LUIZ FELIPE PONDÉ EM

Comentários Bíblicos
A BUSCA DO FILÓSOFO HEBREU

Módulo 4
ALGUNS LIVROS BÍBLICOS I
 AULA 1
ÊXODOS: DEUS E MOISÉS
O foco da primeira aula do quarto módulo de Comentários Bíblicos, será do
Êxodos, e mais precisamente a relação de Deus com Moisés.
O livro “Mimeses” será uma referência bibliográfica de interesse para essa
aula. Publicado em 1946 pelo autor e crítico literário alemão Erich Auerbach
(1892-1957), é nele que se encontra um ensaio específico, chamado de “A
cicatriz de Ulisses”. No texto é possível observar a comparação feita pelo
autor entre a antropologia grega, conhecida pelo seu teor épico e trágico,
com a antropologia bíblica. Auerbach também vai dizer que os personagens
bíblicos, pela intimidade que têm com Deus e pelas demandas que o próprio
faz, amadurecem e envelhecem mais rápido.
Esse conceito permite observar as mudanças e nuances de comportamento
das personagens. Uma hora, estão se sentindo próximos de Deus, e na outra,
completos miseráveis.
E ainda seguindo a linha de raciocínio de Auerbach que se pode dizer que
personagens da Bíblia como Abraão, Moisés, Davi e Salomão, quando são
escolhidos por Deus para realizarem uma tarefa, não podem mais fugir dessa
obrigação. Afinal, a eleição de Israel por Deus, contrariando o pensamento
evangélico mais afoito, não é uma benção. E sim uma permissão para ele fazer
o que bem entender com esse povo, o que inclui até mesmo uma moldagem
de personalidade sobre as pessoas que ali habitam.
 AULA 2
SALMOS: DAVI, O BEM
AMADO DE DEUS
Na segunda aula do quarto módulo de
Comentários Bíblicos, as características
de Davi são mais abordadas.
Mas antes de entrar nesse mérito, é
válido destacar, primeiramente, o
encontro de Deus com Moisés, que se
existiu, viveu por volta dos anos de
1.200 A.C. E com isso, as duas versões
de respostas dadas por Deus, na
tradição grega e hebraica, para Moisés
dizer quem o mandou ao Egito.
A primeira versão, que remete à
tradição grega, é “Eu sou aquele que
é”. Se Deus é aquele que é, um ser
eterno, universal e infinito, você é, de
certa forma, um ser “emprestado”. Já
a versão hebraica, “Eu serei aquele que serei”, diz respeito a Deus ser o
que quiser ser, e de nossa existência ser simplesmente um fruto de sua
vontade.
Agora voltando a Davi, que se existiu, viveu por volta dos anos de 900
A.C., é apresentado como um homem ambicioso na Bíblia. Davi foi o rei
de Israel que fundou Jerusalém. Jerusalém teria sido criada em cima do
monte onde Abraão quase sacrificou seu filho Isaac.
Davi é um rei poderoso que expande a fronteira da Israel antiga, e é
considerado, junto de seu filho Salomão, os dois maiores reis da Israel
antiga. É justamente sua ambição, já citada, que faz com que um profeta
diga que suas mãos estão “sujas de sangue”. Não só por ser um conquistador,
mas também por já ter matado e mandado seu exército matar pessoas.
Ainda assim, é ele o autor do livro de Salmos, que consiste em um livro de
poemas. Poemas que foram feitos, supostamente, com Davi tocando uma
harpa e cantando a beleza de Deus, o desespero humano, a misericórdia e
o perdão.
A tradição judaica inclusive diz que Davi é o bem amado de Deus, e com
isso, o personagem bíblico mais amado pelo Todo Poderoso. Mas por que,
se suas mãos estão sujas de sangue?
Porque Davi, um homem cheio de pecados, nunca tentou dizer a Deus que
não era um homem pecador. E sendo verdadeiro consigo, ele também foi
verdadeiro com Deus.
Pode-se dizer, portanto, que a sinceridade de Davi comoveu Deus, e que
Ele, no Velho Testamento, não resiste a dois tipos de virtudes: a coragem
e a sinceridade.
 Na terceira aula do quarto módulo de Comentários Bíblicos, a figura de Davi é
retomada.

O único castigo dado por Deus a Davi é quando Ele não permite que o rei construa
seu templo, algo que só será permitido no reinado de seu filho, Salomão. E por
falar nele, ele é fruto da relação adúltera entre Davi e Betsabá, mas ainda assim, é
considerado o rei mais sábio da Israel antiga.

E comentando a respeito da Israel Antiga, é possível dizer que o Cristianismo

descende de duas correntes hebraicas antigas. Uma é a tradição apocalíptica
judaica, que está sempre esperando um Messias no fim do mundo, e a outra é o
profetismo, que será explicado adiante.

O profetismo hebraico é o responsável por prever a vinda do Messias. E também

o responsável pela transformação da religião judaica antiga. Karen Armstrong
(1944), historiadora já citada neste curso, vai comentar em seu livro “A Grande
Transformação” sobre a guinada ética do Judaísmo, que vai ser muito importante
para a formação do Cristianismo.

Os profetas, então, vão passar a dizer que o Deus de Israel não quer sacrifícios, e

AULA 3 sim que as pessoas ajudem os pobres e cuidem dos doentes. E é esse tipo de atitude
que vai fundar, dentro da tradição bíblica, a demanda ética de Deus.

Essas demandas são essenciais para que se entenda as raízes de Jesus Cristo, e o

P R O F E TA S : O
processo de afastamento da magia, muito relacionada às religiões mais primitivas.
Esta é a raiz que o sociólogo alemão Max Weber (1964-1920) vai chamar de “o
D E S E N C A N TA M E N TO D O desencantamento do mundo”, uma das raízes do método científico.

MUNDO
 AULA 4
P R Ó L O G O D O E VA N G E L H O
DE JOÃO: A ENCARNAÇÃO
DE CRISTO
Na quarta aula do quarto módulo
de Comentários Bíblicos, a ideia
do desencantamento do mundo por
profetas hebreus é revista.
Partindo dessa ideia, e indo em direção
ao surgimento do cristianismo, é correto
dizer que os primeiros cristãos eram,
na verdade, judeus que acreditaram
em Jesus como messias, que teve sua
vinda profetizada no Velho Testamento.
Portanto, é também correto dizer que
esse é o principal divisor de águas entre
o judaísmo e cristianismo. Afinal, o salto
cristológico, que faz parte da teologia
cristã, estuda a natureza de Jesus
Cristo como sendo ele homem e Deus
ao mesmo tempo. O problema é que
isso contraria a expectativa messiânica
hebraica, que entende o messias como
sendo um homem comum, da mesma
forma que Abraão, Moisés, Davi e Salomão.
João, a figura central desta aula, é tido como o apóstolo mais jovem de Jesus. O
seu evangelho foi escrito aproximadamente 100 anos depois de Cristo. O que
é importante ressaltar, antes de seguir em frente, é que quando se diz que um
evangelho pertence a uma pessoa, não significa que ela o tenha escrito, mas sim
que quem escreveu esteja seguindo a sua tradição apostólica.
E no prólogo de seus evangelhos, João vai escrever uma frase que é uma das
mais importantes da história do mundo ocidental: “No princípio era o Verbo. E
o verbo se fez carne. E o verbo habitou entre nós.”
A palavra “verbo”, escrita originalmente em grego, é a tradução da palavra
“logos”. Essa é a palavra que os estóicos usavam para se referir àquilo que eles
entendiam como a origem das coisas, e aquilo que mantém ordem nas coisas.
Com isso, João está dizendo que Jesus Cristo, que se fez carne, é “logos” e,
portanto, Deus.
Esse simples e pequeno texto, seguido de um grande raciocínio e conclusão, é
a fundamentação mais clara da ideia de que Jesus não era apenas homem, mas
também Deus.
 BIBLIOGRAFIA

Do Pensamento no Deserto. Ensaios de filosofia, teologia e literatura,

de Luiz Felipe Pondé
O homem insuficiente. Comentários de antropologia pascaliana,
de Luiz Felipe Pondé
A Questão de Deus na História da Filosofia. Vol. II, de Maria Leonor L.
O. Xavier
A Grande Transformação, de Karen Armstrong

B I B L I O G R A F I A C O M P L E M E N TA R

FILÓSOFOS E OBRAS

Erich Auerbach (1892-1957), filólogo e crítico literário alemão.

“Mimesis”, de Erich Auerbach.

Karen Armstrong (1944), autora britânica especializada em temas

da religião, especialmente o judaísmo, o cristianismo e islamismo.

“Grande Transformação”, de Karen Armstrong.

Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano e professor de

teologia germânico que tornou-se uma das figuras centrais da
Reforma Protestante.

Max Weber (1864-1920), intelectual, jurista e economista alemão

que é considerado um dos fundadores da Sociologia.
 Uma p arce r i a com
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