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Universidade do Minho

Escola de Engenharia

Paula Cristina Cunha Assunção

Analítico da ETAR de Serzedo e


Avaliação do Desempenho da Instalação
Controlo Analítico da ETAR de
Serzedo e Avaliação do Desempenho
da Instalação

Paula Cristina Cunha Assunção Controlo


UMinho|2013

outubro de 2013
Universidade do Minho
Escola de Engenharia

Paula Cristina Cunha Assunção

Controlo Analítico da ETAR de


Serzedo e Avaliação do Desempenho
da Instalação

Dissertação de Mestrado
Mestrado Integrado em Engenharia Biológica

Trabalho realizado sob a orientação da


Professora Doutora Madalena Alves
e da
Doutora Ana Nicolau
e da
Engenheira Maria José Miranda

outubro de 2013
“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”

Antoine-Laurent de Lavoisier

v
Agradecimentos
Gostaria de expressar aqui os meus mais sinceros agradecimentos a todas as
pessoas que acompanharam a realização desta dissertação:

À Professora Doutora Maria Madalena Alves, pela sua disponibilidade,


confiança, compreensão, constante apoio, pelo incentivo ao longo do desenvolvimento
do trabalho e pela excelência demostrada quer a nível profissional, quer ao nível da
interação aluno- Professor.

À Doutora Ana Nicolau, pela atenção e disponibilidade para corrigir e indicar


possíveis melhorias e pela transmissão de conhecimentos.

À Engenheira Maria José, pela sua disponibilidade e apoio ao longo do


desenvolvimento do trabalho.

À empresa Águas do Noroeste, S.A, pela possibilidade de realização do trabalho


em ambiente empresarial, e pelo excelente acolhimento. Permitiu que fossem adquiridos
conhecimentos valiosos num dos ramos fundamentais da tecnologia ambiental.

A todas as pessoas que trabalham na empresa, operadores, técnicos e


engenheiros, pelo constante apoio no esclarecimento de dúvidas e pelo trabalho
realizado.

Às Engª Liliana Santos e Engª Vânia Ferreira pela disponibilidade, pelo apoio e
pelo esclarecimento de dúvidas ao longo do trabalho.

Às minhas colegas de curso e amigas, Joana Costa e Marlene Marinho, pelo


apoio prestado ao longo do meu percurso académico, por estarem sempre presentes e
disponíveis em todos os momentos, mesmo nos mais complicados.

E não menos importante, ao Engenheiro Nelson Silva pelo apoio e motivação


constante prestado ao longo do meu percurso académico.
E a toda a minha família pelo apoio e confiança prestados.

vi
Resumo
“Controlo analítico da ETAR de Serzedo e avaliação do desempenho da instalação”

O controlo dos parâmetros processuais é fundamental para a gestão operacional de


uma ETAR. A análise de parâmetros analíticos faz parte de um conjunto de ferramentas
essenciais para a identificação de disfunções nos processos de tratamento.
Este trabalho de projeto incidiu sobre a realização de tarefas ao nível do controlo
analítico interno da ETAR de Serzedo, da empresa Águas do Noroeste S.A., e o
desenvolvimento de um estudo para avaliar a performance do processo de tratamento
através da análise de parâmetros analíticos, operacionais e microbiológicos. A análise
microbiológica realizada ao licor misto do reator biológico da ETAR contemplou a análise
das comunidades de protozoários e pequenos metazoários, recorrendo à observação
microscópica e posterior determinação do Índice Biótico de Lamas (IBL). Adicionalmente,
foram identificadas bactérias filamentosas, recorrendo a métodos clássicos baseados na
observação microscópica de características morfológicas e na reação a colorações.
Da análise realizada aos parâmetros analíticos e processuais constatou-se que a água
residual afluente à ETAR apresentou uma fração orgânica elevada, facilmente
biodegradável e concentrações elevadas de nutrientes. Durante o período de análise não se
registou nenhum incumprimento com a legislação aplicada. Verificou-se que a ETAR
funcionou adequadamente relativamente à remoção da carga orgânica, remoção de
nutrientes e de sólidos. As eficiências dos sistemas de espessamento e desidratação de
lamas foram elevadas, mas não atingiram a eficiência máxima do equipamento.
Da análise aos protozoários e pequenos metazoários foram identificados 31
unidades taxonómicas, em que os ciliados nadadores foram os organismos dominantes. O
valor de IBL 5 foi o mais frequente. Os organismos filamentosos dominantes foram os do
Tipo 0041/0675 e 0092. Os organismos filamentosos presentes provocaram problemas na
sedimentação das lamas biológicas no decantador secundário, visto que se verificou no
período de análise lamas com características de sedimentação fraca (índice volumétrico
lamas superior a 150 ml/g).
Neste caso de estudo, a determinação do IBL e a identificação de protozoários e
metazoários serviram como indicadores de uma eventual redução da qualidade do efluente.
A identificação das bactérias filamentosas foram indispensáveis para a determinação das
causas de problemas na sedimentação das lamas. No entanto, a ETAR funcionou na sua
maioria adequadamente na remoção dos compostos poluentes, tendo o controlo analítico
sido indispensável na sua avaliação de desempenho.

vii
viii
Abstract
The control of the process parameters is critical to the operational management of
WWTP (Wastewater treatment plant). The analysis of the analytical parameters is part of a
set of tools for the identification of malfunctions in the treatment processes.
This research project has been focused on performing tasks at the level of internal
analytical control of the Serzedo WWTP, from the company Águas do Noroeste S.A., and
the development of a study to evaluate the performance of the treatment process by
analyzing operational and microbiological parameters. The microbiological analysis
performed at the WWTP mixed liquor included the analysis of protozoan communities and
small metazoans, using the microscopic observation and subsequent determination of the
Sludge Biotic Index (SBI). Additionally, filamentous bacteria were identified, using
classical methods based on microscopic observation of morphological characteristics and
reaction to staining.
In the analysis of the operating parameters it was found that the wastewater influent
to the WWTP showed a high readily biodegradable organic fraction, and high nutrient
concentrations. During the period under study, the WWTP worked properly regarding the
removal of organic matter, nutrients and solids in agreement with the legislation. The
efficiencies of systems thickening and sludge dewatering were high, but did not reach the
maximum efficiency of the equipment.
From the analysis of the protozoa and small metazoan, 31 taxonomic units have
been identified, were the mobile ciliate were the dominant organisms. The value SBI 5 was
the most common. The dominant filamentous organisms were the type 0041/0675 and 0092.
The filamentous organisms present caused problems in the settling of the biological sludge
in the secondary settling tank, since it was found during the analysis period slurry with low
sedimentation characteristics (sludge volume index higher at 150 ml/g).
In this case study, the determination of the SBI and the identification of protozoa
and metazoan, served as indicators of a possible reduction of the effluent quality. The
identification of the filamentous bacteria was necessary for the determination of causes of
problems in the sludge settling characteristics. However, the WWTP mostly worked
adequately in the removal of pollutant compounds, having the analytical control been
indispensable in their performance evaluation.

ix
x
Índice

Agradecimentos .......................................................................................................................... vi
Resumo ....................................................................................................................................... vii
Abstract ....................................................................................................................................... ix
Índice ........................................................................................................................................... xi
Índice de Figuras ....................................................................................................................... xv
Índice de Tabelas ..................................................................................................................... xvii
Lista de Abreviaturas .............................................................................................................. xix
Capítulo 1. Enquadramento, objetivos e organização da dissertação .................................... 1
1.1.Enquadramento ................................................................................................................... 1
1.1.1.Caracterização da Águas do Noroeste, S.A. ................................................................. 2
1.2.Objetivos ............................................................................................................................. 4
1.3.Organização da dissertação ................................................................................................. 5
Capítulo 2. Revisão bibliográfica ............................................................................................... 7
2.1. O tratamento de águas residuais ......................................................................................... 7
2.1.1. Técnicas de tratamento de águas residuais numa ETAR............................................. 9
2.1.2. Outras técnicas de tratamento aplicadas em ETAR .................................................. 10
2.2. Tratamento biológico por lamas ativadas- vala de oxidação............................................ 12
2.3. Microrganismos em sistemas de lamas ativadas- indicadores de desempenho do sistema
de tratamento ........................................................................................................................... 16
2.3.1. Bactérias .................................................................................................................... 17
2.3.1.1. Disfunções em sistemas de lamas ativadas provocadas por bactérias
filamentosas..................................................................................................................... 18
2.3.1.2. Metodologias de análise de bactérias filamentosas ............................................ 20
2.3.2. Protozoários e metazoários........................................................................................ 21
2.3.2.1. Índice Biótico de Lamas (IBL) ........................................................................... 25
2.4. Monitorização de parâmetros físico-químicos e processuais ........................................... 25
2.4.1. Parâmetros analíticos................................................................................................. 25
2.4.2. Parâmetros processuais ............................................................................................. 32
Capítulo 3. Descrição da estação de tratamento de águas residuais de Serzedo ................. 36
3.1.Obra de entrada e tratamento preliminar ........................................................................... 37
3.1.1. Elevação inicial ................................................................................................... 38
3.1.2. Receção e trasfega de lamas provenientes de fossas sépticas ............................. 39
3.1.3. Sistema de gradagem ........................................................................................... 39
3.1.4. Sistema de desengorduramento/desarenamento .................................................. 40

xi
3.1.5. Correção do pH e medição do caudal .................................................................. 41
3.1.6. Bacia de retenção de descargas pontuais- bacia de emergência .......................... 42
3.2.Tratamento secundário ...................................................................................................... 43
3.2.1. Tanques de contacto- seletor ............................................................................... 44
3.2.2. Reatores biológicos- tratamento por lamas ativadas ........................................... 45
3.2.3. Extração de lamas em excesso ............................................................................ 46
3.2.4. Decantação secundária ........................................................................................ 47
3.2.5. Estação elevatória de recirculação de lamas biológicas ...................................... 48
3.3.Tratamento terciário- remoção de cor ............................................................................... 48
3.3.1. Elevação de lamas flotadas.................................................................................. 50
3.4.Reutilização do efluente tratado ........................................................................................ 51
3.5.Tratamento de lamas em excesso ...................................................................................... 52
3.5.1. Espessamento mecânico de lamas ....................................................................... 53
3.5.2. Desidratação mecânica e transporte de lamas ..................................................... 54
3.5.3. Preparação e doseamento de polielectrólito para espessamento e desidratação .. 55
3.5.4. Armazenamento de lamas desidratadas ............................................................... 55
Capítulo 4. Controlo analítico e processual da instalação de Serzedo.................................. 56
4.1.Controlo analítico e principais parâmetros processuais .................................................... 56
4.1.1. Controlo analítico de campo...................................................................................... 56
4.1.2. Controlo analítico de laboratório ............................................................................... 59
4.1.3.Registo mensal ........................................................................................................... 62
4.2.Fatores para a utilização dos recursos hídricos ................................................................. 63
Capítulo 5. Materiais e Métodos .............................................................................................. 66
5.1. Período e frequência de análise ........................................................................................ 66
5.2. Análise aos parâmetros físico-químicos em laboratório .................................................. 66
5.2.1. Determinação analítica da Carência Química de Oxigénio (CQO) .......................... 67
5.2.2. Determinação analítica da Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5) ..................... 68
5.2.3. Determinação analítica do Azoto total (Ntotal) ........................................................... 68
5.2.4. Determinação analítica da concentração de N-NH4+ ................................................. 69
5.2.5. Determinação analítica da concentração de N-NO3- ................................................. 70
5.2.6. Determinação analítica da concentração do Fósforo total (Ptotal) .............................. 70
5.2.7. Determinação analítica de sólidos ............................................................................. 71
5.2.7.1. Determinação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) e de Sólidos
Suspensos Voláteis (SSV) ............................................................................................... 71
5.2.7.2. Determinação da Matéria Seca (MS) e da Matéria Volátil (MV) em amostras
sólidas e semi-sólidas ...................................................................................................... 72

xii
5.3. Análise microbiológica .................................................................................................... 73
5.3.1. Transporte e conservação das amostras..................................................................... 73
5.3.2. Estudo da comunidade de protozoários e de pequenos metazoários ......................... 74
5.3.2.1. Procedimento para o cálculo do IBL .................................................................. 74
5.3.2.2. Observação microscópica ................................................................................... 76
5.3.3. Estudo das bactérias filamentosas nas lamas ativadas .............................................. 77
5.3.3.1. Coloração de Gram............................................................................................. 78
5.3.3.2. Coloração de Neisser .......................................................................................... 78
5.3.3.3. Observação microscópica ................................................................................... 79
5.4. Tratamento estatístico dos dados...................................................................................... 80
Capítulo 6. Resultados e Discussão .......................................................................................... 81
6.1. Controlo analítico e processual ........................................................................................ 81
6.1.1. Água residual bruta ................................................................................................... 82
6.1.2. Água residual tratada ................................................................................................. 88
6.1.3. Licor misto ................................................................................................................ 93
6.1.4. Decantação secundária e Recirculação de lamas biológicas ..................................... 96
6.1.5.Tratamento de lamas biológicas ................................................................................. 99
6.1.6. Parâmetros processuais ........................................................................................... 101
6.1.7. Eficiências de remoção............................................................................................ 104
6.2. Análise microbiológica ao sistema de lamas ativadas da ETAR de Serzedo ................. 108
6.2.1. Caracterização das comunidades de protozoários e de pequenos metazoários ....... 108
6.2.2. Caracterização das bactérias filamentosas do licor misto da ETAR de Serzedo ..... 114
Capítulo 7. Conclusões ............................................................................................................ 118
Bibliografia .............................................................................................................................. 121
Anexos ...................................................................................................................................... 126
Anexo I. Programa de controlo analítico em laboratório interno .......................................... 126
Anexo II. Procedimentos laboratoriais homologados pela Águas do Noroeste, S.A. ........... 127
Anexo III. Tabela de identificação e contagem de protozoários e de pequenos metazoários 142
Anexo IV. Tabela de caraterização de bactérias filamentosas .............................................. 144
Anexo V. Tabelas de resultados de controlo analítico e processual da instalação ................ 145
Anexo VI. Fotografias dos organismos visualizados durante a análise microbiológica ao licor
misto da ETAR de Serzedo ................................................................................................... 153

xiii
xiv
Índice de Figuras

Figura 1- Localização dos 5 centros operacionais na região noroeste de Portugal.. ........ 3


Figura 2 - Exemplo de um sistema de lamas ativadas com vala de oxidação do tipo
Carrossel.. ....................................................................................................................... 13
Figura 3 - Rede trófica num sistema de tratamento de águas residuais por lamas
ativadas. .......................................................................................................................... 22
Figura 4 - Esquema de tratamento das águas residuais da ETAR de Serzedo, relativo às
etapas de elevação inicial e tratamento preliminar. ........................................................ 38
Figura 5 - Esquema de tratamento das águas residuais da ETAR de Serzedo,
relativamente ao tratamento secundário. ........................................................................ 43
Figura 6 - Sistema de tratamento terciário da ETAR de Serzedo. .................................. 48
Figura 7 - Esquema de tratamento da ETAR de Serzedo para a reutilização do efluente
tratado. ............................................................................................................................ 51
Figura 8 - Esquema de tratamento da ETAR de Serzedo para o tratamento das lamas
biológicas. ....................................................................................................................... 52
Figura 9 - Variação do pH da água residual afluente ao longo do período de
amostragem. .................................................................................................................... 83
Figura 10 - Variação da concentração de CQO e de CBO5 do efluente bruto durante o
período de amostragem. .................................................................................................. 84
Figura 11 - Variação da concentração de SST e de SSV do efluente bruto durante o
período de amostragem. .................................................................................................. 85
Figura 12 - Variação da concentração de Ntotal e de Ptotal do efluente bruto durante o
período de amostragem. .................................................................................................. 86
Figura 13 - Variação da concentração de N-NO3- e de N-NH4 + do efluente bruto durante
o período de amostragem................................................................................................ 87
Figura 14 - Variação do pH da água residual tratada ao longo do tempo de análise. .... 89
Figura 15 - Variação das concentrações de CQO e de CBO5 de amostras de efluente
tratado ao longo do período de amostragem. .................................................................. 89
Figura 16 - Variação das concentrações de SST e de SSV em amostras de efluente
tratado ao longo do período de amostragem. .................................................................. 90
Figura 17 - Variação das concentrações de Ptotal e de Ntotal em amostras de efluente
tratado durante o período de análise. .............................................................................. 90
Figura 18 - Variação das concentrações de N-NO3- e de N-NH4 + em amostras de
efluente tratado ao longo do período de amostragem. .................................................... 91
Figura 19 - Variação dos valores de pH da zona arejada e da zona anóxica durante o
tempo de amostragem. .................................................................................................... 94
Figura 20 - Variação das concentrações de SST e de SSV, na zona arejada da vala de
oxidação, durante o tempo de amostragem. ................................................................... 95
Figura 21 - Variação das concentrações de SST e de SSV de amostras de efluente de
saída do decantador secundário, durante o tempo de amostragem. ................................ 97

xv
Figura 22 - Variação das concentrações de SST e de SSV das lamas em recirculação,
durante o tempo de amostragem. .................................................................................... 98
Figura 23 - Representação gráfica da relação SSV/SST ao longo do tempo de análise. 98
Figura 24 - Variação da matéria seca e volátil em amostras de lamas espessadas e
desidratadas durante o período de amostragem realizado. ........................................... 100
Figura 25 - Variação do IVL e da razão A/M ao longo do tempo de análise. .............. 102
Figura 26 - Variação da razão de recirculação e do tempo de residência de sólidos ao
longo do tempo de amostragem. ................................................................................... 102
Figura 27 - Variação da razão CBO/CQO ao longo do período de análise. ................. 103
Figura 28 - Variação das eficiências de remoção de CQO, CBO5 e de SST ao longo do
tempo de amostragem. .................................................................................................. 105
Figura 29 - Variação das eficiências de remoção de N-total e de P-total ao longo do
tempo de amostragem. .................................................................................................. 106
Figura 30 - Variação das taxas de captura de sólidos, no espessamento e desidratação,
ao longo do período de amostragem. ............................................................................ 106
Figura 31 - Abundância dos diferentes grupos de organismos do licor misto da ETAR
de Serzedo ao longo do período de análise, compreendido entre Abril e Agosto. ....... 109
Figura 32-Classe de abundância das bactérias filamentosas identificadas no licor misto
da ETAR de Serzedo, ao longo do período de análise, compreendido entre Abril e
Agosto. .......................................................................................................................... 116

xvi
Índice de Tabelas

Tabela 1 - Tipos de organismos e as causas relacionadas com o seu crescimento


excessivo em sistemas de lamas ativadas.. ..................................................................... 20
Tabela 2 - Algumas situações específicas do funcionamento de sistemas de tratamento
biológico por lamas ativadas. ......................................................................................... 24
Tabela 3 - Dados de base de dimensionamento do sistema de tratamento da ETAR de
Serzedo. .......................................................................................................................... 37
Tabela 4 - Parâmetros analíticos determinados nos diferentes locais de amostragem na
instalação ........................................................................................................................ 58
Tabela 5 - Limites de alerta de cada parâmetro analítico para cada amostra a analisar na
ETAR de Serzedo ........................................................................................................... 59
Tabela 6 - Parâmetros analíticos a determinar em laboratório interno para os diferentes
pontos de amostragem do sistema de tratamento ........................................................... 60
Tabela 7 - Limites de alerta de cada parâmetro analítico para cada amostra a analisar na
ETAR de Serzedo ........................................................................................................... 61
Tabela 8 - Tipos de parâmetros processuais contidos nas folhas de Registo Mensal e
respetivos valores limite de alerta .................................................................................. 62
Tabela 9 - Programa de autocontrolo estabelecido, na licença de descarga emitida pela
ARH do Norte................................................................................................................. 64
Tabela 10 - Parâmetros analíticos e respetivos valores limite de emissão, segundo o
estipulado na licença de descarga ................................................................................... 65
Tabela 11 - Volume da amostra a utilizar de acordo com o alcance da medição. .......... 68
Tabela 12 - Volumes de amostras utilizados na determinação analítica de SST e de SSV.
........................................................................................................................................ 72
Tabela 13 - Tabela de duas entradas para a determinação do IBL (S: número de
espécies; F: número de pequenos flagelados)................................................................. 75
Tabela 14 - Conversão do valor do IBL em classes de qualidade biológica das lamas
ativadas. .......................................................................................................................... 76
Tabela 15 - Classes de abundância dos organismos filamentosos nas lamas activadas. 80
Tabela 16 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros analíticos
determinados em amostras de água residual bruta, durante o mês de Abril e Agosto de
2012. ............................................................................................................................... 82
Tabela 17 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados em amostras de água residual tratada, durante o mês de Abril e
Agosto de 2012. .............................................................................................................. 88
Tabela 18 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados nas amostras de licor misto, durante o mês de Abril e Agosto de
2012. ............................................................................................................................... 93
Tabela 19 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados nas amostras de efluente da decantação secundária e da
recirculação de lamas, durante o mês de Abril e Agosto de 2012. ................................. 96

xvii
Tabela 20 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados nas amostras de lamas espessadas e desidratadas, durante o mês
de Abril e Agosto de 2012. ........................................................................................... 100
Tabela 21 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
processual, durante o mês de Abril e Agosto de 2012.................................................. 101
Tabela 22 - Sumário dos resultados obtidos, durante o mês de Abril e Agosto de 2012,
nas eficiências de remoção relativos a cada parâmetro de controlo analítico e taxas de
capturas de sólidos. ....................................................................................................... 105
Tabela 23 - Abundância média e frequência das espécies de protozoários e de pequenos
metazoários observados no sistema de tratamento por lamas ativadas da ETAR de
Serzedo durante o período de análise, compreendido entre Abril e Agosto................. 112
Tabela 24. Valores de IBL obtidos ao longo do período de análise, compreendido entre
Abril e Agosto. ............................................................................................................. 113
Tabela 25 - Bactérias filamentosas identificadas nas amostras de licor misto da ETAR
de Serzedo, durante o período de análise. .................................................................... 115

xviii
Lista de Abreviaturas

ARH do Norte (Administração da Região Hidrográfica do Norte)


Azoto Kjeldahl total (Nkj )
Azoto total (Ntotal)
Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5)
Carência Quimica de Oxigénio (CQO)
Carga Mássica (A/M)
Estação de tratamento de águas residuais (ETAR)
Fósforo total (Ptotal)
Índice Biótico de Lamas (IBL)
Índice Volumétrico de Lamas (IVL)
Matéria Seca (MS)
Matéria Volátil (MV)
Mixed Liquor Suspended Solids (MLSS)
Razão alimento/ microrganismos (A/M)
Sequencing Batch Reactors (SBRs)
Sólidos Dissolvidos Totais (SDT)
Sólidos Sedimentáveis (V30)
Sólidos Suspensos Fixos (SSF)
Sólidos Suspensos Totais (SST)
Sólidos Suspensos Voláteis (SSV)
Sólidos Totais (ST)
Tempo de Residência de Sólidos (TRS)
Valores Limite de Emissão (VLE)

xix
xx
Capítulo 1. Enquadramento, objetivos e organização da dissertação

1.1.Enquadramento

Na gestão de estações de tratamento de águas residuais (ETAR) é imprescindível


haver um conhecimento profundo do modo de funcionamento de cada etapa de
tratamento, bem como do seu estado de desempenho. Para tal, o controlo dos
parâmetros processuais é fundamental para a gestão operacional de uma ETAR. A
análise de parâmetros analíticos faz parte de um conjunto de ferramentas essenciais para
a identificação de disfunções nos processos de tratamento. Foi neste contexto que se
desenvolveu o presente projeto em ambiente empresarial, o qual incidiu sobre a
realização de tarefas ao nível do controlo analítico interno da ETAR de Serzedo e o
desenvolvimento de um estudo para avaliar a performance do processo de tratamento
através da análise aos parâmetros analíticos e operacionais e sua relação com
parâmetros de análise microbiológica.
A observação microscópica de organismos como os protozoários, os pequenos
metazoários e de bactérias filamentosas em sistemas de lamas ativadas é uma atividade
imprescindível de acompanhamento processual. A deteção de problemas em sistemas de
tratamento de efluentes pode ser determinada a partir da observação microscópica,
permitindo estabelecer as causas das eventuais disfunções e proporcionar soluções. A
partir da caracterização de protozoários e de pequenos metazoários pode ser
determinado o Índice Biótico de Lamas, que se baseia na abundância e diversidade
destes organismos num sistema de lamas ativadas e nas diversas sensibilidades
demonstradas por alguns microrganismos aos parâmetros físico-químicos e operacionais
que caracterizam o sistema. Na identificação de bactérias filamentosas são
frequentemente usados os métodos clássicos, baseados na observação microscópica de
características morfológicas e na reação a colorações.
Este trabalho foi desenvolvido numa das infraestruturas da empresa Águas do
Noroeste, nomeadamente na ETAR de Serzedo, o qual permitiu adquirir conhecimentos
valiosos num dos ramos fundamentais da tecnologia ambiental.

1
1.1.1.Caracterização da Águas do Noroeste, S.A.

A empresa Águas do Noroeste S.A., sedeada em Barcelos, tem como


responsabilidade o abastecimento de água e tratamento de águas residuais da zona
noroeste de Portugal. Esta entrou em atividade a 4 de Junho de 2010, e resultou de uma
junção de três sociedades, nomeadamente da Águas do Cávado, S.A, da Águas do
Minho e Lima, S.A. e da Águas do Ave, S.A..
A Águas do Noroeste está inserida numa das áreas de negócio do grupo Águas
de Portugal, e tem como finalidade conceber, desenvolver e explorar infraestruturas
adequadas para a captação, tratamento e distribuição de água pelos diversos municípios
que serve, bem como para o tratamento de águas residuais. Conjuntamente, pretende
melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e do meio ambiente envolvente, contribuir
para o desenvolvimento socioeconómico da região e potenciar a sustentabilidade ao
nível social, económico e ambiental. Com o propósito de cumprir os seus objetivos, a
empresa busca seguir certos valores, designadamente a satisfação dos seus clientes e das
demais partes interessadas, o aperfeiçoamento e inovação em todas as fases e processos,
a melhoria contínua, a comunicação, entre outros.
A área de atuação desta organização é de aproximadamente de 6 mil km2,
engloba 32 municípios e serve mais de um milhão e cem mil cidadãos. O estado
português conferiu à Águas do Noroeste a plena exploração e gestão do sistema
multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento da região noroeste num
período de 50 anos, sendo a construção das suas infraestruturas apoiada financeiramente
por comparticipação do Fundo de Coesão, através de candidaturas demostradas e
aprovadas pelas empresas que originaram a Águas do Noroeste por fusão. Este apoio
variou entre 65 a 85% e o investimento total será de 823 milhões de euros (entre 1995 e
2017). O sistema de abastecimento de água está dimensionado para oferecer 67,1
milhões de m3 por ano de água potável, a uma população estimada de 1 milhão de
indivíduos, e o sistema de saneamento terá capacidade para a recolha, tratamento e
rejeição de 80 milhões de m3 por ano de águas residuais, de uma população estimada de
1,2 milhões de habitantes [1].

2
O sistema multimunicipal de saneamento é constituído por 5 centros
operacionais: centro operacional do Minho, Lima, Ave, Cávado e Tâmega/Sousa. Na
Figura 1 está representada a distribuição geográfica dos diferentes centros operacionais
[2].

Figura 1- Localização dos 5 centros operacionais na região noroeste de Portugal.


Adaptado de [2].

3
As infraestruturas que compõem todo o sistema de saneamento são constituídas
por 103 ETAR, 1415 km de interceptores, 267 estações elevatórias e outros
componentes que satisfazem o funcionamento adequado do sistema. O investimento
total a ser exercido sobre o sistema de saneamento é de 413,3 milhões de euros, o que
vai possibilitar chegar a uma taxa de atendimento de cerca de 88% da população total da
região noroeste [1] [2].
A ETAR de Serzedo, a qual está integrada no sistema multimunicipal de
saneamento da empresa Águas do Noroeste, está localizada no concelho de Guimarães,
mais especificamente na freguesia de Serzedo. Este subsistema entrou em atividade em
Agosto de 2009, e está preparado para servir uma população de aproximadamente
97200 habitantes equivalentes e para tratar um caudal máximo de 14000 m3 por dia de
efluente industrial e doméstico [2].
A instalação de Serzedo serve maioritariamente a população residente no
município de Fafe, englobando ainda parte do concelho de Guimarães (Serzedo) e do
concelho de Felgueiras (Jugueiros), tratando efluentes de origem doméstica e industrial,
com descarga do efluente tratado para o rio Vizela.
O propósito desta infraestrutura é o de efetuar o tratamento do efluente de modo
mais eficiente e contribuir para a uma gestão mais adequada do meio hídrico e para uma
melhoria ambiental contínua.

1.2.Objetivos

O presente trabalho teve como objetivos específicos avaliar o desempenho e


eficiência da ETAR de Serzedo por análise de parâmetros analíticos, que caracterizam o
efluente em todas as suas fases de tratamento, e de parâmetros de operação,
conjuntamente com a execução de tarefas ao nível do controlo analítico interno da
ETAR. A análise microbiológica de protozoários, pequenos metazoários e bactérias
filamentosas ao reator biológico foi realizada como meio complementar de diagnóstico
do funcionamento da ETAR. A implementação da análise microbiológica constituiu
uma competência adicional do laboratório da ETAR, após a realização desta
dissertação.

4
Pretendeu-se, com a realização deste projeto em ambiente empresarial,
contribuir para o bom funcionamento da ETAR de Serzedo, apostando numa melhoria
contínua do sistema de tratamento das águas residuais, e ainda colaborar para o
desenvolvimento dos estudos sobre a ecologia microbiana de sistemas de lamas
ativadas.

1.3.Organização da dissertação

Para além deste capítulo introdutório, a presente dissertação é composta por


mais 6 capítulos.
No Capítulo 2 são descritas, de uma forma geral, a importância do tratamento de
águas residuais e as técnicas aplicadas para esse fim. Posteriormente, é apresentada uma
revisão bibliográfica acerca da comunidade de protozoários e pequenos metazoários e
das bactérias filamentosas, presentes num sistema de lamas ativadas, realçando a
importância destes na deteção de problemas ao nível do sistema de tratamento. Nesta
secção são abordados os parâmetros físico-químicos aplicados na caracterização de
efluentes e os parâmetros processuais frequentemente analisados num sistema de
tratamento.
Seguidamente, no Capítulo 3, é caracterizado o sistema de tratamento da ETAR
de Serzedo, local onde se desenvolveu o presente trabalho, com a descrição dos
mecanismos que integram o sistema.
No Capítulo 4 é descrito o sistema de gestão operacional do controlo analítico da
instalação e ainda, os principais parâmetros de controlo operacional da ETAR.
O Capítulo 5 aborda as metodologias associadas ao estudo da avaliação do
desempenho da ETAR de Serzedo a partir dos parâmetros analíticos e operacionais. São
apresentados os materiais e métodos aplicados no estudo dos protozoários, pequenos
metazoários e bactérias filamentosas, bem como o procedimento para o tratamento
estatístico dos dados.
No Capítulo 6, a partir da representação dos resultados, são discutidos os dados
obtidos dos parâmetros analíticos, operacionais e da caracterização microbiológica ao
reator biológico.

5
No Capítulo 7 são apresentadas as conclusões dos estudos realizados e as
perspetivas futuras.

6
Capítulo 2. Revisão bibliográfica

2.1. O tratamento de águas residuais

Os problemas ambientais têm vindo a aumentar nos últimos anos, aos quais têm
sido motivados pelo aumento demográfico e pelo desenvolvimento da atividade
industrial. A sociedade atual produz diariamente grandes quantidades de resíduos
sólidos, líquidos e gasosos, promovidos pelo crescente consumo dos recursos naturais,
usados para satisfazerem as necessidades correntes. Tudo isto leva a que as perturbações
sobre o meio ambiente, fomentadas pela ação antropogénica, estejam a provocar
mudanças na qualidade do solo, da água e do ar [3].
A sustentabilidade da vida das comunidades atuais está limitada pela existência
de um elemento essencial, a água. Esta está no meio ambiente associada a outros
compostos, podendo a qualidade de um meio hídrico ser determinada pela
caracterização destes compostos. Nesta análise, se a quantidade destas substâncias se
afastarem do que usualmente é verificado, conclui-se, normalmente, que o sistema está
poluído ou contaminado. É desta forma, que a utilização dos recursos hídricos pode
tornar-se impossível para servir as populações e a vida dos organismos aquáticos é
colocada em causa [4].
Uma das causas para a contaminação de um ecossistema aquático é a rejeição
para o meio ambiente de resíduos líquidos produzidos pelo Homem. Os resíduos
líquidos, designados por águas residuais, podem ser classificados de três formas: águas
residuais domésticas, resultantes das atividades domésticas e do metabolismo humano;
águas residuais industriais, que são todos os resíduos resultantes de atividades que não
sejam definidos como águas residuais domésticas nem como águas pluviais e as águas
residuais urbanas, que são as águas residuais domésticas, ou a junção destas com águas
residuais industriais e ou com águas pluviais [5].
Quando a água residual é descarregada para um meio recetor sem ser
previamente sujeita a um processo de tratamento, a interação de alguns dos seus
elementos constituintes, de carácter poluente, com o meio envolvente leva ao aumento

7
dos impactes ambientais. Seguidamente, são apresentados alguns dos problemas
associados à descarga de água residual não tratada [6]:

 A aglomeração dos materiais sólidos no meio aquático que constituem as águas


residuais (por exemplo, tecidos) leva à poluição visual e à possibilidade do
desenvolvimento de agentes infeciosos;
 A presença de óleos e gorduras gera espumas, que conduz à formação de uma
película à superfície do meio hídrico prejudicando a transferência de oxigénio da
atmosfera para o meio líquido e à alteração da paisagem;
 A descarga de água residual com matéria orgânica leva ao consumo do oxigénio
dissolvido por ação de bactérias e pode colocar em risco a saúde pública devido
ao desenvolvimento de agentes infeciosos;
 A presença de microrganismos que podem provocar o desenvolvimento de
doenças no Homem, se por exemplo a descarga for feita próxima da captação de
água para consumo ou para irrigação colocando a saúde pública em risco;
 As águas residuais também contêm nutrientes, como o azoto e o fósforo, que
quando enviados em excesso para o meio aquático levam ao fenómeno de
eutrofização;
 As substâncias tóxicas contidas por exemplo em efluentes industriais, leva a que
estes, dependendo da concentração e da sua toxicidade, possam danificar os
sistemas aquáticos e podem ser introduzidos no organismo do Homem com a
acumulação destas substâncias ao longo da cadeia alimentar (bioacumulação).

Mediante estas consequências torna-se indispensável realizar um tratamento


prévio adequado às águas residuais, para que as agressões ao meio ambiente, resultantes
da deposição destes resíduos, sejam reduzidas e para que a saúde pública e ambiental
seja protegida.
A forma mais apropriada para o tratamento de águas residuais é através de uma
estação de tratamento de águas residuais (ETAR), que tem como finalidade efetuar o
tratamento final dos resíduos líquidos, permitindo a redução dos compostos poluentes
existentes, com a possibilidade de mais tarde, se poder reutilizar o efluente resultante.
Na determinação dos diferentes tipos de processos de tratamento a empregar numa
ETAR, deve-se ter em consideração determinados fatores, tais como a natureza do

8
efluente, as suas características quantitativas e qualitativas, as propriedades físico -
químicas e termodinâmicas dos resíduos sólidos resultantes do processo, os custos
associados ao processo de tratamento, o local a implementar o sistema e a qualidade do
efluente final que se pretende obter [7] [8]. Portanto, uma ETAR é composta por uma
variedade de operações e processos de tratamento das águas residuais afluentes, com o
intuito de se obter um efluente final que não danifique o meio recetor. Nas secções
seguintes são descritas, de uma forma generalizada, as diferentes técnicas de tratamento
aplicadas em ETAR.

2.1.1. Técnicas de tratamento de águas residuais numa ETAR

No tratamento das águas residuais são utilizados métodos físicos, químicos e


biológicos, que, combinados, constituem as diferentes etapas de tratamento da fase
líquida de uma ETAR: tratamento preliminar, primário, secundário e terciário.
A fase de tratamento preliminar permite a remoção de materiais como, gorduras,
areias e outros sólidos grosseiros constituintes das águas residuais. Os sólidos são
removidos, por exemplo, por aplicação de processos de gradagem (uso de grades) e por
tamisadores, permitindo eliminar parte da matéria orgânica/inorgânica existente no
afluente. Normalmente, é implementado um desarenador para a eliminação de areias, e
os óleos e gorduras são removidos através da injeção de ar no efluente que leva à subida
destes à superfície. Nesta fase de tratamento ocorre ainda a equalização, de forma a
possibilitar a mistura dos diferentes fluxos de efluente e assim, obter uma corrente com
características aproximadamente constantes, e ocorre também a neutralização do pH [9]
[10]. O tratamento primário permite a remoção parcial de sólidos suspensos e de matéria
orgânica. Uma das técnicas implementadas neste processo é a sedimentação (decantação
primária), que permite a redução de sólidos sedimentáveis. Este processo apresenta
eficiências de remoção na ordem dos 50 -70% em sólidos em suspensão e de 25-40% na
Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5). Outros processos que podem ser aplicados
neste tratamento são a flutuação, a adição química e a filtração. O tratamento
preliminar/primário permite assim, preparar o efluente para os processos de tratamento
subsequentes [11].

9
No tratamento secundário são aplicados processos químicos, biológicos e físicos
de forma a remover a maior parte da matéria orgânica biodegradável, em suspensão ou
em solução. Nesta etapa de tratamento pode ocorrer ou não a remoção de nutrientes
como, o azoto e o fósforo [11]. Normalmente, através desta etapa, com um caudal de
entrada contendo uma concentração entre os 50 e os 1000 mg/L de CBO5 pode-se obter
um efluente com uma concentração próxima de 15 mg/L [10]. A precipitação química é
um exemplo de um método químico que é usado em conjunto com o tratamento
biológico para a remoção de fósforo [11]. Os processos do tratamento biológico de um
efluente podem ser: aeróbios, anaeróbios, anóxicos, uma combinação dos anteriores ou
facultativos. Processos aeróbios e anaeróbios ocorrem na presença e na ausência de
oxigénio, respetivamente, e a desnitrificação, no qual ocorre a passagem de nitrato a
azoto gasoso na ausência de oxigénio, é um processo anóxico. Nos sistemas de
tratamento biológico os processos envolventes poder ser de biomassa suspensa e de
biomassa fixa. Num sistema de biomassa suspensa os microrganismos responsáveis pela
conversão da matéria orgânica estão suspensos no meio líquido. O tratamento por lamas
ativadas e a lagunagem são exemplos deste tipo de sistema, os quais atuam na presença
de oxigénio. Pelo contrário, no sistema de tratamento por biomassa fixa os
microrganismos estão fixos a um material inerte. Exemplo deste tipo de sistemas são os
reatores de biodiscos [11].
A fase de tratamento terciário tem como objetivo remover compostos que nos
processos anteriores de tratamento não foram eliminados significativamente, como por
exemplo sólidos suspensos, nutrientes e microrganismos. A filtração é um processo
aplicado nesta fase para a remoção de sólidos suspensos. A desinfeção é um método que
permite a eliminação de microrganismos por ação de agentes químicos e físicos. Outros
processos que também podem ser usados são: a flutuação, ozonização, coagulação
química e floculação, a adsorção (por carvão ativado) e osmose inversa [9]. Estes
métodos têm a desvantagem de serem dispendiosos [10].

2.1.2. Outras técnicas de tratamento aplicadas em ETAR

A partir dos diferentes níveis de tratamento de águas residuais, existentes numa


ETAR, são produzidas lamas. Devido às suas características, podem provocar impactes

10
no ambiente e na saúde pública, sendo, assim, necessário que sejam sujeitas a um
tratamento adequado antes do seu destino final. A maioria das ETAR dispõe de sistemas
de tratamento das lamas produzidas.
As lamas resultam dos sólidos orgânicos e inorgânicos que são removidos do
efluente através de processos de tratamento de águas residuais, como por exemplo em
sistemas de decantação primária e secundária, como também de sólidos gerados em
sistemas de tratamento biológico. Existem vários processos que podem ser usados no
tratamento de lamas. Um dos principais métodos é o espessamento, que consiste em
reduzir o volume de lamas e em as homogeneizar. O espessamento pode ser de vários
tipos: gravítico, por centrifugação, flotação, entre outros. O processo de estabilização é
um passo intermédio típico no tratamento de lamas. Este baseia-se na
redução/eliminação do potencial de putrefação das lamas, na remoção do odor e dos
microrganismos. A estabilização das lamas pode caracterizar-se pelo tratamento por
calor, pela compostagem e pela digestão anaeróbio e aeróbia. A desidratação é um dos
processos finais do tratamento, ao qual se baseia na redução de água existente nas
lamas. Este sistema tem como benefícios o transporte posterior das lamas a um custo
menor e permite facilitar o seu manuseamento. Na desidratação são usados filtros de
prensa, filtros de vácuo, centrifugas e leitos de secagem [12] [13]. Após tratamento as
lamas podem ser aplicadas como corretivo de solos, entre outras aplicações.
Para além dos sistemas de tratamento de lamas, algumas ETAR são dotadas por
infraestruturas de tratamento de gases produzidos no tratamento das águas residuais e
das lamas. Uma dessas infraestruturas são os sistemas de desodorização, pois um dos
inconvenientes de um sistema de tratamento de águas residuais é a produção de odores,
que causa desconforto às populações que habitam próximas do sistema. Estes odores
têm origem na decomposição da matéria orgânica presente nas águas residuais e na
descarga de águas residuais industriais. Nas ETAR o composto odorífico mais comum é
o sulfureto de hidrogénio. Outros tipos de compostos odoríficos também presentes são o
amoníaco e os mercaptanos. Os métodos de tratamento utilizados no tratamento de
odores em sistemas de tratamento de águas residuais podem ser físicos, químicos ou
biológicos. Exemplos desses métodos de tratamento são: a adsorção por carvão ativado,
a precipitação química, os reatores de biofiltros e os processos térmicos [11].

Uma ETAR é assim, uma infraestrutura de elevada importância no tratamento


das águas residuais, organizada por uma diversidade de operações e processos de

11
tratamento adequados, sendo a sua existência indispensável para a redução dos impactes
ambientes criados pelo Homem.

2.2. Tratamento biológico por lamas ativadas- vala de oxidação

O sistema de tratamento por lamas ativadas surgiu em 1914, em Manchester,


sendo o seu funcionamento geral baseado em dois estágios: primeiramente há a redução
e transformação dos poluentes num reator biológico, através da biomassa suspensa e em
ambiente aeróbio, e de seguida, dá-se a separação dos sólidos da fase líquida, isto é a
separação da lama biológica da água residual, efetuada normalmente num decantador. O
designado licor misto resulta da mistura da água residual afluente e da lama biológica
(lama ativada), que ocorre no interior do reator biológico. As lamas ativadas são
compostas por uma grande diversidade de microrganismos (bactérias, protozoários,
fungos, etc.) e por compostos orgânicos e inorgânicos, como por exemplo os polímeros
extracelulares que são importantes para a biofloculação. A lama é formada pela
suspensão floculenta da comunidade microbiana [14] [15].
Um sistema de tratamento com um reator biológico com a configuração de uma
vala de oxidação é uma das alternativas aos sistemas convencionais de lamas ativadas.
Este surgiu por volta 1959, concebido por Pasveer, com o objetivo de criar um sistema
de tratamento de águas residuais menos dispendioso, para satisfazer uma pequena
comunidade em Holanda [16]. As valas de oxidação apresentam, de uma forma geral,
uma variedade de vantagens na sua utilização: baixos custos de manutenção; permite
um nível constante de efluente no reator, com descarga contínua, que possibilita que o
efluente não transborde e elimina o aumento periódico de efluente que é usual em outros
processos biológicos, tais como SBRs; é produzida uma menor quantidade de lamas
biológicas do que em outros processos e os custos energéticos são menores em
comparação com outros processos biológicos. No entanto, estes sistemas têm as suas
desvantagens, produz concentrações elevadas de sólidos suspensos em comparação com
outros sistemas de lamas ativadas e necessitam de uma grande área de implementação
do sistema, limitando a sua aplicação nas zonas urbanas, suburbanas ou em outras áreas
em que os custos de aquisição do terreno sejam elevados [17].

12
Para além do sistema original proposto por Pasveer outras configurações foram
desenvolvidas ao longo dos anos, sendo uma delas a vala de oxidação do tipo Carrossel.
Esta foi criada com o objetivo de tratar maiores quantidades de efluente, de forma a
ultrapassar por exemplo problemas relacionados com grandes gastos energéticos
durante o processo, que poderiam acontecer se fosse aplicado um tanque de arejamento
convencional em arejamento prolongado para o mesmo efeito [16].
A vala de oxidação do tipo Carrossel (Figura 2) pode operar em arejamento
prolongado. Neste tipo de operação a razão A/M apresenta valores entre 0.05 e 0.15
KgCBO/Kg MLSS.d, o tempo de retenção hidráulico varia entre 20 a 30 horas, a idade
de lamas varia entre 20 a 30 dias, a concentração de MLSS nas lamas varia entre 2000-
6000 mg/L e a eficiência de remoção neste tipo de processo varia entre 90 a 95% [18].

Figura 2 - Exemplo de um sistema de lamas ativadas com vala de oxidação do tipo


Carrossel. Adaptado de [18].

O sistema de lamas ativadas com uma configuração de vala de oxidação permite,


em termos de funcionalidade, juntar as características de um sistema de mistura
completa com um sistema de fluxo pistão.
A conceção hidráulica da vala de oxidação possibilita, ao longo do circuito,
obter concentrações de oxigénio diferentes, formando zonas ricas em oxigénio (zonas
arejadas) e zonas com concentrações baixas de oxigénio (zonas anóxicas). Assim, este
gradiente de concentrações de oxigénio ao longo do reator permite que ocorram
processos de nitrificação/ desnitrificação, a redução de fósforo e a simultânea redução
da matéria orgânica [19][20].

13
No interior do reator, a partir da comunidade microbiana presente (organismos
heterotróficos aeróbios), ocorre a oxidação de uma parte da matéria orgânica a produtos
finais e a outra parte é transformada em nova biomassa, segundo a estequiometria da
Equação 1 [11].

Bactéria
COHNS + O2 + nutrientes CO2 + NH3 + C5H7NO2 + outro produto final Equação 1
(matéria (novas células)
orgânica)

A respiração endógena dá-se segundo a estequiometria da Equação 2 [11].

Bactéria
C5H7NO2 + 5O2 5CO2 + 2H2O + NH3 + energia Equação 2
(Células)

A remoção biológica do azoto tem início no processo de amonificação, que por


ação de microrganismos ocorre a conversão de compostos orgânicos azotados
(proteínas, ureia, etc.) a azoto amoniacal. Posteriormente, dá-se a oxidação biológica do
azoto amoniacal a nitrato, processo designado de nitrificação. Este processo, que ocorre
em ambiente aeróbio, envolve duas etapas: primeiramente o azoto amoniacal é
convertida a nitrito (Equação 3), e de seguida esta é convertida a nitrato (Equação 4).
Estas duas etapas envolvem a ação de bactérias autotróficas como, as Nitrossomas e as
Nitrobacter, que utilizam fontes inorgânicas de azoto (azoto amoniacal e nitritos) para a
obtenção de energia [21].

Equação 3
Equação 4

Existe uma variedade de fatores que afetam o processo de nitrificação como, o pH, a
temperatura, o tempo de residência de sólidos e os compostos inibidores da taxa de
nitrificação, visto que as bactérias que participam neste processo apresentam uma taxa

14
de crescimento menor que as bactérias heterotróficas. Valores de pH entre 7.2 e 9.0, é o
intervalo de valores mais adequado para a ocorrência deste processo, sendo que para
valores fora desta gama, a velocidade de crescimento dos organismos é menor. O
processo de nitrificação pode ocorrer numa gama ampla de temperaturas, entre os 4 a
45ºC, sendo que o valor ótimo de operação está compreendido entre 35 a 45ºC [22]. Na
zona aeróbia do sistema de lamas ativadas, os organismos intervenientes no processo de
nitrificação e na redução da matéria orgânica são produzidos continuamente, devido à
síntese de matéria biológica, e seguem juntamente com o efluente até aos decantadores
secundários, onde ocorre a separação do material sólido da fase liquida. A recirculação
das lamas biológicas do decantador para o reator biológico permite manter uma
quantidade elevada de biomassa no seu interior.
A remoção final do azoto da água residual dá-se pelo processo de
desnitrificação. Este ocorre num ambiente anóxico, a uma concentração de oxigénio
dissolvido baixa ou nula, em que os microrganismos efetuam a redução dos nitratos ou
nitritos a azoto molecular (Equação 5). Os nitratos e nitritos funcionam como
aceitadores finais na cadeia transportadora de eletrões. Os organismos intervenientes
neste processo são bactérias heterotróficas (utilizam compostos orgânicos como fonte de
carbono), como por exemplo as Achromobacter, Acinetobacter, Agrobacterium, entre
outros. A maior parte das bactérias são facultativas, isto é, tanto utilizam o oxigénio, o
nitrato ou nitrito no processo [21][11]. O intervalo de pH para o qual o processo de
desnitrificação pode ocorrer é de 6.5 a 7.5 e a uma temperatura aproximadamente 30ºC
[22].

orgânico Equação 5

Na zona anóxica do reator biológico ocorre, portanto, o processo de desnitrificação,


permitindo a redução dos consumos de energia, visto que, durante o processo ocorre a
libertação de oxigénio e parte da matéria orgânica é utilizada como fonte de carbono
pelos organismos desnitrificantes. A ocorrência deste processo possibilita a reposição de
parte da alcalinidade retirada durante o processo de nitrificação e contribui para uma
maior estabilidade do processo, visto que reduz a possibilidade de ocorrência de
fenómenos de desnitrificação na decantação secundária, sendo este último processo
preocupante principalmente durante períodos de temperaturas mais altas [19][20].

15
A remoção biológica do fósforo neste sistema ocorre pela incorporação do
fósforo existente na água residual na biomassa celular. Em condições aeróbias, a energia
é produzida pela oxidação dos compostos armazenados e o armazenamento de
polifosfato dentro das células aumenta. Posteriormente, os compostos de fósforo são
removidos do sistema maioritariamente no decantador secundário, onde ocorre a
sedimentação das lamas biológicas [11].
O sistema de vala de oxidação apresenta uma razão de recirculação interna entre
a mistura do caudal afluente, as águas residuais e as lamas em recirculação bastante
mais elevada do que outros sistemas de tratamento biológico, devido ao seu fluxo
orbital. Nestes sistemas, ao contrário de uma configuração Plug-flow, a água residual ao
entrar no reator é instantaneamente diluída pelo alto caudal de recirculação interna
inerente ao próprio fluxo orbital. A junção da situação anterior com o elevado volume
de arejamento permite assim, que as pontas hidráulicas e poluentes sejam facilmente
absorvidas, garantindo-se uma qualidade de efluente bastante estável [19][20].

2.3. Microrganismos em sistemas de lamas ativadas- indicadores de


desempenho do sistema de tratamento

Um sistema de tratamento biológico por lamas ativadas é constituído por uma


variedade de microrganismos que possuem um papel fundamental no tratamento
adequado da água residual. As bactérias, protozoários, pequenos metazoários e fungos,
são alguns dos organismos que estão presentes neste tipo de sistemas.
Nos sistemas de lamas ativadas a componente abiótica é caracterizada pelo
reator biológico e a componente biótica pelas comunidades de microrganismos,
representadas principalmente pelos decompositores, nomeadamente bactérias e fungos
que degradam a matéria orgânica presente para a obtenção de energia, e pelos
consumidores, como protozoários e pequenos metazoários que consomem bactérias e
outros organismos [23].
O conhecimento da comunidade microbiana no tratamento biológico do efluente
é um fator importante para um controlo eficaz sobre o sistema de tratamento. A
existência de variações nas comunidades de organismos presentes podem ter origem em

16
alterações de parâmetros processuais, que por consequência podem afetar o desempenho
do sistema.

2.3.1. Bactérias

A presença de bactérias em sistemas de tratamento por lamas ativadas é


determinante no tratamento biológico de águas residuais. As bactérias são seres
procarióticas, reproduzem-se principalmente por fissão binária e o tamanho das células
varia, geralmente, entre 0.3 e 2 µm [24]. De acordo com as suas necessidades
metabólicas, as bactérias podem decompor uma variedade de compostos presentes no
efluente, como se pode constatar pelo descrito anteriormente.
Em sistemas de tratamento biológico por lamas ativadas as populações
bacterianas podem estar sobre a forma de bactérias dispersas, bactérias formadoras de
flocos e bactérias filamentosas [23].
As bactérias são organismos responsáveis pela formação dos flocos no sistema
de tratamento por lamas ativadas. Os flocos formados são compostos por agregados de
microrganismos e de partículas orgânicas e inorgânicas. Os organismos que estão
presentes nos flocos são principalmente bactérias, algumas das quais têm capacidade de
formar flocos, como por exemplo as bactérias pertencentes aos géneros Achromobacter,
Alcaligenes, Arthrobacter, Citromonas, Flavobacterium, Pseudomonas e Zooglea. As
bactérias filamentosas estão também presentes, sendo importantes na manutenção da
estrutura do floco. As bactérias formadoras de flocos segregam compostos
extracelulares específicos, após decomposição de substâncias orgânicas, constituindo o
glicocálice. Deste modo, verifica-se um aumento da viscosidade da água, auxiliando a
atividade das enzimas extracelulares e a aglomeração das bactérias a superfícies
orgânicas ou inorgânicas. Este processo pode ser designado por biofloculação. Portanto,
a floculação baseia-se na agregação de partículas com dimensões e pesos específicos
que permitem a sua separação da fase líquida por sedimentação. Assim, a formação de
um floco em sistemas de lamas ativadas engloba a floculação de bactérias, formando
agregados de organismos que podem incluir também compostos inorgânicos e a
constituição de um “esqueleto filamentoso” que permite o aumento da dimensão do
floco e a resistência às agressões mecânicas [23][25]. A eficiência do tratamento

17
secundário é, assim determinada pela formação adequada de flocos, possibilitando a
separação das lamas biológicas da fase líquida, obtendo-se um efluente final clarificado.
As bactérias filamentosas reproduzem-se por divisão binária, em que as células
formadas permanecem próximas umas das outras originando os filamentos [26].
São vários os parâmetros que podem afetar a atividade das bactérias no interior
de um reator biológico, como por exemplo o pH, temperatura e a concentração de
oxigénio dissolvido no meio. Um outro parâmetro é a razão A/M
(alimento/microrganismo), que para valores altos os organismos não floculam, podendo
haver problemas na sedimentação das lamas, e para valores baixos, o substrato é
limitado, ocorrendo a oxidação total da matéria orgânica, produzindo-se lamas com
boas características para sedimentação no decantador secundário [27].
Portanto, o conhecimento da relação entre parâmetros do processo e as
características das bactérias em sistemas de lamas ativadas é uma ferramenta essencial
para um controlo mais adequado sobre o sistema.

2.3.1.1. Disfunções em sistemas de lamas ativadas provocadas por bactérias


filamentosas

O bom desempenho de um processo de tratamento por lamas ativadas é limitado


pela capacidade de separação e concentração das lamas biológicas do efluente tratado
no decantador secundário. As propriedades físicas dos flocos das lamas ativadas são
determinantes na compactação e sedimentação das lamas. Como constatado
anteriormente, as bactérias filamentosas são organismos indispensáveis à formação dos
flocos no sistema, visto que formam um “esqueleto” rígido, o qual os restantes
organismos aderem a essa estrutura. Se as bactérias filamentosas forem em número
insuficiente, os flocos podem-se romper em agregados mais pequenos devido, por
exemplo, à turbulência no sistema resultante do arejamento, verificando-se uma menor
capacidade de sedimentação das lamas [28]. Por outro lado, se os organismos
filamentosos aparecerem em número excessivo, podem provocar problemas no
desempenho do sistema, como o bulking filamentoso e o foaming filamentoso [23].
Existe uma variedade de disfunções que podem ocorrer num sistema de lamas
ativadas, nomeadamente ao nível da separação das fases sólida e líquida, para além das

18
referidas anteriormente, como o bulking não filamentoso, os flocos pin-point, o
crescimento disperso, entre outros [29]. Os problemas mais usuais nos sistemas de
sedimentação das lamas biológicas resultam do excessivo crescimento de bactérias
filamentosas, produzindo-se efluentes de baixa qualidade [23].
Portanto, um dos problemas associados ao crescimento excessivo de bactérias
filamentosas nos sistemas de tratamento é o bulking filamentoso. O crescimento
excessivo destes organismos pode provocar a formação de pontes entre flocos ou a
produção de flocos em malha larga. Nestas duas situações ocorrem problemas na
sedimentação das lamas. Os organismos filamentosos que podem provocar este tipo de
disfunções são variados, e torna-se necessário conhecer as características de cada um de
modo a detetar as causas do seu desenvolvimento [30]. A deteção do fenómeno de
bulking pode ser realizada pela análise do Índice Volumétrico de Lamas e pela
observação microscópica dos organismos filamentosos presentes nas lamas ativadas
[23].
Um outro problema que pode ocorrer nos sistemas de lamas ativadas é o
fenómeno de foaming filamentoso. Este deve-se à proliferação de bactérias
filamentosas, como a Microthrix parvicella e os nocardioformes, e manifesta-se na
formação de uma espuma persistente, de cor castanha e viscosa sobre a superfície do
reator biológico e, posteriormente, sobre o decantador secundário [30]. Verificando-se
no reator biológico condições favoráveis ao crescimento de organismos filamentosos,
estes vão flutuar no reator e no decantador secundário, e sendo estes organismos
hidrófobos e a ocorrência de perda de água por evaporação na superfície dos sistemas,
levará a que se forme uma camada de espumas rígidas [23]. Microthrix parvicella é o
organismo responsável pelo fenómeno de foaming filamentoso mais comum na Europa.

São várias as bactérias filamentosas que podem provocar problemas na


sedimentação das lamas biológicas em sistemas de lamas ativadas devido ao seu
crescimento excessivo. Estes organismos distinguem-se entre si pelas diferentes
necessidades de substrato e de nutrientes, como também da capacidade metabólica de
cada um. De modo a se identificar as causas destes problemas através da identificação
dos organismos presentes nos sistemas é indispensável o conhecimento das
características morfológicas de cada um [30]. Na tabela seguinte, estão representados
alguns dos tipos de organismos e as causas relacionadas com o seu crescimento
excessivo.

19
Tabela 1 - Tipos de organismos e as causas relacionadas com o seu crescimento
excessivo em sistemas de lamas ativadas. Adaptado de [11].

Espécies Causas do seu desenvolvimento


Halsicomenobacter hydrossis
Baixa concentração de oxigénio
Microthrix parvicella
dissolvido
Tipo 1701
Sphaerotilus natans
Microthrix parvicella
Tipo 0041
Baixa A/M
Tipo 0092
Tipo 0675
Tipo 1851
Sphaerotilus natans
Thiothrix sp.
Tipo 021N
Carência de nutrientes
Halsicomenobacter hydrossis
Tipo 0041
Tipo 675
Fungos Baixo pH

2.3.1.2. Metodologias de análise de bactérias filamentosas

A identificação de bactérias filamentosas em sistemas de tratamento biológico


por lamas ativadas é usualmente realizada a partir das características morfológicas e na
resposta a técnicas de coloração [23].
Existem várias técnicas de coloração aplicadas como a coloração de Gram,
coloração de Neisser, o teste S, o teste de tinta-da-china, entre outros.
A análise microscópica de características morfológicas dos diferentes
organismos filamentosos baseia-se na análise da presença ou ausência de ramificações,
na mobilidade, na forma do filamento (direito, em ramalhete, enrolado, levemente curvo
e dobrado), na localização do filamento (interna, externa e livre relativamente ao floco),
na existência ou não de crescimento de bactérias sésseis, na existência ou ausência de
bainha, nas formas das células, que podem ser quadradas, retangulares, em forma de
bastonete, discoides ou em barril, na identificação de indentação ao septo e na presença
de inclusões [30].
A partir da observação microscópica também é possível determinar
qualitativamente a abundância das bactérias filamentosas no sistema de tratamento,

20
através da atribuição de categorias propostas por Jenkins et al., (2004) [29]. Este
método consiste na visualização de um conjunto de flocos de uma amostra do licor
misto, e na posterior atribuição de uma categoria mediante o número de filamentos
presentes em cada floco observado.
A identificação de bactérias filamentosas através da análise microscópica tem
algumas limitações, como a exigência de um técnico com experiência sobre a
identificação das diferentes bactérias filamentosas e o facto de, por vezes, haver
alterações morfológicas em alguns organismos filamentosos em determinadas condições
ambientais [27].

2.3.2. Protozoários e metazoários

Para além das bactérias, os protozoários e os pequenos metazoários são


organismos fundamentais no tratamento de águas residuais em sistemas de lamas
ativadas e são, geralmente, abundantes em sistemas de tratamento que operam
eficientemente. A análise da estrutura destas comunidades de organismos tem sido
utilizada como uma ferramenta de diagnóstico e de avaliação do desempenho dos
sistemas de tratamento biológico [31].
Existe uma grande diversidade de protozoários, os quais diferem entre si pelas
suas características morfológicas e fisiológicas variadas. Estes são organismos
eucariontes e unicelulares, e podem ser encontrados em quase todos os ambientes
aquáticos. Os protozoários possuem estruturas que são determinantes na sua locomoção
como, cílios, flagelos e pseudópodes [32]. Estes organismos podem dividir-se em três
grupos, segundo o modo de locomoção: os Flagelados, que podem ser constituídos por
um ou mais flagelos para locomoção e alimentação; as Sarcodinas, que possuem
pseudópodes e os Ciliados constituídos por cílios para locomoção [32].
O grupo dos ciliados, são protozoários que aparecem em grande número em
sistemas de tratamento aeróbio de efluentes, constituindo 9 % dos sólidos suspensos do
licor misto do tanque de arejamento [33]. Este grupo pode-se dividir em quatro tipos,
segundo os tipos de cílios e aparelho oral que apresentam: Holotrichia, Spirotrichia,
Petitrichia e Suctoria [32].

21
Em sistemas de tratamento de águas residuais os protozoários podem melhorar a
qualidade do efluente pela predação das bactérias dispersas no licor misto, como
também dos seus agregados. Constata-se que a inexistência de protozoários ciliados no
interior do reator biológico, o efluente tratado caracteriza-se por uma elevada CBO e
por alta turbidez [34]. Madoni, (1994) [35], classificou os ciliados bacterívoros em três
grupos funcionais, com base no seu comportamento e modo de alimentação:

 Nadadores: estes organismos nadam no licor misto e mantêm-se dispersos


sobre no reator biológico;
 Móveis de fundo: habitam à superfície dos flocos de lama biológica;
 Sésseis: os organismos estão fixos aos flocos através de um pedúnculo e
durante o processo de sedimentação estes precipitam [36].

Um dos objetivos do tratamento biológico por lamas ativadas é a agregação de


bactérias, e outros organismos também presentes no licor misto podem se associar a
estes. Deste modo, os organismos que estão associados aos flocos biológicos têm
vantagem em relação aos que nadam no interior do reator, estando estes sujeitos a serem
retirados do sistema de tratamento através do efluente. O grupo dos organismos
nadadores e sésseis alimentam-se das bactérias dispersas presentes no meio, competindo
por este alimento, enquanto que os organismos móveis de fundo alimentam-se das
bactérias que estão sobre o floco, ocupando um nicho ecológico diferente [34].
No interior de um reator biológico de um sistema de lamas ativadas estabelece-
se uma rede trófica, como se pode verificar pela figura seguinte:

Figura 3 - Rede trófica num sistema de tratamento de águas residuais por lamas
ativadas. Adaptado de [36].

22
O crescimento dos organismos predadores é limitado pela presença das suas
presas. Por outro lado, o crescimento dos decompositores é dependente da quantidade e
qualidade de material orgânico presente no licor misto do sistema de tratamento [33].
Desde a fase de arranque de um sistema de tratamento até à fase de
estabilização, existem três fases diferentes:

 A fase inicial do sistema de tratamento é descrita pela presença de organismos


como os flagelados e ciliados nadadores, que entrem no sistema com o efluente;
 A segunda fase caracteriza-se pela substituição dos organismos nadadores pelos
móveis de fundo e sésseis, verificando-se um grande desenvolvimento destes
últimos organismos que são os ciliados típicos dos sistemas de tratamento por
lamas ativadas;
 A fase estacionária caracteriza-se pela comunidade de organismos em que a sua
estrutura traduz as condições estáveis atingidas no sistema de tratamento. Nesta
fase prevalecem os organismos móveis de fundo e sésseis [25].

Um sistema de tratamento opera ineficientemente quando, em pleno


funcionamento, verifica-se que estão presentes organismos que são característicos da
fase de colonização em um número excessivo. Se este problema ocorrer
provisoriamente, pode dever-se a uma perda de lamas, ao baixo oxigénio dissolvido, a
variações do tempo de retenção ou devido à presença de compostos tóxicos [27].

Os metazoários são organismos que também surgem em sistemas de tratamento


por lamas ativadas. Estes são organismos pluricelulares e alimentam-se de protozoários
e de bactérias presentes no sistema. Estes são característicos em sistemas de tratamento
por arejamento prolongado. Organismos como, os rotíferos e os nemátodos aparecem
usualmente nestes sistemas de tratamento [27].

As condições ambientais têm um grande efeito sobre a comunidade de


protozoários num reator biológico de um sistema de lamas ativadas, podendo afetar o
desempenho da instalação. A análise da estrutura das comunidades de organismos num
reator biológico, como a presença ou ausência de uma espécie, a dominância de
espécies ou a composição de organismos, estando estes associados às características

23
físico-químicas e processuais do sistema de tratamento, pode ser usada como um
instrumento de avaliação de desempenho das instalações [27].

Um sistema de tratamento biológico por lamas ativadas a operar eficientemente


apresenta uma densidade de organismos elevada (maior que 106 organismos por litro), é
composto maioritariamente por organismos móveis de fundo e sésseis, verificando-se
quase a ausência flagelados e apresenta uma grande diversidade de organismos, em que
nenhuma espécie ou grupo esteja a dominar numericamente em mais do que um fator de
10. Não se verificando a situação anterior, a determinação do grupo dominante é um dos
fatores que permite determinar o estado de funcionamento do sistema (Tabela 2) [27].

Tabela 2 - Algumas situações específicas do funcionamento de sistemas de tratamento


biológico por lamas ativadas. Adaptado de [33].

Grupo de organismos Eficiência do sistema de


Causa possível
dominante tratamento
Entrada de substâncias em via
Pequenos flagelados Baixa de fermentação
Lamas pouco oxigenadas
Pequenos flagelados e amibas
Baixa Cargas elevadas
nuas
Baixo tempo de residência
Ciliados nadadores (< 50µm) Medíocre
Lamas pouco oxigenadas
Ciliados nadadores (> 50µm) Medíocre Carga muito elevada
Ocorrência de fenómenos
Ciliados sésseis Baixa
transitórios
Ciliados móveis de fundo Boa ___
Ciliados móveis de fundo e
Boa ___
sésseis
Boa nitrificação
Amibas com teca Boa
Baixa carga

24
2.3.2.1. Índice Biótico de Lamas (IBL)

O Índice Biótico de Lamas foi proposto por Madoni em 1994 [35], e foi
concebido para monitorizar o desempenho de sistemas de tratamento de lamas ativadas.
Este índice baseia-se em dois princípios: os grupos da microfauna modificam-se
relativamente às condições operacionais e ambientais da instalação e a densidade celular
e a diversidade de organismos diminui à medida que a eficiência do sistema baixa.
Uma das vantagens deste método é que a qualidade das lamas ativadas é definida
através de uma classificação numérica, permitindo ao técnico que este compare a
qualidade biológicas das lamas ao longo do tempo. Este índice foi criado com o objetivo
de avaliar a performance do reator biológico, e não revela qualquer disfunção que possa
ocorrer no decantador secundário [36].

2.4. Monitorização de parâmetros físico-químicos e processuais

2.4.1. Parâmetros analíticos

Nos diferentes órgãos de uma estação de tratamento de águas residuais ocorrem


transformações físicas, químicas e biológicas nas águas brutas afluentes, com o objetivo
de se obter um efluente final em condições de ser lançado num meio recetor, sem
prejuízo para este. Por esta razão, o controlo do funcionamento de uma ETAR obriga à
determinação analítica de determinados parâmetros, que permitem avaliar o
funcionamento global de uma instalação de tratamento de águas residuais, bem como
cada uma das suas etapas. Assim, é possível determinar eventuais alterações nos
processos e proceder ao ajuste dos respetivos parâmetros, de modo a otimizar o sistema
de tratamento.
As amostras de efluente que são retiradas em diferentes pontos de um sistema de
tratamento de águas residuais para a determinação analítica de parâmetros podem ser de
dois tipos: pontuais e compostas. Uma amostra é considerada pontual quando a sua
colheita é realizada num momento bem determinado, sendo as características presentes

25
do efluente nesse momento as representadas pela amostra. Uma amostra é designada
como composta quando a amostragem não é imediata, isto é quando se prolonga por um
período de tempo mais longo, em que a amostra representa as características médias do
efluente que aflui ao local durante esse período de tempo [19].
A seguir são descritos os diferentes parâmetros analíticos que são avaliados,
normalmente, num sistema de tratamento, expondo a importância da necessidade da sua
análise.

 Sólidos sedimentáveis (V30)

A determinação de sólidos sedimentáveis (V30) é baseada no volume, em


mililitros, ocupado pelos sólidos, de 1 litro de amostra de efluente, sedimentados num
cone Imhoff após um período de tempo específico, nomeadamente por 30 minutos [11].
Este parâmetro é bastante importante para se concluir acerca da boa sedimentabilidade e
qualidade das lamas biológicas formadas num reator biológico, permitindo assim
conhecer o estado do processo.

 pH

O pH é um parâmetro de qualidade importante da água residual e apresenta


diferentes valores de acordo com o tipo de amostra em que é analisado. Na água
residual o pH varia de acordo com a sua origem, apresentando normalmente um carácter
básico para efluentes industriais de origem têxtil, e para efluentes de origem doméstica
encontra-se frequentemente próximo da neutralidade [37][38]. A determinação do pH
num tanque de neutralização funciona como um controlo sobre este parâmetro no
efluente de entrada de um reator biológico, devendo o valor estar compreendido entre 6
e 9, de forma a garantir as condições adequadas para o crescimento e manutenção dos
organismos intervenientes no processo biológico [37]. A análise do pH no interior de
um reator biológico tem como finalidade a avaliação do estado do processo de
tratamento biológico. Num sistema de lamas ativadas onde ocorre a remoção de matéria

26
orgânica e de azoto, com o crescimento dos organismos verifica-se uma redução do
valor do pH, devido à libertação de metabolitos ácidos, como por exemplo de ácidos
orgânicos. Por outro lado, o valor de pH pode ser elevado devido à atividade dos
organismos desnitrificantes, pois a ocorrência do processo de desnitrificação permite
repor grande parte da alcalinidade removida durante o processo de nitrificação, como já
referido anteriormente [39]. Na decantação secundária, a análise ao pH serve como
indicador de eventuais disfunções, podendo ocorrer processos de nitrificação ou
desnitrificação. À saída de uma instalação de tratamento, o pH do efluente final deve
obedecer aos valores limite de emissão considerados pela legislação.

 Temperatura

A medição da temperatura do efluente nas várias fases de tratamento também é


um parâmetro a considerar no controlo de uma ETAR. A água residual apresenta
normalmente uma temperatura ligeiramente superior à temperatura ambiente, o que
pode afetar determinados processos, como a decantação secundária, a remoção de óleos
e gorduras e a velocidade de processos biológicos. Um dos efeitos mais importantes de
um aumento de temperatura do efluente de uma ETAR está relacionado com o
decréscimo da concentração de oxigénio dissolvido, influenciando negativamente o
processo de tratamento biológico [37].

 Concentração de oxigénio dissolvido

A análise da concentração de oxigénio dissolvido no efluente numa etapa de


desengorduramento/desarenamento permite avaliar o estado do funcionamento do
sistema de arejamento instalado para a elevação das gorduras existentes na água
residual. Num reator biológico este parâmetro é bastante importante, visto que a
concentração de oxigénio no meio é determinante em processos de desnitrificação e
nitrificação. A necessidade de oxigénio é maior nos meses quentes de Verão, visto que a
temperatura ambiente é superior, influenciando a dissolução do oxigénio no meio [37].

27
A análise a este parâmetro permite ainda avaliar o estado do funcionamento de um
sistema de arejamento.

 Redox

Um outro parâmetro analítico é o potencial redox. Este indica a tendência de


uma espécie química em ganhar eletrões e ser reduzida. Portanto, o potencial redox
permite conhecer a reação de oxidação- redução que está a decorrer no momento da
leitura através da quantificação da atividade dos eletrões. Em processos aeróbios o
potencial redox é normalmente superior a + 50 mV [37].

 Condutividade elétrica

Este parâmetro expressa a concentração de compostos ionizados com capacidade


de conduzir a corrente elétrica. Portanto, a presença de uma grande quantidade de iões
numa amostra de efluente traduz-se num valor maior em condutividade elétrica [37].

 Carência bioquímica de oxigénio (CBO)

Um dos parâmetros analíticos utilizado na determinação da poluição orgânica de


uma água residual é a carência bioquímica de oxigénio (CBO). Este parâmetro baseia-se
na medição da concentração de oxigénio dissolvido, numa amostra de efluente,
consumido pela comunidade de microrganismos durante a oxidação bioquímica da
matéria orgânica [11]. Portanto, a partir da análise a este parâmetro é possível estimar a
carga orgânica biodegradável existente numa amostra de água residual. O método mais
aplicado para esta determinação baseia-se na incubação da amostra durante 5 dias a uma
temperatura constante e adequada (aproximadamente 20ºC), para que este fator não
tenha interferência sobre a taxa de oxidação. A seleção do tempo de incubação referido
deve-se ao facto de que a maior parte do oxigénio dissolvido é consumido nesse período
28
[37]. Normalmente, uma amostra de água residual municipal apresenta 120 a 380 mg/L
de CBO [11].

 Carência química de oxigénio (CQO)

Um outro parâmetro analítico que é aplicado na avaliação da carga orgânica de


uma amostra de água residual é a carência química de oxigénio (CQO). A partir deste
parâmetro determina-se a quantidade de oxigénio equivalente à porção de matéria
orgânica total, de uma amostra de água residual, passível de ser oxidada quimicamente.
Com a aplicação desta análise é possível determinar a carga orgânica biodegradável ou
não biodegradável de uma amostra, considerando que em condições ácidas a maior
parte dos compostos orgânicos podem ser oxidados por um agente oxidante químico.
Um dos métodos aplicados para a determinação da CQO é o do refluxo fechado com o
oxidante dicromato, que apresenta vantagens em relação ao uso de outros oxidantes,
como por exemplo a sua maior capacidade de oxidação, pode ser aplicado a uma grande
variedade de amostras e é fácil de manipular [37] [40]. A CQO de uma água residual
municipal varia usualmente entre 260 a 900 mg/L [11].

 Sólidos

As águas residuais são constituídas por uma grande variedade de sólidos de


diferentes dimensões, sendo estes matéria suspensa ou dissolvida. A quantificação da
carga poluente de uma amostra de água residual pode ser realizada através da
determinação da quantidade da matéria sólida que ela contém, designada como sólidos
totais (ST), expressos em mg/L, sendo estes o resíduo resultante após evaporação total
da água da amostra, a uma temperatura entre 103 e 105ºC, até que se atinja um peso
constante. Os sólidos totais incluem os sólidos dissolvidos totais (SDT) e os sólidos
suspensos totais (SST). Os SDT, expressos em mg/L, são referentes aos sólidos
orgânicos e minerais dissolvidos que passam através de um filtro de fibra de vidro
específico. Os SST, expressos em mg/L, são a parte dos sólidos totais de uma amostra

29
de água residual que é retida no filtro. Parte dos SST, cerca de 2/3, são sólidos de
natureza orgânica, sendo estes designados por sólidos suspensos voláteis (SSV), e os
restantes são sólidos inorgânicos ou minerais, designados por sólidos suspensos fixos
(SSF). A matéria orgânica volatiliza quando submetida à temperatura de 550ºC. Por
outro lado, a matéria inorgânica ou mineral a essa mesma temperatura mantem-se
inalterável, permanecendo sob a forma de cinzas. Os sólidos suspensos podem servir,
mais rapidamente, de indicação relativamente à carga poluente de uma água residual
[37] [40]. Os valores dos diferentes parâmetros variam de acordo com a amostra em que
são analisados. Para uma amostra de água residual municipal o valor dos SST pode
variar entre 120 a 370 mg/L [11]. A determinação da concentração de biomassa presente
num reator biológico de um sistema de lamas ativadas, pode ser realizada através da
análise dos sólidos suspensos voláteis. Este parâmetro é muito utilizado para
acompanhar o crescimento da biomassa num sistema de tratamento biológico, visto que
a sua medição é simples e é requerido apenas um período de tempo curto para análise. O
valor dos SSV de uma amostra não só indica a quantidade de biomassa existente, como
também de outras partículas orgânicas igualmente presentes. As águas residuais podem
conter uma certa quantidade de SSV não biodegradáveis e possivelmente os SSV do
afluente podem ser degradados durante o processo de tratamento. Estes sólidos são
também quantificados juntamente com a biomassa, na medição do valor de SSV de uma
amostra de efluente. Todavia, a medição dos SSV tem servido como um indicador da
produção de biomassa e fornece uma medida útil de sólidos presentes num reator
biológico [11]. Portanto, para o bom funcionamento do tratamento biológico num
sistema de lamas ativadas a concentração da biomassa no interior do reator deve ser
mantida num valor ótimo, podendo para tal, se proceder à variação do caudal de
recirculação e do caudal de purga. A medição dos SST e SSV numa amostra de lamas
em recirculação permitem avaliar a fração de sólidos de natureza orgânica que estão a
ser alimentados ao reator. A recirculação das lamas provenientes do decantador
secundário é assim um fator importante para garantir a concentração desejada de
biomassa no interior do reator biológico [11]. A análise aos sólidos de uma amostra à
saída e à entrada do decantador secundário permitem avaliar a eficiência do tratamento
que ocorre nesta etapa. O tratamento de lamas biológicas também é avaliado quanto ao
seu funcionamento, a partir da determinação da concentração de sólidos das amostras
nos vários pontos deste processo. O funcionamento dos sistemas de espessamento e
desidratação pode ser avaliado pela análise dos SST das escorrências resultantes dos

30
processos, visto que o principal objetivo destes tratamentos é a remoção da fração
líquida da lama biológica para diminuição do seu volume [11]. Os valores de matéria
seca e volátil de amostras de lamas em excesso, espessadas e desidratadas podem ser
também obtidos. A análise à eficiência do tratamento de lamas de uma ETAR passa pela
determinação destes parâmetros e posterior cálculo das taxas de remoção (ou captura)
de sólidos para cada equipamento. A concentração de sólidos suspensos na amostra de
efluente final deve cumprir a legislação aplicável, procedendo-se à análise em
laboratório para controlo deste parâmetro.

 Concentração de azoto e fósforo

Os elementos de azoto e de fósforo são nutrientes essenciais ao crescimento dos


microrganismos, de plantas e animais. O azoto é um elemento fundamental na síntese
proteica, sendo por isso importante conhecer os dados sobre as suas quantidades, para
avaliação do processo de tratamento biológico do efluente. Na água residual o azoto
pode ser encontrado sob várias formas: azoto amoniacal (NH3), o ião amónio (NH4+), os
iões nitrato (NO3-) e nitrito (NO2-) e como azoto orgânico. Este último consiste numa
mistura de vários compostos, como proteínas, aminoácidos e ureia. O azoto total de uma
amostra de efluente engloba as várias formas que este composto pode assumir, referidas
anteriormente [11]. Na água residual fresca os compostos de azoto apresentam-se sob a
forma orgânica, sendo ao longo do tempo convertido noutras formas [37]. Atualmente,
há um grande interesse em controlar as quantidades de compostos de fósforo que se
encontram na água residual, devido à proliferação de algas tóxicas nos ecossistemas
provocada pela sua descarga no meio hídrico. Normalmente, uma água residual
municipal apresenta uma concentração de fósforo entre 4 a 16 mg/L. O fósforo total
numa água residual pode-se apresentar de diferentes formas, como ortofosfatos (PO43-,
HPO42-, H2PO4-, H3PO4), polifosfatos e fosfatos orgânicos. Os compostos de fósforo que
estão em maioria numa água residual são os ortofosfatos, estando estes disponíveis para
o metabolismo biológico [11] [37]. Os polifosfatos podem sofrer hidrólise em solução
aquosa convertendo-se na forma de ortofosfatos, sendo este um processo normalmente
lento [11]. Portanto, para a avaliação do funcionamento de um sistema de lamas

31
ativadas com remoção de nutrientes é importante determinar as concentrações dos
diferentes compostos de azoto e de fósforo presentes nas amostras de água residual.

2.4.2. Parâmetros processuais

Através da análise aos parâmetros processuais ao longo do tratamento da água


residual é possível conhecer o estado de desempenho dos processos de tratamento
implementados numa ETAR.
A seguir são descritos alguns dos parâmetros processuais importantes para o
controlo operacional de um sistema de tratamento.

 Razão SSV/SST

A razão SSV/SST (%), referente a uma amostra de lamas em recirculação a um


reator biológico, num sistema de lamas ativadas, é a razão entre a quantidade de sólidos
suspensos voláteis (mg/L) e sólidos suspensos totais (mg/L) presentes nessa amostra.
Este parâmetro indica a fração volátil da quantidade total de sólidos suspensos presentes
nas lamas em recirculação, isto é, a partir deste parâmetro é conhecido a percentagem de
sólidos, em relação aos sólidos suspensos totais, de natureza orgânica (como por
exemplo biomassa) essenciais a uma operação eficiente de um sistema de lamas
ativadas.

 Razão de recirculação

A razão de recirculação corresponde à razão entre o caudal de recirculação


(m3/dia) e o caudal de entrada (m3/dia) num sistema de lamas ativadas. O propósito da
recirculação de lamas ao reator biológico é manter uma concentração adequada e
suficiente de lamas ativadas durante o tratamento biológico. O caudal de recirculação

32
pode ser determinado através de balanços de massa ao decantador secundário ou por
balanços de massa ao reator biológico [11].

 Índice volumétrico de lamas (IVL)

O índice volumétrico de lamas (IVL), corresponde ao volume (em ml) ocupado


por 1 g de lamas após 30 minutos de sedimentação. O método para a determinação deste
parâmetro consiste na leitura do volume de uma amostra de lama de um reator
biológico, sedimentada após 30 minutos num cone Imhoff e na determinação da
concentração de SST presentes nessa amostra. O cálculo deste parâmetro é descrito pela
Equação 6. O IVL permite avaliar as características de sedimentação das lamas ativadas.
Valores do IVL acima dos 150 ml/g são frequentemente associados com o crescimento
filamentoso [11].

Equação 6

 Idade das lamas

A idade das lamas é um parâmetro processual que representa o período de tempo


médio de permanência dos microrganismos no interior do reator biológico, num sistema
de lamas ativadas. Este parâmetro é determinado através da Equação 7 [41]:

Equação 7

em que SSTa é a concentração, em mg/L, de sólidos suspensos totais numa amostra do


reator biológico, V, em m3, é o volume do reator, Qp, em m3/dia, é o caudal de purga de
lamas e SSTr, em mg/L, é a concentração de sólidos suspensos totais de uma amostra da
recirculação. Esta variável de processo está relacionada com a carga mássica e com a

33
taxa de crescimento específica dos microrganismos. O controlo da idade das lamas pode
ser realizado a partir da variação do caudal de purga de lamas. Quando a idade das
lamas é baixa (inferior a 5 dias), indica que as taxas de crescimento dos microrganismos
são altas. Por outro lado, quando a idade das lamas é alta (maior que 15 dias) significa
que a taxa de crescimento dos microrganismos é baixa, característico de sistemas que
operam em arejamento prolongado [22]. A idade das lamas tem bastante influência na
composição da microfauna de um sistema de lamas ativadas [39].

 Razão CBO/CQO

A razão CBO/CQO expressa a biodegradabilidade do efluente, a partir do qual


estes dois parâmetros são determinados. Numa água residual municipal não tratada esta
razão varia entre 0.3 e 0.8. Quando o valor desta razão, determinada para uma água
residual não tratada, é igual ou superior a 0.5, o tratamento biológico desta água residual
é facilitado. Pelo contrário, quando o valor da razão é abaixo de 0.3, a água residual
pode conter compostos tóxicos [11].

 Razão alimento/microrganismos (A/M)

A razão alimento/microrganismos (A/M) expressa a relação entre a quantidade


de substrato (normalmente determinado em CBO), que está à disposição para consumo,
com a concentração da biomassa presente num sistema de lamas ativadas. Este
parâmetro é determinado da seguinte forma [41]:

Equação 8

em que Qe, em m3/dia, corresponde ao caudal de afluente de entrada, a CBO5, em mg/L,


é a carência bioquímica de oxigénio do efluente a tratar, o SSTa, em mg/L, é a
concentração de sólidos suspensos totais de uma amostra do reator biológico e o V, em
m3, é o volume do reator. Quando a razão A/M apresenta valores baixos (inferiores a

34
0.3 mgCBO/mgSST.dia) a quantidade de substrato presente no meio é limitado.
Portanto, os microrganismos na presença de uma baixa quantidade de substrato entram
na fase de respiração endógena, metabolizando as suas próprias reservas celulares para
produção de energia. Com esta fase a eficiência do tratamento da água residual pode ser
maior, devido ao consumo de toda a matéria orgânica presente no meio [22].

35
Capítulo 3. Descrição da estação de tratamento de águas residuais de
Serzedo

A ETAR de Serzedo, local do desenvolvimento deste trabalho de projeto, está


dotada de todas as operações e processos unitários necessários ao tratamento adequado
do efluente doméstico e industrial que chega ao sistema. O sistema de tratamento da
ETAR está organizado em dois tipos de linha: líquida e sólida. A linha líquida é
constituída pelo tratamento preliminar, secundário e terciário e a linha sólida é
composta pelo tratamento das lamas resultantes. O sistema operacional da ETAR
permite ao operador que este determine quais os órgãos que quer colocar em
funcionamento, visto que esta instalação possui certas fases de tratamento que
possibilita a permutação do processo entre duas linhas existentes (Linha 1 e Linha 2).
Assim, a instalação pode operar em três modos distintos: com a Linha 1, com a Linha 2
ou com ambas em simultâneo e permite determinar quais os órgãos a funcionar dessas
linhas. Presentemente, devido ao caudal de efluente que tem chegado à ETAR, está a
operar por apenas por uma Linha (Linha 2).
Durante a conceção do projeto da instalação de Serzedo foram estabelecidos
determinados dados de base de dimensionamento. Na Tabela 3, estão descritos os dados
de base totais do dimensionamento do sistema, designadamente os valores relativos ao
caudal, às cargas e concentrações de poluentes e o período de afluência diário, para o
ano do dimensionamento e para o ano horizonte de projeto (2033).
Nos subcapítulos seguintes é feita uma descrição das operações e processos
unitários que caracterizam o sistema de tratamento da ETAR de Serzedo, demonstrando
a importância de cada tipo de tratamento.

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Tabela 3 - Dados de base de dimensionamento do sistema de tratamento da ETAR de
Serzedo. Adaptado de [19].

Ano do Ano horizonte de


Situação de afluência
dimensionamento projeto
Caudal médio diário total (m3/dia) 6716 13772
Caudal de ponta total (m3/h) 543 987
Carência Química de Oxigénio (CQO) (Kg/dia) 6655 14581
Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5) (Kg/dia) 1826 4846
Sólidos Suspensos Totais (SST) (Kg/dia) 1792 5255
Azoto Kjeldahl total (Nkj) (kg/dia) 287 871
Fósforo total (Ptotal) (Kg/dia) 47 182
Carência Química de Oxigénio (CQO) (mg/l) 991 1059
Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5) (mg/l) 272 352
Sólidos Suspensos Totais (SST) (mg/l) 267 382
Azoto Kjeldahl total (Nkj) (mg/l) 43 63
Fósforo total (Ptotal) (mg/l) 7 13
Período de afluência diário (h/dia) 12 14

3.1.Obra de entrada e tratamento preliminar

Esta etapa de tratamento inicial é de elevada importância para os tratamentos


posteriores, pois reduz determinados compostos que constituem o afluente que podem
provocar problemas, como o desgaste dos equipamentos, a obstrução dos vários canais
hidráulicos do sistema e as interferências sobre os outros processos [9]. Na Figura 4 está
representado o esquema de tratamento de águas residuais da ETAR de Serzedo,
relativamente a esta fase de tratamento.
A obra de entrada e o tratamento preliminar da ETAR de Serzedo são compostos
pela etapa de elevação inicial, pela operação de gradagem, pelo
desengorduramento/desarenamento, por um tanque de neutralização, pela medição do
caudal e receção e pelo pré-tratamento das fossas sépticas. Adicionalmente, para
situações pontuais, esta fase ainda possui uma bacia de emergência para descarga de
efluente e posterior envio deste para a elevação inicial. De seguida, é descrita a
funcionalidade destas etapas.
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Figura 4 - Esquema de tratamento das águas residuais da ETAR de Serzedo, relativo às
etapas de elevação inicial e tratamento preliminar. Adaptado de [1].

3.1.1. Elevação inicial

Esta fase de tratamento tem como finalidade a receção e a elevação do afluente


através de três parafusos de Arquimedes. Este processo permite a elevação das águas
residuais até uma determinada cota, para que posteriormente haja um escoamento
gravítico do caudal por toda a extensão das restantes operações que constituem a fase
líquida do sistema, de modo a que não seja necessário aplicar uma nova elevação antes
do tratamento secundário.
A água residual entra inicialmente no sistema numa câmara que é comum a três
canais independentes, em que cada canal é constituído por uma comporta. Esta pode
assumir dois tipos de posições, aberta ou fechada, permitindo a passagem do afluente da
câmara ao correspondente parafuso de Arquimedes ou o isolamento do canal. Na
câmara encontra-se um medidor de nível, bóias de nível, um medidor de caudal do by-
pass geral à ETAR e um medidor de gás sulfídrico. A câmara ainda recebe as
escorrências do tratamento de lamas, as escumas produzidas no tratamento secundário,
as escorrências do classificador de areias e do escumador, as descargas de fundo do

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reator biológico e a descarga de fundo e de superfície da bacia de emergência. Estes
efluentes são monitorizados por medidores de caudais.
No edifício correspondente à obra de entrada e ao tratamento preliminar estão
presentes equipamentos associados à receção de trasfega de lamas das fossas sépticas,
equipamentos para a gradagem (três grades de limpeza manual, dois
tamisadores/compactadores e um parafuso transportador de gradados), três sopradores
para o desengorduramento/desarenamento, um classificador de areias e um escumador
[19][20].

3.1.2. Receção e trasfega de lamas provenientes de fossas sépticas

O objetivo desta etapa é a receção das fossas sépticas, a partir de um camião


cisterna, e efetuar o pré-tratamento das lamas, a partir da separação de sólidos de
maiores dimensões, para que estes não entrem no processo.
No pré- tratamento é usado um tanque de receção, constituído por um
tamisador/compactador. Os gradados resultantes são recolhidos num contentor com
capacidade para 1100 L. Depois deste tratamento, o efluente segue para um poço,
constituído por dois grupos eletrobomba submersíveis e com agitação mecânica,
elevando o efluente para montante do sistema de gradagem. A monitorização do caudal
que é elevado até à obra de entrada é feita através de um medidor de caudal [19][20].

3.1.3. Sistema de gradagem

A operação de gradagem tem como finalidade a retenção de material flutuante


ou em suspensão com tamanhos superiores a 5 mm.
Esta etapa inicial de tratamento preliminar engloba a passagem das águas
residuais por 2 (+1) grades de proteção de limpeza manual, de 40 mm entre as barras, e
por 2 tamisadores/compactadores de tambor rotativo com um espaçamento de malha de
5 mm. Este último, ao inverso dos sistemas em série de grelha média e fina, permite a
combinação no mesmo equipamento as funções de gradagem (fina), compactação,

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lavagem dos gradados e o respetivo transporte. Este equipamento está montado na
diagonal, o que permite uma maior eficiência na redução da matéria flutuante ou em
suspensão. Durante a operação do sistema, pode-se originar uma perda de carga devido
à acumulação progressiva dos sólidos no interior do tambor rotativo, com uma malha de
aço inox, originando uma elevação lenta do nível, o que vai acionar o parafuso raspador.
Este raspador vai recolher e descarregar os resíduos por gravidade para uma zona de
receção da alimentação do parafuso transportador central. Ao longo do transporte dos
resíduos, estes são compactados e desidratados até um teor de sólidos de 40%.
A malha de 5 mm e o tipo de tambor rotativo que constitui o tamisador,
conferem a este uma elevada eficiência na remoção dos vários materiais que
caracterizam as águas residuais. Com o objetivo de não se remover excessivamente
carga orgânica nesta etapa de tratamento, está instalado um equipamento adequado para
a lavagem automática dos gradados recolhidos.
Os gradados removidos são posteriormente recolhidos em dois contentores de
1100 L de capacidade. As escorrências resultantes da compactação e lavagem são
encaminhadas graviticamente para o canal de gradagem.
Existe um canal análogo e paralelo aos canais anteriores, constituído por uma
grade manual grossa, para a necessidade de se efetuar by-pass aos canais de gradagem
mecânica.
Estão instaladas no sistema comportas motorizadas, permitindo que o
acionamento automático das comportas em função do caudal afluente garanta
velocidades de aproximação nos canais de gradagem. Estas não deverão ser inferiores a
3 m/s, para que não ocorra deposição de areias [19][20].

3.1.4. Sistema de desengorduramento/desarenamento

O sistema que compõe esta etapa de tratamento tem por objetivo a prevenção de
determinados problemas nas operações e processos seguintes, como o desgaste dos
equipamentos (grupos eletrobomba, agitadores, etc.), a acumulação de areias nos vários
órgãos, problemas na etapa do tratamento biológico, entre outros. Este sistema é
composto por dois órgãos com desenvolvimento longitudinal, com arejamento para se
efetuar a lavagem das areias e para a flutuação de óleos e gorduras.

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Os órgãos possuem uma ponte raspadora dupla que funciona em contínuo,
constituída pelo material de raspagem de superfície, necessária à remoção de óleos e
gorduras, e pelo material de raspagem de fundo, para a remoção de areias. O efluente
resultante sai por um deflector, que se encontra a jusante destes órgãos, e de seguida
para um descarregador.
O sistema de arejamento é constituído por difusores de membrana de ar
comprimido, de bolha fina, instalados a 30 cm do fundo dos tanques. O ar comprimido é
produzido a partir de três sopradores, providos de canópias de insonorização, que estão
instalados no edifício de tratamento preliminar.
No fundo dos órgãos de tratamento são depositadas as partículas de areias mais
densas, que são arrastadas para uma zona mais a montante do órgão, e posteriormente
são extraídas por duas bombas centrífugas submersíveis e são conduzidas até um
classificador de areias. Neste equipamento, a areia e a água misturadas acumulam-se
numa zona posterior, constituído por um extrator sem-fim que eleva a areia, em que esta
depois de lavada com jatos de água, para a remoção da matéria orgânica, é arrastada e
descarregada até um dos dois contentores de recolha. Estes contentores são do tipo
multibenne de capacidade de 10 m3 e as águas de lavagem são encaminhadas de novo
para a linha de tratamento da fase líquida.
Nos órgãos os óleos e gorduras são diferenciados da restante fase líquida por
flutuação, sendo posteriormente arrastados pelo raspador de superfície para uma caleira
de recolha que está instalada mais a jusante do órgão, sendo de seguida encaminhados
graviticamente para um poço de bombagem. Este é comandado por bóias de nível e tem
agitação mecânica, e os flotantes são elevados posteriormente por um grupo
eletrobomba submersível para um concentrador mecânico de gorduras. Num contentor,
semelhante ao das areias de 10 m3, são armazenados os concentrados. A água resultante
do processo de separação é reintroduzida graviticamente no processo de tratamento da
fase liquida [19][20].

3.1.5. Correção do pH e medição do caudal

O pH das águas residuais por vezes apresenta-se alcalino, devido ao efluente


proveniente das indústrias têxteis. E com o intuito de se efetuar a neutralização das
águas residuais, a instalação está munida por um sistema de injeção direta de dióxido de

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carbono para um tanque, com profundidade e volume adequados de forma a permitir
uma dissolução eficiente do gás injetado.
A injeção de dióxido de carbono é feita através de uma grelha difusora colocada
no fundo do tanque de neutralização, estando este localizado a jusante do sistema de
desengorduramento/desarenamento, provido de agitação mecânica em funcionamento
continuo. O sistema instalado que determina o fornecimento e o armazenamento de
dióxido de carbono funciona automaticamente. A dosagem do gás é controlada a partir
do valor lido de pH no medidor que está instalado no tanque de neutralização. Todo este
sistema de fornecimento é constituído por vários equipamentos, designadamente por um
reservatório criogénico, um gaseificador, por uma rede de distribuição do gás, por um
quadro automático de regulação e injeção do gás e por um sistema de injeção direta
através da grelha difusora que se encontra instalada no interior do tanque.
Nesta etapa há possibilidade de se fazer by-pass ao tratamento biológico, através
do fecho de uma válvula que alimenta o medidor de caudal, sendo o efluente
encaminhado para a bacia de emergência. Com este by-pass é possível se proceder a
operações de manutenção do medidor de caudal [19][20].

3.1.6. Bacia de retenção de descargas pontuais- bacia de emergência

A bacia de emergência foi instalada no sistema de tratamento para proteger o


tratamento biológico de possíveis problemas e para se evitar descargas de águas
residuais não tratadas no meio recetor, devido a eventuais sobrecargas hidráulicas e/ou
poluentes.
A receção de efluente pela bacia de emergência é feita a partir do tanque de
neutralização, por um descarregador de emergência que é acionado quando se dá o
isolamento do tratamento biológico.
O acionamento desta instalação é efetuado manualmente quando, por exemplo se
avaliam as variáveis de processo, registadas continuamente, anteriores ao tratamento
biológico, ou quando se verificam problemas nesse tratamento devido a descargas de
possíveis compostos contaminantes ao processo ou se se verificar uma grande afluência
de águas residuais ao sistema, de forma a evitar um by-pass geral à ETAR.

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Quando se esgota a capacidade da bacia de emergência é utilizado um trop-plein
com ligação à câmara de aspiração. Em último recurso, se esgotar o volume tampão da
câmara, é efetuada a descarga no meio recetor, através de um trop-plein da elevação
inicial.
As águas residuais presentes no interior da bacia são homogeneizadas a partir de
um agitador submersível. Estas devem regressar ao esquema de tratamento de forma
doseada, de acordo com uma caracterização analítica adequada. Para o escoamento do
efluente existe uma descarga de fundo com uma ligação gravítica à câmara dos
parafusos de Arquimedes [19][20].

3.2.Tratamento secundário

Na fase de tratamento secundário da ETAR de Serzedo ocorre o tratamento


biológico do efluente, a qual é composta por uma variedade de etapas de tratamento,
como se pode verificar pela Figura 5. Nas seções seguintes são descritas essas etapas.

Figura 5 - Esquema de tratamento das águas residuais da ETAR de Serzedo,


relativamente ao tratamento secundário. Adaptado de [1].

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3.2.1. Tanques de contacto- seletor

É frequente acontecer a proliferação de bactérias filamentosas em sistemas de


arejamento prolongado e a operar com uma configuração próxima da mistura completa.
Estes organismos levam à má decantabilidade das lamas ativadas, e para que isso não
aconteça, torna-se necessário criar formas de os organismos não-filamentosos crescerem
de forma adequada, fornecendo os nutrientes e os substratos necessários ao seu
crescimento. Este processo pode ocorrer em tanques de contacto (seletores), em que se
dá a junção de uma determinada quantidade de lamas recirculadas com a totalidade das
águas residuais que chegam ao sistema de tratamento.
O tanque de contacto foi construído como um reator de fluxo pistão, constituído
por septos de forma a criar compartimentos no tanque, a fim de se obter um gradiente
máximo de concentração em CBO5 e em CQO. Este sistema não possui arejamento e
funciona em condições anóxicas, para que determinadas bactérias filamentosas não se
desenvolvam, estando provido apenas de agitadores submersíveis para a manutenção da
biomassa em suspensão.
Foram considerados determinados fatores no dimensionamento do tanque, como
o tempo de retenção hidráulico, a carga mássica horária (gradiente de concentração em
termos de CBO5) e o designado floc loading, que não deve ser superior a 150
gCQO/KgMLSS. De forma a se controlar e otimizar a carga mássica, o sistema permite
a reintrodução de uma certa quantidade de lama para o interior do reator biológico,
aumentando assim a carga aplicada. O tanque apresenta uma influência bastante positiva
sobre o índice volumétrico de lamas (IVL), melhorando o processo de sedimentação no
decantador secundário.
Nesta etapa de tratamento o sistema é constituído por dois reatores de fluxo
pistão, por cada linha de tratamento, cada um com três compartimentos e por cada
secção um agitador submersível. O caudal de lamas recirculadas a introduzir no tanque
é variável, podendo a sua regulação ser feita manualmente a partir do posicionamento
de uma placa metálica ajustável, situada na caleira/descarregador da caixa de receção
das lamas em recirculação [19][20].

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3.2.2. Reatores biológicos- tratamento por lamas ativadas

Na ETAR de Serzedo o tratamento biológico do efluente é realizado a partir de


um sistema de lamas ativadas com reatores com a configuração de uma vala de
oxidação do tipo Carrossel. O principal objetivo deste tratamento biológico é a
remoção, por parte da comunidade microbiana, da matéria orgânica solúvel e insolúvel
existente no efluente, bem como a remoção biológica do azoto e do fósforo.
Estão instalados na ETAR dois reatores, cada um equipado com um sistema de
difusão de bolha fina e agitadores submersíveis, a operar em arejamento prolongado e
com uma estrutura adequada que possibilita uma depuração eficiente da água residual, a
ocorrência dos processos de nitrificação/desnitrificação, para a remoção dos compostos
azotados do efluente, a remoção de fósforo e a estabilização simultânea das lamas
biológicas no sistema.
O dimensionamento deste sistema de lamas ativadas incluiu determinados
aspetos: o tratamento biológico em arejamento prolongado; o controlo dos níveis de
oxigénio dissolvido realizado por sondas de oxigénio dissolvido e de azoto amoniacal
no reator; a concentração mínima de oxigénio dissolvido de 1.5 mg/L; arejamento
efetuado por um sistema de difusão de bolha fina; a temperatura mínima de 19ºC; o
intervalo de valores para os sólidos suspensos no licor misto (MLSS) de 2000-5000
mg/L; a carga mássica (kg CQO/gMLSS/d) entre 0.15 e 0.20 e a idade das lamas
superior ou igual a 15 dias.
O sistema de arejamento dos reatores biológicos é constituído por dois pares de
grelhas, para cada linha de arejamento, com difusores de bolha fina ao qual está
associada a uma central de produção de ar, constituída por três sopradores de caudal
variável (sendo um de reserva). A regulação automática do caudal de ar fornecido pelos
sopradores é realizada em função de um determinado set-point de oxigénio dissolvido,
definido no sistema de supervisão, e monitorizado em contínuo pelos medidores de
oxigénio. Estão instalados medidores controladores de pressão nas condutas dedicadas
ao arejamento. Cada reator está equipado, portanto, com quatro grelhas de arejamento,
sendo o controlo de cada grelha efetuado através da operação de quatro válvulas
manuais, que permitem limitar o caudal de ar admitido.

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No reator biológico são sempre garantidas as condições mínimas de agitação,
estando instalados, em cada reator, 4 agitadores submersíveis do tipo “Banana Blade”.
Estes agitadores garantem uma velocidade mínima de escoamento de efluente (0.28
m/s) na vala de oxidação.
A recirculação das lamas biológicas e a entrada do caudal de afluente para o
reator é efetuada num dos canais não arejados, permitindo fornecer a matéria orgânica
necessária aos processos de desnitrificação.
Para a instalação de Serzedo foi estabelecido um valor de 0.35 kgMLSS/KgCQO
removida, para a produção de lamas biológicas em excesso. As lamas flotadas,
produzidas no tratamento terciário, são encaminhadas para o reator e são posteriormente
extraídas em conjunto com as lamas biológicas.
Em cada reator está instalado uma válvula manual, de descarga de fundo com
ligação à elevação inicial.
O efluente dos reatores biológicos segue para as caixas de repartição, onde o
efluente é encaminhado para os decantadores secundários [19][20].

3.2.3. Extração de lamas em excesso

As lamas biológicas em excesso são extraídas a partir das caixas de repartição,


que fazem a alimentação aos decantadores secundários. Em cada caixa de repartição
estão instaladas duas bombas submersíveis (com variação de velocidade).
Um dos objetivos de controlo do tratamento é a manutenção de uma idade de
lamas adequada para o bom funcionamento de todos os processos envolventes no
tratamento biológico. Para tal, estão instalados medidores de caudal nos circuitos de
compressão de lamas em excesso para a primeira etapa do tratamento de lamas
(espessamento). Como a extração das lamas em excesso é realizada diretamente a partir
dos reatores biológicos, estes medidores vão permitir determinar a totalização diária de
caudal de lamas em excesso, bem como a determinação da idade das lamas a que o
sistema está a operar.
Nas caixas de repartição estão instalados medidores de sólidos em suspensão,
com o objetivo de monitorizar a concentração de lamas nos reatores. O fluxo mássico de
lamas em excesso que são alimentadas ao sistema de tratamento de lamas por

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espessamento, pode ser determinado pelo valor obtido da sonda referida com o caudal
de lamas em excesso [19][20].

3.2.4. Decantação secundária

Na decantação secundária ocorre a separação da biomassa mineralizada e


floculada no sistema de lamas ativadas da água residual e permite a manutenção da
concentração de lamas ativadas indispensáveis ao tratamento biológico do efluente,
através da sua recirculação para os reatores.
Para a clarificação do efluente estão instalados dois decantadores secundários
circulares. A construção dos decantadores na ETAR com geometria circular deveu-se ao
facto de não ter havido restrições em termos de área de implementação. Este tipo de
geometria exibe uma melhor relação entre a área superficial e o perímetro de construção
(custo de investimento) do que outro tipo de geometrias.
A entrada da água residual nos decantadores secundários é realizada por meio de
deflectores centrais de distribuição que recebem a descarga do efluente das caixas de
repartição. Os decantadores possuem uma ponte raspadora de superfície e de fundo, de
modo a encaminhar as lamas decantadas para o respetivo compartimento de lamas. As
lamas depositadas nos decantadores são encaminhadas para um poço de lamas situado
no centro dos decantadores, através de um raspador em funcionamento contínuo, sendo
posteriormente conduzidas graviticamente para a respetiva estação elevatória de lamas
secundárias, e elevadas em contínuo a seguir para o respetivo tanque de contacto. As
escumas que se podem formar casualmente à superfície dos decantadores são removidas
pelo raspador de superfície. Estas são retidas pelo deflector periférico e encaminhadas
pelo raspador para a caixa de escumas. Seguidamente, a mistura água mais escumas
segue por gravidade para o circuito de escorrências do tratamento de lamas, que está
ligado à elevação inicial.
O efluente que sai dos decantadores secundários é encaminhado através da
caleira de descarga até à caixa de distribuição de caudais para as duas linhas de
tratamento terciário ou para a tubagem de by-pass ao tratamento terciário, através do
jogo de válvulas existente [19][20].

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3.2.5. Estação elevatória de recirculação de lamas biológicas

As estações elevatórias podem ser isoladas a partir do manuseamento de


válvulas que estão instaladas à entrada destas.
As lamas são bombeadas em contínuo, a partir de cada estação elevatória, para
as caixas de repartição de lamas em recirculação do tanque de contacto da
correspondente linha de tratamento biológico. Em cada estação elevatória estão
instalados 2 (+1) grupos eletrobomba submersíveis e em cada linha há um medidor de
caudal. O caudal pode ser regulado pelas bombas, através do variador de frequência,
permitindo assim a adaptação do sistema às diversas condições de afluência [19][20].

3.3.Tratamento terciário- remoção de cor

O tratamento terciário da ETAR de Serzedo tem como objetivo a remoção de cor


persistente, de partículas de sólidos e tensioactivos do efluente, e baseia-se no recurso a
duas tecnologias combinadas, nomeadamente a flotação e a ozonização. Na Figura 6,
está apresentado o sistema de tratamento referente a esta fase de tratamento da ETAR de
Serzedo.

Figura 6 - Sistema de tratamento terciário da ETAR de Serzedo. Adaptado de [1].

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O presente tratamento para remoção de cor do efluente, que foi proposto em
alternativa ao processo físico-químico e decantação lamelar sugerido inicialmente,
apresenta bastantes aspetos positivos, tais como os custos de exploração, que são
menores em comparação com o processo de remoção de cor por tratamento físico-
químico, é flexível e fácil de operar e de intervir, promove a redução de SST e
tensioativos por flotação, permite a redução da CQO, o efluente final apresenta uma alta
qualidade e com teores elevados de oxigénio dissolvido e permite a desodorização do
efluente final.
Esta etapa é composta por 2 linhas de tratamento, cada uma constituída por 1
flotador, 1 saturador e 1 (+1 de reserva) hidroinjectores associados. O gerador de ozono
tem capacidade de produzir gás para as duas linhas e associado a ele está todo o
equipamento de armazenagem de oxigénio líquido, necessário à produção do ozono.
O fluxo hidráulico do efluente é gravítico desde a sua saída dos decantadores
secundários até à caixa de descarga para o meio hídrico.
Os flotadores são constituídos por um módulo interno cilíndrico, em que no
fundo deste é injetado o efluente saturado com ar. A função deste módulo interno é o de
efetuar a mistura do ar com o efluente. Portanto, o efluente entra tangencialmente no
órgão central do flotador, a uma altura de cerca de um metro do fundo, sendo que
abaixo da entrada do efluente está instalada uma rede de hidroinjectores de efluente
tratado saturado de ar, tornando o processo de flotação mais eficiente. O efluente entra
no módulo interno ainda com alguns sólidos provenientes da decantação secundária, e
estes são posteriormente arrastados até à superfície quando entram em contacto com a
corrente de efluente recirculado e saturado com ar, dando-se assim o processo de
flotação.
A saturação de uma fração de efluente tratado com ar comprimido é realizada
por um sistema constituído por 1 (+1) electrobombas, 1 injector ar/efluente tratado e 1
saturador. Este último equipamento é constituído por efluente tratado saturado com ar
até um determinado nível, estando o restante espaço reservado ao ar. As condições de
pressão do saturador promovem a manutenção do ar no efluente. As características
hidráulicas da electrobomba, associadas ao desenho específico do injetor, fazem com
que este aspire constantemente o ar presente no interior do saturador. O efluente tratado
saturado de ar, sem cor, segue para os hidroinjectores situados nos módulos internos.
O efluente saturado de ar é distribuído pelos módulos internos, misturado com o
efluente derivado da decantação secundária, verificando-se a subida das partículas em

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suspensão. A ponte raspadora de superfície colocada em cada órgão de tratamento
conduz os SST separados neste processo para o poço de lamas flotadas.
O efluente não tratado desce entre os módulos internos e a parede dos flotadores,
entrando em contacto com o ozono na parte inferior destes órgãos, iniciando-se assim o
processo de descoloração. A introdução de ozono nos órgãos é realizada através da
dissolução de ozono pretendido numa corrente de recirculação interna de efluente
tratado. Os compostos que conferem cor ao efluente são constituídos por moléculas
complexas não biodegradáveis, sendo muitas das vezes de forma cíclica e com ligações
duplas fortes. Portanto, o ozono quando entra em contacto com o efluente quebra as
ligações das moléculas, formando-se, moléculas mais pequenas, sem características de
corante.
A saída do efluente é tangencial e é realizada pelo fundo dos órgãos. O efluente
sem cor segue para uma caixa onde é parcialmente saturado.
Devido ao sentido de rotação do efluente no interior dos equipamentos, os
flotados são conduzidos naturalmente para a parte central destes, em que um sistema
composto por duas pás raspadoras diametralmente opostas os encaminha para o
descarregador e deste para a estação elevatória, a partir da qual são recirculados para o
tratamento biológico.
Caso se verifique que não seja necessária a alimentação com o ozono, o sistema
é todo desativado, ou apenas pode funcionar o processo de flotação para a remoção dos
SST e de tensioactivos [19][20].

3.3.1. Elevação de lamas flotadas

A finalidade desta etapa de tratamento é a extração das lamas flotadas,


provenientes da caixa de escumas dos flotadores e a elevação das mesmas para o reator
biológico da linha correspondente. A elevação das lamas é efetuada por intermédio de 1
(+1) grupos electrobomba submersíveis, estando instalados na tubagem um medidor de
caudal e um medidor de sólidos. As bombas têm a possibilidade de regulação do caudal
por variador de frequência e estão encravadas com boias de nível [19][20].

50
3.4.Reutilização do efluente tratado

Uma parte da água tratada é reutilizada, designada água de serviço, por exemplo
para a lavagem dos tambores de espessamento e das centrífugas, para as diluições das
soluções de polímero, rega dos espaços verdes, para a lavagem de pavimentos e
equipamentos, entre outros. Na Figura 7 está representado o esquema de tratamento
aplicado para a reutilização do efluente tratado.

Figura 7 - Esquema de tratamento da ETAR de Serzedo para a reutilização do efluente


tratado. Adaptado de [1].

Na ETAR está instalado um sistema compacto de desinfeção por ultravioleta


com limpeza automática colocado em linha, a seguir ao grupo hidropressor, antes da
ligação à rede de água de serviço.
A água tratada é inicialmente elevada por intermédio de 1 (+1) bomba centrífuga
submersível, a partir do canal de saída do tratamento terciário, para o tanque de água de
serviço de 50 m3 de capacidade, localizado ao lado do edifício de tratamento de lamas.
Antes de a água tratada ser alimentada ao reservatório, esta é filtrada através de um
filtro mecânico de limpeza automática, instalado em linha na tubagem de compressão
das bombas.

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Para a lavagem dos tambores de espessamento há dois grupos eletrobomba (1+1)
que utilizam a água tratada filtrada armazenada no reservatório.
No interior do edifício referido está instalado um grupo hidropressor, que está
associado ao tanque de água de serviço, que assegura o caudal e a pressão necessários
em qualquer ponto de utilização de água de serviço na ETAR. A seguir ao grupo
hidropressor, antes de ser fornecida aos pontos de utilização, a água de serviço é
desinfetada num reator ultravioleta tubular [19][20].

3.5.Tratamento de lamas em excesso

O tratamento das lamas biológicas engloba uma série de etapas, nomeadamente


a extração das lamas em excesso, espessamento mecânico, desidratação mecânica,
preparação e doseamento de polielectrólito para espessamento e desidratação, transporte
e armazenamento das lamas desidratadas, como se pode verificar pelo esquema de
tratamento representado na figura seguinte.

Figura 8 - Esquema de tratamento da ETAR de Serzedo para o tratamento das lamas


biológicas. Adaptado de [1].

52
3.5.1. Espessamento mecânico de lamas

A principal finalidade desta etapa de tratamento é a de efetuar a extração de água


presente nas lamas biológicas por filtração, aumentando assim o teor de matéria seca. O
processo é executado a partir de tambores de espessamento, auxiliado pela adição de um
polímero, permitindo o agrupamento das partículas sólidas.
As lamas em excesso nas caixas de repartição são elevadas a partir de 2 (+2)
bombas centrífugas submersíveis para o equipamento de espessamento.
As lamas biológicas extraídas das valas de oxidação são espessadas
mecanicamente em 1 (+1) tambores de espessamento, bem isolados de forma a se
garantir as condições de operação, segurança e higiene apropriadas.
A reserva dos tambores é cíclica, prevendo-se a alternância, a partir da manobra
do conjunto de válvulas de seccionamento manuais que controlam a alimentação dos
tambores de espessamento.
Os medidores de caudal e de concentração sólidos que estão instalados em cada
linha, permitem estabelecer o caudal mássico de alimentação a cada linha de
espessamento e com isso controlar, de forma automática, a respetiva dosagem de
polímero necessário.
A adição e mistura da solução de polímero com as lamas em excesso são
efetuadas em linha nos floculadores, antes do tratamento por espessamento.
Depois do acompanhamento humano da sequência da linha de arranque, o
funcionamento dos equipamentos e instrumentação relacionados com as etapas de
espessamento e desidratação, possibilitam que estas etapas operem de um modo
automático, não dispensando a vigilância.
Os equipamentos que compõem esta etapa permitem obter lamas espessadas
com uma concentração na ordem dos a 4 a 6% (p/v), sendo a eficiência da captura de
sólidos do equipamento de 95%.
A água necessária à lavagem dos tambores de espessamento é pressurizada por
duas bombas, que fazem a aspiração a partir do reservatório da água de serviço.
As águas das lavagens e o filtrado do espessamento são conduzidos para o
circuito de escorrências com ligação à elevação inicial [19][20].

53
3.5.2. Desidratação mecânica e transporte de lamas

A finalidade desta etapa de tratamento é aumentar a concentração de matéria


seca presente nas lamas provenientes do espessamento, através de meios mecânicos.
Cada um dos tambores de espessamento está ligado a uma centrífuga de
desidratação de alto rendimento. O funcionamento de cada conjunto (tambor e
centrífuga) está encravado através do automatismo determinado para cada linha de
espessamento/desidratação.
Entre os espessadores e as centrífugas encontra-se uma tremonha de lamas
espessadas, equipada com um medidor ultrasónico de nível e uma bombagem
intermédia para a alimentação à centrífuga em atividade. A finalidade da tremonha de
lamas espessadas é a de garantir, que em caso de paragem imprevista do tambor de
espessamento em atividade, continuam a existir lamas espessadas durante o tempo de
paragem da centrífuga. A seguir à tremonha está instalada uma bomba volumétrica de
parafuso excêntrico.
As centrífugas possibilitam obter lamas desidratadas com uma concentração da
ordem dos 20 a 22% (p/v), apresentando uma eficiência de captura de sólidos de 95%.
Nos circuitos de alimentação das centrífugas estão instalados medidores de caudal.
Abaixo das centrífugas está instalado um parafuso transportador comum a
ambas, o qual alimenta as bombas de elevação das lamas ao silo. O sentido de rotação
do parafuso é determinado automaticamente de acordo com a linha em funcionamento
selecionada.
Na compressão das bombas de lamas para o silo encontra-se instalado um
manómetro de pressão, para a averiguação da pressão na tubagem de elevação. No silo
encontra-se um medidor de nível, que coordena a entrada de lamas no mesmo e controla
os níveis para a averiguação da necessidade de descarga.
A adição e mistura de polímero são executadas em linha, antes da entrada nas
centrífugas, nos misturadores estáticos.
As escorrências das centrífugas e as águas de lavagens são encaminhadas para o
circuito de escorrências com ligação à elevação inicial [19][20].

54
3.5.3. Preparação e doseamento de polielectrólito para espessamento e
desidratação

O condicionamento químico das lamas com polielectrólito é realizado antes das


operações de espessamento e desidratação, tendo como finalidade melhorar a eficiência
do tratamento.
Os processos de preparação de polielectrólito são bastante importantes, pois são
determinantes no grau de espessamento e desidratação das lamas, e porque pretende-se
sempre reduzir o seu consumo, visto que é bastante dispendioso.
A adição e mistura da solução de polímero são efetuadas em linha, sendo
favorecida pelo misturador estático.
Em relação à etapa de espessamento, a solução de polielectrólito é preparada por
uma unidade de preparação automática com capacidade de 1000 L e na etapa de
desidratação a solução é preparada por uma unidade de preparação automática de 1500
L de capacidade.
O reagente numa concentração de 0.3 a 0.6% é diluído em linha, em painéis de
diluição, e parametrizado por medidores de caudal instalados na tubagem de adução às
centrifugas.
As unidades de preparação e doseamento de polielectrólito estão instaladas no
edifício de tratamento de lamas e de reagentes e é utilizado, na preparação do polímero,
água da rede e para a diluição do mesmo água de serviço [19][20].

3.5.4. Armazenamento de lamas desidratadas

O armazenamento das lamas desidratadas é efetuado num silo com 100 m3 de


capacidade, de fundo plano e com raspador exterior [19][20].

55
Capítulo 4. Controlo analítico e processual da instalação de Serzedo

Nas secções seguintes, são descritas as formas de controlo analítico que são
realizadas na ETAR de Serzedo, os principais parâmetros de controlo processual e os
fatores para a utilização dos recursos hídricos para a descarga da água residual.

4.1.Controlo analítico e principais parâmetros processuais

O controlo analítico do sistema de tratamento da ETAR de Serzedo é realizado a


dois níveis: controlo analítico de campo e controlo analítico de laboratório.
Seguidamente são descritos os procedimentos adotados, bem como o registo mensal que
é executado, o qual inclui os principais parâmetros processuais avaliados.

4.1.1. Controlo analítico de campo

O controlo analítico de campo é realizado pelos técnicos da ETAR e é


constituído pelo conjunto de determinações consideradas simples e imediatas, em que
os resultados são de interpretação acessível, não exigindo a utilização de equipamentos
e material de laboratório dispendiosos para as medições. Este controlo é executado
diariamente. Após a entrada dos técnicos na instalação, nos turnos respetivos, uma das
principais tarefas que executam é o registo diário, que se baseia no preenchimento de
tabelas referentes a diversos fatores: a data do registo; o registo do estado do tempo
nesse dia; o registo de dados do consumo de utilidades, reagentes e de resíduos
formados dos processos de tratamento e por outras atividades na ETAR; o controlo em
relação aos caudais e o controlo analítico do processo. De modo a efetuar esta função,
os técnicos responsáveis têm de percorrer os vários locais do processo de tratamento
para o registo dos dados necessários. Tanto os registos de utilidades como de reagentes

56
utilizados são importantes para o controlo ao nível de custos na ETAR. O controlo de
caudais é realizado a partir dos registos dos valores dados pelos totalizadores
localizados em vários pontos da instalação, sendo indispensáveis para a determinação
dos caudais totais e médios de efluente nas várias fases de tratamento. Para o controlo
analítico são recolhidas amostras de efluente em vários pontos do processo, procedendo-
se de seguida à determinação de parâmetros analíticos nessas amostras. Na Tabela 4,
estão apresentados os tipos de parâmetros analíticos que são determinados e registados
diariamente pelos técnicos, nas amostras recolhidas nas diferentes etapas de tratamento.

Para o registo diário de campo, os parâmetros analíticos são analisados a partir


do uso de medidores portáteis e são registados também valores dados pelos medidores
fixos na instalação. Na Tabela 5 estão representados os limites de alerta para cada
parâmetro analítico que é registado nas folhas de registo diário. Estes são valores
mínimos, máximos ou gamas de valores destinados a cada tipo de parâmetro analítico
que caracteriza o processo, os quais são valores atribuídos pela empresa para que seja
executado um controlo sobre o processo de tratamento direcionado para a sua melhoria,
mediante os resultados obtidos.

57
Tabela 4 - Parâmetros analíticos determinados nos diferentes locais de amostragem na
instalação [42].

Estágios do processo de tratamento Parâmetros analíticos


V30
pH
Temperatura
Obra de entrada* **
Concentração de oxigénio dissolvido
Potencial redox
Condutividade***
V30
pH
Desarenamento/ Desengorduramento* Temperatura
Concentração de oxigénio dissolvido
Potencial redox
V30
pH
Tanque de neutralização* Temperatura
Concentração de oxigénio dissolvido
Potencial redox
V30
pH
Temperatura
Tratamento biológico- zona arejada*
Concentração de oxigénio dissolvido***
Potencial redox
Condutividade
pH
Temperatura
Tratamento biológico- zona anóxica* Concentração de oxigénio dissolvido
Potencial redox
Condutividade
pH
Temperatura
Decantação secundária*
Concentração de oxigénio dissolvido
Potencial redox
pH
Temperatura
Saída** Concentração de oxigénio dissolvido
Potencial redox
Condutividade
Recirculação de lamas* V30

*
Amostras pontuais ** Amostras compostas ***Registo do valor dado pelo medidor portátil e pelo medidor fixo,
sendo os restantes parâmetros determinados apenas pelo uso de medidor portátil e o valor de V 30 é determinado
recorrendo ao método volumétrico.

58
Tabela 5 - Limites de alerta de cada parâmetro analítico para cada amostra a analisar na
ETAR de Serzedo [2].

Local de amostragem Parâmetro analítico Unidade de medida Limite de alerta


Redox mV < -200
Obra de entrada
pH Escala de Sorensen ]5,5;9,5[
Redox mV ]-100;100[
Vala de oxidação- zona pH Escala de Sorensen ]6; 9[
anóxica Concentração de
mg/L ]0;0,5[
oxigénio dissolvido
Redox mV < 60
Vala de oxidação- zona pH Escala de Sorensen ]6; 9[
arejada Concentração de
mg/L < 0,5
oxigénio dissolvido
Saída pH Escala de Sorensen ]6; 9[

4.1.2. Controlo analítico de laboratório

O controlo analítico em laboratório é efetuado pelos técnicos com a formação


adequada para a realização de atividades mais complexas, as quais são executadas no
laboratório da ETAR de Serzedo para controlo interno do processo de tratamento. As
análises laboratoriais são realizadas para o controlo interno da instalação de Serzedo, e
permitem avaliar a eficiência e o estado de funcionamento de cada processo de
tratamento e permitem responder às eventuais disfunções detetadas de forma imediata,
contribuindo para a melhoria do sistema.
Este controlo engloba a determinação de parâmetros analíticos dos vários pontos
de amostragem no sistema de tratamento, permitindo que seja realizado um controlo ao
nível dos parâmetros estipulados pela legislação e ao nível dos processos de tratamento.
Na Tabela 6 estão representados os parâmetros analíticos que são analisados no
laboratório para as amostras que são retiradas nas diferentes etapas de tratamento. As
análises são executadas três vezes por semana, encontrando-se no Anexo I o plano desse
controlo analítico. Para cada parâmetro analítico também estão definidos limites de
alerta estabelecidos pela empresa (Tabela 7).

59
Tabela 6 - Parâmetros analíticos a determinar em laboratório interno para os diferentes
pontos de amostragem do sistema de tratamento [2].

Pontos de amostragem Parâmetros analíticos

Carência química de oxigénio


Carência bioquímica de oxigénio
Sólidos suspensos totais
Sólidos suspensos voláteis
Efluente bruto*
Azoto total
Nitratos
Azoto amoniacal
Fósforo total
Carência química de oxigénio
Carência bioquímica de oxigénio
Sólidos suspensos totais
Sólidos suspensos voláteis
Efluente final*
Azoto total
Nitratos
Azoto amoniacal
Fósforo total
Sólidos suspensos totais
Recirculação de lamas
Sólidos suspensos voláteis
Sólidos suspensos totais
Vala de oxidação- zona arejada
Sólidos suspensos voláteis
Vala de oxidação- zona anóxica Nitratos
Sólidos suspensos totais
Efluente secundário
Sólidos suspensos voláteis
Sólidos suspensos totais
Sólidos suspensos voláteis
Lamas em excesso
% Matéria seca
% Matéria volátil
Carência química de oxigénio
Espessamento- filtrado Sólidos suspensos totais
Sólidos suspensos voláteis
% Matéria seca
Espessamento- lama
% Matéria volátil
Carência química de oxigénio
Desidratação- filtrado Sólidos suspensos totais
Sólidos suspensos voláteis
% Matéria seca
Desidratação- lama
% Matéria volátil
*
Amostras compostas, sendo as restantes amostras pontuais.

60
Tabela 7 - Limites de alerta de cada parâmetro analítico para cada amostra a analisar na
ETAR de Serzedo [2].

Unidade de Limite de
Local de amostragem Parâmetro analítico
medida alerta
Carência química de mg O2 /L > 1200
oxigénio
Carência bioquímica de mg O2 /L > 400
oxigénio
Sólidos suspensos totais mg/L > 750

Efluente bruto Sólidos suspensos voláteis mg/L > 550

Azoto total mg /L de N > 85

Nitratos mg N/L > 10

Azoto amoniacal mg N/L > 50

Fósforo total mg/L de P > 15


Carência química de mg O2 /L > 120
oxigénio
Carência bioquímica de mg O2 /L > 20
oxigénio
Sólidos suspensos totais mg/L > 30

Efluente final Sólidos suspensos voláteis mg/L > 25

Azoto total mg /L de N > 10

Nitratos mg N/L >5


Azoto amoniacal mg N/L > 10

Fósforo total mg/L de P >5

Sólidos suspensos totais mg/L ]7000;16500[


Recirculação de lamas
Sólidos suspensos voláteis mg/L ]5000;15000[

Sólidos suspensos totais mg/L ]3500;5000[


Vala de oxidação- zona
arejada Sólidos suspensos voláteis mg/L ]3000;4500[
Vala de oxidação- zona mg N/L > 20
Nitratos
anóxica
Espessamento- lama Matéria seca % <2

Desidratação- lama Matéria seca % <18

Espessamento- filtrado Sólidos suspensos totais mg/L >450

Desidratação- filtrado Sólidos suspensos totais mg/L >500

61
4.1.3.Registo mensal

O registo mensal faz parte das diversas tarefas que são realizadas na ETAR de
Serzedo. Esta tarefa baseia-se no registo de parte dos valores obtidos nas determinações
dos parâmetros analíticos nos vários pontos de amostragem e no registo dos valores de
parâmetros processuais essenciais à caracterização do sistema de tratamento. O registo
dos vários dados é realizado na tabela de Registo Mensal referente a cada mês do ano
respetivo, apenas para os dias em que são realizadas as análises laboratoriais físico-
químicas no laboratório da ETAR. Esta tabela é constituída pelos tipos de parâmetros
analíticos a registar nos vários dias do mês, pelos limites de alerta para cada parâmetro,
pelas eficiências de tratamento obtidas em relação a determinados parâmetros, pelos
caudais a registar de algumas etapas do processo e pelos parâmetros processuais obtidos
a partir dos dados de caudais, de dados resultantes do controlo analítico de laboratório e
de campo e do volume do reator biológico [41]. Para os parâmetros processuais estão
estipulados valores limite de alerta. Na Tabela 8 são apresentados os parâmetros
processuais e os respetivos valores limites de alerta, que compõem a tabela de Registo
Mensal.

Tabela 8 - Tipos de parâmetros processuais contidos nas folhas de Registo Mensal e


respetivos valores limite de alerta [2].

Parâmetros processuais Valor limite de alerta

Relação SSV/SST (%)* ]60;80[


Razão de recirculação ]0,5;1,3[
Índice volumétrico de lamas (IVL) (ml/g) ]50;300[
Idade das lamas (dias) ]15;30[
CBO/CQO (Biodegradabilidade) Sem limite
Carga mássica (A/M) ]0,01;0,15[
*
Parâmetros analíticos de uma amostra de lamas recirculadas ao reactor biológico.

62
4.2.Fatores para a utilização dos recursos hídricos

A ETAR de Serzedo deve cumprir todos os critérios definidos para a utilização


dos recursos hídricos para rejeição das águas residuais, mencionados na licença de
descarga emitida pela ARH do Norte (Administração da Região Hidrográfica do Norte),
estando estipulados na licença os termos de contrato que a empresa Águas do Noroeste
tem de cumprir. Nesse documento é descrito a localização e caracterização do sistema
de tratamento da ETAR de Serzedo, a validade da licença e as condições gerais e
especificas de descarga [43]. A ETAR promove a recolha de amostras de determinados
pontos do processo de tratamento e posteriormente estas são analisadas por um
laboratório externo acreditado. Estas determinações analíticas são sujeitas à avaliação
do cumprimento do programa de autocontrolo descrito na licença de descarga (Tabela
9). Os resultados obtidos são então enviados à entidade licenciadora, em formato digital,
até ao dia 15 do mês seguinte ao trimestre a que respeitam as medições. Os resultados
do programa de autocontrolo e as cópias dos boletins analíticos são reportados à
entidade licenciadora com uma periocidade trimestral [43].

O DL n.º 236/98 de 1 de Agosto e o DL n.º 152/97 de 19 de Junho são a


legislação referente às condições de descarga do efluente final. O primeiro determina
normas, critérios e objetivos de qualidade com o intuito dos ecossistemas aquáticos
serem protegidos e de se efetuar uma melhoria da qualidade da água de acordo com os
seus principais usos e estabelece normas gerais para a descarga de águas residuais e o
segundo é referente à recolha, tratamento e descarga de águas residuais urbanas no meio
aquático [5][44]. Portanto, a legislação aplicável à descarga do efluente final para a
ETAR de Serzedo é referente a estes dois decretos de lei. Na Tabela 10 estão dispostos
os parâmetros analíticos e os valores limite de emissão respetivos para o efluente final,
para o caso da ETAR de Serzedo.

63
Tabela 9 - Programa de autocontrolo estabelecido, na licença de descarga emitida pela
ARH do Norte [43].

Frequência
Local de Tipo de
Parâmetro Método analítico de
amostragem amostragem
amostragem
pH (escala de
Saída Electrometria. Quinzenal Simples
Sorensen)
Amostra homogenizada, não
CQO (mg/L
Saída filtrada e não decantada. Método do Quinzenal Composta
O2)
dicromato de potássio.
Amostra homogenizada não filtrada
e não decantada. Determinação do
oxigénio dissolvido antes e após
CBO5 (mg/L
Saída cinco dias de incubação a 20ºC +/- Quinzenal Composta
O2)
1ºC, na ausência total de luz.
Adição de um inibidor de
nitrificação.
Filtração de uma amostra
representativa através de um filtro
Total de de membrana de 0.45µm. Secagem
partículas a 105ºC e pesagem. Centrifugação
Saída sólidas em de uma amostra representativa Quinzenal Composta
suspensão (durante pelo menos 5 minutos a
(mg/L) uma aceleração média de 2800g a
3200g). Secagem a 105ºC e
pesagem.
Cor (vivível Método fotométrico, após filtração
Saída na diluição simples, com padrões de escala Pt- Quinzenal Composta
de 1:20) Co.
Azoto total Espectrometria de absorção
Saída Quinzenal Composta
(mg/L N) molecular.
Fósforo total Espectrometria de absorção
Saída Quinzenal Composta
(mg/L P) molecular.
Caudal
Saída - Mensal Simples
(m3/mês)

64
Tabela 10 - Parâmetros analíticos e respetivos valores limite de emissão, segundo o
estipulado na licença de descarga [43].

Valores limite de emissão


Parâmetros
Época normal Época de estiagem*
pH (escala de Sorensen) 6-9
CQO (mg O2/L) 125 100
CBO5 (mg O2/L) 25 15
SST (mg/L) 35 30
Cor (visível na diluição 1:20) Não visível
Azoto total (mg N/L) 15
Fósforo total (mg P/L) 10
*
Época de estiagem de 1 de Junho a 30 de Setembro.

65
Capítulo 5. Materiais e Métodos

5.1. Período e frequência de análise

Para a avaliação do desempenho do sistema de tratamento de águas residuais de


Serzedo, foram executadas análises físico-químicas no laboratório da ETAR, a
diferentes amostras de vários pontos do processo de tratamento, e foram realizadas nas
instalações da Universidade do Minho, análises microbiológicas ao efluente do reator
biológico. Foram consideradas para este estudo análises efetuadas entre o mês de Abril
e Agosto de 2012, período o qual, a amostragem para as análises físico-químicas e
microbiológicas coincidiram. A determinação dos parâmetros físico-químicos foi
realizada de acordo com o programa de controlo analítico interno de laboratório da
ETAR (Anexo I). Relativamente à amostragem para a caracterização microbiológica ao
efluente da vala de oxidação, esta foi efetuada semanalmente, excetuando duas semanas
do intervalo de amostragem, e foi realizada na sua maioria nos dias em que não
decorreram as operações no laboratório da ETAR, excetuando uma vez.
No decorrer deste trabalho foram facultados, por técnicos da empresa, dados das
folhas de Registo Mensal, nomeadamente de parâmetros físico- químicos determinados
em campo e dados de parâmetros operacionais, os quais foram considerados na
apresentação dos resultados e discussão por serem relevantes na avaliação do estado da
ETAR de Serzedo, durante o período em análise.
Nas secções seguintes, estão descritos os métodos analíticos físico-químicos,
aplicados em laboratório, e microbiológicos, realizados no âmbito desta dissertação.

5.2. Análise aos parâmetros físico-químicos em laboratório

No Anexo II encontram-se os protocolos laboratoriais, adotados e homologados


pela empresa, para outros laboratórios e para a ETAR de Serzedo.

66
5.2.1. Determinação analítica da Carência Química de Oxigénio (CQO)

O método utilizado para a determinação da CQO foi o de refluxo fechado.


Primeiramente, com uma micropipeta adicionou-se a um tubo de digestão 2.0 mL de
amostra e preparou-se, num outro tubo, um branco com o mesmo volume mas com água
destilada. Seguidamente, adicionou-se a cada tubo 1.2 mL de uma solução de digestão
(dicromato de potássio), de uma gama de leitura alta (100-900 mg/L) ou baixa (<100
mg/L) de acordo com o tipo de amostra em análise, e 2.8 mL de solução ácida.
Posteriormente agitou-se os dois tubos num agitador do tipo vortex e colocou-se num
reator para digestão a 148ºC, durante 2 horas. Depois da digestão das amostras, retirou-
se os tubos e colocou-se a arrefecer num suporte até à temperatura ambiente. De
seguida, procedeu-se à leitura no espectrofotómetro, selecionando no início a curva de
calibração pretendida, gama alta (600 nm) ou gama baixa (420 nm), e determinou-se o
zero da curva com o branco digerido correspondente, e depois leu-se a CQO da amostra.
Este procedimento foi descrito de acordo com as instruções de trabalho impostas pela
empresa.
A CQO das amostras analisadas também foi determinada a partir da utilização
dos Kits laboratoriais LCK 314 e LCK 1014 (Hach Lange), com intervalos de medição
baixo (15-150 mgO2/L) e alto (100-2000 mg O2/L), respetivamente. Ambos os kits têm
as mesmas instruções de trabalho e o procedimento a seguir descrito foi efetuado de
acordo com essas instruções. A escolha de um ou outro kit variou de acordo com o tipo
de amostra a analisar.
Procedeu-se inicialmente à agitação da cuvette até homogeneizar o líquido. De
seguida, colocou-se com uma micropipeta 2.0 mL de amostra no interior do tubo de
reação, vertendo o líquido, cuidadosamente, pela parede interna. Fechou-se o tubo com
a tampa roscada e com o papel absorvente limpou-se o exterior e colocou-se no
termoreator a 148ºC, durante 2 horas. Terminada a digestão retirou-se a cuvette e
colocou-se num suporte para tubos de ensaio a arrefecer. Passados 15 minutos agitou-se
o tubo num vortex e colocou-se de novo no suporte durante meia hora
aproximadamente, até o tubo arrefecer. Por fim, mediu-se a CQO diretamente no
espectrofotómetro.

67
5.2.2. Determinação analítica da Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO5)

A determinação analítica da CBO5 foi realizada a partir do método


respirométrico. Inicialmente, colocou-se o volume da amostra numa garrafa. Esse
volume foi determinado a partir do resultado da CQO para essa amostra, estimando-se
que o valor da CBO5 é aproximadamente 80 % do valor da CQO. Na Tabela 11,
encontra-se o volume de amostra necessário de acordo com o alcance da medição.

Tabela 11 - Volume da amostra a utilizar de acordo com o alcance da medição.

Alcance da medição (mg O2 / L) Volume a utilizar (mL)


0 – 35 420
0 – 70 355
0 – 350 160
0 – 700 95

De seguida, colocou-se uma saqueta de BOD nutriente Buffen Pillons no interior


da garrafa, adicionou-se uma gota de antinitrificante por cada 50 mL de amostra, e um
magneto. Posteriormente, introduziu-se um dedo de borracha na garrafa e duas pastilhas
de hidróxido de sódio no seu interior. Seguidamente, colocou-se a garrafa no aparelho
Bodtrack II na incubadora, a uma temperatura controlada (20ºC) durante 5 dias.
Colocou-se a gama de medição pretendida no aparelho e iniciou-se o teste. No 5º dia
registou-se o valor resultante. Este procedimento foi baseado nas instruções de trabalho
impostas pela empresa.

5.2.3. Determinação analítica do Azoto total (Ntotal)

Para a obtenção da concentração em mgN/L de azoto total das amostras,


utilizou-se dois tipos de kits laboratoriais: LCK 338 e LCK 238 (Hach Lange), para uma

68
gama de medição de 20-100 mgN/L e para 5-40 mgN/L, respetivamente. Os
procedimentos descritos a seguir foram baseados nos manuais de instruções dos
respetivos kits.
Para a análise às amostras com uma provável concentração elevada de azoto
total utilizou-se o kit LCK 338. Inicialmente, verteu-se, cuidadosamente, com uma
micropipeta 0.2 mL de amostra para um tubo de vidro, 2.3 mL da solução A e 1 pastilha
do componente B. De seguida, colocou-se de imediato o tubo no termoreator a 100ºC,
durante uma hora. Após a digestão, colou-se o tubo num suporte para arrefecer. Depois
de arrefecido, adicionou-se uma unidade do reagente C ao tubo, fechou-se e agitou-se o
tubo. Seguidamente, retirou-se com a micropipeta 0.5 mL da solução do tubo e verteu-
se para uma solução contida numa cuvette do kit. Por fim, retirou-se 0.2 mL da solução
D e inseriu-se na cuvette e fechou-se cuidadosamente e agitou-se. Passados 15 minutos,
limpou-se o exterior da cuvette com papel absorvente e leu-se no espectrofotómetro a
respetiva concentração de azoto total. Para a análise às amostras com prováveis
concentrações baixas de azoto total utilizou-se o kit LCK 238, e efetuou-se o mesmo
procedimento que o anterior, com alteração no volume da amostra que foi de 0.5 mL e
no volume do reagente A que foi de 2.0 mL. É de referir que os reagentes A, B, C e D e
as cuvettes estão inseridos nos respetivos kits.

5.2.4. Determinação analítica da concentração de N-NH4+

A concentração de N-NH4+ em mgN/L foi determinada recorrendo a dois tipos


de kits: LCK 304 e LCK 303 (Hach Lange), para gamas de medição 0.015-2.0 mgN/L e
2-47 mgN/L, respetivamente. Na utilização do primeiro kit referido, iniciou-se a
operação com a remoção do papel de alumínio, cuidadosamente, que cobria a tampa da
cuvette do kit. De seguida, abriu-se a cuvette, pela tampa roscada, e inseriu-se 5 mL de
amostra. Seguidamente, fechou-se o tubo, agitou-se vigorosamente e deixou-se repousar
durante 15 minutos. Posteriormente, leu-se o valor da concentração diretamente no
espectrofotómetro. Para a utilização do segundo kit acima referido, o procedimento foi
igual ao anterior, apenas o volume de amostra foi diferente, sendo este de 0.2 mL. O
procedimento descrito foi baseado nos manuais de instruções dos respetivos kits. A
escolha de um kit ou outro foi determinada pelo tipo de amostra a analisar.

69
5.2.5. Determinação analítica da concentração de N-NO3-

A concentração de N-NO3-, em mgN/L, foi determinada para as diferentes


amostras pelos kits laboratoriais LCK 340 e 339 (Hach Lange), com intervalos de
medição alto de 1-60 mgN/L e baixo de 0.23-13.5 mgN/L, respetivamente. Na
utilização do Kit LCK 340, procedeu-se inicialmente com a adição de 0.2 mL de
amostra para o interior da cuvette do Kit e 1.0 mL da solução A (cuvette e solução A
constituem o kit). De seguida, fechou-se o tubo e agitou-se vigorosamente. Passados 15
minutos de repouso, leu-se o valor no espectrofotómetro. Na utilização do kit LCK 339,
procedeu-se do mesmo modo, apenas com a aplicação de volumes diferentes para a
amostra, 1.0 mL e para a solução A, 0.2 mL.
Para a análise da concentração de N-NO3- das amostras retiradas da zona
anóxica do reator biológico, estas foram filtradas previamente com um arcodisco e
depois foram sujeitas aos procedimentos referidos anteriormente.
Os procedimentos descritos foram realizados com base nos manuais de
instruções dos kits.

5.2.6. Determinação analítica da concentração do Fósforo total (Ptotal)

A concentração (em mg/L) do fósforo total foi analisada a partir dos kits
laboratoriais (Hach Lange) LCK 350 (gama de medição 2.0-20 mg/L) e LCK 348
(gama de medição 0.5-5.0 mg/L). Nas amostras com uma provável concentração de
fosforo total elevada, utilizou-se o kit com a gama de medição mais alta. Nesta análise,
retirou-se inicialmente, cuidadosamente, a pelicula de papel de alumínio, com uma
pinça, da covette do kit. De seguida, abriu-se o tubo pela tampa roscada e pipetou-se
para o seu interior 0.4 ml da amostra. Fechou-se de seguida o tubo, agitou-se e colocou-
se no termoreator a 100ºC, durante uma hora. Terminado a digestão colocou-se o tubo a
arrefecer num suporte para tubos. Seguidamente, colocou-se 0.5 ml da solução B na
cuvette, fechou-se o tubo com uma outra tampa C, agitou-se vigorosamente e deixou-se
repousar durante 10 minutos a solução e voltou-se a agitar. Por fim, colocou-se a
cuvette no espectrofotómetro para leitura. Nas amostras com uma provável
concentração menor de fosforo total, aplicou-se o kit com a gama mais baixa de

70
medição. Para estas amostras, o procedimento foi igual ao anterior, variando apenas no
volume da amostra aplicado (0.5mL) e no volume da solução B (0.2 mL). Os reagentes
B e C e a cuvette encontravam-se nos kits. O procedimento descrito foi baseado nos
manuais de instruções dos kits.

5.2.7. Determinação analítica de sólidos

5.2.7.1. Determinação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) e de


Sólidos Suspensos Voláteis (SSV)

A determinação da concentração de SST e SSV em mg/L, baseou-se


primeiramente na preparação dos filtros de fibra de vidro (tipo A/E, 47mm) para as
diferentes amostras. Colou-se os filtros no dispositivo de filtração com a superfície mais
rugosa voltada para cima e filtrou-se com 3 porções de 20 mL de água destilada. De
seguida, removeu-se os filtros do dispositivo de filtração e transferiu-se, cada filtro, para
uma placa de alumínio e colocou-se os conjuntos (placa de alumínio/filtro) na estufa a
105ºC, durante 2 horas. Posteriormente, retirou-se os filtros da estufa e levou-se à mufla
cerca de 10 minutos. Por fim, retirou-se da mufla o conjunto e deixou-se a arrefecer no
excicador e seguidamente pesou-se os filtros (P1) numa balança analítica.
Na análise a cada amostra procedeu-se inicialmente à sua homogeneização.
Seguidamente, filtrou-se, com um determinado volume, cada amostra (os volumes
utilizados encontram-se na Tabela 12, baseados em estudos realizados nos laboratórios
da empresa). Depois da filtração, colocou-se cada filtro na respetiva placa de alumínio e
levou-se a secar numa estufa a 105ºC, durante duas horas. Posteriormente, retirou-se da
estufa o conjunto e deixou-se a arrefecer num excicador. De seguida, pesou-se cada um
(P2) e determinou-se os SST (Equação 9). Incinerou-se de seguida o conjunto numa
mufla a 550 ºC ± 50 ºC, durante 10 minutos. Por fim, retirou-se da mufla e deixou-se a
arrefecer num excicador. Após arrefecidos, pesou-se cada amostra (P3) e determinou-se
os SSV (Equação 10). Este procedimento foi descrito de acordo com as instruções de
trabalho impostas pela empresa.

71
Tabela 12 - Volumes de amostras utilizados na determinação analítica de SST e de SSV.

Tipo de amostra Volume da amostra (ml)


Água residual bruta 50
Vala de oxidação 10
Lamas recirculadas 10
Decantação secundária 500
Efluente final 500
Escorrências do espessador 50
Escorrências da desidratação 50
Lamas em excesso 10

A concentração em SST e SSV foram obtidas através das seguintes equações:

SST (mg/L) =
P2  P11000 1000 (Equação 9)
Vamostra

SSV (mg/L) =
P2  P31000 1000 (Equação 10)
Vamostra

5.2.7.2. Determinação da Matéria Seca (MS) e da Matéria Volátil (MV) em


amostras sólidas e semi-sólidas

Para a determinação da matéria seca e volátil para amostras sólidas e semi-


sólidas, prepararam-se inicialmente os cadinhos necessários para análise.
Primeiramente, secaram-se os cadinhos vazios numa mufla a 550ºC, durante uma hora.
Posteriormente arrefeceram-se num excicador e pesou-se cada um (B) numa balança
analítica. De seguida, cada amostra foi homogeneizada e colocou-se em cada cadinho
preparado 25 g a 50 g, no caso de uma amostra líquida colocou-se entre 25 mL a 30 mL,
e pesou-se (C). Seguidamente, deixou-se a secar na estufa a 105  5ºC, durante 24

72
horas. No dia seguinte, retiraram-se os cadinhos da estufa e colocaram-se a arrefecer no
excicador à temperatura ambiente e pesaram-se (A). Incinerou-se de seguida o resíduo
obtido numa mufla a 550  50ºC, durante uma hora. No final, retiraram-se os cadinhos,
deixaram-se a arrefecer no excicador e pesaram-se (D). Este procedimento foi descrito
de acordo com as instruções de trabalho impostas pela empresa.

Os valores de MS, MV (%) foram obtidos através das seguintes equações:

% Matéria Seca =
 A  B   100 (Equação 11)
CB

% Matéria Volátil =
 A  D   100 (Equação 12)
A B

5.3. Análise microbiológica

A análise microbiológica ao efluente da vala de oxidação da ETAR de Serzedo


incidiu sobre a comunidade de protozoários e de pequenos metazoários e sobre as
bactérias filamentosas que constituíam as lamas ativadas. A seguir, são descritas as
metodologias aplicadas neste estudo.

5.3.1. Transporte e conservação das amostras

Depois da recolha das amostras do interior do reator biológico, foram


transportadas até ao laboratório da Universidade do Minho para serem submetidas à
análise microbiológica. O tempo que decorreu entre a recolha e a chegada das amostras
ao laboratório foi sempre superior a 30 minutos, o que implicou o transporte de cada
amostra associada a um arejador portátil. Embora as amostras tenham sido transportadas
no interior de um frasco, de capacidade de 1L, semi-cheio com lamas, o ar residual no
interior do frasco poderia não ser suficiente para evitar situações de anoxia. A

73
necessidade da utilização, neste caso, de um arejador portátil é assim, devida ao facto da
actividade biológica dos organismos ser elevada, que por consequência o oxigénio
dissolvido é todo consumido, para a realização das atividades metabólicas dos
microrganismos, durante um curto período de tempo, entre 20 a 30 minutos. Depois
deste período, pode-se verificar alterações profundas na comunidade microbiana, bem
como na fisiologia do sistema. Adicionalmente, não foi necessário recorrer-se à
refrigeração das amostras, visto que o tempo desde recolha e a análise de bactérias
filamentosas não foi superior a 8 horas. Durante a análise das amostras no laboratório,
estas eram arejadas.

5.3.2. Estudo da comunidade de protozoários e de pequenos metazoários

Nas subsecções seguintes, são descritos os métodos para a determinação dos


parâmetros biológicos em relação à comunidade de protozoários e de pequenos
metazoários, descrevendo o cálculo para o Índice Biótico de Lamas (IBL) e
procedimento para a observação microscópica.

5.3.2.1. Procedimento para o cálculo do IBL

O método utilizado para o cálculo do índice biótico de lamas foi o proposto por
Madoni em 1994 [35], que se baseia na diversidade e abundância dos organismos que
compõem um sistema de lamas ativadas e nas diferentes suscetibilidades que alguns
grupos demonstram em relação aos parâmetros físico-químicos que definem o processo.
Com este método, define-se a qualidade biológica das lamas através de valores
numéricos estipulados. O índice é determinado a partir de uma tabela de duas entradas
(Tabela 13), em que no lado esquerdo da tabela encontra-se duas colunas, uma referente
aos diferentes grupos dominantes e a outra à densidade total da microfauna (maior ou
menor que 106 indivíduos/ litro), e do lado direito encontram-se quatro classes relativas
ao número de espécies no sistema (S), excluindo os flagelados, e o número de pequenos
flagelados (F), determinado pela utilização da câmara de Fuchs-Rosenthal. Ao longo da
tabela, na vertical, verifica-se um decréscimo da qualidade biológica das lamas. Caso se

74
verifique uma situação em que dois grupos da microfauna tenham a mesma dominância
na amostra, escolhe-se o grupo que ocupa a posição mais baixa na tabela. O valor do
índice é então determinado pela interceção da coluna e linhas selecionadas, obtendo-se
um valor compreendido entre 0 e 10. Esta tabela permite assim, atribuir valores de 0 a
10 à qualidade das lamas, com base nas diferentes sensibilidades demostradas por cada
grupo da microfauna às condições ambientais e o efeito que estas produzem na
densidade e na abundância das espécies [30].
Os valores do IBL são, posteriormente, agrupados em quatro classes que
caracterizam a qualidade das lamas (Tabela 14).

Tabela 13 - Tabela de duas entradas para a determinação do IBL (S: número de espécies;
F: número de pequenos flagelados). Adaptado de [30].

Grupo Densidade S > 10 8 ≤ S ≤ 10 5≤S≤7 S <5

dominante F<10 10<F<100 F<10 10<F<100 F<10 10<F<100 F<100 10<F<100


(ind/L)

≥ 106 10 8 9 7 8 6 7 5
Ciliados Móveis
de Fundo +
Sésseis* e/ou
< 106 9 7 8 6 7 5 6 4
Amibas com teca

≥ 106 9 7 8 6 7 5 6 4
Ciliados Sésseis
* >80 %
< 106 8 6 7 5 6 4 5 3

≥ 106 7 5 6 4 5 3 4 2
Opercularia spp.
>50 %
< 106 6 4 5 3 4 2 3 1

≥ 106 6 4 5 3 4 2 3 1
Vorticella
microstoma >50
% < 106 5 3 4 2 3 1 2 0

Ciliados ≥ 106 5 3 4 2 3 1 2 0
nadadores >50
% < 106 5 2 6 1 2 0 1 0

Pequenos ≥ 106 4 3 2 1
Flagelados (>100
na diagonal da
Câmara de
< 106 3 2 1 0
Fuchs-
Rosenthal)

* Organismos como a Opercularia spp. e Vorticella microstoma não dominantes.

75
Tabela 14 - Conversão do valor do IBL em classes de qualidade biológica das lamas
ativadas. Adaptado de [30].

Valor de IBL Classe Avaliação

8-10 I Lamas bem colonizadas e estáveis, atividade biológica ótima e


com elevada eficiência depuradora.

6-7 II Lamas bem colonizadas e estáveis, atividade sub-otimal e


eficiência depuradora suficiente.

4-5 III Atividade biológica insuficiente e eficiência depuradora


medíocre.

0-3 IV Atividade biológica muito baixa e eficiência depuradora baixa.

5.3.2.2. Observação microscópica

A fim de se caracterizar a comunidade microbiológica de cada amostra para a


determinação do IBL, procedeu-se inicialmente a uma observação microscópica de
“rastreio” ou igualmente designada por “screening”, de forma a se efectuar uma
identificação prévia das espécies que estavam presentes nas amostras de lamas
biológicas. Portanto, através do uso de uma pipeta de Pasteur, colocou-se 0.5 mL de
amostra numa lâmina de vidro, cobriu-se com uma lamela de 24x24 mm e observou-se
ao microscópio óptico de contraste de fase, com uma ampliação de 100x. Em algumas
fases recorreu-se a ampliações superiores (200x e 400x), de forma a se executar uma
identificação correcta de determinadas espécies. Estas observações microscópicas de
rastreio foram efectuadas uma vez por cada amostra, permitindo a determinação do
número de espécies, indispensável para o cálculo do IBL. O reconhecimento das
diferentes espécies de organismos foi realizado com base nas descrições expostas em
[30]. De entre os organismos que estão presentes nos sistemas de lamas ativadas, apenas
alguns são considerados para a determinação do IBL, nomeadamente os protozoários
pertencentes aos grupos dos pequenos e grandes flagelados, aos ciliados e às amibas
com teca e rotíferos, nemátodos e gastrotríquios [30] [27]. Para alguns organismos
observados não foi possível proceder à sua identificação, quanto ao seu género e
espécie, mas foi possível determinar o seu grupo trófico, designadamente flagelado 1,
flagelado 2 e nadador 1.

76
A seguir à identificação dos vários organismos presentes em cada amostra,
procedeu-se à avaliação da abundância relativa de cada espécie ou grupo através da
contagem de microrganismos. Inicialmente, colocou-se 25 µL de amostra numa lâmina
de vidro, através do uso de uma micropipeta automática de volume variável (de 0 a 50
µL), e cobriu-se com uma lamela de 18 x 18 mm. Seguidamente, colocou-se a lâmina
no microscópio ótico e procedeu-se à contagem das espécies numa ampliação de 100x.
A contagem foi feita percorrendo a lamela da esquerda para a direita. Foi realizada uma
segunda contagem com uma nova preparação da mesma amostra. Considerou-se apenas
como espécies presentes as que foram contabilizadas duas vezes durante o rastreio ou
pelo menos uma vez durante a contagem. Posteriormente, determinou-se o número de
indivíduos por volume de amostra (50 µL no total) para cada espécie ou grupo. Para a
estimação da abundância dos pequenos flagelados usou-se uma câmara de Fuchs-
Rosenthal de 3.2 µL. Primeiramente, colocou-se duas gotas de amostra em cada
reticulado da câmara e contou-se os pequenos flagelados que se encontravam sobre ou
dentro das 16 quadrículas (0.2 µL), que compõem as duas diagonais da câmara, com
uma ampliação de 200x. Por último, determinou-se a dominância considerando os
seguintes grupos de organismos: sésseis, amibas com teca, ciliados nadadores, móveis
de fundo e pequenos flagelados (Tabela 13). Não foram considerados para contagem
indivíduos mortos, teletrocos ou ciliados nadadores que entraram pelo campo de visão,
originários de zonas já contabilizadas [30].
No Anexo III encontra-se a tabela de registo utilizada para a identificação e
contagem dos microrganismos de cada amostra.

5.3.3. Estudo das bactérias filamentosas nas lamas ativadas

A identificação e o reconhecimento das diferentes bactérias filamentosas


presentes nas amostras de lamas ativadas foram executados recorrendo aos métodos
clássicos de identificação, baseados nas características morfológicas e na resposta às
técnicas de coloração. Neste estudo as técnicas de coloração utilizadas foram as
colorações Gram e Neisser. Estas técnicas permitem auxiliar a análise às características
morfológicas das diferentes bactérias filamentosas, permitindo facilitar a identificação e
distinção entre estas. Nas secções seguintes são descritos os procedimentos executados

77
nas colorações Gram e Neisser, o procedimento para a observação microscópica e o
método para a determinação da abundância das bactérias filamentosas nas amostras, a
nível qualitativo.

5.3.3.1. Coloração de Gram

Inicialmente procedeu-se à preparação das soluções necessárias para a coloração


das amostras. Preparou-se duas soluções, 1A e 1B, para a obtenção da solução 1. Na
preparação da solução 1A, dissolveu-se 2.0 g de violeta cristal em 20 mL de etanol a
95% e para a solução 1B dissolveu-se 0.8 g de oxalato de amónia em 80 ml de água
destilada. De seguida, juntou-se as duas soluções e obteve-se a solução 1.
Posteriormente, dissolveu-se 1 g de iodo e 2.0 g de iodeto de potássio em 300 ml de
água destilada e obteve-se a solução 2. Por fim, obteve-se a solução 3 pela junção de 10
mL de safranina (2.5% em etanol 95%) e 100 mL de água destilada.
Para a coloração da amostra, colocou-se esta, previamente, numa lâmina a secar.
Seguidamente, cobriu-se a amostra seca com a solução 1 durante 1 minuto e enxaguou-
se. De seguida, cobriu-se de novo o preparado com a solução 2 e deixou-se agir durante
1 minuto, enxaguando de seguida. Depois desta fase, inclinou-se a lâmina, descolorando
a amostra com etanol a 95% gota a gota, durante 25 segundos, e lavou-se de seguida
com água e secou-se com papel absorvente. Por fim cobriu-se a lâmina com a solução 3,
durante 1 minuto e enxaguou-se bem posteriormente.
Na observação microscópica, os filamentos que ficavam corados de azul ou
violeta foram considerados Gram + e os que ficavam vermelhos, rosados ou alaranjados
foram considerados Gram -. Os procedimentos acima descritos foram baseados em [30].

5.3.3.2. Coloração de Neisser

Para a coloração das amostras, preparou-se primeiramente as soluções


necessárias. Para a obtenção da solução 1, preparou-se separadamente dois tipos de
soluções, 1A e 1B, e antes do uso da solução juntou-se 2 partes da solução 1A com 1

78
parte da solução 1B. A solução 1A resultou da dissolução de 0.1 g de azul de metileno
em 5 mL de etanol a 95%, em 5 mL de ácido acético glacial e em 100 mL de água
destilada. A solução 1B resultou da mistura entre 3.3 mL de violeta de cristal (10% p/v
em etanol 95%), 6.7 mL de etanol a 95% e 100 mL de água destilada. Para a preparação
da solução 2 juntou-se 33.3 mL de castanho bismark (1% p/v em água destilada) a 66.7
mL de água destilada.
Na coloração da amostra, colocou-se esta numa lâmina a secar. De seguida,
cobriu-se a amostra com a solução 1 durante 30 segundos, e enxaguou-se com água. Por
fim, cobriu-se o preparado com a solução 2, deixou-se agir durante um minuto,
enxaguou-se com água e secou-se com papel absorvente.
Durante a observação microscópica, os filamentos que apresentaram cor azul
violeta são Neisser + e os filamentos de cor castanho amarelados são Neisser – e podem
ter grânulos Neisser +. Este procedimento foi baseado no descrito por [30].

5.3.3.3. Observação microscópica

Inicialmente observou-se o aspeto geral dos flocos da amostra, com um


microscópio de contraste de fase, com uma pequena ampliação de 100x. Seguidamente,
procedeu-se à identificação das bactérias filamentosas através da observação de
características morfológicas, descritas por Jenkins et al., (2004), usando uma ampliação
de 1000x e com a aplicação de óleo de imersão. Foram também aplicados métodos de
coloração, com a observação de características morfológicas como a posição e
comprimento do filamento, a presença de crescimento séssil e a presença de inclusões.
No final da identificação das bactérias filamentosas, avaliou-se a abundância
relativa, qualitativamente, das várias bactérias filamentosas detetadas, através de uma
classificação proposta por [29] (Tabela 15).
No Anexo IV encontra-se um exemplar da tabela utilizada na caracterização das
bactérias filamentosas.

79
Tabela 15 - Classes de abundância dos organismos filamentosos nas lamas activadas.
Adaptado de [29].

Classe Abundância Observação


0 Nenhum Completa ausência de filamentos.
1 Poucos Filamentos presentes, mas só observados ocasionalmente nos flocos.
2 Alguns Filamentos presentes, mas só em alguns flocos.
3 Moderado Filamentos observados em todos os flocos, mas em baixa densidade (1
a 5 filamentos por floco).
4 Frequente Filamentos observados em todos os flocos, com densidade média (5 a
20 filamentos por floco).
5 Abundante Filamentos observados me todos os flocos, com alta densidade (maior
que 20 filamentos por floco).
6 Excessivo Filamentos observados em todos os flocos (existem mais filamentos
que flocos e/ou crescem em abundância em solução).

5.4. Tratamento estatístico dos dados

Para o tratamento estatístico dos dados de parâmetros analíticos, determinados


em laboratório e em campo, de parâmetros de controlo operacional e dos dados de
parâmetros resultantes da análise microbiológica ao sistema de lamas ativadas, utilizou-
se o software Microsoft excel 2007. Assim, foi possível realizar uma análise aos
parâmetros analíticos, processuais e biológicos

80
Capítulo 6. Resultados e Discussão

6.1. Controlo analítico e processual

Foram realizadas análises físico-químicas no laboratório da ETAR de Serzedo


de acordo com o programa de controlo analítico interno (Anexo I), estipulado e
executado na empresa. No entanto, para efeito de apresentação de resultados neste
trabalho, foram considerados alguns dos parâmetros analisados, relativos a diferentes
pontos de amostragem do sistema de tratamento, designadamente ao afluente bruto, ao
efluente tratado, ao reator biológico, ao efluente do decantador secundário, à
recirculação de lamas, às lamas espessadas, às lamas desidratadas e às lamas em
excesso. Além dos parâmetros analíticos analisados em laboratório, foram juntamente
considerados na apresentação de resultados e discussão dados de parâmetros obtidos
durante o controlo analítico de campo, relativos ao afluente bruto, ao efluente de saída e
à vala de oxidação e de parâmetros processuais, incluídos nas folhas de Registo Mensal,
posteriormente facultados pelos técnicos da ETAR. O período de amostragem
considerado variou entre o mês de Abril e Agosto de 2012, o qual coincidiu com o
período da análise microbiológica realizada.
Durante a execução deste trabalho em ambiente empresarial foram executadas,
para além das atividades laboratoriais, tarefas adicionais de rotina relacionadas com o
controlo analítico interno da ETAR, designadamente o registo diário de valores de
parâmetros resultantes do controlo analítico de campo e de laboratório nas respetivas
folhas de Registo Mensal, a execução de um inventário ao material, equipamentos e
reagentes existentes no laboratório, o controlo de reagentes gastos, a análise mensal de
material e reagentes em falta para posterior pedido formal das necessidades detetadas, a
calibração mensal dos medidores portáteis existentes na ETAR, entre outras atividades
de gestão e operação do controlo analítico interno.
Nas secções seguintes são apresentados e discutidos os resultados obtidos dos
parâmetros analíticos e operacionais dos vários pontos de amostragem considerados
para análise.

81
6.1.1. Água residual bruta

No laboratório da ETAR de Serzedo foram realizadas análises a diferentes


parâmetros analíticos de amostras da água residual afluente, nomeadamente à CBO5,
CQO, SST, SSV, Ntotal, Ptotal, NH4+ e NO3-. Um outro parâmetro analisado neste
trabalho foi o pH, e os seus valores foram obtidos durante o controlo analítico de
campo. A partir dos resultados obtidos foram determinados para cada parâmetro a
média, o valor mínimo e máximo obtido e o desvio padrão. No Anexo V encontram-se
todos os resultados obtidos para cada parâmetro analítico, através das análises
laboratoriais e do controlo analítico de campo efetuados durante o período em análise.
Na tabela seguinte, está representado o sumário dos resultados dos parâmetros
analíticos de amostras de água residual afluente.

Tabela 16 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros analíticos


determinados em amostras de água residual bruta, durante o mês de Abril e Agosto de
2012.

Parâmetros
pH CBO5
analíticos – CQO SST SSV Ptotal Ntotal NO3- NH4 +
(escala de (mg
Efluente (mgO2/L) (mg/L) (mg/L) (mgP/L) (mgN/L) (mgN/L) (mgN/L)
Sorensen) O2/L)
bruto
Média 8,21 670 316 352 285 8,41 51,5 1,49 19,5
Valor
7,31 236 145 60 60 4,25 34,3 1,03 11,1
mínimo
Valor
8,97 1286 472 1180 920 13,70 101,0 1,97 26,4
máximo
Desvio
0,34 202,8 83,4 199,7 157,5 2,30 14,5 0,30 3,2
padrão
Valor limite
]5,5;9,5[* > 1200 > 400 > 750 > 550 > 15 > 85 > 10 > 50
de alerta
*Intervalo permitido

82
Pela análise da Tabela 16, verifica-se que os valores médios obtidos para os
diferentes parâmetros analíticos, para as amostras de água residual bruta analisadas
durante o período referido, não ultrapassaram os valores limite de alerta estipulados.
Analisando os valores mínimos e máximos apresentados, verifica-se que houve uma
grande variação das concentrações de CQO, CBO5, dos SST, dos SSV e de Ntotal, o que
permite concluir que a composição da água residual afluente à ETAR durante o período
em análise foi muito variável. Embora os valores médios dos parâmetros CBO5, SSV e
Ptotal analisados não tenham ultrapassado os valores limite de alerta, estes estiveram
muito próximos dos valores de limite alerta máximo, podendo-se afirmar que a água
residual afluente apresentou uma fracção orgânica elevada e concentrações elevadas de
nutrientes.
Na Figura 9, está representado o gráfico referente aos valores obtidos do pH da
água residual afluente durante o período de amostragem, com os respectivos valores
limite de alerta.

14
12
Escala de Sorensen

10
8
6
4
2
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun

Data

pH efluente bruto Lim. Mín. Lim. Máx.

Figura 9 - Variação do pH da água residual afluente ao longo do período de


amostragem.

Pela observação da Figura 9, é possível constatar que ao longo do período de


amostragem os valores de pH para as amostras de água residual bruta analisadas não
83
ultrapassaram os valores de limite de alerta estipulados. Adicionalmente, verifica-se que
o efluente bruto apresentou valores de pH maioritariamente acima de 8, estando
próximos do valor limite de alerta máximo estipulado. Estes resultados devem-se ao
facto das águas residuais que chegam à ETAR, para além de serem de origem
doméstica, possuírem uma parcela de efluente de origem industrial (algumas indústrias
têxtil), o que vai de encontro ao estudo realizado por [38].
A seguir está representado o gráfico referente aos dados obtidos da determinação
analítica de CQO e de CBO5 do efluente bruto durante o período de análise, bem como
os respetivos valores limite de alerta.

1400
Concentração (mg O2/L)

1200
1000
800
600
400
200
0
21-Mai
7-Mai
14-Mai

28-Mai
4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data

CQO efluente bruto CBO5 efluente bruto

Lim. Máx. CQO Lim. Máx. CBO5

Figura 10 - Variação da concentração de CQO e de CBO5 do efluente bruto durante o


período de amostragem.

Observando a Figura 10, verifica-se que a maioria dos valores da concentração


de CQO no efluente bruto foram inferiores ao valor limite de alerta e verifica-se uma
grande variação nas concentrações. No entanto, no dia 11 de Abril a concentração de
CQO foi acima do valor limite de alerta, embora não muito superior ao limite. Este
facto pode dever-se a uma descarga ilegal de efluente de uma indústria local.
Relativamente às concentrações de CBO5, estas estiveram muito próximas do
valor limite de alerta, ultrapassando-o algumas vezes. Portanto, pode-se constatar que, a
partir das altas concentrações de CBO5 verificadas, a água residual que afluiu à ETAR

84
de Serzedo apresentou uma porção de efluente biodegradável elevada. Deste modo,
tornou-se necessário fazer um controlo adequado sobre o processo quando se verificasse
uma excessiva carga orgânica no efluente bruto, de modo a que não ocorressem avarias
nos equipamentos que fornecem o oxigénio ao reator biológico, devido ao excessivo
tempo de arejamento por consequência da elevada fonte de carbono disponível no meio
para consumo pelos microrganismos.
Procedeu-se então, ao aumento do caudal médio diário de recirculação de lamas
biológicas do decantador secundário para o reator biológico em alguns dias, para
permitir uma redução da concentração de CBO5 no interior do reator.
Os valores médios das concentrações de CQO e de CBO5 coincidem com o que
usualmente é verificado em águas residuais urbanas, o que vai de encontro a [11].

As concentrações de SST e de SSV obtidas para o efluente bruto ao longo do


período de análise estão representadas na figura seguinte.

1400
Concentração (mg/L)

1200
1000
800
600
400
200
0
16-Abr
23-Abr
30-Abr
2-Abr
9-Abr

2-Jul
9-Jul
28-Mai

16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai

4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun

Data

SST efluente bruto SSV efluente bruto Lim. Máx. SST Lim. Máx. SSV

Figura 11 - Variação da concentração de SST e de SSV do efluente bruto durante o


período de amostragem.

Da análise da Figura 11 constata-se que houve uma grande variação das


concentrações de SST e de SSV na água residual bruta da ETAR. Adicionalmente, a

85
maioria dos valores das concentrações não excederam o limite de alerta estipulado,
exceto em duas amostras analisadas. As elevadas concentrações de sólidos SST traduz-
se na existência de uma elevada matéria suspensa, que pode ter origem no pó
atmosférico que é removido pela chuva, da ligação com a terra, fibras vegetais,
vegetação em degradação ou da ressuspenção de sedimentos [40]. Estes fatores podem
ter influenciado os elevados valores obtidos. O valor médio da concentração de SST da
água residual bruta está de acordo com a concentração que normalmente é verificada
para este efluente, descrita por [11].

Nas Figura 12 e Figura 13 apresentam-se os gráficos relativos às concentrações


de Ntotal e Ptotal, N-NO3- e de N-NH4 +, obtidas para a água residual bruta, ao longo da
amostragem.

120
Concentração (mg/L)

100
80
60
40
20
0
7-Mai

21-Mai
14-Mai

28-Mai
2-Abr
9-Abr

4-Jun
11-Jun

2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr

18-Jun
25-Jun

16-Jul
23-Jul
30-Jul

Data

P-total efluente bruto N-total efluente bruto


Lim. Máx. P-total Lim. Máx. N-total

Figura 12 - Variação da concentração de Ntotal e de Ptotal do efluente bruto durante o


período de amostragem.

86
60

Concentração (mgN/L)
50
40
30
20
10
0

14-Mai
21-Mai
28-Mai
7-Mai

4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data

NO3- efluente bruto NH4+ efluente bruto


Lim. Máx. NO3- Lim. Máx. NH4+

Figura 13 - Variação da concentração de N-NO3- e de N-NH4 + do efluente bruto durante


o período de amostragem.

Através da observação da Figura 12 verifica-se que houve uma maior variação


das concentrações de Ntotal do afluente ao longo do tempo, do que nas concentrações de
Ptotal. Os valores da concentração de Ptotal nunca ultrapassaram o valor limite de alerta
estipulado pela empresa. No entanto, obteve-se um valor superior ao limite de
concentração de Ntotal determinada numa amostra de efluente bruto no dia 4 de Julho.
Isto deveu-se à receção de um maior caudal de efluente de origem doméstica. Como os
restantes valores das concentrações para este nutriente foram sempre inferiores ao valor
limite de alerta, não foram tomadas medidas corretivas sobre o sistema de tratamento.
Pela Figura 13, pode-se constatar que ambas as concentrações de N-NO3- e de N-
NH4 +, obtidas pelas análises realizadas, foram inferiores aos valores limite de alerta. As
variações das concentrações destes compostos ao longo do tempo na figura não são
significativas. A existência da concentração destes compostos na água residual deve-se
ao facto de que os compostos de azoto sob a forma orgânica vão sendo convertidos em
outras formas [37].

87
6.1.2. Água residual tratada

Da mesma forma, foram determinadas as concentrações de CBO5, CQO, SST,


SSV, Ntotal, Ptotal, N-NH4+ e N-NO3- em amostras de água residual tratada no laboratório
da ETAR de Serzedo e foram facultados os valores de pH, obtidos por controlo analítico
de campo, para análise. No Anexo V encontram-se representados todos os valores
destes parâmetros determinados durante o período de amostragem. Na tabela seguinte
está representado o sumário dos resultados obtidos, relativamente às médias, o valor
máximo e mínimo, o desvio padrão e os respetivos Valores Limite de Emissão (VLE)
para cada tipo de parâmetro analítico determinado.

Tabela 17 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo


analítico determinados em amostras de água residual tratada, durante o mês de Abril e
Agosto de 2012.

Parâmetros
analíticos – pH CBO5
CQO SST SSV Ptotal Ntotal NO3- NH4 +
Água (escala de (mg
(mgO2/L) (mg/L) (mg/L) (mgP/L) (mgN/L) (mgN/L) (mgN/L)
residual Sorensen) O2/L)
tratada
Média 7,90 44,5 4,4 10,0 8,0 3,01 5,43 0,449 0.583
Valor
7,23 21,0 0,2 2,0 2,0 1,16 3,32 0,204 0.162
mínimo
Valor
8,51 64,0 11,0 24,0 23,0 6,39 13,30 1,720 7,060
máximo
Desvio
0,32 10,4 2,7 4,8 4,3 1,36 1,51 0,281 0,992
padrão
Valor limite
]6;9[* > 125 > 25 > 35 - > 10 > 15 - -
de emissão
Valor limite
de emissão
]6;9[* > 100 > 15 > 30 - > 10 > 15 - -
(época de
estiagem)

*Intervalo permitido.

88
Da análise da Tabela 17, constata-se que os valores médios dos diferentes
parâmetros analíticos obtidos estiveram abaixo ou entre os valores limite de emissão
estabelecidos na legislação e foram bastante inferiores relativamente aos valores limite
de emissão.
Nas figuras seguintes estão apresentados os dados resultantes de cada parâmetro
analítico avaliado nas amostras de água residual tratada ao longo do período de análise.

14
12
Escala de Sorensen

10
8
6
4
2
0
28-Mai
7-Mai
14-Mai
21-Mai

4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data

pH efluente tratado VLEmin VLEmáx

Figura 14 - Variação do pH da água residual tratada ao longo do tempo de análise.

140
Concentração (mgO2/L)

120
100
80
60
40
20
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun

Data

CQO efluente tratado CBO5 efluente tratado VLE CQO


VLEép.est. CQO VLE CBO5 VLEép. Est. CBO5

Figura 15 - Variação das concentrações de CQO e de CBO5 de amostras de efluente


tratado ao longo do período de amostragem.

89
40
35

Concentração (mg/L)
30
25
20
15
10
5
0

7-Mai

11-Jun
18-Jun
25-Jun
14-Mai
21-Mai
28-Mai
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

4-Jun

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data

SSt efluente tratado SSV efluente tratado VLE SST VLEép.est. SST

Figura 16 - Variação das concentrações de SST e de SSV em amostras de efluente


tratado ao longo do período de amostragem.

16
14
Concentração (mg/L)

12
10
8
6
4
2
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun

Data

P-total efluente tratado N-total efluente tratado


VLE N-total VLE P-total

Figura 17 - Variação das concentrações de Ptotal e de Ntotal em amostras de efluente


tratado durante o período de análise.

90
8
7

Concentração (mgN/L)
6
5
4
3
2
1
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai

11-Jun
18-Jun
25-Jun
4-Jun
Data

NH4+ efluente tratado NO3- efluente tratado

Figura 18 - Variação das concentrações de N-NO3- e de N-NH4 + em amostras de


efluente tratado ao longo do período de amostragem.

Como se pode observar na Figura 14, não se verificou nenhuma inconformidade


com a legislação, relativamente ao parâmetro analítico pH. Os valores de pH das
amostras de efluente tratado não variaram significativamente ao longo do período de
análise, tendo-se mantido sempre próximos do valor médio obtido.
Da análise gráfica das concentrações de CQO e de CBO5 da água residual
tratada ao longo do tempo de análise, conferiu-se que os valores das concentrações
foram sempre inferiores aos valores limite de emissão. Embora se tenha verificado
variação nas concentrações de CQO, estas mantiveram-se bastante afastadas dos valores
limite de emissão. Relativamente ao parâmetro CBO5, verificou-se uma menor variação
nas concentrações ao longo do tempo. Ambos os parâmetros apresentaram
concentrações bastante inferiores relativamente aos valores obtidos nas amostras de
efluente bruto, permitindo concluir que o sistema de tratamento aplicado na ETAR de
Serzedo funcionou adequadamente relativamente à remoção da carga orgânica.
Pela observação da Figura 16 constata-se que os valores das concentrações de
SST foram inferiores aos valores limite de emissão. Verifica-se ainda uma variação nos
valores de SST e de SSV que, no entanto, estiveram bastante abaixo dos VLE.
Adicionalmente, verificou-se uma redução elevada nas concentrações resultantes das

91
análises realizadas, relativas a estes parâmetros analíticos, comparativamente com as
análises efetuadas à água residual não tratada.
Observando a Figura 17 verifica-se que os valores das concentrações de Ptotal e
de Ntotal foram inferiores aos valores limite de emissão, não se registando assim
nenhuma inconformidade, com a legislação estipulada. No início do período de
amostragem verificou-se que as concentrações de azoto total foram elevadas
comparativamente com as restantes concentrações, mas estas não ultrapassaram o valor
limite de emissão. A ocorrência dos processos de remoção de azoto no tratamento
biológico do efluente é determinada por diversos parâmetros. O processo de nitrificação
pode ser afetado por fatores como o tempo de residência de sólidos (idade das lamas), a
adaptação dos organismos, entre outros, visto que os microrganismos que participam
neste processo apresentam uma taxa de crescimento menor que as bactérias
heterotróficas, que degradam a matéria orgânica presente no meio [22]. O facto dos
valores iniciais das concentrações de azoto total, representados no gráfico, serem mais
elevados, pode dever-se ao baixo tempo de residência de sólidos, verificado durante o
mês de Março (dados consultados na tabela de Registo Mensal), influenciando assim as
reações de nitrificação. A nitrificações insuficiente pode ter provocado a baixa
conversão de alguns compostos de azoto, nomeadamente de azoto amoniacal, que por
consequência eleva a concentração de azoto total verificada no efluente final. No
entanto, a remoção dos nutrientes Ntotal e Ptotal, através dos processos implementados na
ETAR de Serzedo, foi realizada com sucesso durante o período de análise.
Por fim, da análise da Figura 18 é possível verificar que a concentração de azoto
em azoto amoniacal relativa ao dia 10 de Abril foi elevada. Este facto justifica-se pelas
razões apresentadas anteriormente. Adicionalmente, constata-se que os valores médios
das concentrações de N-NO3- e de N-NH4 +
são baixos, o que reflete o bom
funcionamento do sistema de tratamento na redução destes compostos da água residual
afluente.

92
6.1.3. Licor misto

No laboratório da ETAR de Serzedo foram determinadas as concentrações de


SST e de SSV de amostras do licor misto, relativas à zona arejada. Para fim de
apresentação de resultados e discussão foram também considerados valores de pH
determinados por controlo analítico de campo relativos à zona anóxica e zona arejada da
vala de oxidação. No Anexo V encontram-se representados os valores dos parâmetros
determinados em amostras de licor misto no laboratório da ETAR e valores de
parâmetros analíticos analisados em campo, relevantes para a avaliação do desempenho
da instalação neste trabalho.
Seguidamente, apresentam-se os resultados obtidos das concentrações de SST e
de SSV em amostras de efluente da zona arejada do reator biológico e os valores
relativos ao pH da zona arejada e da zona anóxica, em relação às respetivas médias,
valor mínimo e máximo, desvio padrão e valores limite de alerta.

Tabela 18 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo


analítico determinados nas amostras de licor misto, durante o mês de Abril e Agosto de
2012.

pHZona pHZona
Parâmetros
arejada anóxica SSTarejada SSVarejada
analíticos –
(escala de (escala de (mg/L) (mg/L)
Licor misto
Sorensen) Sorensen)
Média 7,43 7,39 5190 4081
Valor
6,90 6,92 4200 3300
mínimo
Valor
7,94 7,98 6800 5500
máximo
Desvio
0,24 0,24 528,9 460,2
padrão
Valor limite
]6;9[* ]6;9[* ]3500;5000[* ]3000;4500[*
de alerta
*Intervalo permitido.

93
Da análise sumária dos resultados obtidos em amostras de lamas ativadas
verificou-se que os valores médios dos parâmetros analíticos encontram-se dentro da
gama de valores dos limites de alerta estipulados, exceto o valor da concentração de
SST. Constatou-se ainda que houve uma grande variação nos valores de SST e de SSV.
Nas figuras seguintes, estão representadas as concentrações de SST e de SSV,
em amostras da zona arejada e os valores de pH de amostras da zona anóxica e da zona
arejada, durante a amostragem realizada.

14
12
Escala de Sorensen

10
8
6
4
2
0
7-Mai

14-Mai

21-Mai

28-Mai

2-Jul

9-Jul
2-Abr

9-Abr

4-Jun
16-Abr

23-Abr

30-Abr

11-Jun

18-Jun

25-Jun

16-Jul

23-Jul

30-Jul
Data

pH Zona anóxica pH Zona arejada Lim. Mín. Lim. Máx.

Figura 19 - Variação dos valores de pH da zona arejada e da zona anóxica durante o


tempo de amostragem.

94
7000

Concentração (mg/L)
6000

5000

4000

3000

2000

7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data

SST SSV Lim. Mín. SST


Lim. Máx. SST Lím. Mín. SSV Lim. Máx. SSV

Figura 20 - Variação das concentrações de SST e de SSV, na zona arejada da vala de


oxidação, durante o tempo de amostragem.

Observando a Figura 19 constata-se que os valores de pH, tanto da zona anóxica


como da zona arejada, foram bastante próximos. Ao longo do período de amostragem os
valores de pH estiveram muito próximos dos valores médios obtidos, verificando-se
uma amplitude de variação reduzida. Adicionalmente, todos os resultados estiveram
compreendidos entre a gama de valores limite de alerta estipulados pela empresa. De
acordo com os resultados, verifica-se que os processos biológicos de remoção de
nutrientes no interior do reator biológico ocorreram, de uma forma geral, em condições
de pH ideais, para a ocorrência das reações de desnitrificação e de nitrificação (valores
referidos em [22]).
Da análise da Figura 20 é possível constatar que os valores dos parâmetros
analíticos SST e SSV foram muito variáveis ao longo do período de análise. Observou-
se que várias concentrações de SST excederam o valor limite de alerta máximo e
estiveram muito acima do valor limite mínimo de alerta estipulado. Relativamente aos
valores das concentrações de SSV, alguns ultrapassaram o valor limite de alerta
máximo, embora em menor número que o caso anterior. A determinação de SSV em
amostras de efluente do reator biológico tem servido como um indicador da produção de
biomassa e fornece uma medição útil de sólidos presentes no meio [11]. As altas
concentrações verificadas devem-se à presença da elevada concentração de matéria
orgânica na água residual bruta que promove a formação de biomassa no interior do

95
reator, o que, por consequência, eleva a concentração de SSV. Adicionalmente, este
fator associado ao caudal de recirculação de lamas (com uma determinada concentração
de SST que pode ser alta ou baixa, no caso desta instalação) e ao caudal de purga, vão
determinar a concentração de sólidos suspensos no interior do reator. Portanto, deve-se
efetuar um controlo adequado sobre estes parâmetros processuais de modo a atingir uma
concentração de sólidos adequada, para o bom funcionamento do processo de
tratamento biológico.

6.1.4. Decantação secundária e Recirculação de lamas biológicas

No laboratório da ETAR de Serzedo, foram determinadas as concentrações de


SST e de SSV de amostras do caudal de recirculação de lamas biológicas do decantador
secundário para o reator biológico. Foi determinada ainda a relação SSV/SST.
Adicionalmente, determinou-se as concentrações de SST e de SSV do efluente de saída
do decantador secundário. No Anexo V encontram-se representados os valores dos
parâmetros analíticos referidos. A seguir é apresentado o sumário de resultados com
descrição das médias, valor mínimo e máximo, desvio padrão e valores limite de alerta,
para cada parâmetro.

Tabela 19 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo


analítico determinados nas amostras de efluente da decantação secundária e da
recirculação de lamas, durante o mês de Abril e Agosto de 2012.

SSV
Parâmetros SSTdecantador SSTrecirculação SSV recirculação Relação
decantador
analíticos (mg/L) (mg/L) (mg/L) SSV/SST
(mg/L)

Média 11594 9110


14 11 79
Valor
7100 5600
2 2 77
mínimo
Valor
14700 11600
60 50 82
máximo
Desvio
1589,8 1233,9
14,6 12,1 1,1
padrão
Valor limite
]7000;16500[* ]5000;15000[* ]60;80[*
- -
de alerta
*Intervalo permitido.
96
Da análise à Tabela 19 constata-se que os valores das concentrações de sólidos
suspensos determinados em amostras de lamas em recirculação estiveram entre a gama
de valores limite de alerta estipulados. Relativamente ao valor médio da relação
SSV/SST, este apresentou-se bastante próximo do valor limite de alerta máximo. Os
valores médios das concentrações de sólidos suspensos das amostras de efluente de
saída do decantador secundário foram bastantes inferiores aos valores verificados no
interior do reator biológico.
Nas figuras seguintes estão representadas as concentrações de SST e de SSV de
amostras analisadas de efluente da decantação secundária e de lamas biológicas
recirculadas ao reator biológico, bem como os resultados da relação SSV/SST, ao longo
do período de análise.

70
60
Concentração (mg/L)

50
40
30
20
10
0
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
2-Abr
9-Abr

4-Jun

2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun

16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data

SST efluente decantador SSV efluente decantador

Figura 21 - Variação das concentrações de SST e de SSV de amostras de efluente de


saída do decantador secundário, durante o tempo de amostragem.

97
18000
16000
14000
Concentração (mg/L) 12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai

11-Jun
18-Jun
25-Jun
4-Jun
Data

SST lamas em recirculação SSV lamas em recirculação


Lim. Mín. SST Lim. Máx. SST
Lim. Mín. SSV Lim. Máx. SSV

Figura 22 - Variação das concentrações de SST e de SSV das lamas em recirculação,


durante o tempo de amostragem.

90
80
70
60
50
%

40
30
20
10
0
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai

2-Jul
9-Jul
2-Abr
9-Abr

4-Jun
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun

16-Jul
23-Jul
30-Jul

Data

Relação SSV/SST Lim. Mín. Lim. Máx.

Figura 23 - Representação gráfica da relação SSV/SST ao longo do tempo de análise.

Analisando a Figura 21 verifica-se que houve uma redução significativa nas


concentrações de SST e de SSV do efluente de saída do decantador secundário,
localizado em linha com o reator biológico, comparativamente aos valores registados
98
para os mesmos parâmetros no interior da vala de oxidação. Por esta razão conclui-se
que o decantador secundário funcionou adequadamente na clarificação do efluente.
Os valores das concentrações de SST e de SSV nas amostras de lamas biológicas
em recirculação à vala de oxidação foram muito variáveis, mas nenhum valor registado
excedeu a gama de valores limite de alerta, cumprindo o estipulado para estes
parâmetros analíticos. A relação SSV/SST em amostras de lamas em recirculação
permite avaliar a fração de sólidos de natureza orgânica que estão a ser alimentados ao
reator biológico. Verifica-se que os valores desta relação ao longo do tempo de análise
(Figura 23) estiveram muito próximos do valor limite de alerta máximo e que por vezes
ultrapassaram o limite máximo. Este facto demonstra que as lamas em recirculação
apresentavam uma fração orgânica elevada, importante para a manutenção da biomassa
no interior do reator.

6.1.5.Tratamento de lamas biológicas

Foram retiradas amostras de vários pontos do sistema de tratamento de lamas da


ETAR de Serzedo para análise no laboratório de determinados parâmetros analíticos, de
forma a avaliar o desempenho do sistema de tratamento aplicado. Todos os resultados
obtidos dos diferentes parâmetros analíticos avaliados durante o período em análise
estão apresentados no Anexo V. Na tabela seguinte apresenta-se o sumário dos valores
de matéria seca e volátil de amostras de lamas espessadas e desidratadas.

99
Tabela 20 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo
analítico determinados nas amostras de lamas espessadas e desidratadas, durante o mês
de Abril e Agosto de 2012.

Parâmetros MS espessamento MV espessamento MS desidratação MV desidratação


analíticos (%) (%) (%) (%)

Média 4,29 78,31 18,41 79,3

Valor mínimo 3,16 73,20 17,00 78,5

Valor máximo 8,10 87,60 20,40 81,5

Desvio padrão 1,37 3,66 0,88 0,9

Valor limite de
<2 <18
- -
alerta

Constata-se pela observação da Tabela 20, que os valores médios de matéria


seca das lamas espessadas e desidratadas foram superiores aos valores limite de alerta
estipulados. Adicionalmente verifica-se que os valores médios de matéria volátil nos
dois tipos de amostras analisadas foram elevados.
Seguidamente é apresentada a representação gráfica dos valores obtidos da
matéria seca e volátil para as amostras referidas, ao longo do tempo de amostragem.

100
80
60
%

40
20
0
04-Abr
11-Abr
18-Abr
25-Abr
02-Mai
09-Mai
16-Mai
23-Mai
30-Mai

04-Jul
11-Jul
18-Jul
25-Jul
01-Ago
06-Jun
13-Jun
20-Jun
27-Jun

Data
Matéria volátil Lama espessada
Matéria volátil Lama desidratada
Lim. Mín. Matéria seca Lama espessada
Lim. Mín. Matéria seca Lama desidratada
Matéria seca Lama espessada
Matária seca Lama desidratada

Figura 24 - Variação da matéria seca e volátil em amostras de lamas espessadas e


desidratadas durante o período de amostragem realizado.

100
Da observação da Figura 24 constata-se que os valores resultantes da
determinação da matéria seca em amostras de lamas espessadas foram todos superiores
ao valor limite de alerta. Relativamente aos valores da matéria seca das amostras de
lamas desidratadas, estes mantiveram-se próximos do limite de alerta, verificando-se
que alguns valores ficaram abaixo do limite. Estes factos traduzem uma menor
eficiência no tratamento das lamas biológicas na operação de desidratação verificada
nos dias em que se registaram valores inferiores ao limite. Os valores da matéria volátil
determinados para os dois tipos de amostra foram bastante próximos e elevados, o que é
característico em lamas resultantes de processos de tratamento biológicos.

6.1.6. Parâmetros processuais

No Anexo V estão representados todos os valores obtidos dos parâmetros


processuais ao longo do período referido de amostragem, considerados para análise
neste trabalho. Na tabela seguinte, apresenta-se o sumário de resultados para os
parâmetros processuais: razão de recirculação, Índice Volumétrico de Lamas (IVL),
Tempo de Residência de Sólidos (TRS), razão CBO/CQO e carga mássica (A/M).

Tabela 21 - Sumário dos resultados obtidos relativos aos parâmetros de controlo


processual, durante o mês de Abril e Agosto de 2012.

Razão de
Parâmetros IVL (mg/L) TRS (dias) CBO/CQO A/M
recirculação
Média 0,6 162 22 0,48 0,04
Valor
0,4 100 8 0,34 0,02
mínimo
Valor
0,8 205 79 0,78 0,07
máximo
Desvio
0,1 25,3 13,7 0,09 0,01
padrão
Valor limite
]0,5;1,3[* ]50;300[* ]15;30[* ]0,01;0,15[*
de alerta -
*Intervalo permitido.

101
Pela observação da tabela apresentada acima, é possível constatar que os valores
médios dos parâmetros processuais encontram-se dentro da gama de valores limite de
alerta. Nas figuras seguintes, estão representados todos os valores obtidos dos
parâmetros de controlo processual durante a amostragem realizada.

350 0,16
300 0,14

mgCBO5/mgSST.d
250 0,12
0,10
200
0,08
ml/g

150
0,06
100 0,04
50 0,02
0 0,00
2-Abr
9-Abr

7-Mai

2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr

16-Jul
23-Jul
30-Jul
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun
Data

IVL Lim. Mín. IVL Lim. Máx. IVL


A/M Lim. Mín. A/M Lim. Máx. A/M

Figura 25 - Variação do IVL e da razão A/M ao longo do tempo de análise.

1,5 100
Razão de recirculação

80
1,0 60
dias

0,5 40
20
0,0 0
2-Abr
9-Abr
16-Abr
23-Abr
30-Abr

2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
7-Mai
14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
11-Jun
18-Jun
25-Jun

Data
Razão de recirculação
Lim. Mín. Razão de recirculação
Lim. Máx. Razão de recirculação
Tempo de residência de sólidos
Lim. Mín. Tempo de residência de sólidos
Lim. Máx. Tempo de residência de sólidos

Figura 26 - Variação da razão de recirculação e do tempo de residência de sólidos ao


longo do tempo de amostragem.

102
0,9
0,8
CBO5/CQO 0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0

7-Mai
2-Abr
9-Abr

14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun
2-Jul
9-Jul
16-Jul
23-Jul
30-Jul
Data
CBO5/CQO

Figura 27 - Variação da razão CBO/CQO ao longo do período de análise.

Da análise da Figura 25, constata-se que os valores de IVL obtidos ao longo do


período em análise estiveram entre a gama de valores limite de alerta estipulados.
Adicionalmente, verificou-se que os valores deste parâmetro, na sua maioria, foram
acima dos 150 ml/g. Posteriormente, observou-se uma descida mais acentuada nestes
valores, a partir do dia 2 de Julho. Este parâmetro processual permite avaliar as
características de sedimentação de lamas ativadas. Valores superiores a 150 ml/g, são
frequentemente associados ao crescimento filamentoso [11]. Portanto, durante o período
de análise verificou-se que as lamas apresentavam características de sedimentação
fracas. Contudo, no final do período de análise o IVL apresentou valores mais
satisfatórios indicando uma qualidade de sedimentação moderada.
Relativamente aos valores obtidos de A/M, estes não excederam a gama de
valores limite de alerta (Figura 25). Registou-se um valor médio baixo para este
parâmetro processual. Portanto, o sistema de tratamento adotado opera a baixa carga
mássica. Com este tipo de operação, devido à baixa quantidade de substrato, os
microrganismos presentes entram na fase de respiração endógena, metabolizando as
suas próprias reservas celulares para produção de energia, verificando-se o consumo de
toda a matéria orgânica presente no meio [22]. Assim, o tratamento do efluente é mais
eficiente.
Observando a Figura 26, constata-se que alguns valores da razão de recirculação
estiveram abaixo do valor limite mínimo de alerta. Isto deve-se ao baixo caudal de
103
recirculação médio diário de lamas verificado relativamente ao caudal médio diário de
água residual afluente. Este parâmetro processual é relevante no controlo sobre o
processo de tratamento visto que o propósito deste é manter uma concentração adequada
de biomassa no interior do reator biológico. Deste modo, é importante que haja um
controlo adequado sobre este parâmetro. De um modo geral, os valores da razão de
recirculação estiveram dentro dos valores adequados ao bom funcionamento do sistema
de tratamento.
Ao longo do período em análise foram registados valores do tempo de residência
de sólidos (idade das lamas) que ultrapassaram os valores limite de alerta estipulados
(Figura 26). A maioria dos valores que excederam os valores limite corresponderam aos
valores mais baixos registados. Estes podem ter influenciado a composição da
componente microbiana e da microfauna do sistema de tratamento de lamas ativadas a
longo prazo. Portanto, o controlo sobre este parâmetro processual deve ser realizado a
partir da variação do caudal de purga e do caudal de recirculação, de modo a atingir
valores adequados ao bom funcionamento do sistema de tratamento.
Da análise da Figura 27 constata-se que os valores da relação CBO/CQO foram
próximos de 0,5 e não muito superiores a este valor. O valor médio deste parâmetro foi
de 0,48, o qual vai de encontro ao que é verificado numa água municipal não tratada,
descrito em [11]. Deste modo, pode concluir-se que a água residual afluente, durante o
período em análise, pode ser caracterizada como facilmente biodegradável.

6.1.7. Eficiências de remoção

Neste trabalho foram determinadas as eficiências de remoção ao nível dos


diferentes parâmetros analíticos analisados como a CQO, CBO5, azoto total, fósforo
total e SST, e ainda as taxas de captura de sólidos resultantes das análises realizadas a
amostras de lamas em excesso, espessadas e desidratadas. No Anexo V, estão dispostos
todos os resultados obtidos para cada eficiência de remoção. Na Tabela 22, faz-se um
resumo das eficiências de remoção obtidas durante o período em análise. A seguir, estão
representadas graficamente as taxas de remoção obtidas ao longo do tempo.

104
Tabela 22 - Sumário dos resultados obtidos, durante o mês de Abril e Agosto de 2012,
nas eficiências de remoção relativos a cada parâmetro de controlo analítico e taxas de
capturas de sólidos.

Taxa de
Taxa de
captura
Eficiências captura
CQO CBO5 Ntotal Ptotal SST de
de de sólidos
(%) (%) (%) (%) (%) sólidos
remoção (desidratação)
(espessamento)
(%)
(%)

Média 92,69 98,57 89,86 63,36 96,05 84,69 76,88

Valor
78,81 96,88 82,07 36,24 86,00 79,75 60,29
mínimo
Valor
97,36 99,94 94,09 85,19 99,33 93,09 82,73
máximo
Desvio
3,13 0,80 2,68 14,22 3,34 3,61 6,05
padrão

100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
%

30,00
20,00
10,00
0,00
10-Abr
16-Abr
23-Abr
2-Abr

05-Jul
12-Jul
19-Jul
26-Jul
02-Ago
02-Mai
09-Mai
16-Mai
23-Mai
30-Mai

28-Jun
06-Jun
14-Jun
21-Jun

Dias
CQO % CBO5 % SST %

Figura 28 - Variação das eficiências de remoção de CQO, CBO5 e de SST ao longo do


tempo de amostragem.

105
100
90
80
70
60
50
%

40
30
20
10
0
9-Abr

7-Mai
2-Abr

14-Mai
21-Mai
28-Mai
4-Jun

2-Jul
9-Jul
16-Abr
23-Abr
30-Abr

11-Jun
18-Jun
25-Jun

16-Jul
23-Jul
30-Jul
Dias

N-Total % P-Total%

Figura 29 - Variação das eficiências de remoção de N-total e de P-total ao longo do


tempo de amostragem.

100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
02-Mai
09-Mai
16-Mai
23-Mai
30-Mai
04-Abr
11-Abr
18-Abr
25-Abr

06-Jun
13-Jun
20-Jun
27-Jun
04-Jul
11-Jul
18-Jul
25-Jul
01-Ago

Dias
MS % (espessamento) MS % (desidratação)

Figura 30 - Variação das taxas de captura de sólidos, no espessamento e desidratação, ao


longo do período de amostragem.

106
Da análise da Tabela 22, contata-se que a taxa de remoção média mais elevada
verificou-se no parâmetro analítico CBO5. O valor médio da eficiência de remoção para
a CQO também foi elevado. Pela análise do gráfico correspondente (Figura 28),
verificam-se altas taxas de remoção para estes dois parâmetros, que indicam, em alguns
casos, a quase eliminação completa da carga orgânica do efluente. É possível concluir
que o sistema de tratamento funcionou adequadamente durante o período em análise,
nomeadamente o sistema de lamas ativadas, na remoção da carga orgânica presente na
água residual afluente à ETAR de Serzedo.
A eficiência de remoção média verificada para o parâmetro analítico SST foi
elevada (96,05 %). Ao longo do período de análise as taxas de remoção foram altas,
indicando o bom funcionamento de todo o sistema de tratamento na remoção da carga
poluente.
Relativamente às eficiências médias de remoção para os parâmetros azoto total e
fósforo total, verifica-se que o primeiro apresentou uma taxa de remoção maior. As
taxas de remoção de azoto foram bastante altas, refletindo o bom funcionamento do
sistema de lamas ativadas na remoção deste componente, visto que a remoção de
nutrientes ocorre principalmente nesta etapa de tratamento. A eficiência de remoção
média de fósforo total foi inferior às restantes, verificando-se também um elevado grau
de dispersão dos valores em relação à média, relativamente ao que se verifica nos
restantes parâmetros. Constata-se que a remoção de fósforo total pelo sistema de
tratamento adotado, não foi tão eficiente como a remoção de azoto total.
Os valores médios das taxas de captura de sólidos, determinados a partir de
amostras lamas espessadas e desidratadas analisadas, foram elevados. Verificou-se uma
maior taxa de captura média no espessamento (84,69 %) do que na desidratação (76,88
%). De acordo com [19][20], os equipamentos aplicados para obter lamas espessadas e
desidratadas apresentam uma eficiência de captura de sólidos de 95 %. Analisando os
resultados obtidos, verifica-se que as taxas de captura foram inferiores a estes valores.

107
6.2. Análise microbiológica ao sistema de lamas ativadas da ETAR de
Serzedo

No âmbito deste trabalho foram realizadas análises microbiológicas ao sistema


de tratamento de lamas ativadas da ETAR de Serzedo. Estas análises decorreram no
período compreendido entre Abril e Agosto de 2012 e incidiram sobre a caracterização
das comunidades de protozoários, pequenos metazoários e bactérias filamentosas.
Nas secções seguintes, são apresentados e discutidos os resultados obtidos das
análises realizadas ao licor misto do sistema de lamas ativadas.

6.2.1. Caracterização das comunidades de protozoários e de pequenos


metazoários

Durante o período em análise foram retiradas e analisadas 13 amostras do licor


misto do reator biológico da ETAR de Serzedo. Foram identificadas 31 unidades
taxonómicas pertencentes aos grupos dos grandes flagelados (3 espécies), das amibas
com teca (2 espécies), dos ciliados nadadores (3 espécies), dos ciliados móveis de fundo
(6 espécies), dos ciliados sésseis (6 espécies), dos ciliados carnívoros (7 espécies) e dos
metazoários (4 espécies). O número de organismos identificados em cada amostra
analisada variou entre 15 a 25 unidades taxonómicas. Durante o cálculo do IBL (Índice
Biótico de Lamas) foi determinada a densidade total de organismos (indivíduos/L) para
cada amostra analisada. Verificou-se que todos os valores obtidos foram superiores a
106 organismos/L, o que traduz uma elevada densidade da microfauna na totalidade das
amostras analisadas, segundo Madoni et al., (2005) [30].

Na figura seguinte está representada a abundância (%) de cada grupo trófico da


comunidade de protozoários, observados nas amostras retiradas do sistema de
tratamento da ETAR de Serzedo ao longo do tempo de análise.

108
100%

90%

80%

70%
% Outros
Abundância

60%
% Amibas com
50% teca
% Sésseis
40%
% Móveis de
30% fundo
% Nadadores
20%

10%

0%
04-Mai

11-Mai

18-Mai

25-Mai

01-Jun

08-Jun

15-Jun

22-Jun

29-Jun

06-Jul

13-Jul

20-Jul

27-Jul
27-Abr

03-Ago
Data

Figura 31 - Abundância dos diferentes grupos de organismos do licor misto da ETAR de


Serzedo ao longo do período de análise, compreendido entre Abril e Agosto.

Da análise da Figura 31, verifica-se que, ao longo da amostragem realizada, os


ciliados nadadores constituíram o grupo dominante, seguindo-se os ciliados móveis de
fundo. Foram identificados ciliados sésseis em quase todas as amostras (excetuando nos
dias 13 e 17 de Julho), com abundâncias mais baixas, na maioria dos casos, que os dois
grupos anteriores referidos. As amibas com teca também foram identificadas em quase
toda amostragem, exceto no dia 25 de Maio, apresentando densidades reduzidas. Em
todas as amostras foram identificados outros tipos protozoários e pequenos metazoários
(“% Outros”).
No início da amostragem (nas primeiras 3 amostras) houve uma dominância dos
organismos ciliados móveis de fundo relativamente aos restantes grupos tróficos,
verificando-se também a presença de ciliados sésseis e, em baixa densidade, os ciliados
nadadores e amibas com teca. A dominância dos ciliados móveis de fundo e sésseis,

109
nesta fase, traduzem uma boa eficiência do sistema de tratamento por lamas ativadas,
como referido em [33] [35]. Estes dois grupos funcionais normalmente co-dominam na
microfauna das lamas ativadas, devido ao facto de que ocupam nichos ecológicos
diferentes, não competindo entre si [30].
Desde o início da amostragem, verificou-se um aumento da abundância dos
ciliados nadadores, que se tornaram dominantes a partir da quinta amostra (1 de Junho),
sofrendo um decréscimo no dia 13 de Junho (densidade dos ciliados sésseis elevada).
Posteriormente, verificou-se a dominância, de novo, deste grupo funcional nas amostras
seguintes, verificando-se um decréscimo a partir do dia 13 de Julho até ao final da
amostragem. Segundo estudos realizados por Curds [30], quando a microfauna é
dominada pelos organismos ciliados nadadores, a qualidade do efluente produzido é,
geralmente, pobre, e torna-se má quando os ciliados estão completamente ausentes.
Neste caso de estudo, verifica-se uma redução da qualidade do efluente produzido, ao
nível das concentrações de CBO5 e de CQO quando se verifica a dominância dos
ciliados nadadores nas amostras. Os pequenos ciliados nadadores predominam no
sistema de tratamento quando a sua permanência no sistema é breve ou quando a
oxigenação é ineficiente [30]. Como se verificou na seção anterior relativa ao controlo
analítico e processual da instalação de Serzedo, registaram-se valores baixos para o
tempo de residência de sólidos, durante o período em análise. Portanto, a dominância
dos ciliados nadadores pode ter sido devida a este facto, visto que para valores mais
baixos deste parâmetro processual registou-se, posteriormente, a dominância deste
grupo funcional.
Na amostra do dia 13 de Junho, verificou-se que os ciliados nadadores não
foram o grupo dominante e constatou-se uma elevada abundância dos ciliados sésseis.
Este facto pode ter sido devido a uma elevação do tempo de residência de sólidos numa
fase anterior a esta amostragem. Quando presentes em percentagens superiores a 80%
[30], os sésseis estão a associados a fenómenos transitórios que levam a depurações
insuficientes. Neste caso, no entanto, o aumento de número de sésseis pode ter
traduzido uma recuperação incipiente da microfauna devido ao aumento do tempo de
residência. Esta recuperação não teve, ainda assim, evolução favorável porque o tempo
de residência voltou a diminuir.
As amibas com teca estão presentes em sistemas de baixa carga e onde há
remoção de azoto [30]. Ao longo da amostragem as amibas com teca foram
identificadas na maioria das amostras, e como o sistema de tratamento da ETAR de

110
Serzedo opera em baixa carga e há remoção de compostos de azoto, a presença destes
organismos nestes tipos de sistemas justifica-se pelo referido na literatura.
Ao longo do período de análise o número de pequenos flagelados foi sempre
inferior a 10 e foram identificados em todas as amostras. Portanto, a abundância destes
organismos no sistema de tratamento por lamas ativadas é baixa.
Ou seja, em termos de grupos funcionais, os ciliados nadadores parecem poder
constituir na ETAR em estudo e nas condições descritas, um sistema de alerta para a
eventual redução da qualidade do efluente, o que está de acordo como que é descrito na
literatura. Em alturas de melhor desempenho, os ciliados sésseis podem constituir uma
segunda linha de alerta: a recuperação do sistema passa pelo aumento deste grupo que,
no entanto, não pode ultrapassar os 80% e deve co-existir com uma diversidade elevada.

Na tabela seguinte está representado a abundância média (%) e a frequência (%)


de espécies de protozoários e de pequenos metazoários identificados durante o período
em análise.

111
Tabela 23 - Abundância média e frequência das espécies de protozoários e de pequenos
metazoários observados no sistema de tratamento por lamas ativadas da ETAR de
Serzedo durante o período de análise, compreendido entre Abril e Agosto.

Grupos de organismos Espécies Abundância média (%) Frequência (%)


Peranema sp. 0,3188 69
Grandes flagelados Flagelado 2 0,1410 38
Flagelado 1 3,2186 100
Euglypha sp. 1,7460 46
Amibas com teca
Arcella sp. 1,2630 92
Spirostomum teres 0,2811 69
Ciliados Nadadores Dexiotricha granulosa 46,3760 100
Nadador 1 0,5485 77
Drepanomonas revoluta 0,8453 92
Aspidisca cicada 1,6011 77

Ciliados Móveis de Aspidisca lynceus 12,3864 100


fundo Euplotes patella 0,5494 8
Acineria uncinata 2,8124 100
Microthorax sp. 4,8695 92
Vorticella microstoma 0,9649 77
Vorticella convallaria 4,1582 77
Carchesium sp. 1,9624 69
Ciliados Sésseis
Zoothamnium sp. 1,9589 69
Epistylis sp. 2,9031 62
Opercularia sp. 0,1760 8
Prorodon sp. 1,4590 100
Coleps hirtus 0,0787 8
Litonotus sp. 0,2373 31
Ciliados Carnívoros Acineta sp. 0,1633 38
Podophrya sp. 0,3297 54
Tokophrya sp. 0,4540 77
Discophrya sp. 0,2836 46
Rotifero digononta:
7,8886 100
Rotaria sp
Rotifero Monogononta 0,0125 8
Metazoários
Nemátodo 0,0003 8
Gastrotrichi 0,0125 8

Da análise da Tabela 23, constata-se que as espécies com valores mais altos de
abundância média foram: Dexiotricha granulosa (46,3760%); Aspidisca lynceus

112
(12,3864%), que é um organismo menos comum e abundante nos sistemas de lamas
ativadas relativamente a Aspidisca cicada, no entanto, é indicador de estabilidade no
reator biológico, e o Rotifero digononta Rotaria sp (7,8886%), que é um organismo
comum nas lamas ativadas. Os organismos mais frequentes na totalidade das amostras
analisadas foram: o Flagelado 1 (100%); Dexiotricha granulosa (100%); Aspidisca
lynceus (100%); Acineria uncinata (100%), que é bastante comum em sistemas de
lamas ativadas; Prorodon sp. (100%), a sua presença está associada a sistemas que
ocorrem processos de nitrificação; o Rotifero digononta Rotaria sp (100%), comum em
sistemas com oxidação total; Arcella sp. (92%), usual em sistemas com remoção de
azoto e com alta concentração de oxigénio dissolvido; Drepanomonas revoluta (92%) e
Microthorax sp. (92%) [30].
A designação de Flagelado 1, Flagelado 2 e Nadador 1 a determinados
organismos observados durante a análise foi devida à impossibilidade de se poder
identificar os organismos a níveis taxonómicos mais específicos
No Anexo VI encontram-se imagens relativas a alguns organismos de
protozoários e de pequenos metazoários visualizados durante a amostragem realizada.

Na Tabela 24, encontra-se representado a evolução do Índice Biótico de Lamas


(IBL) ao longo do período de análise.

Tabela 24. Valores de IBL obtidos ao longo do período de análise, compreendido entre
Abril e Agosto.

Data IBL
27-Abril 10
04-Maio 10
15-Maio 10
25-Maio 10
01-Junho 5
05-Junho 5
13-Junho 10
29-Junho 5
06-Julho 5
13-Julho 5
17-Julho 5
27-Julho 5
03-Agosto 5

113
Pela observação da Tabela 24, constata-se que os valores de IBL variaram entre
5 e 10. De acordo com Madoni (1994) [35], para valores de IBL 5 (Classe III), a
atividade biológica é insuficiente e a eficiência depuradora do sistema de tratamento é
medíocre. Por outro lado, para valores de IBL 10 (Classe I), verifica-se lamas bem
colonizadas e estáveis, uma atividade biológica ótima e uma eficiência depuradora
elevada. Portanto, os valores mais altos de IBL, durante a amostragem realizada, foram
obtidos nas primeiras amostras (27 de Abril até 25 de Maio) e na amostra
correspondente ao dia 13 de Junho. Nas restantes amostras analisadas o valor do IBL foi
de 5. Como se pode verificar na Figura 31 e na Tabela 24, os ciliados nadadores foram
dominantes nas amostras em que se verificaram valores de IBL baixos (5), indicando
uma atividade biológica insuficiente [35] no sistema de tratamento por lamas ativadas.
No efluente final as concentrações de CBO5, CQO e de SST nunca ultrapassaram os
valores limite de emissão, mas nos períodos em que os valores de IBL foram baixos
verificaram-se eficiências de remoção mais baixas de CQO, relativamente às restantes
obtidas.

6.2.2. Caracterização das bactérias filamentosas do licor misto da ETAR de


Serzedo

Foram identificadas e caracterizadas as bactérias filamentosas presentes em 13


amostras do licor misto da ETAR de Serzedo, num período compreendido entre Abril e
Agosto de 2012.
Foram identificadas 14 morfotipos (Tabela 25) na totalidade da amostragem
realizada. Juntaram-se os morfotipos 0041 e 0675, visto que são organismos
semelhantes e são influenciados pelas mesmas condições de crescimento.
As classes de abundância das bactérias filamentosas presentes no sistema de
tratamento por lamas ativadas variaram entre 1 (“poucos”) e 5 (“ abundante”). A classe
de abundância da maioria dos organismos identificados variou entre 1 e 2, exceto nos
organismos dominantes.

114
No Anexo VI encontram-se imagens relativas a algumas bactérias filamentosas
identificadas em amostras do licor misto da ETAR.

Tabela 25 - Bactérias filamentosas identificadas nas amostras de licor misto da ETAR de


Serzedo, durante o período de análise.

Bactérias filamentosas
Tipo 0041/0675
Tipo 0092
Tipo 0581
Tipo 0914
Tipo 1851
Tipo 1863
Tipo 021N
Thiotrix I
Thiotrix II
Microthix parvicella
Nostocoida limícola II
Nostocoida limícola III
Haliscomenobacter hydrossis
Sphaerotilus natans

Na Figura 32, estão representadas as classes de abundância para cada morfotipo


observado nas amostras de licor misto, ao longo do período de amostragem, apenas
relativamente aos organismos que apresentaram maior dominância nas amostras (classe
de abundância entre 5 e 2).

115
6

Classe de abundância 5

Tipo
3
0041/0675
Tipo 0092
2
Tipo 0914
1

0
04-Mai
11-Mai
18-Mai
25-Mai
27-Abr

01-Jun
08-Jun
15-Jun
22-Jun
29-Jun
06-Jul
13-Jul
20-Jul
27-Jul
03-Ago
Data

Figura 32-Classe de abundância das bactérias filamentosas identificadas no licor misto


da ETAR de Serzedo, ao longo do período de análise, compreendido entre Abril e
Agosto.

Da análise da Figura 32, constata-se que os organismos que foram dominantes


nas amostras de licor misto foram o Tipo 0041/0675 e o Tipo 0092. Estes apresentaram
classes de abundância 5 (Filamentos observados em todos os flocos, com alta densidade
(maior que 20 filamentos por floco)) e 4 (Filamentos observados em todos os flocos,
com densidade média (5 a 20 filamentos por floco)). Seguiram-se os organismos do
Tipo 0914 e Microthix parvicella, que apresentaram classes de abundância 4, 3
(Filamentos observados em todos os flocos, mas em baixa densidade (1 a 5 filamentos
por floco)) e 2 (Filamentos presentes, mas só em alguns flocos).
A bactéria filamentosa do Tipo 0092 foi o organismo que apresentou maior
abundância em toda a amostragem realizada. Este organismo aparece em sistemas de
tratamento por lamas ativadas com remoção de nutrientes e o seu crescimento é
favorecido por baixas razões A/M e por altos tempos de residência de sólidos [27].
Deste modo, como o sistema de tratamento da ETAR de Serzedo opera a baixa carga
mássica e como se registaram elevados valores do tempo de residência de sólidos,
durante o período de amostragem, foi favorecido o desenvolvimento deste tipo de
116
bactéria filamentosa no sistema de lamas ativadas. Verificou-se, pela análise da figura,
que houve um decrescimento da abundância da bactéria do Tipo 0092 a partir do dia 6
de Julho. Este decréscimo pode ter sido devido aos valores baixos registados do tempo
de residência de sólidos anteriores a este dia.
Um outro tipo de bactéria filamentosa que foi dominante nas amostras analisadas
de licor misto foi o Tipo 0041/0675. Estas bactérias filamentosas são muito comuns nos
sistemas de lamas ativadas e são associadas a baixas razões A/M [30].
As bactérias filamentosas do Tipo 0914 e Microthix parvicella apareceram no
sistema de tratamento, em todas as amostras, em menor abundância que os organismos
anteriormente referidos. A presença da Microthix parvicella em sistemas de lamas
ativadas é devida a uma variedade de condições físico-químicas. O seu crescimento é
favorecido por valores baixos da razão A/M [11]. A presença deste organismo no
sistema de tratamento da ETAR de Serzedo é devida provavelmente a este parâmetro
operacional. O organismo Tipo 0914 está associado a fenómenos de bulking e a sua
presença é usual em sistemas de tratamento de águas residuais urbanas de baixa carga
[30]. Como a abundância do organismo Tipo 0914 não foi excessiva na ETAR, apenas
pode ter dificultado o processo de sedimentação no decantador secundário. O que vai de
encontro com o referido na seção anterior relativa ao controlo processual da instalação,
visto que se verificou a presença de lamas com características de sedimentação fraca até
ao período onde se verificou maior abundância deste organismo.
Em resumo, as bactérias filamentosas que apresentaram maior abundância no
sistema de tratamento por lamas ativadas da ETAR de Serzedo durante o período de
análise foram o Tipo 0041/0675 e Tipo 0092. Como estas apresentaram classes de
abundância elevadas, e juntamente com bactérias como do Tipo 0914, podem ter
provocado problemas na sedimentação das lamas biológicas no decantador secundário
da ETAR, visto que se verificou no período de análise lamas com características de
sedimentação fraca.
De forma a controlar o crescimento de bactérias filamentosas pode-se alterar o
tempo de residências de sólidos, visto que organismos como do Tipo 0092 e Microthix
parvicella, são sensíveis à diminuição do valor deste parâmetro operacional.

117
Capítulo 7. Conclusões

Neste trabalho foi estudado o desempenho da ETAR de Serzedo recorrendo à


análise de parâmetros físico-químicos em diferentes amostras de vários prontos do
sistema de tratamento da ETAR e à análise microbiológica de amostras do licor misto
da vala de oxidação. Adicionalmente, foram também analisados determinados
parâmetros processuais da instalação. As análises foram realizadas entre Abril e Agosto
de 2012.
Constatou-se que a água residual afluente à ETAR de Serzedo apresentou uma
fração orgânica elevada, facilmente biodegradável e concentrações elevadas de
nutrientes.
Ao longo do período de análise não foram detetadas inconformidades,
verificando-se que todos os valores obtidos dos diferentes parâmetros analíticos
analisados em amostra de água residual tratada estiveram abaixo ou entre os valores
limite de emissão estabelecidos na legislação.
Das análises realizadas ao efluente tratado constatou-se que o sistema de
tratamento implementado na ETAR de Serzedo funcionou adequadamente na remoção
da carga orgânica. Verificou-se uma redução elevada nas concentrações de SST e de
SSV comparativamente com as análises efetuadas à água residual não tratada e a
remoção de nutrientes foi realizada com sucesso.
Das análises realizadas ao pH no interior do reator biológico, conclui-se que
estes valores, de uma forma geral, foram ideais para a ocorrência dos processos de
desnitrificação e nitrificação. Registaram-se valores elevados de SST no interior do
reator, o que se torna necessário fazer um controlo adequado sobre os parâmetros caudal
de recirculação e de purga, de modo a atingir uma concentração adequada de sólidos,
para o bom funcionamento do processo de tratamento biológico.
Os SST do efluente produzido na decantação secundária foram baixos, o que
traduz um efluente bem clarificado.
As lamas em recirculação apresentaram uma fração orgânica elevada, importante
para a manutenção da biomassa no interior do reator biológico.
Durante o período de análise verificou-se que as lamas apresentavam
características de sedimentação fracas. Contudo, no final do período de análise o IVL

118
apresentou valores mais satisfatórios indicando uma qualidade de sedimentação
moderada.
Ao longo do período de análise foram registados valores do tempo de residência
de sólidos que ultrapassaram os valores limite de alerta estipulados. A maioria dos
valores que excederam os valores limite correspondeu aos valores mais baixos
registados. Estes podem ter influenciado a composição da componente microbiana e da
microfauna do sistema de lamas ativadas a longo prazo.
O sistema de tratamento funcionou adequadamente na remoção da carga
orgânica, carga poluente e nutrientes, embora as eficiências de remoção de fósforo
fossem mais baixas que as do azoto. As taxas de captura de sólidos nos sistemas de
espessamento e desidratação foram elevadas, mas os equipamentos não atingiram a sua
eficiência máxima.
Das análises microbiológicas realizadas ao licor misto do reator biológico da
ETAR, foram identificadas 31 unidades taxonómicas, relativas a protozoários e
pequenos metazoários. Os organismos que apresentaram maior dominância foram
Dexiotricha granulosa (46,4%), Aspidisca lynceus (12,4%) e o Rotifero digononta
Rotaria sp. (7,9%). Os ciliados nadadores constituíram o grupo dominante, seguindo-se
os ciliados móveis de fundo. Foram também identificados sésseis em quase todas as
amostras e amibas com teca. Outros protozoários e pequenos metazoários também
foram identificados. Neste caso de estudo, verificou-se uma redução da qualidade do
efluente produzido, aos níveis das concentrações de CBO5 e CQO quando se verificava
a dominância dos ciliados nadadores. A dominância dos ciliados nadadores nas
amostras pode ter sido devida aos baixos valores registados do tempo de residência de
sólidos. Em termos de grupos funcionais, os ciliados nadadores parecem poder constitui
na ETAR em estudo um sistema de alerta para a eventual redução da qualidade do
efluente.
Os valores de IBL variaram entre 10 e 5, sendo este último o mais frequente. Os
ciliados nadadores foram dominantes nas amostras quando se verificavam valores de
IBL mais baixos.
Relativamente às bactérias filamentosas identificadas nas amostras as mais
abundantes foram as do Tipo 0041/0675 e 0092. Como estes organismos apresentaram
abundâncias elevadas, e juntamente com outras bactérias identificadas, como as do Tipo
0914, podem ter provocado problemas na sedimentação das lamas no decantador, visto
que se verificou no período de análise lamas com características de sedimentação fracas.

119
Pode-se concluir que, a determinação do IBL e a identificação de protozoários
serviram como indicadores de uma eventual redução da qualidade do efluente,
fornecendo, deste modo, informações sobre as causas de problemas no sistema e a sua
posterior resolução. A identificação das bactérias filamentosas foram indispensáveis
para a determinação das causas de problemas na sedimentação das lamas.
Adicionalmente, a realização de análise físico-químicas foram fundamentais para a
avaliação do desempenho da instalação.
Como melhoria do trabalho realizado, é proposto a realização de correlações
entre parâmetros físico-químicos e processuais e os biológicos, de modo a que seja
determinado com mais exatidão as causas de problemas e soluções em sistemas de
tratamento de águas residuais por lamas ativadas.

120
Bibliografia

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Portugal [Em linha]. Disponível em: http://www.adnoroeste.pt/

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de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 2010.

121
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[13] J. T. M. Moreira, “Indicadores de eco-eficiência como parte do Sistema de Gestão


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[19] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Manual de exploração- ETAR de


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122
[20] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Memória descritiva e justificativa
do processo de tratamento e equipamento

[21] I. F. F. Neto, “Estudo dos processos de nitrificação e desnitrificação numa Estação


de Tratamento de Águas Residuais”, Dissertação de mestrado, Universidade Nova de
Lisboa, Lisboa, 2011.

[22] A. G. Martins, “Estudo da tratabilidade de águas residuais sintéticas pelo processo


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Universidade do Porto, Porto, 2008.

[23] A. Nicolau, M. J. Martins, M. Mota, N. Lima, “Importância da identificação das


espécies responsáveis pelo crescimento filamentoso nas ETARs,” apresentado no
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sanitária e ambiental, Braga, 2002.

[24] G. Bitton, Wastewater Microbiology, 2rd ed. Canada: Wiley-Liss, 1999.

[25] A. A. V. Abreu, “Identificação de Bactérias Filamentosas em Processos de Lamas


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Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Braga, 2004.

[26] L. P. A. Santos, “Avaliação do desempenho de estações de tratamento de águas


residuais através da observação da comunidade de protozoários nos sistemas de lamas
activadas”, Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Braga, 2008.

[27] A. Nicolau, Avaliação do desempenho das ETAR’s através da observação das


comunidades de protozoários, metazoários e filamentosas. Biotempo- consultoria em
biotecnologia, Lda., 2009.

[28] M. Sezgin, D. Jenkins, D. S. Parker, “A unified theory of filamentous active sludge


bulking”, Water Pollution Control Federation, Vol. 50, pp. 362-381, Fevereiro de 1978.

123
[29] D. Jenkins, M. G. Richard, G. T. Daigger, Manual on the causes and control of
activated sludge bulking and foaming and other solids separation problems, 3rd ed.
Boca Raton: IWA Publishing, 2004.

[30] P. Madoni, C. Davoli, D. Davoli, L. Guglielmi, M. Pergetti, C. Stefanini.,


Depurazione biologica nei fanghi attivi. Itália: Enìa S.p.A. – Sede di Reggio Emília,
2005.

[31] Y. P. Ginoris, A. L. Amaral, E. C. Ferreira, M. A. Z. Coelho, A. Nicolau


“Aplicação de técnicas de análise de imagem e de estatística multivariável no
reconhecimento de protozoários e metazoários típicos de sistemas por lodos ativados”
apresentado no 24º Congresso brasileiro de engenharia sanitária e ambiental, Brasil,
2007.

[32] N. Horan, “Protozoa”, in The handbook of water and wastewater microbiology, D.


Mara e N. Horan, Eds. Londres: Academic Press, 2003, pp. 69-76.

[33] A. Nicolau, M. J. Martins, M. Mota, N. Lima, “A importância da microfauna como


ferramenta de trabalho em estações de tratamento de águas residuais,” apresentado no
Encontro nacional de saneamento básico; Simpósio luso-brasileiro de engenharia
sanitária e ambiental, Braga, 2002.

[34] A. Nicolau, M. J. Martins, M. Mota, N. Lima, “Estudo da comunidade de


protozoários exposta a tóxicos em estações de tratamentos de águas residuais,”
apresentado na 6º Conferência nacional sobre a qualidade do ambiente, Lisboa, 1999.

[35] P. Madoni, “A sludge biotic index (SBI) for the evaluating of the biological
performance of activated sludge plants based on the microfauna analysis”, Wat. Res.,
pp. 67-75, 1994.

[36] P. Madoni, “Protozoa as indicators of wastewater treatment efficiency”, in The


handbook of water and wastewater microbiology, D. Mara e N. Horan, Eds. Londres:
Academic Press, 2003, pp. 361-371.

124
[37] L. Cerdeira, “Acompanhamento do Arranque/Exploração de uma ETAR”,
Dissertação de mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto,
2008.

[38] S. C. Silva, “Tratamento químico e biol gico de efluentes da indústria têxtil como
forma de redução do impacto ambiental aos recursos hídricos”, Monografia de pós-
graduação, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2011.

[39] J. P. Sousa, “Caracterização da decantabilidade das lamas activadas da ETAR de


Sobreiras, Porto, via determinação fisiológica global através da monitorização de
SOUR”, Dissertação de mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Porto, 2011.

[40] J. Peixoto, Laboratórios de tecnologias ambientais. Documento adaptado da


unidade curricular: Elementos de Engenharia do Ambiente. Mestrado Integrado
Engenharia Biológica- Universidade do Minho, Braga, 2010.

[41] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Registo Mensal- ETAR de


Serzedo.

[42] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Registo diário- ETAR de Serzedo.

[43] Documento interno da Águas do Noroeste, S.A., Licença de utilização dos


recursos hídricos para descarga de águas residuais.

[44] Ministério do Ambiente, Decreto-lei nº 236/98 de 1 de Agosto, 1998.

125
Anexos

Anexo I. Programa de controlo analítico em laboratório interno

A seguir está representado o programa de controlo analítico interno, em


laboratório, implementado na ETAR de Serzedo.

126
Anexo II. Procedimentos laboratoriais homologados pela Águas do
Noroeste, S.A.

Nesta secção são apresentados os protocolos adotados no laboratório da ETAR


de Serzedo e homologados pela empresa. Os procedimentos a seguir apresentados
incidem sobre a determinação da Carência Química de Oxigénio, Carência Bioquímica
de Oxigénio e sobre a determinação analítica de sólidos.

127
a. Determinação da Carência Química de Oxigénio

128
129
130
131
b. Determinação da Carência Bioquímica de Oxigénio

132
133
134
135
c. Determinação analítica de sólidos

136
137
138
139
140
141
Anexo III. Tabela de identificação e contagem de protozoários e de pequenos
metazoários

Análise de protozoários e de pequenos


metazoários

Data da análise:

1ª 2ª
Total
Espécies Screening contagem contagem ind./L %
(50µL)
(25µL) (25µL)
Flagelados Euglena sp.
Peranema sp.
Flagelado 2
Flagelado 1
Amibas com teca Euglypha sp.
Arcella sp.
Nadadores Colpidium sp
Glaucoma scintillans
Paramecium sp.
Sathrophilus sp.
Uronema nigricans
Cyclidium glaucoma
Spirostomum teres
Dexiotricha granulosa
Dexiostoma campylum
Nadador 1
Drepanomonas
Móveis de fundo revoluta
Aspidisca cicada
Aspidisca lynceus
Euplotes patella
Oxytricha sp.
Acineria uncinata
Microthorax sp.
Sésseis Vorticella microstoma
Vorticella aquadulcis
Vorticella infusionum
Vorticella convallaria
Carchesium sp.
Zoothamnium sp.
Epistylis sp.
Opercularia sp.
Carnívoros Prorodon sp.
Coleps hirtus

142
Spathidium sp.
Litonotus sp.
Amphileptus sp.
Acineta sp.
Podophrya sp.
Tokophrya sp.
Discophrya sp.
Rotifero digononta Rotaria sp.
Rotifero
Monogononta
Nemátodo
Tardigrado
Gastrotrichi
Aelosoma sp.

Total da microfauna
Grupos funcionais
Nadadores
Móveis de fundo
Sésseis
Amibas com teca

Número de pequenos
flagelados
IBL
Classe de qualidade
Diversidade:
Comentários:

143
Anexo IV. Tabela de caraterização de bactérias filamentosas

Análise de bactérias
filamentosas

Data de análise:

Valor Fresco Gram Neisser


Tipo 0041/0675
Tipo 0092
Tipo 00211
Tipo 0411
Tipo 0581
Tipo 0803
Tipo 0914
Tipo 0961
Tipo 1701
Tipo 1702
Tipo 1851
Tipo 1852
Tipo 1863
Tipo 021N
Thiotrix I
Thiotrix II
Nocardioformes
Microthix parvicella
Nostocoida limícola I
Nostocoida limícola II
Nostocoida limícola III
Haliscomenobacter
hydrossis
Sphaerotilus natans
Streptococcus sp.
fungos
algas

Observações:

144
Anexo V. Tabelas de resultados de controlo analítico e processual da
instalação

145
146
147
148
149
150
151
152
Anexo VI. Fotografias dos organismos visualizados durante a análise
microbiológica ao licor misto da ETAR de Serzedo

- Arcella sp. Ampliação 100x, campo claro.

- Aspidisca lynceus. Ampliação de 200x, em campo claro.

153
- Dexiotricha granulosa e Microthorax sp. Ampliação de 100x, em campo claro.

- Spirostomum teres. Ampliação de 100x, em campo claro.

154
- Tipo 0041/0675. Ampliação de 1000x, em campo claro.

- Tipo 0092. Ampliação de 1000x, em campo claro.

155
- Tipo 0914. Ampliação de 1000x, em campo claro.

- Microthix parvicella. Ampliação de 1000x, em campo claro.

156

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