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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento

De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

O IMPORTANTE PAPEL DA GESTÃO DA QUALIDADE EM


LABORATÓRIOS DE ANÁLISE CONTROLE DE EFLUENTES

Natália de Freitas Colesanti Perlette(1)


Engenheira Ambiental formada na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”-
UNESP, Pós Graduada em Sistemas de Gestão Integrados da Qualidade, Meio Ambiente,
Segurança e Saúde no Trabalho e Responsabilidade Social pelo SENAC. Trabalha desde 2012 na
SANASA, no cargo de Engenheira junto a Gerencia de Gestão da Qualidade e Relações
Técnicas, participando das atividades de implantação da ISO/IEC 17025.

Amanda Alves de Lima (2)


Engenheira Ambiental.

Gustavo Arthur Mechlin Prado(3)


Engenheiro Civil e Coordenador de Relações Técnicas.

Endereço(1): Avenida da Saudade, nº 500 – Ponte Preta - Campinas - SP - CEP: 13041-903 -


Brasil - Tel: +55 (19) 3735-5430 - e-mail: gestao.qualidade8@sanasa.com.br

RESUMO

O artigo aborda um estudo de caso sobre os impactos positivos decorrentes da implantação do


Sistema de Gestão da Qualidade do Laboratório de Análise e Controle de Efluentes de uma
empresa municipal de saneamento. Com o sistema de gestão da qualidade certificado na ISO
9001:2008 e em fase de implantação da ISO/IEC 17025:2005, os resultados são apresentados
conforme a metodologia do PDCA (Plan-Do-Check-Act) e evidenciam que as ferramentas da
qualidade auxiliam na rotina do laboratório, desde a infraestrutura até a parte documental
burocrática, e que os benefícios extrapolam os limites da empresa representando confiabilidade
nos resultados analíticos, segurança do cliente e elevação da imagem da empresa como um todo.

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De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

Palavras-chave: Efluentes, Estação de Tratamento de Efluentes, Estação Produtora de Água de


Reuso, Crise Hídrica, Laboratório, Satisfação, Prestadores de Serviços, Processos, Melhorias
Contínuas, Ações Corretivas, Ações Preventivas, Documentos, Registros, Controle, ABNT, NBR,
ISO.

INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

A geração de resíduos e efluentes é inerente à existência humana, cabendo ao homem tomar


ações para minimizar os impactos sociais e ambientais decorrentes de suas atividades. Neste
sentido, o Tratamento de Efluentes e a busca pela Universalização do Saneamento no Brasil, tem
feito com que o volume de esgotos tratado cresça a cada ano, correspondendo a um incremento
de 1,1% entre os anos 2012 e 2013 (SNIS, 2014).
Em um momento de crise hídrica enfrentada pelo Estado de São Paulo, principalmente na região
Metropolitana de Campinas, as empresas de saneamento têm buscado inúmeras alternativas para
enfrentar esta situação. Dentre as ações de controle está a utilização de água de reuso,
viabilizada pela aplicação da inovadora tecnologia de membranas filtrantes instaladas em
Estações Produtoras de Água de Reuso (EPAR). Por meio destas Estações o efluente é tratado e
retorna aos corpos hídricos com excelente qualidade. Assim, o tratamento de efluentes deixa de
ter um caráter apenas mitigatório e passar a ser uma estratégia para abastecimento público e
consequentemente reflete positivamente no equilíbrio ambiental.
Neste cenário, os Laboratórios de Análises de Controle de Efluentes desempenham um
importante papel ao controlar a qualidade dos efluentes tratados, bem como o monitoramento dos
corpos hídricos receptores. Para assegurar a confiabilidade dos resultados e garantir a
competência técnica do laboratório, a implantação do Sistema de Gestão da Qualidade torna-se
uma ferramenta fundamental.
De forma geral, os sistemas de gestão da qualidade são implantados pela aplicação de normas
como a ISO 9001, que é abrangente e possibilita a certificação de organizações de diferentes
portes e segmentos, e a norma ISO/IEC 17025 que é específica para laboratórios de ensaio e
calibração.
O objetivo deste trabalho consiste um estudo de caso sobre os impactos positivos decorrentes da
implantação do Sistema de Gestão da Qualidade, na rotina e confiabilidade dos resultados no
Laboratório de Análise e Controle de Efluentes da Sociedade de Abastecimento de Água e
Saneamento S.A. – SANASA.

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METODOLOGIA

O Laboratório de Análise e Controle de Efluentes, objeto deste estudo de caso, pertence à


SANASA que desde 2004 mantém um sistema de gestão da qualidade certificado na ISO 9001 e
com escopo que abrange todos seus setores e processos. Em 2013, iniciou-se o processo de
implantação do sistema de gestão da qualidade específico para laboratórios, conforme a norma
ISO/IEC 17025. Este novo projeto teve como motivação as diretrizes estratégicas da empresa em
buscar novas certificações e acreditações, bem como o atendimento legal das normas CONAMA
430/2011 e SMA 100/2013, as quais determinam que os laudos analíticos submetidos à
apreciação de órgãos ambientais, referentes ao monitoramento de efluentes e de corpos
receptores devem ser emitidos por laboratórios acreditados pelo INMETRO, conforme as
especificações da norma ISO/IEC 17025.
Embora a norma ISO/IEC 17025 proponha um sistema de gestão da qualidade específico para
laboratórios de ensaio e calibração, esta foi elaborada com base na norma ISO 9001 e estruturada
em dois blocos de requisitos que se interagem: os Requisitos de Direção, que correspondem aos
requisitos de gestão e incorporam os requisitos da ISO 9001 e os e Requisitos Técnicos, que
visam assegurar a competência técnica do laboratório em produzir dados e resultados
tecnicamente válidos.

Figura 01: Correspondência entre as normas ISO 9001 e ISO/IEC 17025: mesma base sistêmica.

Tanto a manutenção do sistema de gestão qualidade ISO 9001 quanto à implantação da ISO/IEC
17025 seguem a metodologia PDCA - do inglês Plan (Planejar), Do (Executar), Check (Verificar) e
Act (Agir) - que estabelece um ciclo de análises e soluções de problemas, sendo:

- Planejamento (P): estabelecimento de metas e de métodos utilizáveis para alcançá-las,


empregando um sistema de padrões, definindo também os itens que serão controlados;

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- Execução (D): execução dos processos conforme planejado, com pessoal adequadamente
qualificado. É realizada a coleta de dados para a etapa de verificação;

- Verificação (C): Os dados coletados são analisados para verificar o grau de cumprimento
planejado;

- Ação (A): São realizadas correções necessárias para que os problemas detectados na etapa de
verificação não se repitam, atuando nas causas fundamentais destes problemas.

Para a elaboração deste estudo de caso, utilizou-se como método a consulta da documentação
pertencente ao sistema de gestão da qualidade, análise dos relatórios de auditorias internas e
reuniões entre as equipes do setor de gestão da qualidade e a equipe técnica do laboratório.

RESULTADOS

O Laboratório de Análise e Controle de Efluentes realiza ensaios físico-químicos para o controle


de qualidade operacional de 23 Estações de Tratamento de Esgoto – ETE’s e 1 Estação de
Produção de Água de Reuso - EPAR da empresa municipal de saneamento a qual pertence, e
também para o monitoramento da qualidade da água nos corpos receptores em pontos à
montante e à jusante do lançamento do efluente tratado, em atendimento à legislação ambiental
vigente (CONAMA 430/2011 e CONAMA 357/2005).
O sistema de gestão da qualidade implantado fez com que o laboratório desenvolvesse uma série
de ações que, além de garantir a qualidade de seus serviços e confiabilidade nos resultados,
contribuem positivamente para a organização e desempenho das atividades do próprio
laboratório. Tais ações estão relacionadas às etapas da metodologia PDCA (Plan-Do-Check-Act).
Na fase de Planejamento (P), a elaboração e comunicação da Política da Qualidade norteia todo o
sistema de gestão, assegurando o comprometimento da organização com a melhoria contínua e
com o atendimento aos requisitos normativos e legais. A elaboração de documentos faz parte do
planejamento das atividades aplicadas ao laboratório e que posteriormente serão consultados na
etapa de execução (Act). A elaboração de instruções e procedimentos técnicos aborda a
metodologia de análise dos ensaios, as técnicas de coleta e preservação de amostras, manuseio
de equipamentos, preparação de reagentes e calibração de equipamentos e vidrarias. O
documento “Plano de Controle para o monitoramento da qualidade dos Efluentes e dos Corpos
d’água” representa o planejamento e a organização das atividades de rotina do laboratório que por
meio de uma planilha são relacionados os processos fundamentais, sendo a coleta das amostras,
execução das análises, monitoramento ao método de análise, instrumentação utilizada, critério de

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aprovação, ponto e frequência de coleta, responsável pela execução e aprovação, local de


registro e plano de reação, caso algo não aconteça como o planejado. Para assegurar o
atendimento a todas as Estações de Tratamento de Efluentes é elaborado um planejamento anual
das análises que serão realizadas pelo Laboratório e semanalmente este planejamento é ajustado
conforme as necessidades das ETE’s e a capacidade do laboratório.
Na fase de Execução (Do) os técnicos realizam análises conforme estabelecido pelos
procedimentos e instruções técnicas. Os dados de monitoramento das condições ambientais
(temperatura), verificação intermediária dos equipamentos, resultados intermediários das análises
são registrados em formulários padronizados e controlados. Estes registros permitem a
rastreabilidade das amostras e as tomadas de ações caso o executado não seja conforme o
planejado, como exemplo, os resultados das medições de verificação do equipamento podem
indicar a necessidade de manutenção ou a antecipação da calibração. Nesta etapa, a habilidade
do técnico que realiza as análises é de extrema importância para garantir a confiabilidade nos
resultados, assim os técnicos do laboratório de Análise e Controle de Efluentes possuem
formação adequada, experiência e recebem treinamentos.
Na fase de checagem (Check), a auditoria interna do sistema de gestão da qualidade possibilita a
verificação das ações que foram planejadas e executadas em relação à conformidade com a
padronização adotada pela empresa. Assim, desde 2011 quando foi criado o Laboratório de
Análise e Controle de Efluentes, foram realizadas algumas auditorias internas as quais foram
registrados 25 relatórios eletrônicos.
A Etapa das Ações (Act) é cumprida pela aplicação de um software desenvolvido pelos
profissionais da SANASA que permite o registro dos relatórios de auditoria, bem como o controle
de ações corretivas e preventivas. A Figura 2 apresenta um exemplo de Relatório Eletrônico.

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Figura 02: Exemplo de Relatório Eletrônico.

A maior parte dos relatórios registrados correspondem á Observações (7), Não Conformidades (7)
e Oportunidade de Melhoria (5). Os itens da norma ISO 9001:2008 mais frequentes nos relatórios
de auditoria interna correspondem, em ordem decrescente: 8.5.1 Melhoria Contínua, 4.2.3
Controle de Documentos, 7.6 Controle de Equipamento de Monitoramento e Medição, 4.2.4
Controle de Registros, 6.3 Infraestrutura, 7.1 Planejamento da Realização do Produto, 8.4 Análise
de Dados, 8.3 Controle de Produto Não Conforme e 4 Sistemas de Gestão.

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Requisitos ISO 9001

Gráfico 01: Relatórios de auditoria interna e correspondência com os requisitos da ISO 9001 –
Laboratório de Análise e Controle de Efluentes.

As auditorias internas funcionam também como um aprimoramento do sistema de gestão da


qualidade, pois a partir das constatações são realizadas ações corretivas e preventivas que
contribuem para a melhoria contínua.
O controle de calibração dos equipamentos referente aos itens 7.6 – Controle de Equipamento de
Monitoramento e Medição da ISO 9001, 5.5 - Equipamentos e 5.6 - Rastreabilidade de Medição
da ISO 17025 correspondem ao controle chave do laboratório, pois o manuseio adequado dos
equipamentos devidamente calibrados assegura a confiabilidade dos resultados permitindo a
correta execução dos métodos de ensaios e fundamentando o cálculo das incertezas de medição.
A similaridade entre as bases sistêmicas das normas ISO 9001 e ISO/IEC 17025 têm trazido
muitas vantagens ao Laboratório de Análise e Controle de Efluentes na implantação do sistema de
gestão da qualidade específico para laboratórios e a busca pela acreditação junto ao INMETRO,
pois a totalidade dos requisitos de Direção e parte dos Requisitos Técnicos como calibração de
equipamentos, treinamento, aplicação de metodologia normalizada também já são atendidos.
O processo de implantação da ISO/IEC 17025 está sendo desenvolvido com mão de obra própria,
pois optou-se por investir em treinamento e capacitação de um grupo constituído por funcionários
do Laboratório e do Setor de Gestão de Qualidade. Foram realizados cursos de auditoria interna
com a interpretação dos requisitos da ISO/IEC 17025:2005 e curso de incerteza de medição
aplicado a ensaios físico-químicos. Este grupo de funcionários realizou também algumas visitas
técnicas a laboratórios de outras empresas de saneamento, buscando a troca de experiências.

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DISCUSSÃO

O Sistema de Gestão da Qualidade, conforme requisitos da ISO 9001, implantado no Laboratório


de Análise e Controle de Efluentes possibilita importantes controles que garantem a padronização
das atividades, a rastreabilidade de dados, o planejamento das atividades conforme a capacidade
do laboratório e a demanda de análises, o registro de dados e informações que auxiliam os
gestores na tomada de decisão e na administração do próprio setor.
Os benefícios da implantação do sistema de gestão da qualidade são evidenciados pela
organização do laboratório de forma geral, desde aspectos documentais até a execução das
análises e as definições das responsabilidades.
A implantação da ISO 17025:2005, visando a acreditação junto ao INMETRO, faz parte da
melhoria contínua do sistema de gestão da qualidade do Laboratório, buscando o atendimento às
legislações pertinentes (CONAMA 430 e SMA 100) e o aumento da confiabilidade metrológica dos
resultados que reflete positivamente na segurança do cliente e na imagem da empresa de
saneamento.
A obtenção de resultados válidos é muito importante não só para o Laboratório, mas para todo o
processo de tratamento de efluentes da SANASA, pois representam a confiabilidade na qualidade
dos efluentes tratados e no monitoramento de qualidade dos corpos receptores, que embasam a
tomada de decisão, tanto de órgãos externos, como o órgão ambiental CETESB, quanto áreas
operacionais internas na SANASA.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o sistema de gestão da qualidade desempenha um importante papel na rotina do


Laboratório de Análise e Controle de Efluentes da SANASA, pois a aplicação das ferramentas da
qualidade permite o planejamento das atividades, execuções orientadas, verificações e ações
corretivas e preventivas que orientam os gestores na tomadas de decisões. As ferramentas de
gestão auxiliam na organização do laboratório, desde a infraestrutura até a parte documental
burocrática, que extrapolam os limites da organização representando confiabilidade nos
resultados analíticos, segurança do cliente e elevação da imagem da empresa de saneamento
como um todo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO / IEC 17025 – Requisitos gerais
para competência de laboratórios de ensaio e calibração. Rio de Janeiro, 2005. 31 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ISO 9001 – Sistemas de Gestão da
Qualidade – Requisitos. Rio de janeiro, 2008. 28 p.
FIDELIS, G.C. Orientações para a Implantação da NBR ISO/IEC 17025. 1ª Edição. Florianópolis:
CECT, 2010. 153 p.
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO (SNIS). Diagnóstico dos
Serviços de Água e Esgoto - 2013. Relatório. Brasília, 2014. Disponível em:<
http://www.snis.gov.br/PaginaCarrega.php?EWRErterterTERTer=105>. Acesso em: 19 de
janeiro de 2015.

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