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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2016, Vol.

24, nº 2, 727-741
DOI: 10.9788/TP2016.2-18

Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema


de Garantia de Direitos

Suane Pastoriza Faraj1


Entidade Palotina de Educação e Cultura, Santa Maria, RS, Brasil
Aline Cardoso Siqueira
Dorian Mônica Arpini
Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil

Resumo
O artigo aborda a rede de proteção às crianças e adolescentes a partir do olhar dos profissionais que
atuam no eixo da defesa no Sistema de Garantia de Direitos. O objetivo desse estudo foi conhecer e com-
preender o funcionamento da rede de proteção às crianças e aos adolescentes em situação de violência.
Foi realizada uma pesquisa qualitativa, com a utilização de entrevistas semi-estruturadas, as quais foram
realizadas junto a Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente, Ministério Público e Conselhos
Tutelares de uma cidade de porte médio do interior do Rio Grande do Sul. Os resultados indicam que os
profissionais tem clareza do trabalho em rede e de seu funcionamento como estratégia para a superação
da fragmentação do trabalho. No entanto, ao mesmo tempo, destacaram a importância do fortaleci-
mento do diálogo e de espaços de aproximação entre os diferentes órgãos que compõem o Sistema de
Garantia de Direitos, como forma de superar as lacunas existentes. As considerações finais destacam a
importância da construção de novos dispositivos de trabalho superando o isolamento que teria marcado
as práticas profissionais e a formação dos diferentes núcleos, a fim de promover o atendimento integral
preconizado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Palavras-chaves: Violência contra criança e adolescente, garantia de direitos, rede de proteção.

Network of Protection: The Look of Profissionals


Rights Protection System

Abstract
The aim of this study is to know the perception of the prosecutor, the chief of police and child protection
agents about the network of protection developed for children and adolescents facing a situation of
violence. Five professionals were interviewed and the emerging data evidence that, through permanent
dialogue and communication among its members, the network represents joint efforts, aiming to
guarantee and protect the rights of children and adolescents. The need of strengthening the network was
identified, especially, through dialogue among its agents, so as to promote the integral care recommended

1
Endereço para correspondência: Duque de Caxias, nº 2232, Apto. 302, Bairro Centro, Santa Maria, RS, Brasil
97015-100. E-mail: suanef@yahoo.com.br
Este artigo é um recorte da dissertação de mestrado intitulada “A notificação da violência, o atendimento
psicológico e a rede de proteção da criança e do adolescente: o olhar de profissionais do Sistema de Garantia de
Direitos” de autoria de Suane Pastoriza Faraj, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade
Federal de Santa Maria.
728 Faraj, S. P., Siqueira, A. C., Arpini, D. M.

in the Statute of the Child and Adolescent (SCA). Strategies for consolidation and reinforcement of the
network of protection are discussed.
Keywords: Violence against children and adolescents, guarantee of rights, network of protection

Red de Protección: La Mirada de Profesionales del Sistema


de Garantía de Derechos

Resumen
En este artículo se aborda la red de protección a los niños y adolescentes bajo la visión de los profesiona-
les que trabajan en el eje de la defensa en el sistema de garantía de derechos. El objetivo de este estudio
fue conocer y comprender el funcionamiento de la red de protección para los niños y adolescentes en
situación de violencia. Fue realizada investigación cualitativa a través de entrevistas semi-estructuradas,
las cuales fueron hechas con la Policía de Niños y Adolescente, el Ministerio Público y Consejos Tutela-
res de una ciudad de porte medio el interior de Río Grande do Sul. Los resultados indican que los profe-
sionales están seguros de que el trabajo en red y su funcionamiento son una buena estrategia para superar
la fragmentación del trabajo. Sin embargo, al mismo tiempo, subrayaron la importancia de fortalecer
el diálogo y los espacios de acercamiento entre los diferentes organismos que conforman el sistema de
protección de derechos como una forma de superar las carencias existentes. Las consideraciones finales
destacan la importancia de la construcción de nuevos dispositivos de trabajo superando el aislamiento
que ha marcado las prácticas profesionales de los diferentes núcleos de formación, con la finalidad de
promover la atención integral que preconiza el Estatuto del Niño y del Adolescente (ECA).
Palabras clave: Violencia contra los niños y adolescentes, garantía de los derechos, red de seguridad.

Na atualidade, as crianças e os adolescen- Percurso Histórico dos Direitos


tes são considerados sujeitos em condições pe- e Políticas Voltadas para a Infância
culiares de desenvolvimento e têm seus direitos e Adolescência
assegurados pelo Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA, 1990, Lei nº 8.069/1990). Esta Os direitos da criança e do adolescente na
legislação preconizou a doutrina da proteção legislação brasileira vêm sendo construídos no
integral e instituiu mudanças significativas na decorrer da história, assim como as políticas pú-
política de atendimento voltada para a criança e blicas de proteção destinadas a esta população.
adolescente, especialmente aqueles em situação As crianças e os adolescentes não foram reco-
de violência. Um longo caminho tem sido tri- nhecidos como sujeitos de direitos na socieda-
lhado para se romper com as antigas práticas de de e no ordenamento jurídico brasileiro até a
cuidado às crianças e aos adolescentes, as quais Constituição Federativa de 1988 (V. P. Faleiros,
tinham caráter essencialmente assistencialista. A 2004; V. P. Faleiros & Faleiros, 2008). A preo-
constituição de uma rede de proteção, que reú- cupação em relação à população infantil e juve-
ne ações conjuntas e articuladas no atendimento nil, do período colonial até a metade do século
voltado para a infância e adolescência, repre- XIX, esteve voltada para a assistência, com cará-
senta um avanço no campo da proteção integral ter eminentemente caritativo e religioso, destina-
(Rizzini, Rizzini, Naiff, & Batista, 2007). Para da àquelas crianças e adolescentes considerados
compreender no que consiste e quais são as atri- rejeitados e/ou abandonados (Rizzini & Rizzini,
buições da rede de proteção, é importante conhe- 2004). As Câmaras Municipais eram responsá-
cer o percurso histórico dos direitos da criança e veis, formalmente, pela assistência a esta parcela
do adolescente, bem como as políticas públicas da população, no entanto, a proteção era delega-
voltadas a essa população. da a outros serviços ou instituições através do
Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema de Garantia de Direitos. 729

estabelecimento dos convênios com as Santas gumas iniciativas foram realizadas pelo Esta-
Casas de Misericórdia e contratos firmados com do após a Proclamação da República em 1889,
as denominadas amas-de-leite. Com relação às como a criação das casas correcionais para os
crianças abandonadas, muitas foram acolhidas menores (termo usado para referir-se à criança
por famílias ou indivíduos, correspondendo a um e ao adolescente até o Estatuto da Criança e do
sistema informal de proteção (Marcílio, 2006). Adolescente), que tinham como objetivo corrigir
As primeiras instituições formais, que sur- o comportamento desviante ou transgressor. A
giram no século XVIII, foram as Rodas dos Ex- criação dos tribunais especiais, do Conselho de
postos, os Recolhimentos para meninas e os Se- Assistência e Proteção aos Menores e do Abrigo
minários para meninos (Marcílio, 2006). A Roda de Menores também se destacam como ações es-
dos Expostos constituía-se em: tatais importantes neste período (V. P. Faleiros,
um dispositivo onde se colocavam os bebês 2004; V. P. Faleiros & Faleiros, 2008). A par-
que se queriam abandonar. Sua forma cilín- tir do início do século XX, questões referentes
drica, dividida ao meio por uma divisória, à conceituação da infância e às suas condições
era fixada no muro ou na janela da institui- sociais e jurídicas, assim como o atendimento a
ção. No tabuleiro inferior e em sua abertura esta parcela da população, começaram a ser re-
externa, o expositor depositava a crianci- pensados (Azambuja, 2011; Marcílio, 2006).
nha enjeitada. A seguir, ele girava a roda e O século XX foi marcado por três legisla-
a criança já estava do outro lado do muro. ções voltadas para as questões referentes à infân-
Puxava-se uma cordinha com uma sineta, cia e adolescência: o Código de Menores de 1927
para avisar a vigilante ou rodeira que um (Decreto nº 17943-A, de 12 de outubro de 1927),
bebê acabava de ser abandonado e o expo- o Código de Menores de 1979 (Lei nº. 6.697, de
sitor furtivamente retirava-se do local, sem 10 de outubro de 1979) e o ECA (Lei nº. 8.069,
ser identificado. (Marcílio, 2006, p. 55) de 13 de julho de 1990). O primeiro estabeleceu
Nesse período, não estava em vigência ne- a “Doutrina do Direito Penal do Menor”, sendo
nhuma lei de proteção a essas crianças. Inclusi- seu foco a criança e o adolescente “menor aban-
ve, nas duas primeiras Constituições Brasileiras donado” ou “delinquente”. Através deste códi-
- a Constituição Imperialista de 1824 e a Consti- go, a assistência e a proteção dos abandonados
tuição Republicana de 1891 – houve uma omis- e delinquentes passaram a ser assumidas pelo
são com relação à proteção da criança e do ado- Estado. O estabelecimento de um processo es-
lescente. O código criminal do Império (1830), pecial para julgar os menores delinquentes com
por sua vez, estabeleceu que os menores de qua- idade entre 14 e 18 anos incompletos, excluindo
torze anos não poderiam ser submetidos a penas, a responsabilidade penal aos menores de quator-
a menos que os juízes determinassem, sendo ze anos também foi priorizado neste código (V.
recolhidos nas Casas de Correção, não ultrapas- P. Faleiros, 2004; Mendes, 2008; Rizzini, 2002).
sando os dezessete anos de idade (Azambuja, No âmbito penal, no ano de 1940, foi aprovado o
2011; Rizzini, 2002; C. M. A. Santos, 2005). Já Decreto-Lei nº 2.848 que instituiu o Código Pe-
o Código Penal de 1890, em relação à respon- nal Brasileiro, que está em vigor até o momen-
sabilidade penal da criança, parece ter sido um to, estabelecendo a imputabilidade penal a partir
retrocesso, uma vez que estabeleceu o limite de dos 18 anos.
nove anos de idade. Essa legislação presumia o Um instrumento social, o Serviço de Assis-
recolhimento a estabelecimentos disciplinares tência ao Menor (SAM), instituído através do
de adolescentes com idades entre quatorze e vin- Decreto-lei nº 3.733/41, voltado para a assistên-
te um anos incompletos, quando avaliados como cia à criança e ao adolescente, surgiu em 1941.
“vadios” (Azambuja, 2011; Marcílio, 2006). O SAM tinha o intuito de oferecer apoio aos me-
Em torno da década de 1870, a assistência nores carentes, abandonados e infratores, preve-
à infância, apesar de ainda ter aspectos carita- nindo a criminalidade infantil por meio de ações
tivos, evoluiu para um caráter filantrópico. Al- educativas, porém o que predominou foram as
730 Faraj, S. P., Siqueira, A. C., Arpini, D. M.

ações de caráter mais repressivo e corretivo (V. crática. Surgiu nesse cenário um documento
P. Faleiros & Faleiros, 2008; Rizzini, 2002). intitulado Estatuto da Criança e do Adolescente
Nas décadas de 40 e 50, no âmbito inter- (1990), que altera a concepção dos direitos das
nacional, tem-se documentos e acordos relacio- crianças e dos adolescentes, fruto de uma intensa
nados à infância, entre eles, a Declaração dos mobilização da sociedade civil. Nesse cenário,
Direitos Humanos, proclamada em 1948 pela surgiu também a Constituição Federativa do
Organização das Nações Unidas (ONU), estabe- Brasil de 1988 – chamada de Constituição Cidadã
lecendo que todo ser humano é um ser de direitos – a qual alterou a direção da história dos direitos
e a Declaração dos Direitos da Criança, procla- da criança e do adolescente, reconhecendo-os
mada em 1959, também pela ONU (Azambuja, como sujeitos com direitos e garantias, ante-
2011). Na década de 60, o Estado brasileiro tor- cipando o que se encontraria dois anos mais
nou-se o responsável principal pela assistência tarde no texto do ECA (Fonseca, 2004). Como
e proteção à infância pobre e desviante. A Lei complementou Fonseca (2004), o novo estatuto
nº 4.513 de 1º de dezembro de 1964 instituiu não foi fruto apenas do clima político brasileiro,
a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor mas também fez parte de um movimento mundial,
(FUNABEM) na esfera nacional. Mais tarde, que alterou em muitos países a legislação sobre
em âmbito estadual, foram criadas as unidades as crianças e adolescentes como a Convenção
da Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor dos Direitos da Criança das Nações Unidas
(FEBEMs), que estavam voltadas quase que (1989), a Lei do Bem Estar da Criança de 1987,
exclusivamente para a reclusão do adolescente o Estatuto Africano do Bem-Estar da Criança de
que cometia um ato infracional (Marcílio, 2006; 1987, o Código Inglês da Criança de 1989, entre
C. M. A. Santos, 2005). A FUNABEM tinha outros documentos. Fica claro que as mudanças
como objetivo inicial instituir o Anti-SAM, ten- ocorridas no Brasil refletiram os debates, fóruns
do autonomia administrativa e financeira para e as mudanças ocorridas no cenário internacio-
formular e implantar a Política Nacional do nal em relação aos direitos das crianças. Neste
Bem-Estar do Menor (Rizzini & Rizzini, 2004; cenário, destacou-se também o tratado interna-
C. M. A. Santos, 2005). A prevenção e o contro- cional aprovado pela Assembleia Geral das
le dos menores por meio de ações voltadas para Nações Unidas no ano de 1989, instituído
a repressão e a punição estavam instituídos na pela Convenção Internacional dos Direitos da
FUNABEM e as FEBEMs visavam ao cumpri- Criança, elaborado pela ONU. A convenção
mento das providências indicadas pelo Juiz (C. apontou uma série de direitos fundamentais das
M. A. Santos, 2005). crianças, influenciando a concepção da infância
No ano de 1979, foi promulgado o segundo e adolescência que passa a ser identificada na
Código de Menores, que revogou a “Doutrina legislação brasileira (Azambuja, 2011). O ECA
do Direito Penal do Menor” e estabeleceu a (1990) definiu uma política de atendimento dos
“Doutrina do Menor em Situação Irregular”. direitos da criança e do adolescente através de
Esse Código de Menores também não estava um conjunto articulado de ações governamentais
voltado para todas as crianças e adolescentes, e não governamentais, rompendo com as práticas
mas apenas para aqueles que se encontravam assistencialistas e filantrópicas, dando origem ao
nas situações descritas como irregulares, entre Sistema de Garantia de Direitos.
eles, as vítimas de maus tratos, as vítimas da Os caminhos trilhados no percurso histórico
omissão dos pais ou responsáveis e os autores de dos direitos e políticas de atendimento à criança
infração penal. A Lei preconizava que o “Juiz de e ao adolescente foram importantes para alcançar
Menores” poderia decidir, de maneira autoritária os direitos e a atual atenção preconizada à esta
e isolada, a situação da criança/adolescente em população. Contudo, assegurar os direitos preco-
situação irregular (Giaqueto, 2006). nizados no ECA é um desafio que exige rupturas
Destaca-se contudo, que durante os anos de com relação ao modelo anteriormente vigente e
1980 e 1990, o Brasil viveu um momento histó- o desenvolvimento de novas práticas (França &
rico importante sobretudo pela abertura demo- Ferreira, 2012; Lima & Veronese, 2012).
Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema de Garantia de Direitos. 731

O Sistema de Garantia de Direitos: o eixo de controle é composto pelos organismos


Perspectiva de uma Atuação em rede da sociedade civil representados nos fóruns de
direitos e outras instâncias não-governamentais,
O Sistema de Garantia de Direitos (SGD) assim como os conselhos de direitos e de políti-
é resultado de uma grande mobilização marca- cas setoriais (Aquino, 2004).
da pela constituição de 1988 (Constituição da A prática do Sistema é consolidada através
República Federativa do Brasil, 1988) e pela de redes de proteção que visam à promoção do
promulgação do ECA (1990). Ele garante tanto atendimento integral às necessidades da popula-
os direitos universais a todas as crianças e ado- ção infanto-juvenil (Aquino, 2004). A “noção de
lescente como a proteção especial para aqueles rede”, segundo Aquino (2004) “permite traduzir
que foram ameaçados ou violados em seus di- com mais propriedade a trama de conexões inte-
reitos. Este sistema se constitui através da inte- rorganizacionais em que se baseia o sistema de
gração de um conjunto de atores, instrumentos e garantia dos direitos de crianças e adolescentes”
espaços institucionais formais e informais com (p. 329), tendo em vista que abrange a comple-
papéis e atribuições específicas e definidas no xidade das relações acionadas pelos atores de
ECA (1990). cada organização para garantir os direitos. Deste
Os parâmetros para a instituição e o for- modo, as redes de proteção representam “o as-
talecimento do SGD foram preconizados pela pecto dinâmico do sistema, conformado a partir
Resolução nº 113, de 19 de abril de 2006, do das conexões entre atores que compartilham um
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do sentido de ação” (Aquino, 2004, p. 329).
Adolescente (CONANDA). De acordo com esta A literatura aponta que, de modo geral, o
resolução, o SGD é responsável por colocar to- trabalho em rede envolve uma construção co-
das as crianças e adolescentes a salvo de todas as letiva através de relacionamentos, negociações,
formas de violações de direitos e garantir a apu- interesses compatíveis, acordos, movimentos de
ração e reparação dessas” (art. 2). Neste sentido, interação e também de adesão (Moreira, Muller,
o Sistema está estruturado em três eixos estraté- & Da Cruz, 2012). As ações em rede abrangem
gicos: promoção, defesa e controle da efetivação a recepção e o encaminhamento propriamente
dos direitos. O eixo da promoção dos direitos é dito dos casos, discussão dos casos por todos
formado por órgãos governamentais e não go- os profissionais envolvidos no atendimento,
vernamentais que atuam através da formulação acesso aos prontuários e processos judiciais,
e implementação de políticas públicas voltadas visitas interinstitucionais (acolhimento residen-
para o atendimento à criança e ao adolescente. cial ou institucional, fórum, escola, domicilio),
Neste eixo, trabalham os órgãos que executam debates tematizados, participação em espaços
as políticas públicas nas áreas da educação, saú- de discussão política e troca de saberes e expe-
de, assistência social, entre outros, bem como os riências (Lorencini, Ferrari, & Garcia, 2002).
conselhos partidários de deliberação sobre as di- Deste modo, exercer a articulação da rede im-
retrizes dessas políticas, as entidades públicas e plica agendas em comum, tanto para o desen-
privadas de prestação de serviços e os Conselhos volvimento de acordos em relação aos desafios e
de Direitos da Criança e do Adolescente (Aquino, ações, como para o acompanhamento dos casos
2004; Baptista, 2012). O eixo da defesa, formado e avaliações de fluxos (Conselho Federal de Psi-
pelo Judiciário, Ministério Público, Secretarias cologia [CFP], 2012). Nesse sentido, a rede de
de Justiça, Conselheiros Tutelares e órgãos de de- proteção representa uma nova forma de atenção
fesa da cidadania, visa assegurar o cumprimento voltada para a infância e adolescência, que visa
e a exigibilidade dos direitos estabelecidos na le- à atuação integrada e articulada das instituições,
gislação, responsabilizando de maneira judicial, órgãos e atores que atuam no atendimento de
administrativa ou social às famílias, ao poder crianças, adolescentes e suas famílias (Oliveira,
público e ou à própria sociedade pela violação Pfeiffer, Ribeiro, Golçalves, & Ruy, 2006). A
destes (Aquino, 2004; Baptista, 2012). Por fim, possibilidade da prática de redes permite “repen-
732 Faraj, S. P., Siqueira, A. C., Arpini, D. M.

sar formas instituídas de atuação e buscar formas tério Público de um município do Rio Grande
instituintes, que rompam com as práticas tradi- do Sul, órgãos integrantes do SGD. Participaram
cionais, como a busca ativa, a transversalidade do estudo, três conselheiros tutelares, um dele-
de saberes, a articulação com movimentos so- gado de polícia, um promotor de justiça, totali-
ciais” (Grossi, Perdersen, Vincensi, & Almeida, zando cinco participantes. O critério de inclusão
2012, p. 274). adotado foi ser promotor de justiça que atua na
A importância do atendimento em rede para Promotoria Especializada de Defesa da Infância
o enfretamento do fenômeno da violência, bem e Juventude, delegado de polícia da Delegacia
como, para a efetividade das ações de proteção de Proteção à Criança e ao Adolescente e con-
das crianças e adolescentes é discutida pela li- selheiro tutelar no exercício da função de coor-
teratura (Azambuja, 2011; E. T. Faleiros, 2003; denador. Dois conselheiros tutelares possuíam
Faraj & Siqueira, 2012; Furniss, 1993; Lopes, Ensino Superior completo, sendo um especialis-
Silva, Dias, & Arpini, 2012; Rizzini et al., 2007; ta em psicopedagogia. Um operador do direito
Sanderson, 2004/2005). A articulação dos ór- era mestre em direito e outro especialista na área
gãos, instituições e atores que atendem a criança da infância e juventude pela Escola Superior
e adolescente em suspeita ou situação de viola- do Ministério Público. O tempo de atuação dos
ção de direitos faz-se necessária, pois ações iso- profissionais nos órgão variou de dois a 17 anos.
ladas e fragmentadas não se mostram suficientes Para manter os cuidados éticos, principalmen-
na prevenção, na responsabilização do agressor te no que se refere ao sigilo dos participantes,
e no atendimento da vítima (Ipollito, 2004). optou-se por não identificar o sexo e a atividade
Além disso, podem causar um dano adicional à profissional dos participantes. Dessa forma, os
criança e ao adolescente, acentuando o trauma profissionais entrevistados serão apresentados
da situação de violência (Furniss, 1993; Sander- da seguinte forma: P1, P2, P3, P4, P5.
son, 2004/2005).
Apesar da atual legislação voltada para a Instrumento
infância e adolescência buscar romper com as Foram realizadas entrevistas semi-estrutu-
antigas práticas presentes no percurso histórico radas a fim de se obter em profundidade as ex-
e estudos científicos apontarem a importância do periências dos profissionais que atuam nos casos
atendimento em rede, pesquisas vêm mostrando de violação dos direitos da criança e o adoles-
a falta de articulação das instituições e dos órgãos cente, realizando-se uma troca dinâmica entre
que integram a rede (Faraj & Siqueira, 2012; Lo- o entrevistador e o entrevistado, promovendo a
pes et al., 2012). Considera-se que a efetivação coleta de informações baseada no livre discur-
dos direitos e a superação das situações de vio- so deste (Bleger, 1993). Os eixos que nortearam
lência requerem o conhecimento e a reflexão de as entrevistas foram: percepção acerca da pro-
atores que compõem a rede. Neste sentido, este blemática da violação dos direitos de crianças e
estudo objetivou conhecer a percepção dos pro- adolescentes no município; conhecimento dos
fissionais que atuam no eixo da defesa acerca da serviços que compõem a rede de proteção; en-
rede de proteção nos casos acompanhados pelo caminhamentos que são realizados; definição de
Sistema de Garantia de Direitos. rede de proteção; percepção acerca do funciona-
mento da rede no município; órgãos que com-
Método põem a rede; como o profissional se insere na
rede; e, percepção sobre o papel do Sistema de
Delineamento e Participantes Garantia de Direitos.
Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter
descritivo e exploratório realizado nos Conse- Procedimentos e Considerações Éticas
lhos Tutelares (leste, centro e oeste), Delegacia A pesquisa foi respaldada na Resolução
de Proteção à Criança e ao Adolescente e Minis- nº 466 do Conselho Nacional de Saúde (2012)
Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema de Garantia de Direitos. 733

e na Resolução nº 016 do CFP (2000) que re- Resultados e Discussão


gulamentam a pesquisa em seres humanos. O
estudo foi apresentado aos órgãos e após a auto- “O Estatuto é um Divisor de Águas”:
rização de cada órgão, o projeto foi submetido Mudanças de Paradigma na Atenção
ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Ins- à Infância e Adolescência
tituição onde as pesquisadoras atuam. Com a Esta categoria apresenta dados referentes
aprovação do projeto de pesquisa pelo CEP, via às mudanças acerca da política de atendimento
Plataforma Brasil (protocolo CAAE número voltada para a infância e adolescência a par-
04974412.4.0000.5346), os profissionais foram tir do ECA (1990) na visão dos entrevistados.
contatados e as entrevistas foram agendadas e A partir dos relatos, pode-se identificar que os
realizadas individualmente no local de trabalho participantes percebiam o avanço que o ECA
dos participantes e com duração de aproxima- (1990) representou na promoção dos direitos e
damente uma hora. No momento da entrevista, na atenção oferecida à infância e à adolescência.
foi estabelecido o rapport, foram esclarecidos Nesse sentido, alguns profissionais assinalaram
os objetivos da pesquisa e foi solicitado à as- que a promoção dos direitos das crianças e dos
sinatura do Termo de Consentimento Livre e adolescentes, em especial dos que vivenciaram
Esclarecido. Após este momento, iniciou-se a uma situação de violência, está atrelada à oferta
entrevista propriamente dita e o gravador foi de políticas públicas e uma atuação em rede, na
acionado. qual o funcionamento implicava investimento da
esfera pública, conforme observado nas falas:
Análise dos Dados O Estatuto é um divisor de águas, principal-
As entrevistas foram transcritas na ín- mente no âmbito jurídico. Então, nós demo-
tegra e analisadas qualitativamente (Bardin, ramos, digamos assim, bastante no âmbito
1977/2011). Num primeiro momento, realizou- jurídico pra evoluir nessa percepção de que
-se uma análise de cada entrevista individu- crianças e adolescentes não são adultos
almente, através de uma leitura atenta e deta- menores, né. E sim são pessoas que estão
lhada e num segundo momento, procedeu-se em condições peculiares e que precisam de
a análise da totalidade do material obtido com uma proteção diferenciada. (P4)
as entrevistas. Essa análise detalhada permitiu . . . a promoção dos direitos só vai conse-
a construção das categorias, as quais foram se guir existir no momento em que existir uma
delineando considerando a frequência com que estrutura no município para garantir esses
a temáticas se fizeram presentes, se tornaram direitos . . . não adianta eu receber uma
significativas e a força discursiva com a qual os demanda . . . uma notificação de violência
participantes abordaram determinados temas, ou até mesmo de alguma outra coisa se eu
dando origem a quatro categorias. Utilizaram- não tiver pra onde encaminhar. Daí, nesse
-se para nomeá-las falas dos participantes que momento, eu não vou conseguir garantir o
foram consideradas representativas do conteúdo direito, eu não vou conseguir ter a proteção
a ser trabalhado, sendo que após a vinheta, a de- integral, por que a proteção integral depen-
finição da categoria é abordada. As categorias de da nossa rede. (P3)
encontradas foram: (a) “Estatuto é um divisor Na concepção dos profissionais entrevista-
de águas”: Mudança de paradigma na atenção à dos, nos casos de violência envolvendo crian-
infância e adolescência; (b) “Uma teia de comu- ças e adolescentes, o município conta com uma
nicação permanente”: A compreensão da rede rede composta por diversos órgãos, serviços e
de proteção; (c) “A gente tá trabalhando mais instituições, dentre os citados destacaram-se, o
em conjunto”: Percepção sobre o funcionamen- Juizado da Infância e Juventude, Promotoria Es-
to da rede de proteção; (d) “Vários desafios”: A pecializada, Delegacia de Proteção à Criança e
efetivação da garantia dos direitos da criança e ao Adolescente, Conselho Tutelar, serviços de
do adolescente. proteção social básica (CRAS) e especial (CRE-
734 Faraj, S. P., Siqueira, A. C., Arpini, D. M.

AS e acolhimento institucional) e instituições de esse vínculo entre todos. A união faz a força
saúde e educação. Assim, observou-se que todos isso é certo. (P2)
os atores entrevistados se sentiam inseridos na As definições de rede de proteção está em
rede do município e, portanto responsáveis pela sintonia com a legislação e a literatura (Aquino,
promoção e garantia dos direitos das crianças e 2004; E. T. Faleiros, 2003; Oliveira et al., 2006;
dos adolescentes. Rizzini et al., 2007). Para Rizzini et al. (2007), a
Nesta perspectiva, a frase “o estatuto assim rede representa relações e interações estabeleci-
é a nossa bíblia” (P3) exemplifica a concepção das que visam às ações ou trabalhos conjuntos.
compartilhada entre os profissionais de que o De acordo com E. T. Faleiros (2003), as redes
ECA (1990) deve embasar as intervenções vol- se organizam através da articulação de atores e
tadas para a população infanto-juvenil em situ- organizações que são capazes de compartilhar e
ação de violência, sendo estas sustentadas pela de negociar as responsabilidades para o desen-
ótica do SGD. Neste sentido, as ações nos casos volvimento de ações conjuntas. Nesta mesma
de violência requerem, sobretudo, a compressão perspectiva, Oliveira et al. (2006) apontaram
por parte de atores do SGD acerca da rede de que a rede é um padrão organizacional que visa
proteção voltada às crianças e aos adolescentes a uma tomada de decisão, a uma descentraliza-
em situação de violência. ção e prima pela flexibilidade, autonomia e hori-
zontalidade das relações estabelecidas entre seus
“Uma Teia de Comunicação membros.
Permanente”: A Compreensão No estudo, pode-se observar que para os
da Rede de Proteção atores participantes cada “fio” da rede desem-
penha um papel específico, ou seja, cada órgão,
Essa categoria apresenta dados que reme-
instituição, organização, serviço têm sua fun-
tem à definição de rede e o conhecimento sobre
ção, porém deve existir uma articulação entre
sua função. Para os profissionais entrevistados,
os membros. Este dado vai ao encontro da pers-
a rede de proteção representava um trabalho em
pectiva de atuação em rede na qual, cada ator,
conjunto, em que há diálogo e comunicação per- instituição e órgão participante da rede têm o seu
manente entre os atores, instituições e órgãos, papel, no entanto, a rede compreende uma atua-
que tem por escopo a proteção das crianças e ção integrada e intersetorial que envolve todas as
dos adolescentes. Isto pode ser observado nos instituições que atuam na atenção à criança e ao
relatos: “[a rede] é todo mundo engajado pela adolescente (Rizzini et al., 2007).
mesma causa que é a proteção da criança e do Um aspecto importante apontado por um dos
adolescente” (P3); “[a rede] é uma ligação dos participantes do estudo acerca da concepção de
serviços” (P1); trabalho em rede é o entendimento de que “é um
A rede é uma teia de comunicação perma- trabalho gradativo” (P1), ou seja, está em cons-
nente entre os órgãos que compõem, com tante construção. Esse aspecto está em sintonia
pessoas comprometidas né, com pessoas com Oliveira et al. (2006), pois requer mudanças
responsáveis, com pessoas que entendam a de práticas. Dessa forma, é importante conside-
importância e a gravidade daquilo que nós rar que, apesar do ECA ter surgido a mais de 20
estamos nos propondo a combater né. Por anos no Brasil, é recente a percepção da “poten-
que a rede de proteção, se ela é chamada cialidade da atuação em rede como forma ou es-
assim, é por que nós precisamos proteger trutura de organização capaz de reunir pessoas e
alguém né. E esse alguém é a criança e o instituições em torno de objetivos comuns” (Oli-
adolescente. (P4) veira et al., 2006, p. 144). Neste sentido, a cons-
União. Eu acho que tem que ter união entre tituição de uma rede exige, na maioria das vezes,
todas as instituições, se não tiver união não um movimento intenso e contínuo para integrar
tem como funcionar entendeu. Por isso mes- os diferentes atores e organismos sociais (Njai-
mo o nome é rede, tá unido . . . tem que ter ne, Assis, Gomes, & Minayo, 2007).
Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema de Garantia de Direitos. 735

“A Gente tá Trabalhando Mais desarticulação da rede (Faraj & Siqueira, 2012).


em Conjunto”: Percepção sobre Portanto, este achado pode indicar um movi-
o Funcionamento da Rede de Proteção mento de mudança na atuação por parte dos pro-
Essa categoria apresenta dados sobre a per- fissionais no que se refere à articulação da rede.
cepção dos entrevistados quanto ao funciona- Os profissionais entrevistados considera-
mento da rede de proteção nos casos de violação ram que uma articulação bem sucedida depen-
dos direitos das crianças e dos adolescentes, em de dos órgãos e dos profissionais entenderem e
especial, nos casos de violência. A importância desempenharem as suas funções, interagirem
de uma atuação integrada e articulada nos casos com outros órgãos através de uma comunica-
de violência envolvendo crianças e adolescen- ção permanente sobre os casos e atuarem de
tes foi unânime entre os profissionais entrevis- maneira conjunta na resolução dos mesmos. O
tados. Estes acreditavam que o município vem estudo realizado por Moraes (2012), acerca da
realizando ações e intervenções em conjunto nos rede de proteção voltada para a criança em si-
casos de violência contra a população infanto- tuação de violência, apontou duas definições de
-juvenil, como pode ser observado na fala: “a articulação em rede. Uma relacionada ao traba-
rede de um tempo pra cá tá bastante assídua, lho organizado e a união de todos os órgãos que
a gente tá trabalhando mais em conjunto” (P1). atuam no atendimento à criança em situação de
Dessa forma, os profissionais percebiam avan- violência para elaboração de metas e planos de
ços quanto à articulação dos órgãos, instituições trabalho e a outra pautada no compromisso dos
e profissionais, assim como a importância dessa órgãos que atendem à criança de desenvolverem
articulação para a resolução dos casos atendidos. ações conjuntas através do trabalho em equipe.
De acordo com alguns atores da rede: É importante considerar que o trabalho integra-
A rede hoje, a gente teve um avanço muito do das instituições e órgãos envolvidos no aten-
grande, por que assim oh, a gente tá con- dimento à criança e ao adolescente possibilita a
seguindo, as pessoas estão entendendo que obtenção e troca de informações e dessa forma,
sem a articulação não se consegue nenhum pode-se ampliar a visão do caso e sistematizar
avanço né, por que a gente precisa de todos as ações no enfrentamento das situações de vio-
os eixos para evoluir. (P3) lação de direitos (CFP, 2012; Lorencini et al.,
Eu acredito que melhorou bastante a rede, 2002). Além disso, permite à integração das po-
melhorou muito. O número de instituições líticas sociais e rompimento com uma atenção
que se adequaram a esta rede e as pessoas fragmentada no acompanhamento das famílias
estão com mais consciência de que tem que (CFP, 2012).
funcionar a rede. Que tem uma rede tem, Apesar dos avanços identificados, pelos ato-
mas tem que funcionar com todas as insti- res entrevistados em relação à rede de proteção,
tuições interligadas né. (P2) ainda faltam recursos materiais (carros, linha
Os entrevistados ainda afirmaram que a telefônica, etc.) e humanos nos segmentos que
articulação da rede está ocorrendo porque está compõem à rede, em especial, nos Conselhos
acontecendo a comunicação, a interação e a res- Tutelares e nos serviços de proteção social espe-
ponsabilização compartilhada diante dos casos cial (CREAS). De acordo com os profissionais,
de suspeita ou violação dos direitos das crian- isso pode comprometer a proteção da criança
ças e dos adolescentes. Além disso, eles men- e do adolescente visto que a falta de materiais
cionaram a realização de cursos de capacitação e profissionais para atender causa uma deman-
no município que estão abordando a temática da da muito grande nos serviço e dessa forma, a
rede de proteção e enfocando o funcionamento demora no atendimento e no retorno deste aos
desta para a proteção dos direitos dos sujeitos. órgãos de defesa. A falta de recursos materiais
Este dado vai de encontro ao estudo realizado no e humanos e a grande demanda de trabalho fo-
mesmo município no ano de 2010 acerca da rede ram apontadas em estudos que versaram sobre o
de proteção, o qual apontou a fragmentação e atendimento e a rede de proteção à criança e ao
736 Faraj, S. P., Siqueira, A. C., Arpini, D. M.

adolescente em situação de violência (Faraj & tu lá no fim, tu foi culpada de um atendi-


Siqueira, 2012; Moraes, 2012; Pedersen, 2010). mento ou de um acompanhamento mal su-
Os atores que participaram do estudo tam- cedido. Eu acho que se eu aqui na ponta fiz
bém assinalaram alguns fatores que ainda encon- um acompanhamento e o meio da rede fa-
travam-se presentes no funcionamento da rede e lhou, não é tu a culpada. Então assim, essa
que poderiam comprometer o atendimento ofe- questão da comunicação e dos retornos de
recido no município, dentre eles: a falta de sigi- um órgão para o outro. É dessa forma que a
lo profissional e o conhecimento deficiente por gente vai conseguir ter êxito no final. Então,
parte de profissionais do SGD em relação à vio- é bem isso mesmo, é a comunicação. (P3)
lência. Outro aspecto diz respeito à comunicação O estudo de Pedersen (2010) apontou como
que, embora tenha sido considerada satisfatória dificuldades e limites da atuação em rede, entre
e em amplo desenvolvimento, quando há a sua outras, a falta de organização desta para garantir
ausência ou é insuficiente entre alguns profissio- o feedback e estabelecer o processo de referência
nais e serviços, causa problemas no trabalho em e contra-referência, bem como o conhecimento e
rede. Neste sentido, “serviços têm que se orga- o entendimento das atribuições de cada institui-
nizar de tal forma que eles consigam se reunir ção. O estudo realizado por Njaine et al. (2007)
pelo menos uma vez por mês para falar sobre os mostrou outros problemas que prejudicam o tra-
casos” (P5) e balho em rede como: a disparidade de compre-
À princípio, nós deveríamos fazer reuniões, ensão, divergências políticas, vaidades pessoais,
reuniões assim de todo o pessoal da rede, conflitos de papéis entre as entidades participan-
vamos fazer reuniões . . . de dois em dois tes. Além disso, a rotatividade dos profissionais
meses, de três em três meses, com represen- que atuam nas instituições que atendem crianças
tantes da polícia, representante do Ministé- e adolescentes e as diferentes formas de trabalho
rio Público, do Conselho Tutelar, dos agen- também se destacaram como fatores que interfe-
tes de saúde . . . pra gente poder ter assim, rem na atuação em rede.
até essa familiaridade um com o outro, que
às vezes nós não temos . . . (P4) “Vários Desafios”: A Efetivação
A falta de comunicação entre os órgãos e da Garantia dos Direitos da Criança
serviços da rede de atendimento e de proteção e do Adolescente
da criança e do adolescente vem sendo apontada Esta categoria apresenta os dados quanto
na literatura que versa sobre a temática da vio- aos desafios referentes à efetivação da garantia
lência contra a criança e o adolescente (Faraj & dos direitos da criança e do adolescente. Ape-
Siqueira, 2012; Pedersen, 2010). Para que a rede sar de o Brasil ter uma legislação considerada
de proteção se estabeleça e suas ações sejam efi- avançada, que estabelece a proteção à criança e
cazes, a comunicação tem um papel fundamen- ao adolescente, ainda existe muito a ser realiza-
tal. A comunicação representa ações planejadas do para que os direitos sejam efetivados (França
e realizadas em conjunto. Além disso, significa o & Ferreira, 2012; Lima & Veronese, 2012). Os
compartilhamento de informações e responsabi- profissionais entrevistados apontaram o fortale-
lidades tendo como foco principal a proteção e o cimento da rede de proteção como um desafio na
bem-estar da criança e do adolescente (Moreira garantia dos direitos: “eu acho que é um desafio
et al., 2012). Neste contexto, destaca-se a refle- muito grande, o fortalecimento dos vínculos, o
xão de um profissional entrevistado: fortalecimento da rede” (P3); “a rede de prote-
É uma rede que são vários pontos e esses ção tem que se fortalecer. Nós precisamos estar
pontos tem que ser ligados, né? Eu não con- cada vez mais unidos” (P4). Na concepção de
sigo ter, eu aqui nessa, na ponta da rede eu Lima e Veronese (2012), as práticas do mode-
não consigo falar contigo na outra ponta se lo menorista representam a maior dificuldade de
eu não passar pelo meio da rede . . . não efetivação dos novos direitos previstos no ECA
adianta eu aqui na ponta da rede dizer que (1990). Dessa forma, as crianças e os adolescen-
Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema de Garantia de Direitos. 737

tes são constantemente “afrontados” nos seus di- Tomanik, 2012; Njaine et al., 2007). Neste senti-
reitos, pois a família, Estado e Sociedade ainda do, para prevenir novos casos de violência, ainda
não se adaptaram à nova exigência de uma nova se faz necessário promover o trabalho conjunto
prática e atuação dessa legislação. dos agentes da rede, bem como, incluir a família
Neste contexto, outro desafio relevante nas ações de prevenção e proteção (Njaine et al.,
apontado pelos atores entrevistados refere-se ao 2007).
atendimento à família. Isso pode ser observado Outro aspecto significativo levantado pelos
no relato: profissionais entrevistados se refere à punição
o desafio nosso é a família. Tu vai trabalhar do agressor da violência, contemplado no eixo
a criança e o adolescente, tu vai trabalhar a da defesa do SGD. Conforme um entrevistado,
violência, mas a criança e o adolescente vai “ele foi lá abusou, agrediu, bateu, até uma vio-
acabar voltando para aquele lar, vai aca- lência psicológica, que muitas vezes é pior que
bar voltando para aquela casa, para aquela uma violência física, né, muitas vezes até é mui-
família. (P1) to pior, e a gente não tem nenhum retorno de
O profissional ainda complementou que a punição” (P3). Na concepção deste profissional,
família tem autonomia, tem total responsa- “não adianta somente a gente fazer, fazer cam-
bilidade pela educação do seu filho. Nós so- panha para que as pessoas denunciem e a gente
mos órgãos de encaminhamento e aplicado- não dar esse retorno para a sociedade” (P3). M.
res de medidas de proteção, mas a família L. Santos (2003) salienta que o grande proble-
é em primeira instância a responsável pela ma de nosso país é a impunidade, pois apesar
criança e adolescente, são eles que têm que da legislação vigente, em grande parte dos casos
mediar os cuidados. (P1) de violência contra a criança e o adolescente, o
Nesta perspectiva, Pedersen e Grossi (2011) agressor ou abusador fica impune, o que facilita
apontaram que através do apoio do Estado e do o aumento da violência contra esta população.
trabalho realizado por diversos profissionais e Os estudos de Branco e Tomanik (2012) e de
instituições, a família poderá garantir os direitos Dell’Aglio, Moura e Santos (2011) apontaram a
e a proteção da população infanto-juvenil. No responsabilização dos agressores como um dos
entanto, para isso, torna-se necessário que as eixos do enfrentamento da violência. Ainda, des-
necessidades básicas da família sejam satisfeitas tacaram que o atendimento psicológico ofereci-
(saúde, alimentação, moradia, entre outras). do aos atores da violência pode ser um recurso
O atendimento à família ainda é deficiente e a para evitar casos novos. Deve-se possibilitar a
inclusão desta nas ações ainda é um desafio reflexão dos agressores/abusadores acerca de
(Njaine et al., 2007). seus comportamentos a fim de evitar a reincidên-
A prevenção da violência também foi apon- cia da violência.
tada como um desafio na visão dos profissionais Diante do exposto, a efetivação da garantia
entrevistados. Para estes, o avanço na esfera dos direitos da criança e do adolescente passa
dos direitos está relacionado também às ações pela existência da rede de proteção, com seus
de prevenção das situações de violência pelos diversos atores atuando na prevenção, respon-
profissionais da rede de proteção. Para um dos sabilização e atendimento dos que tiveram seus
profissionais, “o estado tem que atuar nas duas direitos violados. Salienta-se que, a Constituição
frentes sempre. Na prevenção, através de polí- Federal (1988) e o ECA (1990) “não podem ser
ticas públicas, e também na repressão. Então, vistos como pontos de chegada. Representam,
ocorrendo crime, o estado tem que se fazer pre- de um lado, o aprendizado do passado e, de ou-
sente através da polícia, através do judiciário” tro, simbolizam a força propulsora de um novo
(P4). Destaca-se que, a prevenção da violência tempo, que apenas lança seus primeiros alicerces
pode ser desenvolvida em três modalidades, pri- na história do Brasil” (Azambuja, 2011, p. 49).
mária, secundária e terciária, e também deve en- Dessa forma, para que os direitos das crianças e
volver diversos atores e instituições (Branco & adolescentes sejam garantidos, cabe a todos ze-
738 Faraj, S. P., Siqueira, A. C., Arpini, D. M.

lar e trabalhar para que a política seja colocada atores do eixo de defesa do Sistema de Garantia
em prática. de Direitos quando comparada ao momento an-
terior à efetivação da política que estabeleceu o
Considerações Finais trabalho em rede (V. P. Faleiros, 2004; V. P. Fa-
leiros & Faleiros, 2008; Marcílio, 2006; Rizzini
O estudo permitiu uma discussão sobre & Rizzini, 2004), ainda é necessário fortalecer
a rede de proteção de crianças e adolescentes um trabalho integrado e articulado, favorecendo
a partir dos profissionais que integram o eixo à comunicação.
de defesa do Sistema de Garantia de Direitos. Os desafios mencionados no trabalho em
Possibilitou, a partir da descrição e reflexão do rede foram inúmeros e esclareceram quanto aos
percurso histórico da constituição dos direitos pontos que devem ser trabalhados. A ausência
da criança e do adolescente e das políticas de de atendimento voltado para o agressor, a impor-
atenção voltadas a esse público (Marcílio, 2006; tância de investir mais nas famílias e a escassez
Rizzini & Rizzini, 2004), vislumbrar o grande de ações preventivas são aspectos que devem ser
avanço quanto à legislação que se vivencia na alvo da atuação do SGD. As famílias poderiam
atualidade. De um tempo em que os jovens não ser acompanhadas a partir de um olhar mais aten-
eram reconhecidos como cidadãos e nem mere- to, contudo a demanda das vítimas não tem per-
cedores de direitos, mas sim alvo de políticas mitido que um trabalho mais global seja realiza-
puramente assistenciais, filantrópicas e caritati- do com as famílias (Faraj & Siqueira, 2012). Da
vas até a atualidade, em que esse público é foco mesma forma, ações preventivas deveriam fazer
de legislação específica que o considera sujeitos parte do trabalho desses profissionais, pois são
de direitos e em situação peculiar de desenvolvi- consideradas fundamentais para a mudança de
mento. Os profissionais entrevistados considera- comportamento no campo da garantia de direitos.
ram o ECA (1990) um marco legal e histórico, e Trabalhar em rede implica tanto mudanças
de fato, representa um instrumento contemporâ- na prática dos profissionais envolvidos nos ca-
neo jurídico de promoção e proteção dos direi- sos de suspeita ou violação de direitos, como
tos da criança e do adolescente no Brasil. Desde também investimentos dos gestores municipais
a sua implantação, medidas começaram a ser em recursos e capacitações periódicas que visem
adotadas, principalmente no enfrentamento da a esta nova estratégia de trabalho. Profissionais
violência contra a criança e o adolescente, como com uma boa formação e com oportunidades
mudanças nas políticas e ações de proteção des- frequentes de capacitação e aprofundamento
tinadas a esta população. teórico-prático, sobretudo na área dos direitos da
O estudo possibilitou evidenciar que os par- criança e do adolescente, serão capazes de rom-
ticipantes entrevistados que integram o Sistema per com o isolamento e compartilhar saberes,
de Garantia de Direitos compreendem a política discutir situações, tomar decisões em conjunto,
de atendimento preconizada pelo ECA (1990) e ou seja, sair das “caixinhas”, muitas vezes cons-
vêm tentando desenvolver um trabalho articu- truídas pelos próprios núcleos de conhecimento.
lado nos casos de violência contra a população Atuar em rede implica investimento profissio-
infanto-juvenil. Demonstraram conhecimento nal, engajamento e acima de tudo consciência
sobre a função da rede de proteção, o avanço de que o trabalho conjunto e articulado possi-
que o ECA representou, o estabelecimento da bilita melhor enfrentar o fenômeno da violên-
referência e contra-referência no atendimento cia, assim como, garantir e reparar os direitos
a partir de instituições interligadas, bem como de quem foi violado. Somente desta forma, será
a importância da comunicação. Pode-se obser- possível promover novas práticas e superar as
var, através dos relatos, fragilidades quanto à fragiliades existentes na rede de atendimento e
dificuldade de comunicação entre os atores que de proteção à criança e ao adolescente, evitando
compõem a rede. Cabe destacar que apesar de assim, o retrocesso no atendimento voltado para
mencionado um avanço na comunicação entre os esta população.
Rede de Proteção: O Olhar de Profissionais do Sistema de Garantia de Direitos. 739

Como limitação do estudo, pode-se con- Conselho Federal de Psicologia. (2000). Resolução nº
siderar a inclusão de apenas representantes do 016/2000 de 20 de dezembro de 2000. Brasília,
eixo da defesa do Sistema de Garantia de Direi- DF: Autor.
tos. Estudos que incluíssem os eixos da promo- Conselho Federal de Psicologia. (2012). Referências
ção e controle poderiam contribuir para ampliar técnicas para prática de psicólogas (os) no cen-
a compreensão da rede de proteção e de seu fun- tro de referência especializado da assistência
cionamento. Considerando as especificidades social – CREAS. Brasília, DF: Autor.
de cada eixo e os diferentes profissionais que os Conselho Nacional de Saúde. (2012). Resolução nº
integram, a inclusão de outros atores como parti- 466, de 12 de dezembro de 2012. Brasília, DF:
cipantes, sem dúvida ampliaria as possibilidades Autor.
de melhor compreender o fenômeno aqui estuda- Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Ado-
do. Com este estudo, entende-se que a discussão lescente. (2006). Resolução nº 113, de 19 de
que envolve problemática da violência contra a abril de 2006. Brasília, DF: Autor.
criança e o adolescente e o Sistema de Garantia Constituição da República Federativa do Brasil.
de Direitos não se esgota, identificando-se a ne- (1988, 5 out.). Brasília, DF: Presidência da Re-
cessidade de outras pesquisas que versam sobre pública.
as vivências e percepções de profissionais que Decreto nº 17943-A, de 12 de outubro de 1927. (1927,
atuam no atendimento à criança e ao adolescente 31 dez.). Codigo dos Menores. Coleção das Leis
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