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Universidade Federal da Bahia - Campus São Lázaro

Vitória Louise Torres Jesus de Oliveira


Moises Lino e Silva
Antropologia I

Avaliação crítica da afirmação de Mônica Sodré: "Violência


política de gênero é um fato que acomete mulheres de todas as
posições no espectro político ideológico. Tem a ver com toda e
qualquer ação para cercear ou impedir mulheres de se manifestarem e
fazerem valer os seus direitos nos espaços de poder."

Mulheres e a Política: Um conto da subjugação.

Este texto tem como seu papel principal trazer uma análise da afirmação feita por
Mônica Sodré acerca da violência política de gênero que existem em suas diversas formas
para frear os avanços dos debates e conquistas das mulheres. Nesta análise planejo falar
principalmente dos contextos históricos e acadêmicos que ajudaram na construção de uma
ideia do sexo inferior e os efeitos que se pode ser notados, com foco na sociedade brasileira,
na modernidade: Começando pelos fatos de que mesmo sendo uma nação de maioria feminina
e um pais de “mulheres livres”, o Brasil tem pouquissima representação politica feminina e
essa pouquissima representatividade passa por atentados constantes a sua sanidade e
integridade física. Serem silenciadas, desrespeitadas, assediadas dentro do plenário e até
mesmo assassinadas por defender suas pautas é um risco que correm aquelas que ingressam
na vida política.

É “normal” ser alvo de agressões e críticas desqualificadoras. Quanto mais me


distancio do destino traçado para alguém como eu, maior a vigilância sobre o meu
desempenho. Ter a vida monitorada em alguma medida acaba sendo inerente ao
ofício. Na atual conjuntura, a violência vem no pacote como ingrediente básico
(CAROLINA, Áurea. 2022, p. 15-16).

Comecemos então falando de como a mulher foi subjugada, cerceada e retirada da


vida política ao ser vista como incapaz de realizar determinadas funções de pensamento e
mesmo entre as que estiveram em grandes descobertas que mudaram a trajetória do curso do
desenvolvimento humano, ainda assim muitas foram excluídas e não creditadas por seus
brilhantes feitos. “Mulheres [...] foram qualificadas com o rótulo de “diferente”, em épocas
históricas variadas, foram consideradas como corporalizadas, dominadas, portanto, pelo
instinto e pelo afeto, estando a razão longe delas.” (OYĚWÙMÍ, 2021, p. 29-30). A mulher
muitas vezes deixa de ser indivíduo, deixa de ser um ser próprio com vontades e desejos para
ser tratada unicamente como outrem do homem, quase um acessório que a ele pertence e ele
controla. Esse outro ser fica designado a papéis sociais específicos que serão preservados pela
sociedade estruturalmente misógina que está sempre criando novas formas de violência
política de gênero.

Mas o que seria violência política de gênero? Na política “existem poderes, agencies,
processos, subjetividades, toda uma série de variáveis cuja natureza fundamental e quase
imperceptível” (GOLDMAN, 2000, p. 330) então quando pensamos ‘violência política de
gênero’ não devemos pensar unicamente em leis escritas mas em normas sociais que existem
em determinados espaços da esfera pública, afetiva, social, familiar; devemos pensar na
violências de caráter físico, psicológico, emocional e econômico “permitidos” naquele
espaços mesmo quando vão contra uma lei institucional. Todos sabemos que a violência
doméstica é crime punível de cadeia segundo a Lei Maria da Penha que cria mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher (BRASIL, 2006) e que em sociedade é
algo recriminado ao senso comum, porém em muitos lares a agressão física, psicológica e
verbal é altamente naturalizada no núcleo familiar; apesar de parecer que esta situação tem
um aspecto individual, devemos analisar que ao oprimir essa mulher, o agressor mantém o
poder dele sobre ela, a tornando muitas vezes fragilizada emocionalmente, é uma política de
controle e dominação da mulher usando de coação física, psicológica e financeira.

Agora que fomos capazes de destrinchar e explicar exatamente este fenômeno que
estamos abordando, acho importante elucidar que as violências exemplificadas nos parágrafos
são apenas alguns dos poucos formatos nos quais essa violência pode emergir e que devemos
ter a consciência de que a mesma não surgem do absoluto nada, a figura da mulher já foi
assimilada a divindades cultuadas e a vida social, política, econômica e cultural de muitos
povos girava em torno da mulher mas essa deidade é corrompida por grupos hegemônicos que
sufocam a imagem feminina, assim as transformando em bruxas e prostitutas (STONE, 2022).
Mas não só esses grupos são os responsáveis, pois com o passar dos séculos a medicina foi
responsável por fazer uma construção da diferença sexual entre homens e mulheres como
explica Fabíola Rohden (2003): Em muitas das obras essa diferença equipara a mulher a
criança, duvida da existência da razão, a coloca como ser que necessita da proteção e os
cuidados do homem e até mesmo obras dizem que a puberdade feminina deveria ser um
período no qual não se deve incitar que meninas pensem muito ou sejam induzidas aos
estudos para que o corpo concentre os seus esforços não no desenvolvimento do cérebro mas
sim do útero para garantir a fertilidade, não apenas criando resumindo a mulher a função
reprodutora como tirando o acesso destas jovens, assim, minando sua participação científica e
política.

Essas formas de agressão são extensas e tem raízes em todos os ambientes pelos quais
se perpassa a vida social, isso faz com que ser acometidas por elas seja a realidade diária das
mulheres, entretanto se esta análise existe é porque existe a consciência das mesmas, e se eu
como mulher a estou escrevendo é porque existe resistência. Existe um caminho longo a ser
percorrido até que as mulheres consigam ter seus direitos respeitados e suas vozes ouvidas
plenamente. Porém este não é impossível e cada obra que é escrita, cada artigo, cada texto que
denuncia a opressão de gênero é um passo dado, cada representante feminina que consegue
ocupar uma cadeira e reivindica a sua expressão é um passo para frente. “Não serei
interrompida! Não aturarei interrompimento de um cidadão que vem aqui e não sabe ouvir a
posição de uma mulher eleita.” (FRANCO, Marielle).
REFERÊNCIA

BRASIL, Lei Nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).

D’ÁVILA, Manuela. FRANCO, Anielle. CAROLINA, Áurea. DA SILVA, Benedita.


RODRIGUES, Bruna. SANTOS, Daiana. ROUSSEFF, Dilma. SALABERT , Duda.
HILTON, Erika. PENNA, Isa. FEGHALI, Jandira. MORAES, Jô. DO ROSÁRIO, Maria.
SILVA, Marina. MATOS, Marlise. GUAJAJARA, Sonia. AMARAL, Tabata. PETRONE,
Talíria. Sempre foi sobre nós: Relatos da violência política de gênero no Brasil. 3° Edição.
Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2022. 224p.

GOLDMAN, Marcio. (2000) Uma Teoria Etnográfica da Democracia. Etnográfica, v. 04,


311-330.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. Visualizando o corpo: Teorias ocidentais e sujeitos africanos/A


ordem social e a biologia: naturais ou construídas? In A invenção das mulheres. 1° Edição.
Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

ROHDEN, Fabíola. A construção da diferença sexual na medicina. Cad. Saúde Pública, Rio
de Janeiro, 19(Sup. 2):S201-S212, 2003.

STONE, Merlin.Quando Deus era mulher. 1° Edição. Goya, 2022.

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