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Introdução

A Bíblia é, para os cristãos reformados, a regra única e infalível de fé e prática. Ela


ensina o que devemos crer acerca de Deus (fé) e o dever que Deus requer de nós
(prática). Fé e prática são inseparáveis. Sem o conhecimento real das Escrituras a fé
degenera-se em superstição e a prática da vida cristã transforma-se em moralismo.

De Gênesis a Apocalipse, a Bíblia mostra como os propósitos de Deus se cumprem


na história. Ela começa com a origem de todas as coisas (Gênesis), e termina na
consumação de tudo (Apocalipse). O estudo cuidadoso da Bíblia nos capacita a discernir
o significado de tudo o que acontece. Ela é lâmpada para os nossos pés e luz para os
nossos caminhos (Salmo 119.105).

As lições do curso Conhecendo a minha Bíblia – Antigo Testamento tem por


objetivo apresentar as raízes da fé cristã no Antigo Testamento. O Novo Testamento não
tinha ainda sido escrito quando Jesus disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter
nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5.39). Com certeza,
ele se referia ao Antigo Testamento. Aos discípulos no caminho de Emaús, confusos por
não entenderem o significado da sua morte e incrédulos quanto à sua ressurreição, ele
disse: “Ó nescios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram. E,
começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu
respeito constava em todas as Escrituras” (Lucas 24.25,27).

Agostinho de Hipona afirmou que o Novo Testamento está latente (ou escondido)
no Antigo Testamento, enquanto este está patente (ou manifesto) no Novo Testamento.
Portanto, as ações de Deus para a nossa salvação em Jesus Cristo, registradas no Novo
Testamento, não aconteceram num vácuo. Elas têm raízes na história, de acordo com o
testemunho do Antigo Testamento.

A leitura das lições deste curso pelos alunos, e o estudo em classe sob a
orientação do professor, contribuirão para que todos compreendam a solidez da fé cristã.
Este é o nosso desejo e a nossa oração.

Mathias Quintela de Souza

1
Encontro 1

VISÃO GERAL E PRIMÓRDIOS

Quando fazemos a nossa pública profissão de fé e batismo declaramos que a


Bíblia é nossa regra única e infalível de fé e prática. Devemos, portanto, nos dedicar ao
conhecimento das Sagradas Escrituras por uma simples questão de coerência.

Pare e pense! Como podemos conhecer e crer em Deus (fé) e cumprir o dever
que ele exige de nós (prática) se não estudamos cuidadosamente a Bíblia que
registra este ensino? Qual o objetivo central das Escrituras? Medite na
importância de conhecer a Bíblia de Gêneses a Apocalipse.

Por outro lado, não devemos estudar a Bíblia por curiosidade, mas tendo em mente
qual é o objetivo central das Escrituras: ter o conhecimento necessário para que
possamos crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida
em seu nome (João 20.31; João 5.39; Lucas 24.25-27, 32). Ao crermos em Jesus, ele
passa a habitar, pela fé, em nossos corações por meio do Espírito Santo (Efésios 1.13,
João 14.23). Este mesmo Espírito derrama o amor de Deus nos nossos corações
(Romanos 5.5) e nos capacita a viver de acordo com os princípios de Deus revelados na
Bíblia (prática). Este é o estudo que promove o nosso crescimento espiritual.

Ao lermos a Bíblia, precisamos levar em conta:

 A revelação, ou seja, os fatos narrados de Gênesis a Apocalipse nos quais


Deus se revela;
 A inspiração, que é o registro fiel desses fatos sob direção do Espírito
Santo;
 A iluminação, pela qual o Espírito Santo nos faz entender o real sentido da
palavra de Deus. O grande prejuízo no uso da Bíblia é a visão fragmentária
que se tem dela. Isto tem dado origem às mais diferentes heresias com
pretensa base bíblica. Por isso, vamos nos esforçar para termos uma visão
geral coerente da história sagrada registrada na Bíblia.

1. Visão Geral

O curso que estamos iniciando tem o objetivo de ajudá-lo a conhecer a Bíblia. A


palavra bíblia tem origem no plural grego βίβλια (livros) cujo singular é βίβλιον (livro).
Como o próprio nome indica, a Bíblia é uma coletânia de 66 livros (39 no Antigo
Testamento e 27 no Novo Testamento) escrita num período de mais ou menos 1.500
anos, por cerca de 40 escritores, que viveram em tempos e lugares diferentes, com

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variados graus de cultura, mas que, pela inspiração do Espírito Santo, perceberam e
registraram com precisão a revelação divina (2 Pedro 1.20-21; 2 Timóteo 3.16-17). Por
isso, podemos afirmar que a Bíblia é a palavra de Deus.

De Gênesis a Apocalipse, a Bíblia narra a história da ação de Deus, vivida entre os


homens. “É o único livro que vai, de modo completo, do princípio ao fim; começa pela
menção das coisas criadas e termina na consumação do mundo” 1. Entre os pontos
extremos, criação e consumação, temos a inserção do tempo na eternidade, onde se
desenrola a História Sagrada, sintetizada nas palavras:

 Primórdios (Gênesis 1 a 11);


 Israel (Gênesis 12 a Malaquias);
 Cristo (Mateus a João);
 Igreja (Atos a Apocalipse).

Os fatos registrados na Bíblia aconteceram num pequeno espaço do planeta terra


conhecido como “mundo bíblico”. A primeira parte refere-se aos fatos que aconteceram no
Oriente: Éden, Dilúvio, Babel. Não se sabe exatamente a localização geográfica, mas, o
significado espiritual que tem importância para a nossa fé, fica claro.

A história sagrada começa, de fato, com a chamada de Abraão, de Ur dos


Caldeus, para Canaã, terra prometida. Com Abraão, começa a marcha do Oriente para o
Ocidente. No Novo Testamento chega-se a Roma. Paulo expôs seu plano de visitar o
extremo ocidental conhecido, Espanha.

Abraão, Isaque e Jacó foram peregrinos na terra da promessa. O povo, no tempo


de José, desceu ao Egito onde foi escravizado por Faraó e libertado, só depois de
quatrocentos anos, por intermédio de Moisés, no Êxodo. A conquista e a posse da terra
prometida aconteceram sob a liderança de Josué. Depois, durante duzentos e cinquenta
anos, Israel foi liderado pelos juízes. Esse período foi seguido pelas fases do reino unido,
do reino dividido, do exílio e da restauração.

Neste curso, vamos estudar estes períodos históricos do Antigo Testamento. No


próximo curso (Conhecendo a minha Bíblia – Novo Testamento), estudaremos os
períodos históricos da Igreja no Novo Testamento.

Os primórdios é o período que precede as narrativas das relações de Deus com o


seu povo. A marcha histórica do povo de Deus, tanto no Antigo Testamento (Israel)
quanto no Novo Testamento (Igreja), bem como as suas fontes narrativas, podem ser
observadas no gráfico abaixo2.

1
Júlio Andrade Ferreira, Conheça a sua Bíblia, p. 13
2
As figuras e gráficos são usadas do livro “Conheça a sua Bíblia”, de Júlio Andrade Ferreira, edição esgotada.
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Como já vimos, neste curso daremos uma visão geral. Por isso, não será possível
entrar em pormenores. Serão destacadas as lições espirituais de cada período tendo em
vista o fato de que a Bíblia é a Palavra de Deus. Vamos começar pelos primórdios, que
precedem a história de Israel. Neste período temos preciosas lições espirituais.

2. Os primórdios

Três palavras resumem o conteúdo desse período que vai do capítulo 1 ao capítulo
11 de Gênesis: Éden, Dilúvio e Babel.

2.1. Éden

Primeiro, vamos estudar o período sintetizado na palavra Éden (Gênesis 1 a 5.32).


A lição principal é o encontro do homem com Deus.

Nos capítulos 1 e 2 temos a narrativa de que no princípio Deus criou todas as


coisas com ordem, no espaço de seis dias e tudo muito bom. Éden traduz a ideia de
jardim, com belas flores, e pomar, com árvores lindas e frutíferas (Gênesis 2.8-9). Este é
o cenário perfeito onde Deus colocou o homem criado à sua imagem e semelhança
(Gênesis 1.27) para ser o seu interlocutor. Enquanto Deus estava no centro, reinava
harmonia espiritual (Gênesis 2.16-17), familiar (Gênesis 2.18, 21-25) e com a natureza
(Gênesis 2.15).

Nos capítulos 3 e 4, no entanto, lemos que o homem (ser humano) cedeu à


tentação de usurpar o lugar de Deus (Gênesis 3.1-6) e, ao se colocar no centro, gerou
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relações de conflitos e de insegurança com Deus (Gênesis 3.8-10), com ele mesmo
(Gênesis 3.7), com a natureza (Gênesis 3.16-19), e na vida familiar (Gênesis 4.8-12).
Caim gerou descendentes que se notabilizaram no urbanismo (Gênesis 4.17), na pecuária
(Gênesis 4.20), na música (Gênesis 4.21), e na tecnologia (Gênesis 4.22), mas
superaram tudo isto pela impiedade expressa na soberba (Gênesis 4.17), na poligamia
(Gênesis 4.19) e na violência (Gênesis 4.23-24).

Neste período, no entanto, há sinais de esperança:

 A promessa de que o descendente da mulher (Gálatas 3.16) esmagaria a cabeça


da sedutora serpente (Romanos 16.20).
 A providência de Deus em cobrir a nudez do pecado (Gênesis 3.21), que o casal
não pôde fazer (Gênesis 3.21), o que aponta para a justificação pela fé (Romanos
5.1).
 A restauração da piedade com o nascimento de Sete e Enos (Gênesis 4.25-26).
 A nova linhagem setista (Gênesis 5.1-32) que não se notabilizou por realizações,
mas pela vida piedosa exemplificada por Enoque, que andou com Deus (Gênesis
5.22,24) e por Noé, cujo nascimento foi motivo de esperança (Gênesis 5.29).

Agora, faça uma pausa!

Após a leitura de Gênesis 1.26-31, pense e responda:

 Com que propósito Deus criou o homem e a mulher?

 Com que propósito Deus criou você?

Em Gênesis 1.26-27 e 2.24, temos a criação da mulher e o relacionamento entre o


homem, a mulher e Deus. Comentem em grupos ou em dupla:

 Quais as consequências geradas quando Deus está no centro do relacionamento.

 Quais as consequências geradas quando o homem se coloca no centro do


relacionamento.

 Apesar do pecado, há esperança para o nós. Reflita sobre Gênesis.3.7,


Gênesis.3.21 e Gênesis 3.15.

2.2. Dilúvio

O período seguinte, resumido pela palavra Dilúvio (Gênesis 6 a 10) caracteriza-se


pelas palavras: julgamento, graça e aliança.

Os descendentes de Sete se misturaram com os descendentes de Caim por


casamentos mistos (Gênesis 6.1-2) e o resultado foi uma corrupção geral que tornou
inevitável o julgamento e a condenação (Gênesis 6.5-7).

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No entanto, dentre os descendentes de Sete, “Noé achou graça diante do Senhor.
Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus”
(Gênesis 6.8-9). Por isso, ao mesmo tempo em que através de Noé Deus condenou o
mundo antigo (Gênesis 7.1-4, 23; Hebreus 11.7; 2 Pedro 2.5), por outro lado salvou a
humanidade pela salvação da sua família (Gênesis 7.1) e pela aliança com toda a
humanidade feita por meio dele (Gênesis 9.8-17).

Não só o povo de Deus (Israel, Igreja), mas toda a humanidade é beneficiária


dessa aliança (Atos 14.15-17). Deus abençoou a Noé e a sua família com o mesmo
propósito da bênção concedida à família original: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei
a terra” (Gênesis 9.1; 1.28). Por isso, a partir da descendência de Noé, “foram
disseminadas as nações da terra, depois do dilúvio” (Gênesis 10.32 – todo o capítulo 10).

Agora, faça uma pausa!

O texto de Gênesis 6.5 narra que a terra se encheu de violência e que Noé achou graça
aos olhos de Deus.

 Qual o alcance da aliança que Deus fez com Noé (Ver Gênesis 9.8-17; Atos 14.15-
17)?

 Que relação esta aliança tem com a aliança feita com Adão?

 Qual a importância de Noé e sua família para a humanidade?

2.3. Babel

No último período dos primórdios, porém, representado pela palavra Babel, o lindo
propósito de Deus de abençoar toda a terra mediante os descendentes de Noé foi
invertido, porque disseram: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo
tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos
espalhados por toda a terra” (Gênesis 11.4). Mais uma vez o espírito de impiedade,
representado pelos caimitas, contaminou a linhagem piedosa de Sete e exigiu a
intervenção de Deus. Ele disse: “Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem.
Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde,
desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem do
outro” (Gênesis 11.6-7). A dispersão que devia ser voluntária, como ato de obediência,
tornou-se compulsória: “Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e
cessaram de edificar a cidade” (Gênesis 11.8). O juízo divino exercido em Babel revela
que Deus condena toda tendência de imperialismo humano, porque se insurge contra o
seu propósito de abençoar todas as nações da terra (Gênesis 12.3; Mateus 28.19).

Babel contrasta com Pentecoste: no primeiro, Deus confunde a linguagem para


restringir as ambições humanas; no segundo, as barreiras de linguagem são desfeitas

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para que pessoas de todas as nações recebam as boas novas da salvação em Cristo
(Atos 2.1-13, 36-39).

Agora, faça uma pausa!

Em Gênesis 9.19 e 10.32 aprendemos que os filhos de Noé - Sem, Cão e Jafé,
cumprindo a Aliança feita com Deus, povoaram toda a terra.

 Como o propósito de Deus foi invertido em Babel? O juízo de Deus sobre Babel
revela o quê?

 Trace um paralelo entre Babel e Pentecostes.

Conclusão

Como já dissemos, neste curso não entramos em pormenores, mas destacamos as


lições que nos ajudam a compreender todo o propósito de Deus para a nossa salvação e
para o nosso envolvimento no projeto divino que tem como objetivo abençoar pessoas de
todas as nações. Nos primórdios, aprendemos que, como povo de Deus, temos origem
comum com toda a humanidade, que o pecado é universal, que o plano redentor é
expressão de amor do Pai celestial e visa alcançar pessoas de todas as nações.
Conforta-nos saber que fazemos parte de uma linhagem piedosa que alia fé e obediência,
cujo testemunho perpassa todas as páginas da Bíblia. Sejamos dignos dessa herança tão
preciosa.

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Encontro 2

PATRIARCAS: PEREGRINOS NA TERRA PROMETIDA

A leitura atenta das Escrituras nos leva a perceber que Deus tudo pode e que
nenhum de seus planos pode ser frustrado (Jó 42.2). O nosso pecado não afeta a
soberania de Deus.

Nos primórdios, como já vimos, registrados em Gênesis 1 a 11, ele agiu não só nas
obras da criação e da providência, mas agiu também confrontando o pecador,
condenando o pecado e manifestando a graça que redime. Vimos como tudo isto
aconteceu nos relacionamentos com Adão e Eva, Caim e Abel, Noé e sua família e com
os construtores da torre de Babel. Mas a história da redenção começa propriamente em
Gênesis 12 com a história dos patriarcas que se estende até o final do livro. Deus não
desiste. Ele chama Abraão, faz com ele uma aliança e deixa claro o seu objetivo: “em ti
serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12. 3b).

Esta fase divide-se em dois períodos: a peregrinação dos patriarcas (Gênesis 12-
36) e a descida ao Egito (Gênesis 37-50).

1. Os patriarcas: nossos pais na fé

De Gênesis 12 a 36 temos a história dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. A


palavra chave que caracteriza este período é “promessa”. Abraão saiu de Ur dos Caldeus,
Mesopotâmia, e tanto ele quanto Isaque e Jacó peregrinaram em Canaã, a terra
prometida. A conquista e posse da terra aconteceriam muito mais tarde de acordo com a
instrução divina a Abraão: “Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em
terra alheia (Egito), e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos.
Na quarta geração tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da
iniquidade dos amorreus” (Gênesis 15.13,16).

A promessa feita a Abraão e reafirmada a Jacó não se refere só à terra, mas


também a uma descendência numerosa cuja missão seria abençoar todas as famílias da
terra (Gênesis 12.1-3; 28.13-14). Mas Abraão passou por diversas provas na sua fé.

A primeira prova foi quanto à espera do nascimento do filho da promessa. Ele já


era idoso, sem filhos, quando Deus afirmou que a descendência dele seria tão numerosa
quanto as estrelas do céu (Gênesis 15.1-5). “Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi
imputado para justiça” (Gênesis 15.6). Essa promessa foi confirmada quando ele já
estava com noventa e nove anos (Gênesis 17.1-2). Deus disse: “Abrão já não será o teu
nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí” (Gênesis 17.5).
Paulo explica como a fé que Abraão tinha era inabalável: “E, sem enfraquecer na fé,
embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a
idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas,
pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele
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poderoso para cumprir o que prometera” (Romanos 4.19-21). Nasceu Isaque, filho de pais
idosos, cujo nome significa “riso”, reação de Sara quando soube que daria ainda à luz,
sendo velha (Gênesis 18.13).

A segunda prova foi quando Deus pediu Isaque em sacrifício (Gênesis 22.1-19).
Abraão obedeceu sem questionar “porque considerou que Deus era poderoso até para
ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou” (Hebreus
11.19). Deus mesmo providenciou o cordeiro que foi oferecido em lugar de Isaque
(Gênesis 22.9-14). Diante desta prova de obediência e de consagração, o Senhor
reafirma as suas promessas com juramento: “Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR,
porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e
certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na
praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão
benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz” (Gênesis 22.16-
18). Os filhos de Abraão, Isaque e Jacó, com os seus vícios e as suas virtudes, seguiram
nas pisadas do patriarca como herdeiros das promessas (Gênesis 24 a 36). A caminhada
dos patriarcas pode ser resumida neste gráfico:

Na peregrinação e nas experiências de vida dos patriarcas encontramos as raízes


da nossa fé. Paulo escreveu: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora,
tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o

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evangelho a Abraão: em ti serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são
abençoados com o crente Abraão” (Gálatas 3.7-9).

Como o nosso pai na fé, somos também peregrinos neste mundo. O autor da carta
aos Hebreus, depois de descrever a peregrinação de Abraão e seus descendentes
(Hebreus 11.8-15), deixa claro que a posse da terra prometida não é o fim da
peregrinação. “Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus
não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma
cidade” (Hebreus 11.16).

Jesus Cristo descende da linhagem de Abraão e nele somos herdeiros de todas as


promessas feitas ao nosso pai na fé. Paulo escreveu: “Ora, as promessas foram feitas a
Abraão e ao seu descendente. Não se diz: e aos descendentes, como se falando de
muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo. E, se sois de Cristo,
também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3.16,
29). Vale a pena, portanto, conhecer a história da salvação que começa com Abraão e
que se consumará com a volta em glória do descendente de Abraão.

Agora, faça uma pausa!

 O apóstolo Paulo descreve, em Romanos 4.19-21, como Abraão tinha uma fé


inabalável. Em dupla, leia o verso, reflita e explique como é sua fé, em relação à fé
que Abraão tinha.

 No texto de Gênesis 15.1-6, 17.1-6 e 22.1-12, lemos que Abraão passou por
dificuldades que provaram sua fé. Explique o que é “esperar crendo na palavra
falada por Deus”.

 Por que somos chamados filhos de Abraão e qual nossa herança segundo a
promessa (Gênesis 3.16).

2. De Canaã ao Egito: promessa e providência

Dos capítulos 37 a 50 percebemos como Deus agiu para que a promessa feita aos
patriarcas, que nos inclui também, pudesse ser cumprida. O gráfico abaixo mostra as
previsões, os caminhos e as realizações da providência para que o povo da aliança,
herdeiro das promessas, fosse preservado e os propósitos de Deus fossem realizados
(Gênesis 50.20-21).

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2.1. Previsões da providência

Dos capítulos 12 a 36 temos a história dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Este
foi o pai de doze filhos que se tornaram os patriarcas das tribos de Israel.

Dentre eles, a partir do capítulo 37, destaca-se José como importante agente da
providência divina. Era filho de Raquel e favorito de Jacó. Isto causou dificuldades no
relacionamento com os outros irmãos. Além disto, José, ainda adolescente, irritava os
seus irmãos com os seus sonhos, visto como ambição de domínio sobre eles (Gênesis
37.1-11).

Apesar das fraquezas de Jacó e das imprudências de José, Deus estava


preparando este jovem visionário para uma nobre missão. Os sonhadores sempre
incomodam porque veem mais longe e demonstram que a zona de conforto não é segura
nem proporciona prosperidade. O favorecimento do pai, demonstrado no presente da
túnica colorida, e a imprudência no relato dos seus sonhos, aguçaram a inveja dos irmãos
de José. Por isso, ao avistá-lo quando vinha ao encontro deles, conspiraram contra ele.
“E dizia um ao outro: Vem lá o tal sonhador! Vinde, pois, agora, matemo-lo e lancemo-lo
numa destas cisternas; e diremos: Um animal selvagem o comeu; e vejamos em que lhe
darão os sonhos” (Gênesis 37.19-20). Mas, providencialmente, Rúbem o livrou da morte
e, por sugestão de Judá, foi vendido como escravo para mercadores midianitas que o
levaram para o Egito e o venderam a Potifar, oficial de Faraó (Gênesis 37.21-36). Jacó,

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enganado pelos seus filhos, chorou a morte de José na certeza de que ele tinha sido
devorado por uma fera.

2.2. Os caminhos da providência

Nos planos de Deus a família de Jacó deveria tornar-se um povo forte e para isto
tinha que descer ao Egito (Gênesis 15.13-14). José foi o primeiro a trilhar este caminho da
providência (Gênesis 37.36). Treinado por Deus através de duras experiências como a
escravidão e a cadeia (Gênesis 39 e 40), José se preparou para que os seus sonhos se
tornassem realidade (Gênesis 41). Ele passou a ocupar o posto mais importante no país
mais influente do mundo naquela época. Depois de José, seus irmãos desceram ao Egito
duas vezes para comprar comida (Gênesis 42 a 45). Cumpriram-se os sonhos de José
quando seus irmãos se curvaram diante dele (Gênesis 42.6). Por fim, Jacó e toda a sua
família desceram ao Egito.

Jacó era profeta, mas Deus não revelou a ele que José estava vivo no Egito
porque, com certeza, ele teria ido ao encontro do filho para livrá-lo do trabalho escravo e
da prisão. Teria interferido nos caminhos da providência. A escola de Deus é mais eficaz
no preparo para a missão do que a escola na casa paterna.

2.3. As realizações da providência

José prosperou na casa de Potifar, tornando-se mordomo, e na prisão,


conseguindo a confiança do carcereiro, porque “O Senhor era com ele” (Gênesis 39.2,21
e 23). Por isso, tudo o que ele fazia, Deus prosperava (Gênesis 39.3,5,23). Por meio de
José, Deus salvou da fome os egípcios e os povos circunvizinhos (Gênesis 41.53-57).
Mas a grande obra da providência foi a preservação do povo da aliança para que as
promessas feitas aos patriarcas, que incluem a redenção em Cristo, fossem cumpridas.

Se Jacó e sua família tivessem permanecido em Canaã, à medida que fossem


crescendo seriam massacrados pelos povos que lá estavam porque os israelitas eram
estrangeiros. Se tivessem descido ao Egito em outras circunstâncias seriam rechaçados
ou, à medida que fossem crescendo, seriam escravizados. Mas desceram quando José
era governador e foram protegidos. Foram para Gósen, terra de pastores, abominados
pelos egípcios (Gênesis 46.31-34), e por isso viveram num isolamento providencial para
que preservassem os valores da sua cultura e da sua religião. Muito mais tarde, quando
surgiu um rei que não tinha conhecido José (Êxodo 1.8-10), o povo já estava forte o
suficiente para não ser destruído.

José continuou visionário até o fim. Ele disse aos seus irmãos: “Eu morro; porém
Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra para a terra que jurou dar a
Abraão, a Isaque e a Jacó. José fez jurar os filhos de Israel dizendo: Certamente Deus
vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui” (Gênesis 50.24-25).

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José faz parte da grande nuvem de testemunhas que nos inspira na caminhada
cristã (Hebreus 12.1). “Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos
de Israel, bem como deu ordens quanto aos seus próprios ossos” (Hebreus 11.22).

Agora, faça uma pausa!

 Cite as providências de Deus para com a família de Jacó.


 Que lições José nos ensina em sua trajetória de um jovem visionário e sonhador?

Pare e pense! As preferências de Jacó por um dos filhos e a imprudência de


José causaram inveja e ciúmes nos seus irmãos, levando a situações
embaraçosas. Que atitudes nossas podem causar inveja e ciúmes na família, no
trabalho ou na igreja? Como podemos superar essas atitudes quando estão erradas?

Conclusão

Procuramos dar uma visão geral do período dos patriarcas como peregrinos
impulsionados pela fé nas promessas de Deus. Mas nada substitui a leitura atenta de
Gênesis capítulos doze a cinquenta. As lições são enriquecedoras. “Pois tudo quanto,
outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e
consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Romanos 15.4).

No Egito, “os filhos de Israel foram fecundos, e aumentaram muito, e se


multiplicaram, e grandemente se fortaleceram, de maneira que a terra se encheu deles”
(Êxodo 1.7). Por isso, os egípcios tentaram reprimir o crescimento, “Mas, quanto mais os
afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam; de maneira que se
inquietavam por causa dos filhos de Israel” (Êxodo 1.12). Por isso, foram reduzidos à
escravidão. Mas, depois de quatrocentos anos (Gênesis 15.13; Atos 7.6), Deus libertou o
seu povo com grande poder. Mas este é o assunto para o próximo encontro.

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Encontro 3

ÊXODO E PEREGRINAÇÃO NO DESERTO

Quando lemos a Bíblia, geralmente terminamos o livro de Gênesis e já começamos


a leitura de Êxodo. Nem sempre nos damos conta de que há um intervalo de quatrocentos
anos entre os acontecimentos narrados no final do primeiro livro e do início do outro. O
quadro abaixo dá um resumo desses acontecimentos que são muito importantes para
entendermos o significado desta fase da história do povo de Deus.

Transição de Gênesis a Êxodo


Uma família Um povo
Protegida de Faraó (Gósen) Perseguido de Faraó (Tijolos)

1. Compreende que não


está em sua própria
terra (Gênesis 49.29; 1. Fase de crescimento
50.13, 24) 400 Êxodo 1.9
2. Compreende que há de 2. Fase de discicplina
voltar a Canaã, como ANOS Êxodo 1.13
povo (Gênesis 49: as 3. Fase de reação
bençãos) Êxodo 2.23
3. Compreende que só
Deus poderá realizar
isso (Gênesis 50.19, 24)

GÊNESIS ÊXODO
Como já vimos, José cria firmemente na promessa da terra prometida e fez
menção, quatrocentos anos antes, do êxodo como ação de Deus em favor do seu povo
(Gênesis 50.24-26). Por isso, quando surgiu um rei que não conhecia José e reduziu os
israelitas à escravidão, o povo clamou, Deus lembrou-se da sua aliança com Abraão,
Isaque e Jacó, atentou para a situação do seu povo (Êxodo 2.23-25) e providenciou
libertação por meio da liderança de Moisés (Êxodo 3.7-10).

A palavra “êxodo” significa “saída” e vamos estudar agora, desde a saída do Egito
até o final da peregrinação no deserto. Os acontecimentos do “êxodo” estão narrados nos
livros de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio e cobrem um período de quarenta
anos.

1. Moisés, agente da libertação

O êxodo ficou profundamente gravado na memória do povo de Israel porque Deus


tirou o seu povo do Egito “com mão poderosa e braço estendido” (Salmos 136.10-12).

14
Mas Deus conta com os seus servos e por isso agiu por meio de Moisés, a quem
salvou dos planos assassinos de Faraó (Êxodo 2.1-6) e o preparou no seu próprio lar
(Êxodo 2.7-9) e no palácio do rei (Êxodo 2.10), onde “foi educado em toda a ciência dos
egípcios e era poderoso em palavras e obras” (Atos 7.22). A história de Moisés tem
aspectos semelhantes à história de José.

A formação que Moisés recebeu no seu lar foi tão consistente que ele não se
acomodou na situação de príncipe herdeiro como filho da filha de Faraó. Pelo contrário,
quando já era homem de quarenta anos (Atos 7.23), ao ver um hebreu maltratado por um
egípcio, depois de olhar de um e de outro lado, matou o egípcio e o escondeu na areia
(Êxodo 2.11-12). No dia seguinte, ao tentar reconciliar dois hebreus, foi rejeitado pelo
ofensor que disse: “Pensas matar-me, como mataste ao egípcio? Temeu, pois, Moisés e
disse: Com certeza o descobriram” (Êxodo 2.14). Por isso, Moisés fugiu para Midiã onde
se casou, teve filhos e tornou-se um peregrino nesta terra durante quarenta anos (Êxodo
2.15-22; Atos 7.29-30). Moisés renunciou as glórias do Egito, “preferindo ser maltratado
junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado” (Hebreus 11.24-25).
Ele via longe: “porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os
tesouros do Egito, porque contemplava o galardão” (Hebreus 11.26).

Aos oitenta anos de idade (Atos 7.30), Moisés teve uma experiência com o Deus
vivo e recebeu o chamado para libertar o seu povo da escravidão egípcia (Êxodo 3.1-12).
Oitenta anos de preparo para quarenta anos de ministério (Atos 7.35-36)! O jovem,
outrora afoito, agora, hesita, consciente da sua incapacidade, e só aceita a missão depois
de ficar seguro de que Deus mesmo agiria por meio dele (Êxodo 3.13-21; 4.1-17).

Nos primeiros quarentas anos, Moisés pensava que podia e agiu de maneira
inadequada. Ao invés de libertador, tornou-se homicida e teve de fugir.

Nos quarenta anos seguintes, aprendeu que nada podia e foi pastor de ovelhas, e
teria se acomodado não fosse o chamado de Deus.

Nos quarenta anos finais, Moisés descobriu que Deus pode e que faz maravilhas
por intermédio do ministério de quem se submete a ele. Tornou-se referência de líder
espiritual.

Agora, faça uma pausa!

Moisés, uma vida lapidada por Deus para cumprir um propósito. Enumere as
ações e situações que o Senhor usou para isso.

2. O Deus que liberta “com mão poderosa e braço forte”

Ao enviar Moisés para libertar o seu povo (Êxodo 3.10), Deus preveniu: “Eu sei,
porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte. Portanto,
estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os meus prodígios que farei no meio dele;

15
depois, vos deixará ir” (Êxodo 3.19-20). O Senhor capacitou Moisés a realizar sinais na
presença de Faraó para demonstrar que só ele é Deus sobre todas as nações (Êxodo
4.21).

Quando Moisés e Arão falaram a Faraó no nome do Senhor para que deixasse o
povo sair (Êxodo 5.1), a resposta do monarca foi insolente: “Quem é o Senhor para que
lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir a
Israel” (Êxodo 5.2). Mas Deus poderia inverter a pergunta: Quem é Faraó? “Saberão os
egípcios que eu sou o Senhor, quando estender eu a mão sobre o Egito e tirar do meio
deles os filhos de Israel” (Êxodo 7.5).

Moisés realizou milagres diante do rei, mas o coração dele se endureceu. Então o
Senhor mandou as dez pragas (Êxodo 7.14 a 12.36). Depois da terceira praga, os magos
reconheceram nos sinais “o dedo de Deus” (Êxodo 8.19). Após a última praga, a morte
dos primogênitos do Egito e a libertação dos israelitas pelo sangue do cordeiro aspergido
sobre a porta (Êxodo 12.5-8, 12), Faraó não só deixou sair todo o povo com todos os seus
bens (Êxodo 12.30-32), mas pediu: “ide-vos embora e abençoai-me também a mim”
(Êxodo 12.32b). Finalmente, o orgulhoso monarca curvou-se diante do único Deus
soberano.

16
A Páscoa foi instituída como memorial desta ação libertadora de Deus (Êxodo 12.1-
28) e os primogênitos foram dedicados ao Senhor (Êxodo 13.1-16). Deus passou a se
identificar assim para o seu povo: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do
Egito, da casa da servidão” (Êxodo 20.2).

Depois de tirar o seu povo do Egito, Deus continuou agindo com a sua mão
poderosa e com o seu braço forte fazendo o seu povo passar o Mar Vermelho a pé enxuto
(Êxodo 14.10-31); tornando potáveis as águas de Mara (Êxodo 15.22-27); providenciando
comida e bebida no deserto (Êxodo 16 a 17.7); organizando o povo na sua marcha
(Êxodo 18.13-27); outorgando leis e normas para que Israel se tornasse nação (Êxodo 19
a 23).

O êxodo foi um dos acontecimentos mais importantes na história de Israel


sempre lembrado nas celebrações litúrgicas de Israel (Neemias 9.9-15; Salmos 78.12-16;
136.10-16).

João Batista, o último dos profetas da velha aliança, apontou para Jesus com esta
afirmação: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29). E foi por
ocasião da festa da Páscoa que Cristo, nosso Cordeiro pascal foi imolado por nós (1
Coríntios 5.7). Nele, temos libertação completa do pecado.

17
A lei outorgada por Deus mediante Moisés tornou-se princípio normativo para o
povo de Deus: Israel e Igreja. Ela não foi revogada, mas cumprida por Jesus Cristo
(Mateus 5.17-20). Somos justificados pela fé com base na obra perfeita realizada pelo
Filho de Deus em nosso favor (Romanos 8.1-4).

Pare e pense!

 O que significa Êxodo na história de Israel? Por que os acontecimentos


relacionados com o êxodo foram tão celebrados na história posterior de Israel,
principalmente nos salmos?
 Trace um paralelo entre a Páscoa dos israelitas e a Páscoa dos cristãos.

3. O Deus que caminha com o seu povo

No Monte Sinai, Deus reafirmou, por intermédio de Moisés, a aliança feita com
Abraão, Isaque e Jacó (Êxodo 24). O Senhor manifestou a sua glória como um fogo
consumidor (Êxodo 24.16-17). Dentre as muitas instruções dessa aliança, o Senhor
determinou a construção do tabernáculo (Êxodo 25 a 27), executada por ordem de Moisés
(Êxodo 30 a 31; 35 a 40). “Viu, pois, Moisés toda a obra, e eis que a tinham feito segundo
o SENHOR havia ordenado; assim a fizeram, e Moisés os abençoou” (Êxodo 39.43). Ao
ser consagrado, “a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do SENHOR encheu
o tabernáculo. Quando a nuvem se levantava de sobre o tabernáculo, os filhos de Israel
caminhavam avante, em todas as suas jornadas; se a nuvem, porém, não se levantava,
não caminhavam, até ao dia em que ela se levantava” (Êxodo 40.34, 36-37).

Quando, mais tarde, Davi quis construir o templo (2 Samuel 7.2-4), o Senhor disse:
“Edificar-me-ás tu casa para minha habitação? Porque em casa nenhuma habitei desde o
dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egito até ao dia de hoje; mas tenho andado em
tenda, em tabernáculo” (2 Samuel 7.5-6). A construção do tabernáculo foi ordem do
Senhor; a construção do templo foi permissão do Senhor.

Na nova aliança, “Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do
verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus”
(Hebreus 9.24). Em Cristo, o universo se transforma num santuário de adoração. Ele está
construindo uma casa espiritual, feita de gente, não de tijolos, para que seja sacerdócio
santo (1 Pedro 2. 4-5).

18
A construção de templos hoje tem base prática, não bíblica e teológica; os templos
podem ser úteis, não essenciais. Caso contrário, revelam o espírito de Babel, não de
Pentecoste. O essencial não é “onde”, mas “como” adoramos a Deus (João 4.20-24).Uma
vez consagrado o tabernáculo, era necessário estabelecer os sacrifícios e os ministros
que deveriam oficiar no santuário. O livro de Levítico é dedicado a isto, como pode ser
visto no quadro acima. O povo de Deus é chamado para ser uma comunidade adoradora.
Por isso, a nota dominante de Levítico é SANTIDADE. “Ser-me-eis santos, por eu, o
Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus” (Levítico 20.26). No
entanto, todas as leis e cerimônias de Levítico cumpriram-se em Cristo (Hebreus 9.11-14).
Pelo sacrifício do Cordeiro de Deus temos acesso à presença de Deus para adorá-lo
(Hebreus 10.19-25) e o poder do alto para sermos testemunhas de Jesus (Atos 1.8).

Agora, faça uma pausa!

 Deus ordena a construção do tabernáculo, e permite a construção do templo. Mas


na nova aliança, não importa onde, mas como adoramos o Senhor (João 4.20-24).
De que maneira nos tornamos adoradores e testemunhas de Jesus?

 Qual a diferença do acesso à presença de Deus no Antigo e no Novo Testamento?

19
4. Deus caminha com o seu povo em juízo e misericórdia

Após dois anos, Israel caminhou do Sinai a Cades Barneia. Tempo necessário para
que se organizasse como povo adorador (Êxodo 24 a 40; Levítico 1 a 27) e se preparasse
para a conquista (Números 1 a 10). Mas, no deserto, a rebelião se manifestou na
murmuração dos israelitas (Números 11.1-9), na sedição de Miriam e Arão (Números 12),
na incredulidade da maioria (dez) dos doze espias (Números 13 e 14), na revolta de Corá,
Datã e Abirão (Números 16 a 17) e através de outras atitudes e ações que atraíram o
juízo de Deus. A geração adulta que saiu do Egito deveria peregrinar quarenta anos no
deserto, até que todos morressem (Números 14.29, 34-35). Os filhos sofreriam a
consequência do pecado dos pais (Números 14.33), mas alcançariam misericórdia e
entrariam em Canaã (Números 14.31). A jornada do Sinai até ao monte Nebo está
representada no quadro abaixo:

Agora, faça uma pausa!

Leia 1 Coríntios 10.6-13, identifique as referências aos acontecimentos do deserto


registrados no Livro de Números (veja Bíblia com referências) e responda: Por que estas
coisas foram escritas (vv. 11-13)?

20
5. Preparando para a conquista

Moisés, apesar de ser grande líder espiritual, não entrou na terra prometida porque,
juntamente com Arão, não glorificou a Deus na contenda de Meribá (Números 20.6-13;
Deuteronômio 32.48-52; Salmos 106.32-33). Por este motivo, ele apenas veria a terra,
mas não entraria nela (Números 27.12-14). A pedido de Moisés (Números 27.15-17) e por
orientação do SENHOR (Números 27.18-21), Josué foi investido como sucessor de
Moisés com a missão de introduzir o povo na terra prometida (Números 27.21-23). Ao
passar o comando a Josué, Moisés fez um discurso na planície do Jordão, antes que
Israel atravessasse o rio. Esse discurso é todo o livro de Deuteronômio. Do capítulo 1 a
10 ele faz um retrospecto do passado, da saída do Egito e peregrinação pelo deserto até
as planícies do Jordão; do capítulo 11 a 30, ele apresenta a visão do futuro, prevendo a
conquista de Canaã; do 31 a 34, ele retrata a situação presente e faz uma recordação da
lei. Esse discurso que exerceria decisiva influência em Israel está resumido no quadro
abaixo:

Pare e pense! Leia com atenção o item 5 e as referências e oberve a humildade


de Moisés ao aceitar a disciplina divina e investir Josué como o seu sucessor.
Diante disto, o que nos ensina Tiago 4.6?

21
Conclusão

Nesta fase do êxodo temos o registro dos acontecimentos, na ótica da história da


salvação, que contribuíram decisivamente para a formação de Israel como povo de Deus.
Por isso, ficou indelevelmente gravado na memória histórica do povo eleito e celebrado
nos salmos e em outras expressões litúrgicas. É importante também para nós, Igreja, pois
as nossas raízes encontram-se na eleição de Israel (1 Pedro 2.9; Êxodo 19.6) e os fatos
foram narrados para a nossa edificação também (Romanos 15.4; 1 Coríntios10.1-13).

22
Encontro 4

CONQUISTA DE CANAÃ E O PERÍODO DOS JUÍZES

A terra de Canaã que será conquistada sob a liderança de Josué, tinha sido
prometida aos israelitas há mais de quatrocentos anos. Tera, pai de Abraão, saiu de Ur
dos Caldeus com a sua família com destino a Canaã, mas deteve-se em Harã, onde
morreu (Gênesis 11.31-32). Depois disto, o SENHOR disse a Abraão: “Sai da tua terra, da
tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (Gênesis 12.1).
Abraão partiu e chegou a Siquém, em Canaã, onde recebeu do SENHOR a promessa:
“Darei à tua descendência esta terra” (Gênesis 12.6-7). Abraão edificou altares ao
SENHOR que lhe aparecera (Gênesis 12.7), invocou o nome do SENHOR (Gênesis 12.8)
e iniciou as suas peregrinações na terra prometida (Gênesis 12.9). Depois de algum
tempo no Egito (Gênesis 12.10 a Gênesis 13.13), ele retornou a Canaã e o SENHOR
reafirmou a promessa com mais detalhes: “Ergue os olhos e olha desde onde estás para
o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda esta terra que vês, eu ta
darei, a ti e à tua descendência, para sempre” (Gênesis 13.14).

Apesar da promessa, Abraão, Isaque e Jacó foram peregrinos em Canaã. Deus


revelou o tempo da espera e das peregrinações: “Sabe, com certeza, que a tua
posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida
por quatrocentos anos. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu
ainda a medida da iniquidade dos amorreus” (Gênesis 15.13,16). No entanto, reafirmou a
promessa e definiu dois grandes limites geográficos: “À tua descendência dei esta terra,
desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates” (Gênesis 15.18). Depois dos quatrocentos
anos no Egito, esta profecia se cumpriu, como vimos na lição anterior sobre o êxodo.
Moisés liderou o povo desde o Egito até às margens do Jordão e, antes de morrer,
passou o comando a Josué para a conquista e a posse da terra prometida.

Pare e pense! Entre a promessa da terra e a conquista passaram-se cerca


de 400 anos! Qual deve ser a nossa atitude diante das promessas (ver 2
Pedro 3.8-13)?

1. A conquista e a posse da terra prometida

A promessa da terra tinha a garantia da aliança feita por Deus com Abraão, Isaque
e Jacó (Gênesis 28.13-14). Mas Israel devia conquistar e tomar posse da terra prometida.
A condição da conquista e os limites da terra foram dados a Josué: “Todo lugar que pisar
a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu prometi a Moisés. Desde o deserto do
Líbano até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus e até ao mar Grande para
o poente do sol será o vosso limite” (Josué 1.3-4). O estudo da geografia de Israel nos
mostra que faltou pisar a planta do pé em grandes extensões da terra, pois o povo da

23
aliança nunca conseguiu conquistar e tomar posse de toda a terra dentro dos limites
definidos por Deus em Josué 1.3-4.

O quadro abaixo mostra a estratégia da conquista, a síntese do livro de Josué e um


pequeno mapa da repartição da terra entre as tribos de Israel. Para efeito de
memorização, as diversas fases da conquista são apresentadas mediante palavras com
as iniciais “P”: Preparação, Passagem, Prélios, Partilha e Pacto.

1.1. Preparação – capítulos 1-2

Deus prepara Josué, o líder, sucessor de Moisés, definindo a sua tarefa (1.1-3) e
encorajando-o. “Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te
desampararei. Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob
juramento, prometi dar a seus pais” (1.5-6). Josué e Calebe eram os sobreviventes da
geração adulta que saiu do Egito. Os demais, por incredulidade, morreram no deserto.

Josué prepara o povo, dando ordens por meio dos príncipes, para que fizessem
provisão para a passagem do Jordão, o que aconteceria ao terceiro dia (1.10-11). Deu
ordem também aos gaditas, rubenitas e a meia tribo de Manassés, que já haviam
recebido herança daquém do Jordão, para que cumprissem o acordo de participarem das
batalhas da conquista (1.12-15). A resposta que deram a Josué expressava a disposição
de todo o povo: “Como em tudo obedecemos a Moisés, assim obedeceremos a ti; tão-
somente seja o SENHOR, teu Deus, contigo, como foi com Moisés” (1.17).

Josué enviou espias a Jericó, o primeiro reino a ser conquistado, com esta ordem:
“Andai e observai a terra e Jericó” (2.1). Foram acolhidos por uma mulher prostituta,
24
chamada Raabe, que relatou a eles o estado de ânimo dos cananitas (2.8-11),
demonstrou fé no SENHOR (2.11b), suplicou pela salvação dela e da família (2.12-13) e
obteve a promessa de que seriam preservados (2.14-15). Raabe converteu-se, foi
ancestral de Davi (Rute 4.18-22) e aparece na genealogia de Cristo (Mateus 1.5-6).
Maravilhosa graça! O relatório dos espias foi encorajador: “Certamente, o SENHOR nos
deu toda esta terra nas nossas mãos, e todos os seus moradores estão desmaiados
diante de nós” (2.24).

Pare e pense! Por que a inclusão de Raabe e de outras mulheres na


genealogia de Cristo foi manifestação da graça de Deus (ver Mateus 1.1-6)?

1.2. A passagem – capítulos 3 a 5

Josué, além de bom estrategista, era um líder espiritual. Antes da passagem a pé


enxuto pelo Jordão, como aconteceu no Mar Vermelho, encorajou o povo: “Santificai-vos,
porque amanhã o SENHOR fará maravilhas no meio de vós” (3.5). Foi encorajado
também pelo SENHOR: “Hoje, começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o
Israel, para que saibam que, como fui com Moisés, assim serei contigo” (3.7). A
passagem pelo Jordão seria a prova de que o SENHOR estava com o povo e de que as
suas promessas seriam cumpridas (3.10-13). O rio Jordão transbordava, mas assim que
os pés dos sacerdotes, que levavam a Arca da Aliança, “se molharam na borda das
águas”, estas foram de todo cortadas, então Israel passou a pé enxuto, atravessando o
Jordão (3.14-16). A vitória vinha do SENHOR, mas havia necessidade de atitude firme de
fé. Será conquistado todo o lugar que pisar a planta do vosso pé (1.3) e a travessia do
Jordão aconteceria quando os pés dos sacerdotes pousassem nas águas do Jordão
(3.13). As ricas promessas de Deus se cumprem na vida daqueles que têm atitudes
ousadas de fé!

Do meio do Jordão foram levadas doze pedras para que fosse levantado um
memorial da ação de Deus em favor do seu povo, bem como para que servisse de
testemunho do poder e da majestade do SENHOR para todos os povos da terra (4.1-10,
19-24). Em Gilgal, na terra de Canaã, o povo renovou a aliança por meio da circuncisão
dos que nasceram na jornada (5.1-9), celebrou a páscoa (5.10-11), e passou a usufruir
dos produtos de Canaã (5.12). Antes das guerras da conquista, Josué teve experiência
com o Deus vivo. Prostrado, adorou o príncipe do exército do SENHOR (5.13-15). As
batalhas do Reino de Deus são ganhas no altar de adoração!

Agora, faça uma pausa!

Deus prometeu Canaã aos filhos de Israel, mas eles deveriam conquistá-la. Eles
já tinham atravessado o mar Vermelho a pés enxutos, o deserto de Sinai e agora
encontram o Rio Jordão, que estava transbordando. Deus prometeu a Josué que iria com
ele, e lhe dá uma ordem e uma promessa.
25
 Repita pausadamente a ordem e a promessa que o Senhor fez a Josué.

 Como Josué preparou o povo?

Pare e pense! Muitas vezes acabamos de passar por um deserto, e em seguida


enfrentamos um Jordão pela frente. Como deve ser nossa atitude nessas
situações?

1.3. Os prélios (batalhas) – capítulos 6-12

Observe, no quadro, a estratégia de Josué. Ele conquistou, primeiro, os reinos do


centro a partir de Jericó (6.1-21). Raabe foi salva (6.22-25). A maneira como Jericó foi
tomada deixou claro de que o Senhor pelejava pelo seu povo. “Assim, era o SENHOR
com Josué; e corria a sua fama por toda a terra” (6.27). Os israelitas, a princípio, foram
derrotados pelos homens de Ai (7.1-9) por causa do pecado de Acã (7.10-26).
Reorganizados, tomam Ai (8.1-29). Talvez o susto fez com que Josué renovasse a
Aliança com o SENHOR (8.30-35). Na ocasião, foram lidas as palavras da lei, a bênção e
a maldição, segundo tudo o que está escrito no Livro da Lei (8.34-35). Deus tinha
orientado Josué: “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite,
para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás
prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (1.8). Boa lembrança para nós! As muitas
lutas do Reino não devem nos distrair em relação ao cultivo da comunhão com Deus por
meio da Palavra e da oração.

Enquanto os reis da costa do mar Grande, localizados nas montanhas e nas


campinas, se organizaram para combater Israel (9.1-2), os gibeonitas, com estratagemas,
conseguiram fazer aliança com Josué (9.3-15), foram poupados (9.16-20), mas reduzidos
a rachadores de lenha e tiradores de água para a congregação do SENHOR (9.20-27). De
qualquer forma, Josué consolidou a situação de Israel no centro, pois Ai e Gibeon
estavam em lugares altos e de fácil defesa. A partir do centro, das montanhas de
Benjamim e Efraim, ele conquistou o sul, inclusive Jerusalém e Hebron (10.1-41). “E, de
uma vez, tomou Josué todos estes reis e as suas terras, porquanto o SENHOR, Deus de
Israel, pelejava por Israel. Então, Josué, e todo o Israel com ele, voltou ao arraial em
Gilgal” (10.42-43). A partir desta posição central, ele atacou também o norte. Apesar do
exército inimigo numeroso (11.4), Josué foi vencedor, pois “o SENHOR os entregou nas
mãos de Israel; [...] feriram-nos sem deixar nem sequer um” (11.8). “Assim, tomou Josué
toda esta terra [...] e a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões e
tribos; e a terra descansou da guerra” (11.23). Os reis vencidos por Josué foram trinta e
um (12.7-24). Deve-se levar em conta que esses reis eram monarcas de cidades-estados.
Toda a Canaã era menor do que o estado de São Paulo. Aqueles reinos eram como os
municípios hoje.

26
Agora, faça uma pausa!

 Comente a estratégia usada por Josué para a conquista de Jericó, e como foi essa
conquista.

 Releia a ordem de Deus a Josué e conte quantas promessas foram feitas a ele
relatadas em Josué 1.8-9.

1.4. A partilha – capítulos 13-22

Apesar de a terra ter descansado da guerra (11.23), muito território ficou ainda por
conquistar (13.1-13). Duas tribos e meia já tinham recebido herança dalém do Jordão
(13.32). Os levitas não receberam herança, porque cuidavam do santuário, e “o SENHOR,
Deus de Israel, é a sua herança” (13.33). “Quem serve ao altar do altar tira o seu
sustento” (1 Coríntios 9.13). Como a tribo de José foi dividida em duas, Efraim e
Manassés (Gênesis 48.5), o número de tribos, mesmo excluindo Levi, continuava doze.
Dentre elas foi feita a partilha da terra (14-22). O quadro mostra um pequeno mapa da
divisão da terra. Do capítulo doze em diante temos a descrição das fronteiras, com
apresentação minuciosa de acidentes topográficos, o que torna a leitura um tanto
monótona. O critério da partilha foi o de lançar sortes (14.1-2). Critério justo. Aos levitas
foram dadas quarenta e oito cidades para nelas viverem (21.41-42). Foram designadas,
também, as cidades de refúgio, estrategicamente distribuídas no centro, sul e norte, que
funcionavam como embaixadas para acolher pessoas perseguidas injustamente (20.1-9).

1.5. O pacto – capítulos 23-24

Após as conquistas mencionadas e estando já idoso, Josué, como líder espiritual,


exortou o povo a ser fiel à Lei do Senhor outorgada por intermédio de Moisés (23.1-16).
Convocou o povo para um encontro em Siquém (24.1), recordou os atos poderosos de
Deus na história de Israel, desde a chamada de Abraão até ao momento em que estavam
vivendo (24.2-13), e convidou o povo a renovar a aliança com o Senhor (24.14-15). O
povo respondeu afirmativamente, dando as razões por que renovavam o pacto (24.16-
18a) e afirmando: “nós também serviremos ao SENHOR, pois ele é o nosso Deus
(24.18b). Josué levantou a pedra para que fosse testemunha de que o povo não estava
mentindo na renovação da aliança. Josué havia exortado o povo à fidelidade (24.14),
porém deixou claro que o serviço ao SENHOR deve ser de coração: “Porém, se vos
parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem
serviram os vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em
cuja terra habitais: Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (24.15). Esta última
expressão de Josué tem sido repetida através dos séculos.

27
Agora, faça uma pausa!

Pela partilha da terra concluímos que Josué era justo. Após as conquistas Josué
convocou o povo e renovou seu pacto com Deus: ...“Eu e a minha casa serviremos ao
Senhor” (Josué 24.15). Se você está renovando essa aliança com o Senhor, repita a
expressão usada por Josué.

2. A fase dos juízes e de Rute

Recordemos a ordem da conquista: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-
lo tenho dado, como eu prometi a Moisés” (Josué 1.3). O capítulo primeiro de Juízes
mostra como Israel foi deficiente no cumprimento desta ordem. A promessa era clara,
mas havia uma condição: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé”. Na medida em que
o povo deixou de avançar, deixou de conquistar. Deus acusa o povo de infidelidade por
ter feito aliança com os moradores de Canaã (Juízes 2.1-2), mas demonstra que essa
infidelidade não ameaça a sua soberania: “Pelo que também eu disse: não os expulsarei
de diante de vós; antes, vos serão por adversários, e os seus deuses vos serão laços”
(Juízes 2.3). “Porquanto este povo transgrediu a minha aliança que eu ordenara a seus
pais e não deu ouvido à minha voz, também eu não expulsarei mais de diante dele
nenhuma das nações que Josué deixou quando morreu; para, por elas, pôr Israel à prova,
se guardará ou não o caminho do SENHOR, como seus pais o guardaram” (Juízes 2.20-
22). O mistério é que Deus usa até a infidelidade do seu povo para a realização dos seus
propósitos.

Por isso, todo o período dos juízes, que durou cerca de cento e cinquenta anos, foi
marcado pelo pecado do povo, pela opressão dos inimigos, pelo clamor do povo por
libertação, pela resposta misericordiosa de Deus que levantava um líder como libertador,
para, outra vez, o povo retomar a este círculo vicioso (Juízes 2.6-19). Os povos dos reinos
de Canaã que ficaram não representaram apenas tentação religiosa para Israel, mas
tornaram-se inimigos políticos que tentaram dominar Israel e, muitas vezes, conseguiram.
Em diversas ocasiões o povo de Israel foi escravizado pelos povos vizinhos e, ao mesmo
tempo, houve uma série de reações sob a liderança dos juízes.

Dentre os juízes libertadores destacam-se Otoniel, Eúde, Débora, Gideão, Jefté e


Sansão. No quadro abaixo aparecem os nomes desses juízes com a afirmação de que os
esforços dos grandes juízes salvaram Israel. No outro quadro, os povos que foram
vencidos nas batalhas travadas pelos juízes. Mesopotâmios atacaram pelo norte e foram
vencidos por Otoniel; moabitas, ao lado do Mar Morto, vencidos por Eúde; cananitas,
junto ao Carmelo, vencidos por Débora; amonitas e midianitas, além do Jordão, vencidos
por Gideão e Jefté; filisteus na região de Gaza, ao sul, vencidos por Sansão, e, mais
tarde, por Saul e Davi. Débora destaca-se pelo fato de uma mulher, numa sociedade
patriarcal, ter exercido a função de juíza e de ter sido a estrategista que aconselhava o
general Baraque. A biografia de Gideão é bem desenvolvida e a de Sansão talvez seja a
mais conhecida.

28
Agora, faça uma pausa!

A ordem da conquista era: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé vo-lo tenho dado,
como eu prometi a Moisés” (Josué 1.3).

O povo parou de avançar por infidelidade e desobediência e por isso foi escravizado por
povos vizinhos. Leia Hebreus 11.13-16; 13.14 e medite sobre a nossa peregrinação hoje.

 Como é sua atitude em relação a essa conquista?


 E em relação às conquistas de seus projetos durante a sua caminhada aqui na
terra (Hebreus 11.39-40)?

Encontramos na
fase dos juízes
acontecimentos
chocantes como o
sacrifício da filha de Jefté
(11.29-40), as fraquezas
de Sansão em relação ao
sexo (13-16), a idolatria
de Mica (17 e 18), e a
imoralidade e violência
dos habitantes de Gibeá
(19-20). As guerras da
conquista também
causam dificuldades para
a mentalidade cristã.
Apesar dos costumes

29
exóticos da época e de atitudes impensadas dos homens, Deus se serviu deles para o
seu propósito. A história dos juízes relaciona-se com a história de Israel e a história de
Israel relaciona-se com a grande revelação em Jesus Cristo. A Palavra de Deus vem para
nós através de cada parte das Escrituras vista no seu conjunto. Este é um princípio básico
de interpretação.

Na parte final do livro de Juízes a decadência torna-se evidente. Os juízes


exerceram lideranças ocasionais. Faltava a devida orientação ao povo. “Cada um fazia o
que achava mais reto” (19.1; 20.27; 21.24,25). Neste ambiente, no entanto, surgem duas
exceções: Rute e Samuel. Samuel foi o último dos juízes. Ele foi levantado por Deus para
a libertação do povo de Israel numa época de decadência do sacerdócio e de opressão
dos inimigos filisteus (Samuel 1-7). A história de Rute aconteceu “nos dias em que
julgavam os juízes” (Rute 1.1). O livro que traz o seu nome é um apêndice ao livro dos
Juízes. O ponto alto do livro está no capítulo 1.16. Rute, moabita, viúva de um israelita, se
converteu. Não se afastou de Noemi, a sogra, por causa da sua fé: “O teu Deus é o meu
Deus”. Teve o privilégio, como Raabe, de ser ascendente do futuro Messias (Rute 4.17,
Mateus 1.5). Mistérios de Deus!

Pare e pense! Antes da ler a conclusão, medite na história de Rute! Ela era
moabita. Os moabitas estavam excluídos da assembleia do Senhor
(Deuteronômio 23.3-6). No entanto, ela se converteu e entrou na genealogia de
Cristo, como Raabe (Mateus 1.5). Bela lição missionária para nós!

Conclusão

A conquista e posse da terra prometida, bem como a história dos juízes, deixam
evidente a verdade de que o povo de Deus continua em marcha. As conquistas terrestres
não proporcionam o verdadeiro descanso. “Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso,
não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia. Portanto, resta um repouso para o
povo de Deus” (Hebreus 4.8-9; 6-7; Salmos 95.7-8). Alguns juízes são mencionados como
heróis da fé, ao lado de Davi (Hebreus 11.32), obtiveram bom testemunho, mas
dependem de nós, como numa corrida de revezamento, para alcançarem o galardão
(Hebreus 11.39-40). Eles e nós aspiramos a um pátria superior, isto é, celestial (Hebreus
11.16).

30
Encontro 5

O REINO UNIDO

No estudo panorâmico das Escrituras, como estamos fazendo, é sempre bom


situar os acontecimentos no tempo e no espaço. Na Lição 1 seria difícil precisar datas
quanto às origens dos primórdios (Gênesis 1 a 11), mas temos uma referência a
Tubalcaim, artífice de instrumentos cortantes (Gênesis 4.22), que coincide com a idade do
cobre, cerca de 3.500 a.C. Na Lição 2, a chegada de Abraão a Canaã (Gênesis 12) já
pode ser datada com mais precisão, cerca de 1720 a.C. Na Lição 3 a saída (êxodo) de
Israel do Egito ocorreu mais de quatrocentos anos depois (Gênesis 15.13-14), entre 1270-
1250 a.C. Na Lição 4 vimos a conquista da terra prometida que aconteceu entre 1220-
1200 a.C. e se estendeu durante o período dos juízes até mais ou menos 1025 a.C. O
Reino Unido, tema desta lição, situa-se entre 1030 a 945 a.C.

Dentre os inimigos de Israel durante o período dos juízes, os filisteus


representaram uma ameaça não apenas para algumas tribos, como os outros inimigos,
mas para todo Israel. A partir de Sansão, as vitórias israelitas foram parciais, até que o
povo de Israel foi fragorosamente derrotado pelos filisteus (1 Samuel 4-6). A vitória sobre
esses inimigos, no tempo de Samuel, não afastou a constante ameaça (1 Samuel 7). A
Confederação das tribos (anfictionia) estava com os dias contados. A instabilidade
causada pela falta de um governo central levou os israelitas a pedirem um rei (1 Samuel
8). Este pedido desagradou a Samuel e a Deus (1 Samuel 8.6-9), mas foi atendido com
advertências (1Samuel 8.10-18). A motivação do pedido foi “para que sejamos também
como todas as nações” (1 Samuel 8.19-22), contrariando o princípio de que o SENHOR
era o rei sobre Israel (1 Samuel 12.12).

1 Samuel 2 Samuel 1 Reis 1 - 10 1 Reis 11 em diante


Revolta de
Jeroboão

SAUL DAVI SALOMÃO REINO DIVIDIDO


Salmos Provérbios A ser estudado
(1ª parte) Eclesiastes
(Jó) Cantares

1 Crônicas 1 – 10 1 Crônicas 11 até 2 Crônicas 1 - 10 2 Crônicas 11 em diante


o final

O primeiro rei, Saul, foi ungido pelo último Juiz, Samuel (1 Samuel 10.1ss) e foi
também aclamado pelo povo (1 Samuel 10.17-24). O período dos juízes chega ao fim
quando Samuel renuncia ao seu cargo numa cerimônia tocante na qual todos
reconhecem a integridade moral deste líder (1 Samuel 12.1-5); são relembrados os feitos
de Deus a favor do seu povo (1 Samuel 12.6-11); todos são exortados a serem fiéis a
Deus sob o reinado de Saul (1 Samuel 12.12-25). A biografia de Samuel, do capítulo 1 até

31
o capítulo16, tem um rumo ascendente. Foi um líder que começou bem, prosseguiu bem
e terminou bem (veja o quadro).

1. Ascensão e queda de Saul

O primeiro rei de Israel, ungido por Samuel (1 Samuel 10.1), era, inicialmente,
modesto (1 Samuel 10.19-22), mas destacava-se dentre os demais (1 Samuel 10.23-24a)
e foi aclamado pelo povo (1 Samuel 10.24b). O reconhecimento decisivo (1 Samuel
11.12-15) aconteceu depois da vitória sobre os amonitas (1 Samuel 11.1-11). Ele
começou bem, sendo reconhecido como líder militar na vitória sobre os amonitas e outros
inimigos (1 Samuel 14.47-48). Mas começou a tropeçar quando usurpou a função de
sacerdote (1 Samuel 13.8-12) no preparo para a guerra contra os filisteus (1 Samuel 13.1-
7). Foi duramente reprovado por Samuel (1 Samuel 13.13-14). A instabilidade emocional
de Saul pode ser percebida no motivo que o levou a exercer função sacerdotal: “forçado
pelas circunstâncias, ofereci holocaustos” (1 Samuel 13.12b). A mensagem profética foi
clara: “Agora não subsistirá o teu reino. O SENHOR buscou para si um homem que lhe
agrada e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o
que o SENHOR te ordenou” (1 Samuel 13.14). Saul não tinha visão nítida da sua
responsabilidade. Tinha aspecto físico imponente, mas era de espírito leviano.

A situação de Israel se agravou sob o domínio filisteu (1 Samuel 13.16-23). A


precária vitória sobre os filisteus foi alcançada por Jônatas, filho de Saul (1 Samuel 14.1-
23), mas prejudicada pelo voto atrevido de Saul que prejudicou o próprio filho (1 Samuel
14.24-30, 46). O povo foi mais sensato que o rei ao libertar Jônatas da morte (1 Samuel
14.36-45).

O espírito fútil e superficial de Saul demonstrou-se no cumprimento da ordem para


eliminar os amalequitas (1 Samuel 15.1-3). Ele poupou o rei e o melhor dos despojos, o
que desagradou profundamente o SENHOR (1 Samuel 15.10-11a). Samuel ficou
consternado e orou durante toda a noite (1 Samuel 15.11b). Ao ser confrontado por
Samuel (1 Samuel 15.12-14, 16-19), Saul atribuiu ao povo o ter poupado o rei e ter
32
tomado do despojo “para os sacrificar ao SENHOR, teu Deus” (1 Samuel 15.15,20-21).
Foi neste contexto que Samuel pronunciou as palavras sempre lembradas: “Eis que o
obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros”
(1 Samuel 15.22b). Ao pedido de perdão feito por Saul, Samuel respondeu: “visto que
rejeitaste a palavra do SENHOR, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel.
O SENHOR rasgou, hoje, de ti o reino de Israel e o deu ao teu próximo, que é melhor do
que tu” (1 Samuel 15.26b, 28). Por ordem de Deus, Samuel ungiu Davi como rei de Israel
(1 Samuel 16.1-13). A partir daí até sua morte, pelos inimigos filisteus (1 Samuel 31.1-7),
Saul entrou em decadência, em sua luta contra Davi, para manter o poder. A vida de Saul
seguiu um rumo descendente (ver quadro). E nós? As decisões do presente vão
determinar o nosso futuro.

As fontes para o estudo do primeiro rei de Israel são o primeiro livro de Samuel e 1
Crônicas de 1 a 10. O primeiro livro das Crônicas foi escrito numa época em que havia
necessidade de ressaltar a identidade do povo da aliança e, por isso, a importância da
genealogia. Além do mais, o foco desse livro está no rei Davi como homem público e
como o organizador do culto de Israel. Por esse motivo, não se ocupa de Saul e do seu
reino. Apenas narra a sua morte e os motivos do fim trágico deste rei de Israel.

Agora, faça uma pausa!

Israel era governado pelo próprio Deus, mas, no tempo de Samuel, pediu um rei,
justificando: “para que sejamos como todas as nações”. Isto desagradou tanto a Deus
como a Samuel, pois contrariava o princípio de que o Senhor era o rei sobre Israel. Então,
Saul é ungido. Quais motivos levaram a queda e fim trágico desse rei?

2. Davi, homem segundo o coração de Deus

À medida que as referências a Saul vão diminuindo, as referências a Davi vão


aparecendo. Os filhos mais velhos de Jessé eram de boa aparência, mas “o SENHOR
não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração” (1
Samuel 16.7b). Por isso, foi ungido rei o menor. “Ele era ruivo, de belos olhos e boa
aparência” (1 Samuel 16.12). Desde que recebeu a unção, “o Espírito do SENHOR se
apossou de Davi” (1 Samuel 16.13). Que ele era diferenciado ficou evidente na vitória
sobre Golias. Dispensou a armadura de Saul (1 Samuel 17.38-39) e foi de encontro a
Golias (1 Samuel 17.48), em nome do Senhor, munido apenas do seu cajado, de uma
funda e de cinco pedras lisas (1 Samuel 17.40-45). A vitória foi retumbante (1 Samuel
17.48-54), mas despertou ciúmes em Saul quando ele ouviu as mulheres que, “cantando
alternadamente, diziam: Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares” (1
Samuel 18.7-9).

Desde então, Saul passou a caçar Davi. Este foi preservado pela providência divina
que usou Jônatas, filho de Saul (1 Samuel 20.1-29), Mical, também filha de Saul e
esposa de Davi (1 Samuel 19.12-17), e tantas outras experiências que deram a ele a
33
convicção expressa no salmo de sua autoria: “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor
dos que o temem e os livra” (Salmos 34.7). Davi poupou a vida de Saul em diversas
ocasiões. “Quem haverá que estenda a mão contra o ungido do SENHOR e fique
inocente? Tão certo como vive o SENHOR, este o ferirá, ou o seu dia chegará em que
morra, ou em que, descendo à batalha, seja morto” (1 Samuel 26.9,10). De fato, foi o que
aconteceu (1 Samuel 31.1-7). O fim trágico de Saul é assim descrito: “Assim, morreu Saul
por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do
SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma
necromante, e não ao SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho
de Jessé” (1 Crônicas 10.13-14). O rumo da vida de Samuel foi ascendente; de Saul,
descendente; de Davi, no primeiro livro de Samuel, permanece na horizontal (veja
quadro).

As fontes para o estudo do reinado de Davi são o segundo livro de Samuel e


primeiro de Crônicas de 11 a 29. A ênfase de 2 Samuel é Davi, o homem; a ênfase de 1
Crônicas 11-29 é Davi, o rei (ver o quadro).

Velhice (1 Reis 1) Salomão oferece...


Enumeração do povo Ofertas templo
Últimas palavras Exortação príncipes
Cântico Numeração povo
Fome-guerras Funções no templo
Seba Turnos
Barzilai Salomão

1 CRÔNICAS
2 SAMUEL

Morte de Absalão Preparativos para o templo


O HOMEM

11 - 29
Ziba Numeração do povo
1 – 32

DAVI
O REI

Absalão-revolta Amon
Amon
Natã

Queda Vitórias
Filho de Jônatas Cânticos
Arca Arca
Rei de Israel Hirão
Isbosete Arca
Rei de Judá Valentes
Morte de Saul Unção

Em 2 Samuel destaca-se Davi como um ser humano que chora a perda do seu
amigo Jônatas (2 Samuel 1.17-27); que acolhe Mefibosete, filho de Jônatas (2 Samuel
9.1-13); que cai em pecado de adultério e assassinato do seu fiel soldado Urias (2 Samuel
11-12); que sofre as consequências do pecado como disciplina do SENHOR (2 Samuel
13-19); que experimenta as limitações da velhice (1 Reis 1.1-4). Em 1 Crônicas temos o
rei, homem público, que cuida da diplomacia (1 Crônicas 14.1-2); promove a remoção da
arca da aliança para Jerusalém de acordo com as normas mosaicas (1 Crônicas 13-15);
cuida da organização do culto (1 Crônicas 16, 22-26); toma providências quanto à sua
sucessão (1 Crônicas 28.1-10; 29.22-25). Há muitos assuntos comuns aos dois livros,
mas quem lê 2 Samuel tem uma visão mais nítida de Davi, o homem; quem lê 1 Crônicas
34
11-29, tem uma clara percepção de Davi, o rei. Ambos os livros registram virtudes e vícios
desse rei que passou para a história. Davi pecou, foi disciplinado por Deus, não era
perfeito, mas serviu ao seu povo e aos propósitos de Deus.

A aliança que Deus fez com Davi é aliança eterna. Deus disse pelo profeta Natã:
“Mas a minha misericórdia se não apartará dele (Salomão), como a retirei de Saul, a
quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre
diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (2 Samuel 7.15-16; Salmos 89.20,
28-29). Essas promessas tiveram pleno cumprimento em Jesus de Nazaré, de acordo
com a mensagem celestial a Maria: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo;
Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre [...], e o seu
reinado não terá fim (Lucas 1.32-33; Mateus 28.18).

Agora, faça uma pausa!

 Na escolha de Davi, o Senhor viu seu coração e não sua aparência, pois era o
menor de seus irmãos. Foi vencedor, perdoador, amoroso, abençoado, adorador,
mas não era perfeito, pecou, reconheceu seu erro e foi disciplinado por Deus.
Quais lições aprendemos com esse rei?

 Como se cumpriu a promessa feita por Deus em 2 Samuel 7.15-16 “teu trono será
estabelecido para sempre”? Veja textos do Novo Testamento na lição.

Pare e pense! Assim como Deus se agradou de Davi, ele também quer se
agradar de você. Como deve ser seu coração, sua aparência, suas palavras,
suas ações?

3. Davi, o mavioso salmista de Israel (2 Samuel 23.1-4)

Este é o momento para a leitura de Salmos.

SALMOS
SÉRIES AUTORIA CARACTERÍSTICAS
1 ª série Salmos 1 – 41 Predomina nome
Exceções: 1, 2, 10, 33 Senhor – Jeová
Davi: maturidade
2 ª série Salmos 42 – 72 Predomina nome
Coré – 42 – 47 Deus – Eloim
Davi – 51 – 70
Juventude
Exceções: 66, 67
3 ª série Salmos 73 – 89 Aparecem os dois nome
Asafe – 73 – 83
Coré – 84 – 89
Atribuído a Davi - 86
4 ª série Salmos 90 – 106 Salmos de louvor
35
Anônimos
90 – Atribuído a Moisés
101, 103 - Atribuídos a Davi
5 ª série Salmos 107 – 150 Salmos litúrgicos
Pós exílicos
De 120 a 134 são chamados de
degraus

A maioria deles é de autoria de Davi (1ª e 2ª séries, ver quadro acima). Muitos
desses salmos refletem experiências de Davi narradas em 2 Samuel e 1 Crônicas
(exemplos: 3,18,23,34,51,54,57,59,60 etc.). A leitura dos salmos no contexto histórico nos
faz perceber com maior clareza a mensagem que eles trazem. Há salmos que refletem
outros contextos históricos, como veremos.

Outro livro que pode ser lido em relação com 2 Samuel e 1 Crônicas é o livro de Jó.
Não se sabe ao certo a data da sua composição, mas, por ser livro poético, tem
linguagem muito semelhante à dos salmos. Ele lança luz sobre o mistério do sofrimento
dos justos. No resumo do quadro abaixo, Jó é provado por Satanás por permissão divina
e perde riquezas, família e saúde. As explicações humanas baseadas na experiência, na
sabedoria e no dogmatismo são limitadas, parciais, injustas. A última palavra cabe ao
Todo-Poderoso que exalta aquele que se humilha.

LIVRO DE JÓ – Problema do sofrimento


A prosperidade e a As interpretações
A limitação humana A vitória divina
aprovação humanas
Jó, o justo, é provado ELIFAZ – a voz da ELIU – a voz da O SENHOR surge no
por permissão divina: experiência. juventude. palco da história.
perde riquezas perde 5 – 15 – 22 32 seg.
saúde O sofrimento é Manifesta o seu
perde família inevitável. Critica os amigos por poder. Quem se
não terem tido atreve a argui-lo?
BILDA – a voz da resposta. 38 – 41
sabedoria humana.
8 – 18 – 25 Critica Jó por arrogar Jó se humilha
O sofrimento é justiça própria. 42
consequência do
pecado. “Ao Todo-Poderoso Quando o homem se
não podemos humilha, Deus o
SOFAR – a voz do alcançar” exalta.
dogmatismo. 42
11 – 20
É inútil querer ocultar
o pecado, pois o
sofrimento está à
vista.
Resposta de Jó:
Quero ser julgado por
Deus
1-4 5 - 31 32 - 37 38 - 42

36
4. Salomão,o político

Já vimos como Davi trabalhou a sua sucessão (1 Crônicas 28.1-10; 29.22-25). As


fontes para o estudo do reinado de Salomão encontram-se no primeiro livro de Reis 1-11
e no segundo livro de Crônicas 1-9. Como aconteceu com Davi, cada um desses livros
tem ênfases diferentes: 1 Reis enfatiza Salomão, o político; 2 Crônicas enfatiza Salomão,
o construtor. Mas ambos os livros têm assuntos comuns.

Em 1 Reis, Salomão como político, foi proclamado rei (1 Reis 1.32-40) numa
situação de conflitos (1 Reis 1.1-31) e tomou medidas severas para consolidar o reino (1
Reis 2.1-46). Abençoado por Deus (1 Reis 3.1-15), agiu com sabedoria (1 Reis 3.16-28;
4.29-34) e tornou-se próspero (1 Reis 4.20-28). No entanto, desobedeceu claros preceitos
da lei mosaica (Deuteronômio 17.14-20) ao casar-se com uma princesa egípcia (1 Reis
3.1), ao amontoar riquezas (1 Reis 10.14-29), ao multiplicar para si mulheres estrangeiras
(1 Reis 11.1-3) e ao ser induzido à idolatria por influência dessas mulheres (1 Reis 11.4-
8). Salomão, como político, caiu na tentação dos reinos deste mundo e da glória deles
(Mateus 4.8). Por isso, foi repreendido pelo profeta e abriu a brecha para a divisão do
reino (1 Reis 11.9-40).

CONHEÇA SUA BÍBLIA


Ler ainda: “Cântico dos cânticos”
(Ler também: (Ler também:
Provérbios - Eclesiastes –
Sabedoria; 1 Desvarios; 1
Reis 4 – 32) Reis 11.2)

Morte Idolatria
2 CRÔNICAS 1 - 10

Advertências
Sabá Sabá
1 REIS 1 - 10
Riquezas
O CONSTRUTOR
SALOMÃO

Riquezas 2ª visão
O POLÍTICO

Tributo
Cidades Dedicação
Oração
Oração Palácio
Templo
Dedicação Edificação
Hirão
Preparativos Preparativos
Limites
Hirão Sabedoria
Casamento
Sacrifícios Julgamento
Conselheiros
Adonias
Velhice de Davi
Coroação

37
No contexto histórico de 1 Reis 1-11 e de 2 Crônicas 1-9, devemos ler os livros de
Eclesiastes, Provérbios e Cantares. Eclesiastes retrata o político que se encantou com as
glórias deste mundo. Logo no início, ele declara: “Palavra do Pregador, filho de Davi, rei
de Jerusalém: vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade”
(Eclesiastes 1.1-2). Este livro foi escrito por Salomão em sua velhice e demonstra o seu
arrependimento. Reconheceu que a grandeza aqui na terra é pura vaidade. Dedicou-se a
conhecer os desvarios deste mundo e chegou à experiência de materialista (Eclesiastes 3
e 9). De que aproveita ao homem tudo o que a vida debaixo do sol oferece? (Eclesiastes
1 a 2). Nada! Neste livro Salomão se propôs a tratar da sabedoria meramente humana
que leva os homens aos desvarios. Mas o sentido do livro está no seu final: “De tudo o
que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto
é o dever de todo homem” (Eclesiastes 12.13). Todo o livro deve ser entendido à luz
deste princípio. Por isso, ele é palavra de Deus.

O Livro de Provérbios tem outro enfoque. Neste livro não temos os desvarios de
um idoso arrependido (Eclesiastes), mas a expressão da sua sabedoria. No livro de
Eclesiastes, ele já revela alguns aspectos da sabedoria, mas, em Provérbios, ele expõe a
sabedoria prática, a sabedoria de viver. O resumo não é diferente de Eclesiastes, porque
o princípio desta sabedoria é o “temor do Senhor” (Provérbios1.7). “O temor do Senhor é
o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Provérbios 9.10). Não
existe melhor manual de sabedoria prática do que o livro de Provérbios.

O livro de Cantares enaltece o amor conjugal e tem sido usado como figura do
relacionamento de Deus com o seu povo.

Pare e pense! Releia a lição, observando os quadros e os textos bíblicos, e


responda: Por que a leitura de Jó, Salmos, Provérbios e Cantares se torna mais
proveitosa quando feita no seu contexto histórico? Exemplifique.

Salomão, filho de Davi, foi abençoado por Deus com sabedoria e riquezas, se
tornando o homem mais sábio e mais rico que já existiu, porém terminou seus dias
com a seguinte afirmação: “De tudo que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e
guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem”. Por que razão?

5. Salomão, o construtor

O segundo livro de Crônicas 1-10 enfatiza Salomão, o construtor. Destaca a


piedade de Salomão, a sua maior preocupação com a construção do templo e os
preparativos para o culto (2 Crônicas 2-7).

Davi desejou construir uma casa para abrigar a arca da aliança (2 Samuel 7.1-2),
mas o SENHOR, por intermédio de Natã, disse a Davi que a “Casa” não era prioridade
para ele. Desde que o povo saiu do Egito, ele, o SENHOR, tinha andado em tenda, em
tabernáculo (2 Samuel 7.3-7). Ele é quem faria casa a Davi (2 Samuel 7.8-15). “Porém a
38
tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será
estabelecido para sempre” (2 Samuel 7.16). Mas, prometeu estabilidade a Salomão (2
Samuel 7.12): “Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o
trono do seu reino” (2 Samuel 7.13).

Em linhas gerais, o templo seguiu o modelo do tabernáculo (Lição 3). As


providências do rei na construção do templo estão descritas em 2 Crônicas 2 a 5 e em 1
Reis 5 a 8.11. Merece destaque a consagração do templo. Após a oração do rei (2
Crônicas 6), “a glória do SENHOR encheu a casa” (2 Crônicas 7.1). O templo é muito
bom, mas se transformado em objeto de idolatria, é muito mau. Salomão estava
consciente disto: “Mas, de fato, habitaria Deus com os homens na terra? Eis que os céus
e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei” (2
Crônicas 6.18). Ao demonstrar autoridade para purificar o templo em seus dias, Jesus se
referiu ao seu corpo quando disse: “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei”
(João 2.19, ver João 2.14-22). Do templo construído por Salomão e reconstruído diversas
vezes por outros, não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derribada, na profecia de
Jesus (Marcos 13.1-2). Portanto, o templo que Jesus está construindo (Mateus16.18) não
é de material, mas de gente, corpo vivo de Cristo (1 Coríntios 12.12-13): “Chegando-vos
para ele (Cristo), a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus
eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” (1 Pedro 2.4-5).

Ao expor estas verdades, Estêvão se referiu ao templo construído por Salomão


(Atos 7.46-47) e afirmou: “Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos
humanas, como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés;
que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Não foi,

39
porventura, a minha mão que fez todas estas coisas?” (Atos 7.48-50). Por isso, ele foi
apedrejado pelos idólatras do templo (Atos 6.12-14; 7.54-60).

Agora, faça uma pausa!

Salomão construiu o Templo, o qual foi destruído e reconstruído diversas vezes. Leia
Mateus 16.18, João 2.19-22, Marcos 13.1-2, 1 Coríntios 3.16-17 e 1 Pedro 2.4-5 e
responda:

 Qual foi o fim do templo de Salomão?

 Qual o templo que agora está sendo edificado por Jesus?

Conclusão

A fase do reino unido demonstra a realidade da soberania de Deus. Nem a rebelião


do povo contra o reinado de Deus, nem a transgressão do rei que não se submeteu à
palavra do SENHOR, nem as dificuldades criadas por reis que, embora fiéis, estavam
sujeitos às fraquezas humanas, nada, absolutamente nada, impediu que os propósitos de
Deus fossem realizados. Deus continua o mesmo. Esta é a base da nossa segurança.

40
Encontro 6

O REINO DIVIDIDO

O reino unido alcançou o seu ápice de esplendor e de glória nos dias de Salomão,
sucessor de seu pai Davi. No entanto, apesar das sublimes virtudes de Salomão, ele
cometeu pecados que romperam a unidade do reino. Por isso, nos dias de Roboão, seu
filho, aquela fase dourada chegou ao fim. O reino dividiu-se em dois: do norte, conhecido
como o reino de Israel; do sul, conhecido como o reino de Judá. O reino do norte,
composto por dez tribos de Israel, viveu constante instabilidade, ocupando o trono reis de
diversas dinastias; no reino do sul, mais estável, sucederam-se no trono reis da dinastia
de Davi, em virtude da aliança que Deus havia feito com a Casa de Davi (1 Crônicas
17.11-14). O período histórico do reino dividido situa-se entre 945 a.C. quando Roboão
assumiu o trono, até 586 a.C., quando aconteceu a queda de Jerusalém sob o império
babilônico.

1. Causas da divisão

As causas da divisão do reino unido começaram a ocorrer no reinado de Salomão,


como vimos na lição anterior. Salomão começou muito bem, mas terminou mal, porque
transgrediu os preceitos da lei sobre o reinado, normas que ele conhecia muito bem,
resumidas em Deuteronômio 17.14-20: casou-se com uma princesa egípcia (1 Reis 3.1);
amontoou riquezas (1 Reis 10.14-29); multiplicou para si mulheres estrangeiras (1 Reis
11.1-3); foi induzido à idolatria por influência dessas mulheres (1 Reis 11.4-8). O político
Salomão caiu na tentação dos reinos deste mundo e da glória deles (Mateus 4.8). “Por
isso, disse o SENHOR a Salomão: Visto que assim procedeste e não guardaste a minha
aliança, nem os meus estatutos que te mandei, tirarei de ti este reino e o darei a teu
servo. Contudo, não o farei nos teus dias, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o
tirarei. Todavia, não tirarei o reino todo; darei uma tribo ao teu filho, por amor de Davi,
meu servo, e por amor de Jerusalém, que escolhi” (1 Reis 11.11-13). O servo a que o
texto se refere era Jeroboão, filho de Nebate. Num encontro com o profeta Aías, este
tomou a capa que Jeroboão tinha sobre si, rasgou-a em doze pedaços “e disse a
Jeroboão: Toma dez pedaços, porque assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eis que
rasgarei o reino da mão de Salomão, e a ti darei dez tribos . Porém ele terá uma tribo, por
amor de Davi, meu servo, e por amor de Jerusalém, a cidade que escolhi de todas as
tribos de Israel” (1 Reis 11.31-32).

No entanto, a causa imediata da divisão do reino foi a insensibilidade de Roboão


para atender as justas reivindicações do povo. Para manter o fausto, o esplendor e o luxo
do seu reinado e do seu harém, Salomão havia onerado o povo com pesados impostos,
gerando desigualdades e insatisfação. O pedido do povo foi simples: “Teu pai fez pesado
o nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura servidão de teu pai e o seu pesado jugo que nos
impôs, e nós te serviremos” (1 Reis 12.4). Roboão pediu prazo para aconselhar-se sobre
este assunto, mas desprezou o conselho dos sábios anciãos (1 Reis 12.5-8) e seguiu as
41
instruções de conselheiros jovens inexperientes e gananciosos (1 Reis 12.9-11). “O rei,
pois, não deu ouvidos ao povo; porque este acontecimento vinha do SENHOR, para
confirmar a palavra que o SENHOR tinha dito por intermédio de Aías, o silonita, a
Jeroboão, filho de Nebate” (1 Reis 12.15). O resultado foi a divisão das tribos do norte
(Israel) e da tribo do sul (Judá). Roboão planejou restabelecer a unidade do reino pela
força (1 Reis 12.18-21), mas foi repreendido pelo profeta Semaías: “Assim diz o Senhor:
Não subireis, nem pelejareis contra os vossos irmãos, os filhos de Israel; cada um volte
para a sua casa, porque eu é que fiz isto. E, obedecendo eles à palavra do SENHOR,
voltaram como este lhes ordenara” (1 Reis 12.24). A divisão tornou-se irreversível.

Pare e Pense! Vemos em todas as lições que a desobediência continua sendo


até hoje uma das causas do juízo de Deus na vida do seu povo, e que a
obediência, sensibilidade e justiça do coração agradam a Deus.

2. Os profetas como agentes de Deus no reino dividido

Os profetas estiveram em ação durante toda a história do povo de Deus. Líderes


proeminentes como Abraão, Moisés e Samuel, dentre outras funções, atuaram como
profetas do SENHOR (Gênesis 20.7; Êxodo 18.15-19; 1 Samuel 3.20). Até aos juízes, os
sacerdotes tinham atuação destacada. Mas, no tempo em que a corrupção do sacerdócio
tornou-se evidente (1 Samuel 2.12-17), já se percebia um movimento profético atuante em
Israel, agente de Deus para denunciar os desvios tanto dos sacerdotes (1 Samuel 2.27-
36; 3.11-18) quanto, mais tarde, dos reis (1 Samuel 13.13-14; 2 Samuel 12.7-14). Já
vimos a atuação dos profetas Aías e Semaías no processo de divisão do reino. No Reino
Dividido, marcado por crises sucessivas, os profetas tiveram atuação decisiva. Por isto
eles, e não os reis, ocuparam posição central nesse período, como pode ser percebido no
quadro abaixo.

REINO DIVIDIDO
REINO 1 Reis 2 Reis 2 Reis 2 Reis 2 Reis
Fonte:
DE 12 - 22 1 - 14 15 – 20 21 – 23 24 - 25
ISRAEL Reis do Até Até Até ________ _______
Norte Norte Acabe Joroboão II Oseias
Dez Elias Eliseu Isaías Hilquias Jeremias
CATIVEIRO

tribos Profetas Amós, Oseias, Sofonias Naum,


Jeroboão
Jonas Miqueias Habacuque
REINO Reis do Até Até Até
Até Uzias Até Josias
DE Sul Josafá Ezequias Zedequias
JUDÁ
Sul 2 Crôn. 2 Crôn. 2 Crôn. 2 Crôn. 2 Crôn.
Duas Fonte:
10 – 20 21.26 27 – 32 33 – 35 36
tribos
Roboão
PLANO GERAL DE LEITURA

42
Observando o quadro acima, percebemos cinco fases da história do reino dividido,
cujas figuras centrais foram os profetas Elias, Eliseu, Isaías, Jeremias e o sacerdote
Hilquias e os seus contemporâneos. Os reis tanto do norte quanto do sul, por não serem
considerados personagens centrais, não são todos nominados. Nesta lição damos apenas
visão panorâmica das atuações desses profetas e dos acontecimentos mais importantes
dos reinos do norte e do sul. O aluno, no entanto, necessita ler, para um conhecimento
preciso, todos os textos indicados no plano geral de leitura.

2.1. Elias, o iniciador das profecias

Apesar da existência de um movimento profético atuante no final do período dos


juízes e no reino unido, como já vimos, esse movimento tornou-se vigoroso a partir do
profeta Elias. Tanto ele quanto os seus contemporâneos Semaías (2 Crônicas 12), Aías (1
Reis 14), Jeú (1 Reis 16) e Micaías (1 Reis 22) não deixaram livros escritos, mas as
profecias e as atuações deles, sempre corretivas em relação aos reis e ao povo, foram
registradas em 1 Reis capítulos 12 a 22 e em 2 Crônicas capítulos 10 a 20. Vale a pena
uma leitura atenta desses textos.

Jeroboão fez Israel pecar – 1 Reis 14.16


REIS DE ISRAEL

SÍNTESE BIOGRÁFICA
JEROBOÃO

ACABE
NADABE
BAASA

ZINRI
TIBNI
ONRI

Corvos – pão e carne


ELÁ

Serepta – azeite

Acabe – perturbador
PROFETAS

SEMAÍAS – 2 Crônicas 12 Baal – 400 profetas


AÍAS – 1 Reis 14
JEÚ – 1 Reis 16
MICAÍAS – 1 Reis 22 ELIAS Horebe – 7 mil

Ben-Hadabe – aliança

AS Nabote – vinha
REIS DE JUDÁ

Josafá

Josafá – só mal
ROBOÃO
ABÍAS
ASA

Fogo do céu

Carro de fogo

Ainda em Judá havia boas coisas – 2 Crônicas 12.22

Quanto ao reino do norte, destaca-se a afirmação de que Jeroboão fez Israel pecar
(1 Reis 14.16). Por isso, só Nadabe, dos seus descendentes, sentou-se no trono em
Israel. Nova dinastia começou com Baasa, que “fez o que era mau perante o SENHOR e
43
andou no caminho de Jeroboão e no seu pecado, o qual fizera Israel cometer” (1 Reis
15.34). O seu filho Ela reinou só dois anos em Israel porque foi morto numa conspiração
liderada por Zinri, o qual exterminou todos os descendentes de Baasa, “segundo a
palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Jeú” (1 Reis 16.12). O povo opôs-se a
Zinri, que suicidou-se (1 Reis 16.1-20). Onri eliminou o seu rival Tibni e estabeleceu uma
dinastia mais duradoura (1 Reis 16.21-28). Acabe, filho de Onri, excedeu a todos em
pecado e foi com ele que Elias travou os seus maiores embates. Instabilidade e crises
constantes no reino do Norte. Este é o cenário no qual se desenvolveu o ministério de
Elias. Os profetas sempre se destacam em fases críticas como porta-vozes do SENNOR.
Observe, no quadro, a síntese biográfica de Elias.

Jeroboão fez Israel pecar – 1 Reis 14.16


SÍNTESE BIOGRÁFICA
REIS DE ISRAEL

JEROBOÃO

ACABE Corvos – pão e carne


NADABE
BAASA

ZINRI
TIBNI
ONRI
ELÁ

Serepta – azeite

Acabe – perturbador

Baal – 400 profetas


PROFETAS

SEMAÍAS – 2 Crônicas 12
AÍAS – 1 Reis 14 Horebe – 7 mil
JEÚ – 1 Reis 16
MICAÍAS – 1 Reis 22 ELIAS Ben-Hadabe – aliança

Nabote – vinha
AS
Josafá

Josafá – só mal
ROBOÃO
REIS DE

ABÍAS
JUDÁ

ASA

Fogo do céu

Carro de fogo
Ainda em Judá havia boas coisas – 2 Crônicas 12.22

Quanto ao reino do Sul, destaca-se a afirmação: “porque em Judá ainda havia boas
coisas” (2 Crônicas 12.12). Abias e Asa sucederam Roboão e alternaram fidelidade e
infidelidade ao SENHOR. Mas foi Josafá o rei que se destacou no período de Elias. “O
SENHOR foi com Josafá, porque andou nos primeiros caminhos de Davi, seu pai, e não
procurou a baalins. Antes, procurou ao Deus de seu pai e andou nos seus mandamentos
e não segundo as obras de Israel” (2 Crônicas 17.3-4). Mas fez aliança com Acabe (2
Crônicas 18.1-3) e foi severamente repreendido pelo profeta Jeú: “Devias tu ajudar ao
perverso e amar aqueles que aborrecem o SENHOR? Por isso, caiu sobre ti a ira da parte
do SENHOR. Boas coisas, no entanto, se acharam em ti” (2 Crônicas 19.2-3). Observe
que tanto no norte como no sul os profetas estavam atuantes.

44
Agora, faça uma pausa!

Leia 1 Reis capítulos 18 e 19 e medite sobre a atuação de Elias: vitória sobre os


profetas de Baal, perseguição de Jezabel, estados de ânimo do profeta e a experiência no
monte Horebe.

2.2. Eliseu, sucessor de Elias

Elias recebeu instruções do SENHOR para ungir Eliseu, filho de Safate, de Abel-
Meolá como seu sucessor no ministério profético (1 Reis 19.16). Ao receber o chamado (1
Reis 19.19-21a), Eliseu “se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia” (1 Reis 19.21b). O tempo
de discipulado habilitou Eliseu para a missão. Antes de Elias ser elevado ao céu, disse a
Eliseu: “Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. Disse-lhe
Eliseu: Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito” (2 Reis 2.9).
Esse pedido foi atendido. Eliseu, como profeta, realizou o dobro dos milagres que foram
realizados por Elias. A principal fonte para o estudo das atuações de Eliseu é 2 Reis
capítulos 2 a 13. Os acontecimentos estão também registrados em 2 Crônicas 21 a 26,
mas não há destaque para o ministério de Eliseu. Eliseu atuou mais no reino do norte e 2
Crônicas dá destaque para o reino do sul.

SÍNTESE BIOGRÁFICA
REIS DE ISRAEL

Jeroboão II

Capa de Elias
ACAZIAS

JOACAZ
JORÃO

JOÁS
JEÚ

Salva três reis

Azeite da viúva

Sunamita
PROFETAS

Morte na panela
AMÓS - Amós 1.1
JONAS – 2 Reis 14.25
ELISEU Naamã

AS Machado flutua

Leprosos de Samaria
REIS DE JUDÁ

AMAZIAS
ACAZIAS

Uzias
JORÃO

Conselhos do rei da Síria


JOÁS

(Lutas de Jeú com Atália –


Joás repara o templo)

Morte de Eliseu

Os profetas contemporâneos de Eliseu, Amós e Jonas, deixaram livros escritos


(Amós 1.1; 2 Reis 14.25). Acabe, da dinastia de Onri, teve ainda dois descendentes que

45
lhe sucederam no trono, Acazias e Jorão. Mas Elizeu ungiu Jeú rei sobre Israel (1 Reis
19.16; 2 Reis 9.1-3), dando-lhe a seguinte missão: “Ferirás a casa de Acabe, teu senhor,
para que eu vingue da mão de Jezabel o sangue de meus servos, os profetas, e o sangue
de todos os servos do Senhor” (2 Reis 9.7). Jeú foi sucedido no trono pelos seus
descendentes Joacaz e Jeoás, mas principal rei da dinastia de Jeú foi Jeroboão II, filho de
Jeoás. Em seus dias Israel alcançou notável prosperidade favorecido pela conjuntura
mundial. Essa prosperidade beneficiou a aristocracia israelita, mas causou enormes
injustiças na distribuição de renda. Neste contexto devemos ler o livro do Profeta Amós.
Ele é o profeta conhecido pela denúncia contundente dos pecados sociais. Veja, no
quadro acima, a síntese biográfica de Eliseu.

Quanto ao reino do sul, Jeorão, filho de Josafá, foi rei tão perverso, que ao morrer
aos 32 anos, foi dito dele: “E se foi sem deixar de si saudades” (2 Crônicas 21.20). Foi
sucedido no trono por Acazias, Joás e Amazias. Nenhum deles serviu ao SENHOR com
inteireza de coração. Do rei seguinte, Uzias, é dito: “Propôs-se buscar a Deus nos dias de
Zacarias, que era sábio nas visões de Deus; nos dias em que buscou ao SENHOR, Deus
o fez prosperar” (2 Crônicas 26.5). De fato, a liderança de Uzias, figura principal deste
período histórico como rei, trouxe prosperidade para Judá (2 Crônicas 26.6-15). Mas ele,
que começou tão bem, exaltou-se para a sua própria ruína (2 Crônicas 26.16-21). A
atuação profética de Eliseu foi mais intensa no norte e há abundantes informações em 2
Reis. No sul, faz-se referência apenas a um profeta que repreendeu o rei Amazias, mas
sem sucesso (2 Crônicas 25.15-16). Foi no ano da morte do rei Uzias que, enquanto
adorava no templo, Isaías teve a visão do SENHOR e foi comissionado como profeta
(Isaías 6.1-8). Mas é assunto para o próximo item da nossa lição.

Pare e pense! Verifique na lição a situação política e econômica de Israel nos


dias de Jeroboão II e do profeta Amós, contemporâneo de Elizeu. Observe os
quadros do profeta Isaías e dos seus contemporâneos.

Leia o capítulo 6 de Amós e mencione os pecados sociais que o profeta denuncia. Há


semelhança com os nossos dias? Se há, em que? Veja como é importante ler os profetas
no contexto histórico deles.

2.3. Isaías, o profeta evangélico

Os textos bíblicos da fase histórica em que o profeta Isaías ocupou posição de


destaque são 2 Reis capítulos 15 a 20 e 2 Crônicas capítulos 27 a 32. Nessa fase
ocorreram fatos importantes nos dois reinos: no norte, no plano interno, a dinastia de Jeú
chegou ao fim com Zacarias, e, depois, uma série de conspirações envolvendo Salum,
Manaém, Pecaías e Oseias. Todos eles “fizeram o que é mau perante o SENHOR”. Como
resultado, Salmaneser, rei da Assíria, invadiu Israel, em 720 a.C., dando fim ao reino do
norte (2 Reis 17.1-6). As causas da derrocada desse reino foram a transgressão da lei do
SENHOR (2 Reis 17.12), o desprezo às advertências dos profetas (2 Reis 17.13-15) e a

46
idolatria (2 Reis 17.16-17). “Pelo que o SENHOR muito se indignou contra Israel e o
afastou da sua presença; e nada ficou, senão a tribo de Judá” (2 Reis 17.18).

Série de conspirações; invasão de Salmanazar – 2 Reis 17


REIS DE ISRAEL

SÍNTESE DO LIVRO DE ISAÍAS

MANAHEM
ZACARIAS
1ª parte:

HOSEIAS
PEKAIA
SALUM

PEKA
I – Fundamentos: 1 – 12
a) A nação necessitada Cap. 1 – 6
b) O rebento do Senhor Cap. 6 – 12

II – Mensagens endereçadas:
PROFETAS

a) Às nações Cap. 13 – 23
OSEIAS
MIQUEIAS ISAÍAS b) A Israel Cap. 24 – 27
c) A Judá Cap. 28 – 35

III – Fatos históricos: 36 – 39


AS a) Em angústia (Senaqueribe) Cap. 36
b) No templo (carta) Cap. 37
EZEQUIAS
REIS DE

c) No leito (cura) Cap. 38


JOTÃO
UZIAS
JUDÁ

ACAZ

d) No tesouro (orgulho) Cap 39

Série de reformas; resistência a Senaqueribe. 2 Reis 18, 19

Povos de países estrangeiros foram levados para Israel (2 Reis 17.24-28). Isto deu
origem a um culto misto (2 Reis 17.29-34), gerando um conflito permanente entre judeus
(sul) e samaritanos (norte), que repercutiu no diálogo de Jesus com a samaritana: “Como,
sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não
se dão com os samaritanos)?” (João 4.9).

O reino do sul caracterizou-se por uma série de reformas e pela resistência a


Senaqueribe, rei da Assíria. Dentre os descendentes de Uzias, passando por Jotão e
Acaz, destacou-se Ezequias. Conquistado o norte, os assírios marcharam em direção ao
sul onde encontraram resistência. As vitórias de Ezequias não aconteceram por causa do
seu poderio bélico, mas por verdadeiros milagres operados pelo SENHOR, sob a
orientação de Isaías (2 Crônicas 33). Antes, Ezequias tinha comandado as reformas que
resultaram na restauração e purificação do templo, no restabelecimento do culto, na
grande celebração da páscoa e na organização dos ministérios dos levitas e sacerdotes
(2 Crônicas 29, 30 e 31).

Não apenas em virtude da posição geográfica, localizado ao sul, mas pela


intervenção do SENHOR, Judá continuou resistindo as investidas assírias depois da
queda de Israel, no norte. Mas não conseguiu sobreviver ao ataque do Império babilônico,
cerca de 130 anos mais tarde. A razão está registrada em 2 Reis 17.19-20: “Também
Judá não guardou os mandamentos do SENHOR, seu Deus; antes, andaram nos

47
costumes que Israel introduziu. Pelo que o SENHOR rejeitou a toda a descendência de
Israel, e os afligiu, e os entregou nas mãos dos despojadores, até que os expulsou da sua
presença”.

CONTEMPORÂNEOS DE ISAÍAS
OSEIAS MIQUEIAS

O pecado, simbolizado pela prostituição - O pecado, comparável à prostituição (1.7)


(1 – 3), é a triste realidade. é o motivo das ameaças divinas (1 – 2)
 Israel peca – Cap. 4
 Chefes são responsáveis - Cap. 5
 Efraim e Samaria, exemplos – Cap.
6, 7

O castigo virá pela mão da Assíria e das O castigo virá pela mão da Assíria e das
nações (8 – 10) nações (5.5-7)
 Cap. 8 – 13  Capítulo 3 – 6
 Há esperança messiânica  Há esperança messiânica
11.1 – “Do Egito chamei o meu filho”. 5.2 – “De Belém sairá o Senhor de Israel”.

O arrependimento pode, contudo, trazer o O arrependimento pode trazer o perdão.


perdão. “Os pecados serão lançados à profundeza
“Serei para Israel, como o orvalho”. do mar”.

Capítulo final: 14 Capítulo final: 7

Isaías deixou um livro escrito. Na primeira parte do livro (capítulos 1 a 40), ele
retrata os acontecimentos que estamos considerando. A segunda parte será vista depois.
As profecias messiânicas nesta parte do livro de Isaías são tantas que ele tem sido
chamado o profeta evangélico. Examinar, por exemplo, os textos de Isaías 7.14 e de
Mateus 1.20-23. Veja a síntese do livro de Isaías no quadro acima. Os contemporâneos
de Isaías foram os profetas Oseias e Miqueias. Observe no quadro acima como os livros
desses profetas refletem o período histórico de Israel que estamos estudando. Todos
denunciam os pecados de Israel e referem-se à Assíria como agente da disciplina divina.
Mas anunciam também esperança como consequência do arrependimento de Israel e da
promessa da vinda do Messias.

2.4. Hilquias, o sacerdote que salvou o reino

Os reis Manassés e Amom, filho e neto de Ezequias, fizeram o que era mau
perante o Senhor (2 Reis 21.1-2, 19-20). Não seguiram nas pisadas do pai e avô. Amom
foi morto numa conspiração, mas o povo constituiu Josias, com apenas oito anos de
idade, rei em lugar do seu pai. A figura central desse período é o Sacerdote Hilquias,
mentor do rei Josias, e que liderou todo o movimento de reforma em Judá (2 Crônicas 34
e 35). Os textos bíblicos para o estudo desta fase são 2 Reis 21 - 23 e 2 Crônicas 33 - 35.
Apesar das reformas religiosas sob o sacerdote Hilquias e o rei Josias, o fim de Judá
48
estava previsto na passagem de 2 Reis 23.25-27: “Antes dele (Josias), não houve rei que
lhe fosse semelhante, que se convertesse ao SENHOR de todo o seu coração, e de toda
a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a Lei de Moisés; e, depois dele,
nunca se levantou outro igual. Nada obstante, o SENHOR não desistiu do furor da sua
grande ira, ira com que ardia contra Judá, por todas as provocações com que Manassés o
tinha irritado. Disse o Senhor: Também a Judá removerei de diante de mim, como removi
Israel, e rejeitarei esta cidade de Jerusalém, que escolhi, e a casa da qual eu dissera:
Estará ali o meu nome”.
REIS DE ISRAEL

Israel levado em
Não houve reis:

SÍNTESE DOS EVENTOS


cativeiro

Abolição da idolatria.
Reparação do templo.
Hilquias acha o livro
Renovação do pacto.
Celebração da páscoa.
PROFETAS

Guerra contra o Egito.

Sofonias HILQUIAS SÍNTESE DE SOFONIAS

Dia de Jerusalém
Dia das nações
 Urtiga – 2
REIS DE JUDÁ

 Angústia – 1
Josias
Manassés

Dia de Sião
Amom

 Remanescentes - 3

Sofonias foi o profeta contemporâneo do sacerdote Hilquias e do rei Josias


(Sofonias 1.1). Na leitura deste livro percebemos as denúncias, as ameaças, a descrição
dos sofrimentos da invasão, mas também notamos uma nota de esperança (ver no
quadro acima a Síntese de Sofonias). “Naquele tempo eu vos farei voltar e vos recolherei;
certamente, farei de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra, quando eu
vos mudar a sorte diante dos vossos olhos, diz o SENHOR” (Sofonias 3.20).

2.5. Jeremias, o profeta da queda

Os textos para o estudo desta última fase do reino dividido encontram-se em 2 Reis
24-25 e em 2 Crônicas 36. Jeremias é conhecido como o profeta das lamentações porque
viveu neste período em que foi destruído tudo o que era precioso para o povo de Israel.
Os reis Jeoaquim, Joaquim e Zedequias nada realizaram de importante. Não podiam
também oferecer resistência aos babilônios tanto por causa da precária condição

49
econômica e militar, quanto pela falta evidente de uma espiritualidade sadia. O desfecho
foi trágico. No undécimo mês do reinado de Zedequias, quando o povo, cercado, estava
faminto, os babilônios arrombaram a cidade, os homens de guerra e o rei fugiram (2 Reis
25.2-4), “porém o exército dos caldeus perseguiu o rei Zedequias e o alcançou nas
campinas de Jericó; e todo deste se dispersou e o abandonou. Então o tomaram preso e
o fizeram subir ao rei da Babilônia, a Ribla, o qual lhe pronunciou a sentença. Aos filhos
de Zedequias mataram à sua própria vista e a ele vazaram os olhos; ataram-no com duas
cadeias de bronze o levaram a Babilônia” (2 Reis 25.5-7).
REIS DE ISRAEL

Israel levado em
Não houve reis:

cativeiro

SÍNTESE DO LIVRO
DE JEREMIAS

(quadro em separado)
PROFETAS

Naum
(Naum 1.1)
JEREMIAS
Habacuque
(Habacuque 1.4)
para Zedequias)
(mudou o nome

(mudou o nome
para Jeoaquim)
REIS DE JUDÁ

(levado em
cativeiro)

Matanias
Eliaquim

Joaquim
Joacaz

Jeremias sobreviveu à queda de Jerusalém e continuou a exercer o seu ministério


entre os remanescentes na Palestina e no Egito. O seu ministério foi um dos mais sofridos
na história do povo de Deus. Ele deixou dois livros escritos (Jeremias e Lamentações) e
foi contemporâneo dos profetas Naum e Habacuque (Naum 1.1 e Habacuque 1.4-6). Os
livros deste dois profetas lançam luz sobre Jeremias e os capítulos finais dos livros
históricos; estes, também, nos ajudam a perceber melhor a significação desses dois
pequeninos, porém maravilhosos livros das Escrituras.

Veja, no quadro abaixo, uma tentativa de colocar o livro de Jeremias em ordem


cronológica.

50
JEREMIAS

Tentativa de colocação do livro de Jeremias em ordem cronológica:


I – No tempo de Josias (1 – 12)
Chamada do profeta e primeiras mensagens junto ao templo
restaurado.

II – No templo de Joaquim (13-20)


Acrescentar os capítulos: 35, 36 e 45.
Luta contra os príncipes e o próprio rei.

III – No templo de Zedequias (21 – 27)


Acrescentar os capítulos: 28, 30 a 34, 37, 38.
Mensagem sobre o cativeiro e promessas de restauração.

IV – Depois da queda (29)


Cotejar com Esdras 1.1.
Carta do profeta aos que estavam dispersos.

V – Desfecho (39 – 44)


Acrescentar o capítulo 52.
Rebelião final e descida para o Egito.

VI – Mensagem às nações (46 – 51)


Mensagem às diversas nações: Egito, Filístia, Moabe, Amom,
Edom, Damasco, Quedar, Hagar, Elã, Babilônia.

Conclusão

Ao colocar os profetas como figuras centrais na fase histórica do reino dividido,


nossa intenção foi mostrar a importância de discernir a vontade e os propósitos de Deus
nos momentos críticos da história do povo de Deus. Como temos visto neste curso, as
fraquezas humanas não impedem a realização do plano de Deus. As lições desta fase
corroboram o ensino de Paulo: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”
(Romanos 8.28).

51
Encontro 7

O EXÍLIO

Como vimos na lição anterior, o reino do norte caiu em 720 a.C., com a invasão de
Senaqueribe, rei da Assíria. O reino do sul, sob a dinastia de Davi, resistiu por mais ou
menos cento e quarenta anos, mas caiu também na invasão de Nabucodonosor, rei da
Babilônia, em 580 a.C.. Apesar das reformas religiosas sob o sacerdote Hilquias e o rei
Josias, que demonstraram profundo zelo em seguir ao Senhor, o fim de Judá estava
também previsto na passagem de 2 Reis 23.26-27: “Nada obstante, o SENHOR não
desistiu do furor da sua grande ira, ira com que ardia contra Judá, por todas as
provocações com que Manassés o tinha irritado. Disse o Senhor: Também a Judá
removerei de diante de mim, como removi Israel, e rejeitarei esta cidade de Jerusalém,
que escolhi, e a casa da qual eu dissera: Estará ali o meu nome”. Veja no quadro abaixo a
escala descendente desde a morte de Salomão até a invasão de Nabucodonosor.

No quadro abaixo percebemos os reis gentios que combateram Israel e foram


agentes também dos propósitos de Deus, ainda que inconscientes, cujas ações foram
interpretadas pelos profetas.

Pare e pense! A atuação dos profetas nos faz pensar na afirmação de um


teólogo de que devemos ter a Bíblia numa mão e o jornal do dia na outra mão.

52
O final de Judá foi trágico. Quando os babilônios invadiram Jerusalém, todos
fugiram (2 Reis 25.2-4). “Porém o exército dos caldeus perseguiu o rei Zedequias e o
alcançou nas campinas de Jericó; e todo o exército deste se dispersou e o abandonou.
Então, o tomaram preso e o fizeram subir ao rei da Babilônia, a Ribla, o qual lhe
pronunciou a sentença. Aos filhos de Zedequias mataram à sua própria vista e a ele
vazaram os olhos; ataram-no com duas cadeias de bronze e o levaram a Babilônia” (2
Reis 25.5-7). Os babilônios queimaram a Casa do SENHOR, derribaram os muros em
redor de Jerusalém, levaram o sumo sacerdote e todos os utensílios do templo para
Babilônia. Judá passou a ser governada por prepostos do rei da Babilônia (2 Reis 25.8-
22). “Porém dos mais pobres da terra deixou o chefe da guarda ficar alguns para vinheiros
e para lavradores” (2 Reis 25.12). Por que tudo isto aconteceu? Porque os reis e o povo
não ouviram as advertência dos profetas, “porém, zombavam dos mensageiros,
desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do
SENHOR contra o seu povo, e não houve remédio algum” (2 Crônicas 36.16).

1. Os profetas do cativeiro

A crise que começou no reino dividido alcançou seu clímax no exílio do povo e no
cativeiro babilônico. Em todos estes momentos de crise, os profetas tiveram atuação
destacada, desde Elias, o iniciador do movimento profético, até Malaquias, que profetizou
após o retorno do exílio. O reino dividido, em decadência, se desfez no exílio. Os profetas
foram intérpretes da realização dos desígnios de Deus nesta fase crítica. Por meio deles
entendemos que foi necessário que Deus rompesse a estrutura de organização nacional
para salvar a vocação espiritual de Israel. O quadro abaixo mostra os principais profetas
do cativeiro.

53
Os fatos relacionados com o cativeiro estão registrados em Jeremias a partir do
capítulo quarenta. Os fatos referentes à restauração do cativeiro estão escritos em Isaías
também a partir do capítulo quarenta. Esses capítulos dos dois profetas devem ser lidos
no contexto do cativeiro e da restauração e junto com os livros de Joel e Obadias. Isto
não quer dizer que haja dois profetas Isaías nem dois profetas Jeremias, nos capítulos 1 a
39 dos respectivos livros, mas apenas o contexto histórico refletido nesta parte dos livros
deles (capítulos 40ss). Em Obadias 1.15 e em Joel 2.31 percebemos que o “Dia do
SENHOR” está relacionado com a queda de Jerusalém. A destruição tantas vezes
profetizada e anunciada, afinal chegou. O quadro abaixo mostra como esses profetas
atuaram entre os polos Canaã (Palestina) Caldeia (Babilônia).

54
2. Daniel, o profeta na corte babilônica

Daniel e seus amigos, da linhagem real e da nobreza, saudáveis e instruídos,


foram selecionados dentre os judeus no exílio para que assistissem no palácio do rei e
fossem instruídos na cultura e na língua dos caldeus (Daniel 1.3-4). Os quatro jovens,
Daniel, Hananias, Misael e Azarias, deveriam também assimilar a religião dos caldeus
refletida na troca dos seus nomes: De Daniel, Deus é meu juiz, para Beltessazar, príncipe
de Bel; de Hananias, Jeová é misericordioso, para Sadraque, amigo do rei; de Misael,
quem é como Deus? para Mesaque, quem é como aku? de Azarias, Jeová é o meu
socorro, para Abede-nego, servo de nego (Daniel 1.6-7). Os novos nomes estão
relacionados com os deuses da Babilônia. O objetivo maior era que todos os judeus
assimilassem a cultura e a religião babilônicas. No entanto, Daniel e seus amigos
decidiram não se contaminar. Deus lhes concedeu sabedoria para que mantivessem a
sua identidade como servos de Jeová. Não foram influenciados, mas, pelo contrário,
exerceram influência na corte pagã. É lição preciosa para nós crentes que devemos ser
sal da terra e luz do mundo (Daniel 1.8-21).

O livro de Daniel tem caráter biográfico. Não se sabe quem deu a redação final,
nem quando, mas Daniel é a personagem principal e grande parte do texto é de sua
autoria. Como pode ser observado no quadro “Profetas do Cativeiro”, do capítulo 1 a 6, o
livro narra fatos; do capítulo 7 ao 12, registra as visões. A estátua do sonho de
Nabucodonosor (cap. 2), interpretado por Daniel, representava impérios sucessivos
(babilônico, persa, grego e romano) e apontava para o reino do Filho do Homem (Cristo),
cujo reino é eterno (Daniel 2.44-45; 7.13-14). As profecias dos capítulos 7 a 11 se referem
aos embates desses impérios. Os reinos do norte e do sul, do capítulo 11, referem-se aos
remanescentes do império macedônio, de Alexandre, que se estabeleceram no Egito (sul)
e na Síria (norte) e que alternadamente fustigavam Israel que ficava no meio. Mas, além
da aplicação das profecias aos ptolomeus (Egito) e selêucidas (Síria), muitas delas se
cumpriram no ministério de Jesus e outras se cumprirão ainda. Exemplos: Comparar
Daniel 11.31; 12.11 com Mateus 24.15; Daniel 7.13-14 com Mateus 25.31-46.

3. Ezequiel, o atalaia no cativeiro

Ezequiel informa que, estando entre os “exilados, junto ao Rio Quebar, se abriram
os céus, e eu tive visões de Deus” (Ezequiel 1.1). Como pode ser percebido no quadro
“Profetas do Cativeiro”, o livro de Ezequiel divide-se em três grandes blocos: Vocação
(capítulos 1 a 3); Castigo (capítulos 4 a 36); Restauração (capítulos 37-48). A missão do
profeta era demonstrar que o cativeiro era consequência do pecado e o grande objetivo
era provocar arrependimento para que a missão espiritual de Israel fosse restaurada. Esta
não seria missão fácil, “pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de
coração” (Ezequiel 3.7). “Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem
de ouvir, pois são rebeldes” (Ezequiel 2.7). Aliás, a missão de profeta sempre é difícil. As
advertências de Ezequiel se aplicavam não só a Israel, mas também à Babilônia. O
profeta teria que enfrentar a incredulidade de Israel e o poderio do império babilônico.

55
Mas nos capítulos finais Ezequiel fala da restauração: “Tomar-vos-ei de entre as
nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra. Então,
aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de
todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós
espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Habitareis
na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus”
(Ezequiel 36.24-26, 28). O vale de ossos secos se tornaria num exército numeroso
(Ezequiel 37.1-14). Ele faz também longa descrição do templo restaurado (capítulos 40 a
48). Ora, para aqueles que dentre os israelitas eram piedosos e tinham corações
quebrantados, saudosos de Jerusalém e das tradições religiosas, deve ter sido
profundamente consoladora a palavra do profeta do rio Quebar que anunciava o plano
divino da restauração.

Convém ressaltar que nos livros de Ezequiel e Daniel há linguagem apocalíptica,


que usa símbolos, pois o povo estava no cativeiro, perseguido, acossado, e precisava
usar códigos para a sua comunicação. Há ressonância da mensagem desses dois
profetas no livro Apocalipse do Novo Testamento. Este livro reflete a condição de
opressão da igreja sob o império romano. É importante restaurar a importância da
mensagem apocalíptica para quantidade numerosa de irmãos nossos que estão sofrendo
perseguições em nossos dias.

4. Isaías, o profeta da restauração

O contexto histórico do livro de Isaías do capitulo 1 a 39 era de bem antes do exílio,


quando Judá enfrentava as ameaças de Senaqueribe. Depois de dominar o reino do
Norte (Israel) em 720 a.C., o rei da Assíria marchou para o sul (Judá) com o propósito de
conquistar toda a Palestina. Mas Judá foi salvo pela milagrosa intervenção de Deus (Ver
Isaías 36 e 37). Apesar dessas vitórias, o povo de Judá também foi levado para o exílio
em 580 a.C. com a invasão de Nabucodonosor, como já vimos. Então, a partir do capítulo
40, o contexto do livro de Isaías é do cativeiro e a mensagem é de restauração. O objetivo
era encorajar o povo a permanecer firme na fé a despeito das provações: “Consolai,
consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já
é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em
dobro das mãos do SENHOR por todos os seus pecados” (Isaías 40.1-2). O profeta
anuncia Ciro, que assumiu o reino persa em 549 a.C., como o ungido do SENHOR para
servi-lo na restauração do seu povo (Isaías 45.1-4). É muito importante observar o que
Deus diz sobre Ciro: “Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também
de Jerusalém: Será edificada; e do templo: será fundado” (Isaías 44.28). “Por amor do
meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu te chamei pelo teu nome e te pus o
sobrenome, ainda que não me conheces” (Isaías 45.4). O mesmo Deus que alertou o seu
povo a respeito dos perigos do cativeiro, na primeira parte do livro, alertou-o sobre a
mensagem da restauração, na segunda parte.

A mensagem de Isaías não era apenas sobre a restauração como reestruturação


nacional com a volta do povo do cativeiro, mas, e principalmente, do ponto de vista
56
espiritual, cumprindo grandes promessas já feitas. Principalmente as promessas
relacionadas com a vida do Messias, o servo sofredor, que seria imolado para salvar a
humanidade. Além de ser bênção para Israel, o Messias seria dado por Deus “como luz
para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Isaías 49.6).
Filipe falou de Jesus ao oficial da rainha Candace, a partir de Isaías 53.7-8, mostrando
que esse texto se cumpriu em Jesus de Nazaré, o Cordeiro que foi imolado por nós (Atos
8.30-35).

Pare e pense! Que mensagens de conforto e de esperança você pode


mencionar nos livros dos profetas Jeremias, Isaías, Ezequiel e Daniel?

Conclusão

Os profetas interpretaram o exílio como disciplina do Pai espiritual que ama os


seus filhos e que zela pela salvação deles. Mas deixaram claro também que Israel
experimenta a salvação para ser testemunha do SENHOR entre as nações. O livro de
Jonas é um atestado de como o povo de Deus sempre procura agarrar-se aos privilégios
da eleição sem o correspondente compromisso com a missão. Por isso, as lições desta
fase da história do povo têm lições ricas para a igreja em nossos dias.

57
Encontro 8

RESTAURAÇÃO

A queda de Jerusalém, que aconteceu com a invasão de Nabucodonosor, em 586


a.C., marcou o início da dispersão de Israel. Jerusalém jamais recuperou a fase de
esplendor que teve nos dias de Davi e Salomão. O exílio serviu como disciplina de Deus
para curar o seu povo da idolatria que foi sempre denunciada pelos profetas.

Não foram todos os judeus que retornaram para a Palestina depois dos setenta
anos profetizados por Jeremias (Jeremias 25.11; 29.10). Muitos se fixaram na Babilônia, e
outros tantos se espalharam entre as nações. Deus cumpriu a sua palavra e congregou o
remanescente para que os seus propósitos se cumprissem. Destacamos três fases na
restauração de Israel:

1) A reconstrução do templo (Esdras 1 a 6);


2) A reapresentação da lei (Esdras 7 a 10);
3) A reconstrução dos muros de Jerusalém (Neemias 1 – 13).

Veremos também a atuação de Ester e dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias.

1. A reconstrução do templo sob a liderança de Zorobabel

Os persas dominaram a Babilônia. Quando Ciro assumiu o reino, decretou o


retorno dos judeus para a reconstrução do templo (538 a.C). O Senhor despertou o
espírito de Ciro (Esdras 1.1) para fazer o que ele predeterminara como haviam
profetizado Jeremias e Isaías (Jeremias 29.10; Isaías 45.1-5). Nesse decreto, Ciro
determinou o retorno dos judeus (Esdras 1.2-3), fez provisão para a obra (Esdras 1. 4-6)
e encarregou Sesbazar levar de volta os utensílios sagrados do templo (Esdras 1. 7-11;
5.13-15) e de supervisionar a construção da Casa de Deus (Esdras 5. 16). É importante
observar que, se Jeremias previu tempo em que o povo estaria no exílio (Jeremias 25.
11), Isaías, que profetizou mais de cem anos antes dele, anunciou que o retorno se daria
por iniciativa de Ciro (Isaías 44.28). Deus é soberano e reina sobre as nações! Ele inclina
o coração dos reis na direção que ele quer (Provérbios 21.1).

Sesbazar talvez tenha sido alto comissário persa encarregado de conduzir


oficialmente o retorno dos judeus e o início da reconstrução. Mas o grande líder civil foi
Zorobabel, descendente do Rei Davi (Esdras 3.2; 5.2; Mateus 1.12-13); o líder religioso foi
o sacerdote Jesua ou Josué (Esdras 3.2; 5.2); os profetas que atuaram foram Ageu (Ageu
1.1) e Zacarias (Zacarias 4.6-14; 3.1-8). Os acontecimentos registrados no livro de Ester
se deram no contexto histórico da restauração. Há indícios de que o profeta Malaquias
tenha também profetizado nesta época porque há semelhanças entre suas profecias com
a atuação de Neemias: ambos falaram contra o casamento com mulheres estrangeiras
(Malaquias 2.11-15 e Neemias 13.23-27); ambos condenaram a negligência no dízimo
(Malaquias 3.8-10 e Neemias 13.10-14); ambos reprovaram as más ações dos sacerdotes
58
degenerados (Malaquias 1.6-2.9 e Neemias 13.7-8); ambos criticaram os pecados sociais
(Malaquias 3.5 e Neemias 5.1-13). Malaquias foi o último profeta que deixou livro escrito e
que aponta de maneira clara para o ministério de João Batista que prepararia o caminho
para o Messias (Malaquias 4.5-6; Mateus 11.11-14).

Quando foi levantado o altar (Esdras 3.1-7) e lançado os alicerces do templo


(Esdras 3.8-10) houve intenso júbilo (Esdras 3.10-11), ao mesmo tempo que havia
lágrimas pela lembrança do antigo templo (Esdras 3.12-13). Havia ânimo e disposição.
Mas os inimigos se opuseram à construção (Esdras capítulo 4). Mais uma vez, no
momento de crise, o profeta Ageu fez contundentes exortações (Ageu 1.1-11) e o profeta
Zacarias transmitia estímulos através das suas visões (Zacarias 4.6-10). A atuação
desses profetas foi decisiva para que Zorobabel e Josué superassem as dificuldades
(Esdras 5.1-12) completassem a obra e dedicassem o templo ao trabalho do Senhor
(Esdras 6.13-18). Esta fase culminou com a celebração da Páscoa (Esdras 6.19-22).

2. O reestudo da Lei sob a liderança de Esdras

Do capítulo 7 a 10 de Esdras destaca-se a figura simpática deste líder que não


apenas conduziu uma leva de exilados de retorno a Jerusalém (Esdras 7 a 8), mas que
restaurou o culto de acordo com as instruções da Lei de Moisés (Esdras 9 a 10). Ele era
escriba versado na Lei de Moisés (Esdras 7.6) e sacerdote descendente de Arão (Esdras
7.1-5). Ele tratou não de uma reconstrução material, mas espiritual. O problema não era
só do local do culto, mas do culto mesmo. Diante da degeneração espiritual e cultural
(Esdras 9.1-3), ele se humilhou na presença de Deus, confessou o pecado do povo
(Esdras 9.4-14) e concluiu: “Ah! Senhor, Deus de Israel, justo és, pois somos os restantes
que escaparam como hoje se vê. Eis que estamos diante de ti em nossa culpa, porque
ninguém há que possa estar na tua presença por causa disto” (Esdras 9.15). Esdras não
apenas orou, mas agiu. O povo reconheceu o pecado (Esdras 10.1-4). Os príncipes
disseram: “Levanta-te, pois esta coisa é de tua incumbência, e nós seremos contigo; sê
forte e age” (Esdras 10. 4). Apesar de oposições (Esdras 10.15), Esdras agiu para apartar
o povo das abominações que comprometeram o culto e a vida moral dos filhos de Israel.

Além da restauração do culto, Esdras dedicou-se à instrução do povo. No Livro de


Neemias, depois da relação dos que voltaram do exílio (Neemias 7), houve um grande
ajuntamento e foi pedido a Esdras para “que trouxesse o Livro da Lei de Moisés que o
SENHOR tinha prescrito a Israel” (Neemias 8.1). Esdras e seus auxiliares levaram e
explicaram a Lei intensamente (Neemias 8.2-8). Houve quebrantamento (Neemias 8.9) e
alegria “porque tinham entendido as palavras que lhes foram explicadas” (Neemias 8.12).
O resultado foi, mais uma vez, uma significativa celebração da Festa dos Tabernáculos
(Neemias 8.13-18).

Malaquias, que viveu na época de Esdras e Neemias, foi o último profeta. Entre
Malaquias e Mateus, período de 400 anos, não houve movimento profético. A partir de
Esdras, os escribas tiveram papel fundamental na preservação e na instrução da Lei do
Senhor. Em Jerusalém foi restaurado o templo, mas, nas comunidades judaicas

59
dispersas, desenvolveram-se os encontros nas sinagogas para adoração e instrução na
Lei. A organização da igreja não seguiu o modelo do templo, mas das sinagogas. O
templo reconstruído na fase da restauração e profanado mais tarde pelos gregos, foi
definitivamente destruído pelos romanos no ano 70. Os cristãos não construíram templo.
Assim como as sinagogas funcionavam em sua quase totalidade nas casas, a igreja
seguia este modelo e impactou o império romano. Este movimento perdeu seu ímpeto
quando os cristãos restauraram os odres velhos do Antigo Testamento (templo,
sacerdote, sacrifício, dias sagrados) no tempo de Constantino.

3. A reconstrução dos muros sob a liderança de Neemias

A terceira fase da reconstrução teve como líder principal Neemias.Ele era copeiro
do rei Artaxerxes (445-443 a.C). Este cargo era de muita confiança nas cortes orientais,
pois cuidava da alimentação do palácio. Antes de o rei ingerir qualquer bebida, o copeiro
devia tomar o copo, ingerindo-a ele mesmo para demonstrar que não havia qualquer
perigo de envenenamento. Neemias era nobre, homem de confiança do rei.

Recebeu notícias desanimadoras de Jerusalém (Neemias 1.1-3), pois apesar dos


esforços de Zorobabel e de Esdras havia inimigos, como Sambalá e outros, que sempre
lutavam contra a restauração. Chamavam Jerusalém de a cidade rebelde. A
independência nacional de Israel era precária porque os muros não tinham sido refeitos.
Israel ficava vulnerável. Do ponto de vista militar os judeus eram insignificantes.

Neemias, à semelhança de Esdras, identificou-se com o povo e confessou o


pecado da nação (Neemias 1.4-11). Pela graça de Deus (Neemias 2.1-9), obteve
permissão do rei para voltar a Jerusalém para a obra da reconstrução dos muros. Depois
de inspecionar, começou a obra. Todo o povo, com raras exceções, se envolveu nessa
obra. É empolgante o relato da luta do povo, cujas pessoas foram obrigadas a ter em
mãos as ferramentas de pedreiros, bem como as armas de guerra (Neemias 4.17).
Neemias lutou contra os pecados sociais (Neemias 5.1-12), enfrentou inimigos externos e
falsos profetas (Neemias 6.1-14), fez a dedicação dos muros (Neemias 12.27-43)
reconstruídos (6.15-19) e zelou pela pureza espiritual e cultural do povo (Neemias 13).
Neemias harmonizou oração e trabalho na verdadeira restauração que realizou.

Agora, faça uma pausa!

Vemos através do estudo desta lição que Deus inclina o coração dos reis na direção do
cumprimento dos seus propósitos (Provérbios 21.1), e por isso o rei Ciro decretou que os
judeus voltassem para a reconstrução do templo.

O condutor dos judeus para essa reconstrução foi____________________descendente


de __________________________.

O líder religioso era _____________________ e os profetas atuantes


eram_____________________________e _____________________________.
60
Esdras liderou o retorno à Jerusalém e também leu a Lei e explicou-a ao povo e houve
um grande ______________________, porque haviam entendido as palavras da Lei.

Neemias, assim como Esdras confessou ____________________________, e iniciou a


reconstrução dos _______________________________.

Pare e pense! Na reconstrução dos muros, todos trabalharam. Como povo de


Deus, servimos uns aos outros, de acordo com os nossos dons, administrando a
multiforme graça de Deus (1 Pedro 4.10).

Baseados, ainda, no princípio do sacerdócio universal dos crentes, qual tem sido a sua
participação no corpo de Cristo?

Conclusão

Tanto em Esdras como em Neemias temos extensas listas de exilados que


retornaram a Jerusalém (Esdras 2. 1-70; Neemias 7.5-69). Há um interesse claro com a
identidade do povo da aliança. A Bíblia de Estudo de Genebra destaca o significado
destas listas:

1) O Senhor conhece pessoalmente o seu povo. A aliança entre o Senhor e o seu


povo é um laço de amizade íntima;
2) As pessoas comuns são bem vistas na obra da restauração porque todas
participaram da reconstrução do templo e dos muros;
3) A numeração se assemelha àqueles que existem em Números e em Josué
(Números 1.26; Josué 18.19).

Assim como o Senhor formou a comunidade da aliança depois do êxodo do Egito,


assim também ele recria a comunidade eleita após o retorno da Babilônia. Este
significado alcança plenitude no Novo Testamento com o princípio do sacerdócio
universal dos crentes. Todos somos pedras vivas que, em Cristo, a pedra eleita, somos
edificados casa espiritual para sermos sacerdócio santo e para proclamar as virtudes
daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.4-5,9).

61
Bibliografia

ALMEIDA, J.F. Bíblia Sagrada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil. Edição revista e
atualizada.

Ibid. Bíblia de Estudo de Genebra. Barueri, SP: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do
Brasil, 1999

DAVIDSON, F. Novo Comentário da Bíblia. São Paulo, SP: Vida Nova, 1972

DUNNETT, Walter M. Panorama do Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2005.
(Curso Vida Nova de teologia básica, v. 3)

HARRIS, R. Laird. Introdução à Bíblia. São Paulo, SP: Vida Nova, 2008. 2ª edição. Curso
Vida Nova de teologia básica, v. 1)

FERREIRA, J.A., Conheça a sua Bíblia. Campinas, SP: Livraria Cristã Unida, 2ª edição

SCHULTZ, Samuel J. & SMITH, Gary V. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo,
SP: Vida Nova, 2005. (Curso Vida Nova de teologia básica, v. 2)

62

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