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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

Centro de Ciências Humanas – CCH

Curso de Geografia

Disciplina: Geografia Agrária

Professora: Aldiva Diniz

Acadêmico(a): Edmara Marques de Sousa

Resumo do livro: Brava gente

Sobral – CE

2022
O livro do escritor Bernardo Mançano Fernandes feito através de uma entrevista
com João Pedro Stedile em fevereiro de 1998, com o intuito de contar como
começou, as dificuldades, as conquistas e tudo que envolveu e envolve a luta pela
terra pelos Agricultores sem terra.

Stedile declara que a gênese do MST se deu por vários fatores, mas o principal
deles foi o aspecto socioeconômico das transformações que a agricultura brasileira
sofreu na década de 1970, nessa época ocorreu o período mais rápido e mais
intenso da mecanização da lavoura brasileira, esse período ficou conhecido como a
“modernização dolorosa”. A mecanização da agricultura, uma agricultura com
características mais capitalista, expulsou uma grande parte da população que viviam
no campo, os mesmos enfrentaram grandes dificuldades, isso os obrigou tentar
resistir no campo e buscar outras formas de luta pela terra nas próprias regiões onde
viviam.

Outro fator importante na formação do MST foi o surgimento da CPT, que ajudou na
reorganização das lutas camponesas, trazendo de início, uma motivação regional,
representando um avanço muito importante principalmente pelo aspecto ideológico
do trabalho da CPT, considerado o segundo grande fator da gênese do movimento.
A CPT foi uma força que contribuiu para a construção de um único movimento, de
caráter nacional. O terceiro fator foi a luta dela democratização da sociedade
brasileira, a luta pela democratização da sociedade brasileira e contra a ditadura
militar, que criou as condições necessárias para o surgimento do MST.

O MST nasceu como um movimento camponês, que tinha como bandeiras as três
reivindicações prioritárias, terra, reforma agraria, e mudanças gerais na sociedade.
Três características principais podem ser destacadas dessa organização. A primeira
foi a de ser um movimento popular, em que todo mundo pode entrar. A segunda por
ser um componente sindical no sentido corporativo, e a terceiro é o caráter político
do movimento.

O movimento teve origem em vários Estados da região Centro-Sul. Em janeiro de


1984 a data da fundação do MST, quando se formalizou como um movimento
nacional, surgindo com a palavra de ordem “Terra pra quem nela trabalha”. O termo
“sem-terra” nunca foi discutido, o nome, foi a imprensa que de fato adotou, batizando
como “Movimento Sem Terra”, seja na época Master, seja mais tarde, quando
retornamos a luta com a ocupação da Fazenda Macali e com as outras lutas, em
diversos estados.

O MST é a continuidade de um processo histórico das lutas populares, é importante


fazer o resgate histórico das lutas, isso dá a noção exata das limitações, e assim
poder dar continuidade a essa luta. Há dois fatores que influenciaram a trajetória
ideológica do movimento. Um é decorrente do fato de estar sempre ligado a
realidade e o outro está relacionado a teologia da libertação, a contribuição que a
teologia da libertação trouxe foi a de ter abertura para várias ideias.

No período de transição de governo dos militares a Itamar, vivíam uma época de


crise econômica e de grandes transformações na agricultura, os mesmos fizeram
com que fossem abertas brechas para a luta pela terra e para o crescimento dos
movimentos de massas urbanas que lutavam pela democratização do pais. No
período de 1985 a 1989, o governo da nova república tentava mostrar para a
sociedade que queria fazer a reforma agraria, mas eles, insistíam que a reforma
agraria só avançaria com as ocupações, foi quando levantaram as bandeiras: “Sem
reforma agrária não há democracia” e “A ocupação é a única solução”

A derrota da candidatura Lula foi uma derrota política após dez anos de ascensão do
movimento de massas no Brasil, a derrota afetou o ânimo da militância e aquela
expectativa de que era possível fazer uma reforma agrária rápida. Passaram a viver
um período de muitas dificuldades materiais, o governo Collor além de não fazer a
reforma, resolveu reprimir o MST, essa repressão afetou muito, muita gente foi
presa, começaram a fazer escutas telefônicas, tiveram no mínimo quatro secretarias
estaduais invadidas pela Polícia Federal. O governo Collor foi o batismo de fogo,
porque os movimentos poderíam ter acabado ali. Se o governo dele durasse os
cinco anos previsto e apertasse um pouquinho mais, poderia ter destruídos. Só com
a entrada do governo Itamar Franco foi que tiveram alívio.

Existe a compreensão que o MST deve lutar contra três cercas: a do latifúndio, do
capital e a da ignorância. Esta última não no sentido apenas de alfabetizar pessoas,
mas no sentido de democratizar o conhecimento para um número maior de pessoas
o desenvolvimento depende disso.

O processo eleitoral, é feito após as avaliações dos que já ocupam algum cargo, e
de possíveis novos candidatos. Um processo democrático envolvendo um maior
número de pessoas nas discussões. A votação é uma espécie de formalização do
debate político e acontece num evento nacional, respeitando as diferenças regionais
e geográficos, dando oportunidade para cada estado decidir como implementar as
linhas políticas. A direção nacional é formada por 21 pessoas, escolhidas no
processo, quem ocupa um cargo nacional obrigatoriamente precisa do respaldo da
base, das instâncias estaduais.

O que assimilamos do capitalismo é a divisão do trabalho, não com objetivos


capitalistas. O capitalismo se utiliza da divisão do trabalho para explorar as pessoas.
A divisão do trabalho foi nascendo com o processo natural de desenvolvimento das
forças produtivas. Vemos a divisão ligada ao desenvolvimento técnico das forças
produtivas que existem na sociedade. Estão provando que é possível implantar a
divisão do trabalho como uma forma de desenvolvimento das forças produtivas, em
que essa divisão esteja a serviço do bem-estar de todos.

A luta pela terra se transforma em luta pela reforma agrária e, em consequência,


num projeto político dos trabalhadores se estes, na sua luta, adquirirem consciência
social para mudar a sociedade. E para mudar a sociedade tem que mudar o Estado.
Eles querem que o assentamento seja um cartão de visita para a sociedade.
Querem que, nessas áreas, tanto as pessoas que moram lá como os visitantes se
sintam bem, felizes e orgulhosos do resultado da luta pela terra. Com a reforma
agraria sendo uma das prioridades do MST, eles ocuparam fazendas importantes e
enfrentaram o governo para conseguirem alcançar seu objetivo, a luta ainda não
terminou e o livro é uma forma importante de quem participou do início do
movimento ter sua história contada e para quem ainda está lutando ou ira lutar pela
terra ter conhecimento de como tudo começou e quais os princípios dessa luta.

Trechos que podemos destacar sobre a reforma agrária:

“A visão doutrinaria das Igrejas é de que a terra é um dom de Deus, um bem da


natureza e, portanto, deve estar a serviço de todas as pessoas, e não apenas de
meia dúzia de proprietários, latifundiários.” (p. 163)

“O que avançamos então como movimento, na concepção de nossa luta peã


reforma agrária, é que partimos da nossa realidade e vimos que há dois problemas
estruturais no meio rural brasileiro: a pobreza e a desigualdade sociais.” (p. 163 )
“A política de assentamentos, em si, não é uma conquista. Ela é um resultado do
confronto, da luta de classes. Mas os assentamentos, sim, são conquistas,
verdadeiras áreas liberadas, conquistadas pelos trabalhadores.” (p. 165)

Enfim, foi diante das injustiças sociais que o povo brasileiro sofreu e vem sofrendo
que resolveram se mobilizar, pois os movimentos sociais ganham mais força,
mesmo que sua única arma sejam a mobilização, o grito e o conhecimento, o que
importa é que precisa ser mudado e será através desse grito de guerra que possa
contribuir para que os grupos econômicos deixem ter uma percepção de que tudo
virou mercadoria para ser transformado em lucro e passem a dar mais importância a
vida, a ética, a cultura e a natureza.

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