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Ponto 7

Defeitos do
Negócio Jurídico

Prof. Daniel Deggau Bastos


Sumário
Ponto VII. Defeitos do negócio jurídico.
Considerações gerais. Erro e dolo. Coação.
Estado de perigo. Lesão. Fraude contra credores.

Artigos 138 a 165 do Código Civil

Considerações
Gerais
Anulabilidade (artigo 171, II, CC)

Rol taxativo (numerus clausus)

Pontos para Discussão Simulação


Vícios de consentimento / Vícios sociais
Erro

Dolo

Coação

Estado de perigo

Defeitos do Lesão

Negócio Fraude contra credores.

Jurídico
Erro ou ignorância
Falsa percepção ou ausência de percepção da realidade.

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as


declarações de vontade emanarem de erro substancial
que poderia ser percebido por pessoa de diligência
normal, em face das circunstâncias do negócio.

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto


principal da declaração, ou a alguma das qualidades
a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial


da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à


aplicação da lei, for o motivo único ou principal do
negócio jurídico.
Falsa noção em relação
Erro espontâneo (não provocado)

OU A UM DIREITO (NATUREZA
DO NEGÓCIO)

A UMA PESSOA AO OBJETO DO NEGÓCIO Não é erro sobre um fato.


Não implicando recusa à
Erro quanto a pessoa a quem se a) assina contrato de doação supondo
refere a declaração, que pode se tratar de compra e venda; aplicação de lei, for o
recair sobre: b) o agente representa falsamente o motivo único ou principal
a) a identidade desta: contrata bem que compõe o objeto da relação: do negócio jurídico”.
certa pessoa acreditando se pensa estar alienando uma cópia de O erro de direito consiste
uma pintura, quando, em verdade, está
tratar de pessoa homônima. na falsa representação
alienando o original;
b) sobre suas qualidades: acerca do direito aplicável
c) falsa representação das suas
contrata professora de idioma ou de sua interpretação.
características: compra bijuterias
acreditando se tratar de nativa prateadas acreditando se tratar de Conflito: a ninguém é dado
da língua, quando não o é. prata.
ignorar a lei?
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da
vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao
consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do


outro cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa
fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior
torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por
sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico
irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia
grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz
de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
descendência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
IV - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
Exemplo de erro de direito que se extrai da jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça diz respeito à aquisição de
imóvel por quem, sendo seu possuidor por muitos anos, já o
havia usucapido ao tempo do negócio.

Decidiu, na ocasião, o STJ que “não parece crível que uma


pessoa faria negócio jurídico para fins de adquirir a
propriedade de coisa que já é de seu domínio, porquanto o
comprador já preenchia os requisitos da usucapião quando,
induzido por corretores da imobiliária, ora recorrente e
também proprietária, assinou contrato de promessa de
compra e venda do imóvel que estava em sua posse ad
usucapionem. Portanto, incide o brocardo nemo plus iuris,
isto é, ninguém pode dispor de mais direitos do que possui”
(STJ, REsp 1.163.118/RS, 4.ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 20.05.2014).
O agente incurso em erro de direito não descumpre a lei
(a pretexto de desconhecê-la), mas realiza negócio lícito
com vistas ao alcance de consequências jurídicas
inatingíveis, já que impedidas pela ordem jurídica.

Imagine-se, por exemplo, a pessoa que comprou um


terreno visando a loteá-lo, sem ter conhecimento de que
naquela área, segundo a municipalidade, não se pode
edificar, ou não se pode realizar o projeto tal como
desejado. Portanto, o erro de direito, expressamente
admitido pelo Código Civil como passível de tornar
defeituoso o negócio jurídico, não é contraditório com o
art. 3º da LINDB, pois não se trata de descumprir a lei,
mas de anular negócio jurídico cuja vontade foi formada
em razão de falsa percepção da realidade jurídica
(Gustavo Tepedino).
Erro substancial Erro escusável(?)

Falsa percepção sem a qual o Poderia ser percebido por pessoa de


negócio não se firmaria diligência normal, em face das
Não se confunde com o erro circunstâncias dos negócios
Na sistemática do art. 138, é
acidental, que é aquele que não
irrelevante ser ou não escusável o erro,
alteraria a realização do negócio.
porque o dispositivo adota o princípio
Sujeito compra carro para utilizar da confiança (Enunciado 12, CJF)
em terreno acidentado e descobre Erro escusável x erro inescusável(não
que o veículo é indicado autoriza anulação do negócio)
exclusivamente para estradas.
O segundo requisito indispensável à anulação do negócio jurídico por erro é a sua
escusabilidade. Erro grosseiro ou inescusável não torna o negócio jurídico
defeituoso. Apenas o erro escusável pode ensejar a anulação do negócio por vício
do consentimento. Em que pese a ausência de menção expressa à escusabilidade
pelo codificador, considera-se indispensável tal requisito, integrando a
escusabilidade a própria noção de erro juridicamente relevante.
Portanto, a anulabilidade do negócio jurídico pressupõe, além da substancialidade
do erro, a sua escusabilidade. Há de se aferir, quanto a este último requisito, não
apenas se o erro é grosseiro como também se o contratante falhou em sua
diligência, incorrendo em erro que poderia ter evitado se tivesse agido
adequadamente. Verificadas quaisquer dessas hipóteses – erro grosseiro ou
evitável –, o erro é inescusável e, assim, não vicia o negócio jurídico. A
escusabilidade do erro somente pode ser aferida diante das particularidades de
cada caso concreto, de modo que o parâmetro abstrato do bom pai de família cede
espaço para padrões de desvelo concretamente apurados.
[Cognoscibilidade do erro]
Ao lado da substancialidade e da escusabilidade, o terceiro requisito introduzido pelo
Código Civil é a cognoscibilidade ou recognoscibilidade. Enquanto o requisito da
escusabilidade direciona a atenção do intérprete para o emissor da declaração de
vontade, o requisito da cognoscibilidade volta-se para o receptor da declaração de
vontade. A cognoscibilidade exige, para a invalidade, que o erro “poderia ser percebido
por pessoa de diligência normal” (CC, art. 138). Ou seja, se o destinatário tinha condições
de perceber a vontade viciada do emissor, ainda que, concretamente, não tenha notado
tal circunstância, estará configurado o requisito da cognoscibilidade.
A anulabilidade do negócio por erro do declarante pressupõe, assim, que tal erro pudesse
ser percebido por uma pessoa de diligência normal. O legislador, ao decidir quem arcará
com o prejuízo derivado da conservação ou da insubsistência do negócio, protege o
receptor da vontade que, estando de boa-fé e tendo agido com a diligência esperada,
não percebeu e nem poderia perceber que a outra parte estava em erro. (Gustavo
Tepedino).
ASPECTOS SECUNDÁRIOS

Erro acidental Não chega a ser suficiente para que se


conclua que o declarante teria deixado de
celebrar o negócio jurídico, na sua ausência.

EXEMPLO
Art. 142. O erro de
indicação da pessoa ou Menção equivocada ao estado civil de um
da coisa, a que se referir sujeito contemplado em ato de última
a declaração de vontade, que não será capaz de anular a
vontade, não viciará o disposição testamentária, caso seja possível
negócio quando, por seu a identificação do beneficiado.
contexto e pelas
ERRO ARITMÉTICO
circunstâncias, se puder
identificar a coisa ou Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza
pessoa cogitada. a retificação da declaração de vontade.
Erro sobre o motivo
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade
quando expresso como razão determinante.

Em regra, os motivos são irrelevantes. Quando expresso como razão


determinante, pode viciar o NJ. Exemplo: Doação de um carro ao bombeiro
que salvou a vida de seu filho e incide em erro quanto à pessoa que o fez.

Declaração expressa: No entanto, de acordo com a dicção do artigo 140 do


Código Civil, a identificação de ‘potenciais motivos’ ou de suposta intenção
não é suficiente para anular o contrato, pois somente a declaração expressa
do motivo no instrumento consegue imprimir-lhe a qualidade de determinante,
ensejando a anulação do negócio jurídico caso não se confirme. Nesse
contexto, o motivo alegado pela recorrida, isto é, a pretensão de compensar os
créditos, ainda que frustrada, é irrelevante na hipótese, permanecendo,
também sob essa perspectiva, hígida a contratação havida entre as partes”
(STJ, REsp 1.645.719/RJ).
Em regra, os motivos que levam o agente a emitir sua declaração de vontade afiguram-se irrelevantes para o Direito Civil. A
frustração da motivação subjetiva, interna e psicológica de uma ou ambas as partes, não produz efeito algum sobre o negócio
jurídico celebrado. Como já advertiam os romanos, falsa causa non nocet. Daí afirmar o art. 140 que o falso motivo apenas
viciará a declaração de vontade “quando expresso como razão determinante”. Assim, quem adquire um livro em uma livraria
para presentear certa pessoa acreditando ser seu aniversário não pode, a princípio, pretender anular o contrato de compra e
venda da obra, sob o argumento de que se equivocou acerca da data. A livraria nada tem com o motivo subjetivo da
aquisição, salvo se as próprias partes tiverem expressamente convertido tal motivo em uma razão determinante do negócio
jurídico. Não há, todavia, necessidade de que se use, expressamente, a fórmula “razão determinante”, mas tão somente que
se possa extrair do negócio jurídico celebrado a explicitação do motivo como essencial à conclusão do ajuste.
Não raro, o motivo que leva as partes a contratar vem expresso nos contratos sob a forma de “considerando”, o que nem por
isso deixa de atender ao requisito de explicitação exigido pelo art. 140 do nosso Código Civil. Registre-se que, sem prejuízo da
literalidade do artigo em comento, parte da doutrina discute se, para a configuração do erro sobre motivo, é realmente
necessário que tal motivo reste “expresso” como razão determinante do negócio jurídico. É instigante notar, por exemplo, que,
no art. 139, III, do Código Civil, ao tratar do erro de direito, não exige o legislador o caráter expresso, limitando-se a aludir ao
erro de direito como “motivo único ou principal” do negócio. Assim o faz seguramente porque o conhecimento (verdadeiro ou
falso) das leis subjaz à contratação, não a integrando em termos expressos normalmente. Em outras palavras, não é usual
que se inscreva como premissa de um instrumento contratual a interpretação que as partes reservam às regras legais.
Entretanto, se não é necessário ser “expresso” o motivo jurídico, com maior razão não precisaria ser expresso o motivo fático,
podendo ser considerada viciada a vontade desde que se identifique o falso motivo como razão determinante do negócio
jurídico, assim entendida não apenas a razão expressa no negócio jurídico, mas também aquela que resulte inequivocamente
das circunstâncias. (Anderson Schreiber)
Erro e conservação do NJ
Art. 144. O erro não prejudica a validade do
negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se
oferecer para executá-la na conformidade
da vontade real do manifestante.

O art. 144 permite ao destinatário da declaração de vontade viciada


em erro evitar a anulação do negócio jurídico, oferecendo-se para
cumprir o negócio jurídico em conformidade com a real intenção do
declarante. Trata-se de exceção (defesa) que se mostra
consentânea com o princípio da conservação dos negócios jurídicos,
podendo ser invocada na própria contestação da ação anulatória.
Anulação e
prejuízos
“Suponha que um fazendeiro adquira um pequeno avião para
pulverizar sua plantação; após a compra descobre que o avião não é
apto para tal; em ação judicial consegue o reconhecimento do erro e
o desfazimento do negócio; imagine que o vendedor (que não teve
qualquer responsabilidade no erro) já tenha se utilizado do
montante recebido e sofra enorme prejuízo com a anulação desse
negócio. O que fazer?
Ainda que estejamos diante de um erro substancial e escusável (art.
138 do CC), é possível que a anulação do negócio acarrete a
responsabilidade civil daquele a quem o erro beneficia, o que seria
um exemplo de responsabilidade civil por ato lícito. Nas palavras dos
citados autores: “(...) a melhor solução estará na indenização dos
prejuízos da parte que não errou, mediante prova dos prejuízos
havidos. O fundamento dessa reparação é a equidade, não a culpa”
(Chaves, Rosenvald e Braga Netto)
Dolo
Configura o artifício ardiloso empregado para enganar
alguém, com intuito de benefício próprio. É o erro
provocado.

"é todo ato, positivo ou negativo, que intencionalmente


suscita, fortalece, ou mantém erro de outra pessoa, com
a consciência de que esse erro lhe determina ou concorre
para lhe determinar a manifestação da vontade" (P.M.)

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por


dolo, quando este for a sua causa.

+ perdas e danos
Dolo substancial Dolo positivo
x x
Dolo acidental Dolo negativo

Será substancial quando tiver O positivo se dá por ação; o negativo por


potencialidade para influir na formação do omissão
próprio negócio, ao passo que o acidental Deixar de informar que o carro já sofreu colisão
seria realizado, embora por outro modo. grave, passando por reforma estrutural
O dolo acidental só obriga à satisfação das locação de imóvel por locador que silencia
perdas e danos (Art. 146. O dolo acidental quanto à existência de vazamentos nas
só obriga à satisfação das perdas e danos, instalações hidráulicas do apartamento ou
e é acidental quando, a seu despeito, o mesmo de conflitos de vizinhança
negócio seria realizado, embora por outro recorrentemente gerados por excesso de ruído,
modo. se tinha conhecimento desses problemas.
Dolus malus x Dolus bonus

O dolus malus seria aquele apto a anular o negócio


jurídico, fazendo com que a pessoa incida em erro.
Dolus bonus - puffing

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou,
por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em
erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados
sobre produtos e serviços.
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de
qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência
da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa
à sua saúde ou segurança.
Dolo é, em suma, o erro provocado. Tem-se dolo quando a falsa representação da realidade que influencia a declaração de vontade
do agente não é espontânea, tendo origem em conduta comissiva ou omissiva, mas sempre deliberada, da contraparte ou de
terceiro. A exemplo do erro, o dolo só provoca a anulabilidade do negócio jurídico quando tenha influenciado de modo determinante
na sua celebração. Trata-se do chamado dolus causam dans ou dolo principal, que recai sobre aspecto essencial do negócio jurídico,
de tal modo que se possa afirmar que o negócio não teria sido celebrado se não tivesse ocorrido a indução maliciosa em erro. Exige-
se, ainda, que o meio empregado pelo agente malicioso seja idôneo a provocar o erro. Assim, certos artifícios, que poderiam ser
considerados enganosos em relação a um consumidor, podem não ser suficientes a caracterizar o dolo em uma relação entre
comerciantes ou empresários especializados no objeto do negócio.

Não se deve confundir a) o dolo como defeito do negócio jurídico, e b) o dolo como modalidade de culpa, elemento do ato ilícito, que
se revela na conduta intencionalmente dirigida a causar prejuízo a outrem (v. comentários ao art. 186). Embora ambas as noções
assentem sobre a intenção nociva do agente, trata-se de conceitos distintos que possuem papel e efeitos próprios na dogmática do
Direito Civil. O dolo de que trata o artigo em comento é o dolo-defeito, vício do consentimento, que gera a anulabilidade do negócio
jurídico.

No âmbito do dolo-defeito, a doutrina distingue, ainda, a) o dolus malus; e b) o dolus bonus. O dolus malus seria o dolo propriamente
dito: aquele que se caracteriza pela vontade de iludir, com o propósito de prejudicar o declarante. Já o dolus bonus consistiria
naquele conjunto de práticas usuais do comércio que não têm o escopo de iludir ou prejudicar, como a prática de enfatizar as
qualidades do bem a ser vendido ou os exageros habitualmente utilizados na publicidade comercial. O dolus bonus não seria
suficiente, segundo tal entendimento, para atrair os efeitos jurídicos do dolo. Aqui, cumpre distinguir, todavia, entre os exageros
insuscetíveis de induzir em erro o declarante e, de outro lado, aquelas informações objetivamente falsas que podem acabar por iludi-
lo. É certo que a ordem jurídica brasileira admite o puffing, prática publicitária voltada a enaltecer as características do produto, por
vezes de modo exacerbado, mas sempre inofensivo (como nos slogans “o perfume que você nunca mais vai esquecer”, “a cerveja
mais saborosa do mundo” e assim por diante). Nossa legislação consumerista coíbe, no entanto, a publicidade enganosa, aquela
que, utilizando informações inverídicas, pode produzir falsa representação da realidade (CDC, art. 37). (Anderson Schreiber)
Terceiro e beneficiado
BENEFICIADO
responderão por perdas
SABIA OU e danos, sem prejuízo da
DEVERIA SABER anulação
DOLO DE
NO
TERCEIRO Poderá haver anulação,
BENEFICIADO mas só o terceiro
NÃO SABIA responderá por perdas e
danos

Representado só responde
até a importância do
REP. LEGAL proveito; representante
responde por perdas e
danos

NO
REPRESENTANTE

Representado
REP. responde
CONVENCIONAL solidariamente por
perdas e danos
Imagine a hipótese de agente que pretende adquirir uma joia, imaginando-a de ouro, quando na verdade
não é. O fato de não ser de ouro não é ventilado pelo vendedor e muito menos pelo comprador. Um
terceiro, que nada tem a ver com o negócio, dá sua opinião encarecendo que o objeto é de ouro. Nisso o
comprador é levado a efetuar a compra. Fica patente, aí, o dolo de terceiro. O fato, porém, de o vendedor ter
ouvido a manifestação do terceiro e não ter alertado o comprador é que permitirá a anulação. Daí por que o
atual Código especifica que o ato é anulável se a parte a quem aproveite tivesse conhecimento do dolo ou
dele devesse ter conhecimento. O exame probatório é das circunstâncias de fato em relação ao que se
aproveita do negócio.
O dolo de terceiro, para se constituir em motivo de anulabilidade, exige a ciência de uma das partes
contratantes (RT 485/55). O acréscimo constante deste Código é absorção do que a doutrina e a
jurisprudência já entendiam. Caberá ao critério do juiz entender o ato anulável por ciência real ou presumida
do aproveitador do dolo de terceiro. O dolo pode ocorrer, de forma genérica, nos seguintes casos:
1.dolo direto, ou seja, de um dos contratantes;
2.dolo de terceiro, ou seja, artifício praticado por estranho ao negócio, com a cumplicidade da parte;
3.dolo de terceiro, com mero conhecimento da parte a quem aproveita;
4.dolo exclusivo de terceiro, sem que dele tenha conhecimento o favorecido. (Sílvio Venosa)
Dolo recíproco (bilateral) - inalegabilidade por quem o praticou.
Não se pode beneficiar da própria torpeza

Art. 150. Se ambas as


partes procederem
com dolo, nenhuma
pode alegá-lo para
anular o negócio, ou
reclamar indenização.
permuta
x

Erro

Dolo

Coação

Estado de perigo

Defeitos do Lesão

Negócio Fraude contra credores.

Jurídico
Coação
Trata-se da pressão física ou moral que impede a real
manifestação da vontade. É o caso do sujeito foi coagido,
constrangido, ameaçado a realizar o negócio jurídico.

Fundado temor de dano iminente e considerável: "A ameaça há


de ser séria e injusta, de tal sorte que o paciente se depare com
a escolha entre sofrer o mal iminente ou firmar o negócio
jurídico" (Gustavo Tepedino)

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da


vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável
à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Coação é a ameaça de dano mediante a qual se constrange alguém a celebrar um
negócio jurídico. A ameaça deve ser de tal intensidade que seja capaz de incutir no
coacto um fundado temor. A doutrina sustenta, nesse sentido, que a) a ameaça deve
ser séria e crível, enquanto b) o dano prometido deve ser suficientemente grave. [...].
O dano deve ser, ainda, c) iminente, assim entendido o dano que está prestes a
acontecer: a ameaça de dano remoto, bem como a ameaça genérica não se mostram
aptos a viciar o negócio jurídico por coação. [...].

O legislador não exige qualquer vínculo entre o coacto e a vítima potencial, deixando
ao juiz a tarefa de analisar as circunstâncias do caso para determinar se a ameaça
se revela capaz de afetar a formação da vontade do coacto. A doutrina suscita
também hipótese curiosa de coação mediante a ameaça de dano ao próprio coator,
como no caso do filho que, para obter uma doação do pai, ameaça se suicidar ou se
ferir (Anderson Schreiber)
PADRÕES DE REFERÊNCIA

Como No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a


condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as

analisar a demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.


(art. 152)

coação TEMOR REVERENCIAL

Não se considera coação a ameaça do exercício normal de


um direito, nem o simples temor reverencial.

O temor reverencial existe perante pessoas a quem se


respeita ou se admira profundamente. Embora possa
influenciar na declaração da vontade, não traduz coação,
pois não configura, em si mesmo, ameaça direcionada à
conclusão do negócio.
Diligência normal (art. 138)
x caso concreto (art. 152) Pais x Patrões x Médicos x Professores x Sacerdotes
Cobrança de dívidas
Vis absoluta Vis compulsiva
Coação física Coação moral

Exclui por completo a vontade Não impede a manifestação volitiva,


do agente, reduzido a porém deforma o seu conteúdo. A
instrumento passivo do ato, coação de que trata o Código Civil é
implicando ausência total de aquela que resulta da violência moral.
consentimento. Neste caso, há dissociação entre a
Não há vício porque não há vontade declarada e a vontade real
do agente, havendo, aqui sim, vício
sequer vontade, elemento
do consentimento para fins dos
essencial à própria formação do
artigos 151 a 155 do Código Civil.
negócio jurídico.
À sua pessoa, à sua família,
ou aos seus bens.

Mas é só?

O parágrafo único do art. 151 dispõe que


se a ameaça disser respeito a pessoa não
pertencente à família do paciente, deve o
juiz decidir, com base nas circunstâncias,
se houve coação.

Prestigiou o legislador, de maneira ampla,


os vínculos de afeto, não restringindo a
tutela da coação aos laços próprios das
organizações familiares. (Gustavo
Tepedino)
Terceiro e beneficiado
BENEFICIADO
responderão por perdas
SABIA OU e danos, sem prejuízo da
DEVERIA SABER anulação
COAÇÃO DE
NO
TERCEIRO
O negócio jurídico
BENEFICIADO subsistirá, mas o coator
NÃO SABIA responderá por perdas e
danos (Art. 155)

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida


por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter
conhecimento a parte a que aproveite, e esta
responderá solidariamente com aquele por
perdas e danos.
Cuida-se de inovação em relação à disciplina do
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação Código Civil de 1916, em que a coação de terceiro
decorrer de terceiro, sem que a parte a que
aproveite dela tivesse ou devesse ter
era causa de anulabilidade do negócio em
conhecimento; mas o autor da coação responderá qualquer caso.
por todas as perdas e danos que houver causado
ao coacto.
Estado de Perigo
Assunção de obrigação excessivamente onerosa em razão da
“necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de
grave dano conhecido da outra parte” (art. 156 do CC).

Art. 156. Configura-se o estado de perigo


quando alguém, premido da necessidade de
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave
dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não


pertencente à família do declarante, o juiz
decidirá segundo as circunstâncias.
Estado de Perigo
Exemplos

EMPRÉSTIMO PARA RESGATE NÁUFRAGO SAÚDE

Aquele que, necessitando pagar Aquele que se encontra à deriva A pessoa que, tendo sofrido
resgate a sequestradores para em alto mar e que promete dar acidente e correndo risco de vida,
salvar a vida de seu filho, pratica recompensa milionária ao aceita pagar para o único médico
ato negocial excessivamente comandante para ser resgatado daquela região honorários
oneroso. pelo único navio que ali passava flagrantemente desproporcionais
OBRIGAÇÃO EXCESSIVAMENTE ONEROSA ASSUMIDA

Estado de EM SITUAÇÃO DE EXTREMA NECESSIDADE

Vulnerabilidade + onerosidade excessiva


Perigo:
requisitos NECESSIDADE DE SALVAR-SE OU A PESSOA DE SUA
FAMÍLIA

Tratando-se de pessoa não pertencente à família do


declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

DOLO DE APROVEITAMENTO (?)


Para uns, basta o conhecimento da situação pela outra parte.
Para outros, necessário dolo de aproveitamento: mostrar que
atuou conscientemente no sentido de extrair proveito dessa
situação
O estado de perigo, previsto no art. 156 do Código Civil, se configura nas
hipóteses em que a parte, premida pela necessidade de salvar a si ou a
alguém de sua família de grave dano físico ou moral, de conhecimento da
outra parte, celebra negócio excessivamente oneroso. Aos negócios jurídicos
unilaterais também se aplica o estado de perigo, como no caso da promessa de
recompensa. Pense-se na hipótese de o náufrago prometer, a quem conseguir
salvá-lo, pagamento exacerbado. Note-se que o perigo não precisa ser real para
viciar a formação da vontade; basta a crença do declarante de que a grave
situação de perigo existe, aliada ao aproveitamento deste estado psicológico pela
contraparte.(Gustavo Tepedino)

Enquanto na coação a ameaça ou violência provém de uma pessoa interessada


na prática do ato, no estado de perigo a ameaça decorre de simples
circunstâncias de fato, que exercem decisiva influência na declaração da vontade
do agente (Anderson Schreiber).
Atividades empresariais voltadas especificamente
para o atendimento de pessoas em condição de perigo
iminente, como se dá com as emergências de hospitais
particulares, não podem ser obrigadas a suportar o
ônus financeiro do tratamento de todos que lá
aportam em situação de risco à integridade física, ou
mesmo à vida, pois esse é o público-alvo desses locais,
e a atividade que desenvolvem com fins lucrativos é
legítima, e detalhadamente regulamentada pelo Poder
Público.
Se o nosocômio não exigir, nessas circunstâncias,
nenhuma paga exagerada, ou impor a utilização de
serviços não necessários, ou mesmo garantias
extralegais, mas se restringir a cobrar o justo e usual,
pelos esforços realizados para a manutenção da vida,
não há defeito no negócio jurídico que dê ensejo à sua
anulação” (STJ, REsp 1.680.448/MG, 3.ª Turma, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 22.08.2017).
Erro

Dolo

Coação

Estado de perigo

Defeitos do Lesão

Negócio Fraude contra credores.

Jurídico
Lesão
Lesão é, assim, o prejuízo resultante da enorme desproporção
existente entre as prestações de um contrato, no momento de
sua celebração, determinada pela premente necessidade ou
inexperiência de uma das partes. Não se contenta o dispositivo
com qualquer desproporção: há de ser manifesta (CRG)

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob


premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga
a prestação manifestamente desproporcional ao valor
da prestação oposta.

Figura não prevista no CC/16.


Denota falta de equidade: desequilíbrio nas relações.

CDC, art. 51, IV: São nulas de pleno direito as


prestações que estabeleçam obrigações consideradas
iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com
a boa-fé ou a eqüidade;
Arnaldo Rizzardo conceitua a lesão enorme, ou simplesmente lesão, como o negócio
defeituoso em que não se observa o princípio da igualdade, pelo menos aproximada, na
prestação e na contraprestação, e em que não há a intenção de se fazer uma liberalidade.
Revelando a falta da equidade, ou a iniquidade enorme, provoca um desequilíbrio nas
relações contratuais. Insere-se o instituto na teoria dos vícios, malgrado não seja,
propriamente, hipótese de desconformidade entre vontade real e declarada. De fundo
moral, visa ajustar o contrato a seus devidos termos, eliminando-se a distorção provocada
pelo aproveitamento da necessidade, ou da inex­pe­riência, ou da leviandade alheia. Objetiva
reprimir a exploração usurária de um contratante por outro, em qualquer contrato
bilateral, embora nem sempre a lei exija, para sua configuração, a atitude maliciosa do
outro contratante, preocupando-se apenas em proteger o lesado, como fez o atual Código
Civil brasileiro (CRG).

CDC - Art. 51, IV. São nulas de pleno direito as prestações que estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada,
ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
Prestação Em razão de
manifestamente necessidade ou
desproporcional inexperiência
Não há parâmetro fixo. Ver caso concreto. Enunciado 290, CJF: "A lesão acarretará a
Art. 157, § 1° Aprecia-se a desproporção das anulação do negócio jurídico quando verificada,
prestações segundo os valores vigentes ao na formação deste, a desproporção manifesta
tempo em que foi celebrado o negócio entre as prestações assumidas pelas partes,
jurídico. não se presumindo a premente necessidade ou
Art. 157, § 2° Não se decretará a anulação do a inexperiência do lesado"
negócio, se for oferecido suplemento Enunciado 410, CJF: "A inexperiência a que se
suficiente, ou se a parte favorecida concordar refere o art. 157 não deve necessariamente
com a redução do proveito. significar imaturidade ou desconhecimento em
relação à prática de negócios jurídicos em
Dolo de aproveitamento? Enunciado 150, CJF: geral, podendo ocorrer também quando o
não. lesado, ainda que estipule contratos
costumeiramente, não tenha conhecimento
específico sobre o negócio em causa"
A necessidade do contratante, de que fala a lei, não está relacionada às
suas condições econômicas. Não é a miséria, a insuficiência habitual de
meios para prover à subsistência própria ou dos seus. Não é a
alternativa entre a fome e o negócio, mas a necessidade contratual (Caio
Mário). Ela deve estar relacionada à impossibilidade de evitar o contrato,
o que independe da capacidade financeira do lesado.

Do mesmo modo, a inexperiência deve ser relacionada ao contrato,


consistindo na falta de conhecimentos técnicos ou habilidades relativos
à natureza da transação. Inexperiência, assim, não significa falta de
cultura, pois até pessoa erudita e inteligente às vezes celebra contrato
sem perceber bem o seu alcance, por não ser sua atividade comum. A lei
refere-se, portanto, à inexperiência contratual ou técnica, que se aferirá
tanto em relação à natureza da transação quanto à pessoa da outra
parte (CRG).
ERRO

Não No erro o agente manifesta a sua vontade ignorando a realidade ou tendo


dela uma falsa ideia. Se a conhecesse ou dela tivesse ideia verdadeira, não

confundir faria o negócio. Na lesão tal não ocorre, visto que a parte tem noção da
desproporção de valores. Realiza o negócio, mesmo assim, premido pela
necessidade patrimonial.

(CRG) DOLO

Quando a outra parte induz em erro o agente, mediante o emprego de


artifício astucioso, configura-se o dolo . Nos negócios comprometidos pela
lesão, simplesmente aproveita-se uma situação especial, como de
necessidade ou inexperiência, não havendo necessidade de que a
contraparte induza a vítima à prática do ato.

COAÇÃO

Na coação a vítima não age livremente. A vontade é imposta por alguém,


mediante grave ameaça de dano atual ou iminente. Na lesão, ela decide por
si, pressionada apenas por circunstâncias especiais, provenientes da
necessidade ou da inexperiência.
Podem ser destacadas, portanto, como principais, as seguintes diferenças entre estado de perigo e lesão:

a) o estado de perigo vicia a própria oferta, em razão do comprometimento da liberdade volitiva em


consequência da situação de extremo risco existente no momento em que é formulada, o que dificilmente
ocorre com a lesão, que se configura quando há usura real;
b) no estado de perigo o contratante se encontra na situação em que deve optar entre dois males, ou seja, ou
sofrer as consequências do perigo que o ameaça ou ameaça sua família (necessità), ou pagar ao seu “salvador”
uma quantia exorbitante, sucumbindo, dessa forma, a outro perigo – o de perder, talvez, todo seu patrimônio. Na
lesão o declarante participa de um negócio desvantajoso (“manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta”), premido por uma necessidade econômica (bisogno). A necessidade de que fala a lei não é a
miséria, não é a alternativa entre a fome e o negócio. Deve ser a necessidade contratual, de caráter patrimonial;
c) a lesão pode decorrer da inexperiência do declarante, que não é requisito do estado de perigo;
d) na lesão não é necessário que a contraparte saiba da necessidade ou da inexperiência, sendo, pois, objetivo o
defeito. O estado de perigo, além do elemento objetivo (prestação excessivamente onerosa), exige o
conhecimento do perigo pela parte que se aproveitou da situação (elemento subjetivo);
e) a lesão admite suplementação da contraprestação, o que não sucede com o estado de perigo, em que alguém
se obriga a uma prestação de dar ou fazer por uma contraprestação sempre de fazer;
f) a lesão exige desequilíbrio de prestações, enquanto o estado de perigo pode conduzir a negócios unilaterais
em que a prestação assumida seja unicamente da vítima: promessa de recompensa, obrigação de testar em
favor de alguém etc. (Carlos Roberto Gonçalves)
Princípio da
Conservação dos NJ
§2° Não se decretará a anulação do
negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida
concordar com a redução do proveito.

Previsão análoga não existe na regulamentação do estado de


perigo. Entretanto, incide a mesma lógica, a justificar a aplicação,
por analogia, do parágrafo segundo do art. 157 ao estado de
perigo disciplinado pelo art. 156. Precisamente nesse sentido se
manifesta o Enunciado 148 aprovado pela III Jornada de Direito
Civil do Conselho da Justiça Federal: “Ao ‘estado de perigo’ (art.
156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157”.
Fraude contra credores
Ao contrário dos vícios de consentimento, na
fraude contra credores o atingido não é parte do
negócio jurídico, mas sim um terceiro, por isso a
classificação como vício social.

Art. 158 a 165.

Credor x Devedor.

Não a pessoa, mas o patrimônio do


devedor serve para a garantia da
satisfação dos créditos. Interesse de
cometer fraude contra credor é do devedor.
Com a eventual diminuição do patrimônio
do devedor, pode recair em insolvência.
O devedor insolvente ou próximo a
essa situação realiza negócios
gratuitos ou onerosos causando
prejuízo aos seus credores.
Credor com garantia x credor sem garantia

Ao tratar a fraude contra credores como defeito do


negócio jurídico, quis o legislador proteger os credores
quirografários – ou seja, os que têm como garantia o
patrimônio geral do devedor, sem qualquer privilégio ou
garantia real, bem como aqueles cuja garantia se torne
insuficiente – de negócios praticados pelo devedor em
prejuízo da garantia patrimonial geral (Tepedino)
Evento danoso Propósito de causar dano
(eventus damni) (consilium fraudis)

O ato fraudulento apenas pode ser assim Má-fé do devedor. Consciência de prejudicar
qualificado se efetivamente comprometer a terceiros.
capacidade do devedor de honrar suas Não se exige que o adquirente esteja mancomunado
obrigações, reduzindo-o à insolvência – que (concilium) com o alienante para lesar os credores
se caracteriza pela circunstância de o deste. Basta a prova da ciência da sua situação de
passivo patrimonial superar o ativo – ou insolvência (CRG).
agravando este quadro (eventus damni). Objetivação do conceito de fraude (busca por maior
Sem esse pressuposto objetivo não há de se efetividade): ver AgInt no REsp nº 1.294.462 - GO.
cogitar de fraude contra credores (Tepedino)

Anterioridade do crédito: Só os credores que já o


eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a
anulação deles (art. 158, §2°)
Atos de Transmissão gratuita de bens

fraude contra
credores Remissão de dívidas

Pontos para Discussão


Transmissão onerosa de bens

Pagamento de dívida não vencida

Atribuição de garantia de dívidas


Negócios Art. 158. Os negócios de transmissão
gratuita de bens ou remissão de dívida, se
os praticar o devedor já insolvente, ou por
jurídicos eles reduzido à insolvência, ainda quando o
ignore, poderão ser anulados pelos credores

gratuitos quirografários, como lesivos dos seus


direitos.

Basta a demonstração de que o ato ensejou a


insolvência ou de que, à época de sua celebração, o
devedor já estava insolvente.

Dispensável o consilium fraudis. Presunção de má-fé.

Ex: devedor doa seu único imóvel para seu filho.


Credor quirografário (sem garantia real), pode propor
ação revocatória para anular o NJ. Imóvel voltará ao
patrimônio do devedor.
CONTRAPARTE SABIA OU DEVERIA SABER

Negócios Amizade íntima; parentesco próximo; qualidade de


vizinhos; sócios; protesto.

jurídicos OU
A INSOLVÊNCIA ERA NOTÓRIA

onerosos Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos


onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência
for notória, ou houver motivo para ser conhecida do
outro contratante.

Art. 159. Serão igualmente


Mesmo os contratos onerosos, com efeito, podem ser
anuláveis os contratos onerosos
prejudiciais à garantia patrimonial dos credores
do devedor insolvente, quando a
quirografários, já que pode haver, por exemplo,
insolvência for notória, ou
alteração de bem de elevada liquidez por outro sem
houver motivo para ser
liquidez, ou transformação de bem imóvel em dinheiro,
conhecida do outro contratante.
o qual pode ser facilmente dilapidado pelo devedor
Quanto ao elemento subjetivo – conhecimento, ou possibilidade
de conhecimento, pelo terceiro, quanto ao estado de insolvência
(scientia fraudis)–, só é exigido nos atos onerosos.

Note-se que a ciência é aferida através de elementos objetivos,


não já a partir da perscrutação do real estado psicológico do
terceiro. Com efeito, o art. 159 do Código Civil entende
configurada a ciência quando a insolvência for notória ou
houver motivo para ser conhecida do terceiro, não sendo
relevante indagar se, na prática, havia esse real conhecimento
(Tepedino)
PAGAMENTO DE DÍVIDA AINDA NÃO VENCIDA OU

Negócios CONCESSÃO DE GARANTIAS

Nesse caso basta o requisito objetivo. Desnecessária a

jurídicos comprovação do conluio. Uma vez que se protege o


direito dos demais credores, não interessa saber se
aquele que recebeu antecipadamente o valor da

onerosos dívida ou passou a contar com garantia de


adimplemento conhecia do desígnio fraudulento do
que pagou.
Art. 162. O credor quirografário, que
receber do devedor insolvente o
pagamento da dívida ainda não
vencida, ficará obrigado a repor, em
proveito do acervo sobre que se CONCESSÃO DE GARANTIAS DE DÍVIDAS
tenha de efetuar o concurso de
credores, aquilo que recebeu. Devedor não transfere bens. Em verdade, concede
garantias preferenciais (hipoteca, penhor) a terceiros
Art. 163. Presumem-se fraudatórias em detrimento dos credores quirografários.
dos direitos dos outros credores as
garantias de dívidas que o devedor
insolvente tiver dado a algum credor.
Ação Pauliana (revocatória)

4. - É obrigatória a citação dos


terceiros adquirentes, na qualidade de
litisconsortes necessários, na ação
pauliana que visa a desconstituir a
doação de imóvel realizada entre pais
AUTOR DA AÇÃO RÉUS e filhos com fraude a credores, cuja
sentença poderá afetar diretamente o
Credores quirografários. Sem garantia A ação poderá ser intentada contra o negócio de compra e venda
real. Deverão executar bens do devedor insolvente, a pessoa que com ele anteriormente celebrado.
patrimônio do devedor. Não tem título de celebrou a estipulação considerada (STJ. AgRg nos EDcl no REsp 1113776 /
preferência. fraudulenta, ou terceiros adquirentes que SP, DJe 22/09/2011)
hajam procedido de má-fé (art. 161).
Credores com garantia (hipoteca, penhor)
devem executar própria garantia. Caso Ainda assim, também é possível propor
garantia se torne insuficiente, podem ação contra adquirentes de boa-fé.
ajuizar ação (art. 158, §1°)
Ação Pauliana (revocatória)
EFEITOS

Art. 165. Anulados os negócios


fraudulentos, a vantagem resultante
reverterá em proveito do acervo sobre
que se tenha de efetuar o concurso de
credores.
ANULAÇÃO - INVALIDADE - INEFICÁCIA
OPÇÃO DO CÓDIGO Parágrafo único. Se esses negócios
Cândido Dinamarco, Yussef Cahali, tinham por único objeto atribuir
Após anulação dos atos Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald, direitos preferenciais, mediante
Humberto Theodoro Jr. hipoteca, penhor ou anticrese, sua
fraudulentos, os bens tornarão a
integrar o patrimônio do devedor invalidade importará somente na
Ineficácia relativa e não anulabilidade.
anulação da preferência ajustada.
Se houver vários credores, o Produto obtido pela revocatória nao
patrimônio será partilhado voltará para o patrimônio do devedor
proporcionalmente, na proporção do insolvente. Apenas ineficaz em face dos
crédito credores prejudicados.
O negócio considerado fraudulento poderá ser anulado pelos
credores prejudicados. Existe intenso debate doutrinário acerca da
solução legal para o negócio praticado em fraude contra credores:
anulação ou ineficácia do ato. Ao deliberadamente optar pela
consequência da anulação, quis o legislador proteger os credores
quirografários como um todo com o retorno do bem ao patrimônio
do devedor, não já apenas o credor que intentou a ação. Por isso,
inclusive, a disposição expressa do art. 165 do Código Civil de que,
havendo concurso instaurado, o bem deve retornar ao acervo em
relação ao qual os credores irão satisfazer o seu crédito. A ação a
ser movida pelo credor fraudado para buscar a anulação do
negócio jurídico é denominada ação pauliana ou ação revocatória.
(Tepedino)

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