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LUIZ FELIPE PONDÉ EM

Comentários Bíblicos
A BUSCA DO FILÓSOFO HEBREU

Módulo 3
GÊNESIS: DIALÉTICA
ONTOLÓGICA BÍBLICA
Na primeira aula do terceiro módulo do curso Comentários Bíblicos, a
dialética ontológica bíblica é abordada.

É válido ressaltar, primeiramente, que a análise permanece ainda no âmbito


do Gênesis, que assim como todo o Velho Testamento, descreve um drama
ou uma ação.

Nesse caso, então, Adão e Eva seriam sempre arquétipos do homem e da


mulher bíblicos, e vivem em um cenário em que a ação se desdobra à medida
em que os personagens da bíblia são chamados a tomarem decisões. E
dependendo da escolha que fazem em suas decisões, podem ser punidos por
Deus.

A relação da humanidade com o Deus de Israel é sempre uma relação de


ordem ética. O que leva a crer que esse mesmo Deus está sempre olhando
para o comportamento e para a ação das pessoas.

Pode-se considerar que existe uma diferença importante entre a tradição

AULA 1
hebraica e grega. Enquanto esta é de raiz ontológica, aquela é de raiz ética.
O pensamento hebraico presente na Bíblia sempre explicita uma tensão em
relação a Deus.

A DESGRAÇA E O
Dessa forma, ao mesmo tempo em que há o drama de homens e mulheres,
no embate com a vontade de Deus e a consequente revolta pela dependência
VA Z I O D O S E R que possuem com esse mesmo Deus, há a vontade Dele que deve ser seguida.
Está aí um exemplo de tensão e contradição moral.

Alguns filósofos judeus que viveram ao longo do século XIX e XX, como
Franz Rosenzweig (1886-1929), Emmanuel Lévinas (1906-1995) e Abraham
J. Heschel (1907-1972), farão parte do nosso tratamento do tema bíblico.

Um outro filósofo de origem judaica, chamado Leo Strauss (1899-1973), que


escreve a obra “Jerusalém e Atenas” examina criticamente as duas grandes
tradições responsáveis pela formação da cultura ocidental, judaísmo e grécia.
AULA 2

A G R A Ç A E A D Á D I VA C O M O
RAÍZ DO MUNDO

Na segunda aula do terceiro módulo do curso Comentários Bíblicos, o conceito


de natureza é novamente abordado.

Enquanto que na filosofia grega, existe o termo “physis”, o qual pressupõe um


conceito de leis autônomas que fazem parte da natureza e que não necessitam
de Deus para a sua existência, na filosofia hebraica, Deus é o rei de todo o
universo, e por isso, a natureza depende Dele o tempo todo.

Dessa forma, não é só a existência do ser humano que vai depender da interferência
direta de Deus, mas sim toda a composição natural do mundo.

É possível dizer, portanto, que a dialética ontológica bíblica possui dois lados. O
primeiro está relacionado a esse vazio do ser, no sentido de um ser dependente.
A dependência é a raiz do ser para com a graça. Ou seja, a raiz do ser é a vontade
livre de Deus em criar o ser. Ele não o cria por necessidade, mas sim pela sua
graça. Deus, nesse sentido, é ainda completamente livre, não possuindo uma
natureza que o define a priori.

E o segundo lado se refere à permanência da dependência sem a graça. Adão e


Eva foram criados pela graça, até que depois romperam com Deus, caíram em
desgraça, mesmo sendo completamente dependentes da vontade divina.

Portanto, houve um afastamento de Deus em relação ao homem. O que significa


que essa dialética ontológica será vivida muito mais como desgraça, do que
como graça.
AULA 3

O ERRO DE BABEL

Na terceira aula do terceiro módulo do curso Comentários Bíblicos, se questiona qual


fora o erro na construção da torre de Babel.

Vale recomendar a leitura do texto “Torre de Babel”, do filósofo inglês Michael Oakeshott
(1901-1990). Apesar de não ser um especialista em Teologia, Oakeshott usa a Torre de
Babel como metáfora para a crítica de projetos políticos e sociais considerados utópicos.

O projeto de construção da torre, que parte de Nimrod (descendente de Caim, filho de


Adão e Eva, que matou seu irmão Abel), tinha o objetivo de chegar até Deus, através da
engenharia. Eis o erro dos babelianos: a desmedida. E por desmedida, entenda-se o fato
da distância entre nós e Deus tentar ser solucionada por uma questão técnica, o que é
impossível.

Acontece que é o próprio Caim, por ter assassinado seu irmão, que se torna responsável
pelo desenvolvimento posterior da humanidade no mito do Gênesis. E isso vai gerar um
ressentimento, passado para os seus descendentes, pela expulsão do Paraíso. Esse mesmo
ressentimento fará com que seu povo acredite em um projeto técnico que os levará a
Deus. Para assim, quando terem com Ele, assim como dizia Oakeshott, cobrarem seus
direitos.
AULA 4

A R E S P O S TA D E A B R A Ã O

Abraão era um pastor de grande riqueza da Mesopotâmia, região que hoje


Na quarta aula do terceiro módulo do corresponde ao Iraque. Porém, ele é chamado por Deus e abandona suas terras
curso Comentários Bíblicos, a resposta e sua família para seguir em direção a Canaã, a Israel antiga. Quando chegasse
de Abraão ao chamado de Deus é lá, lhe seriam dadas instruções.
abordada.
Voltando à história, ao chegar em Canaã, Deus visita Abraão, e anuncia o
Ao analisar a bíblia hebraica, se nascimento de um filho. Sua mulher Sara, engravida, apesar de ser estéril até
observa uma divisão radical entre o então. Para esse filho, que nasceu de um milagre, é dado o nome de Isaac. Abraão,
que é a resposta de Abraão à condição ainda assim, já tinha um outro filho que nasceu de uma das suas amantes. Na
do afastamento de Deus, e a resposta tradição judaica, seria esse filho o responsável pela descendência árabe. O que
materializada de Caim e Nimrod, vista é curioso notar, entretanto, é a inversão de papéis que esses filhos representam
na aula passada. Uma resposta que se na cultura árabe. Pois nela, enquanto Isaac se torna o filho da amante, é o filho
baseia no rancor, na inveja e na ideia da amante que se torna o herdeiro legítimo de Abraão.
de que o homem, por meio da técnica,
pode retornar ao Paraíso ou pode se Porém, apesar das circunstâncias milagrosas do menino Isaac, Deus pede para
igualar a Deus. Abraão sacrificá-lo. Mas, mesmo com a disposição do pastor para realizar o ato,
Deus opta pelo sacrifício de um cordeiro.
Como também abordado na aula anterior,
é possível dizer que o caminho de Caim Portanto, o fato de Abraão ter se disposto a matar o próprio filho, a pedido de
e Nimrod é marcado pela desmedida, Deus, mostra que ele é o servo mais fiel de todos. E também demonstra que sua
palavra originária do universo grego, resposta ao exílio é muito diferente da de Nimrod. Pois enquanto Abraão vai ao
mas que traduz a sensação humana de encontro de Deus, segundo as normas que Ele determina, o outro tenta fazer
poder se igualar a Deus, mesmo com isso através da técnica e da ideia de ser igual a Deus, não reconhecendo o vazio
a sua dependência e limitação. Esse já que o habita.
não é o caso de Abraão.
Abraão reconhece esse vazio, e não é à toa que se baseando nessa condição, ele
Com existência controversa e datada tenta resgatar sua relação com Deus, dizendo “Eu que sou pó e cinzas, venho
entre o período de 1800 a 2200 A.C, até ti”.
BIBLIOGRAFIA

Do Pensamento no Deserto. Ensaios de filosofia, teologia e literatura,


de Luiz Felipe Pondé

O homem insuficiente. Comentários de antropologia pascaliana,


de Luiz Felipe Pondé

A Questão de Deus na História da Filosofia. Vol. II,


de Maria Leonor L. O. Xavier

B I B L I O G R A F I A C O M P L E M E N TA R

FILÓSOFOS E OBRAS

Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo germânico nascido na atual


Alemanha.
Karl Marx (1818-1883), filósofo e sociólogo nascido na Prússia.
Abraham Joshua Heschel (1907-1972), rabino austro-americano.
Franz Rosenzweig (1886-1929), um dos mais importantes filósofos-
teólogos judeus do século XX.
Emmanuel Levinas (1906-1995), filósofo francês nascido em uma
família judaica na Lituânia.
Leo Strauss (1899-1973), filósofo político teuto-americano de
origem judaica.
“Jerusalém e Atena: Algumas Reflexões Preliminares”, de Leo
Strauss.
George Bernanos (1888-1948), escritor e jornalista francês.
Santo Agostinho (354-430), um dos mais importantes filósofos e
teóricos nos primeiros séculos do cristianismo.
Michael Oakeshott (1901-1990), filósofo e teórico político inglês.
“O Vôo do Corvo Sobre os Jardins da Torre de Babel”, de Michael
Oakeshott.
“Otelo, o Mouro de Veneza”, de William Shakespeare.
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