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Módulo III | Violência Doméstica: Conhecer a

situação e refletir sobre ela


Curso Técnico de Apoio á Vítima

Formador: Maria Coutinho


Musica

Cartão
t
de Cor

visita Nome Verbo

Grupos de Reflexão e Ação Projeto n.º


087961/2012/77 da Tipologia 7.7. do POPH Acontecimento
de vida

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Objetivos específicos
o Distinguir os conceitos de Violência de Género, Violência Contra as Mulheres,

Violência Doméstica e Violência nas Relações de Intimidade

o Refletir sobre as crenças, estereótipos e atitudes bloqueadoras da intervenção

o Caraterizar as formas de violência

o Conhecer os dados epidemiológicos

o Indicar as teorias explicativas da violência doméstica

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Objetivos específicos
(cont.)
o Reconhecer os custos sociais, económicos e de saúde associados à VD

o Compreender o ciclo da violência

o Enumerar as estratégias de poder e controlo utilizadas pelo/a agressor/a

o Identificar as características psicossociais dos/as agressores/as e das vítimas

o Identificar as consequências e impacto da vitimação

o Compreender os fatores explicativos da permanência na relação abusiva

o Compreender a violência exercida sobre pessoas em situação de especial vulnerabilidade

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Violência doméstica
Refletir sobre ela….

o Que representação tenho acerca do que é a violência doméstica?

o O que penso acerca das causas e manutenção deste fenómeno?

o Este é ou não um assunto que me diz respeito?

o Na minha prática profissional de que forma este problema se coloca? Como intervenho?

o Que dificuldades sinto ao lidar com esta problemática?

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Os
conceitos

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Violência Doméstica
Estaremos a falar do mesmo?

Violência doméstica Violência Marital

Violência Familiar Violência de Género

Maus Tratos Violência sobre as crianças

Violência contra a Mulher Violência sobre os idosos

Violência Conjugal Stalking


Violência nas relações de
Violência no casal
namoro

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Violência
“O uso intencional de força física ou poder, em forma de ameaça ou praticada,
contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que tem como
consequência (ou tem grande probabilidade de originar) lesões, morte, dano
psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações”.
(Organização Mundial da Saúde, 1996).

 Intencionalidade
 Poder
 Alvos
 Natureza
 Impacto

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Violência de género
“Qualquer ato, omissão ou conduta que serve para infligir sofrimentos físicos, sexuais ou mentais
direta ou indiretamente, por meio de enganos, ameaças, coação ou qualquer outro meio, a qualquer
mulher e tendo por objetivo e como efeito intimidá-la, puni-la ou humilhá-la ou mantê-la nos seus
papéis estereotipados ligados ao seu sexo ou recusar-lhe a dignidade humana, a autonomia sexual, a
integridade física, mental e moral ou abalar a sua segurança pessoal, o seu amor-próprio ou a sua
personalidade, ou diminuir as suas capacidades físicas ou intelectuais”.
(Conselho Europa, 2002)

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Violência contra as Mulheres
“Violação dos direitos humanos e uma forma de discriminação contra as mulheres,
abrangendo todos os atos de violência baseados no género que resultem, ou sejam
passiveis de resultar, em danos ou sofrimento de natureza física, sexual, psicológica
ou económica para as mulheres, incluindo a ameaça de tais atos, a coação ou a
privação arbitrária da liberdade, tanto na vida pública como na vida privada”.
(Convenção de Istambul, 2011)

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Violência doméstica
“Comportamento violento ou um padrão de controlo coercivo exercido, direta ou indiretamente, sobre
qualquer pessoa que habite no mesmo agregado familiar (e.g., cônjuge, companheiro/a, filho/a, pai,
mãe, avô, avó), ou que, mesmo não co-habitando, seja companheiro, ex-companheiro ou familiar.
Este padrão de comportamento violento continuado resulta, a curto ou a médio prazo, em danos
físicos, sexuais, emocionais, psicológicos, imposição de isolamento social ou privação
económica da vitima, visa dominá-la, fazê-la sentir-se subordinada, incompetente, sem valor ou

fazê-la viver num clima de medo permanente”.

(CIG, Guia de Boas Práticas para Profissionais de Instituição de Apoio a Vítimas, 2009)

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Violência doméstica (cont.)
Crime de violência doméstica | artigo 152º do CPP

1 - Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos
corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais:

a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge;

b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma
relação de namoro ou uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação;

c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; ou

d) A pessoa particularmente indefesa, nomeadamente em razão da idade, deficiência, doença,


gravidez ou dependência económica, que com ele coabite; é punido com pena de prisão de um a
cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.

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Violência doméstica (cont.)
Crime de violência doméstica | artigo 152º do CPP

Tipos de relacionamentos abrangidos:


 vítima e agressor são ou foram casados;

 vítima e agressor vivem ou viveram em união de facto;

 vítima e agressor são ou foram namorados (ainda que sem coabitação);

 vítima e agressor têm um filho em comum, ainda que nunca tenham coabitado ou sequer tido uma relação estável de
namoro;

 a vítima coabita com o agressor e encontra-se particularmente indefesa em razão de idade, deficiência, doença,

gravidez ou dependência económica (e.g, crianças, pessoas idosas ou pessoas portadoras de deficiência).

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Violência nas Relações de Intimidade
“A violência entre parceiros íntimos é o abuso de uma pessoa sobre outra, numa relação específica
de intimidade, podendo ocorrer em relações maritais e não maritais (e.g., namoro, coabitação,
separação), atuais ou passadas, de carácter heterossexual ou homossexual”

(Matos, 2006, pag 27).

A noção de VRI resulta da necessidade de alargar a noção de VD e, em particular, a de VC, de modo


a abranger a violência exercida entre companheiros envolvidos em diferentes tipos de
relacionamentos íntimos e não apenas na conjugalidade strictus sense (e.g., violência entre casais
homossexuais, violência entre namorados.
(Manita, Oliveira, & Peixoto, 2009, p.10-11).

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Violência nas Relações de Intimidade (cont.)
Padrões de violência na intimidade ou conflitos no casal (Johnson, 2000)

• Violência Comum entre o casal: Violência recíproca como resposta a um conflito específico e
eventualmente de caráter episódico

• Violência assente no poder masculino sobre o feminino “terroristic violence”: padrão mais grave,
tende a escalar, inibindo a defesa da vítima, motivado pelo desejo de controlo, tipicamente um padrão de
domínio masculino

• Resistência Violenta (da vítima): registo de autodefesa da mulher face a um padrão de vitimação
conjugal continuada.

• Controlo Violento Mutuo: mutualidade e paralelismo no poder e dinâmicas violentas (nesta dinâmica
relacional ambos os parceiros são violentos e lutam para ter o controlo da relação)

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Violência nas Relações de Intimidade (cont.)
Complexidades…

Conhecimentos Proximidade
Comportamentos Ambivalência Envolve relações e estratégias de entre o
Invisibilidade violentos no de intimidade e de
na vitima controlo da agressor e a
espaço privado afeto vítima vítima

REFORÇA A MANUTENÇÃO DA RELAÇÃO ABUSIVA

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Violência nas Relações de Intimidade (cont.)
Como se expressam

• Comportamentos abusivos e intencionais


• Padrão de continuidade

• Envolve desde violência subtil até formas de agressão severas

• Violência polarizada em termos de género

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Homens Vitimas nas Relações de Intimidade

• A violência na intimidade não se limita ás mulheres, os homens também podem ser vitimas
de abuso – problema comum e real.

• Estratégias abusivas: controlo, ameaças, coação como ameaças de morte ou suicídio,


ameaças de chamar a polícia para o companheiro ser falsamente acusado pelo crime de
violência doméstica, abandonar a relação, retirar ou impedir acesso aos filhos.

• Impacto significativo decorrente da vitimação.

• Obstáculos na procura de ajuda.

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Violência nas Relações Intimas Homossexuais

• Invisibilidade associada a fenómenos de homofobia e heterossexismo

• Características e dinâmicas típicas de qualquer manifestação de violência entre


parceiros íntimos:

• Níveis de prevalência semelhantes às encontradas em casais heterossexuais.

• Diferentes estratégias abusivas: abuso físico, psicológico, social, emocional e sexual.

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Violência nas Relações Intimas Homossexuais (cont.)

Especificidades da violência nas relações homossexuais

• O outing como instrumento de intimidação

• A ligação entre a sua identidade sexual e a violência

• Violência doméstica como problema dos heterossexuais

• O isolamento e a confidencialidade da chamada comunidade LGBT

• O estigma na procura de ajuda

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Violência nas Relações de Namoro
• A violência nos relacionamentos não acontece apenas entre adultos.

• A violência no namoro é um ato de violência, pontual ou contínua, cometida por um


dos parceiros (ou mesmo ambos) contra o outro numa relação de namoro. Tem como
objetivo de controlar, dominar e ter mais poder do que a outra pessoa. Estes atos
poderão incluir formas de violência psicológica, verbal ou relacional, bem como atos
físicos e sexualmente violentos.

• Os jovens raramente revelam o abuso e são relutantes em procurar ajuda

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Violência nas Relações de Namoro (cont.)

-O argumento do AMOR como


Ciúme fator de manutenção da
violência na intimidade

- Sentimento de posse
- Monitorização das rotinas
- Restrição da liberdade Controlo
- Interferência na tomada
de decisões

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Violência nas Relações de Namoro (cont.)
 A probabilidade de as raparigas serem agressoras é igual à probabilidade de os
rapazes serem agressores. Raparigas e rapazes podem assumir tanto o papel de
vítimas como o de agressores.

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Violência nas Relações de Namoro (cont.)

Discursos e crenças dos jovens sobre a violência no namoro

 Conceptualização dos atos como abusivos dependente da intenção do agressor, do


contexto da agressão e impacto sofrido.

 Desculpabilização de certas formas de violência: quando o agressor é visto como


agindo de forma impulsiva ou descontrolada, ou quando manifesta posteriormente
arrependimento.

 Violência sexual vista como rara nas relações íntimas juvenis devido à minimização
de formas “menores” de violência sexual.

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Crenças e
estereótipos

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Crenças e Estereótipos

• Apesar de ser consensual a condenação da violência doméstica, alguns preconceitos


e mitos profundamente enraizados na nossa cultura e sociedade continuam a
dificultar a intervenção neste domínio.

• Não só constituem explicações simplistas e falsas para a VD, como levam a pensar
que este fenómeno apenas acontecem aos outros.

• Muitas vitimas destas formas de violência acabam também por ser vitimas destas
crenças e mitos que as levam a sentir-se inferiores, e incapazes de reagir ao abuso e
de pedir ajuda.

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Crenças e Estereótipos (cont.)
• A violência é facilitada por determinados valores, crenças e mitos

 Sobre o casamento
é uma cruz a carregar
é para toda a vida

 Sobre a conjugalidade
a mulher deve obediência ao marido
a mulher tem deveres/obrigações para com o homem
o marido tem o direito de bater na mulher

 Sobre a conduta violenta/abusiva do/a parceiro/a


bater é sinal de interesse ou amor
só ocorre devido ao álcool

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Exercício nº 1

Discussão em grupo dos mitos mais comuns no que se


refere à violência doméstica e discussão em grupo.

Substituição dos mitos identificados por formas de pensar


e problematizar o tema da violência doméstica de forma
critica e realista.

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Crenças e Estereótipos (cont.)
Entre marido e mulher ninguém mete a colher

• A violência doméstica é um crime público e qualquer cidadão tem o dever e o direito de denunciar.

“…a culpa é do álcool e das drogas”

• As substâncias não são a causa da violência, mas podem potenciá-la porque têm um efeito desinibidor.
Existem perpetradores de VD/VRI que não consomem álcool, a maioria dos agressores agride mesmo
quando não está sob efeito do álcool e que a maioria das pessoas consome álcool/drogas não agride
as/os companheiras/os.

“A violência doméstica é coisa de pessoas pobres”


• As vítimas e os/as agressores/as provêm de todos os estratos sociais, de todas as idades, etnias e credos
religiosos, sendo umViolência
fenómeno de caráter
Doméstica transversal
| Conhecer a situação eassumindo
refletir sobre diferentes
ela contornos. 29
Crenças e Estereótipos (cont.)
As pessoas são vitimas de violência doméstica porque querem.

• São vários os fatores que, frequentemente, impedem as vítimas de desenvolverem estratégias para
acabar com a situação de violência, nomeadamente a dependência, técnicas de controlo por parte do/a
agressor/a, fraca rede de apoio social, existência de resposta inadequada do sistema judicial, isolamento
social, impedimentos culturais ou religiosos, o medo de sofrer ainda mais violência ou o facto de haver
filhos em comum.

“Só as mulheres são vítimas de violência”.

• Os homens também são vítimas da violência doméstica e as estatísticas em Portugal revelam que,
apesar das mulheres serem as maiores vítimas, tem havido um aumento no número de denúncias por
parte dos homens às forças de segurança.

“O marido tem direito em bater na mulher quando ela se porta


mal”.

• A violência não é um argumento válido nas discussões do casal, pois existem outras maneiras de resolver
os problemas relacionais.
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 30
Crenças e Estereótipos (cont.)

“Uma bofetada não magoa ninguém”.

• A agressão, em regra, nunca é pontual. Esta é reiterada, ou seja, continuada no tempo e, por vezes, com
consequências físicas graves para a mulher/homem que pode resultar em MORTE.

“O marido tem direito ao corpo da mulher”.

• Ninguém tem o direito ao corpo de outrem.

Os agressores têm doença mental.

• Esta é uma ideia generalizada entre cidadãos e profissionais de diferentes áreas. No entanto, estudos
internacionais demonstram que apenas 5 a 10% dos perpetradores de VD/ VRI terão algum tipo de
psicopatologia/perturbação mental associada. É difícil aceitar a ideia de que estes padrões de violência
continuada possam Violência
ser exercidos por| Conhecer
Doméstica indivíduos normais
a situação (e, contudo,
e refletir sobre ela são-no). 31
Crenças e Estereótipos (cont.)
Um/a agressor/a pode ser bom pai ou boa mãe.

• A qualidade da interação entre o/a pai/mãe e filhos deve ser cuidadosamente avaliada numa situação de
violência. Cientificamente está provado que o facto de as crianças estarem expostas a situações de
violência pode ter impacto nas mesmas, muitas vezes visível através de alterações comportamentais,
emocionais e psicológicas (vitimização vicariante).

A vitima não pode sair de casa porque perde os direitos.

• A vítima tem o direito e a responsabilidade de proteger-se a si e aos seus filhos, devendo sempre informar
as autoridades judiciais quando pretenda sair de casa.

As crianças que residem em agregados onde ocorre violência


tendem a tornar-se vítimas ou agressoras.

• Isto, infelizmente, pode ser verdade. Embora muitas vezes os pais refiram que durante os episódios de
violência, as crianças estejam a dormir ou não comentem a respeito do que veem e ouvem, elas são
afetadas psicologicamente. As crianças apresentam elevada probabilidade de reproduzir os modelos dos
adultos, quer como vítimas quer como agressoras, perpetuando o ciclo da violência de forma
transgeracional. Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 32
Crenças e Estereótipos (cont.)
Os agressores são sempre pessoas más e cruéis.

• A maior parte das vezes, os agressores são pessoas socialmente adaptadas, de todos os meios sociais. A
maioria não tem antecedentes criminais

As relações entre pessoas do mesmo sexo são relações entre


“iguais”

• As relações entre pessoas do mesmo sexo incluem assimetrias e dinâmicas de poder que podem
decorrer de vários fatores, independentes do sexo. Em paralelo, cada pessoa experiencia o género de
forma particular, ou seja, existem diferentes experiências de masculinidade e diferentes experiências de
feminilidade. Dito de outro modo: mulheres e homens não constituem dois grupos homogéneos e distintos
entre si. Deste modo, também as relações entre pessoas gays, lésbicas e bissexuais podem incluir
dinâmicas e assimetrias de género.

Em casais do mesmo sexo, a violência não é tão séria e grave


como em casais de sexo diferente.

• Em casais do mesmo sexo, as dinâmicas e os tipos de violência são semelhantes aos casais de sexo
diferente. Do mesmo modo, não existem diferenças no que respeita à gravidade das consequências da
vitimação. Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 33
Crenças e Estereótipos (cont.)
As relações conjugais ou de intimidade entre pessoas do mesmo
sexo são mais fáceis de terminar.

• Os vínculos afetivos entre casais homossexuais são tão sólidos como os existentes em casais hetero. O
mito de que as relações entre pessoas do mesmo sexo são mais fáceis de terminar baseia-se na crença
de que estas relações são mais frágeis ou fugazes, ou mesmo de que se baseiam, fundamentalmente,
em sexo e não tanto em amor ou afeto.

A violência nas relações de namoro da adolescência é sobretudo


cometida pelos rapazes.

• Tanto rapazes como raparigas podem ser agressivos/violentos com os seus parceiros.

Entre um casal de namorados não existe violência sexual porque


a atividade sexual faz parte de qualquer relação de namoro

• Qualquer acto sexual (desde um simples beijo até ao coito vaginal, anal e/ou oral), quando efectuado na
ausência de consentimento por parte de um dos elementos, ou através do seu constrangimento (pela
ameaça, força física,Violência
intimidação ou |persuasão),
Doméstica consiste
Conhecer a situação numa
e refletir experiência
sobre ela de vitimação sexual. 34
Formas de
exercício de
VD

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 35


Formas de Exercício da VD (cont.)

FISICA PSICOLÓGICA

SEXUAL FINANCEIRA

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 36


Formas de Exercício da VD (cont.)
VIOLENCIA FISICA

• Uso intencional da força física com o objetivo de ferir/causar dano físico/orgânico,


deixando ou não marcas evidentes.

• A violência física pode ir de formas menos severas até formas mais severas (e.g. lesões
graves, incapacidade, morte da vitima)

• Exemplos:
• Empurrar;
• Puxar o cabelo;
• Bater (murros, pontapés, bofetadas, cabeçadas)
• Morder; Apertar o pescoço;
• Bater com a cabeça da vítima na parede armários ou outras superfícies;
• Empurrar pelas escadas abaixo;
• Queimar;
• Bater com objetos; atropelar.

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Formas de Exercício da VD (cont.)

VIOLENCIA SEXUAL

• A violência e a coação sexual são alguns dos crimes sexuais mais praticados
no âmbito da VD, mas que muitas das vitimas, devido a crenças erradas,
valores e mitos, não reconhecem como tal.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 38


Violência Sexual nas Relações de Intimidade:
formas de VS
• Coito oral, vaginal ou anal forçado ou tentativa de;

• Práticas sexuais não consentidas ou não acordadas entre os/as parceiros/as (e.g.,
recurso à violência física e/ou psicológica antes, durante ou depois);

• Participação forçada em atos sexuais com outra/s pessoa/s ou sexo não consentido com
o/a parceiro/a na presença de outras pessoas;

• Manifestações de cariz sexual sentidas como degradantes pelas vítimas (e.g., toques
sexuais indesejados);

• Envolvimento forçado na produção e/ou visionamento de pornografia ou outros


conteúdos sexuais;

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 39


Violência Sexual nas Relações de Intimidade:
formas de VS
• Prostituição forçada;

• Produção e/ou divulgação de imagens íntimas, de natureza sexual, das vítimas sem o
seu consentimento, nomeadamente através de meios digitais;

• Utilização de práticas sexuais como prova de fidelidade;

• Punição das vítimas (física, emocional, social, etc.) se estas não realizarem as
exigências sexuais das pessoas agressoras.

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Violência Sexual nas Relações de Intimidade:
especificidades
• Trauma

• Agressões sexuais múltiplas e continuas

• Crenças sociais distorcidas

• Difícil reconhecimento

• Dependência

• Insegurança

• Consequências

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Violência Sexual nas Relações de Intimidade:
crenças e mitos
• A violência sexual é cometida por pessoas estranhas e criminosas e acontece,
geralmente, em locais públicos, ainda que isolados.

• As consequências da VSRI são menos graves do que as da violência sexual cometida


por pessoas desconhecidas.

• A VSRI é um fenómeno raro, isolado e pontual.

• A VSRI acontece apenas entre homens e mulheres.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 42


Violência Sexual nas Relações de Intimidade:
crenças e mitos
• A VSRI é um assunto do foro privado.

• As vítimas de VSRI não estão em risco de homicídio conjugal.

• A violação é o tipo de VSRI mais comum.

• A maioria das denúncias de VSRI é falsa.

• As vítimas provocam a violência sexual através de determinado tipo de vestuário, atitude


e/ou comportamento.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 43


Violência Sexual nas Relações de Intimidade:
crenças e mitos
• Se as vítimas consentirem determinado ato sexual, não podem mudar de ideias.
• Se alguém opta por não denunciar a situação é porque não é violência sexual.

• Se alguém não resiste, não chora e nem parece visivelmente abalado/a é por-que não
foi vítima de violência sexual.

• Os homens não são vítimas de VSRI.

• As pessoas que cometem VSRI têm distúrbios mentais.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 44


Formas de Exercício da VD (cont.)
VIOLENCIA PSICOLÓGICA

Coagir e Ameaçar Intimidar

• Ameaçar provocar lesões na • Atemorizar a propósito de


pessoa da vítima olhares, atos, comportamentos

• Destruir pertences ou objetos • Exibir armas


pessoais do outro
• Perseguir no contexto de
• Ameaçar de morte, ameaçar emprego
usar uma arma, ameaçar matar-
se

• Coagir para prática de condutas


ilícita 45
Formas de Exercício da VD (cont.)
VIOLENCIA PSICOLÓGICA
Usar Violência Emocional

• Desmoralizar
• Criticar
• Acusar de ter amantes
• Fazer com que o outro se sinta mentalmente diminuído ou culpado
• Humilhar
• Maltratar os animais de companhia

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Formas de Exercício da VD (cont.)
VIOLENCIA PSICOLÓGICA
Isolar

• Estratégias implementadas pelo/a agressor/a para afastar a vitima da sua rede social e familiar. Uma vitima
isolada é mais facilmente manipulável e controlável.

• A própria vitima também acaba por se afastar dos outros, quer por vergonha da situação de VD ou de
eventuais marcas físicas visíveis resultantes da violência física sofrida, quer por consequência das
perturbações emocionais produzidas pela VD.

• Exemplos:
• controlar a vida do outro: com quem fala, o que lê, as deslocações, os quilómetros do carro
• proibir o uso do telefone
• limitar o envolvimento externo do outro
• usar o ciúme como justificação

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 47


Formas de Exercício da VD (cont.)
VIOLENCIA PSICOLÓGICA

Instrumentalizar os Filhos Minimizar, negar, culpabilizar

• Fazer o outro sentir-se culpado • Desvalorizar a violência e não levar


relativamente aos filhos em conta as preocupações do outro
• Usar os filhos para fazer passar • Afirmar que a agressão ou a violência
mensagens nunca tiveram lugar
• Ameaçar levar de casa os filhos • Transferir para o outro a
• Tratar a mulher como empregada responsabilidade pelo comportamento

• Tomar sozinho todas as decisões violento

importantes • Afirmar que a culpa é do outro

• Ser o que define, sozinho, o papel da


mulher e do homem 48
Formas de Exercício da VD (cont.)
VIOLENCIA FINANCEIRA

• Associada frequentemente ao isolamento social é uma forma de controlo através do qual o/


agressor/a nega à vitima o acesso a bens e/ou dinheiro

• Mesmo que a vitima tenha emprego, a estratégia passa por não lhe permitir a gestão do seu
vencimento.

Exemplos:
Utilização dos recursos da vitima
Utilização de coerção para a assinatura de documentos legais
Tomar posse dos bens da vítima
Forçar o pedido de dinheiro
Impedir que o outro conheça ou aceda ao rendimento familiar
Evitar que o outro tenha ou mantenha um emprego

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 49


Formas de Exercício da VD (cont.)

STALKING

• É a mais dramática forma de perseguição e a mais frequente componente


comportamental de controlo coercivo a seguir aos atos de agressão.

• Não existe consenso quanto à definição deste termo, no entanto a maior parte dos peritos
concorda que pode ser definido da seguinte forma: “Padrão persistente de
comportamentos de perseguição e intrusivos exercidos por uma pessoa contra outra, com
o objetivo de provocar perturbação e medo na vítima”

• Isoladamente estes comportamentos podem parecer de menor importância mas as


circunstancias e a repetição dão-lhe um significado mais sinistro

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 50


Formas de Exercício da VD (cont.)
STALKING

• Os comportamentos de stalking podem incluir:

• Controlo coercivo: vigiar a vitima, telefone, correspondência, pc, pesquisa on-line, contratar
investigadores para obter informações sobre a vítima.

• Comunicação indesejada: telefonemas, cartas,emails, sms, redes sociais.

• Contatos indesejados: aparecer e vaguear ou permanecer perto dos locais frequentados pela
vítima, morada ou local de trabalho, espiar a vitima, seguir ou abordar a vitima em publico ou
em privado, invadir a casa ou trabalho da vitima; contatos ou abordagens intrusivas a membros
da rede familiar e social da vitima.

• Comportamentos associados: mandar ou deixar objetos ou “presentes”, encomendar ou


cancelar encomendas ou serviços, fazer queixas vexatórias, ameaças, danificar bens, vasculhar
lixo da vítima e exercício de violência.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 51


Formas de Exercício da VD (cont.)
Mas na realidade

As situações de VRI envolvem, geralmente, mais do que uma forma de


violência.

Raramente estamos perante uma única forma de violência, antes perante uma
combinação de múltiplas formas de violência.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 52


Dados
epidemiológicos

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 53


Dados epidemiológicos
Até há bem pouco tempo a VD era uma fenómeno “raro / infrequente”…

• Neste momento, todas as estatísticas nacionais e internacionais contrariam esta ideia.

• Não obstante, é mais fácil acreditar que a VD/VRI é um problema apenas de alguns (poucos,
os outros) do que admitir que ela possa existir no seio da nossa família, entre as nossas
pessoas amigas, colegas ou vizinhos/as.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 54


Dados epidemiológicos | Internacionais
OMS (2013) – Relatório sobre a prevalência e efeitos na saúde da VCM

o Duas formas: violência nas relações de intimidade (física e / ou sexual) e violência sexual perpetrada por
outro/a que não parceiro/a intimo.

• 35% das mulheres foram/são vítimas


• Maioria da violência ocorre no âmbito das relações de intimidade
• 30% das mulheres experienciaram violência no âmbito das relações de intimidade
• 38% dos homicídios de mulheres são cometidos no âmbito das relações de intimidade

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 55


PREVALÊNCIA AO LONGO DA VIDA DA VCM PERPETRADA NO ÂMBITO RELAÇÕES DE INTIMIDADE
Retirado de OMS (2013), p, 18

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 56


Dados epidemiológicos | Internacionais
o INQUÉRITO FRA | Violência Contra as Mulheres (entrevistas presenciais a 42000 mulheres da EU, entre os 18 e os 74 anos
de idade. As mulheres foram questionadas sobre as suas experiências de violência física, sexual ou psicológica, incluindo atos violentos
perpetrados por um parceiro íntimo («violência doméstica»)

Violência Física
• 22% foram vítimas de violência física e/ou sexual pelo parceiro atual ou passado
• Um terço das vítimas (34%) de violência física por parte de um parceiro anterior sofreram pelo menos quatro formas
de violência física
• Uma em cada seis mulheres (16%) afirma ter sido agredida por um parceiro anterior depois de terminar a relação.
• De entre as mulheres que foram vítimas de violência por um parceiro anterior e que engravidaram durante essa
relação, 42% declaram ter sofrido os atos de violência quando estavam grávidas. Em comparação, 20% das
mulheres vítimas de violência por parte do seu parceiro atual, sofreram esses atos de violência durante a gravidez

Violência Sexual
• De entre as inquiridas que dizem ter sido violadas pelo parceiro atual, cerca de um terço (31%)
afirmam ter sofrido seis ou mais incidentes de violação.
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 57
Dados epidemiológicos | Internacionais
o INQUÉRITO FRA | Violência Contra as Mulheres

Violência Psicológica
• Uma em cada três mulheres (32%) foi vítima de comportamentos psicologicamente abusivos por parte
de um parceiro íntimo, atual ou anterior.
• Globalmente, 43% das mulheres sofreram alguma forma de violência psicológica por parte de um
parceiro íntimo
• De entre as mulheres que tinham uma relação no momento do inquérito, 7% sofreram quatro ou mais
formas diferentes de violência psicológica.
• As formas mais comuns de violência psicológica por parte de um parceiro consistem em rebaixar ou
humilhar a mulher em privado, insistir em saber sempre onde ela está de um modo que excede uma
preocupação normal e irritar-se se ela falar com outros homens. Uma mulher em cada quatro foi
vítima destas formas de violência nas suas relações íntimas.
• A maioria das mulheres que sofreram várias (quatro ou mais) formas de violência psicológica também
referiram no inquérito que o seu parceiro atual foi fisicamente e/ou sexualmente violento com elas.

Violência Económica
• Cerca de 5% das mulheres foram vítimas de violência económica na sua relação atual e 13% em
relações passadas Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 58
Dados epidemiológicos | Nacionais
Inquérito Nacional sobre a Violência exercida contra homens e mulheres (Lisboa, Barroso, Patrício
& Leandro, 2009)

• Vitimização masculina ( agressões físicas, psicológicas e sexuais ) superior à vitimização feminina


(42.5% vs 38%)

• Em média, 1 em cada 3 mulheres foi alvo de violência física, psicológica e / ou sexual

• Entre aquelas que foram vítimas no último ano (12,8%), metade são alvo de atos criminalizados sob a
forma de violência doméstica

• O local onde as mulheres têm maior probabilidade de vitimação é a casa

• As mulheres são vítimas sobretudo de autores homens

• Os autores da violência contra as mulheres são na maioria (ex)companheiros

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 59


Dados epidemiológicos | Nacionais
Inquérito Nacional sobre a Violência exercida contra homens e mulheres (Lisboa, Barroso, Patrício
& Leandro, 2009)

• Nos atos relativos à violência doméstica, a probabilidade disso acontecer com os homens é cerca de
três vezes menor nos homens do que nas mulheres.

• Os locais onde os homens têm maior probabilidade de vitimação são os espaços públicos ou o local de
trabalho

• Os homens são vítimas sobretudo de autores homens

• Os autores da violência contra os homens são na maioria desconhecidos e colegas, e quando há


referências a familiares são maioritariamente os pais.

/05/2021 Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 60


Dados epidemiológicos | RASI 2021

2017 2018 2019 2020

26 713 26 483 29 498 27637

2019 COM O VALOR MAIS ELEVADO DE OCORRÊNCIAS DESDE 2010

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 61


Dados epidemiológicos | RASI 2020
• Em termos absolutos, os distritos de Lisboa (6258), Porto (4428), Setúbal (2774), Aveiro (1915) e
Braga (1958) são os distritos onde se registam mais ocorrências.

• O distrito de Vila Real registou 490 ocorrências.

• Quanto às taxas de incidência por mil habitantes (RASI 2019), as mais elevadas registaram-se
nas RA da Madeira e Açores e a menor no distrito de Beja. Os distritos de Faro (3,6), Setúbal (3,3),
Castelo Branco (3,2), Lisboa (2,9), Portalegre (2,9) e Aveiro (2,9) registam taxas superiores à média
nacional.

A taxa de incidência média nacional foi de 2,8.


Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 62
Dados epidemiológicos | RASI 2020
VITIMA DENUNCIADO

75% mulheres

74% tem mais de 25 anos 81,4% homens

48,6% é
cônjuge/companheira;
15% é ex
cônjuge/companheira

15,6% filho/enteado 93,1% tem mais de 25


anos
5,9% é
pai/mae/padrasto/madrasta
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 63
Dados epidemiológicos | RASI 2020

Acusação
5043
INQUÉRITOS TERMINADOS: 33873
Suspensão
P.
2001

Arquivamento
21327

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 64


Dados epidemiológicos | ESTATISTICAS APAV

Vitimas de Violência Doméstica 2013-2017

• 36528 processos de apoio | 85% vitimas são mulheres | 41% das vitimas tem entre 26 e 55 ano

• 59% a vitima tem uma relação de cônjuge/companheiro/atual ou passada

• As vítimas de violência doméstica, são sobretudo mulheres casadas (34%) e pertenciam a um tipo de família
nuclear com filhos/as (41,9%).

• Prevalece o tipo de vitimação continuada em cerca de 80% das situações, com uma duração média entre os
2 e os 6 anos (15,1%).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 65


Dados epidemiológicos | ESTATISTICAS APAV
Homens Vitimas de Violência Doméstica 2013-2018

• Entre 2013 e 2018, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um total de 2.745 homens
adultos vítimas de Violência Doméstica (aumento percentual de 33,4% de 2013 para 2018).

• Homens em idade avançada as principais vítimas, com registos na ordem dos 28%

• As relações de conjugalidade entre vítima e autor do crime perfazem 56%.

• O autor do crime é maioritariamente do sexo feminino (63,6%) e tem idades compreendidas entre os 35 e os
54 anos (30,2%).

• Os maus tratos psíquicos (35,4%) e os maus tratos físicos (26,2%) são os crimes mais denunciados,
totalizando mais de 60% em conjunto.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 66


Dados epidemiológicos | OBV VN 2020
• Números | 69 denuncias em 2020 (2017 a 2020 foram registadas 338 denúncias informais)

• Vítimas | predominantemente mulheres, de nacionalidade portuguesa, estudantes e com uma orientação sexual
heterossexual, com média de idades de cerca de 24 anos.

• Agressor(a) | são maioritariamente de sexo masculino, com uma média de idades de 24 anos e são, maioritariamente,
namorados atuais das vítimas.

• Vitimação | As formas mais prevalentes de violência no namoro são a verbal e a emocional, seguidas do controlo e da
violência psicológica. Em cerca de 26% dos casos as vítimas foram sujeitas a ameaças de morte e/ou tentativas de
homicídio. A violência no namoro é ou foi, na larga maioria dos casos, praticada mais do que uma vez, ocorrendo em
vários momentos do dia. A violência ocorre ou ocorreu, sobretudo, em casa, na rua e em estabelecimentos públicos.

• Impacto | Os impactos da violência no namoro manifestam-se sobretudo a nível psicológico e social. Cerca de 20% das
vítimas tiveram necessidade de, na sequência da violência sofrida, receber tratamento médico e 12% estiveram em risco
de vida.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 67


Dados epidemiológicos | OBV VN 2020
• Causas atribuídas à Violência | As causas mais apontadas para a prática da violência no namoro são os ciúmes e os
problemas mentais das pessoas agressoras, seguidas dos problemas familiares e do consumo de álcool e/ou outras
substâncias pelas pessoas agressoras.

• Diligencias efetuadas pelas vitimas | As vítimas de violência no namoro não apresentaram denúncia às autoridades
competentes em mais de 75% dos casos, lidando com a vitimação recorrendo, sobretudo, à ajuda de amigos/as ou
sozinhas. Cerca de 20% das vítimas solicitaram um contacto por parte do ObVN e 26% referiram precisar de ajuda para
recorrer a apoio especializado.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 68


Dados epidemiológicos | Violência no Namoro
Violência no Namoro no Ensino Superior 2017-2021 (Associação Plano i)

o Ao nível das crenças, os homens têm crenças de género mais conservadoras do que as
mulheres:

• 28.3% dos homens afirmam que algumas situações de violência doméstica são provocadas pelas mulheres;
• 13.9% dos homens entendem que o ciúme é uma prova de amor;
• 10.8% dos homens são da opinião de que as mulheres que se mantêm em relações amorosas violentas são
masoquistas;
• 8.5% dos homens consideram que devem ser os homens a assumir a chefia da família;
• 8.4% dos homens consideram que meninos e meninas devem ser educados/as de forma diferente.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 69


Dados epidemiológicos | Violência no Namoro
Violência no Namoro no Ensino Superior 2017-2021 (Associação Plano i)

o Ao nível da proporção da violência praticada e sofrida nas RN:

• A proporção da violência na intimidade praticada por homens é superior à das mulheres.


• A proporção da violência sofrida pelas mulheres é superior à dos homens;
• As pessoas que praticam violência são mais velhas do que aquelas que não a praticam e o mesmo acontece em
relação a quem sofre violência;
• Quem pratica violência possui crenças de género mais conservadoras, assim como quem sofre violência.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 70


Dados epidemiológicos | Violência no Namoro
Violência no Namoro no Ensino Superior 2017-2021 (Associação Plano i)

o Ao nível das práticas violentas, salientam-se os seguintes resultados:

• 23.2% dos/as estudantes afirmam já ter sido culpados/as, criticados/as, insultados/as, difamados/as ou acusados/as sem
razão, e 20.5% afirmam já ter sofrido e praticado estes mesmos atos;
• 19.3% relatam que já foram alvo de controlo na sua forma de vestir, penteado ou imagem, locais frequentados ou amizades
ou companhias;
• 16% afirmam que as suas coisas pessoais já foram mexidas sem autorização (e.g., conta de e-mail, perfil das redes sociais,
bolsos do casaco, telemóvel, carteira, agenda);
• 15.7% afirmam já ter sido ameaçados/as verbalmente ou através de comportamentos que causem medo (e.g., gritando,
partindo objetos, rasgando a roupa);

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 71


Dados epidemiológicos | Violência no Namoro
Violência no Namoro no Ensino Superior 2017-2021 (Associação Plano i)

o Ao nível das práticas violentas, salientam-se os seguintes resultados:

• 13.5% afirmam já ter sido impedidos/as de contactar com família, amigos/as e/ou vizinhos/as (e.g., proibir de falar com
alguém, tirar ou desligar o telemóvel);
• 12.6% relatam que já foram impedidos/as de trabalhar, estudar ou sair sozinhos/as;
• 12% afirmam já ter sido perseguidos/as;
• 9.7% relatam já ter sido obrigados/as a ter comportamentos sexuais não desejados (e.g., ver pornografia, fazer sexo
oral, fazer sexo anal ou ter relações sexuais com outras pessoas);
• 9.4% reportam que já foram fisicamente magoados/as, empurrados/as, pontapeados/as, esbofeteados/as ou alvo de
murros ou cabeçadas; ▪ 8.7% afirmam já ter sido forçados/as a ter relações sexuais;

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 72


Dados epidemiológicos | Violência no Namoro
Violência no Namoro no Ensino Superior 2017-2021 (Associação Plano i)

o Ao nível das práticas violentas, salientam-se os seguintes resultados:

• 6.2% afirmam já ter sido alvo de ameaças de morte, atentados contra a vida ou vítimas de ferimentos que obrigassem a
receber tratamento médico;
• 5.7% reportam que já foram ameaçados/as ou feridos/as com arma (e.g., faca, bastão, pistola) ou força física;
• 4% afirmam que já foram alvo de divulgação de imagens ou vídeos pessoais, de cariz sexual, sem o seu consentimento;
• 3.5% afirmam já ter sofrido de (ou de tentativas de) estrangulamento, asfixia, atropelamento ou ferimentos com
gravidade.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 73


Teorias
Explicativas

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 74


Teorias explicativas

Perspetiva
Perspetiva Diádica-
Intra- Familiar
individual

Perspetiva
Socio-
Culturais
Familiares

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 75


Teorias explicativas (cont.)

PERSPETIVA INTRA INIDIVUDAL

• Está relacionada com as caraterísticas individuais do/a agressor e da


sua personalidade

• Causas que explicariam o comportamento do agressor: perturbação


psicológica, Irritabilidade, Estilos de personalidade agressiva e hostil,
ansiedade, depressão.

• Nas teorias intra-individuais, os agressores são desresponsabilizados


pelo comportamento violento. Nesta conceção, nas teorias intra-
individuais prevalecia a crença que a violência era um assunto privado,
um incidente isolado provocado pela anormalidade do agressor.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 76


Teorias explicativas (cont.)

PERSPETIVAS DIÁDICA FAMILIARES

• Sustentam que a fonte do comportamento violento é consequência das


interações familiares, como a transmissão intergeracional da família e a
exposição direta e indireta a experiencias de vitimação conjugal e familiar.

• Quem já foi vitima de violência ou testemunhou na infância,


frequentemente torna-se um/a adulto/a agressor/a.

• Outras investigações salientam ainda que a violência parental na infância


aumenta o risco de vitimação da mulher adulta, além de que esta pode
apreender que o amor legitima a violência.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 77


Teorias explicativas (cont.)

PERSPETIVAS SOCIO-CULTURAIS

• Nas experiencias violentas, para além dos fatores de ordem mais


individual ou relacional, é relevante o peso dos estereótipos de género e
da socialização diferencial de homens e mulheres, bem como a relação
destes com a distribuição de poder dentro da família.

• Nas abordagens socioculturais, a violência contra as mulheres é


entendida como resultado do seu tratamento histórico e da atual
sociedade patriarcal. Na conjuntura patriarcal, a violência é justificada
pela premissa de que os homens reconhecem o seu poder e autoridade
sobre as mulheres.

• Abordagem com sucesso significativo na recuperação das mulheres


vitimas de violência doméstica.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 78


Teorias explicativas

INDIVIDUAIS RELACIONAIS

MODELO ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA

COMUNITÁRIOS SOCIAIS

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 79


Teorias explicativas MODELO ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA

 Conceber a relação conjugal sob um


conjunto de mitos sociais;
 Ter uma visão tradicionalista em relação
aos papéis de género;
INDIVIDUAIS
 Considerar normal a submissão ao poder
masculino/feminino;
 Recusar a ideia de fracasso conjugal;
 Baixa autoestima;
 Fraco suporte familiar;
 Doença física e/ou mental;
 Consumo de substâncias;
 Acesso a armas por parte do/a agressor/a.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 80


Teorias explicativas
MODELO ECOLÓGICODA
VIOLÊNCIA
MODELO ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA

 Violência na família de origem;

 Conflitos e rutura conjugal; RELACIONAIS

 Fatores estruturais e situacionais da


família de origem;

 Dependência (emocional, económica,


etc.).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 81


Teorias explicativas
MODELO ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA

 Aceitação cultural da violência;

 Mediatização da violência;
SOCIAIS

 Não aplicação e ineficácia das políticas


punitivas face ao uso da violência.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 82


Teorias explicativas
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
MODELO ECOLÓGICO DA VIOLÊNCIA

 Violência e criminalidade na
comunidade;

 Dificuldades económicas da
comunidade;

 Desorganização social; COMUNITÁRIOS

 Ausência de comunicação entre as


estruturas da comunidade.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 83


Custos sociais,
económicos e
de saúde

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 84


Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
• Qualquer estimativa de custos da violência deve reconhecer que o fenómeno afeta a sociedade a
VIOLÊNCIA
diferentes níveis, contrariamente a uma visão reducionista que apenas tem em conta os custos
relacionados com as vítimas e com os/as perpetradores/as.

• A OMS (2008) sistematiza que a violência interpessoal determina custos de vária ordem, tanto diretos
como indiretos (Butchart et al, 2008)

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 85


Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
A VD tem impactos em vários quadrantes da sociedade:

o Sistema de Saúde
o Sistema da Justiça Criminal
o Serviços Sociais
o Serviços de Proteção de Crianças e Jovens
o Centros de Emprego
o Policias
o Comunidade em Geral
o …

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 86


Violência nas Relações de Intimidade Adaptado de OMS, 2013, p. 8

MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
Trauma Físico Trauma Psicológico/ Stress Medo e Controlo

Lesões físicas Problemas de Saúde Mental Controlo limitado do Procura de cuidados


• Musculo esquelético • PTSD comportamento de saúde
• Tecidos moles • Ansiedade sexual e reprodutivo • Falta de autonomia
• Trauma genital • Depressão • Ausência de • Dificuldades na
• Outro • Distúrbios Alimentares contraceção procura de cuidados
• Ideação Suicida • Relações sexuais de saúde e outros
não protegidas serviços

Uso de substâncias
• Álcool Saúde perinatal e
• Outras drogas maternal Saúde sexual e reprodutiva
• Tabaco • Baixo peso à nascença • Gravidez indesejada
• Prematuridade • Aborto
Somotoforme • Aborto gestacional • HIV ou outras DSTs
Doenças não transmissíveis • Problemas intestinais • Problemas ginecológicos
• Doenças cardiovasculares • Dor crónica
• Hipertensão
• Dor pélvica crónica

03/09/20XX Incapacidade Morte


Violência Doméstica | Conhecer a situação(Suicídio/Homicídio)
e refletir sobre ela 87
Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
o Custos de saúde

• Tratamento clinico
• Cuidados domiciliários
• Fisioterapia
• Fármacos
• Reabilitação
• Saúde mental
• Psicoterapias

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 88


Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
o Custos de saúde
As vitimas de violência têm maior probabilidade de vir a desenvolver os seguintes problemas de
saúde física:

• Feridas (100%)
• Queimaduras (46%)
• Coma (94%)
• Palpitações (44%)
• Hemorragias (94%)
 Tremores (43%)
• Hematomas (82%)
 Cefaleias (40%)
• Intoxicações (79%)
 Vómitos frequentes (40%)
• Lesões genitais (73%)
 Dificuldades respiratórias (37%)
• Obesidade (57%)
 Hipertensão arterial (26%)
• Asma (46%)
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 89
Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
o Custos de saúde
As vitimas de violência têm maior probabilidade de vir a desenvolver os seguintes problemas de
saúde psicológica:

• Tentativas de suicídio (600%) • Sensação de desmaio (200%)


• Sentir desespero – sempre (556%) • Consulta de psicólogo/psiquiatra (200%)
• Sentir vazio – sempre (479%) • Autodesvalorização – sempre (128%)
• Desânimo – sempre (368%) • Alucinações audiovisuais (117%)
• Sentimento de culpa – sempre (355% • Ansiedade – sempre (112%)
• Tristeza e pesar – sempre (344%) • Falta de esperança (61%)
• Ideação suicida (300%) • Solidão (58%)
• Prazer e alegria –nunca (211%)
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 90
Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
o Sistema de Justiça

• Custas judiciais
• Medidas de proteção e de coação
• Indeminizações
• Queixas-crime
• Detenções
• Apoio judiciário
• Serviços de Reinserção Social
• …Prisão, programas para agressores

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 91


Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
o Custos Económicos

• Faltas ao trabalho
• Perdas salariais devido á não progressão na carreira e a despedimentos
• Subsidio de desemprego
• Tempo e dinheiro gastos com o divórcio
• Separações conjugais
• médicos
• Medicamentos e exames de diagnóstico
• Prejuízos económicos resultantes do insucesso escolar das vitimas e dos filhos

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 92


Custos sociais, económicos e de saúde
MODELO ECOLÓGICO DA
VIOLÊNCIA
o Custos sociais
• Atendimento
• Medidas de Apoio
• Ações de Prevenção
• Respostas de Emergência
• Casas de Abrigo
• Cuidados institucionais e de acolhimento
• Apoios sociais pontuais
• Habitação social/ apoio arrendamento

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 93


Dinâmicas e
processos da
VD

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 94


Roda do exercício do poder e controlo de
Duluth
Explica as dinâmicas da
. violência e descreve as
formas de exercício da
violência, tais como:

•Minimização e negação
•Intimidação
•Isolamento
•Violência emocional / psicológica
•Controlo económico
•Uso dos filhos
•Coação e ameaças
•Recurso aos privilégios masculino

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 95


Roda do exercício do poder e controlo de
Duluth
.

• Infligir dano
• Causar medo
• Dominar a vítima
• Tornar a vitima subordinada, desvalorizada e incompetente

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 96


O Ciclo da Violência (Leonor E. Walker, 1979) )

.
Apaziguamento Sensação de
Reconcilicação perigo eminente
Desculpas
Promessas Aumento
Lua de
da
mel
tensão

Ataque
violento
Fase aguda

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 97


O Ciclo da Violência (Leonor E. Walker, 1979) )

A ESCALADA .

Sensação de perda
A violência tende a
Aumento do risco de controlo e de IMPOTENCIA
aumentar em
e das poder, de
frequência,
consequências autoconfiança e de “DESANIMO
intensidade e
negativas competência APRENDIDO”
perigosidade
pessoal

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 98


O Ciclo da Violência (Leonor E. Walker, 1979) )

o Ao longo do ciclo da violência, a vítima


. pode experimentar diversos estádios:

1. Negação: a vítima sente choque, confusão e descrença;


2. Cólera ou raiva: a vítima riposta com violência;
3. Negociação: a vítima prevê futuros atos violentos;
4. Depressão: a vítima tem comportamentos autodestrutivos, ou ideações suicidas;
5. Transição: a vítima tem perceção do risco que corre;
6. Aceitação: a vítima assume finalmente controlo da sua vida, tomando decisões
relativamente ao futuro.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 99


Caraterísticas
psicossociais

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 100


Caraterísticas do/a agressor/a
. sociais:
o Problema transversal a todas as classes

• Diferentes formas de expressão do problema embora com caraterísticas semelhantes;

• Classes sociais mais pobres tendem a acumular vários tipos de violência e a “normalizar” a
VD;

• Classes mais favorecidas tendem a enfrentar mais dificuldades na exposição dos casos e a
terem mais dependências económicas.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 101


Caraterísticas do/a agressor/a
.
o MITOS

“Ciclo Intergeracional da violência”


Não existe relação linear

“Existência de psicopatologia grave”


Apenas 10% dos incidentes abusivos são atribuídos a doença mental (Walker, 1994)

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 102


Caraterísticas do/a agressor/a
o O agressor pode: .

• Mostrar-se sedutor – trata-se de uma estratégias de manipulação que pretende descredibilizar a


vitima e coloca-la muitas vezes em duvida face a si mesma.

• Mostrar-se agressivo – em geral, quando sente que pode estar a perder o controlo; tenta pelo
medo conseguir os objetivos.

É fundamental avaliar os riscos e equacionar esquemas de proteção adequados.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 103


Caraterísticas do/a agressor/a
.
• Abuso de álcool ou drogas
A maior parte dos agressores agride quer esteja alcoolizado ou não

Os consumos funcionam como uma “desculpa” para ambos

• Normalmente não agridem quando estão com outras pessoas


“Só” agridem as vitimas
Normalmente não são violentos noutros contextos e relações sociais
Escolhem as táticas cuidadosamente e seguem padrões
Baixa tolerância ao stress (sobretudo em famílias que vivem em situações de forte stress ambiental)

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 104


Caraterísticas do/a agressor/a
• Reduzida autoestima
.
• Raiva e hostilidade
• Traços de personalidade antissocial ou traços de personalidade borderline/limite, nomeadamente instabilidade no humor e impulsividade
• Isolamento social
• Dependência emocional e insegurança
• Crença nos papéis de género baseados na posição dominante do sexo masculino
• Desejo de poder e controlo nas relações
• Historial de maus tratos físicos ou psicológicos na infância
• Interações pais-filhos escassas na infância
• Historial de punição física na infância.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 105


Caraterísticas do/a agressor/a
o Pessoas com PERSONALIDADE CONTROLADORA são frequentemente agressores nas relações de
intimidade

• Priorizam a satisfação das suas necessidades pessoais

• Fixam a sua atenção na parceira(o) e tentam forçar a pessoa a ser-lhe totalmente devota

• Não aceitam que a vitima seja autónoma na sua vontade (estudar, trabalhar, falar com outras pessoas é vivido com
elevado stress por estas pessoas)

• Sentem frequentemente uma ansiedade de separação o que faz com que tentem frequentemente assegurar-se de
que a companheira não os deixe. Não aceitam a rejeição e encaram-na como traição

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 106


Caraterísticas do/a agressor/a
o CONTROLO COERVIVO consiste num padrão de comportamento adotado por uma pessoa com uma
PC de forma a exercer o controlo sobre a vitima:
• Envolve a regulação pormenorizada dos comportamentos quotidianos com o objetivo de produzir um estado de
subordinação através da intimidação, isolamento e controlo
• A pessoa com este tipo de personalidade usa diversos métodos para se assegurar de que a vitima faz o que ele
pretende. A violência é apenas um dos métodos para controlar a vitima, mas o leque de métodos utilizados pretende
causar medo na vitima
• Alguns métodos de controlo para além da violência física incluem: ameaças de morte e de magoar a vitima, outras
pessoas ou os seus animais de estimação; ameaças de suicídio; retirada de apoio (transporte, com os filhos);
isolamento da família e amigos; tratamento de silêncio prolongado; danificar bens

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 107


Caraterísticas do/a agressor/a
o Como perceber o Controlo Coercivo e a Personalidade Controladora?

• O comportamento faz parte de um padrão?


• O comportamento visa controlar as atividades e escolhas da vitima?
• O comportamento causa receio na vitima?
• A vitima faz determinadas coisas porque receia que o parceiro fique zangado?

• Perguntas à vitima : Tem medo? Pode ver os amigos e família sempre que quer? Pode questionar o seu
companheiro sempre que quiser? Pode falar ou estar com quem quiser? Tem de mudar de roupa para que ele fique
mais feliz? Tem o seu próprio dinheiro, chaves de casa, cartão multibanco? Tem de dar os códigos de telemóvel?

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 108


Caraterísticas da Vítima
o De um modo geral existem algumas caraterísticas que são comuns encontrar em vitimas de VD,
.
embora NÃO seja obrigatória a sua presença:

• Pertença a famílias onde foram vitimas de maus tratos ou assistam a episódios de violência

• Fraco ou inexistente apoio familiar

• Rede de suporte social ténue

• Autoestima baixa com tendência a assumir a culpa pela situação

• Dependência emocional e económica do agressor

• Fraca capacidade de perspetivação do futuro e de ver opções sem o companheiro

• A maior parte acreditam nos mitos e crenças que circulam sobre o casamento, o amor

• Têm uma visão muito restrita do casamento, apostam muito da sua realização pessoal na realização conjugal

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 109


Consequências
e impacto da
vitimação

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 110


Consequências da vitimação

• As consequências da vitimação podem ser muito diversificadas, abrangendo níveis físicos,


psicológicos e sociais.

• As consequências e as reações a um acto de vitimação podem assim ser experienciadas não só


pela vítima mas também pelos familiares e/ou pelas testemunhas do crime.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 111


Consequências da vitimação (cont.)
o Principais fatores que influenciam o impacto traumático da vitimação (Manita, 2010)

• Tipo/duração da vitimação

• Grau de relacionamento com o/a agressor/a

• Condições e contextos de ocorrência

• História anterior de vitimação

• Gravidade dos danos

• Existência e qualidade da rede de apoio social/familiar

• Recursos pessoais, familiares, sociocomunitários e institucionais disponíveis

• Perceção das alternativas/soluções existentes

• Significação da experiencia de vitimação

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 112


Reações da Vitima
REAÇÕES TIPICAS DAS VITIMAS

DURANTE O CRIME
Pânico IMEDIATAMENTE APÓS O CRIME
Pânico de morrer Desorientação
NOS DIAS SEGUINTES
Pânico de impotência Apatia Dúvida quanto à normalidade das
Fortes reações físicas e psicológicas Negação suas reações;
(paralisia, histeria, tremor, etc.); - Ambivalência emocional;
Sentimento de solidão
Impressão de estar a viver um - Mudanças bruscas de humor;
pesadelo; Sentimento de impotência
Impressão de que o agressor tem Estado de choque
uma raiva pessoal contra si.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 113


Consequências da vitimação (cont.)
o Algumas das consequências traumáticas mais comuns em vitimas de VD (Manita, 2010)

 Danos físicos, corporais e cerebrais, por vezes irreversíveis


 Alterações dos padrões de sono e perturbações alimentares;
 Alterações da imagem corporal e disfunções sexuais;
 Distúrbios cognitivos e de memória (pesadelos, flashbacks de ataques violentos; pensamentos e memórias
intruvivas, dificuldades de concentração, confusão, perturbações de pensamento “estou a enlouquecer”
 Distúrbios de ansiedade, hipervigilância, medos, fobias, ataques de pânico;
 Sentimentos de medo, vergonha, culpa;
 Baixa autoestima e autoconceito negativo;
 Vulnerabilidade ou dependência emocional, passividade, “desânimo aprendido”;
 Isolamento social ou evitamento
 Comportamentos depressivos, por vezes com tentativas de suicídio ou suicídio consumado

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 114


Consequências da vitimação
Mudanças no Perda de energia
comportamento
sexual: aumento Diminuição dos
ou diminuição do níveis de
interesse sexual, resistência
ausência de
orgasmo

Tensão arterial alta Dores musculares

Consequências
Tremores
Físicas Dores de cabeça
e/ou enxaquecas

Distúrbios ao nível
Náuseas
da menstruação

Problemas
digestivos:
Arrepios e/ou
aumento ou
afrontamentos
diminuição do
apetite; obstipação
115
Consequências da vitimação

Ambivalência relacionada com Dificuldade com processos Comportamentos depressivos,


as emoções mentais que levam à confusão de ansiedade ou de grande
evitamento

• solidão; • Perda de memória;


• culpa; • Confusão mental; • Vergonha
CONSEQUENCIAS • impotência; • Pesadelos • Medo,
• sentimento de ser injustamente • Redução da • Fragilidade mental,
PSICOLÓGICAS tratado; atenção/concentração; • Ceticismo em relação à lei,
• raiva; • Problemas para tomar decisões • Perda de confiança no futuro,
• desconfiança; e estabelecer prioridades; • Baixa auto estima,
• tristeza; • Extrema irritabilidade; • Desvalorização pessoal
• Problemas com o sono; • Isolamento e desconfiança em
• Crenças erróneas sobre si e relação a terceiros
sobre os outros, • Hipervigilancia em relação a
• Memórias recorrentes do trauma eventuais pistas de perigo,
…) • fobias, ataques de ansiedade e
sintomas psicofisiológicos de
stress e ansiedade

116
Consequências da vitimação

CONSEQUENCIAS SOCIAIS

Participação fraca
Mudanças de ou nula em
Falta de suporte Exclusão e Isolamento (social
domicilio/emprego Relações instáveis atividades
social e familiar estigma social e físico)
e geográfico comunitárias e
socais

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 117


Fatores
explicativos
para a
manutenção

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 118


Estratégias de manutenção da VD
• Não existe um único motivo para a resistência da vitima ao abandono de um relacionamento violento.

• É frequentemente uma cadeia de emoções/crenças que estão na base da manutenção destas relações.

• A manipulação emocional tecida pelo/a agressor/a, culpabilizando constantemente a vitima pelas agressões e subjugando-a a
uma grande dependência afetiva, colocam-na num labirinto sem saída.

• A vitima, por seu turno, perspetivando a relação como um projeto de vida, não se permite considerar a possibilidade de ser
ela o motor do fim, ainda que, talvez inconscientemente, saiba o que o futuro lhe reserva.

• Podemos ainda falar de dependência económica em relação ao/à agressor/a, bem como da falta de uma rede de apoio
familiar e/ou social, dado o isolamento a que a vitima vai sendo sujeita.

• Para além disso, importa referir que o medo de represálias e desconhecimento da rede institucional de apoio, impede a vitima
de pedir ajuda.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 119


Razões para a permanência na relação

o Porque não abandonam a relação violenta? MULHER VITIMA


• Medo de perder os filhos

• Crenças culturais e religiosas

• Evitamento da rutura familiar e suas consequências

• Antecedentes de violência na família ou em relacionamentos anteriores, com consequentes


aprendizagem de modelo de relacionamento aprendido e internalizado

• Desconhecimento a nível legal

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 120


Razões para a permanência na relação

o Porque não abandonam a relação violenta? MULHER VITIMA


• Papeis tradicionais da mulher e do homens na sociedade

• Medo da estigmatização “vitima de violência doméstica

• Isolamento e consequente falta de suporte familiar

• Mitos culturais

• controlo do agressor

• O facto de ninguém ter questionado diretamente

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 121


Razões para a permanência na relação
o INTERNAS

• Dependência emocional

• Minimização da violência/passividade

• Culpabilização

• Desejo de manter a família unida

• Sentimento de lealdade para com o companheiro

• Reconhecer “amor” no outro

• Exaustão e ceticismo e crença na mudança

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 122


Razões para a permanência na relação

o Porque não abandonam a relação violenta? HOMEM VITIMA


• Proteção dos filhos

• Culpabilização

• Dependência

• Vergonha

• Medo de não ser acreditado

• Risco de lesão e escalada da violência

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 123


Razões para a permanência na relação
SAÍR E VOLTAR

o Muitas vezes, as situações mais perigosas surgem após sair da relação abusiva.

o Manter o poder e o controlo é o que está na base da violência conjugal. A saída da relação poe em
causa esse controlo, gera maior violência.

o Por vezes a vitima significa, interna e socialmente, os custos de sair de uma relação como superiores
aos benefícios.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 124


A violência sobre os idosos - especificidades

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 125


Pessoas idosas vitimas de crime e violência
o Ao ENVELHECIMENTO está associado o fenómeno do crime e da violência praticados contra as
pessoas idosas.

o O reconhecimento de que os mais velhos eram vitimados foi lento, mas é hoje um fenómeno cada vez
mais evidente dentro do atual processo de envelhecimento populacional mundial.

o A OMS reconheceu a necessidade de desenhar uma estratégia global para a prevenção dos maus-tratos
às pessoas idosas, na qual foram definidas três grandes áreas: negligência (isolamento, abandono e
exclusão social), violação de direitos (humanos, legais e médicos) e privação de direitos (tomada de
decisões, situação social, gestão económica e de respeito) (WHO, 2002).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 126


Pessoas idosas vitimas de crime e violência

O mau trato de pessoas idosas define-se como a ação única ou


Organização Mundial de Saúde
repetida, ou a falta de resposta apropriada, que causa dano ou
angústia a uma pessoa idosa e que ocorre dentro de qualquer
relação onde exista uma expetativa de confiança.
OMS, na sua «Declaração de Toronto Para a Prevenção
Global do Mau Trato a Pessoas Idosas, 2002»

A violência contra a pessoa idosa é um ato (único ou repetido)


International Network for
Prevention of Elder Abuse (INPEA) ou omissão que lhe cause dano ou aflição e que se produz em
qualquer relação na qual exista expetativa de confiança.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 127


Vídeo nº 1 | Praça da Alegria (RTP) – “Abandono de Idosos em hospitais”

Vídeo
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?
v=JGEQ6LyttcA
Vídeo

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 128


Tipos de violência
o Internacionalmente, a violência contra as pessoas idosas tem sido classificada em diferentes tipos. No
entanto, é preciso ter em conta que nunca estes tipos surgem isoladamente. Isto é, uma pessoa idosa
quando é vitimada nunca o é apenas num dos tipos de violência, mas na combinação de um, dois,
três ou todos os tipos de violência.

Violência
Violência Física Violência Sexual
Psicológica

Violência
Negligência Económica ou Abandono
Financeira

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 129


Tipos de violência
• Ações levadas a cabo com intenção de causar dor física ou ferimentos ao idoso (esbofetear, empurrar, atirar um objeto, puxar os
Violência Física cabelos, prender ou atar, sacudir ou abanar.

• Ações que infligem sofrimento, angústia ou aflição, através de estratégias verbais ou não verbais, como ameaçar abandonar o idoso,
Violência Psicológica humilhar, infantilizar, intimidar, manipular, privar do poder de decidir, desprezar, chantagem emocional.

•Ofensa da autodeterminação sexual das pessoas idosas e/ou que ofenda o seu pudor. Ex: exibição de material pornográfico,
Violência Sexual forçar a vítima a assistir a atos sexuais ou a desnudar-se, violação.

• Não satisfação de necessidades básicas, por exemplo, negação de alimentos, de cuidados higiénicos, de condições de
habitabilidade, de segurança e de tratamentos médicos ou de enfermagem, bem como a administração inadequada ou irregular de
Negligência medicação.

• Comportamento que vise o impedimento do controlo, por parte da pessoa idosa, do seu próprio dinheiro e/ou dos seus bens; e/ou
que visem a sua exploração danosa. Exemplos: Forçar a pessoa a assinar um documento, sem lhe explicar para que fim se destina;
Violência Económica ou forçar a pessoa a celebrar um contrato ou a alterar o seu testamento; forçar a pessoa a fazer uma doação, nomeadamente para
Financeira reserva de vaga ou entrada em equipamento; forçar a pessoa a fazer uma procuração ou ultrapassar os poderes de mandato; tomar
decisões sobre o património de uma pessoa sem a sua autorização

• Abandono das pessoas idosas pelos seus familiares a situações de dificuldade e de solidão. Por exemplo, é uma realidade
Abandono cada vez mais conhecida o abandono a que algumas famílias sujeitam os seus mais velhos após um internamento numa
unidade de saúde. Apesar de terem já alta médica, ficam indefinidamente internados, pois os familiares ora se recusam a
acolhê-los em suas casas.
Título da Apresentação 130
Exercício nº 2

Leitura de casos e identificação dos tipos de violência


descritos em cada situação.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 131


Exercício nº 2

Caso A:

Bárbara sofre de Doença de Alzheimer. Vive com uma empregada, que assume a responsabilidade de
lhe prestar cuidados, uma vez que a filha de Bárbara viaja muito e passa longos períodos fora de casa.
Quando Bárbara não se recorda onde é a porta da casa de banho e sai de casa pela porta de entrada,
teimando que é por ali, a empregada exaspera-se e puxa-a violentamente, obrigando-a a sentar-se num
cadeirão da sala, onde a amarra. Também lhe grita e chama-lhe «Velha bruxa, sua doida», dando-lhe
bofetões. Bárbara reage e tenta libertar-se das amarras. A filha nunca se apercebe destes episódios
porque a mãe está incapacitada de se recordar deles. Uma enfermeira do Centro de Saúde questionou-
a, então, sobre a origem das nódoas negras que Bárbara tem nos braços. Apesar de ténues, eram
visíveis aos olhos de quem estivesse atento.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 132


Exercício nº 2

Caso B:

Maria vive num lar, para onde foi obrigada pelo filho. É autónoma e tentou adaptar-se à situação,
desculpando-o diante das outras pessoas idosas que ali vivem pela sua atitude: diz-lhes que
compreende a preocupação do filho, que, não podendo tratar de si, vira que ali era o melhor lugar
para ela viver. O filho, de cada vez que a visita, tenta convencê-la a vender a sua casa e dar-lhe o
dinheiro da venda, uma vez que precisa de pagar uma dívida. Como não cede, culpabiliza-a pelos
poucos sucessos da sua vida, nomeadamente pelo seu divórcio. Maria começa a ficar cada vez
mais deprimida e ansiosa. Ultimamente não retém a urina durante a noite. Sente-se envergonhada e
o filho humilha-a na sala de visitas, gritando que a mãe lhe dá a despesa suplementar das fraldas e
que lhe desgraça a vida, que não o ajuda, que é uma egoísta. Maria permanece calada e calada fica
depois de o filho sair. Está cada vez mais apática.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 133


Exercício nº 2

Caso C:

Ana tem 66 anos e é casada com Julião, de 70. Foi educada para ser uma esposa obediente e, por
isso, sempre se sujeitou ao marido, mantendo relações sexuais mesmo sem vontade. Nos últimos
meses, Ana tem sido questionada pela médica de família sobre a origem de certas nódoas negras
no baixo-ventre e Ana tem ficado ruborizada, dizendo que caiu na cozinha. Acabou por contar-lhe
que Julião, tendo dificuldades em manter uma ereção, deita-se sobre ela sem se despir e insiste
muito numa penetração que acaba por não acontecer. Entretanto, magoa-a com a fivela do seu
cinto, que vai roçando contra o ventre. Ana, entretanto, não quer regressar a casa, pois Julião
ameaçou bater-lhe se contasse à médica.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 134


Exercício nº 2

Caso D:

Joaquim vive sozinho, numa casa situada perto da casa onde moram o filho e a nora. A sua relação com a
nora nunca foi boa e, desde que ficou viúvo, também com o filho não se dá bem. Raramente desce da colina
onde está situado a sua casa. A nora, apesar das más relações, deixa-lhe as refeições preparadas à porta
da cozinha. Por vezes, os animais comem estas refeições e Joaquim não se alimenta, outras a nora não lhe
prepara mais que uma refeição por dia, em pouca quantidade e pouco variada. Joaquim cai com frequência
dentro e fora de casa, onde não dispõe de telefone para pedir ajuda. Também não tem água canalizada e
tem dificuldades em usar o poço do casal. Não cuida da sua higiene pessoal, nem da casa. Confrontado
pela assistente social, que entretanto tomou conhecimento da negligência em que vive Joaquim, o filho
respondeu simplesmente: «Se cai, levante-se».

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 135


Exercício nº 2

Caso E:

João tem 77 anos e vive com a filha e dois netos. A filha, divorciada há cinco anos, está desempregada; e
os dois netos, adolescentes, consomem álcool e cocaína. João tem uma reforma que sustenta a família,
mas isso, ao contrário de lhe dar poder e lugar na hierarquia familiar, colocou-o no lugar mais débil. Ele
precisa dos cuidados da filha, pois está doente e começa a não conseguir realizar algumas tarefas básicas,
como tomar banho ou vestir-se. A filha acabou por retirar-lhe a gestão da reforma, apesar de João estar no
pleno uso das suas faculdades mentais. Também lhe retirou um relógio de ouro, que vendeu. Os netos,
fosse para comprar álcool e cocaína, fosse para outro fim, retiraram-lhe dos dedos duas alianças e um anel
de ouro. João crê estar sozinho e sem qualquer possibilidade de ajuda externa. Mesmo se a tivesse,
dificilmente contaria a alguém o que se passa, por medo, vergonha e ambiguidade de sentimentos.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 136


Tipos de violência
o A International Network for Prevention of Elder Abuse (INPEA) identifica ainda dois tipos de violência contra as pessoas idosas
que podemos indicar como sendo de nível macro, isto é, que perspetivam uma atitude geral que atualmente as sociedades
manifestam quanto ao envelhecimento e às pessoas idosas:

Violência Estrutural e Social


Trata-se de qualquer comportamento político praticado por partidos, governos ou outras instituições que promova ou facilite
a discriminação negativa dos mais velhos na vida social, cultural, política e económica.
Falta de recursos para apoiar as pessoas idosas, a falta de rendimentos (reformas ou subsídios); de acolhimento
(inexistência de subsídios para a habitação ou de equipamentos específicos, está na origem de uma marginalização
instituída das pessoas idosas numa determinada sociedade.

Falta de Respeito e Preconceito contra as Pessoas Idosas.


Trata-se de qualquer comportamento que signifique desrespeito e discriminação negativa em relação aos mais velhos. De
entre várias formas, temos a veiculação de certas mensagens na Publicidade e na Comunicação Social, mas também por
instituições, e que tendam a ser miserabilistas (por exemplo, «Mais Avozinhos Internados neste Natal»; «Lar Já Pertinho do
Céu») ou ridicularizantes (por exemplo, «Velha de Noventa Anos Ainda Arranja Namorados»). Certas imagens das pessoas
idosas, sobretudo veiculadas pela Publicidade, podem ser preconceituosas ao tentar escapar a estes miserabilismo e
ridicularização – ao apresentarem figurantes mais novos ou muito maquilhados para disfarçar as marcas naturais do
envelhecimento (por exemplo, as rugas) - promoção de uma visão idealizada dos mais velhos.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 137


Contextos de vitimação

1. Contextos economicamente desfavorecidos


2. Contextos de violência doméstica

3. Contextos com carência de apoio externo

4. Contextos de tensão ou conflito familiar

5. Contextos de perda de autonomia e de privacidade

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 138


Contextos de vitimação
1. Contextos economicamente desfavorecidos

Muitos prestadores de cuidados não têm condições económicas suficientes para prestar cuidados a um familiar idoso. As
acrescidas e sucessivas – por vezes, cada vez maiores – dificuldades financeiras por que vai passando podem levá-los a
um maior stress e, logo, a uma maior propensão para a violência.

Alguns filhos, por exemplo, são obrigados pelas circunstâncias a deixar os seus empregos para se dedicarem
inteiramente aos seus pais idosos e doentes, o que acarreta um desequilíbrio ao nível do orçamento familiar. E daqui
podem resultar difíceis relações de dependência mútua, como já vimos anteriormente, e que são também propiciadoras do
aparecimento da violência, particularmente no seu tipo «Violência Económica ou Financeira», quando o agressor procura
compensar-se, ao furtar, roubar ou exigir honorários indevidos ou excessivos à pessoa idosa pela prestação de cuidados.

15/05/2021 Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 139


Contextos de vitimação
2. Contextos de violência doméstica

Como já antes referimos, a violência doméstica contra as pessoas idosas pode ser, em muitos casos, um fenómeno de
continuidade em determinadas famílias. As relações entre pais e filhos poderão ter estado marcadas, desde sempre, pela
violência, ao ponto de esta estar internalizada nas relações quotidianas como um padrão relativamente normal.

Tratar-se-á, nestes casos, de uma transmissão de modelo: os pais são violentos, os filhos tenderão a ser violentos e,
quando os pais forem idosos, tenderão a vitimá-los

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 140


A violência sobre os idosos – contextos de
vitimação
3. Contextos com carência de apoio externo.

O isolamento social é um fator de risco e também uma característica de vítimas e de agressores, sempre associado à falta
de apoio por parte de outros familiares, de vizinhos e de profissionais de instituições.

É também, e por excelência, um contexto sociocultural favorável ao surgimento de situações de violência, quer seja nas
zonas urbanas, quer seja nas zonas rurais. Em ambas, pode produzir-se um cenário bastante propício.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 141


A violência sobre os idosos – contextos de
vitimação
4. Contextos de tensão ou conflito familiar.

Alguns estudos apontam para a associação entre tensões e conflitos familiares e o aparecimento do fenómeno da violência contra as pessoas
idosas, que são, em muitos casos, o motivo de tais problemas. Ou seja, frequentemente, vários membros da família discutem entre si as
responsabilidades da prestação de cuidados ou criticam negativamente aquele que é considerado o prestador principal.

Noutros casos, os familiares da pessoa idosa têm opiniões divergentes quanto ao destino a dar-lhe, sem sequer consultá- la sobre o mesmo.
Por exemplo, vários irmãos têm opiniões diferentes sobre a mãe: uns querem enviá-la para uma instituição; outros contratar os serviços de
uma equipa de apoio domiciliário; outros preferem a rotatividade da mãe pelas casas dos filhos; mas nenhum lhe pergunta o que ela própria
quer fazer da sua vida e todos discutem entre si à sua frente. Não raras vezes há ruturas de relação e mesmo recurso à violência física entre
irmãos, cunhados e sobrinhos.

Facilmente, este contexto familiar, que desvaloriza a pessoa idosa na sua autonomia, liberdade e poder de decisão, propiciará a sua vitimação
em qualquer dos destinos a que é involuntariamente remetida
Título da Apresentação 142
A violência sobre os idosos – contextos de
vitimação
5. Contextos de perda de autonomia e de privacidade

Estudos têm demonstrado que a coabitação das pessoas idosas – e a consequente perda da sua privacidade – com as
suas famílias está a associada ao aparecimento de conflitos intra-familiares e, logo, pode propiciar a violência. Há a ideia
generalizada de que as pessoas idosas devem deixar as suas próprias casas e passar a viver em casa dos seus filhos, por
vezes em regime de rotatividade.

Outros estudos indicam, pelo contrário, que, mesmo quando estão doentes, as pessoas idosas, na sua maioria, preferirão
a sua própria casa. A sua autonomia ficaria mais limitada, por estarem a viver num espaço cuja intimidade não lhes
pertence inteiramente.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 143


A violência sobre os idosos – diferentes
lugares
São certamente muitos os «lugares» em que uma pessoa idosa pode ser vítima. Concretamente,
indicamos aqui cinco, que podem ser mais comuns:

Rua Casa, morando sozinha

Estando a pessoa idosa a morar sozinha, pode


A pessoa idosa pode ser vitimada quando está numa ser vitimada, quer seja por familiares que a
rua, tornando-se alvo fácil para diversos agressores visitam (por exemplo, por um neto
– não só assaltantes, mas também aqueles que toxicodependente que visita a avó apenas quando
agem contra si com preconceito em função da sua
idade (por exemplo, ir na rua e ouvir um grupo de precisa de dinheiro e opta por roubá-la), quer seja
adolescentes gritar: Olha a velha, já nem sabe andar por estranhos (por exemplo, burlões ou
e ainda tem a mania de vir à loja!). assaltantes.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 144


A violência sobre os idosos – diferentes
lugares
São certamente muitos os «lugares» em que uma pessoa idosa pode ser vítima. Concretamente,
indicamos aqui cinco, que podem ser mais comuns:

Em situação de Incapacidade Em família/violência doméstica

A pessoa idosa é um dos membros mais fragilizados


de uma família, a par das crianças e das mulheres.
A pessoa idosa pode estar em situação de não poder Ou desde sempre, ou a partir de um determinado
gerir autonomamente a sua pessoa e os seus bens, e momento, passa a viver com os filhos e/ou netos. Na
sem representante legal que o faça. Está, assim, hierarquia familiar, apesar de serem os mais velhos,
sujeita à intervenção não legitimada de familiares raramente ocupam o lugar de topo, onde se
e/ou amigos, de prestadores de cuidados concentram poderes tão determinantes como
(designadamente no domínio da saúde), que podem financeiro, organizativo, de liderança, de influência e
determinar (sem legitimidade, repetimos) o seu de decisão. Como as crianças, se não abaixo das
internamento, a alienação dos seus bens; ou podem crianças, as pessoas idosas estão cada vez mais
cometer abusos de ordem material e financeira. desprovidas de intervenção, sendo remetidas para a
base da pirâmide familiar. Neste lugar, torna-se alvo
Título da Apresentação
frágil de violência doméstica. 145
A violência sobre os idosos – diferentes
lugares
São certamente muitos os «lugares» em que uma pessoa idosa pode ser vítima. Concretamente,
indicamos aqui cinco, que podem ser mais comuns:

Em instituições

Quando internada, ou acolhida, numa instituição por exemplo, uma unidade de saúde,
ou, mais frequentemente, a pessoa idosa pode ser vítima. Referimos especialmente
dois exemplos: quando é abandonada numa unidade de saúde pelos seus familiares,
mesmo tendo alta médica para sair; ou quando vive num centro residencial, onde é
vítima de uma deficiente prestação de cuidados, bem como de crimes de maus tratos,
do crime de ameaça, do crime de injúria, etc

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 146


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas
• Em Portugal, a violência doméstica contra as pessoas idosas é uma realidade já reconhecida
socialmente, mas ainda pouco conhecida.

• Parecendo paradoxal, esta afirmação é válida na experiência das organizações que têm
vindo a denunciar a situação de fragilidade destas vítimas e a apoiá-las directamente.
Todavia, suspeita-se que muitas mais estarão por conhecer.

• Destas, como de outras vítimas de violência doméstica, conhecemos hoje a ponta do iceberg.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 147


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas
o A maioria dos estudos internacionais considera muito frequente a violência contra as pessoas idosas praticada pelas suas
próprias famílias:
• cerca de 90% dos casos acima dos 60 anos de idade ocorrem em ambiente doméstico.
• cerca de dois terços dos agressores são filhos e cônjuges das vítimas.

o Os episódios tendem a ser repetitivos e, na maioria dos casos, as próprias vítimas recusam ajuda, por receio de sofrer
represálias – sobretudo de serem obrigadas a deixar a sua casa, ou a casa da sua família, para irem para um lar.

• Frequentemente, as vítimas sofrem sentimentos de culpa e baixas de auto-estima, bem como sentem vergonha. Com
dificuldade pedem apoio a outros familiares, a amigos ou vizinhos; ou pedem apoio externo e/ou tomam medidas legais, uma
vez que os seus agressores são seus familiares que, apesar de tudo, não querem prejudicar, nem com quem querem cortar
laços.
A ambiguidade emocional é uma das características mais frequentes nas vítimas de violência doméstica.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 148


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Fatores de Risco
Os estudos realizados sobre os fatores de risco de violência doméstica contra as pessoas
idosas têm apontado para cinco perspetivas:

Teoria das Dinâmicas Intra-individuais


• Considera que as pessoas idosas que estejam a viver com familiares que sofram de problemas
mentais, emocionais ou de psicopatologias correm um risco elevado de serem vitimadas. O
mesmo acontece quando há comportamentos aditivos, com consumos de álcool e drogas. É
importante ressalvar que a investigação realizada nos últimos anos tem apontado para o facto
de que este não é o único fator de risco.
• Esta teoria chamou a atenção, evidentemente, para o perigo que é uma pessoa idosa estar sob
os cuidados de um familiar que sofra destes condicionalismos.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 149


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Fatores de Risco
Os estudos realizados sobre os fatores de risco de violência doméstica contra as pessoas
idosas têm apontado para cinco perspetivas:

A Teoria da Transmissão Inter-geracional

• Defende que a exposição à violência durante a infância, a vimitação própria durante este
período e o exemplo de uma família violenta são experiências que conduzem à aprendizagem
de comportamentos violentos, reproduzidos na vida adulta.
• A evidência tem derrubado esta teoria, uma vez que muitos adultos que foram vítimas de
violência na infância ou que presenciaram situações quotidianas de violência entre os pais não
têm reproduzido este modelo;

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 150


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Fatores de Risco
Os estudos realizados sobre os fatores de risco de violência doméstica contra as pessoas
idosas têm apontado para cinco perspetivas:

A Teoria das Relações de Troca e Dependência


• Defende que a elevada dependência das pessoas idosas quanto à prestação de cuidados por parte de familiares (sobretudo
cônjuges e filhos), mas também a dependência destes em relação às prestações financeiras relativas às reformas, são fatores
de risco de violência. Assim, há casos em que os familiares prestadores de cuidados dependem mais das pessoas idosas que
o contrário: ao nível da habitação, das posses, da prestação financeira da reforma ou de apoios financeiros pontuais (compra
de um automóvel, doação de uma propriedade, etc.).
• Há assim um desequilíbrio nas trocas, pois as pessoas idosas, que dão muito, não só recebem cuidados pouco gratificantes,
como são vitimadas.
• Esta teoria não será aplicável somente a situações de pessoas idosas economicamente mais favorecidas, mas também a
famílias pobres, para as quais a prestação financeira da reforma dos seus mais velhos pode ter um peso considerável no
orçamento familiar
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 151
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Fatores de Risco
Os estudos realizados sobre os fatores de risco de violência doméstica contra as pessoas
idosas têm apontado para cinco perspetivas:

A Teoria do Stress
• Defende que o stress experimentado pelos indivíduos no exterior da sua família (ou seja, na
vida profissional, social, etc.) é um fator de risco para as pessoas idosas. Problemas como o
desemprego, as relações amorosas frustradas, as dificuldades financeiras, o divórcio, etc.,
podem ser, assim, potenciadoras de stress e de comportamentos violentos nos indivíduos.

• Trata-se de uma teoria que não tem ainda suficiente sustentação empírica.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 152


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Fatores de Risco
Os estudos realizados sobre os fatores de risco de violência doméstica contra as pessoas
idosas têm apontado para cinco perspetivas:

A Teoria do Isolamento Social

• Considera que este é um fator de risco para as pessoas idosas. Com efeito, esta variável é
muito frequente nas pessoas idosas vítimas de violência física. Nesta perspetiva, o isolamento
social deve ser combatido como prevenção da violência.
• As redes sociais de apoio terão aqui um papel muito importante, podendo vigiar, controlar ou
denunciar situações de pessoas idosas que, se não usufruíssem da presença assídua de
profissionais (sobretudo profissionais de saúde e assistentes sociais).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 153


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Fatores de Risco
o Estas teorias remetem para fatores de risco de violência contra as pessoas idosas. Todas
carecem de sustentação empírica talvez porque é ainda recente a investigação nesta área.

A estes fatores de risco podemos apontar outros:

• qualidade das relações entre pais/mães e filhos/as durante as ultimas décadas;

• qualidade das relações conjugais entre casais de pessoas idosas. Em muitos casos verifica-se
uma continuidade da violência doméstica ao longo dos anos, acompanhando o envelhecimento
de ambos os protagonistas (vitimas e agressores/as);

• Envelhecimento patológico (demências)

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 154


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
alguns dados estatísticos
Envelhecimento & Violência (2011-2014)

o Contribuir para o conhecimento da dimensão e características do fenómeno da violência (física,


psicológica, financeira, sexual e negligência) contra pessoas com 60 e mais anos, em contexto
familiar, residentes em Portugal.

 estudo populacional sobre a violência


 estudo sobre as vítimas de violência

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 155


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
alguns dados estatísticos
Envelhecimento & Violência (2011-2014)
ESTUDO POPULACIONAL 12.3% da população (cerca de 314 mil
pessoas) foi vítima de, pelo menos, uma
conduta de violência, nos 12 meses
anteriores à entrevista, por parte de um
familiar, amigo, vizinho ou profissional
remunerado

A Violência Financeira e a Psicológica


foram as mais frequentes, cada
afetando 6,3% da população. Na
Violência Física obteve-se uma
frequência de 2,3%. Os tipos menos
frequentes foram a negligência, que
afetou 0,4% da população e a violência
sexual com uma frequência de 0,2%.

Título da Apresentação 156


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
alguns dados estatísticos
Envelhecimento & Violência (2011-2014) Nos indivíduos com idade superior a 76 anos, o
ESTUDO POPULACIONAL risco de ser vítima aumentou 10% por cada ano
de idade. O risco de ser vítima de violência nas
pessoas que precisam de ajuda nas atividades
da vida diária foi o dobro do apresentado pelas
pessoas independentes. A escolaridade foi um
factor protector da violência.

Agressores de violência financeira:


descendentes (26,1%); outros familiares
(25,9%); amigos/ vizinhos (11,6%) e
profissional remunerado (10,8%). De violência
psicológica: outros familiares (37,4%); (ex)
cônjuges ou (ex) companheiros (29,6%);
amigos/vizinhos (12,6%) e descendentes
(11,6%) De violência física: (ex) cônjuges ou
(ex) companheiros (56,4%) descendentes
(24,3%) outros familiares (10,5%) e amigos/
vizinhos (2,5%). De Violência sexual : outro
familiar e amigo/vizinho. De Negligência: filha,
outro familiar e amigo/ vizinho.

Título da Apresentação 157


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
alguns dados estatísticos
Envelhecimento & Violência (2011-2014) Vítimas: Mulheres (76,1%); 60 aos 69 anos
ESTUDO VITIMAS DE VIOLÊNCIA (49,8%); Casadas (61,5%); residentes num
núcleo familiar composto por duas pessoas
(57,2%); com ensino básico (65,7%), em
situação de reforma (78,8%) e com
rendimento, até 500 € (66,4%); 1/3referiu
ter dificuldade em realizar uma das
atividades da vida diárias e 76,3% referiu
ter doença crónica.

Violência : física (87,8%), psicológica


(69,6%), financeira (47,5%), sexual (7,5%)
e negligência (6,5%). Ocorrem de forma
frequente; vários tipos de violência (74,1%)
– Polivitimaçã. “bater/ agredir” – 89,2%;
“gritar” – 78%; “ameaçar” – 48,3%; “ignorar”
– 47,4%; “roubo” 46,4%.

Título da Apresentação 158


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
alguns dados estatísticos
Envelhecimento & Violência (2011-2014) Agressores: Violência física e violência
ESTUDO VITIMAS DE VIOLÊNCIA psicológica foram os/as (ex) cônjuges ou
(ex) companheiros, seguidos dos
descendentes. Violência financeira –
descendentes e os/as (ex) cônjuges ou (ex)
companheiros. Violência sexual – relações
conjugais (94,6%). Negligência - os/as
cônjuges ou companheiros (39,4%) e filhos/
enteados.

Fatores associados à polivitimização:


Coabitação; Relação conflituosa com o
agressor (prévia); Rede social informal
(fraca).

Título da Apresentação 159


Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 160
Título da Apresentação 161
“conductas reiteradas de violencia física,

psicológica (verbal o no verbal) o


económica, dirigida a los progenitores o a
aquellos adultos que ocupan su lugar.”

“este problema se desarrolla desde


formas de violencia más “desapercibidas”
(como insultos u otras agresiones
verbales) hasta llegar a formas mucho
más evidentes” (agresiones físicas)”
Sociedad Española para el estudio
de la Violencia Filio-parental, 2015

Título da Apresentação 162


Violência Filioparental

Sociedad Española para el estudio


de la Violencia Filio-parental, 2015

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 163


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
o Não é fácil identificar um fenómeno de violência sobre pessoas idosas, sobretudo se for em contexto de violência
doméstica, pois é ocultado pelos seus protagonistas (vitima, agressor/a). No entanto, a identificação é possível. É
uma necessidade e uma responsabilidade profissional. Os profissionais têm a obrigação de tentar vencer as
dificuldades que encontram e de detetar algum indicio de que determinada pessoa tenha sido ou possa estar a ser
vitimada.

164
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PARA A VÍTIMA

1. Não reconhece a existência da Vitimação

Frequentemente, a pessoa idosa não considera ser vítima de crime e de violência. Mostra-se reticente em admitir e, em muitos
casos, nega-o perante evidências (por exemplo, ter sido espancada e, em consequência, ter muitas escoriações, mas insistir com
o médico que a atende nas Urgências do hospital que caiu numa escada). Para os profissionais é, por vezes, frustrante.
No entanto, é importante entendermos que:
a) A vítima teme possíveis represálias por parte do(a) agressor(a), designadamente que haja um aumento ou uma maior
intensidade da vitimação; e ainda que lhe sejam impedidas coisas ou acontecimentos que são importantes para o seu
equilíbrio emocional: por exemplo, ver os netos ou poder ir à missa ao domingo
b) A vítima teme que, ao revelar a existência da vitimação, o(a) agressor(a) venha a ter problemas. Em casos de violência
doméstica, o agressor(a) pode ser filho ou filha, neto ou neta da vítima. Sentimentos ambíguos podem, assim, dificultar ou
impedir a revelação;

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 165


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PARA A VÍTIMA

• Não reconhece a existência da Vitimação

c) A vítima sente-se culpada e responsável pela própria vitimação. Por exemplo, se é vitimada por um filho ou filha, pode pensar que
poderia ter sido melhor pai ou mãe, ou que falhou no seu papel parental;
d) A vítima tem vergonha. Sente-se inibida por sentimentos de vergonha por não ter sido capaz de reagir e/ou de controlar a situação
em que se encontra. Também pode temer que, se alguém souber, seja ridicularizada ou que a reputação da sua família seja afectada;
e) A vítima sofre chantagem emocional. Por parte da pessoa que a vitima pode haver chantagem em torno dos sentimentos da pessoa
idosa. Por exemplo, pode chegar a suplicar à vítima que não revele a vitimação a outrem, dizendo Se me ama, não me faça isso;
f) A vítima pensa que ninguém acreditaria em si, se contasse todos os detalhes da vitimação;

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 166


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PARA A VÍTIMA

2. Sofre de perda de memória ou de demências


Pode estar incapaz de informar sobre a situação em que se encontra, devido à deterioração cognitiva;
3. Não está informada sobre os seus direitos enquanto vítima de crime, nem dos recursos disponíveis para
construir um novo projeco de vida;
4. Está socialmente isolada;

5. Depende do seu prestador de cuidados/familiar, tanto na prestação de cuidados propriamente dita, como

em termos económicos e afetivos


6. Aceita a violência como uma realidade existencial, pois, em muitos casos, conheceu-a toda a vida

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 167


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PROFISSIONAIS
É recorrente, na nossa prática quotidiana, conhecermos dificuldades na intervenção (ou na inexistência de intervenção) de certos
profissionais. Estes colocam em causa o processo de apoio, quer porque não permitem que se inicie, quer porque, uma vez
iniciado, o dificultam. Para não colocarmos nós mesmos obstáculos à identificação, quer para ajudarmos os outros profissionais a
melhorar a qualidade da prestação de serviços pela qual são responsáveis, devemos conhecer alguns desses obstáculos:

1. Certos profissionais carecem de formação adequada


Assim, não possuem todas as competências necessárias para fazer a identificação e para desenvolver um
processo de apoio. No momento de saber se estão diante de um novo caso, não sabem como proceder; tão
pouco o que fazer depois;

2. Certos profissionais não dispõem de protocolos de identificação, avaliação e intervenção para estes
casos, nem uma adequada coordenação para trabalhar em equipa;

3) Certos profissionais não dispõem de meios adequados para diagnosticar de forma diferencial a
vitimação quando as pessoas idosas apresentam lesões e traumatismos, ou quando apresentam problemas de
desidratação, má nutrição, hipotermia e quedas; 168
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PROFISSIONAIS
4. Certos profissionais têm dificuldades em assumir que as famílias das pessoas idosas nem sempre
lhes garantem protecção, afecto, bem-estar.
Ainda que esse seja o perfil familiar idealizado por alguns familiares, na prática nem todas as famílias
correspondem a esse ideal de família perfeita;

5. Certos profissionais são incrédulos.


Muitas vezes, custa a crer a estes profissionais que os seus próprios utentes (ou pacientes, se forem
profissionais de saúde) sejam vítimas de crime e de violência;

6. Certos profissionais não dispõem de normas concretas quanto à confidencialidade que devem, por um
lado, preservar em relação ao seu utente (ou paciente) e, por outro, devem levantar, se estão a colaborar com
outros profissionais implicados no processo de apoio;
169
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PROFISSIONAIS
7. Certos profissionais têm medo de represálias por parte do(a) agressor(a), e chegam mesmo a sofrer
ameaças e perseguições que lhes retraem os movimentos e fazem tomar a decisão de evitar fazer identificações
de novos casos;

8. Certos profissionais não querem envolver-se em questões legais;

9. Certos profissionais não conhecem os recursos disponíveis e consequentemente não sabem encaminhar as
pessoas idosas para as instituições ou serviços adequados;

10. Certos profissionais sentem-se impotentes para ajudar as pessoas idosas anteo escasso poder de
intervenção de quem dispõem;

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 170


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Identificação da Vitimação
OBSTÁCULOS PROFISSIONAIS
11. Certos profissionais não dispõem de tempo necessário para o atendimento adequado das pessoas idosas,
não se criando um ambiente de confiança que facilite a identificação de novos casos de crime e de violência;

12. Certos profissionais têm atitudes culturais desfavoráveis ou perniciosas:


a) Têm atitudes idadístas. Isto é, manifestam o preconceito do ageism;
b) Evitam tocar na esfera familiar, encarando a vitimação das pessoas idosas como um assunto do foro
estritamente privado (em casos de violência doméstica);
c) Tendem a justificar a vitimação por considerarem as próprias pessoas idosas culpadas da mesma, uma vez
que são um peso demasiado grande na vida dos prestadores de cuidados/familiares;
d) Não foram sensibilizados para a existência da vitimação das pessoas idosas.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 171


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
Comportamento da pessoa idosa
Parece ter medo de um familiar ou de um prestador de cuidados

Não quer responder quando é questionada

O seu comportamento muda quando o familiar ou prestador de cuidados entra na sala, ou no lugar onde se encontra,
tornando-se mais inibida e temerosa

Manifesta sentimentos de solidão e saudade

Manifesta autoestima baixa, dizendo, por exemplo, Não sirvo para nada; Estou aqui a incomodar; Sou um empecilho,
etc.

Refere-se ao familiar ou ao prestador de cuidados como pessoas que “têm o seu feitio”

Demonstra um contínuo e excessivo respeito pelo familiar ou pelo prestador de cuidados, atitude facilmente
confundível com o temor Título da Apresentação 172
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
Comportamento do familiar ou prestador de cuidados

Manifesta stress ou queixa-se da sobrecarga nos cuidados que presta

Tenta evitar que tenhamos alguma interação direta com a pessoa idosa

Cria obstáculos a que a pessoa idosa tenha apoio domiciliário ou que seja visitada
por qualquer profissional, incluindo um(a) enfermeiro(a)

Esquece-se das consultas que a pessoa idosa tem no centro de saúde ou no


hospital

Manifesta falta de informação sobre o envelhecimento e têm expetativas irrealistas


sobre este

Não tem formação ou capacidade para prestar cuidados a uma pessoa idosa

Não está satisfeito(a) com o facto de ter que prestar cuidados à pessoa idosa

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 173


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
Comportamento do familiar ou prestador de cuidados
Revela ter pouco autocontrolo

Está numa atitude defensiva

É verbalmente agressivo; ou, pelo contrário, extremamente atencioso com a pessoa idosa

Mostra-se extraordinariamente controlador das atividades da pessoa idosa

Tenta convencer-nos de que a pessoa idosa não tem capacidades de para decidir a sua própria vida
ou que está a perder faculdades mentais

Culpabiliza a pessoa idosa

Está excessivamente preocupado com os custos de determinadas necessidades da pessoa idosa

Conta histórias incongruentes, contraditórias ou estranhas acerca de como ocorreu determinado


acontecimento

Manifesta ter uma relação conflituosa com a pessoa idosa a quem presta cuidados
Título da Apresentação 174
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
o Sinais que indiciam maus tratos físicos
A própria revelação da pessoa idosa de que é vitima de crime/violência constitui o primeiro
indicador. Devemos sempre acreditar na pessoa idosa de que foi/está a ser vitima.

Fraturas e
Sobre ou
arranhões
subdosagem Nódoas Marcas na
da medicação negras pele

Feridas
constantes Repetição de
Cabelo e/ou não quedas e
Queimadura atendimentos
arrancado tratadas
de urgência

Resistência em despir-se para esconder as marcas físicas

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 175


Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
o Sinais que podem indicar maus tratos psicológicos/emocionais

Perturbação emocional (sentimentos de desamparo, apatia, desespero, falta de atenção e de afeto)

Isolamento da pessoa idosa em relação à família, amigos atividades sem razão ou sem explicação

Recusa inexplicável em participar nas atividades normais

Insónias

Medo das outras pessoas/ hesitação em falar abertamente

Mudança súbita no seu estado de alerta e/ou apetite

Depressão/ ansiedade
Título da Apresentação 176
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
o Sinais que podem indicar possível abuso sexual

Nódoas negras em redor do peito ou na área genital

Doença venérea ou infeções genitais inexplicáveis

Sangramento vaginal ou anal inexplicáveis

Roupa interior rasgada ou ensanguentada

Comportamento ansioso quando está a ser despido/a ou quando lhe tocam


Título da Apresentação 177
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
o Sinais que podem indicar possível violência financeira

Mudanças súbitas na conta bancária ou nos procedimentos bancários

Levantamentos inexplicáveis de grandes quantidades de dinheiro

Súbita e inexplicável transferência de bens

Incapacidade súbita de pagar contas

Falta de comida em casa

Falta de medicação receitada

Aquisição de serviços desnecessários (ou despropositados), de bens ou subscrições.


Título da Apresentação 178
Violência Doméstica Contra Pessoas Idosas –
Indicadores da Vitimação
o Sinais que podem indicar possível negligência

Perda invulgar de peso

Desidratação e malnutrição

Problemas físicos não tratadas, como escaras não tratadas

Viver sem condições de higiene ou de saneamento

Falta de contacto social

Falta de óculos, próteses dentárias ou auditivas

Roupas inadequadas para a estação do ano


Título da Apresentação 179
Vídeo nº 2 | What is That? Constantin Pilavios (2007)

Vídeo
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?
v=mNK6h1dfy2o
Vídeo

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 180


A violência sobre as crianças - especificidades

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 181


Vídeo nº 3 | E se fosse consigo? (SIC) “Crianças vitimas de maus tratos“

Vídeo
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?
v=lOfgmSvco_8
Vídeo

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 182


A violência sobre as crianças - especificidades
A violência cometida contra crianças e jovens encontra-se habitualmente associada a DOIS
CONTEXTOS centrais para o seu processo de socialização:

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 183


Maus tratos contra crianças e jovens
o Qualquer ato deliberado, por ação ou omissão, que atenta contra a satisfação adequada
das necessidades fundamentais da criança ou do jovem, podendo resultar em dano
(efetivo ou potencial)
a) Saúde física e mental (exemplos: alimentação; higiene; cuidados médicos; protecção contra riscos);
b) Educação e desenvolvimento cognitivo (exemplos: desenvolvimento e estimulação das funções cognitivas,
de competências e de interesses; promoção de oportunidades de interacção e brincadeira; supervisão
escolar);
c) Desenvolvimento emocional e comportamental (exemplos: segurança; estabilidade; afectividade;
regulação emocional);
d) Identidade (exemplos: sentimento de pertença e de aceitação; auto-estima positiva);
e) Capacidade de autonomia (exemplos: independência gradual com base na aquisição de competências
práticas, emocionais e comunicativas).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 184


Formas de Maus tratos contra crianças e
jovens • Adoção pelos cuidadores de comportamentos contrários
ou conflituantes com as necessidades fundamentais da
criança ou do jovem

• Maus tratos psicológicos e emocionais


Maus tratos ativos • Abandono
• Maus tratos físicos
• Síndrome de Munchausen por procuração
• Violência sexual
• Exposição à violência interparental

• Omissão ou alheamento por parte dos cuidadores face às


necessidades fundamentais da criança ou do jovem

Maus tratos passivos • Negligência psicológica e emocional


• Negligência física
• Failure to thrive (“falha no crescimento”)

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 185


Níveis de gravidade dos Maus tratos contra
crianças e jovens

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 186


Contextos de vitimação e perpetuação

Contexto Intrafamiliar

• Espaço privilegiado para a ocorrência de maus tratos contra crianças e jovens.


• Praticado no seio da própria família e por parte das pessoas que, com maior regularidade, assumem as
funções associadas à prestação de cuidados.
• As características particulares deste contexto (nomeadamente, a natureza da relação da criança ou do jovem
com o/a agressor/a, do/a qual habitualmente depende, bem como pelo/a qual nutre especial afeição)
constituem-se como constrangimentos que dificultam a revelação da experiência pessoal de vitimação e, por
sua vez, favorecem a reiteração e continuação da mesma.

Contexto Extrafamiliar

• Praticados por outras pessoas ou entidades alheias ao contexto familiar que operam, de algum modo, ao nível
da prestação de cuidados e da socialização.
• Infantários; estabelecimentos de ensino; Instituições de acolhimento; Centros de ocupação dos tempos livres;
Associações recreativas e/ou desportivas.
Título da Apresentação 187
Dinâmicas em Contexto Intrafamiliar
CO-OCORRÊNCIA DE MÚLTIPLAS FORMAS
DE MAU TRATO:
São raras as situações de vitimação em
que ocorre apenas uma forma de mau VIOLÊNCIA COMO UM PADRÃO
trato contra a criança ou jovem. Mais “NORMAL”DE FUNCIONAMENTO FAMILIAR:
comuns são, portanto, as situações em EVOLUÇÃO NA FREQUÊNCIA E GRAVIDADE
que coexistem múltiplas formas de os maus tratos contra crianças e jovens
DOS MAUS TRATOS: que ocorrem no contexto doméstico
maus trato.
A frequência e a gravidade dos maus são, tipicamente, apenas uma das
A título de exemplo: tratos tendem a escalar ao longo do formas de manifestação de um padrão
A violência sexual tende a associar-se tempo, representando um aumento do de funcionamento violento de uma
aos maus tratos físicos e aos maus dano efetivo, bem como do dano determinada família, pelo que a ruptura
tratos psicológicos/emocionais; potencial (ou impacto negativo), no com estas dinâmicas é francamente
Os maus tratos físicos envolvem, desenvolvimento pleno da criança ou difícil. De facto, muitas vezes, este é
geralmente, situações de negligência do jovem. um padrão instalado, considerado
parental; “normal” no seio daquela família, e, por
isso, difícil de quebrar.
Os maus tratos psicológicos ou
emocionais apresentam um carácter
transversal, pois subjazem a qualquer
forma de violência exercida.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 188


Obstáculos à revelação da experiencia de
vitimação
Ausência de capacidade e de
Medo das consequências
autonomia para procurar ajuda ou
associadas à revelação, tais como:
denunciar

• Normalmente, associada à menor idade • Medo de ser desacreditada/o;


da criança ou do jovem • Medo de represálias por parte do/a
agressor/a (com o qual a criança ou o
jovem pode até co-habitar);
• Medo que a severidade dos maus tratos
seja agravada;
• Medo de ser separada/o da família de
origem;
• Medo de ser culpabilizada/o e
estigmatizada/o pela própria família e pela
comunidade.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 189


Fatores de risco | individuais
• As crianças mais novas apresentam maior vulnerabilidade pelo facto de serem mais dependentes da prestação
de cuidados de terceiros. Para além disso, apresentam um conjunto de características físicas (por exemplo,
menor força física, baixa estatura e baixo peso) que reforçam a sua fragilidade, bem como a sua incapacidade
Idade de defesa e resistência face à vitimação sobre si cometida. Por conseguinte, está também aumentado o risco
de os maus tratos perpetrados resultarem em danos graves e irreparáveis, associados, inclusive, a um maior
risco de lesões fatais. A maior necessidade de cuidados por parte de crianças mais novas aumenta também o
seu risco de vitimação pelos principais prestadores.

• As formas de mau trato perpetradas parecem variar em função do sexo da criança ou jovem: o risco de
vitimação por maus tratos físicos severos parece aumentado para crianças e jovens do sexo masculino, ao
Sexo passo que o risco de vitimação por formas de violência sexual e negligência é maior para crianças e jovens do
sexo feminino.

• As crianças e os jovens nascidos prematuramente, com baixo peso, com défices ou deficiências cognitivas e/ou
físicas, com atrasos no desenvolvimento ou com algum tipo de patologia crónica (física ou mental), vêem
Problemas de
aumentadas as probabilidades de serem vítimas de maus tratos, pelo facto de necessitarem de cuidados
saúde
especiais, apresentarem uma maior dependência em relação aos cuidadores e, por isso, contribuírem para uma
maior sobrecarga (efetiva ou percecionada) destes últimos.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 190


Fatores de risco | individuais
• As crianças e os jovens com comportamentos desafiantes e/ou desobedientes (efectivos ou percecionados
como tal) apresentam maior risco de serem maltratadas, sobretudo devido à incapacidade manifesta pelos seus
Problemas de cuidadores em controlar ou corrigir adequadamente as suas condutas por meios normativos. Habitualmente,
comportamento
ocorre um fenómeno de escalada, no qual há um recurso a estratégias sucessivamente mais severas e
coercivas com fins disciplinadores e corretivos.

• Quando as expectativas dos cuidadores relativamente às características físicas e comportamentais da criança


Expetativas
irrealistas dos ou do jovem são defraudadas, por exemplo, devido ao sexo, à aparência física ou à ausência de sucesso
cuidadores escolar dos seus descendentes.

• Normalmente, associadas à gravidez na adolescência e às fragilidades que daí advêm. Nestas situações, há
Gravidez não geralmente um maior isolamento e uma maior fragilidade familiar, acompanhada de uma menor capacidade
desejada/planeada económica e financeira para suportar autonomamente a prestação de cuidados aos filhos, contribuindo para a
inadequação dos cuidados prestados.

15/05/2021 Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 191


Fatores de risco | relacionais

Violência na família de • Associada à exposição (directa ou indirecta) a situações de violência e a um padrão violento de resolução de
origem conflitos e de relacionamento subjacente ao funcionamento familiar e, por isso, difícil de quebrar.

• Perturbam a capacidade de os (ex-)cônjuges exercerem plenamente as suas responsabilidades parentais,


assim como de responderem eficazmente aos desafios e necessidades das crianças e dos jovens, ao mesmo
Conflitos e ruptura tempo que os envolvem inadequadamente nas disputas em torno das questões judiciais. Aumenta, assim, a
conjugal consequentes probabilidade de recurso aos maus tratos físicos e psicológicos como forma de resolução de conflitos, bem
à separação ou divórcio
como a probabilidade de inconsistência nas práticas educativas que, ora se tornam excessivamente
dos progenitores
permissivas, ora se tornam excessivamente punitivas e hostis. Diminui também a atenção atribuída à supressão
das necessidades da criança ou do jovem, acrescendo situações de negligência psicológica, emocional e física.

• A conflituosidade na relação entre pais e filhos, a pobreza de afectos e de oportunidades de comunicação


positiva aumentam o risco de vitimação das crianças e dos jovens, em especial como reacção ao seu mau
Pobre relação
comportamento. Acresce ainda a ausência de vinculação e de criação de laços seguros entre a criança ou o
mãe/pai-filho
jovem e o principal cuidador, a rejeição afectiva por parte dos cuidadores ou, por outro lado, a sua protecção
excessiva (normalmente associada a expectativas irrealistas).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 192


Fatores de risco | estruturais e situacionais

Más condições
Isolamento social Probreza
habitacionais

Elevado numero de
Acontecimentos
filhos e sobrecarga
perturbadores
associada Monoparentalidade
(morte, doença
(económica e
grave, desemprego)
emocional)

Troca frequente de Desorganização


Mudanças parceiros por parte familiar, marcada
constantes na dos pela ausência de
residência familiar progenitores/cuidad coesão, regras e
ores limites

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 193


Consequências dos maus tratos
• A experiência de vitimação pode colocar em causa o desenvolvimento presente da criança ou do jovem e o seu projeto de vida
futuro.

• Não existe um conjunto de consequências universais que se manifestem, invariavelmente, em todas as situações de mau trato. Este
facto dificulta, por si só, a identificação de eventuais situações de violência contra crianças e jovens. Ao mesmo tempo, a detecção
encontra-se igualmente dificultada pelo facto de as consequências serem bastante diversificadas e apresentarem diferentes
níveis de intensidade e gravidade, variando em função das características físicas e psicológicas da criança ou do jovem em
questão.

• As consequências e as reações a um ato de vitimação podem assim ser experienciadas não só pela vítima mas também pelos
familiares e/ou pelas testemunhas do crime.

• A criança ou o jovem vitima de maus tratos pode não manifestar consequências.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 194


Sinais e sintomas indiretos de alerta
o Existem para além das consequências, um conjunto sinais indiretos indicativos da vivencia por parte
da criança ou jovem de uma experiencia de vida pouco habitual que podem auxiliar e facilitar a deteção
da situação de violência, incluindo por parte dos profissionais educativos e de saúde.

MAUS TRATOS ATIVOS

• Danos físicos incompatíveis com a explicação


• Lesões físicas em locais pouco comuns (ex. hematomas nas orelhas)
• Marcas evidentes de mau trato (lesões, ferimentos provocados pelo uso de fivelas, cintos, cordas, ferros de
engomar)
• Versões sucessivas e inconsistentes do mesmo “acidente”
• História de “acidentes” semelhantes com a própria criança ou com os irmãos, os denominados acidentes de
repetição (história das quedas)
• Sequelas de traumatismos antigos
• Demora na procura de cuidados médicos
• Procura constante de cuidados médicos por razões “menores”
• Evitamento do contacto corporal de forma constante e exagerada por parte da criança ou do jovem, demonstrando,
inclusive, desconforto/incómodo na presença de outras pessoas

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 195


Sinais e sintomas indiretos de alerta
• Existem para além das consequências, um conjunto sinais indiretos indicativos da vivencia por
parte da criança ou jovem de uma experiencia de vida pouco habitual que podem auxiliar e facilitar a
deteção da situação de violência, incluindo por parte dos profissionais educativos e de saúde.

MAUS TRATOS PASSIVOS

• Falta de adesão médica


• “Acidentes” de repetição
• Aparência pouco cuidada
• Higiene deficiente/ausente
• Fome
• Sinais evidentes de malnutrição
• Ausência de hábitos diários
• Absentismo e abandono escolar
• Evitamento do contacto corporal

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 196


Consequências FISICAS dos maus tratos
Morte

Traumatismo Craniano

Lesões cerebrais e défices neurológicos: associados a atrasos no desenvolvimento,


alterações no funcionamento cerebral e nas funções cognitivas superiores (como a emoção, a
atenção, a concentração, a memória, a linguagem e a aprendizagem).

Lesões cutâneas: equimoses e/ou hematomas na face, nos membros superiores e inferiores,
nas unhas e nas nádegas; alopecia (perda de cabelo em determinadas áreas do couro
cabeludo por arrancamento); queimaduras; mordeduras.

Perda de capacidades motoras, como hemiplegia (perda de mobilidade numa parte do corpo)
e paralisia cerebral.

Perda de capacidades sensoriais, como a visão ou a audição, por exemplo.


Título da Apresentação 197
Consequências FISICAS dos maus tratos
Perda do controlo dos esfíncteres: que pode ser por enurese (perda involuntária e repetida de
urina) ou por encoprese (defecação repetida e involuntária).

Atraso no crescimento ponderal (associado ao peso) e estatural (associado à altura).

Problemas de sono, como insónias, dificuldades em iniciar o sono, pesadelos, etc.

Problemas alimentares, como anorexia ou bulimia, por exemplo.

Queixas psicossomáticas ou sintomas de mal-estar sem razão médica aparente, como cefaleias,
dores musculares e dores abdominais.

Título da Apresentação 198


Consequências PSICOLÓGICAS, EMOCIONAIS E
COMPORTAMENTAIS dos maus tratos
• Baixa auto-estima e percepção de auto-eficácia, muitas vezes associadas a um elevado sentimento de insegurança.

• Expectativas negativas ou reduzidas, do ponto de vista pessoal e/ou profissional, por exemplo.

• Sentimentos negativos, como a apatia e a tristeza.

• Comportamentos auto-destrutivos mediante a auto-agressão ou a auto-mutilação por cortes ou queimaduras.

• Problemas de saúde mental, como:


 Perturbações do humor (ou sintomas de humor deprimido), nomeadamente depressão.
 Perturbações da ansiedade (ou sintomas de ansiedade), nomeadamente, perturbações de pânico ou perturbações de
stress pós-traumático (esta última caracterizada por pensamentos recorrentes e intrusivos sobre o acontecimento
traumático, comportamentos de evitamento de situações que o relembrem, e sintomas de activação aumentada).
 Perturbações cognitivas manifestadas por hiperactividade e/ou défice de atenção.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 199


Consequências PSICOLÓGICAS, EMOCIONAIS E
COMPORTAMENTAIS dos maus tratos

• Comportamento agressivo e violento, que pode conduzir ao envolvimento em condutas anti-sociais e mesmo delinquentes,
como por exemplo:
 O desrespeito e a violação dos direitos dos outros;
 A violação das normas sociais;
 O recurso à mentira;
 As fugas da escola ou de casa;
 Delitos e o envolvimento em problemas legais (mediante furtos, roubos, vandalismo, porte de armas, lutas).

Esta gama de comportamentos pode manter-se ao longo do tempo e resultar no envolvimento em actividades criminais na idade
adulta.

• Comportamentos de risco para a saúde, como a intoxicação ou abuso do álcool e/ou de drogas, o envolvimento precoce com
múltiplos parceiros sexuais, com risco de Infecções sexualmente transimssiveis e/ou de gravidez na adolescência.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 200


Consequências RELACIONAIS E SOCIAIS
• Vitimação e • Desinteresse, em
perpetração de especial por
actividades
violência nas anteriormente
relações futuras, apreciadas, assim
quer com cônjuges como por actividades
quer com novas que possam
descendentes surgir.

• Empobrecimento e/ou dificuldades no • Dificuldades escolares, associadas a


estabelecimento de relações uma redução no rendimento escolar (isto
interpessoais positivas, afectivas, é, a descida das notas), ao insucesso
duradouras e estáveis, motivados por um escolar (com notas negativas e retenções
padrão de desconfiança e por problemas frequentes), ao absentismo escolar (com
de vinculação em relação aos outros. Tal, faltas injustificadas às aulas), e ao
por sua vez, sustenta sentimentos de abandono escolar precoce.
medo e de fobia social e comportamentos
de evitamento e isolamento social,
principalmente em relação aos pares,
pelos quais são, muitas vezes, vitimados 201
e rejeitados.
Variáveis moderadoras do impacto
• As variáveis moderadoras são caraterísticas ou circunstancias que, quando presentes, podem agravar, ou por
outro lado, atenuar o impacto da experiencia de vitimação. A ausência de sintomas, bem como a diversidade na
sua gravidade poder-se-á explicar com base:

Caraterísticas
dos maus
tratos

Caraterísticas
da Recursos e
criança/jovem fontes de
suporte
existentes

202
A violência sexual contra crianças e jovens

Qualquer ato sexual, ou tentativa de ato sexual, avanços ou comentários sexuais indesejados,
assim como quaisquer outros contactos e interações de natureza sexual entre um adulto e uma
criança ou jovem.

o uma única vez, esporádicos ou continuados


o visam, independentemente das condutas implicadas e da quantidade de vezes em que ocorre, a
estimulação e satisfação sexual do adulto

Módulo VI| Práticas Orientadas 203


A violência sexual contra crianças e jovens

Violência
sexual contra Violência
crianças e Doméstica
jovens

A violência sexual em contexto intrafamiliar está correlacionada com maiores padrões de disfunção
familiar. Em grande parte das famílias onde se verificou existir violência sexual contra crianças e
jovens, também se observou a ocorrência de violência doméstica entre os(as) adultos(as) que
compunham o agregado familiar.

Módulo VI| Práticas Orientadas 204


A violência sexual contra crianças e jovens |
questões de partida

• O abuso sexual é um acontecimento raro e pouco frequente


• Ser rapaz é uma proteção contra os crimes sexuais
• O abuso sexual é um incidente isolado que acontece por acaso e é uma forma extrema
de violência
• Só os homens é que abusam sexualmente de crianças e adolescentes
• Os agressores são psicopatas e pessoas com distúrbios emocionais e têm uma
sexualidade direcionada para os adolescentes ou crianças
• O abuso só ocorre em famílias carenciadas e promíscuas

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 205


Formas de Violência Sexual
Abuso
sexual de
menores

Turismo
Sexual Violação
Infantil

Violência
sexual
contra
Tráfico para crianças e
fins de jovens Lenocínio
Exploração de menores
Sexual

Recurso à
Pornografia
prostituição
de menores
de menores

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 206


Contextos de vitimação e de perpretação
Contexto Neste caso, estamos perante actos sexualmente agressivos e violentos cometidos por elementos da família da criança
ou do jovem.
intrafamiliar

Trata-se, deste modo, de pessoas próximas, nas quais a criança ou o jovem confia e com as quais muitas vezes co-habita,
partilha laços de consanguinidade e mantém um forte vínculo afectivo (como um adulto que desempenhe o papel parental, um
elemento do agregado da família nuclear ou um membro da família alargada).

A violência sexual acontece, portanto, em espaços físicos que a criança ou o jovem conhece (tais como a sua casa ou a
casa de familiares), assim como no contexto de actividades próprias da família (exemplo: piqueniques, acampamentos,
viagens).

Neste caso, a violência sexual é perpetrada por elementos externos à família da criança ou do jovem, sendo variável o grau de
Contexto conhecimento em relação ao/à agressor/a.
extrafamiliar
Este pode ser um elemento estranho ou conhecido e presente em contextos nos quais a criança ou o jovem se movimenta e com o
qual interage directamente (exemplo: se for seu amigo ou amigo da sua família, seu vizinho, professor, motorista ou treinador).

Tipicamente, a violência sexual ocorre em espaços físicos externos à vida familiar, embora habituais e não estranhos à rotina de
funcionamento da criança ou do jovem (nomeadamente, na escola, na igreja, no autocarro, no caminho para casa).

No entanto, é também possível que ocorra na habitação familiar, seja porque nesse contexto são exercidas as funções profissionais
do/a agressor/a (exemplo: se é a ama ou a empregada doméstica), seja por circunstâncias fortuitas (exemplo: quando se trata de 207
um/a vendedor/a ambulante ou de um/a assaltante).
Obstáculos e dificuldades na revelação e sinalização da
vitimação
Ausência de evidências médicas e/ou biológicas

Características da interação vítima - agressor/a

Sentimentos de vergonha, culpa e auto-responsabilização

Medo das retaliações do ofensor

Medo de que aconteça algo mau ao ofensor (quando familiar)

Sentimento de que já devia ter contado há mais tempo e agora poderão achar
tarde de mais ou duvidar por causa de não ter contado antes

Tentativas anteriores de revelação mal sucedidas

Medo de ser desacreditada

Não saber como dizer o que lhe está a acontecer

Medo da estigmatização social

Medo de (eventual) separação ou desestruturação da sua família

Incompreensão

Estratégias utilizadas pelo/a agressor/a sexual

208
Estratégias utlizadas pelo/a agressor/a sexual
Construir relação
de proximidade
afectiva e/ou de
confiança

Proporcionar
Raptar e/ou
acesso a bens
sequestrar
materiais

Estratégias
utilizadas
pelo /a
agressor /a
Recorrer à
Agredir
sexual surpresa e/ou
ao engano

Fomentar a
Ameaçar
confusão

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 209


Fatores associados à revelação da experiencia de
vitimação
• Uma escalada no tipo ou frequência do abuso
• Ter conhecimento de abuso de irmãs(ãos) mais novas(os)
• Tomar consciência da “não normalidade” daquela situação
• Ouvir falar sobre ou receber informação sobre o abuso
• Contar o segredo a um amigo, confiando que ele fica calado, e esse amigo contar a outras pessoas
• Entrada na adolescência e receio de engravidar (ou gravidez, com consequente deteção por
terceiros)
• Ter arranjado um(a) namorado(a)
• O esforço de autonomização, uma fuga de casa
• A criação de uma relação de confiança com um adulto
• Problemas físicos e consequente necessidade de ajuda médica
Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 210
A Ecologia do Abuso

Família Ofensor Criança


• Modelo familiar patriarcal • Autoritarismo e conceção da • Dificuldade em distinguir afeto
criança como sua posse; de abuso;
• Presença de um substituto
paterno • Expectativas inadequadas e • Pouco supervisionadas;
auto-centração;
• Punitividade/dificuldades de • Falta de competências de
comunicação sobre temas • Distanciamento afetivo da autoproteção;
sexuais criança;
• Vulnerabilidade emocional;
• Falta de privacidade
• Vulnerabilidade económica;
• Isolamento social
• Deficiências físicas/cognitivas:
• Afetividade inibida

• Indisponibilidade materna e/ou


subordinação desta.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 211


Estratégias utlizadas pelo/a agressor/a sexual

A reacção da criança ou jovem durante a violência sexual é


diversificada e depende de:

• Características individuais
• Características da violência sexual
• Relação com o/a agressor/a

Reacção passiva
Reacção agressiva
Participação activa

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 212


Consequências da experiencia de vitimação

 Ausência de um síndroma específico

 Crianças assintomáticas

21% a 49% - “Sleeper effect”

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 213


Consequências da experiencia de vitimação
• Corrimentos, prurido, dor e/ou lesões • Comportamento agressivo e disruptivo • Ansiedade, medos
inflamatórias anais e/ou genitais • Declínio do rendimento escolar • Depressão
• Gravidez ou complicações ginecológicas • problemas de atenção • Evitamento social, isolamento
• Infecções sexualmente transmissíveis • Fugas repetidas da escola ou de casa • Vinculação pouco seletiva, busca indiscriminada
• Queixas somáticas • Abuso de drogas ou álcool de afeto e aprovação
• Alterações no apetite e/ou no sono • Conduta antissocial • Comportamento regressivo
• Atraso no crescimento • Automutilação, ideação suicida e tentativas de
• Mudança significativa na aparência física suicídio

FISICAS EXTERNALIZAÇÃO INTERNALIZAÇÃO

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 214


Consequências da experiencia de vitimação

ADOLESCENCIA
IDADE ESCOLAR
Medos Depressão
IDADE PRÉ ESCOLAR
Ansiedade
Medos pesadelos Isolamento,
Agressividade automutilação,
Comportamento suicídio
sexual inadequado Problemas
deaprendizagem Fugas de casa
Regressão Abuso de
comportamental Substâncias
Comportamento Comportamento
sexual inadequado sexual inadequado

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 215


Indicadores Altamente Significativos de experiencia
de vitimação sexual
• A criança iniciar jogos sexuais com os pares

• Tocar excessivamente nos órgãos sexuais dos pares

• Tocar nos adultos excessivamente ou de forma inapropriada (sexualizada, erotizada)

• Masturbar-se excessivamente

• Fazer comentários sexuais inapropriados

• Ter conhecimentos sexuais incomuns na sua idade

• Guardar objetos ou armas de defesa junto a si

• Tentar sistematicamente invadir a privacidade dos outros na casa de banho

• Fugir de casa ou ameaçar fazê-lo

• Apresentar comportamentos regressivos

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 216


Comportamento sexual
Idade e tamanho semelhante Crianças de diferentes idades ou níveis
Relação positiva desenvolvimentais
O afeto que acompanha a Crianças sem relação mutuamente
experiência é leve e positivo positiva
Limitados na frequência e na Peso excessivo do tema, preocupação
importância ou prejuízo de outras atividades
Comportamentos ou conhecimentos

Atípico
Normativo

A descoberta gera embaraço


mas não gera zanga, vergonha atípicos para a idade
intensa ou medo Continuidade apesar dos pedidos para
O comportamento diminui se parar
censurado Comportamento em público
Comportamento elícita queixas dos
outros
Comportamento dirigido a adultos
Escalada em intensidade ou
intrusividade
Associação a ansiedade, vergonha,
zanga ou culpa intensa

217
Variáveis moderadoras do impacto da vitimação

Manutenção da
Duração e
Características Relação prévia situação
intensidade da
da criança ou do com o/a sexualmente
violência sexual
jovem agressor/a violenta em
sofrida
segredo

Medo da Reação dos pais


Reação da
Demora na ameaça, e qualidade do
pessoa à qual
revelação chantagem e/ou apoio familiar
pede ajuda
perseguição fornecido

Qualidade do
Condições da
Intervenção apoio
vida futura da
precoce especializado
vítima
recebido

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 218


Vitimação secundária
Repetição de testemunhos

Exames intrusivos

Falta de informação sobre o processo

Deslocações repetidas ao tribunal/outras Entidades

Custos económicos

Confronto com o agressor

Inquéritos intrusivos e ofensivos; culpabilização da vítima

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 219


Exercício nº 3

Leitura de caso, análise e discussão em grande grupo das questões


formuladas.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 220


Exercício nº 3
A Lúcia, uma criança de 8 anos de idade, foi hospitalizada por tumefacção (inchaço) do grande lábio esquerdo,
que se apresentava apertado por um fio de cabelo de 10 centímetros que fazia várias voltas. Este facto
justificou a recessão de uma parte do grande lábio esquerdo. Não se observava qualquer outra lesão anal ou
genital, o hímen encontrava-se intacto na altura do exame, confortavelmente realizado pelo médico de medicina
legal. Os pais negam qualquer conhecimento sobre o assunto e a criança não dá qualquer explicação.
Após consulta da equipa de cirurgia, inicia-se um processo judicial. A polícia intervém e no seu interrogatório à
criança, esta refere ter sido o seu irmão mais velho (de 10 anos), quando brincavam aos "médicos e
enfermeiros", mas sem violência. Estas afirmações foram confirmadas pelo referido irmão. Toda a família foi
acompanhada em psiquiatria.

Questão 1: Tendo em conta os dados mencionados, podemos falar em “violência sexual”?


Questão 2: Estão presentes dinâmicas típicas de uma situação de violência sexual intra-familiar?
Questão 3: Que fator de alerta é possível identificar na situação diagnosticada?

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 221


Exercício nº 3 | Correção
Questão 1: Tendo em conta os dados mencionados, podemos falar em “violência sexual”?
Resposta: As informações disponibilizadas não permitem concluir acerca da presença de uma situação de violência sexual,
por três motivos centrais:
• A criança não efetua revelação de qualquer experiência pessoal de vitimação no domínio da sexualidade: brincar aos
médicos e enfermeiros não é sinónimo de violência sexual (neste sentido, caberá ao profissional explorar esta matéria e
apreender em que consistiu, de facto, brincar aos “médicos e enfermeiros” com o irmão e que atos fizeram parte da referida
brincadeira);
• A criança reporta-se ao “incidente” sem aparente emocionalidade negativa, sem evitamento ou constrangimento;
• O exame médico-legal conclui a ausência de qualquer lesão genital e/ou anal;

Podem existir explicações alternativas para o quadro clínico apresentado pela criança (ex: as lesões apresentadas podem ser
consequência de brincadeiras e experimentações entre irmãos no domínio da sexualidade; as lesões apresentadas podem não
apresentar relação causal com as brincadeiras efectuadas entre irmãos).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 222


Exercício nº 3 | Correção (Cont. )
Questão 2: Estão presentes dinâmicas típicas de uma situação de violência sexual intra-familiar?
Resposta: Não parecem existir dinâmicas típicas de uma situação de violência sexual em contexto intra-familiar, tais como: a
recompensa por bens materiais; a ameaça; a agressão psicológica e/ou física. Eventualmente, e estando na posse de mais
informação acerca da situação e interação específica entre Lúcia e o seu irmão, pode existir recurso ao engano, uma vez que Lúcia
poderá ter sido confundida da normalidade dos atos efetuados com o irmão. No mesmo sentido, o irmão, poderá, eventualmente, ter
utilizado a relação de afeto e confiança para convencer a Lúcia a brincar aos “médicos e enfermeiros” (mas este tipo de conclusões
só poderão ser confirmadas ou infirmadas após uma recolha detalhada de informação em torno desta matéria).

Questão 3: Que fator de alerta é possível identificar na situação diagnosticada?


Resposta: O fator de alerta que poderá ser destacado desta situação, essencialmente pelas consequências danosas resultantes
para a criança, prende-se com a aparente ausência de supervisão parental das atividades efetuadas por estas duas crianças, bem
como os défices na supervisão da situação de saúde de Lúcia (uma vez que as lesões apresentadas pela menor parecem decorrer
de “acidentes” que ocorreram já há algum tempo).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 223


Crianças expostas à Violência Doméstica
Numa situação de Violência Doméstica as crianças
são sempre vítimas?

A vítima coloca sempre um termo à relação abusiva


para proteger os filhos?

As crianças reconhecem sempre os agressores como


a causa dos problemas e do abuso?

As crianças odeiam o pai abusador?

Quando a família rompe com o abusador os


problemas da família cessam?

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 224


Crianças expostas a Violência Doméstica
Tomada de consciência por parte da criança das interações abusivas entre as duas pessoas com
quem tem proximidade afectiva e com quem partilha o mesmo espaço” (Sani, 2002).

• Vêem os episódios abusivos


• Ouvem os episódios abusivos
• Têm conhecimento dos episódios abusivos
• Observam as consequências
• Experienciam mudanças na sua vida decorrentes da violência

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 225


Crianças expostas a Violência Doméstica
o Crença dos pais/cuidadores de que a violência passa “despercebida” à criança

• Crianças escondem-se durante os episódios abusivos


• Desejo dos pais de que as crianças não tenham presenciado
• Distorções cognitivas dos pais

Alguns estudos indicam que as crianças estarão presentes em 68% a 80% dos episódios de violência física entre os pais;
outros indicam valores de 40% a 50% (vítimas indiretas e/ou diretas).

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 226


Crianças expostas a Violência Doméstica
As crianças expostas à violência entre os seus progenitores/cuidadores ou membros da família são
vitimas diretas de violência psicológica e emocional

• Aterroriza a criança, por exemplo, quando o adulto perpetrador da violência a agride verbalmente, cria um clima de medo, a
oprime, assusta e faz com que ela acredite que o mundo é caprichoso e hostil.

• Força a criança a viver em ambientes perigosos.

• Expõe a criança a modelos de papéis negativos e limitados, porque encorajam a rigidez, a autodestruição, os
comportamentos violentos e antissociais.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela


Crianças expostas a Violência Doméstica
o Da exposição à violência à vitimação direta

• A criança pode ser usada pelo agressor como parte das táticas de controlo sobre a vítima adulta, mediante agressões físicas mas sobretudo
emocionais:

• Atribuir ao mau comportamento da criança a razão da agressão sobre o outro progenitor (culpabilização do menor).

• As crianças/jovens são abusadas como forma de aterrorizar a vitima adulta

• As crianças são “apanhadas” no meio dos incidentes acidentalmente ou quando tentam proteger a vitima adulta

• As crianças são usadas pelo agressor e incentivadas a maltratar a figura adulta vitima

• Falar negativamente sobre o comportamento do progenitor agredido.

• Ameaçar agredir a criança em frente à vítima adulta.

• Tornar a criança refém para punir o(a) companheiro(a) ou fazê-lo(a) obedecer.

• Negligenciadas na satisfação das suas necessidades por parte das figuras parentais

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 228


Crianças expostas a Violência Doméstica
o Estratégias das crianças durante o abuso

• Protegem a figura cuidadora vitima


• Procuram distrair o agressor
• Protegem os irmãos mais novos
• Procuram ajuda externa
• Procuram um local seguro

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 229


Crianças expostas a Violência Doméstica
o Potenciais papeis das crianças

Cuidador/a: Assumirem a responsabilidade pela proteção da vítima e/ou fratria, numa inversão de papéis
(adulto/a cuida e protege vs criança é cuidada e protegida) não compatível com o seu desenvolvimento físico,
emocional e psicológico;
Confidente da Vítima
Confidente do Agressor/a
Assistente do Agressor/a: Exercerem violência contra a progenitora e/ou fratria, aliando-se ao agressor,
como estratégia de sobrevivência;
A Criança Perfeita
 Árbitro
 Bode Expiatório

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 230


Crianças expostas a Violência Doméstica
o Crianças expostas à violência doméstica podem apresentar problemas psicológicos,
comportamentais e sociais acrescidos:

• problemas de internalização e de externalização, relacionados com as competências sociais.

• dificuldade de interpretação de situações e relações sociais.

• défices ao nível da resolução de problemas (associados ao segredo e vergonha subjacentes


a esta dinâmica, à dificuldades ao nível da empatia e ao seu comportamento e afetos
disruptivos).

• agressividade e perturbações de comportamento.

• baixos níveis de realização académica.

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 231


Crianças expostas a Violência Doméstica
• Perceber que a vítima não controla o agressor •Necessidade de projectar uma imagem de •A violência é um meio de obter o que
• Perceber o impacto na vitima família normal queremos
• Preocupação com a integridade física da vítima
•Responsabilidade de cuidar e proteger •Uma pessoa tem duas opções: ser vitima ou
• Medo de perder a principal figura cuidadora
• Preocupação em torno das consequências negativas
irmãos e vitima agressor
para o progenitor/cuidador abusador •Raiva dos progenitores •As vitimas são culpadas pela violência
• Medo de serem abusados •Preocupação com o bem estar da vitima •As mulheres são fracas
• Ansiedade antecipatória acerca do próximo episódio •Pensamentos de vingança para com o •As pessoas que nos amam podem magoar-
• Preocupação em torno da exposição da violência abusador nos
familiar na comunidade
•Preocupação de a vitima aceitar de volta o •Relações desiguais são normais/expectavéis
abusador ou iniciar novo relacionamento •Os homens têm o controlo e poder sobre as
abusivo mulheres

Idade escolar Adolescentes Aprendizagem

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 232


Crianças expostas a Violência Doméstica
o Porque as crianças não contam?
• Não percebem que o comportamento abusivo é errado
• Vergonha
• Ameaça para “não contar nada”
• Inexistência de contactos com profissionais/instituições que podem ajudar
• Acreditam que são a causa da violência
• Ausência de adultos de confiança nas suas vidas
• Medo das consequências para si ou para a família

Violência Doméstica | Conhecer a situação e refletir sobre ela 233


Maria Coutinho
Obrigada
maria.guedes.coutinho@gmail.com

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