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A descentralização do Sistema Educativo Moçambicano como Resultado da

Abordagem Burocrática

Aníbal Custódio Paulo1


Resumo

Este artigo com o tema central a descentralização do sistema educacional efectuada em


Moçambique desde o período colonial ate os dias de hoje como resultado da abordagem
burocrática. Como metodologia predominante para elaboração do artigo, foi a revisão
bibliográfica e estudo documental referente as leis regentes no sistema educativo
moçambicano. Trata-se de uma reforma que teve sua origem no contexto político
principalmente após a independência nacional, com a concepção da Lei 4/83 (Março de 1983)
em que o papel do estado se caracterizava pela centralização de poder. A nacionalização do
ensino consagrava a política educacional que atribuía ao estado o papel director, planificador
e executor da educação afastando assim outros intervenientes nesse processo. Com o tempo,
muitos debates foram surgindo a respeito da centralização de poder educativo, porém foi
criada a Lei 6/92 (1992), para revogar a anterior que visava a estabilização a educacional,
dando-se assim os primeiro sinais da descentralização. Com tudo a descentralização não
significou o distanciamento do estado no seu papel de controle, mas sim uma chamada no
compartilhamento de tarefas e recursos para a gestão das coisas publicas com a sociedade
civil, e o privado.

Palavras-chaves: centralização, descentralização, sistema educativo, modelo burocrático

Abstract
This article with the central subject the decentralization of the efectuada educational system in
Moçambique since the colonial period ties the present as resulted of the bureaucratic
boarding. As predominant methodology for elaboration of the article, it was the
bibliographical revision and referring documentary study the laws regents in the
moçambicano educative system.One is about a reform that had its origin in the context mainly
after politician national independence, with the conception of Law 4/83 (March of 1983)
where the paper of the state if characterized for the centralization of being able.The
nationalization of education consecrated the educational politics that atribuía to the state the
paper director, planificador and executor of the education thus moving away other intervening
ones in this process.With the time, many debates had been appearing regarding the
centralization of being able educative, however Law 6/92 was created (1992), to revoke the
previous one that the educational one aimed at the stabilization, giving thus first the signals of
the decentralization.With everything the decentralization did not mean the distanciamento of
the state in its paper of control, but yes a call in the sharing of tasks and resources for the
management of the things you publish with the civil society, and the private one.

Keyword: centralization, decentralization, educative system, bureaucratic model


1. Introdução
1
Aníbal Custódio Paulo, licenciado em Planificação Administração e Gestão Educacional
pela Universidade Pedagógica, email: anibalpaulo.paulo@gmail.com

1
Sistema Educativo é o principal garante da educação aos cidadãos e a sua administração a
forma através da qual esse sistema pode efectivamente responder aos problemas reais. Deste
modo, parece ser cada vez mais importante o estudo dos modelos de administração de forma a
informar formar o processo de adequação do sistema às realidades socias.

O principal objectivo desse artigo é de analisar o movimento de substituição do modelo de


administração centralizada por novas práticas organizacionais descentralizadas, consideradas
mais democráticas. Antes porém importa referir que o sistema educativo é um conjunto
integrado de estruturas, meios e acções diversificadas que, por iniciativa e sob a
responsabilidade de diferentes instituições e entidades públicas, particulares e cooperativas,
concorrem para a realização do direito à educação num dado contexto histórico, às exigências
e demandas de uma sociedade. Ainda o mesmo pretende responder a questão: Qual é a
abordagem predominante na Administração do Sistema Nacional da Educação em
Moçambique?

Todavia antes de responder a questão é importante saber que no contexto Moçambicano, a


evolução do sistema educativo caracteriza-se em dois grandes períodos bem distintos com
cinco (5) estágios: Educação colonial, 1845 a 1974 – O Governo Português implantou nas
suas colónias o sistema de assimilação que consistia em europeizar os povos dominados,
desnaturalizando-os quer pela escola quer através de outros meios de difusão e propaganda do
seu aparelho ideológico. Os povos dominados que quisessem ser assimilados e “civilizados”,
requeriam a um tribunal local na cidadania portuguesa para abandonar o seu “status de
indígena”, mas para tal o requerente devia dominar a língua portuguesa falando e escrevendo;
e devia ter uma estabilidade financeira.
No acto do juramento deveria manifestar o desejo de abandonar os costumes nativos e viver à
maneira europeia. Era assim que o moçambicano por certos tornava-se de imediato “branco”
em vez de preto. Era um processo de dotar uma experiência conforme a da raça dominante.
Uma vez adquirida o estatuto de assimilado, “português preto” podia usufruir as regalias de
ter direito a BI e passaporte, os filhos poderiam frequentar a escola do estado, ter precedência
sobre outros nativos, direito a voto, isenção de pagamento de imposto da palhota, passando a
pagar o imposto de rendimento como qualquer europeu.
Esse era o pensamento dos colonialistas portugueses que pensavam que inculcando nos
nativos a mentalidade do branco afastariam o descontentamento potencial e que quando

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chegasse o tempo de luta contra o colonialismo, os moçambicanos “cultos” estariam já
assimilados e, por consequência, não criariam problemas ao regime.
Entretanto, muito antes desse período, apesar de não existir muitas fontes que explicam,
existia a educação tradicional, que reinou antes da chegada dos portugueses à Moçambique. O
nascimento era considerado como acontecimento mais importante no seio duma comunidade
tradicional. Ele está acompanhado de ritos e tabus que marcaram a passagem do cósmico para
o mundo dos vivos. A criança era a expressão da presença dos antepassados no seio da
comunidade. Era tarefa do grupo em acolhê-la e identifica-la. Para isso, o grupo, a
comunidade devia criar as condições mais favoráveis ao desabrochamento e desenvolvimento
das capacidades inatas e herdadas que a criança traz consigo.
No período que decorre entre o nascimento até aos 5/6 anos de idade a criança ficava sob
protecção da mãe. O projecto educativo que a comunidade deveria desenvolver sobre a
criança era confiado à mãe nesta primeira fase da sua integração na comunidade.
Entre 7/10 anos iniciava-se a separação de sexos: Assim, o rapaz vivia ao lado do seu pai
enquanto a rapariga vive ao lado da sua mãe. Na progressiva tomada de contacto com a
realidade da vida quotidiana.
Consta que Moçambique quando tornou-se independente tinha mais de 90% de analfabetos
Assim, logo após a independência, o estado nacionalizou a educação e “coloca-se a
necessidade de alfabetizar tanto adultos como crianças ensinando-os a ler e escrever. Houve
uma alteração fundamental no sistema de ensino deixado pelo colonialismo.

É notório o dever que o Estado, como provedor dos serviços públicos, começa a dar conta do
direito à educação, buscando sempre alternativas para aproximá-la a quem mais precisa.
Portanto na década de 80 um período em que o país atravessa um dos momentos críticos da
sua história foi implantado em Moçambique Sistema Nacional de Educação. Que visava na
estrutura, nos objectivos, nos princípios e nos modelos de administração da educação do País.

Numa análise diacrónica, o actual Sistema Nacional de Educação é marcado por dois
períodos: de 1983 a 1992, fase da vigência da Lei 4/83, que introduz Sistema Nacional de
Educação e de 1993 ate a actualidade, fase da vigência da Lei 6/92, O primeiro período era
dominado por centralismo burocrático, onde atribuía ao estado o papel director, planificador e
executor da administração educação, e este modelo era inflexível, ineficaz, rígida e
ineficiência administrativas e o segundo convergiu para a construção de novos modelos e
formas mais flexíveis, descentralizadas, autónomas e participativas que revoga a lei anterior e
introduz reformas ao sistema devido à nova conjuntura sociopolítica e económica do país.
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Pelo seu estatuto normativo essas leis constituem uma configuração de dois modelos
diferentes de Administração, enquanto conjunto de princípios consagrados e de normas gerais,
os quais podem ser esboçados ou inferidos através da articulação e do cruzamento de tais
princípios e normas, e ambos são influenciados pelos processos social, histórico e político em
presença, igualmente diferenciados.

Por outro lado, aqueles dois períodos são marcados, no plano político, que no primeiro
período, o País vive num regime de Estado monopartidário, regime autoritário e modelo
centralizado com uma forte dimensão político ideológica da Frelimo, defende que durante os
primeiros anos depois da independência, a análise dos problemas educacionais priorizava a
dimensão política do regime vigente. Isto significa, por outras palavras que a educação foi
transformada num instrumento para a construção da sociedade socialista e da ideologia do
governo e as escolas foram declaradas espaço para esse fim.

No segundo período, embora ainda sob o governo maioritário, o Estado inaugura a fase de
multipartidarismo e começa a vingar, mesmo que de forma mitigada, uma nova agenda
política, social e económica de ideologia neoliberal. Neste contexto, a Educação deixa de ser
apenas uma propriedade estatal e passa a ser também da responsabilidade das entidades
privadas, comunitárias ou religiosa. Administração pública estrutura-se com base no princípio
de descentralização.

Tal divisão não esta isenta de causar problemas e de, consequentemente, levantar questões.
Mas ela parte do pressuposto de que o processo educacional, embora goze, em relação as
outras instâncias de formação social, de uma relativa autonomia, ele é condicionado,
determinado pelo processo socioeconómico e político global da sociedade.

Nessa medida, não parece frágil a relação existente entre as grandes mudanças verificadas ao
nível da educação e as transformações sociais e políticas do país naqueles períodos.

Assim uma análise do Sistema Nacional de Educação pode salientar a tendência que se têm
seguido ao longo das reformas levadas a cabo desde 1983 de modo a, por um lado, determinar
o grau e o tipo de controlo da administração central relativamente a outros órgãos, Direcção
Provincial, Distrital e Escola e, por outro, descrever as tendências crescente, decrescente,
estacionaria da centralização ou descentralização ao longo do tempo e numa altura em que o
discurso político tende a vincar a natureza participativa das massas populares e, mais
recentemente, descentralizadora da sua acção e o envolvimento dos vários actores.
4
Portanto a descentralização administrativa significa a transferência de poderes de decisão em
matérias específicas a entidades dotados de personalidade jurídica própria. Tais entidades
realizam, em nome próprio, actividades que, em princípio, têm as mesmas características e os
mesmos efeitos das actividades administrativas estatais. A descentralização administrativa
implica, assim, a transferência de actividade decisória e não meramente administrativa. Em
termos metodológicos foi feito análise documental da legislação sobre o sistema educativo
Moçambicano, e a consulta bibliografia.

2. A teoria da burocracia

As organizações burocráticas desde sua origem retractam a reprodução do conjunto das


relações sociais determinadas pelo sistema económico dominante. Desse modo, a burocracia
caracterizou-se como uma forma de organização humana que se baseou na racionalidade, na
adequação dos meios às finalidades pretendidas, a fim de garantir a máxima eficiência
possível no alcance dos objectivos. O Estado deve actuar sobre os corpos sociais de modo a
torná-los fragmentados, homogéneos em sua divisão e promover uniformidade no isolamento
de seus elementos para a concretização das decisões emanadas. POULANTZAS (2000)
Esta teoria está ligada ao sociólogo alemão Max Weber, o qual, partindo da premissa segundo
a qual o traço mais relevante da sociedade ocidental, no século XX, era o agrupamento social
em organizações, procurou fazer a configuração do modo como se estabelece o poder nessas
entidades. Construiu um modelo ideal, no qual as organizações são caracterizadas por cargos
formalmente bem definidos, ordem hierárquica com linhas de autoridade e responsabilidade.

Nesse sentido, a racionalidade administrativa deve orientar as acções dos que exercem os
cargos. As normas e regulamentos organizam as tarefas exercidas na administração
burocrática. Os funcionários concentram suas acções no controle e na garantia da
permanência do poder do estado. Permitem que a administração burocrática atinja o grau
máximo de rigor e formalismo ao definirem suas tarefas por meio de registros não permitindo,
assim, possibilidades de desvios ou possíveis equívocos no desenvolvimento das actividades
administrativas.
De maneira sintetizada destaca-se as características do modelo burocrático na realidade
moçambicano. Devido a burocracia atender para os processos, sem considerar a alta
ineficiência envolvida, por que acredita que este seja o modo mais seguro de evitar o
nepotismo e a corrupção. Os controles são preventivos. Entende, além disso, que punir os
desvios é sempre difícil, para não dizer impossível; prefere, pois, prevenir. A rigor, uma vez
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que sua acção não tem objectivos claros, definir indicadores de desempenho para as agências
estatais é tarefa extremamente difícil, não tem alternativa senão controlar os procedimentos.
Em sua essência, a administração burocrática tem características que, na ocasião, atendiam
aos anseios imediatos necessários ao controle das acções da gestão pública. A impessoalidade
passou a ser essencialmente exercida com o intuito de impor a hierarquização dos cargos,
auxiliando ao controle e ao formalismo dos procedimentos administrativos. Desse modo, a
impessoalidade merece destaque, uma vez que permite aos possuidores dos cargos não
considerar as pessoas, mas desenvolver suas funções com o intuito de sustentar e aperfeiçoar a
eficiência administrativa.
Assim, pode-se perceber que o administrador burocrático não domina ou mesmo acompanha
os meios de produção, mas apenas exerce sem desvios suas funções, administrando em nome
de terceiros com fidelidade ao cargo. No interior do modelo burocrático, o administrador é um
especialista intensamente treinado para alcançar a eficiência administrativa. Deve agir de
modo a evitar os erros e refutar envolvimento afectivo. CASTRO (2007)

3. Estado Moçambicano nos primeiros anos da independência

A formação de estado pós-colonial, historicamente o primeiro passo depois da independência


é o resultado da experiencia colonia bem como a história concreta do pais, nomeadamente na
forma como a Frelimo levou acabo o processo da autodeterminação por meio de luta armada.

Contribui para uma formação de governo autoritário e centralista, e para a existência de uma
administração burocrática ineficiente, tanto a influência da ordem colonia vigente como a
experiencia de descolonização contribuíram para o desenvolvimento de instrumentos rígidos,
complexos e de estruturas politicas e administrativa autoritária, com as características:
Ausência de uma representatividade politica, a natureza excessivamente burocratizada da
administração, uma constrangedora perspectiva sobre os assuntos económicos. CHABAL
(2002)

Estas características, conjugadas com outros factores com a natureza dos movimentos de
libertação e as exigências por se impostas, concorreram para que a maior parte dos países
africanos, logo apos a independência se transformassem em estados de partido único.

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É nesta quadra de um estado de partido único que a nacionalização dos diferentes sectores
sociais, incluindo a educação atribui ao estado o papel central na definição, planificação e
execução das políticas.

Assim é no que a educação moçambicana diz respeito a nacionalização permitiu por um lado
a estruturação de um único sistema educacional, a direcção centralizada do estado a
debilitação da sociedade civil e o desenvolvimento acentuado da igreja católica, por outro
lado a nacionalização da educação concorria para a materialização os designo do estado no
processo de uma real democratização do ensino.

Esta realidade de um estado neopatrimonial autoritário centralista, e burocrático que marca os


primeiros anos da independência de moçambique. Era conhecer significativas alterações no
inicio dos anos 90, decorrentes tanto das pressões internas como das externas, estas ultimas
ditas sobre tudo pelas influencias dos organismos internacionais e supranacionais numa fase
que consideramos que o pais na sua condição de estado periférico e a passar de ainda estar sub
a direcção do partido único Frelimo, conhece algumas medidas do neoliberalismo mitigado
com efeitos na educação. CHABAL (2002)

4. Administração Centralizado

A centralização consiste no estabelecimento de uma autoridade global, em princípio


governamental ou estatal, que regule e presida às actividades de todas as unidades do sistema
integrado. No contexto educativo faz com que o sistema de educação fosse único, obrigatório,
administrado directamente pelo governo e pela administração central, com curricula únicos e
compulsivos. E esses particularismos locais e regionais. Contrariam o espírito autárquico e as
tradições comunitárias, visto que as iniciativas privadas foram dificultadas ou mesmo
proibidas. MORAIS, (1986).
Paralelamente a estas tendências, que, aliás, se desenvolvem de modo muito desigual de país
para país, cresce nos círculos dirigentes nacionais a ideia de que aos governos compete zelar
pela formação de consciências individuais, tanto no plano cultural como cívico.
No contexto específico educacional moçambicano, pouco tempo depois da independência
nacional ficou bem estabelecido a ideia de que o estado tinha responsabilidade total ou
parcialmente, pela criação de um sistema educativo. Todavia, mais tarde, nos anos 90, com a
criação da segunda lei, que visava descentralizar o sistema educativo fazendo com que pais,

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comunidades locais, autarquias, associações, empresas privadas e igrejas não fossem vistos
como eventuais substitutos do Estado central e do Ministério da Educação

5. Administração Descentralizado

O termo descentralização tem sido utilizado com muita frequência e em diversos contextos,
no contexto das políticas educacionais este termo circula com certa fluência. Muitos factores
podem interferir na compreensão e no processo de descentralização. O regime político de
governo e as formas de administração das instituições públicas de um país.
De acordo com DI PIETRO (2004), descentralização “é a distribuição de competências de
uma pessoa para outra pessoa física ou jurídica”. A descentralização implica a transferência
efectiva de poder decisório para os agentes locais da Administração. Significa, portanto, que
os órgãos regionais têm autonomia, dentro de limites estabelecidos, para formular políticas
locais, estabelecer prioridades e planejar o atendimento das demandas.
Pode abranger, além da execução de actividades, as decisões referentes à formulação de
políticas, à definição de prioridades, ao planejamento operacional, à normatização e ao
controle. Quanto maior for o grau de transferência dessas atribuições, maior será o grau de
descentralização implantado.
A desconcentração administrativa na visão de MEIRELLES (2004), significa: “repartição de
funções entre os vários órgãos (despersonalizados) de uma mesma Administração, sem quebra
de hierarquia”.
Ainda sobre o assunto, MEIRELLES (2004), afirma que: A desconcentração opera-se pela
distinção entre os níveis de direcção e execução. No nível de direcção situam-se os serviços
que, em cada órgão da Administração, integram sua estrutura central de direcção,
competindo-lhe primordialmente as actividades relacionadas com o planejamento, a
supervisão, a coordenação e o controle, bem como o estabelecimento de normas, critérios,
programas e princípios a serem observados pelos órgãos enquadrados no nível de execução.

Num contexto de centralização, ela pode ocorrer em dois processos ou modalidades:


desconcentração fragmentada e desconcentração coordenada. A Desconcentração
fragmentada, ocorre quando, em cada distrito ou região, os diversos departamentos centrais
tiverem uma delegação que comunica directamente com eles - é o caso em que existem
serviços locais de diversas Direcções-gerais que não comunicam entre si a nível local, estando
dependentes directamente dos serviços centrais. A Desconcentração coordenada, é quando

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existe a nível local um serviço que coordena e dirige as diversas delegações. É o caso das
Direcções distritais de educação, dirigidos por Director distrital, inferior hierárquico em
relação aos serviços centrais, dos quais depende, mais do superior hierárquico em relação aos
diversos serviços locais que coordena.
Entretanto, o processo de desconcentração em qualquer das modalidades é uma forma de
aumentar a eficiência da actividade de administração pública dentro do molde centralizado.

6. Sistema Educativo

De acordo com CHIAVENATO, (2011), define-o como um “conjunto de instituições


diferenciadas à escala nacional vocacionadas para educação formal, cujo controle e
supervisão são asseguradas em parte pelo governo e cujas partes componentes e processos
estão interligados”.O sistema educativo, como uma das estruturas sociais organizadas, tem um
contributo especial a dar na materialização do projecto educativo de uma sociedade. Por isso,
o sistema educativo tem necessariamente que ser adequado às finalidades da educação e às
características do seu meio ambiente.
À luz da teoria geral dos sistemas, os sistemas educativos, como todas as organizações sociais
em geral, não são simples construções, estruturadas apenas para conseguir alguns objectivos
isolados. Como todas as organizações, o sistema educativo tem ligações muito fortes com o
seu contexto social que lhe pode facilitar ou condicionar o funcionamento. É esse meio social
que determina a sua estrutura, funções e formas de funcionamento e de relacionamento com o
meio.
Os sistemas educativos são orientados segundo os princípios subjacentes à política educativa
de um país. Assentam sobre bases geralmente definidas na constituição do país e nas leis
específicas sobre a educação. Essas bases inspiradas nos princípios e directrizes filosóficas,
políticas, ideológicas e religiosas específicas de cada país, estabelecem o âmbito geral dos
sistemas educativos, dotando-os de características próprias. São precisamente estas
particularidades que fazem com que cada país tenha a necessidade de ter o seu próprio sistema
educativo para o contexto actual Moçambicano

7. Sistema educativo Moçambicano

A lei do Sistema Nacional de Educação, de 1992, define o Sistema Educativo actual em 3


subsistemas: ensino pré-escolar, ensino escolar e ensino extra-escolar. O ensino pré-escolar é
actualmente oferecido por creches e escolinhas do Ministério da Mulher e Acção Social, das

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organizações não-governamentais ou comunitárias e pelo sector privado. Este subsistema,
coordenado pelo Ministério da Mulher e Acção Social, divide-se em dois níveis: o nível das
creches, que cobre as crianças dos 0 aos 2 anos, e o nível dos jardins-de-infância que atende
crianças entre os 2 e os 5 anos. A frequência é facultativa.
O ensino escolar compreende i) o Ensino Geral, ii) o Ensino Técnico-Profissional e iii) o
Ensino Superior. O Português é a língua oficial e a língua de instrução. O ensino extra-escolar
engloba actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento e actualização cultural e científica
realizadas fora do sistema regular do ensino.

8. Administração do sistema educacional

Administração da Educação nasce e especializa-se, como uma organização, dentro da


administração pública, responsável pela execução da política educativa tanto do ponto de vista
da sua organização, como da sua perspectiva formativa e curricular GÓMEZ, (1999). A
administração educativa tem um carácter jurídico-político e está ligada as linhas de acção da
Política Educativa relativas tanto a acções macroestruturais do sistema educativo (previsão
das necessidades educativas, distribuição racional dos recursos disponíveis, concretização de
objectivos para o desenvolvimento das linhas de acção definidas no quadro da política
educativa, coordenação e controle das acções educativas públicas e privadas, planificação dos
graus, níveis e conteúdos de ensino, promoção de acções que possam contribuir para a
melhoria da qualidade do sistema educativo), quanto às micro estruturais relacionadas com a
organização e a administração escolar” GOLIAS, (1993)
A estrutura de sistema nacional de educação de moçambique é de funcionamento rígido e
centralizado, com as principais responsabilidades funcionais e administrativa organizada
numa perspectiva de gestão vertical.
Assim, a estrutura de órgãos de administração do sistema é organizada em quatro níveis
hierárquicos, nomeadamente o nível central, regional, o nível local e nível institucional
conforme a tabela abaixo:
Nível Órgão
Central Ministério da Educação
Provincial Direcção Provincial de Educação
Local Serviços distritais da educação Juventude e Tecnologia
Institucional Município
Escola

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A responsabilidade geral pela administração de todas as instituições públicas de ensino em
Moçambique nomeadamente a planificação coordenação direcção e desenvolvimento de
actividades no âmbito da educação é assumida pelo ministério da educação. Onde o ministro
da educação os três vice-ministros e o secretário permanente são as figuras que estão no topo
da hierarquia no ministério.
Estas actividades são da responsabilidade do ministério de educação e das instituições a ele
subordinadas ou tuteladas, bem como, pelos órgãos locais, ou seja, as províncias, os distritos,
os municípios e as próprias instituições de ensino, em particular. O Plano Operacional,
especifica as responsabilidades para cada uma das entidades envolvidas na planificação,
implementação e monitoria (supervisão e controle) das diferentes actividades.
Ao mesmo tempo, são envolvidas, neste processo, entidades externas como outros
Ministérios, o sector privado, bem como vários outros parceiros nacionais e internacionais.

8.1. Descentralização do Sistema Educativo Moçambicano

A descentralização surge para fazer face à centralização de poderes ao nível das instituições
públicas, como forma de criação de mecanismos abertos de gestão no seio das mesmas, de
modo a suprir as diferentes necessidades referentes ao alcance dos objectivos previamente
traçados.

No contexto actual o Sistema Educacional em Moçambique, tende a adoptar o sistema de


gestão descentralizada, a responsabilidade pela administração dos serviços de educação e a
gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros é cada vez mais descentralizada, o que
permite, ao nível das províncias e distritos, os directores e seus colaboradores cumprirem com
os objectivos traçados pelo Ministério da Educação, através da adaptação da sua gestão tendo
em vista a realidade que as instituições apresentam.

Importa referir que à luz da Lei 6/92 de 6 de Maio, Artigo 36, o Ministério da Educação é o
órgão central do aparelho do estado que, de acordo com os princípios, objectivos e mandato
definidos pelo Governo, planifica, coordena, dirige e desenvolve actividades no âmbito da
Educação. Tem a responsabilidade de elaborar, planificar, orçamentar as grandes políticas e
estratégias do sector, estabelece padrões e normas, tendo em conta as prioridades do Governo
para o sector, dirigir e controlar a administração do Sistema Nacional de Educação,
assegurando a alocação eficiente e eficaz de recursos financeiros e humanos, garantindo

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equidade e qualidade a sua unidade, possibilitando, assim, sempre que necessário, introduzir
adaptações de carácter regional aos curricula e programas nacionais.

Nesta perspectiva, o nível central tem um papel importante no acompanhamento e monitoria


da implementação das estratégias e na avaliação do seu impacto, em termos de melhoria do
seu desempenho. Segundo o novo estatuto orgânico, aprovado pelo Ministério da Função
Pública em Maio de 2011, o Ministério da educação está estruturado em 19 direcções e
departamentos e tem quatro instituições subordinadas e quatro tuteladas.

Ao nível das províncias existem Direcções Provinciais de Educação e Cultura. Esta entidade
é responsável pela gestão local do sistema de Educação, desde a abertura de escolas até à
colocação e movimentação de professores. E têm como principal papel, a harmonização e
monitoria dos planos e orçamentos anuais dos distritos e da província na sua globalidade,
contribuindo para o alcance dos objectivos nacionais do sector da Educação, reduzindo as
disparidades e iniquidades entre os distritos e as diferentes instituições de Educação. Têm,
ainda, a responsabilidade de acompanhar e harmonizar o trabalho na área de formação dos
professores, com enfoque na formação em serviço, em estreita ligação com os institutos de
formação de professores, as delegações da universidade pedagógica e o Ministério, e de
monitorar o funcionamento dos Serviços Distritais de Educação. Também são responsáveis
pela planificação, implementação e acompanhamento das actividades na área de Cultura. Para
isso, estão em contacto directo com o Ministério da Cultura.
Ao nível dos distritos existem Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia no
contexto da descentralização, os distritos têm a responsabilidade de assegurar o
funcionamento do Sistema Educativo, a partir da base. Eles são responsáveis por planificar e
orçamentar as actividades dos distritos na área de Educação. A gestão de recursos humanos,
em todas as escolas do distrito. Estes desempenham um papel-chave no acompanhamento dos
processos de ensino aprendizagem ao nível das diferentes instituições do ensino, com
particular atenção para o Ensino Primário, o Ensino Secundário e os programas de
Alfabetização e Educação de Adultos. Os Serviços Distritais de Educação, Juventude e
Tecnologia devem, ainda, desenvolver actividades nas áreas da juventude, desporto, ciência,
tecnologia e cultura.

As escolas estão sob responsabilidade dos Serviços Distritais e, no futuro, também dos
Municípios, em termos de gestão. O seu funcionamento é regido pelo documento

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“Orientações e Tarefas Escolares Obrigatórias”, no que respeita aos aspectos ligados à
organização, administração e gestão escolar.
Para facilitar o acompanhamento e a supervisão dos programas e reforçar a capacidade das
escolas, foram criadas as Zonas de Influência Pedagógica que são um agrupamento de
escolas, geralmente entre 4 e 10, localizadas próximas umas das outras. Uma das escolas,
geralmente a mais desenvolvida, muitas vezes uma Escola Primaria e Completa, torna-se a
Sede e o seu director o Coordenador da Zonas de Influência Pedagógica. As Zonas de
Influência Pedagógica, inicialmente criadas para efeitos de formação em serviço dos
professores, constituem uma rede de colaboração entre escolas vizinhas. O seu papel na
monitoria do desempenho da escola será reforçado.

Os pais e encarregados de educação, bem como as famílias e as comunidades, desempenham


um papel importante na provisão de uma Educação de qualidade. A sua participação na gestão
da escola, através dos Conselhos de Escola é crucial, pois garantem uma ligação mais directa
entre a escola e a comunidade.
O governo promove uma participação activa e democrática da sociedade na gestão das
escolas, com base no princípio de que a escola é património da comunidade, local onde a
sociedade formalmente transmite às novas gerações as experiências acumuladas de âmbito
sociocultural e científico da humanidade.
As famílias priorizam a educação dos filhos ao nível da despesa. Mesmo considerando que as
suas contribuições nem sempre são contabilizadas, elas são significativas. A abertura de uma
escola acontece muitas vezes por iniciativa da própria comunidade que fornece a infra-
estrutura básica. A comunidade tem a oportunidade de participar na gestão da escola através
dos Conselhos de Escola.
As Instituições de Ensino Superior têm autonomia administrativa e financeira e negoceiam o
seu orçamento directamente com o Ministério das Finanças ainda são autónomas do ponto de
vista patrimonial e científico-pedagógico. O subsistema do Ensino Superior é coordenado pela
Direcção de Coordenação do Ensino Superior do Ministério da Educação.
. O sector está a negociar uma autonomia similar para as Instituições de Ensino Técnico-
Profissional de nível médio. A gestão destas escolas será feita através da criação dos Comités
de Gestão de Escola.
Os municípios, de acordo com a Lei dos Órgãos Locais, os municípios devem responsabilizar-
se pelo financiamento e pela gestão das escolas primárias, observando as regras estabelecidas

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para a gestão dos recursos do sector público. No entanto, este processo ainda está a ser
implementado.
Em 2011, foi iniciada a transferência das competências de gestão das escolas primárias para o
Município da Cidade de Maputo. Este processo será estendido aos restantes Municípios do
país, nos próximos anos.
Embora não exista uma acção directa em termos de monitoria e supervisão dos municípios
pelo Ministério de educação, os Municípios têm obrigações na implementação e monitoria
dos Planos do Governo. No caso da transferência de fundos (externos) disponibilizados ao
sector e alocados aos Municípios, será estabelecido um memorando de entendimento para
garantir a observância das regras que guiam a sua aplicação.

Embora o diálogo ao nível das políticas do sector seja ainda dominado pelo Ministério de
educação e pelos parceiros de cooperação, a participação da sociedade civil é cada vez mais
forte. Esta, através da rede nacional “Movimento de Educação Para Todos”, participa nos
grandes encontros, bem como nos grupos de trabalho, contribuindo para a elaboração dos
planos estratégicos, dos Planos anuais e da sua monitoria. A participação da sociedade civil,
através das organizações não-governamentais e dos governos locais, é mais forte ao nível
local, onde está directamente envolvida na provisão de educação, em termos da planificação,
financiamento, implementação e monitoria da oferta e procura.
Ao longo dos últimos anos, foram estabelecidas parcerias com o sector privado, numa
perspectiva da sua responsabilidade social o que contribuiu para a construção de escolas,
provisão de equipamento, oferta de bolsas ou outros tipos de apoio.
Ainda as Direcções Provinciais de Educação, Serviços Distritais de Educação, e os
Municípios têm como responsabilidade principal a implementação dos programas do sector e
devem elaborar os planos e definir as metas, de acordo com as políticas e estratégias gerais do
sector, assegurando a sua integração nos planos e orçamentos anuais dos governos locais.

Nesta perspectiva, a sua participação e contribuição para a formulação de políticas e


estratégias nacionais é crucial, uma vez que estes órgãos têm conhecimento da realidade local
e têm a responsabilidade de garantir uma implementação eficaz e eficiente das políticas e
estratégias definidas.

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Conclusão

Procurou-se demonstrar no decorrer desse artigo o sistema educacional moçambicano desde


no regime colonia ate nos dias de hoje. Em Moçambique vive-se numa situação de transição
de um estado neopatrimonial fortemente autoritário centralista e burocrático dos primeiros
anos da independência nacional para um estado periférico de neoliberalismo mitigado que
caracteriza os anos 80 e 90 ate actualidade este processo resulta primeiro do tipo de processo
de descolonização que o pais atravessou e segundo das dinâmicas do processo político social
e económica.
E na actualidade o sistema educativo obedece a bordagem burocrática e descentralizada que
começou fazer-se sentir com a criação da lei do Sistema Nacional de Educação de 1992 onde
evidenciou a necessidade de mudança na forma de administração gestão do sistema educativo,
a transferencia de atribuições e responsabilidades para outras entidades. Em consequência, a
sociedade, começa a ser vista não apenas como destinatária das políticas sociais, mas como
corresponsáveis pela sua realização.

O sistema educativo moçambicano apesar de obedecer a abordagem burocrática é notável na


prática a concentração de autoridade gerido pelo governo no poder. Nos países onde a
burocracia é implementada integralmente como o caso do brasil, o sistema educativo e gerido
pelas autarquias, por razões desconhecidas o governo moçambicano ainda não passou a
implementar a pesa de ter concebido essa lei no âmbito do seu plano estratégico para a
educação 2012 - 2016.

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Legislação indagada

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Plano Estratégico de Educação e Cultura 2006-2010/11, MEC, 2006.

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