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Os capitalistas acenam com o processo participativo mas distintas das anteriores e se projetou com a pro
de lucros de empresa, para neutralizar a ofensiva tra posta "socializante" do We/fare State ou Estado do
balhista. Os trabalhadores precisam estar atentos para Bem-Estar. Veremos como isso se reflete na própria
não serem ludibriados. E assim continua a luta... exploração e/ou libertação do trabalhador, não mais
Tudo isso valoriza a categoria cidadania como es só em termos de fábrica, mas na sua relação com o
tratégia de luta para uma nova sociedade. Qs trabalha Estado.
dores devem estar sempre em pugna por seus interes A etapa mercantilista ou manufatureira é conside
ses e direitos - e a primeira exigência para isso é a rada por alguns teóricos uma fase de transição do feu
manutenção de condições democráticas mínimas, dalismo para o capitalismo. OE.sta.do era monárquico
acompanhadas de uma boa Constituição e de mas, de certa forma, r�1[c!_�m lu.gar.da burg_uesia. Na
governantes que a respeitem. Luta que inclui pressões, quele período, já se acenava com a idéia de cidadania
greves e desobediência civil, se necessário, mas com mais genérica, no sentido de valorização do trabalho
o fim de manter o processo civilizatório contra um pro - a ideologia de que o indivíduo possui a propriedade
cesso anárquico e bárbaro, que pode pôr abaixo con do próprio corpo.
quistas anteriores. Esse processo de resolução de con Quero destacar, no eotanto, a importância dos_ direi
flitos torna-se impossível, contudo, em determinadas tos civis (liberdade de locomoção, de trabalho). Embo
regiões do mundo, como no Vietnã e na Nicarágua, ra hoje nos pareçam banais, .eles. .toram funqamentais
cujos grupos dominantes destruíam toda a lavoura, e mesmo revolucionários, porque se opunham à socie
parte da edificação social, desses povos. Em tais ca dade rural e organizada em feudos, na qual os servos
sos, não há como revidar a não ser com a luta armada, eram parte da própria gleba, como o gado, e não do
se possível sob normas jurídicas internacionais. Mas a nos de si, de seus corpos�� medi�llg_os burgu _ es��
luta armada deve ter como objetivos a negociação e o passaram a de§_envolver o comércio e a morar nos
restabelecimento de condições democráticas mínimas burgos (depois cidades), à_medida que surgiram um
para que os grupos possam viver sob controle de leis, modo de vida urbano e um processo fabril, foi preciso
civilidade e com o exercício da cidadania. que as pessoas saíssem do campo e viessem para a
Foi no século XX, em torno das Guerras Mundiais, c1dude, despojp.das de qualquer bem para servir à nova
que o embate entre capital e trabalho assumiu for- forma de produzir e viver.
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É importante ressaltar, assim, o aceno dúbio des- o ?articular, sendo revolucionária e depois classe do
" ses aspectos da cidadania: � mesmo tempo que se minante, a burguesia carreou todos para a "sua" revo
criavam condições de os homens se libertarem da con lução. Durante todo esse período, desenvolveram-se
dição de servos, o sistema c:omercial e fabril precisava intensamente os direitos políticos; era evidente que,
de mão-de-obra. c�m a tomada do poder, eles se tornariam explícitos,
4 _A �1a_12. �Jib-ªral �-demªrpa,Çia principalmente a partir tais como aparecem na Declaração dos Direitos.
da Revolução Francesa. Ao tomar o poder político, a �m ter �os ef�tivo� q _ u
_ ando os trab..alhadores -=Já
no fim do seculo XIX -começaram a se organizar mais
burguesia erigiu um Estado suí generis, o Estado libe
ral burguês, que descentralizou o Estado monárq!JiCo os ca�it �fistas respo_nderam cqm mais maq_u_in.aria p _ a��
em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. A subst1tu1-los. E o conflito continuou. A luta de classes,
maior autoridade estava no Poder Legislativo, na ação o antagonismo e a divisão entre capitalistas e. traba
do Parlamento, das Assembléias Constituintes. Nesse lhadores foram levados adiante. Esses últimos fora�
processo, chegamos a uma Declaração dos Direitos se ?rganizando em sindicatos, associações, partidos
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do Homem; iostªurou-se um Estado d� Direito em que pollt1cos.
os governantes não podem usar do poder arbitraria Retorno agora ao período das Guerras Mundiais
mentg, como o faziam no regime monárquico, mas de quando o acirramento entre capitâlistas e trabalhado�
vem governar limitados pelo conjunto de leis que esta res estava no auge, tanto no interior dos países quanto
belece os direitos e deveres dos cidadãos. Com o avan entre países. Desenrolou-se a Revolução Russa de
ço da sociedade_burguesa, a s�pgraç_ão_ entre o-públi 1917, houve uma ascensão dos partidos socialistas ria
co . a o. privado começou pouco a poucq a se d�Limitar, Alemanha, na Itália, na Espanha, na França. Os tra
chegando ao seu auge na etapa do capitalismo liberal. balhadores reivindicavam melhores condições de
'/ Nesse c:..ontexto do liberalismo, a_ face mais acenadª lrubalho, saúde, habitação e educação, remanescen
. tos da luta do século anterior. Agora, organizavam-se
I' da cidadania é a dos direitos políticos. Vale também
notar sua dubje_ga _ de. Lembre-se que tÕdos os segmen c;omo força política e apoiavam-se em partidos para
tos componentes do terceiro estado, em que se incluía lnLer a revolução e implantar uma nova sociedade - 0
a burguesia, fizeram as revoluções burguesas. Em sua q110 fazia parte das formas de exercer e ampliar a ci
própria ambigüidaqe de voltar-se para o universal e para d.idania.
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prias vidas), leva à_reação do capital, p�imeir� co_TO passa a servir à organização do capital.
maquinaria e, já na etapa monopolls�a, com Assim, os capitalistas tecnocratas pretendem implan
tar o Estado do Bem-Esta-r, como proposta''socializante",
Jecnologia. instrumento para favorecer o ca�1tal em--doi�
porque estaria no meio-termo entre o capitalismo liberal
R�v�is: no horizontal. na relação entre fraçoes do capi
tal, � no vertical. na forma de o capital lidar com os o o socialismo cerceador vigente, ao guardar d��ê�
trabalhadores. Da perspectiva dominante, porém, essa modelos apenas traços positivos, desfazendo-se dos
traços deletérios. Conservaria dessa f�rma a igualda-
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de, a preocupação com a distribuição e com a justiç� para negociação, em contraste com a visão anterior de
social do socialismo, despojando-se do cerceamento a classes excludentes entre si.
liberdade do socialismo então existente, b_em como Na visão de mundo capitalista, deslocou-se o pomo
manteria a liberdade do capitalismo, sem reter o seu da discórdia da propriedade para o saber; nem sequer
r
caráter de exploração intensa da etapa liberal. Nessa em nível ideológico se conseguia sustentar que todos
etapa do capital, de aceno aos direitos soci� ís, a con - poderiam ser proprietários. E mais: a propriedade ad
, \
cepção de cidadania está intrinsecamente vinculada a quiriu um novo caráter, vinculada à proprie-dade de
tecnologia organizatória (planejamentos e políticas know how, do saber técnico. Nesse contexto, os ho
sociais do Estado). mens são iguais porque todos são capazes de domi
Como entender essa proposta "§.o_çiali:z;�nte"? Vale nar o conhecimento técnico (pela educação) e podem
observarque mesmo essa proposta é resultado da luta (têm a liberdade de) ascender na burocracia da em
dos trabalhadores. Assim, da perspectiva do capital, presa pelo mérito que possuem. Formar-se-ia assim a
trata-se de uma forma de enfrentar o avanço da orga burocracia, os gerentes que administrariam as empre
nização operária - que poderia implantar uma socie sas dando um rumo "socializante" à forma de produzir.
dade mais igualitária - em que o socialismo do Les Em nossa era, a forma de produção dos oligopólios
te emerge como primeira ameaça. Deste modo exige a concentração de capital. Essa forma existe, por
constitui-se também na tentativa de desmobilizar os tra sua vez, como resultado da busca de maiores lucros,
balhadores desse trajeto e ele conformá-los ao capita do mecanismo de acumulação. Por outro lado, ao usar
lismo. de tecnologia, pode-se obter lucro de maneira mais efi
) N�ste contexto,..eJ.apora-se um nível d� cidadania qu� caz e, ao mesmo tempo, criar esse caráter"socializante"
1 _ avança, mas também desmobiliza. _Çna-se� � - as empresas tendem a ser organizadas por ações,
modo de lidar com as coisas e com os homens que e não mais por proprietários. O _2roc�sso joga com� _
permite certo avanço social, mantendo o objetivo ia_ idéia de que o trabalhador também pode ser "ptopri.e
acumuJaçãQ,_situado no uso da tecnologia, no saber tário", pois pode ser acionista, aquele que "manda" na
técnico. São as idéias de igualdade e liberdade, gera empresa, depois de subir na hierarquia gerencial e in
das com a pretensa neutralidade da técnica, que vão corporar o saber tecnologizado, imprescindível para a
vigorar. De qualquer forma, cria-se um grande espaço existência da empresa. AfY.ta_pela cidad�!Jiª- eletiva ,
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deve-se dar também
- aí. Se os empresários abrem es-
paço para participações, cabe aos trabalhadores se
Historicamente, vimos que as origens desse quadro
remontam ao período entre as Grandes Guerras, pre
apropriarem efetivamente desse espaço. E, na defesa sentes tanto no planejamento do nacionalismo fascis
de seus direitos de trabalhadores-cidadãos, podem ter ta quanto no New Deal implementado pelo presidente
participação efetiva também na empresa, à medida que Roosevelt nos EUA. Este programa dava condições de
conseguem reformular condições específicas da rela trabalho e de vida à classe operária, incorporando-a
ção de trabalho. de fato aos bens do capitalismo. Mesmo em países não
Situa-se num segundo plano, mais amplo, a propos democráticos, como a Alemanha de Hitlêr e a Itália d�
ta de transformar o trabalhador em consumidor no sen Mussolini, criou-se uma forma de atendimento corpo
tido pleno: consumidor de suas necessidades básicas, rativista que cooptou grande parte da massa trabalha
de novas mercadorias e de idéias-mercadorias. De for- dora por atender determinadas necessidades básicas.
m9 avªssaladora, os meios de comunicação insistem I Não foi por acaso que esses regimes se sustentaram
nesse aspecto, procurando tirar 90 trabalhador o cará por muito tempo, apesar de tudo o que fizeram de anti
ter político_des_envolvido durante décadas na lutª-pela humano e destrutivo.
sobrevivência, despojá-lo d.a qualidade humana her De qualquer forma, ªinda que nos países democrá
dada da pó/is grega. Metamorfosear o homem em anl:_ ticos os planos fossem diferentes, a experiência nazi
mal social, minando o ente político cultural cuja _9!:!a� fascista marcou a atuação posterior das elites tecno
dade seria pensar e repen sar, discutir em público, c;rat1cas e continuou como um pequeno facho que ace
criticar como cidadão as leis injusta§. Contudo, tenha na para boa parte das massas. Amparada na pretensa
se que os próprios meios de comunicação podem ser neutralidade da técnica, essa concepção de cidadania
vir também aos trabalhadores. Cabe perceber como também poderia estar atravessada pe loespÍrito
We/fare State. Mas, entre os exemplos que persistem cd, o Estado a amplia, embora não o faça espontanea-
com sucesso, estão o dos países nórdicos e o dos Paí 111ente, e sim em função da tomada desse espaço.
ses Baixos, e, entre os mais recentes, o italiano. Podemos demarcar um pouco mais a dubiedade da
Essa forma de cidadania serve aos propósitos do cidadania nã etapa atual: de um lado,. ela atende à_s
capitalismo à medida que desmobiliza os trabalhado condições de promover o. lucro; de outro, possibilita que
res e mantém o status quo. Ao mesmo tempo, contuáo, c1 luta dos trabalhadores extrapole a fábrica e ganhe
ela abre espaço a novas condições que podem possi mais espaço.
bilitar uma nova sociedade, mais igualitária e justa. Sobre a relação entrecid,!âqania e técnica&evemQs
Como? Pelo próprio caráter do Estado contemporâneo. atentar para outra dubiedade: a t�cnologia domina mas,
Q §stado intervém na_eco.oomja .e..é _s_ó_cio e.c.onôroi ao mesmo tempo, _pode libertar. Hoje, os trabaThãdo
co de muitos e.mpreendime_ r:.itqs. Com a "revolução res têm mais conhecimentos; a evolução da tecnologia
consentida" (o planejamento), a reivindicação dos di intensiva e a_ forma de produção complexa exigem do
reitos tende a deslocar-se da área da produção para a trabalhador mais e mais especializaçao. Se disso tiver
consciência, ele pode negociar.
da gestão pública, tornando-se coisa do Estado. Nes-
se processo,--
-- - o Estad.Q s�- a12rQQ.íia
- - de grande parte da
mais-valia produzida na sociedade, pormeiõaõr eco-
No âmbito mais amplo do Estado, é necessário um
embate contínuo. Se o Estado acena com determina
dos direitos e não os cumpre, os cidadãos podem re
lhimento de impostos e de outros m�c?__oisr,:nog: J�o.m
verter isso e ganhar novos espaços. Na etapa mono
esse fundo público criado, financia suas políticas, ou polista, ? _çj dadania tem s_lJ_a força no grande espaço )�
seja, reemprega esse "capital". E pôde tãzê-lo dupla criado pa_ra _r� iY.i11gjcaç§es;_cabe
mente, de acordo com a pressão social: enquanto fi --aos
--trabalhadores
- se · \
apropr�rem dele.
nancia a produção e atende aos �apitalistas_, p�
mover a distribuição e, com isso, atender aos direitos,
elevando o salário dos trabalhadores, provendo mais-
...
educação pública�tc__.
A efetiv�_da cidadaQ)a depende, portanto, da ação
dos subalternizados. Em vez de refreara esfera públi--
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