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Resumo
Experiências utópicas ou idealistas têm normalmente um papel acessório na história do urbanismo,
recebendo o devido crédito historiográfico como precursoras, como viabilizadoras de um léxico
de experiências, como alargadoras de horizontes de utopia, mas em última análise têm um papel
pouco estruturante das narrativas. O lugar de maior destaque normalmente cabe às experiências
em que o urbanismo incorpora à máquina pública dispositivos, métodos e responsabilidades pelo
desenvolvimento territorial. O projeto de pesquisa investiga experiências de algumas utopias
urbanas do passado que seguem existindo como espaços que funcionam de forma alternativa aos
mercados de compra e venda de terras ou imóveis. As experiências são analisadas para além da
mágica originalidade das suas sínteses de nascimento e de seus papéis fundadores do urbanismo
moderno e contemporâneo. O interesse é pelas dinâmicas e dispositivos internos, instâncias
decisórias, indivíduos que ocuparam cargos administrativos e políticos, permitindo que
experiências com conteúdos utópicos sobrevivessem ao tempo. Em suas diversas configurações,
as chamadas Utopias Urbanas de um Passado Presente existem em um espaço institucional
associativo e comunitário, não-estatal, mas tampouco como propriedade privada de mercado. O
projeto investiga esses territórios principalmente pela sua capacidade de construção de realidades
e modos de vida específicos, no decorrer dos séculos e décadas e atingindo os nossos tempos.
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URBAN UTOPIAS OF THE PRESENT PAST
Abstract
Utopian or idealistic experiences usually play a secondary role in the history of urbanism, as they are
dutifully credited in historiography as forerunners, enablers of a lexicon of experiences, and amplifiers of
utopian horizons. However, they ultimately play a small structuring role in these narratives. The greatest
highlight is usually given to experiences in which urbanism incorporates to the machinery of government
devices, methods, and responsibilities for territorial development. This research project investigates some
of the past urban utopia experiences that still exist as alternative spaces to the real estate market. These
experiences are assessed beyond the magical originality of their birth syntheses and of their founding roles
in modern and contemporary urbanism. We are interested in the dynamics and internal arrangements,
decision-making instances, and individuals that held administrative and political positions, allowing
experiences with utopian content to survive as time went by. Embodied in their different settings, the so-
called Urban Utopias of the Present Past exist in an associative, communitarian, non-state, and institutional
space. Yet, they are not private property either. The project investigates those territories, especially due to
their capacity of forging realities and specific ways of life throughout centuries and decades until the present
time.
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1. Enunciado do problema
Como exercício analítico, é possível dividir as experiências da história do urbanismo
europeu até a década de 1980 em duas grandes vertentes. A primeira delas, mais estruturante da
grande narrativa, é um lento e progressivo enraizamento dos dispositivos do urbanismo dentro da
máquina do Estado, assumindo o urbanismo como dever do Estado em uma agenda sempre em
expansão, incorporando progressivamente elementos como a regulação das construções, o
saneamento básico, os espaços verdes, o transporte coletivo, a moradia social, o patrimônio
histórico.
Uma segunda vertente é composta de exemplos de experiências territoriais promovidas por
personalidades carismáticas, comunidades, instituições, associações, experiências que se
encaixam nas categorias flexíveis de “utópicas”, “associativas”, “beneméritas”, laboratórios
sociais e territoriais. São experiências com lugar garantido na narrativa da planning history, como
as comunidades-modelo propostas por Robert Owen e seus seguidores, o Familistério de Guise, o
Falanstério de Fourier, as cidades-jardim de Ebenezer Howard Letchworth e Welwyn. Podem
também ser consideradas experiências utópicas as associações filantrópicas que promoveram
moradia operária em uma série de cidades e países, como aquelas propostas por Octavia Hill em
Londres na metade do século XIX ou a Cité Ouvrière de Mulhouse.
Calabi (2012, p. xxii) descreve a oposição entre as duas vertentes constitutivas do
urbanismo como, por um lado, reformadores utópicos e por outro, técnicos que alargam
progressivamente seu campo de ação. Benevolo (1971, p. xii) traça essa distinção entre utópicos e
reformadores técnicos, as duas grandes originadoras da urbanística moderna. Essa grande divisão
analítica entre a vertente mais utópica e aquela mais técnica faz sentido quando usamos o conceito
mais estrito de urbanismo como disciplina dos últimos 150 anos (Choay, 1965; Benevolo, 1971;
Calabi, 2012; Ward, 2002; Hall, 2011; Mumford, 2018), mas é também eficaz para estudos que
buscam as origens do urbanismo em uma cronologia mais estendida (Lavedan, 1959; Morini,
1983; Gravagnuolo, 1998).
O urbanismo que se enraíza no poder público recebeu das historiografias um papel mais
vertebrador das narrativas históricas, consolidando o Estado – muito mais do que a sociedade civil
– como o locus principal do urbanismo, em patamares crescentes conforme avançava o século XX.
Com efeito, conforme a disciplina do urbanismo foi incorporando a ideia do planning, da
necessidade de reflexão antecipada sobre os problemas das cidades, o poder público efetiva-se
como ator essencial do processo (Ward, 2002; Calabi, 2012).
As experiências mais utópicas ou idealistas recebem o devido crédito historiográfico como
precursoras, como viabilizadoras de um léxico de experiências, como alargadoras de horizontes
3
de utopia, mas em última análise têm um papel menos estruturante das narrativas. Quando essas
experiências são apresentadas pelos historiadores do urbanismo, de uma forma geral o movimento
é o de ancorar os casos no tempo e espaço de formulação de cada uma delas, mostrando
respeitosamente sua contribuição para a narrativa da consolidação da disciplina do urbanismo,
como expressões de zeitgeisten específicos. Choay (1965) trata as experiências de construção de
comunidades-modelo do século XIX como “pré-urbanismo progressista”, antecedendo a disciplina
do urbanismo que é para a autora essencialmente um artefato do século 20. Ward (2002) trata delas
como “antecedentes do século 19” de um urbanismo que se instala em definitivo no século
seguinte. Gravagnuolo (1991) as chama de “utopias urbanas do século XIX”. Hall (2011) encaixa-
as em “visões alternativas da boa cidade”. Benevolo (1971) trata a maior parte dessas experiências
como “utopias do século XIX”. São elas – e não o urbanismo que se enraíza na máquina
administrativa do Estado – o objeto deste projeto de pesquisa.
Em comum, essas experiências buscaram construir alternativas práticas às formas
tradicionais e espoliativas de urbanização por iniciativa de grupos sociais situados por um lado
fora da máquina administrativa do Estado, e por outro lado resguardar a terra e a propriedade da
voracidade dos mercados imobiliários. Uma diversidade de agentes protagonizou as iniciativas:
lideranças políticas carismáticas; reformistas radicais; líderes espirituais ou religiosos; uma elite
ilustrada praticando o mecenato; organizações de base comunitária ou cooperativa; industriais
buscando melhores arranjos espaciais; filantropos idealistas.
Em geral os estudos ressaltam as dificuldades que a realidade interpôs, a distância entre
projeto e realidade, as concessões necessárias, muitas vezes o fim frustrante ou trágico de
experiências. Gravagnuolo (1998, p. 66) lista os exemplos utópicos norte-americanos como uma
“cadeia de fracassos: a partir de New Harmony [...] a North America Phalanx a Icaria de Texas
[...] a Icaria Nauvoo de Illinois [...] a Icaria de St. Louis”. Para Benevolo (1971), as experiências
utópicas foram esmagadas pelas consequências das revoltas de 1848, que cindiram o debate entre
um polo revolucionário e cada vez mais influenciado por Marx e os partidos comunistas, e um
polo pragmático acessório ao capitalismo, este último o que prevaleceu na gestão urbana. Para
Gravagnuolo (1998, p. 66) “por causa da simplificação excessiva [dos modelos considerados
utópicos], o fracasso dos modelos acaba significando a crise dos seus referenciais teóricos [como
um todo]”.
Mesmo estudos monográficos tendem a enfatizar a explosão criativa dos momentos de
fundação da experiência, a capacidade de síntese e persuasão de suas lideranças carismáticas para
transformar suas ideias em experiências reais que pressupunham a mobilização de recursos
significativos, e dão menor foco na resiliência das experiências. Fischmann (1983, p. 87) declarava
4
na década de 1980 que a pioneira cidade-jardim de Letchworth “é agora parte do estado de bem-
estar social britânico”, como se decretando o fim de uma história.
Mas as narrativas sobre as utopias urbanas do passado podem ser construídas de outra
forma. Muitas de fato desapareceram, e as histórias de suas inviabilizações nos ensinam muito
sobre os limites da construção de comunidades idealizadas. Mas se mobilizarmos uma noção mais
expandida e flexível de “utopia” (é o que propomos neste projeto) veremos que algumas
experiências apresentaram uma notável capacidade de resiliência e agência. Seguiram décadas ou
séculos dando respostas às apostas originais de seus fundadores, adaptando-se a mudanças de suas
dinâmicas internas e da sociedade a seu redor.
Tomemos o exemplo de New Lanark, vila operária modelo gerida pelo empresário
reformista Robert Owen (1771-1858) na Escócia no início do século XIX e considerada em todas
as narrativas panorâmicas como um marco na história do urbanismo. A personagem Owen abre a
categoria do “pré-urbanismo progressista” na obra Le urbanisme, utopies et realités, de Françoise
Choay (1965). New Lanark desaparece da narrativa de Choay após o afastamento de Owen, que
em 1824 decide testar seus modelos no Novo Mundo de forma mais ambiciosa e no ano seguinte
vende a vila. Com efeito, Robert Owen enterrou quase toda a sua fortuna no malsucedido projeto
de cidade utópica de New Harmony fundada em 1826 em Indiana, EUA. Benevolo (1971, pp. 39-
54) mostra a trajetória de Owen como primeiro exemplo do que chama de “Ninteenth Century
Utopias”, tratando de New Lanark como primeira experiência prática e antessala da ambiciosa
experiência norte-americana. Segue a trajetória de Owen após a derrota de New Harmony na
América e seu retorno à Inglaterra, destacando seu papel no nascimento do movimento
cooperativista. Gravagnuolo (1991, pp. 65-68) inclui a experiência de Owen na América como um
exemplo dentro da “cadeia de fracassos” de tentativa de instauração de comunidades utópicas no
Novo Mundo no século 19. New Lanark aparece em sua narrativa apenas brevemente como
exemplo de vila industrial com gestão alternativa. Mumford (2018, p. 85) inclui New Lanark no
rol das experiências malsucedidas de Owen, embora reconheça a relevância de seu idealizador no
desenvolvimento posterior de uma reflexão sobre a moradia operária.
Em síntese, dois elementos são recorrentes na forma como New Lanark aparece nas
diferentes histórias do urbanismo: a. a vila como preparação para experiências posteriores, mais
ambiciosas, e malsucedidas; b. a centralidade da narrativa não vai para a vila, mas para a trajetória
de Robert Owen como líder carismático e suas apostas sucessivas, New Lanark desaparece da
historiografia quando Owen se afasta da experiência em 1824.
Acontece que, ao contrário das experiências do Owenismo norte-americano, New Lanark
não desapareceu. Sobreviveu as décadas e os séculos, e após assumir alguns formatos
5
institucionais, é atualmente gerida por uma fundação, o New Lanark Trust. O Trust acomoda um
ecossistema de instituições, incluindo o New Lanark Homes, que gere o parque habitacional do
conjunto, 45 residências alugadas em regime de aluguel social. Além da moradia, o Trust realiza
uma série de atividades nesse espaço, turísticas, educacionais, de preservação ambiental.1
New Lanark pode ter sido esquecida pela história do urbanismo após a partida de Robert
Owen, mas a vila não esqueceu de si mesma. A institucionalidade que sustentou a territorialidade
foi capaz de resistir ao tempo, de se adaptar a diversas rodadas de mudanças sociais e econômicas,
de se articular com forças sociais privadas e públicas. Por cerca de dois séculos vem garantindo
sua identidade, não se diluiu, não se normalizou como propriedade privada de mercado nem
tampouco como propriedade pública. Isso foi obtido mediante o trabalho de gerações de pessoas
muito competentes, mas pouco famosas, que ocuparam posições estratégicas, redigiram centenas
de atas de reuniões, realizaram inúmeras assembleias, enviaram projetos a possíveis financiadores,
articularam-se com o poder público em busca de subsídios. Pessoas talvez menos carismáticas do
que o visionário Owen, mas provavelmente mais responsáveis do que ele. Pessoas que levaram
adiante, nem sempre como o devido reconhecimento, o penoso trabalho de preservação cotidiana
de espaços que avaliaram como preciosos, militância cotidiana pela sua sobrevivência a longo
prazo. Um mundo com seus valores, atitudes, procedimentos, protocolos, rotinas, agenciando a si
mesmo e garantindo seu espaço de especificidade. Uma enorme proporção do trabalho foi (e
continua sendo) levada a cabo por mulheres.
O mesmo caminho interpretativo pode ser feito tendo como objeto outros espaços bastante
conhecidos da história do urbanismo: Fuggerei, Port Sunlight, Saltaire, Cité Ouvrière, Guiness
Trust, Letchworth Garden City, Parnell House, Peabody Trust, Margaretenhohe, entre outras. Para
além da mágica originalidade das suas sínteses de nascimento e de seus papéis fundadores do
urbanismo moderno e contemporâneo, todos esses territórios existem como realidades até os dias
de hoje. Em suas diversas configurações, eles existem em um espaço institucional associativo e
comunitário, não-estatal e tampouco transformados em propriedade privada de mercado. Este
projeto de pesquisa dedica-se a esses lugares e a gerações de pessoas que os ocuparam e seguem
ocupando, mesclando idealismo e pragmatismo, mesclando fidelidade às origens e disposição de
adaptação às transformações do mundo ao redor, viabilizando sua sobrevivência e também sua
1
Os estudos que descrevem New Lanark nas décadas recentes pertencem majoritariamente ao campo do
patrimônio histórico (Donnachie, 2008). A atribuição da relevância histórica ao espaço é movimento paralelo ao
menor interesse que seu desenvolvimento posterior aos anos de fundação despertam para os estudos urbanos. A
situação atual de New Lanark pode ser conferida no website do trust: www.newlanark.org. A história de longa
duração e atingindo o presente é relatada por aqueles que cuidaram do lugar no decorrer das décadas como história
institucional (Arnold, 1994).
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identidade. A esse universo chamamos neste projeto de “Utopias Urbanas de um Passado Presente”
(UUPP).
Analisaremos no projeto de pesquisa as UUPP principalmente pela sua capacidade de
construção de realidades e modos de vida específicos, no decorrer dos séculos e décadas e
atingindo os nossos tempos. Serão tratados como uma constelação de existências que fazem
sentido por si sós, um conjunto de pequenos ecossistemas com coerência interna. Realidades que,
evidentemente, se relacionam com o mundo ao seu redor, mas que colocam em prática sistemas
de valores, que produzem (ou são) lentes com as quais se pode enxergar o mundo com tons
específicos.
O universo empírico é composto por experiências de UUPP que não se “normalizaram”,
que não se diluíram totalmente no mercado imobiliário privado nem foram absorvidos pelo Estado,
e perpassaram décadas ou séculos na condição de espaços de exceções às normas, espaços
institucionais comunitários. De uma forma geral são experiências que nascem menos radicais que
as mais conhecidas utopias do século 19 (Guise, Godin, New Harmony, Topolobampo) porque já
são formuladas mediadas por acordos e correlações de forças que combinam idealismo e
viabilidade. Seguindo chamando-as aqui de utópicas porque a motivação das experiências é
sempre a construção de alternativas reais às dinâmicas espoliativas do mercado, propondo em
diversas circunstâncias a viabilização de comunidades com regras alternativas às do capitalismo
que as cercava.
As UUPP não configuram espaços públicos, mas tampouco comportam-se como a
propriedade imobiliária privada transformada em mercadoria pelo capitalismo. Embora o centro
cronológico das propostas seja o século 19, o universo aqui proposto assume uma cronologia mais
expandida, incluindo experiências anteriores e posteriores. Não se busca aqui marcar um período
histórico específico, mas a permanência dessas incidências no presente: a potência e a diversidade
das experiências é o critério prevalecente para as escolhas.
A proposta é tomar cada uma das experiências selecionadas como uma totalidade,
investigar suas soluções administrativas, seu funcionamento institucional, sua gestão, a
distribuição interna de poder e os sistemas de tomada de decisão. Investigam-se as dinâmicas de
resiliência, as forças que garantiram esses espaços em suas especificidades até o presente, e suas
apostas de futuro.
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fundacional, mas com foco prioritário nas décadas ou séculos que os sucederam, de construção de
institucionalidades, de procedimentos, de critérios, de adaptação a mudanças externas e internas.
Ferramentas que permitiram que esses territórios alternativos cheguem aos nossos dias como
espaços vividos continuamente – e não como resquícios de cultura material de um tempo que se
foi, cascas edificadas interpretadas pelo patrimônio histórico. As experiências são problematizadas
sob a perspectiva da resiliência institucional e da capacidade de agência das pessoas e colegiados
que as geriram e seguem gerindo, interpela as formas como foram se auto interpretando no decorrer
das décadas, como foram se transformando e reagindo às mudanças sociais, econômicas, políticas
e institucionais.
Narrar essas experiências na perspectiva da resiliência e da capacidade de agência daqueles
que as ocuparam – e seguem as ocupando – é uma forma de problematizar a relevância a essas
propostas. Além de serem precursoras, esses espaços são pequenos mundos com regras próprias,
mundos que se efetivaram, e que vêm resistindo aos testes do tempo, chegando até nossos dias
como alternativas efetivas. Conhecer esses exemplos emblemáticos da construção da disciplina do
urbanismo, portanto, gera mais do que repertório, erudição ou consciência histórica: permite
apropriarmo-nos de teses, ferramentas e instrumentos que incidem sobre as nossas realidades e
nossos territórios. Isso traz interessantes potencialidades de tensionamento das realidades
contemporâneas.
Como a ideia deste projeto é a de dar potência às apostas dos protagonistas das próprias
experiências, suas estratégias, táticas e agenciamento com o passar do tempo, o referencial teórico
escolhido inspira-se na noção de “descrição densa” de Geertz (1989), que mobiliza a ideia de que
as chaves explicativas de cada arranjo cultural – incluindo chaves teóricas e metodológicas –
existem dentro das próprias culturas. A descrição densa foi construída aplicada a culturas não-
ocidentais, mas autores como Darnton (1986) as aplicam para desvelas construções culturais
ocidentais do passado, servindo como referencial metodológico mais direto desta pesquisa. A
hipótese aqui é a de que parte constitutiva do quadro analítico que dá às UUPP um lugar de baixa
centralidade nas grandes narrativas do urbanismo decorre justamente de referenciais teóricos
mobilizados que não são capazes de enxergar as pequenas verdades demonstradas pelas UUPP.
Um projeto desses só pode ser levado adiante com estudos de caso, justamente por buscar
afastar-se de grandes narrativas e apostar radicalmente nas particularidades e nos arranjos locais.
Foram usados os seguintes critérios de seleção: a. a necessidade de o projeto existir até os dias de
hoje como UUPP; b. ser um caso conhecido da historiografia do urbanismo e da cidade, a ser
revisitado com perguntas novas; c. inserir-se em realidades diferentes, de forma a evitar narrativas
demasiado vinculadas à institucionalidade de um estado nacional específico; d. em paralelo à
8
diversidade territorial, adota-se também uma diversidade cronológica, pois é de nosso interesse
entender como as UUPP perpassam diferentes arranjos políticos e institucionais. e. dados os
limites temporais, o número de casos que pode ser tratado é limitado, propõe-se aqui que sejam
seis.
A lista dos casos selecionados é a que segue. Não pretende de forma alguma que esta seja
a lista definitiva das UUPP mais relevantes, e sim um universo satisfatório para atender aos
critérios a-b-c-d-e acima produzindo-se um quadro estimulante pela sua diversidade,
complexidade e relevância.
2
Informações contemporâneas obtidas no site das Fundações Fugger: www.fugger.de.
9
Figura 1. Site da Fuggerei na internet, descrevendo o conjunto como algo “sem paralelos no mundo há 500 anos”.
www.fugger.de
3
As informações sobre New Lanark após a partida de Robert Owen para a América constam do site do New Lanark
Trust: https://www.newlanark.org/world-heritage-site/history
10
Figura 2. Caithness Row em New Lanark, edificação que manteve até hoje os usos habitacionais
para seus edifícios concebidos para a moradia no início do século 19. Fonte: Wikimedia Commons.
4
Informações sobre a história recente de Parnell House disponíveis no site do Peabody Trust:
https://www.peabody.org.uk/neighbourhoods/camden/parnell-house/about
11
Figura 3. Panfleto de lançamento do Model Housing for Families, atualmente Parnell House.
Fonte: Royal Institute of British Architects (www.architecture.com)
Figura 4. A Parnell House, no site atual do Peabody Trust, organização inglesa dedicada à oferta
de moradia econômica. A Peabody Trust adquiriu o portfolio da Society for Improving the
Condition of the Labouring Classes, preservando sua missão até os dias atuais. Fonte: Peabody
Trust (www.peabody.org).
12
Em 1923 a SOMCO tornou-se uma das Habitation à Loyer Modéré (HLM) francesas,
empresas sociais destinadas a produzir habitação em regimes não-especulativos. As HLM
qualificaram-se como agentes estruturantes das políticas de moradia do estado de bem-estar social
francês. Atualmente a SOMCO faz a gestão de 5650 moradias em toda a Alsácia em regime de
locação social, incluindo moradias situadas na Cité Ouvrière. Foi a realizadores de um dos
experimentos recentes em arquitetura contemporânea, a chamada cité-manifeste (Kostouru e
Karimi, 2016).
Figura 5. A Cité Ouvrière de Mulhouse, França. Construída em meados do século 19, o local é até
os dias de hoje operado por uma companhia de Habitação de Aluguel Moderado (HLM).
13
afirmação de Fishman (1983, p. 87) que decretava o fim da experiência comunitária e a
incorporação de Letchworth no Estado de bem-estar social britânico.
Fischman não suspeitava que a estatização de Letchworth não seria ainda o capítulo final
da propriedade. Em 1995 outro ato do parlamento transferiu o patrimônio de Letchworth para uma
fundação privada, a Letchworth Garden City Heritage Foundation. A maior parte das residências
foi vendida a seus moradores a partir de 2001. Mas a empresa sucessora da Cidade-Jardim manteve
os espaços comerciais e institucionais da cidade, e esse patrimônio foi repassado para o Letchworth
Heritage Foundation. A fundação aluga os espaços comerciais de Letchworth até os dias de hoje,
e emprega os recursos em ações culturais e assistenciais. Em 2018 a receita da fundação foi de
mais de 9 milhões de libras.5
Figura. 6. Relatório anual de atividades da Letchworth Garden City Heritage Fundation, instituição
que faz a gestão do patrimônio fundiário de Letchworth desde 1995.
5
Letchworth Garden City Heritage Foundation – Report and Accounts to 31 december 2018. 66p. Material coletado
em visita a campo em fevereiro de 2019.
14
Genossenschaft der K.u.K. Hof- und Staatsdruckerei, cooperativa para trabalhadores na indústria
gráfica. No ano seguinte essa cooperativa construiu um conjunto com 102 apartamentos também
em regime de aluguel. O arquiteto de ambos empreendimentos foi Hubert Gessner, arquiteto-
estrela dos projetos de moradia social da Viena-vermelha. Mesmo com condições econômicas
adversas, foi possível para essas cooperativas a construção de mais projetos de moradia social
entre 1931 e 1933.
Tafuri (1981) descreve as apostas políticas e sociais da Viena Vermelha como uma
“epopeia trágica”, dada a brusca interrupção do projeto político progressista pelas forças nazistas
em 1934. Mas se adotarmos um recorte cronológico mais expandido e acompanharmos a
instituição até os dias de hoje, o saldo talvez seja menos pessimista. Em 1941 as duas cooperativas
foram forçadamente fundidas em uma só organização pelo governo nazista da Áustria, originando
a Wien-Süd. A instituição sobreviveu a guerra, até 1950 administrando o seu patrimônio e a partir
de então também construindo novas unidades. Wien-Süd administra atualmente cerca de 2000
apartamentos. Contribui para que a política de moradia de Viena seja considerada uma das mais
bem-sucedidas do mundo.6
Figura 7. A associação de moradia Wien-Süd relata sua própria história no site da instituição na
internet, mobilizando no título os termos “Tradição, experiência e inovação” www.wiensued.at .
3. Resultados esperados
6
A história da instituição consta do site: https://www.wiensued.at/ueber-uns/geschichte/
15
Do ponto de vista de sua execução, o projeto de pesquisa aqui proposto é bastante
circunscrito, com focos e produtos bastante definidos (item 2.1). A ideia é que sua realização
permita mais do que a execução e publicação de estudos de caso, mas uma reflexão sobre o campo
de estudos da Planning History como um todo (item 2,2).
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Chicago, como uma das atividades da Chicago Architecture Biennial (Antunes e Cymbalista,
2019; Antunes e Cymbalista, 2019b).
Cada ponto no mapa corresponde a um imóvel que é usado de forma não especulativa, de
propriedade de instituições sem fins lucrativos – Organizações não-governamentais, associações,
fundações, trusts, cooperativas, entre outras figuras jurídicas detentoras da propriedade. A maior
parte desses imóveis tem fins de moradia, mas existem também outros usos ligados à educação, à
cultura e à saúde. Quando o uso é habitacional, a escala varia de uma a algumas centenas de
unidades para cada ponto assinalado. Por trás do mapa existe uma planilha que sistematiza um
conjunto de informações sobre cada propriedade: seu tamanho, uso, organização proprietária, valor
de aluguel ou arrendamento, entre outras. Das 21 variáveis coletadas, o mapa exibe oito: nome da
propriedade; instituição proprietária; endereço; cidade; país; usos; número de unidades
habitacionais (quando o uso é de moradia).
O objetivo do mapa é mostrar que o universo de propriedades não-especulativas operadas
pela sociedade civil é significativo. Não há pretensão de abarcar a totalidade dessas propriedades
no mundo, o que seria tarefa impossível, pois a soma total conta-se aos milhões. Cada uma dessas
propriedades tem algo de utópico, pois institui alternativas à propriedade privada de mercado e
opera a ideia da moradia (e de outros usos) como serviço social, e não como patrimônio individual.
Este projeto de pesquisa aprofundará a base já existente, otimizando os recursos de pesquisa já
empregados e a visibilidade já existente do mapeamento. Esse aprofundamento se dará em dois
níveis: a. inserindo-se na base o universo de propriedades existentes das seis instituições objeto de
estudos de caso; b. criando um novo layer que apresenta em maior profundidade cada instituição
detentora de propriedades não-especulativas, sua história e impactos na sociedade. O primeiro
universo a ser sistematizado será o das seis instituições, mas com o template será possível fazer
isto para outras instituições.
17
Figura 8. “o que é um proprietário ético?”, mapeamento disponível em:
http://outrosurbanismos.fau.usp.br/o-que-e-um-proprietario-etico/
18
Diferente dos textos de estudos de caso, não há aqui o compromisso que este texto seja
produzido como artigo acadêmico dentro do período da pesquisa. O elemento do cronograma de
atividades é um dos fatores para isso: como ele será feito após os seis estudos já realizados, não
haverá tempo hábil para estruturar um artigo e submetê-lo para publicação. Mas o próprio caráter
desse texto está ainda em aberto. A depender dos os resultados do trabalho, este texto pode ser
uma síntese que dá sentido a um relatório final de pesquisa; pode ser um texto introdutório ou
conclusivo de um possível livro enfeixando os seis artigos; ou mesmo um artigo em si.
a. a promissora perspectiva teórica das economias diversas, proposta pela dupla de autoras
feministas JK Gibson-Graham Abrem-se também espaços de interlocução com o campo
intelectual que discute as diverse economies (2002, 2008, 2013, entre outros). Gibson
Graham propõem que a descrição e análise de um cenário econômico deve necessariamente
contabilizar relações econômicas periferizadas como o trabalho doméstico não-
remunerado realizado pelas mulheres, as relações sem fins lucrativos, as cooperativas de
compra de produtos, cooperativas de venda de produtos, relações de troca, entre outras.
Com esse método chegamos a um cenário altamente complexo e com potencialidades
múltiplas de intervenção e ativismo, no lugar de uma descrição do mundo capitalista como
um bloco único, corporativo e monolítico. As UUPP são objetos de estudo privilegiado
19
nessa perspectiva, que vem sendo construída por autores como Roelvink et. al (2015),
Huron (2018), entre outros.
20
história do urbanismo, dando destaque às experiências onde em geral a história as abandona,
problematizando a forma como esses espaços atravessaram as décadas e permanecem até a
contemporaneidade como UUPP (produtos 1 a 6). Além disso, trata-se de construir dois produtos
transversais, um de caráter de difusão do conhecimento (produto 7) e outro de caráter mais
analítico (produto 8).
Os estudos de caso se inspiram na tese da já citada Ostrom (1990), que em perspectiva neo-
institucionalista assume a viabilidade dos espaços comuns. Como método narrativo perseguiremos
a ideia da descrição densa de Geertz (1973), ou seja, buscaremos descrever a experiência, seus
dilemas, suas transformações, suas apostas em seus próprios termos, buscando a teia de
significados que esteve – e está – em jogo por aqueles que ocuparam e ocupam as instituições e os
espaços em questão. Mobilizaremos também a perspectiva de Darnton (1986), que aplica as
hipóteses de Geertz para realidades históricas, com a ideia de que cada arranjo social possui as
ferramentas analíticas e explicativas para a sua própria compreensão. Interpelaremos os atores
sociais envolvidos nas experiências a partir de suas potências, suas apostas, sua capacidade de
interpretação do mundo e de suas transformações, sua capacidade de promover transformações
institucionais.
Os desafios científicos e metodológicos para construir as narrativas aqui almejadas
decorrem da própria hipótese central de pesquisa: os dados e fontes que permitirão contar essa
história não se encontram na historiografia consagrada e muitas vezes tampouco nos estudos de
caso monográficos, que também tendem a privilegiar os momentos históricos mais clássicos como
marco cronológico. Será necessária a investigação nos arquivos institucionais, nas narrativas
produzidas pelas próprias instituições que sustentaram e seguem sustentando as experiências. Isso
será obtido mediante visitas a campo e também em pesquisas nos sites das instituições, que de
forma geral publicizam documentação institucional. As vertentes de pesquisa planejadas são:
21
para Wien-Süd: Pötztlberger and Lechner, (2002); para Letchworth Garden City: Fishman (1983);
Lewis (2015).
Trata-se de reapresentar os casos para o debate do urbanismo, com relatos explicativos
dos principais eventos na história do lugar desde a sua fundação e até os dias de hoje. Em alguns
casos esse trabalho já foi feito pelas próprias instituições, conscientes de suas conquistas e
entregas.
Fazendo isso colocamos em perspectiva o universo de escolhas feitas pela historiografia
do urbanismo. Problematizamos as consequências dessas escolhas, essencialmente a falta de
acúmulo de conhecimento sobre a capacidade de entrega de outros mundos que esses lugares
fizeram e seguem performando. Não se trata de questionar a historiografia, mas de ampliar a
potência de algumas das experiências por ela iluminadas, retirando-as de um lugar comportado de
passado histórico, presentificando-as. Ao fazer isso, abrem-se perspectivas de diálogo da agenda
histórica do urbanismo com alguns debates altamente pulsantes na contemporaneidade.
22
os desdobramentos dos territórios e suas institucionalidades com foco importante período “pós-
historiográfico” de cada uma das experiências.7
As visitas a campo previstas são: Londres e Letchworth, agosto-setembro 2020; Mulhouse:
janeiro 2021; New Lanark: julho 2021; Augsburg e Viena: janeiro 2022. Trata-se de agenda de
visitas razoavelmente extensa, que será viabilizada com o apoio de outros projetos em curso (ver
item 7).
7
Chamo aqui de período pós-historiográfico o período em que a historiografia mais clássica do urbanismo deixa de
se interessar por cada experiência aqui descrita.
23
apontados no item 3.2 deste projeto, e identificando os elementos que fazem com que as UUPP
tenham permanência no tempo.
5. Cronograma
Ago20 Nov20 Fev21 Mai21 Ago21 Nov21 Fev22 Mai22
-out20 -jan21 -abr21 -jul21 -out21 -jan22 -abr22 -jul22
Pesquisa na internet X X
Pesquisa bibliográfica X X X
Campo 1: Londres/Letchworth X
Campo 2: Mulhouse X
Campo 3: New Lanark X
Campo 4: Augsburg-Viena X
Redação/submissão de artigos X X X X
Disponibilização base georeferenciada X
Redação de texto comparativo X
Redação de relatório final X
6. Disseminação e avaliação
6.1. Disseminação
As conclusões do projeto serão disseminadas em meios especializados por meio da
construção de seis artigos monográficos, um para cada experiência, a serem apresentados para
publicação em periódicos da área, indexados pela CAPES e classificados com grau de excelência
(A1 ou A2). No mínimo 2 desses seis artigos serão apresentados em periódicos internacionais.
Serão também disseminadas no mapa georreferenciado disponibilizado nos sites do Laboratório
para Outros Urbanismos e da Associação pela Propriedade Comunitária (FICA).
6.2. Avaliação
Este projeto é fortemente baseado na produção de artigos a serem apresentados a periódicos
acadêmicos altamente exigentes. Tais periódicos possuem, por definição, análises rigorosas por
pares. Cada artigo será, assim, escrutinado e avaliado por pares, que avaliarão sua relevância,
apontarão suas eventuais falhas, sugerirão mudanças.
O desejado aceite dos seis artigos propostos por publicações da área já significará sua
avaliação, aportes por pares, complementações, correções. Desta forma, o projeto só poderá atingir
seus objetivos se devidamente avaliado.
7. Outros apoios
7.1. Base georreferenciada
24
Já foi realizada a primeira versão de base georreferenciada, com a construção de
metodologia de sistematização de experiência em planilha em excel, ligação dessa planilha com a
base georreferenciada e disponibilização da base nos sites www.fundofica.org e
www.fau.usp.br/outrosurbanismos. Assim, a atividade aqui proposta resume-se a uma
complementação de informações no site e construção de nova interface gráfica. Os desafios
relacionados à alimentação da plataforma e sua disponibilização inicial já foram vencidos. Isso foi
feito com apoio da plataforma MedidaSP e de pesquisadores de pós-graduação da UNINOVE.8
8
Os pesquisadores participantes da primeira etapa de pesquisa que resultou no mapa georeferenciado disponível
na internet foram: Bernardo Loureiro (MedidaSP); Bianca Antunes (FICA); e os pós-graduandos da UNINOVE
Brenno Versolatto; Bruno Queiroz; Fabiana Tavares; Giseli Quirino; José Mauricio; Juliana Peixoto; Mariana
Messias; Rafael Carvalho; Rafael Urnhani; Rosangela Melatto; Sangela Cotrim; Vinicius Carmo.
9
City – analysys of urban trends, culture, theory, policy, action é publicada por Routledge/Tylos and Frnancis
(http://www.city-analysis.net/). É classificada pela área de humanidades como Qualis A1. O Fator de Impacto pelo
ranking SJR é de 1.903, o 5º periódico de maior impacto na área de Estudos Urbanos (3322) dentre 181 periódicos
(https://www.scimagojr.com/journalrank.php).
25
Janeiro 2021 – Mulhouse. A visita a campo a Mulhouse se dará após encontro a ser
realizado pelo grupo de pesquisa Experimenter la metrópole (Ex-Met), que teve projeto de fomento
aprovado pelo IRD e fará um encontro em Paris em dezembro de 2020.10
Janeiro 2022 – Viena e Augsburg. A visita a campo a Augsburg ocorrerá após um período
de pesquisa em Lisboa (dezembro 2021) financiado pelo projeto Ex-Met acima citado.
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and Cultural Change, Volume 2, issue 3, pp. 145-163.
10
Participam do projeto os pesquisadores Sylvain Souchaud (IRD/Paris Diderot), Jerome Tadié (IRD/Paris Diderot),
Ana Lucia D. Lanna (FAU-USP), Sarah feldman (IRD-USP), Joana Mello (FAU-USP), Ana Claudia Veiga de Castro (FAU-
USP), Renato Cymbalista (FAU-USP). O projeto foi aprovado em janeiro de 2020 pelo Institut Pour la Recherche em
Developement, França.
26
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