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Características e prevalência do fenómeno do Bullying

nos alunos do 3º ciclo, a frequentar escolas públicas e


privadas.

Dissertação de Mestrado apresentada à


Universidade Católica Portuguesa para
obtenção do grau de mestre em Psicologia da
Educação

Mariana Alves de Sousa

Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais


DEZEMBRO 2017
Características e prevalência do fenómeno do Bullying
nos alunos do 3º ciclo, a frequentar escolas públicas e
privadas.

Dissertação de Mestrado apresentada à


Universidade Católica Portuguesa para
obtenção do grau de mestre em Psicologia da
Educação

Mariana Alves de Sousa

Sob a Orientação da Prof.ª Doutora Ângela Maria


Pereira e Sá Azevedo
Resumo

O bullying está muito frequente nas escolas portuguesas. O relatório anual da


Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) revela que foram registados 116
crimes de bullying em Portugal em 2016. Assim, é importante preveni-lo, sendo
imprescindível investigá-lo de forma aprofundada. O presente estudo tem como objetivo
analisar se o fenómeno do bullying se manifesta de forma diferente numa escola pública
ou privada, em alunos do 3ºciclo. Pretende-se ainda analisar se o bullying varia tendo
em conta as seguintes variáveis: género, idade, escolaridade, autoestima, número de
amigos e local de ocorrência. A amostra é constituída por 248 alunos do 3ºciclo, de duas
escolas (uma pública e uma privada). Foram utilizados três instrumentos: Questionário
Sócio demográfico, o, Questionário p/a o estudo da violência entre pares no 3º ciclo do
ensino básico (Freire, Simão & Ferreira, 2005) e a Escala de Autoestima de Rosenberg
(Santos Maia, 2003). Não foram encontradas diferenças entre a escola pública e a
privada relativamente à incidência da vitimização e dos tipos de bullying. Para além
disso, concluiu-se que o bullying não varia tendo em conta o género, idade,
escolaridade, autoestima e o número de amigos. Verifica-se uma tendência para a
diminuição da vitimização à medida que a idade aumenta; para o aumento de amigos à
medida que a agressão aumenta; e para a diminuição da autoestima à medida que a
vitimização aumenta. Por último, importa realçar que o recreio é o local onde mais
ocorrem comportamentos de bullying.

Palavras-chave: bullying, escola pública e escola privada, vitimização, 3ºciclo.

1
Abstract

Bullying is very frequent in Portuguese schools. The annual Portuguese Association of


victim support (APAV) report reveals that 116 crimes of bullying have been registered
in Portugal in 2016. Therefore, it is important to prevent it, and it is crucial to deeply
investigate it. This study intends to analyze if the phenomenon of bullying manifests
itself differently in public or private schools, in middle school students. It is intended to
analyze if bullying varies considering the following variables: gender, age, schooling,
self-esteem, number of friends and place of occurrence. The sample is constituted by
248 Middle School students from two schools (a public school and a private school).
Three instruments have been used: a socio- demographic questionnaire, the
Questionnaire for the study of violence among pairs in elementary school (Freire, Simão
& Ferreira, 2005) and Rosenberg´s Self Esteem Scale (Santos Maia, 2003).. Differences
between public and private schools haven´t been found in what refers to the occurrence
of victimization and the types of bullying. Furthermore, it has been concluded that
bullying doesn´t vary according to gender, age, schooling, self esteem and the number
of friends. There is a tendency for the decrease of victimization with increasing age, for
the increase of friends while the aggression increases and for the decrease of self esteem
while victimization increases. Finally, it should be noted that it is the playground where
more bullying cases occur.

Keywords: bullying, public school and private school, victimization, middle school.

2
Índice
Resumo..............................................................................................................................1
Introdução……………………………………………………………………………..…4
Definição de bullying……………………………………………………………………6
Diferentes formas e tipos de bullying…………………………………………….…………….7
Características da vítima, agressor e comportamento da testemunha…………...………8
Estudos realizados com variáveis sociodemográficas e o bullying……………………...9
Diferenças de género nos comportamentos de bullying…………………………………....10
Bullying e Idade…………………………………………………………………….…..11
Bullying e escolaridade……………………………………………………….…….…..12
Local onde ocorre o bullying………………………………………………………………..…13
Bullying nas escolas públicas e privadas……………………………………………….13
Metodologia………………………………………………………………………….…15
Objetivos do estudo…………………………………………………………………….15
Variáveis estudadas………………………………………………………………….....15
Hipóteses de estudo…………………………………………………………………….15
Constituição da amostra……………………….…………………………...…….…….16
Instrumentos utilizados…………………………………………………………...……16
Análise dos Dados……………………………………………………………………..18
Apresentação e Discussão dos Resultados…………………………………………….19
Conclusão………………………………………………………………………….…..24
Referências Bibliográficas…………………………………………………………….27

Índice de Anexos
Anexo I – Questionário Sócio demográfico
Anexo II – Questionário p/a o estudo da violência entre pares no 3ºciclo do ensino
básico
Anexo III – Escala de Autoestima de Rosenberg

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Introdução
O presente estudo tem como foco o bullying. Nos dias de hoje, a violência é um
problema amplamente observável nas escolas. Situações de violência entre as
crianças/adolescentes são cada vez mais visíveis, o que levou a que a sociedade se
interessasse, cada vez mais, por este fenómeno. Para Santos, Cabral-Xavier, Paiva e
Leite Cavalcantil (2014), o bullying pode levar a consequências graves nos alunos
envolvidos, sendo esta a razão da amplitude dos estudos neste âmbito. Essas
consequências não afetam apenas a vítima de bullying, mas também a testemunha e o
agressor (João, 2008). As vítimas poderão ficar com uma baixa autoestima (Batsche &
Knoff, 1994; João, 2008), apresentar dificuldades em estabelecer novas relações de
confiança, evidenciar tendências depressivas, falta de concentração, falta de confiança
em si próprio, agressividade, dificuldade em estabelecer relações sociais (João, 2008),
stress, abuso de drogas e álcool (Martins & Chicote, 2009), dores de cabeça, dores de
estômago, enurese, problemas de sono, tonturas, dores musculares (Spriggs, Iannotti,
Nansel & Haynie, 2007), sentir ineficácia social, dificuldades de relacionamento
interpessoal (Campbdell, 2004), dificuldades sentimentais como o medo, solidão,
ansiedade, depressão, ideação suicida e mesmo tentação de suicídio (Batsche & Knoff,
1994). Relativamente aos agressores, Ballone (2008) e Olweus (1997) afirmam que os
alunos agressores têm uma forte probabilidade de, em adultos, apresentarem
comportamentos antissociais, psicopáticos e/ou violentos, podendo mesmo por engajar
em comportamentos delinquentes ou criminosos. Segundo Melim (2011) tem sido
mencionado que os agressores tendem para o consumo excessivo de álcool e drogas e
poderão ser mais propensos a sintomas psiquiátricos que se manifestam posteriormente
na sua vida, a ter dificuldades com regras e um parco ajustamento escolar. No que
concerne às testemunhas, Chicote e Martins (2009), defendem que estas podem
apresentar dois tipos de comportamentos. Se por um lado o expectador pode sentir-se
intimidado, inseguro e indefeso, sofrer em silêncio, sentir medo de ir à escola, ficar
ansioso e ficar com a aprendizagem prejudicada; por outro pode acreditar que é bom
praticar bullying e, muitas vezes, adotar os mesmos comportamentos. Posto isto, torna-
se pertinente a realização de estudos neste âmbito, para que se consiga alertar a
comunidade escolar e as famílias para a importância da prevenção de comportamentos
de bullying, dado o impacto significativo que este pode ter na vida dos envolvidos.
O fenómeno do bullying nas escolas existe há muito tempo, porém as
investigações realizadas de forma sistemática acerca deste tema só surgiram na década

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de 1970 (Olweus, 2003). Em 1982, na Noruega, três meninos com idades entre os 10 e
14 anos suicidaram-se devido ao assédio provocado pelos seus pares. Dado este
acontecimento, Dan Olweus, um pesquisador norueguês, que já estudava este fenómeno
desde a década de 70, investiu a sua atenção na investigação da frequência e causas que
levavam a comportamentos de bullying. Assim iniciou uma investigação com 84 mil
estudantes, cerca de 400 professores e aproximadamente 1000 pais de alunos. Olweus
constatou que um em cada sete alunos estava envolvido em comportamentos de
bullying, como agressor ou vítima. Este resultado levou a que o pesquisador iniciasse
uma campanha nacional contra o bullying, com o apoio do governo norueguês, o que
mobilizou a sociedade. Esta campanha/programa reduziu a ocorrência de bullying em
50%, o que incentivou vários países, inclusive Portugal, a adotar práticas idênticas
(Olweus, 2006 cit in. Silva, Dascanio & Vale, 2016). Assim, os estudos acerca do
fenómeno bullying ganharam força nas décadas de 1980 e 1990 (Olweus, 2003).
O Relatório das Nações Unidas para a Infância, Hidden in plain sight, num
estudo a nível mundial, englobando 190 países, incluindo Portugal, demonstra que mais
de um em cada três alunos, com idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, passam
regularmente por, pelo menos, uma experiência de bullying. Carvalhosa (2007) destaca
que 23.5% dos alunos portugueses, com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos,
estão envolvidos em comportamentos de bullying, 2 a 3 vezes por mês ou mais. A
APAV, no seu relatório anual de 2016, revela que, dos 21.315 crimes registados e
outras formas de violência, 0,5% foram de bullying (116). Tendo em conta os dados
acima referidos torna-se pertinente e necessário intervir neste âmbito, de modo a
minimizar os comportamentos de bullying.
Em Portugal têm sido realizados vários estudos sobre o bullying, sendo que estes
abrangem aspetos como a tradução da palavra bullying, tendo sido esta palavra adotada
para o contexto português, a observação dos comportamentos de bullying nos recreios, a
caracterização das vítimas, dos agressores e das vítimas-agressoras, a prevalência deste
tipo de comportamentos e a sua monitorização a nível nacional (Carvalhos, (2007).
Dado as consequências a curto e longo prazo, previamente referidas, que o bullying
pode ter, os estudos surgem direcionados para a vítima.
Tendo em conta a prevalência de comportamentos de bullying em Portugal urge
a necessidade da realização de estudos que se direcionem para a caracterização deste
fenómeno, de modo a conseguir intervir de forma mais adequada possível, com o
objetivo de os minimizar. Em Portugal são muitos os pais que preferem que os filhos

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frequentem uma escola privada, justificando esse facto pelo maior acompanhamento
existente nas escolas privadas. Existe a crença de que os alunos nas escolas privadas são
mais vigiados, havendo menor probabilidade de terem comportamentos desadequados.
Existe ainda a ideia de que apenas frequentam escolas privadas alunos com boas
condições financeiras, o que nem sempre acontece nas escolas públicas. Por esta razão,
considera-se pertinente a comparação da prevalência dos comportamentos de bullying
entre escolas públicas e escolas privadas, de modo a verificar se de facto, existe algum
padrão relativo ao envolvimento em diferentes formas de bullying.

Definição de Bullying
Lourenço, Pereira, Paiva e Gebara (2009) afirmam que tem havido uma
preocupação crescente nas últimas duas décadas em relação à violência escolar. O termo
violência escolar refere-se a todos os comportamentos agressivos e antissociais,
envolvendo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio e atos criminosos ocorridos
no ambiente escolar (Lopes Neto, 2005; Silva, Oliveira, Bandeira e Sousa, 2012).
Muitas dessas situações de violência estão dependentes de fatores externos, ou seja, o
comportamento violento emerge da interação entre o desenvolvimento individual e os
contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade (Lopes Neto, 2005).
O bullying é um problema mundial, sendo um fenómeno existente em toda e
qualquer escola (ciclos de formação diferenciados, pública, privada, rural, urbana, em
qualquer país) (Ballone, 2008). Consiste numa forma de agressão entre pares que
ocorre, neste caso, em contexto escolar ou ambientes circundantes, de forma
continuada, sistemática, regular (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, 2015),
intencional (Forlim, Stelko-Peteira & William, 2014; Perce & Thompson, 1998), sem
ameaça ou afronta por parte da vítima, ou seja, sem razões justificáveis (Olweus, 2003;
Perce & Thompson, 1998) e com o objetivo de tentar causar danos, ou mal-estar, a outra
pessoa (Forlim, Stelko-Pereira & William, 2014).
O termo bullying só pode ser utilizado quando há um desequilibro nas forças
envolvidas, ou seja, é necessário que exista uma relação desigual de poder (Melim,
2011; Santos, Grossi & Scherer, 2014; Olweus, 2003).
Lopes Neto (2005) defende que esses comportamentos agressivos são
tradicionalmente admitidos como naturais, sendo desvalorizados tanto por professores
como pelos pais. Esta desvalorização por parte dos professores e pais é preocupante,
uma vez que o bullying gera consequências negativas tanto nos agressores, como nas

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vítimas e nas testemunhas dessas situações de violência. Assim, é importante alertar os
pais e os profissionais de educação para a importância da sua intervenção face aos
comportamentos de bullying.

Diferentes formas e tipos de bullying


O bullying pode ser classificado consoante a sua forma e tipo. No que concerne à
forma, o bullying pode ser realizado de forma direta e de forma indireta. Como bullying
direto existem os apelidos, as ameaças, os roubos, as agressões físicas, as ofensas
verbais e gestos que originam mal-estar à vítima. O bullying indireto envolve atitudes
como isolamento, indiferença, difamação e negação aos desejos. (João, 2008; Perce &
Thompson, 1998).
Relativamente ao tipo, existem divergências entre os autores. De acordo com
Carvalhosa (2007) e Forlim, Stelko-Pereira e William (2014), o bullying pode ser físico,
verbal/psicológico e/ou sexual. Por outro lado, Martins e Chicote (2009) não
consideram o bullying sexual, acrescentando o bullying social. João (2008) refere que o
bullying pode ser de vários tipos: físico (empurrões, murros, pontapés, ataques à
prioridade, agressões com objetos), verbal (alcunhas, o insultar, o ridicularizar,
comentários racistas, desconsideração em público, salientar ou mencionar
constantemente defeito físico ou uma ação), psicológico (ações que visam a destruição
da autoestima e a criação de insegurança e medo), social (propagação de informações de
carácter denegridor e humilhante, levando à exclusão e isolamento do grupo) e sexual
(engloba a ameaça e violação). Santos, Grossi e Scherer (2014), aos tipos de
manifestação do bullying acima mencionadas acrescentam o cyberbullying, que consiste
num bullying realizado de forma virtual, por meio de ferramentas tecnológicas
(telemóveis, internet, redes sociais, entre outras). Para além dos tipos de bullying
referidos, existe ainda outro tipo de violência que pode ocorrer entre os alunos,
designada por stalking. O stalking consiste numa perseguição obsessiva, com ou sem
contacto pessoal com a vítima. Inclui comportamentos como seguir a vítima nas suas
deslocações, procurando obter informação pessoal e particular acerca da mesma. Trata-
se de um comportamento complexo, difícil de investigar, de perseguir e de identificar,
envolvendo a perseguição intencional, maliciosa e repetida, ou seja, o assédio, de outra
pessoa (Meloy, 1998, cit in. Carvalho, 2010).
É importante referir que a vítima poderá sofrer de vários tipos de bullying em
simultâneo, e não necessariamente de forma isolada.

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Tendo em conta os objetivos do estudo e o instrumento utilizado, o presente
estudo assume o bullying como podendo ser físico ou psicológico.

Características da vítima, agressor e comportamento da testemunha


De acordo com Lourenço e col. (2009) nos comportamentos de violência estão
envolvidos vários intervenientes, tais como: o agressor, o agredido, o grupo de colegas,
a própria instituição (professores, gestores escolares) e as famílias (a do agressor, a da
vítima e os pais, em geral).
Lopes Neto (2007) afirma que os comportamentos agressivos são comuns em
todas as escolas, tratando-se de um fenómeno social. Assim, cada estudante desempenha
o seu papel, que pode ser: autor (agressor), alvo (vítima), alvo-autor (agressor e vítima)
e testemunha ou observador. Ballone e Moura (2005) não consideram o alvo-autor.
No presente estudo são considerados três papéis: as vítimas, os agressores e os
espectadores/testemunhas.
As vítimas são os alunos que sofrem com a violência, que suportam o
comportamento agressivo dos colegas e não possuem recursos ou habilidades para se
defenderem (João, 2008; Perce & Thompson, 1998). São discriminadas por
apresentarem algumas diferenças (excesso ou ausência de peso, lenta, negra, deficiência
física, alta, sotaque diferente, tirar boas/fracas notas, entre outras), são passivos,
retraídos, infelizes e sofrem com a vergonha, medo, depressão e ansiedade (Perce &
Thompson, 1998), angústia, temor e tristeza (Martins & Chicote, 2009).
Smith (2004) e Lopes Neto (2005) defendem que os alvos de bullying podem
ser ansiosos, mais fracos física e emocionalmente, com tendência para apresentar
atitudes negativas diante dos atos violentos, quer por não reagirem, quer por se isolarem
ou por reações que demonstrem fragilidade, imaturidade ou insegurança. Para além
disto, as vítimas têm poucos amigos, ou mesmo nenhuns, as amizades são pouco
duradouras, têm poucas habilidades verbais para responder a insultos e são bastante
tímidas (Carlos, 2015); evidenciam baixa autoestima, rejeição ou baixa aceitação por
parte dos pares, não demonstrando prazer em ir para a escola, são pouco sociáveis e não
têm esperança no que concerne à possibilidade de adequação ao grupo (Perce &
Thompson, 1998).
No que concerne aos agressores, estes são alunos que não desenvolveram
competências críticas de relacionamento, sendo jovens com problemas emocionais ou
com problemas de aprendizagem que se sentem impotentes para resolver problemas de

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natureza relacional (Melim, 2011), que implicam frequentemente com os outros, ou que
batem, arreliam ou lhes fazem coisas desagradáveis sem razão justificável (Boulton &
Smith, 1994). São alunos que sentem necessidade de dominar e vencer para se sentirem
seguros, são pouco tolerantes à frustração, pouco persistentes, sem perspetivas de futuro
(Melim, 2011), sentem-se infelizes na escola (Pereira, 2008; cit in. Carvalhosa, Lima &
Matos, 2001), são impulsivos (Carlos, 2015) e apresentam uma maior probabilidade de
optarem por comportamentos de risco para a saúde, como fumar, beber álcool em
excesso e consumir drogas (Carvalhosa, Lima & Matos, 2001). Apesar de não serem
bem aceites pelos colegas, os agressores apresentam um maior número de amigos do
que as vítimas, particularmente devido à sua popularidade entre os outros jovens
igualmente agressivos (Perce & Thompson, 1998). Martins & Chicote (2009) reforçam
esta ideia, enfatizando que o agressor é caracteristicamente popular. O agressor tem
tendência para o envolvimento em comportamentos antissociais, é impulsivo, considera
a sua agressividade como qualidade, tem opiniões positivas acerca de si próprio, por
norma é mais forte que o seu alvo (vítima), pode mostrar-se agressivo, não só com os
pares, como também com os adultos e vê o ato de dominar, controlar e causar dano e
sofrimento ao outro com prazer e satisfação (Perce & Thompson 1998), sendo ele quem
lidera o seu grupo (Martins & Chicote, 2009).
Relativamente às testemunhas e de acordo com Ballone (2008) estas são os
alunos que assistem às situações de bullying sem interferir. No entanto, Martins (2005ª)
afirma que a testemunha pode assumir diversas condutas ao ver-se confrontado com
situações de bullying: ajudar a vítima, apoiar os agressores ou não interferir, ignorando
a situação. Esta última situação, assumida por Ballone (2008), pode ser explicada por
duas razões: por ser uma situação que causa medo e insegurança, consequentemente o
estudante sente receio de sofrer represálias, ou, por outro lado, por sentir prazer ao
assistir à vitimização não tendo coragem para assumir o papel de agressor. As
testemunhas que não interferem por medo, podem sentir-se incomodados com a
situação e com a incapacidade de agirem perante tal situação.

Estudos realizados com variáveis sociodemográficas e o bullying


De seguida encontram-se os estudos realizados com as variáveis de estudo
(género, idade, escolaridade, local de ocorrência de bullying, tipo de escola) e o
bullying.

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Diferenças de género nos comportamentos de bullying
As diferenças de género têm sido muito estudadas no que diz respeito aos
comportamentos de bullying.
Os estudos realizados neste âmbito procuram analisar, não só possíveis
diferenças de género relativamente ao envolvimento nos diferentes comportamentos de
bullying, como também diferenças de género no tipo e forma de agressão utilizados.
No que concerne à participação dos estudantes em comportamentos de bullying,
num estudo realizado por Due, Holstein. Lynch, Diderichsen, Gabhain, & Scheidt
(2005) cujo objetivo recaiu sobre a análise da existência de uma associação entre o
bullying e sintomas físicos e psicológicos em 123,227 estudantes, com idades de 11, 13
e 15 anos, de 28 países, foi possível observar que os rapazes apresentam mais
comportamentos de bullying, tanto como agressores como vítimas. Santos e col. (2014),
realizaram um estudo no Brasil com o objetivo de verificar a prevalência e os tipos de
bullying em alunos brasileiros com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos.
Estes autores concluíram que os meninos eram maioritariamente vítimas. Também no
Brasil, num estudo realizado por Silva, Dascanio e Valle (2016) cujo objetivo incidia na
identificação dos tipos de bullying (físico, verbal, psicológico, material, virtual ou
sexual) mais prevalentes em duas escolas, onde participaram 309 alunos, 142 do sexo
masculino e 167 do sexo feminino, do 6º ao 8º ano de escolaridade, as vítimas eram
maioritariamente do sexo feminino, em todos os tipos de bullying, no entanto não
existiam diferenças estatisticamente significativas.
Relativamente à forma como os estudantes se envolvem nos diferentes tipos e
formas de bullying foram detetadas algumas diferenças. O bullying direto é mais
frequente entre os rapazes (agressões físicas e verbais) e o bullying indireto mais
frequente nas raparigas (levantamento de boatos, exclusão social, humilhações) (Smith,
2004; Perce & Thompson, 1998; Lourenço e col. 2009). Smith (2004) menciona que no
sexo masculino é mais frequente o bullying físico. No que diz respeito ao bullying
verbal não existem diferenças entre os géneros, apesar de a difamação ser mais
frequente entre as raparigas, há uma equivalência entre ambos os sexos.
Melim (2011) defende a existência de crenças que levantam questões acerca da
possibilidade das diferenças relacionadas com o género serem ou não reais. Para este
autor, existe uma figura estereotipada de um rapaz fisicamente capacitado a agredir um
colega mais fraco e de uma rapariga que recorre a mexericos, boatos e falsidades de
forma a vitimizar uma colega menos popular. Na opinião de Seixas (2009), as

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diferenças entre os comportamentos de bullying em relação ao género existem devido ao
facto das meninas adquirirem competências sociais de empatia e reconhecimento de
vozes e rosto desde muito pequenas e as suas brincadeiras (bonecas, casinhas,…)
estarem relacionadas com as interações sociais e verbais. Por outro lado, os meninos
escolhem e aprendem culturalmente brincadeiras físicas e mecânicas (lutas, bola,
carrinhos).
No estudo realizado por Santos e colaboradores (2014) no Brasil, os resultados
indicaram que os meninos sofrem maioritariamente de violência física, sendo que as
meninas são maioritariamente vítimas de violência verbal e exclusão social. Silva,
Dascanio e Valle (2016), num estudo realizado também no Brasil, concluíram que as
meninas eram maioritariamente vítimas de bullying indireto e direto (físico). No
entanto, no que concerne ao bullying físico, as diferenças não eram estatisticamente
significativas.
De acordo com Carvalhosa (2007), em Portugal são os rapazes, não só quem
mais referem serem vítimas de bullying, como também agressores/provocadores nas
escolas.

Bullying e Idade
A idade é uma variável sociodemográfica amplamente estudada nas questões do
bullying. Torna-se importante perceber em que idade são mais frequentes os
comportamentos de bullying, para que seja possível uma intervenção precoce mais
eficaz.
Pepler, Craig, Jiang e Connolly (2008) referem que o bullying pode iniciar-se na
infância (ensino primário) e persistir durante todo o percurso escolar da criança. No
entanto acentua-se nos anos em que ocorre a transição de ciclo ou de escola, mudando
de acordo com a maturação dos jovens.
Lopes Neto (2007) admite que o papel de vítima é frequentemente observado
em crianças, afirmando que a vitimização está mais patente nos mais novos. Smith
(2010) concorda, referindo que a incidência da vitimização decresce com o aumento da
idade. Silva e colaboradores (2012), num estudo realizado no Brasil, não encontraram
associação quando avaliaram ambos os géneros onde se pretendia estudar a “violência
entre pares”. No entanto, ao avaliar por género, concluíram que, no género masculino o
índice de vitimização decresce com o aumento de idade, não existindo associação

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relativamente ao género masculino e ao papel de agressor. No que concerne ao sexo
feminino, não foram encontradas associações.
Em Portugal, Carvalhosa, Lima e Matos (2002), num estudo realizado com
6.903 alunos do 6º, 8º e 10º ano de escolaridade, de 191 escolas, concluíram que os
alunos mais novos são com mais frequência vítimas, sendo que a frequência com que
estes sofrem de bullying diminui à medida que aumenta a idade. Os resultados obtidos
por um estudo realizado por Gonçalves (2009), também este em Portugal, com 257
sujeitos de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 10 e os 16 anos,
permitiram verificar também que o bullying diminui com o aumento da idade.

Bullying e escolaridade
Importa também estudar a relação existente entre a escolaridade dos alunos e o
envolvimento nos comportamentos de bullying. Assim, são vários os autores que
estudam esta possível relação.
Martins (2005), num estudo transversal realizado em Espanha, concluiu que
existe uma diminuição da vitimização à medida que o ano de escolaridade aumenta, ou
seja, ocorre um decréscimo da vitimização com o nível de escolaridade. O mesmo
acontece com a agressão, cujos dados indicam que estes comportamentos decrescem à
medida que avança o ano de escolaridade. Em Portugal foram realizados vários estudos.
Costa, Pinto, Pereira e Pereira (2015), num estudo cujo objetivo foi descrever a
prevalência dos comportamentos de bullying homofóbico (caracterizado por
comportamentos associados ao bullying genérico, no entanto, de natureza homofóbica),
comparativamente ao bullying genérico (agressões físicas, verbais, sexuais, etc, que não
envolve homofobia), concluíram que, no que concerne ao segundo (o bullying estudado
no presente estudo), não existem diferenças estatisticamente significativas entre os três
anos de escolaridade estudados (7º,8º e 9º), no entanto, o 8º ano apresenta-se como o
ano em que se registou mais prevalência de comportamentos de bullying. Nóbrega
(2015) tinha como objetivo analisar a relação entre os comportamentos de bullying, o
envolvimento parental e o percurso curricular dos alunos, e concluiu que existe uma
associação entre a vitimização e a escolaridade, sendo o 8ºano o ano em que mais se
evidenciam este tipo de comportamentos. Por outro lado, Neves (2015), num estudo
cujo objetivo foi analisar o fenómeno do bullying, nomeadamente a identificação dos
seus participantes, por meio da construção e validação de um questionário para o
efeito, concluiu que existem diferenças estatisticamente significativas tanto nos

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comportamentos de vitimização como agressão, sendo o 7º ano de escolaridade onde se
evidenciou mais estes comportamentos.

Local onde ocorre o bullying


É importante ter conhecimento do locar onde ocorrem as situações de violência,
para que seja possível intervir de forma a minimizar esses comportamentos. Assim,
existem alguns estudos em que esse aspeto é tido em consideração.
Silva e colaboradores (2012), no seu estudo realizado no Brasil, pretendiam
analisar a “violência entre pares”, junto de 161 alunos, com idades entre os 12 e 20
anos. Nesse estudo, concluíram que os locais onde mais ocorrem situações de violência
são, ordenadamente: o recreio, salas de aula, saída ou entrada da escola, corredores e
escadas, espaços de educação física, refeitório e casas de banho. Ainda no Brasil,
Zequinão, Medeiros, Pereira e Cardoso (2016), realizaram um estudo que envolveu 409
crianças e adolescentes entre os 8 e os 16 anos, concluindo que o local mais frequente
das situações de violência são as salas de aula, seguidas pelo recreio e espaços para
Educação Física. Em Portugal, Lourenço e col. (2009) observaram que o local onde
mais acontecem agressões é o recreio, estando a sala de aula mencionada como um
outro local onde surgem situações de bullying. Os resultados do estudo de Adão (2015)
do qual participaram 172 alunos portugueses e cujo objetivo incidiu na investigação das
formas de bullying/vitimização mais frequentes e os locais onde ocorrem, demonstram
que o local onde acontecem maioritariamente as situações de agressão é o recreio,
seguido da sala de aula.

Bullying nas escolas públicas e privadas


Os comportamentos violentos podem ocorrer em todos os ambientes em que o
conflito não é negociado e onde não há tolerância ao diferente (Loureiro & Queiroz,
2005). Assim, apresar de serem contextos diferentes, principalmente no que diz respeito
à estrutura física e classe social, poderão emergir comportamentos de violência tanto em
escolas públicas como privadas. Desta forma e, devido à escassez de estudos em escolas
privadas, considera-se importante estudar este fenómeno nesses dois tipos de escolas.
De acordo com Loureiro e Queiroz (2005), também as ameaças, autoritarismo e
a desqualificação do aluno podem acontecer nas escolas privadas. Neste tipo de escolas,
a indisciplina e rebeldia, que podem ou não culminar em atos violentos, também
existem. Estes autores acreditam que a diferença entre uma escola violenta e não

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violenta não se deve ao facto de ser escola pública e privada, mas sim à forma como as
regras são estabelecidas, ao sentimento de pertença à comunidade e aos relacionamentos
existentes entre as entidades da instituição escolar.
Foram encontrados alguns estudos, cujo objetivo recaiu, não só na investigação
de uma possível existência de diferenças na incidência dos comportamentos de bullying
(agressor, vítima e testemunha) entre escolas públicas e privadas, como também na
possibilidade de diferenças existentes entre estes dois tipos de escolas relativamente aos
tipos e formas de bullying.
Em Espanha, Garaigordobil, Valderrey, Páez, e Cardozo (2015) não encontraram
diferenças estatisticamente significativas no que concerne aos comportamentos de
vitimização, agressão e observação dos comportamentos de bullying. Ou seja, os
comportamentos de bullying ocorrem de forma semelhante em escolas privadas e
públicas. Estes autores realizaram um estudo onde se pretendia analisar diferenças entre
o bullying “tradicional” e o cyberbullying em escolas públicas, privadas e religiosas.
Oliveira e col. (2015), num estudo onde se pretendia identificar as características e os
motivos associados ao bullying escolar em adolescentes brasileiros, não encontraram
diferenças na incidência do bullying entre escolas públicas e privadas. Em Portugal,
Gomes, Valenzuela, Silva, Portugal, Amorim, Paim, Tanno e Morgado (2006), num
estudo cujo objetivo foi alcançar as perceções de adolescentes sobre a violência nas
escolas e na comunidade, também não encontraram diferenças, sendo possível verificar
que tanto em escolas públicas como em privadas ocorrem comportamentos de violência
de carácter físico e verbal. Por outro lado, Félix (2013), no seu estudo com 240 alunos
portugueses, cujo objetivo consistia em esboçar as características da prática de bullying
existente nos alunos do segundo e do terceiro ciclo, em escolas públicas e privadas,
concluiu que, no ensino público existe um maior número de vítimas de bullying do que
no ensino privado.
No que concerne aos tipos e formas de bullying, Njaine e Minayo (2003) num
estudo qualitativo onde se pretendeu analisar os significados que a violência assume em
diferentes contextos sociais e as formas como se manifesta no quotidiano escolar, a
partir dos depoimentos de jovens e educadores de escolas públicas e privadas de três
municípios brasileiros, concluíram que tanto nas escolas públicas como privadas ocorre
violência. No entanto, existem diferenças no tipo de violência que ocorre. Enquanto nas
escolas públicas as agressões são maioritariamente físicas e defraudações, nas privadas
a maioria dos comportamentos violentos envolvem roubos e humilhações. Félix (2013),

14
no seu estudo realizado em Portugal, concluiu que no ensino público, as situações de
violência mais comuns são as “ofensas verbais” e as “agressões físicas”. No ensino
privado são mais frequentes as “ameaças” e as “ofensas verbais”.

Metodologia

Objetivos do estudo
O objetivo geral do presente estudo é analisar se o fenómeno do bullying é
diferente nas escolas públicas ou privadas, em alunos do 3ºciclo. Como objetivos
específicos pretende-se, caracterizar as vítimas no que concerne à autoestima e rede
social (número de amigos) e estudar de que forma o bullying varia em função das
seguintes variáveis sociodemográficas: género, idade, escolaridade e local onde ocorrem
os comportamentos violentos.

Variáveis estudadas
Variável Dependente: bullying.
Variáveis Independentes: género, idade, escolaridade, tipo de escola, características
vítimas (autoestima e número de amigos), local onde ocorre o bullying.

Hipóteses de estudo:
1ª Os comportamentos de bullying estão mais presentes nos rapazes (Due e col. 2005).
2ª Os rapazes recorrem mais ao bullying físico (Lourenço e col. 2009; Smith, 2004).
3ª Espera-se que a vitimização seja mais frequente nos adolescentes mais novos (Smith,
2010; Carvalhosa, Lima & Matos, 2002; Gonçalves, 2009).
4ª Espera-se que os comportamentos de vitimização e de agressão diminuam à medida
que a escolaridade aumenta (Martins, 2005).
5ª Espera-se que não existam diferenças entre a escola pública e a escola privada em
relação à incidência da vitimização (Garaigodobil e col. 2015; Oliveira e col. 2015 &
Gomes e col. 2006).
6ª Espera-se que na escola pública o tipo de bullying mais frequente seja o bullying
físico (Njaine & Minayo, 2003).
7ª Espera-se que as vítimas apresentem uma baixa autoestima (Perce & Thompson,
1998).

15
8ª Espera-se que os agressores tenham mais amigos do que as vítimas (Perce &
Thompson, 1998).
9ª Espera-se que o recreio seja o local mais frequente de ocorrência de agressões (Silva
e col. 2012; Lourenço e col. 2009; Adão, 2015).

Constituição da amostra
A amostra é constituída por 248 alunos sendo 176 da escola pública e 72 da
escola privada, com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos (M=13.48;
DP=1.061). Destes alunos, 81 frequentam o 7º ano de escolaridade (32.7%), 90
frequentam o 8º ano (36.3%) e 77 o 9º ano (31.0%). No quadro 1 encontram-se descritas
as variáveis sociodemográficas.

Quadro 1. Características sociodemográficas dos participantes em estudo sobre o


bullying (N=248).

Variável N %
Género
Feminino 113 53.6
Masculino 115 46.4
Idade
12 55 22.2
13 66 26.6
14 86 34.7
15 35 14.1
16 6 2.4
Escolaridade
7 81 32.7
8 90 36.3
9 77 31.0
Escola
Pública 176 71
Privada 72 29

Instrumentos utilizados
Com o objetivo de recolher alguns dados demográficos considerados pertinentes,
recorreu-se a um questionário sócio demográfico (anexo I) composto por 5 questões de
resposta direta, referentes a: género, idade, ano de escolaridade, número de amigos,

16
local de nascimento, nacionalidade e tempo a viver em Portugal. A última questão
apresenta-se da seguinte forma: “quantos amigos tens?”, tendo as seguintes opções de
resposta: 1) 1 ou 2 amigos; 2) 2 ou 3 amigos; 3)3 ou 4 amigos; 4)4 ou 5 amigos; 5) mais
de 5 amigos.
Para que fosse possível testar as hipótese em estudo foram utilizados dois
instrumentos: Questionário p/a o estudo da violência entre pares no 3º ciclo do ensino
básico (anexo II) aferido para a população portuguesa por Freire, Simão e Ferreira
(2005) e a Escala de Autoestima de Rosenberg (anexo III).
Com o primeiro instrumento, foi possível: a) identificar agressores, vítimas, e
observadores frequentes de situações de maus-tratos (bullying); b) caracterizar os tipos
de agressão/vitimização que ocorrem em situação escolar; c) caracterizar a população,
em geral, do ponto de vista estrutural, caracterizar os alunos/agressores, os
alunos/vítimas e observadores frequentes de situações de bullying (género, idade, nível
socioeconómico e cultural da família, percurso escolar, estrutura familiar,..); d)
identificar os espaços onde ocorrem as situações de agressão e e) percecionar o modo
como os alunos vêm a intervenção dos adultos (professores, pessoal auxiliar e órgãos de
gestão) e dos seus pares face às situações de bullying. Para além desta caracterização
das diferentes formas de agressão entre pares, e dos fatores que lhe estão associados, o
questionário permite conhecer a perceção dos alunos acerca do ambiente relacional da
escola e o modo como estes interpretam e sentem a violência na escola. Esse
questionário divide-se em quatro partes: a primeira refere-se a questões de identificação
das situações de vitimização e é constituído por 8 questões. A segunda engloba três
questões relativas à identificação de situações de observação. A terceira é composta por
catorze questões relativas à identificação de situações de agressão. Por fim, a quarta e
última parte abarca cinco questões que se direcionam para a autoreflexão do tema. Com
a utilização deste questionário pretende-se a identificação de vítimas, testemunhas e
agressores. Segundo a autora do instrumento, a mesma não realizou propriamente um
estudo psicométrico do instrumento, baseando-se na investigação para definir alguns
parâmetros que lhe permitissem distinguir bullying de violência ocasional. Para a
identificação dos alunos-vítimas e dos agressores de bullying, a partir da base de dados,
foi realizado um cruzamento da informação de questões para as vítimas - C1 e C6 (ser
vítima e frequência das situações de agressão maior ou igual a 3) e para os agressores -
E1 e E5 (ser agressor e frequência das situações de agressão maior ou igual a 3). Para
além do referido cruzamento, foi observado ainda as respostas às questões C2, C6.1 e

17
G2 (vítimas) e E1, E2, E5 e G3 (agressores) de forma a corroborar a informação
cruzada. De acordo com a autora, este método de cruzamento de variáveis foi utilizado
porque esta problemática é difícil de assumir pelos alunos, ainda que de forma anónima.
A autora acrescenta que foi possível observar que os alunos vítimas se vão sentido mais
"reconfortados" à medida que vão respondendo ao questionário e mesmo que comecem
por referir que não vivem situações de maus-tratos sistemáticos, mais para o final do
questionário revelam a sua situação.
Com o intuito de avaliar a autoestima dos adolescentes em estudo, foi utilizada a
escala de Autoestima de Rosenberg, denominada originalmente por Rosenberg Self-
esteem Scale (RSES) e adaptada para a população portuguesa, por Santos e Maia
(2003). Esta escala é constituída por 10 itens, 5 de orientação positiva e 5 de orientação
negativa, sendo utilizada como uma escala Likert, com 4 opções de resposta (discordo
totalmente, discordo, concordo e concordo totalmente).No estudo efetuado por Santos e
Maia (2003) com o intuito de traduzir para a língua portuguesa e adaptar a RSES à faixa
etária da adolescência, foi possível verificar que as correlações entre os itens obtiveram
uma correlação média de 0,38, sendo este um valor aceitável para uma escala com as
características da escala em questão. As correlações corrigidas entre os itens e o
resultado global da escala obteve uma correlação média de 0,57. Os autores referem
ainda que o valor da consistência interna, avaliada com o alfa de cronbach, situa-se
acima do padrão recomendado por Nunnaly e Bernstein (1994), sendo de 0,86. Importa
ainda referir que a análise confirmatória efetuada pelos mesmos autores sugere que esta
escala avalia um constructo unidimensional, sendo que os resultados obtidos neste
estudo sustentam a validade e a fidelidade dos resultados obtidos com a escala.

Análise dos Dados


Após a recolha dos dados, estes foram analisados através do programa estatístico
IBM SPSS versão 22, uma vez que o presente estudo seguiu uma
metodologiaquantitativa. Com o intuito de caracterizar a amostra, descrevendo assim as
características sociodemográficas da população-alvo, foi utilizada a estatística
descritiva. Para a seleção dos testes estatísticos apropriados para a análise de dados,
nomeadamente testes paramétricos ou testes não paramétricos, foi realizada uma análise
exploratória de dados. Contudo, é necessário considerar alguns pressupostos para que se
possam utilizar os testes paramétricos, tais como as variáveis serem intervalares, os
dados apresentarem uma distribuição normal e, na comparação de grupos, existir

18
homogeneidade das variâncias (Martins, 2011). Foi realizado o teste de Kolmogorov-
Smirnov para testar a aderência à normalidade das variáveis, verificando-se que a
amostra segue uma distribuição normal (p<0.05). Uma vez que se verificou que a
distribuição é normal, utilizaram-se testes paramétricos para análise de dados.

Apresentação e Discussão dos Resultados


De modo a testar a hipótese 1 (os comportamentos de bullying estão mais
presentes nos rapazes), foi realizado o teste T de Student. Concluiu-se que não existem
diferenças estatisticamente significativas entre os géneros relativamente aos
comportamentos de vitimização [t(246)=0.881, p>.05] e comportamentos de agressão
[t(246)=0.912, p>.05). No entanto, é visível que as raparigas estão mais envolvidas nos
comportamentos de agressão e vitimização do que os rapazes. Desta forma, não foi
possível confirmar a hipótese. Na literatura encontram-se estudos cujos resultados
demonstram que os rapazes estão mais envolvidos em comportamentos de agressão
(Due & col. 2015) e de vitimização (Due & col. 2015; Santos & col. 2014), o que não
acontece no presente estudo.

Quadro 2. Resultados do teste T de Student (N=248)


Feminino Masculino Inferência estatística
(n=133) (n=115)

M DP M DP t Gl p

Vitimização 1.40 2.01 1.17 2.12 0.881 246 0.379


Agressão 24.66 5.41 24.01 5.84 0.912 246 0.362

Para verificar a hipótese 2 (os rapazes recorrem mais ao bullying físico),


utilizou-se o teste T de Student. Os resultados permitem-nos afirmar que não existem
diferenças estatisticamente significativas [t(246)=0.511, p>.05), entre os rapazes
(M=11.16; DP=2.71) e as raparigas (M=11.33; DP=2.39). No entanto, percebe-se que as
raparigas recorrerem mais ao bullying físico do que os rapazes. Embora na literatura se
encontre autores (Lourenço & col. 2009; Smith, 2004) que afirmam que os rapazes
recorrem mais ao bullying físico do que as raparigas, no presente estudo essa diferença
não foi encontrada.

19
Quadro 3. Resultados do teste T de Student (N=248)
Feminino Masculino Inferência estatística
(n=133) (n=115)

M DP M DP t gl p

Bullying Físico 11.33 2.39 11.16 2.71 0.511 246 0.610

Relativamente à hipótese 3, referente à relação existente entre a vitimização e a


idade, utilizou-se o teste de Correlação de Pearson. Os resultados demonstram que não
existe correlação significativa entre estas variáveis (r=-0.12; n=248; p>.05). De acordo
com Smith (2004), Carvalhosa, Lima e Matos (2002) e Gonçalves (2009), a vitimização
diminui à medida que a idade aumenta. É possível verificar que existe uma tendência de
resposta semelhante à dos estudos encontrados, que demonstram que à medida que a
idade aumenta a vitimização diminui.

Quadro 4. Resultados do teste de correlação de Pearson (N=248)


Idade
Vitimização -0.12
*Correlação significativa ao nível 0.05.
**Correlação significativa ao nível 0.01.

Para testar a hipótese 4 (espera-se que os comportamentos de vitimização e de


agressão diminuam à medida que a escolaridade aumenta) utilizou-se o teste de
Correlação de Pearson. Verificou-se que não existe uma correlação significativa entre a
vitimização e a escolaridade (r=-0.092; n=248; p>.05), nem entre a agressão e a
escolaridade (r=0.103; n=248; p>.05). Embora não tenha sido encontrada uma
correlação significativa, verifica-se uma sublime tendência para que a vitimização
diminua à medida que a escolaridade aumenta, o que vai ao encontro do que Martins
(2005) refere. No entanto os resultados alcançados não confirmam a hipótese. Importa
referir que é possível verificar que os comportamentos de vitimização são mais
frequentes no 7ºano e os de agressão no 8º ano, ainda que não existam diferenças
estatisticamente significativas.

20
Quadro 5. Resultados do teste de correlação de Pearson (N=248)
Escolaridade
Vitimização -0.092

Agressão 0.103
*Correlação significativa ao nível 0.05.
**Correlação significativa ao nível 0.01.

De modo a testar a hipótese 5 (espera-se que não existam diferenças entre a


escola pública e a escola privada em relação à incidência da vitimização) utilizou-se o
teste T de Student. Analisando os resultados, não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre a escola pública e a privada em relação à incidência
da vitimização [t(248)=0.170; p>.05). Todavia, a incidência da vitimização, ainda que
com pouca diferença, é maior na escola privada. Os resultados permitem-nos afirmar
que se confirmou a hipótese, uma vez que corroboram os resultados dos estudos de
Garaigodobil e col. (2015), Oliveira e col. (2015) e Gomes e col. (2006), que indicam
que a vitimização ocorre da mesma forma em escolas públicas e privadas.

Quadro 6. Resultados do teste T de Student (N=248)


Escola Pública Escola Privada Inferência estatística
(n=176)
(n=72)
M DP M DP t gl p

Vitimização 1.28 2.07 1.33 2.05 0.170 246 0.865

No que concerne à hipótese 6 (espera-se que na escola pública o tipo de bullying


mais frequente seja o bullying físico), utilizando o teste T de Student, foi possível
verificar que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os tipos de
escola e o bullying físico [t(246)=0.314; p>.05). Analisou-se ainda se existem
diferenças em relação ao bullying psicológico, no qual não foram também encontradas
diferenças estatisticamente significativas [t(246)=0.226; p>.05). No entanto, verifica-se
que o bullying físico e psicológico está mais frequente na escola privada, ainda que com
pouca diferença. Os resultados obtidos não vão ao encontro dos resultados que Njaine &
Minayo (2003) alcançaram.

21
Quadro 7. Resultados do teste t de Student (N=248)
Escola Pública Escola Privada Inferência estatística
(n=176) (n=72)

M DP M DP t gl p

Bullying Físico 11.26 2.70 11.33 2.10 0.314 246 0.754


Bullying Psicológico 11.11 2.70 11.19 2.12 0.226 246 0.821

Para testar a hipótese 7 (espera-se que as vítimas apresentem uma baixa


autoestima), foi utilizado o teste de correlação de Pearson com o objetivo de verificar se
a autoestima se relaciona com o facto de ser vítima de bullying. Os resultados permitem
afirmar que não existe correlação significativa entre a autoestima e o ser vítima de
bullying (r=-0.09; n=248; p>.05). No entanto, é visível uma tendência para a existência
de uma correlação negativa entre a autoestima e a vitimização. Ou seja, à medida que a
vitimização aumenta a autoestima das vítimas diminui. Assim, embora a hipótese 7 não
seja confirmada, uma vez que estes resultados não entram em concordância com o que
Perce e Thompson (1998) afirmam, os resultados apresentam a mesma tendência de
resposta.

Quadro 8. Resultados do teste de correlação de Pearson (N=248)


Autoestima
Vitimização -0.09

*Correlação significativa ao nível 0.05.


**Correlação significativa ao nível 0.01.

Utilizando o teste de correlação de Pearson foi possível analisar a hipótese 8


(espera-se que os agressores tenham mais amigos do que as vítimas). Assim, verificou-
se que não existe correlação significativa ente a vitimização e o número de amigos (r=-
0.12; n=248; p>.05). Embora não seja uma correlação significativa percebe-se uma
tendência para que o número de amigos diminua à medida que a vitimização aumenta.
Relativamente ao número de amigos e os comportamentos de agressão, percebe-se que
existe uma correlação positiva muito baixa, parcialmente significativa (r=0.118; n=248;
p>.05) entre estas variáveis, permitindo-nos afirmar que os agressores tendem a ter mais
amigos quanto mais agridem. Este aspeto pode ser explicado pelo facto dos alunos
agressores serem populares entre outros alunos igualmente agressivos, apresentando um

22
maior número de amigos do que as vítimas (Perce & Thompson, 1998). Martins e
Chicote (2009) descrevem o agressor como sendo caracteristicamente popular.

Quadro 9. Resultados do teste de Correlação de Pearson (N=248)


Número de amigos
Vitimização -0.012
Agressão 0.118
*Correlação significativa ao nível 0.05.
**Correlação significativa ao nível 0.01.

Relativamente à hipótese 9 (espera-se que o recreio seja o local mais frequente


de ocorrência de agressões) referente ao local mais frequente de ocorrência de
agressões, os resultados foram analisados através das frequências descritivas, tendo em
consideração a forma como a questão foi formulada. Analisando as respostas aos
comportamentos de vitimização, testemunhas e agressão. Assim, dos 59 (23.8%) alunos
que afirmam sofrer de algum tipo de violência, 25 (10.1%) referiram o recreio como o
local mais frequente da ocorrência das agressões, seguidos de 10 (4%) que escolheram a
opção “outra”. Nas testemunhas, responderam 124 alunos (50%), sendo que 66 (26.6%)
afirmaram que era no recreio que viam mais agressões e 14 (5.6%) alunos responderam
“outra”. Para além destes dois que se destacam, 10 (4%) alunos afirmaram que assistiam
a comportamentos de bullying tanto no recreio como nos corredores e escadas.
Relativamente aos comportamentos de agressão, 64 (25.8%) alunos relataram ter
praticado comportamentos desta índole, 31 (12.5%) afirmaram ser no recreio que
praticaram as ações, e 15 (6%) assinalaram a opção “outra”. Desta forma, é visível que
o recreio é o local onde mais ocorrem comportamentos de bullying, confirmando assim
a hipótese. Importa alertar para o facto de, provavelmente, o recreio ser o local onde
mais ocorrem agressões devido à falta de vigilância e, desta forma, maior facilidade por
parte dos agressores em realizar as ações.
Analisando os resultados percebe-se que a maioria se apresenta no sentido
oposto daquilo que é encontrado na literatura. Este facto pode ser justificado com base
nas diferenças culturais, sociais, de valores ou de localização que possam existir
comparativamente aos estudos analisados.

23
Conclusão
O bullying é uma forma de agressão entre pares (APAV, 2015), que pode existir
em qualquer contexto escolar (Lopes Neto, 2007). A caracterização do bullying, tendo
em conta o género, idade, escolaridade e local de ocorrência é importante, uma vez que
permite uma prevenção mais eficaz deste fenómeno. Na revisão de literatura
encontraram-se estudos com o objetivo de caracterizar este fenómeno. Os estudos
direcionados para as diferenças de género demonstram que os rapazes estão mais
envolvidos nos comportamentos de bullying (Due & col. 2005), recorrendo mais ao
bullying físico do que as raparigas (Lourenço & col. 2009; Smith, 2004). percebe-se que
os alunos mais novos estão mais envolvidos nos comportamentos de vitimização
(Smith, 2010; Carvalhosa, Lima & Matos, 2002; Gonçalves, 2009), e que os
comportamentos de vitimização e de agressão diminuem à medida que a escolaridade
aumenta (Martins, 2005). No que concerne ao local de ocorrência de bullying, estes
comportamentos estão mais presentes no recreio (Silva & col. 2012; Lourenço & col.
2009; Adão, 2015). De acordo com Santos e col. (2014) o bullying pode levar a
consequências graves nos diferentes envolvidos, o que demonstra a importância de
analisar características dos mesmos. Para além do referido, existem autores que
defendem que as vítimas apresentam uma baixa autoestima (Batsche & Knoff, 1994;
João, 2008), exibindo dificuldades em estabelecer relações sociais (João, 2008). Perce e
Thompson (1998) afirmam que os agressores apresentam um maior número de amigos
do que as vítimas, justificando este facto pela popularidade dos mesmos junto de outros
alunos igualmente agressores. Sabe-se que a violência escolar ocorre em todos os
ambientes (Loureiro & Queiroz, 2005). Posto isto, embora sejam contextos diferentes
principalmente no que diz respeito à estrutura física e classe social, poderão surgir
comportamentos de violência tanto em escolas privadas como em escolas públicas. Na
literatura não são encontradas diferenças entre estes dois tipos de escolas no que
concerne à incidência da vitimização (Garaigodobil & col. 2015; Oliveira & col. 2015;
Gomes e col. 2006), no entanto, são visíveis diferenças no que concerne ao tipo de
bullying mais frequente, estando o bullying físico mais frequente nas escolas públicas
(Njaine & Minayo, 2003).
No presente estudo foi possível verificar que o bullying se manifesta da mesma
forma na escola pública e privada, não havendo diferenças estatisticamente
significativas relativamente à frequência da vitimização. Concluiu-se ainda que o
bullying não varia consoante o género, idade, escolaridade, autoestima e o número de

24
amigos. Todavia percebe-se uma tendência para a diminuição da vitimização à medida
que a idade aumenta e ainda o aumento de amigos à medida que a agressão aumenta. Os
resultados não nos permitem afirmar que a as vítimas têm uma baixa autoestima, no
entanto é visível uma tendência para que a diminuição da autoestima ocorra à medida
que a vitimização aumenta. No que concerne ao local de frequência do bullying, é
visível que o recreio é o local onde mais ocorrem comportamentos de bullying, o que
leva à necessidade de reforçar a vigilância nos recreios de modo a evitar os
comportamentos de bullying.
Analisando o presente estudo importa referir as limitações encontradas.
Primeiramente, o facto de a amostra ser constituída por alunos do 3ºciclo, com idades
cujo interesse pelo preenchimento de questionários acerca de várias temáticas nem
sempre existe, podia ter levado a que os alunos respondessem por brincadeira, pondo
assim em causa a veracidade das respostas. Para além da idade, as condições de
aplicação dos questionários também podem ter influenciado os resultados, É importante
que, para além do anonimato, seja garantida a privacidade aos alunos. O facto de terem
o colega sentado ao seu lado numa posição na qual, possivelmente permitisse ler as suas
respostas, podia ter feito com que o aluno não se sentisse à vontade para ser
completamente sincero. Outro aspeto importante a realçar é a diferença existente entre o
número de alunos da escola pública (176) e da escola privada (72), que dá origem a uma
diferença de 104 alunos. Seria importante que o número de alunos dos dois tipos de
escolas fosse semelhante, para que a comparação entre escolas fosse realizada de forma
equitativa. Apesar dos esforços realizados a fim de contornar esse aspeto, não nos foi
possível aceder a uma escola privada que aceitasse participar no estudo.
Julga-se ainda pertinente realçar a inexistência de instrumentos adequados à
população portuguesa na faixa etária do 3º ciclo. No que concerne ao Questionário para
o estudo da violência entre pares, percebe-se a necessidade de testar a validade do
instrumento. Sentiu-se a necessidade de utilizar um instrumento que englobasse todos
os aspetos que o bullying abrange. No momento da escolha do instrumento a utilizar,
consideraram-se os itens bastante percetíveis para os alunos, permitindo uma maior
facilidade na identificação de situações, considerando-o adequado ao estudo.
Posteriormente percebeu-se que não foi o instrumento mais adequado devido à falta de
abrangência ou facilidade de análise estatística.
Após realização de uma exaustiva revisão de literatura considera-se que ainda
existe uma falta de estudos acerca do bullying em Portugal e, consequentemente, a falta

25
de instrumentos adequados para estudar este tema. Considera-se importante e essencial
realizar estudos neste âmbito em Portugal e ainda a contextualização desta
problemática, de modo a que se consiga intervir de forma adequada e preventiva, ao
invés de remediativamente.
Em estudos futuros, considera-se pertinente comparar, não só os dois tipos de
escolas (pública e privada) como também comparar o contexto rural e o contexto
urbano, tendo em conta que são dois contextos geográficos diferentes que remetem para
formas de organização social, cultural e modos de vida distintos (Rodrigues, 2014).
Para além disso sugere-se também a realização de estudos em vários momentos do ano
letivo (1ºperíodo, 2º período e 3ºperíodo), de modo a averiguar se existe algum
momento em que os comportamentos de bullying se manifestam mais intensamente.
Seria benéfico ainda, tendo em conta que o bullying pode iniciar-se no ensino primário
(Pepler & col. 2008), a realização de estudos que englobem o 1ºciclo. Por fim, seria
importante fazer estudos com o objetivo de caracterizar o bullying nas escolas alvo, de
modo a promover a prevenção deste fenómeno.
Relembra-se que os resultados obtidos permitem perceber que 124 alunos, que
corresponde a 50% da amostra afirmou observar comportamentos de bullying, sendo
que 59 alunos (23.8%) referiu já ter sofrido agressões e 64 (25.8%) admitiram já ter
praticado comportamentos de agressão. Assim, considera-se importante a realização de
programas de prevenção de comportamentos de bullying, devendo estes dirigir-se mais
às escolas/turmas do que simplesmente aos alunos considerados vítimas e/ou agressores
(Martins, 2005). No presente estudo concluiu-se que o local mais frequente da
ocorrência dos comportamentos de bullying é o recreio, seguido dos corredores e
escadas. Tendo em conta este aspeto, os programas realizados devem envolver, não só
os alunos, como também os pais, professores e funcionários, de modo a que se consiga
uma maior prevenção (Lopes Neto, 2005).
Terminado o estudo, aceitando todos os resultados obtidos, bem como as suas
limitações, considera-se que este foi um pequeno, mas positivo contributo para a
investigação sobre o tema do Bullying em Portugal, ao qual se pretende dar
continuidade no futuro.

26
Referências Bibliográficas
Adão, P. J. C. S. (2015). “O bullying na escola”, Estudo comparativo entre duas
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ANEXO I
ANEXO II
ANEXO III

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