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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS SOCIAIS E AGRÁRIAS


NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

RELATÓRIO PSICOLÓGICO

I – Identificação:

Aluna: Bruna Mychelle Alves Gomes Data de nascimento: 04/07/1994


Matrícula na Universidade: 20180104878
Solicitante: Centro de Atenção Psicossocial de Bananeiras/PB
Finalidade: Informar as intervenções realizadas pelo setor psicossocial da
Universidade e apontar recomendações acerca da situação da discente
Autora: Carla Jesus de Carvalho (CRP 13/7894)

II – Descrição da Demanda:

A jovem em tela tem 24 anos e é estudante do curso de Licenciatura em


Pedagogia do CAMPUS III/UFPB, localizado no município de Bananeiras. Em
novembro de 2018, ela procurou pela primeira vez o serviço de psicologia da
Universidade relatando sofrimento psíquico com presença de sintomas
recorrentes de insônia, tristeza, ansiedade, prática de automutilação e ideação
suicida.

III – Procedimentos:

Para a elaboração deste documento foram adotados os seguintes


procedimentos: análise documental, atendimentos psicológicos, visitas
institucionais e visitas domiciliares.

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Campus Universitário III, S/N ▪ Cidade Universitária ▪ CEP 58220-000 ▪ Bananeiras - PB
Telefone: (83) 3367-5662 ▪ E-mail: nae.cchsa@gmail.com ▪ Site: http://www.cchsa.ufpb.br/nae
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Nas visitas institucionais ao CAPS, objetivou-se apontar para a equipe a


situação de Bruna e o necessário acompanhamento intensivo dela pelo serviço.
Nas intervenções com a mesma, utilizaram-se pressupostos do modelo
cognitivo-comportamental, o qual considera que experiências emocionais
negativas decorrem de pensamentos ou formas de interpretação inadequadas,
os quais podem ser identificados e reavaliados de forma colaborativa, reduzindo
experiências emocionais desagradáveis e favorecendo o processo de mudança
comportamental.

IV – Análise:

Com histórico de queixas emocionais desde a adolescência, Bruna relatou


que já passou por acompanhamento psicológico há alguns anos, mas que não
estava frequentando nenhum profissional ou serviço de saúde mental. Ainda no
primeiro contato, em novembro de 2018, ela relacionou a intensificação dos
sintomas psicológicos negativos a problemáticas familiares. Considerando a sua
genitora, a relação foi marcada por muitas violências (física e psicológica),
resultando em um grave conflito que precisou de intervenção policial, no ano de
2018. Depois do ocorrido, elas não tiveram mais contato. Com o irmão, que
atualmente mora em São Paulo, a jovem também afirmou não ter nenhum
vínculo. A respeito do pai, com quem morava até a semana anterior à elaboração
desse relatório, Bruna relatou a presença de conflitos constantes. Apontou ainda
que não existem outros familiares próximos com quem possa contar.
Após esse primeiro contato, foram realizados mais dois atendimentos
psicológicos à discente a fim de levá-la a compreender dificuldades pessoais que
pudessem estar associadas ao seu sofrimento, bem como ajudá-la a encontrar
formas adequadas de lidar com tais dificuldades. Na finalização desses
encontros, Bruna relatou uma melhora de humor e conseguiu identificar
pensamentos e crenças disfuncionais que agravavam a sua experiência

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emocional. Apresentou-se orientada, consciente, com bom volume de fala,


porém com lentificação psicomotora. Demonstrou um bom nível de inteligência
e boa capacidade de reflexão, favorecendo o processo de reavaliação das
cognições negativas. Entretanto, ela faltou ao atendimento subsequente e entrou
em contato telefônico mencionando que houvera aumento dos sintomas
depressivos, assim como acentuação dos conflitos com o genitor, levando-a a
um novo episódio de tentativa de suicídio no dia 06 de dezembro de 2018.
Com a cronificação do seu sofrimento psíquico e intensificação dos
fatores de risco associados à dinâmica familiar e social, foram realizados
encaminhamentos para a equipe psicossocial do CAPS de Bananeiras
apontando a gravidade da situação emocional da jovem e indicando a
necessidade de acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Além da entrega
dos encaminhamentos impressos à própria Bruna, na ocasião de uma visita
domiciliar realizada no dia 07 de dezembro, a Coordenadora do CAPS também
foi acionada e comunicada sobre a seriedade da situação e necessidade de
acompanhamento intensivo pelo serviço.
No dia 15 de janeiro de 2019, Bruna entrou em contato relatando que
estava em acompanhamento com o profissional psiquiatra, mas não com a
psicóloga do CAPS, uma vez que não conseguiu criar vínculo com essa
profissional. Apontou que, mesmo em uso de medicamentos psicotrópicos, teve
uma crise de ansiedade e precisou ser encaminhada ao hospital do município.
Na ocasião, foi orientada a buscar o serviço do CAPS sempre que vivenciasse
momentos de crise, pois teria uma equipe preparada para oferecer suporte e
apoio necessários à minimização de problemáticas referentes à saúde mental.
No dia 31 de janeiro, foi realizado um novo atendimento à jovem, que
relatou intenso sofrimento psíquico, angústia acentuada, sentimento de vazio,
somatizações, lentidão, crises agudas de ansiedade, apatia, hipersonia, falta de
apetite e desesperança diante da vida, afirmando acreditar no suicídio como a
única saída para acabar com a sua dor. Nesse mesmo dia, após a escuta e

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intervenção terapêutica, a psicóloga da Universidade acompanhou a discente ao


CAPS, quando foi realizada conversa com a Coordenadora da instituição, que
mais uma vez foi comunicada sobre a gravidade da situação de saúde mental da
aluna e a necessidade de acompanhamento intensivo pela equipe daquele
serviço. Após isso, a psicóloga da Universidade, por meio de visita domiciliar,
conseguiu conversar com o pai da estudante, o senhor “Bido”, sobre a situação
psiquiátrica de sua filha e risco iminente de nova tentativa de suicídio. Foram
dadas orientações de cuidados a serem adotados e agendado um novo
atendimento com o genitor para o dia 05 de fevereiro no NAE.
O senhor “Bido” não compareceu ao dia combinado e apresentou como
justificativa a forte chuva que atingira a cidade, bem como o fato de estar se
sentindo mal, uma vez que ingerira álcool na noite anterior. Foi realizado então
um novo atendimento à Bruna, no qual se fortaleceu a necessidade de ela ser
acompanhada de maneira intensiva pelo CAPS, participando das atividades
disponibilizadas pelo serviço. Nesse encontro, ela apontou que, após a visita
domiciliar realizada, a sua relação com o pai melhorou, pois ele passou a
demonstrar preocupação com a situação emocional dela. Ainda segundo o seu
relato, o genitor também mencionou a possibilidade de contratar uma pessoa
para ficar na casa no momento em que ele estivesse no trabalho, não a deixando
sozinha e ajudando-a nas tarefas domésticas. Após a análise reflexiva dessa
informação, Bruna conseguiu questionar a sua crença de que o pai não sente
afeto por ela, concluindo que, se realmente não se importasse, ele não estaria
demonstrando tamanha preocupação. No final do atendimento, ela assinalou
uma melhora de humor, apesar da desesperança ainda presente, e relatou estar
aberta para fazer uma nova tentativa de ressignificação de sua vida, realizando
algumas mudanças de comportamento necessárias ao bem-estar de sua saúde
mental. Ainda na tarde desse mesmo dia (05 de fevereiro), a psicóloga da
Universidade foi novamente ao CAPS e conversou com a enfermeira do serviço,
sugerindo que a equipe discutisse a situação de Bruna e estabelecesse

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estratégias de trabalho que abarcassem a complexidade do caso. Também foi


solicitado que relatassem ao psiquiatra as queixas dela sobre cansaço, abulia,
lentidão e hipersonia.
No dia 10 de fevereiro, Bruna mais uma vez entrou em contato afirmando
que iria cometer suicídio naquele momento. Ao atender a ligação da psicóloga
da Universidade, relatou que já havia ingerido todos os seus medicamentos
psicotrópicos após situação de grave conflito com o genitor, que supostamente
a incentivou a cometer o suicídio e a expulsou de casa. Com a negativa da jovem
em pedir ajuda a alguém próximo, foi realizada tentativa de chamada ao SAMU
de Bananeiras. Os profissionais desse serviço indicaram a necessidade de a
chamada ser realizada por uma pessoa que estivesse na presença da jovem,
informando sobre o estado de saúde geral da mesma. Um técnico da
Universidade realizou visita à residência do genitor para verificar a situação, ao
passo que este afirmou que não tinha acontecido nenhum fato atípico naquele
dia e que a filha estava em “algum bar com as amigas” (sic). Ao conversar com
vizinhos, eles confirmaram que Bruna realmente não estava em casa, e que
houve uma discussão entre pai e filha.
A equipe do CAPS foi avisada da situação e fizeram uma tentativa de
visita domiciliar na manhã do dia 11 de fevereiro, porém não encontrou ninguém
em casa. A Coordenadora deste serviço, posteriormente, foi ao hospital
municipal e ratificou a informação de que Bruna, acompanhada de uma amiga,
fora atendida pela equipe e submetida ao procedimento de lavagem gástrica por
conta da ingestão indevida de medicamentos.
O CAPS antecipou a consulta psiquiátrica de Bruna para o dia 13 de
fevereiro. Neste dia, a psicóloga da Universidade e o psiquiatra do serviço de
saúde mental atenderam conjuntamente a jovem. Esta se apresentou chorosa,
com rebaixamento de humor e desesperança, marcas de automutilação recentes
e ainda com ideação suicida. Durante o atendimento, ela informou que não
estava mais na casa do pai e que agora morava com Maurício, seu atual

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companheiro. O rapaz, que a aguardava na recepção do CAPS, foi convidado a


entrar na sala de atendimento. Ele demonstrou estar ciente acerca da gravidade
da saúde mental de Bruna. Foi orientado a não a deixar sozinha em casa e
concordou em ficar com a guarda dos medicamentos psiquiátricos, regulando
também os horários indicados para o uso. Por fim, o psiquiatra recomendou
frequência semanal dela aos seus atendimentos no CAPS.
No período da tarde, ainda do dia 13 de fevereiro, houve uma reunião para
discussão do caso com a equipe da Universidade (psicóloga e assistente social),
equipe do CAPS (coordenadora, enfermeira e psicóloga) e coordenadora do
CREAS. Os encaminhamentos desse encontro foram os seguintes: 1) a equipe
da Universidade acompanhará a discente em sua vivência acadêmica,
identificando e atuando para minimizar possíveis dificuldades nesse percurso,
além de buscar incluí-la nas atividades coletivas e de promoção à saúde
organizadas pela instituição; 2) a equipe do CREAS se responsabilizou em fazer
visita domiciliar ao genitor e à genitora a fim de conscientizá-los sobre a situação
da filha, tentando resgatar e fortalecer os vínculos familiares; 3) as equipes do
CREAS e do CAPS farão visita à nova residência de Bruna para verificar a sua
situação e fortalecer o vínculo entre ela e os profissionais desses serviços; 4) a
equipe do CAPS oferecerá acompanhamento ao genitor, caso ele tenha
interesse, uma vez que o mesmo apresenta um quadro de uso abusivo de álcool;
5) Bruna passará por consulta psiquiátrica no CAPS uma vez por semana; 6) o
CAPS entrará em contato com Henrique, psicólogo da rede de saúde do
município, para acordar com ele atendimento psicológico regular a Bruna.

V – Considerações Finais:

A partir do exposto e do histórico de vida da discente, observa-se que se


trata de um caso grave de saúde mental e com grande possibilidade de
novas tentativas de suicídio. Seguindo o protocolo do Ministério da Saúde, a

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psicóloga da Universidade, ao constatar a gravidade e cronicidade do sofrimento


psíquico de Bruna, realizou encaminhamento para o serviço de referência do
SUS, apontado como responsável pelo acompanhamento e articulação do
cuidado de tais casos, o CAPS, conforme previsto na portaria nº 336, de 2002.
Considerando-se que os transtornos mentais são fenômenos complexos
e multifatoriais, conclui-se, portanto, a necessária construção de um plano
terapêutico singular que abarque as diferentes dimensões da vida da jovem,
incluindo a ingerência em situações sociais, a intensificação do cuidado
psiquiátrico e psicológico, a inserção da jovem nas atividades do CAPS em
regime de tratamento intensivo, o fortalecimento da rede de apoio comunitário e
intervenções no âmbito familiar, já que a fragilização dos vínculos com o núcleo
da família primária configura-se como um fator de risco significativo para a
intensificação do sofrimento emocional de Bruna. Para tanto, com o
gerenciamento do CAPS, outros setores da rede de apoio municipal também
precisam integrar esse plano de cuidado, a exemplo da Unidade de Saúde da
Família (à qual a família é vinculada), o CRAS e o CREAS.
Sem mais para o momento, colocamo-nos à disposição.

Bananeiras, 14 de fevereiro de 2019.

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Carla Jesus de Carvalho
Psicóloga
CRP 13/7894
SIAPE 1927568

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