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C136a Caires, Carla de Barros

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio


consolidado: o conjunto edificado do Campus da Universidade
Diego Portales. Santiago do Chile / Carla de Barros Caires –
2013.
327 f. : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.
Bibliografia: f. 317-327.

1. Arquitetura contemporânea. 2. Requalificação. 3. Sítio


Consolidado. I. Título.
CDD 727.40983
Carla Caires

Arquitetura contemporânea e a requalificação


do sítio consolidado: o conjunto edificado
do Campus da Universidade Diego Portales,
Santiago do Chile.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universi-


dade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e

Urbanismo. Apoiada pela CAPES-Prosup.

Orientador: Dra. Eunice Helena S. Abascal

São Paulo, 2013


Carla Caires

Arquitetura contemporânea e a requalificação


do sítio consolidado: o conjunto edificado
do Campus da Universidade Diego Portales,
Santiago do Chile.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universi-


dade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e

Urbanismo. Apoiada pela CAPES-Prosup.

Orientador: Dra. Eunice Helena S. Abascal

Aprovada em 31 de Janeiro de 2014

Banca Examinadora

Prof. Dra. Eunice Helena S. Abascal


UPM – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dra. Ruth Verde Zein


UPM – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Paulo Bruna


USP- Universidade de São Paulo
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade de cursar


o mestrado em Arquitetura e Urbanismo e pela sua companhia
durante esses dois anos, guiando meus passos, me enchendo
de paz e de sabedoria.

Ao meu amor, companheiro e amigo, meu esposo Rafael Gre-


ve, pela sua paciência, seu carinho, seu incentivo, por tantas
coisas que me faltariam palavras para agradecer! Sem o seu
auxílio com certeza seria impossível ter chegado até aqui.

Aos meus pais e meu irmão pelo auxílio, companhia nos vários
momentos deste curso, inclusive nas viagens que realizei du-
rante esse mestrado. Eles abrilhantaram meu caminho!

Aos colegas de turma e aos professores do curso, com quem


tive a oportunidade de compartilhar conhecimento e momen-
tos únicos. Em especial, agradeço a minha amiga Ana Carolina
Gleria, pela afeição e estímulo.

À Dra. Eunice Abascal, orientadora desse trabalho, pelas suas


palavras de grande valia.

Ao Dr. Paulo Bruna, presente em minhas bancas, por suas ar-


guições e contribuições em meu exame de qualificação.

A professora e integrante da banca Dra. Ruth Verde Zein, pelo


estágio docente que realizei em sua companhia, pelo curso da
UFRGS que tive a oportunidade de participar através do seu
grupo de pesquisa e pelo seu apoio e direcionamento na temá-
tica desse trabalho. Ademais, agradeço por ter intermediado o
contato com o professor chileno Andrés Tellez que foi funda-
mental para o desenvolvimento dessa pesquisa.

Ao Prof. Andrés Tellez que me guiou por Santiago e me possi-


bilitou pesquisar nas universidades da Pontífica Universidad
Católica e Universidade Diego Portales.

Ao professor arquiteto Ricardo Abuauad da Universidade Diego


Portales pela sua disponibilidade em me atender durante minha
estadia no Chile.
Ao professor arquiteto Renzo Alvano da Universidade Diego
Portales pela sua presteza em disponibilizar as informações re-
ferentes a esse trabalho.

Ao Marcelo Vizcaino da Universidade Diego Portales pela con-


tribuição nos materiais gráficos dessa pesquisa.

Ao arquiteto Francisco Freyes do Escritório de Mathias Klotz e


ao professor arquiteto Mathias Klotz por sua colaboração.

À CAPES/ PROSUP pela concessão de bolsa de estudo duran-


te o ano de 2013.

À CAPES por financiar o intercâmbio realizado em 2012 na


UFRGS.

Ao Prof. Dr. Carlos Eduardo Dias Comas da UFRGS por seu


entusiasmo ao transmitir conhecimento.

Ao Prof. Marcelo Puppi e sua esposa Suely, pela amizade, dire-


cionamento e incentivo.

A minha amiga Mayta, pela agradável recepção que tive em


sua casa.

A todos, meus sinceros agradecimentos, sem o auxílio de vo-


cês não teria conseguido chegar até aqui.
Por outro lado, o projeto não é uma atividade científica: é de natureza
ideológica e, portanto, comporta uma determinada visão do mundo, uma
determinada concepção da vida social. Cada Projeto, cada obra, constitui
uma proposta de vida.

Marina Waisman, 1990


Apresentação
A presente pesquisa se propõe a estudar edifícios
representativos da arquitetura contemporânea na América
Latina e as transformações que estes têm gerado no sítio em
que estão inseridos, especialmente em áreas degradadas.
O tema partiu de indagações pessoais sobre as principais
temáticas e características que marcam a arquitetura
contemporânea e sua relação com contextos patrimoniais.
Tais indagações me acompanham desde os debates com meu
amigo e orientador de graduação Marcelo Puppi e com o grupo
de Arquitetura Contemporânea do Professor Rovenir Duarte,
realizados durante o final do curso de graduação no ano de
2007. Somado a esses debates, meu estágio na Diretoria de
Patrimônio Histórico de Londrina com a querida amiga Vanda
de Moraes despertou ainda mais meu interesse pelo tema.
Essas influências somadas ao meu desejo por aprofundar o
conhecimento nas características arquitetônicas e urbanas de
obras que parecem potencializar contextos ricos, complexos
e repletos de ambiguidades, levaram-me a dar início ao
mestrado em 2012.
O início do mestrado teve enfoque na arquitetura brasileira
das últimas décadas. No entanto, após discussões com
professores e colegas, surgiu uma nova proposta de estudar
a arquitetura contemporânea chilena. Essa mudança se deu
principalmente a partir de conversas com a professora Dra.
Eunice Abascal e especialmente a partir da possibilidade de
estudar uma temática contemporânea que estaria relacionada
à visão sistêmica da arquitetura e do urbanismo, que busca
enxergar além do objeto arquitetônico isolado. Ademais, a
Arquitetura Contemporânea no Chile tem se destacado no
cenário atual global e parece apresentar um olhar apurado na
relação entre arquitetura e cidade.
A escolha de um grupo específico de edifícios para
analisar foi iluminada pela professora Dra. Ruth Verde Zein
que sugeriu a análise do conjunto de edifícios da Universidade
Diego Portales em Santiago do Chile. Essa escolha estaria
pautada na possibilidade de analisar os edifícios arquitetônicos
com suas características específicas e também como um
conjunto de edifícios contemporâneos que se relacionam
entre si e com o contexto, potencializando os olhares sobre a
relação arquitetônica e urbana. Além disso, artigos sobre estes
edifícios haviam sido publicados em periódicos de arquitetura
e urbanismo tendo como autor do plano e de vários edifícios o
arquiteto Mathias Klotz, um dos grandes nomes da arquitetura
chilena atual.
A dificuldade de ter como objeto de estudo um determinado
grupo de edifícios em um país distinto do meu foi vencida
através do auxílio da Professora Dra. Ruth Verde Zein, a
quem sou imensamente grata. Ruth Verde Zein apresentou-
me ao professor-arquiteto chileno Andrés Tellez Tavera, que
por sua vez viabilizou meu contato direto com as obras da
Universidade Diego Portales e também com os arquitetos
Mathias Klotz, Ricardo Abuauad e Renzo Alvano, além da
pesquisa na biblioteca Lo Contador da Pontificia Universidad
Católica e na biblioteca da Universidade Diego Portales de
bibliografia consolidada e aceita no ambiente acadêmico local
do Chile.
Percorrer os edifícios contemporâneos da Universidade
Diego Portales e redesenha-los em maquetes tridimensionais
levou-me a não apenas compreender algumas características
arquitetônicas e urbanas específicas em relação aos edifícios
e seus contextos, mas, ao experimentar as espacialidades
e materiais, pude ampliar a minha percepção da relação da
arquitetura nova e histórica e de alguns desafios que parecem
nortear as arquiteturas complexas, como o de construir lugares,
espacialidades e sensações que se relacionem ao campo
arquitetônico histórico universal, mas também se relacionem
ao saber arquitetônico local e ao contexto da atualidade.
Sumário
Resumo.................................................................................. 12

Abstract.................................................................................. 14

Introdução...............................................................................16

Capítulo 1 - Bairro Universitário de Santiago........................ 22

1.1 Histórico/ Características Físicas.................................... 25

1.1.1 A Consolidação do Bairro Universitário de Santiago

(BUS)................................................................................. 33

1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales

(UDP)...................................................................................... 52

Capítulo 2 - Edifícios da Universidade Diego Portales.......... 69

2.1 Intervenção Contemporânea em Sítios Consolidados:

análise projetual dos edifícios da UDP................................... 73

2.2 Arquiteto Mathias Klotz..................................................... 77

2.2.1 Faculdade de Saúde............................................... 90

2.2.2 Edifício de Usos Múltiplos, Biblioteca Nicanor Parra

e Centro de Extensão...................................................... 112

2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme.................. 165

2.3.1 Faculdade de Economia - com Arquiteto Mathias

Klotz..................................................................................... 175

2.3.2 Faculdade de Direito............................................. 203

2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad............................................ 220

2.4.1 Faculdade de Arquitetura, Artes e Desenho (FAAD) e

Ampliação FAAD................................................................. 229

Capítulo 3 - O conjunto da Universidade Diego Portales e

o Contexto do Bairro Universitário de Santiago:

Preservação e Transformação............................................ 256


3.1 Os edifícios e a paisagem urbana.................................. 260

3.2 Os edifícios e a arquitetura patrimonial.......................... 288

Considerações Finais........................................................... 311

Bibliografia............................................................................ 317
Resumo

Resumo
A presente pesquisa se fundamenta no estudo da
intervenção urbana definida por um conjunto de edifícios
contemporâneos do Campus da Universidade Diego Portales
(UDP), construído no Bairro Universitário de Santiago (BUS),
em Santiago do Chile. O conjunto de edifícios, bem como a
arquitetura singular de cada um deles, despertam interesse de
pesquisa pelo debate suscitado pela condição contemporânea
da arquitetura inserida em um sítio consolidado. Cada um dos
edifícios de interesse foi projetado por equipes de arquitetos-
professores desta universidade latino-americana. Este fato
desperta ainda o interesse de compreender as características
dessa arquitetura, considerando a relação entre universalidade
e especificidade chilena com a produção arquitetônica atual.
No mesmo período da concepção do Campus e seus edifícios
(2002/2003) a UDP lançou seu Plano de Infraestrutura, que
junto com outras iniciativas públicas tem incentivado, desde
então, transformações de uma antiga área urbana. Diante
desse contexto, surge o desafio de descobrirmos quais fatores
e processos, arquitetônicos e urbanísticos, são responsáveis
pela requalificação dessa área, e como a arquitetura
comparece e explica essa transformação.

A arquitetura chilena desperta interesse não só por


apresentar características contemporâneas que vem ao
encontro das indagações que este trabalho se propõe
responder, envolvendo intervenção em sítio consolidado, mas
também para suprir uma lacuna de conhecimento sistêmico
no Brasil de práticas contemporâneas, arquitetônicas e
urbanísticas, representativas da América Latina.

O conjunto de edifícios em questão será analisado


conforme várias categorias definidoras da intervenção,
como as relacionadas ao bairro (social), ao território urbano
(urbanística) e aos edifícios patrimoniais e novos inseridos
nesse tecido urbano (arquitetônico). Estes aspectos serão
relacionados ao processo de implantação do Plano de
Infraestrutura da UDP, às articulações do campus urbano
aberto com o território urbano e às relações dos edifícios
novos com os edifícios patrimoniais existentes através da
analise das características específicas de cada edificação
selecionada.

Os fatores elencados justificam a importância do tema e

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Resumo

procuram ampliar o universo de pesquisas e estudos sobre


o tema. Espera-se que a pesquisa auxilie outros projetos de
pesquisa referentes a intervenções em sítios consolidados e
que contribua para a área de projeto arquitetônico e urbano,
por meio do aprofundamento do conhecimento das obras
contemporâneas, das relações entre o projeto arquitetônico
e seu entorno, e de arquitetos representativos na América
Latina contemporânea.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 13


Abstract

Abstract
This research is based on the study of urban intervention
defined by a set of contemporary buildings of the campus of
Universidad Diego Portales (UDP), built in the neighborhood
Barrio Universitario de Santiago (BUS) in Santiago, Chile.
The set of buildings, as well as the unique architecture
of each, arouse research interest in the debate raised by
the contemporary condition of architecture embedded in a
consolidated site. Each of the buildings of interest was designed
by teams of architects and professors of this university in Latin
America. This fact still arouses the interest of understanding
the characteristics of this architecture, considering the relation
between universality and specificity with the Chilean current
architectural production. At the same time of the conception of
the campus and its buildings (2002/2003), UDP launched its
Infrastructure Plan, which, along with other public initiatives,
has encouraged transformations on this old urban area. In this
context, there is the challenge of finding out which architectural
and urban factors and processes, are responsible for the
redevelopment of this area, and how the architecture appears
and explains this transformations.
The Chilean architecture arouses interest not only for
presenting contemporary features that meets the questions
that this study aims to answer, involving intervention on a
consolidated site, but also to fill an existing gap in Brazil of
systemic knowledge on contemporary practices, architectural
and urban, significant on Latin America.
The set of buildings in question will be analyzed according
to various categories defining the interventions, such as those
related to the neighborhood (social), urban territory (urban)
and historical and new buildings inserted into this urban fabric
(architectural). These aspects will be related to the process of
implementation of the Infrastructure Plan of UDP, the joints of
the open urban campus with the urban territory and relations
of the new buildings with the existing heritage buildings by
analyzing the specific characteristics of each building selected.
The listed factors justify the importance of the issue
and seek to expand the universe of research and studies
on the subject. The aim is that this research will assist other
research projects related to interventions in consolidated sites
and contribute to the field of architectural and urban design
by deepening the knowledge of contemporary works, the

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Abstract

relationship between architectural design and its surroundings,


and representative architects in contemporary Latin America.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 15


Introdução

Introdução
A presente pesquisa se propõe a estudar o conjunto de
edifícios contemporâneos da Universidade Diego Portales
(UDP) implantados no Bairro Universitário de Santiago no Chile
(BUS). O trabalho irá abordar as características singulares
desses edifícios e sua relação com o contexto histórico em
que se inserem.

O BUS é delimitado por dois bairros históricos denominados


Ejército e República, que estão inseridos no Setor Sudoeste
de Santiago e próximos ao triângulo fundacional da cidade.
Embora com importância patrimonial, este setor se encontrava
em deterioração com prédios mal cuidados e com pouco fluxo
de pedestres no final do século XX.

O conjunto de edifícios da UDP, fruto principalmente


de um primeiro Plano de Infraestrutura nos anos de 2002 e
2003, veio juntamente com outras propostas de intervenção e
transformações para a área do Bairro, no intuito de requalificá-
la, inclusive com a criação dos limites do BUS em 2003.

Este conjunto de edifícios desperta interesse de pesquisa


pelo debate suscitado pela condição contemporânea da
arquitetura inserida em um sítio consolidado. Ademais, os
edifícios apresentam uma arquitetura singular, projetados
por professores-arquitetos da própria universidade, com um
corpo representativo de arquitetos contemporâneos latino-
americanos, tais como Mathias Klotz, Ricardo Abuauad,
Renzo Alvano e Pablo Riquelme.

A arquitetura chilena, por mais que tenha sua importância


reconhecida através das publicações contemporâneas,
ainda é pouco conhecida de forma sistemática no Brasil.
Essa arquitetura desperta interesse não só por apresentar
características contemporâneas que vêm ao encontro
das indagações que este trabalho se propõe a responder,
envolvendo intervenções em sítios consolidados, mas para
suprir uma lacuna de conhecimento sistêmico no Brasil de
práticas contemporâneas, arquitetônicas e urbanísticas,
representativas da América Latina.

O fato dos edifícios terem sido projetados por


arquitetos-professores representativos chilenos desperta
ainda o interesse de compreender as características dessa

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Introdução

arquitetura, considerando a relação entre o debate universal


e as especificidades latino-americanas da produção
arquitetônica atual. Soma-se a isso o fato de ser um conjunto
de edifícios inseridos de forma dispersa na malha urbana
consolidada, que contribui para a análise através de um prisma
contemporâneo mais sistêmico, que busca ir além do edifício
isolado, trabalhando a junção deste com os outros edifícios do
conjunto, do entorno e com as características da região.

O Plano de Infraestrutura da UDP surge no mesmo período


em que o BUS estava sendo criado e enquanto levantamentos
estavam sendo realizados no sentido de identificar os valores
urbanos e arquitetônicos do contexto local. Os levantamentos
objetivavam embasar a construção de novas diretrizes para
requalificar o setor e direcionar esta nova configuração mista
residencial e universitária. O presente trabalho irá abordar o
modo como estes edifícios contemporâneos partilham dessas
propostas paralelas e, através das suas características
arquitetônicas e urbanísticas, se conformam em elementos de
transformação e requalificação do sítio histórico.

A questão fundamental, condutora desta dissertação,


está relacionada aos fatores e processos, arquitetônicos
e urbanísticos, que são responsáveis pela requalificação
dessa área, bem como ao papel que a arquitetura da UDP
desempenha nessa transformação.

Para nos aproximarmos das soluções para a questão


acima, o conjunto de edifícios da UDP será analisado conforme
várias categorias definidoras da intervenção, como: as
relacionadas ao bairro (social); ao território urbano (urbanística);
e aos edifícios patrimoniais e novos inseridos nesse tecido
urbano (arquitetônica). Esses aspectos serão relacionados ao
processo de implantação do Plano de Infraestrutura da UDP,
às articulações do campus urbano aberto com o território
urbano e às relações dos edifícios novos com os edifícios
patrimoniais existentes através da analise das características
específicas de cada edificação selecionada. Sendo o conjunto
de edifícios da UDP constituído por uma elevada quantidade de
edifícios, foi necessário delimitar a análise a alguns casos para
viabilizar a pesquisa dentro do tempo disponível de mestrado.
Dentre os edifícios da UDP, foram selecionados cinco edifícios
do Primeiro Plano de Infraestrutura que apresentam o maior
número de publicações e que foram projetados por arquitetos-

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Introdução

professores que se mantêm na universidade até os dias atuais,


e mais três edifícios do plano de infraestrutura atual que estão
diretamente conectados com os edifícios selecionados do
primeiro plano.

Os edifícios selecionados também foram considerados


os mais representativos dentre as construções da UDP para
contribuir com as questões que este trabalho busca responder,
uma vez que apresentam a relação contínua entre a construção
de uma arquitetura nova e a preservação das características
arquitetônicas e urbanas históricas. Por estarem inseridos nas
principais ruas do setor e muitas vezes em terrenos limítrofes,
juntos com edificações preexistentes desde a sua implantação
até a criação de espaços coletivos e características formais,
os edifícios demonstram a preocupação dos arquitetos em
intervir para intensificar a requalificação do local por meio da
apropriação da arquitetura pela população chilena.

Os oito edifícios selecionados são: a Faculdade de


Saúde; o Edifício de Usos Múltiplos; a Biblioteca Nicanor
Parra; o Centro de Extensão (projeto), do arquiteto Mathias
Klotz; a Faculdade de Economia; a Faculdade de Direito, dos
arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme (escritório A+R);
a Faculdade de Arquitetura; e a ampliação da Faculdade de
Arquitetura, de Ricardo Abuauad. A Faculdade de Economia
foi projetada pelos escritórios de arquitetura A+R, com o
arquiteto Mathias Klotz.

Para a realização da análise, foi feito cadastro das obras,


visita in loco em 2012, levantamento de material documental e
gráfico com os arquitetos e construção de maquetes eletrônicas
e plantas 2D, para, enfim, analisar detalhadamente as diversas
características arquitetônicas e urbanas que estabelecem
relações com o contexto local e com a população acadêmica
e residente do bairro.

A pesquisa se divide em três partes, sendo que a primeira


apresenta as características gerais do Bairro Universitário de
Santiago e do Plano de Infraestrutura da Universidade Diego
Portales. A segunda parte trata da metodologia e das análises
dos edifícios selecionados e a terceira parte retoma alguns
resultados das principais características arquitetônicas e
urbanas encontradas nas análises dos edifícios em relação
ao contexto histórico e sua requalificação.

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Introdução

A primeira parte se divide em dois tópicos. O primeiro tópico


aborda um breve histórico do Bairro Universitário de Santiago
com suas principais características físicas e propostas para o
setor que evidenciam seus valores urbanos e arquitetônicos,
e as propostas dadas pelos dois levantamentos, de criação do
Campus Urbano Aberto no bairro e mudanças na normativa
patrimonial, que podem transformar e requalificar o setor.
O segundo tópico apresenta o Plano de Infraestrutura da
UDP através de um breve histórico da consolidação da
universidade no Setor Sudoeste, seus principais edifícios e
planos de infraestrutura, assim como as diretrizes gerais do
Plano de Infraestrutura da UDP em relação às propostas
realizadas contemporaneamente nos levantamentos do BUS,
e os edifícios selecionados para a análise neste trabalho.

A segunda parte desta pesquisa aborda a metodologia


de análise e a própria análise dos oito edifícios selecionados
da UDP, apresentando os principais conceitos e autores que
fundamentaram as características observadas nas obras em
relação a sua inserção e transformações no sítio consolidado.
Nesta parte também será apresentada uma breve biografia/
descrição profissional dos arquitetos Mathias Klotz, Escritório
A+R (Renzo Alvano e Pablo Riquelme) e Ricardo Abuauad.

Para auxiliar na organização da análise das obras


selecionadas em relação aos objetivos que este trabalho se
propõe a atingir, os oito edifícios foram separados em três
grupos conforme os arquitetos responsáveis. Além disso, as
obras que estão implantadas em terrenos limítrofes como
o Edifício de Usos Múltiplos, a Biblioteca Nicanor Parra e o
Centro de Extensão foram analisadas em um mesmo tópico,
intensificando a análise não apenas das características
específicas de cada edifício, como também da relação entre
os mesmos.

Na última parte desta dissertação, foram abordadas


as principais características urbanas e arquitetônicas
encontradas nas análises arquitetônicas em relação aos
valores urbanos e arquitetônicos do sítio histórico. Esta
parte foi, então, dividida em dois tópicos: paisagem urbana e
patrimônio arquitetônico. Sendo que o primeiro tópico aborda
as características dos edifícios em relação aos valores da
trama urbana, configuração figura-fundo, espaços públicos
e escala do bairro, enquanto o segundo tópico aborda as

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 20


Introdução

características dos edifícios em relação ao tipo estrutural,


formal e funcional dos edifícios patrimoniais. Essa relação
entre as características encontradas no conjunto de edifícios
da UDP e no contexto histórico mescla uma constante postura
de preservação e transformação que intensifica a relação do
usuário com o contexto, a apropriação destes espaços pela
população e, assim por dizer, a requalificação do mesmo.

Esta pesquisa não pretende esgotar todas as


possibilidades de leitura das obras em questão, mas realizar
a análise conforme as questões a que este trabalho busca
responder. Os fatores elencados justificam a importância
do tema e procuram ampliar o universo de pesquisas e
estudos sobre o mesmo. Espera-se que a pesquisa auxilie
outros projetos de pesquisa referentes a intervenções em
sítios consolidados e que contribua para a área de projeto
arquitetônico e urbano, por meio do aprofundamento do
conhecimento das obras contemporâneas, das relações
entre o projeto arquitetônico e seu entorno, e de arquitetos
representativos na América Latina contemporânea.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 21


1 Bairro Universitário de Santiago

1 Bairro Universitário de Santiago


O Bairro Universitário de Santiago (BUS) se encontra
delimitado ao norte pela Alameda Libertador Bernardo O’
Higgins, ao leste pela Avenida Manoel Rodriguez, ao sul
pelas ruas Placer e Centenário e a oeste pela Avenida Vicuña
Makenna. As avenidas Alameda Libertador Bernardo O’
Higgins e Manoel Rodriguez dividem a comuna de Santiago
em quatro setores: Triângulo Fundacional, Santiago Poniente,
Santiago Sur-Poniente (Sudeste) e Santiago Sul.

Das quatro divisões da área central, o triângulo


fundacional corresponde à área de fundação da cidade.
Além de sua importância histórica com os principais edifícios
representativos da cidade, atualmente é o principal centro
Figura 01
Localização Setor 1 e quadrantes
financeiro, comercial, administrativo e de serviços da comuna.
área central- Comuna de Santiago. Delimita-se ao norte pelo rio Mapocho, ao sul pela Al. L.
Fonte:Google Earth, 2013.
B.O’Higgins e a oeste pela Avenida Norte-Sul.
Elaboração autora

No quadrante Santiago Sudoeste, próximo ao triângulo


fundacional, está localizado o Setor 1 do Bairro Universitário
de Santiago (BUS), o setor mais antigo universitário, delimitado
ao norte pela Al. L. B. O’Higgins, ao Sul pela Av. Almirante
Blanco Encalada, ao leste pela Av. Manuel Rodriguez Sul (ou

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 23


1 Bairro Universitário de Santiago

Av Norte-Sul) e a oeste pela rua Abate Molina.

No Setor 1 do BUS, estão localizados os bairros República


e Ejército e os primeiros edifícios universitários: Campus
Beaucheff da Universidade de Chile de 1911 e a Faculdade de
Arquitetura da Universidade de Chile de 1944. É neste setor
que se desenvolve o Plano de Infraestrutura da Universidade
Diego Portales que será analisado neste trabalho.

O Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales


(UDP) tem gerado, desde o ano de 2002, modificações no setor
1 do BUS. No entanto, o conjunto de edifícios contemporâneos
se encontra diretamente relacionado ao sítio em que se insere,
tanto em seus aspectos históricos, quanto em uma nova
configuração urbana de um Campus Urbano Aberto. Antes de
iniciar a análise do conjunto de edifícios contemporâneos e
sua intervenção neste sítio consolidado, este primeiro capítulo
irá tratar sobre o contexto histórico e físico do setor em que
se inserem os edifícios e as características gerais do Plano de
Infraestrutura da Universidade Diego Portales.

No primeiro tópico se pretende compreender o contexto


do sítio consolidado em que se insere o Plano de Infraestrutura
da UDP. Para isso, será abordado um breve histórico do
BUS, desde a origem do local, seu desenvolvimento e suas
características patrimoniais (arquitetônicas e urbanas) e
os levantamentos e propostas realizados para o setor,
principalmente em relação a mudanças na lei protecionista e
na criação de um Campus Urbano Aberto.

No segundo Tópico, será abordada a criação do Plano de


Infraestrutura da UDP, um breve histórico do desenvolvimento
da infraestrutura da universidade no setor, as diretrizes que
levaram à construção do primeiro Plano de Infraestrutura,
quais os edifícios que formam o campus da UDP e quais
os edifícios selecionados para serem analisados em suas
características arquitetônico-urbanísticas neste trabalho.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 24


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

1.1 Histórico/ Características físicas

Fundada em 1541 por Pedro de Valdivia, a comuna de


Santiago está localizada ao lado da Cordilheira dos Andes.
Seu traçado, no entanto, começou ao pé de um segundo
monte denominado Monte Huélen, entre os dois braços do rio
Mapocho, em uma trama quadriculada padrão espanhol, de
ruas com orientação norte-sul e leste-oeste. A regularidade da
malha urbana contrasta com a configuração natural do rio e o
formato irregular do Monte Huélen e da Cordilheira dos Andes,
criando uma paisagem complexa e híbrida que não apenas
caracteriza a cidade, mas constitui os principais marcos de
orientação dos seus cidadãos, que se mantiveram no decorrer
da história.

Figura 02
Plano de Vila de Santiago, 1712- Foi somente após a instauração da República do Chile e
Ameede Frezier.
Fonte:Site www.infanciadechile.
a confirmação de Santiago como capital na década de 1810,
info acessado em 05/11/2012 que a cidade passou por um período de grande expansão no
qual, entre os anos de 1820 e 1860, a sua população duplicou
de 46 mil habitantes para 90 mil habitantes, segundo a Ilustre
Municipalidad de Santiago (2011). Este aumento considerável
da população impulsionou a criação de novos bairros na
cidade. Entre as décadas de 1830 e 1840 surgiram os bairros
República e Ejército atualmente compreendidos como o setor

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 25


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

um do Bairro Universitário de Santiago (BUS), local em que


se encontra, desde 1980, implantada a Universidade Diego
Portales.

Nestes bairros a mesma malha quadrangular, padrão


espanhol, foi estendida para este setor no momento de sua
criação, gerando quadras regulares. Uma vez que estes
bairros se localizam abaixo do rio Mapocho e a sudoeste do
triângulo fundacional, a nova malha criada tem as principais
Figura 03
Plano de Santiago, 1894 - Hipólito vias República e Ejército no sentido norte sul, já que visava
Cadot . conectar este setor com os outros setores da comuna ao
Fonte: Site http://www.
memoriachilena.cl/ acessado em norte.
05/12/2013

Av Ejército

Av República

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 26


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

O setor iniciou seu processo de urbanização em 1830,


finalizando ao redor de 1925. Nas origens do traçado
deste setor, a urbanização se levou a cabo a partir
de uma trama em quadricula, a orientação dos lotes
privilegiou o sentido oriente-poente, posto que eram
as vias que corriam de norte a sul as que tinham
mais demanda e que estavam melhor consolidadas.
(CARRASCO, 2005, P.11)

Esta configuração com as ruas principais no sentido


norte-sul fez com que os lotes tivessem uma predominância
no sentido leste-oeste e formato retangular. A trama regular
criou quadras predominantemente com formatos retangulares
e fechadas, em que o edifício era acessado diretamente a
partir da calçada externa. Nesta configuração, os edifícios
acompanhavam o alinhamento predial e traziam às ruas
chilenas o efeito das fachadas contínuas e rua-corredor.
Figura 04
Esquina rua Vergara e Grajales-
Origem do tecido urbano setor
Sudoeste Fonte: Livro Santiago
Sur-Poniente, 2004, p.91

Uma vez que os edifícios acompanham o alinhamento


predial, as quadras são densamente ocupadas, restando
apenas, segundo Pérez, Ochoa e Pino (2004, p. 90) alguns
vazios “no interior das quadras”, os quais eram ocupados
“principalmente por um ou mais pátios interiores em cada
edifício” ou por jardins. Estes espaços livres eram de uso
exclusivo dos moradores e tinham completa independência
dos espaços públicos externos das ruas e praças. Esta
configuração das quadras com vazios interiores, pode ser
evidenciada em imagens realizadas por James Melville Gillis,
no ano de 1855, de regiões como o Centro Fundacional e

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 27


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

Santiago Sur, com a presença maciça de casas pátios.

Figura 05
Recorte da Panorâmica a partir
do morro Santa Lucia-Gillis,1855. As ruas República e Ejército só passaram a estar
Fonte: Site www.archivovisual.cl completamente consolidadas após a canalização de um
acessado em 05/12/ 2013
dos braços do Rio Mapocho que margeava a área em
1865 e a criação da Alameda das Delícias, sobre o antigo
rio, que, posteriormente, passou a ser chamada Alameda
Bernardo O´Higgins. O rio funcionava como um obstáculo e
um elemento que segregava este setor dos outros setores
da comuna (como o próprio triângulo Fundacional) e gerava
repentinas inundações em seu entorno. Dada essa realidade,
a canalização dele permitiu uma maior integração do Setor
Sudoeste com os outros da comuna e também propiciou
a extensa utilização da Alameda e de seu entorno pelos
chilenos, tornando-a um dos principais espaços de passeio
público da população chilena, especialmente a população de
maior renda e poder aquisitivo.

Após a canalização do rio Mapocho e a criação da


Al. Bernardo O´Higgins, os bairros República e Ejército
alcançaram seu apogeu e as classes altas chilenas
começaram a fincar suas raízes nas ruas Ejército e República.
Este período, marcado por diversas mudanças sociais,
políticas e uma população que buscava novos referenciais
além das características coloniais e conservadoras até então
existentes, permitiu a consolidação de um bairro com mansões
e palacetes de fachadas ecléticas, que utilizavam referenciais
europeus para traçar características arquitetônicas que
representassem uma nova sociedade.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 28


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

Figura 06
Imagem Alameda das Delícias-
Claude Gay- 1854.
Fonte: Site www.archivovisual.cl
acessado em 05/12/ 2013

Segundo Pérez, Ochoa e Pino (2004) estas mansões


apresentavam uma escala baixa de até três pavimentos,
algumas com pátios internos ou jardins posteriores, e dentre
os diversos estilos encontrados em suas fachadas, o estilo
classicizante foi o mais empregado. As fachadas eram
marcadas por vãos verticais, pequenas reentrâncias, sacadas
e elementos de base e de remate superior horizontais.

La mayor parte de los vanos existentes en el sector poseen uma


proporción rectangular vertical y corresponden a edificaciones
construidas entre los años 1880-1930 aproximadamente;
respecto a su acentuamiento, se observa una tendencia
a remarcar los vanos fuertemente a partir de elementos
arquitectónicos y decorativos, los cuales los destacan desde
su base, sus costados o remates superiores con la presencia
de frontones, pequeños aleros, pilastras, balaustradas,
alféizares, entre otros. (PÉREZ, OCHOA E PINO, 2004, p.
106)

Figura 07
Avenida Ejército em direção sul,
1900.
Fonte: Livro Santiago Sur-
Poniente, 2004, p.51

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 29


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

Em 1870 a capital chilena já se encontrava consolidada


como centro político e de intercâmbio e o desenvolvimento
da cidade se potencializou graças ao governo central de
Benjamín Vicuña Mackenna, intendente de Santiago (1872-
1875). Mackenna apresentou um plano de transformação
de Santiago, inaugurando o auge da história da cidade em
termos de organização urbana e construção de edifícios
públicos.

Nesta época, a Avenida Alameda Libertador Bernardo


O’Higgins adquiriu definitivamente seu status de traçado
estruturante da cidade, conservando sua condição de
passeio elegante, a qual, juntamente com a construção do
Parque Cousiño e do Clube Hípico, contribuiu para o contínuo
crescimento dos bairros residenciais ao redor, como o setor 1
Figura 08
Parque Cousiño, 1913
do Bairro Universitário de Santiago, e para a materialização de
Fonte: http://www.memoriachilena. novos referenciais arquitetônicos, nestes casos de influência
cl/ acessado em 05/12/2013
francesa.

Figura 09
Club Hípico, 1904 O plano transformador de Santiago em 1872 incluiu o
Fonte: http://www.memoriachilena. traçado do cordão da cintura conformado pelas avenidas
cl/ acessado em 05/12/2013
Matucana, Esposición, Blanco Encalada, Matta, Benjamín
Vicuña Mackenna e Mapocho e a realização de 18 novas
praças. Mais tarde, em 1900, os terrenos gerados pela
canalização do rio Mapocho foram transformados em uma
grande área verde: o Parque Florestal, conforme projeto do
paisagista francês Georges Dubois. (MUNICIPALIDADE DE
SANTIAGO, 2011, P.5).

Com a criação do Parque Cousiño, a principal área verde


próxima ao setor, a Avenida Ejército teve ampliada ainda
mais a sua utilização pelas classes altas chilenas, devido a
seu acesso direto à área. Além do Parque Cousiño, foi criada
uma pequena praça no setor denominada Manuel Rodríguez.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 30


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

Tendo em vista que levantamentos realizados em 2003 e 2004


deixam evidente que foram mantidas apenas essas duas
áreas verdes no setor, e uma vez que o Parque Cousiño não
se encontra inserido dentro dos bairros República e Ejército,
mas ao sul do bairro Ejército, a existência de apenas uma
praça nestes bairros até os dias atuais, revela a carência de
espaços públicos que vive o setor um do Bairro Universitário
de Santiago.

Segundo histórico levantado pelos autores Villanueva,


Castelo, Duronea, Sáenz, Munizaga, Pérez, Ochoa e Pino no
livro Santiago Sur-Poniente de 2004, após acelerado processo
de expansão que passou o Setor Sudoeste (Santiago Sur-
Poniente) nas primeiras décadas do século XX, aumentando
a densidade e trazendo novos usos de comércio, serviço e
negócios para a área, juntamente com a crise econômica de
1930, ocorreram modificações na sociedade residente, que
iniciou seu êxodo para novos bairros do oriente, a fim de viver
um estilo de vida que segue os modelos anglo-saxões.

As antigas mansões foram abandonadas e


passaram a ser subdivididas em apartamentos
ou peças de aluguel, iniciando um período de
deterioração dos imóveis. Os lotes passaram a
ser subdivididos e passagens surgiram criando
quadras com penetrações, nas quais, através de
ruas internas, condomínios de casas passaram
a ser criados nos miolos de quadra, conhecidos
posteriormente como Cités, aumentando ainda
mais a densidade da ocupação do solo do setor.

Figura 10
Cité Simples. Producto de las políticas habitacionales surge la solución
Fonte: Livro Santiago Sur- urbana de las unidades colectivas de vivienda en extensión
Poniente, 2004, p.101
tipo cité y pasaje, originándose la construcción masiva
al interior de las manzanas, que desde un punto de vista
morfológico genera una penetración que sigue en general un
orden ortogonal, inserto en la virtualidad del damero original,
materializando un proceso de gran densificación del tejido
urbano. (PÉREZ, OCHOA E PINO, 2004, p. 101-102)

Este período de deterioração dos imóveis e subdivisão


dos lotes foi potencializado na década de 1970, visto que foi
finalizada a construção da avenida norte-sul, na face leste

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 31


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas

do Setor Sudoeste, quebrando brutalmente o


tecido urbano pré-existente e a ligação deste
setor com os outros. Esta Avenida Norte-Sul,
segundo Pérez, Ochoa e Pino (2004, p.87)
“gerou uma verdadeira ferida no tecido urbano,
interrompendo a continuidade que existiu, nos
tempos de sua consolidação, entre os bairros
Dieciocho e Ejército-República”.

Segundo Sabatini e Arenas (2000), após o


governo do socialista Salvador Allende (1970-
1973), iniciou-se o golpe militar (1973-1990).
Nesse período foi empreendida a política de
liberação dos mercados de solos. Depois
que se liberou a venda de terras, aumentou
o crescimento periférico de Santiago e se
intensificou o processo de despovoamento e
perda de dinamismo do centro, principalmente
no Setor Sudoeste. Essa situação deteriorada
deu condições, nas décadas de 1980 e 1990, a
uma série de intervenções privadas e públicas
no local, que culminaram com a criação do
Bairro Universitário de Santiago neste setor.

Figura 11
Foto aérea do Bairro Universitário
e parques.
Fonte: Livro Santiago Sur-
Poniente, 2004, p.72

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 32


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)


Um dos aspectos chaves para a sustentabilidade das
grandes cidades é a preservação de seus centros históricos.
Manter os centros históricos ativos permite preservar o
patrimônio cultural da sociedade, reforçando a identidade
nacional, e garantir espaços de cidadania. É necessário,
no entanto, manter uma população residente que atraia o
comércio e serviço em menor escala. Dessa maneira, somado
ao interesse de aproveitar a infraestrutura construída que
existe no centro, o governo de Santiago realizou um plano de
repovoamento em 1990.

Em 1990 foi lançada a Proposta de Desenvolvimento


para a Renovação de Santiago, na qual, através de três temas
básicos: o rol residencial da cidade; as atividades de serviço,
comércio e indústria; e a qualidade da vida da população;
foram elaboradas linhas de ação, tais como a densificação
de setores urbanos e a consolidação de áreas residenciais
que sofriam despovoamento, a fim de melhorar a qualidade
de vida e habitat urbano.

Para essa recuperação seria necessário integrar o


setor privado, o governo nacional e o município. Dessa
forma, foi criada a Corporação de Desenvolvimento de
Santiago (CORDESAN), instituição de direito privado com
personalidade jurídica, sem fins lucrativos, cujos objetivos,
segundo Greene, Mora e Berrios (2009), eram organizar,
promover, planificar, coordenar e executar projetos para o
desenvolvimento urbanístico, econômico e social da cidade,
mediante ações de desenho, remodelação, renovação,
reabilitação, reconstrução, edificação, arborização,
descontaminação, prevenção do detrimento urbano e
conservação do patrimônio arquitetônico.

No sentido da habitação, o Ministério de Vivenda e


Urbanismo (MINVU) lançou em 1990 o instrumento SRU
(Subsídio de Renovação Urbana), cujo objetivo inicial foi
beneficiar as pessoas que não tinham residências e que
queriam viver no centro. No entanto, o SRU consistia em uma
ajuda econômica não reembolsável entregue pelo estado
aos que necessitavam do valor para comprar as residências
da área central (desde que o valor não ultrapassasse 2.000
unidades de fomento, ou 140 metros quadrados). Depois o
SRU mudou de nome para Subsidio de Interesse Territorial

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 33


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

(SIT) e incorporou novas áreas em que o subsidio poderia


ser utilizado.

Quando se iniciou o Plano de Repovoamento, começaram


a se desenvolver uma série de convênios com imobiliárias e
cooperativas, orientadas à construção de edifícios residenciais
para a cidade. Nas primeiras etapas se ofertaram produtos
imobiliários dirigidos a famílias nucleares. Desde o final dos
anos noventa, a oferta imobiliária se direcionou especialmente
às estruturas familiares diversificadas (solteiros, divorciados,
outros) e estudantes de outras regiões e países. Como
consequência, o produto com maior oferta dentro da cidade,
segundo Gatica (2011), passou a ser o apartamento entre 600
e 1000 unidades de fomento (27.000 – 45.000 dólares), com
tamanhos que oscilavam entre 18 e 35 metros quadrados,
com o preço mais baixo na escala metropolitana.

Segundo Greene, Mora e Berrios (2009), de todos


os fatores que influenciaram a expansão do mercado
imobiliário no marco do plano de repovoamento, quatro
foram dominantes: 1) o subsidio de renovação urbana;
2) a desregulação normativa (flexibilidade da altura); 3) a
disponibilidade de terrenos; e 4) o diferencial de rendas
entre a renda atual do solo e sua renda potencial derivada
do potencial de verticalização e o forte marketing imobiliário.
Esses fatores combinados posicionaram a cidade e a área
central como uma das líderes na produção de residências
novas tipo apartamento na escala metropolitana.

O Plano Regulador da Comuna de Santiago (PRC) de


1990, a princípio favoreceu a mais livre atuação do setor
imobiliário impulsionado pelo Plano de Repovoamento, mas
a nova paisagem que começou a ser criada pelos edifícios
residenciais construídos no centro da cidade exigiu mudanças
importantes no plano, realizadas ao longo das décadas de
1990 e 2000, visto que a escala baixa, característica da
fundação do bairro, estava sendo substituída por edifícios
verticais impulsionados pelo plano de repovoamento, além
de edifícios patrimoniais que estavam sendo demolidos sem
qualquer cuidado com o contexto histórico representativo do
setor.

As alterações no PRC buscaram regulamentar a


explosiva renovação da área, protegendo o caráter tradicional
dos bairros. Por um lado, estabeleceram diferentes graus

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 34


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

de proteção para diferentes zonas, visando à proteção do


patrimônio e manutenção da paisagem, e por outro lado,
regularam e estabeleceram normas rígidas quanto ao uso do
solo e altura das novas edificações.

Pelos mesmos motivos, o PRC, segundo Pavlick (2010),


foram criadas seccionais e planos especiais para diferentes
Figura 12
Plano PRS2 Vigente em 2003 no setores da comuna, com o intuito de dar maior atenção às
Bairro Universitário de Santiago. suas demandas e manutenção das suas características
Fonte: Livro Santiago Sur-
Poniente, 2004, p.125 tradicionais, tratando as áreas de formas mais específicas.

Segundo Pérez, Ochoa e Pino (2004), os edifícios e


regiões patrimoniais da comuna são divididos em diferentes
tipos de zonas e tipos de imóveis. As zonas se dividem
em três tipos: Zonas Típicas Patrimoniais: perímetros de
proteção de setores com imóveis altamente representativos
onde qualquer intervenção necessita de aprovação do órgão
nacional (Conselho de Monumentos Nacionais); Zonas de
Conservação Histórica: perímetros de proteção de setores
com características arquitetônicas e urbanísticas com
média representatividade, que podem sofrer modificações
e até demolições com autorização do município (Secretaria
Regional de Vivenda e Urbanismo); e Zonas Especiais:
perímetros de proteção de um setor com condições especiais,
que podem ser urbanas, morfológicas ou de uso do solo.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 35


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

Os Imóveis patrimoniais que estão protegidos por lei, com


características a serem preservadas e normativas específicas
de intervenção, inseridos ou não nessas regiões, são divididos
em dois tipos: Monumentos Históricos (mais representativos
em nível nacional) e / ou Imóveis de Conservação Histórica
(média representatividade municipal).

Nos anos de 1991 e 1992, o Departamento de Urbanismo


realizou estudos e propôs uma estratégia de intervenção com
ações no setor um do Bairro Universitário de Santiago, através
da Seccional Avenida España- Avenida República. Nesse
ano de 1992, uma parte da Avenida República e seu entorno
imediato passou a ser denominada Zona Típica Patrimonial, o
que possibilitou que a área mantivesse seu valor patrimonial
quanto às alturas dos edifícios e alguns edifícios de interesse
patrimonial, mesmo com as pressões imobiliárias.

Paralelamente ao Plano de Repovoamento e às iniciativas


públicas no Setor, outro fator que interferiu grandemente
na configuração física-funcional e simbólica do bairro, foi a
crescente concentração de estabelecimentos de ensino no
setor a partir da década de 1980. Segundo Neumann (2000,
p.61), até o ano de 1998, o número de alunos do ensino
superior cresceu 65% no Chile e as universidades duplicaram
as matrículas, sendo que, dessas universidades, o setor de
crescimento mais dinâmico se verificou entre as universidades
privadas. As universidades privadas, contrariando a proposta
de campus universitário autônomo, independente da cidade,
expandiram-se abraçando o modelo de campus urbano
aberto, inseridas na trama urbana preexistente.

As universidades privadas, que tiveram uma expansão enorme


nas últimas décadas, seguiram o caminho inverso, expandindo
suas instalações na malha urbana, seja em grandes edifícios
verticais e/ou pequenas casas próximas umas das outras,
mas sempre em regiões muito bem servidas pelo sistema de
transportes. Esse conjunto também é denominado campus.
(PINTO; BUFFA, 2009, p.141)

A boa localização do setor, próximo ao centro econômico


do triângulo fundacional, com grande acessibilidade a
transportes públicos, a disponibilidade de grandes imóveis
patrimoniais e o baixo valor do solo começaram a atrair, a
partir de 1980, novas instituições de ensino superior na

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 36


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

região. A primeira universidade privada inserida na região foi a


Universidade Diego Portales (UDP), em 1982. Muitos antigos
casarões e também terrenos vazios foram recondicionados
para receberem atividades acadêmicas.

A concentração de instituições de ensino superior


na região dos Bairros Ejército e República começou a ser
reconhecida pelo Município a partir da década de 1990,
quando a função universitária da área foi identificada no
Plano de Desenvolvimento Urbano da Comuna de Santiago.

Esse fenômeno de concentração de universidades,


no entanto, não contou em suas origens com uma mínima
planificação capaz de prever com antecipação certas situações
que esta dinâmica geraria em curto e médio prazo, em função
da velocidade que alcançaria o processo. Situações tais
como: falta de espaços públicos, aumento da demanda por
estacionamentos, localização de atividades comerciais e de
serviços associados a este mercado que passaram a gerar
conflitos e dificuldades com os residentes e as alterações
e transformações nas edificações existentes sem cuidar do
valor patrimonial. (CARRASCO, 2005, P.11-12)

Sentindo os efeitos da concentração universitária


sem planejamento, em 1993, algumas instituições do
ensino e a comunidade formaram o Comite de Adelanto
del Barrio República, a fim de conciliar as duas funções do
bairro (residencial e comercial), propondo e avaliando as
modificações espaciais, físicas e sociais necessárias. Em
1998, ocorreu a Segunda Convenção de Santiago, na qual
foi criado o Plano Estratégico de Desarrollo Comunal e foi
criado o Distrito Campus Universitário, contendo os bairros
República, Brasil, Dieciocho, Parque Almagro e San Borja.

Somente no ano de 2001, a Secretaria de Planificación


Comunal (SECPLAC) retomou a questão do Distrito
Universitário. Através da consolidação de distritos de
expansão no centro e da busca de uma nova normativa
e zoneamento para proteger uma maior quantidade de
imóveis patrimoniais no setor, é criado pelo departamento de
Urbanismo, o Plan de Desarrollo y Valorización del Patrimonio
Urbano Arquitetctónico de Santiago Sur-Poniente.

Visando sanar os conflitos entre os residentes e


usuários do bairro, ao final de 2002 os reitores das principais

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 37


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

universidades do bairro propuseram ao Município a formação


de um bairro universitário. Em 2003, foram estabelecidos
os limites do BUS como um campus aberto à comunidade,
inserido no tecido da cidade que interage com seus habitantes,
no sentido de organizar e guiar esse setor autônomo que
possuí interesses privados e públicos.
Figura 13
Perímetro setores 1, 2 e 3 do
Bairro Universitário de Santiago.
Fonte: site http://www.busonline.cl/
acessado em 06/12/2013

Os comitês criados em 1993 e 2001 que buscavam


integrar e solucionar conflitos entre os diferentes usuários
do setor (principalmente das residências e comércios)
vieram a configurar, em 2003, a Corporación Universitária
de Santiago, entidade juridicamente privada, mas de caráter
paramunicipal, integrada pelo município, residentes e pelas
quatro universidades presentes no bairro até aquele momento:
Universidade Diego Portales (UDP), Universidade Nacional
Andrés Bello (UNAB), Universidade De Las Américas (UDLA)
e Universidade San Tomás (UST).

Em 2005, a corporação passa por uma reestruturação,


na qual perde sua autonomia e passa a integrar o programa
municipal Gerencia de Bairros (gerido pelo CORDESAN-
mesmo que geria o SRU no Programa de Repovoamento).

A Corporação Universitária não trabalha com planos pré-


estabelecidos de ação, mas conforme a demanda surgida
no local e nas universidades. O capital para financiar a
Corporação e seus diferentes projetos de melhorias urbanas
é formado por um capital misto, municipal e das instituições
do setor, administrado pela CORDESAN. (PAVLICK, 2010,
p.164)

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 38


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

Com o início da Corporação Universitária, foram


elaborados projetos de reestruturação do bairro com o auxílio
financeiro das universidades, a princípio em modificações
viárias, como a nova configuração da Av. Ejército para uso
parcial de pedestres, a geração de corredor de pedestres
nas vias menores e outras melhorias nos espaços públicos,
segurança e fomento à cultura, como a remodelação da
praça Manuel Rodríguez e o estudo da construção de
estacionamentos subterrâneos.

A Corporación Universitária de Santiago possibilitou


a continuidade de estudos sobre as características
patrimoniais arquitetônicas, urbanísticas e sociais do setor,
iniciados no Plan de Desarrollo y Valorización del Patrimonio
Urbano Arquitectónico de Santiago Sur-Poniente em 2001,
que foi realizado pela Secretaria de Planificación Comunal
(SECPLAC).

Com base nos cadastros realizados em 2001, foram


desenhadas plantas em 2003, por uma equipe formada por
integrantes das diferentes universidades e do município.
Essas plantas categorizaram os principais valores históricos
presentes no Setor Sudoeste (setor 1 do BUS), seja na
trama urbana, na escala do bairro, nos espaços públicos,
nas espécies vegetais e nas características arquitetônicas.
Posteriormente, somado a textos que abordam a história do
local e as mudanças físicas e sociais pelas quais passou o
setor, os levantamentos foram publicados no livro Santiago
Sur-Poniente em 2004.
Figura 14
Perímetro setor 1 do BUS com
suas universidades.
Fonte: site http://www.busonline.cl/
acessado em 06/12/2013

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 39


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1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

Paralelo a este levantamento, entre os anos de 2003 e


2004 foi realizado um segundo levantamento pelo CEUGE,
que, formado por uma equipe da Universidade Diego
Portales (UDP), tinha como objetivo conhecer as principais
características do setor para aproveitar o momento pelo qual
o bairro estava passando (com a intensa concentração de
universidades nos últimos anos) e para intervir nesta área e
reabilitá-la como um setor misto residencial e universitário.

Caracteriza además particularmente al Barrio Universitario


en el sector Sur-Poniente de la Comuna como un sector
residencial en desuso y deterioro de su edificación, y en
conversión a ser una zona de educación superior y técnica
y de localización residencial mixta. (MUNIZAGA, 2006, p.32)

O CEUGE (Caracterización, Estruturación Urbana y


Gestión Estratégica del Barrio Universitário de Santiago), cujo
diretor era Gustavo Munizaga (Coordenador de Urbanismo
da UDP), realizou uma extensa pesquisa com uma equipe
interdisciplinar no ano de 2004 no sentido de levantar os
aspectos físicos do Bairro Universitário de Santiago (BUS)
e propor diretrizes para a criação de um Campus Urbano
Aberto. Essa pesquisa e as diretrizes do plano foram
impressas em uma publicação de 2006. O CEUGE surgiu a
partir de um concurso da Universidade Diego Portales em
2003 e foi contratado em 2004 pela Corporación Universitária
de Santiago para caracterizar e estruturar o BUS em um
Campus Urbano Aberto para a Comuna.

O Campus Urbano Aberto primeiramente se refere à


concentração de universidades em um determinado local
da trama urbana, tal qual ocorria no Bairro Universitário
de Santiago. Esta visão, no entanto, é expandida para
um Campus que não apenas é Urbano, mas que tem um
funcionamento e uma configuração morfológica Aberta. Este
campus universitário tem, segundo Munizaga (2006), suas
funções interdependentes às outras funções da cidade, e,
segundo Adriá (2005) e Maki (abud Munizaga, 2006), tem
sua morfologia aberta como um “campus urbano aberto onde
a universidade está dispersa na mancha metropolitana, sem
signos claros de identidade” (ADRIÀ, 2005, p.37).

Segundo Munizaga (2006), que aborda o termo “aberto”


relacionado ao aspecto da interdependência, mais de um tipo
de campus poderia ser encontrado, tanto na história quanto

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 40


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

em novas configurações, em relação à morfologia do campus


urbano aberto. Seriam os tipos: Bairro Universitário Aberto
(BUA) e Campus Metropolitano Integrado (CMI) que têm
uma maior abertura morfológica em relação à trama urbana.
Neste caso, o Bairro Universitário de Santiago estaria,
segundo Munizaga (2006), no tipo Bairro Universitário
Aberto, com uma zona delimitada urbana que compreende
várias universidades dispersas dentro de sua área, enquanto
o campus da Universidade Diego Portales estaria inserido
Figura 15
Exemplo do tipo Bairro Urbano no tipo Campus Metropolitano Integrado, com seus edifícios
Aberto no BUS . dispersos na malha urbana, misturados a outros edifícios do
Fonte: Livro Campus Urbanos
Abiertos, 2006, s/ n. bairro.

Figura 16
Localização edifícios UDP (em
vermelho) como um Campus Me- Segundo Munizaga (2006, p. 17), “os Campus
tropolitano Integrado . Metropolitanos abertos reforçam a cidade local e se
Fonte: Volume Transformaciones
Urbanas, 2008, p.15, elaboração complementam com a zona preexistente”. A criação de um
autora. Campus Urbano Aberto no Bairro Universitário de Santiago,
não teria como objetivo romper com as características
históricas do contexto local, mas complementar o setor
preexistente, compreendendo os valores urbanos e
arquitetônicos do contexto e também intervir, no sentido de
preservar as características patrimoniais, mas transformar
o local ao reforçar o novo caráter do setor universitário e
ampliar o entrosamento entre a universidade e a trama
urbana, principalmente na relação do percurso dos usuários
dos edifícios universitários com os transeuntes da cidade.

Nos dois levantamentos foram realizadas plantas de


uso do solo, espaços públicos, escala urbana e edifícios
novos. Algumas características foram aprofundadas no
levantamento Santiago Sur-Poniente (2004) a fim de

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 41


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

categorizar o patrimônio existente, tanto em edificações


quanto em arborizações nas áreas verdes do setor. Após os
levantamentos, nos dois volumes foram propostas mudanças
na relação com o Setor Sudoeste, mudanças nas legislações
vigentes patrimoniais, e também mudanças na relação entre
os edifícios universitários e a trama urbana. Essas propostas,
surgidas a partir da Corporación Universitária de Santiago,
influenciaram diretamente a postura da Universidade Diego
Portales no seu Plano de Infraestrutura para o setor, que
analisaremos posteriormente.

Uma das primeiras características evidenciadas nos


dois levantamentos foi a presença da trama urbana regular
característica da fundação do bairro e de Santiago. Nesse
sentido, as quadras formadas a partir desta trama regular são
de formato retangular de dois tipos principais. O primeiro tipo
é fechado e representa o modelo tradicional da fundação do
setor, com o acesso direto ao imóvel através dos espaços
Figura 17 e 18
públicos das calçadas. Já o segundo é o tipo penetrado, o qual é
Quadra fechada. marcado por passagens no interior da quadra, principalmente
Fonte: Livro Santiago Sur-Poniente,
devido à existência das Cités, que são pequenos conjuntos
2004, p.88.
residenciais internos à quadra.

Figura 19 e 20
Quadra com penetração. Fonte:
Livro Santiago Sur-Poniente, As passagens no interior das quadras foram expandidas
2004, p.88 e 89 nos séculos XIX e XX, nos quais foram criadas passagens
com lotes menores e lotes fusionados nas universidades. A
presença das Cités e dos lotes menores, retrata o momento de
deterioração que o bairro passou no início do século XX com
o êxodo da classe alta chilena do setor, enquanto a fusão dos
terrenos universitários pode marcar um segundo momento
de transformação do setor, mas desta vez ao potencializar
novas formas de passagens de pedestre públicas através
das quadras fechadas, parece retratar um momento de
requalificação do setor.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 42


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

Quanto à trama urbana, a principal proposta é dada pelo


CEUGE na criação de um Campus Urbano Aberto. Nessa
proposta, a trama reticular serviria como uma “megaforma
incremental e modular estratégica” (MUNIZAGA, 2006, p.24)
que permitiria desenvolver a morfologia do Campus Urbano
Aberto no Bairro Universitário de Santiago. Além disso, ao
aproveitar a estrutura preexistente, a proposta visava, entre
outras ações, potencializar a interação social e o espaço
público como elemento integrador, criando passagens que
penetrassem as quadras, e conectassem esta trama primária
regular, com uma secundária interna.

Aquí aparece ya la primera fortaleza y oportunidad existente


en el BUS. Un orden incremental potenciador e integrador de
manzanas y calles y en el cual el espacio público negativo
puede servir de elemento principal de la estructuración del
Campus Abierto y el relleno determinado por la retícula,
es decir, el interior de las manzanas queda abierto a una
normalización de la fachada y a la penetración de su interior,
abriendo de este modo un nuevo sistema de circulaciones
internas. (MUNIZAGA, 2006, p.25)

Ademais, como um Campus Urbano Aberto, além das


passagens internas às quadras, ruas transversais que ligam
as Avenidas Ejército e República, como as ruas Grajales,
Sazie, Gorbea e Toesca, deveriam ser potencializadas com
Figura 21
Imagem Figura-fundo.
usos que levassem este aumento de fluxo de pedestres entre
Fonte: Livro Campus Urbano as ruas principais do setor.
Abierto, 2006, p.38.
Na imagem levantada de figura-
fundo, que evidencia o “vazio” e o “cheio”,
aparece o contraste do “vazio” das ruas e
praças existentes no setor com o “cheio”
das edificações que formam a maioria das
quadras fechadas, com vazios internos
privados. O “vazio” da “trama urbana”,
mostra os espaços públicos das ruas, que
criam a regularidade da grelha, e evidencia
o espaço público, nos fluxos veiculares,
nas calçadas dos pedestres e nas praças.
Enquanto o cheio das quadras pode ser
de uso inteiro público, no caso de edifícios
públicos, ou ainda podem ser criados
espaços mistos de uso público e privado,
como é o caso de praças internas e das

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1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

passagens que criam permeabilidade nas quadras.

Foram realizadas outra plantas, levantadas na publicação


do CEUGE e no livroSantiago Sur-Poniente, com os espaços
públicos, que mostram, além da trama urbana das ruas, a
delimitação exata das áreas verdes, como a praça Manuel
Rodríguez (0,28 hectares) no centro do BUS; outras áreas na
Avenida Norte-Sul e nos espaços vizinhos ao BUS; e outros
dois espaços públicos, mas desta vez em grande escala (Clube
Hípico e o Parque O´Higgins- antigo Parque Cousiño 1870-
1873 com 64,9 hectares). Além disso, é possível observar
as duas principais ruas do BUS (República e Ejército) com
calçadas de pedestre, as passagens de pedestre públicas
e privadas no meio das quadras e o único edifício público
da Universidade do Chile, na extremidade sul do setor. No
levantamento do livro Santiago Sur-Poniente também foi
abordada a localização e quantidade de espécies caducas,
Figura 22
Imagem Espaço Urbano CEUGE. que, segundo Pérez, Ochoa e Pino (2004), traduzem o
Fonte: Livro Campus Urbano período outono-inverno na escassez de imagem vegetal no
Abierto, 2006, p.40
setor.

Figura 23
Imagem Áreas verdes e A imagem dos espaços públicos deixa evidente a
arborização Setor Sudoeste. pouca quantidade presente destes no bairro. Sendo assim,
Fonte: Livro Santiago Sur-
Poniente, 2004, p.121 com a instauração do BUS e o aumento considerável de
usuários (estudantes/ professores) na área, segundo o
levantamento do CEUGE, se faz necessário o aumento de
espaços públicos, buscando modificar esse quadro negativo
em que se encontrava o setor. Foi realizada a proposta das
universidades criarem espaços semi-públicos para a área.

Esta nueva condición de “Barrio Universitario”, ha generado la


actividad de una gran masa flotante que no sólo transita, sino que

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1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

permanece largo tiempo en él. Surge entonces la necesidad de


Figura 24
Espaços Públicos BUS- Victor espacios públicos que acojan esta situación. Hoy en día esta zona
Muena. de la ciudad acoge usuarios y actividades distintas para las cuales
Fonte: Transformaciones Urbanas,
2008, p.16
fue originada hace 100 años. (MUNIZAGA, 2006, p.34)

A proposta da criação de ruas


internas criadas como conectores,
possibilitaria novas tensões além
dos pontos e ruas principais, que
poderiam ativar a integração social e a
reabilitação de edifícios patrimoniais.
Uma vez que a fachada contínua
das ruas impossibilita o aumento de
espaços públicos no alinhamento
predial, através desses conectores
poderiam ser criados espaços semi-
públicos dentro dos edifícios, capazes
de viabilizar o aproveitamento dos
vazios dos miolos de quadra na
criação de praças internas.

Outro aspecto abordado nos dois levantamentos em


relação aos valores presentes no contexto histórico do BUS
foi a escala baixa histórica do setor. A planta com as alturas
das edificações presentes no bairro, levantada pelo CEUGE,
mostra a predominância do gabarito de até três níveis no
setor, configurando uma escala relativamente baixa, seguida
Figuras 25 e 26
Alturas edifícios.
pelo gabarito de até seis níveis. Quando comparada essa
Fonte: Campus Urbano imagem com os tipos de uso, percebe-se que a escala baixa
Abierto, 2006 p. 39 e Santiago
Sur-Poniente, 2004, p. 121
está presente em boa parte das residências e universidades,
(respectivamente) além de se tratarem, na maioria, de edifícios históricos.

O levantamento realizado no livro Santiago Sur-Poniente,


quanto às alturas dos edifícios, permite a identificação da

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1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

maioria dos edifícios com altura de 1 a 4 pisos. Mas nas


características abordadas por Pérez, Ochoa e Pino (2004)
no livro Santiago Sur-Poniente, a altura original do setor
das edificações é regular e baixa de 1 a 3 pisos, enquanto
as primeiras renovações vão de 4 a 5 pisos e quadras com
mescla de altura; com contrastes acentuados demarcam as
renovações recentes, marcadas pelo Plano de Repovoamento.

Outro fator que pôde ser evidenciado nos levantamentos


foi a característica mista do setor, com grande quantidade
de residências, junto com comércios e equipamentos. Os
equipamentos se concentram principalmente nas vias
principais da Alameda Bernardo O´Higgins, Av. Norte-Sul, Av.
República e Ejército, enquanto as residências se concentram
principalmente entre a Rua Vergara e Avenida República. A
Figura 27 proposta do CEUGE incorporou esta característica, visando à
Uso do Solo.
Fonte: Livro Santiago Sur- criação de um Campus que mantivesse o uso residencial no
Poniente, 2004, p. 120 setor mesclado aos outros usos.

Foram realizados levantamentos pontuais, que, no caso


do CEUGE delimitou zonas com algumas características
específicas, e no caso do levantamento do livro Santiago
Sur-Poniente categorizou alguns tipos de casas e estilos
arquitetônicos encontrados no setor. Entre as zonas
homogêneas levantadas pelo CEUGE, se destacam as zonas
1, 2 e 7, por serem as zonas em que se inserem os edifícios
da Universidade Diego Portales (UDP), e principalmente as
zonas 2 e 7 em que se inserem os edifícios do Primeiro Plano

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 46


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

de Infraestrutura da UDP.

A zona 1 é delimitada pela Av B.


O´Higgins, Av Norte-Sul, Rua Sazié e G. J.
M. Carrera, com terrenos de frente pequena,
com dimensões médias de 15x50 e orientação
norte-sul, altura média de dois pisos, com
exceção de alguns edifícios da rua Ejército de
4 a 6 pisos e com alguns edifícios históricos.
Possui como potencialidade a proximidade
do setor norte-oriente, e como restrição o
baixo dimensionamento no terreno e gabarito.
A proposta do CEUGE é valorizar o bem
arquitetônico, sugerindo-se a reabilitação
urbana.
Figura 28
Áreas homogêneas. A zona 2 é delimitada pelas ruas Sazié, Av Norte-Sul, Av.
Fonte: Livro Campus Urbano
Abierto 2006, p. 65
Vergara e Av. Blanco Encalada, e possuí maiores dimensões
que a zona 1, em geral uma baixa escala, com algumas torres
habitacionais, tipologia base de casa individual contínua, com
material resistente e boas condições. Suas potencialidades
estão em alguns terrenos livres na Av. Ejército com ruas
Grajales e Toesca e na possibilidade de reabilitar ou reciclar
as casas existentes.

Essas características da zona 2 se evidenciam nos


Planos de Infraestrutura da UDP. Pois, nessa zona, na
rua Ejército, os edifícios da Faculdade da Saúde e Ed. de
Usos Múltiplos, do 1oPlano de Infraestrutura, reciclaram
edifícios históricos do setor, mantendo suas características
arquitetônicas e gabarito baixo da rua.

A zona 7, dividida em três subconjuntos, apresenta um


dos subconjuntos com a predominância de uma porcentagem
alta de ocupação, altura de 2 a 4 pisos, com edifícios
patrimoniais na Av. República, na qual a “única opção de
intervenção urbana é a reabilitação ou reciclagem, com o fim
de conservar o caráter patrimonial existente” (MUNIZAGA,
2006, p.59). Nessa zona, existem dois edifícios do 1o Plano
de Infraestrutura da Universidade Diego Portales: a Faculdade
de Direito e a Faculdade de Arquitetura, Artes e Desenho,
que reabilitaram edifícios da década de 1990, e mais uma
reciclagem em um edifício patrimonial posterior.

No levantamento do livro Santiago Sur-Poniente, quanto

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1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

aos tipos de edificações, foram identificadas


Fig 29-38 dez tipologias de casa, que se diferenciam,
Tipo Casas 1-10 . entre outras características, pela implantação
Fonte: Livro Santiago Sur-Poniente,
2004, p.92-96 da construção, dimensões e formas dos
prédios.

São esses tipos: Tipo 1- Casa clássica


de um piso e dois ou três pátios centrais
(Final séc XIX, fachada dividida em 5 vãos,
com acesso central, proporção altura e
frente 1:2 a 1:3, elementos do neoclássico e
neocolonialismo); Tipo 2- Meia casa de um
piso com dois pátios laterais (Final séc XIX,
metade do tipo 1, acesso central, 1:1,5 a
1:2, classicismo popular); Tipo 3- Meia casa
de dois ou três pisos (1910-1940, acesso
ao lado, 1,5:1 a 2:1, vários estilos); Tipo 4-
Pequeno imóvel coletivo de dois pisos (em
série, 1:1,5 a 1:2,5, destaca neoclássico);
Tipo 5- Pequena casa de um piso, isolada
ou construída em série (a partir de 1:1,5,
neoclássicos e neocolonial); Tipo 6-
Casa ou imóvel coletivo de dois pisos com
um pátio (pouco profundo, 1:1 a 1:3, diversos
estilos); Tipo 7- Casa de dois ou três pisos
com jardim ao fundo do prédio (1930-45,
1:1 a 1:3, mov. moderno); Tipo 8- Casa ou
pequeno imóvel coletivo em esquina de dois
a três pisos (1925-43, 1:1 a 1:1,5, Art Deco
); Tipo 9- Palacetes ou imóveis coletivos
de dois ou mais pisos (1900-1935, 1:1,5 a
1:2,5); e Tipo 10- Casa isolada rodeada por
jardins (1910-1925, 1:1).

Sobre a arquitetura das fachadas,


ainda no levantamento do libro Santiago
SurPoniente, se evidenciam o zócalo
(elemento base da fachada), cornisa
(elemento de remate superior da fachada),
coroamento (plano superior virtual), beirais,
vãos (a maioria com proporção retangular e
vertical de 1880-1930), balcões (a maioria
se projeta no espaço público), acessos (bem
marcados e muitas vezes em nível diferente

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 48


1 Bairro Universitário de Santiago
1.1 Histórico, Características Físicas/ 1.1.1 A consolidação do Bairro Universitário de Santiago (BUS)

da rua), e tratamentos diferenciados nas


esquinas (com hierarquia nas alturas).

Com os elementos presentes nas


fachadas das edificações, foi possível
relacionar a composição entre o zócalo-
cornisa, (relação 1:1 dos dois, com exceção
dos edifícios de um pavimento que é 1:2),
o ordenamento dos vãos (ritmo vertical) e
a composição simétrica e assimétrica das
fachadas. Nessas relações se evidenciaram
o predomínio dos eixos e vãos verticais e a
Figura 39 valorização dos acessos, com elementos
Relação Zócalo e Cornisa. arquitetônicos que o destacam.
Figura 40
Ordenamento dos vãos
Figura 41 No levantamento do livro Santiago Sur-Poniente entre
Composição fachada.
2003 e 2004, foram realizados inventários das características
Fonte: Livro Santiago Sur-
Poniente, 2004, p.108-109 patrimoniais e legislações protecionistas existentes no Setor
Sudoeste com os edifícios e zonas de interesse patrimonial.
A partir destes levantamentos, foi proposta uma lista de
imóveis a proteger, contendo sua localização e principais
características.

Visando proteger os imóveis e conjuntos patrimoniais,


direcionar as novas intervenções nos setores (quanto à
escala, volumetria, textura...) e gerar equilíbrio nos usos do
solo, foram propostas modificações no levantamento do livro
Santiago Sur-Poniente nos três planos de lei que interferem
no Setor Sudoeste: PRS-01, PRS-02 e PRS-03.

No PRS-1 foram propostas modificações nos tipos


permitidos de uso do solo dentro das zonas, a fim de proteger
a região de usos que possam ser prejudiciais. No PRS-2
foram propostas várias mudanças com inclusões de Zonas
e Imóveis de Conservação (a proposta levaria à preservação
de 456 edifícios), visto que este plano se refere à delimitação
das Zonas Típicas, Zonas de Conservação Histórica e Zonas
especiais dentro do setor, assim como dos Monumentos
Históricos e de Conservação Histórica, e normas específicas
que regulam as intervenções. E no PRS-3 foram modificadas
algumas linhas oficiais de edificação nas ruas.

Nas imagens referentes ao PRS-2 proposto, observam-


se modificações; aumento da Zona Típica já existente da Av.
República, criação de uma Zona de Conservação Histórica

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 49


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

na Av. Ejército (devido não somente aos edifícios patrimoniais


existentes, mas principalmente devido à homogeneidade
Figura 42
do perfil e volumetria da rua) e aumento de Imóveis de
PRS2 Proposto em 2004 para o Conservação Histórica no Setor. Nessa proposta a Avenida
BUS.
Fonte: livro Santiago Sur-Poniente,
Ejército deveria respeitar o máximo de 12 metros de altura
2004, p.125 e a Avenida república o máximo de 14 metros de altura nas
suas fachadas.

Figura 43
PRS2 proposto em 2004 para o Essas propostas publicadas em novembro de 2004,
BUS.
Fonte: livro Santiago Sur-Poniente, podem ser parcialmente visualizadas no PRC vigente (2013).
2004, p.125 A Zona Típica da República não foi ampliada, a Zona de
Conservação Histórica na Av. Ejército foi criada e algumas
edificações propostas como imóveis de Conservação
Histórica foram incorporadas.

Os levantamentos permitiram a criação de um extenso

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 50


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

inventário de valores presentes no Bairro Universitário de


Santiago, como valores urbanos da trama regular, quadras
fechadas e penetradas, vazios internos às quadras e escala
baixa do bairro; e também valores arquitetônicos, referentes
aos estilos, aos elementos de fachada e implantação.
Esses valores são essenciais para a compreensão da
formação do caráter do Bairro Universitário de Santiago,
suas potencialidades, restrições e o que deve e pode ser
preservado e transformado em uma intervenção sem perder
a essência do local.

Além da preocupação em preservar os principais valores


do setor, os levantamentos geraram algumas diretrizes em
pequenas propostas para direcionar a forma de se intervir no
setor e requalificá-lo. O levantamento realizado pelo CEUGE
propôs algumas diretrizes para a criação de um Campus Urbano
Aberto, como a presença de quadras permeáveis e o aumento
de espaços públicos nas universidades. O levantamento do
livro Santiago Sur-Poniente propôs mudanças na lei vigente
patrimonial, delimitando novas zonas e imóveis de interesse
patrimonial, com suas características específicas e criando
diretrizes como a preservação da escala baixa nas Avenidas
República e Ejército, do alinhamento predial e das fachadas
patrimoniais.

Paralelo aos levantamentos realizados no Bairro


Universitário de Santiago, surgiu, nos anos de 2002 e 2003,
o Primeiro Plano de Infraestrutura da Universidade Diego
Portales (UDP), que pretendia expandir seus edifícios
no setor. Uma vez que a UDP era um dos integrantes
da Corporación Universitária e estava acompanhando
diretamente o desenvolvimento dos levantamentos, este
Plano de Infraestrutura teve que se posicionar a favor ou contra
as propostas realizadas nos levantamentos e se relacionar
com os principais valores presentes neste contexto, a fim de
preservá-los e transformá-los de diversas maneiras.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 51


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

Direito e Faculdade de Arquitetura, Artes e Desenho, e os


edifícios próximos à Rua Ejército Liber são nove: Piwonka,
Faculdade da Saúde, Faculdade de Humanidades, Faculdade
de Comunicação, Faculdade de Ciências Sociais e Educação,
Faculdade de Engenharia, Ginásio e dois edifícios para a
Faculdade de Economia.

No início do século XXI, em 2002, a Universidade Diego


Portales resolveu ampliar consideravelmente a grade da
faculdade acrescentando mais 17 novas carreiras e iniciando
um Plano de Infraestrutura de longo prazo, que, segundo
Balmaceda (2003, p.07), só foi possível graças ao “convênio
de financiamento celebrado com o Banco Mundial”.

Uma das primeiras decisões a se tomar foi se a UDP


deveria ampliar os seus espaços, mantendo-se no Setor
Sudoeste, ou se deveria migrar para um campus suburbano
com terrenos amplos e livres para a criação de uma
estrutura completamente nova, da mesma forma que outras
universidades estavam fazendo no período. No processo de
tomada dessa decisão, vários aspectos impulsionaram para
que a universidade se mantivesse no setor.

El primero y más importante es el de consolidar la decisión


tomada por nuestras autoridades en el sentido de permanecer
en el corazón de la ciudad y el de absorber el crecimiento
de nuestro plantel dentro de estos límites. Ello supone dejar
de lado la idea de una sede suburbana, y el de apostar más
bien por un campus abierto en el que el espacio público actúe
como mediador entre los diferentes usos e instituciones.
(ABUAUAD, 2003, p.19)

Um dos aspectos que pareceu influenciar a decisão


da Universidade Diego Portales de se manter no Setor
Sudoeste, está relacionado ao curto período disponível para
se implantar o plano de infraestrutura. O tempo de apenas
dois anos para a implementação de uma grande metragem
quadrada poderia ser mais bem aproveitado se, ao invés
de construir todos os edifícios, parte destes tivessem sua
estrutura reabilitada, uma vez que a UDP já apresentava uma
grande quantidade de edifícios no setor com uma metragem
quadrada considerável.

A boa localização do setor possibilitaria agregar a


infraestrutura existente e o valor histórico do local, à imagem

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 53


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

da Universidade Diego Portales, aumentando a sua recepção


pela sociedade. O setor, próximo ao triângulo fundacional
de Santiago, é constituído por uma boa infraestrutura em
linhas de metro, ônibus e é margeado pelas duas avenidas
conectoras dos outros setores da cidade no sentido leste-
oeste (Alameda Liber Bernardo O’ Higgins ) e no sentido
norte-sul (Autopista Central Manuel Rodriguez, também
conhecido como Avenida Norte-Sul). Essa localização central
possibilitaria um fácil acesso a todos os usuários nos distintos
setores de Santiago. Além disso, a tradição de um bairro
histórico e conhecido pela população chilena poderia auxiliar
na imagem da universidade, que ainda considerada nova,
com apenas 20 anos, concorria com outras universidades
mais tradicionais da cidade.

Os principais aspectos difundidos na escolha de se


manter no local e que viriam a influenciar na configuração do
Plano de Infraestrutura da universidade estão relacionados a
duas possibilidades: a primeira é de contribuir para a criação
de um Campus Urbano Aberto, pois se estava consolidando
nesse período o Bairro Universitário de Santiago com várias
instituições de ensino no local; a segunda é de intervir em
um sítio consolidado com valor patrimonial para o Município,
que naquele momento tinha muitos edifícios e áreas públicas
em estado de deterioração, devido ao abandono ou pouca
manutenção presente.

Neste período a Corporación Universitária de


Santiago, que a Universidade Diego Portales integrava,
tinha contratado dois levantamentos detalhados do Setor
Sudoeste que estavam construindo inventários dos principais
valores urbanos e arquitetônicos do local, como também
gerando propostas para requalificar o setor. Essas propostas
mesclavam a intenção de retomar as principais características
históricas e preservar os valores arquitetônicos e urbanos,
com a intenção de trazer transformações para o setor,
principalmente através da ampliação dos espaços públicos
e a apropriação deste contexto pelos diferentes usuários e
moradores do bairro.

A Universidade Diego Portales decidiu por incorporar


boa parte da discussão que compartilhava na Corporación
Universitária de Santiago em seu próprio Plano de
Infraestrutura e aproveitar a expansão dos seus edifícios

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 54


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

para concretizar as ideias defendidas para requalificar este


setor deteriorado.

Quanto à preservação dos valores arquitetônicos e


urbanos e a proposta de mudança na lei vigente patrimonial,
a Universidade Diego Portales decidiu por respeitar as
mudanças de lei, e preservar os imóveis considerados de
interesse patrimonial. A preservação dos imóveis patrimoniais
nos terrenos da UDP seria realizada, segundo Abuauad (2003,
p.24), não apenas nas fachadas, mas também nos espaços
internos, evitando manter “uma fachada casca”. Além disso,
a relação dos edifícios novos com os edifícios tradicionais
do bairro ocorreria, segundo Abuauad (2003, p.25), “através
de uma volumetria respeitosa, da conservação da linha da
edificação e da altura, e não por mimesis”.

Quanto à proposta da criação de um Campus Urbano


Aberto, o Plano de Infraestrutura da UDP priorizou uma
configuração dispersa, em que os edifícios da universidade se
mesclariam com a malha ortogonal da cidade, incorporando
os espaços públicos ao campus da universidade e permitindo
em seus espaços privados o máximo possível de espaços
coletivos, principalmente na criação de térreos com usos
públicos, para uso não só dos alunos como de qualquer
usuário do bairro, aspecto teórico e prático, passível de
discussão em seus resultados.

Outra decisão que foi necessária tomar para que o


Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales
fosse executado, estava relacionada a quem iria gerar as
diretrizes do Plano e projetar os edifícios. Em um primeiro
momento, os diretores da UDP pensaram em contratar
arquitetos conceituados internacionais, a fim de impulsionar
a visão positiva da Infraestrutura do Plano da Universidade
para Santiago, mas, após conversas com o Departamento de
Arquitetura, mudaram de ideia.

O Departamento de Arquitetura, embora com apenas


três anos de existência, já havia debatido em suas aulas a
temática de intervenção em sítios históricos consolidados e
a criação de Campus Urbano Aberto e se sentia apto para
dar prosseguimento ao plano. Além disso, o departamento
estava formado por um corpo docente conceituado na
arquitetura contemporânea chilena que tinham recebido até
aquele momento alguns prêmios nacionais e internacionais,

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 55


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

com publicações em vários periódicos da área.

Decidiu-se então por expor este corpo docente


gabaritado da Universidade, através da oportunidade dos
mesmos projetarem todos os edifícios do Primeiro Plano de
Infraestrutura da Universidade Diego Portales, colocando o
arquiteto Mathias Klotz como responsável pelo Plano.

Con todo esto se fortalecerá nuestra estructura docente en


general. Asimismo, la facultad podrá demostrar con orgullo
que los profesores que enseñan a nuestros alumnos son los
mejores, que están validados por su trabajo y que cuentan
con el más absoluto respaldo de nuestras autoridades.
(ABUAUAD, 2003, P.14)

No período do Primeiro Plano de Infraestrutura da UDP


em 2002, todos os arquitetos professores tinham menos
de quarenta anos e estavam presentes quatro arquitetos
principais, que se mantem até os dias atuais na Universidade:
Mathias Klotz (autor do Plano de Infraestrutura da UDP e de
três projetos: Faculdade da Saúde, Edifício de Usos Múltiplos
e Faculdade de Economia), Ricardo Abuauad (consultor do
Plano de Infraestrutura e autor da Faculdade de Arquitetura,
Artes e Desenho) e Renzo Alvano e Pablo Riquelme (que já
tinham escritório juntos e são autores da Faculdade de Direito
e Co-autores junto com Klotz da Faculdade de Economia).
Estes arquitetos se formaram na Pontífica Universidad Católica
(PUC) em Santiago na década de 1990, e até o momento
do primeiro Plano de Infraestrutura da UDP apresentavam
prêmios em nível nacional e internacional, tais como a Bienal
de Arquitetura de Santiago e o prêmio Borromini Seccion
Arquitecto menor de 40 anos em Roma (ganhado por Klotz
em 2001).

Ainda um quinto arquiteto professor com menos de


quarenta anos chamado Iñaki Volante projetou o sexto Edifício
de Assuntos Estudantis no Primeiro Plano de Infraestrutura da
UDP, mas este arquiteto, diferente dos citados anteriormente,
já não se encontra atualmente (2013) na universidade.

Para a realização desses projetos foram estabelecidas


diretrizes gerais do plano, em que todos os edifícios, mesmo
dispersos ou isolados um do outro, deveriam preservar uma
imagem de conjunto, uma vez que representavam a mesma
instituição universitária com sua visão de criação de campus

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 56


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

urbano aberto e relação com sítio histórico.

Uma das diretrizes tomadas no plano para gerar essa


imagem única, foi a padronização do uso de alguns materiais.
Essa padronização auxiliaria tanto na criação da imagem
da universidade no bairro, expressando uma mesma visão
estilística da arquitetura contemporânea, quanto na economia
de compra de materiais em grande escala.

Em relação à temática da criação do Campus Urbano


Aberto, outras diretrizes se referem à criação de espaços
com usos coletivos. Os térreos deveriam ser valorizados com
usos coletivos, relacionados à necessidade do bairro, sempre
que possível criando permeabilidades visuais ou físicas entre
ruas; e, por existirem poucos espaços vazios no bairro, as
coberturas deveriam ser aproveitadas na criação de terraços.

Na relação com o sítio histórico de uma forma respeitosa,


deveria ser preservado o gabarito do bairro e restaurados
os edifícios de interesse patrimonial. Para preservar o baixo
gabarito do bairro na rua e ampliar ao máximo a área possível,
seriam utilizados os subsolos e edifícios verticais recuados.
Quanto aos edifícios de interesse patrimonial, seriam
restaurados e preservados, conforme o grau de importância,
estando esses protegidos ou não pela lei vigente.

Essas diretrizes do Primeiro Plano de Infraestrutura


foram consolidadas nos edifícios de forma diversificada,
principalmente devido ao contexto local do terreno, que
envolvia o caráter da rua, o programa do edifício e também a
visão do arquiteto responsável.

Os projetos foram amplamente divulgados em periódicos


da área, tanto nacionais quanto internacionais, que abordaram
as obras de forma isolada após sua finalização. Como
na revista Summa+ : número 72 (Ed. De Usos Múltiplos e
Faculdade de Saúde), número 83 (Faculdade de Arquitetura
e Faculdade de Economia) e número 90 (Faculdade de
Direito), além das revistas ARQ, ARQUINE, entre outras.

Por fazerem parte de um conjunto de edifícios da mesma


universidade, fruto do mesmo Plano de Infraestrutura, faz-se
necessário o olhar para além do objeto isolado; um olhar que
busque enxergar o conjunto como um sistema de relações
entre os edifícios, e, principalmente, dos edifícios com a

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 57


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

Humanidades pelos arquitetos Fabrizio Gallanti, Francisca


Insulza e Claudio Magrini, Edifício de Usos Múltiplos e
Faculdade de Saúde pelo arquiteto Mathias Klotz e Campo
Clínico UDP pelos arquitetos Germán Molina e Macarena
Cortés, esse último fora do Setor Sudoeste.

Ao comparar esta relação de edifícios e autores com


a segunda publicação realizada em 2005, que aparecem
finalizadas as Faculdades de Arquitetura (2003-2005),
Edifício de Assuntos Estudantis (2003-2004), Edifício de Usos
Múltiplos (2003-2004) e a Faculdade de Saúde (2003-2005),
e as publicações nos periódicos da área, em que aparecem
Figura 52 além dos quatro edifícios citados anteriormente também
Espaços Edifícios 1o Plano de In-
fraestrutura UDP a Faculdade de Economia (2003-2006) e a Faculdade de
Fonte: Livro Transformaciones Direito (2003-2006), percebe-se que dos oito projetos apenas
Urbanas, 2008, p.15 – elaboração
autora seis foram executados.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 59


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

Essa constatação foi confirmada em visita realizada in


loco em dezembro de 2012 e em depoimento de Ricardo
Abuauad (2012), consultor do primeiro Plano de Infraestrutura
da UDP e atual diretor da Faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho.

As datas das obras (entre parênteses) devem ser


compreendidas como representando o projeto e a data de
conclusão da obra, respectivamente. Essas datas estão
baseadas nas publicações realizadas pela editora da
Universidade Diego Portales, revista SUMMA+ e site dos
arquitetos responsáveis. Quando encontradas divergências,
foram priorizadas as informações obtidas com a UDP. Sendo
assim, na Faculdade de Arquitetura foi utilizada a data de
conclusão 2005 informada pela UDP, ao invés de 2004 dada
pela revista SUMMA+.

Outra mudança ocorreu na Faculdade de Economia, que


Figura 53 foi realizada por outra equipe de arquitetos (Mathias Klotz,
Proposta Faculdade Economia de Pablo Riquelme e Renzo Alvano), sendo executada com
Nicolás Loi e Benny Dvorquez. características físicas distintas do projeto anterior. No entanto,
Fonte: Livro Nueva Arquitectura,
2003, p.56 em visita in loco, os espaços destinados à Faculdade de
Figura 54 Humanidades, mesmo sem seu projeto realizado, encontram-
Faculdade de Economia exe-
cutada. Fonte: site http://www. se em funcionamento com a estrutura antiga, juntamente com
mathiasklotz.com/ acessado em outros edifícios que a universidade já possuía (5 dos 11).
13/09/2013

Figura 55
Faculdade de Economia Além de reutilizar a estrutura existente dos edifícios que
executada.
Fonte: site http://www.
a UDP possuía, segundo KLOTZ (2005), o desafio era de
mathiasklotz.com/ acessado em se construir 60 mil metros quadrados em dois anos, em oito
13/09/2013
edifícios, já que se pretendia aumentar as carreiras vigentes
da Universidade e melhorar os espaços físicos para os usos
necessários, pois muitos se encontravam adaptados de
maneira precária. Tendo em vista que não foram executados
os oito projetos, mas apenas seis dos que foram publicados
no livro de 2003, a área construída acabou sendo um pouco

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 60


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

menor do que a inicialmente proposta.

La estrategia frente al desafío de construir aproximadamente


60.000 m2, en8 proyectos, en un período de 24 meses,
consiste en trabajar con equipes de arquitectos profesores
de la Facultad, coordinados en torno a conceptos generales
de materialidad, espacialidad, respecto por el patrimonio e
integración con el entorno. (KLOTZ, 2005, p.15)

Para construir uma grande metragem quadrada


em terrenos pequenos e com edifícios preexistentes, foi
necessária uma articulação constante entre o novo e o
existente. Nos casos dos edifícios com importância histórica,
essa relação é passível de ser observada pelo usuário e
parece estar destacada nos projetos arquitetônicos. Os
edifícios mais recentes, considerados sem importância
histórica pelos autores do Plano, da década de 1990, foram
drasticamente encapsulados e modificados pela arquitetura
nova, sendo muitas vezes difícil ao usuário distinguir o que
é novo do que é preexistente, ressalvo em alguns pequenos
detalhes. Além de que, em alguns casos, foram demolidas
algumas partes ou edifícios inteiros preexistentes por não
terem valor patrimonial.

Após o primeiro Plano de Infraestrutura da Universidade


Diego Portales, elaborou-se, no início em 2008,o atual plano
de Infraestrutura da universidade, que tem paulatinamente
adquirido novos terrenos, muitos com edifícios preexistentes.
Para planejar este novo crescimento da UDP, foi criada uma
Unidade de Serviços Externos (USE), que ficou a encargo
do arquiteto Renzo Alvano. Para os primeiros projetos foram
contratados de forma direta os arquitetos do primeiro Plano
que já possuíam propostas para os terrenos. Recentemente,
concursos vem sendo criados para esta finalidade.

A escolha dos terrenos, segundo depoimento de Renzo


Alvano (2012), está sendo realizada buscando proximidade
com os edifícios existentes, permitindo, na medida do possível,
ligar ruas paralelas através dos edifícios, como também
nos terrenos das ruas transversais que ligam a rua Ejército
com a República, como a Grajales para, como defendem os
responsáveis pelo Plano, potencializar o fluxo de pedestres
no bairro e a relação de Campus Urbano Aberto.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 61


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

Devido ao crescimento elevado do valor


do solo que sofreu a região nos últimos
anos, outra questão que tem interferido na
escolha dos terrenos, segundo depoimento
de Renzo Alvano (2012), esta relacionada à
disponibilidade de venda dos mesmos e de
valores acessíveis, passíveis de negociação.

Sendo assim, um dos primeiros projetos


deste segundo momento de crescimento
da infraestrutura da UDP, que tem sido
grandemente publicado em periódicos
nacionais e internacionais, como no número
Figura 56 - Biblioteca Nicanor Parra.
121 da revista Summa+, é a Biblioteca Nicanor
Fonte: site www.mathiasklotz.com, acessado em 13/09/2013 Parra (2010-2012), projetada pelo arquiteto
Mathias Klotz. Esta se encontra localizada aos
fundos do Edifício de Usos Múltiplos (primeiro
plano), voltada à Rua Vergara.

Sua localização com térreo de uso


coletivo unido ao Edifício de Usos Múltiplos
possibilita a permeabilidade física da quadra na
Figura 57 - Ampliação da FAAD. continuidade de trânsito de pedestres entre as
Fonte:site www.ricardoabuauad.cl acessado em 13/09/2013 ruas paralelas Ejército e Vergara, além de ser
um dos primeiros edifícios em Santiago com o
selo LEED (Líder em Eficiência Energética e
Desenho sustentável).

Os outros edifícios construídos ou em fase


de construção até o momento são: ampliação
da Escola de Arquitetura (2008-2009) por
Figura 58 e 59 - Pós Direito e Faculdade Psicologia
Fonte:site www.alvanoyriquelme.cl acessado em 06/12/2013
Ricardo Abuauad, edifício de pós-graduação
de Direito (2011-2012), a Faculdade de
Psicologia (2011-2012), edifício de Salas de
Aula – Aulario (2011-) os três projetados por
Renzo Alvano e Pablo Riquelme, e o Campo
Huechuraba (2009-2013), por Hevia e Duque,
que se trata do Campus da Faculdade de
Figura 60 - Aulário. Fonte: Imagem cedida pelo USE
Economia construído fora da comuna de
Santiago em Huechuraba, fruto de concurso
público. Ademais, existem outros edifícios
projetados que ainda não começaram a ser
construídos, tais como: Centro de Extensão
(2010-), acoplado ao edifício da Biblioteca
Figura 61-Campo Huechuraba. Fonte: cedida pelo USE

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 62


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

também de Mathias Klotz e a Escola de Arte (2012-),


próximo a Faculdade de Direito e Arquitetura em uma
rua transversal a Rua República, projetado por Ramirez,
Cassasus e Cepeda (fruto de concurso).

Dos edifícios citados deste segundo momento, os


dois edifícios: Faculdade de Pós-Graduação de Direito
e Faculdade de Psicologia possuem poucos acréscimos
Figura 62 de áreas novas. Por se tratarem de edifícios históricos do
Centro de Extensão e Biblioteca.
Fonte: cedida pelo USE
início do séc XX, que ocupam praticamente a totalidade
do terreno, os projetos se limitam em grande parte a
restaurações dos ambientes e algumas adaptações de
infraestrutura necessária para o bom desempenho do
edifício.

Já os edifícios da Biblioteca Nicanor Parra e a


ampliação da Escola de Arquitetura, se tratam de edifícios
totalmente novos e já estão com suas construções
Figura 63
Faculdade Arte. concluídas. Estão diretamente relacionados a outros
Fonte: cedida pelo USE edifícios do primeiro plano, a biblioteca ao edifício de
Usos Múltiplos e a ampliação da escola de Arquitetura
com o edifício da Faculdade de Arquitetura do primeiro
plano, inclusive implantada no mesmo terreno.

Uma vez que o foco desse trabalho está no Setor Sudoeste,


dos outros dois edifícios mais recentes em construção, o
Campus de Huechuraba, por estar situado em outra comuna,
não será abordado neste trabalho, devido ao entendimento
que o mesmo não soma ao conjunto dos edifícios existentes
e nem à relação com a criação de um Campus Urbano Aberto
ou à intervenção em um sítio consolidado. O outro edifício
em construção, das Salas de Aula, trata-se de um edifício
inteiramente novo, que está localizado na rua Ejército a frente
do edifício de Usos Múltiplos.

Dois edifícios não iniciaram a construção, mas se


encontram com os projetos finalizados: o edifício do Centro
de Extensão, que está diretamente acoplado à Biblioteca
Nicanor Parra implantado no terreno vizinho, entre o edifício
histórico de esquina e o edifício novo da Biblioteca, se
tratando de uma estrutura completamente nova; e o edifício
da Escola de Arte que está implantado próximo a uma
esquina, em um prolongamento de uma pequena viela muito
utilizada na ligação da Rua República e a Avenida Liber
Bernardo O’ Higgins, (na qual se encontram as estações de

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 63


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

metro), edifício que está projetado para aproveitar parte da


estrutura preexistente e para a construção de uma grande
galeria pública no térreo.

Figura 64
Edifícios da UDP até 2013. Desde o ano de 2002, quando se iniciou o primeiro Plano
Fonte: Livro Transformaciones
Urbanas, 2008, p.15 – elaboração de Infraestrutura da UDP, até dezembro de 2012, data do
autora levantamento realizado in loco, foram gerados treze projetos
novos que foram, estão sendo ou serão construídos para
ampliar a infraestrutura da universidade no Setor Sudoeste.

Este trabalho visa analisar como as novas intervenções


(conjuntos de edifícios contemporâneos) se relacionam com
o sítio consolidado, e apresenta a questão da relação do
edifício novo com edifícios e áreas históricas. Desses treze
projetos abordados anteriormente, serão analisados neste

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 64


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

trabalho em suas características urbanas e arquitetônicas


apenas alguns edifícios considerados mais representativos.

Embora todos os projetos do conjunto possam possuir


características arquitetônicas e urbanísticas representativas,
entende-se por edifícios mais representativos aqueles que
através de suas características arquitetônico-urbanísticas
colaboram mais para a discussão que este trabalho de
dispõe a abordar. Ou seja, edifícios que possibilitam a
análise das características arquitetônicas e urbanas que têm
materializado essa intervenção no setor, principalmente na
relação dos edifícios novos com a cidade e com a história.

Sendo assim, dos seis edifícios do primeiro plano, todos


são considerados com grande representatividade, uma vez
que possuem características arquitetônicas e urbanas que
possibilitam a analise e proporcionam intensa relação entre
edifícios antigos e novos, e relação do edifício com o espaço
urbano, aspectos em que este trabalho pretende aprofundar.
Além disso, a maioria desses edifícios foi amplamente
publicada em periódicos da área.

Dos outros sete edifícios do segundo plano, dois


edifícios construídos e um projetado (que ainda não iniciou a
construção) estão diretamente ligados a edifícios do primeiro
plano. Sendo assim, entende-se que fazem parte dos edifícios
representativos, nos quais, a análise se faz necessária para
uma melhor compreensão das características arquitetônicas
e urbanísticas presentes atualmente.

O edifício das Salas de Aula que ainda está sendo


construído, juntamente com o edifício da Escola de Artes com
sua localização estratégica urbana, possuem características
representativas para serem analisadas neste trabalho. Por
estes dois edifícios não estarem construídos, iremos privilegiar
os edifícios que estão finalizados, que têm mais publicações
e que estão diretamente ligados a outros edifícios do plano.

Outra questão que se faz presente para a escolha destes


edifícios representativos está relacionada aos arquitetos
responsáveis. Nos seis projetos do primeiro plano e nos três
do segundo plano, oito foram realizados por Mathias Klotz,
Ricardo Abuauad, Renzo Alvano e Pablo Riquelme, e apenas
um por Iñaki Volante (Edifício de Assuntos Administrativos).
Os arquitetos que apresentam mais de um edifício projetado

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 65


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

Figura 65
se encontram ainda atuantes na universidade, enquanto Iñaki
Edifícios da UDP escolhidos para Volante não. E dos seis edifícios do primeiro plano, apenas
serem analisados no trabalho.
Fonte: Transformaciones Urbanas,
o Edifício de Assuntos Administrativos não possuí publicação
2008, p.15 – elaboração autora em periódicos como na revista SUMMA+.

Serão analisados oito edifícios, mais especificamente


em suas características arquitetônicas e urbanísticas neste
trabalho, na relação com a história e com a cidade, sendo
que sete estão concluídos e apenas um se trata de projeto
ainda não finalizado. Do arquiteto Mathias Klotz, iremos
analisar os edifícios da Faculdade de Saúde, Edifício de Usos
Múltiplos, Biblioteca Nicanor Parra, Faculdade de Economia
(projetado juntamente com os arquitetos Renzo Alvano e
Pablo Riquelme) e Centro de Extensão (projeto), do arquiteto

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 66


1 Bairro Universitário de Santiago
1.2 Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales (UDP)

Ricardo Abuauad analisaremos a Faculdade de Arquitetura,


Design e Artes e Ampliação da Faculdade de Arquitetura e
dos arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme a Faculdade
de Direito e Faculdade de Economia (Co-autores com Klotz).

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 67


2. Edifícios da Universidade Diego Portales

2 Os edifícios da Universidade Diego Portales (UDP)


O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales
funciona como um Campus Urbano Aberto inserido em
um sítio histórico com uma grande quantidade de edifícios
contemporâneos. A análise projetual do conjunto possibilita
aprofundar as principais características arquitetônicas e
urbanas que se relacionam com o entorno, criam lugares e
requalificam o sítio.

Campus Urbano Aberto, segundo autores como Munizaga


(2006) e Adrià (2005), se refere a um campus inserido na
malha urbana, que contém certa interdependência funcional e
espacial, podendo estar “disperso na mancha metropolitana,
sem signos claros de identidade” (ADRIÀ, 2005, p.37).

Para selecionar os edifícios analisados nesse trabalho,


foram escolhidos, dentre os edifícios propostos no Primeiro
Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales entre
os anos de 2003 e 2005, os que possuem maior número
de publicações e cujos arquitetos ainda se encontram
lecionando na Universidade Diego Portales, em virtude da
facilidade da coleta de dados. Além destes, foram incluídos
outros três edifícios do segundo Plano de Infraestrutura que
se encontram diretamente ligados aos edifícios escolhidos do
Primeiro Plano, sendo que um dos edifícios ainda não está
Figura 66 construído.
Fachada Faculdade de Saúde.
Fonte: Imagem da autora,

Os cinco edifícios do primeiro Plano


de Infraestrutura são:

Faculdade de Saúde (Arquiteto


Mathias Klotz).

Edifício de Usos Múltiplos (Arquiteto


Mathias Klotz)

Figura 67
Edifício de Usos Múltiplos.
Fonte: Cedida USE

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 69


2. Edifícios da Universidade Diego Portales

Faculdade de Economia (Arquitetos


Mathias Klotz, Renzo Alvano e Pablo
Riquelme)

Faculdade de Direito (Arquitetos


Renzo Alvano e Pablo Riquelme)

Faculdade de Arquitetura, Artes e


Desenho (Ricardo Abuauad)

E os três edifícios do segundo Plano


de Infraestrutura da universidade são:

Ampliação da Faculdade de
Arquitetura (Ricardo Abuauad)

Biblioteca Nicanor Parra (Arquiteto


Mathias Klotz).

Centro de Extensão- projeto (Arquiteto


Mathias Klotz).

Figura 68-Faculdade Economia.


Fonte: site www.mathiasklotz.com, acessado em 13/09/2013
Figura 69, 70 e 71-Fac. de Direito, FAAD e Centro de Extensão .
Fonte: Imagens cedidas pela UDP.
Figura 72- Ampliação FAAD. Fonte: site www.ricardoabuauad.cl
Figura 73- Biblioteca Nicanor Parra.Fonte site http://www.udp.cl/
os sites foram acessados em 07/12/2013

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 70


2. Edifícios da Universidade Diego Portales

Por se tratar de um conjunto de obras de três arquitetos,


as análises foram separadas em três grupos conforme os
profissionais responsáveis pela obra, sendo o primeiro grupo
formado pelas obras do arquiteto Mathias Klotz (também
autor do primeiro Plano de Infraestrutura da Universidade
Diego Portales), o segundo grupo formado pelas obras dos
arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme e o último grupo
formado pelas obras do arquiteto Ricardo Abuauad.

A análise de cada grupo se inicia com uma breve trajetória


profissional e considerações a respeito do contexto histórico
e geográfico do arquiteto. A Faculdade de Economia, por ter
sido projetada por Klotz, juntamente com Alvano e Riquelme,
estará inserida no segundo grupo, para facilitar a compreensão
das características destes dois últimos arquitetos.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 71


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.1 Intervenção Contemporânea em Sítios Consolidados: Análise Projetual dos edifícios da UDP

2.1 Intervenção Contemporânea em Sítios Consolidados:


análise projetual dos edifícios da Universidade Diego Portales
As análises projetuais realizadas neste trabalho foram
baseadas nas considerações propostas por Ruth Verde Zein
no texto “E há que se ir às coisas: revendo as obras” (2011,
p.204-236), no qual a autora sugere a análise como um
“reconhecimento crítico e referenciado de uma obra” em que o
estudo é realizado com maior profundidade, a fim de alcançar
os objetivos que a pesquisa acadêmica apresenta.

Seguindo essa linha, este trabalho busca reconhecer


criticamente e referencialmente as características
arquitetônicas dos edifícios da Universidade Diego Portales
que os tornam singulares no lugar em que se encontram.
Tal reconhecimento possibilitará a constatação da hipótese
de que tais características contribuem não apenas para a
preservação dos aspectos históricos do Bairro Universitário
de Santiago, mas também exercem papel fundamental no
processo de requalificação do bairro ao criar novas formas do
usuário vivenciar o sítio histórico.

Segundo Foqué no livro “Building knowledge in


Architecture” (2010), para realizar uma analise arquitetônica de
forma científica é importante abordar aspectos relacionados ao
produto, ao processo e ao contexto. Sobre a compreensão do
produto, Foqué aborda que “o pesquisador deverá descrever
o edifício como ele é através da análise de diversos aspectos”
(FOQUÉ, 2010, p.195). Para tanto, o autor propõe cinco
aspectos a serem analisados: o ambiente (tecido urbano,
paisagem existente, implantação e acessos), a função (o
programa, a localização dos espaços, a hierarquia proposta,
circulações e usos), o produto técnico (estrutura, materiais,
acabamentos e sistemas integrados), a morfologia (forma,
massa e estilo arquitetônico) e o custo.

Foram analisados neste capítulo aspectos referentes aos


quatro primeiros itens propostos por Foqué, relacionando tais
aspectos com os objetivos a que este trabalho se destina. Dentro
dos quatro itens propostos por Foqué, a presente pesquisa
destacou os aspectos da inserção urbana, implantação,
programa, acessos, organização funcional, técnica construtiva,
espacialidade e materialidade, relacionando-os com o contexto
local, o qual, segundo Waisman (2013, p.199), é constituído
pelos “valores históricos arquitetônicos, de paisagem urbana

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 72


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.1 Intervenção Contemporânea em Sítios Consolidados: Análise Projetual dos edifícios da UDP

e de memória social”.

Outras características que evidenciam aspectos


singulares das obras também foram analisadas, como por
exemplo: referências ao sítio e a outros momentos/tipos
arquitetônicos, sejam estes referentes à obra do arquiteto, seu
contexto local ou mundial; relações de analogias e contrastes
entre a arquitetura nova e histórica; fluxos propostos que
trazem permeabilidade da quadra e transformações urbanas;
novos usos, novas espacialidades e novos visuais propostos
na intervenção.

Cada um dos exemplos citados acima encontra respaldo


na literatura científica arquitetônica, como podemos observar
a seguir.

Segundo Comas (1986, p.37) “Todo problema de projeto


admite decomposição em subproblemas que podem ser
referenciados, por analogia, a precedentes conhecidos.”
Nesse sentido, as referências ao sítio e a outros momentos/
tipos arquitetônicos pode trazer complexidade às obras
arquitetônicas e evolução de antigas soluções para novos
problemas. Essas referências podem se tratar de modelos
históricos mundiais, como também do contexto do continente,
país, cidade, bairro em que se insere o edifício.

As relações de analogias e contrastes entre a arquitetura


nova e histórica têm como referência o autor Ignasi Solá-
Morales em seu artigo “Do contraste à analogia” (2006, p.262).
Nesse artigo o autor aborda a intervenção como operação
estética em que “se procura não só reconhecer as estruturas
significativas do material histórico existente, como também
usá-las como marcos analógicos para a nova construção.”.

A questão dos fluxos propostos que trazem permeabilidade


da quadra e transformações urbanas é tratada pelos autores
Gustavo Munizaga (2006) no livro “Un Campus urbano Abierto”
e o autor Abílio Guerra no artigo “Quadra-Aberta” (2011),
como um aspecto a ser buscado que estabelece a arquitetura
como sujeito de transformações urbanas. Nesse sentido,
autores como Iñaki Ábalos em seu livro “Atlas pintoresco”
(2005) e o autor Josep Maria Montaner em seu livro “Sistemas
arquitectónicos contemporâneos” (2008) trabalharam de modo
sistêmico a relação da arquitetura e urbanismo.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 73


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.1 Intervenção Contemporânea em Sítios Consolidados: Análise Projetual dos edifícios da UDP

Os novos usos, as novas espacialidades e os novos


visuais propostos na intervenção vão transformar a forma
da população se relacionar com o entorno. Esse processo
pode ser definido segundo Fernando Diez em seu artigo
“Tácticas de Infiltración” (2009), como infiltração, que é um
tipo de intervenção em que as novas arquiteturas se inserem
dentro de arquiteturas ou áreas urbanas menosprezadas
para valorizar o contexto em que se inserem e criar novas
perspectivas na maneira do usuário se relacionar com o
entorno, gerando espaços qualitativos para a sociedade. O
autor Manoel Solá-Morales, em seu livro “De cosas Urbanas”
(2008, p. 188), ressalta a importância dos espaços sociais
como um dos novos usos propostos nesse processo de
transformação da relação do usuário com o entorno. Para este
autor, a criação de espaços coletivos que hibridizam o público
e o privado, requalificam os sítios históricos na medida em
que a população se apropria destes locais.

Neste trabalho, a análise de tais características se


baseou na ordem citada anteriormente (da implantação à
materialidade). Entretanto, cada situação analítica apresentou
desafios específicos que requereram uma aplicação
individualizada das categorias de analise, criando sua própria
ordem. Em alguns casos, por exemplo, determinados aspectos
são excluídos da análise e dependendo do contexto local
e arquiteto, as relações da arquitetura nova com o entorno
e com o lugar em que se insere podem ser tratadas com
intensidades distintas.

Considerando que uma análise ou um “trabalho crítico


referenciado”, segundo Zein (2011) deve ter uma natureza
textual e não textual integrada, foram observados no processo
de análise, tanto os textos publicados sobre as obras em
questão, como os desenhos arquitetônicos e fotos levantados.
As plantas foram redesenhadas em arquivo digital através
do CAD e os edifícios foram modelados em 3D por meio
de software especifico para esse fim, elucidando assim, as
relações dos edifícios com o entorno (atual) e as mudanças
espaciais produzidas pelos pés-direitos de diferentes
dimensões no percurso interno do edifício

. ... um trabalho de reconhecimento crítico e referenciado de


uma obra de arquitetura certamente lidará, a cada momento
de seus passos, com formas de representação e estudo
não verbais/ não textuais (desenhos, diagramas, croquis,

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 74


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.1 Intervenção Contemporânea em Sítios Consolidados: Análise Projetual dos edifícios da UDP

esquemas, etc.), assim como também necessariamente lidará


com formas verbais ou textuais. Ou mais precisamente, com
o que elas (tanto as formas verbais como as não verbais)
carregam: conceitos e ideias mais ou menos abstratos,
pertinentes ao tema de maneira total ou lateral. (ZEIN, 2011,
p.211)

A presente análise não tem a pretensão de esgotar todas


as possibilidades da compreensão dos edifícios analisados,
mas sim reconhecer criticamente e referencialmente as
características arquitetônicas dos edifícios da Universidade
Diego Portales que trazem mudanças ao sítio em que se
inserem.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 75


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

2.2 Arquiteto Mathias Klotz


O arquiteto Mathias Klotz nasceu em 1965 e viveu da
infância à juventude durante o período de ditatura militar
(1973-1990). Após obter seu título de arquiteto na Pontificia
Universidad Católica de Chile no ano de 1990 juntamente
com outros arquitetos de sua geração que se formaram na
mesma instituição como Cecilia Puga, Alejandro Aravena,
Sebastian Irarrázaval e Smiljan Radic, Klotz decidiu seguir
a docência e a vida profissional no escritório de arquitetura.

Klotz passou a lecionar a partir de 1996 em diversas


Figura 74 instituições, tais como: Universidade Central, Universidade
Arquiteto Mathias Klotz .
Fonte: site http://www.schoe- Católica, Universidade Frederico Santa Maria, Instituto
ner-wohnen.de/ acessado em Univers. Arquitetura de Veneza e Universidade Diego
07/12/2013
Portales (onde além de professor é Decano da Faculdade de
Arquitetura, Arte e Desenho).

Por fazer parte de uma geração que se formou junto


com o fim da Didatura Militar, seu inicio profissional permitiu
acompanhar um momento de eclosão democrática, em
que foi possível realizar vários projetos arquitetônicos que
cristalizavam esse novo espírito social, uma vez que o
mercado estava necessitado de profissionais, como afirma o
arquiteto em sua entrevista para a Revista AU (Arquitetura e
Urbanismo):

Havia um vazio enorme. Começamos a trabalhar nos anos 90,


quando houve muito trabalho porque a situação econômica no
Chile começou a melhorar a partir de 1985. E nos anos 90 já
estava bem, e quando saímos da universidade tivemos muitos
encargos, e éramos muito jovens. Havia um espaço enorme
que estava vazio, e nós o tomamos. (KLOTZ, 2009, p.75)

Um dos primeiros projetos do arquiteto foi a Casa


Müller, em 1994, localizada na Isla Grande de Chiloé, que foi
construída na borda de uma encosta. O edifício com formato
retangular de 7x25 metros, se encontra suspenso do solo
0,40 metros e é constituído por dois níveis e um terraço na
cobertura. O edifício se relaciona com a paisagem de forma
ambígua, contrastando com o seu volume retangular, mas
estabelecendo similaridades, na utilização de madeira e
pedra locais na obra. O terraço cria novas visuais para os
usuários vivenciarem a paisagem. Esta obra ficou entre as
obras finalistas no Prêmio Mies Van der Rohe em 1998.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 76


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

acesso da residência através da rua locada na parte alta do


terreno, deixando a residência próxima ao bosque de pinos.
Para ligar a casa à rua, foi criada uma passarela aérea entre
as árvores do bosque e a residência também se encontra
elevada do solo, chegando a aproximadamente quatro
metros do solo. O programa é resolvido em três volumes
retangulares, um ocupado por espaços públicos, outro por
dormitórios e o terceiro volume é composto por três níveis
ocupados do primeiro ao terceiro nível respectivamente por
espaços de serviço, social e de trabalho.

A disposição de mais de um volume permitiu a separação


dos usos tanto fisicamente quanto visualmente, além disso,
ao criar volumes elevados, a Casa Reutter estabelece novas
formas do usuário se relacionar com o contexto existente, seja
visualmente nas novas visuais criadas nos caminhos e terraço
do terceiro nível, como também fisicamente ao potencializar
o percurso do usuário entre os pinos do bosque, e entre os
volumes da casa. A casa mescla espaços vazios e cheios
e o uso detalhado de diferentes materiais e formatos como
madeira, cobre, estruturas metálicas e concreto, estabelecendo
similitudes com a matéria do bosque e contrastes do edifício
com a paisagem. Os edifícios são sustentados a partir de
uma viga metálica central e lousas metálicas nas quais os
Figura 81
volumes metálicos revestidos dos materiais anteriormente
Casa Reutter com estrutura metá-
lica. citados se apoiam. Essa configuração traz leveza ao conjunto
Fonte: site www.mathiasklotz.com e diferenciação entre edifício e terreno.
acessado em 20/11/2013

Outro edifício, que foi amplamente publicado e recebeu


premiações foi o Colégio Altamira. Esse, construído no ano

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 78


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

madeira ao sul, alumínio ao norte, e vidro e painéis coloridos.


Já internamente, materiais leves criam ambientes flexíveis.
Ademais, a rampa de acesso às salas de aula é marcada por
Figura 85
Vista rua do colégio, com pátio
pequenas aberturas envidraçadas nos pisos, que dinamizam
central sobre refeitório e ginásio. o percurso dos usuários da rampa ao observar o ginásio
Fonte: site www.mathiasklotz.com
acessado em 20/11/2013
locado no piso inferior.

Figura 86
Vista fundos, do pátio central com No ano de 2001 o arquiteto Mathias Klotz recebeu o
abertura no piso.
Fonte: site www.mathiasklotz.com prêmio Borromini em Roma, na categoria Arquitetos menores
acessado em 20/11/2013 de quarenta anos. Nesse período, ele já se encontrava no
cargo de Diretor da escola de Arquitetura da Universidade
Diego Portales, cargo em que ficou até o ano de 2003, quando
passou a ser Decano da faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho da mesma universidade e encarregado do Plano de
Infraestrutura da Universidade Diego Portales.

Além de ser responsável pelo primeiro Plano de


Infraestrutura da UDP, Klotz projetou dois edifícios do plano
entre os anos de 2003-2005: Faculdade de Saúde e Edifício
de Usos Múltiplos. Os terrenos em que foram construídos os

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2.2 Arquiteto Mathias Klotz

edifícios eram terrenos ocupados por edificações patrimoniais


e a proposta arquitetônica teve que solucionar problemas
quanto à preservação de características patrimoniais e à
criação de uma grande metragem quadrada em edifícios
novos. Essa intervenção será analisada posteriormente neste
capítulo, juntamente com dois outros edifícios projetados por
Klotz em um segundo Plano de Infraestrutura da Universidade.

Outra residência premiada foi a casa La Roca, projetada


em 2005, e ganhadora do prêmio Green Good Design em
2010. Esta casa, localizada em uma Vila de Pescadores, ao
norte de Punta del Este, no Uruguai, acompanha o lado mais
alto do terreno, distribuindo o programa em dois volumes
distintos: um com atividades sociais e outro com atividades
Figura 87 - 89
privadas. Os dois volumes são conectados a partir de uma
Plantas Casa La Roca. passarela coberta de madeira e vidro aérea e um pátio
Fonte: site http://www.archdaily.
com.br/ acessado em 20/11/2013
descoberto apoiado na parte alta do terreno.

Planta Baixa Piso Inferior

Planta Baixa Primeiro Piso

Planta Baixa Segundo Piso

Figura 90 e 91 O volume que é ocupado por programas sociais se


Casa La Roca.
Fonte: site http://www.archdaily. encontra mais próximo ao mar e é formado por um terraço
com.br/ acessado em 20/11/2013 sobre o mesmo e um nível inferior que dá acesso ao edifício.
Já o volume voltado aos dormitórios é formado por apenas
dois níveis, tendo o seu último nível alinhado com o terraço
sob o outro volume, e uma vez que este pavimento é ocupado
pela suíte máster, a vista da paisagem é privilegiada pela não
existência de obstáculos. Novamente neste projeto, o edifício

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 81


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

se desenvolve independente do terreno, com apenas alguns


pontos de conexão; e o percurso do usuário é marcado por
uma alternância constante de cheios e vazios. Além disso,
a casa é marcada na sua maior parte pelo uso da madeira,
Figura 92 que estabelece uma relação com o entorno, mesmo que seu
Vista laterial Casa La Roca. formato com linhas retas gere contraste com a paisagem
Fonte: site http://www.archdaily.
com.br/ acessado em 20/11/2013 sinuosa do entorno.

Outro edifício que foi premiado com o Prêmio Green


Gold Design em 2010 foi o edifício da Biblioteca Nicanor
Parra. Projetado em 2009, este edifício também faz parte do
conjunto de Edifícios da Universidade Diego Portales, que
serão analisados neste capítulo. A Biblioteca Nicanor Parra,
está inserida em terreno limítrofe ao Edifício de Usos Múltiplos
Figura 93
Linha do tempo Arquiteto Mathias
e foi um dos primeiros edifícios universitários a receber a
Klotz. certificação LEED, devido a suas propriedades sustentáveis.
Fonte: Elaboração Autora

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2.2 Arquiteto Mathias Klotz

Nas diversas publicações sobre o arquiteto Mathias


Klotz de Horacio Torrent (1997, 2010), Coleções ARQ
(2004 e 2008), Adrià (2006 e 2010), além de entrevistas e
palestras dadas pelo arquiteto, evidenciam-se algumas
questões relacionadas à obra de arquitetura de Klotz: a
reinvindicação de uma modernidade, a valorização da forma
e da materialidade, a relação com o contexto e a valorização
da vivência do espaço pelo usuário.

Essa relação com as formas modernas, entre a prática


profissional e a geografia, o reconhecimento dos materiais
tradicionais e a percepção corporal dos espaços, segundo
Horacio Torrent (2010), não estão só relacionadas a Klotz,
mas a toda uma arquitetura contemporânea do Chile, que
mescla ideias globais e histórias locais.

Segundo Horacio Torrent (1997, p.04), Mathias Klotz


“estabelece sutilmente a continuidade da arquitetura
moderna”, por sua vez recorrendo à herança moderna
chilena, que na década de 1950 possuía arquitetos como
o vanguardista Enrique Gebhard, Emilio Duhart e seu
racionalismo-profissional, o investigador Juan Borches e “as
alternativas poéticas da Escola de Valparaíso”.

Uma das questões que se evidenciam nesse período


de 1950, são as formas cúbicas, a criação da forma através
de composição e o problema da localização da massa em
um sítio. Entre 1950 e 1970, segundo Torrent (2010, p.101)
há uma procura por incorporar as características urbanas e
sociais à arquitetura, e uma preocupação por não ser apenas
uma forma/ figura, mas um instrumento de “transformar as
condições de vida das pessoas. E isso é uma experiência
arquitetônica notável que tem uma forte influência no projeto
das décadas atuais.”.

Na década de 1950, também ocorre um aumento no


desenvolvimento de arquiteturas em sítios consolidados com
características geográficas importantes. Enrique Gebhard,
construiu um edifício que exalta a paisagem do oceano
pacífico, na qual se usava como principal instrumento o
contraste da massa geométrica com a terra, no entanto, a
construção apenas expressa as características acentuadas
da paisagem, mas não “interage significativamente com a sua
cultura particular ou características territoriais” (TORRENT,
1997, p.103).

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2.2 Arquiteto Mathias Klotz

Figura 94 Em 1956 um conjunto de residências no distrito de


Foto edifício Enrique Gebhard.
Fonte: site www.plataformaarqui- Chinchorro, realizado pelos arquitetos Valdés, Bresciani,
tectura.cl acessado em 21/11/2013 Castillo, Huidobro, Arnello, Lorca e Jordan, mostra uma
maior adaptação à geografia, com elementos arquitetônicos
relacionados ao clima, como pergolados e a criação de
espaços coletivos em jardins que acompanham o desnível
do terreno. Em 1953 surge a escola de Valparaíso, pautada
na poesia e na pesquisa. Essa escola incorporou o método
da observação do contexto como instrumento de projeto,
em que de forma científica se evidenciam as características
e se projeta a partir do contexto e das atividades e fluxos
internos do edifício. Também entre a década de 1950 e 1960,
surgem obras de Emilio Duhart, que evidenciam outra forma
Figura 95
de relacionar o espaço amplo da arquitetura moderna com
Dos Hospederias- Cidade Aberta o contexto geográfico, dessa vez através do material local,
de Ritoque.
Fonte: site Foto autora, dez/2012
típico.

Dessa forma, se evidenciam algumas questões principais


que foram trabalhadas na história do Chile, relacionadas ao
contexto, à forma, à materialidade e aos espaços internos,

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 84


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

e que tem influenciado a arquitetura contemporânea local.


Nas obras de Klotz, podemos observar uma mescla destas
principais características, em que mesmo com linhas retas
que se contrapõem à paisagem natural, há uma preocupação
na relação com o contexto, de se criar novas visuais em
que as obras são projetadas a partir do desnível, vistas e
insolação do terreno, utilizando as propriedades existentes
do sítio para potencializar as melhores vistas, criar espaços
coletivos, pátios e jardins, e estabelecer novas formas do
usuário interagir com este contexto através da utilização de
materiais locais, como a madeira e, assim como na escola
Figura 96
Casa Reutter. de Valparaíso, pensar em obras como espaços para serem
Fonte: site www.mathiasklotz.com percorridos e vivenciados.
acessado em 21/11/2013

Ademais, assim como Horacio Torrent (1997), o autor


Miquel Adrià (2006), evidencia que Mathias Klotz segue os
rastros de uma modernidade reivindicada, mas o que seria
essa modernidade reivindicada? Para Torrent (1997, p.04),
estaria relacionada à continuidade da indagação de “uma
modernidade traçada sobre o duplo registro de abstração e
natureza” nas “formas, tratamentos espaciais e materiais da
arquitetura de Mathias Klotz”.

Ainda segundo Torrent (1997, p.05) as “chaves da


arquitetura moderna” estão em um discurso construído em
uma “geometria simples, proporções redondas, sutileza de
linhas, figuras precisas e legíveis”, no controle geométrico
e estrutural, mas ao mesmo tempo com forte inspiração no
contexto. A reinvindicação da modernidade estaria em um
primeiro momento presente nas formas puras e simples,
geométricas e compositivas, com separação de usos em
volumes distintos e nos tetos horizontais com terraços,

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 85


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

observados na obra de Klotz.

Além das formas, a modernidade vem também com


uma evidencia da materialidade, na qual, o material é que
direciona os “ritmos, proporções e medidas que dão a
configuração concreta a seus espaços” (TORRENT, 1997,
p.05), e ao analisar as propriedades técnicas, perspectivas
contemporâneas e um modo de fazer manual, os materiais
podem ser utilizados de formas diferentes e combinados, em,
por exemplo, pisos aéreos de madeira e metal, que deixam o
terreno livre.

Ao observar a natureza e incorporar algumas


características da mesma na obra, seja evidenciando as
visuais da paisagem, ou incorporando formas de construir
arcaicos e materiais locais, ou espacialidades diferentes
que se relacionam com o homem, a arquitetura de Klotz,
traz novamente à tona essa relação da abstração com a
paisagem, na criação de lugares, como é possível evidenciar
Figura 97 na descrição abaixo de Torrent (1997) sobre a primeira casa
Casa Klotz (1991).
Fonte: site www.mathiasklotz.com construída por Klotz em 1991- Casa Klotz.
acessado em 21/11/2013

En la casa Klotz … la cajá se cierra por completo


hacia el lado del ingreso, y se abre en un juego de
volúmenes, prolongándose en la terraza hacia el
mar. Compacta por fuera, permeable por dentro a
la luz y a las vistas; el alineamiento de servicios y
escalera en un bloque otorga el respaldo, el espacio
central de doble altura y la continuidad horizontal-
permitida por el recogimiento de las carpinterías-,
recompone las líneas de referencia del volumen y
ofrece la plenitud de la playa. (TORRENT, 1997,
p.06)

E qual seria a relação dessa primeira arquitetura


evidenciada nas casas de Klotz, com o seu entorno? Uma
arquitetura que se diferencia e separa formalmente, se apoia
no terreno, mas que retoma a paisagem na materialidade
do uso de materiais locais. Uma arquitetura que não só é
colocada em um determinado contexto, mas intervém neste
contexto na medida em que cria novas formas do usuário
se relacionar com o mesmo, de visualizar o ambiente, de
contrapor as formas retas às orgânicas. Segundo Torrent
(1997, p.07) arquitetura que “transcende a paisagem, porque
casualmente podia estar ausente, mas fazem falta.”.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 86


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

Essa posição quanto ao contexto, faz parte também do


contexto de formação de Klotz. Segundo o autor Adrià (2006),
nesse período existia uma grande quantidade de autores
discutindo sobre o regionalismo crítico, tais como, Kenneth
Frampton, William Curtis, Marina Waisman e Roberto Segre.
Essa discussão buscava proteger a cultura local, em vez da
globalização, além de desenvolver tecnologias locais.

Frampton`s critical regionalism increasingly deviated towards


formalism, leaving an opening for the Postmodern variants that
reached their Zenith in Chile during the boom years under the
Pinochet dictatorship. Mathias Klotz trained in this climate of
Postmodern effervescence at the School of Architecture of the
Universidad Católica Pontificia. (ADRIÀ, 2006, p.10)

Segundo Adrià (2006, p.10) a primeira posição de Klotz


depois de formado, foi retirar todos os excessos históricos
e realizar uma arquitetura mais contextual, que se preocupa
com o ambiente e com a tecnologia do local em que se
insere a obra. Definindo sua posição própria contemporânea,
”baseada na síntese da conceituação, pragmatismo e forma”.
Além de retornar ao um modernismo perdido e ir para além
do mesmo, oferecendo soluções relacionadas à realidade.

Outros autores como Carme Pinós, Montserrat Palmer


e Carlos Ferrater em coletânea da revista ARQ (2008) sobre
Mathias Klotz evidenciam a importância que o arquiteto dá ao
lugar, à relação da obra com a paisagem, à busca do arquiteto
em resolver problemas, e a ter ao mesmo tempo características
da tradição moderna e da inovação contemporânea.

Uno de los mejores arquitectos latino-americanos de esta


década. Su radical compromiso con la modernidad, su
inquietud por la experimentación y los nuevos modelos, así
como su profundo conocimiento de la construcción, avalan la
trayectoria y el futuro del Arquitecto Mathias Klotz (FERRATER,
2008, p. 14)

Em outra publicação organizada por Miquel Adrià


(Blanca Montaña, 2010, p.356), sobre a arquitetura chilena
contemporânea, ao falar sobre as características de Mathias
Klotz, além de abordar novamente a questão da relação com
o contexto, em que o arquiteto analisa a priori os “dados do
contexto como ponto de partida das decisões estruturais
do projeto”, o autor retoma a discussão de Torrent (1997)

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 87


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz

evidenciando as características formais da arquitetura de Klotz,


“pura e simples” e a importância que o mesmo dá à qualidade
da percepção dos espaços interiores, principalmente nas
residências.

Em publicação da ARQ (2004, p.72) o próprio arquiteto


Mathias Klotz, evidencia a importância do contexto e da
percepção do usuário em sua obra, que surge através da
prática arquitetônica, ao tratar as intenções que ele e sua
equipe buscam responder em cada trabalho “com projetos
pragmáticos, que desenvolvem alguma ideia central, que se
relacionam adequadamente com o contexto, que se ajustam
ao orçamento e que além de responder ao programa,
satisfaçam ao usuário”.

No aspecto da percepção do usuário e a relação com


uma forma simples, em uma segundo momento, em entrevista
realizada a revista AU (2009), o arquiteto comenta sobre sua
maneira de projetar, no sentido de buscar uma arquitetura
mais rica ao vivenciá-la do que estética, uma vez que para
o arquiteto os melhores projetos são aqueles que menos
notamos.

No sentido de uma arquitetura que seja menos notada,


o arquiteto acredita que ao invés da exibição, do brilho, da
estrutura impressionante, deve-se buscar a simplicidade do
fundamental, sem ser por isso minimalista, no sentido de
gerar decisões precisas, que buscam conviver e não impactar.
Dando como exemplo dessa arquitetura os arquitetos Tadao
Ando e Renzo Piano.

Se evidenciam como principais características


encontradas na obra de Klotz e em uma geração atual de
arquitetos, a valorização da forma e da materialidade da
arquitetura, sua relação com o contexto e a criação de espaços
que valorizam a vivência do usuário. Essas características
podem ser evidenciadas nas formas retangulares, com tetos
planos em terraços, na valorização do lugar, ao se relacionar
de forma ambígua às características arquitetônicas e urbanas
existentes, e na criação de espacialidades diversificadas,
que valorizam o percurso do usuário através dos diferentes
espaços fechados e abertos, repletos de materiais e detalhes.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 88


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.1 Faculdade de Saúde

frontal em três partes levemente irregulares, com dimensões


aproximadas de 13,00 metros de frente por 11,00 a 17,00
metros de profundidade, com uma área total de projeção de
aproximadamente 512 m2.

As residências alocadas ao centro e sudeste do lote


destacam características arquitetônicas relevantes do período
da fundação do bairro (1830), principalmente com fachadas
trabalhadas em estilo eclético. A terceira residência na
extremidade norte da face frontal, embora construção antiga,
não apresenta características arquitetônicas relevantes que
remontem à origem do bairro, segundo levantamento do livro
Santiago Sur-Poniente (2004), o que levou a Corporação
Universitária a propor apenas as duas primeiras residências
como Imóveis de Conservação Histórica na proposta de
mudança da lei vigente.

A seleção dessas duas residências como Imóveis de


Conservação Histórica foi realizada em 2003, no objetivo de
mudança da legislação em vigor para o Setor Sudeste, na
qual o terreno se insere. Esta lei não era vigente no período
da intervenção e nem foi completamente incorporada às leis
posteriores. Assim, não havia obrigação de preservar as
residências no momento da intervenção, mas uma vez que
a UDP também havia feito parte da comissão que propôs as
mudanças de lei e acreditando que era o melhor a ser feito
para o bairro, decidiu-se por preservar externa e internamente
Figura 103
Corte Esquemático Faculdade de as residências de interesse patrimonial, bem como o exterior
Saúde. da terceira residência de menor valor histórico e construir o
Fonte: Imagem cedida pelo escri-
tório Mathias Klotz edifício novo, na porção posterior e livre do lote.
Mansões Patrimoniais

Outra diretriz do Plano de Infraestrutura da Universidade

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 91


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.1 Faculdade de Saúde

do laboratório maior, localizado na extremidade norte da


segunda área, no último vão paralelo a Avenida República. Os
outros ambientes se encontram completamente separados,
com acessos independentes conforme a torre de circulação
a norte e a sul. Isto porque o restante da área é marcado
por um grande espelho d’água e a circulação entre as áreas
é interrompida por uma terceira escada, localizada entre a
Figura 111 parede do laboratório maior e o espelho d’água.
Caminho sobre espelho d`agua.
Fonte: Imagem cedida pela UDP Tal configuração demarca novamente a
diferenciação das duas áreas encontradas no
terceiro subsolo, com separação de fluxos.
O grande elemento conector de ambas as
áreas que guardam certa ambiguidade pela
irregularidade formal é um espelho d’água,
situado desta vez no vão central do primeiro
setor e no vão paralelo e próximo às residências
preservadas da segunda área, conectando
visualmente as duas áreas e também criando
uma segunda conexão física sutil entre elas.
Esta conexão ocorre com a demarcação de um
fluxo sobre o espelho d’água, com pequenas
pedras retangulares que criam um caminho
estreito, ao lado da escada, e permitem que
o usuário flua em um percurso que parece
subversivo, ao contrariar caminhos pré-
estabelecidos.

Este segundo espelho d´água é marcado por pequenas


pedras espalhadas no seu fundo e pelo constante movimento
da água. Estas características, além de auxiliar na
manutenção contra a sujeira que cai do piso poroso do térreo,
oferecem sensações diferenciadas ao usuário que por ali
transita. Neste local, o percurso entre as águas e o ambiente
fresco parecem resgatar reminiscências de uma natureza
que ali já existiu, e o movimento das águas mescla o reflexo
do edifício novo com suas fachadas envidraçadas ao reflexo
da materialidade do muro que dá continuidade às paredes
das residências históricas. Este espelho d’água parece
materializar o encontro entre dois momentos históricos, com
os seus materiais distintos e que se encontra em constante
devir.

Outro elemento que traz ambiguidade à percepção

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 95


2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.1 Faculdade de Saúde

O corredor que dá acesso ao edifício histórico central,


à rua e à parte posterior do lote, passou a ser a principal
entrada da Faculdade de Saúde. Este corredor parece ter
sua continuidade recriada no edifício novo da região posterior
do lote, em um pequeno corredor ao lado da escada central,
alinhado ao corredor histórico.

Pode-se encontrar marcos analógicos que parecem


relacionar a estrutura do edifício histórico com o edifício
novo. Segundo Ignasi-Solá Morales em “Do contraste à
Analogia: novos desdobramentos no conceito de intervenção
arquitetônica.” (in NESBITT, 2006), ao reconhecer as
estruturas significativas dos edifícios históricos, estas
poderiam ser usadas como marcos analógicos na nova
construção em uma mescla de similaridade e diferença.

Como operação estética. A intervenção é a proposta livre,


arbitrária e imaginativa pela qual se procura não só reconhecer
Figura 124
Similaridades edifício histórico e as estruturas significativas do material histórico existente,
novo como também usá-las como marcos analógicos para a nova
Fonte: Redesenho e Foto Autora
(dez/2012)
construção. (IGNASI SOLÁ-MORALES, 2006, P.262)

Figura 125
Foto Corredores de acesso.
Fonte: Redesenho e Foto Autora O pequeno corredor recriado na parte nova da Faculdade
(dez/2012) de Saúde, estabelece uma similaridade entre a continuidade
dos corredores com as laterais definidas, e ainda expande
essa configuração ao criar um corredor novo com pé-direito

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 100
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.1 Faculdade de Saúde

circulação da Faculdade de Saúde.

A configuração no edifício novo de um grande hall livre


retangular parece também se relacionar com a grande sala
do edifício reabilitado na face sudeste do terreno, do mesmo
modo que a grande sala histórica constituía o principal
elemento articulador do edifício permitindo que o usuário se
locomovesse para os outros ambientes internos da casa, para
a rua e para a parte posterior do lote. O grande hall do edifício
novo retoma esta função articuladora, podendo ser acessado
pela rua, por um corredor na lateral e pela Faculdade de
Comunicação na face posterior da área.

Os múltiplos caminhos possíveis de serem percorridos


pelo transeunte e a conexão entre a Faculdade de Saúde e de
Comunicação no nível do térreo, criam uma quadra permeável,
em que a Avenida Ejército e a Rua Vergara, paralelas, podem
ser conectadas através de um caminho interno à quadra.
Segundo Munizaga (2006), a criação de caminhos internos
à quadra traz dinamismo ao bairro e amplia a criação de um
Campus Urbano Aberto, no qual a apropriação dos espaços
pela população local é potencializada.

Figura 127
Esquema de permeabilidade da Uma vez que o edifício novo manteve o pé-direito alto,
quadra, desenhado sobre maque-
te eletrônica.
semelhante aos edifícios históricos, de aproximadamente 5,00
Fonte: Desenho da Autora metros, foi criado um mezanino na parte sudeste do terreno,
que traz um segundo acesso à Faculdade de Comunicação, à
direta da grande praça coletiva. Próximo à conexão do térreo
entre as faculdades, também existe uma escada na área da
Faculdade de Comunicação que leva o transeunte a esta
grande praça coberta, que também é servida pelo refeitório
que já existia na Faculdade de Comunicação.

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criam um grande espaço coletivo, que


ocupa o miolo da quadra e o torna público.
Uma vez que este espaço possibilita livre
acesso aos usuários da Faculdade de
Comunicação, da Faculdade de Saúde,
e também para moradores do bairro, esta
área desempenha o papel de uma praça
pública, que mesmo abrigada no interior
de um espaço privado confere ao espaço
público tratamento de espaço coletivo.
O termo espaço coletivo é defendido por
Manoel de Solá-Morales (2008) como um
espaço que hibridiza privado e público,
visando o uso da população, essencial para
a maior apropriação do espaço e criação de
Figura 132 - Praça interna. Fonte: Revista Summa, significado pela sociedade.
n.72
Figura 133 - Vão Intermediário. Fonte: Foto da Autora,
Dez/2012
No térreo, entre os edifícios históricos e o
Figura 134 - Mudança de eixo visual . Fonte: Desenho edifício novo da segunda área na parte posterior
da autora
do lote, a área do espelho d’água é retomada como
um piso metálico perfurado de pé-direito triplo. A
única parte desta área em que o piso é substituído
por um material liso e opaco é a de continuidade
do corredor histórico, conectando o corredor novo
ao antigo. Neste primeiro percurso, o eixo visual do
transeunte é constantemente modificado, sendo
horizontal no corredor histórico, vertical no vão
intermediário, horizontal sob a fachada do edifício
novo, vertical no corredor novo e horizontal no
grande hall.

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Como o terceiro pavimento se encontra recuado da


fachada principal, foi criada uma varanda sobre os pavimentos
históricos que traz uma nova forma do usuário se relacionar
com o entorno. Este terceiro pavimento é marcado por
pequenas salas de reunião com um corredor em forma da
vogal U. Ao criar este pavimento sobre os edifícios existentes,
a intervenção retoma o gabarito predominante do bairro de
três níveis, mas ao recuar o mesmo, preserva as fachadas
patrimoniais e a percepção do transeunte da Avenida
Ejército. A criação deste terceiro pavimento estabelece uma
continuidade com a terceira fachada preservada, que já era
formada por três níveis, evidenciando que os três edifícios
fazem parte da mesma faculdade.

Fernando Diez (2009) define esse tipo de intervenção


como uma infiltração, em que a inserção de uma arquitetura
nova modifica, por sua presença e afirmação, a forma do
usuário perceber o entorno histórico. O terceiro nível criado
sobre os edifícios preservados retoma uma característica
histórica, rememorando o gabarito consagrado do bairro e a
arquitetura dos edifícios patrimoniais, mas estabelece uma
nova forma do usuário perceber este ambiente e vivenciá-
lo, por meio da sacada que se estende sobre os edifícios
existentes, tal qual uma infiltração.

Se o terceiro pavimento já estabelece esta característica


de transformação da percepção do usuário em relação
ao entorno edificado, presente em uma infiltração, esta
característica ainda é potencializada com a criação do quarto
pavimento do edifício novo e de um grande terraço coletivo
sobre a área do espelho d’água. Este terraço coletivo amplia
a percepção do entorno e também dos próprios edifícios
históricos do terreno, que podem ser observados por ângulos
inusitados através do piso permeável deste terraço.

Além das mudanças na percepção do usuário, como


uma infiltração, o edifício novo criado no meio desta quadra
regular de um bairro deteriorado, transforma a relação
desta área com o entorno trazendo novos espaços coletivos
como o terraço e a praça interna, potencializando assim, a
apropriação desta área pela população e a criação de lugares
passíveis de serem vivenciados e que vivificam o entorno
deteriorado.

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em espaços diferenciados, com mudanças de eixos de visão


e contraste em materiais diversificados. A permeabilidade
da quadra e a criação de espaços coletivos potencializam a
apropriação desta área pela sociedade e a revitalização do
Bairro Universitário de Santiago. No entanto, as pequenas
aberturas nas fachadas e a presença da recepção nas
entradas podem inibir a entrada de transeuntes que não sejam
alunos ou professores da Faculdade de Saúde, minimizando
o impacto destes espaços coletivos no entorno.

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os vãos dos corredores variam em tamanho (2,30m e 2,80m)


e forma de acesso, uma vez que o corredor que possui vão
maior teve as antigas escadas substituídas por uma rampa,
e na forma de percepção espacial por meio da afirmação de
eixos visuais: no corredor original o eixo visual é predominante
horizontal o que é reforçado por pé-direito contínuo, e, no
corredor que sofreu modificações, o eixo predominante passa
a ser vertical, o que é sinalizado através de aberturas zenitais
e uma abertura no piso que dá acesso aos pavimentos
Figura 156
Planta corredores subterrâneos.
Fonte: Desenho da autora
Essas aberturas não se alinham às extremidades
laterais do corredor, mas possuem largura inferior,
fracionando sutilmente o eixo do corredor em dois
eixos, que criam um percurso em “zigue-zague”.

As mudanças realizadas em um dos corredores


laterais de acesso agrega ao Edifício de Usos Múltiplos
um diferencial em relação ao modo de realizar uma
intervenção contemporânea em um edifício histórico,
resgatando seu valor cultural e a vivência do lugar. A
intervenção realizada em um dos corredores citados
preservou as características arquitetônicas que
retratam o valor do edifício patrimonial como, por
exemplo, as aberturas das fachadas e a localização
das paredes e teto. Entretanto, as transformações
ocorridas, permitem uma apropriação singular do
edifício pelo usuário, uma nova experiência espacial,
condicionada por um percurso que não descartou
o corredor original. A intervenção contemporânea
não apenas preserva características preexistentes,
Figura 157
Mudanças eixos corredor.
mas acrescenta valor, cria o que é atual através de
Fonte: Redesenho da autora transformações sutis.

Os demais ambientes internos do volume preexistente


foram reconvertidos para abrigar atividades administrativas.
Esses ambientes mantém o gabarito de 3,30 metros, com
exceção da área destinada à escada, que demarca um vão de
10 metros de altura com teto translúcido, o qual desempenha
a função de piso do terraço coletivo. O teto translúcido de vidro
cria um novo dinamismo que estimula o percurso dos usuários
que estão no edifício histórico e dos que se encontram no
terraço coletivo, além de criar novas perspectivas e possibilitar
melhor iluminação às áreas internas da construção mais

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criando um piso translúcido no segundo subsolo, que, por sua


vez, possui pé-direito duplo; e a mesma abertura se repete
Figura 165 novamente no teto, dessa vez como vão aberto que se repete
Corte Maquete eletrônica que
mostra as aberturas zenitais nos próximos 6 andares, com aproximadamente 25,50 metros
do terceiro subsolo e último de altura do piso do segundo subsolo até o teto translúcido do
pavimento.
Fonte: Desenho autora
último pavimento superior.

O térreo do volume novo, disposto na área retangular


maior é dividido em três faixas tanto longitudinais quanto
transversais assimétricas, criando nove quadrantes. Nas
faixas paralelas a Avenida Ejército, identificamos uma faixa
central maior (quadrantes 2, 5 e 8), demarcada pela extensão
maior da parede em L de 9,10 m, e uma faixa menor, próxima
Figura 166 da torre de serviço de 2,30 metros no limite posterior do lote
Vãos edifício novo na área
retangular maior. (quadrantes 1, 4 e 7), e outra faixa no lado oposto, alinhado ao
Fonte: Desenho autora volume histórico de 5,50 metros (quadrantes 3, 6 e 9).

Nas faixas transversais à Avenida Ejército, a primeira

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Figura 171 - Aberturas na Parede em L e abertura zenital. O edifício esconde parcialmente a


Figura 172 - Detalhe revestimento e pequenas aberturas.
Figura 173- Imagem Quadrante 9 sua verdadeira característica estrutural
Fonte: Foto cedida UDP de seus usuários, deixando apenas
Figura 174 - Detalhe Corte CC com vigas camufladas
Fonte: Redesenho autora alguns vestígios. Além do vestígio das
pequenas aberturas na parede em L, as
grandes vigas transversais se encontram
camufladas por um forro rebaixado,
restando apenas um pequeno vestígio do
piso do terceiro pavimento no quadrante
9, que cria estranheza e curiosidade
com a mudança de altura do forro, e
permite observar a mudança da estrutura
“escondida” para a “aparente” dos demais
pavimentos.

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De forma similar, a estrutura aparente dos últimos


pavimentos, faz certa referência à arquitetura moderna, de
fachada livre, com as paredes de vedação completamente
independentes da estrutura. A estrutura não se desenvolve
em uma trama regular, e em alguns casos a parede envolve
parte da estrutura deixando-a apenas parcialmente aparente.
De um lado os pilares estão na extremidade da planta, atrás
da fachada livre envidraçada, enquanto do outro lado se
encontram recuados e a laje em balanço chegando até a outra
fachada livre envidraçada. Mas, se na arquitetura moderna a
estrutura atrás da fachada livre ficaria claramente visível, no
Edifício de Usos Múltiplos a textura vertical e recortada dos
Figura 175
Fachada Avenida Ejército do 4 ao vidros das fachadas internas impossibilita a visualização da
6 Pavimento estrutura interna.
Fonte: Foto cedida pela UDP

Os desenhos verticais das fachadas envidraçadas do


edifício novo permitem que os usuários que estão dentro do
edifício recebam luminosidade e enxerguem a área externa,
mas impedem que os transeuntes do pátio no térreo enxerguem
as áreas internas. Na fachada histórica simétrica as aberturas
dos cinco vãos verticais, de forma análoga se relacionam aos
desenhos verticais do pano de vidro do edifício novo, criando
um significado cultural e diferenciado para o edifício.

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Figura 181 A área de exposição com diferentes pés-direitos


Detalhe teto/piso translucido.
Fonte: Escritório Mathias Klotz permite comparar as fachadas, histórica e nova, a partir da
mesma perspectiva de visão. Tal comparação demonstra
um contraste entre a materialidade da fachada antiga com
a fachada contemporânea. As paredes do edifício histórico
levam a perceber uma materialidade de cor branca e opaca e
apresentam aberturas verticais, enquanto que a fachada nova
é constituída por um pano de vidro translúcido esverdeado,
que embora seja um material contrastante com aquele que
lhe faz par, propõe também uma analogia, pois apresenta
aberturas retangulares verticais e reflexos da fachada histórica
correspondente.

É nesse primeiro vão, no encontro dos edifícios histórico


e novo, que os dois espaços de permanência criados são
evidenciados e confrontados. O amplo espaço de exposição
no térreo recebe a interferência visual direta do espaço coletivo
do terraço, através do teto/piso translúcidos que vivificam o
edifício, privilegiando os espaços coletivos.

Os diferentes materiais encontrados no Edifício de Usos


Múltiplos geram continuidades entre espaços preexistentes
e novos, principalmente ao mesclar materiais distintos, mas
com cores similares e vidros transparentes. Os corredores
mais antigos de um lado mantêm as paredes lisas estruturais
pintadas de cor clara, enquanto que, do outro lado, revestem
as paredes de um material branco, com pequenos pontos
vermelhos e pretos salpicados. Os pisos do corredor
preexistente foram substituídos pelo mesmo piso do volume
novo, evitando assim descontinuidades. Os vidros, nos pisos
e tetos são transparentes, gerando espaços com grande
luminosidade e possibilitando a visão e certa interatividade.
As fachadas envidraçadas, especialmente da biblioteca, a
qual se encontra em frente à área de exposição de gabarito

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pela Avenida Ejército exigia entrada e saída unicamente por


essa avenida e um fluxo restrito, gerado pela utilização dos
espaços coletivos criados para área de exposição, terraço
coletivo e auditórios apenas por usuários do edifício, sem
trazer um grande dinamismo ou relação com moradores e
transeuntes do Bairro Universitário de Santiago, com exceção
representada por significativo aumento do fluxo de estudantes
nos espaços públicos do entorno, principalmente com a criação
da calçada expandida para pedestres na Avenida Ejército.
Essa característica veio sofrer expressiva transformação com
a criação da Biblioteca Nicanor Parra, oito anos depois, no
terreno limítrofe posterior ao lote.

BIBLIOTECA NICANOR PARRA

O terreno da Biblioteca Nicanor Parra possui formato


irregular com dois recortes no fundo do lote, totalizando uma
área de aproximadamente 1591,25 m2. Sua face oeste de
frente para a Rua Vergara mede 34,14 metros de largura; a
lateral norte, alinhada ao lote do futuro Centro de Extensão,
mede 46,43 metros de profundidade; a lateral sul mede 42,48
metros de profundidade; e na face posterior do terreno, os
dois recortes de 5,18 metros e 9,36 metros, interrompem a
Figura 190 largura de 34,09 metros, dividindo a mesma em três partes:
Dimensionamento terreno Bibliote-
ca Nicanor Parra. 9,36 e 11,03 contínuas ao lote do Edifício de Usos Múltiplos e
Fonte: Desenho autora 13,70m na extremidade sul, vizinha a um terceiro lote.

No terreno, um edifício preexistente sem valor patrimonial


foi demolido, tendo sido construído outro edifício que ocupa
toda a extensão do lote. Devido ao extenso programa que
dispõe de biblioteca, auditórios, refeitório, cafeteria, espaço

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de exposição, estacionamento, salas de aula, de estudo e


de projeção, este edifício possui total de 11 pavimentos, com
cinco subterrâneos, um térreo e cinco superiores, mantendo
a mesma quantidade de pavimentos que o Edifício de Usos
Múltiplos.

O lote irregular sugere a divisão em três retângulos: um


com frente para a Rua vergara e dimensões de 34,14 x 42,48
metros e aproximadamente 1.450,26 m2; e dois nos recortes
da região posterior do terreno, estando o primeiro alinhado
à face norte, com 9,36 x 3,95 metros e aproximadamente
36,97 m2, e o outro na sequência ao sul com 11,03 x 9,36 e
Figura 191 aproximadamente 104,02 m2. Tal divisão pode ser considerada
Terreno dividido em três partes.
Fonte: Desenho autora como uma maneira de organização funcional e estrutural.

A primeira área retangular, voltada à Rua Vergara, está


ocupada pelas principais atividades do edifício; do quinto ao
terceiro subsolos pelo estacionamento e algumas áreas de
apoio (circulação, depósito e sala de máquinas); no segundo
subsolo por estacionamento, refeitório e depósito de livros;
no primeiro subsolo, estacionamento de bicicletas, refeitório
e auditório; no térreo, área de exposição, cafeteria, área
administrativa e biblioteca; do primeiro pavimento ao quarto,
biblioteca, salas de aula e de estudo; e no último pavimento
um terraço coletivo, que costuma ser locado para pequenos
eventos, como lançamento de livros por exemplo. Com
relação às outras duas áreas retangulares, pode-se afirmar
que o primeiro recorte compreende áreas de apoio: sala de
máquinas do quinto ao terceiro subsolos, rampa no segundo
subsolo, banheiro do primeiro subsolo ao quarto pavimento

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na outra extremidade da parede. Dos lados oeste e leste da


parede de 20,00 metros outra viga apoiada em pilares divide
as áreas em 3,30 metros na extremidade e 7,5 metros ao lado
da parede de 20,00 metros, totalizando sete vãos irregulares
de, aproximadamente: 3,30 metros, 7,50 metros, 5,00 metros,
três vãos de 7,50 metros e um último de 3,30 metros.

No vão central, de 7,50 metros, na extremidade norte do


terreno, estão locadas a torre de circulação compreendida
pelo elevador e escada, com aproximadamente 4,15
metros de largura e uma área de circulação à frente com
aproximadamente 3,35 metros, sendo que duas paredes à
frente e atrás da torre de circulação se alinham às vigas da
faixa e delimitam essa área.

No sentido transversal à Rua Vergara e paralelo à


parede de 20,00 metros, cinco faixas se apresentam: duas
faixas de aproximadamente 7,50 metros na extremidade
norte; uma central de aproximadamente 5,00 metros, que se
alinha ao fim do segundo recorte do terreno; e duas faixas
de aproximadamente 8,50 metros e 5,00 metros ao sul, que
delimita a rampa de acesso e a parede contínua à mesma.
Ocupando a primeira faixa e se estendendo aproximadamente
1,50 metros na segunda faixa (alinhada ao primeiro recorte do
terreno) se encontra a torre de circulação, que se repete em
todos os pavimentos, apenas com pequenas modificações no
formato da escada.

Logo na primeira área retangular do terreno, do quinto ao


terceiro subsolo, a maior área é ocupada pelo estacionamento,
com área livre e uma malha de pilares que delimitam as
diferentes faixas paralelas e transversais, com exceção de
duas áreas: a primeira área, atrás da torre de circulação ao
leste, que está delimitada por paredes sem pilares na sua área
interna e se encontra as salas de máquinas; e a outra área
alocada na faixa central transversal, na qual se pode notar
duas paredes espessas de 0,80 metros alinhadas a primeira
e terceira viga paralela a Rua Vergara, que é formada pela
primeira parede, alinhada à Rua Vergara e é ocupada por
depósitos. O segundo subsolo mantém a torre de circulação
e a área atrás dela, agora ocupada pelo depósito de livros e
expande a área central, nas três primeiras faixas transversais
e paralelas, à frente da torre de circulação, criando a área
do refeitório com pilares em seu interior, mantendo a parede

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da parede de vedação do auditório em material parcialmente


translucido vermelho. A área do refeitório se repete, com
uma escada alinhada a frente do terreno, que dá acesso ao
refeitório do segundo subsolo e cria na faixa central próximo
a rua Vergara a área de cozinha, que por sua vez é seguida
no sentido sul, por outras áreas de cozinha e depósito de lixo
até alcançar a extremidade do terreno. Na faixa central outra
mudança ocorre, após a parede espessa que delimita o fim da
terceira faixa paralela a rua Vergara, que passa a se estender
aproximadamente 1,30 metros ao sul, um grande hall de
circulação é criado nas restantes quatro faixas paralelas, que
serve também como foyer do auditório e possuí três aberturas
zenitais em vidro translucido. A mesma forma de abertura
zenital também se repete dentro do refeitório no centro das
segundas faixas transversais e paralelas. A área restante ao
sul é ocupada por um estacionamento de bicicleta, separada
Figura 197 da área de circulação por uma parede parcialmente translucida
Hall com abertura zenital e pare-
des vermelhas. avermelhada e alinhada ao fim da parede espessa, sendo que
Fonte: site /www.udp.cl/ acessado ao norte da parede espessa, a parede que divide a área do
em 09/12/2013
Figura 198 refeitório e da torre de circulação é substituída por um pilar
Refeitório. central e um pano independente de vidro translucido.
Fonte:Foto autora dez/2012

Tanto a criação das aberturas zenitais como a


substituição das paredes por outros materiais translúcidos ou
parcialmente translúcidos criam espaços amplos e cheios de
luz, mesmo com o predomínio nesses ambientes das cores
escuras (preta, cinza e laranja) nos outros pisos, paredes e
tetos. As aberturas translucidas também criam dinamismo
entre os diferentes níveis do edifício, conectando os usuários
do térreo e subsolo visualmente, e trazendo movimento e
vida ao edifício. O material avermelhado, formado por uma
parede dupla envidraçada e tiras vermelhas verticais em seu
interior, paralelas e parcialmente inclinadas com pequenos
vãos diagonais entre elas, utilizado nas paredes do hall de
circulação, impede a visibilidade do hall aos ambientes do

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No térreo, a área atrás da torre de circulação volta a estar


alinhada à mesma, criando uma cafeteria e uma parede de
meia altura com um pilar aparente que, ao se alinhar ao fim da
parede de 20,00 metros, fica fora do centro do vão aparente
dessa área. A área entre as duas paredes espessas do vão
central é ocupada por uma recepção e uma segunda torre
de circulação com elevador e escada, que serve a biblioteca
alocada na seguinte faixa ao sul e delimitada pela parede
paralela à rampa, que passa a se estender até a primeira
faixa paralela do lote. Na extremidade sudeste do terreno, no
fim da rampa de acesso dos veículos, encontra-se alinhada à
biblioteca a área administrativa com mezanino restrito.

A primeira faixa paralela à rua Vergara, não possui nenhum


uso em toda a sua extensão, a não ser uma grande rampa de
acesso ao edifício, criando uma fachada parcialmente recuada
no térreo, que cria dinamismo, complexidade e ambivalência.
Percebe-se que além da característica histórica de manter o
alinhamento predial, o projeto gera um recuo parcial e cria
nesse recuo um espaço que mescla o espaço público com o
privado, permitindo ao usuário desfrutar da visibilidade da rua e
da visibilidade de alguns espaços internos do edifício como os
pavimentos superiores, devido à existência do teto translucido.
A rampa paralela à Rua Vergara permite uma aproximação
Figura 202
Imagem rampa de acesso Biblio-
do transeunte em um eixo parcialmente diagonal, que cria
teca. diferentes perspectivas conforme o percurso e a aproximação
Fonte:site /www.udp.cl/ acessado
em 09/12/2013
da entrada envidraçada do edifício.

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O acesso ao térreo do edifício, em um nível +1,70 em


relação ao nível da calçada externa, não pode ser visto da
rua, uma vez que no final da rampa existe uma parede de
2,08 metros de altura que esconde quase toda a entrada
envidraçada. Os vidros da fachada do térreo são altamente
reflexíveis, impedindo a visibilidade dos ambientes internos,
com exceção do vidro do teto translucido. O acesso passa a
ser descoberto conforme o transeunte percorre a rampa e o
espaço, quase desmaterializado do início, em que tudo reflete
a rua, passa a se materializar ao passar pelo teto translucido
e se aproximar da entrada. Com o pé-direito menor, a sombra
da parede criada e do edifício vai gerando transformações
no vidro, que começa a mesclar seu grau de reflexão com
a transparência, e possibilita que o usuário enxergue os
primeiros espaços internos do térreo.

Ao adentrar o edifício, o espaço antes ocupado pelo


refeitório agora se transforma em uma grande área de
exposição, as paredes somem, com exceção de parte da torre
de circulação (nos elevadores e escada) e a parede espessa do
vão central, que por sua vez delimitam o acesso ao grande hall
de circulação, como um “pátio central” do edifício e o acesso
ao edifício de Usos Múltiplos. Nessa perspectiva da entrada, a
área da biblioteca e a área administrativa estão “camufladas”
atrás de vidros que refletem o “pátio central” e a mudança
de material no espaço que dá acesso ao Edifício de Usos
Múltiplos, somada ao enquadramento deste no centro do vão
Figura 203
entre as paredes da torre de circulação e a parede espessa,
Imagem rampa de acesso Biblioteca. criam forte vínculo entre os dois edifícios e ambiguidade da
Fonte:site /www.udp.cl/ acessado
em 09/12/2013
continuidade entre eles através de um percurso em diagonal.

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A única mudança sutil entre a área de exposição (antigo


refeitório) e o “pátio central” acontece no “giro” do piso. Essa
mudança além de criar ambiguidades na percepção do hall
de circulação do primeiro subsolo abordado anteriormente,
direciona novamente o olhar para a torre de circulação. O
piso também possui dois recortes principais em vidro, de
longe um “espelho” e de perto uma “janela” que permite ao
observador “espiar” outros ambientes. Um dos recortes está
alocado na área de exposição e outro no “pátio central”, sendo
que o segundo é subtraído em mais de uma peça, com uma
pequena faixa do mesmo piso cerâmico que demarca o acesso
à Biblioteca.

Nesse espaço complexo, mais um percurso é oferecido


ao usuário, o acesso à cafeteria alocada atrás da torre de
serviço. Esse acesso, mesclado à torre de serviço à frente,
é ressaltado na criação de uma rampa que abrange quase
toda a largura da área de exposição e alcança o nível +3,00,
com um desnível de 1,30 metros em relação ao térreo, em
um corredor de 1,50 metros de largura ao lado da escada.
Para o transeunte que não observa esse pequeno acesso e
adentra ao “pátio central”, mesmo atrás de um muro/ balcão
Figura 204
Hall de entrada Biblioteca à de 2,28 metros de altura é possível ver a cafeteria, mas sem
esquerda e cafeteria à direita. ter acesso à mesma, ou mesmo compreender onde está este
Fonte:site /www.udp.cl/ acessado
em 09/12/2013 acesso.

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(mesma altura que o Edifício de Usos Múltiplos) com um


mezanino que delimita uma primeira entrada de 4,63 metros
de altura com 2,90 metros de largura, sendo que o portal de
entrada entre a Biblioteca e o Edifício de usos Múltiplos possui
Figura 206 uma altura de 5,86 metros, com um desnível de 1,10 metros
Corte esquemático, mudanças de do pé-direito, que reproduz a dimensão da viga do Edifício de
eixos visuais.
Fonte:Desenho da autora Usos Múltiplos.

As mudanças de pé-direito condicionam o olhar do


usuário em uma mudança constante de eixo horizontal e
vertical, trazendo dinamismo ao percurso. Por outro lado,
as mudanças de gabarito no percurso relacionam de forma
análoga ao percurso de acesso do Edifício de Usos Múltiplos
no corredor histórico transformado, como também a condição
de adentrar e sair pelo mesmo gabarito pequeno que ocorria
no edifício de Usos Múltiplos e se repete no percurso da
Biblioteca e entre os edifícios.

As mudanças de gabarito também evidenciam uma


hierarquia entre os espaços conforme a sua importância
coletiva. Nesse sentido, o percurso tem início em um gabarito
baixo de pouco mais de três metros no edifício histórico,
aumenta na primeira área coletiva com um pé-direito de
aproximadamente cinco metros, que se mantém no edifício
da Biblioteca, e, ao passar por um pequeno mezanino que
expande a percepção do contraste de altura pelo usuário,
chega a um pé-direito elevado de aproximadamente 19
metros que retrata o maior pátio coletivo, não apenas pela
possibilidade de atividades nele, como também por todas as

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.2 Edifício de Usos Múltiplos, Biblioteca Nicanor Parra e Centro de Extensão

fachadas internas que se abrem para o mesmo e por possuir


uma grande área com piso translucido. Depois retoma o
gabarito baixo, mas, novamente, o piso translucido permite
dobrar o gabarito e, ao mesmo tempo que de forma análoga
retrata o gabarito baixo do Ed. de Usos Múltiplos, retrata a
possibilidade de um segundo gabarito virtual.

No “pátio central”, também se nota a retomada da


configuração dos primeiros colégios, em que os ambientes
eram trabalhados ao redor de um pátio, que, por sua vez,
marcava o espaço de encontro e de permanência nos antigos
edifícios dos professores e alunos. Nesse caso, além de levar
luz e ar fresco aos ambientes, o “pátio central” da biblioteca
não apenas cria espaços coletivos e de permanência para os
usuários do edifício, mas expande essa ideia abrindo esses
espaços para os transeuntes das ruas paralelas, que podem
passar através do edifício livremente, e usufruir desse espaço
semi-público.

Outro referencial pode ser traçado com as muitas galerias


existentes no centro fundacional da cidade de Santiago,
essas se repetem nas diferentes quadras e possibilitam que
os transeuntes atravessem as quadras através delas, criando
uma intensa permeabilidade física, visual e social. De forma
similar, o térreo da Biblioteca, juntamente com o Edifício de
Usos Múltiplos, permite essa passagem através da Avenida
Ejército e Rua Vergara, possibilitando dinamismo para os
usuários do bairro e a criação de novos lugares coletivos.

Quanto aos lugares coletivos, o “pátio central” retoma


não apenas a ideia dos pátios dos colégios históricos, mas
expande para uma ideia parcial de praça urbana, o que
permite sua apropriação por diferentes pessoas e atividades.
Embora o pátio central possua dimensões diferenciadas em
relação aos outros espaços do edifício, o mesmo não parece
ter a intenção de criar uma escala monumental, de pura
contemplação, mas sim de criar espaços que possam ser
vivenciados nos diferentes percursos, materiais, percepções
espaciais e atividades, mantendo coerência com a escala do
edifício que está a servir.

Sobre a criação de espaços coletivos, o autor Manoel


Solá-Morales (2008), identifica que esses espaços hibridizam
os conceitos de público e privado, e auxiliam na criação da
imagem do social. Os espaços citados da Biblioteca Nicanor

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.2 Edifício de Usos Múltiplos, Biblioteca Nicanor Parra e Centro de Extensão

Parra e do Edifício de Usos Múltiplos, permite, em um Bairro


com poucos espaços públicos, expandir os mesmos, criando
um novo espaço que, embora de caráter privado, funciona
como um espaço público livre à sociedade; e, além de trazer
identidade social ao edifício em suas referencias históricas
e urbanas, cria a possibilidade de apropriação coletiva e a
criação de lugares em que a vida coletiva pode se recordar,
apresentar e desenvolver.

O fluxo contínuo entre o Edifício de Usos Múltiplos e a


Biblioteca Nicanor Parra, também é estabelecido nos outros
pavimentos dos edifícios, desde o segundo subsolo até o
quarto pavimento, mesmo com a diferença de meio nível entre
os dois edifícios, resolvida através de meio lance de escadas
da torre de circulação no Edifício de Usos Múltiplos. No térreo,
no outro corredor de acesso histórico do Edifício de Usos
Múltiplos, que continuava com um novo “corredor” no volume
novo do Edifício de Usos Múltiplos, o fluxo entre os dois
edifícios possibilita que o corredor seja novamente retratado,
agora no edifício da Biblioteca, em um corredor mais estreito,
Figura 207-210
parcialmente expandido ao lado da cafeteria, que mantém a
Sequência Percurso em vermelho característica do corredor, com eixo horizontal, até alcançar a
Fonte: Foto Autora Dez/2012
área de exposição na parte frontal da Biblioteca.

Esse “corredor” lateral do edifício da Biblioteca, no


entanto, vai retomar as mudanças de eixo horizontal e vertical
do “corredor” Histórico do edifício de Usos Múltiplos nos
outros pavimentos ao criar duas sequencias de piso e teto
Figura 211
Fluxos térreo entre ruas paralelas
translúcidos no meio dos corredores da biblioteca. Esses
Fonte: Desenho da autora pisos e tetos translúcidos condicionam a mudança de eixo
Figura 212 - Corredor Biblioteca
Fonte: Foto Autora Dez/2012

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maior acompanha toda a face sul do terreno e as duas faixas


transversais posteriores de largura. A parede espessa que
demarcava o limite das primeira e segunda faixa transversal
na área central desaparece e ocorre uma mudança no limite
das duas faixas, na qual a viga é deslocada aproximadamente
0,70 metros para leste. Para realizar esse deslocamento, o
arquiteto cria um pilar em forma de V no primeiro pavimento,
Figura 215
Pilares em V no 1 Pavimento
apoiado sobre a viga do térreo de 1,15 metros de altura, que
Fonte: site www.mathiasklotz.com sustenta as duas vigas do pavimento superior.
acessado em 10/12/2013

Nos outros pavimentos, sobre as duas vigas transversais,


nasce uma malha de pilares paralelos, que, recuados
aproximadamente 0,25 metros da fachada da Rua Vergara,
criam uma fachada envidraçada, interrompida apenas pela
espessura das lajes dos pavimentos. Nota-se que paralela à
fachada envidraçada foi criada uma segunda fachada, formada
por floreiras “aéreas” com pequenos braços fixos nas lajes e
um trançado de fios metálicos, que permitem o crescimento
das flores e a constituição de uma fachada verde. A fachada
verde paralela a fachada envidraçada funciona como uma
fachada de dupla pele.

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A criação dessa fachada de dupla pele possibilita conservar


a temperatura interna da biblioteca amena, sem calor ou frio
excessivo e, segundo o memorial do site do arquiteto (2010)
“a vegetação serve de filtro solar a orientação oeste”. Essa
característica, somada à criação das aberturas que permitem
ventilação e iluminação do edifício e à redução do uso de
água, possibilitou que o edifício ganhasse a certificação LEED
(qualificação desenvolvida pelo Green Building Council de
EE.UU), na categoria ouro e o prêmio internacional “Holcim”
na categoria “Acknowledgement” na América Latina.

A fachada dupla de vidro recoberto por uma capa verde


também aparece nas fachadas internas do edifício e demarca
um olhar atento às necessidades contemporâneas da
sociedade de respeitar e preservar o meio ambiente. Segundo
memorial descritivo da obra, o tipo de vegetação utilizado que
se estende no terraço coletivo cria um complexo paisagístico
que faz referência ao vale de Santiago antes da chegada dos
conquistadores (KLOTZ, 2010). Outra constatação diz respeito
à criação de uma grande área verde, não apenas para seus
usuários, mas para todos os transeuntes do bairro, intervindo
Figura 218 e transformando a paisagem em que se insere, uma vez bairro
Mauete eletrônica vegetação possui poucas praças.
Fonte: site www.mathiasklotz.com
acessado em 10/12/2013

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Nota-se que os acessos históricos do Edifício de Usos


Múltiplos, que continuam na biblioteca Nicanor Parra, separam
de forma sutil um fluxo social e diverso (usuários em geral) de
um fluxo delimitado e específico (usuários do próprio edifício).
O edifício proporciona aos usuários em geral a utilização
das áreas de uso coletivo, de exposição e circulação, e,
concomitantemente, proporciona aos professores e alunos a
utilização dos corredores laterais do edifício. Cabe salientar
que, embora tal separação esteja presente, ainda se mantém
uma relação dinâmica e interativa entre os espaços devido à
ausência de obstáculos físicos e a sutileza na separação dos
fluxos. Tal dinâmica se funde de modo emblemático na área
de exposição da Biblioteca, na qual os fluxos dos diversos
usuários se encontram, conforme imagem da permeabilidade
física da quadra (figura 211).

Figura 221
Imagem biblioteca A área da biblioteca, diferente dos outros ambientes que
Fonte:site www.udp.cl acessado
em 11/12/2013
possuem acesso livre, tem o seu acesso restrito por catracas,
impossibilitando a permeabilidade física entre essa área e os
outros ambientes do edifício. No entanto, os panos de vidro
permitem criar permeabilidade visual entre os ambientes
internos e externos à biblioteca, trazendo ambiguidade e
complexidade ao edifício.

As fachadas verdes apresentam três tamanhos de floreiras,


que estabelecem sequências distintas a cada pavimento,
ressaltando o dinamismo e movimento as fachadas. Uma vez
que as floreiras estão sustentadas por braços metálicos pretos
recuados, a estrutura fica “camuflada” atrás dos volumes de
concreto claro das floreiras, evidenciando os vãos entre estas
e criando um conjunto leve e aparentemente flutuante. Apenas
em uma fachada interna as floreiras são substituídas por uma

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da análise dos mesmos. Por não estar construído ainda, a


análise da materialidade do edifício fica prejudicada, uma vez
que não é possível saber as cores e materiais do edifício,
restando apenas algumas suposições.

CENTRO DE EXTENSÃO

O terreno do Centro de extensão está localizado ao norte


do terreno da Biblioteca Nicanor Parra. A frente do terreno é
estreita, com apenas 9,69 metros de largura, e se encontra
alinhada à Rua Vergara. A lateral sul é de 45,13 metros e está
alinhada à Biblioteca Nicanor Parra, enquanto a outra lateral,
de 44,73 metros, no lado norte do terreno abre o terreno sete
graus ao norte permitindo que a largura da face posterior do
Figura 226
terreno se amplie para 14,10 metros, totalizando uma área de
Dimensões Terreno Centro de 533,32 m2.
Extensão
Fonte: Desenho da autora

O edifício tem como objetivo expandir as áreas da


Biblioteca Nicanor Parra, criando mais dois auditórios e áreas
de exposição. As áreas de exposição propostas no Centro de
extensão, diferentemente das áreas existentes no Edifício de
Usos Múltiplos e na Biblioteca Nicanor Parra, possuem um
acesso ampliado, com um monta-cargas, que facilita o fluxo de
grandes objetos e a montagem de exposições diferenciadas.
Os auditórios também possuem novos elementos, como um
palco elevado e um piso técnico camuflado sobre o mesmo.

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Figura 231 - Planta Segundo Subsolo- Centro de Extensão, Biblioteca Nicanor Parra e Edifício de Usos Múltiplos.
Detalhe da Área de Exposição 02 no Centro de Extensão e acesso direto entre esta área e o hall de circulação da Biblioteca.
Fonte: Desenho da autora

Figura 232- Planta Primeiro Subsolo- Centro de Extensão, Biblioteca Nicanor Parra e Edifício de Usos Múltiplos. àrea de exposição 01 e 03
conectada com a área de circulação da Biblioteca.
Figura 233 - Planta Térreo Centro de Extensão - Área de Exposição 01 e 03.
Fonte: Desenho da autora

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e continua com a mesma altura da parede, que fica na frente


da porta de acesso da Biblioteca Nicanor Parra. Diferente dos
outros edifícios, o Centro de extensão não possui nenhuma
janela no edifício, mas sim uma grande parede cega.

Em uma versão anterior do projeto, o primeiro pavimento


do auditório estava deslocado para o terceiro pavimento e
a área de exposição 1 no primeiro pavimento, com um pé-
direito ampliado, interligando os terraços coletivos dos dois
edifícios. Nessa versão, o Centro de Extensão passava a ter
o mesmo gabarito que a Biblioteca Nicanor Parra, apenas
mantendo as linhas horizontais na fachada e anúncios das
atividades do Centro de Exposição na parede da fachada
frontal (fachada outdoor). Nessa versão, o projeto ganharia
Figura 248
Fachada Centro de Extensão com nos espaços internos ampliados e perderia na relação com o
os edifícios do entorno. entorno histórico.
Fonte: Imagem cedida pela UDP

As constantes conexões entre o Centro de Extensão e


a Biblioteca nos pavimentos ampliam as possibilidades de
percurso entre um edifício e outro, mas são os novos espaços
criados, de exposição e auditório, que acrescentam um ganho
a mais para os usuários e moradores do bairro na criação
de espaços coletivos. Na área de exposição do térreo da
Biblioteca, a entrada para o Centro de Extensão, no mesmo
nível da cafetaria, demarca essa nova possibilidade de acesso
e permite ampliar o espaço coletivo, criando continuidade
entre a exposição da área da biblioteca e a exposição interna

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Figura 256-3D Sala de Exposição 01 As diferentes funções que o Centro de Extensão possui
Figura 257- 3D Sala de Exposição 02
Fonte: Imagens cedidas pela UDP estão vinculadas intensamente ao edifício da Biblioteca
através dos elevadores, (único acesso aos Portadores de
Necessidades Especiais), áreas de estacionamento, cafeteria
e área de exposição da biblioteca, que desempenha o papel
de foyer de auditório. Uma vez que o bairro carece de espaços
culturais como teatros, museus, cinemas, etc., o Centro
de Extensão poderá agregar valor ao Bairro Universitário
através, por exemplo, da criação de espaços coletivos, que
podem viabilizar a apropriação e implementação cultural
pelos moradores do bairro. No entanto, o funcionamento
conjunto do Centro de Extensão com a Biblioteca, levanta
dúvidas sobre as condições de plena utilização do espaço
Figura 258
Maquete eletrônica Edifício de Usos pela população, uma vez que a faculdade costuma fechar aos
Múltiplos, Centro de Extensão e finais de semana, momento no qual a existência de espaços
Biblioteca Nicanor Parra.
Fonte: Desenho da autora culturais se faz mais necessária.

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A análise dos três edifícios limítrofes implantados na


Avenida Ejército e na Rua Vergara evidencia características
arquitetônicas e urbanas que os tornam agentes de
transformações sociais, arquitetônicas e urbanas,
desempenhando uma intervenção requalificadora no sítio
histórico outrora degradado.

Em cada edifício é possível observar diferentes


referenciais que estabelecidos com os monumentos
históricos, arquitetônicos e urbanos do sítio (edifício histórico,
praças públicas, vegetação nativa, etc.). Observa-se também
os múltiplos percursos que condicionam o olhar do usuário
a mudanças constantes nos eixos horizontais e verticais; as
novas perspectivas e formas do usuário se relacionar com o
edifício (terraço coletivo, pisos e tetos translúcidos, etc.); o
Figura 259
uso de diferentes materiais que geram contrastes, analogias
Maquete eletrônica Conexão Avenida e espaços amplamente sensitivos; sistemas estruturais e
Ejército e Rua Vergara através dos acessos que geram diversas ambiguidades; e também a
edifícios da UDP
Fonte: Desenho da autora criação de espaços coletivos.

Mas, ao observar os três edifícios juntos, percebemos que


os espaços coletivos e os fluxos entre a Avenida Ejército e Rua
Vergara, ampliam os efeitos de revalorização do sítio histórico
através de edifícios que despertam a vontade de serem
vivenciados e produzem novas formas de relacionamento com
espacialidades diferenciadas e com o próprio sítio. Ao permitir
a permeabilidade da quadra, em um Campus Urbano Aberto,
e criar pátios e terraços coletivos, os edifícios oferecem aos
usuários a possibilidade de experimentarem novas formas de
se conectar com as ruas, de se apropriar dos espaços e de

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enxergar a cidade com novas visuais, valorizando sempre a


referência ao sítio e à sua importância histórica e cultural.

Por outro lado, a criação de edifícios “abertos” ao público


apresenta complicações na relação destes com os espaços
públicos, como, por exemplo, o aumento do fluxo veicular
nas ruas gerando trânsito e poluição sonora, a pouca área de
estacionamento para os veículos, além do desafio dessas áreas
coletivas internas se expandirem para as ruas, mesclando o
ambiente externo ao ambiente interno para potencializar a
intervenção qualificadora já abordada neste trabalho.

Figura 260
Foto Área de exposição Edifício de
Usos Múltiplos Nos espaços existentes nas áreas de exposição da
Fonte: Foto autora Dez/2012 Biblioteca e no grande “pátio central”, falta uma característica
Figura 261
Pátio Coletivo Biblioteca
básica de praças e dos espaços públicos, que pode ser
Fonte: site www.udp.cl acessado em observada na comparação com a área de exposição do
09/12/2013
Edifício de Usos Múltiplos: nota-se a ausência de bancos.
Esses espaços com grande potencialidade de apropriação
e utilização coletiva parecem estar sendo tratados como
locais de passagem e de leituras rápidas de possíveis

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.2 Arquiteto Mathias Klotz / 2.2.2 Edifício de Usos Múltiplos, Biblioteca Nicanor Parra e Centro de Extensão

exposições, direcionando o usuário ao percurso constante,


enquanto a possibilidade de contemplação e descanso é
excluída e direcionada aos espaços da cafeteria, salas de
descanso e terraços coletivos. Se, por um lado o constante
movimento dos usuários cria um espaço dinâmico, por lado,
a não permanência das pessoas no mesmo, minimiza a
potencialidade da apropriação do lugar.

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme - Escritório A+R


O escritório dos arquitetos
Renzo Alvano e Pablo Riquelme:
A+R foi criado em 2003, ambos
os arquitetos se formaram na
Pontificia Universidad Católica de
Chile em 2001 e, antes de criar o
escritório, já se conheciam há mais
de 5 anos, pois haviam cursado
juntos a faculdade na década de
1990. No entanto, foi um ano antes,
em 2002, que passaram a lecionar
na Faculdade de Arquitetura na
UDP, Universidade Andrés Bello e
IUAV de Venecia.
Figura 262
Arquitetos Renzo Alvano (direita) e
Pablo Riquelme (esquerda) Com obras selecionadas nas
Bienais de Arquitetura de
Fonte: site www.flickr.com/ acessado Santiago nos anos 2004, 2006 e
2008, dentro as quais se
em 10/12/2013
destacam a Faculdade de Economia e Residência Melipilla
(2006), e a Caja de Compensacion la Araucana (2008) e
diversas publicações em revistas nacionais e internacionais,
atualmente Renzo Alvano, além de professor, é diretor desde
2009 da USE (Unidade de Serviços Externos), responsável
pelo gerenciamento dos Planos atuais de Infraestrutura da
Universidade Diego Portales.

Entre os projetos desenvolvidos pelo escritório A+R,


vários projetos como o da Faculdade de Economia, citado
anteriormente, foram realizados a partir de associações com
outros arquitetos. A faculdade de Economia foi projetada
juntamente com o arquiteto Mathias Klotz. Podem ser
encontrados também outros projetos do escritório com autoria
conjunta dos arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme com
os arquitetos Juan Sabbagh, Federico Sánchez e outros.

Como os arquitetos Alvano e Riquelme só vieram a


fundar o escritório no ano de 2003, um dos primeiros projetos a
fazer parte do repertório do escritório foi o projeto do Pavilhão
Militar em Santiago, de Pablo Riquelme com os Arquitetos
Mathias Klotz e Rafael Hev,ia no ano de 2002. Esse primeiro
projeto, construído em um amplo terreno de 2.800 m2, faz
parte de um conjunto de edifícios de um Clube de Campo de
Suboficiais.

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

Planta Baixa Subsolo

Planta Baixa Primeiro Piso

Planta Baixa Segundo Piso

Planta Baixa Terceiro Piso


Figura 263 - 266
Plantas Baixa Pavilhão Militar. O pavilhão foi projetado para alojar 216 pessoas, em
Figura 267
Foto Pavilhão Militar.
um volume retangular de 63 x 12 metros, com um pavimento
Fonte: site www.alvanoyriquelme. subterrâneo, térreo e três pavimentos superiores. O subsolo,
cl/ acessado em 19/11/2013
ocupado por depósitos e salas de máquinas, é iluminado
e ventilado através de um desnível de 0,50 metros entre o
terreno e o térreo. No planejamento proposto pelos arquitetos,
a área central do terreno passou a ser destinada a uma praça
central e os edifícios passariam a ocupar o terreno ao redor
da mesma.

Sendo assim, o pavilhão proposto se insere na margem


do terreno e tem suas fachadas trabalhadas conforme as
insolações e vistas que se pretende privilegiar (cordilheira e
parque) e negar (penitenciária). A fachada voltada ao parque
é marcada por pequenas janelas retangulares e placas de
fibrocimento pintadas, criando uma fachada dinâmica; já a
fachada oposta é marcada por paredes em diagonal que
Figura 268 direcionam o olhar do usuário para as Cordilheiras e a entrada
Fachada Pavilhão Militar com pa- do sol da manhã, mas impedem a visibilidade da penitenciária
redes em diagonal.
Fonte: site www.alvanoyriquelme. vizinha.
cl/ acessado em 19/11/2013

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

No ano de 2003, com a criação do escritório A+R, este foi


contratado para realizar o projeto da Faculdade de Direito da
Universidade Diego Portales junto com o arquiteto Mauricio
Léniz e posteriormente, com as mudanças dos arquitetos
da primeira proposta do Plano de Infraestrutura da UDP, o
escritório A+R, junto com Mathias Klotz, passou também a
projetar a Faculdade de Economia. Projetos que fazem parte
do conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales a
serem analisados neste capítulo.

Estes projetos foram publicados em revistas como


Summa, CA Colégio de Arquitectos, revista 180, entre outras.
A Faculdade de Economia foi uma das obras selecionadas
para a XV Bienal de Arquitetura de Santiago no ano de 2006.
Dentre as principais características expostas no memorial dos
autores na revista CA n.127, (ALVANO, RIQUELME, 2006
p.82) sobre a Faculdade de Direito, está a “importância dos
pátios e vazios como elementos ordenadores do projeto”, a
composição formal com tijolo na área do programa educacional
e uma estrutura leve em concreto pintado de branco “onde
se resolvem as circulações e espaços de mediação com
o exterior”. Esta obra tem uma minuciosa relação com o
entorno, ao reciclar o edifício preexistente e recuperar a
fachada contínua aos edifícios limítrofes e também devido à
disposição dos pátios e dos elementos em concreto branco,
que estabelece esta relação com as áreas públicas externas
e internas ao edifício, além de privilegiar no terraço a vista
Figura 269
Faculdade de Direito UDP para o entorno patrimonial.
Fonte: Imagem cedida pela UDP

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

Quanto à Faculdade de Economia, na escolha da obra


para a Bienal foi evidenciada a reciclagem dos edifícios
existentes, com a criação de um edifício conector, em que
no térreo se buscou liberar o terreno para a criação de um
pátio, que, por sua vez, faz conexão aos outros edifícios da
Universidade Diego Portales em terreno limítrofe. O volume
retangular retoma, na fachada de maior insolação, a disposição
de algumas janelas mescladas com placas pintadas, de
forma similar ao edifício militar. Na outra fachada é criado um
pequeno corredor em que se pode observar a Cordilheira e
Figura 270 a paisagem do entorno, evidenciando a importância dada às
Faculdade de Economia UDP visuais relacionadas ao contexto do terreno.
Fonte: Foto da autora, dez/2012

De forma paralela aos projetos dos edifícios do Primeiro


Plano de Infraestrutura da Universidade Diego Portales, foi
realizada a Residência de Melipilla entre os anos 2004 e
2005. Essa obra também foi selecionada para a XV Bienal de
Arquitetura em Santiago. Essa casa, localizada em uma colina
na área rural, segundo memorial dos arquitetos (ALVANO,
RIQUELME, 2006, p. 72), teve como “ponto de partida a sua
inserção neste contexto particular, trabalhando duas escalas
de aproximação”, a primeira escala se refere a uma leitura à
distância da casa mesclada à paisagem e a segunda escala
à relação direta da residência com o seu entorno imediato.

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

Planta Baixa Térreo

Planta Baixa Primeiro Pavimento

Planta Baixa Segundo Pavimento

Planta Baixa Terceiro Pavimento


Figura 280-283
Plantas Baixa Caja La Araucana Em 2006, no mesmo ano da XV Bienal de Santiago, foi
Figura 284 e 285 construída a Caja de Compensación La Araucana, na cidade
Foto Caja La Araucana
Fonte: site www.alvanoyriquelme. de Talca. Esta obra seria uma das selecionada para a próxima
cl/ acessado em 19/11/2013 bienal de Santiago em 2008. A obra apresenta em um mesmo
terreno três volumes distintos conectados por passarelas
aéreas, disposição que resolve o problema de diferenciar as
distintas funções que são realizadas neste edifício (educação,
saúde e administração). No entanto, para não perder a ideia
de conjunto, de que, embora com atividades distintas, podem
se relacionar, além das passarelas conectoras, foram criadas
fachadas envidraçadas com estrutura de madeira, gerando
uma continuidade visual entre os distintos ambientes. Além
disso, o edifício apresenta novamente a mescla de espaços

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 170
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

fechados e abertos, ou de uso privativo e público, que existe


nos edifícios abordados anteriormente, principalmente
através dos pátios conectores de espaços distintos entre os
edifícios.

Após Renzo Alvano assumir a direção da USE- Unidade


de Serviços Externos da Universidade Diego Portales, o
escritório A+R projetou mais três edifícios para a universidade,
sendo que dois se tratam de reciclagens (Edifício da Faculdade
de Psicologia e Edifício de Pós-Graduação de Direito) e um
se trata de um edifício novo (Aulário) ainda não executado.

Figura 286
Faculdade Psicologia
Figura 287
Faculdade Pós-graduação
Fonte: site www.alvanoyriquelme.
cl/ acessado em 19/11/2013

Figura 288
Aulário
Fonte: site www.alvanoyriquelme.
cl/ acessado em 19/11/2013

Estes edifícios, que não serão analisados neste trabalho,


preservam as características patrimoniais das mansões da
década de 1910, trazendo algumas transformações internas,
como a inserção de salas de aula com piso em declive no
edifício de Pós-Graduação de Direito. O projeto do Aulário,
na Avenida Ejército, apresenta oito níveis, sendo três
subterrâneos e cinco superiores, no entanto, o térreo proposto
para o Aulário se encontra parcialmente subterrâneo com um

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2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R

primeiro pavimento recuado e aberto à rua. Esta configuração


cria uma fachada com três pavimentos superiores coerente
com os outros edifícios do entorno e conecta os espaços
públicos internos ao edifício com os externos. No centro do
edifício do Aulário, um pequeno pátio permite a entrada de luz
natural e a disposição da torre de circulação.

A publicação Blanca Montaña, Cristobal Molina (2010,


p.110) aborda algumas características das obras de Renzo
Alvano e Pablo Riquelme, como o tratamento com relevância
das escadas, rampas e elementos estruturais na criação dos
espaços, a independência da estrutura com os fechamentos
em vidro e a forma com a qual são tratados os espaços
intermediários “por repetição e sequencia, acentuando com
sua irregularidade a presença de luzes e sombras”.

A presença constante dos pátios nas obras abordadas


neste breve histórico traz ao edifício um dinamismo marcado
pela alternância de luz e sombra e espaços fechados e
abertos, além do auxilio na diferenciação de espaços públicos
e privados. Na obra da Casa Melipilla e da Caja Araucana,
é possível observar a estrutura e os materiais à mostra, na
parede de pedra, na viga brise e na estrutura de madeira da
fachada envidraçada, assim como a forma com a qual são
tratadas com relevância as escadas da Casa Melipilla e as
rampas da Caja Araucana, inclusive com materiais opacos
contrastantes com a fachada envidraçada.

A relação com o contexto do terreno é constantemente


abordada nas obras do escritório A+R, sendo em muitos casos
a diretriz inicial e principal do projeto. Podem ser observados
dois olhares do relacionamento da obra arquitetônica e seu
entorno nas obras do escritório A+R, conforme evidenciado na
Casa Melipilla. O primeiro olhar relaciona a obra arquitetônica à
paisagem mais ampla que pode estar relacionada à paisagem
natural, no caso dos edifícios em zonas rurais, mas também
pode estar relacionada à paisagem urbana, como no caso da
Faculdade de Direito, que retoma a característica da fachada
contínua do bairro em que se insere. Já o segundo olhar
relaciona o edifício ao seu entorno imediato, que através de
materiais, elementos, estruturas, ornamentos e visuais pode
acentuar determinadas características existentes no contexto
ou negá-las, contrastando com o entorno natural, urbano ou
arquitetônico.

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Figura 289
Linha do Tempo Renzo Alvano e
Pablo Riquelme
Fonte: Desenho autora

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2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R / 2.3.1 Faculdade de Economia

No livro “Nueva Arquitectura” de 2003 foram apresentados


os projetos que seriam construídos no Primeiro Plano de
Infraestrutura da Universidade Diego Portales. Entre os
projetos citados, dois projetos se destinavam à quadra em
questão, sendo um da Faculdade de Economia e outro da
Faculdade de Humanidades. O projeto da Faculdade de
Humanidades visava construir um edifício que unisse os três
edifícios existentes com acesso pela Avenida Ejército e Rua
Grajales, no entanto, tal edifício não foi executado. Já o projeto
da Faculdade de Economia deveria estar ligado ao anterior,
através de uma praça interna coletiva, e elaborar um novo
Figura 294 edifício que unisse os dois edifícios preexistentes do terreno.
Proposta Faculdade de Humani-
dades
Embora este tenha sofrido alterações, uma segunda versão
Fonte: Livro Nueva Arquitectura, sua foi executada no ano de 2006.
2003, p.64

A primeira versão do projeto da Faculdade de Economia,


que pode ser encontrada no livro Nueva Arquitectura (2003),
foi projetada pelos arquitetos Nicolás Loi e Benny Dvorquez,
também professores da Universidade Diego Portales, enquanto
o projeto executado posteriormente foi projetado pelos
arquitetos Mathias Klotz, Renzo Alvano e Pablo Riquelme.

Embora implantado no mesmo terreno e com algumas


características similares (programa, implantação, etc), para
execução da segunda versão se utilizou outros materiais no
edifício, substituindo a madeira da primeira versão por concreto,
vidro e metal, os quais são similares aos materiais e técnicas
construtivas dos outros edifícios analisados anteriormente da
Universidade Diego Portales.

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Figura 295
Proposta Faculdade de Economia Neste trabalho iremos analisar a última versão do
Fonte: Livro Nueva Arquitectura,
2003, p.64 projeto, realizada pelos arquitetos Klotz, Alvano e Riquelme,
abordando as características presentes no projeto e no edifício
executado, pois, do projeto proposto, a execução foi separada
em duas etapas e apenas a primeira foi concluída até o
presente momento (2013). Embora não tenha sido executado
o projeto da Faculdade de Humanidades, a análise em questão
também abordará a ligação entre o terreno da Faculdade
de Economia e o lote vizinho, uma vez que foram mantidos
Figura 296 os edifícios existentes e se encontram em funcionamento,
Faculdade de Economia executa-
da existindo o fluxo contínuo entre as Faculdades e as Avenidas
Fonte: site www.mathiasklotz.com Manuel Rodriguez e Ejército.
acessado em 19/11/2013

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Figura 310 O edifício novo construído ocupa, nos subsolos, toda a área
Acessos Edifício Norte
Figura 311 livre do terreno, com exceção do local em que se encontram as
Novo Acesso criado árvores no térreo, onde foi realizado um canteiro com muro de
Edifício Norte
Fonte: Desenho da autora arrimo ao redor das mesmas. O segundo subsolo é constituído
por área de estacionamento e depósitos; o primeiro subsolo
é ocupado, no lado oeste por cozinha, refeitório e auditório
e no lado leste por salas de aula. Os demais pavimentos
construídos foram destinados às salas de aula, com exceção
do pavimento térreo que apresenta também o acréscimo de
uma praça coletiva com uma pequena estação bancária.

A disposição dos ambientes e a posição construtiva


parecem seguir uma ordem inicial de quatro vãos paralelos
Figura 312
Vãos Edifício Novo
à Avenida Manuel Rodriguez e sete vãos transversais a esta
Fonte: Desenho da autora avenida. Esta conformação estabelece uma relação análoga
com o edifício preexistente da Faculdade de Humanidades,
também da Universidade Diego Portales, que tem sua fachada
divida em sete vãos verticais e quatro níveis e que está
localizada aos fundos do terreno da Faculdade de Economia.

Nos vãos paralelos, o vão próximo à Avenida Manuel


Rodriguez é de 7,60 metros seguido por mais dois vãos de
7,20, 7,55 metros e o último é variável conforme a posição
lateral do terreno, uma vez que tal face do terreno se encontra
levemente na diagonal variando de 9,10 a 5,80 metros de
vão. Outra possível norteadora de tal divisão parece ser a
área destinada à preservação das árvores do terreno, na qual,
retirando a área em questão, o restante do terreno foi dividido
nas três faixas abordadas anteriormente (7,60, 7,20 e 7,55).

A primeira faixa paralela à Avenida Manuel Rodriguez se


expande nos subsolos e nas duas últimas faixas transversais

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de cheio e vazio que encontramos nos vidros do refeitório.


Conforme a faixa transversal em que se encontram, as
Figura 315
aberturas estão localizadas na extremidade oeste ou no centro
Hall acesso refeitório
Fonte: Foto autora dez/2012 do segundo vão paralelo.

Uma vez que podem existir diferentes posições do


transeunte no corredor (a oeste ou ao centro), o percurso do
usuário permite criar diferentes percepções na intensidade
Figura 316 da luz e traçar sequencias distintas na mudança do olhar do
Mudanças eixo visual
Fonte: Desenho da autora usuário do eixo horizontal para o eixo vertical.

Estas aberturas zenitais criam volumes marcantes no


térreo, que obrigam o transeunte do pátio coletivo localizado
no pavimento térreo a realizar um caminho em zigue-zague,
além de separar a área de descanso e um corredor lateral
de fluxo contínuo no pátio coletivo, no pavimento térreo. As
paredes do volume das aberturas zenitais servem de encosto
aos bancos alocados na sua face externa voltada ao pátio

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coletivo, enquanto que o fechamento inclinado, ora em direção


Figura 317 ao pátio coletivo, ora em direção ao corredor, que dá acesso
Abertura zenital corredor de aces-
às salas de aula, traz movimento ao conjunto e visibilidade ao
so
Fonte: Foto da autora dez/2012 subsolo apenas nas arestas mais baixas.

Figura 318
Obstáculos Aberturas zenitais Do lado oposto ao restaurante do primeiro subsolo,
Fonte: Foto da autora dez/2012
as salas de aula locadas na primeira faixa paralela a
Avenida Manuel Rodriguez, tem as suas paredes recuadas
aproximadamente 1,00 metro ao leste, dando a impressão de
deixar os pilares aparentes no corredor de acesso, assim como
os do restaurante, neste local percebe-se pilares metálicos,
com um diâmetro reduzido, que mal são percebidos pelos
transeuntes em contraste com pilares robustos de concreto
presentes no refeitório.

Se observarmos com mais atenção esses “pilares”


metálicos, perceberemos que se encontram deslocados e
independentes da viga que sustenta os vãos paralelos. Esse
deslocamento traz estranheza ao observador e questiona a
sua real função de sustentação, levantando a hipótese de
outros usos como de escoamento pluvial, uma vez que no
térreo existe uma grade contínua de escoamento sobre esse
local. A criação desses “pilares” metálicos permite não apenas

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solucionar problemas técnicos, mas parece revelar a intenção


do arquiteto de deixar aparente ao usuário algumas indicações
do funcionamento do edifício, uma vez que, além de demarcar
o ritmo dos vãos paralelos, estes criam ambiguidades para
o usuário, permitindo que o mesmo explore espacialidades
complexas e descubra as características do edifício conforme
o percorre.

As paredes das salas de aula no primeiro subsolo também


são envidraçadas, com o mesmo material branco e opaco da
biblioteca do Edifício de Usos Múltiplos. Esse tipo de material
permite a troca de luz entre os ambientes internos (salas de
Figura 319 aula) e externos (corredor), e uma visibilidade parcial, o que
Parede envidraçada salas de aula-
corredor de acesso protege o caráter intimista das salas de aula e traz movimento
Fonte: Foto da autora dez/2012 para os dois ambientes conforme a passagem dos transeuntes.

No corredor central foram inseridos bancos contínuos à


parede envidraçada do restaurante, voltados à parede opaca
das salas de aula e os pilares metálicos, que direcionam o
olhar do usuário que está assentado para este quadro dinâmico
de ambiguidades e estranhezas e para as aberturas zenitais
sobre o mesmo e ainda permite enxergar a fachada interna da
Faculdade de Economia.

O térreo do edifício construído tem a sua parte frontal


ocupada na extremidade norte pela torre de serviço e na
extremidade sul pelo acesso e recepção, enquanto o meio é
ocupado por quatro salas de aula, acessadas somente pela

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Figura 322 Essa ligação entre a escada e o volume frontal só existia


Escada metálica
Figura 323 no projeto original do segundo ao último pavimento, uma vez
Piso poroso metálico que deveria começar no mesmo nível da biblioteca, sobre
Fonte: Fotos da autora dez/2012
o pátio coletivo. Mas, ao observar o edifício construído, tal
Figura 324
plataforma existe em todos os três pavimentos superiores,
Imagem escada metálica em todos mas de menor dimensionamento, alinhada à escada em
pavimentos superiores e segundo
direção à extremidade sul, possibilitando o acesso ao volume
corredor de acesso.
Fonte: Fotos da autora dez/2012 preexistente sul e ao edifício frontal.

A área da escada e do pátio coletivo é separada por uma


parede em formato da consoante C, impedindo a visibilidade
da área por quem passa pelo primeiro corredor. O acesso
ao pátio central se dá por uma pequena entrada ao lado da
área arborizada ou pelo segundo corredor paralelo ao edifício

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frontal. O segundo corredor só é coberto pelo piso metálico


perfurado em frente à escada; após essa área o transeunte
passa para uma área descoberta e tem acesso ao pátio central
tanto visualmente quanto fisicamente. No entanto, como já
abordado anteriormente, as aberturas zenitais do primeiro
subsolo dividem esse corredor, deixando-o mais estreito e
criando um percurso dinâmico.

O pátio central é marcado pelos pilares que deveriam


servir para a construção do segundo volume e bancos. Os
pilares de concreto funcionam como pequenas “estátuas” que
demarcam essa área coletiva. Ao sul dessa área existe uma
estação bancária e uma cobertura metálica, que traz sombra
a uma parte deste pátio, permitindo a utilização de mesas de
sinuca e pingue-pongue. Os bancos retangulares de concreto
Figura 325 possuem pequenas venezianas na parede lateral, servindo de
Pátio central
Fonte: Fotos da autora dez/2012 ventilação aos ambientes subterrâneos.

Na outra extremidade da área arborizada é possível


acessar o edifício da Faculdade de Humanidades, algumas
lanchonetes e lojas de livros que estão locadas no térreo
deste edifício. Algumas lojas permitem duplo acesso por
um corredor próximo dessa entrada e pela continuidade do
primeiro corredor de acesso ao lado do edifício da Faculdade
de Humanidades. Esse dinamismo de fluxos oferece uma
grande diversidade de percursos entre os diferentes espaços
coletivos dos dois edifícios.

Os usos existentes no edifício da Faculdade de


Humanidades, como também no pátio coletivo e estação
bancária no edifício da Faculdade de Economia, evidenciam
uma das diretrizes do Plano de Infraestrutura da Universidade
Diego Portales, que é a criação de espaços coletivos no térreo,
a fim de aumentar os espaços públicos para o bairro e criar
permeabilidade física das quadras. Esses aspectos podem ser
evidenciados na proposta do CEUGE para a criação de um

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Campus Urbano Aberto no Bairro Universitário de Santiago:

Potenciar la mayor conectibilidad del espacio público y


valorizando la trama reticular peatonal penetrar las manzanas
y edificando en densidad (alto índice de contractibilidad).
Potenciando la interacción social y la vitalidad y apropiación
del barrio por sus usuarios por medio de su equipamiento e
señalética. Rescatando el valor patrimonial y ambiental y la
significación e identidad del Barrio universitario. (MUNIZAGA,
2006, p.67)

Tal proposta presente na Faculdade de Economia,


juntamente com a faculdade vizinha, permite que os usuários
“penetrem a quadra”, conforme a proposta do CEUGE e
através da criação do pátio coletivo, de lanchonetes, livraria,
xerox e estação bancária, haja aumento da possibilidade de
apropriação do local pelos usuários do bairro, sejam eles
estudantes, ou não.
Figura 326
Planta baixa Fluxos entre ruas
Fonte: Desenho da autora

Sobre a conectividade dos espaços públicos presente


na proposta do CEUGE, Guerra (2012) irá abordar o termo
Quadra Aberta, como a “permeabilidade do solo, que
possibilita a integração de edificações privadas com o espaço
público que os envolve”. O espaço da universidade (privado)
se abre para o público e permite criar espaços coletivos.
No entanto, o termo abordado por Guerra (2012) não pode

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ser completamente empregado nesse caso, pois embora os


corredores, o pátio coletivo e os usos públicos dentro das áreas
das faculdades ampliem os espaços públicos do bairro, com
livre acesso aos diferentes usuários, as entradas dos edifícios
são marcadas por recepções e portas que se encontram, às
vezes, parcialmente fechadas, o que limita a livre integração
entre as edificações privadas com os espaços públicos das
avenidas que demarca o espaço público envolvente do local.

Figura 327
Acesso Av. Manuel Rodriguez
Faculdade Economia Os pavimentos superiores do edifício construído são
Fonte: Foto da autora Dez/2012 constituídos apenas pelo volume frontal, na primeira faixa
Figura 328 paralela à Avenida Manuel Rodriguez. Nesses níveis foi
Maquete eletrônica- fluxo quadra
Fonte: Desenho da autora
acrescentado mais uma faixa paralela de dois metros, criando
uma sacada contínua ao edifício, que serve de corredor
de acesso às salas de aula. Segundo os autores, essa
configuração protege a acústica das salas de aula do ruído
dos automóveis e estabelece uma relação de movimento do
edifício com a avenida.

La circulación ha sido resuelta sobre la fachada oriente,


de modo que los automovilistas perciban un edificio con
movimiento de gente en los corredores, y eso permitió a la vez
mejorar acústicamente el aislamiento de las aulas. (KLOTZ,
p.104)

Uma vez que o corredor de acesso às salas de aula está


voltado à fachada frontal e ao Sol da manhã, foi criada uma
parede de vidro, que alcança toda a dimensão do corredor,
deixando apenas as extremidades norte e sul livres com guarda-

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Outro aspecto que pode ser observado em relação


ao corredor que dá acesso às salas de aula, é que
sua posição, desalinhada dos edifícios preexistentes,
possibilita a maior visibilidade pelos usuários da paisagem
ao redor, tanto dos edifícios preexistentes como de toda
a Avenida Manuel Rodriguez. Essa disposição também
cria certa ambiguidade na implantação do edifício, que,
ao mesmo tempo em que preserva o alinhamento dos
edifícios preexistentes no térreo, se difere nos pavimentos
superiores, trazendo complexidade ao edifício. No projeto
Figura 332 original, ao se criar o terraço coletivo sobre este volume,
Corte AA
Figura 333 os arquitetos evidenciaram a intenção de se enxergar a
Corte HH cordilheira, mesmo que essa área ainda não tenha sido
Fonte: Redesenho da autora
Figura 334 executada. Os corredores de acesso às salas de aula
Foto corredor salas de aula criam esse espaço coletivo de mirante da paisagem
Fonte: site www.alvanoyriquelme.cl/ acessa-
do em 11/12/2013 ao redor e, preservando o gabarito de três pavimentos
do bairro, criam novas formas do usuário vivenciar a
paisagem.

Figura 335
Edifício e entorno
Fonte: site www.mathiasklotz.com
acessado em 11/12/2013

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adentra essa área a enxergar o reflexo da Faculdade vizinha.


Estabelecendo esta ligação do usuário da Faculdade de
Economia com os usuários da Faculdade de Saúde que estão
utilizando o terraço coletivo.

Figura 339
Reflexo Faculdade de Saúde A fachada voltada aos fundos do terreno é composta por
Figura 340
Reflexo Fac. Saúde ao adentrar uma série de desenhos verticais, de dimensões diversificadas,
sanitários pintados com as cores branca, preta e bege, e alguns vidros
Fonte: Fotos da autora Dez/2012
verticais reflexivos. Os vidros verticais formam pequenas
janelas para as salas de aula e criam uma ventilação cruzada
com as janelas voltadas ao corredor de acesso. Essa solução
permite quebrar o volume fechado das paredes de sala de
aula, levar luz e ventilação para as salas e trazer complexidade
à fachada. O usuário percebe a fachada como uma estrutura
única com texturas, a qual esconde as janelas que passam
quase que imperceptivelmente pela vista do usuário uma
vez que ficam mescladas com o acabamento da parede. Os
vidros refletem a paisagem do entorno e criam uma fachada
em movimento, especialmente mais em função da alternância
de cores, tamanho e das mudanças na paisagem, do que
em função do movimento dos transeuntes e iluminação do
corredor de acesso.
Figura 341
Fachada Fundos com desenhos
verticais.
Fonte: site www.mathiasklotz.com
acessado em 11/12/2013

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As fachadas dos edifícios preexistentes, que não tinham


valor histórico, e a fachada do edifício novo foram revestidas
com um material perfurado metálico para criar unidade entre
os edifícios. Essa solução, segundo os arquitetos, permite criar
volumes opacos externamente e transparentes internamente,
resolvendo tecnicamente e esteticamente o problema.

Los edificios preexistentes han sido revestidos de una


piel compuesta de láminas de acero corrugado con
microperforaciones que permiten dar un efecto de opacidad al
exterior y de transparencia al interior. Esto se ha implementado
como solución económica a la vez que técnica al problema de
la uniformidad exterior. (KLOTZ, p. 104)

Figura 342 Se observarmos a técnica construtiva empregada nesta


Detalhe revestimento edifícios pre-
obra, o volume novo é, na sua maioria, composto por pilares
existentes
Figura 343 e vigas de concreto, sendo que os pilares parecem respeitar
Transparência revestimento metá- uma ordem pré-estabelecida, mas podem sofrer mudanças
lico perfurado.
Fonte: Foto da autora Dez/2012 aumentando e diminuindo vãos conforme observado nos
subsolos. Já a estrutura metálica foi amplamente utilizada
nas coberturas, tanto do edifício novo quanto do volume da
escada anexa e da área da estação bancária. O material
metálico também pode ser encontrado no piso da escada
e plataformas que conectam a escada ao edifício novo, no
revestimento dos edifícios preexistentes e nos detalhes de
guarda-corpo e esquadria.

Outro material amplamente utilizado na Faculdade de


Economia é o vidro. Este é encontrado predominantemente
no formato retangular, podendo estar totalmente transparente,
opaco ou reflexivo. As características do vidro e a alternância
de opacidade e transparência, permitiram criar espaços
dinâmicos que trazem diferentes formas do usuário perceber
a luz e a paisagem que o envolve.

Além dos materiais citados anteriormente, podemos


encontrar ainda alguns detalhes criados na materialidade do
edifício. O piso do térreo possui alguns desenhos retangulares
dispersos; esses retângulos são da mesma largura dos bancos
e volumes das aberturas zenitais, e por estarem alinhados aos
mesmos, criam um falso efeito de sombra.

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Como intervenção, a relação com o contexto do entorno e


do bairro histórico é constantemente empregada, principalmente
através da preservação de algumas características históricas
e a criação de analogias. As características históricas da
trama urbana com o alinhamento predial foram preservadas,
assim como o baixo gabarito do bairro. Na relação do edifício
novo com o contexto, podemos evidenciar a repetição da
proporção dos edifícios preexistentes do entorno, na malha
7x4 e no número de pavimentos, e a possibilidade de enxergar
a paisagem e os edifícios da Universidade Diego Portales na
rua vizinha.

A inserção da Faculdade de Economia não apenas


estabelece relações com o contexto histórico, mas traz um
novo significado para o local, criando novas formas do usuário
interagir com o meio urbano e arquitetônico. Esse aspecto pode
ser evidenciado principalmente na criação da permeabilidade
Figura 344
Imagem desenhos no piso do pátio da quadra; na criação de novos espaços coletivos dentro do
Figura 345 e 346 espaço privado da universidade; na criação de novas visuais
Vãos Edifício Novo e
Fachada edifício vizinho com a e espaços complexos, que mesclam efeitos de transparência,
mesma proporção de 7 x 4 conexão entre áreas distintas, movimento e ambiguidades.
Fonte: Desenho e Fotos da autora

Dos espaços existentes no edifício da Faculdade de


Economia, os corredores de acesso às salas de aula, ao
restaurante, aos banheiros, ao pátio coletivo e ao edifício
vizinho, parecem ser os ambientes com um maior número de
detalhes, materiais, visuais e ambiguidades, demonstrando
essa importância ao uso coletivo do edifício e do usuário

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vivenciar o edifício enquanto o percorre.

Alguns referenciais podem ser estabelecidos na análise


desse edifício em relação à cidade de Santiago e aos momentos/
tipos arquitetônicos. Em relação à criação da permeabilidade
da quadra, a proposta presente na quadra da Faculdade de
Economia se relaciona com as galerias existentes no centro
fundacional de Santiago, galerias históricas que trazem
dinamismo ao centro da cidade e criam quadras não apenas
permeáveis mais extremamente dinâmicas e vivas em seu
interior.
Figura 347
Galeria comercial no centro funda-
cional de Santiago do Chile
Fonte: Foto da autora Dez/2012

A criação de uma planta em formato da consoante C


com um pátio central nos traz a referência dos antigos pátios
dos primeiros colégios. Essa conformação também pode
ser encontrada em algumas universidades mais antigas no
triângulo fundacional de Santiago, mas, se historicamente
estes pátios eram voltados apenas para os estudantes e
professores, na Faculdade de Economia o pátio passa a ter
um caráter coletivo, aberto não apenas para os usuários do
edifício, mas para todos os usuários do bairro. O pátio coletivo
da Faculdade de Economia faz referência a uma praça urbana,
com os seus bancos, árvores e diferentes usos.

Outra referência que pode ser encontrada nessa análise


é a criação de novas espacialidades e novos visuais, além
da relação do edifico com o contexto. Em algumas obras
do arquiteto Klotz, do escritório A+R e de outros arquitetos
representativos dessa geração de arquitetos contemporâneos
chilenos, a relação com o entorno, com a paisagem; a
valorização da forma “moderna” e dos materiais; e também

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a criação de espaços que valorizam a percepção corporal


dos espaços, segundo Horacio Torrent (2010) parecem ser
questões chaves desta arquitetura.

Nesse sentido, a Faculdade de Economia, estabelece,


com formas aparentemente rígidas, uma relação complexa
com o contexto, por meio de novos visuais e analogias; e
também estabelece espacialidades e significados complexos
que só podem ser descobertos enquanto o usuário percorre
o edifício em sua parte interna. Cada material utilizado
parece unir a função técnica, estética e significativa, como
podemos identificar nas fachadas envidraçadas, na estrutura
ora aparente ora escondida, nos desenhos do piso, nos
“pilares metálicos”, na escolha cuidadosa da localização,
na propriedade dos materiais empregados e na relação
constantemente estabelecida entre o edifício e o usuário.

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A Faculdade de Direito foi projetada em 2003 e inaugurada


em 2006. Implanta-se em lote de esquina entre a Avenida
República e a Rua Salvador Sanfuentes. O terreno possui
formato irregular, assemelhando-se a uma figura geométrica
retangular, totalizando uma área aproximada de 3.240 m2.
Apresenta 49,83 metros na face leste, voltada para a Avenida
República, 67,21metros na face norte voltada a Rua Salvador
Sanfuentes, 47,36 metros na face oeste e 66,90 metros na
face sul, alinhados aos limites vizinhos.

Figura 351
Terreno Faculdade de Direito
Fonte: Desenho da autora

Neste terreno se encontra um volume preexistente de


1985 em formato da consoante F. Este acompanha a esquina
e têm dois acessos voltados para Avenida República e um
acesso voltado para a Rua Salvador Sanfuentes, ocupando
uma área de aproximadamente 1.245 m2 do terreno e
deixando uma área livre no recuo frontal da Avenida República
de aproximadamente 250 m2 e 1.745m2 na área posterior do
terreno.

Uma vez que a estrutura preexistente não possui valor


patrimonial, suas características foram modificadas na
intervenção, substituindo, dentre outras ações, o telhado
inclinado por uma volumetria retangular. Essas mudanças
trouxeram ao bairro um edifício com uma fisionomia
completamente nova, passível de representar a Universidade
Diego Portales na Avenida República, uma das avenidas mais

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2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.3 Arquitetos Renzo Alvano e Pablo Riquelme- Escritório A+R / 2.3.2 Faculdade de Direito

conhecidas pelo elevado número de universidades presentes.

Figura 352
Terreno Faculdade de Direito
Fonte: Desenho da autora

Figura 353
Edifício Preexistente
Figura 354
Faculdade de Direito
Fonte: Imagens cedidas pelo USE

Na intervenção se optou pela utilização da área


preexistente e pelo acrescéscimo de novas áreas que dessem
conta do extenso programa de salas de aula, biblioteca,
refeitório, área administrativa, auditório e estacionamento.
O edifício preexistente foi reabilitado para salas de aula,
enquanto os novos usos como a biblioteca foram alocados
em um novo nível, criado sobre o edifício preexistente. Para
a área administrativa e refeitório foi acrescentada uma área
na face sul do terreno, conformando uma planta que soma
o formato da consoante F com a consoante H, criando dois
pátios internos. No entanto, um pátio fica completamente
delimitado pelos volumes do edifício, enquanto o segundo tem
a face oeste aberta ao limite vizinho. Foi criado um subsolo,

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no qual se encontra o auditório sob o primeiro pátio fechado


e o estacionamento sob o segundo pátio aberto e volume do
refeitório e administração.

O volume preexistente tem seu lado maior alinhado ao


perfil de esquina do terreno com uma largura aproximada de
10 metros. A face voltada para a Rua Salvador Sanfuentes é
dividida em oito vãos irregulares, marcada por uma alternância
de dois vãos maiores e um menor, sendo que os dois vãos
menores são ocupados por escadas de acesso aos pavimentos
superiores e o primeiro vão menor à oeste também apresenta
um acesso à rua.
Figura 355
Planta edifício preexistente
Fonte: Imagens cedidas pelo USE

A face voltada para a Avenida República se encontra


recuada aproximadamente 5,00 metros e também apresenta
oito vãos irregulares, com acesso para a rua nos dois
penúltimos vãos norte e sul. Sendo que os dois últimos vãos
ao sul do volume voltado para a Avenida República estão
expandidos aproximadamente 5,00 metros a oeste. Alinhado a
um dos vãos centrais do volume voltado para a Rua Salvador
Sanfuentes, a oeste e adentrando apenas 3 metros no vão
maior ao lado, um segundo volume retangular se estende
aproximadamente 17 metros ao sul marcado em cinco vãos
menores.

O edifício preexistente é marcado por um longínquo


telhado de duas águas, no qual pequenos frontões demarcam
as três entradas. A fachada contém um ritmo constante que
alterna a parede em tijolo aparente e os vãos com vidro

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e vigas pintadas de branco. Tal ritmo só é rompido nas


aberturas das entradas do edifício, que além do frontão, são
marcadas por dois pilares laterais projetados na fachada até
a cobertura, escada e porta monumental com meia rosácea
sobre a mesma. No desnível do térreo e da calçada, uma
pequena parede branca marca a base do edifício. Segundo
os arquitetos o edifício se enquadra no tipo arquitetônico
historicista e faz referência ao período do final do século XVIII.

El edifício es de 1985 y se trata de uma estrutura de dos


pisos de hormigón armado y vigas de acero. Su tratamiento
de fachadas hacia las calles República y Salvador Sanfuentes
es homogéneo, y resulta de un lenguaje arquitectónico
Figura 356
alegórico a las construcciones de finales de siglo XVIII. Sus
Vista edifício preexistente revestimientos son en chapa de ladrillo y hormigón empastado
Fonte: Imagens cedidas pelo USE
pintado blanco. (A+R, 2003, p.49)

Na intervenção, a entrada de pedestre que existia


na Rua Salvador Sanfuentes foi fechada e se criou uma
entrada de veículos na extremidade oeste que dá acesso ao
estacionamento do subsolo. Para os pedestres, o subsolo é
acessado da torre de circulação que se encontra ao norte

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do edifício minimiza a ligação entre as duas ruas, através do


edifício, e impede a permeabilidade da quadra. O edifício,
então, ficou com apenas um acesso, mesmo com o livre
acesso do público, o refeitório e pátios internos passaram a ter
o uso prioritário apenas dos usuários do edifício, minimizando
a contribuição deste edifício para o Bairro.
Figura 361
Elevação Rua Salvador Sanfuen-
tes
Figura 362
Elevação Avenida República
Fonte: Redesenho da autora

Segundo Munizaga (2006), autor da proposta da criação


de um Campus Urbano Aberto, no Bairro Universitário de
Santiago a criação de espaços públicos e a permeabilidade
de quadras são grandes possibilidades na implementação
de bairros com maior apropriação da sociedade. Na medida
em que a intervenção fecha os outros acessos ao edifício e
direciona o transeunte para apenas uma entrada, a apropriação
Figura 363 dos espaços internos como espaços da sociedade e parte de
Corredores preexistentes e novos. um mesmo bairro, que mescla espaços públicos e privados,
Fonte: Desenho da autora
como um Campus Urbano Aberto, é minimizada.

A área do corredor interno do volume ao norte e os


corredores preexistentes do volume central tiveram seus pilares
originais substituídos por uma série de pilares quadrados de
0,20 x 0,20 metros, dispersos em vãos irregulares, de modo
que um dos corredores a oeste do volume central foi retirado
e substituído pela linha de pilares quadrados que alcançam
todos os pavimentos do edifício.

O corredor ao leste do volume central foi expandido ao


sul, alcançando a outra extremidade do terreno e criando um
circuito completo ao redor do primeiro pátio. No volume ao sul
do terreno, foi criado um corredor na parte norte do edifício
preexistente, dando continuidade ao corredor de entrada, que
leva o usuário a enxergar durante o seu percurso os dois pátios,
torre de circulação e refeitório ao fim do corredor. A mesma

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irregularidade dos vãos entre os pilares quadrados demarca


a nova fachada ao sul do terreno, mantendo a alternância de
cheio e vazado da fachada histórica.

Neste novo edifício, a intervenção comparece como uma


operação análoga, entre a estrutura nova e a histórica, na
qual as similaridades da continuidade do corredor do edifício
histórico, recriado no edifício novo e trazendo continuidade
e alternância de cheio e vazio da fachada histórica, são
retomadas na fachada ao sul do edifício novo. No entanto,
também comparecem algumas divergências, que expandem
a operação para além de uma imitação das características
originais, construindo algo novo.

As aberturas da fachada nova, por mais que mantenham


a alternância de cheio e vazio e o vazio continuo de 0,50
metros, apresentam os cheios de forma irregular, alternando
Figura 364 pelo menos quatro tamanhos distintos, mantendo aparente um
Corredor novo que dá continuidade
tratamento similar, mas invertido, dos novos pilares quadrados
ao corredor histórico de acesso
Fonte: Foto da autora Dez/2012 que demarcam os pátios.

O novo corredor criado, diferente do histórico, tem um


dos seus lados abertos, permitindo aos usuários um percurso
múltiplo, que relaciona o corredor com os principais espaços
coletivos do edifício. Foi criada uma linha de pilares circulares
internos ao corredor, que divide o corredor de 3,65 metros em
dois vãos de 2,32 e 1,32. Os pilares circulares parecem fazer

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referência aos pilares circulares que foram acrescentados


no recuo frontal da Avenida República e, assim, a uma
Figura 365
Entrada Faculdade de Direito continuidade não apenas do corredor histórico e novo, mas
Fonte: Foto da Autora Dez/2012 do corredor público externo ao corredor “público” interno.

A linha de pilares circulares no recuo frontal retoma a


criação de uma loggia 1no nível da calçada, característica
amplamente presente em edifícios históricos do centro de
Santiago, como na Praça das Armas. Nas loggias dos edifícios
históricos, o espaço privado se torna público e é criada uma
calçada coberta que dá acesso direto ao edifício e ao espaço
público. Por outro lado, na loggia de pé-direito duplo da
Faculdade de Direito, esta área só é parcialmente livre, sendo
que uma parte dela se encontra ocupada pela rampa e escada
de acesso, permitindo que o transeunte a percorra em toda sua
extensão apenas se subir a rampa e posteriormente descer
Figura 366 as escadas, passando pela entrada do edifício e enxergando,
Loggia Avenida República
Fonte: Imagem cedida pela UDP mesmo que parcialmente, o seu interior.

Os pátios existentes no térreo tiveram na intervenção


os seus perímetros completamente consolidados, o que,
segundo o memorial dos arquitetos (2003, p.53), era um dos
objetivos da intervenção, pois tanto os volumes existentes e
novos delimitam este perímetro. O pátio também foi colocado
1-Loggia é um tipo arquitetônico que apresenta um dos seus lados abertos, esse termo será mais
detalhado no capítulo três.

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em um nível inferior, com a sua borda claramente delimitada


e nos pátios são encontradas grandes floreiras que servem
Figura 367
também de bancos. E no segundo pátio a oeste, há, no recuo,
Imagem pátio fundos
Fonte: Foto da autora Dez/2012 a presença de uma floreira contínua ao muro limítrofe.

Estas floreiras retomam a presença da vegetação


existente no terreno antes da intervenção, embora as diretrizes
propostas para o Plano de Infraestrutura, no texto de Abuauad
(2003, p.25), citem que “nos casos em que se encontram neles
espécies vegetais de valor (como na Escola de Direito) elas
se manteriam”. A vegetação presente nos pátios é de baixa
Figura 368
Imagem pátio fundos antes estatura e não cria sombra para o usuário do pátio, situação
intervenção distinta da vegetação alta que existia na região do pátio a
Fonte: site www.alvanoyriquelme.cl/
acessado em 11/12/2013 oeste antes da intervenção.

Para minimizar o impacto solar no pátio e deixa-lo mais


agradável para os usuários, foi criada, no primeiro pátio, uma

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A configuração do segundo pátio de um lado aberto, as


sacadas nos pavimentos superiores do edifício novo voltados
à face oeste do terreno e os corredores no centro abertos,
conduzem o olhar do usuário que percorre a Faculdade de
Direito ao conjunto histórico de residências do terreno vizinho.
Figura 371 Este conjunto se trata, segundo levantamento realizado
Vista sacada fundos do conjunto do livro Santiago Sur-Poniente (2004), de um tipo “cité” na
citié vizinho
Fonte: Foto da autora Dez/2012 qual um conjunto de casas é acessado por uma mesma rua
Figura 372 interna à quadra, e, no caso do conjunto vizinho à Faculdade
Hall de passagem com pé-direito de Direito, as residências apresentam características muito
triplo
Fonte: Foto da autora Dez/2012 específicas, coloridas, com alternância de vãos verticais.

O pé-direito triplo que separa a torre de circulação


do edifício preexistente da região central entre os dois
pátios é um dos principais conectores entre os mesmos.
Além de estabelecer para o usuário que o percorre uma
mudança de eixo de visão constante entre vertical (pátio
01), horizontal (corredor aéreo), vertical (vão) e vertical
pleno (pátio 02), este hall de passagem com pé-direito
triplo, enquadra o edifício histórico vizinho e conduz o
transeunte a contemplar todo o conjunto em uma posição
central.

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Este corredor superior tem as suas extremidades vazadas,


enquadrando o conjunto histórico vizinho e criando uma sacada
de um lado, e possibilitando a visão da Avenida República do
outro lado, com os seus casarões e o pé-direito triplo do hall
externo de entrada do edifício. Além disso, aberturas zenitais
Figura 377 circulares iluminam o encontro do corredor com o volume ao
Corredor com vista ao conjunto de
citié no final do mesmo. leste, e iluminam o outro corredor privativo que dá acesso a
Figura 378 biblioteca, recriando pequenos holofotes, que alternam sua
Vista aberturas zenitais circulares
Fonte: Foto da autora Dez/2012 iluminação no sentido leste-oeste.

Ao construir o segundo pavimento, o edifício da faculdade


de Economia retoma o gabarito do Bairro Universitário de
Santiago e também de alguns edifícios históricos do entorno,
como a mansão que se encontra na esquina da frente na Avenida
República (que em 2012 foi restaurada para a Faculdade de
Direito) e o conjunto de residências no lote vizinho do fundo. O
usuário passa a interagir com este entorno de forma diferente,
Figura 379
através das novas visuais criadas a partir das aberturas dos
Vista Faculdade de Direito com corredores e também da fachada envidraçada do segundo
três pavimentos
Figura 380
pavimento, que transforma a alternância de cheios e vazios
Edifício histórico locado na esquina verticais em um grande vazio horizontal, como um mirante do
frontal à Faculdade de Direito
Fonte: Foto da autora Dez/2012
entorno.

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Neste edifício, o terraço coletivo tem


dimensões mínimas e está voltado para a área
posterior do terreno, mas a fachada envidraçada
na projeção do edifício ao norte e a leste do
terreno expande este terraço para outros
espaços de permanência que levam o usuário a
enxergar todo o entorno do terreno. A existência
de dois pátios com uma área elevada parece
compensar a inexistência de um grande terraço
coletivo, já que a criação de espaços coletivos
para o bairro se dá prioritariamente no térreo.

As fachadas externas mesclam aberturas


verticais com cheios e vazios de cores
contrastantes, enquanto nas fachadas internas
há a predominância também da alternância
de aberturas verticais com cheios e vazios,
mas com a predominância da cor branca. As
Figura 381
fachadas externas são marcadas pelos vãos
Vista biblioteca do entorno preexistentes, com um ritmo constante de
Fonte: Foto cedida UDP
cheio e vazios que continua nos dois primeiros
Figura 382
Vãos verticais internos níveis. Por outro lado, as fachadas internas são
Fonte: Foto cedida UDP marcadas pela estrutura nova criada dos pilares
Figura 383
Vista Pátio fundos com vãos verticais e desenhos verticais quadrados e aberturas verticais, com vãos
nos pisos irregulares que alternam um vão constante com
Fonte: Foto site www.alvanoyriquelme.cl acessado em
12/12/2013 cheios diversificados, ou um cheio constante
com vãos diversificados e mudam conforme o
pavimento que ocupam.

A predominância dos vãos verticais se


relaciona com os edifícios históricos do entorno
e a característica do bairro. Este jogo de formas
geométricas retangulares extrapola as fachadas
e formam um piso com desenhos retangulares
salpicados. As formas retangulares de tamanhos
diversificados que não parecem servir uma
ordem pré-estabelecida, trazem dinamismo
e complexidade ao edifício, que ficam ainda
mais intensos conforme a orientação solar e as
sombras que as aberturas criam nos pisos.

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2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad


O arquiteto Ricardo Abuauad nasceu em
1968 e com 26 anos obteve seu título de arquiteto
na Pontíficia Universidad Católica de Chile no ano
de 1994. Neste mesmo ano recebeu o prêmio
Juan Mackenna Cerda da Pontificia Universidad
Católica de Chile (1994), por ser o formando de
maior destaque da universidade naquele ano.
Nos anos seguintes entre 1995 e 1996 realizou
mestrado em Gestão Urbana na École Nationale
des Ponts et Chaussées em Paris.
Figura 384
Ricardo Abuauad Após o término no mestrado, retornou ao Chile aonde
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/
acessado em 18/11/2013 a partir de 1997 trabalhou como consultor de vários planos
urbanos e projetos de arquitetura, dentre os quais o plano para
o Bairro Universitário de Santiago e o Plano de Infraestrutura
da Universidade Diego Portales. Neste período, o arquiteto
se associou aos arquitetos Maria Paz Zaldívar e Francisco
Donoso, formando o escritório Abuauad, Donoso e Zaldívar
Arquitectos Asociados, que realizaram numerosos projetos
urbanos e arquitetônicos.

No título de mestrado de Ricardo Abuauad “O bonde em


Rocade ao sul de Paris e o espaço público” podemos identificar
uma das principais temáticas que estarão presentes nos seus
trabalhos: a valorização do espaço público. Esta preocupação
foi estendida em 1998 à cidade de Santiago quando Abuauad
se responsabilizou pela investigação “Os investimentos para
Figura 385 melhorar os deslocamentos urbanos e seu impacto sobre o
Eixo Apoquinho em Las Condes sistema de espaços públicos em Santiago”.
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/
acessado em 18/11/2013
Em 1999 Abuauad participou em uma
publicação sobre “Análises e Proporções
de políticas de investimento para favorecer
aos pedestres” e participou da criação de
diversos planos de desenvolvimento das
cidades de Penco y Tomé, Constitución
y Pencahue, Valle del Alto Aconcagua e
Concón. No ano de 2000, juntamente com
a remodelação da Avenida 5 de Abril em
Maipú e a criação de um eixo de passeio
em Apoquinho em Las Condes, Abuauad
recebeu o prêmio da AFCI (Associação
chileno-francesa de profissionais)

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 219
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

coroando suas contribuições para a área de arquitetura e


urbanismo.

Paralelo a estes primeiros anos de estudos na área urbana,


Abuauad também realizou alguns projetos arquitetônicos,
entre os quais se destaca a Casa del Sendero, que foi
publicada no ano de 1995 na Revista Vivienda y Decoración
del Mercurio e na revista CA del Colegio de Arquitectos. Essa
obra, projetada junto com o arquiteto Francisco Donoso da
Pontífica Universidad Católica, construída entre os anos
Figura 386 - 388
Plantas Baixa Casa del Sendero
de 1994 e 1995, se encontra localizada em Sendero del
Fonte: site www.franciscodonoso.cl Mirador em um terreno de 2.100 m2, com uma superfície total
acessado em 18/11/2013 construída de 433m2 .

Planta Baixa Térreo (acesso)

Planta Baixa Primeiro Pavimento

Planta Baixa Subsolo


Figura 389 O terreno da Casa Sendero del Mirador apresentava,
Imagem casa del Sendero
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/ segundo o Memorial Descritivo dos autores, “uma frente
acessado em 18/11/2013 mínima para a rua, um forte declive e a presença de uma
Figura 390
Imagem casa del Sendero quebra no terreno de grandes dimensões que cruza todo o
Fonte: site www.franciscodonoso.cl sítio”1. Essas características vieram a influenciar grandemente
acessado em 18/11/2013
1 - Memorial Projeto no site de Francisco Donoso, site http://www.franciscodonoso.cl acessado em 19/11/2013

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 220
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

o projeto da residência, que acompanha o desnível do terreno


e se desenvolve principalmente em dois pisos: o superior que
demarca o nível de acesso e é ocupado pelos usos coletivos
e o nível inferior que é ocupado pelos dormitórios.

No entanto, o nível superior é marcado por constantes


desníveis, em pequenas escadas, que acompanham as curvas
de nível do terreno e criam um percurso dinâmico ao usuário.
O percurso do nível superior se inicia em uma extremidade do
terreno e perpassa vários ambientes conectores, marcados
apenas por escadas, que, por apresentarem uma largura
menor, se abrem para a parte externa do edifício, criando
pátios internos, ou vistas para a vegetação marcante da área
externa à residência, sendo que o percurso é finalizado nas
salas de estar que através de uma escada curva dá acesso a
um grande terraço.

A residência mescla ambientes cobertos, descobertos


e parcialmente cobertos, com pérgolas e aberturas zenitais
translucidas, que expandem a integração dos espaços internos
com os externos. Um dos halls conectores, localizado na área
central da residência, integra não apenas os ambientes sociais
deste nível, tais como cozinha, sala de estar e jantar, como
também se abre através de uma grande fachada envidraçada
quadriculada, para a área externa do terreno e a visibilidade
de uma das principais árvores existentes.
Figura 391
Faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho
Fonte: Foto de Guy Wenborne
(2005) cedida pela UDP

Outra atividade que acompanhou a carreira do arquiteto


Abuauad neste primeiro período foi à docência. No ano de
2002 o arquiteto Abuauad já lecionava na Universidade Diego
Portales e, com o desejo de se expandir a infraestrutura

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 221
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2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

da universidade, Abuauad, com a sua experiência urbana


e arquitetônica, passou a ser o consultor do Plano de
Infraestrutura da UDP e autor da Faculdade de Arquitetura,
Artes e Desenho (FAAD).

Tanto na consultoria do Plano de Infraestrutura da UDP,


quanto no projeto da FAAD, o tema do espaço público, a criação
de veredas de pedestres e a mescla de espaços abertos e
fechados, através de volumetrias retas, continuarão presentes
em seus trabalhos. Estes trabalhos serão amplamente
publicados em periódicos da área e em livros da editora UDP,
tais como, revistas 180, Summa+, Future Anterior e Enlace.

Paralelo ao Plano de Infraestrutura da Universidade


Diego Portales, Abuauad continuou realizando estudos
urbanos nos primeiros anos do século XXI, contribuindo
para propostas no próprio Bairro Universitário de Santiago e
pesquisas das experiências urbanas em Paris e sua relação
com o Chile (2002 e 2003) e também em outras localizações
e comunas, como a Maipú (2002), Maitencillo (2005) e o novo
plano regulador metropolitano de Santiago (2007).

Paralelo ao projeto da FAAD, outro edifício arquitetônico


Figura 392 foi projetado por esse arquiteto em 2003 e publicado em 2005
Planta Baixa Casa Abuauad Truffello na revista Vivienda y Decoración de El Mercurio e na revista
Fonte: Revista D+A, n.09, 2008,
p.63 D+A em 2009. Trata-se da Casa Abuauad Truffello. Esta casa,
Figura 393 construída para o arquiteto e sua esposa, está inserida em
Corte Área Serviço
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/ um terreno de 410 m2 e se trata de uma reabilitação. Neste
acessado em 12/12/2013 projeto, dos 200 m2 totais de construção, a maior área, de
Figura 394
140m2, não foi modificada, sendo que apenas 30 m2 foram
Foto Casa Abuauad Truffello
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/ remodelados e outros 30 m2 foram acrescentados.
acessado em 12/12/2013

Planta Baixa Térreo

Corte Área serviço

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2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

Neste projeto, uma das principais intervenções se deu na


modificação das aberturas preexistentes, a fim de criar uma
maior integração entre os espaços internos e a vegetação
do terreno. Uma antiga parede com lareira e chaminé em
pedra foi substituída por uma parede de vidro, com a lareira
em posição central e chaminé metálica, trazendo leveza ao
conjunto arquitetônico, além da continuidade dos ambientes
internos e externos.
Figura 395
Vista interna sala estar e jantar
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/
acessado em 12/12/2013

A cozinha tem acesso duplo, através do hall de entrada


e sala de jantar, sendo que a conexão da sala de jantar é
realizada por portas de correr, que quando abertas integram
os dois ambientes e permitem a entrada de luz na cozinha
através das paredes de vidro da sala de jantar. No entanto,
para manter os ambientes iluminados e flexíveis, o arquiteto
criou aberturas zenitais sobre a cozinha, acrescentando um
volume com telhado em V, que possibilita a utilização da
cozinha integrada ou não a sala de jantar.

Figura 396
Volumetria Residência Abuauad
Fonte: Revista D+A, n.09, 2008,
p.62

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Desde então, Abuauad já teve seus trabalhos publicados


em diversas revistas nacionais e internacionais, nas quais
se destacam principalmente a Faculdade de Arquitetura,
Artes e Design e a partir de 2009 a Ampliação da mesma.
Entre os periódicos internacionais se destacam a revista
AU Arquitetura e Urbanismo (Brasil), Summa (Argentina),
Il Giornale dell’Árchitettura de Turín, L’UOMO Vogue y
Controspazio (Italia), Future Anterior (USA), Enlace (México),
Oris (Croacia), AAA (República Dominicana), de architecturā
Figura 399 e 400 (Rumania), T18 (España) e C3 (Corea). Além de ser membro
Concurso Praça Rental do corpo editorial das revistas 180, Patrimônio Cultural e
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl/
acessado em 12/12/2013 Eure.

Em uma entrevista realizada à revista CA do Colégio


de Arquitetos, número 113, sobre Atitudes Contemporâneas
na Arquitetura Chilena, junto com outros arquitetos como
Mathias Klotz e Horacio Torrent, Abuauad aborda a temática
das ameaças e oportunidades da globalização afirmando que
“São os requerimentos locais os que predominam em uma
porcentagem alta no projeto” (ABUAUAD, 2004, p.24). Ao
analisar este breve histórico do arquiteto Abuauad, evidencia-
se a importância do contexto local na criação do seu projeto
arquitetônico, marcado principalmente pelas características
físicas do terreno, dos desníveis, espécies vegetais e
preexistências. E no caso das residências abordadas, a busca
de se ampliar a relação entre o edifício e seu entorno, criando
novas visuais e áreas envidraçadas que ampliam a relação
entre a área interna ao edifício e a área externa do mesmo.

Nessa linha, Miquel Adriá (2010, p.96) ao abordar

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 225
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

algumas características de Abuauad, diz que este busca


“conformar um espaço unitário onde o calço entre as distintas
partes opera de maneira fluida e coerente”, além disso, Adrià
aborda a presença na obra de Aubuauad da “operação de
inserir peças em um complexo sistema de volumes e espaços
abertos”. Estas características também podem ser observadas
nas duas residências, com os seus pátios abertos e a relação
de fluidez entre os espaços internos e externos.

Outra questão que Abuauad retoma em outras entrevistas


realizadas para a revista CA e na publicação feita para a
Universidade de Columbia sobre a Faculdade de Arquitetura,
Artes e Desenho, é a importância do projeto na busca de
responder questões complexas que envolvem desde a estética
a questões funcionais. Abuauad destaca, que no caso de uma
intervenção, não se deve apenas preservar as características
urbanas e arquitetônicas históricas do local, mas é vital
que a área histórica seja transformada conforme as novas
necessidades de infraestrutura, preservando e transformando
suas características para contribuir para a dinâmica urbana,
resolvendo assim diversas demandas de um projeto.

The key initiative of the university`s infrastructure Plan is not


Figura 401 preservation, but rather intervention through adaptive reuse
Linha do Tempo Arquiteto Ricardo
Abuauad of historic structures and thus, potentially increasing their
Fonte: Elaboração Autora chances of survival. (ABUAUAD, 2006, p. 75)

A seguir, analisar-se-ão as obras da Faculdade de


Arquitetura, Artes e Desenho da Universidade Diego Portales

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 226
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad

(2003) e sua ampliação em 2009, buscando compreender


como a questão da relação da arquitetura com o local é
materializada nestas obras. Por esta obra fazer parte de um
conjunto de edifícios, alguns dos aspectos evidenciados nos
projetos urbanos de Abuauad, como a criação de veredas
de pedestres e a valorização dos espaços públicos, podem
também ser analisados.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 227
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad / 2.4.1 Faculdade de Arquitetura, Artes e Dezenho (FAAD) e Ampliação FAAD

0,50 metros. O segundo e terceiro vãos transversais estão com


os três vãos paralelos característicos. Enquanto nos próximos
três vãos transversais, a dupla de pilares frontais recuam 2,20
metros, estreitando o vão central. Já o último vão transversal
ao norte contém apenas os dois últimos vãos paralelos, com o
último vão recuado 0,70 metros e o vão central menor.

O deslocamento dos pilares frontais deixa a estrutura dos


dois lados do edifício independente, criando no quarto vão
transversal, bem ao centro do edifício, um pé-direito triplo, que
demarca a entrada do edifício preexistente. Tal transformação
gradual no deslocamento da fachada frontal preexistente
faz com que o recuo frontal da extremidade sul e norte seja
o mesmo de 8,30 metros, mesmo com a face inclinada do
terreno.
Figura 436
Fachada Av. República antes da
intervenção em 2003
Fonte: Imagem cedida pela UDP

Na intervenção, o edifício preexistente foi mantido e


expandido na em sua região frontal e posterior. A estrutura
preexistente passou a ficar parcialmente escondida, sendo
que em algumas situações é possível observar a configuração
original e relações entre a arquitetura antiga e nova. Nesse
sentido, conforme Ignasi de Solá-Morales (2006, p.259), pode-
se observar uma operação analógica com uma “manipulação
controlada das relações entre similaridade e diversidade”
entre as estruturas preexistentes e as novas.

O primeiro vão transversal teve a sua área expandida no


recuo frontal, criando uma grande escada que interliga o térreo
com o subsolo e com pavimentos superiores. A área central foi
subdividida, criando um hall de circulação e recepção, sendo
que o último vão foi ocupado pelo elevador. O segundo vão

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 239
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad / 2.4.1 Faculdade de Arquitetura, Artes e Dezenho (FAAD) e Ampliação FAAD

transversal passa a ser o acesso principal do edifício e é o


único em que se pode observar todos os pilares originais
aparentes. O terceiro vão tem os pilares menores acoplados
em uma parede central, que fica atrás da nova parede curva
translucida, sendo que no último vão paralelo se localiza a
entrada do refeitório.

O quarto, quinto e sexto vãos transversais têm os pilares


frontais revestidos por material perfurado, formando uma
parede única, enquanto os pilares posteriores ficam aparentes,
conformando a área do refeitório. Já o último vão transversal
apresenta os pilares frontais e posteriores aparentes e
é ocupado pela cozinha. Todos os pilares aparentes são
revestidos por pastilhas coloridas, contrastando com a
estrutura nova de concreto aparente.
Figura 437
Loggia na Avenida República
Fonte: Imagem cedida pela UDP

Na área frontal ao edifício preexistente voltado à Avenida


República, foi acrescentada no recuo do térreo uma linha
de pilares circulares, acompanhando a face inclinada do
terreno, distando aproximadamente 2,80 metros dos pilares
do segundo e terceiro vão, e aproximadamente 4,60 metros
dos pilares recuados dos vãos intermediários. Estes pilares
extrapolam a área do refeitório e o desnível entre o térreo
e a calçada externa, surgindo do nível inferior. Conforme o
arquiteto, no memorial do projeto de 2003, a composição
desses pilares circulares no nível da calçada cria uma loggia,
que devolve à população a área de jardim preexistente

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no recuo, estabelecendo uma área que mescla o público e


privado e cria um primeiro espaço coletivo.

A loggia como tipo arquitetônico é muito utilizada nas


áreas urbanas, pois cria uma calçada coberta, que serve de
acesso direto ao edifício e à rua. Na loggia criada por Abuauad,
essa configuração perde um pouco seu valor, pois uma
rampa foi construída nesta área, diminuindo a possibilidade
do transeunte da rua passar por essa área e continuar seu
percurso no nível da calçada, privilegiando apenas os usuários
que vão adentrar o edifício.

Nesta área frontal do edifício, no projeto e nas primeiras


fotos tiradas após a intervenção, a área do refeitório estava
recuada, acompanhando os pilares dos vãos intermediários.
Essa configuração inicial criava uma varanda pública com um
segundo acesso ao refeitório. No entanto, em levantamento
realizado em dezembro de 2012, percebeu-se que esta área
foi deslocada e o refeitório ficou margeando a rampa frontal.
Figura 438
Rampa Frontal
Fonte: Foto da Autora Dez/2012

Esta mudança na configuração inicial diminui a


apropriação desta área pelo público como espaço coletivo, mas
estabeleceu uma relação ambígua entre a preservação das
características históricas e a criação de algo novo, através de
uma nova forma do usuário interagir com o contexto existente,
pois o edifício retoma o alinhamento predial nos pavimentos
superiores, mas recua e abre o edifício para o público no
térreo, mesmo que parcialmente.

Na área posterior do volume preexistente, foi acrescentada


uma linha de pilares circulares, distando aproximadamente

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Figura 441 o eixo de visão no sentido vertical tanto do usuário do subsolo


Área posterior do edifício existente
Figura 442 quanto do térreo, quebrando o eixo horizontal predominante
Corredor subsolo dos corredores.
Fonte: Foto da Autora, Dez/2012

No corredor do subsolo um material vermelho reflexivo


esconde a estrutura irregular preexistente, criando uma parede
única que demarca o corredor e impede o acesso direto ao
pequeno auditório atrás. Do lado oposto, os laboratórios de
informática estão com acabamento em material branco opaco
e material parcialmente translucido. Este ambiente repleto de
materiais distintos, com reflexos, sombras e transparências,
potencializa o dinamismo de um espaço de exposição, que
Figura 443
Vão com mudanças de aresta
se encontra constantemente aberto às transformações dos
Fonte: Foto Guy Wenborne, 2005 usuários.
cedida pela UDP
Para o usuário do primeiro subsolo, o
dinamismo sensorial que o corredor produz
conduz o mesmo da área de circulação vertical
em direção ao grande vão ao norte, que
além de trazer luminosidade e ar natural aos
subsolos, materializa o ápice do dinamismo,
com a mescla de materiais, luminosidade e
diagonais.

Este vão, localizado na região norte


do pátio coletivo, tem a sua aresta interna
deslocada nos diferentes pavimentos, ora
perpendicular à face voltada para a Avenida
República (subsolo 1), ora perpendicular à
face voltada para a Rua Manoel Montt (térreo).
Esta mudança na aresta traz dinamismo para
o usuário do subsolo e aumenta a área do
pátio coletivo do térreo.

Neste vão, o material em concreto

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aparente muda sua tonalidade conforme o horário do dia e a


predominância da luminosidade natural e artificial, enquanto
os outros materiais refletem os usuários (parede vermelha e
vidro auditório) e ampliam os ambientes (transparência dos
laboratórios de informática).

A diversidade dos materiais encontrados, da iluminação


zenital e da mudança das arestas, conforma uma área
complexa, repleta de sensações e visuais. As mudanças nas
arestas produzem certa ambiguidade no usuário, na percepção
de um espaço que seria a princípio retangular, mas é irregular.
Tal ambiguidade é ampliada após a intervenção de 2009,
na qual os pilares novos estão deslocados, contrastando a
regularidade dos últimos subsolos (paredes e desenho do
piso), com a irregularidade do térreo e pavimentos superiores
(pilares e teto). Esta configuração parece fazer referência
à configuração do terreno, criando uma sobreposição das
Figura 444 principais características do terreno, com as suas faces
Foyer- Segundo Subsolo inclinadas e com a presença de dois principais eixos (República
Fonte: site www.ricardoabuauad.
cl/ acessado em 18/11/2013 e Manoel Montt).

No segundo subsolo a área constitui um espaço multiuso


que pode se ligar completamente ao auditório, através das portas
corrediças e funcionar como foyer do mesmo. Apresenta como

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acesso principal a escada suspensa lateral, que faz ligação


direta com o corredor do primeiro subsolo. Este espaço de pé-
direito triplo contribui para o funcionamento dos componentes
técnicos do local, e também traz monumentalidade a um dos
principais espaços de convívio da Faculdade.

Ainda existe uma terceira abertura zenital que leva luz


ao primeiro subsolo implantada na extremidade sul do pátio
coletivo. Diferente das anteriores, esta abertura recria um
shed, com um volume triangular, com abertura na face vertical
menor e cobertura diagonal parcialmente irregular, criando um
banco para os usuários do térreo.
Figura 445
Abertura zenital inclinada em
frente ao acesso principal da FAAD
Fonte: Foto Guy Wenborne, 2005
cedida pela UDP

A disposição deste volume em frente ao acesso principal


do edifício no térreo leva o transeunte a um percurso em
diagonal e separa a área do pátio coletivo da área do corredor,
que se encontra sob o edifício voltado à face sul, que dá
acesso as salas de aula deste edifício e do edifício voltado
a Rua Manoel Montt. Esta separação é desfeita no fim do
corredor e retomada na face interna do edifício voltado à Rua
Manoel Montt, que esconde do usuário do pátio a escada que
dá acesso aos subsolos, alternando a percepção deste sobre
os espaços cheios e vazios, multiplicando a possibilidade de
percursos conforme os diferentes vazios, principalmente em
diagonais, visto que os vazios se encontram nos cantos do
pátio.

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Figura 446 O volume da abertura zenital na lateral sul do pátio


Percurso projetado entre ruas.
Fonte: Desenho da autora coletivo, somado ao volume das instalações que escondem a
escada que dá acesso aos subsolos na lateral leste do pátio
coletivo, gera obstáculos e separação dos fluxos limítrofe e
central e também parece demonstrar a intenção do arquiteto
de sugerir ao usuário um percurso em diagonal, que não
apenas corta o pátio coletivo, mas liga o acesso da Avenida
República com o acesso da Rua Manoel Montt.

Esta conexão entre as ruas paralelas que cria a


permeabilidade da quadra era uma das intenções do projeto e
uma das principais características do Plano de Infraestrutura
da Universidade Diego Portales, mas, na prática, isso não se
concretizou, pois a porta que dá acesso à Rua Manoel Montt
foi fechada e não existe previsão reabertura. Hoje esta área é
utilizada para ateliê e, do projeto original, só restou a porta e a
disposição dos obstáculos no pátio coletivo.

Esta mudança na configuração dos acessos do edifício


diminuiu a contribuição do mesmo ao entorno, uma vez que
se perdeu significado e foi inviabilizada a apropriação deste
espaço pelo público, pois, segundo Munizaga (2006, p.67),
a interação social, a vitalidade e apropriação do bairro são
potencializadas quando se cria “maior conexão do espaço
público e valorização da trama reticular do pedestre nas
quadras (...)”.

Os pavimentos superiores do edifício voltado à Avenida

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Para constituir tal estrutura, segundo o autor (2011,


p.58), também foi essencial “compartilhar os esforços
com um sistema de concreto armado formado pelo muro e
contrafortes”, sendo que este sistema também cria poços de
luz, que trazem ao edifício metálico luz natural e ventilação
cruzada. Outra estrutura metálica pode ser encontrada na
cobertura do terraço coletivo, que também protege a fachada
Figura 460
Fachadas internasnorte e leste
envidraçada interna do volume voltado a Avenida República
Fonte: Foto Guy Wenborne, 2005 do sol.
cedida pela UDP

As fachadas voltadas ao pátio coletivo, dos quatro


volumes que conformam a Faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho, têm tratamentos distintos conforme sua orientação
solar. A fachada norte tem uma fachada relativamente aberta
e aérea, externa ao edifício, com alguns vidros translúcidos
e opacos verticais, que criam um brise de proteção à área
interna dos raios mais intensos. A fachada leste contém painéis
envidraçados em toda a sua extensão; tal característica é
possível devido ao recuo da estrutura e a baixa intensidade
solar. No entanto, os vidros estão cobertos por películas de
cores vermelhas, branco e cinza, que trazem um pouco mais

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 251
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de proteção e reclusão aos usuários dos ambientes internos,


além de criar uma fachada dinâmica.

Figura 461
Fachadas novas Ampliação FAAD
Figura 462 A fachada sul é a do edifício criado na ampliação da
Muxarabi metálico FAAD e mescla espaços fechados com grandes vãos verticais
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl
acessado em 19/11/2013 translúcidos. Esta configuração é resultado da intenção do
arquiteto de criar vitrines em que seriam expostos os trabalhos
dos alunos e uma fachada em constante transformação. A
última fachada oeste foi modificada na ampliação da FAAD,
na qual foi acrescentado sobre a fachada existente um
material metálico perfurado, um grande muxarabi metálico, o
qual preserva o ambiente interno dos raios solares e impede
a visibilidade exterior.

Figura 463
Vista do terraço da fachada vitrine.
Fonte: site www.ricardoabuauad.cl
acessado em 19/11/2013

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Percebe-se nas fachadas, que, além de possuírem


materiais e composições distintas, na maioria das soluções
o usuário do pátio coletivo é privado da visibilidade dos
ambientes internos dos edifícios. Sendo que cada fachada é
percebida como uma “pele”, um material, uma textura, com
exceção da fachada do edifício novo, no qual é criada uma
fachada vitrine e existe a intenção direta que o usuário do
pátio enxergue o que está sendo produzido nos ateliês.

Das fachadas da primeira intervenção, apenas a fachada


norte também traz um pouco de visibilidade do ambiente
interno, mas se trata de enxergar a nova escada metálica que
liga os pavimentos e leva ao terraço coletivo, como também
o corredor que liga os volumes e as circulações verticais. Ou
seja, uma fachada que se abre parcialmente ao usuário do
pátio, mas também como algo em transformação, em constante
movimento, que, assim como a próxima exposição na vitrine
do lado oposto, é imprevisível; os movimentos constantes dos
diferentes usuários trazem a esta fachada o dinamismo e a
relação do tempo na transformação do espaço.
Figura 464
Fachada norte com escada que
dá acesso terraço e pavimentos
superiores
Fonte: Foto Guy Wenborne, 2005
cedida pela UDP

Outra questão que esta disposição parece evidenciar é a


valorização dos espaços de permanência, espaços coletivos
passíveis de apropriação pelos usuários. Na FAAD o pátio
coletivo extrapola sua característica apenas funcional de
levar iluminação para os edifícios, ou referencial do contexto
histórico e entorno existente, mas o pátio coletivo é tratado

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 253
2. Edifícios da Universidade Diego Portales
2.4 Arquiteto Ricardo Abuauad / 2.4.1 Faculdade de Arquitetura, Artes e Dezenho (FAAD) e Ampliação FAAD

como um lugar de encontro, no qual todas as áreas coletivas


dos diferentes edifícios que formam a FAAD são evidenciadas.

É no pátio que se enxerga a área do refeitório com sua


porta de entrada, o vão, o foyer do auditório nos subsolos, a
escada que dá acesso ao terraço coletivo e parte da cobertura
do terraço coletivo, além das vitrines do edifício novo. Um
local que chama o usuário para o convívio, para usufruir
dos espaços que se encontram à disposição e construir
conjuntamente um lugar.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 254
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação

3 O Conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro


Universitário de Santiago: Preservação e Transformação

Ao considerar as principais características históricas


e físicas do Bairro Universitário de Santiago e algumas das
principais características arquitetônicas e urbanas dos edifícios
que formam a Universidade Diego Portales (UDP), algumas
temáticas são evidenciadas na possibilidade que a arquitetura
contemporânea apresenta como fator de transformação do
ambiente construído e de relação com o contexto histórico.
As obras analisadas compreendem a temática da
afirmação da arquitetura contemporânea como elemento que
confere ao ambiente urbano outra identidade, renovada a partir
da presença e da singularidade da intervenção do edifício em
relação à paisagem urbana e aos edifícios patrimoniais. Esta
relação é constantemente marcada por uma coexistência da
preservação e da transformação do contexto existente, em que
o edifício novo não apenas retoma algumas características
históricas e culturais do contexto, mas oferece ao usuário uma
nova forma de perceber e vivenciar a história, requalificando
uma área que até então se encontrava esquecida pela
sociedade.
Os edifícios analisados neste trabalho apresentam a
intervenção realizada como uma infiltração. Este termo,
cunhado por Fernando Diez (2009), representa a presença do
novo em meio ao tecido urbano, ocupando eventuais brechas,
caracterizadas por terrenos vazios e áreas abandonadas,
criando novas arquiteturas com diferentes propostas de
uso e relação com o entorno, gerando espaços qualitativos
para a sociedade através da valorização das características
históricas e do caráter do lugar.

Infiltrando la ciudad, construyendo en pequeños terrenos


o con formas inconvenientes, encontrando localizaciones
marginales con potencialidades urbanas, y a veces, cuando
estas acciones se potencian recíprocamente y se multiplican,
dando nueva vida urbana a barrios abandonados (DIEZ, 2009,
p.02)

O contexto histórico e físico específico do Bairro


Universitário, com suas quadras fechadas, gabarito baixo
e edifícios patrimoniais do período de fundação do bairro,

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 256
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação

levaram o Conjunto de Edifícios da Universidade Diego


Portales a adquirir um constante posicionamento quanto a
estes principais valores existentes no local e também uma
busca pela transformação arquitetônica, a qual contribui para
estabelecer outra relação da sociedade com esta área histórica
esquecida e para uma mais intensa apropriação coletiva.
Desta forma, os edifícios da UDP se infiltram neste
contexto histórico degradado, aproveitando as áreas livres,
principalmente nos miolos da quadra, para construir novas
arquiteturas, reabilitar arquiteturas patrimoniais e configurar
espaços coletivos. Espaços que, segundo Manoel Solá-
Morales (2006), hibridizam o público e privado, potencializando
a apropriação destas áreas pela sociedade. Uma área só pode
ser realmente revitalizada se seus espaços são incorporados
e valorizados pela população, dando oportunidade a que
espaços amorfos sejam transformados em lugares nos quais
a vida se desenvolva.

El espacio colectivo es mucho más y mucho menos que


el espacio público, si limitamos este al de propiedad
administrativa. La riqueza civil y arquitectónica, urbanística y
morfológica de una ciudad es la de sus espacios colectivos, la
de todos los lugares donde la vida colectiva se desarrolla, se
representa e se recuerda. (MANOEL SOLÁ-MORALES, 2008,
p.188).

Nos edifícios da Universidade Diego Portales os


espaços coletivos são enfatizados e amplificados, criando
térreos permeáveis e terraços coletivos que aprofundam
a relação entre a arquitetura e o urbanismo. Este capítulo
compreenderá a análise da relação dos edifícios da UDP
com o contexto existente, definido pela paisagem urbana e
pelo conjunto edificado, que inclui a arquitetura patrimonial,
tratando esta relação quanto aos aspectos de preservação e
também às transformações da percepção do usuário relativas
a este entorno e a apropriação do mesmo através de seus
espaços coletivos.
Por se tratar de um conjunto de edifícios de uma mesma
instituição, as características destes serão observadas
conjuntamente em relação ao aspecto do contexto existente.
Analisando a intervenção arquitetônica a partir de um olhar que
inclui desde o conjunto urbano até a escala do edifício isolado
em relação à paisagem urbana e à arquitetura patrimonial.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 257
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação

Quanto à relação da intervenção com a paisagem urbana


existente, serão abordados os aspectos relacionados à trama
e morfologia urbanas, à relação figura-fundo representada
pelo par de cheios e vazios, pelos espaços públicos e escala
do bairro. Por outro lado, quanto à relação da intervenção
da UDP com a arquitetura patrimonial, serão abordados os
aspectos relacionados aos tipos estrutural, funcional e formal,
estabelecendo relações de similaridade e diversidade entre a
arquitetura pré-existente e a nova.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 258
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

3.1 Os Edifícios e a Paisagem Urbana


Para compreender como se deu a intervenção do conjunto
de edifícios da Universidade Diego Portales em relação ao
contexto existente, será abordada a relação desta intervenção
com os aspectos referentes à paisagem urbana. Para isso,
entende-se que a paisagem urbana engloba, segundo Pérez,
Ochoa e Pino (2004), aspectos relacionados à organização da
rede viária, a divisão dos quarteirões e dos lotes, implantação,
cheios e vazios, espaços públicos e o gabarito de altura
dos edifícios. Neste sentido, serão retomadas algumas das
Figura 465 principais características históricas do BUS em relação
Esquema características históricas
do BUS da paisagem urbana, que à intervenção da UDP, principalmente as características
serão analisadas em relação à referentes à trama urbana, a configuração cheio/vazio e o
intervenção da UDP
Fonte: Elaboração da Autora gabarito do bairro.

A trama urbana, segundo Waisman (2013, p.192) é “um


dos elementos básicos do patrimônio, fundamental para a
observação da identidade”. No caso do Bairro Universitário de
Santiago, situado no Setor Sudoeste, a morfologia do tecido
urbano é caracterizada por uma malha regular, característica
das cidades de fundação hispânica.
Figura 466
Plano de Vila de Santiago, 1712-
Ameede Frezier.
Fonte:Site www.infanciadechile.
info acessado em 05/11/2012

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 259
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

Na Faculdade de Direito foi criado um terceiro nível


acrescido ao edifício preexistente que retoma o alinhamento
predial, e na Faculdade de Arquitetura foi criado um volume
no recuo frontal do lote, à frente do edifício preexistente,
que retoma o alinhamento predial no primeiro e segundo
pavimento. Nos térreos dos dois edifícios, uma linha de pilares
Figura 481
cria loggias ao nível da calçada, demarcando sutilmente o
Maquete eletrônica com loggias alinhamento predial, mas ampliando a percepção desta área
Faculdade de Direito (à direita) e
Faculdade de Arquitetura, Artes e
como pública, transformando a relação do usuário com a
Desenho ( à esquerda) arquitetura e o entorno.
Fonte: Desenho da autora

O elemento arquitetônico loggia, segundo ALBERNAZ,


LIMA (1998, p. 353), significa “galeria aberta, tendo seus lados
abertos voltados para o exterior ou interior da construção, em
arcada ou pilares”; essa autora também ressalta a influência
do Renascimento italiano deste. Nos térreos de edifícios
italianos do Renascimento podemos encontrar exemplos de
loggia criando verdadeiras calçadas públicas cobertas, que
permitem uma ligação direta entre a rua e os espaços internos
das edificações. Observando-se o contexto da arquitetura e
urbanismo chilenos, ao redor da Praça das Armas, no centro
fundacional de Santiago do Chile, existem edifícios que
apresentam loggias no térreo, marcadas por colunas abertas
à praça que compõem calçadas públicas cobertas.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 264
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

Figura 482
Plaza de Armas, 1883
Fonte: www.archivovisual.cl
acessado em 13/12/2013

Desta forma, a loggia existente na Faculdade de Direito


e da Faculdade de Arquitetura, retoma as características
históricas do centro fundacional e estabelece uma nova forma
de os edifícios se relacionarem com o contexto da quadra
fechada do Bairro Universitário de Santiago, potencializando
a requalificação do mesmo. Semelhante à loggia dos edifícios
históricos voltados à Praça das Armas, esse elemento presente
nas faculdades retoma a abertura em direção ao ambiente
público das calçadas, no nível da rua, com uma cobertura
variável de pé-direito simples na Faculdade de Arquitetura
e duplo na Faculdade de Direito. Além disso, as colunas da
loggia das faculdades são marcadas por um formato circular
em concreto aparente, bem distinto das colunas retangulares
históricas.

A loggia das faculdades preserva, por meio dessa


configuração, a possibilidade de acesso direto entre o espaço
público e o edifício, presente na configuração histórica das
quadras fechadas do Bairro Universitário de Santiago, mas ao
mesmo tempo e de forma distinta, estende o espaço público
da calçada para dentro do terreno privado, estabelecendo um
espaço coletivo que produz esta ligação entre a comunidade
acadêmica e os habitantes do bairro, conforme os objetivos
do Plano de Infraestrutura da universidade, abordados por
Abuauad (2003). Esta configuração, que preserva a fachada
contínua nos pavimentos superiores, gera o efeito rua-corredor,

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 265
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

mas, conforme o usuário percorre as regiões frontais destes


edifícios através da loggia, esse corredor gera a percepção de
amplitude, mudando a relação do usuário com o entorno.

Figura 483
Loggia FAAD Os desníveis existentes entre o térreo das faculdades e
Figura 484
Loggia Faculdade de Direito a calçada externa fazem com que as loggias propostas sejam
Fonte: Imagens cedidas pela UDP ocupadas por rampas e escadas que minimizam a apropriação
destas áreas, pois não é possível se abrigar na cobertura da
loggia enquanto o transeunte da Avenida República percorre a
frente do edifício, mas somente se subir ao nível do térreo das
faculdades e descer novamente. Desta forma, a configuração
arquitetônica de acesso ao edifício privilegia o uso das loggias
para os indivíduos que vão adentrar o edifício.

Em relação à trama urbana, outro aspecto deve ser


evidenciado, isto é, após a criação da trama regular principal
de origem hispânica, foram sendo estabelecidas tramas
secundárias com o passar do tempo. Essas outras tramas
recortam as quadras tanto no centro fundacional de Santiago,
quanto no Bairro Universitário de Santiago. No centro
fundacional, esta trama secundária pode ser principalmente
observada nas galerias, que criam passagens pedestres
modificando o traçado original e dinamizam o fluxo ininterrupto
do centro da cidade, conectando ruas paralelas através
de caminhos diversos. Segundo Waisman (2013, p.192) a
criação desta trama secundária de galerias comerciais que
atravessam as quadras em Santiago e outras cidades da
América Latina aconteceu devido à “força do uso”, até culminar
na sobreposição de “uma nova trama de circulação àquela da
grelha tradicional”.

Já no Bairro Universitário de Santiago, a criação de


uma trama secundária pode ser reconhecida nas quadras
penetradas presentes nos documentos de levantamento

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 266
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

do livro Santiago Sur-Poniente (2004), com o objetivo de


principalmente mapear a criação de cités no intervalo de tempo
em que se deu a deterioração do bairro, ocorrida entre 1930 e
1980. Após o êxodo das famílias de maior poder aquisitivo do
setor, passaram a ocorrer subdivisões dos lotes, acarretadas
pela construção de condomínios de casas com acesso a partir
de ruas internas. Diferente da trama secundária das galerias,
as cités não são espaços completamente coletivos, sendo que,
em alguns casos, apresentam acesso privativo minimizando o
Figura 485
Galeria Centro Fundacional
fluxo entre as ruas do setor através das quadras.
Fonte: Foto da autora, Dez/2012

Figura 486
Cité Simples. A intervenção da Universidade Diego Portales retoma
Fonte: Livro Santiago SurPoniente,
2004, p.101 esta segunda característica da trama urbana, mas traz ao setor
do Bairro Universitário de Santiago uma configuração mais
aberta ao público, tal qual a galeria do centro fundacional. Isso
se deu devido à criação de passagens entre ruas paralelas
através dos edifícios das faculdades e da ocupação do térreo
por usos coletivos. Para Abuauad (2003), a ocupação do térreo
por usos coletivos ampliaria a ligação entre os acadêmicos
e os habitantes do bairro iniciada nas loggias e espaços
intermediários.

Para ello se abrieron logias y espacios intermedios y se


ubicaron a nivel del peatón programas que pudiesen ser
utilizados tanto desde adentro como desde afuera (casinos,
biblioteca, etc.) (ABUAUAD, 2003, p.25).

No entanto, a criação destas passagens através dos


edifícios das Faculdades não foi realizada em todos os
edifícios, já que era necessária a implantação em terrenos
que fossem conectados e que tivessem acessos para ruas

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 267
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

Quanto à disposição de se manter o edifício no


alinhamento do lote, observou-se na intervenção da UDP um
primeiro tipo de solução, no qual se mantém toda a fachada
no alinhamento do lote (Faculdade de Saúde, Edifício de
usos Múltiplos e Centro de Extensão), um segundo tipo de
posicionamento, que mantém os pavimentos superiores
no alinhamento do lote, mas recua o térreo e cria uma área
intermediária (Faculdade de Economia e Biblioteca Nicanor
Parra) e um terceiro tipo, que além de manter o alinhamento
predial nos pavimentos superiores e recuar o térreo, cria,
Figura 501
Ocupação terreno conjunto nesta área frontal, uma loggia (Faculdade de Arquitetura e de
edifícios UDP Direito).
Fonte: Elaboração da autora

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 273
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

Quanto à disposição de criar uma trama urbana


secundária, observou-se na intervenção da UDP um primeiro
tipo de postura, em que essa passagem não é criada ou
concretizada (Faculdade de Arquitetura e Direito); um
segundo tipo, que cria permeabilidade física entre edifícios
da Universidade, conectando ruas distintas (Faculdade de
Economia e de Saúde); e um terceiro tipo de solução, que além
Figura 502 da permeabilidade física também estabelece parcialmente
Ocupação terreno conjunto uma permeabilidade visual (Edifício de Usos Múltiplos e
edifícios UDP
Fonte: Elaboração da autora Biblioteca Nicanor Parra).

Ao acrescentar à morfologia urbana regular, característica


do Bairro Universitário de Santiago, aberturas nos térreos e
permeabilidade da quadra, a intervenção da UDP recria em
o contexto pré-estabelecido, com recursos de quadra aberta,
defendida pelo Arquiteto Christian de Portzamparc, na qual

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 274
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

esta “permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo


realçada por aberturas visuais e pela luz do sol” (1997: p. 47).

Se para Portzamparc essa quadra aberta seria constituída


por edifícios dispersos na quadra, que apresentam aberturas
visuais e iluminação natural nos vãos entre eles, o conjunto
dos edifícios da Universidade Diego Portales elabora essas
aberturas visuais e de iluminação de forma mais sutil, não
apenas nos vazios intersticiais entre os edifícios novos e
históricos dentro do mesmo terreno, como também através
da criação de aberturas zenitais que dinamizam o percurso
do usuário.

Portzamparc (1997, p.48) aborda a necessidade de se


“colocar esses novos territórios à medida de nossos corpos,
ao alcance de nossos passos, de nossa vista (...)”, e os
edifícios da UDP respondem a essa demanda ao permitir
que todas as transformações do entorno sejam percebidas
pela vivência espacial. Portzamparc (1997, p.48) reafirma
que “nas pequenas dimensões, trata-se de reinventar uma
espacialidade (...) condensar e criar intimidades em locais
específicos para abrir mais à frente zonas não construídas”,
e a intervenção da UDP condensou e criou intimidades junto
aos principais acessos e entradas dos edifícios para conduzir
o usuário aos pátios coletivos, exemplificando espaços não
construídos, internos à quadra.
Figura 503
Representação Quadra Aberta
Fonte: Texto Portzamparc,
referente à ZAC Masséna, 1997,
p.42

A criação de quadras-abertas, para Portzamparc, com


espacialidades relacionadas ao contexto, acrescidas da
pluralidade de novos usos, percursos e espacialidades,
potencializa “na grande dimensão, tornar sensível, apropriável
ao nosso alcance, os segmentos distantes e ao mesmo tempo
correlatos desta cidade expandida que é hoje um imenso
labirinto (...)” (1997, p.48). A intervenção da UDP agrega ao
setor histórico do Bairro Universitário de Santiago não apenas
relações com preexistências patrimoniais, mas consegue
por em evidência sensível esse tema, para que os usuários

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3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

passem a vivenciá-lo.

Sobre a temática da quadra aberta, Guerra (2011, p.


02) acrescenta que a permeabilidade do solo “possibilita a
integração de edificações privadas com o espaço público que
os envolve”. A intervenção da Universidade Diego Portales
não estabelece de forma ampla, nem com muita intensidade
a integração de suas edificações com o espaço público,
mas transforma seus espaços privados em semi-públicos,
ou, conforme Manoel de Solá-Morales (2006), em espaços
coletivos e estes espaços passam a se conectar aos espaços
públicos externos ao edifício, gerando uma integração que
hibridiza espaços públicos e privados e o espaço interno com
o envolvente, mesmo através de pequenas aberturas.

Esta integração entre espaços coletivos internos e espaço


público é ainda potencializada devido à implantação dispersa
dos numerosos edifícios da Universidade Diego Portales no
bairro, principalmente em duas concentrações próximas às
avenidas principais do setor. Por se tratarem de uma mesma
universidade, mas localizados em quadras distintas, os
edifícios da UDP e o fluxo entre eles abrange não apenas as
Avenidas República e Ejército, mas as outras ruas e quadras
do entorno.
Figura 504
Concentração edifícios da UDP
Fonte: Desenho da autora

Esta disposição não contígua e mesclada a outros edifícios


com usos diversos conforma as instalações da Universidade

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3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

Diego Portales como um Campus Urbano Aberto. Para


Munizaga (2006), a criação de um Campus Urbano Aberto
que compreenda percursos pedestres nos miolos das quadras
potencializa a requalificação da área, integrando os diferentes
espaços coletivos e ampliando a apropriação destes espaços
pela sociedade, uma vez que os edifícios dispersos e não
necessariamente vizinhos potencializam o fluxo entre os
mesmos e ampliam os espaços públicos coletivos.
Figura 505
Campus Urbano Aberto da UDP
Fonte: Desenho da autora

Figura 506
Campus Urbano Aberto da UDP
sem malha urbana
Fonte: Desenho da autora

O outro aspecto referente à Paisagem Urbana é a relação


de cheios e vazios, que pode ser evidenciada nas imagens
figura-fundo do Setor Sudeste nos levantamentos do CEUGE
e do livro Santiago Sur-Poniente. Estes levantamentos
demarcam uma área com grande ocupação do solo, com
pequenos vazios irregulares nos miolos de quadra de uso
privativo na Avenida República e Ejército com seus calçadões
e a Praça Manoel Rodriguez.

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3.1 Os edifícios e a paisagem

Figura 507 A proposta da UDP, além de criar em alguns edifícios


Figura-fundo da concentração
dos edifícios próximos a Avenida permeabilidade de quadra, acrescentou aos miolos de quadra
Ejército pátios de uso coletivo. Estes pátios coletivos não apenas
com base em imagem de
25/02/2003 preservam a característica histórica dos vazios internos, mas
Fonte: Desenho da autora transformam estes espaços de uso privativo em exemplos
Figura 508
Figura-fundo com base em de uso coletivo, ampliando a conexão dos mesmos com os
imagem de 15/04/2012 espaços públicos do entorno.
Fonte: Desenho da autora

Figura 509
Figura-fundo da concentração
dos edifícios próximos a Avenida
República
com base em imagem de
25/02/2003
Fonte: Desenho da autora
Figura 510
Figura-fundo com base em
imagem de 15/04/2012
Fonte: Desenho da autora

Entre os edifícios analisados, a Faculdade de Saúde


é constituída por um vão intermediário e um pátio coletivo
construído durante a intervenção no terreno da Faculdade de
Comunicação; a Faculdade de Economia e Biblioteca Nicanor
Parra apresentam um pátio interno e a Faculdade de Direito e
Arquitetura é constituída por dois pátios internos.

Os espaços vazios criados internamente às quadras


nos edifícios da UDP fazem referência a edifícios históricos
presentes naquele setor, com casas-pátio, que apresentam
vazios completamente delimitados, ou com abertura para uma
dos lados do pátio. Os pátios internos retomam a configuração

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3.1 Os edifícios e a paisagem

histórica dos primeiros colégios – do claustro medieval


europeu, herança ibérica trazida à América.

Figura 511
Foto Aérea entorno edifícios da Os espaços públicos do Bairro Universitário de Santiago
UDP com casas pátio
Fonte: Google Earth, acessado são constituídos apenas pelas avenidas principais com seus
em 19/11/2013 calçadões e a Praça Manoel Rodriguez. Esta escassa presença
Figura 512
Corpus Christi College em Oxford de espaços públicos no setor foi compreendida como uma de
Fonte: site http://georgiainfo. suas restrições da região, principalmente para a criação de um
galileo.usg.edu/corpus.htm
acessado em 02/08/2012. Campus Urbano Aberto com intensa concentração flutuante
de alunos e professores no bairro.

Neste sentido, uma das principais diretrizes do Plano


de Infraestrutura da UDP foi relacionada à criação de
espaços públicos. Os espaços internos às faculdades foram
conceituados como coletivos, muitas vezes ocupando o térreo
com atividades múltiplas, como refeitórios e pátios, e a fim
de ampliá-los ainda mais, sendo que nas coberturas dos
edifícios foram criados terraços coletivos em seis dos edifícios
analisados (Faculdade de Saúde, Edifício de Usos Múltiplos,
Biblioteca Nicanor Parra, Centro de Extensão, Faculdade de
Arquitetura e Faculdade de Direito).

Figura 513
Maquete eletrônica Terraço
Faculdade de Saúde
Fonte: Desenho da autora

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3.1 Os edifícios e a paisagem

Figura 514
Maquete eletrônica Terraço
Edifício de Usos Múltiplos e
Centro de Extensão
Fonte: Desenho da autora

Figura 515
Maquete eletrônica Terraço
Biblioteca Nicanor Parra e Centro
de Extensão
Fonte: Desenho da autora

Figura 516
Maquete eletrônica Terraço
Faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho
Fonte: Desenho da autora

Figura 517
Maquete eletrônica Terraço
Faculdade de Direito
Fonte: Desenho da autora

É nestes espaços coletivos criados nos edifícios da UDP


que também é possível encontrar algumas espécies vegetais
que retomam as características naturais anteriores a fundação
do bairro e a praça existente no setor. No entanto, dos oito
edifícios analisados, apenas a Faculdade de Economia
manteve as árvores preservadas, enquanto a Faculdade de
Direito apresenta apenas algumas espécies de baixa estatura
em seu pátio interno e a Biblioteca Nicanor Parra tem parte
de seu terraço coletivo e fachadas ocupados por espécies
vegetais. Esta configuração mínima diminui o impacto dos
edifícios da Universidade Diego Portales como formadores de
espaços coletivos sustentáveis, que ampliam o contato entre
os usuários e a natureza.

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3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

Figura 518 O último aspecto que iremos abordar, na relação dos


Vegetação Faculdade Economia
Figura 519 edifícios da Universidade Diego Portales com o contexto
Vegetação Faculdade de Direito existente da Paisagem Urbana, é o gabarito do setor. Conforme
Fonte: Foto da autora, Dez/2012
Figura 520 levantamentos realizados pela Corporación Universitária, a
Vegetação Biblioteca Nicanor altura das edificações originais do setor é regular variando
Parra
Fonte: site www.mathiasklotz.com de 1 a 3 pisos, sendo que “as quadras que tem construções
acessado em 19/11/2012 de quatro a cinco pisos, resultam das primeiras renovações
urbanas de alturas moderadas e regulares que tendem a criar
um efeito de homogeneidade” (PÉREZ, OCHOA E PINO,
2004, p.86).
Figura 521
Gabarito baixo característico
da origem do bairro na Esquina
Vergara e Grajales
Fonte: Livro Santiago
SurPoniente, 2004, p.91

Esta configuração levou os edifícios da UDP a preservar


o gabarito do bairro com edifícios de até cinco níveis,
mantendo-se três níveis na Faculdade de Saúde, Edifício
de Usos Múltiplos e Faculdade de Direito, quatro níveis no
Centro de Extensão, Faculdade de Economia e Faculdade de
Arquitetura e cinco níveis na Biblioteca Nicanor Parra.

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3.1 Os edifícios e a paisagem

preexistente: no caso da Faculdade de Saúde, o terceiro nível


ficou recuado, praticamente imperceptível para o transeunte
da Avenida Ejército, preservando a fachada patrimonial,
enquanto na Faculdade de Direito o terceiro nível passou a
Figura 524
Fachada Faculdade de Saúde ficar projetado sobre o edifício existente, voltando o edifício ao
Fonte: Foto da autora, Dez/2012 alinhamento predial.

Figura 525
Fachada Faculdade de Direito
Fonte: Imagem cedida pela UDP

Quanto à Faculdade de Arquitetura, também foi


construído um novo nível sobre o edifício preexistente, o
qual alcançou quatro níveis. Embora toda a fachada da
Faculdade de Arquitetura seja nova, porque foi acrescentada
no momento da intervenção no recuo frontal, a diferenciação
entre os pavimentos inferiores e o último pavimento é
assinalada recuando-se o nível que foi acrescentado. Este
recuo do último pavimento evidencia os três primeiros níveis
na fachada, reafirmando em um primeiro olhar a característica
histórica do bairro de edifícios de até três pisos. Além disso,
a criação de um quarto nível recuado reforça o recurso do
acréscimo verificado na Faculdade de Saúde, com a criação
de uma sacada contínua, que também parece fazer referência
à sacada histórica existente no terceiro nível do Edifício de
Usos Múltiplos.

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3.1 Os edifícios e a paisagem

Figura 526
Fachada Faculdade de
Arquitetura, Artes e Desenho
Fonte: Imagem cedida pela UDP

O segundo exemplo com gabarito de quatro pisos é


o Centro de Extensão que ainda não foi executado. Este
projeto manteve o alinhamento da fachada preexistente,
mas a transformou em uma grande parede mural destituída
de aberturas nos pavimentos superiores. Esta característica
criará quatro níveis atrás de uma fachada que acompanha os
três níveis do edifício histórico ao lado.
Figura 527
Fachada Centro de Extensão e
Biblioteca Nicanor Parra
Fonte: Imagem cedida pela UDP

O terceiro edifício que apresenta um gabarito de quatro


pisos é a Faculdade de Economia. Esta fachada foi criada
entre os dois volumes preexistentes, com a construção de um
edifício completamente novo. Esta configuração mais livre do
contexto permitiu que o edifício fosse trabalhado com uma
fachada única, sem diferenciações do último nível, a não ser a
pequena diferença do térreo, abordada anteriormente.

No entanto, o projeto da Faculdade de Economia não foi


construído na íntegra, sendo que o projeto original previa mais
um pavimento, o que levaria o edifício a ter um total de cinco

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 284
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3.1 Os edifícios e a paisagem

níveis, tal qual a construção preexistente existente ao lado e


como no edifício da Biblioteca Nicanor Parra.
Figura 528
Fachada Faculdade de Economia
Fonte: site www.mathiasklotz.com
acessado em 19/11/2013

A Biblioteca Nicanor Parra foi construída de forma a não


ter que precisar se importar com edifícios preexistentes; no
entanto, resguardou características históricas do entorno,
principalmente do Edifício de Usos Múltiplos, que com ela
faz fronteira. Esta configuração permitiu que o edifício fosse
construído com cinco pisos, sendo um térreo de pé-direito
maior e quatro pavimentos superiores, respeitando a mesma
configuração do edifício novo criado na área posterior do
Edifício de Usos Múltiplos, sendo que a fachada não apresenta
mudança do último pavimento frente aos anteriores, tal como
na Faculdade de Economia.
Figura 529
Fachada Biblioteca Nicanor Parra
Fonte: site www.mathiasklotz.com
acessado em 19/11/2013

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3.1 Os edifícios e a paisagem

A escala, segundo Waisman (2011, p.192-193) “é


fundamental para a compreensão do entorno e para preservar
o sentido da trama”. Desta forma, ao manter o gabarito baixo
na fachada, os edifícios da Universidade Diego Portales
preservam o sentido da trama e a percepção do entorno. No
entanto, ao criar níveis recuados com varandas, ou projetados
para funcionar como um mirante, sua arquitetura transforma a
relação do usuário com o entorno criando novas visuais.

Para a Faculdade de Saúde e o Edifício de Usos Múltiplos


foi construído um edifício com número de pisos superior ao
número de pisos das fachadas preexistentes, na área posterior
do terreno. O edifício novo da Faculdade de Saúde alcança o
gabarito de seis pisos, e o Edifício de Usos Múltiplos abordado
anteriormente alcança o gabarito de cinco pisos.

Sobre o ultimo pavimento da Faculdade de Saúde, do


Edifício de Usos Múltiplos, da Faculdade de Arquitetura, do
Centro de Extensão e da Biblioteca Nicanor Parra, foram
construídos terraços; e no caso da existência de coberturas,
as mesmas foram recuadas. Os terraços preservam as
configurações das fachadas e a relação com o contexto
histórico, mas transformam a relação do usuário com o
contexto ao criar novas visuais em um espaço, que, diferente
das sacadas das fachadas, é de uso inteiramente coletivo.

A criação de novas visuais não relaciona a paisagem


apenas como um hospedeiro à obra arquitetônica, mas,
segundo Torrent (2010, p.155), abraça esta paisagem como
uma experiência fenomenológica. Nesta visão de um grupo de
arquitetos chilenos contemporâneos “as considerações visuais
têm dado origem a outras mais complexas, considerações
sensoriais que constituem uma parte da experiência de
indivíduos e suas relações com a geografia e cultura no
território”. A criação de terraços coletivos e novas visuais nos
edifícios da UDP não se trata somente de observar a paisagem,
mas de sentir e experimentar este contexto; de permitir que
o usuário amplie a sua experiência cultural, geográfica e
reconheça a importância destes lugares.

Para o autor Diez (2009 p.03), as pequenas atitudes de


infiltração no tecido urbano existente, tanto na trama urbana,
quanto na escala dos edifícios e novos usos, “começaram a
gerar um novo olhar sobre a geografia urbana, fazendo visíveis
as vantajosas condições ambientais de ruas de bairros cuja

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 286
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.1 Os edifícios e a paisagem

escala de pedestre é extremamente atrativa”. Estas ações tem


um maior alcance, levando as qualidades inerentes a esses
bairros a serem reconhecidas por mais pessoas, “estimulando
assim um processo de inversão e recuperação do espaço
urbano.”.

As qualidades patrimoniais inerentes à paisagem urbana


do Bairro Universitário de Santiago, como a manutenção
do alinhamento predial, do vazio no miolo da quadra e da
baixa escala do setor foram preservadas na intervenção da
Universidade Diego Portales e com elas, segundo Waisman
(2011, p.193), “os hábitos visuais e motizes” dos grupos que
fazem parte deste bairro também foram preservados, trazendo
a “facilidade das relações sociais, bem como da apreensão
do entorno urbano”. Além disso, as mudanças pontuais e as
transformações no térreo e nos gabaritos, somadas à criação
da permeabilidade da quadra e dos espaços coletivos, geraram
uma transformação constante na relação deste usuário com o
contexto, pois, ao perceber o entorno na escala condizente
aos hábitos locais, o usuário passa a vivenciar este mesmo
entorno de forma distinta, como um habitat em que são
acrescentando novas experiências geográficas e culturais,
auxiliando na requalificação do bairro.

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3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

3.2 OS EDIFÍCIOS E A ARQUITETURA PATRIMONIAL


Além do valor da paisagem urbana, outro valor importante
a se reconhecer no Bairro Universitário de Santiago é o
valor da arquitetura. As características arquitetônicas, com
suas tipologias, principalmente estrutural, funcional e formal,
definem, juntamente com a paisagem urbana, o caráter
do bairro. A intervenção pode preservar ou transformar
estas características, como também pode relacionar a nova
arquitetura com a histórica, e estabelecer dentro de arquiteturas
históricas novas experiências entre o usuário e o ambiente
pré-estabelecido, trazendo a pluralidade e a hibridização à
escala sensorial do pedestre.

O patrimônio arquitetônico, segundo Waisman (2011,


p.102), pode ser reconhecido através dos tipos arquitetônicos
em suas diversas articulações. O tipo é considerado como
“princípio da arquitetura” ou “sujeito histórico”, em que o histórico
se refere pela presença dos “elementos fundamentais de uma
série de objetos históricos”, como também histórico porque “se
insere na história ao ser capaz de aceitar transformações, de
servir de base a novas invenções, mantendo, no entanto, uma
continuidade que poderia ser considerada de base estrutural.”.

Logo, a compreensão dos tipos arquitetônicos presentes


no contexto histórico do Bairro Universitário de Santiago pode
“servir de base às novas invenções” e direcionar algumas
posições arquitetônicas nas arquiteturas novas que auxiliam
na preservação e transformação das relações do usuário com
Figura 530 as obras. Entre as principais categorias de análise quanto à
relação dos edifícios da UDP com
as características históricas da tipologia, a autora Waisman (2011, p.115) aborda a tipologia
arquitetura patrimonial. formal, a tipologia funcional e a tipologia estrutural.
Fonte:Elaboração da autora

Vale ressaltar, que neste trabalho não se pretende


catalogar possíveis tipologias em um momento histórico, como
da arquitetura contemporânea, visto que as mesmas não
parecem estabelecer modelos tipológicos, mas apresentam
soluções conforme a necessidade de cada obra, contexto e
experiências sensoriais. A compreensão das características
arquitetônicas patrimoniais em tipologias permite observar
estas como características de significado cultural do contexto
em questão, que estabelecem pontos de referência, que, em
uma intervenção, podem ser retomados ou contrastados na

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 288
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

permitem a utilização de paredes de vedação independente


da estrutura do edifício. Tal configuração modifica em uma
primeira instância o significado da mensagem dada pelo
edifício, substituindo o peso pela leveza, a massa pela
transparência e a superfície pelo esqueleto.
Figura 532
Maquete eletrônica Estrutura
Faculdade de Saúde
Fonte: Desenho da autora

Figura 533
Maquete eletrônica Estrutura
Edifício de Usos Múltiplos, Centro
de Extensão e Biblioteca Nicanor
Parra
Fonte: Desenho da autora

Figura 534
Maquete eletrônica Estrutura
Faculdade de Economia
Fonte: Desenho da autora

Figura 535
Maquete eletrônicaEstrutura
Faculdade de Direito
Fonte: Desenho da autora

Figura 536
Maquete eletrônica Estrutura
Faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho
Fonte: Desenho da autora

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3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

aberturas retangulares, que trazem leveza à massa pré-


Figura 541
estabelecida, criando uma superfície porosa e transformando
Parede com aberturas retângulares a parede espessa em uma conectora visual, deixando de ser
Fonte: Foto cedida pela UDP
um obstáculo.

Figura 542
Parade em L Estas mudanças na espacialidade dos ambientes e nos
Fonte: Desenho da autora
materiais retomam, segundo Torrent (2010, p.140), o objetivo
dessa arquitetura de ser mais tátil do que visual, isto é, “ao
preferir o tátil sobre visual, o assunto torna-se central e os
detalhes (em uma evasão de seu papel retórico) tornam-se
os instrumentos privilegiados para fazer as condições da
experiência evidente”. Os espaços são repletos de materiais
diversos, cuidadosamente aplicados em determinadas
localizações e aberturas translucidas nos pisos e tetos que
trabalham a luz como um destes detalhes que o usuário
experimenta conforme percorre os ambientes dos edifícios.
Mais do que evidenciar a estrutura, a intervenção da UDP é
principalmente “caracterizada pela inclusão de um registro de
corpos em movimento, que recorre à experiência do espaço-
tempo” (TORRENT, 2010, p.140).
Figura 543
Área de descanso e corredor com
piso e teto translucido na Biblioteca
Nicanor ParraFonte: Foto cedida
pela UDP

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 292
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

Figura 544 e 545 Estas mudanças na espacialidade dos ambientes e nos


Faculdade de Saúde
Fonte: Imagens cedidas pela UDP materiais retomam, segundo Torrent (2010, p.140), o objetivo
Figura 546 dessa arquitetura de ser mais tátil do que visual, isto é, “ao
Corredor subsolo Fac. Economia
Figura 547 preferir o tátil sobre visual, o assunto torna-se central e os
Corredor subsolo Fac. Arquitetura detalhes (em uma evasão de seu papel retórico) tornam-
Fonte: Fotos da autora, Dez/2012
se os instrumentos privilegiados para fazer as condições
da experiência evidente”. Diante disso, os espaços são
repletos de materiais diversos, cuidadosamente aplicados em
determinadas localizações e aberturas translucidas nos pisos
e tetos que trabalham a luz como um destes detalhes que
o usuário experimenta conforme percorre os ambientes dos
edifícios. Mais do que evidenciar a estrutura, a intervenção
da UDP é principalmente “caracterizada pela inclusão de um

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 293
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

registro de corpos em movimento, que recorre à experiência


do espaço-tempo” (TORRENT, 2010, p.140).

As novas espacialidades criadas extrapolam os edifícios


novos da Universidade Diego Portales e trazem transformação
para algumas partes dos edifícios patrimoniais. No caso do
Edifício de Usos Múltiplos, parte do teto de um dos ambientes
históricos é substituída por uma cobertura de piso translucido,
ampliando o movimento dos ambientes; e um dos corredores
históricos tem parte do piso e do teto transformado em
vãos que, embora mantenham em um primeiro momento a
configuração do corredor histórico, modificam a experiência do
usuário neste contexto. Por outro lado, nos edifícios históricos
Figura 548
Acesso corredor histórico Edifício da Faculdade de Saúde, uma abertura inusitada no primeiro
de Usos Múltiplos pavimento cria um acesso aéreo entre o edifício histórico e
Figura 549
Acesso aéreo entre edifício histórico o novo, ampliando o espaço completamente encapsulado da
e novo. sala existente anteriormente.
Fonte: Fotos da autora, Dez/2012

A segunda tipologia proposta por Waisman é a


tipologia funcional. Esta se refere à disposição dos espaços
internos e à articulação entre os mesmos, conforme os
usos empregados. Na arquitetura patrimonial presente nos
terrenos da Universidade Diego Portales, da Faculdade de
Saúde e Edifício de Usos Múltiplos, existe uma organização
centralizada, em que os ambientes internos são acessados a
partir de uma área articuladora, que pode ser um hall como
no edifício central da Faculdade de Saúde e Edifício de Usos
Múltiplos, ou uma sala como o edifício a sudeste do terreno da
Faculdade de Saúde.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 294
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

Na Faculdade de Saúde, com similaridade aos edifícios


patrimoniais, no edifício novo posterior no térreo existe uma
organização centralizada, em que os ambientes internos são
acessados a partir de uma área ampla articuladora. Enquanto
no edifício novo construído atrás da fachada preservada do
último edifício sem valor patrimonial a região frontal e posterior
do edifício são conectadas a partir de um corredor. Embora
um corredor interno ao edifício se diferencie da configuração
dos edifícios históricos, este corredor novo traz ambiguidades
na medida em que funciona como corredor fechado, mas
visualmente as fronteiras do corredor se expandem, uma
vez que existe uma parede de vidro que acompanha toda
a extensão do mesmo, se conectando ao vão intermediário
entre o edifício histórico e o novo, que retoma a ideia de um
hall maior articulador. Nos outros pavimentos superiores os
ambientes dos dois edifícios novos passam a ser articulados
a partir de um corredor linear ao vão intermediário, que amplia
a percepção do grande hall conector pelos usuários através
dos pavimentos.
Figura 552
Analogia Edifício Histórico e Novo
Fonte: Desenho da autora

Mais duas similaridades podem ser observadas entre


a configuração dos edifícios patrimoniais e o edifício novo
criado na área posterior do terreno. Primeiramente, o hall de
passagem lateral do edifício central patrimonial, que também
pode ser chamado corredor histórico, é parcialmente mantido
no novo edifício através da criação de uma pequena passagem
ao lado da escada central. Esta composição estabelece

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 296
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

continuidades e uma relação direta do acesso ao espaço


articulador do edifício novo a partir de um corredor, com a
configuração do edifício patrimonial a sudeste. No entanto,
diferentemente do hall conector do edifício patrimonial, o
corredor novo é marcado por um pé-direito de três níveis que
transforma a percepção do usuário.

A segunda similaridade é estabelecida na divisão tripartida


do edifício patrimonial com vazio central, pois o edifício novo,
alocado na área posterior do terreno, também apresenta uma
planta tripartida, marcada por um vazio central e dois cheios
laterais e uma alternância do menor vão nas escadas ao
maior vão na conexão com a Faculdade de Comunicação. No
entanto, estas semelhanças passam por transformações, nas
quais um dos “cheios” laterais passa a fazer parte do vazio
central, além de uma amplitude marcada pelos vãos maiores
do edifício novo, que levam o usuário a experimentar não
apenas este edifício novo, mas os espaços da Faculdade de
Comunicação, o pátio central e o edifício histórico.

O térreo do Edifício de Usos Múltiplos também é


marcado por uma grande área de exposição articuladora,
que se conecta não com os ambientes internos dos edifícios,
mas apenas com a rua, a Biblioteca Nicanor Parra e um novo
corredor que estabelece a conexão vertical para os outros
ambientes internos do edifício novo. Esta configuração repete
os dois acessos do edifício patrimonial à frente, mantendo um
ambiente como passagem conectora e outro como espaço
não apenas articulador, mas de uso coletivo. Os pavimentos
superiores são marcados por um corredor de acesso lateral
que dá visibilidade ao pequeno vão entre o edifício patrimonial
e histórico.
Figura 553
Relação edifício Histórico e Novo
Fonte: Desenho da autora

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 297
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

A Biblioteca Nicanor Parra dá continuidade no térreo aos


dois acessos pré-estabelecidos do Edifício de Usos Múltiplos,
mas une os dois em um grande hall de exposição no acesso
principal frontal da biblioteca. Esta configuração implica na
disposição dos ambientes internos em dois grupos que ficam
separados conforme as duas passagens existentes. Ademais,
o hall de exposição do Edifício de Usos múltiplos é expandido
na área da Biblioteca até alcançar o centro do edifício, no qual
se configura como um grande pátio central. Nos pavimentos
superiores, o corredor lateral do edifício novo é mantido e se
abre a outro espaço coletivo de descanso, como o espaço
servidor, separado dos os outros ambientes dispostos ao
redor do pátio coletivo, que conectados, a partir das torres de
circulação e acesso privativo, demarcam os espaços servidos.

O acesso ao edifício patrimonial e o hall que conecta a


rua à frente do edifício patrimonial com os fundos do terreno
são tratados de forma ambígua no térreo do edifício novo, uma
vez que o edifício da Biblioteca também apresenta acessos
laterais, mas os dois acessos nas laterais se tornam um único
acesso conectado a partir de uma rampa, e a passagem que
se inicia na lateral, ao se dividir em duas passagens, tem uma
das passagens transformadas de lateral à central. Isto parece
Figura 554
demonstrar uma mudança hierárquica, na qual os halls de
Fluxos entre Edifício de Usos passagem constituem o elemento principal no edifício novo
Múltiplos e Biblioteca Nicanor Parra
e são vistos como elementos articuladores de transformação
Fonte: Desenho da autora
urbana e criação de espaços coletivos.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 298
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

O Centro de Extensão também tem acesso lateral, mas,


por apresentar apenas um acesso com um vão grande, parece
externamente um vão central parcialmente deslocado. A
articulação interna dos ambientes deste edifício se configura a
partir de um corredor lateral, contínuo ao limite do terreno com
a Biblioteca Nicanor Parra, que alterna a função de passagem
para área de exposição e circulação do auditório, conforme os
pavimentos.

A Faculdade de Economia, embora sem edifícios


patrimoniais em seu terreno, apresenta no térreo a característica
histórica do acesso lateral do edifício e a articulação dos
espaços ao redor de um grande pátio coletivo. No entanto, o
pequeno volume da escada e os volumes da abertura zenital
do subsolo, dividem parcialmente a área deste pátio coletivo
em dois corredores, sendo que um conduz ao acesso do
edifício, à Faculdade de Humanidades e à escada que liga
os pavimentos superiores, enquanto o outro conecta os dois
edifícios preexistentes, os espaços internos da Faculdade de
Economia e uma segunda torre de circulação com banheiros
em um corredor aberto.

Os pavimentos superiores são marcados por um corredor


de acesso na área oposta ao pátio coletivo. A configuração do
térreo retoma a entrada lateral e os corredores de passagem,
mas extrapola os mesmos com espaços descobertos de uso
coletivo.
Figura 555
Acessos Faculdade de Economia
Fonte: Desenho da autora

A Faculdade de Direito é marcada por um grande edifício


preexistente; e na intervenção, após fechar a abertura existente
para a Rua Salvador Sanfuentes e uma das aberturas na
Avenida República, passou a apresentar apenas uma entrada
lateral na Avenida República, com similaridade aos edifícios

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 299
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

Na intervenção, algumas similaridades foram observadas


em relação às características patrimoniais. Primeiramente,
na manutenção de um acesso lateral nos edifícios novos;
mas nos edifícios da Faculdade de Economia, Direito e
Arquitetura, este acesso se difere um pouco dos patrimoniais
por se encontrarem levemente deslocados da extremidade do
terreno.

Uma segunda característica observada foi a presença


de corredores conectores, que, como passagens, articulam
os acessos dos edifícios com a parte posterior do terreno,
aos grandes ambientes articuladores e outros edifícios da
universidade. No entanto, estes corredores não têm todas suas
faces completamente delimitadas, pois apresentam mudanças
em uma das paredes laterais (Faculdade de Arquitetura, Direito
e Centro de extensão), ou no teto (Faculdade de Saúde), ou
no piso, teto e paredes laterais (Edifício de Usos Múltiplos,
Biblioteca Nicanor Parra).

Esta configuração diversificada não apenas retoma o


corredor como um elemento de passagem, mas transforma a
relação do usuário com o edifício e entorno conforme percorre
este espaço conector ampliando a experiência visual, tátil e
cultural do transeunte, pois a mudança de paredes aumenta
a visibilidade de outros ambientes internos ao edifício, da
estrutura preexistente e da vizinhança (Faculdade de Direito).
A mudança de gabarito e a existência de vãos translúcidos nos
tetos e pisos, transformam a visão estática das superfícies do
corredor em superfícies de constante movimento, nas quais o
usuário pode sentir as mudanças de iluminação, ventilação,
sombras e materiais.

O terceiro e último elemento que foi observado em


relação ao tipo funcional, é a presença de pátios centrais
ou grandes halls como elementos articuladores do edifício.
Assim como nos edifícios patrimoniais em que halls ou salas
centrais articulavam o acesso às demais partes dos edifícios,
estas áreas centrais dos edifícios novos também articulam
os acessos aos outros ambientes que se encontram ao seu
redor. No entanto, estas áreas são tratadas com uma grande
importância, não apenas articuladora, mas de apropriação
coletiva, como praças públicas nas quais se desenvolvem
atividades diversas.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 302
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

Figura 559 O último tipo abordado por Waisman é o tipo formal, que se
Análise edifícios Tipologia Funcional
Fonte: Elaboração Autora refere às características estéticas, principalmente relacionadas
às fachadas, volumes e linguagens arquitetônicas. As
mansões patrimoniais presentes nos terrenos da universidade
e no Bairro Universitário de Santiago remontam a época de
fundação do bairro; segundo Pérez, Ochoa e Pino (2004,
p.112), “entre os anos 1830 e 1925”, com uma arquitetura de
influência francesa e eclética que se “caracteriza por utilizar e
reinterpretar os elementos dos estilos tradicionais adaptando-
os aos edifícios e programas modernos, na maior parte dos
casos, combinando duas ou três correntes estilísticas.”.

Segundo levantamento realizado por Pérez, Ochoa e Pino


(2004, p.112), podem ser encontrados no bairro vários estilos
como “Ecléticos com elementos das correntes Neocolonial,
Neorromânica, Neomedieval, Historicista, Neobarroco,
Neogótico e Art Nouveau” além do estilo Tudor, Art Deco, e
principalmente o Classicismo.
Figura 560
Edifícios históricos Setor Sul-
Poniente, com vãos verticais e
balaustres.
Fonte: Livro Santiago Sur Poniente,
2004, p.112

Os edifícios patrimoniais alocados nos terrenos da


Universidade Diego Portales, segundo as características

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 303
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

abordadas pelo levantamento do livro Santiago Sur-


Poniente (2004), parecem pertencer ao estilo Classicismo.
Principalmente devido à presença de “vãos verticais que
dão ritmo a fachada pela repetição de um módulo, cornisas
projetadas, frontões, colunas e balaústres”.
Figura 561
Edifício Usos Múltiplos antes da
intervenção de 2003
Fonte: Imagem cedida pela USE

No Edifício de Usos Múltiplos é possível observar um


módulo padrão nos cinco vãos verticais centrais e um maior
nos dois vãos laterais, além de pequenas colunas retangulares
e a cornisa que se projeta na fachada, enquanto que sobre a
cornisa no último pavimento, balaústres demarcam a varanda.
Das características abordadas no levantamento, apenas o
frontão não é encontrado neste edifício.
Figura 562
Faculdade de Saúde, antes da
intervenção de 2003
Fonte: Imagem cedida pela USE

Nos edifícios que ocupam o terreno da Faculdade de


Saúde, o Edifício a sudeste tem a repetição de um módulo
padrão em cinco vãos verticais. Além disso, este edifício

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 304
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

de aberturas com formatos verticais e é possível encontrar a


presença de similaridades com os acabamentos de edifícios
vizinhos. Em contraste, materiais, dimensões e composições
trazem às antigas configurações uma nova forma do usuário
se relacionar com o contexto.

A volumetria retangular que demarca os edifícios


patrimoniais é retomada nos edifícios novos, pois estes
acompanham os limites do terreno, tal qual aos edifícios
históricos, sendo que, em alguns casos, aparecem pátios
centrais que se relacionam diretamente com as casas-pátios,
também características do Setor Sudeste.

A fachada histórica marcada por vãos retangulares


verticais que retratam não apenas os edifícios históricos
presentes nos terrenos da UDP, como também os edifícios
patrimoniais do setor, é recriada nas fachadas dos edifícios
novos. Diferentemente das pequenas aberturas verticais,
panos envidraçados, que abrangem toda a fachada, são
marcados por desenhos verticais, ora transparentes, ora com
películas coloridas ou opacas. Esta característica retoma uma
Figura 573
Fachada Histórica com aberturas
característica histórica sem copiá-la, transformando-a em um
verticais Ed. Usos Múltiplos novo elemento que muda a percepção do entorno pelo usuário,
Figura 574
Corte BB sem escala
criando novas visuais e uma fachada dinâmica que mescla a
Fonte: Redesenho da autora transparência com a opacidade e que traz luz aos ambientes
internos, impedindo a visibilidade total destes ambientes por
observadores externos.

Diferentemente das fachadas históricas, as fachadas


novas são trabalhadas como “peles”, ou seja, a fachada é
tratada como superfícies que, conforme o material empregado
e suas dimensões, diferem-se em aspectos visuais e táteis,
sendo que em alguns casos perpassam os pavimentos,
deixando a estrutura do edifício camuflada. Esta configuração
distinta, mas comum entre os edifícios, cria uma imagem
padrão da Universidade Diego Portales e expressa uma
estética atual.

Entre os principais materiais empregados nas fachadas,


se evidenciam o vidro com películas e o material metálico
perfurado. As Faculdades de Saúde, Economia, Edifício de
Usos Múltiplos e duas das fachadas internas da Faculdade
de Arquitetura são marcados pelos vidros com desenhos
retangulares, com alternância de cheios, vazios e cores.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 307
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

Figura 575
Faculdade de Saúde
Figura 576
Ed. Usos Múltiplos
Fonte: Imagens cedidas UDP
Figura 577
Faculdade de Economia
Fonte: Site www.mathiasklotz.com
acessado em 19/11/2013
Figura 578
Faculdade de Arquitetura, Artes e
Desenho
Fonte: Imagem cedida UDP

No entanto, na fachada externa da Faculdade de


Arquitetura, além da presença dos vidros retangulares foram
acrescentadas venezianas retangulares que fazem referência
Figura 579
não apenas ao formato retangular e vertical das aberturas
Mansão histórica com venezianas históricas, como também às venezianas presentes em alguns
Figura 580
Fachada FAAD
casarões históricos, como o edifício da esquina próxima a
Fonte: Fotos da autora, Dez/2012 Faculdade de Arquitetura.

Figura 581
Fachada externa Fac. de Direito Já a Faculdade de Direito é marcada por vãos verticais
Figura 582 vazados através dos pilares em cor branca opaca internamente,
Fachada Interna Fac. de Direito
Fonte: Fotos da autora, Dez/2012
por pequenas aberturas do edifício preexistente nos

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 308
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

pavimentos inferiores externamente e por vidros translúcidos


com desenhos retangulares no terceiro piso.

Figura 583
Fachada Vitrine Ampliação FAAD Os edifícios mais novos, das outras duas fachadas internas
Figura 584
Fachada Metálica muxarabi Am- da Faculdade de Arquitetura construídas na Ampliação, a
pliação FAAD Biblioteca Nicanor Parra e o Centro de Extensão, mantém
Figura 585
Fachada Externa Biblioteca a ideia da pele, mas somam outros materiais aos edifícios,
Figura 586 trazendo novas experiências aos usuários. Uma das fachadas
Fachada interna Biblioteca
Fonte: Fotos da autora, Dez/2012 da Faculdade de Arquitetura é marcada por uma estrutura
aérea metálica, com pequenas aberturas desenhadas, como
um grande muxarabi. Já a outra fachada, mantém as aberturas
verticais, mas como pequenos volumes retangulares verticais
projetados sobre a fachada em vitrines.

A Biblioteca Nicanor Parra cria uma fachada dupla, na qual


aparece uma primeira pele de vidro com desenhos verticais e
sobre a mesma são criados floreiras e cabos de aços cruzados
que servirão para que a vegetação cresça sobre a fachada e
constitua uma segunda pele verde. E o edifício do Centro de
Extensão é marcado por uma fachada frontal cega, que pode
vir a ser usada como um espaço de comunicação dos eventos
que serão realizados no local.

A análise da tipologia formal permite estabelecer algumas

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 309
3. O conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales e o Bairro Universitário de Santiago: Preservação e Transformação
3.2 Os edifícios e a Arquitetura Patrimonial

continuidades e diferenças entre a arquitetura histórica e nova.


A arquitetura nova parece preservar algumas características
históricas e acompanhar adequadamente as configurações dos
edifícios existentes, trazendo transformações sem se sobrepor
à característica histórica do contexto do Bairro Universitário
de Santiago, contribuindo assim, para a requalificação do
setor. Sobre este processo, Waisman (2011, p.194) afirma “Se
a nova linguagem acompanha adequadamente os edifícios
existentes, contribui para valorizar um patrimônio que talvez
possa ter passado despercebido”.

Ademais, as outras características abordadas quanto à


relação da intervenção dos edifícios da Universidade Diego
Portales com o patrimônio arquitetônico no tipo estrutural e
funcional, retomam algumas características patrimoniais, mas
estabelecem novas espacialidades e diferentes formas do
usuário experimentar estes ambientes.

Dentre os diferentes espaços dos novos edifícios, são os


espaços voltados a usos coletivos como os pátios, terraços,
corredores e restaurantes, que apresentam os ambientes
mais sensitivos, com mudanças de eixos visuais, iluminação
e mescla de materiais diversos. Os espaços coletivos
como os pátios são tratados de forma centralizada. Estas
características mostram valor dado aos espaços coletivos não
apenas para o funcionamento destes edifícios, como também
para a requalificação deste setor histórico.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 310
Considerações Finais

Considerações Finais
A presente pesquisa analisou oito obras selecionadas
do conjunto de edifícios da Universidade Diego Portales
(UDP), implantados no Bairro Universitário de Santiago no
Chile, assim como os arquitetos responsáveis pelas mesmas:
Mathias Klotz, Renzo Alvano, Pablo Riquelme e Ricardo
Abuauad.

Por se tratar de um conjunto de edifícios contemporâneos


do século XXI inseridos em um sítio histórico, este trabalho
abordou, também, as principais características físicas presentes
neste sítio, inclusive as propostas para a requalificação do
setor, realizadas paralelamente à intervenção da Universidade
Diego Portales.

Dentre os principais valores presentes no sítio histórico do


Bairro Universitário de Santiago, foram evidenciados valores
urbanos e arquitetônicos, como a malha quadriculada, padrão
espanhol, a baixa escala do bairro, a presença de vazios no
interior das quadras, as fachadas contínuas, o predomínio de
vãos verticais e elementos de base e coroamento horizontal
nos edifícios históricos, assim como a presença de residências
com pátios centrais.

Foi proposta nos anos de 2003 e 2004, a criação de


um Campus Urbano Aberto e mudanças nas normativas
patrimoniais. Quanto à criação de um Campus Urbano
Aberto, os edifícios das Universidades estariam dispersos
na malha urbana e ao se integrar aos outros usos da cidade
estabeleceriam novos espaços coletivos e intensificariam
o fluxo no setor, ao criar permeabilidades nas quadras
fechadas. As mudanças nas normativas patrimoniais previam
maior preocupação com as características arquitetônicas dos
bens de interesse patrimonial e também a manutenção da
escala baixa e fachada contínua no bairro, desafios que foram
resolvidos pelos arquitetos dos edifícios da Universidade
Diego Portales.

O Plano de Infraestrutura da Universidade Diego


Portales se inseriu neste plano maior de requalificação do
Bairro Universitário de Santiago, no qual integrantes da
Universidade Diego Portales, ao fazerem parte da Corporación
Universitária de Santiago, participaram de todos os processos
de levantamento e propostas para o setor, incorporando as

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 312
Considerações Finais

propostas em seu próprio plano de infraestrutura.

Do primeiro Plano proposto nos anos de 2002 e 2003


e executado nos próximos dois anos, foram construídos seis
edifícios, dos quais cinco foram analisados neste trabalho:
Faculdade de Saúde, Edifício de Usos Múltiplos, Faculdade de
Economia, Faculdade de Direito e Faculdade de Arquitetura,
Artes e Design (FAAD). Posteriormente a universidade voltou
a expandir sua infraestrutura no setor com a criação de novos
edifícios; desses, três foram selecionados para análise neste
trabalho, por estarem diretamente conectados com os do
primeiro plano: Biblioteca Nicanor Parra, Centro de Extensão
e Ampliação da FAAD.

Na análise destes edifícios, juntamente com os arquitetos


responsáveis, foram evidenciadas algumas características
arquitetônicas e urbanas que se repetem no conjunto de
edifícios da Universidade Diego Portales em relação à
preservação e transformação do contexto da paisagem
urbana e do patrimônio arquitetônico do sítio histórico. Essas
características retratam algumas temáticas que têm estado
presentes em um grupo de arquitetos contemporâneos chilenos
e também em discussões contemporâneas relacionadas à
integração da arquitetura e urbanismo e à visão da arquitetura
como um objeto de intervenção que transforma o contexto
em que se insere, principalmente através de mudanças na
percepção do usuário.

Dentre as características analisadas nos edifícios


selecionados em relação à paisagem urbana, foram retomados
os principais elementos considerados como valores do sítio
histórico (quadra fechada, escala baixa e vazio no interior
das quadras), juntamente com os espaços públicos do setor,
em relação às características presentes no conjunto da UDP.
Esta relação buscou evidenciar os elementos que podem ser
identificados nas obras com o intuito de preservar os valores
urbanos do sitio. Buscou também evidenciar as transformações
propostas pela intervenção, que modificam a percepção do
usuário neste contexto.

Os principais elementos encontrados nas obras em


relação à preservação foram a manutenção e, em alguns
casos, a reconstrução da fachada contínua; a preservação do
gabarito baixo nas fachadas voltadas às ruas; a manutenção
dos vazios nos miolos de quadra como pátios coletivos; e a

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 313
Considerações Finais

criação de espaços públicos internos aos edifícios. Nesse


sentido, essas mesmas características são marcadas por
ambiguidades, na medida em que a intervenção não apenas
preserva, mas transforma a relação do usuário com esses
valores. Dentre as principais características observadas nas
obras, destacam-se a criação de permeabilidade nas quadras,
de loggias e espaços intermediários no térreo e terraços e
pátios coletivos.

Das características analisadas no conjunto de edifícios


da Universidade Diego Portales em relação ao contexto
arquitetônico patrimonial, foram abordadas relações de
contraste e similaridade entre a arquitetura nova e histórica,
evidenciados na tipologia estrutural, funcional e formal. Foram
observadas relações contrastantes entre materiais, formas
e espacialidades distintas; e similaridades no sentido da
disposição da planta tripartida, da continuidade de corredores
históricos no edifício novo, da predominância de aberturas
retangulares verticais e da criação de pátios centrais.

Foram observados alguns casos em que a arquitetura


patrimonial tinha o seu valor principal preservado, mas
foram acrescentadas pequenas mudanças que modificavam
a forma do usuário perceber e vivenciar esses ambientes,
principalmente através da criação de aberturas translucidas
nos pisos e tetos, que geravam mudanças nos eixos visuais
dos transeuntes, assim como a alternância de luz e sombra e
mescla de materiais diversos.

Na Análise dos edifícios e suas propostas de intervenção


foram identificadas também algumas referências dos edifícios
da Universidade Diego Portales a outros edifícios históricos
ou tipologias arquitetônicas. A proposta da criação de loggias
nos edifícios da UDP retoma um tipo arquitetônico histórico,
também presente em alguns edifícios históricos chilenos do
centro fundacional; a construção de pátios centrais retoma a
característica dos primeiros colégios da história arquitetônica,
como também a presença de casas-pátios no Bairro
Universitário de Santiago e a casa-pátio que hoje faz parte
do Campus de arquitetura da Pontifica Universidade Católica
de Santiago (Lo Contador); a criação de permeabilidade da
quadra através dos edifícios universitários se relaciona às
antigas galerias do centro fundacional de Santiago do Chile.

A intervenção da Universidade Diego Portales retoma

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 314
Considerações Finais

algumas temáticas relacionadas à Arquitetura Contemporânea


global e Arquitetura Chilena local. Quanto à Arquitetura
Contemporânea Global, os edifícios da UDP são trabalhados
como infiltração, conceito defendido por Diez (2009), no qual
a arquitetura se torna um instrumento de transformação da
relação do usuário com o contexto através da inserção e criação
de novas propostas em brechas urbanas e arquitetônicas,
como a ocupação dos vazios do miolo de quadra ou de áreas
desvalorizadas, presentes nos edifícios da UDP.

Outra questão é a integração da arquitetura com a


área urbana, através da criação de espaços coletivos. Esse
conceito, defendido por Manoel Solá-Morales (2008), hibridiza
os espaços públicos e privados, no sentido de contribuir para
a maior apropriação desses locais pela população e a criação
de lugares com significado. Esse tema também é defendido
por Munizaga (2006), na criação de espaços coletivos, na
proposta da criação do Campus Urbano Aberto e de quadras
permeáveis. Ademais, essas questões retomam autores como
Portzamparc (1997) e Montaner (2008).

Quanto às temáticas da Arquitetura Contemporânea


Chilena, segundo Torrent (2010) e levantamento, realizado
neste trabalho, do histórico e principais obras dos arquitetos
Mathias Klotz, Renzo Alvano, Pablo Riquelme e Ricardo
Abuauad, foram identificadas: a valorização do contexto (o
projeto surge muitas vezes a partir da relação com o terreno
e suas características históricas e físicas); a valorização da
forma (volumes retangulares com separação de usos públicos
e privados) e da materialidade (materiais como comunicadores
de significados novos e históricos, na utilização de materiais
locais como pedra e madeira ou vidros translúcidos, reflexivos
e coloridos); e a valorização da vivência do espaço pelo
usuário (criação de novas visuais, de percursos que mesclam
espaços abertos e fechados e espacialidades diversificadas e
amplamente sensoriais).

Logo, a análise do Conjunto de Edifícios da Universidade


Diego Portales possibilitou um olhar mais detalhado e
aprofundado sobre os objetivos teóricos relacionados a uma
intervenção contemporânea em sítios consolidados. O estudo
também possibilitou identificar quais valores devem ser
observados em uma intervenção arquitetônica e urbana por
criarem uma dinâmica de preservação e transformação de sítios

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 315
Considerações Finais

históricos e/ou degradados. Esta pesquisa vem a contribuir


com algumas diretrizes para intervenções contemporâneas
em sítios consolidados, no intuito de requalificá-los, como
resposta às grandes áreas urbanas que atualmente se
encontram abandonadas ou deterioradas em diversos países,
necessitando de olhares e atitudes que venham a contribuir
para a transformação positiva das localidades.

Ademais, a partir das características encontradas nas


obras da Universidade Diego Portales e da inserção das obras
em um debate mais amplo da arquitetura local e global, esta
pesquisa pode observar algumas das temáticas relacionadas à
Arquitetura Contemporânea atual e sua relação com a Cidade,
trazendo desafios para a construção de novas arquiteturas,
que consideram valores históricos, físicos e sociais, portando-
se como elementos de intervenção capazes de agregar valor,
ao transformar percepções e relações do usuário com o sítio
em que se inserem.

Arquitetura contemporânea e a requalificação do sítio consolidado: o conjunto edificado do Campus da UDP 316
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