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PORTALF – PÓS GRADUAÇÃO EM PSIQUIATRIA

MÓDULO: PSIQUIATRIA FORENSE


PROFESSORA: Denise Rocha Stefan
ALUNOS: Camargo de Carvalho modesto
Jono Elvys Sento-Sé Espínola Ramos
Lucas Moreira Lordelo

Psiquiatria Forense:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO CAMPO DA
PSIQUIATRIA FORENSE

PETROLINA
2020

Camargo de Carvalho modesto


Jono Elvys Sento-Sé Espínola Ramos
Lucas Moreira Lordelo

Psiquiatria Forense:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO CAMPO DA
PSIQUIATRIA FORENSE

Trabalho apresentado como requisito da


Pós-Graduação de Psiquiatria pelo Portal-F
do Módulo: Psiquiatria Forense
Prof ª. Denise Rocha Stefan
PETROLINA/PE
2020

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A


MULHER

2.1. Formas de Violência


2.2. Reação das Mulheres à Agressão
2.3. Violência Conjugal
2.4. Uxoricídio
2.5. Stalking
3. LEI MARIA DA PENHA / LEI nº 11.340/2006
4. FEMINICÍDIO
5. LESÃO CORPORAL NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
6. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NA PANDEMIA DO COVID-19
7. PSIQUIATRIA FORENSE
7.1. Perfil do Agressor
7.2. Influência do Álcool e Drogas
7.3. Palavra da Vítima como prova

8. PERITOS E PERÍCIAS
9. EXAME DE CORPO DE DELITO NO TOCANTE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER
10. LAUDO MÉDICO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER
11. CONCLUSÃO
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO CAMPO DA


PSIQUIATRIA FORENSE

1. INTRODUÇÃO
A violência intrafamiliar e doméstica, problema complexo e árido, caracteriza-se
como sendo toda omissão ou ação que venha a prejudicar o bem-estar, a
integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de
um membro da família.
Ademais, pode ser cometida dentro e fora de casa, por qualquer indivíduo que
integre a família detentor da relação de poder com a pessoa agredida.
No termo doméstico incluem-se pessoas as quais convivem no âmbito familiar, tais
como os “agregados”.
A violência doméstica consiste num problema de saúde pública, afetando mulheres
de todas as idades e de todas as classes econômicas e sociais. Acarreta, inclusive,
consequências físicas e psicológicas às vítimas diretas, indiretas e à sociedade
como um todo.
Em 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas, de forma oficial,
definiu violência contra as mulheres da seguinte forma:

“Qualquer ato de violência de gênero que


resulte ou possa resultar em dano físico,
sexual, psicológico ou sofrimento para a
mulher ,inclusive ameaças de tais atos,
coerção ou privação arbitrária da liberdade,
quer ocorra em público ou na vida privada”
​Uma das formas mais comuns de violência contra mulheres aquela realizada por
um parceiro íntimo. São comuns também a violência sexual e o estupro por parceiro
não íntimo e o abuso sexual na infância.

A OMS define a violência doméstica como “[...] qualquer comportamento que


dentro de um relacionamento íntimo cause dano físico, psicológico ou sexual”,
incluindo agressões físicas, violência psicológica, coerção sexual, comportamento de
controle da vítima, bem como dano ao patrimônio e/ou abuso financeiro. A
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a
Mulher definiu violência contra a mulher como “[...] qualquer ação ou conduta,
baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”. (Taborda, 2016, 5°
parágrafo, p. 550)
Uma forma de violência que merece atenção diferenciada e total é justamente a
violência doméstica. Esse tipo de agressão frequentemente ocorre de forma
insidiosa e invisível, principalmente por acontecer na esfera privada/particular.
Em todo o mundo, em média, uma em cada três mulheres já foi coagida ao sexo,
espancada ou sofreu qualquer outra forma de abuso durante sua vida.
​Estudos de base populacional em todo o mundo chegam a relatar que entre 10 e
69% das mulheres reconheceram ter sido agredidas fisicamente por um parceiro
íntimo em algum momento de suas vidas. Embora a violência física seja a maneira
mais frequente de notificação do fenômeno, ela não ocorre de maneira isolada,
fazendo parte de um padrão contínuo abusivo de comportamento que pode se
manifestar em uma escalada de agressões. Saffioti e Almeida observam que “[...] a
violência tende a descrever uma escalada, começando por agressões verbais,
passando para as físicas e/ou sexuais e podendo atingir a ameaça de morte e até
mesmo o homicídio.” Em geral, a violência física é frequentemente acompanhada
por abuso psicológico. Estudos demonstram que de um terço até metade das
mulheres agredidas fisicamente também foram abusadas sexualmente por seus
parceiros. Da mesma forma, crianças estão frequentemente presentes durante os
atos de violência perpetrados por agressores, apresentando riscos de desenvolver
um grande número de traumas e problemas de comportamento, incluindo ansiedade,
depressão, baixo rendimento escolar, baixa autoestima e agressividade.
Infelizmente, na maioria das vezes, muito tempo se passa até que a mulher
denuncie o abuso, o que traz consequências de longa duração para todos os
envolvidos. (Taborda, 2016, 1° parágrafo, p. 552)

​A violência contra as mulheres configura-se como o tipo mais generalizado de


abuso dos direitos humanos em todo o mundo e, infelizmente, ainda o menos
reconhecido.
Vale ressaltar que uma das formas mais frequentes desse tipo de violência é,
justamente, aquela realizada por um parceiro íntimo. Tal agressão é conhecida como
maus-tratos, ou espancamentos de esposa. Quase sempre vem acompanhada de
acometimento psicológico.
Frequentemente, têm-se também, tanto a violência sexual quanto o estupro por
parceiro não íntimo. Por vezes, há até mesmo abuso sexual na infância.
Observa-se, um padrão repetitivo, de controle e dominação, com constantes
ataques e coações.
Convém frisar que a Psiquiatria Forense é a especialidade da medicina que vem a
proporcionar um diálogo entre o direito e a psiquiatria.
Quanto aos aspectos relacionados ao gênero, um tema em especial tem recebido
destaque na literatura acadêmica nessa área médica, qual seja: a Lei Maria Da
Penha, principalmente no que tange aos danos psíquicos oriundos de uma violência
psicológica sofrida pelo sexo feminino.
Assim sendo, o médico que atua nessa interface (medicina X direito) tem o dever
de, além de possuir conhecimento técnico em psiquiatria/perícia, entender o
vocabulário jurídico e as leis que impactam os assuntos relacionados à temática em
comento.
2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER
A violência doméstica de cunho intrafamiliar, geralmente vem acompanhada de
negação e segredo. Logo, muitos casos sequer chegarão ao sistema de saúde e/ou
de justiça.
Percebe-se, também, que os caos desse tipo de violência quando desvendados, já
estavam sendo praticados durante muito tempo, via de regra, por muitos anos. Por
óbvio, o êxito da investigação pericial/judicial é bastante prejudicado.

2.1. Formas de Violência


Na atualidade, há uma tendência dos estudiosos e pesquisadores desse tema
considerar a ocorrência da integração de diversos fatores, dentre os quais podemos
citar: os pessoais, situacionais e socioculturais. Ou seja, existe uma combinação
entre eles que culmina na provocação do abuso.
Observam-se agressões físicas como tapas, socos, chutes. Tentativas de
estrangulamento e queimaduras são frequentes.
Acontece o abuso psicológico através do menosprezo, humilhação e intimidações
no sentido de ferir as crianças ou quaisquer outros membros.
Já é consabido que alguns fatores contribuem para manutenção da relação
conflitiva. São eles:
✔ Vivências de maus-tratos quando da infância ;
✔ Histórico de abuso sexual, geralmente pelos próprios familiares e íntimos de
seu domicílio;
✔ Repetição do modelo parenteral violento;
✔ Sintomas depressivos;
✔ Sentimento de responsabilidade pela conduta violenta do companheiro;
✔ Casamento como forma de sustento econômico;
✔ Inexistência de uma rede de apoio eficaz no que se refere a vários aspectos,
tais como: moradia, creche, escola, saúde, atendimento policial e acesso à justiça.
Na violência doméstica contra a mulher, a agressão pelo parceiro íntimo é mais
frequentemente parte de um padrão repetitivo, de controle e dominação, do que um
ato único de violência. Ela apresenta-se de várias formas:
✔ Agressões físicas, como golpes, tapas, chutes e surras, tentativas de
estrangulamento e queimaduras, quebras de objetos favoritos, móveis, ameaças de
ferir as crianças ou outros membros da família.
✔ Abuso psicológico por menosprezo, intimidação e humilhação constantes.
✔ Coerção sexual.
✔ Comportamentos de controle, como isolamento forçado da mulher em relação
à sua família e aos seus amigos, vigilância constante de suas ações e restrição de
acesso a recursos variados.
✔ Abuso financeiro. (Taborda, 2016, 1° parágrafo, p. 553)

2.2. Reação das Mulheres à Agressão


São diversas as formas de reagir das mulheres ao sofrerem violência doméstica.
Algumas, de fato, resistem. Outras fogem.
No entanto, não raras as vezes, há aquelas que se submetem às exigências
descabidas do cônjuge. Os motivos mais alegados para continuar num
relacionamento abusivo são: perda do suporte econômico, preocupação com os
filhos, medo de represália, dependência emocional e esperança de que o parceiro
vai mudar algum dia.
Nas duas últimas décadas, o avanço das pesquisas em neurociências forneceu
evidências sobre os mecanismos fisiológicos da associação entre a exposição à
violência e os diferentes resultados adversos para a saúde, sobretudo os
mecanismos neurobiológicos, neuroendócrinos e relativos às respostas imunes à
exposição ao estresse agudo e crônico. Esses estudos mostram que a exposição
prolongada ou aguda ao estresse nas diferentes regiões cerebrais podem trazer
mudanças estruturais que têm implicações para a saúde mental e para o
funcionamento cognitivo, podendo levar à maior suscetibilidade para o
desenvolvimento de transtornos mentais, bem
como ao aparecimento de doenças cardiovasculares, hipertensão, distúrbios
gastrintestinais e outras condições clínicas. Na gestação, a exposição ao estresse
tem sido associada ao baixo peso da criança ao nascer e a outras consequências,
como o trabalho de parto prematuro. Além da resposta biológica ao estresse, é
frequente nas mulheres uma reação comportamental de risco como forma de
enfrentamento das consequências negativas da violência, como abuso de álcool e
outras drogas, tabaco e medicações psicotrópicas. (Taborda, 2016, 2° parágrafo.
P.558)
O abandono e retorno dessas relações ocorrem por diversas vezes. Portanto,
fala-se num ciclo vicioso. Algumas dessas, apesar de existirem inúmeras
dificuldades, muitas mulheres decidem por abandonar os respectivos parceiros
violentos.
Infelizmente, mesmo depois do fim do relacionamento, a violência pode perdurar e
até mesmo aumentar. Inclusive, o maior risco de ocorrer o homicídio pelo parceiro é
após a separação.

2.3. Violência Conjugal


Pode-se afirmar que a violência conjugal se apresenta como um fenômeno
deveras complexo tendo uma natureza multicausal.
Diversos aspectos aparecem como sendo variáveis influenciadoras nesses
relacionamentos.
Consideram-se fatores da comunidade:
✔ Desemprego, pobreza;
✔ Relação com indivíduos delinquentes (amizade);
✔ Isolamento das mulheres e famílias.

De outro modo, os fatores da sociedade são:


✔ Conceito de masculinidade ligado à dominação, honra ou agressão;
✔ Normas socioculturais que concedem ao sexo masculino o controle sobre o
comportamento feminino;
✔ A aceitação, por parte da mulher, da violência como sendo a forma de
resolução dos conflitos;
✔ Ambos os sexos são detentores de papéis rígidos.

Os agressores conjugais constituem um grupo muito heterogêneo. Alguns


estudiosos os classificam em função de sua eventual psicopatologia, da prática de
violência generalizada ou voltada apenas para a companheira, e da severidade e
frequência da agressão. Entre os perfis possíveis encontram-se os agressores sem
psicopatologia, os antissociais, os ​borderlines,​ os disfóricos e os psicóticos,
representando diferentes graus de violência, prognóstico e reincidência. A gravidade
da agressão também se associa ao uso de armas e ao consumo de drogas entre os
agressores. (Taborda, 2016, 1° parágrafo, p.554)

2.4. Uxoricídio
Estamos a falar do homicídio da mulher cometido por quem era seu marido.
O uxoricídio – do latim ​uxor, ​que significa esposa, mulher casada, e ​caedere, ​que
significa matar – caracteriza-se pela morte da mulher casada. Para configurar tal
delito, o autor deve estar investido da figura de marido ou companheiro. Relações
informais como namorados e ex-namorados muitas vezes compartilham da cultura

machista de dominação e agressividade, praticando também o uxoricídio. (Taborda,


2016, 5° parágrafo, p. 554)
Frequentemente, não se trata de ato impulsivo isolado de pessoas pacíficas ou de
doentes mentais. Resulta, pois, de uma agressividade crescente exteriorizada por
parte do agressor.
Nesse sentido, antecedendo o uxoricídio, observam-se inúmeras chantagens,
ameaças e até mesmo agressões consumadas com as respectivas denúncias
policiais.
Vários são os meios utilizados para alcançar tal conduta. Exemplificando: objetos
contundentes, penetrantes e/ou cortantes. A morte, muitas das vezes, é oriunda das
lesões provocadas por armas de fogo.
Embora a causa da morte muitas vezes seja decorrente de lesões por arma de
fogo, outros meios que exigem contato direto, como objetos cortantes, penetrantes,
contundentes e sufocação, podem ser usados. Tais achados, associados à
existência de tortura, agressão aos genitais, estupro e/ou lesões múltiplas, são
indicativos de violência passional. É comum que o agressor culpe a vítima pelo seu
próprio assassinato, seja pela forma como ela se veste, seja por ela ter ousado
assumir uma conduta mais independente ao tentar trabalhar ou estudar, ou, muito
​ o
frequentemente, por desejar romper o relacionamento, não ​dar uma nova chance a
agressor ou envolver-se com um novo parceiro. O machismo expresso pelo
sentimento e prática do homem sobre a mulher traduz-se pelo desejo de mantê-la
tutelada ou como propriedade exclusiva sua. Algumas vezes, esse sentimento e
conduta estendem-se aos filhos. Uma parcela dos uxoricidas tenta suicídio após o
delito. Alguns têm como motivação o ciúme e a crença de estarem sendo traídos,
matando a companheira, tentando suicídio e algumas vezes assassinando também o
rival. Em outros casos, o agressor sente-se rejeitado pela mulher quando esta
ameaça deixá-lo ou se vai, e a mata. O suicídio surge com o desejo de permanecer
ligado à pessoa, agora na morte, o que demonstra traços de dependência por parte
do agressor. Existem diferenças entre os perfis de uxoricidas e familicidas, sendo o
último mais frequentemente casado, sem história de atos violentos prévios e maior
prevalência de tentativa de suicídio após o delito. (Taborda, 2016, 3° parágrafo,
p.555)

É oportuno registrar que a região do corpo mais comumente agredida nessa


situação é o rosto da vítima.

2.5. Stalking
Em que se pese a palavra “stalking” não ter uma tradução ideal e perfeita para a
nossa língua portuguesa, é usada na prática de caça (ocorre quando o predador
persegue sua presa de forma contínua). Deriva do verbo stalk, correspondendo a
perseguir incessantemente.
Isso posto, stalking é conhecido por perseguição persistente. É dizer: consiste
numa forma de violência na qual o sujeito invade repetidamente a esfera da vida
privada da vítima.
Stalking ​é um termo em inglês sem uma tradução ideal para o português, definido
como a imposição por parte do perpetrador de comportamentos de aproximação e
comunicação não desejados que induzem medo na vítima. Engloba tentativas
intrusivas, obsessivas e indesejadas de fazer contato com a vítima e controlar sua
vida, de modo que tal comportamento pode até mesmo ser bizarro e prolongado.
Não existe uma classificação uniforme para o fenômeno. Tal como a violência, pode
derivar de diversas motivações. É um problema de âmbito psiquiátrico e criminal.
Sabe-se que de 80 a 90% das vítimas são mulheres, e de 80 a 90% dos ​stalkers s​ ão
homens. A maioria das vítimas é mulher em idade reprodutiva que teve um
relacionamento sexual com o perseguidor. Como em outros casos de violência
doméstica, algumas podem ter relações de dependência ou sadomasoquistas com o
agressor. Esse é o grupo que tem mais alto risco de agressão, inclusive letal.
(Taborda, 2016, 1º parágrafo, p.556)
Através da constante repetição dos atos consegue restringir a liberdade e/ou
atacar a privacidade e reputação da vítima.
As táticas de perseguição são diversas, a exemplo de envios de mensagens por
SMS, email e Whatsapp, ligações telefônicas e remessa de presentes.
O perseguidor chega a ficar na espera da passagem da vítima nos lugares
frequentados por ela. Até publicação de boatos ou fatos ele o faz, sempre com
intuito de atingir a imagem da perseguida.

Cabe lembrarmos, nos dias atuais, do cyberstalking, o qual significa a perseguição


realizada por intermédio da internet, seja através de e-mails, blogs, seja por qualquer
outra maneira nas redes sociais.
Nesse contexto, o psiquiatra forense/perito pode se envolver nas avaliações, nos
casos de haver stalking, de diversas maneiras, sendo, uma delas a perícia/análise
dos riscos da reincidência da violência doméstica contra a mulher no caso concreto.
3. LEI MARIA DA PENHA / LEI nº 11.340/2006
Em data de 22 de setembro de 2006, entrou em vigor a Lei nº 11.340/06, referente
à violência doméstica e familiar contra a mulher. Esta lei ficou conhecida como ​Lei
Maria ​da Penha ​em virtude da grave violência de que foi vítima Maria da Penha
Maia Fernandes: em 29 de maio de 1983, na cidade de Fortaleza, a farmacêutica
Maria da Penha, enquanto dormia, foi atingida por disparo de espingarda desferido
por seu próprio marido. Por força desse ​disparo, ​que atingiu a vítima em sua coluna,
Maria da Penha ficou paraplégica. Porém, as agressões não cessaram. Uma
semana depois, a vítima sofreu nova violência por parte de ​seu ​então marido, tendo
recebido uma descarga elétrica enquanto se banhava. ​O ​agressor foi denunciado em
28 de setembro de 1984. Devido a sucessivos recursos e apelos, sua prisão ocorreu
somente em setembro de 2002. (Renato Brasileiro, 2020, 6° parágrafo, p.1256)
Historicamente, as mulheres foram, com frequência submetidas a atrocidades
abusos, e aos mais diversos tipos de violências. Eram vistas, constantemente, como
“coisa”, ou seja, como sendo um mero instrumento de uso sexual masculino.
Felizmente, a sociedade contemporânea tem empreendido esforços no sentido de
superar tais mazelas, entretanto, certos ranços persistem, o que exige um
tratamento diferenciado.
A sociedade contemporânea tem empreendido alguns esforços no sentido de
superar tais ranços, mazelas e injustiças para com o sexo feminino. Nesse contexto
surge a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha.
Essa norma jurídica, visando à proteção da mulher, criou mecanismos com o intuito
de coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mesma.

A Lei nº 11.340/2006 busca seu fundamento no art. 226°, § 8°, da Constituição


Federal de 1988 (CF/88) e também em vários diplomas internacionais.
Segue a literalidade do art. 226°, §8°, CF/88:
“​O Estado assegurará a assistência à família
na pessoa de cada um dos que a integram,
criando mecanismos para coibir a violência no

âmbito de suas relações​”.

Temos, pois, como dever do Estado adotar políticas públicas específicas (ações
afirmativas) com finalidade de promover os direitos das mulheres vítimas de
violência doméstica ou familiar.
De acordo com o art.1° da norma em estudo, podemos elencar as suas finalidades:
✔ coibir e prevenir a violência doméstica e familiar;
✔ criar os Juizados de Violência Doméstica e Familiar;
✔ adotar medidas de assistência e proteção às vítimas de violência doméstica e
familiar
É dever do poder público garantir/assegurar os direitos às mulheres e, também coibir
toda e qualquer prática que, de alguma forma, possa implicar em negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão contra as mulheres.
É oportuno fazermos uma ressalva: o dever de respeito à mulher é tripartite,
abrangendo não só o Estado, mas também a família e a sociedade como um todo.
Violência doméstica é definida como sendo: ​ação ou omissão baseada no gênero

que possa causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial.
Convém frisarmos dois aspectos importantes sobre a temática em estudo:
✔ a caracterização da violência não depende da coabitação;
✔ a configuração dessa agressão independe da orientação sexual da vítima.

A lei somente se aplica à vítima do sexo feminino. A jurisprudência e a doutrina


majoritária têm entendimento firmado no sentido de que essa aplicação restrita às
mulheres não viola o princípio constitucional da igualdade, uma vez que esta deve
ser entendida num sentido material. Portanto, é possível que haja medidas
específicas para a proteção de mulheres, já que elas constituem um grupo tido por

vulnerável, a necessitar de proteção específica. De modo diverso, em relação ao


agressor, há sim a possibilidade de sê-lo homem ou mulher.
A agressão por mulher (agente da conduta) tem previsão no texto legal ora debatido,
ao mencionar que as relações pessoais abarcadas pela norma independem de
orientação sexual. Isto é, admite-se expressamente a possibilidade de que haja um
casal homoafetivo.
Para efeitos da Lei em estudo, configura-se violência doméstica e familiar contra a
mulher, qualquer que seja a ação ou omissão baseada no gênero, causando lesão
sofrimento físico e sexual, dano psicológico, moral, patrimonial e morte, desde que
considerados os âmbitos agora elencados: da unidade doméstica, da família e em
qualquer relação íntima de afeto.
- No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas: agressão no âmbito da unidade doméstica compreende aquela praticada
no espaço caseiro, envolvendo pessoas com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas integrantes dessa aliança (insere-se, na hipótese, a
agressão do patrão em face da empregada). (Rogério Sanches, 2020, 4° parágrafo,
p. 62)
- No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
por vontade expressa: a violência no âmbito da família engloba aquela praticada
entre pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar, podendo ser conjugal,
em razão de parentesco (em linha reta e por afinidade), ou por vontade expressa
(adoção).(Rogério Sanches, 2020,1° parágrafo, p. 63)
- Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. O inc. III do art. 5° da
Lei 11.340/06, de forma ampla (tornando, ao que parece, dispensáveis os incisos
anteriores) etiquetou como violência “doméstica” qualquer agressão inserida em um
relacionamento estreito entre duas pessoas, fundando em camaradagem, confiança,
amor etc. (Rogério Sanches, 2020, 2° parágrafo, p.63)
Partindo ​da premissa de que a mulher ainda é comumente oprimida em ​nossa
sociedade, especialmente pelo homem, a Lei Maria da Penha cria ​mecanismos ​para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, conferindo proteção
diferenciada ao gênero feminino, tido como vulnerável quando inserido em situações
legais específicas elencadas pelo art. 5°​: ​a) ambiente doméstico; b) ambiente
familiar; ou c) relação íntima de afeto. (Renato Brasileiro, 2020, 2° parágrafo, p.1256)

Cinco são as formas de violência, de acordo com a lei Maria da Penha:


✔ A violência física:
- ofensa à integridade física ou à saúde corporal da vítima.

Como se percebe, violência ​física ​(vis corpora/ is) é o emprego de força física sobre
o corpo da vítima, visando causar lesão à integridade ou ​à saúde corporal da vítima.
São exemplos de violência física, ofensivas à integridade, as fraturas, fissuras,
escoriações, queimaduras, luxações, equimoses ​e hematomas. A ofensa à saúde
corporal, ​por ​sua ​vez, ​compreende as perturbações fisiológicas (desarranjo no
funcionamento de algum órgão do corpo humano) ou mentais (alteração prejudicial
da atividade cerebral). Como exemplos de ​crimes praticados com ​violência ​física,
podemos citar as diversas espécies de lesão corporal (CP, art. 129), o homicídio
(CP, art. 121) e até mesmo ​a contravenção penal de vias de fato (Dec.​-​Lei
nº3.688/41, art. 21). ​(Renato Brasileiro, 2020, 3° parágrafo, p.1256)

✔ A violência psicológica:
- dano emocional e diminuição da autoestima;
- prejuízo ou perturbação do desenvolvimento;
- degradação ou controle de ações.

​ sicológica ​passou a ser


Com a redação dada pela Lei n. 13.772/18, a ​violência p
conceituada ​pela ​Lei ​Maria da Penha ​como ​qualquer ​conduta ​que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ​suas ​ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação​ ​de sua intimidade, r​ idicularização, exploração e limitação do direito de ir e
vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação. (Renato Brasileiro, 2020, 4° parágrafo, p.1256)

✔ A violência sexual:
- constrangimento a presenciar, manter ou participar de relação sexual não
consentida.

A terceira forma de violência doméstica e familiar contra a mulher explicitamente


descrita pelo art. ​7° ​é a sexual, entendida ​como ​qualquer ​conduta ​que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método ​contraceptivo ​ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de ​seus ​direitos sexuais e reprodutivos. (Renato Brasileiro,
2020, 1° parágrafo, p.1267)

✔ A violência patrimonial:
- retenção, subtração, destruição total ou parcial de bens da vítima.

Exemplos de crimes que materializam essa forma de violência podem ser


encontrados no Título II da Parte Especial do Código Penal, que ​versa
​ pesar de o legislador fazer referência ​à
sobre os ​Crimes contra o patrimônio. A
violência ​patrimonial, esta forma de violência doméstica e familiar contra a mulher
prevista no art. 7°, IV, da Lei Maria da Penha, não pressupõe o emprego de ​violência
física ou corporal, restando caracterizada mesmo nas hipóteses de crimes
patrimoniais praticados sem o emprego de ​vis corporalis ​ou grave ameaça (v.g.,
furto, furto de coisa comum, apropriação indébita, estelionato). (Renato Brasileiro,
2020, 5° parágrafo, p.1267)

✔ A violência moral :
- calúnia, difamação ou injúria

A última forma de violência prevista no art. 7° ​da ​Lei Maria da Penha é a moral,
conceituada como qualquer conduta que configure calúnia (imputar falsamente a
alguém fato definido como crime)​, ​difamação (imputar a alguém fato ofensivo à sua
reputação) ou injúria (ofender a dignidade ou o decoro de alguém). (Renato
Brasileiro, 2020, 2° parágrafo, p.1268)
A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não exige a
presença simultânea e cumulativa de todos os requisitos do art. ​7°. ​Ou seja, para o
reconhecimento ​da ​violência contra a mulher, basta a presença alternativa de um
dos incisos do art. 7°, em combinação alternativa com ​um ​dos pressupostos do art.
5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou em qualquer relação íntima
de afeto). Logo, a violência doméstica e familiar contra a mulher estará configurada
tanto quando ​uma ​mulher for vítima ​de ​violência sexual ​no ​âmbito da unidade
doméstica, ​quando contra ela for perpetrada violência ​psicológica numa ​relação
íntima de afeto. (Renato Brasileiro, 2020, 4°,parágrafo, p,1265)
A grande característica das medidas integradas às vítimas é, exatamente, coibir
(prevenir, evitar) a violência doméstica e familiar.
Tais medidas integradas de prevenção buscam:
✔ integração entre as esferas (Judiciário, MP e Defensoria com segurança
pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação);
✔ atendimento policial especializado;
✔ campanhas educativas e de prevenção da violência doméstica e familiar; e
✔ capacitação permanente da rede de atuação.

No que diz respeito ao atendimento policial, três diretrizes se destacam:


✔ salvaguarda da integridade física;
✔ não contato com investigados e suspeitos;
✔ evitar a revitimização.
Em seu art. 12, a Lei nº 11.340/06 elenca uma ​série ​de providências que devem ser
adotadas pela autoridade policial tão logo tome conhecimento de uma hipótese ​de
violência doméstica e familiar contra a mulher. Trata-se de ​rol ​exemplificativo.
Algumas são de caráter obrigatório, como, por ​exemplo, a oitiva da vítima, lavratura
​ e ocorrência, atermação da representação e a​ ​verificação ​se o agressor
do boletim​ d

possui registro de porte ​ou posse de arma de fogo; outras, no entanto, têm s​ ua
​ a autoridade policial, que deve
realização condicionada à discricionariedade d
determinar ​sua​ r​ ealização de acordo com as peculiaridades ​do ​caso concreto.
Exemplificando, ​se ​o ​crime ​não deixar ​vestígios, ​não haverá necessidade de ​se
proceder ao exame de corpo de delito​. (Renato brasileiro, 2020, 6/ parágrafo,
p.1272,1273)

Maneiras de evitar a revitimização:


✔ a inquirição da ofendida deve ocorrer em recinto especialmente criado para
esse fim;
✔ quando necessário, haverá acompanhamento por profissionais especializados
em violência doméstica e familiar;
✔ haverá registro eletrônico ou magnético do depoimento.

Convém elencarmos as Diretrizes das medidas integradas de prevenção, quais


sejam:
✔ integração entre os órgãos públicos que estão envolvidos direta e
indiretamente com a proteção dos direitos das crianças e mulheres;
✔ promoção de estudos, pesquisas e estatísticas com a finalidade de aferir a
perspectiva de gênero a frequência da violência doméstica e familiar;
✔ difusão do respeito, valores éticos e sociais para coibir papéis estereotipados
que levem à violência doméstica;
✔ implementação de atendimento policial especializado para as mulheres;
✔ promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência
doméstica e familiar contra a mulher;
✔ a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros
instrumentos de promoção de parceria para erradicar a violência doméstica e
familiar;
✔ capacitação das pessoas que trabalham na área de segurança pública;
✔ promoção de programas educacionais que respeitem valores éticos e a
dignidade na perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
✔ conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou
etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

A assistência à mulher tem por objetivo atender àquelas que foram vítimas de
violência doméstica e familiar. Inclusive, tal atendimento ocorrerá no âmbito do:
✔ SUAS (Sistema Único de Assistência Social);
✔ SUS (Sistema Único de Saúde);
✔ Sistema Único de Segurança Pública.

No campo da política assistencial, temos as seguintes garantias:


✔ acesso prioritário à remoção, caso a vítima seja servidora pública;
✔ manutenção do vínculo de trabalho por até seis meses, se necessário o
afastamento​.

No tocante ao atendimento policial, temos:


✔ Fixa-se o dever de atuação da autoridade sempre que a mulher estiver na
iminência de sofrer violência, já ter sido vítima ou no caso de fixada medida protetiva
de urgência, houver descumprimento;
✔ Três são as premissas básicas fixadas no campo da atuação policial:
- salvaguarda da integridade física;
- não contato com investigados e suspeitos;
- evitar a revitimização;
✔ Devem-se ser tomadas determinadas cautelas com a intuito de evitar a
revitimização:
- inquirição em recinto especialmente criado para esse fim;
- quando necessário, acompanhamento por profissionais especializados em
violência doméstica e familiar;
- registro eletrônico ou magnético do depoimento;
✔ Algumas ações devem ser adotadas pela autoridade policial :
- garantia de proteção policial;
- encaminhamento para atendimento médico;
- fornecimento de transporte, estendendo o benefício a dependentes da
vítima de violência;
- garantir apoio policial para a vítima buscar pertences do local da ocorrência
ou do domicílio;
- informação quanto aos direitos.

Autoridade policial deverá, no que tange ao procedimento de inquérito:


✔ ouvir a ofendida;
✔ lavrar boletim de ocorrência;
✔ tomar a representação a termo;
✔ colher provas (inclusive, oitiva de testemunhas);
✔ remeter os autos ao juiz no prazo de 48 horas para adoção de medidas
protetivas de urgência requeridas pela vítima;
✔ determinar exames periciais e corpo de delito;
✔ ouvir agressor (que deverá ser identificado e juntado aos autos a folha de
antecedentes);
✔ remeter o inquérito ao juiz e Ministério Público no prazo legal.

Aspectos relevantes e pertinentes à temática em comento:


No tocante à colheita de outras provas referentes ao tema ora abordado, o professor
RENATO BRASILEIRO DE LIMA, 2020, 7º parágrafo, p. 205, nos ensina:
- Nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei nº 11.340/06, art.
11º), a autoridade deverá, entre outras providências: I – garantir proteção policial,
quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário; II – encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto
Médico Legal; III – fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para
abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; IV- se necessário, acompanhar
a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do
domicílio familiar; V – informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os
serviços disponíveis.

- De acordo com Renato Brasileiro, 2020, 8º parágrafo, p. 205: Em todos os casos


de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro de ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem
prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I – ouvir a ofendida, lavrar
o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II – colher
todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas
circunstâncias; III – remeter, no prazo de 48 horas, expediente apartado ao juiz com
o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; IV

determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar


outros exames periciais necessários; V- ouvir o agressor e as testemunhas; VI –
ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de
ocorrências policiais contra ele; VI-A – verificar se o agressor possui registro de
porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa
informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela
concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos do Estatuto do
Desarmamento (incluído pela Lei nº 13.880/19); VII – remeter, no prazo legal, os
autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

- Roberto Brasileiro, 2020, 2º parágrafo, p. 206, destaca que: O pedido da ofendida


será tomado a temo pela autoridade policial e deverá conter: qualificação da
ofendida e do agressor; II – nome e idade dos dependentes; III – descrição sucinta
do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida; IV – informação sobre a
condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou
deficiência ou agravamento de deficiência preexistente (incluído pela Lei nº
13.836/19). Autoridade policial deverá anexar a esse pedido da ofendida o boletim
de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

Há de ser observado, em relação aos procedimentos judiciais da Lei nº11340/2006:


✔ aplicação subsidiária do CPP, do CPC e de regras processuais do ECA e do
Estatuto do Idoso;
✔ possibilidade de praticar atos processuais à noite;
✔ competência cível, à escolha da vítima, entre:
- foro do domicílio ou da residência;
- foro do lugar do fato em se baseou a demanda;
- foro do domicílio do agressor.
✔ competência penal segue o CPP.
✔ para admissão da renúncia da representação (em ações penais públicas
incondicionadas, necessário:
- fazê-lo perante autoridade judicial;
- em audiência especialmente designada para esse fim;

- antes do recebimento da denúncia;


- com prévia oitiva do membro do MP​.

Vale ressaltar que, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos
por hospitais e postos de saúde.
Vale frisar que as medidas protetivas de urgência são concedidas por decisão
judicial, a pedido da vítima ou do Ministério Público. A prisão preventiva, por sua vez,
pode ser decidida de ofício pelo magistrado e também requeridas pela vítima ou a
pedido Ministério Público.
A despeito de certa controvérsia na doutrina quanto a sua natureza jurídica, como o
próprio legislador se refere a elas como medidas proteti​vas ​de urgência, ​prevalece o
entendimento de que estamos diante de ​medidas cautelares. (Renato Brasileiro,
2020, 6º parágrafo, p.1286)
Medidas Protetivas de Urgência:
✔ necessidade de requerimento da vítima ou do membro do Ministério Público;
✔ determinação por decisão judicial no prazo de 48 horas;
✔ possibilidade de prisão preventiva do agressor.

Com o objetivo ​de ​coibir ​e prevenir ​a ​violência doméstica ​e ​familiar contra ​a ​mulher,
​ ue poderão
a Lei Maria da Penha elenca um rol de ​medidas protetivas de ​urgência q
ser adotadas não apenas em relação à pessoa do agressor (art. 22), mas também
quanto à ofendida (arts. 23 e 24). (Renato Brasileiro, 2020, 2° parágrafo, p.1286)

Crime de descumprimento de medida protetiva de urgência:


✔ detenção de 3 meses a dois anos;
✔ admite fiança;
✔ não exclui aplicação de outras medidas cabíveis.
É oportuno atentarmos para a possibilidade de admissibilidade da prisão preventiva
para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

No que tange à autuação do Ministério Público na Lei em apreço, quando não for
parte, atuará como fiscal da ordem jurídica. Além disso, o membro do Ministério
Público poderá:
✔ requisitar força policial e serviços públicos;
✔ fiscalizar estabelecimentos públicos ou particulares de atendimento à mulher;
✔ cadastrar casos de violência.

A assistência judiciária (obrigatório nos procedimentos da Lei em comento) é


assegurado mediante contratação de advogado privado, por intermédio da
Defensoria Pública ou da assistência judiciária gratuita (advogados dativos).

No que concerne à tutela de interesses e direitos transindividuais na Lei Maria da


Penha, existem há como sendo legitimados concorrentes:
✔ Ministério Público;
✔ Associação constituída a mais de um ano (possibilidade de dispensa da
pré-constituição quando juiz entender que a associação tem representatividade
adequada)

Ademais alguns pontos da lei em apreço devem ser enfatizados, quais sejam:
● vedação à aplicação de penas de sexta básica ou outras de prestação
pecuniária;
● Previsão de crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência;
● Prisão preventiva;
● Possibilidade de concessão de fiança pela autoridade policial;
● Cumulação da competência civil e criminal por varas criminais;
● Inaplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais às infrações penais
praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher.

Súmulas do STJ sobre a temática em comento:


● Súmula 542. ​A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

● Súmula 588. ​A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com


violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
● Súmula 589. ​É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.
● Súmula 600. ​Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista
no artigo 5º da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação
entre autor e vítima.

4. FEMINICÍDIO
Necessário por demais o seguinte esclarecimento: feminicídio não corresponde a
um tipo penal autônomo. Consiste, na verdade em uma qualificadora do tipo penal
homicídio. É dizer, femicídio é o homicídio doloso cometido contra a mulher por
razões da condição do sexo feminino
Trata-se de uma nova qualificadora do crime de homicídio que fora incluída pela Lei
n.13.104/2015.
A Lei 13.104/15 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 o feminicídio, entendido
como a morte de mulher em razão da condição do sexo feminino (leia-se, violência
de gênero quanto ao sexo). A incidência da qualificadora reclama situação de
violência, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada
por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. (Rogério
Sanches Cunha, 2020, 5° parágrafo, p.61)

● Homicídio qualificado (art. 121°,CP)


§ 2°. Se o homicídio é cometido:

● Feminicídio (art.121°, VI, § 2°-A,CP):


- VI- contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
- §2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino ​quando o crime
envolve;
- I- violência doméstica e familiar;

- II- menosprezo​ ​ou discriminação​ ​à condição de mulher;

Entretanto, o reconhecimento da violência doméstica ou familiar contra a mulher


não é suficiente para a configuração do feminicídio. O inciso I do § 2°- A deve ser
interpretado em sintonia com o inciso VI do § 2° do art.121 do Código Penal. Em
outras palavras, o feminicídio reclama que a motivação do homicídio tenha sido as
“razões da condição do sexo feminino”, e daí resulte a violência doméstica ou
familiar.​ ​(Cleber Masson,2019,3 ° parágrafo, p.38)

Há, portanto, duas formas de feminicídio: a) o cometido contra a mulher em


situação de violência doméstica ou familiar (p. ex.: marido mata a esposa, por não se
conformar com uma rejeição amorosa); b) o praticado por menosprezo ou
discriminação à condição de mulher (p. ex.: o homem mata uma mulher por
considerá-la gênero inferior a ele). (Damásio,2020, 5° parágrafo,p.129)
Convém destacar, contudo, que não basta tratar-se de homicídio de mulher, isto é,
ser mulher o sujeito passivo do homicídio para caracterizar essa novel qualificadora.
Com efeito, para que se configure a qualificadora do feminicídio​ ​é necessário que o
homicídio discriminatório seja praticado em situação caracterizadora de (i) violência
doméstica e familiar, ou motivado por (ii) menosprezo ou discriminação à ​condição de
mulher​. (Bittencourt,2020, 1° paraágrafo,p.230)
É de suma importância percebermos a distinção entre feminicídio e femicídio,
senão vejamos:
Portanto, somente nessas duas hipóteses é que o homicídio doloso pode configurar
o feminicídio. Nesse ponto, é importante destcar que o ​feminicídio e femicídio não
se confundem. Ambos caracterizam homicídio, mas, enquanto aquele se baseia em
razões da condição de sexo feminino, este consiste em qualquer homicídio contra a
mulher. Exemplificativamente, se uma mulher matar outra mulher no contexto de
uma briga de trânsito, estará configurado o femicídio, mas não o feminicídio.(cleber
Masson,2020, 4° parágrafo, p. 37 )
Jurisprudência sobre a temática (STJ):
​ reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e
Não caracteriza ​bis in idem o
de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de
violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora

de ordem OBJETIVA ​- vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência
doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo,
ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar
o delito. STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
24/04/2018 (Info625).

5. CORPORAL NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


No tocante ao crime de lesão corporal no campo da violência doméstica temos:
● Espécie de lesão corporal leve qualificada pela violência doméstica e familiar
(CP, art.129,§9º).
● §9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge
ou companheiro, ou com quem conviva ​ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se e o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
● Tutela precipuamente a incolumidade física da vítima (homem ou mulher) e,
secundariamente, a paz ,harmonia e tranquilidade no âmbito familiar;
● Não é imprescindível a coabitação​→ ​basta relação doméstica, familiar, para
incidir o tipo;
● § 9º do art.129​→ ​deve ser aplicado a todas as pessoas (sexo masculino ou
feminino)
● Se o sujeito passivo for mulher​→ i​ ncide o art. 41 da Lei n.11.340/06 (princípio
da especialidade);
● Substituição da pena​→ ​art.44, CP: é possível nos casos em que o sujeito
passivo não seja mulher (posição majoritária);
● Sujeito passivo sendo mulher​→ ​impossível substituição da pena (art. 17, Lei
11.340/06).

Haverá lesão corporal leve qualificada pela violência doméstica, quando praticada
contra:
● ascendente, descendente, irmão​→ ​não importa se o parentesco é legítimo ou
ilegítimo, nem se exige coabitação;

● cônjuge ou companheiro​→ ​alcança as pessoas unidas pelo vínculo


matrimonial (cônjuges) como também aquelas que convivem em união estável
(companheiros);
● com quem conviva ou tenha convivido​→ ​é o caso, por exemplo, de república
de estudantes;
● prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade​→ ​prevalecer ​empregado no sentido de aproveitar-se dessa condição
ou situação. A tipificação ficou bastante aberta exigindo uma análise casuística e
interpretação restritiva (Ex: agressões da babá contra criança, desde que não seja
vista de requintes de tortura) (Sanches, 2020, p.129)
Importante! ​A vítima pode ser tanto o homem quanto a mulher. Todavia, quando a
vítima for mulher deve incidir as medidas de proteção e regras de competência da
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), portanto o tratamento deve ser mais severo.

6. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NA PANDEMIA DO COVID-19


A principal orientação, na atualidade, das autoridades em saúde do Brasil consiste
no seguinte entendimento: todos devem ficar em casa e manter o distanciamento
social ao máximo possível.
Contudo, para uma parcela considerável da população, o “ficar em casa” torna-se
como sendo fator de risco para o aumento na estatística da violência doméstica.
É consabido que o lar, muitas vezes, passa a ser um espaço opressivo. Nesse
sentido, o confinamento está, de forma significante promovendo tensão entre os
cônjuges/companheiros.
Infelizmente, a fuga da situação de violência é dificultada, justamente por haver
restrição de serviços e de circulação na quarentena. Ou seja, aumenta-se o tempo
da convivência diária e ininterrupta da mulher com o respectivo agressor.
Dentro desse contexto, o combate a violência doméstica há de ser considerado
como serviço essencial. Portanto, deve-se manter o funcionamento, de forma
continuada, durante a resposta ao período do covid-19.
Diante do já exposto, resta evidente a necessidade de que sejam adotadas medidas
com intuito de prevenir, proteger e mitigar as consequências de todas as formas de
discriminação, agressão e violência, em especial daquelas contra as mulheres nesse
período de isolamento domiciliar.

7, PSIQUIATRIA FORENSE
A denominação indica a aplicação dos conhecimentos e técnicas psiquiátricas aos
processos jurídicos, atentando, entre outras finalidades, para o comportamento dos
indivíduos com as outras pessoas na sociedade. (Delton, 2012, 1° parágrafo, p.746)
A Psicologia e a Psiquiatria Forense referem-se a ramos que estudam os limites e
as modificações da responsabilidade penal e da capacidade civil. Abordam, também,
as situações dos sujeitos que apresentam algum tipo de patologia mental.
A violência doméstica está entre as causas mais comuns de Transtorno de
Estresse Pós-traumático no sexo feminino. Nessa comorbidade, a paciente
apresenta sensação muito forte de estar, de alguma forma, revivendo o evento
traumático. Consequentemente, assume conduta evitativa e vive apatia emocional.
Nesse quadro dificuldade de concentração e insônia são esperadas.
O impacto de tipos distintos de abusos e de vários eventos durante um longo
período de tempo parece, realmente, ser cumulativo. O peso desses ataques e
coações somado à desesperança, atingem de forma tão nociva às mulheres, que
podem leva-las ao suicídio consumado.

7.1. Perfil do Agressor


Na violência doméstica contra a mulher, a agressão pelo parceiro íntimo é,
frequentemente, parte de um padrão repetitivo. O controle e a dominação fazem
parte da rotina do agressor para com a mulher.
Deve-se frisar também que o agressor tende a imobilizar a vítima, tornando-a uma
presa. Assim age despejando sobre ela suas necessidades narcísicas de se libertar
de todo o seu próprio desconforto interno.
Temos como fatores pessoais do agressor:
✔ Ser homem;
✔ Pai ausente;
✔ Ter sofrido abuso quando criança;
✔ Ter presenciado violência conjugal na infância;
✔ Consumo de bebidas alcóolicas e/ou drogas.

7.2. Influência do Álcool e Drogas


A incidência da violência doméstica contra as mulheres é consideravelmente maior
nos indivíduos usuários de substâncias psicoativas e/ou álcool.
Não há dúvidas que o consumo de álcool e drogas ilícitas é um verdadeiro
potencializador e desencadeador de atos violentos.
Existe uma correlação da ingesta alcóolica e a maior vitimização do sexo feminino
por agressões físicas. Inclusive, esse risco não está relacionado não só aos
consumidores contumazes, mas também àqueles considerados “bebedores
eventuais”, leves e moderados.

7.3. Palavra da Vítima como prova


Um aspecto bastante relevante é: a palavra da vítima sendo usada como prova
judicial.
Conforme o art. 201° do Código de Processo Penal (CPP), a palavra da vítima é
valorada como qualquer outro meio de prova.
Importante atentarmos, todavia, pra uma premissa fundamental, qual seja: a
palavra da vítima não é prova absoluta, nem sequer imprestável. Ou seja: o
magistrado, evitando assumir posições extremas, não deve considerar a palavra da
vítima como prova absoluta, uma vez que essa não pode ser vista como sendo a
rainha das provas.
Por outro lado, ao juiz não lhe é facultado ignorá-la. Portanto, a palavra da vítima
não pode ser desprezada nem etiquetada como imprestável.
Quando o magistrado percebe a vítima como imparcial, que não conhecia o réu
previamente ao momento do crime e, também, não tem razão para prejudicar o
acusado, certamente vai conferir maior valor probatório à sua palavra.
Assim sendo, a condenação do réu poderá ser baseada exclusivamente na palavra
da vítima, caso ausentes outras provas seguras de materialidade e autoria.
Por demais oportuno, há de se ressaltar, nesse momento, a Síndrome da Mulher
de Potifar, que traduz a seguinte consideração: a mulher que, afetivamente rejeitada,
imputa falsamente a quem a ignorou o delito de estupro ou outra conduta ofensiva à
dignidade sexual.
Nos delitos sexuais são frequentemente praticados na clandestinidade, sem a
presença de testemunhas oculares. Então, a palavra da ofendida/vítima ganha
especial relevo, já que é considerada um meio de prova e possui, como já
explanado, força suficiente para sustentar uma condenação.
Portanto, imprescindível grifar: a palavra da vítima nos crimes sexuais é, via de
regra, elemento de convicção de elevada importância, levando-se em conta que em
tais delitos, comumente, não há testemunhas. Todavia, o magistrado tem por
obrigação agir com a devida cautela com o intuito de evitar revanchismos e
perseguições inaceitáveis.

8. PERITOS E PERÍCIAS
Dentre as funções do psiquiatra forense temos a avaliação pericial.
O psiquiatra, estando no papel de perito, nomeado pela autoridade do magistrado,
deve auxiliar a justiça, uma vez que é detentor de conhecimentos técnicos e
científicos nas áreas da medicina e do direito.
Define-se perícia médico-legal como um conjunto de procedimentos médicos e
técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da
Justiça. Ou como um ato pelo qual a autoridade procura conhecer, por meios
técnicos e científicos, a existência ou não de certos acontecimentos, capazes de
interferir na decisão de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem
ou que com ele tenha relação. (França, 2017,1° parágrafo, p.50)
A perícia psiquiátrica consiste num processo no qual o perito avalia um
determinado indivíduo. Assim o faz, periciando a partir das metodologias de
investigação psiquiátrica, objetivando esclarecer ao juiz, ou a qualquer outro agente
jurídico do caso, as questões do avaliado referentes à sua saúde mental.
Temos conceitos que são fundamentais no campo da psiquiatria forense, quais
sejam:
✔ Inimputabiliadade;
✔ Capacidade de entendimento;
✔ Capacidade de determinação.

Nesse contexto, a inimputabiliadade refere-se à condição de ser isento de pena,


conforme o art. 26°, do Código Penal:
É  isento  de pena o agente que, por doença mental 
ou  desenvolvimento  mental  incompleto  ou 
retardado,  era,  ao  tempo  da  ação  ou  da  omissão, 
inteiramente  incapaz  de  entender  o  caráter  ilícito 
do  fato  ou  de  determinar-se  de  acordo  com  esse 
entendimento. 

A definição de capacidade de entendimento passa pelo aspecto cognitivo do


indivíduo. Isto é, ser ele capaz ou não de compreender que sua ação ou omissão é
reprovada/ilícita.
Por sua vez, o conceito da capacidade de determinação está relacionado ao
aspecto volitivo do sujeito. Ou seja, ele é ou não capaz de dirigir sua conduta e/ou
resisti a seus impulsos, de acordo com os dispositivos legais.
Convém a seguinte ressalva: as informações oriundas da avaliação psiquiátrica
forense (perícia) poderão ser usadas como base para a decisão judicial.
A perícia, segundo seu modo de realizar-se, pode ser sobre o fato a analisar
(​peritia percipiendi)​ ou sobre uma perícia já realizada (​pericia deducendi)​ , o que para
​ aquela procedida
alguns constitui-se em um Parecer. Assim, a ​pericia percipiendi é
sobre fatos cuja avaliação é feita baseada em alterações ou perturbações
produzidas por doença ou, mais comumente, pelas diversas energias causadoras do
dano. Ou seja, ​pericia percipiendi ​é aquela em que o perito é chamado para conferir
técnica e cientificamente um fato sob uma óptica quantitativa e qualitativa. E por
pericia deducendi, ​a análise feita sobre fatos pretéritos com relação aos quais
possam existir contestação ou discordância das partes ou do julgador. Aqui o perito
é chamado para avaliar ou considerar uma apreciação sobre uma perícia já
realizada. (França, 2017, 2° parágrafo, p. 50)
Um dos obstáculos principais encontrados na perícia psiquiátrica forense é o fato
de a avaliação com o periciando não ocorre no momento do fato. Isto é, ela acontece
apenas algum tempo após o acontecido. Tal dificuldade é mitigada através do
conhecimento considerável do perito da patologia a ser avaliada e, também, da
leitura dos autos do processo.
​Após minuciosa leitura dos autos do processo com especial atenção sobre a
história do delito, o ​expert ​deve realizar uma avaliação psiquiátrica completa. Nela
está incluída uma investigação profunda sobre a história dos relacionamentos
afetivos atuais e passados do periciado, seus antecedentes criminais e história de

maus tratos prévios, o consumo e o padrão de uso de álcool e/ou drogas, a história
conjugal de seus pais, sua visão sobre o relacionamento conjugal e o delito. Muitas
vezes, informações de terceiros confiáveis podem contribuir para checagem de
dados e melhor entendimento da conflitiva envolvida. (Taborda, 2016, 2° parágrafo,
p. 563)

9. EXAME DE CORPO DE DELITO NO TOCANTE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


CONTRA A MULHER

Fundamento Legal:
✔ Entendimentos do STJ e do STF sobre a temática ;
✔ Art 6°, VII, CPP:
“determina, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias​;
✔ Art. 158, caput, CPP:
“Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de ​delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”;
✔ Art. 167, caput, CPP:
“Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
O exame de corpo de delito consiste numa prova pericial feita num conjunto de
vestígios deixados pela ação criminosa. Pode ser realizado a qualquer dia e horário.
Consoante o jurista Nucci (2008), em seu livro Código de Processo Penal
Comentado, o exame de corpo de delito é “a verificação da prova da existência do
crime, feita por peritos diretamente, ou por intermédio de outras evidências, quando
os vestígios ainda que materiais, desapareceram”.
Da inteligência do estudo do CPP pátrio, infere-se que a prova pericial pode ser
realizada de forma direta ou indireta.
Nesse sentido, necessária a distinção entre crimes não transeuntes e transeuntes.
A importância dessa classificação diz respeito à imperiosidade da realização do
exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígio (art. 158°, CPP).

Os delitos transeuntes não deixam vestígios. Por sua vez, os crimes não
transeuntes (ou de fato permanente) deixam vestígio material. Exemplos: homicídio
e lesão corporal contra a companheira/mulher.
Nos crimes não transeuntes, a falta de exame do corpo de delito leva à nulidade
da ação penal, salvo quando impossível a sua realização. Podemos, então, citar
como exemplo: cadáver não encontrado no delito de homicídio da cônjuge.
De acordo com o art. 6°, VII, CPP, temos que, dentre as diversas diligências a serem
determinadas pela autoridade policial, há a determinação de exame de corpo de
delito e de quaisquer outras perícias​.
A prova técnica se faz obrigatória nas infrações que deixam vestígios (não
transeuntes), e sendo o caso, deverá ser determinada pela autoridade policial.
Portanto, nos crimes não transeuntes, a falta de exame de corpo de delito leva à
nulidade da ação penal, salvo quando impossível a sua realização. Podemos citar
como exemplo: cadáver não encontrado no delito de homicídio.
Infere-se da inteligência do art. 158, caput, CPP, qual seja: “quando a infração
deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
não podendo supri-lo a confissão do acusado”, a seguinte explanação: aqui estamos
a falar do exame de corpo de delito de modo direto, ou seja, quando os peritos têm
contato pessoalmente, diretamente com o objeto a ser periciado. Por exemplo: nos
crimes de lesões corporais o perito tem contato imediato com o corpo da vítima.
Com base no disposto do art. 158º, caput, do CPP, chega-se à seguinte conclusão:
quando o crime deixar vestígios, exige-se a realização do exame de corpo de delito,
tanto de forma direta, quanto de forma indireta (outros meios de prova, como por
exemplo, prova testemunhal). Inclusive, consoante previsto no art. 167º do CPP,
nem mesmo a confissão do investigado pode suprir a realização de tal exame.
Consequentemente, em razão do ora explanado, entende-se que a autoridade
policial não poderá negar a realização do exame de corpo de delito se o crime deixar
vestígios.
Dispõe o art. 167, caput, CPP: “não sendo possível o exame de corpo de delito, por
haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
O exame de corpo de delito indireto será realizado quando inexistentes ou
desaparecerem os vestígios, através de outros meios de prova em direito admitidos.

Podemos citar como exemplos: exame de ficha clínica de hospital, fotografias,


filmes, atestados de outros médicos e, principalmente, através da prova
testemunhal.
Tomando por base as devidas considerações acima expostas, eis que:
● O exame indireto, na verdade, significa suprir a falta do exame direto com
outros elementos de prova. Ou seja, tecnicamente refere-se à perícia realizada por
meio de outros elementos, tais como testemunhas e fotografias;
● Se não houver a localização do corpo, admite-se o exame indireto;
É pertinente citarmos jurisprudência referente ao conteúdo ora debatido:
● “O exame de corpo de delito, embora importante à comprovação nos delitos
de resultado, não se mostra imprescindível, por si só, à comprovação da
materialidade do crime. No caso vertente, em que os supostos homicídios têm por
característica a ocultação dos corpos, a existência de prova testemunhal e outras
podem servir ao intuito de fundamentar a abertura da ação penal, desde que se
mostrem razoáveis no plano do convencimento do julgador, que é o que consagrou a
instância a quo”.(STJ, HC 79735, j, 13/11/2007)
● Tanto o STJ quanto o STF entendem que o exame de corpo de delito indireto
pode sim ser feito sem a confecção formal de um laudo pericial, como, por exemplo,
com a simples oitiva de testemunhas.

O CPP (art. 158º, parágrafo único, incisos I e II) orienta no sentido de que seja
dada prioridade, à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime
que envolva violência doméstica e familiar contra a mulher ou contra criança,
adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
Vale a citação dos professores Nestor Távora e Fábio Roque Araújo, 2019, 3º
parágrafo, p. 68, qual seja:
Em atenção especial aos crimes de violência sexual, a Lei
nº 12.845/2013 dispõe sobre o atendimento obrigatório e
integral às vítimas desses delitos, consignando que, por
ocasião do atendimento nos hospitais do Sistema Único
de Saúde (SUS), o médico deverá preservar materiais que
possam ser coletados no exame médico legal. Prevê ainda
o diploma que cabe ao órgão de medicina legal o exame
de DNA para identificação do agressor. Trata-se de

previsão salutar voltada à colheita de elementos que


futuramente poderão ser utilizados para a formação da
opinio delicti, abrangendo a autoria e a materialidade
delitiva.

Registre-se que a autoridade policial pode determinar a realização de outras


perícias. Nesse cenário, é válido enfatizar o ensinamento oriundo do art. 2º, da , §2º
Lei nº 12.830/2013, senão vejamos: além do exame de corpo de delito, outras
perícias podem ser necessárias, devendo a autoridade acautelar-se para que sejam
realizadas.
É pertinente atestarmos mais um ensinamento do professor Fábio Roque Araújo e
Klaus Negri Costa, 2019, 1º parágrafo, p. 107, qual seja:

E, consoante o art. 171º, CPP nos crimes


cometidos com destruição, rompimento de
obstáculo ou por meio de escalada para a
subtração da coisa, os peritos, além de
descrever os vestígios, indicarão com que
instrumentos, por que meios e em que época
presumem ter sido o fato praticado. Essas e
outras perícias são as necessárias á

elucidação da materialidade e da autoria​.


Em relação ao homicídio decorrente da violência doméstica, por se tratar de um
crime que deixa vestígios, a prova da morte é realizada por meio de exame de corpo
de delito. Assim sendo, a perícia é realizada no cadáver, hipótese em que o exame
será direto.
Nesse contexto, podemos citar a violência física doméstica contra a mulher
causando lesões por instrumentos contundentes naturais (socos). Nesse caso, há de
se fazer o uso do exame de corpo de delito direto, tendo em vista que a agressão
comumente deixa vestígios aparentes.
De outro modo, o exame de corpo de delito indireto será realizado quando
inexistentes ou desaparecerem os vestígios, através de outros meios de prova em
direito admitidos. Podemos citar como exemplos: exame de ficha clínica de hospital,

fotografias, filmes, atestados de outros médicos e, principalmente, através da prova


testemunha.
Dessa forma, observa-se uma cruel realidade no que tange os crimes de violência
física contra a mulher, qual seja: inúmeros são os casos nos quais os vestígios
deixam de existir no decorre do tempo após a agressão respectiva.
Nesse sentido, nos crimes sexuais (estupro, por exemplo), a mulher não se sente
confortável em relatar aos órgãos competentes que foi vítima de tal perversidade,
uma vez que sente-se constrangida. Então, o exame de corpo de delito indireto
passa a ser o único método apropriado para tal situação, haja vista, ocorrera o
desaparecimento dos vestígios do ato em apreço.
Enfim, a análise dos vestígios deixados por meio do ato criminoso, é realizada
através da elaboração do laudo médico onde serão preenchidos os quesitos. Tal
laudo será encaminhado à autoridade que o solicitou, pra que o documento seja
anexado ao processo. Eis uma “peça” considerado como fator essencial na
comprovação do fato em julgamento.
10. LAUDO MÉDICO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER
​A psiquiatria forense, via de regra, avalia a patologia psiquiátrica e suas
consequências, não tendo como foco especificamente as distinções de gênero.
Contudo, temos na legislação brasileira, o infanticídio e a Lei Maria da Penha.
Ambas são direcionadas para o gênero feminino e estão interligadas diretamente
com a psiquiatria forense.
É evidente que uma perícia médica bem detalhada é essencial quando da
prestação jurisdicional nos casos em que houver violência doméstica.
Dois pontos são imprescindíveis para um verdadeiro enfrentamento de tal violência:
perícia minuciosa para a avaliação de risco do sexo feminino em situação de
hostilidade e desrespeito por parte do próprio companheiro e a correspondente
responsabilização do agressor.
Assim, deseja-se que a atividade pericial de responsabilidade penal avalie os riscos
de violência do ofensor, informando se há ou não necessidade de tratamento do
mesmo. Por óbvio, há de ser descrito no laudo o encaminhamento mais indicado.

O uso de escalas associadas à avaliação clínica pericial aumenta a acurácia


preditiva da avaliação de risco, uniformiza as avaliações e torna mais transparente o
processo, facilitando o entendimento dos profissionais envolvidos no caso e do
judiciário. Embora existam diversos guias e escalas de avaliação de risco de
violência conjugal, na América Latina apenas o Spousal Assault Risk Assessment
Guide (SARA) encontra-se validado para a lingua espanhola, na Argentina. Esse
guia é composto de 0 itens que sintetizam o conhecimento científico, profissional e a
experiência na área. (Taborda, 2016, 4° parágrafo, p.563)
Com o aumento considerável no ingresso de processos solicitando avaliações
periciais de violência doméstica, exige-se cada vez mais atendimento qualificado dos
profissionais de saúde envolvidos. Consequentemente, o laudo médico se faz
primordial no direcionamento da solução das lides judiciais.
A finalidade do laudo pericial é, não esqueçamos, judicial. Consiste num
esclarecimento de um fato médico de considerável relevância para o processo,
podendo servir de prova do fato.
​São as designadas pelo ​caput ​do art. 129. Ofendem a integridade corporal ou a
saúde de outrem (elemento positivo), mas não determinam as consequências
previstas nos §§ 1.º, 2.º e 3.º (elemento negativo) do citado dispositivo. (Delton,
2012, 7° parágrafo, p. 176)
As lesões corporais leves são representadas frequentemente por danos
superficiais, interessando apenas a pele, tela subcutânea, músculos superficiais,
vasos arteriais e venosos de pequeno calibre. São as escoriações, equimoses,
hematomas, feridas contusas, alguns entorses, os torcicolos traumáticos, edemas e
a maioria das luxações. (Delton, 2012, 8°parágrafo, p.176)
A maioria dos casos de violência doméstica e familiar termina por ser classificado
como delito penal de lesão corporal leve. Nesses crimes, o perito do caso concreto
deve apontar que, tal classificação, pode ocultar situações bastante graves que
precisam chegar ao conhecimento judicial.
Ainda em relação às lesões corporais leves, devemos atentar para a seguinte
reflexão: a cronologia e multiplicidade de tal tipo penal sugerem meio cruel e/ou
insidioso. Pode significar, por exemplo, que aquela vítima tenha apanhado reiteradas
vezes em cronologias as mais distintas possíveis.

O segredo de um bom laudo consiste numa descrição, por parte do perito, de tudo
aquilo que vê relatando as lesões encontradas, sejam elas correlacionadas ou não
ao evento em questão.
É fundamental que o profissional responsável pelo laudo nunca se esqueça que, da
mesma forma que os demais documentos médicos, o laudo será lido e analisado por
terceiros, que não, obrigatoriamente, detêm o mesmo nível de conhecimento técnico.
Seguindo nessa lógica, faz-se necessária uma descrição minuciosa dos detalhes
do exame físico no periciando. Ademais, para que se obtenha um laudo médico a
contento, precisa-se de rigor técnico e científico, coerência e clareza, objetividade e,
não menos importante, boa legibilidade.
A realização de uma perícia planejada e minuciosa torna-se, ainda mais importante
nos casos de feminicídios (tentados e consumados), uma vez que tal documento
será apresentado ao Tribunal do Júri, onde ocorre os julgamentos feitos por
indivíduos leigos no que tange ao direito e à medicina.
Mantendo-se nessa linha de pensamento, temos que, uma boa prova técnica pode
sim ser decisiva, sendo, inclusive, capaz de refletir e demonstrar a gravidade do
caso sob júdice.

11. CONCLUSÃO
A tese de que o ambiente familiar com suas ligações afetivas protegeria seus
membros mais vulneráveis tem se mostrado, infelizmente, equivocada. O que
percebemos, são consequências nefastas oriundas da violência doméstica que
acarretam a saúde física e emocional das mulheres e o bem-estar dos filhos.
A violência doméstica contém múltiplas interferências em diversos campos
distintos, tais como: social, legal, médico e cultural. Dessa forma, exige-se, no seu
enfrentamento, uma abordagem transdisciplinar, com o intuito de se obter resultados
um tanto quanto mais favoráveis às vítimas, ao grupo familiar e à sociedade como
um todo.

Nesse diapasão, deve haver uma busca incessante por programas sócioculturais
com abrangência o mais ampla possível, visando sempre abarcar não só a ofendida,
mas também o abusador e os outros componentes da família.
É primordial, para o devido enfrentamento da violência doméstica contra a mulher,
que haja a responsabilização e, consequente punição do agressor.
Nesse contexto, surge a importância da psiquiatria forense, senão vejamos: o laudo
médico pericial será tomado como guia, nas lides judiciais, servindo como mais um
elemento influenciador no que se refere à sentença judicial.
Numa avaliação psiquiátrica forense, o perito médico irá verificar se há ou não
transtorno mental por parte do agente criminoso, o nexo causal do fato que ocorrera
e o grau de risco provável de uma recidiva delitiva.
Frequentemente, nos crimes dessa natureza, há uma lacuna de tempo entre o
evento e o exame pericial. Portanto, é fundamental um conhecimento técnico
aprofundado nos campos da medicina e do direito.
Considerando a complexidade das análises e reflexões psicológicas e psiquiátricas
nos casos de violência doméstica, é imprescindível que haja uma avaliação
qualificada e multidisciplinar.
É oportuno destacar a relevância do diagnóstico precoce dos crimes em apreço, no
sentido de atingir, ao máximo, a redução de danos físicos, psicológicos e sociais.
No tocante ao combate da violência doméstica contra a mulher é fundamental que
o poder público invista na estrutura de órgãos específicos pra a finalidade em
comento e também no acolhimento às vítimas.
O aprimoramento, por parte da administração pública, no Sistema de Justiça, no
que tange o delito criminoso em apreço, é de suma importância. Tal intervenção
estatal tem por finalidade evitar que a violência doméstica e familiar se perpetue.
Assim o fazendo, estará agindo na prevenção, inclusive, do próprio crime contra a
vida da mulher (feminicídio).
Certamente, há de haver, urgentemente mais políticas públicas com foco não
apenas no combate à violência per si, mas também voltadas, de forma considerável,
ao estímulo necessário para se atingir o empoderamento econômico e o
empreendedorismo do sexo feminino.

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