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Brasil 2022
Copyright© Isa Feijó / Editora Calíope
Revisão: Edutora Calíope
Supervisão: Antony Isidoro
Capa e Diagramação: Isa Feijó
Todos os direitos reservados
Eu amo você
Eu também amo você
— Não!
— Andie, por favor!
— Não! Saia! — O loiro empurrou o namorado, que ainda
fazia biquinho.
— Você não pode ficar bravo durante o final de semana
inteiro.
— Ah, eu posso sim! — ele suspirou. — E você fez de
propósito. Sabia que eles chegam hoje!
— Não fiz, não — Alex finalmente conseguiu abraçar o
namorado. Ele sabia que Andy estava mais estressado com a visita
dos pais do que com ele. — Quando eu vi o suspeito, eu só reagi,
eu não pensei em como isso poderia nos afetar depois.
— Você nunca pensa — o loiro resmungou, mas aceitou os
carinhos.
Estavam no aeroporto. George e Claire Malloy estavam
chegando à Flórida para as férias. Ficariam duas semanas em um
hotel e aproveitando passeios pelo lugar. Também tinham planos de
levar os netos aos parques em Orlando. Claire parecia bem
empolgada, mas George nem tanto.
Quando Claire ligou para confirmar os horários que eles
chegariam e se o filho poderia buscá-los, Andy foi obrigado a contar
para a mãe que não estava mais na mesma casa e sim morando
com Alex. Ele esperava ter que dar explicações após dizer aquilo,
mas o que recebeu foi:
— Morando juntos? Oh, isso quer dizer que vocês resolveram
dar um passo adiante e vão se casar? — Ela perguntou, animada.
— Oh, Andy, estou tão feliz por vocês!
— O quê? Não, mãe. Espere, dar um passo?
— Sim, porque vocês estão juntos há tanto tempo. Aliás,
você é o único dos meus filhos que tem um relacionamento estável
e normal, porque suas irmãs... Bianca voltou com aquele namorado
estranho que usa mullet e trabalha no boliche. Quem namora
alguém que tem mullet e trabalha em um boliche? E eu nem vou
falar de Sabrina. — Ela suspirou.
— Ah, sim.
— Amo como você e Alex são fofos um com o outro. Ele é
um bom rapaz, gosta de verdade de você e das crianças. Além de
que o relacionamento de vocês é normal e saudável, sem idas e
voltas e brigas desnecessárias — ela falou, e Andy olhou para o
lado, onde seu namorado estava guardando novas granadas em
seu pequeno arsenal.
— Totalmente normal — o loiro murmurou.
Ele voltou dos seus pensamentos quando o quadro de voos
mostrou que o avião de seus pais já tinha pousado. Seu coração
disparou, e ele precisou respirar fundo. Estava ansioso por aquele
momento e achava que não era do jeito bom.
— Eu que deveria estar nervoso, sou eu que vou me
apresentar para seus pais como seu namorado — Alex brincou,
tentando distrair Andy.
— Se você não fica nervoso enfrentando terroristas, não acho
que ficaria nervoso com os meus pais. — O detetive sorriu.
— Mas eu poderia atirar nos terroristas. Nos seus pais, eu
não posso. — Ele deu de ombros.
— Você poderia? Não foi exatamente isso que você fez
várias vezes?
— Detalhes.
O desembarque foi anunciado, e eles foram encontrar com o
casal Malloy. Claire usava um vestido florido, os cabelos presos,
sandálias e tinha um sorriso feliz. George usava camiseta, calça e
botas, fora que ele olhava desconfiado ao redor. Alex quis rir, porque
parecia muito com Andy no começo.
— Meninos — Claire disse, acenando e praticamente
correndo para encontrá-los —, eu estava com tanta saudade! — Ela
abraçou o filho.
— Eu também, mãe — ele respondeu carinhosamente.
— Alex, você está ótimo. — Ela sorriu e abraçou o capitão.
— Obrigado, Claire, você está ainda mais bonita.
— Oh, Alex! — Ela riu, dando um tapinha no seu ombro.
— Pai — Andy deu um abraço sem graça no pai —, como
está?
— Ainda vivo — o mais velho resmungou, e Andy nem
poderia culpá-lo, seu pai odiava voar.
— Olá, Sr. Malloy — Alex estendeu sua mão, o homem o
olhou, avaliando-o, mas acabou aceitando o aperto de mão.
Andy quase não podia acreditar que seu namorado, que na
maior parte do tempo agia como um neandertal, estava sendo tão
educado. Bem, era melhor aproveitar enquanto durasse.
— Estou louca para visitar tantos lugares e eu queria tanto
fazer um daqueles passeios aéreos em helicópteros — Claire falou
enquanto eles iam para o carro. Ela tinha grudado no braço do
capitão, e eles iam conversando, deixando Andy e seu pai para trás
em um silêncio um pouco desconfortável. — Mas George disse que
são muito caros.
— Eu posso ajudar — Alex disse, solícito.
— Por acaso você tem um helicóptero? — George indagou,
tentando zombar.
— Não, mas conheço alguém que tem um e eu posso pilotar
— Alex respondeu distraidamente, guardando as malas do casal no
porta-malas do Mustang.
Era claro que ele não ia explicar que esse helicóptero
pertencia a um multimilionário que tinha sido sequestrado junto com
seu filho e levado para as Bahamas, onde os dois foram mantidos
em cativeiro. Então a equipe HRT teve que entrar ilegalmente no
país, fazer uma missão de resgate em segredo e trazê-los de volta
para os Estados Unidos. Desde então Owain Adler sempre
emprestava seus “brinquedos”, como helicópteros, lanchas e carros,
para Alex, além dos presentes de Natal em dinheiro que a equipe
recebia todo ano.
— Alex, isso é maravilhoso — Claire comemorou.
— Ele também pilota helicópteros? — George perguntou,
surpreso, para o filho.
— Alex faz muitas coisas — Andy suspirou. Manter a boca
fechada não é uma delas, ele pensou.
— Querem ir direto para o hotel ou paramos para comer
alguma coisa? — o moreno perguntou, com as chaves do carro na
mão.
— Ele dirige seu carro?
— Pai, quanto mais rápido você entender que o Alex faz as
coisas do jeito dele, melhor vai ser — Andy respondeu, dando de
ombros e entrando no carro.
— Podemos ir para o hotel e depois sair para comer, o que
acham? — a mulher sugeriu, animada.
— Por mim, tudo bem — Alex sorriu ligando o carro.
O quarto do hotel que o casal Malloy tinha alugado era
simples, mas, assim que o gerente soube que era para a família de
Andy, transferiu os dois para um quarto maior e melhor sem
acréscimo no valor já pago.
— Nós trabalhamos em um caso aqui no ano passado. —
Alex deu de ombros.
— Foi o do falsificador ou do stalker? — Andy perguntou,
distraído, colocando as malas para dentro do quarto.
— Do falsificador não foi naquele resort perto da praia? —
Alex comentou, tentando se lembrar. — Ele fica só a duas quadras
daqui, por isso que a gente confunde.
— Não, nesse foi o do assassinato daquele advogado — o
detetive respondeu.
— Você tem certeza?
— Alex, você socou o gerente — o loiro falou, e o capitão
concordou, lembrando-se da cena.
— Verdade, ele não quis dar as gravações inteiras das
câmeras de vigilância. — O moreno deu de ombros. — Espere, o do
falsificador foi no hotel Bays Inn, aqui foi o do stalker mesmo.
— Sim, o cara que você ameaçou jogar embaixo do ônibus —
Andy concordou.
— Você ameaça jogar pessoas embaixo de ônibus? —
George perguntou, surpreso.
— Nesse caso específico foi necessário para assustar o
suspeito, não que eu fosse fazer de verdade — Alex garantiu, e
Andy, por trás do pai, cruzou os braços e levantou a sobrancelha. —
Então, o que acharam do hotel?
— Alex, querido, é perfeito. — Claire abraçou o genro. — Só
duas quadras da praia e tem tanta coisa para fazer por perto. Veja,
George, poderemos ir caminhando para vários lugares.
— Ok, a localização é boa, mas o quarto poderia ser melhor,
não é? — o bombeiro aposentado resmungou.
— Pai, para quem ia pagar oitenta dólares por noite, você
poderia ficar mais feliz por ter uma suíte cujo preço original é cento
e vinte cada diária — Andy respondeu ao pai.
— Meninos, não comecem — Claire interveio. — Vamos
almoçar? Aquele amigo de vocês ainda tem aquele restaurante
italiano?
— Você viajou milhares de quilômetros para comer comida
italiana? — O detetive riu.
— Sim. Eu só vim aqui uma vez e mesmo assim não me
esqueci. Foi a melhor massa que eu já comi! — a mulher disse,
sorrindo.
— Eu fiz reservas no Marabu Brickell — George falou,
interrompendo a conversa.
— No Marabu Brickell? — Andy perguntou, incrédulo.
— Sim, meu amigo Carl, que joga golfe comigo, veio para
Miami no ano passado e disse que é o melhor restaurantes da
ilha — o homem mais velho respondeu.
— Seu amigo Carl disse que nesse restaurante o prato chega
a custar quase duzentos dólares? — O loiro estava tentando não se
irritar, por isso Alex colocou a mão em seu ombro. — Você reservou
um quarto de oitenta dólares a diária, mas vai gastar duzentos em
um prato? Isso não tem nem lógica.
— Tudo bem, vamos a esse restaurante. Amanhã poderemos
ir ao do seu amigo — Claire interveio de novo.
— À noite podemos ir a um bar aonde sempre vamos, tem
show ao vivo — Alex tentou ajudar.
Andy estava dando créditos para o namorado. Alex realmente
estava tentando fazer tudo ser agradável, mas seu pai não estava
ajudando em nada. George sempre fora um pouco crítico com as
escolhas do filho. Ele era um ótimo pai, mas às vezes exagerava em
algumas coisas. E tudo isso tinha piorado depois no falecimento de
Nick, o irmão de Andy. Agora ele era o único filho homem entre suas
duas irmãs, mas também era o filho que morava longe e tinha uma
vida na qual o pai não estava presente.
George tivera dificuldade de aceitar a sexualidade de Andy
quando ele se assumiu para os pais, no seu primeiro ano da
faculdade, ao contrário de Claire, que foi compreensiva com filho
desde o início. A mulher começou, inclusive, a fazer parte de um
grupo chamado "Mães pela diversidade", que apoiava a comunidade
LGBTQIA+, ajudava em abrigos e participava das Paradas do
Orgulho. Andy achava que sua mãe tinha se empolgado um pouco
demais com o assunto.
Já o pai, mesmo depois de ter assimilado o que fora falado e
ter jurado que apoiava o filho, parecia ter aproveitado que o assunto
nunca tinha retornado e resolvido fingir que aquela conversa nunca
acontecera.
O detetive suspirou. Ele sabia que as chances de aquele
almoço acabar em paz eram as mesmas de Alex passar uma
semana sem explodir algo.