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O PRÓLOGO DO EVANGELHO DE JOÃO

João 1.1-14
Introdução
Um dos principais temas do Evangelho de João é a sua Cristologia. Dos quatro
Evangelhos, João é quem fala com a maior clareza sobre a natureza da pessoa de Jesus
Cristo.
João faz as declarações mais claras sobre a encarnação e a divindade de Cristo. Isso é
especialmente verdadeiro no prólogo. O significado deste prólogo reside no fato de que
João não espera até o fim para revelar a identidade da Pessoa de Quem ele escreve.
“João apresenta Jesus aos leitores antes que a história propriamente dita comece para
que eles conheçam a verdadeira identidade do personagem central”. O termo chave para
este prólogo é o conceito de “Palavra” (gr. λόγος), que é o termo pelo qual João
descreve o filho eternamente gerado de Deus. O prólogo expõe a natureza, identidade e
atividades desta Palavra, que então fornece o pano de fundo para a Cristologia do
restante do Evangelho de João.
O Prólogo é uma reflexão sobre a Divindade e Encarnação de Jesus Cristo, o Verbo
feito Carne. É uma das passagens teológicas mais significativas do Novo Testamento
bem como de toda Bíblia. Começa e termina na eternidade, o que efetivamente enfatiza
a entrada do Verbo no tempo e na história através da Encarnação no versículo quatorze.
João identifica Jesus como a Palavra – λóγος. A Palavra é o canal de abertura, é
conexão direta com Gênesis 1:1, "no princípio"; o Verbo estava com Deus desde o
princípio. Temas introduzidos no Prólogo, como luz, vida, trevas, testemunho, fé, glória
e verdade, são desenvolvidos de forma mais completa em todo o Evangelho de João.
A parte central do Prólogo apresenta João Batista, um homem enviado por Deus, que
veio como testemunha da verdadeira Luz, que ilumina todo homem, vindo ao mundo
Jesus Cristo se identifica como a Luz do mundo em João 9:5. Por meio de Cristo o que
era impossível torna-se possível, o homem pode se tornar filho de Deus através da Luz.
Na conclusão João fecha com o momento dramático da encarnação de Jesus Cristo,
quando o Verbo se fez Carne, cheio de graça e de verdade, o único Filho do
Pai (versículo 14). E retorna à eternidade no versículo final, quando o Filho revela o
Pai.
O princípio da Encarnação introduzido no Prólogo tornou-se o tema que conduz todo o
Evangelho de João, de modo que devemos distinguir ao longo da vida de Jesus, a sua
natureza humana e o mistério do "Filho que vem do Pai", mistério que se revela em
Cristo Jesus, o homem.
Em suma, a Cristologia de João é introduzida no Prólogo e a evidência de apoio é
apresentada no restante do Evangelho.

Propósito
O propósito de João ao usar um prólogo é destinado a encorajar os leitores a examinar
as evidências que apoiavam sua surpreendente revelação. Os leitores judeus
reconheceriam o motivo do Logos das tradições palestinas do Targum Memra e o termo
“Palavra de Deus” instantaneamente traria à mente a primeira história da criação
encontrada em Gênesis 1:1.
Os judeus helenísticos também reconheceriam o dualismo da tradição grega do Logos.
Os judeus que mais tarde se tornaram cristãos teriam se familiarizado com os sinóticos e
associariam o Logos com Cristo.
João também adotou o prólogo grego como um artifício literário para introduzir o Logos
eterno do mundo cristão de uma maneira familiar, ao mesmo tempo em que redefinia o
logos familiar do mundo grego como o Logos cristão. As semelhanças com o prólogo
grego parecem claras, mas seu uso foi proposital. João apresenta uma história da criação
que antecede o logos grego e apresenta o Logos divino, que era a força criadora de todas
as coisas. Os leitores gregos, certamente teriam se identificado com o Logos até chegar
ao versículo 14, quando o Logos divino se reveste na forma de humanidade. A essa
altura da história, o leitor grego gostaria de aprender mais sobre o Logos.

Análise

A Palavra no Início (1:1-5)


1:1-2 A Palavra e Deus
O foco do Prólogo está em Deus em relação à humanidade, e não em Deus em relação a
Si mesmo, é difícil de separar da linguagem do Gênesis 1, com sua referência de "no
início" era a "Palavra" João clara e intencionalmente faz conexão entre Jo 1.1 3 Gn 1.1
foi esta Palavra de Deus que chamou todas as coisas a existência.
É bem provável que João se refira a expressão “no” de duas maneiras, a frase "no
início" combina tanto um sentido temporal ("no início da história" quanto um sentido
cosmológico ("na raiz e origem do universo").
Podemos afirmar que o conceito “no início” em João 1 têm um propósito ainda mais
amplo do que simplesmente fazer referência a Gênesis 1, João nos revela algo novo, ele
apresenta a Palavra como um ser existente antes do mundo ser feito bem como faz
distinção entre a Palavra e Deus.
Em outras palavras, os versos de abertura enfatizam que o Logos é identificado como
sendo plenamente Deus, de modo que o que será dito sobre a Palavra será feito no
objetivo de identificar as duas pessoas (o Deus de Ge 1 e o Cristo de Jo1) e suas
relações mútuas.

A Palavra e a Criação (1:3-5)


O restante desta primeira seção (1:3-5) descreve o caráter abrangente da obra de
redenção de Cristo. Aqui, a frase de 1:3 é melhor vista como uma expansão da atividade
da Palavra na criação, enfatizando o envolvimento da Palavra.
A palavra "vida" (zoe) é um dos vários termos carregados de significado no evangelho
de João. A Palavra é desde o início, a fonte de toda a vida (cf. Gen 2:7, 9). João nos
direciona à estreita conexão entre a vida e a luz na doação e sustentação da vida (João
8:12).

A Vinda da Palavra como a Luz do Mundo (1:6-13)


1:6-9 A Palavra e João Batista
A inserção explicativa sobre a preexistência da Palavra e o papel profético de João
Batista deixa clara a importância de João em preparar o caminho para o Messias bem
como deixar evidente que Cristo tem primazia desde o início sobre o ministério de João
Batista. O argumento será fortalecido mais adiante (vs19) quando o próprio João Batista
confessa que sua identidade é distinta da do Messias.

1:10-13 A Resposta do Mundo à Palavra


O evangelista aparentemente tinha um duplo propósito, referindo-se tanto à relação dos
Logos com a criação e o povo de Israel, quanto à sua encarnação no ministério de Jesus.
A palavra kosmos ("mundo"), é repetida três vezes, a fim de explicar que a criação de
1:3 (e aqui particularmente o domínio humano dessa criação) inexplicavelmente rejeita
o Logos em sua manifestação. Essa falta de percepção pelos contemporâneos de Jesus
será um tema importante mais tarde no Evangelho (por exemplo, 9:35-41; 11:9, 40;
12:37-45; também 1:14).
A seção conclui na nota de esperança, enfatizando a possibilidade para aqueles que
creem nascer de novo e recriar através do mesmo Deus que trouxe toda a criação a
existência. A construção tripla negativa ("não nasceram segundo a ordem natural, nem
como resultado da paixão ou da vontade humana" em 1:13, NIT) aumenta o contraste
entre os processos convencionais e naturais do mundo criado e a novidade que o
programa de ministério e salvação de Jesus traz ao mundo.

A Encarnação e Glória da Palavra na Carne (1:14)

1:14 A Encarnação da Palavra


A seção final do Prólogo reúne os vários elementos introduzidos a este ponto. A
atenção agora muda para a centralidade da encarnação e suas implicações.
A Palavra "tornar-se" no lugar de "ser", sinalizando que ela assumiu uma forma
dramática e abrangente.
A ênfase parece estar mais sobre uma justaposição entre l:l e 1:14 onde a Palavra
paradoxalmente era totalmente Deus e agora é completamente "carne", mas ambos são
igualmente verdadeiros. Outro paralelo pode ser encontrado entre l:l ("estava com
Deus") e 1:14 ("habitou entre nós")."
Além disso, uma ligação próxima aqui "a Palavra... habitando entre nós, e vimos sua
glória" é uma alusão ao cumprimento das promessas da "Nova Aliança" sobre a
aproximação de Deus do seu povo de uma forma que substituirá tanto o tabernáculo
quanto o templo. Tais imagens se transportam através da esperança apocalíptica do
Novo Testamento. (Ap 21:3).
A palavra unigênito é mais do que somente apresentação da filiação está também ligada
intimamente à relação única de Jesus com o Pai.

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