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AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS MARÍTIMAS NO BRASIL:

EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS

Cristiano Vilardo Nunes Guimarães

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS


PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS
PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM PLANEJAMENTO
ENERGÉTICO.

Aprovada por:

___________________________________________
Prof. Emílio Lèbre La Rovere, D.Sc.

___________________________________________
Profª. Alessandra Magrini, D.Sc.

___________________________________________
Prof. Sérgio Luiz Costa Bonecker, D.Sc.

___________________________________________
Dra. Telma Maria Marques Malheiros Carvalho, D.Sc.

RIO DE JANEIRO/RJ - BRASIL


JUNHO DE 2007
GUIMARÃES, CRISTIANO VILARDO NUNES

Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas


Marítimas no Brasil: Evolução e Perspectivas [Rio
de Janeiro] 2007

XVIII, 288 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,


Planejamento Energético, 2007)

Dissertação – Universidade Federal do Rio de


Janeiro, COPPE

1. Avaliação Ambiental

2. Impacto Ambiental

3. Licenciamento Ambiental

4. Sísmica

I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

ii
À Luiza.

iii
AGRADECIMENTOS

À Luiza, por escolher compartilhar essa vida comigo (ao invés de escolher um
cabeludo sarado e tatuado).

Ao Joãozinho, por iluminar nossa vida e nos ensinar a beleza que há em um


sorriso banguela.

Aos meus pais, por me ensinarem aquelas coisas que não sei onde aprendi.

À minha família, pela tão saudável bagunça.

À Tia Sonia, pela inestimável ajuda com o netinho – sem a qual esse trabalho
não teria sido concluído nessa década.

Ao prof. Emilio, por gentilmente aceitar esse aluno relapso como orientando.

Aos professores Alessandra Magrini, Sérgio Bonecker e Telma Malheiros por


aceitarem o convite para a minha banca de avaliação.

À Izabella Teixeira, pela grande orientação naquele momento inicial de


organização de idéias – o que me permitiu caminhar até aqui.

Ao amigo Rodrigo Medeiros, pelo suporte generoso e essencial para que esse
estagiário possa trilhar seu próprio caminho. Vida longa à confraria!

Ao pequeno grande chefe e amigo Edmilson Maturana, pelo apoio irrestrito e


compreensão pelo passo de quelônio da dissertação, o meu muito obrigado e a minha
sincera admiração.

Ao meu chefe mais recente e parceiro constante de Maracanã, Zé Eduardo


Évora, pelo apoio irrestrito para a realização desse trabalho e pelo companheirismo.

Aos meus amigos e colegas do IBAMA, em especial a equipe de sísmica –


passada e presente – que acompanharam e incentivaram essa jornada,
compreendendo minhas ausências e gentilmente aceitando meus “pitacos”. Alguns
nomes são inevitáveis pela importância profissional, afetiva e etílica: Aninha,
Alessandra, Alex Campos, Batata, Cespedes, Cristina, Gil, Guto, Leonardo, Mônica,
Rafaela, Tadeu, Tatiana...

Ao meu cumpadre Alexandre Lopes, pela amizade incondicional, pelos papos


de botequim e pela sociedade anônima.

Aos meus amigos de turma(s) no PPE, em especial ao companheiro de


picareta Pablo Fernandez, pela escassa porém divertida convivência.

Aos meus amigos da vida, estejam perto ou longe, pela alegria compartilhada.

Aos profissionais que contribuíram para essa dissertação com “comunicações


pessoais”, alguns mesmo sem me conhecer pessoalmente, muito obrigado.

À Sandrinha, Secretária Acadêmica do PPE, pelo senso de iniciativa tão


incomum nas secretarias do mundo e, especialmente, pelos milagres que realiza pelos
alunos relapsos.

iv
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS MARÍTIMAS NO BRASIL:


EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS

Cristiano Vilardo Nunes Guimarães

Junho/2007

Orientador: Emilio Lèbre La Rovere

Programa: Planejamento Energético

Este trabalho busca analisar a evolução da prática de avaliação ambiental de


pesquisas sísmicas marítimas no Brasil, notadamente realizada no âmbito do processo
de licenciamento ambiental federal da atividade. Para tal, inicialmente caracteriza-se o
estado-da-arte do conhecimento técnico-científico sobre a tecnologia e sobre os seus
impactos ambientais. Posteriormente, é realizada uma revisão conceitual sobre o
processo de Avaliação de Impacto Ambiental. Em seguida, detalha-se a experiência
internacional sobre o assunto em três países selecionados: Estados Unidos da
América, Canadá e Noruega. A evolução do modelo brasileiro de avaliação ambiental,
incluindo o estabelecimento de um marco regulatório, é registrada em suas dimensões
técnica, legal e institucional. A discussão dos resultados compara o modelo brasileiro
com a experiência internacional e com a situação anterior à Resolução CONAMA n°
350/04, à luz das melhores práticas de avaliação ambiental. A conclusão aponta
diversos ganhos obtidos a partir da regulamentação do licenciamento da atividade,
mas também identifica importantes problemas a serem encarados como desafio pelos
gestores. É sugerido ainda que o Brasil se encontra em um patamar excelente de
desempenho frente à experiência internacional, considerando a rápida evolução do
modelo nacional de avaliação ambiental de pesquisas sísmicas e o destaque em
pontos como mitigação do impacto na biota marinha e a mediação do conflito com a
atividade pesqueira artesanal. A título de recomendações, são identificadas algumas
oportunidades para aperfeiçoamento do processo, mas considera-se que não há
necessidade imediata de revisão conceitual da Resolução CONAMA n° 350/04.

v
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

ENVIRONMENTAL ASSESSMENT OF MARINE SEISMIC SURVEYS IN BRAZIL:


EVOLUTION AND PERSPECTIVES

Cristiano Vilardo Nunes Guimarães

June/2007

Advisor: Emilio Lèbre La Rovere

Department: Energy Planning

This work aims to analyse the evolution of marine seismic surveys


environmental assessment practice in Brazil, noticeably in the environmental licensing
process at federal level. The work begins with characterizing the state-of-the-art of the
technical-scientific knowledge regarding the technology and its environmental impacts.
Then, a conceptual revision of the Environmental Impact Assessment process is
conducted. The following section reviews the international experience on the subject in
three selected countries: United States of America, Canada and Norway. Further, the
evolution of the Brazilian environmental assessment model, including the
establishment of a regulatory landmark, is registered in its technical, legal and
institutional dimensions. A comparison is made between the Brazilian model and the
selected international experience as well as the present situation versus the status
prior to CONAMA Resolution No. 350/04, considering the environmental assessment
best practices. The conclusion points out that several improvements were achieved
after the issuance of the new environmental licensing regulations, but some important
shortcomings are identified and should be addressed as challenges by regulators. It
also suggests that Brazil is at an excellent performance stage when compared to
international experience, considering the quick evolution of national environmental
assessment model for seismic surveys and the remarkable practices on mitigation of
the impacts on marine biota and conflict mediation regarding artisanal fishing activity.
As recommendations, some opportunities for process improvement are identified, but it
is considered that the CONAMA Resolution No. 350/04 need not be conceptually
revised in the short term.

vi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AAE Avaliação Ambiental Estratégica


AAP Avaliação Ambiental Programática
ABR Auditory Brainstem Response
AIA Avaliação de Impacto Ambiental
ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
BAMPETRO Banco de Dados Ambientais para a Indústria do Petróleo
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CE Categorical Exclusion
CEAA Canadian Environmental Assessment Agency
CEQ Council for Environmental Quality
CER Categorical Exclusion Review
CFR Code of Federal Regulations
CGPEG Coordenação Geral de Petróleo e Gás
CMA Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos
Aquáticos
C-NLOPB Canada – Newfoundland and Labrador Offshore Petroleum Board
CNP Confederação Nacional dos Pescadores
C-NSOPB Canada – Nova Scotia Offshore Petroleum Board
COEXP Coordenação de Exploração
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPRM Serviço Geológico do Brasil
CPROD Coordenação de Produção
CPUE Captura Por Unidade de Esforço
DFO Department of Fisheries and Oceans
DIAND Department of Indian Affairs and Northern Development
DIFAP Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros
DILIC Diretoria de Licenciamento Ambiental
DPC Diretoria de Portos e Costas
EA Environmental Assessment
EAD Empresa de Aquisição de Dados
EAS Estudo Ambiental de Sísmica
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EIS Environmental Impact Statement
ELPN Escritório de Licenciamento das atividades de Petróleo e Nuclear

vii
FCA Ficha de Caracterização da Atividade
FONSI Finding Of No Significant Impact
FWS Fish and Wildlife Service
GEIA Grupo de Estudos de Impacto Ambiental
GIA Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais
GT Grupo de Trabalho
IAGC International Association of Geophysical Contractors
IAIA International Association for Impact Assessment
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBP Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás
IHA Incidental Harassment Authorization
IMR Institute of Marine Research
LEP Licença Especial para Perfuração
LI Licença de Instalação
LO Licença de Operação
LP Licença Prévia
LPS Licença de Pesquisa Sísmica
MARPOL Convenção Internacional para a Prevenção de Poluição por Navios
MMA Ministério do Meio Ambiente
MME Ministério de Minas e Energia
MMPA Marine Mammals Protection Act
MMS Minerals Management Service
MPE Ministry of Petroleum and Energy
NEB National Energy Board
NEPA National Environmental Policy Act
NOAA National Oceanic and Atmosferic Administration
NPD Norwegian Petroleum Directorate
NRC Natural Resources Canada
NTL Notice to Lessees and Operators
OCS Outer Continental Shelf
OEMA Órgão Estadual de Meio Ambiente
OGP International Association of Oil and Gas Producers
OMM Organização Meteorológica Mundial
PCAS Plano de Controle Ambiental de Sísmica
PEA Programmatic Environmental Assessment

viii
PEIS Programmatic Environmental Impact Statement
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PSA The Petroleum Safety Authority Norway
PTS Permanent Threshold Shift
REVIZEE Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na
Zona Econômica Exclusiva
RIAS Relatório de Impacto Ambiental de Sísmica
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
ROV Remotely Operated Vehicle
SEAP/PR Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca / Presidência da República
SFT The Norwegian Pollution Control Authority
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
TR Termo de Referência
TTS Temporary Threshold Shift
UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFPR Universidade Federal do Paraná
VEC Valued Ecosystem Components

ix
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação esquemática de uma aquisição de dados sísmicos


utilizando cabos flutuantes. ............................................................................ 12
Figura 2: Pesquisas Sísmicas 2D realizadas nas Bacias de Santos e Campos.
Essa cobertura significa conhecimento das estruturas geológicas em
escala regional. Fonte: BDEP – Banco de Dados de Exploração e
Produção - www.bdep.gov.br ......................................................................... 13
Figura 3: Linhas de navegação do navio sísmico em levantamento 2D (a) e 3D
(b) (Gausland, 2003)....................................................................................... 14
Figura 4: Representação do procedimento usual de manobra do navio sísmico
em um levantamento 3D com cabos flutuantes (Gulland e Walker,
1998)............................................................................................................... 15
Figura 5: Exemplos de imagens obtidas em levantamentos 2D (a) e 3D (b).
Repare na imagem 3D que o volume obtido após o processamento é
plenamente tridimensional, possibilitando a visualização de qualquer
“fatia” intermediária......................................................................................... 15
Figura 6: Visualização das estruturas geológicas após o processamento dos
dados sísmicos tridimensionais. ..................................................................... 16
Figura 7: Um canhão de ar (Fonte: www.bolt-technology.com). .................................. 17
Figura 8: Representação esquemática do funcionamento de um canhão de ar
(Fonte: http://www.bolt-
technology.com/Marine_Air%20Guns_Title_Page.htm). ................................ 18
Figura 9: Assinatura da Fonte de um único canhão de ar de 40 polegadas
cúbicas (0,66 litros), gravado a 300 m de distância vertical do canhão
(Dragoset, 2000)............................................................................................. 19
Figura 10: Representação esquemática de um sub-arranjo de canhões de ar
(Christie et al., 2001). ..................................................................................... 21
Figura 12: Conceito de “afinação” de um arranjo de canhões de ar. Os números
à esquerda das assinaturas superiores são os volumes dos canhões em
polegadas cúbicas. A assinatura inferior simula como seria a emissão
de um arranjo formado pelos seis canhões de ar, gravada a 300 m de
distância vertical do arranjo (Dragoset, 2000). ............................................... 22
Figura 13: Exemplo de assinatura far-field de um arranjo de 4.800 polegadas
cúbicas (MMS, 2004) A pressão acústica peak-to-peak retro-calculada é
de cerca de 120 bar-m.................................................................................... 23
Figura 14: Espectro de amplitudes para um arranjo comumente utilizado (MMS,
2004)............................................................................................................... 27
Figura 15: Gráficos que descrevem a direcionalidade da emissão sonora dos
arranjos de canhões de ar (MMS, 2004). O gráfico (a) refere-se à
propagação no plano vertical perpendicular ao deslocamento do navio e
o gráfico (b) no plano vertical paralelo ao deslocamento do navio................. 29
Figura 16: Cabo flutuante enrolado no carretel de armazenamento. Repare no
tamanho das pessoas ao fundo, para efeito de comparação. ........................ 31
Figura 17: Dispositivo de controle de profundidade – bird – sozinho (a) e acoplado ao
streamer (b) ..................................................................................................... 32

x
Figura 18: Representação esquemática da sísmica de cabos de fundo
multicomponente (OBC/4C)............................................................................ 33
Figura 19: Ilustração da recente tecnologia de pesquisa sísmica com cabo de
fundo utilizando apenas uma embarcação. Note que os cabos
sismográficos são presos a bóias na superfície, permitindo a redução de
custos de uma operação como essa (Fonte: www.rxt.com). .......................... 35
Figura 20: Exemplo de geração de energia sonora: um alto falante (Fonte:
www.fisica.net)................................................................................................ 42
Figura 21: Comparação entre as freqüências conhecidas de vocalização de
alguns mamíferos e as bandas de emissão (total e de pico de energia)
de um típico canhão de ar (MMS, 2004). ....................................................... 51
Figura 22: Área de restrição temporária para realização de pesquisas sísmicas
em função da Baleia Jubarte – área hachurada em azul. Período
proibido: julho a novembro. Profundidade: 0 - 500 metros. Adaptado de
IBAMA (2006a). .............................................................................................. 57
Figura 23: Área de restrição temporária para realização de pesquisas sísmicas
em função da Baleia Franca – área hachurada. Período proibido: junho
a 15 de dezembro. Profundidade: 0 - 50 metros. Adaptado de IBAMA
(2006a). .......................................................................................................... 58
Figura 24: Audiograma de peixe-boi marinho comparado com audiograma
subaquático humano (adaptado de Gerstein, 2002). Perceba que os
seres humanos ouvem melhor debaixo d’água em baixas freqüências do
que os peixes-boi............................................................................................ 60
Figura 25: Áreas de restrição para realização de pesquisas sísmicas em função
do Peixe-boi marinho. Período proibido: setembro a maio (áreas
hachuradas em azul) e o ano inteiro (áreas cinza). Profundidade: 0 – 12
metros. Adaptado de IBAMA (2006a)............................................................. 61
Figura 26: Áreas de restrição temporária para realização de pesquisas sísmicas
em função das Tartarugas Marinhas – área hachurada em azul. Período
proibido: Outubro a Fevereiro (Dezembro a Março na área mais ao
norte). Distância da costa: até 15 milhas náuticas (aprox. 28 km).
Adaptado de IBAMA (2006a).......................................................................... 64
Figura 27: Exemplos da capacidade auditiva estimada de algumas espécies de
peixes (adaptado de Hastings e Popper, 2005). É importante ressaltar
que a faixa de freqüências dominante no pulso sísmico vai de 10 a 200
Hz (Gulland e Walker, 1998; Gausland, 1998, 2003). .................................... 68
Figura 28: Regime de exposição aos disparos de um canhão de ar utilizado por
McCauley et al. (2000 e 2003). O eixo vertical representa o nível sonoro
(dB rms de 95% da energia do sinal) medido por hidrofones preso à
gaiola onde os peixes se encontravam. O eixo horizontal mostra a hora
local. ............................................................................................................... 70
Figura 29: a) Exemplo de epitélio sensorial auditivo saudável, obtido de peixe
não-exposto aos disparos do canhão de ar. b) Fotografia do epitélio
sensorial auditivo de peixe exposto aos disparos do canhão de ar,
mostrando células ciliadas “esmagadas” e um “buraco” no epitélio.
(McCauley et al.; 2000 e 2003)....................................................................... 71
Figura 30: Aparência do epitélio sensorial auditivo de peixes expostos
novamente aos disparos do canhão de ar 58 dias após a primeira
exposição. Observe a presença de uma rede de finos filamentos,

xi
possivelmente indicando um processo de reparo inflamatório (McCauley
et al., 2000). As amostras foram obtidas imediatamente após a segunda
exposição........................................................................................................ 73
Figura 31: Adaptação de um gráfico apresentado pela Dra. Chandra Salgado-
Kent em Seminário Internacional no Rio de Janeiro mostrando a tardia,
porém existente, tendência de recuperação do epitélio sensorial auditivo
de Pagrus auratus. ......................................................................................... 74
Figura 32: Localização da área experimental (Engås et al.,1996). Profundidades
em metros. A – Malha amostral da prospecção hidroacústica. B –
Malha amostral das pescarias de espinhel (barras) e arrasto (círculos).
As amostras foram categorizadas com relação à distância da área da
pesquisa sísmica (0, 1-3, 7-9 e 16-18 milhas náuticas) ................................. 76
Figura 33: Localização do experimento escocês (adaptado de Wardle et al.,
2001). Os quadrados representam as diferentes posições do arranjo de
canhões de ar e o X marca o local da câmera de filmagem........................... 81
Figura 34: Alguns quadros da filmagem exemplificando o susto-C em peixes
(Wardle et al., 2001). ...................................................................................... 82
Figura 35: Localização do estudo de Slotte et al. (2004). À direita, o desenho
amostral dos cruzeiros de prospecção acústica realizados antes,
durante e depois da pesquisa sísmica (figura adaptada de Slotte et al.,
2004)............................................................................................................... 84
Figura 36: Representação esquemática do desenho experimental conduzido pela
equipe do GIA em 2004 no litoral de Tinharé-Boipeba/BA. A
profundidade local era de 10 metros. (GIA, 2004).......................................... 89
Figura 37: Localização dos experimentos brasileiros com peixes recifais de 2004.
Elaboração própria sobre imagem do software Google Earth. ....................... 91
Figura 38: Desenho esquemático representando o experimento conduzido em
2004 por GEIA/Everest no litoral de Barra Grande/BA. A profundidade
local era de 19 metros. (GEIA/Everest, 2004) ................................................ 92
Figura 39: Desenho final do experimento de Barra Grande, com a indicação dos
5 pulsos sísmicos que provocaram reações comportamentais
perceptíveis nos peixes nos tanques-rede. A tabela sintetiza as
informações obtidas no monitoramento do decaimento sonoro.
(GEIA/Everest, 2004)...................................................................................... 93
Figura 40: Quadros de uma filmagem mostrando em detalhes o disparo de um
canhão de ar. O raio da bolha gerada neste caso deve representar
cerca de 1 metro. (Vídeo obtido em CD-ROM fornecido ao IBAMA pela
IAGC – Associação Internacional das Empresas de Sísmica – Seção
Brasil em 2004. Disponível na CGPEG/IBAMA)........................................... 102
Figura 41: Representação do “processo genérico” de Avaliação de Impacto
Ambiental. Fonte: Baseado em Sánchez (2006). ......................................... 112
Figura 42: Diagrama conceitual para determinação da necessidade de
preparação de estudos ambientais (Sánchez, 2006). .................................. 114
Figura 43: Diagrama representando o campo de aplicação da Avaliação de
Impacto Ambiental (Sánchez, 2006)............................................................. 115
Figura 44: Estrutura conceitual de um Estudo de Impacto Ambiental. A
abrangência e profundidade de cada atividade são definidas na etapa
de Determinação do Escopo. A depender da natureza do

xii
empreendimento, questões associadas ao risco acidental devem ser
inseridas nessa estrutura.............................................................................. 121
Figura 45: Localização e divisão política dos Estados Unidos da América. Fonte:
www.nationalatlas.gov .................................................................................. 141
Figura 46: Divisão da plataforma continental dos Estados Unidos em áreas de
planejamento, com destaque para as áreas em avaliação para o
programa de licitações 2007-2012. (Adaptado de MMS, 2006a) ................. 143
Figura 47: Representação esquemática do processo de avaliação ambiental
introduzido pela NEPA - National Environmental Policy Act nos Estados
Unidos. Fonte: Adaptado de Sánchez, 2006. ............................................... 145
Figura 48: As imagens representam as pesquisas sísmicas 3D autorizadas pelo
MMS entre 1993 e 2001, sendo a) 1993-1995 (169 autorizações); b)
1996-1998 (180 autorizações); c) 1999-2001 (106 autorizações); e d)
1993-2001 (total de 455 autorizações). (Figuras adaptadas de MMS,
2004 e dados quantitativos obtidos em MMS, 2005).................................... 149
Figura 49: Áreas de planejamento para exploração petrolífera na Região do
Alasca. Atualmente, só existem contratos de concessão ativos no Mar
de Beaufort e na Área de Cook Inlet, estando previstas licitações no Mar
de Chukchi e na Bacia de North Aleutian no programa de 2007-2012.
Fonte: www.mms.gov/alaska e MMS, 2006a. .............................................. 150
Figura 50: Localização e divisão política do Canadá, representando as províncias
ao sul e os territórios ao norte. Fonte: www.wikipedia.com.......................... 154
Figura 51: Divisão da competência federal para a regulação do setor petrolífero
offshore no Canadá. Em amarelo, as áreas não-cobertas por Acordos
de Gestão. Em branco, a área do Acordo Canadá-Newfoundland e
Labrador. Em cinza escuro, área do Acordo Canadá-Nova Scotia.
Fonte: www.neb.gc.ca .................................................................................. 156
Figura 52: Esquema representando os diferentes níveis de avaliação ambiental
previstos no CEA Act. Fonte: Baseado em CEAA, 2003.............................. 157
Figura 53: Localização e divisão política da Noruega. Fonte: www.wikipedia.com.... 165
Figura 54: Zoneamento estabelecido pelo Plano de Gestão Integrada Barents –
Lofoten. Adaptado de Ministry of the Environment, 2006. ............................ 173
Figura 55: Nível de atividade da indústria de pesquisa sísmica em águas
norueguesas no período 1962 – 2006. Fonte: Adaptado de Stenløkk,
2007.............................................................................................................. 175
Figura 56: Variação mensal do número de embarcações sísmicas operando
simultaneamente em águas brasileiras (Cosme Peruzzolo, ex-
presidente da IAGC Brasil, comunicação pessoal, 2006). ........................... 183
Figura 57: Evolução recente do preço do barril de óleo cru no mercado spot em
dólares americanos (IEA, 2006). .................................................................. 184
Figura 58: Esquema-síntese do modelo de licenciamento conduzido atualmente
pelo IBAMA com base na Resolução CONAMA nº 350/04 (IBAMA,
2005a)........................................................................................................... 198
Figura 59: Tempo necessário para a emissão das Licenças de Operação no
período pré-Resolução CONAMA n° 350/04, descontando-se o tempo
necessário para elaboração de complementações e esclarecimentos
pelo empreendedor....................................................................................... 207

xiii
Figura 60: Evolução anual do tempo médio de licenciamento no período pré-
Resolução CONAMA nº 350/04. Os números em branco correspondem
ao número de licenças concedidas no respectivo ano. ................................ 208
Figura 61: Tempo necessário para a emissão das Licenças de Pesquisa
Sísmica, descontando-se o tempo necessário para elaboração de
complementações e esclarecimentos pelo empreendedor. As licenças
assinaladas com um asterisco são referentes a processos que foram
iniciados antes da vigência da nova resolução, tendo sido penalizados
com um procedimento de transição. Legenda de cores: Azul - Classe 1;
Grená - Classe 2; Verde - Classe 3. Atualizado até janeiro/2007. ............... 209
Figura 62: Tempo necessário para a emissão de todas as licenças já concedidas
para pesquisas sísmicas marítimas no Brasil – levantamento atualizado
até janeiro/2007. As linhas pontilhadas dividem os anos. A linha
contínua representa a evolução da média anual de tempo de
licenciamento, estando a média de 2007 comprometida pelo baixo
número de amostras. O número presente em cada período anual
representa a quantidade de licenças emitidas naquele ano......................... 211
Figura 63: Representação gráfica da evolução da composição do quadro técnico
do ELPN-CGPEG, ao final de cada ano. Não foram considerados os
cargos administrativos ou de chefia do escritório. (Fonte: Relatórios
anuais ELPN-CGPEG e Malheiros, 2002) .................................................... 222
Figura 64: Evolução anual do tempo médio de licenciamento de pesquisas
sísmicas marítimas no Brasil. A Resolução CONAMA n° 350/04 entrou
em vigor em novembro/2004. Os números em branco representam a
quantidade de licenças expedidas no ano.................................................... 243

xiv
LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1: Compilação de alguns dados da bibliografia sobre respostas


comportamentais de cetáceos........................................................................ 59
Tabela 2: Resumo das condições experimentais do estudo no litoral das Ilhas de
Tinharé e Boipeba, no litoral da Bahia (adaptado de GIA, 2004). .................. 87
Tabela 3: Dados recentes sobre o número de pesquisas sísmicas autorizadas
pelo MMS no Golfo do México (Geofísico Ronald Brinkman, MMS Golfo
do México, comunicação pessoal, 2007). Não estão representadas as
pesquisas realizadas no âmbito de Contratos de Concessão. ..................... 149
Tabela 4: Avaliações Ambientais Estratégicas conduzidas até o momento na
costa Atlântica do Canadá. Todos os estudos estão disponíveis nos
sites das agências (www.cnlopb.nl.ca e www.cnsopb.ns.ca). ...................... 163
Tabela 5: Síntese do nível de atividade recente da indústria de pesquisa sísmica
marítima nas áreas de Newfoundland & Labrador e Nova Scotia.
Fontes: CAPP, 2006c; C-NLOPB (www.cnlopb.nl.ca); C-NSOPB, 2002,
2003, 2004, 2005, 2006................................................................................ 164
Tabela 6: Síntese do quadro regulatório relativo às atividades de pesquisa
sísmica marítima nas jurisdições estudadas. ............................................... 180
Tabela 7: Diferenciação das modalidades de aquisição de dados sísmicos
perante a ANP. ............................................................................................. 185
Tabela 8: Reuniões do Grupo de Trabalho do CONAMA que resultou na
Resolução nº 350/04..................................................................................... 191
Tabela 9: Resumo comparativo da itemização básica dos Estudos Ambientais
exigidos para cada classe de licenciamento. ............................................... 199
Tabela 10: Prazos máximos a serem observados no licenciamento ambiental da
pesquisa sísmica pré-Resolução CONAMA nº 350/04................................. 202
Tabela 11: Prazos máximos a serem observados no licenciamento ambiental da
pesquisa sísmica após a entrada em vigor da Resolução CONAMA nº
350/04........................................................................................................... 202
Tabela 12: Todas as licenças já emitidas para a atividade de pesquisa sísmica
marítima até janeiro de 2007. ....................................................................... 204
Tabela 13: Dados quantitativos referentes às classes de licenciamento pós-
Resolução CONAMA nº 350/04, incluindo nº de licenças, tempo médio,
máximo e mínimo de licenciamento e média de revisões necessárias
para a aprovação dos estudos ambientais. Atualizado até janeiro/2007. .... 209
Tabela 14: Resumo dos principais projetos ambientais exigidos pelo IBAMA para
a realização de pesquisas sísmicas marítimas. ........................................... 213
Tabela 15: Áreas de Restrição Temporária à realização de pesquisas sísmicas
marítimas estabelecidas atualmente pelo IBAMA. ....................................... 215
Tabela 16: Evolução da composição do quadro técnico do ELPN-CGPEG, ao
final de cada ano. Não foram considerados os cargos administrativos ou
de chefia do escritório................................................................................... 221
Tabela 17: Audiências Públicas realizadas para o licenciamento ambiental da
atividade de pesquisa sísmica em águas brasileiras.................................... 228

xv
Tabela 18: Comparação entre algumas diretrizes regulamentares de mitigação
das jurisdições selecionadas. Adaptado de Weir e Dolman (2007).............. 239
Tabela 19: Síntese dos aspectos positivos e negativos do modelo brasileiro de
avaliação ambiental de pesquisas sísmicas marítimas frente à
experiência internacional analisada.............................................................. 241
Tabela 20: Média mensal de pesquisas sísmicas simultâneas na costa brasileira
após a abertura do mercado. Fonte: elaborada a partir de dados
fornecidos por Cosme Peruzzolo, ex-presidente da IAGC Brasil em
2006.............................................................................................................. 242

Quadro 1: Listagem das espécies de cetáceos com ocorrência no Brasil


(adaptado de IBAMA, 2001). .......................................................................... 48

xvi
SUMÁRIO

RESUMO .......................................................................................................................... V
ABSTRACT ...................................................................................................................... VI
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 1
OBJETIVOS ...................................................................................................................... 3
ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................................. 4
METODOLOGIA ................................................................................................................. 6
PARTE 1: A ATIVIDADE DE PESQUISA SÍSMICA MARÍTIMA E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS ..... 8
1. CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE PESQUISA SÍSMICA MARÍTIMA ............................ 9
1.1. Histórico da tecnologia............................................................................................... 10
1.2. Fundamentos ............................................................................................................. 11
1.2.1. Sísmica 2D ........................................................................................................ 12
1.2.2. Sísmica 3D ........................................................................................................ 13
1.3. A fonte de energia...................................................................................................... 16
1.3.1. O pulso sísmico................................................................................................. 19
1.3.2. A escala dB ....................................................................................................... 24
1.3.3. Composição de freqüências.............................................................................. 26
1.3.4. Direcionalidade do pulso sísmico...................................................................... 28
1.4. O sistema de registro................................................................................................. 30
1.4.1. Cabos flutuantes (streamers)............................................................................ 30
1.4.2. Cabos de Fundo (Ocean Bottom Cable – OBC)............................................... 33
1.5. Outras metodologias.................................................................................................. 35
2. IMPACTOS AMBIENTAIS DA PESQUISA SÍSMICA MARÍTIMA ......................................... 37
2.1. Aspectos ambientais relevantes da pesquisa sísmica .............................................. 40
2.1.1. Emissão sonora do navio .................................................................................. 40
2.1.2. Emissão sonora dos canhões de ar.................................................................. 41
2.1.3. Lançamento de substâncias no mar ................................................................. 43
2.1.4. Risco acidental .................................................................................................. 44
2.1.5. Utilização do espaço marítimo .......................................................................... 45
2.2. Impactos ambientais da pesquisa sísmica ................................................................ 46
2.2.1. Mamíferos Marinhos.......................................................................................... 46
2.2.1.1. Cetáceos ...................................................................................................................47
2.2.1.2. Sirênios...................................................................................................................... 59
2.2.2. Quelônios Marinhos .......................................................................................... 61
2.2.3. Peixes................................................................................................................ 64
2.2.4. Invertebrados .................................................................................................... 97
2.2.4.1. Moluscos ...................................................................................................................98
2.2.4.2. Crustáceos ................................................................................................................99
2.2.5. Plâncton .......................................................................................................... 101
2.2.6. Recifes............................................................................................................. 102
2.2.7. Atividade Pesqueira ........................................................................................ 104
2.3. Síntese “conclusiva”................................................................................................. 105
PARTE 2: AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS MARÍTIMAS ......................... 108
3. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS, ETAPAS E MELHORES PRÁTICAS 109
3.1. Origem e difusão...................................................................................................... 110
3.2. O Processo de Avaliação de Impacto Ambiental..................................................... 111
3.2.1. Triagem ........................................................................................................... 113
3.2.2. Determinação do Escopo ................................................................................ 116
3.2.3. Elaboração do Estudo de Impacto Ambiental ................................................. 120
3.2.3.1. Diagnóstico.............................................................................................................. 121
3.2.3.2. Prognóstico..............................................................................................................123

xvii
3.2.3.3. Medidas de Gestão ................................................................................................. 125
3.2.3.4. Elaboração do resumo em linguagem não-técnica.................................................. 126
3.2.4. Análise Técnica do Estudo de Impacto Ambiental.......................................... 128
3.2.5. Participação pública ........................................................................................ 131
3.2.6. Tomada de Decisão ........................................................................................ 133
3.2.7. Acompanhamento pós-decisão....................................................................... 134
3.3. Melhores Práticas em AIA ....................................................................................... 137
4. EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS
MARÍTIMAS ................................................................................................................... 139
4.1. Estados Unidos da América..................................................................................... 140
4.1.1. Contexto Institucional e Regulatório ............................................................... 142
4.1.2. Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas Marítimas ................................ 144
4.1.2.1. Golfo do México....................................................................................................... 145
4.1.2.2. Alasca...................................................................................................................... 149
4.2. Canadá..................................................................................................................... 153
4.2.1. Contexto Institucional e Regulatório ............................................................... 155
4.2.2. Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas Marítimas ................................ 156
4.3. Noruega ................................................................................................................... 165
4.3.1. Contexto Institucional e Regulatório ............................................................... 166
4.3.2. Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas Marítimas ................................ 169
4.4. Síntese comparativa entre os países estudados..................................................... 175
5. EVOLUÇÃO DA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS MARÍTIMAS NO
BRASIL ........................................................................................................................ 181
5.1. Breve histórico da tecnologia no Brasil.................................................................... 182
5.2. Aspectos regulatórios do setor ................................................................................ 184
5.3. Evolução do licenciamento ambiental ..................................................................... 185
5.4. A Resolução CONAMA n°350/04 ............................................................................ 190
5.5. O licenciamento segundo a Resolução CONAMA nº 350/04 .................................. 193
5.5.1. Enquadramento............................................................................................... 193
5.5.2. Classe 1........................................................................................................... 195
5.5.3. Classe 2........................................................................................................... 195
5.5.4. Classe 3........................................................................................................... 196
5.5.5. Plano de Controle Ambiental de Sísmica – PCAS.......................................... 197
5.5.6. Documentos de apoio ao licenciamento ......................................................... 200
5.6. Prazos legais............................................................................................................ 201
5.6.1. Licenças emitidas............................................................................................ 204
5.7. Mitigação, Monitoramento e Compensação ............................................................ 212
5.8. Evolução do contexto institucional........................................................................... 217
5.8.1. Histórico da composição do escritório de licenciamento ................................ 217
5.8.2. Contexto institucional interno ao IBAMA......................................................... 222
5.8.3. Contexto institucional externo ao IBAMA........................................................ 225
5.8.3.1. ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis ................... 225
5.8.3.2. Órgãos Estaduais de Meio Ambiente - OEMAs....................................................... 225
5.8.3.3. Empresas de pesquisa sísmica ............................................................................... 226
5.9. Participação pública e transparência....................................................................... 228
6. DISCUSSÃO DO MODELO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS
MARÍTIMAS NO BRASIL.................................................................................................. 233
6.1. A Prática Brasileira frente à Experiência Internacional selecionada ....................... 234
6.2. O Modelo Brasileiro atual: Ganhos obtidos e oportunidades para aperfeiçoamento. 241
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 256
RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................ 259
ANEXO - RESOLUÇÃO CONAMA N° 350/04.................................................................. 285

xviii
INTRODUÇÃO

A necessidade de compatibilização do desenvolvimento econômico com a


manutenção da qualidade ambiental tem demandado da sociedade a criação de
instrumentos de avaliação prévia de iniciativas potencialmente causadoras de
degradação ambiental. Aos poucos, foi sendo integrada aos requisitos de
planejamento territorial e setorial, assim como à gestão de recursos naturais, a
questão da Avaliação Ambiental.

A Avaliação Ambiental, genérica e sinteticamente definida, é o processo de


considerar as conseqüências ambientais de decisões antes que elas sejam tomadas 1 .
Entende-se por decisões não só aquelas que viabilizam a implementação de projetos
de intervenção sobre o meio ambiente, mas também aquelas relativas aos programas,
planos e políticas que condicionaram a existência de determinado projeto.

Dentre as diversas ferramentas existentes hoje em dia para a Avaliação


Ambiental (Avaliação Ambiental Estratégica, Avaliação de Impacto Social, Análise de
Sustentabilidade e muitas outras), a modalidade pioneira no cenário mundial e,
conseqüentemente, mais difundida atualmente é a Avaliação de Impacto Ambiental -
AIA. Dentre as diversas definições já enunciadas para a AIA, pode-se citar a da
Associação Internacional para Avaliação de Impacto – IAIA:

Avaliação de Impacto Ambiental pode ser definida como o


processo de identificar, prever, avaliar e mitigar os efeitos biofísicos,
sociais e outros efeitos relevantes de propostas de desenvolvimento
antes que decisões importantes sejam tomadas e compromissos
sejam assumidos. (IAIA, 1999)

Embora o conceito originalmente contemplasse um escopo amplo de atuação,


a prática internacional da Avaliação de Impacto Ambiental, incluindo sua
regulamentação e o seu desenvolvimento metodológico, consagrou sua aplicabilidade
ao nível de projeto. Para níveis anteriores de planejamento, como planos, políticas e
programas, têm sido desenvolvidas outras ferramentas de avaliação mais adequadas,
com metodologias e ritos próprios.

1
Livre adaptação da definição presente no site sobre meio ambiente da Comissão Européia:
http://ec.europa.eu/environment/eia/home.htm

1
Compreender o processo de avaliação ambiental de determinada atividade
humana – incluindo os aspectos condicionantes de sua evolução – é fundamental para
o aprimoramento das práticas vigentes e para a avaliação de sua efetividade e
eficiência.

Neste trabalho, será realizada uma extensa revisão do processo de avaliação


ambiental relativo à atividade de pesquisa sísmica marítima, uma etapa essencial da
exploração petrolífera contemporânea. O caso brasileiro será analisado a partir do
resgate histórico da evolução normativa e procedimental do licenciamento ambiental
da atividade, considerando a experiência internacional e o conhecimento atual sobre
os impactos ambientais da tecnologia.

É importante ressaltar que, embora sejam conceitos claramente distintos, com


origem, significado e uso diferenciados, os termos Avaliação Ambiental, Avaliação de
Impacto Ambiental e Licenciamento Ambiental acabaram sendo inevitavelmente
aproximados neste trabalho. Esta convergência se dá, neste caso específico, porque a
Avaliação Ambiental de pesquisas sísmicas no Brasil encontra-se praticamente restrita
ao nível de projeto, cujo instrumento por excelência é a Avaliação de Impacto
Ambiental. Como a aplicação da Avaliação de Impacto Ambiental no Brasil foi
fortemente vinculada ao processo de Licenciamento Ambiental através da Resolução
CONAMA nº001/86, por vezes os conceitos serão utilizados de forma intercambiável
nesta dissertação. Isto não significa, portanto, que se ignore a distinção existente entre
os conceitos, mas que a prática brasileira apresenta uma convergência tal que os
conceitos muitas vezes se referem ao mesmo processo existente na realidade.

2
OBJETIVOS

O objetivo principal desta dissertação é analisar e discutir a evolução da


avaliação ambiental da atividade de pesquisa sísmica marítima no Brasil, à luz do
conhecimento atual sobre os impactos ambientais associados à atividade. Por razões
a serem apresentadas ao longo do trabalho, a avaliação ambiental de pesquisas
sísmicas no Brasil encontra-se restrita basicamente ao processo de licenciamento
ambiental – motivo pelo qual esse instrumento de gestão ambiental pública tem papel
de destaque no presente trabalho.

Para auxiliar o desenvolvimento desta dissertação e subsidiar a consecução do


objetivo principal delimitado acima, foram estabelecidos alguns objetivos específicos
que serviram de fio condutor para a organização dos resultados da pesquisa realizada.
Esses objetivos específicos são:

1. Caracterizar a atividade de pesquisa sísmica marítima, seus


equipamentos e métodos mais utilizados atualmente.

2. Sintetizar o estado-da-arte do conhecimento científico sobre os


impactos ambientais da pesquisa sísmica marítima, para fornecer o
embasamento necessário às discussões acerca do controle ambiental da
atividade.

3. Revisar os conceitos ligados à Avaliação Ambiental, especialmente


aqueles aplicados ao nível de projeto, para subsidiar a análise da experiência
internacional e da evolução da prática brasileira relativas à atividade de
pesquisa sísmica marítima.

4. Analisar a experiência internacional em avaliação ambiental de


pesquisas sísmicas marítimas em jurisdições selecionadas, como suporte à
discussão do modelo brasileiro de avaliação.

5. Registrar a evolução regulatória da avaliação ambiental das pesquisas


sísmicas marítimas no Brasil, intrinsecamente ligada ao processo de
licenciamento ambiental.

6. Discutir o modelo brasileiro atual de avaliação ambiental de pesquisas


sísmicas marítimas, comparando-o com a situação anterior à edição da
Resolução CONAMA n° 350/04, com a experiência internacional selecionada e
com as “melhores práticas” da avaliação ambiental.

3
ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está dividido em duas partes. A primeira é dedicada à


caracterização da atividade de pesquisa sísmica marítima e de seus impactos
ambientais. Enquanto o Capítulo 1 apresenta a tecnologia atualmente utilizada pela
indústria, com foco nos elementos potencialmente causadores de impactos
ambientais, o Capítulo 2 consiste em uma profunda revisão bibliográfica sobre esses
impactos. Considera-se essencial para a discussão do modelo e dos procedimentos
de avaliação ambiental da atividade a compreensão do estado-da-arte do
conhecimento científico sobre seus impactos. Esta primeira parte procura fornecer as
bases para a discussão a ser realizada na segunda parte.

A segunda parte dedica-se mais objetivamente a analisar a prática atual de


avaliação ambiental de pesquisas sísmicas marítimas no Brasil, através da
comparação com a experiência internacional selecionada e do detalhamento da
evolução técnico-normativa no caso brasileiro.

Inicialmente, o Capítulo 3 apresenta uma revisão conceitual sobre Avaliação


Ambiental ao nível de projeto, suas diferentes etapas e as melhores práticas
internacionalmente reconhecidas.

O Capítulo 4 revisa os processos de avaliação ambiental das pesquisas


sísmicas marítimas em três jurisdições selecionadas: Estados Unidos da América,
Canadá e Noruega.

O histórico da evolução da prática brasileira de avaliação ambiental das


pesquisas sísmicas marítimas está registrado no Capítulo 5, que caracteriza o
processo antes e depois da aprovação do marco regulatório – a Resolução CONAMA
n° 350/04.

A discussão do modelo brasileiro é apresentada no Capítulo 6, à luz da


experiência internacional selecionada, das mudanças trazidas pela Resolução
CONAMA n° 350/04 e das melhores práticas em avaliação ambiental. Essa discussão
é realizada em busca da identificação de aspectos que possam ser aplicados ao
aperfeiçoamento contínuo do modelo atual aplicado às pesquisas sísmicas marítimas,
bem como ao de outras tipologias de atividades potencialmente causadoras de
impactos ambientais.

4
Por fim, a título de Conclusão, são apresentadas as considerações finais
relevantes para a compreensão da evolução da avaliação ambiental de pesquisas
sísmicas no Brasil e também as Recomendações para aperfeiçoamento futuro do
processo.

Em anexo, é apresentado o texto completo da Resolução CONAMA n° 350/04


para referência do leitor.

5
METODOLOGIA

A metodologia empregada neste trabalho de dissertação foi baseada


fortemente na pesquisa bibliográfica em meios impressos e eletrônicos sobre os
aspectos estudados nos diferentes capítulos. Essa pesquisa envolveu:

a) Revisão da bibliografia corrente, através da pesquisa em livros e artigos


científicos em periódicos de circulação nacional e internacional. A pesquisa de
artigos científicos foi realizada prioritariamente com o auxílio de ferramentas
disponíveis na internet, como o Google Acadêmico (scholar.google.com.br) e o
portal de periódicos da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (www.periodicos.capes.gov.br). Nelas, foram utilizadas
palavras-chaves relacionadas com o tema do trabalho – seismic, environmental
impact assessment, marine mammals e outras, em inglês e português. Em
geral, a referência era identificada na pesquisa no Google Acadêmico ou em
outro artigo científico e, em seguida, o acesso ao periódico dava-se via portal
CAPES.

b) Consulta a teses e dissertações desenvolvidas no Brasil. Essa pesquisa foi


realizada presencialmente na biblioteca do Programa de Planejamento
Energético – PPE/COPPE/UFRJ e via internet na Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações do Ministério da Ciência e Tecnologia (bdtd.ibict.br) e no Banco
de Teses da CAPES (servicos.capes.gov.br/capesdw).

c) Consulta a documentos e relatórios técnicos relacionados ao tema, como


Estudos de Impacto Ambiental e Informações Técnicas do IBAMA – Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Este
material foi obtido em grande parte no Centro de Documentação da
Coordenação Geral de Petróleo e Gás 2 (CGPEG) do IBAMA.

d) Pesquisa em outras instituições relacionadas direta ou indiretamente com o


tema, como órgãos reguladores, empresas de sísmica, organizações não-
governamentais, associações profissionais e outros. Esta pesquisa foi
realizada com o auxílio da internet, utilizando tanto a busca direta nos sites das
instituições, quanto servindo-se de mecanismos de busca de endereços e
documentos – destacando-se a ferramenta Google (www.google.com.br).

2
Até abril de 2006, a CGPEG era o Escritório de Licenciamento das atividades de Petróleo e
Nuclear – ELPN/IBAMA.

6
Além da pesquisa bibliográfica, foi fundamental para a confecção do capítulo
relacionado à experiência internacional a consulta pessoal a profissionais do setor nos
países em questão. Esse contato foi realizado via correio eletrônico e a seleção de
profissionais consultados se deu por conhecimento prévio do autor, pela indicação de
terceiros ou ainda através da obtenção do endereço no site da instituição no qual o
profissional trabalha.

É importante ressaltar que contribuiu de forma decisiva para a elaboração


desse trabalho a experiência pessoal do autor na análise de processos de
licenciamento ambiental de pesquisas sísmicas no IBAMA, assim como as atividades
correlatas que a função de analista ambiental proporciona. Desta forma, também
serviram de subsídio à discussão dos resultados a vivência do autor em reuniões
técnicas, audiências públicas, congressos científicos e, notadamente, a participação
no International Workshop on E&P Sound and Marine Life, realizado de 30 de agosto a
1° de setembro de 2005 em Halifax, Canadá, a convite da Associação Internacional
dos Produtores de Óleo e Gás - OGP.

7
PARTE 1: A ATIVIDADE DE PESQUISA SÍSMICA MARÍTIMA E
SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS

8
1. CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE PESQUISA SÍSMICA
MARÍTIMA

9
Este capítulo apresenta uma descrição da tecnologia de aquisição e seus
diferentes aspectos potencialmente impactantes, buscando fornecer subsídios para a
discussão presente neste trabalho de dissertação.

1.1. Histórico da tecnologia

O termo “sísmico” é derivado do grego “seismós” que significa “abalo, agitação,


tremor de terra”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001). A
sismologia é a área científica que estuda os fenômenos relacionados com os
movimentos da crosta terrestre. Os sismólogos desenvolveram formas de
compreender e mensurar os terremotos, entendendo de que forma as ondas de
energia se propagam no interior da Terra.

A geologia, através de sua ciência-filha geofísica, desenvolveu diversos


métodos para conhecer a constituição da Terra, alguns dos quais se utilizam do
conhecimento gerado a partir do estudo dos terremotos.

Um dos métodos geofísicos para o mapeamento da subsuperfície terrestre


mais utilizados atualmente é a atividade de pesquisa sísmica. Sua evolução
tecnológica se deu ao longo do século XX e é até hoje muito utilizada na indústria da
mineração para a pesquisa de veios e jazidas de minerais com valor econômico.

A indústria do petróleo começou a utilizar os métodos geofísicos para encontrar


reservatórios nas primeiras décadas do século passado. Anteriormente, a única forma
de descobrir acumulações de óleo era por meio dos poços exploratórios, os chamados
wildcats (Dutra, 1995). A localização desses poços era geralmente guiada por indícios
geomorfológicos de superfície ou por afloramentos espontâneos de óleo. Esse padrão
exploratório era caro, perigoso e com uma taxa muito pequena de sucesso nas
perfurações. Isso fez com que as empresas petrolíferas começassem a se interessar
pelos métodos indiretos de detecção de reservatórios.

Por volta de 1915, a indústria começou a basear suas perfurações em estudos


gravimétricos e magnetométricos, alcançando um maior sucesso exploratório. Entre
1915 e 1920 foram identificados 12 campos gigantes nos Estados Unidos com o
auxílio desses métodos, comprovando o ganho na eficiência da exploração (Dutra,
1995).

Com o desenvolvimento dos métodos sísmicos de refração e reflexão, as


companhias puderam obter ainda melhor desempenho na exploração de reservatórios

10
de petróleo. Dutra (1995) comenta que entre 1925 e 1930 foram descobertos 26
grandes campos nos Estados Unidos utilizando as técnicas de aquisição sísmica.

É desta época que datam as primeiras empresas especializadas em


levantamento de dados sísmicos para auxiliar a prospecção de óleo. Interessante
ressaltar que até hoje o mercado se comporta desta forma – predominam as empresas
especializadas em aquisição, que são contratadas pelas empresas petrolíferas - as
quais raramente possuem equipes próprias para a aquisição sísmica.

Pode-se dividir a atividade de pesquisa sísmica em três fases: a aquisição de


dados, o processamento e a interpretação. As duas primeiras geralmente são
realizadas pela empresa de sísmica e a interpretação dos dados normalmente cabe à
empresa petrolífera. Em geral, estas etapas são realizadas por diferentes equipes
profissionais e, em muitos casos, em momentos e locais distintos. Isto se dá pela
necessidade cada vez maior de especialização técnica dos responsáveis pelo
processo e pelo uso intensivo de tecnologia em cada etapa.

Destas três fases, a única a ser realizada em campo é a aquisição de dados –


embora hoje em dia parte do processamento seja feito a bordo dos navios. Pelo
mesmo motivo, a aquisição de dados é a única fase com potencial impacto ambiental
associado e, portanto, é o foco deste capítulo.

1.2. Fundamentos

O método sísmico de reflexão é o mais utilizado atualmente pela indústria do


petróleo por ser aquele que fornece a melhor identificação das estruturas com maior
probabilidade de possuírem acúmulos de hidrocarbonetos fósseis.

O método consiste na geração artificial de energia em direção à crosta terrestre


e na captação da reflexão desta energia nas diferentes camadas geológicas.
Calculando-se o tempo de retorno destes sinais é possível realizar inferências sobre a
conformação das camadas rochosas de subsuperfície.

11
Figura 1: Representação esquemática de uma aquisição de dados sísmicos utilizando cabos
flutuantes.

A evolução da tecnologia de aquisição permitiu aos geofísicos passarem de


simples inferências sobre a subsuperfície para modelos tridimensionais das camadas
rochosas, possibilitando a definição precisa dos melhores locais para sondagem.

Em qualquer tipo de aquisição sísmica, é necessário que o navio que reboca a


fonte de energia navegue por rotas preestabelecidas emitindo pulsos sísmicos. A
definição dessas rotas e a configuração dos sistemas de fonte e registro estabelecem
metodologias de aquisição de dados diferentes.

1.2.1. Sísmica 2D

A sísmica 2D, ou bidimensional, é o tipo mais simples e barato de aquisição de


dados sísmicos e foi hegemônica até meados da década de 1980, quando começou a
popularização da sísmica 3D. Os levantamentos bidimensionais hoje em dia são
utilizados no início da exploração de uma área, para a obtenção de informações gerais
sobre a estrutura geológica regional.

Hoje em dia, praticamente toda a costa brasileira já foi alvo de sísmicas


bidimensionais, como podemos perceber nos mapas do BDEP – Banco de Dados de
Exploração e Produção gerido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis - ANP. O BDEP possui uma ferramenta de disponibilização de

12
informações sobre o acervo de dados georreferenciados via internet chamada Web
Maps - http://www.bdep.gov.br/webmaps_intro.html

Figura 2: Pesquisas Sísmicas 2D realizadas nas Bacias de Santos e Campos. Essa cobertura
significa conhecimento das estruturas geológicas em escala regional. Fonte: BDEP – Banco de
Dados de Exploração e Produção - www.bdep.gov.br

Na sísmica 2D é utilizado apenas um cabo de registro (seja flutuante ou de


fundo – ver item 1.4). O navio percorre linhas de navegação bem espaçadas entre si,
com quilômetros de distância entre elas (ver Figura 3a). Normalmente são realizados
levantamentos de âmbito regional.

O produto de uma aquisição 2D é a obtenção de “fatias” esparsas da


subsuperfície terrestre (ver Figura 5a).

1.2.2. Sísmica 3D

Hoje a sísmica 3D é a principal ferramenta exploratória na cadeia produtiva de


petróleo e gás. Praticamente nenhum poço é perfurado atualmente sem que esta
decisão esteja embasada em um dado sísmico 3D de qualidade. Isto se dá graças à

13
enorme evolução tecnológica que ocorreu na indústria geofísica da década de 90 até o
presente.

O princípio que rege a sísmica 3D é de que é possível obter uma imagem


tridimensional a partir de diversas imagens bidimensionais próximas o bastante umas
das outras. Assim, a primeira iniciativa foi realizar diversas linhas 2D lado a lado, mas
esse método se revelou caro demais.

Posteriormente, a tecnologia evoluiu a ponto de fazer com que o navio sísmico


conseguisse rebocar vários cabos flutuantes, chegando hoje ao recorde de 20 cabos
arrastados simultaneamente. Isso significa que a cada linha de navegação estão
sendo registradas diversas “fatias” geológicas ao mesmo tempo, bem próximas entre
si. Não obstante, as próprias linhas de navegação são colocadas lado a lado com uma
separação de poucas centenas de metros (Figura 3b).

Figura 3: Linhas de navegação do navio sísmico em levantamento 2D (a) e 3D (b) (Gausland,


2003).

Uma característica importante a ser ressaltada a respeito da sísmica 3D é a


necessidade de uma área de manobra. Por trazer a reboque o arranjo de canhões de
ar e o arranjo de cabos flutuantes, o navio sísmico é uma embarcação com
capacidade restrita de manobra – não consegue fazer curvas fechadas e nem pode
parar de navegar, sob pena de toneladas de equipamentos colidirem à popa por
inércia.

Por isso, o navio não percorre sequencialmente as linhas adjacentes, mas


realiza uma manobra aberta (de 5 a 10 km de raio) e registra uma linha distante no
outro sentido. Depois de outra manobra, o navio retorna e perfaz a segunda linha,
repetindo este procedimento até cobrir toda a área do levantamento (Figura 4).

14
Figura 4: Representação do procedimento usual de manobra do navio sísmico em um
levantamento 3D com cabos flutuantes (Gulland e Walker, 1998).

O processamento desses dados se encarrega de interpolar as informações que


faltam entre as “fatias” e gerar o volume tridimensional de dados (Figura 5).

Figura 5: Exemplos de imagens obtidas em levantamentos 2D (a) e 3D (b). Repare na imagem


3D que o volume obtido após o processamento é plenamente tridimensional, possibilitando a
visualização de qualquer “fatia” intermediária.

Hoje em dia a tecnologia de aquisição e processamento está tão avançada que


são utilizadas salas de visualização 3D para o trabalho de interpretação dos dados
sísmicos (Figura 6).

15
Figura 6: Visualização das estruturas geológicas após o processamento dos dados sísmicos
tridimensionais.

Uma tendência importante no mercado mundial das aquisições sísmicas é a


repetição de pesquisas 3D para a realização do acompanhamento da drenagem dos
reservatórios, o que possibilita um melhor aproveitamento do seu potencial extrativo.
Esse tipo de pesquisa é conhecida como sísmica 4D ou time-lapse, pois a “quarta
dimensão” seria o tempo decorrido entre a primeira e a nova aquisição.

1.3. A fonte de energia

Os elementos básicos da aquisição sísmica são a fonte de energia e o sistema


de registro. No caso da atividade marítima, a fonte de energia mais empregada
atualmente é o arranjo de canhões de ar ou air guns.

O canhão de ar é um cilindro de metal contendo ar comprimido que, ao ser


liberado repentinamente, gera a emissão de energia sonora necessária para o método
sísmico (Figura 7). Na sísmica marítima, os canhões são normalmente rebocados
entre 5 e 7 metros de profundidade (Gausland, 1998). O volume de ar contido em cada
canhão varia bastante, mas normalmente está situado entre 30 e 800 polegadas
cúbicas. Já o volume total dos arranjos utilizados costuma variar entre 3.000 e 8.000
polegadas cúbicas (Caldwell e Dragoset, 2000), o equivalente a cerca de 50 a 130
litros.

16
Figura 7: Um canhão de ar (Fonte: www.bolt-technology.com).

O canhão de ar típico é composto por duas câmaras de ar, um pistão e uma


válvula solenóide ou eletromagnética (Figura 8). O pistão mantém o canhão de ar
fechado, selando as câmaras que contém ar comprimido. A pressão utilizada
geralmente varia de 2.000 a 2.500 psi (libras por polegada quadrada), o equivalente a
aproximadamente 140 – 170 atmosferas ou ainda 13,7 – 17,2 megaPascals. Quando a
válvula solenóide é aberta por meio de um impulso elétrico, o ar comprimido é injetado
por baixo do pistão, forçando a abertura repentina das portas do cilindro. Esta abertura
súbita do canhão de ar – de apenas alguns milissegundos - gera o pulso sísmico
(Gulland e Walker, 1998).

17
Figura 8: Representação esquemática do funcionamento de um canhão de ar (Fonte:
http://www.bolt-technology.com/Marine_Air%20Guns_Title_Page.htm).

Imediatamente após a liberação do ar comprimido, é formada uma espécie de


“bolha” de ar ao redor do canhão. À medida que esta “bolha” se expande, sua pressão
interna diminui, já que a mesma quantidade de ar agora ocupa um volume maior. Em
tese, a “bolha” alcança seu tamanho máximo quando a pressão externa iguala a
pressão interna. Na realidade, o que acontece é que este limiar de igualdade de
pressões é ultrapassado ligeiramente, fazendo com que a pressão externa fique maior
que a interna por alguns instantes, provocando um colapso da “bolha” e a redução do
seu volume. Novamente, a pressão interna volta a sobrepujar a externa e a “bolha”
torna a se expandir.

Esta situação se repete algumas vezes em questão de poucos milissegundos


até a estabilização completa, conferindo um movimento oscilatório ao sinal acústico
que está sendo gerado.

18
1.3.1. O pulso sísmico

Para melhor visualização deste processo, serão apresentados alguns gráficos.


A emissão sonora de um canhão de ar geralmente é descrita por meio de um gráfico
denominado “Assinatura da Fonte”, que demonstra a variação de pressão acústica do
pulso sísmico no tempo.

A Figura 9 apresenta a Assinatura da Fonte de um único canhão de ar. No eixo


vertical está representada a variação da pressão acústica proporcionada pelo disparo
do canhão. Três características importantes são observadas em uma assinatura da
fonte: primeira, o pico principal (direct arrival), que corresponde ao som produzido
diretamente quando o canhão de ar se abre; segunda, a reflexão na superfície (ghost),
que consiste no sinal que foi refletido na superfície da água e, por isso, teve sua fase
invertida; e terceira, são as oscilações provocadas pelos ciclos de expansão e colapso
da “bolha” de ar formada após o disparo (bubble pulses). É importante notar que cada
pulso referente à oscilação da “bolha” é seguido de sua reflexão na superfície, tal qual
o pulso principal.

Figura 9: Assinatura da Fonte de um único canhão de ar de 40 polegadas cúbicas (0,66 litros),


gravado a 300 m de distância vertical do canhão (Dragoset, 2000).

A especificação da amplitude do sinal sísmico costuma ser fornecida pela


distância entre o pico principal e o pico negativo da reflexão na superfície, a chamada

19
medida peak-to-peak ou peak-to-through. Também são utilizadas as medidas de zero-
to-peak e primary-to-bubble ratio (PBR), esta última sendo a razão entre a medida
peak-to-peak principal e a medida peak-to-peak do sinal da bolha.

Repare na Figura 9 que a unidade do eixo vertical é bar-m. Dragoset (2000)


esclarece que bar é uma medida de pressão (1 bar equivale a cerca de 1
atmosfera). A unidade bar-m é obtida multiplicando-se o valor obtido de pressão
pela distância em metros entre o sensor e a fonte. A vantagem de realizar esta
conversão é que possibilita a descrição do pulso sísmico com apenas um número
(em bar-m) ao invés de dois (pressão em bar e distância em metros). É importante
ressaltar que, apesar da unidade bar-m ser bastante difundida, a Society of
Exploration Geophysicists – SEG publicou em 1988 um documento denominado
SEG Standards for Specifying Marine Seismic Energy Sources (Johnston et al.,
1988), que pretendia estabelecer os padrões para a especificação dos parâmetros
da fonte para sísmica marítima. Este documento sugeria que fosse utilizada para a
pressão acústica a unidade megaPascal-metro (MPa-m; 1 MPa = 10 bar),
pertencente ao Sistema Internacional de unidades (SI), mas aparentemente a
indústria não adotou a sugestão e continuou utilizando a unidade bar-m para
especificar a pressão da fonte. Esse é um problema bastante comum na indústria
do petróleo, já que seu desenvolvimento tecnológico se deu com base no sistema
anglo-americano de medidas, que é bastante arraigado culturalmente.

O problema é que para obter um imageamento detalhado da subsuperfície, os


geofísicos precisam de um sinal bastante preciso para que o rebatimento deste sinal
nas irregularidades das camadas geológicas possa ser interpretado corretamente. As
reverberações provocadas pelas “bolhas” tornam muito difícil o trabalho de separar o
que é ruído do que é o sinal sísmico propriamente dito.

O artifício que tenta minimizar este problema é a utilização de um arranjo com


vários canhões de diferentes dimensões, ao invés de apenas um grande canhão. O
número de canhões de ar em um arranjo varia bastante, mas normalmente está
situado entre 12 e 48 canhões, espalhados em uma área de aproximadamente 250 m2
(Caldwell e Dragoset, 2000). Os canhões são organizados em linhas, que são
sustentadas por flutuadores. Uma configuração bastante utilizada é a de dois sub-
arranjos, cada um contendo três linhas de canhões.

20
Figura 10: Representação esquemática de um sub-arranjo de canhões de ar (Christie et al.,
2001).

Figura 11: Vista aérea de um arranjo de canhões de ar em atividade com dois sub-arranjos
(montagem de fotos do autor).

A distribuição dos canhões neste arranjo é calculada de forma a proporcionar


interferências construtivas e destrutivas entre os sinais gerados individualmente para
que o sinal principal resultante seja maximizado e as oscilações residuais geradas
pelas “bolhas” sejam minimizadas. Este ajuste é chamado de tuning ou “afinação” do
arranjo (Figura 12).

21
Figura 12: Conceito de “afinação” de um arranjo de canhões de ar. Os números à esquerda
das assinaturas superiores são os volumes dos canhões em polegadas cúbicas. A assinatura
inferior simula como seria a emissão de um arranjo formado pelos seis canhões de ar, gravada
a 300 m de distância vertical do arranjo (Dragoset, 2000).

Repare que a coincidência temporal dos picos principais gera uma interferência
construtiva e amplifica o sinal inicial, enquanto que a coincidência dos picos relativos à
oscilação das “bolhas” proporciona uma interferência destrutiva e atenua os efeitos
indesejados desta oscilação. O resultante é um sinal nítido e preciso, ideal para o
processamento do sinal de retorno e formação da imagem da subsuperfície. Quanto
maior a peak-to-bubble ratio (PBR), mais nítido é o sinal.

Uma outra solução técnica para amenizar o problema do “efeito-bolha” foi a


criação do canhão de ar do tipo GI (Generator – Injector) ou geração-injeção. Este tipo
de canhão possui uma segunda câmara de ar comprimido que é disparada
ligeiramente após a câmara principal, exatamente no tempo de colapso da “bolha”.
Assim, o canhão de ar GI consegue suprimir boa parte das oscilações indesejáveis e
gerar um sinal mais preciso (Borland et al.,1996).

Por outro lado, a disposição dos canhões de ar sob a forma de um arranjo


torna bastante complexa a tarefa de calcular a pressão acústica de saída da fonte
sísmica, uma vez que não existe um ponto eqüidistante de todos os canhões. A saída
encontrada foi utilizar o que se chama de assinatura far-field.

22
Para obter a assinatura far-field de um arranjo, é preciso colocar um receptor
(hidrofone) a uma distância grande o suficiente para que o conjunto de canhões de ar
soe como uma única fonte sonora. Uma analogia pertinente é imaginar o Estádio do
Maracanã visto de cima em dia de jogo. Se o observador estiver, digamos, a 200
metros de altitude, verá nitidamente cada um dos muitos refletores que iluminam o
estádio. Supondo que este observador seja levado para uma altitude cada vez maior,
é possível imaginar uma distância na qual ele não será mais capaz de discernir entre
os diferentes refletores e o Maracanã será um único ponto de luz. Esta seria a
percepção far-field do estádio.

Para um arranjo de dimensões comuns, a distância de far-field se dá a partir de


aproximadamente 300 m. Depois de realizada a gravação do pulso sísmico à distância
far-field, o valor da pressão acústica a um metro da fonte (bar-m) é retro-calculada
supondo-se que a energia sofre um decaimento proporcional à distância entre a fonte
e o receptor (Dragoset, 2000). Caldwell e Dragoset (2000) afirmam que para os
arranjos normalmente utilizados pela indústria, o valor retro-calculado da pressão
acústica da fonte sísmica varia em torno de 100 bar-m (10 MPa-m). A Figura 13
apresenta um exemplo de assinatura far-field de um arranjo típico.

Figura 13: Exemplo de assinatura far-field de um arranjo de 4.800 polegadas cúbicas (MMS,
2004) A pressão acústica peak-to-peak retro-calculada é de cerca de 120 bar-m.

É importante ressaltar, principalmente para a discussão dos impactos da


sísmica nos organismos marinhos, que este valor retro-calculado de pressão acústica

23
não é observado em nenhum ponto da coluna d’água. Como os canhões de ar estão
separados espacialmente, nas imediações do arranjo o que se percebe não é a soma
das pressões individuais geradas pelos canhões. As medições realizadas em campo
sugerem que a maior pressão acústica gerada por um arranjo é ligeiramente superior
àquela gerada pelo maior canhão do arranjo, sendo cerca de 10 vezes menor que o
valor retro-calculado (Gausland, 1998; Gausland, 2000; Dragoset, 2000; MMS, 2004).
Assim, um arranjo com pressão acústica nominal de 100 bar-m não gera em local
nenhum da coluna d’água uma pressão superior a 15 bar, por exemplo.

1.3.2. A escala dB

Quando existe uma grande variação possível nas medidas de uma grandeza, é
comum a utilização de uma escala logarítmica para descrever seus valores. No caso
da pressão acústica, é utilizada a escala deciBel (dB) para permitir a comparação
entre valores muito díspares em Pascals (Pa), a unidade do Sistema Internacional.

Por definição, o valor em dB para uma pressão acústica P1 é igual a:

P1
dB = 20 log
P0

onde, log é o logaritmo de base decimal;

P1 é a pressão medida (Pascal); e

P0 é a pressão de referência (Pascal) (Gausland, 1998)

É importante ressaltar que o deciBel é uma escala comparativa de valores, e


não uma medida de pressão acústica. Ou seja, outras grandezas físicas também
podem ser mensuradas utilizando a escala dB para facilitar o manuseio dos números.

A escala dB é sempre definida a partir de um valor de referência. No caso da


pressão acústica, este valor de referência é diferente dependendo do meio de
propagação do som. No ar, a referência adotada é o limite inferior da capacidade
auditiva humana, o que equivale a uma pressão de 0,0000204 Pa, ou simplesmente
20,4 μPa. Quando a propagação do som se dá na água, como é o caso da sísmica

24
marítima, o valor de referência para pressão acústica é 1 μPa (Gausland, 1998, 2000 e
2003; McCauley et al., 2000).

Para evitar quaisquer confusões sobre a medida em questão, é recomendada a


utilização do símbolo dB seguido do valor de referência e a unidade utilizada. Por
exemplo, um som de 150 dB na água deve ser representado como “150 dB re 1μPa”,
ou 150 dB relativos a 1μPa.

A diferença nos valores de referência faz com que a comparação direta entre
medições sonoras realizadas no ar e na água seja incorreta. Gausland (1998, 2000 e
2003) demonstra que é necessário somar 62 dB às medidas realizadas no ar para que
estas sejam diretamente comparáveis às obtidas na água.

Finalmente, pode-se afirmar que um arranjo de canhões de ar como o da


Figura 13, comumente utilizado em atividades de sísmica marítima, gera uma pressão
acústica peak-to-peak de cerca de 120 bar, ou 12 MPa, ou ainda, aproximadamente
261,5 dB re 1 μPa, a 1 metro da fonte. É importante lembrar que este é um valor retro-
calculado a partir da assinatura far-field e que, portanto, este valor de pressão não
ocorre em local nenhum da coluna d’água. Caldwell e Dragoset (2000) calculam que a
maior pressão efetivamente gerada na água por um arranjo desse tipo seja de algo em
torno de 12 bar, ou seja, aproximadamente 240 dB re 1 μPa.

Na discussão dos possíveis impactos gerados pela sísmica nos animais


vertebrados, a caracterização do pico de energia sonora recebida é importante pois
determina qual o deslocamento máximo que ocorre no sistema de transdução do sinal
acústico dentro do aparato auditivo do animal (McCauley et al., 2000). Nos mamíferos,
por exemplo, significa qual o deslocamento máximo que a membrana do tímpano irá
sofrer.

No entanto, é necessário atentar para o fato de que a percepção sonora dos


animais não se dá somente pelo pico de energia acústica, mas também requer a
somação temporal de estímulos aos nervos auditivos (McCauley et al., op. cit.). Em
outras palavras, a caracterização do sinal acústico precisa levar em consideração a
duração do pulso e, conseqüentemente, a energia total nele contida.

Nesse sentido, outras duas formas de caracterização do sinal têm sido


utilizadas nos estudos: a rms e a Energia Equivalente do pulso.

Rms é a sigla para root-mean-square, que é calculada como a raiz quadrada


da média dos quadrados dos valores instantâneos do sinal acústico (MMS, 2004). Já a
Energia Equivalente do pulso (Energy Equivalent) é uma forma de calcular a energia

25
total recebida em um determinado ponto que seja superior ao ruído ambiente local
(McCauley et al., op. cit.).

No entanto, as medidas que levam a duração do pulso em consideração


possuem grande variabilidade a depender de qual o intervalo de tempo considerado
para a medição. Madsen (2005) aponta essa variação como sendo de até 12 dB e
sugere que o estabelecimento de níveis seguros para exposição de animais seja
baseado na pressão pico-a-pico recebida e no fluxo total de energia, ao invés de rms.
No entanto, boa parte dos estudos de impacto realizados fornecem as medidas
acústicas em dB rms.

McCauley et al. (2000) citam que existe uma tentativa de padronização para
esses casos, a qual sugere que deva ser computada a energia acumulada entre os
pontos de 5% e 95% da curva de energia equivalente total.

Infelizmente – talvez por ser um assunto realmente complexo – a definição do


nível sonoro emitido pela atividade de sísmica ainda é um campo dominado por muita
confusão (Gausland, 2000). Muitos dos estudos que tentam relacionar o ruído gerado
pela atividade com impactos causados na biota pecam pelo manuseio inadequado dos
dados de acústica, muitas vezes não especificando os parâmetros de medição ou o
valor de referência (MMS, 2004). Faz-se urgente o empreendimento de um esforço de
todas as partes interessadas no sentido de estabelecer entendimentos teóricos sobre
este assunto, de modo a qualificar o debate sobre os impactos da sísmica no meio
natural.

1.3.3. Composição de freqüências

Principalmente para a discussão relativa aos impactos na biota marinha, é


importante apresentar a caracterização do pulso sísmico em termos da sua
composição de freqüências.

A análise da composição de freqüências de um pulso sísmico requer que a


pressão acústica seja abordada em função do espectro de freqüências ao invés do
tempo. Desta forma, o pulso sísmico pode ser descrito também por um outro gráfico: o
seu espectro de amplitudes (Figura 14).

26
Figura 14: Espectro de amplitudes para um arranjo comumente utilizado (MMS, 2004).

Conforme visualmente apontado na Figura 14, a energia sonora do pulso


sísmico típico concentra-se entre 10 e 200 Hz (Gulland e Walker, 1998; Gausland,
1998, 2003), com o pico de amplitude em cerca de 60 Hz. Lembrando que a escala
vertical é logarítmica, podemos concluir que a emissão acima de 200 Hz é
praticamente desprezível comparativamente à emissão total.

Corroborando esta afirmativa, Caldwell e Dragoset (2000) colocam que a


diferença entre a energia contida entre 0 e 125 Hz e entre 0 e qualquer freqüência
maior que 125 Hz não é superior a 3 dB para nenhum arranjo utilizado atualmente.

É interessante notar no gráfico a existência de freqüências nas quais há uma


queda abrupta na amplitude (ghost notches). Este fenômeno é provocado pela
interferência destrutiva relacionada à reflexão do pulso sísmico na superfície d’água.
Esta reflexão inverte a fase da onda sísmica que, em seu retorno, atenua algumas
freqüências específicas do pulso principal. Como esta interferência relaciona-se
diretamente com o tempo que o pulso sísmico leva para ir e voltar à superfície, a
profundidade em que são colocados os canhões de ar influencia bastante no espectro
de amplitudes em questão.

Gausland (1998) explica que a análise espectral envolve a diferenciação de


quanto cada freqüência específica contribui para o sinal composto (broadband). Ele

27
afirma que, para comparar um valor máximo de amplitude de uma análise espectral
(uma freqüência específica) com o valor da assinatura da fonte (broadband), é preciso
adicionar cerca de 40 dB.

Ou seja, normalmente, para um arranjo que gera uma pressão acústica global
de 260 dB peak-to-peak re 1 μPa-m, a máxima amplitude da freqüência de pico (60
Hz, digamos) será aproximadamente de 220 dB re 1 μPa/Hz.

1.3.4. Direcionalidade do pulso sísmico

Uma outra característica importante dos arranjos de canhões de ar é a


direcionalidade do pulso sísmico. Por direcionalidade entendemos a concentração da
emissão sonora em determinada direção e sentido. No caso da aquisição de dados
sísmicos, é importante maximizar a emissão na direção vertical, ou seja, em direção
ao fundo marinho, e atenuar ao máximo a emissão superficial que chega diretamente
aos receptores flutuantes.

Esta direcionalidade é conseguida por meio da configuração espacial dos


canhões de ar no arranjo. Calculando as distâncias entre os canhões e os volumes de
cada um, é possível programar os disparos de forma que os picos de energia
coincidam no eixo vertical, somando-se e constituindo um sinal preciso e nítido, com
pouco efeito de “bolha”. Por outro lado, a separação horizontal dos canhões no arranjo
faz com que a interferência destrutiva reduza a pressão nos pontos distantes do eixo
vertical.

A atenuação do sinal é dependente da freqüência em questão e ainda varia


conforme o eixo de propagação abordado, se paralelo ou perpendicular ao
deslocamento do navio (Figura 15).

28
Figura 15: Gráficos que descrevem a direcionalidade da emissão sonora dos arranjos de
canhões de ar (MMS, 2004). O gráfico (a) refere-se à propagação no plano vertical
perpendicular ao deslocamento do navio e o gráfico (b) no plano vertical paralelo ao
deslocamento do navio.

Na Figura 15, a redução nas emissões sonoras está representada ao longo das
linhas concêntricas, para as freqüências entre 0 e 90 Hz. O ângulo de inclinação a
partir da vertical está representado pelas linhas convergentes.

29
É importante ressaltar que este gráfico não representa uma fatia do espaço e,
portanto, não contém indicação de distâncias. Ou seja, não devemos olhar para ele
como um gráfico de decaimento sonoro ao longo do espaço. A intenção é demonstrar
que a emissão sonora de um arranjo de canhões de ar é diferenciada direcionalmente
a partir da simples disposição espacial dos elementos no arranjo.

Como os gráficos apontam, existe uma atenuação considerável da energia


emitida fora do eixo vertical. Por exemplo, a freqüência de 60 Hz, predominante no
pulso sísmico, em um ângulo de 30º a partir da superfície, é atenuada em
aproximadamente 20 dB. Considerando-se a escala logarítmica, isto significa uma
redução de 10 vezes na pressão acústica de saída do arranjo.

1.4. O sistema de registro

O outro elemento básico da aquisição de dados sísmicos é o sistema de


registro da energia gerada pela fonte. Nas operações marítimas, a peça-chave no
sistema de registro é o cabo sísmico. Nele estão contidos os equipamentos
necessários para a captação e transmissão do sinal sísmico até o local de
processamento.

Em relação ao posicionamento do equipamento de registro, são utilizadas


predominantemente duas formas de operação: cabos flutuantes (streamers) e cabos
de fundo (ocean bottom cable – OBC).

1.4.1. Cabos flutuantes (streamers)

Os cabos flutuantes, ou streamers, são a tecnologia mais utilizada em


aquisições sísmicas atualmente. Os cabos são arrastados pelo navio sísmico a uma
profundidade entre 4 a 10 metros, dependendo do tipo de alvo geofísico em questão.
Normalmente são utilizados entre 6 e 12 cabos em um arranjo flutuante, com uma
separação de 100 metros entre eles. Geralmente, possuem diâmetro entre 50 e 70
mm e comprimento entre 4 e 8 km, embora possam chegar a 12 km (Gulland e
Walker, 1998; MMS, 2004).

30
Figura 16: Cabo flutuante enrolado no carretel de armazenamento. Repare no tamanho das
pessoas ao fundo, para efeito de comparação.

Os cabos normalmente são preenchidos por um fluido similar ao querosene,


para conferir flutuabilidade ao conjunto. Eles são confeccionados em seções
independentes de 50 a 100 metros, para possibilitar o reparo modular de um
componente danificado. Desta forma, cada seção contém entre 100 e 200 litros de
fluido de flutuação (MMS, 2004). A divisão em seções é importante para minimizar o
lançamento de fluido do mar em caso de rompimento do cabo, seja por colisão com
alguma estrutura flutuante como uma plataforma ou pela mordida de peixes grandes e
tubarões. De qualquer modo, os fluidos mais modernos possuem alta volatilidade e
baixa toxicidade, o que reduz o potencial de impactos na biota marinha.

Hoje em dia têm sido cada vez mais utilizados cabos flutuantes preenchidos
por um polímero de baixa densidade, os chamados cabos sólidos. Por não causarem
vazamentos em caso de rompimento, serem mais robustos e duráveis e sofrerem
menos interferência do mau tempo, é possível que os cabos sólidos tornem-se
hegemônicos em um futuro próximo.

31
Os cabos flutuantes nada mais são que um suporte para o equipamento de
registro propriamente dito – os hidrofones. Os hidrofones são sensores de pressão (tal
qual os microfones) altamente sensíveis, projetados para operar submersos na coluna
d’água. São eles que, embutidos no cabo flutuante, captam o retorno do sinal sísmico,
convertendo o sinal acústico (pressão) em impulsos elétricos. Geralmente os
hidrofones estão situados a cada 1 m ao longo do cabo (Gulland e Walker, 1998)

Além dos hidrofones, os cabos flutuantes também possuem dispositivos


eletrônicos responsáveis por digitalizar e enviar para o navio os sinais captados, bem
como um sistema de fornecimento de energia elétrica para todos os componentes ao
longo do cabo.

Externamente ao cabo, existem outros componentes importantes. Os


dispositivos de controle de profundidade, ou birds (Figura 17), mensuram e controlam
a profundidade de flutuação do cabo sísmico. Os birds são colocados a cada 300
metros e possuem um sensor de pressão hidrostática que mede a profundidade. A
partir da medida obtida, a profundidade é corrigida inclinando para cima ou para baixo
as asas laterais do aparato (Gulland e Walker, 1998; Gausland, 2003; MMS, 2004).

Figura 17: Dispositivo de controle de profundidade – bird – sozinho (a) e acoplado ao streamer (b)

Outros componentes fundamentais do sistema de registro são os dispositivos


de posicionamento dos elementos flutuantes. Só é possível o correto processamento
das informações captadas pelos hidrofones se as posições de todos os elementos
forem conhecidas com relativa precisão. Assim, não apenas são utilizadas bússolas
magnéticas ao longo do cabo, como existem vários dispositivos de posicionamento
acústico no arranjo. Estes dispositivos operam em altas freqüências (50 a 100 kHz) e
não interferem com o sinal sísmico, mas conferem uma precisão de 3 a 8 metros para
o posicionamento de todos os elementos relativos aos cabos flutuantes (Gulland e
Walker, 1998).

32
Por fim, um outro componente importante do arranjo de cabos flutuantes é a
bóia terminal (tailbuoy). Esta bóia é colocada ao final de cada cabo tanto para fins de
flutuabilidade do cabo e sinalização marítima, quanto para servir de referência de
posicionamento para os outros elementos do arranjo, uma vez que carrega consigo
um sistema de DGPS – Differential Global Positioning System – fundamental para o
processamento dos dados sísmicos.

1.4.2. Cabos de Fundo (Ocean Bottom Cable – OBC)

A sísmica de cabo de fundo, ou OBC, utiliza um sistema de registro


estacionário no fundo do mar, ou seja, o equipamento de captação do retorno do sinal
sísmico não é arrastado como no modo streamer, mas colocado parado no substrato
marinho. O cabo de fundo é preenchido com polímeros densos, uma vez que não
devem flutuar.

Figura 18: Representação esquemática da sísmica de cabos de fundo multicomponente


(OBC/4C).

Originalmente utilizada em locais com obstáculos que impediam o trânsito de


cabos flutuantes, como plataformas e estruturas de escoamento, hoje em dia a
sísmica OBC é cada vez mais utilizada por sua capacidade de fornecer informações a

33
partir de um sistema multicomponente. Estas informações adicionais são obtidas pela
utilização de geofones em conjunto com os hidrofones.

No cabo de fundo, os sensores são agrupados em módulos contendo 4


componentes: 1 hidrofone e 3 geofones – daí o nome multicomponente ou 4C. Os
geofones são orientados ortogonalmente, nos eixos X, Y e Z, de forma a obter
informações a partir das ondas compressionais ou primárias (ondas P), como os
hidrofones, mas também capturar as ondas secundárias (ondas S), geradas pelas
vibrações laterais das partículas (Hoffe et al., 1999; MMS, 2004).

A sísmica de cabos flutuantes não consegue capturar as ondas S porque estas


não viajam através da água. Assim, apenas com a utilização de cabos de fundo é
possível a coleta desta informação. As ondas S não sofrem distorções provocadas por
acúmulos gasosos como as ondas P e podem evitar interpretações equivocadas do
imageamento sísmico.

A imagem gerada por meio da sísmica 4C possui maior nitidez porque a


colocação dos cabos no fundo marinho minimiza a interferência da coluna d’água no
imageamento. Também há uma melhoria no sinal como um todo, uma vez que a onda
P é capturada tanto pelo hidrofone quanto pelo geofone orientado verticalmente (Hoffe
et al., 1999).

A sísmica de cabos de fundo é operacionalmente mais complexa do que a


sísmica convencional de cabos flutuantes. Numa operação OBC tradicional são
necessárias pelo menos 4 embarcações: um navio fonte, um navio de registro, um
barco para a deposição e recolhimento dos cabos e um barco assistente. No entanto,
já existem empresas especializadas no mercado com capacidade de realizar a
operação com apenas um navio, que desempenha o papel de fonte e registro ao
mesmo tempo (Figura 19).

34
Figura 19: Ilustração da recente tecnologia de pesquisa sísmica com cabo de fundo utilizando
apenas uma embarcação. Note que os cabos sismográficos são presos a bóias na superfície,
permitindo a redução de custos de uma operação como essa (Fonte: www.rxt.com).

Recentemente o setor vem apostando que a tecnologia de cabos de fundo 4C


seja cada vez mais utilizada para o monitoramento da drenagem de reservatórios, na
sísmica 4D ou time-lapse. Já existem campos produtores no Mar do Norte sendo
continuamente monitorados por cabos de fundo permanentemente colocados na área,
bastando um navio sísmico periodicamente efetuar disparos no local para que a
empresa possa acompanhar a evolução das suas reservas.

No entanto, a adoção em larga escala desse tipo de operação não está sendo
tão rápida como previsto. McBarnet (2006) avalia que esta situação possa ser reflexo
da falta de profissionais nas empresas de petróleo capacitados a conduzir
adequadamente um programa de aquisições 4D, produzindo os resultados que são
esperados na teoria.

1.5. Outras metodologias

A indústria petrolífera também utiliza o método de sísmica de reflexão de outras


formas e com outros objetivos. Por exemplo, existe a chamada site survey, ou sísmica
de alta resolução, realizada normalmente antes da perfuração de um poço para
identificação de risco geológico nas camadas superficiais do fundo marinho. A site
survey geralmente utiliza apenas um canhão de ar (ou um pequeno arranjo) e cabos
sísmicos curtos (100-200 m). A pesquisa leva poucos dias para ser completada.

35
Outro tipo de pesquisa sísmica é a VSP – Vertical Seismic Profile 3 , realizada
com o cabo sismográfico dentro de um poço petrolífero, antes de instalar o
equipamento de produção ou ao término da vida útil do poço, antes do abandono. A
principal função da sísmica VSP é correlacionar dados sísmicos com dados geológicos
(MMS, 2004). Na modalidade zero offset ou check shot 4 , um simples canhão de ar é
descido do deck da plataforma e disparado algumas vezes sobre o poço perfurado. Já
na modalidade walk-away 5 , um pequeno arranjo (4-8 canhões) é disparado de um
barco que se afasta radialmente da locação do poço. A operação nessas modalidades
não dura mais do que um dia.

No entanto, essas e outras metodologias de pesquisa sísmica marítima não


são abordadas neste trabalho, pois:

- são atividades com potencial de impacto ambiental reduzido em relação


às modalidades de sísmica exploratória 2D e 3D;

- são técnicas pouco utilizadas no Brasil.

3
Em inglês, Perfil Sísmico Vertical.
4
Em inglês, pode ser traduzido como “Deslocamento Zero” ou “Disparo de Verificação”.
5
Em inglês, pode ser traduzido como “Em Afastamento”.

36
2. IMPACTOS AMBIENTAIS DA PESQUISA SÍSMICA MARÍTIMA

37
Este capítulo apresenta uma síntese da discussão sobre os principais impactos
ambientais associados à atividade de pesquisa sísmica marítima. Por se tratar de uma
revisão sobre o assunto, o que está sendo retratado é o estado-da-arte mundial, ou
seja, uma “fotografia” atual do conhecimento científico gerado sobre a questão. Nesse
sentido, novas informações estão sendo geradas a cada momento, refinando os
resultados já encontrados e provocando novas discussões.

Este trabalho é uma tentativa de compilar o máximo de informações existentes


sobre os impactos ambientais da pesquisa sísmica marítima, com o objetivo de servir
também como um trabalho de referência em língua portuguesa na qual pesquisadores
poderão buscar citações das publicações-chave sobre o tema.

O estudo dos possíveis impactos ambientais gerados pela atividade de sísmica


marítima é um tema bastante recente, assim como a intensificação da utilização da
técnica 3D – os primeiros estudos científicos consistentes datam do final da década de
1990.

Desde o começo, a história da discussão sobre os impactos da sísmica é


marcada por uma grande e justificada incerteza acerca da magnitude e, inclusive, da
própria existência destes. Conseqüentemente, as operações geofísicas têm sido
objeto de grande polêmica em todo o mundo, e não são poucos os casos de
levantamentos interrompidos por ordem judicial.

De toda forma, alguns aspectos-chave contribuem para este cenário de


incerteza:

• A dinâmica da propagação do som no ambiente marinho é de difícil


modelagem, pois depende de inúmeros parâmetros como: tipo de fonte sonora,
profundidade local, gradiente batimétrico, temperatura e salinidade da água,
estado do mar, tipo de fundo, e muitos outros. Isso faz com que a aplicação de
modelos gerais de propagação acústica para uma situação específica gere
resultados com alto grau de imprecisão.

• Ainda é extremamente limitado o conhecimento científico sobre as


características auditivas de muitos animais, principalmente de cetáceos
misticetos. A realização de experimentos para determinação do efeito da
sísmica na fauna possui sérias limitações, principalmente em se tratando de
animais ameaçados de extinção – como as tartarugas marinhas – ou animais
de tamanho incompatível com o confinamento, como é o caso dos grandes
cetáceos. Experimentos realizados com espécies menores que se sujeitam ao

38
cativeiro são problemáticos, pois embora possam fornecer informações
inquestionáveis sobre determinado impacto, sempre representam a resposta
de alguns poucos indivíduos, não permitindo a extrapolação para as
populações livres na natureza – e pouco se pode descobrir sobre as possíveis
mudanças comportamentais que o animal apresentaria no ambiente natural
(Gordon et al., 2004).

• A logística e os equipamentos necessários para a execução de


experimentos com animais são muito caros, o que torna a pesquisa sobre o
impacto da sísmica extremamente dependente de financiamento do setor
produtivo. Infelizmente, esse aspecto deixa sob constante dúvida a
independência dos resultados dessas pesquisas, tornando imprescindível o
estabelecimento de comitês científicos independentes e a participação de
instituições públicas no desenvolvimento dos estudos.

Apesar destas limitações, diversos estudos foram realizados nos últimos 10


anos, contribuindo para a redução das incertezas e subsidiando a consolidação de um
conjunto de medidas mitigadoras adotadas mundialmente. A seguir, será apresentado
o estado-da-arte em relação ao conhecimento sobre os impactos das pesquisas
sísmicas no meio ambiente, a partir de uma recente revisão bibliográfica, priorizando
os efeitos sobre as espécies e ecossistemas brasileiros.

Uma importante referência que merece destaque é a Informação Técnica


ELPN/IBAMA n°012/03 (IBAMA, 2003). Esse documento representa o primeiro esforço
consistente de revisão técnico-científica sobre o assunto em língua portuguesa e foi
elaborado pela equipe técnica do IBAMA responsável pelo licenciamento ambiental da
atividade em 2003.

Embora alguns aspectos relatados na revisão do IBAMA tenham sido


atualizados e aprofundados neste trabalho, a Informação Técnica ELPN/IBAMA
n°012/03 ainda é importante referência sobre o tema, tendo sido sistematicamente
disponibilizada em meio eletrônico junto aos Guias para o licenciamento ambiental das
atividades de sísmica marítima na costa brasileira. A última versão do guia, atualizada
para a oitava rodada de licitações da ANP, foi publicada em 2006 e é disponibilizada
na internet (IBAMA, 2006a).

39
2.1. Aspectos ambientais relevantes da pesquisa sísmica

Antes de entrar na discussão dos impactos ambientais propriamente ditos, é


importante entender quais diferentes aspectos de uma pesquisa sísmica podem
causar tais efeitos. Aspecto ambiental, na acepção materializada na norma NBR ISO
14.001:2004, significa “elemento das atividades, produtos ou serviços de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente”.

Sánchez (2006) argumenta que, apesar da inicial estranheza pela utilização da


palavra “aspecto” com um significado distinto do uso vernacular corrente, o emprego
do novo sentido em uma norma internacional acabou por incorporá-lo ao vocabulário
de profissionais da indústria, de consultores e dos órgãos governamentais – tornando
inevitável sua utilização nessa discussão.

2.1.1. Emissão sonora do navio

O navio sísmico, como todo navio de grande porte, produz diversos ruídos no
ambiente marinho em seu navegar. O principal ruído produzido nesse caso é gerado
pelo funcionamento das enormes hélices que fornecem a propulsão da embarcação.
Trata-se de um ruído de baixa freqüência, alcançando 50 Hz em seu limite superior de
emissão (Gordon et al., op.cit.). Gausland (2003) afirma que os superpetroleiros
podem produzir ruídos de até 180 dB re 1μPa/Hz a 1 metro da fonte 6 . Há uma grande
preocupação do meio acadêmico com o aumento do nível de ruído antropogênico no
mar, que pode estar causando diversos efeitos na fauna, diminuindo até o fitness 7 de
indivíduos, populações e espécies (Perry, 1999).

Os possíveis impactos gerados pela emissão sonora da navegação de navios


são de difícil aferição, embora seja possível imaginar que animais com boa
capacidade de natação se afastem da proximidade de um grande e barulhento objeto
em mar aberto. A exceção se faz por conta de algumas espécies de cetáceos que se
aproximam de embarcações em movimento para executar o chamado bowriding –
pequenos saltos sucessivos junto à proa. Não se sabe ao certo o motivo deste
comportamento, bastante comum em certos grupos de golfinhos, mas existem
diversos relatos de bowriding durante a operação de sísmica. Isto sugere que, de
alguma forma, os benefícios advindos do bowriding são maiores que os impactos
negativos associados à presença do navio na área (Gordon et al., op.cit.).
6
Note que o valor de 180 dB neste caso é relativo a uma freqüência específica; o valor global
de emissão (broadband) na fonte pode ser até 40 dB superior.
7
Aptidão no sentido evolutivo, capacidade de gerar descendência.

40
Os navios sísmicos emitem também sons relacionados ao sistema de
posicionamento acústico dos elementos do arranjo de canhões de ar e de cabos
sismográficos. Nesse caso, são emitidos sons de alta freqüência, entre 50 e 100 kHz
(Gulland e Walker, 1998), em geral fora da capacidade auditiva presumida para
mamíferos marinhos.

De toda forma, não parece ser um aspecto relevante isoladamente em


operações de sísmica. Talvez em áreas de grande atividade petrolífera, onde o
ambiente marinho já possui bastante poluição sonora, este impacto ganhe relevância,
mas teríamos que abordar todo o tráfego de embarcações na área.

2.1.2. Emissão sonora dos canhões de ar

O arranjo de canhões de ar, cujo funcionamento é descrito no item 1.3. A fonte


de energia, é o principal vetor de impacto à fauna em uma pesquisa sísmica.

A função do arranjo de canhões de ar é produzir som. Segundo o Dicionário


Houaiss da Língua Portuguesa (2001), a definição técnica para som é: vibração que se
propaga num meio elástico com uma freqüência que compreende a região entre 20 e
20.000 hertz, capaz de ser percebida pelo sistema auditivo humano.

No que importa à nossa discussão, podemos definir a energia sonora como


uma forma de energia mecânica que se propaga ao longo de meios materiais através
de ondas compressionais ou longitudinais, isto é, paralelas ao sentido de
deslocamento da onda. Esse tipo de propagação de energia envolve a movimentação
de partículas para frente e para trás, gerando variações de pressão no meio e
produzindo zonas de compressão e rarefação da matéria (Figura 20). Essas variações
de pressão implicam numa freqüência – a taxa com que a pressão varia no tempo - e
numa amplitude – qual o tamanho do deslocamento das partículas.

41
Figura 20: Exemplo de geração de energia sonora: um alto falante (Fonte: www.fisica.net).

A energia sonora liberada pelos canhões de ar pode interagir com os animais


marinhos de diversas formas, dependendo do nível de energia sonora (amplitude)
recebida e de outras características do pulso sonoro, como tempo de subida e descida
do sinal (rise/decay time).

A utilização de explosivos para a chamada “pesca com bomba” no Brasil é um


exemplo de como a propagação da frente de onda acústica pode ser letal. Nesta
prática predatória, a detonação de dinamite gera um pulso acústico de alta amplitude e
que possui um tempo de subida do sinal muito rápido. Em outras palavras, isto quer
dizer que as moléculas do meio de propagação são submetidas a um deslocamento
de grande amplitude em um curto espaço de tempo. Quando essa onda de choque
encontra os animais, provoca danos irreversíveis nos tecidos mais sensíveis, levando
à morte.

Larson (apud Turnpenny e Nedwell, 1994; Wardle et al., 2001 e Gausland,


2003) concluiu que, de uma forma geral, a mortalidade pode ocorrer quando o pulso
sonoro atende a dois critérios simultaneamente: a pressão de pico é superior a 229 dB
re 1 μPa (275 kPa) e o tempo de subida e descida do sinal é menor que 1
milissegundo. Tais valores são encontrados quando há a detonação de explosivos
químicos. A detonação dos canhões de ar pode até alcançar níveis de pico dessa
magnitude, mas o tempo de subida e descida (pico-a-pico) do sinal sísmico é mais
lento – em torno de 6 milissegundos – tornando improvável a ocorrência de
mortalidade de organismos adultos (Turnpenny e Nedwell, op. cit.; Wardle et al., op.
cit. e Gordon et al., 2004).

42
No entanto, Wardle et al. (op. cit.) ressaltam que, quando uma fonte sísmica é
disparada muito perto de um organismo, a variação de pressão em qualquer 1
milissegundo dos 6 milissegundos que o sinal leva até atingir o pico de amplitude é tão
grande que pode causar danos severos ao organismo.

2.1.3. Lançamento de substâncias no mar

Os efluentes e resíduos gerados durante uma pesquisa sísmica podem


constituir um importante vetor de impacto ambiental se não houver um correto
gerenciamento de sua destinação.

Grande parte dos efluentes e resíduos gerados em um navio sísmico são


rigorosamente os mesmos de qualquer outro navio de mesmo porte, como por
exemplo, efluentes sanitários domésticos e resíduos provenientes da oficina mecânica
de manutenção das engrenagens do navio. Estes aspectos potencialmente
causadores de poluição ambiental são controlados pela Marinha do Brasil, que atua
buscando garantir a conformidade com normas internacionais de poluição marinha. A
principal delas, a MARPOL – Convenção Internacional para a Prevenção de Poluição
por Navios – data de 1973, sendo posteriormente complementada em 1978 e recebeu
diversas emendas e atualizações desde então.

Para operar no Brasil, todo navio de sísmica precisa passar pela inspeção da
Autoridade Marítima Brasileira, no caso, a Diretoria de Portos e Costas – DPC, que
atestará se a embarcação possui condições de operar em acordo com a MARPOL
73/78, além de outras diretrizes legais nacionais.

Neste caso, considerando que o controle ambiental da operação rotineira do


navio é obrigatória e adequadamente realizado pela Autoridade Marítima, devemos
observar neste trabalho os aspectos que são específicos da atividade de sísmica,
como a possibilidade de rompimento do invólucro de cabos sísmicos e conseqüente
vazamento de fluido de flutuação.

Os cabos sísmicos são avariados principalmente devido a ataque de tubarões,


acidentes com aparatos pesqueiros e acidentes entre os próprios cabos sísmicos
provocados por mau tempo. É difícil precisar a freqüência com que estes incidentes
acontecem, mas pode-se dizer que não é raro acontecer uma ou mais vezes durante
cada pesquisa sísmica.

Hoje em dia, os preenchimentos mais utilizados em cabos sísmicos para


flutuação são fluidos com base em compostos de querosene. Os testes de

43
ecotoxicidade e biodegradabilidade apresentados ao IBAMA durante o licenciamento
ambiental da atividade indicam que os compostos são altamente voláteis, com baixa
toxicidade aos organismos indicadores e de certa biodegradabilidade.

Os cabos sísmicos são ainda divididos em seções independentes de 50 a 100


metros, para possibilitar o reparo modular de um componente danificado. Desta forma,
cada seção contém entre 100 e 200 litros de fluido de flutuação (MMS, 2004). Esta
partição dos cabos torna improvável o vazamento de uma grande quantidade de fluido,
uma vez que cada compartimento é estanque e isolado dos demais.

Isso indica que, na imensa maioria das operações sísmicas, excluindo as


atividades em áreas extremamente rasas e ambientalmente sensíveis, o vazamento
do fluido de flutuação dos cabos sísmicos não é um fator importante de impacto
ambiental a ser considerado, pois tendem a ser despejados apenas pequenos
volumes de uma substância altamente volátil e de baixa toxicidade aos organismos
marinhos.

Buscando reduzir ainda mais a preocupação ambiental relativa ao


preenchimento dos cabos sísmicos, a indústria vem empreendendo esforços em
desenvolver cabos sólidos, em cujo interior se encontra um polímero de baixa
densidade.

Outro fator a ser considerado nesta discussão é a possibilidade de vazamento


de óleo combustível (geralmente Diesel) durante operações de abastecimento em alto-
mar. Relativamente comuns, as transferências de combustível em alto-mar são mais
arriscadas do que as operações portuárias de transferência por uma série de motivos,
mas principalmente pelo movimento constante de ambas embarcações – o navio
sísmico e o barco de apoio que fornecerá o combustível (MMS, 2004).

No entanto, MMS (2004) considera que devido ao baixo potencial de


vazamento de óleo, os pequenos volumes envolvidos nos vazamentos e as medidas
de segurança adotadas no abastecimento (como não realizar a operação com mar
agitado), o potencial de impacto ambiental associado às operações de abastecimento
pode ser considerado insignificante.

2.1.4. Risco acidental

Um outro fator probabilístico que pode ser abordado é a questão do risco


acidental relativo ao navio de sísmica. Como qualquer outro navio de mesmo porte, a
embarcação sísmica transporta uma quantidade considerável de óleo combustível em

44
seus tanques. Uma pesquisa realizada nos inventários dos navios sísmicos que já
operaram no Brasil 8 revela que este volume pode chegar até cerca de 5.000 m3,
somando a capacidade de todos os tanques de uma embarcação. Este óleo
combustível poderia ser lançado no ambiente em caso de acidente com o rompimento
do casco e vazamento de um ou mais tanques.

Os cenários acidentais mais plausíveis seriam a colisão com outra


embarcação, incêndio a bordo seguido de explosão e o encalhe em operações em
águas rasas. Contudo, os navios sísmicos utilizados hoje em dia são embarcações
modernas, equipadas com tecnologias avançadas de navegação e posicionamento
(MMS, op. cit.). Aliás, a precisão que esses equipamentos conferem à navegação e ao
posicionamento é fundamental para o sucesso da aquisição de dados sísmicos.

Desta forma, as hipóteses de colisão com outra embarcação e encalhe em


águas rasas com o rompimento do casco e de um ou mais tanques de combustível
tornam-se extremamente improváveis.

Do mesmo modo, o gerenciamento dos riscos de incêndio a bordo da


embarcação tende a ser realizado de forma adequada, uma vez que as autoridades
marítimas verificam os dispositivos de segurança a cada entrada no país. Também
colabora a questão cultural da indústria offshore, que tem a realização de simulados
de emergência como um padrão em suas atividades.

2.1.5. Utilização do espaço marítimo

Um importante vetor de impacto socioambiental das operações de sísmica é a


restrição de acesso ao espaço marítimo que o arranjo de cabos determina. Quando
navegando lentamente – tipicamente a 4 nós ou 7,41 km/h – o conjunto navio
sísmico/cabos sísmicos interdita o acesso a uma área que chega facilmente a 8 km2 (1
x 8 km). Obviamente, esta área de interdição é maior do que a área do arranjo de
cabos, pois quaisquer outras atividades que estejam sendo realizadas na rota do navio
sísmico precisam ser interrompidas antes do navio chegar, por questão de segurança
da navegação. Como as atividades também não retornam imediatamente após a
passagem do navio, temos uma área de restrição efetiva bem maior do que as
dimensões do arranjo.

Este aspecto pode dar origem a impactos significativos sobre atividades como
a pescaria artesanal de pequena escala. Em geral, os pescadores artesanais realizam

8
Material disponível no Centro de Documentação da CGPEG/IBAMA.

45
sua atividade em pesqueiros tradicionais, conhecidos há muitos anos e cuja
localização é passada de pai para filho ao longo das gerações. As embarcações
utilizadas são de baixíssima tecnologia e autonomia, por vezes carecendo de
equipamentos básicos como rádio. Essa questão, aliada à extrema dependência
econômica da atividade para subsistência das comunidades costeiras, amplifica o
problema para esse setor da sociedade.

Obviamente, trata-se de um aspecto que é muito acentuado em águas rasas


próximas à costa e praticamente irrelevante em águas profundas afastadas da costa.

Outras atividades também podem ser afetadas, porém sem a mesma gravidade
da pesca artesanal, como o turismo ligado aos recursos marinhos – mergulhos, whale
watching, etc..

2.2. Impactos ambientais da pesquisa sísmica

Após a discussão realizada no item anterior, é possível identificar dois aspectos


que merecem especial atenção na discussão dos impactos ambientais da atividade de
sísmica marítima: a emissão sonora dos canhões de ar e a utilização do espaço
marinho.

Em relação à emissão sonora dos canhões de ar, é importante abordar


separadamente alguns grupos específicos da fauna brasileira para que suas
peculiaridades possam ser analisadas de forma adequada.

2.2.1. Mamíferos Marinhos

Os mamíferos marinhos são certamente o grupo faunístico que desperta a


maior preocupação da comunidade ambiental com relação aos impactos da sísmica
marítima. São animais com um grande apelo conservacionista e existem diversas
espécies ameaçadas de extinção.

No Brasil, encontramos basicamente representantes de duas Ordens: Cetacea


(Baleias e Golfinhos) e Sirenia (Peixes-boi). Como o alvo deste trabalho são as
espécies que ocorrem no Brasil, a análise será restrita a esses dois grupos. Contudo,
é importante ressaltar que em outras partes do mundo a preocupação com os
impactos da sísmica se estende a outros tipos de mamíferos marinhos, como as focas
e os leões marinhos.

46
2.2.1.1. Cetáceos

Dentre os mamíferos marinhos brasileiros, os cetáceos são o grupo com maior


potencial de interferência com a atividade de sísmica, pois sua distribuição varia desde
águas rasas até águas profundas, ao longo da plataforma continental e em áreas mais
afastadas da costa.

Os cetáceos podem ser divididos em duas subordens: Misticetos (ou baleias


com barbatanas) e Odontocetos (ou baleias com dentes). Os misticetos compreendem
as grandes baleias, como a Jubarte, a Azul, a Franca e a Minke. Os odontocetos
englobam os golfinhos e baleias como a Cachalote, a Orca e as Baleias Bicudas.

No Brasil, o Plano de Ação II para Mamíferos Aquáticos (IBAMA, 2001)


identificou a ocorrência de 39 espécies de cetáceos nas águas jurisdicionais
brasileiras. O PA II classificou as espécies quanto ao grau de ameaça de extinção nas
seguintes categorias (IUCN Red List Categories, 1994): Em Perigo – EN (1),
Vulnerável – VU (7), Baixo Risco – LR (1) e Dados Insuficientes – DD (30). A seguir, a
listagem completa das espécies de cetáceos que ocorrem no Brasil e o respectivo
status de conservação (Quadro 1).

47
Quadro 1: Listagem das espécies de cetáceos com ocorrência no Brasil (adaptado de IBAMA, 2001).

Balaenopteridae
Balaenoptera acutorostrata (DD) Baleia-minke-anã
Balaenoptera bonaerensis (LR) Baleia-minke-antártica
Balaenoptera borealis (VU) Baleia-sei, espadarte
Balaenoptera edeni (DD) Baleia-de-bryde, espadarte
Balaenoptera musculus (EN) Baleia-azul
Balaenoptera physalus (VU) Baleia-fin
Megaptera novaeangliae (VU) Jubarte
Balaenidae
Eubalaena australis (VU) Baleia-franca-do-sul
Physeteridae
Physeter macrocephalus (VU) Cachalote
Kogiidae
Kogia breviceps (DD) Cachalote-pigmeu
Kogia simus (DD) Cachalote-anão
Ziphiidae
Berardius arnuxii (DD) Baleia-bicuda-de-arnoux
Hyperoodon planifrons (DD) Boto-gladiador, baleia-bicuda-de-cabeça-plana
Mesoplodon densirostris (DD) Baleia-bicuda-de-blainville
Mesoplodon grayi (DD) Baleia-bicuda-de-gray
Mesoplodon hectori (DD) Baleia-bicuda-de-hector
Ziphius cavirostris (DD) Baleia-bicuda-de-cuvier
Delphinidae
Delphinus delphis (DD) Golfinho-comum-de bico-curto
Delphinus capensis (DD) Golfinho-comum-de-bico-longo
Feresa attenuata (DD) Orca-pigméia
Globicephala macrorhynchus (DD) Baleia-piloto-de-peitorais-curtas, caldeirão
Globicephala melas (DD) Baleia-piloto-de-peitorais-longas, caldeirão
Grampus griseus (DD) Golfinho-de-risso, golfinho cinzento
Lagenodelphis hosei (DD) Golfinho-de-fraser
Lissodelphis peronii (DD) Golfinho-de-peron
Orcinus orca (DD) Orca
Peponocephala electra (DD) Golfinho-cabeça-de-melão
Pseudorca crassidens (DD) Falsa-orca
Sotalia fluviatilis (DD) Tucuxi, boto-comum, boto-cinza
Stenella attenuata (DD) Golfinho-pintado-pantropical
Stenella frontalis (DD) Golfinho-pintado-do-atlântico
Stenella longirostris (DD) Golfinho-rotador
Stenella clymene (DD) Golfinho-de-climene
Stenella coeruleoalba (DD) Golfinho-listrado, golfinho-estriado
Steno bredanensis (DD) Golfinho-de-dentes-rugosos
Tursiops truncatus (DD) Boto, golfinho-nariz-de-garrafa
Iniidae
Inia geoffrensis (VU) Boto, boto-cor-de-rosa, boto-amazônico
Pontoporiidae
Pontoporia blainvillei (VU) Toninha, cachimbo, boto-amarelo, franciscana
Phocoenidae
Phocoena spinipinnis (DD) Boto-de-burmeister, boto-de-dorsal-espinhosa

Podemos perceber a predominância do status DD – Dados Insuficientes,


atribuído quando não se conhece uma espécie suficientemente nem para afirmar se

48
ela está ameaçada de extinção ou não. Esse desconhecimento da ecologia básica das
espécies de cetáceos – que não é exclusividade do caso brasileiro, mas uma
característica mundial – contribui de forma decisiva para a manutenção das incertezas
acerca dos impactos das pesquisas sísmicas sobre o grupo.

Em relação a esses possíveis impactos, podemos classificá-los em impactos


físicos e impactos comportamentais – muitas vezes relacionados, obviamente. Os
impactos físicos podem ser ainda divididos em Auditivos e Não-Auditivos.

Impactos Físicos Auditivos

Os cetáceos utilizam a percepção auditiva para funções essenciais do seu


modo de vida: orientação, comunicação intra-específica e detecção de presas e
predadores. Danos às estruturas do trato auditivo podem impactar de modo
significativo o comportamento do animal.

É bem documentada a indução de severos danos ao trato auditivo em


mamíferos marinhos por explosões submarinas (Ketten, 1998), mas até hoje tais
danos nunca foram diretamente associados com atividade de canhões de ar de
operações sísmicas (Gordon et al., 2004)

Por outro lado, existe uma classe de perturbação auditiva que já está bem
documentada para certos organismos em resposta à exposição a altos níveis de ruído,
seja ele contínuo ou pulsante. É a perda de sensibilidade auditiva, também conhecida
como alteração no limiar auditivo (hearing threshold).

Esta alteração de limiar auditivo pode ser temporária (TTS – Temporary


Threshold Shift) ou permanente (PTS – Permanent Threshold Shift). A alteração
temporária de limiar é como a “síndrome do show de rock”, a redução temporária da
sensibilidade auditiva que é recuperada completamente após um período determinado
de tempo – no caso, uma boa noite de sono. A gravidade da TTS é dada pela
combinação de dois fatores: a magnitude da alteração do limiar (em decibéis, por
exemplo) e o tempo necessário para recuperação total das capacidades auditivas do
animal. Da mesma forma, a indução da TTS é função da duração do ruído que a
provocou e das características espectrais da emissão sonora. Isto é: se o ruído for
curto e restrito a uma banda estreita de freqüências, é provável que a TTS provocada
seja recuperada em pouco tempo (Ketten, 1998).

A alteração permanente do limiar auditivo (PTS) pode ser atingida a partir ou


independentemente de cenários de TTS. Já foi bem demonstrado que a repetida

49
indução de TTS sem a devida recuperação pode causar PTS ao longo do tempo. É
análogo ao que acontece em seres humanos quando o trabalhador é exposto anos a
fio a um ambiente de trabalho barulhento sem a adequada proteção aos ouvidos –
tende a perder permanentemente a capacidade auditiva depois de um tempo.

Porém, a PTS é causada por um processo diferente em termos


histopatológicos, o que garante que possa ser atingida mesmo sem a ocorrência
prévia de TTS, devido à exposição a sons demasiadamente altos.

Em todo caso, TTS e PTS são mudanças no limiar auditivo dos cetáceos e
como tal, só podem ser provocadas por sons “audíveis” aos animais. Pode-se realizar
uma analogia com os apitos de cachorros, que emitem sons em uma freqüência que
os cães podem ouvir, mas está fora dos limites da capacidade auditiva humana
(aproximadamente 20–20.000 Hz). É impossível para um ser humano sofrer perda
auditiva pela exposição a um apito de cachorro, não importa o quão alto ele seja
soprado: nosso aparato auditivo simplesmente não é capaz de perceber o estímulo e,
portanto, não pode ser exaurido nesta específica banda de freqüências.

Assim, como os pulsos sísmicos possuem sua energia concentrada entre 10 e


200 Hz (Gausland, 2003), é plausível supor que apenas os cetáceos que possuem
capacidade auditiva nesta banda de freqüência podem ser afetados pela emissão
sonora de uma operação de sísmica.

Faz-se necessário, então, conhecer os padrões de audição de cada espécie


para poder inferir sobre sua possibilidade de sofrer impacto auditivo advindo da
operação dos canhões de ar. O problema é que não é trivial realizar estudos com
animais de grande porte, como a quase totalidade dos Misticetos. É necessário
realizar inferências e estimativas, o que pode levar a uma grande incerteza quanto ao
que realmente o animal é capaz de ouvir.

Aparentemente os Misticetos possuem uma maior acuidade auditiva em baixas


freqüências enquanto os Odontocetos ouvem melhor sons situado em faixas mais
agudas do espectro, potencialmente ignorando ou percebendo deficientemente os
sons produzidos pelos canhões de ar. Esta inferência sobre os Odontocetos seria uma
explicação plausível para o fato de serem vistos com freqüência golfinhos brincando
bem próximos a navios de sísmica em operação.

Cientistas têm utilizado os registros de vocalização de cetáceos como um


indício de qual faixa de freqüências o animal seria capaz de ouvir, presumindo,
obviamente, que o animal vocaliza em uma banda audível. A Figura 21 compila as
informações conhecidas sobre a vocalização de diversos mamíferos marinhos – dentre

50
eles diversos com ocorrência no Brasil – e compara com a banda de emissão da fonte
sísmica.

Figura 21: Comparação entre as freqüências conhecidas de vocalização de alguns mamíferos


e as bandas de emissão (total e de pico de energia) de um típico canhão de ar (MMS, 2004).

51
Outra consideração importante a ser feita em relação à audição dos cetáceos
e, conseqüentemente, à potencial indução de TTS ou PTS, é que não basta o ruído
estar contido na freqüência adequada – é preciso que a sua intensidade sonora seja
significativamente superior à do ruído ambiente para que seja percebido pelo animal.
Ou seja, como a intensidade do pulso sísmico decresce acentuadamente com a
distância, o risco de indução de alteração no limiar auditivo está restrito às
proximidades do arranjo de canhões de ar. O quão próximo um cetáceo precisa estar
para sofrer TTS/PTS é uma pergunta que necessita de pesquisas adicionais para
obtenção de uma resposta.

Ainda outra possibilidade de impacto sobre os cetáceos é o chamado


mascaramento. O mascaramento acontece quando um sinal sonoro que é importante
para o animal (ex: comunicação, ecolocalização, informações sonoras do ambiente) se
torna não-detectável por ter ficado “escondido” no ruído ambiente, numa banda de
freqüências específica (MMS, 2004; Gordon et al., 2004).

Davis et al. (1998) acreditam que o mascaramento devido à atividade de


sísmica seja improvável por causa da reduzida proporção do tempo de interferência –
menos de 10%, ou seja, 1 segundo de perturbação no campo sonoro para mais de 10
segundos de ruído ambiente.

Por outro lado, Gordon et al. (2004) argumenta que, a grandes distâncias, os
sons de baixa freqüência tendem a se ampliar no tempo, devido às múltiplas reflexões
e modos de propagação. Ou seja, um pulso bem curto e pontual à distância pode ser
percebido como um ruído mais extenso, aumentando a chance de causar
mascaramento.

De toda forma, ainda que improvável, o mascaramento tende a ser um


problema mais associado aos Misticetos, pela sua maior sensibilidade e uso de
vocalizações de sons de baixa freqüência.

Impactos Físicos Não-Auditivos

Os impactos físicos não-auditivos seriam aqueles gerados pela propagação da


onda sonora que causariam danos aos tecidos e órgãos dos animais, excluindo
aqueles relacionados com a audição.

Explosões submarinas foram historicamente relacionadas a danos em órgãos e


tecidos de organismos marinhos, principalmente aqueles dotados de cavidades
aéreas, como pulmões e bexigas natatórias (IBAMA, 2003). No entanto, o tempo de

52
subida do pulso sísmico é mais lento do que os pulsos gerados por explosões
químicas, o que reduz o risco de lesões provocadas por canhões de ar – a menos que
o animal esteja a poucos metros do arranjo de canhões de ar (MMS, 2004, Gordon et
al., op.cit.).

Mergulhadores profissionais humanos relatam ressonância nos pulmões,


náusea, desconforto visual e tontura quando expostos a sons de baixa freqüência,
como Sonares Ativos de Baixa-Freqüência - LFAS (Gordon et al., op.cit.).
Mergulhadores profissionais que trabalham na Bacia de Campos relataram que
sentiram esses mesmos sintomas quando um navio de sísmica passou disparando a
1800-2000 metros de distância (comunicação pessoal ao autor).

Gordon et al. (2004) ressaltam que não existem pesquisas científicas sobre os
efeitos da sísmica em seres humanos. Contudo, é possível supor que, pela maior
robustez estrutural do organismo, os cetáceos sejam mais bem adaptados a ondas de
pressão subaquáticas do que nós, humanos, de hábitos terrestres.

Um novo campo de desconfiança em relação às pesquisas sísmicas é relativo


à capacidade de indução de crescimento de bolhas gasosas em tecidos
supersaturados que ocorrem, por exemplo, em cetáceos mergulhadores, como as
Baleias Bicudas. O crescimento dessas bolhas pode ocasionar sérios danos aos
tecidos e órgãos, provocando até a morte desses animais. É um processo semelhante
à doença descompressiva que acomete mergulhadores humanos que retornam rápido
demais à superfície.

Não se sabe ao certo se é a própria exposição à fonte acústica que provoca a


proliferação e crescimento das bolhas ou se é resultado de uma alteração
comportamental provocada pela exposição a níveis anormais de ruído, como uma
subida muito rápida à superfície causando uma doença descompressiva (Gordon et
al., op. cit.; Crum et al., 2005; Jepson et al., 2005).

A conclusão é que, até o momento, não existem evidências concretas de danos


físicos não-auditivos a cetáceos provocados por operações de sísmica marítima.

Impactos Comportamentais

Os impactos comportamentais aos cetáceos que já foram relacionados de


alguma forma com a pesquisa sísmica são reações de evasão ou fuga e mudanças no
padrão de vocalização e subidas à tona para respiração, principalmente em Misticetos

53
(Richardson et al., 1995; McCauley et al., 2000; NRC, 2003; Gordon et al., 2004;
Hildebrand, 2004; MMS, 2004).

Porém, se já é bastante difícil acessar qualitativa e quantitativamente os


impactos comportamentais sobre os cetáceos, a tarefa mais complicada parece ser
caracterizar o que se chama de significância biológica de tais efeitos (Simmonds et al.,
2004; MMS, op. cit.; NRC, 2005).

Por exemplo, podemos até chegar a identificar quais os níveis sonoros que
produzem reação de fuga em um determinado cetáceo, mas daí a entender
completamente quais as implicações da produção desse comportamento no ciclo de
vida do indivíduo e nos parâmetros populacionais são longos – e talvez inatingíveis –
passos.

Encalhes de cetáceos, individuais ou em massa, já foram positivamente


associados com a atividade de sonares ativos militares (Frantzis, 1998; Evans et al.,
2001; Jepson et al., 2003 e 2005; Crum et al., 2005; Fernández, 2005). Para as
pesquisas sísmicas, no entanto, as evidências quanto à possibilidade de provocar
encalhes em cetáceos são ainda bastante controversas. Engel et al. (2004)
questionaram, em artigo bastante polêmico, a responsabilidade das pesquisas
sísmicas quanto ao aumento no registro de encalhes de Baleias Jubarte em 2002 na
região do Banco de Abrolhos, litoral leste brasileiro. No entanto, a própria conclusão
do estudo destacou ser impossível estabelecer uma conexão entre o aumento dos
encalhes e o aumento da atividade de sísmica na região.

Não obstante, a IAGC – Associação Internacional das Empresas de Sísmica –


produziu um artigo-resposta em 2004 buscando contrapor os argumentos do artigo de
Engel et al. (2004) e reforçando a tese da inexistência de evidência científica para
associação das pesquisas sísmicas à ocorrência de encalhes de cetáceos. O artigo-
resposta analisou caso-a-caso os episódios de encalhe reportados por Engel et al. e
calculou que as distâncias entre as praias onde os animais foram encontrados e a
pesquisa sísmica mais próxima naquele período variaram entre 90 e 560 km (média =
344 km). Assim, os autores concluíram não ser razoável estabelecer uma relação de
causa e efeito entre a realização de pesquisas sísmicas e o aumento na ocorrência de
encalhes na costa brasileira.

A pesquisa sísmica foi apontada outras vezes como estando relacionada à


ocorrência de encalhes (Malakoff, 2002; Gentry, 2002), mas até o momento, nenhum
estudo foi capaz de estabelecer uma relação causa-efeito cientificamente plausível.

54
MMS (2004) ressalta que as características de emissão do pulso sísmico e de
sonares ativos militares são bem diferentes, não sendo possível inferir para as
pesquisas sísmicas os mesmos efeitos atribuídos aos sonares.

Uma abordagem com potencial para responder ao menos algumas questões


mais genéricas é a abordagem energética. Nessa abordagem, considera-se que cada
animal possui um “orçamento” energético ótimo, ao qual está adaptado e a partir do
qual realiza suas estratégias, sejam alimentares, reprodutivas ou outras quaisquer.
Determinadas espécies, o tempo todo ou em determinados momentos da vida,
trabalham com um “orçamento” energético escasso, que não permite muita
flexibilidade comportamental.

Por exemplo, as baleias mergulhadoras, como as Bicudas, realizam


rotineiramente mergulhos profundos até profundidades superiores a 2.000 metros.
Quando um animal como esses mergulha, ele parte da superfície com um estoque
finito de oxigênio em seu sangue e em seus músculos que deve durar até a próxima
subida para respiração. Daí em diante, todo comportamento do indivíduo durante o
mergulho é calculado para ser energeticamente eficiente. Na eventualidade de uma
perturbação sonora que force esse animal a assumir um comportamento de evasão ao
qual ele não estava preparado, a questão energética assume contornos dramáticos. O
animal pode não ser capaz de manter uma grande velocidade de natação, por
exemplo, sob pena de não dispor de oxigênio para chegar à superfície depois. Ou
ainda, o animal pode ser forçado a nadar em direção à fonte sonora, pois é a única
alternativa que seu final de suprimento de ar permite (Simmonds et al., 2004; Gordon
et al., 2004).

É importante ressaltar que os cetáceos mergulhadores estão sujeitos a receber


o sinal acústico verticalmente, no sentido de menor atenuação, para onde toda a
energia emitida é focada.

Além dos casos de “orçamentos” energéticos críticos, parece razoável que –


sejam quais forem os impactos comportamentais potenciais em cetáceos – o
planejamento das pesquisas sísmicas procure evitar a concomitância espaço-temporal
com atividades-chave no ciclo de vida dos animais, como o acasalamento e
amamentação de filhotes, pois qualquer alteração no comportamento nesses
momentos pode ser biologicamente significante para os indivíduos e para as
populações (Engel et al., 2004; Gordon et al, 2004)

Nesse sentido, é fundamental ampliar o conhecimento sobre a ecologia


comportamental das espécies de cetáceos que ocorrem no Brasil, principalmente

55
aquelas cujas populações encontram-se ameaçadas de desaparecimento. Assim, será
possível desenhar áreas e períodos de restrição à atividade de sísmica de forma a
evitar quaisquer impactos sobre essas espécies, em uma postura de precaução frente
às incertezas ainda persistentes. Weir e Dolman (2007), após revisão dos
procedimentos de mitigação adotados em diversas jurisdições, concluíram que o
estabelecimento de áreas de restrição temporária em áreas de grande importância
para mamíferos marinhos ainda é a medida mitigadora mais efetiva a ser adotada para
a proteção desses animais.

Hoje em dia, existem duas áreas de restrição temporária à realização de


pesquisas sísmicas no Brasil, uma em função da Baleia Jubarte (Megaptera
novaeangliae) – Figura 22 – e outra em função da Baleia Franca (Eubalaena australis)
- Figura 23.

Estas áreas foram definidas pelo IBAMA após um trabalho interno de discussão
entre as Diretorias de Licenciamento Ambiental e de Fauna e Recursos Pesqueiros,
esta representada principalmente pelo Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e
Manejo de Mamíferos Aquáticos – CMA.

56
Figura 22: Área de restrição temporária para realização de pesquisas sísmicas em função da
Baleia Jubarte – área hachurada em azul. Período proibido: julho a novembro. Profundidade: 0
- 500 metros. Adaptado de IBAMA (2006a).

57
Figura 23: Área de restrição temporária para realização de pesquisas sísmicas em função da
Baleia Franca – área hachurada. Período proibido: junho a 15 de dezembro. Profundidade: 0 -
50 metros. Adaptado de IBAMA (2006a).

A seguir, são apresentados alguns dados relativos a impactos


comportamentais em cetáceos presentes nas águas brasileiras, compilados na
literatura científica. Ressalta-se a importância de procurar a publicação original, pois
as informações apresentadas na Tabela 1 são bastante sintéticas.

58
Tabela 1: Compilação de alguns dados da bibliografia sobre respostas comportamentais de
cetáceos.

Nível sonoro Distância Comportamento


Espécie Referência
recebido da fonte observado

Golfinho Redução na vocalização e Goold


- > 1 km
comum afastamento (1996)
Bowles et
Cachalote 112 dB > 300 km? Cessação da vocalização
al. (1994)
Resposta imediata de alarme.
Malme et al.
Baleia Jubarte 150-169 dB < 3,2 km Sem evasão evidente até o
(1985)
nível de 172 dB
170 dB p-p 3-4 km
162 dB p-p 5 km Comportamento de evasão McCauley et
Baleia Jubarte
157 dB p-p 8 km e/ou evitação. al. (1998)

168 dB p-p 1 km
Máxima aproximação: 10 km?
Cessação de vocalização por
McDonald et
Baleia Azul 143 dB p-p 10 km cerca de 1 hora.
al. (1995)
Retorno das vocalizações e
afastamento da fonte sonora.
Fonte: adaptado de Gordon et al., 2004.

2.2.1.2. Sirênios

Os sirênios formam um grupo bastante reduzido dos mamíferos marinhos, hoje


possuindo apenas quatro espécies. Destas, duas ocorrem no Brasil, sendo que só a
Trichechus manatus (peixe-boi marinho) vive no mar.

Os Peixes-boi marinhos usam sons para se comunicarem em um código


simples de cliques e gritos de alta freqüência, que utilizam basicamente para
expressar medo, protesto e para aproximação sexual (Richardson et al., 1995). Como
eles utilizam altas freqüências, não é esperada a ocorrência de mascaramento, nem
indução de TTS ou PTS.

Pesquisadores em bioacústica representam a capacidade auditiva dos animais


por meio de gráficos denominados audiogramas. Os audiogramas representam qual a
banda de freqüências que o animal é capaz de perceber e qual o limite mínimo de
intensidade sonora detectável em cada freqüência, também chamado de limiar
auditivo. Nestes gráficos, menores valores significam melhor audição (Popper, 2003;
Hastings e Popper, 2005).

59
A seguir, é apresentado o audiograma fornecido por Gerstein (2002) para
peixes-boi marinhos (Figura 24). O gráfico demonstra a baixa sensibilidade dos peixes-
boi a sons de baixa freqüência, como os gerados por motores de barcos e disparos de
canhões de ar.

Figura 24: Audiograma de peixe-boi marinho comparado com audiograma subaquático


humano (adaptado de Gerstein, 2002). Perceba que os seres humanos ouvem melhor debaixo
d’água em baixas freqüências do que os peixes-boi.

Como sua distribuição é restrita a águas bem rasas, a preocupação maior é


com as operações sísmicas em zonas de transição terra-mar. Nesse caso, um risco
importante a ser considerado é o de atropelamento do animal. A mesma falta de
sensibilidade às baixas freqüências que os tornam pouco reativos à emissão dos
canhões de ar os tornam mais susceptíveis ao atropelamento, pois reduz a
capacidade de perceber a aproximação de embarcações – principalmente navegando
a baixas velocidades (Gerstein, 2002).

O atropelamento de peixes-boi é um problema sério na Flórida/EUA, onde as


autoridades vêm estabelecendo medidas de controle do tráfego de barcos nas áreas
habitadas pelos animais (IBAMA, 2003).

No Brasil, estima-se que a população de Peixe-boi marinho (Trichechus


manatus) esteja reduzida a cerca de 500 indivíduos (IBAMA, 2001), tendo sido
classificada como “em perigo crítico” de extinção. Assumindo uma postura de

60
precaução contra os possíveis impactos advindos da pesquisa sísmica em águas
rasas e em zonas de transição, o IBAMA estabeleceu áreas de restrição para a
atividade no litoral norte-nordeste brasileiro (Figura 25). As áreas compreendem desde
a linha de costa até a batimetria de 12 metros e proíbem a atividade entre 1° de
setembro a 31 de maio. Em algumas localidades, a restrição é permanente e válida
durante todo o ano.

Figura 25: Áreas de restrição para realização de pesquisas sísmicas em função do Peixe-boi
marinho. Período proibido: setembro a maio (áreas hachuradas em azul) e o ano inteiro (áreas
cinza). Profundidade: 0 – 12 metros. Adaptado de IBAMA (2006a).

2.2.2. Quelônios Marinhos

Os quelônios marinhos são um grupo bastante especial no que tange à


conservação da biodiversidade, pois existem apenas 8 espécies em todo o mundo,
todas ameaçadas de extinção. No Brasil, ocorrem cinco dessas espécies: Caretta
caretta (ou tartaruga-cabeçuda), Chelonia mydas (ou tartaruga-verde), Eretmochelys

61
imbricata (ou tartaruga de pente), Dermochelys coriacea (ou tartaruga de couro) e
Lepidochelys olivacea (ou tartaruga-oliva).

Existem poucos estudos sobre os possíveis impactos da sísmica sobre os


quelônios marinhos, embora sejam animais de fácil manuseio e marcação se
comparados às baleias. As limitações das análises são similares às dos cetáceos:
como determinar a significância biológica de determinado impacto comportamental?
Ou de determinada alteração de limiar auditivo? De qualquer forma, o estado de
ameaça de extinção em que se encontram todas as espécies de tartarugas marinhas
justifica uma postura de precaução sobre esses animais.

Quanto à capacidade auditiva, existem apenas dois estudos realizados com


espécies de quelônios marinhos, ambos utilizando organismos juvenis como referência
(MMS, 2004). Os resultados para tartarugas-verdes Chelonia mydas (Ridgway et al.,
1969) revelam que a banda de freqüências de maior sensibilidade auditiva é entre 300
e 400 Hz. Já para a tartaruga cabeçuda Caretta caretta, Moein-Bartol et al. (1999)
demonstraram que esta espécie possui sensibilidade acústica na faixa entre 250 a 750
Hz, com o pico de sensibilidade em torno da freqüência de 250 Hz.

Os estudos indicam que a sensibilidade auditiva das espécies testadas


encontra-se em freqüências ligeiramente superiores, mas bastante próximas das
freqüências predominantes nos pulsos sísmicos – o que sugere que as tartarugas
marinhas seriam capazes de ouvir os disparos dos canhões de ar.

No entanto, as lacunas de conhecimento sobre a ecologia comportamental das


espécies ainda são bastante significativas e apenas há poucos anos, com a evolução
da tecnologia de satélite-telemetria, é que se começou a entender o que acontece com
as tartarugas entre uma desova e a outra. É preciso aprofundar a pesquisa científica
nessa área para que as adequadas medidas restritivas possam ser exigidas pelos
órgãos reguladores e adotadas pela indústria de sísmica.

McCauley et al. (2000) realizaram experimentos investigando o efeito de


emissões sonoras em um indivíduo de Caretta caretta e um de Chelonia mydas
colocados em gaiolas submersas e concluíram que um aumento no comportamento
natatório pode ser observado quando o animal recebe níveis de energia acústica
superiores a 166 dB re 1μPa rms. Observaram também que a natação torna-se mais
errática, ou seja, o animal efetua mais mudanças de direção do nado, a partir de 175
dB re 1μPa rms. Os autores também especulam que este nível de som seria aquele
em que tartarugas livres no ambiente apresentariam o comportamento de evasão ou
fuga. O estudo calcula que, para um arranjo típico de canhões de ar, esses níveis

62
seriam atingidos a uma distância de aproximadamente 2 km e 1 km da fonte sísmica,
respectivamente.

No entanto, os próprios autores alertam para o fato de que esse experimento,


assim como todos os demais realizados com animais engaiolados, representam
apenas a resposta de um grupo muito reduzido de indivíduos – apenas 2, no caso
específico -, com um número muito pequeno de observações, pequena variabilidade
etária e em condições ambientais que não refletem muito bem o meio natural onde
vivem os animais.

Esse estudo também relata o trabalho de Moein et al. (1995), que identificaram
a ocorrência de TTS em Caretta caretta juvenis para níveis sonoros de
aproximadamente 177 dB re 1μPa rms, tendo a audição retornado à capacidade
normal em duas semanas. Esse mesmo estudo obteve indicações de comportamento
evasivo aos primeiros disparos de canhões de ar, mas registrou posterior habituação
ao estímulo e cessação do comportamento evasivo. MMS (2004) comenta que é
possível interpretar a habituação como uma “desistência” da fuga, visto que as
tartarugas estavam confinadas em um tanque-rede de 18 m x 61 m x 3,6 m e não
poderiam escapar verdadeiramente da fonte sonora, situada em uma das
extremidades do tanque-rede.

Tendo em vista a possibilidade de alterações comportamentais devido à


presença de pesquisas sísmicas, o IBAMA determinou a restrição temporária dessas
atividades em áreas de desova durante o período reprodutivo ao longo da costa
brasileira.

Estas áreas foram definidas pelo IBAMA após um trabalho interno de discussão
entre as Diretorias de Licenciamento Ambiental e de Fauna e Recursos Pesqueiros,
esta representada principalmente pelo Centro Nacional de Conservação e Manejo de
Tartarugas Marinhas – Centro Tamar.

63
Figura 26: Áreas de restrição temporária para realização de pesquisas sísmicas em função das
Tartarugas Marinhas – área hachurada em azul. Período proibido: Outubro a Fevereiro
(Dezembro a Março na área mais ao norte). Distância da costa: até 15 milhas náuticas (aprox.
28 km). Adaptado de IBAMA (2006a).

2.2.3. Peixes

Contendo quase 30.000 espécies catalogadas mundialmente, os peixes


constituem o maior grupo dos vertebrados. Na realidade, modernamente considera-se
que os peixes são uma classificação informal conferida aos animais pertencentes ao
subfilo Vertebrata, excluindo-se os tetrápodes (anfíbios, répteis, aves e mamíferos).
Ou seja, evolutivamente não existe uma linhagem que tenha dado origem
exclusivamente aos peixes – esta linhagem produziu também todos os outros
vertebrados.

Em uma divisão meramente didática, podemos separar os peixes em Agnatos


(lampréias – peixes sem maxilas), Cartilaginosos (tubarões e raias) e Ósseos (todos

64
os demais). Como inexistem quaisquer estudos sobre os impactos da pesquisa
sísmica sobre lampréias, tubarões e raias, a discussão será centrada nos peixes
ósseos – que concentram a vasta maioria das espécies do grupo.

A diversidade dos peixes é refletida também na variedade de modos de vida,


como por exemplo, peixes de hábitos pelágicos (livres-natantes na coluna d’água) e
peixes de hábitos demersais (vivem associados ao substrato, seja ele “duro” - como os
bancos recifais, ou “mole”, como os fundos arenosos).

Toda essa amplitude de comportamentos e nichos ecológicos torna muito difícil


a generalização dos efeitos da pesquisa sísmica sobre os peixes. Assim, os resultados
experimentais obtidos até hoje não permitem concluir muito sobre o comportamento de
outras espécies que não aquelas testadas no estudo. Essa talvez seja a principal
causa da grande polêmica que existe até hoje em relação aos impactos da sísmica em
peixes – já foram observados efeitos muito distintos em diferentes grupos de animais.
Assim, toda tentativa de generalização produz contradições com resultados de outros
estudos, gerando polêmica.

Como forma de organizar a revisão, podemos dividir os possíveis impactos da


pesquisa sísmica em peixes em impactos físicos – auditivos e não-auditivos – e
impactos comportamentais, estes últimos intimamente relacionados com a atividade
pesqueira. Obviamente, estas categorias de impacto são intimamente conectadas,
estando divididas aqui por razões didáticas.

Ao final deste item, serão apresentados ainda os dois estudos realizados em


águas brasileiras, com espécies locais, por pesquisadores nacionais.

Impactos Físicos Não-Auditivos

Diferentes estudos (Turnpenny e Nedwell, 1994; Wardle et al., 2001 e


Gausland, 2003) citam a conclusão que o Dr. Larson apresentou no Workshop on
Effects of Explosives use in the Marine Environment, realizado em Halifax, Canadá,
em 1985. Naquela ocasião, o citado pesquisador afirmou que a mortalidade de
organismos expostos a ondas de pressão poderia acontecer se o pulso de energia
acústica preenchesse dois requisitos: pico de pressão superior a 229 dB re 1 μPa e
tempo de subida e descida pico-a-pico do sinal menor que 1 milissegundo. Tais
requisitos são preenchidos por explosões químicas, mas não por disparos de canhões
de ar, que possuem tempo de subida e descida do sinal em torno de 6 milissegundos.

65
No entanto, apesar dessa conclusão, diferentes estudos buscaram reproduzir o
cenário de pior caso de exposição aos pulsos sísmicos, com o objetivo de averiguar se
a letalidade era possível. Até hoje, não há registro na literatura científica de estudo que
tenha provocado morte imediata de peixes.

Turnpenny e Nedwell (1994) citam estudos que observaram a indução de


danos físicos potencialmente letais após a exposição de peixes a disparos de canhões
de ar (Falk e Lawrence, 1973; Holliday et al., 1987, Kosheleva, 1992 e Matishov,
1992). Os danos relatados incluem ruptura da bexiga natatória, hemorragia nos olhos
e deslocamento da retina. Em todos os casos, os animais foram expostos a distâncias
entre 0,5 e 3 metros dos canhões de ar, recebendo níveis sonoros estimados de 214
dB até 246 dB re 1μPa.

É importante lembrar que os níveis sonoros atribuídos às fontes sísmicas são


originados a partir de extrapolações matemáticas da percepção sonora no campo
distante (far-field) – ver item 1.3.1. O pulso sísmico. Assim, para um arranjo típico cuja
amplitude na fonte é citada como 260 dB re 1 μPa a 1 metro, o maior valor a ser
efetivamente gerado na água ao redor dos canhões de ar é de algo em torno de 240
dB re 1 μPa (Caldwell e Dragoset, 2000; Dragoset, 2000).

Um estudo foi realizado no Mar Adriático na Itália por Santulli et al. (1999) com
o objetivo de investigar a indução de stress bioquímico no Robalo Europeu – European
Sea Bass (Dicentrarchus labrax) pela exposição aos disparos de canhões de ar. Foi
utilizado um arranjo de 2.500 pol³ e os peixes foram colocados em gaiolas no fundo do
mar, a uma profundidade média de 15 metros e a diferentes distâncias da linha de
navegação do navio sísmico, sendo que a menor distância entre os canhões de ar e
as gaiolas foi de 180 m. O navio percorreu um transect de 10 MN (aprox. 18,5 km) ao
largo da costa de Ancona, na Itália. As gaiolas foram monitoradas por câmeras de
vídeo para avaliação comportamental dos peixes.

Após a passagem da embarcação sísmica, as gaiolas foram recolhidas ao


navio dos pesquisadores, que rapidamente sacrificaram os peixes e retiraram
amostras sangüíneas para avaliação dos níveis hormonais e de outros tecidos para
realização de análises mais aprofundadas. O recolhimento das gaiolas se deu em dois
tempos: 6 horas e 72 horas após a exposição aos disparos sísmicos.

Os resultados indicam que os peixes apresentaram uma clássica reação de


stress ao serem expostos aos disparos dos canhões de ar, revelando níveis
aumentados de substâncias indicadoras de respostas primárias e secundárias
associadas à situação de stress em comparação com os animais do grupo controle.

66
No entanto, os autores avaliam que os indicadores voltaram aos níveis normais 72
horas após a exposição. Na realidade, devido à metodologia amostral utilizada, o que
se sabe é que o nível de stress dos robalos retornou ao normal em algum momento
entre 6 e 72 horas após a passagem do navio sísmico, sendo impossível precisar quão
rápido foi esse retorno. É importante ressaltar que os peixes estavam confinados em
gaiolas, impossibilitados de se afastar da fonte sísmica.

No entanto, McCauley et al. (2000) realizaram um experimento no qual a


exposição à perturbação sonora foi talvez mais severa do que a de Santulli et al.
(1999) e não obteve resultados significativamente diferentes para as amostras de
substâncias indicadoras de stress. Mais uma vez, fica evidente que cada espécie
reagirá de uma forma aos disparos dos canhões de ar, dependendo de sua própria
susceptibilidade.

Assim, a literatura científica disponível até o momento indica que a incidência


de danos físicos severos em peixes está provavelmente confinada à extrema
proximidade dos canhões de ar (< 3 m). Considerando que os canhões de ar operam
em constante movimento e que os peixes são organismos de livre natação, parece
que a possibilidade de ocorrência de impactos físicos não-auditivos sob condições
normais de operação é bastante improvável.

Impactos Físicos Auditivos

A percepção auditiva dos peixes é diferente da dos mamíferos marinhos, pois


depende não só das estruturas do ouvido como de células sensoriais epiteliais ao
longo do corpo. Isso proporciona uma habilidade de “ouvir” o ambiente também a partir
da velocidade das partículas do meio e não somente a partir da variação de pressão
acústica recebida (Hastings e Popper, 2005). No entanto, a grande diversidade de
espécies traduz-se em grande variação na sensibilidade auditiva.

De uma forma geral, podemos dividir os peixes em generalistas e especialistas


“auditivos”. Os generalistas são aqueles que percebem os sons através da
estimulação direta do ouvido. Já os especialistas possuem conexões entre o aparato
auditivo e estruturas preenchidas por gases – como a bexiga natatória – que
aumentam a sensibilidade auditiva e a capacidade de perceber as variações de
pressão acústica no meio (MMS, 2004; Popper, 2005; Hastings e Popper, 2005). No
entanto, até hoje só foi estudada a capacidade auditiva de cerca 100 espécies de
peixes, fazendo com que as afirmações sobre a sensibilidade das demais espécies
sejam bastante especulativas (Hastings e Popper, op. cit.). A seguir, a Figura 27

67
exemplifica audiogramas obtidos para alguns peixes, sendo que a maioria não ocorre
no Brasil. Para uma compilação recente dos audiogramas conhecidos em peixes, ver
Nedwell et al. (2004).

Figura 27: Exemplos da capacidade auditiva estimada de algumas espécies de peixes


(adaptado de Hastings e Popper, 2005). É importante ressaltar que a faixa de freqüências
dominante no pulso sísmico vai de 10 a 200 Hz (Gulland e Walker, 1998; Gausland, 1998,
2003).

Apesar desta divisão simplista entre generalistas e especialistas, a audição é


um sentido fundamental para a vida dos peixes – como acontece em geral com
espécies marinhas – e uma alteração grave na percepção auditiva pode prejudicar
atividades como a reprodução e a detecção de presas e predadores (Popper, 2003).
No entanto, são poucos os estudos contemplando o impacto auditivo das pesquisas
sísmicas em peixes.

Como regra geral, Engås et al. (1996) sugerem que um peixe é capaz de
perceber um som quando a intensidade deste supera o ruído ambiente por 20 dB e
começar a alterar seu comportamento quando a intensidade supera 20 dB o limiar de
detecção, ou seja, 40 dB acima do ruído ambiente. Naturalmente, a detecção do som
só acontece quando o peixe possui sensibilidade auditiva suficiente na banda de
freqüências em questão.

68
Popper et al. (2005) relatam um experimento realizado no Canadá com três
espécies de peixes – uma que apresentava especializações auditivas (Couesius
plumbeus) e duas sem especializações conhecidas (Esox lucius e Coregonus nasus) –
buscando avaliar a possibilidade de indução de TTS – Temporary Threshold Shift
(alteração temporária de limiar auditivo) em peixes a partir de exposição aos disparos
de canhões de ar.

Eles utilizaram um arranjo de canhões com volume total de 730 pol3 operando
a 1.900 psi. A profundidade local foi de 1,9 metros e a distância mínima entre a gaiola
de peixes e a fonte sonora foi de 13 metros. Foram medidas as sensibilidades
auditivas dos peixes antes e após a exposição aos disparos de canhões de ar
utilizando-se a técnica chamada ABR – Auditory Brainstem Response (resposta
auditiva do tronco cerebral), um método não-invasivo pra medir a resposta do cérebro
como um todo aos estímulos acústicos (Popper et al., 2005).

Os resultados mostraram que a indução de TTS foi proporcional à sensibilidade


auditiva da espécie, ou seja, os peixes com maior sensibilidade auditiva sofreram a
maior perda temporária de audição e os peixes com menor sensibilidade foram menos
afetados. Outro resultado importante é que os peixes retornaram à sua condição
auditiva normal em, no máximo, 24 horas a partir da exposição, indicando que a
alteração no limiar auditivo foi efetivamente temporária. Por fim, um resultado
interessante é que nenhum dos espécimes juvenis de Esox lucius revelou sofrer TTS.
Os autores especulam que este fato pode estar relacionado com o amadurecimento do
sistema auditivo.

Um outro estudo de referência em relação aos impactos auditivos das


pesquisas sísmicas em peixes foi desenvolvido na Austrália, sob a coordenação do Dr.
Robert McCauley, cujos resultados foram publicados em 2000 e 2003.

McCauley et al. (2000 e 2003) expuseram indivíduos de Pagrus auratus (pink


snapper) – um generalista auditivo – a um regime de aproximação e afastamento de
um canhão de ar de 20 pol3, disparando a cada 10 segundos a 1.500 psi, com o
objetivo de simular a exposição a uma embarcação sísmica em movimento (Figura
28).

69
Figura 28: Regime de exposição aos disparos de um canhão de ar utilizado por McCauley et
al. (2000 e 2003). O eixo vertical representa o nível sonoro (dB rms de 95% da energia do
sinal) medido por hidrofones preso à gaiola onde os peixes se encontravam. O eixo horizontal
mostra a hora local.

As aproximações do canhão de ar foram iniciadas em distâncias entre 400 e


800 metros e a mínima distância entre a fonte sísmica e a gaiola com os peixes foi de
5 metros. O regime de exposição envolveu quatro aproximações em um período de
1:05 h, seguido de uma pausa de 1:12 h e mais três aproximações em 0:36 h.

Os peixes foram divididos em três grupos: I (controle) – que foram retirados da


gaiola e sacrificados imediatamente antes da exposição ao canhão de ar; II –
sacrificados 18 horas após a exposição; e III – sacrificados 58 dias após a exposição.

Os peixes sacrificados foram dissecados e tiveram seus ouvidos internos


analisados com microscopia eletrônica de varredura. Os pesquisadores encontraram
evidências de danos ao epitélio sensorial auditivo dos peixes dos grupos II e III,
evidenciados por alterações na forma e aparência de células ciliadas (Figura 29).
Estas células são responsáveis por transferir o estímulo mecânico acústico para o
sistema nervoso dos animais, permitindo o processamento da informação em
sensação auditiva.

Os pesquisadores estabeleceram uma metodologia de contagem dessas


evidências de dano às células ciliadas e concluíram que as amostras do grupo II
(obtidas 18 h após a exposição) não possuíam uma densidade significativamente

70
diferente de células danificadas em relação às amostras do grupo I (controle) em
termos estatísticos. No entanto, a densidade de células danificadas nas amostras do
grupo III (obtidas 58 dias após a exposição) demonstrou ser significativamente
superior às amostras dos grupos I e II, confirmando evidências obtidas em estudos
anteriores de que danos acústicos a células ciliadas só seriam perceptíveis após um
ou mais dias da exposição (McCauley et al., 2003).

Figura 29: a) Exemplo de epitélio sensorial auditivo saudável, obtido de peixe não-exposto aos
disparos do canhão de ar. b) Fotografia do epitélio sensorial auditivo de peixe exposto aos
disparos do canhão de ar, mostrando células ciliadas “esmagadas” e um “buraco” no epitélio.
(McCauley et al.; 2000 e 2003).

71
McCauley et al. (2003) especulam que as células ciliares danificadas poderiam
ter sido “arrancadas” de seus lugares por um dano mecânico imediato ou poderiam ter
“explodido” como resposta fisiológica a um grave dano provocado pela exposição aos
disparos do canhão de ar. Como a exposição aos pulsos sísmicos foi obtida com um
regime de aproximações e afastamentos do canhão de ar, não foi possível determinar
qual a “dose” necessária para causar o efeito observado. Não se sabe se o dano foi
causado pela exposição a poucos pulsos de alta intensidade ou pelo efeito cumulativo
de vários pulsos de média a alta intensidade.

Alguns peixes do experimento inicial foram submetidos novamente aos


disparos do canhão de ar 58 dias após a primeira exposição. Desta vez, os peixes não
reagiram comportamentalmente aos disparos, ao contrário do que tinha acontecido na
primeira exposição, quando apresentaram clara tendência de agregação no fundo da
gaiola. Os autores sugerem que este resultado pode ter sido provocado por um quadro
de habituação do peixe ao estímulo sonoro ou por um possível dano às estruturas
auditivas dos peixes – eles estariam surdos.

A hipótese de surdez não pôde ser confirmada pela equipe do Dr. McCauley
porque não foram realizados testes neurofisiológicos nos organismos, apenas
avaliações morfológicas. No entanto, a análise microscópica dos epitélios sensoriais
dos peixes expostos novamente aos disparos do canhão de ar 58 dias após a primeira
exposição revelou a existência de rede de finos filamentos, não observada em
nenhuma amostra até então (Figura 30). Os autores sugerem que, uma vez os
filamentos sendo muito finos para caracterizarem contaminação fúngica ou bacteriana,
possivelmente são indicadores de um processo de reparo inflamatório.

72
Figura 30: Aparência do epitélio sensorial auditivo de peixes expostos novamente aos disparos
do canhão de ar 58 dias após a primeira exposição. Observe a presença de uma rede de finos
filamentos, possivelmente indicando um processo de reparo inflamatório (McCauley et al.,
2000). As amostras foram obtidas imediatamente após a segunda exposição.

Em palestra no Seminário Internacional “A Atividade Sísmica e o Meio


Ambiente”, realizado em maio de 2006 no Rio de Janeiro, a Dra. Chandra Salgado-
Kent, integrante da equipe atual do Dr. Robert McCauley, apresentou dados relativos
às últimas análises do material obtido no experimento australiano. Os dados indicam
que foi verificada uma tendência de recuperação no epitélio sensorial auditivo dos
peixes submetidos aos disparos do canhão de ar ao longo dos 90 dias subseqüentes à
primeira exposição (Figura 31).

73
Figura 31: Adaptação de um gráfico apresentado pela Dra. Chandra Salgado-Kent em
Seminário Internacional no Rio de Janeiro mostrando a tardia, porém existente, tendência de
recuperação do epitélio sensorial auditivo de Pagrus auratus.

Pouco se pode afirmar a respeito dessa tendência de recuperação, uma vez


que os próprios mecanismos de geração do dano ainda são desconhecidos; no
entanto, é uma informação que não está presente nos trabalhos de McCauley et al. de
2000 e 2003, sendo importante o registro nesse momento.

Os próprios autores do estudo australiano ressaltam a dificuldade de


extrapolação dos resultados para a situação real de operação. Eles alertam para o fato
de que, se livres para nadar, possivelmente os peixes teriam se afastado da fonte
sonora, evitando a exposição crítica aos níveis causadores de dano. Outro ponto a
destacar é o fato de, embora o aparato auditivo do pink snapper seja parecido com o
de outras espécies como atum, bacalhau, salmão e outras, existe a possibilidade
desta espécie ser mais ou menos sensível que as demais, de modo que os resultados
obtidos devem ser extrapolados com cautela.

No entanto, existe uma ressalva a ser feita no sentido inverso. Embora


McCauley et al. não tenham realizado um monitoramento neurofisiológico dos peixes
para confirmar o grau de deficiência auditiva provocado, o dano observado foi bastante
grosseiro. Ou seja, há a possibilidade de que o dano grave o suficiente para provocar

74
a ejeção de células ciliadas tenha outras implicações funcionais na fisiologia do
organismo que não foram detectadas com o uso de microscopia eletrônica.

Impactos Comportamentais

Existem diversos estudos científicos que, de uma forma ou de outra,


abordaram os efeitos comportamentais da exploração sísmica em peixes (Dalen e
Knutsen, 1986; Pearson et al., 1992; Skalski et al., 1992; Løkkeborg e Soldal, 1993;
Engås et al., 1996; Hirst e Rodhouse, 2000; McCauley et al., 2000; Wardle et al., 2001;
Thomsen, 2002; GEIA/Everest, 2004; GIA, 2004; Hassel et al., 2004; Slotte et al.,
2004).

O estudo que apresenta as evidências mais contundentes em relação ao


impacto das pesquisas sísmicas sobre o comportamento de peixes e,
conseqüentemente, sobre as pescarias associadas, é o de Engås et al. (1993 e 1996).
A equipe norueguesa realizou um experimento para investigar o efeito das pesquisas
sísmicas na abundância e nas taxas de captura de bacalhau (Gadus morhua) e
haddock (Melanogrammus aeglefinus), recursos pesqueiros importantes para os
países do norte europeu.

O experimento foi conduzido em maio de 1992 no Mar de Barents e consistiu


no registro hidroacústico da densidade de peixes e na realização de pescarias
experimentais – utilizando pesca de arrasto e com espinhel longline – 7 dias antes,
durante e 5 dias depois da realização de uma pesquisa sísmica 3D que durou 5 dias.
A área da pesquisa sísmica consistiu em um retângulo de 3 x 10 milhas náuticas
(aprox. 5,5 x 18,5 km) no centro da área de investigação, que totalizou 40 x 40 MN
(aprox. 74 x 74 km) – ver Figura 32.

O arranjo de canhões de ar utilizado na pesquisa sísmica foi configurado com


volume total de 5.012 polegadas cúbicas e operou a 2.000 psi. A operação foi
conduzida de acordo com os padrões da indústria para uma pesquisa sísmica
tridimensional, com um disparo a cada 10 segundos (cada 25 m). Foram levantadas
36 linhas sísmicas em 5 dias, cada uma com comprimento de 10 MN (aprox. 18,5 km).

75
Figura 32: Localização da área experimental (Engås et al.,1996). Profundidades em metros. A
– Malha amostral da prospecção hidroacústica. B – Malha amostral das pescarias de espinhel
(barras) e arrasto (círculos). As amostras foram categorizadas com relação à distância da área
da pesquisa sísmica (0, 1-3, 7-9 e 16-18 milhas náuticas)

Os resultados obtidos indicaram uma drástica redução na abundância e na taxa


de captura de bacalhau e haddock após a realização da pesquisa sísmica. A

76
prospecção hidroacústica revelou uma redução de 64% na densidade acústica média
na área total do estudo. Nos arrastos com as traineiras, onde o bacalhau respondeu
por mais de 90% da média de captura, a redução na pesca alcançou 69% dentro da
área da pesquisa sísmica e nos arrastos realizados fora da área central, a redução
observada foi de 45 a 50% em relação aos arrastos realizados antes da realização dos
disparos sísmicos. Não houve sinais de recuperação das taxas de captura de arrasto
nos 5 dias subseqüentes à pesquisa sísmica.

Para a pesca com espinhel, os resultados foram menos drásticos. Foi


identificada uma redução de 45% na pesca de bacalhau dentro da área da pesquisa
sísmica. Para as áreas um pouco mais afastadas (1-3 e 7-9 MN), foi verificada uma
redução menor na captura (16 e 25%, respectivamente) e para a amostragem mais
distante não foi observada redução significativa da captura. Ao contrário da pesca de
arrasto, os dados mostraram uma tendência de aumento na captura nos 5 dias após o
término da operação de sísmica, exceto pela posição mais distante (16-18 MN), que
registrou redução discreta.

Os autores discutem a diferença entre os resultados das pescarias com arrasto


e espinhel e concluem que a menor redução observada para a pesca com espinhel
pode ser explicada pela interferência de vários fatores como saturação do petrecho,
mudanças na competição interespecífica por iscas e aumento da movimentação dos
peixes por conta das emissões sonoras. Por outro lado, os resultados obtidos com as
traineiras de arrasto são plenamente compatíveis com os resultados da prospecção
hidroacústica, reforçando sua validade.

Turnpenny e Nedwell (1994) comentam o estudo de Engås et al. (1993) e


argumentam que, se não havia motivação específica para os estoques de bacalhau e
haddock retornarem à área inicial (alimentação, abrigo, etc.), este processo de retorno
deve seguir um ritmo aleatório, de difusão, dependente do nível médio de atividade da
espécie. Isso pode explicar a ausência de retorno significativo em 5 dias após o
término dos disparos.

O estudo norueguês ainda encontrou diferenças significativas no tamanho dos


indivíduos de bacalhau capturados nas áreas próximas aos disparos dos canhões de
ar. Durante a pesquisa sísmica, praticamente não foi capturado bacalhau maior do que
60 cm, com significativa queda na massa média dos indivíduos amostrado. Esse efeito
foi sendo gradualmente menor com o aumento da distância da área central e
praticamente não foi percebido na última classe de amostragem.

77
As razões para essa diferenciação na resposta pelo tamanho do peixe ainda
não são conhecidas. No entanto, os autores especulam que pode estar relacionada
com a maior capacidade de natação dos maiores peixes ou com uma capacidade
auditiva aumentada proporcionalmente ao tamanho da bexiga natatória.

Os resultados categóricos do estudo de Engås et al. (1993 e 1996) – drástica


redução na captura de bacalhau e haddock em uma distância de mais de 30 km e
ausência de recuperação em 5 dias após o término da pesquisa sísmica – são únicos
até hoje na literatura científica especializada sobre o tema. Outros estudos e
experimentos foram realizados, mas nenhum obteve resultados tão dramáticos.

Dalen e Knutsen (1986), em estudo similar, porém mais simples que o de


Engås et al. (1996), investigaram os efeitos de uma pesquisa sísmica nos estoques de
peixes no Mar do Norte. A pesquisa sísmica durou 6 dias e utilizou um arranjo de
4.752 pol³ disparando a 2.000 psi. A área total de levantamento foi de 6 x 10 MN
(aprox. 11 x 18,5 km).

Os autores deste estudo monitoraram a abundância dos peixes na área de


levantamento e em blocos adjacentes com tecnologia acústica de eco-integração,
antes e depois da passagem de um navio de sísmica em operação normal. Os
resultados indicaram que, quando combinadas todas as áreas, não houve redução
significativa na biomassa de peixes após a utilização dos canhões de ar. Contudo, ao
analisar os dados com maior detalhe, é possível perceber que a espécie Blue Whiting
(Micromesistius poutassou) – um peixe pelágico próximo do bacalhau – emigrou da
área da pesquisa sísmica para os blocos adjacentes, uma resposta similar à
encontrada por Engås et al. (op. cit.), porém menos extensa em termos de
deslocamento horizontal.

Com relação aos peixes demersais, foi observada uma grande redução na
densidade acústica dentro da área onde foi realizada a pesquisa sísmica. Dalen e
Knutsen (1986) realizaram arrastos de fundo experimentais dentro da área de
levantamento antes e após a operação sísmica e notaram um aumento de 34 e 290%
na captura de peixes demersais em relação ao arrasto pré-sísmica. Com isso, o
estudo sugere que os peixes não fugiram da área dos disparos, mas concentraram-se
no fundo ficando mais susceptíveis à pesca de arrasto de fundo.

Criticando essa conclusão, Kenchington (1999) afirma que os resultados de


captura de arrastos de fundo são naturalmente tão variáveis que é impossível tirar
conclusões com um número tão pequeno de amostras. Ele critica a hipótese de Dalen
e Knutsen (op. cit.) de que os peixes demersais teriam se acumulado no fundo e que,

78
por isso, não teriam sido detectados pelo dispositivo acústico de pesquisa (estariam na
zona “cega” do aparelho – dead zone). Kenchington explica que a dead zone nestes
casos não costuma ser larga o suficiente para abrigar cardumes inteiros de peixes
demersais sem que sejam detectados pelo equipamento de detecção. Este autor
sugere que a redução na densidade acústica de peixes demersais obtida nesse estudo
pode ser explicada pela movimentação lateral dos cardumes de peixes (que não teria
sido captada pelos aparelhos por mero azar) e não pela existência da dead zone.

Estudos realizados na Califórnia em 1986 (Pearson et al., 1992; Skalski et al.,


1992) investigaram o efeito de disparos de canhões de ar em espécies de rockfish
(Sebastes sp.). Foram realizados 2 experimentos, ambos utilizando um canhão de ar
com 100 pol³ de volume e amplitude de emissão de 223 dB0-p re 1 μPa a 1 metro da
fonte.

No primeiro, os Sebastes foram colocados em tanques-rede e submetidos a


disparos do canhão de ar a diferentes distâncias para verificação dos efeitos imediatos
no comportamento dos peixes. Os resultados variaram de espécie para espécie e com
a intensidade do estímulo sonoro recebido. De uma forma geral, a alteração no
comportamento se fez presente a partir da recepção de 180 dB0-p, variando entre as
espécies. Os comportamentos descritos envolvem a maior agregação do cardume,
natação em círculos cada vez mais apertados e a formação de grupos estáticos junto
ao fundo.

Esta resposta de agregação do cardume, aumento na velocidade de natação e


aproximação do fundo foi encontrada também nos experimentos australianos descritos
em McCauley et al. (2000). A resposta de descida na coluna d’água parece ter sido
relacionada aos disparos de canhões de ar pela primeira vez por Chapman e Hawkins
(1969, apud Davis et al., 1998 e Wardle et al., 2001) em cardumes do badejo
Merlangius merlangus.

Turnpenny e Nedwell (1994) afirmam que essa reação de aproximação do


fundo ocorre principalmente em peixes demersais e estaria relacionada a dois
possíveis mecanismos: descer na coluna d’água afastaria o peixe do canhão de ar
reduzindo a intensidade sonora recebida (a intensidade decai com a distância) e
aumentaria a pressão sobre a bexiga natatória (em peixes que a possuem),
dificultando a ressonância das baixas freqüências emitidas pelos canhões de ar e
diminuindo a percepção sonora do organismo.

É importante ressaltar que vários estudos identificaram a ocorrência de


habituação aos pulsos sísmicos, ou seja, identificaram que os comportamentos de

79
alarme tendem a diminuir em intensidade ao longo do tempo. Parece evidente que a
habituação está relacionada com a freqüência de repetição do estímulo sonoro
(previsibilidade) e também com o padrão de incremento na intensidade acústica (se a
fonte está se aproximando e a qual velocidade). Esses parâmetros parecem fornecer
indicações ao animal de “quão perigoso é o estímulo” e assim influenciar a resposta
comportamental do indivíduo.

No segundo experimento californiano, Skalski et al. (1992) avaliaram os efeitos


dos disparos de um canhão de ar na taxa de captura das espécies de Sebastes. O
parâmetro observado foi a CPUE – captura por unidade de esforço – para a pesca de
linha. Os resultados indicaram uma redução de mais de 50% na captura dos diversos
rockfish. Os autores acreditam que essa queda seja derivada de alterações
comportamentais dos peixes, que teriam se agregado junto ao fundo e cessado o
comportamento alimentar, deixando de morder as iscas dos pesquisadores.

Kenchington (1999) argumenta que peixes com hábitos territorialistas vivem


bastante associados ao fundo onde obtém abrigo. Assim, uma forte resposta de
evasão na escala horizontal simplesmente não faz parte do seu repertório
comportamental, mesmo sob o incômodo dos disparos de um canhão de ar. De forma
contrária, a fuga para longe da fonte sonora pode ser a opção mais natural para peixes
altamente migratórios como o bacalhau da Noruega.

Os resultados obtidos pelo estudo escocês de Wardle et al. (2001) parecem


corroborar esta argumentação. Os pesquisadores operaram um arranjo de canhões de
ar “Triple G” de 450 pol³ ao largo de um sistema recifal em Loch Ewe, Escócia. As
reações dos peixes aos disparos sísmicos foram monitoradas por um sistema de
filmagem subaquática e pela marcação de alguns indivíduos de Pollack (Pollachius
pollachius), outro parente próximo do bacalhau, com pingers – dispositivos acústicos
de localização.

O arranjo de canhões foi testado em três posições distintas: 1 – a 109 m da


câmera; 2 – a 90 m da câmera; e 3 – a 16 m da câmera (Figura 33).

80
Figura 33: Localização do experimento escocês (adaptado de Wardle et al., 2001). Os
quadrados representam as diferentes posições do arranjo de canhões de ar e o X marca o local
da câmera de filmagem.

O experimento durou diversos dias, ao longo dos quais foram realizadas


sessões de disparos dos canhões de ar. Cada sessão consistiu na emissão de
dezenas de pulsos sísmicos com intervalo de cerca de 60 segundos entre cada
disparo. Esse intervalo, significativamente maior que os 10-15 segundos normalmente
utilizados em pesquisas sísmicas, foi necessário devido às características do
compressor de ar que alimentava os canhões.

Wardle et al. (2001) não detectaram nenhum tipo de alteração na distribuição,


formação de cardumes ou comportamento rotineiro dos peixes que habitavam o recife,
em nenhuma das posições testadas. A única reação visualizada sistematicamente em
todos os disparos foi o chamado susto-C (C-start), que é uma reação clássica de susto
em peixes (Figura 34). Essa reação é um reflexo inconsciente do animal, análogo ao
piscar de olhos humano mediante um susto, e consiste na rápida curvatura lateral do
corpo (formando um C) e posterior retorno à condição normal de natação. O susto-C
como reação a disparos de canhões de ar também foi observado nos experimentos
descritos em Pearson et al. (1992), Santulli et al. (1999), McCauley et al. (2000),
GEIA/Everest (2004) e Hassel et al. (2004).

81
Figura 34: Alguns quadros da filmagem exemplificando o susto-C em peixes (Wardle et al.,
2001).

Os pesquisadores observaram que, após um disparo dos canhões de ar, os


peixes realizaram o susto-C e continuaram nadando na direção anteriormente seguida,
mesmo que isso significasse nadar na direção do arranjo de canhões de ar (que
estava fora do alcance da visão do animal).

A única reação mais drástica foi observada no final do experimento, quando o


arranjo de canhões de ar foi colocado no fundo arenoso, a 5,3 metros da câmera.
Quando o disparo foi realizado nessa circunstância, uma grande nuvem de areia foi
produzida, assustando os peixes no ângulo de visão da câmera – que reagiram
fugindo na direção contrária. Os autores concluem que tal reação foi inequivocamente
produzida pela associação do estímulo visual.

Wardle et al. (2001) justificam a ausência de respostas direcionais pelo fato de


os disparos terem sido realizados a partir de um arranjo estacionário de canhões de
ar, com um intervalo de mais de 60 segundos entre disparos sucessivos. Um canhão
de ar rebocado por um navio sísmico possui o som dos disparos associados ao ruído
constante do navio, além de gerar uma intensidade variável de acordo com a
aproximação ou afastamento da fonte. Essas informações podem ser importantes para
o peixe detectar de onde o estímulo sonoro está vindo e, conseqüentemente, reagir
direcionalmente em fuga caso o estímulo seja suficientemente incômodo.

McCauley et al. (2000) ressaltam que o fato da fonte utilizada por Wardle et al.
(2001) disparar de 60 em 60 segundos pode ter permitido a completa recuperação da
reação inicial de susto de cada peixe e com isso não desencadear nenhum outro
comportamento de alarme – como as alterações no ritmo de natação e na formação
dos cardumes.

Outro estudo recente foi realizado por Hassel et al. (2004), do Instituto de
Pesquisa Marinha (IMR) da Noruega, mesma instituição que os responsáveis pelos
estudos de Dalen e Raknes (1985), Dalen e Knutsen (1986), Løkkeborg (1991),

82
Løkkeborg e Soldal (1993), Booman et al. (1996) e Engås et al. (1993 e 1996). Dessa
vez, eles investigaram os efeitos da pesquisa sísmica sobre o Lesser Sandeel
(Ammodytes marinus), Galeota para os portugueses, um peixe com formato alongado
que parece uma enguia.

O sandeel é um tipo de peixe bastante pescado na Noruega e possui a


capacidade de se enterrar no substrato arenoso. Ele passa o inverno enterrado em
estado de hibernação e nos meses de verão passa as noites dessa forma também.
Assim, havia no setor pesqueiro da Noruega uma desconfiança em relação às
pesquisas sísmicas – dizia-se que o sandeel poderia se assustar com os disparos dos
canhões de ar, se enterrar cada vez mais fundo no sedimento até não haver oxigênio
suficiente e morrer (Hassel et al., op. cit.).

Foi desenhada uma metodologia onde os sandeels foram aprisionados no seu


habitat natural em gaiolas confeccionadas especificamente para esse fim e expostos à
realização de uma pesquisa sísmica 3D utilizando arranjo completo de canhões de ar
na mesma área. O comportamento dos peixes nas gaiolas foi monitorado com a
utilização de um robô submarino (ROV) equipado com câmera de vídeo. Os
pesquisadores monitoraram também a abundância do sandeel na área do experimento
utilizando métodos hidroacústicos e o desembarque pesqueiro da espécie durante um
período de dois meses centrado nos três dias de pesquisa sísmica.

Os resultados mostraram que o sandeel nas gaiolas reagiu aos disparos


sísmicos com comportamentos já descritos na literatura, como susto-C e aumento na
velocidade de natação. Não foi observada a reação de enterramento profundo. Foram
feitas coletas de sedimento e em nenhuma amostra observaram-se peixes mortos ou
paralisados.

As imagens captadas pelo ROV forneceram uma observação casual de um


cardume de sandeel fora das gaiolas, confirmando que a resposta comportamental da
espécie é bastante tênue. Este fato talvez possa ser explicado pela ausência de
bexiga natatória no sandeel, o que provavelmente impõe uma baixa capacidade
auditiva e, conseqüentemente, diminui a reação da espécie aos impactos da
exploração sísmica.

Os resultados obtidos no monitoramento do desembarque pesqueiro indicaram


uma queda na captura do sandeel após a realização da pesquisa sísmica. No entanto,
pouco se pode concluir a partir desta informação porque os dias seguintes ao término
da operação foram a semana do feriado nacional na Noruega e os postos de
desembarque estiveram fechados ou com pouca atividade.

83
Da mesma forma, o monitoramento acústico da abundância e distribuição do
sandeel não revelou diferenças significativas na maioria dos transects, levando os
autores a considerar o resultado inconclusivo. Este experimento foi descrito também
em uma dissertação de Mestrado na Universidade de Bergen, Noruega (Skaar, 2004)

O Instituto de Pesquisa Marinha (IMR) da Noruega publicou outro estudo ainda


em 2004 – Slotte et al. – relatando o monitoramento acústico da distribuição de peixes
pelágicos durante a execução de uma pesquisa sísmica em uma região do Mar da
Noruega chamada Ringhorne Dome – ver Figura 35.

Figura 35: Localização do estudo de Slotte et al. (2004). À direita, o desenho amostral dos
cruzeiros de prospecção acústica realizados antes, durante e depois da pesquisa sísmica
(figura adaptada de Slotte et al., 2004).

Esse monitoramento foi uma exigência do órgão regulador norueguês


(Norwegian Petroleum Directorate - NPD) para que uma empresa pudesse realizar a
aquisição de dados nessa região em determinado período. A exigência partiu da
consulta realizada à autoridade pesqueira (Directorate of Fisheries) e ao próprio IMR,
que é uma instituição pública de pesquisa científica.

A operação utilizou um arranjo de 3.090 pol³ a 2.000 psi disparando a cada 10


segundos, aproximadamente. Os principais recursos monitorados acusticamente
foram o herring e o blue whiting, além de outras espécies de hábito mesopelágico.

84
A partir dos resultados obtidos não foi possível identificar nenhum tipo de
alteração significativa na distribuição horizontal e abundância dos peixes em resposta
direta à realização da pesquisa sísmica. Contudo, quando comparando os dados
acústicos ao longo de todo o período do experimento, percebe-se que a densidade de
peixes foi significativamente maior fora da área da sísmica do que dentro dela. Esse
dado pode representar um efeito de maior escala nas populações de peixes, mas pode
também ser fruto de comportamentos normais dos peixes, ditados por fatores bióticos
como disponibilidade de alimento ou abióticos, como temperatura e salinidade da
água.

Em outro resultado desse estudo, os pesquisadores observaram que os


cardumes foram encontrados em águas ligeiramente mais profundas durante a
realização dos disparos – em média, profundidades 10 e 50 metros maiores para Blue
whiting e para peixes mesopelágicos, respectivamente – talvez buscando reduzir a
potência sonora recebida.

Em uma tese de mestrado na Universidade de Aberdeen, Escócia, Bjarti


Thomsen descreveu um experimento com peixes em gaiolas desenvolvido nas Ilhas
Faroe, território autônomo da Dinamarca (Thomsen, 2002). O objetivo inicial do
experimento foi monitorar o efeito de uma pesquisa sísmica em uma aqüicultura local.

As espécies testadas foram a Truta Arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e o


Salmão Atlântico (Salmo salar). As trutas eram adultas, com peso médio de 3,5 kg, e
os salmões, introduzidos especificamente para o experimento, todos juvenis, com
peso médio de 50 g. O estudo utilizou um arranjo de canhões de ar com volume total
de 130 pol³, operando a 1.600 psi, aproximadamente. Ou seja, um arranjo bem menos
potente que os normalmente utilizados. À menor distância testada entre os canhões de
ar e as gaiolas com os peixes, 150 metros, o nível sonoro medido junto às gaiolas foi
de 186 dBp-p re 1 μPa.

O monitoramento das gaiolas com câmeras de vídeo mostrou que os peixes


não tiveram qualquer tipo de reação à grande maioria dos pulsos sísmicos realizados.
Apenas em 8 dos 124 disparos foi possível verificar alguma reação e, mesmo assim, o
autor afirma que foi difícil distingui-la do comportamento normal dos peixes.

Os registros de um barco pesqueiro que estava realizando sua atividade perto


do experimento com espinhel longline antes, durante e depois dos disparos não
detectaram nenhuma alteração significativa na captura de bacalhau e haddock.

Os resultados de Thomsen (2002), aparentemente contraditórios com outros


resultados apresentados anteriormente, provavelmente são reflexos do pequeno

85
arranjo utilizado (130 pol³) e da distância mínima de exposição de 150 metros. Assim,
este estudo não reflete as condições normais de operação e suas conclusões não
devem ser tomadas como um indicativo de ausência de impacto comportamental nas
espécies testadas.

Preocupados com o possível efeito do incremento das pesquisas sísmicas em


seu território, os pesquisadores do Laboratório de Pesca da Ilhas Faroe (Faroese
Fisheries Laboratory) já haviam realizado um estudo sobre o assunto (Jákupsstovu et
al., 2001). O estudo entrevistou a grande maioria dos pescadores das Ilhas Faroe
sobre a percepção deles do impacto da sísmica e analisou estatisticamente os dados
do controle de bordo das embarcações para o ano de 1997, o último ano em que os
pescadores não eram formalmente avisados sobre a realização de pesquisas
sísmicas.

Os resultados revelam que 75% dos pescadores que encontraram uma


operação sísmica durante a pescaria afirmam ter sofrido redução na captura. No
entanto, a partir da análise estatística dos dados obtidos junto aos livros de registro da
produção das embarcações não foi possível identificar qualquer diferença significativa
nesse sentido. Os autores ressaltam que a variabilidade natural do rendimento da
pescaria é tão grande que poderia facilmente mascarar variações mais sutis
associadas à influência dos disparos sísmicos na distribuição ou capturabilidade dos
peixes.

No Brasil, o IBAMA exige desde 2002 a realização de monitoramento detalhado


do desembarque pesqueiro quando há a atividade de sísmica em águas rasas.
Embora tenha havido alguma variação nas metodologias utilizadas, nenhum dos
monitoramentos realizados até hoje (cerca de 10 projetos) identificou tendências
claras de redução da produção pesqueira associadas à atividade de pesquisa sísmica.

Ainda que a possível influência negativa dos disparos sísmicos possa estar
mascarada na variabilidade natural dos dados pesqueiros obtidos nos
monitoramentos, o fato é que até hoje não foram registradas alterações severas na
produção da pesca artesanal – mesmo em águas muito rasas, como na Baía de
Camamu-Almada (Diogo et al., 2002).

Estudos Brasileiros

No Brasil, dois estudos experimentais já foram realizados buscando


caracterizar o impacto das pesquisas sísmicas em peixes do nosso litoral. Ambos

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foram realizados em 2004, na costa da Bahia, por exigência do IBAMA a duas
empresas que obtiveram licenciamento ambiental para realizar suas atividades.

O primeiro estudo foi desenvolvido pela equipe do Grupo Integrado de


Aqüicultura e Estudos Ambientais – GIA da Universidade Federal do Paraná – UFPR.
O GIA realizou diversos estudos com o objetivo de monitorar e investigar a ocorrência
de impactos ambientais relacionados a uma pesquisa sísmica de águas rasas com
cabos de fundo na região do Baixo Sul do Estado da Bahia, na costa das Ilhas de
Tinharé e Boipeba.

Dentre outros estudos, o GIA realizou um experimento de exposição controlada


de peixes em tanques-rede aos disparos de canhões de ar, buscando simular o
cenário de pior caso para sísmicas de águas rasas (até 50 metros de profundidade).
Foi utilizado um arranjo com volume total de disparo de 360 polegadas cúbicas (8
canhões), exatamente o mesmo arranjo empregado na aquisição de dados nessas
profundidades.

O tanque-rede foi equipado com duas câmeras de filmagem subaquática, as


quais registraram o comportamento dos espécimes submetidos aos disparos. Foram
testadas três diferentes configurações experimentais, todas com os canhões de ar
submersos a uma profundidade de 5 metros. Três espécies locais de peixes foram
utilizadas nos testes: Lutjanus synagris (Ariocó), Lutjanus apodus (Carapitinga) e
Chaetodipterus faber (Parú). A seguir, são apresentadas as configurações
empregadas no estudo (Tabela 2).

Tabela 2: Resumo das condições experimentais do estudo no litoral das Ilhas de Tinharé e
Boipeba, no litoral da Bahia (adaptado de GIA, 2004).

CONFIGURAÇÃO 1 CONFIGURAÇÃO 2 CONFIGURAÇÃO 3

5 Lutjanus synagris 6 Lutjanus synagris


4 Lutjanus synagris
Espécimes 3 Chaetodipterus 6 Chaetodipterus
1 Lutjanus apodus
faber faber

Tamanho dos peixes 15-35 cm 15-20 cm 10-25 cm

Profundidade da gaiola 5m 7,5 m 5m

Distância vertical
0m 2,5 m 0m
canhões-gaiolas
Distância horizontal
7m 0m 1m
canhões-gaiolas

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Profundidade local 50-60 m 7,5 m 60 m

50 disparos
2 passagens 2 passagens com 2 canhões
Exposição
com 8 canhões com 8 canhões parados junto ao
tanque-rede

Os pesquisadores apontam que, apesar dos cenários de exposição


significativamente mais rigorosos do que aqueles esperados para uma pesquisa
sísmica rotineira na região, nenhuma mortalidade ou danos agudos foram observados.
A análise das filmagens revelou que os peixes “demonstraram apenas reações de
susto ou de escape, retomando comportamento “normal” (i.e. semelhante ao
comportamento registrado antes dos disparos) entre os disparos.” (GIA, 2004).

Além desses testes voltados a investigar o impacto agudo nos peixes, o GIA
realizou outro experimento simulando uma situação real de pesquisa sísmica em
águas rasas com cabos de fundo para investigar a ocorrência de impactos fisiológicos
agudos ou crônicos em peixes. Para esse experimento foram utilizadas 3 espécies de
peixes coletados na própria região do experimento: Lutjanus synagris (Ariocó),
Lutjanus analis (Cioba), Chaetodipterus faber (Parú).

Foi utilizado o mesmo arranjo de canhões de ar (8 canhões - 360 pol3 e 2.000


psi – 5 metros de profundidade) que o experimento anterior. Desta vez, a equipe do
GIA utilizou três tratamentos distintos, em triplicata, mais o controle experimental – que
recebeu o mesmo manuseio das demais gaiolas, mas foi recolhida imediatamente
antes da passagem do barco-fonte.

As gaiolas de 1 x 1 x 1 metro foram colocadas a 10 metros de profundidade,


cada uma contendo um total de 10 espécimes (4 Ariocós, 3 Ciobas e 3 Parús). Assim,
foram estabelecidas três linhas de gaiolas – A, B e C – cada uma a 50 metros da
anterior. Dentro de uma mesma linha, as gaiolas tiveram um espaçamento de 50
metros entre si, de forma que o desenho final distribuiu as gaiolas por um quadrado de
100 metros de lado (Figura 36).

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Figura 36: Representação esquemática do desenho experimental conduzido pela equipe do
GIA em 2004 no litoral de Tinharé-Boipeba/BA. A profundidade local era de 10 metros. (GIA,
2004)

O Barco-fonte percorreu o traçado em ziguezague normalmente utilizado nas


operações sísmicas em águas rasas com cabo de fundo disparando os canhões a
cada 8 segundos. O arranjo de canhões de ar foi disparado exatamente sobre a
primeira linha de gaiolas (ou seja, 5 metros acima dos peixes da linha A), a 50 m das
gaiolas da linha B e a 100 m da linha C. Depois o barco-fonte continuou seu trajeto
planejado tornando a disparar em uma linha paralela à primeira, porém distante 200
metros. Esta segunda linha de disparos se realizou a distâncias de 100 m da linha C,
150 m da linha B e 200 m da linha A.

Quatro horas após a exposição, os peixes foram transferidos de volta para


tanques-rede junto à base de operações do GIA, na localidade de Garapuá, onde
foram monitorados e alimentados por até 30 dias após a exposição. Nenhum peixe foi
encontrado morto nas gaiolas e nem morreu durante o período de monitoramento nos
tanques-rede.

Vinte e quatro horas após a exposição, foi iniciado o procedimento de sacrifício


de alguns animais para fixação e análise histopatológica, que se repetiu a cada 5 dias
até o final dos 30 dias de monitoramento. Foram investigados para avaliação dos
efeitos crônicos da exposição aos canhões de ar os seguintes tecidos/órgãos: bexiga
natatória, fígado e brânquias.

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A avaliação realizada não detectou alterações na bexiga natatória e nem nas
brânquias. A análise histopatológica do fígado identificou “um aumento no grau de
alterações patológicas no fígado de peixes posicionados até uma distância horizontal
de 50 metros em relação à fonte geradora de ondas sísmicas.” (GIA, 2004). Contudo,
a conclusão do estudo alerta que as alterações observadas foram de baixa
intensidade e reversíveis ao final do período estudado de 30 dias. Os autores afirmam
ainda que nenhuma das histopatologias identificadas em pequena escala nos fígados
dos peixes – degeneração hialina, degeneração gordurosa (esteatose microvesicular),
degeneração hidrópica e necrose da coagulação – pode ser “especifica e
comprovadamente caracterizada como tendo origem a partir da exposição dos animais
aos disparos sísmicos” (GIA, op. cit.).

Por fim, GIA (2004) ressalta que os problemas identificados ocorreram em


animais confinados, sem condição de fuga, e, mesmo assim, somente quando
posicionados muito próximos à fonte sísmica. De toda forma, o arranjo utilizado (360
pol³) nesse experimento é típico de pesquisas sísmicas de águas bem rasas, bem
menor que os normalmente utilizados em aquisições em águas profundas.

Resultados parecidos obteve o outro estudo em águas brasileiras, realizado


poucos meses mais tarde, em uma área situada alguns quilômetros mais ao sul, no
litoral de Barra Grande, também na região do Baixo Sul do Estado da Bahia (Figura
37).

Este estudo foi conduzido por outra equipe da UFPR, o GEIA – Grupo de
Estudos de Impacto Ambiental, em parceria com a empresa de consultoria ambiental
Everest Tecnologia em Serviços Ltda.. Da mesma forma que o experimento descrito
anteriormente, peixes em tanques-rede foram expostos aos disparos de um arranjo de
canhões de ar tipicamente utilizado no litoral brasileiro. A principal diferença é o estudo
do GIA trabalhou com um arranjo de canhões de ar específico para águas rasas (360
pol3), enquanto o trabalho conduzido por GEIA/Everest utilizou um arranjo completo
para águas profundas, totalizando um volume de 3.090 pol3. Por outro lado, questões
de logística náutica e segurança da equipe não permitiram a aproximação desejada
entre o arranjo de canhões e os tanques-rede com os peixes, de forma a gerar o
cenário de pior caso e testar os possíveis efeitos agudos em situações extremas.

90
Figura 37: Localização dos experimentos brasileiros com peixes recifais de 2004. Elaboração
própria sobre imagem do software Google Earth.

Foram utilizados 8 tanques-rede para o confinamento dos espécimes


selecionados, sendo 7 tanques utilizados para exposição aos canhões de ar e 1
tanque para controle experimental, situado a cerca de 4 km ao sul da área do estudo
(Figura 38). Câmeras filmadoras subaquáticas foram adaptadas a 4 dos 7 tanques-
rede expostos aos canhões de ar, tendo sido possível acompanhar em tempo real a
reação dos peixes aos disparos. Outras duas câmeras foram afixadas de forma a
capturar imagens dos organismos nadando livremente no recife escolhido como base
do experimento - Anguara.

Os peixes colocados nos tanques-rede foram coletados na mesma região no


dia anterior utilizando as técnicas tradicionais dos pescadores locais. As espécies
coletadas em número suficiente para serem utilizadas no experimento foram: Scarus
trispinosus (Budião), Acanthurus bahianus (Cirurgião) e Lutjanus analis (Cioba).

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Figura 38: Desenho esquemático representando o experimento conduzido em 2004 por
GEIA/Everest no litoral de Barra Grande/BA. A profundidade local era de 19 metros.
(GEIA/Everest, 2004)

Durante a exposição, o navio sísmico percorreu uma linha de 2 quilômetros


próxima à estrutura recifal escolhida como referência, efetuando os disparos com o
arranjo de canhões de ar a toda potência (2.000 psi) a cada 14 segundos,
aproximadamente. A distância horizontal mínima entre os canhões de ar e o tanque-
rede mais próximo foi de 45 metros.

O comportamento dos peixes foi monitorado em tempo real através das


câmeras de vídeo – quatro em gaiolas e duas no recife Anguara (Figura 38) – e
também foram retiradas amostras histológicas dos peixes para análise microscópica
em três tempos: antes, 4 horas após e 24 horas após a exposição.

A análise do material filmado mostra que os peixes nos tanques somente


apresentaram alguma reação perceptível nos 5 disparos mais próximos, de um total de
73 efetuados. A distância mínima estimada entre os tanques com as câmeras e a linha
de disparos foi de aproximadamente 90 metros (Figura 39).

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Figura 39: Desenho final do experimento de Barra Grande, com a indicação dos 5 pulsos
sísmicos que provocaram reações comportamentais perceptíveis nos peixes nos tanques-rede.
A tabela sintetiza as informações obtidas no monitoramento do decaimento sonoro.
(GEIA/Everest, 2004)

As reações comportamentais observadas no estudo de GEIA/Everest (2004)


nos 5 disparos mais próximos dos tanques-rede incluem: aumento da velocidade de
natação (agitação), aglomeração no centro do tanque seguida de rápida dispersão em

93
todas as direções. Após esses 5 disparos mais próximos, os animais continuaram seu
comportamento normal de natação, sem apresentar sinais de desorientação ou perda
de equilíbrio. As câmeras voltadas para os recifes detectaram o mesmo tipo de reação
– susto e natação acelerada – e posterior retorno à condição normal de natação. Logo
após a passagem do navio, o vídeo registrou a chegada de diversos cardumes ao
centro do recife, indicando não ter havido mudanças na distribuição horizontal dos
peixes.

O tanque-rede mais próximo da linha de disparos (45 m) foi vistoriado por


mergulhadores munidos de câmeras de vídeo logo que o navio sísmico cessou a
atividade. Os mergulhadores relataram que os peixes tinham aparência normal, sem
aparentar qualquer tipo de desorientação ou natação errática. É importante ressaltar
que este tanque-rede não foi filmado durante a atividade dos canhões de ar por razões
de segurança – o comprimento dos cabos que ligariam as câmeras ao computador
que registrava as imagens obrigaria a lancha a ficar muito próxima da linha de
navegação do navio sísmico.

Os hidrofones que monitoraram o nível sonoro durante o experimento


registraram um nível máximo de 190 dB re 1μPa rms (freqüências: 50-200Hz duração:
500 ms) a 138 metros da linha de disparos – ver Figura 39. Isso significa que os
disparos que provocaram reação nos peixes alcançaram níveis superiores a esse, pois
os tanques-rede estavam cerca de 50 metros mais próximos da linha de disparos.

As análises histopatológicas realizadas (brânquias, fígado, cérebro, retina,


gônadas e sangue) não revelaram nenhuma alteração que pudesse ser associada à
exposição aos canhões de ar. No entanto, não foram realizadas análises do epitélio
auditivo dos peixes para avaliação da integridade dos mesmos e comparação com os
resultados de McCauley et al. (2000). Os autores alegam que “não foi analisado o
epitélio auditivo, devido às dificuldades técnicas de sua extração, em exemplares tão
pequenos” (GEIA/Everest, 2004). Por outro lado, eles observaram a integridade dos
filamentos branquiais e da retina, “estruturas igualmente frágeis” (GEIA/Everest,
op.cit.).

“Conclusões”

Apesar da grande variedade de resultados já obtidos em relação ao impacto


das pesquisas sísmicas em peixes, é possível tecer algumas considerações
“conclusivas” sobre o tema.

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1) As possíveis respostas aos disparos de canhões de ar são tão
variáveis quanto a diversidade existente de peixes. Cada espécie
possui uma sensibilidade auditiva distinta, que pode variar mesmo
durante o ciclo de vida do organismo (indivíduos juvenis x adultos).
Peixes sem bexiga natatória possuem menor sensibilidade auditiva
que os demais, sendo menos susceptíveis aos impactos da sísmica.

2) O hábito de cada espécie/fase de vida também influencia na resposta.


Peixes de hábito mais associado ao substrato tendem a não
abandonar facilmente sua área preferida, mesmo na presença de um
ruído incômodo. Já peixes pelágicos que normalmente percorrem
grandes distâncias para alimentação/reprodução e se alimentam de
recursos dispersos no ambiente marinho não hesitam em nadar para
longe do ruído incômodo, buscando uma zona de maior conforto
auditivo.

3) A resposta comportamental à pesquisa sísmica também depende da


atividade sendo realizada pelos animais. Há indícios de que peixes
realizando algum comportamento biologicamente importante, como
reprodução ou alimentação dedicada, “aceitam” um nível maior de
ruído sem interromper seu comportamento. Por outro lado, se o ruído
for incômodo o suficiente para superar a “obstinação comportamental”
do animal, os efeitos dessa interferência podem ser bem mais graves
em termos de significância biológica para o indivíduo, para a
população e até para a comunidade.

Feitas as ressalvas anteriores, passemos aos impactos propriamente ditos.

4) É altamente improvável a ocorrência de danos severos ou mortalidade


de peixes durante as operações normais de sísmica. O animal
precisaria estar a uma distância muito pequena do canhão de ar
(provavelmente < 3 m), o que é improvável uma vez que: (i) o próprio
navio de sísmica é um poderoso gerador de ruído no ambiente
marinho, o que deve manter os peixes minimamente afastados
(Mitson, 1995); (ii) cada disparo foi antecedido por outro 25 metros
distante na mesma linha de deslocamento, provavelmente sendo
plenamente percebido por qualquer animal na linha de tiro.

5) Algumas respostas comportamentais já foram observadas, mas são


de difícil generalização pelos motivos já expostos anteriormente. A

95
reação básica de alarme talvez seja a mais recorrente, consistindo no
aumento da velocidade de natação e maior atividade do animal. Para
níveis sonoros mais altos, foi detectada a ocorrência da reação de
sustos – variando desde o clássico susto-C até outros movimentos
súbitos de mudança de direção – e posterior retorno à condição
normal de natação.

6) Para cardumes engaiolados, já foram relatadas: maior agregação dos


indivíduos, maior velocidade de natação, descida para o fundo da
gaiola, rápidas expansões do cardume (flash expansion),
movimentação desordenada, cessação da alimentação e outras
reações.

Em cardumes livres no ambiente, já foi documentada a


tendência de descida na coluna d’água, possivelmente para reduzir a
intensidade sonora recebida ou, em peixes com bexiga natatória,
aumentar a pressão externa para reduzir a ressonância da bexiga e a
percepção auditiva.

Da mesma forma, já foi bem demonstrado o potencial de evasão


horizontal de algumas espécies, principalmente da família Gadidae –
inclui bacalhau, haddock, badejo, etc.. É possível que o efeito
“evasivo” das pesquisas sísmicas alcance distâncias da ordem de
poucos quilômetros (2 – 5 km) e cesse assim que os disparos forem
encerrados. Por outro lado, o efeito na distribuição de algumas
espécies pode ser maior e mais prolongado, pois se a área em
questão não possui nenhum atrativo diferencial – como maior
disponibilidade de alimentos – o “repovoamento” tende a ser realizado
de modo difuso e lento, em contraste ao afugentamento direcional e
rápido provocado pela sísmica.

Também há evidências de uma diferenciação na resposta de


acordo com o tamanho do peixe, sendo a resposta dos peixes
maiores mais acentuadas que a dos peixes menores. Uma das
hipóteses levantadas para explicar esse fato é que os peixes maiores
possuem bexigas natatórias maiores, as quais apresentam
ressonância em freqüências mais baixas – predominantes nos pulsos
sísmicos. Outra possível razão é a própria maturação do sistema

96
auditivo, fazendo com que os juvenis tenham menor sensibilidade aos
distúrbios sonoros que os adultos.

7) A indução de stress em peixes já foi testada em situações severas de


exposição aos disparos de canhões de ar e os pesquisadores
concluem que os efeitos não são graves e são rapidamente
reversíveis após a parada do estímulo. É importante ressaltar que os
estudos foram feitos com peixes em gaiolas, sem chance de escapar
do ruído incômodo, o que deve ser bastante estressante...

8) A atividade pesqueira pode ser influenciada de algumas formas pela


atividade de pesquisa sísmica. A produtividade pesqueira pode ser
prejudicada: (i) pela restrição temporária de acesso a pesqueiros
tradicionais; (ii) pela evasão horizontal de espécies-alvo; (iii) pela
alteração da distribuição vertical de peixes na coluna d’água; (iv) pela
cessação da alimentação do animal, que se recusaria a morder as
iscas.

Por outro lado, já houve registros de aumento no rendimento da


pescaria de arrasto durante pesquisas sísmicas, provavelmente
porque os peixes demersais concentraram-se no fundo ficando mais
disponível para a arte de pesca.

Já foram feitos diversos estudos analisando dados de


desembarque pesqueiro antes, durante e depois da realização de
pesquisas sísmicas e nunca foi detectada clara tendência de
decréscimo na produtividade. Essa informação contrasta com a
percepção dos pescadores que, no mundo todo, atribuem à sísmica
impactos negativos no rendimento das pescarias. Provavelmente
qualquer efeito sutil de redução das capturas provocado pela sísmica
ficará sempre mascarado dentro da grande variabilidade natural dos
resultados da pesca.

2.2.4. Invertebrados

Impactos físicos ou comportamentais nos invertebrados podem ter um


significativo efeito indireto sobre as populações dos predadores vertebrados. Apesar
disso, poucos estudos foram realizados com grupos de invertebrados buscando
identificar os efeitos da pesquisa sísmica.

97
O órgão regulador Canadense Department of Fisheries and Oceans – DFO
publicou uma revisão sobre os impactos da pesquisa sísmica sobre os invertebrados
(Moriyasu et al., 2004). O documento faz uma crítica pesada sobre diversos estudos
publicados e condena as freqüentes conclusões prematuras geradas sob a ausência
de evidências científicas robustas. Em geral, os estudos concentram-se em outros
grupos animais e a questão dos invertebrados é tratada de forma tangencial e
simplificada, gerando confusão e contradições na literatura.

2.2.4.1. Moluscos

A reação de alarme e fuga foi bem descrita para lulas (Sepioteuthis australis)
no estudo de McCauley et al. (2000). Ao receber um nível sonoro de 174 dB re 1μPa
rms, em um disparo súbito, as lulas demonstraram um claro comportamento de
defesa: expeliram tinta e nadaram rapidamente para longe da fonte sonora. No
entanto, ao repetir o experimento simulando uma fonte móvel se aproximando
(intensidade sonora crescente), não houve a mesma resposta evidente, embora tenha
sido percebido um aumento na velocidade de natação a partir de 156-161 dB re 1μPa
rms. Assim, a previsibilidade do ruído mostrou ser um fator importante para a reação
das lulas.

Outra reação observada por McCauley et al. (op. cit.) foi uma tendência das
lulas ocuparem a parte superior da gaiola, próxima à superfície da água, durante a
atividade do canhão de ar experimental. Provavelmente os animais fizeram uso da
chamada “zona de sombra”, na qual os diferentes modos de propagação da energia
sonora interagem destrutivamente e é gerada uma região onde há menos ruído que o
resto da coluna d’água. De fato, os pesquisadores australianos constataram uma
redução de 12 dB entre as medições de intensidade sonora feitas a 3,0 m e a 0,5 m de
profundidade junto à gaiola experimental.

Wardle et al. (2001), em seu experimento com peixes recifais, obtiveram


imagens da filmagem subaquática que permitiram aos autores observar que os
disparos não provocaram deslocamento de “invertebrados” do recife. O estudo não
cita as espécies referidas, mas explica que se refere a crustáceos, equinodermos e
moluscos.

Guerra et al. (2004) analisaram dois raros episódios de encalhes da Lula


Gigante (Architeuthis dux) na costa norte da Espanha. Um total de 9 indivíduos – o
maior pesava 140 kg – foram encontrados na praia ou boiando na água em duas

98
ocasiões: em setembro/outubro de 2001 e em setembro de 2003. Ambos os episódios
coincidiram espaço-temporalmente com a realização de pesquisas sísmicas na região.

Foram encontradas lesões em alguns tecidos dos animais recuperados, como


brânquias, estatocistos, aparelhos digestivos e fibras musculares em geral. Os
pesquisadores desconfiam que os disparos de canhões de ar possam estar
relacionados a impactos letais ou sub-letais às lulas gigantes. Uma hipótese levantada
no estudo para o mecanismo de impacto é a seguinte: danos acústicos aos
estatocistos (órgãos responsáveis pelo equilíbrio e senso de orientação do animal)
fizeram os animais, desorientados na escuridão abissal, flutuarem em direção à
superfície. A mudança na temperatura da água, subindo de 10-12,5°C para mais 15°C
na referida época do ano, reduziu a afinidade bioquímica do oxigênio pela
hemocianina (pigmento responsável pelo transporte de gases no sangue das lulas), o
que fez os animais morrerem asfixiados.

Os autores alertam para o fato de que as lulas gigantes podem ser apenas a
“ponta do iceberg” e que as explorações acústicas podem estar causando grande
dano à fauna que habita as profundezas dos oceanos.

Em um estudo considerando as taxas de captura antes e após a realização de


uma pesquisa sísmica, La Bella et al. (1996, apud Moriyasu et al., 2004) não
encontraram diferenças significativas na pesca de arrasto da Lula Illex coindetti. No
entanto, o mesmo estudo verificou redução na captura do gastrópode Bolinus
brandaris utilizando rede de emalhar. Comparando esse resultado com o de outras
artes de pesca para a mesma espécie, os autores concluíram que a redução na
captura foi devida a uma mudança comportamental do gastrópode, descartando a
hipótese de mortalidade imediata.

2.2.4.2. Crustáceos

Em crustáceos, alguns estudos de exposição controlada foram realizados em


todo o mundo, inclusive no Brasil, e não detectaram danos físicos nem alterações
comportamentais significativas mesmo a distâncias de poucos metros da fonte sísmica
(Trovarelli et al., 1998; Webb e Kempf, 1998; GIA, 2002). O que se especula é que os
crustáceos são bem protegidos pelo exoesqueleto de quitina e não possuem
cavidades aéreas internas capazes de entrar em ressonância com o pulso sísmico.

Christian et al. (2003) investigaram os possíveis impactos da prospecção


sísmica em caranguejos (snow crab) Chionoecetes opilio, utilizando exemplares
engaiolados para aferição de impactos agudos e também avaliando a produção

99
pesqueira antes e após a realização de disparos de canhões de ar. Foi utilizada uma
fonte sísmica com volume máximo de 200 pol³ a 2.000 psi. A menor distância testada
para os efeitos agudos foi de 4 metros.

Os autores não identificaram nenhuma resposta comportamental óbvia e as


taxas de captura tiveram grande variação, porém não correlacionada aos disparos dos
canhões de ar. Os estudos bioquímicos realizados nos caranguejos engaiolados
(hemolinfa, hepatopâncreas, coração, estatocistos, glândulas, cérebro, brânquias e
gônadas) não identificaram alterações nos indivíduos adultos. O único efeito
identificado foi um retardamento no desenvolvimento dos ovos de uma fêmea
expostos a 2 metros da fonte sísmica. No entanto, os pesquisadores ressaltam que em
uma situação real de operação essa pequena distância não seria alcançada.

O Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais da Universidade


Federal do Paraná (GIA-UFPR) realizou em 2002 um experimento de exposição
controlada de camarões e lagostas aos disparos de um arranjo de canhões de ar
utilizado em pesquisas sísmicas de águas rasas. O estudo foi realizado próximo à
localidade de São Sebastião, na região do Baixo Sul do estado da Bahia. Foi utilizado
um arranjo de canhões de ar com volume total de disparo de 360 pol³, disparando a
2.000 psi a cada 25 segundos.

Foram testadas as espécies camarão-branco (Litopenaeus schmitti), camarão-


rosa (Farfantepenaeus subtilis), camarão-sete-barbas (Xyphopenaeus kroyeri), lagosta
comum (Panulirus argus) e lagosta de Cabo Verde (Panulirus laevicauda), todas
importantes para a economia pesqueira da região do Baixo Sul da Bahia. A menor
distância entre as gaiolas e a linha de disparos sísmicos foi de 2,5 metros.

Os pesquisadores não encontraram nenhuma mortalidade ou sinais de


desorientação nos animais expostos aos disparos. As análises histopatológicas
identificaram leves sinais de estresse nos camarões mais próximos da linha sísmica,
que os autores estimaram retornar aos níveis normais em curto espaço de tempo.

Steffe e Murphy (1992, apud Moriyasu et al., 2004) analisaram dados de


captura do camarão (king prawn) Penaeus plebejus antes e após a realização de
pesquisas sísmicas na região e não encontraram diferenças significativas no volume
de camarão desembarcado.

GIA (2002) também avaliou os impactos da sísmica de águas rasas na


produção da pescaria de arrasto de camarão e não encontrou evidências de alteração
na Captura por Unidade de Esforço (CPUE) que não pudessem ser inteiramente
explicadas por variáveis ambientais. Desta vez, foram realizados arrastos

100
experimentais antes e depois da passagem da embarcação sísmica por uma área de
águas rasas. Esse estudo foi publicado em periódico científico recentemente
(Andriguetto-Filho et al., 2005).

Parry e Gason (2006) analisaram os registros históricos detalhados de captura


de lagostas no sul da Austrália entre 1978 e 2004 e compararam com a ocorrência de
pesquisas sísmicas na mesma área naquele período. Os autores não detectaram
nenhuma alteração nas taxas de captura ao longo do tempo e concluem que, se há
um efeito negativo das pesquisas sísmicas na CPUE de lagostas, ele é bastante sutil e
não pode ser detectado pelo monitoramento da produção pesqueira.

Assim, como na discussão relativa à captura de peixes, é possível imaginar


que efeitos sutis na pescaria de invertebrados podem ser mascarados pela alta
variabilidade natural do rendimento pesqueiro. Deste modo, podemos concluir que a
análise de dados de captura não é uma metodologia adequada para aferição de
variações pequenas na disponibilidade dos recursos, embora possa registrar efeitos
drásticos na efetividade da pescaria.

2.2.5. Plâncton

Os estudos relacionados ao plâncton se concentram, por razões óbvias, na


mortalidade dos animais. Existe certo consenso na comunidade científica em atestar
que há letalidade em ovos e larvas de animais em distâncias de até 3 metros da fonte
sísmica. Danos físicos sub-letais foram descritos em distâncias de até 5 metros dos
canhões de ar (Payne, 2004). Em distâncias maiores, diversos estudos apontaram não
haver quaisquer efeitos perceptíveis.

Por outro lado, diversos experimentos concluíram que a mortalidade


ocasionada não é significativa para o recrutamento das populações de peixes e
crustáceos, pois seus níveis não podem ser sequer distinguidos da mortalidade natural
diária do zooplâncton (Kostyuchenko, 1973; Dalen e Raknes,1985; Dalen e Knutsen,
1986; Holliday et al., 1987; Kosheleva, 1992; Pearson et al., 1994; Booman et al.,1996;
Sætre e Ona, 1996; Trovarelli et al., 1998; GIA, 2002 e 2004; GEIA/Everest, 2004 e
Christian et al., 2003).

Boa parte dos efeitos deletérios observados no plâncton pode ser explicada
pela enorme turbulência causada nas imediações do canhão de ar logo após o disparo
(Figura 40).

101
Figura 40: Quadros de uma filmagem mostrando em detalhes o disparo de um canhão de ar. O
raio da bolha gerada neste caso deve representar cerca de 1 metro. (Vídeo obtido em CD-ROM
fornecido ao IBAMA pela IAGC – Associação Internacional das Empresas de Sísmica – Seção
Brasil em 2004. Disponível na CGPEG/IBAMA)

Apesar dos indícios que a pesquisa sísmica não deve causar impactos
significativos na população planctônica em condições normais de operação, alguns
autores alertam para o risco de prejuízo para certas espécies cujas larvas estejam
agregadas junto à superfície na rota de passagem da embarcação sísmica. Nesse
sentido, e em uma postura de precaução, as autoridades norueguesas proíbem a
realização de sísmica em uma distância de até 50 km das áreas de desova e
corredores migratórios conhecidos para os peixes de importância comercial/ecológica
(Thomson et al., 2000).

No Brasil ainda é bastante escassa a informação sobre a localização das


agregações reprodutivas de peixes, embora o programa REVIZEE 9 tenha trazido
enorme contribuição nesse sentido. Como os resultados do programa estão sendo
publicados, é possível que em um futuro próximo, as informações possam vir a
subsidiar medidas de restrição da atividade de sísmica pelo órgão ambiental federal.

No entanto, a exclusão das atividades de sísmica em uma distância de 50 km


das áreas de desova parece ser uma medida um tanto exagerada, uma vez que o
decaimento sonoro reduz significativamente a amplitude do pulso acústico a uma
distância como essa, não havendo sustentação técnico-científica para a proposição de
medida similar no Brasil.

2.2.6. Recifes

Os ambientes recifais constituem importantes ecossistemas para a biota


marinha – são fonte de abrigo para os animais e fornecem substrato sólido para a
fixação de diversas espécies. Em águas tropicais desenvolvem-se os recifes de corais,

9
Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica
Exclusiva.

102
que estão entre os ecossistemas mais produtivos do planeta e possuem extrema
importância ecológica e econômica.

Além dos impactos potenciais sobre a comunidade de peixes, já discutidos


anteriormente, há certa preocupação com os impactos dos pulsos sísmicos sobre os
organismos que recobrem os recifes tropicais, como corais, esponjas e algas. Nesse
contexto, como condição para o licenciamento de uma pesquisa sísmica nas águas
rasas da Baía de Camamu/BA, o IBAMA exigiu a realização de um projeto de
avaliação do impacto da atividade sobre os recifes coralíneos que ocorrem na região.

O responsável técnico pelo projeto foi o prof. Ruy Kikuchi, da Universidade


Federal de Feira de Santana, na Bahia. A equipe do professor Kikuchi acompanhou o
estado de um transecto ao longo da área recifal antes e depois da simulação completa
de uma pesquisa sísmica de águas rasas, com disparos de canhões de ar (volume
gerador: 360 pol³) e deposição/recolhimento de cabos sismográficos de fundo. O
mergulho de acompanhamento ocorreu 30 minutos após os disparos cessarem.

Os resultados do estudo foram sintetizados em relatório técnico enviado ao


IBAMA (Kikuchi, 2002) e sugerem a ausência de impactos agudos sobre os corais e
demais organismos que recobriam o recife estudado na situação testada – distância
mínima entre os canhões de ar e os recifes de 5 metros. O único efeito observado foi o
descolamento de algas filamentosas e de sedimento fino da superfície do recife,
podendo ter causado aumento na turbidez da água no local. Porém, o autor observa
que tal incremento na turbidez também poderia estar associado ao regime
hidrodinâmico da área de estudo.

O relatório afirma que “os peixes parecem se afugentar com o disparo, mas
obtivemos indicações de que podem retornar ao local original em pouco tempo”,
porém não apresenta nenhuma evidência para embasar a afirmação. Essa
constatação é contraditória com os resultados de Wardle et al. (2001) e GEIA/Everest
(2004), que não observaram alterações na distribuição de peixes associados a recifes
expostos aos disparos de canhões de ar.

De toda forma, dadas as incertezas ainda existentes, a realização de pesquisas


sísmicas em áreas de recifais deve ser acompanhada de forte monitoramento como
medida de precaução, devendo-se avaliar criteriosamente a possibilidade de restrições
para a realização de disparos sobre os recifes.

103
2.2.7. Atividade Pesqueira

O impacto das operações de sísmica nas atividades pesqueiras possui duas


dimensões: uma, ainda pouco conhecida em magnitude e extensão, é a redução das
capturas provocada pelo afugentamento dos cardumes; a outra, líquida e certa, é a
restrição de acesso aos pesqueiros tradicionais. Como a primeira dimensão foi
discutida em profundidade no item 2.2.3. Peixes, este tópico trata exclusivamente da
segunda forma de interferência.

A restrição de acesso se manifesta principalmente em águas rasas próximas à


costa, na ocorrência de pesca artesanal de pequena escala. Em alto mar, o problema
não é importante por dois motivos: os recursos pescados em águas profundas não
possuem uma espacialização tão definida, ocorrem ao longo da coluna d’água e
possuem distribuição regionalizada; e as embarcações pesqueiras profissionais que
atuam nessas águas possuem autonomia suficiente para se deslocar e buscar a
pescaria em outro local.

Já para os pescadores artesanais, a interdição dos seus pesqueiros


tradicionais, mesmo que por alguns dias, pode causar um impacto significativo na sua
subsistência cotidiana. Em geral, as embarcações utilizadas não possuem autonomia
para deslocamentos adicionais e, em alguns casos, dependem de fatores naturais
como ventos e correntes marítimas para retornar ao porto de origem.

Além disso, outro aspecto da interação entre as duas atividades econômicas


está relacionado ao risco de colisão marítima – “atropelamento” – de barcos ou
petrechos de pesca. Muitas vezes as embarcações utilizadas na pesca artesanal não
possuem equipamentos importantes para a segurança da navegação marítima, como
rádios ou sistemas de posicionamento por satélite (GPS). Essa situação aumenta
ainda mais o risco de acidentes com o arranjo sísmico, pois pequenas embarcações
podem não ser detectadas pelo radar do navio e passarem despercebidas à noite, por
exemplo.

Porém, um fator crucial para a instalação do conflito com a atividade pesqueira


é a mistificação da operação e de seus potenciais efeitos. Em todo o mundo é relatada
a existência de “histórias de pescador” associadas às atividades de pesquisa sísmica.
Os relatos vão desde a recorrente alegação de redução na taxa de captura até a
suposta experiência de choques elétricos ao cruzar com o navio sísmico.

O estabelecimento do diálogo franco e aberto com as comunidades pesqueiras


é uma preocupação recente da indústria de sísmica em todo o mundo. Essa interação
tem sido mediada pelos órgãos reguladores dos diferentes países, na maioria das

104
vezes após a polemização da questão no âmbito da mídia e dos tribunais de justiça.
Em geral, nota-se uma tendência de ampliação do debate e da participação do setor
pesqueiro na elaboração de diretrizes regulatórias para a atividade de sísmica e na
proposição de estudos científicos para preencher as lacunas de conhecimento ainda
persistentes.

Exemplo do que acontece quando não há esforço adequado de comunicação e


participação social no processo de avaliação ambiental: no litoral brasileiro, certas
comunidades associaram a figura folclórica do “chupa-cabras” ao navio sísmico, como
um ente que chega e devora tudo no seu caminho. A explicação para a origem deste
mito está no nome da empresa Schlumberger, cuja pronúncia foi deturpada no uso
popular para expressar insatisfação com a ausência de participação no processo
decisório sobre a pesquisa sísmica.

Nota-se que é preciso investir na adequada comunicação social das atividades


de sísmica, buscando esclarecer o funcionamento da tecnologia para as comunidades
costeiras para que o debate seja qualificado e construtivo. O IBAMA tem exigido em
alguns licenciamentos de pesquisas sísmicas em águas rasas que a empresa
disponibilize meios para o acompanhamento da atividade por representantes da
comunidade. Esta iniciativa tem trazido bons frutos no que se refere à qualificação do
diálogo e no fortalecimento da participação popular nos processos de licenciamento
ambiental.

2.3. Síntese “conclusiva”

A partir da revisão realizada, é possível constatar que houve uma evolução


bastante significativa no conhecimento científico disponível mundialmente sobre os
impactos ambientais da atividade de pesquisa sísmica marítima. Em um intervalo de
cerca de 15 anos, foram produzidos diversos estudos e conduzidos alguns
experimentos cujos resultados contribuem para um cenário de menor incerteza quanto
aos efeitos da atividade de sísmica.

Dentre os principais impactos ambientais identificados na revisão realizada,


podemos ressaltar:

1. A possibilidade de interferência em comportamentos biologicamente


importantes em cetáceos, quelônios e peixes, como acasalamento,
amamentação e desova; e

105
2. A interferência com a pesca artesanal de baixa mobilidade, sobretudo,
no que diz respeito à restrição de acesso aos pesqueiros tradicionais.

De toda forma, há um certo consenso na comunidade científica de que os


impactos agudos severos, como incapacitação ou morte de indivíduos, são
improváveis para os macroorganismos marinhos em condições normais de operação.

Já a determinação dos impactos comportamentais sofre de um problema


crônico: como determinar a significância biológica do impacto observado, tanto no
nível do organismo, quanto no nível da população? O que significa para uma Baleia
Jubarte se afastar 3 quilômetros de sua rota migratória original? E 20 km? E para uma
Tartaruga-cabeçuda, de que forma a fuga da fonte sísmica afeta seu processo de
desova?

O impacto de afugentamento de pescado permanece carente de um


dimensionamento definitivo. Os estudos existentes são razoavelmente contraditórios e
de difícil generalização. Será que alguns peixes fogem e outros não? Quais
generalizações são possíveis? E por fim, se há o afugentamento, qual a significância
biológica desse comportamento?

Parece que o estabelecimento de áreas e períodos de restrição à atividade,


com o objetivo de evitar interferência em comportamentos biologicamente importantes
em cetáceos, quelônios e peixes, como acasalamento, amamentação e desova, ainda
é a medida mitigadora mais eficaz. No entanto, a delimitação dessas áreas e períodos
deve ser objeto de intensa discussão e rigoroso embasamento técnico, de forma a não
onerar desnecessariamente as empresas de pesquisa sísmica. Ressalta-se ainda que
a proibição da realização da atividade além dos limites cientificamente justificáveis
pode significar a perda de oportunidades para incrementar o conhecimento disponível
sobre espécies sensíveis e, com isso, fornecer subsídios para conservação das
populações a longo prazo.

No contexto internacional, o Brasil está desempenhando um papel importante


por conta dos experimentos de exposição controlada realizados com peixes,
crustáceos e plâncton no litoral da Bahia em 2004. Os resultados desses estudos
ainda estão sendo trabalhados pelos pesquisadores responsáveis, mas provavelmente
serão publicados em revistas internacionais indexadas. Estes estudos fazem parte de
um seleto grupo de pesquisas realizadas em águas tropicais, com espécies tropicais e
que utilizaram arranjos de canhões de ar completos, simulando a situação normal de
operação.

106
Um outro aspecto no qual o Brasil está evoluindo de maneira significativa é na
determinação do impacto da sísmica sobre a atividade pesqueira artesanal. O IBAMA
tem exigido das empresas de aquisição de dados que operam em águas rasas que
realizem um monitoramento detalhado do desembarque pesqueiro da região antes,
durante e após a pesquisa sísmica. Em pouco tempo, o Brasil contará com o maior
contingente mundial de dados de desembarque pesqueiro artesanal simultâneo a
atividades de sísmica. Com o aprimoramento desses projetos e a partir da
padronização dos dados coletados, talvez seja possível chegar a resultados
significativos sobre o impacto da sísmica sobre a atividade pesqueira artesanal.
Mesmo que variações sutis no rendimento pesqueiro não possam ser percebidas por
essa metodologia, o monitoramento pode servir para descartar a ocorrência de
impactos severos nas capturas artesanais.

Somando-se a este cenário alguns outros grupos de pesquisa que já


desenvolveram trabalhos relacionados à pesquisa sísmica, configura-se no Brasil uma
massa crítica de profissionais capazes de qualificar o debate sobre os impactos da
atividade e conduzir novos estudos de ponta para o esclarecimento de aspectos ainda
indefinidos.

No entanto, dada a natureza custosa dessas iniciativas e a necessidade do


estabelecimento de parcerias para viabilizá-las, torna-se fundamental a participação o
Estado – no caso, o IBAMA – como mediador e canalizador desse processo,
fomentando, organizando e dinamizando as iniciativas de pesquisa nessa área.

107
PARTE 2: AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS
MARÍTIMAS

108
3. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL: CONCEITOS,
ETAPAS E MELHORES PRÁTICAS

109
Sánchez (1995) reconhece duas dimensões da Avaliação de Impacto
Ambiental: instrumento de planejamento e procedimento inserido no âmbito das
políticas públicas. A AIA-Instrumento é definida como uma atividade de caráter
técnico-científico com o objetivo de identificar, prever e interpretar as conseqüências
ambientais de determinada ação humana. É também dever da AIA-Instrumento
comunicar às partes interessadas as conclusões dos estudos ambientais realizados. É
nessa dimensão que se encontra a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental, com
as metodologias de prognóstico de impactos e a proposição de medidas mitigadoras e
compensatórias.

Já a AIA-Procedimento representa um conjunto de etapas realizadas para a


determinação da viabilidade ambiental de determinada iniciativa, buscando fornecer
subsídio à tomada de decisão regulatória sobre o projeto. Essas etapas incluem a
elaboração de estudos ambientais, a realização de consultas públicas, a análise
técnica dos estudos, a tomada de decisão e o monitoramento das atividades.

Considerando que a conceituação de Avaliação de Impacto Ambiental


enquanto Procedimento é fundamental para o desenvolvimento desta dissertação,
será apresentada neste capítulo uma revisão do conceito à luz do estado-da-arte
técnico-científico sobre o tema.

3.1. Origem e difusão

A Avaliação de Impacto Ambiental foi institucionalizada pela primeira vez em


1969, quando da aprovação da National Environmental Policy Act – NEPA, a Lei da
Política Nacional de Meio Ambiente dos Estados Unidos da América. Desde então
houve uma progressiva adoção da AIA por diversos países, iniciando pelas nações
ditas “desenvolvidas”, e também por instituições bi e multilaterais de fomento e bancos
de desenvolvimento. Muitas vezes tomada como sinônimo de avaliação ambiental,
hoje a Avaliação de Impacto Ambiental tornou-se um importante instrumento de
política e gestão ambiental, difundido por mais de 100 países ao redor do globo
(Sadler, 1996).

Um grande impulso para a difusão internacional da AIA foi a realização da


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD)
no Rio de Janeiro em 1992 (Sánchez, 2006). Um dos documentos mais importantes
emanados da Rio-92, como ficou conhecida a conferência, a Declaração do Rio,
estabelece em seu Princípio 17:

110
A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional,
será efetuada para as atividades planejadas que possam vir a ter um
impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam sujeitas
à decisão de uma autoridade nacional competente 10 .

Outro documento importante ligado à Rio-92, a Agenda 21, também faz


diversas referências à Avaliação de Impactos Ambientais ao longo dos seus capítulos.
Da mesma forma, diversos tratados internacionais inseriram a AIA como um de seus
instrumentos de política ambiental.

3.2. O Processo de Avaliação de Impacto Ambiental

Grande parte do sucesso da difusão da Avaliação de Impactos Ambientais é


atribuída à grande flexibilidade de adaptação a diferentes estruturas institucionais (La
Rovere, 2001). Assim, a AIA pôde ser absorvida nos mais diversos arranjos político-
institucionais, estando praticamente universalizada nos dias de hoje. No entanto,
existem marcantes diferenças no nível de efetividade e eficiência dos sistemas de
avaliação entre os países, havendo uma óbvia clivagem entre as nações “em
desenvolvimento” e as ditas “desenvolvidas” – estas últimas em um estado mais
avançado de funcionamento dos sistemas de avaliação ambiental (Wood, 2003).

No entanto, Sánchez (2006) esclarece que, apesar das diferenças observadas


no ordenamento do processo de Avaliação de Impacto Ambiental, é possível identificar
a existência de um “processo genérico” de AIA (Figura 41). Cada jurisdição pode dar
maior ou menor importância para determinada etapa, ou até mesmo omiti-la da
seqüência, mas o processo tende a ser bastante semelhante ao redor do mundo.

10
Tradução obtida no site do Ministério do Meio Ambiente: www.mma.gov.br

111
Figura 41: Representação do “processo genérico” de Avaliação de Impacto Ambiental. Fonte:
Baseado em Sánchez (2006).

Esse processo genérico pode ser dividido em três grandes fases: (i) Fase de
Avaliação Inicial, (ii) Fase de Avaliação Detalhada e (iii) Fase Pós-Aprovação. Na Fase
de Avaliação Inicial, são empreendidas atividades para determinar se é necessário
avaliar de maneira detalhada os impactos ambientais de uma futura ação e, em caso
positivo, determinar o escopo e a profundidade dos estudos a serem exigidos.

A Fase de Avaliação Detalhada, aplicada aos casos de atividades com


potencial de causar impactos significativos, envolve a realização de diversas etapas
com o objetivo de verificar a viabilidade ambiental de determinada ação, bem como
definir as condições para a realização dela de forma compatível à manutenção da

112
qualidade ambiental atual. Em geral, essa fase envolve a elaboração de um Estudo de
Impacto Ambiental 11 ou documento similar. A Fase de Análise Detalhada culmina com
a tomada de decisão a respeito da autorização do projeto, que em caso positivo inicia
a Fase Pós-Aprovação ou de Acompanhamento da decisão 12 .

Nesta terceira fase ocorre a verificação da implementação das medidas de


controle identificadas como necessárias na avaliação detalhada e o monitoramento
dos impactos reais causados pela atividade, como forma de investigar a validade dos
prognósticos realizados no decorrer dos estudos. Sadler (1996), após extenso estudo
sobre a efetividade do processo de avaliação ambiental em diversos países, concluiu
que, em geral, a Fase Pós-Aprovação possui mais problemas em sua implementação
que as fases anteriores de avaliação.

A seguir, serão apresentadas as principais etapas do processo de Avaliação de


Impacto Ambiental.

3.2.1. Triagem

Na Fase de Avaliação Inicial, a primeira etapa normalmente desenvolvida em


um sistema de avaliação ambiental é a Triagem (Screening, na literatura
internacional). A Triagem consiste em selecionar, dentre o espectro de propostas
existente – obras, atividades ou outras iniciativas potencialmente impactantes – quais
aquelas que estariam sujeitas ao processo de Avaliação de Impacto Ambiental. Em
outras palavras, a Triagem serve para definir o campo de aplicação da AIA no universo
de ações humanas – uma vez que parece óbvio que nem toda atividade requer um
processo institucionalizado de avaliação ambiental, seja pelo impacto potencial
irrisório, seja pela existência de outras formas de regulação satisfatoriamente
aplicadas, como padrões de emissão, zoneamentos e determinações legais.

Considerando que o processo detalhado de Avaliação de Impacto Ambiental é


complexo e moroso, tendo sido concebido para ações potencialmente causadoras de
significativa degradação ambiental (Dias, 2001), a etapa de Triagem se reveste de
grande importância. Sistemas em que existem mecanismos eficientes de triagem tanto
evitam a aplicação desnecessária do procedimento detalhado, economizando custos
de toda parte, como garantem que empreendimentos com grande potencial de
degradação não sejam implementados sem uma avaliação prévia adequada.

11
Neste item, será utilizada a nomenclatura Estudo de Impacto Ambiental para representar
toda a gama de estudos detalhados do processo de Avaliação de Impacto Ambiental.
12
Em inglês, esta fase é normalmente citada como de follow-up.

113
Na Triagem, o conceito-chave é o de “impacto significativo” (Sánchez, 2006).
Geralmente estabelecido por lei ou outro regulamento nas diferentes jurisdições, o
conceito de impacto ambiental significativo é o principal “gatilho” para aplicação da
Fase de Avaliação Detalhada a uma iniciativa. No entanto, definir o que é impacto
ambiental significativo é um desafio para a maioria dos sistemas de avaliação
ambiental.

Em uma abordagem geral, pode-se afirmar que o potencial de impacto de uma


ação humana é o produto de dois fatores (Sánchez, 2006):

- As solicitações impostas ao meio pela ação ou projeto, ou seja, a


pressão imposta ao ecossistema em termos de introdução de energia ou
matéria e supressão ou adição de elementos ao meio.

- A vulnerabilidade do meio, ou seja, quanto menor a capacidade de


suporte do ambiente em receber a pressão do projeto, mais significativo será o
impacto ambiental causado pela viabilização da atividade.

Figura 42: Diagrama conceitual para determinação da necessidade de preparação de estudos


ambientais (Sánchez, 2006).

Sob essa perspectiva, Sánchez (2006) propõe a visualização do universo das


atividades humanas em três conjuntos distintos, porém com limites tracejados para
indicar a inexistência de fronteiras nítidas entre eles (Figura 43). Dentro do conjunto
mais abrangente, existe um subconjunto que representa as atividades que podem
afetar o meio ambiente ou causar alguma forma de degradação ambiental, devendo
ser objeto de alguma regulação governamental. Como parte desse subconjunto, existe
o grupo de iniciativas com potencial de causar impactos ambientais significativos – e,

114
portanto, devem estar sujeitas a uma avaliação de impacto ambiental detalhada para
garantir a sua viabilidade ambiental.

Figura 43: Diagrama representando o campo de aplicação da Avaliação de Impacto Ambiental


(Sánchez, 2006).

A seleção das iniciativas a serem submetidas ao procedimento detalhado de


avaliação costuma ser realizada através de dois critérios: o tipo de atividade/projeto e
o tipo de ambiente a ser impactado, ou seja, a localização do projeto. A classificação
por tipo de empreendimento normalmente é realizada com o auxílio de listas que
enumeram as tipologias necessariamente sujeitas ao procedimento detalhado (lista
positiva) ou que arrolam as tipologias isentas do procedimento (lista negativa). A
utilização de listas positivas talvez seja o mecanismo mais utilizado para triagem ao
redor do mundo (Sánchez, 2006). As listas podem ou não conter alguma especificação
de porte do empreendimento, como “Linhas de transmissão de energia elétrica, acima
de 230 KV” (Item VI do Art. 2° da Resolução CONAMA n° 001/86). Já a classificação
por localização do empreendimento normalmente é subsidiada por regulamentação
específica, como por exemplo, aquela que normatiza as áreas protegidas – Unidades
de Conservação e outras formas de proteção – ou áreas de especial relevância, como
é o caso do patrimônio espeleológico brasileiro 13 .

No entanto, a aplicação automática de listas positivas e negativas poderia


resultar em distorções do sistema, pois tornariam demasiadamente rígido o sistema de

13
Exigência de Estudo de Impacto Ambiental estabelecida pelo Decreto Federal n° 99.556/90.

115
triagem, desconsiderando as especificidades caso-a-caso dos empreendimentos.
Dessa forma, torna-se necessário o estabelecimento de algum grau de
14
discricionariedade para o órgão responsável pela triagem .

Na prática, a maioria dos sistemas de AIA utiliza uma abordagem mista de


critérios objetivos (listas e regulamentos) e subjetivos (análise discricionária caso-a-
caso) para realizar uma triagem adequada das iniciativas propostas. No caso da
análise discricionária, é fundamental que as decisões sejam baseadas em
procedimentos e critérios transparentes e defensáveis perante o público – de forma a
minimizar a chance de questionamentos judiciais no futuro (Dias, 2001).

Em verdade, quando um empreendimento é obviamente causador de impactos


ambientais significativos ou quando sua inofensividade ambiental é patente, o trabalho
de Triagem é bastante facilitado. O desafio que se coloca aos gestores ambientais é
enquadrar adequadamente as iniciativas sobre as quais esse juízo de valor não é
trivial, ou seja, o campo intermediário de aplicação da Avaliação de Impacto
Ambiental.

Em diversas jurisdições, a saída encontrada foi a criação de um estudo


ambiental preliminar que possa ajudar a definir se o empreendimento precisa ser
submetido à avaliação detalhada ou não. Esses estudos, mais simples, rápidos e
baratos que um Estudo de Impacto Ambiental completo, muitas vezes satisfazem os
requisitos de uma avaliação ambiental eficiente e eficaz, desonerando a burocracia de
projetos com baixo potencial de impacto e permitindo a concentração de esforços nas
iniciativas mais problemáticas.

3.2.2. Determinação do Escopo

Após a decisão sobre a necessidade de determinada ação ser submetida ao


procedimento detalhado de avaliação ambiental, o próximo passo é a definição da
abrangência e profundidade do estudo de impacto ambiental a ser elaborado. A essa
etapa dá-se o nome de Scoping na literatura internacional. Em Portugal, a legislação
consolidou a nomenclatura “Definição do Âmbito do EIA”.

Historicamente, a necessidade de uma etapa formal de determinação do


escopo dos Estudos de Impacto Ambiental foi identificada logo nos primeiros anos de
aplicação da AIA, quando, na falta de orientação adequada, foram produzidos tanto
estudos enciclopédicos como estudos minimalistas – ambos inadequados à tomada de
14
No caso brasileiro, o parágrafo 2° do Artigo 2° da Resolução CONAMA n° 237/97 estabelece
legalmente a discricionariedade necessária ao bom funcionamento da etapa de Triagem.

116
decisão eficiente. Os Estados Unidos da América novamente foram pioneiros na
história da AIA ao introduzir a previsão formal da etapa de Scoping por meio da
Regulamentação da NEPA que o Conselho de Qualidade Ambiental (CEQ) publicou
em 1978. Hoje em dia, a etapa de Determinação do Escopo é obrigatória em muitas
jurisdições, mas em outras é apenas facultativa.

Sadler (1996) ressalta que a determinação do escopo é a peça fundamental


para uma avaliação de impactos ambientais efetiva. Deficiências na determinação do
escopo de um Estudo de Impacto Ambiental podem ocasionar a realização de trabalho
desnecessário ou que conseqüências significativas da proposta sejam menosprezadas
(Snell e Cowell, 2006 e Wood et al., 2006).

Scoping pode ser definido como “um processo antecipado e aberto para
determinar:

- a informação necessária para a tomada de decisão;

- as questões e interesses importantes a serem analisados;

- os fatores, alternativas e efeitos significativos a serem considerados; e

- a abrangência adequada de um estudo de Avaliação Ambiental.” (Sadler,


1996. p.113).

Normalmente, a definição do escopo resulta na edição de um documento


normativo, no qual a equipe responsável pela elaboração do estudo ambiental deve se
basear para planejar e executar o EIA. No Brasil, esse documento normativo é
denominado Termo de Referência ou Instrução Técnica.

Os Termos de Referência – TR são elaborados de diferentes maneiras pelas


diversas jurisdições que adotam o procedimento de Scoping. Podem ter um caráter
extremamente prescritivo, definindo exatamente como o consultor deve realizar o
levantamento e a apresentação de informações, ou ser bastante abertos, dando
liberdade para a equipe fornecer as suas próprias soluções para os objetivos descritos
no TR.

No entanto, podem existir determinações legais sobre o conteúdo mínimo de


um Estudo de Impacto Ambiental que o Termo de Referência deve considerar. No
Brasil, por exemplo, a Resolução CONAMA n° 001/86 estabelece que o EIA deve
desenvolver, no mínimo, as seguintes atividades técnicas (Art. 6°):

(...)

117
I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa
descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal
como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área,
antes da implantação do projeto, considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando


os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os
corpos d'água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as
correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a


flora, destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de
valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as
áreas de preservação permanente;

c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos


da água e a sócio-economia, destacando os sítios e monumentos
arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de
dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a
potencial utilização futura desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas,


através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da
importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os
impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e
indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades
cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre


elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de
despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento


dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros
a serem considerados.

(...)

Com muita freqüência, a elaboração do Termo de Referência é realizada em


conjunto entre o órgão regulador e o proponente do projeto ou atividade. Nesse
diálogo, é comum a oposição de duas concepções conflitantes do processo de

118
definição do escopo – o regulador postula por “precaução”, ampliando o escopo do
EIA, com receio de questionamentos legais e o proponente reclama por “eficiência”,
defendendo a flexibilidade do processo e a simplificação das diretrizes (Snell e Cowell,
2006).

No entanto, devido à relevância do processo de definição da abrangência e


detalhamento do EIA, Sánchez (2006) recomenda fortemente a adoção de
mecanismos formais de participação pública nessa etapa do planejamento –
audiências públicas, reuniões com lideranças, pesquisas de opinião, comissões
multipartites e outros mecanismos. Ele argumenta que a principal razão para a
inserção da opinião pública nesse momento é que “o conceito de impacto ambiental
significativo depende de uma série de fatores, entre os quais a escala de valores das
pessoas ou grupos interessados” (p. 139). Dessa forma, desprezar a participação do
público nesta etapa, optando por um scoping meramente tecnocrático, é incorrer no
risco do surgimento posterior de questões e demandas significativas não-identificadas.
Essas demandas acarretam custos e prazos adicionais para a aprovação do projeto, e
podem condicionar inteiramente a adoção de novas alternativas locacionais ou
tecnológicas.

Aliás, a formulação de alternativas plausíveis a serem consideradas e


analisadas no decorrer do Estudo de Impacto Ambiental, incluindo a hipótese de não-
implementação da proposta, é outra importante função da etapa de Determinação do
Escopo. A inclusão de alternativas pré-definidas no Termo de Referência pode evitar a
discussão de alternativas inviáveis ou pouco razoáveis em detrimento de alternativas
relevantes, porém de maior custo para o proponente.

Tickner e Geiser (2004) ressaltam algumas vantagens da análise consistente


de alternativas no processo de avaliação ambiental: colocação do foco na discussão
de soluções, ao invés da identificação de problemas; estímulo à inovação; prevenção
de riscos múltiplos; e maior participação pública no processo e compartilhamento de
responsabilidades na tomada de decisão. Eles propõem uma mudança no foco da
avaliação ambiental – de tentar entender o quão ruim uma situação ficará para a
busca de alternativas para atividades problemáticas, preparando as condições para
um futuro mais sustentável.

Wood et al. (2006), após a revisão bibliográfica de autores que se dedicaram a


estudar o processo de determinação do escopo, sugere haver um conjunto de fatores
que constituem as melhores práticas de scoping na avaliação de impactos ambientais:

119
- Aplicação antecipada na cadeia de tomada de decisão, mas parte de um
processo cíclico que continua durante a AIA;

- Envolvimento de atores sociais essenciais e abertura para participação


pública;

- Tratamento adequado de alternativas locacionais e tecnológicas;

- Estabelecimento de limites claros para o escopo do EIA (espaciais,


temporais, biofísicos, socioeconômicos etc.);

- Foco nas questões-chave e em componentes valorizados do ecossistema


que sejam relevantes para a tomada de decisão;

- Identificação de impactos a serem monitorados durante a vida útil do


projeto.

3.2.3. Elaboração do Estudo de Impacto Ambiental

A elaboração do EIA é a atividade central do processo detalhado de avaliação


de impacto ambiental; é a etapa que consome mais recursos e tempo e fornece
subsídios para a determinação da viabilidade ambiental da proposta estudada
(Sánchez, 2006).

O Estudo de Impacto Ambiental é a manifestação da dimensão instrumental da


disciplina de Avaliação de Impacto Ambiental. Embora sua estrutura esteja
condicionada aos requisitos legais e às diretrizes do Termo de Referência, pode-se
considerar que um EIA é formado de três etapas: Diagnóstico, Prognóstico e Medidas
de Gestão (Figura 44).

120
Figura 44: Estrutura conceitual de um Estudo de Impacto Ambiental. A abrangência e
profundidade de cada atividade são definidas na etapa de Determinação do Escopo. A
depender da natureza do empreendimento, questões associadas ao risco acidental devem ser
inseridas nessa estrutura.

3.2.3.1. Diagnóstico

O Diagnóstico pode ser dividido em duas partes: Caracterização da Atividade e


Diagnóstico Ambiental. A Caracterização da Atividade é a descrição do projeto em
questão com foco nos aspectos ambientalmente relevantes da tecnologia proposta.
Em geral, a adequação dessa parte do estudo depende bastante da interação entre a
equipe de elaboração do EIA e a equipe de projetistas responsável pelo planejamento
da construção ou operação. A falta de conhecimento técnico sobre o projeto pode
ocasionar uma caracterização deficiente da atividade e inviabilizar os prognósticos
sobre os possíveis impactos ambientais decorrentes da implementação da proposta.

Já o Diagnóstico Ambiental busca ser um retrato da qualidade ambiental atual


da área de influência do projeto, com o objetivo de subsidiar o prognóstico das
alterações a serem introduzidas pela atividade. Em verdade, é no Diagnóstico
Ambiental que se manifestam mais fortemente as duas perspectivas contraditórias na
realização de um Estudo de Impacto Ambiental: a abordagem exaustiva e a
abordagem dirigida (Sánchez, 2006).

121
Na abordagem exaustiva, o consultor tenta produzir um diagnóstico ambiental
“enciclopédico”, supondo que, quanto mais informações disponíveis, melhor a
avaliação ambiental. Essa abordagem tende a produzir diagnósticos extensos e
detalhados, que geralmente consomem boa parte do tempo de elaboração do EIA,
tendendo a prejudicar a avaliação das relações funcionais entre os componentes do
ecossistema. Por outro lado, a abordagem dirigida pressupõe que só faz sentido
levantar dados que serão efetivamente utilizados na etapa de prognóstico dos
impactos, ou seja, serão úteis para a tomada de decisão.

Entendendo o processo de Avaliação de Impacto Ambiental como subsídio à


decisão regulatória sobre determinada ação através da análise da viabilidade
ambiental desta, fica evidente que uma abordagem dirigida é mais eficiente em termos
de gasto de tempo e recursos. Porém, uma abordagem dirigida só será efetiva em
termos de garantia da qualidade ambiental caso o trabalho de definição do escopo do
EIA tenha sido adequadamente realizado. Em caso contrário, o estudo poderá
negligenciar fatores importantes para a compreensão das conseqüências ambientais
da atividade.

De todo modo, o Diagnóstico Ambiental deve contemplar uma abordagem dos


meios físico, biótico e socioeconômico que possa servir de base para a discussão dos
impactos da iniciativa. Dependendo das características do projeto e do meio no qual
ele está inserido, pode haver necessidade de realização de levantamentos de dados
primários, com uma ou mais campanhas de campo para definição das linhas de base
para determinados parâmetros ambientais.

Contrapondo-se à abordagem exaustiva do diagnóstico ambiental, algumas


jurisdições exigem a definição dos Componentes Valorizados do Ecossistema (VEC –
Valued Ecosystem Components) com o objetivo de focar o estudo das interações entre
o projeto e o meio afetado. Beanlands e Duinker (1983), proponentes do conceito,
defendem que a identificação dos Componentes Valorizados do Ecossistema seja
pautada tanto na percepção do público sobre quais são os principais aspectos a serem
considerados, quanto na opinião técnica da comunidade científica – ambas
contribuições recebidas durante o processo de discussão pública do escopo da
avaliação ambiental.

Isso reforça a importância da etapa de Scoping, na medida em que é preciso


haver uma identificação preliminar das questões principais a serem tratadas no EIA,
de forma a direcionar os esforços de coleta e análise dos dados que comporão o
estudo, principalmente o diagnóstico ambiental. Nesse sentido, Sadler (1996, p.113)

122
recomenda que “o processo de AIA seja focado nas questões principais, de modo que
cada proposta seja examinada no nível e no detalhe adequado ao seu potencial de
alteração ambiental”.

A etapa seguinte à de Diagnóstico é de Prognóstico, ou seja, a partir da


identificação dos aspectos relevantes da situação atual, passa-se à discussão das
conseqüências da intervenção proposta pelo projeto que está sendo avaliado – ou seja
à Análise dos Impactos Ambientais. A Análise dos Impactos é composta de três
atividades distintas, as quais podem ser definidas da seguinte forma (Sánchez, 2006,
p.176):

Identificação de impactos: é a descrição das conseqüências


esperadas de um determinado empreendimento e dos mecanismos
pelos quais se dão as relações de causa e efeito, a partir das ações
modificadoras do meio ambiente que compõem tal empreendimento.

Previsão de impactos: significa fazer hipóteses, técnica e


cientificamente fundamentadas, sobre a magnitude ou intensidade dos
impactos ambientais.

Avaliação de impactos: a atribuição de um qualificativo de importância


ou significância a esses impactos, qualificativo esse sempre referido
ao contexto socioambiental no qual se insere o empreendimento.

3.2.3.2. Prognóstico

A etapa de Prognóstico é pródiga no desenvolvimento de metodologias para


ajudar a prever e dimensionar os impactos originados pela proposta em análise, a
despeito das dificuldades e limitações da tarefa, decorrentes da complexidade inerente
ao estudo dos ecossistemas e dos sistemas socioeconômicos. Aliás, a correta
avaliação dos impactos sociais é dificultada sobremaneira pela complicada apreensão
dos aspectos de caráter econômico, cultural e psicológico (La Rovere, 2001).

O vasto universo de metodologias desenvolvidas para atender a fase de


Prognóstico inclui métodos de diferentes naturezas, desde aqueles adaptados dos
métodos tradicionais de análise econômica de custo-benefício até os fortemente
baseados em informações geográficas georreferenciadas. Existem métodos com forte
viés quantitativo e outros cuja maior virtude é a consistência da análise qualitativa,
mas também foram desenvolvidas técnicas mistas. Alguns métodos se utilizam de
complexas metodologias de valoração monetária dos componentes ambientais

123
afetados e outros buscam identificar as diferentes visões e percepções dos agentes
sociais potencialmente afetados pelo projeto. Alguns métodos se prestam apenas a
uma das fases do prognóstico (identificação, previsão e avaliação) e outros
pressupõem uma abordagem mais integrada da análise dos impactos.

O certo é que não existem métodos perfeitos ou infalíveis em Avaliação de


Impactos Ambientais. Diferentes projetos requerem diferentes metodologias e uma
técnica muito eficiente para análise dos impactos de uma usina hidrelétrica pode não
ser adequada à análise das conseqüências da construção de um aeroporto. Canter e
Sadler (1997) fizeram uma revisão exaustiva dos métodos existentes à época, com a
pretensão de funcionar como um kit de ferramentas (tool kit) para os profissionais
envolvidos com a Avaliação de Impactos Ambientais. Embora os dez anos decorridos
desde então tenham presenciado o desenvolvimento de novas técnicas e o
refinamento de antigas ferramentas (com destaque para a utilização intensiva de
Sistemas de Informações Geográficas – SIG), o trabalho de Canter e Sadler (1997)
continua sendo excelente referência no assunto.

A etapa final do Prognóstico, a avaliação de significância dos impactos


identificados, é apontada por muitos autores como a mais difícil do processo por
embutir necessariamente uma grande dose de subjetividade – dependente da escala
de valores extrínseca aos técnicos que elaboram o EIA. É também uma etapa decisiva
para a tomada de decisão sobre a aprovação do projeto e a definição das condições
de operação (Sadler, 1996). É essencial, portanto, para o sucesso dessa etapa, que
os critérios utilizados para a avaliação da significância dos impactos sejam claramente
especificados e que seja mantida uma coerência rigorosa quanto à utilização esses
critérios ao longo da discussão dos impactos.

A Análise dos Impactos, culminando com a avaliação de significância dos


impactos, deve ser estruturada de forma a auxiliar a seleção de alternativas
locacionais e tecnológicas para o projeto em questão. No entanto, muitas vezes o
estudo apresenta a nomeação de alternativas pouco plausíveis e de viabilização
bastante improvável, o que torna a etapa de seleção de alternativas meramente
burocrática.

Uma outra tarefa ainda pertinente à Etapa de Prognóstico é a avaliação dos


impactos que só se manifestam em caso de funcionamento anormal do
empreendimento, ou seja, em caso acidental. Nesse caso, a ferramenta consagrada
para a avaliação desse tipo de acontecimento é a Análise de Risco Ambiental.

124
Embora tenham se desenvolvido em contextos e por comunidades profissionais
distintas, a Análise de Risco guarda muitas similaridades com a Análise de Impactos.
Por exemplo, a seqüência de identificação, estimativa e avaliação está presente nos
dois processos de análise – assim como a etapa de gerenciamento. A depender do
tipo de empreendimento em questão, a Análise dos Riscos Ambientais pode ser até
mais importante do que a Análise dos Impactos em si. É o caso de empreendimentos
com baixo impacto de instalação e operação, mas com alto risco acidental 15 – como
Usinas Nucleares, por exemplo.

3.2.3.3. Medidas de Gestão

A partir da determinação de significância dos impactos principais, da seleção


da melhor alternativa locacional e tecnológica e da análise dos riscos envolvidos no
projeto, passa-se à etapa de elaboração das Medidas de Gestão. De uma forma geral,
pode-se dividir as Medidas de Gestão em três tipos distintos: Medidas Mitigadoras,
Medidas Compensatórias e Programas de Monitoramento.

As Medidas Mitigadoras são normalmente referenciadas como aquelas que


reduzem a magnitude de impactos negativos associados ao projeto. No entanto, a
prática consolidou chamar de mitigadoras também as medidas que evitam por
completo a incidência de determinado impacto. Ressalta-se que a proposição de
Medidas Mitigadoras deve ser coerente com a etapa de Prognóstico, concentrando
esforços nos impactos e riscos mais relevantes ou significativos.

Em caso de o EIA identificar impactos que não podem ser evitados ou


reduzidos a níveis aceitáveis, podem ser exigidas Medidas Compensatórias. Dois
casos típicos de Medidas Compensatórias são: a reposição de vegetação nativa em
área similar para compensar a ocorrência de desflorestamento na área do
empreendimento e a realocação populacional devida à inundação provocada pelo
enchimento de um reservatório para aproveitamento hidrelétrico.

Sánchez (2006, p. 339) apresenta uma seqüência de prioridades para o


estabelecimento de medidas de gestão para um empreendimento:

1. Evitar impactos e prevenir riscos.

2. Reduzir ou minimizar impactos negativos.

15
Ressalta-se que em uma definição clássica, Risco Ambiental é o produto da freqüência
acidental pela severidade do dano ocasionado. No caso da Usina Nuclear, embora a
freqüência de falha seja bastante pequena, as conseqüências podem ser catastróficas.

125
3. Compensar impactos negativos que não podem ser evitados ou reduzidos.

4. Recuperar o ambiente degradado ao final de cada etapa do ciclo de vida do


empreendimento.

Um outro componente típico das Medidas de Gestão são os Programas de


Monitoramento. Normalmente organizadas em projetos para fins específicos, as
medidas de monitoramento têm como objetivo principal verificar a ocorrência dos
impactos prognosticados no EIA na situação real de operação da atividade. No
entanto, outras importantes funções podem ser atribuídas aos programas de
monitoramento, como a detecção de mudanças não-previstas nos parâmetros
ambientais monitorados e o alerta em caso de emergência (Sadler, 1996).

Os Programas de Monitoramento, se adequadamente desenhados e


implementados, podem fornecer importantes subsídios para a se avaliar a efetividade
do próprio processo de avaliação de impacto ambiental e proporcionar ajustes
metodológicos no futuro. No entanto, apesar de toda sua relevância, a etapa de
acompanhamento do empreendimento é considerada por muitos autores como a
principal deficiência do processo de Avaliação de Impacto Ambiental ao redor do
mundo. Sadler (1996), em seu extenso estudo sobre a efetividade da avaliação
ambiental, considera a etapa de acompanhamento (follow up) uma fraqueza sistêmica
do processo de AIA, tal a freqüência com que é implementada de forma deficiente.

Além das três partes fundamentais do EIA, Diagnóstico, Prognóstico e Medidas


de Gestão, outros itens que normalmente completam o documento são a identificação
do empreendedor e da equipe técnica responsável, a análise da legislação aplicável,
as referências bibliográficas utilizadas, um glossário de termos técnicos e anexos
relevantes, tais como relatórios técnicos de especialistas, mapas, plantas, listas de
espécies, cópias de licenças ou autorizações aplicáveis, memórias de cálculo e outros.

3.2.3.4. Elaboração do resumo em linguagem não-técnica

Não obstante a finalização do EIA, na maior parte das jurisdições exige-se a


apresentação de um resumo em linguagem não-técnica para facilitar a compreensão
do projeto e suas conseqüências ao público em geral. O Manual de Treinamento em
Avaliação de Impacto Ambiental do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (UNEP, 2002), ressalta que o resumo não-técnico não deve tentar sintetizar
todo o conteúdo do EIA, mas concentrar-se nos pontos-chave relevantes para a
tomada de decisão. O Manual sugere que, exceto para projetos muito grandes, o
resumo não deva ultrapassar a extensão de sete páginas (UNEP, 2002, p.333).

126
No Brasil, a legislação federal incorporou a exigência do resumo não-técnico
através da Resolução CONAMA n° 001/86 16 , denominando-o RIMA – Relatório de
Impacto Ambiental e definindo o seu conteúdo da seguinte forma:

“Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as


conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e


compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas
governamentais;

II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e


locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de
construção e operação a área de influência, as matérias primas, e
mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica
operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia,
os empregos diretos e indiretos a serem gerados;

III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental


da área de influência do projeto;

IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e


operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os
horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os
métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação,
quantificação e interpretação;

V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de


influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e
suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;

VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas


em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não
puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;

VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões


e comentários de ordem geral).

16
Na realidade, o Decreto Federal n° 88.351/83, que regulamentou a Lei da Política Nacional
do Meio Ambiente (n°6.938/81), já exigia a elaboração do RIMA sem, contudo, explicitar seu
conteúdo ou função. Posteriormente, esse decreto foi revogado pelo Decreto Federal
n°99.274/90, que manteve o dispositivo com a mesma redação.

127
Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e
adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas
em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros,
gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se
possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como
todas as conseqüências ambientais de sua implementação.”

A partir dessa definição legal, fica evidente que o RIMA brasileiro dificilmente
atenderá à recomendação das Nações Unidas no que diz respeito à extensão do
documento de resumo não-técnico. De fato, a maioria dos RIMAs desenvolvidos são
bem mais extensos que sete páginas, alguns chegando a alcançar uma centena ou
mais de páginas.

Porém, a extensão adequada é apenas um dos parâmetros que caracterizam


um bom RIMA. A adequação da linguagem técnica utilizada no EIA para o público em
geral – ponto fundamental para assegurar a comunicação das conclusões do estudo –
é uma tarefa poucas vezes realizada a contento. Uma tendência recente é o
aparecimento de empresas especializadas em comunicação ambiental, que utilizam
técnicas de modernas de diagramação e comunicação visual em prol do acesso do
público às questões principais do EIA.

Sánchez (2006) argumenta que os RIMAs não costumam passar pelo crivo do
agente governamental no Brasil, diferentemente de outras jurisdições. Talvez um
maior controle de qualidade realizado pelo órgão ambiental poderia forçar a
elaboração de documentos mais adequados à função de comunicação dos resultados
da Avaliação de Impacto Ambiental realizada.

3.2.4. Análise Técnica do Estudo de Impacto Ambiental

Uma etapa fundamental do processo de Avaliação de Impacto Ambiental é a


Análise Técnica do Estudo de Impacto Ambiental, também conhecida como revisão do
EIA. Normalmente, a Análise Técnica é realizada pelo corpo técnico da instituição
responsável pelo processo de AIA, mas cada jurisdição estabelece seu próprio
mecanismo. No Canadá, por exemplo, projetos de impacto significativo ou muito
controversos são enviados para revisão por uma comissão independente. Já na
Holanda, existe uma comissão independente permanente para revisão dos EIAs, que,
no entanto, não tem poderes decisórios sobre a aprovação do projeto.

128
Pode-se considerar que os objetivos básicos da etapa de Análise Técnica do
EIA são avaliar se o estudo apresentado: (i) atende aos requisitos aplicáveis da
legislação, de outros documentos normativos e do Termo de Referência; e (ii) possui
qualidade técnica suficiente para subsidiar a tomada de decisão acerca da viabilidade
ambiental do empreendimento proposto (Sánchez, 2006).

UNEP (2002, p.357) propõe que a revisão do estudo seja feita em três etapas:

1. Identificar as deficiências do Estudo de Impacto Ambiental, utilizando o Termo


de Referência, outras diretrizes e critérios importantes e informações de
quaisquer outros estudos similares e suas análises;

2. Concentrar-se nas inconsistências detectadas no EIA e separar as deficiências


cruciais, aquelas que podem diretamente impedir a tomada de decisão, das
deficiências menos importantes. Se não forem encontradas omissões sérias no
EIA, isso deve ser explicitamente declarado. Comentários sobre questões
menos importantes podem ser colocadas como apêndice à análise.

3. Recomendar como e quando as deficiências graves do EIA devem ser sanadas


para viabilizar uma tomada de decisão corretamente subsidiada e quais as
medidas apropriadas para a implementação do projeto.

Apesar de ser uma tarefa eminentemente subjetiva e dependente da


experiência e conhecimento da equipe técnica de revisão, existem diversas
ferramentas de auxílio à avaliação dos estudos ambientais. Essas metodologias
tentam fornecer diretrizes para orientar o trabalho do analista, de forma a produzir
resultados mais consistentes e coerentes ao longo do tempo.

Uma das ferramentas mais utilizadas mundialmente com esse objetivo é


conhecida como Lee e Colley Review Package 17 , metodologia desenvolvida pelo EIA
Centre da Universidade de Manchester, no Reino Unido. Nesse método, o Estudo de
Impacto Ambiental é dividido em quatro áreas de revisão: (i) Descrição do
empreendimento, do ambiente local e das condições de base; (ii) Identificação e
avaliação dos impactos principais; (iii) Consideração de alternativas e medidas
mitigadoras; e (iv) Comunicação dos resultados. Dentro dessas grandes áreas existem
categorias e subcategorias de revisão que fornecem maior detalhamento aos critérios
de análise (EIA Centre, 1995).

O método prevê uma análise progressiva da qualidade do EIA, partindo das


subcategorias, passando pelas categorias, pelas grandes áreas do estudo e,

17
Em inglês, Pacote de Revisão de Lee e Colley, nome dos principais autores do método.

129
finalmente, chegando a um juízo sobre a qualidade geral do documento. Essa análise
é realizada com base em conceitos padronizados, da seguinte forma (EIA Centre,
1995):

(A) Tarefa bem executada, nenhuma tarefa importante incompleta.

(B) Geralmente satisfatório e completo, apenas pequenas omissões e


inconsistências.

(C) Pode ser considerado apenas satisfatório, apesar de omissões e/ou


inconsistências.

(D) Partes bem executadas, mas considerado insatisfatório no geral pelas


omissões e/ou inconsistências.

(E) Insatisfatório, contendo omissões e inconsistências significativas.

(F) Muito insatisfatório, tarefas importantes mal executadas ou não realizadas.

(N/A) Não aplicável. A categoria de revisão não se aplica ou é irrelevante no


contexto do estudo.

Em 2001, a Comissão Européia publicou um documento de orientação para a


etapa de revisão de EIAs no âmbito dos sistemas sujeitos à Diretiva da União
Européia para Avaliação de Impacto Ambiental (85/337/EEC, complementada pela
Diretiva 97/11/EC). O guia contém uma metodologia um tanto similar à de Lee e Colley
e traz ao seu final um checklist pré-definido com os itens selecionados para orientação
do trabalho de revisão. O objetivo da orientação é ajudar os revisores do EIA a decidir
se a informação apresentada atinge os objetivos de: (i) prover os tomadores de
decisão com todas as informações ambientais necessárias para a decisão; e (ii)
comunicar-se efetivamente com consultores e o público em geral para que eles
possam comentar o projeto e suas implicações ambientais de forma útil (Comissão
Européia, 2001).

Ainda assim, apesar do esforço em gerar metodologias que confiram um pouco


de objetividade ao processo de revisão do EIA, não é possível escapar do fato de que
esta é uma etapa eminentemente subjetiva. Dessa forma, apesar dos inegáveis
avanços recentes (Jay et al., 2007), uma das grandes demandas mundiais para
Avaliação de Impacto Ambiental continua sendo a Capacity Building, expressão sem
tradução adequada em português, que significa algo como o desenvolvimento de
recursos humanos, organizacionais, institucionais e legais para fazer frente às
questões ligadas à AIA. A Capacity Building é notadamente necessária nos países

130
onde o sistema de avaliação ambiental é muito recente ou praticamente inexistente,
principalmente nas nações ditas “em desenvolvimento” (Wood, 2003).

3.2.5. Participação pública

A participação pública é um dos princípios básicos do processo de Avaliação


de Impacto Ambiental (IAIA, 1999). Praticamente todos os sistemas de AIA existentes
contemplam algum tipo de participação pública ao longo do processo de avaliação de
propostas potencialmente poluidoras.

Os benefícios da participação pública no processo de Avaliação de Impacto


Ambiental são diversos, dentre os quais é possível citar (UNEP, 2002, p.161):

- Obter conhecimento local e tradicional que podem ser úteis para a tomada
de decisão.

- Facilitar a consideração de alternativas, medidas mitigadoras e trade-offs.

- Garantir que impactos importantes não sejam negligenciados e que os


benefícios sejam maximizados.

- Reduzir o potencial de conflito através da identificação precoce de


questões polêmicas.

- Prover uma oportunidade de o público influenciar o desenho do projeto de


forma positiva (e, portanto, criar um senso de propriedade para com a
proposta).

- Incrementar a transparência e a accountability 18 da tomada de decisão.

- Aumentar a confiança do público no processo de AIA.

Tradicionalmente, a participação pública no processo de AIA se dá na etapa de


Análise Técnica do Estudo de Impacto Ambiental, antes da tomada de decisão pela
autoridade responsável. No entanto, dado o potencial de fortalecimento e legitimação
do processo como um todo, as melhores práticas de Avaliação de Impacto Ambiental
recomendam que o público seja envolvido o quanto antes e que a participação seja
regular ao longo das etapas do processo (André et al., 2006). Quanto mais decisões já
tiverem sido tomadas no processo de AIA – triagem, determinação do escopo, etc. –

18
Dada a inexistência de uma tradução precisa em português, esse termo tem sido utilizado no
original inglês na literatura técnica associada. Relaciona-se à responsabilidade pelos próprios
atos e à capacidade de prestação de contas de indivíduos, organizações e comunidades.

131
menos a participação pública poderá alterar o rumo dos eventos (Doelle e Sinclair,
2006).

Uma etapa especialmente beneficiada pela participação do público é a de


Determinação do Escopo do estudo, quando a contribuição das partes interessadas
pode ser fundamental para garantir a completa identificação das questões importantes
a serem tratadas no EIA, assim como a obtenção de informações locais sobre a área
de influência e sobre possíveis alternativas a serem consideradas em detalhe (UNEP,
2002).

Existem diversos graus de participação do público no processo de AIA, desde


métodos meramente informativos até formas de cooperação com bastante peso para
as partes interessadas. UNEP (2002, p.163) apresenta uma síntese de algumas
formas de envolvimento do público, em grau crescente de influência no processo:

Informação – via de mão única de informações do proponente para o público.

Consulta – via de mão dupla para troca de informações entre o proponente e o


público, com oportunidades para o público expressar suas opiniões sobre a proposta.

Participação – troca interativa entre o proponente e o público, incluindo análise


conjunta e definição de compromissos, além do desenvolvimento de posições
esclarecidas sobre a proposta e seus impactos.

Negociação – debate cara-a-cara entre o proponente e representantes-chave


do público interessado para construir consensos e chegar a soluções mutuamente
aceitáveis para questões importantes, como um pacote de medidas mitigadoras e
compensatórias.

Na prática, a participação pública se dá majoritariamente através de processo


de consulta, principalmente pelo recebimento de comentários e críticas ao EIA por
escrito. As audiências públicas também são mecanismos bastante consolidados e
populares de consulta, apesar das muitas limitações intrínsecas ao procedimento.

Porém, existe uma ampla gama de métodos para o envolvimento do público na


AIA, entre métodos formais e informais, presenciais e remotos, pontuais ou
processuais - as melhores práticas recomendam que a participação pública seja
adaptada ao contexto de aplicação, considerando o arcabouço histórico, cultural,
ambiental, político e social das comunidades afetadas pela iniciativa (André et al.,
2006).

No Brasil, a participação pública no processo de AIA se dá quase


exclusivamente através da realização de Audiências Públicas, tal como introduzidas

132
legalmente pela Resolução CONAMA n° 009/87. Segundo essa Resolução, o órgão
ambiental promoverá a realização de Audiência Pública quando (i) julgar necessário
ou (ii) for solicitado por Entidade Civil, pelo Ministério Público ou por 50 (cinqüenta) ou
mais cidadãos. Sánchez (1995) ressalta que, apesar das suas deficiências, as
audiências públicas ambientais foram procedimentos pioneiros nas consultas formais
ao público no Brasil e em outros países. Cabe, então, aos praticantes da AIA
desenvolver formas de ampliar a eficácia desse instrumento e garantir a participação
efetiva do público no processo de avaliação das iniciativas impactantes ao meio
ambiente.

3.2.6. Tomada de Decisão

De uma forma geral, os sistemas de Avaliação de Impacto Ambiental culminam


em uma Tomada de Decisão principal relativa à implementação da proposta, seja
através da autorização, financiamento ou outra forma de viabilização. No entanto,
considerando que Tomada de Decisão “é o processo de escolher entre diferentes
alternativas de ação” (UNEP, 2002, p.385), percebe-se que ela ocorre diversas vezes
ao longo da AIA, desde a Triagem e o Scoping até decisões tomadas no âmbito da
análise do estudo ambiental.

Dependendo da fase do processo e da natureza da decisão, o agente


responsável por ela é diferente, mas a grande maioria das decisões intermediárias
cabe à Autoridade Responsável pela condução do processo de AIA ou ao Proponente
do empreendimento.

Por outro lado, existem diversos arranjos institucionais para a Tomada de


Decisão final sobre a viabilidade ambiental do projeto. Sánchez (2006) organiza esses
arranjos em quatro tipos, de forma que a decisão final pode caber:

- À Autoridade Ambiental, como no caso do Brasil, em nível federal;

- À Autoridade Setorial, de acordo com a tutela sobre o empreendimento


(energia, florestas, planejamento urbano, etc.);

- Ao Governo, por meio de representante do executivo ou um Conselho de


Ministros, por exemplo; ou

- A um Colegiado Multipartite, com a participação de representantes da


sociedade civil, como em alguns estados no Brasil.

De todo modo, a figura do tomador de decisão é geralmente situada em nível


político superior ao nível dos responsáveis pela análise técnica do Estudo de Impacto

133
Ambiental. Dessa forma, dificilmente o tomador de decisão terá contato profundo com
os detalhes do processo de AIA (e muitas vezes nem possui a qualificação técnica
necessária para tal), sendo fundamental que ele receba um subsídio adequado do
corpo técnico em relação aos pontos principais identificados na avaliação, incluindo as
múltiplas demandas das partes interessadas. No Brasil, esse subsídio normalmente é
materializado na forma de um Parecer Técnico conclusivo emitido pelo órgão
ambiental competente.

Considerando o papel fundamental da AIA de subsídio à Tomada de Decisão


ambientalmente correta, é natural que o processo seja voltado para propiciar as
adaptações necessárias aos projetos de forma a reduzir os seus possíveis impactos
ambientais. Assim, embora a AIA possa determinar o abandono de certas propostas, o
seu foco maior é na mitigação dos efeitos deletérios que possam derivar dos
empreendimentos (Jay et al., 2007).

Dessa forma, apesar dos resultados possíveis da Tomada de Decisão serem (i)
aprovação incondicional da proposta, (ii) reprovação da proposta e (iii) aprovação da
proposta com condições, o processo de AIA geralmente culmina com esta última
opção, e o foco da avaliação normalmente é concentrado na discussão das condições
para aprovação.

Sendo uma etapa naturalmente sujeita à influência de múltiplos aspectos


técnicos, econômicos e políticos, uma Tomada de Decisão consciente e informada
depende do sucesso das etapas anteriores do processo de AIA, notadamente da
Definição do Escopo/Análise Técnica do EIA e da extensão e qualidade da
Participação Pública. Esses são requisitos fundamentais para a segurança jurídica da
decisão tomada, ou seja, para evitar que haja questionamentos judiciais posteriores,
levando possivelmente à paralisação do empreendimento e ao questionamento da
licitude e isenção do processo decisório – e, em última análise, a responsabilização
dos tomadores de decisão e dos responsáveis pela análise técnica.

3.2.7. Acompanhamento pós-decisão

Uma vez tomada a decisão que viabiliza a implantação do projeto, encerrando-


se assim a Fase de Avaliação Detalhada, o processo de Avaliação de Impacto
Ambiental continua em uma etapa fundamental – a Fase Pós-Aprovação. Também
conhecida como de acompanhamento, pós-licença ou follow-up, essa fase é apontada
por muitos autores como sendo uma das mais deficientes na prática mundial de AIA,
tanto nos países “desenvolvidos” quantos naqueles “em desenvolvimento” (Wood,

134
2003). Sadler (1996), que aponta essa etapa como prioritária para incremento da
efetividade do processo, atribui boa parte dessa deficiência à característica básica da
AIA de ser um exercício de previsão que acontece antes da tomada de decisão sobre
um empreendimento.

Sánchez (2006, p.445) sintetiza a questão da seguinte forma:

“(...) grande atenção é dedicada à preparação de um EIA e à


exigência de que o projeto incorpore um extenso programa de
mitigação de impactos, mas, uma vez aprovado o projeto, há um
interesse surpreendentemente pequeno em verificar se ele foi
realmente implantado de acordo com o prescrito e se as medidas
mitigadoras atingiram seus objetivos de proteção ambiental.”

Como o prognóstico dos impactos no âmbito do EIA é marcado pelas


incertezas associadas à escassez de informações ambientais disponíveis e pelas
limitações de tempo e recurso características do processo, podem acontecer
diferenças entre o cenário previsto e o que realmente ocorre durante a implementação
do projeto. Podem ocorrer impactos não-previstos ou em magnitude diferente da
prevista, as medidas mitigadoras podem não ter a eficácia esperada, o projeto pode
sofrer alterações que resultem em novas relações com o meio ou, ainda, o proponente
pode não implementar adequadamente as condições aprovadas pela autoridade
responsável (Dias, 2001).

Dessa forma, a ausência de uma etapa efetiva de acompanhamento pós-


decisão pode transformar a AIA em um mero requisito burocrático para autorização de
projetos, ao invés de um instrumento de gestão capaz de gerar benefícios ambientais
reais (Sadler, 1996; Dias, 2001; UNEP, 2002).

UNEP (2002, p.406), na 2ª edição do Manual de Treinamento em AIA, define


os objetivos principais da etapa de acompanhamento pós-decisão:

- Confirmar se as condições de aprovação do projeto estão implementadas


satisfatoriamente;

- Verificar se os impactos estão dentro dos limites previstos ou permitidos;

- Agir para gerenciar impactos não prognosticados ou outras mudanças não


previstas;

- Garantir que os benefícios ambientais estejam sendo maximizados através


das boas práticas; e

- Aprender com a experiência para melhorar o processo e a prática da AIA.

135
O conjunto de atividades desenvolvidas na Fase Pós-Aprovação pode ser
dividido em três categorias (Sánchez, 2006): (i) monitoramento; (ii) supervisão,
fiscalização ou auditoria; e (iii) documentação e análise.

O monitoramento ambiental se refere à coleta sistemática e periódica de dados


previamente selecionados, com o objetivo de verificar o atendimento a padrões legais
ou diretrizes impostas como condição para a aprovação do empreendimento. O
monitoramento também serve para confirmar prognósticos realizados no EIA sobre a
incidência e magnitude de determinado impacto ambiental, sendo de grande
importância a existência ou geração de dados que possibilitem a avaliação da “linha
de base” para os parâmetros ambientais a serem monitorados.

A supervisão é uma atividade contínua realizada pelo próprio empreendedor


com o objetivo de verificar o cumprimento das exigências incidentes sobre o projeto,
seja de natureza legal, administrativa ou financeira. Já a fiscalização é uma atividade
desempenhada por agentes governamentais no exercício do poder de polícia do
Estado, normalmente por amostragem e de forma pontual. E a auditoria é uma
atividade sistemática, documentada, objetiva e periódica para analisar a conformidade
do empreendimento com requisitos auto-impostos ou condicionantes legais e
administrativos, podendo, assim, ser conduzida pela autoridade responsável, pelo
próprio empreendedor ou por uma terceira parte.

Existe ainda a possibilidade de acompanhamento através da documentação e


análise de relatórios de implementação de medidas mitigadoras, medidas
compensatórias, monitoramentos, e das próprias condições de operação do
empreendimento que tenham sido objeto condicionante da aprovação.

Do ponto de vista da responsabilidade pelo acompanhamento, há diversos


formatos relatados na experiência internacional, mas geralmente os procedimentos
ficam a cargo da autoridade responsável pelo processo de AIA, da autoridade
ambiental (caso não seja ela a responsável) ou do próprio empreendedor
(automonitoramento). Não obstante, é crescente o número de experiências
envolvendo o público na etapa pós-decisão através de comissões de
acompanhamento ou outros desenhos de participação (UNEP, 2002). Sánchez (2006)
relata ainda a existência de casos de criação de instituições especializadas para o
acompanhamento de empreendimentos muito polêmicos.

136
3.3. Melhores Práticas em AIA

A Associação Internacional para Avaliação de Impacto – IAIA, como uma


organização de grande prestígio e aceitação no campo da Avaliação Ambiental,
assumiu a responsabilidade de propor a definição dos princípios de Melhores Práticas
em AIA. Após mais de dois anos de discussões entre os profissionais membros da
associação, chegou-se a um denominador comum em 1999, culminando com a
publicação do documento Princípios de Melhores Práticas em Avaliação de Impacto
Ambiental (IAIA, 1999).

As Melhores Práticas, tais como enunciadas no documento citado, pretendem


ser uma orientação baseada em princípios largamente aceitos aos profissionais
envolvidos no processo de AIA. Esses princípios dividem-se em dois tipos: básicos e
operacionais. Enquanto os Princípios Operacionais das Melhores Práticas de AIA
foram detalhados ao longo desta introdução (Triagem, Scoping, Revisão do EIA, etc.),
os Princípios Básicos serão apresentados agora.

Os Princípios Básicos das Melhores Práticas em AIA são aplicáveis a todas as


etapas do processo, e devem ser entendidos como um pacote único indissociável, pois
os princípios são interdependentes e, em muitos casos, conflitantes entre si (ex.: rigor
e eficiência).

Segundo os Princípios Básicos das Melhores Práticas (IAIA, 1999), o processo


de Avaliação de Impacto Ambiental deve ser:

Proposital 19 – o processo deve subsidiar a tomada de decisão e resultar em


níveis adequados de proteção ambiental e bem-estar da comunidade.

Rigoroso – o processo deve aplicar a “melhor ciência disponível”, empregando


metodologias e técnicas apropriadas para estudar as questões em análise.

Prático – o processo deve gerar informações e resultados que auxiliem na


solução dos problemas e estejam aptos a serem implementados de forma plausível
pelo proponente.

Relevante – o processo deve prover informações suficientes, confiáveis e


utilizáveis para o planejamento do projeto e para a tomada de decisão.

Custo-efetivo – o processo deve atingir os objetivos da AIA dentro das


limitações de tempo, recursos, metodologias e informações disponíveis.

19
No original em inglês, purposive. Traduzido como proposital no sentido de ter um propósito
definido, não ser um procedimento meramente formal.

137
Eficiente – o processo deve impor o menor custo possível em termos de tempo
e recursos financeiros aos proponentes e outros participantes, desde que atinja os
requisitos e objetivos da AIA.

Focado – o processo deve concentrar-se nos efeitos ambientais significativos e


nas questões-chave, isto é, nos assuntos que devem ser levados em consideração
nas tomadas de decisão.

Adaptável – o processo deve ser ajustado às realidades, problemas e


circunstâncias das propostas em análise, sem comprometer a integridade do
processo, e ser iterativo, incorporando lições aprendidas ao longo do ciclo de vida da
proposta.

Participativo – o processo deve garantir oportunidades adequadas para


informar e envolver as partes interessadas e o público afetado, e suas contribuições e
preocupações devem ser explicitamente consideradas na documentação do processo
e na tomada de decisão.

Interdisciplinar – o processo deve garantir o emprego das técnicas e


profissionais adequados das disciplinas biofísicas e socioeconômicas relevantes,
incluindo o uso do saber tradicional, quando couber.

Confiável 20 – o processo deve ser conduzido com profissionalismo, rigor,


justiça, objetividade, imparcialidade e equilíbrio, e ser sujeito a controles
independentes e verificação.

Integrado – o processo deve abordar as inter-relações entre os aspectos


sociais, econômicos e biofísicos.

Transparente – o processo deve ter diretrizes claras e de fácil entendimento


sobre o conteúdo da AIA; garantir o acesso público à informação; identificar os fatores
que devem ser levados em consideração na tomada de decisão; e reconhecer as suas
limitações e dificuldades.

Sistemático – o processo deve resultar na consideração completa de toda


informação relevante sobre o ambiente afetado, sobre as alternativas propostas e seus
impactos, e sobre as medidas necessárias para monitorar e investigar efeitos
residuais.

20
No original em inglês, credible. Traduzido como confiável no sentido de possuir credibilidade
perante os atores envolvidos e o público em geral.

138
4. EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL NA AVALIAÇÃO
AMBIENTAL DE PESQUISAS SÍSMICAS MARÍTIMAS

139
Este capítulo aborda aspectos da experiência internacional relativa à avaliação
ambiental da atividade de pesquisa sísmica marítima com o objetivo de subsidiar a
discussão do modelo de avaliação adotado no Brasil. Foram selecionadas três
jurisdições para esta análise: Estados Unidos da América, Canadá e Noruega.

A seleção das jurisdições obedeceu a alguns critérios:

- disponibilidade de informações na internet, de forma a possibilitar a coleta


adequada de dados para subsídio à análise;

- diversidade de estágios de maturidade da indústria, para fornecer um espectro


variado de quadros regulatórios; e

- histórico de envolvimento de profissionais desses países nos fóruns técnicos


de discussão sobre a questão ambiental ligada às pesquisas sísmicas
marítimas, como indicativo de que existe ou existiu significativa preocupação
da sociedade com os efeitos da tecnologia no meio ambiente.

Assim, não foram estudados países com sistemas de avaliação muito


semelhantes entre si ou com sistemas regulatórios notoriamente deficientes, uma vez
que o objetivo da análise é fornecer subsídios para discussão de melhorias para o
quadro regulatório brasileiro.

4.1. Estados Unidos da América

Os Estados Unidos são o terceiro maior país do mundo em extensão territorial


(9.629.091 km2), atrás apenas de Rússia e Canadá. É uma república federativa com
50 estados constituintes, 48 dos quais localizados em uma faixa contínua que vai do
Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, limitada ao norte pelo Canadá e ao sul pelo
México (Figura 45). Os dois estados não-contíguos são o Alasca, no extremo noroeste
do continente e o Havaí, um arquipélago no Oceano Pacífico.

140
Figura 45: Localização e divisão política dos Estados Unidos da América. Fonte:
www.nationalatlas.gov

Os EUA possuem a maior economia do mundo, com um PIB estimado em mais


de 13 trilhões de dólares 21 . É o terceiro maior produtor de óleo no mundo, com 8% do
total produzido e o segundo maior produtor de gás natural, com 19% do montante
total. No entanto, é o maior consumidor mundial, queimando quase 24,5% de todo
petróleo produzido no planeta, em dados de 2005 (BP, 2006).

A produção marítima dos Estados Unidos corresponde a cerca de 25% e 15%


do total de óleo e gás natural produzidos no país, respectivamente. A indústria
offshore está concentrada principalmente no Golfo do México, onde existe mais de
174.000 km2 sob concessão, o que corresponde a 98,4% das áreas marítimas licitadas
nos EUA 22 .

O ambiente regulatório nos Estados Unidos caracteriza-se pela pouca


interferência do Estado nos setores econômicos, deixando que as leis de mercado
ordenem as atividades produtivas. Os procedimentos regulatórios tendem a ser

21
Estimativa do FMI - Fundo Monetário Internacional para 2006: US$ 13.262.074.000. Fonte:
www.imf.org
22
Dados de 2006, disponíveis no site do Minerals Management Service – www.mms.gov

141
extremamente prescritivos e há pouco espaço para colaboração ou negociação entre
os reguladores e a indústria (GCA, 2003).

4.1.1. Contexto Institucional e Regulatório

Os Estados Unidos são tidos como os pioneiros na elaboração de uma Política


Nacional do Meio Ambiente – National Environmental Policy Act – NEPA, a qual foi
aprovada pelo Congresso norte-americano em 1969 e entrou em vigor no dia 1º de
janeiro de 1970. A NEPA passou à história como a primeira formalização do processo
de avaliação dos impactos ambientais de decisões que possam acarretar
conseqüências negativas sobre o meio ambiente (Sánchez, 2006).

Em 1978, o Conselho de Qualidade Ambiental (CEQ – Council on


Environmental Quality) regulamentou os aspectos procedimentais da implementação
da NEPA. Essa regulamentação é encontrada no Código de Normas Federais (CFR -
Code of Federal Regulations), que congrega as regulamentações administrativas
federais americanas, nos itens 40 CFR 1500-1508.

Nos Estados Unidos as agências governamentais federais (autarquias,


serviços, divisões, etc.) são as instituições obrigadas a empreender a avaliação
ambiental das suas ações ou daquelas que dependam de sua autorização ou recebam
seu financiamento. No caso das pesquisas sísmicas marítimas, a agência federal
responsável por emitir as autorizações para os levantamentos é o Minerals
Management Service 23 - MMS, subordinado ao Department of the Interior 24 . Essa
atribuição é definida na Outer Continental Shelf Lands Act 25 de 1953 e posteriormente
regulamentada no Código de Normas Federais, especificamente nas normas 30 CFR
250 (levantamentos em áreas de concessão) e 30 CFR 251 (levantamentos
exploratórios não-exclusivos).

Existem, portanto, duas formas de conduzir levantamentos nos Estados


Unidos. Pesquisas sísmicas em áreas já licitadas são previamente autorizadas através
do contrato de concessão com o MMS e devem seguir normas editadas sob a forma
de Notices to Lessees and Operators (NTL). Por outro lado, pesquisas exploratórias
em áreas ainda não licitadas necessitam da obtenção de autorização (permit) do
referente escritório regional do MMS e seguem as diretrizes das Letters to Permitees.

23
Serviço de Gerenciamento de Minerais
24
Departamento do Interior, instância do poder executivo equivalente ao ministério brasileiro.
25
Lei da Plataforma Continental Externa, aquela situada a partir de 3 milhas da linha de costa,
de responsabilidade federal.

142
Buscando melhor desempenhar suas funções de gestão das reservas de
petróleo e gás natural existentes na plataforma continental dos EUA (OCS – Outer
Continental Shelf), o MMS subdividiu a OCS em três regiões: Golfo do México,
Pacífico e Alasca. O escritório regional do MMS em cada região é responsável por
regular a exploração petrolífera na sua jurisdição, incluindo a realização de licitações
de blocos exploratórios e emissão de autorizações para pesquisas geofísicas. A Figura
46 representa a divisão da plataforma continental dos EUA nas áreas geográficas de
planejamento, com destaque para as áreas em avaliação para o próximo programa de
licitações de 5 anos.

Figura 46: Divisão da plataforma continental dos Estados Unidos em áreas de planejamento,
com destaque para as áreas em avaliação para o programa de licitações 2007-2012.
(Adaptado de MMS, 2006a)

Apesar da extensa plataforma continental, os EUA possuem hoje a exploração


marítima de petróleo e gás concentrada nas Regiões do Golfo do México e Alasca,
devido à extensa moratória decretada progressivamente a partir de 1982. Devido a
atos presidenciais e congressionais, renovados anualmente, a plataforma das costas
leste e oeste dos Estados Unidos e a parte leste do Golfo do México estão fora do
planejamento dos programas de licitação até 2012. Os blocos licitados anteriormente
nessas áreas permanecem ativos e em plena produção, mas novas ofertas estão

143
atualmente vetadas (MMS, 2006a e NACA/IOGCC, 2006). Assim, esta análise será
focada apenas nas Regiões do Golfo do México e Alasca.

4.1.2. Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas Marítimas

Nos Estados Unidos, a NEPA e sua regulamentação estabeleceram que as


ações federais podem ser abordadas em três níveis de avaliação ambiental (Figura
47). Aquelas ações com presumível impacto ambiental significativo associado estão
sujeitas à elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental (EIS – Environmental
Impact Statement) completo, no qual são discutidos os impactos ambientais da
atividade, as alternativas locacionais e tecnológicas e as medidas mitigadoras
adequadas.

Em caso de dúvida sobre o potencial de impacto de determinada ação, pode


ser elaborado uma Avaliação Ambiental (EA – Environmental Assessment) para
auxiliar a definição do rito adequado. A Avaliação Ambiental pode confirmar que a
atividade é potencialmente causadora de impactos ambientais significativos e conduzir
à elaboração de um EIS, ou concluir pela ausência desses impactos significativos e
levar à confecção de um FONSI – Finding Of No Significant Impact 26 , que encerra a
avaliação no âmbito da NEPA.

Caso não haja dúvidas sobre o baixo potencial de impacto ambiental de


determinada classe de ações, a tipologia pode ser classificada como Exclusão
Categórica (CE – Categorical Exclusion) e ser dispensada da avaliação ambiental
caso-a-caso. Porém, eventualmente, projetos específicos de uma tipologia à qual foi
atribuída a Exclusão Categórica podem apresentar alto potencial de impacto
ambiental, a depender da tecnologia, da localização e da vulnerabilidade do
ecossistema a ser afetado, constituindo uma exceção à Exclusão Categórica. Para
assegurar que determinada ação específica não representa uma exceção à Exclusão
Categórica, a agência federal responsável realiza uma análise expedita de cada
projeto a ser autorizado, em um processo denominado CER – Categorical Exclusion
Review. Caso o projeto não atenda aos critérios de exclusão, deve ser encaminhado
ao nível seguinte de avaliação (EA - Environmental Assessment).

26
Pode ser traduzido como “Declaração de ausência de impacto significativo”.

144
Figura 47: Representação esquemática do processo de avaliação ambiental introduzido pela
NEPA - National Environmental Policy Act nos Estados Unidos. Fonte: Adaptado de Sánchez,
2006.

4.1.2.1. Golfo do México

Em 1984, o MMS elaborou uma PEA - Programmatic Environmental


Assessment 27 sobre as atividades de G&G (Geologia e Geofísica) na plataforma
continental do Golfo do México, cuja conclusão apontava para a ausência de impactos
ambientais significativos associados a essas tecnologias. Com base nessa avaliação
de escopo amplo, o MMS determinou o enquadramento das pesquisas sísmicas como
Exclusão Categórica em toda plataforma continental dos Estados Unidos (Lang, 2000;

27
Avaliação Ambiental Programática. É uma aplicação dos conceitos de avaliação de impacto
ambiental a um conjunto de projetos com similaridades geográficas e/ou tecnológicas,
permitindo uma melhor avaliação de impactos sinergéticos e cumulativos. É uma forma de
Avaliação Ambiental Estratégica aplicada a programas (Partidário, 2003).

145
MMS, 2004). Assim, praticamente todas as pesquisas sísmicas marítimas realizadas
desde então nos EUA foram dispensadas de quaisquer avaliações ambientais
adicionais.

Quase vinte anos depois, o MMS entendeu que a evolução da tecnologia


justificava a reavaliação das conclusões do PEA de 1984 e conduziu uma nova
Avaliação Ambiental Programática. O novo estudo foi concluído em julho de 2004 e
publicado sob o n° de registro MMS 2004-054. O documento concluiu que as
atividades analisadas - exploração mineral com métodos geológicos e geofísicos na
plataforma continental do Golfo do México - não devem gerar impactos adversos
significativos no meio ambiente em questão, desde que seguidas as medidas
mitigadoras estipuladas na Notice to Lessees n° 2004-G01 (substituída em fevereiro
de 2007 pela NTL nº 2007-G02).

Como conseqüência dessa conclusão, o MMS emitiu um FONSI – Finding Of


No Significant Impact, que confirmou, com base na avaliação ambiental realizada, que
a autorização das atividades em questão não depende da elaboração de Estudo de
Impacto Ambiental (EIS – Environmental Impact Statement). Desta forma, não houve
motivo para a revisão do enquadramento das pesquisas sísmicas enquanto Exclusão
Categórica, bastando a redação de um Categorical Exclusion Review pelo Supervisor
Regional do MMS para confirmar que o projeto em questão não constitui uma exceção
aos critérios de exclusão. Tal entendimento foi consolidado na versão 2004 do Manual
do Departamento 28 do Interior, que aponta as atividades de pesquisa geofísica como
Exclusões Categóricas (516 DM 15.4 – parte 516, capítulo 15, item 4).

Ocorre que nessas mesmas regulamentações internas do Departamento do


Interior são definidos diversos gatilhos (triggers) que caracterizam exceções à
Exclusão Categórica e dão ensejo à elaboração de EAs para a implementação de
ações categoricamente excluídas. Dentre outros gatilhos, constituem exceções as
ações que:

- Possuam efeitos ambientais altamente controversos;

- Possuam efeitos ambientais altamente incertos e potencialmente significativos


ou envolvem riscos ambientais raros ou desconhecidos;

- Estejam relacionadas com outras ações com efeitos ambientais


individualmente insignificantes, mas cumulativamente significantes;

28
Em inglês, Department Manual.

146
- Afetem adversamente espécies ou habitats preferenciais de espécies listadas
ou propostas para inclusão na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção;

- Possam representar uma violação de leis ou regulamentos federais,


estaduais, ou locais de proteção ao meio ambiente.

Nesse contexto, o PEA de 2004 apontou a necessidade eventual de


atendimento à Marine Mammals Protection Act - MMPA 29 . Em linhas gerais, essa lei
estipula controles para a realização de atividades que possam afetar adversamente
indivíduos ou populações de mamíferos marinhos.

Um dos controles estipulados pela MMPA é a exigência de uma autorização


específica para realizar atividades potencialmente impactantes. No caso das
pesquisas sísmicas, a principal autorização eventualmente exigida é a IHA – Incidental
Harassment Authorization 30 , que permite ao portador realizar atividades que possam
interferir com um pequeno número de mamíferos marinhos, sem provocar um impacto
biologicamente significativo. A IHA relaciona medidas adicionais para mitigação dos
possíveis impactos da atividade sobre os animais em questão.

No caso das pesquisas sísmicas, os principais órgãos responsáveis por emitir


as IHA são o NOAA-Fisheries (antigo NMFS – National Marine Fisheries Service), no
caso de ameaça a cetáceos, e o FWS – Fish and Wildlife Service para os demais
mamíferos marinhos. O processo de emissão da Incidental Harassment Authorization
é independente da autorização do MMS (embora condicionante da validade desta) e,
segundo instruções do site da NOAA Fisheries 31 , o requerimento demora de 2 a 6
meses para ser avaliado, contando com um período de 30 dias de consulta pública.

Desta forma, por força da regulamentação da NEPA, o MMS não pode


autorizar uma pesquisa sísmica que represente ameaça de interferência com
mamíferos marinhos (e necessite uma Incidental Harassment Authorization) pelo
processo simplificado de Categorical Exclusion Review, devendo elaborar ao menos
uma Environmental Assessment.

Como a Avaliação Ambiental Programática de 2004 admitiu que a pesquisa


sísmica pudesse interferir negativamente com algumas espécies de mamíferos
marinhos, a depender da localização, o MMS passou a elaborar EAs específicos para

29
Lei de Proteção dos Mamíferos Marinhos.
30
Autorização para Assédio Incidental. “Assédio” (Harassment) é legalmente definido como ato
de perseguir, atormentar ou incomodar um mamífero marinho (ou sua população) que possa
causar lesões físicas ou perturbação de padrões comportamentais biologicamente importantes.
Já “incidental” é o assédio não-intencional, porém não-inesperado.
31
http://www.nmfs.noaa.gov/pr/permits/incidental.htm

147
a maioria das pesquisas no Golfo do México desde então (Geofísico Ronald Brinkman,
MMS Golfo do México, comunicação pessoal, 2007). Na realidade, os EAs elaborados
para as operações no Golfo do México são documentos bastante enxutos e objetivos
(em geral, menos de 50 páginas), por fazer referência sistemática à Avaliação
Ambiental Programática de 2004. Na realidade, o CEQ recomenda que os EAs
possuam entre 10 e 15 páginas 32 .

Hoje em dia, a autorização de pesquisas sísmicas continua sendo feita com


base em Categorical Exclusion Reviews apenas nas águas com profundidades
inferiores a 200 metros nas áreas oeste e central do Golfo do México. Este
procedimento contrasta com os critérios adotados no Brasil, onde, em linhas gerais,
quanto mais rasa é a área de aquisição, maior o rigor no processo de licenciamento.

Weir e Dolman (2007) criticam a regulamentação das medidas mitigadoras no


Golfo do México por excluir a maior parte das águas rasas (< 200 m) dos requisitos de
mitigação (NTL n°2007-G02). Assim, nas águas rasas das regiões central e oeste do
Golfo do México, não são exigidas as medidas mitigadoras típicas, como soft-start,
zona de segurança (500 m) e Observadores de Biota.

Recentemente o MMS iniciou um processo de revisão do enquadramento das


pesquisas sísmicas enquanto Exclusão Categórica (Judy Wilson, chefe da Unidade de
Adequação Ambiental 33 do MMS Golfo do México, comunicação pessoal, 2007). A
questão encontra-se atualmente em deliberação interna no MMS e ainda será objeto
de consulta pública antes da decisão final.

O nível de atividade da indústria de pesquisa sísmica no Golfo do México é e


tem sido por algum tempo, o maior do mundo (Jasny, 2005). Na Figura 48 é possível
observar a intensa cobertura do Golfo do México com pesquisas sísmicas 3D
autorizadas pelo MMS entre os anos de 1993 e 2001. Observa-se também incremento
da exploração em águas mais profundas a partir do final da década de 1990. A Tabela
3 sintetiza o número de autorizações para levantamentos sísmicos no Golfo do México
entre 2003 e 2006, revelando um mercado fortemente aquecido devido,
principalmente, ao alto preço do petróleo nos últimos anos.

32
CEQ NEPA’s 40 Most Asked Questions - http://ceq.eh.doe.gov/nepa/regs/40/40p3.htm
33
Em inglês, Environmental Compliance Unit.

148
Figura 48: As imagens representam as pesquisas sísmicas 3D autorizadas pelo MMS entre
1993 e 2001, sendo a) 1993-1995 (169 autorizações); b) 1996-1998 (180 autorizações); c)
1999-2001 (106 autorizações); e d) 1993-2001 (total de 455 autorizações). (Figuras adaptadas
de MMS, 2004 e dados quantitativos obtidos em MMS, 2005).

Tabela 3: Dados recentes sobre o número de pesquisas sísmicas autorizadas pelo MMS no
Golfo do México (Geofísico Ronald Brinkman, MMS Golfo do México, comunicação pessoal,
2007). Não estão representadas as pesquisas realizadas no âmbito de Contratos de
Concessão.

Ano N° de autorizações do MMS

2003 99

2004 90

2005 92

2006 83

4.1.2.2. Alasca

Um cenário diferente caracteriza a exploração geofísica da região do Alasca


(Figura 49). Historicamente, houve um pico da atividade de pesquisa sísmica nos anos
1980 utilizando a metodologia 2D, mas desde então o interesse na região por parte da
indústria do petróleo veio declinando. Segundo dados disponíveis no site do MMS –
Região do Alasca (www.mms.gov/alaska), entre os anos de 2000 e 2005 apenas 5
pesquisas sísmicas foram autorizadas na área. Ressalta-se que a indústria geofísica
só consegue operar nestes locais entre os meses de junho a novembro (Mar de

149
Chukchi) e julho a outubro (Mar de Beaufort), pois nos demais meses o Oceano Ártico
apresenta congelamento superficial, impossibilitando o trânsito dos arranjos sísmicos.

Figura 49: Áreas de planejamento para exploração petrolífera na Região do Alasca.


Atualmente, só existem contratos de concessão ativos no Mar de Beaufort e na Área de Cook
Inlet, estando previstas licitações no Mar de Chukchi e na Bacia de North Aleutian no programa
de 2007-2012. Fonte: www.mms.gov/alaska e MMS, 2006a.

No entanto, em 2006 houve um súbito aumento do interesse exploratório na


Plataforma Continental do Alasca, o que levou o MMS a preparar uma Avaliação
Ambiental Programática para subsidiar a autorização das operações previstas para o
ano de 2006 (MMS, 2006b). No apêndice D do documento, onde são apresentados os
questionamentos recebidos na fase de consulta pública do processo, o MMS esclarece
que, mesmo sendo a tipologia classificada como uma Exclusão Categórica, existe uma
proposta de alteração desse enquadramento tramitando no órgão. Dessa forma, o
MMS entendeu ser prudente optar pela elaboração da Avaliação Ambiental
Programática para garantir o atendimento à NEPA.

Essa Avaliação Ambiental Programática (MMS 2006-038, finalizada em junho


de 2006) contemplou as pesquisas sísmicas previstas para o ano de 2006 nas águas
dos Mares de Chukchi e Beaufort, no Oceano Ártico. A avaliação foi conduzida pelo
escritório regional do MMS no Alasca e contemplou um cenário de 4 operações de
sísmica em cada um dos mares, totalizando 8 pesquisas para o ano de 2006.

150
Essa avaliação também resultou na publicação de um FONSI – Finding Of No
Significant Impact, o qual descreve as medidas mitigadoras a serem adotadas para
assegurar que o prognóstico de ausência de impactos significativos seja verdadeiro.

Com base nessa Avaliação Ambiental Programática, o MMS Alasca autorizou a


realização de 4 pesquisas sísmicas no ano de 2006, 3 no Mar de Chukchi e 1 no Mar
de Beaufort. No entanto, a projeção realizada pelo MMS no estudo de 2006 estima
que serão executadas entre 5 e 7 pesquisas sísmicas anualmente até o ano de 2010
nos Mares de Chukchi e Beaufort (MMS, 2006b).

Assim como no Golfo do México, as pesquisas sísmicas no Alasca têm sido


autorizadas com base na elaboração de Environmental Assessments específicos para
cada operação. Embora as pesquisas sísmicas continuem até o momento listadas
como Exclusão Categórica, operações nos Mares de Chukchi e Beaufort representam
um possibilidade muito grande de interferência com mamíferos marinhos, protegidos
pela Marine Mammals Protection Act - MMPA. Essa possibilidade de interferência e
conseqüente violação da MMPA dispara um dos gatilhos de exceção à Exclusão
Categórica e exige a elaboração de um Environmental Assessment para atendimento
à NEPA. Da mesma forma, é requerida a obtenção de Incidental Harassment
Authorizations – IHA junto ao NOAA-Fisheries e ao FWS - Fish and Wildlife Service
para validação das autorizações do MMS para operações na região norte do Alasca.

Neste momento, o MMS está elaborando juntamente com o NOAA-Fisheries


um Estudo de Impacto Ambiental Programático (Programmatic Environmental Impact
Statement – PEIS) para avaliar as pesquisas sísmicas na região do Ártico. O estudo é
propositalmente mais aprofundado que a Avaliação Ambiental Programática realizada
para o ano de 2006, de forma a cobrir um período maior de tempo e garantir maior
segurança jurídica às autorizações individuais a serem concedidas no futuro (MMS e
NOAA-Fisheries, 2007). Em fevereiro de 2007, a versão preliminar do PEIS foi
disponibilizada para consulta pública durante um período de 3 meses 34 , durante o qual
serão realizadas 6 audiências públicas para discussão do documento.

A aprovação final do PEIS, prevista para agosto de 2007, deverá tornar o


processo de autorização caso-a-caso mais simplificado e ágil na região do Alasca.
Estima-se que será possível emitir autorizações em um prazo de 2 semanas. No
entanto, como a exigência de obtenção de IHA para mamíferos marinhos será
mantida, este será o caminho crítico no processo, podendo levar até 6 meses para
conclusão (Pete Sloan, MMS Alaska, comunicação pessoal, 2007).

34
Mais informações em www.mms.gov/alaska/ref/EIS%20EA/draft_arctic_peis/draft_peis.htm

151
Cummings e Brandon (2004) avaliaram à época que existiria uma diferença
significativa entre o nível de exigência adotado pelo MMS para autorizar pesquisas
sísmicas no Golfo do México e na região do Alasca, sendo muito mais restritivo nesta
última. No entanto, a partir das informações levantadas nesta pesquisa de dissertação
foi possível perceber que o MMS tem modificado seus procedimentos nos últimos
anos para fazer frente a esse tipo de crítica, sem desconsiderar as diferenças
fundamentais entre os ecossistemas das duas regiões. No Alasca, por exemplo, é
preciso mediar o conflito entre as pesquisas sísmicas e a caça de subsistência de
baleias por comunidades tradicionais, problemática inexistente no Golfo do México.

Por outro lado, há uma forte crítica da indústria à complexidade do processo


autorizativo no Alasca, que inclui consultas públicas em diversas etapas e seria
demasiadamente extenso – desestimulando o desenvolvimento da indústria (CRS e
McInnes Cooper, 2003).

Uma outra crítica importante foi formalizada pelo próprio Conselho de


Qualidade Ambiental (CEQ – Council on Environmental Quality) quando da avaliação
da efetividade de 25 anos de implementação da NEPA. O CEQ avaliou como
significativa a tendência de utilização de “FONSIs Mitigados 35 ”, ou seja, durante o
processo de elaboração de EAs (Environmental Assessments) são identificados
impactos significativos – o que deveria levar à elaboração de EIS (Environmental
Impact Statements). No entanto, a prática cada vez mais comum é a agência federal
elaborar um FONSI contendo medidas mitigadoras para evitar a ocorrência do impacto
significativo. A preocupação do CEQ é que a proliferação de “FONSIs Mitigados”
proporcione a tomada de decisões com o suporte de uma revisão científica menos
rigorosa, com pouca ou nenhuma participação do público e com a consideração de
menos alternativas (CEQ, 1997). É o que parece acontecer com a avaliação ambiental
das pesquisas sísmicas marítimas nos Estados Unidos.

35
No original, Mitigated FONSI – Finding Of No Significant Impact.

152
4.2. Canadá

O Canadá é o segundo maior país do mundo em extensão territorial (9.970.610


km2), ficando apenas atrás da Rússia. O país é, na realidade, uma Federação que
congrega 10 províncias, com alto grau de autonomia política, e 3 territórios, com
poderes restritos delegados diretamente pelo governo federal (Figura 50). Os
territórios – Yukon, Northwest Territories e Nunavut – ficam completamente acima da
latitude de 60° norte, ou seja, em áreas próximas ou dentro do círculo ártico – e por
isso possuem baixíssima densidade demográfica. De fato, 75% da população
canadense está concentrada em uma faixa de 150 km de distância da fronteira com os
Estados Unidos, ao sul do país (Hillmer, 2005).

A indústria petrolífera possui presença expressiva no Canadá, tornando-o o 3°


maior produtor de gás natural e o 8° maior produtor de óleo cru do mundo (CAPP,
2006a). A produção de petróleo no Canadá é composta por uma sólida e próspera
indústria terrestre (onshore), concentrada na província de Alberta, e uma incipiente
indústria marítima (offshore), na costa leste e na costa noroeste do Canadá - Mar de
Beaufort (LIMA, 2002 e CAPP, 2006b).

153
Figura 50: Localização e divisão política do Canadá, representando as províncias ao sul e os
territórios ao norte. Fonte: www.wikipedia.com

A exploração marítima na costa oeste – Província de British Columbia –


encontra-se paralisada por conta de uma moratória estabelecida em 1989, após o
desastre com o petroleiro Exxon Valdez. A abertura da costa oeste está em franco
debate atualmente, tendo o governo provincial solicitado a revisão da proibição ao
governo federal (NACA/IOGCC, 2006).

Também sob moratória para a indústria do petróleo encontra-se a região de


Georges Bank, na costa da província de Nova Scotia, na fronteira marítima com os
Estados Unidos. A moratória de Georges Bank está definida simultaneamente pelos
dois países até o ano de 2012 (NACA/IOGCC, ibidem).

Essas proibições reduzem a experiência offshore atual no Canadá às áreas


marítimas da Nova Scotia, Newfoundland e Labrador (costa Atlântica) e ao Mar de
Beaufort (Yukon/Northwest Territories). Conseqüentemente, este item abordará o
processo de avaliação ambiental nessas jurisdições apenas.

154
4.2.1. Contexto Institucional e Regulatório

A regulação da exploração petrolífera marítima é de competência federal no


Canadá, segundo estabelece a Canada Petroleum Resources Act 36 . No entanto, essa
competência federal foi compartilhada com algumas províncias através da elaboração
e posterior regulamentação de Acordos de Gestão. Existem dois acordos em vigor
atualmente: Canada – Newfoundland & Labrador 37 (1985) e Canada – Nova Scotia 38
(1986).

Para regular a exploração petrolífera nas áreas cobertas por Acordos de


Gestão foram criadas Agências Independentes Conjuntas, comuns aos governos
federal e provincial. Hoje, funcionam duas agências com esse perfil: o C-NLOPB –
Canada – Newfoundland and Labrador Offshore Petroleum Board e o C-NSOPB –
Canada – Nova Scotia Offshore Petroleum Board.

Nas áreas não-cobertas por Acordos de Gestão, a regulação da indústria do


petróleo é realizada pelo National Energy Board 39 , entidade responsável por emitir
autorizações para pesquisas sísmicas, perfuração de poços e outras atividades. Já a
concessão de direitos de exploração (oferta de áreas) é realizada pelo Department of
Indian Affairs and Northern Development 40 (DIAND) nas bacias da costa norte e pelo
Natural Resources Canada 41 (NRC) nas demais áreas marítimas.

36
Lei Canadense dos Recursos Petrolíferos, 1985.
37
Canada – Newfoundland Atlantic Accord.
38
Canada – Nova Scotia Petroleum Resources Accord.
39
Conselho Nacional de Energia.
40
Departamento dos Assuntos Indígenas e Desenvolvimento do Norte, Ministério.
41
Recursos Naturais do Canadá, Ministério.

155
Figura 51: Divisão da competência federal para a regulação do setor petrolífero offshore no
Canadá. Em amarelo, as áreas não-cobertas por Acordos de Gestão. Em branco, a área do
Acordo Canadá-Newfoundland e Labrador. Em cinza escuro, área do Acordo Canadá-Nova
Scotia. Fonte: www.neb.gc.ca

4.2.2. Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas Marítimas

No Canadá, a lei federal de avaliação ambiental – Canada Environmental


Assessment Act (CEA Act) – de 1992, revista em 2003, determina a condução de um
processo de avaliação de impactos ambientais para projetos sobre os quais o governo
federal canadense atua como instância decisória, seja como proponente, como
autoridade reguladora ou como entidade financiadora.

A lei estabelece que esse processo de avaliação ambiental pode se dar de dois
modos: auto-avaliação ou avaliação independente. As avaliações independentes,
divididas em Mediação e Revisão por Comissão Independente 42 , são utilizadas
raramente e dedicam-se à avaliação de projetos altamente controversos ou de
presumível impacto ambiental significativo. Os avaliadores independentes são
especialistas selecionados pelo Ministro do Meio Ambiente que, ao final de um
processo que inclui diversas formas de participação pública, preparam um relatório
aconselhando a decisão do Ministério.

Já as auto-avaliações são conduzidas pela autoridade federal competente ou


podem ser delegadas aos proponentes dos projetos. Elas dividem-se em dois níveis
de avaliação: Avaliação Preliminar (Screening) e Avaliação Detalhada (Comprehensive
Study).

42
No original, Mediation e Review Panel, respectivamente.

156
Figura 52: Esquema representando os diferentes níveis de avaliação ambiental previstos no
CEA Act. Fonte: Baseado em CEAA, 2003.

As Avaliações Preliminares respondem por cerca de 99% das avaliações


realizadas no âmbito da CEA Act 43 . Há a elaboração de um Estudo Ambiental
(Environmental Assessment) e o processo culmina com a elaboração de um Screening
Report 44 que fornece subsídios à tomada de decisão da autoridade federal. Caso o
subsídio não seja suficiente ou haja relevante controvérsia sobre as conseqüências do
projeto, a autoridade federal pode encaminhar o processo para avaliação
independente, a ser viabilizada pelo Ministério do Meio Ambiente.

A CEA Act prevê a existência de um tipo especial de Screening: o Class


Screening. Esse processo analisa uma tipologia de projetos cujos impactos ambientais
já são adequadamente conhecidos e os requisitos de mitigação já foram estabelecidos
com sucesso. O Class Screening geralmente é conduzido para atividades com longo
histórico de aplicação da avaliação ambiental com resultados satisfatórios. O relatório
resultante de um processo de Class Screening pode ser utilizado de duas formas:
Modelo ou Substituto. No primeiro caso, a agência responsável declara que projetos
futuros poderão basear-se nas conclusões e medidas mitigadoras já descritas no
Modelo, precisando apenas fornecer informações específicas do local e do projeto
para concluir uma Avaliação Preliminar (Screening). Já quando a agência federal
responsável declara que o processo é do tipo Substituto (Replacement Class
Screening), projetos futuros que estejam contemplados no escopo da avaliação
realizada estão isentos de avaliações adicionais.

43
Informação obtida no site da Canada Environmental Assessment Agency, que é a agência
responsável pela supervisão da implementação do CEA Act – www.ceaa-acee.gc.ca
44
Documento equivalente ao Parecer Técnico Final, no Brasil.

157
A Avaliação Detalhada (Comprehensive Study) é aplicada a grandes projetos
envolvendo riscos ambientais significativos e requer a elaboração de um Estudo de
Impacto Ambiental completo. No início do processo, o Ministro do Meio Ambiente
emite uma decisão sobre se o projeto deve continuar a ser avaliado no nível de
Comprehensive Study ou se deve ser encaminhado para Avaliação Independente. A
regulamentação da CEA Act inclui uma lista dos projetos que devem,
necessariamente, ser objeto de Avaliação Detalhada (Comprehensive Study List
Regulations).

Além da lista de projetos sujeitos à Avaliação Detalhada, existem outras três


listas de suporte à aplicação da CEA Act:

- Inclusion List Regulations: lista de atividades sujeitas necessariamente à


avaliação ambiental – Lista de Inclusão;

- Exclusion List Regulations: lista de atividades ou projetos isentos de avaliação


ambiental – Lista de Exclusão; e

- Law List Regulations: lista de licenças e autorizações administrativas cuja


concessão deve ser objeto de avaliação ambiental.

No caso das pesquisas sísmicas marítimas, antes de iniciar a operação o


empreendedor precisa obter a autorização do órgão competente – C-NSOPB, C-
NLOPB ou NEB – a depender da área de localização da pesquisa (ver Figura 51).
Pesquisas sísmicas marítimas estão expressamente citadas na Inclusion List
Regulations (item 19.1.a) e, portanto, estão sujeitas à avaliação ambiental prevista na
CEA Act.

Por outro lado, a Law List Regulations especifica que as autorizações para
realização de Pesquisas Sísmicas Marítimas não podem ser concedidas sem a
avaliação ambiental de suas conseqüências nos termos da CEA Act (itens 1.1, 1.2 e
2). Essa especificação é o gatilho que deflagra o processo de avaliação ambiental das
Pesquisas Sísmicas Marítimas no Canadá.

Como a atividade não consta nem da Comprehensive Study List Regulations e


nem da Exclusion List Regulations, as Pesquisas Sísmicas Marítimas são avaliadas no
nível de Avaliação Preliminar (Screening), como a grande maioria dos projetos no
Canadá. Tradicionalmente, as agências federais responsáveis (C-NSOPB, C-NLOPB
ou NEB) delegam a tarefa de elaboração do Estudo Ambiental 45 para o proponente,
conforme procedimento permitido no item 17 da CEA Act.

45
Environmental Assessment.

158
Cabe às agências reguladoras o papel de definir o escopo do estudo (scoping),
identificar as demais agências governamentais interessadas no processo,
46
disponibilizar informações sobre o projeto na Internet para consulta pública , revisar o
Estudo Ambiental e preparar o Screening Report, contendo a conclusão sobre a
significância dos impactos ambientais da atividade proposta e a definição das medidas
mitigadoras adequadas. Se a Agência julgar que os efeitos ambientais foram
adequadamente avaliados, que as medidas mitigadoras propostas são compatíveis
com a manutenção da qualidade ambiental existente e que o processo de consulta às
partes interessadas foi satisfatório, então ela pode prosseguir e autorizar a execução
da atividade.

Para iniciar o processo de autorização, é necessário que o empreendedor


obtenha a Licença de Operação. Nesse caso, a Operating License é simplesmente
uma espécie de cadastro que permite à empresa trabalhar nas áreas offshore do
Canadá. Mediante o pagamento de uma taxa de 25 dólares canadenses ao Tesouro
Nacional, a empresa obtém a Licença de Operação válida até o próximo dia 31 de
março.

Além da Licença de Operação, a agência federal responsável exige a


apresentação de uma série de documentos para subsidiar a tomada de decisão
relativa à autorização da pesquisa sísmica marítima. Embora existam pequenas
variações entre as jurisdições citadas, o pacote de informações a ser encaminhado à
autoridade competente é composto geralmente por:

- Descrição do Projeto: inclui especificações técnicas, mapas, e o


formulário de requerimento da autorização;

- Plano de Segurança da Operação: inclui a apresentação de um Plano


de Ação de Emergência.

- Plano de Benefícios: as empresas devem detalhar sua política de


contratação de serviços e pessoal, assegurando oportunidades justas para empresas
e residentes locais na obtenção desses benefícios. Deve ser dada prioridade à
contratação local e justificada a utilização de mão-de-obra estrangeira.

- Estudo Ambiental: é o documento utilizado para avaliação ambiental ao


nível de Screening, previsto na CEA Act. Além da discussão dos impactos da atividade

46
A CEA Act criou o Registro Canadense de Avaliação Ambiental (http://www.ceaa-
acee.gc.ca/050/index_e.cfm), onde são obrigatoriamente mantidas informações sobre o
andamento dos processos de avaliação ambiental em nível federal.

159
no ambiente marinho, o Estudo deve apresentar as consultas realizadas às partes
interessadas e discutir os aspectos relevantes que porventura tenham sido levantados.

- Prova de Responsabilidade Financeira: a empresa deve fornecer


garantias de solidez financeira, seja por meio de relatórios contábeis auditados,
contratos de seguro, ou outro mecanismo adequado.

As regulamentações relativas aos prazos para obtenção da autorização citam a


antecedência mínima de 30 dias para a submissão da documentação à agência
federal responsável. No entanto, é evidente que a revisão ambiental no âmbito da CEA
Act é o caminho crítico do processo, pois exige a coordenação da consulta a diversos
órgãos federais. Uma análise dos documentos disponíveis no Registro Canadense de
Avaliação Ambiental relativos a pesquisas sísmicas 2D/3D revela que o tempo
necessário para conclusão do processo tem variado recentemente de 6 meses a mais
de 18 meses, dependendo do projeto.

Dentre as instituições consultadas no processo de avaliação ambiental de


pesquisas sísmicas marítimas no Canadá, aquelas que participam substancialmente
da elaboração do escopo e da revisão do estudo ambiental são o DFO – Department
of Fisheries and Oceans 47 e o EC - Environment Canada 48 .

As medidas mitigadoras estipuladas normalmente para pesquisas sísmicas


marítimas foram recentemente sistematizadas no documento Statement of Canadian
Practice on Mitigation of Seismic Noise in the Marine Environment 49 , finalizado no
início de 2005. Esse documento foi elaborado em conjunto pelos Governos do Canadá
e das províncias de Nova Scotia, Newfoundland & Labrador e British Columbia, com
base em uma série de estudos financiados pelo DFO - Department of Fisheries and
Oceans e nos resultados de uma reunião de “aconselhamento científico” 50 realizada
em maio de 2004.

As medidas citadas no documento são aplicáveis a quaisquer pesquisas


sísmicas conduzidas em águas marinhas canadenses e incluem:

- Planejamento prévio da operação para evitar áreas de alimentação,


reprodução ou migração de animais ameaçados de extinção, bem como agregações
reprodutivas de peixes;

47
Departamento da Pesca e dos Oceanos, Ministério.
48
Meio Ambiente do Canadá, Ministério.
49
Em inglês, pode ser traduzido como “Declaração da prática canadense relativa à mitigação
do ruído causado pela atividade de pesquisa sísmica no ambiente marinho”.
50
No original, National Science Advisory Meeting.

160
- Zona de segurança de 500 metros a partir do centro do arranjo sísmico,
determinando o desligamento dos canhões mediante a presença de baleias ou
tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. A presença de golfinhos não requer o
desligamento.

- Aumento gradual da potência do arranjo sísmico (soft start) com


duração de 20 a 40 minutos, durante os quais deve ser observada a zona de
segurança.

- Monitoramento regular da presença de animais na zona de segurança


durante a operação; monitoramento exclusivamente dedicado apenas 30 minutos
antes e durante o soft start.

- Monitoramento Acústico Passivo é encorajado para permitir o início do


soft start em condições de baixa visibilidade em locais com a presença de cetáceos
vocalizadores, exceto golfinhos. Nas demais circunstâncias, o documento sugere a
manutenção da atividade do menor canhão do arranjo durante mudança de linha
sísmica.

No entanto, o Canadian Statement of Practice foi objeto de severas críticas por


parte de pesquisadores na área de bioacústica de cetáceos e de organizações
ambientalistas não-governamentais. Os Drs. Hal Whitehead e Linda Weilgart, da
Universidade de Dalhousie, Canadá, elaboraram uma pesada crítica ao documento e
submeteram-na ao DFO no período de consulta pública do Statement of Canadian
Practice. Essa crítica (Weilgart e Whitehead, 2005) acusa o documento de possuir um
viés pró-indústria, através de uma revisão bibliográfica deficiente. Do mesmo modo,
Fitzgerald (2005), em nome da ONG Ecology Action Centre, também realiza fortes
críticas ao documento, rebatendo a afirmação de que ele teria sido submetido de um
processo de revisão científica independente e defende a adoção de mecanismos mais
incisivos de controle da atividade em um contexto de precaução.

Aliás, o site da Ecology Action Centre (www.ecologyaction.ca) afirma que entre


1990 e 2005 nenhuma companhia de petróleo operando na costa Atlântica do Canadá
sofreu qualquer tipo de penalidade relacionada ao meio ambiente. A ONG questiona,
ironicamente, se é a indústria que possui um comportamento ambientalmente
fantástico ou se as agências reguladoras (C-NSOPB e C-NLOPB) têm uma política
explícita ou implícita de não-punição, e colocam os interesses da indústria acima das
questões ambientais.

De fato, as diretrizes de mitigação detalhadas no Statement of Practice


possuem um caráter muito pouco impositivo, no que refletem uma tendência do

161
Canadá. Existe uma reforma regulatória em curso no âmbito do National Energy
Board, com reflexos óbvios nas políticas das agências independentes, para
transformar a regulação do setor de petróleo em uma regulação goal-oriented 51 , ao
invés do tradicional modelo de regulação prescritiva. Em termos gerais, a regulação
goal-oriented especifica objetivos, mas não os quantifica nem especifica os meios para
atingi-los, enquanto o modelo prescritivo define os meios pelos quais os objetivos
devem ser atingidos (NEB, 2005).

Na realidade, o modelo que está sendo implantado pelo NEB busca uma
“mistura ótima” dos estilos regulatórios, isto é, utilizar os modelos prescritivo ou goal-
oriented onde eles fornecerem os melhores resultados (NEB, 2005).

Além das medidas mitigadoras previstas no Statement of Canadian Practice, os


empreendedores devem implementar outras medidas relacionadas a aspectos
socioeconômicos, como por exemplo, a manutenção de um profissional a bordo
dedicado ao contato com embarcações pesqueiras (FLO – Fisheries Liaison Officer) e
o anúncio da presença do navio por rádio (Notice to Mariners e Notice to Fishers).
Existem ainda diretrizes disciplinando a indenização de pescadores por danos a
petrechos de pesca ocasionados pela indústria petrolífera.

Para promover a cooperação e o diálogo entre os setores do petróleo e o da


pesca, foi criada na província de Newfoundland e Labrador a One Ocean (Um
Oceano), uma organização que une representantes das duas indústrias e funciona
como um fórum neutro para a discussão das estratégias de coexistência no espaço
marítimo 52 .

Outro aspecto relevante da prática canadense é a aplicação do instrumento de


Avaliação Ambiental Estratégica antes da oferta de blocos em determinada área. Em
linhas gerais, as AAEs conduzidas pelo C-NSOPB e pelo C-NLOPB (Tabela 4)
buscam discutir se as áreas são ambientalmente propícias para a exploração
petrolífera e quais regiões podem precisar de medidas específicas de mitigação.
Essas AAEs tipicamente contemplam (Jacques Whitford, 2007):

- Descrição geral da qualidade ambiental da área em questão;

- Discussão sintética sobre os possíveis efeitos das atividades de


exploração e produção de petróleo sobre essa área, incluindo pesquisas sísmicas;

- Identificação de lacunas de conhecimento e informação;

51
Em inglês, pode ser traduzido por “com foco em objetivos”.
52
Mais informações em www.oneocean.ca

162
- Identificação de aspectos ambientais relevantes; e

- Recomendação de medidas de mitigação e planejamento, inclusive para


pesquisas sísmicas.

Tabela 4: Avaliações Ambientais Estratégicas conduzidas até o momento na costa Atlântica do


Canadá. Todos os estudos estão disponíveis nos sites das agências (www.cnlopb.nl.ca e
www.cnsopb.ns.ca).

Data de Agência
Área de abrangência
finalização responsável
Janeiro de 2007 C-NLOPB Sydney Basin Offshore Area
Dezembro de 2005 C-NSOPB Misaine Bank Area
Western Newfoundland & Labrador
Dezembro de 2005 C-NLOPB
Offshore Area
C-NLOPB
Novembro de 2003 Laurentian Subbasin
C-NSOPB
Novembro de 2003 C-NLOPB Orphan Basin
Eastern Sable Bank, Western
Junho de 2003 C-NSOPB Banquereau Bank, the Gully Through
and the Eastern Scotian Slope
Parcels #1-9
Agosto de 2001 C-NSOPB
Call for Bids NS01-1
Parcel # 1 – Western Cape Breton
Abril de 1999 C-NSOPB
Call for Bids NS98-2

A aplicação sistemática do instrumento de Avaliação Ambiental Estratégica não


exime as empresas de realizar avaliações ambientais específicas por projeto, mas
significa a antecipação das considerações de natureza ambiental no processo
decisório que leva à realização de pesquisas sísmicas marítimas. A prática permite,
por exemplo, que áreas de relevante sensibilidade ambiental sejam identificadas pela
agência reguladora, de modo que o empreendedor que pretende explorar naquela
região possa inserir essa variável no seu planejamento. Ou ainda, que determinadas
áreas sejam identificadas como extremamente sensíveis – esse é o caso do Gully, um
importante canal submarino na costa da Nova Scotia. Inicialmente identificado pela
AAE como um componente extremamente valioso do ecossistema regional, ele foi
declarado uma Área Protegida Marinha 53 em 2004 e está atualmente vetado à
exploração petrolífera.

53
MPA – Marine Protected Area. Categoria de proteção estabelecida pela Oceans Act (1996).

163
Em relação à participação pública no processo de avaliação ambiental das
pesquisas sísmicas marítimas, existem dois mecanismos principais: a obrigatoriedade
de consulta às partes interessadas quando da elaboração do Estudo Ambiental e a
disponibilização do Estudo no site da Agência para revisão e comentários (Coady,
2006). O Estudo deve especificar o resultado de todas as consultas realizadas e
detalhar se e como as questões foram incorporadas no documento final.

Audiências públicas podem ser realizadas discricionariamente pelas Agências,


mas não são comuns durante a avaliação de projetos – acontecem com mais
freqüência durante o processo de Avaliação Ambiental Estratégica (CRS e McInnes
Cooper, 2003).

O nível atual de atividade sísmica nas bacias sedimentares marítimas no


Canadá é bastante reduzido quando comparado a outras áreas exploratórias ao redor
do mundo (ver Tabela 5). Como parte da explicação, é importante atentar para as
restrições impostas pelo próprio ambiente no que diz respeito às condições de
congelamento do mar. No Mar de Beaufort, só é possível trabalhar durante 3 a 4
meses por ano. Na costa das províncias de Newfoundland e Labrador, a situação é
semelhante. Já na região da Nova Scotia a situação é melhor, com operações viáveis
durante 6 a 8 meses por ano (PHRC Canada, 2004).

Tabela 5: Síntese do nível de atividade recente da indústria de pesquisa sísmica marítima nas
áreas de Newfoundland & Labrador e Nova Scotia. Fontes: CAPP, 2006c; C-NLOPB
(www.cnlopb.nl.ca); C-NSOPB, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006.

N° de pesquisas em N° de pesquisas na Nova


Ano
Newfoundland e Labrador Scotia

2000 4 6

2001 8 7

2002 4 3

2003 4 4

2004 3 2

2005 4 1

2006 3 0

Embora a parte americana do Mar de Beaufort esteja atravessando um período


de aquecimento da atividade petrolífera, na parte situada em território canadense
foram realizadas apenas duas pesquisas sísmicas desde o ano 2000 (Lori-Ann Sharp,
National Energy Board, comunicação pessoal, 2007).

164
4.3. Noruega

A Noruega é um Estado unitário situado na Península Escandinava, no norte


da Europa. O sistema de governo adotado atualmente caracteriza a Noruega como
uma Monarquia Parlamentar. É um país alongado na direção sudoeste-nordeste, com
cerca de 386.000 km2 de área. Faz fronteira ao leste com a Suécia, ao nordeste com a
Finlândia e no extremo nordeste com a Rússia. A Noruega é banhada ao norte pelo
Mar de Barents, ao oeste pelo Mar da Noruega e ao sul pelo Mar do Norte (Figura 53).

Ao final de 2006, estimava-se que a Noruega possuía pouco mais de 4,6


milhões de habitantes 54 , o que resulta em uma densidade populacional de
aproximadamente 12 hab/km2. Para efeito de comparação, o Estado do Rio de Janeiro
possui área de 43.000 km2, mais de 15 milhões de habitantes e uma densidade
populacional de aproximadamente 329 habitantes por quilômetro quadrado 55 .

Figura 53: Localização e divisão política da Noruega. Fonte: www.wikipedia.com

54
Fonte: Statistics Norway - www.ssb.no/en/
55
Fonte: IBGE, estimativa para 2005. www.ibge.gov.br

165
A Noruega é um país próspero, com a segunda maior renda per capita
mundial 56 e o maior Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do mundo: 0,965
(PNUD, 2006). Sua economia é baseada na exploração de recursos naturais – vivos,
como a indústria pesqueira, e minerais, como a exploração petrolífera e hidroelétrica.
O setor de petróleo tem fundamental importância na economia norueguesa,
respondendo por 25% do Produto Interno Bruto e por 51% do total de exportações, em
dados de 2006. Atualmente, a Noruega é o 10° maior produtor de óleo do mundo e o
5° maior exportador mundial de óleo e gás natural, ficando atrás apenas de Arábia
Saudita, Rússia, Irã e Emirados Árabes Unidos (MPE, 2007). Isto só é possível graças
ao pequeno consumo interno: em 2005, a Noruega produziu quase 3.000.000 barris de
óleo por dia e teve um consumo médio de apenas 213 barris de óleo/dia (BP, 2006).

A exploração de petróleo na Noruega é exclusivamente marítima e foi iniciada


apenas nos anos 60, com o primeiro poço perfurado em 1966 (GCA, 2003). Antes de
serem disponibilizadas para licitação, as áreas marítimas precisam ser abertas à
exploração pelo Parlamento Norueguês (Storting) 57 . O Storting adotou ao longo dos
anos uma política de abertura gradual da Plataforma Continental Norueguesa,
iniciando pelo Mar do Norte, passando pelo Mar da Noruega e recentemente abrindo
parte do Mar de Barents à indústria petrolífera (MPE, 2007).

O Mar do Norte hoje é considerado uma província madura, com uma infra-
estrutura de produção e escoamento bem desenvolvida. No Mar da Noruega
coexistem uma porção leste bem desenvolvida e uma porção oeste ainda muito pouco
conhecida. Já o Mar de Barents tem sido recentemente explorado em sua porção sul,
enquanto grandes áreas ao norte e ao leste permanecem como fronteiras
inexploradas 58 .

4.3.1. Contexto Institucional e Regulatório

A soberania norueguesa sobre a sua Plataforma Continental e sobre a


exploração dos recursos minerais presentes no subsolo foi determinada em 31 de
maio de 1963 através da publicação de um Decreto Real. Recentemente, a Petroleum
Activities Act de 1996 (Lei das Atividades Petrolíferas) ratificou a determinação de que
o petróleo é um recurso de propriedade do Estado Norueguês, ao qual cabe o direito

56
US$ 42.364, estimativa do FMI – Fundo Monetário Internacional – World Economic Outlook
Database, setembro de 2006. www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2006/02/data/index.aspx
57
Petroleum Activities Act, de 29 de novembro de 1996.
58
Site da Agência Norueguesa de Petróleo – Norwegian Petroleum Directorate (NPD) - Why
Norway? http://www.npd.no/English/Emner/Ressursforvaltning/Promotering/whynorway_04.htm

166
exclusivo de gerenciamento das reservas. A Coroa exerce esse direito através do seu
Ministério do Petróleo e da Energia – MPE, embora assuntos e decisões importantes
sejam tratados necessariamente pelo Parlamento.

Enquanto o planejamento e a maioria das decisões sobre o setor petrolífero


recaem sob a responsabilidade do MPE, a coordenação e a supervisão do dia-a-dia
das operações cabem à Agência Norueguesa do Petróleo (NPD - Norwegian
Petroleum Directorate). Outras instituições fazem parte do arranjo institucional que
cuida das questões ambientais ligadas ao petróleo:

- The Norwegian Pollution Control Authority 59 - SFT: subordinada ao


Ministério do Meio Ambiente, a SFT é responsável pelas diretrizes relativas ao controle
da poluição e pelas ações de monitoramento ambiental na Plataforma Continental
Norueguesa. Para efetuar descargas de efluentes no mar as empresas precisam
solicitar autorização prévia da SFT, de acordo com a Lei do Controle da Poluição de
1981 (Pollution Control Act).

- The Petroleum Safety Authority Norway 60 – PSA: subordinada ao


Ministério do Trabalho e da Inclusão Social, possui a atribuição de supervisionar o
cumprimento das diretrizes de Saúde, Meio Ambiente e Segurança do Trabalho (SMS)
na indústria do petróleo, bem como de questões relacionadas aos Planos de
Emergência das operações. A PSA atua tanto durante o processo decisório do NPD
concedendo anuências para a realização de atividades de perfuração e produção,
como durante a operação das plataformas, através da realização de auditorias. A PSA
originou-se do próprio NPD em janeiro de 2004, buscando independência institucional
e hierárquica para a supervisão das questões de SMS e emergência na indústria do
petróleo.

- The Norwegian Coastal Administration 61 : subordinada ao Ministério da


Pesca e Assuntos Costeiros, a Administração Costeira é responsável pelas medidas
de contingência em caso de derramamentos graves de óleo na costa Norueguesa.

Outras instituições, como o IMR - Institute of Marine Research 62 , colaboram na


gestão da indústria do petróleo fornecendo aconselhamento técnico às Agências
governamentais.

Do ponto de vista regulatório, a Lei das Atividades Petrolíferas define duas


licenças distintas para as empresas do setor: a Licença de Exploração e a Licença de

59
A Autoridade Norueguesa de Controle da Poluição.
60
A Autoridade Norueguesa de Segurança do Petróleo.
61
A Administração Costeira Norueguesa.
62
Instituto de Pesquisa Marinha, subordinado ao Ministério da Pesca e Assuntos Costeiros.

167
Produção. A Licença de Exploração autoriza o licenciado a realizar atividades
exploratórias utilizando métodos geológicos, petrofísicos, geofísicos, geoquímicos e
geotécnicos em áreas determinadas da Plataforma Continental Norueguesa. Contudo,
a Licença de Exploração não autoriza a realização de perfurações exploratórias. Além
disso, a licença não garante exclusividade do direito de exploração – o MPE pode
conceder outras licenças para a mesma área – nem estabelece nenhum tipo de
preferência para obtenção de Licença de Produção.

Já a Licença de Produção é concedida após a oferta de blocos em rodadas de


licitação e confere à empresa ou ao consórcio agraciado o direito exclusivo de
exploração (sísmica e perfuração exploratória) e produção de petróleo dos
reservatórios contidos na área da licença. Equivale ao Contrato de Concessão no
regime Brasileiro de licitações de áreas. O dono da Licença de Produção passa a ser o
proprietário do petróleo produzido, embora o Estado Norueguês possa determinar o
ritmo e o destino da produção.

Aliás, existe uma longa tradição Norueguesa de envolvimento do Estado nos


setores da economia, em nome da geração e manutenção de benefícios sociais. Esta
tradição é percebida até hoje no setor petrolífero, mesmo após a privatização parcial
da Statoil, em 2001. Até então, a Statoil era a empresa nacional de petróleo por
excelência e funcionava como um veículo do envolvimento do Estado no setor, a partir
da influência em decisões operacionais (GCA, 2003).

Exercendo um poder discricionário quase absoluto até hoje, o Estado da


Noruega escolhe, por exemplo, quais as empresas que formarão o consórcio para a
exploração e desenvolvimento de determinada área licitada, indicando, dentre elas ou
não, qual a empresa operadora do bloco e qual a participação (%) de cada parceiro no
empreendimento – os chamados “casamentos forçados”. Enquanto em um primeiro
momento essa política de intervenção foi fundamental para o desenvolvimento da
expertise petrolífera nacional (Estrada, 2006), hoje o Ministério do Petróleo e da
Energia continua apostando na concessão de Licenças de Produção para grupos de
empresas, ao invés de operadores solitários. O MPE espera desta forma fomentar a
cooperação entre as empresas, que são obrigadas a trocar as experiências trazidas de
todas as partes do mundo para maximizar o retorno da explotação de um reservatório
na Noruega (MPE, 2007) – e o Estado participa de todos os consórcios formados, seja
através da Statoil ou de outras empresas criadas especialmente com esse propósito,
maximizando o ganho para a sociedade Norueguesa.

168
A prosperidade da indústria petrolífera Norueguesa é baseada em um
consenso político inicial que estabeleceu que a exploração de petróleo no país seria
realizada em benefício da população Norueguesa. Em nome desse princípio, o Estado
conduziu políticas que levassem os ganhos econômicos da indústria de petróleo para
além daqueles obtidos com a mera venda de óleo e gás – favorecendo as empresas
nacionais e promovendo o desenvolvimento da base industrial nacional de suporte às
atividades offshore (Estrada, 2006).

Essa prosperidade permitiu ao Estado Norueguês instituir uma política de


poupança dos dividendos oriundos da indústria do petróleo para benefício futuro da
sociedade. Criado em 1990 para contrabalancear os efeitos negativos da diminuição
futura da renda do petróleo, o Fundo Governamental do Petróleo 63 recebe
regularmente o que sobra dos dividendos governamentais do setor, após a
amortização do déficit do orçamento nacional extra-petróleo (MPE, 2007). Em 2006, os
dividendos do petróleo constituíram aproximadamente 3% do total de receitas do
Estado Norueguês. Por conta desse aporte extraordinário de recursos, o Fundo
Governamental do Petróleo da Noruega já conta atualmente com quase 300 bilhões
de dólares 64 , o que o faz ser um dos maiores fundos do planeta (Norges Bank, 2007).

4.3.2. Avaliação Ambiental de Pesquisas Sísmicas Marítimas

Pesquisas sísmicas marítimas na Noruega, como ao redor do mundo, podem


ser de dois tipos distintos: pesquisas exclusivas e pesquisas não-exclusivas. As
pesquisas sísmicas exclusivas são realizadas no âmbito de Licenças de Produção e
as não-exclusivas necessitam que a empresa responsável obtenha uma Licença de
Exploração.

Como dito anteriormente, as Licenças de Produção são concedidas por meio


de um processo de oferta de blocos em áreas previamente estudadas e abertas à
indústria petrolífera. Atualmente, a oferta de blocos em novas acontece a cada dois
anos, mas há leilões anuais de áreas devolvidas por concessionários 65 (MPE, 2007).
O consórcio vencedor da Licença de Produção pode (e precisa) contratar serviços de
sísmica para subsidiar o planejamento exploratório da área sob concessão.

Já as Licenças de Exploração são concedidas mediante solicitação e o NPD


possui autonomia para determinar as condições e restrições aplicáveis à licença. As

63
Atualmente, o nome oficial do fundo é Government Pension Fund – Global.
64
Em 31.1.2007, o dado oficial do governo Norueguês relatava mais de 1,8 trilhão de Coroas
Norueguesas (NOK) alocadas no Fundo.
65
Awards in Predefined Areas – APA, realizados desde 2003.

169
Licenças de Exploração possuem validade de 3 anos a não ser que a agência estipule
outro período de tempo. Empresas operando sob Licenças de Exploração não podem
adquirir dados em áreas cobertas por Licenças de Produção sem autorização
expressa do NPD.

No entanto, em ambos os casos, para iniciar uma operação de aquisição de


dados sísmicos a empresa licenciada precisa obter uma permissão do NPD. Para tal,
é preciso submeter uma descrição da atividade 66 com no mínimo cinco semanas de
antecedência aos seguintes órgãos, além do NPD: Agência da Pesca (Fisheries
Directorate), Instituto de Pesquisa Marinha (IMR – Institute of Marine Research 67 ) e
Ministério da Defesa. A partir da consulta a esses órgãos podem ser definidas
medidas mitigadoras específicas ou ainda ser exigida a alteração do cronograma de
operações – principalmente para evitar interferências significativas com a atividade
pesqueira.

Os responsáveis pela pesquisa sísmica devem enviar relatórios semanais de


progresso para as instituições supracitadas, incluindo a movimentação do navio
sísmico e possíveis idas ao porto para serviço.

A legislação exige também o emprego de um “especialista em pesca” (fishery


expert) a bordo de toda operação sísmica. O nome do especialista deve ser definido
junto à Agência da Pesca, responsável pela manutenção de um cadastro de
profissionais habilitados, com pelo menos cinco dias de antecedência do início da
pesquisa. O “especialista em pesca” é responsável por manter um registro da
interação da atividade exploratória com o setor pesqueiro e, ao final da atividade,
enviar um relatório ao NPD e à Agência da Pesca.

Outra medida relacionada à pesca é a obrigatoriedade da empresa de pesquisa


sísmica providenciar com 30 dias de antecedência do início das operações a inserção
no serviço de “Aviso aos Navegantes” das informações relativas à atividade.

Como a atividade pesqueira é um outro pilar da economia Norueguesa, a


regulação do setor petróleo busca conciliar a existência das duas indústrias no mesmo
espaço marítimo, existindo diversos fóruns de discussão e planejamento conjunto das
atividades. Uma condicionante presente nas autorizações emitidas pelo NPD atesta
que “a pesquisa sísmica não deve produzir obstáculos para atividade pesqueira
existente ou por iniciar na área de aquisição. Se houver algum conflito com a atividade

66
O conteúdo exigido para essa descrição é determinado nas Resource Management
Regulations (Regulamento sobre gestão dos recursos), de 18 de junho de 2001.
67
O IMR é responsável por importantes estudos sobre os impactos da pesquisa sísmica em
peixes – ver item 2.2.3. Peixes.

170
pesqueira, a pesquisa sísmica deve necessariamente ser interrompida” (John Dalen,
IMR - Institute of Marine Research, comunicação pessoal, 2007).

Além da conciliação com a atividade pesqueira, sob responsabilidade da


Agência da Pesca, o IMR considera os aspectos biológicos dos ecossistemas ao
decidir sobre a concessão da autorização da pesquisa sísmica. Diferente do Brasil, a
Noruega possui conhecimento adequado sobre o comportamento reprodutivo das
principais espécies de peixes, assim como sobre a atuação da sua frota pesqueira.
Isso possibilita o planejamento e o estabelecimento de restrições às atividades de
exploração petrolífera de modo a viabilizar a coexistência salutar das duas indústrias e
a manutenção dos processos reprodutivos essenciais para os estoques pesqueiros.

Além da avaliação caso-a-caso, restrições podem ser definidas no decorrer das


avaliações de impacto que antecedem a abertura de novas áreas à indústria do
petróleo. Esse processo de avaliação de impacto inclui necessariamente um debate
público sobre as implicações da abertura da área no meio ambiente, incluindo os
aspectos socioeconômicos da questão. A legislação exige um período mínimo de 90
dias para consulta pública, onde é dada publicidade à disponibilidade do Estudo de
Impacto Ambiental e o MPE recebe comentários por escrito, podendo ou não realizar
audiências públicas para maiores esclarecimentos. CRS e McInnes Cooper (2003)
ressaltam que a comunicação informal é muito valorizada na Noruega e que os
setores do petróleo e da pesca, principal parte interessada, desenvolveram um bom
diálogo ao longo dos últimos 10 a 15 anos.

Assim, quando um consórcio de empresas obtém a Licença de Produção, ele já


sabe de antemão quais as áreas e períodos sensíveis em relação aos peixes e à
pesca e que restrições foram estabelecidas para as operações exploratórias naquela
região.

Especificamente para a região norte da Plataforma Continental Norueguesa,


foram estabelecidas diretrizes recentemente no âmbito do Plano de Gestão Integrada
do Ambiente Marinho da Área do Mar de Barents – Lofoten. O Plano foi lançado em
2006, após quase 4 anos de trabalho conduzido por uma comissão interministerial e
busca estabelecer diretrizes para a utilização sustentável dos recursos naturais
existentes, mantendo a estrutura, funcionamento e produtividade dos ecossistemas da
área (Ministry of the Environment, 2006).

As diretrizes do Plano de Gestão Integrada são válidas até o ano de 2010,


quando o documento sofrerá a primeira revisão. As principais restrições para a
indústria petrolífera são (Figura 54):

171
- Proibição de novas atividades nos setores Nordland VI, Nordland VII e
Troms II.

- Proibição de atividades na faixa de 35 km de distância da linha costeira


de base.

- Proibição de novas atividades na faixa de 35 - 50 km de distância da


linha costeira de base. Serão autorizadas apenas atividades no âmbito de Licenças de
Produção já concedidas ou dentro da Área Predefinida para oferta permanente.

- Proibição de perfurações exploratórias em formações contendo óleo na


faixa de 50 - 65 km de distância da linha costeira de base, de 1° de março a 31 de
agosto.

172
Figura 54: Zoneamento estabelecido pelo Plano de Gestão Integrada Barents – Lofoten.
Adaptado de Ministry of the Environment, 2006.

173
Apesar da proibição estabelecida no Plano de Gestão Integrada, o Parlamento
atribuiu ao NPD a prerrogativa de realizar aquisição de dados sísmicos nas áreas
fechadas à indústria com o objetivo de aumentar o conhecimento do subsolo marinho
com vistas à futura exploração petrolífera. Pesquisas sísmicas contratadas pelo NPD
nas áreas fechadas do Mar de Barents e Ilhas Lofoten estão previstas para 2007, 2008
e 2009 68 .

Para as demais áreas do Mar de Barents onde não foram definidas restrições
adicionais, permanece válida apenas a política de descarte zero de substâncias no
mar, aplicável a toda a Plataforma Continental Norueguesa (Ministry of the
Environment, 2006).

Em síntese, as pesquisas sísmicas marítimas na Noruega não são objeto de


uma avaliação ambiental caso-a-caso tradicional, com a elaboração de Estudos
Ambientais e revisão destes pelo poder público. No entanto, isso não significa que a
atividade seja autorizada sem que a viabilidade ambiental desta tenha sido avaliada.
Quando uma pesquisa sísmica é realizada, significa que a questão ambiental já foi
considerada em dois momentos distintos. O primeiro deles acontece quando da
abertura de novas áreas à exploração petrolífera, onde o MPE coordena uma
discussão antecipada das possíveis restrições operacionais à sísmica, incluindo aí a
oportunidade de participação pública legalmente garantida.

Já durante a concessão de Licenças de Exploração, embora não haja a


elaboração de estudos ambientais, o NPD realiza consulta às instituições
governamentais interessadas e, dependendo da localização da pesquisa sísmica, às
organizações locais da pesca. A partir dessas consultas, podem ser estabelecidas
restrições temporais e espaciais à realização das pesquisas sísmicas.

Em relação às medidas mitigadoras exigidas, fica clara a prioridade atribuída à


questão da pesca perante os outros componentes ambientais. Diferente de jurisdições
como Brasil, EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá e Rússia (Weir e Dolman, 2007), a
Noruega não exige a implementação de medidas mitigadoras voltadas aos mamíferos
marinhos, como o soft-start, a zona de exclusão de 500 m ao redor do arranjo de
canhões de ar ou a presença de observadores de mamíferos marinhos. A adoção
dessas medidas acontece voluntariamente ou quando a pesquisa sísmica se estende
além dos limites da Zona Econômica Exclusiva Norueguesa e fica sujeita às diretrizes
do Reino Unido (John Dalen, IMR, comunicação pessoal, 2007).

68
Notícia publicada no site do NPD em 5.1.2007.

174
Sendo assim, as principais medidas mitigadoras aplicadas na Noruega são as
restrições espaço-temporais, tanto para evitar atividade pesqueira intensa, quanto
para proteger agregações reprodutivas ou corredores migratórios de peixes.

Em relação ao nível de atividade da indústria sísmica na Noruega, dados


recentes indicam uma recente recuperação após dois anos seguidos de declínio, em
2002 e 2003 (Figura 55). Em 2004 foram realizadas 20 pesquisas sísmicas em águas
norueguesas e em 2005 esse número subiu para 30 operações no ano (Stenløkk,
2005 e 2006). Em 2006, foram autorizadas 53 pesquisas na plataforma norueguesa,
entre pesquisas sísmicas e perfilagens eletromagnéticas (Stenløkk, 2007).

Figura 55: Nível de atividade da indústria de pesquisa sísmica em águas norueguesas no


período 1962 – 2006. Fonte: Adaptado de Stenløkk, 2007.

4.4. Síntese comparativa entre os países estudados

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar as limitações da metodologia utilizada


para a elaboração desse capítulo de análise de casos da experiência internacional. O
acesso às publicações técnicas e às informações disponibilizadas na internet nem
sempre permitiu a compreensão adequada do quadro regulatório vigente, tendo sido
necessário realizar contatos pessoais com técnicos dos órgãos responsáveis. Esse
contato, realizado através de correio eletrônico, foi muito mais informativo do que a
simples análise documental – na realidade, as informações obtidas por comunicação

175
pessoal por vezes contradisseram as informações disponíveis nos sites oficiais, por
estarem estas defasadas, por falta de clareza nos documentos ou ainda pela
indisponibilidade pública de dados fundamentais para a compreensão do quadro
regulatório. No caso da Noruega essa questão se fez mais presente, uma vez que,
apesar de muitas informações estarem disponíveis em inglês, a língua oficial dos
documentos é o norueguês – e algumas publicações relevantes só estão disponíveis
na língua oficial.

A segunda ressalva necessária é que os quadros regulatórios de cada


jurisdição são produto de inúmeros fatores condicionantes, como o estágio de
maturidade da indústria petrolífera, o contexto institucional de regulação, as
especificidades ambientais, as variáveis de mercado e outros fatores. Se por um lado
isso torna inapropriada a simples comparação direta de parâmetros entre os países,
por outro permite a compreensão de diferentes realidades que, se adequadamente
analisadas, podem fornecer subsídios importantes para a evolução das práticas
brasileiras.

Ainda assim, foi possível identificar alguns aspectos comuns aos três países
estudados. O principal deles talvez seja a inexistência do licenciamento ambiental, tal
como ele é concebido no Brasil. Nas três jurisdições estudadas, a questão ambiental é
inserida no processo de concessão de direitos de exploração, sob responsabilidade do
órgão regulador do setor (MMS, C-NSOPB, C-NLOPB, NEB e NPD). Há sempre a
previsão de consulta a outros órgãos governamentais, mas o condutor do processo é o
órgão regulador da exploração petrolífera – o equivalente, no caso do Brasil, à ANP.

Outro aspecto comum seria a tendência de antecipação da inserção da variável


ambiental no planejamento do setor. Nos Estados Unidos, a legislação obriga o órgão
regulador a preparar um Estudo de Impacto Ambiental e discutir suas conclusões com
a sociedade antes de definir um programa de licitações válido por cinco anos. No
Canadá, os órgãos reguladores realizam Avaliações Ambientais Estratégicas para
cada região a ser disponibilizada para exploração petrolífera, incluindo mecanismos de
participação pública. Na Noruega, o Estado é obrigado por lei a realizar uma avaliação
ambiental detalhada e ouvir as partes interessadas antes de o Parlamento decidir pela
abertura de determinada área às empresas de petróleo.

No entanto, a maneira como a atividade de pesquisa sísmica é abordada nos


estudos estratégicos é diferente para cada jurisdição. No Canadá, as AAE realizadas
discutem extensivamente a problemática associada aos impactos da exploração
sísmica nos componentes biológicos do ecossistema. Na Noruega, os estudos para

176
abertura de áreas abordam principalmente a interferência da indústria com a atividade
pesqueira. Já nos EUA a questão é abordada sucintamente no EIA do Programa de
Licitações de 5 anos, sendo os potenciais impactos da tecnologia tratados como um
aspecto plenamente equacionado através da mitigação requerida.

Além dessa distinção, outras mais existem entre os quadros regulatórios dos
países estudados. Os EUA possuem a NEPA – National Environmental Policy Act e o
Canadá dispõe da CEAA – Canadian Environmental Assessment Act para formalizar a
adoção do instrumento de avaliação de impacto ambiental para iniciativas poluidoras –
inclusive pesquisas geofísicas. Na Noruega, a regulamentação da Avaliação de
Impactos Ambientais foi introduzida em 1990 junto à legislação de uso do solo
(Planning and Building Act), embora antes dessa data legislações setoriais, tais como
a Petroleum Activities Act, já previam a necessidade da AIA para o desenvolvimento
de projetos específicos (Holm-Hansen, 1997). Como a pesquisa sísmica marítima não
consta na lista de projetos sujeitos à AIA da regulamentação da Planning and Building
Act, nem a Petroleum Activities Act exige tal procedimento, a tipologia é isenta do
processo formal de avaliação de impactos na Noruega – o que não significa a
desconsideração da variável ambiental, como se viu no item 4.3.2.

Ressalta-se também, que mesmo nos EUA e no Canadá, onde as pesquisas


sísmicas são inseridas no sistema formalizado de avaliação de impactos ambientais, o
enquadramento se dá no nível preliminar de avaliação – Environmental Assessment
(EUA) e Screening (Canadá) – não havendo exigência de Estudos de Impacto
Ambiental completos.

Em termos de agilidade no processo autorizativo, é difícil obter dados


consistentes que permitam comparações adequadas, pois os órgãos reguladores não
publicam análises nesse sentido. No entanto, foi possível obter algumas informações
balizadoras: no Canadá, a análise do registro público do processo de avaliação
ambiental indicou que as autorizações recentes de pesquisas sísmicas levaram entre
6 e 18 meses para serem concedidas. Nos EUA o processo pode levar entre 2
semanas a 6 meses, a depender da localização e período da atividade e,
conseqüentemente, da obtenção de outras autorizações condicionantes para a
operação 69 , mas no Golfo do México esse tempo varia tipicamente em torno de 30
dias (Geofísico Ronald Brinkman, MMS Golfo do México e Pete Sloan, MMS Alasca,
comunicação pessoal, 2007). Não foi possível obter informações adequadas sobre o
tempo realmente gasto para obtenção de autorização na Noruega, mas a legislação

69
Principalmente a IHA - Incidental Harassment Authorization para mamíferos marinhos, obtida
junto ao NOAA-Fisheries.

177
exige a submissão da documentação aos órgãos competentes com antecedência
mínima de 5 semanas.

A agilidade do processo autorizativo possui forte correlação com o nível de


atividade da indústria de sísmica em determinada jurisdição. O Golfo do México/EUA,
por exemplo, onde têm acontecido cerca de 90 pesquisas sísmicas anualmente,
apresenta o rito processual mais expedito entre as localidades estudadas. Já na Costa
Atlântica do Canadá, onde o nível de atividade da indústria variou entre 3 e 15
pesquisas anuais nos últimos 7 anos, o processo autorizativo é significativamente mais
complexo e demorado. Não à toa, as autoridades identificaram a necessidade de
aumentar a eficiência regulatória e criaram em 2002 um fórum conjunto com a
indústria para discutir formas de modernização da burocracia relativa às atividades
offshore – o Atlantic Energy Roundtable 70 . Já a exploração sísmica na Noruega se dá
em níveis intermediários entre o Golfo do México/EUA e a Costa Atlântica Canadense,
tendo sido realizadas 20 pesquisas sísmicas em 2004 e 30 em 2005. Da mesma
forma, seu processo autorizativo possui uma agilidade intermediária entre o do Golfo
do México/EUA e o do Canadá Atlântico.

É difícil afirmar o quanto a agilidade do processo autorizativo influencia o nível


de atividade da indústria e vice-versa, ou seja, será que a Costa Atlântica do Canadá
seria objeto de mais pesquisas sísmicas caso fosse mais simples e rápido obter a
autorização para tal? Ou será que o rito expedito dos Estados Unidos foi desenvolvido
para atender à grande demanda de atividade no Golfo do México?

Em relação às medidas mitigadoras, apenas a Noruega não apresenta


diretrizes padronizadas de mitigação – o IMR e a Agência da Pesca definem os
procedimentos e restrições em avaliações caso-a-caso. Nos EUA e no Canadá
existem diretrizes oficiais 71 que definem o “pacote básico” de mitigação: soft start,
zona de exclusão (500 m) e observadores de mamíferos marinhos. Esse pacote
básico, que não é exigido na Noruega, é bastante similar ao adotado no Brasil. Na
Noruega o foco da mitigação é a preservação dos estoques pesqueiros e a
coexistência com a atividade pesqueira – não há medidas relativas a mamíferos
marinhos ou outros animais. Por outro lado, a Noruega é a única das três jurisdições
estudadas que define áreas e períodos de restrição à atividade para proteção de
agregações reprodutivas (desova) e corredores migratórios de peixes. As pesquisas
sísmicas podem ser proibidas até 50 km de distância das áreas vulneráveis, a

70
Mais informações em www2.nrcan.gc.ca/es/erb/prb/english/View.asp?x=547
71
Notice to Lessees - NTL n°2007-G02 no Golfo do México/EUA e Statement of Canadian
Practice on Mitigation of Seismic Noise in the Marine Environment no Canadá.

178
depender das condições específicas da operação (John Dalen, IMR, comunicação
pessoal, 2007).

Quanto à participação pública no processo de autorização de pesquisas


sísmicas marítimas, há algumas diferenças entre os países estudados. Nos Estados
Unidos, o processo envolvendo a elaboração de Environmental Assessments
normalmente não contempla nenhuma forma de participação pública. No entanto,
quando são elaboradas Avaliações Ambientais Programáticas, existe a abertura de
prazo para submissão de comentários, os quais devem ser levados em consideração
na versão final do documento. Especificamente na região do Alasca/EUA, além do
prazo para comentários, tem sido comum a realização de audiências públicas para
discussão de Avaliações Ambientais Programáticas.

Já no Canadá, durante o processo de Screening, o público tem oportunidade


de apresentar contribuições tanto na definição do escopo do estudo (“termo de
referência”) quanto na fase de análise do documento preliminar – mas audiências
públicas não costumam ser realizadas. Da mesma forma, durante a realização de
Avaliações Ambientais Estratégicas, existem mecanismos para recebimento de
comentários das partes interessadas, mas audiências públicas não são realizadas.

Na Noruega, não existem mecanismos formais de consulta pública relativos ao


processo de autorização de pesquisas sísmicas. Porém, outras formas de participação
existem e parecem exercer um papel importante na mediação de conflitos, como o
funcionamento do Grupo de Coexistência 72 – grupo de trabalho tripartite envolvendo
estado, indústria e organizações da sociedade civil ligadas à pesca.

Um esforço de tabulação das informações relativas aos países estudados é


apresentado na Tabela 6 a seguir:

72
Coexistence Group, em inglês. Sameksistens, em norueguês.

179
Tabela 6: Síntese do quadro regulatório relativo às atividades de pesquisa sísmica marítima nas jurisdições estudadas.

Jurisdição Estados Unidos Canadá Noruega

Órgão responsável pela Regulador do setor petrolífero Regulador do setor petrolífero Regulador do setor petrolífero
avaliação ambiental MMS NEB, C-NSOPB e C-NLOPB NPD
Principalmente DFO – Ministério da Pesca
NOAA-Fisheries e FWS, quando há Agência da Pesca, Ministério da Defesa e
Órgãos colaboradores e dos Oceanos e EC – Ministério do Meio
interferência com mamíferos marinhos. IMR – Instituto de Pesquisa Marinha.
Ambiente.
Há elaboração de
Sim Sim
estudo caso-a-caso? Não
Environmental Assessment - preliminar Screening - preliminar
Nível de avaliação
Nenhuma, a não ser no processo de Abertura de prazo para consulta pública
Participação pública Nenhuma
emissão de IHA (NOAA-Fisheries e FWS) na internet

Sim Sim

Há avaliação em nível EIA do Plano de Licitações de 5 anos Avaliação do impacto da abertura de áreas
Sim à exploração petrolífera
anterior ao de projeto?
EIA de cada oferta de blocos
Avaliação Ambiental Estratégica Avaliações de Impacto Ambiental
Instrumento
Avaliação Ambiental Programática para Regionais realizadas para a abordagem
pesquisas sísmicas futuras de impactos sinergéticos e cumulativos
Tempo necessário para Entre 2 semanas e 6 meses. Tipicamente 5 semanas é a antecedência requerida
Recentemente, entre 6 e 18 meses.
autorização 30 dias. legalmente.

Cerca de 90 pesquisas anualmente no 2004 – 20 pesquisas


Nível de atividade da Golfo do México. Desde 2000, entre 3 e 15 pesquisas 2005 – 30 pesquisas
indústria No Alasca, 11 pesquisas foram realizadas anualmente.
2006 – 53 pesquisas, entre sísmicas e
desde 2000. eletromagnéticas.
Golfo do México: basicamente soft start,
zona de segurança (500 m), observadores Principalmente restrições espaço-
de biota. Basicamente: soft start, zona de temporais para evitar concomitância com
Medidas mitigadoras segurança (500 m), observadores de áreas de desova ou migração reprodutiva
Alasca: “pacote básico” mais restritivo e biota. de peixes, bem como áreas de pesca
possíveis restrições de cronograma para intensa.
proteção de cetáceos.

180
5. EVOLUÇÃO DA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PESQUISAS
SÍSMICAS MARÍTIMAS NO BRASIL

181
Neste capítulo, será registrado de que modo evoluiu a avaliação ambiental da
atividade de pesquisa sísmica marítima no Brasil sob os aspectos legal, técnico e
burocrático. No tocante às atividades de pesquisa sísmica marítima, a avaliação
ambiental ocorre quase exclusivamente em nível de projeto (Avaliação de Impacto
Ambiental) e durante o processo autorizativo junto ao Estado Brasileiro (Licenciamento
Ambiental). Assim, este capítulo versará basicamente sobre o histórico desse
processo, buscando subsidiar a discussão presente no Capítulo 6.

5.1. Breve histórico da tecnologia no Brasil

A indústria do petróleo tem utilizado os métodos indiretos de prospecção desde


o início do século XX com o objetivo de reduzir as incertezas relacionadas à
localização dos poços exploratórios (Dutra, 1995). Passando por métodos
gravimétricos e magnetométricos, até hoje utilizados, a pesquisa sísmica foi a
metodologia que produziu o melhor resultado para a indústria, possibilitando o
imageamento cada vez mais preciso da subsuperfície terrestre.

Inicialmente utilizando-se de explosivos químicos para a geração da energia


acústica, posteriormente as empresas de aquisição sísmica marítima desenvolveram e
passaram a utilizar exclusivamente os canhões de ar como fonte de energia (ver item
1.3. A fonte de energia).

No Brasil, a Petrobras realizou os primeiros levantamentos sísmicos marítimos


no ano de 1957, na plataforma continental do estado de Alagoas. Em 1978, foi
realizada a primeira pesquisa sísmica marítima 3D, no Campo de Cherne, Bacia de
Campos. A partir da experiência adquirida nos levantamentos pioneiros, a Petrobras
intensificou as pesquisas sísmicas 3D no país durante a década de 1980, quando seus
resultados propiciaram as primeiras descobertas de campos gigantes em águas
brasileiras (Mendonça et al., 2004).

Contudo, a exploração sísmica da plataforma continental brasileira alcançou


seu ápice entre os anos 1999 e 2001, quando a flexibilização do monopólio estatal da
exploração de óleo e gás abriu o mercado nacional para as empresas estrangeiras e
gerou um pico de demanda por levantamentos geofísicos. Dados da IAGC –
Associação Internacional das Empresas de Geofísica (Cosme Peruzzolo, comunicação
pessoal, 2006), apontam que o número de embarcações operando simultaneamente
no Brasil chegou a 18 navios, entre fevereiro e março de 2000.

182
Densidade da pesquisa sísmica no Brasil
20
2D 3D
18
N° de navios sísmicos simultaneamente

16

14

12

10

0
9

6
/ 99

9
/ 00

0
/ 01

1
/ 02

2
/ 03

3
/ 04

4
/ 05

5
/ 06

6
i /9

i /0

i /0

i /0

i /0

i /0

i /0

i /0
t/ 9

t/ 0

t/ 0

t/ 0

t/ 0

t/ 0

t/ 0

t/ 0
jan

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jan

jan

jan

jan

jan

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ma

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ma

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se

se

se

se

se

se

se

se
Figura 56: Variação mensal do número de embarcações sísmicas operando simultaneamente
em águas brasileiras (Cosme Peruzzolo, ex-presidente da IAGC Brasil, comunicação pessoal,
2006).

No período pós-flexibilização do monopólio, observa-se, além do pico de


atividade 1999-2001, a mudança no perfil da exploração geofísica no Brasil. A
pesquisa sísmica 2D praticamente não foi realizada no país após 2001, o que pode
indicar o encerramento da fase de reconhecimento regional da geologia das bacias
sedimentares marítimas brasileiras. Por outro lado, o predomínio da utilização da
ferramenta 3D adveio da evolução tecnológica do setor, bem como da elevação do
preço mundial do barril de petróleo (Figura 57) – o que viabiliza a exploração mais
cara.

183
Figura 57: Evolução recente do preço do barril de óleo cru no mercado spot em dólares
americanos (IEA, 2006).

Uma outra dinâmica observada no setor foi o “desaparecimento” dos


levantamentos não-exclusivos ou especulativos (spec survey) depois de alguns anos.
Passado o boom inicial de atividades, quando de fato as empresas de sísmica
realizaram operações de risco, obtendo dados para depois tentar vendê-los no
mercado, hoje o que se observa é o predomínio dos levantamentos contratados
previamente. Em alguns casos, pode ocorrer a contratação multicliente, onde a
empresa de aquisição vende o dado para mais de um contratante, mas as aquisições
meramente especulativas não são observadas no Brasil há alguns anos.

O cenário atual da exploração no Brasil parece apontar para uma estabilização


da demanda por aquisições de dados sísmicos. Nota-se que desde abril de 2003 não
foram observados 4 ou mais navios em operação simultânea no país (Figura 56).

Ainda assim, Jasny et al. (2005) coloca o Brasil em terceiro lugar no ranking
mundial de exploração sísmica entre 2002 e 2005, atrás apenas de Estados Unidos e
China e logo à frente da Índia. O estudo afirma que, em conjunto, China, Brasil e Índia
responderam por mais de 20% da exploração sísmica mundial nos últimos anos.

5.2. Aspectos regulatórios do setor

Atualmente, as pesquisas sísmicas marítimas no Brasil podem ocorrer de duas


formas: em áreas sob contratos de concessão ou nas demais áreas ainda não levadas
a leilão pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis/ANP.

184
A aquisição de dados sísmicos em áreas ainda não leiloadas é de
responsabilidade da própria empresa de pesquisa sísmica (EAD – Empresa de
Aquisição de Dados) e requer a obtenção de Autorização junto à ANP, nos termos da
Portaria ANP n° 188/98. O dado sísmico adquirido desta forma é considerado não-
exclusivo e possui um período de confidencialidade de 10 anos, após o qual é tornado
público.

Já a operação em blocos sob concessão é de responsabilidade da empresa


operadora do bloco (Concessionária) e não requer a obtenção de autorização
específica da agência, pois a operação está prevista no Contrato de Concessão. A
empresa concessionária pode realizar a pesquisa com equipamentos próprios ou
contratar uma EAD – Empresa de Aquisição de Dados para executar a empreitada. O
dado obtido nessas condições é considerado exclusivo e possui um período de
confidencialidade de 5 anos.

Em ambas as modalidades, a empresa responsável pela aquisição dos dados


deve informar à ANP o início da atividade, apresentando todas as demais autorizações
e licenças exigidas pelo estado brasileiro para a regular execução dos trabalhos.

Tabela 7: Diferenciação das modalidades de aquisição de dados sísmicos perante a ANP.

Dados Exclusivos Dados Não-Exclusivos


Em áreas/blocos atualmente
Localização Nas demais áreas
sob contrato de concessão
Responsável pela Empresa de aquisição de
Empresa concessionária
pesquisa dados
Período de
5 anos 10 anos
confidencialidade
Obrigatória a disponibilização
Venda dos dados Proibida
para venda
Início da atividade Mediante aviso à ANP Mediante aviso à ANP

5.3. Evolução do licenciamento ambiental

No arcabouço jurídico-legal ambiental brasileiro, a primeira vez em que a


atividade de pesquisa sísmica foi abordada especificamente foi na Portaria Normativa
IBAMA n° 101/93, de 23.9.1993. Essa portaria foi a primeira regulamentação a
estabelecer critérios para o licenciamento ambiental das atividades de exploração e
produção de petróleo, criando licenças distintas para as diferentes fases do segmento
upstream da indústria.

185
O parágrafo 2° do artigo 1° da portaria trazia textualmente: “O levantamento de
campo de dados geofísicos e geológicos, pra indústria do petróleo, não é considerado
potencialmente causador de significativa modificação do meio ambiente”,
desobrigando, portanto, os empreendedores do setor a buscarem o licenciamento
ambiental de suas atividades.

No entanto, a Portaria Normativa IBAMA n° 101/93 foi alvo de inúmeras


críticas, inclusive tendo sido considerada ilegal por nomes expressivos no direito
ambiental brasileiro, como o prof. Paulo Affonso Leme Machado. A crítica fundamental
era sobre a impossibilidade jurídica de o IBAMA criar licenças ambientais, prerrogativa
exclusiva do Conselho Nacional do Meio Ambiente/CONAMA (art. 8° da Lei Federal n°
6.938/81). Conclui o professor: “A Portaria Normativa nº 101, de 23.09.93, do IBAMA,
é ilegal e merece ser revista administrativamente, ou anulada judicialmente”
(Machado, 1998).

Além das questões jurídicas, a Portaria Normativa IBAMA n° 101/93 ainda


possuía diversas impropriedades técnicas. Uma das mais relevantes era a não-
exigência de qualquer estudo ambiental para emissão da Licença Especial para
Perfuração – LEP, sendo exigido tão somente o requerimento de licença, o memorial
descritivo das atividades e a delimitação da área de atuação pretendida (art. 5°). Isto
significa que a emissão da LEP era possível sem que fosse realizada a caracterização
da qualidade ambiental da área da atividade, bem como a avaliação dos impactos
ambientais e definição de medidas mitigadoras e de monitoramento (Malheiros, 2002).

Por conta dessas impropriedades, o CONAMA deliberou em 7.12.1994 pela


aprovação da Resolução CONAMA n° 23/94, visando “instituir procedimentos
específicos para o licenciamento das atividades relacionadas à exploração e lavra de
jazidas de combustíveis líquidos e gás natural” (art. 1°).

A Resolução CONAMA n° 23/94 reproduziu boa parte do teor da Portaria


Normativa IBAMA n° 101/93, sanando algumas impropriedades e mantendo outras
(Malheiros, 2002). No entanto, no que diz respeito à atividade de pesquisa sísmica, a
nova resolução omitiu a afirmação da portaria sobre o baixo potencial de significativa
modificação do meio ambiente da tecnologia.

Além disso, a Resolução CONAMA n° 23/94 copia a Portaria Normativa IBAMA


n° 101/93 na definição das atividades consideradas “atividades de exploração e lavra
de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural:

I - A perfuração de poços para identificação das jazidas e suas extensões;

II - A produção para pesquisa sobre a viabilidade econômica;

186
III - A produção efetiva para fins comerciais.”

(Art. 2°)

Assim, a pesquisa sísmica ficou excluída da regulamentação específica do


CONAMA sobre o setor de petróleo e gás. Somando-se esse fato à declaração
anterior da Portaria Normativa IBAMA n° 101/93, de que “o levantamento de campo de
dados geofísicos e geológicos, pra indústria do petróleo, não é considerado
potencialmente causador de significativa modificação do meio ambiente” (art.1°, § 2°),
não é surpreendente que a indústria tivesse durante vários anos o entendimento de
que o licenciamento ambiental não era aplicável à atividade.

Em 1997, a Resolução CONAMA n° 237/97, ao empreender uma revisão dos


procedimentos e critérios do licenciamento ambiental, trouxe em seu Anexo 1 uma
listagem dos empreendimentos e atividades sujeitos ao licenciamento ambiental. A
pesquisa sísmica marítima não consta desse rol, o que mais uma vez deu margem ao
entendimento de que o licenciamento ambiental não seria exigível para a atividade.

No entanto, uma leitura atenta do § 2º do artigo 2º da Resolução leva à


constatação da impropriedade desse entendimento: “Caberá ao órgão ambiental
competente definir os critérios de exigibilidade, o detalhamento e a complementação
do Anexo 1, levando em consideração as especificidades, os riscos ambientais, o
porte e outras características do empreendimento ou atividade”. Assim, fica claro que
a listagem publicada no Anexo 1 possui caráter exemplificativo, não-exaustivo, abrindo
possibilidade para o licenciamento de outras atividades e empreendimentos não
arrolados na listagem.

Um ano depois, em 1998, a ANP regulamentou a exploração geofísica em


águas brasileiras através da Portaria ANP n° 188/98, que prevê a emissão de uma
autorização específica para o levantamento de dados sísmicos no Brasil. Essa
portaria, válida até hoje, estabelece que as empresas interessadas em adquirir dados
sísmicos devem, antes do início das operações, “entregar à Agência Nacional do
Petróleo cópia de todas as autorizações e licenças exigidas por órgãos federais,
estaduais e municipais para a regular execução dos trabalhos” (art. 11).

Esta determinação foi de fundamental importância, pois as autorizações da


ANP são concedidas sem que se observem questões de relevância ambiental, como
períodos e áreas importantes para organismos e ecossistemas sensíveis ou
sobreposição com Unidades de Conservação. Dessa forma, o controle ambiental da
atividade depende majoritariamente da ação do órgão ambiental competente, no caso,
o IBAMA, que pode estabelecer restrições temporais, locacionais e tecnológicas, bem

187
como outras medidas mitigadoras, compensatórias e de monitoramento a partir da
avaliação dos impactos ambientais da atividade (Malheiros, 2002).

Em dezembro de 1998, houve a criação do Escritório de Licenciamento das


atividades de Petróleo e Nuclear – ELPN/IBAMA, no Rio de Janeiro, através da
Portaria IBAMA n°166-N. O corpo técnico do recém-criado ELPN teve o entendimento
de que a atividade de pesquisa sísmica marítima era potencialmente causadora de
degradação ambiental, caso não fossem adotadas medidas mitigadoras adequadas.
Assim, o IBAMA passou a exigir o licenciamento ambiental prévio à realização da
atividade, de forma a realizar uma avaliação ambiental caso-a-caso e propor as
medidas de controle adequadas. O primeiro Termo de Referência para a atividade foi
emitido em 17 de março de 1999.

Na ausência de regulamentação específica, o IBAMA realizava o licenciamento


da atividade de sísmica com base nas normas gerais, como a Lei n° 6.938/81, o
Decreto Federal n° 99.274/90 e a Resolução CONAMA n° 237/97. Desta forma,
considerando as especificidades da pesquisa sísmica marítima, era exigida a
elaboração de um Estudo Ambiental (EA). Atendidas as exigências do Termo de
Referência e verificada a viabilidade ambiental da atividade, o IBAMA concedia a
Licença de Operação (LO) ao empreendedor.

A enorme demanda por pesquisas sísmicas nos anos de 1999-2000-2001


(Figura 56), somada ao reduzido corpo técnico do ELPN/IBAMA, fez com que o
licenciamento ambiental fosse considerado um gargalo para o setor naquele momento.
Para tentar contornar a questão dos longos prazos para obtenção do licenciamento, as
empresas de sísmica adotaram o expediente de solicitar a licença para grandes
polígonos, envolvendo muitas vezes mais de uma bacia sedimentar. A expectativa dos
empreendedores era obter a licença para essa grande área marítima e depois tentar
negociar no mercado os contratos para aquisição dos dados nos blocos de
exploração.

No entanto, essa prática se demonstrou prejudicial ao andamento dos


processos de licenciamento. No ordenamento jurídico brasileiro, o licenciamento
ambiental é introduzido como um instrumento voltado à avaliação de projetos
(“estabelecimentos e atividades” – art. 10 da Lei n° 6.938/81) e, portanto, necessita da
descrição adequada do meio ambiente a ser modificado e das características do
próprio projeto de modo a subsidiar a avaliação dos impactos ambientais e a
subseqüente proposição de medidas de mitigação, monitoramento e compensação.

188
O que aconteceu com a prática dos licenciamentos por polígonos foi a tentativa
de licenciar a “intenção” de operação, não o projeto a ser executado. Essa visão do
licenciamento ambiental como um trâmite meramente burocrático dificultava
sobremaneira o andamento dos processos. De fato, o diagnóstico ambiental para
áreas tão extensas dificilmente atendia às necessidades do órgão licenciador. Como
realizar uma avaliação adequada dos impactos ambientais da atividade se não era
conhecida a localização específica da operação, nem o cronograma de execução do
levantamento? Por vezes, a presença de uma pequena região ambientalmente
sensível dentro do extenso polígono aumentava significativamente o nível de exigência
do licenciamento.

O ELPN/IBAMA buscou inicialmente tratar dessa questão no âmbito da análise


técnica, solicitando a exclusão das áreas rasas dos licenciamentos por polígonos. A
partir do início de 2003, todos os processos que incluíam grandes polígonos foram
limitados às profundidades superiores a 50 metros. Levantamentos em águas rasas
passaram a ser licenciados isoladamente, desde que fosse apresentada a malha
sísmica a ser executada.

Esse modelo foi adotado sem alterações significativas até o final de 2003,
quando houve o licenciamento de duas pesquisas sísmicas na região da Baía de
Camamu, no Baixo Sul do Estado da Bahia, área de grande sensibilidade ambiental.
Durante aquele ano houve um episódio de mortandade de peixes no litoral em
questão, de causa até hoje desconhecida. Uma pesquisa sísmica regularmente
licenciada havia sido realizada recentemente alguns quilômetros ao sul do litoral
afetado e foi considerada como uma das possíveis causas do ocorrido episódio.

Esse fato gerou grande mobilização das comunidades locais e levou o IBAMA
a determinar a elaboração de EIA/RIMA e a realização de audiências públicas para o
licenciamento de pesquisas sísmicas em áreas ambientalmente sensíveis a partir de
então. Em verdade, o escopo do Estudo Ambiental exigido para o licenciamento em
águas rasas já era compatível com o detalhamento de um Estudo de Impacto
Ambiental (EIA), tendo sido necessária apenas a elaboração do respectivo Relatório
de Impacto Ambiental (RIMA).

A mudança de procedimento buscou atender ainda a uma recomendação do


Ministério Público Federal (Procuradoria da República no Município de Niterói) –
Recomendação n°004/2003, de 28 de maio de 2003 – a qual requisita que o IBAMA
“adote todas as medidas necessárias para que possa ser exigido o devido estudo

189
prévio de impacto ambiental (EIA/RIMA), nos processos de licenciamento das
atividades sísmicas”.

Dessa forma, a adoção do EIA/RIMA para o licenciamento de pesquisas


sísmicas em águas rasas a partir de agosto de 2003 pode ser considerada uma forma
de garantir segurança jurídica ao processo de licenciamento, minimizando a chance de
uma licença vir a ser contestada judicialmente após sua concessão. Tecnicamente, já
que o EA para águas rasas já possuía um escopo bastante detalhado, a grande
diferença introduzida pela mudança de procedimento residiu na realização das
audiências públicas como mecanismo formal de participação pública.

O licenciamento ambiental da pesquisa sísmica no Brasil seguiu desta forma


até entrada em vigor da Resolução CONAMA n° 350/04, em 20.11.2004. Essa
resolução é o primeiro marco regulatório específico para o licenciamento ambiental da
atividade, estabelecendo um novo modelo de licenciamento: nova licença, novos
estudos/documentos, novo procedimento e novos prazos.

5.4. A Resolução CONAMA n°350/04

O processo que resultou na elaboração e publicação da Resolução CONAMA


n° 350/04 iniciou-se em meados de 2001, quando a Associação Internacional das
Empresas de Geofísica – IAGC procurou o Secretário de Qualidade Ambiental do
Ministério do Meio Ambiente (SQA/MMA) para expressar sua preocupação quanto ao
licenciamento ambiental que o ELPN/IBAMA estava conduzindo para pesquisas
sísmicas marítimas. A IAGC entendia que o procedimento era por demais rígido e, em
se tratando de uma “atividade não poluidora”, o licenciamento não deveria ser exigido.
Nesse momento, a IAGC sugeriu o encaminhamento do assunto à Câmara Técnica de
Energia do CONAMA para regulamentação da questão (MMA, 2003). Para esse fim,
foi autuado o processo administrativo CONAMA nº 02000.001082/2002-13 73 .

Em 8.8.2002, na 70ª Reunião da Câmara Técnica Permanente de Controle


Ambiental do CONAMA, foi aprovada a criação do Grupo de Trabalho sob a
coordenação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para o
desenvolvimento de estudos e proposta de normatização relativa ao Licenciamento
ambiental para atividades de pesquisa mineral por meio de sísmica indutiva (MMA,
2003).

73
O trâmite desse processo pode ser acompanhado no endereço eletrônico
http://www.mma.gov.br/port/conama/processo.cfm?processo=02000.001082/2002-13.

190
O assunto foi encaminhado à Câmara Técnica de Atividades Minerarias,
Energéticas e de Infra-Estrutura, que em sua 2ª reunião (22.8.2003), após a
apresentação do tema por técnico do Ministério do Meio Ambiente – MMA, definiu pela
criação de um Grupo de Trabalho coordenado pelo Ministério das Minas e Energia –
MME para elaboração de regulamentação específica para o licenciamento ambiental
das pesquisas sísmicas.

Este GT, oficialmente denominado Grupo de Trabalho sobre o Licenciamento


Ambiental para Atividades de Pesquisa Mineral por Meio de Sísmica Indutiva, foi
formado principalmente por representantes do IBAMA, das empresas de sísmica e sua
consultoria ambiental, do Ministério do Meio Ambiente – MMA, do Ministério de Minas
e Energia – MME, da Agência Nacional do Petróleo – ANP e da Diretoria de Portos e
Costas – DPC da Marinha do Brasil. Houve ainda a presença menos freqüente de
representantes da Confederação Nacional dos Pescadores – CNP, da Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP/PR, do Serviço Geológico do Brasil – CPRM,
de ONGs como o Instituto Baleia Jubarte, de Órgãos Estaduais de Meio Ambiente e de
membros honorários do CONAMA.

O Grupo de Trabalho realizou 5 reuniões, a saber:

Tabela 8: Reuniões do Grupo de Trabalho do CONAMA que resultou na Resolução nº 350/04.

Reunião Data Local


1ª Reunião 17.10.2003 Ministério de Minas e Energia/MME – Brasília
2ª Reunião 13 e 14.11.2003 Banco de Dados de Exploração e Produção/BDEP
– Rio de Janeiro
3º Reunião 4 e 5.12.2003 Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento/MAPA – Brasília
4ª Reunião 22 e 23.1.2004 Banco de Dados de Exploração e Produção/BDEP
– Rio de Janeiro
5ª Reunião 16 e 17.2.2004 Banco de Dados de Exploração e Produção/BDEP
– Rio de Janeiro

Ao final da 5ª reunião, o Grupo de Trabalho chegou a uma proposta de


resolução sobre o tema em questão. Seguindo o trâmite burocrático no CONAMA, a
proposta de resolução foi analisada, modificada e aprovada na 4ª reunião da Câmara
Técnica de Atividades Minerárias, Energéticas e de Infra-Estrutura (em 15 e
16.3.2004) e na 7ª reunião da Câmara Técnica de Assuntos Jurídicos (em 7 e
8.6.2004).

191
Por fim, a proposta de resolução foi levada à 74ª Reunião Ordinária do plenário
do CONAMA em 6 e 7 de julho de 2004, sendo aprovada com emendas. A versão final
da resolução foi então publicada no Diário Oficial da União em 20.8.2004 (edição nº
161, p.80-81), sob o número 350/04 e com a seguinte ementa: Dispõe sobre o
licenciamento ambiental específico das atividades de aquisição de dados sísmicos
marítimos e em zonas de transição.

Assim, a resolução CONAMA nº 350/04, cujo texto integral encontra-se em


anexo, estabeleceu pela primeira vez diretrizes específicas para o licenciamento
ambiental das atividades de pesquisa sísmica marítima e em zonas de transição,
constituindo um importante marco regulatório para o setor.

A proposta conceitual inicial que resultou na Resolução CONAMA nº 350/04 foi


proveniente do IBAMA, que elaborou e apresentou ao Grupo de Trabalho a versão 00
do texto da resolução. Segundo documento elaborado pelo IBAMA para apresentação
no GT, essa proposta conceitual partiu das seguintes premissas:

− A atividade em águas profundas tem baixo potencial de impactos


ambientais;

− Necessidade de gerenciamento dos conflitos com a atividade de pesca


artesanal em águas rasas;

− Impacto na biota é local e reversível, se respeitadas:

• as restrições quanto a períodos e áreas sensíveis;

• as medidas mitigadoras globalmente utilizadas;

− Necessidade de investimento no controle ambiental pós-licença e maior


agilidade pré-licença.

Essas premissas foram complementadas ao longo da discussão do Grupo de


Trabalho, dando origem aos “considerandos” da resolução, os quais são:

“Considerando que a exploração de petróleo e de gás natural,


bem como a definição de estratégias relacionadas ao aumento, à
otimização e à sustentabilidade de sua produção, depende da
aquisição de dados sísmicos;

Considerando as normas legais estabelecidas pela Agência


Nacional do Petróleo - ANP, que dispõem sobre as definições para a
aquisição de dados aplicados à exploração e à produção de petróleo e
gás natural;

192
Considerando que as atividades de aquisição de dados
sísmicos marítimos e em zonas de transição são potencialmente
causadoras de impactos ambientais nos ecossistemas marinho e
costeiro e em atividades como a pesca e a aqüicultura, entre outras;

Considerando o caráter não permanente e a mobilidade das


atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de
transição;

Considerando que as atividades de aquisição de dados


sísmicos marítimos e em zonas de transição são realizadas em áreas
com diferentes níveis de sensibilidade ambiental;

Considerando a necessidade de regulamentação do processo


de licenciamento ambiental específico das atividades de aquisição de
dados sísmicos marítimos e em zonas de transição.”

Desta forma, foi criado o embasamento conceitual para a proposição do novo


modelo de licenciamento ambiental para a atividade de pesquisa sísmica marítima.

É importante ressaltar que uma leitura mais atenta da Resolução CONAMA nº


350/04 revela muitas inconsistências no texto legal, com contradições, incoerências e
impropriedades jurídicas. No entanto, nenhuma das questões existentes é
suficientemente grave para gerar insegurança jurídica no licenciamento ambiental das
pesquisas sísmicas. O texto final que aqui se critica é apenas um reflexo do
complicado processo político que envolve a confecção e aprovação de uma Resolução
do CONAMA, passando por diferentes colegiados até a ratificação final no plenário.

5.5. O licenciamento segundo a Resolução CONAMA nº 350/04

5.5.1. Enquadramento

O novo modelo estabeleceu diferentes classes de licenciamento,


correspondendo a ritos processuais distintos para o licenciamento ambiental, a partir
da localização da pesquisa, tecnologia a ser utilizada e sensibilidade ambiental da
região.

A seleção da classe de licenciamento adequada para cada caso 74 constitui o


processo de enquadramento da solicitação de licença e é realizado através da análise

74
Corresponde à etapa de Triagem do processo de Avaliação de Impacto Ambiental.

193
do documento denominado Ficha de Caracterização da Atividade – FCA 75 . Este
documento, a ser elaborado pelo empreendedor com base em modelo disponibilizado
pelo IBAMA, consiste na padronização do memorial descritivo da atividade pleiteada,
de modo a fornecer subsídio para a decisão do enquadramento nas classes de
licenciamento. A FCA contempla os seguintes itens:

- Identificação da Atividade e do Empreendedor

- Denominação Oficial da Atividade

- Identificação do Empreendedor

- Identificação da Embarcação Sísmica

- Caracterização da Atividade

- Localização em base cartográfica georreferenciada da área de aquisição


de dados sísmicos

- Localização da área de aquisição de dados sísmicos em meio digital, em


Sistema de Informações Geográficas

- Arranjo de canhões de ar a ser utilizado

- Descrição sucinta do arranjo de cabos sísmicos

- Descrição das atividades de apoio e suprimento

- Cronograma da atividade

A partir da análise da Ficha de Caracterização da Atividade, o IBAMA realiza o


enquadramento da pesquisa sísmica nas classes de licenciamento previstas na
Resolução CONAMA nº 350/04 (art. 4º):

Classe 1 - Levantamentos em profundidade inferior a 50 metros ou em áreas


de sensibilidade ambiental;

Classe 2 - Levantamentos em profundidade entre 50 e 200 metros;

Classe 3 - Levantamentos em profundidade superior a 200 metros.

Considerando o fato de que as pesquisas sísmicas podem não estar


completamente incluídas em apenas uma das faixas batimétricas acima, o IBAMA
define o enquadramento com base não apenas na batimetria da área, mas a partir de

75
Embora a Resolução CONAMA n°350/04 a denomine Ficha de Caracterização das
Atividades, a prática do licenciamento consagrou a utilização no singular.

194
uma avaliação da sensibilidade ambiental da região proposta para a atividade. Esse
procedimento foi descrito com maiores detalhes no Guia Passo-a-Passo para o
Licenciamento Ambiental da Atividade de Aquisição de Dados Sísmicos Marítimos e
em Zona de Transição (IBAMA, 2005a), elaborado em março de 2005.

5.5.2. Classe 1

Segundo o guia, o enquadramento na Classe 1 é realizado quando a Pesquisa


Sísmica está localizada em águas rasas e próximas da costa, onde existem
ecossistemas ecologicamente importantes (como recifes de corais, bancos de algas
calcárias, estuários) e a atividade pesqueira artesanal é mais intensa. Nessa situação,
há o entendimento de que a atividade de pesquisa sísmica é potencialmente
causadora de significativos impactos ambientais, caso estes não sejam devidamente
mitigados.

O item II do Artigo 4º da Resolução CONAMA nº 350/04, especifica que o


licenciamento de pesquisas sísmicas em Classe 1 está sujeito à elaboração de Estudo
Ambiental de Sísmica/Relatório de Impacto Ambiental de Sísmica – EAS/RIAS.

No entanto, para licenciamentos em Classe 1, o IBAMA tem exigido a


elaboração de EIA/RIMA, nos termos do §6º do artigo 4º da Resolução CONAMA nº
350/04. Nesses casos também são conduzidas Audiências Públicas de acordo com o
previsto na Resolução CONAMA nº 009/87.

A adoção sistemática do conjunto EIA/RIMA – Audiência Pública para o


licenciamento em Classe 1, ainda que não-obrigatória pela resolução CONAMA nº
350/04, busca fornecer segurança jurídica ao processo de licenciamento ambiental,
evitando que licenças concedidas sejam contestadas judicialmente. Isso se dá porque,
apesar da possível identidade absoluta entre os ritos de EIA/RIMA – Audiência Pública
e EAS/RIAS – Reunião Técnica Informativa, em 2003 houve casos de contestação
judicial de licenças ambientais para atividade de sísmica concedidas sem a adoção de
EIA/RIMA.

5.5.3. Classe 2

O enquadramento do licenciamento na Classe 2 é realizado quando a Pesquisa


Sísmica é proposta em águas com profundidade entre 50 e 200 metros, desde que

195
essas águas não apresentem alta intensidade de pesca artesanal nem abriguem
ecossistemas sensíveis 76 .

O Guia Passo-a-Passo (IBAMA, 2005a) explica que um licenciamento é


enquadrado na Classe 2 quando o IBAMA julgar que, apesar de considerada como
não potencialmente causadora de significativos impactos ambientais, ainda há a
necessidade de apresentação de informações mais detalhadas sobre a área da
pesquisa sísmica para subsidiar a concessão da licença ambiental. Caso contrário, o
licenciamento é enquadrado na Classe 3.

A Resolução CONAMA nº 350/04 define que o estudo necessário para


subsidiar o licenciamento na Classe 2 é o Estudo Ambiental de Sísmica/Relatório de
Impacto Ambiental de Sísmica – EAS/RIAS. O conteúdo do EAS é definido caso a
caso por meio de Termos de Referência específicos e o seu nível de exigência varia
de acordo com as características tecnológicas e locacionais da pesquisa proposta.

A Resolução CONAMA nº 350/04 prevê ainda a possibilidade da realização de


Reunião Técnica Informativa para discussão do projeto quando o IBAMA julgar
necessário ou quando solicitado por entidade civil, Ministério Público ou por 50
pessoas maiores de 18 anos.

As Reuniões Técnicas Informativas foram previstas na resolução por demanda


das empresas de sísmicas, como uma forma de fugir dos prazos associados ao rito
das Audiências Públicas. No entanto, da forma como vêm sendo promovidas pelo
IBAMA, prezando pela adequada divulgação do EAS/RIAS e pela mobilização das
comunidades locais para comparecimento à reunião, as Reuniões Técnicas
Informativas são, na prática, Audiências Públicas.

5.5.4. Classe 3

Uma pesquisa sísmica é enquadrada na Classe 3 de licenciamento quando é


proposta em águas com profundidade superior a 200 metros, em áreas com baixa
intensidade de pesca artesanal e ausência de ecossistemas sensíveis.

Assim, há o entendimento de que a atividade de pesquisa sísmica nestas áreas


não é potencialmente causadora de significativos impactos ambientais, estando o
empreendedor dispensado da elaboração de um estudo ambiental detalhado. A
Resolução CONAMA nº 350/04 consignou que, nesses casos, os impactos ambientais
(não-significativos) podem ser devidamente mitigados por meio da adoção e

76
Situações nas quais o enquadramento deve ser em Classe 1.

196
implementação de medidas previamente aprovadas pelo IBAMA no Plano de Controle
Ambiental da Sísmica - PCAS.

No entanto, o órgão ambiental ainda precisa obter algumas informações caso-


a-caso para os licenciamentos em Classe 3. Para suprir essa necessidade, o IBAMA
exige a apresentação de um documento denominado Informações Complementares
(ao PCAS), que dá subsídio à concessão da licença em Classe 3. Nas Informações
Complementares, elaboradas com base em Termo de Referência padronizado
(IBAMA, 2005b), são descritos elementos específicos da pesquisa em questão, tais
como: observadores de bordo, embarcações assistentes, empresas de gerenciamento
de resíduos, certificados das embarcações etc.

5.5.5. Plano de Controle Ambiental de Sísmica – PCAS

O Plano de Controle Ambiental da Sísmica – PCAS é um documento elaborado


pelas empresas interessadas em licenciar atividades de sísmica que cumpre um duplo
propósito: padronizar os projetos ambientais de mitigação e monitoramento para
operações em águas profundas e servir de depósito para informações estáveis
relativas à empresa de aquisição de dados, como descrição de navios e arranjos de
canhões de ar.

O PCAS é elaborado pelas empresas com base no Termo de Referência


disponibilizado pelo IBAMA (IBAMA, 2005c). Uma vez analisado e aprovado pelo
corpo técnico do IBAMA, o PCAS de determinada empresa está válido para operações
em Classe 3 em águas brasileiras. Na medida em que novas informações estáveis
forem surgindo, como a aquisição de nova embarcação sísmica, por exemplo, as
informações podem ser enviadas ao IBAMA para inclusão no PCAS.

Quando as diretrizes do órgão ambiental forem modificadas, prevê-se a


emissão de novo Termo de Referência e novo processo de aprovação dos Planos de
Controle Ambiental de Sísmica – PCAS.

Inicialmente voltadas aos licenciamentos em Classe 3, o IBAMA entende que


as informações contidas nos PCAS das empresas podem ser aproveitadas em
licenciamentos em Classe 2, a depender do caso específico (IBAMA, 2005a).

O conteúdo dos PCAS contempla os seguintes itens (IBAMA, 2005c):

- Caracterização Geral do Empreendedor


- Identificação do Empreendedor
- Identificação das Embarcações

197
- Arranjos de Canhões de Ar
- Projetos Ambientais
- Projeto de Controle da Poluição
- Projeto de Monitoramento da Biota Marinha
- Projeto de Comunicação Social
- Projeto de Educação Ambiental para os Trabalhadores
- Plano de Ação de Emergência

A Figura 58 resume o passo-a-passo do licenciamento da atividade de


pesquisa sísmica marítima sob o modelo definido pela Resolução CONAMA nº 350/04.

Figura 58: Esquema-síntese do modelo de licenciamento conduzido atualmente pelo IBAMA


com base na Resolução CONAMA nº 350/04 (IBAMA, 2005a).

A Tabela 9 apresenta um resumo comparativo do conteúdo dos estudos


exigidos para as diferentes classes de licenciamento previstas na Resolução
CONAMA nº 350/04.

198
Tabela 9: Resumo comparativo da itemização básica dos Estudos Ambientais exigidos para cada classe de licenciamento.
CLASSE 3 – INFORMAÇÕES
CLASSE 1 – EIA CLASSE 2 – EAS* COMPLEMENTARES
Identificação da atividade e do empreendedor Identificação da atividade e do empreendedor Identificação da atividade e do empreendedor
Caracterização da atividade Caracterização da atividade
Descrição geral da atividade Descrição geral da atividade
Descrição da operação Descrição da operação
Descrição da fonte sísmica Descrição da fonte sísmica
Descrição do sistema de registro Descrição do sistema de registro
Área de influência da atividade Área de influência da atividade
Área de influência direta Área de influência direta
Área de influência indireta Área de influência indireta
Diagnóstico ambiental Diagnóstico ambiental
Meio físico Meio físico
Meio biótico Meio biótico
Meio socioeconômico Meio socioeconômico
Análise integrada e síntese da qualidade ambiental Análise integrada e síntese da qualidade ambiental
Identificação e avaliação dos impactos ambientais Identificação e avaliação dos impactos ambientais
Análise de riscos ambientais Análise de riscos ambientais
Medidas mitigadoras, compensatórias e projetos de Medidas mitigadoras, compensatórias e projetos de Medidas mitigadoras, compensatórias e projetos
controle e monitoramento controle e monitoramento de controle e monitoramento
Projeto de controle da poluição Projeto de controle da poluição Projeto de controle da poluição
Projeto de monitoramento da biota marinha Projeto de monitoramento da biota marinha Projeto de monitoramento da biota marinha
Projeto de monitoramento do desembarque Projeto de monitoramento do desembarque
pesqueiro pesqueiro
Projeto de comunicação social Projeto de comunicação social Projeto de comunicação social
Projeto de educação ambiental para Projeto de educação ambiental para trabalhadores Projeto de educação ambiental para
trabalhadores trabalhadores
Plano de ação de emergência Plano de ação de emergência
Plano de compensação da atividade pesqueira Plano de compensação da atividade pesqueira
Conclusão Conclusão
* O Estudo Ambiental de Sísmica/EAS pode ser tão completo quanto um EIA de Classe 1 ou ser bastante simplificado, dependendo do caso específico.

199
5.5.6. Documentos de apoio ao licenciamento

Um aspecto bastante característico do novo modelo de licenciamento


ambiental da atividade de pesquisa sísmica marítima é a existência de documentos de
apoio ao processo de licenciamento publicados pelo IBAMA.

O primeiro deles foi o já citado Guia Passo-a-Passo para o Licenciamento


Ambiental da Atividade de Aquisição de Dados Sísmicos Marítimos e em Zona de
Transição (IBAMA, 2005a), de março de 2005. Este guia foi lançado com uma
apresentação do IBAMA no dia 7 de abril de 2005, no auditório do IBAMA/RJ, sobre os
novos procedimentos do licenciamento segundo a Resolução CONAMA nº 350/04.
Essa reunião congregou um público de 45 pessoas, entre representantes das
empresas de sísmica, de empresas petrolíferas, de empresas consultoras e da ANP.

A edição do Guia Passo-a-Passo foi de fundamental importância para os


empreendedores na medida em que esclareceu ao mercado de que forma o IBAMA
iria conduzir o licenciamento no âmbito da Resolução CONAMA nº 350/04, já que a
simples leitura da resolução não possibilita essa compreensão.

Em abril de 2005, o IBAMA colocou à disposição dos empreendedores o Guia


de Monitoramento da Biota Marinha em atividades de aquisição de dados sísmicos
(IBAMA, 2005d). Este guia consolidou as diretrizes já empregadas pelo IBAMA na
exigência do Projeto de Monitoramento da Biota Marinha e padronizou os
procedimentos de monitoramento e mitigação do impacto sobre os organismos
marinhos, incluindo as planilhas de registro de avistagens de mamíferos e quelônios.

A experiência do corpo técnico do licenciamento do IBAMA, somada à


colaboração de outros setores do Instituto e à revisão dos procedimentos de
monitoramento e mitigação adotados em outros países (especial contribuição do
estudo feito por Stone, 2003), conferiram robustez ao Guia. Isso possibilitou que o
IBAMA deixasse de exigir a elaboração de um Projeto do Monitoramento da Biota
Marinha, passando a exigir a implementação das medidas contidas no Guia de
Monitoramento. As únicas informações necessárias caso-a-caso são a identificação
dos observadores de bordo a serem utilizados na operação e a definição do
procedimento de comunicação interna para viabilizar os mecanismos de mitigação
previstos no Guia de Monitoramento.

Ainda em abril de 2005, o IBAMA disponibilizou o Guia de Comunicação Social


em atividades de aquisição de dados sísmicos – Classe 3 (IBAMA, 2005e).
Considerando as especificidades da Comunicação Social para pesquisas sísmicas em

200
águas profundas e distantes da costa (Classe 3), o IBAMA considerou pertinente a
padronização dos procedimentos a serem utilizados nesses casos.

Assim, nas pesquisas sísmicas em Classe 3, o empreendedor não precisa mais


elaborar um Projeto de Comunicação Social, e sim implementar as diretrizes descritas
no Guia de Comunicação Social. As únicas informações necessárias caso-a-caso são
o modelo do material de divulgação que será distribuído às partes interessadas e a
própria listagem das partes interessadas potencialmente afetadas pela pesquisa
sísmica.

Posteriormente, em abril de 2006, o IBAMA concluiu o processo de discussão


interna e publicou o Guia de Monitoramento do Desembarque Pesqueiro em
empreendimentos marítimos de exploração e produção de petróleo e gás (IBAMA,
2006b). Esse guia busca padronizar o procedimento de monitoramento do
desembarque pesqueiro para obter informações que subsidiem a avaliação da
efetividade das medidas de controle adotadas e permitam a verificação de quaisquer
impactos potenciais sobre a pesca artesanal e a integração dos dados no banco de
dados oficial para estatística pesqueira no litoral do Brasil – ESTATPESCA/IBAMA.

A experiência bem-sucedida do IBAMA na implementação de guias sugere que


novos documentos continuarão a ser elaborados à medida que as diretrizes internas
do licenciamento amadureçam e sejam consolidadas. Dois temas atualmente em
discussão para elaboração de guias são o Projeto de Controle da Poluição e o Projeto
de Monitoramento de Praias.

5.6. Prazos legais

Sendo uma das principais preocupações dos empreendedores, torna-se


importante registrar a evolução dos prazos legais para o licenciamento ambiental da
atividade de pesquisa sísmica marítima.

No licenciamento pré-Resolução CONAMA nº 350/04, na ausência de


regulamentação específica, os prazos legais que incidiam sobre o processo eram
aqueles definidos pelas Resoluções CONAMA nº 237/97 e nº 009/87 (no caso de
realização de Audiências Públicas):

201
Tabela 10: Prazos máximos a serem observados no licenciamento ambiental da pesquisa
sísmica pré-Resolução CONAMA nº 350/04.

Ação Prazo Legal Máximo Previsão


Licenciamento com quaisquer 6 meses a partir do protocolo do Res.237/97
outros estudos ambientais requerimento de licença (junto
com o estudo) Art.14, caput

Licenciamento com EIA/RIMA 12 meses a partir do protocolo do Res.237/97


e/ou Audiência Pública requerimento de licença (junto
com o estudo) Art. 14, caput

Apresentação de esclarecimentos 4 meses a partir do recebimento Res.237/97


e complementações aos estudos do Parecer Técnico, passíveis de
Art. 15, caput
ambientais prorrogação
e § único
Solicitação de Renovação de Antecedência mínima de 120 dias Res.237/97
Licença da expiração da validade
Art. 18, § 4º
Solicitação de Audiência Pública 45 dias a contar da publicação do Res. 009/87
edital
Art. 2º, § 1º

Posteriormente, com a publicação da Resolução CONAMA nº 350/04, a


questão dos prazos legais foi contemplada da seguinte forma:

Tabela 11: Prazos máximos a serem observados no licenciamento ambiental da pesquisa


sísmica após a entrada em vigor da Resolução CONAMA nº 350/04.

Ação Prazo Legal Máximo Artigo


Emissão do Termo de Referência 15 dias úteis a partir do protocolo da
4º, item III
(enquadramento) FCA junto ao IBAMA
12 meses a partir do protocolo do
Licenciamento com EIA/RIMA
requerimento de licença (junto com o 4º, § 1º
(Classe 1)
estudo)
Licenciamento com EAS/RIAS ou 6 meses a partir do protocolo do
Informações Complementares requerimento de licença (junto com o 4º, § 1º
(Classes 2 e 3) estudo)
Apresentação de esclarecimentos 4 meses a partir do recebimento do
e complementações aos estudos Parecer Técnico, passíveis de 4º, item V
ambientais prorrogação
20 dias a partir da publicação do
Solicitação para realização de
requerimento de licença pelo 5º, § 1º
Reunião Técnica Informativa
empreendedor
Realização de Reunião Técnica 20 dias a partir da solicitação para
5º, § 2º
Informativa realização

202
40 dias a partir da publicação do
requerimento de licença pelo
Manifestação por escrito sobre o
empreendedor, obrigando o órgão
empreendimento (qualquer 5º, § 4º
ambiental a considerar a
pessoa)
manifestação na fundamentação da
emissão da licença ambiental
Antecedência a ser estabelecida na
Solicitação de Renovação da LPS 10
licença

Ressalta-se que a Resolução CONAMA nº 350/04, em uma de suas


incoerências, define o termo “audiência pública” (Art. 2º, item XIV), registra que os
custos de sua realização correm por conta do empreendedor (Art. 6º), mas não
especifica nem “quando” nem “como” ela deve ser realizada no licenciamento
ambiental de pesquisas sísmicas marítimas. Na prática, o IBAMA vem conduzindo
audiências públicas para a discussão de licenciamentos em águas rasas (Classe 1)
utilizando o procedimento previsto na Resolução CONAMA nº 009/87. Nesse caso,
incide o prazo legal para solicitação de audiências públicas, que é de 45 dias a contar
da publicação do edital (Art. 2º, § 1º).

Por outro lado, no que tange às Reuniões Técnicas Informativas, a prática do


licenciamento mostrou ser bastante difícil o cumprimento do prazo estabelecido na
Resolução CONAMA nº 350/04 – 20 dias para a organização de uma reunião desse
porte. Assim, o IBAMA tem conduzido esse procedimento em prazos mais razoáveis,
com a concordância das empresas envolvidas, aproximando-se dos 45 dias
normalmente cumpridos para a realização de Audiências Públicas.

Comparativamente, percebe-se que os prazos legais para o licenciamento


ambiental da sísmica marítima não sofreram alterações significativas. O licenciamento
em águas rasas continuou com o prazo de 12 meses e os demais casos
permaneceram dispondo de 6 meses. Os empreendedores ainda precisam prestar
esclarecimentos e complementações em até 4 meses do recebimento do Parecer
Técnico.

Houve uma redução teórica do prazo para o mecanismo de consulta pública


quando não for adotado EIA/RIMA – as Reuniões Técnicas Informativas – mas, na
prática, o prazo legal é de difícil cumprimento.

203
5.6.1. Licenças emitidas

Até janeiro de 2007, já haviam sido concedidas 70 licenças ambientais para


atividades de pesquisa sísmica, sendo 48 Licenças de Operação – LO (antes da
Resolução CONAMA n° 350/04) e 22 Licenças de Pesquisa Sísmica – LPS.

A Tabela 12 sintetiza todas as licenças já emitidas pelo IBAMA para aquisições


de dados sísmicos até janeiro de 2007.

Tabela 12: Todas as licenças já emitidas para a atividade de pesquisa sísmica marítima até
janeiro de 2007.

Licença Empresa Localização


Bloco BSEAL-4
LO 049/99 PENNZENERGY
Bacia de Sergipe/Alagoas
Bloco SES-108
LO 050/99 PETROBRAS
Bacia de Sergipe/Alagoas
Bloco BPOT-2 e Campo de Caraúna
LO 056/99 SFR
Bacias do Ceará e Potiguar
Bloco BFZ-2
LO 063/99 PETROBRAS
Bacia da Foz do Amazonas
Bloco BSEAL-3
LO 071/99 SIPETROL
Bacia de Sergipe/Alagoas
LO 076/00 BAKER HUGHES Bacia da Foz do Amazonas
Bloco BP-1
LO 079/00 ESSO
Bacia de Pelotas
Bloco BM-FZA-1
LO 090/00 BP BRASIL
Bacia da Foz do Amazonas
LO 102/00 CGG Bacias de Campos e Espírito Santo

LO 107/00 PGS Bacias do Espírito Santo, Campos e Santos.

LO 108/00 SCHLUMBERGER Bacia de Campos


Bloco BPOT-2 e Campo de Caraúna
LO 130/01 SFR
Bacias do Ceará e Potiguar
LO 131/01 PGS Bacias do Ceará e Potiguar
GRANT
LO 137/01 Bacia Potiguar
GEOPHYSICAL
LO 143/01 VERITAS Bacia de Santos
Campos de Atum, Xaréu e Espada
LO 149/01 PETROBRAS
Bacia do Ceará
LO 181/01 CGG Bacia de Santos
GRANT Zona de Transição
LO 191/02
GEOPHYSICAL Bacia de Camamu/Almada

Bacias de Sergipe/Alagoas, Camamu/Almada,


LO 194/02 PGS
Jequitinhonha e Cumuruxatiba

Bloco BM-FZA-1
LO 204/02 BP BRASIL
Bacia da Foz do Amazonas
LO 208/02 CGG Bacia de Sergipe/Alagoas

204
Licença Empresa Localização
Campos de Camorim, Caioba, Dourado e Guaricema
LO 224/02 PETROBRAS
Bacia de Sergipe/Alagoas

Bloco BCE-5
LO 234/02 PETROBRAS
Bacia do Ceará
LO 242/02 VERITAS Bacias do Espírito Santo e Campos

LO 251/02 CGG Bacias de Campos e Espírito Santo

BPOT-1
LO 252/02 PETROBRAS
Bacia Potiguar
LO 259/02 PGS Bacias de Barreirinhas, Maranhão e Pará
LO 266/02 PGS Bacia do Ceará
Blocos BM-CE-1 e BM-CE-2
LO 293/02 CGG
Bacia do Ceará
Bacias do Ceará, Barreirinhas, Pará-Maranhão e Foz
LO 300/03 VERITAS
do Amazonas
Campos de Atum, Xaréu e Espada
LO 301/03 PETROBRAS
Bacia do Ceará

Blocos BM-CAL-5, BM-CAL-6 e BM-J-2


LO 303/03 PGS
Bacias de Camamu/Almada e Jequitinhonha

Blocos BM-BAR 1 e BM-BAR-3


LO 311/03 CGG
Bacia de Barreirinhas

LO 315/03 PGS Bacias do Espírito Santo, Campos e Santos.

Bacias de Cumuruxatiba, Jequitinhonha, Jacuípe,


LO 316/03 VERITAS
Sergipe e Alagoas
LO 322/03 WESTERN GECO Bacias de Campos e Espírito Santo
MAERSK OIL DO Bloco BM-S-15
LO 335/03
BRASIL Bacia de Santos
Bloco BM-S-3
LO 351/03 CGG
Bacia de Santos
Bloco BM-S-22
LO 354/03 AMERADA HESS
Bacia de Santos
Bacias da Foz do Amazonas, Pará/Maranhão e
LO 357/03 WESTERN GECO
Barreirinhas
LO 358/03 WESTERN GECO Bacias do Ceará e Potiguar
GRANT
LO 361/03 Bacia de Camamu/Almada
GEOPHYSICAL
Blocos BCAM-40 e BM-CAL-4
LO 383/04 PGS
Bacia de Camamu/Almada
LO 387/04 WESTERN GECO Bacias de Santos e Pelotas
Bloco BFZA-2
LO 400/04 BP BRASIL
Bacia da Foz do Amazonas
Bacias de Camamu/Almada, Jequitinhonha,
LO 409/04 WESTERN GECO
Cumuruxatiba e Mucuri
Blocos BM-J-2 e BM-J-3
LO 410/04 CGG
Bacia de Jequitinhonha

205
Licença Empresa Localização
Bacias de Foz do Amazonas, Pará/Maranhão e
LO 414/04 CGG
Barreirinhas
Bloco BM-POT-11
LPS 001/04 PETROBRAS
Bacia Potiguar
Tecnologia OBC
LPS 002/04 WESTERN GECO
Bacia de Campos
BM-J-1 e BM-J-2
LPS 003/05 PGS
Bacia de Jequitinhonha
BM-S-22
LPS 004/05 PGS
Bacia de Santos
BM-ES-24
LPS 005/05 PGS
Bacia do Espírito Santo
BM-SEAL-9
LPS 006/05 PETROBRAS
Bacia de Sergipe/Alagoas
LPS 007/05 PGS Bacia de Camamu-Almada - Fase I
BM-S-42
LPS 008/05 PGS
Bacia de Santos
BM-S-36 e BM-S-29
LPS 009/06 CGG
Bacia de Santos
BM-S-40
LPS 010/06 PGS
Bacia de Santos
Campo de Jubarte
LPS 011/06 PGS
Bacia de Campos
BM-J-4 e BM-J-5
LPS 012/06 PGS
Bacia de Jequitinhonha
LPS 013/06 PGS Bacia de Camamu-Almada - Fase II
BM-S-4
LPS 014/06 PGS
Bacia de Santos
BM-C-28
LPS 015/06 CGG
Bacia de Campos
BM-S-29
LPS 016/06 PGS
Bacia de Santos
BM-FZA-4 e BM-FZA-5
LPS 017/06 CGG
Bacia da Foz do Amazonas
BM-C-7
LPS 018/06 PGS
Bacia de Campos
LPS 019/06 REPSOL YPF Bacia de Santos
BM-SEAL-4, 10 e 11
LPS 020/06 CGG
Bacia de Sergipe/Alagoas
BM-C-26 e BM-C-27
LPS 021/07 CGG
Bacia de Campos
BM-S-50, 52 e 53
LPS 022/07 PGS
Bacia de Santos

Fonte: Relatórios Internos e Centro de Documentação da CGPEG.

O prazo necessário para a emissão das licenças, descontados os períodos


utilizados para elaboração de respostas e complementações pelos empreendedores,

206
variou bastante ao longo do tempo, desde o início do licenciamento pelo IBAMA. Neste
item, serão apresentados dados referentes às duas principais fases do licenciamento:
antes e depois da Resolução CONAMA nº 350/04.

A Figura 59 mostra os tempos de análise necessários para emissão das


Licenças de Operação para a atividade de pesquisa sísmica marítima antes da
publicação da Resolução CONAMA n° 350/04.

Tempo
Tempo de
de licenciamento
licenciamento pré-Resolução
pré-Resolução CONAMA
CONAMAnº
nº 350/04
350/04

600
600

500
500
(dias)
licenciamento(dias)

400
400
delicenciamento

300
300
Tempode

200
200
Tempo

100
100

00
49 /99
LLOO0056/999
LLOO0063/999
63 /99
LLOO0076/999
LLOO0079/000
79 /00
LLOO1102/ 000
LLOO1107/000
/00

LLOO1130/000
LLOO1131/011
31 /01
LLOO1143/011
LLOO1149/011
49 /01
LLOO1191/ 011
LLOO1194/022
94 /02
LLOO2208/022
LLOO2224/022
24 /02
LLOO2242/022
LLOO2251/022
51 /02
LLOO2259/ 022
LLOO2266/022
66 /02
LLOO3300/022
LLOO3301/033
01 /03
LLOO3311/033
LLOO3315/ 033
15 /03
LLOO3322/ 033
LLOO3335/033
35 /03
LLOO3354/033
LLOO3357/033
57 /03
LLOO3361/033
LLOO3383/ 033
3 /04
LLOO4400/ 044
LLOO4409/044
09 /04
LLOO4414/044
/04
LLOO0050/99

LLOO0071/99

LLOO0090/00

LO 1108 0

LLOO1137/01

LLOO1181/01

LLOO2204/02

LLOO2234/02

LLOO2252/02

LLOO2293/02

LLOO3303/03

LLOO3316/03

LLOO3351/03

LLOO3358/03

LLOO3387/04

LLOO4410/04

4
50 /9
56 /9

71 /9
76 /0

90 / 0
2 /0

08 /0
30 /0

37 /0
43 /0

81 / 0
91 /0

04 /0
08 /0

34 /0
42 /0

52 / 0
59 /0

93 /0
00 /0

03 /0
11 / 0

16 / 0
22 /0

51 /0
54 /0

58 /0
61 / 0

87 / 0
00 /0

10 /0
07/0

14/0
LLOO0049

8
L O

Figura 59: Tempo necessário para a emissão das Licenças de Operação no período pré-
Resolução CONAMA n° 350/04, descontando-se o tempo necessário para elaboração de
complementações e esclarecimentos pelo empreendedor.

Ressalta-se que o prazo legal máximo para análise do licenciamento era de 6


meses (180 dias), exceto os casos de EIA/RIMA (LO nº 361/03 e LO nº 383/04), para
os quais a norma previa até um ano de análise (Resolução CONAMA nº 237/97, art.
14). Assim, das 48 Licenças de Operação emitidas pelo IBAMA nessa fase, 20 foram
concedida após o decurso do prazo legal máximo.

Esse dado indica que o modelo de licenciamento pré-Resolução CONAMA nº


350/04 precisava de ajustes urgentes, pois 41,7% dos processos ultrapassavam o
prazo regulamentar, apresentando uma demora incompatível com a dinâmica do setor.
A evolução anual da média de tempo necessário para a análise dos licenciamentos de
pesquisas sísmicas, retratada na Figura 60 a seguir, corrobora esa avaliação.

207
Tempo
Tempo Médio
Médio de
de Licenciamento
Licenciamento
Período
Período pré-Resolução
pré-Resolução CONAMA
CONAMA nº
nº 350/04
350/04
(dias)
Licenciamento(dias)

350
350 314,5
314,5
de Licenciamento

300
300

250
250 222,7
222,7
202,3
202,3
200
200
156,3
156,3
150
150
108,5
Médiode

108,5
TempoMédio

100
100
52,4
52,4
50
50
Tempo

5 6 6 12 13 8
00
1999
1999 2000
2000 2001
2001 2002
2002 2003
2003 2004
2004

Figura 60: Evolução anual do tempo médio de licenciamento no período pré-Resolução


CONAMA nº 350/04. Os números em branco correspondem ao número de licenças concedidas
no respectivo ano.

Pela análise da figura anterior, pode-se perceber claramente que o órgão


licenciador não estava conseguindo manter-se a par da demanda do licenciamento,
mesmo com a evolução do quadro técnico do ELPN (ver item 5.8.1) – que explica em
parte a melhora no desempenho ocorrida no ano de 2002.

Após a entrada em vigor da Resolução CONAMA n° 350/04, no outro período


histórico do licenciamento ambiental da pesquisa sísmica marítima, já foram emitidas
22 licenças até janeiro de 2007. Desse total, 4 processos seguiram o rito referente à
Classe 1 de licenciamento, 5 processos foram enquadrados na Classe 2 e os demais
13 projetos trilharam o licenciamento simplificado da Classe 3.

A Figura 61 apresenta o tempo de análise necessário para cada licença emitida


no modelo instituído pela Resolução CONAMA n° 350/04, assinalando as respectivas
classes de licenciamento.

208
Tempo
Tempo de
de Licenciamento
Licenciamento
(dias)
licenciamento (dias) Período
Período pós-Resolução
pós-Resolução CONAMA
CONAMAn°
n° 350/04
350/04
450
450 415
415
400
400 341
341
de licenciamento

350
350
300
300 251
251 246
246
250
250
189
189
200
200 170
170
139
139 126 128
150
150 126 128
102
102 90 99
99 104
104
85 87
85
Tempo de

73 90 87 78
78
100
100 58
58 73
24
24 33 36 41
41
Tempo

50 33 36
50
00

/ 077
LLPPS 2211//007
LLPPS 2200//006
LLPPS 1199//006
LLPPS 1188//006
LLPPS 1177//006
LLPPS 166//006
LLPPS 1155//006
LLPPS 1144//006
LLPPS 1133//006
LLPPS 1122//006
LLPPS 111//006
LLPPS 1100//006
LLPPS 0099//006
LLPPS 0088//005
LLPPS 0077//005
S 00 055
LLPPS 0044//005

S 00 5**
4**

0 4**
S 00 5**

7
6
6
6
6
6
1 6
6
6
6
6
1 6
6
5
5
5

LLPPS 066//005
LLPPS 0011//004
LLPPS 0022//004
LLPPS 033//005

2222/ 0
LLPPS 0 0055// 0
0

S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 00
S 0
S 00
S 00
S 00
LLPPS

Figura 61: Tempo necessário para a emissão das Licenças de Pesquisa Sísmica,
descontando-se o tempo necessário para elaboração de complementações e esclarecimentos
pelo empreendedor. As licenças assinaladas com um asterisco são referentes a processos que
foram iniciados antes da vigência da nova resolução, tendo sido penalizados com um
procedimento de transição. Legenda de cores: Azul - Classe 1; Grená - Classe 2; Verde -
Classe 3. Atualizado até janeiro/2007.

Considerando os prazos estipulados na Resolução CONAMA nº 350/04 – de 1


ano para o licenciamento com EIA/RIMA e 180 dias nos demais casos – apenas as
LPS nº 015/06 e nº 021/06 ultrapassaram o tempo regulamentar.

As médias de tempo observadas no licenciamento pós-Resolução CONAMA nº


350/04 em cada classe de licenciamento podem ser observadas na Tabela 13, a qual
também discrimina a média de revisões necessárias para a aprovação dos estudos
ambientais por classe.

Tabela 13: Dados quantitativos referentes às classes de licenciamento pós-Resolução


CONAMA nº 350/04, incluindo nº de licenças, tempo médio, máximo e mínimo de licenciamento
e média de revisões necessárias para a aprovação dos estudos ambientais. Atualizado até
janeiro/2007.

Tempo Tempo
Nº de Média Média de
Classes Mínimo Máximo
licenças em dias revisões
(dias) (dias)
Classe 1 4 313,3 246 415 2,0
Classe 2 5 121,6 78 189 2,0
Classe 3 13 78,9 24 170 1,2
Geral 22 131,2 24 415 1,5

209
Os dados da Tabela 13 indicam que, ao menos em relação ao prazo de
licenciamento, as classes definidas pela Resolução CONAMA nº 350/04 formaram na
prática 3 níveis distintos de exigência, sendo progressivamente mais demorados os
processos das classes 2 e 1 quando comparados com aqueles da classe 3.

A seguir, a Figura 62 consolida as informações sobre tempo de licenciamento


de todas as pesquisas sísmicas já concedidas no Brasil, até janeiro de 2007.

210
Tempo
Tempo de
de licenciamento (dias)
licenciamento (dias)

100
200
300
400
500
600

00
100
200
300
400
500
LLO
O 00449/9
LLO
O 005590/9 99
/999
600
LLO
O 005506/9/999
LLO
55
O 006663/9/9 9
LO 3/9
LO 007711/999
L
LO /9
O 00776/09
LLO
O 007769/0 00
/000
LLO
O 009990/0/000
66

LLO
O 110002/0
2/0/0 0
LO
LO 110077/000
L
LO /0
O 11008/00
LLO
O 113380/0 00
/011
LLO
O 113301/0/011
LLO
O 113317/0
7/0/0 1
LO
66

LO 114433/011
L
LO /0
O 11449/01
LLO
O 118891/0 11
/011
LLO
O 119911/0/022
LLO /0
O 119914/0
4
L
LO /0
O 22004/022
L
LO 4 /0
O 22008/022
LLOO 222284/0 22
/022
LLOO 223344/0
/022
LLO /0
12

O 224442/0
2 /0
12

L O
LO 225511/022
L
LO /0
O 22552/022
LLOO 225529/0 22
/022
Tempo

LLOO 226696/0
/022
LLO /0
O 229963/0
3
L
LO /0
O 33000/022
0
Tempo de

LLO /0
O 33001/033
LLOO 330013/0 33
L O 3/0/033
LO 331111/0 3
LLOO 33115/0 3
/033
LLOO 331156/0
/033
LLOO 332262/0
/033
13

LLO
13

O 333325/0
/033
LLOO 335551/0
jul1999-jan2007

1/0/0 3
jul1999-jan2007

L O
LO 335544/033
L
LO /0
O 33557/03
LLOO 335578/0 33
/033
de licenciamento

LLO
licenciamento

O 336681/0
/033
LLOO 338813/0
3/0/0 4
L O
LO 338877/044
LLO /0
O 44000/04
LLOO 440009/0 44
/044
LLOO 441190/0
88

/044
LLO /0
O 441104/0
4
L P /0
LPSS 0000 1/044
L 1 /0
LPPSS 0000 2/044
LLPPSS 000023/0 44
/055
LLPPSS 000034/0
/055
L P /0
LLPPSS 000045/0
5 /0
66

LPSS 0000 6/055


6 /0
LLPPSS 0000 7/055
LLPPSS 000078/0 55
/055
LLPPSS 000089/0
/066
L 0 /0
LLPPSS 001190/0
/0
LPPSS 0011 1/066
L 1 /0
LPPSS 0011 2/066
LLPPSS 001123/0 66
/066
LLPPSS 001134/0
/066
12

/0
LLPPSS 001145/0
12

L P 5 /0
LPSS 0011 6/066
LLPPSS 001167/0 66
/066
LLPPSS 001178/0
/066
L P /0
LLPPSS 001189/0
9 /0
LPSS 0022 0/066
L 0 /0
LPPSS 0022 1/066
77
22

LLPPSS 002212/0
2/0/077
2007 comprometida pelo baixo número de amostras. O número presente em cada período anual representa a quantidade de licenças emitidas naquele ano.

211
janeiro/2007. As linhas pontilhadas dividem os anos. A linha contínua representa a evolução da média anual de tempo de licenciamento, estando a média de
Figura 62: Tempo necessário para a emissão de todas as licenças já concedidas para pesquisas sísmicas marítimas no Brasil – levantamento atualizado até
5.7. Mitigação, Monitoramento e Compensação

A evolução dos procedimentos de mitigação, monitoramento e compensação


dos impactos ambientais associados às pesquisas sísmicas marítimas está
intimamente ligada à evolução do sistema de licenciamento ambiental da atividade.

Anteriormente ao início do licenciamento pelo IBAMA, em 1999, a atividade era


realizada sem nenhum tipo de controle governamental. A Petrobras, empresa
detentora do monopólio da exploração e produção de petróleo até 1997, contratava
levantamentos sísmicos como parte de sua estratégia exploratória sem solicitar
qualquer anuência aos órgãos ambientais.

Assim, a operação era realizada sem a adoção de medidas mitigadoras e de


monitoramento, colocando em risco não só a fauna marinha como os pescadores que
porventura utilizassem a mesma região para exercer sua atividade. Há relatos da
ocorrência de inúmeros acidentes envolvendo navios sísmicos e embarcações
pesqueiras (pequenos barcos, canoas etc.) em águas do Nordeste Brasileiro
(Geofísico José Cespedes Barbosa, comunicação pessoal, 2006). Como esses
acidentes produziam severos danos às embarcações e, por vezes, causavam a morte
de pescadores, não existem registros públicos dessas ocorrências, apenas relatos
orais.

A partir de 1999, o IBAMA passou a exigir pelo licenciamento ambiental a


implementação de medidas mitigadoras e de monitoramento para a operação de
navios sísmicos em águas brasileiras. Essas medidas eram e são até hoje
organizadas sob a forma de Projetos Ambientais.

Existem Projetos Ambientais que foram exigidos já nos primeiros


licenciamentos ocorridos no país e são exigidos até hoje, tendo sofrido algumas
alterações ao longo do tempo. São eles:

− Projeto de Controle da Poluição;

− Projeto de Monitoramento da Biota Marinha;

− Projeto de Comunicação Social;

− Projeto de Educação Ambiental dos Trabalhadores;

− Plano de Ação de Emergência.

Alguns projetos foram exigidos para levantamentos específicos, como o Projeto


de Monitoramento do Impacto sobre a Comunidade Zooplanctônica e o Projeto de
Acompanhamento da Atividade por Representantes da Comunidade Local.

212
Outros projetos são mais recentes e foram incorporados ao conjunto básico de
mitigação e monitoramento de pesquisas sísmicas em águas rasas (Classe 1), como o
Projeto de Monitoramento do Desembarque Pesqueiro e o Projeto de Monitoramento
de Praias.

A seguir, estão sintetizados os objetivos e ações principais dos Projetos


Ambientais normalmente exigidos pelo IBAMA no licenciamento ambiental.

Tabela 14: Resumo dos principais projetos ambientais exigidos pelo IBAMA para a realização
de pesquisas sísmicas marítimas.

Projeto Objetivos principais Ações principais


Projeto de Minimizar a geração de Garantir a rastreabilidade dos resíduos.
Controle da resíduos e efluentes.
Segregação do lixo a bordo.
Poluição
Maximizar a reciclagem e
Pleno funcionamento do separador de água
reutilização dos resíduos e
e óleo.
efluentes.
Utilizar empresas de coleta e transporte
Promover a destinação final
regularmente licenciadas pelo órgão
dos resíduos e efluentes
estadual.
não-reutilizados e não-
reciclados de acordo com Utilizar aterros sanitários e industriais
as normas vigentes regularmente licenciados pelo órgão
estadual.
Projeto de Mitigar a ocorrência de Empregar o aumento gradual da potência
Monitoramento potenciais impactos sobre a dos canhões de ar (soft start).
da Biota Marinha fauna marinha.
Manter dois observadores de biota em
Monitorar a ocorrência de esforço simultâneo de observação e registro
mamíferos e quelônios e o de fauna.
seu comportamento frente
Adotar área de segurança de 500 metros,
aos disparos sísmicos.
com desligamento dos canhões de ar em
caso de presença de mamíferos ou
quelônios.
Projeto de Informar às partes Distribuir material informativo junto às
Comunicação interessadas sobre a comunidades costeiras.
Social realização da pesquisa
Realizar reuniões com lideranças e grupos
sísmica, seus impactos
sociais potencialmente afetados.
efetivos e potenciais e as
medidas mitigadoras, Promover rádio-difusão e aviso aos
compensatórias e de navegantes para prevenção de acidentes
monitoramento a serem marítimos.
adotadas.
Divulgar formas para obtenção de
Mitigar a interferência com a indenização por danos a petrechos de pesca
atividade de pesca e embarcações.
artesanal.
Disponibilizar de linha telefônica gratuita
para atendimento à população.

213
Projeto Objetivos principais Ações principais
Projeto de Sensibilizar, informar e Realizar atividades de treinamento utilizando
Educação capacitar os trabalhadores, metodologias e recursos didáticos que
Ambiental dos enfatizando as enfatizem a reflexão/participação dos
Trabalhadores interferências causadas ao trabalhadores, levando em conta os
ambiente natural e social e pressupostos de interdisciplinariedade e
os cuidados necessários à respeito à diversidade social e biológica.
execução da atividade.
Promover uma convivência
positiva entre os
trabalhadores e desses com
os usuários do espaço
marinho onde a pesquisa
sísmica ocorrerá.
Plano de Ação Mitigar as conseqüências de Realizar uma análise dos riscos ambientais
de Emergência possíveis acidentes com envolvidos na atividade.
derramamento de óleo.
Estruturar um sistema de alerta para acionar
o procedimento de resposta ao
derramamento e de comunicação do
acidente.
Dimensionar e manter a bordo das
embarcações equipamentos suficientes para
uma primeira resposta a derramamentos de
óleo.
Projeto de Registrar a produção Caracterizar a atividade pesqueira artesanal
Monitoramento pesqueira da frota potencialmente afetada pela pesquisa
do Desembarque artesanal. sísmica.
Pesqueiro
Monitorar a ocorrência de Disponibilizar monitores em todos os pontos
variações significativas no de desembarque significativos da região.
desembarque pesqueiro da
Realizar a coleta de dados de captura no
região antes, durante e
padrão do Projeto Estatpesca do IBAMA.
depois da realização da
pesquisa sísmica.

Plano de Compensar as Fomentar projetos locais voltados para o


Compensação da comunidades afetadas pela uso sustentável dos recursos pesqueiros, a
Atividade restrição de acesso a partir de demandas da própria comunidade
Pesqueira pesqueiros tradicionais e identificadas por meio de metodologias
pelas demais interferências participativas. Não há compensações
causadas pela pesquisa individuais.
sísmica.
Fonte: Termos de Referência e Documentos de apoio ao licenciamento do IBAMA.

Além das medidas previstas nos Projetos Ambientais, existem outros


instrumentos que visam minimizar o impacto ambiental da atividade, como, por
exemplo, o estabelecimento de áreas com restrições temporárias à realização de
pesquisas sísmicas.

As restrições temporárias podem ser estabelecidas de duas formas distintas:


caso-a-caso, a partir da avaliação ambiental contida no estudo específico; e de forma

214
genérica, estabelecendo-se de antemão quais as áreas e períodos de restrição à
atividade de sísmica.

A restrição temporária – modalidade caso-a-caso – ocorre principalmente


devido a ocorrência de períodos de safra de recursos pesqueiros importantes para a
comunidade costeira. Quando a pesquisa sísmica proposta coincide significativamente
com as áreas de pesca e um conflito acentuado pelo uso do espaço pode ser
antecipado, o IBAMA exige a alteração no cronograma da empresa de modo a
minimizar a interferência com os pescadores artesanais. No entanto, essa modalidade
de restrição temporária pode ser definida também para proteger determinado recurso
biológico de ocorrência sazonal.

Já a modalidade genérica implica na definição, de antemão, das áreas e


períodos sensíveis a determinadas espécies. Historicamente, essa definição coube à
Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros – DIFAP/IBAMA que manifestava à
Diretoria de Licenciamento Ambiental – DILIC/IBAMA sua posição pelo
estabelecimento de áreas de restrição temporária. Hoje em dia, existe um Grupo de
Trabalho no IBAMA, instituído pela Portaria nº 2040/05 e renovado recentemente pela
Portaria nº 2110/06, responsável pela discussão de aspectos relacionados à indústria
do petróleo. Uma das tarefas desse GT é revisar as áreas de restrição temporária
existentes e propor novas áreas, se for o caso, considerando as visões das diferentes
diretorias do IBAMA que compõem o Grupo de Trabalho.

As Áreas de Restrição Temporária estabelecidas atualmente para a atividade


de pesquisa sismica marítima são as seguintes:

Tabela 15: Áreas de Restrição Temporária à realização de pesquisas sísmicas marítimas


estabelecidas atualmente pelo IBAMA.

Período de
Espécie/Grupo Área
Restrição
Baleia Jubarte 1º de junho a 30 De Barra do Riacho/ES a Mangue Seco/BA,
de novembro da costa até a profundidade de 500 metros.
Baleia Franca 1º de junho a 15 Litoral dos estados do Paraná, Santa
de dezembro Catarina e Rio Grande do Sul, da costa até
a profundidade de 50 metros.
Tartarugas Marinhas 1º de outubro ao De Macaé/RJ a Ponta do Itabapoana/RJ;
(todas as espécies) final de fevereiro.
De Barra do Riacho/ES a Barra do Una/BA;
De Ponta de Itapoã/BA a Pontal do
Peba/AL;
Da costa até a distância ortogonal de 15
milhas náuticas (~27,8 km).

215
Período de
Espécie/Grupo Área
Restrição
Tartarugas Marinhas 1º de dezembro De Acaú/PB a Ponta Negra/RN.
(todas as espécies) a 31 de março
Da costa até a distância ortogonal de 15
milhas náuticas (~27,8 km)
Peixe-Boi Marinho 1º de setembro a Da foz do Rio São Francisco/AL a
31 de maio Aquiraz/CE;
De Bitupitá/CE à divisa Piauí/Maranhão;
Da Baía de Tubarão/MA até a fronteira com
a Guiana Francesa;
Da costa até a profundidade de 12 metros.
Peixe-Boi Marinho O ano inteiro De Barroquinha/CE a Luís Corrêia/PI,
referente à Foz do rio Timonhas (parte da
APA do Delta do Parnaíba) e adjacências;
De Lucena/PB a Baía da Traíção/PB,
correspondente à Foz do Rio
Mamanguape/PB (parte da APA da Barra
do Rio Mamanguape) e adjacências;
De Maceió/AL a Rio Formoso/PE
correspondente a extensão da APA Costa
dos Corais;
Da costa até a profundidade de 12 metros.
Fonte: Pareceres Técnicos e Informações Técnicas do IBAMA

Ressalta-se que a Resolução CONAMA nº 350/04 obriga o IBAMA a “definir por


meio de ato administrativo” as áreas e períodos de restrição para a realização de
pesquisa sísmicas (art. 8º). Como até o momento não houve a edição de nenhum ato
administrativo com tal finalidade (Portaria, Instrução Normativa etc.), é possível
considerar irregular a presente definição das áreas de restrição, estando o órgão
ambiental sujeito a questionamentos jurídicos sobre essa impropriedade.

Outra importante medida mitigadora exigida pelo IBAMA é a utilização de


embarcações assistentes para orientar a movimentação de embarcações na área de
operação. As embarcações assistentes, tipicamente barcos pesqueiros adaptados,
navegam à frente do arranjo sísmico com uma antecedência suficiente para
providenciar a liberação da linha de passagem do navio-fonte e evitar possíveis
acidentes, seja com barcos de pesca ou com petrechos como redes e espinhéis. Em
áreas com alta densidade de atividade pesqueira as empresas devem utilizar mais de
uma embarcação assistente, não sendo raro a alocação de 3 embarcações para essa
tarefa.

216
Em cada abordagem das embarcações assistentes deve ser preenchida uma
Planilha de Controle de Abordagem das Embarcações Pesqueiras, fornecida pelo
IBAMA, com o objetivo de avaliar a dimensão da interferência sobre a atividade
pesqueira, assim como a efetividade do Projeto de Comunicação Social.

5.8. Evolução do contexto institucional

5.8.1. Histórico da composição do escritório de licenciamento

O licenciamento ambiental da atividade de pesquisa sísmica marítima no Brasil


é realizado pelo IBAMA desde seu início, em 1999, uma vez que a Resolução
CONAMA nº 237/97 estabelece que o licenciamento de atividades desenvolvidas no
mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva é de
competência federal (art. 4º, item I). Mais especificamente, o licenciamento é
conduzido pelo Escritório de Licenciamento das atividades de Petróleo e Nuclear -
ELPN, instalado no prédio da Superintendência Estadual do IBAMA no Rio de Janeiro.

O ELPN foi criado em dezembro de 1998 através da Portaria IBAMA nº 166-N


com o objetivo de fazer frente à perspectiva de intensificação das atividades de
exploração e produção (E&P) de petróleo a partir da flexibilização do monopólio
estatal. A localização do escritório no Rio de Janeiro – única unidade descentralizada
do licenciamento ambiental federal – foi motivada pela presença local das sedes ou
principais escritórios dos diversos agentes do mercado, como a ANP, a Petrobras e as
demais empresas privadas. Levando em consideração ainda que o estado do Rio de
Janeiro é responsável por mais de 80% da produção nacional de petróleo e gás
natural (ANP, 2006), a decisão de situar o ELPN no Rio buscou maximizar a interação
entre o órgão ambiental, o órgão regulador e as empresas do setor.

Apesar disso, o início do licenciamento das atividades de E&P no Rio de


Janeiro sofreu com a falta de estrutura adequada. Em 1999, o corpo técnico
permanente do ELPN contava com apenas 6 profissionais para realizar todo o trabalho
de elaboração de diretrizes, análise de estudos ambientais e acompanhamento pós-
licença para as atividades de pesquisa sísmica, perfuração de poços, desenvolvimento
da produção de petróleo e ainda avaliar as questões relativas à indústria nuclear. O
licenciamento das atividades nucleares foi desenvolvido pelo ELPN até meados do
ano 2000, quando foi absorvido pela equipe de licenciamento ambiental do IBAMA –
sede em Brasília/DF.

217
Além dos 6 profissionais fixos da equipe do ELPN, todos consultores
contratados com recursos de organismos internacionais (OMM – Organização
Meteorológica Mundial), o licenciamento era realizado com a colaboração eventual de
servidores da Superintendência do IBAMA no Rio de Janeiro.

A partir do final do ano 2000 até o início de 2002, o corpo técnico do ELPN foi
ampliado mediante a contratação de consultores técnicos através de convênio firmado
entre o Ministério do Meio Ambiente/MMA e a Universidade Estadual do Rio de
Janeiro/UERJ, e de recursos provenientes de projetos geridos pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento/PNUD. Ao final desse período, a equipe
técnica do ELPN contava com cerca de 18 profissionais dedicados à análise de
estudos e relatórios ambientais.

No entanto, a crescente demanda por licenciamento das atividades de E&P fez


com que nem a contratação de consultores técnicos suprisse a necessidade de
recursos humanos para a tarefa. Como agravante, a modalidade de contratação por
consultoria apresenta inúmeros inconvenientes, a começar pelo vínculo instável, o que
pode comprometer a independência dos profissionais para emissão dos pareceres.
Além disso, era comum que os técnicos adquirissem experiência no IBAMA e fossem
contratados por empresas do setor (Malheiros, 2002), levando consigo a história da
instituição e comprometendo a capacidade de licenciamento do órgão ambiental.

Em março de 2002, houve a celebração do Acordo de Cooperação Técnico-


Científico entre o IBAMA e a ANP, cuja verba passou a viabilizar o pagamento e novas
contratações de consultores técnicos para a equipe-base do ELPN. Assim, em 2002 o
corpo de consultores dedicados à análise de estudos e relatórios ambientais passou a
contar com cerca de 20 profissionais contratados, além de 6 técnicos contratados para
o suporte administrativo.

Nesse ano, houve a divisão dos técnicos em 5 equipes distintas, a saber: 2


equipes para o licenciamento dos empreendimentos ligados ao desenvolvimento da
produção, 1 equipe para licenciar a atividade de perfuração de poços exploratórios, 1
equipe para licenciar a atividade de pesquisa sísmica marítima e 1 equipe dedicada ao
acompanhamento pós-licença, envolvendo a análise de relatórios e a realização de
vistorias de acompanhamento.

As diferentes equipes só foram consolidadas de fato com a chegada dos 13


analistas ambientais provenientes do concurso público realizado em julho/2002. Os
novos analistas entraram em exercício nos meses de novembro/dezembro mas só
foram absorvidos na rotina de licenciamento em janeiro de 2003.

218
Durante o ano de 2003 o ELPN recebeu mais alguns analistas advindos da
reclassificação do concurso público, de forma que em agosto/2003 o quadro técnico
do escritório contava com 38 técnicos: 1 chefe, 21 consultores e 16 analistas
ambientais.

Até março de 2003, as licenças emitidas pelo ELPN eram assinadas pelo
Gerente Executivo do IBAMA no Rio de Janeiro, em uma descentralização do
processo decisório federal. A partir desse mês, com a mudança de governo e da
presidência do IBAMA, a assinatura das licenças voltou a ser prerrogativa do
presidente do IBAMA. Considerando que o ELPN, à época, era vinculado
tecnicamente à Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental – DILIQ em Brasília
e o vínculo com a Gerência Executiva no Rio de Janeiro era meramente
administrativo, a delegação ao gerente executivo local para emissão das licenças era,
de fato, uma distorção a ser sanada.

Nos meses de setembro e outubro de 2003, os novos analistas ambientais


participaram de um curso de capacitação em exploração e produção de óleo e gás
oferecido pelo Instituto Brasileiro do Petróleo/IBP. O curso teve carga horária
aproximada de 100 horas e foi focado nas tecnologias de exploração e produção de
óleo e gás, abordando ainda alguns tópicos de economia do petróleo.

Ao final de 2003, o Acordo de Cooperação Técnico-Científico entre o IBAMA e


a ANP teve sua vigência expirada, deixando o ELPN sem recursos para manter seu
quadro de consultores. A saída encontrada à época foi a contratação de consultores
via PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em contratos na
modalidade Retainer.

Em fevereiro de 2004, o ELPN recebeu 7 analistas ambientais provenientes do


concurso para admissão por contrato temporário realizado em novembro de 2003, com
base no disposto na Lei nº 8.745/93. O contrato temporário destes funcionários tem
validade máxima de 4 anos.

Em novembro de 2004, a situação do ELPN em termos de recursos humanos


era a seguinte: 39 funcionários realizando análise de estudos ambientais, sendo 22
analistas ambientais permanentes, 7 analistas ambientais temporários e 11
consultores técnicos PNUD/Retainer.

Ao final do contrato PNUD/Retainer, em dezembro de 2004, o ELPN se viu,


novamente, impossibilitado de manter sob contrato o corpo de consultores técnicos.
Muitos desses consultores trabalhavam no escritório há anos, dispondo de grande
experiência, sendo que alguns desempenhavam funções específicas sem substituição

219
possível junto ao quadro de analistas – como era o caso do oceanógrafo especialista
em modelagem de derramamento de óleo, tema fundamental para o licenciamento das
atividades de perfuração e produção de petróleo e gás.

O mecanismo encontrado para a contratação desses perfis profissionais


indispensáveis foi o estabelecimento de contratos PNUD por produto com duração de
6 meses. Assim, os consultores deixaram de fazer parte da equipe-base do
licenciamento e passaram a desenvolver suas análises fora do ELPN e apresentar
seus pareceres técnicos individualizados para consideração no decorrer dos
processos de licenciamento. O processo de publicação dos editais e seleção dos
candidatos para contratação por produto tomou todo o primeiro semestre de 2005.
Foram contratados ao todo 17 profissionais por essa modalidade de contrato.

Ao longo de 2005, dos 7 analistas ambientais de contrato temporário, 4


rescindiram contrato, restando apenas 3 técnicos sob esta modalidade de contratação
– o que demonstra a ineficácia desse tipo de contrato, pois o profissional tende a
continuar procurando outras oportunidades de emprego, dada a efemeridade de seu
vínculo com o IBAMA.

Em contrapartida, houve a chegada de novos analistas ambientais


concursados a partir de outubro/2005. Inicialmente, 13 analistas novos foram
admitidos no final do ano, sendo integrados às equipes de licenciamento na medida
em que chegaram.

No final de 2005, a situação do ELPN em termos de recursos humanos era a


seguinte: 35 funcionários na equipe-base do licenciamento, sendo 32 analistas
ambientais permanentes e 3 analistas ambientais temporários e a colaboração pontual
de 17 consultores técnicos PNUD por produto.

Em março de 2006, foi instituída a nova estrutura regimental do IBAMA por


meio do Decreto Federal nº 5.718/2006, que elevou o ELPN à categoria de
Coordenação Geral de Petróleo e Gás/CGPEG. A CGPEG é a única Coordenação
Geral – 3º escalão do Instituto – localizada fora de Brasília, o que dá uma dimensão da
importância institucional dessa mudança para o escritório.

Com a criação da CGPEG, a divisão em equipes também foi alterada. Como


houve a alocação de apenas 2 cargos de chefia para a Coordenação Geral, a saída foi
agrupar as equipes em duas coordenações: Coordenação de Exploração/COEXP,
incorporando as equipes de sísmica e de perfuração e a Coordenação de
Produção/CPROD, absorvendo a antiga equipe de produção. Os técnicos da equipe
de pós-licença foram divididos entre as coordenações.

220
Em meados de 2006, houve a chegada de mais alguns analistas ambientais
provenientes das reclassificações do concurso público, os quais, junto com os demais
servidores recém-contratados, freqüentaram uma nova edição do curso de
capacitação em exploração e produção de óleo e gás ministrado por profissionais
ligados ao IBP.

O quadro de profissionais da CGPEG ao final de 2006 era composto da


seguinte forma: 36 analistas ambientais, 2 analistas ambientais temporários e 7
consultores PNUD por produto.

A Tabela 16 e a Figura 63 sintetizam a evolução da composição do corpo


técnico do ELPN/CGPEG ao longo dos anos. Os números citados são aqueles
referentes ao final do ano em questão. É importante ressaltar que os números não
consideram as flutuações ocorridas ao longo dos anos, mas servem para traçar um
panorama da evolução do quadro funcional dedicado ao licenciamento de petróleo no
IBAMA.

Tabela 16: Evolução da composição do quadro técnico do ELPN-CGPEG, ao final de cada


ano. Não foram considerados os cargos administrativos ou de chefia do escritório.

Tipologia Funcional 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Analistas Ambientais –
- - - 13 16 20 32 35
Quadro permanente
Analistas Ambientais –
- - - - - 7 3 2
Contrato Temporário
Consultores – OMM 6 9 - - - - - -
Consultores – UERJ - - 17 - - - - -
Consultores – ANP - - - 22 16 - - -
Consultores – PNUD - - - - - 14 - -
Consultores – PNUD
- - - - - - 17 7
Contrato por Produto
TOTAL 6 9 17 35 32 41 52 44
Fonte: Relatórios anuais ELPN-CGPEG e Malheiros, 2002.

221
Evolução
Evolução da
da composição
composição do
do quadro
quadro técnico
técnico do
do ELPN-CGPEG
ELPN-CGPEG

55
55
50
50
Analistas
Analistas Ambientais
Ambientais ––permanentes
permanentes
45
45
40 Analistas
Analistas Ambientais
Ambientais ––temporários
temporários
40
técnicos
de técnicos

35
35 Consultores
Consultores ––OMM
OMM
30
30
Consultores
Consultores ––UERJ
UERJ
25
25
Nº de

20
20 Consultores
Consultores ––ANP
ANP

15 Consultores
15 Consultores ––PNUD
PNUD
10
10
Consultores
Consultores ––PNUD
PNUD por
por Produto
Produto
55
00
1999
1999 2000
2000 2001
2001 2002
2002 2003
2003 2004
2004 2005
2005 2006
2006

Figura 63: Representação gráfica da evolução da composição do quadro técnico do ELPN-


CGPEG, ao final de cada ano. Não foram considerados os cargos administrativos ou de chefia
do escritório. (Fonte: Relatórios anuais ELPN-CGPEG e Malheiros, 2002)

É possível perceber, pela análise da figura anterior, que a história do ELPN-


CGPEG foi caracterizada pela substituição gradual do corpo de consultores pelo de
analistas ambientais. Desde 2005, a CGPEG trabalha apenas com servidores públicos
em sua equipe-base, cabendo aos consultores apenas produtos específicos a serem
desenvolvidos fora do escritório.

Essa evolução é um sintoma do amadurecimento institucional pelo qual


atravessa o licenciamento de petróleo no Brasil. O estabelecimento de um corpo
técnico estável permite que o acúmulo de experiência no licenciamento permaneça no
órgão ambiental e possa ser traduzido em diretrizes, guias e manuais com ganhos de
produtividade e qualidade no processo de licenciamento.

5.8.2. Contexto institucional interno ao IBAMA

O amadurecimento institucional citado anteriormente também está refletido na


interação entre a CGPEG e os demais setores do IBAMA.

Em um primeiro momento, a interação do licenciamento com outros setores do


IBAMA acontecia majoritariamente durante o processo de consulta pré-concessão da
licença de operação. A cada processo de licenciamento, o então denominado ELPN

222
enviava cópias dos estudos ambientais para manifestação da Superintendência
Estadual do IBAMA mais próxima à atividade e da chefia de Unidades de Conservação
que porventura fossem localizadas próximas à operação em questão.

Posteriormente, a partir de meados de 2002, o ELPN deu início a um processo


de integração das diferentes diretorias do Instituto quando da preparação do Guia para
o licenciamento ambiental das atividades de perfuração de óleo e gás (IBAMA, 2002),
lançado no âmbito da 4ª Rodada de Licitações da ANP. Esse guia, pioneiro no Brasil,
foi produzido com base no documento Avaliação e Ações Prioritárias para
Conservação da Biodiversidade das Zonas Marinha e Costeira (MMA, 2002), com o
objetivo de auxiliar a tomada de decisão empresarial quanto ao investimento em
blocos exploratórios. Nesse sentido, foram realizadas reuniões técnicas congregando
diferentes setores do IBAMA, como as Diretorias de Fauna e de Ecossistemas e seus
Centros Especializados e Coordenações Gerais.

A partir da 5ª Rodada de Licitações da ANP, em 2003, motivado pela polêmica


envolvendo a inclusão de blocos exploratórios no Banco dos Abrolhos, o IBAMA
passou a discutir mais intensamente sobre as questões relativas ao setor de petróleo e
gás. Esse processo de debate interno culminou na solicitação de exclusão de parte
dos blocos da 5ª Rodada de Licitações da ANP e na edição de duas versões do Guia
de Licenciamento Ambiental: Perfuração e Sísmica.

A partir de 2004, esse trabalho de análise ambiental preliminar dos setores e


blocos a serem leiloados pela ANP e da atualização anual dos guias de licenciamento
passou a ser cada vez mais institucionalizado, com a configuração de uma rede de
cooperação entre profissionais das diferentes diretorias do órgão. Essa situação veio a
ser formalizada em 2005, com a edição da Portaria IBAMA nº 2040/05, que cria o
Grupo de Trabalho de Atividades de Exploração e Produção de Óleo no Território
Nacional do IBAMA, com diversas atribuições ligadas à gestão ambiental pública das
atividades de E&P de petróleo e Gás.

Esse Grupo de Trabalho, cuja formação atual é definida pela Portaria IBAMA nº
2110/06, é composto por técnicos da Diretoria de Licenciamento Ambiental – DILIC, da
Diretoria de Ecossistemas – DIREC, da Diretoria de Florestas – DIREF, da Diretoria de
Fauna e Recursos Pesqueiros – DIFAP e da Coordenação Geral de Petróleo e Gás –
CGPEG/DILIC, com colaboração do Centro Nacional de Conservação e Manejo de
Mamíferos Aquáticos – CMA, Centro de Tartarugas Marinhas - TAMAR, do Centro
Nacional das Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável – CNPT e do

223
Centro de Sensoriamento Remoto – CSR. A coordenação das ações do Grupo de
Trabalho fica a cargo da CGPEG.

Outra atribuição importante desse Grupo de Trabalho é a discussão das áreas


e períodos de restrição ou exclusão para as atividades de petróleo e gás ao longo da
costa brasileira. O GT trabalha atualmente na perspectiva de revisar as áreas já
existentes e da possibilidade de determinação de novas restrições.

Outras frentes de articulação intra-institucional foram abertas recentemente por


iniciativa da CGPEG. Nota-se que está sendo implementada uma política de inserção
das Superintendências Estaduais do IBAMA no processo de licenciamento ambiental,
inicialmente através de dois eixos temáticos: a Educação Ambiental e a Pesca. Esses
temas são tratados localmente nos estados por servidores organizados em núcleos, os
Núcleos de Educação Ambiental – NEA e os Núcleos de Pesca, os quais têm sido
chamados à participação pela CGPEG.

A CGPEG organizou em 2005/2006 dois grandes seminários temáticos de


educação ambiental e de pesca com o objetivo de integrar os técnicos dos diferentes
estados, capacitá-los quanto às questões da indústria petrolífera e traçar as
estratégias de atuação para os diferentes empreendimentos. A proposta é que os
servidores possam auxiliar na definição de medidas mitigadoras e compensatórias, no
desenvolvimento de projetos ambientais condicionantes da licença ou mesmo na
análise de estudos ambientais, colaborando com a visão local da dinâmica
socioambiental e proporcionando ganhos de efetividade na gestão ambiental da
atividade.

Também recentemente está sendo desenvolvida uma colaboração com o


pessoal ligado às redes de atuação do Centro TAMAR e do Centro de Mamíferos
Aquáticos, com o objetivo de aprimorar a implementação de Projetos de
Monitoramento de Praias em empreendimentos do setor de petróleo. Esses centros
possuem articulações ao longo da costa para o monitoramento de pontos de desova
de quelônios e de ocorrências de encalhes de mamíferos marinhos, as quais podem
ser utilizadas para maximizar a eficiência dos projetos com finalidades similares
solicitados no âmbito do licenciamento ambiental.

É imperativo ressaltar que todo o trabalho de articulação interna do IBAMA


pode estar sendo comprometido com a divisão do Instituto através da Medida
Provisória nº 366/07 de 26/4/2007. No momento de finalização deste trabalho, o
cenário ainda estava indefinido, com a proposta tramitando no Congresso Nacional
para conversão em lei federal. Independente do mérito da criação de um novo órgão

224
para gestão de Unidades de Conservação, a forma apressada e inconseqüente de
materialização da iniciativa – através de Medida Provisória, sem qualquer discussão
prévia ou planejamento que desse suporte – poderá afetar significativamente a
capacidade de articulação dos diferentes gestores ambientais e prejudicar
severamente o processo de licenciamento ambiental em nível federal.

5.8.3. Contexto institucional externo ao IBAMA

No contexto externo ao IBAMA, as principais instituições relacionadas ao


processo de licenciamento ambiental do setor de óleo e gás são a Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, os órgãos estaduais de meio
ambiente e as empresas do setor em atividade no Brasil.

5.8.3.1. ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e


Biocombustíveis

A participação da ANP no processo de licenciamento do IBAMA é e sempre foi


bastante discreta, a não ser pelo período em que garantiu o funcionamento do então
ELPN através de um Acordo de Cooperação Técnico-Científica que, dentre outros
recursos, arcava com os salários dos Consultores Técnicos que trabalhavam no
licenciamento (2002-2003). No mais, na medida em que é consultada no âmbito dos
processos específicos de licenciamento, a ANP costumeiramente responde que “não
encontrou indicações de que estejam sendo programadas atividades fora dos padrões
previstos na indústria do petróleo”.

Por outro lado, a agência teve papel atuante e muito importante em dois
momentos na evolução do licenciamento da atividade de pesquisa sísmica no Brasil:
quando da elaboração da Resolução CONAMA nº 350/04, quando contribuiu
decisivamente para a adequada condução dos trabalhos em prol da regulamentação
do licenciamento; e no processo desenvolvido anualmente de confecção dos Guias de
Licenciamento para as rodadas de licitação, no qual a agência evoluiu de simples
financiadora para efetivamente tornar-se uma instituição parceira viabilizadora da
logística necessária da produção dos guias, investindo recursos humanos e materiais
fundamentais para a tarefa.

5.8.3.2. Órgãos Estaduais de Meio Ambiente - OEMAs

A relação do licenciamento federal do setor de óleo e gás com os órgãos


estaduais de meio ambiente é bastante pontual e pouco produtiva. Apesar de todos os
estudos ambientais serem enviados para divulgação e consulta ao OEMA

225
correspondente, as respectivas manifestações quase nunca são recebidas no IBAMA
e, quando são, em geral representam análises superficiais e pouco contribuem para o
licenciamento do projeto em questão.

Tal quadro possivelmente é reflexo da falta dos recursos necessários para o


adequado desenvolvimento das atividades dos órgãos estaduais, que resulta, por um
lado, na ausência de capacitação técnica para colaborar com o licenciamento de
atividades offshore, e, por outro, na sobrecarga de demandas locais que
impossibilitam o pleno atendimento das requisições inerentes ao bom funcionamento
do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

É importante ressaltar que essa avaliação é uma generalização da situação


observada nos OEMAs. Embora esse diagnóstico possua honrosas exceções, nem os
órgãos razoavelmente estruturados conseguem dar respostas qualificadas à
necessidade de integração do SISNAMA que se apresenta no âmbito do licenciamento
federal do setor de óleo e gás.

5.8.3.3. Empresas de pesquisa sísmica

Quanto à relação do IBAMA com as empresas do setor de pesquisa sísmica,


podemos considerar que houve dois momentos bastante distintos entre si. Em primeiro
lugar, registrou-se uma relação muito conflituosa, advinda dos debates iniciais sobre a
necessidade e escopo do licenciamento ambiental para a atividade.

Como exemplo dessa primeira fase, a Dra. Telma Malheiros, primeira chefe do
então ELPN, cita em sua tese de doutorado (Malheiros, 2002) um parecer do jurista
Antonio Inagé de Assis Oliveira encomendado pela IAGC – Associação Internacional
das Empresas de Geofísica em maio 2001, no qual há uma defesa extremada da tese
da não-obrigatoriedade do licenciamento ambiental para a sísmica marítima. Ou seja,
até meados de 2001, dois anos após os primeiros licenciamentos, as empresas de
sísmica ainda disputavam com o IBAMA a necessidade do licenciamento ambiental
para a atividade de sísmica.

Além do debate conceitual sobre o licenciamento, havia uma política interna no


ELPN de pouca abertura para o contato com as empresas. Os empreendedores
relatam que o contato era todo centralizado na chefia do escritório, a qual possuía
posições bastante inflexíveis. Por outro lado, essa queixa, recorrente entre os
representantes das empresas do setor, parece ser reflexo do esforço da chefia do
ELPN em sustentar politicamente suas posições frente a um setor historicamente
monopolizado e, conseqüentemente, sem tradição de controle estatal. Além disso,
sendo o corpo técnico do ELPN naquele momento composto exclusivamente por

226
consultores técnicos, à exceção da própria chefia do escritório, limitar o contato destes
com os empreendedores pode ser entendido como uma tentativa de minimizar a
incidência de pressões políticas, potencializadas pela situação funcional instável dos
profissionais.

De toda forma, por diferentes razões, a relação entre o IBAMA e as empresas


de pesquisa sísmica era bastante conturbada, chegando a haver má-fé por parte de
empresas. Houve casos de empresas que conduziam normalmente o processo de
licenciamento, realizando reuniões e respondendo a pareceres técnicos, quando, na
verdade, o navio sísmico já estava em operação na costa brasileira (Malheiros, 2002).

Essa situação foi sendo modificada ao passar dos anos a partir de dois
condicionantes principais: a modificação do quadro funcional do licenciamento
ambiental, que passou a contar com servidores concursados, estáveis em suas
funções e menos suscetíveis a pressões da indústria; e o processo de discussão
relativo à elaboração da Resolução CONAMA nº 350/04, quando o IBAMA e as
empresas tiveram que sentar à mesa e expor suas demandas e preocupações em
busca da melhor solução para ambas as partes, em um processo inexoravelmente
colaborativo.

Assim, houve significativa melhora no ambiente relacional entre o órgão


ambiental e o setor produtivo a partir de 2003/2004, mesmo com o aumento nas
exigências para o licenciamento em águas rasas, incluindo a realização de audiências
públicas e compensações para a atividade pesqueira.

Uma conseqüência do bom ambiente de relação é a colaboração em iniciativas


de interesse mútuo, como se observou na organização do 1º Seminário Internacional
“A Atividade Sísmica e o Ambiente Marinho”, realizado em maio de 2006 no Rio de
Janeiro. O Seminário contou com a participação de diversos pesquisadores de renome
internacional na área e buscou discutir as principais lacunas de conhecimento sobre a
interação da pesquisa sísmica marítima com o meio ambiente. As transcrições das
palestras proferidas no seminário estão disponíveis em:
www.seminariodesismica.com.br (acessado em janeiro de 2007).

No entanto, ainda persistem críticas localizadas sobre o licenciamento


ambiental das pesquisas sísmicas em águas rasas. Algumas empresas alegam que o
grau de exigência adotado na Classe 1 de licenciamento desestimula a exploração em
águas rasas, chegando a culpar o licenciamento da sísmica pelo fato de a ANP ter
reduzido a oferta de blocos nessas áreas (Cordeiro, 2006).

227
5.9. Participação pública e transparência

Na prática do licenciamento ambiental brasileiro, a participação pública quase


sempre fica restrita ao espaço das Audiências Públicas e reuniões similares. São raras
as oportunidades que o público tem para influenciar o processo decisório dos órgãos
governamentais fora desses espaços. As regras para convocação de Audiências
Públicas são estabelecidas pela Resolução CONAMA nº 009/87 que, no entanto,
pouco afirma a respeito do rito de procedimentos a serem realizados, dando origem a
modelos bastante distintos nas diferentes jurisdições brasileiras (Sánchez, 2006).

Nos primórdios do licenciamento ambiental da atividade de sísmica marítima


praticamente não havia espaços ou canais dedicados à participação pública. A
decisão de deferimento ou indeferimento da licença ambiental era realizada pelo
IBAMA privativamente, sem consulta às partes interessadas ou potencialmente
afetadas pela atividade.

Como se viu anteriormente no histórico do licenciamento, a primeira audiência


pública somente veio a acontecer em 30/9/2003, para discussão de uma atividade em
águas rasas na Bacia de Camamu-Almada. Desde então, um total de 10 Audiências
Públicas já foram realizadas sob a coordenação do IBAMA para o licenciamento de
pesquisas sísmicas em áreas ambientalmente sensíveis, conforme sintetiza a Tabela
17.

Tabela 17: Audiências Públicas realizadas para o licenciamento ambiental da atividade de


pesquisa sísmica em águas brasileiras.

Local da
Data Empresa Localização da atividade
Audiência Pública
Grant
30/9/2003 Bacia de Camamu/Almada Valença/BA
Geophysical
1/12/2003 PGS Bacia de Camamu/Almada Valença/BA
Blocos BM-J-1 e BM-J-2
2/3/2004 PGS Ilhéus/BA
Bacia de Jequitinhonha
Bloco BM-POT-11
21/8/2004 Petrobras Guamaré/RN
Bacia Potiguar

Bloco BM-ES-20 Conceição da


16 e 18/12/2004 Newfield Barra/ES e
Bacia do Espírito Santo Mucuri/BA
Bloco BM-SEAL-9
20/3/2005 Petrobras Estância/SE
Bacia de Sergipe/Alagoas
Bloco BM-C-28
26/11/2005 CGG* Campos/RJ
Bacia de Campos

228
Blocos BM-C-26 e BM-C-27 Campos/RJ e
26 e 28/2/2006 CGG
Bacia de Campos Marataízes/ES

Zona de Transição
8/4/2006 Petrobras Macau/RN
Bacia Potiguar
Bacia de Camamu/Almada
13/5/2006 PGS* Salvador/BA
Fase II
* Na realidade, Reuniões Técnicas Informativas, conforme Resolução CONAMA nº
350/04.
Outra forma de participação recentemente implantada pelo IBAMA acontece
durante a execução de Planos de Compensação para a Atividade Pesqueira no âmbito
de licenciamentos em águas rasas com interferência significativa sobre a pesca
artesanal. Nesses casos, o IBAMA exige da empresa a aplicação de técnicas de
diagnóstico participativo para subsidiar a definição de projetos comunitários a serem
financiados a título de medida compensatória pelo impacto sobre a atividade
pesqueira. Assim, embora a licença já tenha sido concedida, a população afetada
pode ser partícipe de decisões que envolvam o seu destino, podendo deliberar ela
própria quais são as prioridades para a comunidade.

No que diz respeito à transparência do processo de licenciamento, a situação é


similar à maioria dos casos no Brasil: existe pouco acesso às informações relativas
aos licenciamentos. Os mecanismos regulamentares de publicidade – publicação do
requerimento e aviso de recebimento de licença, envio dos estudos e respectivos
relatórios para instituições locais, visando a disponibilização ao público – têm sido
seguidos pelo IBAMA ao longo dos anos.

Porém, o que se percebe é que esses mecanismos não cumprem


adequadamente a função de democratizar o acesso às informações do licenciamento
ambiental. A publicação em jornais oficiais e em veículos de grande circulação do
requerimento e do aviso de recebimento de licença, exigida pela Resolução CONAMA
nº 006/86, dificilmente atinge o público interessado no licenciamento. Da mesma
forma, o envio dos estudos ambientais para as Câmaras de Vereadores, escritórios do
Ministério Público e organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil não
garante, necessariamente o acesso público aos documentos.

Por outro lado, o envio dos estudos e relatórios diretamente para as partes
interessadas identificadas no diagnóstico ambiental do EIA ou EAS (geralmente
associações e colônias de pesca) tem uma eficiência maior no que diz respeito à
disponibilização de informações ao público. No entanto, mesmo nesse caso, as
organizações recebem apenas a versão inicial do estudo, não sendo informada das

229
revisões subseqüentes ou dos demais atos do processo, como o deferimento da
licença, suas condicionantes e possíveis sanções administrativas aplicadas à
empresa.

Em tempos como esses, onde a Internet revoluciona a forma que a sociedade


lida com os fluxos de informação, é inadmissível que os processos de licenciamento
ainda continuem correndo privativamente dentro das repartições burocráticas. Mais
grave ainda é a desobediência à Lei nº 10.650/03, que dispõe sobre o acesso público
aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do SISNAMA.
O referido texto legal traz, em seu artigo 4º, as seguintes disposições:

“Art. 4° Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar


disponíveis, no respectivo órgão, em local de fácil acesso ao público,
listagens e relações contendo os dados referentes aos seguintes
assuntos:

I - pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva


concessão;

II - pedidos e licenças para supressão de vegetação;

III - autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos


órgãos ambientais;

IV - lavratura de termos de compromisso de ajustamento de


conduta;

V - reincidências em infrações ambientais;

VI - recursos interpostos em processo administrativo ambiental e


respectivas decisões;

VII - registro de apresentação de estudos de impacto ambiental e


sua aprovação ou rejeição.

Parágrafo único. As relações contendo os dados referidos neste


artigo deverão estar disponíveis para o público trinta dias após a
publicação dos atos a que se referem.”

Até o momento, inexistem tais listagens e relações com informações sobre o


licenciamento ambiental realizado pelo IBAMA para fácil acesso ao público.

Recentemente, o IBAMA vem desenvolvendo um Sistema Informatizado de


Licenciamento – SisLic, o qual possui um módulo interno voltado à digitalização do
processo de análise técnica e comunicação com o empreendedor, mas também

230
contém funcionalidades voltadas à disponibilização de informações na Internet. O
SisLic atualmente está em funcionamento para o setor de hidroeletricidade e encontra-
se em fase de testes para implantação junto ao licenciamento de petróleo.

O módulo externo do SisLic já está funcionando em uma página na Internet


(www.ibama.gov.br/licenciamento) a qual, supostamente, já permite o
acompanhamento dos processos de licenciamento ambiental em âmbito federal, mas
o serviço carece de informações atualizadas e de diversos ajustes para ser totalmente
funcional. Ou seja, a estrutura tecnológica já existe e está instalada, mas faltam as
condições objetivas humanas e materiais para que o sistema funcione
adequadamente.

Um fator que poderá forçar uma alteração nesse quadro é a aprovação do


Projeto de Lei nº 119/03 do Senador Aloísio Mercadante – atualmente tramitando na
câmara dos deputados sob o nº 1.710/03 – que obriga os órgãos ambientais a
disponibilizarem as informações pertinentes aos licenciamentos na Internet.

O projeto de lei define a questão da seguinte forma:

“Art. 1º O art. 10º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,


passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos 5º e 6º:

“Art. 10. ....................................................

§ 5º - O órgão responsável pelo licenciamento ambiental deve


disponibilizar para consulta por meio da rede mundial de
computadores informações completas sobre os procedimentos
administrativos de licenciamento sob sua responsabilidade, incluindo,
no mínimo:

I – requerimento de licença apresentado pelo empreendedor;

II – Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, nos casos em que o


mesmo é exigido;

III – ata das audiências públicas, se as mesmas forem realizadas


no licenciamento ambiental;

IV – relatório ambiental preliminar, análise preliminar de risco,


diagnóstico ambiental, plano de controle ambiental, plano de
recuperação de área degradada ou qualquer outro estudo ambiental
apresentado como subsídio para a licença ambiental requerida, cuja
colocação em meio digital seja técnica e economicamente possível;

231
V – a licença ambiental concedida, incluindo os pareceres
técnicos elaborados pelo licenciador;

VI – o ato de indeferimento de licença ambiental;

VII – a renovação da licença ambiental;

VIII – as sanções administrativas aplicadas ao empreendedor em


razão do descumprimento de obrigações constantes da licença
ambiental;

IX – o termo de compromisso de ajuste de conduta firmado com


o empreendedor relacionado, direta ou indiretamente, à licença
ambiental concedida ou requerida.””

De toda forma, a despeito das perspectivas citadas, o quadro atual é de pouca


transparência no processo de licenciamento ambiental da atividade de pesquisa
sísmica marítima, necessitando de ações corretivas urgentes.

232
6. DISCUSSÃO DO MODELO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE
PESQUISAS SÍSMICAS MARÍTIMAS NO BRASIL

233
Este capítulo busca discutir a prática atual de avaliação ambiental de pesquisas
sísmicas marítimas no Brasil com base nas informações apresentadas até aqui nesta
dissertação. A discussão será dividida em duas seções, considerando a comparação
com a experiência internacional pesquisada (Cap. 4) e a própria evolução da prática
brasileira (Cap. 5), tendo como pano de fundo o estado-da-arte do conhecimento
relativo aos impactos ambientais da atividade (Cap. 2), bem como os conceitos e as
melhores práticas do processo de Avaliação de Impacto Ambiental presentes no
Capítulo 3.

6.1. A Prática Brasileira frente à Experiência Internacional selecionada

Qualificar a prática brasileira de avaliação ambiental das pesquisas sísmicas


marítimas frente à experiência internacional depende da compreensão adequada dos
conceitos fundamentais do processo de avaliação de impacto ambiental 77 – ou a
comparação pode ser frustrada pela muitas diferenças existentes no contexto político-
institucional de cada jurisdição.

Uma ressalva importante a ser feita é relativa ao espaço amostral que está
sendo discutido. A seleção das jurisdições estudadas obedeceu a alguns critérios
subjetivos, conforme apresentado no Capítulo 4, não sendo necessariamente uma
amostra representativa da diversidade mundial – e, de fato, não se buscou
representatividade nesse sentido. Na realidade, uma análise da amostragem realizada
revela um viés bem nítido no sentido de terem sido selecionados três países com
prósperas economias, que figuram entre os 10 maiores PIB per capita do mundo 78 .
Embora não tenha sido um critério de seleção, é uma característica comum aos países
estudados a boa situação em termos de desenvolvimento econômico.

Assim, considera-se que as jurisdições selecionadas não refletem a realidade


mundial da avaliação ambiental de pesquisas sísmicas marítimas. Tomando-se como
parâmetro a existência de requisitos formais de mitigação, Jasny (2007) afirma que,
dos 15 países com maior atividade do setor atualmente, apenas 5 exigem
sistematicamente a implementação de medidas mitigadoras para a realização de
pesquisas sísmicas 79 . Embora estas 5 jurisdições sejam responsáveis por cerca de
30% da atividade de pesquisa sísmica em nível mundial, o autor estima que entre 40 e

77
Como ressaltado anteriormente, a prática brasileira é restrita ao nível de projeto.
78
Fonte: Estimativa do FMI para o ano de 2007 (paridade do poder de compra) - World
Economic Outlook Database, Abril de 2007. www.imf.org
79
São eles: Estados Unidos, Brasil, Reino Unido (Mar do Norte), Austrália e Canadá.

234
45% das pesquisas sísmicas sejam realizadas em países onde medidas mitigadoras
não são exigidas de forma rotineira.

Dessa forma, fica evidente que os países estudados fazem parte de um


conjunto minoritário em nível mundial, ou seja, são países que exercem algum tipo de
controle ambiental sobre a atividade de pesquisa sísmica marítima. Se por um lado
essa informação agrega perspectiva à problemática ambiental global da pesquisa
sísmica, por outro lado justifica ainda mais a seleção dessas jurisdições para a
presente análise.

A primeira diferenciação que se observa entre a prática de avaliação ambiental


das jurisdições estudadas e a prática brasileira é relativa à autoridade governamental
responsável pelo processo. Enquanto o modelo brasileiro é centralizado, com a
responsabilidade do processo de avaliação de impacto ambiental recaindo sobre o
órgão de meio ambiente, nos demais países estudados esta atribuição cabe ao órgão
regulador do setor petrolífero. É como se, no Brasil, a ANP tivesse a responsabilidade
de empreender a avaliação de impacto ambiental dos projetos sob sua regulação.

Não há, necessariamente, um modelo melhor que o outro, ambos são


determinados pelas peculiaridades do contexto político e legal de cada jurisdição. Uma
crítica recorrente ao modelo descentralizado é de que o órgão regulador setorial não
possuiria a isenção necessária para realizar uma avaliação correta das conseqüências
ambientais das atividades que ele precisa fomentar. Desta forma, o modelo
descentralizado só é adequado em um contexto de instituições consolidadas, em um
ambiente de transparência e de participação pública efetiva, com mecanismos formais
de controle externo – contexto esse ainda em desenvolvimento no Brasil.

No entanto, avaliando a prática internacional, percebe-se que o órgão


regulador brasileiro – a ANP – poderia ter um papel mais relevante no processo de
avaliação ambiental das pesquisas sísmicas marítimas, como fazem seus
correspondentes estrangeiros. No caso brasileiro, uma possibilidade de atuação
relevante seria na condução de processos de Avaliação Ambiental Estratégica - AAE
no setor petrolífero.

Longe de ser uma idéia original, a questão da necessidade da AAE para o


setor de petróleo no Brasil já foi levantada por muitos autores. LIMA (2004), em estudo
encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente sobre a viabilidade da implantação da
AAE para o setor de óleo e gás, propõe que a avaliação estratégica das políticas
setoriais seja conduzida pelo Conselho Nacional de Política Energética – CNPE e que
a ANP seja responsável pela AAE dos planos e programas ligados à exploração

235
petrolífera, incluindo as rodadas anuais de licitação. O referido estudo afirma ainda (p.
58) que a abordagem da AAE para o setor de petróleo e gás deve ser,
prioritariamente, regional, com a definição de áreas específicas para Exploração e
Produção e para conservação ambiental. Embora o cenário desejável seja o de
aplicação seqüencial da AAE aos diversos níveis de planejamento (tiering), Malheiros
(2002) considera que há necessidade imediata de aplicação da AAE para subsidiar o
processo de concessão de blocos exploratórios de modo a evitar impasses e conflitos
na etapa de licenciamento ambiental (AIA) dos projetos.

Especificamente em relação à atividade de pesquisa sísmica, a Avaliação


Ambiental Estratégica a ser conduzida pela ANP poderia identificar, por exemplo, as
áreas e períodos críticos para a atividade de pesca artesanal 80 . Uma vez identificados,
aspectos como esses podem subsidiar o estabelecimento de restrições ou o desenho
de medidas mitigadoras previamente ao licenciamento ambiental, permitindo que o
empreendedor insira essas variáveis no seu planejamento, contribuindo para uma
maior previsibilidade, eficiência e transparência do processo de licenciamento.

Ressalta-se que a Avaliação Ambiental Estratégica aqui defendida é uma


evolução do trabalho realizado desde 2004 pelo IBAMA a cada rodada de licitações da
ANP. Esse trabalho divide-se em duas vertentes: (i) a avaliação prévia dos blocos
exploratórios marítimos a serem ofertados no leilão, processo que costuma culminar
com a solicitação de retirada de áreas da oferta; e (ii) a elaboração de “Guias de
Licenciamento”, contendo indicações de medidas restritivas às atividades e a
representação das bacias sedimentares marítimas contendo diferentes níveis de
exigência para o licenciamento de atividades exploratórias. Apesar de bastante
relevante, esse trabalho de avaliação prévia de blocos e indicação de requisitos para o
licenciamento é realizado hoje na ausência de uma base metodológica consistente 81 e,
sobretudo, sem oportunidades para participação pública – dois requisitos importantes
para uma boa prática em avaliação ambiental.

Ainda sobre a importância do planejamento em nível estratégico, a falta de


transparência (ou inexistência) da previsão do nível futuro de atividade exploratória da
indústria petrolífera no Brasil pode comprometer seriamente o processo de avaliação
ambiental das atividades. Um aumento inesperado da demanda por licenciamento
provavelmente encontraria um órgão ambiental com capacidade de processamento

80
A interferência com a pesca artesanal é um dos principais impactos ambientais da pesquisa
sísmica marítima, conforme revisão realizada no Capítulo 2.
81
A recomendação de retirada de blocos das rodadas de licitação, por exemplo, é baseada
quase que exclusivamente na opinião técnica dos analistas ambientais que participam do grupo
de trabalho interno do IBAMA.

236
inferior à necessária, colocando em risco os ganhos de eficiência obtidos com a
Resolução CONAMA n° 350/04.

Voltando à experiência internacional, outro aspecto relevante dos modelos de


avaliação ambiental analisados é que, em nenhum deles, a atividade de pesquisa
sísmica marítima é tipificada como sujeita à avaliação de impacto ambiental detalhada,
ou seja, com a elaboração de EIA. Além da Noruega, onde não é exigido nenhum
documento relacionado a aspectos ambientais, nos Estados Unidos e no Canadá o
processo de AIA é resumido ao nível preliminar de avaliação – denominado
Environmental Assessment e Screening, respectivamente – cujos relatórios de impacto
ambiental são significativamente mais sucintos que os estudos exigidos no Brasil.
Aqui, a Resolução CONAMA n° 350/04 introduziu dois níveis de avaliação para
pesquisas sísmicas marítimas: nível detalhado (Classes 1 e 2, sujeitas à elaboração
de estudo ambiental) e simplificado (Classe 3, dispensada de AIA) 82 .

Embora tanto a regulamentação dos EUA quanto a do Canadá prevejam a


possibilidade de “upgrade” no nível de avaliação ambiental no caso de identificação de
potencial significativo de impacto em uma atividade específica, não foi identificada
nenhuma ocorrência desse procedimento durante a pesquisa de tese realizada.

No Brasil, o principal foco do procedimento detalhado de avaliação que se


aplica às pesquisas em águas rasas é a interferência com a atividade pesqueira
artesanal e a mediação do conflito resultante dessa interferência 83 . É com esse tema
que se gasta a maior parte das discussões técnicas sobre os projetos em águas rasas
e é o processo de mediação desse conflito que demanda um grande esforço de
comunicação e trabalho de campo.

Obviamente, as características do setor pesqueiro brasileiro são bem diferentes


daquelas da pesca no Canadá, na Noruega ou nos Estados Unidos. Neste último país
essa questão não aparece com muita relevância, mas tanto no Canadá como na
Noruega foram identificadas iniciativas voltadas à institucionalização do diálogo entre
as indústrias pesqueira e petrolífera. No Canadá, a One Ocean (organização
interindustrial) e na Noruega, o Coexistence Group (grupo de trabalho tripartite), são
fóruns onde se discute as condições de convivência entre a exploração petrolífera e a
atividade pesqueira.

Assim, talvez não haja nesses países uma demanda exaustiva de mediação do
conflito com a atividade pesqueira caso-a-caso, pois a questão é tratada de forma

82
Para descrição do licenciamento segundo a Resolução CONAMA n° 350/04, ver item 5.5.
83
Considera-se, de um modo geral, que as questões ligadas à biota são equacionadas
mediante a implementação das medidas mitigadoras padronizadas pelo IBAMA.

237
mais continuada, com o suporte de fóruns institucionalizados com esse fim. Isso
explicaria em parte o sucesso do modelo canadense de avaliação apenas em nível
preliminar, com poucas oportunidades de participação pública. Já o caso da Noruega
ainda há um outro fator determinante: a própria legislação do setor petrolífero atribui
prioridade à atividade pesqueira no uso do espaço marítimo, de modo que, mesmo
sem a elaboração de estudos ambientais, a agência reguladora governamental da
pesca (Directorate of Fisheries) consegue impor restrições às atividades de petróleo e
gás – graças também ao conhecimento existente sobre a dinâmica da frota pesqueira
e dos recursos vivos explorados.

No caso brasileiro, o papel de mediação entre as indústrias é assumido


fortemente pelo licenciamento ambiental, na figura do IBAMA. As forçantes que
determinam esse modelo são diversas: ausência de representatividade legítima no
setor pesqueiro que possa viabilizar a institucionalização do diálogo, extrema
assimetria organizacional e de poder entre as duas indústrias, existência de
comunidades muito pobres extremamente dependentes da pesca artesanal para
subsistência, dentre outras 84 .

Dessa forma, ao menos no contexto atual, não é possível vislumbrar alternativa


ao procedimento de avaliação ambiental detalhada estabelecido pela Resolução
CONAMA n° 350/04 para as Classes 1 e 2 de licenciamento, pois não se pode abdicar
dos mecanismos de participação pública e da responsabilidade do IBAMA enquanto
mediador de conflitos.

Por outro lado, o processo de avaliação detalhada que ocorre no Brasil ainda
se dá em um prazo muitas vezes incompatível com o planejamento do setor
petrolífero 85 . Apesar de muitas vezes os empreendedores cultivarem expectativas
irreais quanto ao tempo necessário para o licenciamento, o processo atual para águas
rasas (Classe 1) ainda é demasiadamente lento perante a experiência internacional.
Obviamente, o contexto brasileiro possui questões específicas que demandam maior
atenção do processo de avaliação, como a pesca artesanal, que não estão presentes
nas jurisdições com processo mais expedito. Mesmo assim, ainda parece possível
obter ganhos de eficiência que reduzam esse prazo sem prejuízo da qualidade da
avaliação ambiental (ver item 6.2).

Do ponto de vista das medidas mitigadoras relativas à biota marinha, o Brasil


tem sido constantemente elogiado em artigos técnicos e em fóruns internacionais

84
A extrema complexidade dessa questão impede que ela seja aprofundada neste trabalho,
apesar de sua grande relevância.
85
Para conferir a média recente de tempo de licenciamento, ver item 5.6.1. Licenças emitidas.

238
pelas suas diretrizes voltadas à mitigação. Além de ter um dos pacotes de exigências
mais completos do mundo, a política brasileira de delimitação de áreas de restrição
temporária à atividade 86 (Baleia Jubarte, Baleia Franca, Quelônios e Peixe-boi) tem
sido bastante enaltecida e recomendada por especialistas em conservação marinha
(Weir et al., 2006; Dolman e Brensing, 2007; Jasny, 2007; Weir e Dolman, 2007).

Comparativamente às jurisdições estudadas neste trabalho, nota-se que as


exigências brasileiras para mitigação são mais abrangentes e ligeiramente mais
restritivas, como demonstra a Tabela 18.

Tabela 18: Comparação entre algumas diretrizes regulamentares de mitigação das jurisdições
selecionadas. Adaptado de Weir e Dolman (2007).
Zona de
Espécies- Observadores de Requisitos de Áreas de
Jurisdição segurança
alvo biota marinha observação restrição
(shut down)

EUA 1 observador ativo


2 observadores
Apenas durante todo o período
(Golfo do dedicados e treinados 500 m Nenhuma
baleias* diurno (turno máximo
México) (podem ser da tripulação)
de 4 horas)

Observação Recomenda
1 observador qualificado
Apenas obrigatória durante 30 planejamento
e aprovado pelo DFO
Canadá baleias* e minutos pré-disparos. 500 m para evitar
(qualificação não
tartarugas Coleta adicional de áreas/períodos
definida)
dados opcional. sensíveis

Para peixes e
Não se
Noruega Nenhuma Nenhum Não se aplica atividade
aplica
pesqueira**

Todos os Ao menos 3 500 m Baleia Jubarte,


2 observadores
mamíferos observadores dedicados (1000 m para Baleia Franca,
Brasil simultâneos durante
marinhos e – com experiência ou início do soft Quelônios e
todo período diurno
tartarugas. treinamento start) Peixe-boi

* Apenas baleias significa a exclusão de golfinhos e outros pequenos cetáceos.


** Restrições são definidas caso-a-caso, exceto no Mar de Barents, onde existem áreas permanentemente proibidas.

Constata-se a partir da análise da experiência internacional que a prática


brasileira de mitigação dos impactos da pesquisa sísmica marítima na biota está
dentre as mais avançadas do mundo, servindo de referência para o aperfeiçoamento
das diretrizes de outras jurisdições – como recomendam, por exemplo, Weir e Dolman
(2007).

Talvez isso seja reflexo, dentre outras razões, da grande extensão costeira do
Brasil e da conseqüente diversidade biogeográfica das bacias sedimentares marítimas
onde ocorre a exploração petrolífera. Esta variedade de circunstâncias obrigou o órgão
ambiental brasileiro a desenvolver uma visão bastante completa das questões
associadas à atividade. Provavelmente não há outra jurisdição no mundo que precise

86
Weir e Dolman (2007) afirmam que a única outra jurisdição a definir claramente áreas de
restrição para a atividade de pesquisa sísmica é a Austrália (na região chamada Great
Australian Bight). As autoras certamente desconhecem o caso da Noruega, onde também são
definidas áreas de restrição à pesquisa sísmica (ver item 4.3.2).

239
equacionar tantas variáveis como ocorre no caso brasileiro – peixes, cetáceos,
quelônios, sirênios, crustáceos, pesca artesanal, pesca empresarial, turismo, unidades
de conservação de proteção integral, unidades de conservação de uso sustentável,
etc.

No entanto, é importante destacar que a única mitigação que pode ser


considerada realmente efetiva hoje em dia para a interferência sobre a biota marinha é
a definição de áreas de restrição temporária para evitar a disrupção de
comportamentos biologicamente importantes, como reprodução, desova,
acasalamento, etc. As outras medidas largamente utilizadas, como o aumento gradual
da potência dos canhões de ar (soft start) e a observação de biota associada ao
desligamento dos canhões em função de uma zona de segurança (shut down), nunca
tiveram sua eficácia comprovada, existindo ainda grandes incertezas nesse aspecto.
Dessa forma, considera-se que pesquisas relacionadas aos métodos de mitigação
devem ser prioritárias para trazer maior segurança à prática regulatória e ao meio
ambiente marinho.

No aspecto da transparência do processo de avaliação ambiental, o Canadá


sobressai pela utilização sistemática da internet para manter um registro público das
etapas de avaliação e disponibilizar todos os documentos do processo à sociedade.
No Brasil existe um projeto similar no âmbito do SisLic – Sistema Informatizado de
Licenciamento Ambiental Federal (www.ibama.gov.br/licenciamento), mas ainda
funciona de forma precária (ver discussão no item 5.9).

A Tabela 19 a seguir representa um esforço de sistematização dos aspectos


fortes e fracos do modelo brasileiro perante a experiência internacional analisada.

240
Tabela 19: Síntese dos aspectos positivos e negativos do modelo brasileiro de avaliação
ambiental de pesquisas sísmicas marítimas frente à experiência internacional analisada.

Pontos fortes Pontos fracos


Pacote de medidas mitigadoras padronizado
Ausência de avaliação das atividades de
e coerente com as melhores práticas
pesquisa sísmica em nível estratégico
mundiais
Falta de conhecimento sistematizado sobre a
atividade de pesca artesanal e sobre o
Estabelecimento pioneiro de áreas e períodos
comportamento reprodutivo de espécies de
de restrição à atividade para proteção de
pescado, o que impede a definição
comportamentos biologicamente importantes
antecipada de restrições às pesquisas
sísmicas
Esforço de mediação do conflito com a Tempo despendido para a avaliação de
atividade pesqueira artesanal, incluindo a pesquisas sísmicas em águas rasas ainda é
definição participativa de projetos de muito longo, apesar do trabalho de mediação
compensação de conflito
Ausência de planejamento estratégico
Previsão formal de instrumento de
transparente do setor que impede que os
participação pública no processo de
órgãos reguladores se preparem para a
licenciamento
demanda futura
Existência de critério normativo técnico
(profundidade) para subsidiar a triagem dos Utilização ainda embrionária da internet como
projetos e definir a necessidade de instrumento de transparência e participação
procedimento detalhado de Avaliação de pública
Impacto Ambiental
Procedimento de licenciamento diferenciado
em classes de complexidade proporcional ao
potencial de impacto ambiental da atividade

6.2. O Modelo Brasileiro atual: Ganhos obtidos e oportunidades para


aperfeiçoamento

Ao discutir os ganhos e as inovações trazidas no âmbito da Resolução


CONAMA n° 350/04, é importante ressaltar duas condições para que o processo tenha
se dado desta forma. A primeira é o esfriamento do mercado brasileiro de pesquisas
sísmicas marítimas nos anos de 2004/2005, causado principalmente pela subida do
preço do barril de petróleo e conseqüente aumento da demanda por levantamentos
sísmicos ao redor do mundo (ver Tabela 20). A dificuldade de trazer navios para
operar no Brasil reduziu a pressão sobre o licenciamento ambiental e permitiu que os
técnicos do IBAMA trabalhassem na discussão e elaboração dos novos documentos
de suporte ao licenciamento.

241
Tabela 20: Média mensal de pesquisas sísmicas simultâneas na costa brasileira após a
abertura do mercado. Fonte: elaborada a partir de dados fornecidos por Cosme Peruzzolo, ex-
presidente da IAGC Brasil em 2006.

Média de
Ano
pesquisas/mês
1999 7,6

2000 11,7

2001 6,2

2002 5,6

2003 3,1

2004 1,6

2005 1,9

2006 2,4
Atualizado até outubro/2006.

Apesar desse cenário favorável, o processo de transição para o novo modelo


de licenciamento foi dificultado pelo reduzido número de técnicos disponíveis na
equipe de sísmica do IBAMA. Desde a criação da equipe em 2002, o licenciamento
das pesquisas sísmicas era conduzido por, no mínimo, 6 profissionais. No início de
2005, houve a saída definitiva dos consultores técnicos do quadro do licenciamento e
a equipe ficou reduzida a apenas 4 técnicos. Essa situação só foi revertida no final do
ano, com a chegada dos novos analistas ambientais concursados. Hoje em dia a
equipe funciona com 7 técnicos dedicados à atividade.

Assim, o processo de transição para o novo modelo de licenciamento foi


condicionado por essas duas circunstâncias contraditórias: a fraca demanda por
licenciamento de pesquisas sísmicas e a forte redução do quadro profissional da
equipe técnica do IBAMA. Somando-se os dois vetores, o resultado foi que o novo
modelo de licenciamento só começou a funcionar de fato em 7 de abril de 2005, data
em que o Guia Passo-a-Passo de Licenciamento e os novos Termos de Referência
foram apresentados às empresas do setor. Considerando que a Resolução CONAMA
n° 350/04 entrou em vigor no dia 20 de novembro de 2004, conclui-se que foram
necessários mais de 4 meses para completar a transição dos modelos.

Quando se discutem os ganhos do novo modelo de licenciamento das


pesquisas sísmicas marítimas, o parâmetro mais evidente é a redução nos prazos de
licenciamento. Talvez por ser um parâmetro quantitativo facilmente acessado e
também a principal preocupação dos empreendedores do setor, o tempo gasto no

242
licenciamento é geralmente visto como um indicativo de sucesso para o modelo em
análise.

No entanto, embora de fato tenha se observado uma redução expressiva nos


prazos do licenciamento a partir da Resolução CONAMA n° 350/04 – ver dados
detalhados no item 5.6.1 – é importante registrar que diversos fatores influenciam
esses prazos 87 , não havendo uma solução “mágica” para acelerar o processo. Essa
percepção é especialmente relevante nos dias de hoje, quando o licenciamento
ambiental é visto por parte da sociedade como um “entrave” ao desenvolvimento do
país e os gestores podem ser pressionados a tentar soluções de curto prazo.

Assim, de nada adiantaria uma redução nos prazos legais para o licenciamento
se esta não viesse acompanhada de mudanças estruturais nos procedimentos e no
suporte humano e tecnológico aos procedimentos. No caso em análise, aconteceu o
inverso: apesar de a Resolução CONAMA n° 350/04 manter os 180 dias de prazo (1
ano para EIA/RIMA), as modificações nos procedimentos resultaram em redução
significativa dos prazos do licenciamento (Figura 64).

Tempo
Tempo Médio
Médio de
de Licenciamento
Licenciamento

350
350
314,5
314,5
(dias)
Licenciamento(dias)

300
300
deLicenciamento

250
250 222,7
222,7
202,3
202,3
200
200
156,3
156,3
150 129,2
129,2
150
Médiode

108,5
108,5 105,7
105,7
TempoMédio

100
100
52,4
52,4
Tempo

50
50
5 6 6 12 13 8 6 12
00
1999
1999 2000
2000 2001
2001 2002
2002 2003
2003 2004
2004 2005
2005 2006
2006

Figura 64: Evolução anual do tempo médio de licenciamento de pesquisas sísmicas marítimas
no Brasil. A Resolução CONAMA n° 350/04 entrou em vigor em novembro/2004. Os números
em branco representam a quantidade de licenças expedidas no ano.

No entanto, essa redução do tempo de licenciamento não ocorreu de modo


uniforme entre as pesquisas sísmicas. A principal inovação da Resolução CONAMA n°

87
Na história recente do IBAMA, um fator importante a afetar os prazos de licenciamento é a
ocorrência de greves dos servidores. Entre 2003 e 2007, foram 4 paralisações – quase uma por
ano.

243
350/04 foi a simplificação do licenciamento das operações em águas profundas (mais
de 200 metros), mediante a dispensa do procedimento detalhado de Avaliação de
Impacto Ambiental. Assim, essas pesquisas sísmicas, enquadradas na Classe 3 de
licenciamento, têm sido aprovadas em um prazo muito menor que as demais. A média
de tempo gasto para licenciar as 13 pesquisas sísmicas de Classe 3 propostas entre
novembro/2004 e janeiro/2007 foi de 78,9 dias, descontando o tempo necessário para
elaboração de complementações pelo empreendedor. Nesse período considerado, as
pesquisas de Classe 3 representaram cerca de 60% do total da demanda do
licenciamento.

Já as demais pesquisas sísmicas, enquadradas nas Classes 1 e 2 de


licenciamento, tiveram uma redução mais sutil no tempo de licenciamento. As 4
pesquisas de Classe 1 licenciadas no período de análise demoraram em média 313,3
dias para obter a Licença de Pesquisa Sísmica. É um tempo demasiadamente longo,
praticamente igualando a média do ano de 2004, o pior da história nesse quesito.

Ao mesmo tempo em que é preciso fazer a ressalva de que 3 dos 4


licenciamentos de Classe 1 analisados foram iniciados antes de novembro de 2004 e,
portanto, foram penalizados pelo procedimento de transição, nota-se que é preciso
avançar na questão do prazo de licenciamento desses empreendimentos. Embora a
Resolução CONAMA n° 350/04 praticamente não tenha alterado o processo de
licenciamento em águas rasas, havia a expectativa de que as inovações introduzidas a
partir de então tivessem reflexo na redução dos prazos necessários para avaliação
desses projetos.

Dentre as inovações introduzidas nos procedimentos de licenciamento, no


âmbito da transição provocada pela Resolução CONAMA n° 350/04, as principais
foram:

- a padronização de projetos de mitigação e monitoramento já


suficientemente amadurecidos pela prática, de forma a dispensar o empreendedor da
elaboração destes e evitar o desgastante processo de revisões e complementações
dos projetos ambientais. Além disso, padronizar a coleta de dados de monitoramento é
fundamental para avaliar a efetividade das medidas mitigadoras.

- a elaboração de documentos de apoio ao licenciamento, como o Guia


Passo-a-Passo e o Guia de Monitoramento do Desembarque Pesqueiro, para orientar
o empreendedor nos trâmites do licenciamento ambiental e garantir a implementação
adequada de projetos de mitigação, monitoramento e compensação.

244
- a revisão de todos os Termos de Referência, especialmente aquele
voltado à elaboração de EIA/RIMA (Classe 1), buscando identificar e remover
exigências supérfluas para focar o licenciamento nas questões relevantes de subsídio
à decisão 88 .

Ganhos também foram proporcionados a partir da exigência de apresentação


do projeto detalhado de execução do levantamento ao invés de grandes polígonos
como acontecia no passado. Além de corrigir uma distorção conceitual – o
licenciamento da “possibilidade” de realizar uma pesquisa sísmica (ver item 5.3) – o
novo modelo permite avaliar aspectos bastante específicos das operações, o que as
incertezas do modelo anterior impediam. Questões antes negligenciadas, como a área
de manobra do navio sísmico ou a necessidade de reparos em equipamentos,
passaram a ser levadas em consideração na avaliação dos impactos ambientais da
atividade. Da mesma forma, o conhecimento mais aprofundado dos detalhes da
operação permitiu o desenho medidas mitigadoras e de monitoramento mais
adequadas às condições reais de interferência no meio ambiente.

Diretamente ligada à evolução do modelo de avaliação ambiental está a


evolução institucional do órgão licenciador, especialmente a composição do corpo
técnico responsável pelas análises. A equipe do IBAMA que analisa os processos de
licenciamento de pesquisas sísmicas marítimas hoje é formada apenas por analistas
ambientais concursados e realiza sua missão sem o auxílio de consultores externos ao
órgão ambiental. Os primeiros analistas concursados do IBAMA integraram a equipe
no final de 2002, sendo que 2 dos 3 profissionais que foram admitidos à época
continuam trabalhando no licenciamento de pesquisas sísmicas até hoje – o terceiro
foi remanejado para analisar processos de desenvolvimento da produção no final de
2005. Além desses dois analistas pioneiros, outros dois estão na equipe desde 2004 e
três novos analistas ambientais foram admitidos no concurso do final de 2005.

Isso significa que o acúmulo de experiência na avaliação de impactos


ambientais da atividade está sendo mantido na instituição, o que certamente contribui
para a evolução dos procedimentos e aperfeiçoamento contínuo do modelo de
licenciamento. Somente um corpo técnico que conhece a fundo a atividade que
licencia pode ter a segurança de propor e conduzir alterações nos procedimentos de
modo a obter ganhos de eficiência e eficácia na gestão ambiental da atividade.

Da mesma forma que existe aprendizado e capacitação da parte do órgão


ambiental, é natural que exista evolução também da parte dos profissionais que
88
Esse processo está em consonância com os princípios básicos das Melhores Práticas em
AIA – ver a listagem completa dos princípios na p. 137.

245
trabalham nas empresas de sísmica e nas empresas que prestam consultoria
ambiental a elas. Em um ambiente relativamente restrito de participantes, como o
mercado brasileiro de pesquisas sísmicas 89 , o processo de aprendizado e acúmulo de
experiência é especialmente relevante. Desse modo, se as diretrizes do órgão
ambiental forem suficientemente transparentes e coerentes ao longo do tempo, a
tendência é que a elaboração dos estudos e projetos ambientais e o próprio
planejamento da operação sejam cada vez mais adequados aos olhos da autoridade
ambiental, proporcionando maior agilidade e eficiência ao processo de licenciamento.

Para suprir esses requisitos de transparência e coerência das diretrizes do


órgão ambiental é que o corpo técnico do IBAMA optou por produzir os documentos de
apoio ao licenciamento, geralmente formatados sob a forma de “guias”.

Uma crítica ao processo de produção dos guias auxiliares ao licenciamento de


sísmica é a ausência de abertura para participação dos empreendedores. Embora
documentos como o Guia de Monitoramento da Biota e o Guia de Monitoramento do
Desembarque Pesqueiro tenham passado por revisão de outras unidades do IBAMA,
os profissionais ligados às empresas de sísmica não tiveram oportunidade formal de
apresentar suas contribuições às diretrizes. É importante ressaltar que não se trata do
órgão ambiental abrindo mão de sua autoridade ou seu poder de regulação e sim do
cultivo de uma prática de gestão pública verdadeiramente participativa e democrática,
com benefícios óbvios em termos de instalação de um ambiente de cooperação e de
maximização do cumprimento das diretrizes.

Nesse sentido, uma prática comum em outras jurisdições é a preparação de


uma versão preliminar (draft) do documento e disponibilização formal para consulta
junto às partes interessadas. Recebidos os comentários e sugestões, o IBAMA
prepararia a versão final do documento detalhando em anexo as contribuições
recebidas e de que forma estas foram contempladas no texto final ou por que não o
foram.

A seguir, apresenta-se a análise de algumas etapas do modelo brasileiro de


avaliação ambiental de pesquisas sísmicas marítimas, com foco na identificação de
desafios e oportunidades para melhoria no desempenho do processo.

89
Atualmente existem 6 empresas no Brasil com atividades no ambiente marítimo: CGG,
Veritas, PGS, WesternGeco, Fugro e GX Technology – sendo que CGG e Veritas estão em
processo de fusão para formar a CGGVeritas. O IBAMA ainda interage com freqüência com a
Petrobras, principal contratante de serviços de sísmica.

246
Triagem

No modelo atual, a etapa de triagem corresponde ao processo de


enquadramento da solicitação nas classes de licenciamento previstas na Resolução
CONAMA n° 350/04. É nessa etapa que é decidida a necessidade de realização do
processo detalhado de Avaliação de Impacto Ambiental (Classes 1 e 2) ou se o
licenciamento pode ocorrer sem a elaboração de estudo ambiental (Classe 3) 90 .

O prazo legal de 15 dias úteis para a realização do enquadramento tem sido


respeitado pelo IBAMA, de modo geral. Os enquadramentos são realizados
normalmente durante uma reunião da equipe técnica, que avalia a localização e
tecnologia da atividade proposta, à luz dos seguintes parâmetros:

- Critérios legais, principalmente os limites de profundidade (0 – 50 – 200


metros) expressos na Resolução CONAMA n° 350/04;

- Sensibilidade ambiental da área em questão, baseando-se nos mapas


do Guia para o Licenciamento Ambiental das Atividades de Sísmica Marítima na Costa
Brasileira (IBAMA, 2006a); e

- Características da atividade pesqueira artesanal da região, a partir de


experiências de licenciamentos anteriores, do conhecimento técnico de analistas do
licenciamento ou ainda da consulta a funcionários do IBAMA local.

Uma importante mudança que já está em curso é a transformação da FCA –


Ficha de Caracterização da Atividade em um documento digital, submetido ao IBAMA
através do Sistema Informatizado de Licenciamento Ambiental Federal, o SisLic. Esse
novo procedimento, que pelo simples fato de ser eletrônico e via internet já
proporciona ganhos de agilidade, terá sua funcionalidade extremamente ampliada
quando houver a integração desse sistema com bases oficiais de dados ambientais
georreferenciados 91 .

Assim, quando o empreendedor informar a localização da atividade, o sistema


será capaz de disponibilizar ao analista do IBAMA dados ambientais relevantes sobre
a região. O subsídio à decisão sobre o enquadramento será bastante incrementado
quando essa base de dados ambientais contiver informações confiáveis sobre a
atividade pesqueira artesanal ao longo da costa brasileira, talvez a principal lacuna de
conhecimento observada hoje no contexto do licenciamento da sísmica.

90
Ver detalhes do enquadramento no item 5.5.1.
91
Além de Bancos de Dados do MMA, como o SIGERCOM – Sistema de Informações do
Gerenciamento Costeiro e Marinho e o SisREVIZEE (ainda em estruturação), há a
possibilidade de “oficialização” do conteúdo do BAMPETRO (www.bampetro.on.br). Esse
processo está atualmente em discussão entre as partes interessadas.

247
Definição do Escopo (Scoping)

Após o enquadramento nas classes de licenciamento (Triagem), o IBAMA


define o Termo de Referência – TR para elaboração do estudo ambiental necessário
ao processo de avaliação ambiental da solicitação. Na prática recente, o IBAMA vem
trabalhando com TRs padronizados, de forma a agilizar a etapa de definição do
escopo. Esse procedimento é perfeitamente coerente com o licenciamento de uma
atividade altamente repetitiva – intervenções semelhantes, escopos de avaliação
semelhantes. No entanto, a Resolução CONAMA n° 350/04, ao definir o prazo de 15
dias úteis para a emissão do TR, dificultou sobremaneira a discussão de Termos de
Referência específicos para atividades diferenciadas e praticamente obrigou o IBAMA
a manter a política de TRs padronizados.

Como afirmado anteriormente, no início de 2005 foi empreendido um esforço


de revisão do TR padronizado para elaboração de EIA/RIMA (Classe 1), buscando
focar o conteúdo do estudo nas questões relevantes para tomada de decisão. É
imperativo que o IBAMA realize uma avaliação do reflexo dessa reformulação nos
estudos elaborados durante esse período de 2 anos, sem o que não se pode afirmar
se ocorreu de fato a modificação desejada nos EIA/RIMAs.

Nesse sentido, e vislumbrando a necessidade de nova revisão do Termo de


Referência para Classe 1 de licenciamento com o objetivo de tornar o processo ainda
mais ágil e eficiente, com foco nas questões-chave para tomada de decisão, é
fundamental que os empreendedores sejam chamados a contribuir com o documento.

Aliás, essa sugestão nos remete a outra contradição da Resolução CONAMA


n° 350/04: na definição de Termo de Referência (art. 2, item V), a resolução
estabelece que este é um documento fornecido pelo IBAMA ao empreendedor (...),
enquanto no parágrafo 4° do artigo 4° consta que o TR é estabelecido pelo IBAMA, em
conjunto com o empreendedor (...).

Considerando a Resolução CONAMA n° 237/97, que regulamenta o


licenciamento ambiental de forma geral e estabelece que o escopo do processo deve
ser definido pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor
(art. 10, item I), pode-se deduzir que a elaboração participativa do Termo de
Referência é a regra no caso brasileiro e, portanto, deve ser a interpretação adotada
no caso da atividade de pesquisa sísmica marítima.

Ressalta-se que, apesar de não terem participado da elaboração dos Termos


de Referência atualmente utilizados pelo IBAMA, os empreendedores jamais

248
formalizaram qualquer crítica aos documentos ou reivindicaram a justa participação na
sua confecção – o que pode ser entendido como uma anuência tácita à definição do
escopo do licenciamento realizada privativamente pelo órgão ambiental.

De toda forma, a contribuição dos empreendedores e dos profissionais que


prestam consultoria a eles pode ser bastante relevante para a confecção de um Termo
de Referência padrão que realmente cubra todos os aspectos relevantes da pesquisa
sísmica marítima – e somente eles. Essa contribuição poderia se dar mediante a
disponibilização de uma versão preliminar e solicitação de comentários por escrito ou
de uma forma presencial, como em um seminário ou oficina de trabalho.

Elaboração e Análise do Estudo Ambiental

As etapas de Elaboração e Análise do Estudo Ambiental, seja ele o EIA/RIMA


ou o EAS/RIAS, parecem sofrer de problemas similares aos apontados em revisões
internacionais sobre o tema. No entanto, discutir a prática brasileira é um tarefa
complicada pela ausência de uma cultura de avaliação processual – ou seja, é difícil
determinar objetivamente quais os principais problemas nos estudos ambientais
elaborados para o licenciamento de pesquisas sísmicas marítimas por não existirem
informações sistematizadas sobre a questão. Levantá-los seria um esforço além do
possível para este trabalho de dissertação.

No entanto, apesar da ausência de informações quantificáveis, é possível


apontar qualitativamente alguns problemas identificados na fase de elaboração e
análise dos estudos ambientais.

Existem questões menores como a ocorrência freqüente de erros de digitação


e formatação que, embora não comprometam o conteúdo do estudo, adicionam atrito
à comunicação. Weiss (1989, apud Sánchez, 2006, p.376) afirma com propriedade
que “onde deveria haver uma simples transmissão de fatos e idéias do escritor para o
leitor, há distrações, irritações, obstáculos”. Ou seja, o estudo ambiental deveria primar
pela comunicação clara, concisa e objetiva para a consecução do seu objetivo de
subsídio à tomada de decisão bem-informada 92 . É comum também a ocorrência de
inconsistências estruturais no documento, como a apresentação de uma informação
no corpo do texto e outra diferente na tabela-síntese sobre o tema, ou a apresentação

92
Nota-se que, assim como o estudo ambiental, os documentos gerados na análise técnica,
como Pareceres Técnicos, também deveriam primar pela clareza na comunicação. No entanto,
isso nem sempre é conseguido, com prejuízos significativos em termos de tempo e recursos
despendidos em complementações e revisões dos estudos.

249
de conceitos idênticos com terminologias diferentes ao longo do estudo, ou ainda
afirmações contraditórias na descrição de determinado compartimento ambiental.

Ao passo que essas questões apenas “atrapalham” o processo de análise do


estudo ambiental, existem aspectos mais graves que minam a capacidade de tomada
de decisão e, conseqüentemente, impedem a aprovação de determinados itens ou do
documento como um todo. São, por exemplo, omissões graves de itens previstos no
Termo de Referência, desenvolvimento insuficiente de temas relevantes,
subdimensionamento de impactos ambientais negativos ou impropriedades
metodológicas significativas.

A ocorrência dessas falhas normalmente gera a solicitação de revisão do


estudo por parte do IBAMA, retardando o processo de licenciamento 93 . Algumas
atitudes podem ser tomadas pelo proponente do projeto para tentar evitar essas
falhas, como zelar por uma boa coordenação dos diferentes profissionais da equipe
técnica, desenvolver uma compreensão acurada da realidade local, contratar serviços
especializados de revisão e comunicação, dentre outras medidas.

Do ponto de vista do processo de avaliação de impacto ambiental, uma forma


de minimizar a ocorrência desse tipo de falha está na valorização da etapa de
definição do escopo do estudo (scoping), conforme discutido anteriormente. Trazer o
proponente do projeto e sua equipe de consultores para ajudar a delinear o Termo de
Referência junto ao IBAMA poderia aumentar a compreensão geral das questões
relevantes a serem abordadas e reduzir a possibilidade de ocorrência de erros
estruturais graves na elaboração do estudo ambiental.

Existe ainda uma questão que se coloca como pano de fundo da discussão
sobre a qualidade dos EIAs ou EASs: o estudo ambiental está sendo utilizado como
um verdadeiro instrumento de auxílio ao planejamento e à decisão ou é tratado
apenas como um documento voltado ao atendimento formal a requisitos pré-
estabelecidos?

Em uma atividade extremamente repetitiva como a pesquisa sísmica marítima,


é natural que a análise de significância dos impactos ambientais e as medidas
mitigadoras e de monitoramento acabem convergindo para um padrão relativamente
constante. Nesse sentido, na maioria dos casos a influência dos diagnósticos
ambientais sobre as conclusões dos estudos é bastante reduzida e limita-se a fornecer
subsídios para a implementação de projetos ambientais já definidos. Por exemplo, o

93
Obviamente, se o estudo ambiental deve ser focado nas questões relevantes, a análise
técnica também deve evoluir nesse sentido, evitando a solicitação de revisões e
complementações desnecessárias à tomada de decisão.

250
diagnóstico do meio socioeconômico normalmente possui informações relevantes para
a implementação do projeto de comunicação social ou de compensação da atividade
pesqueira, mas o desenho dos projetos em si já está consolidado e o estudo tem
pouca ou nenhuma interferência neles. Como lidar com essa questão da perda de
utilidade, ainda que parcial, de partes do estudo ambiental é um assunto que precisa
ser resolvido em breve. O desafio maior parece ser tornar o estudo ambiental um
documento enxuto, objetivo e informativo sem, contudo, restringir a sua capacidade de
identificação de novos aspectos relevantes nem a possibilidade de inovação nas
medidas mitigadoras e de monitoramento.

Os bancos de dados ambientais georreferenciados podem desempenhar um


papel de destaque no futuro da avaliação ambiental no Brasil. À medida em que haja
um banco de dados oficial, com informações validadas por instituições qualificadas,
disponível a qualquer cidadão com acesso à internet, a forma como o licenciamento
lida com os diagnósticos ambientais poderá ser alterada substancialmente. Uma vez
que o levantamento de dados secundários estará ao alcance de um clique, os estudos
ambientais e o próprio processo de licenciamento deverão ser adaptados a essa nova
realidade.

Participação Pública

Enquanto é preciso reconhecer os avanços na questão da participação pública


nos licenciamentos de pesquisas sísmicas marítimas nos últimos anos, é também
necessário ampliar os mecanismos e a qualidade dessa participação. Por maior que
seja o esforço da equipe técnica do IBAMA em tornar as Audiências Públicas e as
Reuniões Técnicas Informativas em momentos democráticos de participação do
público interessado, esse tipo de instrumento possui algumas importantes limitações
intrínsecas.

Sánchez (2006, p. 416) enumera algumas deficiências das audiências públicas


ambientais:

- Têm uma dinâmica que favorece um clima de confronto;

- Representam um jogo de soma nula, pois, devido à


confrontação, raramente se consegue convergir para algum ponto em
comum;

- Dão margem à manipulação por aqueles que têm mais poder


econômico ou maior capacidade de mobilização;

251
- Ocorrem muito tarde no processo de AIA, quando muitas
decisões importantes sobre o projeto já foram tomadas;

- A maior parte do público dispõe de pouquíssima informação


sobre o projeto e seus impactos; os processos de informação pública
que deveriam preceder a audiência são deficientes;

- Grande parte do público não tem condições de decodificar e


compreender a informação de caráter técnico e científico colocada à
sua disposição;

- Os tomadores de decisão raramente estão presentes (somente


seus assessores);

- Há um “déficit comunicativo implícito”, uma vez que os “técnicos


se colocam em um degrau superior ao dos cidadãos” (Webler e Renn,
1990, p. 24);

- Uso freqüente de argumentos de cunho técnico-científico em um


contexto político no qual a verdade não pode ser verificada
(Parenteau, 1988);

- Surgimento de uma categoria de “especialistas em audiências


públicas” que falam em nome do público (Parenteau, 1988);

- Uso freqüente de argumentos jurídicos e ameaças de ações em


Justiça, tentando invalidar ou tornar ilegítimas decisões tomadas
anteriormente ou a ser tomadas.

Muitas dessas deficiências são observadas nas audiências públicas


organizadas em função de projetos de sísmica marítima, o que reduz a funcionalidade
desse instrumento.

No entanto, o recente envolvimento das comunidades pesqueiras artesanais


nos processos participativos de discussão das medidas compensatórias é um exemplo
de boa prática em participação pública no processo de avaliação ambiental. Ao invés
de determinados pelo IBAMA ou pelo empreendedor, os projetos a serem financiados
a título de medida compensatória pela interferência com a atividade pesqueira são
discutidos e selecionados pelas próprias comunidades afetadas.

Nos projetos mais controversos, como aqueles em zona de transição mar-terra,


por exemplo, o IBAMA poderia lançar mão de outros formatos de envolvimento do
público além das audiências públicas. Reuniões menores para esclarecimento e
contribuição de lideranças locais ou ainda a formação de comitês de acompanhamento

252
do processo de licenciamento são iniciativas que poderiam trazer benefícios à
avaliação ambiental dessas pesquisas sísmicas.

Um outro problema que afeta a participação pública é a inexistência de um


estudo ambiental consolidado a ser submetido à consulta. Normalmente, a versão do
estudo que é distribuída às partes interessadas e sobre a qual é realizada a discussão
na audiência pública é a primeira versão do documento. Existem processos onde o
estudo sofre 3 ou mais revisões, sendo a versão final substancialmente diferente da
inicial.

Essa questão transforma-se num dilema para o órgão ambiental: a audiência


no início do processo pode fornecer importantes subsídios para análise dos técnicos,
porém o documento divulgado é uma versão inicial a ser modificada; por outro lado,
uma audiência no final do processo discutiria um estudo mais consolidado, mas a
análise dos técnicos seria realizada sem o aporte do público interessado.

Mesmo que esse dilema não tenha solução óbvia nem imediata, alguns pontos
podem ser trabalhados para aperfeiçoamento do processo:

- Redução do número de revisões do estudo, trabalhando tanto a qualidade


dos estudos em si quanto a dos pareceres técnicos para evitar falhas de
comunicação. Podem ser realizadas reuniões técnicas para otimizar o
atendimento às solicitações do parecer técnico do IBAMA e evitar revisões
adicionais do estudo.

- Exigência de uma versão consolidada do Estudo Ambiental ao final do


processo de licenciamento para facilitar a verificação do atendimento às
condicionantes estabelecidas e da execução da atividade conforme
informado pelo empreendedor.

- Disponibilização na internet dos documentos intermediários do processo


de licenciamento, tais como pareceres técnicos, relatórios de vistoria e
complementações ao estudo ambiental.

Acompanhamento pós-licença

Esta é a etapa que historicamente recebeu menos atenção ao longo do


processo de avaliação ambiental de pesquisas sísmicas marítimas. Na realidade, essa
é uma deficiência em nível global do processo de AIA identificada em diversos
documentos sobre o assunto (p.ex.: Sadler, 1996; UNEP, 2002), e não é diferente no
caso das pesquisas sísmicas marítimas no Brasil.

253
Uma das principais expectativas do IBAMA quando da aprovação da
Resolução CONAMA n° 350/04 era que a partir da simplificação do licenciamento em
águas profundas (Classe 3), da revisão dos TRs e da elaboração dos guias de apoio
ao licenciamento, a equipe técnica iria ter mais disponibilidade para realizar o
acompanhamento das licenças concedidas. Essa expectativa até hoje não foi
concretizada, continuando a etapa de acompanhamento pós-licença restrita à análise
de relatórios ambientais após o encerramento da atividade e alguns eventuais
acompanhamentos presenciais a bordo do navio em operação – o que é atualmente
exceção, quando deveria ser regra.

A principal razão para o desapontamento dessa expectativa é o tamanho


restrito da equipe de licenciamento do IBAMA. Embora hoje a equipe dedicada ao
licenciamento da sísmica consiga se manter a par das etapas pré-concessão da
licença, geralmente evitando atrasos nos cronogramas dos empreendedores, não há
técnicos suficientes para a implementação adequada da etapa de acompanhamento
pós-licença.

Este fato é altamente prejudicial para o aperfeiçoamento contínuo do modelo


de licenciamento da atividade, pois, sem o devido acompanhamento, é difícil avaliar se
as medidas mitigadoras e de monitoramento estão sendo adequadamente
implementadas e se estão tendo os efeitos desejados. Ao mesmo tempo, a
necessidade de maior dedicação à etapa pós-licença é um estímulo ao
aperfeiçoamento contínuo de procedimentos “pré-licença” para reduzir o tempo de
emissão das licenças e liberar recursos humanos para o acompanhamento das
atividades.

A questão do tamanho da equipe técnica do IBAMA poderia ficar ainda mais


crítica se houvesse uma mudança no cenário da exploração petrolífera no Brasil que
incrementasse o nível de atividade em águas rasas (menos de 50 m). No entanto,
considerando o resultado das últimas rodadas de licitação da ANP, com foco em
águas mais profundas, o cenário aponta para uma redução ainda maior das atividades
em lâminas d’água reduzidas – e um conforto ainda maior para o licenciamento
ambiental.

Como alternativa para suprir a deficiência atual do licenciamento, uma solução


aplicável aos projetos em águas rasas é o fomento do acompanhamento das
atividades por representantes das comunidades locais. Esse procedimento já foi
adotado com sucesso pelo IBAMA no licenciamento de duas pesquisas na Bacia de

254
Camamu/Almada, no início de 2004 94 . Outra possibilidade também já testada em
algumas situações é a utilização de servidores do IBAMA local para auxiliar no
acompanhamento das atividades. Porém, ambas as sugestões necessitam da
definição dos mecanismos de relatoria e comunicação dos resultados e de algum tipo
de treinamento prévio.

94
Um relatório produzido pelos próprios representantes das comunidades descrevendo as
atividades de acompanhamento pode ser acessado em www.ilhaboipeba.org.br/mac.html.

255
CONCLUSÃO

A prática brasileira de avaliação ambiental aplicada às pesquisas sísmicas


marítimas demonstrou estar praticamente restrita ao nível de projeto e,
conseqüentemente, ao momento do licenciamento ambiental. Assim, foi necessário
estudar em profundidade a evolução do processo de licenciamento ambiental da
atividade para compreender o contexto no qual se dá prioritariamente a consideração
da variável ambiental no planejamento das pesquisas sísmicas marítimas no Brasil.

Aperfeiçoar a prática do licenciamento ambiental significa atender


simultaneamente a duas demandas: os analistas ambientais do órgão ambiental
buscam melhorar o controle ambiental da atividade e os empreendedores buscam
reduzir os prazos e custos associados a esse controle ambiental. Sob esse prisma,
pode-se afirmar sem riscos que o modelo de licenciamento ambiental da atividade de
sísmica marítima vem sendo aperfeiçoado ao longo dos anos e que um grande salto
ocorreu a partir da entrada em vigor da Resolução CONAMA n° 350/04.

Em verdade, o salto de qualidade iniciou-se durante o processo de elaboração


da Resolução CONAMA n° 350/04, quando órgão ambiental, empreendedores e
outros atores afins juntaram-se em um Grupo de Trabalho do CONAMA para discutir o
marco regulatório do licenciamento ambiental da atividade. A partir daí, quando as
demandas e agendas de cada grupo interessado foram colocadas de forma explícita
na mesa de negociação e o GT CONAMA trabalhou rumo a uma proposta de
consenso para a regulamentação do licenciamento, o foco da relação entre as
empresas e o IBAMA pôde progredir do enfrentamento rumo ao diálogo, abrindo
caminho para o aperfeiçoamento dos procedimentos.

Hoje, passados dois anos e meio da entrada em vigor do marco regulatório, o


Brasil conta com um modelo de licenciamento elaborado especialmente para a
atividade. Esse modelo leva em consideração as especificidades da atividade e o
potencial diferenciado de impacto ambiental a depender da localização da pesquisa.

A principal inovação da Resolução CONAMA n° 350/04 é a formalização de


uma etapa de triagem para decidir se uma proposta específica de levantamento de
dados sísmicos deve ser submetida ao procedimento detalhado de avaliação de
impacto ambiental ou se a atividade pode ser adequadamente controlada com a
implementação de medidas mitigadoras padronizadas.

256
Além dessa modificação estrutural no processo, diversas alterações foram
realizadas nos procedimentos ligados ao processo de licenciamento, incluindo a
revisão e padronização de diretrizes e a elaboração de documentos de apoio ao
licenciamento.

Com isso, foi possível reduzir de forma substancial o tempo necessário para o
licenciamento das atividades com baixo potencial de impacto ambiental – aquelas
realizadas em águas profundas e distantes da costa, sem interferência com
ecossistemas sensíveis ou atividades socioeconômicas relevantes (Classe 3 da
Resolução CONAMA nº350/04).

O licenciamento de pesquisas sísmicas em águas rasas ainda demora mais do


que o necessário para atender às expectativas do dinâmico setor exploratório, mas há
espaço para ganhos de eficiência através da continuidade da política de padronização
de diretrizes e da informatização do processo de licenciamento.

Um aspecto de destaque na prática brasileira está na mediação do conflito com


a atividade pesqueira artesanal. Esse é um desafio que o IBAMA está enfrentando
proativamente, por meio do desenvolvimento de metodologias participativas e da
articulação institucional interna e externa ao IBAMA. Esta parece ser uma experiência
bastante original, cujos acertos e percalços podem servir para subsidiar processos de
mediação em situações similares.

Do ponto de vista da experiência internacional, o Brasil parece se encontrar em


um patamar excelente de desempenho, considerando o pouco tempo de evolução da
prática de avaliação ambiental e do próprio setor de pesquisas sísmicas. Essa
afirmativa se justifica, dentre outros fatores, porque:

- A prática brasileira é destaque internacional no campo da mitigação do


impacto no compartimento biológico dos ecossistemas.

- A experiência do IBAMA de interação com o setor pesqueiro artesanal


provavelmente é única no mundo, dadas as características especiais
dessa atividade na costa brasileira.

- O modelo atual de licenciamento ambiental de pesquisas sísmicas


marítimas foi desenhado especificamente para a atividade e seus
procedimentos permitem contemplar de forma satisfatória e com a
profundidade adequada as principais questões ambientais associadas à
atividade.

257
Observa-se ainda que as principais inovações introduzidas a partir da
Resolução CONAMA n° 350/04 – triagem de iniciativas de impacto significativo e
padronização de diretrizes de mitigação e monitoramento – assim como diversas
recomendações para aperfeiçoamento do modelo aplicado às pesquisas sísmicas
marítimas podem servir de subsídio à modernização de processos de avaliação
ambiental de outras tipologias de atividades potencialmente causadoras de impactos
ambientais.

Por fim, considera-se que, apesar de suas falhas e inconsistências, a


Resolução CONAMA n° 350/04 é um importante marco regulatório para as atividades
de pesquisa sísmica marítima no Brasil. Não se vislumbra a necessidade de revisão
conceitual imediata da Resolução – é preciso mais tempo de funcionamento do novo
modelo para que, a partir de criteriosa avaliação, possam ser propostas alterações
significativas na regulamentação do licenciamento da atividade.

258
RECOMENDAÇÕES

Embora o processo registrado nessa dissertação possa ser considerado uma


experiência bem-sucedida de aprimoramento de um modelo de avaliação ambiental,
ainda há espaço para aperfeiçoamentos importantes na prática brasileira. Assim,
recomenda-se que o IBAMA, principal agente do processo de avaliação ambiental de
pesquisas sísmicas marítimas enquanto responsável pelo licenciamento ambiental da
atividade, deva:

- Fomentar a antecipação da consideração da variável ambiental relativa às


pesquisas sísmicas marítimas para níveis anteriores ao de projeto. É
praticamente um consenso entre os profissionais do setor que a licitação
de blocos da ANP deveria ser precedida de algum tipo de avaliação
ambiental prévia.

- Implementar a informatização do processo, tanto para acelerar e


modernizar o trâmite burocrático quanto para dar transparência e acesso
público ao processo decisório.

- Prosseguir com a política de padronização de projetos de mitigação,


alcançando o Controle da Poluição e o Plano de Ação de Emergência. É
necessário, também, avaliar e revisar os projetos já padronizados.

- Investir no acompanhamento pós-licença para aferir se as medidas


exigidas como condicionantes no licenciamento estão sendo
implementadas de fato.

- Fomentar a geração e sistematização de informações relativas à atividade


de pesca artesanal, para subsidiar possíveis restrições espaço-temporais
às pesquisas sísmicas e auxiliar o processo de mediação do conflito entre
as atividades.

- Investir na sistematização e análise dos dados obtidos nos


monitoramentos da biota e da atividade pesqueira como forma de avaliar a
efetividade das medidas mitigadoras exigidas e subsidiar o
aperfeiçoamento do próprio monitoramento.

- Definir por meio de ato administrativo as áreas e períodos de restrição à


atividade, de acordo com a Resolução CONAMA n° 350/04, para garantir
maior segurança jurídica ao licenciamento.

259
- Fomentar a viabilização de um Banco de Dados Ambientais
Georreferenciados junto às instâncias governamentais para suporte ao
processo de avaliação de impacto ambiental.

- Realizar revisões periódicas dos Termos de Referência para assegurar


que o escopo dos estudos está suficientemente focado nas questões
ambientalmente relevantes e as medidas mitigadoras e de monitoramento
estão sendo exigidas de acordo com as melhores práticas existentes.

- Envolver os empreendedores e seus consultores ambientais na elaboração


de Termos de Referência e documentos de apoio ao licenciamento, como
guias para implementação de projetos de mitigação. A contribuição de
quem elabora os estudos ou implementa as medidas mitigadoras é
fundamental para o aperfeiçoamento do processo de gestão ambiental da
atividade – e não representa, sob nenhum aspecto, perda ou
enfraquecimento da autoridade do órgão ambiental.

- Desenvolver mecanismos de avaliação processual para fornecer subsídios


ao aperfeiçoamento contínuo dos procedimentos do licenciamento
ambiental.

260
REFERÊNCIAS

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Comunicações pessoais

Cosme Peruzzolo. Ex-Presidente da IAGC – Seção Brasil. Outubro 2006.


Lori-Ann Sharp. National Energy Board. Canadá. Abril 2007.
John Dalen. IMR – Institute of Marine Research. Noruega. Abril 2007.
José Cespedes Barbosa. Geofísico ex-consultor do IBAMA. Brasil. Dezembro 2006.
Judy Wilson. MMS Environmental Compliance Unit. EUA. Março 2007.
Pete Sloan. MMS Alaska Region. EUA. Março 2007.
Ron Brinkman. MMS Gulf of Mexico Region. EUA. Março 2007.

284
ANEXO - RESOLUÇÃO CONAMA N° 350/04

Ministério do Meio Ambiente


Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA

RESOLUÇÃO Nº 350, DE 6 DE JULHO DE 2004.

Dispõe sobre o licenciamento ambiental específico das atividades de aquisição de


dados sísmicos marítimos e em zonas de transição.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das atribuições


que lhe são conferidas pela Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada
pelo Decreto n° 99.274, de 6 de junho de 1990, e
Considerando que a exploração de petróleo e de gás natural, bem como a definição de
estratégias relacionadas ao aumento, à otimização e à sustentabilidade de sua
produção, depende da aquisição de dados sísmicos;
Considerando as normas legais estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo-
ANP, que dispõem sobre as definições para a aquisição de dados aplicados à
exploração e à produção de petróleo e gás natural;
Considerando que as atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em
zonas de transição são potencialmente causadoras de impactos ambientais nos
ecossistemas marinho e costeiro e em atividades como a pesca e a aqüicultura, entre
outras;
Considerando o caráter não permanente e a mobilidade das atividades de aquisição
de dados sísmicos marítimos e em zonas de transição;
Considerando que as atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em
zonas de transição são realizadas em áreas com diferentes níveis de sensibilidade
ambiental;
Considerando a necessidade de regulamentação do processo de licenciamento
ambiental específico das atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em
zonas de transição, resolve:

Art. 1° As atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de


transição serão objeto de licenciamento ambiental por se tratar de atividades
potencialmente causadoras de impactos ambientais, que obedecerá a regras
específicas em razão de seu caráter temporário, da sua mobilidade e da ausência de
instalações fixas.

Art. 2° Para os fins previstos nesta Resolução, entende-se por:


I - dados sísmicos: conjunto de informações obtidas por meio do método geofísico de
reflexão ou refração sísmica, que consiste no registro das ondas elásticas durante um
período de tempo decorrido entre o disparo de uma fonte sonora artificial e o retorno
da onda sonora gerada, após esta ter sido refletida e refratada nas interfaces de
diferentes camadas rochosas em subsuperfície;
II - zonas de transição: áreas que incluem a água rasa e a área terrestre adjacente,
caso estas integrem um mesmo levantamento de dados sísmicos;

285
III - enquadramento: estabelecimento de classe em que se encontram as atividades
em relação ao licenciamento ambiental, com base na Ficha de Caracterização das
Atividades - FCA;
IV - ficha de caracterização das atividades-FCA: documento sentado pelo
empreendedor, em conformidade com o modelo indicado pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, em que são descritos os
principais elementos que caracterizam as atividades e sua área de inserção e são
fornecidas informações acerca da justificativa da implantação do projeto, seu porte e a
tecnologia empregada, os principais aspectos ambientais envolvidos e a existência ou
não de estudos e licenças ambientais emitidas por outras instâncias do governo;
V - termo de referência-TR: documento fornecido pelo IBAMA ao empreendedor, em
que são estabelecidas as diretrizes, o conteúdo mínimo e a abrangência dos estudos
ambientais necessário ao licenciamento da atividade de aquisição de dados sísmicos;
VI - embarcação sísmica: embarcação equipada com fonte sísmica, unidade de
registro, cabos sismográficos e equipamentos acessórios, utilizada especificamente
para as atividades de aquisição de dados sísmicos;
VII - embarcação assistente: embarcação que acompanha a embarcação sísmica com
a finalidade de evitar possíveis interferências com outras embarcações que estejam
operando na região;
VIII - embarcações de apoio: embarcações empregadas no transporte de pessoal e de
material, em apoio à operação da embarcação sísmica no mar;
IX - área de sensibilidade ambiental: área de concentração de espécies marinhas e
costeiras, de importância ecológica, social, cultural e econômica;
X - plano de controle ambiental de sísmica - PCAS: documento elaborado pelo
empreendedor que prevê as medidas de controle ambiental da atividade de aquisição
de dados sísmicos;
XI - estudo ambiental de sísmica - EAS: documento elaborado pelo empreendedor que
apresenta a avaliação dos impactos ambientais não significativos da atividade de
aquisição de dados sísmicos nos ecossistemas marinho e costeiro;
XII - relatório de impacto ambiental de sísmica - RIAS: documento elaborado pelo
empreendedor que apresenta a síntese do EAS em linguagem acessível aos
interessados, demonstrando as conseqüências ambientais da implementação das
atividades de aquisição de dados sísmicos;
XIII - Licença de Pesquisa Sísmica - LPS: ato administrativo pelo qual o IBAMA
autoriza e estabelece condições, restrições e medidas de controle ambiental que
devem ser seguidas pelo empreendedor para a realização das atividades de aquisição
de dados sísmicos;
XIV - audiência pública: reunião pública com o intuito de explanar aos interessados
sobre a atividade de aquisição de dados sísmicos, visando dirimir dúvidas e recolher
críticas e sugestões a respeito.

Art. 3° As atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de


transição dependem da obtenção da Licença de Pesquisa Sísmica-LPS.
Parágrafo único. Compete ao IBAMA o licenciamento ambiental das atividades
referidas no caput, ouvidos os órgãos ambientais estaduais competentes, quando
couber.

286
Art. 4° O licenciamento ambiental das atividades de aquisição de dados sísmicos
marítimos e em zonas de transição deve obedecer às seguintes etapas:
I - encaminhamento da FCA por parte do empreendedor;
II - enquadramento das atividades pelo IBAMA, considerando as seguintes classes:
a) Classe 1 - Levantamentos em profundidade inferior a 50 metros ou em áreas de
sensibilidade ambiental, sujeitos à elaboração de PCAS e EAS/RIAS;
b) Classe 2 - Levantamentos em profundidade entre 50 e 200 metros, sujeitos à
elaboração de PCAS e EAS/RIAS;
c) Classe 3 - Levantamentos em profundidade superior a 200 metros, sujeitos à
elaboração de PCAS;
III - emissão do TR pelo IBAMA, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contados da data
de protocolo da solicitação;
IV - entrega da documentação pelo empreendedor, juntamente com o requerimento da
LPS;
V - atendimento pelo empreendedor de esclarecimentos e informações
complementares, caso solicitados, no prazo máximo de 4 (quatro) meses, contados do
recebimento da respectiva notificação, prazo esse passível de prorrogação, desde que
justificado, acordado com o IBAMA e requerido até 30 (trinta) dias antes de sua
expiração;
VI - manifestação do IBAMA pelo deferimento ou indeferimento da LPS.
§ 1° O órgão ambiental competente terá o prazo de 6 (seis) meses a contar do ato de
protocolo de requerimento até o seu deferimento ou indeferimento, ressalvados os
casos em que houver Estudo de Impacto Ambiental-EIA e seu respectivo Relatório de
Impacto Ambiental-RIMA, quando o prazo será de 12 meses.
§ 2º A contagem do prazo previsto no §1º será suspensa durante a elaboração dos
estudos ambientais complementares ou preparação de esclarecimentos pelo
empreendedor.
§ 4° O TR é estabelecido pelo IBAMA, em conjunto com o empreendedor, com
detalhamento compatível com as classes de enquadramento previstas no inciso II.
§ 5° As informações apresentadas durante o processo de licenciamento devem ser
sistematizadas em banco de dados coordenado pelo IBAMA.
§ 6° Quando a atividade sísmica for considerada pelo IBAMA como potencialmente
causadora de significativa degradação ambiental deverá ser exigida, de forma
motivada, a apresentação de EIA/RIMA.

Art. 5° Nos casos de atividades sísmicas não potencialmente causadoras de


significativa degradação ambiental o IBAMA, sempre que julgar necessário, ou quando
for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) pessoas
maiores de dezoito anos, promoverá reunião técnica informativa.
§ 1° A solicitação para realização da reunião técnica informativa deverá ocorrer no
prazo de até vinte dias após a data de publicação do requerimento das licenças pelo
empreendedor.
§ 2° A reunião técnica informativa será realizada em até vinte dias a contar da data de
solicitação de sua realização e deverá ser divulgada pelo empreendedor em órgãos de
imprensa local.

287
§ 3° Na reunião técnica informativa será obrigatório o comparecimento do
empreendedor, das equipes responsáveis pela elaboração do EAS/RIAS, e de
representantes do órgão ambiental competente.
§ 4° Qualquer pessoa poderá se manifestar por escrito no prazo de quarenta dias da
publicação do requerimento de licença nos termos desta Resolução cabendo o órgão
ambiental juntar as manifestações ao processo de licenciamento ambiental e
considerá-las na fundamentação da emissão da licença ambiental.

Art. 6° Os custos referentes ao processo de licenciamento, incluindo a eventual


realização de audiência pública ou de reunião técnica informativa, correm por conta do
empreendedor.

Art. 7° Na apresentação ao empreendedor do TR para a elaboração do EAS/RIAS ou


do EIA/RIMA, o IBAMA deve considerar a competência exclusiva da Marinha do Brasil
para a vistoria das condições de segurança da navegação e de prevenção da poluição
do meio ambiente da embarcação sísmica, da embarcação assistente e das demais
embarcações de apoio envolvidas nas atividades previstas nesta Resolução.

Art. 8° O IBAMA deve definir por meio de ato administrativo as áreas e os períodos de
restrição periódica, temporária ou permanente para a realização das atividades de
aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de transição.

Art. 9° As embarcações sísmicas e demais embarcações envolvidas nas atividades


previstas nesta Resolução podem utilizar em suas operações quaisquer portos ou
terminais reconhecidos pela autoridade competente.

Art. 10. A renovação da LPS deve ser requerida com a antecedência a ser
estabelecida na respectiva licença.
§ 1° Caso o prazo estabelecido seja insuficiente para a conclusão da avaliação do
pedido de renovação da LPS pelo IBAMA, este deve comunicar ao empreendedor o
prazo necessário à conclusão da avaliação do pedido, bem como o de prorrogação da
validade da LPS.

Art. 11. Considera-se o procedimento previsto nesta Resolução obrigação de relevante


interesse ambiental.

Art. 12. Esta Resolução entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua
publicação oficial, prazo em que o IBAMA e os empreendedores devem se adequar
aos procedimentos previstos nesta Resolução.

MARINA SILVA
Presidente do Conselho

288

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