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CENTRO DE TECNOLOGIA
MARINGÁ
2011
i
MARINGÁ
2011
ii
AGRADECIMENTOS
R ESUMO
ABSTRACT
The study evaluated the influence of maintenance and operating conditions on the
performance of the STPs in Maringá/PR. In two STPs were raised the
operational/maintenance problems and environmental aspects, as well as a sewage sampling
to evaluate the treatments. In a STP in addition to these surveys, was carried out a monitoring
of 6 months. After collections, were analyzed the physico-chemical parameters of samples
and was verified the index of quality and conformity of the sewer. The system of two STPs is
composed of primary treatment and anaerobic treatment. In a STP is still there an aerobic
treatment and dehydration/sludge treatment. The STPs are going through various problems,
like biological filters inactive until, failures in centrifugal and pumps sludge recirculation and
disruption of PVC canvas of ARFBs. Some units require immediate maintenance, because
changing the quality of sewage from the beginning of the problem. This situation changed the
effectiveness of treatments, because the accumulation of sludge in the secondary treatment
and post treatment of STP. The situation of two STPs is even more worrisome, because the
tests showed that parameters such as COD, BOD5 , TSS, NO3- NO4-, NH4+ and PT are being
released with concentrations above the a STP, that is, all the STPs are not within the standards
and targets required by environmental laws and Sanepar. Were listed 55 impacts and the
anthropic environment was the factor had the highest number of negative impacts. Most of the
observed impacts is linked to the oscillation of the system's efficiency. It is recommended that
the enterprise to have new alternatives and actions to be taken on the occurrence of
operational problems for which performance is not affected and that the STPs becomes
beneficial from the standpoint of social, sanitary and environment.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 17
2 OBJETIVOS................................................................................................................... 19
2.1.1 Objetivo geral................................................................................................ 19
2.1.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 19
3 REVISÃO TEÓRICA ....................................................................................................... 20
3.1 ESGOTO SANITÁRIO ............................................................................................... 20
3.2 CARACTERÍSTICAS DO ESGOTO SANITÁRIO ........................................................... 22
3.2.1 Características físicas ................................................................................... 23
3.2.2 Características químicas............................................................................... 25
3.2.3 Características biológicas ............................................................................. 29
3.2.4 Metais pesados .............................................................................................. 29
3.3 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO ................................................................ 30
3.3.1 Tratamento preliminar ................................................................................. 32
3.3.1.1 Gradeamento ........................................................................................... 33
3.3.1.2 Desarenadores......................................................................................... 36
3.3.2 Tratamento primário .................................................................................... 38
3.3.3 Tratamento secundário................................................................................. 39
3.3.3.1 Reator anaeróbio de leito fluidizado ........................................................ 40
3.3.3.2 Filtro biológico percolador e decantadors secundário ............................. 43
3.3.4 Tratamento terciário .................................................................................... 46
3.3.5 Tratamento do lodo ...................................................................................... 46
3.3.5.1 Adensador de lodo ................................................................................... 46
3.3.5.2 Leitos de secagem .................................................................................... 47
3.3.5.3 Centrifugação e caleação ........................................................................ 48
3.4 IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELAS ETES..................................................... 49
x
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 4.4 - Tratamento secundário e pós-tratamento: (a) RALFs, (b) filtro biológico, (c)
decantador secundário e (d) câmara de contato ............................................................. 70
Figura 4.5 - Tratamento do lodo: (a) centrífuga e (b) pátio de cura ....................................... 71
Figura 6.11 - Variação de DBO5 nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos............... 95
Figura 6.12 - Variação de DQO nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos................ 98
Figura 6.13 – Variação da relação DBO5/DQO dos pontos de coleta .................................. 100
Figura 6.14 - Variação de carga orgânica dos pontos de esgoto .......................................... 101
Figura 6.15 - Variação de ST nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos ................. 103
Figura 6.16 - Variação de SST nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos ............... 105
Figura 6.17 - Variação de SSV nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos ............... 107
Figura 6.18 - Variação de SSF nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos................ 108
Figura 6.19 - Distribuição das frações de sólidos suspensos fixos e voláteis nos pontos de
coleta ......................................................................................................................... 109
Figura 6.20 - Variação de SDT nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos............... 110
Figura 6.21 - Variação de SSed nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos .............. 112
Figura 6.22 - Variação de PT nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos ................. 114
Figura 6.23 - Variação de NH4+ nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos.............. 116
Figura 6.24 - Variação de NO2- nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos .............. 118
Figura 6.25 - Variação de NO3- nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos .............. 120
Figura 6.26 - Variação de NKT nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos .............. 122
Figura 6.27 - Variação do IQET da ETE 2 durante o período de monitoramento ................ 125
Figura 6.28 - Variação do ICE da ETE 2 durante o período de monitoramento ................... 126
Figura 6.31 - Ausência de retirada dos resíduos sólidos das caçambas ................................ 134
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 - Classificação do esgoto por meio das características físicas e químicas ............. 23
Tabela 5.1 - Parâmetros e pesos para o IQET ....................................................................... 81
Tabela 6.1 - Variação de pH nos pontos de coleta de esgoto ................................................. 91
Tabela 6.2 - Variação de OD nos pontos de coleta de esgoto ................................................ 92
Tabela 6.3 - Variação da Relação F/M no tratamento anaeróbio e aeróbio ............................ 94
Tabela 6.4 - Variação de DBO5 nos pontos de coleta de esgoto ............................................ 95
Tabela 6.5 - Variação de DQO nos pontos de coleta de esgoto ............................................. 98
Tabela 6.6 - Variação da relação DBO5/DQO nos pontos de coleta de esgoto ..................... 100
Tabela 6.7 - Variação de carga orgânica dos pontos de esgoto ............................................ 101
Tabela 6.8 - Variação de ST nos pontos de coleta de esgoto ............................................... 103
Tabela 6.9 - Variação de SST nos pontos de coleta de esgoto ............................................. 105
Tabela 6.10 - Variação de SSV nos pontos de coleta de esgoto........................................... 107
Tabela 6.11 - Variação de SSF nos pontos de coleta de esgoto ........................................... 108
Tabela 6.12 - Variação de SDT nos pontos de coleta de esgoto .......................................... 110
Tabela 6.13 - Variação de SSed nos pontos de coleta de esgoto .......................................... 112
Tabela 6.14 - Variação de PT nos pontos de coleta de esgoto ............................................. 114
Tabela 6.15 - Variação de NH4+ nos pontos de coleta de esgoto ......................................... 116
Tabela 6.16 - Variação de NO2- nos pontos de coleta de esgoto .......................................... 118
Tabela 6.17 - Variação de NO3- nos pontos de coleta de esgoto .......................................... 120
Tabela 6.18 - Variação de NKT nos pontos de coleta de esgoto .......................................... 122
Tabela 6.19 - Variação dos metais pesados nos pontos de coleta de esgoto ......................... 123
Tabela 6.20 - Concentração de óleos e graxas no esgoto bruto e tratado ............................. 124
Tabela 6.21 - ICT realizado na ETE 2 ................................................................................ 127
Tabela 6.22 - Custos operacionais da ETE 2 ....................................................................... 131
Tabela 6.23 - Caracterização do esgoto nos pontos de coleta na ETE 1 e ETE 3 ................. 137
Tabela 6.24 - Eficiência dos tratamentos na ETE 1 e ETE 3 ............................................... 138
Tabela 6.25 - Controle da qualidade na ETE 1 e ETE 3 ...................................................... 139
Tabela 6.26 - Quantificação dos impactos ambientais nas ETEs ......................................... 141
xv
xiv
LISTA DE QUADROS
NO3- Nitrato
OD Oxigênio Dissolvido
OG Óleos e Graxas
OGM Óleos e Graxas Minerais
OGV Óleos e Graxas Vegetais
Pb Chumbo
pH Potencial Hidrogênionico
PT Fósforo Total
RALF Reator Anaeróbio de Leito Fluidizado
SANEPAR Companhia de Saneamento do Estado do Paraná
SDT Sólidos Dissolvidos Totais
Se Selênio
SSed Sólidos Sedimentáveis
SSF Sólidos Suspensos Fixos
SST Sólidos Suspensos Totais
SSV Sólidos Suspensos Voláteis
ST Sólidos Totais
TRH Tempo de Retenção Hidráulica
UEM Universidade Estadual de Maringá
WEF Water Environmental Federation
Zn Zinco
Introdução 17
1 INTRODUÇÃO
No entanto, como comentam Johnstone e Norton (2000), definições adequadas dos padrões a
serem alcançados e vários esclarecimentos se tornam necessários, dentre os quais: (a) se o
desempenho deve ser baseado em valores absolutos ou em uma porcentagem de remoção, (b)
se os parâmetros usados como medidas de controle devem estar incluídos nas licenças para
lançamento, (c) se o regime de amostragem deve ser baseado em amostras simples ou
compostas, (d) se deve existir uma freqüência requerida de amostragens e análises, (e) qual
deve ser o período de julgamento do cumprimento (se deve ser considerada a amostra diária, a
média mensal, a média anual ou um valor percentual medido em um certo período de tempo).
Além do impacto do lançamento dos efluentes de ETEs nos corpos d’água, os impactos
ambientais provenientes das peculiaridades do sistema e das unidades operacionais também
devem ser estudados. O conhecimento prévio dos problemas associados à implantação e
operação de um empreendimento, por meio de instrumentos de avaliação de impacto e
planejamento ambientais, pode levar a adoção de medidas que evitem ou atenuem tais
impactos, reduzindo os danos ambientais e, conseqüentemente, os custos envolvidos na sua
remediação ou correção.
O estudo dos diversos fatores que envolvem os processos em ETEs, como problemas
mecânicos, operacionais e ambientais, bem como problemas de gestão do empreendimento é
uma ferramenta poderosa para a gestão ambiental sob vários aspectos: possibilita localizar
fontes poluidoras; possibilita identificar fatores de risco; possibilita a tomada de medidas
preventivas; e possibilita a tomada de medidas corretivas.
A análise dos processos fornece também subsídios para tomada de decisão com vistas à
melhoria na eficiência dos processos e da qualidade do esgoto final. Neste sentido, este
trabalho é de grande relevância para a área de tratamento de esgotos, uma vez que se propõe a
avaliar o comportamento de ETEs, sob diferentes interferências ambientais e operacionais,
fornecendo informações reais do desempenho dos processos unitários, em termos da
qualidade do efluente gerado e da eficiência de remoção alcançada.
Objetivos 19
2 O BJETIVOS
Realizar uma análise da qualidade do tratamento das ETEs por meio de índices de
qualidade, conformidade e confiabilidade de esgoto e tratamento;
3 R EVISÃO TEÓRICA
O termo esgoto é usado para caracterizar os efluentes gerados a partir dos diversos tipos de
uso das águas, tais como o uso doméstico, industrial, hospitalar, agrícola, entre outros
(JORDÃO; PESSÔA, 1995).
O sistema separador absoluto, adotado pelo Brasil, faz com que as águas pluviais possuam
uma rede exclusiva para sua coleta. Com isso, os esgotos sanitários são constituídos apenas de
despejos domésticos, uma parcela de águas pluviais (ligações irregulares ou clandestinas) e
águas de infiltração (tubos, conexões, juntas e paredes de poços de visita defeituosos).
Pode existir uma parcela de despejos industriais diluídos nos esgotos sanitários desde que os
mesmos não interfiram no sistema de coleta e, principalmente, no tratamento dos mesmos.
Nesse trabalho, serão estudados somente esgotos sanitários, pois a política da Companhia de
Saneamento do Paraná (SANEPAR) é de não receber despejos industriais, em quantidade ou
qualidade, que afetem o tratamento biológico realizado em uma estação de tratamento de
esgoto (ETE).
Revisão teórica 21
As condições que indicam o estado do esgoto provêm da natureza e extensão das ações dos
microrganismos sobre os sólidos existentes no mesmo. O esgoto possui três estados
(SANEPAR, 2005a):
Esgoto fresco: estado inicial, logo após sua geração, de cor cinza, turvo. Não tem odor
desagradável, possui pequenas quantidades de oxigênio dissolvido proveniente da
água de abastecimento;
Esgoto séptico: já envelhecido, o esgoto não possui oxigênio dissolvido, com cor
negra e desprendendo gases fétidos de cheiro ofensivo;
Esgoto estabilizado: possui sólidos inertes que já foram decompostos, agora com
pequenas quantidades de oxigênio, sem odor ofensivo e com pouca quantidade de
sólidos em suspensão.
Grady et al. (1999) citam que os poluentes encontrados nos esgotos podem apresentar em
diferentes aspectos:
Segundo Von Sperling (2005) o esgoto sanitário é constituído de, aproximadamente, 99,9%
de água e 0,1% de material sólido, caso não haja contribuição significativa de lançamentos
industriais. É por essa fração de 0,1% de sólidos que há necessidade de tratar os esgotos,
devido a presença de materiais orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, bem como
microrganismos.
Tabela 3.1 - Classificação do esgoto por meio das características físicas e químicas
Características (mg/L) Forte Médio Fraco
Sólidos Totais 1.200 720 350
Sólidos Dissolvidos 850 500 250
Sólidos Dissolvidos Fixos 850 500 250
Sólidos Dissolvidos Voláteis 525 300 145
Sólidos em Suspensão Totais 350 220 100
Sólidos Sedimentáveis 20 10 05
DBO5 400 220 110
DQO 1.000 500 250
Nitrogênio Total - NTK 85 40 20
Nitrogênio Orgânico 35 15 08
Nitrogênio Amoniacal 50 25 12
Fósforo Total 15 08 04
Cloreto 100 50 30
Sulfato 50 30 20
Óleos e Graxas 150 100 50
Fonte: Metcalf e Eddy (2002).
As características físicas dos esgotos sanitários a serem observadas são: temperatura, cor,
turbidez, matéria sólida e odor.
Temperatura
A temperatura dos esgotos sanitários no Brasil em geral está numa faixa de 20 a 25ºC e pode
ter importância em certos casos. De acordo com Karl e Imhoff (2002) ela influencia
tratamentos de natureza biológica, nas operações que ocorre o fenômeno da sedimentação e
na transferência de oxigênio.
Revisão teórica 24
O aumento da temperatura faz com que a velocidade dos processos de decomposição acelere,
a viscosidade diminua melhorando as condições de sedimentação e diminuindo a solubilidade
do oxigênio.
Cor e turbidez
Deve-se distinguir entre a cor aparente e a cor verdadeira. Na primeira pode estar incluída
uma parcela devida à presença de sólidos suspensos. Quando esta é removida, obtém-se a cor
verdadeira que é atribuída aos sólidos dissolvidos.
De acordo com Jordão e Pessôa (1995) nos esgotos sanitários, a turbidez não é usada como
forma de caracterização do esgoto bruto, mas pode ser medida para caracterizar a eficiência
do tratamento secundário, uma vez que pode ser relacionada à concentração dos sólidos em
suspensão.
Matéria sólida
Segundo Dacach (1991) os sólidos de esgoto classificam-se de acordo com o tamanho de suas
partículas, que podem ser minerais ou orgânicas.
Os sólidos totais (ST) do esgoto podem ser definidos como a matéria que permanece como
resíduo após a evaporação a 103ºC. Se este resíduo é calcinado a 600ºC, as substâncias
Revisão teórica 25
Os sólidos totais classificam-se também em sólidos suspensos totais (SST) e dissolvidos totais
(SDT). Dacach (1991) denomina os SST como as partículas retidas em papel de filtro que só
permita a passagem daquelas com diâmetro inferior a um milésimo de milímetro, e SDT com
diâmetro inferior a esse último limite, passando através do filtro.
Odor
Os odores característicos dos esgotos são causados pelos gases formados no processo de
decomposição.
demanda bioquímica de oxigênio (DBO5), óleos e graxas (OG), fósforo total (PT) e nitrogênio
(N) em suas diversas formas - nitrogênio Kjeldahl total (NKT), nitrogênio amoniacal (NH4+),
nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-).
Potencial hidrogênionico
Segundo Metcalf e Eddy (2002) a faixa de concentração adequada para a existência de vida é
muito estreita e crítica, tipicamente 6 a 9. Despejos com concentração inadequada do íon H+
são difíceis de serem tratados por métodos biológicos.
Oxigênio dissolvido
De acordo com Metcalf e Eddy (2002) a quantidade de oxigênio que pode estar presente no
esgoto é regulada por vários fatores, tais como: a solubilidade do gás, a pressão parcial do gás
na atmosfera, a temperatura e a concentração de impurezas.
Uma forma de se determinar a matéria orgânica é através das análises de DQO e DBO5, sendo
importantes para se conhecer o grau de poluição do esgoto, para se dimensionar as ETEs e
medir sua eficiência A DQO corresponde à quantidade de oxigênio necessária para oxidar a
matéria orgânica de uma amostra que seja oxidável pelo permanganato ou dicromato de
potássio em solução ácida, ou seja, por meio de uma reação com oxidantes energéticos
(JORDÃO; PESSÔA, 1995).
Revisão teórica 27
Braile e Cavalcanti (1993) citam que a quantidade da matéria orgânica obtida por meio da
DQO é sobremaneira importante, pois verifica os despejos que contêm substâncias tóxicas à
vida.
A DQO leva em consideração qualquer fonte que necessite de oxigênio, seja esta mineral ou
orgânica. A rapidez das respostas de DQO (2 horas) também pode ser citada como uma
grande vantagem com relação à DBO5 (5 dias). Como desvantagem, pode apresentar a falta de
especificação da velocidade com que a bio-oxidação possa ocorrer.
De acordo com Dacach (1991) o valor da DQO supera o da DBO, por ser oxidada pelo
dicromato tanto a matéria orgânica putrescível como a não biodegradável. Pelo teste da DBO5
é determinada a quantidade de oxigênio dissolvido consumida por microrganismos durante a
degradação da matéria orgânica, que seria extraída de um manancial superficial de água
saturado do mesmo gás, se esse manancial viesse a ser poluído pelo esgoto testado.
Óleos e graxas
A matéria graxa e os óleos se encontram presentes nos despejos domésticos e sua origem, em
geral, se dá pelo uso de manteiga, óleos vegetais, carnes etc. Além disso, podem estar
presentes nos despejos produtos não tão comuns, como querosene e óleo lubrificante.
De acordo com Giordano (1999) essas substâncias estão presentes tendo as mais diversas
origens. É muito comum a origem nos restaurantes industriais. As oficinas mecânicas, casa de
caldeiras, equipamentos que utilizem óleo hidráulico, além de matérias primas com
composição oleosa como gordura de origem vegetal, animal e óleos minerais.
Fósforo total
O fósforo é fundamental aos processos energéticos dos seres vivos, sendo prejudicial por
excesso ou escassez, uma vez que é indispensável aos microrganismos promotores da
oxidação bioquímica do esgoto e ao mesmo tempo favorece o desenvolvimento de algas nos
corpos d’água receptores (DACACH, 1991).
De acordo com Von Sperling (2005) e Metcalf e Eddy (2002) nos esgotos, o fósforo se
apresenta nas seguintes formas:
Polifosfatos: são moléculas mais complexas com dois átomos ou mais de fósforo. Os
polifosfatos se transformam em ortofosfatos por hidrólise em solução aquosa, esta
hidrólise é geralmente lenta.
A remoção de fósforo nas estações de tratamento, segundo Chernicharo (2001), é muito difícil
na maioria dos casos em que não se tem elevada diluição dos esgotos da ETE, mesmo com o
uso de tratamento com processos aeróbios convencionais, a não ser que sejam projetadas
especificamente para a sua remoção. Lora (2000) complementa que nos sistemas de
tratamentos, os organismos responsáveis pela remoção do fósforo são as cianobactérias, o que
possibilita a associação de dois ou mais tipos de tratamentos biológicos.
Os órgãos de controle ambiental têm-se preocupado com o fósforo apenas nos casos em que
há problemas de eutrofização dos corpos d’água.
Nitrogênio
Segundo Von Sperling (2005) nos esgotos domésticos, o nitrogênio, é proveniente dos
próprios excrementos humanos, mas atualmente têm fontes importantes nos produtos de
limpeza domésticos e/ou industriais tais como detergentes e amaciantes de roupas.
Revisão teórica 29
Os nitritos são muito instáveis no esgoto e se oxidam facilmente para a forma de nitratos,
portanto sua presença indica uma poluição mais antiga. Já os nitratos são a forma final de uma
estabilização, e podem ser utilizados por algas e outras plantas para a formação de proteínas,
que por sua vez, podem ser utilizados por animais para formar proteína animal (JORDÃO;
PESSÔA, 1995).
O nitrogênio, assim como todo o nutriente, pode causar problemas de superprodução de algas
nos corpos receptores de ETEs. Esta superprodução é resultado de sistemas de tratamento de
esgotos mal projetados e executados que não são capazes de retirar a quantidade necessária de
nitrato. A remoção de nitrato em excesso, nos esgotos tratados por processos biológicos, pode
ser feita por meio de um tratamento terciário.
Para indicar a poluição de origem humana e para medir a grandeza dessa contribuição,
utilizam-se como organismos indicadores de poluição do grupo dos coliformes. As bactérias
constituem o elemento mais importante do grupo de organismos presentes nos esgotos
sanitários, pois são responsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica nas
unidades de tratamento biológico e na natureza. As principais bactérias responsáveis na
remoção da DBO são as heterotróficas.
Segundo Jordão e Pessôa (1995) as bactérias coliformes são típicas do intestino do homem e
de outros animais de sangue quente e ela sozinha não é capaz de transmitir doença, porém se
excretada por um indivíduo doente, ela virá acompanha de um organismo patogênico capaz de
trazer doenças de veiculação hídrica.
O quadro 3.2 apresenta os principais metais pesados observados nos esgotos, sua origem e
porque são problemáticos do ponto de vista sanitário e ambiental.
Revisão teórica 30
Quadro 3.2 - Principais metais pesados observados em esgoto, principais fontes e implicações
Metal Origem Implicações
Ambiente: não essencial, altamente tóxico,
Combustíveis, agrotóxicos, metalurgia,
biocida.
Arsênio (As) componentes eletrônicos, indústrias
Saúde: problemas digestivos, neurológicos,
químicas, laboratórios.
carcinogênico.
Metalurgia, indústrias químicas,
Selênio (Se) pigmentos e corantes, tintas e vernizes, Saúde: não essencial, carcinogênico.
têxtil, material fotográfico.
Bário (Ba) Água, agrotóxicos, fertilizantes. Saúde: carcinogênico
Ambiente: não essencial, altamente tóxico,
Termômetro, agrotóxicos, amalgama biocida.
Mercúrio (Hg)
dentária, tintas, lâmpadas fluorescentes. Saúde: afeta sistema nervoso e sensorial,
pulmões, carcinogênico.
Materiais odontológicos, fertilizantes, Ambiente: não essencial, altamente tóxico a
Cádmio (Cd) agrotóxicos, galvanoplastia, baterias, microrganismos.
tintas, indústria de plásticos e vidros. Saúde: problemas respiratórios e vasculares.
Ambiente: não essencial, altamente tóxico.
Baterias, pilhas, soldas, agrotóxicos,
Níquel (Ni) Saúde: afeta o fígado, rim, baço, pulmão e
fertilizantes, cabelos.
cérebro.
Baterias, tintas, combustíveis,
Chumbo (Pb) Saúde: deficiências neurológicas.
pesticidas, papel impresso.
Ambiente: não essencial.
Galvanoplastia, curtumes, componentes
Cromo (Cr) Saúde: afeta fígado, rim, sistema digestivo,
elétricos e eletrônicos.
pulmonar e circulatório. Carcinogênico.
Metalurgia, galvanoplastia, tubulações, Ambiente: essencial em baixas concentrações.
Cobre (Cu) metais, beneficiamento da madeira, Saúde: difícil de ocorrer, afeta a absorção de
componentes elétricos e eletrônicos. outros elementos.
Metalurgia, recicladores, tubulações, Ambiente: essencial em baixas concentrações.
Zinco (Zn) galvanoplastia, têxtil, hospitais, Saúde: raros. Toxidez adufa: náuseas, vômito,
material fotográfico, lavanderia. diarréia, etc.
Fonte: Sanepar (2005e)
Geralmente esses metais são lançados na rede de esgotamento sanitário de forma clandestina
pelas indústrias e, uma vez no esgoto, esses elementos naturalmente acabam concentrando no
lodo e sua remoção é inviável sob o ponto de vista econômico.
A localização da ETE varia de acordo com vários fatores, porém deve propiciar simplicidade,
flexibilidade e economia para a estação, harmonizando-a com a vizinhança. Dacach (1991)
afirma que o local ideal seria aquele que dispensasse recalque, sifões e travessias onerosas,
Revisão teórica 32
Quadro 3.3 – Alguns dos tratamentos utilizados para remoção de poluentes em esgotos
Poluente Processo ou Sistema de Tratamento
- Gradeamento
- Remoção de areia
Sólidos em suspensão
- Sedimentação
- Disposição no solo
- Lagoas de estabilização e variações
- Lodos ativados e variações
Matéria orgânica biodegradável - Filtros biológicos e variações
- Tratamento anaeróbio
- Disposição no solo
- Lagoas de maturação
- Disposição no solo
Patogênicos
- Desinfecção com produtos químicos
- Desinfecção com radiação ultravioleta
- Nitrificação e desnitrificação biológica
Nitrogênio - Disposição no solo
- Processos físico-químicos
- Remoção biológica
Fósforo
- Processos físico-químicos
Fonte: Von Sperling (2005).
A classificação dos processos por tratamento físico, químico e biológico é realizada segundo
os fundamentos teóricos nos quais se baseia a obtenção de seus parâmetros de
dimensionamento e operação. Porém na literatura também é usual a subdivisão dos processos
de tratamento em fases ou estágios, baseados na eficiência de remoção dos poluentes, que
seriam: tratamento preliminar, tratamento primário, tratamento secundário e tratamento
terciário.
O tratamento preliminar destina-se a remover, por ação física, o material grosseiro e uma
parcela das partículas maiores em suspensão no esgoto, a fim de prepará-lo para tratamentos
subseqüentes, evitando danos e prejuízos a estes. De acordo com Water Environmental
Federation (WEF, 1994), se o tratamento preliminar é mal projetado, operado ou conservado,
o processo inteiro de tratamento é afetado.
Revisão teórica 33
Segundo Azevedo Netto e Hespanhol (1977) as unidades de tratamento podem ser: grades,
peneiras ou desintegradores; caixas de areia (desarenadores), e tanques de remoção de óleos e
graxas e outros sólidos flutuantes. Além dessas estruturas, o tratamento preliminar também é
composto por bombeamento, extravasor, by pass e medidor de vazão. Hammer (1979) afirma
também que a coagulação química é, às vezes, incorporada para aumentar a remoção na
decantação primária. Entretanto, este processo é aplicado somente em caso de sobrecarga na
estação.
As ETEs estudadas nesse trabalho não possuem os tratamentos preliminares que retiram óleos
e graxas, portanto os mesmos não serão abordados no trabalho.
3.3.1.1 Gradeamento
A operação de gradeamento é realizada por meio de cestos e grades de barras dispostas de
modo a permitir a retenção e a remoção do material contido no esgoto.
Dimensões das barras: as barras deverão ser suficientemente robustas para suportar os
impactos e esforços devidos a procedimentos operacionais. As barras de grandes
dimensões geram grandes e geralmente indesejáveis perdas de cargas no sistema;
30º a 45º com a horizontal para grades grosseiras e de 45º a 60º para grades médias e
finas. Inclinações menores que 30º geram grandes extensões do canal da grade e
inclinações maiores que 60º são utilizadas para grades de limpeza mecanizada
contínua, pois o material retido pode se desprender da grade e voltar ao canal afluente
nos intervalos de limpeza.
Com relação à limpeza, os dispositivos de remoção dos sólidos podem ser manuais ou
mecanizados. De acordo com Jordão e Pessôa (1995) os sistemas manuais são usados para
estações de pequeno porte ou em estações de grande porte, com espaçamento grande entre
barras, para a proteção do sistema mecanizado de limpeza a jusante, e consistem na limpeza
das grades com a utilização de um ancinho. Já os dispositivos mecanizados são utilizados em
estações de médio a grande porte ou em sistemas com espaçamento pequeno entre as barras,
que exigem uma limpeza contínua. Destaca-se para este último, o tipo corrente transportadora,
adotado por uma das ETEs avaliadas no presente trabalho (Figura 3.1).
As grades de barras curvas, presentes em duas das três ETEs avaliadas no presente trabalho,
são recomendadas somente para canais rasos, no máximo 2,5 m de profundidade. Em função
do movimento do rastelo, podem ser de um braço (sistema de operação hidráulica) ou de dois
braços diametralmente opostos (sistema de acionamento mecânico de rotação contínua
(SANEPAR, 2005b).
Os resíduos removidos podem passar por alguns processos antes de serem encaminhados ao
destino final, tais como (JORDÃO; PESSÔA, 1995):
O material removido, seco ou úmido, poderá ser encaminhado para a incineração e aterros
industriais.
3.3.1.2 Desarenadores
Os dois tipos de desarenadores que normalmente são empregados são por gravidade e aerada.
O princípio de funcionamento dos desarenadores por gravidade baseia-se na característica de
rápida decantação da areia, e o condicionamento da velocidade do fluxo do esgoto em seu
interior (SANEPAR, 2005b). Segundo Jordão e Pessôa (1995) o material retido é acumulado
em compartimentos especificamente construídos, os quais deverão ter capacidade de retenção
Revisão teórica 37
suficiente para armazenar a quantidade de areia conduzida pelos esgotos durante o intervalo
entre cada limpeza sucessiva desse material.
Os desarenadores por gravidade podem ser do tipo canais paralelos, caixa quadrada e
ciclônico (Air Lift). O desarenador adotado em uma das ETEs estudadas no presente trabalho
é do tipo prismático quadrado com remoção mecanizada de areia e com os vertedouros de
entrada e saída situados em lados opostos (Figura 3.2). Esse tipo de desarenador remove a
areia por ação da gravidade, é geralmente mecanizado, a remoção de areia é feita por meio de
raspagem de fundo com braços duplos de movimento circular até depósito lateral e a elevação
da areia é feita por meio de rosca transportadora ou rastelo excêntrico mecânico (HAMMER,
1979).
Segundo Sanepar (2005b) os desarenadores ciclônicos tipo vortex, presentes em duas das três
ETEs estudadas no presente trabalho, são construídos com a forma cônica, com entrada
tangencial, de modo a estabelecer um movimento em espiral, sem necessidade de
equipamento para que ocorra isso. A areia é retirada pelo sistema de elevação por ejetor a ar
comprimido denominado Air Lift que significa suspensão pelo ar, ou seja, é um equipamento
usado para retirar a areia decantada de um desarenador, por meio de ar comprimido e levá-la a
uma caixa de onde depois de drenada seja colocada em caçambas (Figura 3.3).
Revisão teórica 38
Os resíduos do desarenador podem sofrer alguns tipos de tratamentos similares aos realizados
nos resíduos do gradeamento, com o objetivo de se reduzir o seu volume, controlar seus
aspectos negativos tais como exalação de odores e proliferação de moscas, facilitar seu
manuseio e destinação final. Geralmente, o destino desejável para esse tipo de resíduo é um
aterro industrial.
O tratamento secundário é caracterizado por princípios da oxidação biológica que pode ser
subdividida e classificada de várias formas:
Umas das vantagens da digestão anaeróbia sobre o tratamento aeróbio são relacionadas com a
produção de gás e de sólidos. Nos sistemas anaeróbios, verifica-se que a maior parte do
Revisão teórica 40
Em uma das ETEs estudadas, os sistemas anaeróbios e aeróbios se associam e as unidades que
compõem o tratamento secundário são: reator anaeróbio de leito fluidizado (RALF) e filtro
biológico percolador, seguido de decantador secundário e câmara de contato.
das reações bioquímicas, pela ação das bactérias anaeróbias do manto de lodo presente no
interior do reator. A Figura 3.4 ilustra o perfil esquemático de um RALF.
De acordo com Sanepar (2005c), o RALF é um reator formado por um tronco de cone com
base menor, com pequena inclinação, e com paredes inclinadas a 45º com relação a
horizontal, encimadas por um canal periférico coletor dos esgotos tratados. Os reatores de
manta de lodo são delineados por três parâmetros básicos: taxa de aplicação volumétrica,
velocidade de líquido e altura do reator.
O esgoto sanitário é introduzido na câmara central divisora de vazão, distribuído pelos tubos
difusores sob um manto de lodo anaeróbio denso e de elevada atividade metabólica anaeróbia,
onde é filtrado biologicamente por este manto, pela ação de bactérias anaeróbias e ação de
retenção física das partículas do esgoto bruto (SECCO, 2000).
A distribuição adequada do esgoto no interior no reator é importante, pois uma boa condição
de mistura proporciona o contato ótimo, evitando caminhos preferenciais. A mistura ocorre
devido ao fluxo ascensional de líquido e às bolhas de gás.
O manto de lodo presente no reator é constituído por bactérias anaeróbias que hidrolisam e
digerem os sólidos orgânicos biodegradáveis do esgoto, convertendo-os em bolhas de biogás.
O biogás é um dos principais produtos gerados no RALF, sendo formado pela mistura de gás
metano (CH4), gás sulfídrico (H2S), gás carbônico (CO2), nitrogênio (N2) e outros gases. O
gás mais prejudicial é o sulfídrico, que além de sua toxicidade, é o grande responsável pelo
mau cheiro gerado nas ETEs.
Revisão teórica 42
Um lodo anaeróbio de boa qualidade pode ser conseguido durante o processo cuidadoso de
partida do sistema, em que haverá uma seleção prévia da biomassa. O lodo mais leve, de má
qualidade, será arrastado para fora do sistema, enquanto o lodo de boa qualidade é retido. O
lodo mais pesado normalmente se desenvolve no junto ao fundo do reator e apresenta uma
concentração de sólidos totais na ordem de 40 a 100 g ST/L (CHERNICHARO, 2001).
O lodo excedente, produzido pelas novas bactérias que se reproduziram, necessita ser
removido periodicamente. Caso isto não ocorra, os mesmos são liberados com o esgoto e a
eficiência do reator se torna menor. O lodo retirado deve ter um destino adequado, sem
prejuízo ao ambiente e/ou à saúde pública. Uma das soluções é dispor o lodo em leitos de
secagem ou centrifugá-lo e dispor em pátios de cura.
Um RALF costuma obter uma eficiência média de 65% de remoção de DQO e 70% de
remoção de DBO5. Normalmente, tratando esgotos sanitários, o efluente apresenta uma
máxima concentração de DBO inferior a 120 mg/L e de SST inferior a 80 mg/L, valores esses
influenciados pelo tempo de detenção hidráulica.
Manto de lodo: a espessura da camada de lodo varia de acordo com a vazão, com a
produção de bolhas de biogás, reprodução bacteriana e retenção de material sólido no
manto de lodo;
Embora o RALF seja um reator que inclua amplas vantagens, principalmente no que diz
respeito a requisitos de área, simplicidade de operação, projeto e manutenção e redução média
de matéria orgânica, é importante que seja incluída uma etapa de pós-tratamento para este
processo. Em uma das ETEs estudadas, o pós-tratamento adotado é constituído de filtro
biológico percolador seguido de decantador secundário.
Os filtros biológicos são constituídos de três partes principais: meio filtrante, dispositivos de
distribuição de esgotos, sistema de drenagem.
Geralmente são usados como meio filtrante pedregulhos, cascalhos, pedras britadas, entre
outros. O ar circula pelos espaços vazios do enchimento, fornecendo oxigênio para respiração
dos microrganismos. O esgoto sanitário é aplicado em fluxo descendente sobre o enchimento
através de um distribuidor rotativo, que funciona por ação de deslocamento do líquido.
O fluxo de líquido sobre o enchimento deve ser contínuo e a matéria orgânica fica retida no
biofilme para sua estabilização enquanto o líquido é drenado na parte inferior do tanque e
encaminhado para o decantador secundário.
Revisão teórica 44
No filtro biológico existe um sistema de drenos no fundo, após atravessar o meio percolante, o
esgoto é removido através de um sistema de drenos formado por canais cobertos com grelhas
ou por telas drenantes, assentadas no fundo da unidade. Os drenos convergem para um canal
central que escoa o líquido para fora do filtro, cujo fundo é ligeiramente inclinado no sentido
do canal central. Além disso, o sistema de drenos também é responsável pela circulação do ar
no interior do meio percolante (DA-HIN et al., 2008).
Tendo em vista que existe arraste de sólidos no filtro biológico, principalmente no de alta
taxa, é necessária a utilização de um decantador secundário para remover os sólidos
sedimentáveis.
Os decantadores secundários ocupam um papel de relevância no conjunto, uma vez que neles
se processa a decantação e retirada do lodo. Há interesse em que o lodo retorne de forma
rápida e imediata ter sedimentado para o inicio do sistema, evitando condições de septicidade.
Em decorrência disto, os decantadores de forma circular têm sido utilizados, sendo os mais
eficazes aqueles que dispõem dispositivos de aspiração do lodo sedimentado (JORDÃO;
PESSÔA, 1995).
O decantador secundário utilizado em uma das ETEs abordadas no presente trabalho é do tipo
convencional, executado em estrutura circular de concreto armado com sistema mecanizado
de raspagem de lodo do fundo e remoção superficial da escuma. Segundo Dacach (1991) caso
Revisão teórica 45
não exista decantadores primários na ETE, como é o caso das ETEs de Maringá/PR, os
decantadores secundários deverão ter cortinas de retenção de escuma e meios de removê-la,
de forma a impedir que esta saia junto com o esgoto.
De acordo com Sanepar (2005c), para a remoção do lodo e escuma, o decantador é equipado
com uma ponte rotativa e a ela são fixos: na parte inferior um sistema de lâminas para
raspagem e concentração do lodo e na parte superior lâminas para remoção de escuma e
concentração na caixa coletora de escuma.
As partes que compõem o decantador secundário podem ser visualizadas na Figura 3.6.
O lodo gerado pelo filtro percolador e separado por sedimentação é removido do fundo do
decantador secundário e enviado por recalque para digestão no reator. A estação elevatória de
lodo excedente possui as seguintes funções (SANEPAR, 2005c):
O lodo do decantador secundário, quando descartado diretamente nos leitos de secagem, exige
um tempo maior para secar, por isso deve-se enviá-lo ao reator continuamente.
Revisão teórica 46
Segundo Ercole (2003) este nível de tratamento tem como finalidade a remoção de poluentes
específicos (usualmente tóxicos, compostos não biodegradáveis e alguns compostos
biodegradáveis) ou, ainda, a remoção complementar de poluentes não suficientemente
removidos no tratamento secundário. Os poluentes removidos são os nutrientes (nitrogênio e
fósforo), microrganismos patogênicos, compostos não biodegradados, metais pesados, sólidos
inorgânicos dissolvidos e sólidos em suspensão remanescentes.
Os processos mais utilizados são: cloração para desinfecção; ozonização para desinfecção
e/ou remoção de substâncias orgânicas complexas; filtração rápida para remoção de matéria
em suspensão; adsorção para remoção de substâncias orgânicas complexas; eletrodiálise;
osmose inversa ou troca iônica para remoção dos sólidos inorgânicos dissolvidos.
Os lodos provenientes do processo de duas das três ETEs estudadas no presente trabalho são
desaguados em leitos de secagem, enquanto que na outra ETE o lodo é adensado,
centrifugado e armazenado em um pátio de cura.
O adensamento de lodo é feito por duas formas principais: gravidade e flotação. Segundo
Chernicharo (2001) os adensadores por gravidade são semelhantes aos decantadores de seção
circular em planta, sendo alimentados com o lodo pelo centro e na parte superior, no interior
de um anteparo que o direciona para o fundo, de onde é removido após sofrer adensamento.
Enquanto isso, o líquido sobrenadante escoa pelos vertedores perimetrais posicionados à
superfície do adensador, podendo ser recirculados à entrada da ETE.
O adensamento por flotação com ar dissolvido resultam em teores de sólidos superiores aos
dos lodos adensados por gravidade e podem ser aplicadas maiores cargas de lodo por área
superficial de adensadores, resultando na necessidade de menores áreas. (METCALF; EDDY,
2002).
Revisão teórica 47
Os leitos de secagem são a forma mais tradicional de remoção da umidade do lodo. Segundo
Sanepar (2005e) são unidades de tratamento, geralmente retangulares, projetadas e
construídas de modo a receber o lodo dos digestores, ou de unidades de oxidação total, onde
se processa a redução de umidade com a drenagem e evaporação da água liberada durante o
período de secagem.
A camada suporte tem como finalidade manter a espessura do lodo uniforme, evitar
que o lodo digerido se misture com a areia do meio filtrante e facilitar a remoção
manual do lodo seco.
O lodo deságua nos leitos de secagem através de dois processos: drenagem e evaporação. A
maior parte da água é removida do lodo por drenagem e infiltração através da soleira drenante
dos leitos, esta água é coletada e direcionada para o início do processo de tratamento de lodo.
Após este período a remoção de umidade é realizada através da evaporação, sofrendo
influência das condições climáticas (temperatura, precipitação e ventos) (SANEPAR, 2005e).
O lodo seco pode ser removido manual e mecanicamente e em condições normais de secagem
o lodo seco poderá ser removido do leito em um período que varia de 12 a 20 dias. As
vantagens e desvantagens dos leitos de secagem podem ser visualizadas no Quadro 3.6.
O lodo centrifugado necessita passar por um processo de higienização, devido o mesmo ser o
ponto de concentração de maior parte dos agentes patogênicos dispersos no esgoto sanitário.
Dentre os processos mais usuais, destaca-se a caleação que corresponde a um método de
higienização química através da adição de cal virgem ou hidratada ao lodo, em dosagens de
20 a 50% em peso da concentração de ST. A mistura de cal ao lodo provoca uma
alcalinização brusca ao meio, elevando o pH a níveis acima de 12 e liberando grande
quantidade de amônia, fatores que resultam na destruição ou inativação de maior parte dos
patógenos no lodo (SANEPAR, 2005e).
Exige mão de obra qualificada para operação e Necessidade de estocagem por no mínimo 30 dias,
manutenção demandando pátio impermeabilizado e coberto
De acordo com a Resolução CONAMA 01/1986 (BRASIL, 1986) impacto ambiental pode ser
definido como:
Dos instrumentos de política e gestão ambiental que tratam da questão de impacto ambiental,
a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é um dos mais discutidos e adotados. No processo
de AIA, são caracterizadas todas as atividades impactantes e os fatores ambientais que podem
sofrer impactos dessas atividades, os quais podem ser agrupados nos meios físico, biótico e
antrópico, variando com as características e a fase do projeto (SILVA, 1994).
As listas de controle são listas de atributos ambientais que podem ser afetadas pelo projeto em
análise. Variam de simples listas de impactos ambientais causados pelo projeto até complexos
inventários que podem incluir escala e significância de cada impacto sobre o meio ambiente
(UNEP, 2002).
As Matrizes são como tabelas que podem ser usadas para identificar a interação entre
atividades de projeto e características ambientais. Usando a tabela, uma interação entre uma
atividade (ação-proposta) e uma dada característica ambiental (fator ambiental), pode ser
notada na célula que é comum a ambas na “rede” (MORRIS; THERIVEL, 1995; UNEP,
2002). Segundo Pastakia e Jensen (1998) os comentários nas matrizes poderão ser feitos nas
células para realçar severidade do impacto ou outras características relacionadas à natureza do
impacto, por exemplo, símbolos podem identificar o tipo de impacto (como direto ou
indireto).
Além dos aspectos relacionados com a tratabilidade do esgoto e seu lançamento no corpo
receptor, é importante destacar os aspectos de contaminação do solo e corpos d’água por
subprodutos do tratamento de esgoto, geração de gases combustíveis explosivos, atração de
vetores, saúde ocupacional dos operadores de ETE e geração de maus odores.
Segundo Silva (2007) um dos aspectos relevante da poluição ambiental provenientes das
emanações de odores das estações de tratamento de esgotos urbanos é o incômodo olfativo, tal
incômodo é causado pelos odores liberados continuamente ou em ocasiões esporádicas. Esses
gases odorantes são a maior causa para a insatisfação do público em relação às ETEs. Por isso
o seu controle e monitoramento são de alta prioridade.
O tratamento do esgoto resulta também uma geração de lodo, que é um resíduo que necessita
de uma adequada disposição final para não causar problemas ambientais. Entre as diversas
alternativas existentes para a disposição sob o ponto de vista ambiental, a reciclagem agrícola
do lodo de esgoto é uma das mais convenientes, propiciando também economia de energia e
reservas naturais, na medida em que diminui as necessidades de fertilização mineral.
De acordo com Bettiol e Camargo (2000) vários estudos são realizados com a finalidade de
avaliar o impacto ambiental do uso agrícola de lodo de esgoto. Estão sendo estudados os
efeitos nas comunidades de organismos, nos teores de metais pesados, na mineralização do
nitrogênio e nas propriedades físicas e químicas dos solos, entre outros. Dentre os impactos
estudados na comunidade de organismos, a ocorrência de doenças de plantas, causadas por
Revisão teórica 51
microrganismos patogênicos que habitam o solo, constitui um dos mais importantes devido
aos prejuízos que podem ocasionar aos agricultores. Por ser rico em matéria orgânica, o lodo
de esgoto pode colaborar no controle de doenças de plantas, principalmente pela capacidade
de estimular os microrganismos benéficos que também habitam o solo. Entretanto, a aplicação
do lodo tem efeitos diferentes para cada doença, podendo estimular alguns fitopatógenos.
Em geral, nas obras de saneamento básico, pela própria natureza da intervenção prevista, os
impactos ambientais esperados sobre a população são predominantemente positivos. Trazem
melhoria nas condições de saúde pública a diversas parcelas da população, principalmente na
parcela de menor poder aquisitivo, muitas vezes afastadas dos benefícios do saneamento
básico, sem condições de recorrer a meios próprios para o afastamento de esgoto (DAMATO;
MACUCO, 2002).
Segundo Sampaio e Gonçalves (1999) as poucas informações existentes fazem com que os
profissionais que atuam nesse setor, tenham constantemente que recorrer às informações
obtidas na experiência internacional, que, muitas vezes, guardam pouca similaridade com a da
realidade local.
De acordo com Metcalf e Eddy (2002), novas considerações devem estar presentes ao se
operar e projetar estações de tratamento de esgotos: (a) necessidade de otimização de
desempenho das estações; (b) programas que visem manutenção e controle operacional; (c)
confiabilidade de processos de tratamento e seleção de parâmetros adequados de projeto; (d)
controle de odor; (e) estratégias de controle de processo; (f) expansão da capacidade de
tratamento e (g) eficiência energética nos processos de tratamentos de esgotos.
Segundo Da-Hin et al. (2008) do ponto de vista dos equipamentos, pode-se caracterizar
resumidamente o funcionamento de uma ETE como um conjunto de instalações elétricas,
hidráulicas e mecânicas, que proporciona os meios necessários para a operação de tratamento
de esgotos. As falhas verificadas nos equipamentos costumam ser variadas, mas de forma
genérica, pode-se identificá-las como vibração excessiva, elevação da temperatura, ruídos
anormais, corrosão e sujeira.
Revisão teórica
Quadro 3.11 - Problemas, causas e medidas de prevenção/controle nos RALFs
54
Revisão teórica 55
Revisão teórica
Quadro 3.12 - Problemas, causas e medidas de prevenção/controle nos filtros biológicos
55
Revisão teórica 56
Revisão teórica
Quadro 3.13 - Problemas, causas e medidas de prevenção/controle nos decantadores secundários
56
Revisão teórica 57
Revisão teórica
Quadro 3.14 - Problemas, causas e medidas de prevenção/controle na centrífuga
57
Revisão teórica 58
Revisão teórica
Quadro 3.15 - Problemas, causas e medidas de prevenção/controle nos leitos de secagem
Aguardar até que o lodo apresente teor de sólidos para retirada (cerca
de 35% ST), removê-lo e limpar bem o leito de secagem;
Lâmina de lodo aplicada excessiva.
Verificar necessidade de remontagem da camada suporte;
Aplicar lâmina de lodo compatível com o teor de ST.
Remover o lodo após a secagem;
Ciclo de desaguamento Aplicação do lodo com limpeza inadequada
Limpar adequadamente a camada suporte do leito, removendo resíduos
prolongado do leito de secagem.
de lodo e plantas quando existentes, se necessário recolocando areia.
Checar a areia e substituir se observado problema de colmatação;
Sistema de drenagem obstruído ou tubulações
Remontagem da soleira de drenagem, verificando as condições e
quebradas.
substituindo se necessário as tubulações de coleta do percolado.
Condições climáticas da região. Proteger o leito contra as intempéries.
Abrir totalmente as válvulas no início do descarte do lodo para limpeza
Acúmulo e compactação de sólidos residuais
da tubulação;
Tubulação de de descartes anteriores.
Aplicar jatos de água, se necessário.
alimentação do leito de
Aplicar jatos de água continuamente no poço de lodo para redução da
secagem bloqueada
Lodo muito denso. concentração de ST e bombeamento do lodo;
Manter da aplicação até que todo o lodo seja retirado.
58
Revisão teórica 59
De acordo com Eisenberg et al. (2001), a confiabilidade das ETEs está relacionada a dois
aspectos: a confiabilidade mecânica e a confiabilidade do processo operar em condições
satisfatórias. A confiabilidade mecânica é determinada, inicialmente, com a identificação dos
componentes mecânicos da planta, cujas falhas podem comprometer a qualidade do efluente
final e, em seguida, determina-se a probabilidade de falhas desses componentes. A
confiabilidade do processo pode ser caracterizada pela estimativa das distribuições de
probabilidades acumuladas, relativas a um contaminante específico, em cada etapa do
processo de tratamento.
Um estudo efetuado por Niku et al. (1979), avaliou a confiabilidade de processos de lodos
ativados, analisando 43 estações de tratamento em operação nos Estados Unidos. Foi
desenvolvido um coeficiente de confiabilidade, onde a concentração média do constituinte
(valor de projeto) se relaciona aos valores limites a serem cumpridos em uma análise de
probabilidade. A partir do modelo de confiabilidade obtido, os autores concluíram que é
possível a utilização da distribuição lognormal para predizer tanto a qualidade do efluente em
termos de concentrações de DBO e SST quanto à confiabilidade e ao desempenho de estações
de tratamento de esgotos.
Outro trabalho realizado por Niku et al. (1981) desenvolveu métodos e procedimentos para a
introdução de conceitos de estabilidade e confiabilidade na operação e projeto de estações de
tratamento de esgotos. Nesse estudo, a estabilidade foi definida como a capacidade de ajuste a
uma referência ou norma e o valor utilizado para análise foi a concentração média anual do
constituinte. As variações diárias foram comparadas à média anual e o desvio padrão foi
considerado como o melhor indicador de estabilidade. A conclusão obtida foi que, para atingir
o mesmo nível de estabilidade para ambos, as ETEs devem ser projetadas para produzir
concentrações efluentes de SS menores que as de DBO efluente.
Revisão teórica 60
No Brasil, as legislações classificam seus corpos d’água em função dos seus usos
preponderantes e estabelecem, para cada classe de água, os padrões de qualidade a serem
obedecidos. Estes padrões de qualidade são utilizados principalmente para a proteção da
qualidade da água, de forma a assegurar os usos previstos.
A bacia norte, que abrange as sub-bacias 1, 3, 6 e 7, drena no sentido do rio Pirapó, com uma
área de 5.675 ha (incluindo o município de Sarandi), correspondente a 46,6% da área de
planejamento. A bacia sul, que abrange as sub-bacias 2, 4, 5, 8, 9 e 10, drena no sentido dos
ribeirões Pingüim e Bandeirantes do Sul, com uma área de 6.540 ha, correspondente a 53,4%
da área de planejamento.
A cidade de Maringá possui três pólos de tratamento: ETE 1 - Norte, ETE 2 - Sul e ETE 3 -
Norte (que serão mencionados no trabalho apenas como ETE 1, ETE 2 e ETE 3). Cada uma
das ETEs recebe o esgoto de distintas bacias de drenagem que estão distribuídas da seguinte
forma:
A região situada na bacia 5 apresenta densidade demográfica muito reduzida, sem rede
coletora existente, a região situada na bacia 7 encontra-se em sua quase totalidade no
município de Sarandi e as regiões situadas nas bacias 9 e 10 não dispõem de assentamento
urbano definido.
4.1 ETE 1
O ano de início de operação dessa ETE foi 1996, e recebe, aproximadamente, metade dos
esgotos coletados na bacia norte do município de Maringá. Atualmente atende uma população
com cerca de 47.200 habitantes e possui uma capacidade nominal de tratamento de 255 L/s,
representando uma carga orgânica de 4.715 kg DBO5/dia. Outros dados de projeto podem ser
visualizados no Quadro 4.1.
Os dados de projeto e dimensionamento dos RALFs podem ser visualizados no Quadro 4.2.
Um resumo das unidades e outros elementos que compõem a ETE 1, juntamente com o fluxo
do esgoto e lodo pela estação, podem ser visualizados no Quadro 4.3.
Caracterização das ETEs 64
Tratamento
preliminar
Gradeamento manual;
Gradeamento mecanizado;
2 desarenadores tipo ciclone, com removedor e lavador de areia.
Caixa distribuidora de fluxo 1, que recebe o esgoto dos 2 desarenadores e distribui a vazão para os
mista
Fase
3 RALFs
3 RALFs, de capacidade nominal unitária de 85,0 L/s.
Poços de lodo, que recebem a fase sólida dos RALFs, encaminhando para o adensador de lodo.
sólida
Fase
Caixa de manobra, com válvulas que permitem direcionar o lodo efluente dos RALFs, para os
leitos de secagem.
14 leitos de secagem.
ETE possui dois desarenadores tipo ciclônico vortex com remoção mecanizada de areia por
meio de air lift, com disposição de resíduos separadamente em caçambas metálicas de 3,5 m3
(Figura 4.3b). Nos desarenadores há a aplicação de óxido de ferro durante os turnos para
coagulação do esgoto englobando as impurezas.
(a) (b)
A medição de vazão é realizada por meio de duas calhas tipo Parshall operando em paralelo,
com garganta de 30,5 cm e medição de vazão por meio de sensor de nível ultra sônico com
painel digital indicando vazão instantânea e acumulada.
O tratamento secundário é realizado por meio de três reatores anaeróbios circulares tipo
RALF e com tubulações para descarga de lodo (Figura 4.4).
(a) (b)
4.2 ETE 2
A ETE 2, localizada na confluência dos ribeirões Pingüim e Borba Gato, situa-se isolada, não
havendo qualquer tipo de ocupação urbana nas suas circunvizinhanças, porém divide espaço,
em sua maioria, com pequenas e médias propriedades rurais. Os operadores trabalham em 4
turnos de 6 horas, compreendendo 24 horas diárias.
O ano de início de operação da ETE 2 foi 2006 e os esgotos tratados são lançados no Ribeirão
Pinguim. Atualmente atende uma população com cerca de 65.000 habitantes e tem uma
capacidade nominal de tratamento de 482 L/s, o que representa uma carga orgânica de 8.398
Kg DBO /dia. Outros dados gerais da ETE 2 podem ser visualizados no Quadro 4.4.
5
Um resumo das unidades e outros elementos que compõem a ETE 2, juntamente com o fluxo
do esgoto e lodo pela estação, podem ser visualizados no Quadro 4.6.
Gradeamento manual;
Gradeamento mecanizado;
Desarenador quadrado, com removedor e lavador de areia.
Fase mista
Caixa distribuidora de fluxo 1: recebe o esgoto do desarenador e distribui a vazão entre outras duas
caixas existentes (2 e 3);
Caixas distribuidoras de fluxo 2 e 3: distribuem o esgoto respectivamente para os RALFs;
8 RALFs, módulo 40.
Caixa distribuidora de fluxo 4: recebe a fase líquida do processo, proveniente dos RALFs,
encaminhando para os filtros biológicos;
2 filtros biológicos com diâmetro nominal igual a 32 m;
Caixa distribuidora de fluxo 5: recebe o esgoto dos filtros biológicos conduzindo para os
decantadores secundários;
Fase líquida
O tratamento preliminar é composto por um gradeamento grosso por meio de grade metálica
de barras retas de 10 mm de espessura e espaçamento entre barras de 30 mm, com limpeza
manual com ancinho; gradeamento mecanizado por meio de grade média com correntes e
dentes plásticos, com 3 mm de espessura e 15 mm de espaçamento entre dentes. O
armazenamento do material gradeado é realizado em uma caçamba metálica de 2 m3 (Figura
4.7a). Possui também um desarenador quadrado por gravidade com remoção de areia por
meio de raspagem de fundo com braços duplos de movimento circular até depósito lateral,
elevação da areia por meio de rastelo excêntrico mecânicoe dispositivo de lavagem de areia
incorporado (Figura 4.7b). O material é armazenamento em caçamba metálica de 3,5 m3.
(a) (b)
Figura 4.7 - Tratamento preliminar: (a) gradeamento manual e mecanizado e (b) desarenador
Caracterização das ETEs 70
A medição de vazão é feita por meio de calha tipo Parshall, com garganta de 61 cm, e
medição por meio de sensor de nível ultra sônico com painel digital indicando vazão
instantânea e acumulada.
O tratamento secundário (anaeróbio) é realizado por meio de oito RALFs circulares com
tubulações para descarga de lodo (Figura 4.8a); o pós-tratamento (aeróbio) é formado por dois
filtros biológicos percoladores aerados naturalmente, com distribuidor rotativo hidráulico e
como meio suporte, pedra britada nº 4 (Figura 4.8b); dois decantadores secundários circulares
à gravidade com raspadores mecanizados de lodo e recirculação por bombeamento para os
RALFs (Figura 4.8c), e; uma câmara de contato (Figura 4.8d).
(a) (b)
(c) (d)
Figura 4.8 - Tratamento secundário e pós-tratamento: (a) RALFs, (b) filtro biológico, (c)
decantador secundário e (d) câmara de contato
Caracterização das ETEs 71
(a) (b)
4.3 ETE 3
O ano de início de operação foi 1997, atende uma população com cerca de 26.600 habitantes e
possui uma capacidade nominal de 170 L/s, o que representa uma carga orgânica de 3.075 kg
DBO5/dia. Outros dados de projeto podem ser visualizados no Quadro 4.7.
Um resumo das unidades e outros elementos que compõem a ETE 3, juntamente com o fluxo
do esgoto e lodo pela estação, podem ser visualizados no Quadro 4.8.
Caracterização das ETEs 72
A ETE 3 é a que apresenta menor número de unidades operacionais e da mesma forma que a
ETE 1, o sistema é composto por tratamento preliminar, tratamento secundário e desidratação
de lodo.
Gradeamento manual;
Gradeamento mecanizado;
Desarenador tipo ciclone, com removedor e lavador de areia.
Fase mista
Caixa distribuidora de fluxo 1, que recebe o esgoto do desarenador e distribui a vazão para os 2
RALFs
2 RALFs, de capacidade nominal unitária de 85,0 L/s.
Fase sólida
Poço de lodo, que recebe a fase sólida dos RALFs, encaminhando para o adensador de lodo.
Caixa de manobra, com válvulas que permitem direcionar o lodo efluente dos RALFs, para o
adensador ou para os leitos de secagem.
10 leitos de secagem.
(a) (b)
A medição de vazão é realizada por meio de uma calha tipo Parshall, com garganta de 30,5
cm e medição de vazão por meio de sensor de nível ultra sônico com painel digital indicando
vazão instantânea e acumulada.
O tratamento secundário é realizado por meio de 2 reatores anaeróbios circulares tipo RALF
com tubulações para descarga de lodo (Figura 4.11).
(a ) (b)
No mês de novembro de 2010, houve uma denuncia para Centro de Apoio Operacional das
Promotorias de Proteção do Meio Ambiente, do Ministério Público do Paraná de que toda a
Bacia do Rio Pirapó está poluída devido o lançamento de esgoto sanitário por Estações de
Tratamento de Esgoto da SANEPAR (ETE 1 e ETE 3). Foi verificado que essas estações de
tratamento estão em desacordo com as normas ambientais vigentes e houve uma ação civil
Caracterização das ETEs 74
pública fazendo com que suspendesse a cobrança da taxa de esgoto pela SANEPAR na cidade
e a empresa deve providenciar imediata despoluição das águas contaminadas, havendo prazo
de 30 dias para o início do cumprimento das obrigações (GAZETA MARINGÁ, 2010).
Devido a essa ação pública e uma quantia de mais de R$ 2.000.000 de reais sem recebimento
pelo tratamento de esgoto, a SANEPAR começou a realizar modificações nos sistemas de
tratamento iniciando pela ETE 3. Nessa estação, 5 leitos de secagem foram desativados para
construção de decantadores secundários quadrados que irão receber o esgoto dos RALFs
(Figura 4.13).
Após a decantação, o lodo irá retornar aos reatores anaeróbios por meio de bombas elevatórias
e o esgoto tratado será lançado no corpo receptor através de uma canaleta construída ao lado
dos decantadores secundários (Figura 4.14).
5 METODOLOGIA
As coletas foram realizadas em 4 pontos, com o objetivo de avaliar a eficiência de cada etapa
de tratamento realizado na ETE, sendo eles (Figura 5.2):
Na ETE 1 e ETE 3 foi realizada apenas uma coleta em 3 pontos: antes do gradeamento, saída
do desarenador e saída dos RALFs (Figura 5.3).
As coletas foram realizadas com o objetivo de formar amostras compostas, ou seja, eram
realizadas em intervalos de uma hora por um período de 5 horas em todos os pontos,
procurando sempre respeitar o tempo de retenção hidráulica (TRH) das unidades de
tratamento.
Metodologia 77
A escolha dos parâmetros analisados levou em consideração não apenas os dados obtidos com
as análises em laboratório, mas também aspectos operacionais envolvidos nos processos de
tratamento e também fatores climáticos. A metodologia para determinação dos parâmetros
avaliados, bem como suas metodologias são citados a seguir:
Precipitação pluviométrica
Vazão
A medição de vazão foi realizada por meio de sensor de nível ultra sônico com painel digital
localizado no laboratório das ETEs.
Metodologia 78
Potencial Hidrogeniônico
A medida do pH e foi realizada in loco, após a formação das amostra compostas, pelo método
eletrométrico, com auxílio do pHmetro digital portátil modelo Digimed DM-2.
Oxigênio dissolvido
A determinação da DBO5 foi realizada pelo método de incubação de cinco dias, conforme
descrito no Standard Methods for Examination of Water and Wastewater - APHA (2005).
Carga orgânica
A avaliação da carga orgânica do esgoto sanitário nos pontos de coleta foi realizada seguindo
a seguinte Equação 5.1.
(Eq. 5.1)
em que:
Fósforo total
Nitrogênio amoniacal
Nitrito
Nitrato
A concentração de NKT era determinada pelo método tradicional, destilação por arraste a
vapor, utilizando destilador de nitrogênio micro Kjeldahl. Para digestão das amostras,
utilizou-se um bloco digestor.
Sólidos
Sólidos sedimentáveis
As análises de SSed eram realizadas pela Sanepar, com coletas pontuais, nos mesmos dias das
coletas do presente trabalho. Como este parâmetro compõe o procedimento padrão de análises
diárias da empresa, o ponto 2 (após desarenador) não foi abordado, portanto não houve
análise da eficiência do tratamento preliminar. Entretanto, foram realizadas coletas do
efluente do filtro biológico e avaliado a eficiência do mesmo.
Metais
Não foi feito um monitoramento dos metais, apenas realizadas análises na última semana do
período amostral.
Relação F/M
(Eq. 5.2)
em que:
A qualidade do tratamento das ETEs foi verificada seguindo algumas avaliações e índices, os
quais são descritos a seguir.
(Eq. 5.3)
em que:
E: eficiência (%),
Este índice tem sua classificação assim distribuída: 0 - 40: qualidade precária; 41 - 70:
qualidade inadequada; 71 - 90: qualidade aceitável e; 90 - 100: qualidade ótima.
O IQET foi elaborado mensalmente e o cálculo foi realizado com base na seguinte Equação
5.4.
Metodologia 82
IQET = DBO5 (mg/L) . 0,40 + DQO (mg/L) . 0,20 + S.Sed (mg/L). 0,20 + OG (mg/L). 0,10 + pH . 0,10 (Eq. 5.4)
Com base no resultado das análises dos pontos amostrais, foram selecionados os parâmetros
para os quais há limites de concentração a ser lançado, ou que o corpo receptor necessita
apresentar, para elaborar o Índice de Conformidade de Esgoto (ICE). Alguns parâmetros
apresentam mais de um padrão de qualidade, portanto a escolha do limite a ser seguido foi
primeiramente com base na hierarquia dos limitadores, concentração presente no esgoto
tratado, e por último concentração presente no corpo receptor:
(Eq. 5.5)
em que:
média e do desvio padrão, conforme apresentado nas Equações 5.6 e 5.7. O resultado
representa a confiabilidade decorrente de todos os fatores intervenientes.
(Eq. 5.7)
em que:
Vx: coeficiente de variação (CV) definido como o desvio padrão dividido pela média;
Como essa metodologia visa a utilização de metas para lançamento de esgotos, os limites das
concentrações dos parâmetros seguiram a seguinte hierarquia:
Essa metodologia exige uma amostra representativa para determinação do ICT. Portanto não
foi possível levantar o índice da ETE 2 e ETE 3, em função de ter sido realizada apenas uma
coleta para caracterização do esgoto bruto e tratado.
O levantamento dos custos operacionais foi realizado segundo dados da Sanepar (2010).
Metodologia 84
A ferramenta utilizada para identificação dos impactos ambientais foi a matriz de interação,
em que são relacionadas às atividades realizadas nas ETEs, seus aspectos e respectivos
impactos ambientais decorrentes das mesmas, sendo caracterizados em impacto positivos ou
negativos. Impactos positivos são aqueles que favorecem o ambiente e podem ainda sofrer
medidas potencializadoras. Já os impactos negativos devem sofrer medidas mitigadoras para
reduzir seus danos ao ambiente.
Resultados e discussão 85
6 R ESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 ETE 2
No decorrer do monitoramento, pode-se observar que a ETE esta passando por diversos
problemas. Os RALFs apresentam tubulações para realizar a queima dos gases gerados pelo
tratamento anaeróbio, porém isto não ocorre devido à ausência do aparelho necessário para
esta queima. Sendo assim, os gases são dispersos na atmosfera sem nenhum tipo de
tratamento.
Os resíduos gerados pelos gradeamentos e desarenador não são enviados para um destino
adequado, sendo descartados em uma área na própria ETE, podendo acarretar proliferação de
vetores e contaminação do solo e água (Figura 6.2).
Resultados e discussão 86
Os reatores anaeróbios com manto de lodo tem uma capacidade máxima de acumulação de
lodo no seu interior estimada em 31 a 37,5 kg ST/m3, segundo Bezerra et al. (1999), após esse
limite, o reator é considerado cheio e o lodo produzido será descarregado com o efluente,
deteriorando a sua qualidade e comprometendo a eficiência do processo de tratamento.
Além do problema de acúmulo de lodo, não é feita a retirada de escuma dos RALFs há cerca
de dois anos, isto provavelmente diminui o tempo de retenção devido a redução do volume
útil do reator e, consequentemente, prejudica a eficiência das unidades. Segundo Sanepar
(2005e) a remoção destes resíduos tem por finalidade evitar a aderência e entupimento das
tubulações e o acúmulo excessivo na superfície dos RALFs e de outras unidades, faz com que
a escuma se solidifique, dificultando a sua remoção, aumentando a possibilitade de geração de
odor e pressionando o biogás e a lona na câmara de digestão do reator.
Gomes et al. (2005) caracterizaram as escumas em reatores anaeróbios como materiais ricos
em materiais fibrosos, especialmente cabelos, pêlos, fios, materiais têxteis, plásticos, filtros de
cigarros, preservativos, sementes, etc., tudo misturado com um pouco de lodo anaeróbio e
Resultados e discussão 88
eventualmente com um pouco de óleos e graxas. As escumas drenam facilmente e não atraem
ou reproduzem insetos e também não exalam maus odores típicos, perceptíveis.
O sistema mecanizado de raspagem de lodo dos decantadores precisou ser desativado devido
à problemática do lodo, permanecendo assim até o fim do período amostral.
legislação ambiental como poderá ser visualizado nos resultados das análises dos diversos
parâmetros.
A composição, concentração e quantidade do esgoto sanitário que entra em uma ETE sofrem
influência da precipitação pluviométrica, como poderá ser visto nos valores dos parâmetros
discutidos posteriormente. O índice de precipitação acumulada em cada semana durante o
período de monitoramento apresentou oscilações, conforme mostra a Figura 6.6.
Os períodos chuvosos que mais se destacaram durante o monitoramento foram aqueles das
duas últimas semanas de março, obtendo juntas o índice de 120,0 mm. Também houve
destaque para a 3ª semana de maio e julho, com índices de 40,9 e 40,8 mm, respectivamente.
Observa-se que o período no qual mais se concentraram as chuvas foi nos dois primeiros
meses do período amostral, diferente do mês de agosto que obteve o menor índice
pluviométrico com 24 mm.
6.1.2.2 Vazão
O sistema de esgotamento sanitário de Maringá é o de separação absoluta, portanto a
precipitação pluviométrica não deveria interferir significativamente na vazão de entrada da
ETE. Porém, verificou-se que eventos de precipitação alteraram a vazão afluente da estação e
esta interferência pode ter ocorrido devido à contribuição pluvial parasitária (drenagem
Resultados e discussão 90
superficial que é absorvida pela rede coletora de esgoto sanitário) e também água de
infiltração que penetra nos condutos defeituosos.
A medida realizada na 3ª semana de julho chegou a registrar uma vazão máxima de 721,51
L/s, ultrapassando a sobrecarga de projeto da ETE 2, que é de 560 L/s, o que pode ter
comprometido o funcionamento das unidades de tratamento. Os RALFs, por exemplo, quando
recebem uma vazão superior à máxima de projeto, sofrem a expulsão do manto de lodo do
reator, diminuindo significativamente a eficiência de tratamento.
A variação de pH nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura 6.8
e Tabela 6.1.
(três primeiras etapas) no que concerne a produção de ácidos graxos voláteis e sua remoção,
de forma a garantir um meio com pH próximo ao ponto neutro. Caso aconteça uma produção
líquida de ácidos graxos voláteis, há a tendência de redução do pH, bloqueando a
metanogênese, ocorrendo o “azedamento” do meio.
Nos dois últimos meses de monitoramento, o pH no último ponto decresceu, isto se deve
possivelmente ao acúmulo de lodo nos decantadores secundários e câmara de contato, fazendo
com que o esgoto no ponto 3 e ponto 4 apresentassem características semelhantes.
A variação de OD nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura 6.9
e Tabela 6.2.
O OD do esgoto bruto e após passar pelo tratamento preliminar apresentou valores próximos a
zero em todas as coletas, em função da atividade microbiana no processo de degradação da
matéria orgânica altamente concentrada no esgoto. Os valores de OD medidos no ponto 3
variaram de 2,69 a 6,11 mg/L, já no ponto 4 houve um crescimento significativo com uma
variação de 5,20 a 9,00 mg/L, refletindo em uma eficiência positiva das unidades de
tratamento para este parâmetro. As concentrações de 9 mg/L apresentadas em algumas
amostras possivelmente pode ter ocorrido por uma falha na medição, pois esse valor é
encontrados em águas superficiais.
A variação da Relação F/M no tratamento anaeróbio e aeróbio da ETE 2 pode ser visualizada
na Figura 6.10 e Tabela 6.3.
A relação F/M, baseia-se no fato de que a quantidade de substrato disponível por unidade de
massa dos microrganismos é relacionada com a eficiência do sistema.
Na literatura, a relação F/M em geral deve situar-se na faixa de 0,2 a 1,0 em processos
anaeróbios e 0,3 a 0,6 em processos aeróbios (VON SPERLING, 2002). Na presente pesquisa
o tratamento anaeróbio apresentou uma variação considerável de 141% durante o
monitoramento e mostrou uma relação F/M na faixa acima citada, com exceção da amostra da
2ª semana de abril que obteve um valor de 5,8, talvez por um erro na determinação.
Geralmente, com valores baixos de F/M, tem-se menor produção de sólidos e idade de lodo
muito elevada. Entretanto, a amostra da 1ª semana de maio foi a que obteve a maior
concentração de SSV (627 mg/L) no tratamento anaeróbio durante todo período amostral e ao
mesmo tempo apresentou a menor relação F/M com 0,1 Kg DBO5/Kg SSV.dia.
Entre os dois primeiros pontos não houve diferenças de DBO5 na maioria das coletas, sendo
que as maiores concentrações foram detectadas na 2ª semana de março, com 361 mg/L no
ponto 1 e 342 mg/L no ponto 2. Isto é explicado devido a ocorrência de manutenção na rede
coletora de esgoto, aumentando significativamente a quantidade de sólidos no esgoto. Silva et
al. (1997) analisando o esgoto não tratado de Maringá, detectaram uma concentração de 320
Resultados e discussão 95
mg/L de DBO5, valor encontrado apenas em algumas coletas nos dois primeiros meses do
presente estudo.
Figura 6.11 - Variação de DBO5 nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
Elevadas concentrações também ocorreram nas três primeiras semanas de abril, com 371, 342
e 330 mg/L no esgoto bruto, e 314, 347 e 319 mg/L após o tratamento preliminar,
respectivamente; e 2ª semana de agosto, com 386 mg/L no esgoto bruto e 277 mg/L após o
tratamento preliminar. Neste último período supõe-se que ocorreu despejo irregular de
efluente industrial, devido a mudança da coloração do esgoto, aumentando significativamente
a DBO5.
Resultados e discussão 96
Na 4ª semana de março, a DBO5 no ponto 2 foi superior ao detectado no ponto anterior, pois
durante as coletas ocorreu a recirculação do lodo dos decantadores secundários à saída do
desarenador. Na 4ª semana de abril também ocorreu recirculação do lodo, fazendo com que os
valores de DBO5 das amostras do ponto 2 fossem superiores os valores das amostras do ponto
1. No entanto, esta semana apresentou as menores concentrações de DBO5 em todos os
pontos. Isto ocorreu devido grande parte da coleta ter ocorrido no período da manhã e ter sido
um feriado nacional, não havendo altas vazões e entrada de altas cargas orgânicas (1.148 kg
DBO5/dia).
Com relação ao ponto 3, a concentração das as amostras apresentaram uma variação de 52% e
os maiores valores foram encontrados nas amostras das duas primeiras semanas de maio (344
e 227 mg/L) e na 3ª semana de junho (186 mg/L), respectivamente. Observou-se que nos dois
primeiros meses não houve grandes concentrações de DBO5 nas amostras do ponto 3, porém
no início de maio a concentração se elevou devido ao aumento do manto de lodo no interior
dos RALFs. Segundo a Sanepar (2005e) quando não há limpeza dos RALFs, materiais inertes
como areia fina, plásticos, trapos e cabelos provocam a retenção e crescimento do manto de
lodo com o passar do tempo. Além disso, reduzem o volume útil dos reatores, prejudicando a
qualidade do esgoto.
As oscilações das unidades amostrais do ponto 4 mostram também que grande parte das
semanas não corresponderam ao limite de 60 mg/L de DBO5 imposto pela Portaria do IAP
(ORSSATTO, 2009) para lançamentos de efluentes.
O tratamento aeróbio apresentou uma eficiência com oscilações maiores a partir do mês de
maio, quando houve o interrompimento do fluxo de esgoto pelo filtro biológico, fazendo com
que o efluente fosse direcionado diretamente dos RALFs para os decantadores secundários e a
eficiência variasse de 0% a 57%. Já o tratamento completo apresentou uma eficiência mínima
de 53,4% e máxima de 90,5%.
Figura 6.12 - Variação de DQO nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
As amostras do ponto 3 também sofreram influência com o acúmulo de lodo no interior dos
RALFs no mês de maio com um desvio padrão de 191,59 mg/L e obtendo uma máxima de
1.091 mg/L, em seguida houve o decaimento da concentração de DQO com algumas
oscilações. Todas as amostras apresentaram concentrações superiores (média de 352 mg/L)
quando comparadas com um trabalho realizado por Sousa et al. (2006) que detectou em média
220 mg/L de DQO ao passar pelo reator anaeróbio.
a acumular lodo no reator e elevando a DQO no mês de agosto e diminuindo a relação F/M
para 0,4. A eficiência do tratamento anaeróbio, que deve possuir no mínimo 75%, ficou em
torno de 50 a 60%, com algumas quedas bruscas (7% de eficiência) devido aos fatores
operacionais supracitados.
Em um estudo realizado por Ramos (2008) em reatores anaeróbios sem descarte de lodo
programado, foi observado que a eficiência de remoção média de DQO foi na ordem de 69%,
verificando a necessidade de um tratamento complementar para remover a parcela
remanescente de matéria orgânica. Versiani et al. (2005) também avaliaram o desempenho de
reatores submetidos a diferentes condições operacionais e obtiveram resultados semelhantes,
verificando que a eficiência foi satisfatória, mesmo sem descarte de lodo, com remoções
superiores a 64%.
A Sanepar atribui para a DQO um valor limite de 225 mg/L em seu esgoto tratado, ou seja, os
meses de maio, junho e agosto apresentaram amostras com valores superiores ao desejado
pela empresa. Além disso, pode-se verificar que em quase todas as coletas as concentrações
de DQO das unidades amostrais do ponto 4 apresentaram-se acima do máximo permitido para
lançamento de efluentes determinado pela Portaria do IAP, que é de 150 mg/L (ORSSATTO,
2009). Isso mostra que a eficiência, que variava de 70 a 90% do tratamento completo, não
estava sendo suficiente para manter as concentrações de DQO dentro dos padrões exigidos
pelo órgão fiscalizador do Paraná.
As elevadas concentrações das amostras do ponto 4 (máxima de 326 mg/L) são justificadas
aparentemente pela elevada idade do lodo nas unidades de pós-tratamento. O bloqueio da
passagem do esgoto pelo filtro biológico fez com que o líquido escoasse com maior
velocidade para os decantadores secundários. Com isso, houve o arraste do excesso do lodo
presente nos RALFs para os decantadores, prejudicando até mesmo seus mecanismos de
raspagem de lodo. As bombas de recirculação do lodo para os reatores também apresentaram
falhas, consequentemente o lodo acumulou-se nas unidades finais de tratamento, fazendo com
que o esgoto lançado no corpo receptor apresentasse uma qualidade inferior à permitida.
A variação da relação DBO5/DQO nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser
visualizada na Figura 6.13 e Tabela 6.6.
tipo de tratamento de efluentes e segundo Rodrigues (2001) a razão DBO5/DQO tem sido
Para esgotos sanitários brutos essa relação varia de 0,6 a 1,4 e a tendência é diminuir após o
tratamento biológico, ou com o passar do tempo, indicando que a fração biodegradável
diminui e a inerte (não biodegradável) permanece constante (METCALF; EDDY, 2002). Os
valores encontrados nos esgotos brutos (ponto 1) em todo período amostral foram inferiores
aos valores mencionados pelos autores supracitados.
Um trabalho realizado em Maringá por Silva et al. (1997) mostrou que o esgoto bruto
apresentou a mesma diferença, com uma relação de 0,48, valor superior ao presente estudo,
em que a maior relação nas amostras do ponto 1 foi 0,37 na 2ª semana de março e agosto.
Resultados e discussão 101
As amostras do ponto 3 apresentaram valores entre 0,29 - 0,51. Em várias coletas a relação
DBO5/DQO das unidades amostrais do ponto 3 foi maior que as do ponto 1, principalmente
durante março e maio. A relação das amostras do ponto 4 também não foi em sua totalidade
menor que o ponto inicial, com valores mais significativos nas duas primeiras semanas de
março (0,36 e 0,55) e nas duas últimas semanas de maio (0,41 e 0,42). Isto pode ter ocorrido
devido algumas partículas inertes terem sido descartadas pelos decantadores secundários.
Golveia da Costa (2000) apresenta um carga orgânica de 8.398 Kg DBO /dia para o esgoto
5
afluente a ETE 2. No presente trabalho verificaram-se que os valores para carga orgânica
considerando a mesma população (65.031 habitantes) foram inferiores e obteve variações
mais significativas, possivelmente, devido a fatores externos, como precipitação
pluviométrica e problemas operacionais.
Em dias chuvosos, o esgoto bruto chegou a apresentar altos valores de carga orgânica na 4ª
semana de março (7.472 Kg DBO /dia), nas duas primeiras semanas de abril (7.819 e 7.262
5
Outros fatores que influenciaram no acréscimo de carga orgânica no esgoto foi a manutenção
ocorrida na rede de esgoto na 2ª semana de março (7.576 Kg DBO /dia), o despejo irregular
5
de esgoto industrial na rede de esgoto na 2ª semana de agosto (8.138 Kg DBO /dia) e a coleta
5
estabilizando a carga orgânica no decorrer das coletas. Os valores das amostras do ponto 4
evidenciaram que houve remoção de carga orgânica em quase todas as coletas, com exceção
da 3ª semana de julho e 2ª semana de agosto, com acréscimo de 28,6 e 12,4 Kg DBO /dia,
5
respectivamente.
A eficiência do desarenador muitas vezes mostrou-se nula, como por exemplo, nas três
primeiras semanas de agosto, ou seja, o esgoto após ter percorrido o desarenador, apresentou
uma quantidade de ST maior que no esgoto bruto. Prado (2006) afirma que é muito difícil
interpretar dados de eficiência de remoção dos desarenadores, pois, além da escassez desses
dados, o próprio material que estas unidades removem é pouco caracterizado e, por
conseguinte, as eficiências de diferentes sistemas de desarenação não podem ser comparadas.
março (82,3 mm) e de abril (24 mm), mostrando que o esgoto bruto foi diluído e adquiriu
sólidos no desarenador.
Os ST das unidades amostrais do ponto 3 também apresentaram flutuações com uma maior
interferência no mês de maio devido elevado lodo nos RALFs, resultando em 1.560 mg/L de
ST e diminuindo a eficiência do tratamento anaeróbio à zero. Pode-se inferir que, a partir
dessa data, já se atingia a capacidade máxima de acumulação de lodo no interior do reator e
talvez uma elevada idade do lodo em função da baixa relação F/M, resultando em uma maior
perda de sólidos no efluente. Nas coletas seguintes, a eficiência voltou a se estabilizar em
torno de 30 a 50%, pois houve a retirada de 480 m3 de lodo em julho devido o retorno da
centrífuga. No final do mês de julho e em agosto a concentração de ST se elevou novamente
(692 e 673 mg/L, respectivamente), também em função do lodo acumulado nos RALFs, já
que a centrífuga estava danificada.
Da mesma forma que os ST, os SST obtiveram as mesmas influências nos dois primeiros
pontos com a manutenção na rede de esgoto ocorrido na 2ª semana de março, apresentando
frações de 486 mg/L para as amostras do ponto 1 e 526 mg/L para as amostras do ponto 2.
descarte do mesmo, fazendo com que a eficiência do tratamento anaeróbio diminuísse de 60%
à zero. Além disso, foi o ponto que apresentou maior desvio padrão (213,47 mg/L) e variação
(128%). Com o passar das semanas a concentração foi diminuindo, porém com maiores
oscilações. Tais variações podem ser atribuídas à dificuldade de sedimentação dos flocos no
interior do reator devido a sobrecargas hidráulicas, principalmente em dias chuvosos, bem
como da influência do tratamento preliminar. Quando não há boa sedimentação dos sólidos,
há um acréscimo na concentração de SST no esgoto.
Figura 6.16 - Variação de SST nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
Em pesquisas realizadas por Camolese et al. (1999) foram detectadas concentrações próximas
ao do presente estudo, com média de 112 mg/L após o esgoto passar pelos reatores
anaeróbios. Eficiência semelhante também foi encontrada em trabalhos de Neder et al. (1999)
ao estudar reatores anaeróbios, obtendo uma remoção de SST em 60%. Sousa et al. (2006)
apresentou valores parecidos para o esgoto bruto de Campina Grande/PB com 280 mg/L,
porém inferiores ao passar pelo tratamento anaeróbio, com 85 mg/L.
Até o mês de abril, foi detectado concentrações baixas nas amostras do ponto 4 (máximo de
44 mg/L), entretanto, o problema decorrente da ausência de circulação do lodo dos
decantadores secundários elevou os SST de 60 a 92 mg/L, prejudicando a eficiência do
tratamento aeróbio e do sistema completo nos últimos meses.
Toledo et al. (2001) estudando um sistema composto por reator anaeróbio, filtro biológico e
decantador secundário, verificou concentrações de SST no efluente próximas ao da ETE 2, de
53 a 90 mg/L.
O limite estabelecido pela Sanepar para SST em esgoto tratado é de 60 mg/L e o tratamento
precisa apresentar uma eficiência acima de 50%. Apesar da eficiência do tratamento completo
durante o monitoramento ter permanecido acima do estabelecido pela Sanepar, o mesmo não
ocorreu nas concentrações de SST no esgoto que, a partir do mês de maio, em todas as coletas
foi detectado valores acima de 60 mg/L. Isto mostra que os SST afetaram as concentrações de
lodo nas unidades de tratamento, pois segundo Karl e Imhoff (2002) a determinação dos SST
é uma das mais importantes já que são estes que vão formar o lodo durante o tratamento de
esgoto.
A variação de SSV nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.17 e Tabela 6.10.
O pico evidenciado na relação F/M de 5,8 para o tratamento anaeróbio na 2ª semana de abril
pode ser explicado pela baixa concentração de SSV no período para a amostra do ponto 2 (70
mg/L).
relação F/M, evidenciando talvez uma idade de lodo elevada devido a ausência de seu
descarte. Ao mesmo tempo, o sistema anaeróbio do período supracitado obteve a menor
eficiência durante o monitoramento.
Figura 6.17 - Variação de SSV nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
Visualizando o período em que houve a falha nas bombas elevatórias dos decantadores
secundários, percebe-se um ligeiro aumento de SSV nas unidades amostrais do ponto 4 a
partir de maio. Este fato se deve a ausência de recirculação de lodo dos decantadores
secundários, diminuindo a relação F/M.
Resultados e discussão 108
A variação de SSF nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.18 e Tabela 6.11.
Figura 6.18 - Variação de SSF nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
O SSF obteve uma maior concentração na 2ª semana de março com 264 mg/L na amostra do
ponto 1 e 274 mg/L na do ponto 2, em função da manutenção na rede de esgoto.
As unidades amostrais do ponto 3 manteve uma concentração média de 58,96 mg/L, com um
pico nas duas primeiras semanas de maio que apresentaram uma concentração de 511 e 126
mg/L de SSF, representando um desvio padrão de 98,47 mg/L e variação de 167%. Tal fato
Resultados e discussão 109
As amostras do ponto 4 nos dois primeiros meses apresentaram concentrações inferiores a dos
outros meses de monitoramento, com média de 6,4 mg/L no primeiro período e 18,1 mg/L no
último período citado. Como conseqüência, a eficiência do tratamento aeróbio e completo
foram superiores nos primeiros meses, quando comparados aos últimos.
Um dos indicadores de que o lodo precisa ser descartado é a elevada quantidade de cinzas no
lodo (SSF), indicando mineralização. A distribuição das frações de sólidos suspensos fixos e
voláteis nas amostras do ponto 3 e ponto 4 pode ser visualizada na Figura 6.19.
Figura 6.19 - Distribuição das frações de sólidos suspensos fixos e voláteis nos pontos de coleta
No sistema que é operado adequadamente a quantidade de cinzas presentes não deve exceder
a 40% do peso total do lodo. Para diminuir o índice de mineralização presente, o descarte de
lodo precisará ser aumentado a fim de permitir a produção de lodo fresco, ou seja, a relação
F/M precisará ser aumentada de maneira gradual (se subir drásticamente, a sedimentabilidade
do lodo diminui). Quando se eleva a relação F/M, indica que cada bactéria tem mais alimento
e se reproduz mais rapidamente, com o passar do tempo, a tendência é diminuir o valor de
F/M e, dessa forma, o índice de mineralização (SOARES et al., 2001).
Resultados e discussão 110
O maior índice de mineralização nas amostras do ponto 3 foi na 2ª semana de abril com 71%
de SSF contra 29% de SSV, podendo ser explicado pela elevada relação F/M de 5,8 kg
DBO5/kg SSV.dia. Em seguida, a 4ª semana de abril e as duas primeiras semanas de maio
obtiveram os maiores índices de mineralização de 41 a 45% de SSF.
Para as amostras do ponto 4, a 1ª semana de abril apresentou a maior mineralização com 40%
de SSF e também maior relação F/M do monitoramento com 0,6 kg DBO5/kg SSV.dia.
A variação de SDT nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.20 e Tabela 6.12.
Figura 6.20 - Variação de SDT nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
Com exceção do mês de março em que houve influência da manutenção na rede de esgoto, os
SDT foram influenciados pelos índices pluviométricos, pois em dias de chuva as amostras
apresentaram baixas concentrações. Os maiores valores encontrados nas amostras do ponto 1
foram na 2ª e 4ª semana do monitoramento, com concentrações de 1.548 e 1.296 mg/L,
respectivamente. Além disso, como nos ST, o tratamento preliminar obteve eficiência de 70%
nesse período com redução de até 1.075 mg/L e eficiência negativa em agosto, ou seja, o
desarenador acabou acrescentando SDT no esgoto.
A proporção de SDT presentes no esgoto indica a parte dos esgotos que geralmente não é
afetada pelo tratamento preliminar. Poderá aumentar, em virtude da liquefação e
decomposição do material sólido podendo também diminuir durante o tratamento secundário
do esgoto devido à oxidação ou absorção. (SANEPAR, 2005g).
As amostras do ponto 3 não foram influenciadas como os demais sólidos no mês de maio
devido a problemática do lodo, apresentando uma oscilação de 296 a 569,2 mg/L. Entretanto,
mesmo sem essa influência, as concentrações ainda foram elevadas quando comparado a
pesquisas realizadas por Aisse et al. (2001) que estudaram uma ETE em Campo Largo/PR e
observaram concentrações médias de SDT após passar pelos RALFs de 229,5 mg/L.
Com relação à eficiência dos tratamentos, em todas as unidades amostrais houve uma
variação elevada durante todo o monitoramento.
A variação de SSed nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.21 e Tabela 6.13.
As amostras do ponto 3, como nos demais parâmetros, foi influenciada pela relação F/M nos
reatores anaeróbios atingindo a concentração de 32 mL/L na 1ª semana de maio. Porém, nas
Resultados e discussão 112
outras semanas os valores voltaram a se estabilizar com variação de 1 a 5 mL/L, mas com
concentrações maiores que nos primeiros meses.
Figura 6.21 - Variação de SSed nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
A eficiência dos RALFs até final de abril apresentava uma média de 80%, alterando o cenário
com grandes flutuações até sua estabilização novamente no ultimo mês do período amostral
(média de 70%). Resultados semelhantes foram encontrados por Aisse et al. (2001) ao
analisar a ETE de Campo largo/PR com concentrações de 2 a 12 mL/L no esgoto bruto e
máxima de 1 mL/L ao passar pelo reator anaeróbio. Já Neder et al. (1999), estudando o
mesmo tipo de reator, verificou que as concentrações sempre se situaram em torno de 3 mL/L.
Resultados e discussão 113
Ramos (2008) estudou reatores anaeróbios em períodos com e sem descarte de lodo e, da
mesma forma que o presente trabalho, verificou que o valor médio de remoção de SSed no
reator sem descarte programado foi bastante superior ao operado, com 52% contra 2%,
respectivamente.
O filtro biológico foi monitorado até a 2ª semana de maio em função da paralisação do fluxo
de esgoto pela unidade. Porém esse período foi suficiente para observar que, mesmo em
condições precárias, o efluente ao passar pelo filtro apresentava uma pequena redução de
SSed nas semanas em que não houveram influências operacionais no tratamento (cerca de 0,5
mL/L) e também nas coletas em que ocorreu influências, principalmente em maio (cerca de
15 mL/L).
A Sanepar impõe um limite máximo de 1 mL/L de SSed em seu esgoto tratado e nas amostras
do ponto 4 foram detectados valores dentro dos padrões exigidos pela empresa, variando de
0,05 a 1,0 mL/L. Porém, as maiores concentrações foram encontradas nos últimos meses
devido ao acúmulo de lodo nas unidades finais de tratamento. A eficiência dos decantadores
secundários obteve maior oscilação a partir de junho (22 a 89%), já o tratamento completo
mostrou uma linearidade durante todo o monitoramento (82 a 99%).
A variação de PT nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.22 e Tabela 6.14.
Observa-se que o PT também foi influenciado pelo acúmulo de lodo nos RALFs em maio,
chegando a uma concentração máxima de 26,84 mg/L nas amostras do ponto 3.
por exemplo, na 2ª e 4ª semana de março, com uma elevação de 2,6 e 4,9 mg/L. Entretanto,
também houve semanas com pequenas remoções de um ponto para o outro, como na 3ª
semana de abril (18 mg/L) e julho (10 mg/L).
Figura 6.23 - Variação de NH4+ nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
Observa-se que o tratamento aeróbio também obteve eficiências próximas a zero. Em algumas
coletas, mesmo na época em que o filtro biológico não foi interrompido, o pós-tratamento não
foi suficiente para remover grandes concentrações de NH4+ e muitas vezes acrescentaram este
elemento ao esgoto tratado.
Os meses em que o esgoto estava sendo lançado com maiores concentrações foram os três
últimos, com oscilações de 142,5 a 236,5 mg/L nas amostras do ponto 4. Segundo estimativas
de Chernicharo (2001), a descarga das concentrações encontradas de NH4 + no corpo receptor
pode provocar o consumo de cerca de 570 a 946 mg/L de OD nas águas durante o processo de
nitrificação.
6.1.2.18 Nitrito
A variação de NO2- nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.24 e Tabela 6.16.
Figura 6.24 - Variação de NO2- nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
O NO2-, juntamente com o NO3-, representam as duas formas oxidadas de nitrogênio, sendo
este o último o que apresentou maiores concentrações no esgoto bruto e tratado.
Resultados e discussão 119
O tratamento preliminar nos dois primeiros meses mostrou eficiência nula em quase todas as
coletas, ou seja, o esgoto adquiriu maiores concentrações de NO2- ao passar pelo desarenador.
Já o tratamento anaeróbio apresentou uma eficiência média de 70%, eliminando em até 159
mg/L de NO2- nas amostras do ponto 2 ao ponto 3. A concentração no terceiro ponto recebeu
interferência apenas em maio devido aos problemas de acúmulo de lodo, atingindo valores de
139 mg/L, maior até mesmo que esgoto bruto (123 mg/L).
Como a DQO e DBO5, o nitrito na 4ª semana de abril detectou valores baixos para todos os
pontos, pois a coleta ocorreu no período da manhã, com baixas vazões e consequentemente
baixa carga poluidora.
Os valores de NO2- detectados durante o período amostral foram maiores que em pesquisas
realizadas por Santos et al. (2007) do afluente e após passar pelo reator anaeróbio de Campina
Grande/PB, que apresentaram respectivamente, 3 mg/L e 0,2 mg/L.
Das amostras do ponto 3 ao ponto 4 não houve grande diferença de concentrações, sendo que
o último ponto apresentou variações de 19 a 44 mg/L, com um desvio padrão de 7,21 mg/L.
Tais valores mostram que a remoção no tratamento aeróbio não é significativa, principalmente
nos últimos meses devido ao problema com o lodo nas unidades de tratamento, diminuindo a
eficiência do tratamento completo em cerca de 10%.
As concentrações das unidades amostrais do ponto 4 indicam também que o NO2- presente no
esgoto tratado está muito acima do permitido pela Resolução CONAMA 357/2005 para rios
de classe 2 (1 mg/L).
6.1.2.19 Nitrato
A variação de NO3- nos pontos de coleta de esgoto da ETE 2 pode ser visualizada na Figura
6.25 e Tabela 6.17.
O comportamento do NO3- durante a série amostral foi semelhante ao do NO2- nas amostras
de todos os pontos. Assim com a outra forma oxidada de nitrogênio, em algumas coletas
houve acréscimo no esgoto por parte do desarenador, como na 4ª semana de março e abril,
com elevações de 2,9 e 2,2 mg/L, respectivamente.
Nas ultimas coletas observa-se um crescimento nas concentrações das amostras do ponto 3,
quando comparado com o início do monitoramento. Como já mencionado em outros
parâmetros, as falhas nas unidades de tratamento de lodo influenciou no tratamento e
qualidade do esgoto tratado principalmente com relação ao descarte e circulação do lodo no
Resultados e discussão 120
Figura 6.25 - Variação de NO3- nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
Segundo Chui et al. (2000) a maior taxa de remoção de nitrogênio ocorre quando a relação
DQO/NO3- é maior ou igual a 5. No presente estudo esta relação foi de em média 27 para as
amostras do ponto 3 e 21 para as amostras do ponto 4. Portanto, pode-se observar que a
quantidade de matéria orgânica disponível foi suficiente para o bom desempenho do reator e
pós-tratamento no processo de desnitrificação.
Mesmo em pequenas proporções, o esgoto tratado (ponto 4) do último mês obteve maiores
concentrações de NKT, com oscilação de 4,93 a 6,80 mg/L. A eficiência do tratamento
completo foi decaindo conforme o andamento do monitoramento, ficando próxima de zero ou
nula.
Figura 6.26 - Variação de NKT nos pontos de coleta e eficiência dos tratamentos
estabelecido pela legislação foram o Arsênio e Selênio, com 0,65 e 0,79 mg/L,
respectivamente. Deve-se considerar as altas concentrações de metais presentes no afluente
dos RALFs, o que pode comprometer todo o processo bioquímico, inibindo o processo
metabólico dos microrganismos presentes no reator, ou estes microrganismos podem não estar
adaptados às condições do ambiente.
Tabela 6.19 - Variação dos metais pesados nos pontos de coleta de esgoto
Metais Pesados Limite máximo
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4
(mg/L) CONAMA 397/2008
Arsênio 0,47 0,49 0,60 0,65 0,50
Bário 0 0 0 0,64 5,00
Cádmio 0,16 0,03 0 0,01 0,20
Chumbo 0,02 0,03 0,03 0,03 0,50
Cobre 0,37 0,20 0,05 0,03 1,00
Cromo 0,01 0 0 0 0,50
Ferro 0,36 0,31 0,35 0,34 15,0
Manganês 0,10 0,07 0,06 0,06 1,00
Níquel 0,03 0 0 0,04 2,00
Prata 0,02 0,09 0,09 0,07 0,10
Selênio 0,72 0,72 0,61 0,79 0,30
Zinco 0,13 0,15 0,03 0,07 5,00
Embora a concentração dos demais metais esteja dentro dos limites estipulados pela
legislação, os mesmos são preocupantes por serem cumulativos ao longo da cadeia alimentar.
A ação tóxica de muitos metais ocorre por haver afinidade com o enxofre, causando a quebra
da cadeia protéica e formando ligações com o enxofre em muitas enzimas, comprometendo a
ação enzimática. O grupo carboxila (-CO2 H) e amina (-NH2), presentes em proteínas, é
também atacado por muitos metais pesados. Cádmio, cobre, chumbo e mercúrio se ligam à
membrana celular, bloqueando o transporte celular. Os metais podem precipitar biocompostos
fosforados ou participarem da catalisação dessas substâncias (SILVA et al., 2005).
Deve-se considerar que, nesse caso, sendo altas as concentrações de metais presentes no lodo,
há uma eleva atuação de compostos tóxicos sobre a microfauna do lodo do reator, o que
provoca uma piora nas condições de funcionamento da ETE.
Resultados e discussão 124
Vale ressaltar que a Resolução CONAMA 357/2005 limita as concentrações em até 20 mg/L
para óleos e graxas minerais (OGM) e 50 mg/L para óleos e graxas vegetais (OGV) nos
efluentes lançados. Apesar dos resultados das análises serem positivos com relação aos limites
citados, foi virtualmente visível a presença de OG no ribeirão Pinguin segundo análises da
Sanepar (2010a) durante alguns meses do monitoramento, não obedecendo a Resolução
CONAMA 357/2005.
A evolução do IQET da ETE 2 mostra que a qualidade do esgoto tratado oscilou durante o
monitoramento (Figura 6.27). Nos dois primeiros meses foram obtidos os melhores índices,
representando uma qualidade ótima de tratamento, segundo os níveis adotados pelo índice.
Porém no mês seguinte o valor decaiu para uma qualidade aceitável.
O resultado do ICT pode ser visualizado na Tabela 6.21 e foram abordados todas as etapas de
tratamento para comparação com o tratamento completo. Os parâmetros NH4+ e NO2- não
foram incluídos na tabela, pois apresentaram um ICT de 0% nos meses isolados e também no
monitoramento completo para todos os tratamentos.
O ICT depende também do coeficiente de variação (CV), ou seja, quanto maior a diferença
das concentrações de um elemento durante o período selecionado, menor será o resultado do
índice. Devido a tais características é importante que, durante a elaboração de projetos que
empreguem processos mecanizados, seja considerada esta variabilidade para definição da
meta de eficiência, de forma que ela possa ser alcançada em parte considerável do tempo de
operação. Com exceção do SSed (que obteve um baixo CV), todos os parâmetros
apresentaram uma queda no índice durante o mês de maio, em função da ocorrência dos
principais problemas operacionais e de manutenção nesse período.
O elemento que mais sofreu influência com os problemas operacionais ocorridos na estação
foi o SST que iniciou o monitoramento em março com um ICT de 99% e finalizou com 3%
em agosto.
Resultados e discussão 127
O parâmetro que apresentou o maior ICT durante o monitoramento completo foi o SSed e
DBO5, com 79 e 73%, respectivamente. Já os parâmetros mais preocupantes, além do NH4+ e
NO2- como já citados, foi o PT com 5%, DQO com 36% e SST com 49%.
Um estudo realizado por Brostel e Souza (2005) mostrou que as ETEs que empregam
processos mais mecanizados, de um modo geral, apresentaram valores de confiabilidade
operacional para remoção de DBO5 em torno de 80%. Os autores ainda comentam que
embora as ETEs mecanizadas sejam dotadas de um número maior de equipamentos, as falhas
mecânicas que por ventura ocorrem não têm influenciado no desempenho dessas estações, em
termos de tempo de alcance da eficiência do processo. Essa afirmação não condiz com o
encontrado no presente estudo, já que os parâmetros obtiveram uma confiabilidade
considerada baixa durante os períodos com problemas operacionais significativos.
Resultados e discussão 128
Não foi avaliado o limite de tempo que o os filtros biológicos possuem ao apresentar falhas
para que ocorra a manutenção sem que o sistema de tratamento por já estarem em condições
precárias antes de realizar o monitoramento.
A centrífuga foi a unidade operacional que mais afetou o funcionamento do sistema, uma vez
que a mesma é essencial para uma boa eficiência do tratamento anaeróbio e aeróbio. A
centrífuga permaneceu 17 semanas sem operação e após funcionar por 3 semanas, voltou a
falhar por mais 3 semanas, finalizando o monitoramento sem operação.
Em virtude da falha nas bombas das elevatórias de lodo dos decantadores secundários,
resultando em quantidade excessiva de lodo, os mecanismos de raspagem de lodo dos
Resultados e discussão 129
decantadores secundários tiveram que ser paralisados por 12 semanas para que não
apresentassem falhas mecânicas, finalizando o período de monitoramento inativos.
Com relação ao descarte de lodo dos RALFs, para que haja a eficiência desejada o operador
deve manter um volume mínimo de lodo no reator. Para a ETE 2, a altura de lodo é cerca de
2,3 m, correspondente a um volume de 240 m³, correspondente a 20% do volume útil de cada
reator, que é igual a 1.152 m³. O volume do lodo a ser retirado do reator, não deverá exceder a
20% do volume total do reator. Von Sperling (2002) cita que a retirada deve ser realizada em
intervalos de 3 meses, ou quando o teor de SSed atingir 1,5 mL/L na saída do reator.
O monitoramento evidenciou que a partir do segundo mês sem descarte de lodo nos RALFs, a
concentração de SSed elevou drasticamente devido ao excesso de lodo nos mesmos. Da 3ª
semana de julho a 1ª semana de agosto houve a descarga de 480 m3 de lodo diminuindo a
concentração de SSed até a faixa aceitável. Entretanto, no decorrer do mês de agosto, em
função da ausência de descarte a concentração desse parâmetro voltou a se elevar aos poucos.
Com a análise dos dados verificados no controle de manutenção, pode-se afirmar que o tempo
que os RALFs da ETE 2 devem ficar sem descarte de lodo devido a falhas na centrífuga é de
2 meses. É necessário destacar também que os resultados citados anteriormente também
podem estar sendo influenciados pela ausência de limpeza de escuma dos RALFs durante 2
anos. Na ETE 2 deveria haver implantado uma segunda alternativa para descarga do lodo,
como por exemplo leitos de secagem, assim quando a centrífuga deixasse de funcionar, não
haveria acumulo de lodo no interior dos RALFs.
A ampliação da ETE 2 ocorrida no ano de 2006 teve um custo total de R$ 3.679.396, 36 reais
e abrangeu a implantação do pós-tratamento, reformas em geral, desidratação e tratamento do
lodo e retirada de antigos leitos de secagem existentes na estação (Tabela 6.22). Varias
unidades operacionais apresentaram custos elevados e não estão sendo utilizados ou são
pouco utilizados pelo sistema da ETE.
Uma centrífuga do mesmo modelo utilizada na ETE 2 (Decanter Centrifugo Série FP 600)
possui um custo de R$ 215.790,00 reais. A centrífuga da ETE esteve funcionando em apenas
4 semanas durante o monitoramento e sua manutenção possui um custo de cerca de R$
27.500,00 reais (PIERALISI, 2010). Em geral o processamento e disposição final do lodo
pode chegar a 60% dos custos de operação e 90% dos problemas operacionais de uma ETE
(WEBBER; SHAMESS, 1984).
Uma unidade importante no sistema de tratamento que poderia ser capaz de diminuir as
concentrações de nutrientes é o filtro biológico. A implantação dos dois filtros biológicos
possuiu um custo de R$ 1.009.443,39 reais e os mesmos apresentaram-se inativados durante
todo o monitoramento.
A retirada dos antigos leitos de secagem apresentou um custo de R$ 48.295,84 reais. Uma
alternativa mais viável teria sido manter tais unidades para que nos períodos em que a
centrífuga apresentar problemas operacionais, os leitos de secagem poderiam ser utilizados
como alternativa para realizar a descarga do manto de lodo acumulado nos RALFs.
A câmara de contato possuiu um custo de R$ 268.461,01 reais e não esta sendo utilizada com
o objetivo inicial. Ela poderia ser utilizada como uma unidade de desinfecção, tendo em vista
que análises de coliformes termotolerantes no riberião Pinguín realizadas pela Sanepar
(2010a) chegaram a mostrar uma quantidade de 580.000 NMP/100 mL de coliformes
Resultados e discussão 131
termotolerantes, muito acima do exigido pela Resolução CONAMA 357/2005, que atribui um
valor máximo de 1000 NMP/100 mL em rios de classe 2.
As outras duas ETEs, devido ao menor número de unidades automatizadas, não apresentaram
muitos problemas operacionais e de manutenção.
Os resíduos gerados pelos gradeamentos, desarenador e RALFs são descartados em uma área
na própria ETE, podendo causar impactos ao ambiente (Figura 6.29).
Os RALFs não possuem tubulações de queima dos gases gerados, sendo liberados sem
nenhum tipo de tratamento para atmosfera.
A lona de PVC (chamada zona de separação trifásica) é o dispositivo utilizado para auxiliar
na retenção das partículas em suspensão esta danificada principalmente no primeiro RALF.
Com isso, as partículas suspensas deixam de chocar-se com a lona devido ao fluxo ascendente
e não retornam a zona de deposição do lodo mais denso, permanecendo na parte superior dos
RALFs (área de decantação aberta) e formando uma espessa camada de escuma (Figura 6.30).
Resultados e discussão 133
Quando a lona não esta devidamente fixada na parte inferior e superior do RALF, as bolhas de
gás acabam atingindo a zona de sedimentação, prejudicando a eficiência do sistema.
Quadro 6.1 - Aspectos encontrados em RALF com área de decantação aberta ou coberta
Aberta Coberta
Possibilidade de problemas de odores Minimização de problemas de odores
Melhores condições de acesso para Necessidade de sistema de exaustão e
manutenção e limpeza tratamento de odores
Melhores condições de se checar a Necessidade de se prever pontos de
qualidade do efluente final em relação coleta de amostra do efluente de modo
à perda de sólidos a se checar a perda de sólidos
Fonte: Miki (2010).
É importante ressaltar a observação realizada por Souza et al. (2007) de que a escuma do
decantador de reatores UASB abertos tende a não acumular em grandes quantidades por
sofrer processos de amenização da progressão da acumulação, tal como chuvas fortes. No
presente estudo essa situação não foi visualizada, tendo em vista que em uma das visitas
realizadas na ETE houve precipitação volumétrica.
Uma opção para não haver problemas de rompimento da lona de PVC na zona de separação
trifásica é a utilização de materiais não corrosivos, menos volumosos e alternativos, como
plástico, fibra de vidro e cimento amianto (CHERNICHARO, 2007).
Pereira et al. (2010) construíram um reator UASB em escala piloto utilizando-se material
alternativo, como meia manilha construída de concreto vibrado, com formato semicircular (φ
= 50 cm), por meio da qual o biogás produzido era coletado e conduzido por tubos PVC de
½” ao equalizador de pressão. O separador trifásico exercia também a função de defletor de
sólidos. Esse separador é considerado pelos autores uma novidade na área de tratamento de
efluentes, pois o formato da manilha é parabólico, fugindo do padrão triangular adotado nas
construções de reatores utilizados em estações de tratamento de esgoto e efluentes
agroindustriais. Obteve-se sucesso nesse experimento, o qual reteve grande quantidade de
sólidos no reator, sendo fundamental para a formação da manta de lodo, aumentando
significativamente a eficiência operacional da unidade.
Almeida et al. (2007) optaram em seu trabalho, visando o melhor aproveitamento técnico e
econômico do reator, integrar a cobertura com um separador trifásico, construída de forma
monolítica, em ferrocimento. Previu-se uma peça única, mais leve, moldada no próprio
canteiro de obras, dotada de todos os dispositivos necessários ao funcionamento, tais como:
caixa separadora de vazão, distribuidores ligados ao fundo, inspeção, saída de biogás etc.
Foram iniciadas as obras para melhorias no sistema de tratamento, em função da ação civil
pública contra a Sanepar. Entretanto, as obras foram paralisadas para serem realizadas
primeiramente na ETE 3. Com isso, o percurso que leva a área de descarte dos resíduos do
tratamento preliminar e anaeróbio foi bloqueado pelas obras, impossibilitando a retirada dos
resíduos sólidos das caçambas há cerca de 1 mês e também limpeza nos RALFs (Figura 6.31).
Em uma pesquisa realizada por Tomiello (2008) em um período de 5 meses na mesma ETE, o
volume de resíduos gerados no gradeamento apresentou uma média de 12,26 L/1000 m3, não
condizendo com os valores apresentados para o espaçamento de 15 a 20 mm por Jordão e
Pessoa (2005), de aproximadamente 38 a 50 L/1000 m3. Já os resíduos retirados no
desarenador apresentaram uma média de 85,32 L/1000 m3, permanecendo acima da faixa para
projeto de ETEs de 20 a 40 L/1000 m3, especificada pelos autores supracitados.
Com relação a ETE 3, a mesma também não apresenta tubulações de queima dos gases
gerados, sendo liberados sem nenhum tipo de tratamento. As lonas de PVC dos RALFs
também possuem falhas, permitindo passagem de sólidos para o corpo receptor.
Os resíduos gerados pelo tratamento preliminar e anaeróbio também são dispostos em uma
área na própria ETE, não recebendo um destino final adequado (Figura 6.32).
A caracterização do esgoto e a eficiência dos tratamentos realizada por meio de uma única
coleta nas duas ETEs podem ser visualizadas na Tabela 6.23 e Tabela 6.24, respectivamente.
No que tange os sólidos, a ETE 1 apresentou concentrações nas amostras do ponto 2 menores
que nas amostras do primeiro ponto, variando a eficiência do tratamento preliminar de 3,5%
para SSV a 24,2% para SDT. Já na ETE 3 a situação foi inversa, havendo uma eficiência nula
para todos os sólidos, talvez em função do entupimento e acúmulo de areia no desarenador. A
ETE 1 também apresenta problemas de acúmulo de areia nos desarenadores, porém essa
estação possui duas unidades de tratamento, talvez se a ETE 3 possuísse mais uma unidade
similar esse problema seria minimizado, pois uma unidade poderia ser paralisada para retirada
do material retido enquanto a outra unidade iria continuar operando.
A relação F/M do tratamento anaeróbio das duas ETEs apresentou valores baixos, devido ao
fato que não havia acúmulo de lodo nos RALFs.
Nenhuma das ETEs atendeu o limite máximo imposto pela Sanepar para lançamento de
esgoto com SST (60 mg/L), obtendo 110 mg/L a ETE 1 e 195 mg/L a ETE 3.
Resultados e discussão
Tabela 6.23 - Caracterização do esgoto nos pontos de coleta na ETE 1 e ETE 3
ETE 1 ETE 3 Limite Limite
Limite Limite
Parâmetros CONAMA 357/2005 CONAMA 357/2005
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 IAP Sanepar
Lançamento de efluente Rios Classe 2
pH 7,21 7,48 7,24 7,34 7,55 7,09 5a9 6a9 - -
OD (mg/L) 0,34 0,38 4,60 0,23 0,21 4,00 - ≥5 - -
ST (mg/L) 864,5 722,0 360,0 926,0 968,0 675,0 - - - -
SST (mg/L) 330,0 317,0 110,0 359,0 383,0 195,0 - - - ≤ 60
SSV (mg/L) 283,0 273,0 85,0 286,0 305,0 150,0 - - - -
SSF (mg/L) 47,0 44,0 25,0 73,0 78,0 45,0 - - - -
SDT (mg/L) 534,5 405,0 250,0 567,0 585,0 480,0 - ≤ 500 - -
SSed (mg/L)* 10,0 - 1,5 15,0 - 0,9 - - - ≤1
DBO5 (mg/L) 345,0 332,1 136,7 360,0 371,5 173,9 - ≤5 ≤ 60 ≤ 90
DQO (mg/L) 909,2 894,6 349,1 974,9 1015,4 455,3 - - ≤ 150 ≤ 225
Relação
0,38 0,37 0,39 0,37 0,37 0,38 - - - -
DBO5/DQO
Carga Orgânica
3.756 3.615 1.488 3.620 3.737 1.749 - - - -
(kg DBO5/dia)
PT (mg/L) 22,07 22,49 22,94 22,16 24,70 24,44 - ≤ 0,05 - ≤ 10
NH4+ (mg/L) 155,25 156,0 196,0 168,9 163,25 238,0 - 0,5 a 3,7 - -
NO2- (mg/L) 147,0 143,0 68,0 180,0 186,0 90,0 - ≤1 - -
NO3- (mg/L) 47,2 48,2 23,2 71 67,6 26,0 - ≤ 10 - -
OGV (mg/L)* 89,2 - 28,1 97,7 - 34,3 ≤ 50 - - -
OGM (mg/L)* 5,1 - 5,0 5,0 - 5,0 ≤ 20 - - -
Relação F/M kg
(DBO5/kg SSV.d) 0,42 0,24 - - - -
Trat. Anaeróbio
*Fonte: Sanepar (2010b).
137
Resultados e discussão 138
ou devido essa unidade da ETE 1 ter formado uma crosta firme de escuma que dificulte a
passagem de poluentes para o lançamento no corpo receptor; ou também o volume de areia no
interior dos RALFs da ETE 3 ter diminuído grande parte do volume útil do reator ou estar
dificultando a mistura entre o esgoto e a manta de lodo.
O controle da qualidade realizado nas duas ETEs mostrou que as mesmas se encontram
abaixo do rendimento esperado (Tabela 6.25).
O IQET de ambas as ETEs permaneceram abaixo da faixa aceitável de 70%, com um índice
de 45% para a ETE 1 e 50% para a ETE 3. O ICE da ETE 1 e ETE 3 foram superiores ao
índice do tratamento anaeróbio da ETE 2 (media de 36%), mostrando que os problemas com
lodo encontrados nos RALFs da mesma afetam significativamente esse índice.
A quantificação dos impactos verificados nas ETEs pode ser visualizada na Tabela 6.26.
Foram listados 64 possíveis impactos ambientais propostos pela matriz de interação, sendo o
meio antrópico o fator que apresentou o maior número de impactos, com 27, seguido do meio
físico e biótico, com 19 e 18, respectivamente.
Resultados e discussão 140
Quadro 6.3 - Matriz de interação de atividades, aspectos e fatores ambientais nas ETEs
Fatores Ambientais
Meio Meio Meio
Físico Biótico Antrópico
Flora Fauna
Paisagismo
Geração de
Atividades/Aspectos
empregos
Terrestre/
Saúde
Terrestre
Aquática
Aquática
Água
Solo
Ar
alada
Manutenção da vegetação rasteira N -- -- N -- N -- P P P
Remoção de sólidos grosseiros/areia/escuma -- P -- -- P -- P P N P
Armazenamento de sólidos
-- -- N -- -- N -- -- N N
grosseiros/areia/escuma em caçambas
Descarte impróprio dos resíduos sólidos
N N N N N N N - N N
grosseiros/areia/escuma na própria ETE
Transporte dos sólidos grosseiros/areia/escuma N -- N -- -- -- -- P N --
Produção de gases -- -- N -- -- -- -- -- N N
Secagem, armazenamento e descarte do lodo
P P N -- -- -- -- P N N
estabilizado
Diminuição da eficiência de remoção de
-- N -- -- N -- N -- N N
nutrientes
Diminuição da eficiência de remoção de matéria
-- N N -- N -- N -- N N
orgânica
Diminuição da eficiência de remoção de
-- N -- -- N -- N -- N N
patógenos
Desvio de excesso de vazão -- N N -- N -- N -- N N
Empoçamento de esgoto em unidades inoperantes -- -- N -- -- N -- -- N N
Legenda: N = Impacto negativo; P = Impacto positivo
Os impactos positivos são permanentes com uma operação eficaz do sistema de tratamento,
ou até mesmo podem ser potencializados. Já os impactos negativos são mitigáveis com uma
manutenção adequada do sistema.
Paisagismo
Qualidade do ar
Devido à liberação de gases tóxicos sem tratamento gerados nos RALFs e também alteração
na capacidade do ar ser inodoro, devido a liberação de gases odoríferos oriundo das diferentes
etapas que envolvem principalmente resíduos sólidos.
Saúde ambiental
Contaminação do solo
Devido o risco de contaminar o solo com os resíduos sólidos grosseiros, areia e escuma
durante o armazenamento, transporte e descarte na própria ETE.
Alguns impactos negativos listados já são abordados pela Sanepar, como por exemplo, a
questão de riscos à saúde dentro dos empreendimentos, onde já existe implantada uma
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) para proteção dos operadores.
Para a redução dos impactos adversos e maximização dos impactos positivos recomenda-se as
seguintes medidas:
Contaminação do solo
Liberação de gases
Apesar de da presença das canalizações próprias para tratamento dos gases gerados no
tratamento anaeróbio, há a ausência do dispositivo de queima dos mesmos. É necessário
implantar um dispositivo para que os RALFs não continuem liberando gases sem tratamento e
também promover estudos que verifiquem a viabilidade da aproveitamento do metano (gás
altamente combustível), sendo convertido em energia elétrica de forma a suprir parte da
energia demandada para a manutenção do sistema.
Com relação ao poder calorífico, o biogás quando purificado através de remoção do CO2, se
aproxima dos gases de alto poder calorífico. A equivalência energética, considerando 1 m3 de
biogás em relação a outros materiais combustíveis, representa 0,8 L de gasolina; 1,3 L de
álcool; 2 kg de carboneto de cálcio; 7 Kwh de eletricidade; 2,7 kg de madeira; 1,4 de carvão;
0,3 m3 de butano e 0,4 m3 de propano (SANEPAR, 2005e).
Conclusão 145
7 C ONCLUSÃO
Os dados levantados nas ETEs de Maringá/PR mostram que os sistemas enfrentam sucessivos
problemas operacionais nas unidades de tratamento e falta de manutenção nos equipamentos.
Nas outras ETEs, o principal problema verificado nos RALFs foi com o desprendimento da
lona de PVC, formando uma camada de escuma na parte superior dos reatores.
Com a ausência do filtro biológico, a ETE 2 não apresentou capacidade regular de remoção de
nutrientes e matéria orgânica, fazendo com que as concentrações de poluentes no esgoto
aumentassem ao passar pelo tratamento anaeróbio e posteriores unidades de tratamento já
prejudicadas com o excesso de lodo. A ETE 1 e ETE 3 também não mostraram eficiência na
remoção de poluentes, apresentando concentrações de nutrientes e material orgânico
superiores no esgoto tratado se comparado ao da ETE 2.
O estudo econômico da ETE 2 mostrou que dos R$ 3.679.396,36 reais aplicados na ampliação
da estação, R$ 1.566.527 reais foram destinados a unidades que deixaram de funcionar, que
foram retiradas mas poderiam continuar sendo utilizadas, que não estão sendo utilizadas para
o objetivo inicial, que apresentam problemas operacionais constantes e que necessitam de
manutenções periódicas, elevando ainda mais esse custo.
Com relação aos impactos ambientais estudados nas 3 ETEs, o meio que mais foi afetado
pelos impactos negativos foi o meio antrópico seguido do meio físico. Cabe ressaltar que a
maioria dos impactos observados é indireta, ou seja, estão ligados à oscilação da eficiência do
Conclusão 146
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