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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Discente: Felipe Oliveira Mathias


Disciplina: Pesquisa e Prática de Ensino III
Data: 15 de março de 2021
Artigo Resenhado:

NADAI, Elza. O ensino de História no Brasil: trajetória e perspectiva. Revista


Brasileira de História, nº 25/6. São Paulo, ANPUH, 1993, p. 143-162.

Esta resenha tem por objetivo analisar o artigo de autoria de Elza Nadal, intitulado
“O Ensino de História no Brasil: Trajetória e Perspectiva”, que versa sobre o ensino de
História no Brasil, como o próprio título já afirma, mostrando uma perspectiva ao longo
dos anos, desde a criação da disciplina de História no país.
É importante dizer que Elza Nadai é Mestre e doutora em história social pela USP,
foi professora de prática de ensino de história da USP. É também orientadora de várias
resenhas de alunos que estão publicadas na internet. Ela inicia seu texto com uma
citação ao Murilo Mendes (1935), na qual ele absorve os alunos por se valerem da cola
nos exames de história, devido à história que lhes é ensinada, causando-lhes ódio.1
Nadai começa seu texto questionando qual seria o sentimento que os alunos tem
ao pensar na disciplina de História, ensinada no decorrer do ensino médio, por mais que
alguns alunos simplesmente já gostem da disciplina por si só. No entanto, muitos alunos
dizem que não gostam e não veem sentido em estudar o passado. Inclusive, uma frase
clássica dita por muitos alunos é que o passado deve ficar no museu e não na sala de
aula ou em suas cabeças. Qual seria o sentido de estudar a Roma Antiga, os povos
bárbaros, os indígenas e sua cultura ou até mesmo o passado do ser humano no Brasil?
Vários alunos não entendem o que isso irá acrescentar em suas vidas. No entanto, para
analisar o contexto que precede essas perguntas, Nadai percorre a história do ensino de
História no Brasil, passando por questões como a metodologia que os professores
utilizam, como a disciplina foi incorporada nas escolas ao longo do tempo e as
influências que esta sofreu até chegar nos moldes do que é passado atualmente.
A autora afirma que o ensino de História vive atualmente uma conjuntura de crise,
que é uma crise da história historicista pra ela, que é resultado dos descompassos
1
Informações retiradas do site Recanto das Letras, escrito por Leandro de Assis. Disponível em:
https://www.recantodasletras.com.br/resenhas/2128133
existentes entre as várias e diferenciadas demandas sociais complexas e a incapacidade
da instituição escolar em atende-las ou em responder afirmativamente, buscando
resolvê-las de maneira coerente. Essa crise, para Nadai, espelha as modificações da
própria produção científica, que ampliou o leque de possibilidades do pensar, do fazer e
do escrever História. Uma crise, pois obrigou os profissionais a questionar os alicerces
do ensino de História, os pressupostos teórico-metodológicos da ciência e do ensino,
obrigando-os a propor experiências múltiplas, procurando superar o tradicional modelo
que, introduzido no século XIX, foi ganhando consistência e relevância, espraiando-se
pelas instâncias da sociedade, tornando-se hegemônica.
Nadai ainda afirma que a as produções e o ensino de história no Brasil, no período
do final do século XIX, tentou promover uma harmonia inexistente dentro do país,
pautada na boa relação entre os imigrantes que vieram do continente Europeu, da África
e os povos indígenas que aqui já residiam. Utilizavam de um propósito ideológico que
se baseava em uma nação resultante da mistura desses povos, dando a ideia de um
equilíbrio social e a inexistência de quaisquer conflitos. Dessa maneira, o ensino do país
buscou mascarar as desigualdades, o que ao longo do tempo mostrou-se uma tarefa
impossível de ser realizada, pois deve-se focar exatamente nas diferenças das pessoas
para que possa se promover uma igualdade, além de que no fim do XIX as relações
entre povos brancos e não brancos era bem mais conturbada do que nos dias atuais.
A autora ainda afirma que a introdução do ensino de história não ocorreu de forma
pacífica, tendo a presença de alguns políticos como oposição à perspectiva de se inserir
a disciplina no currículo escolar, tendo como um desses políticos o senador Paulo
Egídio de Oliveira Camargo, que não considerava a disciplina de História uma ciência.
Este considerava que apenas as disciplinas voltadas para a área das ciências exatas
deveriam ser chamadas de ciência. Mas mesmo assim a história passou a integrar a base
curricular após a elaboração do artigo quinto do Primeiro Regulamento dos Ginásios do
Estado (decreto 293 de 22/05/1985) sendo este ensino voltado para a questão dos fatos
políticos, com incursões que tratem sobre religião e arte de alguns povos no ensino da
Antiguidade e sendo estudados os períodos Medieval, Moderno e Contemporâneo.
Nadai ainda fala sobre o período da ditadura militar, que interrompeu o processo
em que buscava-se testar os currículos, métodos de ensino, conteúdos e práticas
pedagógicas, gerando inovações que se voltavam para a interdisciplinaridade e para a
aceitação do aluno como corresponsável pelo seu processo educativo. Ainda, para a
autora, com o fim da Ditadura Militar e período de redemocratização, foi necessário
pensar novas propostas curriculares.
Para ela, esse período de crise da história historicista ainda existe, mas as diversas
propostas de ensino e as práticas docentes tem ajudado a viabilizar outras concepções de
História, mais comprometidas com a libertação e a emancipação do homem. Ela finaliza
seu artigo afirmando que por mais que existam adolescentes que odeiam a História,
dificilmente se encontrará quem desconheça o papel da História para ajudá-lo na
compreensão de si, dos outros, e do lugar que ocupamos na sociedade e no dever
histórico.

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