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“Embora o ensino superior estivesse presente no Brasil desde 1808, com a vinda da família real, somente
com a Reforma do Ensino Primário e Secundário do Município da Corte e o Superior em todo o Império –
instituída pelo Decreto n� 7.247, de 19 de abril de 1879, e que ficou conhecida como Reforma Leôncio
de Carvalho – a mulher passou a ter esse direito citado”, contextualizou. E foi além: “A primeira mulher
brasileira a possuir um diploma de ensino superior foi Maria Augusta Generoso Estrela, que se graduou
em Medicina no ano de 1882, porém nos Estados Unidos, não no Brasil. Desta forma, em 1887, Rita
Lobato Velho Lopes (1867-1954) se torna a primeira mulher a se graduar no País na Faculdade de
Medicina da Bahia, embora tenha iniciado seus estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e
depois, por motivos familiares, se transferido para a faculdade em que se formou.”
Um aspecto interessante do tema foi o papel da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino para a
inserção acadêmica, em um período em que a mulher ainda era vista pela sociedade brasileira como “a
rainha do lar”. A entidade foi precursora de diversas iniciativas pela emancipação, especialmente nos
anos 1920 e 1930. “Merece destaque a atuação da Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino,
fundada em 1922 e tendo como principal bandeira de luta a busca pelo sufrágio universal. Com sede no
Rio de Janeiro, então capital do País, a Federação, que tinha como presidente Bertha Lutz, possuía uma
rede de relações significativas e discutiu em seus congressos diversos temas, como a nacionalização do
ensino público, a educação doméstica, o ensino primário, a formação para o magistério, o ensino
secundário e o superior para as mulheres”, disse.
“Vale citar que, entre os temas reivindicados pelas feministas no 2� congresso, estava a criação de um
pavilhão feminino no projeto da Casa do Estudante do Brasil na cidade universitária, atual UFRJ.
Argumentava-se que moradia estudantil não era apenas uma necessidade para os rapazes como estava
previsto no projeto inicial”, destacou.
Existia um movimento promovido pela União Universitária Feminina para incentivar o estudo superior
entre as mulheres
Foi com a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil e com a Independência, em 1822, que
seus dirigentes manifestaram pela primeira vez a preocupação com a educação feminina.
Estabeleceram que o ensino primário devesse ser responsabilidade do Estado e ofertado
também às meninas, cujas classes deveriam ser regidas por professoras. “Porém, devido à falta
de professoras qualificadas e sem conseguir despertar maior interesse dos pais, o ensino não
chegou a abranger uma percentagem significativa de alunas” (UNICEF, 1982 apud BELTRÃO;
ALVES, 2009, p. 128)
Beltrão e Alves (2009, p. 128) mencionam que o “decreto imperial que facultou à mulher a
matrícula em curso superior data de 1881. Todavia, era difícil vencer a barreira anterior, pois
os estudos secundários eram essencialmente masculinos, além de caros e os cursos normais
não habilitavam as mulheres para as faculdades”
Nos grandes centros urbanos, a taxa de matrículas foi aumentando no ensino secundário e
superior, inserindo-se o público feminino brasileiro no início do século XX. Apesar dessa
abertura no campo educacional, vale lembrar que, mesmo com o desenvolvimento do
capitalismo, no qual as mulheres foram levadas do mundo privado para o público, colocadas
para o trabalho nas fábricas, não houve a superação de sua posição de inferioridade, tanto
social quanto profissional e econômica
Todavia, é importante destacar, que foi somente na LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, de 1961, Lei nº 4.024/61, que “foi garantida equivalência de todos os
cursos de grau médio, abrindo a possibilidade para as mulheres que faziam magistério de
disputar os vestibulares” (BELTRÃO; ALVES, 2009, p. 130). Pode-se dizer, portanto, que foi só a
partir da década de 1960 que as mulheres tiveram maiores chances de ingressar no ensino
superior. Essa também foi a conclusão obtida por Souza e Sardenberg (2013, p. 4): “No Brasil,
o início da luta por esse direito data do século dezenove, mas será somente a partir dos anos
1960 que as mulheres brasileiras começaram a ter presença, de fato, no ensino superior”
Moema de Castro Guedes Doutoranda em demografia no Instituto de Filosofia de Ciências
Humanas / Universidade de Campinas
De modo geral, podemos afirmar ter sido na década de 1970 que uma distribuição relativa da
população brasileira por estratos de escolaridade começa a modificarse acentuadamente,
dando início a um processo que ainda se desenvolve.2 O crescimento da escolaridade é uma
tendência verificada em todas as décadas seguintes.
Como observam Beltrão e Novellino (2002), a taxa bruta de alfabetização da população acima
de cinco anos aumentou substancialmente (chegando a dobrar) desde a década de 1940 até os
dias de hoje, em que mais de 80% dos brasileiros são alfabetizados.
Soares e Isaki (2002) apontam o aumento do nível educacional feminino como a grande
variável que explica 59% do aumento da participação das mulheres (no mercado de trabalho)
entre o período de 1977 e 2001, coberto pelas Pesquisas Nacionais de Amostra Domiciliar
(PNADs). Essa tendência evidencia tal grupo de escolaridade como o que apresenta menores
diferenciais de participação em relação aos homens.
Barroso e Mello (dez. 1975) destacam um fator fundamental para a clara estratificação
baseada no sexo, existente na clientela potencial do ensino superior na década de 1970: a
altíssima proporção de mulheres no curso normal. No período estudado pelas autoras, 1955 a
1970, o percentual de mulheres concluintes do colegial que cursaram essa modalidade não
variou, mantendo-se constantemente por volta de 63% do total de formandas. Essa opção
tornava mais difícil seu acesso às universidades, uma vez que o conteúdo exigido nas provas de
vestibular baseava-se em disciplinas lecionadas nos chamados ensino secundário científico e
ensino secundário clássico, cursados majoritariamente por meninos. Nesse contexto, as
meninas que quisessem ingressar em uma universidade eram duplamente desestimuladas:
primeiramente eram pressionadas, pela tradição feminina, a cursar o Normal (o que lhes
conferia uma profissão que não exigia maiores estudos), e posteriormente, quando desejavam
ingressar nas universidades, enfrentavam a necessidade de estudos complementares em
cursinhos, a fim de poderem contar com conteúdos nunca antes estudados em sua vida
escolar. Apesar dessas limitações, o crescente contingente populacional feminino que concluiu
o 2º grau nos anos 70 começou a ingressar nas universidades por meio de um processo
característico desse período: a crescente participação concentrada em carreiras que
preparavam para o magistério secundário, em especial a área de ciências humanas e letras.
Como tal estratégia, as mulheres, por um lado, reproduziam o estereótipo vigente da
‘ocupação adequada para a mulher’ e cumpriam a expectativa, construída socialmente, de
continuarem sendo professoras e, por outro, resolviam seu problema estrutural de falta de
preparo para o vestibular, uma vez que esses eram os cursos menos concorridos.
Fonte: Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 do IBGE. Elaboração própria.
USP
Atenção aumentou em 2014, com denúncias de violência sexual em festas
promovidas pelos alunos da Faculdade de Medicina