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DIÁLOGOS SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Belo Horizonte
2020
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
Curso de Ensino à Distância – 2020

SUMÁRIO

UNIDADE 2 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ........ 3


2.1 CONCEITOS, CICLO E TIPOS DE VIOLÊNCIA .................................................. 3
2.1.1 Conceitos e Tipos de Violência .......................................................................... 3
2.1.2 Ciclo da Violência Doméstica ............................................................................. 7
2.2 REDE DE ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA ............. 9

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18

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UNIDADE 2 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

2.1 CONCEITOS, CICLO E TIPOS DE VIOLÊNCIA

2.1.1 Conceitos e Tipos de Violência

A violência contra a mulher é um problema complexo, de raízes sociais profundas.


Ademais, trata-se de um problema de saúde pública global, que atinge mulheres de
todas as classes socioeconômicas, idade, raça, cor, grau de escolaridade, estado civil
e religião.

A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação
dos direitos humanos, conforme preceitua o artigo 6°. da Lei n°. 11.340/06 (Lei Maria
da Penha). São ameaças aos direitos fundamentais à vida e a propriedade, bem como
à qualidade e bem estar social.

Entende-se por violência doméstica e familiar, em conformidade com a Lei


11.340/2006 (art. 5°. e 7°.), qualquer espécie de agressão (ação ou omissão) contra
a mulher (vítima certa), baseada no gênero, independentemente de orientação sexual,
que acarreta morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial, no âmbito da unidade doméstica (espaço de convívio permanente de
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas),
familiar (comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa) ou em qualquer
relação íntima de afeto (na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
mesmo que não coabitado), com fim específico de objetá-la (retirar direitos), dada a
sua hipossuficiência (CUNHA; PINTO, 2006).

A Lei Maria da Penha, assim, delimita o âmbito de abrangência ao local (unidade


doméstica) ou às relações familiares ou afetivas entre o agressor e a ofendida,
podendo, desta forma, ocorrer não estritamente em ambiente doméstico, bem como,
elucidando, nos espaços públicos, nos locais de trabalho e lazer desta vítima.

É de suma relevância evidenciar, ademais, que será considerada violência doméstica


e familiar contra a mulher, exemplificando, as agressões do irmão contra a irmã

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(família); genro e sogra (família, por afinidade); a violência entre irmãs, filhas (os)
contra a mãe (família). Cabe acrescer, ainda, no que tange às relações afetivas,
tais violências irão configurar independentemente se são atuais ou passadas, além do
tempo de duração.

Segundo o art. 7°. da Lei Maria da Penha, entre outras, são modalidades de violência
doméstica e familiar contra a mulher:

I) Física - entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde


corporal da vítima, deixando ou não marcas aparentes. É o uso da força, mediante
tapas, murros, surras, pontapés, empurrões, queimaduras, asfixia, arremessos de
objetos ou outras agressões. Podem ser tipificadas, a exemplo, como crimes de lesão
corporal e feminicídio (art. 129 e 121, parágrafo 2°, inciso VI do Dec. Lei 2.848 / 40),
bem como de vias de fato (art. 21 do Dec. Lei 3.688 /41).

II) Psicológica - compreendida como a agressão emocional, que é tão ou mais grave,
inclusive, que a violência física. Consiste em qualquer conduta que cause à vítima
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação
de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou

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qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
O comportamento típico, ademais, ocorre quando o agente ameaça, humilha, rejeita,
discrimina a vítima, demonstrando prazer ao constatar o outro diminuído, inferiorizado
e amedrontado.

III) Sexual - entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo,
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a
force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus
direitos sexuais e reprodutivos.

Tais agressões provocam, usualmente, nas vítimas, sentimentos de medo, culpa e


vergonha, preferindo ocultar os fatos. Ademais, nem sempre as mulheres reconhecem
como violência a relação sexual não desejada nas relações afetivas, além de outras
não terem o conhecimento que podem recusar tais práticas sexuais.

Nessa modalidade se encontram as diversas formas de estupro nas relações


domésticas e familiares, entre as quais o estupro nas relações conjugais, estupro de
vulnerável e menor de 14 anos. Importante evidenciar, todavia, que não será qualquer
crime contra a liberdade sexual, eis que a Lei Maria da Penha exige que o delito tenha
perpetrado no âmbito da unidade doméstica, familiar e/ou em qualquer relação íntima
de afeto.

IV) Patrimonial - entendida como qualquer conduta que configure retenção,


subtração, destruição parcial ou total dos objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos da vítima,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

Cabe acrescer que, usualmente, apresenta-se como meio para práticas de outros atos
de violência em relação à vítima (física ou psicológica).

V) Moral – consiste na violência verbal que, normalmente, ocorre de forma conjunta


à violência psicológica. Compreende-se como qualquer conduta que consista em

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calúnia (imputar à vítima fato criminoso sabidamente falso), difamação (divulgar fato
desonroso que ofenda a reputação da vítima) e injúria (atribuir à vítima qualidades
negativas, ofensivas à sua dignidade ou o decoro). Nos crimes contra a mulher a
investigação tem que ser tratada de forma diferenciada, tendo em vista suas
peculiaridades. Em se tratando da mulher que se encontra em situação de
violência doméstica, geralmente, não lhe basta saber dos seus direitos para conseguir
romper com o “Ciclo da Violência”, tendo em vista que a própria natureza deste tipo
de relacionamento abusivo faz com que a vítima se isole do seu convívio próximo e,
consequentemente, encontre dificuldades e limitações ainda maiores para tomar
alguma atitude.

É necessário que a mulher se sinta devidamente acolhida, para que possa, então,
sentir-se amparada e segura o suficiente para conseguir romper com o estado de
violência em que vive, eis que as agressões cometidas neste contexto ocorrem dentro
de um ciclo, repetido frequentemente, que apresenta em regra geral, três fases:

(Imagem: Instituto Maria da Penha)

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2.1.2 Ciclo da Violência Doméstica

1ª. Fase – Aumento da Tensão


• A sensação de perigo eminente sentida pela vítima decorre das tensões
acumuladas, face às agressões verbais e ameaças constantes proferidas
pelo agressor.
• Neste momento, o agressor além de ameaçar e destruir objetos, passa a
humilhar a vítima, criticando, a exemplo, o trabalho doméstico e aparência
desta, bem como de pessoas próximas (amigos, familiares e colegas de
trabalho), além de ter acessos de raiva, mostrando-se tenso e irritado por
situações irrelevantes.
• A mulher, em contrapartida, ao tentar acalmar o agressor, buscando evitar
qualquer conduta que possa vir a desagradá-lo, costuma a ter sentimentos
de aflição, medo, angústia, tristeza, ansiedade, dentre outros.
• Esta fase não é facilmente reconhecida, eis que, geralmente, a vítima tende
a negar que tais violências estão acontecendo com ela, escondendo os
fatos para as demais pessoas e, muitas vezes, acha que fez algo de errado,
além de justificar o comportamento violento do agressor através de fatores
externos como, a exemplo, problemas no trabalho, utilização em excesso
de álcool e drogas ilícitas, futebol e/ou outros fatores.
• Essa tensão pode durar dias, meses ou anos, todavia, tende a se
intensificar, ocasionando, assim, a segunda fase.

2ª. Fase – Ataque Violento

• Consiste na fase extrema do ciclo.


• Esta fase corresponde à explosão e à prática de atos violentos por parte
do agressor, face ao seu descontrole que chega ao limite. Toda a tensão
acumulada na Fase 1 se materializa em violência verbal, física, psicológica,
patrimonial ou sexual. Tais violências tendem a se intensificar na sua
frequência e escala.

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• A mulher sente-se paralisada e impossibilitada de reação, mesmo tendo


consciência de que o agressor está descontrolado e com poder destrutivo
em relação à sua vida e/ou de terceiros.
• Tensões psicológicas intensas são sofridas pela vítima, a exemplo,
ansiedade, oscilação de peso, insônia, fadiga, solidão, medo, raiva,
confusão, dor, pena de si mesma, além da vergonha.
Nesse estágio, a vítima costuma buscar ajuda médica e apoio de amigos
e/ou familiares, além de tomar outras decisões, como a de registrar um
boletim de ocorrência, pedir o divórcio ou, até mesmo, cometer
autoextermínio.

3ª. Fase – Lua de Mel (Arrependimento e Comportamento Carinhoso)

• Esta fase se caracteriza pelo arrependimento do agressor, de que com


intuito de se redimir das violências verbais e/ou físicas e/ou outras, a fim
de conseguir a reconciliação, torna-se amável.
• O agressor envolve a vítima com carinho e atenção, desculpando-se pelas
agressões, prometendo mudanças e não repetição de práticas violentas.
• Há um período relativamente calmo. A mulher se sente feliz ao constatar
os esforços, mudanças de atitude, além de recordar os momentos
agradáveis que vivenciaram.
• Com os sentimentos de remorso demonstrado pelo agressor, a vítima se
sente responsável por ele, estreitando, assim, a relação de dependência
entre os envolvidos.
• Sensação mista de medo, confusão, culpa e ilusão fazem parte dos
sentimentos da mulher.
• Finalmente, a tensão volta e, com ela, as agressões da Fase 1.
• Compreende-se o momento mais perverso do ciclo, ao retornar à repetição
sucessiva das retro mencionadas fases, continuamente, ao longo de
meses ou anos, culminando, em situações limites, em até um eventual
feminicídio.

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Seguem abaixo, os vídeos referentes às campanhas “Hoje eu recebi flores” que


evidencia o ciclo da violência doméstica, bem como “Violência contra a mulher precisa
ter fim”, realizada esta pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e o Grande Oriente
Brasil – Minas Gerais (GOB-MG), instituição da maçonaria regular, evidenciando
acerca dos tipos de violência, além de encorajar as mulheres a denunciar os abusos
sofridos e, por conseguinte, romper com o ciclo da violência.
https://www.youtube.com/watch?v=a4X0rrQMffc
https://www.youtube.com/watch?v=LY1y0y_XnoU

2.2 REDE DE ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA

A Lei Maria da Penha, no Título III, preceitua medidas assistenciais a mulheres em


situação de violência doméstica, a serem realizadas por uma Equipe Multidisciplinar,
integrada por profissionais na área de saúde, assistência social, médico, enfermeiras,

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psicólogos, Defensoria Pública e Assistência Jurídica Gratuita. Na obra Para Elas –


Por Elas, por Eles, Por Nós (Coleção Promoção de Saúde e Prevenção da Violência),
Volume 2, a r. Elza Machado de Melo, juntamente com Victor Hugo de Melo, ressalta
que “a violência contra a mulher ocorre em todo o mundo e atinge mulheres dentro e
fora da família, podendo causar danos físicos graves, incapacidades físicas
permanentes e óbitos. Para enfrentar esse tipo de violência, a principal estratégia é o
trabalho em rede, que pressupõe o diálogo e a negociação entre os diversos atores –
profissionais, serviços, setores e organizações sociais, a fim de planejarem ações que
permitam organizar redes integradas de atenção às mulheres em situação de
violência”. Ainda, acrescem que “é essencial para a construção de uma rede que ela
não seja apenas um arranjo organizado de serviços, mas também uma rede de afetos,
em que os profissionais se reconheçam como sujeitos capazes de, no encontro com
outros sujeitos, produzirem novas práticas de saúde. Representando tanto como
indivíduo quanto como coletivo”.

O Estado, a fim de buscar um melhor atendimento e amparo às vítimas, conta com


alguns equipamentos públicos especializados no atendimento destas mulheres para
que possa, assim, identificar o problema e as encaminhar adequadamente para o tipo
de serviço que elas necessitem – seja ele jurídico, médico ou psicológico. É uma
tentativa de buscar a integralidade e a humanização do atendimento, garantindo que
estas mulheres sejam cuidadas e amparadas por profissionais especializados. Desta

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forma, tem-se como um dos principais equipamentos públicos:

Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs) – as vítimas, ao se


depararem com qualquer espécie de violência doméstica, que consiste, segundo a Lei
n. 11.340 / 06 (Lei Maria da Penha), na ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, psicológico, moral, sexual, patrimonial, no
âmbito unidade doméstica, familiar e em qualquer relação íntima de afeto, devem se
dirigir à Delegacia de Polícia a fim de fazerem a denúncia sobre os tipos de violência
e ameaças que vem sofrendo.

A Autoridade Policial, ao tomar conhecimento da iminência ou da prática da violência


doméstica e familiar contra a mulher deverá, imediatamente, entre outras
providências:

• Encaminhar a ofendida ao hospital, posto de saúde e / ou Instituto Médico


Legal. (Aqui na Capital temos Médicas Legistas de Plantão na própria
Especializada. Quando necessário, são atendidas no IML);

• Oferecer transporte à Ofendida e seus dependentes para um abrigo, local


seguro, quando houver risco de vida. Cabe acrescer, inclusive, que o endereço
da Casa Abrigo é sigiloso e ela recebe filhos menores de 18 (dezoito) anos.

• Se necessário, acompanhar a Ofendida para a retirada de seus pertences no


local da ocorrência / domicílio.

• Informar a ofendida os direitos e serviços disponíveis.

Posteriormente, a Autoridade Policial irá representar junto ao Juiz pelo deferimento


das Medidas Protetivas de urgência, no prazo de 48 (quarenta oito horas), caso a
ofendida requeira.

Importante acrescer que tais medidas são encaminhadas à Justiça até antes de
completar referido prazo, visando assegurar de forma cada vez mais eficaz o bem
estar físico e psicológico da mulher.

Após análise pelo Judiciário no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, o Oficial de Justiça

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irá dar ciência acerca do deferimento das Medidas Protetivas ao ofensor.

É importante explicitar, ainda, que a Autoridade Policial poderá concluir pela


necessidade de representar pela prisão preventiva e busca e apreensão, em
conformidade com os princípios constitucionais e lei.

A Lei 12.403 de 2011 acrescentou o inciso III ao art. 313 do Código de Processo Penal
que prevê que será admitida a prisão preventiva se o crime envolver violência
doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa
com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;

As Delegacias Especializadas, desta forma, irão realizar ações de prevenção,


apuração dos delitos e investigação do caso. A partir daí, será dado início às
investigações sobre o ocorrido e, constatando-se a prática de um ou mais crimes,
possivelmente será instaurada uma ação penal contra o agressor.

É de suma importância expor, ainda, que na Capital e em outros Municípios há a


Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, com um Plantão funcionando 24
horas, visando, desta forma, “acolher” essa vítima sensibilizada da melhor forma
possível.

Todavia, a vítima deverá buscar a Delegacia Comum mais próxima, a fim de


resguardar seus direitos, caso não tenha acesso à Especializada.

Baixe gratuitamente o APP MG Mulher, desenvolvido pela Policia Civil de

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Minas Gerais com apoio da Secretaria de Justiça e Segurança Pública e saiba,


inclusive, as unidades policiais e instituições de apoio que estão mais próximas
de você. No aplicativo é possível ainda ter acesso a informações sobre violência
doméstica, tipos de violência, medidas protetivas, além de possibilitar a criação
de uma rede colaborativa. Nesta rede, a mulher pode cadastrar vizinhos, amigos
e familiares, sem limite máximo de pessoas, e em uma situação de emergência
gerar um alerta pare rede colaborativa. Ao gerar o alerta, as pessoas
cadastradas na rede colaborativa receberão, ao mesmo tempo, uma mensagem
SMS com o pedido de ajuda da mulher com o georeferenciamento do local onde
a mesma se encontra.

Tem-se, ainda, como principais equipamentos públicos:

• Órgãos da Defensoria Pública – a Constituição Federal, em seu art. 133,


expõe que a Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional,
incumbindo-lhe a defesa dos necessitados, em todos os graus. Desta forma,
prestam assistência jurídica integral e gratuita à população desprovida de
recursos para pagar honorários de advogado e os custos de uma solicitação ou
defesa em processo judicial, extrajudicial, ou de um aconselhamento jurídico.
Em algumas cidades, há Núcleos de Defesa da Mulher das Defensorias
Públicas (NUDEM), o que permite um atendimento mais especializado às
mulheres em situação de violência doméstica ou familiar.

• CRAS (Centros de Referência da Assistência Social) – são unidades


públicas que desenvolvem trabalho social com as famílias, visando promover o
bom relacionamento familiar, além do acesso aos direitos e a melhoria da
qualidade de vida. A atuação junto à comunidade busca a construção de
soluções para o enfrentamento de problemas comuns. Possibilitam o acesso
da população aos serviços, benefícios e projetos de assistência social,
tornando-se uma referência para a população local e para os serviços setoriais.
Os CRAS possuem atuação territorial ao atuar em determinadas regiões, o que
permite, por conseguinte, conhecer aquela população local e apoiar ações
comunitárias (através de palestras, campanhas e eventos). O CRAS tem uma
atuação mais geral, pois além da violência doméstica, auxilia em questões

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relativas à falta de acessibilidade, violência no bairro, trabalho infantil, falta de


transporte, baixa qualidade na oferta de serviços, ausência de espaços de
lazer, entre outros. Também orientada as cidadãs sobre os benefícios
assistenciais e pode inscrevê-las no Cadastro Único para Programas Sociais
do Governo Federal.

• CREAM (Centros de Referência de Atendimento à Mulher) – integram-se à


perspectiva das respostas multissetoriais à violência. Prestam o acolhimento,
acompanhamento psicológico e social, além da orientação jurídica às mulheres
em situação de violência (violência doméstica e familiar contra a mulher –
sexual, patrimonial, moral, física, psicológica; tráfico de mulheres, assédio
sexual; assédio moral; entre outras). São unidades mais especializadas nas
particularidades da mulher em situação de violência, dando primazia ao
aconselhamento em situação de crise, e, diversamente ao CRAS, menos
voltadas para a harmonização da família. No entanto, para prestar o
atendimento, são imprescindíveis recursos materiais e tecnológicos, além de
espaço físico adequado, com acessibilidade para pessoas com deficiência.
Assim, não são todos os municípios que contam com esse tipo de equipamento,
de modo que em muitos lugares as mulheres deverão acessar o CRAS para
contar com algum tipo de atendimento.

• CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) – são


unidades públicas de abrangência e gestão municipal, estadual ou regional,
destinada à prestação de serviços a indivíduos e famílias que se encontram em
situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência,
que demandam intervenções especializadas da proteção social especial. Tem
como escopo oferecer apoio e orientação especializados a indivíduos e famílias
em que o risco já se instalou, tendo os seus direitos violados, sendo vítimas de
violência física, psíquica e sexual, negligência, abandono, ameaça, maus tratos
e discriminações sociais. As principais atividades que constituem o trabalho
social essencial deste serviço são, entre outras, a acolhida e escuta, estudo
social, atendimento psicossocial, informação, comunicação e defesa de
direitos, diagnóstico socioeconômico, orientação e encaminhamentos para a

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rede de serviços locais, construção de plano individual e/ou familiar de


atendimento, orientação sócio familiar e jurídico-social, apoio à família na sua
função protetiva, acesso à documentação pessoal e articulação da rede de
serviços sócio assistenciais.

• Casas-Abrigo – oferecem asilo protegido e sigiloso, além de atendimento


integral (psicossocial e jurídico) a mulheres em situação de violência doméstica
(acompanhadas ou não de filhos) sob risco de morte. O período de
permanência nesses locais é de 90 a 180 dias, durante o qual as usuárias
deverão reunir as condições necessárias para retomar a vida fora das Casas-
Abrigo, conseguindo viver de maneira autônoma, não precisando retornar para
a residência antiga. Os endereços destas não são revelados a fim de garantir
a segurança e integridade da mulher.

• Os Serviços de Saúde Especializados para o Atendimento dos Casos de


Violência Contra a Mulher – contam com equipes multidisciplinares
(psicóloga/os, assistentes sociais, enfermeiras/os e médicas/os) capacitadas
para atender os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher e
contra a violência sexual.

Com a investigação dos crimes com a perspectiva de gênero, assim, as instituições


envolvidas nessa investigação tornam-se imprescindíveis para combater e eliminar as
estruturas e padrões de poder e domínio que submetem as mulheres às diferentes
formas de violência, inclusive ao feminicídio, no âmbito das suas relações familiares,
de afetividade ou coabitação.

Ainda, em relação às peculiaridades no tratamento destes tipos de delito, cada


Prefeitura poderá prever suas próprias instituições especializadas no atendimento de
mulheres em situação de violência, sendo essencial, desta forma, conhecer quais são
as redes disponíveis em seu Município.

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É de extrema relevância evidenciar, ademais, que os trabalhos e ações desenvolvidas


pelas organizações da sociedade civil (coletivos, ONGs ou até redes de apoio) são
fundamentais para o apoio e acolhimento destas vítimas, ao buscarem demonstrar às
mulheres que elas estão vivendo uma situação pela qual muitas outras já passaram e
que, efetivamente, pode buscar auxílio junto à sua rede local.

É importante acrescer que é possível obter informações, também, por meio do Ligue
180 (Central de Atendimento à Mulher) - serviço gratuito, 24 (vinte e quatro) horas, em
todos os dias da semana, inclusive, feriados, que atende ligações de todo o Brasil e
exterior. As atendentes são devidamente treinadas para dar informações, orientando
como se proceder, denunciar a agressão, encaminhando denúncias de violências para
as autoridades locais.

Dessa forma, finalmente, as mulheres, vítimas de violências, devem buscar ajuda. É


o primeiro e mais importante passo para conseguir romper o ciclo da violência,
procurando garantir a sua segurança, evitando até um eventual feminicídio. A
violência doméstica é um tipo de violência de gênero e, por conta disso, afeta a
incontáveis mulheres. Conhecer quais são os serviços e a rede de acolhimento
disponível em seu Município, seja ela formal ou informal, é fundamental. As Mulheres
têm que ter em mente que não estão sozinhas!

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REFERÊNCIAS

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2016. v. 1 e v. 2

• BEZERRA, Clayton da Silva, AGNOLETTO, Giovani Celso (2018). Combate à


Violência contra a Mulher - Medidas Protetivas – Lei Maria da Penha. 1ª Edição
– Rio de Janeiro, 2018.
• BRASIL . Orientações para o uso de Formulário de Avaliação de Risco FRIDA.
Brasil. 2019.
• BRASIL. Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de
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• BRASIL. Diretrizes gerais e protocolos de atendimento. Programa “Mulher,
viver sem violência”. Brasil: Governo Federal. Secretaria Especial de Políticas
para mulheres. 2015
• BRASIL. Diretrizes para investigar, processar e julgar com perspectiva de
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• BRASIL. Orientações de Uso para o Formulário de Avaliação de Risco FRIDA
(2019).
• BRASIL. Resolução 284/2019 do Conselho Nacional de Justiça (2019);
• BRASIL. Resolução Conjunta N.º 5/2020 do Conselho Nacional do Ministério
Público e do Conselho Nacional de Justiça (2020);
• BRASÍLIA. Formulário de Avaliação de Risco FRIDA: Um instrumento para o
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• BRASÍLIA. Guia de Avaliação de Risco para o Sistema de Justiça–
MPDFT/2018
• CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica (Lei
Maria da Penha): Lei 11.340/2006 comentado artigo por artigo. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007.

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de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007.
• Educação Livre. Disponível em:<https://www.edulivre.org.br/> Acesso em: 01
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• MEDEIROS, Marcela Novais. Avaliação de risco em casos de violência contra
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