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1 Pedro 3.

8-12 - A lei do eco e a lei do amor


Prédica
17/01/1979
A LEI DO ECO E A LEI DO AMOR
1 Pedro 3.8-12 — (Leitura: Salmo 34) 
«Finalmente sede todos de igual ânimo, compadecidos,
fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes.» «Finalmente»
parece uma palavra não muito indicada para o começo de uma
prédica. Em verdade, o apóstolo Pedro não começa sua carta com
esta palavra. Poderíamos até perguntar, se fazemos bem em escolher
apenas um pequeno recorte de uma carta apostólica, tomando-o por
base para uma meditação; se não era melhor, lermos a carta toda,
como se faz com qualquer carta comum. Talvez o nosso recorte de
hoje seja realmente um convite especial para ler a carta toda. Esta
carta está tão cheia de conteúdo que muitos explicadores acharam
que nem poderia ser carta que era uma prédica, uma prédica de um
culto batismal. Mas os argumentos não convencem muito, É que as
cartas dos apóstolos eram diferentes das nossas. Elas eram prédicas,
com um conteúdo que respirava evangelho, que respirava eternidade,
E por isso nós não vamos ficar famintos, mesmo se hoje só nos
limitarmos a um pequeno trecho da 1. carta de Pedro. 
Mas nem por isso o «finalmente» com que começa nosso trecho, será
um convite para nós de olharmos, de relance, as folhas anteriores da
carta. Porque antes deste «finalmente» o autor já disse uma porção
de coisas a seus leitores e ouvintes: Que eles dêem graças a Deus
por terem sido regenerados para uma viva esperança; que
vivam como filhos da obediência, libertados de toda a
maldade. Que, como crianças recém-nascidas, desejem
ardentemente o leite espiritual, para, com tal alimento, terem
condições de crescer para sua salvação. Pedro diz que seus
leitores e ouvintes são a casa espiritual de Deus, são pedras
vivas no santuário, no qual Jesus Cristo, o que vive, é a pedra
angular. Diz que são raça eleita, que são povo de Deus. Depois
vai dando conselhos aos cidadãos, de como lidar com as
autoridades, e exorta as mulheres e os homens a viverem uma
vida matrimonial santificada. O «finalmente» é, por assim dizer, a
soma de tudo que Pedro acabou de dizer — o saldo, o resumo de
uma série de conselhos fraternais de um cristão adulto, de um
apóstolo, que tem autoridade espiritual para falar a cristãos
iniciantes. 
Já que não é a primeira vez que ouvimos uma prédica cristã, vamos
entender o «finalmente» como balanço das mensagens e dos
conselhos ouvidos e lidos anteriormente, Vamos entendê-lo como
anúncio de comida mais concentrada, de um prato com comida
salgada, no bom sentido, depois de termos tomado o leite espiritual,
cada um a seu modo, na história de nossa fé e de nossa vida com
Cristo. 
Pedro sabe muito bem que numa comunidade cristã as pessoas não
são iguais, assim como não são iguais as pedras com as quais se
constrói um templo. Há homens e mulheres, jovens e velhos, há
analfabetos e doutores, há pessoas com pele grossa e outras,
sensíveis. Apesar disto, Pedro exorta seus ouvintes a serem
«de igual ânimo». Ser de igual ânimo, não é, pois, o mesmo que
ser iguais. Pessoas podem ser muito diferentes entre si, mas podem
ser de igual ânimo. Uma mulher pode ter um temperamento
totalmente oposto ao de seu marido, e contudo os dois podem ter
igual ânimo. E, por outro lado, podem ter um temperamento igual —
e podem viver desunidos e em discórdia. O segredo que faz as
pessoas viverem de igual ânimo é a comunhão de vida que
elas têm com Jesus Cristo. Jesus transforma as pessoas.
Aceitando-as, assim como são, perdoando-lhes a culpa, dando-lhes
nova vida e nova esperança, ele regenera as pessoas. A criatura
humana que vive em comunhão com Cristo, em seu ânimo chega a
ser semelhante a seu Senhor. Assim como o ferro é magnetizado,
quando entra em contato com o ímã, os cristãos vão sendo
transformados em seu ânimo antigo, pelo ânimo do novo homem,
que é Jesus Cristo. 
Os cristãos se entendem, mesmo que não se conheçam. Eles ouviram
a voz de Jesus Cristo, amam o mesmo Senhor. Assim, um cristão
brasileiro poderá participar de um culto, em um país estranho e
experimentar a comunhão fraternal que existe no povo de Cristo. Eu
já participei de um culto assim, Foi na Finlândia, bem perto da
fronteira com a Rússia. Não entendi nenhuma palavra, só o nome de
Jesus Cristo. Depois do culto tentei falar com o pastor, mas ele falava
só finlandês. Mal pude fazê-lo compreender, através de um mapa,
que eu era um cristão que vinha do Brasil — mas durante a hora que
passei em sua casa, tomando café com a família, eu senti uma
realidade que era maior do que palavras: entre cristãos existe uma
comunhão, um ânimo igual, que provém de sua comunhão com
Cristo. É uma realidade que está aí, Ninguém a pode negar. É que
Cristo dá o capital desta comunhão. Nós o gastamos
compaixão, a amizade fraternal, a misericórdia, a humildade,
Em realidade não se trata de virtudes nossas. Não somos nós
que somos compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos e
humildes. Jesus Cristo é que é assim. Mas por ele ser assim, nós,
os seus discípulos, os que foram regenerados e salvos por ele,
vamos sendo «magnetizados» pelo amor de Cristo, Lutero disse
certa vez que, entre cristãos, um deve ser o Cristo do outro. — A
palavra de Pedro, que nos conclama a sermos todos de igual ânimo, é
parecida àquela de Paulo, em Fui-penses 2: «Tende em vós o mesmo
sentimento que houve também em Jesus Cristo.» 
O que acabamos de dizer é importante para o que segue agora, pois
vai continuando o resumo da vida de um cristão adulto, que Pedro vai
dando: «. .. não pagando mal por mal, ou injúria por injúria,
antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes
chamados, a fim de receberdes a bênção por herança, ,—
Voltamos a dizer: Assim é Jesus Cristo. Isto é um resumo da vida
dele. Ela ensinou isso ( «Amai os vossos inimigos, orai pelos que vos
perseguem») e ele o viveu: Pendurado na cruz, ele orou: «Pai,
perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.» Em seu ânimo,
o cristão é uma cópia de Cristo. Não uma cópia xerox, uma
imitação externa. Ele é «como Cristo», no sentido espiritual. Houve
uma transformação radical em sua natureza antiga. Porque a nossa
natureza antiga não é assim. Ela não tem condições de ter o mesmo
sentimento que Cristo tem. Ela precisa ser transformada. 
Quero explicar de forma mais concreta, como é a natureza antiga, em
comparação com o ânimo novo de Cristo. Na natureza antiga, vale a
«lei do eco». O eco responde sempre «na mesma moeda»: Se você
gritar na direção de um paredão de pedra ou de um mato próximo:
«Amigol», o eco responderá: «Amigo». Se você gritar: «Malvado»,
responderá: «Malvado!» O eco não é criativo. Não tem condições
de sê-lo. Não há novidade no eco. De onde é que viria a novidade
dele? — É só ver a história da humanidade, Como é que o ódio, a
violência, a maldade ecoam pelos tempos! Uma guerra produz
outra guerra, uma injustiça produz outra injustiça. — E, às
vezes, o eco entre os homens aumenta (o que na natureza não
acontece graças a Deus!). Antigamente podia-se ler, principalmente
em ónibus e em lojas, cartazes impressos: «Deus te dê em dobro
tudo o que me desejares.» Isso é a teologia do eco. O homem quer
usar Deus como seu amplificador. Este Deus não traz novidade.
Este Deus não é o Pai de Jesus. «Sete vezes se tomará vingança de
Caim de Lameque, porém, setenta e sete vezes» — diz Lameque a
suas mulheres (Gênesis 4). É realmente como se tal eco maligno
tivesse um amplificador no convívio dos homens que não
conhecem o evangelho. E, de fato, ele tem amplificador. O diabo
amplifica os maus desejos, as más palavras, as maldições, os maus
atos. Ele amplifica com técnica aprimorada, projetando o som para
dentro das famílias, da comunidade, da sociedade. E assim a corrente
do mal aumenta, amplificada pelos poderes infernais. O mundo
paga o mal com o mal, a injúria com a injúria — com juros e
correção monetária. Os homens começaram a brigar com paus e
pedras ,— e terminaram com a bomba atômica, E a lei do eco
amplificado. 
E há um ardil satânico em levar as pessoas a entrarem neste jogo do
eco. Um exemplo: Entre marido e mulher não há mais aquele
«ânimo igual», que de início tinha existido entre eles.
Começam a surgir divergências — «injúrias», como diz Pedro.
Durante as horas do dia, em que ambos vão fazendo o seu trabalho,
a mulher vai pensando: «Quando ele voltar, eu vou lhe dizer
isto... e, se ele responder aquilo, então ele vai ouvir o que ele
não quer . . .» E o marido vai fazendo a mesma coisa — ensaiando o
eco: «Se ela me disser que eu gasto demais, eu vou lembrá-la que
ela tem quatro vestidos bons e que meu terno mais novo já tem dois
anos. Se ela, depois, disser que é ela quem faz os vestidos dela, aí eu
vou dizer que afinal de contas sou eu, quem trabalha duro o dia todo
para ganhar os cobres.» 
Veja a lei do eco. E o pior de tudo: esta coisa infernal funciona. A
briga premeditada vai ser montada na hora exata e no tempo
recorde. Uma peça vai encaixar perfeitamente na outra_ E os
demônios vão triunfar mais uma vez. A injúria, a maldição é o
evangelho às avessas, é o evangelho do diabo.
Pedro diz: Cristãos não vivem assim. Eles não são sujeitos à lei do
eco. «Antes, pelo contrário bendizei, pois para isto é que fostes
chamados a fim de receberdes a bênção por herança.» —
Cristãos podem bendizer, porque foram benditos. Podem
perdoar, porque foram perdoados. Podem amar, porque foram
amados. — Acabamos de descrever um caso concreto, para mostrar
como funciona a lei do eco, no caso de um casal desunido,
Descrevamos concretamente também a lei do amor de Cristo, para
não ficarmos devendo nada aos ouvintes. É um caso bem igual.
Marido e mulher se desentenderam. A mulher vai repensando tudo, e
ela não vê saída. Aí ela se põe a orar. Fala com Deus a respeito de
tudo mesmo. E, sem que ela saiba como, a lei do eco vai sendo
desfeita, «Pelo contrário, bendizei» diz o apóstolo: «Quando ele
voltar do serviço, vou deixar de andar por aí com aquela cara de
sofredora, com aquela cara ofendida. Vou ser bondosa para ele.
Quem sabe, depois da janta, a gente pode conversar. Eu
poderei mostrar-lhe, e mesmo dizer-lhe, que ainda o amo e
que nada nos precisa separar.» E o marido bem, talvez ele
também tenha orado. Então tudo será fácil. Mas talvez ele não
tenha falado com Deus. Talvez ele volte irritado para casa, que já
venha preparado para aquela briguinha já conhecida, premeditada,
cujo resumo é: «Afinal — eu não levo a culpa. Quem leva a culpa é
você.» — Mas, na hora em que ele volta, acontece a novidade. A lei
do eco não funciona. O próprio diabo fica desconcertado. Será que o
inferno deixou de ser eficiente? Que houve? — Aconteceu que
alguém orou. Alguém falou com Deus, em nome de Jesus. E
ele interrompeu a corrente da lei diabólica de pagar o mal com
o mal, a injúria com a injúria. Houve evangelho, houve boa
nova nesta casa, Houve mais! Jesus mesmo entrou na casa e
trouxe consigo a sua bênção — bênção, que vem de bendizer.
E esta bênção cria outra corrente! Ela tem como amplificador
o céu! Leva a pessoa a praticar o bem, leva-a a desejar e a praticar
a justiça. Traz consigo a paz. Capacita a pessoa a governar sua
língua, porque Cristo, antes, veio a ser o Senhor do coração que
controla a língua. Oração gera mais oração. Oração gera obediência,
gera justiça. A justiça de Jesus vai sendo uma realidade na vida do
homem justificado. E Deus ouve a oração de quem crê em Cristo por
causa da justiça de seu Filho. Viver nesta corrente de bênção — é
viver em Cristo, é viver na comunhão do povo de Deus. 
Oremos: Senhor, rogamos-te: Rompe entre nós a corrente infernal
do mal. Rompe-a com teu evangelho. Não permitas que sejamos
simples ecos de nosso ambiente. Dá-nos a graça de podermos ser
pessoas que respondem ao teu amor com amor e com gratidão.
Amém.
Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS

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