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RODA DE CONVERSA: DIA DA MULHER

Organização: C.A. Enedina Alves (ICTI-UFBA)

Data: 09/03/20 Hora: 14:00

Minha fala: Violência de gênero no ambiente acadêmico

1. HISTÓRICO DA ENTRADA DA MULHER NA UNIVERSIDADE

professora Nailda Marinho

“Embora o ensino superior estivesse presente no Brasil desde 1808, com a vinda da família real, somente
com a Reforma do Ensino Primário e Secundário do Município da Corte e o Superior em todo o Império –
instituída pelo Decreto n� 7.247, de 19 de abril de 1879, e que ficou conhecida como Reforma Leôncio
de Carvalho  – a mulher passou a ter esse direito citado”, contextualizou. E foi além: “A primeira mulher
brasileira a possuir um diploma de ensino superior foi Maria Augusta Generoso Estrela, que se graduou
em Medicina no ano de 1882, porém nos Estados Unidos, não no Brasil. Desta forma, em 1887, Rita
Lobato Velho Lopes (1867-1954) se torna a primeira mulher a se graduar no País na Faculdade de
Medicina da Bahia, embora tenha iniciado seus estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e
depois, por motivos familiares, se transferido para a faculdade em que se formou.”

Um aspecto interessante do tema foi o papel da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino para a
inserção acadêmica, em um período em que a mulher ainda era vista pela sociedade brasileira como “a
rainha do lar”. A entidade foi precursora de diversas iniciativas pela emancipação, especialmente nos
anos 1920 e 1930. “Merece destaque a atuação da Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino,
fundada em 1922 e tendo como principal bandeira de luta a busca pelo sufrágio universal. Com sede no
Rio de Janeiro, então capital do País, a Federação, que tinha como presidente Bertha Lutz, possuía uma
rede de relações significativas e discutiu em seus congressos diversos temas, como a nacionalização do
ensino público, a educação doméstica, o ensino primário, a formação para o magistério, o ensino
secundário e o superior para as mulheres”, disse.

 “Vale citar que, entre os temas reivindicados pelas feministas no 2� congresso, estava a criação de um
pavilhão feminino no projeto da Casa do Estudante do Brasil na cidade universitária, atual UFRJ.
Argumentava-se que moradia estudantil não era apenas uma necessidade para os rapazes como estava
previsto no projeto inicial”, destacou.

Já em 1929, as mulheres da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino fundaram a União


Universitária Feminina, que em 1961 passou a se chamar Associação Brasileira de Mulheres
Universitárias. A partir da década de 1930, a União Universitária Feminina, presidida pela engenheira
Carmem Velasco Portinho, teve papel importante para a inserção e permanência das mulheres nas
faculdades. Por sinal, Carmen foi fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, com
apenas 18 anos. Ela foi uma das “sufragistas”, isto é, mulheres que lutaram pelo direito ao voto feminino,
mais próximas de Bertha Lutz.

Existia um movimento promovido pela União Universitária Feminina para incentivar o estudo superior
entre as mulheres

Pereira e Favaro (Unespar)

Foi com a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil e com a Independência, em 1822, que
seus dirigentes manifestaram pela primeira vez a preocupação com a educação feminina.
Estabeleceram que o ensino primário devesse ser responsabilidade do Estado e ofertado
também às meninas, cujas classes deveriam ser regidas por professoras. “Porém, devido à falta
de professoras qualificadas e sem conseguir despertar maior interesse dos pais, o ensino não
chegou a abranger uma percentagem significativa de alunas” (UNICEF, 1982 apud BELTRÃO;
ALVES, 2009, p. 128)

A educação da maioria das mulheres no período Imperial continuou, portanto, em uma


situação difícil, havendo poucos avanços em sua escolarização. Segundo Aranha (2006, p. 229),
em “algumas famílias mais abastadas, às vezes elas recebiam noções de leitura, mas se
dedicavam sobretudo às prendas domésticas, à aprendizagem de boas maneiras e à formação
moral e religiosa”. O objetivo principal ainda era prepará-las para o casamento. Pode-se
afirmar que no decorrer do século XIX houve poucas mudanças em relação à educação
feminina, em decorrência das condições econômicas, políticas e culturais brasileiras. Criaram-
se as primeiras instituições destinadas a educar as mulheres, embora com currículos
diferenciados. As escolas normais foram o principal lócus de formação profissional feminina,
mas eram poucas e com matrículas numericamente insignificantes:

Beltrão e Alves (2009, p. 128) mencionam que o “decreto imperial que facultou à mulher a
matrícula em curso superior data de 1881. Todavia, era difícil vencer a barreira anterior, pois
os estudos secundários eram essencialmente masculinos, além de caros e os cursos normais
não habilitavam as mulheres para as faculdades”

Nos grandes centros urbanos, a taxa de matrículas foi aumentando no ensino secundário e
superior, inserindo-se o público feminino brasileiro no início do século XX. Apesar dessa
abertura no campo educacional, vale lembrar que, mesmo com o desenvolvimento do
capitalismo, no qual as mulheres foram levadas do mundo privado para o público, colocadas
para o trabalho nas fábricas, não houve a superação de sua posição de inferioridade, tanto
social quanto profissional e econômica

Estas só obtiveram o direito ao voto em 24 de fevereiro de 1932, através do Decreto Lei do


Presidente Getúlio Vargas. Como resultado desta conquista, a alfabetização feminina foi
crescendo ainda mais. Nesse momento, de acordo com Beltrão e Alves (2009, p. 133), os
“políticos tinham interesse na alfabetização geral da população, em especial das mulheres,
pois somente as pessoas alfabetizadas podiam votar”.

Todavia, é importante destacar, que foi somente na LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, de 1961, Lei nº 4.024/61, que “foi garantida equivalência de todos os
cursos de grau médio, abrindo a possibilidade para as mulheres que faziam magistério de
disputar os vestibulares” (BELTRÃO; ALVES, 2009, p. 130). Pode-se dizer, portanto, que foi só a
partir da década de 1960 que as mulheres tiveram maiores chances de ingressar no ensino
superior. Essa também foi a conclusão obtida por Souza e Sardenberg (2013, p. 4): “No Brasil,
o início da luta por esse direito data do século dezenove, mas será somente a partir dos anos
1960 que as mulheres brasileiras começaram a ter presença, de fato, no ensino superior”
Moema de Castro Guedes Doutoranda em demografia no Instituto de Filosofia de Ciências
Humanas / Universidade de Campinas

De modo geral, podemos afirmar ter sido na década de 1970 que uma distribuição relativa da
população brasileira por estratos de escolaridade começa a modificarse acentuadamente,
dando início a um processo que ainda se desenvolve.2 O crescimento da escolaridade é uma
tendência verificada em todas as décadas seguintes.

Como observam Beltrão e Novellino (2002), a taxa bruta de alfabetização da população acima
de cinco anos aumentou substancialmente (chegando a dobrar) desde a década de 1940 até os
dias de hoje, em que mais de 80% dos brasileiros são alfabetizados.

Soares e Isaki (2002) apontam o aumento do nível educacional feminino como a grande
variável que explica 59% do aumento da participação das mulheres (no mercado de trabalho)
entre o período de 1977 e 2001, coberto pelas Pesquisas Nacionais de Amostra Domiciliar
(PNADs). Essa tendência evidencia tal grupo de escolaridade como o que apresenta menores
diferenciais de participação em relação aos homens.

Barroso e Mello (dez. 1975) destacam um fator fundamental para a clara estratificação
baseada no sexo, existente na clientela potencial do ensino superior na década de 1970: a
altíssima proporção de mulheres no curso normal. No período estudado pelas autoras, 1955 a
1970, o percentual de mulheres concluintes do colegial que cursaram essa modalidade não
variou, mantendo-se constantemente por volta de 63% do total de formandas. Essa opção
tornava mais difícil seu acesso às universidades, uma vez que o conteúdo exigido nas provas de
vestibular baseava-se em disciplinas lecionadas nos chamados ensino secundário científico e
ensino secundário clássico, cursados majoritariamente por meninos. Nesse contexto, as
meninas que quisessem ingressar em uma universidade eram duplamente desestimuladas:
primeiramente eram pressionadas, pela tradição feminina, a cursar o Normal (o que lhes
conferia uma profissão que não exigia maiores estudos), e posteriormente, quando desejavam
ingressar nas universidades, enfrentavam a necessidade de estudos complementares em
cursinhos, a fim de poderem contar com conteúdos nunca antes estudados em sua vida
escolar. Apesar dessas limitações, o crescente contingente populacional feminino que concluiu
o 2º grau nos anos 70 começou a ingressar nas universidades por meio de um processo
característico desse período: a crescente participação concentrada em carreiras que
preparavam para o magistério secundário, em especial a área de ciências humanas e letras.
Como tal estratégia, as mulheres, por um lado, reproduziam o estereótipo vigente da
‘ocupação adequada para a mulher’ e cumpriam a expectativa, construída socialmente, de
continuarem sendo professoras e, por outro, resolviam seu problema estrutural de falta de
preparo para o vestibular, uma vez que esses eram os cursos menos concorridos.

A demanda feminina por cursos universitários que possibilitassem a formação de professores


do ensino secundário acabou por marcar a própria dinâmica de crescimento do ensino
superior no Brasil. A intensa procura por esse tipo de serviço gerou uma expansão desigual das
vagas disponibilizadas em cada curso pelo governo, por um lado, e o crescimento da oferta de
vagas no ensino superior privado, por outro (Cunha, 1975).
O salto quantitativo em relação à parcela da população jovem de mulheres (25-29 anos) que
concluiu o curso superior nos anos 70 foi enorme: em apenas dez anos esse contingente
triplicou. O ritmo de crescimento continuou alto nas décadas seguintes (muito superior ao
masculino), mas deixou de ser tão intenso quanto no período inicial.

A tradição da universidade como um espaço masculino foi marcantemente rompida na década


de 1970, quando a entrada feminina nesse reduto foi tão intensa que, já no Censo
Demográfico de 1980, as mulheres de 25-29 anos com nível universitário eram 5% –
porcentagem superior à masculina no mesmo grupo etário.

Gráfico 3 – Distribuição da população total com nível


universitário, por sexo (Brasil 1970, 1980, 1991 e 2000)

Fonte: Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 do IBGE. Elaboração própria.

O intenso avanço do ponto de vista quantitativo, contudo, mascara alguns


aspectos
de exclusão e segmentação do processo de entrada das mulheres nas
universidades. Igualdade
numérica não significa eqüidade de gênero, uma vez que a tendência de
maior peso feminino
nas carreiras de menor prestígio e mais mal remuneradas se acentua ao
longo do período.
No entanto, como mostram os dados, esse processo está lentamente se
modificando. A
Tabela 1 refere-se à população que completou cada um dos cursos listados
nos Censos de
1970 e 2000 no Brasil.

O dado mais importante expresso na Tabela 1 é que em praticamente


todos os cursos
em que a presença feminina é minoritária, as mulheres apresentam um
avanço expressivo
na proporção de formados em 2000.14 As únicas exceções em que o
contingente feminino
não chega a alcançar 30% dos formados são os cursos de agronomia e
todos os tipos de
engenharia. Se, por um lado, acentua-se a tendência de permanência
das mulheres nos
segmentos menos valorizados no mercado de trabalho, por outro a
expansão da participação
feminina em todas as carreiras é um fenômeno que não pode ser
ignorado.

2. VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA UNIVERSIDADE

Dados sobre violência


UFBA – pesquisas do NEIM (Núcleo de estudos interdisciplinares sobre a mulher): Pode-se
observar que no espaço acadêmico as mulheres não estão isentas de enfrentar expressões da
violência de gênero, de diversos tipos: moral, psicológica, sexual, etc. Para lidar com situações
de violência a universidade conta com a Ouvidoria, porém, ao se tratar de violência de gênero
esse canal não se mostra suficiente, 75,9% das mulheres que responderam acreditam que a
universidade não sabe como enfrentar e solucionar os casos de violência ocorridos dentro da
instituição.
Destas mulheres questionadas, 92,5% conseguem identificar mais de um tipo de violência de
gênero, 43,6% afirmam terem sofrido violência de gênero e 60% relatam casos dessa
expressão de violência com mulheres na universidade

Professores e estudantes ameaçados por estudar gênero (2017)

ZOTARELI, Vilma et al. Violência de gênero e sexual entre alunos de uma


universidade brasileira.  Entre as alunas, 56,3% sofreram algum tipo de
violência e 9,4% sofreram violência sexual desde seu ingresso na universidade;
29,9% dos homens declararam ter perpetrado algum tipo de violência; 11,4%
violência de gênero e 3,3% violência sexual. 

USP
Atenção aumentou em 2014, com denúncias de violência sexual em festas
promovidas pelos alunos da Faculdade de Medicina

Ações institucionais de cuidado e prevenção


USP (iniciou em 2014 – USP Mulheres e CAV Mulheres), Uece ( Núcleo de Acolhimento
Humanizado às Mulheres Vítimas de Violência (NAH)) , UFPE, UFOB
Lei Maria da Penha

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