunca deixar o outro,
lembra?
— Sim — Alex murmurou, esboçando um sorriso.
— Eles vão conseguir — Andy insistiu.
— E se não conseguirem?
— Você está roubando o meu papel, eu sou o pessimista, e
você, o irritante que fica falando que tudo vai dar certo. Eles vão
conseguir, e você vai me pagar o jantar da semana passada e o
próximo.
— Você vai me levar à falência — Alex brincou.
— Não reclame, você só tem dinheiro hoje porque eu,
praticamente, banquei você por esses anos. Falando nisso, eu
destruí o para-choque do meu carro tentando resgatá-lo, já prepare
o bolso.
— Meio a meio? — ele pediu, fazendo careta, e Andy revirou
os olhos.
— Ok, só desta vez — o loiro bufou dramaticamente.
Eles ficaram em silêncio. Andy sabia que a equipe estava
fazendo o possível, até tinha conseguido achar o sinal que podia
interferir e desligar a bomba remotamente, mas, sem o código de
acesso, não era de muita ajuda.
Alex suspirou e levantou a cabeça, o rosto de Andy estava
bem próximo, tanto que ele via aquela linda mistura de diferentes
tons de azul claro.
— Era você — o detetive sussurrou. — A alucinação. Era
você.
— Eu? — o capitão perguntou, confuso.
— Eu realmente vi Amy, e nós tivemos uma conversa muito
estranha sobre tudo, sobre o futuro e como seria para as crianças
crescer sem mim. Aquilo me fez pensar muito sobre o meu papel
como pai, mas depois, provavelmente quando a febre ficou ainda
mais alta, eu vi as pessoas que eu amava morrendo. Então eu vi
você morrendo na minha frente.
— Você me ama? — Alex fez a pergunta em um sussurro.
Andy sorriu de canto.
— Você sempre se prende à parte mais óbvia de tudo o que
eu falo.
— Eu também amo você. Eu não quero que você morra e sei
que isso não vai mudar sua decisão, mas, por favor, vá embora!
Ainda dá tempo!
— Eu não vou deixá-lo de novo, assim como você não vai me
deixar, entendeu?
— Andy, por favor. — Alex tentou se desvencilhar do loiro, já
que eles estavam praticamente abraçados.
Foi então que uma ideia louca passou pela sua mente. De
onde ele estava até o píer era cerca de quinze minutos. A chave da
van ainda estava no contato. Se ele roubasse o veículo, poderia
jogar o carro no mar. Quando a bomba explodisse, só ele morreria.
— Não! — Andy disse, segurando as alças do colete. — Eu
conheço esse olhar, você não vai fazer loucura nenhuma. Vai ficar
aqui e esperar o código. Eles vão conseguir.
— Eu não vou arriscar a vida de ninguém, muito menos a
sua! — ele disse, levantando-se.
— Se eu não posso impedi-lo de fazer uma loucura, vou fazer
com você — Andy suspirou, pegando a chave do seu carro.
— Andie, não...
— Eu ganhei a aposta, eu posso escolher o que eu quiser, e
eu escolho que você pare de lutar e aceite que vamos ficar juntos.
Se for para morrer agora, que seja, já fizemos um monte de
loucuras mesmo. Se nos salvarem, teremos mais tempo para suas
próximas loucuras. Então eu vou com você!
— De tudo o que podia escolher, escolheu que sempre
ficaremos juntos? — Alex sorriu de canto, e Andy viu lágrimas em
seus olhos.
— Se for para morrer, que seja juntos, não é? — Andy deu de
ombros, e eles sorriram.
— Se é para morrer, estou que feliz que seja com você — o
capitão murmurou.
— Para onde? — Andy perguntou, entrando no carro e Alex o
olhou interrogativamente. — Nem venha, desta vez eu dirijo.
— Precisamos de algum lugar isolado.
— Já sei.
O detetive acelerou o carro, manobrando e furando o cerco
policial. Mesmo com a escuta fora do ouvido, ele ouvia os gritos
vindo dela. Sirenes começaram a soar atrás deles, mas o loiro
revirou os olhos. Eles realmente estavam indo atrás de uma bomba?
— Desde quando você dirige assim? — Alex perguntou,
surpreso. Andy furou todos os sinais, jogou o carro na autoestrada e
acelerou ainda mais.
— Anos acompanhando você tinham que servir para alguma
coisa. — O loiro sorriu de canto.
Ele fez o caminho para casa de Alex, mas contornou o lugar
e dirigiu pela areia. Os dois desceram do carro e correram pela praia
até chegarem à beira da água.
Faltava um minuto para a explosão.
— Se o final for esse, que seja — Andy disse, segurando na
mão do moreno.
— Obrigado por estar comigo.
— Não ache que a morte vai livrá-lo de mim — o loiro
provocou.
— E quem disse que eu quero? — Alex sorriu.
No celular preso ao colete, a contagem regressiva dos
segundos começou. Andy e Alex se encararam, lágrimas
escorreram por seus olhos, lavando a poeira do rosto. Andy abraçou
Alex com toda sua força, do jeito que pôde, já que ainda tinha uma
bomba entre eles, e Alex o abraçou com a mesma intensidade.
— Eu amo você! — Andy falou.
— Eu também amo você — Alex respondeu.
Então o celular começou a apitar. Eles fecharam forte os
olhos, mas nada aconteceu.
— O quê? — Andy olhou a tela do celular, onde estava
escrito “Desativado”. No mesmo instante, seu celular começou a
tocar, e ele viu que era Maddy.
— Deu certo? — ela perguntou, desesperada.
— Sim — Andy sorriu, encarando Alex —, a bomba foi
desativada. Nós estamos bem.
— Eu estou bem! — Alex bufou para paramédico que o
atendia.
Várias viaturas e ambulâncias os cercavam. Provavelmente
eles teriam muito o que explicar, mas por agora tudo estava bem.
Eles tinham sobrevivido, era isso que importava.
— Deixe a pessoa fazer o trabalho dela —Andy brigou, e o
moreno revirou os olhos, mas ficou quieto.
— Obrigado — o paramédico murmurou.
— Dada! Tio Alex! — Amy passou correndo pelo bloqueio
policial e chegou até eles, pulando nos braços do pai.
— Tudo bem, princesa. Está tudo bem. — Ele beijou o topo
da cabeça dela.
— Tio! — Ela abraçou Alex, que estava sentado no degrau da
ambulância. — Por que vocês têm que fazer isso? Eu sou só uma
adolescente, eu não posso morrer do coração! Eu nem me formei
ainda, não fui ao show do Niall Horan e nem perdi a virgindade!
— Espere, o quê? — Andy cruzou os braços.
— Princesa, você vai à sua formatura, nós podemos levá-la
ao show desse cara ou qualquer outro que você queira, mas, sobre
a última coisa, esqueça! — Alex respondeu.
— Eu não vou discutir isso com vocês — ela bufou, ainda
abraçada ao capitão.
— Não mesmo — Andy completou —, nunca mais quero
ouvir sobre isso.
— Você sabe que um dia eu vou me tornar adulta, não sabe?
— Prefiro ignorar esse detalhe — o detetive respondeu, e
Alex concordou.
— Pronto, capitão, podemos ir para o hospital — o
paramédico avisou.
— Ah, não, eu estou bem, não preciso — ele reclamou.
O profissional colocou as mãos na cintura e olhou para cima,
como se pedisse por paciência.
— Alex! — Maddy veio correndo até ele e abraçou o chefe. —
Nunca mais faça isso comigo! Eu não sei se sobrevivo na próxima.
— Irmão, duas vezes no mesmo mês — Eli brincou, negando
com a cabeça. — Está tentando bater algum recorde?
— Foi divertido, mas prefiro trabalhar dentro do meu
escritório do que em campo. Não façam isso de novo — Mal pediu.
— Que ideia foi essa de fugir da polícia e voltar para casa? —
Eli perguntou,
— Bem, se fosse para morrer, pelo menos seria em casa e
longe de todos os civis — Alex explicou.
— Por favor, eu preciso levá-lo para o hospital — o
paramédico insistiu.
— Perdão. Vamos, Amy, eu lhe dou uma carona — Eli disse
para a garota, que beijou o rosto de Alex e foi com o agente.
— Fiquem tranquilos, nós resolveremos tudo por aqui —
Maddy garantiu para o loiro.
— Andie — Alex disse, pegando a mão do parceiro —,
obrigado.
— De nada — o loiro respondeu, sorrindo.
Eles só soltaram as mãos quando chegaram ao hospital e
Alex foi conduzido para ser examinado. Andy se sentou na sala de
espera e respirou fundo. Aquele dia tinha sido uma loucura sem fim.
De novo, ele vira a morte próxima demais, mas dessa vez ele tinha
a escolha de ir embora e não a fez, porque ele nunca deixaria Alex
sozinho.
Certo, ele sabia que o correto seria dizer “eu nunca deixaria
ninguém da minha equipe sozinho”, mas não era nisso que ele
estava pensando na hora. Os últimos dias pareciam diferentes. A
relação deles era a mesma, mas tinha algo a mais. Ao mesmo
tempo que pareciam ainda mais próximos, parecia que havia uma
parede de vidro, algo sobre o qual eles não conversavam. E isso
estava ficando cada vez mais pesado.
Alex estava deitado na maca, olhando para o teto branco,
esperando o resultado dos exames de sangue. A droga que tinham
usado nele era fraca, fora só para imobilizá-lo por tempo suficiente
para colocar aquele maldito colete nele. Ele já estava bem, e a
pancada que levara na cabeça antes não tinha ferido, só
desnorteado. Era um exagero ter que ficar ali.

Eu amo você
Eu também amo você

Suspirou de novo, aquilo estava demais. Ele sabia que Andy


o amava, assim como amava Maddy e Eli, por exemplo. Mas sua
cabeça ficava criando coisas e ele mesmo, Alex, não sabia em que
sentido tinha dito aquilo. Estava muito confuso e se sentia
repensando sua vida inteira. Ele sempre fora tão certo de tudo,
decidia o que queria e ia atrás. Nunca havia sido de desistir ou
hesitar, mas agora sua cabeça estava uma confusão, e ele não
conseguia mais se entender.
— O que eu faço? — ele murmurou para si mesmo, sentindo-
se totalmente perdido.
— Oi — Andy sorriu, chegando perto da maca, e Alex sentiu
seu coração palpitar —, como você está?
— Bem, tudo tranquilo — mentiu, porque nem ele sabia
explicar o que estava acontecendo. — E você?
— Ótimo, considerando o dia que tivemos — o loiro deu de
ombros. — Amy ameaçou nos deserdar. Eu tentei explicar que é o
contrário, mas ela não quis ouvir, disse que “damos dor de cabeça
demais” e que ela vai desenvolver problemas cardíacos por nossa
culpa.
— Ela é mesmo sua filha — o moreno riu. — Igualmente
dramática.
— Eu respondi que, se eu não desenvolvi problemas
cardíacos por sua causa, ela aguenta — ele falou, e Alex revirou os
olhos. — O médico disse que, assim que os resultados saírem, você
pode ir para casa.
— Bom mesmo, eu estou perfeitamente bem. Poderia escalar
uma montanha amanhã.
— Que bom saber que está tão bem-disposto, porque
prometeu ensinar Evan e Gwen a surfar, e eles não falam de outra
coisa. Então divirtam-se enquanto eu fico na areia tomando minha
água de coco. — O loiro sorriu debochado.
Alex sorria, porém por dentro estava um caos. Mas as coisas
iam ficar bem. Tinham que ficar bem.

Nada ficou bem.


Mais duas semanas se passaram, e ele sentia sua sanidade
escorrendo pelos seus dedos. Ele tinha focado tanto no serviço, que
fazia horas extras, chegando mais cedo e saindo depois de todos.
Quando chegava em casa, fazia corridas com Bruce até que os dois
estivessem quase exaustos, assim ele apenas tomava um banho,
comia algo e caía na cama sem precisar pensar em nada.
Mas os sonhos vinham. Aqueles sonhos reais demais,
vívidos. Eram tão realistas, que ele podia sentir cheiros e toques. As
cenas variavam, mas eram todas domésticas demais, tranquilas.
Por três noites ele teve sonhos quentes que o fizeram acordar de
madrugada e ir direto para o banho.
Era sábado à noite, ele estava pirando dentro de casa. Havia
recusado os convites de todos os amigos. A equipe tinha ido para
um bar, eles falaram disso por dois dias inteiros, mas Alex não
conseguiu ir. Ele inventou uma desculpa qualquer e agora estava
preso dentro de casa, sem atender o telefone e tentando se distrair.
Estava na cozinha quando Bruce começou a latir e arranhar a
porta, o que fez Alex congelar, porque ele sabia o que significava e
não tinha para onde correr. Então o barulho do motor surgiu e
morreu segundo depois. Os passos soaram do lado de fora, e ele
não precisou abrir a porta, afinal Andy tinha sua própria chave.
— Para quem estava tão ocupado esta noite, você parece
não estar fazendo muita coisa — Andy falou calmamente, fazendo
carinho no cachorro.
— Achei que você estivesse no bar com o pessoal — Alex
fingiu que estava tudo bem.
— Eu estava — o outro respondeu, com um sorriso irônico
—, mas eu sou um idiota que continua correndo atrás de você, não
é? É tudo que eu tenho feito nos últimos tempos, correr atrás de
você para resolvermos os problemas, que seriam muito mais
simples se você só me contasse sobre eles.
— Não entendi do que você está falando. — O moreno negou
com a cabeça.
— Eu estou tão cansado desses seus joguinhos. — Andy
falava cada vez mais alto. — Fale de uma vez!
— Não é nada — Alex disse em voz baixa, afastando-se ,
quase saindo da cozinha.
— Pare de fugir, seu covarde! — Andy gritou, e Mitchell se
virou, revoltado.
— Do que me chamou?
— De covarde, não ouviu? — o detetive respondeu,
encarando o capitão. — Quer que eu defina melhor? Também posso
usar medroso, molenga, assustado e, o meu favorito, frouxo. Esses
servem?
— Não fale do que não sabe — Alex disse entredentes.
— Não sei? Então me explique. Porque o que eu estou vendo
é meu parceiro se afastando de mim de novo sem motivo algum. Ou
tem?
— O que você está insinuando? — ele perguntou, bravo.
— Desde o dia em que quase morremos soterrados, o dia em
que lhe contei o meu “segredo” você está estranho comigo.
— Não comece com isso de novo — Mitchell revirou os olhos.
— Então o que você quer que eu pense? Você está se
afastando cada vez mais. Às vezes está bem e do nada some. Você
tem me tratado diferente desde que lhe disse que sou bissexual.
— E você acha que eu tenho problemas com isso? — O
capitão bufou exageradamente.
— Não faça isso, não bufe para mim. — Andy apontou o
dedo para ele. — Eu sei quando você está mentindo e quando está
me enrolando. Você está fazendo os dois agora!
— Você está enxergando coisas que não existem!
— Estou? — o detetive retrucou sarcástico. — Até a equipe
notou que você está estranho, e você está me dizendo que EU
estou inventando. A quem você quer enganar? Eu ou você?
— Não é nada! — Alex repetiu, bravo.
— Ah, vamos voltar a isso? Tudo bem, deixe que eu adivinho
— Andy disse ironicamente. — Desde que eu lhe contei que sou
bissexual, você está agindo estranho comigo, então temos duas
hipóteses. Primeira, você é a porra de um homofóbico que...
— EU? — Alex gritou, indo em direção ao detetive. — Você
realmente está dizendo que eu não aceito você? De todas as
pessoas, eu não o aceito?
— Sinto muito, mas é isso que está parecendo — Andy
gritava de volta, os dois separados por apenas alguns passos. —
Porque a outra opção seria...
A voz de Andy morreu enquanto ele olhava nos olhos de
Alex. Sua raiva tinha vacilado.
— Qual é a segunda opção? — Mitchell não ia recuar, ele
ainda estava bravo.
— Alex...
— Qual é a segunda opção? — ele repetiu, ainda incisivo.
— Alex, não...
— Responda, Andie — Alex ordenou, dando um passo à
frente. — Qual é a segunda opção?
— Que você me quer — o detetive praticamente sussurrou as
palavras.
— Entre eu ser um homofóbico e querer você, escolheu
acreditar que eu sou homofóbico? — Mitchell chegou ainda mais
perto dele. Eles estavam quase se tocando.
— Eu escolhi não acreditar que você me quer — Andy
também não desviou o olhar, nem se mexeu.
— Por quê?
— E por que eu acreditaria que você me quer?
— Você não pode responder minha pergunta com outra.
— Você não respondeu nenhuma das minhas. — Dessa vez
foi Andy quem deu um passo à frente. Agora sim eles estavam
praticamente colados, até seus rostos estavam próximos. — Alex,
qual é a opção certa?
— A segunda.
Os dois se encaram, um tentando decifrar o olhar do outro. A
proximidade era tanta, que eles conseguiam sentira a respiração
alheia na própria pele.
— Por que você não me falou? — o detetive sussurrou a
pergunta.
— Porque eu tinha medo.
— Você com medo é uma novidade — Andy tentou brincar,
mesmo que a tensão naquele momento quase chegasse a ser
palpável.
— Meu maior medo sempre foi que você me deixasse.
— E qual é agora?
— Que você saia por aquela porta e me rejeite — ele disse
em voz baixa, mas sem desviar o olhar.
— Eu ainda estou aqui, não estou?
Foi apenas um segundo, era tudo que eles tinham para tomar
a decisão, então Alex inclinou seu rosto e deixou que seus lábios
encostassem de leve nos de Andy.
O primeiro toque foi frágil, mal dava para registrar que ele
realmente tinha acontecido, um leve raspar dos lábios. O segundo
demorou um pouco mais, eles ainda estavam descobrindo o que
fazer. Andy levantou um pouco mais o rosto, e seus lábios ficaram
pressionados contra os de Alex.
Apenas suas bocas estavam em contato, seus olhos já
estavam fechados, seus corações estavam disparados, e eles
estavam se sentindo. O momento durou alguns segundo até Andy
entreabrir os lábios com calma, fazendo que Mitchell o imitasse. O
detetive sabia que teria que ser ele a tomar a iniciativa, por isso ele
levou as mãos até a camisa do outro, segurando-se nela, e foi
aprofundando o beijo bem devagar.
Quando um teve uma amostra do gosto do outro, foi como se
algo explodisse no peito deles. Alex abraçou Andy, prendendo-o
contra ele, que retribuiu do mesmo jeito. Os dois se beijavam
vorazmente, parecia que nunca teriam o suficiente. Eles andaram às
cegas pela cozinha até que as costas do detetive bateram contra a
parede e ele ficou preso entre ela e o moreno, mas tudo bem,
porque ele não queria sair dali mesmo.
Tudo era intenso demais, eles mal conseguiam puxar o ar
sem parar de beijar. A necessidade era gritante, parecia que tinha
um concentrado de adrenalina correndo pelas suas veias. As mãos
também não paravam, eles precisavam se tocar onde pudessem e
como pudessem, só precisavam de mais. O ar era necessário, mas
a necessidade que um tinha do corpo do outro parecia ser ainda
maior.
O beijo não era só intenso, era feroz. Eles estavam
descontando toda frustração que sentiram por todos os anos
anteriores. Todas as vezes que fingiram estar bem quando não
estavam. Todo o ciúme. Todas as vezes que um quis tocar o outro,
mas não o fez. Todas as vezes que um foi obrigado a ver o outro
com alguma mulher, sendo que queria ser ele a estar nos braços do
parceiro. Toda confusão e toda atração que sentiam.
Os quadris deles se chocavam, os dois completamente
duros. Eles se esfregavam, gemiam de prazer entre os beijos. Alex
puxou a camisa de Andy o suficiente para sua mão ir por baixo do
tecido. Ele conhecia o corpo do parceiro, pelo menos aquela parte.
Já tinha escaneado tudo com o olhar tantas vezes, que tinha
decorado cada detalhes, mas sentir a pele em contato com a sua
era totalmente diferente.
— Alex — Andy gemeu enquanto Mitchell estava atacando
seu pescoço.
Alex queria muito aquilo, ele necessitava de Andy. Sua mente
estava nublada de tanta vontade e tanto tesão. Finalmente ele
estava o tocando como queria, finalmente seus lábios estavam
juntos, finalmente ele tinha Andy para ele. Seus corpos se
encaixavam perfeitamente, como se um tivesse sido moldado para o
outro. Eles estavam tão próximos de ser um do outro... Então a
realidade o atingiu com um enorme balde de água gelada, e ele
pulou para trás, largando Andy confuso, ainda encostado na parede.
O capitão passou a mão pelo rosto. O que ele estava fazendo? Ele
tinha perdido a cabeça.
— Alex — Andy o chamou, falando docemente, porque ele
entendia o que o outro podia estar sentindo —, eu sei que você está
confuso, mas nós podemos conversar.
— Não — ele recusou na hora, negando com a cabeça.
— Como assim? — o detetive perguntou, sem entender. —
Por que...
Mas quando Andy deu um passo na direção do outro, este
recuou dois automaticamente. Aquilo doeu, doeu muito. Ele ficou
encarando Alex, os dois em silêncio. Andy esperou que o parceiro
falasse algo, mas ele apenas ficou calado.
— Certo — o detetive disse por fim, então pegou a chave do
seu carro de cima da mesa e foi embora.
Alex ficou olhando a porta por onde Andy tinha acabado de
passar. Ele ouviu o barulho do motor se afastando até que tudo que
sobrou foi o silêncio esmagador.

O único barulho na casa era o do relógio. O tic tac tic tac


contínuo parecia tão alto em meio àquele silêncio opressor, que nem
no som das ondas do mar ao fundo ele conseguia prestar atenção.
O que tinha acontecido? Por que ele tinha deixado chegar
àquele ponto? Por que ele tinha feito aquilo? Por que ele tinha se
sentido tão bem? Por que ele finalmente se sentiu feliz? Por que ele
parou? Por que deixou Andy ir?
Ele tinha visto a dor nos olhos do amigo. Amigo? Ainda eram
amigos? Essa palavra se encaixava na relação deles? O que eles
eram um do outro?
— Eu vou enlouquecer — Alex disse, apoiando a cabeça nas
mãos.
Estava sentado no seu sofá. Nenhuma luz da casa estava
acesa, deixando-o imerso em escuridão. Nem sabia dizer a quanto
tempo estava ali, apenas revendo aquela cena vez após vez em sua
cabeça. Ele sempre tivera sua vida muito bem desenhada, sabia o
que queria e tinha conseguido. Havia entrado na marinha, tornando-
se um Navy, fora um dos melhores, saíra da marinha, fora
convidado para liderar uma equipe HRT que posteriormente se
tornou líder em resultados positivos. Ele tinha uma nova família
agora, uma de verdade, que o amava e que ele amava, uns sempre
cuidavam dos outros, o problema de um era o problema de todos.
Onde que ele se tinha se perdido nisso?
A questão é que ele sabia. Havia sido naqueles malditos
olhos azul-claros! Quem tinha olhos naquele tom?
Alex revirou os olhos mentalmente. Ele não conseguia seguir
uma linha de raciocínio lógico sem que sua mente voltasse ao
detetive Andy Malloy?
Desde quando se conheceram, quando roubara o currículo
de Andy por achar que sua experiência o ajudaria a melhorar a
equipe, Mitchell sabia que Andy era diferente. O jeito todo certinho e
a maneira de falar, como tudo virava um drama e o fato de ele não
ter medo nenhum de brigar com Alex o encantavam.
Ele era um cowboy na Flórida, nem gostava tanto assim de
praia, mas tinha se mudado para lá porque amava seus filhos acima
de tudo.
Andy era daquele jeito, não tinha meio termo, porque, quando
ele gostava, ele gostava de verdade. Andy amava Amy e, antes
mesmo de saber da segunda gravidez de Barbara e da possibilidade
de ser pai dos bebês, ele já estava se organizando para se mudar
de estado. Saber dos bebês só apressou o processo. E ele fazia
questão de estar com os filhos em cada ocasião, não importava o
que acontecesse. Ele protegia e cuidava daqueles que amava.
Por Deus, Andy tinha fugido com Alex, recusando-se a deixá-
lo, mesmo ele estando preso a uma bomba. E antes mesmo disso
ele havia invadido o lugar só para salvá-lo da armadilha. Alex sabia
que também já tinha salvado o detetive, mas era diferente. Alex
sempre se jogava no perigo sem pensar, mas Andy se jogava no
perigo por ele.
— Eu sou um idiota. — O capitão jogou o corpo para trás,
deitando-se no sofá. — Ele sempre esteve lá por mim, mas eu o
magoei.

Não vou morrer sozinho, estaremos junto até o fim

Tudo aquilo era muito confuso, Mitchell nunca tinha sentido


atração por homens, mas, desde que conhecera Andy, tudo girava
em torno dele. Não era algo premeditado, eles simplesmente se
atraíam. Ele se sentia muito à vontade com Andy, de um jeito que
nunca havia se sentido com mais ninguém. Estar perto de Andy era
seguro e confortável, deixava seu coração calmo ao mesmo tempo
que o fazia se sentir mais forte. Ele sabia que podia invadir um
prédio em chamas, correr no meio de um tiroteio ou apenas algo
bobo, como cozinhar uma receita complicada, quando Andy estava
com ele, cobrindo-o, xingando-o, apoiando-o, jurando que nunca
mais estaria ali, mesmo que todos, incluindo ele, soubessem que
era mentira.
Alex sabia que poderia sobreviver se estivesse perdido em
uma floresta, se estivesse no meio de uma guerra, se estivesse em
luta corporal ou se estivesse em um tiroteio. Mas ele poderia
sobreviver sem Andy?
— Quando você se tornou isso para mim? — ele perguntou
para a escuridão.
Ele sabia que não podia ir atrás de Andy sem entender os
próprios sentimentos, mas sua mente estava confusa. Era irônico
que, sempre que estava confuso, tudo de que precisava era o loiro,
e tudo se resolvia. Mas agora ele era o motivo da confusão.
Alex adorava provocar o detetive, principalmente nos
momentos de mau humor. Realmente acreditava que Andy era
muito inteligente, adorava passar o tempo que fosse com ele,
conversando, assistindo a um filme ou bebendo. Também gostava
de ser incluído nos programas de família, quando Andy o chamava
para passear ou até mesmo viajar com as crianças. Amava como
sempre iam até ele quando precisavam de algo, como confiavam
nele, como eles eram sua família... Alex os amava.
— Eu o amo — ele murmurou para si, então paralisou
pensando em suas palavras. — Eu o amo? — Ele se sentou no
sofá, totalmente em choque. — Porra, eu o amo!
Pela primeira vez em muitos anos, Alex se sentiu
hiperventilar, ele amava? Era isso mesmo? Quer dizer, ele sabia que
amava, mas até então era só do jeito fraternal. Ou não? Será que
sempre havia sido desse jeito, mas ele não tinha se permitido
entender?
Ele ficou caminhando pela casa no escuro. Ele sentia falta de
Andy quando ele não estava. Ele se sentia melhor quando estavam
juntos. Ele ficava incomodado quando via o Andy abraçado a
alguma namorada. Então percebeu que ele mesmo, Alex, quando
namorava, não fazia nenhuma grande demonstração de carinho na
frente do parceiro. Isso o fez pensar que Andy também nunca tinha
feito isso, então talvez os dois sempre soubessem o que sentiam, só
não tinham tido coragem para enfrentar a realidade.
Bem, depois daquele beijo na cozinha, não tinha mais como
nenhum deles negar. E Mitchell nem queria pensar muito naquilo,
porque poderia ficar duro só de lembrar. Tudo tinha sido perfeito, o
beijo, os lábios, o corpo, o toque, os gemidos...
— Merda — ele se repreendeu. Tudo de que NÃO precisava
no momento era ficar excitado pensando na pessoa que ele havia,
praticamente, expulsado de casa.
A pergunta era: se ele já tinha entendido que amava Andy,
tinha entendido seus sentimentos, sabia que Andy também devia
sentir algo, o que ainda estava fazendo ali?
Alex saiu correndo, só pegou a carteira com o distintivo e as
chaves do carro e saiu dirigindo como o louco de sempre até a casa
do homem que amava.

Andy suspirou de novo. Ele já havia passado a noite toda se


revirando na cama. Como a coisa que ele mais quisera por anos
finalmente aconteceu e de repente virou um desastre total?
— Seu idiota! — ele bufou, frustrado, e nem sabia se estava
falando de si ou de Alex. Talvez dos dois.
Ele tinha passado anos fingindo muito bem que nada daquilo
o afetava. Até havia tido outros relacionamentos, todos com
mulheres, porque só tinha um homem naquela porcaria de lugar que
realmente o atraía, e era aquele idiota.
Andy desistiu de ficar deitado e resolveu pegar algo para
beber. Talvez aliviasse também o calor. O Texas também era
quente, mas na Flórida havia um calor úmido, quase pegajoso, e
isso o irritava. Ou talvez ele só estivesse descontando sua
frustração em qualquer coisa, incluindo o clima.
Desceu as escadas em direção à cozinha. Sua casa era
pequena, mas bem melhor do que o apartamento onde morava
antes. Nem se deu ao trabalho de acender as luzes, caminhou até a
cozinha, pensando se deveria beber água ou cerveja de uma vez.
— Eu deveria é encher a cara para ver se isso passa — ele
resmungou, indo até o armário e depois até o bebedouro. — Calor
do Inferno.
— Andie...
— Porra! — ele gritou pulando para trás, e Alex começou a rir
enquanto acendia a luz da cozinha. — Você é maluco? Mas que
pergunta besta a minha, é claro que é, seu animal!
— Não se mexa, tem cacos no chão, e você está descalço.
— Não teria cacos no chão se você não tivesse quase me
matado do coração — Andy retrucou, mas ficou no lugar. — Nunca
mais faça isso, ouviu bem? Nunca mais!
— Eu precisava falar com você — Mitchell se justificou
enquanto juntava os cacos do chão.
— Pensou em me ligar? Ou em bater na porta como uma
pessoa normal?
— Eu não podia perder tempo. — Alex chegou perto do
detetive, que ainda estava muito irritado.
— Perder tempo não pode, mas chegar à minha casa na
surdina, como um maldito ninja nas sombras, e quase me matar de
susto está tudo bem? Seu psicopata.
— Andy, acalme-se.
— Não me mande me acalmar, eu estou no meu direito de
estar puto da vida — ele avisou, apontando o dedo. Toda vez que
Andy se alterava, ele ficava com mais trejeitos italianos, e Alex
achava isso fofo.
— Estou tentando falar uma coisa com você.
— Não, o que você fez foi quase me mandar para o hospital.
Você já pensou no que aconteceria se eu estivesse armado, seu
imbecil? Não, é claro que não pensou. Quando é que você pensa
em... — então Alex revirou os olhos e o beijou
Os dois quase gemeram com o sabor um do outro. Alex
segurava com as mãos o rosto de Andy, e este, sem pensar,
envolveu o mais alto com os braços. Eles pareciam com saudades,
como se tivessem passado muito mais tempo longe um do outro do
que apenas poucas horas.
Tudo estava perfeito, até Andy empurrar Alex.
— Não, você não pode fazer isso.
— Andy — Alex disse, sentindo o golpe no coração.
— Pare com essa cara de cachorro ferido. — Andy revirou os
olhos. — Você não tem o direito de agir como um idiota quando
estávamos na sua casa, aparecer do nada no meio da madrugada,
quase me matar de susto, depois me beijar e achar que vai ficar por
isso mesmo.
— Bem, eu achei ficaria assim...
— É claro que achou. — Andy cruzou os braços. — Vamos,
explique.
— O quê?
— Não comece a se fazer de desentendido, Alex. Você sabe
o que aconteceu. Você disse que me queria; depois de um amasso,
simplesmente resolveu que não queria mais, então me rejeitou.
— Não foi assim — o capitão passou a mão pelo cabelo.
— Então me explique, porque não tem como eu entender se
você não me explicar.
— Eu não sei o que eu quero. Eu nem sei o que você quer.
Minha cabeça está muito confusa.
— Você mentiu para mim quando disse que me queria?
— Não — ele se apressou em responder.
— Então você sabe o que quer. O que você precisa saber é o
quanto quer e como quer. Você só quer descobrir se você também é
ou não bissexual? Você quer me usar de teste? Você realmente
quer a mim?
— Eu quero você. Não é esse o meu problema.
— Então qual é? O nosso trabalho? Porque, Alex, se eu não
entrei no armário na época que eu morava com os meus pais, não
vou entrar agora.
— Eu nunca questionei minha sexualidade, nunca houve
motivos para isso. — Ele fazia carinho no braço do outro. — Desde
que nos conhecemos, eu me senti atraído por você, mas eu achei
que era algo platônico, fraternal, sabe? Como...
— Não use a palavra irmãos, porque, depois de termos nos
beijado, e do jeito que nos beijamos, essa palavra não se encaixa.
— Concordo — Alex sorriu de canto. — Eu nunca tinha
pensado que havia a possibilidade de ficarmos juntos.
— Você vem falar isso para mim? Sou eu que sou o bissexual
da história, que passou anos ao seu lado tendo em mente que você
era hétero.
— Acho que eu não sou hétero — ele brincou.
— Se você ainda pensasse que é, precisaríamos ter uma
longa conversa — o loiro retrucou, fazendo Alex rir. — Você passou
um mês se torturando sobre isso?
— Eu estava completamente perdido.
— Se tivesse conversado comigo antes, poderíamos ter
resolvido isso e não perdido todo esse tempo. Sei que a descoberta
da própria sexualidade é um caminho pessoal, eu já passei por isso.
Mas você, seu imbecil, precisa pôr na sua cabeça que não está
mais sozinho, entendeu?
— Entendi — Alex respondeu com mais um sorriso de canto.
— E o que você decidiu? Porque eu não posso me jogar
nisso se você não tiver certeza do que quer e dos seus sentimentos.
— Lembra quando estávamos naquele laboratório e nós
alucinamos? Eu lhe disse que minha única alucinação foi com o
meu pai, e era verdade, eu só alucinei com ele. Mas eu vi o meu
pior pesadelo. — Ele falava olhando diretamente nos olhos de Andy.
— Eu tive menos contato com o vírus do que você. Quando você
começou a convulsionar, eu ainda estava consciente, então eu
estava o vendo morrer na minha frente. Esse é o meu pior pesadelo.
— Por que você nunca me contou?
— Porque foi tão desesperador, que eu nem queria pensar
sobre isso. Só hoje eu percebi por que doeu tanto. Eu nunca pensei
na possibilidade de acontecer algo entre nós. Então quando, você
me contou que é bissexual e isso de se tornou possível, tudo ficou
muito confuso. Precisei de um tempo para entender, mas eu não
quis magoá-lo.
— Nunca mais se afaste ou me empurre para longe. Se tem
algum problema, você fala, e resolvemos isso juntos, ok?
— Eu já disse que sim. — Alex sorriu. — Então agora nós...
Andy revirou os olhos e o beijou.
Eles estavam se beijando, o calor foi crescendo, o beijo
ficando mais profundo, os corpos se esfregando um no outro. Alex já
se sentia muito duro. Andy estava deitado no sofá com ele por cima.
Os dois se beijavam tão furiosamente, que o ar começou a faltar,
mas eles não se importavam.
— Tire — Andy resmungou, irritado, puxando a camisa de
Alex, que estava o atrapalhando.
Alex nem pensou, só se afastou o suficiente para tirá-la,
então suas bocas se chocaram de novo. As mãos vagavam por
cada pedaço de pele disponível, e, quando o ar foi necessário de
novo, o moreno começou a beijar e morder o pescoço do loiro.
Como o cheiro da pele dele podia ser tão perfeito e tão excitante? E
como seus suspiros e gemidos baixos conseguiam o deixar ainda
mais duro?
Andy abriu a calça do outro e sua mão invadiu o espaço.
Seus dedos acariciaram a pele, descendo cada vez mais até chegar
aonde queria. Ele segurou o pau duro e o acariciou com calma,
sentindo as reações do corpo acima do seu e como a respiração
dele se alterou.
— Andy — Alex gemeu no ouvido do loiro.
Ele não sabia se era por toda aquela espera, se era o
contexto ou simplesmente por ser Andy, mas ele estava sentindo
cada toque de um jeito absurdo, como se choques elétricos
corressem pelo seu corpo. Talvez fossem todas as alternativas.
— Andy — ele murmurou —, eu nunca... Eu...
— Tudo bem, eu sei — o loiro disse, sorrindo de canto. —
Você quer continuar?
— Essa não é a questão — ele respondeu um pouco
ofegante e indicou o próprio pau, que ainda estava na mão de Andy
e completamente duro.
— Idiota. — Andy riu. — Qual o problema?
— Eu só não sei muito bem o que fazer — Alex disse, com
um pouco de vergonha.
— Certo, vamos — Andy respondeu, batendo no ombro dele,
pedindo que ele se levantasse.
— Aonde? — o moreno perguntou sem entender.
— Sua primeira vez com um homem e nossa primeira vez
não vai acontecer no sofá da minha sala — o loiro falou, pegando
Alex pela mão e o puxando escada acima.
— Minha primeira vez com um homem? Porque você já?
— Eu não vou discutir isso com você — Andy falou alto.
O moreno o abraçou por trás e mordeu seu pescoço. O
detetive tombou a cabeça e suspirou baixinho. Suas costas estavam
coladas no peito de Alex, o que fazia com o pau do capitão
estivesse pressionado contra sua bunda.
— Não sabe o que fazer, mas sabe me provocar? — O loiro
bateu Alex contra a parede, e o moreno apenas sorriu de canto.
Eles voltaram a se beijar e foram às cegas para o quarto. Não
precisaram desgrudar os lábios, os dois conheciam muito bem
aquele quarto, então caíram na cama juntos. Andy se sentou nos
quadris de Alex e beijou seu peito, subindo até chegar no seu
pescoço.
— Se você não sabe o que fazer, eu o ensino — ele
sussurrou em seu ouvido.
O loiro movimentou o quadril, fazendo Alex gemer. Ao mesmo
tempo que era extremamente excitante, ainda não parecia real.
Depois de tudo que passaram, depois das últimas semanas
infernais e de todas as dúvidas, eles estavam ali, juntos, fazendo
aquilo. Ele havia passado tanto tempo achando que estava
perdendo sua mente e agora estava entregando a sua sanidade de
bom grado para o outro.
Mas o momento de reflexão acabou quando Andy lambeu o
pau de Alex.
O loiro foi deixando que o moreno se acostumasse com cada
novo toque, engolindo-o em lentos e torturantes movimentos. Ele o
deixou ansiando por cada vez mais e com a certeza de que era
aquilo mesmo que eles deveriam fazer. Do jeito que Andy o
chupava, esfregando sua língua, não sobrava dúvidas.
Alex gemeu alto, ele colocou a mão nos cabelos de Andy,
mas ele não sabia o que fazer. Ele já tinha estado com várias
mulheres, mas nunca com um homem. E ainda tinha o fato de que
ele nunca tinha amado de verdade, mas já estava completamente
apaixonado pelo loiro estressado que no momento lhe dava prazer
de um jeito que ele ainda não tinha sentido.
— Primeira lição — Andy sussurrou ao seu ouvido —, eu não
sou frágil, sou tão resistente quanto você. Então não precisa ficar
pensando em como me tocar ou até em ser delicado.
O sonho bateu na mente de Alex com força, e foi como se
algo acordasse dentro dele. Ele os virou na cama, ficando por cima
de Andy e devorou sua boca. Podia até nunca ter estado com um
homem, mas ele era um e sabia do que gostava.
Ainda se beijando furiosamente, eles empurraram as roupas
para fora. Os lábios mal se desgrudavam. Os paus entraram em
contato, e os dois gemeram, um nos lábios do outro. Eles estavam
completamente duros e sensíveis. Alex mordeu o pescoço de Andy
e, se pudesse, deixaria várias marcas ali.
— Aqui. — O loiro esticou a mão para a gaveta da mesa de
cabeceira e puxou um pequeno frasco de lubrificante. — Não
pergunte.
— Depois eu vou sim — o moreno respondeu, sorrindo de
canto, e voltou a beijar o parceiro.
Andy abriu o frasco e encheu a mão, esfregou lubrificante no
pau de Alex, que gemeu, e depois no seu. Isso fez com o que se
esfregassem melhor, mas, para deixar tudo mais intenso, ele
segurou um contra o outro, aumentando a fricção.
A boca de Alex passou dos lábios para o pescoço de Andy e
desceu ainda mais. Ele queria explorar o corpo inteiro do outro,
queria conhecer cada pedaço, lamber cada parte e deixá-lo nunca
se esquecer de que agora, mais do que nunca, um pertencia ao
outro.
— Alex — Andy gemeu, e isso era como combustível.
O capitão mordeu o mamilo do loiro. As costas de Andy
arquearam enquanto ele ofegava, pedindo por mais. Os dois
movimentavam os quadris, buscando mais contato e mais prazer.
— Andy, eu preciso estar dentro de você — Alex murmurou,
mordiscando o lóbulo da orelha do outro.
— Eu também preciso que você faça isso — o loiro ofegou.
Eles se agarravam tanto, que não sobrava muito espaço.
Arranhavam um ao outro e se beijavam sem parar. Mesmo assim,
não parecia o suficiente.
— Mostre-me como faço isso. Eu não quero machucá-lo — o
pedido foi tão sincero e simples, que Andy sorriu. Mesmo no meio
daquela loucura, Alex estava preocupado com ele.
— Eu vou lhe mostrar. — Só porque o pedido havia sido fofo,
não queria dizer que ele ia perder a oportunidade de provocar Alex.
Ele colocou lubrificante nos dedos e começou a rondar a
própria entrada, suspirando e vendo o capitão engolir em seco. Ele
se acariciou por alguns momentos, até penetrar o primeiro dedo,
devagar, sem pressa nenhuma. Alex acompanhou cada movimento,
quase hipnotizado.
Andy aproveitou a distração e começou a beijar o pescoço do
parceiro. Eram beijos leves, mas combinados com o que mais
acontecia, faziam o capitão gemer baixinho.
Quando o loiro já estava com o segundo dedo, o moreno
colocou sua mão por cima, também fazendo carinho, sujando-se
com o lubrificante e o penetrando com um dedo. Ele virou seu rosto
e voltou a beijar o detetive. Enquanto o beijo era esfomeado e feroz,
os toques na entrada do loiro eram calmos, sutis e cuidadosos.
Andy o empurrou contra a cama e subiu no seu colo. Ele já
tinha se cansado de esperar.
— É sua última chance de desistir — o loiro zombou do outro,
posicionando o pau dele em sua entrada.
— Nem morto — Alex respondeu gemendo, sentindo o
contato da pele do parceiro.
— Sem mais dúvidas?
— Nunca mais. — Ele sorriu.
O loiro desceu devagar, acostumando-se, sentindo seu corpo
se adaptar ao do outro. Alex só percebeu que estava prendendo a
respiração, quando sentiu as coxas de Andy pressionadas contra as
suas, então respirou fundo. Se existisse um momento perfeito, era
aquele.
— Eu sonhei com isso — ele acabou murmurando, e o loiro
sorriu de canto.
— Sonhou? — perguntou, movimentando-se um pouco.
— Andy... — Alex gemeu alto.
— Sonhou ou não? — Ele se mexeu de novo.
— Sim... — ele ofegou, o movimento tinha sido maior.
— Então você já bateu uma pensando em mim? — O loiro
jogava sujo. Seus movimentos iam aumentando gradativamente, e
ele ainda queria que Alex conseguisse ter pensamentos coerentes.
— Sim. Algumas vezes.
— Tudo bem. — O detetive se inclinou até que sua boca
estivesse sobre o ouvido do outro. — Eu já me dei prazer muitas
vezes pensando em você.
Aquilo foi demais. Alex o virou na cama de novo e ficou por
cima. Os movimentos eram bagunçados, mas cada vez mais
intensos. Eles não ligavam se estavam suando, se estavam fazendo
barulho, se a cama rangia, eles só queriam mais.
— Aí! — Andy praticamente gritou quando Alex acertou o
ponto certo dentro dele, fazendo que o moreno só acertasse ali a
partir desse momento. Andy gemia de prazer, e sua entrada
apertava tanto o pau do outro, que nenhum deles sabia quanto
tempo mais aguentaria.
No único momento de quase lucidez que o moreno teve, em
que pensou que poderia estar machucando Andy, o loiro ameaçou
atirar na sua cara se ele parasse. Era essa uma das coisas que Alex
mais amava no seu parceiro. Não importava o quão intenso ou quão
forte ele batesse, Andy seria tão intenso quanto e bateria mais forte
de volta. E isso era sobre qualquer aspecto de suas vidas.
— Porra — Andy gemeu alto —, eu vou gozar...
— Então vamos — Alex grunhiu antes de lamber o pescoço
do loiro e mordê-lo.
Os orgasmos vieram rasgando, levando toda tensão e raiva
das últimas semanas. Eles não se importarem se estavam gritando
ou fazendo muito barulho, a sensação era bagunçada e confusa, um
prazer intenso demais para conter, muita loucura e uma liberdade
quase desesperadora.
Então veio a paz, e ficou só o prazer.
Demoraram um tempo para conseguir falar algo coerente. Os
corações disparados, as ondas de prazer ainda percorrendo seus
corpos e as respirações totalmente desreguladas. Os dois estavam
jogados na cama, praticamente sem se mexer.
— Precisamos tomar um banho — Andy comentou depois de
um tempo em silêncio.
— Daqui a pouco — Alex respondeu, um pouco sonolento.
— Não, estamos nojentos. — O loiro tentou se sentar, mas os
braços do moreno o puxaram de volta. — Alex?
— Mais tarde a gente se levanta, sério — ele disse, beijando
os lábios do loiro e o aninhando em seus braços.
— Eu falei para tomarmos banho naquela hora — Andy
resmungou.
Eles tinham acordado tarde, principalmente para os padrões
do capitão. Mas estavam tão cansados, e a cama parecia tão
confortável, que ficaram o máximo de tempo lá. Até que o início da
manhã foi fofo, Andy teve um receio de que pudesse ficar um clima
estranho, mas Alex agiu como se eles sempre tivessem dormido
juntos e fossem um casal havia anos.
— Pare de rir — o loiro reclamou. — Isso parece cola, mas
que merda.
— Deixe que eu o ajudo — Alex disse, pegando a esponja de
banho da mão do outro e esfregando seu abdômen, limpando os
vestígios da noite anterior.
Eles acabaram se beijando, e o beijo foi evoluindo. Aí usaram
o sabonete líquido para outra coisa, já que ficaram se esfregando e
beijando até gozarem, o que resultou em outro banho.
— Nós não usamos camisinha, tem algum problema? — Alex
perguntou quando eles estavam tomando banho, de verdade dessa
vez.
— A última vez que eu transei sem camisinha foi quando
ainda morava no Texas, e meses depois ganhei um casal de filhos
— o loiro respondeu. — Eu acho que estamos bem. Fora que você,
com seu jeito de louco, já fez irmos tantas vezes para o hospital,
que, se tivéssemos alguma doença, já saberíamos.
— Não importa o assunto, você acha um jeito sutil de me
chamar de louco. — O moreno riu.
— Não sútil. — Andy o beijou antes de ir para o quarto. —
Vou fazer algo para comer — falou, enxugando-se e colocando uma
boxer.
— Deixe que eu cozinho, troque o lençol enquanto isso —
Alex sugeriu, e o loiro revirou os olhos.
— Só porque eu queimo a comida de vez em quando não
quer dizer que eu faço isso sempre — ele resmungou.
Alex sorriu e o beijou antes de sair do quarto.
Ele arrumou a cama, e Alex fez o café da manhã. Tudo foi
natural, bem parecido com a maneira como eles já agiam. A única
diferença era que havia mais toques, e um sempre acabava
beijando o outro.
— Não, Alex, não pode.
— Por que eu não posso usar seu chapéu? — o moreno
perguntou, com o stetson preto na cabeça. — Fica bem em mim.
— Porque é meu. Se não encher o saco, eu até compro um
para você.
— Mas tudo que é meu é seu, e vice-versa.
— Transamos duas vezes e já casamos? — Andy perguntou
irônico.
— Você perdeu direito a propriedade privada naquele dia em
que entrou no meu escritório, há oito anos. E não tem como
contestar — Alex respondeu com um sorriso preguiçoso e ajeitando
o chapéu na cabeça. — Já era.
— Você está amando isso, não é? Me irrite para ver, não é
porque estamos em um relacionamento que eu não vou atirar em
você — o loiro respondeu, afastando-se para pegar seu celular, que
tocava.
— Você me ama, não tem mais como fingir que não — Alex
gritou, e o loiro ria.
— Oi, princesa, tudo bem? — Andy disse, atendendo à
ligação da filha.
— Oi, dada. Vocês estão de folga hoje?
— Sim, aconteceu algo? — ele perguntou, preocupado, e
Alex chegou perto, também ficando alerta.
— Não. Mais ou menos. — Ela bufou. — Eric e mamãe iam
levar os pequenos a um clube, mas eles brigaram de novo, para
variar. Eric saiu bravo, e mamãe se trancou no quarto. Acho que ela
também vai sair. Só que eu estou aqui sozinha com os pequenos, e
eles estão prontos para nadar. Eu marquei com meus amigos de
jogar vôlei na praia. Vocês não querem ir? Gwen e Evan estão
quase chorando aqui.
— Sua mãe não vai ficar brava? É o final de semana dela
com eles — Andy perguntou, mas Alex revirou os olhos e já tinha se
levantado para pegar o que levariam.
— Não se preocupe, eu me resolvo com ela — a menina
garantiu. — Andie, os gêmeos estão muito tristes aqui, e, como
vocês prometeram ensiná-los a surfar, achei que valia a pena tentar.
— “Vocês” não, o Alex que vai ensinar, eu vou ficar de boa na
areia — Andy resmungou, vendo o moreno sorrir, separando até as
bermudas para eles usarem.
Eles passaram na casa do capitão para trocar o carro, já que
o carro de Alex era melhor para transportar as pranchas, e verificar
a comida e a água de Bruce. Depois buscaram os filhos para ir à
praia. Os pequenos sorriram imensamente quando os viram e
ficaram muito animados para as aulas.
— Tio Alex! — Gwen correu e se jogou nos braços dele.
— Eu ainda sou o pai, só para lembrar — Andy resmungou.
— E como estão os treinos, princesa? — o moreno puxou o
assunto.
— A treinadora disse que meu desempenho é um dos
melhores e mandou dar parabéns para meu instrutor. — Ela riu. — A
Georgia é aluna do último ano e está brava porque pode perder o
cargo de principal para mim.
— Essa é a minha garota!
— Esportes não são sobre competir? — o loiro foi irônico.
Alex e Amy deram de ombros ao mesmo tempo.
— Dada, vai ter uma competição de judô em Orlando. Eu
queria muito participar, mas a mamãe disse para perguntar se você
pode me levar. Por favor! — Gwen pediu.
— Quer muito participar, não é?
— Sim! Muito! São só dois dias.
— Ser em Orlando não tem nada a ver com isso, não é?
— Se sobrar tempo e a gente puder ir para a Disney, seria
bom... — ela sorriu, e o pai revirou os olhos, rindo.
— Aprenda, pequeno gafanhoto — Amy disse para a irmã. —
Tio Alex, todos nós podemos assistir à competição da Gwen e
depois passear em um dos parques para comemorar. O que acha?
— Eu gosto da ideia — ele concordou.
— Eu mereço vocês. — Andy bufou.

— Tem certeza de que não quer ir? — Alex perguntou para


Andy, que estava se sentando na esteira de praia.
— Sim e estou ótimo com isso. — Andy sorriu.
— Você que sabe. — O moreno revirou os olhos, roubou um
beijo rápido e se virou para os pequenos. — Vamos aprender a
surfar de verdade?
— Sim! — as crianças comemoraram.
Andy ainda estava paralisado no lugar. Alex tinha feito
mesmo isso?
Ele olhou para o lado, e Amy estava sentada na esteira,
mexendo no celular e agindo normalmente. O detetive se sentou ao
lado dela e ficou esperando que a filha perguntasse algo, mas ela
não pareceu ligar.
— Pronto, depois que eu apresentei vocês para os meus
amigos, eu não posso ficar um tempo com vocês, que eles querem
vir atrás — ela reclamou, respondendo à mensagem. — Tudo bem
se Serena, Alicia, Makayla e Ian ficarem aqui com a gente?
— Tudo bem, mas por que eles querem ficar com a gente? —
ele perguntou, ainda esperando alguma pergunta, algum surto. Ele
abriu a garrafa de água, tentado disfarçar. Será que ela não tinha
visto que Alex tinha o beijado?
— Os quatro têm um crush gigante em vocês. — Ela revirou
os olhos. — Ao mesmo tempo que eles shippam vocês, também têm
uma paixãozinha. Eu disse que é nojento, por favor, meu pai e
meu... segundo pai? Como eu me refiro? Padrasto ou continuou
mesmo com tio?
— O quê? — Ele quase se engasgou com água que bebia.
— É que agora que vocês resolveram demonstrar em público,
eu posso começar a chamar o tio Alex de padrasto? Se bem que é
estranho ficar chamando alguém desse jeito — ela disse, distraída.
— Enfim, depois eu converso com ele. Talvez os gêmeos e eu
devemos chamá-lo de papa ou algo assim. — Ela deu de ombros.
— Espere, vamos por partes. Demonstrar em público?
— É, vocês se beijaram na nossa frente — ela respondeu
como se fosse óbvio. — Não entendo por que nunca fizeram isso
antes.
— Amy, nós não estávamos juntos antes — o loiro disse.
A menina abaixou o celular, olhando-o espantada.
— Sério? Eu sabia que no começo vocês não estavam, mas
vocês agem como casal há tanto tempo, que eu achei que já
estivessem juntos há anos. Quando que vocês começaram?
— Ontem.
— Ontem? — Ela perguntou e começou a rir. — Oh, Meu
Deus, dada, sério? — O pai cerrou os olhos, e ela tampou a boca
com as mãos. — Quer dizer, que fofo, vocês finalmente se
resolveram e estão à vontade para demonstrar os sentimentos em
público.
— Não que a gente tenha conversado sobre isso. — Andy
bufou.
Ele olhou para a frente, vendo Alex ensinar a Evan e Gwen
como ficar de pé na prancha. Eles riam bastante. O loiro respirou
fundo e acabou sorrindo com a cena.
— Dada, você está feliz? — Amy perguntou, chegando mais
perto dele.
— Sim, agora estou — ele disse, envolvendo a filha com os
braços.

— Você entendeu? — Andy perguntou de novo, e Alex


revirou os olhos.
— Sim.
— Então me fala qual é o plano?
— Não chamar atenção — Mitchell disse como uma criança
repetindo ordens. — Precisa disso mesmo?
— Precisa sim, porque eu o conheço, e você só tem dois
modos: ou vai fingir que não tem nada acontecendo ou vai chegar
jogando na cara de todo mundo.
— E você escolheu fingir que nada está acontecendo. Isso
quer dizer o quê? Que você não está pronto para assumir um
relacionamento assim ou, pior, não está pronto para assumir um
relacionamento comigo?
— Não, não. Você não vai jogar isso para cima de mim. Eu
estou falando que temos que ir com calma e contar aos poucos.
Você é o chefe, a autoridade maior na equipe.
— Então eu mando em você? — Alex perguntou, com um
sorriso malicioso.
— Alex! Foco na conversa!
— Mas foi você que falou — ele se justificou.
— Isso vai ser mais difícil do que pensei. — Andy passou as
mãos pelo rosto. — Vamos tentar de novo. Antes de contarmos para
todo mundo, precisamos ter certeza dos nossos sentimentos, de
qual é o nosso relacionamento e se isso vai dar certo. Temos que
pensar muito bem.
— Por quê? — Alex perguntou, revoltado.
— Como assim “por quê”? Porque é assim que pessoas
racionais fazem. Elas pensam antes de agir e tomam decisões
responsáveis. E se não der certo entre a gente? E se daqui há
algumas semanas você perceber que não é isso que você quer?
— Por que seria eu quem perceberia que não é isso o que
quer?
— Jura que, de tudo isso, você só ouviu essa parte?
— Você precisa parar de ser tão pessimista. Acho que, na
verdade, você está surtando com tudo isso e está usando de
desculpa para o seu medo.
— O quê? Alex, eu... — Andy parou e respirou fundo. Ele
podia até amar o moreno, mas havia momentos em que atiraria nele
se pudesse. — Só foi um exemplo. O que eu estou querendo dizer é
que tudo isso é muito novo, devemos aproveitar o momento e
decidir um passo de cada vez.
— Eu discordo.
— É claro que ele discorda. — O detetive revirou os olhos.
— Olha, nós nos conhecemos há anos. Eu já vi o seu melhor,
seu pior; e você, o meu. Sabemos tudo um sobre o outro — o
capitão falava, e o loiro levantou a sobrancelha. — Ok, AGORA
realmente sabemos tudo um sobre o outro.
— Você lembra que toda essa história começou assim, não
é? — Andy provocou.
— Uma hora tinha que acontecer. Acho que enrolamos
demais — Alex disse sinceramente.
— Agora ele acha isso, mas foi o mesmo idiota que passou
um mês estranho e mal falando comigo.
— Você está desviando do assunto — Mitchell falou, fazendo
Andy rir. — Nós estamos juntos.
— Juntos como? Somos parceiros? Amigos? Amizade
colorida? Um relacionamento real?
— Vamos ter essa conversa de novo? — Foi a vez de Alex
revirar os olhos. — Estamos juntos, e é isso que importa.
— Você fala como se fosse simples.
— Mas é. Você e eu estamos namorando. Ponto. O que mais
precisa?
— Você demorava anos para assumir relacionamentos, agora
resolveu tudo em uma noite?
— Somos parceiros há anos. — Ele deu de ombros, e Andy
negou com a cabeça. — Ok, mas eu não vou mentir para ninguém.
— Não estou falando para mentir, só para pensar muito bem
antes de tomar uma decisão.
— Certo, eu consigo fazer isso — Mitchell garantiu, e Andy
suspirou.
Ele não ia conseguir.
O escritório estava calmo, o que era estranho para eles, mas
existiam alguns dias de paz, e esse parecia ser um deles. Eles
usaram o dia para finalizar todos os casos em que tinham
trabalhado nas últimas semanas. Como tudo era sempre uma
correria, eram esses momentos que eles usavam para resolver a
burocracia. Porém o telefone de Alex tocou, e eles souberam que a
paz tinha acabado.
— O que será que aconteceu agora? — Mal perguntou para
Andy, Maddy e Eli quando se encontraram no corredor.
— Não sei, mas Alex está sério. Deve ser algo de alto
escalão — Eli respondeu.
— Não sendo terroristas de novo, eu já agradeço — Andy
comentou, os quatro indo até a mesa inteligente, onde sabiam que
seria a reunião.
— Não quer bater o recorde de vocês? Vocês já quase
morreram em explosões duas vezes no mesmo mês. Mais uma, e
vocês batem o recorde — Maddy brincou.
— Só se desta vez você ficar na linha de explosão com ele.
— O loiro riu.
— Todo mundo sabe que esse é o seu dever — Eli falou,
fazendo os outro rirem.
— Temos um caso — Alex avisou, acessando as informações
do caso e jogando-as nas telas. — Esses são Mark Miller e
Jonathan Tripp. São acusados de vender informações
internacionais. Chegaram à Flórida ontem, vindos de Nova York. No
momento estão em Jacksonville, mas irão para Tampa. O FBI e a
polícia de Nova York acreditam que eles roubaram informações
sigilosas do consulado japonês e pretendem vender aqui para um
grupo extremista de terrorismo.
— Por que sempre tem terroristas? — Andy resmungou, e Eli
colocou a mão em seu ombro, em solidariedade.
— Vai ser uma investigação em conjunto? — Maddy
perguntou.
— Sim, vamos trabalhar tanto com o escritório do FBI de
Nova York, quanto com investigadores do caso. O governador quer
que fiquemos de olho em tudo, e lembrem-se de que aqui é o nosso
território — Alex respondeu sério. — Vamos tentar trabalhar sem
brigas e com cooperação.
— Eu sempre acho engraçado como tratamos o FBI como
uma coisa separada de nós, sendo que a HRT é do FBI. — Mal riu.
— A diferença é que nós somos mais legais que eles —
Maddy brincou.
— Alex nós sabemos trabalhar sem causar brigas, mas você
vai se lembrar disso quando estivermos em campo? — Andy
perguntou. — Você socou o último agente que trabalhamos em
conjunto, lembra?
— Se ninguém me der motivo, não tem razão para eu socar
alguém. — O capitão deu de ombros.
— Quais as chances de o chefe não se irritar com alguém?
— Maddy se virou para o primo.
— As mesmas de Andy não reclamar de algo que o Alex fizer
— Eli respondeu, e eles trocaram um soquinho, rindo.
— Vocês são hilários. — O detetive revirou os olhos.
— Eu tenho uma pergunta. — Mal levantou a mão. — Vocês
terão que ir para Tampa, mas eu também preciso ir?
— Não vejo para quê. Pode ficar cuidando de tudo daqui
mesmo — o capitão respondeu.
— Sim! — Mal comemorou.
— Por que eles precisam de uma equipe do HRT com eles?
Já têm o FBI, não é situação com reféns — Maddy ponderou.
— Foi sugestão do governador. Ele teme que isso possa virar
uma situação maior e já nos quer dentro do caso.
— Certeza de que ele vai usar isso para reeleição — o loiro
resmungou, e os outros concordaram.
— Antes de irmos, eu preciso falar uma coisa com vocês —
Alex falou sério, e Andy inspirou fundo. — Sei que fiquei meio
distante nas últimas semanas e acabei não lhes agradecendo
direito. Não sou muito bom com as palavras, mas quero agradecer a
todos. Se vocês não tivessem sido tão rápidos, eficientes e,
principalmente, não tivessem insistido em mim, eu teria morrido.
Tenho muito orgulho de chamá-los de “Ohana”.
— Oh, o chefe está emotivo hoje — Maddy brincou.
— Pelo menos sabemos que ele realmente tem sentimentos
— Andy completou, e os todos riram. O loiro se sentia aliviado por
Alex ter falado sobre outra coisa, e não sobre o que ele estava
pensando que fosse.
— Não precisa agradecer, irmão. Somos família — Eli disse,
abraçando Mitchell.
— Eu realmente amo vocês. — Alex sorriu. — Que tal
sairmos para comemorar depois que este caso terminar?
— Mas desta vez você vai pagar? — Maddy provocou.
— Ele vai, porque desta vez eu que vou esquecer minha
carteira — Andy respondeu à amiga.
— Vocês são muito exagerados, até parece que eu nunca
convidei vocês para nada. Ah, Maddy, Eli, Mal, antes de irmos quero
contar que Andy e eu estamos namorando.
Os quatro ficaram em silêncio, apenas olhando Alex, que
parecia à vontade, como se não tivesse falado nada demais.
— Espere, o quê? — Eli perguntou.
— Andy e eu estamos namorando — Mitchell repetiu, não
entendendo a confusão dos amigos. — Um com o outro, sabe?
— Alex! — Andy falou, passando a mão no rosto. — E a
história de pensar bem antes de agir?
— E pensei, somos uma família, não precisamos esconder
coisas uns dos outros.
— Só um minuto — Mal falou. — Você só está nos contando
agora que estão namorando ou vocês começaram a namorar
agora?
— Ontem à noite, para ser mais exato — o detetive
resmungou.
— Antes era só casual? — Mal perguntou, confuso.
— Quê? — Andy estava tão confuso quanto ele.
— Agora eu fiquei surpresa — Maddy exclamou. Na verdade,
todos pareciam estar. — Eu achei que vocês estavam namorando
há tempos, mas era tão óbvio, que ninguém falava disso, como se
fosse algo subentendido, sabe?
— Sendo sincero, eu também achei — Eli comentou. —
Principalmente depois do dia em que vocês ficaram presos nos
escombros daquela explosão. Quando resgatamos vocês, o Alex
não queria largar o Andy. Não era coisa de amigos, então só
confirmou o que eu já achava.
— Ótimo, realmente ótimo, todo mundo sabia que estávamos
juntos, menos a gente — Andy resmungou. — Ninguém poderia ter
falado?
— Mas era óbvio — Maddy respondeu —, nós até chamamos
vocês de papai e mamãe.
— O quê? Quem chama a gente assim? — O loiro estava um
pouco revoltado, já Alex ria.
— Todo mundo — eles falaram juntos.
— Quem é o papai? — O capitão perguntou.
— Essa é a sua pergunta? — O detetive exclamou, revoltado.
— O Alex, é obvio — Maddy respondeu.
— O quê? Por quê? — Andy colocou a mão na cintura, já o
namorado ria ainda mais.
— Porque você é mais preocupado e dá bronca em todo
mundo. Alex é quem bate nos outros pela gente. — Mal tentava
explicar. — Sei lá, só fez sentido.
— Também acho que faz sentido — Alex concordou.
— Tem como esse dia piorar? — Andy perguntou, revirando
os olhos.
— Irmão, não aprendeu que nunca pode dizer isso? Os
espíritos devolvem a provocação — Eli avisou.

Andy nem acreditava muito que “o karma volta contra você”,


mas, quando chegaram para encontrar os outros agentes que
trabalhariam no caso, e a primeira coisa que escutou foi “Detetive
Andrew Malloy? Eu não acredito que é você!”, ele começou a
acreditar.
— Agente Holt Banks — Andy respondeu ao abraço. — Fazia
muito tempo que não nos víamos.
— Cara, você está ótimo — o agente Banks sorria para Andy
e tinha sua mão no ombro do detetive.
— Obrigado, você também — Andy respondeu, um pouco
sem graça. Ele olhou para o lado, e Alex estava de braços cruzados
e com os olhos cerrados. — Este é o meu parceiro, Alex Mitchell.
— Ah, olá — Banks estendeu a mão para Alex, que não
sorria. — Então você é o parceiro do nosso Drew.
— Sim, Andy é o MEU parceiro.
— Aqui eles me chamam de Andy — o loiro explicou. —
Mitchell também é o capitão da HRT.
— Já ouvi muito sobre vocês, dizem que são radicais —
Banks comentou. —Resolvem as coisas de um jeito que os outro
não fariam.
— Você nem faz ideia. — Mitchell sorriu de canto.
— Ok, melhor conversamos sobre o caso, não? — Andy
sugeriu.
— Eu avisei — Eli disse, passando por ele.
A reunião com as três forças policiais aconteceu sem
problemas, mesmo que Alex fechasse a cara toda vez que Banks se
inclinava em direção a Andy para comentar qualquer coisa. Porque
é claro que o agente teve que se sentar bem ao lado do detetive,
para complicar tudo.
Em um momento, Andy fez um gesto para Eli, quase
implorando por ajuda. O amigo revirou os olhos, mas acabou
aceitando. Os dois se levantaram para pegar café, mas, na hora de
voltar para seus lugares, Eli se sentou onde Andy estava antes, e
Andy foi para o lugar de Eli, ficando entre Alex e Maddy.
O caso era simples, em teoria. Os dois suspeitos se
encontrariam em um hotel em Tampa. Então alguns agentes se
infiltrariam como hóspedes; outros, como funcionários, para
observar e prender todos os envolvidos. Porém, fora todo o perigo
envolvido, isso queria dizer que todos teriam que pegar um voo para
Tampa. Ou seja, Andy estaria preso com Alex e Banks por horas.
— Podemos colocar alguém na suíte no mesmo corredor que
eles. — Um dos agentes sugeriu.
— Que tal eles — Banks apontou para Maddy e Eli. — Eles
podem se passar por um casal.
— Não, nós somos primos, seria muito estranho — ela
recusou. — Mas eu posso ir com o Andy. Trabalhamos juntos há
anos, seria fácil.
— Por mim, tudo bem — o loiro concordou.
— Então precisamos saber o que os outro farão — outro
agente falou.
— Eli, eu quero você no bar — Alex tomou o controle da
situação. — Eu preciso que você verifique todos que entrem em
contato com eles. Eles não viriam aqui sozinhos. Se escaparam até
agora, é porque sempre têm planos para isso. Eles devem saber
que observaremos, então temos que ir com calma.
— Aqui diz que Jonathan Tripp gosta de massagem. Posso
entrar no estúdio de massagem e usar isso para clonar as
informações — Maddy sugeriu, e Alex aceitou.
— Quem estará no quarto do mesmo corredor que eles? — O
agente de Nova York perguntou.
Andy suspirou, pois sabia o que Alex falaria em seguida.
— Andy e eu vamos — o capitão respondeu.
— Dois amigos vão chamar atenção — Banks tentou falar.
— Você não precisa se preocupar — Alex o interrompeu. —
Andy é meu parceiro, agir como casal não será nenhum problema
para nós.
A reunião acabou e todos foram se preparar. Os membros da
equipe voltaram para suas casas para arrumar as malas. A
expectativa era que a operação durasse apenas três dias, mas
sempre precisavam estar preparados para qualquer coisa.
— Fale logo — Andy disse enquanto preparava sua mala.
— Você e Banks? — Alex perguntou, de braços cruzados.
Eles estavam no quarto do loiro.
— Sim? — O detetive suspirou, sabia que a pergunta viria.
— Andie, não me enrole. Vocês já tiveram alguma coisa?
— Sim, Alex, nós ficamos uma noite. Foi depois do meu
divórcio, e estávamos em um bar. Acabamos bebendo e terminamos
no banheiro do bar — Andy explicou com calma.
— Vocês transaram? — Ele perguntou, franzindo os lábios.
— Eu não chamaria aquilo de transa, foi mais um alívio
rápido. E depois fingimos que aquilo não tinha acontecido.
— Por quê?
— Você preferia que começássemos a namorar? — o loiro
zombou, fechando a mala.
— Andie! — Alex brigou, e o detetive revirou os olhos.
— Aparentemente, Banks é do tipo de hétero que esquece
que é hétero quando bebe algumas doses de álcool. Ele foi detetive
no Texas antes de se transferir para Nova York. Trabalhamos em um
caso complicado, e tinha toda a situação da minha vida pessoal que
estava uma merda. Barbara estava noiva de Eric, e eu sabia que ela
podia acabar se mudando com a Amy.
— Então você estava no bar e resolveu se aliviar fodendo
com um idiota qualquer?
— Você nem o conhece e já acha que ele é um idiota? —
Andy sorriu de canto.
— Meus instintos dizem que ele é. — Alex deu de ombros, o
que fez o detetive rir alto.
— Seus instintos? — o loiro perguntou, abraçando o
namorado.
— Sim, e eu nunca questiono meus instintos — ele
resmungou, aceitando o abraço. — Não gosto do jeito que ele fica
tocando em você, nem de como fala ou olha para você.
— Alex, eu não me importo com o que Banks faz. Eu não me
importava na época em que ficamos e não me importo agora. Na
verdade, eu nem lembrava que ele existia. — Andy beijou o seu
rosto. — Você não pode ficar todo bravo sempre que ele se
aproximar de mim, vamos trabalhar juntos.
— Eu posso — ele murmurou e beijou o loiro. — Mas, desde
que ele não passe dos limites, eu não vou fazer nada, ok?
— Certo, acho que isso é o melhor que eu vou conseguir. —
Andy riu. — Agora precisamos ir para a sua casa. Amy vai nos
encontrar para pegar as chaves.
— Ok. — Alex bufou, mas, assim que Andy deu o primeiro
passo, puxou-o de volta e o beijou.
Eles foram para a casa do capitão, e Alex foi arrumar suas
coisas enquanto Andy brincava um pouco com Bruce. Só que,
quando ele desceu as escadas, o loiro revisou a mala e o fez voltar
para colocar mais coisas.
— Por quê? — Alex perguntou, indignado, enquanto Andy
colocava mais roupas na mala.
— Porque, teoricamente, somos um casal de férias na praia.
Ninguém vai para a praia, ainda mais em uma viagem romântica, só
com duas camisetas, Alex.
— Serão três dias, eu já vou com uma, o que dá três
camisetas — ele respondeu. — Para que mais?
— Vai ser sempre assim? — Andy suspirou, separando uma
calça e um par de sapatos sociais. — Para que você está levando
mais uma arma? Alex, pelo amor de Deus, lembra que estamos à
paisana? Temos que fingir que só estamos aproveitando as férias,
não que vamos matar alguém!
— Isso sou eu aproveitando as férias — ele cruzou os
braços.
— Esse é o seu jeito de aproveitar as férias? Eu juro, quando
formos viajar de verdade, eu faço as malas. Não vou correr o risco
de você levar só duas trocas de roupas, quatro armas e três
granadas — o loiro resmungou, mas o moreno sorriu.
— Cheguei — Amy gritou do andar inferior, sendo recebida
pelo cachorro, que fez festa ao vê-la.
— Vá lá conversar com ela e mostrar as coisas do cachorro,
que eu termino aqui — Andy mandou, ajeitando a mala, e Alex
revirou os olhos, mas foi encontrar com a garota.
— Oi, tio — Amy o abraçou. — Andie falou que vão ficar fora
por causa do trabalho e me pediu para cuidar do Bruce.
— Sim, da última vez que Bruce ficou com o Kane, ele
alimentou meu cachorro com restos de linguiça. Gastei muito com
veterinário. — O moreno suspirou, e a menina riu. — Você pode
dormir aqui se preferir, para não ter que vir todos os dias.
— Acho que é melhor. Tudo bem se eu chamar uma ou duas
amigas para dormir comigo?
— Claro, só não vá dar uma festa.
— Terminei — Andy disse, descendo as escadas com a mala
do namorado. — Oi, princesa.
— Oi, dada — ela abraçou o pai.
— Cuidar do Bruce não vai atrapalhar você?
— Não, pelo menos aqui eu fico em paz. Mamãe e Eric
resolveram que vão fazer uma “viagem em família”. Ficando aqui, eu
tenho desculpas para não ir. — Ela deu de ombros. — Boa viagem.
Eu ia falar para se divertirem, mas é a trabalho.
— Ah, mas eu vou me divertir, sim. — Alex sorriu de canto.

— Preparado? — Eli brincou antes de embarcarem no voo.


— Que bom que você está se divertindo com isso — Andy
resmungou, e o outro riu.
Eles tinham passado no escritório e discutido o assunto com
a equipe. Releram arquivos e perceberam que um dos
contrabandistas parecia estar acompanhado da namorada. Eles
chegaram à conclusão de que chegar até ela seria mais eficiente, o
que ficou a cargo de Maddy, com o auxílio de Andy. Eli ficaria
responsável por observar a movimentação e investigar cada um que
parecesse ter proximidade com os suspeitos, enquanto Alex ficaria
de olhos nos bandidos.
Após isso, eles foram para o aeroporto. A partir daquele
momento, eles já eram seus personagens, apenas um casal que
estava indo curtir uma semana em uma praia paradisíaca. Maddy e
Eli se sentaram longe deles. Ninguém queria levantar suspeitas. O
agente Banks estava no mesmo voo, assim como o resto dos
agentes e policiais, só que, enquanto todos estavam espalhados,
ele estava sentado próximo demais.
— Ele está me testando? — Alex perguntou.
— Ele nem deve ter entendido que estamos namorando —
Andy respondeu. Ele estava usando seus fones de ouvido enquanto
assistia a um episódio de uma série.
— Então ele é bem burro — o moreno resmungou.
— Não acho que nós podemos julgá-lo por isso, não é? — O
loiro deu de ombros.
— Idiota — murmurou, vendo que o agente tinha olhado de
novo para eles.
— O que você está fazendo?
— Nada, só agindo como casal — Alex comentou, passando
seu braço em volta dos ombros do loiro e o puxando contra si.
Também pegou um dos lados do fone para colocar no ouvido e
assistir junto. O loiro só respirou fundo, não ia se estressar ainda.
Assim que desembarcaram no aeroporto de Tampa, Alex
pegou a mão de Andy, e eles ficaram esperando suas malas. O loiro
queria rir de desespero, mas precisava manter o personagem. Pelo
menos nenhum dos agentes, principalmente Banks, estava à vista,
assim Alex se acalmava.
— Chefe está irritado. — Maddy riu na ligação.
— Você nem faz ideia — Andy bufou. Estava com Alex em
um táxi, rumo ao hotel.
— Eu estou ouvindo — o capitão resmungou, mexendo no
próprio celular, relendo informações do caso.
— Você já ficou com aquele cara, não é? — Ela riu. —
Certeza de que ficou, e ele quer aproveitar a estadia na Flórida para
relembrar os velhos tempos.
— Você não me ajuda. — O loiro passou a mão pelo rosto,
ignorando o namorado, que o olhava fulminante. — Como que você
consegue ouvir ela falando? Desenvolveu super audição agora?
— Anos de treinamento. — Ele deu de ombros e voltou a
mexer no próprio celular.
— Alguém está ferrado — ela cantarolou, e Andy conseguiu
ouvir a risada de Eli ao fundo.
— Amizade é tudo — o detetive resmungou.
A conversa se voltou ao caso. Aquele era um trabalho em
conjunto, a equipe fazia questão de estar em sintonia e dividir entre
si todas as informações. Um confiava sua vida ao outro. Eles se
entendiam tanto, que eram capazes de prever os movimentos uns
dos outros, por isso eram tão bons. Exceto Alex, que do nada virava
uma chave na sua cabeça e tomava a atitude mais inconsequente
possível. Mas no final as coisas tendiam a dar certo.
O hotel era do tipo luxuoso. Ficava a poucos metros da praia,
tinha piscinas internas e externas, o próprio SPA, quadras de tênis,
um bar e um clube noturno próprio. Eles foram recepcionados pela
simpática atendente. Enquanto ela falava de todas as maravilhas do
hotel, Andy tocou o braço de Alex como se estivesse fazendo
carinho. O capitão olhou de canto e viu Mark Miller e Jonathan Tripp,
os dois suspeitos, fazendo o check in. Miller estava com o braço em
volta da namorada, e Tripp falava com alguém ao telefone em
alguma língua que eles não identificaram.
Os dois entraram no mesmo elevador que eles, os cinco em
silêncio. Andy olhou para a loira, namorada de Miller e sorriu,
cumprimentando-a. A mulher olhou para sua mão dada à de Alex e
sorriu de volta para ele. Todos saíram no mesmo andar, e ela deu
um tchau para ele com a mão.
— Este é o nosso quarto — Alex disse, abrindo a porta.
— Gostei — Andy falou. O quarto era grande, tinha uma
antessala, suíte com banheira, closet e um frigobar completo. —
Que bom que é o FBI que está pagando, porque eu não conseguiria
pagar por este lugar. — Ele se deitou na cama extremamente
confortável.
— Podemos ir para algum lugar assim nas nossas férias —
Alex comentou, sentando-se na beira da cama.
— Tenho três filhos. Sabe quanto gasto? — O loiro riu. —
Nunca que sobraria tanto dinheiro para eu gastar mais de trezentos
dólares na diária em um hotel.
— Eu posso pagar — Alex disse, pensativo. — Amy me
perguntou uma coisa hoje, e fiquei pensando nisso.
— No quê? — Andy perguntou, mas estava se enrolando nos
lençóis frios. Aquilo era cetim?
— Ela perguntou se deveria me chamar de tio ou de papa —
ele falou baixo, até um pouco inseguro. — Isso o incomoda?
— O que me incomodaria? — O detetive estava curtindo a
cama, ele poderia dormir naquele momento, de tão confortável que
era.
— Amy me falou que ela e os gêmeos estavam pensando em
me chamar de papa, sabe? Como pai. Isso o incomoda? — Alex
perguntou direto, e Andy levantou a cabeça, olhando para ele.
— Por que me incomodaria? Você já age assim e tem me
ajudado com eles há anos. A forma como eles o chamam não vai
mudar o que já acontece. Alex, batizamos os gêmeos em sua
homenagem, mesmo que a mãe deles não saiba. Então por que eu
teria problemas com eles o verem como uma figura paterna? — Ele
voltou a se deitar. — Fora que isso quer dizer que você vai ter de
dividir os gastos comigo, ou seja, mais dinheiro sobrando para mim.
— Sinto que você está tirando vantagem financeira do nosso
relacionamento — Alex disse, sorrindo, deitando-se ao lado de
Andy.
— É exatamente esse o meu objetivo — o loiro respondeu e
beijou o namorado.
Alex passou o braço pela cintura de Andy, puxando-o para
mais perto, sem interromper o beijo. O loiro envolveu seus braços
em volta do pescoço do moreno. Uma coxa de Alex ficou entre as
coxas de Andy, um se pressionando ao outro.
Mas o beijo foi interrompido quando bateram à porta.
— Merda — Alex esbravejou.
— Vá atender. Enquanto isso, eu tomo um banho — Andy
disse, batendo no ombro do namorado. Eles trocaram um beijo
rápido, e o loiro foi para o banheiro.
Alex suspirou e foi atender à maldita porta. Ele sabia que logo
teriam que descer para circular pelo hotel, mas podiam aproveitar o
tempo que tinham. Quem sabe tomar um banho juntos? Mas agora
estava perdendo tempo abrindo a porta para um idiota qualquer. Ele
sabia que não era sua equipe e não devia ser do hotel, então a
pessoa devia ser apenas um idiota os incomodando.
— Só pode ser brincadeira — ele resmungou, irritado, dando
espaço para o agente Banks entrar. — Você sabe que não deveria
estar aqui.
— Não se preocupe, verificamos os suspeitos e ninguém me
viu — ele respondeu, olhando em volta, seu olhar parando na cama
desarrumada. — Precisava lhe entregar isto.
— E não podia ter esperado? — O capitão recebeu o grande
envelope. Lá havia alguns relatórios, dois rastreadores e um
gravador.
— Aproximem-se dos suspeitos e tentem colocar os
rastreadores. — Banks olhou em volta de novo.
— Nossa, eu nem tinha pensado nisso — Alex disse, irônico.
— Alex, eu esqueci o meu... — Andy disse, saindo do
banheiro com uma toalha enrolada na cintura e o corpo todo
molhado.
Alex e Banks estavam na antessala do quarto, com visão
direta para Andy. Os três ficaram parados em silêncio, olhando um
para o outro. As gotas de águas escorriam do pescoço do detetive,
passando pelo peito, descendo pelo abdômen e sumindo na toalha,
que nem parecia muito apertada.
— Com licença — Alex entrou na frente de Banks, tampando
Andy. — Mais alguma coisa ou você já pode sair?
— Claro — o agente disse, meio bobo.
Mitchell abriu a porta e, assim que Banks passou por ela,
fechou-a novamente, na cara do agente federal, então se voltou
com cara de bravo para Andy.
— Eu não fiz nada — o loiro disse e voltou para o banheiro,
mas deixando a porta aberta.
Alex bufou, mas tirou a camiseta e seguiu o namorado.

— Você não é o rapaz do elevador? — a moça loira


perguntou, e Andy fingiu que só então a reconheceu.
— Sou. — Sorriu para ela. — Sou o Andrew.
— Prazer, Lucy — ela respondeu, apertando a mão dele.
— Sente-se aqui — ele disse.
Eles estavam em um dos bares do hotel. A investigação
havia passado o dia todo atrás dos suspeitos. Maddy tinha
conseguido copiar parte dos arquivos do celular de um dos
criminosos. Eli tinha identificado um dos possíveis compradores, e
ele e Alex foram verificar. Andy ficou no hotel para ficar de olho nos
bandidos e colocou em prática o plano de tentar se aproximar
— Obrigada, eu não conheço ninguém por aqui. — Lucy Bay
se sentou ao lado do detetive. Andy já sabia quase tudo sobre a ex-
modelo. — Meu namorado foi resolver alguma coisa do trabalho e
me deixou aqui.
— Eu entendo. O meu encontrou com um amigo e sumiu com
ele. — Andy revirou os olhos e bebeu um gole da sua bebida.
— Ele é mesmo seu namorado? Eu vi vocês de mãos dadas,
mas estava com vergonha de perguntar. Vocês formam um casal
lindo — Lucy disse, sorrindo. — Me traz um dry martini.
— Claro — Maddy respondeu. Ela estava como bartender no
momento, já preparando a bebida.
A loira deixou a bolsa sobre o balcão, e Maddy colocou o
aparelho que copiava as informações ao lado, escondido pelos
guardanapos. Andy tinha que a distrair enquanto o aparelho clonava
o celular da moça.
— Achei que vocês estivessem de férias — o detetive
comentou com a loira.
— Eu também achei que seria, mas é assim com Mark,
sempre trabalho. “Temos que viajar Lucy, vamos para Paris” ou
“tenho negócios em Nova York, não podemos passear” — ela o
imitava. — Quando ele falou que viríamos para a Flórida, eu pensei
“ok, vamos nos divertir um pouco”, mas parece que ele está ainda
mais estressado desde que embarcamos.
Maddy e Andy trocaram olhares rapidamente, mas nenhum
saiu do personagem.
— Sei como é, o meu está sempre trabalhando e tem que
viajar, às vezes do nada — Andy lamentou, e Lucy colocou sua mão
sobre seu ombro, em solidariedade. O detetive se perguntou se ela
não sabia o que o namorado fazia.
— Vocês estão juntos há muito tempo?
— Podemos dizer que alguns anos — ele brincou. — E você
e o... Perdão, eu me esqueci do nome do seu namorado.
— Mark — respondeu. — Só estamos juntos há uns seis
meses. Quando o conheci, eu pensei que ele era o homem certo
para mim, mas agora eu fico pensando se não foi só empolgação.
Ele anda tão distante, parece que eu nem o conheço.
— É difícil. — Andy viu Maddy revirando os olhos atrás da
loira. — Às vezes ele só está estressado. Quando o meu namorado
está assim, ele fica mais na dele também, arruma qualquer desculpa
para focar no trabalho e esquecer o resto.
— Você tem razão. — Lucy sorriu, e Andy quase sentiu mal
por ter enganado a mulher, mas ela estava aproveitando com o
dinheiro ganho pela morte de milhares de pessoas, e ele ainda não
sabia se ela era totalmente inocente. — Quando eu vi que ele
alugou um carro, achei que íamos dar um passeio, mas ele disse
que era para resolver coisas do trabalho. — Ela revirou os olhos. —
Agora é hora do jantar, e ele me deixou sozinha.
Maddy fez um sinal de que já tinha terminado e colocou o
aparelho discretamente no bolso.
— Por que não vamos jantar? — o detetive sugeriu. Quanto
mais tempo passasse com a loira, mais informações obteria. Fora
que, se encontrasse com o namorado, era o momento de usar os
rastreadores.
— Claro — ela aceitou, animada.
— Só vou pagar a contar — ele disse, aproximando de
Maddy e entregando a comanda do seu quarto. — Diga a Alex para
voltar o mais rápido possível. Se o namorado dela chegar e nos
encontrar a sós, desconfiará de mim — ele murmurou, mal mexendo
os lábios.
— Tudo certo. Tenha uma boa noite, senhor.
Andy e Lucy foram para um restaurante que tinha música ao
vivo. Ele percebeu que a loira não tinha a menor ideia do que o
namorado fazia, mas também nunca se perguntou sobre o que era.
Ela era um pouco alienada e fora da realidade, mas até que
divertida.
— Se você não fosse gay, eu trocava meu namorado por
você — ela disse em um momento, e ele apenas riu, mesmo não
achando graça.
— Lucy — dois homens se aproximaram, e um deles colocou
sua mão no ombro dela —, eu estava procurando por você.
— Oi, Mark. Este é o Andy, ele está hospedado aqui também
— ela o apresentou, mas o namorado olhava feio para o detetive.
— E por que você está jantando com minha namorada?
— Mark! — ela exclamou, irritada.
— Calma — o loiro disse. Ele queria mandar o bandido ir se
ferrar e dizer que fazia o que queria, assim como a namorada dele,
e que, inclusive, ele não era o dono dela, mas tinha que manter o
personagem. — Lucy e eu nos sentimos abandonados por nossos
namorados hoje e resolvermos jantar, foi só isso.
— Ele é gay — ela falou, nada discreta, enquanto os dois
suspeitos se sentavam à mesa. — Lembra-se do casal no elevador?
Era ele e o namorado.
— Coincidência que vocês se encontraram no elevador e
agora de novo? — Jonathan, o outro suspeito, disse, avaliando
Andy.
— Na verdade foi Lucy que me encontrou. Eu estava no bar
quando ela chegou e puxou assunto — ele falou como se não
tivesse entendido a insinuação, comendo um tranquilamente um
pedaço do seu frango.
— E o que você e seu namorado estão fazendo aqui?
— O mesmo que nós deveríamos estar fazendo. — Lucy
cruzou os braços e fez biquinho.
— Eu estava trabalhando, honey — o bandido disse, beijando
o rosto da modelo.
— Seu namorado também está trabalhando? — Jonathan
perguntou para Andy.
— Não, ele encontrou um amigo, e os dois foram praticar
algum esporte louco ou algo assim. — O detetive deu de ombros.
— Se eu fosse o seu namorado, não deixaria você para sair
com amigos — o bandido disse malicioso.
Andy ficou quieto. Mentalmente, quis revirar os olhos. Anos
naquela porcaria de lugar, e nunca tinha homens em cima dele, pelo
menos não que ele tivesse percebido. No dia seguinte a finalmente
ficar com Alex, o homem pelo qual tinha uma paixão havia anos, ele
encontra um agente do FBI com qual já tinha se envolvido no
passado, e um contrabandista internacional resolve dar em cima
dele.
Lindo. Realmente lindo!
— Amor, até que enfim o encontrei. — Andy sentiu mãos no
seu ombro e respirou aliviado. Alex o beijou rapidamente e se
sentou ao seu lado. — Olá, eu sou o Alex — ele se apresentou aos
outros.
— Estes são Lucy, o namorado dela, Mark, e o amigo deles,
mas ainda não sei seu nome — Andy os apresentou como se fosse
um encontro casual.
— Jonathan. — O bandido apertou a mão de Alex, e os dois
ficaram medindo força por um tempo.
A conversa fluiu com os dois desviando das perguntas dos
suspeitos, mas tentando soar o mais naturalmente possível. Andy
falou que era do Kansas, mas tinha mudado para o outro lado do
país, e Alex contou que morou na Califórnia por muito tempo, dando
a entender que eles moravam lá.
Lucy chamou Andy para dançar. O loiro não queria, mas Alex
sussurrou que ele devia manter o personagem, e Andy jurou que
haveria vingança. Como Mark estava confortável com a ideia de o
casal ser gay, ele permitiu que ela fosse, o que quase fez Andy
querer gritar com ele, mas Alex segurou sua mão, e o loiro fingiu
estar normal.
— Aquele cara não para de olhar para a minha namorada —
Mark reclamou, e Alex olhou por cima do ombro, ficando puto da
vida ao ver que ele estava falando de Banks, sentado do outro lado
da pista.
— Não é para sua namorada, é para o meu — Alex
resmungou. — Aquele idiota está de olho no meu namorado desde
que chegamos.
— Ninguém pode culpá-lo — Jonathan provocou, e Alex
olhando levantou a sobrancelha para ele. — Só estou dizendo. Seu
namorado disse que você saiu com um amigo. Foi fazer algum
passeio?
— Sim — o moreno comentou, ele sabia que aquilo era uma
provocação para saber se eram pegos na mentira, mas ele conhecia
Andy bem demais para saber que tipo de resposta ele teria dado. —
Fui com um amigo praticar snorkeling e mergulho. Se gostarem de
algo radical, eu recomendo.
— Não mesmo. — Mark riu. — Se eu já não gosto de viagens
aéreas, onde estou muito confortável na minha poltrona, imagine em
um barco no meio do oceano.
— Andy, você é um péssimo dançarino. — Lucy riu, voltando
para a mesa.
— Eu lhe disse, não é porque sou gay que sei dançar. — Ele
riu. Alex tentou esconder o estúpido sorriso no rosto, mas era difícil.

— Investigamos todos. Temos três suspeitos de conexão com


crime, mas ainda nada confirmado — a voz de Eli saía do celular,
que estava no viva-voz.
— Tem algo errado? — Alex perguntou.
— Não, mas todos que investigamos parecem peixe pequeno
demais para contrabandistas internacionais. O Agente Supervisor
Byrnes disse que está certo, que eles podem estar fazendo algo
abaixo das suspeitas, mas a situação está me incomodando.
— Eli, eu confio nos seus instintos. Se eles dizem que tem
algo errado, confie nisso — Alex respondeu. — Se você ou Maddy
tiverem que sair das ordens do FBI ou de quem for para seguir
alguma pista, saiam. Eu me resolvo com eles depois.
— Certo — Eli disse, agradecido.
— Tudo certo? — Andy perguntou, sentando-se ao lado de
Alex na cama.
— Eli estava me passando o relatório de hoje. Ele está
incomodado com uma situação, e falei que ele podia investigar por
conta própria. Meus instintos concordam com ele, tem algo errado
— ele respondeu, passando o braço em volta do ombro do
namorado e o puxando para mais perto.
— Até que essa “operação em conjunto” durou muito. —
Andy riu, e Alex sorriu de canto. — Mas você não socou ninguém e
nem causou um incidente entre forças armadas, isso é uma
evolução.
— Você fala como se eu fosse um descontrolado — o moreno
reclamou, deitando-se na cama e levando o outro consigo.
— É exatamente o contrário, você é um maníaco por controle
e nunca vai deixar ninguém ficar acima do que decide, inclusive,
sobre sua equipe — o loiro o provocou e se sentou sobre o quadril
do namorado.
— Você está exagerando.
— Ah é? — Andy se inclinou e começou a beijá-lo. — Quanto
tempo até você nos virar, ficando por cima e controlando a situação?
Alex negou com a cabeça, como se fosse um absurdo, e
Andy aceitou o desafio.
Eles estavam se beijando, seus corpos se movimentando um
contra o outro. Andy puxou a camiseta de Alex e ficou beijando seu
abdômen nu. Ele abriu a calça do outro e fingiu não ver como ele
apertava o lençol, segurando-se para não fazer nada.
Um... dois... três...
— Não consigo — Alex esbravejou e os virou na cama,
tomando para si a boca de Andy, que ria. — Achou engraçado?
Vamos ver por quanto tempo você vai continuar rindo — ele disse
maliciosamente.
— Espere, isso não faz sentido — Alex falou, fazendo a
equipe parar de correr. — Tem algo errado.
— Tem muita coisa errada em tudo isso — Eli concordou. —
Esse encontro com os compradores está estranho.
— Vamos pensar — Andy sugeriu. — A informação é de que
o encontro para a venda seria em Miami, então eles estão indo para
lá agora mesmo. Por que eles viriam para um hotel em Tampa, se o
encontro seria em Clearwater?
Era a noite seguinte. Enquanto a equipe de policiais fazia a
vigília, algo saiu do controle. Aparentemente, os suspeitos
souberam que estavam sendo seguidos, e o encontro foi adiantado
para aquela noite. Os agentes saíram correndo e tinham
helicópteros seguindo a informação que tinham conseguido de que
a venda seria em um depósito em uma cidade próxima chamada
Clearwater.
— Se foi para desviar a atenção, para que vir para um hotel
luxuoso e ficar desfilando por aqui? Eles não foram discretos —
Maddy concordou.
— Tem algo errado, mas eu não consigo ver. — Alex passou
a mão pelo rosto, frustrado. — Eles são bem organizados o tempo
todo, já escaparam em todas as operações anteriores, por que
ficariam desleixados agora?
— Não ficaram — Andy falou. — Passamos parte do dia com
eles. São controladores, verificam tudo ao redor, não são
desleixados, e tudo é muito bem-organizado. Jonathan disse que
essa viagem já estava programada havia meses, eles não teriam
entrado em pânico e mudado todos os planos de uma hora para
outra.
— Jonathan? — Mitchell perguntou, cruzando os braços.
— Não comece. — O detetive revirou os olhos.
— Se a viagem estava programa meses atrás, eles já deviam
ter mapeado a cidade, saberiam onde fazer a transição — Eli
continuou.
— Espere. Se não soubessem que estavam sendo vigiados
de tão perto, poderiam ter feito a transição dentro do hotel — Maddy
observou. — Aqui mesmo tem vários lugares, como o SPA, até a
sauna.
— Eles tinham toda a informação sobre a operação desde o
começo — Eli concordou. — Os encontros que eles tiveram e as
pequenas reuniões foram só para nos distrair, nenhuma dos
investigados deu em nada. Eles já tinham um comprador certo
desde o começo, esses foram peixes pequenos para desviar a
atenção.
— Tem outra coisa — Andy se lembrou. — Na primeira vez
que conversei com Lucy, ela disse que o namorado tinha alugado
um carro com antecedência, mas a informação é de que eles estão
de helicóptero.
— Mark Miller me falou que não gosta de voos — Alex disse.
— Então ele não teria vindo aqui para que a operação fosse em
outro lugar. Eles ainda estão nesta cidade ou perto.
— Mitchell — o Supervisor Byrnes o chamou pela escuta —,
o tempo acabou, estamos partindo.
— Alex — Andy sussurrou, tirando a própria escuta. — Se
eles já tinham todas as informações, eles têm alguém dentro da
operação.
— Não sabemos em quem confiar — Eli concordou.
— Então vamos resolver nós mesmo — o capitão respondeu
e recolocou a escuta. — Agente Byrnes, tivemos um imprevisto com
a nossa equipe, não seguiremos com a operação.
— O melhor lugar para acharmos pistas é no hotel — Maddy
comentou quando eles voltaram para o carro.
— Já fizemos uma varredura no hotel inteiro, exceto no
quarto — Eli respondeu. — Mas não temos um mandado para
entrar.
— Não precisamos, apenas temos que ter a autorização de
alguém que também ocupe o mesmo quarto — Andy lembrou. —
Posso falar com Lucy e convencê-la a nos deixar procurar.
— Maddy, ligue para o Mal e diga que logo precisaremos
dele. Se tiver algum dispositivo eletrônico, quero que ele invada e
procure qualquer informação que seja útil — Alex disse sério,
dirigindo rapidamente, afinal eles tinham pouco tempo.
— Andy? — Lucy perguntou, surpresa, quando abriu a porta
do quarto, mas seu sorriso morreu quando o viu acompanhado de
Alex, Eli, e Maddy, todos armados e com coletes a prova de balas.
— O que está acontecendo?
— Precisamos conversar — o loiro disse a ela.
A equipe entrou no quarto. A mulher estava sozinha.
Enquanto Andy contava sobre o verdadeiro trabalho do namorado,
os outros investigavam o quarto à procura de pistas de onde seria a
transição.
— Mark? Meu Mark? — ela perguntou, assustada. — Oh,
meu Deus, eu vou ser presa por causa dele?
— Não, não ligamos seu nome às operações ilegais, e, se
você cooperar na investigação, não terá problemas — o detetive a
tranquilizou.
— Claro, podem investigar tudo — ela avisou, como se a
equipe já não estivesse fazendo isso.
— Qual é a senha do computador? — Maddy perguntou. Ela
estava conversando com Mal, que iria invadir o computador e
procurar por pistas
— Alyssa. Ele disse que é o nome da irmã, mas eu tenho
quase certeza de que é a ex-namorada — a mulher disse, brava.
Maddy já estava logando e acessando as informações. — Eu não
acredito que sou tão idiota! Burra! Eu achei que ele fosse o cara
perfeito quando, na verdade, é um criminoso internacional. — Ela se
sentou no sofá, segurando as lágrimas. — Eu já namorei alguns
caras duvidosos, mas esse foi demais!
— Tudo bem, todo mundo tem alguém do passado de que se
envergonha. — Andy se sentou ao seu lado e ignorou a cara de
zombaria de Alex.
— Ok, estou dentro — Mal disse pela escuta. — Não parece
ter muita coisa relacionada a negócios, mas consegui achar ume
extrato de gastos.
— Isso deve nos dar uma direção para seguir — Eli
concordou.
— Espere. Se vocês estavam investigando, então tudo era
encenação? Tipo, você não é gay, e ele não é seu namorado? —
Lucy perguntou de repente.
— Essa parte é verdade. Bem, na verdade, eu sou bissexual,
mas isso não vem ao caso. O fato é que Alex e eu realmente somos
namorados — ele explicou.
— Ah, tudo bem, não custava tentar.
— Ela supera rápido, né? — Maddy perguntou. Eli segurou a
risada, e Alex olhou de canto para o namorado.
— Sinto que estou perdendo uma boa fofoca — Mal
cantarolou.
— Depois lhe conto tudo — a agente prometeu, e Andy
revirou os olhos.
— Ok, vocês estavam certos, achei um endereço em
Gibsonton. É a direção oposta a Clearwater.
— Vamos — o capitão ordenou, e eles correram para o carro,
seguindo as coordenadas enviadas por Mal para seus aparelhos.
— Não é melhor chamar reforço policial? — Andy perguntou.
Como sempre, ele estava no banco do passageiro, e Eli e Maddy,
no banco traseiro, enquanto Alex dirigia.
— Andy tem razão, sabemos que Miller e Tripp têm
informações, mas, para escaparem tantas vezes, elas devem vir do
alto — Eli ponderou.
— Como do FBI? — Alex insinuou, olhando para o parceiro.
— Eu sei o que você está pensando. Banks pode ser um
idiota sem noção, mas não é corrupto — o loiro respondeu.
— Como você pode saber? E por que está o defendendo?
— Eu não estou o defendendo, eu só acho que ele não é
inteligente o suficiente para fazer parte de um esquema de milhões
de dólares e ainda sair impune por anos.
— Com isso eu posso concordar.
— Gente, sem querer interromper a discussão de papai e
mamãe, mas o que o primo falou é verdade. Se a informações vêm
do FBI, e como eles passaram pouco tempo por aqui, não tem como
ter ligações tão fortes com a polícia local. Nós precisaremos de
reforços, porque não temos ideia do que encontraremos nesse lugar
— Maddy observou.
— Ela está certa — o detetive disse, e Alex concordou com a
cabeça, pegando o celular e discando para a polícia.
— Sou o capitão Alex Mitchell da HRT e preciso de reforço
policial em Gibsonton.

— O reforço chega em trinta minutos — Eli falou.


Eles estavam do lado de fora de um restaurante em
Gibsonton. O lugar era pequeno e discreto, eles mesmos poderiam
tê-lo perdido se Mal não os estivesse guiando. O ambiente estava
fechado, mas havia luzes lá dentro. Os quatro se esgueiravam pela
escuridão, rondando o lugar.
— Tem dois vigias ali em cima — Maddy indicou a sacada do
primeiro andar. — Mais três em volta. Esses são só o que estão por
fora.
— Vamos esperar o reforço ou agir? — Andy perguntou.
— Temos que interferir. Se eles entregarem as informações,
não sabemos quanto tempo levará para ela ser enviada para outro
lugar — Alex respondeu, já bolando o plano para invadir o lugar.
— Sim, mas, com todas as portas trancadas, nossa única
opção é o primeiro andar — Andy falou e, quando Mitchell
concordou, já inspirou fundo. Lá iam eles escalar algum lugar para
invadir de novo.
Seu celular vibrou, e ele estranhou. Quando olhou o
aparelho, a tela identificava um número de outro estado, o que era
mais estranho ainda. Ele se afastou um pouco para atender, podia
ser alguém da sua família, e ele aquele seria o pior momento para
ter alguma notícia sobre seus familiares.
— Malloy.
— Andrew? Onde você está? — a voz de Banks soou. —
Byrnes disse que vocês desistiram. Como assim?
— Não é isso, é complicado explicar. — O loiro olhou para
trás. Alex, Maddy e Eli conversavam sobre como invadir o prédio. —
Estamos resolvendo um imprevisto.
— Como assim? Estamos prestes a fazer uma grande prisão
que pode promover todo mundo, e vocês ficando para trás? Isso é
tão típico desse tipo de equipe. — O agente bufou.
— Tipo de equipe? De que merda você está falando? — Andy
se afastou um pouco mais, para que os outros não escutassem o
quão irritado ele estava.
— Deram controle de uma equipe importante a um homem
que nunca foi agente ou policial — ele explicou como se fosse
óbvio. — Ele nem sabe seguir as regras, age impulsivamente e não
pensa nas consequências. Vocês poderiam ser promovidos em
breve, até liderar as próprias equipes, mas ficam se prendendo a
alguém que só os puxa para baixo.
— E é o capacho do FBI que está me falando isso?
Engraçado que nós já trabalhamos juntos antes, quando você ainda
era detetive. Lembro-me bem do seu modo de agir e nunca fiquei
impressionado. Quando eu soube que passou para o FBI, fiquei até
espantando, porque se espera que só os melhores sejam
escolhidos, não os que hesitam em confronto ou que não verificam o
local direito e deixam que seus parceiros quase sejam baleados. Ou
você achou que eu tinha me esquecido?
— Andrew — o agente falou, sem graça —, eu sei que...
— Não, você não sabe. O que você sabe é seguir ordens e
agir como se soubesse o que está fazendo. Nunca mais se atreva a
falar de ninguém da minha equipe, você não entende o suficiente do
conceito de lealdade para falar sobre qualquer pessoa, ainda mais
um capitão que levaria um tiro por qualquer um do seu time
enquanto você seria o primeiro a fugir.
— Perdão, eu não quis ofender — o outro disse a
contragosto.
— Não foi o que pareceu. E tem mais uma coisa, você pode
pensar o que quiser, mas pelo menos o Alex não depende de álcool
para fazer o quer e tem coragem suficiente para ser quem é — Andy
falou pausadamente.
Ele estava de costas para a equipe, mas viu a sombra atrás
de si. Quando se virou, Alex estava de braços cruzados. A pergunta
estava em seus olhos, sem que ele precisasse pronunciá-la.
— Porém, como acredito que esta seja uma ligação
profissional, você deveria conversar com o meu capitão, não
comigo. Não se preocupe, vou passar o telefone para ele, e você
pode repetir sua crítica a nós. Tenha uma boa noite. — Ele não
esperou resposta e estendeu o telefone para Alex, que apenas
levantou a sobrancelha. — É para você.
— Mitchell — o capitão falou ao telefone, e Andy voltou para
Maddy e Eli.
— Está tudo bem? — o agente perguntou, preocupado.
— Só um idiota — Andy respondeu, dando de ombros.
— Se precisar de ajuda para resolver qualquer coisa —
Maddy disse, colocando munição na sua arma —, é só avisar.
— É até lindo, de um jeito um pouco assustador, como eu sei
que isso é verdade — o loiro comentou, e a agente sorriu.
— Vamos? — Alex perguntou, voltando ao grupo.
— O FBI queria alguma coisa? — Eli perguntou, e Andy
agradeceu mentalmente por ele ter dito “FBI” e não “agente Banks”.
— Só encher o saco — o capitão respondeu.
— Que arma é essa? — Andy perguntou para Eli.
— Uma escopeta — o agente respondeu, olhando da arma
para o detetive.
— Eu sei, mas de onde você tirou uma escopeta?
— Seu namorado que me deu — Eli deu de ombros.
— Alex como raios você arranjou uma escopeta?
— Eu a trouxe de casa — ele respondeu como se fosse
simples.
— Você passou pela segurança do aeroporto com uma
escopeta? Como? — Andy perguntou, indignado.
— Só passei. — Ele deu de ombros
— Você trouxe só isso ou tem mais coisas? — Andy
perguntou, com os olhos semicerrados.
— Não podemos mais esperar a polícia, estamos perdendo
tempo aqui, vamos entrar — Alex respondeu.
Maddy se escondeu entre uma lixeira e um carro e apoiou
seu fuzil no capô do veículo, usando a mira para enxergar os
criminosos que ficavam na sacada. Eli deu a volta para pegar um
dos criminosos que fazia a ronda. Alex e Andy foram atrás dos
outros dois.
Todos estavam com armas em punho. A ideia era que apenas
os de cima fossem abatidos a tiros, os de baixo deveriam ser
imobilizados com uso da força para que ninguém ouvisse. Alex
chegou por trás do primeiro, estrangulando-o com o braço e o
puxando para as sombras. Andy imediatamente o algemou e o
revistou, tirando dele um rádio, mais uma arma, cigarros e um
telefone celular.
Depois que todas as ameaças foram eliminadas, os quatro
silenciosamente escalaram o prédio ao lado pela grade lateral e
pularam para a sacada, onde estavam caídos os dois corpos dos
homens que Maddy tinha acertado anteriormente. Os dois estavam
fortemente armados, inclusive, com uma metralhadora.
— Estamos dentro — Alex informou a Mal.
— A polícia está cercando o local — ele respondeu.
Mitchell indicou com a cabeça, e os outros três o seguiram.
Eles percorreram um corredor que estava semiescuro. O salão de
cima estava vazio, as cadeiras por cima das mesas, como se o
restaurante não fosse abrir naquela noite. Alex levantou dois dedos
e indicou a parede oposta. Eli e Maddy seguiram encostados a ela
enquanto Andy seguia atrás de Alex.
Eles eram silenciosos, um passo de cada vez para não faz
barulho. Chegaram a uma parte em que dava para enxergar o salão
maior que ficava em baixo, tendo um grande balcão que circulava o
lugar, dando uma visão privilegiada. Alex indicou a escada de
serviço, Maddy e Eli entenderam e desceram por ela. O capitão
contou até três, então ele e Andy apontaram as armas para os
bandidos lá embaixo.
— HRT. Abaixem as armas e fiquem no chão — Alex gritou.
Obviamente, ninguém obedeceu, e houve troca de tiros. Dois
bandidos subiram pela escada principal, indo diretamente para
Andy, que lutou com um e conseguiu balear o outro.
O bandido baleado caiu no chão, mas conseguiu pegar a
arma. Antes que ele atirasse no detetive, Alex atirou nele, mesmo
que ainda trocasse tiros com as pessoas no andar de baixo. Então
mais três bandidos irromperam.
— Qual é? Por que sempre tem mais? — Andy resmungou e
teve que se esconder atrás de uma porta para não ser baleado.
Alex bateu com a coronha da sua arma no rosto de um deles,
e o outro o atacou.
Andy estava lutando com o terceiro, tentando reaver sua
arma. Quando teve que rolar pelo chão para escapar de um ataque,
ele bateu no bandido morto e puxou a arma de sua mão, atirando no
seu atacante.
Seu sangue gelou quando ele viu que Alex lutava com dois
criminosos perigosamente perto da proteção que os impedia de cair
no andar de baixo. Ele teve que pensar rápido, porque estavam
tentando jogar seu namorado lá de cima. Como não podia atirar em
ninguém, já que Alex poderia ser atingido, ele atirou perto deles,
apenas como distração. Aquilo foi o suficiente para desviar a
atenção dos bandidos, e Alex conseguiu se virar, jogando um deles
no vão e nocauteando o outro.
Os dois se encararam, estavam em pontas opostas do
espaço, mas eles sorriram um para o outro. Como sempre, um tinha
acabado de deixar sua vida na mão do outro e não tinha se
decepcionado.

— Eu deveria ter percebido que você estava fingindo —


Jonathan Tripp esbravejou com Andy enquanto era preso.
— Mas não percebeu, que coisa — o detetive respondeu.
— Você e seu namorado falso vão pagar por isso — ele
cuspia as palavras
— Ô, idiota, a única história verdadeira disso tudo é que ele é
meu namorado. — Andy suspirou. — Antes todo mundo acreditava
que estávamos juntos, agora que estamos, esses idiotas não acham
que somos um casal. — Ele revirou os olhos. — E, por favor, “vão
pagar por isso”? Você acha que está em um episódio de Scooby
Doo, por acaso?
— Seu...
— Blá blá blá. Leve ele. — Ele o entregou para o policial.
— Tudo certo? — Alex perguntou.
— Eu estou tranquilo.
— Certo. As provas foram entregues para a perícia, o HD
com as informações roubadas do consulado está aqui, e nós
lacramos, só estamos esperando o FBI chegar para que levem tudo
— Maddy informou.
— E eles ainda vão levar os créditos da captura. — Andy
bufou.
— Pense pelo lado bom, podemos passar mais uma noite
naquele hotel. Nosso voo só parte amanhã de manhã — Eli o
lembrou.
— Se o meu quarto, que é o simples, já é maravilhoso,
imagine o deles — Maddy brincou, e eles riram.
— Só digo que vou passar horas naquela banheira — o loiro
respondeu à provocação.
— Capitão Mitchell — o Agente Supervisor Byrnes se
aproximou, junto da sua comitiva de agentes federais —, bom
trabalho, mas nós assumimos daqui.
— Claro, senhor. Só mais uma coisa — Alex respondeu —, o
senhor está preso.
— O quê? — o homem perguntou, revoltado.
— Agente Supervisor Byrnes, o senhor está preso por
conspiração, traição, venda de informações, ligação com quadrilha e
contrabando — Alex disse em voz alta. — Deve ter mais coisas,
mas foi o que eu me lembrei agora.
— Mãos para trás — Andy ordenou ao agente.
— Isso é ultrajante. Eu vou falar com o governador. Suas
carreiras acabaram aqui — o agente gritava.
— Isso mesmo, aproveite e fale para ele que encontramos
troca de mensagens entre o senhor e dois contrabandistas
internacionais em você passava informações sobre as investigações
e que foi graças a isso que eles escaparam — o detetive avisou. —
Deveria saber que não existe honra entre ladrões, eles já o
entregaram em troca de acordo.
— Tomara que suas informações sejam melhores dos que as
deles — Alex falou e indicou para um policial levar o agente para a
viatura.
— Quando disseram que as coisas são intensas com vocês,
eu não achei que fossem tanto — um dos policiais de Nova York
comentou.
— Até que foi tranquilo — Eli comentou, sorrindo.
Depois de uma ida para a delegacia de Gibsonton, onde
deram um rápido depoimento e todas as medidas tiveram que ser
tomadas, alguns agentes e policiais tiveram que ficar com os
presos, já que eles seriam transferidos naquela noite mesmo para
Nova York e depois extraditados.
Os liberados resolveram voltar para o hotel e descansar
durante as horas que restavam antes do voo de volta para casa.
Porém, como eles tinham combinado, pararam no bar do hotel.
Todos estavam cansados e mereciam aproveitar o momento. Só que
algumas pessoas se convidaram para ir junto, e o agente Banks foi
uma delas.
— Ao caso finalizado — alguém sugeriu o brinde, e todos
aceitaram, tomando suas bebidas.
— Ao nosso caso finalizado — Maddy sussurrou, e sua
equipe concordou.
Quando eles chegaram ao bar, já era mais de meia noite.
Tudo o que Alex queria era voltar para o quarto com seu namorado.
Na noite anterior, eles tinham dormido juntos. Havia sido a segunda
noite em que isso acontecia, e ele descobriu que gostava disso. Não
era como quando dormia com alguma ex que queria dormir no seu
braço, e ele acabava com o braço dormente ou cheio de cabelos no
seu rosto.
Os dois se entendiam, e, por mais repetitivo que isso possa
soar, parecia que sempre fizeram isso. Já sabiam o lado da cama
que o outro gostava. Eles ficavam abraçados até dormir e, mesmo
que acabassem se soltando do abraço durante a noite, sempre
estavam se tocando, e isso era legal. Eles se sentiam confortáveis
juntos.
Só esperava que, quando voltassem para Miami, dormissem
na sua casa. Não que a de Andy fosse ruim, mas a sua era melhor.
— Vocês se dedicaram mesmo ao papel, não é? — Banks
riu, batendo no ombro do Alex, que não estava achando graça
nenhuma.
Depois de toda a confusão, o agente tinha resolvido fingir que
nada tinha acontecido e que era amigo de todos. Alex o olhou,
sentando-se ao seu lado, depois para o bar, onde Maddy e Andy
tinham ido buscar mais bebidas.
— Do que está falando?
— Sabe, de você e do Andrew se beijando para distrair os
suspeitos. — O agente riu de novo. — Se bem que foi com ele,
então nem é muito esforço beijar, não é?
— Isso vai ficar interessante — Eli comentou, sorrindo e
tomando mais um gole da sua bebida.
— Não é esforço? — Alex respirou fundo.
— Não, é até besteira não aproveitar a oportunidade. — O
outro riu.
— Wow — Eli soltou, olhando para Alex, que não estava feliz.
— Irmão, é só brincadeira, calma.
— O quê? — Banks perguntou, confuso.
— Ele estava falando que é brincadeira que você beijaria o
Andy — Alex falou controlado.
— Não, quer dizer, não é bem o meu estilo, sabe como é,
mas ele é bonito, mesmo que eu goste de mulheres, sei lá né, vai
que um dia estou bêbado. — Ele fingiu uma risada.
— Bem, eu tentei — Eli deu de ombros e tomou mais um gole
da sua cerveja.
— Vou ser bem claro — Alex disse calmamente para o
agente. — Se você falar dele assim se novo, eu vou quebrar seus
ossos, ok? O máximo de ossos que eu conseguir no tempo que eu
tiver. Ele já deixou claro que não quer você, ele não corresponde
aos seus avanços, portanto eu considero isso assédio. Então se
você repetir isso, eu não vou denunciá-lo e acabar com sua carreira,
eu vou acabar com a sua vida, você me entendeu?
Banks estava sorrindo, mas seu sorriso foi morrendo quando
ele percebeu que Alex estava falando sério. Ele olhou assustado
para Eli, que apenas deu de ombros, bebendo.
— Ele vai mesmo fazer isso — Eli avisou.
— Ok. Entendi.
— Que bom. — Mitchell sorriu perigoso.
— Trouxemos cervejas — Maddy falou animada, chegando
com Andy na mesa.
— Aconteceu alguma coisa? — o detetive perguntou. Ele
estava de pé ao lado de Alex, que estava sentado na cadeira.
— Nada, não, amor — o moreno disse, fazendo-se de
inocente, pegando a mão do loiro e entrelaçando seus dedos. — Eu
estou um pouco cansado, vamos para nosso quarto?
— O quê? — Andy perguntou, fingindo que não estava quase
tendo um ataque cardíaco, porque não era só a sua mesa que os
observava, eram todos os agentes e policiais presentes, incluindo
aqueles que trabalhavam com eles normalmente.
— Vamos para o quarto? — Alex refez a pergunta como se
nada estivesse acontecendo.
— Claro...
— Ok — o moreno disse, levantando-se.
Alex teve a cara de pau de beijar Andy na frente de todo
mundo, deixando claro que eles eram realmente um casal, depois
se virou para os demais e desejou “boa noite”. Então passou seu
braço pelos ombros do loiro e os guiou de volta para o hotel.
Todos na mesa estavam calados, observando os dois
voltarem para o prédio. Ninguém comia ou bebia. Depois que eles
sumiram de vista, olharam para Maddy e Eli, que continuavam
conversando tranquilamente e comendo suas porções de batatas
fritas.
— Ah, qual é? Vão dizer que ninguém aqui imaginou que eles
fossem um casal? — Maddy perguntou, revirando os olhos.
— Eu nem sei por que demoraram tanto — Eli comentou, e
sua prima concordou. — Quer mais batata frita?
— Quero sim. Obrigada, primo.
Andy soltou a toalha e entrou na banheira, que já estava
ligada. Ele tinha colocado o sabonete líquido, que formava
espumas. A embalagem dizia que era relaxante, e ele precisava
relaxar mesmo. Se não bastasse um caso complicado, no qual eles
tiveram que ficar atentos pelos últimos dias inteiros, seu namorado
havia resolvido que era melhor assumir o relacionamento deles na
frente de boa parte da força policial da Flórida.
Um relacionamento de apenas quatro dias!
— Andy? — Alex entrou no banheiro, fazendo-se de inocente.
— Tudo bem?
— Claro que está tudo bem. Por que não estaria?
— Hmm — Alex disse, com braços cruzados e olhando em
volta. Andy estava com os olhos fechados, a cabeça encostada no
suporte da banheira, apenas ouvindo o barulho da água e contando
mentalmente até que Alex voltasse a falar. — Eu precisava fazer
aquilo, ok?
— E por quê?
— Porque aquele cara é um idiota. E, se ele encher o saco
de novo, eu vou socá-lo — ele respondeu, revoltado, sentando-se
na beira da banheira. — Você não ouviu as coisas que ele falou de
você. E, o pior, ele quer você, mas nem assume isso, aquele
enrustido do caralho.
— Vou fingir que nem ouvi isso. — Andy continuava com os
olhos fechados.
— Andie, é sério, você queria que eu fizesse o quê?
— Que me perguntasse, talvez? Que ignorasse Banks? — o
loiro sugeriu, abrindo os olhos para encará-lo.
— Ok, tê-lo beijado na frente de todo mundo sem perguntar
antes se você queria assumir o nosso namoro pode ter parecido um
pouco precipitado.
— Um pouco? Claro, só um pouco.
— Certo, mas pense pelo meu ponto de vista — o moreno se
justificava. — As únicas pessoas que realmente importam são as
nossas famílias, incluindo a equipe, certo?
— Sim, vamos ver onde isso vai parar.
— Não contamos para sua família no Texas, porque ainda
não é seu tempo, mas resolveremos em breve. Já contamos para
equipe e seus filhos. Fora eles, a opinião de ninguém importa. Então
não tem problema nenhum outros saberem que estamos juntos. E,
vamos lembrar, foi você mesmo que me perguntou se o problema
para ficarmos juntos era o nosso trabalho, porque você não ficaria
dentro do armário, dando a entender que, se não fossemos
assumidos, não iria querer ficar comigo.
— Ah, agora vai usar as minhas palavras contra mim? —
Andy riu.
— Eu só estou pondo em prática o que você mesmo falou.
— Que atencioso, muito obrigado por ter pensado em mim
em tudo isso. E a outra parte?
— Que outra parte?
— A do Banks. Aquele cara que o irritou e que você quase
socou.
— Ainda está nos meus planos.
— Você lembra que ele é um agente federal, não lembra?
— E?
— Nada, não. Só não espere visita íntima na prisão. — Andy
voltou a encostar a cabeça na banheira.
— Visita íntima? — Alex perguntou, malicioso.
— A parte da prisão ele ignorou. — O loiro revirou os olhos.
— Andie.
— Não, saia, ainda estou bravo com você.
— Andy. — Alex se inclinou e beijou o rosto do namorado.
— Saia.
— Por favor. — Ele beijou de novo até que seus lábios se
encontrassem.
— Você é um idiota — Andy exclamou.
Começaram a se beijar, Alex apoiou sua mão ao lado de
Andy para aprofundar o beijo, que ficou mais agressivo. Andy
aproveitou para envolver o pescoço de Alex com seus braços e o
puxar para a banheira. O moreno, que estava completamente
vestido, apenas sem suas botas e meias, caiu, molhando-se por
inteiro e jogando água para fora.
— Achou isso engraçado? — ele perguntou para o loiro, que
ria ao concordar com a cabeça. — Ok, minha vez.
A camiseta azul estava totalmente grudada, mostrando toda a
definição do seu corpo. Ele a tirou, deixando o abdômen molhado à
mostra, e jogou a roupa no chão. Andy já não ria, mas sorria
malicioso enquanto assistia à cena ao seu lado.
Alex abriu seu cinto e puxou com calma, deixando que o loiro
aproveitasse o momento. Então abriu o botão da calça e desceu o
zíper, mas, antes de realmente tirar a peça, ele tirou um pequeno
frasco de lubrificante do bolso e o deixou ao lado de Andy, no
suporte da banheira.
— Prepotente — o loiro provocou.
— Esperançoso — o outro o corrigiu e atacou sua boca.
Andy colocou ambas as mãos no peito de Alex enquanto se
beijavam e foi descendo, sentindo os músculos do namorado. Assim
que chegou no seu quadril não hesitou em empurrar a calça e a
boxer para baixo, ajudando-o a se livrar das últimas peças de roupa
que ainda estavam entre eles.
— Alex — Andy gemeu.
Eles se beijavam do jeito deles, daquela forma meio
desesperada, lutando por dominância. As mãos apertando e
arranhando qualquer ponto do outro que conseguissem alcançar. Os
paus estavam duros e se friccionavam, fazendo que gemessem
entre os lábios.
A água e a espuma deixavam tudo mais escorregadio, eles
deslizavam contra o outro. Quando precisavam de ar, mudavam o
foco dos seus lábios para o pescoço, mas logo voltavam. A
sensação era de que nunca era o suficiente, mas eles tentariam
saciar o desejo, mesmo que isso durasse a vida inteira.
Alex não estava mais tímido, ele sabia o que fazer e como
fazer. Sua mão foi até a entrada do namorado, massageando-a e a
circulando com calma, pressionando aos poucos. A respiração de
Andy já estava ofegante, mas, quando o capitão penetrou o primeiro
dedo, ele jogou a cabeça para trás, ofegando e gemendo baixinho.
O moreno passou a beijar e morder de leve a sua pele. Um
dedo se tornou dois, e os gemidos e ofegos não estavam mais tão
baixos. Ele queria tanto estar dentro de Andy, que aquilo o
consumia, como se queimasse.
Andy colocou sua mão na nuca de Alex e o puxou contra si,
mas não para que o beijasse. O loiro deixou seus lábios próximos
ao ouvido do outro, fazendo com que o moreno ouvisse muito bem
cada ofego e cada gemido.
Isso motivou o capitão mais ainda. Os sons que saiam da
boca de Andy o deixavam ainda mais excitado. Ele acertou o ponto
exato dentro do namorado, fazendo-o gemer mais arrastado, e ficou
acertando ali, vez atrás de vez.
— Já chega — Andy esbravejou, afastando-se e os virando,
fazendo Alex ficar sentado na borda da banheira, acima do nível da
água.
— Eu que sou o controlador? — Alex zombou.
— Sim, é — Andy respondeu, pegando o tubo de lubrificante
e passando o gel pelo pau de namorado, que gemeu e encostou o
corpo na parede de azulejos brancos. — Vamos ver por quanto
tempo você aguenta ficar por baixo?
— Não se preocupe — o capitão respondeu com aquele
sorriso de canto enquanto o loiro se encaixava e descia
vagarosamente. — Não preciso estar sempre em cima, o controle já
é meu o tempo todo.
Andy nem precisou se preocupar com a força para fazer os
movimentos, Alex o abraçou fortemente e guiou a cada instante.
Seus corpos estavam grudados e o pau do loiro se friccionava
contra os dois abdomens. O capitão não se deu por satisfeito até
achar o ponto sensível do namorado e acertá-lo repetidamente.
Ele gostava assim, com o namorado tão perdido em prazer,
que estava entregue. Ele poderia fazer o que quisesse. Sua vontade
era de marcar aquela pele perfeita, mas ele sabia que Andy o
mataria se fizesse isso em algum lugar visível. Bem, ninguém nunca
havia dito nada sobre ombro e clavícula.
O detetive arranhava suas costas, puxando-o ainda mais, e
ele descobriu que gostava daquilo, mas só quando era Andy que
fazia. O prazer foi aumentando, as estocadas eram mais rápidas,
eles mal respiravam e mesmo assim não paravam.
— Andy..., eu...
— Eu sei, eu também — o loiro disse e o beijou.
Andy gozou primeiro. Ele sentiu o prazer vindo e nem teve
chance de segurar, não que ele quisesse. Veio com tanta força, que
ele jurava que, se Alex não o estivesse segurando com firmeza, ele
poderia ter caído. O loiro encostou sua testa no ombro do
namorado, tentando respirar enquanto os espasmos de prazer ainda
vagavam fortemente pelo seu corpo.
Alex não demorou a gozar, principalmente depois que
entrada do namorado o apertou tanto. O prazer se tornou quase
doloroso, ficando no limite e deixando tudo mais delicioso. E as
expressões de Andy quando gozava, o jeito que ele gemia seu
nome e ofegava empurraram o capitão até a beira sem chances de
voltar.
— Porra — ele exclamou quando conseguiu voltar a falar.
— É, foi esse o objetivo. — Andy riu, e Alex o beijou.
Dessa vez o beijo foi mais calmo, apenas um aproveitando o
outro. Não tinha mais o desespero, só carinhos e suspiros entre os
lábios.
— Vamos tomar banho — Andy disse depois de um tempo.
— Não vai voltar para a banheira? — Alex perguntou,
seguindo o namorado para o chuveiro.
— Eu pretendo, mas me recuso a limpar toda essa sujeira e
ficar nela depois — ele indicou a confusão que estava no abdômen
dos dois, e Alex riu.
— Isso aí é tudo seu — ele o provocou, mas o ajudou a se
limpar.
— Eu sei e pretendo repetir isso em breve. Mas não é porque
eu quero gozar, que pretendo ficar mergulhado nele — o loiro falou,
com nojo da imagem. — Por isso, vamos nos limpar e depois
podemos voltar para a banheira.
Eles tomaram um banho que poderia ser muito mais rápido
se não ficassem se beijando o tempo todo. Após estarem
completamente limpos, voltaram para a banheira.
— Você não está mais bravo comigo, né? — Alex perguntou.
Ele estava com as costas contra a banheira e Andy no seu peito.
— Não, eu sabia que em algum momento todos saberiam
sobre nós. Achei que seria hoje? Não, não achei, mas com você
tudo é assim. A única coisa previsível em você é que você vai fazer
algo imprevisível em algum momento — ele brincou. — E tanto faz
mesmo, ninguém tem nada a ver com nossas vidas.
— Então eu estava certo? — Alex perguntou, sorrindo de
canto, e Andy revirou os olhos.
— Não, porque você tem que falar comigo antes de tomar
uma decisão sobre nós dois, entendeu?
— Tá — respondeu, emburrado.
— Você ficou mesmo com ciúmes do Banks? — Andy
perguntou, virando-se para o namorado. — Porque eu não quero
que se sinta assim. Você fica todo sexy com ciúme, mas ciúme é a
sensação de que você pode perder algo, e não quero que se sinta
como se pudesse me perder.
— Eu sou sexy? — ele sorriu malicioso.
— Foque na conversa!
— Ok. — Ele bufou. — Não acho que você me trocaria por
ele ou até que me trairia, não é isso. É o jeito que ele o olha ou fala
de você, como se pudesse tê-lo para si, mas ele não o quer como
companheiro. Ele pensa em você só como um objeto que lhe dê
prazer, e eu não gosto que ele pense assim. Toda vez que ele o
olhava o secando, eu tinha vontade de queimar os olhos dele.
— Ei — o loiro disse, segurando o seu rosto com as mãos —,
eu sou um garoto crescido, detetive da polícia, membro da HRT. Se
ele fizer qualquer gracinha comigo, eu mesmo posso quebrar algum
osso dele. E Banks é só um idiota, nós já encontramos vários deles
antes e continuaremos encontrando.
— E é por isso que eu ando armado.
— Não foi isso que eu quis dizer — o loiro suspirou. — Enfim,
eu só queria que você tivesse a certeza de que eu não vou a lugar
nenhum, não precisa ter ciúmes ou achar que eu o trocaria por
alguém, entendeu?
— Não me trocaria por ninguém mesmo? — ele brincou.
— Nem pelo Brad Pitt ou George Clooney — Andy
respondeu, sorrindo. — Talvez pelo Henry Cavill, porque parece que
o Superman é o meu tipo.

— Vamos encontrar a equipe? — Andy perguntou.


Já era de manhã, eles tinham arrumado todas as suas coisas
e estavam deixando o hotel. Deveriam se encontrar com o resto da
equipe para fazer o check out, depois ir para aeroporto e enfrentar
horas de voo, mas pelo menos chegariam a tempo de almoçar no
restaurante de Kane, que adoraria ouvir sobre a nova aventura dos
amigos.
— Sim, só preciso levar as malas para o carro — Alex
respondeu, pegando os objetos.
— É só deixar na recepção, eles têm serviço para isso — o
loiro falou enquanto trancava a porta e eles andavam pelo corredor.
— Eu sei, mas digamos que tem material sensível na minha
mala.
— Material sensível? Do que... Alex! — Andy disse,
massageando o rosto. — Quantas armas você trouxe?
— O suficiente — ele garantiu.
— Não vou conversar sobre isso agora. — O detetive
suspirou, entrando no elevador.
— Depois do almoço temos que passar no escritório e depois
podemos ir para casa, temos o resto do dia de folga. O que quer
fazer hoje?
— Por mim, eu passo o dia inteiro na cama. Eu mereço isso.
— Por mim, tudo bem. — O capitão deu de ombros. —
Podemos fazer isso.
— Você? Você vai mesmo passar o dia inteiro na cama? — O
loiro riu.
— Vou, por quê? — Ele deu de ombros.
— Quais as chances de você ficar quieto na cama e não
fazendo alguma das suas atividades radicais?
— E quem disse que eu vou ficar quieto e não fazer nenhuma
atividade física? — Alex perguntou malicioso.
— Idiota — Andy empurrou seu ombro, e o outro riu.
Eles saíram do elevador. Alex ainda ria, mas, assim que Andy
foi se afastar, puxou-o e o beijou. Enquanto o detetive ia para a
recepção do hotel, o capitão foi para o estacionamento para guardar
as malas. Mas, quando ele estava voltando, subindo pelas escadas
que dariam para a área externa do hotel, ele viu alguém descer
pelos degraus. Alex respirou fundo. Ele ia manter a calma, não
precisava fazer nada. Apenas passar pelo agente Banks e seguir
seu caminho. Ok, sem problemas.
— Mitchell, eu queria falar com você — Banks disse.
— Não acho que tenhamos algo para conversar — ele
respondeu, seguindo seu caminho.
— Por favor. — Banks entrou na sua frente, e Alex respirou
fundo de novo. — Não é um assunto oficial, pense em nós dois
como duas pessoas comuns conversando.
— Então somos dois civis conversando, só isso? — Alex
perguntou.
— Exatamente — o agente concordou. — Acho que podemos
conversar sem problemas.
— Ok, fale. — Alex cruzou os braços, esperando.
— Eu não sei o quanto você sabe sobre a minha, digamos,
relação com o Andy. Nós nos conhecemos há muito tempo e pode
ter dado a entender que eu passei dos limites. Não queria que
ficasse um mal-entendido entre nós, porque sempre o vi de uma
maneira respeitosa. Nunca passou de admiração ao quão bom
profissional ele é.
— Claro, admiração profissional.
— Sim. Que bom que nos entendemos. — O agente sorriu.
— Não quero que pense que eu seria um obstáculo para o
relacionamento de vocês.
— Não se preocupe, eu nunca pensei nisso.
— Que bom. Eu não pretendo interferir em nada. Não faria
isso mesmo se todos estivéssemos solteiros, não é desse lado que
eu jogo. — Banks riu e deu um tapinha no ombro de Alex, que nem
se mexeu. — Admiro também a coragem de vocês para se
assumirem na frente de todos. As consequências disso podem ser
bem negativas para a carreira de vocês.
— Não precisa se preocupar com isso. Nem Andy e eu nos
preocupamos.
— Certo. Cada um sabe o que faz, não é? — Ele riu de novo.
— Sim, sabemos — o moreno concordou. — Posso falar
agora?
— Claro.
Alex socou Banks com tanta força que o derrubou no chão.
— Sim, eu sei do seu passado com Andy, mas você nunca
seria um obstáculo, porque não tem nenhuma relevância para nós.
O que me irrita é como você olha para o meu namorado como se ele
fosse um objeto sexual. Você não passa de um covarde mimado
que usa o seu distintivo como desculpa para não assumir quem
realmente é. Só que comigo as coisas são diferentes. Eu não quero
ouvi-lo nunca mais falando sobre o meu namorado, ok? Se tivermos
que ter essa conversa de novo, eu não vou parar em um soco, você
me entendeu?
— Sim — o agente disse, limpando o sangue do rosto.
— Que bom que nos entendemos — Alex disse sarcástico,
então subiu as escadas, deixando Banks ainda no chão.
Eli, Maddy e Andy estavam na recepção, conversando e rindo
de algo. Alex sorriu. Ele amava sua Ohana.
— Tudo certo? — Alex perguntou, passando seu braço por
cima dos ombros de Andy.
— Tranquilo, estávamos só esperando você para ir embora
— Maddy falou. — Hoje à noite vamos fazer noite da pizza, o que
acha?
— Eu gosto. — O capitão deu de ombros. — Pode ser em
casa, se quiserem.
— Você está oferecendo sua casa para nos reunirmos lá,
incluindo as pessoas que vamos chamar? — Eli perguntou.
— Sim. O que tem?
— Você bateu em alguém, não foi? — O agente sorriu.
— O quê?
— Chefe, você está de bom humor, mas o Andy estava
conosco, então não é por causa dele que você está assim — Maddy
explicou, e o detetive a olhou, revoltado. — Em quem você bateu?
— Eu não bati em ninguém — ele garantiu. — Eu não
considero como uma pessoa, então não é alguém.
— Você bateu no Banks, não é? — Andy passou a mão pelo
rosto. — Alex, a gente conversou sobre isso.
— Ele que chegou até mim falando que queria ter uma
“conversa como dois civis”. Ele que propôs esquecermos nossas
patentes — Alex disse como se aquilo explicasse tudo.
Andy suspirou.
— Eu vou querer saber? — ele perguntou.
— Não sei você, mas eu, com certeza, quero — Maddy falou
enquanto eles saiam do hotel para ir até o aeroporto. — Temos uma
longa viagem até o escritório, dá para contar com todos os detalhes.
Nisso, outros agentes passaram. Entre eles, Banks, que tinha
uma marca roxa no rosto. Os olhos de Banks foram de Alex para
Andy, ambos ainda abraçados, então desviaram, e ele saiu de perto.
A partir daquele momento, eles não encontraram mais o agente.

— Oi — Amy disse quando Alex abriu a porta. — Desculpe a


demora, tive que arrumar a mochila dos gêmeos.
— Tudo bem, princesa. — O capitão beijou a testa dela,
depois trocou soquinhos com Evan. Gwen se jogou nos braços dele
e beijou seu rosto. — Como estão?
— Ganhei uma estrela na aula de educação física — o
menino disse, orgulhoso de si mesmo.
— Eu fiz um home run! — Gwen pulava.
— Parabéns! Meus campeões. — Alex levantou os dois ao
mesmo tempo. — Que tal surfarmos esse fim de semana?
— Sim!
— Tudo bem dormirmos aqui hoje? — Amy perguntou
enquanto eles entravam na casa. Alex carregava os gêmeos.
— Claro, tem dois quartos a mais. Você fica em um, e os
campeões aqui, em outro.
— Eu quero pegar um trabalho temporário nas férias. Minhas
amigas vão trabalhar na praia aqui perto. Tudo bem se eu meio que
morar aqui durante as férias? É muito mais perto que a casa da
minha mãe.
— Por mim, não tem problema nenhum. Se seus pais
aceitarem, pode ficar — ele garantiu.
— Obrigada, tio... não, papa. — Ela riu e o abraçou.
— Princesa — Andy foi abraçar os filhos —, por que o Alex
está com esse sorriso bobo?
— Acho que foi porque o chamei de papa — ela riu. — Eu
não quero cortar o momento, mas estou morrendo de fome.
— Vamos para a cozinha, acabei de colocar os pratos — o
loiro respondeu.
— Você que cozinhou? — Amy perguntou, preocupada, o que
fez Alex rir alto.
— Parem com isso. Sério, vocês precisam parar com isso —
Andy esbravejou e foi até a cozinha.
— Não se preocupe, a gente pediu pizza — o moreno falou
para a garota, que respirou aliviada.
O resto da equipe chegou logo depois, trazendo mais
comidas e bebidas. Eles comeram na área externa enquanto
conversavam. A maioria gostou de focar no recente relacionamento
de Alex e Andy, mesmo que todos tenham chegado ao consenso de
que os dois demoraram muito para assumir seus sentimentos.
— Todo mundo sabia que vocês eram apaixonados um pelo
outro — Mal comentou. — Na verdade, desde o dia em que se
conheceram.
— Sim, eles ficaram tendo relacionamentos com outras
pessoas, e eu ficava pensando “meu Deus, o que eles estão
fazendo?” — Maddy riu.
— Já pararam com a humilhação ou ainda tem mais? —
Andy perguntou, tomando sua cerveja.
— Irmão, tem muito mais. Anos de momentos que
guardamos para jogar na cara de vocês, isso é só o começo — Eli
garantiu, rindo, e o loiro revirou os olhos.
— Sinceramente, eu também pensava que vocês eram um
casal. Quando Alex apresentou a ex-namorada, eu fiquei muito
confuso — Alan contou, e as risadas só aumentaram.
— Eu cresci confusa com eles — Amy deu de ombros. — Por
isso eu nunca me apegava a nenhuma namorada que eles
apresentavam. Algumas eram até legais, mas eu sabia que iriam
embora logo.
— É — Maddy concordou —, eram tipo peixinhos de aquário,
você se apega, mas logo eles partem.
— Ah, não, aí já é demais, podem parar — Andy exclamou,
revoltado.
— Relaxe, o importante é que mamãe e papai estão juntos —
Kane falou, e as risadas voltaram com força.
— Até você? — O loiro revirou os olhos, então se voltou para
o namorado. — Não vai falar nada?
— É que meio que eles têm razão — Alex se justificou, e
Andy bufou, sentindo-se traído. O moreno riu e o abraçou.
— Tanto tempo esperando por isso, mal posso acreditar. —
Maddy fingiu chorar, e Andy a olhou feio.
— Dada, papa, eu estou com sono. — Evan chegou
esfregando os olhos e se jogando contra eles.
— Eu também. — Gwen se lançou nos braços de Alex.
— Também, vocês não pararam de brincar por um minuto
desde que chegaram. Até o Bruce está cansado — Andy indicou o
cachorro, que se deitou perto deles. — Vamos tomar um banho
antes de dormir, venham.
O loiro saiu com os filhos, levando-os para o andar de cima.
Alex perguntou se ele queria ajuda, mas o detetive disse que não
precisava.
— Ele o chamou de papa? — Maddy perguntou.
— Sim, nós conversamos sobre isso — Amy respondeu,
bebendo seu refrigerante. — Parecia errado continuar chamando o
Alex de tio, Vocês são meus tios, é diferente.
— Entendemos — Eli falou, sorrindo.
— É, tinha que ter outra palavra, só que estávamos com
medo de usar “pai” e o dada ficar chateado, porque o chamamos
mais de dada do que de pai.
— Isso fez sentido — Alan concordou. — Foi muito legal
terem pensado nisso.
— Obrigada. — Ela sorriu. Amy estava sentada ao lado de
Alex, que fez carinho nos seus cabelos, e a menina colocou sua
cabeça no ombro dele. — Então eu li um livro em que as crianças
chamavam os pais de “papa”, sugeri isso para os gêmeos, e eles
gostaram.
— Como você chama seu outro padrasto? — Mal perguntou.
— De Eric.
— Pelo nome? Mas por quê?
— Porque o Eric é isso, só o Eric — ela respondeu como se
fosse óbvio.
Alex não fez questão nenhuma de esconder o sorriso de
orgulho.

— Pronto, todos já foram, e as crianças estão na cama —


Alex disse, deitando-se na própria cama horas mais tarde.
— Eu estava pensando... Como você gosta de acordar cedo,
você que deveria levar as crianças para a escola amanhã de manhã
— Andy falou. Ele já estava deitado, coberto e bem aconchegado.
— Por que eu?
— Bem, você se tornou oficialmente o “papa” deles, agora
ganha as responsabilidades também. — O loiro sorria, provocando.
— Então eu vou dormir até um pouco mais tarde, tomar meu café
com calma, depois vamos trabalhar.
— Você levou a sério a ideia de tirar vantagens do nosso
relacionamento, não é?
— Passei anos quase morrendo do coração por sua causa,
eu chamo isso de reparação histórica — ele riu.
Alex negou com a cabeça, mas o abraçou.
— Amy me falou que quer pegar um emprego temporário na
praia — o moreno disse, fazendo carinho no braço do namorado.
— Sim, ela já tinha me falado isso antes. Os amigos também
vão participar. Eu disse que seria uma boa, ela ganha o próprio
dinheiro e já vai adquirindo experiência.
— Ela me perguntou se podia morar aqui durante as férias,
porque fica mais perto de onde vai trabalhar. — Alex estava daquele
jeito que Andy conhecia bem, rodeando um assunto antes de falar o
que realmente queria.
— Amy me perguntou se podia, e eu disse para conversar
com você. Tem algum problema nisso?
— Não, mas eu acho que, se ela vai morar aqui, você podia
também, não é?
— Você está me chamando para morar com você? — Andy
perguntou, sentando-se e o encarando surpreso. — Você não gosta
que ninguém invada seu espaço.
— Pelo nosso histórico, isso não se aplica a você — Alex
comentou, e Andy foi obrigado a concordar. — Desde que
começamos a namorar, dormimos todas as noites juntos.
— Sim, nesses longos quatro dias.
— Você me entendeu. E para que você vai continuar
pagando aluguel, se nós já passamos praticamente o tempo todo
juntos e eu tenho uma casa? Você pode trazer para cá todas as
suas coisas, que nem são tantas.
— Seu modo sútil me encanta — o loiro ironizou. — Mas
morarmos juntos implicaria em muita coisa, como, por exemplo,
quando brigarmos, você não vai poder simplesmente ir embora. Se
vamos morar na mesma casa, você vai ter que conversar comigo
para resolver os problemas.
— Eu sei dessa parte, eu estou tentando — Alex falou, e
Andy levantou a sobrancelha. — Eu vou tentar mais.
— Ok. — O loiro suspirou. — Por um lado, eu penso que é
muito rápido, mas, por outro, nós nos conhecemos há tanto tempo,
que parece até besteira esperar.
— Então isso é um sim? — Alex perguntou, sorrindo.
— Sim, eu me mudo para cá — Andy respondeu, sorrindo de
canto. — Mas não ache que isso o livra dos jantares semanais e do
conserto do carro.
— Andie — ele bufou, mas depois beijou o namorado.
— Onde eles estão? — Eli perguntou, chegando perto de
Andy, que estava trocando mensagem com sua irmã. O loiro
apontou para a lixeira cheia, e Eli ficou ainda mais confuso.
— Só mais alguns segundos — o detetive respondeu,
guardando o celular no bolso.
Segundos depois eles ouviram um grito alto e desesperado.
As pessoas que passavam na rua olharam assustadas em volta. Eli
olhou para cima, em direção ao prédio, tendo que proteger seu rosto
do sol.
— E lá vamos nós — Andy suspirou, tirando a as algemas do
bolso ao mesmo tempo em que um corpo despencava de uma
janela do terceiro andar diretamente para as lixeiras. — Frank
Barlow, você está preso.
O homem ainda estava petrificado de medo em cima do lixo.
Andy precisou da ajuda de Eli para tirar o criminoso lá de dentro.
Então a viatura chegou para buscar o homem, que balbuciava algo
sobre ter sido perseguidor pelo demônio.
— Estamos perseguindo esse suspeito há semanas, como
conseguiram pegá-lo tão rápido? — o sargento Shefter perguntou.
— Na verdade, dessa vez só fiquei aqui, de boa. Alex que
subiu e o derrubou lá de cima. — Andy deu de ombros.
— Deve ser bom namorar o chefe. — Um dos oficiais, o
Kiplan riu. — Dá para ficar quieto na sombra enquanto o outro faz
todo o trabalho.
A notícia do namoro já tinha se espalhado, e todos sabiam,
não que fosse uma grande novidade. Algumas pessoas encararam
numa boa, outros soltaram os “finalmente!”, mas tiveram os idiotas
que não encararam tão bem. Afinal eram o capitão da HRT e um
detetive da mesma equipe que estavam em um relacionamento
amoroso e não tiveram problemas em assumir isso publicamente.
Não que eles soubessem que fora Alex que não tivera
problemas em assumir publicamente, já que Andy nem havia sido
consultado sobre isso antes.
— Que engraçado. — Andy revirou os olhos. — Sua sorte é
que eu não estou querendo me estressar hoje.
— Calma, é só brincadeira.
— A sorte dele é que o Alex ainda não está aqui, senão o
oficial Kiplan entraria em licença médica — Eli acrescentou,
negando com a cabeça.
— Falando nisso, cadê aquele animal?
— Andy! — Maddy gritou. Nisso, Andy e Eli saíram correndo
para encontrá-los.
Maddy e Alex estavam saindo do prédio, que no momento
estava uma bagunça de policiais peritos. Alex estava mancando, e
Maddy o abraçava pela cintura, o dando apoio para andar.
— Eu estou bem, não é nada — Alex disse rapidamente
assim que Andy chegou perto.
— Nada? Estou vendo que não é nada — o loiro brigou,
assumindo o lugar de Maddy, segurando o namorado pela cintura.
— Eu estou completamente bem — o capitão garantiu.
— Ah, é? Então ande sozinho. — Andy o soltou e empurrou
levemente o capitão, que não chegou nem a dar um passo antes de
tombar para o lado. Eli teve que segurá-lo antes que ele caísse no
chão.
— Andie! — Alex reclamou, indignado.
— Idiota! — O loiro o abraçou de novo, dando-lhe apoio e o
ajudando a chegar até a ambulância. — Eu falo para você pensar
antes de fazer besteira, mas você alguma vez me ouve? Não! Seu
idiota!
— Tinha mais um suspeito. Ele estava escondido. Depois que
o Barlow pulou da janela, ele nos atacou, quase pegou a Maddy. Eu
precisava fazer alguma coisa — o moreno se explicou.
Quando o paramédico viu que era Alex, arregalou os olhos e
respirou fundo. Era o mesmo do dia da bomba. Eli bateu no ombro
do profissional, confortando-o.
— Pulou da janela? Alex, pulou da janela? — Andy estava
revoltado.
— Sim, ele pulou — o capitão respondeu calmamente. O
paramédico resolveu verificar Maddy primeiro, mesmo que a agente
não tivesse mais do que arranhões.
— Alex Mitchell, você está tentando me convencer de que um
criminoso procurado em diversos estados, responsável por assaltos
milionários, narcisista e muito, muito perigoso, simplesmente
resolveu pular do terceiro andar para cair em lixeiras? — Andy
perguntou, bravo. Havia momentos em que ele tinha certeza de que
poderia atirar no namorado. Aquele era um desses momentos.
— Ah, tinha mesmo uma lixeira — o moreno sorriu e se virou
para Maddy. — Viu, eu falei que tinha lixeira e que não era para
você se preocupar.
— O QUÊ? — Andy sentia seu coração falhando. Era isso,
uma hora ele ia acabar infartando.
— Não, eu disse que SE NÃO tivesse uma lixeira, você
deveria se preocupar, porque o Andy iria matar você — a agente o
corrigiu.
— Vocês só podem estar brincando comigo, é isso, só pode
ser brincadeira. — O loiro respirou fundo. — Eu disse que não ia me
estressar hoje, mas você está me testando. Ok, respire fundo — ele
disse para si mesmo. — Cadê o outro suspeito?
— Hã? — o moreno se fez de desentendido, e Maddy
começou a limpar poeiras imaginárias das suas roupas.
— Alex, onde está o outro suspeito? — Andy perguntou bem
devagar, porque se gritasse.
— Irmão, facilite as coisas e fale logo — Eli aconselhou.
— Ah, o suspeito, que atacou a Maddy e eu precisei reagir,
não é? — Ele se fez de inocente, e Andy o olhou como se pudesse
matá-lo. — Sobre ele...
Nesse momento, a perícia passou por eles carregando um
corpo dentro de um saco preto e o colocou dentro do carro do
necrotério.

— Não!
— Andie, por favor!
— Não! Saia! — O loiro empurrou o namorado, que ainda
fazia biquinho.
— Você não pode ficar bravo durante o final de semana
inteiro.
— Ah, eu posso sim! — ele suspirou. — E você fez de
propósito. Sabia que eles chegam hoje!
— Não fiz, não — Alex finalmente conseguiu abraçar o
namorado. Ele sabia que Andy estava mais estressado com a visita
dos pais do que com ele. — Quando eu vi o suspeito, eu só reagi,
eu não pensei em como isso poderia nos afetar depois.
— Você nunca pensa — o loiro resmungou, mas aceitou os
carinhos.
Estavam no aeroporto. George e Claire Malloy estavam
chegando à Flórida para as férias. Ficariam duas semanas em um
hotel e aproveitando passeios pelo lugar. Também tinham planos de
levar os netos aos parques em Orlando. Claire parecia bem
empolgada, mas George nem tanto.
Quando Claire ligou para confirmar os horários que eles
chegariam e se o filho poderia buscá-los, Andy foi obrigado a contar
para a mãe que não estava mais na mesma casa e sim morando
com Alex. Ele esperava ter que dar explicações após dizer aquilo,
mas o que recebeu foi:
— Morando juntos? Oh, isso quer dizer que vocês resolveram
dar um passo adiante e vão se casar? — Ela perguntou, animada.
— Oh, Andy, estou tão feliz por vocês!
— O quê? Não, mãe. Espere, dar um passo?
— Sim, porque vocês estão juntos há tanto tempo. Aliás,
você é o único dos meus filhos que tem um relacionamento estável
e normal, porque suas irmãs... Bianca voltou com aquele namorado
estranho que usa mullet e trabalha no boliche. Quem namora
alguém que tem mullet e trabalha em um boliche? E eu nem vou
falar de Sabrina. — Ela suspirou.
— Ah, sim.
— Amo como você e Alex são fofos um com o outro. Ele é
um bom rapaz, gosta de verdade de você e das crianças. Além de
que o relacionamento de vocês é normal e saudável, sem idas e
voltas e brigas desnecessárias — ela falou, e Andy olhou para o
lado, onde seu namorado estava guardando novas granadas em
seu pequeno arsenal.
— Totalmente normal — o loiro murmurou.
Ele voltou dos seus pensamentos quando o quadro de voos
mostrou que o avião de seus pais já tinha pousado. Seu coração
disparou, e ele precisou respirar fundo. Estava ansioso por aquele
momento e achava que não era do jeito bom.
— Eu que deveria estar nervoso, sou eu que vou me
apresentar para seus pais como seu namorado — Alex brincou,
tentando distrair Andy.
— Se você não fica nervoso enfrentando terroristas, não acho
que ficaria nervoso com os meus pais. — O detetive sorriu.
— Mas eu poderia atirar nos terroristas. Nos seus pais, eu
não posso. — Ele deu de ombros.
— Você poderia? Não foi exatamente isso que você fez
várias vezes?
— Detalhes.
O desembarque foi anunciado, e eles foram encontrar com o
casal Malloy. Claire usava um vestido florido, os cabelos presos,
sandálias e tinha um sorriso feliz. George usava camiseta, calça e
botas, fora que ele olhava desconfiado ao redor. Alex quis rir, porque
parecia muito com Andy no começo.
— Meninos — Claire disse, acenando e praticamente
correndo para encontrá-los —, eu estava com tanta saudade! — Ela
abraçou o filho.
— Eu também, mãe — ele respondeu carinhosamente.
— Alex, você está ótimo. — Ela sorriu e abraçou o capitão.
— Obrigado, Claire, você está ainda mais bonita.
— Oh, Alex! — Ela riu, dando um tapinha no seu ombro.
— Pai — Andy deu um abraço sem graça no pai —, como
está?
— Ainda vivo — o mais velho resmungou, e Andy nem
poderia culpá-lo, seu pai odiava voar.
— Olá, Sr. Malloy — Alex estendeu sua mão, o homem o
olhou, avaliando-o, mas acabou aceitando o aperto de mão.
Andy quase não podia acreditar que seu namorado, que na
maior parte do tempo agia como um neandertal, estava sendo tão
educado. Bem, era melhor aproveitar enquanto durasse.
— Estou louca para visitar tantos lugares e eu queria tanto
fazer um daqueles passeios aéreos em helicópteros — Claire falou
enquanto eles iam para o carro. Ela tinha grudado no braço do
capitão, e eles iam conversando, deixando Andy e seu pai para trás
em um silêncio um pouco desconfortável. — Mas George disse que
são muito caros.
— Eu posso ajudar — Alex disse, solícito.
— Por acaso você tem um helicóptero? — George indagou,
tentando zombar.
— Não, mas conheço alguém que tem um e eu posso pilotar
— Alex respondeu distraidamente, guardando as malas do casal no
porta-malas do Mustang.
Era claro que ele não ia explicar que esse helicóptero
pertencia a um multimilionário que tinha sido sequestrado junto com
seu filho e levado para as Bahamas, onde os dois foram mantidos
em cativeiro. Então a equipe HRT teve que entrar ilegalmente no
país, fazer uma missão de resgate em segredo e trazê-los de volta
para os Estados Unidos. Desde então Owain Adler sempre
emprestava seus “brinquedos”, como helicópteros, lanchas e carros,
para Alex, além dos presentes de Natal em dinheiro que a equipe
recebia todo ano.
— Alex, isso é maravilhoso — Claire comemorou.
— Ele também pilota helicópteros? — George perguntou,
surpreso, para o filho.
— Alex faz muitas coisas — Andy suspirou. Manter a boca
fechada não é uma delas, ele pensou.
— Querem ir direto para o hotel ou paramos para comer
alguma coisa? — o moreno perguntou, com as chaves do carro na
mão.
— Ele dirige seu carro?
— Pai, quanto mais rápido você entender que o Alex faz as
coisas do jeito dele, melhor vai ser — Andy respondeu, dando de
ombros e entrando no carro.
— Podemos ir para o hotel e depois sair para comer, o que
acham? — a mulher sugeriu, animada.
— Por mim, tudo bem — Alex sorriu ligando o carro.
O quarto do hotel que o casal Malloy tinha alugado era
simples, mas, assim que o gerente soube que era para a família de
Andy, transferiu os dois para um quarto maior e melhor sem
acréscimo no valor já pago.
— Nós trabalhamos em um caso aqui no ano passado. —
Alex deu de ombros.
— Foi o do falsificador ou do stalker? — Andy perguntou,
distraído, colocando as malas para dentro do quarto.
— Do falsificador não foi naquele resort perto da praia? —
Alex comentou, tentando se lembrar. — Ele fica só a duas quadras
daqui, por isso que a gente confunde.
— Não, nesse foi o do assassinato daquele advogado — o
detetive respondeu.
— Você tem certeza?
— Alex, você socou o gerente — o loiro falou, e o capitão
concordou, lembrando-se da cena.
— Verdade, ele não quis dar as gravações inteiras das
câmeras de vigilância. — O moreno deu de ombros. — Espere, o do
falsificador foi no hotel Bays Inn, aqui foi o do stalker mesmo.
— Sim, o cara que você ameaçou jogar embaixo do ônibus —
Andy concordou.
— Você ameaça jogar pessoas embaixo de ônibus? —
George perguntou, surpreso.
— Nesse caso específico foi necessário para assustar o
suspeito, não que eu fosse fazer de verdade — Alex garantiu, e
Andy, por trás do pai, cruzou os braços e levantou a sobrancelha. —
Então, o que acharam do hotel?
— Alex, querido, é perfeito. — Claire abraçou o genro. — Só
duas quadras da praia e tem tanta coisa para fazer por perto. Veja,
George, poderemos ir caminhando para vários lugares.
— Ok, a localização é boa, mas o quarto poderia ser melhor,
não é? — o bombeiro aposentado resmungou.
— Pai, para quem ia pagar oitenta dólares por noite, você
poderia ficar mais feliz por ter uma suíte cujo preço original é cento
e vinte cada diária — Andy respondeu ao pai.
— Meninos, não comecem — Claire interveio. — Vamos
almoçar? Aquele amigo de vocês ainda tem aquele restaurante
italiano?
— Você viajou milhares de quilômetros para comer comida
italiana? — O detetive riu.
— Sim. Eu só vim aqui uma vez e mesmo assim não me
esqueci. Foi a melhor massa que eu já comi! — a mulher disse,
sorrindo.
— Eu fiz reservas no Marabu Brickell — George falou,
interrompendo a conversa.
— No Marabu Brickell? — Andy perguntou, incrédulo.
— Sim, meu amigo Carl, que joga golfe comigo, veio para
Miami no ano passado e disse que é o melhor restaurantes da
ilha — o homem mais velho respondeu.
— Seu amigo Carl disse que nesse restaurante o prato chega
a custar quase duzentos dólares? — O loiro estava tentando não se
irritar, por isso Alex colocou a mão em seu ombro. — Você reservou
um quarto de oitenta dólares a diária, mas vai gastar duzentos em
um prato? Isso não tem nem lógica.
— Tudo bem, vamos a esse restaurante. Amanhã poderemos
ir ao do seu amigo — Claire interveio de novo.
— À noite podemos ir a um bar aonde sempre vamos, tem
show ao vivo — Alex tentou ajudar.
Andy estava dando créditos para o namorado. Alex realmente
estava tentando fazer tudo ser agradável, mas seu pai não estava
ajudando em nada. George sempre fora um pouco crítico com as
escolhas do filho. Ele era um ótimo pai, mas às vezes exagerava em
algumas coisas. E tudo isso tinha piorado depois no falecimento de
Nick, o irmão de Andy. Agora ele era o único filho homem entre suas
duas irmãs, mas também era o filho que morava longe e tinha uma
vida na qual o pai não estava presente.
George tivera dificuldade de aceitar a sexualidade de Andy
quando ele se assumiu para os pais, no seu primeiro ano da
faculdade, ao contrário de Claire, que foi compreensiva com filho
desde o início. A mulher começou, inclusive, a fazer parte de um
grupo chamado "Mães pela diversidade", que apoiava a comunidade
LGBTQIA+, ajudava em abrigos e participava das Paradas do
Orgulho. Andy achava que sua mãe tinha se empolgado um pouco
demais com o assunto.
Já o pai, mesmo depois de ter assimilado o que fora falado e
ter jurado que apoiava o filho, parecia ter aproveitado que o assunto
nunca tinha retornado e resolvido fingir que aquela conversa nunca
acontecera.
O detetive suspirou. Ele sabia que as chances de aquele
almoço acabar em paz eram as mesmas de Alex passar uma
semana sem explodir algo.

— Aqui é um lugar muito bonito — Claire falou enquanto eles


se sentavam à sua mesa.
— Viu, eu tinha razão — George se vangloriou. Andy revirou
os olhos, o pai estava transformando aquilo numa competição.
— E a crianças? Estou louca para vê-las. — A mulher sorriu.
— Vamos buscá-las mais tarde. Amy fica no grupo de
estudos depois da aula, Gwen deve estar com a mãe, e Evan tem
treino de futebol, mas vamos jantar juntos — o detetive garantiu.
— Podemos ir ao treino dele?
— Podemos, Alex? — Andy perguntou sarcástico para o
namorado, que fingiu estar lendo o cardápio.
— Claro que sim — o capitão falou sem olhar para o loiro. —
O auxiliar técnico apenas recomendou que eu não fosse mais nos
treinos, eu não estou proibido de ir.
— O que houve? — Claire perguntou, achando aquilo
divertido.
— Nada, apenas que algumas pessoas não sabem ouvir
críticas construtivas — Alex respondeu.
A conversa seguia, e Andy tentou que fosse tudo calmo, ele
realmente tentou, mas seu pai o estava forçando a estourar. Alex foi
outro que respirou fundo várias vezes, pois odiava que qualquer
pessoa fosse grosseira com Andy. Isso já tinha quase causado um
incidente internacional quando uma pessoa de uma embaixada
gritou com o detetive e Alex quase foi para cima dela. Então sua
paciência com George Malloy estava acabando.
— Bom saber que as coisas estão sob controle — o mais
velho falou em tom irônico.
— Não se preocupe, pai, tudo está tranquilo — Andy
respondeu, suspirando.
— É claro que me preocupo, você é meu filho. Sei que é um
homem adulto, mas às vezes age como criança.
— Como? — o detetive perguntou, revoltado.
— Você saiu da faculdade, entrou na polícia, conheceu uma
mulher e já se casou com ela. Teve uma filha, separou-se da
esposa, engravidou ela de novo, ela veio para a Flórida, e você veio
atrás. Agora está "namorando" seu chefe? — George fez sinal de
aspas ao falar.
— "Namorando"? — Andy repetiu o gesto do pai. — Você
está brincando comigo? — Andy sabia que aquela falsa paz não ia
durar. — Primeiro que Alex é meu namorado, não entre aspas, não
é algo incerto. Nós moramos juntos, meus filhos o chamam de papa,
ele faz parte da minha vida e vai continuar nela, você querendo ou
não. Segundo, eu não vim para a Flórida atrás de Barbara, vim por
causa dos meus filhos e não me arrependo, porque isso trouxe as
coisas maravilhosas da minha vida.
— Vida maravilhosa... — o pai bufou.
— George, pare, por favor — Claire pediu.
— Você já foi irresponsável algumas vezes, mas agora se
superou — o homem disse rispidamente para o detetive, que não
perdeu como Alex segurou seu copo apertado.
— Do que você está falando? Por acaso tem noção de que
nada do que está falando faz sentido? — Andy perguntou, bravo.
— Não fale assim comigo.
— E você quer que eu fale como? Quer que eu reaja bem
enquanto você me ofende e diz que só fiz escolhas imbecis na
minha vida? Por que não diz logo o que quer dizer e para de
enrolar? Diga logo que eu não sou perfeito como Nick.
— Andy, por favor, não é isso — Claire disse imediatamente.
— É isso sim. Não é, pai?
— Nick nunca faria isso — George falou. Andy estava prestes
a responder, mas percebeu Alex se mexer na cadeira ao seu lado,
então virou-se para ele, colocando a mão na perna do moreno.
— Não faça nada — Andy pediu.
— Por quê?
— Porque ele é meu pai — o loiro disse. Ele conhecia Alex
mais do que ninguém e sabia, só de olhar sua expressão, como ele
estava irritado.
— Eu sei que ele é seu pai e eu o respeito por isso, então é
claro que eu não vou fazer nada — o moreno respondeu.
— Obrigado — Andy suspirou.
— Eu o respeito mesmo que ele não mereça. — Alex encarou
o sogro por cima da mesa, e Andy revirou os olhos.
— Como é? — o Malloy mais velho perguntou, revoltado.
— É isso mesmo. Se você trata seu filho assim, não merece
o meu respeito. Andy é uma das melhores pessoas que eu conheci
na minha vida, mas você ignora tudo isso por causa dos seus
preconceitos.
— Isso é entre meu filho e eu — o outro respondeu,
encarando Alex —, não é da sua conta.
— Pai, não o encare, ele é louco.
— Passa a ser da minha conta quando você destrata o
homem que eu amo — Alex devolveu.
— Agora vamos falar dos nossos sentimentos? — Andy
perguntou ironicamente, mas ainda sendo ignorado pelos dois.
— Oh, eu acho tão fofo que ele não tem problemas em falar o
que sente por você. — Claire sorriu com as mãos no peito.
— Mãe, isso não está ajudando.
— Ama? Como podem saber que é amor? — George bufou.
— A questão, pai, é que a vida é minha, e sou eu que tomo
as decisões sobre ela. Você não pode me ver feliz e ficar feliz
também?
— Eu ficaria feliz por você se você tomasse escolhas
conscientes e responsáveis. Mas você sempre faz isso, não é? Se
joga em qualquer coisa sem pensar direito nas consequências.
— Não, o problema nunca foi esse. Foi eu não seguir o
caminho que você achou que eu deveria seguir. Eu não preciso que
você aceite minhas escolhas, minha sexualidade ou meu
relacionamento. Não precisei antes e, com certeza, não preciso
agora. Se não quiser participar da minha vida, não vou pedir. Mas,
se você não consegue me ver feliz com a pessoa que eu amo e que
me ama só porque essa pessoa também é um homem, isso diz mais
sobre você do que sobre mim. Também diz que tipo de pai você é.
Um tipo que eu nunca seria para os meus filhos.
Andy se levantou e se afastou, indo para a parte externa,
onde ficava a área dos fumantes. Ele só precisava pensar melhor.
Ele achou que as coisas poderiam ser complicadas, mas aquilo
tinha superado suas expectativas. E olha que ele era um pessimista.
— Andie — o loiro sentiu braços o envolvendo e suspirou,
deixando que o namorado o envolvesse —, desculpe-me, não
queria que as coisas tivessem sido assim.
— Não foi você. Meu pai precisa entender que sou que eu
tomo as decisões na minha vida, e nada será como ele quer. Eu sei
que ele sente falta de Nick, mas ele não pode jogar em cima de mim
todas as suas frustrações e expectativas. Meu irmão era o filho
perfeito, ele que ficou no Texas e ajudava meu pai a cuidar de tudo,
e infelizmente nós o perdemos. Só que, ao invés de tentar se
aproximar de mim, meu pai só me empurra para longe.
— Quando estamos sofrendo, lidamos de formas diferentes e
nem sempre somos racionais.
— Experiência própria? — Andy o provocou, e Alex riu,
beijando o namorado.
— Talvez sim.
— Talvez? Porque eu acho que você tem uma vasta
experiência em tomar atitudes irracionais.
— Por isso que eu tenho você, para pensar nas coisas por
mim.
— E de que adianta eu pensar no perigo por você se, antes
de eu falar algo, você já se joga nele? — Andy resmungou, e os dois
voltaram para dentro.
O detetive sabia que a conversa tinha sido para distraí-lo e
era grato pelo namorado. Eles estavam de mãos dadas, voltando
para a mesa e mais calmos. Ele daria a opção para o pai de aceitar
sua vida ou ele se afastaria, sem brigas, apenas pegaria seu
namorado e iria embora.
— Perdão — um homem que esbarrou nele resmungou e
seguiu seu caminho para o banheiro.
— O que foi? — Alex perguntou.
— Eu não sei, mas não estou com um bom
pressentimento — ele respondeu em voz baixa.
Voltaram para a mesa. George e Claire pareciam ter uma
discussão em voz baixa quando chegaram, mas a encerraram ao
ver os dois. Claire puxou um assunto qualquer, falando sem parar
sobre coisas banais, tentando aliviar o clima. Mas Andy já não
estava prestando atenção.
Ele olhava para a mesa à qual o homem que tinha esbarrado
nele estava. Ela ficava no caminho logo após a entrada, e ele a
dividia com mais cinco homens. Todos usavam ternos, e poderia
parecer apenas um almoço de negócios, mas eram roupas pesadas
para um almoço em uma tarde quente. Fora que eles olhavam muito
em volta, conferindo o lugar regularmente, e dois deles pareciam um
pouco nervosos, já tinham passado a mão pelas costas três vezes.
— Eu vi — Alex disse em voz baixa. — Ligue para Maddy,
vamos precisar de reforços.
— O que está havendo? — Claire perguntou.
— Mãe, eu preciso que vocês dois saiam do restaurante
agora — Andy respondeu, já discando o celular ligando para a
amiga.
— Oi, Andy. Achei que você estivesse com seus pais hoje —
Maddy falou quando atendeu a ligação.
— Alex e eu estamos no restaurante Marabu Brickell, 701 S
Miami Ave. Precisamos de reforço, possível ação está prestes a
acontecer.
— Do que está falando? — George perguntou. — Nada está
acontecendo.
— Deixe que eu faço o meu trabalho — Andy avisou. — E
saiam logo, por favor.
— Era para ser o meu dia de folga — Maddy esbravejou,
irritada, do outro lado da linha. — Eu tinha planos para hoje que
envolviam meu noivo, nossa banheira, champanhe e muita
espuma. — Ela digitava no seu computador.
— Às vezes você dá detalhes demais — o loiro disse,
observando Alex passar perto da mesa dos suspeitos com o celular
na mão, como se falasse com alguém, mas estava os filmando para
mandar as imagens para equipe.
— Como se você e o chefe não tivessem aproveitado a
banheira daquele hotel — ela resmungou. — Da próxima vez eu
levo o Alan, e nós que nos infiltramos como hóspedes. Estou
falando com Mal, ele conseguiu as câmeras da rua, o que estou
procurando?
— Alex vai mandar as imagens dos suspeitos. Temos seis
homens com roupas sociais, possivelmente armados. Temos três
que parecem de origem asiática, dois brancos e um latino.
— Ok, recebi as imagens do chefe. — Mal entrou na ligação.
Ele parecia estar comendo algo. — Estou olhando as câmeras e tem
mais três homens que batem com as descrições do lado fora, dois
latinos e um asiático.
— Avisei o Eli — Alex disse, voltando a se sentar ao lado de
Andy.
— Mal falou que tem mais três do lado de fora — Andy o
avisou e então notou os pais ainda na mesa. — Pelo amor de Deus,
deem o fora daqui.
— Certo — a mãe dele concordou na hora, levantando-se e
puxando George.
Porém eles não tiveram chances de chegar até a porta,
porque mal tinham dado alguns passos longe da mesa quando um
dos homens se levantou, agarrando um garçom que passava e
segurando uma arma contra seu pescoço.
— Todos quietos e ninguém se machuca — ele avisou.
— Sério? Nem um almoço normal vocês conseguem ter? —
Maddy perguntou ainda ao telefone.
— O que está acontecendo? — Alan soou ao fundo da
ligação.
— Alex e Andy estão almoçando em um restaurante, e o
lugar está sendo assaltado — a agente respondeu ao noivo.
— De novo? — ele perguntou, surpreso. — Talvez seja
melhor não os convidar para o casamento, eles atraem essas
coisas, não é?
— Eu estou ouvindo — Andy resmungou.
— Me dê isso — um dos assaltantes gritou, arrancando o
aparelho da mão do detetive.
— Ei, calma aí — Alex interveio.
— Sente-se aí e fique calado. — O criminoso encostou a
arma na cabeça do moreno.
— Alex, por favor. — Andy pegou na mão do namorado,
puxando-o de volta.
— Prestem atenção em como as coisas serão a partir de
agora — um dos criminosos disse em voz alta. Ele parecia ser o
líder. — Vocês vão desligar todos os aparelhos que possam usar
para se comunicar. Vamos recolhê-los e deixá-los aqui dentro — ele
disse, indicando o outro, que segurava um saco e já recolhia
diversos celulares e tablets. — Se vocês se comportarem e ficarem
quietos, seremos rápidos. Nós só temos que resolver um assunto
com o gerente deste lugar e vamos embora, tudo bem? — Ele sorriu
maldoso.
— Eles não se preocuparam em esconder os rostos — Alex
sussurrou para Andy. Os bandidos tiraram as pessoas das mesas,
empurrando-as para uma das paredes, e outros empurraram as
mesas contra as janelas e algumas portas de acesso, bloqueando-
as.
— Se eles não se importam de ser vistos, devem ter um bom
plano de fuga — Andy respondeu — ou pretendem nos matar.
— As câmeras de vigilância não devem estar mais
funcionando — o capitão murmurou. Eles falavam tão, baixo que
ninguém mais os ouvia.
— Mal disse que havia mais três do lado de fora, isso não
parece um assalto normal — o loiro falou de volta.
— Talvez o assalto seja um disfarce para algo, porque
ninguém assaltaria um restaurante de luxo em um dos horários de
mais movimento. Ou eles querem manter a atenção da polícia aqui
ou eles querem algo muito específico que está aqui.
— Não algo, alguém — Andy indicou um bandido que
passava revisando os reféns como se procurassem por alguém em
particular.
— Solte-me — o bandido puxou Claire Malloy, olhando em
seu rosto. George tentou ajudar a esposa, mas outro ladrão o
empurrou.
— Solte ela — Andy interveio, ajudando a mãe, enquanto
Alex verificava como George estava.
— Não se meta — o bandido o ameaçou, mas ele não se
intimidou, apenas continuou encarando o homem armado.
— Nigel, a polícia está do lado de fora. Eles chegaram muito
mais rápido do que o planejado — um dos bandidos falou para o
líder do grupo criminoso.
— Tudo bem, só sigam com o plano — o líder respondeu,
mas Andy percebeu como ele estava um pouco nervoso com a
informação.
Fazia cerca de meia hora que o assalto estava em
andamento. Andy e Alex tinham identificado o possível alvo da
quadrilha, uma mulher loira que devia ter a idade próxima à de
Claire, o que explicava porque tinham a puxado antes. Alex
conseguiu trazer a mulher para perto deles, deixando-a atrás de si e
de Andy, o que a mantinha fora da vista dos bandidos.
— Eles querem que soltemos alguns reféns — um dos
bandidos disse para o tal de Nigel.
— Vamos soltar metade, mas digam que eles têm mais
quarenta minutos para atender às nossas exigências — o líder
respondeu.
Andy e Alex se encaram. Eles estavam liberando reféns
apenas para ter um grupo menor para conter, o que era esperto. Só
que as exigências eram genéricas e estúpidas. Um carro de fuga
abastecido? Até onde eles achavam que conseguiriam ir?
O dinheiro que tinham pego não tinha sido pouco, mas, para
o preparo e a organização do assalto, não era muito. Eles já tinham
falado que queriam o cofre, mas ainda não tinham pegado o
conteúdo dele, o que deveria ter sido uma das primeiras coisas a se
fazer. Então era provável que eles levariam reféns consigo, e a
mulher loira que os policiais escondiam estaria entre eles.
— Nigel, eu estava ouvindo o rádio da polícia. Parece que
tem dois deles aqui dentro — um bandido disse, com medo.
— E daí? Sabíamos que podia acontecer — o outro
desdenhou.
— Não são da polícia normal, são da HRT — o homem
respondeu e parecia que já estava se lamentando por estar naquele
plano.
Os outros bandidos se assustaram também e olharam para o
líder, em busca de respostas. Nigel também não parecia saber o
que faria. Seus olhos passaram pelos reféns e pararam em Andy,
afinal ele era o único que tinha reagido.
"Ótimo", o loiro pensou, "na primeira vez que me reconhecem
como agente antes do Alex é porque vou virar o principal refém. Eu
que queria ir ao Kane, mas não, meu pai tinha que vir aqui para se
mostrar". Ele bufou quando o puxaram, mas se virou para Alex,
pedindo que ele não fizesse nada.
— Você é policial? — Nigel perguntou, mas dois dos
bandidos o revistavam, logo achando seu distintivo. — Andrew
Malloy, HRT, não?
— É o que está escrito, não é? — ele zombou.
— Você se acha muito esperto. — O bandido bateu no seu
ombro.
— Bem, pelo menos eu sei ler. — O empurraram de novo, e
ele olhou de canto para Alex, que tinha cerrado os olhos. Péssimo
sinal.
— Quem é o outro policial?
— Se vocês tivessem revistado todo mundo antes de tudo
isso começar, já saberiam, não é?
— Murray, leve o gerente com você e limpe o cofre — o líder
ordenou.
— Eu vou precisar de ajuda — o tal Murray reclamou.
— Nós temos uns vinte reféns, pegue qualquer um para
ajudá-lo — Nigel esbravejou.
Murray bufou, irritado, e puxou o gerente e um garçom,
levando-os para os escritórios da administração. — Então, detetive
Malloy, vamos conversar.
— Claro. Libere os reféns, e podemos até tomar um café —
Andy respondeu, dando de ombros.
— Não brinque comigo. — Nigel o empurrou, e ele esbarrou
em uma mesa. — Quem é o outro?
— Não faça nada, fique calmo — Andy dizia olhando para o
bandido, mas Alex sabia que era para ele.
O capitão teve que respirar fundo algumas vezes. Ele olhou
em volta, procurando alguma saída, tentando bolar um plano. As
janelas estavam bloqueadas pelas mesas, mas sobrava uma fresta
na parte de cima. Nessa parte, Alex viu uma pequena luz vermelha
brilhar, ela era quase imperceptível, mas ele sorriu, porque sabia o
que significava. A luz brilhou três vezes e sumiu. Maddy e Eli
estavam lá.
— Ficou me desafiando, agora pede calma? — O bandido riu,
e o detetive revirou os olhos.
— É, foi isso mesmo — ele respondeu. Eles eram idiotas? Se
ele estava sentado a uma mesa com um casal, que claramente
eram seus pais, e mais um homem, quem seria o outro membro da
HRT? O manobrista? — Vocês já estão cercados, não tem por onde
escapar, por que não acabam com isso logo de uma vez e ninguém
se fere?
— Agora está com medo?
— Não, mas vocês deveriam estar — Andy o avisou.
Nigel riu e então deu um soco no rosto de Andy, que caiu no
chão e sentiu o gosto de sangue. O loiro levou a mão até a boca,
limpando o líquido vermelho que escorria. Ele negou com a cabeça,
nem precisou olhar para Alex para saber o que aconteceria. A chave
tinha sido virada, e o capitão iria destruir qualquer coisa no seu
caminho agora.
— Está achando engraçado? — o bandido provocou,
puxando Andy pela camisa.
— Você não tem ideia do que acabou de fazer — o loiro
respondeu com o sorriso de canto. Será que o seguro cobriria tudo
que seria destruído no restaurante?
— Ah é? O que você acha que vai fazer?
— Eu? — Andy zombou. — Se eu fosse você, correria para
fora e me entregaria para a polícia, porque é a sua única chance.
— Você é retardado?
— Na verdade, retardado é um termo ofensivo e incorreto
para identificar pessoas com deficiências mentais. Então, seria bom
se você parasse de usá-lo. Você poderia ter me perguntado se eu
tenho alguma deficiência mental para não ter entendido o perigo —
o detetive falava para o criminoso confuso. — Porém eu que deveria
fazer essa pergunta para você.
— Eu o bati tão forte que mexeu com o seu cérebro?
— Não, na verdade foi um soco surpreendentemente fraco
para um bandido. Enquanto você estiver na cadeia, você poderia
treinar mais. Mas o que eu estou fazendo aqui é distraí-lo para que
você e seus amigos não prestassem atenção no que realmente está
acontecendo. — Andy sorriu.
— Do que você está falando? — o outro perguntou, confuso.
Um barulho muito veio de trás deles. Quando eles olharam,
os dois bandidos que vigiavam os reféns estavam no chão,
desmaiados, e Alex tinha a arma de um deles na mão. O terceiro
bandido não teve tempo de reagir antes de ser baleado e cair contra
uma mesa, quebrando-a.
O capitão se jogou no chão, caindo entre as mesas que não
tinham mais ninguém, fugindo das balas que tanto Nigel quanto o
outro bandido atiravam, vidro sendo quebrado por todos os lados.
Murray, que tinha levado o gerente e o outro refém para os
escritórios, ainda não tinha voltado, deixando seus colegas ainda
mais nervosos.
— Pegue-o! — o líder dos bandidos gritou com o outro. Nigel
segurava Andy, ameaçando-o com sua arma.
— É mais fácil só desistir — Andy suspirou. — Vocês podem
conseguir um acordo, cumprir pena numa prisão legal, ir para um
lugar sossegado.
— Cale a boca! — Nigel brigou, puxando-o e encostando a
arma em sua cabeça.
O loiro sabia do perigo da situação, o bandido estava
nervoso, ameaçando-o com uma arma. Essa é a pior combinação,
porque é nesses momentos que alguém perde o controle, e as
pessoas podem sair feridas. Mas, na verdade, Andy não estava com
medo. Talvez seu relacionamento com Alex tivesse afetado seu
cérebro.
“É”, ele pensou, “deve ser isso mesmo”.
Ele viu seus pais com os reféns que ainda estavam no local.
Seu pai abraçava sua mãe, protegendo-a. Já ela tinha o rosto
coberto por lágrimas. Ele não queria que eles estivessem passando
por isso. E ele nem queria pensar no que teria que fazer para
mostrar que, apesar daquilo, o estado era seguro. Claro, exceto
quando se estava acompanhado de um ex-Navy louco, meio
psicopata, que agia muitas vezes como um neandertal. Porque aí as
coisas tendiam a sair do controle.
— Eu não estou achando. — O bandido andava por entre as
mesas que tinham sido empurradas para aquele canto, mas ele não
conseguia encontrar Alex.
— Atire em tudo, dê seu jeito — Nigel respondeu, irritado.
Como se estivessem assistindo a um filme de terror, todos
viram que o homem deu mais dois passos pelo local, e sons de tiros
vieram dali, mas não foi ele quem atirou. Ele gritou de dor, então
pareceu ser puxado com violência e caiu no chão, sumindo por
entre as mesas. Houve barulhos e então um silêncio angustiante, só
quebrado pelos choros dos reféns.
— Apareça ou eu o mato! — Nigel gritou, segurando Andy à
sua frente, os dois virados para onde Alex devia estar. O cano da
arma foi encostado na têmpora do detetive.
O capitão se levantou com calma, colocando sua arma sobre
uma das mesas e mantendo as mãos para cima, em sinal de
rendição. Os olhos dos dois namorados se encontraram, Andy
segurou o sorriso, Alex tinha um plano.
— Solte-o — o capitão avisou.
— Você acha que eu sou idiota? — Nigel perguntou.
— Eu acho. — Andy deu de ombros.
— Vou repetir calmamente para ver se você me entende —
Alex falou sério. — Solte-o agora!
— Ou o quê? — O bandido pressionou a arma ainda mais
forte contra a cabeça de Andy, de um jeito doloroso.
— Se você o machucar, um menor arranhão que seja, eu vou
matar você. E eu não me importo com consequência nenhuma, eu
vou caçá-lo e destrui-lo até não sobrar mais nada de você. Então
solte-o agora.
— Você... Você está blefando — o homem armado gaguejou.
— Você sabe que eu não estou. — Alex andava bem
devagar, chegando cada vez mais perto. — Se quer atirar em mim,
atire agora, mas solte-o primeiro.
— Não se aproxime... ou eu vou atirar nele! — o bandido
ameaçou.
— Você não acabou de ouvir o que ele lhe disse? — o
detetive perguntou.
— Se o machucar, é melhor que se mate antes que eu pegue
você, porque eu vou fazer questão de transformar a sua vida num
verdadeiro inferno — o capitão falava sério, não deixando dúvidas
de que o que ele dizia era verdade. — Sua única chance de escapar
é atirar em mim primeiro e me matar.
— Alex — Andy o repreendeu —, pare com isso.
— Pare! — Nigel gritou quando Alex estava a alguns passou
de distância. — Eu vou matar você.
— Então atire — o moreno deu de ombros, e o detetive o
olhou bravo. — Vamos, atire agora!
— Eu vou — o bandido avisou.
— Então faça, atire. Atire! Atire!
Nigel desencostou a arma de Andy, virando sua mira para
Alex, que ainda o desafiava a atirar. Os reféns prenderam a
respiração, e tudo parecia em câmera lenta. Então Andy empurrou a
mão que segurava a arma para cima e jogou sua cabeça com força
para trás, acertando o rosto do bandido e quebrando seu nariz.
O tiro pegou no teto e assustou as pessoas, mas não os
agentes. Andy torceu o pulso de Nigel, pegando sua arma. Ele se
virou rapidamente dando uma joelhada no saco do bandido e um
soco bem forte no seu rosto, fazendo-o cair no chão, sangrando e
com muita dor.
— Quantas vezes eu já lhe disse para não entrar na mira de
um bandido? — Andy perguntou bravo para Alex.
— Mas era a nossa melhor opção — Alex se justificou. — Ele
se distrairia comigo, e você poderia agir.
— Não importa! Não entre propositalmente na mira e nem o
desafie atirar em você! Pelo amor de Deus, Alex, você está sem
colete! Ele poderia matar você!
— HRT — Maddy e Eli gritaram, descendo a escada que
dava para a administração.
— Aqui! — Alex e Andy gritaram juntos, mas o loiro voltou a
brigar com o namorado. — Será que alguma vez nas nossas vidas
você vai me escutar? Ou você vai sempre agir como um idiota
irresponsável?
— Não exagere. Eu sabia que você não o deixaria atirar em
mim. — O moreno revirou os olhos.
— Ah é? E como? E se eu estivesse em choque? E se eu
não tivesse entendido o seu plano?
— Porque sabemos que a única pessoa que tem o direito e
um ou outro motivo para atirar em mim é você. E você nunca
deixaria alguém lhe tirar esse direito. — Alex deu de ombros.
— Ele tem razão — Eli concordou. Ele e Maddy lideravam os
policiais que prendiam os bandidos e resgatavam os reféns.
— Você está me machucando — Nigel reclamou quando
Maddy apertou as algemas demais.
— Cale a boca. Era para eu estar aproveitando o meu dia de
folga, mas, por sua causa, eu estou aqui em vez poder curtir meu
dia de relaxamento — ela respondeu, puxando o criminoso e o
empurrando para um policial. O bandido mancava.
— Você ainda não se safou — Andy disse, apontando para
Alex, que sorriu aberto e abraçou o namorado.

— Você está bem mesmo? — Andy perguntou para a mãe.


— Sim, isso só foi um pouco intenso — ela respondeu.
— Eu poderia tentar convencê-la de que isso normalmente
não acontece, mas comigo e com o Alex acontece muito, mais do
que deveria. — O filho suspirou. — E você, pai?
— Eu estou bem — o mais velho garantiu. — Escute, o que
eu disse antes foi uma idiotice, eu nunca quis que você fosse como
Nick.
— Tudo bem, pai, depois conversamos. Agora só preciso me
certificar de que está tudo certo, depois poderemos buscar as
crianças e ir para minha casa, ok? — Andy perguntou, e o pai
concordou.
A confusão já tinha praticamente acabado. Todos estavam do
lado fora do restaurante, onde todos os reféns estavam sendo
avaliados pelas equipes médicas, apenas por protocolo.
Depoimentos estavam sendo pegados, e a equipe de perícia estava
analisando o local, mas era apenas rotina, e logo todos seriam
dispensados.
— Já pegamos tudo. Esse assalto, na verdade, era para
disfarçar o homicídio de Tonya Sebastian, a mulher que vocês
protegeram — Eli explicou, indicando a mulher loira que estava em
uma ambulância. Uma moça tinha chegado, e as duas estavam
abraçadas, chorando. — Aquela é Rose Sebastian, filha da vítima.
Tonya é dona de uma grande rede de joalherias e está se
separando do marido, Raul Jacken, que vai sair sem nada desse
divórcio.
— Deixe-me adivinhar — Andy falou. — Raul mandou matar
Tonya para ficar com todo o dinheiro.
— De acordo com os criminosos, Raul detalhou a rotina para
eles e avisou que ela estaria aqui hoje em um almoço de negócios.
Então armaram o assalto como distração. Eles pretendiam escapar
para a marina, onde havia um barco esperando por eles, mas
Maddy e eu já mandamos prender todos os envolvidos.
— Bom trabalho, Eli — Alex o parabenizou, batendo no
ombro do amigo.
— Irmão, como agradecimento, vocês poderiam tentar não se
matar nas próximas horas? E, como eu trabalhei hoje, quero outro
dia de folga.
— Eu também — Maddy gritou, passando por eles.
Andy até iria fazer alguma piada, mas seu celular tocou.
Quando viu o número de Amy, ele suspirou. Alex chegou mais perto,
preocupado com a reação do namorado, então viu quem estava
ligando e tentou escapar, mas Andy foi mais rápido e o segurou pela
camiseta.
— Oi, princesa — o loiro falou, tentando soar normal.
— Diga que vocês não levaram o vovô e a vovó para almoçar
em um restaurante chamado Marabu Brickell!
— Nós não levamos seus avós para almoçar nesse
restaurante — ele garantiu.
— Ah, meu Deus, ainda bem — ela suspirou, aliviada.
— Foi seu avô que quis vir, e, antes que você comece, Alex e
eu éramos contra. Seu avô que nos obrigou.
— Dada! — ela gritou, exasperada. — Não, Serena, eu não
quero chá. Eu não acredito que vocês fizeram isso comigo de novo.
Eu não vou tomar chá nenhum, Serena! — Amy falava com o pai e
com a amiga ao mesmo tempo.
— Filha, respire. O importante é que acabou tudo bem, e
ninguém se feriu — Andy disse calmamente. Alex cruzou os braços
e levantou a sobrancelha. O loiro cerrou os olhos para ele.
— Serena, pesquise para mim quando é o próximo show do
Niall Horan... Não importa onde, só descubra onde serão os
próximos, porque meus pais vão acabar me matando do coração, e
quero realizar pelo menos uma coisa da minha lista antes!
— Amy, você não está exagerando? — o loiro perguntou.
— Não! Ainda falta um ano para eu me formar, então é o
show do Niall ou perder a virgindade!
— Ok, compre ingressos para esse show, nós a levamos —
Andy concordou. — Seu papa paga.
— Pago o quê? — Alex perguntou, confuso.
— Ingressos para o show de um tal de Niall Horan — Andy
respondeu.
— Por quê?
— Porque Amy está brava conosco e disse que é isso ou
perder a virgindade — o loiro disse como se aquele pensamento
fosse tão terrível, que o assustava só de pronunciar.
— Vamos a esse show — Alex concordou.
Depois de tudo resolvido, eles finalmente foram liberados.
Alex deixou Andy e seus pais em casa e foi buscar as crianças.
George se mantinha quieto na maior parte do tempo, enquanto
Claire só conseguia dizer o quanto tudo aquilo tinha sido assustador
e emocionante.
— Vocês fazem isso todos os dias? — ela perguntou.
— Eu queria lhe dizer que não, mas cada dia é uma loucura
diferente. Considerando tudo que já aconteceu, hoje até foi
tranquilo. — Andy deu de ombros, fazendo sanduiches.
No final eles não tinham almoçado direito, e Alex proibiu Andy
de cozinhar alguma coisa para comerem. Ele disse algo como "seus
pais já foram mantidos reféns em um assalto, não precisam de uma
intoxicação alimentar para causar mais traumas".
Andy tinha achado um exagero da parte do namorado, mas
também achou melhor não arriscar a saúde de ninguém. Por isso
estavam fazendo sanduíches simples de peito de peru enquanto
Alex não voltava com as crianças e com comida feita pelo Kane.
— Filho, eu queria lhe dizer uma coisa — George falou
depois que Claire saiu para tomar um banho. — Eu realmente quero
me desculpar por tudo o que falei e como tenho agido.
— Tudo bem, pai, todos nós estamos sob muito estresse.
— Não, não está tudo bem. — O mais velho suspirou. — Eu
fico fingindo o tempo todo que estou bem, que não tem nada
acontecendo e que consigo lidar com tudo, mas a verdade é que eu
não posso. Depois que perdemos Nick, fiquei com tanto medo de
perder você e suas irmãs, que acho que me tornei paranoico. Com
Sabrina e Bianca é fácil, elas estão perto de mim, mas você mora
tão longe. Em vez de tentar ficar mais próximo, eu apenas o afastei
mais.
— Pai, eu amo você, mas eu preciso que aceite minhas
decisões. Sei que seria muito mais fácil se morássemos todos na
mesma cidade, como era antes. Mas minha vida está aqui agora, e
não vou abrir mão. Pela primeira vez, eu me sinto completamente
feliz. E eu gostaria de poder dividir essa felicidade com você, se
você estiver pronto para isso.
— Eu estou, eu juro que estou. Vou fazer certo desta vez.
Fiquei com tanto medo de perder você também, que julguei tudo
errado. Mas eu o vi hoje e entendi como você está mais confiante,
que você sabe se proteger... e que, mesmo que para mim você
sempre vá ser o meu menino, você é um homem adulto e um ótimo
profissional. Tudo foi incrível, o jeito como perceberam o que
aconteceria antes de acontecer, a leitura que fizeram daqueles
criminosos e as verdadeiras razões de estarem lá. Uma mulher só
voltou para casa hoje porque vocês dois a salvaram. Sua mãe tem
razão, vocês são heróis.
— Obrigado — Andy disse, sem graça. Ele nunca soubera
lidar muito bem com elogios.
— Mas tem mais uma coisa. Eu vi o quanto você ama Alex e
o quanto ele o ama. Aquele homem estava pronto para levar um tiro
por você sem hesitar, ele agiu sem pensar apenas porque você
havia sido ferido. O jeito que vocês se olham, como sempre sorriem
um para outro, não tem outro nome a não ser amor — George
suspirou. — O que um pai mais quer é ver seu filho feliz e que ele
encontre alguém que o ama de verdade. Alex Mitchell o ama com
todas as suas forças e, pelo pouco que eu vi, enfrentaria o mundo
por você, e você por ele. Espero que vocês sejam felizes e que eu
possa fazer parte disso.
— Você faz — Andy disse, abraçando o pai.
— Vovô! — os gêmeos gritaram, entrando correndo na casa,
para abraçar George.
— Meus pequenos, como vocês cresceram — o homem
disse, feliz, abraçando os netos. — Eu estava com tanta saudade.
— Trouxe comida — Alex colocou as sacolas em cima da
mesa.
— Tio Kane disse que está ofendido porque vocês foram a
outro restaurante e não ao dele. Inclusive, ele soltou um “bem-feito”
quando o papa contou o que aconteceu — Amy contou, rindo,
ajudando Alex
— Pronto, vai passar meses falando disso — Andy suspirou.
— Papa, cadê o Bruce? Eu comprei uma roupinha para ele —
Gwen disse, empolgada.
— Está lá fora, mas que roupa você comprou?
— Você vai amar — Amy sorriu debochada.
Um tempo depois eles estavam jantando na área externa da
casa. Claire não cansava de falar o quanto estava orgulhosa dos
seus “super-heróis” e que jogaria na cara das amigas que o filho e o
genro eram os melhores. Enquanto isso, Bruce desfilava por aí
vestido com um tutu de bailarina.
— Não está tudo bem... Eu vou até lá e descubro, depois
aviso você... É claro que o Alex não tem nada a ver com isso... —
Andy falava no celular com Barbara. — Como assim “como eu
posso saber”? Barbara, como que Alex teria a ver com um
acontecimento na escola das crianças?
Eles estavam no carro, indo para a reunião de pais da turma
dos gêmeos. Andy fazia questão de estar envolvido o máximo
possível com qualquer coisa sobre a vida dos filhos. Por isso, fazia
questão de ir às reuniões. O diferente dessa vez foi que Barbara
havia sido notificada de que houvera uma pequena confusão
envolvendo Evan e outro menino. Então Andy teria que resolver isso
também.
— Sim... Eu entendo... Certeza. Eu ligo assim que sairmos de
lá — ele garantiu, despedindo-se da ex e se virando para o
namorado, que dirigia o carro. — O que você fez?
— Como assim? Eu não fiz nada — Alex falou, fazendo-se de
inocente.
— Alex, por favor, eu o conheço muito bem e conheço o Evan
muito bem. Vocês dois ficaram de segredinhos a semana inteira, e
agora Barbara recebe notificação da escola? — Andy cruzou os
braços. — Então você vai me responder agora o que aconteceu,
para eu chegar na escola já sabendo.
— Andie...
— Alex!
— Ok — ele bufou. — Não sei se foi isso, pode ter sido outra
coisa, mas tinha um colega de sala sendo desagradável com o
Evan. Eu só dei dicas de como ele poderia resolver a questão.
— Ah, meu Deus. — Andy passou as mãos pelo rosto. —
Dicas? Que dicas?
— Coisas simples, como se proteger. — O capitão deu de
ombros.
— Por favor, diga que não ensinou meu filho a atirar ou lançar
granadas.
— O quê? Claro que não! Andie, eu não colocaria granadas
na mão de uma criança — ele respondeu, revoltado, e o detetive se
acalmou. — Primeiro tem que ensinar a atirar, depois ir para coisas
maiores.
— Ah, não. — Andy massageou a têmpora. — O que você
ensinou ao Evan?
— Só coisas básicas, como bloquear um soco, rolar se for
derrubado, chutar, deixar seu adversário atordoado...
— Desmaiar alguém? — o detetive perguntou ironicamente.
— Não, Evan ainda não está preparado para isso. Talvez em
alguns meses — Alex comentou. — Só ensinei golpes que podem
deixar o adversário atordoado, assim ele teria tempo de escapar e
chamar algum responsável.
— Você sabe que ele deveria chamar algum responsável
ANTES de tentar deixar o colega atordoado, não sabe?
— Mas ele falou. Evan disse que contou para a professora e
para Barbara e que ninguém fez nada — o capitão justificou.
— A Barbara não fez nada? — Andy perguntou, confuso.
— Ela foi até a escola para reclamar e falou com a
professora, mas ninguém teve outra atitude, só falavam para ele
ignorar. Sabemos que isso de “ignorar” geralmente não resolve —
Alex bufou.
— Eu não sabia que tinha alguém perseguindo o Evan —
Andy falou, pensativo.
— Ele não lhe contou? Andie, se eu soubesse, eu teria lhe
contado — o moreno falou, preocupado. — Não quero que pense
que eles me procuram antes de você para resolver algo, acho que
até o Evan pensou que você já sabia.
— Alex, pare com isso, eu não estou chateado por Evan ter
contado a você. Na verdade, é até um alívio saber que ele se sente
tão confortável e confia tanto em você para lhe contar essas coisas.
— Sério? — Alex sorriu orgulhoso, e Andy revirou os olhos.
— Foque no problema — o loiro pediu. — Barbara não me
contou o que estava acontecendo. Ela tem essa mania irritante de
não me contar tudo relacionado aos nossos filhos.
— Espera, “nossos filhos” quer dizer seu e dela ou “nossos
filhos” quer dizer, tipo, nossos, sabe, todos nós? — Ele girava o
dedo, indicando-os.
— Faz diferença? — Andy zombou.
— Claro que faz — o outro retrucou. — Você os enxerga só
como seus filhos ou somos uma família nós cinco?
— É essa sua preocupação? Estamos indo para a escola dos
gêmeos para resolver a situação do Evan, porque ele revidou
agressões de um colega, coisa que eu não sabia que estava
acontecendo. Mas você quer saber como eu enxergo você em
relação aos meus filhos?
— Sim! — Alex disse, convicto, manobrando o carro dentro
do estacionamento da escola.
— Se eu não quisesse que você fosse o papa deles, eu
deveria ter me preocupado antes, porque agora esse barco já partiu
— Andy resmungou antes de sair do veículo, ignorando o sorriso
feliz do namorado.
Eles foram conduzidos para a sala de aula dos gêmeos. A
turma não estava lá. A maioria das pessoas presentes era composta
de mães. Havia também alguns casais, mas nenhum pai
desacompanhado.
— Vai ficar com esse sorrisinho besta no rosto mesmo? —
Andy perguntou para Alex, que concordou.
— Sabe, eu estava pensando...
— Não — o detetive respondeu.
— Não o quê?
— Seja lá o que você está pensando, a resposta é não.
— Você nem sabe no que eu estou pensando — Alex disse,
indignado.
— Mas sei que a resposta é não — Andy respondeu,
sorrindo, e o moreno revirou os olhos.
— Bom dia. Perdoem-me pelo atraso. Eu sou a Senhora
Marlon, professora desta turma — a mulher falou, entrando na sala
e se sentando à sua mesa. — Vou falar de um modo geral sobre a
classe, depois posso passar avaliações individuais a quem se
interessar, tudo bem? Ótimo, vamos conversar.
— Ela não deveria marcar horários individuais com cada
responsável para falar dos alunos? Seria mais fácil, falaríamos só
dos assuntos importantes e não íamos perder tanto tempo com
tanta baboseira — Alex sussurrou.
— Alex, são crianças do ensino fundamental, esses são
todos os assuntos importantes — Andy respondeu sussurrando.
— Alguma dúvida? — a professora perguntou para os pais.
— Eu tenho uma — uma das mulheres levantou a mão, e
Alex revirou os olhos dramaticamente. — Vi na grade curricular que
as crianças terão aula sobre o Sistema Solar.
— Sim — a professora respondeu, confusa. Ela tinha
acabado de explicar o conteúdo que trabalharia naquele bimestre.
— Está na nossa introdução às ciências.
— Mas vai explicar só sobre o sistema solar ou vão falar
também dessas teorias de big-bang? Porque somos uma família
religiosa, e não quero meu filho aprendendo nada que não esteja de
acordo com nossas crenças.
— Oh, meu Deus — Andy suspirou. Ele não sabia quem
perderia a cabeça primeiro, Alex ou ele.
— Perdoe-me, creio que não entendi a pergunta
corretamente. Mas tudo que vou abordar sobre esse tema é o que
está estipulado pelas diretrizes do colégio e foi o que lhes
apresentei agora há pouco — a professora disse o mais
educadamente possível.
— Mas não podem ensinar coisas contrárias às nossas
crenças — a mulher arrogante repetiu.
— É claro que precisam, senão as crianças crescem idiotas
como você — Alex bufou, e Andy apoiou o seu rosto nas mãos. É,
Alex perdeu a paciência primeiro.
— Perdão? — A mulher se virou para ele.
— Se você quer criar seu filho alienado, é o seu direito, mas
você não pode colocá-lo numa das melhores escolas do estado
querendo que as pessoas adaptem o ensino para as besteiras em
que você acredita.
— Besteiras? — Andy perguntou para o namorado.
— Não estou falando da religião, só das idiotices anticiência
em que ela acredita — o moreno se explicou.
— Você vive falando que não precisa de remédio, isso não é
anticiência também? — Andy o provocou.
— Mas isso é porque eu não preciso na maioria das vezes,
não que os remédios não sejam necessários.
— Então é só porque você é um maluco teimoso e
arrogante? — o loiro fingiu entender. — Agora muita coisa faz
sentido.
— Com licença — a mulher falou, mas não com educação —,
por que estão por aqui?
— Isso não é uma reunião de pais? — Andy perguntou. —
Acho que até você consegue adivinhar por que estamos aqui, não?
Os outros pais e a professora tiveram que segurar a risada. A
mulher ficou vermelha e bufou, revoltada. Alex sorriu, divertindo-se.
— Mas por qual criança estão aqui? — ela insistiu.
— Você trocou de trabalho com ela, e eu não percebi? — o
detetive perguntou para a professora, que negou com a cabeça,
depois se voltou outra vez para a outra mulher. — Então por que a
senhora quer saber?
— Imagino como deve ser a educação dessa criança — ela
respondeu de forma arrogante.
— Bem melhor que a sua, isso todos temos certeza — Andy
comentou tranquilamente, e Alex riu alto. — Podemos continuar a
reunião ou a senhora quer interromper por mais alguma besteira?
— Certo, no final do semestre faremos uma ação em
conjunto com a comunidade. Cada turma trabalhará com algum tipo
de agência que presta serviços de atendimento aos cidadãos.
Nossa turma escolheu a polícia — a professora falou, e Alex e Andy
sorriram, orgulhosos.
— Quem escolheu? — uma das mães perguntou.
— Foram as crianças. Elas estavam entre bombeiros e
policiais, mas dois dos alunos explicaram para os colegas que os
policiais trabalham em diferentes coisas e alguns são melhores que
super-heróis — a professora explicou, sorrindo.
— Que fofo — a maioria comentou, e Andy riu, pois sabia que
tinham sido Evan e Gwen.
— Eu não concordo — a senhora irritante voltou a
interromper. — Policiais, em geral, são grosseiros e violentos.
— Como? — Alex se virou para ela, revoltado.
— Eu não acho. Certo de que tem alguns que podem ser,
mas generalizar desse jeito é perigoso. Porque se fosse assim,
teríamos que manter nossos filhos longe de igrejas, pois há padres
com histórico criminoso ao redor do mundo — uma das mães
argumentou, e muitos concordaram.
— Como será esse projeto? — Andy perguntou, interessado.
— Vamos marcar uma visita para as crianças à delegacia e
tentaremos trazer pelo menos um policial para vir à sala conversar
com eles. Queremos que eles entendam como funciona o processo
e a importância da polícia. O objetivo é mostrar as diferentes áreas
de atuação e que, se eles precisarem, saibam como entrar em
contato.
— Podemos ajudar nisso — Alex disse animado, e Andy
sorriu. Se a professora desse uma brecha, Alex iria controlar o
projeto, montar uma força tarefa infantil e era capaz de as crianças
saírem da escola com empregos garantidos nas forças armadas. —
Podemos falar com alguns policiais e mostrar como a perícia
funciona. Talvez mostrar como acontecem algumas investigações.
— Obrigada, isso seria muito bom — a professora agradeceu.
— Não vai mostrar como se atira, nem falar sobre munição e
armas, entendeu? — Andy sussurrou para o namorado.
— Andie — resmungou, cruzando os braços.
— Ainda não gosto da ideia — a mulher bufou.
— Senhora, nós somos policiais. Agentes federais, no caso,
mas você entendeu — Andy a avisou. — Então acho melhor ter
cuidado com o que fala.
— Vou entregar os relatórios do desenvolvimento de cada
aluno e alguns trabalhos que as crianças fizeram, para caso
queiram levar para casa — a professora prosseguiu com a reunião,
agora entregando para os pais algumas folhas de papel com
desenhos das crianças. — Se quiserem falar comigo
individualmente, esperarei na minha mesa. Alguns eu já notifiquei
que precisávamos conversar por situações que aconteceram
durante as aulas.
— Olhe, a gente. — Alex apontou para o desenho que tinha
Gwen, Evan, Alex, Andy e Amy na praia, ou pelo menos deveriam
ser eles.
— Gwen desenhou Bruce de bailarina. — Andy mostrou.
— Quero falar com a mãe de um tal de Evan — um dos
únicos pais presentes falou alto.
— Oh, meu Deus — Andy suspirou, passando a mão pelo
rosto, e Alex já encarava o homem. — Viu?
— Eu não fiz nada — ele se defendeu. — E, se Evan fez, foi
para se defender.
— Senhor, por favor, questões pessoais resolvemos
diretamente com os envolvidos — a professora tentou evitar a
confusão. — Falar assim no meio de todos pode constranger as
crianças.
— Tudo bem, tudo bem, mas quero conversar com ela, temos
que resolver a situação das crianças. O moleque não pode mandar
meu filho para enfermaria e ficar por isso mesmo — o pai falou de
novo, e a esposa parecia querer se esconder de vergonha. — Agora
meu filho tem de andar com um curativo no rosto.
— Para enfermaria? Alex, o que você ensinou para o Evan?
— Andy olhou para o namorado, que se fazia de inocente.
— Se o garoto está andando normalmente, acho que não
ensinei o suficiente. — O capitão deu de ombros. — Sorte dele que
foi o Evan. Se tivesse sido a Gwen, teria sido muito pior.
— Muito pior?
— Já viu o gancho de direita daquela menina? Se ela
continuar treinando, pode ir para competições nacionais.
— Ah, não, vamos ter uma conversa muito séria quando
chegarmos em casa. — Andy o fuzilava com os olhos, mas então se
voltou para o pai que continuava falando. — Senhor, eu sou o pai do
Evan. Assim que a professora nos chamar, podemos conversar.
— E quem é esse outro? Seu guarda costas? — o homem
zombou.
— Não, ele é o outro pai — Andy respondeu calmamente e
viu algumas pessoas arregalarem os olhos, surpresas.
— Eu sei que os pais do Evan são separados — uma mãe
comentou, confusa. — Você é casado com a mãe dele?
— Não! — Alex disse como se aquilo tivesse sido uma
grande ofensa. — Com ele. — Apontou para o Andy.
— Desculpa, como? — o loiro perguntou para o namorado,
que revirou os olhos.
— São apenas nomenclaturas, que diferença faz?
— Como assim “que diferença faz”? Quer saber? Esqueça,
esse é outro tópico sobre o qual vamos conversar mais tarde. —
Andy negou com a cabeça, depois voltou a falar com o homem. —
Como eu disse, não precisamos de todo esse show. Daqui a pouco
conversamos como pessoas civilizadas e resolvemos isso.
— Agora você quer ser civilizado? E quando seu filho
mandou meu filho para a enfermaria? — ele falou de um jeito
agressivo.
— Querem, é plural, porque somos dois — o loiro indicou
Alex e ele. — Então a frase é “querem ser civilizados”. E não
adianta tentar me ameaçar se nem falar corretamente consegue. Se
o seu objetivo era me assustar, você falhou miseravelmente.
— O quê? — O homem se levantou, e Alex se levantou
também, encarando o outro.
— Pronto, viu o que você fez? — Andy brigou com o homem.
— Se ele quebrar a sua cara, eu não tenho nada a ver com isso. Eu
tentei conversar, seria muito mais fácil de resolver as coisas, mas
não, tem que ser um imbecil.
— Senhores, precisamos nos acalmar — a professora disse,
quase desesperada.
— Essa é a melhor reunião que já fomos — uma das mães
comentou, e várias delas concordaram, sorrindo.
— Calma, por enquanto eles estão só se encarando, pode
até parecer ruim, mas não tem o que se preocupar — Andy falou
para a professora, e algumas mães ficaram decepcionadas.
— Vai mesmo querer arrumar briga comigo? — o homem
desafiou Alex. — Sou faixa preta em taekwondo.
— Ah é? — Alex cruzou os braços, sorrindo de canto. —
Então você acha que vai bater em mim?
— Talvez eu deva dar uma surra em vocês dois.
— Ok, acho que você pode começar a se preocupar — o loiro
avisou a professora, que arregalou os olhos.
— Eu adoraria ver você tentar — o moreno aceitou o desafio,
sorrindo.
— Já chega — Andy se levantou. — Alex, aqui não. Estamos
dentro da escola dos gêmeos, não vamos fazer isso aqui só porque
tem um idiota mexendo com a morte.
— Foi ele que me desafiou.
— Eu sei, ele é um imbecil, todo mundo já concluiu isso. Se
quiserem se matar, à vontade, mas lá fora. Aqui vamos respeitar a
escola dos nossos filhos, ok?
— Certo — Alex respondeu, com um sorriso no rosto, e Andy
revirou os olhos, mas também sorria. Ele sabia que a alegria era por
ele ter dito “nossos filhos”.
— Isso, deixe o “marido” mandar em você, já sabemos quem
é a esposa da relação. — O homem riu. Alex e Andy se viraram
para ele.
— Como é? — o detetive perguntou devagar. O silencio
reinava ali. A esposa do homem puxava a manga de sua camisa,
implorando para que o marido se sentasse e acabasse com aquilo.
— Foi o que eu disse — o homem respondeu.
— Eu ouvi bem o que você falou, só estou dando tempo para
você mudar o que disse e podermos fingir que isso nunca aconteceu
— o detetive estava sério.
— Por quê? Eu sou homem de verdade, assumo o que digo
— ele bateu no peito. — Não sou uma bichinha que fica dando por
aí. Eu crio meus filhos para serem homens, e não franguinhos.
Ganhou musculo com anabolizantes, não é? Porque duvido que
aguentem o trabalho duro de treinar. Aliás, sabem o que é isso?
Vocês são doentes!
— É melhor calar a boca — Alex o avisou.
— Eu não tenho medo, não. Desde quando homem de
verdade tem medo de bicha? Aliás, não quero meu filho estudando
com o seu filho. Eu não quero que contaminem o meu filho com
esse jeito sem moral como vocês criam o de você.
Alex deu um passo à frente, mas Andy colocou a mão no seu
peito, fazendo-o ficar parado no lugar.
— Então, de acordo com você, pelo fato de sermos gays,
somos fracos, não deveríamos estar em sociedade porque somos
doentes, temos caráter questionável e criamos nosso filho de
maneira errada e sem moral? — O loiro perguntou.
— Isso mesmo — ele o encarava.
— Ok, foi bom falar e deixar registrado o que você pensa e
disse sobre nós — o detetive falou calmamente. — Só para eu
saber, qual o seu nome?
— Por que você quer saber?
— Está com medo de me dizer? Você não disse que era
“homem de verdade”?
— Levi Timothy — o homem respondeu, orgulhoso.
— Ok, obrigado — Andy falou, aproximando-se, então torceu
o braço do homem e bateu seu rosto contra a mesa da escola,
causando um grande barulho. — Levi Timothy, você está preso por
injúria agravada por homofobia, ameaças e desacato à autoridade,
além de ameaçar dois agentes federais.
— O quê? Como assim? Você não pode... — Ele se debateu
enquanto o detetive o algemava.
— Você acha? Sou o Detetive Andrew Malloy, e aquele é o
Capitão Alex Mitchell, capitão da HRT. Nas próximas reuniões, você
deveria prestar mais atenção no que os outros pais dizem — Andy
sussurrou, empurrando o homem algemado em direção à porta. —
Você está preso, tem direito a ficar em silêncio, tudo o que falar
pode e deverá ser usado contra você no tribunal. Tem direito a um
advogado, e, se não tiver condições para contratar, o estado lhe
encarregará um.
— Isso é uma humilhação, não podem fazer isso comigo!
— Melhor ficar quieto — Alex avisou. — Quando aquela
senhora disse que todos os policiais são grosseiros e violentos, ela
errou dizendo que todos são. Alguns são só grosseiros como o
Andy, outros são violentos, como eu.
— Isso quer dizer que, enquanto for eu que estou o
prendendo, você ainda tem alguma chance de chegar inteiro na
delegacia — o detetive o empurrou porta afora.
— Senhora, seu marido ameaçou dois agentes federais, isso
é um crime grave, espero que tenham um bom advogado — o
moreno falava calmamente com a esposa do homem que estava
sendo preso. — Nós vamos chamar uma viatura para buscá-lo, você
pode ligar para seu advogado enquanto isso e para o banco, afinal
eu não sei quanto será a fiança.
— Se meu marido que fosse preso desse jeito, eu não
pagaria fiança, deixaria mofar na cadeia — uma das mães
comentou, e outras concordaram. — E, se precisarem de
testemunhas, eu testemunho sem problemas.
— Eu também — outras falaram na hora.
— Obrigado, senhoras, mas agora nós temos que ir. Depois
eu pego o contato de vocês, porque vou precisar de depoimentos —
Alex falou calmamente, recolhendo os trabalhinhos dos gêmeos. —
Senhora Marlon, eu entro em contato para combinarmos a visita à
delegacia, mas tenho certeza de que consigo levar as crianças ao
nosso escritório da HRT. O que acha?
— Claro... — ela respondeu, desnorteada.
— Até mais então. — Ele sorriu e saiu da sala.

— Aí o dada levou o pai do Devon algemado pro carro —


Evan contava, rindo. A Ohana tinha se reunido na casa de Alan e
Maddy para jantar, afinal estavam tendo muito trabalho ultimamente.
Como logo chegariam as férias de verão, as coisas tendiam a ficar
ainda mais agitadas.
— E ficou todo mundo “quem são eles? O que aconteceu?”, e
eu falei: são os meus pais — Gwen completava a história.
— Eu não acredito que vocês prenderam o pai do colega dos
gêmeos depois de o Evan ter batido no menino. — Amy riu
— Evan só se defendeu, não é? — Alex perguntou, e o
menino, que estava no seu colo, concordou, animado.
— Claro, foi só isso — a garota respondeu, rindo enquanto
digitava no celular.
— Você não vai largar esse celular, não? — Andy perguntou.
— Estou contando para os meus amigos o que aconteceu,
vocês sabem o quanto eles amam vocês. Serena, Alicia, Makayla e
Ian falam tanto de vocês, que mais gente da escola entrou para o fã-
clube — ela contou. — Alicia e Ian querem criar o nome do shipp,
mas estou pensando em um jeito de monetizar isso. Talvez cobrar
para eles passarem o fim de semana com a gente.
— Essa é a minha garota. — Maddy e Amy deram um high
five.
— Ragazza, ofereça pacote para festa do pijama e coloque
alguns adicionais mais caros, como manhã surfando, dia no parque
aquático — Kane deu a ideia, e Amy prestava muita atenção. —
Cada adicional é um valor a mais.
— O mais caro tem que ser pesca no barco. Andy odeia, e
eles vão discutir o tempo todo — Eli sugeriu, e a maioria concordou.
— Levem todos para comer pizza, que eu dou um desconto
para vocês — Kane falou, e ele e Amy deram as mãos em um
acordo.
— Aí o tio Kane coloca abacaxi na pizza e diz que foi o papa
que pediu. O dada vai surtar com ele — Gwen disse, empolgada.
— Tão nova e com uma mente tão maléfica, que orgulho —
Amy abraçou a irmã.
— Eu tenho algumas fotos deles da minha última festa a
fantasia, posso lhe passar para fazermos brindes temáticos — Mal
ofereceu, e a garota aceitou.
— Vão parar com isso? — Andy perguntou, revoltado.
— Andy, em breve a Amy vai para faculdade, tem que juntar
dinheiro — Alan a defendeu.
— É, dada, é para a faculdade! — a garota repetiu, rindo
maldosa.
— Engraçadinha — o pai empurrou seu ombro. — Concentre-
se nos seus estudos para chegar até a faculdade, nós já fizemos
uma poupança para pagar e estamos juntando dinheiro há anos.
— Nós? Você e a mamãe? — perguntou, confusa.
— Não, nós — ele respondeu distraidamente, indicando Alex,
que brincava com Evan.
— Vocês dois? Desde quando?
— Um pouco depois que os gêmeos nasceram, não sei ao
certo. Você sabe? — ele perguntou para o namorado.
— Foi pouco tempo depois — o moreno pensou. — Não foi
logo depois que voltamos daquele caso em Tallahassee, do invasor
de casas?
— Verdade — Andy concordou. — Nós voltamos e abrimos a
conta-poupança. Enfim, nós temos depositado uma quantia todo
mês. Por isso, a senhorita tem que focar nos estudos.
— Fizemos uma para Evan e outra para Gwen também —
Alex completou. — Só que, como eles vão demorar, focamos mais
na da Amy.
— Esperem — Amy interrompeu a conversa. — Vocês dois,
juntos, fizeram uma poupança para que os gêmeos e eu possamos
ir para a faculdade? Isso quer dizer que vocês assumiram um
compromisso de ainda estar um do lado do outro por pelo menos
mais de uma década, ainda assim não sabiam que estavam em um
relacionamento? Eu não acredito nisso! — A garota bufou revoltada.
— A verdade é que eles nunca se imaginaram vivendo sem
que fosse um do lado do outro — Maddy falou, bebendo seu drink.
— O que me admira é o tempo que levaram para perceber que já
estavam juntos.
— Vocês vão fazer isso toda vez? — Andy perguntou,
revirando os olhos, mas Alex riu.
— Você contou a ele que aquele oficial fica fazendo
gracinhas com você? — Eli perguntou para Andy quando Alex foi
jogar bola com Alan e os gêmeos.
— Não e não pretendo, pelo menos por enquanto. Kiplan é só
um idiota, e, se Alex souber, vai persegui-lo.
— Entendo você, mas ele vai ficar bravo de qualquer jeito.
— Eu sei, só estou adiando a dor de cabeça que ele vai me
dar — Andy bebeu sua cerveja. — As “piadas” de Kiplan não me
ofendem, só o fazem parecer ainda mais patético.
— Concordo, mas Alex não vai pensar isso — Eli avisou,
porém encerrou o assunto quando os outros se aproximaram. As
crianças já estavam cansadas e suadas.
— Vamos embora, e os senhores vão tomar um banho antes
de ir para cama — Andy falou para os filhos, que fizeram careta.
— Dada, papa — Amy os chamou, distraída —, minha
primeira competição no atletismo será na sexta da semana que
vem. Vocês vão, não é?
— Claro, princesa, vamos gritar muito quando você ganhar.
— O moreno sorriu, orgulhoso.
— Eu também quero ir — Maddy reclamou.
— Todos nós queremos — Mal a corrigiu.
— Pronto, a HRT inteira vai ver minha competição. — Ela riu.
— Ohana. — Kane deu de ombros.
— Mas pense nos seus competidores vendo um monte de
agentes federais chegando só para vê-la competir. Isso vai mexer
com o psicológico deles — Alan comentou, e a garota sorriu,
gostando da ideia.
Horas mais tarde, Andy estava em seu banheiro, sentindo a
água quente do chuveiro caindo sobre ele e percorrendo seu corpo.
A porta do banheiro se abriu e se fechou. Ele não precisou abrir os
olhos para saber quem era. Um leve barulho de roupas sendo
retiradas, a porta do box foi aberta, e braços o envolveram.
— Tudo bem? — Alex sussurrou em seu ouvido.
— Sim, só aproveitando meus minutos de paz e relaxando —
ele respondeu, sorrido, porque sabia o que viria depois.
— Posso ajudá-lo com isso — o moreno garantiu.
Os lábios tomaram os seus, suas costas bateram contra os
azulejos, as mãos de Alex vagavam por seu corpo. O beijo não era
carinhoso e calmo, era como a eterna disputa de poder entre eles,
como se até nesse momento eles brigassem por quem estava certo,
mesmo que ambos soubessem que um estava rendido ao outro.
Seus corpos se esfregavam, as ereções friccionavam uma na
outra, eles gemiam por entre os lábios, sem de fato nunca afastarem
suas bocas. Andy colocou sua mão sobre os dois paus, apertando-
os um contra o outro.
Eles não podiam gemer alto, afinal os filhos dormiam em
seus quartos, próximo ao quarto deles, por isso beijavam
agressivamente para conter os sons. Seus corpos se batiam sem
eles precisarem pensar, como se o desejo que sentiam percorresse
tão rápido por suas veias, que seus corpos tivessem vontade
própria.
Arranhavam e mordiam um ao outro no processo, não se
importavam se haveria algumas marcas no dia seguinte.
Secretamente, eles gostavam de admirar suas obras no corpo do
outro.
A sensação era quase desesperadora, eles estavam tão
próximos, os corações disparados. Ao mesmo tempo que parecia
que não sobreviveriam se não gozassem logo, queriam prolongar o
máximo o prazer.
— Alex..., eu...
— Sim..., eu também — eles gemiam.
Andy mordeu o ombro do moreno com vontade na hora que
atravessou o limite e seu prazer chegou com força. Alex atacou o
pescoço do namorado, calando o gemido que queria soltar quando
gozou.
Eles ficaram embaixo da água, sentindo os últimos espasmos
de prazer e retomando o controle da respiração.
— Precisamos aprender a fazer isso como pessoas normais
para eu não ter a sensação de que vou ter um ataque cardíaco toda
vez — Andy murmurou enquanto terminavam o banho.
— Mas assim que é divertido. — O outro sorriu malicioso.
— Não — o loiro o avisou.
— Não o quê? Eu não falei nada?
— Mas eu conheço esse sorriso, sei que, assim que formos
para a cama, você vai querer continuar isso. Já é tarde, e
precisamos acordar cedo — Andy falou, enxugando-se, e Alex riu.
— Aposto que consigo fazê-lo mudar de ideia em menos de
cinco minutos.
— Consegue, é? — o loiro debochou, indo para a cama.
E ele conseguiu.

— Mas que saco, eu mandei parar! — Andy resmungou. Ele


e Mitchell perseguiam um suspeito que estava carregando um rifle
nas costas e uma pistola na mão.
— Siga ele, que eu dou a volta — Alex gritou. O suspeito
corria em direção ao parque, passando por um beco.
— Saiam da frente! — Andy gritava com as pessoas que
passavam na rua. Ele não sabia se as armas eram reais ou se o
suspeito atiraria, mas tudo que ele não precisava era de um
inocente levando um tiro porque um idiota resolveu pular a janela do
quarto e fugir em vez de responder às porcarias de perguntas sobre
o colega de quarto.
Andy pulou uma cerca, ainda em perseguição. Ele odiava
isso. Mitchell era o ninja, não ele. Ele viu o suspeito próximo, a única
coisa que precisava fazer era continuar correndo. Sabia que o
namorado tinha dado a volta e os encontraria no parque, então o
jovem não escaparia.
Ele ouviu as sirenes da polícia. De canto de olho, viu pelo
menos duas viaturas se aproximando. Ótimo, agora o reforço
aparecia. Andy tinha a teoria de que os policiais ficavam de boa
dentro do carro, esperando a confusão acabar, para só aí aparecer.
Ou talvez fosse porque sabiam que era Mitchell no comando e
queriam ver qual seria sua nova loucura.
Por exemplo, naquele momento Alex subiu em uma cerca,
correu por ela, pulou em um galho de uma grande árvore e o usou
para girar o corpo e acertar um chute bem nas costas do suspeito. O
rapaz nem viu de onde veio aquilo, apenas sentiu o impacto, rolou
alguns metros pela grama e ficou vários minutos tentando voltar a
respirar corretamente.
— Você está bem? — Alex perguntou para Andy.
— Eu estou ótimo, quem deu uma de ninja, de novo, foi você
— o detetive respondeu, um pouquinho ofegante.
— Estou tranquilo. — Mitchell deu de ombros.
— Claro que está, por que não estaria? — Andy resmungou,
algemando o suspeito. — Veja isso, armas de airsoft.
— Você é burro? — Alex gritou com o rapaz. — Além de
correr da polícia, você ainda fez isso com armas de airsoft? Sabia
que podíamos ter matado você?
— Calma aí, esse idiota deve ter um bom motivo para fazer
uma besteira dessas, não é? — Andy zombou.
— É, escutem o “detetive” Malloy. — Um dos oficiais que
chegava à cena riu.
— E o meu dia só melhora. — Andy revirou os olhos. — Olá,
oficial Kiplan, podemos trabalhar em paz pelo menos hoje?
— O que você quer dizer? — Alex perguntou, confuso.
— Hoje? Algum dia especial? — o oficial provocou de novo.
— A princesa está comemorando alguma coisa? — Outros policiais
riram, e o detetive bufou.
— Princesa? — Mitchell estava bravo. — Andie, o que ele
está falando?
— Não é nada Alex, só ignore esse babaca.
— Que bonitinho, vocês usam apelidos carinhosos mesmo no
serviço. Bem, não é muito profissional, mas essa é a vantagem de
“namorar” o chefe, não é?
Andy negou com a cabeça
— Eu tentei fazer isso acabar de um jeito pacífico, mas o que
acontecer a partir de agora é tudo culpa sua, eu não tenho nada a
ver com isso — ele disse.
— O que está acontecendo? — o sargento Shefter
perguntou, aproximando-se deles, Eli e Maddy vindo junto.
— Esse idiota está me provocando há dias com suas
“piadinhas” homofóbicas por eu estar namorando um homem, agora
ele se encheu de coragem e resolveu me provocar na frente do
Alex. — Andy suspirou, entregando o suspeito, que ainda estava
respirando chiado, para Maddy o levar à viatura.
— Você é um idiota? — Shefter perguntou para o oficial
Kiplan.
— Não é só namorar um homem, ele está namorando o
chefe. Deve ter ganhado tratamento especial.
— Eu acho que preciso ir para o hospital — o suspeito
algemado disse.
— Já vamos, eu quero ver isso — Maddy respondeu, e Eli
cruzou os braços, só esperando o que ia acontecer.
— Há quanto tempo isso está acontecendo? — Alex
perguntou sério para Andy.
— Não sei, um mês talvez.
— E por que você não me disse?
— Porque eu sei o animal louco que você é e não queria que
fizesse nenhuma bobagem — Andy respondeu, suspirando. — Eram
só provocações estúpidas de um idiota, eu ignorei a maioria.
— Não faça isso, eu já disse que, se alguma coisa afeta um,
afeta todos os outros — Mitchell disse sério, isso não era bom.
— Vocês formam um casal tão bonitinho — o oficial zombou,
afastando-se do lugar com seus companheiros.
— Ô, animal, ele estava falando sobre a equipe — o detetive
falou para o oficial, que desdenhou.
— Antes de ir, Kiplan, preciso falar uma coisa para você —
Alex disse de forma tranquila, pegando o rifle de airsoft do chão.
— O quê? — Assim que o oficial se virou para o capitão,
Mitchell deu cinco tiros no seu peito.
O movimento foi muito rápido e pegou todos de surpresa. O
susto de Kiplan foi tão grande, que ele escorregou na grama e caiu
no chão. Outros oficiais até chegaram a sacar suas armas, e Shefter
gritou para ninguém atirar. Alex estava sério. Ele andou até onde
Kiplan estava caído. O oficial respirava fundo, afinal tiro de airsoft
podia não matar, mas doía.
— Andy é meu namorado, sim, assim como também é um
membro da HRT. Ou você passa a respeitá-lo ou os próximos tiros
não serão com uma arma de airsoft, você entendeu?
— Sim.
— Ótimo. — O capitão se virou para os outros policiais. —
Mais alguém tem algum comentário sobre o meu namorado ou
sobre mim?
Todos negaram.
— Ok, a pizza está a caminho, a cerveja está na geladeira,
e... O que você está fazendo? — Andy perguntou para Alex, que
estava sentado no sofá da sala.
— Só organizando algumas coisas — o moreno respondeu,
arrumando três pistolas automáticas, duas facas táticas, um punhal
e três granadas em cima da mesinha. — Estava limpando.
— Limpando? — Andy zombou, cruzando os braços.
— Sim — Alex respondeu, pegando uma flanela e limpando
uma das pistolas.
— Claro, isso não tem nada a ver com o rapaz que está vindo
buscar Amy para uma festa, não é? — o detetive perguntou,
levantando a sobrancelha.
— Não, é apenas uma coincidência. — O capitão deu de
ombros.
— Como estou? — Amy perguntou, descendo as escadas.
Ela usava um cropped branco, calça jeans clara e sandálias
prateadas de salto. Andy sorriu ao ver a sua princesa, que não era
mais uma criança.
— Ao mesmo tempo que estou a achando linda, estou a
ponto de ter uma crise aqui, você sabe, não é? — O loiro estendeu
a mão para a filha, que riu, aceitando-a e o abraçando.
— Princesa, você está maravilhosa — Alex sorriu para ela.
— Devon está chegando, vou esperá-lo do lado de fora — ela
disse antes de beijar o rosto de Alex e o do seu pai.
— Um minuto — Andy disse, segurando-a pela cintura e a
virando. — Se você acha que vou deixá-la sair daqui com um
moleque que eu não conheço, você está muito enganada.
— Dada — ela reclamou, então viu a mesinha da sala. — Ah
não, o que é aquilo?
— Eu só estava organizando algumas coisas. — Alex deu de
ombros.
— Vocês vão me fazer ficar solteira para sempre, é isso?
— Engraçado, a ideia é justamente essa. — Andy sorriu para
a filha, que revirou os olhos. Nisso a campainha soou, e o sorriso de
Andy aumentou enquanto ele abria a porta. — Olá, você é o Devon?
— O... Oi... — o garoto respondeu, um pouco espantado.
— Entre, estávamos esperando por você. — O detetive
permitiu que ele passasse, mas, assim que o menino deu dois
passos dentro da casa, deu de cara com Alex, de braços cruzados e
o encarando.
— Oi, Devon — Amy se adiantou. — Este é o Andy, meu pai,
e este é o Alex, meu outro pai. Pais, este é o Devon. Agora
podemos ir.
— Só um minuto — Alex interveio, e Amy revirou os olhos. —
Olá, Devon, não nos cumprimentados direito. — Ele estendeu a mão
para o garoto, que engoliu em seco antes de apertá-la. — Você
estuda na mesma escola que Amy?
— Sim, estou no último ano — o garoto respondeu, sentindo
o aperto de mão forte demais.
— Papa — Amy disse em tom de aviso, e Alex sorriu
inocentemente.
— Você pratica algum esporte? — Andy perguntou,
conduzindo-os para o sofá enquanto a filha bufava.
— Sim, sou o capitão de lacrosse — ele respondeu,
orgulhoso.
— Lacrosse? — Alex perguntou, então se virou para Andy. —
Ele pratica lacrosse.
— Parem com isso — Amy os avisou. — E lacrosse é um
esporte bem legal.
— Claro que é — Andy respondeu ironicamente. — Por que
você não vai pegar uma blusa enquanto esperamos aqui com o
Devon?
— Blusa? — Amy perguntou, descrente.
— Sim, já é de noite, pode ficar muito frio — Alex que
respondeu, e o detetive concordou.
— Frio? Na Flórida? — a garota indagou, ainda não
acreditando naquilo.
— Nunca se sabe quando o tempo pode virar, o clima na
Flórida é muito inconstante — o capitão continuou.
— Muito mesmo. Por isso, vá pegar uma jaqueta enquanto
esperamos aqui — Andy falou para a filha, que ficou os encarando,
até sair brava, subindo as escadas.
— Então, Devon — Alex e Andy se sentaram um de cada
lado do garoto, no sofá —, quais são seus planos para o futuro?
— Eu... vou para faculdade em setembro... Vou estudar
finanças, como o meu pai... — ele respondia olhando de um para o
outro.
— Que bom, continue com esse pensamento e não faça
nenhuma besteira que atrapalhe seu futuro — Andy o aconselhou.
— Por que nunca se sabe. — Alex pegou uma das facas
militares e a limpou com a flanela lentamente. — Melhor prevenir,
não?
— Sim... Claro que sim — ele respondeu, assustado.
— Pronto — Amy disse, chegando até eles usando uma
jaqueta jeans. — Tchau, eu volto à meia-noite.
— Onze horas — Andy a corrigiu.
— Nós tínhamos combinado meia-noite — ela reclamou,
empurrando Devon para fora da porta.
— Que tal isto: você pode voltar meia-noite se nós dois
pudermos buscá-la? — Alex sugeriu.
— Onze horas estou de volta — ela resmungou.
— Já sabe, qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, você
pode ligar — Andy disse, sério.
— Eu sei, não precisem se preocupar. — Ela sorriu beijando
o rosto de Andy, depois o de Alex. — Amo vocês. Até mais tarde.
Então ela saiu, fechando a porta.
— Isso foi divertido — Alex disse, sorrindo e indo guardar
suas armas.
— Devon não concordou — Andy brincou.
— A ideia era ser divertido para nós, não para ele — Alex se
inclinou e beijou o namorado, antes de ir atender à porta e receber a
pizza.

— Andy... — Alex gemeu quando o namorado o chupou de


novo.
Eles tinham planejado assistir filmes e aproveitar um pouco o
tempo só entre eles, afinal os gêmeos estavam com a mãe, e Amy
estava na festa, com os amigos. Mas mal chegaram ao fim do
primeiro filme e já estavam se beijando sem se importar com o
resto.
Andy havia puxado a camiseta de Alex e estava beijando seu
peito. O moreno nunca tinha se permitido estar tão vulnerável na
mão de outra pessoa, mas Andy poderia fazer o que quisesse com
ele.
As carícias se tornaram mais intensas, e eles resolveram ir
para o quarto. Andy mal conseguiu desligar a TV, porque Alex
estava o abraçando por trás, mordendo seu pescoço e esfregando o
pau duro em sua bunda, mesmo que eles ainda usassem suas
calças.
Eles se beijavam enquanto subiam as escadas, mesmo que
fosse de um jeito desastrado, que os fazia rir um pouco, só não
queriam se soltar. Caíram na cama, e Alex tirou a camisa de Andy.
Eles se esfregavam sem soltar os lábios um do outro.
Logo as roupas já estavam fora, e Andy estava sentado no
quadril de Alex. Ele beijou e mordeu levemente o pescoço do
namorado e, apesar de ser muito bom ouvi-lo gemendo com aquilo,
ele tinha outros planos. Ele percorreu o caminho para baixo com sua
língua, parando no mamilo e o rodeando, percebendo as reações do
moreno.
Apesar já estarem juntos havia semanas e terem feito sexo
várias vezes durante esse tempo, Alex ainda estava descobrindo do
que gostava ou não, afinal ele nunca tinha transado com outro
homem. Andy não tinha problema nenhum em lhe mostrar cada
coisa nova e, na verdade, ele gostava muito de ensinar a Alex o que
fazer na cama. Ele adorava sentir como o corpo do moreno se
tensionava e como ele gemia a cada nova descoberta de uma coisa
que lhe dava prazer.
Por exemplo, no momento o corpo dele reagiu muito bem,
então Andy sugou o mamilo com os lábios, e Alex gemeu baixo. A
mão do loiro passou por aquele abdômen que ele amava, chegando
até o pau duro do namorado, que gemeu quando ele o acariciou. O
detetive sugou o mamilo com mais força, ouvindo-o inspirar fundo, e
começou a masturbá-lo com calma.
— Provocador — Alex gemeu, e Andy sorriu, prendendo o
mamilo entre os dentes, antes de passar para o outro.
Só quando os dois estavam avermelhados e sensíveis, ele se
deu por satisfeito, então foi mais para baixo, substituindo sua mão
por sua boca. Alex gemeu mais alto, e ainda bem que não tinha
mais ninguém em casa.
Andy sentia a própria ereção latejar, querendo atenção, mas
ele queria deixar Alex no limite. Ele sugou com aspereza, sua língua
se esfregando na glande, principalmente na fenda, e Alex não só
tinha certeza de que era o melhor boquete que já tinha recebido,
mas também de que poderia morrer a qualquer minuto e iria feliz.
— Se você continuar assim, eu vou gozar — Alex gemeu.
— Mas a ideia é essa. — Andy sorriu provocador, mas o
moreno conseguiu se soltar, os virando na cama. — Estava
demorando. — O loiro bufou, rindo.
— Minha vez — o moreno falou, sorrindo e pegando o
lubrificante.
Eles se beijaram intensamente enquanto Alex preparava
Andy. Ele já não era mais tímido e sabia muito bem o que fazer.
Depois de pronto, ele o penetrou com cuidado, mas Andy o virou de
novo, a fim de tomar o controle pelo tempo que o limite do outro
permitisse.
O loiro apoiou as mãos no peito do namorado e nem se
preocupou em começar devagar. Alex segurava a cintura de Andy,
ajudando na velocidade. Seu quadril ia de encontro com a entrada
do detetive, fazendo um barulho alto ressoar pelo quarto, assim
como os gemidos de ambos. Andy arranhou o peito e abdômen de
Alex, então se inclinou, e eles começaram mais um beijo feroz.
O beijo foi interrompido quando o limite de Alex acabou, e o
capitão os virou, retomando o controle. Ele segurou na cabeceira da
cama, aumentando a velocidade, e eles só interromperam os beijos
porque não estavam conseguindo beijar, gemer e respirar ao
mesmo tempo.
— Porra! — Andy gritou contra a pele de Alex quando seu
orgasmo veio. Já Alex escolheu morder o ombro do namorado
enquanto gozava.
O capitão não se importou em, praticamente, desabar em
cima do loiro quando gozou. Ele amava como Andy não era frágil,
como não precisava prestar atenção o tempo todo, como não era
ele que precisava cuidar de tudo e que, se ele usasse força, Andy
devolvia tão forte quanto. Andy lutava pelo controle com veemência,
mesmo que Alex ganhasse e eles soubessem que isso aconteceria,
não era encenação.
— Isso fica cada vez melhor — Alex resmungou contra o
pescoço do loiro.
— Acho que eu vi tudo branco em algum momento — Andy
brincou. — O bom é que você testou tanto meu coração dirigindo
como um louco, que a essa altura eu já sei que problemas cardíacos
eu não tenho.
— Me encanta como você sempre consegue achar um jeito
de me chamar de animal, louco ou psicopata, independentemente
do assunto. — Ele sorriu.
— Anos de treino. — O loiro deu de ombros, fazendo o outro
rir, e eles se beijaram.
Depois eles foram para o banho. Andy tinha percebido que
eles tendiam a tomar muitos banhos juntos, mas ninguém estava
reclamando. Alex foi o primeiro sair. Ele já estava com sua boxer e
pegando sua calça, que estava no chão, quando seu celular tocou.
— Princesa? — ele perguntou, surpreso e preocupado por
Amy estar ligando. Não tinha dado o horário de voltar, e, se fosse o
caso, ela ligaria para Andy,
— Papa, eu preciso de ajuda — ela soava nervosa.
— Onde você está? — Alex perguntou, sério.
Andy saiu do banho e viu como Alex estava. Ele não
perguntou nada, apenas começou a se vestir rapidamente, pegando
os distintivos e as armas.
— SW 67th Ave, 7090 — ela respondeu. — Eu estava na
festa com meus amigos, e alguns vieram continuar a festa aqui. É a
casa de um dos veteranos. Minhas amigas estão comigo, e Makayla
está estranha. Ela parece bêbada, mas eu acho que não é isso. Tem
algo errado com ela.
— Tudo bem, princesa, acalme-se. Onde, exatamente, vocês
estão na casa? — Alex perguntou, e Andy ficou preocupado. Ele
terminou de vestir a camiseta e colocou o coldre.
— Eu nos tranquei no banheiro, Serena está aqui comigo.
— Ótimo, fiquem aí — ele avisou. — Amy se trancou no
banheiro da festa, a amiga parece bêbada, mas ela acha que é
outra coisa — Alex falou para Andy enquanto passava o telefone
para ele e foi se vestir.
— Princesa, você sabe o que sua amiga tomou ou ingeriu
nessa festa?
— Não, ela está ficando com um garoto e passou a noite
inteira com ele, nós passamos pouco tempo juntas. Quando eu a
encontrei, ele estava indo com ela para o quarto. Eu vi que ela não
estava bem e a puxei. Kevin não queria soltá-la, e eu briguei com
ele. Agora ele e os amigos estão bravos comigo, e acho que Devon
me acha louca. Meu encontro já era, e eu não sei o que fazer!
— Amy, respire — Andy disse em tom calmo. — Eu estou
muito orgulhoso de você, porque, pelo que você me contou, você
acabou de salvar sua amiga de um abuso sexual.
— O quê? Meu Deus! — ela exclamou, caindo em si com
relação ao que tinha acontecido, e Serena, sua amiga, a olhava sem
entender. — Aquele filho da puta do Kevin! Vou chutar o saco
daquele...
— Calma, estamos indo aí — Andy a interrompeu. Alex
estava bravo, colocando suas armas no próprio coldre. — Não saia
do banheiro, chegaremos em...
— Sete minutos, talvez cinco — Alex respondeu, de cara
fechada.
— Chegaremos logo — Andy falou para a filha, já que sabia
que se Alex dirigia como louco e, naquele momento, ele seria muito
pior.
Enquanto se dirigiam ao local, Andy ligou para Eli.
— Eli, desculpe-me por ligar tarde, mas você está com sua
namorada? — ele perguntou ao telefone.
— Sim, e você deveria estar com o seu — o agente brincou.
— Amy está em uma festa, ela suspeita que drogaram a
amiga. Como sua namorada é médica, vocês podem nos encontrar
no local? Fora que, se for como estou pensando, vamos precisar de
reforços.
— Passe-me o endereço por mensagem, já estamos indo —
Eli respondeu em tom sério, já pegando suas coisas. — Vou avisar
Maddy, e nos encontramos lá.
— Obrigado — o detetive suspirou.
— Somos Ohana, irmão, não precisa agradecer.
— Eles estão indo? — Alex perguntou enquanto dirigia, de
cenho franzido e sem se importar com a velocidade.
— Sim. Eli vai com namorada nos encontrar lá e vai avisar
Maddy — Andy respondeu, mandando a mensagem com o
endereço. — Sabe, estamos indo ajudar Amy e as amigas, mas, se
morrermos no caminho, não poderemos ajudar Amy e as amigas.
— Você se preocupa à toa. — O capitão deu de ombros.
— Certo, por causa da situação, eu não vou surtar e chamá-
lo de louco, mesmo você estando dirigindo a quase 150 quilômetros
por hora em uma via pública em que o máximo é 70 quilômetros —
o detetive disse ironicamente.
Em poucos minutos, eles estavam na rua. O bairro era
elegante, de alto padrão, e a rua era composta por casas luxuosas.
Eles seguiram até o fim da rua, que não tinha saída. Uma das casas
tinha som alto. Adolescentes entravam e saíam de lá com copos de
bebida, e a maioria parecia bêbada.
— Central, aqui é o capitão Alex Mitchell da HRT. Estamos na
SW 67th ave, 7090, festa clandestina. Possível uso abusivo de
álcool e drogas por menores de idade, preciso de reforço — Alex
disse no rádio.
— Confirmado, Capitão. Estou mandando uma viatura — a
atendente respondeu.
— Que fofo, você aprendeu a pedir por reforço em vez de se
jogar no perigo sem olhar — Andy zombou, mandando mensagem
para Amy, dizendo que eles tinham chegado.
— O reforço não é para me ajudar — o moreno disse,
estacionando o carro.
Quando eles saíram do veículo, viram Amy e Serena saírem
da casa apoiando Makayla, que mal conseguia andar. A amiga de
Amy não parecia saber o que estava acontecendo ao seu redor. Um
grupo de garotos chegou perto, discutindo com elas, e um tentou
pegar Makayla, puxando-a de volta.
— Solte ela! — Amy gritou, e o garoto riu.
— Ou o quê? — Ele chegou perto demais dela, tentando
intimidá-la.
— Ou eu vou meter uma bala no seu crânio — Andy avisou,
empurrando o garoto. — Para trás.
— Dada! — Amy suspirou, aliviada, abraçando-o.
— Calma aí, não queremos briga, só vou levar minha
namorada embora — o garoto insistiu.
— Ela não é sua namorada, fique longe — Amy estava a
ponto de ela mesma bater no garoto.
— Deixe-me vê-la. — Andy segurou Makayla pelos ombros. A
garota tinha o olhar desorientado, como se estivesse totalmente
perdida dentro de si. — Makayla? Você consegue me entender?
— Senhor... Malloy? — ela perguntou, confusa. — Eu não
estou... me sentindo... bem.
— Sente-se aqui — o loiro a conduziu até a guia da calçada
cuidadosamente. — Mantenha a cabeça baixa e, se sentir vontade
de vomitar, não se preocupe, é normal sentir enjoos. Serena, fique
com ela, ok? — ele pediu para a garota loira, que concordou com a
cabeça.
— Quantos anos você tem? — Alex perguntou para o garoto,
que riu. O jovem estava cercado de mais três amigos.
— Por que você quer saber? — ele zombou.
Alex o agarrou pela camiseta, batendo-o contra um carro que
estava estacionado na rua. Os olhos do garoto se arregalaram, e
Alex o encarava com raiva.
— Quantos anos você tem? — ele repetiu a pergunta
pausadamente.
— Cara, eu não quero problemas. Podem levá-la embora, eu
nem gosto dela mesmo.
— Qual o nome do babaca corajoso? — Andy perguntou para
a filha.
— Kevin Maden — a garota respondeu.
Mais pessoas se juntaram à volta para assistir ao que estava
acontecendo. Ao mesmo tempo, dois carros estacionaram por perto.
— Vamos ver — Andy pesquisava no celular, usando a base
de dados deles. — Veterano, jogador de lacrosse, claro, por que
não? — Ele bufou, e Amy revirou os olhos. — Alex, ele tem dezoito
anos, está liberado.
— Ok — o capitão respondeu e socou o garoto com força
suficiente para derrubá-lo no chão e fazer sangue escorrer da sua
boca.
Todos que assistiam se assustaram. Os amigos correram
para ajudar o garoto, que mantinha a mão no rosto, gemendo de
dor. Apenas Andy e Amy continuavam como se não tivesse
acontecido nada demais
— Vocês são loucos — um dos garotos gritou. — Vou chamar
a polícia!
— Chama — Maddy falou, chegando perto. — Vamos, pegue
o celular.
— Vou mesmo! — Ele pegou o celular e o levou até o ouvido.
Andy sorriu e chegou perto dele, mostrando o distintivo.
— 911. Qual a emergência? — ele zombou.
Os quatro adolescentes esbugalharam os olhos, olhando
entre em si e depois de Andy para Alex, que ainda parecia que ia
matar alguém.
— Se correrem, vai ser pior — Andy os avisou.
— Eles nunca escutam. — Eli negou com a cabeça, então
ele, Maddy e Alex correram atrás dos três garotos que tentaram
fugir.
— Você fez uma boa escolha em ficar — Andy falou para o
único que não correu.
— Eu acho que nem consigo me mexer — ele respondeu,
aterrorizado.
Segundos depois, Maddy voltou empurrando um garoto que
mancava, Eli tinha um algemado, e Alex arrastava o que ele tinha
socado antes. Esse garoto parecia que tinha lutado arduamente
contra um arbusto e perdido.

— Onde está meu filho? — um homem de terno chegou


exigindo, passando pelo cerco policial que tinha se formado em
volta da casa.
Algumas pessoas haviam escapado da festa. Outras, sido
liberadas pela polícia. O interesse deles não era em alguns
adolescentes que estavam festejando, e sim em quem tinha usado
drogas, principalmente para drogar mais duas garotas que foram
encontradas no mesmo estado que Makayla. Por sorte, nada tinha
acontecido com elas, porque intervieram antes.
— Calma aí. — Andy entrou na frente do homem de terno. —
Quem é seu filho?
— É você quem está liderando esse circo? — ele perguntou
com desprezo.
— Se o senhor é um palhaço e está acostumado com o
picadeiro, problema seu. Qual o seu nome?
— Hans Maden. Meu filho é Kevin Maden e me ligou dizendo
que estão o prendendo. Que tipo de besteira é essa? Prenderem
garotos por beber um pouco?
— Chama-se “cumprimento da lei”, você e seu filho deveriam
tentar alguma vez — Andy respondeu. — Ele está sentado ali, sob
supervisão do Capitão Mitchell.
O detetive indicou onde sete garotos estavam sentados
algemados. Além dos quatro iniciais, Maddy e Eli fizeram uma
revista pela casa e trouxeram mais três para se juntar a eles. Todos
só não tinham sido levados para a delegacia porque a polícia estava
verificando todos os adolescentes que ficaram na festa, para saber
quem precisava de atendimento médico, quem iria preso e quem
seria liberado.
— Com licença, você é o capitão aqui, não é? — Hans
perguntou para Alex, sua postura totalmente diferente da de antes,
tanto que Andy parou ao lado e cruzou os braços, só observando.
— Sou o Capitão Mitchell. E quem é você?
— Sou Hans Maden, aquele é o meu filho. Eu entendo que as
coisas saíram um pouco do controle, mas não precisamos chegar a
extremos, podemos resolver isso rapidamente.
— Se eu fosse você, não iria por esse caminho — Andy
avisou.
— Capitão Mitchell, você parece muito mais educado e
compreensivo que esse agente — ele indicou Andy com a cabeça,
deixando claro o desprezo.
— O quê? — Andy exclamou, revoltado. — Ele é mais
educado que eu? Quer saber, vá em frente, deixe-me assistir.
— O que está acontecendo? — Eli perguntou, aproximando-
se.
— Aquele senhor, pai do idiota ali, acha que pode resolver as
coisas com o Alex, porque, segundo ele, o Alex é mais educado e
compreensivo do que eu.
— Ok, vai ser divertido — Eli disse, parando ao lado do loiro
e assistindo à cena.
— Então, podemos resolver aqui mesmo, sem precisar
chegar à delegacia. Kevin vai para a faculdade no próximo
semestre, ser fichado poderia atrapalhar seu futuro, você não
concorda?
— Concordo, pode atrapalhá-lo — Alex concordou, cruzando
os braços.
— Eu sabia que você me entenderia — Hans sorriu. — Então
quanto para acabar com isso por aqui mesmo?
— Quanto? — Alex levantou uma sobrancelha.
— É, você é um capitão, mas deve ganhar quanto? No
máximo uns 8 mil dólares por mês? E se ganhasse uns 10 mil
agora, só para tirar as algemas do meu filho e me deixar levá-lo
embora? Você não precisaria fazer nada, ainda receberia uma
grana, meu filho e eu nem chegaríamos a ir para a delegacia, todos
sairiam felizes. O que acha?
— Você sabe que seu filho drogou uma garota e iria levá-la
para um quarto para, provavelmente, manter relações sexuais com
alguém que não estava com controle do próprio corpo, não?
— É a palavra dela contra e dele. E vamos mesmos arriscar o
futuro de um garoto só porque uma garota bebeu mais do que
deveria? — ele perguntou, zombando da situação.
— Péssima jogada — Eli fez careta.
Alex não respondeu, ele encarou o homem em sua frente,
que sorria para ele e até já estava pegando a carteira. O capitão
socou o homem, que cambaleou para trás, confuso, sangue
escorrendo do seu nariz.
— Seu filho é uma merda porque você é pior. Você não
queria que ele tivesse passagem pela polícia, agora você e ele vão
ter. Andy, fiche ele.
— Eu avisei — Andy cantarolou, puxando os braços do
homem para trás e pegando as algemas.
— O quê? Não! Vocês não podem! Isso é abuso de poder!
— Fique quieto para eu prendê-lo — o detetive bufou.
— Vocês não podem fazer isso! Eu vou acabar com a carreira
de vocês! Eu tenho amigos importantes! Solte-me!
— Já que você quer assim... — Andy derrubou o homem e
colocou um joelho nas suas costas, mantendo-o no chão. Puxou
seus braços para trás e algemou seus pulsos. — Tentativa de
suborno, resistência à prisão e tentativa de coerção. Melhor você
ficar quieto ou a lista de crimes só vai aumentar.
— Nada como um sábado à noite entre amigos — Maddy
disse, colocando o braço nos ombros de Eli e Andy. — Precisamos
marcar uma saída normal. Que tal um encontro triplo, em vez de um
esquema de sequestro ou prisão?
— Preciso levar as meninas para o hospital — a namorada
de Eli informou.
— Vamos levar todos para a delegacia — Alex disse para o
Sargento Shefter, que concordou, mas, quando os policiais estavam
levando os garotos, Amy chegou perto.
— Kevin — a garota o chamou, e ele se virou para ela. —
Seu babaca, filho da puta! — Então ela chutou, com toda a sua
força, o saco dele. — Vá se foder!
Kevin caiu de joelhos no chão e tombou para o lado,
gemendo de dor e mal respirando. Amy tirou o cabelo do rosto e
voltou para perto de Andy e Alex, trocando high five com o moreno.
— Acho que encerramos por hoje — disse Andy sorrindo de
canto.
— Eu odeio isso — Andy resmungou, ajeitando a gravata do
smoking pela décima quinta vez na última hora. Alex o olhou de
soslaio, e o loiro semicerrou os olhos. — Não comece.
— Eu não falei nada — o moreno se defendeu, mas com um
sorriso de canto.
— Eu sei o que pensou. Eu até posso usar gravata, mas não
me visto como pinguim todos os dias.
— Mas você ficou um belo pinguim — Alex brincou, e Andy
revirou os olhos, dando um soquinho no ombro do namorado. — Eu
também preferiria estar em qualquer outro lugar a estar aqui.
— Por que sempre temos que vir?
— O governador está arrecadando fundos para a caridade e
acha que usar a nossa imagem vai conseguir mais dinheiro.
— Ah, claro, a gente quase se mata todos os dias tentando
deixar este lugar seguro, e os políticos querem usar isso para se
reelegerem. — Andy revirou os olhos outra vez e aceitou uma taça
que o garçom ofereceu. — Bebida e comida de rico são uma droga,
que merda é essa?
— Você realmente está de mau humor, não é? — Alex estava
se divertindo com as caretas do namorado.
— E tem como estar de bom humor? Estamos vestindo de
pinguins numa festa chata, com uma música da qual eu não
entendo porcaria nenhuma, cercados de pessoas que nem olhariam
nas nossas caras fora daqui, tendo que sorrir para que o governador
garanta mais um mandato. — O loiro bufou, irritado, então tomou
mais um gole e fez careta para a bebida ruim. — Sério, que droga é
essa?
Eles estavam na festa anual de arrecadação de fundos, onde
a alta sociedade se reunia em um baile para, teoricamente, doar
dinheiro para caridade. Os trajes eram sociais, e as pessoas
estavam mais preocupadas com seus vestidos e ternos de marca do
que com qual seria o uso do dinheiro arrecado. Além disso, o evento
servia como um ótimo jeito de políticos firmarem parcerias e serem
vistos, garantindo novos mandatos.
A equipe HRT de Miami era muito conhecida por seus
sucessos, sendo um dos melhores esquadrões contra o crime e
referência em outros estados. A eficácia era muito alta, e seus feitos
eram conhecidos por quase todos, então não importava quem
ocupava o cargo, o atual governador sempre fazia a questão de eles
estarem no evento para mostrar como seu governo era eficaz.
Alex e Andy eram obrigados a comparecer ano após ano,
sorrindo e fingindo que não queriam fugir daquele lugar.
— Só mais algumas horas e vamos embora — o capitão
disse, encostando seu ombro no do namorado.
— Por que sempre tem que ser a gente? Maddy e Eli
escapam todo ano.
— Porque eu tenho que vir — Alex deu de ombros. — Eles
fazem questão de que o Capitão esteja presente.
— E daí? Ninguém disse que eu sou obrigado a vir. Por que
eu nunca pude revezar com Maddy e Eli? Já que dois da HRT
precisam estar aqui, eles podem vir também.
— Mas não precisam ser dois da HRT — o capitão
respondeu, confuso.
— Como assim não precisam? — Andy perguntou, revoltado.
— Então por que eu venho aqui todo ano?
— Para me acompanhar.
— Acompanhar você? Alex! — O loiro estava exaltado, mas
tentando se segurar. — Deixe-me ver esse convite.
— Você é tão sensível. — O moreno revirou os olhos, mas
entregou o convite branco com detalhes em dourado.
— ALEX! Aqui diz “Capitão Alex Mitchell e acompanhante”.
Você sabe o que isso quer dizer?
— Que você está surtando à toa?
— Não, eu não estou surtando à toa! Isso quer dizer que, por
todos esses anos, você me obrigou a vir aqui como seu
acompanhante. Quer dizer que todos sempre pensaram que
estávamos em um relacionamento!
— E daí? Nós estamos.
— Agora, mas não estávamos no ano passado e nem em
todos que vieram antes! E o pior: eu nunca precisaria ter vindo!
Andy bufou, revoltado. Ele não acreditava naquilo. Ele
passara anos comparecendo a um evento que ele odiava só porque
seu namorado, vulgo “o homem em quem ele queria dar um tiro
naquele momento”, tinha resolvido que seria melhor deixar todo o
estado pensando que eles estavam em um relacionamento do que
convidar qualquer outra pessoa.
— E quem eu convidaria para vir comigo? — Alex perguntou,
exasperado.
— O que é? Agora lê mentes? O que vai fazer depois? Voar
por aí? Soltar raios laser pelos olhos?
— Você está fazendo aquilo de novo.
— Aquilo o quê? — Andy cruzou os braços.
— Viajar no que está falando.
— Não, eu estou tentando conter a minha vontade de agredi-
lo. — Ele bufou. — Você fez de propósito?
— O quê? — O capitão se fez de inocente, e Andy
semicerrou os olhos de novo.
— Você sabia o que ia parecer.
— Me admira muito você se importando com o que os outros
pensam — o moreno revidou, tentando mudar o assunto.
— Não, você não vai mudar de assunto. Foi por isso que eu
nunca pude trazer nenhuma namorada, não é?
Alex pegou a taça de Andy e deu um gole.
— Isto é ruim mesmo. O que será isto?
— Alex, você sabe que eles devem estar nos usando como
plataforma porque somos um casal! — Andy odiava jogadas
políticas e odiava ainda mais que o usassem nelas.
— Olá, senhores. — O governador chegou até eles
acompanhado de várias pessoas que deviam ser importantes, mas
nem Andy e nem Alex fazia a menor ideia de quem eram. O loiro
teve que controlar a língua e fingir que não estava prestes a atirar
no namorado. — Estes são o Capitão Alex Mitchell e seu parceiro, o
detetive Malloy.
— Prazer — Alex e Andy cumprimentavam as pessoas. Alex
olhou de canto para o namorado, sentindo-o fuzilá-lo com os olhos.
— Além de serem parceiros no trabalho há anos, também
são na sua vida pessoal, o que mostra o comprometimento do
nosso estado em todos os âmbitos de políticas sociais, como
segurança e apoio à diversidade — o governador falava, e as
pessoas sorriam, admirando suas palavras, menos Andy, que
inspirou fundo, tentando não matar ninguém. Alex soube naquele
momento que, se realmente teve alguma vez que ele chegou perto
de levar um tiro, foi naquele dia.
— Isso é incrível — uma das mulheres comentou, sorrindo.
— Sim, aqui prezamos o caráter e o profissionalismo.
Questões como orientação sexual só dizem respeito à pessoa, elas
não significam nada na hora de escolhermos nossos agentes. E,
como vocês todos sabem, a HRT, equipe comandada pelo Capitão
Mitchell, é a melhor que temos e uma das melhores do país.
— Obrigado. — Alex sorriu falso enquanto era
cumprimentado. Ele odiava aquilo, todos aqueles puxa-sacos e
pessoas incomodando. Mas, pelo jeito que Andy o olhava, quanto
mais tempo passasse ali, mais tempo teria de vida.
— Eu disse — Andy rosnou quando os outros se afastaram.
— Mas nós realmente estamos juntos, então não tem nada
de errado — Alex tentava se justificar.
— Quer saber? Eu vou pegar uma bebida e circular um
pouco, porque, se eu ficar, eu vou agredir você.
— Andie — o moreno suspirou.
O loiro andou pelo salão, indo direto para o bar. Alex ficou
preso com as pessoas importantes que só admiravam o seu
trabalho naquele momento, mas não fora do evento. Andy pediu
uma cerveja. Ele só queria tomar sua bebida de sempre e esperar
aquele suplício acabar. Mas o que foi servido foi uma cerveja
importada, com jeito de cara e gosto de nada.
— Sério, por que servem tanta bebida ruim neste lugar? —
Andy perguntou para si mesmo.
— Eu também estava me perguntando o mesmo — o homem
ao seu lado falou. — Eu sou o Joey, sou músico da banda que está
tocando.
— Andy — o loiro apertou a mão do outro —, sou agente
federal, mas meu parceiro e eu estamos servindo para o governador
contar vantagem sobre seu mandato.
— Sinto muito por isso. Pelos menos eles enxergam você.
Estes caras tratam as pessoas que trabalham nestes eventos como
invisíveis.
— Eu preferiria que não me enxergassem — o loiro
murmurou, tomando mais um gole da cerveja ruim e fazendo careta.
— Olha, depois da festa, alguns de nós vamos para um bar
em Miami Beach. Você pode ir. Apenas relaxar e se divertir um
pouco.
Andy entendeu o convite que foi deixado no ar. O músico não
sabia se ele era gay, por isso não deixou a proposta explícita, mas
também deixou em aberto o que eles poderiam fazer.
Andy parou por alguns segundo para pensar naquilo. Desde
quando tantos homens davam em cima dele? Alex sempre
reclamava que muitas pessoas davam em cima do loiro e que isso
atrapalhava as investigações, mas ele discordava completamente.
Sempre era em cima de Alex que as pessoas pulavam, todas
querendo um pedaço do capitão.
Será que ele havia passado tanto tempo fascinado com
Mitchell, que não percebia as pessoas à sua voltando tentando
chamar sua atenção?
— Se quiser me passar seu telefone, eu lhe mando o
endereço do bar — o músico falou.
— Que bar? — Alex perguntou, surgindo por trás do detetive.
— Ele me convidou para ir a um bar com os amigos — Andy
respondeu tranquilamente, dando mais um gole na cerveja. Alex
olhou feio para o músico, que ficou intimidado com o capitão. — Eu
realmente odeio essa cerveja.
— Deixe-me experimentar. — Alex pegou a cerveja do
namorado e deu um gole, fazendo careta logo depois. — Que droga
é esta?
— A bebida desses lugares aonde você me obriga a ir. Ano
que vem a Maddy que vem com você.
— Andie, você é meu namorado, tem que vir comigo.
— Ano passado eu não era e vim, como em todos os anos
anteriores.
— O que importa é o agora, não precisamos ficar falando do
passado. E todo mundo diz que nós sempre namoramos, só que só
percebemos agora.
— Você espantou o cara — Andy indicou o lugar vazio onde
antes estava o músico, que acabara fugindo com a presença do
capitão.
— Eu não fiz nada — Alex se fez de inocente.
— Só o olhou como se fosse matá-lo.
— Ele estava dando em cima de você — o capitão respondeu
como se aquilo explicasse tudo.
— Então eu posso agir assim com todas as pessoas que
derem cima de você? — o detetive provocou, e Alex deu de ombros,
como se não se importasse.
Antes que o capitão respondesse alguma coisa, as luzes do
salão se apagaram, causando gritos de sustos. Automaticamente os
dois puxaram os celulares, ambos sem sinal.
— Que merda — Andy praguejou. — Eu só queria terminar
logo com isso, pegar uns hamburgueres e voltar para casa.
— Temos que achar o governador — Alex falou. Eles
andavam por entre as pessoas, a pouca iluminação vinha das luzes
de fora que entravam pelas janelas.
O salão de festas ocupava a cobertura de um grande e
famoso hotel. O problema era que esse hotel era tão exclusivo, que
ficava um pouco afastado. Andy começou a fazer as contas. Como
estavam afastados, se conseguissem chamar reforços, levaria de
quinze a vinte minutos, no mínimo.
— Se estivéssemos em casa, eu estaria comendo pizza e
tomando cerveja de verdade. Não, eu tenho que estar aqui para
proteger essas pessoas falsas de uma invasão — o loiro
resmungou, pegando a bandeja de um garçom, mas o local estava
uma confusão tão grande, que ninguém achou estranho.
— Mitchell o que está acontecendo? — o governador
perguntou, preocupado. As pessoas estavam perdidas, e tudo tinha
virado um caos. As portas estavam fechadas, e ninguém conseguia
sair do salão.
— Governador, eu preciso que você tire seu terno, você pode
ser reconhecido com ele — Alex o avisou.
— Aqui. — Andy entregou a bandeja enquanto Alex pegava
os documentos do governador e os guardava no próprio terno.
— Fique próximo, de cabeça baixa, e, quando perguntarem
pelo governador, não responda. Deixe que pensem que você é um
garçom — o capitão avisou para o governador.
— Eles quem?
— Se perguntarem o seu nome, diga algo comum, como
Adam Brown — Andy o avisou, a confusão cada vez maior ao redor
deles.
— Por quê? — o político ainda não tinha entendido.
— Por que Adam Brown? — Alex perguntou para o loiro, que
deu de ombros.
— Adam é um dos nomes masculinos mais escolhidos nos
Estados Unidos, Brown é um dos sobrenomes mais comuns. Então
deve ter algum “A. Brown” em alguma lista — ele explicou.
— Bem pensado — Alex concordou.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — o
governador perguntou, alarmado.
— Isso é uma invasão, e, se não estão atrás de você, é um
assalto — Andy respondeu sem paciência. Além de ter sido
arrastado para aquele baile ridículo, tinha sido obrigado a tomar
cerveja ruim e agora teria que enfrentar bandidos possivelmente
armados para salvar a vida de pessoas que não deviam valer o
preço das roupas que usavam.

Os tiros ecoavam, Alex e Andy estavam usando uma mesa


como escudo. Eles tinham conseguido neutralizar alguns dos
bandidos e empurrar boa parte dos reféns para as áreas dos
funcionários. Os que ainda estavam no salão estavam jogados no
chão, protegendo-se no bar.
Enquanto Mitchell distraía os criminosos, Andy tinha
queimado panos de prato na cozinha, o que acionou o alarme de
incêndio, e logo bombeiros invadiriam o lugar. Mas tudo estava uma
confusão, com luzes piscando, sprinklers jogando água em todo
mundo e tiros voando.
— Esses sprinklers não vão desligar nunca? — Andy
perguntou, revoltado, limpando a água do rosto para poder mirar
antes de atirar.
— Está ouvindo as sirenes? Os bombeiros estão chegando
— Alex respondeu, abaixando-se a tempo de evitar levar um tiro.
— Eu juro, se for baleado, vai ficar no hospital sozinho. Eu
nem queria vir e ainda me meto em um tiroteio. É isso que dá
namorar o Capitão Alex Mitchell — o loiro resmungava, irritado. —
Vai achar que pode ter um sábado normal...
— Não deveríamos namorar! — O capitão falou, decidido.
— Vai terminar comigo no meio de um tiroteio? — O detetive
perguntou, revoltado. A ideia de atirar em Alex e culpar os
criminosos pode ou não ter passado pela sua cabeça.
— Não, claro que não. Você está louco?
— Eu estou louco? Você que do nada fala que não
deveríamos mais namorar!
— Deveríamos nos casar!
— O QUÊ? — Andy se virou para Alex, perplexo.
— Deveríamos nos casar — o moreno repetiu devagar, como
se assim fosse fazer mais sentido.
— Eu entendi de primeira, seu idiota, mas como você fala
isso do nada no meio de um tiroteio? — Os dois tiveram que se
abaixar para não ser atingidos.
— E por que não falar disso agora?
— Ah, não sei, será que é porque podemos morrer? — Andy
atirou contra um bandido, que caiu no chão, gritando de dor, ao ser
atingido no braço. — Eu não acredito nisso, olha o momento que ele
escolhe para falar disso. Mas é obvio que iria fazer isso, esse animal
deve achar que um tiroteio é um cenário romântico!
— Sabe que ainda estou aqui, né?
— É claro que sei, mas é ficar o xingando ou atirar em você!
— Eu estou dizendo que quero me casar com você para
passarmos o resto das nossas vidas juntos, e você quer atirar em
mim? — Alex perguntou, revoltado.
— De todos os momentos que poderíamos ter essa conversa,
você escolheu agora?
— Eu queria fazer no dia da reunião de pais, mas, quando eu
abri a boca, você já falou que não. — O capitão deu de ombros, em
seguida atirou em outro bandido.
— Reunião? Que... Da escola dos gêmeos? Era isso que
você queria falar? Pelo amor de Deus, Alex, quem pede outra
pessoa em casamento no estacionamento de uma escola infantil
antes de uma reunião de pais?
— Não estávamos no estacionamento, já estávamos dentro
da sala de aula.
— Ah, claro, perdoe-me, fez muito mais sentido agora. Você
é maluco?
— Estávamos falando das crianças, e pensei “por que não?”.
Mas você já me cortou, então tive que fazer em outro momento.
— E tinha que ser justo agora?
— Eu estava esperando o momento certo, mas não
aconteceu.
— Alex, seu animal, nós jantamos ontem no deck da piscina,
com a visão do pôr do sol na praia. Estávamos só nós dois e
conversando sobre nossa história, inclusive, sobre um momento em
que um entendeu que estava apaixonado pelo outro. Nós falamos
do quanto nos amamos e até transamos lá. E você não considerou
que aquele era o momento certo, mas achou que hoje, no meio de
um tiroteio, era?
Os dois estavam deitados no chão, escondidos atrás de
mesas que eles derrubaram para formar um tipo de escudo. Alex
tinha levado um tiro de raspão no braço, e Andy tinha um corte na
testa, da luta contra o bandido que o pegara colocando fogo nos
panos de pratos.
— Você quer se casar ou não? — Alex berrou por cima do
enorme barulho de toda aquela confusão.
— É obvio que eu quero! — Andy gritou de volta. — Do jeito
louco que você vive, vai morrer logo, e eu vou herdar a casa na
praia e a sua pensão.
— Que bom que você me ama.
— O único jeito de aguentar você por todos esses anos, sem
tentar matá-lo, foi amando muito.
— Eu também amo você — o moreno respondeu, sorrindo
feliz.
— Não foi uma declaração, eu estava o ofen... Esqueça. —
Andy passou a mão pelo rosto. Às vezes era melhor nem discutir.
— Aqui. — Mitchell tirou uma pequena caixinha azul do bolso
e a entregou para Andy.
— Você está brincando? — O loiro abriu a caixinha e tinha
duas alianças pretas com um filete dourado no meio. — Uau, são
lindas.
— É tungstênio. É considerado um dos metais mais fortes do
mundo, tem muitos usos. Entre eles, em munição — o moreno
explicou.
— Você está me dando uma munição em forma de aliança?
— Trabalhamos com isso, e, quando eu estava na guerra,
foram as munições desse material que me ajudaram a me manter
vivo e voltar para casa, que foi quando encontrei você. Nós usamos
essa munição, e um já salvou a vida do outro várias vezes. Eu
nunca tive medo de levar um tiro, meu único medo sempre foi
perder você, antes mesmo de estarmos em relacionamento
amoroso. Então usarmos isso como símbolo do quanto nos amamos
me pareceu o certo.
— Isso foi romântico ou eu estou ficando tão louco quanto
você?
— Você sempre foi, só gosta de fingir que não é — Alex
disse, sorrindo. — Posso?
Andy revirou os olhos, mas sorria de canto. Ele estendeu a
mão e Alex colocou a aliança em seu dedo. Mesmo no meio de uma
confusão gigante, com os bombeiros forçando a entrada, gritos, tiros
e muita água, eles trocaram alianças.
— Eu vou abrir caminho para os bombeiros, você me cobre,
depois vamos para casa comemorar que estamos noivos — Alex
disse, beijando o namorado, agora noivo.
— Alex, pelo amor de Deus, tome cuidado. Não quero ficar
viúvo sem nem ter me casado.
— Preocupado comigo? — o outro provocou.
— Se você morrer agora, eu não vou receber a pensão e
nem ficar com a casa.
— E eu que sou o babaca? — o moreno perguntou. O loiro
deu de ombros. — Não se preocupe, a casa já está no nome das
crianças faz tempo, e eu coloquei você como meu beneficiário há
anos.
— Como?
— Se algo acontecer comigo, a casa fica para as crianças, eu
já assinei esse documento faz muito tempo. Não lhe contei?
— Que estava deixando sua casa para meus filhos antes
mesmo de nós dois namorarmos? Não, eu nunca fui informado.
— Bem, eu assinei. — O moreno deu de ombros. — Agora
me cubra.
Alex se esgueirou pelas mesas caídas enquanto Andy atirava
em qualquer um que pudesse tentar feri-lo. A ação durou quase dez
minutos, Alex não podia deixar os bombeiros entrarem e serem
pegados desprevenidos no meio do tiroteio.
Andy e Alex trabalhavam muito bem juntos. Eles nem
precisavam olhar para o outro para saber o que fariam. Enquanto
Alex corria e derrubava um dos bandidos, Andy atirava contra o
outro. Até o tempo para recarregar a arma era contado, e eles
sabiam quando aconteceria.
Uma equipe da SWAT invadiu o local, e os últimos bandidos
foram obrigados a se render, mas os dois membros da HRT já
tinham feito a maior parte do trabalho. Todos os reféns foram
liberados com vida, poucos estavam machucados. Entre eles estava
o governador, que continuava ileso.
— Por quê? Diga, Andy, por quê? — Maddy perguntou, de
braços cruzados. — Por que eu não posso ter uma noite de folga
com meu noivo sem que vocês se metam em sequestro, tiroteio,
cruzem com terroristas, traficantes...?
— Eu nem queria estar aqui, vim enganado e descobri que
não precisava ter vindo nos anos anteriores também. Se quer culpar
alguém, culpe o Alex — ele respondeu, segurando uma bolsa de
gelo contra a testa. — Ano que vem, um de vocês que acompanhe
aquele louco nessa festa.
— Não mesmo. No convite diz “Capitão Alex Mitchell e
acompanhante”, que é você — Eli disse para o loiro. — Eu não viria
para pensarem que eu sou o namorado do chefe.
— Você sabia então? — Andy perguntou, revoltado. —
Custava ter me contado?
— Pense pelo lado bom, vocês nunca precisaram sair do
armário, porque se colocaram para fora antes mesmo de entrar. —
Ele sorriu, e o loiro passou a mão pelo rosto.
— Espere aí! O que é isso? — Maddy disse dramaticamente
e puxou a mão com a aliança. — Isso é o que eu estou pensando?
— Pronto, podemos ir embora — Alex falou, chegando perto
e passando o braço por cima dos ombros do noivo. — O que foi?
— Diga-me você — ela o acusou. — O que é isto?
— Você pode soltar a minha mão, por favor? — Andy pediu,
mas foi ignorado.
— O chefe também tem uma. — Eli apontou para a mão de
Alex.
— Estamos noivos — o moreno disse, muito feliz, apertando
o ombro do loiro, que suspirou, concordando.
— Eu estava com vocês hoje à tarde, e vocês estavam só
namorando. O que aconteceu no meio do caminho? — Maddy
perguntou, finalmente soltando a mão do amigo.
— É exatamente isso que você está pensando. Alex me
pediu em casamento no meio do tiroteio.
— Irmão, por algum motivo, isso é bem a sua cara. — Eli deu
de ombros. — Parabéns! Vocês merecem muita felicidade!
— Obrigado — o moreno respondeu, abraçando o amigo.
— Eu estou muito feliz por vocês. Finalmente! — Maddy
disse, abraçando Andy — Vou ligar para a Amy, e vamos organizar
esse casamento. Vou ligar para a sua mãe e para as tias Kim e
Julia. Vamos montar um grupo para organizar um casamento que
vai entrar para a história!
— Talvez, só talvez, os noivos, ou pelo menos o noivo que
não é um psicopata, devesse ter opinião sobre esse casamento —
Andy sugeriu.
— E correr o risco de estragar a cerimônia perfeita que
vamos organizar? — Ela o olhou como se ele fosse maluco.
O detetive suspirou e não discutiu. Às vezes era melhor só
aceitar.
— Não, Andie, você não vai fugir. — Amy riu no celular.
Estava prestes a entrar no ônibus para a excursão. Enquanto
esperava a viagem começar, falava com o pai.
— Seu papa me perguntou se tem algum problema em nos
casarmos na praia e a comida ser à base de abacaxi! — ele
respondeu, revoltado, fazendo a garota rir.
— A parte do abacaxi é só para irritá-lo, mas casamento na
praia é bonito, é romântico, e vocês têm uma praia particular. Seria
perfeito.
— Na praia? Usar roupas formais para ficarem cheias de
areia?
— Dada, o aluguel do lugar mais barato que você vai
encontrar é no mínimo cinco mil, e nem vai ser um local legal. Os
lugares que você acha descentes são a partir de dez ou quinze mil.
Se vocês se casarem na praia que já é de vocês, você economiza
esse dinheiro.
— Casamento na praia é romântico, né? — Ele suspirou, e a
filha sorriu. — Mas, por favor, não deixe ter abacaxi, nada, eu não
quero nem um desenho.
— Ok, eu vou dar meu melhor, mas não garanto nada. Agora
tenho que ir, minha professora está nos chamando. Lembre-se de
que eu vou passar o final de semana com vocês, então vocês
precisam vir me buscar na escola quando chegarmos da excursão.
— Eu não esqueci, Alex já encomendou os macarons que
você gosta e os bolinhos dos gêmeos.
— Que bom que pelo menos um dos meus pais me mima —
ela provocou. — Tchau, dada, até mais tarde. Amo você!
Ela desligou rapidamente, antes que ele começasse a
reclamar, e riu. Sua turma passaria o dia em Marco Island,
conhecendo parque naturais. Os alunos estavam animados. Amy
entrou com suas amigas, ficando em um dos assentos no meio do
ônibus e do lado do corredor, que são os lugares mais seguros, pelo
menos de acordo com seus pais. E, como Andy Malloy e Alex
Mitchell já tinham escapado da morte mais vezes do que ela seria
capaz de contar, ela acreditou.
— Neste final de semana, vamos ficar com a minha avó —
uma das colegas de Amy reclamou depois de um tempo de viagem.
— Eu amo a minha avó, mas só na primeira hora. No resto do
tempo, ela fica reclamando de tudo e me enchendo o saco por eu
ainda não ter um namorado e estar ficando velha.
— Eu entendo você. É aniversário do meu priminho, família
reunida. — Outro colega negou com a cabeça, e alguns deram
tapinhas nas suas costas, confortando-o.
— Em casa não vamos fazer nada, para variar — Alicia, a
amiga de Amy comentou. — Meu pai vai jogar golfe, minha mãe vai
sair com as amigas, e eu vou tentar fugir para a casa da Amy.
— Nem vem, porque eu não consigo passar um final de
semana com meus pais, que você vem atrás — Amy brincou.
— Eu também vou! — Ian se convidou.
— O que tem de especial na sua casa? — um amigo
perguntou.
— Meus pais. — Ela deu de ombros, rindo. Os dois amigos
começarem a se abanar, fingindo um calor muito forte. — Parem, eu
já disse para vocês pararem com isso.
— Amiga, eles são lindos, gostosos, têm aqueles corpos
sarados e ainda são o casal mais fofo e engraçado que eu já vi —
Serena suspirou, mas os colegas ficaram assustados.
— Os pais delas são separados, a mãe é casada com o
padrasto, e o pai é casado com o outro pai — Ian tentou explicar
para os colegas confusos, mas só piorou tudo.
— Minha mãe se chama Barbara. Ela é casada com o Eric, e
é na casa deles que meus irmãozinhos e eu moramos. Meu pai é o
Andy, ou dada, para meus irmãos e eu. Ele é noivo do Alex, que eu
chamo de papa, porque eu o considero meu pai também — a garota
explicou.
— Mas não considera o marido da sua mãe?
— Não, ele é legal e eu gosto dele, mas ele não é meu pai.
— Eu sou apaixonada pelo pai da Amy — Alicia falou, e a
garota revirou os olhos. — Sério, ele é muito divertido, super
inteligente e tão gostoso!
— Qual deles?
— Os dois. — Alicia suspirou, e os outros riram. — Eu sou
Team Alex.
— Alex é lindo, mas o Andy... — Ian suspirou.
— Vocês são nojentos, é sério — Amy comentou.
— Eu devo muito a eles — Makayla falou. — Se não fosse
por eles, eu nem sei o que teria acontecido comigo.
— Eles são incríveis mesmo. — Amy abraçou a amiga.
— Seu pai não é policial? — alguém perguntou.
— Na verdade, ele é um agente federal, mas, se disser isso,
ele surta e começa um discurso dizendo que não é engravatado
metido — ela explicou. — Então só falamos detetive.
— Detetive Andrew Malloy, da HRT. — Serena suspirou,
apaixonada.
— Caramba, seu pai é um dos agentes da HRT? — Um
amigo de Amy arregalou os olhos, e a maioria da turma,
principalmente os que não eram amigos próximos da garota,
estavam espantados. — Eles são surreais! Meu irmão é do exército
e até ele fica surpreso com o que eles fazem.
— Então, Andie é detetive da HRT, mas papa é o capitão —
ela disse com calma, porque sabia a reação. Era comum todo
mundo ficar daquele jeito quando descobriam de quem ela era filha.
— Você está brincando?
— A maioria de vocês cresceu comigo, nunca perceberam?
Nem quando aquele atirador entrou na nossa escola, e meus pais
conseguiram nos salvar?
— Amiga, eu estava me cagando de medo naquele dia, você
acha mesmo que eu reparei em alguma coisa? — uma das garotas
respondeu.
— Aqueles dois policiais gostosos são os seus pais? — outra
perguntou, abismada. — Eles são heróis! O jeito que eles se
jogaram no perigo para salvar a gente foi incrível
— Isso tudo só foi uma tarde normal para eles — Alicia
comentou.
— Alicia é a presidente do fã clube deles. — Amy riu. — Mas,
com o histórico deles, coisas assim realmente são comuns. Semana
passada eles estavam naquela festa do governador que foi invadida.
Foram meus pais que lutaram com os bandidos. Toda semana é um
teste cardíaco diferente.
— Você já passou por essas situações também? — A maioria
dos alunos estava prestando atenção na conversa, ficando no
corredor do ônibus ou dividindo bancos com os colegas.
— Não, eles não me levam para trabalhar com eles. — Ela
riu. — Ah, teve uma vez que me sequestraram para tentar se vingar
e chantagear o dada, mas meus pais resolveram, e tudo ficou bem.
— O que eles fizeram?
— Eu não vou contar, eu nem sei se vocês deveriam saber a
profissão deles.
— Mas o que saiu no jornal podemos comentar? — Serena
perguntou.
— Acho que sim, eu não tenho controle sobre isso. — Amy
deu de ombros. — Mas nem um terço de tudo que eles fazem
aparece no jornal. Muita coisa só descubro quando vou para casa
deles e encontro um deles machucado, uma perna imobilizada,
Andie surtando com o papa. E, mesmo assim, eu só posso saber o
básico.
— Eu salvei no meu computador o vídeo do Alex com aquele
colete com uma bomba e o Andy abraçado nele — Alicia falou.
— Você é estranha. — A Malloy mais nova riu.
— Eles são tipo super-heróis — Makayla contou para os
amigos. — Lembram-se daquele babaca que me dopou naquela
festa dos veteranos? Foram os pais da Amy que prenderam todo
mundo.
— Prenderam o Kevin, os amigos do Kevin e até o pai do
Kevin — Serena falou, e os colegas se assombraram.
— Esqueceu que o papa socou o Kevin. — Amy riu.
— E socou o pai também. — Makayla riu junto.
— Eles podem fazer tudo?
— Dada mais finge que segue as regras do que realmente
segue, já o papa... — Amy negou com a cabeça. — Digamos que
ele tem um jeito próprio de resolver as coisas.
— Um jeito muito lindo, por acaso. — Alicia suspirou
exageradamente, e Amy revirou os olhos.
— Cuidado, Amy, suas amigas querem se tornar suas
madrastas.
— Ninguém separa meu shipp! — Alicia respondeu, brava. —
Mas se eles aceitassem formar um trisal...
— Ah, não, Alicia! — A garota fingia que ia vomitar enquanto
os outros riam.
— Os pais da Amy são tão apaixonados um pelo outro, que
pode vir a Gisele Bündchen ou o Tom Brady dar em cima de
qualquer um, que eles não se largam. Capaz até de ficarem bravos
— Ian disse.
— Isso se o papa notar, porque ele é meio lerdo para isso.
Nunca sabe quando estão dando em cima dele, só percebe quando
o dada conta. Mas, se derem em cima do dada, ele percebe antes
mesmo que a pessoa abra a boca.
— Lembra-se daquela vez que estávamos no restaurante
perto da praia? — Serena riu. — Estávamos sentados,
conversando. Do nada, o Alex bufou, irritado, levantou-se e foi até o
bar, depois voltou como se nada tivesse acontecido. Quando Andy
perguntou é que descobrimos que ele tinha espantado dois caras do
bar porque eles estavam olhando demais para o Andy.
— E o cretino ainda teve a cara de pau de dizer que foi por
segurança, que eles podiam ser bandidos, que foi para prevenir. —
Amy negou com a cabeça
— Como ele sabia que os caras do bar estavam olhando para
seu pai? — alguém perguntou.
— Ele viu pelo reflexo do espelho que estavam olhando na
nossa direção. Então, para ter certeza, foi movendo o balde de gelo
devagar pela mesa até conseguir ver pelo reflexo para qual ponto
eles estavam olhando. Quando percebeu que era para o Andie, ele
monitorou quantas vezes o olhavam por minuto — a garota explicou
como se fosse algo simples.
— Ele é o quê? Um ninja?
— Um Navy condecorado, agora capitão da HRT. Ele tem um
monte de medalhas por atos heroicos e bravura, mas quem manda
em casa mesmo é o cowboy texano.
— Um Navy?
— Nós vamos passar a viagem inteira falando dos meus
pais? — Amy perguntou, distraída. Seus colegas responderam que
sim enquanto Alicia e Serena começavam a contar mais uma
história sobre como Alex Mitchell e Andy Malloy eram perfeitos.
Amy olhou no seu relógio. O tempo de viagem já devia estar
acabando, mas eles não pareciam estar perto do destino. Seu
relógio tinha sido presente do papa, era um relógio militar com GPS.
Podia até ser difícil combinar roupas com ele, mas, considerando
que seus pais já tinham sido sequestrados múltiplas vezes, feitos de
reféns mais tantas outras, e ela mesma já tivera sua cota de ação
do tipo, sempre saía com ele ou com o colar com pingente
rastreador.
Os dois tinham um botão do pânico. Era só apertar, que os
membros da HRT receberiam o aviso e iriam atrás dela. Nunca tinha
precisado usar isso e esperava continuar assim, mas, por via das
dúvidas, sempre estava com eles.
— Estou sem sinal — um colega bufou, mexendo no celular.
— Estamos no meio do mato, é obvio que não tem sinal aqui
— alguém retrucou.
Um alarme tocou na cabeça da garota. Ela tinha aprendido a
seguir seus instintos, e parecia que tinha alguma coisa errada.
Verificou seu próprio celular, e realmente não havia sinal. Abriu a
galeria e foi até as fotos do passeio que tinha salvo do panfleto de
viagem. Ela comparou com o caminho, não parecia igual.
— Você está bem? — Makayla, a amiga com quem ela dividia
o assento, perguntou.
— Pode ser besteira, mas eu já volto. — Ela se levantou e foi
até as poltronas da frente, onde as duas professoras que
acompanhavam os alunos estavam.
Os estudantes conversavam e andavam livremente pelo
corredor, estava uma bagunça. Amy sabia que as professoras não
teriam deixado aquilo acontecer, e isso a assustou mais. O monitor
de viagem estava conversando com o motorista, e tudo aquilo era
muito suspeito.
— Senhorita Bates, nós não... — ela parou quando percebeu
que as duas dormiam profundamente. Com medo, ela encostou no
pescoço de uma das professoras, mas percebeu que ela só estava
inconsciente.
— Aconteceu alguma coisa? — o monitor surgiu do nada,
assustando a garota.
— Não, eu só vim perguntar se já estamos chegando. — Ela
sorriu, tentando memorizar o máximo possível do rosto do homem
em sua frente, reparando em suas tatuagens.
— Estamos quase chegando, menos de dez minutos — ele
respondeu. — Melhor voltar para seu lugar.
— Claro — ela concordou e voltou para seu assento,
mexendo no seu relógio e ativando o botão do pânico.
— Você está bem? — seus amigos perguntaram quando ela
se sentou.
— Eu preciso que vocês mantenham a calma. Eles vão nos
achar, mas vocês precisam ficar calados. Em hipótese nenhuma
falem dos meus pais para eles — ela sussurrou, de modo que só
Serena, Alicia, Makayla e Ian ouviram.
— Para os nossos amigos? — Ian perguntou, confuso.
— Não eles.
— Então quem?
Nesse momento o ônibus parou bruscamente, a porta foi
aberta, e homens armados com fuzis entraram no veículo.
— Para eles. — Amy indicou com a cabeça.

Todos estavam com os punhos amarrados, ainda dentro do


ônibus. O veículo estava dentro de um galpão isolado no meio da
floresta, não havia sinal de nenhum eletrônico. Suas professoras,
ainda dopadas, tinham sido levadas para outro lugar.
O grupo armado tinha tirado fotos do rosto de cada um dos
adolescentes, dando atenção especial para cinco, que eram os de
famílias mais ricas. Já havia se passado algumas horas, e não fora
permitido que eles saíssem do lugar. Todos estavam assustados, e
alguns choravam.
Amy tentava confortar os amigos e implorava para que
ninguém fizesse barulho, afinal o grupo criminoso não parecia muito
paciente e, inclusive, já tinha batido em alguns deles.
Eram sete homens armados. O que dava medo na garota era
que eles não usavam máscaras escondendo seus rostos, e isso era
um péssimo sinal.
— Nós vamos morrer. — Uma colega estava prestes a ter um
ataque de pânico.
— Nossos pais vão pagar o resgate, e seremos liberados —
outro respondeu.
— Eles nem estão escondendo os rostos, então é claro que
vão nos matar! — mais um se alterou.
— Parem com isso — Amy esbravejou. — Se fizerem
barulho, eles virão aqui.
— Como você quer que fiquemos calmos? Vamos morrer!
— Victor, cale a boca! — Serena disse entredentes.
— Vocês acreditaram tanto nas histórias dos pais da Amy,
que acham que eles vão nos salvar! Vocês são crianças patéticas!
Nós vamos morrer e...
— CALEM A BOCA! — Um dos bandidos bateu na lateral
pelo lado de fora.
— Eles estão nervosos, tem algo acontecendo — Amy
murmurou, vendo os bandidos pela janela do ônibus.
— Como assim? — Makayla perguntou.
— Estes mais perto de nós parecem nervosos. Agora há
pouco estavam discutindo, e dois saíram correndo. Antes havia
sete, mas agora só tem cinco aqui dentro.
Uma enorme explosão foi ouvida do lado de fora. Havia
fumaça, e parte do prédio tinha sido atingido. A fumaça entrava pela
abertura do prédio. Foi tudo muito rápido.
— Tranquem as janelas agora! — Amy gritou, levantou-se e
fechou a janela mais próxima. — Usem as blusas para vedar a
porta!
Alguns demoraram para obedecer, mas os amigos foram os
primeiros a ouvi-la. A maioria se levantou e seguiu suas ordens,
usando as blusas de frio e blazer para vedar qualquer passagem de
ar, impedindo-os de respirar a fumaça que tomava parte do galpão.
— Cuidado com as janelas, mantenham-se abaixados e
tenham algo em mãos para se protegerem caso o vidro se quebre
— a garota ainda dava ordens, sendo obedecidos pela maioria.
— Quem é aquele? — Uma das meninas apontou para
fumaça.
Uma figura masculina surgiu no meio da confusão. Ele
nocauteou o primeiro bandido, lutava contra o segundo e, usando a
arma desse, conseguiu atirar no terceiro. Ficava difícil acompanhar
todos os movimentos, havia muita fumaça e muito barulho.
— Alex — Amy disse, sorrindo de canto.
— Aquele é o seu pai? — Victor, o colega que tinha entrado
em pânico, perguntou, abismado.
— Aquele é o papa — ela apontou para fora. Então ouviram
um barulho de alguém andando pelo teto do ônibus. Essa pessoa
deu dois tiros certeiros, acertando um bandido que estava prestes a
tentar pegar Alex pelas costas. Amy se virou para os colegas e
apontou para o teto. — Aquele é o meu pai.
A abertura do teto para ventilação foi forçada algumas vezes,
até que ela despencou com força, causando gritos dos adolescentes
dentro do veículo. Andy pulou pela abertura. Ele estava com o
colete à prova de balas por cima da sua camisa e segurava um fuzil.
O detetive não falou nada, olhou para os adolescentes até
que seus olhos pousaram na filha. Ele andou até Amy, e os outros
que saíssem do caminho.
— Princesa — ele sussurrou para a filha.
— Oi, dada. — Ela o abraçou com força.
— Viemos buscá-la. — Ele fez carinho na filha, que
concordou com a cabeça, ficando calma. — Fechou as janelas e
vedou as passagens de ar? Esperta. — O detetive beijou a testa da
filha e se virou para os outros. — Vocês estão bem?
— Andie, nossas professoras, eles...
— Elas estão bem, Maddy já as encontrou — ele assegurou.
— Vou abrir a porta e cobrir vocês. Todos vocês, corram para a
direita. Tem uma porta no final do corredor que está aberta. Eli está
do lado de fora esperado por vocês. Não parem de correr até
estarem com os policiais. Todos entenderam? — Os rostos
assustados concordaram. — Vamos lá, preparem-se, esperem eu
mandar e então corram.
Andy andou a parte da frente do ônibus, sendo seguido pela
filha e todos os seus colegas. Ele abriu a porta do ônibus e desceu
com o fuzil em punho, pronto para atirar de novo.
— Makayla e Alicia, vocês conhecem o tio Eli, vão na frente e
liderem todo mundo — Amy avisou, ajudando todos os seus colegas
a se preparar.
— E você?
— Eu vou por último, para ter certeza de que todos
escaparam — ela respondeu.
— Eu fico para trás com você! — Ian garantiu.
— Eu também — Serena falou, e Amy sorriu para os amigos.
— Vão! — Andy gritou.
Makayla e Alicia correram por onde o detetive tinha mandado,
um pouco abaixadas, afinal ainda havia barulhos de tiros e lutas. Os
outros colegas as seguiram, fugindo pela porta.
— Vá com seus amigos, eu já vou encontrá-la — Andy
garantiu para a filha. — E, Amy, eu estou muito orgulhoso de você.
Eu te amo.
— Eu também te amo. — Ela sorriu e correu com os amigos.
Eles correram o mais rápido que puderam. A garota só
percebeu que estava prendendo a respiração quando passou pela
porta e sentiu o sol no seu rosto. Eli estava lá e a abraçou apertado.
Ele usou uma faca para romper a corda que prendia seus pulsos,
depois conduziu os três últimos adolescentes para trás de uma
barricada formada pelas viaturas.
Um paramédico a verificou e garantiu que ela estava bem. O
mesmo foi feito com os demais alunos. Tentaram fazer com ela que
se acalmasse, mas até que ela visse seus pais, seu nervosismo não
passaria.
Minutos depois, ela viu que estavam apontando para o
galpão, então se levantou e correu, porque sabia o que era. Andy e
Alex caminhavam de volta. O capitão guardava sua arma no coldre,
e o detetive carregava o fuzil apoiado nos ombros.
Quando os dois viram a garota parada entre os policiais, eles
sorriram ao mesmo tempo. Alex abriu os braços e ela correu em
direção a ele, abraçando-o o mais forte que pôde.
— Está tudo bem, princesa. — Ele afagou suas costas.
— Fiquei com medo de que vocês não recebessem o sinal.
— Ela ofegou, e Andy também a abraçou.
— Recebemos, e foi graças a isso que encontramos vocês.
Demoramos um pouquinho, porque o sinal estava péssimo e a área
é muito grande, mas chegamos a tempo. — O pai fez carinho na
filha.
— Eu sabia que vocês viriam. — Ela sorriu, limpando a
lágrima teimosa. — Mas foi um pouco assustador.
— Hoje foi você quem deu o troco e quase nos matou de
preocupação — Andy brincou, e ela riu.
— Amy! — Maddy a abraçou. — Que bom que está bem,
ficamos preocupados.
— O bom de ser filha de um Navy e um detetive é que eles
me ensinaram a reconhecer sinais de que algo está errado e a me
proteger.
— Veja o sorriso bobo de Alex, ele fica assim toda vez que
Amy o chama de pai — Eli o provocou.
— Que tal resolvermos esta confusão toda e irmos para
casa? Aqueles macarons estão esperando por você — Alex sugeriu,
e a garota sorriu, concordando.
— Vamos levar os adolescentes embora, seus pais estão na
delegacia da cidade esperando desesperados — Eli avisou.
— Ir em viaturas abarrotas de adolescentes? Não mesmo,
obrigada, vou esperar o chefe e pegar carona com eles — Maddy
respondeu.
— Princesa, fique com a Maddy. Vamos resolver algumas
coisas, mas voltamos logo.
Eles se afastaram, seus amigos vieram abraçá-la e agradecer
pelo que ela tinha feito. E, pelo jeito que falavam dos pais da garota,
o fã-clube dos dois tinha acabado de crescer drasticamente.
— Estávamos Andy, Mal e eu na sede quando o alarme do
seu relógio tocou. Primeiro achamos que seria do chefe ou do
primo, mas, quando ele viu seu nome na tela, ele entrou em pânico.
Mal estava desesperado, rastreando de onde tinha vindo o sinal. Eu
tentei falar com o meu primo, porque Andy estava muito mal. Mas,
minutos depois, Alex e Eli entraram no escritório. O chefe foi direto
até o seu pai e acho que só aí ele voltou a respirar direito. Depois
que eles estavam juntos, voltaram a ser o Andy e o Alex de sempre.
Mal conseguiu rastrear o sinal, e viemos resgatá-la — Maddy
contava. Elas estavam dentro do carro, esperando pelos dois.
— Um sempre precisa do outro — Amy respondeu, olhando
seus pais, que voltavam para o carro e já estavam discutindo por
alguma coisa.
— Acho que nunca vi duas pessoas tão cabeças-duras, mas,
ao mesmo tempo, nunca vi duas pessoas se amarem tanto.
— Eles têm sorte de ter se encontrado, e eu sou muito
sortuda por ser filha deles. — Ela tomou um gole da garrafa de água
que seu pai tinha lhe dado. — Na verdade, eu acho que todos nós
somos sortudos por ter Andy Malloy e Alex Mitchell em nossas
vidas.
— Eu concordo.
— Não, Alex, nem pensar! — Andy entrou brigando com o
outro no carro.
— Por quê? — o moreno perguntou, inconformado.
— Não vamos nos casar em um ritual de surfista no meio do
oceano!
— Não é no meio do oceano, é no mar. E pense em como
seria legal.
— Ah, claro, muito lindo mesmo, até vir uma onda e derrubar
metade dos convidados, seu animal — Andy bufou enquanto Alex
dirigia. — E meus pais vêm para o casamento. Você consegue
imaginar George Malloy em uma prancha no meio do mar?
— Seria divertido — Amy comentou.
— Não, a senhorita não vai ficar do lado desse animal, eu já
aceitei o casamento na praia, mas meu limite é areia! Nada de mar
envolvido!
— Vou jogar você no mar depois do casamento — Alex
ameaçou.
— É bom que você esteja planejando meu assassinato,
porque, se vier de gracinha comigo na festa do nosso casamento,
eu vou atirar em você!
— Vamos botar lenha na fogueira? — Maddy sussurrou para
Amy, que concordou, sorrindo. — Chefe, quando vocês se casarem,
como vai ficar o sobrenome? Vai ser Capitão Alex Malloy ou
Detetive Andy Mitchell?
Alex pensou por alguns segundos e pareceu ter chegado a
alguma conclusão, pois se virou para Andy, decidido.
— Não! — Andy o interrompeu.
— Eu nem falei o que é!
— Não importa, a resposta continua sendo não!
— Faltava só meia hora para nosso plantão acabar. Meia
hora! — Andy murmurava, arrastando-se pelos dutos de ar do velho
prédio. — Eu já estava desligando meu computador, pegando
minhas coisas, mas olhe onde estou agora.
— Andie, não é tão ruim — Alex sussurrou de volta, também
se arrastando em meio à escuridão, apenas sendo guiados pelas
ordens de Mal.
— Não é ruim para você, que está acostumado a se
comportar como um ninja sombrio e doido. Eu só queria estar em
casa, jantando e assistindo ao jogo.
— Ok, senhores, antes da DR, virem à direita. — A voz de
Mal saía pelas escutas em seus ouvidos. — Mais duzentos metros e
estarão exatamente acima do alvo.
— Claro, aí caímos bem no meio de um bando criminosos
armados para resgatar pessoas que usam relógios mais caros que
meu antigo apartamento.
— Não é muito difícil.
— Não é muito difícil o quê, Alex?
— Seu antigo apartamento era um lixo e... Ai! Você me
chutou?
— Não, foi apenas um reflexo involuntário da minha perna em
direção a você. — O loiro deu de ombros.
— Sabe, o chefe está certo, aquele seu apartamento era
estranho — Maddy comentou. Ela e Eli estavam indo por outra
entrada.
Como era comum agirem, Alex e Andy eram o ataque direto,
e Maddy e Eli eram o backup, mesmo que Andy sempre reclamasse
que aquela era uma divisão injusta de funções. Mas ninguém ligava,
até porque já tinham aprendido que Eli tinha que supervisionar
Maddy, e Andy tinha que supervisionar Alex.
A única vez que Alex e Maddy trabalharam juntos sem
nenhum dos outros dois, eles tiveram meses de relatórios para
preencher, além de que a equipe levou duas semanas de
suspensão, incluindo Mal, que nem estava presente.
— É sempre ótimo contar com o apoio a família. — Andy
revirou os olhos, mesmo que ninguém pudesse ver.
— As crianças não estão em casa hoje, podemos ficar na
banheira — Alex sugeriu.
— Gosto de como isso soa — o loiro se interessou, mas
ouviram, na escuta, alguém limpando a garganta forçadamente. —
O quê? Não posso mais fazer planos para o meu tempo livre?
— Claro que pode — Eli respondeu —, eu só queria lembrar
que a equipe inteira está ouvindo. E não precisamos saber dos seus
planos sexuais para mais tarde.
— Ignorem ele, podem continuar — Maddy brigou. —
Continuem de onde estavam, banheira e depois?
— Madison?
— O quê? Alan está viajando a trabalho, deve voltar em dois
ou três dias, eu sou só uma garota querendo se divertir.
— Orgulho da família — o primo bufou.
— Sem querer interromper a segunda DR desta noite — Mal
falou —, mas vocês estão a cincos metros do alvo.
— Positivo — o capitão respondeu sério.
— Agora, se quiserem continuar falando da banheira...
— Malcon! — Eli exclamou. — Qual o problema com vocês
dois?
— Meu garoto! — A agente se fez de emocionada.
— Podemos focar em salvar os reféns para irmos para casa
logo? — Andy pediu sarcástico.
— Sim, para vocês irem para a banheira depois — Maddy
provocou.
— Madison. — Eli negou, fingindo vomitar. — Não quero
pensar nisso.
— Ok, sem imagens minhas e do meu noivo na banheira — o
loiro resmungou.
— Eu concordo muito com isso! — o agente respondeu.
— Mal, nos dê a situação dos reféns atualizada — Alex
mandou, e automaticamente o comportamento de todos mudou.
— A senhora Helms e seus filhos estão trancados em uma
sala. Tem dois sequestradores na frente, eles estão a poucos
metros de Eli e Maddy — Mal respondeu, olhando as leituras de
calor que o satélite lhe entregava. — Abaixo de você, capitão, tem
quatro sequestradores e uma pessoa sentada no chão, que acredito
ser o senhor Helms.
— Vamos fazer um ataque coordenado. Os reféns são nossa
prioridade. Eli e Maddy, liberem a família Helms. Assim que
terminarem, Eli vem nos encontrar, e Maddy cuida deles.
— Positivo — os dois Bensons responderam juntos.
— Andie e eu libertamos o Senhor Helms, certo? — o capitão
perguntou, e todos concordaram. — Vamos no três. Um..., dois...,
três.
— Vamos — Andy sussurrou para o noivo.
Alex pegou uma granada de fumaça, Andy abriu a passagem
do duto de ar, e o capitão soltou a bomba. Os dois contaram até três
e pularam no meio das pessoas, suas máscaras e óculos especiais
lhes davam vantagens sobre os outros.
Como sempre, eles trabalharam em uma sincronia perfeita.
Em segundos, tudo estava acabado. Quando Eli entrou, apenas um
sequestrador continuava de pé, enquanto dois estavam
inconscientes e um estava ferido no chão.
Alex encarava o sequestrador que ainda estava de pé, um
apontando a arma para o outro. Andy estava abaixado,
posicionando-se na frente do senhor Helms, que estava lívido de
medo.
— Abaixe a sua arma — Alex ordenou, mas o bandido não
obedeceu. — Abaixe a arma e se entregue.
Os dois se encaravam, ninguém falava nada. Alex se
aproximou vagarosamente. O bandido sabia que não tinha como
escapar dali, mesmo assim se recusava a se entregar.
— Última chance, abaixe sua arma — o capitão falou.
O bandido começou a abaixar a arma, ela já estava na lateral
do seu corpo. Mas, por algum motivo, enquanto se ajoelhava, ele
levantou a mão que segurava a pistola, pronto para atirar em Alex.
Porém ele nem teve tempo de mirar, dois tiros o acertaram na
cabeça, um bem no meio da testa.
Quando Andy abaixou seu fuzil, ele estava sério, com a
clássica expressão que Eli tinha batizado de “tentaram ferrar com
Alex e agora se foderam”. Por mais que todos achassem que o
louco da história fosse o capitão, Andy podia ficar muito pior em
segundos, se quem estivesse em perigo fosse quem ele amava, o
que, no caso, quase sempre era Alex, porque era ele quem se metia
nessas situações.
— Por que você sempre atira na testa? — Alex perguntou,
olhando para o corpo sem vida no chão, em meio à enorme poça de
sangue.
— Nunca viu filme de zumbi? A gente atira na testa para não
ter chance de voltar. — Andy deu de ombros, como se a conversa
fosse banal.
— Venha, Senhor Helms — Eli chamou o homem, que tremia.
— Sua família está bem, vamos levá-los para atendimento médico.
— Por que você sempre quer pizza?
— Vim de família italiana, é a coisa mais próxima das minhas
raízes aqui na Flórida — o loiro falou como se fosse óbvio.
— Eu sei, mas... — Alex parou de falar e olhou em volta.
Eles estavam na porta de casa, tinham chegado mais tarde
do que gostariam, mas havia relatórios e depoimentos a serem
feitos. Mas, quando estavam entrando em casa, o capitão notou que
tinha algo errado.
— Onde está o Bruce? — Andy sussurrou a pergunta,
entendendo a preocupação do noivo.
— Se alguém fez algo com meu cachorro, eu vou matar.
— Ótimo, vou me casar com o John Wick — o loiro
resmungou.
Ambos sacaram as armas e andaram pelo corredor escuro,
não havia nenhum som na casa, mas a cascata da piscina, aquela
que Alex só tinha instalado por causa dos gêmeos, estava ligada, e
a única iluminação do local era das luzes azuis da própria piscina.
Uma música tocava baixinho, e, quando eles olharam, Amy
estava sentada na beira da piscina, com os pés na água. Bruce
estava ao seu lado, com a cabeça no seu colo, do mesmo jeito que
ele ficava com qualquer membro da família que estivesse doente ou
triste.
— Princesa? — Andy a chamou.
— Oi — ela sorriu, mas parecia triste. — Eu resolvi vir para
cá, mas quando cheguei não tinha ninguém. Espero que não se
importem de eu ter ligado as luzes e a cascata.
— Você sabe que pode vir quando quiser — Alex disse com
calma. Ambos tinham guardado as armas no coldre, não queriam
assustá-la. — Aconteceu alguma coisa?
— Não, eu só... resolvi vir.
— Filha, se não quiser contar o motivo, nós respeitamos. Mas
não minta para nós fingindo que está tudo bem quando não está —
o loiro falou, chegando mais perto. — Você quer conversar?
— Quero, mas... não sei...
— Você quer que eu saia para você conversar com seu pai?
— Alex perguntou, compreensivo.
— Papa, não é por você que eu não quero falar, só não sei
como. Estou um pouco confusa — ela suspirou.
— Vamos fazer assim, eu vou até o restaurante do Kane
pegar nosso jantar, vou pedir algo especial para você. Enquanto
isso vocês conversam, tudo bem? — O capitão sugeriu.
— Não precisa. Eu não quero fazê-lo se sentir excluído.
— Princesa, está tudo bem. Sei que sou o pai legal, divertido
e companheiro de aventuras. Também sei que o Andie é o pai
emotivo que vai dar os conselhos certos. Converse com ele e, se
depois quiser me contar, eu ainda vou ajudá-la no que for preciso.
— Alex beijou a testa da garota e se levantou, indo para a cozinha.
— Tem certeza? — o loiro sussurrou a pergunta.
— Sim, vocês já tinham essa dinâmica. Estarei de volta em
pouco tempo. Se descobrir algo, é só me mandar o nome da
pessoa, que eu resolvo pessoalmente.
— O jeito que você demonstra amor é lindo — o detetive
disse com ironia. — E depois conversamos sobre você ser o “pai
legal e divertido” e eu o “emotivo”.
— Apenas fatos — Alex disse antes de beijar o noivo e se
afastar.
— Então, sobre o que vamos conversar? — Andy tirou os
sapatos e dobrou as barras da calça, sentando-se ao lado da filha e
molhando os pés na piscina.
— Precisamos?
— Na verdade, não. Podemos ficar quietos aqui, ouvindo
música. Aliás, quem está cantando?
— Niall Horan. É no show dele que vocês vão me levar no
meu aniversário. — Ela fazia carinho em Bruce, que não tinha saído
de perto. — A música se chama Dear Patience.
— 'Cause the situation is like a mountain that's been weighing
on my conscious — Andy repetiu o trecho. — Tem certeza de que
não quer conversar?
— Mamãe e eu brigamos — Amy disse depois de um tempo.
Ela preferia olhar para o cachorro ao pai. — Talvez seja melhor eu
não morar mais lá.
— Amy, agora, sim, eu preciso saber o que aconteceu.
— Você vai ficar bravo.
— No momento eu estou preocupado. E você sabe que,
mesmo que seja algo que me deixe irritado, raiva passa, mágoa
não. Por isso, vamos conversar e resolver de uma vez.
— Não é comigo que você vai ficar bravo.
— O que sua mãe fez?
— Mamãe e Eric têm brigado de novo. Eles até começaram a
ir a um terapeuta de casal. Deu certo por um tempo, mas eles têm
tido um problema com o qual não sabem lidar.
— Qual problema?
— Eu.
— Amy, olhe para mim — ele pediu, e ela cedeu. — Você só
tem dezesseis anos e é uma filha maravilhosa, não há nada que
você possa fazer que a torne um problema.
— Não sei se eles concordam.
— Sua mãe até pode ter se expressado de um jeito errado ou
que tenha dado a entender isso, mas ela nunca pensaria que você é
um problema ou a amaria menos.
— Caramba, vocês são muito diferentes — Amy suspirou.
— Ok, vamos do início. Eles estavam discutindo?
— Eu cheguei mais cedo. Os gêmeos estavam na cozinha
com a empregada, tomando lanche, mamãe e Eric estavam no
quarto deles. Eu ia chamá-la, mas então ouvi meu nome. Estavam
discutindo porque eu tinha falado que resolvi me inscrever na San
Francisco State University. Eric disse que é perder dinheiro me
mandar para o outro lado do país, que tem certeza de que isso é
influência do papa, que, se eu escolhesse um curso melhor do que
Arte e Design, eles até poderiam pensar. — Ela revirou os olhos.
— E sua mãe?
— Ela até concorda com ele, mas disse que eu ainda estou
no penúltimo ano, tenho um ano inteiro para mudar de ideia. Só que
eu não quero mudar, eu quero fazer isso, qual o problema?
— Princesa, não tem problema nenhum. Se é o que você
quer, tudo bem. Sua mãe tem um pouco de razão, em um ano você
pode mudar de ideia. Mas, caso não mude, vamos apoiar você, só
mantenha a calma. É muita pressão ter que escolher tão nova a
profissão que quer seguir para o resto da vida.
— Como você soube?
— Eu não soube. Estudei Business para ajudar meu pai na
fazenda. Na metade do curso, eu não aguentava mais e queria
largar tudo. Mas terminei e me inscrevi na academia de polícia antes
mesmo de pegar meu diploma. As coisas mudam, e tudo bem
mudarem. Às vezes as mudanças são necessárias para lhe mostrar
um caminho melhor.
— Como você e o papa?
— Sim. Como eu teria conhecido aquele maluco se não
tivesse me mudado para a Flórida vindo atrás da senhorita e dos
seus irmãos? — ele brincou com ela, que sorriu. — Mas me conte
por que discutiu com sua mãe.
— Mamãe e Eric continuaram discutindo, ele acha que
estamos passando tempo demais com você e papa, que estão nos
influenciando, que eu só quero me mudar para São Francisco para
ficar com a família do papa. Ele estava reclamando demais, e
mamãe falou algo que eu não gostei.
— O quê?
— Ela disse que ultimamente ele só reclamava, que eles não
tinham mais tempo como casal e que, se isso continuasse, ela...
ela...
— Ela o quê? Se separaria dele?
— Voltaria para você — ela sussurrou.
— Voltar para mim? Do que ela está falando?
— Eric também perguntou isso, porque disse que você vai se
casar com o papa. Mas ela disse que era óbvio que isso é só uma
fase, que, na verdade, o seu verdadeiro amor sempre foi ela, tanto
que basta fazer uma ligação, e você está lá. Ela falou que o que
você tem com o papa é algo “passageiro e sem futuro”, que logo
isso termina e, se ela quisesse, já teria acabado.
— Ela disse isso? — Andy perguntou, perplexo, e a menina
confirmou com a cabeça, envergonhada. — Bem, que bom que Alex
não está aqui para ouvir, ele não ia levar numa boa.
— Eu sei — Amy suspirou de novo. — Quando ela falou tudo
isso, eu perdi a cabeça. Eu não sei o que me deu, quando percebi já
tinha entrado no quarto e estava brigando com ela. Nós duas
estávamos gritando, eu a chamei de intolerante e coisas que eu
nem me lembro mais. Ela gritou comigo e disse coisas...
— O que ela disse para você?
— Eu perguntei: e se eu também fosse bissexual? Também
não acreditaria em mim? Diria que é só uma fase? Que eu não sou
filha dela? Mas ela mandou eu ficar quieta, disse que me criou bem
demais para ser assim...
— Ser “assim”, como eu? — O pai aparentava estar calmo,
mas era porque sua filha precisava disso.
— Sim. — Ela encostou a cabeça no seu ombro, e ele fez
carinhos nos seus cabelos. Amy tinha lágrimas nos olhos, e foi aí
que Andy entendeu.
— Entendo sua raiva, mesmo com tudo que aconteceu, você
sempre foi bem apegada a mim. Mas a sua mágoa é por outro
motivo, não é? — ele perguntou, mas ela não respondeu. — Você
também é?
— Sou o quê? — ela sussurrou a pergunta.
— “Assim como eu”, bissexual.
— Eu não sei... — ela murmurou depois de um tempo.
Eles ficaram quietos por alguns instantes, ouvindo as
músicas do cantor irlandês e o barulho da cascata na piscina. Andy
estava dando tempo a Amy, ela tinha que se sentir confortável para
dar o próximo passo, e ele nunca negaria segurança e conforto à
sua filha.
— Eu nunca realmente tinha pensado nisso, mas a vovó
sempre foi engajada na causa, eu cresci vendo-a ajudar a organizar
passeatas, participando de paradas do orgulho, ajudando em
abrigos. E tinha você e o papa. Ok, hoje eu sei que vocês não
estavam juntos, mas pareciam estar, e eu acreditava que tinham um
relacionamento há anos. Então eu sempre achei que isso não podia
ser errado.
— Nunca tinha pensado, mas quando começou a pensar?
— Umas semanas atrás, um pouco depois daquela festa à
qual eu fui com Devon, e vocês precisaram interferir, sabe? — Ele
apenas concordou com a cabeça, para deixar que ela falasse. —
Uns amigos fizeram uma fogueira na praia e ficamos até tarde. O
pessoal estava fazendo uns joguinhos bobos, fiquei mais afastada
com a Serena, nós conversamos a noite toda e teve um momento
em que..., sabe, nós...
— Espero que o final da frase seja “nos beijamos”. Se for
mais que isso, eu não estou pronto para ouvir.
— Dada. — Ela revirou os olhos, mas riu um pouco. — Sim,
nós nos beijamos.
— Obrigado, Deus — ele disse exageradamente. — Certo,
continue a história. Você gostou de beijá-la?
— Sim. — A garota tampou o rosto com as mãos. — O beijo
foi muito bom, mas depois nós ficamos um pouco estranhas, não
sabíamos como agir uma com a outra. Serena me disse que sente
algo por mim há um tempo, mas só agora teve coragem de contar.
— Bem, parece que não era no Alex ou em mim que Serena
ficava de olho quando vinha aqui, não é? — Andy a provocou, e a
filha riu. — E como você se sente em relação a ela?
— Eu não tinha pensado nisso, mas, agora que ela falou, eu
não paro de pensar. Nós ficamos algumas vezes depois disso,
estamos indo com calma.
— Se você está se sentindo perdida, precisa conversar com o
Alex, porque nessa história eu era a Serena. Então, quando ele
voltar, vocês conversem sobre a lerdeza de vocês.
— Dada!
— Apenas fatos. — Ele deu de ombros, depois a puxou e
beijou sua testa. — O que sua mãe falou fez você se sentir errada?
— Sim, como se o fato de eu realmente ser bissexual
invalidasse tudo o que sou. Primeiro eles estavam brigando pela
minha possível escolha da faculdade, depois mamãe e eu
estávamos brigando porque ela falou uma coisa de você sem saber
que aquilo me afetava também. Ela disse que me criou “bem
demais” para ser algo que eu já sou? O que isso quer dizer?
— Amy, sua mãe ama você acima de tudo e de todos. Nem
ela deve saber direito o que isso significa. Ela apenas repetiu algo
que sempre ouviu, como se nossa orientação sexual fosse uma
escolha. Mas você ser ou não bissexual não interfere no que ela
sente por você.
— Não foi assim que me senti.
— Eu vou falar com ela, mas, independentemente do que
acontecer, você tem Alex e eu com você. Sabe que nunca a
julgaríamos, não é? Você está segura aqui, e, se alguém lhe falar
qualquer merda, soltamos nosso cão raivoso.
— Bruce? — ela perguntou, confusa, olhando para o
cachorro que ainda estava deitado com eles.
— Não, Alex.
— Dada!
— Cheguei — Alex gritou da cozinha.
— Falando nele, vamos lá — ele se levantou e estendeu a
mão para a filha, ajudando-a a se levantar.
— Trouxe lasanha para Andie, macarrão à carbonara para
Amy e bistecca alla fiorentina para mim — o moreno disse, tirando
as embalagens de dentro do saco de papel, o cheiro tomando a
cozinha. — Pensei em deixarmos a pizza para amanhã, quando os
gêmeos estiverem junto.
— Por mim, tudo bem — Andy respondeu, colocando as
comidas sobre a mesa. Amy o ajudou a pegar pratos e talheres.
— Então — Alex falou, sentando-se com eles —, devo matar
algum garoto que quebrou o seu coração?
— Bem — Amy disse, olhando primeiro para o pai, que a
encorajou —, e se for uma menina?
— Uma menina? — O capitão perguntou sério. — Ok, vou
ligar para Maddy.
— Alex! Pelo amor de Deus, sente-se, não é isso — Andy
exclamou, exasperado. — A garota está tentando sair do armário,
seu imbecil.
— Sair do armário? Você estava dentro dele? — Alex
perguntou, surpreso.
— O quê?
— Tão sútil. — O loiro negou com a cabeça.
— É que você e sua amiga loira... Como é o nome dela?
Serena, não é? Então, você e a Serena estão diferentes, achei que
tinha ficado subentendido.
— Ah não, não mesmo! — O detetive se revoltou, enquanto a
garota tinha uma crise de risos. — Como você percebeu isso em
semanas e não percebeu sobre nós dois em anos?
— Primeiro, sobre elas era óbvio. Segundo, nem você
percebeu sobre nós.
— Claro que eu percebi sobre nós, mas lembra que eu era o
bissexual, e você era o hétero? Queria que eu fizesse o quê?
Sequestrasse você e metesse uma bala no seu crânio, seu animal?
— Você é tão dramático. — Alex revirou os olhos. — Ligo
para Maddy ou não?
— Não! — Andy e Amy gritaram juntos
— Eu amo a minha família. — Amy ainda estava tentando se
recuperar da crise de riso.
— Então o que aconteceu para você ter ficado assim? — o
moreno perguntou.
O celular de Andy começou a tocar. Ele ia ignorar, mas viu
que quem estava chamando era Barbara. Ele precisava resolver
aquilo.
— Conversem aí, preciso atender a esta ligação — ele disse
para Alex e Amy, que se sentaram para conversar. — Alex, você
está proibido de sair daqui. Eu juro, se sair desta casa sem mim, eu
termino com você e vou embora, entendeu?
— Eu não vou fazer nada — o moreno zombou.
— Malloy — Andy atendeu a ligação, afastando-se, indo para
a área externa.
— Andrew, por favor, eu já estou desesperada, preciso de
ajuda. — Barbara parecia muito assustada.
— O que aconteceu? — ele perguntou, fazendo-se de
desentendido.
— Amy saiu hoje de tarde e não voltou até agora. Ela não
disse aonde ia, o celular está desligado, ninguém sabe onde ela
está. Andrew, eu não sei o que fazer.
— Calma. Se ela sumiu há horas, por que você está me
ligando agora?
— Vamos mesmo discutir isso agora?
— Outra coisa, Amy nunca faz isso. O que aconteceu para
ela sair de casa desse jeito?
— Andrew, não é isso...
— Barbara, o que aconteceu?
— Nós brigamos, era isso que você queria ouvir? Pronto, nós
brigamos.
— E por que brigaram?
— Andrew, você vai me ajudar ou não?
— Eu devia deixar você sofrer mais um pouco, mas Amy está
aqui.
— Ela está bem? — O alívio era explícito em suas palavras.
— Fisicamente, sim, mas muito chateada com você.
— Eu vou buscá-la, vou deixar essa menina de castigo até o
ano que vem!
— Não Barbara, Amy vai dormir aqui, e, quando eu for buscar
os gêmeos amanhã, nós conversamos.
— Andrew, eu me resolvo com a minha filha. Eu e ela...
— Você não está me escutando. Sair sem avisar foi errado,
mas o que eu tenho que me resolver é com você. Sem Alex ou Eric,
você e eu vamos ter uma conversa definitiva para acertar algumas
coisas.
— Ela lhe contou?
— Sim, e não gostei nem um pouco.
— Olha, desculpa, tá? Eu só estava irritada com o Eric e falei
aquilo para provocá-lo, porque ele morre de ciúmes de você.
— Eu não me importo, mantenha a mim e meu noivo longe
dos seus joguinhos. Eu tenho muito respeito por você ser a mãe dos
meus filhos e por toda a nossa história. Mas não pense que isso lhe
dá o direito de brincar com a minha vida ou se achar importante
nela.
— Não foi isso. Eu já disse que só estava brava. E você não
acha que é confuso para mim? Você já tinha me falado que era
bissexual, mas eu nunca tinha o visto com um homem, aí do nada
você começa a namorar o seu parceiro, vai morar com ele e fica
noivo? Foi muita coisa para a minha cabeça.
— Não é “muita coisa para a sua cabeça”, porque é sobre a
minha vida, não a sua. Eu nunca a questionei sobre seu
relacionamento com Eric, então você não tem direito nenhum de
questionar o meu, entendeu?
— Sim — ela respondeu a contragosto.
— Hoje Amy dorme aqui, amanhã vamos aí e conversamos
direito. Até amanhã. — Ele desligou sem esperar pela resposta.
Quando se virou para entrar na casa, ele viu pelo vidro da
porta que Alex e Amy estavam abraçados. Eles ainda pareciam
conversar sobre algo, mas sorriam e se abraçavam forte.
Amy tinha razão, não tinha como aquilo ser errado.
— Isso é um exagero. — Barbara cruzou os braços.
— Se magoou a Amy, não é exagero. Você tem que pensar
nela.
— Não venha me dizer o que é melhor para a minha filha. Eu
sempre fiz tudo por ela e pelos gêmeos.
— Eu sei e nunca tirei seu mérito. Sei que ama nossos filhos
e nunca questionei isso. Mas você não pode colocar suas
expectativas em cima dela, porque, se fizer isso, vai querer jogar
suas frustrações também.
Amy assistia ao debate entre seus pais. Ela fizera questão de
estar presente na conversa, mas agora já não tinha certeza.
Quando tinham chegado na casa no sábado de manhã para
buscar os gêmeos, apenas as crianças estavam normais. A tensão
entre os quatro adultos era óbvia, Andy deu a ideia de Gwen e Evan
mostrarem para a Alex a casa na árvore que Eric mandara construir
para eles.
— Claro, vamos lá. — Eric engoliu em seco por ficar sozinho
no quintal com o moreno.
— Antes de ir... — Andy passou as mãos por dentro da
jaqueta do noivo.
— Está usando de desculpa para passar as mãos em mim?
Assim as pessoas vão ficar constrangidas — ele o provocou.
— Não, seu idiota — o loiro se afastou, segurando duas facas
e uma arma que estavam escondidas. — Comporte-se!
— Como se eu não tivesse mais — o outro resmungou
enquanto ia para os fundos da casa.
Agora Andy estava com Barbara e Amy, os três sentados no
balcão e tomando café. Mas a conversa não estava indo tão bem.
— Mãe, eu só quero que me entenda.
— Eu a entendo, filha, só acho que você está confusa e
discordo das suas escolhas.
— Mas você não pode discordar sobre a minha vida, porque
ela é minha — Amy disse, passando as mãos pelo rosto.
— Barbara, lembra-se de quando soubemos que você estava
grávida? Lembra do quanto comemoramos? — Andy perguntou.
— É claro que me lembro.
— Você sempre disse que amou Amy desde aquele dia. Você
a amou apenas por ela existir, sem se preocupar com qual profissão
ela seguiria ou quem amaria. Foi apenas amor. O que mudou
agora?
— Nada mudou. Amy, eu te amo muito, você é a minha filha,
e nada vai mudar isso.
— Mas, quando você me disse que me criou bem demais
para eu ser desse jeito, pareceu que eu ser bissexual invalidava
todo o seu esforço. Eu não quero desapontá-la, mas é injusto você
se sentir decepcionada só por eu ser eu — a garota se sentia forte o
suficiente para falar sobre isso, porque tinha seu pai do seu lado.
— Minha querida, eu não queria que você se sentisse assim.
— Princesa, independentemente de sua mãe e eu estarmos
separados e vivendo com outras pessoas, somos seus pais. Mesmo
não sendo perfeitos e errando bastante, nós amamos você. No final,
não importa onde você vai estudar, qual sua profissão ou quem você
namora, a única coisa realmente importante é que você seja feliz —
ele disse, segurando a mão da filha.
— Amy, perdoe-me. Eu vou me policiar e estudar mais sobre
o assunto para tentar não falar besteira. Tudo bem?
— Está bem. — A garota sorriu feliz e aliviada, abraçando a
mãe.
— Ei, cadê o meu abraço? — o loiro brincou, mas teve o
pedido atendido. — Agora vá lá fora e fique de olho no seu papa
para ele não assustar o pobre Eric, não queremos mais nenhum
drama familiar.
Ela sorriu, concordando, e saiu, porque sabia que era a hora
dos seus pais conversarem. Andy ficou olhando sua menininha sair
até que ela estivesse do lado de fora, com a porta já fechada e se
afastando.
— Certo, agora é entre em nós. — Ele se virou para a ex-
mulher. — Nunca mais você vai questionar meu relacionamento ou
usar meu nome ou o do meu noivo nas suas disputas imbecis.
— Eu já lhe pedi desculpas — ela respondeu entredentes.
— Mas não senti sinceridade — o loiro falou sarcasticamente.
— O fato de eu ter ficado tão próximo nesses anos talvez tenha feito
você enxergar os limites de forma borrada, mas eu estou aqui pelos
meus filhos.
— Mas vai ser sempre assim? E se seu noivo quiser ter os
próprios filhos?
— Ele tem. Amy, Evan e Gwen.
— Mas é diferente. E se ele quiser ver os filhos nascer,
escolher os nomes, comprar as coisas? Sabe, a vivência toda?
— Você está com algum problema de memória? Alex estava
lá no dia que você deu à luz os gêmeos. Você me ligou porque não
conseguia falar com Eric, nós a buscamos e a levamos para a
maternidade. Alex estava dirigindo e me dando instruções de como
ajudá-la até chegarmos ao hospital. Ele me ajudou a comprar tudo
e, desde o primeiro passeio que pude dar com eles, Alex está do
meu lado. — Andy não achou que seria o momento certo para
contar que a escolha dos nomes dos gêmeos eram homenagens ao
moreno. — Ele passou por tudo isso comigo e, se precisássemos
passar de novo, passaríamos sem problemas.
— Está bem, ele o ajudou com os seus, mas e se ele quiser
ter os dele?
— Bateu com a cabeça? Alex ama as crianças. Quando a
turma de Amy foi sequestrada, ele se jogou na linha de tiro para
poder salvá-la. Ele faria qualquer coisa por eles, e você sabe disso.
E, mesmo que ele quisesse mais, seria uma coisa que ele e eu
conversaríamos. Não sei o que está acontecendo com o seu
relacionamento, mas não jogue esses problemas para o meu.
— Eu sei, é que... Desculpe-me, tem sido difícil entre Eric e
eu. Ele quer ter os próprios filhos, temos discutido muito.
— Não vou julgar vocês, mas também não vou deixar que
isso afete os meus filhos — Andy disse sério, mas ele viu o olhar
perdido da mulher à sua frente. Um dia ele já a havia amado. Certo,
não como amava Alex, e hoje ele entendia a diferença, mas eles
tinham uma história juntos que rendera três dos seres mais
importantes da sua vida. — Quer saber? Vocês devem estar sob
muito estresse, por que não fazem uma viagem?
— O quê?
— É, vocês praticamente não tiveram lua de mel porque você
estava grávida, depois os gêmeos nasceram, e vocês mal passam
tempo juntos. Vão viajar, passem um mês fora, descansem,
conversem e, quando voltarem, vocês se resolvem. Amy já vai
passar as férias em casa, apenas levamos os gêmeos para ficar
comigo e Alex.
— Mas e o trabalho?
— Podemos chamar tia Kim ou minha mãe para nos ajudar. A
questão é que você e eu estamos ligados pelo resto da vida. Então
temos que aprender a lidar com isso. Podemos não ser melhores
amigos, mas podemos ter uma relação amigável.
— Você acha que vai resolver?
— Vocês dois precisam de um tempo juntos, sem crianças ou
horários. Relaxem, conversem sobre o futuro. Se der certo, tudo
bem, se não der, você sempre pode recomeçar a vida. Inclusive,
você era uma ótima arquiteta, podia recomeçar a trabalhar na área.
E acho que quando voltarem também podemos dividir melhor o
tempo das crianças. Quero ficar mais com os gêmeos, e você
precisa de mais tempo livre.
— Ok, eu posso aceitar isso. — Ela sorriu. — Perdoe-me pelo
meu comportamento e pelo meu ataque de ciúme.
— Ciúme?
— É — ela suspirou. — Eu estava acostumada a ser a única
constante na sua vida. Suas namoradas apenas passavam, mas eu
continuava. Sei que é errado, mas acho que comecei a ver você
como porto seguro. Se desse errado entre Eric e eu, eu ainda teria
você. Mas não dá mais para fingir, você ama o Alex de um jeito que
nunca me amou, e isso sempre esteve à vista de todos, eu só
escolhi não entender.
— Eu não quero magoá-la, mas minha relação com ele é
completamente diferente da que eu tive com você. Barbara, você
sempre será a única mulher por quem eu fui apaixonado, mas Alex
sempre será o amor da minha vida.
— Por que você está rindo? — Alex perguntou para o noivo.
Andy estava encostado na bancada da cozinha, rindo muito do que
o capitão tinha acabado de falar.
Barbara e Eric realmente tinham ido viajar, fariam um cruzeiro
de duas semanas e passariam mais duas no Havaí, sugestão de
Alex. Era o final do semestre escolar. Por isso, tia Kim tinha ido ficar
com eles para ajudá-los, mas a família toda viajaria para São
Francisco, para passar uma semana com o resto da família Mitchell
assim que começassem as férias.
— O que está acontecendo? — Amy perguntou ao chegar à
cozinha, achando graça da cena.
— Alex, fale para Amy sobre sua conversa com Eric — Andy
ainda ria.
— Que ele o ameaçou? Essa parte eu já sei — a garota
respondeu, confusa.
Enquanto Andy estava conversando com Amy e Barbara,
Alex estava na parte de fora com Eric e os gêmeos. As crianças
estavam na casa da árvore, então o capitão achou que era o
momento apropriado para ter uma “conversa esclarecedora” com o
outro.
— Amy disse que ouviu a sua conversa com Barbara na noite
passada.
— Sim, Barbara me contou — Eric respondeu, tenso. — Eu
falei para ela que era besteira e que...
— Não, não essa parte da conversa. Quem vai resolver isso
é Andie com a Barbara. — O tom de voz da Alex era calmo, e isso o
tornava ainda mais assustador. — O que eu quero falar com você é
sobre a outra parte, aquela sobre como a escolha de curso
universitário da Amy era um, como você disse, “desperdício de
dinheiro”.
— Eu posso explicar essa parte — o outro falou rapidamente.
— Amy é uma excelente aluna, tem as melhores notas, ela poderia
entrar em qualquer faculdade do país, até mesmo em Stanford ou
Yale, mas decidiu cursar Arte e Design em São Francisco?
— E isso é um problema por quê?
— Não, não é um problema. Eu só estou pensando no que é
melhor para ela.
— Sabe, eu sou de uma família militar. Fora minha tia Kim,
todos os membros da minha família são militares — Alex disse,
colocando a mão sobre o ombro de Eric e o apertando levemente,
deixando o outro quase em pânico. — Mas minha prima mais nova,
Annie, resolveu seguir uma área completamente diferente. Ela
estuda história da arte, disse que quer trabalhar em museus ou
universidades. Sabe o que minha família fez quando ela resolveu
seguir uma carreira totalmente distinta da nossa?
— Não, o quê? — Eric perguntou, engolindo em seco.
— Nós a apoiamos, porque é isso que famílias fazem.
— Sim, verdade.
— Eric, por mais que você e eu sejamos completamente
diferentes, indiretamente somos da mesma família. Você é casado
com Barbara, e eu vou me casar com Andie. Sei que, assim como
eu, você ama Amy, Evan e Gwen como seus filhos, então acredito
que o melhor caminho seja deixarmos nossas diferenças de lado e
agirmos como uma família, pelo menos no que diz respeito às
crianças, você não acha?
— Acho, acho sim!
— Então, como família, não importa o que Amy quer estudar,
nós a apoiaremos. E, se ela resolver trocar de curso em algum
momento, continuaremos a apoiá-la. Não é?
— Sim... Claro...
— Que bom, porque Amy é muito importante para mim. E,
como eu já lhe disse, eu a amo como minha filha. Eu nem sei o que
faria com quem a magoasse, provavelmente perderia minha cabeça.
E, quando eu perco minha cabeça, as coisas podem se tornar um
pouco, digamos, violentas.
— Entendo...
— Acredito que, a partir de hoje, podemos evoluir nosso
relacionamento familiar, podemos sempre conversar e resolver tudo
calmamente, não é? Se tiverem algum problema relacionado com as
crianças, vocês conversam conosco. Se nós tivermos, nós falamos
com vocês. Assim podemos viver em paz.
— Sim, concordo totalmente! — O empresário suspirou
aliviado quando o capitão soltou seu ombro. — Fico feliz que saiba
que eu realmente amo essas crianças.
— Acredite, se eu duvidasse disso, essa conversa seria bem
diferente — Alex sorriu de canto.
— Olhe, papa, tem escorregador — Gwen mostrou, animada.
— Ele parece ser muito legal — o moreno falou para a
menina. — Vão descer por ele?
— Sim — as crianças responderam, animadas.
— Não sei se é o momento, mas só uma dúvida que passou
pela minha cabeça — Eric comentou com Alex. Os dois estavam
esperando as crianças descerem pelo escorregador. — Quando
você disse que perderia a cabeça se alguém magoasse a Amy,
você...
— Isso vale para Gwen e Evan também — o moreno o
corrigiu.
— Certo, magoasse qualquer um dos três, você realmente,
sabe, mataria a pessoa?
— Sem hesitar — Alex respondeu, sorrindo de canto.
— Não, não essa conversa — Andy disse para a filha, que
continuava os olhando confusa. — Alex e Eric trocaram os números
de telefone e têm conversado por todas essas semanas.
— Papa, você o ameaçou de novo? — ela perguntou,
colocando as mãos na cintura.
— Tio Alex ameaçou alguém? — Serena perguntou, entrando
na cozinha também.
Amy e Serena estavam juntas, “ficando sério”, como elas
definiram, e Andy achava que era besteira. Viam-se todos os dias e
passavam quase o dia inteiro juntas, estudavam juntas, passeavam
juntas, e Serena vivia na casa deles. Aquilo era um relacionamento
bem sério. Mas, diante do olhar de deboche da filha, ele parara de
falar sobre isso e entendera que não tinha o direito de zoar ninguém
naquela situação.
— Eu não ameacei ninguém — Alex se defendeu. Ele olhou
pela janela para ver tia Kim brincando com os gêmeos na piscina. —
Muito pelo contrário.
— Ele vai levar Eric e os gêmeos para acampar — Andy
disse, rindo.
— O quê? — Amy perguntou, chocada.
— Depois daquela conversa e, vamos abrir um parêntese
aqui, eu não o ameacei, apenas deixei claro um ponto de vista, eu
percebi que o comportamento dele comigo era porque se sentia
ameaçado. Teoricamente, nós dois somos os padrastos de vocês,
mas vocês três são mais apegados a mim do que a ele, sendo que
moram com ele.
— E onde esse acampamento entra?
— Eu o entendi e resolvi ajudar. Disse que podemos fazer
atividades com os gêmeos para estreitar os laços. — O capitão deu
de ombros. — Então sugeri acamparmos com os gêmeos.
— Dada, você vai junto, não é? — Amy praticamente
implorou.
— Você perdeu a cabeça? — O pai riu. — Passarei um final
de semana confortável na minha casa, dormindo na minha cama,
usando o meu banheiro, e não uma moita qualquer, comendo uma
boa pizza, acompanhando as novidades pelo telefone, só esperando
o momento em que precisarei mandar uma equipe de resgate atrás
deles.
— Que exagero, isso não vai ser necessário — Alex disse,
ofendido.
— Para você, não. Mas já viu Eric usando algo que não fosse
roupas sociais? Ele nem deve ter um tênis no guarda-roupa dele. —
O loiro ainda ria.
— Dada, sério, você precisa ir junto.
— E por quê? — Ele cruzou os braços.
— Não é só porque eu vejo o Eric como padrasto, e não
como pai, que eu não gosto dele. Não quero que ele morra.
— Eu não vou matar ninguém. — Alex revirou os olhos.
— Viu? Seu papa não vai matar. Talvez Eric volte um pouco
traumatizado e precisando de terapia, mas ele volta vivo. — O loiro
sorria.
— Por que acampamento? Não tinha outra atividade?
— Quer que eu leve o para surfar? — o moreno perguntou, e
a garota passou a mão pelo rosto.
— Amy, talvez seja uma boa ideia — Serena tentou acalmá-
la. — Seu padrasto vive dizendo que quer passar mais tempo com
os gêmeos.
— Sabe o que vai acontecer? Eric é super orgulhoso, ele não
vai querer pedir ajuda e não vai aguentar ver o papa se dando bem
em tudo. Vai ser idiota de querer competir com o papa, e ninguém
consegue competir com o papa.
— Não mesmo — Alex sorriu orgulhoso.
— Vou comprar uma GoPro nova para Evan gravar toda essa
aventura. — Andy ria só com a imagem.
— Ah, não, Alex! — o loiro gritou.
Era para ser mais uma operação de resgate da HRT. Mesmo
com a tensão constante que existia em situações como aquela, eles
sabiam o que fazer. Mas desde o início aquilo estava fadado a dar
muito errado.
Para começar, quando chegaram ao lugar, que era um
grande prédio de escritórios que estava sendo finalizado, a polícia e
o FBI os esperavam, e, pela expressão facial do Sargento Shefter, o
amigo deles na polícia, sabiam que tinham problemas.
— Veja a merda que você fez! — Alan, o noivo de Maddy,
estava gritando com outro agente do FBI. Eles pareciam prestes a
entrar em combate físico.
— Controle-se, agente Saito — o outro agente respondeu. —
Fiz o que foi necessário.
— Necessário? Dezesseis pessoas estão sendo mantidas
reféns lá dentro e todas elas podem morrer porque você quer tanto
ver seu nome aparecendo, que ordenou uma invasão sem uma
equipe tática qualificada.
— Senhores, o que aconteceu? — Alex perguntou sério.
— Este imbecil ordenou que agentes e policiais sem
experiencia em resgate invadissem o prédio. — Alan apontava para
o outro agente. — Agora os sequestradores subiram ainda mais,
tornando-se quase inacessíveis. Perdemos o elemento surpresa e
temos três policiais feridos.
— Você nunca poderia ter autorizado isso! Todos sabem que
só a HRT ou SWAT entram nessas situações, agora só complicou
ainda mais nosso trabalho — o capitão estava muito bravo, mas
tentando manter o controle.
— Eu estou comandando essa operação e, se vocês...
— Cuidado com o que vai falar, ou vai piorar muito a sua
situação — Andy o interrompeu. — Depois todos vocês resolvem
essa disputa estúpida de poder, agora precisamos salvar os reféns.
— Malloy está certo. — Alan ainda parecia irritado. — A
SWAT acabou de chegar, creio que possam trabalhar em conjunto.
Capitão Mitchell você tem carta branca para liderar as duas equipes
como desejar, eu me resolvo com meus superiores.
— Saito, você não pode fazer isso — o outro agente
reclamou.
— Que estranho, porque eu acabei de fazer. — Ele se virou e
saiu para fazer uma ligação. No caminho, olhou para Maddy, que
sorria orgulhosa.
Alex conversou com o Capitão Wayne, o líder da SWAT, e
Andy teve que fazer muito esforço para não fazer piada. Alex, que
ele sempre chamava de Superman, estava conversando com um
Wayne.
— Eu sei o que você está pensando — Eli sussurrou perto
dele.
— Desculpe, foi mais forte do que eu — o loiro respondeu. —
O cara se chama Wayne.
— Sabe o primeiro nome dele? — Maddy perguntou, com um
sorriso de canto. — Beckett.
— Está brincando comigo que o nome dele é B. Wayne? —
Andy respirou fundo, engolindo as piadas que pensou.
— Só que esse é loiro, o Batman é moreno — ela explicou.
— Ele está de capacete, como você sabe que ele é loiro? —
Eli perguntou, desconfiado.
— Eu tive uma vida antes de conhecer o Alan — Maddy
respondeu, dando de ombros.
— Andie — Alex o chamou para fazer parte de reunião de
planejamento de como invadiriam o lugar.
Pouco tempo depois eles estavam subindo as escadas. Os
quatro membros da equipe HRT estavam juntos, seguindo pela área
de serviço, que daria para a sala atrás de onde os reféns estavam
sendo mantidos. Já a SWAT seguia pelo caminho principal,
chamando atenção dos sequestradores. Enquanto isso, Alan estava
dentro do cerco policial, tentando negociar por ligação telefônica.
Ele sabia que não funcionaria, mas era parte da distração.
Eles avançaram com cuidado, fazendo o máximo de silêncio.
Não usavam palavras para se comunicar, apenas gestos. Até
mesmo Mal sussurrava as informações que passava pela escuta.
Quando se tinha um grupo muito grande de reféns e sequestradores
que já estavam agitados pela tentativa frustrada de invasão,
qualquer erro poderia significar mortes.
Agora não havia tempo para brincadeiras, eles estavam
sérios e focados. Alex indicou o posicionamento de cada um, Eli e
Maddy pelas laterais, Alex e Andy em linha reta. Chegaram sem
causar barulho e mantendo-se nas sombras. Os sequestradores
estavam estressados e agitados. Quatorze dos dezesseis reféns
estavam deitados no chão, mas dois estavam de pé, sendo usados
pelos bandidos como escudos.
Um dos criminosos discutia com Alan pelo telefone quando o
capitão da SWAT entrou na sua vista. Ele puxou um dos reféns que
estavam de pé e encostou a arma na sua cabeça. O refém era só
um garoto, não devia ter mais de quinze anos.
Eram seis bandidos. Se a equipe atirasse junta, quatro
seriam abatidos ao mesmo tempo. Alex calculou o tempo que
levaria para colocar os outros dois no chão, o único problema para
ele era o garoto sendo mantido sob a mira do sequestrador.
— Afastem-se! — o líder dos bandidos gritava, recuando e
levando o garoto consigo. — Não vamos nos entregar, vamos matar
todos antes disso!
— Positivo — o capitão da SWAT disse, recuando dois
passos, e Alex sabia que era sua hora de intervir.
— Maddy — o capitão da HRT sussurrou, e a equipe soube o
fazer.
A agente atirou direto na cabeça do sequestrador que
matinha uma mulher como refém. O bandido não teve como reagir,
apenas caiu morto. Imediatamente Alex, Andy e Eli atiraram. Mais
três bandidos caíram no chão. Tudo aconteceu em questão de
segundos.
Os bandidos que sobraram demoraram um pouco para
entender o que estava acontecendo. Um deles tentou atirar na
direção de Maddy, mas Andy e Eli revidaram. Os reféns gritavam, e
o barulho dos tiros ecoava pelo lugar vazio. No meio da confusão,
Alex saiu correndo.
O sequestrador que mantinha o menino com refém era o que
estava mais afastado quando a confusão começou. Ele aproveitou a
distração e correu, levando o garoto consigo. Alex seguiu em seu
encalço, subindo as escadas que davam para o terraço. O vento era
muito forte, e o lugar estava quase vazio, exceto por um pouco de
material de construção que estava no canto.
— HRT! — Alex gritou. — Solte a arma e ajoelhe-se.
— Não! Eu não vou voltar para a prisão.
— Solte a arma — ele repetiu.
— Por favor — o garoto implorou, chorando.
— Fique onde está, não se aproxime! — o bandido gritava
com Alex. — Eu vou matar o menino se você chegar mais perto.
— Calma. Podemos resolver isso de um jeito que ninguém se
machuque. — O moreno levantou as mãos em sinal de rendição. —
Vou colocar minha arma no chão, e podemos conversar. Solte o
menino.
— Eu não vou conversar com você! E este garoto é a minha
chance de escapar com vida daqui.
— Seus companheiros já devem estar mortos, o prédio inteiro
está cercado, até o FBI está lá embaixo, não tem como escapar da
prisão. Porém nenhum refém se machucou ainda, então solte-o e
podemos conseguir algum acordo para você.
— Não! E não se aproxime! — O bandido recuou mais para
perto da borda, chegando perigosamente perto de cair.
Nisso, a porta foi aberta. Andy, Maddy e dois policiais da
SWAT entraram no terraço. O sequestrador atirou contra eles, que
conseguiram se esconder. Alex não hesitou, ele pulou sobre o
bandido, empurrando o refém para um lado, e os dois caíram para o
outro.
O sequestrador tentou atirar em Alex, mas o capitão
imobilizou seu braço, fazendo-o derrubar a arma. O bandido tentou
revidar socando-o, mas não foi capaz, já queAlex estava prendendo-
o. Ainda assim, ele conseguiu alcançar a arma e estava quase a
pegando. Sem pensar direito, Alex os puxou para trás, o que fez que
os dois caíssem pela beira do terraço.
— ALEX! — Andy correu até a borda, mas foi segurado por
Eli, que tinha medo de que o amigo fizesse alguma besteira.
No entanto, quando chegaram à beira do prédio, viram Alex e
o bandido em cima da rede de proteção da obra. Alex estava
acordado, já o sequestrador, inconsciente.
— Eu estou bem — Alex disse pela escuta, e Andy caiu de
joelhos, não se sentindo com forças para ficar de pé. — Estou com
um pouco de dor e acho que o suspeito está morto. — Ele olhou de
novo para o homem inconsciente ao seu lado. — Não, está
respirando.
— Pelo amor de Deus, eu não vou sobreviver a esse homem
— Andy resmungou, levantando-se e descendo as escadas para
chegar até o noivo. — Ele vai me fazer infartar antes mesmo do
casamento, aquele animal psicopata!
— Estou ouvindo. — O moreno riu na escuta, mesmo que
sua risada fosse fraca por causa da dor.
— Eu sei, seu imbecil, é por isso que estou falando. Mal,
grave isto, se Alex morrer, eu vou até o inferno buscar ele, trago-o
de volta e o mato de novo!
— Arquivo salvo — Mal comentou. — Isto vai ficar lindo na
festa de casamento de vocês.
— Papa, tem certeza de que está bem? — Amy perguntou,
preocupada.
— Mas é claro que esse animal está bem, ele está
acostumado a voar por aí — Andy resmungou, olhando o cardápio
do restaurante.
— Sinto que não me perdoou ainda — Alex comentou,
sorrindo irônico. — Andie, já faz dois dias.
— Dois dias que você se jogou do terraço de um prédio de
mais de vinte andares. — O loiro baixou o menu e olhou bravo para
o noivo. — Perdoe-me se eu ainda não esqueci a sensação de
desespero e medo que senti quando o vi caindo.
— Oh, você me ama muito — o moreno disse feliz, beijando o
rosto do noivo, mesmo que o outro o olhasse mortalmente.
— Eu amo jantar com vocês. — Serena riu.
Tia Kim tinha ficado com os gêmeos em casa enquanto os
mais velhos saíam numa espécie de encontro duplo. Na verdade, só
tinham ido ao restaurante de Kane, que era uma coisa que faziam
sempre, mas as garotas estavam achando muito legal saírem como
dois casais, e Andy não quis cortar a alegria de ninguém.
— E eu já lhe disse que eu já tinha visto que tinha uma rede
de proteção lá, por isso me joguei — o capitão comentou enquanto
chamavam o garçom.
— Alex, sério, não volte a esse assunto ou eu vou surtar com
você.
— Vamos falar de outra coisa — Amy interrompeu a nova
discussão. — Papa, peça desculpa por mim para o resto da família
por eu não poder ir para São Francisco com vocês, mas meu
emprego de verão começa na semana seguinte que acabarem as
aulas. E eu mal acredito que vou ficar uma semana sozinha em
casa. — Ela sorria.
— Você achou mesmo que isso acontecer? — O loiro riu
irônico, acabando com a felicidade da filha. — Você vai passar essa
semana na casa do Eli.
— Por que não na da tia Maddy? — ela reclamou.
— Porque eu conheço vocês duas e sei que ela vai a
acobertar, além de que é capaz de aprontarem juntas.
— Princesa, eu tentei — Alex se fingiu de derrotado, e Andy o
fuzilou com o olhar. — Tenho uma novidade, combinei com Eric de
passarmos o Natal e o Ano Novo juntos.
— Com “juntos” você quer dizer você e ele, nãoé? Porque eu
me recuso — o detetive respondeu.
— Andie, é a família toda.
— Barbara e Eric são uma família, você e eu somos outra
família, não precisamos misturar as duas famílias.
— Mas, se passarmos todos juntos, podemos passar as duas
datas com crianças — o outro insistiu.
— Já passamos tempo demais com eles.
— Dada! — Amy colocou as mãos na cintura.
— Nem vem, você estava toda animada porque íamos ficar
uma semana longe de você — ele argumentou, e ela revirou os
olhos.
— Seu pai está certo nessa — Serena concordou.
— Eu sei, mas não precisa verbalizar.
— Aqui estão seus pedidos, meus queridos. — Kane sempre
ia pessoalmente entregar os pratos quando eram dos “Mitchells”. —
Como estão? Alguma novidade?
— Papa se jogou do terraço de um prédio, e dada está bravo
com ele — Amy respondeu tranquilamente.
— Oh, sim? Vou adorar saber todos os detalhes. — E, como
sempre, Kane se sentou com eles para ouvir a nova aventura dos
seus amigos.
Eles estavam terminando o jantar. Enquanto Andy e Alex
estavam tomando café, Amy e Serena estavam comendo cannoli
especiais que Kane sempre fazia quando Amy ia ao restaurante. A
noite estava tranquila até um homem, aparentemente muito bravo,
chegar até a mesa deles. Mas, antes que ele pudesse falar algo,
Alex já estava de pé, encarando-o.
— O que você quer? — o capitão perguntou sério.
— Quero saber o que minha sobrinha está fazendo aqui com
vocês — o homem disse, raivoso.
— Tio Don — Serena exclamou pálida, ficando ainda mais
branca do que era normalmente —, não é isso que está pensando!
— Então o que é? Você não tem vergonha na cara, garota?
Venha comigo agora mesmo. — Ele tentou agarrar o braço da
garota, mas Alex entrou na frente de novo.
— Não sei quem é, mas é melhor parar com isso.
— Eu sou o tio dela, e quem é você? Aliás, o que é isso?
Dois homens adultos tendo um encontrando romântico com duas
adolescentes? Seus pervertidos!
— Ah, não. Não mesmo! — Andy falou bravo, também se
levantando. — Eu não acredito que você disse isso.
— Por favor, tio Don, pare com isso — a garota implorou, a
atenção do restaurante estava voltada para eles.
— Eu vou ligar para seu pai, meu irmão vai lhe dar um
corretivo. Onde já se viu, ficar jantando com homens com idade do
seu pai por aí? Quer dinheiro, é isso? E vocês dois, seus nojentos,
gostam de menininhas, não é? Seus...
— Cale a boca agora mesmo, antes que se complique ainda
mais! — Andy o avisou. — Seu imbecil, este é Alex Micthell, meu
noivo, e eu sou Andrew Malloy. Esta é a minha filha, Amy Malloy.
Serena e ela são amigas de escola. Serena passou o dia com minha
filha, e nós a trouxemos para jantar com permissão de sua mãe.
Então pare de falar de merda antes que seja preso.
— E por que eu seria preso por cuidar da minha família?
— Por causa disso — o loiro disse, mostrando o seu
distintivo, que tinha as palavras “Agente Federal” bem visíveis. — E
você acabou de nos acusar, em um restaurante lotado, de corrupção
de menores e de, provavelmente, exploração sexual. Então ou você
cala a boca e nos deixa em paz ou vai responder por desacato a
dois agentes federais.
O restaurante estava em silêncio, todos apenas observando
os três homens de pé.
— Ok — o outro disse com desdém —, vou pegar minha
sobrinha, e vamos embora.
— Não vai — Andy negou. — Carla, mãe da Serena, nos
confiou a filha dela, e é só para a Carla que entregaremos a garota.
Agora saia daqui e não nos perturbe mais.
— Carla não sabe o que faz, é uma idiota — o homem
resmungou.
— Não fale assim da minha mãe! — Serena tinha lágrimas
nos olhos.
Amy a abraçou, consolando-a.
— Na verdade, Carla é tão esperta que se separou do seu
irmão e se livrou dessa merda de família, não é? — o loiro
debochou. — Você vai embora agora e nem ouse tocar na garota.
— Acha que vai me impedir de levar minha sobrinha?
— Você é burro? Foi o que eu acabei de dizer que estou
fazendo — o detetive revirou os olhos.
— Eu não quero brigas, talvez... — Serena começou a falar.
— Não — Alex a interrompeu, e Amy a puxou, fazendo a
outra se sentar de novo. — Não vamos deixá-la ir com um
desequilibrado.
— Eu? — O homem bufou. — Estava tentando proteger
minha sobrinha.
— Não, não estava. Se você desconfiasse que ela estava em
perigo, teria chamado a polícia, ligado para a mãe dela, tentaria tirar
Serena daqui de outro modo, talvez pedisse ajuda para o dono do
restaurante. — Andy falou, colocando-se entre Alex e o tal “tio Don”.
— Mas o que você fez foi causar um escândalo e a acusar de se
prostituir. Você é nojento, e o fato de a primeira coisa que pensou ter
sido “meninas novinhas se prostituindo”, diz mais sobre você do que
sobre qualquer um neste lugar.
— Com licença — Kane interveio —, peço ao senhor se retire
e não incomode mais meus clientes. Também que peço que nunca
mais volte ao meu estabelecimento. Seu comportamento foi
desrespeitoso, e não aceitamos esse tipo de coisa aqui.
— Que seja — ele respondeu, irritado, então foi embora sem
nem olhar para a sobrinha.
Os outros clientes começaram a aplaudir, e Andy revirou os
olhos, aquilo era totalmente desnecessário. Serena chorava, e Amy
a abraçava, tentando consolá-la. Os dois adultos resolveram que
era hora de encerrar a noite e levaram a garota para casa.
Serena e Amy tinham ido para o restaurante no carro da loira,
mas ela não tinha condições de dirigir. Alex levou as meninas no
Mustang, e Andy dirigiu o carro menor, o que o fez socar o noivo
quando o moreno fez uma piada dizendo que o detetive tinha que
dirigir aquele carro, já que o próprio Andy era compacto.
Quando a mãe de Serena viu os olhos vermelhos da filha,
tomou um susto. Andy e Alex explicaram o que havia acontecido e a
aconselharam a pedir uma medida protetiva. Também deixaram
seus contatos pessoais para caso elas precisassem. Carla, mãe de
Serena, lhes agradeceu imensamente.
— Meu tio vai contar para o meu pai, e ele vai tirar satisfação.
— Serena estava nervosa.
— Serena, seja sincera, seu pai já bateu em você? — Andy
perguntou sério, mas com tom paternal.
— Uma vez só, anos atrás, mas ele me assusta. Eu tenho
medo de que ele perca a cabeça — ela respondeu, um pouco
envergonhada.
— Foi por isso que nos separamos. Landon é muito agressivo
e só tem piorado. Ele nunca realmente fez algo, a não ser dessa
vez, mas eu não pagaria para ver. — Carla suspirou.
— Você fez o certo — Alex a consolou.
Serena ainda estava com medo, por isso Andy a fez se
sentar e Amy ficou ao seu lado, segurando sua mão. A mãe de
Serena sabia das duas, por isso elas não precisavam fingir.
— Está com medo de que seu pai faça algo? — o capitão
perguntou, e ela concordou com a cabeça. — Vou lhe ensinar um
código que aprendi na Marinha. Pense em uma comida que você
não gosta muito, algo que as pessoas à sua volta até podem comer,
mas você não.
— Pizza com abacaxi — ela respondeu, prestando atenção
em Alex.
— Eu a entendo, pizza com abacaxi é horrível, e ninguém
deveria comer essa abominação — Andy falou exageradamente.
O moreno revirou os olhos, e Serena riu.
— Certo, sua senha será “pizza com abacaxi”. Se algum dia
você estiver em uma situação desconfortável, com medo ou
desconfiada de que algo possa acontecer, você só tem que ligar
para um dos de nós três — Alex explicou, indicando a si mesmo,
Andy e Amy —, e, no meio da conversa, falar que está com vontade
de comer pizza com abacaxi. Nesse momento, saberemos que tem
algo errado e daremos um jeito de ajudá-la, entendeu?
— Sim. — Ela sorriu para eles. — Obrigada.
Quando voltavam para casa, por mais que os dois tentassem
puxar assunto com Amy, a garota estava calada. Ela parecia perdida
em pensamentos, e eles respeitaram isso. Mas, quando estavam
prestes a entrar em casa, ela parou.
— Princesa, você está bem? — Andy perguntou, preocupado.
— Eu só queria dizer que sou muito sortuda de vocês dois
serem meus pais. Evan e Gwen ainda não entendem isso, e até
esta noite eu não tinha entendido direito — ela falou com lágrimas
nos olhos. — Meus amigos sempre falam como têm inveja de mim,
mas, como eles também sempre falam que vocês dois são
gostosos, eu apenas ria. Hoje eu entendi o que eles querem dizer.
Vocês já me resgataram aquela vez do passeio, mas eu sempre
soube que vocês fariam qualquer coisa por mim e meus irmãos.
Porém hoje eu vi como me protegem mental e emocionalmente.
Então, obrigada.
— Não nos agradeça, nós somos seus pais, esse é nosso
trabalho. — Alex beijou a testa da garota.
— Mas nem todos os pais sabem agir como pais, muitos nem
se esforçam. Eu tenho muita sorte com vocês. — Ela os abraçou
fortemente. — Obrigada por serem meus pais.
— Colocou Evan na cama? — Alex perguntou quando Andy
voltou para o quarto.
— Sim, mas antes tivemos que ir até a porta da frente,
porque sua tia ensinou a Evan um ritual de proteção com turmalina
negra, e agora ele faz toda noite. — O loiro bufou, e o noivo riu. —
Eu nem sabia que existia uma pedra chamada turmalina e que tinha
uma versão negra.
— Você sabe que minha tia ama cristais e toda essa coisa
esotérica.
— Sei — o loiro disse, tirando sua roupa para ir dormir. —
Agora todo mundo na casa tem colares de cristal. Gwen e Evan
estão usando de ametista, e Amy, de pedra da lua. Não sei bem o
que é, mas ela está usando.
— Eu também tenho — o capitão comentou, vendo seu noivo
se aproximando da cama. — É um colar de ônix, serve como
proteção e aumenta a força física e mental.
— Por que você, que é quase um Superman na vida real,
precisaria de mais força? — Andy perguntou, deitando-se e
ajeitando-se embaixo das cobertas, abraçando Alex. — E ela
também me deu um, uma ágata, porque disse que ajuda a encontrar
equilíbrio, fortalece a mente e concentra energias positivas. Não sei
se foi um presente ou indireta.
— Talvez os dois. — O outro riu.
Era só mais uma noite comum. Depois do trabalho, tinham
ajudado os gêmeos com a lição de casa. Alex havia treinado um
pouco de corrida com Amy, brincaram com Bruce e jantaram,
ouviram tia Kim contar as fofocas da família Mitchell.
Aparentemente, o primo de Alex iria se casar, mas cancelou o
casamento. Isso fez que o capitão ligasse para o primo para trazer
todas as informações para Andy, que estava bem curioso.
— Eu disse para Charles que não gostava de Alicia, não via
coisa boa na aura dela. — Kim negava com a cabeça. — A aura dos
dois não combinava, e eu já disse, quando a aura não combina, não
tem jeito.
Depois assistiram a alguma coisa e todos foram para cama.
Tudo como vinha acontecendo nas últimas semanas. Mas, para
Alex, era muito bom. Ele não sabia que podia gostar tanto de ter
uma rotina.
E as coisas só ficavam melhores quando ele estava com
Andy na cama, debaixo dos lençóis, os dois se beijando como se
nunca tivessem o suficiente um do outro. Ele amava como seus
corpos se encaixavam, como cada toque arrepiava, como, mesmo
brigando por controle, as coisas só ficavam mais interessantes.
— Eu estava pensando uma coisa — Alex disse entre os
beijos, os dois já estavam sem roupas.
— Sério? Agora? — Andy bufou, ele mantinha sua boca no
pescoço do noivo, abafando seus gemidos. Os dois paus se
esfregavam, aumentando o prazer deles.
— Eu deveria... ser o... bottom... — O moreno mordeu o
ombro do loiro, porque o gemido ia sair muito alto.
— Agora? — O loiro perguntou, surpreso. Até parou o que
estava fazendo.
— Andie — Alex choramingou pela perda do contato.
— Você que solta uma bomba dessa do nada, não reclame.
Agora vamos voltar ao que você falou. Como assim?
— Estamos juntos há um tempo, e, todas as vezes que
transamos, só você foi o bottom. Isso parece injusto, somos
companheiros, devemos dividir as experiências.
— Em que momento você pensou nisso?
— Não sei, acho que de manhã, naquela reunião, sabe? O
assunto era muito chato, e pensei em outras coisas.
— Na reunião com os diretores do FBI sobre a produtividade
das equipes? — Andy riu. — Alex, você estava em uma reunião
importante com todos os nossos chefes e ficou pensando em nós
dois transando?
— Prioridades — ele sorriu.
O loiro riu e voltou a beijá-lo.
— Se você quer tentar pelo menos uma vez, tudo bem. Mas
não precisa fazer isso só porque acha que precisa. Eu não tenho
problema nenhum em continuar assim.
— Eu quero tentar. — Alex deu de ombros.
— Certo, não nesta noite, mas podemos fazer.
— Por que não nesta noite?
— Ah, meu Deus. — Andy revirou os olhos. — Porque eu
quero que você me foda, é isso. Esse motivo está bom?
— Achei um ótimo motivo, bem explicado.
O loiro riu e puxou o noivo, beijando-o com vontade.
— Não, por favor, não — Andy implorou.
Ele estava saindo do banheiro quando viu pessoas armadas
no saguão da prefeitura. Pelo amor de Deus, era o departamento de
trânsito. Quem assalta o departamento de trânsito?
— Para o chão! — o primeiro bandido gritou, apontando seu
fuzil para cima. As pessoas começaram a gritar, mas as portas já
estavam trancadas, não havia sinal de telefone, e provavelmente as
câmeras de segurança já não funcionavam.
Andy foi empurrado para o chão. Ele suspirou. Que azar era
aquele?
— Fiquem tranquilos, obedeçam e tudo vai ficar bem.
Nada ia ficar bem, ele nunca ia parar de ouvir sobre aquilo.
Quando Alex descobrisse que ele estava sendo mantido como
refém iria trazer o inferno à Terra. Certeza de que ia se meter nas
negociações, invadir o lugar, explodir coisas, atirar em pessoas e
levá-lo para casa. Depois passaria horas dando um sermão sobre o
porquê de Andy nunca poder ir contra seus instintos.
— Quem diria que hoje, justo hoje, ele estava certo? — Andy
resmungou para si mesmo.
Naquela manhã tinha sido tudo normal. Alex acordara mais
cedo que Andy, porque tinha aquela mania horrível de não agir
como uma pessoa normal e ficar o máximo de tempo possível na
cama. Ele saiu para suas corridas matinais com Bruce, enquanto
Andy aproveitava ao máximo seu tempo dormindo, como qualquer
pessoa decente.
Então Andy se levantou, ligou a cafeteira e, caso algum dos
filhos estivesse na sua casa, iria acordá-los. Mas, como naquele dia
nenhum deles estava lá, ele apenas deixou as coisas prontas para o
café da manhã, colocou água e ração para o cachorro e foi tomar
seu banho.
Como sempre, Alex chegou a tempo de encontrar Andy ainda
no banho, juntou-se ao noivo, e acabaram demorando mais do que
o tempo necessário, já que sempre se empolgavam. Aparentemente
o “fogo” ainda não tinha diminuído, e eles sempre descobriam novas
formas de dar prazer ao parceiro, o que resultava nos dois gozando.
O ponto da discórdia foi que Andy resolveu aproveitar que
Alex estaria em uma reunião com o capitão e o governador, o que
queria dizer que o escritório estaria só resolvendo burocracias, para
ir à prefeitura e resolver uma multa que seu noivo havia pegado com
seu carro. Coisa da qual o capitão discordou completamente.
— Vamos amanhã — Alex insistiu —, aí eu vou com você.
— Não precisa, é uma coisa rápida. Em menos de uma hora,
eu resolvo aquela multa que você fez questão de ter com o meu
carro.
— O quê? Eu não tive culpa — o capitão se defendeu.
— Ah, não? Vamos ver: você estava dirigindo o meu carro,
passou a mais de cem quilômetros por hora em uma via de setenta
quilômetros por hora, fechou o outro carro e fez ele bater contra um
muro.
— Era uma perseguição, eu evitei que bandidos escapassem.
— Evitou com o meu carro. Agora eu tenho que ir até a
prefeitura com uma papelada para provar que, um: eu não estava
dirigindo; dois: meu noivo, a pessoa que estava dirigindo, não é um
completo idiota, mesmo que pareça isso a maior parte do tempo; 3:
aquilo foi necessário, assim eu não preciso pagar uma multa
exorbitante e perder o meu carro.
— Ninguém vai tirar o nosso carro — Alex bufou.
— Meu carro, Alex. Meu carro — Andy o corrigiu, mesmo que
todo mundo soubesse que quem sempre dirigia o Mustang era Alex,
não Andy.
— Nosso. Vamos nos casar, lembra? O que é meu é seu, e
vice-versa.
— Mas ainda não nos casamos, então ele continua sendo o
meu carro.
— Por que a minha casa é nossa, mas o carro é seu? — Alex
perguntou, indignado.
— Porque eu moro naquela casa, e, a não ser que você
tenha planos futuros de se mudar para esse carro, ele ainda é meu.
Os dois ficaram em silêncio, mas o detetive contou
mentalmente os segundos, ele sabia que Mitchell nunca deixaria a
discussão morrer ali.
— Quer dizer que o carro só não é meu também porque
ainda não nos casamos?
— Sim. — O detetive sorriu vitorioso.
— Ótimo, vamos hoje mesmo à prefeitura e nos casamos.
— Sabe que assim parece que você só quer casar comigo
por causa do carro, não é?
— O quê? Não, eu quero me casar com você porque o amo e
toda essa merda que a gente já conversou. O carro é um bônus.
— “Toda essa merda”, meu noivo é tão romântico. — Andy
suspirou, e Alex bufou.
— Você me entendeu. — Alex estava batendo os dedos no
volante.
— Tirando esse rompante de romantismo, que está
começando a me fazer acreditar que você só está se casando
comigo porque quer meu carro, essa discussão começou porque
vou na prefeitura resolver uma das dores de cabeça que você me
causa.
— Dramático. Por que você não pode fazer isso mais tarde?
— Por que eu não faço isso agora, quando tem menos
gente?
— Se você for mais tarde, eu posso ir junto, é só esperar a
reunião com o governador acabar — Mitchell insistiu.
— Alex, essas reuniões podem durar horas, até mesmo o dia
inteiro. Vou agora de manhã e volto a tempo de almoçarmos juntos,
ok?
— Eu ainda não gosto disso — ele bufou de novo. — Meus
instintos dizem que não é um bom plano.
— É o setor de trânsito da prefeitura, o que pode acontecer?
— o loiro perguntou.
Agora, sentado no corredor do atendimento, ao lado dos
outros reféns, pensava que aquilo não parecia ter sido uma boa
ideia.
— Eli tem razão, eu tenho que parar de provocar os espíritos.
Certeza de que foi aquela frase — Andy resmungou para si mesmo,
apertando o botão no relógio, que era do mesmo tipo do da filha.
— Senhor, está bem? — um dos reféns perguntou, e Andy
negou com a cabeça. — Eu sei que tudo parece horrível, mas
vamos sair dessa.
— Eu sei e não estou ansioso por isso. — O loiro suspirou e
olhou para o refém que falava com ele e o encarava estranho. —
Ah, você trabalha aqui na prefeitura.
— Sim, no setor de multas.
— Olha, já que estamos aqui e não vamos sair tão cedo. — O
detetive se ajeitou. — Eu tenho uma multa, mas preciso entregar
uns documentos que, por acaso, ficaram lá no balcão. Então, depois
que tudo isso acabar, você pode cancelar a minha multa?
— Bem, eu... preciso avaliar a situação, mas posso... Eu
acho que sim...
— Calem a boca — outro refém ordenou. — Eles nos
mandaram ficar quietos.
— Que seja — Andy revirou os olhos e o ignorou. — Então,
Nalu? — ele leu o crachá do atendente. — É um nome havaiano?
— Sim, meu pai é de lá. Como conhece?
— Meu noivo passou boa parte da vida no Havaí, ele até
chama nosso grupo de amigos de Ohana.
— Vocês devem ser muito unidos. Ohana é um conceito
muito importante.
— Sim, nós matamos e morremos uns pelos outros,
literalmente. Bem, não literalmente, já que nenhum de nós morreu
ainda. — Andy deu de ombros. — Voltando ao assunto...
— Calem a boca! — Dessa vez foi uma senhora quem falou.
— Eu não vou morrer por causa de uma bicha!
— Como? — Andy perguntou.
— Você disse que tem um noivo, não é? Sua bicha!
— Jura, minha senhora? Todos nós aqui sendo reféns, e você
vem com homofobia para cima de mim? — Ele revirou os olhos. —
Escute, Nalu, se os assaltantes vierem pegar alguém como escudo,
a gente indica a homofóbica, ok?
— Certo — o rapaz concordou.
— Que horror — a senhora falou, mas mais reféns
concordaram em entregar a senhora para os criminosos.
— Na verdade, o atraso dos atendimentos hoje de manhã foi
culpa dela — Nalu indicou a homofóbica. — Ela tem muitas multas e
veio fazer o recurso de todas.
— Jura? Além de homofóbica é barbeira no trânsito? A lista
de qualidade só aumenta.
— Sua...
— Olha o que você vai falar, porque homofobia é crime, e eu
posso prendê-la assim que formos libertados — Andy avisou, mas a
senhora revirou os olhos.
— Ela fez um escândalo tão grande, que eu nem pude
contabilizar as multas do fim de semana ainda — Nalu contou a
fofoca em voz mais baixa, mas a maioria ouviu. — Tudo ainda está
no envelope na minha gaveta, porque aquela senhora não podia
esperar cinco minutos. Eu vi as multas dela, não sei como
conseguiu tirar a carteira de motorista.
— Coisa de gente idiota — o detetive respondeu.
— Você também não está por causa de multas? — uma
moça perguntou, mais pessoas estavam interessadas nas fofocas.
— Sim, mas quem conseguiu a multa foi o meu noivo. Alex
que dirige pelas ruas achando que está no live action de GTA —
Andy suspirou, e pessoas o olharam assustadas. — Ele é da polícia,
estava participando de uma perseguição, foi só uma piada.
— Ah. — As pessoas sorriram, e Andy não ia explicar a
verdade.
— Merda, a polícia já chegou! — um dos bandidos gritou.
Eles ficaram um pouco desesperados e começaram a revirar tudo.
— Falando nele, Alex chegou — Andy comentou. — Até que
ele demorou, devem ter tentado segurá-lo lá fora. Bem, ele não
invadiu o lugar ainda, pelo menos não estou sentindo cheiro de
fumaça.
— Seu noivo parece ser um pouco, ah, intenso? — Nalu
tentou.
— Pode dizer louco, ele é. Uma vez eu estava em uma
situação parecida com essa, um pouco mais dramática. — Andy não
ia dar os detalhes de que ele e Eli estavam sendo mantidos reféns
em um armazém abandonado e que a HRT tinha recebido uma
gravação dos dois apanhando. — Alex quase destruiu o prédio
inteiro. Ele usou a desculpa que o lugar já estava abandonado
mesmo.
As pessoas começaram a murmurar, e Andy olhou em volta.
Os criminosos não estavam dando atenção a eles, então nenhum
refém era o alvo. Ali também não deveria ter dinheiro que
justificasse uma ação dessas, então eles estavam à procura de
algo.
— Nalu — o loiro o chamou em voz baixa —, aquela área
onde os bandidos estão é qual?
— É a minha, multas. Aquela é a minha mesa — o atendente
respondeu. No momento, um dos homens armados vasculhava o
computador de Nalu.
— Sorte que ele não sabe que é a sua mesa, ou você estaria
com problemas — Andy comentou. — Qual é a sua rotina de
segunda-feira no trabalho?
— A primeira coisa que faço é pegar as multas do fim de
semana e registrar no sistema, depois eu mando para o setor que
vai cobrá-las. Por quê?
— Agora eu entendi o que está acontecendo.
— Peguem os reféns e os coloquem nas janelas — o
criminoso que parecia ser o líder ordenou.
— Estava demorando. — Andy revirou os olhos.
Os criminosos os puxaram com brutalidade, empurrando-os
contra as janelas fechadas com cortinas. Se os policiais do lado de
fora tentassem invadir ou atirar pelas janelas, acertariam os reféns.
— Vão logo! — Empurraram um senhor que estava com
dificuldade de andar. Provavelmente o estresse estava piorando a
situação.
— Ei, calma aí. Não vê que ele está machucado? — Andy
interferiu.
— Cale a boca. — O criminoso o empurrou com força,
fazendo o detetive cair no chão. — Não tente dar uma de herói!
— Precisamos de um dos reféns para ajudar nas
negociações — o líder disse olhando nos rostos dos reféns que
tremiam de medo. — Quem será? Que tal você?
Ele agarrou justo a senhora homofóbica, que se debateu.
— Não, pegue ele, o noivo dele é policial. — Ela apontou
para Andy.
— Mas que vaca! — o detetive exclamou.
— Então você é bicha, e seu noivo é policial? — o líder o
puxou.
— Além de bandido é homofóbico, eu mereço. — Ele revirou
os olhos. — Sim, podemos dizer que meu noivo é policial, por isso
eu acho melhor vocês pegarem leve, senão ele não vai pegar leve
com vocês.
— Estou morrendo de medo — o bandido zombou e o
empurrou para se sentar em uma cadeira, quase o fazendo cair. —
Senta aí.
— Você podia ter pedido por favor. — Ele se sentou na
cadeira, e o bandido trouxe o telefone para perto. O detetive negou
com a cabeça, desacreditado, Alex ia matar os bandidos, depois
matá-lo.
— Com medo? — um dos criminosos zombou dele.
— De vocês, não, mas do que vai acontecer em breve. — Ele
suspirou.
— O que você acha que vai acontecer? — zombaram dele.
— O que eu sei que vai acontecer é que a qualquer momento
Alex, o meu noivo, vai fazer alguma maluquice. Ele vai invadir este
lugar, explodir alguma coisa ou sabe-se lá o plano mirabolante que
ele vai criar desta vez. No final vocês vão acabar presos ou mortos.
Então por que não facilitam as coisas e se entregam? Quanto mais
cedo encerrarmos isso, melhor para todo mundo.
— E se matarmos você? — Encostaram uma arma na cabeça
dele.
— Você não ouviu o que eu falei? Se Alex já vai interferir só
por eu estar aqui dentro, o que ele faria com vocês se me
matassem?
— Você está inventando, um policial não pode fazer tudo
isso.
— Não, estou sendo completamente sincero — o detetive
respondeu. — Se vocês fizerem algo contra mim, vão ter um
psicopata rastreando cada passo de vocês até encontrá-los, um por
um. Alex vai fazê-los sofrer, e não achem que ser presos ou se
esconder do outro lado do mundo os manteria a salvo, porque não
manteria. Ele os encontraria e os mataria da forma mais dolorosa
que conseguisse.
Eram cinco criminosos. Os três que cercavam Andy
engoliram em seco, sentindo o peso das palavras. O que estava
mais atrás, mexendo nos armários, ficou parado no lugar, olhando
para os outros, pedindo por orientação. Apenas o líder se aproximou
e golpeou o detetive com o punho da arma.
— Cale a boca, você só está tentando nos assustar! — ele
gritou.
— Filho da puta. — A força tinha sido tamanha, que Andy
caiu da cadeira. — O lado bom disso é que talvez ele se concentre
em você e esqueça que eu só vim aqui hoje porque fui teimoso.
— Espere aí, eu conheço esse. — Outro bandido chegou
perto e puxou o rosto de Andy. Ele ficou tão assustado que tirou a
máscara.
— Não, cara, agora eu vi seu rosto, que merda. — Andy
desviou o olhar.
— Ele é da HRT! — o bandido disse, alarmado.
— Deixe-me adivinhar. Eu já o prendi? — o loiro zombou.
— Porra! — um dos bandidos se desesperou. — Esses caras
são doidos.
— Na verdade, só um de nós é e, por acaso, é o que está do
lado de fora agora planejando invadir — Andy respondeu, sentando-
se. — Eu disse que seria melhor se entregarem.
— Cale a boca! — Ele iria bater em Andy, mas o telefone
tocou. O líder levou o aparelho até o detetive e o entregou. —
Atenda!
— Claro, depois desse pedido tão educado. — Andy revirou
os olhos. Ele só estava tentando ganhar tempo, sabia que sua
equipe, principalmente Alex, iria resgatá-los a qualquer momento,
ele só precisava manter os reféns longe da linha de tiro, por isso
estava chamando toda atenção para si.
— Aqui quem fala é Agente Stuart, sou o responsável pela
negociação e...
— Corta essa — Andy o interrompeu —, sou o agente Andy
Malloy, da HRT. Estamos sendo mantidos reféns. Por enquanto,
ninguém se machucou. — Ele resolveu ignorar a coronhada que
tinha recebido. — Os reféns estão nas janelas, mas vocês devem
saber disso, porque, provavelmente, já fizeram a leitura de calor. Só
para lembrar mesmo.
— Ah, sim, certo — o negociador respondeu, um pouco
desconcertado. Eles não tinham feito? O detetive revirou os olhos.
— Quais são as suas exigências? — Andy perguntou para o
líder.
— Um carro com tanque cheio e sem rastreador — o
criminoso falou.
— Claro, o clichê. — Ele revirou os olhos de novo. — E o que
mais?
— Como assim o que mais?
— Vocês invadiram a prefeitura da capital do estado e só
querem um carro abastecido? Mais nada? Ok.
— Eles têm uma hora para o carro chegar aqui na frente, sem
motorista e sem rastreador! — o bandido gritou, e Andy repassou a
mensagem.
O detetive observou os criminosos. Eles estavam bem
armados, mas não eram tão profissionais, então alguém pagou por
tudo isso. O líder parecia ser o único com experiência em crimes do
tipo, mas os outros, apesar de já terem se envolvido em atividades
ilegais, já que o tinham reconhecido, não pareciam saber agir em
situações com reféns.
— Vamos tentar entregar o carro no tempo pedido, mas
precisamos que liberem os reféns — o negociador falou ao telefone.
— A polícia quer que liberem os reféns — Andy os avisou.
— Acha que sou idiota? — o líder perguntou, e Andy se
segurou muito para não responder.
— Temos pessoas de mais idade, e alguns reféns estão
passando mal. Libere-os, e eu fico aqui. Convenhamos, o que vale
mais? Um agente da HRT ou uma homofóbica, que eu pretendo
prender em algum momento?
— Como sabemos que você não vai tentar nenhuma
gracinha? — outro bandido perguntou.
— Não sou eu que faz loucuras, é o meu noivo — ele repetiu.
— Pensem assim, vocês estão procurando por algo que não estão
encontrando, liberem os reféns para ganhar tempo.
— Cale a boca, você não sabe de nada. — O líder o
empurrou, e ele bateu contra o balcão.
— Melhor escutá-lo. Se der ruim, pelo menos podemos dizer
que cooperamos — um dos bandidos disse, alarmado.
— Espere, seu noivo é o capitão Mitchell? — Outro
perguntou.
— Demorou para fazer a conexão — Andy disse, sentado no
chão.
— Cal, escute ele, eu já vi o capitão Mitchell em ação, ele é
tipo um demônio. Se esse cara é o noivo dele, estamos muito
ferrados.
— Vocês estão exagerando. — O líder bufou.
— O capitão da HRT já explodiu um prédio inteiro e saiu do
lugar, que estava pegando fogo, sem nenhum arranhão. Ele é doido!
— Você está falando de qual das vezes? — Andy perguntou.
— Porque da vez das docas não foi ele que explodiu o lugar, os
criminosos jogaram querosene no lugar para matar o Alex
carbonizado, e no fim ele foi quem sobreviveu. Mas ficou com cheiro
de combustível por dias, foi horrível dormir com ele aquela semana.
— Não, eu estava falando dos prédios abandonados em Key
West.
— Qual foi esse? — o detetive tentou se lembrar. — Ah, no
ano passado? É, Alex explodiu o lugar mesmo. Tinham sequestrado
a nossa colega de trabalho.
— Cara, se ele explodiu um prédio inteiro por causa da
colega de trabalho, o que ele vai fazer com a gente por causa do
noivo dele? — Um dos bandidos parecia que ia chorar.
— Liberem os reféns — o líder disse.
— Posso pelo menos me sentar na cadeira? — Andy pediu, e
o líder meio que bufou para ele.
O loiro se sentou na cadeira de Nalu e ficou observando a
movimentação. Os bandidos estavam levando os reféns para ser
liberados. Nesse tempo, Andy abriu vagarosamente as gavetas,
buscando pelo envelope, até que o achou na terceira gaveta. Ele o
tirou com todo cuidado e o colocou para dentro de sua camiseta.
Sabia que não podia ficar com ele, até porque fazia volume, mas
precisava escondê-lo.
— Não tirem o olho dele! — o líder indicou, o loiro e dois dos
bandidos vieram para perto.
— Escute, você acha que o capitão Mitchell vai mesmo, sabe,
matar a gente? — um dos bandidos perguntou.
— Depende. Vocês vão me matar?
— Não. Por mim, você tinha sido liberado com os outros
reféns — ele garantiu.
— Então é só não resistir à prisão. — O loiro deu de ombros.
— Entregar-se seria melhor, porque, se vocês se entregassem, não
seria responsabilidade dele, é direto com a polícia.
— Mas não tem chance de ele ir atrás? — o outro bandido
perguntou. Os dois estavam muito preocupados.
— Eu digo que vocês foram legais comigo. Agora o seu chefe
eu não garanto, a coronhada doeu.
— Faria isso mesmo? — perguntaram, esperançosos.
— Claro. — A que ponto da sua carreira ele tinha chegado
para acalmar bandidos que o estavam fazendo de refém? Seu “eu”
do passado estaria decepcionado consigo mesmo, Andy tinha
certeza.

— Então, seu noivo é tudo isso mesmo? — Nalu, o


atendente, perguntou para Andy. De todos os reféns, só tinham
sobrado eles.
— Na verdade, ele é bem pior. Não me surpreenderia se ele
aparecesse aqui do nada. Aposto que ele já invadiu o prédio e está
prestes a explodir alguma coisa.
— Você parece chateado, não preocupado.
— Ele vai me encher o saco por ter vindo aqui. — O loiro
bufou. — Que merda, eu vou escutar sobre hoje pelo resto dos
meus dias.
— Então você acha que ele não vem?
— Ah, ele vem. Ele vai invadir este lugar, deve ter sabotado
algo ou descobriu o verdadeiro plano de fuga dos bandidos e está
armando alguma coisa. Alex nunca deixaria de vir e vai surtar
quando vir que eu estou com um machucado no cabeça. Mas,
depois que passar a preocupação e ele tiver certeza de que eu
estou bem, vou ouvir um sermão gigante, e ele sempre vai jogar na
minha cara. “Você duvidou dos meus instintos, Andie, eu lhe disse
que não era para ir, veja o que aconteceu” — ele fez uma péssima
imitação do noivo.
— Você falou verdadeiro plano de fuga dos bandidos? Como
assim?
— Estamos na prefeitura de Miami, não tem rota de fuga
viável aqui. E eles só pediram um carro com tanque cheio, sabendo
que teria um rastreador. Foi só uma distração. — O loiro deu de
ombros. — Mas também eles ainda não encontraram o que estão
procurando e nem vão, porque eu escondi.
— Como assim? — ele perguntou, espantado.
— Eu esperei se distraírem, assustei eles com histórias sobre
meu noivo e peguei o envelope na sua gaveta. Tem uma abertura
mínima de espaço entre o balcão de atendimento e parede, joguei o
envelope lá. Enquanto eles perdem tempo procurando, Alex invade,
e tudo resolvido.
— Mas por que estão atrás das multas?
— Não sei, a polícia que vai ter que descobrir, eu já vou ter
que lidar com um capitão furioso.
— E como vamos recuperar o envelope? — Nalu estava
empolgado, sentindo-se em um filme de ação.
— Aquele animal vai estar tão puto da vida, que é capaz de
arrancar com as próprias mãos.
— Eles o quê? — o líder gritou, revoltado.
— Eles se entregaram. Só sobramos nós três — outro
bandido respondeu. — Talvez seja melhor a gente fazer o mesmo.
— Nem morto!
Nesse momento, as luzes foram apagadas, e o lugar ficou no
escuro. Andy puxou Nalu para trás do balcão. Uma fumaça branca
começou a sair pelos dutos de ventilação, e segundos depois a
porta da seção, que estava trancada e com cadeiras a tampando,
explodiu.
Lascas de madeira voaram por todo o lugar, os bandidos
foram acertados. De primeiro momento, houve silencio, mas então
tiros vieram. Nalu estava assustado, abraçando sua cabeça para se
proteger, Andy só suspirou de novo.
A confusão demorou cerca de dez minutos, e então o silêncio
voltou.
— ANDIE — Alex o chamou.
O loiro negou com a cabeça, então se levantou, Alex estava
depois do balcão, com a roupa tática completa e o rifle na mão. Ao
seu lado estavam Maddy e Eli, os bandidos caídos no chão, dois
inconscientes e o outro gemendo de dor.
— Bem, pelo menos ninguém morreu. — Ele deu de ombros.
Alex foi sério na sua direção, abraçou-o com força, depois
começou a vistoria para saber se ele estava bem. Ficou irado
quando viu o machucado na cabeça.
— Você está ferido! Quem fez isso? Vamos para o hospital!
— Calma aí, eu estou bem, só foi uma coronhada e nem foi
tão forte assim.
— Quem fez isso com isso com você?
— Alex, não precisa, já foi resolvido. Não precisamos de mais
drama, já basta eu sendo dramático.
— Andy, quem foi? — ele perguntou entredentes, parecia
disposto a matar alguém.
— Ele — Nalu apontou para um dos homens desacordados
no chão.
— Eli, esse aí vai para a sala de interrogatório. — Alex
apontou para o líder dos bandidos.
— Nós já descobrimos o que eles queriam, por que vamos
interrogá-lo? — o agente perguntou, confuso.
— Eles não sabem disso ainda. — O capitão sorriu maldoso.
— Acho justo — Maddy concordou.
— É claro que ela concorda. Fala sério, se não fosse por Eli e
eu, vocês dois já teriam colocado fogo nesta cidade inteira. — Andy
apontou para Alex e Maddy.
— Nós dois? Quando aqueles terroristas sequestraram e
torturam o Alex, o que você fez mesmo? — Eli o provocou. — Não
acho que “calma” se encaixe em você matando um monte de gente
com uma metralhadora.
— Ah é? E quando Maddy foi feita de refém pelos
contrabandistas? O que você fez mesmo com aquelas granadas? —
Andy devolveu.
— Família. — Eli apontou para a prima, que riu.
— Noivo. — O detetive apontou para Alex, que sorriu
orgulhoso.
— Cara, vocês são tão legais! — Nalu comentou, sorrindo
feliz.
— Ok, precisamos ir, mas antes temos que encontrar as
provas que esses bandidos vieram buscar — Maddy falou,
aproximando-se da bagunça.
— Ali — Andy indicou entre o balcão e a parede. — Vai
precisar quebrar o balcão... Alex!
O capitão arrebentou o balcão, arrancando parte do móvel da
parede, e o envelope com o símbolo da prefeitura de Miami caiu no
chão. Alex o pegou e olhou o conteúdo até achar uma multa
especifica e entregá-la para Maddy.
— Aqui, a multa que prova que Jeremy Anton estava na rua
da casa da sua ex-namorada quando ela foi morta.
— É, agora não vai ter como escapar da prisão — Maddy
comentou, guardando a multa no saco de evidências. — Não
adiantou nada o papai pagar para um grupo de mercenários destruir
o lugar e roubar a multa.
— Tudo isso para esconder um assassinato? — Andy revirou
os olhos.
— Tudo certo aqui? Podemos ir? — Alex perguntou com
pressa. — Ótimo. Andy, temos que ir!
Alex pegou o braço de Andy o tirou de lá. Não falou com
ninguém, não respondeu quando chamaram seus nomes, nada. Ele
apenas colocou o noivo dentro do carro e partiu.
— Onde vamos?
— Para o cartório mais próximo e vamos nos casar agora!
— O quê?
— É isso mesmo que você ouviu. Você fica se metendo
nessas confusões, quase morri do coração hoje, vamos nos casar
agora!
— Eu fico me metendo em confusões? Eu? Alex! Quantas
vezes você saiu por aí como anjo vingador pulando em prédio ou
entrando em tiroteios? Você fez isso hoje!
— Para salvar você!
— E agradeço por isso, mas não tente virar o jogo como se
fosse eu quem sempre faz isso.
— Você não entende — o moreno explodiu. Ele estava com a
respiração alterada e parecia assustado.
— Você realmente teve medo de que algo acontecesse
comigo? — Andy perguntou, entendendo a profundidade do
desespero do outro.
— Eu nunca senti tanto medo na minha vida, então, se você
acha que eu vou esperar por uma data que seja conveniente para
toda a família, você está enganado. Nós vamos até o cartório mais
próximo e vamos casar agora!
— Tudo bem.
— O quê? — Alex perguntou, surpreso.
— Tudo bem, vamos nos casar agora.
— Você está aceitando sem brigar comigo?
— Acho que isso, teoricamente, é uma briga. Mas eu entendi
você, e tudo bem, vamos nos casar, depois fazemos uma festa para
comemorar — ele deu de ombros. — Porém, quando a Maddy e a
Amy surtarem porque não estavam junto, eu vou jogar toda a culpa
em você, ainda vou alegar que eu estava mentalmente instável por
causa do choque de ter sido feito de refém e confuso por ter sofrido
uma concussão.
— Eu posso aceitar isso. — Alex sorriu e beijou Andy. —
Então vamos?
— Vamos. — O loiro sorriu.
Quinze minutos depois, eles entraram no cartório mais
próximo, sob os olhares espantados dos funcionários. Andy com sua
roupa social toda amassada, um corte na cabeça e sangue seco na
lateral do rosto. Alex com roupa tática, cheia de pó e cheirando a
fumaça, além do coldre e suas armas. Mas sorriam felizes enquanto
se casavam.
— Eu odeio esta merda! — Andy resmungou de novo,
mexendo na própria gravata. Por mais que ele tentasse, sempre
dava errado. — É mais fácil eu me enforcar do que conseguir
acertar este nó.
Ele arrancou o tecido do pescoço e o jogou em cima da
cama. Como ele estaria pronto para o casamento, se nem
conseguia dar nó numa porcaria de gravata? Nó Windsor? O que
isso deveria significar?
O detetive espiou por entre as cortinas, o quintal da sua casa
estava decorado com tons de branco e azul, Amy e Maddy tinham
feito um trabalho lindo. Bem, depois do surto que tiveram quando
souberam que eles tinham se casado escondido, Alex e Andy foram
obrigados dar carta branca para elas organizarem o casamento
como quisessem.
— Vocês o quê? — Maddy gritou com eles.
— Nós nos casamos — Alex disse, sorrindo e segurando a
mão de Andy.
Eles tinham chamado sua Ohana, o que incluía os filhos, para
uma pequena reunião em casa e contaram a novidade. Na verdade,
o casamento tinha acontecido no dia anterior, e Andy realmente
ficou surpreso que o capitão tivesse conseguido segurar o segredo
por vinte e quatro horas.
Certo que uma noite de núpcias regada a champagne e muito
sexo talvez tivesse algo a ver com isso. E que essa noite núpcias
também tinha se tornado manhã de núpcias e boa-parte-da-tarde de
núpcias contribuiu.
Primeiro seus amigos ficaram os olhando como se eles
fossem loucos, mas então Andy levantou a mão, mostrando que a
aliança tinha mudado para a mão esquerda.
— Eu não acredito! — Maddy gritou, levantando-se e batendo
as mãos pelo corpo. — Cadê a porcaria da minha arma, eu vou
matar esses dois!
— Amor, calma — Alan tentava acalmar a noiva. — Eles são
adultos, eles podem...
— Eu vou atirar neles e, se não sair da minha frente, vou
atirar em você também!
— Vá lá, amor, eu consigo um álibi para você depois.
— Ninguém vai atirar nos meus pais — Amy disse, também
se levantando —, porque sou eu quem vai fazer isso!
— Amy! — Andy disse, chocado.
— Amy, não atire no dada, ele vai me levar para tomar
sorvete — Gwen pediu.
— Por que a Amy vai atirar no dada? — Evan perguntou para
Eli.
— Melhor ficar quieto, pequeno, senão sobra até para a
gente.
Se as reprimendas tivessem ficado só por aí, tudo bem, mas,
quando Alex ligou para a família para contar, enquanto os primos
riram e disseram que era a cara deles, Tia Julia não gostou. Ela deu
bronca nos dois (sim, nos dois) porque disse que era um momento
muito importante, que os dois eram sobrinhos dela e que queria ter
estado presente.
A única que realmente os parabenizou foi Tia Kim, mas ela
disse que gostaria de ter presenciado o momento para abençoá-los
e enchê-los de boas energias.
Então eles aceitaram as ideias de Amy e Maddy, que, não
satisfeitas em organizar uma cerimônia, realmente criaram um grupo
com Claire, Bianca e Sabrina (mãe e irmãs de Andy), Julia e Kim
(tias de Alex).
Agora Andy estava sozinho no seu quarto, já que as
mulheres da sua vida estavam se comportando de modo um pouco
neurótico e o tinham obrigado a ficar longe de Alex, pelo menos
durante as horas anteriores ao casamento.
Ele se sentou na cama e ficou pensando em tudo aquilo.
Meses antes ele estava totalmente conformado de ter Alex como
seu melhor amigo, estariam envolvidos fraternalmente e acabariam
morrendo juntos em alguma loucura em que o moreno os
envolvesse.
Apesar de a última parte não ter mudado e Andy acreditar de
verdade nela, o relacionamento dos dois tinha mudado. Ele sempre
soubera que tinha sentimentos por Alex, mas não tinha ideia da
profundidade e intensidade deles até ficarem juntos pela primeira
vez. Até então acreditava que um dia o capitão encontraria alguma
mulher perfeita para ele, e seu papel seria o de apoiar e,
provavelmente, ser o padrinho de casamento deles.
Inclusive, esse tinha sido um pesadelo recorrente,
principalmente quando Alex namorava Savanah, que era uma
mulher linda e inteligente e que formava um casal perfeito com o
capitão. Fora a mulher com quem Alex namorara por mais tempo.
Andy não sabia por que eles tinham terminado, mas não fingia não
ter ficado aliviado.
O loiro sorriu sozinho. Alex Mitchell era um completo maluco,
mas Andy o amava demais. Desde o primeiro beijo, ele sabia que
não tinha volta. Bem, primeiro não, porque Alex tinha sido um
imbecil e deixado o loiro ir embora. Então pode-se dizer que foi
depois do terceiro.
Perdido em pensamentos, ele ouviu um barulho no seu
banheiro, o que o fez ficar alerta. Automaticamente sua mão
procurou sua arma, mas ele estava desarmado, já que estava
usando seu terno para o casamento. Nenhuma das suas armas
estava ali.
— Não, eu moro com Alex Mitchell, deve ter pelo três armas
e duas facas escondidas por aqui — ele murmurou, mexendo na
sua escrivaninha. — Não falei?
— Andie — sussurraram o seu nome.
— Você está brincando comigo? — Ele foi até a porta do
banheiro, que estava fechada. — Alex?
— Sim — o marido respondeu baixinho.
— Você é um animal mesmo! Eu ia atirar em você, seu idiota!
— Ia nada — ele zombou.
— Acabei de achar uma das armas que você esconde na
gaveta, só não atiro em você agora mesmo porque a Amy me
encheria o saco.
— Eu só queria ouvir a sua voz — ele disse detrás da porta.
— Então por que você não sai do banheiro e vem aqui?
— Prometi para a Amy que não invadiria nosso quarto para
ver você, mas não falei nada sobre não invadir o banheiro e ouvi-lo.
— Podia ter me ligado, seu babaca — Andy resmungou, mas
não estava mais bravo.
— Confiscaram meu telefone. Eli disse que eu poderia ligar
para você e convencê-lo a fugir de novo.
— E eu teria aceitado — o loiro respondeu, sentando-se no
chão com as costas contra a porta. — Está tudo bem?
— Sim, eu só..., sei lá..., queria saber como você está.
— Sentindo-me em cárcere privado, mas bem. E você?
— Eu não achei que estaria tão ansioso. Meu coração está
batendo forte, só que de um jeito bom. Acho que nunca me senti
assim.
— Eu o entendo. — Andy sorriu de canto. — Queria que você
não tivesse prometido nada para a Amy, porque eu queria abrir a
porta e tocar você agora.
— Eu também. — O moreno suspirou. — No dia em que você
entrou no meu escritório para a entrevista, eu já sabia que eu
precisava mantê-lo na minha vida.
— Como?
— Nós estávamos falando alguma besteira, e você disse que
o que eu falei tinha sentido — pela voz de Alex, Andy sabia que ele
estava sorrindo. — Pode parecer bobagem, mas foi isso, naquele
momento eu soube.
— Soube o quê? Que oito anos depois estaríamos
conversando escondidos como adolescentes, separados por uma
porta para não irritar algumas mulheres que nos matariam se
frustrássemos, de novo, o planejamento delas para o nosso
casamento? — o loiro provocou, e o moreno riu. Alex devia estar
encostado na porta assim como Andy, porque o detetive sentiu a
vibração da risada.
— Não, mas, do jeito que nós vivemos desde aquele dia,
deveríamos ter imaginado — ele suspirou. — Você se arrepende de
alguma coisa?
— Não, preferiria não ter quase morrido tantas vezes, mas
estou feliz por estar vivo, então não há nada do que me arrependa.
E você?
— De não ter percebido que o amava antes.
— Você deveria guardar as declarações para os votos.
— Tenho certeza de que na hora eu vou me esquecer de tudo
que planejei e falar qualquer coisa. Como tenho certeza de que nos
seus você vai me chamar de psicopata, animal ou algo assim.
— Talvez... — Andy provocou. — Mas você tem razão nisso,
eu poderia ter tomado a iniciativa mais cedo, ter falado algo.
Poderíamos estar juntos há anos.
— Kim me disse que tudo acontece no tempo certo. Ter você
comigo todos esses anos fez diferença na minha vida, mas eu não
fazia ideia do quanto já estava apaixonado e, caramba, de como o
sexo é bom. Acho que nunca gozei tanto...
— E tudo estava indo tão lindo até você falar de sexo. Eu não
acredito, Alex, como consegue?
— Como se você não gostasse também — desta vez foi ele
que o provocou.
— Gosto e muito, fui eu que passei anos esperando por isso,
lembra? Inclusive, mal posso esperar para essa festa acontecer e
podermos fugir para a segunda noite de núpcias.
— Então por que está me julgando?
— Porque eu não sou um animal insensível, que estava no
meio de uma linda declaração de amor para falar o quanto tem
gozado nos últimos tempos.
— Mas é verdade.
— Meu Deus, Alex... Espere, estamos no primeiro andar,
como conseguiu chegar até aí?
— Hoje de manhã eu deixei a janela do banheiro aberta, caso
precisasse entrar.
— E como você escalou?
— Eu me arrumei no escritório, no térreo. Disse que
precisava de um tempo para mim, aproveitei que todo mundo havia
parado para comer algo, saí pela janela do escritório, escalei o
poste de iluminação que colocaram no gramado e entrei aqui.
— Simples assim? Alex, eu amo você, mas tem momentos
que eu nem sei o que lhe falar.
— Dada! — Eles ouviram Amy chamando da porta. — O
papa não está no escritório, você sabe onde ele está? Preciso que
ele termine de se vestir.
— Como eu saberia? Estou sendo mantido preso contra a
minha vontade. Sabia que há leis contra isso?
— Que seja. — Ela bufou. — Dada?
— Sim?
— Ele não está aí, não é? — Amy perguntou, desconfiada.
— Não, estou sozinho no meu quarto.
— Andy, eu o conheço. — Agora era Eli. — Alex não está
com você?
— Por Deus, vocês não confiam em mim? Eu estou no meu
quarto, olhando para todos os cantos e não o vejo! — Ele podia
sentir o marido segurando a risada. — Já foram procurar pela praia?
Sabem que aquele animal adora andar pela areia.
— Ok — Eli respondeu, mas não parecia totalmente
convencido.
— Alex, você realmente escalou a parte de fora da nossa
casa com a sua roupa de casamento? — o loiro sussurrou a
pergunta.
— Claro que não, eu deixei o terno no escritório — ele falou
como se fosse óbvio, e Andy passou a mão pelo rosto. — Melhor eu
descer, agora vou ter que dar a volta na casa e ir para a praia.
— Ei, antes de ir, sabe que nada dessa cerimônia ou festa
muda alguma coisa, não é? Nós já somos casados, vamos passar a
vida juntos, e fazer essa comemoração não muda o que sentimos
um pelo outro. Então não precisa ficar nervoso. Você já é meu
marido, e eu já sou o seu.
— Eu sei, amo apresentar você como meu marido.
— Percebi, você me apresentou assim para toda a sua
família, mesmo eu já conhecendo todos há anos.
— Isso o incomoda?
— Não, e não pare. Você me apresentar assim até facilita a
minha vida, porque eu sempre tenho que explicar para um monte de
gente que não posso passar o seu telefone porque você já está
comprometido, comigo, no caso.
— Ciumento!
— Vamos falar disso mesmo?
— Não. Até daqui a pouco. Andy?
— Estou aqui — ele falou, encostando a testa na porta que
os separava,
— Eu te amo.
— Eu também te amo — respondeu, sorrindo.
Alex estava dando uma última volta pelo jardim da casa antes
do casamento. De longe, conseguia ver Bruce correndo na praia
com sua gravata borboleta e terninho de cachorro. Gwen tinha
obsessão por roupas para cachorro, então Bruce tinha um vasto
guarda-roupa. Alex sorriu com a cena.
Ele olhou para cima, as cortinas do seu quarto estavam
fechadas, mas ele sabia que Andy estava lá e estava ansioso para
ver seu marido. Era até engraçado, ele que nunca quisera ter um
relacionamento de verdade, agora amava usar a palavra “marido”.
— Alexander — o capitão ouviu e se virou, assustado. Só
havia uma pessoa no mundo todo que o chamava de Alexander, não
de Alex. E ele não via aquela pessoa havia anos.
— Oi, mãe.
Mesmo fazendo tanto tempo, não tinha como não reconhecer
Sarah Dempsey. Seu cabelo castanho-avermelhado preso em um
elegante coque, os olhos cor de mel destacados pela maquiagem
perfeita, a pele de porcelana contrastando com o vestido marrom
escuro, do mesmo tom das folhas no outono.
Sarah sempre era uma visão da elegância e do
profissionalismo. Só era uma pena que Alex só tinha lembranças
dela relacionadas ao seu lado profissional, nunca como mãe.
— Não achei que viria — ele falou. Era triste olhar sua própria
mãe e não sentir nada.
— Eu fui convidada.
— Não por mim, mas aproveite a festa. — Alex se virou para
sair, mas ela segurou seu braço.
— Não aja como uma criança mimada, ainda sou sua mãe.
Trate-me como tal.
— É um pouco tarde para isso. — Delicadamente, ele soltou
seu braço. — Hoje é o dia do meu casamento com a minha alma
gêmea, não vou perder meu tempo com seus joguinhos.
— Por favor — ela agiu como se aquilo fosse uma besteira
—, sinto muito se eu estava trabalhando enquanto você era um
adolescente, mas você se virou e se deu muito bem. Fora que isso
já faz muito tempo, você precisa superar.
— Não vou falar disso agora.
— Ótimo, apenas me diga onde eu posso esperar.
— Esperar o quê?
— Para entrar com você, onde eu aguardo?
— Você não vai entrar comigo.
— E por acaso você vai entrar sozinho? — ela perguntou,
revirando os olhos. — Porque isso seria patético. Alex, pare de birra,
eu fiz um esforço muito grande para poder estar aqui hoje, então,
por favor, podemos deixar essa birra de lado pelas próximas horas?
— Não é birra. A tia Kim vai entrar comigo, isso já está certo
há muito tempo.
— Então diga a ela que eu estou aqui, que eu assumo meu
lugar.
— Seu lugar? — ele perguntou, sentindo-se indignado.
— Sim, o meu lugar. Eu estou aqui, eu sou sua mãe.
— Não posso acreditar nisso. Minha mãe? Desde quando?
Porque eu me lembro de ser criança, você ir embora e nunca mais
se importar comigo. Não a vi enquanto eu crescia, não a vi quando
fiquei doente, quando me formei, quando entrei para o time da
escola ou em qualquer jogo. Você não estava lá na minha formatura,
quando entrei na marinha, quando voltei. Nunca esteve comigo. O
dia em que perdi meu pai foi o pior dia da minha vida, e, mesmo
assim, você não esteve comigo. E hoje quer agir como minha mãe?
— Alexander, sinto muito pelo falecimento do seu pai, mas
isso já foi há uns vinte anos. Eu sei que dói, mas você precisa seguir
em frente.
— Seguir em frente? Você não tem remorso nenhum? — Alex
passou a mão pelo rosto. Ele não podia deixar a presença de sua
mãe estragar seu dia perfeito.
— Remorso pelo quê? — Sarah passou a mão pelo cabelo
preso, como se verificar que seu penteado estava perfeito fosse
mais importante do que tudo que seu filho estava falando. — Você
cresceu e se tornou um capitão condecorado, então por que eu teria
remorso de algo?
— Não foi graças a você.
— Sim, querido, você tem todo o mérito. Isso o faz se sentir
melhor?
— Melhor? Eu não... Como pode viver assim?
— Assim como, Alexander? Eu apenas não deixo o passado
me afetar e sigo em frente. Você deveria tentar.
Alex inspirou fundo. Aquilo não podia estar acontecendo, não
ali, não naquele dia. Mas, antes que ele pudesse responder, outra
voz vinda de trás deles o fez.
— Tem razão, todos temos que seguir em frente. Então,
minha senhora, por favor siga em frente por esse caminho e ache
algum lugar vazio para se sentar. Meu marido e eu temos uma
cerimônia para realizar, e você está nos atrapalhando.
O moreno olhou para trás e viu Andy chegando perto deles.
Seu marido vestia um terno branco com detalhes em prata que
formavam desenhos como ondas e brilhavam levemente à luz do
sol. Ele vestia uma camisa preta por baixo, e sua gravata era do
mesmo estilo que o terno. Seus cabelos não estavam jogados para
trás como sempre, pareciam bagunçados, mas de um jeito que tinha
ficado lindo nele.
— O que você disse? — Sarah perguntou para o loiro.
— O que você escutou. Se a senhora quer ficar, pode ficar,
mesmo não tendo sido convidada por Alex ou por mim, mas pare de
nos fazer perder tempo, vá até qualquer uma das cadeiras e se
sente.
— O que você quer dizer com isso?
— Alex vai entrar com tia Kim, e eu vou entrar com a minha
mãe, Claire. As madrinhas serão Amy, Maddy, minhas irmãs, Bianca
e Sabrina, e Annie, a prima de Alex. Já os padrinhos serão Eli, Alan,
Mal, Kane e Charles, que, caso você não saiba, também é primo de
Alex.
— Sim, eu me lembro de Charles, filho de Julia e Ryan — ela
disse com leve tom de desgosto.
— Que ótimo que se lembra. É que faz tanto tempo que você
pulou fora dessa família, que eu não tinha ideia se você ainda sabia
quem eram essas pessoas. Voltando ao assunto, já temos um juiz
de paz, e nossos filhos caçulas levarão as alianças. Então, caso não
tenha percebido, não tem espaço para você participar do
casamento. Por isso, você pode se sentar ou só ir embora, tanto faz.
Alex sabia o que Andy estava fazendo, estava o protegendo,
comprando uma briga por ele. O loiro sabia o quanto a história mal
resolvida com sua mãe o machucava. Por isso, ele tinha vindo
correndo para o salvar. O moreno só conseguia sorrir.
— Você não pode me tratar assim, eu sou a mãe do noivo.
— Marido — ele a corrigiu. — Por lei, Alex já é meu marido.
O que também quer dizer que tudo que é dele é meu, e vice-versa,
então, a não ser que a senhora queira responder por invasão de
propriedade, a minha propriedade, no caso, é bom não encher a
porra da minha paciência hoje.
— Como ousa?
— Quer mesmo arriscar a sorte? Porque o que mais tem
nesta festa é militar, policial, agente federal, forças armadas,
esquadrão de elite... Não vai ficar bom para o seu lado.
— Alexander, não vai falar nada?
— Você está lindo — ele disse, sorrindo e olhando
diretamente para o marido, que sorriu de canto. O capitão ignorava
totalmente qualquer coisa à sua volta.
— Não fique ofendida, não é nada pessoal. Ele gosta de
fazer isso — Andy falou para a sogra.
— Mas você está incrível, e esse terno ficou muito bonito em
você. Caramba... Andie, você está lindo... Eu não sei como
descrever... Você fica bem de branco, quer dizer, fica bem com
qualquer cor, mas esse terno destacou os seus olhos.
— Eu sei, foi por isso que Amy me obrigou a usá-lo, mas
você também está muito bonito. — O loiro passou a mão pela lapela
do terno azul-marinho do marido. A camisa que ele usava era
branca, e a gravata, de um tom azul metalizado. — Também
destacou seus olhos, eu falei que essa cor faria isso.
— Você sabia o meu terno? — Alex sorria feliz. Ele estava
com as mãos nos ombros do marido, já perdido em sua bolha.
— Imaginei. Se me obrigaram a usar branco, iriam lhe dar
uma cor escura. E, como boa parte da decoração é azul e branco,
achei que fosse o que escolheriam para os ternos. A única coisa
que pedi foi que fosse um terno acinturado, não aqueles sacos que
não dá para ver a sua forma — ele respondeu com as mãos no
quadril do capitão, que riu. — Mas confesso que isso foi apenas
para minha satisfação pessoal. Já que sei que demorará horas para
toda essa gente ir embora, preciso me distrair com algo.
— Meu Deus, eu amo tanto você. — Alex riu e beijou o
marido.
— Não! Não era para vocês estarem aqui e juntos! Vocês
estragaram a surpresa! — Maddy gritou. Andy rosnou e abraçou
Alex, não o deixando se afastar.
— Dada! — Dessa vez foi Amy.
— Meninos, não era para se verem até o altar. — Agora era
Kim.
Os dois suspiraram. Ótimo, elas tinham se juntado contra
eles.
— Precisamos resolver assuntos urgentes — o moreno
tentou se explicar.
— E o que seria tão urgente para acabar com o planejamento
de semanas? — Julia era a mais durona entre elas, aquela que eles
realmente deveriam temer.
— Isso aqui — o loiro indicou a morena atrás dele. Julia e
Kim fizeram expressões de desprezo na hora.
— “Isso aqui”? É assim que chama sua sogra? — ela
perguntou, revoltada.
— Bem, para ser minha sogra, você deveria ter tratado Alex
como filho. Como não fez, eu acredito que Kim seja minha sogra,
talvez Julia. Mas você, com certeza, não.
— Você não tem direito nenhum de me tratar assim, não sabe
nada sobre como era minha vida e o quanto me sacrifiquei para
conseguir tudo o que tenho.
— Tem razão, não faço ideia, mas a culpa é sua, não minha.
Alex é uma das partes mais importantes da minha vida, eu sei tudo
sobre ele e as pessoas que ele ama. Se eu não sei nada sobre
você, é porque você não teve importância. Agora, com licença,
temos um casamento para realizar, uma festa para estar, para que
eu possa fugir com meu marido depois.
— Isso não é justo.
— Enfie sua justiça no seu...
— Andy, está tudo bem. — Alex tampou a boca do marido. —
Vamos acabar essa discussão aqui.
— Não acredito que vai mesmo me tratar assim.
— Estou sendo recíproco com você, mãe.
— Eu...
— Você ainda não entendeu? — Andy perguntou, bravo. —
Quem vai entrar com ele é a Kim. Caso ela não possa, tem a Julia.
Se nenhuma das duas pudesse, encontraríamos outra pessoa, mas
se, mesmo assim, você fosse a única mulher disponível no mundo,
eu colocaria um tutu de bailarina no nosso cachorro, e Alex entraria
com o Bruce!
— Meninos, não passem estresse justo no casamento de
vocês — Julia disse com falso tom doce. — Vão se organizar para a
cerimônia, já deve estar tudo pronto. Deixem que eu cuido de Sarah,
eu sei me entender com ela.
— É isso, meninos, vamos e deixem que a Julia cuide dessa
mulher. — Kim sorriu.
— Vem, pai, vocês vão entrar — Amy os chamou.
Maddy não foi sutil, ela foi os empurrando até a porta de vidro
dos fundos, que dava para a piscina. Era ali que eles passariam
para chegar ao altar improvisado que tinham feito na areia da praia,
onde todos os convidados já os esperavam.
— Não entendi, não era para eles só se verem no altar? —
Eli perguntou. Os padrinhos, madrinhas, Claire e os gêmeos
também estavam ali, esperando pelo momento de entrarem.
— Minha mãe chegou e quase estragou tudo, aí o Andy
chegou para me salvar — Alex disse feliz, abraçando o marido.
— Cadê a minha mãe? — Charles perguntou, preocupado. —
Ah, não, ela ficou lá?
— Nem pense em dar um passo fora da fila, já tivemos
contratempos demais, ninguém vai nos atrasar! — Maddy disse
brava, e ninguém teve coragem de contradizê-la.
— É, querido, e você sabe que, se sua mãe precisar, ela
sabe esconder um corpo — Kim falou com um sorriso no rosto. —
Vamos casar esses dois?

— A primeira vez que vi Andy foi no nosso escritório. Ele


parecia um cowboy perdido em Miami. — Eli estava fazendo seu
discurso como padrinho. Todos riram, e o loiro revirou os olhos. —
Quando o levei para a sala de Alex e vi como eles se olharam, eu
sabia que tinha algo ali, mas no começo eu não entendi. Lembro
que, quando ele saiu, eu soube que ele faria parte da nossa equipe
e dei um conselho a ele. Eu disse para tomar cuidado, porque Alex
era inconsequente, jogava-se no perigo sem pensar e era um imã
para problemas e situações perigosas. Bem, isso não mudou.
— Nem um pouco, esse animal ainda vai nos matar — Andy
resmungou, e todos riram mais.
— Mas eu também disse que Alex jogava com as próprias
regras, que a mente dele era uma bagunça, e ele nunca deixava
ninguém entrar. Eu já o conhecia havia anos e sabia que ele nunca
nem tinha tentado se aproximar o suficiente ou ter qualquer tipo de
relacionamento com alguém de fora da sua Ohana. Mas eu errei.
Andy chegou, e Alex jogou fora seus escudos. Andy não só entrou
na mente de Alex como também o entendeu, cuidou, protegeu,
apoiou. Isso já era amor muito antes de ser romântico. Então, por
mais loucos que os dois sejam, e não se enganem, Andy pode ser
pior que o Alex quando quer, eles têm um amor tão forte e sincero,
que eu desejo que todos nós tenhamos pelo menos metade do que
eles têm. Aos noivos.
— Aos noivos — todos repetiram antes de tomar um gole de
suas bebidas.
A cerimônia tinha sido bonita e teria sido melhor se Alex
houvesse conseguido tirar as mãos e os olhos de Andy por um
minuto. O juiz de paz desistiu de tentar chamar a atenção do
capitão. Então Andy o aconselhou a só se apressar para terminarem
logo com aquilo.
Os votos foram algo como “eu não sei o que dizer, só que o
amo, e você faz minha vida ser muito melhor. Amo nossa Ohana e,
caramba, você está lindo”. E “eu também o amo, mas, por favor, não
nos mate antes de os gêmeos entrarem na faculdade, ok? E você
também está lindo”.
Todas as pessoas importantes para eles estavam lá: as
famílias, os amigos, até mesmo os amigos de Amy. Andy realmente
esperava que a filha não tivesse comercializado os convites. Ela e
Serena estavam oficialmente namorando, e era fofo vê-las juntas.
Eles tiraram muitas fotos. Enquanto a família de Andy era
pequena e mais contida, a de Alex era barulhenta e cheia. Charles
tinha levado seu namorado, Chris, o que era engraçado, porque
Alex e Charles eram bem parecidos, Chris e Andy eram loiros, e,
antes dos dois loiros, os dois morenos nunca tinham namorado
homens, o que gerou piadas.
A festa estava cheia de gente, até um pouco mais do que os
noivos tinham pensado no início. Até o governador estava lá, e Andy
realmente queria saber quem o tinha convidado. Também havia
pessoas que serviram com Alex, como Elijah, Romeo e Maya, que
estava com a esposa, Nicole. Era legal ver como se tratavam quase
como uma família.
E falando em família, pelo jeito que Bianca e Kane estava
conversando e rindo, parecia que seu amigo ia entrar para sua
família em breve, e o loiro nem queria pensar nisso. Ainda mais
quando sua irmã começou com uma história de passar as próximas
semanas na Flórida, e Kane se prontificou a “mostrar as atrações do
estado” para ela.
— Quando minha esposa me contou que eles se casariam, a
minha surpresa não foi meu sobrinho se casar com um homem, foi o
fato de eles ainda não serem casados, porque do jeito como agiam,
para mim, já tinham fugido e casado há tempos. E, quando eles
realmente fizeram isso, fez sentido. — Era a vez de tio Ryan
discursar. Como Alex não tinha mais o pai, seu tio estava fazendo
isso pelo irmão. — Alex, eu sinto muito por Samuel não estar aqui.
Ele teria amado vê-lo crescer e teria muito orgulho do homem que
você se tornou. E, Andy, você e meu irmão teriam se dado muito
bem, seriam grandes amigos.
Nesse momento, Ryan precisou respirar um pouco, o que foi
bom para Alex, que tinha lágrimas nos olhos. Seu pai tinha sido seu
herói e realmente tinha morrido de um jeito heroico, lutando pelo
que acreditava e tentando salvar pessoas. Mas medalhas em uma
caixa não o traziam de volta e nem diminuíam a saudade. Por isso,
Andy passou o braço pelos ombros do marido e o puxou para mais
perto, mostrando seu apoio e carinho.
— Alex, sei que nada do eu que falar vai matar a saudade
dele — Ryan continuou —, mas Samuel o amava tanto, que ele vive
na sua felicidade. Então a melhor coisa que pode fazer para honrar
a memória do seu pai é ser o mais feliz possível, e eu sei que Andy
faz parte dessa felicidade. Nós amamos vocês.
Os aplausos vieram, e Alex teve que fazer muito esforço para
segurar as lágrimas.
— Ok, agora é a minha vez. — Amy sorriu pegando o
microfone do “vovô”.
Aparentemente, no pouco tempo que a família Mitchell ficou
sem supervisão, resolveram “adotar oficialmente” Amy, Evan e
Gwen. Então as crianças tinham quatro avós (Claire, Julia, Kim e a
mãe de Barbara) e três avôs (George, Ryan e o pai de Barbara). Por
mais confuso que fosse, nenhuma das três crianças estavam
reclamando. Inclusive, os gêmeos estavam tentando contabilizar a
quantidade de presentes que receberiam nos natais e aniversários.
— Todo mundo que veio aqui fez lindos discursos
emocionantes, então resolvi fazer algo diferentes. Vou expor meus
pais. — Ela sorriu malvada, e Andy negou com a cabeça. No telão
começou uma apresentação de fotos. — Essa apresentação é
resultado de uma cuidadosa curadoria de momentos especiais que
fiz com a ajuda de Mal. Nessa foto, por exemplo, fazia apenas dez
dias que eles estavam trabalhando juntos. Dada foi me buscar para
passar o final de semana com ele, papa não se conteve de
curiosidade e foi me conhecer, mesmo que dada tivesse dito não. —
As pessoas riram. Na foto eles estavam no restaurante de Kane,
Amy tinha tirado a selfie, os dois a abraçando. — Perceberam como
eles estão juntos, era óbvio que todo mundo achava que eles eram
um casal desde o início.
Os convidados riram de novo. Dessa vez foi Alex que passou
o braço pelo ombro do marido e o puxou para um beijo.
— Sou eu! — Gwen apontou para a foto em que Andy e Alex
seguravam os gêmeos recém-nascidos.
— Sim, e querem saber uma curiosidade? Dada e papa só
trabalhavam juntos havia três meses quando meus irmãos
nasceram, mas, por coincidência, dada batizou o meu irmão de
Evan, que é o segundo nome do papa. Não é estranho? — As
pessoas riam, e Alex sorria orgulhoso. — Querem outra
coincidência? Minha irmã chama Gwen, e tem uma cantora muito
famosa chamada Gwen Stefani, que é a cantora favorita de quem?
Do papa.
— Traidora! — Andy murmurou.
Barbara e Eric estavam no casamento, e a mulher cerrou os
olhos para o loiro. Andy sorriu e deu de ombros enquanto Alex ria.
Amy passou os próximos minutos mostrando uma sequência
de fotos e vídeos de Andy e Alex juntos, fotos de aniversários, datas
especiais, de quando um ficava no hospital e o outro sempre estava
lá como acompanhante, até uma foto do jornal do dia do colete com
a bomba.
— Só para finalizar — ela disse —, o que eu queria mostrar
para todos é que, desde o primeiro dia juntos, já era amor.

— Sabe — Alex sussurrou no ouvido do marido —, a festa já


está acontecendo há algumas horas. Já cortamos o bolo, já
dançamos...
— Está tentando me convencer a fugir, não é?
— E se eu estiver?
— É bom ter um plano, porque estou dentro — o loiro
respondeu, e o moreno riu. — Se mais alguém me chamar para tirar
alguma foto, vou dar voz de prisão por desacato à autoridade!
— Venha. — Eles foram para a cozinha, andando
normalmente, sem levantar suspeitas. Mas, chegando no local,
desviaram o caminho para a garagem.
— Se sairmos com nossos carros, vão nos ouvir.
— Eu sei, já combinei com meus primos. — O capitão sorriu
de canto.
— Alex, Andy, por aqui — Charles, o primo de Alex, o
chamou. Ele estava com o namorado na garagem e entregou uma
troca de roupa para os recém-casados. — Troquem-se rápido.
— O que está acontecendo? — Andy perguntou, mas
rapidamente tirou a roupa de festa e colocou a calça e a camiseta
que lhe deram.
— Estas são as chaves do meu carro. Eu o aluguei no
aeroporto, então vocês podem devolver lá mesmo amanhã.
Deixamos o carro na esquina de cima, e suas malas já estão nele.
— Eu consegui reservar uma suíte naquele hotel que você
falou. O quarto 308 está no meu nome, então duvido que achem
vocês a tempo — Chris, o namorado de Charles, disse. — Já
pagamos, é nosso presente de casamento para vocês.
— Agora vão logo, meus irmãos estão distraindo nossa
família, mas sabe que minha mãe vai perceber rápido.
— Certo, obrigado — Alex agradeceu ao primo. Eles se
despediram, e os dois correram pelas sombras.
— Quem diria que seria desse jeito que eu usaria anos de
treinamento em escapadas furtivas? — Andy murmurou.
— É esse. — Alex indicou o carro, e eles entraram. Sem
acender nenhuma luz, o moreno conduziu até se afastarem um
pouco.
— Você é louco, eu já lhe disse isso? — Andy perguntou com
um sorriso de canto, e Alex riu com a lembrança.
— Todos os dias.

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