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Escuro
(Tradução do original em inglês por Aruna Chela) Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Sumário
Introdução ............................................................................................................................................... 3
A experiência ........................................................................................................................................... 5
Luz e Sombra ............................................................................................................................................ 6
O Caminho Direto ..................................................................................................................................... 8
A mente Calma ....................................................................................................................................... 10
Para que você veio para aqui? ................................................................................................................ 12
Quem é o Meditador? ............................................................................................................................ 13
Deixe de se importar com a libertação ................................................................................................... 15
O poder da mente .................................................................................................................................. 17
O esforço é seu ....................................................................................................................................... 19
Desvendando a graça ............................................................................................................................. 21
Convivência com os Sábios ..................................................................................................................... 23
Deixe que a Prática faça seu Trabalho .................................................................................................... 25
Pode a pessoa meditar o tempo todo? ................................................................................................... 27
Tudo é adoração..................................................................................................................................... 29
Será somente um trabalho de cozinha? .................................................................................................. 30
Qual a razão da vida? ............................................................................................................................. 32
Os deslumbradores da mente ................................................................................................................. 34
O Progresso do peregrino ....................................................................................................................... 36
Devemos rezar?...................................................................................................................................... 38
Sonhos ................................................................................................................................................... 40
A vida pode se extinguir? ....................................................................................................................... 42
Somos livres? ......................................................................................................................................... 44
Pensamentos e felicidade ....................................................................................................................... 46
Quem disse que o guru não é necessário? .............................................................................................. 48
Viagem ao Interior ................................................................................................................................. 50
A presença ............................................................................................................................................. 52
Deixe surgir um exército de pensamentos .............................................................................................. 55
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A.R. Natarajan
atraídos por um impulso interior e estamos certos de que a descobriremos; tão certos como o
rio encontrará o oceano. Mas frequentemente desviamos-nos para outras pastagens, arrastados
por nosso passado, compelidos por aquilo que tomamos como meios para atingir a felicidade.
A pessoa tem que se lembrar que qualquer experiência é possível somente na extensão
daquilo que se criou condições para tal. O espaço mental se cria ao se remover a carga do
passado. Toda vida se renova ao se alijar do passado. As árvores que se acham totalmente
desfolhadas no inverno, enchem-se de rica folhagem verde no verão. Por quê? Simplesmente
por que as folhas mortas caíram para dar lugar à vida exuberante através das folhas frescas.
Por que nos apegamos ao passado, às memórias das experiências que vieram e foram
que não tem significado quando terminaram? Por que ficamos tão amedrontados pelo fato de
vivermos totalmente no presente, se nos afastarmos dele ao dirigir a atenção ao passado e ao
futuro?
A resposta parece clara. Temos medo de perder o que sabemos em troca daquilo que
ignoramos. A experiência das alegrias e tristezas provenientes da mente exteriorizada acha-se
em nosso campo de conhecimento. Conhecemos muito pouco sobre a extensão e profundidade
de uma mente firmemente ancorada em sua raiz, de uma vida onde a mente se acha mergulhada
no coração. É precisamente aqui que o Satguru Ramana se situa. Tendo assumido a forma
humana, ele dirigiu corretamente sua mente para o interior por meio do poder de seu sólido
conhecimento. Muitos viriam a sua presença com as mentes excitadas, apenas por necessitar,
urgentemente, de paz e descansar a mente. Isto poderia acontecer durante a noite, após a
recitação dos Vedas quando o poder do silêncio de Ramana se irradiava ou simplesmente
acontecia por meio de um furtivo olhar do mestre.
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Infelizmente jamais permitiremos que ele faça todo serviço. A mente amedrontada
enviará seu SOS Como Ramana declarou ao Major Chadwick, enquanto a pessoa não tem um
conhecimento melhor, enquanto se é inconsciente da experiência da vida unitária, o medo
certamente mostrará sua presença. A solução mais evidente é o uso do remédio que consiste
em mergulhar no seu íntimo permitindo que se saboreie uma vida de real doçura.
Alguns se queixam de que a experiência que tiveram na presença do mestre durou apenas
poucos dias ou no máximo um par de meses após terem retornado a sua rotina habitual.
Ramana não os encorajava neste tipo de idéia, por que o que é natural é capaz de ser encontrado
onde quer que se esteja. O que se requer é a prática. Prática persistente, prática incansável, que
expressará a medida de nossa fé nas palavras do Satguru Ramana. Ele encorajaria ao lembrar
de modo gentil à universalidade de sua presença, ele acentuaria que “os pés de Bhagavan
acham-se em toda parte e onde você os encontraria a não ser a seus pés?”. Ele daria uma
mensagem como fez à senhora Merston esclarecendo que ela levaria o mestre em seu coração
mesmo que se ausentasse do Ramanashram e voltasse para Londres. O que ele disse para ela
é igualmente válido para cada um de nós.
Sendo o “vigilante do céu” suas mãos abertas estão disponíveis para sustentar a
constância da prática.
Mas existe o problema da intermitência em relação à experiência da mente introvertida,
por causa da inabilidade para interiorizá-la de modo firme, esta torna a se exteriorizar.
O problema referente ao extravio da mente, entretanto, não deve nos perturbar, uma vez
que a experiência de permanecer interiorizado é sentida, tudo o mais se torna insignificante. A
pessoa é inclinada a retornar à interiorização face à alegria proporcionada pela auto-indagação,
ou perceber por si, mesma, o que é descrito e elaborado nas escrituras. Se a pessoa está
preparada a se tornar “alimento” do Satguru, a perceber a amplitude da consciência, então
nada pode impedir a perda da individualidade e a descoberta do universal. A afirmação das
escrituras de que a felicidade é o substrato de toda a vida torna-se uma realidade. A pessoa fica
sempre mergulhada na bem aventurança.
Esta preocupação surge face ao fracasso em obter um domínio sobre a mente, após anos de
prática. A batalha a fim de fixar um único pensamento parece tão difícil se não mais difícil do
que a luta pela vida com todas as suas cicatrizes e ferimentos.
A resposta de Ramana dependia do questionador, pois aquilo que a pessoa deveria
pensar seriamente, e o que deveria praticar, estava na dependência de sua bagagem individual
e de seu amadurecimento espiritual. Um dos métodos poderia ser fácil para uma pessoa e outro
para outra pessoa. Aqueles que se inclinavam para assuntos de reforma e trabalho social
Ramana a recomendava, mas sempre sublinhando que deveria ser executado de modo
inegoísta.
Neste caso a mente tornar-se-ia pura e pronta para dedicar-se à meta espiritual. Aqueles
que acreditavam na eficácia do sagrado nome de Deus, Ramana costumava ler a história de
Namdev ou narrava à lenda de Turakam, cujo corpo todo cantou o nome de Rama quando foi
forçado a se calar. Um simples camponês dotado de fé inquebrantável poderia ser instruído a
repetir o nome sagrado: “Shiva”, “Shiva”.
Ramana não só esclarecia as dúvidas dos eruditos, mas também os lembraria que toda
leitura em última análise representa desconhecimento, uma vez que a verdade transcende todos
os pares de opostos. Assim cada pessoa era, gentilmente, conduzida no caminho sem que se
interferisse em sua fé mas, ao mesmo tempo, seria orientada para o mergulho em seu interior.
Ramana jamais se omitia em enfatizar que a última maneira de obter o controle da mente
era compreendê-la. O caminho direto consiste em descobrir sua natureza. Ao se praticar a auto-
indagação junto à fonte da mente, a verdade é revelada. Tendo dito isto, Ramana não permite
que a pessoa procure adivinhar ou conjecturar a respeito do que é a mente e envolver-se num
mundo de conceitos. Ao se refletir sobre a luz emanada de Ramana em relação à mente, a
pessoa conclui que o que se pode dizer é que consiste em dois tipos de pensamento: o “eu-
pensamento” e “outros pensamentos”.
O “eu-pensamento”, o sentido de individualidade, reflete a consciência ou inteligência,
pois brota da fonte da consciência, o coração. É “chith”, inteligência, a porção luminosa da
mente referida por Ramana a respeito do que estamos tratando.
Os “outros pensamentos”, entretanto, são na realidade as impressões do passado que
tentam se fixar atraindo a atenção da pessoa, eles constituem o lado obscuro da mente.
O primeiro passo deverá ser então o de se aprender a separar a consciência do eu-
pensamento da referente aos outros pensamentos, isto se obtém quando a atenção da mente não
é dirigida a outros pensamentos. Estes últimos não podem sobreviver na ausência desta
atenção.
O melhor é manter constantemente este propósito em mente. A obtenção do controle
mental culmina com a utilização total do poder dinâmico da mente.
É a única energia que nos é disponível e operaremos com ela durante o estado de vigília.
Entretanto somos incapazes de operá-la em todo seu potencial porque a energia da mente é
gasta e desperdiçada em conseqüência dos infindáveis pensamentos. Há muitos pensamentos
que não desejamos, mas, pelo fato de termos dado atenção a eles no passado, sua tendência
ainda persiste. Além disso, somos frequentemente indulgentes em relação a pensamentos que
ás vezes nos induzem a ações, as quais, por sua vez, nos despertam sentimentos de culpa e
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remorso. O pensamento que se deseja atrai o pensamento que não se quer. Assim a solução
consiste em encontrar uma técnica, um método, que nos livre do ataque dos pensamentos que
não pretendemos entreter.
Embora tal desejo seja apenas natural, há uma falácia em desprezar certos pensamentos
e, ao menos tempo, aderir a outros, por isso Ramana rotula todos os pensamentos como algo
lastimável. Todos estão no mesmo nível. A tentativa de escolher uns pensamentos e não outros
nos levará ao problema de fixar uns e evitar outros. Esses esforços são fadados ao fracasso por
que estamos martelando em vão sobre o que pode ser considerada a parte não consciente da
mente atuando sobre pensamentos são inerentes ao Eu-pensamento. O esforço será mal dirigido
e deverá ser orientado para o interior, junto à consciência do Eu-pensamento.
A respeito disso Ramana adverte ao pensador que em relação aos pensamentos, bons,
maus ou indiferentes deve ser dado o mesmo tratamento, a mesma indiferença, a mesma
desatenção. O lugar dos pensamentos é a lixeira, pois pertencem a um monte de lixo.
Por que dar-lhes vida? Porque deixar que eles brotem ao permitir que a parte consciente
da mente se fixe neles?
Uma vez que a atenção exclusiva do pensador é tudo o que importa, a pessoa deve
necessariamente aprender os meios através dos quais pode fixar a parte consciente da mente.
Quando a pessoa indaga junto à fonte deste sentido de individualidade, a mente adquire força
para permanecer interiorizada. Como resultado disso, refletirá a consciência em toda sua
pujança. Assim a obscuridade da mente sob a forma de pensamentos que são puramente
psicológicos e destituídos de necessidade funcional, será dissipada. A pura luz da mente assim
liberta estará capacitada a exercer qualquer atividade com perfeição.
admirado, na beleza e habilidade do artista em modelar os diferentes adornos obtidos com ele.
O açúcar é visto nas bonecas feitas de açúcar e não nas belas formas que apresentam e assim
por diante. A atenção não se prende às formas razão porque é impossível ver o panorama geral.
Contrapondo-se a mente exteriorizada vê apenas diferença, variedade infindável variação e se
perde nela, se distrai por uma coisa ou outra que lhe cause fascínio. Certamente, tal como uma
criança se interessa por diferentes brinquedos por pequeno espaço de tempo. Quanto menos a
mente torna-se consciente do que representa permanecer interiorizada, mais se tornará vítima
de mil e uma distrações.
Alguém poderá dizer que o controle das distrações é o que temos que aprender se
quisermos obter algum progresso em direção ao coração.
O método de Ramana é certamente o de fixar aquele que é distraído. Ao focalizar a
atenção no centro da distração a pessoa está apta a sitiar a fortaleza das suas tendências, à
medida que cada pensamento surja. A questão é perguntar a quem estes ocorreram afim de pô-
los em fuga. Se a pessoa aguarda com atenção ao aparecimento do próximo inimigo este poderá
ser atacado da mesma forma. O gradual e contínuo fortalecimento da mente capacita a
pessoa, pouco a pouco, a permanecer sem distração e a voltar à sua fonte. Ramana compara o
progresso ao cerco da fortaleza do inimigo que se conquista ao eliminar um por um seus
elementos à medida que saem dela.
Embora a auto-vigilância não seja mera negação dos pensamentos, iniciá-la na prática
frequentemente significa questionar cada pensamento à medida que surge com objetivo de
negar a ele o poder de desviar a pessoa do seu Eu.
Neste processo de voltar para o coração, a pessoa é bem-vinda e deve utilizar qualquer
simples arma de seu arsenal para tanto.
A meta é por demais importante para deixá-la escapar em conseqüência dos nossos
desleixos e preconceitos. Inicialmente, ou quando a mente é fraca, é bom se praticar a
vigilância da respiração. É o que Ramana chama de “sedativo natural”. Quando a atenção se
fixa na respiração, na vida-energia, a mente não tem meios para correr atrás dos objetos
externos de sua preferência. A vantagem que se ganha é utilizada inteiramente no sentido de
empurrar a mente para o interior. Bem, se a palavra é importante para você, se o livro sobre a
vida do Sadguru Ramana ou seus ensinamentos servirem para unidirecioná-lo, use-os. Ou se
o som da música ou ritmo da dança que cerca Ramana, também servirem, use-os. Permanecer
interiorizado é o que importa e para isso qualquer caminho, ou melhor, ainda, uma combinação
de caminhos é útil. Isto por que somente o céu sabe a peculiaridade de cada mente humana e a
variedade de suas naturais inclinações.
A pessoa deverá ter um forte desejo de se fixar no coração e sentir necessidade dele, tão
intensamente quanto uma criança anseia pela barra da saia da mãe. O poder do desejo deve ser
a força motivadora que porá um fim, de um só golpe, a todas as disputas e restrições sobre se
um ou outro caminho é o correto.
Se a pessoa se fixa no interior e se é capaz de lá permanecer por muitos e muitos
períodos, então pode estar segura de estar palmilhando o caminho correto. Então Ramana é
realmente o verdadeiro timoneiro.
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escrever a obra. Qual é a utilidade disso? Poderiam eles conduzir à realização do Eu? O
“Vichara Sangraha” é prenhe de lógica e termos técnicos, será que estes pesados volumes
têm alguma serventia? Uma outra diversão preferida pelos devotos relacionava-se a seu
interesse pelo passado. Queriam saber ser era possível saber a respeito do passado e também
sobre os acontecimentos futuros e se era possível predizê-los. Os indagadores não parariam
para pensar quão fútil é desenterrar as cinzas do passado ou mirar na bola de cristal para prever
o futuro. Isto por que tal interesse apenas faz distrair a atenção do presente que é o que
interessa. Quando alguém perguntou a Ramana sobre o relato de Paul Brunton em seu livro
“Uma Hermida nos Himalaias”; no qual conta que os sábios daquele lugar podiam se lembrar
das encarnações passadas, o mestre obtemperou: ”O fardo do passado origina a miséria do
presente”. É a memória – Vasanas – que ocasionaram este renascimento e é a raiz da divisão
da mente, seus embates e aflições.
O objetivo da auto-indagação é precisamente cortar estas tendências pela raiz. É estranho
que os desvios do caminho espiritual pareçam exercer maior atração para nós do que a real
vereda da auto-indagação.
Aquilo sobre o qual estamos tratando refere-se à tirania dos pensamentos sem propósito.
A menos que os pensamentos sejam contidos num feixe apertado, a mente continuará voando
de um pensamento para outro. É inútil por que eles não orientam a mente a se direcionar numa
só corrente de pensamento. Se algum progresso deve ser feito no caminho espiritual, não existe
outra alternativa, a não ser eliminar este desperdício. Isto será possível se permanecermos
alerta contra o interesse em assuntos estranhos os quais estão constantemente minando nossa
dedicação à auto-indagação. No início, é claro, existe um trabalho, aparentemente
interminável, de rejeitar os pensamentos e fixar atenção no “eu”. A analogia que Ramana deu
a seu atendente Rangaswami elucidou claramente este assunto. Havia um ninho de esquilos
no teto logo acima do divã de Bhagavan, um gato havia comido a mãe dos pequenos esquilos
e por isso o mestre assumiu a responsabilidade de zelar por eles. Ele disse: - estes pequeninos
não sabem que a sabedoria é permanecer no ninho. Todo problema está fora dele, mesmo assim
não conseguem lá permanecer. Do mesmo modo se a mente não se exterioriza, mas permanece
mergulhada no coração haverá felicidade. Quando Rangaswami indagou a Ramana qual o
meio de se obter isso, este retrucou: - “é exatamente o mesmo que estou fazendo agora, cada
vez que um pequeno esquilo sai do ninho eu o recoloco lá, até que ele realiza que a felicidade
reside em permanecer nele”.
Á medida que a pessoa aprende a fixar mais e mais a atenção no “Eu” não será necessário
se preocupar com os pensamentos. A mente fortalecida pela auto-indagação (quem sou eu?) se
interiorizará rapidamente. Assim, essas questões periféricas relativas a assuntos redundantes e
de seco intelectualismo cairão por terra como fruta madura de uma árvore. A meditação será,
então, de puro gozo. De início o tempo que se reservará para isso será o dos intervalos ociosos,
depois o do horário de trabalho, até que todo o tempo se torne tempo meditativo.
Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Um ponto vital, que requer seja enfatizado, relaciona-se com a atenção que o “Eu” possa
prestar aos outros pensamentos e caso isso não aconteça eles simplesmente morrerão por serem
negligenciados. Eles não estão no horizonte da mente. É por causa disso que as variações no
conteúdo da mente se instalam. Para ilustrar isso tomemos o estado de vigília. Neste caso a
atenção recaí sobre os pensamentos que se requer para aprontar-se para o trabalho diário e
aqueles que se seguem correlatos com a tarefa imediata. A atenção por sua vez poderá entregar-
se a pensamentos relacionados à recreação, diversão e assim por diante. Quando a atenção do
“Eu” não se dirige a eles, estes outros pensamentos retrocedem para um segundo plano e terão
que esperar a atenção do “Eu” de modo a aflorarem novamente.
Ver-se-à da análise da natureza da mente que o que importa é o “eu-pensamento”. O
restante dos pensamentos, sendo dependentes dele, podem ser sem dúvida, ignorados.
Por que este “eu-pensamento” é tão importante? Alguém pode perguntar. Por que o
aspecto “Eu sou” dele é puro reflexo da consciência da qual brota. Por isso ele ilumina o que
quer que se dirija a atenção. Quando sua atenção se fixa em si mesmo ele carreia a pessoa de
volta àquela plenitude da qual se originou. Se pudermos nos firmar somente no imo deste “eu-
pensamento”, nossa atenção permanecerá na essência da mente e o aturdimento causado pela
atenção dada aos outros pensamentos terminará. Por isso Ramana neste caso sugere que
devamos indagar quem é o meditador e permanecer como este último. Perguntar quem é o
meditador é o “quem sou eu?” inquirido de outra forma. É a primeira questão a ser feita, pois
é a mais importante. A necessidade de mais perguntas surgirá se a atenção for desviada do
meditador para os objetos de seu interesse.
Alguns devotos poderão queixar-se á Ramana declarando que volver a atenção para si
mesmo é difícil, pois não existe nada de concreto sobre o qual se possa meditar. Ramana
observará que este tipo de problema surge por que nosso profundo apego às formas é que torna
um objeto de meditação uma necessidade imperiosa. Atualmente a meditação não objetiva, ou
auto-indagação sobre o sujeito é o método mais fácil. A falta de familiaridade e a inexperiência
darão uma impressão diferente. Se, no entanto, através do esforço persistente, a atenção é
desviada do objeto para o sujeito, o gozo experimentado pela mente introvertida inclinará à
pessoa para a jornada interior. Ligando-se ao “Eu”, ao meditador, de modo consciente, desvia-
se a mente exteriorizada para o interior. Se neste estágio a pessoa puder evitar o sono ou não
retroceder para os pensamentos, a mente mergulha em sua fonte. O meditador, ou seja, o
separado “Eu-pensamento” se perde na plenitude da existência.
Deixe de se importar com a libertação Formatado: Fonte:16 pt, Sem sublinhado, Cor da fonte:
Texto 1
Formatado: Título 1, Esquerda, Recuar: Primeira linha: 0 cm
Maharshi – quando vem aqui algumas pessoas não falam a respeito de si mesmas. Elas inda- Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
Escuro
gam: “O sábio que se liberta enquanto encarnado (jivan-mukta) vê o mundo”? Ele é afetado
Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
pelo karma? Que é libertação após seu desencarne? A pessoa é libertada apenas após o
desencarne ou mesmo durante a vida física? O corpo do sábio se dissolve em luz ou desaparece
da vista de todos de outro modo? Pode ele ser libertado a apesar de o corpo jazer abandonado
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como um cadáver? Nestes casos eu lhes digo: “Deixe de se preocupar com a libertação. Existe
escravidão”? Aprendam isso. Descubram a si mesmos e verão depois. (Diálogos)
deveria ser intensificado a fim de levar a pessoa ao estado de Ser. O que é que a pessoa deve
fazer a fim de chegar ao estado que revela a verdade? O erro comum é supor que devemos
negar os pensamentos. É certo que esses esforços para negar os pensamentos são “frustrados
pela própria tentativa”. Toda negação tem um efeito oposto na mente. Persuadir a mente a não
pensar em determinada coisa é o meio mais certa de mantê-la nele. Bhagavan ilustra isso com
a história do médico que avisou ao paciente para tomar o remédio receitado com uma condição,
ou seja, que não deveria pensar em macaco no momento de ingeri-lo. O mestre ponderou que
nunca o paciente tomaria o remédio, pois como faria se tentasse evitar que o pensamento
surgisse?
Portanto Ramana sugere a abordagem positiva que constitui em prestar atenção à
consciência que se acha atrás do ego. Todos os pensamentos começam com o pensamento “eu
sou isto e aquilo”. A atenção ao primeiro pensamento dirigirá, por sua vez, a atenção ao “Eu
sou” que vitaliza a mente. Embora no início a prática comece com uma “sutil vigilância contra
os pensamentos intrusos”, gradualmente a pessoa se torna consciente da consciência por trás
do individual. Com a prática o buscador é atraído para o interior e é “engolido vivo” pela
plenitude da consciência. Refrescado pelo mergulho na consciência, e mesmo que se depare
novamente com a reação em sentido contrário exercida pela mente, o indivíduo não se sente
feliz. A experiência força a pessoa a buscar mais e mais esse mergulho. “Aquilo que foi
experimentado e conhecido, de modo repetido, como sendo a realidade não pode mais ser
negado ou esquecido. Aquilo que é confere a força constante para perseverar”. A experiência Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
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deste estado torna-se gradualmente firme. Então o conhecimento mostra que o indivíduo Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
sempre esteve liberto e jamais foi escravizado.
Aqui encontramos uma afirmação de Ramana do poder da mente. Isto porque o poder
dos pensamentos é um reflexo do poder do próprio Eu (Divino). A luz da consciência se projeta
no individual, o pensador, e os pensamentos derivam seu poder dela. Quando a mente não é
fraca, quando não é dispersa, torna-se o mais poderoso instrumento. Nada se mostra como
barreira a esta mente. Um antigo morador do Ramanasraman, o Major Chadwick, escreveu
sobre o poder de um intenso desejo. Em sua carta a Dilip Kumar Roy ele diz que um “ajnani”
costumava dizer a seu amigo que se ele desejasse a auto-realização não deveria morrer até que
atingisse seu objetivo. Este é de fato o poder da mente. Daí a responsabilidade de canalizar o Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
Escuro
poder da mente de forma apropriada, na linha Dharmica, nos moldes que leve a pessoa à Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
libertação. Como Ramana se expressa “deve ser um desejo auspicioso, subechcha”. É
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desnecessário dizer que os pensamentos podem cair na mira dos apegos ou cortar esses laços
em sua própria raiz. Liberdade e escravidão são apenas idéias mentais.
Parece estranho que apesar de nosso anseio em se orientar para um estado em que a
mente é destruída, a única arma de que dispomos é a própria mente. Destruir a mente pela
mente só se torna possível com sua purificação. Gradualmente e à medida que seu conteúdo
sattvico aumente e as tendências são corroídas através da meditação, seja por ações dedicadas
a Deus, ou pela auto-indagação, a jornada espiritual torna-se suave. O afastamento da fonte
torna-se cada vez menor e a exteriorização da mente decresce.
Desta forma cada um pode prontamente perceber o significado do anseio, do intenso
anseio para palmilhar o caminho da sabedoria. Segue-se logicamente que devemos dar atenção
aos fatores que possam corroer esse entusiasmo. Há sempre o medo de não termos sucesso ou
obtê-lo demasiado rápido. “Será que nossas tentativas certamente terão êxito?” Esta é a dúvida.
A começar com Natanananda esta é a garantia que muitos outros discípulos obtiveram de
Ramana. É sobejamente fácil entender este medo e sua conseqüente ansiedade, por isso nossa
mente necessita de orientação. O argumento de Ramana invariavelmente revela que a “a
realização é nossa natureza e não há lugar para dúvida”. Em outras palavras ele diria que o
indivíduo já está realizado e o que necessita é apenas erradicar os fatores que velam esse
conhecimento, portanto a pessoa pode não só ser otimista a respeito do resultado, mas também
estar certa do sucesso desde que seja constante em sua prática espiritual. Por que esta condição?
Simplesmente por que a prática torna a mente suficientemente forte para impedir e afogar o
desejo além de incrementar o anseio em conscientizar-se da verdade sobre o “Eu”.
Vejamos o que acontece na prática. Após algum tempo a pessoa se sente desanimada e
perde o vigor do entusiasmo inicial. Ao invés de prazerosamente prosseguir no caminho
espiritual, tal como Ramana sugeriu em sua “Canção appalam”, nota-se a pouco e pouco a
aproximação de uma inércia que se infiltra na pessoa. A fim de combater isso Ramana assegura
a eficácia do mantrã, do nome do senhor, da forma e, é evidente, da auto-indagação que devem
ser lembrados. Por que usar estes poderes? É claro que tem por objetivo tornar a mente
unidirecionada a fim de erradicar as tendências latentes. “A pessoa deve praticar um mantrã
ou entregar-se a Deus e aguardar sua graça.” O indivíduo não deve agir como os devotos de
Kumbakonam cuja visita ao Ashram foi anotada por Santhamma. Esses visitantes estavam
desesperadamente apressados a fim de tomar o trem cujas passagens haviam reservado. No
intervalo entre sua chegada e o horário da partida do trem eles importunaram Ramana para
que rapidamente lhes conferisse os frutos da prática espiritual. Eles solicitaram que Ramana
se apressasse em sua ajuda de modo a que não perdessem o trem. Pura imaginação, pois
Ramana mostraria a necessidade de “paciência e mais paciência”. Isto por que ninguém pode
dizer quando o tenaz e intenso esforço espiritual irá frutificar.
Parece estranho, embora real, que sempre estamos prontos a reconhecer o fator tempo
nos acontecimentos comuns da vida, como por exemplo: os fatos de o nascimento de uma
criança ocorrer após nove meses de uma gravidez, ou que as plantas darão flores após certo
período ou que certas árvores darão frutos após certos anos, entretanto, no tocante à prática
espiritual, permitimos que a impaciência e a inquietação ganhem terreno. Alguns neófitos
tentam avançar mais rápido redobrando seus esforços para os quais não estão preparados. Em
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caminho. Mas para que um auxílio seja efetivo é necessário o esforço do discípulo. Seu esforço Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
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é condição sine qua non"É você quem deve ver o sol. Podem os óculos e o sol verem por você? Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Você mesmo deve ver sua natureza.” (Diálogos)
A vida espiritual é uma interação entre a graça e o esforço. Quais são seus papeis
relativos para o sucesso da empreitada espiritual? Vemos que Maharshi enfatiza em todas as
oportunidades o valor do esforço vigilante e contínuo. A razão para isso não está longe de ser
percebida, pois cada um está “mergulhado na graça até o pescoço”.
Um aspirante espiritual pode estar seguro de uma coisa: a graça do satguru é algo
constante. Não há necessidade de ser solicitada, pois está sempre sendo oferecida sem ser
pedida. Ainda assim encontramos devotos rogando a Ramana pela graça e solicitando Dele
repetidas garantias de que a receberiam. A pessoa não é consciente do modo como que opera
a graça. O Major Chadwick certa vez perguntou a Ramana por que não percebia qualquer
mudança nele apesar da proximidade física do mestre como morador do ashram, Ramana
acentuou que “embora a mudança indubitavelmente exista não é percebida porque não é
mensurável”. A graça do guru está sempre presente auxiliando na manutenção e esforço da
vivência espiritual. Não pode estar presente em certas ocasiões e ausente em outras, pois é
“dirigida” pelo satguru, cuja verdadeira natureza é a graça. Pode-se dizer que a pessoa pode
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receber o impacto da revigorante graça da Ramana que estende proteção e guia nos momentos
de desespero e em qualquer situação que se apresente ao indivíduo.
Como a graça está sempre disponível em quantidade abundante para aqueles que se
acham ligados a um satguru, o que deve ser focalizado é o esforço requerido por parte do
discípulo, ou seja, o outro fator na busca da verdade. É apenas através do esforço, através da
meditação, através da auto-indagação que a pessoa desperta para o fluir da graça. Desse modo
Ramana diz que a graça é concedida apenas àqueles que empregam o necessário esforço. A
graça está sempre ativa para eles.
Se não se faz a “vichara”, a graça torna-se inativa. Mais uma vez deve-se enfatizar a
necessidade de praticar o “método de Ramana” porque o que importa é cada um experimentar
o estado natural de beatitude e permanecer firmemente nele. Essa experiência deve ser
conquistada através de dura prática. Deus embora seja mais “bondoso que a mãe de cada um”
não o mima com a experiência. Alguém poderá perguntar: por que somente para aqueles que
abdicaram sua volição individual é que o satuguru os assume completamente? Estas pessoas
são raras. Isto porque a maioria das ações são executadas com um forte sentido de autoria.
Enquanto a pessoa atue com um sentimento de que o importante é o esforço individual, a
responsabilidade de encontrar a verdade repousa inteiramente nela. De fato estamos
constantemente engajados em alguma ação ou outra, de vez que nossa irrequieta natureza
nunca nos deixa relaxar em paz. Pode-se dizer que Ramana está apenas dirigindo nossa
atenção para a necessidade de empregar o poder de nossa vontade da melhor maneira possível,
ou seja, para descobrir o estado natural.
Considerando que o esforço é da maior importância, Ramana gentilmente remove todo
o desânimo sob a forma de pensamentos negativos. A primeira coisa a ser superada é a repetida
expressão de medo de que a pessoa não é merecedora de trilhar o caminho espiritual por estar
envolvida no tumulto do dia-a-dia. Ramana incentivava a superar essa falsa noção. Ele frisava
que, se a pessoa se mantiver firme na meditação, mesmo que seja por certo tempo, a vida não
mais se tornará uma luta e as preocupações desaparecerão. A atmosfera mental do indivíduo
durante sua atividade mudará quando a paz gerada pela meditação é sentida como fundo de
pano do trabalho. Isto acontece quando nossa natureza meditativa se desenvolve mais e mais.
A segunda barreira de ordem negativa contra a qual a pessoa tem que enfrentar refere-
se à impressão de que a vida espiritual é muito árdua e por isso não vale a pena tentar. Mais
uma vez Ramana usa todo seu empenho a fim de afastar essas idéias e conseqüentes
obstáculos. Quando alguém perguntou à Ramana se se deve abandonar a luxúria e o ódio, este
respondeu jocosamente: “elimine os pensamentos e não haverá necessidade de eliminar mais
nada”. Aqui a pessoa deve se lembrar que no “método de Ramana” não terá de eliminar os
velhos hábitos e pensamentos um a um. Eles secarão quando, através da atenção dirigida a
pessoa, aprender a se descartar deles e permanecer na fonte.
Isto leva a pessoa ao resultado básico do esforço sobre o qual Ramana fala. O esforço
aqui mencionado se refere à identificação com o “eu-pensamento” e desviar-se das
distrações determinadas por outros pensamentos. A mente tem que unificar-se pela prática. A
atenção atualmente dada aos outros pensamentos pelo ego deve ser desviada para o interior,
21
ou seja, “vendo a mente com a mente”. A atenção deve ser mantida até que a paz, a paz
consciente, prevaleça.
Alguém pode perguntar: “durante quanto tempo o esforço é necessário?” Enquanto a
mente estiver exteriorizada. Até este momento, como a mente não adquiriu força para
permanecer mergulhada no coração, o esforço é imprescindível. Outra pessoa poderia alegar
que,ao longo da caminhada a mente experimenta a paz e a contemplação do estado natural.
Então como Ramana disse a Cohen: a pessoa deveria aprender a suspender a atitude positiva
que se requer para o esforço. A consciência por trás da mente assumirá o controle e a
necessidade de esforço cessará. Neste caso deve ter chegado ao destino, ao estado natural.
que o guru não está estendendo sua proteção em todos os sentidos. Outro devoto, de nome
Eknath Rad, lamentou-se por não se sentir apto a merecer a graça. Ramana fê-lo ver que a
rendição não deveria ser meramente verbal ou condicional. A questão sempre permanece no
que se prende a estar ou não preparado a conferir ao guru o poder global de juiz. A verdadeira
resposta é simplesmente: não! Uma vez que estamos plenamente conscientes de sua perícia.
Se ambos os caminhos – o da auto-indagação e o da rendição – têm suas próprias
dificuldades e se há somente dois caminhos disponíveis surgirá então a pergunta: a pessoa está
desamparada? O que é que pode fazer? Não existe solução? Aqui se percebe que embora
Ramana frequentemente acentuasse essas duas alternativas opostas parece-nos que era apenas
para clarear nosso entendimento e facilitar nossa prática nos caminhos espirituais. Alguém
poderia dizer que isto se devia ao fato dele estar sempre consciente da limitação oriunda da
fraqueza humana. Portanto ele encorajava a prática da auto-indagação e conjuntamente o
esforço para rendição, mesmo que está rendição fosse parcial. Quando o indivíduo aprende a
usar a técnica da auto-indagação ensinada por Ramana, a mente estará apta a perceber sua
própria incapacidade para voltar à fonte de modo consciente, sem a ajuda da graça por parte
do satguru. Da mesma forma quando a pessoa aprende a depender da graça do guru torna-se
mais inteiramente consciente da necessidade de empreender o esforço necessário a fim de
tornar-se apto a sentir sua presença. A respeito da questão relativa à rendição parcial e ao
aprofundamento da fé, podemos nos referir ao caso da Maharani de Baroda. Esta declarou
que possuía tudo exceto a paz mental e para consegui-la rogou à Ramana. Quando Ramana
aconselhou-a a se render, uma vez que não se sentia segura de poder praticar a auto-indagação,
esta foi inflexível ao retrucar que a rendição era impossível. Ramana, então, a encorajou ao
declarar que a rendição parcial é viável para todos e que a capacidade para obter a rendição
total se desenvolveria gradualmente. A despeito dessa garantia, a Maharani continuou
contestando ao afirmar que o guru não poderia alterar o destino do discípulo. Ramana
prontamente censurou-a frisando que o guru sabe como cuidar dos fardos dos devotos. O que
ocorre neste caso é que nós frequentemente permanecemos entre as duas opções. Nem
adotamos com fé a auto-indagação nem nos colocamos totalmente nas mãos de Ramana.
Garantia desse tipo dadas à Maharani deveriam nos alegrar e nos dar o devido ânimo para
praticar a auto-indagação. Concomitantemente a pessoa deveria confiar cada vez mais na graça
de Ramana.
Apesar disso, nossas fraquezas costumeiramente aparecem. Frequentemente voltamos
ao passado e revivemos os trâmites severos e injustos que a vida nos trouxe. Quando as preces
não são atendidas, quando as coisas não ocorrem como desejamos, a lamentação surge
novamente. Ramana resolve este sentimento muito difundido, e que vez por outra preocupa a
todos, de duas maneiras.
A primeira reitera a mensagem do “Bhagavad Guitá” a respeito do cuidado que Deus
tem para com aqueles que o procuram. Ramana é muito categórico neste ponto. Quando
indagado pelo Swami Pragyananda se o guru controla também os assuntos mundanos do
discípulo, Ramana respondeu: “Sim, tudo.” Isto porque o fardo do discípulo pertence a ele, o
guru, o qual também é capaz de suportá-lo. A outra maneira que Ramana resolveria este
problema da falta de fé nos momentos de estresse é apontar a tolice em presumir que um evento
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aparentemente adverso ou falta de resposta a uma oração seja calamitoso. Ao contrário, ele
poderá ser para o bem da pessoa. Como ele diz em relação ao que estamos tratando “as coisas
podem tomar um rumo diferente do que aparentemente se apresentam”. Talvez cada um de nós
possa perceber por si mesmo em retrospecto, que fomos protegidos de um evento
aparentemente bom, mas que poderia ser desastroso. O poder do Satguru vê as coisas através
das aparências exteriores e se não reconhecemos este fato seriamos tão tolos, como um
passageiro num trem que carrega sua mala na cabeça, cansando-se desnecessariamente. Nossa
compreensão limitada e nossa incapacidade de avaliar as perspectivas nos leva a questionar a
sabedoria de Deus.
Quando a pessoa se esforça por dissolver o ego, despertando a confiança no poder do
Satguru, a vida cessa de ser um fardo pesado. Há apenas a alegria de um vida livre de encargos.
É por esta razão que no “suplemento aos quarenta versos” Ramana selecionou cinco
versos exaltado o valor da companhia dos sábios. De particular interesse é um verso encontrado
por Ramana num jornal que Chellamma, a filha adotiva de Echammal, casualmente separara
e que continha certo verso em sânscrito. Ramana o traduziu para o Tamil e deu-o a ela. No dia
anterior Chellamma havia jejuado atendendo aos costumes religiosos da família.
Ramana persuadiu-a para que comesse sua comida. Após ouvir a explanação do dito
verso, Chellamma perdeu toda fé no jejum. Qual seria a necessidade disso quando tinha a
companhia de Ramana?
Aqui é necessária uma pausa para compreender exatamente o que se entende por Sat-
sang. Sat-sang significa permanecer em companhia do “Eu” ou habitar no “Eu”. Quando a
pessoa não tem condições disso o mais viável é a companhia dos sábios que são sempre
conscientes do Ser. Mas há muitas dificuldades de ordem prática. Os céus sabem como é raro
encontrar sábios. Aonde pode a pessoa encontrar um elevado yogui que tenha eliminado seu
ego? E mesmo que o tenha encontrado, como o indivíduo poderá enfrentar na vida situações
que não permitam um contato íntimo ou freqüente com tais sábios? A lamentação de um devoto
a Ramana esclarece essa situação. Este devoto tinha um emprego que o afastava
frequentemente de Ramana. Que deveria fazer? Ramana falou-lhe então sobre o verdadeiro
significado de Sat-sang, isto é, ser consciente da iminente presença do Satguru. O guru não é
o corpo, mas a fonte sem forma que sustenta toda a vida. Limitações como o tempo e o espaço
não o detêm. Cabe a cada um experimentar e achar o melhor meio de estabelecer contato com
o Satguru de acordo com seu temperamento e manter viva e ardente a chama de sua união com
ele. Talvez uma certa foto na qual se note um terno e belo sorriso dele ou um olhar furtivo do
mestre, ou um livro sobre sua vida e ensinamentos, ou um escrito dele, ou seu doce nome, ou
finalmente todos esses meios em certo grau poderão estabelecer, na mesma medida, a sensação
de estar imerso no penetrante silêncio de Ramana.
Encontramos nos Diálogos queixas de vários devotos de que teriam perdido aquela
atmosfera elevada quando em companhia de Ramana, após algum tempo. Alguns sentiram
que tiveram um certo retrocesso. Será que isto significa que até mesmo os benefícios da Sat-
sang têm curta duração? Não, diz Ramana. Ele diz que tais flutuações que ocorrem na quietude
da mente não podem ser evitadas enquanto as tendências latentes não tiverem sido eliminadas.
“A paz não pode viver lado a lado com as vasanas”. O discípulo tendo adquirido a correta
experiência em presença do mestre terá que trabalhar arduamente se pretende que a
experiência seja inabalável. É sempre útil lembrar que é errado identificar o Satguru com seu
corpo físico e assim perder a paz quando não estiver em sua presença física. A pessoa nunca
deverá ficar longe dele ou falhar em sentir a corrente de paz que dele emana se de fato nos
lembrarmos que é nosso guru interior.
O esforço que deve ser feito é, portanto para nos ligar ao Satguru, é sentir sua presença
como uma constante corrente interior.
O “Eu” livres dos pensamentos, sendo um puro reflexo, se constituirá numa ponte em
direção ao Satguru Ramana. Uma vez que o companheirismo se estabeleça firmemente não
haverá interrupção do Sat-sang e seus benefícios. Todas as fraquezas da mente serão
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eliminadas pela maré alta de sua radiante companhia que destrói a tristeza da existência
separada.
Deixe que a Prática faça seu Trabalho Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Formatado: Título 1, Esquerda, Recuar: Primeira linha: 0 cm
Formatado: Fonte:16 pt, Sem sublinhado, Cor da fonte:
Maharshi: mesmo que as pessoas sejam instruídas a praticar a Japa ou a dhyana por Texto 1
algum tempo logo buscam resultados tais como visões, sonhos ou poderes taumatúrgicos. Se Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
Escuro
não os conseguem, dizem que não estão progredindo ou que seu tapas é ineficaz. Visões, etc, Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
não são sinais de progresso. A simples performance de tapas (austeridades) é por si mesma um
progresso. Perseverança é o que se requer. Além disso, devem confiar em seu mantrã ou em
Deus e aguardar por sua graça, mas não o fazem. O japa mesmo repetido por pequeno período
tem seu próprio efeito benéfico quer o indivíduo seja consciente disso ou não. (Diálogos)
Nossas ações seguem-se à orientação. A doação e o esforço dirigido a uma meta
particular são as características de nosso esforço. Nós podemos medir nosso progresso ou
fracasso contra obstáculos conhecidos. No que diz respeito à vida espiritual também não
deixamos de observar essas possibilidades. Queremos resultados tangíveis no mais breve
tempo. A paciência é uma virtude caracteristicamente ausente na vida espiritual. Como
estamos no plano da mente, caso tenhamos uma visão de uma divindade ou do guru, sentimo-
nos imensamente felizes e interpretamos esses fenômenos como um sinal de progresso
espiritual. Ganapatimuni teve repetidas visões da imagem de Ramana como Subrahmanya,
o comandante das forças celestiais. A mãe de Bhagavan, Azhagammal, viu-o adornado de
serpentes, como o verdadeiro Shiva. Em outra ocasião viu o corpo de Ramana desaparecer e
tornar-se o “Lingan” em Tiruchuzhi,particularmente luminoso. Raghava-chari, desejando
ver a verdadeira forma de Ramana, teve uma visão na qual o mestre se identificava com a
imagem do quadro da Dakshinamurthi que ficava suspenso na parede logo atrás do local onde
o mestre se sentava e logo depois desaparecia para reaparecer num ofuscante halo de luz. Paul
Brunton quando permaneceu próximo a Ramanashramam, teve uma visão na qual se viu como
um garoto segurando a mão de Maharshi que havia se transfigurado numa figura da torre.
Não resta dúvida que estas visões são auspiciosas e ajudam, em certa etapa do
desenvolvimento espiritual, aqueles para os quais apareceram. Mas a questão que permanece
diz respeito a se essas visões são essenciais ao caminho espiritual. De igual modo se seu
aparecimento ou ausência devem ser interpretados como progresso ou retardamento na
evolução espiritual. Ramana ressalta que não existe qualquer conexão nestes casos. A grande
maioria que não tem visões em função de não ter essa inclinação, não deve sentir-se
desanimada, nem sequer desejá-las ansiosamente. Isso por que tal desejo é apenas a busca
ansiosa por algum sinal de sucesso espiritual na tela da própria mente.
Todo progresso real se vê apenas quando a jornada interior se inicia, quando a fronteira
da mente é transcendida por uma diligente auto-indagação.
Embora as visões sejam algo raras, o sonho é uma ocorrência diária. Então por que não
sonhar com seu próprio guru e mentor espiritual?
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De fato vemos que na vida de alguns devotos existe um fluxo de sugestões e guias em
sonhos, até com detalhes, por parte de Ramana. Nambiar anotou uma série de sonhos em seu
livro, começando por Ramana requisitando um livro de anotações de determinado tamanho.
Estes sonhos continuaram após o Maha-Samadhi de Ramana, tal como outro em que Nambiar
recebeu instruções detalhadas sobre a medida do local onde o corpo do mestre deveria ser
enterrado. Souris escreveu em suas reminiscências que, embora tenha visitado o Sri
Ramanasramam várias vezes, não tinha necessidade de fazer perguntas à Ramana, pois tudo
o que precisava foi obtido de Ramana por meio de sonhos. Neste caso novamente alguém
poderá dizer que, enquanto o desejo possa ser natural, não é necessário dar-lhe tanta
importância. Isto por que quando a pessoa está espiritualmente desperta mesmo o estado de
vigília é como um sonho.
Assim alguém poderá dizer que as coisas que acontecem a um indivíduo durante os
sonho são um sonho dentro de outro. O estado de sonho é um movimento mental na tela do
Eu. Assim deve-se prestar atenção a isso porque a percepção é possível por intermédio do que
é visto.
No que se refere aos poderes ocultos quanto menos se prestar atenção a eles será melhor,
pois são distrações no caminho espiritual. Eles mesmerizam a mente, desviam a pessoa da
trilha, do verdadeiro objetivo de todo esforço espiritual. A busca pela verdade será substituída
pelo prazer do nome e da fama que são tão transitórios como tudo mais.
Assim Ramana trás a pessoa de volta à estreita vereda e não permite que persiga coisa
alguma exceto a descoberta da real natureza de cada um e a consciência da vibração do “Eu”.
A correta atitude na Sadhana é deixar tudo nas mãos de Ramana. Apesar de ter
começado com fé em seu sagrado nome e forma, frequentemente a diminuímos no altar da
nossa impaciência. Temos o caso de um morador no Ramanasramam que renunciou a tudo
para permanecer com Ramana. Após alguns anos ele pediu uma garantia de que a graça de
Ramana persistiria para ele, Ramana gentilmente replicou: “Sua fé o trouxe aqui. Por que
duvidar dela agora?” A idéia de que a pessoa não está progredindo o bastante pode assumir a
forma negativa de um sentimento de que o guru não o está ajudando de modo eficiente. Este
pensamento se assemelha à presença de uma abelha zumbindo no interior do boné de um
discípulo. Toda pessoa crê que é feita de material explosivo pronto para ser detonado e que a
culpa do retardamento de seu progresso espiritual jaz na insuficiente graça de seu guru.
Ramana rebateria tais pensamentos de várias maneiras. Ele desencorajava a avaliação do
progresso, de vez que a mudança na atitude mental e o desenvolvimento do desapego são
imperceptíveis, mas é certo que eles existem se a prática espiritual é firme. Deve haver
perseverança e firmeza na prática. Ramana, também inculcaria e reiteraria a fé numa prática
particular ao sublinhar sua utilidade. O mantrã, o nome sagrado, a contemplação da sagrada
forma e a dedicação à auto-indagação farão o necessário trabalho. Que é o trabalho? É o
trabalho de eliminar da mente suas tendências acumuladas e a adquirir o necessário poder sobre
ela para que se concentre num só pensamento. Ramana diz a esse respeito que a pessoa deve
“entregar-se” ao mantrã ou a Deus e aguardar sua graça. A pessoa continuará com a confiança
e certeza de que qualquer que seja o esforço que se faça não será inútil. Os resultados estarão
além de sua expectativa desde que essa não fraqueje e mantenha a necessária firmeza durante
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o caminho espiritual. Esta é mais uma garantia de Ramana para nossas frágeis mentes ao
afirmar que existe uma força oculta se a prática é feita com constância e fé. Quando o capricho
da dúvida domina a mente a atitude mais sábia será lembrar a compaixão de Ramana.
Pode a pessoa meditar o tempo todo? Formatado: Fonte:16 pt, Sem sublinhado, Cor da fonte:
Texto 1
Formatado: Título 1, Esquerda, Recuar: Primeira linha: 0 cm
Natesa: Tenho meu trabalho profissional, apesar disso gostaria de meditar sem Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
Escuro
interrupção. Será que ambos estarão em conflito?
Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Ramana: Não há conflito. Ao praticar ambos e desenvolver seus poderes será capaz de
atender aos dois.
Este é o caso de um homem dedicado ao trabalho e ao mesmo tempo ansiando dedicar
mais tempo à prática espiritual. Para isso quer uma garantia, por parte de Ramana, que sua
profissão não interfira em seu caminho espiritual. Os “Diálogos” referem-se a muitos devotos
que apresentam esse problema. Eles têm seus deveres a cumprir como obrigações de família,
casamento de suas filhas, educação dos filhos e outros encargos. Como encontrarão eles tempo,
ainda que limitado, para a prática espiritual? Há uma idéia comum que sugere a
incompatibilidade entre o trabalho e a meditação, que incompatibiliza a vida contemplativa e
a vida no mundo. As pessoas acham difícil superar a idéia subconsciente de que são
alternativas, além de alegar que só podemos prestar atenção a uma coisa a cada tempo. O fator
tempo e novamente esta dúvida surge. Paul Brunton achou difícil aceitar a afirmação
categórica de Ramana que, uma vez criada a atitude correta, a pessoa pode manter a paz
interior oriunda da meditação, quer esteja recluso num convento da floresta, quer esteja presa
a uma vida de trabalho em Londres. Nós achamos, também, que certas pessoas sentem uma
compulsão imperiosa em se dedicar à meditação e entrar para a ordem dos Sanyasins.
Natananda optou por esta via não obstante aos repetidos avisos de Ramana para que não o
fizesse.
Só mais tarde é que aprendeu que portar o manto amarelo ou branco não fazia diferença
no seu caminho espiritual. O exemplo de Janaka que se armou com duas espadas a do Karma
e do Jnana e a de Chudala, ambos apontados no “yoga vasista”, são considerados exceções.
A pessoa deve observar a presunção subjacente a este caminho. Os deveres são
encarados como “mundanos”, tendo que ser executados por que as circunstâncias não deixam
opções. O que se considera como “meditação” é o tempo à parte dedicado à prática espiritual.
Qual é a validade dessas distinções? Estaremos corretos ao encarar cada uma delas como
compartimentos separados e estanques? Será que cada um deles é uma tarefa de tempo
integral? Poderá a pessoa permanecer totalmente envolvida nas supostas alternativas, mesmo
tendo decidido escolher apenas uma?
Focalizando inicialmente a última pergunta, vejamos se é possível permanecer todo o
tempo em meditação. Se o indivíduo estiver espiritualmente amadurecido, pronto a fixar-se
numa só corrente de pensamento, é certo que a mente mergulhará em sua fonte, mas somente
nesse caso. Em geral quando a mente ainda é fraca, e se dissipa através de vários pensamentos,
a meditação poderá se tornar uma sessão de sono; tamas e preguiça poderão ser tomados como
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romper com a idéia que ambos são pólos independentes e por isso é impossível eliminar essa
separação.
A primeira coisa que se deve esquecer é que isto é difícil. Tais pensamentos serão “a
maneira mais certa de se impor obstáculos por que não corresponde à verdade”. O próximo
ponto a lembrar refere-se à nossa natureza essencial que é pura e simples beatitude.
Assim temos necessidade de conseguir o tempo que for possível para meditar. Que sejam
cinco ou dez minutos. Este deve ser totalmente dedicado à meditação. A duração não é tão
importante, pois a meditação intensa, o mergulho profundo no interior da pessoa, fará seu
trabalho. Mas que trabalho será esse? Alguém pode perguntar. Ao começar de maneira gradual,
o trabalho de início não estará incluído na meditação. Assim o tempo reservado à meditação
gerará uma corrente oculta, uma espécie de sensação de paz que ficará subjacente durante todo
o dia. A ação se desenrolará nesta atmosfera, envolta neste estado de silêncio íntimo, o qual
não será perturbado por qualquer que seja a atividade. Os trabalhos serão melhor executados
por que a mente está tranqüila, sem distração, e atenta à tarefa durante todo tempo. A medida
que desenvolvemos o que podemos chamar de “sensibilidade interior” perceberemos que este
estado nos atrairá para o interior a qualquer momento durante o dia. Poderá surgir quando
estivermos lendo um jornal, ou absortos na leitura de uma revista ou num seriado da televisão.
Mas quando chega, diz-nos Ramana, devemos nos fixar neste estado e gozá-lo da melhor
forma.
Existe a necessidade de estender o tempo de meditação. O uso adequado do tempo
ocioso por cada um de nós, não importando o quanto possamos estar ocupados, é muito
importante. O tempo perdido poderia ser “roubado” para este propósito durante o dia. Por que
gastá-lo mal? Por que não usar este tempo para gerar mais corrente interior? Afinal, em última
analise, é a única coisa que importa porque podemos facilmente verificar seu uso para manter
o equilíbrio mental, equilíbrio esse que não é perturbado por nossos esforços.
Imperceptivelmente, a perspectiva mental sofre uma transformação. Tendências à depressão
ou à irritação por parte da mente não surgirão por que esta está sempre num estado de
equilíbrio. Desse modo a atividade não será um fardo pesado. Será tão relaxante quanto a
própria meditação. A diferença entre o mercado e o santuário cessa. Tudo é sagrado. Então a
vida ativa e vida espiritual não são diferentes. Todas as atividades acham-se no mesmo nível.
Tudo é adoração no pleno fulgor da vida.
Será somente um trabalho de cozinha? Formatado: Fonte:16 pt, Sem sublinhado, Cor da fonte:
Texto 1
Formatado: Título 1, Esquerda, Recuar: Primeira linha: 0 cm
Bhagavan: sua mente parece estar desejando a meditação. Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
Escuro
Subbalakshama: mas o que adianta? Aqui é tudo tarefa de cozinha.
Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Bhagavan: deixe que as mãos e os pés façam o trabalho. Você não é nem as mãos, nem
os pés. Você é aquele que é imutável. Os problemas se tornarão intermináveis enquanto você
não for consciente disso. O trabalho será difícil. Mesmo se cessarmos de trabalhar a mente
continuará divagando. Após certa hora a cozinha do Ramanasraman se assemelhava a uma
escola de Vedanta. Ao mesmo tempo em que ajudava nos trabalhos da cozinha, Ramana
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combinava conselhos sobre a arte da culinária com palavras de importância prática para a
Sadhana. Quase todos os assistentes da cozinha consentiram prontamente neste penoso
trabalho porque lhes facultava a oportunidade da companhia de Ramana. Apesar disso,
praticamente cada um deles, poucas vezes, podia sentar-se na presença do mestre no salão
principal do Asram e gozar do silêncio ali reinante, ou participar das alegres sessões de
perguntas e respostas sobre diversos tópicos. O trabalho na cozinha lhes deixava pouco tempo
para meditação. Daí a observação de um mulher que seu destino era o inútil trabalho de
cozinha. Este tipo de sentimento, a idéia de que nossas tarefas interferem na meditação, é muito
comum. Uma vez que grande parte do tempo durante o qual estamos acordados é gasto no
trabalho; a chave para obter a felicidade jaz em nossa atitude com relação a ele. No momento
o trabalho que estamos executando não é necessariamente aquele que voluntariamente teríamos
escolhido, conforme nossa natural inclinação e interesse. É possível que se diga que o trabalho
é imposto pela força do karma, o qual dá origem ao próprio corpo. Frequentemente o trabalho
torna-se mera questão de sobrevida. Neste caso poderá ser superado no final do dia e a pessoa
vá correndo para casa a fim de relaxar assistindo a televisão, vendo um vídeo e assim por
diante. Se a falta de entusiasmo pelo trabalho não existir, a vida se torna um enfado.
Em contraste com isso vemos a Ramana, para quem nada mais poderia ser alcançado
depois de sua experiência quando jovem ao mimetizar a morte, demonstrar satisfação em tudo
que fazia. Podia se notar a mesma alegria e o mesmo interesse fosse ao corte de vegetais, na
correção de provas, anotando no livro de apontamentos ou explicando alguma doutrina
filosófica abstrusa. Ramana admoestaria os devotos para prestar atenção no que estavam
fazendo e não considerar o trabalho algo tedioso e mecânico. Certa manhã quando descia da
montanha, acompanhado por um assistente surgiu um varredor chamado Rangaswami que
também descia, e pretendeu prostrar-se diante dele. Ramana lhe disse: “fazer o seu trabalho
de modo diligente já é prostração” e assim cruzou a porta do Ashram. As pessoas que se
achavam ali sentadas levantaram-se e tornaram a se sentar dirigindo-lhe seus respeitos.
Ramana sublinhou: “a verdadeira genuflexão não é sentar-se ou levantar, é fazer o trabalho
com Shraddha (vontade, fé)”. Na cozinha ele daria orientação para que os pratos fossem
preparados com bom paladar. Acentuaria a necessidade de moer e cobrir os vegetais e assim
por diante. Certa feita Lokamma recitou mal um verso em “Tevaram” referente à falta de
atenção. Bhagavan notou o fato e lhe disse: “não está certo, leia-o outra vez”. Apesar de tê-
lo relido várias vezes, ela continuou a errar porque sua mente não estava concentrada na
recitação. Bhagavan insistiu para que recitasse o verso corretamente antes que voltasse a
trabalhar na cozinha.
Embora tenhamos vontade sincera de executar nosso trabalho e deveres, às vezes, apesar
de nosso propósito, sentimo-nos aborrecidos com eles. O exemplo e os avisos de Ramana
parecem ser inúteis. A doença é muito profunda e talvez a culpa não recaia sobre o fato de o
trabalho não ser necessariamente do tipo que a pessoa escolheu ou que se coadune com seu
temperamento. O erro está em nossa inabilidade em controlar nossa mente. Os pensamentos
nos levam para lá e para cá, de modo a não nos concentrarmos no trabalho e assim nos
sentirmos cansados e indiferentes quando o terminamos. O que se dissipa é a energia mental.
A inabilidade de nos empenharmos totalmente no trabalho que estamos executando não se deve
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ao trabalho em si mesmo e sim porque a mente está dispersa durante sua execução. Tal
condição surge por causa da fraqueza da mente. Parece, entretanto, que a pessoa deve livrar-
se das garras do turbilhão de pensamentos se pretende aprender a trabalhar de maneira relaxada
e atenta. A auto-indagação é o meio direto disponível para conseguir este objetivo. O próximo
obstáculo no caminho é resultado da desorientação da mente. Nós nos consideramos arquitetos
da ação e de seus resultados. Não resta dúvida que o esforço é necessário. Entretanto não há
garantia que o trabalho tenha os resultados desejados. Isto à parte, nosso esforço é
freqüentemente inadequado e deplorável, muito embora nosso desejo de atingir o alvo seja
forte e persistente. Desse modo a preocupação é certamente nosso destino. Repetidas
experiências que ocorreram na vida podem nos ensinar a reconhecer como verdade o fato de
que seus resultados são divinamente pré-ordenados. Esta idéia fixa da mente se observa numa
escala maior quando se relaciona à prática espiritual. Esperamos que o guru faça os trabalhos
de casa para nós e graciosamente nos dê o auto-conhecimento. Sentimo-nos aborrecidos pelo
retardamento em nosso progresso a despeito do que chamamos “render-se ao guru”. Como
Ramana certa vez disse a Rangan: “tão logo chegam aqui, alguns querem se tornar jnanis,
mas ignoram o esforço que isto implica”. Neste caso, também, devemos aprender a vencer o
hábito de ansiar pelos resultados; seja sob a forma de visões, sonhos, poderes ou qualquer outra
aquisição que a pessoa obtenha. O indivíduo deve aprender gradualmente a apoiar-se no poder
de Ramana; de outra forma o trabalho e a meditação tornam-se tensos e com isso as correntes
acalmadoras da meditação que trazem a paz não fluirão. A mente de um devoto que se tornou
introvertida permanecerá assim quer na meditação, quer no trabalho. E seria uma pena se ele
perdesse ambas as oportunidades. A menos que se tome cuidado, deixaremos de usufruir pela
vida à fora a felicidade que é nossa natureza essencial.
Echammal e a levaram à Ramana . A dupla tragédia da morte de ambos, seu filho e sua irmã,
que se afogaram num poço de sua própria casa, fez com que Narasimha Swami optasse pela
renúncia e se encaminhasse para Ramana. Do mesmo modo o anotador dos Diálogos,
Munagala Venkataramayia,buscou Ramana num período muito crítico de sua vida.
Subbramayia buscou o consolo e a orientação de Ramana por estar aturdido com a morte de
seu filho pequeno. É verdade que a tristeza faz com que a pessoa reavalie valores muito
queridos. Mesmo nossas preces são mais intensificadas nos períodos aflitivos, quando as
ocorrências se fazem presentes. Mas a pessoa deve fazer uma pausa para introspecção e
verificar ser é correto esperar que a desgraça acene objetivando nos apontar o significado e o
propósito da vida. Será que devemos ser tão tolos e esperar pelo dia do juízo final?
O tempo não espera. Ele é implacavelmente preciso. Toda nossa vida é predeterminada
a partir da data de nosso nascimento. É um produto do karma. O corpo tem que passar por
certas experiências, boas, más ou indiferentes. Após isto, a morte nos leva. Somente no caso
dos jnanis é que o senhor da morte tem que esperar a fim de saber se eles estão prontos a deixar
o corpo. Para eles o corpo humano sobrevive apenas para benefício da humanidade e não tem
origem kármica. Para nós, quando o karma chega, a vida também termina. É somente em casos
excepcionais que o prolongamento da vida humana é concedido pela graça do guru. Temos o
caso de Jagadiswara Sastri que se recuperou de doença fatal após insistente pedido à Ramana.
Temos, também, o caso Rangaiyer que conseguiu superar a fatalidade ao permanecer na
presença de Ramana.
É certo também que em algumas ocasiões a vida foi prolongada sem o conhecimento da
própria pessoa, pela ação secreta da graça de Ramana. Ramana disse à Rani de Baroda que
tudo é possível para o onipotente guru. Entretanto, devemos lembrar que essas mudanças no
curso natural dos acontecimentos é mínima e depende da profundidade da entrega de si ao
guru. É mais seguro considerar excepções como expceções e não se fiar nelas. A morte poderá
soar a campainha a qualquer momento, a qualquer minuto, a qualquer segundo. Uma vez que
a pessoa não saiba quando a operativa força kármica chegará a seu fim, é bom estar pronta para
a chamada.
A questão é: “pronto para que”? A resposta deverá ser: pronto a pesquisar o propósito
da vida em toda sua profundidade e entender o que representa. É por isto que Ramana diz que
entender o propósito da vida é produto do bom karma do passado. Esta é sua importância.
Neste caso o passado deve ser entendido como não apenas as ações provenientes do nascimento
do corpo, mas também aquelas que tenham sido originadas até o tempo em que se inicie a
pergunta sobre o objetivo da vida.
Além disso, a expressão “bom karma” usada por Ramana deve ser meditada. Ações
altruísticas em benefício da humanidade são usualmente consideradas como boas. É fácil
entender isso. Mas o problema é que, furtivamente, a pessoa manifesta o desejo de
reconhecimento pelo bem que fez, além da exaltação do seu nome elevando sua fama, os quais,
por serem de seu interesse macularão o propósito. Deste modo o teste mais positivo é, na
realidade, a atitude da mente em relação ao ato que se pratica. Com este critério em mente, a
ação tem de ser classificada como boa ou má. A ação “má” é aquela que nos prende cada vez
mais aos interesse e à existência egocêntrica. Por outro lado, as boas ações são as que inclinam
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a pessoa para Deus, as que a interiorizam. Ramana faz essa distinção nos segundo e terceiro
versos do “Upadesa Saram”. A má ação nos levará a repeti-la mais e mais como resultado de
nossa inabilidade de ver além do nariz; da inabilidade em interrompê-la e ponderar sobre o
significado da vida. O outro tipo de ação, que é executada com atitude de doação a Deus, nos
leva para além da dessa floresta do karma. Portanto aquele que age com a idéia fixa de que é
o arquiteto das ações e que colherá seus frutos será levado à tragédia de morrer mais ignorante
do que quando nasceu. A idéia de dar é a de não ser o autor. A menos que isso seja enquadrado
como bom karma, o “ganso da pessoa terá sido bem cozido”. O significado do bom karma,
portanto, jaz no fato de que ele atua como um aspirador de pó, limpando a mente ao sugar a
poeira dos pensamentos negativos egoístas. A purificação da mente faz com que a pessoa
obtenha sucesso na auto-indagação conduzindo-a ao auto-conhecimento. Quando a mente se
interioriza, metade do trabalho foi feito. Ao invés de “vagar com a mente irrequieta” o
divagante está apto não só a indagar a finalidade da vida, mas também a encontrar a si mesmo.
A atenção fixada no “Eu” mantêm a vida interiorizada em sua fonte. Só então a vida será
favorável, será uma bem-aventurança e não um mero intervalo cronológico. Quando o trabalho
interior iniciado pelo bom karma é sustentado pela auto—indagação continua, o mito da
doação esvanece na plenitude da existência.
Divino? O caminho para obtenção de poderes é um atalho ou uma via real? Será que desviarão
a pessoa da busca pela verdade ou o ajudarão na prática espiritual?
É importante não apenas para levantar inicialmente essas questões, mas também, para
manter a lembrança do objetivo do esforço espiritual. Se perdermos de vista a meta, se
deixarmos os objetivos esmaecerem, existe o grave perigo de desperdiçarmos nossa munição
espiritual.
É por essa razão que Ramana sempre tenta afastar a pessoa do engodo que representa a
busca pelo oculto. Falando sobre a clarividência, que permite a visão de nascimentos
anteriores, Ramana faz a pergunta: “que utilidade terá na vida diária?” Afinal estes são
nascimentos de corpos. Tal conhecimento não vale a pensa ser buscado, pois não fará a pessoa
mais feliz ou mais sábia. No momento atual, se observarmos atentamente, já temos suficientes
problemas oriundos da memória da vida atual os quais somos incapazes de expulsar a nossa
vontade. Por que acrescentar à sobrecarga memória? Da mesma forma falando sobre
clarividência Ramana aplica um teste contundente ao estender a pergunta sobre a utilidade que
a mesma possa ter na vida diária. Importa realmente, se nossa visão é próxima ou distante? A
visão é para aquele que vê. Não deveríamos buscar quem é o vidente? Quando alguém se
referiu à descrição feita por Paul Brunton de que um yogui em Madras podia comunicar-se
com seu guru no Himalaia, Ramana esclareceu que isto significa apenas que o poder de
audição do yogui havia se estendido. Seu raio de ação se ampliara além da distância normal de
audição para o espaço entre madras e o Himalaia.
Neste caso novamente a capacidade de ouvir seja próximo ou distante, necessita do
sujeito, o ouvinte. A pessoa deve buscar a verdade sobre aquele que ouve ao invés de procurar
a capacidade de ouvir sons distantes. Ramana diria que o fundamental é o conhecimento sobre
o sujeito a respeito do qual, esse poder se relaciona. Quando um visitante perguntou sobre os
poderes de um super-homem, Ramana replicou: “quer os poderes sejam grandes ou pequenos,
quer tenham origem na mente ou na super-mente, eles existem e se referem àquele que tem o
poder. Descubra quem ele é”.
Ramana enfatizou a limitação desses poderes com relação a sua validade para a
obtenção das metas espirituais. Em última análise, todo esforço tem por meta tornar a pessoa
consciente de sua inerente felicidade. Admitamos que através da prática assídua a pessoa possa
adquirir algum poder oculto. A seguir a pessoa procurará, naturalmente, algumas
oportunidades para exibir esses poderes e receber a aprovação e o aplauso dos outros. Os
poderes podem ou não surgir no início, além disso, o campo dos poderes também é
competitivo. Poderão existir outras pessoas mais experientes ou que possuam mais vastos
poderes. O público poderá correr em bando atrás desses últimos e assim despertar-lhe o ciúme.
Em suma a tentativa de chegar ao nível de despertar os poderes ocultos é comparável à busca
das pessoas pelo sucesso. A pessoa pode apostar que existirão outros com o mesmo poder ou
até maior. O desejo inconsciente por nome e fama é outro perigo que não pode ser subestimado.
Neste nível de obstáculos a pessoa terá que enfrentar o desejo de obter mais poderes e de temer
a perda daqueles que já possui. Onde estará, então, a felicidade em tudo isso?
Em referência ao que foi ponderado por Ramana, pergunta-se se o buscador de poderes
não estará trocando a felicidade permanente por ganhos transitórios. Esse perigo nasce do fato
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de que os poderes ocultos, que são adquiridos através de certas práticas espirituais, poderão ser
perdidos, caso a pessoa não se dedique a elas com constância. No carrossel da vida a pessoa
pode se tornar relaxada em suas práticas e deste modo perder os poderes.
Esta é razão de sobra para que o discípulo se afaste do ocultismo e da fome por poderes
espirituais. Está escrito que alguns destes poderes espirituais possam brotar ao aspirante
espiritual sem que este se empenhe conscientemente para obtê-los. Neste estágio a pessoa se
sente numa encruzilhada. A pessoa se atrasa caso ceda à tentação de adquirir poderes. Aquele
que é corajoso os ignora, deixando-os de lado. Então segue em frente com fé inabalável e
consciente de que o auto-conhecimento é sua meta.
Os poderes ocultos, sobre os quais estamos analisando, tem como característica
marcante o fato de se desenvolverem através do trabalho da mente. Os poderes mentais são
obtidos através do poder vontade daqueles que os possuem. É contra isso que a pessoa deve
ter cuidado.
A manifestação natural de poderes que vemos nos grandes santos, videntes e jnanis são
de uma categoria diferente. Por quê? Por que não existe participação da vontade individual,
pois se renderam ao poder Supremo. Suas mentes acham-se fixadas no coração espiritual. Suas
mentes-ego acham-se mortas no sentido de não possuírem mais “sankalpas”. Eles não tem
mais desejos, não utilizam mais a mente como base para fazer milagres. Mesmo assim realizam
muitos milagres. O Swami Narasimha deu-nos uma demonstração gráfica mostrando como o
corpo de Ramana levitou desde a caverna virupaksha até Tiruvottiyur, local onde Ganapati
Muni fazia penitência. Ramana o abençoou com um toque e retornou à caverna. Ramana não
desejou conscientemente fazê-lo, mas mesmo assim o fato aconteceu por ser ele um canal puro
através do qual operavam os poderes Divinos. A explicação a respeito dos “milagres” de
Krishna, Jesus e outros mestres é a mesma. O poder deles revela a plenitude do poder Divino
o qual opera por seu intermédio e que é feito de modo espontâneo e sem esforço individual. O
poder venerado e admirado pelas pessoas, é, pois, espontâneo e ilimitado. É o verdadeiro siddhi
Entretanto quando se refere à busca interior, à procura da verdade, nada parece ser
tangível, nada existe de específico no que se prende ao julgamento do que posse estar
acontecendo no momento. Será que o indivíduo se acha ainda estacionado no início do
caminho? Ou está fazendo algum progresso? Ou será que está próximo à meta? O progresso
ou sua falta não pode ser imediatamente percebido. O problema é inevitável nesta situação,
pois não há meios objetivos de se fazer avaliação. “Não existem sinalizações nem placas de
horário para guiar-nos”. Além do mais não há um percurso a ser atingido. Isto por que já nos
encontramos no próprio destino. Isto não é apontado aqui em termo de um enigma a ser
decifrado, pois é justamente a verdade, a plena verdade. Por quê? Por que a pessoa jamais se
acha divorciada do Eu Divino, o qual está procurando. O indivíduo não está nem longe nem
separado Dele. Pelo fato de o “Eu” ser a plenitude da consciência, é sua luz que energiza a
mente e o corpo e permite sua atividade. Entretanto em termos práticos esta verdade não
significa nada para nós. Estamos infiltrados num mundo de falsos conceitos e idéias ilusórias.
O esforço deve ser feito no sentido de nos afastarmos do mundo das idéias, da opressão da
mente e descobrir nosso estado natural. A jornada espiritual é, portanto, uma questão de um
desenvolvimento paulatino, de descobrir a pouco e pouco a capacidade de despertar nosso
poder oculto no objetivo de remover tudo quanto restringe e limita a consciência espiritual.
Isto nos leva a perguntar se não existe qualquer teste durante o período da “sadhana”, através
do qual possamos saber por nós mesmos se alguma transformação ou mudança expressiva teria
ou não ocorrido. Se não há critério, então o indivíduo pode ficar presumidamente contente, ou
desconfiado, ou presunçoso e desviar-se do rumo. Felizmente pode-se notar a mudança se
formos atentos. Existe um espelho, semelhante àqueles que a madrasta possui na história
infantil da Branca de Neve, que sempre fala a verdade. Este é o espelho de nossos pensamentos
e ações. Temos, porém, que ser suficientemente sensíveis para ler a mensagem, que vai sendo
gravada no dia-a-dia e que diz respeito ao nosso relacionamento com as pessoas, às nossas
idéias e coisas. A observação atenta nos dirá sua própria história. Tal observação é uma
necessidade a fim de verificar se não estamos falhando em ambas as frentes, seja “aqui neste
mundo”, ou também “lá na morada de Deus”.
Para iniciar, a pessoa geralmente se depara com o problema da mente fraca, uma mente
dividida contra si mesmo e labutando com intenções negativas. A meditação torna-se uma
batalha entre o anão e o gigante, tal como uma batalha no campo de Kurukshetra entre
pandavas e kauravas. Se a pessoa persiste valentemente, a despeito disso, a mente adquire o
poder de permanecer num só pensamento. Como Ramana expõe: “o grau de concentração
num só pensamento são as medidas para avaliar o progresso espiritual”. Isto por que é a
capacidade da mente em unidirecionar-se propositadamente que caracteriza a libertação. A paz
na hora da meditação não se limita a corrente sutil da atmosfera na qual agimos.
Isto leva a pessoa ao segundo sinal de sucesso na prática espiritual. A mente adquire a
capacidade de encarar o sucesso e o fracasso com igualdade. Ninguém tem um esquema que
permita um sucesso infalível. O poder mental adquirido através da prática assídua se mostrará
quando os desapontamentos surgirem de maneira abundante, quando os desânimos mostram
sua face. Como Ramana disse a Humphreys, os resultados se apresentarão de todas as
maneiras “seja pela paz mental, em todos os aspectos, mas sempre um poder inconsciente”.
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Ramana diz que se o indivíduo está dominando a mente, surgirá “vairagya”, isto é o
desapego pelos valores mundanos e assim um desinteresse pelos prazeres sensuais se
desenvolverá. O desinteresse não é a negação: “não, não, estas uvas são amargas”. Não se
trata das desilusões provocadas por fracassos na vida. Na verdade trata-se de uma atitude
positiva nascida da percepção que o mais alto sentimento de felicidade não pode comparar-se
com o que estamos perdendo ao relegar ao prazer. Desenvolve-se então a conscientização de
que a beatitude do ser Divino está se mostrando. O que acontece é uma mudança nos
julgamentos, pois os esforços inteligentes nos capacitam a interiorizar e partilhar da alegria
inerente à vida espiritual.
Aqui é válido se prevenir contra o pessimismo e auto-julgamento de qualquer tipo.
Ramana disse: “um simples esforço mesmo que seja por apenas um minuto” trará fruto em
seu devido tempo. Que mais pode alguém querer além desta garantia? Ou talvez o diálogo de
Ramana com Rangan seja mais encorajador. Rangan sentia-se desanimado ao pensar que,
apesar de participar da companhia de Ramana, seu ego se mostrava mais patente. Ramana lhe
disse: “se o ego tem que desaparecer, tudo quanto está escondido deve vir à tona. Quando
você bota água num fogão para aquecer ela não ferverá até derramar?”
À medida que caminha, a pessoa poderá sentir, por si mesma, o sinal do progresso. Como
diz um ditado popular “não se precisa de lente para ver uma ferida no dedo.” é evidente por
si mesma. Da mesma forma, ninguém necessita confirmar ou negar o que está acontecendo na
vida espiritual, sua beleza florescerá de mil maneiras.
possível se o sentido de autoria da ação por parte do devoto não existir. Isto implica na
constante conscientização da verdade de que a ação e seus resultados são regulados pelo Ser
Divino. Se existir essa submissão, a questão relativa às preces individuais praticadas de tempos
em tempos não surgirão. A pessoa se torna um vigilante de Deus e essa fé e confiança leva a
uma aceitação inquestionável sobre o que a vida poderá trazer, seja algo de bom ou mal.
Muitos de nós, entretanto, não parecem estar espiritualmente preparados para assumir
esse poder geral de procurador do satguru. Nossa força e fraqueza dependerão de nossa
confiança e fé em nós mesmos, mas o destino é invisível, potente e sempre pronto para nos
mostrar os “doce-amargos” da vida e nos confudir com seus becos sem saída. Quando
atingimos esta etapa pedimos ajuda ao satguru. A prece é, pois, natural e inevitável levando
em conta nossa atitude mental. Consequentemente observamos uma corrente contínua de
preces, dia sim dia não, independentemente de nossa vontade, pois cada um de nós é
inconsciente de que é a própria plenitude da consciência. Nossa lista de pedidos a Deus é
extensa. Os devotos de Ramana velhos ou novos, não são exceções. Os relatos deles são uma
franca confissão destes fatos. Manavasi Ramanaswamy Iyer por sofrer de dispepsia procurou
Ramana para curar seu mal. Como ele próprio admitiu, inicialmente, não procurou o mestre
para qualquer orientação espiritual. Estava doente e queria ser tratado. E foi curado; embora
Ramana tenha lhe admoestado que “não era médico nem mágico”. Devajara Mudaliar não
hesitava em relatar a Ramana todo e qualquer problema que lhe ocorria, seja sobre sua precária
saúde ou suas preocupações como curador oficial na corte distrital de Chittor. Estes relatos
eram tão normais como as que uma criança faz a seus pais. Neste caso, porém, Mudaliar estava
seguro de que os problemas estavam resolvidos ao relatá-los à Ramana, por que a prece estaria
implicitamente envolvida no fato. Muitos casos são referidos sobre pedidos de ajuda à Ramana
com referência ao casamento entre crianças ou problemas com a prole dos devotos.
Ramana era para com seus devotos a “vaca celestial, Kamadhenu” atendendo suas
preces e desejos. Não se via Ramana desaprovar tais preces, pois sabia da fraqueza humana.
Só que ele nunca admitia o fato que a ajuda fosse dele. Vê-se então que é perfeitamente
legítimo fazer solicitações à Ramana. Não há necessidade de nos deprimirmos com uma
sensação de culpa por isto.
Até aqui tudo bem, mas o que dizer sobre as preces que não são atendidas? Quais as
implicações de tais preces? Ramana ressalta na primeira referência que o não atendimento à
prece é verdadeiramente uma benção. O fato é que temos visão curta. A agenda kármica é
desconhecida por nós. Frequentemente desejamos coisas que, quando recordadas, mostram ser
tolas ou eivadas de sofrimento. A vida do santo Saivita, Sundara Murthi Nayanar, abunda
com exemplos de “poderosa compaixão” de Deus que o salvou de muitas calamidades que
estariam para acontecer.
Alguém pode pensar que isto se aplica somente em relação a assuntos materiais.
Ramana respondeu que não é assim. Ao ser perguntado sobre o assunto em tela, mesmo em
relação às questões ligadas ao caminho espiritual, os pedidos nem sempre são necessariamente
atendidos, pois neste campo a negação em atendê-los pode ser benéfica. As preces solicitando
progredir na vida espiritual sofrem da mesma enfermidade, ou seja, ignorância do quadro geral
do progresso. Pode acontecer que a tentativa de acelerar o passo atue em detrimento do
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progresso para obter a introspecção. A prece é a forma sólida do intenso desejo de se obter
algo particular, semelhante ao gelo da água. Os pensamentos têm o seu momento, seu próprio
poder. Isto acontece por que os pensamentos surgem do coração e, quando tem o apoio da
atenção repetida por parte do indivíduo, então o desejo está certo de ser satisfeito. Torna-se
uma poderosa força kármica imprimindo direcionamento àquilo que o indivíduo tem que
experimentar. Se nesse meio de tempo, o indivíduo permanecer firme na identificação com o
Eu, o atendimento a suas preces , quando acontece, passará a ser algo indiferente para ele.
Como a individualidade não mais existe, a satisfação oriunda de um ardente desejo
anterior não lhe afetará.
De modo oposto, enquanto permanecer a individualidade, a pessoa talvez tenha que se
arrepender pelo atendimento à prece, uma vez que a força do pensamento ao dar frutos no seu
devido tempo, poderá ter conseqüências desastrosas. Portanto grande deve ser o cuidado e
prudência quanto ao conteúdo da própria prece. A pessoa deverá escolher bem seu conteúdo
ético. Caso contrário quando a força do pensamento disparar, poderá tornar-se um bumerangue.
A prece sabiamente praticada implica em dirigir-se ao Satguru a fim de criar uma atmosfera
de paz na qual a pessoa possa prosseguir no caminho em direção à introspecção não afetada
pelo estorvo dos incessantes pensamentos.
ela experimenta a fome ou a doença que só pode ser superada com remédios oníricos. Para
corroborar, no sonho existe a convicção de que os acontecimentos se desenrolam, por exemplo,
pela espaço de quinze anos quando para a realidade da vigília decorreram apenas cinco
minutos! Isto por que as medidas de tempo nos vários estados de vigília, sonho e sono
profundo, também, são diferentes. Além disso, apesar de os sonhos possam parecer
automáticos e sem conteúdo, na verdade são oriundos do karma como o são as experiências da
vigília. O karma inerente a cada um tanto pode operar no sonho como na vigília. O poder
kármico que dá origem ao sonho controla quanto tempo deverá durar e quando deverá cessar.
As experiências que se reservam durante o sonho são tão reais, enquanto se sonha, quanto as
que se desenrolam durante o período que estamos acordados. Vejamos uma ilustração disso
dada por Ramana. Uma pessoa adormece no salão do Ramanasramam e sonha que viajou por
todo o mundo percorrendo montanhas, vales, desertos e florestas, cruzando vários continentes.
Após muitos anos de fatigante viagem ele volta à Índia, alcança Tiruvannamalai, entra no
ashram e perambula pelo salão. Neste preciso momento ele acorda. Durante o período que ele
vagou e sofreu no sonho, essa experiência não lhe parecia real? Não terá ele padecido durante
esse período? Trata-se de uma manifestação kármica dolorosa, que de modo condensado,
revelou-se durante o período de sonho embora pareça durar pouco em comparação aos valores
de tempo usados na vigília. Quando sonhamos percebemos suas cenas como reais, mas quando
acordamos as qualificamos como irreais. De modo semelhante se experimentamos um estado
diferente da vigília podemos perceber a “irrealidade” dele. É possível que os tratemos como
“sonhos”. Esta possibilidade é focalizada nas escrituras e nos ensinamentos do Satguru.
Dizem-nos que existe um quarto estado, “Turiya” além dos três estados citados: vigília, sonho
e sono profundo. Ramana chama nossa atenção para este 4º estado, o qual, sendo natural, está
ao alcance de qualquer pessoa.
Quando se volta ao estado natural persiste o estado de sonho? Não. Por quê? Por que os
sonhos aparecem de modo involuntário e terminam automaticamente. Presentemente, isto é,
durante sua ocorrência, não existe vontade individual. O estado de sono profundo também deve
desaparecer por essa mesma razão. Isto por que a mente é nascente e está submersa na
ignorância durante o sono profundo. Por esse motivo Ramana diz que nenhuma obrigação
cabe àquele que dorme ou que sonha de fazer qualquer esforço; de fato o próprio esforço é
impossível.
Se o estado de vigília é semelhante ao “sonho”, alguns devotos perguntaram à Ramana
se haveria necessidade de esforço com objetivo de por fim a este “sonho”. Será que não
terminaria automaticamente como acontece ao estado de sonho? Eis a dúvida que tiveram. Este
raciocínio se baseia na falta de lógica. Quando os sonhos terminam, o sonhador não retorna
mais sábio do que era antes dos sonhos começarem. Se o esforço requerido, que na verdade é
possível não for feito no sentido de se interiorizar e permanecer fixado no estado de “Turiya”
a pessoa continuará a perceber as experiências da vigília como reais e não como sonhos que
essencialmente são.
Ainda sobre o tema dos sonhos, a pessoa deve considerar “auspiciosos” aqueles que são
tão vívidos que deixam forte impacto por toda a vida. Temos o relato de Paul Brunton a respeito
de um sonho que teve no Ramanasramam. Ele se viu como um garoto de cinco anos sendo
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conduzido pela mão firme, por uma figura gigantesca de Ramana até o topo de uma montanha.
No cume pediram que olhasse ao redor e percebesse que todo o hemisfério oriental se estendia
até o nível do oceano. Após isso, apesar dos altos e baixos de sua sadhana, Paul Brunton nunca
se esqueceu do fato de que Ramana o elevou ao Ser supremo através desta experiência. Temos
também a narrativa de K.K. Nambiar sobre seu sonho. Nele Ramana confirmou sua fé em
cantar os hinos sagrados. Estes sonhos são produtos do bom karma das pessoas afortunadas.
Mas se não necessita desejá-los intensamente por que o estado de sonho não tem qualquer valor
espiritual? Além disso, se você busca sonhos que sejam vantajosos deve, também, estar
preparado para os desfavoráveis.
E sobre os Jnanis? Será que tem sonhos? Por que não? Ramana diria: se eles têm os
outros dois estados de consciência mental – vigília e sono – também os sonhos devem existir
para eles. Certa vez Ramana narrou um sonho no qual teria subido uma montanha juntamente
com Chadwick e outros. Quando retornaram se viram numa larga avenida ladeada por arranha
céus. Mostrando os arranha céus, os edifícios a Chadwick e aos demais. Ramana perguntou-
lhes: “pode-se dizer que o que vemos é um sonho?” Eles Responderam em coro: “que tolo
diria isto?” Eles prosseguiram no caminho e entraram no salão do Ashram quando então o
sonho terminou. Isto significa que não existe diferença entre atitude dos jnanis e a nossa atitude
em relação aos sonhos? Só aparentemente é assim. De fato existe um mundo de diferenças: o
jnani é consciente que está sonhando e que o sonho é “irreal”. Sono profundo, sonho e vigília
são vistos por ele como estados mentais transitórios na plenitude da consciência em que se
acha mergulhado.
tempo. Na verdade Ramana gentilmente nos chamaria a atenção para o aspecto mais
importante da questão ao declarar: “você pensou em seu filho antes dele nascer e se lembraria
dele após sua morte?” ou “o nascimento do eu-pensamento é um nascimento, sua morte é a
morte de uma pessoa?” E assim por diante.
Portanto ele explicaria pacientemente as várias teorias das escrituras e tradições sagradas
referentes à continuação da vida após a morte
Além disso se o indivíduo atua com a sensação de que é o autor das ações semeará
automaticamente as sementes de futuros nascimentos e mortes. As memórias residuais de tais
ações, os samkaras, permanecem adormecidas no coração e tornam-se ativas quando as
circunstâncias são favoráveis. O mesmo poder que dá origem ao nascimento do corpo deve
necessariamente provocar não somente um nascimento, mas uma sucessão de nascimentos.
Até que a árvore da vida seja cortada pela raiz, pelo auto-conhecimento, através da auto-
indagação, o renascimento será inevitável. O ego, a mente, não morre, mas se liga a um outro
corpo. Ramana descreveu como isto sucede. Na hora da morte há uma pequena disputa entre
o atual corpo e o novo, ao qual o ego deverá se ligar em conseqüência da força kármica. Isto
se torna evidente pela respiração ofegante no moribundo, além disso, os espasmos violentos
nesta hora indicam o prolongado apego ao corpo atual. Somente quando se estabelece uma
identificação com o novo corpo é que a ligação com o antigo se interrompe. Desse modo não
há mais intervalo entre um corpo e outro. Alguns poderão nascer imediatamente em outro
corpo físico na terra. Outros poderão ter a oportunidade de ir a outros mundos assumindo
corpos sutis e finalmente voltar à terra a fim de esgotar sua quota kármica pendente. O intervalo
entre as encarnações é imprevisível, porém a reencarnação para resgate kármico é certa. As
pessoas voltam trazendo sua bagagem intelectual e emocional arquivadas em seus corações. O
passado não é conhecido até que a pessoa o ilumine através do conhecimento. É claro que tudo
isto não se aplica ao jnani que se acha mergulhado no universal.
Embora exista a certeza da continuidade da vida após a morte, isto não nos satisfaz. Para
começar não temos qualquer vínculo ou apego aos futuros corpos e tudo quanto é agradável
em nossas vidas baseia-se nos eventos atuais. Com relação a isso citamos uma típica pergunta
feita por uma senhora de Uttar Pradesh, cujo filho havia falecido. Após ouvir a explicação de
Ramana sobre a vida após a morte ela perguntou se poderíamos manter um contato com a
pessoa falecida e saber o que estava acontecendo. Ramana fez-lhe ver que não se deveria dar
muita importância a estas indagações por que aquele que faz a pergunta é irreal. Entretanto,
por compaixão Ramana confortava os parentes aflitos.
T.P. Ramachandra Iyer narrou um caso ocorrido relativo ao assunto. Certa vez, logo
após ter sido aberta a caixa do correio do Ashram, um casal cujo único filho havia morrido,
acercou-se de Ramana e falou: “nós o amávamos ternamente, mas, após sua morte a alegria
desapareceu de nossas vidas”. Temos apenas um desejo: o de, ao menos, ver nosso menino
em nossa próxima encarnação. Ramana os admoestou: “pai, filho, nascimento, conheça
primeiro o real significado dessas coisas. Posteriormente entraremos na questão do próximo
nascimento. Mas a tristeza do casal não foi abrandada até que Ramana lhes disse: “vocês,
certamente, o verão; vocês o verão na próxima encarnação, de maneira tão vívida, como o
viram neste nascimento”. Quando T.P. Ramachandra Iyer perguntou à Ramana por que deu
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esta garantia, este lhe disse: “que posso fazer”? De outro modo a fé do casal teria sido cortada
pela raiz”. A seguir o mestre citou um verso do Bhagavad Guita. A essência do verso mostrava
que a verdade só pode ser passada a pessoa que se acha preparada para compreendê-la. Há
outro fato, ainda ligado à compaixão de Ramana, quando ajudou a um devoto perturbado que
teve um sonho vívido com sua mulher. De início tentou dissuadir o devoto declarando: “o que?
Você se sente confortado por causa de uma visão em sonho?” Mas não recusou a ajudá-lo
quando persistiu.
Embora consolando os devotos, o refrão de Ramana era: “é o corpo que morre. É o
corpo que reencarna? Mas vocês são corpo?” Pelo fato de ter vindo nos redimir do sofrimento
imposto pela ignorância oriundo do primeiro apego, ou seja, a idéia de que somos o corpo,
Ramana nunca se cansou de expor a verdade. A verdade de nosso estado natural de
imortalidade sempre foi enfatizada com a ressalva de que o nascimento e a morte pertencem
apenas ao corpo kármico. O “Eu” não é aquilo que entendemos ser, mas sim a plenitude da
consciência que é não nascida e, portanto, nunca morrerá.
A incessante auto-indagação nos revelará esta verdade a pouco e pouco. Quando
percebermos a realidade por trás desta vida presente, todos os laços do passado e do futuro
serão cortados. Seremos, então, conscientes de nossa verdadeira eternidade.
corpo são distintos e separados. É necessário que nos aprofundemos neste tópico. De início
temos que indagar: “por que o corpo veio à existência?” Os grandes mestres não têm uma
causa kármica que explique seus nascimentos. Eles nasceram para o bem do mundo e podem
reter o corpo tanto tempo quanto desejarem. Ramana disse a Rangan que Yama (o Deus da
morte) deve esperar e pedir permissão ao jnani, pois somente quando este estiver pronto para
deixar o corpo tal fato ocorrerá. Para o comum dos homens, o nascimento é parte da lei cósmica
e como resultado disto as pessoas passam por experiências conseqüentes ao equilíbrio ético. É
por causa deste fato que vemos a mortalidade infantil, a morte de jovens, as mortes súbitas e
imprevisíveis e a longevidade dos idosos. Muitas pessoas questionam as leis e a sabedoria
Divinas quando crianças e jovens morrem. Desde que, entretanto, o corpo veio a existir como
resultado do karma, quando este poder se exaure a vida se extingue. Vemos que o corpo,
vinculado com é o karma particular que deu origem a seus nascimentos, chega a um fim quando
este poder desapareceu. A mente pode estar no mais elevado estágio de seus poderes, o corpo
em perfeita saúde, mas seu karma tendo se extinguido, a morte não pode esperar.
Também podemos encarar isso de um novo ângulo. Os mestres demonstraram em suas
vidas como uma pessoa pode desligar-se totalmente de seus corpos e permanecer inatingível
por suas mudanças e sofrimentos. O corpo de Ramana passou por intenso sofrimento
provocado por um sarcoma durante mais de quinze meses. Em nenhum momento ele se
lamentou embora a dor tenha sido martirizante. Quando indagado pelo Major Chadwick se
estava sofrendo Ramana disse: “não”. Mas ao mesmo tempo declarou: “existe a dor”. A dor
pertencia ao corpo, não a ele. Por este motivo mostrava seu olhar fascinante e seu Divino
esplendor mesmo no dia 14 de abril de 1950 quando decidiu abandonar seu corpo físico
torturado por intensa dor.
Se a mente e o corpo são distintos e o karma refere-se ao corpo, alguém pode perguntar
por que a mente também parece estar sob sua influência? A causa disto é o apego. Em
conseqüência do impulso do passado somos incapazes de nos desidentificarmos com o que o
destino trás para o corpo e desse modo sermos afetados pela tristeza ou alegria a que o karma
nos impõe. Se o indivíduo aprende a não prestar atenção aos acontecimentos; se aprende a ser
desapegado deles, então, onde estarão os prazeres e angustias? Isto é óbvio simplesmente pelo
fato de que cada situação pode ser desprezada ou minimizada pela mente. A pessoa ou sofrerá
o peso dos acontecimentos ou poderá administrá-los com o poder do equilíbrio e da calma. Daí
surge a primeira premissa básica de Ramana: a pessoa está apta a exercer seu livre arbítrio
seja para se identificar com os acontecimentos ou ser indiferente a eles. A resposta dada por
ele à senhora Desai trará mais esclarecimentos sobre isso. Ela, ao citar o Bhagavad Guita, fez
a seguinte pergunta à Ramana: o fato de a pessoa ter que trabalhar por força do destino não
invalida a questão do livre arbítrio? O mestre explicou-lhe que cada pessoa tem a possibilidade
de se livrar “das alegrias e tristezas, das conseqüências agradáveis ou desagradáveis da
atividade, desde que não se identifique com o corpo físico”. Deixe o corpo passar pelos
desígnios do destino, mas caberá a cada um não se sentir mentalmente afetado por ele ao usar
seu livre arbítrio para cortar as amarras do apego.
O indivíduo tem, portanto, de alcançar este estado através da prática espiritual. Mesmo
no início já existe a liberdade. O livre arbítrio pode ser praticado de maneira correta. Se tal não
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ocorrer não haverá sentido para as regras de ordem espiritual e os códigos de conduta moral.
A pessoa tem que discriminar entre o bem e o mal, entre o que lhe trás prazer e o que o libera
e, a partir daí, escolher com sabedoria o que fazer. Acreditar que se é vítima inevitável do
karma é cair na armadilha que a mente prepara. Se pararmos para pensar, veremos que é
impossível permanecer passivos, como meros observadores dos acontecimentos, pois a própria
natureza de cada um o impulsionará a assumir uma ou outra forma de atividade. Enquanto o
sentimento de perceber-se como o autor da ação for patente e vívido, não se terá descanso. O
uso do livre arbítrio e a ação são inevitáveis. O livre arbítrio deve ser canalizado no sentido de
praticarmos atos que possam purificar a mente e permitir que se escape das algemas do destino.
Aqui é necessário que se esclareça um ponto. Dizer que a pessoa deve agir com determinada
intenção não implica que terá assegurado o sucesso. Certo devoto de Ramana, que se achava
deprimido, disse-lhe que apesar de ter chegado ao ashram um bom para de anos atrás e
cultivado sua força de vontade, deparou-se com uma série de fracassos em seus esforços.
Ramana esclareceu que o resultado disso é apenas o fortalecimento da mente tornando a
pessoa apta a enfrentar tanto o sucesso como o fracasso com igualdade. Ele mesmo esclareceu
que “a força de vontade não é sinônimo de sucesso”. Isto por que o sucesso ou o fracasso são
produtos do destino, enquanto que o livre arbítrio capacita a pessoa a neutralizá-los
direcionando a mente para uma mudança de atitude.
A atividade tanto do destino como do livre arbítrio perduram enquanto não se faz a
indagação: “quem é que está escravizado? E “quem é que está livre”?” Por meio da prática
constante da vichara, da ininterrupta auto-indagação, cessa a falsa noção de que se é o agente
da atividade. A partir daí tanto o destino como o livre arbítrio são eliminados pela raiz, pois a
pessoa, a qual pertençam, perdeu seu sentido de identidade. O que permanece é somente o Eu
Divino, sempre liberado, sempre livre.
Cada ação deixa um resíduo na memória que fica arquivado no coração sob a forma de uma
semente. Sua impressão embora latente, é forte, pois pode tornar-se viva a qualquer momento,
frequentemente de modo inesperado. Os objetos desejados e as circunstâncias continuam
mudando, mas o passado sob a forma de tendências latentes frequentemente nos impulsiona
em direções opostas. Vamos supor que agora desejamos buscar a Deus. Nossos pensamentos
nesta direção serão contrariados por outros opostos a isso, que surgirão das experiências
sensoriais do passado acumuladas em nossa memória. Assim seguir-se-á uma real batalha que
nos encherá de desgosto e tristeza em conseqüência de nossa inabilidade em progredir ou
mesmo de usar plenamente o tempo dedicado à meditação. Isto se estende daí para frente. Uma
pessoa querida morre, mas nosso apego a ela não se extingue. Assim, mesmo que queiramos
esquecê-la, nossos pensamentos referentes a ela não permitirão que isso aconteça. Isto também
é verdade nos casos opostos. A alegria que foi sentida em outros tempos pode ser renovada
quando surgirem pensamentos agradáveis, face à proximidade do objeto desejado ou quando
sua lembrança for forte. Desse modo felicidade e tristeza continuam flutuando e é sempre um
conjunto misto. No mundo dos pensamentos existe apenas o prazer maculado de sofrimento e
não pura felicidade. A seguinte questão surge: “é possível mudar do prazer transitório para
uma felicidade duradoura usando a estrutura da mente?” É possível, mas apenas numa
limitada extensão. Através da associação com os sábios, adoração ao Ser Supremo, controle
da respiração e outros meios que se coadunem com o temperamento da pessoa, a mente torna-
se purificada e forte. A mente adquire a capacidade de descartar-se dos pensamentos que
provoquem tristeza, quer por detectá-los tão logo surjam na superfície da consciência, ou
contra atacá-los injetando pensamentos opostos a eles. No aspecto positivo, a pessoa está apta
a permanecer com os pensamentos desejados por mais longos períodos de tempo e gozar da
alegria que eles proporcionam. Quando os desejos são satisfeitos, a mente se acalma por algum
tempo e consequentemente reflete a felicidade inerente ao Eu.
Embora uma mente forte, uma mente purificada, adquira a capacidade de permanecer
feliz, esta será sempre instável, insegura e circunscrita por “outros” e “acontecimentos”. Isto
por que topamos, às vezes, com circunstâncias tão irresistíveis que cedemos diante do seu
violento assédio. Há um relato de tais ocasiões nos “Diálogos”. Trata-se da guia espiritual de
Ramana em tais situações. A Maharani de Baroda visitou Ramana mostrando-se muito
angustiada e solicitando suas bênçãos no sentido de aliviá-la de uma muralha de circunstâncias
adversas. Ramana solicitou T.P.R, que se achava presente no salão do Ashram, para que lesse
e explicasse a ela o significado de alguns versos escritos por Muruganar com o nome de
“Ramana Sannidhi Murai”. Foram selecionadas canções que fizessem referência ao seu
estado mental. Quando ela recuperou aos poucos seu equilíbrio mental, Ramana enfatizou as
vantagens de render-se ao guru e persuadiu-a a tentar isso de modo gradual. O Maharajah de
Mysore reverenciou à Ramana ao ler sobre sua vida e ensinamentos. Entretanto
acontecimentos surgidos na corte real não permitiram sua homenagem pessoal ao Maharshi.
Ele ficou apenas por quinze minutos no Ashram embora vindo de Mysore. Ramana percebeu
imediatamente sua carência e estado d’alma. O mestre prontamente concedeu-lhe sua graça.
Assim o Maharajah pode usufruir do potente silêncio saturado pela presença de Ramana.
Outro caso ocorreu com Pannalal, administrador da Allahabad Corporation, que veio à
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presença do mestre solicitando paz, o que não conseguia em seu serviço. A ele Ramana
enfatizou o estado natural da felicidade. Estes fatos indicam que, enquanto perdura o domínio
da mente, há o perigo desta se perder e tropeçar.
A solução correta é orientar-se para o estado livre de pensamentos. Quando a mente
descansa em sua fonte então o fardo dos pensamentos é liberado. Quando o filhote de esquilo
aguardava uma oportunidade para se afastar do ninho, Ramana comentou: “todos querem ir
para fora”. Não há limite para a exteriorização, busca-se a felicidade nos objetos, com a mente
exteriorizada. Ramana nos pede que nos orientemos na direção oposta, para dentro,
interiorizando a mente. A busca pela felicidade no exterior é inevitável enquanto houver a
errônea identificação da pessoa com o próprio corpo e a mente. Por isso o indivíduo superpõe
a felicidade baseada nas pessoas e acontecimentos tão erradamente quanto um apaixonado
insinua castidade numa prostituta. Esta ignorância tem que ser resolvida desde que a mente se
torne livre de pensamentos e se inicie o real caminho em direção à felicidade. A obstrução
observada no caminho espiritual deve-se ao velamento provocado pelos pensamentos. Os
meios a serem adotados a fim de superar essa obstrução terão por objetivos silenciar a mente.
Uma vez que forem adotados os meios corretos veremos que a felicidade surgirá sem ser
maculada pelo sofrimento. Porque, como Ramana sempre ressaltaria, a felicidade é natural e
a infelicidade não; tão certo como a boa saúde é normal e a doença não. A busca da verdadeira
felicidade é a prova de seu estado natural. Além disso, como Ramana explica sobre este tópico,
ficaríamos contentes em permanecer no sofrimento se ele fosse nosso destino. Do mesmo
modo que a pessoa desejaria se livrar de uma dor de cabeça e ter saúde plenamente
restabelecida; desejaria também por um fim ao sofrimento e reaver a felicidade natural.
A auto-indagação é o meio direto e simples para se chegar ao estado livre de
pensamentos, pois rapidamente interioriza a mente. Por meio de constante vigilância contra os
pensamentos usurpadores, através da persistente auto-indagação o indivíduo é direcionado
para o interior. Como o sabor da alegria interior é cada vez mais percebido, o forte desejo pelos
prazeres sensoriais enfraquece e a loucura das antigas atitudes é vista com clareza. Aquilo que
começa como um riacho depois se transforma num rio caudaloso e finalmente se expande na
vastidão do oceano de bem-aventurança.
Quem disse que o guru não é necessário? Formatado: Fonte:16 pt, Sem sublinhado, Cor da fonte:
Texto 1
Formatado: Título 1, Esquerda, Recuar: Primeira linha: 0 cm
Dilip Kumar Roy:embora todos digam que a orientação de um guru é necessária, parece Formatado: Sem sublinhado, Cor da fonte: Azul-petróleo
Escuro
que Bhagavan teria dito que o guru não é necessário.
Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
Bhagavan: eu não disse isso, mas o guru nem sempre se apresenta em forma humana.
Roy: mas no caso de Bhagavan não houve guru.
Bhagavan: como já foi dito o guru não necessita estar em forma humana é o “Eu” no
interior, Deus e o guru são a mesma coisa.
(Dia-após-dia com Bhagavan)
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Ramana não teve guru em forma humana. Sua premissa é a de que para um jnani não
existem “outros”. Consequentemente ele não poderia aceitar que era um satguru daqueles que
haviam escolhido seu caminho.
Isto significa que Ramana não teve guru ou que não era guru? Não. Ele nasceu com a
consciência da glória de Arunachala brilhando em seu coração. O simples pronunciar da
palavra “Arunachala” por parte de um parente dele agiu como “iniciação”, mergulhando-o
no estado de auto-indagação. Seus hinos estáticos são prova do fato de que Arunachala, como
Eu interno, foi seu guru. Para aqueles que o encaravam como guru ele assim era. Como ele
explicou a um visitante, aqueles que se sentiam atraídos por sua forma e nome eram seus
devotos. Para os devotos que viam na auto-indagação o caminho e a meta da prática espiritual,
ele era seu guru. Sua “iniciação”, de vez em quando, poderia se manifestar através de seu
penetrante olhar, de sua furtiva mirada ou mesmo através de seu silêncio envolvente.
Quem pode ser considerado como guru e qual o seu papel? Alguns desejariam transferir
toda sua responsabilidade para ele e descansar sob seu comando. Outros reconheceriam seu
papel, mas têm a mente tão fraca que os incapacita a praticar aquilo que percebem ser o que é
correto. O terceiro tipo de pessoas são as que dão o melhor de si a fim de praticar
constantemente a “vichara”,embora reconhecendo durante todo o tempo que seus frutos
dependem da graça do guru. É certo que todas essas categorias de pessoas se beneficiam com
a orientação do guru, mas apenas aqueles que empregam o requerido esforço, combinando-o
com a entrega de si ao guru, têm o melhor aproveitamento. Suas mentes tornam-se mais
rapidamente purificadas e seu retorno ao estado natural de paz é acelerado.
O papel do guru é melhor observado através da gentil e firme guia por parte de Ramana.
A seguir alguns casos ilustrarão isto. Ramana sempre mantinha a prática espiritual que o
discípulo havia escolhido e simultaneamente encorajava-o na prática da auto-indagação. Como
certa vez frisou: “suponhamos que um automóvel esteja em alta velocidade. Freá-lo ou mudar-
lhe a direção de modo brusco poderá trazer conseqüências desastrosas”.
Vemos uma ampliação desta conduta no caso de Pannalal, um oficial graduado do
governo de Uttar Pradesh. Ele se sentiu rapidamente atraído pelos ensinamentos de Ramana.
Ao mesmo tempo repetia o nome sagrado “Hari” conforme instrução dada por seu guru.
Sentiu-se, então, num dilema. Deveria romper com o passado ou desistir das óbvias vantagens
da “vichara marga” ensinada por Ramana ? ele expôs a questão diretamente á Ramana.
Bhagavan ensinava a auto-indagação enquanto seu guru o instruía a ter fé na repetição do
nome de Hari. Que deveria fazer daí em diante? Ramana simplesmente referiu-se a um artigo
sobre Namdev e a glória do nome do senhor publicado na revista “Vision”! Isto confirmou sua
fé no sagrado nome de Deus e ao mesmo tempo ajudou-o a reconhecer a utilidade da auto-
indagação. Do mesmo modo sugeriu aos auxiliares de cozinha, cuja prática se baseava em
métodos tradicionais, que continuassem repetindo o nome do Senhor, ou “Parayana”.
Sampoornamma foi aconselhado a ler regularmente o ”Ribhu Guita”, apesar de sua objeção,
pois para ela tal leitura era como “grego” ou “latim”. “De igual modo a Lokamma foi sugerido
ler o Vasudeva mananam”. Quando esta declarou que não se lembrava de quase nada do que
lera, Ramana brincou: “nós nos esquecemos do que devemos lembrar e nos lembramos do que
devemos esquecer”.
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durante o período de vigília, embora o tipo de pensamento possa variar, não existe interrupção
no seu aparecimento. Mesmo durante nossos melhores períodos de meditação estamos apenas
tentando nos direcionar num único pensamento, mas não estamos inteiramente livres das ondas
mentais. É verdade que todos nós temos momentos de auto-alheiamento, porém não aparecem
pelo fato de estarmos livres de pensamentos, mas pela intensidade de pensamentos e
sentimentos particulares.
Alguém poderá dizer de coração que temos medo, muito medo, na verdade do
“manolasa”, isto é, do estado em que a mente está morta. Nós cantamos os versos do “Upadesa
saram” que se referem a isso e lemos os esclarecimentos de Ramana nos diálogos mas
achamos difícil de compreendê-los. Este receio foi relatado à Ramana por Paul Brunton ao
expressar sua apreensão quanto à possibilidade da pessoa se tornar um idiota sem o sentido de
direção e o perigo de uma colisão caso dirigisse um carro abaixo do nível mental. Novamente
vemos também o Major Chadwick transmitir sua apreensão quando falou sobre o medo que o
acometeu após ter meditado por algum tempo. A mente está pronta a batalhar até a última
trincheira ao criar temores sobre o que possa acontecer quando não está em atividade. O
indivíduo não pode se livrar deste medo por meio da lógica, pela análise, ou por convicção
intelectual. Temos que solicitar à Ramana para que nos ampare e guie.
Ramana diz que, por hábito, acreditamos que pensar é natural, mas na verdade é o
oposto. O silêncio é natural e o pensamento não. No estado sem pensamentos, estes poderão
aparecer quando e como for necessário e a mente permanecerá calada quando terminar seu
papel.
Quando a mente se cala nós não nos tornamos inconscientes. A consciência limitada da
mente dá lugar à plenitude da consciência. Ramana compara a mente à lua e a fonte da mente
ao sol. Quando a mente está ancorada em sua fonte é como a lua no período diurno. Qual a
necessidade dela quando alguém tem até que proteger-se do intenso brilho do sol?
Para concluir Ramana dirigirá nossa atenção para as vidas de Jesus e Buda. O estado
natural de silêncio deles não surgiu pelo fato de terem pensamentos necessários e apropriados
para determinada ocasião. A diferença está em que seus pensamentos tinham um propósito
puramente funcional sem qualquer injunção psicológica. O aparecimento e a interrupção dos
pensamentos eram automáticos. A vida de Ramana ilustra isso de modo impressionante. Sab-
Jaiv, o colega de infância de Bhagavan, visitou-o após muitos anos. Ramana reconheceu-o e
conversou com ele sobre os anos do período escolar. Devajara Mudaliar preocupando-se com
o sarcoma de Ramana conseguiu que um médico famoso, o Dr. Guru Swami Mudaliar, fosse
examinar o mestre, entretanto não conseguiu estar presente quando foi feita a consulta.
Ramana perguntou por ele reconhecendo seu prestimoso serviço. Um devoto doente
estava incapacitado de ir até o Ashram. Ramana foi visitá-lo, sem que os outros devotos o
soubessem e fez perguntas sobre sua saúde. Nas primeiras horas da manhã Ramana estaria na
cozinha dando esperta ajuda e convertendo pratos insípidos em “manna” dos céus. Ou alguém
poderia encontrá-lo explicando pacientemente a um sadhu visitante as características dos
diferentes tipos de samadhi, enfatizando que o que importa é somente o “sahaja” ou samadhi
natural. À noitinha ele estaria no estado transcendental simplesmente irradiando sua paz. Seus
relacionamentos eram absolutamente humanos no sentido de que todas as faculdades
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de acalmia durante nosso sono profundo ou quando estamos em transe, ou desmaiamos. Assim
a paz sobre a qual estamos falando é de uma dimensão totalmente diferente. Neste estado,
como Ramana explicou ao se referir a sua “experiência da morte”, sente-se a plena força da
personalidade da pessoa. É uma pulsação vibrante – chamada sfurana – que é sentida no
coração como a plenitude da bem-aventurança.
A última mensagem de Ramana é encontrada em suas palavras antes da morte: “onde
poderia ir? Eu estou aqui”. Sua atual presença pode ser sentida tanto agora, no dia presente,
quanto na época em que estava encarnado. Se a pessoa sentir esta presença estará vivendo
numa atmosfera transbordante de paz. Como não conhecemos sua alegria e felicidade, surgiria
naturalmente a pergunta: “como pode o indivíduo estar consciente de sua presença?”
Usualmente a ligação com Ramana começa com a atração exercida por sua imagem física.
Como estamos enraizados nos conceitos particulares de nome e forma no atual estado de
consciência, pode-se sentir o forte magnetismo que se irradia da presença do mestre. É o puro
e imaculado “poder átmico” emanando de Ramana que purifica as mentes daqueles que se
aproximam do âmbito de sua graça. É muito difícil cortar os laços da base física deste
relacionamento, o qual, após seu “maha-samadhi” se mostrou sob a forma de cânticos de
louvor ao sagrado nome do mestre e que os discípulos entoavam quer junto a seu túmulo, em
Ramanashramam, quer em outros lugares. Isto também explica a atração, que se compreende,
pela admirável fotografia de Ramana. Frequentemente a pessoa não consegue se desviar da
fisionomia amorosa do mestre, cuja beleza cresce quanto mais se olha para ela. Isto é
compreensível por que como Ramana ressaltou no “Sat-Darshana - Bashia”, enquanto a
pessoa se percebe como corpo físico, a adoração do Supremo com forma surge naturalmente.
Embora reconhecendo a realidade do fator físico, devemos evitar o perigo de nos ligarmos
apenas ao brilho do matiz dourado do corpo de Ramana. Isto por que Ramana é o Satguru
que transcende corpo, tempo e espaço. Ramana estava ciente da realidade deste perigo e
aproveitava qualquer oportunidade para estabelecer a verdade de que não era apenas o corpo
físico, ao qual, os devotos afetuosamente amavam, mas o “Eu”, que brilhava dentro, fora e em
toda parte. No espaço de muitos meses quando o corpo de Ramana se achava torturado com o
sarcoma, ele aproveitava toda oportunidade para demonstrar que a doença e suas
conseqüências pertenciam apenas ao corpo e por isso não poderia afetar seu estado de
beatitude.
Infelizmente essa lição que ele tão pacientemente tentou incutir em todos nós se perdeu.
Consequentemente testemunhamos o fenômeno do grande êxodo do Ashram por parte dos
devotos, imediatamente após o “maha samadhi” do mestre. Por esta razão ouviam-se queixas,
mesmo dos devotos que tiveram a oportunidade de privar com Ramana, a respeito da própria
inabilidade de encontrar a paz longe de sua presença física.
Surge a questão sobre como o indivíduo pode eliminar essa barreira de tempo-espaço
que se origina das limitações que nós mesmos nos impusemos a partir da idéia de que somos
o corpo. As escrituras dizem que se a pessoa se liga ao Satguru, esta ligação a levará a libertar-
se de todos os apegos. É importante, portanto, cuidar de estabelecer uma relação contínua que
nos traga a companhia de Ramana. Neste caso os meios a serem adotados dependem da
inclinação natural de cada um. Frequentemente vários meios têm que ser combinados a fim de
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se atingir o objetivo de uma relação contínua com Ramana. Nesse contexto, a pessoa deve
lembrar que a relação com o Satguru tem duplo sentido. O devoto deve fazer tudo que puder
para avivar o fogo da devoção por Ramana e manter essa chama sempre brilhando.
Concomitantemente a graça do guru acha-se operando durante todo o tempo a fim de atrair o
devoto para o interior, guiando-o durante a jornada em direção ao interior. Como foi
mencionado anteriormente, a metodologia para inclinar a pessoa para Ramana é variada em
virtude da diversidade dos temperamentos humanos. O fato acontecido com a senhora Kamat,
uma visitante ao santuário de Ramana, em Bangalore, ilustra isso. Ela percebeu que ao tentar
com esforço praticar a auto-indagação, sua mente vagava o tempo todo; enquanto que no
momento que abria qualquer livro sobre ensinamentos de Ramana sua mente se interiorizava
num instante, tal era o poder da palavra para ela. Esta senhora é um típico exemplo, entre
muitos, que Ramana atraia através de livros, seja o livro “A Índia secreta de Paul Brunton”,
seja “Ramana Maharishi e o caminho do auto-conhecimento”, de Arthur Osborne ou o “Guru
Ramana” de Cohen, além de outros. O aumento nesta década da música e dança dedicadas a
Ramana, é uma evidência de sobra do poder de atração exercida pela Bhakti direcionada à
Ramana. Cada um tem seus momentos de estima com Ramana e ninguém tem o direito de
sugerir outros meios que possam não ser os de sua preferência. Contanto que a pessoa não
perca de vista de que o importante é estar na presença do mestre, pois cada simples passo em
direção a isso é o passo certo. Uma vez que a mente seja possuída por Ramana , quando estiver
lotada de pensamentos sobre ele, será um simples passo deste unidirecionamento da mente em
direção ao estado superior.
O indivíduo tem que estar sempre precavido com os meios que a mente usa para iludi-
lo e afastá-lo da companhia de Ramana. Cohen se recorda que, após vários anos de sadhana
aos pés de Ramana no Ashram, subitamente sentiu uma necessidade de mudança de ares, uma
necessidade de peregrinar. Ele próprio estava ciente que a santa companhia de Ramana, pela
qual havia deixado seu lar, era tudo que precisava. Mesmo assim, mordido pelo mosquito da
peregrinação, perdeu muitos e preciosos anos do convívio com o mestre. Swami
Ashishananda lembrou-se que, justamente quando estava no limiar de uma elevada
experiência espiritual, foi persuadido por seus familiares a deixar o Ashram e, em conseqüência
disso, foram necessários anos e mais anos de Sadhana para atingir o nível inicial. A mente tem
seus métodos enganosos mas, apesar disso, é o único instrumento que a pessoa tem, o único
veículo em direção ao nosso estado natural de bem-aventurança que é apontado por Ramana.
Isto por que a mente tem um elemento consciente, o ‘Eu sou, o qual estabelece uma ponte em
direção ao estado natural. A atenção ao “Eu”, ou mais acuradamente, a sua fonte nos levará ao
fascínio interior em experimentar a alegria do estado natural. O progresso é sempre uma
questão de amadurecimento gradual que advém desta “Upassana”, que implica num firme
relacionamento com Ramana através de quaisquer meios para os quais a pessoa acha-se
naturalmente inclinada. Estes outros meios poderão encontrar na auto-indagação um auxílio
útil, um potente instrumento. A corrente individual se submerge na universal. Então estamos
realmente no domínio de Ramana , o coração espiritual.
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Deixe surgir um exército de pensamentos Formatado: Fonte:16 pt, Sem sublinhado, Cor da fonte:
Texto 1
Formatado: Título 1, Esquerda, Recuar: Primeira linha: 0 cm
Formatado: Cor da fonte: Azul-petróleo Escuro
A vida é uma mudança no tempo. Cada momento é diferente daquele que o precedeu. O
metabolismo do corpo muda a cada minuto. Existe crescimento e decadência em toda criação.
Quando a pessoa percebe esse sentido de transitoriedade, surge uma ânsia em descobrir o que
significam a vida e a morte. Janaka era um rei generoso e virtuoso, venerado pelo povo de seu
país. Ele estava feliz em deixar a vida passar até que o Divino deu-lhe uma ajuda no sentido
de transformá-lo. Certa vez, enquanto gozava das belezas de seu parque; subitamente ouviu
canções de siddhas invisíveis. A mensagem deles era clara para Janaka, como o é para nós. A
mais longa vida é apenas uma ondulação no oceano do tempo.
Como é que a pessoa utiliza melhor o tempo concedido a cada um pelo karma? Uma vez
que se tem o desejo compulsivo de ser imortal, de estar acima do fator tempo, aqui e agora,
que se deve fazer? Libertar-se das algemas do tempo é certamente possível, assegura Ramana.
Se a pessoa permanece no estado natural não há o entrave do tempo. Este estado está
“disponível para todos, a qualquer tempo, sob todas as condições”. Que é que encobre a
verdade, anuvia nossa compreensão? Se a pessoa indaga sobre o que é que obstrui, descobrirá
que é apenas a tela dos pensamentos. Somos herdeiros de uma multidão de pensamentos
nascidos de ações não completadas. Como Ramana destaca, nossas ações “são executadas com
uma parte da mente e por freqüentes interrupções”. Isto é inevitável no caso da mente ser
multiplicada por vários desejos com propósitos contrários. O desejo de fixar-se apenas aos
pensamentos agradáveis também aumenta a dificuldade. As conseqüências de tal ação são as
impressões indeléveis na memória, as quais fazem do passado uma parte integral da mente. O
poder do pensamento, assim criado, dará um impulso adicional à ação atual, desse modo
construindo também o futuro. A vastidão de tais pensamentos e sua variedade é responsável
pela desconfiança e o receio manifestado por Ramana, que a pessoa possa sempre ser vítima
do tempo, atado de mãos e pés, ao karma. Ramana jamais aprovaria pensamentos tais como:
“a realização é difícil”, “a auto-realização não é para mim” ou “tenho muitas dificuldades a
superar”, os quais deveriam ser descartados por que são obstáculos, mas não são a verdade.
Por que se preocupar? Outros foram bem sucedidos. Por que nós também não podemos ser
bem sucedidos? No caminho de Ramana aprendemos que o passado consiste em pensamentos,
bons, maus e indiferentes e por isso devem ser eliminados sem rememorá-los. Por que temer o
exercito de pensamentos? “Os objetos são muitos, mas o sujeito é um só”. Daí a repetida
ênfase de Ramana para que se concentre a atenção “no pensador por trás do pensamento”, “no
Uno atrás do desejo de agir”, no ator por trás da ação”.
O que se pretende é orientar a prática espiritual no sentido de prestar atenção à
consciência por trás do fenômeno. Este foi o conselho que Humphreys recebeu em 1911. Disse
Ramana: “não fixe sua atenção nas coisas mutáveis: vida, morte e fenômenos. Não pense nem
no presente ato de vê-los, mas apenas naquele que vê todas essas coisas”. O que se aconselha
é: “permanecer fixo numa indagação firme e não objetiva”. É a atenção individual que gera
uma torrente de pensamentos e lhes dá vida.
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É comum pensar-se que os outros pensamentos existem apenas até aonde somos
conscientes deles. Tal como a vida de uma árvore está em suas raízes e não em seus numerosos
galhos ou milhares de folhas, assim também o que importa é a atenção individual. Se não
dermos atenção aos outros pensamentos eles definharão e desaparecerão.
A pessoa deve fazer uma pausa sobre este tema e indagar se a mente é uma fonte
independente de energia. Refletindo sobre a experiência diária, percebe-se que a mente (o
individual e os outros pensamentos) é inexistente durante o sono profundo, embora não haja
interrupção de nossa consciência, por que se mostra contínua. Assim a mente, o individual,
não é auto-consciente. Se não é consciência de onde o individual deriva sua consciência?
Ramana nos ajuda mostrando que é do coração espiritual. Disso se segue que trocar a atenção
dirigida aos pensamentos pelo pensador (aquele que pensa) ainda não é o fim em si mesmo. É
apenas uma etapa “no processo de desviar a atenção e interesse por aquilo que a pessoa não
é”. A atenção da mente no seu interior tem que ser mantida até que a pessoa atinja a “zona
magnética” do coração. “A atitude de auto-indagação deve saturar toda nossa maneira de
viver”. Mergulhemos em nosso interior com atenção inteiramente focalizada no “Eu” e
seremos levados ao ponto onde o poder do coração tomará conta. A corrente individual
submerge no universal e o indivíduo viaja além das praias do tempo. A pessoa nasce novamente
tendo consciência da unidade da vida.