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2.

EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO COMO FERRAMENTAS DE


PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA INFANTIL

Neste capítulo, será analisado o desenvolvimento da violência contra


crianças no contexto familiar, bem como as consequências dessas ações na
sociedade. A educação e a conscientização desempenham funções essenciais
na prevenção da violência infantil, sendo indispensáveis para criar ambientes
seguros e saudáveis para as crianças.

A maioria dos casos de violência contra a criança ocorre dentro da


família, o que leva outros membros familiares, mesmo que não diretamente
envolvidos, a permanecerem em silêncio e a conivência. Isso ocorre devido às
relações de proximidade entre os familiares, que podem gerar tanto medo
quanto cumplicidade (Azevedo, 2000; Vitiello, 2000).

A violência no âmbito familiar também se estende às interações entre


adultos, como marido e mulher, porém aqui focalizaremos especificamente a
violência perpetrada pelo adulto em relação à criança.

Procede a uma periodização das formas de relacionamento entre pais


e filhos, começando desde a Antiguidade até o século XX, a qual passa
pela forma do infanticídio, do abandono, da ambivalência, da intrusão,
da socialização até 30 chegar à forma de ajuda que pertence ao nosso
século e na qual os pais estão muito envolvidos no processo de criação
e de educação dos filhos (Guerra, 2011, p. 56).

No contexto das grandes mudanças sociais, econômicas e políticas


ocorridas no Brasil após o fim do regime militar, surgem movimentos sociais em
defesa dos direitos humanos, incluindo os direitos das crianças, influenciados
pelos movimentos internacionais que defendem os direitos infantis (Guerra,
1998).

A partir das décadas de 1980 e 1990, a criança é reconhecida como


sujeito de direitos com a promulgação do artigo 227 da Constituição Brasileira
em 1988, que estabelece proteção contra todas as formas de violência e atribui
ao Estado, à família e à sociedade a responsabilidade por essa proteção.

.
No artigo 227 da Constituição Brasileira de 1988 está estipulado:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão (Brasil, 1988).

Dessa forma, tanto na esfera social quanto na governamental, é


entendido que a educação formal, representada principalmente pela instituição
escolar, tem a responsabilidade adicional de garantir que os direitos das
pessoas em processo de crescimento sejam devidamente assegurados.

De acordo com Azevedo e Guerra (1995), a violência infantil no ambiente


familiar é identificada como:

Violência doméstica contra crianças e adolescentes é todo ato e/ou


omissão praticado(s) por pais, parentes ou responsável em relação à
criança e/ou adolescente que – sendo capaz de causar dor ou dano de
natureza física, sexual e/ou psicológica à vítima – implica, de um lado,
uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro,
uma “coisificação” da infância, isto é, uma negação do direito que
crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas
em condição peculiar de desenvolvimento. (Azevedo & Guerra,1995, p.
36)

No Brasil, a agressão contra crianças e adolescentes é uma das mais


graves violações dos direitos fundamentais. Conforme revelado pelo Relatório
Anual do Disque Direitos Humanos (ONDH, 2019), o grupo de Crianças e
Adolescentes foi alvo de 55% das denúncias, totalizando 86.837 registros.
Segundo esse mesmo levantamento, as formas predominantes de violência
reportadas incluem negligência (38%), abuso psicológico (23%), agressão física
(21%) e abuso sexual (11%).

Os dados apresentados indicam que essa questão é uma das principais


violações de direitos humanos no país, afetando significativamente uma parcela
considerável da população jovem. Com mais de 86 mil denúncias registradas em
um ano e com formas variadas de violência sendo relatadas, como negligência,
abuso psicológico, agressão física e abuso sexual, fica claro que esse é um
problema generalizado e alarmante que requer atenção urgente por parte das
autoridades e da sociedade em geral.
Segundo a cartilha educativa do Programa Nacional de Enfrentamento da
Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes (CARVALHO et al., 2003), a
violência sexual, uma das formas mais relatadas ao Disque 100, envolve a
violação dos direitos sexuais das crianças e adolescentes. Isso ocorre através
do abuso sexual, quando são utilizados para satisfazer desejos sexuais de
adultos ou adolescentes mais velhos, e da exploração sexual, quando seus
corpos são explorados para ganho financeiro ou troca de benefícios.

O silêncio e a ocultação dos sinais de abuso contribuem para a


perpetuação da violência e causam danos emocionais profundos. Segundo o
Ministério da Saúde (2009, n. p.):

A violência se torna invisível também quando os serviços de escuta


(disque-denúncia, delegacias, serviços de saúde e de assistência
social, escolas, conselhos tutelares e a própria comunidade) não estão
preparados para o acolhimento e atendimento da criança e do
adolescente.

Portanto, de acordo com Ana Maria Drummond, diretora executiva da


Childhood Brasil, “Profissionais das mais diferentes áreas que lidam com
crianças e adolescentes em seu cotidiano devem estar preparados para
reconhecer sinais de maus-tratos e de abuso” (Drummond, 2009, p.5).

Devido às experiências de violência familiar, muitas crianças e


adolescentes veem na escola um refúgio seguro para abordar essas questões.
De acordo com Brino e Willians (2003), em 44% dos casos de abuso sexual
contra jovens, o professor é o primeiro a ter conhecimento. Portanto, é crucial
que os educadores sejam capacitados para identificar sinais de abuso e maus-
tratos, criando um ambiente escolar favorável ao diálogo e à prevenção dessas
violações.

Enquanto se trata de infância e adolescência, a violência estrutural afeta


especialmente aqueles indivíduos em risco pessoal e social, isto é, os vitimados,
no discernimento feito por Guerra e Azevedo (1997) que vivem diariamente da
violência das ruas, da falta de uma educação de qualidade e das condições
precárias de moradia e saúde.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), visando à proteção
desses grupos vulneráveis, é explícito ao estabelecer no seu artigo 18-A,
inserido na Lei 13.010/2014, conhecida como Lei Menino Bernardo ou Lei da
Palmada, representa um avanço significativo na proteção dos direitos das
crianças e dos adolescentes. Ele estabelece que é dever de todos educar e
cuidar desses jovens sem recorrer ao uso de castigos físicos ou tratamentos
cruéis e degradantes, seja como forma de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto.

Essa legislação reconhece que crianças e adolescentes têm o direito


fundamental de serem tratados com respeito e dignidade, e que o uso de
violência física ou emocional como método disciplinar é inaceitável.

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e


cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família
ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de
cuidar deles (o dever de educar sem castigo físico e sem tratamento
cruel ou degradante: não é só dos pais, mas de qualquer pessoa
encarregada de cuidar), tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Lei
13.010/2014 – Lei do Menino Bernardo ou Lei da Palmada) Parágrafo
único. Para os fins desta Lei, considera-se: (Lei 13.010/2014 – Lei do
Menino Bernardo ou Lei da Palmada, Brasil, 1988)

Ao definir o que constitui castigo físico e tratamento cruel ou degradante,


o texto legal fornece diretrizes claras para a proteção desses jovens,
promovendo uma cultura de educação baseada no diálogo, no respeito mútuo e
na não-violência.

I – Castigo Físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o


uso da força física sobre a criança, ou o adolescente que resulte em: (Lei
13.010/2014) a) sofrimento físico; ou (Lei 13.010/2014 – Lei do Menino Bernardo
ou Lei da Palmada) b) lesão; (Lei 13.010/2014 – Lei do Menino Bernardo ou Lei
da Palmada)

II – Tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de


tratamento em relação à criança, ou ao adolescente que: (Lei 13.010/2014 – Lei
do Menino Bernardo ou Lei da Palmada)
a) humilhe; ou (Lei 13.010/2014 – Lei do Menino Bernardo ou Lei da Palmada)

b) ameace gravemente; ou (Lei 13.010/2014 – Lei do Menino Bernardo ou


Lei da Palmada)

c) ridicularize. (Lei 13.010/2014 – Lei do Menino Bernardo ou Lei da


Palmada)

2.1 Identificando sinais físicos, comportamentais e emocionais da


criança

Primeiramente, é comum que a violência atinja mais de um membro da


família, muitas vezes afetando tanto a mulher quanto as crianças (Organização
Mundial de Saúde, 2006), o que pode levar à normalização da violência dentro
do ambiente familiar.

Em segundo lugar, há um "pacto de silêncio" em que as ameaças do


agressor levam a criança a não denunciar a violência, e esse silêncio tende a
persistir enquanto houver proximidade com o agressor (Amaral, 2009),
prolongando assim a violência ao longo do tempo.

Em terceiro lugar, os membros da família frequentemente oscilam entre


os papéis de agressores e protetores, dificultando sua caracterização
(Pierantoni, 2007), o que pode dificultar o acionamento da rede de proteção
mesmo após a denúncia.

Identificar e lidar com a violência infantil é um tema que exige uma


reflexão profunda e contínua. A violência contra crianças pode se manifestar de
várias formas, desde o abuso físico e sexual até a negligência emocional e
física.

A violência física refere-se a qualquer tipo de agressão que resulte em


danos corporais, como ferimentos na pele, nos olhos, lesões internas, fraturas,
queimaduras, danos permanentes ou até mesmo morte.

Essas lesões podem aparecer em áreas do corpo incomuns ou em


padrões que não correspondem a acidentes comuns. Além disso, é importante
estar atento as marcas de objetos específicos, como cintos, cabos ou mãos, que
podem deixar evidências visíveis de agressão.

Em sua pesquisa, Widom (1989 apud MAIA e WILLIAMS, 2005, p. 93),


constatou-se que crianças que foram vítimas de abuso físico tinham o dobro de
chances, segundo agências de assistência social, de se envolverem em crimes
violentos no futuro, em comparação com aquelas que não sofreram violência na
infância.

A violência psicológica acontece quando uma criança é exposta a


situações de menosprezo constante, humilhação, constrangimento, ameaças,
rejeição e privação emocional, causando-lhe grande angústia mental. Por não
deixar marcas físicas visíveis, esse tipo de abuso, também conhecido como
abuso emocional, é especialmente difícil de ser identificado, e seus efeitos
podem levar algum tempo para se manifestar.

A violência sexual abrange uma ampla variedade de comportamentos,


indo além da relação sexual completa, ao contrário do que se pensa
comumente. Consiste no abuso sexual quando um adulto ou mais se envolve
com uma criança para estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para esse fim, sem o
consentimento da criança, que não possui capacidade emocional ou cognitiva
para concordar com o que está acontecendo.

É essencial uma abordagem multidisciplinar e preventiva para enfrentar


essa forma de violência e proteger os direitos das crianças. Isso pode envolver
desde formas de violência sexual sem contato físico, como abuso verbal,
exibicionismo ou voyeurismo, até contato físico direto, como relações sexuais ou
manipulação dos órgãos genitais, e até mesmo a exploração sexual de menores
(Kemoli e Mavindu, 2014).

São variados os danos experimentados por uma criança que é vítima de


violência emocional; entretanto, podemos salientar algumas áreas específicas:

[...] pensamentos intrapessoais (medo, baixa-estima, sintomas de


ansiedade, depressão, pensamento suicidas etc.), saúde emocional
(instabilidade emocional, problemas em controlar impulso e raiva,
transtorno alimentar e abuso de substâncias), habilidades sociais
(comportamentos antissocial , problemas de apego, baixa competência
social, baixa simpatia e empatia pelos outros, delinquência [sic] e
criminalidade), aprendizado (baixa realização acadêmica, prejuízo
moral), e saúde física (queixa somática, falha no desenvolvimento, alta
mortalidade) (American Academy of Pediatrics, 2002 apud Maia e
Williams, 2005, p. 94).

Além disso, pode incluir a ausência de contato físico, como a falta de


demonstração de afeto. No entanto, é essencial permanecer vigilante e sensível
aos sinais de alerta que podem indicar que uma criança está sofrendo abusos
ou agressões.

Ao mesmo tempo, reconhecer os sinais de violência infantil pode ser uma


tarefa desafiadora. Muitas vezes, as crianças não conseguem verbalizar ou
expressar claramente o que estão passando, e os sinais físicos,
comportamentais e emocionais podem ser sutis ou facilmente confundidos com
outras questões.

[...] a autoridade do adulto sobre a criança é pensada como natural e


não como social. A criança deve submeter-se ao adulto porque ele lhe
é naturalmente superior. Os pais, que assumem esta função por um
fato da natureza, têm direitos prioritários sobre a criança. Sua
dependência social é transformada em dependência natural. A
obediência se torna um dever exclusivo da criança, e sua revolta é
encarada pelo adulto como uma transgressão aos direitos do próprio
adulto. De modo geral, a obediência da criança aos adultos é vista
como fundamental e a autoridade dos adultos é sempre exercida,
invocando o bem da criança, sendo os protestos desta última
posicionados como nulos (Guerra, 2011, p.95).

É fundamental que os professores adquiram habilidades para abordar o


tema em sala de aula e reconhecer sinais de violência contra crianças.
Especialmente na fase inicial da Educação Infantil - para crianças até 5 anos e
11 meses - há desafios para relatar abusos devido às limitações cognitivas e
linguísticas necessárias para fazer uma denúncia (Brino; Williams, 2008).
Professores bem treinados podem detectar sinais precoces de abuso,
interrompendo o ciclo de violência e mitigando suas consequências.

Detectar os sinais físicos, comportamentais e emocionais de uma criança


que está passando por abusos e agressões é uma missão delicada, mas de
extrema importância para intervir de forma precoce e garantir sua proteção e
bem-estar. Em situações de violência, a criança pode manifestar esses sinais
através de seu corpo, comportamento e estado emocional.

2.2 Fatores de Risco e Causas da Violência Infantil


Os diversos fatores de risco, aumentam a probabilidade de ocorrência de
abuso emocional por parte dos pais, incluindo deficiências nas habilidades
parentais, uso de substâncias, quadros de depressão, problemas psicológicos
diversos, baixa autoestima, comportamento autoritário e falta de empatia
(American Academy of Pediatrics, 2002 apud Maia e Williams, 2005, p. 94).

Para descrever as diversas causas de violência enfrentadas por crianças


e adolescentes, Azevedo e Guerra (1989) discutem dois processos interligados;
A vitimização, decorrente das disparidades sociais e econômicas e a
vitimização, resultante de relações abusivas entre adultos e jovens.

Enquanto a primeira está associada a crianças e adolescentes que


sofrem mais diretamente os impactos das desigualdades sociais e econômicas,
a segunda afeta vítimas de violência familiar em todas as classes sociais.

Quando uma criança é privada de interações e estímulos adequados ao


seu estágio de desenvolvimento, isso pode ter consequências graves, afetando
sua autoimagem, autoestima, habilidade de regular emoções e suas relações
interpessoais, tanto afetivas quanto sociais.

Por desconhecerem conceitos a respeito do desenvolvimento normal


de crianças, pais e cuidadores, muitas vezes, negligenciam as
necessidades da criança que estão de acordo com sua idade e o seu
nível de desenvolvimento biopsicossocial. Ademais, podem privar a
criança da estimulação necessária para o seu pleno desenvolvimento,
devido as crenças de que crianças pequenas não necessitam de
contato emocional ou de qualquer outra natureza (Brino, 2014, p. 145-
146).

Por fim, situações de estresse prolongado, como crises familiares,


eventos traumáticos ou desastres naturais, podem aumentar a probabilidade de
comportamentos violentos numa família.

Por fim, há a tendência de que adultos que foram vítimas de violência na


infância reproduzam esses padrões em suas relações interpessoais (Etter e
Rickert, 2013), o que está intimamente ligado à naturalização da violência e à
adoção desses padrões como métodos de resolução de conflitos.

2.3 Papel das Escolas na Prevenção e Intervenção da Violência Infantil


O professor desempenha um papel fundamental na garantia dos direitos
das crianças. Ao entender os diversos tipos de violência e como eles se
manifestam no corpo e comportamento infantil, o professor pode agir como um
agente de prevenção, visando proteger o desenvolvimento saudável desses
indivíduos. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
estabelece, em seu artigo 245, a responsabilidade dos profissionais da
educação que lidam diretamente com as crianças para relatar às autoridades
competentes qualquer caso de maus-tratos contra elas (Brasil, 1990).

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por


estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-
escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de
que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de
maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o
dobro em caso de reincidência.

É importante destacar que a falta de ação do professor diante de qualquer


suspeita de violência resultará em punição legal, conforme estabelecido por lei
(Brino et al., 2011).

Para contrapor-se aos mecanismos de risco que esta grave questão


suscita, é preciso gerar fatores de proteção que transformem esta
situação. Se a família é responsável por expor a criança à violência,
cabe aos demais microssistemas que formam a rede de atendimento
social, por exemplo, a escola ou o posto de saúde, atuar de forma
protetiva para impedir que o abuso perdure (Pietro e Yunes, 2011, p.
138).

Se um educador suspeitar que um dos direitos fundamentais de uma


criança está sendo violado, é seu dever, conforme a legislação, relatar essa
suspeita a uma agência de proteção apropriada, como o Conselho Tutelar, a
Delegacia da Mulher, as Delegacias Especializadas de Proteção a Crianças e
Adolescentes (DPCA), os Centros de Referência em Assistência Social (CREAS)
ou outros órgãos relevantes, o mais rapidamente possível. Independentemente
do órgão contatado, quando houver suspeita de violência contra a criança, o
Conselho Tutelar será notificado (Brino, 2014).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,


estabelecidas em 2010, definem essa fase como um ambiente destinado a
promover o desenvolvimento completo da criança, moldando sua identidade por
meio de atividades lúdicas e educativas (Brasil, 2010; Pietro, 2007).

É dever do professor conhecer cada criança individualmente, identificar


possíveis problemas, mesmo que não verbalizados, e estar atento aos sinais
comportamentais que possam indicar algo fora do comum.

[...] as escolas são importantes nichos ecológicos de prevenção contra


essa forma de violência. Para tanto, os educadores, - isso inclui todos
os trabalhadores da escola, - devem compreender as leis, os recursos
da rede de apoio, os sinais emitidos pelas crianças, as peculiaridades
das famílias e as principais questões do desenvolvimento humano.
Desta forma, pode-se chegar a uma cultura escolar preparada não
apenas a ‘transmitir conteúdos’, mas para proteger ativamente seus
estudantes e familiares (Pietro, 2007, p.49).

Mesmo quando a escola determina que um caso específico deve ser


comunicado ao Conselho Tutelar, é essencial monitorar de perto tanto a criança
quanto, se possível, os responsáveis, desempenhando assim o papel de
proteger e acompanhar os casos. Outro ponto a ser considerado é que, se a
criança ou a família confiou em um educador o suficiente para revelar uma
situação de abuso, isso implica em um compromisso moral por parte do
educador em não abandonar essas pessoas.

Nos casos de violência mencionados na pesquisa envolvendo professores


de São Paulo, as ações da escola.

resultaram, predominantemente, no compromisso verbal dos pais em


modificar sua conduta (49,3%), seguido pela não ocorrência ou não
percepção de recidivas (30,4%). Em 23,2% dos relatos, a criança
recebeu atendimento psicológico, em 17,4% houve acompanhamento
pelo Judiciário e em 11,6%, a violência reincidiu (Vagostello et al.,
2003, p. 192)

Em resumo, o papel da escola na prevenção da violência infantil é


fundamental, pois é um ambiente onde os jovens passam grande parte do seu
tempo e onde podem receber orientação e apoio adequados. Mediante um
projeto educacional abrangente e interdisciplinar, a escola pode não apenas
fornecer informações sobre sexualidade e prevenção da violência, mas também
capacitar os alunos para reconhecer e se defender de situações de abuso e
exploração.

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