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Escola de Engenharia
outubro de 2013
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Dissertação de Mestrado
Mestrado Integrado em Engenharia Biológica
outubro de 2013
“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
Antoine-Laurent de Lavoisier
v
Agradecimentos
Gostaria de expressar aqui os meus mais sinceros agradecimentos a todas as
pessoas que acompanharam a realização desta dissertação:
Às Engª Liliana Santos e Engª Vânia Ferreira pela disponibilidade, pelo apoio e
pelo esclarecimento de dúvidas ao longo do trabalho.
vi
Resumo
“Controlo analítico da ETAR de Serzedo e avaliação do desempenho da instalação”
vii
viii
Abstract
The control of the process parameters is critical to the operational management of
WWTP (Wastewater treatment plant). The analysis of the analytical parameters is part of a
set of tools for the identification of malfunctions in the treatment processes.
This research project has been focused on performing tasks at the level of internal
analytical control of the Serzedo WWTP, from the company Águas do Noroeste S.A., and
the development of a study to evaluate the performance of the treatment process by
analyzing operational and microbiological parameters. The microbiological analysis
performed at the WWTP mixed liquor included the analysis of protozoan communities and
small metazoans, using the microscopic observation and subsequent determination of the
Sludge Biotic Index (SBI). Additionally, filamentous bacteria were identified, using
classical methods based on microscopic observation of morphological characteristics and
reaction to staining.
In the analysis of the operating parameters it was found that the wastewater influent
to the WWTP showed a high readily biodegradable organic fraction, and high nutrient
concentrations. During the period under study, the WWTP worked properly regarding the
removal of organic matter, nutrients and solids in agreement with the legislation. The
efficiencies of systems thickening and sludge dewatering were high, but did not reach the
maximum efficiency of the equipment.
From the analysis of the protozoa and small metazoan, 31 taxonomic units have
been identified, were the mobile ciliate were the dominant organisms. The value SBI 5 was
the most common. The dominant filamentous organisms were the type 0041/0675 and 0092.
The filamentous organisms present caused problems in the settling of the biological sludge
in the secondary settling tank, since it was found during the analysis period slurry with low
sedimentation characteristics (sludge volume index higher at 150 ml/g).
In this case study, the determination of the SBI and the identification of protozoa
and metazoan, served as indicators of a possible reduction of the effluent quality. The
identification of the filamentous bacteria was necessary for the determination of causes of
problems in the sludge settling characteristics. However, the WWTP mostly worked
adequately in the removal of pollutant compounds, having the analytical control been
indispensable in their performance evaluation.
ix
x
Índice
Agradecimentos .......................................................................................................................... vi
Resumo ....................................................................................................................................... vii
Abstract ....................................................................................................................................... ix
Índice ........................................................................................................................................... xi
Índice de Figuras ....................................................................................................................... xv
Índice de Tabelas ..................................................................................................................... xvii
Lista de Abreviaturas .............................................................................................................. xix
Capítulo 1. Enquadramento, objetivos e organização da dissertação .................................... 1
1.1.Enquadramento ................................................................................................................... 1
1.1.1.Caracterização da Águas do Noroeste, S.A. ................................................................. 2
1.2.Objetivos ............................................................................................................................. 4
1.3.Organização da dissertação ................................................................................................. 5
Capítulo 2. Revisão bibliográfica ............................................................................................... 7
2.1. O tratamento de águas residuais ......................................................................................... 7
2.1.1. Técnicas de tratamento de águas residuais numa ETAR............................................. 9
2.1.2. Outras técnicas de tratamento aplicadas em ETAR .................................................. 10
2.2. Tratamento biológico por lamas ativadas- vala de oxidação............................................ 12
2.3. Microrganismos em sistemas de lamas ativadas- indicadores de desempenho do sistema
de tratamento ........................................................................................................................... 16
2.3.1. Bactérias .................................................................................................................... 17
2.3.1.1. Disfunções em sistemas de lamas ativadas provocadas por bactérias
filamentosas..................................................................................................................... 18
2.3.1.2. Metodologias de análise de bactérias filamentosas ............................................ 20
2.3.2. Protozoários e metazoários........................................................................................ 21
2.3.2.1. Índice Biótico de Lamas (IBL) ........................................................................... 25
2.4. Monitorização de parâmetros físico-químicos e processuais ........................................... 25
2.4.1. Parâmetros analíticos................................................................................................. 25
2.4.2. Parâmetros processuais ............................................................................................. 32
Capítulo 3. Descrição da estação de tratamento de águas residuais de Serzedo ................. 36
3.1.Obra de entrada e tratamento preliminar ........................................................................... 37
3.1.1. Elevação inicial ................................................................................................... 38
3.1.2. Receção e trasfega de lamas provenientes de fossas sépticas ............................. 39
3.1.3. Sistema de gradagem ........................................................................................... 39
3.1.4. Sistema de desengorduramento/desarenamento .................................................. 40
xi
3.1.5. Correção do pH e medição do caudal .................................................................. 41
3.1.6. Bacia de retenção de descargas pontuais- bacia de emergência .......................... 42
3.2.Tratamento secundário ...................................................................................................... 43
3.2.1. Tanques de contacto- seletor ............................................................................... 44
3.2.2. Reatores biológicos- tratamento por lamas ativadas ........................................... 45
3.2.3. Extração de lamas em excesso ............................................................................ 46
3.2.4. Decantação secundária ........................................................................................ 47
3.2.5. Estação elevatória de recirculação de lamas biológicas ...................................... 48
3.3.Tratamento terciário- remoção de cor ............................................................................... 48
3.3.1. Elevação de lamas flotadas.................................................................................. 50
3.4.Reutilização do efluente tratado ........................................................................................ 51
3.5.Tratamento de lamas em excesso ...................................................................................... 52
3.5.1. Espessamento mecânico de lamas ....................................................................... 53
3.5.2. Desidratação mecânica e transporte de lamas ..................................................... 54
3.5.3. Preparação e doseamento de polielectrólito para espessamento e desidratação .. 55
3.5.4. Armazenamento de lamas desidratadas ............................................................... 55
Capítulo 4. Controlo analítico e processual da instalação de Serzedo.................................. 56
4.1.Controlo analítico e principais parâmetros processuais .................................................... 56
4.1.1. Controlo analítico de campo...................................................................................... 56
4.1.2. Controlo analítico de laboratório ............................................................................... 59
4.1.3.Registo mensal ........................................................................................................... 62
4.2.Fatores para a utilização dos recursos hídricos ................................................................. 63
Capítulo 5. Materiais e Métodos .............................................................................................. 66
5.1. Período e frequência de análise ........................................................................................ 66
5.2. Análise aos parâmetros físico-químicos em laboratório .................................................. 66
5.2.1. Determinação analítica da Carência Química de Oxigénio (CQO) .......................... 67
5.2.2. Determinação analítica da Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5) ..................... 68
5.2.3. Determinação analítica do Azoto total (Ntotal) ........................................................... 68
5.2.4. Determinação analítica da concentração de N-NH4+ ................................................. 69
5.2.5. Determinação analítica da concentração de N-NO3- ................................................. 70
5.2.6. Determinação analítica da concentração do Fósforo total (Ptotal) .............................. 70
5.2.7. Determinação analítica de sólidos ............................................................................. 71
5.2.7.1. Determinação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) e de Sólidos
Suspensos Voláteis (SSV) ............................................................................................... 71
5.2.7.2. Determinação da Matéria Seca (MS) e da Matéria Volátil (MV) em amostras
sólidas e semi-sólidas ...................................................................................................... 72
xii
5.3. Análise microbiológica .................................................................................................... 73
5.3.1. Transporte e conservação das amostras..................................................................... 73
5.3.2. Estudo da comunidade de protozoários e de pequenos metazoários ......................... 74
5.3.2.1. Procedimento para o cálculo do IBL .................................................................. 74
5.3.2.2. Observação microscópica ................................................................................... 76
5.3.3. Estudo das bactérias filamentosas nas lamas ativadas .............................................. 77
5.3.3.1. Coloração de Gram............................................................................................. 78
5.3.3.2. Coloração de Neisser .......................................................................................... 78
5.3.3.3. Observação microscópica ................................................................................... 79
5.4. Tratamento estatístico dos dados...................................................................................... 80
Capítulo 6. Resultados e Discussão .......................................................................................... 81
6.1. Controlo analítico e processual ........................................................................................ 81
6.1.1. Água residual bruta ................................................................................................... 82
6.1.2. Água residual tratada ................................................................................................. 88
6.1.3. Licor misto ................................................................................................................ 93
6.1.4. Decantação secundária e Recirculação de lamas biológicas ..................................... 96
6.1.5.Tratamento de lamas biológicas ................................................................................. 99
6.1.6. Parâmetros processuais ........................................................................................... 101
6.1.7. Eficiências de remoção............................................................................................ 104
6.2. Análise microbiológica ao sistema de lamas ativadas da ETAR de Serzedo ................. 108
6.2.1. Caracterização das comunidades de protozoários e de pequenos metazoários ....... 108
6.2.2. Caracterização das bactérias filamentosas do licor misto da ETAR de Serzedo ..... 114
Capítulo 7. Conclusões ............................................................................................................ 118
Bibliografia .............................................................................................................................. 121
Anexos ...................................................................................................................................... 126
Anexo I. Programa de controlo analítico em laboratório interno .......................................... 126
Anexo II. Procedimentos laboratoriais homologados pela Águas do Noroeste, S.A. ........... 127
Anexo III. Tabela de identificação e contagem de protozoários e de pequenos metazoários 142
Anexo IV. Tabela de caraterização de bactérias filamentosas .............................................. 144
Anexo V. Tabelas de resultados de controlo analítico e processual da instalação ................ 145
Anexo VI. Fotografias dos organismos visualizados durante a análise microbiológica ao licor
misto da ETAR de Serzedo ................................................................................................... 153
xiii
xiv
Índice de Figuras
xv
Figura 22 - Variação das concentrações de SST e de SSV das lamas em recirculação,
durante o tempo de amostragem. .................................................................................... 98
Figura 23 - Representação gráfica da relação SSV/SST ao longo do tempo de análise. 98
Figura 24 - Variação da matéria seca e volátil em amostras de lamas espessadas e
desidratadas durante o período de amostragem realizado. ........................................... 100
Figura 25 - Variação do IVL e da razão A/M ao longo do tempo de análise. .............. 102
Figura 26 - Variação da razão de recirculação e do tempo de residência de sólidos ao
longo do tempo de amostragem. ................................................................................... 102
Figura 27 - Variação da razão CBO/CQO ao longo do período de análise. ................. 103
Figura 28 - Variação das eficiências de remoção de CQO, CBO5 e de SST ao longo do
tempo de amostragem. .................................................................................................. 105
Figura 29 - Variação das eficiências de remoção de N-total e de P-total ao longo do
tempo de amostragem. .................................................................................................. 106
Figura 30 - Variação das taxas de captura de sólidos, no espessamento e desidratação,
ao longo do período de amostragem. ............................................................................ 106
Figura 31 - Abundância dos diferentes grupos de organismos do licor misto da ETAR
de Serzedo ao longo do período de análise, compreendido entre Abril e Agosto. ....... 109
Figura 32-Classe de abundância das bactérias filamentosas identificadas no licor misto
da ETAR de Serzedo, ao longo do período de análise, compreendido entre Abril e
Agosto. .......................................................................................................................... 116
xvi
Índice de Tabelas
xvii
Tabela 20 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados nas amostras de lamas espessadas e desidratadas, durante o mês
de Abril e Agosto de 2012. ........................................................................................... 100
Tabela 21 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
processual, durante o mês de Abril e Agosto de 2012.................................................. 101
Tabela 22 - Sumário dos resultados obtidos, durante o mês de Abril e Agosto de 2012,
nas eficiências de remoção relativos a cada parâmetro de controlo analítico e taxas de
capturas de sólidos. ....................................................................................................... 105
Tabela 23 - Abundância média e frequência das espécies de protozoários e de pequenos
metazoários observados no sistema de tratamento por lamas ativadas da ETAR de
Serzedo durante o período de análise, compreendido entre Abril e Agosto................. 112
Tabela 24. Valores de IBL obtidos ao longo do período de análise, compreendido entre
Abril e Agosto. ............................................................................................................. 113
Tabela 25 - Bactérias filamentosas identificadas nas amostras de licor misto da ETAR
de Serzedo, durante o período de análise. .................................................................... 115
xviii
Lista de Abreviaturas
xix
xx
Capítulo 1. Enquadramento, objetivos e organização da dissertação
1.1.Enquadramento
1
1.1.1.Caracterização da Águas do Noroeste, S.A.
2
O sistema multimunicipal de saneamento é constituído por 5 centros
operacionais: centro operacional do Minho, Lima, Ave, Cávado e Tâmega/Sousa. Na
Figura 1 está representada a distribuição geográfica dos diferentes centros operacionais
[2].
3
As infraestruturas que compõem todo o sistema de saneamento são constituídas
por 103 ETAR, 1415 km de interceptores, 267 estações elevatórias e outros
componentes que satisfazem o funcionamento adequado do sistema. O investimento
total a ser exercido sobre o sistema de saneamento é de 413,3 milhões de euros, o que
vai possibilitar chegar a uma taxa de atendimento de cerca de 88% da população total da
região noroeste [1] [2].
A ETAR de Serzedo, a qual está integrada no sistema multimunicipal de
saneamento da empresa Águas do Noroeste, está localizada no concelho de Guimarães,
mais especificamente na freguesia de Serzedo. Este subsistema entrou em atividade em
Agosto de 2009, e está preparado para servir uma população de aproximadamente
97200 habitantes equivalentes e para tratar um caudal máximo de 14000 m3 por dia de
efluente industrial e doméstico [2].
A instalação de Serzedo serve maioritariamente a população residente no
município de Fafe, englobando ainda parte do concelho de Guimarães (Serzedo) e do
concelho de Felgueiras (Jugueiros), tratando efluentes de origem doméstica e industrial,
com descarga do efluente tratado para o rio Vizela.
O propósito desta infraestrutura é o de efetuar o tratamento do efluente de modo
mais eficiente e contribuir para a uma gestão mais adequada do meio hídrico e para uma
melhoria ambiental contínua.
1.2.Objetivos
4
Pretendeu-se, com a realização deste projeto em ambiente empresarial,
contribuir para o bom funcionamento da ETAR de Serzedo, apostando numa melhoria
contínua do sistema de tratamento das águas residuais, e ainda colaborar para o
desenvolvimento dos estudos sobre a ecologia microbiana de sistemas de lamas
ativadas.
1.3.Organização da dissertação
5
No Capítulo 7 são apresentadas as conclusões dos estudos realizados e as
perspetivas futuras.
6
Capítulo 2. Revisão bibliográfica
Os problemas ambientais têm vindo a aumentar nos últimos anos, aos quais têm
sido motivados pelo aumento demográfico e pelo desenvolvimento da atividade
industrial. A sociedade atual produz diariamente grandes quantidades de resíduos
sólidos, líquidos e gasosos, promovidos pelo crescente consumo dos recursos naturais,
usados para satisfazerem as necessidades correntes. Tudo isto leva a que as perturbações
sobre o meio ambiente, fomentadas pela ação antropogénica, estejam a provocar
mudanças na qualidade do solo, da água e do ar [3].
A sustentabilidade da vida das comunidades atuais está limitada pela existência
de um elemento essencial, a água. Esta está no meio ambiente associada a outros
compostos, podendo a qualidade de um meio hídrico ser determinada pela
caracterização destes compostos. Nesta análise, se a quantidade destas substâncias se
afastarem do que usualmente é verificado, conclui-se, normalmente, que o sistema está
poluído ou contaminado. É desta forma, que a utilização dos recursos hídricos pode
tornar-se impossível para servir as populações e a vida dos organismos aquáticos é
colocada em causa [4].
Uma das causas para a contaminação de um ecossistema aquático é a rejeição
para o meio ambiente de resíduos líquidos produzidos pelo Homem. Os resíduos
líquidos, designados por águas residuais, podem ser classificados de três formas: águas
residuais domésticas, resultantes das atividades domésticas e do metabolismo humano;
águas residuais industriais, que são todos os resíduos resultantes de atividades que não
sejam definidos como águas residuais domésticas nem como águas pluviais e as águas
residuais urbanas, que são as águas residuais domésticas, ou a junção destas com águas
residuais industriais e ou com águas pluviais [5].
Quando a água residual é descarregada para um meio recetor sem ser
previamente sujeita a um processo de tratamento, a interação de alguns dos seus
elementos constituintes, de carácter poluente, com o meio envolvente leva ao aumento
7
dos impactes ambientais. Seguidamente, são apresentados alguns dos problemas
associados à descarga de água residual não tratada [6]:
8
efluente, as suas características quantitativas e qualitativas, as propriedades físico -
químicas e termodinâmicas dos resíduos sólidos resultantes do processo, os custos
associados ao processo de tratamento, o local a implementar o sistema e a qualidade do
efluente final que se pretende obter [7] [8]. Portanto, uma ETAR é composta por uma
variedade de operações e processos de tratamento das águas residuais afluentes, com o
intuito de se obter um efluente final que não danifique o meio recetor. Nas secções
seguintes são descritas, de uma forma generalizada, as diferentes técnicas de tratamento
aplicadas em ETAR.
9
No tratamento secundário são aplicados processos químicos, biológicos e físicos
de forma a remover a maior parte da matéria orgânica biodegradável, em suspensão ou
em solução. Nesta etapa de tratamento pode ocorrer ou não a remoção de nutrientes
como, o azoto e o fósforo [11]. Normalmente, através desta etapa, com um caudal de
entrada contendo uma concentração entre os 50 e os 1000 mg/L de CBO5 pode-se obter
um efluente com uma concentração próxima de 15 mg/L [10]. A precipitação química é
um exemplo de um método químico que é usado em conjunto com o tratamento
biológico para a remoção de fósforo [11]. Os processos do tratamento biológico de um
efluente podem ser: aeróbios, anaeróbios, anóxicos, uma combinação dos anteriores ou
facultativos. Processos aeróbios e anaeróbios ocorrem na presença e na ausência de
oxigénio, respetivamente, e a desnitrificação, no qual ocorre a passagem de nitrato a
azoto gasoso na ausência de oxigénio, é um processo anóxico. Nos sistemas de
tratamento biológico os processos envolventes poder ser de biomassa suspensa e de
biomassa fixa. Num sistema de biomassa suspensa os microrganismos responsáveis pela
conversão da matéria orgânica estão suspensos no meio líquido. O tratamento por lamas
ativadas e a lagunagem são exemplos deste tipo de sistema, os quais atuam na presença
de oxigénio. Pelo contrário, no sistema de tratamento por biomassa fixa os
microrganismos estão fixos a um material inerte. Exemplo deste tipo de sistemas são os
reatores de biodiscos [11].
A fase de tratamento terciário tem como objetivo remover compostos que nos
processos anteriores de tratamento não foram eliminados significativamente, como por
exemplo sólidos suspensos, nutrientes e microrganismos. A filtração é um processo
aplicado nesta fase para a remoção de sólidos suspensos. A desinfeção é um método que
permite a eliminação de microrganismos por ação de agentes químicos e físicos. Outros
processos que também podem ser usados são: a flutuação, ozonização, coagulação
química e floculação, a adsorção (por carvão ativado) e osmose inversa [9]. Estes
métodos têm a desvantagem de serem dispendiosos [10].
10
no ambiente e na saúde pública, sendo, assim, necessário que sejam sujeitas a um
tratamento adequado antes do seu destino final. A maioria das ETAR dispõe de sistemas
de tratamento das lamas produzidas.
As lamas resultam dos sólidos orgânicos e inorgânicos que são removidos do
efluente através de processos de tratamento de águas residuais, como por exemplo em
sistemas de decantação primária e secundária, como também de sólidos gerados em
sistemas de tratamento biológico. Existem vários processos que podem ser usados no
tratamento de lamas. Um dos principais métodos é o espessamento, que consiste em
reduzir o volume de lamas e em as homogeneizar. O espessamento pode ser de vários
tipos: gravítico, por centrifugação, flotação, entre outros. O processo de estabilização é
um passo intermédio típico no tratamento de lamas. Este baseia-se na
redução/eliminação do potencial de putrefação das lamas, na remoção do odor e dos
microrganismos. A estabilização das lamas pode caracterizar-se pelo tratamento por
calor, pela compostagem e pela digestão anaeróbio e aeróbia. A desidratação é um dos
processos finais do tratamento, ao qual se baseia na redução de água existente nas
lamas. Este sistema tem como benefícios o transporte posterior das lamas a um custo
menor e permite facilitar o seu manuseamento. Na desidratação são usados filtros de
prensa, filtros de vácuo, centrifugas e leitos de secagem [12] [13]. Após tratamento as
lamas podem ser aplicadas como corretivo de solos, entre outras aplicações.
Para além dos sistemas de tratamento de lamas, algumas ETAR são dotadas por
infraestruturas de tratamento de gases produzidos no tratamento das águas residuais e
das lamas. Uma dessas infraestruturas são os sistemas de desodorização, pois um dos
inconvenientes de um sistema de tratamento de águas residuais é a produção de odores,
que causa desconforto às populações que habitam próximas do sistema. Estes odores
têm origem na decomposição da matéria orgânica presente nas águas residuais e na
descarga de águas residuais industriais. Nas ETAR o composto odorífico mais comum é
o sulfureto de hidrogénio. Outros tipos de compostos odoríficos também presentes são o
amoníaco e os mercaptanos. Os métodos de tratamento utilizados no tratamento de
odores em sistemas de tratamento de águas residuais podem ser físicos, químicos ou
biológicos. Exemplos desses métodos de tratamento são: a adsorção por carvão ativado,
a precipitação química, os reatores de biofiltros e os processos térmicos [11].
11
tratamento adequados, sendo a sua existência indispensável para a redução dos impactes
ambientes criados pelo Homem.
12
Para além do sistema original proposto por Pasveer outras configurações foram
desenvolvidas ao longo dos anos, sendo uma delas a vala de oxidação do tipo Carrossel.
Esta foi criada com o objetivo de tratar maiores quantidades de efluente, de forma a
ultrapassar por exemplo problemas relacionados com grandes gastos energéticos
durante o processo, que poderiam acontecer se fosse aplicado um tanque de arejamento
convencional em arejamento prolongado para o mesmo efeito [16].
A vala de oxidação do tipo Carrossel (Figura 2) pode operar em arejamento
prolongado. Neste tipo de operação a razão A/M apresenta valores entre 0.05 e 0.15
KgCBO/Kg MLSS.d, o tempo de retenção hidráulico varia entre 20 a 30 horas, a idade
de lamas varia entre 20 a 30 dias, a concentração de MLSS nas lamas varia entre 2000-
6000 mg/L e a eficiência de remoção neste tipo de processo varia entre 90 a 95% [18].
13
No interior do reator, a partir da comunidade microbiana presente (organismos
heterotróficos aeróbios), ocorre a oxidação de uma parte da matéria orgânica a produtos
finais e a outra parte é transformada em nova biomassa, segundo a estequiometria da
Equação 1 [11].
Bactéria
COHNS + O2 + nutrientes CO2 + NH3 + C5H7NO2 + outro produto final Equação 1
(matéria (novas células)
orgânica)
Bactéria
C5H7NO2 + 5O2 5CO2 + 2H2O + NH3 + energia Equação 2
(Células)
Equação 3
Equação 4
Existe uma variedade de fatores que afetam o processo de nitrificação como, o pH, a
temperatura, o tempo de residência de sólidos e os compostos inibidores da taxa de
nitrificação, visto que as bactérias que participam neste processo apresentam uma taxa
14
de crescimento menor que as bactérias heterotróficas. Valores de pH entre 7.2 e 9.0, é o
intervalo de valores mais adequado para a ocorrência deste processo, sendo que para
valores fora desta gama, a velocidade de crescimento dos organismos é menor. O
processo de nitrificação pode ocorrer numa gama ampla de temperaturas, entre os 4 a
45ºC, sendo que o valor ótimo de operação está compreendido entre 35 a 45ºC [22]. Na
zona aeróbia do sistema de lamas ativadas, os organismos intervenientes no processo de
nitrificação e na redução da matéria orgânica são produzidos continuamente, devido à
síntese de matéria biológica, e seguem juntamente com o efluente até aos decantadores
secundários, onde ocorre a separação do material sólido da fase liquida. A recirculação
das lamas biológicas do decantador para o reator biológico permite manter uma
quantidade elevada de biomassa no seu interior.
A remoção final do azoto da água residual dá-se pelo processo de
desnitrificação. Este ocorre num ambiente anóxico, a uma concentração de oxigénio
dissolvido baixa ou nula, em que os microrganismos efetuam a redução dos nitratos ou
nitritos a azoto molecular (Equação 5). Os nitratos e nitritos funcionam como
aceitadores finais na cadeia transportadora de eletrões. Os organismos intervenientes
neste processo são bactérias heterotróficas (utilizam compostos orgânicos como fonte de
carbono), como por exemplo as Achromobacter, Acinetobacter, Agrobacterium, entre
outros. A maior parte das bactérias são facultativas, isto é, tanto utilizam o oxigénio, o
nitrato ou nitrito no processo [21][11]. O intervalo de pH para o qual o processo de
desnitrificação pode ocorrer é de 6.5 a 7.5 e a uma temperatura aproximadamente 30ºC
[22].
orgânico Equação 5
15
A remoção biológica do fósforo neste sistema ocorre pela incorporação do
fósforo existente na água residual na biomassa celular. Em condições aeróbias, a energia
é produzida pela oxidação dos compostos armazenados e o armazenamento de
polifosfato dentro das células aumenta. Posteriormente, os compostos de fósforo são
removidos do sistema maioritariamente no decantador secundário, onde ocorre a
sedimentação das lamas biológicas [11].
O sistema de vala de oxidação apresenta uma razão de recirculação interna entre
a mistura do caudal afluente, as águas residuais e as lamas em recirculação bastante
mais elevada do que outros sistemas de tratamento biológico, devido ao seu fluxo
orbital. Nestes sistemas, ao contrário de uma configuração Plug-flow, a água residual ao
entrar no reator é instantaneamente diluída pelo alto caudal de recirculação interna
inerente ao próprio fluxo orbital. A junção da situação anterior com o elevado volume
de arejamento permite assim, que as pontas hidráulicas e poluentes sejam facilmente
absorvidas, garantindo-se uma qualidade de efluente bastante estável [19][20].
16
alterações de parâmetros processuais, que por consequência podem afetar o desempenho
do sistema.
2.3.1. Bactérias
17
secundário é, assim determinada pela formação adequada de flocos, possibilitando a
separação das lamas biológicas da fase líquida, obtendo-se um efluente final clarificado.
As bactérias filamentosas reproduzem-se por divisão binária, em que as células
formadas permanecem próximas umas das outras originando os filamentos [26].
São vários os parâmetros que podem afetar a atividade das bactérias no interior
de um reator biológico, como por exemplo o pH, temperatura e a concentração de
oxigénio dissolvido no meio. Um outro parâmetro é a razão A/M
(alimento/microrganismo), que para valores altos os organismos não floculam, podendo
haver problemas na sedimentação das lamas, e para valores baixos, o substrato é
limitado, ocorrendo a oxidação total da matéria orgânica, produzindo-se lamas com
boas características para sedimentação no decantador secundário [27].
Portanto, o conhecimento da relação entre parâmetros do processo e as
características das bactérias em sistemas de lamas ativadas é uma ferramenta essencial
para um controlo mais adequado sobre o sistema.
18
referidas anteriormente, como o bulking não filamentoso, os flocos pin-point, o
crescimento disperso, entre outros [29]. Os problemas mais usuais nos sistemas de
sedimentação das lamas biológicas resultam do excessivo crescimento de bactérias
filamentosas, produzindo-se efluentes de baixa qualidade [23].
Portanto, um dos problemas associados ao crescimento excessivo de bactérias
filamentosas nos sistemas de tratamento é o bulking filamentoso. O crescimento
excessivo destes organismos pode provocar a formação de pontes entre flocos ou a
produção de flocos em malha larga. Nestas duas situações ocorrem problemas na
sedimentação das lamas. Os organismos filamentosos que podem provocar este tipo de
disfunções são variados, e torna-se necessário conhecer as características de cada um de
modo a detetar as causas do seu desenvolvimento [30]. A deteção do fenómeno de
bulking pode ser realizada pela análise do Índice Volumétrico de Lamas e pela
observação microscópica dos organismos filamentosos presentes nas lamas ativadas
[23].
Um outro problema que pode ocorrer nos sistemas de lamas ativadas é o
fenómeno de foaming filamentoso. Este deve-se à proliferação de bactérias
filamentosas, como a Microthrix parvicella e os nocardioformes, e manifesta-se na
formação de uma espuma persistente, de cor castanha e viscosa sobre a superfície do
reator biológico e, posteriormente, sobre o decantador secundário [30]. Verificando-se
no reator biológico condições favoráveis ao crescimento de organismos filamentosos,
estes vão flutuar no reator e no decantador secundário, e sendo estes organismos
hidrófobos e a ocorrência de perda de água por evaporação na superfície dos sistemas,
levará a que se forme uma camada de espumas rígidas [23]. Microthrix parvicella é o
organismo responsável pelo fenómeno de foaming filamentoso mais comum na Europa.
19
Tabela 1 - Tipos de organismos e as causas relacionadas com o seu crescimento
excessivo em sistemas de lamas ativadas. Adaptado de [11].
20
através da atribuição de categorias propostas por Jenkins et al., (2004) [29]. Este
método consiste na visualização de um conjunto de flocos de uma amostra do licor
misto, e na posterior atribuição de uma categoria mediante o número de filamentos
presentes em cada floco observado.
A identificação de bactérias filamentosas através da análise microscópica tem
algumas limitações, como a exigência de um técnico com experiência sobre a
identificação das diferentes bactérias filamentosas e o facto de, por vezes, haver
alterações morfológicas em alguns organismos filamentosos em determinadas condições
ambientais [27].
21
Em sistemas de tratamento de águas residuais os protozoários podem melhorar a
qualidade do efluente pela predação das bactérias dispersas no licor misto, como
também dos seus agregados. Constata-se que a inexistência de protozoários ciliados no
interior do reator biológico, o efluente tratado caracteriza-se por uma elevada CBO e
por alta turbidez [34]. Madoni, (1994) [35], classificou os ciliados bacterívoros em três
grupos funcionais, com base no seu comportamento e modo de alimentação:
Figura 3 - Rede trófica num sistema de tratamento de águas residuais por lamas
ativadas. Adaptado de [36].
22
O crescimento dos organismos predadores é limitado pela presença das suas
presas. Por outro lado, o crescimento dos decompositores é dependente da quantidade e
qualidade de material orgânico presente no licor misto do sistema de tratamento [33].
Desde a fase de arranque de um sistema de tratamento até à fase de
estabilização, existem três fases diferentes:
23
físico-químicas e processuais do sistema de tratamento, pode ser usada como um
instrumento de avaliação de desempenho das instalações [27].
24
2.3.2.1. Índice Biótico de Lamas (IBL)
O Índice Biótico de Lamas foi proposto por Madoni em 1994 [35], e foi
concebido para monitorizar o desempenho de sistemas de tratamento de lamas ativadas.
Este índice baseia-se em dois princípios: os grupos da microfauna modificam-se
relativamente às condições operacionais e ambientais da instalação e a densidade celular
e a diversidade de organismos diminui à medida que a eficiência do sistema baixa.
Uma das vantagens deste método é que a qualidade das lamas ativadas é definida
através de uma classificação numérica, permitindo ao técnico que este compare a
qualidade biológicas das lamas ao longo do tempo. Este índice foi criado com o objetivo
de avaliar a performance do reator biológico, e não revela qualquer disfunção que possa
ocorrer no decantador secundário [36].
25
do efluente nesse momento as representadas pela amostra. Uma amostra é designada
como composta quando a amostragem não é imediata, isto é quando se prolonga por um
período de tempo mais longo, em que a amostra representa as características médias do
efluente que aflui ao local durante esse período de tempo [19].
A seguir são descritos os diferentes parâmetros analíticos que são avaliados,
normalmente, num sistema de tratamento, expondo a importância da necessidade da sua
análise.
pH
26
orgânica e de azoto, com o crescimento dos organismos verifica-se uma redução do
valor do pH, devido à libertação de metabolitos ácidos, como por exemplo de ácidos
orgânicos. Por outro lado, o valor de pH pode ser elevado devido à atividade dos
organismos desnitrificantes, pois a ocorrência do processo de desnitrificação permite
repor grande parte da alcalinidade removida durante o processo de nitrificação, como já
referido anteriormente [39]. Na decantação secundária, a análise ao pH serve como
indicador de eventuais disfunções, podendo ocorrer processos de nitrificação ou
desnitrificação. À saída de uma instalação de tratamento, o pH do efluente final deve
obedecer aos valores limite de emissão considerados pela legislação.
Temperatura
27
A análise a este parâmetro permite ainda avaliar o estado do funcionamento de um
sistema de arejamento.
Redox
Condutividade elétrica
Sólidos
29
de água residual que é retida no filtro. Parte dos SST, cerca de 2/3, são sólidos de
natureza orgânica, sendo estes designados por sólidos suspensos voláteis (SSV), e os
restantes são sólidos inorgânicos ou minerais, designados por sólidos suspensos fixos
(SSF). A matéria orgânica volatiliza quando submetida à temperatura de 550ºC. Por
outro lado, a matéria inorgânica ou mineral a essa mesma temperatura mantem-se
inalterável, permanecendo sob a forma de cinzas. Os sólidos suspensos podem servir,
mais rapidamente, de indicação relativamente à carga poluente de uma água residual
[37] [40]. Os valores dos diferentes parâmetros variam de acordo com a amostra em que
são analisados. Para uma amostra de água residual municipal o valor dos SST pode
variar entre 120 a 370 mg/L [11]. A determinação da concentração de biomassa presente
num reator biológico de um sistema de lamas ativadas, pode ser realizada através da
análise dos sólidos suspensos voláteis. Este parâmetro é muito utilizado para
acompanhar o crescimento da biomassa num sistema de tratamento biológico, visto que
a sua medição é simples e é requerido apenas um período de tempo curto para análise. O
valor dos SSV de uma amostra não só indica a quantidade de biomassa existente, como
também de outras partículas orgânicas igualmente presentes. As águas residuais podem
conter uma certa quantidade de SSV não biodegradáveis e possivelmente os SSV do
afluente podem ser degradados durante o processo de tratamento. Estes sólidos são
também quantificados juntamente com a biomassa, na medição do valor de SSV de uma
amostra de efluente. Todavia, a medição dos SSV tem servido como um indicador da
produção de biomassa e fornece uma medida útil de sólidos presentes num reator
biológico [11]. Portanto, para o bom funcionamento do tratamento biológico num
sistema de lamas ativadas a concentração da biomassa no interior do reator deve ser
mantida num valor ótimo, podendo para tal, se proceder à variação do caudal de
recirculação e do caudal de purga. A medição dos SST e SSV numa amostra de lamas
em recirculação permitem avaliar a fração de sólidos de natureza orgânica que estão a
ser alimentados ao reator. A recirculação das lamas provenientes do decantador
secundário é assim um fator importante para garantir a concentração desejada de
biomassa no interior do reator biológico [11]. A análise aos sólidos de uma amostra à
saída e à entrada do decantador secundário permitem avaliar a eficiência do tratamento
que ocorre nesta etapa. O tratamento de lamas biológicas também é avaliado quanto ao
seu funcionamento, a partir da determinação da concentração de sólidos das amostras
nos vários pontos deste processo. O funcionamento dos sistemas de espessamento e
desidratação pode ser avaliado pela análise dos SST das escorrências resultantes dos
30
processos, visto que o principal objetivo destes tratamentos é a remoção da fração
líquida da lama biológica para diminuição do seu volume [11]. Os valores de matéria
seca e volátil de amostras de lamas em excesso, espessadas e desidratadas podem ser
também obtidos. A análise à eficiência do tratamento de lamas de uma ETAR passa pela
determinação destes parâmetros e posterior cálculo das taxas de remoção (ou captura)
de sólidos para cada equipamento. A concentração de sólidos suspensos na amostra de
efluente final deve cumprir a legislação aplicável, procedendo-se à análise em
laboratório para controlo deste parâmetro.
31
ativadas com remoção de nutrientes é importante determinar as concentrações dos
diferentes compostos de azoto e de fósforo presentes nas amostras de água residual.
Razão SSV/SST
Razão de recirculação
32
pode ser determinado através de balanços de massa ao decantador secundário ou por
balanços de massa ao reator biológico [11].
Equação 6
Equação 7
33
taxa de crescimento específica dos microrganismos. O controlo da idade das lamas pode
ser realizado a partir da variação do caudal de purga de lamas. Quando a idade das
lamas é baixa (inferior a 5 dias), indica que as taxas de crescimento dos microrganismos
são altas. Por outro lado, quando a idade das lamas é alta (maior que 15 dias) significa
que a taxa de crescimento dos microrganismos é baixa, característico de sistemas que
operam em arejamento prolongado [22]. A idade das lamas tem bastante influência na
composição da microfauna de um sistema de lamas ativadas [39].
Razão CBO/CQO
Equação 8
34
0.3 mgCBO/mgSST.dia) a quantidade de substrato presente no meio é limitado.
Portanto, os microrganismos na presença de uma baixa quantidade de substrato entram
na fase de respiração endógena, metabolizando as suas próprias reservas celulares para
produção de energia. Com esta fase a eficiência do tratamento da água residual pode ser
maior, devido ao consumo de toda a matéria orgânica presente no meio [22].
35
Capítulo 3. Descrição da estação de tratamento de águas residuais de
Serzedo
36
Tabela 3 - Dados de base de dimensionamento do sistema de tratamento da ETAR de
Serzedo. Adaptado de [19].
38
reator biológico e a descarga de fundo e de superfície da bacia de emergência. Estes
efluentes são monitorizados por medidores de caudais.
No edifício correspondente à obra de entrada e ao tratamento preliminar estão
presentes equipamentos associados à receção de trasfega de lamas das fossas sépticas,
equipamentos para a gradagem (três grades de limpeza manual, dois
tamisadores/compactadores e um parafuso transportador de gradados), três sopradores
para o desengorduramento/desarenamento, um classificador de areias e um escumador
[19][20].
39
lavagem dos gradados e o respetivo transporte. Este equipamento está montado na
diagonal, o que permite uma maior eficiência na redução da matéria flutuante ou em
suspensão. Durante a operação do sistema, pode-se originar uma perda de carga devido
à acumulação progressiva dos sólidos no interior do tambor rotativo, com uma malha de
aço inox, originando uma elevação lenta do nível, o que vai acionar o parafuso raspador.
Este raspador vai recolher e descarregar os resíduos por gravidade para uma zona de
receção da alimentação do parafuso transportador central. Ao longo do transporte dos
resíduos, estes são compactados e desidratados até um teor de sólidos de 40%.
A malha de 5 mm e o tipo de tambor rotativo que constitui o tamisador,
conferem a este uma elevada eficiência na remoção dos vários materiais que
caracterizam as águas residuais. Com o objetivo de não se remover excessivamente
carga orgânica nesta etapa de tratamento, está instalado um equipamento adequado para
a lavagem automática dos gradados recolhidos.
Os gradados removidos são posteriormente recolhidos em dois contentores de
1100 L de capacidade. As escorrências resultantes da compactação e lavagem são
encaminhadas graviticamente para o canal de gradagem.
Existe um canal análogo e paralelo aos canais anteriores, constituído por uma
grade manual grossa, para a necessidade de se efetuar by-pass aos canais de gradagem
mecânica.
Estão instaladas no sistema comportas motorizadas, permitindo que o
acionamento automático das comportas em função do caudal afluente garanta
velocidades de aproximação nos canais de gradagem. Estas não deverão ser inferiores a
3 m/s, para que não ocorra deposição de areias [19][20].
O sistema que compõe esta etapa de tratamento tem por objetivo a prevenção de
determinados problemas nas operações e processos seguintes, como o desgaste dos
equipamentos (grupos eletrobomba, agitadores, etc.), a acumulação de areias nos vários
órgãos, problemas na etapa do tratamento biológico, entre outros. Este sistema é
composto por dois órgãos com desenvolvimento longitudinal, com arejamento para se
efetuar a lavagem das areias e para a flutuação de óleos e gorduras.
40
Os órgãos possuem uma ponte raspadora dupla que funciona em contínuo,
constituída pelo material de raspagem de superfície, necessária à remoção de óleos e
gorduras, e pelo material de raspagem de fundo, para a remoção de areias. O efluente
resultante sai por um deflector, que se encontra a jusante destes órgãos, e de seguida
para um descarregador.
O sistema de arejamento é constituído por difusores de membrana de ar
comprimido, de bolha fina, instalados a 30 cm do fundo dos tanques. O ar comprimido é
produzido a partir de três sopradores, providos de canópias de insonorização, que estão
instalados no edifício de tratamento preliminar.
No fundo dos órgãos de tratamento são depositadas as partículas de areias mais
densas, que são arrastadas para uma zona mais a montante do órgão, e posteriormente
são extraídas por duas bombas centrífugas submersíveis e são conduzidas até um
classificador de areias. Neste equipamento, a areia e a água misturadas acumulam-se
numa zona posterior, constituído por um extrator sem-fim que eleva a areia, em que esta
depois de lavada com jatos de água, para a remoção da matéria orgânica, é arrastada e
descarregada até um dos dois contentores de recolha. Estes contentores são do tipo
multibenne de capacidade de 10 m3 e as águas de lavagem são encaminhadas de novo
para a linha de tratamento da fase líquida.
Nos órgãos os óleos e gorduras são diferenciados da restante fase líquida por
flutuação, sendo posteriormente arrastados pelo raspador de superfície para uma caleira
de recolha que está instalada mais a jusante do órgão, sendo de seguida encaminhados
graviticamente para um poço de bombagem. Este é comandado por bóias de nível e tem
agitação mecânica, e os flotantes são elevados posteriormente por um grupo
eletrobomba submersível para um concentrador mecânico de gorduras. Num contentor,
semelhante ao das areias de 10 m3, são armazenados os concentrados. A água resultante
do processo de separação é reintroduzida graviticamente no processo de tratamento da
fase liquida [19][20].
41
carbono para um tanque, com profundidade e volume adequados de forma a permitir
uma dissolução eficiente do gás injetado.
A injeção de dióxido de carbono é feita através de uma grelha difusora colocada
no fundo do tanque de neutralização, estando este localizado a jusante do sistema de
desengorduramento/desarenamento, provido de agitação mecânica em funcionamento
continuo. O sistema instalado que determina o fornecimento e o armazenamento de
dióxido de carbono funciona automaticamente. A dosagem do gás é controlada a partir
do valor lido de pH no medidor que está instalado no tanque de neutralização. Todo este
sistema de fornecimento é constituído por vários equipamentos, designadamente por um
reservatório criogénico, um gaseificador, por uma rede de distribuição do gás, por um
quadro automático de regulação e injeção do gás e por um sistema de injeção direta
através da grelha difusora que se encontra instalada no interior do tanque.
Nesta etapa há possibilidade de se fazer by-pass ao tratamento biológico, através
do fecho de uma válvula que alimenta o medidor de caudal, sendo o efluente
encaminhado para a bacia de emergência. Com este by-pass é possível se proceder a
operações de manutenção do medidor de caudal [19][20].
42
Quando se esgota a capacidade da bacia de emergência é utilizado um trop-plein
com ligação à câmara de aspiração. Em último recurso, se esgotar o volume tampão da
câmara, é efetuada a descarga no meio recetor, através de um trop-plein da elevação
inicial.
As águas residuais presentes no interior da bacia são homogeneizadas a partir de
um agitador submersível. Estas devem regressar ao esquema de tratamento de forma
doseada, de acordo com uma caracterização analítica adequada. Para o escoamento do
efluente existe uma descarga de fundo com uma ligação gravítica à câmara dos
parafusos de Arquimedes [19][20].
3.2.Tratamento secundário
43
3.2.1. Tanques de contacto- seletor
44
3.2.2. Reatores biológicos- tratamento por lamas ativadas
45
No reator biológico são sempre garantidas as condições mínimas de agitação,
estando instalados, em cada reator, 4 agitadores submersíveis do tipo “Banana Blade”.
Estes agitadores garantem uma velocidade mínima de escoamento de efluente (0.28
m/s) na vala de oxidação.
A recirculação das lamas biológicas e a entrada do caudal de afluente para o
reator é efetuada num dos canais não arejados, permitindo fornecer a matéria orgânica
necessária aos processos de desnitrificação.
Para a instalação de Serzedo foi estabelecido um valor de 0.35 kgMLSS/KgCQO
removida, para a produção de lamas biológicas em excesso. As lamas flotadas,
produzidas no tratamento terciário, são encaminhadas para o reator e são posteriormente
extraídas em conjunto com as lamas biológicas.
Em cada reator está instalado uma válvula manual, de descarga de fundo com
ligação à elevação inicial.
O efluente dos reatores biológicos segue para as caixas de repartição, onde o
efluente é encaminhado para os decantadores secundários [19][20].
46
espessamento, pode ser determinado pelo valor obtido da sonda referida com o caudal
de lamas em excesso [19][20].
47
3.2.5. Estação elevatória de recirculação de lamas biológicas
48
O presente tratamento para remoção de cor do efluente, que foi proposto em
alternativa ao processo físico-químico e decantação lamelar sugerido inicialmente,
apresenta bastantes aspetos positivos, tais como os custos de exploração, que são
menores em comparação com o processo de remoção de cor por tratamento físico-
químico, é flexível e fácil de operar e de intervir, promove a redução de SST e
tensioativos por flotação, permite a redução da CQO, o efluente final apresenta uma alta
qualidade e com teores elevados de oxigénio dissolvido e permite a desodorização do
efluente final.
Esta etapa é composta por 2 linhas de tratamento, cada uma constituída por 1
flotador, 1 saturador e 1 (+1 de reserva) hidroinjectores associados. O gerador de ozono
tem capacidade de produzir gás para as duas linhas e associado a ele está todo o
equipamento de armazenagem de oxigénio líquido, necessário à produção do ozono.
O fluxo hidráulico do efluente é gravítico desde a sua saída dos decantadores
secundários até à caixa de descarga para o meio hídrico.
Os flotadores são constituídos por um módulo interno cilíndrico, em que no
fundo deste é injetado o efluente saturado com ar. A função deste módulo interno é o de
efetuar a mistura do ar com o efluente. Portanto, o efluente entra tangencialmente no
órgão central do flotador, a uma altura de cerca de um metro do fundo, sendo que
abaixo da entrada do efluente está instalada uma rede de hidroinjectores de efluente
tratado saturado de ar, tornando o processo de flotação mais eficiente. O efluente entra
no módulo interno ainda com alguns sólidos provenientes da decantação secundária, e
estes são posteriormente arrastados até à superfície quando entram em contacto com a
corrente de efluente recirculado e saturado com ar, dando-se assim o processo de
flotação.
A saturação de uma fração de efluente tratado com ar comprimido é realizada
por um sistema constituído por 1 (+1) electrobombas, 1 injector ar/efluente tratado e 1
saturador. Este último equipamento é constituído por efluente tratado saturado com ar
até um determinado nível, estando o restante espaço reservado ao ar. As condições de
pressão do saturador promovem a manutenção do ar no efluente. As características
hidráulicas da electrobomba, associadas ao desenho específico do injetor, fazem com
que este aspire constantemente o ar presente no interior do saturador. O efluente tratado
saturado de ar, sem cor, segue para os hidroinjectores situados nos módulos internos.
O efluente saturado de ar é distribuído pelos módulos internos, misturado com o
efluente derivado da decantação secundária, verificando-se a subida das partículas em
49
suspensão. A ponte raspadora de superfície colocada em cada órgão de tratamento
conduz os SST separados neste processo para o poço de lamas flotadas.
O efluente não tratado desce entre os módulos internos e a parede dos flotadores,
entrando em contacto com o ozono na parte inferior destes órgãos, iniciando-se assim o
processo de descoloração. A introdução de ozono nos órgãos é realizada através da
dissolução de ozono pretendido numa corrente de recirculação interna de efluente
tratado. Os compostos que conferem cor ao efluente são constituídos por moléculas
complexas não biodegradáveis, sendo muitas das vezes de forma cíclica e com ligações
duplas fortes. Portanto, o ozono quando entra em contacto com o efluente quebra as
ligações das moléculas, formando-se, moléculas mais pequenas, sem características de
corante.
A saída do efluente é tangencial e é realizada pelo fundo dos órgãos. O efluente
sem cor segue para uma caixa onde é parcialmente saturado.
Devido ao sentido de rotação do efluente no interior dos equipamentos, os
flotados são conduzidos naturalmente para a parte central destes, em que um sistema
composto por duas pás raspadoras diametralmente opostas os encaminha para o
descarregador e deste para a estação elevatória, a partir da qual são recirculados para o
tratamento biológico.
Caso se verifique que não seja necessária a alimentação com o ozono, o sistema
é todo desativado, ou apenas pode funcionar o processo de flotação para a remoção dos
SST e de tensioactivos [19][20].
50
3.4.Reutilização do efluente tratado
Uma parte da água tratada é reutilizada, designada água de serviço, por exemplo
para a lavagem dos tambores de espessamento e das centrífugas, para as diluições das
soluções de polímero, rega dos espaços verdes, para a lavagem de pavimentos e
equipamentos, entre outros. Na Figura 7 está representado o esquema de tratamento
aplicado para a reutilização do efluente tratado.
51
Para a lavagem dos tambores de espessamento há dois grupos eletrobomba (1+1)
que utilizam a água tratada filtrada armazenada no reservatório.
No interior do edifício referido está instalado um grupo hidropressor, que está
associado ao tanque de água de serviço, que assegura o caudal e a pressão necessários
em qualquer ponto de utilização de água de serviço na ETAR. A seguir ao grupo
hidropressor, antes de ser fornecida aos pontos de utilização, a água de serviço é
desinfetada num reator ultravioleta tubular [19][20].
52
3.5.1. Espessamento mecânico de lamas
53
3.5.2. Desidratação mecânica e transporte de lamas
54
3.5.3. Preparação e doseamento de polielectrólito para espessamento e
desidratação
55
Capítulo 4. Controlo analítico e processual da instalação de Serzedo
Nas secções seguintes, são descritas as formas de controlo analítico que são
realizadas na ETAR de Serzedo, os principais parâmetros de controlo processual e os
fatores para a utilização dos recursos hídricos para a descarga da água residual.
56
utilizados são importantes para o controlo ao nível de custos na ETAR. O controlo de
caudais é realizado a partir dos registos dos valores dados pelos totalizadores
localizados em vários pontos da instalação, sendo indispensáveis para a determinação
dos caudais totais e médios de efluente nas várias fases de tratamento. Para o controlo
analítico são recolhidas amostras de efluente em vários pontos do processo, procedendo-
se de seguida à determinação de parâmetros analíticos nessas amostras. Na Tabela 4,
estão apresentados os tipos de parâmetros analíticos que são determinados e registados
diariamente pelos técnicos, nas amostras recolhidas nas diferentes etapas de tratamento.
57
Tabela 4 - Parâmetros analíticos determinados nos diferentes locais de amostragem na
instalação [42].
*
Amostras pontuais ** Amostras compostas ***Registo do valor dado pelo medidor portátil e pelo medidor fixo,
sendo os restantes parâmetros determinados apenas pelo uso de medidor portátil e o valor de V 30 é determinado
recorrendo ao método volumétrico.
58
Tabela 5 - Limites de alerta de cada parâmetro analítico para cada amostra a analisar na
ETAR de Serzedo [2].
59
Tabela 6 - Parâmetros analíticos a determinar em laboratório interno para os diferentes
pontos de amostragem do sistema de tratamento [2].
60
Tabela 7 - Limites de alerta de cada parâmetro analítico para cada amostra a analisar na
ETAR de Serzedo [2].
Unidade de Limite de
Local de amostragem Parâmetro analítico
medida alerta
Carência química de mg O2 /L > 1200
oxigénio
Carência bioquímica de mg O2 /L > 400
oxigénio
Sólidos suspensos totais mg/L > 750
61
4.1.3.Registo mensal
O registo mensal faz parte das diversas tarefas que são realizadas na ETAR de
Serzedo. Esta tarefa baseia-se no registo de parte dos valores obtidos nas determinações
dos parâmetros analíticos nos vários pontos de amostragem e no registo dos valores de
parâmetros processuais essenciais à caracterização do sistema de tratamento. O registo
dos vários dados é realizado na tabela de Registo Mensal referente a cada mês do ano
respetivo, apenas para os dias em que são realizadas as análises laboratoriais físico-
químicas no laboratório da ETAR. Esta tabela é constituída pelos tipos de parâmetros
analíticos a registar nos vários dias do mês, pelos limites de alerta para cada parâmetro,
pelas eficiências de tratamento obtidas em relação a determinados parâmetros, pelos
caudais a registar de algumas etapas do processo e pelos parâmetros processuais obtidos
a partir dos dados de caudais, de dados resultantes do controlo analítico de laboratório e
de campo e do volume do reator biológico [41]. Para os parâmetros processuais estão
estipulados valores limite de alerta. Na Tabela 8 são apresentados os parâmetros
processuais e os respetivos valores limites de alerta, que compõem a tabela de Registo
Mensal.
62
4.2.Fatores para a utilização dos recursos hídricos
63
Tabela 9 - Programa de autocontrolo estabelecido, na licença de descarga emitida pela
ARH do Norte [43].
Frequência
Local de Tipo de
Parâmetro Método analítico de
amostragem amostragem
amostragem
pH (escala de
Saída Electrometria. Quinzenal Simples
Sorensen)
Amostra homogenizada, não
CQO (mg/L
Saída filtrada e não decantada. Método do Quinzenal Composta
O2)
dicromato de potássio.
Amostra homogenizada não filtrada
e não decantada. Determinação do
oxigénio dissolvido antes e após
CBO5 (mg/L
Saída cinco dias de incubação a 20ºC +/- Quinzenal Composta
O2)
1ºC, na ausência total de luz.
Adição de um inibidor de
nitrificação.
Filtração de uma amostra
representativa através de um filtro
Total de de membrana de 0.45µm. Secagem
partículas a 105ºC e pesagem. Centrifugação
Saída sólidas em de uma amostra representativa Quinzenal Composta
suspensão (durante pelo menos 5 minutos a
(mg/L) uma aceleração média de 2800g a
3200g). Secagem a 105ºC e
pesagem.
Cor (vivível Método fotométrico, após filtração
Saída na diluição simples, com padrões de escala Pt- Quinzenal Composta
de 1:20) Co.
Azoto total Espectrometria de absorção
Saída Quinzenal Composta
(mg/L N) molecular.
Fósforo total Espectrometria de absorção
Saída Quinzenal Composta
(mg/L P) molecular.
Caudal
Saída - Mensal Simples
(m3/mês)
64
Tabela 10 - Parâmetros analíticos e respetivos valores limite de emissão, segundo o
estipulado na licença de descarga [43].
65
Capítulo 5. Materiais e Métodos
66
5.2.1. Determinação analítica da Carência Química de Oxigénio (CQO)
67
5.2.2. Determinação analítica da Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5)
68
gama de medição de 20-100 mgN/L e para 5-40 mgN/L, respetivamente. Os
procedimentos descritos a seguir foram baseados nos manuais de instruções dos
respetivos kits.
Para a análise às amostras com uma provável concentração elevada de azoto
total utilizou-se o kit LCK 338. Inicialmente, verteu-se, cuidadosamente, com uma
micropipeta 0.2 mL de amostra para um tubo de vidro, 2.3 mL da solução A e 1 pastilha
do componente B. De seguida, colocou-se de imediato o tubo no termoreator a 100ºC,
durante uma hora. Após a digestão, colou-se o tubo num suporte para arrefecer. Depois
de arrefecido, adicionou-se uma unidade do reagente C ao tubo, fechou-se e agitou-se o
tubo. Seguidamente, retirou-se com a micropipeta 0.5 mL da solução do tubo e verteu-
se para uma solução contida numa cuvette do kit. Por fim, retirou-se 0.2 mL da solução
D e inseriu-se na cuvette e fechou-se cuidadosamente e agitou-se. Passados 15 minutos,
limpou-se o exterior da cuvette com papel absorvente e leu-se no espectrofotómetro a
respetiva concentração de azoto total. Para a análise às amostras com prováveis
concentrações baixas de azoto total utilizou-se o kit LCK 238, e efetuou-se o mesmo
procedimento que o anterior, com alteração no volume da amostra que foi de 0.5 mL e
no volume do reagente A que foi de 2.0 mL. É de referir que os reagentes A, B, C e D e
as cuvettes estão inseridos nos respetivos kits.
69
5.2.5. Determinação analítica da concentração de N-NO3-
A concentração (em mg/L) do fósforo total foi analisada a partir dos kits
laboratoriais (Hach Lange) LCK 350 (gama de medição 2.0-20 mg/L) e LCK 348
(gama de medição 0.5-5.0 mg/L). Nas amostras com uma provável concentração de
fosforo total elevada, utilizou-se o kit com a gama de medição mais alta. Nesta análise,
retirou-se inicialmente, cuidadosamente, a pelicula de papel de alumínio, com uma
pinça, da covette do kit. De seguida, abriu-se o tubo pela tampa roscada e pipetou-se
para o seu interior 0.4 ml da amostra. Fechou-se de seguida o tubo, agitou-se e colocou-
se no termoreator a 100ºC, durante uma hora. Terminado a digestão colocou-se o tubo a
arrefecer num suporte para tubos. Seguidamente, colocou-se 0.5 ml da solução B na
cuvette, fechou-se o tubo com uma outra tampa C, agitou-se vigorosamente e deixou-se
repousar durante 10 minutos a solução e voltou-se a agitar. Por fim, colocou-se a
cuvette no espectrofotómetro para leitura. Nas amostras com uma provável
concentração menor de fosforo total, aplicou-se o kit com a gama mais baixa de
70
medição. Para estas amostras, o procedimento foi igual ao anterior, variando apenas no
volume da amostra aplicado (0.5mL) e no volume da solução B (0.2 mL). Os reagentes
B e C e a cuvette encontravam-se nos kits. O procedimento descrito foi baseado nos
manuais de instruções dos kits.
71
Tabela 12 - Volumes de amostras utilizados na determinação analítica de SST e de SSV.
SST (mg/L) =
P2 P11000 1000 (Equação 9)
Vamostra
SSV (mg/L) =
P2 P31000 1000 (Equação 10)
Vamostra
72
horas. No dia seguinte, retiraram-se os cadinhos da estufa e colocaram-se a arrefecer no
excicador à temperatura ambiente e pesaram-se (A). Incinerou-se de seguida o resíduo
obtido numa mufla a 550 50ºC, durante uma hora. No final, retiraram-se os cadinhos,
deixaram-se a arrefecer no excicador e pesaram-se (D). Este procedimento foi descrito
de acordo com as instruções de trabalho impostas pela empresa.
% Matéria Seca =
A B 100 (Equação 11)
CB
% Matéria Volátil =
A D 100 (Equação 12)
A B
73
necessidade da utilização, neste caso, de um arejador portátil é assim, devida ao facto da
actividade biológica dos organismos ser elevada, que por consequência o oxigénio
dissolvido é todo consumido, para a realização das atividades metabólicas dos
microrganismos, durante um curto período de tempo, entre 20 a 30 minutos. Depois
deste período, pode-se verificar alterações profundas na comunidade microbiana, bem
como na fisiologia do sistema. Adicionalmente, não foi necessário recorrer-se à
refrigeração das amostras, visto que o tempo desde recolha e a análise de bactérias
filamentosas não foi superior a 8 horas. Durante a análise das amostras no laboratório,
estas eram arejadas.
O método utilizado para o cálculo do índice biótico de lamas foi o proposto por
Madoni em 1994 [35], que se baseia na diversidade e abundância dos organismos que
compõem um sistema de lamas ativadas e nas diferentes suscetibilidades que alguns
grupos demonstram em relação aos parâmetros físico-químicos que definem o processo.
Com este método, define-se a qualidade biológica das lamas através de valores
numéricos estipulados. O índice é determinado a partir de uma tabela de duas entradas
(Tabela 13), em que no lado esquerdo da tabela encontra-se duas colunas, uma referente
aos diferentes grupos dominantes e a outra à densidade total da microfauna (maior ou
menor que 106 indivíduos/ litro), e do lado direito encontram-se quatro classes relativas
ao número de espécies no sistema (S), excluindo os flagelados, e o número de pequenos
flagelados (F), determinado pela utilização da câmara de Fuchs-Rosenthal. Ao longo da
tabela, na vertical, verifica-se um decréscimo da qualidade biológica das lamas. Caso se
74
verifique uma situação em que dois grupos da microfauna tenham a mesma dominância
na amostra, escolhe-se o grupo que ocupa a posição mais baixa na tabela. O valor do
índice é então determinado pela interceção da coluna e linhas selecionadas, obtendo-se
um valor compreendido entre 0 e 10. Esta tabela permite assim, atribuir valores de 0 a
10 à qualidade das lamas, com base nas diferentes sensibilidades demostradas por cada
grupo da microfauna às condições ambientais e o efeito que estas produzem na
densidade e na abundância das espécies [30].
Os valores do IBL são, posteriormente, agrupados em quatro classes que
caracterizam a qualidade das lamas (Tabela 14).
Tabela 13 - Tabela de duas entradas para a determinação do IBL (S: número de espécies;
F: número de pequenos flagelados). Adaptado de [30].
≥ 106 10 8 9 7 8 6 7 5
Ciliados Móveis
de Fundo +
Sésseis* e/ou
< 106 9 7 8 6 7 5 6 4
Amibas com teca
≥ 106 9 7 8 6 7 5 6 4
Ciliados Sésseis
* >80 %
< 106 8 6 7 5 6 4 5 3
≥ 106 7 5 6 4 5 3 4 2
Opercularia spp.
>50 %
< 106 6 4 5 3 4 2 3 1
≥ 106 6 4 5 3 4 2 3 1
Vorticella
microstoma >50
% < 106 5 3 4 2 3 1 2 0
Ciliados ≥ 106 5 3 4 2 3 1 2 0
nadadores >50
% < 106 5 2 6 1 2 0 1 0
Pequenos ≥ 106 4 3 2 1
Flagelados (>100
na diagonal da
Câmara de
< 106 3 2 1 0
Fuchs-
Rosenthal)
75
Tabela 14 - Conversão do valor do IBL em classes de qualidade biológica das lamas
ativadas. Adaptado de [30].
76
A seguir à identificação dos vários organismos presentes em cada amostra,
procedeu-se à avaliação da abundância relativa de cada espécie ou grupo através da
contagem de microrganismos. Inicialmente, colocou-se 25 µL de amostra numa lâmina
de vidro, através do uso de uma micropipeta automática de volume variável (de 0 a 50
µL), e cobriu-se com uma lamela de 18 x 18 mm. Seguidamente, colocou-se a lâmina
no microscópio ótico e procedeu-se à contagem das espécies numa ampliação de 100x.
A contagem foi feita percorrendo a lamela da esquerda para a direita. Foi realizada uma
segunda contagem com uma nova preparação da mesma amostra. Considerou-se apenas
como espécies presentes as que foram contabilizadas duas vezes durante o rastreio ou
pelo menos uma vez durante a contagem. Posteriormente, determinou-se o número de
indivíduos por volume de amostra (50 µL no total) para cada espécie ou grupo. Para a
estimação da abundância dos pequenos flagelados usou-se uma câmara de Fuchs-
Rosenthal de 3.2 µL. Primeiramente, colocou-se duas gotas de amostra em cada
reticulado da câmara e contou-se os pequenos flagelados que se encontravam sobre ou
dentro das 16 quadrículas (0.2 µL), que compõem as duas diagonais da câmara, com
uma ampliação de 200x. Por último, determinou-se a dominância considerando os
seguintes grupos de organismos: sésseis, amibas com teca, ciliados nadadores, móveis
de fundo e pequenos flagelados (Tabela 13). Não foram considerados para contagem
indivíduos mortos, teletrocos ou ciliados nadadores que entraram pelo campo de visão,
originários de zonas já contabilizadas [30].
No Anexo III encontra-se a tabela de registo utilizada para a identificação e
contagem dos microrganismos de cada amostra.
77
nas colorações Gram e Neisser, o procedimento para a observação microscópica e o
método para a determinação da abundância das bactérias filamentosas nas amostras, a
nível qualitativo.
78
parte da solução 1B. A solução 1A resultou da dissolução de 0.1 g de azul de metileno
em 5 mL de etanol a 95%, em 5 mL de ácido acético glacial e em 100 mL de água
destilada. A solução 1B resultou da mistura entre 3.3 mL de violeta de cristal (10% p/v
em etanol 95%), 6.7 mL de etanol a 95% e 100 mL de água destilada. Para a preparação
da solução 2 juntou-se 33.3 mL de castanho bismark (1% p/v em água destilada) a 66.7
mL de água destilada.
Na coloração da amostra, colocou-se esta numa lâmina a secar. De seguida,
cobriu-se a amostra com a solução 1 durante 30 segundos, e enxaguou-se com água. Por
fim, cobriu-se o preparado com a solução 2, deixou-se agir durante um minuto,
enxaguou-se com água e secou-se com papel absorvente.
Durante a observação microscópica, os filamentos que apresentaram cor azul
violeta são Neisser + e os filamentos de cor castanho amarelados são Neisser – e podem
ter grânulos Neisser +. Este procedimento foi baseado no descrito por [30].
79
Tabela 15 - Classes de abundância dos organismos filamentosos nas lamas activadas.
Adaptado de [29].
80
Capítulo 6. Resultados e Discussão
81
6.1.1. Água residual bruta
Parâmetros
pH CBO5
analíticos – CQO SST SSV Ptotal Ntotal NO3- NH4 +
(escala de (mg
Efluente (mgO2/L) (mg/L) (mg/L) (mgP/L) (mgN/L) (mgN/L) (mgN/L)
Sorensen) O2/L)
bruto
Média 8,21 670 316 352 285 8,41 51,5 1,49 19,5
Valor
7,31 236 145 60 60 4,25 34,3 1,03 11,1
mínimo
Valor
8,97 1286 472 1180 920 13,70 101,0 1,97 26,4
máximo
Desvio
0,34 202,8 83,4 199,7 157,5 2,30 14,5 0,30 3,2
padrão
Valor limite
]5,5;9,5[* > 1200 > 400 > 750 > 550 > 15 > 85 > 10 > 50
de alerta
*Intervalo permitido
82
Pela análise da Tabela 16, verifica-se que os valores médios obtidos para os
diferentes parâmetros analíticos, para as amostras de água residual bruta analisadas
durante o período referido, não ultrapassaram os valores limite de alerta estipulados.
Analisando os valores mínimos e máximos apresentados, verifica-se que houve uma
grande variação das concentrações de CQO, CBO5, dos SST, dos SSV e de Ntotal, o que
permite concluir que a composição da água residual afluente à ETAR durante o período
em análise foi muito variável. Embora os valores médios dos parâmetros CBO5, SSV e
Ptotal analisados não tenham ultrapassado os valores limite de alerta, estes estiveram
muito próximos dos valores de limite alerta máximo, podendo-se afirmar que a água
residual afluente apresentou uma fracção orgânica elevada e concentrações elevadas de
nutrientes.
Na Figura 9, está representado o gráfico referente aos valores obtidos do pH da
água residual afluente durante o período de amostragem, com os respectivos valores
limite de alerta.
14
12
Escala de Sorensen
10
8
6
4
2
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data
1400
Concentração (mg O2/L)
1200
1000
800
600
400
200
0
21-Mai
7-Mai
14-Mai
28-Mai
4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
84
de Serzedo apresentou uma porção de efluente biodegradável elevada. Deste modo,
tornou-se necessário fazer um controlo adequado sobre o processo quando se verificasse
uma excessiva carga orgânica no efluente bruto, de modo a que não ocorressem avarias
nos equipamentos que fornecem o oxigénio ao reator biológico, devido ao excessivo
tempo de arejamento por consequência da elevada fonte de carbono disponível no meio
para consumo pelos microrganismos.
Procedeu-se então, ao aumento do caudal médio diário de recirculação de lamas
biológicas do decantador secundário para o reator biológico em alguns dias, para
permitir uma redução da concentração de CBO5 no interior do reator.
Os valores médios das concentrações de CQO e de CBO5 coincidem com o que
usualmente é verificado em águas residuais urbanas, o que vai de encontro a [11].
1400
Concentração (mg/L)
1200
1000
800
600
400
200
0
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Abr
9-Abr
2-Jul
9-Jul
28-Mai
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data
SST efluente bruto SSV efluente bruto Lim. Máx. SST Lim. Máx. SSV
85
maioria dos valores das concentrações não excederam o limite de alerta estipulado,
exceto em duas amostras analisadas. As elevadas concentrações de sólidos SST traduz-
se na existência de uma elevada matéria suspensa, que pode ter origem no pó
atmosférico que é removido pela chuva, da ligação com a terra, fibras vegetais,
vegetação em degradação ou da ressuspenção de sedimentos [40]. Estes fatores podem
ter influenciado os elevados valores obtidos. O valor médio da concentração de SST da
água residual bruta está de acordo com a concentração que normalmente é verificada
para este efluente, descrita por [11].
120
Concentração (mg/L)
100
80
60
40
20
0
7-Mai
21-Mai
14-Mai
28-Mai
2-Abr
9-Abr
4-Jun
11-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr
18-Jun
25-Jun
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
86
60
Concentração (mgN/L)
50
40
30
20
10
0
14-Mai
21-Mai
28-Mai
7-Mai
4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
87
6.1.2. Água residual tratada
Parâmetros
analíticos – pH CBO5
CQO SST SSV Ptotal Ntotal NO3- NH4 +
Água (escala de (mg
(mgO2/L) (mg/L) (mg/L) (mgP/L) (mgN/L) (mgN/L) (mgN/L)
residual Sorensen) O2/L)
tratada
Média 7,90 44,5 4,4 10,0 8,0 3,01 5,43 0,449 0.583
Valor
7,23 21,0 0,2 2,0 2,0 1,16 3,32 0,204 0.162
mínimo
Valor
8,51 64,0 11,0 24,0 23,0 6,39 13,30 1,720 7,060
máximo
Desvio
0,32 10,4 2,7 4,8 4,3 1,36 1,51 0,281 0,992
padrão
Valor limite
]6;9[* > 125 > 25 > 35 - > 10 > 15 - -
de emissão
Valor limite
de emissão
]6;9[* > 100 > 15 > 30 - > 10 > 15 - -
(época de
estiagem)
*Intervalo permitido.
88
Da análise da Tabela 17, constata-se que os valores médios dos diferentes
parâmetros analíticos obtidos estiveram abaixo ou entre os valores limite de emissão
estabelecidos na legislação e foram bastante inferiores relativamente aos valores limite
de emissão.
Nas figuras seguintes estão apresentados os dados resultantes de cada parâmetro
analítico avaliado nas amostras de água residual tratada ao longo do período de análise.
14
12
Escala de Sorensen
10
8
6
4
2
0
28-Mai
7-Mai
14-Mai
21-Mai
4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
140
Concentração (mgO2/L)
120
100
80
60
40
20
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data
89
40
35
Concentração (mg/L)
30
25
20
15
10
5
0
7-Mai
11-Jun
18-Jun
25-Jun
14-Mai
21-Mai
28-Mai
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
4-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
SSt efluente tratado SSV efluente tratado VLE SST VLEép.est. SST
16
14
Concentração (mg/L)
12
10
8
6
4
2
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data
90
8
7
Concentração (mgN/L)
6
5
4
3
2
1
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
11-Jun
18-Jun
25-Jun
4-Jun
Data
91
análises realizadas, relativas a estes parâmetros analíticos, comparativamente com as
análises efetuadas à água residual não tratada.
Observando a Figura 17 verifica-se que os valores das concentrações de Ptotal e
de Ntotal foram inferiores aos valores limite de emissão, não se registando assim
nenhuma inconformidade, com a legislação estipulada. No início do período de
amostragem verificou-se que as concentrações de azoto total foram elevadas
comparativamente com as restantes concentrações, mas estas não ultrapassaram o valor
limite de emissão. A ocorrência dos processos de remoção de azoto no tratamento
biológico do efluente é determinada por diversos parâmetros. O processo de nitrificação
pode ser afetado por fatores como o tempo de residência de sólidos (idade das lamas), a
adaptação dos organismos, entre outros, visto que os microrganismos que participam
neste processo apresentam uma taxa de crescimento menor que as bactérias
heterotróficas, que degradam a matéria orgânica presente no meio [22]. O facto dos
valores iniciais das concentrações de azoto total, representados no gráfico, serem mais
elevados, pode dever-se ao baixo tempo de residência de sólidos, verificado durante o
mês de Março (dados consultados na tabela de Registo Mensal), influenciando assim as
reações de nitrificação. A nitrificações insuficiente pode ter provocado a baixa
conversão de alguns compostos de azoto, nomeadamente de azoto amoniacal, que por
consequência eleva a concentração de azoto total verificada no efluente final. No
entanto, a remoção dos nutrientes Ntotal e Ptotal, através dos processos implementados na
ETAR de Serzedo, foi realizada com sucesso durante o período de análise.
Por fim, da análise da Figura 18 é possível verificar que a concentração de azoto
em azoto amoniacal relativa ao dia 10 de Abril foi elevada. Este facto justifica-se pelas
razões apresentadas anteriormente. Adicionalmente, constata-se que os valores médios
das concentrações de N-NO3- e de N-NH4 +
são baixos, o que reflete o bom
funcionamento do sistema de tratamento na redução destes compostos da água residual
afluente.
92
6.1.3. Licor misto
pHZona pHZona
Parâmetros
arejada anóxica SSTarejada SSVarejada
analíticos –
(escala de (escala de (mg/L) (mg/L)
Licor misto
Sorensen) Sorensen)
Média 7,43 7,39 5190 4081
Valor
6,90 6,92 4200 3300
mínimo
Valor
7,94 7,98 6800 5500
máximo
Desvio
0,24 0,24 528,9 460,2
padrão
Valor limite
]6;9[* ]6;9[* ]3500;5000[* ]3000;4500[*
de alerta
*Intervalo permitido.
93
Da análise sumária dos resultados obtidos em amostras de lamas ativadas
verificou-se que os valores médios dos parâmetros analíticos encontram-se dentro da
gama de valores dos limites de alerta estipulados, exceto o valor da concentração de
SST. Constatou-se ainda que houve uma grande variação nos valores de SST e de SSV.
Nas figuras seguintes, estão representadas as concentrações de SST e de SSV,
em amostras da zona arejada e os valores de pH de amostras da zona anóxica e da zona
arejada, durante a amostragem realizada.
14
12
Escala de Sorensen
10
8
6
4
2
0
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
2-Jul
9-Jul
2-Abr
9-Abr
4-Jun
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
94
7000
Concentração (mg/L)
6000
5000
4000
3000
2000
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
95
reator, o que, por consequência, eleva a concentração de SSV. Adicionalmente, este
fator associado ao caudal de recirculação de lamas (com uma determinada concentração
de SST que pode ser alta ou baixa, no caso desta instalação) e ao caudal de purga, vão
determinar a concentração de sólidos suspensos no interior do reator. Portanto, deve-se
efetuar um controlo adequado sobre estes parâmetros processuais de modo a atingir uma
concentração de sólidos adequada, para o bom funcionamento do processo de
tratamento biológico.
SSV
Parâmetros SSTdecantador SSTrecirculação SSV recirculação Relação
decantador
analíticos (mg/L) (mg/L) (mg/L) SSV/SST
(mg/L)
70
60
Concentração (mg/L)
50
40
30
20
10
0
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
2-Abr
9-Abr
4-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
97
18000
16000
14000
Concentração (mg/L) 12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
11-Jun
18-Jun
25-Jun
4-Jun
Data
90
80
70
60
50
%
40
30
20
10
0
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
2-Jul
9-Jul
2-Abr
9-Abr
4-Jun
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
99
Tabela 20 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados nas amostras de lamas espessadas e desidratadas, durante o mês
de Abril e Agosto de 2012.
Valor limite de
<2 <18
- -
alerta
100
80
60
%
40
20
0
04-Abr
11-Abr
18-Abr
25-Abr
02-Mai
09-Mai
16-Mai
23-Mai
30-Mai
04-Jul
11-Jul
18-Jul
25-Jul
01-Ago
06-Jun
13-Jun
20-Jun
27-Jun
Data
Matéria volátil Lama espessada
Matéria volátil Lama desidratada
Lim. Mín. Matéria seca Lama espessada
Lim. Mín. Matéria seca Lama desidratada
Matéria seca Lama espessada
Matária seca Lama desidratada
100
Da observação da Figura 24 constata-se que os valores resultantes da
determinação da matéria seca em amostras de lamas espessadas foram todos superiores
ao valor limite de alerta. Relativamente aos valores da matéria seca das amostras de
lamas desidratadas, estes mantiveram-se próximos do limite de alerta, verificando-se
que alguns valores ficaram abaixo do limite. Estes factos traduzem uma menor
eficiência no tratamento das lamas biológicas na operação de desidratação verificada
nos dias em que se registaram valores inferiores ao limite. Os valores da matéria volátil
determinados para os dois tipos de amostra foram bastante próximos e elevados, o que é
característico em lamas resultantes de processos de tratamento biológicos.
Razão de
Parâmetros IVL (mg/L) TRS (dias) CBO/CQO A/M
recirculação
Média 0,6 162 22 0,48 0,04
Valor
0,4 100 8 0,34 0,02
mínimo
Valor
0,8 205 79 0,78 0,07
máximo
Desvio
0,1 25,3 13,7 0,09 0,01
padrão
Valor limite
]0,5;1,3[* ]50;300[* ]15;30[* ]0,01;0,15[*
de alerta -
*Intervalo permitido.
101
Pela observação da tabela apresentada acima, é possível constatar que os valores
médios dos parâmetros processuais encontram-se dentro da gama de valores limite de
alerta. Nas figuras seguintes, estão representados todos os valores obtidos dos
parâmetros de controlo processual durante a amostragem realizada.
350 0,16
300 0,14
mgCBO5/mgSST.d
250 0,12
0,10
200
0,08
ml/g
150
0,06
100 0,04
50 0,02
0 0,00
2-Abr
9-Abr
7-Mai
2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr
16-Jul
23-Jul
30-Jul
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data
1,5 100
Razão de recirculação
80
1,0 60
dias
0,5 40
20
0,0 0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data
Razão de recirculação
Lim. Mín. Razão de recirculação
Lim. Máx. Razão de recirculação
Tempo de residência de sólidos
Lim. Mín. Tempo de residência de sólidos
Lim. Máx. Tempo de residência de sólidos
102
0,9
0,8
CBO5/CQO 0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
7-Mai
2-Abr
9-Abr
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
CBO5/CQO
104
Tabela 22 - Sumário dos resultados obtidos, durante o mês de Abril e Agosto de 2012,
nas eficiências de remoção relativos a cada parâmetro de controlo analítico e taxas de
capturas de sólidos.
Taxa de
Taxa de
captura
Eficiências captura
CQO CBO5 Ntotal Ptotal SST de
de de sólidos
(%) (%) (%) (%) (%) sólidos
remoção (desidratação)
(espessamento)
(%)
(%)
Valor
78,81 96,88 82,07 36,24 86,00 79,75 60,29
mínimo
Valor
97,36 99,94 94,09 85,19 99,33 93,09 82,73
máximo
Desvio
3,13 0,80 2,68 14,22 3,34 3,61 6,05
padrão
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
%
30,00
20,00
10,00
0,00
10-Abr
16-Abr
23-Abr
2-Abr
05-Jul
12-Jul
19-Jul
26-Jul
02-Ago
02-Mai
09-Mai
16-Mai
23-Mai
30-Mai
28-Jun
06-Jun
14-Jun
21-Jun
Dias
CQO % CBO5 % SST %
105
100
90
80
70
60
50
%
40
30
20
10
0
9-Abr
7-Mai
2-Abr
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr
11-Jun
18-Jun
25-Jun
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Dias
N-Total % P-Total%
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
02-Mai
09-Mai
16-Mai
23-Mai
30-Mai
04-Abr
11-Abr
18-Abr
25-Abr
06-Jun
13-Jun
20-Jun
27-Jun
04-Jul
11-Jul
18-Jul
25-Jul
01-Ago
Dias
MS % (espessamento) MS % (desidratação)
106
Da análise da Tabela 22, contata-se que a taxa de remoção média mais elevada
verificou-se no parâmetro analítico CBO5. O valor médio da eficiência de remoção para
a CQO também foi elevado. Pela análise do gráfico correspondente (Figura 28),
verificam-se altas taxas de remoção para estes dois parâmetros, que indicam, em alguns
casos, a quase eliminação completa da carga orgânica do efluente. É possível concluir
que o sistema de tratamento funcionou adequadamente durante o período em análise,
nomeadamente o sistema de lamas ativadas, na remoção da carga orgânica presente na
água residual afluente à ETAR de Serzedo.
A eficiência de remoção média verificada para o parâmetro analítico SST foi
elevada (96,05 %). Ao longo do período de análise as taxas de remoção foram altas,
indicando o bom funcionamento de todo o sistema de tratamento na remoção da carga
poluente.
Relativamente às eficiências médias de remoção para os parâmetros azoto total e
fósforo total, verifica-se que o primeiro apresentou uma taxa de remoção maior. As
taxas de remoção de azoto foram bastante altas, refletindo o bom funcionamento do
sistema de lamas ativadas na remoção deste componente, visto que a remoção de
nutrientes ocorre principalmente nesta etapa de tratamento. A eficiência de remoção
média de fósforo total foi inferior às restantes, verificando-se também um elevado grau
de dispersão dos valores em relação à média, relativamente ao que se verifica nos
restantes parâmetros. Constata-se que a remoção de fósforo total pelo sistema de
tratamento adotado, não foi tão eficiente como a remoção de azoto total.
Os valores médios das taxas de captura de sólidos, determinados a partir de
amostras lamas espessadas e desidratadas analisadas, foram elevados. Verificou-se uma
maior taxa de captura média no espessamento (84,69 %) do que na desidratação (76,88
%). De acordo com [19][20], os equipamentos aplicados para obter lamas espessadas e
desidratadas apresentam uma eficiência de captura de sólidos de 95 %. Analisando os
resultados obtidos, verifica-se que as taxas de captura foram inferiores a estes valores.
107
6.2. Análise microbiológica ao sistema de lamas ativadas da ETAR de
Serzedo
108
100%
90%
80%
70%
% Outros
Abundância
60%
% Amibas com
50% teca
% Sésseis
40%
% Móveis de
30% fundo
% Nadadores
20%
10%
0%
04-Mai
11-Mai
18-Mai
25-Mai
01-Jun
08-Jun
15-Jun
22-Jun
29-Jun
06-Jul
13-Jul
20-Jul
27-Jul
27-Abr
03-Ago
Data
109
nesta fase, traduzem uma boa eficiência do sistema de tratamento por lamas ativadas,
como referido em [33] [35]. Estes dois grupos funcionais normalmente co-dominam na
microfauna das lamas ativadas, devido ao facto de que ocupam nichos ecológicos
diferentes, não competindo entre si [30].
Desde o início da amostragem, verificou-se um aumento da abundância dos
ciliados nadadores, que se tornaram dominantes a partir da quinta amostra (1 de Junho),
sofrendo um decréscimo no dia 13 de Junho (densidade dos ciliados sésseis elevada).
Posteriormente, verificou-se a dominância, de novo, deste grupo funcional nas amostras
seguintes, verificando-se um decréscimo a partir do dia 13 de Julho até ao final da
amostragem. Segundo estudos realizados por Curds [30], quando a microfauna é
dominada pelos organismos ciliados nadadores, a qualidade do efluente produzido é,
geralmente, pobre, e torna-se má quando os ciliados estão completamente ausentes.
Neste caso de estudo, verifica-se uma redução da qualidade do efluente produzido, ao
nível das concentrações de CBO5 e de CQO quando se verifica a dominância dos
ciliados nadadores nas amostras. Os pequenos ciliados nadadores predominam no
sistema de tratamento quando a sua permanência no sistema é breve ou quando a
oxigenação é ineficiente [30]. Como se verificou na seção anterior relativa ao controlo
analítico e processual da instalação de Serzedo, registaram-se valores baixos para o
tempo de residência de sólidos, durante o período em análise. Portanto, a dominância
dos ciliados nadadores pode ter sido devida a este facto, visto que para valores mais
baixos deste parâmetro processual registou-se, posteriormente, a dominância deste
grupo funcional.
Na amostra do dia 13 de Junho, verificou-se que os ciliados nadadores não
foram o grupo dominante e constatou-se uma elevada abundância dos ciliados sésseis.
Este facto pode ter sido devido a uma elevação do tempo de residência de sólidos numa
fase anterior a esta amostragem. Quando presentes em percentagens superiores a 80%
[30], os sésseis estão a associados a fenómenos transitórios que levam a depurações
insuficientes. Neste caso, no entanto, o aumento de número de sésseis pode ter
traduzido uma recuperação incipiente da microfauna devido ao aumento do tempo de
residência. Esta recuperação não teve, ainda assim, evolução favorável porque o tempo
de residência voltou a diminuir.
As amibas com teca estão presentes em sistemas de baixa carga e onde há
remoção de azoto [30]. Ao longo da amostragem as amibas com teca foram
identificadas na maioria das amostras, e como o sistema de tratamento da ETAR de
110
Serzedo opera em baixa carga e há remoção de compostos de azoto, a presença destes
organismos nestes tipos de sistemas justifica-se pelo referido na literatura.
Ao longo do período de análise o número de pequenos flagelados foi sempre
inferior a 10 e foram identificados em todas as amostras. Portanto, a abundância destes
organismos no sistema de tratamento por lamas ativadas é baixa.
Ou seja, em termos de grupos funcionais, os ciliados nadadores parecem poder
constituir na ETAR em estudo e nas condições descritas, um sistema de alerta para a
eventual redução da qualidade do efluente, o que está de acordo como que é descrito na
literatura. Em alturas de melhor desempenho, os ciliados sésseis podem constituir uma
segunda linha de alerta: a recuperação do sistema passa pelo aumento deste grupo que,
no entanto, não pode ultrapassar os 80% e deve co-existir com uma diversidade elevada.
111
Tabela 23 - Abundância média e frequência das espécies de protozoários e de pequenos
metazoários observados no sistema de tratamento por lamas ativadas da ETAR de
Serzedo durante o período de análise, compreendido entre Abril e Agosto.
Da análise da Tabela 23, constata-se que as espécies com valores mais altos de
abundância média foram: Dexiotricha granulosa (46,3760%); Aspidisca lynceus
112
(12,3864%), que é um organismo menos comum e abundante nos sistemas de lamas
ativadas relativamente a Aspidisca cicada, no entanto, é indicador de estabilidade no
reator biológico, e o Rotifero digononta Rotaria sp (7,8886%), que é um organismo
comum nas lamas ativadas. Os organismos mais frequentes na totalidade das amostras
analisadas foram: o Flagelado 1 (100%); Dexiotricha granulosa (100%); Aspidisca
lynceus (100%); Acineria uncinata (100%), que é bastante comum em sistemas de
lamas ativadas; Prorodon sp. (100%), a sua presença está associada a sistemas que
ocorrem processos de nitrificação; o Rotifero digononta Rotaria sp (100%), comum em
sistemas com oxidação total; Arcella sp. (92%), usual em sistemas com remoção de
azoto e com alta concentração de oxigénio dissolvido; Drepanomonas revoluta (92%) e
Microthorax sp. (92%) [30].
A designação de Flagelado 1, Flagelado 2 e Nadador 1 a determinados
organismos observados durante a análise foi devida à impossibilidade de se poder
identificar os organismos a níveis taxonómicos mais específicos
No Anexo VI encontram-se imagens relativas a alguns organismos de
protozoários e de pequenos metazoários visualizados durante a amostragem realizada.
Tabela 24. Valores de IBL obtidos ao longo do período de análise, compreendido entre
Abril e Agosto.
Data IBL
27-Abril 10
04-Maio 10
15-Maio 10
25-Maio 10
01-Junho 5
05-Junho 5
13-Junho 10
29-Junho 5
06-Julho 5
13-Julho 5
17-Julho 5
27-Julho 5
03-Agosto 5
113
Pela observação da Tabela 24, constata-se que os valores de IBL variaram entre
5 e 10. De acordo com Madoni (1994) [35], para valores de IBL 5 (Classe III), a
atividade biológica é insuficiente e a eficiência depuradora do sistema de tratamento é
medíocre. Por outro lado, para valores de IBL 10 (Classe I), verifica-se lamas bem
colonizadas e estáveis, uma atividade biológica ótima e uma eficiência depuradora
elevada. Portanto, os valores mais altos de IBL, durante a amostragem realizada, foram
obtidos nas primeiras amostras (27 de Abril até 25 de Maio) e na amostra
correspondente ao dia 13 de Junho. Nas restantes amostras analisadas o valor do IBL foi
de 5. Como se pode verificar na Figura 31 e na Tabela 24, os ciliados nadadores foram
dominantes nas amostras em que se verificaram valores de IBL baixos (5), indicando
uma atividade biológica insuficiente [35] no sistema de tratamento por lamas ativadas.
No efluente final as concentrações de CBO5, CQO e de SST nunca ultrapassaram os
valores limite de emissão, mas nos períodos em que os valores de IBL foram baixos
verificaram-se eficiências de remoção mais baixas de CQO, relativamente às restantes
obtidas.
114
No Anexo VI encontram-se imagens relativas a algumas bactérias filamentosas
identificadas em amostras do licor misto da ETAR.
Bactérias filamentosas
Tipo 0041/0675
Tipo 0092
Tipo 0581
Tipo 0914
Tipo 1851
Tipo 1863
Tipo 021N
Thiotrix I
Thiotrix II
Microthix parvicella
Nostocoida limícola II
Nostocoida limícola III
Haliscomenobacter hydrossis
Sphaerotilus natans
115
6
Classe de abundância 5
Tipo
3
0041/0675
Tipo 0092
2
Tipo 0914
1
0
04-Mai
11-Mai
18-Mai
25-Mai
27-Abr
01-Jun
08-Jun
15-Jun
22-Jun
29-Jun
06-Jul
13-Jul
20-Jul
27-Jul
03-Ago
Data
117
Capítulo 7. Conclusões
118
apresentou valores mais satisfatórios indicando uma qualidade de sedimentação
moderada.
Ao longo do período de análise foram registados valores do tempo de residência
de sólidos que ultrapassaram os valores limite de alerta estipulados. A maioria dos
valores que excederam os valores limite correspondeu aos valores mais baixos
registados. Estes podem ter influenciado a composição da componente microbiana e da
microfauna do sistema de lamas ativadas a longo prazo.
O sistema de tratamento funcionou adequadamente na remoção da carga
orgânica, carga poluente e nutrientes, embora as eficiências de remoção de fósforo
fossem mais baixas que as do azoto. As taxas de captura de sólidos nos sistemas de
espessamento e desidratação foram elevadas, mas os equipamentos não atingiram a sua
eficiência máxima.
Das análises microbiológicas realizadas ao licor misto do reator biológico da
ETAR, foram identificadas 31 unidades taxonómicas, relativas a protozoários e
pequenos metazoários. Os organismos que apresentaram maior dominância foram
Dexiotricha granulosa (46,4%), Aspidisca lynceus (12,4%) e o Rotifero digononta
Rotaria sp. (7,9%). Os ciliados nadadores constituíram o grupo dominante, seguindo-se
os ciliados móveis de fundo. Foram também identificados sésseis em quase todas as
amostras e amibas com teca. Outros protozoários e pequenos metazoários também
foram identificados. Neste caso de estudo, verificou-se uma redução da qualidade do
efluente produzido, aos níveis das concentrações de CBO5 e CQO quando se verificava
a dominância dos ciliados nadadores. A dominância dos ciliados nadadores nas
amostras pode ter sido devida aos baixos valores registados do tempo de residência de
sólidos. Em termos de grupos funcionais, os ciliados nadadores parecem poder constitui
na ETAR em estudo um sistema de alerta para a eventual redução da qualidade do
efluente.
Os valores de IBL variaram entre 10 e 5, sendo este último o mais frequente. Os
ciliados nadadores foram dominantes nas amostras quando se verificavam valores de
IBL mais baixos.
Relativamente às bactérias filamentosas identificadas nas amostras as mais
abundantes foram as do Tipo 0041/0675 e 0092. Como estes organismos apresentaram
abundâncias elevadas, e juntamente com outras bactérias identificadas, como as do Tipo
0914, podem ter provocado problemas na sedimentação das lamas no decantador, visto
que se verificou no período de análise lamas com características de sedimentação fracas.
119
Pode-se concluir que, a determinação do IBL e a identificação de protozoários
serviram como indicadores de uma eventual redução da qualidade do efluente,
fornecendo, deste modo, informações sobre as causas de problemas no sistema e a sua
posterior resolução. A identificação das bactérias filamentosas foram indispensáveis
para a determinação das causas de problemas na sedimentação das lamas.
Adicionalmente, a realização de análise físico-químicas foram fundamentais para a
avaliação do desempenho da instalação.
Como melhoria do trabalho realizado, é proposto a realização de correlações
entre parâmetros físico-químicos e processuais e os biológicos, de modo a que seja
determinado com mais exatidão as causas de problemas e soluções em sistemas de
tratamento de águas residuais por lamas ativadas.
120
Bibliografia
[1] Águas do Noroeste, S.A. (2012, 13 de Agosto). Águas do Noroeste, Grupo Águas de
Portugal [Em linha]. Disponível em: http://www.adnoroeste.pt/
121
[10] W. W. Eckenfelder, Industrial Water Pollution Control, 3 ed. Boston: McGraw-
Hill, 2000.
[11] Metcalf & Eddy, Wastewater Engineering: Treatment and Reuse, 4 ed. New York:
McGraw-Hill, 2003.
[12] United Nations, Waste-water treatment technologies: a general review. New York:
General, 2003.
122
[20] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Memória descritiva e justificativa
do processo de tratamento e equipamento
123
[29] D. Jenkins, M. G. Richard, G. T. Daigger, Manual on the causes and control of
activated sludge bulking and foaming and other solids separation problems, 3rd ed.
Boca Raton: IWA Publishing, 2004.
[35] P. Madoni, “A sludge biotic index (SBI) for the evaluating of the biological
performance of activated sludge plants based on the microfauna analysis”, Wat. Res.,
pp. 67-75, 1994.
124
[37] L. Cerdeira, “Acompanhamento do Arranque/Exploração de uma ETAR”,
Dissertação de mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto,
2008.
[38] S. C. Silva, “Tratamento químico e biol gico de efluentes da indústria têxtil como
forma de redução do impacto ambiental aos recursos hídricos”, Monografia de pós-
graduação, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2011.
[42] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Registo diário- ETAR de Serzedo.
125
Anexos
126
Anexo II. Procedimentos laboratoriais homologados pela Águas do
Noroeste, S.A.
127
a. Determinação da Carência Química de Oxigénio
128
129
130
131
b. Determinação da Carência Bioquímica de Oxigénio
132
133
134
135
c. Determinação analítica de sólidos
136
137
138
139
140
141
Anexo III. Tabela de identificação e contagem de protozoários e de pequenos
metazoários
Data da análise:
1ª 2ª
Total
Espécies Screening contagem contagem ind./L %
(50µL)
(25µL) (25µL)
Flagelados Euglena sp.
Peranema sp.
Flagelado 2
Flagelado 1
Amibas com teca Euglypha sp.
Arcella sp.
Nadadores Colpidium sp
Glaucoma scintillans
Paramecium sp.
Sathrophilus sp.
Uronema nigricans
Cyclidium glaucoma
Spirostomum teres
Dexiotricha granulosa
Dexiostoma campylum
Nadador 1
Drepanomonas
Móveis de fundo revoluta
Aspidisca cicada
Aspidisca lynceus
Euplotes patella
Oxytricha sp.
Acineria uncinata
Microthorax sp.
Sésseis Vorticella microstoma
Vorticella aquadulcis
Vorticella infusionum
Vorticella convallaria
Carchesium sp.
Zoothamnium sp.
Epistylis sp.
Opercularia sp.
Carnívoros Prorodon sp.
Coleps hirtus
142
Spathidium sp.
Litonotus sp.
Amphileptus sp.
Acineta sp.
Podophrya sp.
Tokophrya sp.
Discophrya sp.
Rotifero digononta Rotaria sp.
Rotifero
Monogononta
Nemátodo
Tardigrado
Gastrotrichi
Aelosoma sp.
Total da microfauna
Grupos funcionais
Nadadores
Móveis de fundo
Sésseis
Amibas com teca
Número de pequenos
flagelados
IBL
Classe de qualidade
Diversidade:
Comentários:
143
Anexo IV. Tabela de caraterização de bactérias filamentosas
Análise de bactérias
filamentosas
Data de análise:
Observações:
144
Anexo V. Tabelas de resultados de controlo analítico e processual da
instalação
145
146
147
148
149
150
151
152
Anexo VI. Fotografias dos organismos visualizados durante a análise
microbiológica ao licor misto da ETAR de Serzedo
153
- Dexiotricha granulosa e Microthorax sp. Ampliação de 100x, em campo claro.
154
- Tipo 0041/0675. Ampliação de 1000x, em campo claro.
155
- Tipo 0914. Ampliação de 1000x, em campo claro.
156