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Defensoria Pública

de Mato Grosso do Sul

Informativo do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - NUDECA
ANO 1 - 2ª Edição | Mai/Ago 2017

Editorial
A violência e o abuso sexual da criança e do apoio às crianças e adolescentes vítimas de violência
adolescente é uma temática com amplitude mundial, o sexual, respondendo aos diversos questionamentos
que levou a Organização Mundial de Saúde a fazer da atinentes aos protagonistas envolvidos nestes crimes e
violência de crianças e adolescentes um problema de suas consequências.
saúde pública e da sua prevenção uma prioridade Esta edição exibe também o artigo “Reflexões
global. Problemática que, nas últimas décadas, tornou- sobre a violência sexual contra crianças e
se um campo vasto de estudos de diversas disciplinas, adolescentes” da professora doutoranda em psicologia,
com diferentes vertentes analíticas. Sandra Maria Francisco de Amorim, que aborda a
A violência sexual contra pessoas em questão da sexualidade, enfatizando a necessidade de
desenvolvimento implica no aproveitamento da trabalho de enfrentamento preventivo e multidisciplinar.
condição de vulnerabilidade daquele que a sofre e Do mesmo modo, o Grupo de Pesquisa do
configura violação grave dos direitos previstos no COMCEX/MS (Comitê de Enfrentamento da Violência e
Estatuto da Criança e do Adolescente, na Constituição de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescentes do
Federal, na Convenção das Nações Unidas sobre os Mato Grosso do Sul), composto pelos principais nomes
Direitos da Criança e em toda a legislação atinente aos de nosso Estado nesta área, contribui com o “Ensaio
direitos destes indivíduos. Pesquisas demonstram que sobre a prevenção da violação dos direitos sexuais de
o abuso sexual, na maioria das vezes, ocorre quando o crianças e adolescentes”, abordando, entre outros
“sujeito” se aproveita da relação familiar, de tópicos, a necessidade premente de políticas públicas
proximidade social ou da vantagem etária e econômica efetivas com o fim de combater a violência sexual,
para praticar a violência sexual. Já a exploração sexual especialmente das crianças e adolescentes. Na seção
comercial infantil é “todo tipo de atividade em que as “Livros” há a indicação de obras como: “Infâncias
redes, usuários e pessoas usam o corpo do menino, Escoadas”, resultado também de pesquisas do Grupo
menina ou adolescente para tirar vantagem ou proveito de Estudos COMCEX/MS; bem como na seção
de caráter sexual com base numa relação de “Opinião” observa-se os comentários da ativista
exploração comercial, de poder, conforme esclarece feminista negra Stephanie Ribeiro acerca de filmes
Maria Lúcia Pinto Leal1. impactantes que tratam do tema desta edição.
Esta edição consubstancia o início de uma série A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso
de Boletins Informativos, onde abordaremos a violência do Sul, através do NUDECA (Núcleo Institucional de
sexual de crianças e de adolescentes, destacando o Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do
papel das instituições sociais de apoio, que Adolescente), pautando-se nos princípios que norteiam
acompanham os diversos aspectos da problemática, o a Constituição Federal, possui entre seus propósitos a
drama e o trauma que assola os protagonistas desse atuação no enfrentamento da violência contra crianças
tipo cruel de “epidemia”, o funcionamento “antinatural” e adolescentes vítimas de abuso sexual e no resgate de
pertinente à violência sexual infantil intrafamiliar, bem sua cidadania.
como a “síndrome do segredo”, suas especificidades
nesses episódios ocultos e marcados por um pacto Aproveitem o conteúdo desta edição e boa
selado pelo medo. E mais, o desafio do resgate da leitura!
cidadania de quem já teve seus direitos violados e
formas de prevenir para que outras crianças e/ou
adolescentes não sejam vítimas desta abominável Marisa Nunes dos Santos Rodrigues
violência. Coordenadora do NUDECA
O presente Boletim Informativo conta com a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul
colaboração de expoentes na área como a assistente
social e dirigente da Associação do Movimento Mãe
Águia de Combate à Violência Sexual Cometida Contra
Crianças e Adolescentes, Daniela de Cássia Duarte, (1) LEAL, Maria Lúcia Pinto. A Exploração Sexual Comercial de
Meninos, Meninas e Adolescentes na América Latina e Caribe
que, na seção entrevista, destaca as atividades do (Relatório Final – Brasil). Brasília: CECRIA, IIN, Ministério da Justiça,
Movimento, pontuando de que forma atua no combate e UNICEF, CESE, 1999.
Entrevista
Movimento Mãe Águia

Daniela de Cássia Duarte é assistente social Graduada em Serviço Social pela Universidade Católica Dom
Bosco, especialista em Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente pela Universidade Estadual do
Paraná - UEPG, mestranda em Ciências da Educação, curso “Impactos da Violência na Saúde” –
FIOCRUZ, idealizadora da “Associação Movimento Mãe Águia de Combate à Violência Sexual Cometida
Contra Crianças e Adolescentes”, compôs a Coordenação do Colegiado do COMCEX/MS – Comitê de
Enfrentamento da Violência e de Defesa dos Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes de MS. Hoje atua
como Assistente Social na UBSF Mário Covas/SESAU/PMCG.

1. O que é o Movimento Mãe Águia? UAI’s – Unidade de Acolhimento Institucional,


DCD - O Movimento Mãe Águia é uma associação grupos operacionais com as famílias das crianças
civil sem fins lucrativos, de duração atendidas, atendimentos individuais e familiares,
indeterminada, caráter assistencial, social, oficinas educativas com as crianças (orientadas
atendimentos de saúde, educação em saúde, por Artista Plástico e Assistente Social),
educacional, cultural, de amparo às pessoas em orientações e encaminhamentos, convênios com
situação de risco ou vulnerabilidade pessoal e Instituições de Ensino Superior, supervisão de
social, e de combate à violência sexual cometida estágio nas áreas de Serviço Social e Psicologia,
contra crianças e adolescentes. mediação de conflitos familiares, organização de
Originou-se em decorrência da execução do festas comemorativas para as famílias atendidas e
Projeto de Mestrado: “O Movimento Mãe Águia de comunidade (Páscoa, Dia das Crianças, Natal),
Combate à Violência Sexual Cometida Contra elaboração de relatórios aos órgãos competentes
Crianças e Adolescentes”, desenvolvido com para devolutiva dos atendimentos efetuados,
famílias do Município de Campo Grande/MS, reuniões técnicas, estudos de casos, projetos e
tendo a indicação da constituição da Associação ações de prevenção, interlocução/reuniões
nas recomendações do trabalho de conclusão do intersetoriais, representatividade da Instituição em
curso “Ciências da Educação”. várias frentes/lutas, como: COMCEX/MS,
O início dos trabalhos se deu através dos COFAC/MS, Fórum Intersetorial Permanente de
atendimentos psicossociais com crianças e Saúde Mental, entre outras comissões e grupos de
adolescentes, no entanto, expandimos as ações e trabalho, participação da Instituição no Conselho
atualmente oferecemos o acolhimento, a Local de Saúde – Alves Pereira (representada por
psicoterapia personalizada, acompanhamentos uma mãe atendida), participação em
psicossociais, intervenções profissionais para a Conferências, Encontros, Colóquios, Seminários,
reintegração e pós-reintegração de crianças das a fim de integrar e articular a Instituição com o

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Sistema de Garantia de Direitos/Rede de Proteção
à Criança e ao Adolescente, objetivando a busca
de conhecimentos e informações, a fim de
melhorar a qualidade nos atendimentos prestados A sociedade de um modo geral
pela Associação, concomitante a isso supõe que os membros familiares
colaboramos com a construção coletiva nos
espaços da militância. e/ou conhecidos (amigos da família)
não seriam capazes de cometer
2. Quem são as pessoas atendidas no Mãe a violência sexual contra as crianças e,
Águia?
DCD - Como público prioritário efetuamos assim, os agressores se utilizam
atendimentos às crianças/adolescentes em dessas crenças facilitadoras”.
situação de violência sexual e suas famílias, mas
também oferecemos serviços ao denominado
público diferenciado que são mulheres adultas
vítimas de tentativa de suicídio (por violência 5. Pode-se de fato afirmar que as novas mídias
sexual na infância) e ainda a agressores (em fase contribuem para o aumento da violência e, por
de implementação), todos com horários outro lado, para as denúncias e
diferenciados. esclarecimentos à sociedade?
DCD - Sim. É comum que crianças e adolescentes
3. Como elas chegam até lá? possuam acesso fácil às redes sociais sem
DCD - A Instituição atende demanda espontânea, supervisão dos adultos no dia a dia, propiciando a
no entanto, 90 por cento das famílias atendidas interação com agressores que utilizam da internet
são encaminhadas pelo Sistema de Garantia de para a prática de crimes virtuais, o que também
Direitos/Rede de Atendimento à Criança e ao caracteriza-se como tipo de violência sexual.
Adolescente, como: Ministério Público; Vara da A criança/adolescente é aliciada para encontros
Infância, da Juventude e do Idoso; DEPCA; que facilitarão o crime (abuso e/ou exploração).
Conselhos Tutelares (Regiões Norte, Centro e Sul) Além disto, mencionamos, ainda, as redes sociais
e Defensoria Pública. Vale ressaltar que há um como um canal propício para o tráfico de pessoas.
número expressivo de casos encaminhados pelos Por conseguinte, o crescimento do índice das
equipamentos das Políticas de Saúde e denúncias se dá pelo aumento de canais de
Assistência Social, e um número menor pela informação, ações de prevenção e mobilizações
Política da Educação e outras Organizações não- dos atores sociais em campanhas educativas
governamentais. condizentes à temática a nível Nacional, Estadual
e Municipal. Embora alertamos a escassez de
4. Por que crianças e adolescentes são alvos políticas públicas efetivas de prevenção de crimes
fáceis da violência sexual? e de atendimentos às vítimas.
DCD - As crianças e adolescentes tornam-se alvos
fáceis do crime devido às vulnerabilidades 6. Pode-se afirmar que a violência sexual
socioeconômicas e emocionais em que se contra crianças e adolescentes aumentou na
encontram ou são submetidas, permitindo o atualidade ou se tornaram mais evidentes?
acesso fácil às mesmas. DCD - A violência sexual tornou-se mais evidente
Na maioria das vezes, a sociedade de um modo de acordo com o maior número de denúncias
geral supõe que os membros familiares e/ou efetuadas aos Conselhos Tutelares, DEPCA e
conhecidos (amigos da família) não seriam Disque 100 – Secretaria Nacional de Direitos
capazes de cometer a violência sexual contra as Humanos, os quais são os canais utilizados para o
crianças e, assim, os agressores se utilizam registro de denúncias. Levamos em consideração,
dessas crenças facilitadoras. ainda, a visibilidade que esta Instituição
Por não saberem como agir e por serem proporciona com as ações de prevenção
ameaçadas ou convencidas pelo agressor de que realizadas e demais trabalhos desenvolvidos
aquela é uma situação aceitável, elas se calam, sendo divulgados, o que possibilita maior interesse
além de sentirem-se culpadas e sujas. na questão social, posto que a temática é
Desta forma, reforçamos com as famílias específica da “violência sexual”.
atendidas a questão do cuidado para que não haja
reincidência dos abusos e o convívio do agressor 7. É possível traçar um perfil do autor da
com a criança, após a denúncia, ou seja, redobrar violência?
a atenção para que a criança não permaneça com DCD - Não é possível traçar um perfil real do
seus direitos violados, tendo a proteção agressor, isto porque na maioria das vezes são
necessária durante o acompanhamento membros da família, como genitor, padrasto,
psicossocial e demais atividades, amenizando os “avôdrasto”, tio, primo, irmão, amigo da família; de
traumas ocasionados pela violência. todas as classes sociais, credo, raça, religião.

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Sendo assim, em torno de 94 por cento dos normalidade, necessitando muitas vezes de uma
agressores são do convívio social e âmbito familiar avaliação minuciosa por profissionais
da criança. As vítimas e agressores, na maioria especializados da área de perícia médica no IMOL,
das vezes, convivem em ambientes onde a lesões como hematomas, mordidas ou lacerações
proximidade torna possível a realização da em mamas, pescoço, parte interna e/ou superior
violência sexual, pois eles conhecem a dinâmica das coxas, baixo abdome e/ou região de períneo,
familiar. sangramento vaginal ou anal, DST’s - doenças
Outro dado importante e comum no perfil dos sexualmente transmissíveis, como gonorreia,
agressores é a ingestão de bebidas alcoólicas e sífilis, HPV, clamídia, entre outras, aborto e
utilização de substâncias psicoativas, o que não gravidez na adolescência.
significa que todos os agressores possuam o O atendimento inicial multiprofissional
mesmo perfil. competente, bem como a adesão ao tratamento e
às condutas quanto à mudança nos fatores de
8. É possível traçar um perfil de criança e risco, uso correto das medicações, realização do
adolescente vítima de violência? Boletim de Ocorrência, acompanhamento médico,
DCD - Sim. É possível um olhar mais atento às Psicólogo e a avaliação/intervenção do/a
mudanças de comportamentos de crianças e Assistente Social são primordiais. E ainda os
adolescentes para a constatação de violências. O indicativos imateriais, tais como as questões
profissional de Serviço Social deve ser capacitado comportamentais como tristeza, isolamento, baixa
e especializado para a escuta qualificada e o autoestima, fuga, uso e abuso de drogas, evasão
psicólogo para o manejo da situação de violência e escolar, entre outros.
terem conhecimento da legislação e meios de
proteção legais e sociais existentes na rede de 10. Quais as consequências para a vida da
atendimento para a assistência às vítimas de vítima de violência sexual?
violência sexual, caso seja necessário. DCD - As consequências são as mais drásticas
Todas as faixas etárias da infância e adolescência possíveis, são traumas que acarretarão alteração
são acometidas com maiores prevalências nas na formação da personalidade e em sua
idades compreendidas entre 02 e 13 anos, com sexualidade, tanto na adolescência, quanto na
proporções equivalentes entre os sexos. As fase adulta. O ato gera marcas permanentes,
adolescentes de 13 a 17 anos, as quais estavam sejam elas biológicas ou psicológicas. Ocorrerão
em situação de exploração sexual, revelaram o vários tipos de doenças (inclusive atingindo a
abuso, ou seja, a violação de direito na fase da saúde mental), gravidez na adolescência, inibição,
primeira infância (até 06 anos) ou na infância (até agressividade e tentativa de suicídio.
11 anos e 11 meses – 12 anos). Existem ainda outras consequências psíquicas
como agitação, hiperatividade, alteração
9. Como identificar sinais indicativos da comportamental, alteração do sono, dificuldade de
violência sexual? relacionamento, falta de confiança no outro,
DCD - Existem os indicativos materiais e os angústia, ansiedade, aversão, baixa autoestima,
imateriais. comportamento sexual exacerbado, crises de
Indicativos materiais: caso o primeiro atendimento choro, desatenção, desconfiança, insegurança,
ocorra nos serviços de saúde, todo médico dificuldade de lidar com frustração, dor no
pediatra precisa estar apto a decodificar os sinais e estômago, estresse, irritação, medo de ficar
sintomas que a criança e a adolescente trazem sozinha ou sair sozinha, nervosismo, palidez,
consigo. Necessitam ser proficientes na escuta, no prostração, rebeldia, vergonha, transtorno
exame clínico e nos encaminhamentos para o alimentar e depressão.
tratamento. Os sinais específicos (embora nem Há muito ainda a ser feito e conhecido na área para
sempre presentes), os sintomas e sinais de lesão se atuar na prevenção dos fatos e muito mais no
física são conclusivos no diagnóstico de abuso atendimento dos casos. Existe a necessidade de
sexual e mesmo apenas com uma suspeita devem que os direitos previstos no ECA passem da teoria
solicitar a intervenção do/a enfermeiro/a ou do/a para a prática, com medidas e ações mais efetivas.
assistente social para a realização da notificação Todos os profissionais das redes (de atendimento
de violência, cumprindo o protocolo. e socioassistencial) necessitam de Educação
Há que se levantar o diagnóstico de violência Permanente para identificar e intervir nesses
sexual sempre que se encontra: lesões em região casos, bem como conhecer as leis e seus serviços,
genital, edema, hematomas ou lacerações em para se ter uma visão mais ampla e projetar
região próxima ou em área genital, como partes medidas conjuntas que tenham maior eficiência,
internas das coxas, grandes lábios, vulva, vagina, além de Políticas Públicas que atendam as
região escrotal ou anal, tanto em meninas como famílias em sua integralidade, objetivando a
em meninos, dilatação anal ou uretral, ou superação das vulnerabilidades para que possam
rompimento de hímen, mas esses nem sempre desempenhar suas funções protetivas perante as
são sinais evidentes dentro das variações da crianças e adolescentes.

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Artigo

Reflexões sobre violência sexual


contra crianças e adolescentes
Por Sandra Maria Francisco de Amorim*

A infância e a adolescência são construções


sociais, históricas, culturais e relacionais que
durante séculos foram vistas e faladas apenas
pela voz e olhar dos adultos. Abordar as questões
ligadas à violência sexual sofrida por esse
segmento da população requer uma
contextualização de reflexões sob vários aspectos
a fim de que haja um comprometimento de todos
os segmentos da sociedade para o seu
enfrentamento e garantia dos direitos.

Construção histórica da infância e


adolescência
A criança recebe o estatuto de “criança”
instituído por meio de políticas sociais introduzidas
pelo Estado, apenas a partir do século XVIII. Ariès
(1988) nos apresenta um estudo aprofundado das
políticas e motivações governamentais na
instituição histórico-social da criança e da família,
apontando que até o início da época moderna a
criança passava a ser independente, cuidar de si
mesma e frequentar o mundo dos adultos como
igual por volta dos sete anos.
O processo de infantilização se inicia a partir
de um interesse acentuado pela educação da
criança, desenvolvido pelo Estado, com objetivos fim de se tornar, amanhã, um adulto completo e
de assegurar uma população adulta saudável, bem conformado. Esta concepção de criança
adaptada e produtiva. Essa política aguça o permanece viva na atualidade e permeia teorias
interesse dos eclesiásticos e higienistas, que se psicológicas, pedagógicas, educacionais, entre
apresentavam antes de tudo como moralistas. A outras, que subsidiam as políticas, projetos e
família deixa de ser capacitada a educar os filhos e ações governamentais em nossas sociedades
estes passam a ser educados sob a tutela da ocidentais (Vilhena, 1992).
escola. “A aprendizagem tradicional foi substituída Da mesma forma, a adolescência adquiriu
pela escola, uma escola transformada, diferentes configurações no decorrer da história
instrumento de disciplina severa, protegida pela das civilizações. Ariès (1978) nos mostra como na
justiça e pela política" (Ariès, 1988, p. 277). sociedade tradicional, até o século XVIII, o
A partir desse momento, a criança passa a indivíduo passava da condição de criança para
ser considerada um ser inacabado, objeto de adulto, sem passar pelas etapas consideradas,
normas submetidas a uma hierarquia rigorosa a posteriormente, como adolescência. Este sujeito

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crescia misturado aos adultos, aprendia sobre a participar da sociedade e de se preparar
vida e como comportar-se socialmente, através do profissionalmente, transformou-se, em nossa
contato direto com eles. Apenas a partir do século sociedade, em direito adquirido. O Estatuto da
XIX a adolescência passou a ser definida com Criança e do Adolescente (1990) materializa
características específicas, que a diferenciassem exatamente a expressão legal do ser criança e
adolescente.
da infância e da idade adulta.
Concordamos com Jobim e Souza quando
Já no século XX, Rama (1988) afirma que o
afirmam que crianças e adolescentes no contexto
adolescente, embora apto para a procriação, em
atual têm de ser compreendidos em termos
função de sua maturação sexual, e apto para a
processuais e como seres relacionais “a partir dos
produção social, em virtude de sua maturação
posicionamentos assimétricos a que são
física e mental para trabalhar, não se encontra
submetidos no confronto com as expectativas e
reconhecido nem habilitado pela sociedade para
demandas do mundo dos adultos em relação a
desempenhar estes papéis. Vive então um período
elas” (2008, p.12).
de “latência social”, caracterizado pela
ambivalência entre a potencialidade e a
Infância, Adolescência e Sexualidade
possibilidade de fato, permeadas por grandes
contradições. Merece destaque as diferenças de
Nogueira Neto (2008) afirma que a
representação da adolescência entre classes
sexualidade humana deve ser reconhecida e
sociais de uma mesma sociedade. Se a juventude
garantida como um dos direitos fundamentais da
implica num tempo de moratória, esse tempo
pessoa. Destaca ainda que a liberdade afetivo-
apresenta um custo econômico que apenas
sexual de crianças e adolescentes “tem o seu
setores mais favorecidos da sociedade podem
exercício limitado pelas leis em função da sua
sustentar.
peculiar condição de desenvolvimento
Em seu trabalho A emergência da
biopsicossocial”, mas que os direitos sexuais
concepção moderna de infância e adolescência,
devem ser garantidos de maneira emancipatória e
Santos (1996) afirma que
não castradora (2008, p.57).
[...] os conteúdos e significados sociais — A sexualidade humana possui uma ampla
papéis, funções e atributos — da infância e dimensão e, em cada momento do
adolescência são singulares e dotados de desenvolvimento, apresenta características
características próprias em cada época, singulares. A sexualidade de crianças, negada por
sociedade e cultura. [...] Concorrem para o
séculos, e ainda hoje em muitos contextos,
estabelecimento de variações
intraculturais os cortes de gênero, etnia, apresenta diferenças significativas em relação à
contexto urbano/ rural e mesmo o porte sexualidade adulta e não pode ser
das cidades. Cada sociedade e cultura desconsiderada. Da mesma forma que a
constroem uma escala de valores que sexualidade de adolescentes deve ser
confere importâncias distintas a cada fase compreendida em toda sua amplitude e não
da vida e define as idades privilegiadas ou
reprimida ou tratada de forma negativa.
paradigmáticas. (p. 151)
É a partir da psicanálise freudiana, na sua
A concepção moderna de infância e teoria do desenvolvimento psicossexual, que as
adolescência, fundada no pressuposto de que são reflexões acerca da sexualidade infantil ganham
pessoas em desenvolvimento, portanto, objetos espaço. Cada momento do desenvolvimento é
de proteção especial e sujeitos de direitos, marcado por características peculiares que são
alcançaram um grau de universalidade bastante processadas pela criança ou adolescente,
hegemônico nos países com sociedades produzindo registros psíquicos das suas vivências.
industriais modernas de culturas ocidentais e Destaca-se que sexualidade não é sinônimo de
economia ‘desenvolvida’ (Santos, 1996). Apesar genitalidade.
de ter sido adotada como paradigma oficial na A não diferenciação entre vivência e
definição de normativas legais em âmbito expressão da sexualidade em diferentes faixas
internacional, esta concepção não vem se etárias, desconsiderando que crianças,
efetivando de forma igualitária a todas as adolescentes e adultos têm distintas
populações. características físicas, psicológicas e sociais,
A dimensão da infância e adolescência como interferem no desenvolvimento de uma
tempo de brincar e estudar, de aprender a sexualidade saudável. Da mesma forma, a

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negação da sexualidade da infância e desses sujeitos é sempre presente, em maior ou
adolescência traz sérios prejuízos à garantia de menor amplitude.
direitos. No Brasil, país que ocupa os primeiros
Nesse contexto cabe ainda destacar que a lugares, quando se trata de desigualdades, temos
nossa sociedade é facilitadora de violação dos assistido a situações extremas de violações de
direitos por ser conivente com relações sociais direitos com diversos grupos considerados
explicitamente desiguais fundamentadas na vulneráveis, em especial, as crianças e
repressão sexual, no patriarcalismo, na violência adolescentes, expostos a todo tipo de
de gênero, etnia e raça, na apartação social, na expropriação de direitos, o que exige do Estado e
supremacia do mercado, da propriedade e do da sociedade mobilização e articulação que
abuso do poder do adulto contra a criança e o atentem para essas realidades.
adolescente. Essa sociedade, ao mesmo tempo Há décadas tem sido mencionado, como
em que se mostra repressora, permite tanto a uma das dificuldades na implementação do ECA, a
comercialização do sexo de crianças e pouca mobilização da sociedade para o exercício
adolescentes, como a banalização do mesmo do controle social e tem se proposto como
(Libório e Castro, 2008, p. 52). estratégia “envolver a sociedade civil para o
O ECA, no seu art. 3º, determina que: exercício qualificado do controle social na
universalização dos direitos da criança e
A criança e o adolescente gozam de todos adolescente”. É essa mobilização que
os direitos fundamentais inerentes à pretendemos quando abordamos de modo
pessoa humana, sem prejuízo da proteção provocativo e reflexivo um tema que a sociedade
integral de que trata esta Lei,
tem insistido “olhar sem ver”. O silêncio e as
assegurando-se-lhes todas as
oportunidades e, a fim de lhes facultar o negações perpetuam a violência e o sofrimento
desenvolvimento físico, mental, moral, daqueles que têm seus direitos expropriados por
espiritual e social, em condições de não terem o “status” de pertencimento a algum
liberdade e de dignidade. grupo.
O ECA, tanto no seu artigo 5º - nenhuma
A negação da sexualidade e a criança ou adolescente será objeto de qualquer
desconsideração pelas suas características forma de negligência, discriminação, exploração,
compatíveis com as diferentes idades violência, crueldade e opressão - como no Cap. II -
caracterizam-se como violação de direitos de Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade,
crianças e adolescentes. garante às nossas crianças e adolescentes o
princípio da igualdade.
A violência sexual contra crianças e O desenvolvimento de uma cultura de
adolescentes direitos humanos na sociedade brasileira esbarra
em desafios de diversas ordens, especialmente no
A violência sexual contra crianças e que se refere à superação do abismo das
adolescentes está inserida em um cenário desigualdades e desrespeito a diversidade,
ambivalente, entre a legislação instituída e o contramão do que preconizam os marcos legais.
desrespeito institucionalizado. Para Amorim Na análise dessa questão queremos
(2005), a violência sexual de crianças e enfatizar a dimensão subjetiva sobre a qual se
adolescentes manifesta-se de forma complexa, assentam valores, ideias, sentimentos e atitudes
apresentando dimensões que podem ser que legitimam ou invalidam as práticas sociais que,
analisadas separadamente, mas que, para uma como tais, favorecem ou mutilam os direitos
verdadeira compreensão do fenômeno, devem ser humanos. Isso nos remete à reflexão “pessoal”
entendidas articuladamente. São diversos os sobre quais práticas temos assumido em nossos
fatores determinantes do fenômeno, todos contextos de trabalho e inserção social que
dialeticamente relacionados na composição da coadunam com a proliferação da cultura do
intrincada estrutura social. respeito aos direitos humanos e quais aquelas que
A violência sexual, seja na forma de abuso direta ou indiretamente colaboram com a
ou de exploração, repercute na vida de crianças e manutenção da violação de direitos de pessoas ou
adolescentes, causando danos que não podem grupos.
ser generalizados em sua forma e extensão. Há Como seres humanos, contraditórios e
consenso que o impacto no desenvolvimento instáveis, temos a capacidade de estabelecer

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princípios, leis e declarações e também a ser humano, através do processo de
capacidade de contradizê-los. Conceber o outro internalização. Ao nascermos, entramos em
diferente de nós, como tendo direitos iguais, contato com um mundo socialmente organizado,
parece ser muito difícil na nossa cultura, na qual num determinado tempo histórico, que provoca um
discursos prescritivos, normativos e higienistas se mergulho num mar de significados que nos
mantem atrelados às ações voltadas para o chegam, ao longo da nossa vida, através do outro.
controle, especialmente das crianças e Tornamo-nos nós mesmos através dos outros.
adolescentes. Será através das relações que vamos
Temos que nos preocupar com nossas estabelecendo em nossa história de vida que nós
crianças e adolescentes que em sua peculiar teremos a possibilidade de integrarmos
condição de desenvolvimento estão em processo progressivamente nas relações sociais e, por meio
de formação da identidade, de princípios e valores. delas, aprendemos a nos reconhecer como
Temos que nos preocupar com o que a nossa sujeitos.
sociedade vem passando para as futuras Quem é para nós, então, essa criança, esse
gerações, principalmente de modo silencioso e adolescente que se constrói por meio das relações
omisso. Estamos convocados a explorar a nossa da sua vida com os outros? É o sujeito concreto
“humanidade” não só no que se refere às nossas que se caracteriza basicamente por sua condição
capacidades organizativas, ainda que com de ser social, de ser histórico e finalmente sua
avanços e recuos. Temos o dever de sensibilizar e condição de pertencer à natureza, mas poder se
mobilizar a sociedade para a construção e diferenciar dela, através das suas possibilidades
monitoramento de políticas, que rompam com a de produzir meios de sobrevivência, que serão as
lógica excludente que temos assistido em muitos matrizes geradoras de todas as relações humanas
contextos. Mas, sobretudo, estamos convocados estabelecidas e, consequentemente, da produção
a explorar nossos sentimentos, pensamentos, da cultura e do conhecimento.
atitudes, comportamentos diante da diversidade. Se temos essa compreensão sobre a
As questões acima nos ajudam a construção da subjetividade na criança e o
compreender o contexto em que emerge a adolescente, torna-se necessário enfrentar com
violência sexual de crianças e adolescentes diante clareza e coragem o fenômeno da violência sexual.
de um emaranhado de fatores tão complexos e No que se refere à prevenção e ao enfrentamento
desafiantes. A partir dessa reflexão cabe então a da violência sexual, algumas estratégias merecem
pergunta: Como todos nós – sociedade, família e destaque:
atores da rede de proteção – devemos enfrentar
essas questões? • Elaboração de políticas públicas mais eficientes
Não há respostas simples, mas uma delas para grande parte da população que se
pode ser através da Psicologia ao descrever os encontra em situação de extrema pobreza e
fenômenos psicológicos através da categoria da exclusão social, dado que a violência estrutural
subjetividade. A subjetividade é constituída e é um dos fatores responsáveis pelo enorme
constantemente ressignificada nas e pelas número de crianças e adolescentes envolvidos
mediações sociais, presentes ao longo da vida do em casos de exploração sexual no Brasil;
• Construção de uma rede de proteção
articulada;


• Manutenção das crianças e adolescentes no
sistema educacional;
• Análise dos fatores psicossociais das famílias;
• Incentivo do protagonismo infanto-juvenil;
Temos que nos preocupar • Compreensão da Educação como parte
com o que a nossa sociedade fundamental de medidas preventivas no âmbito
das políticas públicas;
vem passando • Formação e capacitação continuada dos
profissionais da área da saúde, do Judiciário, da
para as futuras gerações, educação e da assistência social;
principalmente de modo • Promoção de trabalhos na área da orientação
sexual para crianças e adolescentes nos
silencioso e omisso”. diferentes níveis de ensino;

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• Enfrentamento das práticas culturais e permita a eles a elaboração de sua identidade,
tradicionais que autorizam e banalizam a autonomia e capacidade de ação para poder
exploração sexual de crianças; usufruir da sua sexualidade plenamente na vida
• Reflexão permanente sobre a matriz moral e adulta.
religiosa que direciona o comportamento de É preciso que tenhamos clareza que
muitos profissionais, em dissonância com as proteger é permitir a emancipação. É necessário
normativas legais, especialmente no que se que crianças e adolescentes sejam sujeitos ativos
refere aos direitos sexuais e reprodutivos; das suas histórias e não meros objetos de
• Revisão e reformulação de valores intervenção por parte daqueles que tutelam ou de
socioculturais associados à sexualidade e aos satisfação daqueles que violam os seus direitos,
papéis sexuais, passando a ver a sexualidade incluindo os direitos sexuais.
não mais como genitalidade, mas sim como
expressão da personalidade do ser humano;
• Os processos educativos e formativos devem
priorizar a perspectiva de gênero, de classe *Sandra Maria Francisco de Amorim é psicóloga, graduada
social e etnia e dessa forma desarticular a pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro –
violência em suas diversas manifestações; PUC/RJ, mestre em psicopatologia e psicologia clínica pelo
• Dentro do processo de escolarização formal, é ISPA, Lisboa-Portugal, com título revalidado pela
lembrado que as propostas de educação sexual Universidade de Brasília – UNB, doutoranda em psicologia
não devem privilegiar somente o conhecimento pelo ISPA/IU – Lisboa-Portugal. É professora adjunta do
objetivo, mas sim a experiência vivencial que Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas da
subsidie modificações efetivas na maneira de Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, atua
lidar com a sexualidade; principalmente com os temas: direitos humanos, políticas
• Adequar a educação formal aos novos públicas, saúde mental, infância, adolescência e violência.
desenhos de família brasileira (monoparental,
formada a partir de dois adultos do mesmo REFERÊNCIAS
sexo);
• E, finalmente, inserir a discussão da AMORIM, S. M. F. Reflexões sobre o enfrentamento da
exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. In:
sexualidade na perspectiva dos Direitos SILVA, A.S.; SENNA, E.; KASSAR, M. (org.) Exploração
Humanos. sexual comercial de crianças e adolescentes e tráfico
para os mesmos fins: contribuições para o enfrentamento a
partir da experiência de Corumbá-MS. Brasília: OIT, 2005.
Na nossa cultura ainda prevalecem as
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de
concepções adultocêntrica (focada no desejo do Janeiro: Zahar Editores, 1978.
adulto e no controle das populações infanto-
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal
juvenis) e androcêntrica (centrada na figura nº 8.069/90.
masculina). Nesse contexto, talvez o maior dos
JOBIM E SOUZA, S. Criança e adolescente: construção
desafios seja equacionar a tensão entre histórica e social nas concepções de proteção, direitos e
proporcionar maior autonomia a crianças e participação. In: ABMP; CHILDHOOD. Criança e
adolescente: direitos e sexualidade. Caderno de Fluxos e
adolescentes, especialmente na expressão da de Textos. São Paulo, 2008, 7-15.
sexualidade, considerando as peculiaridades do
LIBÓRIO, R.; CASTRO, B. M. Exploradores sexuais, pedofilia
desenvolvimento e possibilitar práticas que e sexualidade. Reflexões para o enfrentamento da violência
facilitem a omissão daqueles que deveriam sexual contra crianças e adolescentes. In: ABMP;
proteger e/ou a impunidade daqueles que violam CHILDHOOD. Criança e adolescente: direitos e
sexualidade. Caderno de Fluxos e de Textos. São Paulo,
os direitos de crianças e adolescentes, muitas 2008, 44-55.
vezes responsabilizando-os por isso.
NOGUEIRA NETO, W. Direitos afetivo-sexuais da infância e
Como é possível constatar, essa não é uma da adolescência: o papel dos Conselhos de Direitos. In:
tarefa fácil e nem que dependa apenas de alguns ABMP; CHILDHOOD. Criança e adolescente: direitos e
sexualidade. Caderno de Fluxos e de Textos. São Paulo,
segmentos sociais, mas é de todos nós, 2008, 56-67.
comprometidos com o ECA, que determina que
SANTOS, B. R. A Emergência da Concepção Moderna de
todas as crianças e adolescentes devem ter uma Infância e Adolescência. Dissertação de Mestrado em
proteção especial, portanto, a vivência de um Ciências Sociais - Antropologia, PUC-SP, 1996.
processo de desenvolvimento e socialização
satisfatórios, na sua comunidade de origem, que

ANO 1 - 2ª Edição | Mai/Ago 2017 09


Artigo
Ensaio sobre a prevenção da violação
dos direitos sexuais de crianças e adolescentes
Grupo de Pesquisa do COMCEX/MS*

O Comitê Estadual de Enfrentamento da adolescentes e jovens, garantidas as diversidades


Violência e Defesa dos Direitos Sexuais de locais, como etnorraciais, orientações sexuais,
Crianças e Adolescentes – COMCEX/MS, atuante identidades de gênero, geracional, origens
desde 1995, conta com a participação de territoriais, culturais, deficiências, religiosas,
organizações governamentais, movimentos migratórias, nacionalidades, opções políticas,
sociais e organizações não governamentais. Tem dentre outras.
na Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso Embora organizado por eixo, as ações
do Sul uma parceira estratégica para a garantia devem ser articuladas entre si, pois ocorrendo a
dos direitos humanos de crianças e adolescentes, falha em algum deles todo o enfrentamento fica
posto que sua missão institucional e sua comprometido. Assim, pensar os eixos é um
capilaridade em todos os municípios são exercício de focalizar as ações na perspectiva de
fundamentais para que em cada localidade haja atuar conjuntamente com os demais. Nesse texto,
mobilização para essa temática. o exercício que estamos propondo é problematizar
Os direitos sexuais de crianças e as possibilidades e os desafios da prevenção da
adolescentes têm planos nas três esferas do violação dos direitos humanos sexuais de crianças
Estado Brasileiro, visando a sua implementação, e adolescentes.
organizados nos seguintes eixos (BRASIL, 2013): A promoção dos direitos de crianças e
1 - Prevenção; adolescentes (1º eixo do Plano Decenal dos
2 - Atenção; Direitos de Crianças e Adolescentes) define duas
3 - Defesa e Responsabilização; diretrizes para a sua efetivação: a promoção da
4 - Comunicação e Mobilização Social; cultura do respeito e da garantia dos direitos
5 - Participação e Protagonismo; humanos de crianças e adolescentes no âmbito da
6 - Estudos e Pesquisas. família, da sociedade e do Estado e a
Esse instrumento deve ser o resultado de universalização do acesso às políticas públicas de
um amplo debate envolvendo todos os segmentos qualidade, que garantam os direitos humanos de
da sociedade, especialmente crianças, crianças, adolescentes e suas famílias, e

10 ANO 1 - 2ª Edição | Mai/Ago 2017


contemple a superação das desigualdades, posto. E, ainda, que seja com base em
afirmação da diversidade com promoção da conhecimentos científicos a partir da ótica dos
equidade e inclusão social (BRASIL, 2013). A direitos humanos.
promoção é o âmbito mais abrangente e mais Prevenir a crueldade da violência sexual,
efetivo para garantir direitos e, talvez, o mais manifestada tanto no abuso quanto na exploração
desprestigiado, já que exige uma mudança cultural pelo trabalho no mercado sexual, dentre tantos
profunda que cumpra o Estatuto da Criança e do desafios, significa promover o protagonismo
Adolescente no que se refere à prioridade absoluta infanto-juvenil na perspectiva de que possam
e a condição peculiar de pessoa em aprender a dizer “sim” e “não” diante do assédio de
desenvolvimento. pessoas mais velhas, sobretudo acessar
No atual momento político e econômico informações confiáveis de como identificar as
mundial, as localidades vivenciam o aumento das situações de violações. É possibilitar condições
desigualdades e a precarização dos serviços. dos infantes de se desenvolverem
Com isso, as políticas sociais básicas como prazerosamente em esporte, cultura e lazer, ou
saúde, educação, segurança pública, assistência seja, efetivarem direitos à plenitude do que é
social e habitação sofrem cortes orçamentários próprio da fase da vida em que estão. Mais que
impeditivos para sua efetivação. Além dessas isso, significa desenvolver vínculos, afetos,
citadas, políticas como cultura, lazer e esporte, grupalizações em que crianças e adolescentes
fundamentais para o desenvolvimento das sintam-se com liberdade e instrumentos para a
potencialidades infanto-juvenis, passam a ser busca de informações, pertencentes aos círculos
consideradas “supérfluas” em tempos de crise e, de cuidado e respeitados em suas necessidades.
portanto, descartáveis. A prevenção é uma responsabilidade da
Em não ocorrendo a promoção de direitos na sociedade adulta nas suas diferentes formas de
amplitude e no acesso às garantias universais, a organização como as políticas sociais, as
prevenção passa a ter um papel preponderante organizações da sociedade civil, as famílias,
que desafia a todas as organizações e instituições religiosas e o empresariado. Nenhum
movimentos, visando mitigar violações de direitos desses citados está isento da obrigação de fazê-la
e, no caso dos direitos sexuais, há que se e isso está fartamente registrado no Estatuto da
considerar que ocorre por: negligência das Criança e do Adolescente que tem por base a
políticas públicas e da família em informações e Constituição Federal de 1988.
proteção; discriminação por orientação sexual e Com todos os desafios colocados acima,
identidade de gênero ou por gravidez; violências ainda há um dos maiores que é o enfrentamento
de gênero e de geração no que se refere à das desigualdades que promovem violações de
erotização precoce; opressão religiosa e não direitos como o caso do machismo, racismo e a
acesso às informações seguras e livres de erotização mercantil. É do mundo dos movimentos
preconceito, como também a crueldade do abuso de direitos de crianças e adolescentes que vem a
sexual, da exploração no mercado sexual denúncia desses fundamentos que mantêm e
(SCANDOLA, et al, 2016, p. 56). aprofundam as violências, movimentos estes que
Atuar sobre esses diferentes âmbitos é uma também constroem caminhos para o
das missões da prevenção. O primeiro âmbito da enfrentamento. Atualmente tem significado o
prevenção ocorre por territórios locais com a discurso sobre a vigilância permanente de tudo o
presença de diferentes políticas sociais e onde que cerca as crianças, adolescentes e jovens,
vivem as famílias. Na saúde, educação, mais especialmente do mundo da música, das
assistência social e outras áreas de atuação não festas, programas televisivos e de rádio, internet,
se pode permitir nenhum tipo de negligência em eventos e dos empreendimentos de infraestrutura.
informações e proteção dos direitos sexuais de Já se sabe que é preciso estar presente
crianças e adolescentes. A garantia de que não desde o planejamento prevendo o impacto sobre
haja discriminação e/ou intolerância deve ser uma os direitos de crianças e adolescentes. Rádios e
pactuação permanente entre todas as TVs são concessões públicas e grande parte dos
organizações. Acolher demandas apresentadas eventos culturais e de lazer tem apoio financeiro
por todos, questionar preconceitos, denunciar as também governamental. Por isso, o Estado tem
discriminações por orientação sexual, o responsabilidade com as ocorrências das
fundamentalismo religioso e anunciar a garantir violências, assim como os empresários.
que os direitos sexuais estejam no currículo, A atuação da Rede de Garantia de Direitos
projetos, capacitações..., enfim, no cotidiano dos manifestada pelas políticas sociais e da Teia de
serviços e instituições é um dos desafios que está Garantia de Direitos composta pelas comunidades

ANO 1 - 2ª Edição | Mai/Ago 2017 11


tem, no entanto, atuação limitada, pois os desafios vinculada ao Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
estão postos, em grande parte pelo poder Adolescente (CEDCA/MS), e ponto focal do Comitê Nacional,
tendo caráter consultivo, propositivo e mobilizados.
econômico e político vigente, cujo amálgama do Participaram da elaboração do presente artigo os seguintes
poder ideológico banaliza a violação de direitos. membros do COMCEX/MS:
Por isso, há que se mobilizar para que o Sistema - Antonio Henrique Maia Lima é advogado e professor,
de Garantia de Direitos, composto pelos doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, participa de pesquisas nas áreas de
Conselhos de Direitos, Tutelares, Ministério direitos humanos e direitos sexuais da criança e do
Público, Defensoria Pública e Poder Judiciário adolescente.
envolvam-se decisivamente na prevenção das - Estela Márcia Rondina Scandola é assistente social,
violações de direitos. educadora e pesquisadora da Escola de Saúde Pública e da
Universidade Católica Dom Bosco, doutoranda em Serviço
REFERÊNCIAS Social, feminista, militante dos direitos humanos, membro do
CONATRAP pela Rede Feminista de Saúde.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República - Giany Conceição da Costa é assistente social da Secretaria
Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro de Assistência Social de Campo Grande/MS, atua no Centro
Gráfico, 1988. 292 p. de Referência Especializado para população em situação de
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei Federal rua (CENTRO POP), militante dos direitos humanos,
nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa especialmente crianças e adolescentes e pessoas em
Oficial, 2002. situação de rua.
BRASIL. Plano Nacional Decenal dos Direitos Humanos - Maria Beatriz Almeidinha Maia é fonoaudióloga da Secretaria
de Crianças e Adolescentes. Instituído pela Resolução n.º Municipal de Saúde, especialista em saúde mental e militante
161, de 03 de dezembro de 2013. dos direitos humanos da população em situação de rua e
SCANDOLA, Estela et al. Posicionamento (político) usuários de álcool e outras drogas, feminista e redutora de
conceitual da exploração sexual de crianças e adolescentes danos filiada a ABORDA.
(ESCA). In. COMCEX/MS. Infâncias Escoadas: estudos no - Rosana Santos de Oliveira é terapeuta ocupacional com pós-
setor sucroalcooleiro, nas fronteiras e na BR-163. graduação em Saúde da Família, atua no Instituto Casa da
Dourados-MS: UEMS, 2016. Cultura Afro-brasileira (ICCAB), militante da Defesa da
Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes do
Movimento Negro.
** Acesse o e-book em: http://www.uems.br/editora - Tânia Regina Comerlato é psicóloga, pós-graduada em
Gênero e Políticas Públicas, militante dos direitos humanos de
* O Comitê de Enfrentamento da Violência e de Defesa dos crianças e adolescentes, pesquisadora e gestora de ações
Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes de Mato Grosso sociais da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul,
do Sul (COMCEX/MS) é a instância estadual desta temática, Conselheira do CEDHU/MS.

Livros

INFÂNCIAS VIOLÊNCIA SEXUAL


ESCOADAS CONTRA CRIANÇAS
E ADOLESCENTES

Autoria: Grupo de Pesquisa do COMCEX/MS


Editora: Universidade Estadual de MS, 2016
Resumo: A obra Infâncias Escoadas é fruto de Autor: Maria Regina Fay de Azambuja; Maria
diversas pesquisas coletivas realizadas no âmbito Helena M. Ferreira; Colaboradores
do COMCEX/MS. É o resultado do trabalho de Editora: Artmed
doze pesquisadores e instituições envolvidas com
o tema. Trata-se de estudos efetivados a respeito Resumo: As diversas faces da violência sexual
da exploração sexual de crianças e adolescentes contra crianças e adolescentes analisadas por
em diversas regiões do Estado de Mato Grosso do uma equipe multidisciplinar de mais de 50
Sul. É um posicionamento conceitual compatível especialistas.
com a contemporaneidade da ESCA, inserindo as
discussões de gênero e sobre o mercado sexual.

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Opinião
Em recente publicação no site Huffpostbrasil, Stephanie Ribeiro tece comentários pontuais
acerca de filmes sobre a exploração de crianças e adolescentes, inclusive a sexual.
Vale a pena conferir!

6 filmes para entender por que


a exploração infantil é um problema no Brasil
Por Stephanie Ribeiro *
Postado em 04/11/2016, 13:43-02 - Atualizado 27/04/2017 14:40 – 03

DIVULGAÇÃO 1. Nascidos em Bordéis (2004)

“Recentemente, na minha conta pessoal do É necessário demarcar a diferença entre as


Facebook, postei uma matéria que mostra fotos de mulheres que se prostituem porque querem e entre
bordéis em Bangladesh, denunciando a violência aquelas que fazem isso porque precisam e são de
a que estão sujeitas as mulheres que se alguma forma obrigadas a isso.
prostituem nesses ambientes. Depois disso, Além disso, existe uma disparidade ainda
infelizmente, vi pessoas dizendo que tais maior entre prostituição e exploração sexual de
situações são distantes da realidade que vemos menores, que apresenta números alarmantes.
aqui no Brasil, o que me deixou muito indignada. Segundo a UNICEF, a cada hora 228 crianças - e
O documentário Nascidos em Bordéis, único principalmente meninas - são exploradas
filme feito na Índia desta lista, é uma denúncia da sexualmente em países da América Latina e do
situação que aquelas mulheres vivem, em um local Caribe.
onde a extrema pobreza e as questões morais e
O perfil das mulheres e meninas exploradas
religiosas as levam a esse único lugar, que é o da
sexualmente aponta para a exclusão social desse
prostituição, onde, consequentemente, seus filhos
grupo, a maioria é negra e vem de classes baixas.
têm pouquíssimas chances, nenhum estudo e,
Por fim, no Brasil, 50% das vítimas de estupro são
para suas meninas, pouco resta a não seguir o
crianças de até 13 anos.
caminho da prostituição.
Isso é na Índia. Mas no Brasil não e tão Falar sobre algumas realidades que
diferente como alguns pensam. Existem muitas envolvem a prostituição no Brasil não significa
produções cinematográficas nacionais que fazem criminalizar e odiar prostitutas, até porque muitas
o papel de denunciar as reais questões de gênero mulheres começaram sendo exploradas
que acometem mulheres. A prostituição e sexualmente ainda muito jovens. Essa é uma
exploração sexual de menores não são escolhas, realidade onde marcadores sociais como classe,
e sim consequências de um mundo de raça e gênero se interseccionam na possibilidade
desigualdade social, racial e de gênero. Abaixo, ou não de algumas mulheres e meninas de ter
listei alguns deles: acesso e escolhas.

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2. Anjos do Sol (2013) negras no Brasil, falar de mérito no nosso país ou
Anjos do Sol tem como foco a exploração supor que racismo e machismo não existem chega
sexual comercial de crianças e adolescentes, o a ser cruel. Esse filme também tem seu roteiro
enredo se passa no interior do Maranhão, onde a baseado em fatos reais.
personagem Maria (Fernanda Carvalho) com doze
anos é vendida pela família para trabalhar como 4. Iracema: Uma Transa Amazônica (2006)
empregada doméstica e ter portanto uma vida A narrativa de Iracema é muito mais próxima
melhor. de um documentário experimental. Ela é uma
Contudo, Maria cai nas mãos de um aliciador jovem de 15 anos, com traços indígenas, que
de menores, que a vende para uma cafetina chega em Belém com a festa do Sírio de Nazaré.
interessada em comercializar meninas virgens A menina então passa a se prostituir e em um
para homens. Após ser vendida para um coronel, a bar conhece Tião, um caminhoneiro que a leva
menina é estuprada por ele e pelo seu filho como junto com ele pela Rodovia Transamazônica
forma de "iniciá-lo" sexualmente. Depois desse recém-construída. Por fim, a relação que vai se
fato ela é enviada para um prostíbulo num garimpo desenhando é abusiva. Iracema é muitas vezes
onde passa a ser estuprada diariamente por tratada como burra pelo explorador de menores e
diversos homens. Uma das suas colegas, Inês companheiro de viagem, que a deixa pelo
(Bianca Comparato), é assassinada brutalmente caminho. A exploração da menina é naturalizada.
por tentar fugir, já Celeste (Mary Sheila) está Iracema, após o abandono do "parceiro" acaba se
grávida e não sabe quem é o pai e por fim uma das vendo em várias situações trágicas colocadas pela
garotas que fazem parte dessa sua nova realidade prostituição: desde ser presa, agredida, e inclusive
tem AIDS, já que no local não se usa preservativos. enganada. Tião reencontra Iracema suja, alterada
O diálogo mais triste do filme é quando Maria pelo uso de drogas e sem um dente, repetindo a
pergunta para Inês, porque homens fazem isso frase: "Fica comigo Tião".
com ela, se ela não gosta. Enquanto aperta o
próprio ventre, pois sente dor. É quase um 5. Baixio das Bestas (2012)
documentário, um retrato real da violência sexual Baixio das Bestas é um dos filmes mais
contra crianças e adolescentes, não atoa se diz viscerais e cruéis que eu já assisti. Auxiliadora
baseado em fatos reais e tem como fim a prova (Mariah Teixeira) é explorada sexualmente pelo
que uma menina de doze anos, analfabeta e seu avô Heitor que também é seu pai, na zona da
explorada sexualmente, não tem outra saída a não Mata Pernambucana.
ser se prostituir, seja no garimpo, no Rio de A menina de 16 anos é levada por ele para
Janeiro, nas estradas com caminhoneiros. Esse ficar nua em um posto da estrada. Caminhoneiros
filme demarca algo relevante de ser destacado, pagavam para vê-la nua enquanto se
que o cafetão da história é também um pedófilo masturbavam. Em alguns momentos eles pagam
que abusa, se envolve e prostitui menores de para tocar na menina, sem seu consentimento.
idade. Contudo, o avô não aceita que tirem sua
virgindade. Fato esse que ele mesmo confere que
3. Sonhos Roubados (2015) seja mantida.
Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda O filme tem diversas cenas de estupro, o
Diniz) e Sabrina (Kika Farias) são as protagonistas primeiro de uma prostituta pelo doentio Everardo
desse filme, negras, pobres e faveladas, que (Matheus Nachtergaele), que é tido como
fazem da prostituição algo corriqueiro de suas intelectual. Ele a estupra e a agride com pontapés
vidas numa favela carioca. Tem temas muito fortes na cabeça. Depois ele estupra uma segunda
sendo tratados o primeiro o abuso sexual dentro prostituta coletivamente com seus amigos. Bela
de casa por familiares, a maternidade na (Dira Paes) é agredida e estuprada com um
adolescência negra e pobre, o abandono paternal, bastão.
a prostituição como única possibilidade de renda Por fim, Auxiliadora é estuprada pelo
para sustentar filhos, a imposição estética branca estudante Cícero (Caio Blat) e agredida pelo
e a busca por se enquadrar e o desejo por afeto avô/pai que acredita que ela é "impura" por não ser
enquanto mulher e negra. A miséria no meio de mais virgem. O destino de Auxiliadora é a
uma das cidades mais ricas do país, meninas prostituição, a jovem de 16 anos é a única
menores de idade que trocam seus uniformes personagem que ao longo do filme não tem falas,
escolares por roupas curtas e decotadas e se sua voz é ausente ao longo das horas de filme.
prostituem. Tudo naquela realidade em que Esse filme diz muito sobre um país onde grande
sonhos são roubados, a vida de meninas que têm parte dos estupros vitimam menores de idade.
responsabilidades de adultos.
Jéssica é o destaque para mim, mas esse 6. O Céu de Suely (2006)
filme é o que indico sempre que algumas pessoas Hermila (Hermila Guedes) tem 21 anos,
querem "entender" a realidade de mulheres nasceu e foi criada na pequena cidade de Iguatu,

14 ANO 1 - 2ª Edição | Mai/Ago 2017


Ceará, na Região Nordeste do Brasil. Grávida,
tenta a vida em São Paulo com o namorado. Expediente
Meses depois, não conseguindo emprego, volta à
sua cidade natal. Aguarda por um mês o retorno do
namorado, pai da criança, que some, sem deixar
pistas.
Ao perceber que foi abandonada, resolve
mais uma vez fugir daquele lugar, mas, desta vez, Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul
para o Rio Grande do Sul, onde talvez existam Defensoria Pública-Geral do Estado
Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos
condições melhores. Sem dinheiro para a viagem, da Criança e do Adolescente – NUDECA
ela adota o pseudônimo de Suely e resolve rifar o
próprio corpo entre os homens da cidade. O Luciano Montalli
melhor do filme é a cena final em aberto, nunca Defensor Público-Geral do Estado
saberemos o que aconteceu com Suely, mas Júlia Fumiko Hayashi Gonda
aposto com quase absoluta certeza que mesmo no 1ª Subdefensora Pública-Geral
Rio Grande do Sul a sua única opção seria a
Angela Rosseti Chamorro Belli
prostituição. 2ª Subdefensora Pública-Geral
Muitos dizem que Hermila foi a caminho da
sua liberdade, o que me fez colocar esse filme logo Marisa Nunes dos Santos Rodrigues
Defensor Público Estadual de MS
após o Baixio das Bestas na lista, já que Coordenadora do NUDECA
Auxiliadora demonstra se libertar do avô na
prostituição.
Porém, mesmo que coloquem de uma forma Informativo do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente da Defensoria Pública de
"bonita", é triste como as chances são fadadas e Mato Grosso do Sul – NUDECA - Ano 1 - Edição nº 2 |
nulas. Por isso trouxe por último esse filme, que, Maio/Agosto 2017 - Campo Grande - MS
mesmo não sendo sobre uma menor de idade, diz Redação, organização textual e revisão ortográfica:
muito sobre a realidade de meninas que são mães Glaucia Silva Leite
Assessoria / NUDECA
e carregam inúmeras responsabilidades desde
cedo.” Arte e Diagramação:
Moema Urquiza
Assessoria / ESDP

* Stephanie Ribeiro: Estudante de Arquitetura da PUC de Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e
Campinas (SP) e ativista feminista negra. do Adolescente - NUDECA
Rua Raul Pires Barbosa, 1.519 - Bairro Chácara Cachoeira
** Fonte: www.huffpostbrasil.com/stephanie-ribeiro/6-filmes- 79040-150 - Campo Grande-MS
para-entender-po-que-a-exploracao-infantil-e-um-prob_a- E-mail: nudeca@defensoria.ms.def.br
Fone: (67) 3317-4171
21699960/

ANO 1 - 2ª Edição | Mai/Ago 2017 15

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