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Agravo de Instrumento n. 4002679-61.2020.8.24.

0000, de Criciúma
Relator: Desembargador Hélio do Valle Pereira

AGRAVO DE INSTRUMENTO – RESPONSABILIDADE


CIVIL – DENUNCIAÇÃO DA LIDE – EXTINÇÃO DE OFÍCIO
– AUSÊNCIA DE DANO À MARCHA PROCESSUAL –
FALTA DE OPOSIÇÃO DAS PARTES – RECURSO
PROVIDO.
A denunciação da lide tem por objetivo prestigiar a
economia processual. No lugar de uma posterior ação
regressiva, permite-se que desde logo o garante integre o
contraditório, intervindo eficazmente, até porque se torna
simultaneamente assistente do denunciante. Haverá único
julgamento, resolvendo-se simultaneamente o plexo de
relações jurídicas. Mais ainda, ao vencedor (que não seja o
denunciante) surge até a perspectiva (há forte entendimento,
aqui trazido apenas como obiter dictum) no sentido de poder
executar desde logo o denunciado.
O preconceito de certa corrente doutrinária e
jurisprudencial existe quando a denunciação inaugure uma
nova linha argumentativa, desviando-se da causa de pedir
essencial. Daí a sustentação para delimitar a intervenção aos
casos de direito de regresso automático.
Aqui, além de haver concordância das partes quanto à
denunciação (até do denunciado), os conjecturáveis
contratempos procedimentais já se deram e não há dano à
boa marcha processual que favoreça a exclusão da tardia.
Além de tudo, a garantia é daquelas automáticas.
Recurso provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento


n. 4002679-61.2020.8.24.0000, da comarca de Criciúma - 2ª Vara da Fazenda
em que é Agravante Expresso Coletivo Forquilhinha Ltda. e Agravados Marcelo
Klehm, Maria Cristina Teodoro e Essor Seguros.

A Quinta Câmara de Direito Público decidiu, por unanimidade,


conhecer e dar provimento ao recurso, restabelecendo a denunciação da lide.
Custas legais.
Participaram do julgamento, realizado nesta data, os
Excelentíssimos Senhores Desembargadores Denise de Souza Luiz Francoski E
Artur Jenichen Filho.
Florianópolis, 18 de junho de 2020.

Desembargador Hélio do Valle Pereira


Presidente e relator

Gabinete Desembargador Hélio do Valle Pereira


RELATÓRIO

Expresso Coletivo Forquilhinha Ltda. agrava da decisão da 2ª Vara


da Fazenda da Comarca de Criciúma pela qual se indeferiu o pedido de
denunciação da lide a Essor Seguros S/A sob os seguintes fundamentos:
Ademais, indefiro de plano a denunciação da lide pretendida pelo réu Expresso
Coletivo Forquilhinha LTDA, uma vez que a denunciação da lide baseada em direito de regresso é
facultativa, nos termos do inciso II e § 1º, do artigo 125, do CPC.
Assim, e considerando que tal medida somente procrastinará o deslinde da lide
em questão, não há porque deferi-la, até mesmo porque, em caso de condenação, o réu poderá
promover ação regressiva em face do denunciado, não havendo, portanto, qualquer prejuízo.
A agravante diz que, contrariamente ao posicionamento expressado
na decisão, a denunciação deve ser vista como forma de dar celeridade ao
processo, já que, no caso de derrota a denunciada, estaria de imediato obrigada
a arcar com os valores da condenação até o limite do contrato.
Sob outro ângulo, defende que o acidente só ocorreu por culpa
exclusiva dos agravados e que, não sendo as vítimas usuários diretos do serviço
de transporte, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor deve ser
afastada.
Deferi o efeito suspensivo.
Vieram contrarrazões somente por parte da Essor Seguros S/A, que
se manifestou favorável ao provimento do recurso.

VOTO

A intervenção foi deferida (fls. 403 – autos


305316-85.2018.8.24.0020), e a denunciada chegou até mesmo a contestar os
pedidos (fls. 407-421).
Ninguém se opôs à intervenção de terceiros – nem mesmo a
seguradora, que agora expressamente manifesta concordância nas
contrarrazões.

Gabinete Desembargador Hélio do Valle Pereira


Hoje consta até laudo pericial, prova inclusive debatida.
Quer dizer, mesmo inicialmente (referendo) permitida a
denunciação, de ofício se teve por bem reconhecer que o incidente iria causar
dano à boa marcha processual (fls. 541-542).
Fosse desse modo, na realidade, nunca deveria ser admitida a
denunciação, ainda que – seria um paradoxo – ela estivesse prevista em lei. Na
realidade, diante do quadro instaurado, os maiores contratempos decorrentes da
convocação de terceiro já se deram. A manutenção da seguradora atende à
economia processual na medida em que uma boa parte dos atos que seriam
realizados em ação regressiva já estão constituídos.
Sob outro ângulo, registro que os autores não enquadram o caso
como hipótese de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, de modo que,
ressalto, essa causa de pedir nem sequer pode ser cogitada para recrutar a
vedação que vem do art. 88 daquele diploma. Enfim, ainda que fosse esse o
caso (de relação de consumo), ante a situação instaurada, seria inútil que a essa
altura o impedimento fosse empregado aqui.
A denunciação da lide, é verdade, tem alguma antipatia
jurisprudencial. Mas isso se justifica quando ela traga uma nova linha
argumentativa, que desvie significativamente os rumos do processo. Daí a
tendência de limitá-la aos casos de garantia direta. É bem o caso dos autos,
inclusive – e até a seguradora quer permanecer no processo.
Assim, conheço do recurso e dou-lhe provimento para permitir que
a denunciada permaneça integrando o polo passivo.
É o voto.

Gabinete Desembargador Hélio do Valle Pereira

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