Você está na página 1de 10

ROSA, Marcos L. (Org.).

Microplanejamento: práticas urbanas


criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. – São Paulo:
Editora Cultura, 2011.

“[...] A cidade real – interpretada como campo para experimentação – é um espaço


construído a ser revelado, passível de ação local.” p14

“[...] a apropriação do espaço por seus moradores através de uma resposta (pró)ativa,
ação e proposição em escala 1:1.” p16

“[...] A partir da negociação em terrenos e realidades preexistentes, nascem projetos que


propõem a sua interpretação, uso e ressignificação. Eles operam como articuladores,
manipulando as referências presentes.” p16

“[...] As práticas urbanas criativas organizam lugares para o encontro – pontos de


contato que resistem à desertificação e espaços coletivos de qualidade.” p16

“Jardins comunitários esverdeiam a paisagem de tijolos vermelhos no extremo leste da


cidade; um parquinho e um centro de artes ocupam o centro de uma densa favela; uma
escola de boxe e academia de ginástica instalada sob um viaduto oferecem atividades
esportivas na rota de percurso diário; um jovem artista estimula o uso coletivo do
espaço comum através de sua residência em diferentes favelas; um cinema a céu aberto
um terreno vazio leva atividades culturais a uma vizinhança isolada; navegação e
iniciativas de arte chamam atenção para um rio poluído; um programa de reciclagem
une uma comunidade carente de infraestrutura básica; um banco improvisado sob uma
árvore serve de lugar para o encontro à beira de um córrego.” p16

“[...] circuitos de resistência à cidade genérica que organizam microambientes na


cidade, nutrindo a discussão das especificidades e dos lugares urbanos. [...]” p18

“[...] visa à quebra de limites e à construção de novas pontes interdisciplinares,


expandindo os limites tradicionais e reivindicando novo papel e reposicionamento do
arquiteto e planejador o plano urbano.” p18

“[...] Dessa forma, a arquitetura é entendida como um espaço construído e constituído a


partir de práticas sociais e culturais. [...]” p18

Citação de
Borriaud, Nicolas, Postproduction, 2002:89
e Maier, Julia/Rick, Matthias, Raumlaborberlin. Acting in Public, 2008: editorial.
“‘Participar é completar um esquema proposto.’ Tomamos participação como a chave
para definir e entender o espaço urbano (em oposição à noção de transmissão e recepção
separadas). Coletividade – viver junto na cidade – serve como uma base para se
repensar questão sociais em termos urbanísticos: ‘a cidade é nosso potencial, e nós
somos seus construtores’.” p20

Citação de
Maier, Julia/Rick, Matthias, Raumlaborberlin. Acting in Public, 2008: editorial.
“A arquitetura pode ser definida em um nível mais amplo, como ‘espaço articulado, no
qual a vida cultural e social podem se desdobrar’. Se entendermos a arquitetura como
uma disciplina capaz de reagir em relação aos padrões urbanos (em constante mudança),
concentrando-se no espaço como elemento chave para trabalhar, poderemos revelar
campos urbanos específicos a partir da produção social do espaço (Raum) e um
repertório coerente as necessidades de planejamento urbano de nosso tempo.” p20

“Se definimos o arquitetônico como um espaço aberto à intervenção e, se entendemos o


arquiteto como todo aquele que age em seu ambiente, apontamos para a possibilidade
de uma outra investigação da cidade e para outra forma de se planejar o urbano.
Aceitamos a cidade real, como um produto de decisões políticas, projetos e vontades
coletivas e pessoais e acreditamos existir nessa cidade enorme potencial para
reorganização, rearticulação, recodificação. Indicamos a tarefa de mapear os campos
com abertura e capacidade para receber novos objetos que estimulem relações e, por
fim, apontamos para a necessidade de entender e propor mecanismos coerentes aos
campos e potencial identificados. Chamamos essa tarefa de microplanejamento.” p20

BURDETT, Ricky. Pensar a cidade para construir a cidade =


City-Thinking for City-Building, in: Microplanejamento: práticas
urbanas criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. – São
Paulo: Editora Cultura, 2011.

“Mas o que essa velocidade e vastidão significam tanto para aqueles que habitam
quanto para os que constroem a cidade? Como o modelo de urbanidade que apoiou a
existência humana durante séculos nos serve para compreender a forma emergente
cityness que o novo século de urbanização global maciça está apresentando? Qual é a
relação complexa entre forma urbana e vida na cidade; como intervir e gerar mudança
positiva? Essas são algumas perguntas que meus colegas e eu temos tratado no Urban
Age Programme da London School of Economics nos anos recentes, concentrando-nos
nas interações entre o físico e o social e alguma das maiores cidades ‘globais’, como
Istambul, Mumbai, São Paulo e Londres. Mas, quanto mais trabalho nessas questões,
mais percebo que há questões mais profundas sobre o descompasso da relação entre a
experiência individual do morador urbano e a macroescala da cidade. A política urbana,
ao que parece, define-se amplamente segundo um paradigma funcional que tenta
quantificar nossa experiência diária, em vez de estabelecer um conjunto de valores
humanos ou mesmo existenciais.” p116

“[...] Como arquitetos, planejadores e formadores de cidades, enganamo-nos


diariamente na criação de infraestrutura capaz de permitir a interação social ou tornar-se
uma fonte de exclusão e dominação. Mas precisamos fazer perguntas mais profundas e
duras sobre os impactos sociais da forma construída para criar políticas mais igualitárias
que deem forma a nossas cidades.” p116-118

“[...] No Egito, uma criança nasce a cada 20 segundos, e muitas pessoas mudam para o
Cairo no espaço de uma geração. Nessa cidade, mais de 60% da população vive em
assentamentos informais com edifícios de até 14 andares em uma cidade com apenas 1
metro quadrado de espaço aberto por pessoa (cada londrino, em contraste, tem acesso a
50 vezes essa quantidade).” p118
BUSENKELL, Michaela. O fluxo de Tóquio = Tokyo Fluxus, in:
Microplanejamento: práticas urbanas criativas = Microplanning, Urban
Creative Practices. – São Paulo: Editora Cultura, 2011.

Citação do Catalogue, 10th International Architecture Exhibition, 2006, p.238


“’Sob a aparência caótica de Tóquio reside uma assemblage complexa, porém
consistente, e sistemas urbanos cujas interações não podem ser plenamente reguladas.’”
p124

“[...] Tóquio está na maior região metropolitana do mundo. Cada distrito possui
administração independente, como se fosse outra cidade. Isso resulta um grande número
de centros diferentes, com características bem distintas. E só por essa razão parece
impossível fazer qualquer generalização sobre a metrópole. A única constante que
caracteriza a cidade como um todo parece ser a mudança e a transformação contínuas.
[...]” p124

“[...] Na opinião dele, as cidades de hoje e de amanhã só existem em relação a uma


comunidade física e de sua contrapartida em rede. ‘Deveríamos pensar nela [a cidade]
como uma paisagem-suporte, constantemente atualizada por seus usuários.’” p126

“[...] Mas os arquitetos mais jovens não estão interessados em repetir formas ou em
desenvolver uma arquitetura emblemática – como é o caso de Venturi –, e sim em
entender o comportamento e as necessidades de moradores urbanos a partir de
impressões da vida diária, e de lembrar-se delas enquanto planejam novos espaços.”
p128

“[...] A vida social acontece fora, na cidade, e a cobertura da casa deve se abrir para a
cidade; as fronteiras entre casa e cidade se tornam permeáveis. A questão é a mudança
de relacionamentos em todos os aspectos: hoje, a casa é, frequentemente, mais uma
cabana que um espaço fechado. [...]” p130

“[...] Morar na cidade significa, acima de tudo, tirar vantagem das possibilidades
oferecidas pelo lugar, com o objetivo de ficar ativo e viver sem vínculos. Para esse fim,
uma arquitetura provisória é suficiente.” p130

FRANCO, Fernando de Mello. Contrários e Complementares =


Contrary and Complementary, in: Microplanejamento: práticas
urbanas criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. – São
Paulo: Editora Cultura, 2011.

“As ações macro/micro, top down/bottom up, plano/tática podem ser compreendidas
enquanto dicotomias. No texto, essa ideia é trabalhada na acepção filosófica da dialética
platônica, ‘repartição de um conceito em dois outros, geralmente contrários e
complementares’. Essa compreensão nos sugere superar o debate que de forma pendular
apresenta ‘este’ como alternativa a ‘aquele’, para nos lançar à reflexão sobre quais são
os pontos de contato que permitem o emparelhamento dessas ações.” p136

“Em termos urbanos, no caso de São Paulo, é difícil encontrar algo mais dicotômico do
que os atributos que caracterizam os grandes sistemas de engenharia. Reconhecemos a
sua importância enquanto elementos de articulação do espaço metropolitano, na mesma
medida da sua capacidade de esgarçamento dos tecidos urbanos pelos quais atravessam.
[...] Sua natureza sistêmica resulta de uma organização de partes e elementos
inter-relacionados que os fazem funcionar de forma conjunta, mas muitas vezes
desconsideram os lugares por onde passam, sem criar nenhum tipo de enraizamento,
tampouco oferecendo os seus serviços a esses mesmos setores. [...] E, curiosamente, é
ao longo dessas redes que encontramos os mais instigantes exemplos de como a
população transforma espontaneamente, por vezes de forma transgressora, artefatos
técnicos em lugares ativos para a vida cotidiana. [...]” p136

“[...] um desenvolvimento urbano que sempre privilegiou a viabilização dos meios de


produção em detrimento da construção de uma paisagem voltada para a morada e para
qualidade de vida dos cidadãos.” p138

“As obras de infraestrutura vão deixando um rastro de degradação ao longo de sua


implantação. Isso porque operam sobre duas escalas distintas, tanto de espaço quanto de
tempo. Sua proporção física e a velocidade dos fluxos dos serviços, dimensionados para
responder a demandas metropolitanas, são incompatíveis com os locais por onde
passam. Sua construção vai gerando espaços residuais, desertificados e destituídos de
valor de urbanidade. Mas uma dupla condição, de disponibilidade e de indeterminação,
os abre para inúmeras formas de apropriação, formais e transgressoras, previstas e
imprevistas. Essa ambivalência está presente em sistemas muito ativos no
funcionamento da metrópole. [...]” p140

“Não se trata de apropriação usual de espaços residuais. Nesse caso, o que ocorre é a
ressignificação de uma infraestrutura urbana reativada a partir de suas características
intrínsecas de suspensão do solo, linearidade e de acolhimento de fluxos. [...]” p140

“Há quem diga que sistema viário expresso se transforma em espaço público, mas não
nos parece correto fazer tal afirmação. O Minhocão é um artefato técnico ao qual,
temporariamente, lhe é atribuído um valor de ‘domínio público’. Essa é uma distinção
importante a registrar.” p142

“Hajer & Reijndorp, circunscrito ao âmbito específico do urbanismo, definem ‘domínio


público’ como ‘lugares onde o intercâmbio entre diferentes grupos sociais é possível e
que realmente acontecem’, lugares onde o conflito é negociado em forma de uso do
espaço.” p142

“Navegar sobre as imagens de satélite de São Paulo nos permite reconhecer a existência
de uma infinidade de campos de futebol espalhados pelas áreas periféricas. Áreas de
grandes proporções contrastam com a densidade dos setores subnormais fragmentados
que os circundam. Ocupam os melhores terrenos, planos e ensolarados. Curiosamente
não são tomados para a habitação ilegal. Muitas vezes são construídos pelos
proprietários dos terrenos para ser disponibilizados à população. O intuito é evitar a
invasão. Em um contexto em que as relações são usualmente mediadas pela violência, a
construção do campo de futebol é uma estratégia de negociação pacífica. Troca-se a
integridade de uma posse fundiária particular pela franquia a uma atividade de elevado
valor coletivo.” p142
“Os espaços lineares de fluxo abrigam e potencializam essa dinâmica, o que nos ajuda a
compreender por que um espaço árido, inóspito e repudiado pela opinião pública é
intensamente ocupado por atividades lúdicas, de maneira mais intensa do que a
encontrada nas praças formais da área central.” p144

HEHL, Rainer. A convergência de micro e macroatores rumo a redes


multiescalares para intervenções urbanas = The convergence or micro
– and macro-actors towards multi-scalar netqworks for urban
interventions, in: Microplanejamento: práticas urbanas criativas =
Microplanning, Urban Creative Practices. – São Paulo: Editora Cultura,
2011.

“A mudança paradigmática de métodos top-down (de cima para baixo) para práticas
bottom-up (de baixo para cima) pode ser considerada a inovação mais importante em
planejamento urbano, para a realização da ‘cidade inclusiva’. Participação, autoajuda
assistida e transferência de poder a atores locais têm sido amplamente reconhecidas
como pré-requisitos para ‘a boa governança urbana’ e para a integração de grupos
marginalizados com igual participação no espaço urbano. Assim, com o reconhecimento
de processos informais, construções independentes, organizações comunitárias como
forças propulsoras da ativação e renovação do território urbano negligenciado, as
municipalidades começaram a constatar o potencial do microurbanismo incorporando
iniciativas de interessados locais em seus programas oficiais e estratégias de
urbanização.” p150

“[...] As letras que formam a palavra ‘dignidade’ colocadas no meio da rua não são
apenas uma manifestação de um grupo de ativistas políticos, mas também um apelo
para a reorganização do espaço urbano, dando prioridade ao direito de cada morador.”
p154

“[...] Por definição, o papel dos representantes oficiais é agir de acordo com programa
que foi estabelecido pela política e agenda públicas. As iniciativas municipais precisam
seguir os interesses dos habitantes da cidade na íntegra, enquanto o papel do ativista
político se limita a representar os direitos de partes negligenciadas da população. O
governo municipal opera pelas estruturas administrativas complexas e instrumentos
analíticos, enquanto os interessados locais se mobilizam com base em organizações
comunitárias e no apoio mútuo. [...]” p156

“Se as macro-organizações forem suficientemente inteligentes, serão capazes de integrar


a diversidade de vários microatores e seus programas; se os microatores e ativistas
urbanos conseguirem se ligar mais às redes de autoridades locais, serão capazes de
crescer e se tornar parte do processo de tomada de decisão. [...]” p156

JACQUES, Paola Berenstein. Microrressistências urbanas: Por um


urbanismo incorporado = Urban micro-resistences for na
incorporating urbanism, in: Microplanejamento: práticas urbanas
criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. – São Paulo:
Editora Cultura, 2011.
Citação de Marilena Chauí
“A peculiaridade pós-moderna – o gosto pelas imagens – se estabelece com a
transformação das imagens e mercadorias, isto é, coloca-se uma imagem com a
finalidade de manipular o gosto e a opinião.” p162-164

“Se a noção de publicidade (Öffentlichkeit) um dia já foi pensada por alguns teóricos,
como Jürgen Habermas ou Hannah Arendt, como caráter ou o sentido público de algo,
como a condição desse algo tornar-se público, ou seja, se um dia essa noção já foi
pensada dentro da esfera de interesses principalmente públicos, hoje o termo
publicidade está inequivocamente ligado a propaganda, marketing, merchandising, é a
‘voz’ do mercado, com interesses prioritariamente privados. O que já foi pensado
enquanto opinião pública, debate público ficou resumido à mera pesquisa de mercado,
cujo principal objetivo é atuar como uma eficiente fábrica de consensos. Na atual fase
da sociedade do espetáculo não há, de fato, lugar para qualquer tipo de espaço de
dissensual ou contra-hegemônico, o que resulta no empobrecimento da própria
experiência urbana, em particular da experiência sensível e corporal das cidades, aquilo
que vai além da pura visualidade imagética. O consenso busca também uma
homogeneização das sensibilidades, das diferentes formas de ‘partilha do sensível’,
como diz Jacques Rancière.” p164

“Os projetos urbanos contemporâneos são realizados no mundo inteiro segundo uma
mesma estratégia: homogeneizadora, espetacular e consensual. Esses buscam
transformar os espaços públicos em cenários, espaços desencarnados, fachadas sem
corpo: pura imagem publicitária. As cidades cenográficas contemporâneas estão cada
dia mais padronizadas e uniformizadas. As imagens de marca de cidades distintas (e
seus cartões-postais), com culturas singulares, se parecem cada vez mais entre si. Isso já
ocorre com os espaços padronizados das cadeiras dos grandes hotéis internacionais ou,
dos aeroportos, das redes de fast-food, dos shopping centers, dos parques temáticos, dos
condomínios fechados e demais espaços privatizados. As intervenções contemporâneas
sobre os territórios ditos históricos ou culturais também obedecem a esse ritmo de
produção, o que cria uma superambulância mundial de cenários e simulacros para os
turistas. [...] Hoje, paradoxalmente, a referência do espaço público ‘de qualidade’ passa
a ser um espaço privado, na maior parte das vezes, espaço interno, cercado e com
segurança privada.” p164

“[...] Tais imagens consensuais de espaços aparentemente destituídos de seus conflitos


inerentes, dos desacordos e dos desentendimentos são imagens de espaços apolíticos.
[...]” p164

“Quais seriam, então, as resistências ou desvios possíveis a esse processo? [...] Essas
alternativas passariam então, necessariamente, pela ação, pela experiência corporal na
cidade. [...]” p166

“[...] Chamamos de corpografia urbana esse tipo de cartografia realizada pelo e no


corpo, as diferentes memórias urbanas inscritas no corpo, o registro de experiências
corporais da cidade, uma espécie de grafia da cidade vivida que fica inscrita, mas ao
mesmo tempo configura o corpo de quem experimenta. [...]” p166
“[...] Além dos corpos ficarem inscritos e contribuírem na formulação do traçado das
ruas, as memórias dessas suas também ficam inscritas e contribuem na configuração de
nossos corpos.” p166

“Os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio


urbanismo através da prática, vivência ou experiência cotidiana dos espaços urbanos e,
desse modo, reorganizam suas corpografias. [...] Os praticantes ordinários das cidades
experimentam os espaços quando os praticam e, assim, lhes dão ‘corpo’ pela simples
ação de praticá-los. Esses partem do princípio que é uma experiência corporal na cidade
não pode ser reduzida a um simples espetáculo, imagem do logotipo.” P168

“[...] A cidade vivida – que corresponde a essa ‘outra cidade’ escondida, ocultada,
apagada ou tornada opaca por todas essas estratégias de marketing que criam imagens
urbanas pacificadas e consensuais – existe e resiste por trás de todos os cartões postais
de cidades espetaculares contemporâneas, e a sua experiência pode ser vista como uma
forma de resistência ao processo de espetacularização.[...]” p168

“Podemos pensar que os conflitos urbanos não só precisam ser considerados como
legítimos e necessários, mas que é exatamente da permanência da tensão instaurada por
eles que depende a construção de uma cidade menos cenográfica (espetacular), que
mistura permanentemente, embaralha e tensiona as fronteiras entre espaços opacos e
luminosos (lisos e estriados, nômades e sedentários), mantendo entre eles o que
podemos chamar de ‘zonas de tensão’, ou seja, precisamos urgentemente aprender a
trabalhar com os conflitos e a manter essas tensões no espaço público, aprender a
melhor agenciá-los, atualizá-los e incorporá-los nas teorias e práticas urbanas, é a arte
crítica – a experiência sensível enquanto microresistências sobre ou no espaço público –
pode vir a ser, efetivamente, uma grande aliada. Talvez os artistas, que já trabalham
criticamente com essas ‘zonas de tensão’, possam efetivamente nos ajudar a inventar –
recuperando as nossas três questões-pontos de partir desse texto – um urbanismo mais
incorporado, dissensual e vivaz.” p172

LANGE, Bastian. Espaços Abertos e Temporários em Berlim =


Temporary and Open Spaces in Berlim, in: Microplanejamento:
práticas urbanas criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. –
São Paulo: Editora Cultura, 2011.

“[...] Financiamentos (cross-financing) foram, com frequência, uma combinação de


economias, herança e empréstimos privados, e, apenas nos casos mais raros, de
instrumentos clássicos de captação de recursos de bancos e subsídios públicos, ou
apenas de créditos concedidos por agências de desenvolvimento internacionais.
Pioneiros espaciais, principalmente no início de sua atividade, vivem com dinheiro de
várias fontes, misturando com inteligência recursos públicos e privados. A segurança
social está inscrita em redes informais, e as pessoas estão menos dispostas a contar com
Estado.” p182

“Uma cultura de experimentação e ações experimentais caracterizou a cidade. A


experimentação é uma prática ligada ao desconhecido, porque o resultado do
experimento é incerto. Pode levar a um objetivo esperado, pode falhar, pode confundir
ou assustar, ou começar algo novo. Nesse jogo de produzir experiência, os espaços
urbanos são um determinante essencial. Principalmente espaços que tiveram sua
utilização funcional clássica abandonada abrem acesso a novas práticas até então não
experimentadas, para gerar novas ideias com potencial econômico.” p184

“Os processos de experimentação estão vinculados a usos intermediários ou


temporários. Uma nova forma de prática conquista a atenção da fase urbana, foca e
condensa relações sociais em um lugar e sobre o tópico, mas se desintegrará após a fase
de teste, ou desenvolverá outros lotes.” p184

“A experimentação está ligada a uma cultura urbana de tolerância. De acordo com o


economista regional americano Richard Florida, lugares que permitem uma cultura de
experimentação atraem pessoas criativas. A instabilidade urbana e uma prontidão para a
transformação estão, portanto, sujeitas a uma nova discussão sobre fatores de locais e a
competitividade entre regiões.” p184

SASSEN, Saskia. Desenhando a cidade em tempos instáveis =


Designing the city in times of unsetttlement, in: Microplanejamento:
práticas urbanas criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. –
São Paulo: Editora Cultura, 2011.

“[...] Entendo por ‘intervenções políticas’ aquelas estratégias de narração que, em vez
de consolidar laços com o mundo do comércio, nascem contrário, por uma vida urbana
cotidiana.” p192

“[...] Além da enorme variedade de suas contribuições, a arquitetura e urbanismo podem


funcionar também como práticas artísticas críticas que nos permitem captar algo mais
evasivo do que aquilo que se vê representado pelas ideias como a da transformação do
urbano em um parque temático. [...]” p194

BRILLEMBOURG, Alfredo; KLUMPNER, Hubert. Slum lifting:


Ferramenta informal para uma nova arquitetura = Slum lifting:
Informal Toolbox for a new architecture, in: Microplanejamento:
práticas urbanas criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. –
São Paulo: Editora Cultura, 2011.

“[...] Até agora, nenhuma das reformas e intervenções em grande escala resultou em um
modelo de cidade mais viável, amplamente aplicado e justo do que aquele que produziu
as assimetrias das cidades no Hemisfério Sul. Iniciativas que envolvem a rápida
mudança em larga escala – a demolição de favelas, a transferência de populações,
infusões de dinheiro para as grandes obras públicas – em geral fracassaram, porque um
sistema complexo como uma cidade dificilmente absorve grandes mudanças de uma só
vez. Além disso, o desafio da mudança refere-se menos aos recursos disponíveis ou à
possibilidade técnica e mais à mudança filosófica e cultural – mudança no estilo e na
expectativa de vida.” p200

“[...] A morfologia da favela resulta de inúmeras pequenas decisões individuais, e não


de planejamento. À medida que a densidade cresce, o morador da favela constrói para
cima e para baixo, a fim de ganhar a área sem inibir o acesso.” p206
“As casas juntam-se ou são construídas parede com parede, criando quarteirões
residenciais que engolem o espaço da rua e o convertem em corredores de acesso
privado. A cultura prevalente privilegia o espaço qualitativo sobre o espaço
quantitativo, anônimo. Vias públicas são interrompidas deliberadamente para reduzir o
acesso direto e privatizar o espaço da rua. Constatamos que comunidades muradas e
ruas privadas em áreas favelas são uma tipologia urbana comum tanto para o
desenvolvimento formal quanto informal e que acarretou em toda a América do Sul a
ausência do controle institucional, a falta de layouts formais, estabelecidos, a autonomia
das unidades individuais e a supremacia de arranjos feitos por iniciativa privada sobre
intervenções reguladas publicamente. O resultado é uma redução de espaços cívicos e
de redes de circulação.” p206

“[...] Esses designd são ‘acupuntura’ urbana, intervenções baseadas em avaliações


contextuais, com o objetivo de mostrar à comunidade cliente o que é possível e o que
ela pode esperar. [...] Seja o desenho de instalações para recreação, passarelas para
pedestres ou um redesenvolvimento multifuncional, promovemos arquitetura como um
evento cujos resultados só podem ser percebidos com a participação ativa dos
habitantes. [...]” p208

“[...] Nossas experiências nos ensinaram o contrário e nos convenceram de que os


arquitetos devem defender os usuários, agentes de mudança. [...] Todas as investigações
que fizemos e soluções por nós propostas devem responder a uma pergunta geral: as
pessoas estão em melhor situação do que estavam quando chegamos? [...]” p210

WOLFRUM, Sophie. Urbanismo performativo o potencial


performativo da arquitetura = Performative urbanism the
performative potential of architecture, in: Microplanejamento: práticas
urbanas criativas = Microplanning, Urban Creative Practices. – São
Paulo: Editora Cultura, 2011.

“A falta de teorias capazes de lidar com novos fenómenos urbanos é evidente. Este texto
introduz uma abordagem arquitetônica a estratégias urbanas e definir o performativo
como uma forma de lidar com o desenho urbano, aproveitando esse aspecto básico da
arquitetura, qualquer que seja a escala que esta possa abranger. Isso leva a uma
abordagem arquitetônica do urbanismo, com ênfase na relação entre substância espacial
e contingência, que é uma das diferenças produtivas em urbanismo.” p214

“O espaço não é algo exterior ao indivíduo, mas um meio (centrado) baseado em torno
dele. A sociedade coletiva gera espaço/espaços como um produto social. Além de
enfocar o aspecto social, definimos espaço em um sentido antropológico, como uma
extensão do corpo humano, ou como uma interpretação do mundo orientada para o
corpo. [...]” p216-218

“[...] Aprendemos, com Michel de Certeau e outros, na tradição do movimento


situacionista, a experiência da cidade e passamos a entendê-la como produto dessa
experiência. Com a deriva, os Situacionistas em torno de Guy Debord tornaram as
perambulações sem objetivo, movimento como percepção e produção do espaço, um
método urbano. [...]” p218
“[...] Enquanto andamos pela cidade (dirigindo ou andando de skate ou nos deslocando
por qualquer meio), não nos restringimos à recepção, estamos em estado de produção.
[...]” p218

“[...] A constelação espacial de um apartamento, uma rua, uma intervenção temporária,


ou toda uma cidade é estruturada de modo diferente, de acordo com experiência de
arquitetônica pessoal de seu ocupante. [...]” p222

“Além disso, é óbvio que a arquitetura não pode ser reduzida a objetos arquitetônicos
canonizados – edifícios, espaços abertos formalmente desenhados etc, Como vimos nos
casos de microintervenções coletadas neste livro, muitas delas poderiam não ser
consideradas arquitetura, no sentido convencional. No entanto, são arquitetura por
articularem espaço e criarem uma expressão especial de um ambiente social. Dão vida
às fronteiras e ativam espaços vazios; projetam seu ambiente espacial de modo
produtivo, possibilitando que as pessoas locais o habitem.” p222

Você também pode gostar