Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Psiquiatria Forense:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO CAMPO DA
PSIQUIATRIA FORENSE
PETROLINA
2020
Psiquiatria Forense:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER NO CAMPO DA
PSIQUIATRIA FORENSE
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
8. PERITOS E PERÍCIAS
9. EXAME DE CORPO DE DELITO NO TOCANTE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER
10. LAUDO MÉDICO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER
11. CONCLUSÃO
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. INTRODUÇÃO
A violência intrafamiliar e doméstica, problema complexo e árido, caracteriza-se
como sendo toda omissão ou ação que venha a prejudicar o bem-estar, a
integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de
um membro da família.
Ademais, pode ser cometida dentro e fora de casa, por qualquer indivíduo que
integre a família detentor da relação de poder com a pessoa agredida.
No termo doméstico incluem-se pessoas as quais convivem no âmbito familiar, tais
como os “agregados”.
A violência doméstica consiste num problema de saúde pública, afetando mulheres
de todas as idades e de todas as classes econômicas e sociais. Acarreta, inclusive,
consequências físicas e psicológicas às vítimas diretas, indiretas e à sociedade
como um todo.
Em 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas, de forma oficial,
definiu violência contra as mulheres da seguinte forma:
2.4. Uxoricídio
Estamos a falar do homicídio da mulher cometido por quem era seu marido.
O uxoricídio – do latim uxor, que significa esposa, mulher casada, e caedere, que
significa matar – caracteriza-se pela morte da mulher casada. Para configurar tal
delito, o autor deve estar investido da figura de marido ou companheiro. Relações
informais como namorados e ex-namorados muitas vezes compartilham da cultura
2.5. Stalking
Em que se pese a palavra “stalking” não ter uma tradução ideal e perfeita para a
nossa língua portuguesa, é usada na prática de caça (ocorre quando o predador
persegue sua presa de forma contínua). Deriva do verbo stalk, correspondendo a
perseguir incessantemente.
Isso posto, stalking é conhecido por perseguição persistente. É dizer: consiste
numa forma de violência na qual o sujeito invade repetidamente a esfera da vida
privada da vítima.
Stalking é um termo em inglês sem uma tradução ideal para o português, definido
como a imposição por parte do perpetrador de comportamentos de aproximação e
comunicação não desejados que induzem medo na vítima. Engloba tentativas
intrusivas, obsessivas e indesejadas de fazer contato com a vítima e controlar sua
vida, de modo que tal comportamento pode até mesmo ser bizarro e prolongado.
Não existe uma classificação uniforme para o fenômeno. Tal como a violência, pode
derivar de diversas motivações. É um problema de âmbito psiquiátrico e criminal.
Sabe-se que de 80 a 90% das vítimas são mulheres, e de 80 a 90% dos stalkers s ão
homens. A maioria das vítimas é mulher em idade reprodutiva que teve um
relacionamento sexual com o perseguidor. Como em outros casos de violência
doméstica, algumas podem ter relações de dependência ou sadomasoquistas com o
agressor. Esse é o grupo que tem mais alto risco de agressão, inclusive letal.
(Taborda, 2016, 1º parágrafo, p.556)
Através da constante repetição dos atos consegue restringir a liberdade e/ou
atacar a privacidade e reputação da vítima.
As táticas de perseguição são diversas, a exemplo de envios de mensagens por
SMS, email e Whatsapp, ligações telefônicas e remessa de presentes.
O perseguidor chega a ficar na espera da passagem da vítima nos lugares
frequentados por ela. Até publicação de boatos ou fatos ele o faz, sempre com
intuito de atingir a imagem da perseguida.
Temos, pois, como dever do Estado adotar políticas públicas específicas (ações
afirmativas) com finalidade de promover os direitos das mulheres vítimas de
violência doméstica ou familiar.
De acordo com o art.1° da norma em estudo, podemos elencar as suas finalidades:
✔ coibir e prevenir a violência doméstica e familiar;
✔ criar os Juizados de Violência Doméstica e Familiar;
✔ adotar medidas de assistência e proteção às vítimas de violência doméstica e
familiar
É dever do poder público garantir/assegurar os direitos às mulheres e, também coibir
toda e qualquer prática que, de alguma forma, possa implicar em negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão contra as mulheres.
É oportuno fazermos uma ressalva: o dever de respeito à mulher é tripartite,
abrangendo não só o Estado, mas também a família e a sociedade como um todo.
Violência doméstica é definida como sendo: ação ou omissão baseada no gênero
que possa causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial.
Convém frisarmos dois aspectos importantes sobre a temática em estudo:
✔ a caracterização da violência não depende da coabitação;
✔ a configuração dessa agressão independe da orientação sexual da vítima.
Como se percebe, violência física (vis corpora/ is) é o emprego de força física sobre
o corpo da vítima, visando causar lesão à integridade ou à saúde corporal da vítima.
São exemplos de violência física, ofensivas à integridade, as fraturas, fissuras,
escoriações, queimaduras, luxações, equimoses e hematomas. A ofensa à saúde
corporal, por sua vez, compreende as perturbações fisiológicas (desarranjo no
funcionamento de algum órgão do corpo humano) ou mentais (alteração prejudicial
da atividade cerebral). Como exemplos de crimes praticados com violência física,
podemos citar as diversas espécies de lesão corporal (CP, art. 129), o homicídio
(CP, art. 121) e até mesmo a contravenção penal de vias de fato (Dec.-Lei
nº3.688/41, art. 21). (Renato Brasileiro, 2020, 3° parágrafo, p.1256)
✔ A violência psicológica:
- dano emocional e diminuição da autoestima;
- prejuízo ou perturbação do desenvolvimento;
- degradação ou controle de ações.
✔ A violência sexual:
- constrangimento a presenciar, manter ou participar de relação sexual não
consentida.
✔ A violência patrimonial:
- retenção, subtração, destruição total ou parcial de bens da vítima.
✔ A violência moral :
- calúnia, difamação ou injúria
A última forma de violência prevista no art. 7° da Lei Maria da Penha é a moral,
conceituada como qualquer conduta que configure calúnia (imputar falsamente a
alguém fato definido como crime), difamação (imputar a alguém fato ofensivo à sua
reputação) ou injúria (ofender a dignidade ou o decoro de alguém). (Renato
Brasileiro, 2020, 2° parágrafo, p.1268)
A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não exige a
presença simultânea e cumulativa de todos os requisitos do art. 7°. Ou seja, para o
reconhecimento da violência contra a mulher, basta a presença alternativa de um
dos incisos do art. 7°, em combinação alternativa com um dos pressupostos do art.
5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou em qualquer relação íntima
de afeto). Logo, a violência doméstica e familiar contra a mulher estará configurada
tanto quando uma mulher for vítima de violência sexual no âmbito da unidade
doméstica, quando contra ela for perpetrada violência psicológica numa relação
íntima de afeto. (Renato Brasileiro, 2020, 4°,parágrafo, p,1265)
A grande característica das medidas integradas às vítimas é, exatamente, coibir
(prevenir, evitar) a violência doméstica e familiar.
Tais medidas integradas de prevenção buscam:
✔ integração entre as esferas (Judiciário, MP e Defensoria com segurança
pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação);
✔ atendimento policial especializado;
✔ campanhas educativas e de prevenção da violência doméstica e familiar; e
✔ capacitação permanente da rede de atuação.
possui registro de porte ou posse de arma de fogo; outras, no entanto, têm s ua
a autoridade policial, que deve
realização condicionada à discricionariedade d
determinar sua r ealização de acordo com as peculiaridades do caso concreto.
Exemplificando, se o crime não deixar vestígios, não haverá necessidade de se
proceder ao exame de corpo de delito. (Renato brasileiro, 2020, 6/ parágrafo,
p.1272,1273)
A assistência à mulher tem por objetivo atender àquelas que foram vítimas de
violência doméstica e familiar. Inclusive, tal atendimento ocorrerá no âmbito do:
✔ SUAS (Sistema Único de Assistência Social);
✔ SUS (Sistema Único de Saúde);
✔ Sistema Único de Segurança Pública.
Vale ressaltar que, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos
por hospitais e postos de saúde.
Vale frisar que as medidas protetivas de urgência são concedidas por decisão
judicial, a pedido da vítima ou do Ministério Público. A prisão preventiva, por sua vez,
pode ser decidida de ofício pelo magistrado e também requeridas pela vítima ou a
pedido Ministério Público.
A despeito de certa controvérsia na doutrina quanto a sua natureza jurídica, como o
próprio legislador se refere a elas como medidas protetivas de urgência, prevalece o
entendimento de que estamos diante de medidas cautelares. (Renato Brasileiro,
2020, 6º parágrafo, p.1286)
Medidas Protetivas de Urgência:
✔ necessidade de requerimento da vítima ou do membro do Ministério Público;
✔ determinação por decisão judicial no prazo de 48 horas;
✔ possibilidade de prisão preventiva do agressor.
Com o objetivo de coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
ue poderão
a Lei Maria da Penha elenca um rol de medidas protetivas de urgência q
ser adotadas não apenas em relação à pessoa do agressor (art. 22), mas também
quanto à ofendida (arts. 23 e 24). (Renato Brasileiro, 2020, 2° parágrafo, p.1286)
No que tange à autuação do Ministério Público na Lei em apreço, quando não for
parte, atuará como fiscal da ordem jurídica. Além disso, o membro do Ministério
Público poderá:
✔ requisitar força policial e serviços públicos;
✔ fiscalizar estabelecimentos públicos ou particulares de atendimento à mulher;
✔ cadastrar casos de violência.
Ademais alguns pontos da lei em apreço devem ser enfatizados, quais sejam:
● vedação à aplicação de penas de sexta básica ou outras de prestação
pecuniária;
● Previsão de crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência;
● Prisão preventiva;
● Possibilidade de concessão de fiança pela autoridade policial;
● Cumulação da competência civil e criminal por varas criminais;
● Inaplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais às infrações penais
praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher.
4. FEMINICÍDIO
Necessário por demais o seguinte esclarecimento: feminicídio não corresponde a
um tipo penal autônomo. Consiste, na verdade em uma qualificadora do tipo penal
homicídio. É dizer, femicídio é o homicídio doloso cometido contra a mulher por
razões da condição do sexo feminino
Trata-se de uma nova qualificadora do crime de homicídio que fora incluída pela Lei
n.13.104/2015.
A Lei 13.104/15 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 o feminicídio, entendido
como a morte de mulher em razão da condição do sexo feminino (leia-se, violência
de gênero quanto ao sexo). A incidência da qualificadora reclama situação de
violência, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão, praticada
por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade. (Rogério
Sanches Cunha, 2020, 5° parágrafo, p.61)
de ordem OBJETIVA - vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência
doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo,
ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar
o delito. STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
24/04/2018 (Info625).
Haverá lesão corporal leve qualificada pela violência doméstica, quando praticada
contra:
● ascendente, descendente, irmão→ não importa se o parentesco é legítimo ou
ilegítimo, nem se exige coabitação;
7, PSIQUIATRIA FORENSE
A denominação indica a aplicação dos conhecimentos e técnicas psiquiátricas aos
processos jurídicos, atentando, entre outras finalidades, para o comportamento dos
indivíduos com as outras pessoas na sociedade. (Delton, 2012, 1° parágrafo, p.746)
A Psicologia e a Psiquiatria Forense referem-se a ramos que estudam os limites e
as modificações da responsabilidade penal e da capacidade civil. Abordam, também,
as situações dos sujeitos que apresentam algum tipo de patologia mental.
A violência doméstica está entre as causas mais comuns de Transtorno de
Estresse Pós-traumático no sexo feminino. Nessa comorbidade, a paciente
apresenta sensação muito forte de estar, de alguma forma, revivendo o evento
traumático. Consequentemente, assume conduta evitativa e vive apatia emocional.
Nesse quadro dificuldade de concentração e insônia são esperadas.
O impacto de tipos distintos de abusos e de vários eventos durante um longo
período de tempo parece, realmente, ser cumulativo. O peso desses ataques e
coações somado à desesperança, atingem de forma tão nociva às mulheres, que
podem leva-las ao suicídio consumado.
8. PERITOS E PERÍCIAS
Dentre as funções do psiquiatra forense temos a avaliação pericial.
O psiquiatra, estando no papel de perito, nomeado pela autoridade do magistrado,
deve auxiliar a justiça, uma vez que é detentor de conhecimentos técnicos e
científicos nas áreas da medicina e do direito.
Define-se perícia médico-legal como um conjunto de procedimentos médicos e
técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da
Justiça. Ou como um ato pelo qual a autoridade procura conhecer, por meios
técnicos e científicos, a existência ou não de certos acontecimentos, capazes de
interferir na decisão de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem
ou que com ele tenha relação. (França, 2017,1° parágrafo, p.50)
A perícia psiquiátrica consiste num processo no qual o perito avalia um
determinado indivíduo. Assim o faz, periciando a partir das metodologias de
investigação psiquiátrica, objetivando esclarecer ao juiz, ou a qualquer outro agente
jurídico do caso, as questões do avaliado referentes à sua saúde mental.
Temos conceitos que são fundamentais no campo da psiquiatria forense, quais
sejam:
✔ Inimputabiliadade;
✔ Capacidade de entendimento;
✔ Capacidade de determinação.
maus tratos prévios, o consumo e o padrão de uso de álcool e/ou drogas, a história
conjugal de seus pais, sua visão sobre o relacionamento conjugal e o delito. Muitas
vezes, informações de terceiros confiáveis podem contribuir para checagem de
dados e melhor entendimento da conflitiva envolvida. (Taborda, 2016, 2° parágrafo,
p. 563)
Fundamento Legal:
✔ Entendimentos do STJ e do STF sobre a temática ;
✔ Art 6°, VII, CPP:
“determina, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias;
✔ Art. 158, caput, CPP:
“Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”;
✔ Art. 167, caput, CPP:
“Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
O exame de corpo de delito consiste numa prova pericial feita num conjunto de
vestígios deixados pela ação criminosa. Pode ser realizado a qualquer dia e horário.
Consoante o jurista Nucci (2008), em seu livro Código de Processo Penal
Comentado, o exame de corpo de delito é “a verificação da prova da existência do
crime, feita por peritos diretamente, ou por intermédio de outras evidências, quando
os vestígios ainda que materiais, desapareceram”.
Da inteligência do estudo do CPP pátrio, infere-se que a prova pericial pode ser
realizada de forma direta ou indireta.
Nesse sentido, necessária a distinção entre crimes não transeuntes e transeuntes.
A importância dessa classificação diz respeito à imperiosidade da realização do
exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígio (art. 158°, CPP).
Os delitos transeuntes não deixam vestígios. Por sua vez, os crimes não
transeuntes (ou de fato permanente) deixam vestígio material. Exemplos: homicídio
e lesão corporal contra a companheira/mulher.
Nos crimes não transeuntes, a falta de exame do corpo de delito leva à nulidade
da ação penal, salvo quando impossível a sua realização. Podemos, então, citar
como exemplo: cadáver não encontrado no delito de homicídio da cônjuge.
De acordo com o art. 6°, VII, CPP, temos que, dentre as diversas diligências a serem
determinadas pela autoridade policial, há a determinação de exame de corpo de
delito e de quaisquer outras perícias.
A prova técnica se faz obrigatória nas infrações que deixam vestígios (não
transeuntes), e sendo o caso, deverá ser determinada pela autoridade policial.
Portanto, nos crimes não transeuntes, a falta de exame de corpo de delito leva à
nulidade da ação penal, salvo quando impossível a sua realização. Podemos citar
como exemplo: cadáver não encontrado no delito de homicídio.
Infere-se da inteligência do art. 158, caput, CPP, qual seja: “quando a infração
deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
não podendo supri-lo a confissão do acusado”, a seguinte explanação: aqui estamos
a falar do exame de corpo de delito de modo direto, ou seja, quando os peritos têm
contato pessoalmente, diretamente com o objeto a ser periciado. Por exemplo: nos
crimes de lesões corporais o perito tem contato imediato com o corpo da vítima.
Com base no disposto do art. 158º, caput, do CPP, chega-se à seguinte conclusão:
quando o crime deixar vestígios, exige-se a realização do exame de corpo de delito,
tanto de forma direta, quanto de forma indireta (outros meios de prova, como por
exemplo, prova testemunhal). Inclusive, consoante previsto no art. 167º do CPP,
nem mesmo a confissão do investigado pode suprir a realização de tal exame.
Consequentemente, em razão do ora explanado, entende-se que a autoridade
policial não poderá negar a realização do exame de corpo de delito se o crime deixar
vestígios.
Dispõe o art. 167, caput, CPP: “não sendo possível o exame de corpo de delito, por
haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta”.
O exame de corpo de delito indireto será realizado quando inexistentes ou
desaparecerem os vestígios, através de outros meios de prova em direito admitidos.
O CPP (art. 158º, parágrafo único, incisos I e II) orienta no sentido de que seja
dada prioridade, à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime
que envolva violência doméstica e familiar contra a mulher ou contra criança,
adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
Vale a citação dos professores Nestor Távora e Fábio Roque Araújo, 2019, 3º
parágrafo, p. 68, qual seja:
Em atenção especial aos crimes de violência sexual, a Lei
nº 12.845/2013 dispõe sobre o atendimento obrigatório e
integral às vítimas desses delitos, consignando que, por
ocasião do atendimento nos hospitais do Sistema Único
de Saúde (SUS), o médico deverá preservar materiais que
possam ser coletados no exame médico legal. Prevê ainda
o diploma que cabe ao órgão de medicina legal o exame
de DNA para identificação do agressor. Trata-se de
O segredo de um bom laudo consiste numa descrição, por parte do perito, de tudo
aquilo que vê relatando as lesões encontradas, sejam elas correlacionadas ou não
ao evento em questão.
É fundamental que o profissional responsável pelo laudo nunca se esqueça que, da
mesma forma que os demais documentos médicos, o laudo será lido e analisado por
terceiros, que não, obrigatoriamente, detêm o mesmo nível de conhecimento técnico.
Seguindo nessa lógica, faz-se necessária uma descrição minuciosa dos detalhes
do exame físico no periciando. Ademais, para que se obtenha um laudo médico a
contento, precisa-se de rigor técnico e científico, coerência e clareza, objetividade e,
não menos importante, boa legibilidade.
A realização de uma perícia planejada e minuciosa torna-se, ainda mais importante
nos casos de feminicídios (tentados e consumados), uma vez que tal documento
será apresentado ao Tribunal do Júri, onde ocorre os julgamentos feitos por
indivíduos leigos no que tange ao direito e à medicina.
Mantendo-se nessa linha de pensamento, temos que, uma boa prova técnica pode
sim ser decisiva, sendo, inclusive, capaz de refletir e demonstrar a gravidade do
caso sob júdice.
11. CONCLUSÃO
A tese de que o ambiente familiar com suas ligações afetivas protegeria seus
membros mais vulneráveis tem se mostrado, infelizmente, equivocada. O que
percebemos, são consequências nefastas oriundas da violência doméstica que
acarretam a saúde física e emocional das mulheres e o bem-estar dos filhos.
A violência doméstica contém múltiplas interferências em diversos campos
distintos, tais como: social, legal, médico e cultural. Dessa forma, exige-se, no seu
enfrentamento, uma abordagem transdisciplinar, com o intuito de se obter resultados
um tanto quanto mais favoráveis às vítimas, ao grupo familiar e à sociedade como
um todo.
Nesse diapasão, deve haver uma busca incessante por programas sócioculturais
com abrangência o mais ampla possível, visando sempre abarcar não só a ofendida,
mas também o abusador e os outros componentes da família.
É primordial, para o devido enfrentamento da violência doméstica contra a mulher,
que haja a responsabilização e, consequente punição do agressor.
Nesse contexto, surge a importância da psiquiatria forense, senão vejamos: o laudo
médico pericial será tomado como guia, nas lides judiciais, servindo como mais um
elemento influenciador no que se refere à sentença judicial.
Numa avaliação psiquiátrica forense, o perito médico irá verificar se há ou não
transtorno mental por parte do agente criminoso, o nexo causal do fato que ocorrera
e o grau de risco provável de uma recidiva delitiva.
Frequentemente, nos crimes dessa natureza, há uma lacuna de tempo entre o
evento e o exame pericial. Portanto, é fundamental um conhecimento técnico
aprofundado nos campos da medicina e do direito.
Considerando a complexidade das análises e reflexões psicológicas e psiquiátricas
nos casos de violência doméstica, é imprescindível que haja uma avaliação
qualificada e multidisciplinar.
É oportuno destacar a relevância do diagnóstico precoce dos crimes em apreço, no
sentido de atingir, ao máximo, a redução de danos físicos, psicológicos e sociais.
No tocante ao combate da violência doméstica contra a mulher é fundamental que
o poder público invista na estrutura de órgãos específicos pra a finalidade em
comento e também no acolhimento às vítimas.
O aprimoramento, por parte da administração pública, no Sistema de Justiça, no
que tange o delito criminoso em apreço, é de suma importância. Tal intervenção
estatal tem por finalidade evitar que a violência doméstica e familiar se perpetue.
Assim o fazendo, estará agindo na prevenção, inclusive, do próprio crime contra a
vida da mulher (feminicídio).
Certamente, há de haver, urgentemente mais políticas públicas com foco não
apenas no combate à violência per si, mas também voltadas, de forma considerável,
ao estímulo necessário para se atingir o empoderamento econômico e o
empreendedorismo do sexo feminino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS