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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Instituto de Ciências Humanas


Departamento de Museologia, Conservação e Restauro
Bacharelado de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis

Monografia

Preservação de Revestimentos de Interiores de Edificações Históricas: As


Escariolas da Cidade de Santa Vitória do Palmar

Marina Perfetto Sanes

Pelotas, 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Museologia, Conservação e Restauro
Bacharelado de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis

Monografia

Preservação de Revestimentos de Interiores de Edificações Históricas: As


Escariolas da Cidade de Santa Vitória do Palmar

Marina Perfetto Sanes

Trabalho de Conclusão apresentado ao


Bacharelado de Conservação e Restauro
de Bens Culturais Móveis da Universidade
Federal de Pelotas, como requisito parcial
à obtenção do título de Bacharel em
Conservação e Restauro de Bens
Culturais Móveis, sob orientação do Prof.
Dr. Pedro Luís Machado Sanches.

Pelotas, 2014
Banca Examinadora:

_________________________________________
Profa. Ms. Daniele Baltz da Fonseca (UFPel)

_________________________________________
Prof. Dr. Pedro Luís Machado Sanches (Orientador/ UFPel)
Aos meus pais, Rossana e Vilmar.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Universidade Federal de Pelotas pela oportunidade de


realizar o curso.
Ao meu orientador, o professor Pedro Luís Machado Sanches, pelo conhecimento
compartilhado, paciência e pelas palavras de incentivo e entusiasmo. Também agradeço por
ter incluído em nossas atividades no projeto a pesquisa em arquivo, a qual foi muito
importante durante a realização deste trabalho.
A professora Francisca Ferreira Michelon, pelas orientações, compreensão e auxílio
com as dificuldades encontradas.
A professora Daniele Baltz da Fonseca, por aceitar o convite para participar da
banca.
Ao GEPE, novamente aos professores Daniele e Pedro, técnicos e colegas, por
disponibilizarem as informações do banco de dados do Grupo. Não posso deixar de lembrar
que a minha participação no GEPE foi fundamental para a realização deste trabalho.
A Bibliotheca Pública Pelotense, onde realizei o estágio e as pesquisas
arquivísticas.
A todos os professores do curso de Bacharelado em Conservação e Restauro de
Bens Móveis e Integrados, principalmente aqueles que tiveram grande participação em
minha formação.
A Francine Tavares, Jeferson Salaberry e Keli Scolari, por sempre estarem
dispostos em ajudar.
A Dona Laureana Fernandes Corrêa por me receber em sua residência para
realizar o levantamento e permitir que eu fotografasse o contrato de reforma, o que
colaborou com preciosas informações para o desenvolvimento deste trabalho.
A Ridan Rodrigues e o Luis Oscar Martins Netto por permitirem a realização do
levantamento e por compartilharem informações muito importantes.
Ao Otávio Stigger, por possibilitar que eu fotografasse a escariola de sua residência.
A secretaria do Cluble Comercial Caixeiral.
Ao Sr. Luiz Albino Reinehr, pelo dispêndio de tempo em explicar a execução das
escariolas e por fornecer o levantamento das receitas.
Ao Sr. Eber Cardoso de Aguiar, pelas informações compartilhadas.
Aos meus queridos amigos, Stephanie Aguiar e Dhyan Diano, pelo empréstimo da
câmera e por sempre estarem dispostos em ajudar, muito obrigada gente.
A Ingrid Aguiar, por ter me acompanhado no levantamento do clube, e porque
mesmo estando um pouco distante, é uma grande amiga, desde sempre.
Aos meus amados pais, Vilmar Corrêa Sanes e Rossana Perfetto Sanes, pelos
ensinamentos e por serem tão especiais. Neste trabalho tiveram grande participação, me
apresentando pessoas que eu necessitava conversar e realizando fotografias. Obrigada por
tudo!
A Dinamara Pizarro Nieves, por ser tão querida e amiga. Muito obrigada Mana.
Aos queridos colegas, pela amizade e ótima companhia durante este período.
Desejo muitas conquistas e realizações a todos.
“Nada é possível sem a consciência do sentido da preservação;
sem a educação; sem o debate amplo e sincero sobre nossos
limites e possibilidades e, principalmente, sem o envolvimento
da sociedade como um todo”.

Yacy Ara Froner. Patrimônio Histórico e modernidade:


construção do conceito a partir da noção de revitalização de
sítios, monumentos e centros urbanos. Simpósio de
Conservação em Olinda, 2002.
RESUMO

SANES, Marina Perfetto. Preservação de Revestimentos de interiores de edificações


históricas: As Escaiolas da cidade de Santa Vitória do Palmar. 2014. 102 p. Trabalho de
Conclusão de Curso - Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Móveis.
Universidade Federal de Pelotas.

O estuque lustrado, tradução livre do termo stucco lustro, é um revestimento liso de


interiores, encontrado em edificações históricas na região sul do estado do Rio Grande do
Sul, principalmente na cidade de Pelotas, onde é conhecido pela denominação de
“escariola”. Este estudo se deu na cidade de Santa Vitória do Palmar, a cidade mais
meridional do país, até a emancipação do Chuí. A ideia de fazer este trabalho de conclusão
de curso surgiu da participação como bolsista no Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques
(GEPE), no qual observamos que em muitas edificações esse revestimento foi substituído
por consequência do desconhecimento da técnica. Para o desenvolvimento do trabalho,
selecionamos três edificações, que incluem a sede de um clube social construído no final do
séc. XIX e duas residências datadas do fim da década de 1930. As fontes utilizadas no
estudo foram as fichas de levantamento dos estuques lustrados, fotografias, documentos
levantados em pesquisa arquivística e entrevista. Durante o estudo, foi possível identificar a
utilização da mesma denominação dos ornamentos nas duas cidades; indicamos as
diferenças e semelhanças das composições decorativas da cidade de Santa Vitória do
Palmar em relação às pelotenses, ressaltando fatores como o modo de execução.
Estabelecemos assim distinções entre as composições decorativas nas cidades. Também
realizamos o levantamento das manifestações patológicas, apontando as possíveis causas,
para contribuir com a realização de futuras propostas de intervenções de restauro. Este
trabalho visa contribuir para a preservação destes ornamentos, com o registro e estudo das
composições, auxiliando na salvaguarda deste patrimônio, muitas vezes desvalorizado e não
reconhecido.

Palavras-chave: Escariola, preservação de interiores, bens integrados, stucco lustro.


ABSTRACT

SANES, Marina Perfetto. Preservation Coatings Interior of Historic Buildings: The


Escariolas of Santa Vitória do Palmar city. 2014. 102 p. Trabalho de Conclusão de Curso
- Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Móveis. Universidade Federal de
Pelotas.

The estuque lustrado, free translation of the term stucco lustro, is a coating interior, found in
historic buildings in the southern state of Rio Grande do Sul, mainly in the city of Pelotas,
where he is known by the name "escariola". This study takes place in the city of Santa Vitória
do Palmar, which was the southernmost city of the country, before the emancipation of Chuí.
The idea of this completion of course work emerged as a fellow in the Group of Study and
Research about Stucco (GEPE), in which we observed that in many buildings such coating
was replaced, consequence of the lack of technical. We selected three buildings for
development work, which are home to a social club built at the end of the century XIX and
two residences dating from the late 1930s. The sources used in the study were the records of
survey of stucci lustri, photographs, and archival documents collected in interview research.
During the study were identified using the same name of the ornaments in the two cities. We
indicate the differences and similarities of decorative compositions from Santa Vitória do
Palmar regarding Pelotas, emphasizing factors such as the mode of execution. Thereby
established distinctive decorative compositions between two cities elements. We also
conducted a survey of pathological manifestations, indicating the possible causes, to
contribute to the achievement of future proposals for interventions. This work was conducted
with the aim of contributing to the preservation of these ornaments, with the record and study
of compositions, helping to safeguard this heritage, often unappreciated and unrecognized.

Keywords: Escariola, preserving interiors, arts applied, stucco lustro.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Divisão visível entre as jornadas do afresco _____________________ 25


Figura 2 - Visualização da estratigrafia do estuque na residência situada à Rua
João de Oliveira Rodrigues, 956, Santa Vitória do Palmar, RS _______________ 26
Figura 3 - Anúncio de venda de Cal, Diário Popular, 22 de janeiro de 1932 _____ 28
Figura 4 - Trecho do contrato de reforma de uma residência em Santa Vitória do
Palmar, 1° de dezembro de 1938 28

Figura 5 – Escariola com as três sessões representadas. Corredor dos fundos do


lado esquerdo do Casarão 6, Praça Coronel Pedro Osório, Pelotas, RS 31
Figura 6 - Representação de moldura simples. Apainelado inferior do corredor dos
fundos, lado direito. Casarão 6, Pelotas, RS 32

Figura 7 - Representação de moldura composta. A primeira moldura com estêncil, o


fundo e a linha simples com efeito trompé l’oiel. Apainelado superior. Imóvel
inventariado situado à Rua Padre Anchieta, 1459, Pelotas, RS ______________ 32
Figura 8 - Friso com motivos florais no centro e faixas com efeito trompé l’oiel.
Prédio inventariado, situado à Rua Anchieta, 1508. Pelotas, RS _____________ 33
Figura 9 - Clube Comercial antes da reforma que ocorreu em 1924 __________ 34
Figura 10 - Clube Comercial na década de1930 34
Figura 11 - Clube Comercial atualmente ________________________________ 35
Figura 12 - Escariola do Clube Comercial _______________________________ 36
Figura 13 - Residência situada à rua João de Oliveira Rodrigues, 785. SVP, RS. 37
Figura 14 - Escariola da residência situada à rua João de Oliveira Rodrigues, 785.
SVP, RS ________________________________________________________ 37
Figura 15 - Residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, 956. SVP, RS 38
Figura 16 - Escariola da residência situada à rua João de Oliveira Rodrigues, 956.
SVP, RS ________________________________________________________ 38
Figura 17 - Residência situada à Rua Sete de Setembro,101, Pelotas, RS _____ 40
Figura 18 - Prédio situado à Rua Gonçalves Chaves, 271, Pelotas, RS 40
Figura 19 – Escariola da residência situada à Rua Sete de Setembro, n° 101,
Pelotas, RS. _____________________________________________________ 40
Figura 20 – Escariola do prédio situado à Rua Gonçalves Chaves, 271, Pelotas, RS
_______________________________________________________________ 40
Figura 21 – Residência situada à Rua Gonçalves Chaves, 1111, Pelotas, RS __ 41
Figura 22 – Escariola da residência situada à Rua Gonçalves Chaves, 1111. ___ 41
Figura 23 – Divisão das sessões da composição do C.C.C. _________________ 42
Figura 24 – Vista geral da composição do C.C.C._________________________ 42
Figura 25 – Croqui das divisões das sessões da composição. _______________ 42
Figura 26 – Croquis das divisões das sessões das composições. A primeira, da
residência J.O.R, 785 e a segunda da residência J.O.R., 956. _______________ 43
Figura 27 – Escariola da residência situada à Rua J.O.R, 956, SVP, RS. _______ 43
Figura 28 - Escariola da residência situada à Rua J.O.R, 785, SVP, RS _______ 43
Figura 29 – Pormenor do ângulo da moldura e localização da imagem na
composição _____________________________________________________ 44
Figura 30 – Moldura traçada com lápis de carpinteiro e localização da imagem na
composição. _____________________________________________________ 44
Figura 31 – Marcação na superfície para o desenho da moldura 45
Figura 32 – Linha feita à mão livre. ____________________________________ 45
Figura 33 – Localização das imagens nas composições. ___________________ 45
Figura 34 – Simulação do soco na escariola da residência situada à Rua J.O.R, n°
785, SVP, RS.____________________________________________________ 46
Figura 35 - Área próxima ao piso com danos. ____________________________ 46
Figura 36 – Composição do prédio inventariado situado à Rua Gonçalves Chaves,
271, Pelotas, RS. _________________________________________________ 47
Figura 37 - Linha divisória na composição da residência situada à Rua JOR n° 956,
SVP, RS. 47
Figura 38 - Composição decorativa em residência construída no ano de 1933.
Imóvel inventariado situado à rua Anchieta, n° 1111_______________________ 49
Figura 39 - Apainelado inferior e parte da pilastra, com fingimento inverossímel. 50
Figura 40 - Um tipo de Mármore Carrara. ______________________________ 50
Figura 41 - Pseudoblocos com fingimento semelhante ao Mármore Carrara. 50
Figura 42 – Escariola que não representa fingidos de mármore ______________ 51
Figura 43 - Escariola com pintura em cores acentuadas em residência de SVP 51
Figura 44 - Composição com pintura em cores acentuadas em residência de SVP.
_______________________________________________________________ 52
Figura 45 – Prédio situado à Rua Barão do Rio Branco, 426, SVP, RS. ________ 53
Figura 46 - Composição decorativa do prédio situada à Rua Barão do Rio Branco,
426. ___________________________________________________________ 53
Figura 47 - Losango com as iniciais “OSB”. _____________________________ 54
LISTA DE ABREVIATURAS

C.C.C: Clube Comercial Caixeiral


CDOV: Centro de Documentação e Obras Valiosas
GEPE: Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques
J.O.R: João de Oliveira Rodrigues
SVP: Santa Vitória do Palmar
UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
SUMÁRIO

1. Introdução ___________________________________________________ 14

2. Técnicas decorativas em estuque, modos de execução e materiais; ____ 18


2.1. O estuque: materiais empregados ________________________________ 19
2.2. Técnicas decorativas de fingimentos em estuque ________________________ 21
2.3. Materiais e formas de execução nas cidades de Pelotas e Santa Vitória do
Palmar _________________________________________________________ 24
2.4. Utilização da denominação “escariola” em Pelotas e Santa Vitória do Palmar 27

3. As composições decorativas das escariolas de Santa Vitória do Palmar:


descrição e comparação com as composições pelotenses; ______________ 30
3.1. Composição decorativa das escariolas de Pelotas ____________________ 31
3.2. Edificações selecionadas ________________________________________ 34
3.2.1. Clube Comercial Caixeiral ______________________________________ 34
3.2.2. Residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, n° 785 __________ 36
3.2.3. Residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, n° 956 __________ 38
3.3. Comparação das composições decorativas __________________________ 39
3.3.1. Sessões das composições _____________________________________ 41
3.3.2. Cores e fingimentos __________________________________________ 48
3.3.3. Variações __________________________________________________ 52

4. Conclusão ____________________________________________________ 56

Referências _____________________________________________________ 58

Referências Documentais _________________________________________ 60

Anexos_________________________________________________________ 61

Apêndices ______________________________________________________ 68
14

1. Introdução

A denominação bens integrados é utilizada predominantemente no Brasil e define


aqueles objetos vinculados à estrutura arquitetônica e consequentemente, ao espaço em
que a construção está inserida. Agregam certas propriedades físicas que, para o
desenvolvimento de ações de salvaguarda dos mesmos, é necessária a associação de
conhecimentos da arquitetura, história da arte e restauração (RIBEIRO; SILVA, 2010, p. 76).
Dentro desta categoria do patrimônio encontra-se o estuque, um tipo de revestimento
milenar à base de cal ou gesso, que possibilita a execução de diversas técnicas em relevo
ou lisas. Os estuques foram amplamente executados no país, segundo Yvoty Macambira
(1985), por influencia dos artífices imigrantes europeus que aqui chegavam.
O estuque lustrado, tradução livre do termo stucco lustro, é um revestimento liso de
interiores, encontrado em edificações históricas na região sul do estado do Rio Grande do
Sul, principalmente na cidade de Pelotas. Esse revestimento, de acordo com José Aguiar
(2002), é feito com argamassas de cal e areia finíssima, pasta de cal e pó de mármore, ou
ainda gesso e cal. São pintados a fresco ou a seco realizando imitações de rochas
ornamentais como os mármores ou as brechas.
Em seu trabalho de conclusão de curso, o conservador-restaurador Fabio Galli Alves
explica que o termo “escaiola” ou “escariola” foi designado para esses revestimentos,
encontrados nas residências construídas no período do “apogeu sociocultural” em Pelotas,
compreendido entre as últimas décadas do século XIX e início do século XX (ALVES 2011).
De acordo com Carlos Alberto Ávila Santos, na tese “Ecletismo na fronteira meridional do
Brasil: 1870- 1931” (2007), este período foi marcado pelo crescimento e desenvolvimento
econômico no extremo sul do estado. A proximidade com o Uruguai colaborou para o
desenvolvimento da arquitetura das cidades da região.
Este estudo acontece na cidade de Santa Vitória do Palmar, que era a cidade mais
meridional do país, até a emancipação do distrito do Chuí, em 1996. A localidade foi
selecionada para o estudo pelo fato de ser a cidade natal da autora. O conhecimento de que
muitos prédios que são testemunhos materiais da história da cidade não possuem nenhum
tipo de proteção, impulsionou a realização deste trabalho. Este fator implica na fragilidade
dos bens integrados na cidade, que podem desaparecer em pouco tempo se não houver
ações com o objetivo de valorizar este patrimônio histórico e cultural, assim como propostas
de conservação e manutenção.
Segundo Amaral (1972), o território onde hoje se localiza a cidade de Santa Vitória do
Palmar é a região que havia sido denominada Campos Neutrais, de acordo com o Tratado
15

de Santo Ildefonso, em 1777. A extensão de terras que vai do Taim ao Arroio Chuí, entre a
lagoa Mirim e o Oceano, não pertenceria nem a Portugal tampouco à Espanha. Após
sucessivos tratados, este território foi integrado ao Brasil e formada a vila, cujos limites
ficaram demarcados através da lei n° 808, de 30 de outubro de 1872. Em 24 de dezembro
de 1888, a vila foi elevada à categoria de cidade, já com o nome atual (MELLO, 1992).
O município era predominantemente rural, com grande número de estâncias, e a
urbanização se desenvolveu lentamente. A cidade dependia economicamente da produção
oriunda do campo, a pecuária (AMARAL, 1972). Apesar do seu isolamento sulino, durante o
inicio do século XX a cidade construiu um significativo patrimônio arquitetônico e cultural,
com visíveis influencias dos centros urbanos mais próximos, como a cidade de Pelotas1.
A ideia deste trabalho de conclusão de curso surgiu da participação como bolsista no
Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques (GEPE), onde são desenvolvidas ações com o
objetivo de valorizar os estuques lustrados dos casarios pelotenses, enquanto bens culturais
(FONSECA; SANCHES, 2013). Durante a realização dos levantamentos dos estuques
lustrados em Pelotas, foi possível observar que em muitas edificações esse revestimento foi
substituído, ou por consequência de manifestações patológicas, ou pela realização de
reformas que acabam conservando apenas a fachada.
O presente estudo tem o objetivo de contribuir para a preservação dos revestimentos
em escariola, visto que esses revestimentos estão integrados à arquitetura de uma época
em que a comunidade demonstrava um grande interesse no desenvolvimento cultural da
cidade e são singulares do ponto de vista estético e histórico. Dessa forma, segundo Miguel
e Mozo (2004), o patrimônio cultural possibilita a transmissão do conhecimento sobre as
formas de pensamento, a produção artística e costumes dos moradores de uma certa região
em tempos passados.
Realizamos um levantamento parcial das escariolas na cidade. Entre as três
edificações selecionadas, está a sede de um clube social, que se encontra em
funcionamento desde o final do século XIX e duas residências construídas no fim da década
de 1930, por Oscar Martins Netto.
O primeiro capítulo deste estudo é uma pesquisa bibliográfica sobre a execução de
estuques, na qual identificamos os materiais tradicionalmente empregados, de acordo com
os manuais clássicos, assim como as diferentes técnicas decorativas de fingimento em
estuques lisos. Abordamos os estudos realizados na cidade de Pelotas com o objetivo de
compreender quais técnicas foram utilizadas na confecção dos estuques e relacionar,
através da visualização in loco e fotografias, à execução dos estuques nos prédios de Santa
1
Podemos citar o Teatro Independência (1930), com a fachada projetada por uma empresa pelotense
(Nunes & Requião), mesclando os estilos art nouveau e art déco, de forma semelhante à fachada
atual do Teatro Sete de Abril (SANTOS, 2007).
16

Vitória do Palmar. Identificamos, através de uma receita utilizada por um escariolista


contemporâneo, que o isolamento da cidade interferiu no modo de fazer da receita
tradicional. Em contrapartida, obtivemos a informação de que no município é utilizada a
denominação “escariola”, como conhecemos na cidade de Pelotas, tanto atualmente como
na época da construção das edificações.
O segundo capítulo se propõe a contextualizar a situação da cidade na época das
construções. Realizamos a descrição dos prédios, indicando, quando possível, o período em
que foram construídos e seus construtores, que também foram escariolistas. Neste capítulo
descrevemos ainda a composição ornamental das escariolas da cidade de Pelotas, para
realizar uma comparação entre as escariolas das duas cidades. Para tanto, selecionamos
edificações de um período aproximado na cidade de Pelotas, com o objetivo de indicar as
diferenças em relação à composição tradicionalmente conhecida.
A comparação tem o objetivo de indicar elementos que possam auxiliar na
preservação desta arte decorativa, identificando técnicas construtivas, descrevendo as
composições e observando a utilização de cores e desenho dos fingimentos. Para que o
estudo obtivesse uma maior abrangência em Santa Vitória, identificamos uma quarta
composição decorativa, de uma residência construída em um período anterior às outras
duas, para poder relacionar às conclusões até então definidas.
As fontes utilizadas no estudo foram as fichas de levantamento dos estuques
lustrados, fotografias, documentos levantados em pesquisa arquivística e entrevista. Para a
realização do levantamento utilizamos o modelo da ficha cadastral do GEPE, que está
dividida da seguinte forma:
Inicialmente, são preenchidos os dados de identificação da edificação e fotografia da
fachada, depois é feito o croqui da planta baixa. A segunda parte se refere à descrição
ornamental dos estuques. Em seguida, são identificados os elementos decorativos
associados, manifestações patológicas, elementos expúrios e intervenções anteriores. A
etapa seguinte é o croqui do estuque. Na última etapa da ficha são inseridas as fotografias.
Realizamos fotografias coloridas das composições utilizando escala, com distância
de aproximadamente um metro. Tais procedimentos, já adotados nos levantamentos do
GEPE, permitem comparar as fotografias posteriormente, sem necessitar de grandes
manipulações das imagens.
O levantamento das manifestações patológicas (em apêndice B, p. 96) foi realizado
por meio de fotografias e observações no local onde se encontra o objeto estudado. Este
levantamento foi realizado com o intuito de contribuir com elaboração de propostas de ações
interventivas.
Para a comparação das composições decorativas, selecionamos composições
existentes no banco de dados do Levantamento Sistemático de Estuques Lustrados do
17

GEPE. Escolhemos composições que se localizam no mesmo compartimento nas


edificações comparadas. Os prédios possuem datação e o uso semelhantes, ou as
escariolas foram executadas na mesma época.
As fontes arquivísticas foram jornais do fundo “Diário Popular”, especificamente dos
anos de 1925, 1932 e 1936. A pesquisa foi uma atividade realizada pela autora no GEPE.
Outra fonte arquivística que utilizamos, foi o contrato de reforma de uma das residências da
cidade de Santa Vitória do Palmar.
18

2. Capítulo 1: Técnicas decorativas em estuque, modos de execução e materiais;

A fonte escrita mais antiga que relata a execução de estuques é o tratado de Vitrúvio
Os Dez Livros da Arquitetura. No Livro VII deste tratado, Vitrúvio aborda desde a preparação
da cal, a execução da base para o estuque e a aplicação das camadas, até a obtenção de
uma camada muito lisa e brilhante, para a execução da pintura. Salienta a importância de
uma boa execução, pois dessa forma pode-se conservar por um período duradouro. Os
materiais empregados descritos por Vitrúvio, pouco diferem do que foi utilizado até meados
do século XX.
Apesar desta primeira fonte datar de I a.C., a utilização do estuque é ainda mais
antiga. A origem do estuque possui mais de 4 milênios e sua execução é conhecida em
diversas regiões, em todo o mundo, tanto no Ocidente como no Oriente (SEGURADO, s/d;
CAVALCANTI NETO, 2011).
No Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX, o estuque foi amplamente
executado. Neste período, o ecletismo2 permitia a união de vários estilos em uma única
obra, favorecendo a incorporação de diversos padrões arquitetônicos. Em consequência, a
utilização dos elementos decorativos acontecia de acordo com a imaginação e posses do
artífice, adequando as preferências dos proprietários, muitas vezes, sem seguir vínculos
políticos ideológicos. (MACAMBIRA, 1985; LIMA, 2008).
No extremo sul, do estado do Rio Grande do Sul, este período foi marcado pelo
crescimento e desenvolvimento econômico. A proximidade com o Uruguai colaborou para a
chegada de novas técnicas, materiais e pessoal para o desenvolvimento das cidades da
região, influenciando a arquitetura, como aponta Santos (2007):
A proximidade dos municípios de Rio Grande, Pelotas, Jaguarão, Bagé,
Livramento e Santa Vitória com o Uruguai facilitou a chegada de materiais e
de novas técnicas construtivas, máquinas, acessórios e equipamentos
utilizados nas obras urbanas e a circulação de engenheiros e técnicos de
firmas especializadas que se encarregaram das modernizações dos portos e
dos diferentes empreendimentos instalados nos espaços coletivos, como
também de construtores e arquitetos – ampliando as influências européias
nos programas de composição dos edifícios -, de artistas e artífices que se
dedicaram à ornamentação dos prédios erguidos (SANTOS, 2007, p. 312).

Pelotas, ainda no início do século XIX teve sua produção estancieira, basicamente de
autoconsumo, reorganizada com o surgimento da charqueada, resultando no expressivo
desenvolvimento e crescimento, que impulsionou a urbanização (ARRIADA, 1994). A riqueza

2
O ecletismo foi um movimento filosófico, político, social e estético criado na França, na primeira
metade do século XIX (MACAMBIRA, 1985).
19

gerada pelas charqueadas, construiu o patrimônio edificado no período caracterizado pelo


ecletismo.
Essencialmente em Pelotas, também nas demais cidades da região, os prédios
construídos neste período possuem uma técnica de revestimento em estuque nas paredes
de interiores com fingimento de rochas ornamentais, principalmente o mármore. Na cidade,
esta ornamentação é conhecida como “escariola” (SANCHES; PALLA; ALVES, 2013).
Este estudo acontece na cidade de Santa Vitória do Palmar, situada ao extremo
meridional do país, a qual possui um singular patrimônio edificado capaz de surpreender os
viajantes que ali chegavam, visto que a pequena cidade, até meados do século XX, vivia
uma condição de isolamento3. Certos prédios construídos durante o período eclético nesta
cidade possuem em seus halls de entrada, paredes revestidas com escariolas.
Neste capítulo, apresentaremos os materiais tradicionalmente empregados na
confecção de estuques e as técnicas conhecidas na cidade de Pelotas, para confrontar
àquelas encontradas em Santa Vitória do Palmar, identificando através do estudo
comparativo, semelhanças entre as técnicas, os materiais utilizados e a denominação da
ornamentação nas duas cidades.

2.1 O estuque: materiais empregados

A cal e o gesso são as matérias-primas essenciais na execução dos estuques, sendo


o gesso utilizado somente em interiores, devido a sua condição de elevada solubilidade. A
seleção das matérias-primas para a execução dos revestimentos é um fator determinante
para a obtenção de bons resultados.
De acordo com a pesquisadora Maria do Rosário Veiga (2006), os revestimentos
confeccionados à base de cal possuem ótimas características de durabilidade quando
aplicados corretamente. As argamassas de cal aérea4 podem melhorar as suas
características ao longo do tempo. Quando substituídas, mesmo que por uma argamassa de
constituição semelhante, a aplicação geralmente não é realizada com o mesmo cuidado.
A qualidade da cal depende da rocha calcária que a originou e dos processos que o
material sofre até a sua utilização nas argamassas. Os extensos processos de calcinação,
hidratação e carbonatação formam o ciclo da cal, no qual o carbonato de cálcio proveniente
da rocha é calcinado, formando o óxido de cálcio (CaO), que sofre o processo de hidratação,

3
De acordo com relato do jornalista do Diário Popular, em reportagem “ Municipio de Santa Vitória”,
do dia 27 de agosto de 1936. “Com boas edificações [...], não obstante o abandono que se encontra
por falta de comunicações, constitui verdadeira surpresa a quem a visita pela primeira vez” (p. 10).
4
A cal aérea é aquela que faz pega na presença de ar, não endurecendo na presença de água, são
as mais comumente utilizadas na mistura de argamassa (CABRAL, s/d).
20

resultando no hidróxido de cálcio (Ca (OH)²) e o processo finaliza com a carbonatação,


momento em que o material volta a ter a formulação química da rocha original (CaCO2)
(AGUIAR, 2002).
Um manual de construção da primeira metade do séc. XX está atribuído a João
Segurado (s/d). Nele, se afirma que a cal utilizada para os estuques deve ser “extinta com
bastante antecedência”, ou seja, deve passar pelo processo de hidratação durante um
período suficiente, e ser peneirada para remover qualquer impureza e “detritos mal cozidos”
no processo de calcinação (SEGURADO, s/d, p. 142).
Segundo o pesquisador português José Aguiar (2002), a água e os agregados 5
devem ser devidamente selecionados. Tanto a água empregada para a hidratação da cal
quanto para a argamassa, deve ser pura e preferencialmente livre de sais, pois estes podem
gerar danos aos revestimentos. A água em excesso na argamassa causa retração excessiva
nos materiais. As areias podem ter diversas origens que irão determinar o formato de suas
partículas, constituição química e o tamanho, fatores que influenciarão a qualidade dos
revestimentos. Segurado (s/d) indica as areias brancas, silicosas ou calcáreas para os
trabalhos em estuque.
A cal aérea foi, possivelmente, o aglomerante6 mais usado até a descoberta do
cimento, no início do século XIX, o qual substituiu a cal gradualmente, “primeiro nos
elementos resistentes da construção e mais tarde nos próprios revestimentos” (VEIGA,
2006, s/p).
Substituir por materiais contemporâneos todo o revestimento, quando parte se
encontra deteriorado, é uma atitude equivocada. Os revestimentos à base de cal adquirem
qualidades ao longo do tempo, tendo sua resistência aumentada com o passar do tempo,
quando em condições favoráveis de conservação e manutenção. No momento em que
ocorre a substituição dos materiais tradicionais por contemporâneos, os quais possuem
características distintas dos primeiros, alteram-se as condições da estrutura, resultando na
absorção de umidade, o que desencadeia manifestações patológicas decorrentes da ação
de sais (VEIGA, 2006).
Além disso, as substituições de materiais tradicionais e a remoção dos acréscimos
que a obra sofreu durante a sua existência são problemas no âmbito internacional da

5
São materiais granulares, sem forma e volume definidos, de dimensões e propriedades
estabelecidas para o uso em obras de engenharia civil, tais como a pedra britada, o cascalho e as
areias naturais, ou obtidas por moagem de rochas, além das argilas e dos substitutivos como resíduos
inertes reciclados, entre outros. Agregados para a construção civil. Disponível em:
<<http://anepac.org.br/wp/wp-content/uploads/2011/07/DNPM2009.pdf>> acesso dia 13 de dezembro
de 2013 15:14 hrs.
6
São materiais ligantes, em geral pulverulentos, que promovem a ligação entre os materiais inertes
(agregados) (CABRAL, s/d).
21

preservação e afetam a autenticidade das obras desde os séculos XVII e XVIII, assim como
as restaurações estilísticas no séc. XIX, que tinham o objetivo de realizar uma reconstrução
do estado original que muitas vezes nunca existiu (JOKILEHTO, 1986). Quanto às
recomendações contrarias a essas ações, podemos citar a Carta de Atenas de 1931, a Carta
de Veneza de 1964 e a Carta do Restauro de 1972.
O Artigo 11 da Carta de Veneza de 1964, por exemplo, exprime que
As contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do
monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não
é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração, a exibição de
uma etapa subjacente só se justifica em circunstâncias excepcionais e
quando o que se elimina é de pouco interesse e o material que é
revelado é de grande valor histórico, arqueológico ou estético e seu
estado de conservação é considerado satisfatório. O julgamento do
valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser
eliminado não podem depender somente do autor do projeto (IPHAN,
CARTA DE VENEZA, 1964, p. 03).

Cabe ressaltar que dois dos objetos deste estudo, os quais serão apresentados no
Capítulo 2, são acréscimos de uma certa época, caracterizados pelo período arquitetônico e
expressões das peculiaridades da sociedade na época.

2.2 Técnicas decorativas de fingimentos em estuque

Os revestimentos em estuque, além de protegerem as alvenarias de tijolos, pedras


ou ripas de madeira contra intempéries, possibilitam a execução de diferentes técnicas
decorativas de pintura e relevo, como os afrescos, grafitos, esgrafitos, baixos e altos relevos.
É necessário que se tenha a compreensão das técnicas decorativas e suas
variações, para conhecer as possibilidades de execução do objeto estudado, quanto a
formas de fazer e os materiais empregados. Identificaremos que muitas técnicas
esteticamente semelhantes possuem diferentes formas de execução e proporções de
materiais empregados.
O estuque (stucco) é executado segundo uma técnica multicamada, na qual estão
incluídas três fases principais, o Trullisatio, Arenatum, e o Marmoratum. O Trullisatio seria
uma camada de regularização sobre o qual se aplicavam três camadas de reboco, o
Arenatum. Por último, seria aplicado o Marmoratum, argamassa de cal e pó de mármore,
com a granulometria7 do pó de mármore diminuindo a cada aplicação. Este acabamento feito
com pó de mármore originou o termo “marmorino” (AGUIAR, 2002).
Nesta técnica cada camada possui uma função específica, a granulometria dos
agregados diminui da camada mais interna para a mais externa, resultando em um

7
A granulometria é estabelecida através de uma análise, que classifica os solos de acordo com as
frações predominantes dos diâmetros de partículas. No Brasil, a classificação ocorre conforme
a ABNT NBR 6502/95.
22

revestimento com pequeno número de espaços vazios. As várias camadas protegem a


estrutura da ação da umidade e contribui para que se obtenha uma grande durabilidade
(VEIGA, 2006).
Para a realização de intervenções, deve-se conhecer profundamente o objeto,
implicando no conhecimento detalhado da constituição dos revestimentos, do número de
camadas e sua constituição (VEIGA, 2006).
Segundo José Aguiar, na tese “Cor e cidade Histórica: Estudos Cromáticos e
Preservação do Patrimônio” (2002), as técnicas decorativas de fingimento que foram
bastante difundidas na Europa a partir de meados do século XVII são o stucco lustro, o
stucco marmo e a verdadeira scagliola.
O stucco lustro é a técnica que mais se assemelha com as executadas na cidade de
Pelotas. É o estuque liso, com argamassa de cal e areia de granulometria muito pequena,
pasta de cal e pó de mármore ou ainda argamassa de gesso e cal. Através de pintura a
fresco ou a seco, realizam imitações de rochas ornamentais. Pode receber acabamentos
com ceras ou vernizes.
O stucco marmo é executado com o pigmento aplicado diretamente na argamassa,
que pode ser de gesso e/ou pasta de cal.
A verdadeira scagliola (escaiola) é a simulação de embutidos de pedras, com massas
compostas de gesso ou gesso e cal. Os pigmentos e colas são aplicados diretamente na
argamassa. As massas são recortadas e aplicadas em uma camada base, preenchendo os
espaços com distintas massas coloridas (AGUIAR, 2002, p. 258).
O engenheiro João Segurado em seu manual prático “Acabamentos das
Construções” (s/d), considera que a escaiola pode ter em sua constituição o cimento branco,
além do gesso. Esta técnica permite a execução no próprio lugar de aplicação ou nas
oficinas dos estucadores, sendo transportada e fixada no lugar desejado. No local é
realizado o polimento e o brunimento. A escaiola é seguidamente empregada na execução
de colunas e pilares, devendo necessariamente possuir armadura metálica para suportar
grandes estruturas. Esta armadura deve ser envolvida por um esqueleto de madeira,
fasquiado ou arame pintado, para não ter contato com o gesso, que a oxida.
Segundo o mesmo autor, o estuque liso pode ser em cores ou branco. No primeiro,
aplica-se o pigmento diretamente na massa, mas diferentemente da escaiola, forma-se uma
massa com cor uniforme.
O estuque liso branco é composto por duas massas; a primeira é chamada esboçar e
a segunda, dobrar ou estender. A massa de esboçar é composta por quatro partes de areia
branca, uma de gesso e uma de cal em pasta, e a massa de dobrar ou estender, de gesso e
cal na mesma quantidade. É necessário que se adicione à água da pasta, cola forte ou
23

goma de peixe, com a função de retardar a pega 8 do gesso. A segunda massa somente é
aplicada quando a primeira está bem seca e as duas são desempenadas, a primeira com a
régua, e a segunda com a colher, para que a superfície fique bem lisa.

O estuque à italiana não possui gesso, sua massa é composta por cal e areia branca.
O primeiro extrato, chamado de esboço, é composto por uma parte de cal para duas de areia
branca grossa, aplicado sobre a parede rebocada. A segunda camada é composta por cal
fina e areia branca fina, nas mesmas proporções da primeira. A terceira camada possui os
mesmos materiais da anterior, agora com o traço9 1:1. A última camada é executada apenas
com cal simples em pasta, sendo este o fundo para a pintura afresco (SEGURADO, s/d).
A pintura dos estuques pode realizar diferentes composições, representando
apainelados e elementos decorativos em estêncil, a técnica de pintura mais conhecida é o
afresco. Esta pintura, segundo Regina Tirello (2001), é realizada com pigmentos suspensos
somente em água, aplicados sobre a argamassa fresca. Após a secagem, é formada uma
estrutura cristalina, resistente e impermeável, em consequência das propriedades da cal. A
técnica exige conhecimento das propriedades dos pigmentos e rapidez na execução.
Normalmente, em estuques lisos são realizados fingimentos de mármores e outras
rochas ornamentais, como as brechas, o pórfiro, a malaquite, a ágata e o alabastro. O
fingimento é realizado a fresco, utilizando esponja ou uma pequena vassoura, e pincéis para
a imitação da estrutura e textura da rocha. Os pigmentos utilizados para este fim devem ser
naturais, como os óxidos metálicos moídos e peneirados juntamente com barro cozido
(SEGURADO, s/d; AGUIAR et al 2001).
O acabamento dos estuques com fingimentos pode ser executado com o brunimento
e o polimento. O brunimento é realizado quando o estuque está seco, molhando com uma
esponja e esfregando a superfície com pedra pomes ou grés muito fino, finalizando com um
pano de lã embebido em água e sabão. O polimento pode ser realizado com pó de jaspe ou
talco, envolto em um pano (boneca), que é batido suavemente no estuque. Logo, passa-se
um pano seco na superfície até obter-se o aspecto desejado (SEGURADO, s/d).
Segundo Josef Fuller, autor do “Manual do Formador e Estucador” (s/d), o
brunimento a quente é feito com um ferro próprio, após a aplicação de uma solução de água
e sabão sobre toda a parede. Este é finalizado com água-raz e cera.

8
Pega, ou presa, como os autores portugueses se referem, é o período inicial de solidificação da
massa. Inicia no momento em que a pasta começa a endurecer e termina quando a pasta se encontra
completamente sólida (FREITAS JÚNIOR, 2013).
9
Traço é a proporção relativa entre os constituintes da argamassa, com exceção da água. O primeiro
número corresponde ao aglomerante e o segundo, ao agregado. TECNOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES
III, disponível em <http://www.demc.ufmg.br/tec3/Apostila%20Argamassas%20-%20TEC%20III.pdf>,
acesso em 23 de janeiro de 2014, 00:01hrs.
24

Entre as técnicas realizadas para a obtenção de relevos, existe o grafito ou sgraffio.


De acordo com Segurado (s/d), é executado com uma camada base de cal e areia ou
cimento e areia, pigmentada. Sobre este fundo, aplica-se uma demão de cal diluída em água
de cola, sobre a qual é traçado o desenho pelo método do estresido10, riscando com estilete
de aço na profundidade desejada e de acordo com o desenho, obtendo belos efeitos de
sombra e textura.
Porém, Aguiar (2002) considera esta classificação de João Segurado errônea. Para
este autor a técnica descrita anteriormente é o esgrafito11. O grafito seria “uma inscrição
marcada num revestimento quando este ainda não está endurecido” (p. 248).
Os fingimentos de rochas ornamentais em estuques lisos, de acordo com Segurado
(s/d), deveriam ser executados pelo pintor fingidor, e poderiam realizar, além das imitações
de rochas ornamentais, madeiras nobres. Em grandes centros industriais e artísticos haviam
fingidores especializados em cada tipo de mármore e outros que fingiam apenas madeiras.

2.3 Materiais e formas de execução nas cidades de Pelotas e Santa Vitória do Palmar

Aqui temos o objetivo de tratar as variações das receitas de estuque utilizadas na


cidade de Pelotas, com base em estudos realizados na cidade.
Existem variações do stucco lustro, quanto aos materiais empregados, modo de
execução e receitas que devem ser observadas, principalmente quando há necessidade de
realizar intervenções. Nos últimos anos foram realizados alguns estudos na área da
conservação e restauro de estuques na cidade de Pelotas, que tinham a finalidade de
compreender esta arte decorativa, da qual muito pouco conhecimento foi transmitido.

De acordo com Alves (2011) as técnicas de acabamento em estuque observadas em


Pelotas são a do estuque lustrado ou a do marmorino pintado a fresco.
O estuque lustrado, descrito por Alves (2011), recebe uma pintura “marmorizada”
afresco sobre a superfície composta de cal e pó de mármore, com o acabamento que
consiste em uma solução aquosa de sabão e a aplicação de pranchas de ferro ou aço,
previamente aquecidas em um fogão, ou pranchas elétricas. Dessa forma, resulta em uma
superfície lisa, brilhante e impermeável.

10
O estresido é um desenho em papel, com furos feitos no contorno deste desenho. É aplicado na
parede, no local desejado e batido com uma boneca com carvão em pó, de modo que ao retirar o
desenho da parede fique o pontilhado escuro, que é coberto com pincel de traços contínuos
(SEGURADO, s/d).
11
Esta técnica não é comumente encontrada nesta região do país, por esse motivo não
apresentamos exemplos de esgrafitos. Ela esteve presente em outras regiões, associada à
arquitetura colonial, como por exemplo, o Palácio Anchieta em Vitória, ES (BRAGA, 2008).
25

O marmorino, nesta concepção, corresponde à camada final do revestimento, e ainda


segundo Alves (2011), é realizada em três estratos compostos de cal e pó de mármore. O
primeiro estrato é composto por 6 partes de pó de mármore e 4 de pasta de cal, o segundo,
com 5 partes de pasta de cal e 5 partes de pó de mármore. O terceiro estrato ou de
polimento, é composto de 6 partes de pasta de cal e 4 de pó de mármore.
Para a realização da pintura, sobre o marmorino da jornada, se aplica o desenho pelo
método do estresido ou desenhando por cima com uma ponta de metal arredondada para
marcar a superfície de forma incisa. O pigmento é suspenso em água e sabão. Cada
camada de cor é polida para que não se misturem (ALVES, 2011).
Segundo Tirello (2001), a jornada é o trecho do afresco feito a cada dia, no qual é
realizada a pintura com a argamassa ainda úmida. Os mestres italianos denominavam lavoro
della giornata. Nesta imagem é possível visualizar uma sutil divisão entre as jornadas.

Figura 1: Divisão visível entre as jornadas do afresco.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

A técnica da verdadeira escaiola também foi executada na cidade de Pelotas. Nunes


(2012), em sua dissertação de mestrado, realizou um estudo comparativo entre a escaiola
encontrada no altar da capela da Santa Casa, com o marmorino do hall de entrada do
Casarão n° 8 da Praça Coronel Pedro Osório.
No estudo, a autora pôde comprovar que na capela havia a verdadeira escaiola, em
consequência dos materiais constituintes, pois os altares laterais da capela apresentam
como material predominante o sulfato de cálcio hidratado (gipsita 12), componente que não é

12
A gipsita (Ca(SO4)(H2O)2) é um mineral abundante na natureza, que se origina em bacias
sedimentares por evaporação da fase líquida. É muito pouco resistente, sob a ação do calor (em torno
de 160°C), desidrata-se parcialmente, originando um semi-hidrato conhecido comercialmente como
gesso (CaSO4.1/2H2O).
26

encontrado nas outras receitas. Também constatou que havia pouca ocorrência do
carbonato de cálcio (cal). Porém, é o único exemplar da técnica conhecido em Pelotas.
As técnicas do estuque lustrado ou a do marmorino, executadas em Pelotas, são
semelhantes às técnicas encontradas nas edificações selecionadas para este estudo, na
cidade de Santa Vitória do Palmar. Porém, através de fotografias e observações in loco,
algumas diferenças foram identificadas.
A imagem a seguir é o detalhe de uma lacuna no estuque, na qual podemos
visualizar cada camada, sendo, da mais externa para a mais interna: 1, a camada de pintura;
2, uma camada de massa homogênea branca, com 3 a 4 milímetros de espessura (maior
que a descrita por Alves (2011) na lacuna do hall de entrada do casarão 2, cerca de 2
milímetros); 3, uma camada de argamassa de coloração mais escura, com areia; e 4,
camada com a coloração semelhante à anterior, porém com os agregados com maior
granulometria. É presumível que estas camadas possuem subdivisões.

Figura 2: Visualização da estratigrafia do estuque na residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, 956,
Santa Vitória do Palmar, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.


27

Em entrevista a um escariolista vitoriense, o Sr. Luiz Albino Reinehr13, se notou que a


escariola passou por mudanças técnicas importantes, incorporando novos materiais. A
técnica descrita por Reinehr possui cimento branco estrutural14 em sua composição, e não
prevê a execução da última camada com o pó de mármore, devido ao custo do produto e às
dificuldades de transporte. De acordo com este escariolista, o polimento era realizado com
talco industrial, utilizando esponja ou envolto em uma meia fina, realizando o polimento com
uma desempenadeira.

2.4 Utilização da denominação “escariola” em Pelotas e em Santa Vitória do Palmar

Segundo Alves (2011), em Pelotas essa ornamentação é conhecida como “escariola”.


O termo é uma variação lexical de escaiola, que originalmente é o nome dado a técnica de
fingimento realizado com aquela massa pigmentada, descrita anteriormente.
Aguiar (2002), explica que em Portugal e Espanha o termo também teria sido
utilizado para denominar as demais técnicas de fingimento de rochas, indistintamente:
Em Portugal e em Espanha, perdeu-se o significado original do termo
“escaiola”, que derivava da scagliola italiana e que, nos últimos dois séculos,
por corruptela ou por simplificação, passou a designar, sem o ser, a técnica
do stucco-lustro e até, por vezes, do stucco-marmo, situação que leva a
algumas confusões terminológicas propagadas até aos nossos dias.
(AGUIAR, 2002, p.258).

Em Pelotas, pudemos observar o uso desta denominação desde quando a execução


de escariolas ainda era ampla, na primeira metade do século XX. Constatando isto, em um
anúncio de venda de cal, no Diário Popular do dia 22 de janeiro de 1932, a utilização da
palavra “escariolar” (Fig. 3).

13
Luiz Albino Reinehr é um escariolista santa vitoriense de 82 anos, que ainda realiza trabalhos na
construção civil, e cedeu para este estudo a receita que utilizava para a execução de escariolas, até
40 anos atrás. Em anexo B (p. 65).
14
A NBR 12989 define o cimento Portland branco como aglomerante branco hidráulico constituído de
clínquer branco uma ou mais formas de sulfato de cálcio e adições. Pode ser estrutural e não
estrutural. Os cimentos Portland brancos estruturais se enquadram nas classes 25, 32 e 40 e podem
ser utilizados na execução de concreto estrutural (AGUIAR, 2006).
28

Figura 3: Anúncio de venda de Cal, Diário Popular, 22 de janeiro de 1932.

Fonte: CDOV/ Hemeroteca, Bibliotheca Pública Pelotense, 2013.

Através da pesquisa realizada na cidade de Santa Vitória do Palmar, foi possível


identificar que a denominação também é utilizada na cidade, tanto atualmente, como na
primeira metade do século XX. O substantivo “escariola” utilizado na forma verbal foi
encontrado em um documento da década de 193015. Este é um contrato de reforma, no qual
o construtor Oscar Martins Netto descreve as etapas da obra, se refere a um cômodo que
“será escariolado”:

Figura 4: Trecho do contrato de reforma de uma residência em Santa Vitória do Palmar, 1° de dezembro de 1938.

Fonte: fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013, acervo pessoal de Laureana Fernandes Correa.

Transcrição do trecho do documento: “Será escariolado o quarto de banho, na altura


de 1,80, todo ao redor, as quatro paredes”.
O fato de identificar que, não somente em Pelotas, mas também em outras cidades
da região utiliza-se a mesma denominação, torna claro que existe uma aproximação entre as
técnicas executadas nestas cidades, e isto é imprescindível para a definição de estratégias
de conservação e conhecimento da técnica usada na região e suas particularidades. Assim,

15
Ver documento completo em Anexo A (p. 62).
29

[...] é possível partir de uma variação terminológica para se chegar a


uma variação técnica; reconhecer no “ponto de vista” impresso na
língua, as peculiaridades do modo de fazer esquecido, e de seus
testemunhos materiais, em vias de desaparecer. (SANCHES; PALLA;
ALVES, 2013, s/p).

Portanto, o conhecimento de documentos da época referida, relacionados à


execução das escariolas, é de extrema importância à preservação desta arte decorativa,
assim como pode contribuir para o estudo e elaboração de terminologias, ferramenta
extremamente necessária para a área da Conservação.
30

3. Capítulo 2: As composições decorativas das escariolas de Santa Vitória do


Palmar: descrição e comparação com as composições pelotenses;

Aqui, faremos uma breve abordagem sobre a cidade de Santa Vitória do Palmar e
região na época da construção das edificações, fim do século XIX e início do século XX, com
enfoque nos acontecimentos que influenciaram a produção arquitetônica.
Entre as três edificações selecionadas para o estudo está a sede de um clube social,
que se encontra em funcionamento desde o final do século XIX.
O Coronel Tancredo Fernandes de Mello, na realização dos serviços para a Carta
Geral do Brasil, escreveu o livro “Município de Santa Vitória do Palmar” (1992) 16, concluído
por volta de 1911, no qual aborda de maneira objetiva o aspecto dos prédios da cidade.
Neste livro, há menção ao Clube Comercial, quando era chamado Clube Recreativo e
acabara de passar por uma reforma entre os anos de 1910 e 1911 (LIMA, 2001). O autor
classifica-o como de “bonita aparência”:
Os prédios em geral são baixos e desprovidos de arquitetura
propriamente dita, mas há alguns de bonita aparência, entre os quais
se destacam a Santa Casa, o da Benevolenza Italiana, a residência
de João Antunes da Silva e os Sobrados de Plácido Terra, Dr. Manoel
Vicente do Amaral e irmãos Nigro, e o novo edifício do Clube
Recreativo (MELLO, 1992, p. 242).

As duas residências selecionadas para o estudo foram construídas no fim da década


de 1930, pelo construtor Oscar Martins Netto. Nesta época, ainda não havia sido construída
a rodovia que liga a cidade de Santa Vitória a vila da Quinta. É possível perceber que o fato
de não haver comunicação com as cidades vizinhas brasileiras por meio terrestre seguro,
resultou no isolamento da cidade, principalmente quando ocorria a paralisação do tráfego
fluvial. Isto dificultava as atividades de exportação de sua produção, além da falta de
recursos, por conta da falta de transporte17. Provavelmente, a cidade foi prejudicada quanto
ao seu desenvolvimento em consequência deste isolamento.
No entanto, a historiadora Eliane Nunes (1999) ressalta em sua dissertação que
“Santa Vitória nos anos trinta continuava, apesar de [...] lento, porém constante processo de
crescimento, uma cidade muito semelhante àquela [...] na virada do século XX” (p. 55). De
acordo com a mesma autora, reconhecemos que os centros urbanos mais próximos, dos
quais provinha a modernidade, eram modelos para o desenvolvimento da cidade. “Ser
moderno, no contexto de Santa Vitória do Palmar dos anos trinta, era ter, em termos de

16
Data da 2° edição.
17
Como foi ressaltado em reportagem do jornal Diário Popular, “A Estrada de Rodagem Santa Vitória
– Rio Grande”. 6 de agosto de 1936, p. 03. e “Município de Santa Vitória do Palmar”. 27 de agosto de
1936, p. 09 - 11
31

arquitetura, edifícios semelhantes aos dos grandes centros com os quais a cidade tinha mais
contato, como Montevidéu, Porto Alegre e Pelotas” (NUNES, 1999, p. 164-165).
A partir desta constatação, que “ser moderno” na cidade de Santa Vitória do Palmar
era ter prédios semelhantes aos centros urbanos mais próximos, o interior dos prédios da
cidade possivelmente foram executados tomando os interiores pelotenses como modelo.
Exemplo disso é o fato de possuirem escariolas, provável influencia da grande quantidade
de prédios com paredes escarioladas na cidade de Pelotas, no inicio do século XX.
Portanto, primeiramente, apresentaremos a composição decorativa na cidade de
Pelotas, para então realizar uma comparação com a cidade de Santa Vitória do Palmar,
realizando a descrição das composições selecionadas.

3.1 Composição decorativa das escariolas em Pelotas

A composição ornamental das escariolas da cidade de Pelotas geralmente se


caracteriza por três sessões, que são o soco, uma representação de painel inferior, o friso e
uma segunda representação de painel em maiores proporções que a anterior, até o roda-
forro (ALVES, 2011).

Figura 5: Escariola com as três sessões representadas. Corredor dos fundos do lado esquerdo do Casarão 6,
Praça Coronel Pedro Osório, Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados, Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques (GEPE), 2013.

O soco é uma fiada na base da parede (BURDEN, 2006), que possui uma saliência
de aproximadamente 1cm e máximos 20 cm de altura. Normalmente tem cores mais escuras
32

que as demais sessões da composição, pois o fundo deste não é executado da mesma
maneira. Há casos em que o soco é revestido com rodapé de madeira.
Os apainelados geralmente possuem molduras, destacando os painéis do fundo. As
molduras e os frisos podem ser simples, representadas apenas por uma linha (Fig. 6), ou
compostas com sombreamento (Fig. 7), dando-lhe o aspecto de tridimensionalidade. Este
efeito é chamado trompe l’oeil18.

Figura 6: Representação de moldura simples. Apainelado inferior do corredor dos fundos, lado direito. Casarão 6,
Pelotas, RS

Fonte: Banco de dados, Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques (GEPE), 2013.

Figura 7: Representação de moldura composta. A primeira moldura com estêncil, o fundo e a linha simples com
efeito trompé l’oiel. Apainelado superior. Imóvel inventariado situado à Rua Padre Anchieta, 1459, Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados, Grupo de Estudo e Pesquisa em Estuques (GEPE), 2013.

18
Técnica que cria ilusões de ótica a partir da perspectiva. A tradução literal do termo francês é
“engana olho”. Um exemplo da utilização da técnica com o mesmo intuito, porém aplicado de outra
forma, é encontrado na comuna italiana de Camogli, região da Ligúria. Neste lugar, o trompe l’oeil é
usado nas fachadas dos prédios, simulando janelas, sacadas, etc., desde o século XVIII até os dias
de hoje.
33

Com base nos levantamentos realizados pelo GEPE, também foi possível identificar
uma grande variedade de elementos pintados aplicados em molduras e frisos. São
confeccionados em moldes vazados (estêncil). Nos frisos, estes elementos podem ser
motivos repetitivos tradicionais como óvulos, dentículos, meandros, motivos florais, volutas e
até mesmo animais e figuras antropomorfas. Um tipo recorrente são os motivos florais,
representados na figura abaixo:

Figura 8: Friso com motivos florais no centro e faixas com efeito trompé l’oiel. Prédio inventariado, situado à Rua
Anchieta, 1508. Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados, Grupo de Estudo e Pesquisas em Estuque (GEPE), 2013.

Este modelo de composição é o mais recorrente. No entanto, durante o largo período


em que as escariolas foram executadas, os motivos e padrões foram alterados. Obviamente,
as variações são muito frequentes, pois até em um único prédio as composições de cada
cômodo diferem umas das outras. Não podemos afirmar que as escariolas estudadas nesta
pesquisa seguem estes mesmos padrões.
Entretanto, com a visualização da técnica em Pelotas, podemos ter um embasamento
para estudo da ornamentação em estuque na região e assim ter parâmetros necessários
para o conhecimento de informações estilísticas fundamentais para o planejamento de ações
de conservação e intervenções curativas19.

19
A Conservação engloba todas as ações que tenham como objetivo a salvaguarda do patrimônio
cultural tangível. A Conservação Curativa são as ações aplicadas de maneira direta sobre um bem,
com o objetivo de deter processos danosos ou reforçar a sua estrutura. Essas ações são realizadas
quando os bens se encontram em um estado de fragilidade avançado ou se deteriorando em um ritmo
avançado, de forma que poderiam perder-se em um período relativamente curto (ABRACOR, 2010).
34

3.2 Edificações selecionadas

3.2.1 Clube Comercial Caixeiral

Hoje o nome do Clube social objeto deste estudo é Comercial Caixeiral, devido à
junção que ocorreu em 2010 com o Clube Caixeiral, mas o nome do clube mudou algumas
vezes desde sua criação.
A Sociedade Clube Comercial de Santa Vitória do Palmar foi criada em 1° de agosto
de 1888, situada em um edifício alugado à Rua Conde de Porto Alegre. Em 29 de outubro do
mesmo ano foi transferido para outro prédio e no dia 9 de março de 1890 passou a
denominar-se Clube Comercial Recreativo (LIMA, 2001).
Ainda segundo Lima (2001), no ano de 1893 foi transferido para o prédio atual,
situado à Rua Barão do Rio Branco, ao qual nos referimos neste estudo. Este prédio passou
por uma reforma no período entre 5 de outubro de 1910 e 2 de setembro de 1911, quando
foi inaugurado.
Em 1924 foi iniciada uma nova reforma que se estendeu por quase dois anos, cujo
andamento foi noticiado no Diário Popular do dia 7 de fevereiro de 1925:
Encontram-se bastante adiantados os trabalhos de reconstrução da
sede Social do Club Recreativo que ficará sendo um dos melhores
edifícios desta cidade. As obras e melhoramentos estão sob a direção
do architeto constructor Sr. Joaquim Lino Souza e foram orçadas em
150 contos (SANTA VITORIA..., 1925, p. 3).

De acordo com Nunes (1999), Joaquin Lino de Souza era de Portugal, veio para a
América pela cidade de Buenos Aires, e posteriormente para o Brasil, realizando
construções nas cidades de Rio Grande e Jaguarão. Foi para Santa Vitória do Palmar em
função da construção do Banco da Província, então foi procurado para projetar outras
edificações (LIMA, 2001).

Figura 9: Clube Comercial antes da reforma que ocorreu em 1924. Figura 10: Clube Comercial na década
de1930.

Fonte: MELLO, 1992, p. 246 Fonte: Documentário “Santa Vitória do Palmar 1930 parte 1”.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=HxApYHD-3ic>
35

Desde a reforma de 1924, a única mudança que ocorreu na fachada principal foi o
acréscimo da inscrição “Clube Comercial” no frontão, nome adotado em 23 de julho de 1930
(LIMA, 2001).

Figura 11: Clube Comercial atualmente.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

O clube então, pelas características da sua fachada se relaciona com o período de


“desenvolvimento” do ecletismo na arquitetura das cidades do extremo sul do país,
compreendido entre os anos de 1890 e 1931 (SANTOS, 2007). Não podemos afirmar
quando a escariola do clube foi executava, se foi durante a construção original do prédio, na
reforma do ano de 1910 ou na reforma de 1924.
A primeira hipótese construída para este trabalho seria que a escariola fora
executada na reforma realizada por Joaquin Lino de Souza. Porém, com as imagens da
fachada nas décadas de 1910 e 1930, percebemos que não houve nenhuma grande
mudança na estrutura do prédio. Portanto, não poderemos estabelecer cronologia desta
escariola, apenas ter o período compreendido entre o fim do século XIX e a última reforma
realizada por Joaquin Lino de Souza, na década de 1920.
A seguir a imagem da composição decorativa, a qual é dividida entre um apainelado
superior de grandes dimensões e parte inferior com pseudoblocos emoldurados.
36

Figura 12: Escariola do Clube Comercial.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

3.2.2 Residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, n° 785

A reconstrução desta residência iniciou em dezembro de 1938, com o projeto de


Oscar Martins Netto. No contrato de reforma da residência 20 não foi identificado que o
corredor de entrada seria escariolado. Apenas no quarto de banho, possivelmente houve
mudanças no projeto.
Existe também a informação de que os quartos eram escariolados 21, mas que as
composições foram encobertas, devido à ocorrência de manifestações patológicas.
Atualmente, somente o hall de entrada ainda possui escariola e esta se encontra em bom
estado de conservação (fig. 14).

20
Ver anexo A (p. 62).
21
Informações da proprietária.
37

Figura 13: Residência situada à rua João de Oliveira Rodrigues, 785. SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

No contrato de reforma desta residência está especificado que a fachada (Fig. 13)
seria da seguinte maneira: “O revestimento da frente será de estilo moderno e o relevo da
mesma feito a argamassa de cal e cimento”22.
Abaixo, apresentamos a fotografia da composição decorativa (Fig. 14), com
apainelados superiores fingindo mármore com veios e esponjado salmão, fundo com pintura
em verde sobre branco e apainelado inferior com pintura na cor preta:

Figura 14: Escariola da residência situada à rua João de Oliveira Rodrigues, 785. SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

22
Ver anexo A (p. 62).
38

3.2.3 Residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, n° 956

A construção desta residência iniciou em 193723. Foi obra do mesmo construtor da


residência anterior. Oscar Martins Netto realizou o projeto para seu irmão, Jouber Martins
Netto24. Este construtor realizou diversos projetos na cidade, entre eles a construção da casa
paroquial da Igreja Matriz, com o contrato firmado em janeiro de 1938 (NUNES, 1999).

Figura 15: Residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, 956. SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.


A composição decorativa da escariola da residência possui o apainelado superior com
fingimento de mármore na cor salmão, fundo marrom, sendo a parte inferior do fundo mais
escura, e o apainelado inferior, com veios e esponjado verdes. A seguir, a fotografia da
escariola:
Figura 16: Escariola da residência situada à rua João de Oliveira Rodrigues, 956. SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

23
Informações de Eber Cardoso de Aguiar, ver ficha de levantamento em apêndice A (p. 82).
24
Informação dos proprietários.
39

3.3 Comparações das composições decorativas

Cabe ressaltar aqui a proposta contida no texto de Sérgio Schneider e Cláudia Job
Schmitt (1998), ambos doutores em sociologia pela UFRGS, acerca dos métodos
comparativos em ciências sociais. Segundo estes autores:
A comparação, enquanto momento da atividade cognitiva, pode ser
considerada como inerente ao processo de construção do
conhecimento nas ciências sociais. É lançando mão de um tipo de
raciocínio comparativo que podemos descobrir regularidades,
perceber deslocamentos e transformações, construir modelos e
tipologias, identificando continuidades e descontinuidades,
semelhanças e diferenças, e explicitando as determinações mais
gerais que regem os fenômenos sociais (SCHNEIDER; SCHMITT,
1998, p.01, grifo nosso).

A comparação aqui realizada tem o intuito de identificar fatores que possibilitem


compreender, contextualizar e auxiliar na preservação desta arte decorativa, indicando
particularidades e semelhanças com os modelos conhecidos.
Para realizar a comparação com as composições de Pelotas, identificamos
edificações que tivessem datação semelhante, ou cujas escariolas tenham sido executadas
em um período próximo às de Santa Vitória do Palmar, objeto principal do presente estudo.
A primeira edificação selecionada situa-se à Rua Sete de Setembro, n° 101 (Fig. 17)
e a segunda, à Rua Gonçalves Chaves, n° 271 (Fig. 18). A fachada da primeira é
protomoderna e a segunda possui fachada tradicional, aparentemente do fim do século XIX,
mas a escariola considerada foi refeita após a década de 1930, a julgar pelas características
atuais.
As escariolas selecionadas são integrantes do mesmo compartimento em todos os
locais referidos, o hall de entrada, exceto no prédio pelotense, situado à Rua Gonçalves
Chaves n° 271, no qual a escariola (Fig. 20) se encontra na sala, pois o prédio comercial não
possui hall de entrada, tem acesso direto à calçada.
40

Figura 17: Residência situada à rua Sete de Setembro,101, Pelotas, RS. Figura 18: Prédio situado à rua
Gonçalves Chaves, 271, Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2014.

Figura 19: Escariola da residência situada à Rua Sete de Setembro, 101. Figura 20: Escariola do prédio situado à
Rua Gonçalves Chaves, 271.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2014.

Uma terceira edificação (Fig. 21), do ano de 1933, foi selecionada para que
pudéssemos visualizar a transição que provavelmente estava ocorrendo com a execução
das composições decorativas nesta década. A seguir a imagem da fachada (Fig. 21) e a
fotografia da composição desta residência (Fig. 22), que estava em reforma quando
realizamos o levantamento.
41

Figura 21: Residência situada à rua Gonçalves Chaves,1111, Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2013.

Figura 22: Escariola da residência situada à Rua Gonçalves Chaves,1111, Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2013.

3.3.1 Sessões das composições

No item 2.1 apresentamos a composição ornamental tradicional das escariolas da


cidade de Pelotas, que se caracteriza pela divisão em três sessões, que são o soco, o
apainelado inferior, friso e o apainelado superior. Agora veremos se as composições de
Santa Vitória do Palmar seguem esta divisão, e com quais técnicas são executadas.
Apesar de existir uma divisão semelhante, com apainelado superior e separação da
área inferior, a composição do Clube Comercial Caixeiral não se assemelha com nenhuma
encontrada na cidade de Pelotas25. Normalmente, prédios públicos e semipúblicos possuem
composições decorativas diferentes da grande maioria das residências, por suas

25
Considerando o levantamento parcial realizado pelo GEPE nos últimos 3 anos.
42

características comuns, por exemplo, possuem maiores aberturas e o pé direito destes


prédios é mais elevado.

Figura 23: Divisão das sessões da composição do C.C.C. Figura 24: Vista geral das sessões da composição do
C.C.C.

Fonte: Fotografias de Marina Perfetto Sanes, 2013.

O friso é quase suprimido, sendo apenas duas linhas simples dividindo os apainelados.

Figura 25: Croqui das divisões das sessões da composição.

Fonte: Esquema elaborado por Marina Perfetto Sanes, 2014.

Outro fator observado nesta composição é a utilização de ângulos retos somente, nos
ângulos (cantos) das molduras, e o desenho de retângulos unindo as molduras, com o efeito
trompé l’oeil.
43

As sessões das escariolas das duas residências de Santa Vitória são semelhantes.
Possivelmente, isso ocorra pelo motivo de que as residências foram obras do mesmo
construtor, o Sr. Oscar Martins Netto, sendo que ele mesmo executava as escariolas nas
residências que construiu26.

Figura 26: Croquis das divisões das sessões das composições. A primeira, da residência J.O.R, 785 e a
segunda da residência J.O.R, 956.

Fonte: Esquema elaborado por Marina Perfetto Sanes, 2014.

As composições são simplificadas, não é realizada a execução do efeito trompé l’oeil


e as molduras são compostas de faixas simples.
Figura 27: Escariola da residência situada à Rua JOR, 956, SVP, RS. Figura 28: Escariola da residência situada
à Rua JOR, 785, SVP, RS.

Fonte: Fotografias de Marina Pefetto Sanes, 2013.


Para a execução das faixas, João Segurado (s/d) explica que os estucadores
poderiam usar cordel ou linha para fazer as linhas retas. O cordel era manchado com carvão

26
Informação de Eber Cardoso de Aguiar.
44

ou tinta em pó, esticado nos extremos da linha que se deseja desenhar e “batido” na parede,
de modo que o traço fique marcado.
De acordo com Aguiar et al (2001), as molduras poderiam ser usadas para encobrir
as divisões das jornadas das escaiolas e também serviam como juntas de dilatação.
No entanto, observando as composições, não encontramos semelhanças com o que
é descrito nestes manuais. A moldura pode ter sido realizada com um esboço na forma que
Segurado descreve, mas o que podemos identificar hoje é a marcação com lápis de
carpinteiro no clube e uma incisão nas molduras das residências de Santa Vitória. Abaixo o
detalhe do ângulo da moldura da composição do clube social:

Figura 29: Pormenor do ângulo da moldura e localização da imagem na composição.

Fonte: Fotografia e esquema de Marina Perfetto Sanes, 2013/2014 .

Na residência situada à Rua Sete de Setembro, n° 101, Pelotas, também é possível


identificar que a moldura foi traçada com lápis, de forma semelhante à moldura da
composição do clube.
Figura 30: Moldura traçada com lápis de carpinteiro e localização da imagem na composição.

Fonte: Banco de dados do GEPE. Esquema elaborado por Marina Perfetto Sanes, 2014.
45

As molduras das escariolas das residências de Santa Vitória são riscadas de forma
um pouco distinta. Supõe-se que o desenho foi realizado com uma ponta arredondada de
metal com leve pressão para marcar de forma incisa na argamassa, semelhante ao que foi
descrito por Alves (2011) como a realização da pintura sobre o marmorino comum em
Pelotas, retratada no item 1.3 deste estudo. A escariola de Pelotas do prédio situado à Rua
Gonçalves Chaves foi realizada sem este compromisso de marcar a argamassa para o
desenho, parecendo até mesmo, que é feito a mão livre.

Figura 31: Marcação na superfície para o desenho da moldura Figura 32:Linha da moldura feita a mão livre.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013. Fonte: Banco de dados do GEPE, 2014.

Figura 33: Localizações das imagens nas composições.

Fonte: Esquema elaborado por Marina Perfetto Sanes, 2014.

As duas composições das residências de Santa Vitória não possuem soco, que seria
uma saliência na base da parede, descrita anteriormente. Na residência situada á Rua João
de Oliveira Rodrigues n° 785, é realizada a simulação do mesmo:
46

Figura 34: Simulação do soco na escariola da residência situada à Rua JOR n° 785, SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

O fato de não haver o soco, que normalmente possui a composição da argamassa


diferenciada para ter maior resistência à umidade, acabou contribuindo para o surgimento de
manifestações patológicas na área próxima ao piso, resultando no descolamento da camada
superficial do estuque e eflorescências. Embora seja comum o surgimento de eflorescências
no rodapé, em função de fatores descritos no Apêndice B (p. 96).

Figura 35: Área próxima ao piso com danos.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

A composição do prédio situado à rua Gonçalves Chaves, n° 271, também não


possui soco e tem perdas do revestimento nesta área.
47

Figura 36: Composição do prédio inventariado situado à Rua Gonçalves Chaves, 271, Pelotas, RS.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2014.

Na residência situada à Rua João de Oliveira Rodrigues n° 956, existe uma divisão
entre o fundo do apainelado inferior e o superior, feita por uma linha que une-se com a
moldura do apainelado inferior. A divisão teria a mesma função que o friso, diferenciando os
fundos dos apainelados.

Figura 37: Linha divisória na composição da residência situada à Rua JOR n° 956, SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

Em todas as composições não existem elementos decorativos em estêncil. Tanto nas


três composições de Santa Vitória, como nas duas que selecionamos em Pelotas, excluindo
os elementos figurativos destas escariolas.
No caso de Pelotas isto se deve ao período em que foram executadas, possivelmente
a partir do final da década de 1930. Contudo, isto não é uma regra, pois na cidade também
existem composições de períodos anteriores que não possuem elementos em estêncil ou
efeito trompé l’oeil.
Todavia, em Santa Vitória, independente do período em que se fez, nenhuma
composição possui esses elementos. As composições de Santa Vitória, portanto, possuem
paralelos formais em Pelotas, mas estes são raros nesta cidade.
48

3.3.2 Cores e fingimentos

O fingimento de rochas ornamentais, “embora sem sugerir a terceira dimensão, cria,


pela sugestão de outros materiais com texturas e cores variadas, espacialidades mais
complexas e articuladas que a simples superfície muraria à qual se sobrepõe” (AGUIAR;
TAVARES; MENDONÇA, 2001, p. 8).
Para a realização de fingimentos, o pintor fingidor necessita de esponjas, pinceis e
pigmentos suspensos em água. Como já foi abordado, pode-se realizar fingidos de madeiras
nobres e rochas ornamentais (SEGURADO, s/d). Fingia-se madeira sobre a própria madeira
e as rochas ornamentais nos estuques (AGUIAR, TAVARES; MENDONÇA, 2001).
João Segurado (s/d) indicava ainda as cores dos mármores que deveriam ser
fingidos em cada espaço da edificação, sendo que em locais com pouca luz deveriam usar-
se cores mais claras e em locais iluminados indicava pinturas com tons mais escuros.
Para a realização dos fingimentos em uma residência da década de 1930 em
Pelotas, podemos observar que são utilizadas poucas cores, ou o mesmo pigmento, mais ou
menos concentrado. A residência que possui a composição reproduzida na figura abaixo
(Fig. 38) foi construída em 1933, alguns anos antes das residências acima referidas, o que
demonstra que possivelmente neste período, Pelotas viu surgirem composições que não
possuíam grande variação de cores, como as escariolas de décadas anteriores,
exemplificadas anteriormente.
49

Figura 38: Composição decorativa em residência construída no ano de 1933. Imóvel inventariado situado à Rua
Anchieta, n° 1111.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2013

Semelhante ao uso de cores representado nesta escariola, João Segurado (s/d)


retrata que no estuque liso poderia ser realizado um apainelado simples e faixas de
aproximadamente 15 centímetros pintadas afresco no roda-forro e rodapé, limitadas por
traços. Esta composição seria da mesma cor da parede, um tom mais escuro, quando o
estuque é a cores, ou em uma cor mais acentuada quando o estuque é branco. Mas esta
pintura é feita quando o estuque não possui fingimento e é realizado com molduras simples,
sem efeito trompé l’oeil.
Ainda segundo João Segurado (s/d), quando aborda a realização de fingidos de
mármore, explica que o pintor fingidor deve possuir grande habilidade, gosto e imaginação.
Necessita realizar um estudo dos veios do mármore e outras rochas que venha a fingir e
conhecer os efeitos gerados pela sobreposição de cores.
Josef Füller (s/d) por sua vez, condenava as chamadas “pedras de fantasia”.
Segundo o autor, esses fingimentos não tinham valor artístico e demonstravam mau gosto
do fingidor. Para este autor, os fingimentos deveriam ser executados por pessoas que
possuíssem grande conhecimento sobre as particularidades das rochas ornamentais.
A composição da residência situada em Pelotas, à Rua Sete de Setembro, n° 101,
possui cores que não se assemelham às das rochas naturais, e o esponjado é feito de forma
repetitiva, sem qualquer sentido de imitação, caracterizando uma “pedra de fantasia”:
50

Figura 39: Apainelado inferior e parte da pilastra, com fingimento inverossímel.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2014.

A composição decorativa do Clube, em Santa Vitória, executada na década de 1920


ou em período anterior, possui fingimentos que mimetizam os mármores com mais
verossimilhança, ou seja, o estudo da estrutura e textura das rochas foi realizado pelo pintor
fingidor, pois é possível reconhecer nos elementos da pintura o que lhe serviu de modelo:
veios de um autêntico mármore polido.

Figura 40: Um tipo de Mármore Carrara. Figura 41: Pseudoblocos com fingimento semelhante ao Mármore
Carrara.

Fonte fig. 40: <http://www.altoliberdade.com.br/pt/> acesso em 31 jan. 2014, 17:18 hrs.


Fonte fig. 41: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

Com o passar dos anos é comum que aconteçam mudanças no modo de execução
dos revestimentos. Portanto, podemos perceber que as escariolas da década de 1930 em
diante não foram executadas por fingidores que estudavam rochas.
Contudo, isto não desvaloriza estes fingimentos de maneira nenhuma, pressupõe a
transição para uma maior autonomia, executando estas escariolas de uma forma
independente, sem seguir os padrões europeus, que aparentemente não puderam exercer
sua influência na região a partir desta época, talvez o prenúncio de um longo processo em
que a execução destes revestimentos foi paulatinamente substituída por azulejos e outros
materiais, como os rebocos de argamassas de cimento. Isto expressa o sentido singular
desta produção ornamental, no limite de sua existência, incorporando novas tendências.
51

Entretanto, mesmo com o estudo realizado para a execução dos fingimentos, João
Segurado (s/d) considera que “em geral a imitação afasta-se bastante do natural, segundo a
forma como o fingidor interpreta o trabalho; [...], permitindo todavia que a imaginação do
artista, fantasie um pouco, fazendo, [...], variações sobre o mesmo motivo” (SEGURADO,
s/d, p. 286).
A escariola do prédio situado em Pelotas, à Rua Gonçalves Chaves n° 271, sugere
que não havia a intenção de realizar fingimentos de rochas ornamentais e sim imitar a
própria escariola.
Figura 42: Escariola que não representa fingidos de mármore.

Fonte: Banco de dados do GEPE, 2014.

Quanto às cores utilizadas, a variação é pequena, mesmo nas composições que


possuem cores mais acentuadas, sendo utilizado basicamente o verde, marrom, salmão e
preto, nas duas residências de Santa Vitória do Palmar (Figuras 42 e 43). A escariola do
clube possui uma variação de cores ainda menor, apenas dois pigmentos foram utilizados.

Figura 43: Escariola com pintura em cores acentuadas em residência de SVP.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.


52

Figura 44: Composição com pintura em cores acentuadas em residência de SVP.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2013.

Podemos considerar que o estilo moderno, era contra o exagero de ornamentos e


simulação de materiais (LIMA, 2008), o que ajuda a entender estas mudanças. No entanto,
percebemos que não existe esta preocupação, ou ideologia, na ornamentação das
residências desta região. Como também o ecletismo foi desenvolvido no país diferentemente
da Europa, sem vínculos políticos ideológicos (MACAMBIRA, 1985).

3.3.4 Variações

Além das três composições selecionadas para o estudo, é conhecida a existência de


outras edificações que possuem escariolas na cidade de Santa Vitória, algumas mais
recentes e outras do período referido, entre fim do séc. XIX e a década de 1930.
De modo que as três edificações selecionadas, se tratam de duas residências
construídas em um período muito próximo pelo mesmo construtor e o outro prédio tem
diferente designação, não podemos estabelecer uma comparação entre os mesmos. A ser
assim, identificamos outra composição que pertencesse a uma residência, construída em um
período anterior, para indicar se as regularidades apresentadas até o momento eram
persistentes.
A partir disto, vale destacar a composição de uma residência (Fig. 40) que não foi
selecionada para o estudo, porém, foi construída em um período entre as décadas de 1920
e 1930.
53

Figura 45: Prédio situado à Rua Barão do Rio Branco, n° 426, SVP, RS.

Fonte: Fotografia de Rossana Perfetto Sanes, 2014.

A escariola desta residência possui elementos distintos aos identificados nas outras
três composições da cidade, porém, também existem semelhanças a ser destacadas.

Figura 46: Composição decorativa do prédio situada à Rua Barão do Rio Branco, 426.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2014.

Nesta composição, existe apenas o apainelado inferior e o friso, com o rodapé (soco)
encoberto com tinta. O apainelado superior é branco, sem pintura, havendo apenas um
losango com as iniciais do primeiro dono da residência “OSB”:
54

Figura 47: Losango com as iniciais “OSB”.

Fonte: Fotografia de Marina Perfetto Sanes, 2014.

Mesmo com as diferenças apontadas, todas as composições apresentadas da cidade


de Santa Vitória tem algo incomum, não foi identificada a utilização de elementos repetitivos
em estêncil. No caso do Clube e esta residência (Fig. 42), não temos o conhecimento de
quem foi o pintor, se o mesmo era santa vitoriense ou não. O fator de não utilizar estêncil
reduzia o tempo de trabalho, tendo em vista que havia uma grande demanda por estas
pinturas na região. Por outro lado, pode ser a preferência por um modelo mais simples na
cidade, ou por ter um custo menor, ou em função de influencias de construções uruguaias,
as quais os moradores de Santa Vitória possuíam algum contato.
Também é possível estabelecer que esta última tem características em comum com o
clube, como as tonalidades das cores utilizadas, o desenho das molduras (em proporções
muito inferiores) e o desenho dos veios.
O registro das tipologias dos ornatos, o conhecimento da existência de variantes nos
diversos períodos em que foram executados, assim como a identificação dos artífices e
quem os contratou, são ferramentas fundamentais para a preservação dos ornamentos em
estuque, que mesmo desprotegidos do ponto de vista legal, ainda se preservam (AGUIAR;
TAVARES; MENDONÇA, 2001).
O desconhecimento sobre a forma de execução e os materiais utilizados, aliados às
manifestações patológicas decorrentes da falta de manutenção, contribuem para que esses
ornamentos sejam substituídos ao invés de restaurados, muitas vezes por falta de
alternativas. Assim, a falta de proteção legal e a ausência de propostas de conservação e
manutenção, podem resultar no desaparecimento desta arte decorativa singular, visto que,
as escariolas, diferentemente dos ornamentos de estuque em relevo, não podem ser
reproduzidas. Portanto, seu desaparecimento resultaria no completo esquecimento desta
arte local.
Entre os quatro prédios do município de Santa Vitória citados, apenas o Clube possui
proteção legal, pela Lei dos Prédios Históricos Nº 1.738, de 28 de dezembro de 1981. As
55

residências selecionadas para este estudo não possuem nenhum meio de proteção. Sendo
assim, sua preservação depende exclusivamente de seus proprietários.
56

4. Conclusão

Este trabalho visou contribuir para a preservação de interiores de edificações que


possuem “escariolas”, visto que esses revestimentos são parte da arquitetura de uma época
em que a comunidade demonstrava um grande interesse no desenvolvimento sociocultural
na cidade.
A ideia de fazê-lo surgiu da participação da autora como bolsista no Grupo de
Estudos e Pesquisas em Estuque (GEPE), onde são desenvolvidas ações com o objetivo de
valorizar os estuques lustrados (escariolas) dos casarios pelotenses, enquanto bens
culturais.
No primeiro capítulo fizemos uma revisão bibliográfica das receitas tradicionais
utilizadas na confecção de estuques lisos. Também identificamos as mais recorrentes na
cidade de Pelotas para estabelecer, partindo da amostra estratigráfica de uma escariola
vitoriense, se eram semelhantes, visualizando as características dos estratos aparentes.
Identificamos que existem diferentes formas de execução e técnicas, assim como
os materiais e ferramentas para a execução, como podemos identificar através de materiais
fornecidos por um escariolista da cidade. Também foi possível constatar que a dificuldade de
transporte influenciou a receita tradicional. Não era objetivo do estudo identificar os materiais
utilizados nas receitas por meio de exames destrutivos, no entanto, acreditamos que a
receita utilizada para a execução da escariola do clube é a mesma do estuque lustrado.
Porém, nas residências, supomos que não era utilizado o pó de mármore na última camada,
sendo assim, a receita se assemelha com o estuque à italiana, descrito por João Segurado.
Durante o estudo foi possível identificar a utilização da denominação “escariola”
nas duas cidades, em um documento do início do século passado e em relatos atuais na
cidade de Santa Vitória do Palmar, assim como em um anúncio de jornal de 1932 na cidade
de Pelotas. Esta coincidência terminológica pode indicar proximidade entre as técnicas nas
duas cidades onde o estudo foi realizado.
No segundo capítulo, identificamos as diferenças e semelhanças das
composições decorativas da cidade de Santa Vitória do Palmar, ressaltando fatores como,
por exemplo, o modo de execução, que exclui o uso de elementos decorativos em estêncil e
o uso de uma pequena variação de pigmentos, mesmo nas composições que possuíam
cores mais acentuadas. Estabelecemos assim, elementos distintos entre as composições
decorativas das cidades de Pelotas e Santa Vitória do Palmar.
Também realizamos o levantamento das manifestações patológicas (em apêndice
B, p. 96), identificando as possíveis causas, para contribuir com a elaboração de futuras
propostas de intervenções.
57

Vale ressaltar que as residências estudadas não possuem nenhum tipo de


proteção de patrimônio, somente o clube, pela Lei dos Prédios Históricos Nº 1.738. Portanto,
a preservação das escariolas depende exclusivamente dos proprietários, do interesse em
manter a história da edificação que possui.
Este trabalho tem o objetivo de contribuir para a preservação destes ornamentos,
com o registro e estudo das composições, auxiliando na salvaguarda deste patrimônio,
muitas vezes desvalorizado e não reconhecido pelos projetos de lei que visam à proteção do
patrimônio edificado. Esperamos que este trabalho de conclusão de curso possa colaborar
com futuros estudos sobre a composição estética das escariolas da região, bem como a
realização de ações efetivas que divulguem sua importância como arte decorativa e
contribuam para sua valorização e preservação.
58

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Cíntia Alves. Concreto de Cimento Portland Branco Estrutural: análise da


adição de pigmentos quanto à resistência à compressão. Trabalho de Conclusão
(mestrado profissional) Escola de Engenharia. Curso de Mestrado Profissionalizante em
Engenharia. UFRGS. Porto Alegre. RS. 2006. 84p.
AGUIAR, José. Cor e Cidade Histórica: Estudos Cromáticos e Preservação do
Patrimônio. Porto: FAUP, 2002.
AGUIAR, José; TAVARES, Martha; MENDONÇA, Isabel. Fingidos de Madeira e de Pedra:
Breve historial, técnicas de execução, de restauro e de conservação. Lisboa: CENFIC,
2001.
Agregados para a construção civil. Disponível em: <<http://anepac.org.br/wp/wp-
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REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS

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RS, Ano XLVI, 6 ago. 1936, n. 177, p. 03.
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ago. 1936, n. 193, Edição Especial do aniversário do Diário Popular, p. 09 - 11.
NETTO, Oscar Martins. Contrato de reforma da residência de Laureana Fernandes
Correa (Manuscrito). Santa Vitória do Palmar, RS. 1 dez. 1938.
PEQUENOS ANNUNCIOS. Diário Popular. Pelotas, RS, Ano XLII, 22 jan. 1932, n. 17, p. 2.
SANTA VITORIA, 5. Diário Popular. Pelotas, RS, Ano XXXVI, 7 fev. 1925, n. 31, p. 3.
61

ANEXOS
62

Anexo A – Manuscrito do contrato de reforma da residência de Laureana Fernandes


Correa, de autoria de Oscar Martins Netto, p. 01
63

Anexo A – Manuscrito do contrato de reforma da residência de Laureana Fernandes


Correa, de autoria de Oscar Martins Netto, p. 02, 03.
64

Anexo A – Manuscrito do contrato de reforma da residência de Laureana Fernandes


Correa, de autoria de Oscar Martins Netto, p. 04.
65

Anexo B – Receita de Escariola elaborada pelo Sr. Luiz Albino Reinehr, 2013.
66

Anexo C- Mapa da cidade de Santa Vitória do Palmar

Fonte: Google <https://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl>, 2014.


67

Anexo D- Mapa com a localização dos prédios na cidade de Santa Vitória do Palmar

Fonte: Google <https://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl>, 2014.

Clube Comercial Caixeiral (Rua Barão do Rio Branco, n° 307).


Residência situada à Rua Barão do Rio Branco, n° 426.
Residência Situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, 785.
Residência Situada à Rua João de Oliveira Rodrigues, 956.
APÊNDICES
69

Apêndice A- Corpus Documental


70

Neste Corpus Documental estão presentes as fichas de levantamento dos estuques


lustrados que utilizamos no desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso. As
fichas seguem o modelo padronizado para a realização dos levantamentos desenvolvidos
pelo GEPE.
Os responsáveis pelo levantamento e preenchimento das fichas estão indicados no
campo “Equipe de Registro”. As equipes eram formadas por um professor ou um técnico, e
alunos bolsistas do Grupo.
A primeira parte é composta pelas fichas de levantamento dos estuques lustrados da
cidade de Santa Vitória do Palmar, na qual temos os prédios do Clube Comercial Caixeiral e
três residências. Na segunda parte estão as fichas de levantamento dos três prédios da
cidade de Pelotas, que serviram como exemplos para as comparações e descrições.
71

1. Fichas de Levantamento dos estuques lustrados: Santa Vitória do Palmar

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