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INTRODUÇÃO

Gostaria de introduzir a presente abordagem, deixando registrado o quanto estão


relacionados o propósito desta monografia que ora se inicia com a minha maneira de ver a
vida e a sua grandeza de sentido. Embora faça parte de uma raiz religiosa pentecostal
fundamentalista, a minha visão de mundo e, sobretudo, de vida é, no entanto, eclética,
fazendo uso sempre que possível de todas as correntes de pensamentos que promovam a vida
e dignifiquem o sentido que lhe é inerente.
Confesso que, a princípio, muito relutei em escrever sobre este tema complexo e
controverso, se não fosse desde há muito tempo o meu enorme interesse pelo Logos divino e
universal e por acreditar que o conceito de vida, naquilo que lhe é próprio, ou seja, sentido e
Plenitude, está para além de suas representações conceituais, quer seja no âmbito das culturas
ou das religiões, conforme se pretende demonstrar.
É mister, porém, reconhecer que esta incipiente abordagem, resultado das reflexões de
um aprendiz de teólogo ávido de conhecimento e, sobretudo, ousado, carece de uma maior
fundamentação filosófica, teológica e religiosa sobre as quais fundamenta sua argumentação e
de cujas ideias está convicto.
Contudo, o leitor notará que esta abordagem tem por resultado instigantes reflexões
acerca de questões metafísicas, religiosas, existenciais, éticas e epistemológicas da maior
relevância teológica, revelando que a vida e o sentido que lhe é inerente está para além
daquilo que dele se apreende, nomina-se e se representa, pelo que o espírito desta monografia,
nas palavras de seu autor, pretende resgatar a crença nos mais elevados sentimentos que
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nutrem a alma e dignificam a existência, refutando a afirmação segundo a qual a vida é


desprovida de sentido.
“Não é a vida desprovida de sentido e sim os seres humanos, pois ignorando o sentido
que lhe é inerente, constroem um mundo com uma estranha razão, cuja verdade é índice de si
mesma e de falsidade”. Este foi o grande insight que certa vez me ocorreu em sala de aula e o
ponto de partida de meu envolvimento com o tema em questão –, na verdade, um ato ousado,
face à sua importância e amplitude.
Pronto, está em vossas mãos o grande desafio a que me propus enfrentar por acreditar
que o Logos é igual a uma mina de ouro que precisa ser trabalhada. Aquele que se esforça em
descobrir o seu real sentido encontra os verdadeiros tesouros de sabedoria e conhecimento
acerca da vida e do sentido que lhe é inerente, razão pela qual não devemos permitir que os
dogmas, o pessimismo e a descrença impeçam a nossa busca.
Foram muitas as dificuldades encontradas para escrever esta monografia, pois os livros
e artigos que tratam do assunto, além de poucos, não o abordavam na perspectiva de um
Logos divino e universal, visto como um princípio vital imanente, presente não apenas na
filosofia grega, judaísmo e cristianismo, mas em todas as culturas e religiões, constituindo-se
no único fundamento e condição sine qua non da vida, cujo sentido último está no próprio
Logos.
Apesar de tais dificuldades, encontrei alguns livros que muito me ajudaram a escrever
sobre o assunto, além de comprar outros que foram de grande valia para a elaboração desta
monografia. Há também material e informações importantes na internet, embora as bibliotecas
tenham se mostrado ainda como a melhor opção.
Neste sentido, notará o leitor que o texto que se segue se concentra em três
comentadores, ou, mais precisamente, três obras literárias de inestimável valor, auxiliado
pelas demais: tratam-se da “Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia”, de R. N. Champlin,
Ph.D. & J. M. Bentes, do “Logos heráclitico”, de Damião Berge e do “Logos em Filon de
Alexandria”, do ilustre professor de filosofia, Dax Fonseca Moraes Paes Nascimento.
A pergunta “qual o sentido da vida?” é, provavelmente, a que causa ao mesmo tempo
mais desprezo e mais respeito pela filosofia. Se por um lado é uma pergunta notoriamente
vaga e deu motivo a muitos absurdos, por outro, a necessidade de compreender o sentido da
nossa existência é profunda e universal, apontando qualidades da mente que são
possivelmente centrais para essa compreensão.
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O sentido da vida, embora seja um tema complexo e controverso, conforme já dito, é,


no entanto, central para a filosofia. Freqüentemente associada à questão de os seres humanos
fazerem parte de um desígnio mais vasto ou divino, a pergunta “qual o sentido da vida?”
parece pedir uma resposta religiosa.
Assim, a religião, e, particularmente, o judeo-cristianismo, proporciona um contexto e
uma visão coerente e plausível para a compreensão do sentido da vida. Com efeito, se
acreditamos que o ser sobrenatural a quem chamamos de Mysterium Tremendum, Deus, Alah
e tantos outros nomes, criou o cosmos e tudo o que nele há, cremos também que o cosmos e o
mundo dos homens sejam providos de um sentido próprio que a tudo e a todos abarca,
perpassa e atrai incondicionalmente.
Durante muitos séculos, o campo de ação do mito foi sendo cada vez mais limitado
por novos modos de pensar. O Logos e a filosofia grega, por tabela, assumiram a tarefa de
busca da verdade, e, por conseguinte, do sentido da nossa existência, no instante em que o
mito já não mais satisfazia os anseios humanos em sua relação com o mundo. Desde então, o
surgimento da filosofia grega revela ao mundo um novo modo de tentar explicar a realidade e
dar sentido a existência humana.
A esse respeito, a doutrina do Logos tem desempenhado um importante papel na
história da filosofia, teologia e religião. Tem atuado como uma espécie de ponte entre elas, no
tocante a especulação acerca de como o sentido da nossa existência e, conseqüentemente, o
sentido da vida se manifesta no cosmos e no mundo dos homens.
Em seu ofício de revelador, as atividades do Logos bem como a sua relação com o
sentido da vida são muito amplas, porquanto é o instrumento das idéias boas e nobres da vida,
onde quer que elas se encontrem.
Esta Monografia assume, pois, a nobre tarefa de investigar as acepções desse Logos
divino e universal e suas relações com a tradição filosófica e fontes judaico-cristã, naquilo que
torna a vida um sentido orientado e amplificante, independentemente da finalidade última a
que se destina.
Serão utilizados nesta Monografia os métodos hipotético-dedutivo e indutivo. O
primeiro será utilizado nas abordagens filosóficas acerca das quais serão formuladas hipóteses
dedutivas. O segundo, será utilizado nas reflexões teológicas e religiosas e compreenderá um
conjunto de procedimentos que serão aplicados, uns empíricos, outros lógicos e outros
intuitivos.
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Feitas as apresentações acerca das motivações e fontes que nos servirão de base e dados
os devidos esclarecimentos sobre a natureza do assunto e da metodologia científica que será
utilizada, passemos ao conteúdo da presente Monografia.
Em nosso primeiro capítulo (Conceituação), de caráter prefacial e/ou contextualizador,
apresentamos as acepções e etimologias do vocábulo “Logos” e das palavras “sentido” e
“vida”. Nele, serão abordados os principais fundamentos para considerações filosóficas,
teológicas e religiosas que se seguirão, o que tende mesmo a ser tomado como uma espécie de
porta de entrada para o desenvolvimento do tema que ora nos ocupa. O destaque cabe ao
vocábulo Logos, palavra mística de profundo sentido, relacionada a um Princípio universal e
fundamento único da vida e do sentido que lhe é inerente, o qual é apreendido, nominado e
representado nas culturas e religiões de maneiras diferentes.
No capítulo segundo tratamos da relação entre Epos, Mito e Logos e a questão do
sentido, destacando a importância do Epos como instrumento de linguagem e expressão do
Mito, consistindo-se na primeira tentativa de descrever o mundo e dar sentido as relações
humanas. Na primeira etapa, discorremos sobre o Epos e o Logos pré-heraclítico,
especialmente no que diz respeito ao emprego dos Epeas na Ilíada e na Odisséia e sua
utilização na religião olímpica, ora como palavra divina, ora como palavra humana. Este
capítulo reveste-se de grande importância para compreensão do engravidamento do
pensamento mítico e de seus epeas, fazendo nascer o vocábulo Logos. Na segunda etapa,
apresentamos a relação de pertinência entre Mito e Logos demonstrando que o mito no
sentido de “narrativa sagrada”, é praticamente equivalente a um Logos qualificado de Hieros,
não havendo descontinuidade entre Mito e Logos, senão no seu aspecto conceitual e
representativo, uma vez que subjaz entre eles o mesmo Princípio único e universal,
fundamento da vida e do sentido que lhe é inerente. Ademais, o Mito se mostra como uma
sabedoria de vida que, segundo os sábios de Israel, está de acordo com a grande sabedoria de
Deus, tendo lançado as primeiras bases da comunicação, significação e abertura para o
sentido, a que Heráclito de Éfeso exortava ouvir.
Como encerramento, discorremos sobre o Logos e o sentido da vida de acordo com as
correntes de pensamento da tradição filosófica e fontes judaico-cristãs aonde é representado
por um Princípio absoluto e vital cujo espírito de vida e luz criou, anima, sustenta e vivifica o
cosmos e tudo o que nele existe. Nessa ocasião, apresentamos as principais idéias e teorias de
seus mais ilustres pensadores, a saber: Heráclito de Éfeso, Zenão e os estóicos, Filon de
Alexandria e o autor do Prólogo Joanino. O aspecto importante desta abordagem fica por
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conta das diferentes representações desse Logos divino e universal ao longo de sua evolução
conceitual, decorrente das apreensões imperfeitas de sua essência. Assim, em Heráclito de
Éfeso, Ele seria um “Sentido” divino representado por uma lei universal que governa o
cosmos e o mundo dos homens, e que aponta para um deus transcendente; em Zenão e os
Estóicos, seria a alma do mundo, a força criadora eterna, a energia sustentadora e orientadora,
a razão universal que dirige todos os acontecimentos do cosmos e do mundo dos homens e a
quem os seres humanos devem obedecer. Em Filon de Alexandria, seria a ação de Deus no
mundo, o instrumento da criação, modelo do mundo e imagem de Deus, a Palavra reveladora
e o único meio a partir do qual a alma humana adquire o conhecimento verdadeiro, que vem
de Deus como dom divino, como graça. No autor do Prólogo joanino, é o Verbo divino
criador do cosmos e de tudo o que nele existe, a Palavra de Deus encarnada em Jesus Cristo, a
vida e a luz dos homens, o próprio Deus.
Uma última notação que se julga pertinente fazer é a de chamar a atenção para nossas
notas de rodapé. Acredita-se enriquecer o conteúdo da presente monografia, favorecendo não
apenas à boa compreensão como também à reflexão. Nesse caso, algumas notas, cujo teor se
apresenta muitas vezes complexo, em vez de omitidas, são aqui mencionadas a fim de que a
abordagem de cada tópico seja apresentada de maneira tão completa quanto possível.

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