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Diretrizes Voluntárias para Garantir a

Pesca de Pequena Escala Sustentável


no Contexto da Segurança Alimentar e
da Erradicação da Pobreza
Diretrizes Voluntárias para Garantir a
Pesca de Pequena Escala Sustentável
no Contexto da Segurança Alimentar e
da Erradicação da Pobreza

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura


Roma, 2017
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informação não implicam a expressão de qualquer opinião por parte da Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a situação jurídica
ou estágio de desenvolvimento de qualquer país, território, cidade ou área ou de suas
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ISBN 978-92-5-008704-7

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Em homenagem a Chandrika Sharma,
que trabalhou incansavelmente para
melhorar as vidas dos trabalhadores
da pesca em todo o mundo e cuja
contribuição para a formulação destas
Diretrizes foi inestimável.
Apresentação
As Diretrizes Voluntárias para Garantir a Pesca de Pequena Escala Sustentável no Contexto da Segurança
Alimentar e da Erradicação da Pobreza (doravante, Diretrizes PPE) são o primeiro instrumento acordado
a nível internacional inteiramente dedicado ao, extremamente importante mas até agora frequentemente
negligenciado, setor da pesca de pequena escala.

O setor da pesca de pequena escala tende a estar profundamente enraizado nas comunidades, tradições e
valores locais. Muitos pescadores de pequena escala trabalham por conta própria e geralmente fornecem
peixe para consumo direto nos seus lares ou comunidades. As mulheres têm um papel importante no setor,
especialmente nas atividades posteriores à captura e processamento. Estima-se que aproximadamente
90% de todas as pessoas que dependem diretamente da pesca extrativa trabalham no setor da pesca
de pequena escala. Como tal, a pesca de pequena escala funciona como motor econômico e social,
proporcionando segurança alimentar e nutricional, emprego e outros efeitos multiplicadores para as
economias locais, apoiando ao mesmo tempo os meios de subsistência das comunidades ribeirinhas.

As Diretrizes PPE eram esperadas há muito tempo, devido à necessidade de um instrumento internacional
que forneça princípios de consenso e orientações sobre a pesca de pequena escala. As Diretrizes PPE
complementam o Código de Conduta para a Pesca Responsável que, juntamente com as disposições
relativas à Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, é o instrumento internacional de pesca
mais amplamente reconhecido e aplicado. As Diretrizes PPE também estão intimamente relacionadas com
as Diretrizes Voluntárias sobre a Governança Responsável da Posse da Terra, dos Recursos Pesqueiros e dos
Recursos Florestais no Contexto da Segurança Alimentar Nacional; com as Diretrizes Voluntárias em Apoio
à Realização Progressiva do Direito à Alimentação Adequada no Contexto da Segurança Alimentar Nacional;
e com os Princípios para o Investimento Responsável em Sistemas Agrícolas e Alimentares. Tal como estes
instrumentos, as Diretrizes PPE atribuem alta prioridade à realização dos direitos humanos e à necessidade
de prestar assistência aos grupos vulneráveis e marginalizados.

As Diretrizes PPE são o resultado de um processo participativo “de base para o topo”, com base nas
recomendações da vigésima-nona e trigésima sessões do Comitê de Pesca da FAO (COFI). Entre 2010
e 2013, a FAO promoveu um processo global no qual participaram mais de 4.000 representantes de
governos, pescadores de pequena escala, trabalhadores da pesca e suas organizações, pesquisadores,
parceiros de desenvolvimento e outros atores relevantes de mais de 120 países em 6 reuniões regionais e
em mais de 20 reuniões nacionais de consulta lideradas pela sociedade civil. Os resultados destas consultas
serviram de base para o trabalho de uma Consulta Técnica da FAO, que se reuniu em maio de 2013 e em
fevereiro de 2014 para chegar a um acordo sobre o texto final. A aprovação das Diretrizes PPE na trigésima-
primeira sessão do COFI, em junho de 2014, representa um feito importante para garantir uma pesca de
pequena escala segura e sustentável.

As Diretrizes PPE são uma ferramenta essencial em apoio à visão da Organização para a erradicação da
fome e a promoção do desenvolvimento sustentável, tal como descrito no novo Quadro Estratégico da
FAO. Elas orientarão o diálogo, os processos de políticas e as ações a todos os níveis, e irão ajudar o setor
a contribuir plenamente para a segurança alimentar e erradicação da pobreza. Agora cabe a todos os
membros da FAO e seus parceiros o desafio de implementar as Diretrizes PPE.

A FAO continua empenhada em apoiar a implementação das Diretrizes PPE e espera colaborar
continuamente com todas as partes interessadas – em particular os governos, os pescadores de pequena
escala, os trabalhadores da pesca e suas organizações, as organizações da sociedade civil, os pesquisadores
e o meio acadêmico, o setor privado e a comunidade de doadores – em vista da sustentabilidade da pesca
de pequena escala no contexto da segurança alimentar e da erradicação da pobreza.

José Graziano da Silva


DIRETOR-GERAL DA FAO
v
Índice
Abreviaturas e acrônimos viii
Prefácio ix

Parte 1
Introdução
1. Objetivos 1
2. Natureza e âmbito de aplicação 1
3. Princípios orientadores 2
4. Relação com outros instrumentos internacionais 3

Parte 2
Pesca responsável
e desenvolvimento
sustentável
5. Governança da posse na pesca de
pequena escala e gestão dos recursos 5
5a. Governança responsável da posse 5
5b. Gestão sustentável dos recursos 6
6. Desenvolvimento social, emprego e trabalho digno 8
7. Cadeias de valor, atividades
posteriores à captura e comércio 10
8. Igualdade de gênero 12
9. Riscos de desastre e alterações climáticas 12

Parte 3
Garantir um ambiente
propício e apoiar a
implementação
10. Coerência das políticas, coordenação
institucional e colaboração 15
11. Informação, pesquisa e comunicação 16
12. Desenvolvimento de capacidades 17
13. Apoio à implementação e monitoramento 18

vii
Abreviaturas e acrônimos
CEDAW O CÓDIGO OIT
Convenção sobre a Eliminação Código de Conduta para a Organização Internacional do
de Todas as Formas de Pesca Responsável (FAO) Trabalho
Discriminação Contra a Mulher

ONG OSC RIO+20


Organização não- Organização da sociedade civil Conferência das Nações
governamental Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20)

VIH/SIDA PIDESC OMI


Vírus da Imunodeficiência Pacto Internacional sobre os Organização Marítima
Humana/Síndrome da Direitos Econômicos, Sociais e Internacional
Imunodeficiência Adquirida Culturais

OMC ONU UNDRIP


Organização Mundial do Organização das Nações Declaração das Nações Unidas
Comércio Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas

UNFCCC CSA
Convenção-Quadro das Nações Comitê de Segurança
Unidas sobre Mudança do Alimentar Mundial
Clima

viii
Prefácio
Estas Diretrizes Voluntárias para Garantir a Pesca de Pequena
Escala Sustentável no Contexto da Segurança Alimentar e da
Erradicação da Pobreza foram desenvolvidas como complemento
ao Código de Conduta para a Pesca Responsável adotado pela
FAO em 1995 (doravante, o Código). Foram elaboradas para
fornecer orientações complementares sobre a pesca de pequena
escala em apoio aos princípios gerais e disposições do Código.
Por conseguinte, as Diretrizes visam apoiar a visibilidade, o
reconhecimento e a valorização do importante papel da pesca de
pequena escala e contribuir para os esforços globais e nacionais
para a erradicação da fome e da pobreza. As Diretrizes apoiam
a pesca responsável e o desenvolvimento social e econômico
sustentável em benefício das gerações presentes e futuras,
com especial ênfase nos pescadores de pequena escala e nos
trabalhadores da pesca e de atividades conexas, particularmente
as pessoas vulneráveis e marginalizadas, e promovem uma
abordagem baseada nos direitos humanos.
Note-se que estas Diretrizes são de carácter voluntário, de
âmbito mundial e centradas nas necessidades dos países em
desenvolvimento.
A pesca de pequena escala e a pesca artesanal, Tendo em conta as capturas destinadas ao
englobando todas as atividades realizadas consumo humano direto, a contribuição da
por homens e mulheres ao longo da cadeia pesca de pequena escala aumenta para dois
produtiva – antes, durante e depois da captura terços do total. Neste sentido, a pesca em
– desempenham um papel importante na águas interiores é particularmente importante,
segurança alimentar e nutrição, na erradicação pois a maioria das capturas provenientes
da pobreza, no desenvolvimento equitativo e na da pesca de pequena escala é destinada ao
utilização sustentável dos recursos1. A pesca de consumo humano. A pesca de pequena escala
pequena escala fornece alimentos nutritivos para gera emprego a mais de 90% dos pescadores
os mercados locais, nacionais e internacionais, e trabalhadores da pesca extrativa em todo
gerando rendimentos que contribuem para as o mundo, cerca de metade dos quais são
economias locais e nacionais. mulheres. Além de gerar emprego para
pescadores e trabalhadores da pesca, em
A pesca de pequena escala representa cerca tempo integral ou parcial, a pesca sazonal ou
da metade das capturas mundiais de peixes. ocasional e as atividades conexas fornecem

1. O termo “recursos pesqueiros” neste documento engloba todos os recursos aquáticos vivos (tanto marinhos como de
água doce) que são frequentemente sujeitos a captura.

ix
um complemento essencial para os meios de associada é fundamental para os seus meios de
subsistência de milhões de pessoas. Essas subsistência e para a capacidade do subsetor
atividades podem constituir uma ocupação contribuir para o bem-estar geral.
acessória regular ou adquirir especial
importância em momentos de dificuldade. Apesar da sua importância, muitas
Muitos pescadores e trabalhadores da pesca comunidades de pescadores de pequena
de pequena escala trabalham por conta escala continuam a ser marginalizadas e não
própria, procurando fornecer alimentos é plenamente entendida a sua contribuição
diretamente aos seus lares e comunidades, para a segurança alimentar e nutrição,
ao mesmo tempo que trabalham na erradicação da pobreza, desenvolvimento
pesca comercial, no processamento e na equitativo e utilização sustentável dos
comercialização. Frequentemente, a pesca e recursos que beneficia tanto as próprias
as atividades conexas apoiam as economias comunidades como outros.
locais de comunidades costeiras, lacustres e
ribeirinhas e constituem um motor que que Para garantir e aumentar a contribuição
gera efeitos multiplicadores noutros setores. da pesca de pequena escala há que lidar
com muitos desafios e obstáculos. Em
A pesca de pequena escala representa um muitos casos, o desenvolvimento do setor
subsetor diversificado e dinâmico, muitas pesqueiro nas últimas três ou quatro
vezes caracterizado pela migração sazonal. décadas conduziu à sobre-exploração dos
As características precisas deste subsetor recursos em todo o mundo, bem como à
variam em função do lugar. Com efeito, a ameaça de habitats e ecossistemas. As
pesca de pequena escala costuma estar práticas consuetudinárias de atribuição
firmemente enraizada nas comunidades e partilha dos benefícios dos recursos da
locais, refletindo ligações históricas com os pesca de pequena escala, provavelmente
valores, as tradições e os recursos pesqueiros aplicadas durante várias gerações, foram
existentes e contribuindo para a coesão social. alteradas em função de sistemas de gestão
Para muitos pescadores e trabalhadores pesqueira não-participativos e muitas vezes
da pesca de pequena escala, a pesca é um centralizados, do rápido desenvolvimento
modo de vida e o subsetor se reveste de uma tecnológico e de mudanças demográficas.
diversidade e riqueza cultural de importância As comunidades de pescadores de pequena
mundial. Muitos pescadores e trabalhadores escala também são frequentemente afetadas
da pesca de pequena escala e suas por desigualdades nas relações de poder. Em
comunidades, incluindo os grupos vulneráveis muitos lugares, os conflitos com as operações
e marginalizados, dependem diretamente do de pesca em grande escala representam um
acesso aos recursos pesqueiros e à terra. Os problema, e é cada vez maior a concorrência
direitos de posse da terra nas zonas costeiras e interdependência entre a pesca de pequena
e ribeirinhas são fundamentais para garantir escala e outros setores. Estes setores, tais
e facilitar o acesso à pesca, para as atividades como o turismo, a aquicultura, a agricultura,
complementares , tais como a transformação e a energia, a mineração, a indústria e o
a comercialização, e para a habitação e outros desenvolvimento de infraestruturas, muitas
apoios aos meios de subsistência. A saúde dos vezes têm uma maior influência política ou
ecossistemas aquáticos e da biodiversidade econômica.

x
A pobreza nas comunidades dedicadas à organizada pela Organização das Nações
pesca de pequena escala é de natureza Unidas para a Agricultura e a Alimentação
multidimensional, não resultando apenas dos (FAO), em duas sessões, de 20 a 24 de maio
baixos níveis de rendimentos, mas também de 2013 e de 3 a 7 de fevereiro de 2014. As
de fatores que impedem o pleno gozo dos Diretrizes levam em conta uma ampla gama
direitos humanos, em particular dos direitos de importantes considerações e princípios,
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. incluindo a igualdade e a não-discriminação,
Muitas vezes as comunidades de pescadores a participação e a inclusão, a prestação de
de pequena escala estão localizadas em áreas contas e o Estado de Direito, e o princípio
remotas, com acesso limitado ou desfavorecido de que todos os direitos humanos são
aos mercados, e contam com um difícil acesso universais, indivisíveis, interdependentes
aos serviços de saúde, de educação e outros e estão inter-relacionados. As Diretrizes
serviços sociais. Também são caracterizadas são coerentes com os direitos humanos
por um baixo nível de educação formal, más internacionais e visam a sua promoção. Estas
condições de saúde (frequentemente com Diretrizes são complementares ao Código
uma incidência de HIV/AIDS acima da média) e seus instrumentos conexos. Elas também
e estruturas organizacionais inadequadas. levam em consideração as diretrizes técnicas
As oportunidades disponíveis são limitadas, relacionadas com o Código, tais como o
já que as comunidades de pescadores de n.º 10 das Diretrizes Técnicas para a Pesca
pequena escala não têm meios de subsistência Responsável (“Aumentar a Contribuição da
alternativos e enfrentam situações de Pesca de Pequena Escala para a Redução da
desemprego dos jovens, condições de trabalho Pobreza e Segurança Alimentar”), e outros
insalubres e inseguras, trabalho forçado e instrumentos internacionais voluntários,
trabalho infantil. Às ameaças que pesam sobre tais como as Diretrizes Voluntárias sobre a
essas comunidades acrescentam-se a poluição, Governança Responsável da Posse da Terra,
a degradação ambiental, os efeitos das dos Recursos Pesqueiros e dos Recursos
alterações climáticas e os desastres naturais ou Florestais no Contexto da Segurança
provocados pelo homem. Todos estes fatores Alimentar Nacional (doravante, Diretrizes
fazem com que seja difícil para os pescadores Voluntárias sobre a Posse) e as Diretrizes
e trabalhadores da pesca de pequena escala Voluntárias em Apoio à Realização Progressiva
serem ouvidos, defenderem os seus direitos do Direito à Alimentação Adequada no
humanos e direitos de posse e assegurarem a Contexto da Segurança Alimentar Nacional,
utilização sustentável dos recursos pesqueiros quando aplicável. Os Estados e outras partes
de que dependem. interessadas são incentivados a consultar
também estas outras diretrizes, bem como
Estas Diretrizes foram desenvolvidas os instrumentos internacionais e regionais
através de um processo participativo e pertinentes, a fim de integrar plenamente as
consultivo, envolvendo representantes das obrigações, os compromissos voluntários e as
comunidades dedicadas à pesca de pequena orientações disponíveis aplicáveis.
escala, organizações da sociedade civil
(OSC), governos, organizações regionais e
outros interessados. Posteriormente, foram
examinadas por uma Consulta Técnica

xi
xiv
Parte 1
Introdução
as capacidades das comunidades de
1. Objetivos pescadores em pequena escala, incluindo
1.1 Estas Diretrizes têm os seguintes objetivos: homens e mulheres, para participar nos
a) melhorar a contribuição dos pescadores de processos de tomada de decisões e para
pequena escala para a segurança alimentar assumir responsabilidades na utilização
e nutrição mundiais e apoiar a realização sustentável dos recursos pesqueiros, e
progressiva do direito à alimentação adequada; colocando ênfase nas necessidades dos
países em desenvolvimento e em benefício
b) contribuir para o desenvolvimento dos grupos vulneráveis e marginalizados.
equitativo das comunidades de pescadores
de pequena escala e para a erradicação da
pobreza, e melhorar a situação socioeconômica
dos pescadores e trabalhadores da pesca no 2. Natureza e âmbito de aplicação
contexto da gestão sustentável da pesca; 2.1 Estas Diretrizes são de natureza voluntária.
As Diretrizes deveriam ser aplicadas à pesca de
c) garantir a utilização sustentável, a gestão pequena escala, em todos os contextos, e ter um
prudente e responsável, e a conservação dos âmbito mundial, mas com especial ênfase nas
recursos pesqueiros, em conformidade com o necessidades dos países em desenvolvimento.
Código de Conduta para a Pesca Responsável
(doravante, o Código) e instrumentos conexos; 2.2 Estas Diretrizes são relevantes para
a pesca de pequena escala em águas
d) promover a contribuição da pesca de pequena marinhas e interiores, e aplicam-se aos
escala para um futuro economicamente, homens e mulheres que trabalham em todas
socialmente e ambientalmente sustentável para as atividades da cadeia produtiva e nas
o planeta e seus habitantes; atividades anteriores e posteriores à captura.
São reconhecidos as importantes ligações
e) fornecer orientações que possam ser existentes entre a pesca de pequena escala e
consideradas pelos Estados e outros a aquicultura, mas estas Diretrizes centram-
interessados, com vista ao desenvolvimento se principalmente na pesca extrativa.
e implementação de políticas, estratégias e
quadros jurídicos participativos e respeitadores 2.3 Estas Diretrizes dirigem-se aos Estados
dos ecossistemas, a fim de promover uma pesca Membros da FAO e aos Estados não-Membros,
de pequena escala responsável e sustentável; a todos os níveis de cada país, bem como
às organizações sub-regionais, regionais,
f) sensibilizar a opinião pública e fomentar o internacionais e intergovernamentais e aos
avanço dos conhecimentos sobre a cultura, o atores da pesca de pequena escala (pescadores,
papel, a contribuição e o potencial da pesca de trabalhadores da pesca e suas comunidades, e
pequena escala, considerando o conhecimento associações profissionais e OSC pertinentes).
ancestral e tradicional, bem como as limitações Elas também são dirigidas às instituições
e oportunidades associadas. acadêmicas e de pesquisa, ao setor privado, às
organizações não-governamentais (ONG) e a
1.2 Estes objetivos deveriam ser alcançados todos os outros interessados no setor pesqueiro,
através da promoção de uma abordagem no desenvolvimento das áreas costeiras e
baseada nos direitos humanos, fortalecendo rurais e na utilização do meio aquático.

1
2.4 Estas Diretrizes reconhecem a grande os princípios de direitos humanos e sua
diversidade da pesca de pequena escala, e que aplicabilidade às comunidades que dependem
não existe uma definição única acordada deste da pesca de pequena escala, conforme
subsetor. Por conseguinte, as Diretrizes não estipulado pelas normas internacionais
estabelecem uma definição-padrão de pesca sobre os direitos humanos: universalidade
de pequena escala, nem determinam a sua e inalienabilidade; indivisibilidade;
forma de aplicação no contexto nacional. Estas interdependência e inter-relação; não-
Diretrizes são particularmente importantes discriminação e igualdade; participação e
para os pescadores vulneráveis e para os que inclusão; prestação de contas e Estado de
praticam uma pesca de pequena escala e de Direito. Os Estados deveriam respeitar e
subsistência. A fim de garantir a transparência proteger os direitos dos defensores dos direitos
e a prestação de contas na aplicação das humanos no seu trabalho relacionado com a
Diretrizes, é importante determinar que pesca de pequena escala.
atividades e operadores se consideram de
pequena escala, bem como identificar os Todos os atores não-estatais, incluindo as
grupos vulneráveis e marginalizados que empresas comerciais relacionadas com a
necessitam de maior atenção. Isto deve ser pesca de pequena escala, ou que afetam este
realizado a nível regional, sub-regional e setor, têm a obrigação de respeitar os direitos
nacional e de acordo com o contexto particular humanos. Os Estados deveriam regulamentar
em que sejam aplicadas. Os Estados deveriam o âmbito das atividades de atores não-estatais
assegurar que essa identificação e aplicação em relação à pesca de pequena escala para
sejam guiadas por processos significativos, garantir a sua conformidade com as normas
substantivos, participativos, consultivos, a internacionais em matéria de direitos humanos.
vários níveis, e que visem atingir os objetivos,
de forma a levar em consideração as opiniões 2. Respeito das culturas: reconhecendo e
tanto dos homens como das mulheres. Todas respeitando as diferentes formas de organização,
as partes devem contribuir e participar nesses conhecimentos e práticas tradicionais e locais das
processos, conforme apropriado e pertinente. comunidades de pescadores de pequena escala,
incluindo os povos indígenas e as minorias étnicas,
2.5 Estas Diretrizes deveriam ser interpretadas encorajando a liderança das mulheres, e tomando
e aplicadas de acordo com os sistemas em consideração o artigo 5 da Convenção sobre a
jurídicos nacionais e suas instituições. Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher (CEDAW).
3. Princípios orientadores 3. Não-discriminação: promover na pesca de
3.1 Estas Diretrizes são baseadas nas normas pequena escala a eliminação de todas as formas
internacionais em matéria de direitos humanos, de discriminação nas políticas e na prática.
nas normas e práticas sobre pesca responsável
e no desenvolvimento sustentável, tal como 4. A equidade e a igualdade de gênero:
estabelecido no documento final da Conferência é fundamental para todos os tipos de
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento desenvolvimento. Em reconhecimento do papel
Sustentável (Rio+20), intitulado “O Futuro que crucial desempenhado pelas mulheres na pesca
Queremos”, o Código e outros instrumentos de pequena escala, deveria ser promovida a
relevantes, e prestando especial atenção igualdade de direitos e de oportunidades.
aos grupos marginalizados e vulneráveis e à
necessidade de apoiar a realização progressiva 5. Equidade e igualdade: promovendo a justiça e
do direito à alimentação adequada. o tratamento justo, na lei e na prática, de todas
as pessoas e povos, incluindo a igualdade de
1. Direitos humanos e dignidade humana: em direitos no gozo de todos os direitos humanos.
reconhecimento da dignidade intrínseca e Ao mesmo tempo, deveriam ser reconhecidas as
dos direitos humanos iguais e inalienáveis de diferenças entre homens e mulheres e deveriam
todos os indivíduos, todas as partes deveriam ser adotadas medidas específicas com vista
reconhecer, respeitar, promover e proteger a acelerar a igualdade de fato, por exemplo,
2
através de um tratamento preferencial, da pesca como um princípio orientador
quando necessário, a fim de obter resultados importante, abarcando aspectos da globalidade
equitativos, particularmente para os grupos e sustentabilidade de todas as partes dos
vulneráveis e marginalizados. ecossistemas, bem como dos meios de
subsistência das comunidades de pescadores
6. Consulta e participação: garantir a de pequena escala, e assegurar a coordenação
participação ativa, livre, eficaz, significativa e intersetorial, dado que a pesca de pequena
informada das comunidades de pescadores de escala está intimamente ligada a muitos outros
pequena escala, incluindo a participação dos setores dos quais depende.
povos indígenas, e levando em consideração a
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos 12. Responsabilidade social: promover a
dos Povos Indígenas, em todo o processo de solidariedade comunitária e a responsabilidade
tomada de decisões relativas aos recursos coletiva e empresarial e fomentar um ambiente
pesqueiros e as áreas em que opera a pesca de propício à colaboração entre as partes
pequena escala, bem como as terras adjacentes, interessadas.
e tendo em conta os desequilíbrios de poder
existente entre as diferentes partes. Isto 13. Viabilidade e exequibilidade
deve incluir informação e apoio daqueles que socioeconômica: assegurar que as políticas,
poderiam ser afetados pelas decisões, antes da estratégias, planos e medidas para melhorar
sua adoção, e resposta às suas contribuições. o desenvolvimento e governança da pesca de
pequena escala sejam sólidas e racionais do
7. Estado de Direito: adotar uma abordagem ponto de vista socioeconômico. Estas políticas,
baseada nos direitos para a pesca de pequena estratégias, planos e medidas devem ser
escala através de leis que sejam amplamente baseadas nas condições existentes, aplicáveis
divulgados nas línguas apropriadas, aplicáveis e adaptáveis a novas circunstâncias e devem
a todos por igual através de um poder judicial apoiar a resiliência das comunidades.
independente, e compatíveis com as obrigações
existentes ao abrigo da legislação nacional e
internacional, e tendo em conta os compromissos 4. Relação com outros instrumentos
voluntários assumidos no âmbito dos internacionais
instrumentos regionais e internacionais aplicáveis. 4.1 Estas Diretrizes deveriam ser interpretadas
e aplicadas em conformidade com os direitos e
8. Transparência: definição clara e ampla obrigações existentes ao abrigo da legislação
divulgação das políticas, leis e procedimentos nacional e internacional, e tendo em conta os
nas línguas apropriadas, e ampla divulgação das compromissos voluntários assumidos no âmbito
decisões relevantes nas línguas apropriadas e dos instrumentos regionais e internacionais
em formatos acessíveis para todos. aplicáveis. As Diretrizes complementam e
apoiam as iniciativas nacionais, regionais e
9. Prestação de contas: responsabilizar os internacionais relacionados com os direitos
indivíduos, os organismos públicos e os atores humanos, pesca responsável e desenvolvimento
não-estatais pelas suas ações e decisões, em sustentável. As Diretrizes foram desenvolvidas
conformidade com os princípios do Estado de para complementar o Código e promovem uma
Direito. pesca responsável e a utilização sustentável dos
recursos em conformidade com esse instrumento.
10. Sustentabilidade econômica, social e
ambiental: aplicação de uma abordagem de 4.2 Nenhuma das disposições destas
precaução e de gestão de riscos para impedir Diretrizes deve ser interpretada como
resultados indesejáveis, incluindo a sobre- limitadora ou prejudicial para os direitos e
exploração dos recursos pesqueiros e impactos obrigações a que um Estado possa estar sujeito
ambientais, sociais e econômicos negativos. em virtude do direito internacional. Estas
Diretrizes podem ser usadas para orientar
11. Abordagens abrangentes e integradas: alterações e inspirar disposições legislativas e
reconhecer a abordagem ecossistêmica regulamentares novas ou complementares.
3
4
Parte 2
Pesca responsável e
desenvolvimento sustentável

5. Governança da posse na pesca relativamente aos recursos pesqueiros


de pequena escala e gestão dos (marinhos e de águas interiores), às áreas
recursos de pesca de pequena escala e às terras
adjacentes, prestando especial atenção aos
5.1 Estas Diretrizes reconhecem a necessidade direitos de posse das mulheres.
da utilização responsável e sustentável dos
recursos naturais e da biodiversidade aquática, 5.4 Os Estados, de acordo com a sua legislação
a fim de satisfazer as necessidades ambientais e todas as outras partes, deveriam reconhecer,
e de desenvolvimento das gerações presentes respeitar e proteger todas as formas de direitos
e futuras. As comunidades de pescadores de legítimos de posse, levando em consideração,
pequena escala necessitam de direitos de posse2 quando apropriado, os direitos consuetudinários
seguros sobre os recursos que constituem a à terra, aos recursos aquáticos e às zonas de
base do seu bem-estar social e cultural, dos seus pesca de pequena escala desfrutados pelas
meios de subsistência e do seu desenvolvimento comunidades de pescadores de pequena
sustentável. As Diretrizes promovem a escala. Quando necessário, a fim de proteger
distribuição equitativa dos benefícios as diferentes formas de direitos legítimos de
resultantes da gestão responsável da pesca posse, os Estados deveriam tomar medidas
e dos ecossistemas em prol dos pescadores apropriadas para identificar, registrar e
e trabalhadores da pesca de pequena escala, respeitar os titulares de direitos legítimos de
tanto homens como mulheres. posse e os seus direitos. As normas e práticas
locais, bem como o acesso consuetudinário
ou de outra forma preferencial aos recursos
5a. Governança responsável da posse pesqueiros e à terra por parte das comunidades
5.2 Todas as partes deveriam reconhecer de pescadores de pequena escala, incluindo
que a governança responsável da posse os grupos indígenas e as minorias étnicas,
da terra, dos recursos pesqueiros e dos deveriam ser reconhecidas, respeitadas
recursos florestais aplicável no contexto da e protegidas de maneira consistente com
pesca de pequena escala é essencial para a a legislação internacional em matéria de
realização dos direitos humanos, a segurança direitos humanos. Deveriam ser levadas
alimentar, a erradicação da pobreza, os meios em consideração, conforme apropriado a
de subsistência sustentáveis, a estabilidade Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos
social, a segurança de habitação, o crescimento dos Povos Indígenas, e a Declaração das
econômico, e o desenvolvimento rural e social. Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas
Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas,
5.3 Os Estados, de acordo com a sua Religiosas e Linguísticas. Quando as reformas
legislação, deveriam assegurar que os constitucionais ou jurídicas reforcem os direitos
pescadores e trabalhadores da pesca de das mulheres colocando-as em situação de
pequena escala e suas comunidades desfrutem conflito com o costume, todas as partes devem
de direitos de posse seguros e equitativos e cooperar para incorporar tais alterações nos
adequados do ponto de vista social e cultural sistemas consuetudinários de posse.

2. O termo “direitos de posse” é utilizado de acordo com o conteúdo das Diretrizes Voluntárias sobre a Governança
Responsável da Posse da Terra, dos Recursos Pesqueiros e dos Recursos Florestais no Contexto da Segurança Alimentar
Nacional.
5
5.5 Os Estados deveriam reconhecer o papel a parte mais fraca nos conflitos com outros
das comunidades de pescadores de pequena setores e podem necessitar de apoio especial,
escala e dos povos indígenas em matéria de se os seus meios de subsistência forem
restauração, preservação, proteção e gestão ameaçados pelo desenvolvimento e por
conjunta dos ecossistemas aquáticos e costeiros atividades de outros setores.
locais.
5.10 Os Estados e outras partes, antes de
5.6 Quando a água (incluindo os recursos implementarem projetos de desenvolvimento
pesqueiros) e terra sejam de propriedade ou em grande escala que podem afetar as
controladas pelos Estados, estes deveriam comunidades de pescadores de pequena escala,
determinar os direitos de uso e de posse deveriam considerar os impactos sociais,
desses recursos, levando em consideração, econômicos e ambientais através de estudos de
nomeadamente, os objetivos sociais, impacto, e deveriam realizar consultas efetivas
econômicos e ambientais. Os Estados devem, e significativas com essas comunidades, em
conforme apropriado, reconhecer e proteger os conformidade com a legislação nacional.
recursos públicos utilizados e geridos de forma
5.11 Os Estados, através de órgãos judiciais
coletiva, em particular pelas comunidades de
e administrativos imparciais e competentes,
pescadores depequena escala.
deveriam fornecer acesso às comunidades e
5.7 Tendo em devida consideração o artigo 6.18 indivíduos que se dedicam à pesca de pequena
do Código, os Estados deveriam garantir, quando escala, incluindo as pessoas vulneráveis e
apropriado, acesso preferencial aos pescadores de marginalizadas, a meios atempados, acessíveis
pequena escala a pescar nas águas sob jurisdição e eficazes de resolução de litígios sobre direitos
nacional, com vista à obtenção de resultados de posse, em conformidade com a legislação
equitativos para os diferentes grupos da nacional, incluindo meios alternativos de
população, em particular os grupos vulneráveis. resolução desses litígios, e devem fornecer
Quando apropriado, deveriam ser consideradas soluções eficazes que, consoante os casos,
medidas específicas, nomeadamente a criação e podem incluir o direito a recurso. Tais
o respeito das zonas exclusivas para a pesca de soluções devem ser prontamente aplicadas
pequena escala. Deveria ser prestada a devida em conformidade com a legislação nacional
atenção à pesca de pequena escala antes da e podem incluir restituição, indenização,
celebração de acordos sobre o acesso a recursos compensação e reparação.
com outros países ou partes.
5.12 Os Estados deveriam envidar esforços
5.8 Os Estados deveriam adotar medidas para restabelecer o acesso das comunidades de
para facilitar o acesso equitativo aos recursos pescadores de pequena escala às terras costeiras
pesqueiros pelas comunidades de pescadores e áreas de pesca tradicionais, das quais tenham
de pequena escala, incluindo, se apropriado, sido deslocadas por causa de desastres naturais
uma reforma redistributiva, tendo em conta as e/ou conflitos armados, tendo em consideração
disposições das Diretrizes Voluntárias sobre a a sustentabilidade dos recursos pesqueiros. Os
Governança Responsável da Posse da Terra, dos Estados deveriam estabelecer mecanismos de
Recursos Pesqueiros e dos Recursos Florestais apoio às comunidades de pescadores afetadas
no contexto da segurança alimentar nacional. por graves violações dos direitos humanos, para
que estas possam reconstruir as suas vidas e
5.9 Os Estados deveriam assegurar que as
os seus meios de subsistência. Essas medidas
comunidades de pescadores de pequena
devem incluir a eliminação de todas as formas
escala não sejam arbitrariamente expulsas e
de discriminação das mulheres nas práticas de
que os seus direitos legítimos de posse não
posse em caso de desastres naturais e/ou de
sejam de outra forma retirados ou violados.
conflitos armados.
Os Estados deveriam reconhecer a crescente
concorrência de outros utilizadores no interior
das zonas de pesca de pequena escala, e que 5b. Gestão sustentável dos recursos
as comunidades de pescadores em pequena
escala, em particular os grupos vulneráveis e 5.13 Os Estados e todos os intervenientes na
marginalizados, constituem frequentemente gestão das pescas deveriam adotar medidas
para a conservação a longo prazo e uso
6
sustentável dos recursos pesqueiros e para de monitoramento e implementação para
garantir a base ecológica para a produção prevenir, impedir e eliminar todas as formas
de alimentos. Deveriam ser promovidos de práticas de pesca ilegais e/ou destrutivas
e implementados sistemas de gestão que tenham um efeito negativo sobre os
apropriados, em conformidade com as suas ecossistemas marinhos e de águas interiores.
obrigações ao abrigo da legislação nacional Os Estados deveriam envidar esforços para
e internacional e com os compromissos melhorar o registro das atividades pesqueiras.
voluntários assumidos, incluindo o Código, que Os pescadores de pequena escala deveriam
reconhecem devidamente as necessidades e apoiar os sistemas de monitoramento, controle
oportunidades da pesca de pequena escala. e vigilância e fornecer às autoridades nacionais
de pesca as informações necessárias para a
5.14 Todas as partes deveriam reconhecer que
gestão da atividade.
os direitos e as obrigações estão unidos e que
os direitos de posse são contrabalançados por 5.17 Os Estados deveriam assegurar que os
deveres, e apoiam a consecução a longo prazo papéis e responsabilidades no âmbito dos
e a utilização sustentável das pescarias e a acordos de gestão conjunta com as partes
manutenção da base ecológica para a produção pertinentes e interessadas são esclarecidos e
de alimentos. Na pesca de pequena escala acordados através de um processo participativo
deveriam ser utilizadas práticas pesqueiras e com apoio jurídico. Todas as partes têm a
que reduzam ao mínimo os danos para o meio responsabilidade de assumir as funções de
aquático e espécies associadas e que promovam gestão acordadas. Deveriam ser envidados
a sustentabilidade dos recursos. todos os esforços possíveis para que as
comunidades de pescadores de pequena
5.15 Os Estados deveriam facilitar, capacitar
escala sejam representadas nos organismos de
e apoiar as comunidades de pescadores de
pesca e associações profissionais relevantes
pequena escala para participarem e assumirem
a nível nacional e local e para que participem
responsabilidades, tendo em conta os seus
ativamente nos processos pertinentes de
sistemas e direitos legítimos de posse, na
desenvolvimento de políticas pesqueiras e de
gestão dos recursos dos quais dependem
tomada de decisões.
para o seu bem-estar e que constituem
tradicionalmente os seus meios de subsistência. 5.18 Os Estados e os atores da pesca de pequena
Consequentemente, os Estados devem escala deveriam encorajar e apoiar o papel e a
envolver as comunidades de pescadores de participação de homens e mulheres envolvidos
pequena escala, com especial atenção para nas atividades de captura, bem como nas
a participação equitativa das mulheres e atividades anteriores e posteriores, no contexto
dos grupos marginalizados e vulneráveis, da gestão conjunta e da promoção de uma
na concepção, planeamento e, conforme pesca responsável, a fornecer os seus próprios
apropriado, implementação das medidas de conhecimentos e perspetivas e a expor as suas
gestão, inclusive em áreas protegidas, que têm necessidades. Todas as partes deveriam prestar
impacto sobre os seus meios de subsistência. especial atenção à necessidade de garantir a
Deveriam ser promovidos sistemas de gestão participação equitativa das mulheres, adotando
participativa, tais como a gestão conjunta, em medidas especiais para alcançar esse objetivo.
conformidade com a legislação nacional.
5.19 Caso existam problemas transfronteiriços
5.16 Os Estados deveriam assegurar ou similares, tais como a partilha de águas e
o estabelecimento de sistemas de dos recursos pesqueiros, os Estados deveriam
monitoramento, controle e vigilância ou colaborar a fim de garantir que os direitos
promover a aplicação dos já existentes que de posse das comunidades de pescadores de
sejam aplicáveis e adequados para a pesca de pequena escala sejam protegidos.
pequena escala. Eles deveriam prestar apoio
5.20 Os Estados deveriam evitar adotar
a esses sistemas, envolvendo os atores da
políticas e medidas financeiras que possam
pesca de pequena escala, como apropriado, e
contribuir para a sobrecapacidade de pesca e,
promovendo acordos participativos no contexto
consequentemente, a uma sobre-exploração
da gestão conjunta. Os Estados deveriam
dos recursos com efeitos nefastos para a pesca
assegurar a existência de mecanismos eficazes
de pequena escala.
7
6. Desenvolvimento social, ampla gama de atividades ao longo da cadeia
emprego e trabalho digno produtiva da pesca de pequena escala, tanto
antes como depois da captura, em meio aquático
6.1 Todas as partes deveriam considerar ou terrestre, realizada por homens ou mulheres.
abordagens integradas, ecossistêmicas e Todas as atividades deveriam ser levadas
abrangentes para a gestão e desenvolvimento em consideração: a tempo parcial, de caráter
da pesca de pequena escala, que tenham em ocasional e/ou de subsistência. Deveriam ser
consideração a complexidade dos meios de promovidas oportunidades de desenvolvimento
subsistência. Poderá ser necessário prestar a organizacional e profissional, especialmente
devida atenção ao desenvolvimento social e para os grupos mais vulneráveis de mulheres e
econômico para garantir que as comunidades de de trabalhadores em atividades posteriores à
pescadores de pequena escala sejam capacitadas captura de pesca de pequena escala.
a fim de desfrutar dos seus direitos humanos.
6.6 Os Estados deveriam promover o trabalho
6.2 Os Estados deveriam promover o digno para todos os trabalhadores da pesca
investimento na formação de recursos de pequena escala, tanto no setor formal
humanos em áreas como a saúde, a educação, como no informal. Os Estados deveriam criar
a alfabetização, a inclusão digital e outros as condições adequadas para assegurar que
conhecimentos de caráter técnico que são levadas em consideração as atividades
criam valor agregado no que diz respeito pesqueiras dos setores formal e informal, a
aos recursos pesqueiros, bem como um fim de garantir a sustentabilidade da pesca
aumento da sensibilização. Os Estados de pequena escala, em conformidade com a
deveriam tomar medidas com vista a garantir legislação nacional.
progressivamente que os membros das
comunidades de pescadores de pequena escala 6.7 Os Estados deveriam tomar medidas com
beneficiem a preços acessíveis destes e outros vista à realização progressiva dos direitos
serviços básicos através de ações nacionais e dos pescadores e trabalhadores da pesca de
subnacionais, incluindo, habitação adequada, pequena escala a um nível de vida e de trabalho
saneamento básico seguro e higiênico, água adequados, em conformidade com as normas
potável segura para uso pessoal e doméstico nacionais e internacionais de direitos humanos.
e fontes de energia. Deveria aceitar-se Os Estados deveriam criar um ambiente
e promover-se, sempre que necessário propício para o desenvolvimento sustentável
para assegurar benefícios equitativos, um das comunidades de pescadores de pequena
tratamento preferencial das mulheres, dos escala. Os Estados deveriam implementar
povos indígenas e dos grupos vulneráveis políticas econômicas sólidas, inclusivas, não-
e marginalizados, na prestação de serviços discriminatórias para a utilização das zonas
e na implementação do princípio da não- marinhas, de água doce e terrestres, a fim de
discriminação e de outros direitos humanos. permitir que as comunidades de pescadores
de pequena escala e outros produtores,
6.3 Os Estados deveriam promover a particularmente as mulheres, obtenham uma
segurança social dos trabalhadores da pesca de remuneração justa pelo seu trabalho, capital
pequena escala, considerando as características e gestão, e para estimular a conservação e a
da pesca de pequena escala e aplicando gestão sustentável dos recursos naturais.
sistemas de proteção a toda a cadeia produtiva.
6.8 Os Estados e outras partes interessadas
6.4 Os Estados deveriam apoiar o deveriam apoiar as novas ou já existentes
desenvolvimento e o acesso a outros serviços oportunidades complementares e alternativas
que são apropriados para as comunidades de de geração de rendimento, em acréscimo
pescadores de pequena escala, por exemplo, aos rendimentos provenientes de atividades
relativamente a planos de poupança, crédito relacionadas com a pesca para as comunidades
e seguros, com especial ênfase na garantia do de pescadores em pequena escala, conforme
acesso das mulheres a esses serviços. necessário, em apoio à utilização sustentável
6.5 Os Estados deveriam reconhecer como dos recursos e à diversificação dos meios de
atividades econômicas e profissionais toda a subsistência. Deve ser promovido e explorado

8
o papel da pesca de pequena escala nas transfronteiriças que afetam a sustentabilidade
economias locais, bem como as ligações do da pesca de pequena escala.
subsetor à economia em geral. As comunidades
6.12 Os Estados deveriam enfrentar as questões
de pescadores de pequena escala deveriam
relacionadas com as condições de saúde no
beneficiar equitativamente de atividades
trabalho e outras condições laborais injustas
como o turismo comunitário e a aquicultura de
para todos os pescadores e trabalhadores
pequena escala responsável.
da pesca de pequena escala, assegurando
6.9 Todas as partes deveriam criar as condições que a legislação necessária é executada e
necessárias para que os homens e mulheres implementada em conformidade com as
das comunidades de pescadores de pequena normas internacionais em matéria de direitos
escala possam pescar e realizar as atividades humanos, e com os instrumentos internacionais
relacionadas com a pesca num ambiente livre de que o Estado seja parte contratante, tal
de criminalidade, violência, crime organizado, como o Pacto Internacional sobre os Direitos
pirataria, roubo, abuso sexual, corrupção e Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) e
abuso de poder. Todas as partes deveriam tomar as convenções pertinentes da Organização
medidas destinadas a eliminar a violência e Internacional do Trabalho (OIT). Todas as partes
proteger as mulheres expostas à violência nessas deveriam envidar esforços para garantir que
comunidades. Os Estados devem garantir o a segurança e a saúde no trabalho sejam uma
acesso à justiça nomeadamente para as vítimas parte integrante da gestão pesqueira e das
de violência e abuso, inclusive no interior do lar iniciativas de desenvolvimento do setor.
ou da comunidade.
6.13 Os Estados deveriam erradicar o trabalho
6.10 Os Estados e os atores da pesca de forçado, impedir a servidão por dívidas de
pequena escala, incluindo as autoridades mulheres, homens e crianças, e tomar medidas
tradicionais e consuetudinárias, deveriam eficazes para proteger os pescadores e
compreender, reconhecer e respeitar o papel trabalhadores da pesca, incluindo os migrantes,
dos pescadores e trabalhadores migrantes da a fim de eliminar totalmente o trabalho forçado
pesca de pequena escala, dado que a migração no setor pesqueiro, em particular na pesca de
é uma estratégia de subsistência habitual na pequena escala.
pesca de pequena escala. Os Estados e os
6.14 Os Estados deveriam proporcionar
atores da pesca de pequena escala deveriam
e facilitar o acesso a escolas e centros
cooperar a fim de criar o enquadramento
educativos que respondam às necessidades
adequado para permitir a integração justa
das comunidades de pescadores de pequena
e adequada dos migrantes que exploram os
escala e que promovam um emprego digno
recursos pesqueiros de forma sustentável e
e remunerado para os jovens, respeitando
que não prejudicam a governança da pesca
as suas opções profissionais e oferecendo
das comunidades locais, e que desenvolvem
oportunidades iguais a todas as crianças e
a pesca de pequena escala em conformidade
jovens de ambos os sexos.
com a legislação nacional. Os Estados deveriam
reconhecer a importância da coordenação entre 6.15 Os atores da pesca de pequena escala
os respetivos governos nacionais relativamente deveriam reconhecer a importância do bem-
à migração de pescadores e trabalhadores da estar e educação das crianças, para o seu
pesca de pequena escala que atravessam as próprio futuro mas também da sociedade
fronteiras nacionais. As políticas e medidas em geral. As crianças devem ir à escola, ser
de gestão deveriam ser determinadas em protegidas de abusos, e todos os seus direitos
consulta com as organizações e instituições devem ser respeitados em conformidade com a
representativas da pesca de pequena escala. Convenção sobre os Direitos da Criança.
6.11 Os Estados deveriam reconhecer 6.16 Todas as partes deveriam reconhecer
e enfrentar as causas subjacentes e a complexidade em torno das questões de
as consequências dos movimentos segurança no mar (na pesca marinha e em águas
transfronteiriços de pescadores e contribuir interiores), e as múltiplas causas de segurança
para o entendimento das questões insuficiente. Isto aplica-se a todas as atividades

9
de pesca. Os Estados deveriam assegurar o do direito internacional humanitário, para a
desenvolvimento, adoção e implementação de manutenção dos seus meios de subsistência
leis e regulamentos nacionais apropriados que tradicionais, para o acesso a zonas de pesca
estejam em conformidade com as orientações consuetudinárias e para preservar a sua cultura
internacionais da FAO, da OIT e da Organização e modo de vida. Deveria ser facilitada a sua
Marítima Internacional (OMI) em matéria de participação efetiva na tomada de decisões
segurança na pesca e no mar para a pesca de sobre os assuntos suscetíveis de os afetar.
pequena escala3.
6.17 Os Estados deveriam reconhecer que 7. Cadeias Produtivas, atividades
a maior segurança no mar para a pesca pós-captura e comércio
de pequena escala (marinha e em águas
7.1 Todas as partes devem reconhecer o
interiores), incluindo a segurança e saúde
papel central que o subsetor das atividades
no trabalho, será mais facilmente alcançável
posteriores à captura da pesca de pequena
através do desenvolvimento e implementação
escala, e seus atores, desempenham na
de estratégias nacionais coerentes e integradas,
cadeia produtiva. Todas as partes deveriam
com a participação ativa dos próprios
garantir que os atores envolvidos nas
pescadores e com elementos de coordenação
atividades posteriores à captura formam parte
regional, conforme apropriado. Além disso,
relevante no processo de tomada de decisões,
a questão da segurança no mar para os
reconhecendo que por vezes existem relações
pescadores de pequena escala também deveria
de poder desiguais entre os intervenientes na
ser integrada na gestão geral das pescarias.
cadeia produtiva e que os grupos vulneráveis
Os Estados deveriam prestar assistência,
e marginalizados podem necessitar de apoio
nomeadamente, na apresentação de relatórios
especial.
nacionais de acidentes, no desenvolvimento de
programas de sensibilização sobre a segurança 7.2 Todas as partes deveriam reconhecer
no mar e na elaboração de legislação adequada o papel que as mulheres frequentemente
para a segurança no mar para a pesca de desempenham no subsetor das atividades
pequena escala. Deveria ser reconhecido neste posteriores à captura e deveriam promover
processo o papel das instituições e estruturas melhorias para facilitar a participação das
comunitárias existentes para melhorar o mulheres nesse trabalho. Os Estados deveriam
cumprimento das normas, a recolha de dados, assegurar que, conforme necessário, sejam
a formação e a sensibilização, bem como as disponibilizadas instalações adequadas para
operações de busca e salvamento. Os Estados as mulheres, para que elas possam manter
devem promover o acesso aos sistemas de e melhorar seus meios de subsistência no
informação e de localização de emergência para subsetor das atividades posteriores à captura.
salvamento no mar de embarcações de pesca
7.3 Os Estados deveriam promover, facilitar
de pequena escala.
e permitir investimentos em infraestruturas
6.18 Tendo em consideração as Diretrizes adequadas, estruturas organizacionais
Voluntárias sobre a Governança Responsável e atividades de capacitação, estruturas
da Posse da Terra, dos Recursos Pesqueiros organizacionais e atividades de capacitação
e dos Recursos Florestais no Contexto da para apoiar o subsetor das atividades
Segurança Alimentar Nacional, em particular posteriores à captura do pescado de pequena
a Secção 254, todas as partes deveriam escala a produzir peixe e produtos da pesca
proteger os direitos humanos e a dignidade inócuos e de boa qualidade, para o mercado
dos interessados na pesca de pequena escala doméstico e para exportação, de forma
em situações de conflito armado nos termos responsável e sustentável.

3. Incluindo, nomeadamente, o Código de Segurança para Pescadores e Embarcações de Pesca de 1968 (revisto
posteriormente), as Diretrizes Voluntárias da FAO, OIT e OMI para a Concepção, Construção e Equipamento de Pequenas
Embarcações Pesqueiras de 1980, e as Recomendações de Segurança para as Embarcações Pesqueiras sem Convés ou com
Convés Inferior a 12 metros de 2010.
4. A secção 25 é intitulada “Conflitos relacionados com a posse da terra, dos recursos pesqueiros e dos recursos florestais”.

10
7.4 Os Estados e os parceiros de necessidades nutricionais das populações para
desenvolvimento deveriam reconhecer as quais o peixe é um elemento essencial para
as formas tradicionais de associação de uma dieta nutritiva, para a sua saúde e bem-
pescadores e trabalhadores da pesca e estar e que não podem facilmente obter ou
promover o seu adequado desenvolvimento pagar fontes de alimentos equivalentes.
organizacional e das suas capacidades em todas
7.8 Os Estados, os atores da pesca de
as fases da cadeia produtiva, a fim de melhorar
pequena escala e outros intervenientes na
os seus rendimentos e meios de subsistência,
cadeia produtiva deveriam reconhecer que os
em conformidade com as leis nacionais.
benefícios do comércio internacional devem
Consequentemente, deveria ser prestado
ser distribuídos de forma justa. Os Estados
apoio ao estabelecimento e desenvolvimento
deveriam assegurar a implementação de
de cooperativas, organizações profissionais
sistemas eficazes de gestão pesqueira para
do setor da pesca em pequena escala e
evitar a sobre-exploração induzida pela
outras estruturas organizacionais, bem como
procura do mercado que pode ameaçar a
mecanismos de comercialização, tais como
sustentabilidade dos recursos da pesca, a
leilões, conforme apropriado.
segurança alimentar e a nutrição. Tais sistemas
7.5 Todas as partes deveriam evitar perdas de gestão pesqueira deveriam incluir práticas,
e desperdício nas atividades posteriores políticas e ações para as atividades posteriores
à captura e deveriam procurar formas de à captura, de forma a permitir a criação de
criar valor agregado, utilizando também as receitas de exportação que beneficiem de forma
tecnologias tradicionais e locais existentes equitativa os pescadores de pequena escala e
que são rentáveis, as inovações locais e outros atores ao longo da cadeia produtiva.
a transferência de tecnologia apropriada
7.9 Os Estados deveriam adotar políticas
do ponto de vista cultural. Deveriam ser
e procedimentos, incluindo avaliações
promovidas práticas ambientalmente
ambientais, sociais e outras relevantes,
sustentáveis no contexto de uma abordagem
para garantir que os efeitos negativos do
ecossistêmica, desencorajando, por exemplo,
comércio internacional sobre o meio ambiente,
o desperdício de insumos (como água, lenha,
cultura, meios de subsistência e necessidades
etc.) no manuseio e processamento do peixe na
especiais para a segurança alimentar dos
pesca de pequena escala.
pescadores de pequena escala são enfrentados
7.6 Os Estados deveriam devem facilitar o de forma justa. As consultas com as partes
acesso aos mercados locais, nacionais, regionais interessadas deveriam constituir parte desses
e internacionais e promover o comércio procedimentos e políticas.
equitativo e não-discriminatório dos produtos
7.10 Os Estados deveriam facultar o acesso a
da pesca de pequena escala. Os Estados
todas as informações comerciais e de mercado
deveriam colaborar para criar regulamentos
relevantes aos interessados na cadeia produtiva
e procedimentos comerciais que apoiem, em
da pesca de pequena escala. Os interessados
particular, o comércio regional de produtos
na pesca de pequena escala devem ter acesso
da pesca em pequena escala, e que tenham
oportuno a informações de mercado precisas
em conta os acordos celebrados no âmbito da
para ajudá-los na no ajustamento às mudanças
Organização Mundial do Comércio (OMC), bem
das condições de mercado. Também é
como os direitos e as obrigações dos membros
necessário o desenvolvimento das capacidades
da OMC, conforme apropriado.
de todos os intervenientes na pesca de
7.7 Os Estados deveriam ter em devida conta pequena escala, em particular das mulheres
os efeitos do comércio internacional de peixe e e dos grupos vulneráveis e marginalizados,
de produtos da pesca e da integração vertical para que eles possam adaptar-se e beneficiar
dos pescadores e trabalhadores da pesca de forma equitativa das oportunidades das
de pequena escala e suas comunidades. Os tendências comerciais globais e situações locais,
Estados deveriam assegurar que a promoção do minimizando os potenciais efeitos negativos.
comércio internacional de peixe e da produção
para exportação não afetam negativamente as

11
8. Igualdade de gênero 8.4 Todas as partes deveriam encorajar o
desenvolvimento de tecnologias relevantes e
8.1 Todas as partes deveriam reconhecer adequadas para o trabalho das mulheres da
que a consecução da igualdade de gênero pesca de pequena escala.
exige esforços concertados de todos e que a
incorporação das questões de gênero deve ser
parte integrante de todas as estratégias de
9. Risco de desastres e alterações
climáticas
desenvolvimento da pesca de pequena escala.
Estas estratégias para alcançar a igualdade 9.1 Os Estados deveriam reconhecer que a luta
de gênero exigem diferentes abordagens em contra as alterações climáticas, em particular
diferentes contextos culturais e devem desafiar no contexto da sustentabilidade da pesca de
as práticas discriminatórias contra as mulheres. pequena escala, exige medidas urgentes e
8.2 Os Estados deveriam cumprir as suas ambiciosas, em conformidade com os objetivos,
obrigações ao abrigo da legislação internacional princípios e disposições da Convenção-Quadro
em matéria de direitos humanos e aplicar das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
os instrumentos relevantes dos quais sejam (UNFCCC), e tendo em conta o documento
partes, incluindo, em particular, a CEDAW, e final da Conferência das Nações Unidas sobre
deveriam ter em consideração a Declaração Desenvolvimento Sustentável (Rio+20),
e Plataforma de Ação de Pequim. Os Estados intitulado “O Futuro que Queremos”.
deveriam envidar esforços para assegurar 9.2 Todas as partes deveriam reconhecer
a igualdade de participação das mulheres e ter em conta os diferentes impactos dos
nos processos de tomada de decisões em desastres naturais e provocados pelo homem e
matéria de políticas sobre a pesca de pequena das alterações climáticas na pesca de pequena
escala. Os Estados deveriam adotar medidas escala. Os Estados deveriam desenvolver
específicas para enfrentar a discriminação políticas e planos para enfrentar as alterações
contra as mulheres, e ao mesmo tempo criar climáticas, particularmente estratégias de
espaços para as OSC, especialmente para as adaptação e mitigação, conforme aplicável,
organizações de trabalhadoras da pesca, a e também para aumentar a resiliência,
fim de participarem no monitoramento da consultando de forma plena e efetiva às
sua implementação. As mulheres deveriam comunidades de pescadores, incluindo os povos
ser encorajadas a participar em organizações indígenas, homens e mulheres, e prestando
de pesca, e deveria ser prestado apoio ao especial atenção aos grupos vulneráveis e
desenvolvimento de organizações relevantes. marginalizados. Deveria ser prestado apoio
8.3 Os Estados deveriam estabelecer políticas especial as comunidades de pescadores de
e legislação para alcançar a igualdade de gênero pequena escala que vivem em pequenas
e, se apropriado, adaptar a legislação, políticas ilhas onde as alterações climáticas podem ter
e medidas que não são compatíveis com a particulares implicações sobre a segurança
igualdade de gênero, tendo em conta os aspetos alimentar, nutrição, habitação e meios de
sociais, econômicos e culturais. Os Estados subsistência.
deveriam estar na vanguarda da implementação 9.3 Todas as partes deveriam reconhecer a
de medidas para atingir a igualdade de gênero, necessidade de adotar abordagens integradas
nomeadamente, contratando homens e mulheres e abrangentes, incluindo colaboração
como pessoal de extensão e garantindo que intersetorial, a fim de lidar com os riscos de
homens e mulheres têm igualdade de acesso aos desastre e as alterações climáticas na pesca
serviços técnicos de extensão relacionados com de pequena escala. Os Estados e outras
a pesca, incluindo apoio jurídico. Todas as partes partes relevantes deveriam tomar medidas
deveriam colaborar a fim de criar sistemas de para enfrentar problemas como a poluição,
avaliação funcionais para avaliar o impacto a erosão costeira e a destruição dos habitats
de legislações, políticas e medidas com vista a costeiros devido a fatores provocados pelo
melhorar a condição das mulheres e alcançar a homem não relacionados com a pesca. Estes
igualdade de gênero. problemas prejudicam gravemente os meios de

12
subsistência das comunidades de pescadores posteriores à captura, a comercialização e a
e a sua capacidade de adaptação aos efeitos distribuição.
potenciais das alterações climáticas.
9.9 Os Estados deveriam considerar a
9.4 Os Estados devem considerar a prestação possibilidade de disponibilizar às comunidades
de assistência e apoio a comunidades de de pescadores de pequena escala o acesso
pescadores de pequena escala afetadas pelas a fundos de adaptação e a instalações e/
alterações climáticas ou desastres naturais ou ou tecnologias de adaptação às alterações
provocados pelo homem, inclusive através de climáticas apropriadas do ponto de vista
planos de adaptação, mitigação e assistência, cultural, conforme apropriado.
quando apropriado.
9.5 Em caso de desastres causados pelo
homem que afetam a pesca de pequena escala,
o responsável deveria prestar contas.
9.6 Todas as partes devem ter em conta o
impacto que as alterações climáticas e os
desastres podem ter no subsetor das atividades
posteriores à captura e nas atividades
comerciais, provocando mudanças nas espécies,
na quantidade e qualidade de peixe e seu
período de conservação, e alterações em
termos de mercados-alvo. Os Estados deveriam
prestar apoio às partes interessadas na pesca
de pequena escala relativamente às medidas de
ajustamento para reduzir os efeitos negativos.
Quando sejam introduzidas novas tecnologias,
estas têm de ser flexíveis e adaptáveis a
futuras mudanças das espécies, dos produtos e
mercados, bem como à variabilidade climática.
9.7 Os Estados deveriam entender como
estão relacionadas a resposta de emergência
e a preparação para desastres no âmbito da
pesca de pequena escala e aplicar o conceito
de socorro e desenvolvimento contínuos.
Devem ser considerados os objetivos de
desenvolvimento a longo prazo em toda a
sequência da situação de emergência, incluindo
a fase de socorro imediato, e nas fases de
reabilitação, reconstrução e recuperação
devem ser incluídas medidas que reduzam a
vulnerabilidade a possíveis ameaças futuras.
O conceito de “reconstruir melhor” deveria
ser aplicado nas intervenções de resposta e
reabilitação em situações de desastre.
9.8 Todas as partes deveriam promover
o papel da pesca de pequena escala nas
iniciativas relacionadas com as alterações
climáticas e deveriam encorajar e apoiar a
eficiência energética no subsetor, incluindo toda
a cadeia produtiva – a captura, as atividades

13
14
Parte 3
Garantir um ambiente propício e
apoiar a implementação

10. Coerência das políticas, coordenação processos de tomada de decisões utilizados


institucional e colaboração por essas comunidades.

10.1 Os Estados deveriam reconhecer a 10.3 Os Estados deveriam adotar medidas


necessidade de coerência de políticas, e de política específicas para garantir a
trabalhar nesse sentido, nomeadamente harmonização das políticas que afetam a
nos seguintes âmbitos: legislação nacional; saúde dos ecossistemas e espécies de águas
direito internacional em matéria de direitos marítimas e interiores, e assegurar que as
humanos; outros instrumentos internacionais, políticas sobre pesca, agricultura e outros
incluindo os instrumentos relativos aos povos recursos naturais melhorem coletivamente
indígenas; políticas de desenvolvimento os meios de subsistência inter-relacionados
econômico; políticas de energia, educação, decorrentes destes setores.
saúde e desenvolvimento rural; proteção 10.4 Os Estados devem assegurar que a
ambiental; políticas de segurança alimentar política de pescas oferece uma visão de
e nutrição; políticas laborais e de emprego; longo prazo sobre a sustentabilidade da
políticas comerciais; políticas de gestão do pesca de pequena escala e a erradicação
risco de desastres e de adaptação às alterações da fome e da pobreza, utilizando uma
climáticas; acordos de acesso à pesca; e outras abordagem ecossistêmica. O quadro geral de
políticas, planos, medidas e investimentos políticas pesqueiras deve ser coerente com
no setor pesqueiro a fim de promover o a visão de longo prazo e com o quadro de
desenvolvimento integral das comunidades políticas em matéria de pesca de pequena
de pescadores de pequena escala. Deveria ser escala e de direitos humanos, prestando-se
prestada especial atenção à consecução da especial atenção às pessoas vulneráveis e
equidade e igualdade de gênero. marginalizadas.
10.2 Os Estados deveriam, quando apropriado, 10.5 Os Estados deveriam estabelecer e
desenvolver e utilizar abordagens de promover estruturas e ligações institucionais,
ordenamento do território que tenham em incluindo ligações e redes locais, nacionais,
devida consideração o papel e interesses regionais e mundiais necessárias para
das comunidades de pescadores de pequena alcançar a coerência política, a colaboração
escala na gestão integrada das áreas intersetorial e a implementação de abordagens
costeiras. Conforme apropriado, políticas e leis ecossistémicas inclusivas e integrais no setor
sensíveis às questões de gênero em matéria pesqueiro. Ao mesmo tempo, é necessário
de ordenamento territorial regulamentado o estabelecimento de responsabilidades
deveriam ser desenvolvidas numa base claras e a definição de pontos de contato nas
consultiva, participativa e informativa. Quando agências e autoridades governamentais para
apropriado, os sistemas de ordenamento as comunidades de pescadores de pequena
formais devem considerar métodos de escala.
planeamento e desenvolvimento territorial
utilizados por comunidades de pescadores 10.6 Os interessados na pesca em pequena
de pequena escala e outras comunidades escala deveriam promover a colaboração
com sistemas consuetudinários de posse, e entre as associações profissionais, incluindo

15
as cooperativas de pesca e as OSC, e deveriam da informação, as quais são necessárias para a
estabelecer redes e plataformas para o tomada de decisões eficazes.
intercâmbio de experiências e informações e
11.3 Os Estados deveriam envidar esforços para
para facilitar a sua participação nos processos
impedir a corrupção, particularmente através
relativos a políticas e a tomada de decisões
de uma maior transparência, submetendo
relevantes para as comunidades de pescadores
os responsáveis pela tomada de decisões à
de pequena escala.
obrigação de prestar contas, e assegurando
10.7 Os Estados deveriam reconhecer que a adoção de decisões imparciais de forma
as estruturas de governança local podem atempada e com uma adequada participação e
contribuir para uma gestão eficaz da pesca comunicação das comunidades de pescadores
de pequena escala e deveriam promovê- de pequena escala.
las, quando apropriado, tendo em conta a
11.4 1Todas as partes deveriam reconhecer as
abordagem ecossistêmica e de acordo com a
comunidades de pescadores de pequena escala
legislação nacional.
como titulares, fornecedores e receptores de
10.8 Os Estados deveriam promover a melhoria conhecimentos. É particularmente importante
da cooperação internacional, regional e sub- compreender a necessidade de acesso das
regional para garantir a sustentabilidade da comunidades de pescadores de pequena escala
pesca de pequena escala. Os Estados, bem e suas organizações a informação apropriada,
como as organizações internacionais, regionais a fim de ajudá-las a enfrentar os problemas
e sub-regionais, conforme apropriado, devem existentes e capacitá-las para melhorar os
promover o desenvolvimento de capacidades seus meios de subsistência. Estas necessidades
para melhorar a compreensão das pescarias de informação dependem dos problemas que
de pequena escala e ajudar o subsetor em em cada momento são enfrentados pelas
assuntos que requerem cooperação sub- comunidades e relacionam-se com aspetos
regional, regional ou internacional, incluindo biológicos, jurídicos, econômicos sociais e
a transferência de tecnologia apropriada e culturais da pesca e dos meios de subsistência.
mutuamente acordada.
11.5 Os Estados deveriam garantir a
disponibilidade da informação necessária para
11. Informação, pesquisa e uma pesca de pequena escala responsável
comunicação e o desenvolvimento sustentável, incluindo
informação sobre pesca ilegal, não declarada
11.1 Os Estados deveriam estabelecer
e não regulamentada. Essa informação deve
sistemas de recolha de dados sobre a pesca,
referir-se, nomeadamente, aos riscos de
incluindo dados bioecológicos, socias,
desastre, às alterações climáticas, aos meios
culturais e econômicos relevantes para a
de subsistência e à segurança alimentar,
tomada de decisões em matéria de gestão
prestando especial atenção à situação dos
sustentável da pesca de pequena escala com
grupos vulneráveis e marginalizados. Deveriam
vista a assegurar, de forma transparente, a
ser desenvolvidos sistemas de informação
sustentabilidade dos ecossistemas, incluindo
que exijam poucos dados para as situações de
as populações de peixes. Também deveriam
escassez de dados.
ser envidados esforços para a produção de
dados desagregados por gênero nas estatísticas 11.6 Todas as partes devem assegurar que
oficiais, bem como de dados que permitam sejam reconhecidos e, quando apropriado,
uma melhor compreensão e maior visibilidade apoiados os conhecimentos, cultura,
da importância da pesca de pequena escala e tradições e práticas das comunidades de
os seus diferentes componentes, incluindo os pescadores de pequena escala, incluindo os
aspectos socioeconômicos. povos indígenas, servindo de base para os
processos de governança local responsável e
11.2 Todos os interessados e comunidades
de desenvolvimento sustentável. Devem ser
de pescadores de pequena escala deveriam
reconhecidos e apoiados os conhecimentos
reconhecer a importância da comunicação e
específicos das pescadoras e trabalhadoras

16
da pesca. Os Estados deveriam investigar e alimentar e nutrição, erradicação da pobreza
documentar os conhecimentos e tecnologias e desenvolvimento equitativo, incluindo os
de pesca tradicionais, a fim de considerar aspetos da gestão do risco de catástrofes e a
a sua aplicação a conservação, gestão e adaptação às alterações climáticas.
desenvolvimento sustentáveis da pesca.
11.10 Os Estados e outras partes relevantes
11.7 Os Estados e outras partes relevantes deveriam promover a pesquisa sobre as
deveriam prestar apoio às comunidades de condições de trabalho, incluindo dos pescadores
pescadores de pequena escala, em particular e trabalhadores da pesca migrantes, e também
aos povos indígenas, às mulheres e a todas as sobre saúde, educação e tomada de decisões,
pessoas que dependem da pesca para a sua no contexto das relações de gênero, a fim de
subsistência, incluindo, quando apropriado, orientar estratégias que assegurem a obtenção
assistência técnica e financeira para organizar, de benefícios equitativos para homens e
manter, trocar e melhorar os conhecimentos mulheres no setor pesqueiro. Os esforços para
tradicionais sobre os recursos aquáticos incorporar as questões de gênero deveriam
vivos e técnicas de pesca, e para atualizar incluir a utilização de análises de gênero na
os conhecimentos sobre os ecossistemas fase de elaboração das políticas, programas e
aquáticos. projetos para a pesca de pequena escala com
o objetivo de formular intervenções sensíveis
11.8 Todas as partes deveriam promover
às questões de gênero. Deveriam ser utilizados
a disponibilidade, circulação e troca de
indicadores que tenham em conta as questões
informação, em particular sobre os recursos
de gênero para monitorar e enfrentar as
aquáticos transfronteiriços, através da
desigualdades de gênero e para refletir em que
criação de plataformas e redes adequadas,
medida as intervenções contribuíram para a
ou utilizando as já existentes, a nível
mudança social.
comunitário, nacional, sub-regional e
regional, incluindo a circulação bidirecional de 11.11 Reconhecendo o papel da pesca de
informação, tanto horizontal como vertical. pequena escala na produção de alimentos
Tomando em consideração a dimensão marinhos, os Estados e outras partes deveriam
cultural e social, deveriam ser utilizadas promover o consumo de peixe e produtos da
abordagens, ferramentas e meios adequados pesca mediante programas de educação dos
para comunicação e desenvolvimento de consumidores, a fim de sensibilizar acerca dos
capacidades das comunidades de pescadores de benefícios nutricionais do consumo de peixe e
pequena escala. divulgar conhecimentos sobre como avaliar a
qualidade do peixe e dos produtos da pesca.
11.9 Os Estados e outras partes deveriam, na
medida do possível, garantir a disponibilidade
de fundos para a pesquisa sobre pesca de 12. Desenvolvimento de capacidades
pequena escala, e deveria ser incentivada
a colaboração e participação nos processos 12.1 Os Estados e outras partes deveriam
de recolha de dados, realização de análises melhorar as capacidades das comunidades de
e de pesquisa. Os Estados e outras partes pescadores de pequena escala a fim de permitir
devem envidar esforços para integrar o a sua participação nos processos de tomada de
conhecimento decorrente dessas pesquisas decisões. Para este fim, deveria ser assegurada
nos seus processos de tomada de decisões. As uma representação adequada do subsetor
instituições e organizações de pesquisa devem da pesca de pequena escala em toda a sua
apoiar o desenvolvimento de capacidades para amplitude e diversidade ao longo de toda cadeia
permitir as comunidades de pescadores de produtiva mediante a criação de estruturas
pequena escala participar nas pesquisas e na legítimas, democráticas e representativas.
utilização dos seus resultados. As prioridades Deveria ser prestada especial atenção à
de pesquisa devem ser acordadas através de necessidade de trabalhar no sentido de uma
um processo de consulta centrado no papel participação equitativa das mulheres nessas
que a pesca de pequena escala desempenha na estruturas. Quando apropriado e necessário,
utilização sustentável dos recursos, segurança deveriam ser facultados espaços e mecanismos

17
independentes que permitam às mulheres 13.2 Os Estados e todas as outras partes
organizar-se de maneira autônoma a vários deveriam promover a eficácia da ajuda e a
níveis sobre questões de especial importância utilização responsável dos recursos financeiros.
para elas. Encoraja-se os parceiros de desenvolvimento,
as agências especializadas das Nações Unidas
12.2 Os Estados e outras partes interessadas
e as organizações regionais a apoiarem
deveriam promover o desenvolvimento de
os esforços voluntários dos Estados para
capacidades, por exemplo através de programas
implementar estas Diretrizes, nomeadamente
de desenvolvimento, para permitir que as
através da cooperação Sul-Sul. Esse apoio
comunidades de pescadores de pequena escala
poderá incluir cooperação técnica, assistência
beneficiem das oportunidades de mercado.
financeira, desenvolvimento da capacidade
12.3 Todas as partes deveriam reconhecer institucional, intercâmbio de experiências
que o desenvolvimento de capacidades deve e partilha de informação, assistência na
basear-se nos conhecimentos teóricos e práticos elaboração de políticas nacionais de pesca de
existentes e constituir um processo bidirecional pequena escala e transferência de tecnologia.
de transferência de conhecimentos que ofereça
13.3 Os Estados e todas as outras partes
vias flexíveis e adequadas de aprendizagem
deveriam colaborar para dar a conhecer as
para satisfazer as necessidades das pessoas,
Diretrizes, nomeadamente divulgando versões
tanto de homens e mulheres como dos grupos
simplificadas e traduzidas em benefício dos
vulneráveis e marginalizados. Além disso, o
que trabalham na pesca de pequena escala.
desenvolvimento de capacidades deveria incluir
Os Estados e todas as outras partes deveriam
o fortalecimento da resiliência e da capacidade
desenvolver um conjunto específico de
de adaptação das comunidades de pescadores
materiais sobre as questões de gênero para
em pequena escala relativamente à gestão dos
garantir a efetiva divulgação de informação
riscos de desastre e à adaptação às alterações
sobre as questões de gênero e do papel das
climáticas.
mulheres na pesca de pequena escala e para
12.4 As autoridades e agências governamentais destacar as medidas necessárias para melhorar
de todos os níveis deveriam fomentar os a condição das mulheres e o seu trabalho.
conhecimentos teóricos e práticos para apoiar
13.4 Os Estados deveriam reconhecer a
o desenvolvimento sustentável da pesca de
importância dos sistemas de monitoramento
pequena escala e os acordos de gestão conjunta
que permitam às suas instituições avaliar os
bem-sucedidos, conforme apropriado. Deveria
progressos no cumprimento dos objetivos e
ser prestada especial atenção às estruturas de
recomendações destas Diretrizes. Deveriam
governo descentralizadas e locais diretamente
ser incluídas avaliações dos impactos na
envolvidas nos processos de governança
erradicação da pobreza e na realização do
e desenvolvimento em conjunto com as
direito à alimentação adequada no contexto
comunidades de pescadores de pequena escala,
da segurança alimentar nacional. Deveriam ser
inclusive no domínio da pesquisa.
incluídos mecanismos que permitam aproveitar
os resultados do monitoramento na formulação
e implementação de políticas. Nos processos
13. Apoio à implementação e
de monitoramento deveriam ser tomadas em
monitoramento
consideração as questões de gênero, mediante
13.1 Todas as partes são encorajadas a a utilização de dados, indicadores e abordagens
implementar estas Diretrizes em conformidade sensíveis às questões de gênero. Os Estados
com as prioridades e circunstâncias nacionais. e todas as partes deveriam elaborar métodos

18
participativos de avaliação que permitam
melhor compreensão e documentação
da verdadeira contribuição da pesca de
pequena escala para a gestão sustentável dos
recursos em prol da segurança alimentar e da
erradicação da pobreza, tanto por parte de
homens como de mulheres.
13.5 Os Estados deveriam facilitar a
formação de plataformas a nível nacional,
com representação intersetorial e uma forte
representação das OSC, para supervisionar
a implementação das Diretrizes, conforme
apropriado. Os legítimos representantes das
comunidades de pescadores de pequena
escala deveriam ser envolvidos tanto no
monitoramento como na elaboração e
aplicação de estratégias de implementação das
Diretrizes.
13.6 A FAO deveria promover e apoiar o
desenvolvimento de um Programa Mundial de
Assistência, com planos regionais de ação em
apoio à implementação destas Diretrizes.

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Esta versão foi preparada em Português do Brasil. Foi
elaborada para informar o seminário nacional sobre
as diretrizes voluntárias para garantir a pesca de
pequena escala sustentável no contexto da segurança
alimentar e da erradicação da pobreza que aconteceu
no período de 22-25 de Setembro de 2015, em Brasília,
Brasil. Tal versão não antecipa a versão Portuguesa das
diretrizes voluntárias sobre a governaça responsável
da posse da terra, Pescas e Florestas no Contexto da
Segurança Alimentar Nacional nem sua terminologia
relacionada - atualmente em desenvolvimento pela FAO.

ISBN 978-92-5-008704-7

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I4356Pt/1/03.17

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