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SEXO,

NAMORO E
RELACIONAMENTOS

Uma nova abordagem



Num mundo de relacionamentos cibernéticos — alimentados por Facebook, torpedos e tweets — as
questões relativas a sexo, namoro e relacionamentos têm-se tornado cada vez mais complexas e
desafiadoras para adolescentes, seus amigos e seus pais. Este tratamento incisivo sobre o cenário em rápida
mudança é leitura obrigatória para pais, estudantes, conselheiros e pastores. Um grande obrigado a Gerald e
a Jay por ajudar-nos a pensar de forma saudável, em meio a essa mudança cultural intrigante, a partir de
uma perspectiva realista e teologicamente perspicaz.

— Joe Stowell, presidente, Cornerstone University

Jay e Gerald escreveram um livro provocativo sobre uma das questões mais prementes da nossa geração —
a pureza sexual. Como mostram os autores, poucas coisas precisam ir tanto ao cerne do evangelho como o
desejo da nossa alma por realização sexual. Não há como pensar com cuidado excessivo sobre o que nosso
Pai celestial nos disse. Mesmo nos casos em que chego a conclusões divergentes das dos autores, sou grato
por mais uma investigação sobre o registro bíblico.

— J. D. Greear, pastor titular, The Summit Church, Durham,
Carolina do Norte


Simplicidade é a força desta nova abordagem sobre sexo, namoro e relacionamentos. Se a princípio você se
exaspera com a ideia de “amizades especiais”, considere se alguma outra alternativa traz maior glória a
Deus, faz jus à evidência bíblica e nos protege do sofrimento desnecessário.

— Collin Hansen, diretor editorial, The Gospel Coalition; autor,
Young, Restless, and Reformed


Que presente para homens e mulheres solteiros! Aqui, em pouco espaço, está um conselho claro e bem
fundamentado que é totalmente bíblico e cristocêntrico. Ele está permeado da graça que dá vida. Sexo,
namoro e relacionamentos será um marco da leitura para muitos nesta geração.

— R. Kent Hughes, autor, Disciplinas do homem cristão


Uma reflexão cristocêntrica sobre sexo, namoro e relacionamentos têm sido algo há muito esperado;
felizmente, ela chegou. Este volume é leitura obrigatória para qualquer um que ministre entre seres
humanos.

— Chris Castaldo, diretor, Ministry of Gospel Renewal,
Billy Graham Center

Hiestand e Thomas não deram adeus ao namoro; que graça haveria nisso? Antes, o namoro é revelado por
aquilo que ele é, o que pode perturbar o leitor. A maior força do livro é a contribuição dos autores para um
pensamento bíblico sobre algo que não está na Bíblia, o que não é fácil fazer. Assim, é possível que alguns
possam concordar com as premissas e a trajetória dos seus argumentos, contudo diferir em algumas das
conclusões específicas. Porém, todos nós seremos desafiados e abençoados pela contribuição sábia dos
autores a esse assunto vitalmente importante.

— Rick Hove, diretor executivo, Faculty Commons,
Campus Crusade for Christ

Quão revigorante! Gerald e Jay escreveram um livro biblicamente fundamentado e orientado pelo
evangelho sobre sexo, namoro e relacionamentos — cheio de instrução genuína, realista e prática. É
exatamente o que os cristãos precisam para contra-atacar as atitudes e ações mundanas tão prevalentes em
nossas igrejas hoje. É imperativo pensar nessas questões, e este é o melhor livro que já li que faz isso.
Relacionamentos de namoro são tão cheios de perigo que nenhum cristão deveria embarcar nessa jornada
sem um guia. Recomendo fortemente este livro como tal guia.

— Jim Samra, pastor titular, Calvary Church, Grand Rapids, Michigan


Gerald e Jay fornecem sabedoria sólida para adultos e pais emergentes sobre uma questão de extrema
importância nos nossos dias. Adultos jovens que desejam seguir a Jesus de todo o coração encaram todos os
dias um ataque de tentação sexual. E mais, eles são em grande parte mal equipados para lidar com a cultura
saturada de sexo na qual vivem. Creio que o ensino deste livro, se colocado em prática, levará a um
casamento piedoso de paixão e pureza.


— Joel Willitts, professor associado de estudos bíblicos e teológicos,
North Park University; College Pastor, Christ Community Church,
St. Charles, Illinois


Eis um livro simples, mas provocativo. Nele você encontrará muita sabedoria prática, sadia e bíblica que irá
demolir várias das nossas suposições culturais sobre o namoro. Se você é solteiro ou se importa com
alguém que o seja, realmente deve ler este livro. O resultado pode ser nada menos que uma abordagem
sobre namoro mais simples e mais honrosa a Deus do que você jamais imaginou ser possível.

— Kevin DeYoung, autor, Brecha em nossa santidade


Finalmente! Respostas claras com sabedoria bíblica… As conclusões de Hiestand e Thomas sobre a
natureza da sexualidade, lascívia, namoro e pureza são profundas, convincentes e uma quebra de
paradigma. Ouso dizer: “Eles estão CERTOS!”. As ideias neste livro precisam da mais ampla circulação na
Igreja — especialmente entre pais e pastores.

— Jim Weidenaar, Westminster Bookstore, 2012



Em um período de tanta confusão sobre sexo, namoro e relacionamentos, este livro fornece conselhos úteis
e oportunos. Ele esclarece a natureza dos relacionamentos e serve como fonte de encorajamento, mostrando
que a pureza não se encontra fora do nosso alcance. Trata-se de um excelente livro que propõe o que os
autores chamam de “amizades especiais”.

— Tim Challies
Autor, Desintoxicação sexual



Quando combatemos erros e desvios teológicos, argumentamos que a Bíblia é nossa única regra de fé e
prática, como de fato ela é. Ao nos depararmos com heresias como o teísmo aberto, apresentamos sua
refutação a partir da Escritura. Ao aconselharmos casais com problemas, abrimos o santo Livro para
lembrá-los de que o marido deve amar a esposa como Cristo amou a igreja, e a mulher deve se submeter ao
marido, como a igreja é submissa a Cristo. Contudo, quando o tema é o relacionamento entre um homem e
uma mulher não casados, em nossos dias, a Bíblia estranhamente é deixada de lado. Neste livro, Gerald e
Jay nos lembram de algo que já deveríamos saber: a Bíblia é o padrão para tudo. Os autores apresentam
uma perspectiva bíblica sobre o assunto, que se recusa a ceder à cultura. É claramente uma mensagem
contracultural, como o Sermão do Monte de nosso Senhor. Trata-se de uma leitura obrigatória para todos os
solteiros, de ambos os sexos, que desejam honrar a Deus.

— Felipe Sabino
Editor, Editora Monergismo


Copyright @ 2012, de Gerald Hiestand e Jay Thomas
Publicado originalmente em inglês sob o título
Sex, Dating, and Relationships: A Fresh Approach
pela Crossway Books – um ministério de publicações Good News Publishers,
Wheaton, Illinois, 60187, EUA.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por

EDITORA MONERGISMO
Caixa Postal 2416
Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Telefone: (61) 8116-7481 — Sítio: www.editoramonergismo.com.br

a
1 edição, 2016

1000 exemplares

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto e Marcelo Herberts


Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto e Marcelo Herberts
Capa: Luís Henrique P. de Paula
PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da


versão Almeida Século 21 (A21),
salvo indicação em contrário.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hiestand, Gerald

Sexo, namoro e relacionamentos: uma nova abordagem / Gerald Hiestand e Jay Thomas, tradução Felipe Sabino de
Araújo Neto e Marcelo Herberts – Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016.

?; 21cm.

Título original: Sex, Dating, and Relationships: A Fresh Approach

ISBN 978-85-69980-05-6

1. Solteiros — vida religiosa. 2. Sexo — aspectos religiosos — cristianismo. 3. Namoro (costumes


sociais) — aspectos religiosos — cristianismo I. Thomas, Jay. II. Título.

CDD 248

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
SEXO E O EVANGELHO
MAIS QUE UM PADRÃO SUBJETIVO
O DILEMA DO NAMORO, PARTE I
O DILEMA DO NAMORO, PARTE II
O CERNE DA QUESTÃO
SE APAIXONANDO APENAS UMA VEZ
AMIZADES ESPECIAIS
UMA VIDA INTEGRADA
UMA VISÃO DO CELIBATO CENTRADA EM DEUS
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA


INTRODUÇÃO

Em busca de clareza


Mas sede vós também santos em todo vosso procedimento, assim como é santo aquele que vos
chamou, pois está escrito: Sereis santos, porque eu sou santo.
O A P Ó S T O L O P E D R O ( 1 P E 1 . 1 5 - 1 6 )


A igreja anda um pouco confusa no que se refere à ética sexual, e os
cristãos solteiros estão arcando com o ônus disso. Sem dúvida as coisas
poderiam ser piores (basta ler 1 Coríntios 5.11). Mas certamente poderíamos
estar agindo melhor. Muito melhor. A cultura do “ficar”, tão comum no campus
das faculdades (e agora até nas nossas escolas primárias e secundárias),
representa uma mudança radical nos costumes sexuais dos últimos vinte anos. O
sexo se tornou casual, destituído de qualquer intimidade; ele não mais exige
sequer uma aparência de compromisso contínuo.
Sem dúvida a igreja não endossa a nova ética sexual. E o fato de ter este
livro em mãos provavelmente significa que você também não a endossa. Mas o
golpe implacável do aríete da promiscuidade contra as portas da virtude cristã
pode esgotar até mesmo os solteiros mais devotos.
E o perigo é mais sutil que um ataque direto à virgindade da pessoa.
Muitos cristãos solteiros hoje carecem de uma visão clara e bíblica sobre pureza
sexual e relacionamentos que vá além do conceito truncado de pureza de “não
fazer sexo”. O que dizer do sexo oral? Das carícias? Do beijo apaixonado? Onde
devem ser traçados os limites? Talvez ainda mais importante: quem deve traçá-
los? O céu deixou que cada um de nós decidisse isso por conta própria? Para a
maioria dos cristãos solteiros hoje, os limites que separam a atividade física
legítima da atividade sexual ilegítima são porosos demais para ter um uso
realmente significativo no calor do momento. Não adianta muito barrar o portão
da frente, mas deixar a porta dos fundos escancarada. Certamente, Deus quer que
reservemos mais do que o sexo para o casamento. Mas o quê?
Essa é a questão básica que esperamos responder neste livro.


EU DISSE ADEUS AO BEIJO?

O lançamento do livro Eu disse adeus ao namoro, de Joshua Harris, foi
um divisor de águas para os cristãos solteiros na América do Norte.[1]
Considerando o número de cópias vendidas, é claro que a objeção e resistência
de Harris ao cenário de namoro evangélico contemporâneo foram recebidas
favoravelmente por muitos. Mas não por todos. Desde o lançamento do livro de
Harris, tem havido um constante fluxo de reações “pró-namoro”.[2] Aqueles que
são críticos às conclusões de Harris (talvez alguns dos nossos leitores)
depreciam o que percebem ser uma abordagem simplista da interpretação bíblica
e uma visão anticriacional da sexualidade humana. Em particular, a política de
não beijar defendida por Harris tem estado frequentemente sob ataque. A Bíblia
realmente ensina que não deve haver beijo antes do casamento? Como disse um
crítico, essas conclusões rigorosas dependem de “pronunciamentos paulinos
descontextualizados” (isto é, de tomar a Bíblia fora do contexto), e se não
manuseadas com cuidado, podem levar a uma forma moderna de legalismo.[3]
Além disso, muitos desses autores têm questionado o que é visto como uma
supressão não saudável da sexualidade humana baseada no medo. É melhor,
argumentam eles, explorar a possibilidade do casamento num relacionamento
que celebra o amor romântico e a sexualidade humana do que num
relacionamento baseado em regras e limites.
Quer as críticas ao livro de Harris sejam justas, quer não, as
preocupações são legítimas. O que quer que concluamos sobre o decoro sexual, é
claro que o sexo é glorioso e cheio de potencial para exaltar a Deus. Qualquer
abordagem de padrões sexuais que veja o sexo como um mal a ser evitado e não
um dom a ser celebrado, perde o marco e deixa de captar o ideal bíblico. Além
disso, nunca é demais estabelecer limites bíblicos para a conduta sexual pré-
conjugal. Ensinar a partir da nossa própria experiência é bom, mas não devemos
impor nossa visão sobre os outros em áreas em que a Bíblia silencia.
Mas Deus não tem estado silente nessa questão, ao contrário do que
muitos podem imaginar. Se você está buscando uma visão bíblica e robusta
sobre relacionamentos e pureza, permita-nos convidá-lo para uma jornada —
uma jornada no coração da pureza e da imagem de Deus. Não estaremos
buscando um moralismo vazio — uma lista farisaica e legalista de faça isso e
não faça aquilo. Não estaremos buscando uma obediência exterior destituída de
uma submissão do coração. Não estaremos buscando estabelecer mecanismos de
autocontrole, como se o autocontrole fosse um fim em si mesmo. Nesta jornada
estaremos buscando o coração de Deus revelado em sua plenitude na pessoa de
Cristo. Estaremos buscando uma pureza que exalta o Filho, que não é definida
por aquilo que não é, mas por aquilo que é. Em última análise — mesmo que
você não tenha percebido —, estaremos buscando o evangelho.
Como esperamos mostrar, o sexo, o namoro e os relacionamentos
encontram seu significado último no relacionamento de Jesus com o seu povo; o
primeiro testifica o último. Em outras palavras, o sexo e os relacionamentos
remetem todos ao evangelho. Ignorar essa verdade central, cremos, é não
somente perder de vista a ideia central do romance e da sexualidade, como é
também confundir os limites claros de Deus para a atividade sexual entre
homens e mulheres solteiros.


ALGUNS ITENS INICIAIS DE ORGANIZAÇÃO ANTES DE COMEÇAR

Mas antes de você mergulhar de cabeça neste livro, deveríamos
provavelmente alertá-lo sobre algumas coisas. Primeiro, este livro não pretende
ser abrangente sobre todas as coisas relativas a “namoro”. Embora dois capítulos
abordem a questão do namoro (e o capítulo 7 ofereça uma alternativa aos
modelos contemporâneos de namoro), o foco do livro não estará de fato no
namoro, na corte ou em como encontrar um cônjuge. Seu foco estará limitado
intencionalmente ao objetivo simples de esclarecer e aplicar o ensino bíblico
sobre a pureza sexual. Os demais tópicos apenas serão abordados à medida que
forem se relacionando a esse objetivo central. Assim, se você está em busca de
uma lista de “Os dez melhores primeiros encontros”, não é este o livro.
Em segundo lugar, ao contrário de muitos livros sobre pureza sexual, este
livro não contém uma série de dados detalhando cuidadosamente as repercussões
da imoralidade sexual. Uma abordagem de pureza sexual que use o temor das
doenças sexualmente transmissíveis, da gravidez indesejada e das cicatrizes
emocionais como meio de motivar os solteiros a permanecer sexualmente puros
é baseada na suposição equivocada de que os mandamentos de Deus só existem
para a nossa proteção. Embora seja verdade que os mandamentos de Deus
muitas vezes nos protegem de danos (embora nem sempre), a Escritura deixa
muito claro que os mandamentos divinos não representam o que funciona
melhor para nós, mas o que traz maior glória para Deus. Por consequência, não
nos fiaremos no elemento do medo enquanto buscamos ajudá-lo a lutar por uma
vida de pureza.
Terceiro, sabemos que muitos de vocês chegam a este livro com
remorsos do passado. Alguns nunca estiveram num relacionamento que não
fosse maculado pelo pecado sexual. Mas não é nossa intenção enchê-lo de culpa.
O que oferecemos aqui é um novo começo. A graça nunca pede que você volte
no tempo e desfaça o que não pode ser desfeito. Ela o chama a confiar em Cristo
como aquele que é o que você não é, aquele que fez o que você não pode fazer, e
aquele que o ajudará a ser o que nunca poderia por conta própria. Para aqueles
que lutam com a camisa de força do remorso, esperamos que este livro
desencadeie uma fome pela liberdade cheia da graça da pureza sexual. De fato, à
medida que demonstrarmos a conexão entre a pureza, o sexo e a imagem do
evangelho, você verá que a pureza tem tudo a ver com a graça.
Quarto, não ignoramos que muitos solteiros hoje têm filhos ou estão
bastante envolvidos na vida de crianças (servindo ao ministério infantil da sua
igreja, etc.). Muito do que estaremos recomendando neste livro é melhor
aprendido intuitiva e organicamente por um processo de ensino e modelagem
que começa na infância. Assim, se você ler este livro e se vir concordando com
suas conclusões, encorajamos a pensar sobre como você poderia ser um agente
de mudança na vida dos outros, particularmente na vida de crianças jovens que
olham para você em busca de orientação e liderança nessa área. Quão melhor é
fazer uma árvore crescer reta enquanto ainda é jovem do que tentar endireitá-la
quando já é velha e torta. É nossa oração que através deste livro — ao ser lido e
modelado —, a perspectiva de Deus sobre o sexo e a pureza se torne uma vez
mais normativa para a igreja.
E, finalmente, se este livro há de ter algum valor para você, você deve
assumir o compromisso de deixar que a Bíblia fale mais alto do que o zumbido e
ruído de fundo da nossa subcultura evangélica contemporânea. Vamos ser
francos aqui: o que estamos recomendando não se encaixa perfeitamente na
cultura dominante da igreja, e tampouco na cultura secular em sentido amplo.
Mas embora nossa perspectiva esteja um pouco fora de compasso com as normas
culturais, o que oferecemos aqui é claro, bíblico e produz vida. Assim, estimule
sua coragem moral e siga adiante. Não cremos que você ficará desapontado.


CONCLUSÃO

Por muito tempo, o pensamento distorcido da igreja tem permitido que
solteiros perambulem sem rumo atrás da pureza sexual. A estrada é longa —
mais longa que aquela que as gerações passadas tiveram de trilhar. Ela possui
armadilhas e perigos mortais que ameaçam com destruição e morte, literal e
espiritualmente falando. Contudo, o fato de ter este livro em mãos é um indício
de que você deseja fazer sua vida trilhar pelo caminho que Deus ordenou. Deus
também deseja isso, e promete um bom retorno ao seu investimento de fé.
Podemos não estar corretos em tudo o que escrevemos (mas quem escreve um
livro pensando estar equivocado?). Porém, é nossa oração que Deus use pelo
menos algo do que aqui escrevemos para ajudar a esclarecer o ensino bíblico
sobre o sexo, os relacionamentos e a pureza — que a glória e a imagem do
evangelho possam ser vistas mais claramente na vida dos cristãos solteiros. Que
Deus torne nosso mundo extremamente cinza de subjetividade num mundo
preto-e-branco de pureza sexual, cheio de graça e que honre a Cristo!

SEXO E O EVANGELHO

Retratando nossa união com a natureza divina


[Cristo está] unido a você por uma união espiritual tão íntima a ponto de ser adequadamente
representada pela união da esposa ao marido.
J O N AT H A N E D WA R D S

Adão, … um tipo daquele que havia de vir.
O A P Ó S T O L O PA U L O ( R M 5 . 1 4 , N A S B )



Como um todo, os seres humanos são fascinados por sexo — homens e
mulheres, jovens e velhos, cristãos, ateus e todos que estão no meio. Em todas as
culturas, por toda a história, o desejo sexual tem sido um dos maiores
motivadores da vontade humana. Homens e mulheres jogam fora sua família,
casa, dinheiro e terra para alcançar a satisfação sexual. Alguns são viciados em
sexo. Guerras foram travadas por causa do sexo. Compomos músicas sobre sexo,
fazemos filmes sobre sexo e escrevemos histórias sobre sexo. E essa
preocupação toda com sexo não é simplesmente uma faceta da nossa natureza
caída. Um livro inteiro da Bíblia (Cantares de Salomão) é dedicado a celebrar a
relação sexual entre marido e esposa.
Mas você já se perguntou por que toda essa confusão? Por que Deus nos
criou como pessoas sexuais, em primeiro lugar? Lembramo-nos de ter aprendido
nas aulas de ciência sobre a reprodução assexuada de organismos unicelulares e
de sermos gratos por Deus ter escolhido um método diferente de reprodução para
os humanos. A ideia da mitose não soava (e ainda não soa) atraente se
comparada com o método de reprodução dado a nós por Deus. Suspeitamos que
você concorde com isso. Mas por que Deus escolheu criar-nos como seres
sexuais? Obviamente ele não estava preso a uma necessidade de reprodução
sexual para conseguir propagar as espécies. Com a mesma facilidade ele poderia
ter criado os seres humanos como criaturas assexuadas que se reproduziriam
como amebas.
Se não compreendermos por que Deus criou o sexo, nunca poderemos de
fato ver sentido nos seus mandamentos sobre a pureza sexual, pois os
mandamentos de Deus sempre se relacionam com os propósitos dele. Assim,
para estabelecer um entendimento da pureza sexual, este capítulo será dedicado a
captar um entendimento bíblico do sexo.


LANÇANDO O FUNDAMENTO: ENTENDENDO O PROPÓSITO DO
SEXO

A razão primária por que muitos de nós não entendem adequadamente o
sexo é que muitos de nós não entendem adequadamente como o sexo se
relaciona ao evangelho. Você leu corretamente: o sexo e o evangelho estão
intrinsecamente ligados. De fato, entender um é dar sentido ao outro.
Embora possa parecer chocante, a Escritura declara expressamente que
Deus criou o sexo para servir como um retrato vívido da união espiritual,
transformadora de vida, que os crentes têm com Deus por meio de Cristo.
Entender como o sexo serve essa função é absolutamente essencial para entender
não somente o porquê Deus nos criou como seres sexuais, mas também o porquê
Deus ordena o que o faz com respeito à pureza sexual. Por fim, descobriremos
que Deus criou a unidade física do sexo para servir como uma imagem visível,
ou tipo, da união espiritual que existe entre Cristo e a igreja. Embora possa
parecer a princípio que estamos nos afastando do tópico primário da pureza
sexual, você verá rapidamente a relevância da nossa discussão.


TIPOS NA BÍBLIA

Muitos dos maiores teólogos da história construíram sua teologia ao
redor da ideia de que a imagem de Deus e seus propósitos podem ser vistos em
todas as facetas da existência humana. Jonathan Edwards e Agostinho foram
dois de tais teólogos. Ambos acreditavam que Deus criou tudo da vida para
servir como retratos visíveis de realidades invisíveis. Ver o amor entre um pai e
seu filho, por exemplo, era ver um reflexo do amor entre Deus o Pai e Deus o
Filho. Ver a destruição causada pelo fogo era ver um retrato da ira de Deus. Ver a
criatividade de um artista era ver um reflexo da criatividade de Deus.[4]
Ver entidades terrenas como retratos de realidades futuras é prontamente
afirmado em muito da Escritura. Romanos 5.14, por exemplo, descreve Adão
como um tipo de Cristo. A palavra tipo vem da palavra grega tupos, que significa
literalmente “sopro” ou “impressão” e refere-se ao entalhe que um martelo cria
após acertar uma madeira ou metal. Assim como um entalhe representa aquilo
que o fez, assim também um tipo aponta para, ou representa, algo além de si
mesmo. Frequentemente traduzido no Novo Testamento como “exemplo”, um
tipo bíblico é um modelo ou imagem de Cristo e sua obra redentora. Adão,
então, é uma sombra, ou uma imagem de Cristo. Assim como a escolha de Adão
no jardim do Éden teve ramificações para sua posteridade, assim também a
escolha de Cristo no jardim do Getsêmani teve ramificações para sua
posteridade. Dessa forma, a existência e ações de Adão apontam-nos para aquilo
que ele representa — a saber, Cristo e sua obra redentora.
Talvez o exemplo mais claro de um tipo encontrado na Bíblia é aquele do
cordeiro pascal. Um breve relato da história da Páscoa (encontrada em Êxodo
11-12) nos ajudará a ter um senso claro de como os tipos funcionam na
Escritura. Como você pode lembrar, os filhos de Israel gastaram algum tempo na
terra do Egito. As coisas não estavam indo particularmente bem (escravidão,
opressão, infanticídio forçado), e assim Deus levantou Moisés para tirar o povo
do Egito e ir para a terra prometida. Para equipá-lo para a tarefa, Moisés recebeu
a habilidade de realizar pragas grandes e maravilhosas que tinham a intenção de
persuadir Faraó a libertar os israelitas. Moisés confrontou Faraó, que recusou a
cooperar, e assim praga após praga foi derramada sobre a terra do Egito.
Finalmente, o Senhor disse a Moisés que uma praga final era necessária — a
morte de cada filho primogênito na terra do Egito — e que com essa praga Faraó
cederia. Mas essa praga seria diferente. Deus não mais trabalharia indiretamente
por meio de Moisés. Essa praga seria executada pelo próprio Deus (Ex 11.4).
Boas novas, por um lado, mas problemáticas por outro. Povo de Deus ou não, os
israelitas não estavam melhor preparados do que os egípcios para encarar um
Deus santo. Ironicamente, eles estavam precisando ser libertos do seu
Libertador. E assim, Deus os instrui a sacrificar um cordeiro e tomar o sangue do
cordeiro e passar nos umbrais da casa.

Porque naquela noite passarei pela terra do Egito e ferirei de morte todos os primogênitos
na terra do Egito, tanto dos homens como dos animais; e executarei juízo sobre todos os
deuses do Egito. Eu sou o SENHOR. Mas o sangue servirá de sinal nas casas em que
estiverdes. Se eu vir o sangue, passarei adiante, e não haverá praga entre vós para vos
destruir, quando eu ferir a terra do Egito. (Êxodo 12.12-13)

E assim aconteceu. A ira de Deus caiu sobre a terra do Egito, mas os
israelitas foram poupados do justo julgamento de Deus por meio do sangue do
cordeiro e libertos do cativeiro da escravidão de Faraó para a terra prometida. As
implicações tipológicas são evidentes. Assim como os filhos de Israel foram
libertos pelo sangue de um cordeiro, assim também somos poupados do justo
julgamento de Deus por meio do sangue de Cristo e libertos do cativeiro da
escravidão do pecado para a terra prometida celestial.
E de grande importância para nossos propósitos é a intenção divina em
tudo isso. As similaridades entre a morte do cordeiro pascal e a morte de Cristo
não são mera feliz coincidência. Os filhos de Israel foram instruídos pelo Senhor
a celebrar a refeição pascal todo ano como um lembrete contínuo de sua
libertação do Egito. Mas o que eles não sabiam era que a refeição também
apontava para frente — para o dia quando o verdadeiro Cordeiro Pascal viria. A
celebração do cordeiro pascal não era, como vemos agora, realmente sobre a
libertação de um tirano temporal. Não, era mais fundamentalmente sobre Cristo.
A morte do cordeiro pascal era um prenúncio divinamente instituído da obra
redentora de Cristo. Jesus mesmo, enquanto celebrando a refeição pascal com os
seus discípulos, conectou sua morte iminente com a morte do cordeiro pascal
(Mt 26.28). E João o Batista, ao ver Jesus em seu batismo, proclamou: “Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1.29). E mais
explicitamente, o apóstolo Paulo declarou ser Cristo “nosso Cordeiro pascal”
(1Co 5.7).
Assim, um tipo serve como um apontador profético para uma realidade
celestial mais profunda. A Escritura é repleta de tais analogias. Hebreus 11.19
refere-se a Isaque como um tipo de Cristo, pois assim como Abraão o recebeu de
volta de certa morte, assim também recebemos a Cristo de volta dos mortos. O
sacerdócio de Melquisedeque, o antigo rei-sacerdote de Jerusalém, era uma
figura do sacerdócio eterno de Cristo. Em Gálatas Paulo usa os dois filhos de
Abraão, Isaque e Ismael, como representantes de dois pactos contrastantes (o
novo e o antigo). E, como veremos a partir da Escritura, assim como o cordeiro
pascal do Antigo Testamento serviu como um tipo, ou sombra do sacrifício
redentivo de Cristo, assim também o sexo foi criado por Deus para servir como
um testemunho vivo do evangelho. Em outras palavras, quando pensamos em
sexo, deveríamos em última instância pensar no evangelho.
Talvez alguns de vocês já estejam pensando: “Eu ouvi que o
relacionamento marital reflete Cristo e a igreja, mas o próprio ato do sexo?
Sério?”.
Sério. Vamos mergulhar num texto chave.


POR ESSA RAZÃO

Efésios 5.24–32 descreve nitidamente a relação sexual dentro do
casamento como uma imagem da relação espiritual entre Cristo e a igreja. À
medida que ler a passagem, observe cuidadosamente a importância da última
sentença (v. 32) dentro do contexto:[5]
Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres sejam em tudo submissas ao
marido. Maridos, cada um de vós ame a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e a si mesmo
se entregou por ela, a fim de santificá-la, tendo-a purificado com o lavar da água, pela palavra,
para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa
semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim, o marido deve amar sua mulher como ao próprio
corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Pois ninguém jamais odiou o próprio corpo; antes,
alimenta-o e dele cuida; e assim também Cristo em relação à igreja; porque somos membros do seu
corpo. Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne.
Esse mistério é grande, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.


Nesta passagem Paulo está discutindo a dinâmica relacional do
casamento cristão. E à medida que instrui aos maridos e esposas sobre como
devem tratar um ao outro, ele traça um paralelo estreito entre o casamento
cristão e o relacionamento de Cristo com a igreja. A forma como Cristo trata a
igreja, Paulo nos diz, serve como o padrão para como um marido deve tratar a
sua esposa. E a forma como a igreja se relaciona com Cristo é a forma como
uma esposa deve se relacionar com o seu esposo. Mas por que isso? Mediante
qual lógica Paulo pede a maridos e esposas que se relacionem como Cristo e a
igreja? A resposta encontra-se no versículo 32. O casamento humano, Paulo nos
diz, “refere-se a Cristo e a igreja”.[6] Em outras palavras, o casamento é um tipo
do relacionamento de Cristo com a igreja. Inspirando-se na antiga fórmula de
casamento de Gênesis 2.24, Paulo revela um mistério (i.e., um verdadeiro
anteriormente desconhecida): a unidade sexual dentro do casamento foi criada
por Deus para servir como prenúncio da unidade espiritual que existiria entre
Cristo e sua igreja. Como o grande pai da igreja Agostinho uma vez escreveu, “é
sobre Cristo e a igreja que mais verdadeiramente se diz, ‘os dois serão uma só
carne’”.
A partir dos comentários de Paulo em Efésios podemos ver que quando
um homem e uma mulher se unem sexualmente, de alguma forma misteriosa,
eles se tornam um em sua carne (veja também 1Co 6.16). Algo profundo ocorre
por meio do intercurso sexual. A união marital não é simplesmente uma união
legal ou social, uma união funcional ou familiar, mas sim uma união de corpos,
um compartilhar da vida física. Por meio do sexo, os dois são unidos da forma
mais profunda e maravilhosa — tanto que se diz que eles se tornam um. Esse é o
porquê se diz corretamente que o intercurso sexual “consuma” um casamento.
O casamento é mais que sexo, mas não é menos que sexo. De fato, no
mundo bíblico antigo, a união sexual era o meio primário pelo qual um homem e
uma mulher se casavam (veja, por exemplo, o casamento de Isaque e Rebeca em
Gn 24.67). Diferente de hoje, o clero religioso do mundo antigo não criava um
casamento por meio de um pronunciamento formal; antes, o próprio ato do sexo
criava o casamento.[7] Assim, um relacionamento marital saudável é o viver da
união que se estabelece por meio do intercurso sexual. (É por isso que um
relacionamento sexual que ocorre fora do contexto de um relacionamento marital
é tão emocionalmente destrutivo. O ato do sexo, que tem o intuito de iniciar e
sustentar uma união permanente de casamento, é dissociado e divorciado de seu
próprio propósito.)
Mas aqui reside a maior importância do sexo — não aquilo que ele
realiza num plano terreno, mas o que espelha num plano divino. Sexo não é um
fim em si mesmo; é um tipo de algo mais alto, apontando para a realidade mais
profunda do evangelho. Assim como o sacrifício do cordeiro pascal no Antigo
Testamento prenunciava o sacrifício expiatório de Cristo no Novo, assim
também a unidade física estabelecida por meio do sexo prenuncia a unidade
espiritual que existirá (e que já existe) entre Cristo e sua igreja nas bodas do
Cordeiro. As muitas referências do Novo Testamento à igreja como a “noiva” de
Cristo e a Cristo como o “noivo” apontam adicionalmente para esse paralelo
entre a união terrena e celestial. Adicionalmente, muitas das parábolas de Cristo
usam o tema núpcias como uma ilustração do seu retorno e união consumada
com a igreja. E o livro de Apocalipse refere-se explicitamente às bodas do
Cordeiro como inaugurando o alvorecer da era eterna (Ap 19.7; 21.2, 9; 22.17;
veja também Mt 25.1-13).[8]
Mas é importante lembrar o que vem primeiro na mente de Deus. Deus
não modelou o casamento divino segundo o casamento humano, mas antes o
casamento humano é uma sombra do casamento divino. Não é como se Deus
tivesse descoberto a conexão entre sexo e o evangelho da forma como o pastor
folheia o Wall Street Journal em busca de ilustração para a pregação. Não, a
conexão foi proposta antes da fundação do mundo. Como Paulo nos diz, a
unidade sexual do casamento refere-se a Cristo e a igreja. Assim como Deus
ordenou o cordeiro pascal da antiga aliança para testemunhar profeticamente do
sacrifício vindouro de Cristo, assim também Deus ordenou o casamento humano
— desde o próprio alvorecer da criação — para testificar do casamento vindouro
do Cordeiro.


RELEMBRANDO O EVANGELHO

Nossa união espiritual com Cristo é um aspecto essencial, mas muitas
vezes ignorado do evangelho. Esse lapso é, cremos, a razão primária de a igreja
contemporânea falhar grandemente em ver a relação ilustrativa entre sexo e
salvação. Uma breve reafirmação do evangelho é necessária.
As boas novas de salvação não é simplesmente que Deus nos perdoou,
mas, antes, que por meio da nossa união com Cristo nascemos de novo para sua
própria vida — tornamo-nos participantes de sua natureza (2 Pedro 1.4). O
perdão é de fato um aspecto importante da nossa salvação, mas não devemos
reduzir a obra salvadora de Deus a uma simples contabilidade no registro divino,
limpando a conta dos nossos pecados, mas de outra forma nos deixando intactos.
[9] O perdão limpa o quadro negro, mas o perdão não é suficiente para entrar no
reino dos céus.
Essa última sentença merece ser repetida: apenas o perdão não é
suficiente para entrarmos no reino dos céus. É apenas quando entendemos que
nossa principal culpabilidade diante de Deus não está ligada às nossas ações
pecaminosas mas, ainda mais fundamentalmente, à nossa natureza pecaminosa
— a fonte de nossas ações pecaminosas — é que podemos começar a entender o
porquê precisamos mais do que perdão.
Não surpreendentemente, a principal exigência para entrar na vida eterna
é que alguém esteja de fato vivo. Jesus mesmo disse: “Ninguém pode ver [entrar
no] o Reino de Deus, se não nascer de novo” (João 3.3, NVI). Um componente
chave da salvação do Novo Testamento, portanto, é centrado em nossa conexão
com a própria vida de Deus, por meio de Jesus Cristo via a presença habitadora
do Espírito Santo. É quando nos tornamos espiritualmente um com o próprio
Cristo que entramos no perdão e na vida. Assim como um marido e esposa se
tornam um em sua vida física, assim também Cristo e o cristão, por meio da
habitação do Espírito, se tornam um em sua vida espiritual. Por meio da nossa
união com Cristo, sua vida se torna nossa vida. Nascemos de novo precisamente
porque estamos unidos àquele que é a própria vida.
A habilidade de viver uma vida agradável a Deus, de fato, de herdar a
vida eterna, não procede de nossa dedicação a Deus ou votos de nossa vontade;
antes, ela flui até nós do poder da vida divina concedida a nós por meio da união
sobrenatural com Cristo. A própria vida de Deus por meio de Cristo via o
Espírito Santo toma residência dentro de nós. Estamos irremediavelmente unidos
à natureza divina, e o casamento humano é um retrato poderoso, ou símbolo,
dessa união.
No fim, nossa esperança final de salvação é que estamos casados com
Cristo. Quando chegamos a Deus para salvação, ele nos torna um com Cristo —
assim como um homem e uma mulher se tornam um no casamento. Essa união
com Cristo é a própria coisa que fornece vida eterna. De fato, a vida eterna que
começamos a viver agora é a vida eterna que Cristo vive. A seiva da videira é a
seiva do ramo. Por meio da nossa união com ele, temos sido abençoados com
toda bênção espiritual (Ef 1.3). Ele se tornou nosso cabeça, e como sua noiva,
seu trabalho é nos apresentar a “a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha
nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef 5.27, NVI). E ele fará
isso. Casamento e sexo são ilustrações poderosas da união que existe entre
Cristo e o cristão, e elas foram criadas especificamente para esse propósito.


O PORQUÊ E COMO DA PUREZA SEXUAL

Agora que entendemos o porquê Deus criou o sexo, podemos começar a
entender as razões por detrás dos seus mandamentos com respeito à pureza
sexual. Em última instância, os mandamentos de Deus sempre se relacionam
com sua imagem.
Como já observado, tendemos a crer que os mandamentos de Deus são
nos dados meramente por nossa causa. Mas isso não é verdade. Como aqueles
criados à imagem de Deus, nossa própria natureza como portadores da imagem
explica as razões por detrás dos mandamentos de Deus. Não somente o sexo é
uma imagem divinamente designada do evangelho, mas o próprio homem
também é uma imagem de Deus (Gn 1.26-27; Rm 8.29-31; 1Co 11.7; 15.49).
Somos ilustrações ambulantes de sermão, se você preferir colocar assim.
Portanto, visto que Deus nos criou para sermos imagens, ou tipos, de si mesmo,
revelando sua glória invisível ao mundo visível, é essencial que todos nós
estejamos alinhados com tudo o que Deus faz, pois glorificamos a Deus ao
manifestar sua bondade por meio da nossa própria bondade. Nossa glória é a sua
glória, pois a glória e bondade que possuímos não é inerente dentro de nós, mas
vem primeiro dele, testificando de sua bondade infinita.
Portanto, as formas nas quais Deus age, ama, pensa e sente, todas elas
fornecem a base para como devemos agir, amar, pensar e sentir. Somos
chamados a agir misericordiosamente porque ele é misericordioso (Lucas 6.36);
somos chamados a sermos perfeitos porque ele é perfeito (Mt 5.48); somos
chamados a sermos bons para com nossos inimigos pois ele é bom para com os
seus (Mt 5.44-45); e somos chamados a sermos santos porque ele é santo (1Pe
1.15-16). Embora o ser infinito e as ações do Criador não podem ser equalizadas
e identicamente refletidas numa criatura finita, o paralelo permanece válido. Em
última instância, cada ação a qual somos chamados, cada função que ele nos
criou para desempenhar, se relaciona com as ações e natureza de Deus. Isso não
é menos verdadeiro com respeito ao sexo e os mandamentos de Deus para
pureza sexual.
A principal intenção de Deus ao criar o sexo era que ele servisse como
um testemunho vivo da unidade espiritual entre Cristo e a igreja. O
conhecimento dessa realidade mais alta então nos ajuda a entender como
deveríamos nos comportar dentro da esfera da realidade terrena. Em outras
palavras, nossas vidas sexuais deveriam ser moldadas de acordo com a forma na
qual Cristo e a igreja se relacionam espiritualmente. Ver a sexualidade a partir
dessa estrutura não somente explica como deveríamos agir, mas também o
porquê deveríamos agir de certa forma.
Por exemplo, em 1 Coríntios 6.15-17 os mandamentos que Paulo dá com
respeito à atividade sexual são baseados no relacionamento “um espírito” entre
Cristo e a igreja. Não devemos nos unir sexualmente a uma prostituta, Paulo
argumenta, pois estamos unidos espiritualmente a Cristo. Mas a proibição nessa
passagem não é contra sexo em geral, mas contra sexo com uma prostituta.
Nossa unidade espiritual com Cristo não nos impede de ter sexo com nossa
cônjuge. Na verdade, Paulo ordena isso em 1 Coríntios 7.5. Mas porquê o sexo
com nosso cônjuge é legítimo e o sexo com uma prostituta pecaminoso? Como é
que nossa unidade espiritual com Cristo não se detém no caminho de todos os
relacionamentos sexuais?
Quando falando sobre a importância da pureza sexual, é tentador
responder perguntas como essas num nível estritamente humano. Poderíamos
listar miríades de doenças sexualmente transmissíveis que podem ser adquiridas.
Poderíamos listar efeitos psicológicos adversos da promiscuidade que foram
documentados. Poderíamos ainda falar sobre os efeitos negativos da
licenciosidade sexual para o futuro cônjuge de alguém ou a possibilidade de uma
gravidez indesejada. Mas todas essas considerações somente reforçam a ideia
que o sexo é tudo sobre nós, como se os mandamentos de Deus tivessem
somente a ver com o que melhor funciona para a humanidade. Mesmo à parte de
tais efeitos colaterais, o sexo promíscuo ainda seria proibido porque nenhuma
das consequências, embora verdadeiras, vão à raiz do porquê Deus proíbe o sexo
com uma prostituta. A questão deve ser primeiro abordada num plano divino,
antes de poder ser abordada num plano humano.
Como vimos, os mandamentos de Deus se relacionam com a imagem de
realidades celestiais que ele pretende que nossas vidas espelhem. Sexo com uma
prostituta, então, é proibido pois quebra o retrato da conexão e devoção
exclusiva de Cristo à sua noiva. Assim como Cristo se reserva espiritualmente
para a sua esposa (a igreja), assim também somos chamados a nos reservarmos
sexualmente para nosso marido ou esposa. A forma como nos comportamos
sexualmente deve se conformar àquilo que Deus criou o sexo para ilustrar: a
natureza transformadora de vida do evangelho. A monogamia e a permanência
são aspectos vitais dessa imagem. Cristo está unido à igreja somente; assim, um
homem deve estar unido à sua esposa somente. Cristo não se divorcia de sua
noiva; não devemos nos divorciar de nossos cônjuges. Você vê a conexão? Nossa
atividade sexual deve se alinhar com a forma como Cristo se relaciona
espiritualmente com a igreja.
Portanto, o homem que usa sua sexualidade de uma forma promíscua
falha em agir consistentemente com a imagem da espera monogâmica de Cristo
por sua noiva. Cristo propôs se tornar um com a igreja somente. Assim, os
solteiros devem reservar sua sexualidade para seus futuros cônjuges como uma
expressão da devoção exclusiva de Cristo à sua noiva. Deus nos chama para
reservar nossa sexualidade para o relacionamento marital, pois é somente no
casamento que a imagem do relacionamento de Cristo com a igreja pode ser
vivida.
É fundamentalmente importante que desempenhemos nossa sexualidade
de uma maneira consistente com a imagem que ela foi criada para retratar.
Exploraremos as implicações plenas disto nos capítulos vindouros,
particularmente no que se refere a estabelecer uma definição objetiva de pureza
sexual, mas por ora vamos recapitular.


RECAPITULAÇÃO

Fomos feitos para sermos semelhantes a Deus, existindo como retratos
vivos de sua bondade divina. Toda tarefa que Deus nos dá está centrada em seus
próprios propósitos e natureza. O governo humano, casamento, sexo, pais e os
próprios cristãos (para citar apenas alguns), tudo se relaciona com os propósitos
e ações de Deus, servindo como imagens de realidades celestiais superiores.
Deus deseja glorificar a si mesmo, e a forma como ele escolheu fazer isso em
nossas vidas é por meio da nossa existência em sua imagem gloriosa. Como um
pai terreno que é glorificado por meio da glória de seus filhos, assim também
Deus é glorificado por meio da nossa glorificação (Rm 8.30). Mas tal glória não
pode ser alcançada à parte do nosso viver a imagem de Deus, pois somente em
Deus mesmo a verdadeira glória é encontrada.
Esse é o porquê nossas vidas não é acerca de nós somente. Não
pertencemos a nós mesmos. Portamos a imagem de outro, e a propriedade dessa
imagem pertence a ele. E visto que portamos a imagem de outro, não estamos
livres para decidir por nós mesmos o que é melhor para nós. Não devemos agir
de formas que sejam inconsistentes com o caráter daquele que espelhamos. É
importante que vivamos cada faceta da nossa vida como um testemunho correto
da imagem de Deus. Tudo o que ele nos pede fazer é que possamos ser
confirmados à sua imagem. Colocando de outra forma, os mandamentos da
Bíblia com respeito ao sexo nunca são arbitrários — eles são dotados de grande
propósito.
Assim, à medida que estudamos a pureza sexual, devemos lembrar que
cada parte de nós, incluindo nossa sexualidade, tem um propósito mais alto que
meramente nosso próprio prazer, pois cada parte de nós foi criada primariamente
para refletir a glória de Deus. Quando aprendemos a ver o mundo como um
espelho da natureza de Deus e seus propósitos, somos salvos do fim mortal da
auto-absorção; a vida tem um propósito mais alto que nossa satisfação
autônoma.
Não podemos deixar uma área tão importante da nossa vida ser guiada
por mero pragmatismo e argumentos antropocêntricos. Devemos sempre ver essa
questão por meio de lentes teocêntricas. Você não pertence a si mesmo; você foi
comprado por um alto preço e, portanto, deve honrar a Deus com o seu corpo.
Ele deseja o seu melhor. Ele deseja sua satisfação sexual mais do que você
jamais desejará, pois por meio da expressão apropriada de sua sexualidade, tanto
você como o mundo terá uma janela pela qual ver o cerne do evangelho. Mas se
cairmos na mentira que o sexo é acerca de felicidade somente, seremos roubados
da alegria que Deus pretende trazer. É somente quando vivemos a imagem de
Deus que encontraremos a felicidade de Deus.
Agora que entendemos o porquê da pureza sexual, vamos ver o que a
Bíblia tem a dizer sobre o quê.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) O que é um tipo? Quais são alguns exemplos de tipos na Bíblia?
2) De acordo com Efésios 5.28-32, de que forma o sexo serve como um tipo, ou
imagem, do evangelho?
3) O que acontece quando um homem e uma mulher se unem sexualmente? De
que forma isso é semelhante ao relacionamento de Cristo com a igreja?
4) De que forma saber que Deus criou o sexo para servir como uma imagem viva
da nossa união espiritual com Cristo nos ajuda a entender a razão por detrás dos
mandamentos de Deus com respeito à pureza sexual?
5) Quais aplicações podem ser extraídas do fato que Deus criou o sexo para
servir como um tipo de Cristo e a igreja, particularmente na esfera da satisfação
sexual e da pureza sexual?
MAIS QUE UM PADRÃO
SUBJETIVO

Pureza e as categorias ordenadas por Deus de relacionamentos homem-
mulher

Exorta… aos jovens, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às jovens, como a irmãs,
com toda pureza.
O A P Ó S T O L O PA U L O ( 1 T M 5 . 1 - 2 )


Você poderia dizer com certeza e clareza como homens e mulheres
devem se relacionar sexualmente com alguém do sexo oposto? À parte dos
mandamentos bíblicos gerais sobre sexo pré-conjugal e adultério, você saberia
dizer com que a pureza centrada em Deus se parece? Você seria sábio o bastante
para responder — com autoridade objetiva e bíblica — aquela antiga pergunta
vexatória “Quão longe é longe demais?”? Se não é capaz, não está sozinho nisso.
Como afirmado na introdução, a questão dos limites sexuais adequados
serve de eixo em torno do qual este livro gira; não porque o decoro sexual seja
tudo o que existe num relacionamento, mas porque o decoro sexual — até onde a
união sexual serve de retrato da união espiritual de Cristo com a igreja — é
deveras central para tudo o que Deus quer fazer através dos relacionamentos
homem-mulher. Se você não capta direito esse aspecto do seu relacionamento,
há pouca esperança de que entenda direito qualquer outra coisa.
Se a sua experiência é parecida com a nossa, provavelmente foi
informado de que a Bíblia não fala claramente sobre a questão dos limites físicos
no namoro. Você recebeu muitos conselhos, mas não muita Bíblia. Porém, como
vamos ver neste capítulo, a Bíblia tem muito mais a dizer sobre decoro sexual do
que muitos pensam. Ao contrário da opinião popular, a Bíblia fala com clareza
— clareza objetiva — sobre o que é fisicamente apropriado entre um homem e
uma mulher não casados num relacionamento pré-conjugal.
Como introdução ao nosso argumento principal, permita-nos apresentar-
lhe Sara, uma executiva hipotética de marketing de vinte e três anos de idade.
Ela está envolvida numa igreja que crê na Bíblia e ama ao Senhor e acabou de
iniciar um novo relacionamento de namoro. Vejamos como ela e seu pastor
discutem os limites físicos apropriados desse relacionamento.

Pastor: Ouvi dizer que você começou um novo namoro.
Sara: Sim. Tom e eu namoramos já fazem três semanas.
Pastor: Verdade? E como tem sido?
Sara: Tem sido ótimo. Ele tem 25 anos, é estudante de Direito na Universidade de Chicago, muito
inteligente, ama a Jesus, e temos muitas coisas em comum.
Pastor: Isso é bom. Importa-se se eu lhe fizer uma pergunta um pouco pessoal?
Sara: Claro. Quer dizer, acho que pode.
Pastor: Eu estava me perguntando como é o relacionamento físico entre vocês.
Sara: Bem, hmm… o que você quer dizer exatamente?
Pastor: Bem, por exemplo, o Tom lhe beija?
Sara: Uau! É meio estranho falar isso para o meu pastor… (ela olha para baixo, brinca com seu
enorme copo do Starbucks, fica vermelha e olha para cima)
Pastor: Por que tanta timidez sobre esse assunto? Há algo errado em beijar?
Sara: Não, não há nada de errado em beijar, em si. Quer dizer, poderia haver algo de errado em
beijar se as duas pessoas deixassem a coisa avançar.
Pastor: O que você quer dizer com “deixassem a coisa avançar”?
Sara: Bem, você sabe — elas fizerem coisas que não deveriam fazer.
Pastor: Como você determina que tipos de coisas elas não deveriam fazer?
Sara: Bem, acho que não estou absolutamente certa. Eu sei que devemos esperar até casar para ter
relações sexuais.
Pastor: Assim, não havendo sexo, tudo bem?
Sara: Sim. Quer dizer, não. Quer dizer, há coisas que você provavelmente não deveria estar
fazendo, mesmo que parasse um pouco antes do sexo.
Pastor: Ok, vamos então aprofundar um pouco e tentar ser honestos. E se Tom quisesse lhe dar um
leve beijo de boa noite?
Sara: Como estamos oficialmente namorando e comprometidos, seria tranquilo.
Pastor: Um beijo prolongado de boa noite, mas não um beijo francês?
Sara: Tranquilo.
Pastor: E o que dizer de um monte de beijos durante, digamos, quinze minutos, mas ainda assim
sem beijo francês?
Sara: Acho que isso é tranquilo num relacionamento sério, se não sair do controle.
Pastor: E o que dizer de um beijo francês?
Sara: Bem, talvez… mas só isso.
Pastor: Por quê?
Sara: Eu não me sentiria à vontade fazendo algo além disso.
Pastor: Então você determina o que é certo com base em como se sente?
Sara: Bem, acho que sim. Toda pessoa precisa orar sobre isso e chegar às suas próprias convicções
sobre quão longe é longe demais. Quanto a mim, simplesmente não me sentiria à vontade indo
além disso.
Pastor: E se você tivesse uma amiga que se sente à vontade com beijo francês e carícias? Se ela se
sentisse à vontade, estaria tudo bem?
Sara: Bem, o cara com quem ela estivesse saindo poderia não se sentir à vontade. Talvez isso iria
despertar muita tentação nele e fazê-lo querer mais do que deveria.
Pastor: O que você quer dizer com “mais do que deveria”? Como você sabe quão longe é longe
demais para ele?
Sara: Ele precisa saber disso por conta própria, suponho.
Pastor: Ok, então. Digamos que tanto a garota como o rapaz se sintam à vontade com fortes
carícias e beijo francês. Está tudo bem, então, já que ambos se sentem à vontade com o que estão
fazendo?
Sara: (Pausa) Bem, eu não acho que isso seria certo.
Pastor: Nem eu, mas como você os convenceria de que estão fazendo algo inapropriado?
Sara: Acho que não estou muito certa de como faria isso.

Assim, quão longe é longe demais? Se você está vivendo entre a
puberdade e o casamento, essa é uma pergunta cheia de grande significado. Eu
(Gerald) posso me lembrar dos tempos de jovem, sentado com meu pastor
durante o café da manhã e discutindo a questão da pureza entre casais
namorados. Comigo estavam mais quatro ou cinco rapazes, alguns tendo
crescido na igreja, outros vindo de famílias sem igreja. Todos acreditávamos que
a Bíblia claramente proíbe o sexo antes do casamento, mas nossas convicções
não iam além disso.
Meu pastor concordava que a Bíblia de fato proíbe o sexo antes do
casamento, mas infelizmente, como o namoro não é especificamente
mencionado na Bíblia, precisamos chegar às nossas próprias conclusões sobre o
que é fisicamente apropriado num relacionamento de namoro. Assim, cada um
de nós expressou o que a sabedoria da nossa adolescência conseguira reunir.
Nossas respostas variavam de “beijo prolongado” a “conquanto as roupas não
saiam do lugar”. (E antes que vocês, solteiros mais velhos, baixem a cabeça
torcendo o nariz para a minha ignorância de adolescente, creio que, caso sejam
honestos, vocês admitirão que a sabedoria de 30 anos não é de todo melhor nessa
questão.)
Lembro meu pastor nos advertindo contra os padrões mais liberais,
usando o argumento da ladeira escorregadia, isto é, que poderia ser difícil evitar
o sexo quando as coisas fossem longe demais. Ele também nos advertiu contra o
perigo da luxúria, que amiúde pode acompanhar até a interação sexual mais leve,
e mencionou a necessidade de ser puro. Mas no fim das contas ele não tinha
nenhum padrão objetivo de pureza com que nos aconselhar. Em vez disso, ele
nos encorajava a chegar às nossas próprias convicções, pela oração, sobre o que
era fisicamente apropriado num relacionamento de namoro, e a seguir a direção
do Espírito Santo. Em última instância, fomos deixados a seguir nossa própria
sabedoria.
A abordagem seguida pelo pastor de Gerald parece ser a sabedoria
convencional encontrada em grande parte da literatura que lemos sobre o
assunto. Sem dúvida, você já deve ter ouvido algo parecido. Um autor resume
isso afirmando o seguinte:
Você pode querer que eu lhe diga, em muito mais detalhes, exatamente o que é
certo para você no que se refere aos limites seculares. Mas no fim você tem de
estar perante Deus. É por isso que você deve estabelecer seus próprios limites de
acordo com a direção divina para a sua vida… Para manter minha mente e meu
corpo puros, escolhi não beijar [minha esposa] até que estivéssemos noivos…
Não estou dizendo que esse também deve ser um dos seus limites. Mas quero
que você construa sua própria lista de padrões sexuais.[10]
Mas isso pode estar certo? Será que realmente achamos que Deus quer
que construamos nossas próprias listas de padrões sexuais? Adultos solteiros —
mesmo aqueles mais educados e sofisticados, de alto Q.I., — não estão
qualificados para construir suas próprias listas de padrões sexuais. Nós
certamente não estávamos (e continuamos a não estar) qualificados. Tem de
haver um caminho melhor.


AS TRÊS CATEGORIAS ORDENADAS POR DEUS

Felizmente, Deus não nos deixou sem um conhecimento da sua vontade.
Ao contrário do que muitos creem, Deus definiu claramente o que espera de
solteiros e solteiras em relação à atividade sexual. Claro, você não descobrirá
isso olhando “Quão longe é longe demais?” no verso da sua Bíblia. Mas está ali
para ser visto por todos aqueles dispostos a pensar cuidadosamente sobre a
teologia bíblica dos relacionamentos homem-mulher.

Figura 2.1: As categorias ordenadas por Deus de relacionamentos homem-mulher
FAMÍLIA PRÓXIMO
CASAMENTO
RELACIONAMENTOS RELACIONAMENTOS RELACIONAMENTOS
SEXUAIS SEXUAIS SEXUAIS
PROIBIDOS PROIBIDOS ORDENADOS

Como iremos ver, Deus agrupou os relacionamentos homem-mulher em
três categorias. Embora os títulos que atribuímos a cada categoria possam
parecer um pouco arbitrários, as próprias categorias não o são. Cada uma é
baseada em padrões únicos que Deus deu em relação à atividade sexual.
Entender essas categorias distintas é a chave para superar muito da subjetividade
que cerca o decoro sexual, ajudando-nos a construir limites adequados de
expressão sexual.


O RELACIONAMENTO FAMILIAR

Comecemos com o relacionamento familiar. A diretriz de Deus para a
expressão sexual entre parentes sanguíneos evoluiu ao longo da história.
Conforme mencionado anteriormente, todos os mandamentos de Deus refletem a
natureza e os propósitos divinos. Isso também vale para as ordens de Deus sobre
relações sexuais dentro das famílias. Nos tempos bíblicos primitivos, Deus não
proibia relações sexuais entre parentes sanguíneos. Mas uma vez dada a lei do
Antigo Testamento, Deus mudou o padrão: “Nenhum homem se chegará a
qualquer parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez. Eu sou o SENHOR” (Lv
18.6, ACF; neste versículo, a frase “descobrir a sua nudez” é um eufemismo
hebraico para relações sexuais).
Hoje não achamos esse mandamento de todo incomum ou mesmo
necessário. A ideia de se envolver em relações sexuais com alguém da nossa
família imediata é revoltante para a maioria de nós. Mas não foi sempre assim.
Ao olhar para a história bíblica anterior à lei, descobrimos que relações sexuais
entre parentes sanguíneos não era algo incomum. Abraão se casou com sua
meia-irmã (Gn 20.11-12). As filhas de Ló se aproximaram de seu pai enquanto
ele estava bêbado e tiveram relações com ele (Gn 19.31-36). Jacó se casou com
duas irmãs, uma prática mais tarde banida debaixo da lei (Gn 29.23-28).
Presumivelmente, Caim, Abel e Sete, bem como os filhos de Noé, se casaram
todos com parentes sanguíneos.
Deus não encorajou essa prática, e mais tarde aprendemos que ele a
desaprovou (Lv 18.26-28). Mas não a baniu até dar a lei. As razões para o
banimento não estão claramente detalhadas, mas parece que as relações sexuais
entre parentes sanguíneos já não se encaixavam com o novo relacionamento que
Deus estabeleceu com seu povo por meio da lei.[11] Independentemente da
razão para essa proibição, a ordem de Deus para as relações sexuais dentro do
relacionamento familiar é clara: nenhuma atividade sexual deve ocorrer entre
parentes sanguíneos.


O RELACIONAMENTO CONJUGAL

Uma segunda categoria de relacionamentos homem-mulher ordenados
por Deus é o relacionamento conjugal. Embora Deus proíba relações sexuais
entre parentes sanguíneos, sua ordem é bem diferente quando se trata de homens
e mulheres que estão casados. No contexto do casamento, as relações sexuais
não apenas são permitidas, como também ordenadas. Em 1 Coríntios 7.3-5,
Paulo ordena que os casados não se abstenham das relações sexuais. Ele escreve:

O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da
mesma forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade
sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não
tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um
ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se
dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que Satanás não os tente por
não terem domínio próprio. (NVI)

Paulo segue para observar que um relacionamento sexual saudável dentro
do casamento é uma boa salvaguarda contra a infidelidade. E uma razão ainda
mais profunda para um relacionamento sexual saudável pode ser adquirida a
partir da nossa discussão no capítulo 1. A unicidade física que resulta do sexo
entre marido e esposa é uma imagem da unicidade espiritual que resulta de nossa
união com Cristo. O sexo é uma imagem do evangelho, e assim nosso deleite
nele no contexto do casamento é necessário como uma expressão da unicidade
espiritual de Cristo com a igreja. Assim, se por um lado Deus proíbe relações
sexuais entre parentes sanguíneos, ele as ordena no casamento. Até aqui tudo
bem. As duas categorias acima são muito claras.


O RELACIONAMENTO COM O PRÓXIMO

A última categoria de relacionamento homem-mulher nós rotulamos, na
falta de um termo melhor, como “relacionamento com o próximo”. E é aqui que
a Bíblia nos esclarece muito da ambiguidade acerca da pureza sexual entre
solteiros e solteiras. Seguindo a definição inclusiva de Jesus sobre quem é o
próximo, esta categoria inclui todos aqueles que não são nem parentes
sanguíneos, nem cônjuges (por ex., amigos, estranhos, colegas de escola, de
trabalho). Os mandamentos sobre pureza sexual no relacionamento com o
próximo estão espalhados por todo o Novo Testamento, e uma das passagens
mais notáveis nesse sentido é 1 Coríntios 7.7-9:

Desejaria que todos os homens estivessem na mesma condição em que estou.
Mas cada um tem o seu dom da parte de Deus, um de um modo, e outro de
outro. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas que lhes seria bom se
permanecessem na mesma condição em que estou. Mas, se não conseguirem
dominar-se, que se casem. Porque é melhor casar do que arder de paixão.

Nessa passagem, Paulo está respondendo a uma série de questões
colocadas a ele pela igreja de Corinto. Muitos dos coríntios estavam sendo
erroneamente influenciados por uma forma de ascetismo dualista, uma
cosmovisão que contrapunha o mundo material ao mundo espiritual. Essa
cosmovisão considerava o celibato a vida cristã ideal e encorajava os outros a
adotar esse estilo de vida. Nessa passagem, Paulo observa seu próprio
compromisso com o celibato e concorda que o celibato é de fato ideal para
aumentar a capacidade de alguém servir ao reino de Cristo. No entanto, Paulo
reconhece que a capacidade de viver uma vida casta e celibatária é um dom
exclusivo de Deus — um dom que Deus não concede a todas as pessoas.
Dada a imoralidade sexual generalizada dos seus dias, Paulo não
encoraja todos os crentes a abraçar um estilo de vida celibatário. Aqueles com
um forte desejo por intimidade sexual (isto é, que “ardem de paixão”) devem
satisfazer esse desejo no contexto do relacionamento conjugal. As implicações
são claras: o relacionamento matrimonial é o único contexto legítimo para as
relações sexuais. O que é claramente afirmado aqui nesta passagem é o padrão
assumido do decoro sexual visto em todo o Antigo e Novo Testamentos. Assim,
a perspectiva bíblica sobre a pureza sexual dentro do relacionamento com o
próximo pode ser detalhada da seguinte forma: as relações sexuais são proibidas
nele.
Ora, nós sabemos o que você está pensando: “Nenhuma relação sexual
fora do casamento. Entendi. Mas disso eu já sabia. Como isso me ajuda a
responder a questão ‘Quão longe é longe demais?’”. Ficamos felizes por você ter
perguntado isso; continue lendo.


O QUE CONSTITIU UMA RELAÇÃO SEXUAL?

Quase todos os cristãos devotos que levam a Bíblia a sério irão concordar
que as relações sexuais devem ser reservadas ao casamento. Mas é precisamente
nesse ponto que muitos de nós frequentemente não pensamos com cuidado sobre
o significado pleno da expressão relações sexuais. Com frequência restringimos
nossa compreensão das relações sexuais para incluírem apenas o intercurso
sexual. Mas será que essa compreensão estreita das relações sexuais é legítima?
Pode-se lembrar aqui de um ex-presidente que com firmeza afirmou “Eu não tive
relações sexuais com essa mulher”. Claro, o que ele realmente quis dizer é que
ele não se envolveu em intercurso sexual. Mas quantos de nós (sem esquecer sua
esposa) se satisfizeram com essa definição truncada de relações sexuais?
Claramente, as relações sexuais vão além do intercurso sexual. Sexo oral, carícia
e masturbação mútua, por exemplo, são atividades sexuais. Uma vez que
abraçamos a verdade bíblica de que as relações sexuais devem ser reservadas
para o casamento, a velha pergunta “Quão longe é longe demais?” é facilmente
respondida. Se uma atividade é sexual, deve-se abster dela enquanto se está num
relacionamento com o próximo.
Mas para fins de clareza, enfatizemos um pouco mais esse ponto. Como
mencionado acima, quase todos os cristãos que levam a Bíblia a sério irão
concordar que a atividade sexual deve ser reservada ao casamento. E é duvidoso
que alguém — quer cristão, quer não — realmente tente argumentar que sexo
oral e carícia não são atividades sexuais. Assim, a linha é muito clara, até onde
estão envolvidas essas atividades. Mas o que dizer sobre o beijo? Muitos (talvez
a maioria) dos casais cristãos em namoro regularmente se envolvem em beijos
apaixonados. O que devemos pensar sobre essa prática?
Responder à questão do beijo não é tão difícil quanto se poderia pensar.
Claramente, algumas formas de beijar não são sexuais; nós beijamos nossos
filhos e nossa mãe. Mas há algumas formas de beijar que reservamos
exclusivamente à nossa esposa. E a razão de fazermos isso é precisamente
porque essas formas de beijar são sexuais.
Considerar uma atividade como sendo contrária ao pano de fundo do
relacionamento de família é imensamente útil para esclarecer quase toda a
confusão que cerca a pergunta “Quão longe é longe demais?”. Se um homem
não se sente confortável para agir de uma forma em particular com sua irmã
porque fazê-lo seria sexualmente inapropriado, essa ação é de natureza sexual, e
deve ser reservada para o relacionamento conjugal.[12]
Que nós muitas vezes deixamos de identificar certas atividades (como o
beijo apaixonado) como sexuais é visto em como muitos solteiros cristãos
frequentemente usam o termo relacionamento físico para descrever tais
atividades. O uso do termo físico sugere implicitamente que as ações do casal
são qualquer coisa, menos sexuais. Mas o beijo apaixonado não é meramente
físico — é sexual. Ao contrário de um abraço ou aperto de mãos, o beijo
apaixonado está claramente fora do âmbito dos membros de uma família
biológica. E a razão por que está fora desse âmbito é que nós intuitivamente
sabemos que o beijo apaixonado é uma atividade sexual. Logo, nós podemos
concluir que:

1) As relações sexuais devem ser reservadas para o relacionamento
conjugal.
2) Há muito mais nas relações sexuais do que o intercurso sexual.
3) Qualquer atividade que seja de natureza sexual deve ser reservada para
o relacionamento conjugal.
4) Algumas formas de beijar são de natureza sexual.
5) As formas sexuais de beijar devem ser reservadas para o
relacionamento conjugal.

A lógica do exposto acima é, acreditamos, inescapável. Ademais, ver
uma atividade utilizando o pano de fundo do relacionamento familiar tem base
bíblica. Em 1 Timóteo 5.2, Paulo sugestivamente vincula o tratamento familiar
do sexo oposto à pureza absoluta. Neste versículo frequentemente ignorado, ele
escreve: “[Tratem] as mulheres idosas como a mães; e as moças, como a irmãs,
com toda a pureza”. De forma bastante útil, Paulo liga aqui o tratamento familiar
do sexo oposto à pureza sexual. No contexto dessa passagem, Paulo está
instruindo Timóteo — um jovem pastor — sobre como deve interagir com as
mulheres da sua igreja — em outras palavras, suas próximas.
A principal preocupação de Paulo, nesse momento, é a conduta sexual de
Timóteo, como se pode ver no uso da frase “toda a pureza”. Notavelmente, Paulo
instrui Timóteo a interagir com as mulheres da sua igreja de uma forma que se
assemelhe ao relacionamento dele, Timóteo, com sua família biológica. Claro,
Paulo não está pedindo que Timóteo trate, em todas as circunstâncias, as
mulheres de sua igreja como se cada uma fosse literalmente sua mãe ou irmã
(pense na quantidade de cartões de Dia das Mães!). Nem tampouco está pedindo
que Timóteo pense ou sinta exatamente o mesmo sobre cada mulher. Antes, o
que Paulo tem em mente é a conduta de Timóteo para com as mulheres. Se
Timóteo está comprometido a viver uma vida de absoluta pureza, sua conduta
para com as mulheres na igreja deve se dar numa estrutura familiar de pureza.
Toda e qualquer atividade sexual, mesmo se interrompida antes de uma
expressão sexual mais intensa, está fora dos limites da ética sexual da Bíblia. Ela
é (podemos dizê-lo tão ousadamente?) pecaminosa. E não só é pecaminosa; essa
atividade inevitavelmente leva à frustração sexual e emocional, o que por sua
vez leva a uma maior tentação sexual. É uma tempestade perfeita apresentar
nossos “membros… em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade”
(Rm 6.19). Essa é uma realidade simples que sem dúvida muitos de vocês
podem atestar a partir da sua própria experiência; uma realidade que temos visto
acontecer sempre de novo em nossas respectivas igrejas entre adolescentes e
adultos solteiros.
Mas embora o argumento da “ladeira escorregadia” seja viável, esse não
é o principal argumento que estamos desenvolvendo aqui. Mais uma vez,
traduzindo em miúdos, se uma atividade é sexual, não importa quão trivial, ela
deve ser reservada para o relacionamento conjugal — não por causa daquilo a
que poderia levar, mas por causa do que ela é em si mesma. Em suma, o padrão
de pureza para o relacionamento com o próximo é idêntico ao padrão de pureza
para o relacionamento familiar: nenhuma atividade sexual de qualquer tipo é
permitida.
Isso é algo difícil de engolir. Sabemos disso — nós também já fomos
solteiros uma vez. Assim, talvez você esteja buscando um pouco mais de
evidência bíblica antes de renunciar por completo a toda atividade sexual fora do
casamento. Sendo este o caso, considere o seguinte.


CONFIRMAÇÃO A PARTIR DA CULTURA DO PRIMEIRO SÉCULO

Uma boa regra de interpretação da Bíblia é saber ao certo como o público
original da Bíblia teria entendido um determinado termo ou ideia. Por exemplo,
para compreender o que Paulo quer dizer em Colossenses 1.15, quando escreve
que Jesus é o “primogênito” de toda a criação, devemos primeiro entender o que
o termo significava para o seu público original. O termo primogênito era um
título legal que se referia ao filho — nem sempre ao mais velho — que herdaria
a fortuna da família. Assim, a designação de Cristo como “primogênito” de toda
a criação não é uma declaração sobre sua ordem de nascimento, mas uma
declaração sobre seu direito legal de ocupar o lugar de senhorio supremo no
reino de Deus. Neste caso, um conhecimento do contexto cultural nos dá a
compreensão do termo “primogênito”.
O mesmo vale para o ensino da Bíblia sobre a imoralidade sexual. Se
levamos a sério a ideia de se abster da imoralidade sexual, é nossa incumbência
saber o que a Bíblia quer dizer com a expressão imoralidade sexual.
Simplesmente não adianta definir imoralidade sexual de formas que nos sejam
convenientes, mas estranhas aos autores bíblicos. Como veremos abaixo, a
expressão imoralidade sexual carregava mais sentido do que acontece hoje.


O QUE CONSTITUI IMORALIDADE SEXUAL?

Tanto no contexto judaico como greco-romano antigos, a imoralidade
sexual teria incluído qualquer tipo de atividade sexual entre um homem solteiro
e uma mulher solteira respeitável. De fato, a capacidade de uma jovem
respeitável encontrar um parceiro adequado para casamento era em grande parte
condicionada à capacidade do pai de provar a castidade dela. Desde que a
contribuição de uma filha à sua família era frequentemente realizada na
capacidade dela de assegurar um casamento social ou economicamente
vantajoso, um pai no mundo antigo fazia tipicamente um grande esforço para
proteger a integridade moral da reputação de sua filha até o dia do casamento
dela. Assim, as mulheres jovens respeitáveis não saíam de casa sem escolta, e a
prática do enclausuramento (isto é, uma jovem era mantida em casa e longe de
quaisquer homens não parentes) era frequentemente empregada.
Desnecessário dizer, nossas práticas de namoro contemporâneas teriam
sido completamente estranhas ao contexto do primeiro século. Mesmo na cultura
pagã, mulheres jovens respeitáveis não passavam tempo sozinhas com homens
que não faziam parte da família, nem mesmo se envolviam em alguma atividade
sexual leve antes do casamento. Na verdade, em muitos aspectos não se
proporcionava facilmente às mulheres solteiras respeitáveis do mundo antigo
oportunidades de se envolver em má conduta sexual. (Isso explica por que os
mandamentos na Bíblia sobre pureza sexual são quase todos direcionados para
os homens, que, ao contrário das jovens mulheres, teriam tido mais licença
social para visitar prostitutas ou ter uma amante.)
Consequentemente, na época do Novo Testamento a atividade sexual pré-
conjugal que intencionalmente parava logo antes do intercurso sexual não era
algo comum. Falando francamente, homens respeitáveis não se envolviam com
mulheres respeitáveis. Ou um homem se abstinha da atividade sexual por
completo, ou se envolvia nela plenamente com sua esposa (ou, no mundo pagão,
com uma prostituta ou amante).
Nosso ponto, ao fazer referência ao contexto do primeiro século, não é
sugerir que deveríamos simplesmente adotar os costumes sexuais do primeiro
século. Dificilmente seria o caso. Em vez disso, o ponto é mostrar como os
leitores do Novo Testamento teriam naturalmente entendido o ensino da Bíblia
sobre a imoralidade sexual. No Novo Testamento, a palavra comum mais
frequentemente traduzida como “imoralidade sexual” é o grego porneia. Porneia
era uma palavra genérica usada para se referir a qualquer tipo de atividade
sexual fora dos limites da conduta sexual adequada. Nos dias de Paulo, evitar
porneia implicaria evitar qualquer tipo de atividade sexual — mesmo atividade
sexual leve — entre um homem solteiro e uma mulher solteira respeitável.
Deixar de tomar a Bíblia nos seus próprios termos nessa área é deixar de
aderir à visão neotestamentária da pureza sexual. Talvez uma ilustração adicional
fará entender melhor o nosso ponto. Imagine que um homem volte para casa do
trabalho à noite e veja que sua esposa fez um bolo. Assim que anda pela cozinha,
ela o vê espiando o bolo, e explicitamente afirma: “Não coma o bolo; é para a
nossa festa esta noite”. Ele meneia a cabeça como quem entendeu, e ela sai da
cozinha. Assim que sai, ele corta para si uma grande fatia do bolo e o põe em seu
prato. E então, mordida por mordida, ele mastiga o bolo e o cospe de volta no
prato. Tendo assim mastigado toda a fatia (mas sem engolir, não esqueça), ele
raspa o pedaço mastigado e o coloca de volta no espaço vazio da forma de bolo.
Nesse momento sua esposa volta para a cozinha e olha para ele horrorizada: “O
que está fazendo?!”, exclama ela. “Eu disse para você não comer o bolo!” Ele
olha para ela calmamente e diz com voz segura: “E de fato não comi. Perceba,
querida, eu defini ‘comer’ como ‘engolir’. E como não engoli o bolo, não o
comi. Em suma, eu não tive uma relação de ingestão com o bolo”.
Uma história boba, mas que esclarece o ponto. Quando a esposa diz para
o marido não comer o bolo, quer dizer: “Deixe o bolo — não toque nele”. E na
vida real ela não precisa ser mais explícita, pois ele sabe perfeitamente bem o
que ela quis dizer. É o mesmo com o ensino da Bíblia sobre imoralidade sexual.
Quando os autores bíblicos escreveram “Abstenham-se da imoralidade sexual”,
seus ouvintes sabiam exatamente o que eles queriam dizer. No contexto do
primeiro século, uma conduta adequada significava tratar os membros do sexo
oposto de uma forma completamente não sexual. O Novo Testamento
simplesmente assume e afirma esse padrão de pureza sexual. Em vista desse
quadro histórico e cultural, nós podemos entender por que os autores bíblicos
não precisaram explicitar quão longe é longe demais. Eles podiam simplesmente
dizer “Evitem porneia”, e todo mundo sabia do que estavam falando. Em suma,
toda atividade sexual pré-conjugal — mesmo uma atividade sexual leve como o
beijo apaixonado — está fora dos limites da moralidade do Novo Testamento.
[13]
Mas, espere. Estamos nós dizendo que o beijo apaixonado é imoralidade
sexual? De certo modo, sim. Mas não estamos sugerindo que o beijo apaixonado
é o mesmo que sexo mais do que Jesus, em seu ensino sobre luxúria e adultério,
queria dizer que a luxúria traz exatamente as mesmas consequências que o
adultério (veja Mt 5.27). A luxúria, claro, é um pecado sexual. E neste sentido a
luxúria é uma forma de imoralidade sexual. Mas nós não invocamos a disciplina
da igreja sobre cada pessoa que comete luxúria. Não haveria igreja que pudesse
fazê-lo! O ponto de Cristo não era que aqueles que cometem luxúria deveriam
ser tratados da mesma forma que aqueles que cometem adultério. Antes, seu
ponto era que a luxúria é a primeira expressão de um grande pecado, e como tal
é em si um pecado. Da mesma forma, o beijo apaixonado, embora não sendo o
mesmo que sexo pré-conjugal, é o começo do sexo pré-conjugal, e como tal é em
si um pecado. Expressões menores de grandes pecados ainda são pecados. Era
esse o ponto de Jesus sobre a luxúria, e é o nosso, sobre o beijo apaixonado.
Deus nos chama para a pureza absoluta. Que não coloquemos nem mesmo um
dedo nas águas da imoralidade sexual.


A IMAGEM DE DEUS PRESERVADA

Rapidamente se torna evidente que o padrão de pureza estabelecido em 1
Coríntios 7.7-9 se encaixa facilmente na ideia de que Deus ordenou que as
relações sexuais sirvam como imagem do relacionamento de Cristo com a igreja.
Quando nos lembramos de que Deus criou o sexo como um meio de comunicar
nossa união sobrenatural num só espírito com a vida divina de Cristo, podemos
começar a entender por que Deus espera que limitemos o uso do sexo ao
relacionamento conjugal. Assim como Cristo se reserva exclusivamente para a
igreja, tornando-se um só espírito com sua noiva somente, nós também somos
chamados a reservar nossa sexualidade exclusivamente para o nosso cônjuge.
Através da atividade sexual em geral e do intercurso sexual em particular,
a união numa só carne do relacionamento conjugal reflete a realidade da nossa
participação na “natureza divina” (2Pe 1.4). Porém, quando nossa sexualidade é
manifestada fora do contexto de um relacionamento conjugal permanente (seja
por relações sexuais pré-conjugais, seja por adultério), nós deixamos de retratar
a imagem da união de Cristo à igreja e da nossa devoção exclusiva a ela.
As restrições necessárias para viver esse ideal são grandes,
particularmente numa cultura que sequer pode começar a compreender a relação
entre Cristo e sua igreja. Mas devemos sempre lembrar para quem nossa
sexualidade foi feita. Ela foi feita primeiramente para o Senhor, como uma
ilustração divina da natureza dele e dos seus propósitos. Ignorar essa realidade e
usá-la prematuramente para a nossa própria gratificação é subtraí-la da sua
importância e significado e, logo, do seu verdadeiro prazer em nossa vida. Não
devemos tomar o que Deus criou como sagrado e usar prematuramente em
relacionamentos comuns que ficam aquém da intenção divina.


CONCLUSÃO

Os padrões de Deus não são arbitrários, nem tampouco sua designação
dos diferentes tipos de relacionamentos homem-mulher. Cada relacionamento
tem um propósito dentro da imagem de Deus, e as diretrizes que Deus dá com
respeito à expressão sexual dentro dessas categorias estão ligadas a essa imagem.
Se agimos em conformidade com essas diretrizes, nossa sexualidade carrega
adequadamente a imagem de Deus e seu plano divino de salvação. Muito da
confusão que surge em relacionamentos com o sexo oposto, mesmo entre jovens
adultos que levam a Bíblia a sério, decorrem da incapacidade de compreender e
aplicar as verdades desses diferentes relacionamentos.
Em suma, toda atividade sexual pré-conjugal está fora dos limites da
ética do Novo Testamento. Mas como é que temos por tanto tempo
compreendido mal o ensino da Bíblia sobre a pureza sexual? Acreditamos que
parte da razão por que solteiros não conseguem aplicar esse padrão de pureza
aos seus relacionamentos de namoro é que eles veem essas relações como
distintas do relacionamento com o próximo. Esse equívoco é antibíblico e tem
alimentado nossa incapacidade de discernir a verdade no reino da pureza sexual.
Como iremos ver, nós não podemos criar uma categoria artificial de
relacionamento homem-mulher que não seja governada pelos padrões revelados
por Deus na Escritura.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) Quais são as três categorias ordenadas por Deus de relacionamentos homem-
mulher?

2) Quem está incluído no relacionamento com o próximo?

3) Qual é o mandamento de Deus com respeito à pureza sexual para o
relacionamento com o próximo?

4) Reveja as cinco proposições abaixo. Você concorda com cada uma delas? Por
que sim, ou por que não?

a) Os relacionamentos sexuais devem ser reservados para o
relacionamento conjugal.
b) Há mais nas relações sexuais do que o intercurso sexual.
c) Qualquer atividade que seja de natureza sexual deve ser reservada para
o relacionamento conjugal.
d) Algumas formas de beijar têm natureza sexual.
e) As formas sexuais de beijar devem ser reservadas para o
relacionamento conjugal.
O DILEMA DO NAMORO,
PARTE I

Por que temos de perguntar quão longe é longe demais?



Fronteiras pessoais são diretrizes, regras ou limites que uma pessoa cria para identificar para si
mesma quais as formas razoáveis, seguras e permissíveis de as outras pessoas se comportarem ao
redor dela.
WIKEPEDIA


Namorar ou não namorar, eis a questão. Desde Joshua ter dado adeus ao
namoro no final dos anos 90 do século passado, a questão tem exaltado a mente
de cristãos solteiros por toda a América. E como você poderia esperar, nós temos
uma opinião sobre o assunto. Este capítulo irá explorar o assunto dos
relacionamentos de namoro até onde se relacionarem com o assunto da pureza
sexual. É nossa observação que os relacionamentos de namoro contemporâneos
confundem os limites morais do relacionamento com o próximo e têm a
tendência de legitimar a atividade sexual fora do casamento. Ou, para dizer
novamente, os relacionamentos tomam os limites morais fixos do
relacionamento com o próximo e os transforma em limites pessoais.
Por favor, observe que nossas críticas a seguir são contra os
relacionamentos de namoro, não contra se encontrar com pessoas do sexo
oposto. Em outras palavras, nós estamos advertindo contra o namoro como uma
categoria de relacionamento, não contra a atividade de se encontrar com pessoas
do sexo oposto. Essa é uma distinção importante que se tornará mais clara à
medida que avançarmos.
Mais uma vez, vejamos como Sara e seu pastor conversam sobre a lógica
do relacionamento de namoro:

Pastor: Então, quando diz que você e Tom estão “namorando”, o que quer dizer com isso?
Sara: Bem, é uma forma de dizer que somos atraídos um pelo outro e queremos ter uma relação
especial, em que nossa atração mútua seja explicitada.
Pastor: Mas, e quanto ao termo namoro? Quer dizer que vocês saem para se encontrar?[14]
Sara: É mais que isso. Quero dizer, você pode sair para se encontrar com alguém, mas não
significa necessariamente que estão namorando. Sabe, apenas saindo como amigos.
Pastor: Ah, me ajude a entender isso. Digamos que um rapaz e uma moça sejam apenas amigos e
saem bastante juntos. Isso não significa necessariamente que estão namorando, certo?
Sara: Certo. Quando dois amigos saem para um encontro, não estão saindo porque são atraídos um
pelo outro. São apenas amigos indo juntos num encontro um-a-um, algo não diferente de sair com
um amigo do mesmo sexo.
Pastor: Ok, então sair para encontros não é necessariamente a mesma coisa que namorar. Só é
namoro real quando as duas pessoas são atraídas uma pela outra — não só no sentido de amizade,
mas no sentido romântico.
Sara: Isso mesmo.
Pastor: Assim, digamos que duas pessoas gostem uma da outra mais do que como amigas, e duas
outras pessoas gostem uma da outra apenas como amigas. Se cada casal sai junto toda sexta-feira à
noite e fala ao telefone três vezes por semana, quais diferenças poderíamos ver entre esses dois
relacionamentos que nos ajudariam a distinguir qual é qual?
Sara: Bem, pastor, acho que sei o que você está tentando pescar, e você está certo. O casal que está
namorando vai ter algum tipo de relacionamento físico.
Pastor: Assim, uma diferença importante entre um casal namorando e um casal de amigos é se eles
têm algum tipo de relacionamento físico?
Sara: Sim.
Pastor: E se duas pessoas que são apenas amigas saírem juntas e se beijarem às vezes? Isso seria
ruim?
Sara: Claro. Elas são apenas amigas. Isso significaria que ou elas realmente se gostam, ou têm uma
relação muito disfuncional.
Pastor: Mas por que seria disfuncional? Por que seria ruim duas pessoas que são apenas amigas e
não têm intenção de firmar uma relação de namoro formal se beijarem, se o beijo não for longe
demais? E se elas gostam de se beijar apenas por diversão?
Sara: Bem, isso certamente acontece, mas não acho que seja correto. O beijo é uma expressão
íntima de afeto, e creio que deveria ser reservado para pessoas que têm uma relação oficial. Do
contrário, acho que o tornaria menos especial — faria com que ele fosse banalizado.
Pastor: Então você está dizendo que seria errado duas pessoas que são apenas amigas se beijarem
apenas por diversão?
Sara: Sim.
Pastor: Então, digamos que você vá a um evento da igreja e encontre essa pessoa lá. Vocês não se
conhecem, mas você pode dizer que ele gosta de ti e você, dele. Após o evento, ele a leva para o
seu carro, e quando vocês ficam sozinhos no estacionamento, ele tenta beijá-la. Isso é apropriado?
Sara: Eu não iria gostar disso. Mesmo que gostasse dele, não acho que seria certo beijar qualquer
um, especialmente sem um compromisso.
Pastor: Assim, você está dizendo que seria errado você beijar alguém que realmente não conhece
tão bem, ou que acabou de conhecer?
Sara: Sim.
Pastor: Digamos, então, em vez disso, que ele lhe peça para saírem num encontro. Vocês saem
várias vezes e acabam se conhecendo muito bem; então ele lhe pede para ser sua namorada. Você
diz “sim”, e tudo se torna oficial. Então ele a beija. Isso é ruim?
Sara: Então estaria tudo bem, pois seria um relacionamento oficial. Não é como se fosse algo
apressado, ou você se envolvendo com qualquer um.
Pastor: Então vamos recapitular. Você acha que é errado beijar seus amigos apenas por diversão e
beijar pessoas que realmente não conhece bem. Entendi direito?
Sara: Sim.
Pastor: Mas você não vê problema em beijar um namorado, contanto não percam o controle ou
deixem ir longe demais — o que quer que isso signifique?
Sara: Sim.
Pastor: Então você tem um padrão conservador de pureza sexual para como se relaciona com
homens que são só amigos e com homens que não conhece tão bem, mas um padrão mais flexível
para homens com quem sai?
Sara: Hm… acho que sim.
Pastor: Nós tendemos a aplicar diferentes padrões a diferentes tipos de relacionamentos, mas deixe
eu lhe fazer uma pergunta: Você acha que Deus tem um padrão de pureza sexual para casais
namorados que é diferente daquele para os que apenas são amigos ou estranhos?
Sara: Bem, acho que nunca pensei realmente nisso.

A EVOLUÇÃO DO NAMORO: DA ATIVIDADE À CATEGORIA

O termo namoro evoluiu ao longo do tempo para significar algo diferente
do que costumava significar. No passado, namoro não denotava uma categoria
de relacionamento tanto quanto descrevia uma atividade. Ao contrário das
gerações anteriores, que entendiam namoro como referindo-se a algo que um
rapaz e uma moça faziam (isto é, saíam para um encontro), o conceito moderno
de namoro amiúde se refere a algo que eles são (ou seja, namorado e namorada).
[15] Em outras palavras, o termo é usado para distinguir os relacionamentos
românticos dos relacionamentos não românticos.
Essa mudança de significado é importante. À medida que nossa
subcultura cristã tem visto o namoro como uma categoria distinta de
relacionamento separada dos relacionamentos não românticos, nós
inadvertidamente lhe demos a legitimidade que intuitivamente damos aos três
relacionamentos homem-mulher ordenados por Deus, considerados no último
capítulo. Nós criamos, à parte da Escritura, um quarto tipo de relacionamento
homem-mulher. E é aí que reside o potencial para uma grande confusão, porque
quando inventamos nossas próprias categorias de relacionamentos homem-
mulher, somos forçados a inventar nossas próprias diretrizes de pureza para essa
categoria. Mas inventar nossas próprias diretrizes morais nunca deu certo na
humanidade (lembre o que aconteceu quando Adão e Eva tentaram isso, em
Gênesis 3, por exemplo).
Na figura 3.1, note quão bem um relacionamento de namoro se encaixa,
ou não, nas três categorias de relacionamento ordenadas por Deus.


Figura 3.1: Como o namoro se encaixa nas categorias de relacionamento ordenadas por Deus
FAMÍLIA PRÓXIMO NAMORO CASAMENTO
RELACIONAMENTOS RELACIONAMENTOS RELACIONAMENTOS RELACIONAMENTOS
SEXUAIS SEXUAIS SEXUAIS SEXUAIS
PROIBIDOS PROIBIDOS ? ORDENADOS


INVENTANDO NOSSOS PRÓPRIOS ABSOLUTOS

As diretrizes para a expressão sexual dentro das categorias ordenadas por
Deus são claras. Mas nós inventamos nossa própria categoria de relacionamentos
homem-mulher e então questionamos a falta de direção divina sobre como
deveríamos nos portar dentro dessa categoria. Sentindo-nos desamparados em
nossos próprios artifícios, tentamos então criar padrões de pureza para esse
relacionamento criado pelo homem. Um relacionamento de namoro é mais que
apenas um relacionamento com o próximo, nós racionalizamos; assim,
certamente, algum nível de expressão sexual é permitido. Contudo, um
relacionamento de namoro não está no mesmo nível de um relacionamento
conjugal; então, obviamente, o intercurso sexual está de fora. Concluímos,
portanto, que os padrões de pureza para um relacionamento de namoro devem
estar em algum lugar entre apenas amigos e apenas casados. Mas há uma grande
margem entre nenhuma expressão sexual e o intercurso sexual! (E, como vimos
no último capítulo, atividade sexual inclui tudo o que precede o intercurso
sexual.) Nós inventamos nossa própria categoria de relacionamento e então
fizemos nossas próprias regras.
É isto que queremos dizer: a Bíblia silencia sobre os limites sexuais
dentro do relacionamento de namoro precisamente porque Deus não vê o
relacionamento de namoro como algo distinto do relacionamento com o
próximo. Além disso, o silêncio da Bíblia sobre os relacionamentos de namoro
não se deve à Bíblia ser silente sobre o namoro porque ele não existia quando a
Bíblia foi escrita, como se poderia argumentar sobre carros ou computadores. Ao
contrário, o decoro sexual é uma questão a que a Bíblia dá grande atenção.
Embora Deus não tenha explicitamente prescrito os meios pelos quais devemos
nos mover do relacionamento com o próximo para o relacionamento conjugal
(isto é, cortejo, namoro, casamentos arranjados), ele claramente prescreveu
como espera que todos os homens e mulheres ajam fora do relacionamento
conjugal. Longe esteja de nós inventar nossas próprias diretrizes de decoro
sexual com base em nossa forma relativamente moderna de conduzir as relações
pré-conjugais.
VINCULADO AO RELACIONAMENTO COM O PRÓXIMO

Toda pessoa não casada está vinculada aos padrões de pureza que Deus
definiu no relacionamento com o próximo. Esse é um ponto vital, e se você está
disposto a reconhecê-lo, mudará toda a sua forma de abordar o sexo oposto. Não
estamos sancionados a inventar uma nova categoria de relacionamentos homem-
mulher, para então nos afastarmos das diretrizes de Deus no processo.
Independentemente de como chamemos a pessoa por quem temos um sentimento
(“namorado” ou “namorada”), ainda estamos vinculados às diretrizes de pureza
do relacionamento com o próximo. De acordo com a Palavra de Deus, não
devemos fazer nada com alguém do sexo oposto que não faríamos com um
parente de sangue. Isso esclarece dramaticamente as coisas e dá uma resposta
objetiva à pergunta “Quão longe é longe demais?”.
O próprio fato de fazermos a pergunta é um indicativo de que vemos o
relacionamento de namoro como distinto do relacionamento com o próximo.
Nós não a fazemos a respeito dos nossos irmãos ou primos. Nem a fazem,
tipicamente, a maioria dos cristãos solteiros acerca de membros do sexo oposto
em geral. Quando se trata de relacionamentos como esses, nós intuitivamente
sabemos a resposta para “Quão longe é longe demais?”. Mas quando levantamos
a questão dentro do contexto de um relacionamento de namoro, mostramos
assumir que um relacionamento de namoro é diferente desses outros
relacionamentos. O padrão de pureza de Deus para um casal de namorados é o
mesmo que o padrão de Deus para o relacionamento com o próximo.

O ENGANO DO NAMORO

Cristãos solteiros não precisam saber como se portar num relacionamento
de namoro, nem precisam apenas se abster dele até que estejam mais velhos,
como se a idade trouxesse mais sabedoria sobre como agir num relacionamento
pré-conjugal semi-sexual. Os cristãos solteiros precisam entender que o
relacionamento de namoro é, na verdade, meramente um subconjunto do
relacionamento com o próximo.
Devemos ter o cuidado de não vir a acreditar, com o mundo, que o
relacionamento de namoro é um relacionamento homem-mulher distinto, livre
das diretrizes de pureza sexual estabelecidas por Deus no relacionamento com o
próximo. Não obstante, muitos de nós têm sido arrastados por essa concepção
equivocada, crendo que Deus não forneceu padrões objetivos de pureza sexual
para duas pessoas romanticamente interessadas uma na outra. Deus tem falado
claramente através de sua Palavra. Vale a pena repetir que as diretrizes de decoro
sexual para duas pessoas romanticamente interessadas uma na outra são iguais
àquelas para duas pessoas não romanticamente interessadas uma na outra: essas
pessoas devem tratar uma a outra como se fosse parentes de sangue. Adicionar o
rótulo namoro a um relacionamento não o absolve dessas diretrizes.

CONCLUSÃO: A IMAGEM DE DEUS DESFEITA

Em última análise, Deus ordenou os limites do relacionamento com o
próximo por amor a Cristo e à igreja. Quando cristãos solteiros começam a se
expressar sexualmente (mesmo de forma reduzida) à parte do relacionamento
conjugal, eles usam sua sexualidade fora do contexto para o qual ele foi criado.
Deus ordenou que nossa sexualidade fosse uma imagem do relacionamento entre
Cristo e sua igreja. Quebrar os limites estabelecidos no relacionamento com o
próximo faz essa imagem ficar embaçada e confusa.
As pessoas são sexuais, sem dúvida. E o sexo é uma coisa
maravilhosamente poderosa — uma das dádivas mais poderosas, maravilhosas,
que Deus concedeu à humanidade. Mas o sexo não pertence a nós somente. Até
que apreciemos a autoridade de Deus sobre o sexo, e seu propósito para este,
deixaremos de ver sentido no sexo e lutaremos para administrá-lo. Não podemos
deixar que as formas modernas de cortejo deixem nebuloso o ideal de Deus para
o sexo. Deus nos oferece muito mais. Podemos lhe dar uma sugestão? Poderia
repousar este livro ao seu lado e tirar um momento para orar sobre o que temos
discutido até aqui? Poderia pedir a Deus para lhe dar um novo olhar enquanto
vai refletindo sobre esse aspecto vital da humanidade em você? Poderia pedir a
Deus para lhe dar não só conhecimento, mas também a graça de obedecer à
imagem de Cristo e a igreja que sua sexualidade pode expressar?

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) Você acha que a discussão de abertura entre Sara e seu pastor consegue captar
de forma precisa nossa visão cristã contemporânea de namoro? Por que sim, ou
por que não?
2) Será que a maioria das pessoas, na sua opinião, considera os limites sexuais
que governam um relacionamento de namoro diferentes daqueles limites sexuais
que governam as amizades homem-mulher não românticas? O que você acha
disso?
3) Se você está atualmente num relacionamento de namoro, de que forma
precisaria ajustar a maneira como está se expressando sexualmente? E se está
pensando em iniciar um relacionamento de namoro, como precisaria ajustar suas
expectativas sobre o decoro sexual?


O DILEMA DO NAMORO,
PARTE II

Paredes de papel e escalada sem ajuda



É permanente até agora.
AVA L I A Ç Ã O D E U M C A S A L D E H O L L Y W O O D
SOBRE SEU NOVO RELACIONAMENTO


Afinal, o que exatamente é um relacionamento de namoro? Quando
jovens, pensávamos no conceito de namoro, mas não éramos capazes de defini-
lo em termos objetivos. Mas o casamento, a sabedoria da idade e muito tempo
seguindo na direção errada num beco sem saída tem uma maneira de dar clareza
nessas coisas. Na verdade, um relacionamento de namoro é nada mais que uma
miragem, um relacionamento de fumaça e imagens que promete ser algo mais do
que é realmente. O capítulo anterior lidou com o assunto do namoro do ponto de
vista da pureza sexual. Neste capítulo, queremos olhar para a noção de
compromisso dentro dos relacionamentos de namoro. Como iremos ver, usar um
termo tal como compromisso no contexto de um relacionamento de namoro
expande o uso normal da palavra para além do ponto de ruptura. A precipitação
além disso é significativa. À medida que começamos, vejamos novamente como
Sara fala com seu pastor. Mais uma vez, vejamos como Sara e seu pastor
conversam sobre a lógica do relacionamento de namoro:

Pastor: Gostaria de passar mais um tempo falando sobre relacionamentos de namoro, se não tiver
problema.
Sara: Claro, vá em frente.
Pastor: Certo, eis minha pergunta: O que há num relacionamento de namoro oficial que o distingue
de duas pessoas que se gostam romanticamente e saem para encontros?
Sara: Bem, no relacionamento oficial o rapaz e a moça estão comprometidos um ao outro.
Pastor: O que você quer dizer com “comprometidos”?
Sara: Significa que eles têm um entendimento mútuo de que estão namorando exclusivamente um
ao outro. É diferente de um encontro casual.
Pastor: O que você quer dizer com “encontro casual”?
Sara: Encontro casual é quando duas pessoas apenas saem para encontros, sem ter tornado seu
relacionamento exclusivo. Elas ainda podem sair com outra pessoa.
Pastor: Então no encontro casual você pode sair com quem quiser a qualquer momento?
Sara: Isso.
Pastor: Mas num relacionamento de namoro oficial isso não é possível, porque as duas pessoas
estão formalmente comprometidas uma com a outra?
Sara: Sim. Elas concordaram que a partir de então só podem ter encontros uma com a outra. É
como uma forma de monogamia pré-conjugal.
Pastor: Hmm. Então, qual é o prazo de validade dessa monogamia pré-conjugal? Quanto tempo irá
durar?
Sara: Obviamente, não é para sempre. Ou o relacionamento terminará em casamento, ou o casal
perceberá que a relação não funciona para um, ou para o outro, e chegará ao fim.
Pastor: “Não funciona”? Você quer dizer quando alguém não gosta mais do outro?
Sara: Bem, sim, mas pode ser um pouco mais complexo do que isso. Eles ainda podem se gostar,
mas descobrir que têm valores diferentes. Ou talvez algum atrito tenha surgido dentro do
relacionamento. Ou talvez conheceram outra pessoa que as faz sentir muito melhor, e percebem
então que a relação atual não é realmente tão sólida e significativa quanto pensavam. E às vezes,
depois de um tempo, as coisas simplesmente envelhecem. Há uma série de razões para romper com
uma pessoa.
Pastor: Então, num relacionamento de namoro comprometido, qualquer das partes pode terminar o
relacionamento por qualquer motivo a qualquer hora e sair com alguém outro?
Sara: Sim.
Pastor: E encontro casual é quando qualquer das partes é livre para sair com quem quiser a
qualquer momento?
Sara: Isso.
Pastor: Então, mais uma vez, qual é a diferença?

COMPROMETIDO A QUÊ? COMPROMETIDO ATÉ QUANDO?

De muitas maneiras, duas pessoas que namoram parecem ter um
relacionamento estabelecido e real. Elas têm um título para o seu conhecido
importante (namorado ou namorada). Espera-se que se lembrem de aniversários,
feriados e datas de nascimento.
Elas colocam uma sobre a outra certas obrigações e restrições a respeito
de com quem podem, ou não, passar tempo. Na superfície, isso realmente dá
uma impressão de compromisso. Mas será que o compromisso do
relacionamento de namoro realmente é um compromisso com alguma essência?
Cremos que não.
Muito provavelmente, vários casais que namoram não têm realmente
pensado no que querem dizer ao usar palavras como compromisso no contexto
do seu relacionamento. Se pressionados, porém, eles geralmente atribuem a ideia
de compromisso ao fato de terem concordado em sair apenas um com o outro.
Em outras palavras, um homem que está namorando uma mulher não pode sair
com outra ao mesmo tempo. Ele está ligado à sua namorada e concordou em
expressar seus interesses românticos somente nela. Assim, essa é a natureza
exclusiva do relacionamento que o separa do encontro casual e de outros
relacionamentos homem-mulher. Mas como observado acima, o assim chamado
compromisso de namoro pode acabar a qualquer momento por qualquer razão
que seja.
A verdadeira natureza do compromisso num relacionamento de namoro
pode ser vista claramente quando este é contrastado com o compromisso de um
relacionamento conjugal. Ao contrário do relacionamento de namoro, o
compromisso e a exclusividade do casamento são involuntários. Como um
legítimo relacionamento homem-mulher ordenado por Deus, a relação conjugal
acarreta certas obrigações e responsabilidades que são irrevogáveis. Quando um
homem se casa com sua noiva, ele abre mão do seu direito de escolher qualquer
outra mulher. Antes do seu casamento, no entanto, ele não tinha nenhuma
obrigação moral de se casar com ela. Uma vez casado, é imposta uma obrigação
moral sobre o homem pelos mandamentos de relacionamento conjugal dados por
Deus. Moralmente, ele tem de amar fielmente a sua esposa. Para o bem ou para o
mal, a sorte está lançada. É um compromisso irrevogável.
Para o nosso mal, tendemos a dar à exclusividade de um relacionamento
de namoro um peso parecido. Mas embora um relacionamento de namoro possa
parecer implicar a exclusividade involuntária do casamento, sua exclusividade
de fato não é nem um pouco diferente da exclusividade de um relacionamento de
encontro casual. Ao contrário do relacionamento conjugal, não há nada no
acordo contratual de um relacionamento de namoro que impeça um homem de
romper com sua namorada na quinta-feira e ver uma mulher diferente na sexta.
Apesar de uma aparente exclusividade do relacionamento de namoro, ambas as
partes são livres para sair com quem quiserem, sempre que quiserem. Assim, a
aparente exclusividade involuntária do relacionamento de namoro é apenas na
verdade uma exclusividade voluntária disfarçada. Como uma casa feita de papel,
um relacionamento de namoro tem a aparência de segurança e estabilidade, mas
carece de qualquer verdadeiro meio de alcançá-la.
No fim, o compromisso de um relacionamento de namoro é
simplesmente o compromisso de informar a outra pessoa da própria intenção de
terminar o compromisso antes de realmente fazê-lo. Não tanto um compromisso.
À parte do casamento (ou noivado), não pode haver nenhuma promessa real,
nenhuma segurança de proteção mútua e nenhuma garantia real de permanente
confiança; nenhuma das partes num relacionamento de namoro prometeu
qualquer coisa permanente. Uma avaliação de um casal de Hollywood sobre seu
mais novo relacionamento captura bem a ideia; ao ser inquiridos sobre seu novo
relacionamento, eles responderam: “É permanente até agora”. Inspirador, não?


ESCALADA LIVRE E O PERIGO DA FALSA SEGURANÇA

Nossa intenção em apontar o uso indevido da palavra compromisso nos
relacionamentos de namoro não é simplesmente alcançar uma precisão
linguística, mas destacar o perigo inerente que muitas vezes acompanha tal uso
indevido. Muitos solteiros dependem indevidamente de relacionamentos de
namoro como se estes implicassem alguma medida de segurança real, e se
tornam assim suscetíveis a todo tipo de desgostos quando a natureza temporária
do relacionamento se torna evidente.
Quando eu (Gerald) pela primeira vez aprendi a escalar, meu instrutor
cuidadosamente explicou todos os procedimentos de segurança, enfatizando a
suprema importância da corda, que funcionaria como minha segurança se eu
caísse. Essa corda fora cuidadosamente amarrada ao meu arnês ou cinta, e então
cuidadosamente amarrada ao meu instrutor. Saber que a corda estava presente
me dava confiança para escalar de maneiras que de outra forma não o faria. De
fato, muitas vezes eu teria caído e me ferido gravemente se a corda não tivesse
me sustentado. Mas embora eu estivesse muito ciente da corda, e sua presença
me desse segurança, não era a corda sozinha na verdade que me salvara dos
ferimentos. Minha verdadeira segurança vinha do fato de a corda estar amarrada
de forma segura a um instrutor que se comprometera a permanecer em seu posto
até que eu chegasse ao chão com segurança. A corda, em si, pouco teria ajudado
sem o compromisso da pessoa que a segurava.
Quão tolo seria um montanhista ter uma sensação de segurança a partir
de uma corda que não estivesse presa de forma segura. Um amigo meu certa vez
terminou uma escalada difícil apenas para descobrir que sua corda estava presa
de forma indevida. Ao ter completado sua última manobra, ele viu horrorizado
que os pinos de ancoragem haviam caído para as rochas abaixo. Apesar de a
corda proporcionar um senso de segurança ao longo de toda a sua escalada, esse
senso de segurança não estava baseado na realidade. Tivesse ele caído durante a
sua escalada, ficaria gravemente ferido ou até mesmo morreria.
Da mesma forma, o assim chamado compromisso do relacionamento de
namoro dá muitas vezes uma ilusão de segurança. Mas esse compromisso é
essencialmente inexistente. A escalada sem ajuda é uma atividade perigosa. E a
escalada sem ajuda, quando você equivocadamente pensa que sua corda de
segurança está presa de forma segura, é ainda mais perigosa. Isso, acreditamos, é
essencialmente o que muitos relacionamentos de namoro são: uma escalada sem
ajuda que se disfarça de escalada com ajuda. Por consequência, os solteiros
muitas vezes não estão totalmente cientes do perigo que enfrentam.


A VULNERABILIDADE EM PARTICULAR DAS MULHERES NOS
RELACIONAMENTOS DE NAMORO

As mulheres em particular são vulneráveis à dor-de-cabeça que resulta de
confiar em uma noção truncada de compromisso. Isso é especialmente verdade
quando se trata de limites sexuais. A maioria das mulheres cristãs não entrará em
um relacionamento físico com um homem a menos que ele se comprometa a ser
seu namorado (embora mesmo esse padrão esteja cada vez mais caindo em
esquecimento). Por causa da percepção de segurança proporcionada por um
relacionamento de namoro, a mulher é inclinada a se dar sexualmente (mesmo
quando isso pare logo antes do intercurso) de maneiras que de outra forma não
faria com outros homens por quem pudesse se sentir atraída. Mas quando
entendemos a verdadeira natureza do compromisso dentro de um relacionamento
de namoro, vemos que essa doação de si mesma é equivocada e baseada num
falso senso de segurança. No fim das contas, seu namorado não estará mais
comprometido a ela do que qualquer outro homem que goste dela.
De muitas formas, um relacionamento de namoro tem tudo a favor do
homem e nada a favor da mulher. A mulher dá a parte mais valiosa de si mesma
apenas para receber uma ilusão de segurança. Sem dúvida muitas das nossas
leitoras femininas podem testemunhar da dor e do sofrimento por se terem
entregado a um homem que não fez nenhuma promessa real. Como observou um
conselheiro sobre uma mulher perturbada que ele estava ajudando: “Ela lida com
a dor de um divórcio sem nunca ter estado casada”. Muito triste. Como pastores,
temos ouvido essa música ser tocada sempre de novo.
Um amigo nosso nos contou dos seus sentimentos pouco antes de
terminar um relacionamento de namoro com sua namorada. “Eu temia fazê-lo”,
disse ele. “Sentia como se estivesse traindo a confiança dela em mim.” E, de
fato, é como sua namorada se sentia quando ele finalmente rompeu com ela. Que
ambos reconhecessem a legitimidade de romper, mesmo ficando com uma
sensação de traição (como se uma relação de confiança estivesse sendo
rompida), mostra que estamos confusos sobre a natureza do compromisso dentro
dos relacionamentos de namoro. Nós parecemos estar inconscientemente falando
dos dois lados da nossa boca, usando palavras como compromisso e confiança,
ao mesmo tempo reconhecendo a liberdade de romper esse compromisso e essa
confiança a qualquer momento, por qualquer motivo.
Na superfície, a maioria das mulheres percebe intelectualmente que o
compromisso de um relacionamento de namoro é apenas temporário. Mas
começam a responder emocionalmente como se o relacionamento realmente
implicasse alguma medida de permanência; como se o compromisso de um
relacionamento de namoro estivesse em algum lugar entre o não compromisso
da pura amizade e o compromisso total do casamento. Mas ou um homem está
comprometido a uma mulher, ou não está. Estar temporariamente comprometido
não é essencialmente diferente de não estar comprometido.
Em anos passados, um homem cortejaria uma mulher para ser sua
esposa. Mas em nossos dias, um homem corteja uma mulher para ser sua
namorada. Quão convincente isso pode ser? As mulheres são deixadas na ponta
curta da vara, confiando seu coração a homens que ainda não declararam suas
intenções, e na maioria dos casos sequer sabem no que elas consistem. Em nosso
ensino público sobre esse assunto, frequentemente dizemos às mulheres: “Não
entregue seu coração até saber o que ele planeja fazer com ele (o coração)”. E
aos homens dizemos: “Parem de ser irresponsáveis. Não tentem ganhar o
coração de uma mulher a menos que planejem guardá-lo”. Assim, mulheres, por
favor escutem: um homem não tem nada de permanente para lhes oferecer além
de uma proposta de casamento. Não se contentem com coisas de segunda
categoria!


CONFUNDINDO ATRAÇÃO COM COMPROMISSO

Em última análise, cremos que muitos solteiros confundem atração com
compromisso. Que duas pessoas sejam atraídas uma pela outra hoje não significa
essencialmente nada sobre como vão se sentir amanhã. Elas não se prometeram
nada sobre o futuro. Quando as duas partes entenderem claramente essa verdade,
serão capazes de escolher com sabedoria quanto investimento emocional devem
fazer no relacionamento. Mas quando começamos a colocar rótulos num
relacionamento, tais como “namorado” e “namorada”, e a usar palavras como
compromisso, corremos o risco de criar uma sensação de que o relacionamento
está construído em cima de algo real e sólido. Mas tudo que de fato existe é uma
atração mútua atual. Uma declaração de atração não é uma base de segurança.
Conhecemos certa vez um rapaz que insistiu com sua namorada para que eles
deixassem de lado os rótulos “namorado” e “namorada” e reiniciassem seu
relacionamento dentro dos limites do relacionamento com o próximo. Sua
namorada, no entanto, não gostou da ideia de ser classificada como qualquer
outra garota. Ela resistiu bastante à ideia e afirmou que isso a faria se sentir
insegura sobre a afeição dele por ela. Mas esse era precisamente o ponto! Ela
não tinha nenhum motivo para se sentir segura nas afeições dele até ele ter feito
a proposta. Ele não fizera nenhuma promessa. Quaisquer sentimentos de
segurança que ela tinha no relacionamento haviam sido construídos sobre uma
base de atração de areia em vez de na base duradoura do compromisso. Ela
pensava que sua corda estava seguramente amarrada a uma âncora. Não estava, e
esse jovem estava simplesmente tentando ser claro sobre isso.

CONCLUSÃO: NÃO SIGNIFICA NADA SEM A ALIANÇA!

Em última análise, não há verdadeira segurança à parte da promessa de
casamento. Muitos solteiros hoje estão entregando seu coração sem perceber a
natureza transitória dos relacionamentos de namoro contemporâneos. Palavras
como segurança, compromisso e promessa não têm verdadeiro lugar nos
relacionamentos românticos fora do casamento. Nenhuma das partes prometeu
ser exclusiva para sempre, mas apenas até quando isso for conveniente para os
desejos pessoais dele ou dela. A natureza insegura dos relacionamentos de
namoro não deve ser escondida, pois pode levar a uma confiança inadequada e a
sofrimentos desnecessários.
É por isso que nós desencorajamos fortemente os solteiros de
indiscriminadamente formar relações de namoro sem primeiro pensar com
clareza sobre todas as questões envolvidas. Os relacionamentos de namoro não
proporcionam bases legítimas para a expressão sexual prematura, nem implicam
qualquer medida de segurança real. No fim das contas, a verdadeira questão não
é se você tem um namorado ou uma namorada. A verdadeira questão é se você
entende que, a despeito do rótulo que possa colocar em outra pessoa, nenhum
compromisso ou segurança real lhe dá a liberdade de agir fora das diretrizes do
relacionamento com o próximo.
Porque acreditamos que o nosso sistema atual de namoro facilmente cria
uma ilusão de segurança, vamos sugerir no capítulo 7 um método alternativo
para encontrar um cônjuge. Mas antes de fazer isso, é necessário ter uma
compreensão sólida do que Deus espera sobre a pureza romântica entre um
homem e uma mulher solteiros. Como veremos nos próximos capítulos, Deus
não só coloca restrições na expressão sexual de homens e mulheres solteiros,
como também na expressão romântica. Tentar manter esses limites adequados
num relacionamento de namoro é, acreditamos, quase impossível. Tudo que
envolve esse tipo de relacionamento tem como foco atiçar a chama precisamente
naquilo que Deus espera que reservemos para o casamento.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) É justo dizer que um namorado e uma namorada estão comprometidos um
com o outro?

2) Qual a diferença entre o compromisso num casamento e o compromisso num
relacionamento de namoro?

3) Duas perguntas complementares que podem ajudar a esclarecer o tipo de
compromisso existente nos relacionamentos pré-noivado são:

a) Pode um homem romper de forma legítima com sua namorada e sair
com outra mulher?

b) Pode uma homem casado romper de forma legítima com sua esposa e
sair com outra mulher?

4) Por que pode ser emocionalmente prejudicial usar termos como compromisso
quando se trata de um relacionamento de namoro?

5) É seguro uma mulher se entregar sexualmente a um homem só porque ele se
comprometeu a ser seu namorado?
O CERNE DA QUESTÃO

Entendendo a perspectiva bíblica sobre o desejo sexual


E, de fato, isso já é pecado, o desejar aquelas coisas que a lei de Deus proíbe.
AGOSTINHO, A CIDADE DE DEUS



Espero que já esteja ficando claro que nós devemos formular um novo
método de buscar um cônjuge. Mas antes de tentarmos fazer tal formulação, uma
palavra importante ainda precisa ser dita sobre o momento e o contexto mais
apropriados para a liberação do desejo sexual. Pouquíssimos cristãos realmente
entendem o ensino da Escritura sobre esse importante tópico. Como vamos ver
neste capítulo, precisamos voltar ao cerne da questão.
A Escritura diz que o desejo sexual é controlável e não deve ser liberado
indiscriminadamente com qualquer pessoa. Essa verdade está em direto contraste
com a nossa cultura. Como veremos, Deus pede que controlemos não apenas
nossa atividade sexual, mas também nosso desejo sexual, fazendo com que estes
aflorem somente no contexto do casamento. Essa orientação também resulta
diretamente do fato de que Deus criou o relacionamento sexual entre homem e
mulher como um tipo do relacionamento de Cristo com a igreja.


ENTENDENDO A NATUREZA DA LUXÚRIA: UMA CHAVE PARA A
PUREZA EMOCIONAL

Será que o desejo sexual se origina do nosso corpo ou coração? Pode ele
ser controlado — e caso sim, de que forma? O desejo sexual é diferente da
luxúria? Se o desejo sexual é bom porque é de Deus, quando é que ele se torna
luxúria?
Quando entendemos de forma correta as características da luxúria bem
como a maneira de controlá-la, passamos a ter um fundamento adequado sobre o
qual desenvolver uma vida de pureza sexual. Em última análise, precisamos
entender que, antes de ser mental ou físico, o desejo sexual é emocional, e que os
pecados do coração podem ser tão destrutivos para a imagem de Deus quanto os
pecados da carne.


Mateus 5.28: “No seu coração”

Para começarmos a explorar essa questão, analisemos primeiro Mateus
5.27-28. Essa passagem fornecerá a base para tudo o que vamos dizer neste
capítulo sobre luxúria e desejo sexual.

Vocês ouviram o que foi dito: “Não adulterarás”. Mas eu lhes digo: qualquer que
olhar para uma mulher para desejá-la,[16] já cometeu adultério com ela no seu
coração. (NVI)

A palavra grega traduzida nessa passagem como “desejá-la” é epithumeō,
sendo amiúde traduzida em nossas Bíblias como “desejar”, no sentido positivo,
ou “luxuriar” ou “cobiçar”, no sentido negativo. A mesma palavra grega pode
transmitir ambos os significados. Considere estes exemplos de como os autores
bíblicos usaram a mesma palavra num contexto positivo:

Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram[17]
[epithumeō] ver o que vedes, e não viram; e ouvir o que ouvis, e não ouviram. (Mt
13.17)

E lhes disse: Tenho desejado [epithumeō] muito comer esta Páscoa convosco,
antes do meu sofrimento. (Lc 22.15)


A neutralidade do desejo

Nessas duas passagens epithumeō é traduzido num sentido positivo,
inclusive em referência a Cristo e aos profetas. Assim, a mesma palavra bíblica é
usada para descrever o anseio santo que Cristo e os profetas tinham pelas coisas
de Deus e o anseio pecaminoso que um homem pode ter por uma mulher que
não é sua esposa. Qual é o ponto? Simplesmente este: pela perspectiva bíblica o
desejo em si é amoral. Ele não é nem certo, nem errado. É como disparar uma
arma — tudo depende contra o que você está disparando. Leia novamente a
nossa primeira passagem. Ela poderia ser facilmente traduzida como “Eu lhes
digo que qualquer que olhar para uma mulher com desejo por ela já cometeu
adultério com ela no seu coração”. Assim, quando Cristo nos instrui a não
olharmos para outra mulher “luxuriosamente”, está simplesmente dizendo para
não “desejarmos sexualmente” outra mulher.[18] Ele está essencialmente
afirmando a lei veterotestamentária “Não cobiçarás[19] [epithumeō] a mulher do
teu próximo” (Dt 5.21).
O desejo sexual legítimo e o ilegítimo podem ser sentidos da mesma
forma. A intensa excitação sexual que um homem sente por sua esposa pode ser
pouco diferente da excitação sexual que um homem sente por sua amante.
Embora haja pouca diferença nos sentimentos sexuais em si, no primeiro caso os
desejos dele são puros, e no segundo, pecaminosos. Não é errado desejar um
relacionamento sexual com a esposa ou desejar um relacionamento sexual de
modo geral. Ambos os desejos têm objetos legítimos como sua meta. Mas
quando direcionamos nosso desejo sexual para alguém que não é nosso cônjuge,
movemo-nos para o pecado, pois agora desejamos algo que não nos é devido
possuir.
Suponha que seu vizinho (“próximo”) chegue em casa com um tapete da
China único, feito a mão, e o convide para vê-lo. Esse tapete poderia atiçar em
você tanto um desejo legítimo como um ilegítimo. Se ao olhar esse tapete você
se enche de um desejo invejoso por ele (afinal, seu vizinho não o merece tanto
quanto você), seu desejo é pecaminoso, pois o tapete é para ser possuído pelo
vizinho, não por você. Mas se ao ver o tapete você está feliz pelo vizinho e é
movido por um desejo de sair e comprar seu próprio tapete único, seu desejo é
puro. É isso o que a lei queria dizer quando os israelitas foram instruídos a não
cobiçar (epithumeō, ou “desejar”) a esposa, os servos, burros ou bois do
próximo. Não era errado eles desejarem seus próprios burros ou servos. Mas
quando invejosamente desejavam possuir o que alguém outro adequadamente já
reivindicara ser seu, eles pecavam.


O objeto apropriado de desejo

Veja novamente Mateus 5.27-28. Um princípio importante pode ser
colhido das palavras de Cristo. Embora tenhamos muitas vezes a tendência de
definir pecado como um ato do corpo, Cristo revela que o próprio desejo de
cometer um pecado é em si pecado. Não basta que nossas ações se alinhem com
a Palavra de Deus. Nosso coração também deve fazê-lo. Só porque não batemos
realmente em nosso irmão quando desejamos muito fazê-lo, não significa que
estamos livres do pecado. O homem que se refreia do assassinato, mas de
coração odeia seu irmão, é culpado de assassinato (Mt 5.21-22). Da mesma
forma, o homem que deseja cometer adultério, mas se refreia, ainda é culpado de
adultério em seu coração. Claro, é melhor se refrear de um desejo pecaminoso
do que se entregar a ele; mas ainda melhor é não desejar pecar. Esta, então, é a
soma total do sermão de Cristo e a forma como ele define a verdadeira justiça:
nós devemos não somente escolher o que é certo, mas também desejar o que é
certo.
Significativamente, devemos entender que Cristo não direcionou seus
comentários sobre luxúria apenas aos homens e mulheres casados. O homem que
olha com luxúria para uma mulher que não é sua esposa deseja algo que não é do
seu direito possuir. Como ela não é sua esposa, não tem o direito de usá-la como
um meio de despertar suas paixões sexuais. Assim como é errado um homem se
envolver em atividade sexual com uma mulher que não é sua esposa, é errado
desejar se envolver em atividade sexual com essa mulher.
A proibição contra a luxúria não é para o bem do cônjuge, mas da própria
pureza sexual, em que remete à imagem de Deus, especificamente a Cristo e à
igreja. Quando direcionamos nosso desejo sexual para alguém outro que não
nosso cônjuge (quer estejamos casados, quer não), usamos nossa sexualidade de
uma forma que é inconsistente com a devoção e o compromisso sinceros de
Cristo para com sua igreja. A única situação em que nos é permitido despertar
nosso desejo sexual por outra pessoa é quando essa pessoa é nosso marido ou
esposa.


Luxúria no coração, não na mente

No entendimento da visão bíblica sobre a luxúria, devemos também estar
cientes da sua localização. Demasiadas vezes confundimos onde exatamente
ocorre a luxúria. Veja novamente as palavras de Cristo em Mateus 5.28 e note a
localização da luxúria: “[…] qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la,
já cometeu adultério com ela no seu coração” (NVI).
A luxúria não ocorre na mente, mas no coração. Isso faz sentido, claro,
quando entendemos que luxúria é apenas outra palavra para desejo. Muitas
pessoas têm a falsa ideia de que a luxúria envolve algum tipo de fantasia sexual
ou exercício da mente. Mas segundo Cristo, a luxúria tem lugar no coração, não
na mente, e uma pessoa pode cometer luxúria sem colocar a fantasia sexual em
prática.
O ímpeto indiscriminado de excitação e desejo sexual que sentimos por
um indivíduo do sexo oposto é precisamente aquilo a que Cristo está se
referindo. Essa verdade é muito convincente. Até mesmo os não regenerados
podem controlar seus pensamentos. Isso não requer o poder do Espírito Santo
mais que se abster do adultério. Mas só um cristão pode ter um coração
governado por Deus que só deseja o que deve desejar. Sejamos muito claros
sobre o que Cristo está dizendo. Só porque uma pessoa não se deixa afundar em
fantasias sexuais com o sexo oposto não significa, de forma alguma, que ela está
livre do pecado da luxúria. Cometer luxúria é simplesmente desejar sexualmente
alguém que não deve ser desejado. Sempre que alguém que não é nosso cônjuge
desperta em nós um desejo sexual, caímos no pecado da luxúria.


O DESEJO SEXUAL PODE SER CONTROLADO?

Muitos comentaristas tentam suavizar a força de Mateus 5.27-28
alegando que é nossa intenção de olhar (isto é, olhar para uma mulher com a
intenção de despertar o desejo sexual), e não nosso desejo em si, que Cristo está
condenando. Logo, afirmam eles, Cristo não está neste contexto condenando o
desejo sexual inadvertido, que desperta espontaneamente ao vermos alguém
atraente do sexo oposto.
Essa interpretação, no nosso entender, não é exigida pelo texto grego
subjacente nem está em consonância com o espírito da passagem.[20] Esses
comentaristas parecem implicar que se não estamos olhando outra pessoa com a
intenção de luxúria, isso não conta como luxúria, mesmo se acabarmos
cometendo luxúria. Mas todo o ponto de Cristo no Sermão da Montanha (do qual
este mandamento faz parte) era que o nosso desejo de cometer pecado (no caso,
desejar um relacionamento sexual com alguém que não é nosso cônjuge), e não
apenas o desejo colocado em prática, constitui pecado.
Raiva, ódio e condenação — assim como o desejo sexual — também
parecem brotar espontaneamente, em particular quando somos subitamente
confrontados com circunstâncias difíceis. Contudo, em nenhum lugar no Sermão
da Montanha Cristo exime essas reações emocionais só porque não são
premeditadas ou requeridas. Antes, ele as condena (Mt 5.22). As respostas
emocionais espontâneas não são moralmente neutras; elas revelam a condição do
nosso coração. Quando espontaneamente respondemos com raiva ao motorista
rude, em condenação a um crente que caiu ou com luxúria por uma mulher
atraente, revelamos que a agenda do nosso coração não está alinhada com Deus,
tal como deveria.
Não nos enganemos. Se espontaneamente desejamos alguém do sexo
oposto, entramos no domínio da luxúria, ainda que não continuemos a nutrir esse
desejo ou seguir com ele. Nós estamos, nesse momento, desejando o que é
ilegítimo. É melhor superar a luxúria do que se entregar a ela, mas ainda melhor
é não cometer luxúria de forma alguma.
As interpretações mais liberais de Mateus 5.27-28 estão em sintonia com
uma era que cada vez mais vê o desejo sexual como um apetite do corpo, tão
incontrolável quanto a fome e a sede. Mesmo nós, cristãos, temos cometido esse
equívoco. Não devemos definir excitação sexual como um ato estritamente do
corpo; ela é uma paixão do coração. É verdade que nenhuma quantidade de
ordens da nossa vontade pode fazer o nosso corpo cessar de sentir fome, sede ou
dor. Mas o desejo sexual é mais do que apenas um apetite corporal. O fato de se
dizer que nós devemos controlá-lo é um claro indicativo de que nós podemos de
fato controlá-lo (veja Cantares 2.7). Se tal não fosse o caso, o mandamento de
Cristo seria essencialmente sem sentido.


QUEM CONTROLA O DESEJO?

Nosso desejo sexual é o lugar em que nosso corpo e nossa alma se unem.
Tal desejo é sentido tanto na parte material como imaterial de quem somos. Mas
embora o desejo sexual seja sentido no corpo, seu centro de comando está na
nossa vontade, na nossa pessoa. Nós, não nosso corpo, estamos no controle do
desejo sexual. Quando falamos de controle do desejo, não queremos
simplesmente dizer uma pessoa não agir de acordo com os seus desejos, mas ela
realmente escolher aquilo que deseja. Porém, temo que muitos de nós cristãos
tenhamos nos esquecido dessa verdade fundamental. Nós prontamente
afirmamos que uma pessoa pode controlar sua atividade sexual, mas nem sempre
afirmamos que ela pode controlar seu desejo sexual.
A autora Dannah Gresh, por exemplo, embora forneça muitas percepções
úteis na área da pureza sexual, defende erroneamente que a excitação sexual é
resultado de uma reação química no corpo e, portanto, é incontrolável. Afirma
ela:

Muitas das respostas do nosso corpo são ativadas pelo Sistema Nervoso Autônomo
(SNA). Esse sistema não é controlado pela vontade, mas pelo ambiente. Você já
sofreu um acidente de carro de pequena avaria? Lembra aquela sensação de mal-
estar no estômago e pulso rápido? Você se sentiu fisicamente diferente por causa
da mudança ambiental. Você não pode controlar essas reações por opção. O SNA
obriga o organismo a responder ao ambiente.

A excitação sexual funciona da mesma forma. As coisas no ambiente — o que
vemos, ouvimos e sentimos — criam uma resposta sexual. Isso é particularmente
forte no homem, visto que Deus o criou para ser estimulado visualmente. Se ele vê
uma mulher usando roupas sensuais, o que acontece com o corpo dele? Ele pode
notar a mudança no pulso, a elevação na temperatura corporal e o sangue
começando a ser bombeado rapidamente pelo corpo… Embora o homem possa
escolher como responder a essa excitação, não pode controlar sua ocorrência.[21]

A partir da experiência pessoal, nós podemos falar que essa visão
simplesmente não é precisa. Embora Gresh esteja correta sobre os fatores
biológicos da excitação sexual, ela os fundamenta incorretamente. Ao contrário
da conclusão de Gresh, o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) não é controlado
pelo nosso ambiente, mas por nossa percepção do efeito do ambiente sobre o
nosso bem-estar. A diferença é significativa. Num acidente de carro de pequena
avaria não é o acidente em si que faz o SNA responder, mas sim, nosso SNA
responde à percepção de que o acidente iminente pode ameaçar potencialmente
nossa integridade. Quando percebemos que a situação que estamos enfrentando é
perigosa, nosso corpo responde em conformidade com isso.
Consideremos um exemplo. Suponha que você esteja num veículo sendo
conduzido por um dublê de piloto profissional. Você se agarra à vida enquanto o
carro passa cambaleando por uma pista de corrida sinuosa a velocidades que
você sequer imaginaria possíveis. Como passageiro de primeira viagem, você
não está convencido da habilidade do motorista de evitar uma colisão, e assim
sua percepção do evento como sendo perigoso à sua integridade faz seu SNA
despejar adrenalina no seu sistema. Seu pulso acelera, sua respiração se torna
mais rápida, seu estômago embrulha. Mas o piloto dublê, por outro lado, já
correu tantas vezes por essa pista que poderia fazê-lo até dormindo. Muito
diferente de nós, sua percepção do mesmo ambiente tem um efeito muito
diferente sobre o seu SNA. Seu corpo não responde com a mesma descarga de
adrenalina, pois não percebe o ambiente como uma ameaça ao seu bem-estar.
Se de maneira segura você fosse andar muito mais vezes nesse mesmo
circuito com o piloto dublê, seu SNA responderia de uma forma bastante
diferente, pois você não perceberia mais a corrida como uma ameaça à sua
integridade. Assim, mais uma vez, não é o ambiente (um passeio violento de
carro) que estimulou o nosso SNA, mas sim nossa percepção dos efeitos do
ambiente sobre o nosso bem-estar.
Em última análise, nosso SNA é acionado com base nas convicções que
mantemos acerca de tudo na vida. Porque cremos firmemente que armas de fogo,
acidentes de carro, doenças terminais e cachorros rosnando são prejudiciais ao
nosso bem-estar é que o nosso SNA responde quando recebemos esses
estímulos.
Nosso corpo não responde automaticamente apenas à percepção de
ambientes negativos, mas também de ambientes positivos. Isso é visto na
resposta do corpo a estímulos sexuais. Mas não é o ambiente (homens ou
mulheres seminus, pôsteres sensuais, etc.) que aciona o nosso SNA, e sim nossa
percepção de que o objeto é extremamente benéfico ao nosso bem-estar.
Que a excitação sexual é desencadeada pela nossa percepção de um
objeto e não pelo objeto em si é visto no declínio do desejo sexual quando um
relacionamento sexual azeda. Ao ver sua amante pela primeira vez, um homem
casado fica extremamente excitado. Erradamente ele a enxerga como a melhor
coisa para o seu bem-estar. Só de pensar nela seu pulso acelera e seu corpo
responde em excitação sexual. Mas à medida que o relacionamento segue
adiante, ele descobre que a amante não é como ele imaginava. Em pouco tempo
ela o estará chantageando, ameaçando tornar o relacionamento deles conhecido,
a menos que ele lhe pague alguma coisa. Agora, subitamente, esse homem não
enxerga mais a mulher como benéfica ao seu bem-estar. Só de pensar nela (sem
falar em vê-la) ele já fica com dor de estômago. Ele sequer pode se imaginar
atraído sexualmente por ela. Ele a odeia com toda a força.
Em tal caso, o mesmo estímulo tem dois efeitos muito diferentes no
homem com base na percepção de como ele afetará seu bem-estar. Essa transição
de desejo sexual para ódio também é ilustrada na Bíblia. O filho de Davi,
Amnom, seguiu um caminho quase idêntico quando seu desejo sexual por sua
meia-irmã Tamar se transformou em forte aversão por ela (veja 2Sm 13.1-17).
Assim, no domínio da excitação sexual, não é o ambiente, mas sim a percepção
do benefício do ambiente para o nosso bem-estar que estimula o nosso SNA.


SATISFAÇÃO SEXUAL E A PAZ DE DEUS

Agostinho ensina que o nosso coração está inquieto enquanto não
repousa em Deus. Nosso SNA é disparado tão prontamente pelo sexo oposto
porque nada mais na vida parece saciar tão naturalmente o profundo senso de
inquietação que se esconde no coração humano. Como criaturas feitas à imagem
de Deus, nada chega mais perto de uma genuína experiência de Deus plenamente
satisfatória do que um relacionamento íntimo com alguém também feito à
imagem dele. É essa mesma ideia que já levou uma pessoa a dizer que um
homem que bate à porta de um bordel é um homem à procura de Deus. Nada
chega mais perto de satisfazer nossa necessidade incansável de uma união
espiritual com Deus que a união física do relacionamento sexual.
Quando ignoramos que a verdadeira satisfação só pode ser encontrada
em Deus, frequentemente pulamos de um relacionamento sexual romântico para
outro, assumindo incorretamente que a falta de satisfação e excitação sexual que
sentimos no relacionamento atual será suprida no próximo. A cada nova relação,
assim, partimos da promessa de uma satisfação definitiva, e o SNA responde em
conformidade com isso. Mas à medida que o novo relacionamento segue adiante,
a promessa de realização profunda não é cumprida, e assim não o vemos mais
como benéfico para o nosso bem-estar. Então nosso SNA não desencadeia a
excitação sexual com a mesma intensidade. Em cada caso, o estímulo (o
relacionamento sexual) não mudou; o que mudou foi nossa percepção da
capacidade de o relacionamento atender às nossas necessidades mais profundas.
[22]


CRENDO NA VERDADE SOBRE A IMORALIDADE SEXUAL

Quando estamos firmemente convencidos de que a imoralidade sexual é
prejudicial ao nosso bem-estar, ela perde seu controle sobre nós e não desperta
dentro de nós o desejo sexual. Embora sejamos pessoas caídas para quem uma
convicção como essa vem com grande dificuldade, ela pode de fato vir. Tal
convicção requer bastante fé, mas cresce à medida que abraçamos a realidade
invisível de Cristo acima e além daquilo que parece ser tão imediatamente
satisfatório. Pela fé, devemos agarrar firmemente, e com profunda convicção, as
verdades de Deus.
Nós realmente cremos que o caminho da mulher adúltera leva à morte
(Pv 7.10, 27), que Deus julgará o sexualmente imoral que não se arrepende (Hb
13.4; Ap 21.8) e que nenhuma satisfação sexual existe além de viver à imagem
da união de Cristo com a sua esposa? Nosso SNA será o indicador.
Ainda assim, nunca ficaremos convencidos da verdade de Cristo
enquanto não estivermos profundamente unidos à sua pessoa. Devemos conhecer
o próprio Cristo — seu coração, seu caráter — antes que possamos ter fé em
seus mandamentos. Não basta apenas acreditar que os caminhos de Cristo são os
melhores; também devemos saber que seus caminhos são os melhores. Esse
conhecimento só vem pela nossa experiência pessoal com o próprio Cristo. E
essa experiência vem da nossa profunda união espiritual com ele através do
Espírito Santo.
Em última análise, à medida que participamos da realidade invisível de
Cristo, experimentando sua própria presença em nossa vida dia após dia,
crescemos em nossa convicção de que as afirmações de Cristo são de fato
verdadeiras, que seus caminhos são de fato os melhores e que nada pode trazer
satisfação à parte dele.
Cremos nós que é possível um homem ver uma mulher bonita, talvez
vestida inapropriadamente, talvez até mesmo tentando seduzi-lo, e ainda assim
não desejá-la em seu coração ou ficar sexualmente excitado por ela? Será que
somos meras vítimas das nossas circunstâncias, precisando nos esconder do
mundo para não encontrar nada que nos force à luxúria? Devemos estar
firmemente convencidos de que é, de fato, possível controlar e aproveitar nossos
desejos, não meramente nossas ações. A bem da verdade, o desejo sexual não é
controlado da mesma forma que controlamos nossos braços e pernas; é
necessário mais que uma mera decisão da vontade. Mas nós podemos controlar o
desejo sexual indiretamente por meio do que acreditamos sobre a realidade de
Cristo, a imoralidade sexual e a verdade de Deus. À medida que nos tornarmos
absolutamente convencidos em nosso coração e nossa alma de que os caminhos
de Deus são de fato os melhores, dominaremos nosso desejo sexual.
Nosso corpo responde apenas de acordo com as nossas convicções, e a
forma como espontaneamente reagimos às circunstâncias da vida revelará em
que acreditamos. Assim como é possível se tornar espontaneamente um
motorista mais paciente e instintivamente um crente mais gracioso em Cristo, é
possível se tornar reflexivamente mais puro em nossos encontros casuais com o
sexo oposto. Com a crença central de que em última análise o desejo sexual está
sob nosso controle, nós podemos começar a desenvolver uma vida de pureza
interior.


CONCLUSÃO

É importante entender o que torna pecaminoso o desejo. Luxúria (isto é,
desejo pecaminoso) é “desejar algo que não nos cabe possuir”. Isso tem uma
aplicação significativa nos aspectos sexual e romântico da nossa sexualidade.
Toda vez que desejarmos algo que não nos cabe possuir, estaremos pecando. No
próximo capítulo, vamos ver que Deus nos instrui a controlar nosso desejo
romântico até que ele possa ser adequadamente expresso dentro do contexto do
casamento.
Embora possa estar de pleno acordo até aqui, você pode estar se
perguntando sobre a praticidade dessa perspectiva quando se trata de buscar um
cônjuge. “Não deveria eu desejar de fato alguém do sexo oposto?” “Como posso
ir atrás de um cônjuge?” Boas perguntas! Mas em vez de respondê-las agora,
vamos guardá-las para o próximo capítulo.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

Leia Mateus 5.27-28.

1) O que faz com que alguns desejos sejam pecaminosos e outros, puros?
2) Quão confiante você está de que pode controlar não só sua atividade sexual,
mas também seu desejo sexual?
3) Pense numa época de sua vida em que sua resposta emocional, visceral, para
um ambiente mudou, mesmo que o ambiente em si não tenha mudado. Como
isso se relaciona com a excitação sexual?
4) Quando um desejo por um homem ou uma mulher é pecaminoso?

5) Quando um desejo por um homem ou uma mulher não é pecaminoso?
SE APAIXONANDO APENAS UMA
VEZ

A necessidade de guardar seu coração

Não despertem nem provoquem o amor enquanto ele não o quiser.
A N O I VA D E S A L O M Ã O ( C A N TA R E S 2 . 7 ; 3 . 5 , N V I )



Nos capítulos precedentes, discutimos o padrão de Deus para a pureza
sexual (para desespero dos homens, sem dúvida). Neste, vamos explorar a
sabedoria de Deus para se manter a integridade emocional e romântica (para
desespero das mulheres, mais provavelmente). Senhoritas, se parece que somos
apenas uns maridos de longa data rabugentos procurando afundar o próximo
encontro de vocês com o Sr. Certinho, nos concedam uma atenção e aguardem
até chegarmos ao próximo capítulo. Nós temos os melhores interesses de vocês
em mente, isso podemos garantir. Fazer escolhas sábias sobre como e quando
entregar seu coração — ou como e quando conquistar o coração de alguém outro
—, não só lhe capacita a usar sua sexualidade de um modo que honre a Deus,
como também lhe concede a liberdade e a segurança que procedem de viver o
ideal de Deus.
Como veremos, a Escritura ensina que nós devemos guardar o nosso
coração, não despertar o amor romântico em nós mesmos ou em outra pessoa até
que esse amor possa achar uma consumação legítima dentro do relacionamento
conjugal. Há um tempo para despertar paixões românticas e um tempo para
moderá-las. Saber a diferença entre ambos é essencial para se fazer escolhas
sábias e piedosas em matéria de relacionamentos. Neste capítulo, vamos discutir
as ocasiões mais adequadas para moderar as paixões românticas, e no próximo,
discutiremos qual é o contexto mais adequado para trazer rosas e chocolate.

AS LIÇÕES DA NOIVA DE SALOMÃO

O livro Cantares de Salomão do Antigo Testamento é uma espécie de
diário romântico, detalhando o namoro entre o rei Salomão e sua noiva. É uma
declaração clara sobre a beleza e o valor do amor romântico. Nesse livro breve e
sensual, os dois amantes exaltam abertamente a glória de seu relacionamento
sexual, romântico. Embora muito do imaginário no livro seja estranho para o
leitor moderno, nós somos de imediato capazes de discernir importantes
verdades sobre o momento e o contexto mais adequados para a liberação do
desejo romântico.
Os versículos de abertura do segundo capítulo são particularmente úteis.
Note a linguagem apaixonada com que a noiva de Salomão descreve seu desejo
pelo marido:

Como uma macieira entre as árvores da floresta
é o meu amado entre os jovens.
Tenho prazer em sentar-me à sua sombra;
o seu fruto é doce ao meu paladar.
Ele me levou ao salão de banquetes,
e o seu estandarte sobre mim é o amor.
Por favor, sustentem-me com passas,
revigorem-me com maçãs
pois estou doente de amor.
O seu braço esquerdo esteja debaixo da minha cabeça,
e o seu braço direito me abrace.
Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurar
pelas gazelas e pelas corças do campo:
não despertem nem provoquem o amor
enquanto ele não o quiser. (Cantares 2.3-7, NVI)

O contexto da passagem se foca na noiva e na consumação de seu
relacionamento com Salomão. Aparentemente sendo a véspera do casamento, ela
se descreve como “doente de amor” a ponto de precisar ser revigorada com
comida. Ela está claramente desfalecendo e se deleitando com isso. Mas note a
cobrança que a noiva de Salomão faz às jovens donzelas que lhe assistem: “Não
despertem nem provoquem o amor”, diz, “enquanto ele não o quiser”.
Temendo que a excitação da sua paixão também despertasse o sentimento
de paixão nas jovens mulheres que lhe assistiam, a noiva de Salomão as exorta a
não despertarem ou provocarem paixões românticas enquanto “ele não o quiser”.
A frase é impressionante. A noiva de Salomão não está meramente dizendo “Não
despertem nem provoquem o amor enquanto vocês não o quiserem”. Não. A
abstenção dessa cobrança será quando o amor, e não a pessoa, o desejar. O amor
é personificado nessa passagem como o guardião e detentor de si próprio. Ele
não quer ser despertado antes da ocasião para a qual foi criado. No caso da noiva
de Salomão, o amor deu obviamente permissão para ser despertado, porque a
noiva chegara a um momento na vida em que o amor romântico e sexual poderia
ser adequadamente consumado. As donzelas, no entanto, não estavam numa
circunstância da vida em que as núpcias estavam iminentes. Consequentemente
elas são informadas a evitar de despertar o amor romântico. As implicações são
claras: o amor romântico só deve ser despertado dentro do contexto de um
relacionamento conjugal (ou relacionamento conjugal pendente).
Vale a pena observar que em nenhum lugar aqui somos orientados a
suprimir ou negar os nossos desejos por sexo e romance dados por Deus. Antes,
somos instruídos a nos abster de excitar essas paixões. A imagem é muito
parecida com a de atiçar fogo em carvões que já estão em brasas. Já há no carvão
o potencial para um incêndio violento, bastando que se dê o gatilho adequado. E
em se tratando de desejos românticos sexuais pré-maritais, isso é precisamente o
que nós não devemos fazer.
E, claro, isso faz bastante sentido quando consideramos mais uma vez a
natureza tênue dos relacionamentos pré-noivados. Como já observamos no
capítulo 4, não pode haver um compromisso verdadeiro à parte de uma proposta
de casamento. Assim, despertar nossas paixões românticas sexuais dentro de um
relacionamento que não tenciona expressamente se mover para um casamento é
um desvio. É como gastar todos os finais de semana numa concessionária sem
ter dinheiro algum. E ter apenas doze anos. O ponto é muito simples: você não
deve se comprometer romântica ou sexualmente a um relacionamento que não
esteja explicitamente se movendo para um casamento. Isso não apenas seria
emocionalmente tolo, como também moralmente irresponsável.

UMA FIXAÇÃO ERRADA EM DESEJOS CORRETOS

Em cada área da vida há uma necessidade de regularmos os nossos
desejos. Fantasias e devaneios podem trazer-nos problemas. O homem que se
fixa em posses materiais com as quais não pode arcar se coloca num estado de
insatisfação e/ou com o limite de seu cartão de crédito “estourado”. A mulher
com sobrepeso que deseja perder peso, mas passa os dias assistindo a um canal
de culinária, não está tornando a sua vida mais fácil. O gozo pelo alimento e por
bens materiais é algo bom, até certo ponto. Mas muito de algo bom, ou algo bom
no momento errado, se torna algo ruim. O mesmo vale para as nossas paixões
românticas. O desejo romântico foi designado por Deus para nos impelir ao
desejo sexual, e o desejo sexual foi designado para nos impelir à atividade
sexual. Uma fixação excessiva sobre o desejo romântico desvinculado do
contexto em que tal desejo pode ser adequadamente expresso frequentemente
levará a escolhas erradas. O homem que busca desenvolver a castidade, mas tem
romance com cada mulher com que se envolve, está em contradição consigo
mesmo.
A atenção romântica é na sua essência um convite para se mover para um
nível mais profundo de intimidade. E não pode haver dúvida de que a atenção
romântica — por sua própria natureza — busca a intimidade sexual. Talvez você
nunca tenha pensado nisso dessa forma, mas é verdade. Quando um homem tem
romance com uma mulher, está buscando acesso a essa parte específica que ela
tem reservado exclusivamente a quem ama. Quando ele lhe traz flores, chocolate
e joias e diz o quanto ela é bonita, não está apenas buscando amizade com ela. O
fim natural (e adequado) do romance é a cama.
Ora, nós não temos nenhum problema com um homem que namore uma
mulher com vistas à intimidade sexual (como você verá no próximo capítulo).
Mas temos problema com um homem que namore uma mulher fora do contexto
em que a intimidade sexual pode ser devidamente manifestada. Nossas paixões
sexuais já são suficientemente difíceis de controlar quando não são atiçadas. Por
que tornar a vida mais difícil do que ela já é? O romance é algo maravilhoso
quando situado dentro do contexto conjugal. Mas quando desconectada da
trajetória do casamento, uma preocupação excessiva com o namoro tem a
tendência de nos levar a caminhos que ainda não estamos prontos para trilhar.
Essa verdade tem implicações óbvias sobre a forma como conduzimos
um relacionamento pré-noivado. Vamos analisar esse ponto mais detalhadamente
no próximo capítulo, mas dificilmente podemos deixar de constatar que os
relacionamentos de namoro contemporâneos não nos ajudam a guardar o
coração. A maioria dos namoros são — se nada mais que isso — ocasiões
explícitas para a intimidade romântica. Essa preocupação com o romance
empurra sutilmente (e amiúde não sutilmente) o relacionamento na direção
sexual. O resultado final é, muitas vezes, uma profunda dor emocional tanto para
o homem como para a mulher.

MACHUCADO, MAS NÃO PARTIDO

Um amor não correspondido pode ser uma parte inevitável da vida, mas
um coração machucado é melhor do que um coração partido. Os
relacionamentos de namoro se tornam inapropriados quando servem de contexto
para um homem e uma mulher atiçarem intencionalmente a intimidade
romântica e sexual um no outro. Sobre que fundamento tem um homem ou uma
mulher o direito de atiçar paixões no outro que não pode de forma legítima
satisfazer? Assim, muitas relações de namoro são pouco mais que um
envolvimento romântico em que um homem convida uma mulher a dar seu
coração (e muitas vezes seu corpo) sem ter, em momento algum, firmado
qualquer compromisso real com ela e não ter nenhuma ideia real de seus planos
de longo prazo para o relacionamento.
Claro, somos realistas aqui. Nós também já fomos jovens e estivemos
apaixonados uma vez. Não é que a pessoa deveria tentar reprimir seus
sentimentos românticos, ou que ser atraído por um membro do sexo oposto é
errado. A cobrança feita pela noiva de Salomão é que deliberadamente
busquemos evitar, fora do relacionamento conjugal, de fazer coisas que são
explicitamente designadas a atiçar e despertar o desejo sexual. É natural se sentir
atraído por uma pessoa que você vê como um(a) parceiro(a) em potencial. Isso é
muito bom. Você deve fazê-lo. Mas sentir uma atração e “abanar” essa atração
até às chamas são duas coisas diferentes.
Jackie e Mike começaram a se conhecer pra valer nos últimos quatro
meses. Jackie é divorciada (seu marido teve um caso e a deixou, a despeito das
tentativas dela de reconciliação) e Mike teve um passado “antes de Cristo”
marcado por más escolhas em matéria de relacionamentos. Ambos cresceram
muito nos últimos anos, e ambos estão interessados em casamento. Mas Jackie e
Mike estão indo com calma. Mais do que tudo, eles querem descobrir sobre o
outro o que realmente importa — o caráter, as prioridades da vida, o amor pelo
Senhor. Esses são os tipos de coisas que fazem um casamento durar. Mike não
traz rosas para Jackie. Não a leva para jantares caros. Não lhe compra joias ou
elogia sua aparência de uma forma sexualmente peculiar. Não segura a mão dela
e olha em seus olhos para lhe dizer o quanto é bonita. Eles são um casal de
amigos que estão se conhecendo. Claro, esse é um tipo especial de amizade:
ambos sabem que o casamento é uma possibilidade. Mas Mike não decidiu se
Jackie é a pessoa certa, e Jackie ainda não se decidiu sobre Mike, de forma que
nem um, nem outro, quer se precipitar na relação.
Só Deus sabe o que o futuro reserva para Mike e Jackie. E
indubitavelmente, se um deles redirecionar a amizade para que não tenha mais
em vista o casamento, para decepção do outro, haverá certamente alguma dor
emocional. Mas a dor será substancialmente menor do que se tivesse sido um
namoro contemporâneo. Como expressou Jackie, “Não importa o que aconteça,
nós não teremos feito nada de que nos arrepender. Se ele se casar com outra
mulher, serei capaz de olhar Mike e sua esposa nos olhos sem sentir vergonha”.
Ao contrário da opinião popular, corações partidos não precisam ser um
elemento padrão nas relações pré-conjugais. A bem da verdade, nenhum
relacionamento pode ser totalmente livre de dor de cabeça. Mas, certamente, é
menos doloroso se livrar emocionalmente de um relacionamento que se manteve
essencialmente platônico que de um relacionamento que foi profundamente
romântico.

CONCLUSÃO

A necessidade de uma responsabilidade romântica remete à imagem de
Cristo e a igreja. Cortejar romanticamente uma mulher ou entregar seu coração a
um homem antes de um compromisso matrimonial é pintar um retrato confuso
de Cristo e a igreja. Desde os primórdios, Cristo reservou seus desejos e
sentimentos mais profundos para a igreja, antes sequer de conhecê-la. E desde os
primeiros dias da criação, os santos têm aguardado com anseio monogâmico a
vinda do Prometido. Essa imagem deve ser expressa dentro de nossa própria
espera pelo casamento. Cristo foi fiel de corpo e alma a uma noiva que ele ainda
não tinha conhecido. Ele reservou seus sentimentos mais profundos para aquela
que Deus lhe daria, e nós somos assim também chamados a ter essa mesma
fidelidade.
Em última análise, portanto, não devemos atiçar um amor romântico e
sexual em nosso coração (ou no de outra pessoa) fora do contexto de um
relacionamento conjugal. Devemos nos refrear de fazer coisas — seja em termos
relacionais, ou não — que despertem um amor romântico em nosso coração
antes de sermos capazes de consumar adequadamente esse amor num
relacionamento conjugal.
Mas, você pode se perguntar: é sempre certo atiçar as brasas do romance
e da paixão? Na verdade, é. E é disso que trata o próximo capítulo.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) De acordo com o Livro de Cantares 2.3-7, qual é o momento mais adequado
de atiçar e despertar nosso desejo por alguém?
2) Quais são as formas pelas quais nós podemos atiçar ou despertar
inapropriadamente o amor?
3) Por que Deus nos ordena a não atiçar nossas paixões românticas e sexuais até
que estejamos casados?







AMIZADES ESPECIAIS[23]

Mudando de categorias sem criar novas

A vontade de Deus para vós é esta: a vossa santificação; por isso, afastai-vos da imoralidade
sexual.
O A P Ó S T O L O PA U L O ( 1 T S 4 . 3 )

Jennifer se debruçou sobre a mesa e fechou o menu de Tom. “Eles vêm
mais rápido quando sabem que você já terminou de ler o menu”, disse ela.
Tom riu. “Quem é você, tão sábia em matéria de pedidos?”
Jennifer riu. “Eu tenho muitos segredos.”
“Falando em segredos…”, Tom fez uma pausa e olhou para baixo.
Dobrou seu guardanapo ao meio e então o desdobrou novamente. “Eu gostaria
de conhecer alguns deles”, disse, olhando para cima.
O olhar de Jennifer não foi desencorajador, mas nem convidativo. Ele
tomou um ar.
Tom era pastor de jovens na sua igreja, e Jennifer, voluntária num grupo
de ensino médio escolar. Os dois grupos se encontravam na mesma noite, e
assim Tom e Jennifer se viam com frequência, mas geralmente só de passagem.
Eles já tinham chegado a se conhecer um pouco durante reuniões de equipe e em
retiros de lideranças de finais de semana organizados todo ano para as pessoas
que trabalhavam com jovens e adultos. Os dois nunca haviam realmente tido
muito tempo para se conhecer pessoalmente, mas Tom se via cada vez mais
observando as idas e vindas dela. Após orar sobre sua crescente atração por ela,
ele finalmente decidiu que era hora de ver aonde tudo isso poderia levar.
Jennifer correu os olhos pela sala e, então, de volta para Tom. A
expressão de seu rosto era gentil, mas também de desculpa. “Não quero de forma
alguma parecer presunçosa, mas apenas ser direta com você. Eu saí de uma
relação muito áspera há seis meses. Não tenho certeza se estou interessada em
qualquer tipo de relacionamento já agora. Só não quero que você desperdice seu
tempo e sua energia. Isso não seria justo.”
Tom sorriu e se recostou na cadeira. Levantou suas mãos como que
sinalizando para ela se acalmar. “Entendo perfeitamente. Eu deveria ter
explicado a minha intenção. Também não estou interessado num relacionamento,
se por relacionamento você se refere ao que a maioria das pessoas entende. Se
trata apenas que não a conheço muito bem, e que nós não temos muitas
oportunidades de nos conhecer; assim, achei que seria legal gastar algum tempo
para nos conhecer um ao outro. Não estou atrás de namorada.”
Jennifer fitou Tom com um olhar perplexo. “Você quer me conhecer, mas
não está atrás de uma namorada… Acho que não estou entendendo.”
Tom meneou a cabeça, compreendendo. “Bem, para ser realmente franco,
não estou atrás de uma namorada; estou atrás de uma esposa. E…”, logo
acrescentou sentindo seu rosto corar, “… não quero dizer que essa pessoa é
necessariamente você”. E levantou os ombros: “Quem sabe? Mas é por isso que
eu quero conhecê-la. Veja, é assim: fazer toda essa história de relação namorado-
namorada parecer irrelevante. Quero dizer: aonde tudo isso levaria? Seriam
apenas duas pessoas concordando em gostar uma da outra até sentir que não se
gostam mais. Não há nisso nenhum compromisso real envolvido; as pessoas
acabam entregando seu coração, e então a coisa toda desmorona. Eu prefiro
simplesmente sair e permanecer amigo de uma garota até chegarmos a um
compromisso; já que, de qualquer forma, esse é o único compromisso real que
duas pessoas poderiam fazer. Dessa forma, se as coisas não derem certo,
ninguém se sentirá muito mal. E se o relacionamento levar ao casamento, nós
não teremos perdido nada. Assim, eu não quero pedi-la — ou quem quer que
seja, no caso — para qualquer tipo de compromisso. Quero apenas conhecê-la
melhor”.
Jennifer ficou calada por um momento e então disse: “Eu não consigo
perceber se isso acaba sendo uma pressão maior ou menor. Ao que parece você
não está pedindo para entrar em qualquer tipo de relacionamento formal comigo,
o que, para ser honesta, no momento parece ser a melhor coisa. Mas, ao mesmo
tempo, você está querendo me conhecer para ver se me quer como esposa”.
Tom sorriu timidamente. “Sim, eu sei que é algo pouco convencional.
Pense nisso como uma ‘amizade especial’, em vez de relacionamento de namoro
tradicional; amigos que saem juntos para se conhecer um ao outro, mas que não
tentam ser nada mais do que amigos até estarem convencidos de que sabem o
que querem”.
Jennifer fitou Tom com um olhar interrogativo: “O que vai acontecer
quando você finalmente decidir o que quer? Levará isso para uma relação
namorado-namorada?”.
“Não. Se chegar à conclusão de que quero casar com a garota — e é isso
o que eu quero dizer com ‘sabem o que querem’ —, pedirei para ela casar
comigo, não para ser minha namorada. Como eu disse antes, não vejo muito uso
em toda essa história de relacionamento de namoro. Apenas vou direto da
amizade para o compromisso — isto é, se ela também quiser isso, claro”,
acrescentou com um sorriso.
Jennifer não disse nada, e assim Tom continuou: “Realmente não há
pressão nenhuma. Eu só quero que nos tornemos mais amigos. Sair algumas
vezes; conhecer um ao outro. Se em algum momento você chegar à conclusão de
que nunca poderá haver algo além de uma amizade entre nós, apenas me diga, e
isso será tudo. E eu farei o mesmo com você. Enquanto isso, sinta-se livre para
sair com quem quiser, fazer o que quiser, seja o que for. Eu não quero ter mais
direito de ditar o que você faz com sua vida do que tive ontem. Sejamos apenas
amigos, e vejamos o que acontece”.
Após uma longa pausa, Jennifer falou: “Acho que gosto de como isso
soa. E sobretudo depois de sair do meu último relacionamento, isso começa a
fazer muito sentido. Mas não tenho certeza se já consegui entender tudo. E como
vamos ser amigos, a primeira coisa que eu gostaria é que você continuasse me
explicando como essas ‘amizades especiais’ funcionam. Isso pode me ser útil
algum dia”.


AMIZADE ESPECIAL: A ALTERNATIVA AO RELACIONAMENTO DE
NAMORO

Então, como se faz para encontrar um cônjuge que não pelo método
típico de relacionamento de namoro? O que propomos neste capítulo não é nem
complexo, nem particularmente inovador. Mas a simplicidade, cremos, é a sua
maior força. Nós propomos que um homem e uma mulher que tenham o
casamento em vista estabeleçam uma amizade especial. Nossa ideia de amizade
especial é bastante simples. Definimos amizade especial como “dois amigos que
vão se conhecendo em vistas ao casamento”. É isso. Não é muito complicado, é?
Pense numa amizade especial como um precursor da proposta de
casamento, mas sem todas aquelas conotações românticas e sexuais que tão
frequentemente acompanham o típico relacionamento de namoro. Um casal em
amizade especial, independentemente da atração um pelo outro, não finge que
existe mais no relacionamento do que o justificado. Eles conscientemente se
refreiam da atividade sexual e abertamente romântica, não se tornando
ingenuamente otimistas sobre o nível de comprometimento da amizade. Assim, a
principal meta de uma amizade especial é explorar a viabilidade do casamento,
preservando as diretrizes da pureza romântica e sexual exigidas no
relacionamento com o próximo (veja o capítulo 1).
E então, o que acontecerá quando uma amizade especial atingir o
objetivo? Assim que uma amizade especial trouxer clareza sobre o
relacionamento, o casal desfará a relação, voltando para uma amizade “normal”,
ou ele — convencido de que quer casar com a mulher — a pedirá em casamento.
Se ela continuar indecisa, ele usará de todo o seu arsenal romântico para
convencê-la de que ele é a pessoa certa. (Mais sobre isso daqui a pouco).


DISTINTIVOS DA AMIZADE ESPECIAL

Embora creiamos que a Bíblia permite uma grande flexibilidade quando
se trata de relacionamentos pré-conjugais, quatro elementos são cruciais para
qualquer casal que explore a possibilidade do casamento: (1) manter as diretrizes
da pureza romântica e sexual encontradas no relacionamento com o próximo; (2)
falar claramente sobre suas próprias intenções; (3) ver o namoro como uma
atividade, em vez de categoria de relacionamento; e (4) considerar a
exclusividade do relacionamento como algo voluntário. A amizade especial é
especificamente projetada para incorporar todos esses quatros elementos.
Analisemos, então, cada um deles.

Manter os limites do relacionamento com o próximo

Talvez o mais significativo é que uma amizade especial está
comprometida em manter as diretrizes de pureza sexual do relacionamento com
o próximo. Ambas as partes têm um acordo de não cruzar esses limites e de que
os requisitos de pureza para o relacionamento não são diferentes dos de qualquer
outro relacionamento. Muitas das nossas práticas de namoro atuais não levam a
sério os mandatos bíblicos de pureza romântica e sexual encontrados em 1
Coríntios 7.1-9 e Cantares de Salomão 2.1-7. Mas não é assim com a amizade
especial.
É claro, deve ser feita uma reflexão cuidadosa sobre as balizas morais
que ajudarão a proteger a amizade especial para ela não se dissolver em
relacionamento sexual. O compromisso de não se abrasar — por mais que
envolva em si algo bom — não fará uma pessoa ir muito longe se ela optar por
se embeber em gasolina e brincar com fósforos. O que seguem são algumas
sugestões de como um casal pode estruturar seu relacionamento de uma forma
que faça da pureza uma meta alcançável.
Assumam uma prestação de contas. Uma prestação de contas piedosa
desempenhará um grande papel em manter a pureza de uma amizade especial. O
pecado prospera no isolamento, e alguém que se importe com você — e que
você respeite — olhando e orando por você irá percorrer um longo caminho em
assegurar que a amizade especial se mantenha nos trilhos. Nós encorajamos o
homem e a mulher a terem parceiros de prestação de contas separados. Os
parceiros de prestação de contas devem ser pessoas piedosas e sábias que
entendam a perspectiva bíblica sobre a pureza (deem-lhes uma cópia deste
livro!) e não temam cutucar sua vida com questões incisivas. Buscar uma
prestação de contas piedosa, cheia de graça, coloca você em submissão à
comunidade cristã e permite que cristãos piedosos avaliem sua amizade especial
à luz do evangelho.
Evitem tempo sozinhos. Em Romanos 13.14 somos instruídos a não ficar
“premeditando como satisfazer os desejos da carne”. Como você sem dúvida
sabe, sua carne não precisa de muita ajuda quando se trata de comportamento
pecaminoso. E essa é exatamente a razão pela qual uma amizade especial deve
evitar contextos de encontro que os empurrem para a intimidade. Evitem gastar
tempo sozinhos no apartamento um do outro. Não permaneçam sozinhos no
carro. Mantenham as luzes acesas. Tanto quanto possível, mantenham seu
relacionamento em público. E procurem pensar de antemão como vocês gastam
o tempo juntos. O que pode ser fácil fazer no início do relacionamento (gastarem
tempo sozinhos no apartamento dela) se tornará cada vez mais difícil à medida
que o relacionamento progredir. Estabeleçam padrões saudáveis de
relacionamento no início da amizade. Acreditem em nós quando dizemos que
vocês não se arrependerão por terem sido cautelosos.
Sejam voltados para fora. Uma marca do relacionamento saudável é que
ele não é voltado apenas para dentro. Claro, é apropriado uma amizade especial
ter um foco interior em parte do tempo; afinal, vocês estão se conhecendo com
vistas ao casamento. Mas evitem ter somente — ou mesmo principalmente —
um foco interior. Um relacionamento saudável olha para além de si mesmo e
envolve o mundo ao redor. É confortável para um relacionamento saudável estar
em comunidade. Essa postura de ser voltado para fora lhes ajudará a cultivar um
aspecto missionário, que é importante para um casamento saudável. Seu
casamento deveria poder ser usado algum dia em benefício dos outros. Comece a
viver dessa maneira desde o início.
Comecem na hora certa. Iniciem uma amizade especial somente quando
souberem que estão (ou em breve estarão) em condições de se casar. Muitos
solteiros começam muito cedo, e se colocam assim numa situação difícil. Por
exemplo, muitos estudantes universitários começam a namorar no início da
faculdade, tendo pouca ideia sobre os rumos do relacionamento. Então, passado
não muito tempo de relacionamento de namoro, eles percebem que querem se
casar com a pessoa que estão namorando. Essa é a parte boa da história. A parte
ruim é que eles não estão em uma etapa da vida em que o casamento é uma
possibilidade real. Então, lá estão eles, um pé no freio e outro no acelerador, com
vários anos pela frente. O amor foi despertado antes de haver desejado, trazendo
tensão ao coração e ao corpo dessas pessoas de formas não tencionados por
Deus.
É claro, em nossa cultura de namoro moderna essa tensão é aliviada pela
atividade sexual prematura. Casais são capazes de namorar anos a fio
precisamente porque já mergulharam na atividade sexual; o jantar pode esperar,
porque os aperitivos estão sendo servidos. Facilmente podemos ver por que a
nossa cultura de namoro atual é ambivalente com os relacionamentos de namoro
de longo prazo. Os casais tomam os benefícios do casamento enquanto evitam as
responsabilidades dele. Mas uma amizade especial visa a algo maior que uma
relação de namoro tradicional.
Todavia, mesmo numa amizade especial — onde a atividade romântica e
sexual foi intencionalmente evitada — a atração emocional e sexual podem se
tornar problemáticas se o relacionamento durar muito tempo. Assim, nós
recomendamos que você adie o início de uma amizade especial até estar numa
etapa da vida em que o casamento é uma possibilidade real. Não podemos
imaginar nenhuma boa razão por que um típico estudante de ensino médio já
deveria iniciar uma amizade especial, tanto menos um relacionamento de
namoro. Sejam amigos. Saiam em grupos. Tenham bons momentos! Mas
confiem no plano de Deus para os relacionamentos e esperem até estar prontos
para o casamento antes de começarem a procurar um cônjuge.
Mantenham a relação breve. Na sequência do último ponto, uma vez
tendo iniciado uma amizade especial, não a façam durar mais tempo do que o
necessário. E o que significa bastante tempo? Isso varia de pessoa para pessoa,
mas assumindo que ambos estão numa etapa da vida em que é conveniente se
casar, 6 a 18 meses parece ser um bom tempo. Esperem mais, e a pureza se
tornará cada vez mais desafiadora. Busquem conhecer um ao outro, orem pela
amizade, busquem conselhos piedosos e então tomem uma decisão. Se após 18
meses vocês ainda estão incertos, isso é provavelmente um indicativo de que
algo anda errado no relacionamento.
Façam o caminho mais curto para o altar. E uma última palavra sobre o
calendário: se as coisas funcionarem e vocês começarem a noivar, mantenham o
noivado curto. O noivado existe para um único propósito — planejar o
casamento. Ele não é um processo final de verificação ou tentativa de ganhar
tempo enquanto seus pais se acostumam com a ideia. Muitos casais cristãos
sacrificam sua pureza no altar do dia do casamento perfeito. Assim, não pensem
no noivado como um namoro com privilégios especiais, em que vocês ganham
um tempinho a mais e têm o benefício de um negócio fechado. O noivado existe
para planejar o casamento. Uma vez que ela disse “sim”, é hora de seguir o
caminho mais curto.

Comunicação clara

Um segundo elemento crucial da amizade especial, dada a sua
singularidade, é a comunicação clara e direta entre as partes. É provável que uma
das partes não entenda bem o conceito de amizade especial; assim, é importante
que a pessoa transmita seus propósitos e intenções desde o início (como fizemos
na chamada de abertura). Por exemplo, uma mulher que está agindo sob a
mentalidade tradicional de namoro ficará provavelmente confusa com as ações
de um homem que não deixou claro o seu compromisso com o formato da
amizade especial.
Em sintonia com a imagem de Cristo buscando a igreja, parece ser da
responsabilidade do homem declarar seu interesse por uma mulher como
parceira conjugal em potencial. Se ela sabe com certeza que não tem qualquer
interesse em ir além de um relacionamento com o próximo, ela pode deixá-lo a
par disso o quanto antes.
Mas, senhoritas, o que vocês farão se ele não estiver deixando suas
intenções claras? A mulher está no pleno direito de saber as intenções de um
homem. Em algum momento ele lhe deverá uma explicação sobre as suas
investidas. Estaria ele apenas atrás de uma amiga com quem passear? Estaria
tentando conhecê-la com vistas a um casamento? Estaria ele apenas buscando
um relacionamento de namoro tradicional, o casamento sendo um objetivo bem
distante? Qualquer que seja o caso, é uma atitude sábia a mulher buscar clareza
desde o início do relacionamento. Sem essa informação ela será incapaz de
determinar quão sábio é investir no relacionamento.

Namoro como atividade em vez de categoria de relacionamento

Nós já discutimos a diferença entre namoro como atividade e como
categoria de relacionamento; assim, não precisamos detalhar esse ponto aqui.
Basta dizer, no entanto, que duas pessoas que se veem como potenciais cônjuges
num casamento não têm, com base na atração mútua, qualquer fundamento para
estabelecer uma categoria de relacionamento que seja distinta do relacionamento
com o próximo. Assim, um casal que esteja numa amizade especial verá o
namoro como uma atividade, não como uma categoria de relacionamento. Em
outras palavras, namoro é algo que elas fazem em vez de algo que elas são. Essa
distinção entre namoro como atividade e como categoria ajuda a preservar a
verdade de que todo homem e toda mulher não casados deve se relacionar sob as
diretrizes de pureza estabelecidos no relacionamento com o próximo.

Amizade especial e exclusividade voluntária

Visto que nenhuma nova categoria de relacionamento foi criada, a
exclusividade do relacionamento só pode ser voluntária (auto-imposta), não
exigida pelo próprio relacionamento. Verdadeira exclusividade não é possível à
parte do casamento ou noivado. Pensar diferente disso é uma receita para a dor-
de-cabeça.
Isso não significa, porém, que um homem e uma mulher não possam
voluntariamente escolher limitar sua interação com o sexo oposto. Isso não
apenas é permitido, como também recomendado por nós. Por exemplo, se um
jovem está particularmente interessado numa dada mulher, provavelmente não
irá querer gastar tempo e energia em relacionamentos significativos com outras
mulheres.
Assim também, uma mulher pode decidir recusar encontros com outros
homens se souber que seus interesses estão em outro lugar. Mas novamente, é
importante lembrar que nenhuma promessa real de exclusividade pode existir à
parte do casamento ou noivado. Assim, numa amizade especial cada parte é livre
para escolher se é exclusiva, ou não, no curso do relacionamento. O
relacionamento em si pode não demandar isso. E pode até acontecer de um
homem limitar suas atividades de namoro a uma mulher específica, mas ela não
agir assim com ele (ou vice-versa). Mais sobre a ideia de exclusividade
voluntária será abordado na seção “Objeções” abaixo.
Essa falta de exclusividade forçada é bastante útil para estilhaçar a
fachada de compromisso dos relacionamentos pré-noivado. Como
argumentamos extensivamente no capítulo 6, nenhum compromisso real pode
existir à parte de uma proposta de casamento. Assim, parece sensato que um
homem e uma mulher tentem evitar usar termos como promessa e compromisso.
Recusar-se a usar tais termos num relacionamento pré-noivado ajuda a manter
uma perspectiva adequada sobre a verdadeira natureza do relacionamento. Até
que uma proposta de casamento seja feita ou aceita, não pode haver verdadeiro
compromisso entre um homem e uma mulher solteiros.


VANTAGENS DA AMIZADE ESPECIAL

A amizade especial tem muitas vantagens sobre o relacionamento de
namoro tradicional, a primeira sendo sua capacidade de deixar claro os limites
do relacionamento com o próximo. Isso ajuda a proteger as pessoas da dor que
pode advir de uma expressão romântica e sexual prematuras. Também permite
duas pessoas se conhecerem sem as distrações de um relacionamento físico e
romântico, que de muitas formas poderia mascarar as verdadeiras qualidades do
relacionamento. Ademais, a amizade especial é totalmente consistente com a
Escritura. Por fim, e o mais importante, a amizade especial ajuda a preservar a
imagem que Deus pretende ver retratada em nossa sexualidade. A seguir vamos
analisar cada uma dessas vantagens.

O relacionamento com o próximo é preservado

A principal vantagem da amizade especial é que ela em nada confunde os
limites da relação com o próximo. Como nenhuma nova categoria de
relacionamento é criada ou assumida, o aspecto não sexual do relacionamento
com o próximo é mais claramente reconhecido e, dessa forma, mantido. Mesmo
à parte da revelação bíblica, a maioria dos cristãos (e até alguns não cristãos)
sabe que a expressão de afeição romântica e sexual está fora do âmbito do
relacionamento com o próximo. Entender que até o casamento duas pessoas são
chamadas a permanecer nos limites do relacionamento com o próximo é
fundamental para uma vida de pureza romântica e sexual. Permanecer como
amigos até o noivado torna claro esse limite tanto para o homem como para a
mulher.

Livre de distrações

Não há nada que uma pessoa possa descobrir num relacionamento de
namoro ou cortejo que não possa ser igualmente descoberto numa amizade
especial. Sonhos da vida, prioridades, valores, origens e qualidades do caráter
podem ser todos descobertos pela amizade. Não se precisa estabelecer uma
categoria separada de relacionamento para discernir essas coisas. Na verdade,
nosso argumento é que essas importantes qualidades do caráter e metas da vida
podem ser discernidos até mais facilmente no contexto de uma amizade especial.
Muitos relacionamentos de namoro são baseados quase que
exclusivamente na mútua atração romântica e sexual do casal. Mas tire isso do
caminho, e eles descobrirão que não têm quase nada em comum e nada
realmente do que falar. Se um casal não pode desenvolver uma amizade à parte
de um relacionamento de namoro marcado pela sexualidade, o casamento será
um próximo passo insensato. Mas uma amizade que é livre das distrações do
relacionamento romântico e sexual tem a oportunidade de permanecer ou cair
pelos seus próprios méritos, ao invés de estar meramente apoiada no fluxo das
paixões e desejos.

Mais livre de sofrimentos

Embora nenhum relacionamento possa estar totalmente livre de
sofrimentos, uma amizade especial ajuda a tornar o sofrimento menos provável.
Certa vez, um amigo nosso foi apresentado a uma mulher através de um amigo
em comum, e os dois inicialmente se deram bem. Comprometido com os
princípios básicos da amizade especial, ele nos expressou o sentimento incomum
que teve à medida que a relação progredia. Acostumado a entrar em
relacionamentos com os dois pés, ele descobriu que era relaxante e confortável
conhecer uma mulher sem as distrações do romance e do relacionamento físico.
E depois de namorarem casualmente por alguns meses, ficou evidente para
ambos que nenhum desejava ir além de um relacionamento com o próximo.
Eles continuaram apenas como amigos e se viam eventualmente, mas
sem aquele arrependimento que teria resultado de um relacionamento íntimo e
romântico abortado. Mais tarde ele nos confidenciou que, tivessem os dois se
envolvido romântica e fisicamente (como acontecera nos relacionamentos
anteriores dele), ele teria levado muito mais tempo para perceber que não havia
futuro na relação, e esta teria terminado de maneira dolorosa para um deles, ou
até para ambos.
Com isso não queremos dizer que os sentimentos de decepção podem ser
totalmente eliminados. Se uma amizade não resulta em casamento, ainda assim
pode haver sofrimento para uma das partes. Desapontamento e tristeza são
sentimentos legítimos que acompanham a perda de qualquer coisa boa. Mas,
tudo o mais constante, a dor da perda numa amizade especial será
consideravelmente menor que a dor resultante de relacionamentos de namoro
tradicionais, já que a amizade especial conscientemente preserva tanto a pureza
física como a romântica.

Consistente com a Escritura

De forma não surpreendente, a amizade especial se encaixa bem no
silêncio da Bíblia sobre a busca de um cônjuge. Se fosse da vontade de Deus
desenvolvermos um sistema oficial pelo qual nos moveríamos de uma categoria
de relacionamento para outra, parece provável que Deus nos teria informado.
Talvez devêssemos interpretar o silêncio de Deus como um indicativo de que ele
não deseja que criemos esse sistema.
Como a Bíblia não prescreve um estágio intermediário entre o
relacionamento com o próximo e o relacionamento conjugal, devemos ir com
calma nessa elaboração. Manter a amizade com um cônjuge em potencial até o
noivado não impede de forma alguma o futuro casamento, e se encaixa
facilmente nas expectativas bíblicas colocadas por Deus sobre homens e
mulheres no relacionamento com o próximo.

Protege a imagem de Deus

Mais importante, a amizade especial ajuda a preservar a imagem de Deus
que a sexualidade humana visa a expressar. Quando compreendemos que ao
entrar numa amizade especial nenhuma categoria de relacionamento foi trocada,
a tentação de se tornar romanticamente dependente e sexualmente envolvido é
reduzida. Não há uma sombra de relacionamento de namoro em que se pode cair
na falsa suposição de que é seguro e adequado começar a se entregar. E isso,
claro, encontra seu significado último na verdade da devoção e afeição sinceras
de Cristo pela igreja. Cristo esperou fielmente por sua noiva, e assim devemos
nós esperar pela nossa. Cristo se apaixonou uma vez; nós nos apaixonamos uma
vez.
A imagem de Deus que reside na nossa sexualidade é de grande valor, e
nosso desejo de protegê-la será grandemente auxiliado se nos recusarmos a criar
categorias de relacionamento que pareçam ser distintas do relacionamento com o
próximo, e assim aparentemente livres dos seus comandos de pureza sexual.


OBJEÇÕES À AMIZADE ESPECIAL

Ao comunicar essa abordagem, temos encontrado uma série de objeções.
Embora de nenhuma forma exaustivas, as seguintes objeções tipificam as
preocupações gerais que alguns solteiros têm com a nossa ideia de amizade
especial.


Objeção 1: A amizade especial é algo muito vulnerável, pois não envolve um
compromisso.

Uma jovem expressou sua preocupação com as amizades especiais
dizendo: “Procurar um cônjuge exige que você se abra e se torne vulnerável. Eu
não estou a fim de abrir minha alma para um homem que não fez qualquer
compromisso comigo e que pode até estar saindo com outras mulheres”.
Nós concordamos totalmente com a sua preocupação. Uma mulher não
seria de fato sábia se se tornasse vulnerável a um homem que não tem certeza do
que quer. Qualquer homem que for sério sobre uma determinada mulher irá
limitar sua interação com as outras mulheres. Mas a mulher em quem ele está
interessado deve se lembrar de que, independentemente de ele vir a ser, ou não,
seu namorado, qualquer exclusividade só poderá ser algo auto-imposto. Pensar o
contrário é agir contra o bom senso. Pouco bem pode fazer à mulher ela desejar a
segurança que vem de um relacionamento aparentemente exclusivo quando essa
segurança de fato não existe.
Os solteiros devem entrar num relacionamento com os olhos abertos,
plenamente cientes de que rótulos como “namorado” e “namorada”, criados pelo
homem, não fornecem qualquer medida de segurança real. O fato de duas
pessoas reconhecerem abertamente sua atração uma pela outra não garante que a
atração será permanente.
É verdade que uma amizade especial não oferece nenhuma segurança,
mas sua principal vantagem é que, ao contrário dos relacionamentos de namoro
tradicionais, ela não finge oferecê-la. Entendemos que isso faz dela um método
muito mais seguro. Por não exigir exclusividade, os riscos de encontrar um
cônjuge ficam totalmente expostos. Num relacionamento de namoro tradicional,
o homem ou a mulher pode ir embora a qualquer momento. Fazer isso não
romperia qualquer compromisso. O homem não prometeu se casar com a
mulher, e ela não tem o direito de esperar o contrário.
Uma mulher sentir que um relacionamento de namoro tradicional oferece
um contexto em que é seguro se tornar vulnerável é um sentimento baseado na
falsidade. Nada é inerentemente mais seguro num relacionamento de cortejo ou
namoro tradicional que uma amizade especial. Quanto mais estivermos cientes
disso, mais poderemos tomar decisões informadas e acertadas sobre a pessoa que
vamos escolher para lhe sermos vulneráveis — e mais cuidadosamente vamos
guardar o nosso coração.
Na verdade, poderíamos argumentar que a exclusividade auto-imposta de
uma amizade especial é motivo de maior segurança do que a exclusividade de
um relacionamento de namoro tradicional. Na amizade especial, um homem opta
por limitar sua interação com o sexo oposto porque assim o deseja. Quando uma
mulher vê essa exclusividade, sabe que ela é sincera, espontânea e de coração.
Em contraste, como poderia ser mais seguro para uma mulher acreditar que a
razão de o seu namorado estar exclusivamente com ela é que a relação exige isso
dele? Quando a exclusividade é reconhecida como voluntária, a mulher está
plenamente ciente da atração do homem por ela, bem como da atual indisposição
dele de fazer um compromisso permanente. A partir dessa perspectiva ela tem
agora a possibilidade de fazer escolhas sábias sobre quão vulnerável pode ser
com ele.


Objeção 2: Uma amizade especial é incapaz de dar informação suficiente sobre
a conveniência de um futuro casamento.

“Como posso saber se quero ficar noivo(a) de uma determinada pessoa”,
alguém poderia argumentar, “sem primeiro desenvolver um relacionamento de
namoro?”. Mas em que sentido firmar um pseudocompromisso e ativamente se
envolver sexualmente podem de fato ajudar um homem e uma mulher a
descobrir se serão um bom marido e uma boa esposa?
Expressar uma paixão romântica e sexual não fornece qualquer
informação útil para determinar a viabilidade de um cônjuge em potencial; ao
contrário, pode até obscurecer a capacidade de pensar com sabedoria sobre a
questão. Tudo que uma pessoa precisa saber sobre outra pode ser aprendido
numa amizade especial. Não é preciso dar ou receber uma expressão sexual para
a pessoa saber se quer ou não seguir adiante no relacionamento. A ideia de que
se deve firmar um relacionamento de namoro tradicional para realmente
conhecer uma pessoa é falsa.


Objeção 3: Não é razoável pensar que podemos tratar como “mero amigo”
alguém que consideramos para o casamento.

Alguns solteiros com quem temos falado sobre amizades especiais
frequentemente acham difícil considerar de início como “mero amigo” alguém
que estão considerando para o casamento. E, de fato, numa amizade especial as
duas pessoas não são meras amigas. Como um homem solteiro certa vez disse,
“Quando peço uma garota em namoro, estou na verdade atrás de algo nela que
não encontro em minhas outras amigas”.
Não contestaríamos de todo essa observação. Evidentemente, há muitos
sub-relacionamentos dentro da categoria mais ampla de relacionamento com o
próximo. Muitos desses relacionamentos têm agendas, propósitos e níveis de
envolvimento emocional muito diferentes entre si. Relacionamentos de negócios,
bons amigos, melhores amigos, meros conhecidos, futuros cônjuges e mesmo
relacionamentos pastorais — todos eles exigem diferentes tipos de interação,
intimidade e envolvimento emocional. No entanto, todos eles entram na
categoria mais ampla de relacionamento com o próximo.
O relacionamento com o próximo não insiste em que todos os
relacionamentos dentro dele são iguais, mas apenas que as diretrizes de pureza
sexual e romântica são as mesmas para cada relacionamento. Por exemplo,
embora a interação entre um pastor e um congregante e entre um futuro marido e
uma futura esposa envolvam diferentes tipos de interação, os dois
relacionamentos são chamados a manter sua interação sob as diretrizes de pureza
estabelecidos pelo relacionamento com o próximo.
Assim, o objetivo de uma amizade especial não é fingir que não existem
distinções dentro do relacionamento com o próximo (e esperanças de
casamento), mas sim ajudar ambas as partes a manter uma perspectiva clara
sobre o que esse relacionamento envolve e não envolve. Ele envolve duas
pessoas que buscam um cônjuge. Ele não envolve duas pessoas que já o
encontraram.

Objeção 4: A amizade especial não é prática na sociedade de hoje.

Mas desde quando determinamos a verdade a partir da praticidade?
Embora seja a menos falada, esta é provavelmente a objeção mais básica
levantada por muitos detratores da amizade especial. Frequentemente ao falar
com solteiros, nós não encontramos nenhuma resistência ao conteúdo do que
estamos dizendo, mas ainda encontramos resistência às conclusões que
desenvolvemos. É como se eles concordassem conosco e até mesmo
concordassem que Bíblia parece ensinar o que dizemos, mas a ideia de realmente
buscar viver esse ideal na sociedade contemporânea parecesse tão impossível
quanto fora de alcance.
Jesus encontrou essa mesma situação quando ensinou sobre o divórcio.
Quando seus discípulos foram informados de que o divórcio só era permitido em
caso de infidelidade conjugal, eles ficaram espantados e exclamaram: “Se esta é
a situação entre o homem e sua mulher, é melhor não casar” (Mt 19.10). Nos
dias de Jesus, as leis sobre o divórcio eram tão frouxas que um homem poderia
se divorciar de sua esposa por quase qualquer motivo. O ensino de Jesus era tão
restritivo, dado o contexto social da sua época, que sua ordem parecia quase
negar a própria ideia de casamento. Mas a consternação dos discípulos surgiu da
sua falta de fé na possibilidade de guardarem os mandamentos de Cristo.
Alguns podem não concordar que a Bíblia ensine o que estamos dizendo.
Se você é uma dessas pessoas, tem a liberdade de consciência para seguir por um
caminho diferente. Mas aqueles de nós que foram convencidos do contrário,
estão ligados àquilo que acreditamos ser o ensino bíblico. Nós não podemos
simplesmente dizer que a Escritura é impraticável e então deixá-la de lado em
favor de algo mais conveniente.


QUANDO SEGUIR ADIANTE

Em algum momento a amizade especial terá cumprido o seu fim. O
homem e a mulher terão clareza sobre a sabedoria de optarem ou não pelo
casamento. Como já observamos, é irresponsável um homem tentar ganhar o
coração de uma mulher antes de saber o que planeja fazer com ele. E é
irresponsável uma mulher entregar seu coração a um homem que não se
comprometeu a guardá-lo. Tudo muda, no entanto, quando se chega a uma
clareza sobre o casamento. Tão logo um homem tenha decidido que deseja uma
mulher em particular como sua esposa (e não só como namorada!), nós
esperamos que ele tenha sucesso em cortejá-la. Pode ser que ela aceite desde já o
pedido de casamento. Mas pode ser que ela precise de mais tempo. Qualquer dos
casos é válido.
Se ele está convencido de que quer casar com ela, mas ela não, é hora de
ele adotar uma nova postura no relacionamento. Quando a amizade especial
começou, nenhuma das partes estava certa sobre a viabilidade do relacionamento
no longo prazo. Mas agora que sabe com certeza que quer casar com a mulher,
ele não deve ser econômico na conquista do seu afeto. Ele deve lhe comprar
flores, dizer o quanto o cabelo dela é bonito, levá-la para um jantar chique e, o
mais importante, presenteá-la com uma aliança. Em suma, a hora de entrar no
romance é quando você está pronto para trazer a aliança!
A busca ousada (mas convenientemente sensível) por uma esposa se
encaixa perfeitamente bem na imagem de Cristo e da igreja. Num sentido muito
real, Cristo não poupou gastos na conquista da nossa afeição. Ele disse toda a
verdade. E deixou claro desde o início que não estava brincando. Um candidato
a noivo faz bem em seguir o pretendente mestre. Assim, é apropriado um
homem buscar despertar os afetos românticos de uma mulher precisamente
porque ele pretende — se ela consentir — satisfazer essas afeições no contexto
do casamento. Mas ouçam, homens (e fiquem na escuta, mulheres). Quando o
assunto é conquistar os afetos de uma mulher, por favor tenham em mente três
coisas importantes. Primeiro, vocês estão tentando conquistá-la como sua
esposa, não como sua namorada. Ela deve saber desde o início que você está
jogando pra valer. E a forma mais clara — na verdade, a única forma — de ela
saber disso é você pedi-la em casamento. Isso muda completamente a dinâmica
do relacionamento e define a coisa toda como estando em rota de colisão com o
casamento. Assim que a proposta de casamento foi oferecida, não é mais
irresponsável da sua parte tentar conquistar o coração dela, e não é mais
irresponsável ela lhe entregá-lo.
Em segundo lugar, sua tentativa de conquistar o coração de uma mulher
deve ser feita respeitando as diretrizes de pureza sexual do relacionamento com
o próximo. O fato de querer casar com uma mulher não significa que você já
casou com ela. Assim, você não tem o direito de ter acesso à sexualidade dela,
mesmo de formas sutis. Afinal, ela pode vir a dizer “não” ao seu pedido de
casamento, em cujo caso você tem a responsabilidade de preservar a integridade
sexual dela para aquele com quem ela irá se casar. Não tome para si o que não é
do seu direito. O teste irmão-irmã ainda é o teste decisivo para a pureza.
E finalmente, parte do seu trabalho é ajudar a mulher que você almeja a
tomar uma boa decisão sobre seu pedido de casamento. Não assuma que o seu
julgamento é o único que conta. Ao externar o romance, não deixe isso chegar a
um nível em que ela seja incapaz de ver a realidade só por causa das rosas. Ela
pode precisar de algum tempo para pensar com sobriedade, com cuidado e em
espírito de oração sobre o que Deus quer para ela (e para você). Em última
análise, você quer que ela diga “sim” porque ela está em paz com o Senhor e não
porque você lhe disse o quanto ela é bonita sob uma noite de luar. (Mulheres,
nós sabemos que a maioria de vocês é esperta demais para cair na conversa do
“seu cabelo é bonito”. Só estamos tentando ajudar os homens a ganhar um senso
adequado de responsabilidade.)
Essa forma de fazer as coisas, claro, coloca o homem numa posição de
vulnerabilidade. Ele está fazendo uma proposta de casamento sem qualquer
garantia de ela lhe dizer “sim”. Mas é assim que deve ser. Pessoal, é hora de o
homem começar a se preparar em matéria de proposta de casamento. Não faça a
mulher dizer “sim” antes de lhe ter feito uma proposta. Isso colocaria a mulher
numa posição de vulnerabilidade — ela põe as cartas na mesa, mesmo as suas
ainda estando dentro do colete. Em sintonia com a imagem de Cristo buscando a
igreja, o homem deve estar disposto a ser o primeiro a declarar suas afeições,
carregando o peso da vulnerabilidade no relacionamento.


CONCLUSÃO

Bem, aí está. Se o retrato de uma amizade especial não parece envolver
muito romance ou segurança, tenha em mente que experimentar romance e
segurança não são objetivos dessa amizade. Seu único objetivo é determinar a
viabilidade do casamento. Todo o romance, a paixão, intimidade e segurança que
almeja estão esperando você no casamento. Os relacionamentos tradicionais de
namoro, embora aparentemente possam fornecer essas coisas, são, na verdade,
apenas sombras de relacionamentos que não oferecem nada de concreto. Visto
que nenhuma promessa pode ser feita à parte do noivado, é prudente estabelecer
relacionamentos que estejam baseados nessa realidade.
Uma amizade especial protege a sexualidade e permite que o fruto
amadureça na videira, para que seja então apreciado na sua plenitude no
contexto do casamento. Ele não é de relacionamento em relacionamento
lentamente mordiscado, tornando obscura a natureza singular do relacionamento
de Cristo com a igreja.
Independentemente do método que você use para ir atrás de uma esposa,
tenha em mente as diretrizes fundamentais do relacionamento com o próximo.
Qualquer sistema que pareça remover as duas pessoas dos limites desse tipo de
relacionamento é equivocado, e pode potencialmente criar um grande dano para
elas bem como para a imagem de Deus.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) Como você explicaria a amizade especial para um amigo? Qual é o principal
objetivo dela?
2) Quais são os 4 elementos cruciais em qualquer relação homem-mulher onde o
casal está explorando a possibilidade do casamento?
3) Quais são as vantagens que a amizade especial tem sobre os relacionamentos
de namoro tradicionais?
4) Como você responderia a alguém que argumenta que a amizade especial não
oferece nenhuma segurança ao casal?


UMA VIDA INTEGRADA

Pureza como estilo de vida, não só como coisa de namoro

Todas as coisas me são permitidas, mas nem todas são proveitosas.
Todas as coisas me são permitidas, mas eu não me deixarei
dominar por nenhuma delas.

O A P Ó S T O L O PA U L O ( 1 C O 6 . 1 2 )


Seria muito mais fácil restringirmos nossa discussão sobre a pureza ao
tópico do namoro. Embora o propósito do livro esteja sobre esse campo mais
específico, este capítulo remeterá ao assunto da pureza sexual num sentido mais
amplo. Mas primeiro, uma rápida recapitulação sobre onde estamos. Nos
capítulos iniciais, articulamos uma teologia bíblica sobre o sexo que busca
vincular a sexualidade humana ao relacionamento espiritual entre Cristo e a
igreja. A sexualidade, argumentamos, foi ordenada por Deus como uma maneira
de refletir o evangelho; ela deve, portanto, ser manifestada em conformidade
com a lógica, os ritmos e a função do evangelho. Cristo é espiritualmente fiel à
igreja; o marido deve ser sexualmente fiel à sua esposa. Cristo se une
espiritualmente à igreja somente; um homem se une sexualmente à sua esposa
somente. Cristo tem uma noiva; um homem tem uma esposa. A realidade
celestial serve de padrão para a prática terrena.
De fato, quando estudamos a Escritura, não deve nos surpreender que o
evangelho informe não só nosso entendimento da sexualidade e dos
relacionamentos humanos, como também todas as coisas da vida. Deus criou o
mundo para ser um reflexo — um teatro vivo, se preferir — do evangelho.
Assim, todas as facetas da vida humana estão organicamente conectadas por
meio do evangelho. Assim como nossa cabeça está ligada aos pés pelo sistema
nervoso, nossa sexualidade está ligada a todas as outras partes da vida pela
participação mútua no evangelho. Este é o ponto: você provavelmente não
manterá a pureza no seu relacionamento pré-conjugal se não deixar o evangelho
transformá-lo em todas as áreas da vida — na sua visão sobre tempo e dinheiro,
na forma como se relaciona com a sua família, no uso que faz dos seus talentos.
O evangelho deve ser a peça central funcional da sua vida, o eixo em torno do
qual todas as coisas giram!
Por isso é que temos feito todo esse tema da pureza sexual navegar na
balsa do evangelho, na esperança de que, acima de tudo, pudéssemos lhe
recomendar o evangelho mais uma vez. É o que os bons pastores fazem. Eles
sempre retornam ao evangelho. Todas as semanas nos sermões, todas às vezes
em que aconselham uma pessoa ferida, todas às vezes em que conduzem uma
reunião — tudo se resume ao evangelho. Amigo, se realizarmos bem o nosso
trabalho, teremos lhe dado não só uma visão prática do evangelho que lhe
possibilitará honrar a Deus em seu namoro, como também uma visão do
evangelho que o ajudará a conduzir toda a sua vida para a glória de Deus. Nós
não pretendemos ser dissimulados, e por isso, aqui está: nosso objetivo neste
livro é pregar o evangelho pelas lentes da pureza sexual. E esperamos estar
atingindo esse propósito.
Em sintonia com esse objetivo, o presente capítulo começará discutindo a
importância de uma vida integrada — na qual o evangelho informe todas as
áreas. Além disso, vamos cobrir tópicos como modéstia, masturbação, flerte,
opções de entretenimento e uso da internet. Nós somos da crença de que uma
vida na qual a pureza do evangelho está integrada num todo não só irá reforçar a
forma como você lida com o namoro, como também irá lembrá-lo de que o
namoro é só uma das áreas da vida em que você é chamado a viver perante Deus
com as mãos limpas e o coração puro (Sl 24.3-4).


PRÉ-PUREZA: COMEÇANDO NO LUGAR CERTO

Então, com que uma vida integrada ao evangelho se parece? O que
significa fazer de Jesus a dobradiça pela qual a vida de uma pessoa se move?
Em primeiro lugar, significa que nós devemos reconhecer — na verdade,
comoventemente confessar — o fato de que somos desesperadamente pecadores,
por completo. “Quem pode dizer: Purifiquei meu coração, estou limpo do meu
pecado?” (Pv 20.9). A resposta é: ninguém. Nós precisamos da graça. E como!
Em segundo lugar, significa que aceitamos o fato de que somos
justificados perante Deus unicamente no mérito de Jesus Cristo, que morreu na
cruz em nosso lugar pelos nossos pecados e ressuscitou dos mortos ao terceiro
dia para termos uma vida redimida (1Co 15.1-3). E não se trata apenas de algo
em que cremos para nos tornar cristãos; isso deve ser a música da nossa alma,
todos os dias.
Em terceiro lugar, significa que devemos pedir a Deus para nos
convencer nas áreas da vida onde a graça ainda precisa fazer o seu trabalho. Mas
não tente descobrir seu pecado sozinho. Ore como Davi:

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração;
prova-me e conhece os meus pensamentos;
vê se há em mim algum caminho mau
e guia-me pelo caminho eterno. (Sl 139.23-24)

Acredite — Deus é melhor em apontar quais pecados precisam ir
embora, e em qual ordem, do que você jamais o será.
Em quarto lugar, significa que devemos perceber que o crescimento na
santidade é impossível por meio do nosso próprio esforço. Mas o que é
impossível para o homem é possível para Deus. A graça que nos justifica é mais
do que mera limpeza legal; ela também nos santifica, “ensinando-nos para que,
renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos neste mundo de
maneira sóbria, justa e piedosa” (Tt 2.12) Busque a graça de Deus através da sua
Palavra, através da oração, dos sacramentos e da comunhão no corpo de Cristo,
agarrando-se à promessa de que “o pecado não terá domínio sobre vós, pois não
estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6.14).
Em quinto e último lugar, tornar Jesus o centro da sua vida significa pedir
diariamente a Deus pela graça da humildade. O orgulho é a fonte da qual todos
os pecados emanam. O orgulho é a mentira de que nós não precisamos da graça.
No entanto, a pobreza de espírito é o ponto de partida da herança do reino dos
céus (Mt 5.1-3). Pobreza de espírito é concordar com o Espírito Santo em que
não trazemos nada, exceto pecado, diante de Deus. Nós não temos nada a
recomendar sobre nós. Nós precisamos da graça. Isso é humildade. Os humildes
verão a Deus. Os humildes verão a pureza de Deus. Os humildes são feitos à
semelhança de Deus quando o adoram. E os humildes experimentam uma
mudança em sua vida.
Devemos nos esforçar para ter uma vida integrada ao evangelho, onde o
evangelho seja mais do que um conjunto de crenças — seja um estilo de vida.
Sem dúvida, essa é a nossa melhor defesa contra o pecado sexual. Dito isso,
estamos agora preparados para voltar nossa atenção a algumas outras áreas da
vida às quais quase todo homem e toda mulher preocupados com a pureza
devem dar atenção.



MODÉSTIA NO VESTIR

É indiscutível que nossa sociedade tem cada vez mais sexualizado as
roupas femininas. Muitas roupas femininas hoje em dia têm o propósito de
destacar — e em certo sentido mostrar — a sexualidade da mulher. Dadas as
tendências da moda contemporânea, a modéstia não existirá se não o for
intencionalmente. Nós, homens, precisamos, é claro, desenvolver uma fortaleza
interna necessária para navegar nessa cultura sexualmente carregada. E pela
graça de Deus nós podemos. Mas certamente apreciamos quando uma mulher
tem o cuidado de se vestir de uma forma que honre a si mesma e os homens ao
redor.
Assim, mulheres, uma forma de vocês poderem ajudar o corpo de Cristo
a lutar pela pureza é pensarem cuidadosamente na forma como se vestem.
Modéstia não significa vestir-se como freira nem parecer que acabou de sair do
metrô superlotado. A modéstia e a beleza podem andar de mãos dadas. De fato,
algumas mulheres são simplesmente bonitas. Você poderia colocá-las num barril,
mas elas continuariam deslumbrantes. Nós estamos, em vez disso, falando de se
evitar roupas que foram projetadas para realçar a sexualidade de uma mulher.
Uma palavra-chave a considerar é sedução. Ao comprar roupas, você
costuma ir deliberadamente atrás daquelas que são especificamente projetadas
para atrair a atenção dos homens? Você é motivada pelo desejo de ser sexy? Tem
um homem específico em mente que você tenta seduzir? Se for esse o caso,
pense duas vezes. Não estamos tentando ser legalistas aqui, mas querendo que
você dê mais importância a zelar pela imagem de Deus dentro de si do que a
atrair homens. Portanto, esteja ciente das suas motivações.
Claro, os estilos mudam. O que era imodesto há 50 anos pode ser
considerado agora modesto, dado o nosso contexto cultural. Nós reconhecemos
as sutilezas do estilo e o fato de que, até certo ponto, a modéstia pode ser um
alvo em movimento. Se você tem certa dificuldade para decifrar se uma roupa
específica é imodesta ou se costuma se vestir de forma apropriada, peça ajuda a
uma mulher mais velha e piedosa. Pergunte o que ela pensa sobre como você se
veste. Peça para ela ver seu guarda-roupa com você. Senhoras, talvez essa
pudesse ser uma boa hora para vocês fazerem um levantamento do seu guarda-
roupa e orar sobre uma eventual mudança em certos tipos de roupa. Abaixo,
seguem algumas questões úteis para começarem a refletir sobre como se vestem.

Será que a minha roupa chama atenção demais para a minha
sexualidade?
Será que a minha roupa ajuda a proteger a imagem de Deus em mim?
Usar esta roupa específica contradiz meu comprometimento verbal
com a pureza sexual?
Será que esta roupa específica não tornará difícil a mim ou àqueles ao
meu redor “não despertar ou provocar o amor” antes da hora certa?


ENTRETENIMENTO

A mídia pode ser uma área significativa de tentação sexual. Mídia, no
sentido literal do termo, é o instrumento ou meio de disseminação ou expressão
de alguma coisa. Muito do que a mídia contemporânea dissemina vale a pena e é
bom. Mas muita coisa não. Um bom discernimento nas suas escolhas de mídia
lhe será de grande utilidade para manter a pureza com o sexo oposto. Claro,
sempre haverá debate (entre vocês, tipos sofisticados, sem dúvida) sobre arte
versus pornografia, ou sobre até que ponto o conteúdo sexual de um filme no
cinema pode ter um papel adequado na comunicação de um retrato realista da
“vida como ela é”. Nós compreendemos isso. Mas pedimos que você dê mais
importância para sua integridade moral do que para sua sofisticação cultural e
intelectual. Talvez estejamos soando como um pastor de jovens batista xiita; mas
seguidas vezes temos aconselhado jovens que aparentemente não conseguem
fazer uma conexão lógica entre o material erótico a que se expõem na mídia e a
incapacidade deles de manter limites sexuais adequados com o sexo oposto.
Façamos uma pausa para considerar três dos mais poderosos tipos de
mídia: música, televisão e cinema.


Música

Nossa cultura tem substituído a imagem de Deus pela da humanidade, e
isso é amiúde facilmente visto na indústria da música secular. Não é preciso
ouvir uma rádio por muito tempo para perceber a idolatria para com os
relacionamentos românticos. Recentemente, eu (Gerald) ouvi um homem
expressar numa música romântica sua profunda necessidade de uma mulher,
assegurando-lhe que se ele tivesse seu amor, a vida dele teria propósito e
significado. Ele não temeria a morte, pois saberia que ela estaria ao seu lado. Ele
chegava ao ponto de confessar que não era nada sem ela, e que o amor dela o
havia restaurado.
De imediato, deveria chamar nossa atenção que um cristão não poderia
verdadeiramente cantar essas palavras para alguém outro que não o próprio
Deus. O propósito do relacionamento entre um homem e uma mulher é ser uma
imagem do relacionamento entre Deus e seu povo, mas o mundo tem permitido a
imagem eclipsar o sentido real disso.
Se escutarmos atentamente a letra de muitas músicas contemporâneas,
veremos que muitas delas não falam de amor e romance de uma forma
consistente com a imagem de Cristo e a igreja. Os cantores estão adorando um
ao outro ao invés de Deus. Até mesmo canções simples de amor sem natureza
explicitamente sexual são amiúde contrárias à imagem que Deus quer ver
mostrada através da nossa vida romântica. E certamente, músicas que celebram o
sexo antes do casamento e o comportamento licencioso não têm, obviamente,
espaço na vida de um cristão.
Se não tivermos cuidado, a mensagem dessas músicas não só será
implantada em nossa mente, como também ficará sutilmente embutida em nosso
coração. Se diuturnamente ficarmos impensadamente enchendo nossa mente de
mensagens inconsistentes com o ideal de Deus, provavelmente seremos
negativamente influenciados por elas. As mensagens de muitas músicas são
contrárias a uma vida de pureza romântica e sexual. Será que temos refletido
com suficiente cuidado na mensagem das músicas que ouvimos?


Cinema e televisão

Em nossa cultura contemporânea, o conteúdo sexual gráfico de muitos
programas de televisão e filmes é notável no seu alcance. Alguém poderia se
perguntar o que aconteceu com o nosso senso nacional de vergonha.
Lamentavelmente, nós desaprendemos a nos ruborizar. E a despeito de a
violência como entretenimento também aumentar na nossa cultura, o sexo e a
nudez na tela são, na nossa mente, mais contrários ao ideal de Deus do que a
violência gratuita. A violência na tela é um faz de conta. O sexo na tela é real.
A violência que vemos na tela é uma representação. Ninguém está sendo
realmente mutilado ou morto. Mas a nudez na tela é algo diferente. Quando
vemos atores nus ou seminus, eles não estão apenas fingindo. Eles realmente
estão nus ou seminus. Da mesma forma, quando vemos uma cena explícita de
sexo, os atores não estão apenas fingindo se beijar e se acariciar; eles realmente
estão se beijando e se acariciando.
É impossível ver essas atividades e se justificar dizendo que é o que
simplesmente aparece na tela. Se alguém sentasse num quarto para ver um casal
fazendo amor, mesmo com a permissão deles, chamaríamos essa pessoa de
voyeur e acharíamos que está agindo errado. Mas seria menos errado se o casal
aparecesse na tela do cinema ou da televisão?
E além das cenas explícitas de sexo, muitos filmes e programas são a tal
ponto ligados a conteúdo sexual (na maneira como os atores se vestem, falam,
etc.) que seria impossível descartar o conteúdo inapropriado sem perder com isso
metade do filme. Nosso desejo de evitar assistir a tais filmes não é de
simplesmente evitar a luxúria, mas de ter respeito pela imagem de Deus que
reside nos atores. Muito embora eles não respeitem a sexualidade deles, nosso
respeito por Cristo nos deve levar a respeitá-la. Assim como respeitosamente
desviaríamos o olhar de uma mulher cuja blusa acidentalmente se rasgou, nós
deveríamos desviar o olhar de um homem ou de uma mulher que decide se expor
na tela. Em última análise, o que valorizamos em ambos os casos é a imagem de
Deus que reside na sexualidade da pessoa. Como cristãos, devemos pensar
cuidadosamente sobre os limites do nosso entretenimento.
Conteúdo sexual gráfico à parte, talvez seja um tanto simplista restringir
nossa visão tendo como base unicamente se determinado programa ou filme
inclui, ou não, cenas de sexo. Conforme já observamos no caso da música, uma
mensagem é transmitida em cada filme e programa de televisão. Até agora,
sitcoms[24] que passam à noite não têm mostrado nudez completa. Contudo,
muitos programas seguidamente retratam a sexualidade de uma forma
inconsistente com o ideal de Deus. Devemos ser muito cuidadosos para não
permitir que o nosso desejo de nos divertir esteja acima do desejo de crescer em
nossa sensibilidade para com a verdade de Deus.
É interessante o que acontece quando você se torna pai. De uma hora
para outra, a forma como você dirige, seu humor e a mídia que você aceita na
sua vida mudam por completo. Por quê? Porque agora você tem pequenos
ouvidos, olhos e coração em sua casa. Mesmo quando a criança não está por
perto, você age com um novo nível de cuidado e discernimento. Você pensa
consigo: O que significará se meu filho souber que assisti a isso, ouvi isso ou dei
valor a isso? Se precisamos restringir nossa vida assim que passamos a ter a
responsabilidade de um filho nos ombros, pensamos, isso deve sugerir alguma
coisa. Talvez pensar como pai antes mesmo de ser pai seja uma forma de ajudá-
lo a pensar sobre que tipos de mídia você aceita em sua vida. Abaixo seguem
algumas questões úteis para orientar sua reflexão sobre opções de mídia que
honrem a Deus.

Será que estou disposto a fazer sacrifícios em prol da minha pureza,
ainda que isso signifique abrir mão das minhas músicas, filmes ou
programas de televisão favoritos?
Quais benefícios irei obter por assistir a tais programas ou filmes ou
ouvir tais músicas?
Que potenciais armadilhas para a minha pureza sexual eu poderia
encontrar se ouvisse tais músicas ou assistisse a tais programas ou
filmes?
Será que tais músicas, filmes ou programas não vão atrapalhar meus
esforços de não “atiçar ou despertar o amor” antes da hora certa?
Será que tais músicas, filmes ou programas não estão criando em
mim expectativas erradas sobre o relacionamento com o sexo oposto?



A INTERNET

Escolhemos abordar a internet em separado porque ela se tornou uma
realidade de mídia independente. De fato, filmes, televisão e música são cada
vez mais absorvidos pela internet. Não estamos muito longe de um mundo em
que um dispositivo com várias aplicações irá conter toda a nossa realidade de
mídia. Um acesso a todas as informações está se abrindo a todos, em todos os
lugares na maioria das novas tecnologias num ritmo extraordinário. Em breve
seu forno será mais esperto do que seu computador atual.
A internet tem permitido alguns avanços realmente incríveis, da pesquisa,
da velocidade de acesso a recursos de estudo da Bíblia. Se o seu pastor não é
capaz de pregar num certo domingo pela manhã, não se preocupe; uma rápida
pesquisa na internet lhe dará Martyn Lloyd-Jones para tapar o buraco. Mas além
de nos ligar à imensidão de informações úteis na velocidade da luz, a internet
também abriu uma janela para o inferno. A maior parte da pornografia hoje é
acessada pela internet, permitindo-nos evitar a vergonha e o constrangimento de
comprar pornografia em papel. E a internet fica à caça daqueles de nós que não
estão em busca de problemas. Anunciantes ativamente correm atrás do usuário,
frequentemente rastreando nosso histórico de pesquisas para ajudar a nos
categorizar e rotular. Isso é bastante benigno se estamos falando de meias. Mas é
absolutamente maligno quando o assunto é pornografia e as presas são pessoas
jovens, até mesmo crianças.
Nós poderíamos arrolar uma lista de formas de ajudá-lo a permanecer
puro no domínio cada vez mais inevitável da internet. Existem muitos outros
livros e sítios da internet que podem listar, explicar e recomendar redes de
segurança como filtros e programas de rastreamento.[25] Por favor, utilize esses
recursos. Mas você precisará mais que uma cobertura externa para preservar sua
pureza na internet. Se a única muralha que você tem é uma peça inanimada de
tecnologia, você eventualmente irá contemporizar. Simplesmente há muito lixo
lá fora; e não existe nenhum pedaço de tecnologia que conseguirá apanhar tudo
isso. Conforme discutimos no capítulo 5, você precisará desenvolver alguma
fortaleza interna. E isso só virá através de uma real mudança de coração.
Encontre alguém para orar com você, para encorajá-lo e mantê-lo responsável. E
então suplique a Deus para mudar você de dentro para fora. Esteja disposto a
tomar quaisquer medidas necessárias para encarnar a graça de Deus — mesmo
que isso signifique se desplugar por completo.
Torne o evangelho central no seu uso da internet. Se seu olho direito o
faz tropeçar nessa área, e a responsabilidade e o software de proteção não o estão
ajudando, arranque-o fora! Viva sem internet e peça a amigos para utilizá-la por
você se algum dia vir a precisar. Ataque o problema com seriedade, seriedade
comprada com sangue. Viva uma vida integral — viva na integridade da pureza!
Abaixo estão algumas questões a considerar sobre como você usa a
internet.

Com que frequência eu me vejo olhando coisas que me fazem
tropeçar na área da pureza sexual?
Será que tenho adequadamente pensado se realmente preciso ter
acesso à internet? Preciso dela para o trabalho? Preciso tê-la em casa?
Eu já estabeleci limites adequados para quanto tempo gasto na
internet?
Será que preciso instalar softwares de filtro e/ou rastreamento nos
computadores que utilizo? Caso sim, já os tenho?
Há alguma pessoa para a qual presto contas do meu uso da internet?
Os computadores em casa ou no trabalho estão instalados em lugares
que mais provavelmente desencorajam seu uso indevido?


MASTURBAÇÃO

Há várias opiniões entre os cristãos sobre a questão da masturbação. Em
geral, não há muitos cristãos que advogam agressivamente em favor da
masturbação. Há muitos que são fortemente contrários a ela, e muitos que a
veem como uma atividade bastante benigna. A questão passa a ser então: existe
liberdade para um homem ou mulher solteiros usarem a masturbação como um
meio normal de liberação sexual?
Aqueles que são mais abertos à masturbação argumentam que, quando
usada com moderação, a masturbação pode proporcionar uma liberação sexual
sem se tornar viciante, que a luxúria pecaminosa não precisa acompanhar a
masturbação, e que a masturbação pode prevenir contra a luxúria pecaminosa na
medida em que impede o acúmulo de vontade sexual. E talvez mais
significativamente, aqueles que são abertos à masturbação argumentam que a
Bíblia não é clara o bastante sobre o assunto para sermos dogmáticos em
declarar que ela é pecado. Aqueles que argumentam contra a masturbação
tendem a focar a caixa de Pandora que se abre com a masturbação — que a
luxúria pecaminosa no mais das vezes (se não sempre) acompanha o ato da
masturbação, que ela muitas vezes leva a um comportamento frequente e
viciante, que ela pode aprofundar e acender um ciclo de luxúria e pecado, e que
ela abranda o chamado bíblico para o autocontrole.
Nós não queremos entrar num debate farisaico. E reconhecemos que a
Bíblia não é explícita sobre a questão. Tendo dito isso, nos inclinamos à ala do
“é melhor não ir por aí”. Uma série de fatores nos inclinam nesse sentido.
Primeiro, a masturbação geralmente nasce a partir de pensamentos e
desejos lascivos. Quando a masturbação é feita dentro desse contexto, está
claramente desagradando a Deus. Mas o verdadeiro pecado aqui é o pecado da
luxúria que dá origem à, e é aumentado pela, autogratificação. Como
mencionado antes, precisamos aprender a canalizar e controlar nosso apetite
sexual e não despertar e expressá-lo fora do relacionamento conjugal. A
masturbação não ajuda a fomentar um senso de autocontrole, mas faz um curto-
circuito no processo pelo qual aprendemos a dominar e controlar nossas paixões.
Em segundo lugar, a masturbação é pecaminosa quando se torna uma
forma de vício sexual, uma maneira de lidar com um sentimento de insatisfação
na vida. Não podemos existir como um vácuo. Somos criaturas finitas que
anseiam ser preenchidas, e faz parte da nossa natureza buscar incansavelmente
um alívio. Quando não somos preenchidos com o próprio Cristo, buscamos nos
preencher de outras coisas. Para muitas pessoas, a masturbação fornece um
senso imediato de alívio para essa sensação de desejo insatisfeito. Mas o alívio
que ela traz é apenas temporário. Uma dependência prolongada da masturbação
pode servir como um indicador de que algo está faltando na nossa vida. Em
última análise, todos os pecados são sintomáticos de um problema mais
profundo. O vício com a masturbação não é diferente. A pessoa viciada em
masturbação busca satisfazer necessidades relacionais profundas que só podem
ser satisfeitas em Deus. Se você estivesse viciado em masturbação, seu problema
estaria além desse comportamento. Pouco adiantaria você simplesmente dizer a
si mesmo que iria parar (como, sem dúvida, já teria percebido). Em vez disso,
você teria de se empenhar para ter um relacionamento significativo com Cristo
que afastasse o desejo de buscar satisfação em coisas que não podem realmente
satisfazer.
Finalmente, e talvez o mais importante, a masturbação não se encaixa
bem com a imagem de Cristo e da igreja que Deus pretende ver retratada em
nossa sexualidade. Como observamos no capítulo 1, Deus ordenou a unicidade
física do relacionamento sexual para representar a unicidade espiritual da união
de Cristo com a igreja. Como um tipo, então, a masturbação está aquém dessa
realidade, pois é um ato que é desprovido de relacionamento. Ela usa o sexo
como um meio de autogratificação à parte da gratificação do outro. É uma
relação inerentemente autocentrada. A atividade sexual nesses moldes não pode
servir como um tipo terreno da realidade celestial. Usar a nossa sexualidade à
parte do contexto em que Deus a criou é usá-la de maneira inadequada. A
masturbação jamais pode satisfazer sexual ou espiritualmente, pois não encontra
seu significado na realidade superior de Cristo e da igreja.
Se você sucumbe nessa área, significa que sua vida acabou? Não. Essa é
uma área que pode causar muita culpa doentia. Nós certamente não queremos
pregar a lei aqui. Mas como pastores que amam o povo de Deus, queremos
ajudá-lo a ter uma sexualidade saudável, centrada em Deus. Portanto, não fique
chafurdando na culpa, mas também não seja indiferente ou acrítico sobre esse
assunto.



FLERTE

Flerte é uma forma universalmente aceita de interação entre os sexos.
Mesmo em desenhos animados infantis como Aladim, a linda princesa bater seus
esquisitos e longos cílios para Aladim é algo trivial. Até mesmo em Bambi há
flerte! Mas antes que proteste e pense que agora oficialmente estamos sendo bem
cafonas com você, continue lendo. Não estamos sugerindo que não há espaço
para uma dança de interação romântica entre duas pessoas mutuamente atraídas.
Parte de uma amizade especial terá esse elemento. Mas todos nós sabemos de
homens e mulheres que parecem incapazes de se relacionar com o sexo oposto
sem também flertar. O que queremos alertar é contra uma cultura de galanteio
onde o flerte se torna um meio normal e frequente de se relacionar com o sexo
oposto, independentemente da sinceridade — flerte em série, se aceita
chamarmos assim. Galanteadores seriais não só flertam com frequência, como
também flertam com dezenas de pessoas diferentes. A seguir está uma série de
razões por que rejeitamos a cultura do flerte serial tão prevalente entre os
solteiros.
Em primeiro lugar, o flerte serial não é sincero. Existem formas
saudáveis, que honram a Deus, de tornar seus sentimentos conhecidos a alguém
do sexo oposto. Não é preciso adotar uma postura passiva sob o pretexto de
pureza. (Se você é passivo, mais provavelmente é apenas um covarde). Mas você
se deixar conduzir de uma forma que chame ou desperte a atenção sexual de
cada membro do sexo oposto que encontra não é algo que faz com vistas ao
amor e à pureza. Sinceridade e flerte serial não andam de mãos dadas.
Em segundo lugar, o flerte serial anda na contramão da monogamia que é
mais tarde exigida no casamento cristão. O flerte serial é uma forma de distribuir
prematuramente sua sexualidade a múltiplos parceiros. Toda essa forma de se
relacionar com o sexo oposto é incrivelmente ofensiva à monogamia retratada
pelo evangelho. Os galanteadores seriais frequentemente acham muito difícil
deixar de se relacionar com o sexo oposto dessa maneira mesmo depois de
casados. Essa é uma receita para o desastre e um profundo ponto de apoio para o
diabo.
Em terceiro lugar, o flerte serial frequentemente atrai de forma
irresponsável a sinceridade de atração de outra pessoa. O galanteador pode se
dar conta disso, ou não; e continua a flertar, atraindo a pessoa cada vez mais,
sujeitando-a a um futuro sofrimento e decepção. Mas como costuma acontecer
na maior parte dos casos, o galanteador serial sabe muito bem o que está fazendo
— atordoando a outra pessoa como um marlim azul, vendo-a apenas como mais
um troféu de caça. Agir assim é uma terrível falta de amor; entretanto, nós
testemunhamos cristãos solteiros fazerem isso o tempo todo. Flertar com
qualquer um ou com todo mundo não passa então de um jogo de poder e uma
busca egoísta por autoestima à custa dos outros.
Em quarto lugar, como mencionado acima, o flerte serial é muitas vezes
fruto da insegurança. O galanteador serial esquece (ou talvez nunca aprendeu)
que Cristo é suficiente para todas as necessidades. A conexão entre a pureza e o
evangelho deveria estar clara aqui. Quando alguém não está seguro no amor de
Cristo, frequentemente usa o flerte como um meio de alcançar um senso de valor
e propósito através da interação sexualizada com o sexo oposto.


CONCLUSÃO

Deus lhe chama para a pureza em cada área de sua vida. Se você leva a
sério a manutenção de limites sexuais apropriados numa amizade especial, terá
de levar a sério a manutenção da pureza em cada área de sua vida. Nós sabemos
que muitos dos tópicos que cobrimos neste capítulo não são novos. Mas
esperamos tê-los conectado a um retrato holístico da pureza. Esforce-se para
agradar ao Senhor com toda a sua vida. Sabemos que você não irá se
decepcionar.


PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO

1) Quais tópicos abordados neste capítulo mais chamaram sua atenção como
áreas em sua vida que precisam ser realinhadas?
2) Quais etapas de ação prática você precisa colocar em ação para promover um
crescimento nessas áreas?
3) Há outras áreas em sua vida, além da sexualidade, em que você tende a
contemporizar? Como ter essas áreas em ordem poderia ajudá-lo a colocar em
ordem sua sexualidade?


UMA VISÃO DO CELIBATO
CENTRADA EM DEUS

De modo que, quem se casa com sua noiva faz bem;
mas quem não se casa faz melhor.
O A P Ó S T O L O PA U L O ( 1 C O 7 . 3 8 )



Se você tem acompanhado o argumento deste livro, a seguinte declaração
sumária deverá estar clara: as pessoas solteiras são chamadas ao celibato. Não
um celibato parcial, mas completo. Baseamos essa declaração nos ensinos
explícitos da Escritura (1Co 7.1-9; 1Tm 5.2), bem como na forma como a
Escritura revela a relação tipológica entre a sexualidade humana e o evangelho
(Ef 5.21-33). A união espiritual íntima e exclusiva de Deus com a igreja é
tornada conhecida na, e através da, união sexual íntima e exclusiva do
casamento; assim, a sexualidade deve ser reservada exclusivamente para o
casamento como um retrato dessa união espiritual superior.
Mas o que você faz com tudo isso se o casamento lhe parece uma
possibilidade cada vez mais remota? E se potenciais cônjuges estão se tornando
raros como o condor da Califórnia? Sem dúvida, muitos de nossos leitores
gostariam de estar casados, mas qualquer que seja o motivo, Deus na sua
providência não lhes deu um cônjuge. O sentimento de carência e sofrimento
que muitos solteiros sentem é algo com que só outros solteiros podem realmente
se identificar. Como disse Salomão, “Cada coração conhece a sua própria
amargura, e não há quem possa partilhar sua alegria” (Pv 14.10). Nós não temos
nenhuma pretensão de entender em primeira mão a solidão e o sofrimento do
celibato indesejado. Mas queremos dar o nosso melhor para fornecer uma
orientação pastoral nessa área. A graça de Deus é profunda o bastante para cada
tipo de dor, inclusive (em especial) a dor infligida pela providência.
Ao iniciar nossa discussão sobre o celibato, precisamos desfazer a ideia
de que o celibato é sempre uma tragédia. Nossa cultura evangélica geralmente
pensa no celibato como uma condição não almejada. De fato, em muitos
aspectos uma pessoa só pode ser classificada como solteira depois de uma certa
idade. Quando você é solteiro e está na casa dos vinte, é considerado um adulto
jovem. Mas se estando na casa dos trinta você ainda não está casado, é
oficialmente rotulado como solteiro. Muitos temem pensar nisso; para muitos
esse é o Vale da Morte da felicidade relacional.
Mas essa perspectiva é consistente com o que a Escritura ensina sobre o
celibato? De modo algum. Como já veremos, o Novo Testamento tem muito a
dizer sobre o celibato. Existem dois tipos distintos de solteiro — aqueles que são
solteiros por opção e aqueles que não o são. A Palavra de Deus tem algo a dizer
para os dois grupos. Mais: a Palavra de Deus tem algo a dizer para aqueles que
não se consideram pertencentes a nenhum dos grupos. Quem sabe Deus o(a)
esteja chamando para o celibato. “Não”, você diz? Mas você perguntou isso a
ele? Se não, continue lendo.

SOLTEIRO POR OPÇÃO

Sem dúvida a passagem mais importante da Bíblia sobre o celibato é 1
Coríntios 7.25-40. É uma longa passagem, mas se você nunca a leu antes, é hora
de fazê-lo. Tome um momento para considerar o que o apóstolo Paulo, sob a
inspiração do Espírito Santo, tem a dizer sobre o celibato.

Quanto aos solteiros, não tenho mandamento do Senhor. Dou, porém, o meu
parecer, como alguém que, pela misericórdia do Senhor, tem sido fiel.
Considero, pois, que é bom, por causa da dificuldade do momento, que a pessoa
permaneça em sua atual condição. Estás casado? Não procures separação. Estás
solteiro? Não procures casamento. Mas, se te casares, não pecaste. E, se uma
virgem se casar, também não pecou. Entretanto, os que se casam enfrentarão
dificuldades na vida terrena; e eu gostaria de poupar-vos. Irmãos, digo-vos,
porém, isto: O tempo se abrevia. Assim, os que têm mulher vivam como se não
tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se
não se alegrassem; os que compram, como se nada possuíssem; e os que usam as
coisas deste mundo, como se dele nada usassem, porque a forma deste mundo
passa. Pois quero que estejais livres de preocupações. Quem não é casado se
ocupa das coisas do Senhor e de como irá agradá-lo. Mas quem é casado se
ocupa das coisas do mundo e de como irá agradar sua mulher; e fica dividido. A
mulher que não é casada e a virgem se ocupam das coisas do Senhor para serem
santas, tanto no corpo como no espírito. A mulher casada, porém, ocupa-se das
coisas do mundo e de como irá agradar o marido. E digo isso para o vosso
benefício, não para vos limitar, mas para que vos dediqueis ao Senhor naquilo
que é honroso, sem distração alguma. Mas, se alguém julgar que está agindo de
forma desonrosa para com sua noiva, se ela estiver passando da idade de se
casar, e se for necessário, faça o que quiser. Ele não peca por isso; que se casem.
Entretanto, quem está firme no coração, não tendo necessidade, mas domínio
sobre a própria vontade, se resolver no coração não se casar com sua noiva, fará
bem. De modo que, quem se casa com sua noiva faz bem; mas quem não se casa
faz melhor. A mulher está ligada ao marido enquanto ele vive. Mas se o marido
morrer, ela ficará livre para se casar com quem quiser, contanto que seja no
Senhor. Contudo, segundo meu parecer, ela será mais feliz se permanecer como
está. E penso que também tenho o Espírito de Deus.


As palavras de Paulo aqui tendem a ser uma parte da Bíblia que muitos
solteiros que almejam se casar preferem pular. Mas todos nós precisamos
considerar cuidadosamente o que Paulo diz aqui. Ele não está denegrindo o
casamento. Lembre-se, ele é o mesmo homem que nos mostrou que o casamento
é designado para ser uma imagem do relacionamento de Jesus com a igreja. Mas
aqui, na passagem de Coríntios, Paulo está colocando o casamento no devido
contexto. Ele está nos lembrando de que o casamento é apenas um tipo e sombra,
um retrato de uma realidade superior. O casamento entre um homem e uma
mulher é penúltimo: o casamento com Cristo é último. Por mais elevado que o
conceito de Paulo sobre o casamento humano seja (e de fato é), ainda mais
elevado é seu conceito do que o casamento representa — a saber, o evangelho.
Existe, assim, um chamado do evangelho que é ainda mais elevado do que o
casamento — o chamado ao celibato para o avanço do evangelho.
Note em particular como a consciência paulina dos tempos influencia sua
perspectiva sobre o casamento e o celibato (vv. 29-31). A época em que vivemos
está cheia de urgência pelo evangelho. E ninguém sabe quando isso terminará.
Paulo quer que vivamos à luz da realidade do retorno iminente do Senhor. O
evangelho precisa avançar, as nações devem conhecê-lo e a hora se aproxima
cada vez mais. Assim, diz o apóstolo, nós devemos viajar com calma. Paulo sabe
que um casamento toma energia, tempo e recursos materiais. De fato, se bem
conduzido, toma a vida da pessoa. Mas isso significa que há menos energia,
tempo e recursos para dedicar de forma mais direta, nesta era, a viver
estrategicamente em dedicação ao Senhor (vv. 32-35).
Se a passagem de Coríntios é lida à parte dos comentários paulinos sobre
o casamento feitos em outro lugar, pode-se equivocadamente concluir que ele
tem um conceito baixo sobre o casamento. Mas seu ponto aqui não é que o
casamento compromete a relação de uma pessoa com Cristo. Antes, Paulo está
simplesmente constatando a realidade de que o casamento e a família absorvem
tempo e energia que poderiam ser gastos na realização da Grande Comissão.
Claro, o casamento e a paternidade, se exercidos debaixo da soberania do
senhorio de Cristo, são eles próprios atividades da Grande Comissão. Mas o tipo
de atividade da Grande Comissão a que Paulo se refere aqui é o tipo em que ele
mesmo se envolveu — de um missionário itinerante que é livre para viajar aonde
o evangelho mais precise ser ouvido. O casamento e a família não permitem esse
tipo de flexibilidade. Não é coincidência que Paulo, um apóstolo celibatário,
tenha feito mais para avançar a causa de Cristo por todo o Império Romano do
que qualquer outro apóstolo.
Além do investimento de tempo no casamento, as preocupações
temporais que inevitavelmente acompanham a vida familiar também afastam as
pessoas casadas de uma perspectiva eterna. Aqueles que são casados sabem
exatamente do que estamos falando. E para aqueles de nós no ministério, é um
exercício de equilíbrio tentarmos nos entregar totalmente à obra do evangelho
sem sacrificar os filhos e o cônjuge (e vice-versa). Paulo está desafiando seus
leitores a pensar cuidadosamente sobre a possibilidade de aliviarem essa tensão
abandonando o casamento pela causa do avanço do evangelho.
O resultado é que a Palavra de Deus recomenda aqui o celibato como um
estilo de vida preferido e não simplesmente como um plano de emergência para
o caso de as esperanças de alguém casar não se concretizarem. O celibato pela
causa do evangelho não é uma condição inferior. De fato, se escolhido por
motivos piedosos, o celibato é valioso, estratégico e louvável. Esse é um ensino
radical, até mesmo para os padrões bíblicos. No Antigo Testamento, até Cristo
vir, o celibato (e, portanto, a esterilidade) era considerado uma maldição,
especialmente para a mulher. Mas na nova aliança, o celibato não só é aceitável,
como é também uma condição abençoada da existência, onde Cristo é honrado
como o noivo definitivo e os filhos espirituais são produzidos como a
descendência do pacto por meio do discipulado.[26] Se o que Paulo está dizendo
é verdade (e é!), o celibato deveria ser algo que todo cristão solteiro deveria
considerar em oração como uma forma de servir a Cristo.


SOLTEIRO POR DOM

Há, contudo, uma ressalva a tudo isso. O celibato, reconhece Paulo, não é
para todos. Aqueles que “ardem” com um forte desejo por intimidade sexual não
devem tentar um estilo de vida celibatário (1Co 7.9). É melhor que essas pessoas
se casem e satisfaçam suas paixões sexuais no âmbito legítimo do casamento.
“Gostaria que todos os homens fossem como eu [celibatários]”, diz Paulo aos
coríntios. “… mas cada um tem o seu próprio dom da parte de Deus; um de um
modo, outro de outro” (v. 7). É melhor permanecer solteiro pela causa do
ministério do evangelho, diz Paulo; mas apenas se suas paixões sexuais estão
sob o controle de um dom especial.
Frequentemente ouvimos pessoas falarem sobre o “dom do celibato”
especificamente em referência a essa passagem. Mas contrariamente à forma
como é muitas vezes afirmado, o celibato em si não é um dom. Antes, o dom do
celibato é a capacidade de ser solteiro e não ficar incomodado com isso. Nenhum
de nós dois (os autores) tem esse dom, e assim não podemos realmente lhe falar
por experiência própria como é isso. Mas se você tem o dom, sabe como é. Suas
paixões sexuais, embora não completamente dormentes, não guiam sua vida da
mesma forma que acontece com seus outros amigos solteiros. Talvez você queira
se casar, mas poderia viver contente se não tivesse um cônjuge. O desejo sexual
ilícito nunca foi uma luta importante na sua vida. Isso, acreditamos, é um dom
raro e especial — uma capacidade divinamente dada de viver feliz sem a
companhia e a gratificação sexual do casamento. Se você tem esse dom, precisa
pensar cuidadosamente sobre o que faz com ele. Você pode usá-lo para o
ministério do evangelho, ou pode usá-lo como um meio de servir a si próprio.
Muitos hoje, mesmo dentro dos círculos evangélicos, têm evitado o
casamento por motivos pouco nobres. Essas pessoas não querem gastar tempo,
energia e recursos materiais com as demandas do casamento. Elas querem uma
vida despreocupada, com ampla liberdade para ir e vir conforme lhes apraz. Sua
rejeição do casamento não é para favorecer a causa do evangelho, mas para os
próprios fins egoístas delas. O celibato em favor do ego não receberá nenhum
louvor de Deus. O celibato pela causa de Cristo será ricamente recompensado.
Assim, ao considerar o celibato, você deve vê-lo como um caminho de
abnegação em prol da glória de Deus. A vida do discipulado radical é dura, não
importa o caminho que você siga.
Qual caminho você sente que Deus o está chamando a trilhar? Como
pastores, achamos muito encorajador ver solteiros em nossas igrejas fazendo uso
sábio do celibato. Eles veem seu celibato como uma oportunidade de servir a
Cristo, e usam-no bem para a glória de Deus. Eles estão envolvidos na igreja,
são rápidos em se inscrever para viagens missionárias de curto prazo e
oportunidades em cultos, rápidos em formar comunidades atuantes e produzir
filhos espirituais através do discipulado. Seu celibato não é uma maldição; é uma
oportunidade. Independentemente de o casamento ser algo pelo qual esperam, ou
algo com que pouco estão preocupados, eles usam seu estilo de vida de solteiro
para servir a Jesus. Essa é a visão de Paulo.
Assim, considere o que Deus gostaria que você fizesse em sua vida.
Estaria ele o chamando para um caminho de celibato por amor ao reino de
Cristo? Se você tem o dom, considere bem como o usa.


SOLTEIRO PELA ESCOLHA DE DEUS

Mas e se você é solteiro e não tem o dom? Em quase todos os aspectos,
nossa cultura contemporânea tem tornado a vida mais desafiadora nesse sentido
do que o que os leitores da época de Paulo tinham de enfrentar. Na época do
Novo Testamento, o casamento tinha menos a ver com amor e mais com
utilidade. Ele era a opção padrão para quase todas as pessoas. Assim como ter
um emprego, todo mundo se casava. E como um emprego, algumas pessoas
desfrutavam de seu casamento, enquanto outras não. Mas isso, de qualquer
modo, não importava muito. Casar era simplesmente algo que se fazia. Seus pais
encontravam para você uma garota de uma família igual à sua, e vocês uniam
laços. Talvez você não se casasse com a garota mais bonita da cidade, mas a
menos que viesse de uma família de mendigos sem nenhum status social ou
fonte de renda, o casamento era uma conclusão inevitável. Era apenas uma
questão de quem e quando. Mas não é assim que funciona hoje.
Nossa cultura tem priorizado o amor sobre a utilidade (o que não é de
todo mau), e assim alguns que teriam sido compatíveis na época do Novo
Testamento não são considerados parceiros de casamento adequados hoje.
Adicionalmente, a natureza igualitária da nossa sociedade tem dado às mulheres
um lugar em nossa cultura independente da família e do lar (de novo, algo não
de todo mau). Em nossa sociedade tecnologicamente sofisticada e relativamente
segura, as mulheres já não precisam de um marido, como acontecia no mundo
antigo. Tudo isso é para dizer o seguinte: nossa cultura tem transformado a busca
por um cônjuge em algo mais desafiador, e muitas pessoas hoje estão sendo
empurradas para um modo de vida para o qual não foram dotadas. Ser solteiro
sem o dom do celibato é duro de roer.
Talvez seja onde você se encontra. Você deseja profundamente estar
casado. Você anseia muito pela parceria, intimidade conjugal, e pela união
sexual do casamento. Você quer servir ao Senhor com todo o seu ser, e quer
um(a) parceiro(a) para acompanhá-lo(a) nisso. Mas por razões que parecem estar
além do seu controle, o casamento parece uma incógnita. E você é tentado(a) a
sentir amargura e desespero. Ou, talvez, a fazer escolhas tolas. Em cada
casamento que você vai, sua suspeita de que Deus tem algo preparado para você
aumenta. Sua angústia é agravada quando seus amigos começam a ter filhos.
Você tem inclusive orado para Deus ajudá-lo(a) a aceitar o celibato, mas sem
efeito.
Como dito no início, não queremos fazer de conta que entendemos a dor
relacional que vem do celibato indesejado. Mas sabemos o que significa viver
com desejos não realizados. Ninguém passa a vida recebendo tudo o que quer, e
sem dúvida nós não somos uma exceção à regra. E se há uma coisa que temos
aprendido das decepções é que a paz vem somente quando reconhecemos a
soberania de Deus. Ao invés de ver seu celibato indesejado como uma má sorte
ou punição divina, nós o encorajamos a vê-lo como um jejum divinamente
designado, que é dado para sua benção.


CELIBATO COMO JEJUM

O jejum de comida é um meio biblicamente designado para elevar nosso
senso de dependência do Senhor. Em muitos aspectos, o jejum serve muito à
mesma finalidade de quando fechamos nossos olhos e curvamos nossa cabeça ao
orar. Nós fechamos nossos olhos para eliminar as distrações e curvamos nossa
cabeça para lembrar da nossa humildade perante o Senhor. Nossa postura
corporal ajuda a focar o espírito. O jejum funciona da mesma forma. A fome
física que inevitavelmente surge por causa do jejum serve como um lembrete
corporal de que somos dependentes do Senhor em cada necessidade. O jejum
aumenta os nossos sentidos espirituais; ele diminui o ruído de fundo da vida e
traz à tona todas as coisas que podemos tomar por certas. Nós nos lembramos de
que precisamos de Deus a todo o momento e que somente por sua graça é que
temos nossos apetites verdadeiramente satisfeitos. Dizemos não à comida com o
propósito de que a nossa fome possa nos reorientar para Deus.
Contudo, temos apetites para mais do que comida. Alguns apetites, como
fome e sede, têm a ver com sobrevivência literal. Mas existem outros apetites
que embora não tenham a ver com vida e morte, são uma parte intrincada do que
significa ser humano — apetites por relacionamentos, significado, propósito e
conforto físico (para citar apenas alguns). Esses são apetites bons, dados por
Deus. Mas nossos apetites, conquanto legítimos, jamais podem ser plenamente
satisfeitos pelas coisas terrenas. O desejo pelo amor de um pai só pode ser
verdadeiramente satisfeito pelo amor do Pai celestial. O desejo pelo conforto
físico só pode ser satisfeito na ressurreição dos mortos, quando o perecível se
tornará imperecível (1Co 15.42). O apetite por relacionamentos — o profundo
desejo de conhecer e ser conhecido — só pode ser satisfeito na comunhão dos
santos na glória, quando o corpo de Cristo será trazido para dentro da comunhão
divina da Santíssima Trindade. E o desejo de intimidade sexual entre marido e
esposa só pode ser verdadeiramente satisfeito no casamento espiritual de Cristo e
sua igreja.
Nossos apetites terrenos nos lembram, mesmo quando saciados, de que
temos necessidade de algo mais, que as alegrias finitas jamais podem trazer
satisfação definitiva. Mas por vezes, o processo todo entra em curto-circuito. As
boas e perfeitas dádivas que vêm do Pai celestial, que servem para nos lembrar
dele, se tornam um fim em si mesmo. Esquecemos que há um doador por trás da
dádiva; esquecemos que os nossos apetites têm o objetivo de nos direcionar para
algo maior do que o que este mundo pode dar. E assim, de tempos em tempos,
Deus fecha a torneira dos nossos apetites para garantir que cheguemos ao ponto.
Amizade é algo muito bom, mas amizade com Deus é algo melhor. Prosperidade
nesta era é algo bom, mas prosperidade na era porvir é algo melhor. Casamento
nesta era é algo bonito, mas casamento na era porvir é algo ainda mais bonito.
Assim como a fome física do jejum volta a nossa atenção para Cristo, a negação
dos nossos outros apetites também nos faz voltar para Cristo. Às vezes Deus usa
a solidão para chamar nossa atenção. Às vezes ele usa a dor física ou o
isolamento. Às vezes ele nos nega bênçãos materiais. Esses períodos de jejum
divinamente designados podem durar meses, anos ou até mesmo uma vida
inteira. Mas a chave em tudo isso é o conhecimento de que Deus procura a nossa
bênção, não o nosso mal. Deus não tira suas dádivas para nos deixar
desamparados; ele tira suas dádivas para no lugar nos dar a si próprio.
Eis o ponto pastoral: se você não tem uma teologia de jejum adequada,
ficará chateado com Deus quando ele deixar algum de seus apetites insaciado.
Você pensará que ele está querendo fazê-lo passar fome. Fome é algo ruim. É
algo inútil, prejudicial e destrutivo. Mas o jejum é algo totalmente diferente. Um
jejum divinamente designado é uma forma de Deus voltar nossa atenção para
aquilo que verdadeiramente sacia — a saber, o próprio Deus. Qual é a sua visão
de Deus? Você crê que ele o está fazendo passar fome, privando-o de algo que
você precisa desesperadamente? Ou você acredita que ele lhe designou um jejum
a fim de lembrá-lo de que a verdadeira fonte de esperança e alegria só pode ser
encontrada nele?
De fato, Deus designa um jejum para cada um de seus filhos. Ele nos
disciplina porque nos ama (Hb 12.6). Se você carrega o jugo de um celibato
indesejado, confie que Deus tem algo melhor para você do que o casamento,
pelo menos por ora. Ele não sai para roubar sua alegria, mas para levá-lo até ela.
Se o casamento estivesse entre os seus maiores interesses, você estaria casado
agora. Só Deus sabe a resposta de por que você ainda está solteiro apesar de
querer o contrário. Descanse na certeza de que ele sabe a razão, em vez de tentar
descobrir a razão. Deus não se esqueceu de você. O Deus que se tornou homem,
sofreu, morreu na cruz, foi sepultado e que então levantou por você no terceiro
dia é o Deus que está envolvido no, e no controle do, seu celibato. Está
envolvido na, e no controle da, sua sexualidade. Está envolvido em, e no
controle de, toda a sua vida.
Assim, se você é um solteiro infeliz, por favor lembre-se de que Deus é
por você em Cristo Jesus! Nem morte nem vida, nem qualquer outra coisa na
criação — mesmo o celibato — será capaz de separá-lo do amor de Deus que
está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.38-39). Sim, ele sabe que você está
faminto. Sim, ele sabe que você tem fome de algo bom. Mas ele escolheu, pelo
menos por ora, não satisfazer sua fome, e o fez por um motivo infinitamente
bom — que você se volte a ele em profunda dependência. O plano dele para
você, neste momento, é seu celibato. E embora Deus possa não lhe ter concedido
o dom do celibato, sua graça é suficiente para sustentá-lo no jejum. Deixe sua
fome por intimidade conjugal voltar seu coração para o único casamento que
pode realmente satisfazer. Amigo, seu celibato pode ser indesejado, mas se você
se submeter ao jejum, ele, todavia, lhe será uma bênção.


CONCLUSÃO

E estou certo disto: aquele que começou a boa obra em vós irá
aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus.

O A P Ó S T O L O PA U L O ( F p 1 . 6 )



O tema da sexualidade está imerso em paixão e significado. Tem grande
importância para quase todo mundo. E as apostas são muito altas, não apenas no
que se refere à nossa própria felicidade, mas também no que concerne à glória e
imagem de Deus. O caminho do mundo é largo, e muitos trilham por ele. O
caminho da cruz, no entanto, é estreito, e poucos o encontram. Se você se
convenceu da conexão entre a sexualidade e a imagem de Deus e entende a
necessidade de direcionar sua vida diferentemente dos padrões do mundo, eu o
exorto a permanecer firme na verdade da Palavra de Deus. Isso não acontecerá
sem um custo temporário, mas no final você colherá bênçãos nesta vida e no
porvir.
Sem dúvida, nem tudo o que escrevemos neste livro é plena sabedoria
divina. Confiamos, no entanto, que grande parte do que dissemos está bem
próximo do ideal de Deus que ele usará para socorrê-lo à medida que você se
esforça para viver para Deus.


LIMITES DO RELACIONAMENTO COM O PRÓXIMO

Considerando a aplicação, reiteramos esta verdade importante: os limites
do relacionamento com o próximo são obrigatórios até o casamento. Se você
está convencido dessa verdade singular, a maior parte dos detalhes restantes
acabará se encaixando no devido lugar: o namoro, como categoria de
relacionamento, deve ser abandonado ou redefinido, os limites sexuais e
românticos serão objetivamente entendidos e o tempo e a pretensão dos
relacionamentos românticos serão esclarecidos desde o começo.
Contudo, se você vive sob a suposição equivocada de que um
relacionamento de namoro está isento do padrão bíblico de pureza absoluta, você
se abre para um mundo de subjetividades. Se vive dentro das categorias
claramente definidas de relacionamentos homem-mulher ordenados por Deus,
você tem a verdade objetiva que precisa para viver uma vida que honra a Deus.


O SEXO, O EVANGELHO E A IMAGEM DE DEUS: O PORQUÊ DOS
MANDAMENTOS DE DEUS

Se há uma mensagem que queremos mais do que nunca transmitir, é esta:
o sexo e o casamento dizem respeito ao evangelho. De fato, tudo na vida diz
respeito ao evangelho. Essa é a alegria e a esperança da humanidade. Tudo o que
vemos, cada pensamento que temos e cada ação que tomamos deve apontar-nos
para um conhecimento de Deus. E graças ao Filho de Deus, virá o dia em que
este mundo inteiro se conformará ao padrão pretendido por Deus. Viveremos
num mundo que transmitirá em todas as coisas, permanentemente, a bondade da
glória e da natureza de Deus.
A sexualidade é só uma faceta dessa imagem. Na vida presente ela nos
aponta para muitos aspectos de Deus; proclama a esperança do evangelho, fala
da nossa união com Cristo e revela o objetivo da nossa salvação. Faça do viver a
sua sexualidade de forma consistente com a imagem de Cristo e a igreja o seu
objetivo. Somente em Deus há felicidade, pois ele é a essência da própria
felicidade. Confie nessa felicidade, pois só quando nossa vida é conformada à
imagem dessa felicidade é que podemos conhecer a verdadeira alegria.


A ESPERANÇA E O DESESPERO DO IDEAL DE DEUS

Finalmente, os mandamentos de Deus, particularmente aqueles no âmbito
do coração, devem quebrar nosso senso de autossuficiência. O caminho ao qual
Deus nos chama está fora do alcance do esforço humano; ele simplesmente não
pode ser alcançado à parte da assistência divina. Todavia, seus mandamentos
deveriam inspirar em nosso coração um senso de expectativa e esperança, pois
revelam as alturas para as quais Deus nos levará à medida que o tivermos em
vista na fé.
Não podemos viver nossa sexualidade de uma forma agradável a Deus à
parte da graça. E essa graça é justamente o que Deus nos provê através de Cristo.
Mesmo ao terminar este livro, somos sobrecarregados novamente pelo padrão ao
qual Deus nos chama em todas as áreas da nossa vida e humilhados pelas muitas
formas nas quais parecemos sucumbir. Mas como orou Agostinho, “Concede-me
o que me ordenas e ordena-me o que quiseres”. Para o cristão, o Senhor não
ordena aquilo para o que não capacita.
Assim, se você acha a estrada muito longa, descanse tranquilo por ter
encontrado a estrada correta. Para a humanidade sozinha, essa jornada é
impossível, mas com Deus todas as coisas são possíveis. Ele se lembra da nossa
estrutura, de que somos pó. Sua misericórdia e graça são suficientes para suprir
nossos fracassos ao longo do caminho. Esforce-se de todo o coração nesse ideal,
enquanto se apropria da mesma graça que Deus lhe concedeu por meio de Cristo.
E que cada um de nós possa manter os olhos fitados nele em vez de nos nossos
próprios tropeços, rumando ao objetivo do ideal de Deus. Para o crente, a batalha
já está ganha; ela só precisa ser travada!






BIBLIOGRAFIA



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Nicence and Post-Nicene Fathers of the Christian Church. Editado por Philip Schaff. Edinburgh: T&T
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Willard, Dallas. The Divine Conspiracy: Rediscovering Our Hidden Life in God. San Francisco:
HarperCollins, 1998.

[1] Veja Joshua Harris, I Kissed Dating Goodbye. O livro de Harris I Kissed Dating Goodbye e seu livro
subsequente, Boy Meets Girl, rejeita a cultura de namoro dominante entre os cristãos solteiros norte-
americanos e chama a um retorno à corte.
[2] Talvez o mais popular seja o livro de Jeramy Clark, I Gave Dating a Chance: A Biblical Perspective to
Balance the Extremes (Colorado Springs, CO: WaterBrook, 2000).
[3] Rob Marus, “Kissing Nonsense Goodbye”, Christianity Today, 11 de junho de 2001,
http://www.christianitytoday.com/ct/2001/june11/6.46.html?start=1.
[4] Jonathan Edwards, que via tudo da vida terrena como uma ilustração das realidades celestiais, também
viu o casamento como uma ilustração do nosso casamento espiritual com Cristo. Ele escreveu, “[Cristo
está] unido a você por uma união espiritual, tão íntima a ponto de ser apropriadamente representada pela
união da esposa ao marido, do ramo à videira, do membro à cabeça; sim, de modo a ser um só espírito”
(ênfase adicionada). Cf. The Sermons of Jonathan Edwards: A Reader, ed. Wilson H. Kimnach, Kenneth P.
Minkema e Douglas A. Sweeney (New Haven, CT: Yale University Press, 1999), p. 186. Agostinho
também viu o casamento como um tipo apropriado de Cristo e a igreja. Ele escreveu, “é de Cristo e a Igreja
que isso é mais verdadeiramente entendido: ‘E eles serão uma só carne’”. Cf. “On Forgiveness of Sins and
Baptism”, em Anti-Pelagian Writings: A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the
Christian Church, ed. Philip Schaff (Edinburgh: T&T Clark, 1997), p. 39.
[5] Decidimos seguir a tradução da English Standard Version deste versículo, que traduz a conjunção de
(“e eu estou dizendo”, v. 32) e “e” em vez de “mas” (como na NIV e NASB). O ponto que Paulo está fazendo
aqui é que o mistério da unidade é realmente sobre Cristo e seu relacionamento com a igreja, até mais do
que sobre o casamento terreno. Não é como se Paulo mudasse de assunto de Cristo e a igreja para um
homem e sua esposa, mas subitamente se visse dizendo, “Mas onde eu estava? Ah, sim. Eu estava falando
sobre Cristo e a igreja”. Antes, ele está tentando demonstrar que o relacionamento uma-carne que existe
entre um homem e uma mulher (ordenado em Gn 2.24) é na verdade sobre Cristo e a igreja. Em outras
palavras, falar do casamento humano é falar de Cristo e a igreja. Em suporte dessa interpretação, veja Peter
T. O’Brien, The Letter to the Ephesians (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999), pp. 428-36.
[6] O fato que Paulo usa uma passagem de Gênesis para se referir a Cristo e a igreja não é inconsistente
com seu uso no contexto original. Muitas vezes ao longo da Escritura um versículo se aplica a muitas
situações. Um exemplo disso pode ser visto em Mateus 2.15, onde o apóstolo menciona que a jornada de
Cristo para o Egito como uma criança pequena é um cumprimento da profecia do Antigo Testamento em
Oseias 11.1. No contexto do Antigo Testamento, a passagem de Oseias teria sido entendida como uma
referência ao êxodo. Mas Mateus vê nessa passagem um cumprimento ainda mais profundo aplicado a
Cristo. Paulo está usando a mesma técnica aqui, mostrando que o propósito último do sexo e do casamento
é visto com a vinda de Cristo. Em suporte dessa interpretação, Ray Ortlund Jr escreve: “O conectivo ‘por
essa razão’, embora parte da citação de Gênesis, e não uma inserção de Paulo, dá a impressão, em seu novo
contexto de Efésios, de uma articulação lógica com o argumento contextual de Paulo”. Cf. God’s Unfaithful
Wife: A Biblical Theology of Spiritual Adultery (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2002), p. 153.
[7] Contudo, mesmo no mundo antigo o casamento não se limitava ao sexo. Sexo com uma prostituta ou
uma amante não constituía um casamento legal (e.g., veja João 4.18 e a mulher no poço). Juntamente com
sexo, casamento no mundo antigo envolvia uma promessa pública de intenção, pagamento de um dote, ou
algum tipo de acordo entre as famílias da noiva e do noivo; somente então um relacionamento sexual era
considerado resultar num casamento juridicamente legítimo. A despeito disso, o sexo ainda era o meio pelo
qual um homem e uma mulher que pretendiam se casar formalizavam de fato esse comprometimento. Veja
Ken M. Campbell, ed., Marriage and Family in the Biblical World (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2003)
para maiores informações sobre casamento no mundo antigo.
[8] 1Co 6.15-17 enfatiza a mesma verdade também. Assim como na passagem de Efésios, Paulo demonstra
aqui que o intercurso sexual serve como uma imagem viva da nossa união invisível com Cristo. O termo
“uma carne” nesta passagem é usado para se referir especificamente ao intercurso sexual. Além disso, o
mandamento de Paulo com respeito à pureza sexual é baseado na unidade que existe no relacionamento do
cristão com Cristo. Somos chamados a nos abster de nos tornarmos um com uma prostituta porque já nos
tornamos um com Cristo (v. 17). Nos tornamos um com ele num plano espiritual, assim como um homem e
uma prostituta se tornam um num plano físico. A unidade física então que resulta do sexo serve como uma
imagem da unidade espiritual que resulta da nossa união com Cristo.
[9] Dallas Willard faz críticas similares com respeito ao entendimento do evangelho por parte dos
evangélico de hoje em seu livro The Divine Conspiracy: Rediscovering Our Hidden Life in God (San
Francisco: HarperCollins, 1998), pp. 35-50. Embora não concordamos com todas as suas soluções, nós
afirmamos o seu reconhecimento do problema.
[10] Jeramy Clark, I Gave Dating a Chance: A Biblical Perspective to Balance the Extremes (Colorado
Springs, CO: WaterBrook, 2000), pp. 108-9.
[11] Deus não expôs claramente por que colocou um fim decisivo nas relações sexuais interfamiliares.
Estamos convencidos, no entanto, de que essa ordem também se refere especificamente à imagem de Deus.
A lei do Antigo Testamento (da qual a ordem em questão faz parte) foi estabelecida como meio pelo qual
Deus poderia habitar em meio ao seu povo de uma forma elevada. Antes da lei, Deus não habitava em meio
ao seu povo em nenhum tipo de posição permanente. A lei foi dada para que as pessoas pudessem saber
como se portar de tal forma que Deus poderia viver entre elas sem destruí-las por causa dos seus pecados.
Assim, através da pureza externa proporcionada pela lei, Deus tomou residência em meio ao seu povo de
uma forma que nunca antes tinha feito. Esse novo relacionamento servia, na verdade, como um prenúncio
do relacionamento de Cristo com a igreja. Não é coincidência que as ordens de Deus em matéria de
relacionamentos interfamiliares foram dadas ao mesmo tempo em que essa nova qualidade de
relacionamento foi estabelecida. Possivelmente, então, a sexualidade humana de algum modo refletia o
estabelecimento desse relacionamento novo e único. Perceba em Lv 18.10 a razão por que Deus proibia o
sexo entre avós e netos: “A nudez da filha do teu filho, ou da filha de tua filha, a sua nudez não descobrirás;
porque é tua nudez” [ACF]. Em outras palavras, Deus proibia o sexo entre avós e netos porque isso é
essencialmente como ter sexo consigo mesmo. A frase “a sua nudez” no fim deste versículo poderia se
referir ou ao filho do avô, ou diretamente ao neto. Qualquer que seja o caso, o raciocínio é o mesmo. O filho
de um homem é a sua própria imagem, sua própria natureza. Assim, o filho de um homem é imagem tanto
desse homem como do pai deste, em cuja imagem o homem nasceu. Assim, ter relações sexuais com um
filho ou neto é ter relações sexuais com a própria imagem, a própria natureza. Mas por que Deus proibiu o
homem de descobrir a própria nudez em conjunção com o novo relacionamento que Deus estava
estabelecendo com o seu povo por meio da lei? Quando parentes sanguíneos se unem sexualmente, isso
essencialmente mostra a união de naturezas iguais. Mas quando duas pessoas de diferentes famílias se unem
sexualmente, isso demonstra a união de duas naturezas diferentes. Em última análise, então, parece que
Deus aboliu o sexo entre parentes sanguíneos porque isso não retrata a imagem da união de duas naturezas
distintas, precisamente o que a lei prenunciou ser cumprido em Cristo.
[12] John Holzmann também argumenta em favor desse padrão de pureza em seu livro Dating with
Integrity (Dallas: Word, 1992), p. 79, como o faz Martha Ruppert em seu livro The Dating Trap: Helping
Your Children Make Wise Choices in Their Relationships (Chicago: Moody, 2000), pp. 58-60.
[13] Para uma discussão mais detalhada sobre o contexto cultural do Novo Testamento, veja Susan
Treggiari, “Marriage and the Family in Roman Society” e David W. Chapman, “Marriage and Family in
Second Temple Judaism”, ambos em Marriage and Family in the Biblical World, ed. Ken Campbell
(Downers Grove, IL: InterVarsity, 2003).
[14] Em inglês, dating pode significar encontro bem como namoro. Mais adiante os autores abordarão
como a palavra passou a significar algo completamente diferente com o passar dos anos. [N. do T.]
[15] Aparentemente, esse significado antigo nunca existiu no Brasil. Contudo, isso é de certa forma
irrelevante, pois estamos preocupados com o resgate do padrão bíblico, e não de um resgate meramente
cultural. [N. do T.]
[16] A NIV, usada no original em inglês, traz “… olhar para uma mulher luxuriosamente”. [N. do T.]
[17] A NIV, usada no original em inglês, traz “ansiaram”. [N. do T.]
[18] O desejo a que Cristo estava se referindo é claramente sexual. Quando um homem tem desejo sexual
por uma mulher que não é sua esposa, comete o pecado da luxúria. No final do capítulo discutiremos como
é possível desejar uma mulher (ou homem) como futura(o) cônjuge sem cometer o pecado da luxúria.
[19] A NIV, usada no original em inglês, traz “desejarás”. [N. do T.]
[20] Veja Dallas Willard, The Divine Conspiracy: Rediscovering Our Hidden Life in God (San Francisco:
HarperCollins, 1998), pp. 164-65, e John MacArthur, The MacArthur New Testament Commentary:
Matthew 1–7 (Chicago: Moody, 1985), pp. 302-3. Embora, no nosso entender, tanto Willard como
MacArthur capturem corretamente o espírito geral do Sermão da Montanha, eles não parecem aplicar seu
ensino consistentemente na área do desejo sexual. O principal ponto de debate envolve a preposição grega
pros, que tanto Willard como MacArthur traduzem como “em vista de” — logo a tradução “todo aquele que
olha para uma mulher com a intenção de luxúria com ela”. Nesta última tradução (a qual defendo), a ênfase
está em certo tipo de olhar (o tipo que inclui o desejo sexual), não prevendo uma cláusula de exceção no
caso de o olhar não ser intencional. Mesmo se admitíssemos a tradução afirmada por Willard e MacArthur,
de modo algum restaria demonstrado que Cristo pretendia eximir a luxúria espontânea, referindo-se apenas
ao desejo sexual premeditado. O contexto nos afasta fortemente dessa visão.
[21] Dannah Gresh, The Fashion Battle: Is It One Worth Fighting? Christian Broadcasting Network, 1 de
março de 2004, http://theshepherdsvoice.org/news/the_fashion_battle-is_it_one_worth_fighting.html. Para
ser justo com Gresh, o contexto das suas declarações mostra que ela não busca desculpar os homens, mas
informar as mulheres da necessidade de modéstia e roupa adequada. Embora as intenções da autora sejam
puras, sentimos que confiar nessa linha de raciocínio minimiza o poder do Evangelho de mudar os desejos
(e as vontades) de uma pessoa e negligencia uma razão positiva para a modéstia. A motivação para a
modéstia deveria vir principalmente de um desejo de proteger a imagem de Deus dentro da sexualidade
humana e não como basicamente um meio de ajudar os homens a se absterem da luxúria. Mesmo as
mulheres idosas devem se vestir com modéstia.
[22] Da mesma forma, mesmo em relacionamentos conjugais normais, saudáveis, os estímulos necessários
para despertar o desejo sexual devem ser aumentados à medida que o relacionamento progride. Um beijo
prolongado não produz necessariamente a mesma excitação sexual intensa que provavelmente fazia nos
primeiros dias do relacionamento. Inevitavelmente, nós nos tornamos cada vez mais cientes de que um
relacionamento sexual com nosso cônjuge não é a resposta plenamente satisfatória para os anseios últimos
da nossa alma. Antes do intercurso sexual, particularmente em nossa juventude, nós achávamos fácil supor,
de forma equivocada, que tal encontro seria a experiência definitiva — a vida plenamente vivida. Mas com
o passar do tempo percebemos que, embora seja cheio de significado, o relacionamento sexual não pode
servir como o cumprimento definitivo dos nossos desejos mais profundos. Ele é apenas uma sombra da
coisa real. Depois de havermos bebido profundamente desse cálice, nossa percepção da capacidade de o
relacionamento sexual atender às nossas necessidades mais profundas começa a se tornar um pouco mais
realista. Logo, não gravitamos em torno de um encontro sexual com a mesma intensidade.
[23] Do original em inglês dating friendships (lit. “amizades de encontros”). A expressão não encontra
tradução exata no português. [N. do T.]
[24] Sitcom, abreviatura de situation comedy (“comédia de situação”, em tradução livre), designa uma
série de televisão com personagens comuns em que há uma ou mais histórias de humor encenadas em
ambientes comuns como família, grupo de amigos, local de trabalho. Em geral são gravados em frente a
uma plateia ao vivo. [N. do T.]
[25] Dois programas de filtro/rastreamento da internet particularmente eficientes são XXXChurch.com
(http://xxxchurch.com), e K9 Web Protection (http://www1.k9webprotection.com).
[26] Um tratamento recente e convincente sobre isso é Barry Danylak’s Redeeming Singleness: How the
Storyline of Scripture Affirms the Single Life (Wheaton, IL: Crossway, 2010). Não concordamos com todos
os pontos que Danylak desenvolve, especialmente a tendência em sua obra de relativizar o casamento à luz
das realidades da nova aliança; mas ele de fato desenvolve um argumento sólido para a condição nova e
redimida do celibato na era pós-Pentecoste.

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