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Universidade Estadual de Montes Claros

Curso de Direito
Disciplina: Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Jurídico
Profª. Ms. Ionete de Magalhães Souza
Acadêmico: Comphúcio Allyson Mota Fraga

FICHAMENTO

BARBOSA, Rui. Oração aos Moços. Campinas (SP): Russel, 2005.

A obra trata-se de uma carta que tem como tema central a ética profissional. Nela se vê
uma espécie de pedido insistente e humilde extremamente bem arquitetado.
A princípio há o manifesto do autor em relação à esperança depositada por ele naqueles
moços, iniciantes na carreira jurídica, a continuarem o trabalho o qual ele estaria prestes a cessar.
Em tom emocionante, o mesmo explica o fato de não poder estar em presença naquele momento,
depositando a responsabilidade em Deus.
Não quis Deus que os meus cinqüenta anos de consagração ao direito viessem receber no
templo do seu ensino em São Paulo o selo de uma grande bênção, associando-se hoje
com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos, em que
o ides esposar. (p.21)

Exteriorizando a idéia de que não há limites para o ser humano, que não é uma verdade
dizer que o que está longe da vista também está longe do coração, o autor propõe um
estreitamento de laços entre ele e os apadrinhados, pedindo-os licença para chamá-los de filhos.
Fala do coração como algo não tão trivial e carnal, mas como um órgão sublime, fundamental
para se enxergar com os olhos da alma. Apela aos moços para que mantenham seus corações
limpos, incontaminados.
Entre vós, porém, moços, que me estais escutando, ainda brilha em toda a sua rutilância
o clarão da lâmpada sagrada, ainda arde em toda a usa energia o centro de calor, a que se
aquece a essência d'alma. Vosso coração, pois, ainda estará incontaminado; e Deus
assim o preserve. (p.23)

O autor faz, então, uma exposição em relação ao trabalho prestado por ele à nação, ao
meio século de carreira. Sente-se consolado em ter dado ao seu país tudo aquilo que poderia estar
ao seu alcance. Relata a retidão e honradez de suas ações e a dedicação prestada desde a vida de
acadêmico. "[...] a desambição, a pureza, a sinceridade, os excessos de atividade incansável, com
que, desde os bancos acadêmicos, o servi, e o tenho servido até hoje." (p.26)
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É feita uma admirável comparação entre bem e mal tomando como exemplo Jesus Cristo,
sendo este reconhecido, com todo respeito, como filho de Deus, receptivo e amoroso, mas como
homem que era, também se irava.
Os maus só lhe inspiram tristeza e piedade. Só o mal é o que o inflama em ódio. Porque
o ódio ao mal é amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino. Vede Jesus
despejando os vendilhões do tempo, ou Jesus provando a esponja amarga no Gólgota.
Não são o mesmo Cristo, esse ensangüentado Jesus do Calvário e aqueloutro, o Jesus
iroso, o Jesus armado, o Jesus do látego inexorável? Não serão um só Jesus, o que morre
pelos bons, e o que açoita os maus? (p.27)

Para ele a ira se torna necessária às vezes. Em algumas ocasiões utilizá-la significará
pecar, em outras, a sua ausência é que levará ao pecado. Devendo assim ter sabedoria para poder
usá-la.
O autor coloca-se ao inteiro dispor dos apadrinhados, se expondo de maneira categórica e
clara, mostrando muito desejo de passar para os jovens bacharéis o peso, a dedicação e a honra
com que se deve empenhar na construção de uma pátria mais digna, peso esse que ele também
sente sobre seus "ombros". Ele compara sua vida com um livro aberto, totalmente escancarado.
Estou-vos abrindo o livro da minha vida. Se me não quiserdes aceitar como expressão
fiel da realidade esta versão rigorosa de uma das suas páginas, com que mais me
consolo, recebei-a, ao menos, como ato de fé, ou como conselho de pai a filhos, quando
não como o testamento de uma carreira, que poderá ter discrepado, muitas vezes, do
bem, mas sempre o evangelizou com entusiasmo, o procurou com fervor, e o adorou
com sinceridade. (p.30)

Esclarece sobre a importância dos inimigos em nossa jornada, ao benefício que eles
podem nos proporcionar e que as verdadeiras amizades não podem nos oferecer. “Que seria, hoje,
de mim, se o veto dos meus adversários, sistemático e pertinaz, me não houvesse poupado aos
tremendos riscos dessas alturas [...]" (p.31). "Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições
trocadas. Uns nos querem mal, e fazem bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.”
(p.31)
Discorre a respeito da relevância de se notabilizar as características de cada ser,
lembrando que não há nada igual nesse mundo. Cada elemento se limita a caracteres únicos, fato
este ao qual o advogado deve respeitar. Perceber tais singularidades é mister para não
proporcionar eventuais constrangimentos e insatisfações. "Não há, no universo, duas coisas
iguais. Muitas se parecem umas as outras. Mas todas entre si diversificam." (p.33)
Manifesta-se também evidenciando como cruciais para a gênese da moral humana, o
trabalho e a oração. O trabalhar completa o homem. “O indivíduo que trabalha acerca-se
continuamente do autor de todas as coisas, tomando na sua obra uma parte, de que depende
também a dele. O criador começa, e a criatura acaba a criação de si própria.” (p.34)
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Relata sobre as noites de sono que perdeu para que alcançasse o seu exímio saber
intelectual, alertando para o fato de que nada digno de memória se consegue nessa vida sem se
esforçar. Mas ressalva de que é necessário não se trocar o dia pela noite. É importante zelar as
noites de sono para se ter um dia de trabalho satisfatório.
Há o incentivo para que os bacharéis permaneçam em estudo constante. Distingue o saber
aparente do saber real, tendo em vista que este advém da leitura reflexiva e é o saber que propõe
o autor que aconteça. "O saber da realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai
aprendendo, como do que elabora." (p. 39)
Profere uma crítica ferrenha à legislação vigente no país, pelo fato de serem privilegiadas
as vontades de uma minoria. "[...] num país onde a lei absolutamente não exprime o
consentimento da maioria, onde são as minorias, as oligarquias mais acanhadas, mais
impopulares e menos respeitáveis, as que põem, e dispõem, as que mandam e desmandam em
tudo;" (p.42). Tece elogios a respeito das Democracias cujo eixo é a justiça, citando a norte-
americana. “Soberania tamanha só nas federações de molde norte-americano cabe ao poder
judiciário, subordinado aos outros poderes nas demais formas de governo, mas, nesta superior a
todos.” (p.43)
Expõe a respeito dos “dois braços”, das duas instituições que mantêm de pé a lei: a
advocacia e a magistratura. Explicita a necessidade dos bacharéis se encorajarem num caminho
dedicado a Deus, à pátria e ao trabalho. “Deus, pátria e trabalho. Metei no regaço essas três fés,
esses três amores, esses três signos santos. E segui com o coração puro.” (p. 44)
Coloca como último conselho, o ensinamento que para ele tenha sido o mais valioso em
toda a sua experiência de vida. “Não há justiça, onde não haja Deus.” (p.52).
Finalizando, o autor reitera a necessidade de se pautar a carreira por vias sempre éticas
mediante uma postura cívica, depositando, assim, mais uma vez, sua esperança entusiasta na
bancada acadêmica que colara grau naquele dia.

Montes Claros, 10 de Setembro de 2009.

Comphúcio Allyson Mota Fraga

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