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O radinho
A mente é como se fosse um rádio: às vezes toca baixinho um som agradável e às vezes incomoda os
vizinhos. Aqui, sugiro entendermos que o principal vizinho - satisfeito ou insatisfeito - somos nós mesmos.
Isso significa dizer que nós temos uma mente, assim como temos um rádio - portanto, nós não somos essa
mente.
Uma vez que nos desidentificamos dessa mente, podemos perceber que é possível lidar com ela com mais
clareza e leveza. Uma pequena distância dela (ou seja, entender que temos uma mente, logo não somos
essa mente) será necessária para observarmos seus padrões como uma terceira pessoa: com menos
envolvimento, mais atenção, e por fim, maior domínio.
As estações (ou estados) que nossa mente sintoniza tendem a se repetir em grande medida - são os nossos
padrões aprendidos ao longo do tempo. Assim, certas músicas sempre reaparecem na nossa playlist;
algumas são, boas outras nem tanto. Perceba que inicialmente não podemos excluir um item assim do
nosso repertório, porque a mente não tem o botão delete para algo muito marcante.
Uma maneira de evitar que certa música entre no ar (com tanta frequência) é ampliar esse repertório:
acrescentar mais canções até que nosso acervo se enriqueça e distribua nossa atenção para outras coisas.
Lembre-se deste princípio: a nossa energia vai para onde a nossa atenção está. Uma mente relaxada se
torna criativa, como uma criança que cria as regras do jogo - mas uma mente distraída tende a sempre
voltar ao mesmo padrão, como em uma partida de damas.
Para cultivar um bom estado mental, podemos acrescentar músicas ao repertório, de diferentes estilos: uma
que ouço conversando com amigos, outra que toca quando faço um trabalho que amo, uma que surge
quando e assim por diante… Ou seja: é mais fácil “desapegar” de algo que nos incomoda quando temos
outra coisa para “pegar" em lugar daquilo. A vida nos convida ao envolvimento - a meta de não pensar em
nada talvez te angustie. Esse estado virá naturalmente quando estivermos em real conexão com um
propósito e com o presente - e isso exige mais atenção para onde nossa mente está indo constantemente e
para onde queremos levá-la.
O silêncio interior
Você medita ou entra em um estado meditativo com facilidade através de alguma técnica ou prática
simples? Perceba que isso não exige nada de sofisticado - até lavar a louça com atenção plena já nos traz
uma qualidade de presença que nos tira dos jogos da mente e nos envolve com o mundo de forma leve,
saudável e entusiasmada. Talvez você se sinta assim quando faz um hobby, por exemplo.
Você consegue "criar em si" uma segunda pessoa que o observe e reconheça seus padrões? Não queremos
entrar num modo de hipervigilância, apenas de consciência - e o olhar um problema de fora é necessário
para isso. Faça uma nota mental para preservar sua espontaneidade, autenticidade e direito de errar. Vamos
ser benevolentes com nós mesmos - o que inclusive, nos permite ser benevolentes com as outras pessoas.
Joguinhos da mente
Os jogos da mente são muitos, mas eles giram basicamente em torno de 3 dinâmicas: apego a regras, a
hipóteses ou a memórias. Nenhum desses três é a realidade - porque as regras são circunstanciais, e se
existirem em excesso ou forem mal aplicadas, não ajudam; as hipóteses são fruto da imaginação e o nosso
passado, em essência, é uma história que contamos para nós mesmos. E aliás, se ela história for mal
contada, nos fará sofrer desnecessariamente. Como é o enredo da história que você conta sobre o seu
próprio passado? Você gosta de assistir a esse filme ou gostaria de fazer algum ajuste nele?*