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Comentários Bíblicos
A BUSCA DO FILÓSOFO HEBREU
Módulo 2
GÊNESIS: A QUEDA
remetem a várias narrativas e diferentes autores e tradutores. E que então
Isso significa que, ao trazer à tona estudos bíblicos, é como se você lidasse
com diversas obras dentro de uma biblioteca, devendo entender suas
A ALMA É ANGÚSTIA
complexidades e diferentes formas de pensamento.
Entretanto, essa própria ideia vai ganhar novas formas na filosofia de outros
pensadores e autores. Um bom exemplo é o escritor francês George Bernanos
(1888-1948). Enquanto Agostinho acreditava que a herança de Adão e Eva
era histórica, Bernanos não considerava essa suposição necessária. Por isso,
ele contava mais com uma descrição espiritual e psicológica do fato.
Bernanos, assim como Pascal e outros autores, vão dizer que a alma está
continuamente à beira de um certo abismo. E conseguem formar, de maneira
bem sólida, a ideia de que as almas de Adão e Eva seriam angustiadas e perdidas.
COMO É CONVIVER COM O Mas, além da questão do pecado de ambos a ser discutida, há também uma
DEUS DE ISRAEL outra pergunta intrigante: Como era para Adão e Eva, como homem e mulher
no sentido ficcional, além de seres frágeis e mortais, conviver com o Deus de
Israel, dono do Universo, rei de absolutamente tudo que existe e, provavelmente,
o maior personagem criado pela literatura ocidental?
O Cristianismo, que muito assimilou da filosofia grega, opta por uma discussão
mais ontológica acerca da natureza de Adão e Eva. Enquanto que o judaísmo,
mais distante da filosofia grega, fará uma reflexão mais ética. Para os cristãos,
todo nós seríamos descendentes do pecado de Adão e Eva, como se este fosse
uma herança genética.
É válido dizer, então, que o judaísmo tem uma pegada mais “light” para tratar
desses determinados assuntos, já que discute o comportamento e a ação, ao
invés da natureza humana. Na visão judaica, Adão e Eva foram expulsos do
paraíso porque apresentaram um comportamento distante do que julgava Deus,
enquanto que questões abordadas pelo cristianismo, como a distinção natural
dos dois antes e depois do pecado, e os seus descendentes, são deixadas de lado.
AULA 3
O HOMEM BÍBLICO
SE MOVE NO CENÁRIO
DE DRAMA
Sendo o drama bíblico de natureza ética, podemos dizer que os personagens bíblicos são Já a dependência, espaço em que se dá a própria consciência de liberdade, está no ar
sempre chamados por Deus a agir de alguma forma, tendo sua ação também limitada que se respira, na comida em que se come, e no equilíbrio psicológico e espiritual para
por Ele e por contingências históricas. Isso leva a uma discussão no campo da liberdade lidar com o infinito que é Deus, e o finito que é o homem bíblico. Um ser extremamente
e do controle, pois afinal de contas, podemos dizer que o personagem bíblico é livre? frágil, que vive em um universo fora de seu controle.
O FILÓSOFO HEBREU
Na quarta aula do segundo módulo do hebraica, esse filósofo será o responsável pelo questionamento da antropologia
curso Comentários Bíblicos, a busca do bíblica, no caso, o modelo do homem bíblico e da mulher bíblica.
filósofo hebreu, a contradição entre a
liberdade de Deus e a dependência em Entre outros, dois conceitos serão centrais na antropologia bíblica, a saber os
relação a Deus é demonstrada. conceitos de misericórdia e perdão, que provém diretamente de Deus.
Como já abordado na aula anterior, o Deus, ao mesmo tempo que julga e cobra do homem um comportamento moral,
homem bíblico é livre para viver sob é também misericordioso. Porém, o que há de curioso e deve ser notado, é que
seus próprios riscos, mas depende Deus não precisa ter misericórdia e nem precisa perdoar nada, pois se trata de
completamente dos elementos naturais um personagem absoluto. Ele nunca nasceu, nunca vai morrer, não precisa de
que o cercam. Da água, da terra e do ninguém, não come, não dorme e nem se cansa. Portanto, é um Deus passional
ar, por exemplo. Fora isso, há também e que se envolve em determinados assuntos não porque precisa, mas sim porque
a dependência psicológica do vínculo e quer. E assim como não há a necessidade dele se envolver em nenhum assunto
das relações de afeto, e a dependência da humanidade, Ele o faz, por estar intimamente ligado a nós pela compaixão.
em um nível espiritual mais profundo
da misericórdia de Deus. Entretanto, é claro que o fator passional de sua personalidade geraria certas
ambivalências. Dentre elas, estão suas variações de humor muito presentes
É contextualizando essa relação do no Velho Testamento, e que descendem diretamente do seu processo de
Velho Testamento que há o retorno ao antropoformização. Um processo que ocorre com todas as divindades de todas
conceito do filósofo hebreu. Na filosofia as religiões, e que projeta a natureza humana nas figuras divinas.
BIBLIOGRAFIA
The Literary Guide to the Bible, Robert Alter & Frank Kermode
B I B L I O G R A F I A C O M P L E M E N TA R
FILÓSOFOS E OBRAS