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▪ OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1. Conceituar o fenômeno da violência de acordo com pressupostos teóricos;
2. Buscar compreender os tipos possíveis de violência e as características de cada
um deles;
3. Reconhecer a representação da violência no livro Estação Carandiru, de Drauzio
Varella;
4. Aproximar as definições de violência de trechos selecionados do livro de
Varella.
▪ A metodologia adotada nesta aula é expositiva e inclui duas
perspectivas: teórica e analítica.
1. Em um primeiro momento, serão apresentadas possíveis
definições acerca do fenômeno da violência e suas características.
Para isso, utilizam-se teóricos como Bordieu, Chauí, Arendt e
Michaud.
2. Na segunda etapa, esses conceitos serão mobilizados e
aproximados de trechos selecionados do livro Estação Carandiru,
de Drauzio Varella, com o objetivo de ilustrar a forma como a
violência é representada nesta obra.
▪ Antes de passar à teoria e análise propriamente ditas, é interessante ponderar algumas
questões que demonstram como é complexo o fenômeno da violência:
1. O que é violência? Em que níveis ela se apresenta?
2. A violência é uma característica inerente ao ser humano?
3. Alguns estudiosos consideram a violência um instrumento para atingir determinados
objetivos. Quais as funções que esse fenômeno pode assumir?
4. Existe alguma relação possível entre violência e poder? E entre violência e subversão?
5. Há uma conexão entre violência e instinto?
6. Até que ponto os atos violentos podem ser encarados como uma forma de proteção
pessoal? Em que momento eles ultrapassam esses limites e se tornam nocivos?
7. Por fim, a máxima “violência gera violência” é válida?
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS)
“uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra
pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade
de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”
(Krug et al., 2002, p. 05).
MARILENA CHAUÍ
“1- tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar); 2)
todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir,
constranger, torturar, brutalizar); 3) todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma
coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar); 4) todo ato de transgressão
contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito” (Chauí, 1998, p.
3).
YVES MICHAUD
HANNAH ARENDT
▪ Violência simbólica.
“violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce
essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do
conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou,
em última instância, do sentimento” (BOURDIEU, 2003, p. 7-8).
▪ Segundo Freud (1980), a agressividade é um impulso nato, essencial à
sobrevivência, à defesa e à adaptação dos seres humanos. Constitui-se, portanto,
como elemento protetor, que possibilita a construção do espaço interior do
indivíduo, diferenciando o EU e o OUTRO. Sendo assim, a agressividade, ao
contrário da violência, se inscreve no processo de desenvolvimento da
subjetividade. A transposição da agressividade para a violência é, ao mesmo
tempo, social e psicossocial e depende de contribuições sociais, do ambiente
cultural, de relações comunitárias e das próprias características do indivíduo.
▪ A violência é um fato humano e social;
▪ Ela é utilizada para os mais diversos fins, principalmente para dominar, subjugar e
provocar danos a outros seres, grupos ou coletividades;
▪ A violência é histórica;
▪ Há formas de violência que persistem no tempo e se estendem à maioria das
sociedades;
▪ O fenômeno da violência abrange todos os segmentos sociais.
VIOLÊNCIA CRIMINAL
VIOLÊNCIA ESTRUTURAL
VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL
VIOLÊNCIA
VIOLÊNCIA INSTERPESSOAL
VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR
VIOLÊNCIA AUTO-INFLIGIDA
VIOLÊNCIA CULTURAL
TIPOS DE VIOLÊNCIA
A violência criminal é praticada por meio de agressão
grave às pessoas, por atentado à sua vida e aos seus bens
Violência criminal e constitui objeto de prevenção e repressão por parte das
forças de segurança pública: polícia, ministério público e
poder judiciário.
Diz respeito às mais diferentes formas de manutenção
das desigualdades sociais, culturais, de gênero, etárias e
étnicas que produzem a miséria, a fome, e as várias
Violência estrutural formas de submissão e exploração de umas pessoas
pelas outras.
PSICOLÓGICA
SEXUAL
VIOLÊNCIA
NEGLIGÊNCIA, ABANDONO OU
PRIVAÇÃO DE CUIDADOS
ABUSO ECONÔMICO E
FINANCEIRO
NATUREZA DA VIOLÊNCIA
O termo abuso físico significa o uso da força para produzir
Física lesões, traumas, feridas, dores ou incapacidades em outrem.
Negligência, abandono ou privação São formas de violência caracterizadas pela ausência, recusa ou
de cuidados a deserção do atendimento necessário a alguém que deveria
receber atenção e cuidados.
Esta forma de violência ocorre, prioritariamente, no ambiente
Abuso econômico e financeiro domiciliar e envolve exploração imprópria ou ilegal ou uso não
consentido de recursos monetários e patrimoniais.
▪ “[...] a história brasileira, transposta em temas literários, comporta uma violência
de múltiplos matizes, tons e semitons, que pode ser encontrada assim desde as
origens, tanto em prosa quanto em poesia: a conquista, a ocupação, a colonização, o
aniquilamento dos índios, a escravidão, as lutas pela independência, a formação
das cidades e dos latifúndios, os processos de industrialização, o imperialismo, as
ditaduras...” (PELEGRINI, 2005, p. 134).
Tânia Pellegrini: quem fala aqui é um médico que trabalhou no presídio Carandiru durante mais
de dez anos, alguém da classe média que empresta a confiabilidade de sua voz ao relato dos
que costumam não ser ouvidos.
“Dadas as condições do presídio, é impossível acabar com as agressões, porque no convívio com
ladrões alguns funcionários se embrutecem de tal modo que não enxergam outra alternativa
para impor a ordem. [...] Na prisão, a violência que explode em ciclos, invade a vida dos guardas.
Nos acertos de contas entre a malandragem, quando um grupo decide dar cabo de alguém, os
funcionários têm ordem para não interferir” (VARELLA, 1999, p. 115).
“Da minha parte, posso assegurar que a influência do meio está longe de ser desprezível. Apesar
de médico, diversas vezes tive vontade de bater em alguém na cadeia, não por terem me faltado
ao respeito, fato jamais ocorrido, mas pela revolta diante da perversidade de um preso com o
outro” (VARELLA, 1999, p. 116).
“Numa tarde, [...] ele conversava sério com um rapaz novinho. [...]. Era o filho mais
velho que acabava de chegar à Detenção. (VARELLA, 1999, p. 257)”
▪ Apesar de não possuir essa pretensão, o livro de Varella pode ser encarado como um retrato do
sistema prisional brasileiro;
▪ Em seu relato, o narrador desvela todas as falhas e abusos cometidos dentro do ambiente
carcerário, bem como retrata o cotidiano dos grupos sociais criados dentro desse local.
▪ Por isso mesmo, Estação Carandiru pode ser encarado como um testemunho. Além disso, o livro
possui caráter jornalístico e literário, pela mistura de ficção e verossimilhança que a narrativa
carrega.
ARENDT, Hannah. Da violência. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 1985.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
CHAUÍ, Marilena. Ética e violência. Teoria e Debate, ed. 39, out. 1998. Disponível em:
http://www.teoriaedebate.org.br/index.php?q=materias/sociedade/eti-ca-e-violencia&page=0,0.
Acesso em: 03 mar. 2019.
FREUD, S. Por que a guerra? In: Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980. p. 241-259. v. 22.
KRUG, Etienne et al. (Org.). Relatório mundial sobre violência e saúde. Geneva: Organização Mundial
da Saúde, 2002.
MENDES, Fábio Marques. Realismo e violência na literatura contemporânea: os contos de Famílias
terrivelmente felizes, de Marçal Aquino. 1 ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.
MICHAUD,Yves. A violência. São Paulo: Ática, 1989.
PELLEGRINI, Tânia. As vozes da violência na cultura brasileira contemporânea. Crítica marxista,
2005. Disponível em: www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/critica21-Apelegirni.pdf. Acesso em:
28 set. 2018.
SCHOLHAMMER, Karl Erik. Os cenários urbanos da violência na literatura brasileira. In: PEREIRA,
Carlos Alberto Messeder (Org.). Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 236-259.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.