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Este estudo volta–se para a educação primária na Bahia entre o final do século
XIX e o final dos anos 20 do século XX. Sua motivação inicial partiu de uma
constatação: Salvador, no seu processo de modernização urbana no início do século XX,
não incluiu entre seus projetos, prédios forjados pelos ideais republicanos para abrigar a
escola primária – os denominados grupos escolares. Salvador, é distinta de outras
capitais, onde até hoje se encontram vestígios dessas construções espalhadas em
diversos pontos da cidade. Salvador, à primeira vista, parece que não possuiu os
“templos da civilização” como foram consagrados os grupos escolares pela literatura
educacional, instituições eleitas como modelo para difundir os valores republicanos. O
trabalho tece, num primeiro momento, com base em estudos sobre o movimento
republicano na Bahia, algumas considerações a respeito da escola primária. Em seguida,
confronta a escola em suas permanências e problemáticas com as proposições
legislativas, inclusive o modelo “grupo escolar”; por fim, conclui com os elementos que
indicam a modificação dos rumos do ensino primário público na Bahia, a partir da
reforma de Anísio Teixeira, de 1925, a qual, do ponto de vista dos prédios escolares, vai
adotar o modelo de “escolas reunidas”. Os grupos escolares desses tempos, que existirão
em alguns poucos lugares, serão um modelo de pouca visibilidade.
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Professora da Universidade Federal da Bahia; Doutora em História e Filosofia Educacional pela
PUC/SP. E-mail: lufranca@unb.br
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Professora da Universidade Estadual de Feira de Santana; Mestre em Educação pela Universidade
Federal da Bahia.
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pujante e definidor para o plano nacional, mas contou com um grupo que
empunhou bandeiras de natureza radical na luta democrática (…) [mas]
faltava uma base de apoio mais ampla aos republicanos… Essa estrita base
de apoio condicionou, provavelmente, a permanência do discurso, em um
nível de relativa retórica. (p.91) (…) [Ademais esse] grupo formador de uma
classe média (…) por não reunir determinadas condições sociais e
ideológicas, deixou de atingir, com o advento do regime republicano, os
postos decisórios mais importante do novo Estado que se organizava. (p. 4)
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Entre 1889 e 1892, ocuparam o cargo de governador do Estado: Virgílio Clímaco Damásio (18/11/1889
a 23/11/1889); Manoel Victorino Pereira (23/11/1889 a 26/04/1890); Hermes Ernesto da Fonseca
(26/04/1890 a 14/09/1890); Virgílio Clímaco Damásio (14/09/1890 a 16/11/1890); José Gonçalves
(16/11/1890 a 24/11/1891); Tude Neiva (24/11/1891 a 12/12/1891); Francisco Leal Ferreira Júnior
(12/12/1891 a 28/05/1892).
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Conselho Superior do Ensino. Polêmica maior, pela ótica de Satyro Dias (1893), esteve
vinculada à interpretação do dispositivo constitucional que atribuía aos municípios
competência para administrar a instrução pública primária. A lei aprovada, conjugando
os interesses que estiveram em conflito, delega aos municípios o ensino primário, mas
não exclusivamente. Esse dispositivo, associado à situação política e econômica do
Estado, legalizou as dificuldades, mesmo em Salvador, para o florescimento da escola
primária pública.
Outro ponto que gerou intensa divergência, segundo Silva (1997), foi o da
obrigatoriedade do ensino primário. Para o deputado Aristides Borges
O ensino obrigatório não pode ser dado neste Estado. Os nobres deputados
infelizmente não conhecem as condições do sertão. Pois. Ss. Ex.as não Vêem
que um homem que dificilmente passa a vida, não tem recursos para mandar
seus filhos á escola, distante muitas vezes 4 ou 5 léguas? Os ilustres colegas
podem mandar a escola para a casa do cidadão? (Apud Silva, p. 25).
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Oliveira Dias4 escolhido para o cargo de Diretor Geral de Instrução Pública. Satyro,
embora não pertencesse às hostes republicanas, acreditava como liberal, que a
“educação significava progresso”. A lei 117/1895 é associada a seu nome.
E, enquanto a reforma, depois de muitos debates, vinha a lume, a realidade da
escola primária, configurada pelos inspetores, demonstrava tensões entre a escola e a
família, resultando baixas freqüências de alunos, além dos velhos problemas de
localização das escolas, de mobiliário e prédios escolares. Dizia Aloysio Lopes Pereira
de Carvalho, Inspetor do 4º distrito escolar do Estado, em relatório que se encontra
anexado ao do Diretor da Instrução Pública, em 1894:
Vêde, por exemplo, Sr. Dr. Director, que em muitas localidades é não
pequena lucta o conseguir–se que a população infantil freqüente as escolas,
já por precárias condições de vida que, principalmente nas epocas de safra,
afastam–n´a para auxiliar seus progenitores em trabalhos ruraes, já pelas
grandes extensões de caminhos, escaldado no verão e intransitável no
inverno, que as creanças têm de percorrer para chegar ás escolas. (…) Na
Feira de Santana, por exemplo, cidade das mais educadas e importantes do
estado, declarou–me uma professora que meninas havia que traziam cadeiras
de casa para a escola, por faltar a esta a mobília correlativa à frequencia,
sendo até que fôra obrigada a aproveitar–se tambem de simples caixões que
realmente vi! (Bahia, 1894, anexo, pp. 3 e 6).
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Satyro de Oliverira Dias (1811-1913) destacou-se no cenário nacional, presidindo várias províncias no
Império: Ceará, Rio Grande do Norte e Amazonas. No Ceará, declarou extinta a escravidão em 1884.
Foi também deputado provincial e geral, além de médico. Era Diretor Geral da Instrução Pública da
Bahia no momento da Proclamação da República e continuou no cargo durante os primeiros governos
republicanos.
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Os grupos escolares
A lei 117/1895 vai propor uma nova organização do ensino, que passa a
compreender o ensino infantil, o elementar ou de 1º grau (obrigatório) e o
complementar ou de 2º grau. Surge, então, pela primeira vez, alusão a um novo tipo de
escola primária, os grupos escolares, definido no artigo 10º – “um grupo escolar
completo, compreende a escola infantil, a escola elementar e a complementar as quais
poderão funcionar separadamente, ou em um só prédio”.
A documentação por nós trabalhada até o momento não nos permitiu maiores
informações quanto à discussão que ocorreu para a introdução do “grupo escolar” nessa
Lei. Dentre os debates mais conhecidos sobre a Reforma de 1895, conforme já nos
referimos, estiveram os das competências administrativas do ensino primário, que a
Constituição de 1891 delegou aos municípios. O Grupo Escolar, portanto, chega na
legislação em 1895 e vai ser conhecido na prática como um estabelecimento modelo de
ensino primário em 1908, quando encontramos referência ao único Grupo Escolar de
Salvador no período em estudo.
Após a promulgação da legislação, o município de Salvador assume em 1896
todas as escolas primárias da capital e, a partir daí, os relatórios apresentados ao
Conselho Municipal vão registrar tópicos referentes à instrução pública. É o que se
observa no Relatório de 1909, do Conselheiro Antonio Carneiro da Rocha, o qual faz
referência às dificuldades financeiras do município para assumir a educação primária,
incluindo pagamento de professor e a inexistência de prédios escolares próprios.
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Este foi o único Grupo Escolar de Salvador construído para tal fim. Outro grupo
escolar encontrado na documentação consultada refere–se às escolas anexas ao Instituto
Normal, as quais mudam de denominação, em decorrência da lei em vigor. Em 1911,
em sua Mensagem à Assembléia Geral Legislativa, o governador João Ferreira de
Araújo Pinho salienta que esse grupo compunha–se de “5 escolas: uma infantil, cujo
programma visa o ensino intuitivo do Jardim da Infância, duas elementares e duas
complementares, uma de cada cathegoria para cada sexo”. (Bahia, 1911, p. 24)
A documentação encontrada sobre o Grupo Escolar da Penha, posteriormente
denominado Rio Branco, é pouca. Apenas tivemos acesso a um relatório de 1927, do
diretor Deocleciano Barbosa de Castro, enviado ao então Diretor da Instrução Pública
Anísio Teixeira. O Diretor, nesse documento, informa que o grupo só atendia aos alunos
do sexo masculino e refere–se às dificuldades de funcionamento:
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A autora informa também que o primeiro desses prédios foi o de São Felix,
inaugurado em 14 de junho de 1912, com a denominação de Escola Deiró Lefundes. O
prédio de Cachoeira foi chamado Escola Ana Néri. Dos prédios projetados nesse
período, o único e último a ser inaugurado com a denominação de Grupo Escolar foi o
de Feira de Santana: o Grupo Escolar J.J. Seabra, em 19165. Este, embora de bela
fachada e o de “maior vulto” entre as construções da época, possuía pequenas salas de
aula conforme comentário de Alberto Assis:
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O grupo escolar J. J. Seabra desaparece em 1927, quando é reorganizado para sediar a Escola Normal,
que lá fica abrigada entre 1927 e 1960. No período de 1968 a 1976 passa a ser reconhecido como o
prédio da Faculdade de Educação de Feira de Santana. A partir de 1988 é incorporado ao patrimônio da
Universidade Estadual de Feira de Santana e hoje é conhecido como Centro Universitário de Cultura e
Arte (CUCA).
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Por este artigo (21) a difusão do ensino está feita de dois modos: ou por
escolas ou por grupos. Senhor Presidente, diz o artigo 28, este que está
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As reformas do período foram: Lei n. 1006, de 6 de setembro de 1913, regulamentada pelo Decreto n.
1354, de 20 de janeiro de 1914; Lei n. 1293, de 9 de novembro de 1918, regulamentada pelo Decreto n.
1994, de 26 de maio de 1919 e a Lei n. 1846, de 14 de agosto de 1925, regulamentada pelo Decreto n.
4218, de 30 de dezembro de 1925.
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Se há entre nós uma questão social que mereça grande e várias apreciações, a
do ensino primário é uma das primeiras. Fala–se, agora, na remodelação, da
reforma do ensino primário da Bahia, que podemos dizer não existe
satisfatoriamente. Três de fevereiro é a data tradicional para a abertura dos
cursos primários mantidos pelo governo municipal ou estadual. Quatorze de
novembro, porque a 15 se deve realizar as festas de férias, é o dia do
respectivo encerramento. Entretanto, em março ou talvez em abril (não
falamos do interior, por ora), encontramos escolas primárias que não se
reabriram ainda. Nos lugares mais distantes da sede do muncipio – Maré,
Passe, Pirajá, Matoim, as escolas funcionam dois meses, três meses, por ano.
Em fins de outubro, muitos professores despacham as crianças mais atrasadas
porque vão preparar os que vão prestar exames. O horário é variadíssimo.
Com as exceções honrosíssimas, já se vê, aqui há escolas que se abrem às
nove horas; há as que se abrem as nove e meia; as que se abrem um quarto
antes das dez. Os trabalhos são encerrados às duas horas da tarde, a uma hora
e meia, a uma hora, sendo que a escola é useira e vezeira em abrir tarde, se
fecha cedo! Não há na Bahia edifícios escolares. O Governo dá, para a casa,
que deve ser procurada pelo professor a quantia de 50 mil réis. Ora, com 50
mil réis não se encontra na Bahia um pardieiro de sala grande, que possa
comportar umas 60 infelizes crianças, com mobiliário sui generis, como os
das nossas escolas. Que procura fazer o professor? Aluga uma sala de visitas,
ou então faz da sua própria casa a escola pública! (…) Nós não podemos
compreender uma reforma da instrução primária na Bahia, sem os edifícios
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está o alicerce das democracias, que não podem ser comprehendidas nem
praticadas em um povo que não possua pelo menos a consciência de seus
deveres e direitos. É preciso que seja uma realidade o regimen da opinião
popular e esta jamais existirá onde a instrucção não for realmente cuidada
com maior empenho do governo” (Bahia, 1924, p. 9).
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E, nessa Mensagem faz a defesa das “escolas reunidas” que considera como “o
módico e pequeno grupo escolar talhado para o nosso meio”
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A ressalva é para um prédio cujas obras foram retomadas no governo Góes Calmon e foi inaugurado em
15/11/1928, no governo seguinte, de Vital Soares, como Grupo Escolar de Morro do Chapéu.
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Referências bibliográficas
Annaes da Câmara dos Deputados (1914). v.IV, Bahia Oficina da Gazeta do Povo.
BAHIA. Mensagem apresentada pelo Sr. Dr. Francisco Marques de Góes Calmon,
governador do Estado da Bahia á Assembléa Geral Legislativa, por ocasião da
abertura da 1ª reunião ordinária da 17ª legislatura. Bahia: Imprensa Official do
Estado, 1924, 16p.
BAHIA. Mensagem apresentada pelo Exm. Sr. Dr. Francisco Marques de Góes
Calmon, governador do Estado da Bahia á Assembléa Geral Legislativa, por ocasião
da abertura da 1ª reunião ordinária da 18ª legislatura. Bahia: Diário da Assembléia
Geral, 1925.
BAHIA. Mensagem apresentada pelo Exm. Sr. Dr. Francisco Marques de Góes
Calmon, governador do Estado da Bahia á Assembléa Geral Legislativa, por ocasião
da abertura da 2ª reunião ordinária da 18ª legislatura. Bahia: Diário da Assembléia
Geral, 1926.
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BAHIA. Mensagem apresentada pelo Exm. Sr. Dr. Francisco Marques de Góes
Calmon, governador do Estado da Bahia á Assembléa Geral Legislativa, por ocasião
da abertura da 1ª reunião ordinária da 19ª legislatura. Bahia: Diário da Assembléia
Geral, 1927.
FARIA FILHO, L.M. (2000). Dos pardieiros aos palácios: cultura escolar e urbana em
Belo Horizonte na Primeira República. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo
(UPF).
SILVA, M.C. (1997). O ensino primário na Bahia: 1889–1930. 144f. Tese (Doutorado
em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador.
TEIXEIRA, C. (1988). As oligarquias na política baiana, in: LINS, W.; TEIXEIRA, C.;
FALCON, G.; et alli. Coronéis e oligarquias. Salvador: UFBA – Ianamá, pp.29–59.
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Mestranda na UFRN
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que morreu em Paris, a 12 de maio de 1902, quando conduzia o seu balão PAX, em
companhia do seu mecânico, George Sachet. A sua genialidade intelectual e artística
erguia–se como símbolo de exemplo para as crianças e os jovens, de memória e de
homenagem das instituições educacionais e culturais.
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individuais. Para esse Diretor da Instrução Pública, a antiga escola primária condenava
os poucos alunos que ali estudavam ─ “entre quatro paredes nuas, sobre bancos ásperos,
numa temperatura elevada, em classes de quatro horas modorrentas, que as tornavam
inquietas e aborrecidas, pela natural necessidade de movimentos físicos” (Relatório
apresentado pelo Dr. Francisco Pinto de Abreu, 1909, p. 5) ─ a transformarem–se numa
legião de pessoas passivas, hipócritas e subjugadas, levando, assim, a Nação a anular–se
diante do mundo civilizado.
Contra a “antiga escola primária” insurgiram–se o governo e as elites locais,
abrindo gradativamente grupos escolares em lugar das escolas de primeiras letras
multiseriadas, para “matar o Adamastor que vai talhando o passo à juventude”
(Relatório apresentado pelo Dr. Francisco Pinto de Abreu, 1909, p. 5). Modalidade
educacional transplantada consoante um plano de adaptação, o grupo escolar era
produto da alteridade de certos padrões de sociabilidade decorrentes da cultura letrada e
do processo civilizatório em marcha.
Convencidos os dirigentes republicanos da eminente tarefa política de reformar
os costumes societários, pareceu fundamental implementar, no decorrer do Governo
Alberto Maranhão (1908 a 1913), uma rede de grupos escolares mediante auxílio
financeiro e material do poder municipal e da própria população local, começando pelos
maiores núcleos urbanos do Estado na seguinte ordem: Natal (Augusto Severo e Frei
Miguelino), Mossoró (Trinta de Setembro), Caicó (Senador Guerra), Tomaz de Araújo
(Acari), Caraúbas (Antônio Carlos), Martins (Almino Afonso), Serra Negra (Coronel
Mariz), São José de Mipibu (Barão de Mipibu), Goianinha (Moreira Brandão), Pedro
Velho (Fabrício Maranhão), Jardim do Seridó (Antônio Azevedo), Papari, hoje Nísia
Floresta (Nísia Floresta), Pau dos Ferros (Joaquim Correia), Arês (Jacumaúma), Açu
(Ten. Cel. José Correia), Macaíba (Auta de Souza), Currais Novos (Capitão Mór
Galvão), Apodi (Ferreira Pinto), Angicos (José Rufino), Nova Cruz (Alberto
Maranhão), Luiz Gomes (Coronel Fernandes), Ceará–Mirim (Felipe Camarão), São
Gonçalo (Dr. Otaviano) e Canguaretama (Pedro Velho). Desenvolver a cultura de
cidade em conjugação com a cultura de cidadania correspondia rigorosamente a educar
a infância.
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São esses meninos que saem da escola com certa dose de cultura e prática
– intelectual e moral – são os homens que amanhã terão necessariamente
de fundar uma sociedade sobre os novos alicerces, cuidando do
desenvolvimento das forças vitais do país (Cláudio, 1908, p. 4).
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(...) de uma afeição recíproca dos mestres e discípulos. Que ele se faça
estimar, em vez de se fazer temer, porque assim ganhará a confiança dos
alunos e será respeitado. A persuasão e o conselho podem conseguir hoje
o que o temor das punições não conseguiu nunca. Serão abolidos os
castigos físicos, que pervertem o caráter das crianças e tornam odiosa a
função do mestre (Regimento do Grupo Escolar ‘Augusto Severo’, 1909,
p. 89).
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No Estado de São Paulo, o Decreto ( Nº 248, de 26 de julho de 1894) recomendava que a disciplina
escolar devia repousar na afeição do professor para com os alunos, para que fossem dirigidos não pelo
temor mas pelo conselho e persuasão amistosos (SOUZA, 1996). No Rio Grande do Norte, a essência do
procedimento disciplinar define-se pelos moldes paulistas.
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Foi mais ou menos esse intuito que se editou a Revista Eschola Pública (São Paulo, 1893), a Revista de
Ensino (São Paulo, 1902) e o Anuário do Ensino (São Paulo, 1908), como mostram Souza (1996),
Carvalho (2001), Pinto (2002) e Catani (2003).
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Referências bibliográficas
ARAÚJO, Maria Marta de. (1982). Origens e tentativas de organização da rede escolar
do Rio Grande do Norte ─ Da Colônia à Primeira República. Natal: Pró–Reitoria Para
Assuntos de Extensão Universitária.
CATANI, Denice Barbara. (2003). Educadores à meia luz: um estudo sobre a Revista
de Ensino da Associação Beneficente do professorado público de São Paulo (1902–
1918). Bragança Paulista: EDUSF.
FARIA FILHO, Luciano Mendes. (1996). Dos pardieiros aos palácios: forma e cultura
escolares em Belo Horizonte (1906/1918). 361f. Tese (Doutorado em Educação) –
Programa de Pós–Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.
LEÃO, Antonio Carneiro. (1917). O Brasil e a educação popular. Rio de Janeiro: Typ.
do Jornal do Comércio.
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PINHEIRO, Antonio C. Ferreira. (2002). Da era das cadeiras isoladas à era dos grupos
escolares na Paraíba. Campinas: Autores Associados; Bragança Paulista: Editora da
Universidade São Francisco.
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___. Relatório apresentado pelo Dr. Francisco Pinto de Abreu, Diretor Geral da
Instrução Pública, em 15 de outubro de 1908. Natal, 1908, 22 p. (Manuscrito).
___. Relatório apresentado pelo Dr. Francisco Pinto de Abreu, Diretor Geral da
Instrução Pública, em 15 de outubro de 1909. Natal, 1909, 18 p. (Manuscrito).
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___. Relatório apresentado pelo Dr. Francisco Pinto de Abreu, Diretor Geral da
Instrução Pública, em 1º de outubro de 1910. Natal, 1910, 20 p. (Manuscrito).
___. Decreto nº 198 de 10 de maio de 1909. Declara que o Grupo Escolar “Augusto
Severo” será a Escola Modelo para servir de tipo de Ensino Público elementar em todo
o Estado Actos Legislativos e Decretos do Governo (1909). Natal: Typ. d’A República,
1910.
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Doutoranda em História da Educação do Programa de Pós Graduação da FEUSP. E-mail:
bethpoubel@uol.com.br
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assim, sua cultura escolar13. Para a realização deste estudo foram utilizadas fontes
documentais, tais como, legislações, relatórios, mensagens e jornais.
O estudo se direcionou para a Escola Modelo Barão de Melgaço, grupo escolar
que funcionou com duas finalidades: a de ser modelo para as demais escolas do Estado
e de servir de prática para os normalistas em formação. Compreende, então, o período
de sua implantação em 1910, até a saída de Leowigildo Martins de Mello, um dos
implementadores da reforma educacional em Mato Grosso, da sua direção, em 1916.
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Definida por Júlia (2001) como “conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas
a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação
desses comportamentos”.
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Conforme Decreto nº 258 de 20 de Agosto de 1910.
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O Regimento Interno para os Grupos Escolares do Estado de Mato Grosso, organizado de acordo com o
parágrafo 1º do artigo 77 do Regulamento da Instrução Pública e Decreto nº258 de 20 de agosto de 1910
em 4 de novembro de 1916, foi solicitado por Mello que alegou que já era tempo de se proceder a
organização definitiva de programas para os grupos escolares pois os que estavam em vigor eram “feitos
para estabelecimento de outro Estado, se bem que de categoria e orientação pedagógicas idênticas aos
nossos, não são, in totum, aplicáveis ao nosso meio” (Mello, Relatório, 1912). Porém, quando o
Regimento entra em vigor, Mello já se encontrava nos fins de seu mandato na direção da Escola Modelo.
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O ensino nas escolas primárias será tão intuitivo e prático quanto possível,
devendo nele o professor partir sempre em suas preleções do conhecido
para o desconhecido e do concreto para o abstrato, abstendo-se outrossim,
de perturbar a inteligência da criança com o estudo prematuro de regras e
definições, mas antes, esforçando-se para que seus alunos, sem se
fatigarem, tomem interesse pelos assuntos de que houver de tratar cada
lição (Regulamento, 1910, Art. 12º).
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Método pedagógico pelo qual os professores encontravam-se no comando da atenção simultânea de
todos seus alunos (Cf. Souza, 1998, p. 33)
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A introdução do método intuitivo surgiu, em Mato Grosso, na legislação de 1896. Porém Mello e
Kulhmann verificaram que, na iniciativa não havia se tornado prática nas instituições escolares.
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Segundo Mello (1912) “são estes alguns dos aparatos exigidos pela pedagogia,
para o manejo proveitoso dos processos e métodos preconizados como únicos capazes
de educar e instruir à infância vantajosamente”.
Não foi uma tarefa fácil levar o método intuitivo para as salas de aula das
escolas públicas da Capital. Segundo José Estevão Corrêa
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Mello tinha clareza do trabalho penoso que teria pela frente, pois, segundo ele,
os professores, “adstritos ao pernicioso método da decoração, ao ensino de todas as
disciplinas por intermédios do livro tratadista”, não estavam em condições favoráveis à
reorganização. Investiu, então, na capacitação de seus professores, durante três meses
seguidos logo após a inauguração da Escola Modelo, de modo que estes deixassem de
lado o método da decoração e passassem a orientar seus alunos através da linguagem
oral, “banidos do ensino de todos os livros, exceto o de leitura, condenada para sempre a
decoração” (Mello, 1911).
A capacitação dos docentes também se dava através de Conferências
Pedagógicas escritas na revista A Nova Época, principalmente por Gustavo Kulhmann.
“Esse periódico parece ter sido canal, por excelência, para que os normalistas paulistas
pudessem - a exemplo do que ocorria em São Paulo - divulgar, ainda que em pouco
tempo, seus ideais republicanos e pedagógicos” (Amâncio, 2000, p.815).
Além da capacitação dos professores em exercício na Escola Modelo, o Governo
do Estado investiu na formação dos professores. Tinha a Escola Normal a seguinte
fundamentação teórico-metodológica:
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Para Faria Filho (2000, p.39) “os typos para a construção dos grupos escolares
ressaltavam a singularidade do local onde deveriam ser construídos, estabelecendo a
preferência pelas regiões centrais, bem ventiladas, higiênicas, de fácil acesso”.
O “Palácio da Instrução” era um prédio majestoso para a época. Souza afirma
que “a monumentalidade que revestiu as construções dos grupos e principalmente das
escolas normais revelou o desejo do Estado em propagar e divulgar a ação do governo”
e elevou os edifícios escolares à altura da importância atribuída à educação naquele
momento histórico (Souza, 1998, p. 124).
Desta forma, teve a instrução primária, pela primeira vez no Estado, um prédio
com salas de aula construídas para este fim, provido de mobiliários completos,
mandados vir da América do Norte. Sua arquitetura foi descrita pelo jornal em
circulação na época do seguinte modo:
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Divisão
do tempo Dias da semana
2ª 4ª 6ª 3ª 5ª sábados
12- 12:10 Chamada e canto Chamada e canto
12:10 – 12:30 Aritmética. Cálculo. Números e Cartas de Geometria. Estudo das formas. Sistema métrico
Parker
12:30- 1. Leitura Seção A; ocupação Seção B e C Leitura Seção A; ocupação Seção B e C
1.- 1:25 Leitura Seção B; ocupação Seção A e C Leitura Seção B; ocupação Seção A e C
1:25-1:35 Exercícios calistênicos Exercícios calistênicos
1:35 – 2:00 Leitura Seção C; ocupação A e B Leitura Seção C; ocupação A e B
2:00- 2:20 Caligrafia Caligrafia
2:00- 3:00 Recreio Recreio
3:00-3:20 Geografia. História. Instrução Cívica Linguagem. Ciências Físicas Naturais e Higiene
3:20 – 3:40 Leitura Seção A; ocupações B e C Leitura Seção A; ocupações B e C
3:40- 3:55 Leitura ou cópia de Parker Leitura e cópia de Parker
3:55 – 4:15 Leitura Seção B; ocupações A e C Leitura Seção B; ocupações A e C
4:15 – 4:30 Leitura Seção C; ocupações B e A Leitura Seção C; ocupações B e A
4:30- 4:35 Marcha e Canto Marcha e Canto
4:35 – 5:00 Desenho. Jogos ginásticos. Trabalho Desenho. Jogos ginásticos. Trabalho manual. Canto e
manual. Canto e declamação. declamação.
O horário acima exposto, como os dos anos seguintes, não foi organizado com
distribuição uniforme do tempo, mas obedeceu a alguns princípios: o de proporcionar a
duração de exercícios à idade e ao desenvolvimento físico e intelectual dos alunos;
abranger o programa completo, destinado a cada matéria o tempo exigido pela maior ou
menor dificuldade ou facilidade; e de alterar as horas sucessivas elementos mais difíceis
com outros menos difíceis (Mello, 1911).
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Surge então o recreio para que as crianças pudessem descansar o físico e a mente
para retornar às aulas, adequando-se aos preceitos higiénicos da época.
Depois de haver manuseado este horário durante um ano, Mello assegurou
possuir ele ótimas condições pedagógicas e pedológicas, pois além dos resultados
colhidos de seu emprego, nenhum caso de fadiga cerebral ou de atrofiamento qualquer
foi por ele observado (Mello, 1911).
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claro que o programa deve lhes precisar a qualidade e a quantidade dos conhecimentos a
ensinar (Mello, 1911) .
Os programas de primeira à quarta classe continham as seguintes matérias, de
acordo com o desenvolvimento particular de cada classe: leitura, linguagem oral e
escrita, aritmética, geografia, história pátria, ciências físicas e naturais e higiene,
educação moral e cívica, geometria, música, desenho, trabalhos manuais e ginástica
(Regulamento,1910, Art.4º).
Para justificar a importância da educação física Mello defendeu a unidade da
educação moral, intelectual e física, porém acusou a falta de materiais adequados para o
desenvolvimento das atividades físicas, sendo que, por isso, limitou “esta parte do
programa a passeios campestres, os quais, além de oferecer aos alunos um campo mais
higiênico para boa respiração e mais próprio para jogos infantis, tornavam mais
proveitosas, por serem práticas, as lições de coisas”(Mello, 1911).
Atendendo ao primeiro artigo do Regulamento da Instrução Pública de 1910
onde determinava que “o ensino primário no Estado de Mato Grosso será leigo” é que
foi introduzido no programa dos grupos escolares o ensino de moral e cívica.
Para Mello, esta disciplina era a grande responsável pela formação do cidadão
republicano, por isso, além de organizar o programa de ensino para a Escola Modelo
explicitando os seus respectivos conteúdos, tomou para si a responsabilidade de ensiná-
lo.
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Por leiga se deve entender a escola que respeita todas as religiões, sem
professar qualquer delas, e não escola contrária a qualquer credo ou a
Deus, segundo pregam, com intuitos pequeninos alguns fariseus do ensino
em nosso meio social. A educação só pode ser completa e perfeita desde
que desenvolva gradual e harmonicamente as faculdades intelectuais,
morais e físicas dos educandos. Nos tempos idos da monarquia, em que a
religião era unida ao Estado, a educação moral se realizava por meio do
ensino do catecismo católico romano aos alunos. Proclamada a República
e com esta a liberdade de cultos, foi banido da escola o ensino religiosos.
Desde então se fez mister nova orientação para a educação moral
(Mello,1911).
Considerações finais
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qual estava inserida. Desta forma, podemos observar que, por várias vezes, Mello
solicitou adequações ao programa e regulamento, que até então eram os que
regulamentavam o estado de São Paulo, por não serem aplicáveis à Mato Grosso.
Buscou, então, dentro das possibilidades do Estado, introduzir na Escola
Modelo, as modificações inerentes a tal modelo escolar, tais como: o ensino seriado,
ficando estabelecida uma relação entre série e idade do aluno; adoção do método
intuitivo; revisão da concepção de tempo escolar, fixando à jornada escolar o início e
término do ano letivo, das aulas, intervalos, descansos e elaboração de horário das
matérias de acordo com o grau de complexidade da disciplina e adoção de programa
escolar enriquecido e enciclopédico, com a inclusão de novas matérias e procedimentos
didáticos.
Neste movimento, floresceu em Mato Grosso uma cultura escolar próxima dos
demais estados do país, mas com características próprias, se consolidando no ensino
público desse Estado e na memória da população mato-grossense.
Referências bibliográficas
CARVALHO, Marta Maria C. de. (2000). Reformas na Instrução Pública, in: LOPES,
E. M. T. et al. (org.). 500 Anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica.
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VIDAL, Diana G.; FARIA FILHO, Luciano M. (2000). “Os tempos e os espaços
escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil”, in: Revista
Brasileira de Educação, nº 14.
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18
Professor vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário do Triângulo, Uberlândia, MG, e ao
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, como Professor Colaborador; membro do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação da Universidade Federal de Uberlândia (para contatos:
jcaraujo@ufu.br).
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(Bretas, 1991), para GO. Uma ressalva: alguns desses estudos não apresentam como
objeto os grupos escolares).
A emergência dos grupos escolares em diferentes Estados brasileiros não pode
ser compreendida somente a partir de olhares regionais, geograficamente configurados
pelas unidades federativas que compõem o território brasileiro. Nem mesmo a referida
emergência pode ser compreendida apenas do ponto de vista nacional. Em relação à
penúltima afirmação, deve-se ao motivo de que as pesquisas histórico–educacionais
ainda estão aquém quanto ao sentido de propiciar uma síntese explicativa sobre tal
temática; por outro lado, tal impossibilidade torna-se mais obstaculizada, posto que
ainda se desconhecem as dinâmicas estaduais que se avultaram em vista da assunção
dos grupos escolares como norteamento político–educacional, bem como as efetivas
respostas em vista do mesmo.
Não é sem significação que publicações recentes sobre a emergência dos
grupos escolares no Estado de São Paulo se apresente identificando–os com “templos de
civilização” (Souza, 1998); no Estado de Minas Gerais, com “palácios” que vão
suplantar os “pardieiros” (Faria Filho, 2000). Tais expressões constitutivas do
imaginário político traduzem a significação que os grupos escolares tiveram por ocasião
de sua emergência em vista do projeto republicano. No Estado de Goiás, a expressão
“palácio da instrução” (Bretas, 1991, p. 517) também traduz o fascínio que representava
a escolarização no período da República Velha, fascínio este expresso pela arquitetura
de tais edifícios escolares (cf. Buffa, 2002, a propósito dos mesmos no Estado de São
Paulo).
Nesse diapasão, em Minas Gerais, em documento oficial de 1908, que
expressava os ideais e as realizações mineiros em torno da educação escolar, os grupos
escolares também são concebidos como expressão arquitetônica, direcionada a um
modo político de contemplá-la:
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Para um autor de uma obra dedicada ao estudos das idéias filosóficas em Minas
Gerais no século XIX, João Pinheiro
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Como se informou acima, entre 1893 e 1898, não se envolve com política. A
partir de 1899, volta ao cenário político primeiramente como Agente Executivo de
Caeté, MG. Daí em diante, e dada a sua projeção e liderança, acaba sendo senador
federal por um curto período. Em 13 de novembro de 1905, o Partido Republicano
Mineiro o proclama candidato à presidência do Estado de Minas Gerais.
Em 12/02/1906, o seu manifesto-programa, intitulado Ao Povo Mineiro, vem a
público em Caeté, MG. Entre outros aspectos, o da educação escolar ocupa as suas
preocupações de uma maneira primordial, afirmando-a como “benefício direto” para o
povo e como benéfica à “coletividade inteira”:
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(...) as casas sem mobília, as classes sem alunos, os alunos sem livros, a
freqüência pequena; e, entretanto, em grande perda o sacrifício do
Tesouro, que nunca é demais em tal assunto. Urge remediar
energicamente tão grave estado de coisas, e abrir ao professor–primário
uma esperança de melhor sorte. (...) Para a reabilização e eficácia do
ensino primário, empregarei, se eleito, toda atenção, todo esforço e toda
energia de que for capaz (Pinheiro, 1980, p. 191).
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(...) nosso mal tem sido o excesso de teoria. Para essas escolas
secundárias, continuou, cuido de mandar vir professores americanos
contratados, que servirão até que as próprias escolas possam fornecer os
seus professores. Resta o ensino técnico–superior e esse penso que deve
ser dado pela União, em sessões anexadas às faculdades superiores,
especialmente às Escolas de Engenharia (Pinheiro, 1980 p. 208).
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disto são suas principais preocupações como separação entre o Estado e a Igreja, defesa
da liberdade religiosa bem como da liberdade profissional, justiça, e democracia”
(Silva, 1992, p. 94).
Acompanhando a distinção de A. Paim entre o positivismo político e o
positivismo ilustrado, e assentado na concepção de que caberia ao segundo conceder
“(...) à política uma posição subalterna e privilegiando a mudança dos costumes e da
mentalidade, como condição prévia à reforma social” (Paim, 1979, p. 37), o
posicionamento que segue abaixo é esclarecedor:
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que “os alumnos pobres que mais se distinguirem no curso primario pela intelligencia,
bom procedimento e assidua applicação, terão a protecção do Governo para serem
admittidos gratuitamente, quer no Gymnasio Mineiro, quer nos gymnasios
equiparados”. Em seu artigo 22°, afirmava que o Governo buscaria meios para que os
edifícios fossem apropriados à escola, e estas providas “de livros didacticos, mobilia e
todo o material de ensino pratico e intuitivo”.
O Regulamento da Instrucção Primaria e Normal do Estado de Minas, de
16/12/1906 – observe-se que também é a data de nascimento de João Pinheiro –, em seu
preâmbulo estimava Minas Gerais com 4.000.000 de habitantes, o que implicava em
800.000 alunos; no entanto, no Estado o número de alunos matriculados na escola
primária era 54.825. Destes, 11.607 alunos se vinculavam à iniciativa particular e
municipal.
Com esse raciocínio,
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(...) a população escolar dobrou, quase, nos sete meses do seu governo;
todos porfiam em colaborar no esforço governamental; o movimento é
para confortar e firmar esperanças. Em todas as estações, durante sua
passagem, a manifestação das crianças das escolas é a prova do resultado
prático da última reforma e o atestado vivo do interesse que desperta
(Pinheiro, 1980, p. 249).
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Finalizando
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Mas tal avaliação não implica em afirmar que a política educacional em torno
dos grupos escolares carecia de projeto e de iniciativa. Havia um projeto republicano em
efetivação, e dele João Pinheiro foi responsável pela iniciativa e pela capacidade em
dinamizá-lo em Minas Gerais, apesar do exíguo tempo de seu governo. Seu horizonte
liberal o faz assumir tal iniciativa, contando com a participação privada, mas apostando
no progresso. À educação cabia também acioná-lo e irradiá-lo. Se estava em jogo uma
política pública – a educação –, é necessário indagar, em perspectiva histórico–
educacional, a respeito de sua capacidade de incluir.
O pensamento e as ações políticas de João Pinheiro, provocado pelas mazelas
do período imperial, certamente são um capítulo significativo do liberalismo, do
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Referências bibliográficas
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Cortez; Niterói: Editora da UFF; Brasília: FLACSO do Brasil.
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Editores Salles Oliveira, Rocha & Cia.
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grupos escolares na Paraíba. Campinas: Autores Associados: São Paulo: Universidade
São Francisco.
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WIRTH, John D. (1982). O fiel da balança: Minas Gerais na Federação Brasileira 1889-
1937. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
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UM PROJETO MODERNIZADOR:
O GRUPO ESCOLAR NUMA CIDADE DE VOCAÇÃO INDUSTRIAL
Lola Yazbeck19
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Prof. Dra Dalva Carolina (Lola) de Menezes Yazbeck Universidade Federal de Juiz de Fora. M.G. E-
mail: yazebeck@zaz.com.br
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Até os anos de 1930, as atividades industriais diversificam-se entre os ramos de alimentação, fiação e
tecelagem, metalurgia, couros e calçados, madeira, móveis e serraria, cerâmica, cimento e marmoraria,
fumos e cigarros, tipografia, registrando-se no final do período um total de 286 indústrias (Giroletti,
1988).
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Em Juiz de Fora fundou o jornal Minas Livre, em 1893, transformando-o em 1894 no Correio de
Minas em cuja direção permanece até 1914. Foi colaborador em A Imprensa e O País, do Rio de Janeiro.
22
Jornal Minas Livre. Juiz de Fora, de 08 ; 15 de outubro e 22 de dezembro de 1891, Anno I.
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fizesse uma formação profissional mais rígida. O ponto nevrálgico da Reforma seria a
criação de grupos escolares e a formação de professores. Era preciso aperfeiçoar o
ensino normal quanto ao programa e recursos materiais. O ensino deveria ter uma
orientação mais prática e positiva. Também foi de opinião que o cargo de “professor
provisório” deveria ser extinto uma vez que pecavam pela má formação e eram, em
geral, presos à teia do coronelismo. Neste sentido, defendeu o princípio da
amovibilidade, ou seja, a possibilidade de remoção do professor ao critério exclusivo do
Estado. Seria a forma de romper com o esquema de favoritismo político que prendia
muitos professores ao poder local e de dar um caráter de competência e de
profissionalização ao professor.
Estas preocupações tinham fundamento, pois embora as idéias de Estevam
acompanhassem o ideal republicano, ele não desconhecia o caráter autoritário e a
prática de coerção no processo do controle político mineiro, a partir da organização do
Partido Republicano Mineiro (PRM), que foi consolidando progressivamente uma
tradição de fortalecimento das relações pessoais através de favoritismos, empreguismo e
desvio de recursos públicos para o atendimento a diversas demandas (Bomeny, 1994).
A opinião de Estevam de Oliveira sobre a Reforma do Ensino Primário e Normal
em Minas, no relatório de 1902, sobre a carreira do professor, se revestia de
objetividade, visto que para ele não adiantava exigir do professor um bom preparo
profissional na medida em que era mal remunerado e as escolas apresentavam precárias
condições. Assim, não havia estímulo para que o profissional se aperfeiçoasse e muito
menos para que quisesse permanecer no serviço público (Cf. Faria Filho, 2000).
Ainda sobre a criação de grupos escolares, Estevam de Oliveira afirmou que “é
esta instituição que há de reerguer o nosso ensino primário do estado de miséria a que
chegou” (Oliveira, 1902).
Ao Inspetor não caberia apenas acompanhar a construção física das escolas, mas
a organização de um trabalho eficiente com base em uma compreensão pedagógico-
administrativa quando seria eliminada a situação de um mesmo professor orientar
alunos de todas as séries, ao mesmo tempo, em uma mesma sala, com a agravante de
designar alunos mais adiantados para orientar alunos novatos. Assim, os Grupos
Escolares passavam a ser concebidos como dispositivos de imposição de novas regras
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Curiosamente Estevam expressa descontentamento em relação à legislação de 1906
frente ao Relatório de 1902, através de um artigo redigido por um cronista do Jornal
Correio de Minas, que assina Neophyto. O artigo critica a reforma de ensino, por conter
emendas votadas no Congresso que alteravam profunda e radicalmente a proposta
primitiva. O autor afirma ter participado, ou melhor, ter sido incumbido de rascunhar
um projeto que sintetizasse um plano de reforma já esboçado por ele antes em
documentos oficiais. O autor do artigo é Estevam de Oliveira que assinava tal
pseudônimo. Jornal Correio de Minas 19/09/1906
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Categoria expressa por Pierre Bourdieu (1982).
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Livro de Instalação dos Grupos Escolares 1907 – 1911 Presenças na Cerimônia de instalação do ano
letivo de 1907: Diretor – José Rangel –Inspetor Municipal: Belmiro Braga – Professoras Normalistas (do
1o Grupo): 1) Alexandrina de Santa Cecília 2) Sylvia de Azevedo Coutinho 3) Maria do Carmo Goulart
.4) Maria da Silva Tavares. 5) Maria Monteiro de Rezende. 6) Francisca Lopes. 7) Mª da Conceição G.de
Vasconcelos.) Izabel Bastos.
Agente Executivo do Município: Duarte de Abreu. –Promotor Público Municipal: Astolfo Leite
Magalhães Pinto. – Juiz Municipal: Francisco Cândido da Gama Júnior. – Fiscal p/ parte do governo
federal: José Cesarino Monteiro da Silva. (fiscal junto ao Gymnásio Granbery) Livro de Instalação dos
Grupos Escolares 1907 – 1911
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Livro de Atas dos Exames, Atas de Instalação e Visitas Oficiais. 1907 – 1925 Termo de Instalação dos
Grupos de 02 de fevereiro de 1915.
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O prédio era denominado Palacete Santa Mafalda.
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A cidade guarda com um curioso orgulho na idéia do pioneirismo, por ter ela
abrigado a instalação do primeiro Grupo Escolar do Estado de Minas Gerais. Algumas
fontes nos dão pistas que podem confirmar esta postura vaidosa que retrata mais um
sentimento de estar à frente da capital, mesmo que seja por um dia de diferença29.
28
O Jornal do Comércio, de 05 de fevereiro de 1907. Jornal o Pharol de 04 e 05 de Fevereiro de 1907.
29
Embora a pretensão de inaugurá-lo fosse no dia 1o de fevereiro, conforme Jornal
Correio de Minas do dia 01/02/1907, “a installação desse grupo não póde realizar-se
hoje como estava annunciado, em conseqüência da grande affluencia de candidatos á
matricula, cujo numero attinge a 454, o que tem tornado moroso o processo de
classificação de alumnos.
“Accresce que, por exigüidade de tempo, não puderam ser ultimados os trabalhos de
adaptação do prédio aos seus novos intuitos.
“A installação far-se-á no dia 4, as 11 horas da manhã, e para esse acto são convidados
as autoridades locaes, imprensa, instituições e interessados”, p.1.
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Duas questões nos sugerem o fato de Juiz de Fora instalar o Grupo Escolar em
quase momento análogo ao da capital mineira. A primeira pode ser entendida diante da
atuação da representação política em assuntos de bastante relevância política estadual.
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Jornal Minas Gerais dos dias 04 e 05 de Fevereiro de 1907, p.1 (segunda e terça feiras). Também a
autora Maraliz Christo, em seu livro no qual estuda a cidade de Juiz de Fora, na belle époque que examina
a relação entre cultura e as transformações econômicas da passagem do século XIX ao XX, afirma a
condição de primeiro grupo de Estado de Minas Gerais (Christo, 1994, p.11).
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Por outro lado, ainda como uma segunda questão a ser levantada para se
entender por que a cidade de Juiz de Fora tivesse a imediata instalação do Grupo
Escolar, pode–se afirmar que houve a concorrência da cidade quanto à sua dinâmica
vida cultural, a sua influência na região como pólo cultural e econômico.
31
O epíteto Manchester Mineira deve-se a Rui Barbosa exaltando o desenvolvimento industrial de Juiz de
Fora ( Bastos, 1966 Apud Yazbeck, 2000).
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Outras críticas são feitas pela imprensa local. O Jornal Correio da Tarde
apresenta um longo artigo dirigido ao futuro Secretário Carvalho Brito no qual faz
menção sobre a proposta que seria implementada quanto as bases de inspiração obtidas
pelo do futuro Secretário em sua ida a S. Paulo e Buenos Aires para observar as
questões sobre educação.
O articulista que assina apenas JN não poupa críticas ao projeto quanto a sua
distância da sociedade.
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fazendas próximas, isto é, creanças que andavam uma légua e mais, e que
agora não mais virão, pois o grupo não os poderá receber.
Deverão, entretanto, ficar na eterna ignorância?
Não e não.
Assim, lembramos ao patriótico governo de Minas a conveniência de
serem conservadas, nos pontes extremos da cidade, 4 escolas as quaes,
sendo facilmente accessíveis aos meninos dos subúrbios, sirvam também
para aquelles que não dispondo de recursos, não podem freqüentar o
grupo, embora careçam mais que outros, da proteção do Estado.
As Escolas publicas são principalmente para os pequeninos desamparados
da fortuna (Jornal Correio de Minas de 19/01/ 1907, p.1).
A autora Maraliz Christo aponta o forte elo que existe entre a pobreza e o
trabalho e afirma que estes competiam com a escola provocando uma expressiva
evasão. Seu argumento se baseia nos dados fornecidos pela Secretaria do Interior em
1908: “dos 1002 alunos matriculados apenas 492 permaneciam”. Ela pergunta: onde
estaria a maioria de crianças pobres? Para a autora, as crianças menores de dez anos
compunham a força de trabalho nas indústrias locais, durante longas jornadas de
trabalho, e se encontravam impedidas de freqüentarem o Grupo Escolar assim
aguardavam a criação de cursos noturnos32.
Embora a autora tenha razão em se preocupar com o destino daqueles para quem
o Grupo fora criado, mesmo não sendo objeto de discussão deste artigo, é preciso
reiterar que as questões sobre evasão e repetência33 nas escolas, naquele período, devem
ser vistas, por exemplo, quanto às interpretações sobre a imagem da escola por parte das
famílias pobres, pois há indícios de que havia por parte deles a dependência do trabalho
32
O Grupo Escolar Noturno, no âmbito do estado, foi criado em 1914 como Escola Anexa ao Grupo José
Rangel. Durante dois anos ela recebeu somente alunas do sexo feminino. Em 1916 a escola recebe alunos
de ambos os sexos. Seu funcionamento se dava no mesmo prédio dos Grupos Centrais. Fonte: Livro de
Registro; Visitas Oficiais; Atas e Termos de Exames e\ Promoções para o Primeiro Grupo Escolar de Juiz
de Fora. 1907–1925. Porém é importante registrar que no âmbito municipal já existiam escolas noturnas
na zona urbana para operários, desde 1908. Fonte: Relatório Albino Esteves referente à instrução
municipal de 1910.
33
São também discussões importantes as que dizem respeito aos resultados quantitativos apresentados nas
promoções de alunos. Um exemplo pode ser dado, neste caso em particular, usando o Primeiro Grupo
Escolar, que em 1907 apresentou uma matrícula total de 470 alunos e o resultado de 133 aprovados o
que representa 28,3% de alunos aprovados, ou seja 71,7% dos alunos matriculados não conseguiram
aprovação. No ano de 1908, o número de aprovados apresenta um aumento expresso em 33,2%.
Porém, esse resultado deve ser mais atentamente discutido, para tanto devem ser considerados não
apenas a matrícula inicial, como foi a base destes cálculos, mas também levar em conta o número de
alunos que não obtiveram médias para exame, como eram considerados os não preparados, e também
levados em conta aqueles que evadiram no decorrer do ano.
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dos filhos, além disso ler e escrever eram objetivos mais imediatos que se esperava da
escola, o que propiciava a evasão, a partir de um certo tempo de freqüência escolar.
No otimismo de José Rangel, nas análises realistas dos artigos dos jornais locais,
e na opinião de Maraliz Christo se encontram a dimensão qualitativa na compreensão da
importância dos Grupos Escolares, na formação dos valores da sociedade como
almejava o ideário republicano e, em particular essa cidade de vocação industrial.
Por outro lado, há de se levar em conta que quantitativamente o estado mineiro
se esforçou para ampliar numericamente os Grupos Escolares, pois até 1909
contabilizaram-se cinqüenta e sete grupos criados no estado de Minas Gerais. Estes
números apontam o caminho da consolidação da instituição em todo o estado, no
decorrer dos primeiros tempos republicanos.
Confirmam-se, assim, os propósitos de João Pinheiro no seu projeto
modernizador, para quem “a chave do sucesso se encontrava na qualificação da mão de
obra e na racionalização das relações do trabalho do campo” (Bomeny,1994, p.1). Para
a autora, é na educação bem orientada que João Pinheiro esperava um papel de
importante contribuição (idem).
É certo que o conceito básico de organização seriada das classes, a utilização
racionalizada do tempo e do espaço, o melhor controle do trabalho docente constituíram
uma referência na estrutura das instituições educacionais do país da qual a cidade se
beneficiou para atender à educação dos seus operários.
Referências bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. (1982). A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva.
243
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RANGEL, José. Como o tempo passa...: aspectos, fatos, figuras e costumes antigos e
contemporâneos. Rio de Janeiro: A “encadernadora”, S. A.Z
Jornais:
244
245
Documentos:
Arquivo do Grupo Escolar José Rangel. Livro de Atas dos Exames, Atas de Instalação e
Visitas Oficiais (1907 – 1925), Termo de Instalação dos Grupos de 02 de fevereiro de
1915.
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Sônia Camara34
Raphael Barros35
Introdução
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Professora Assistente da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail:
soniacamara@uol.com.br
35
Aluno do Curso de História da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro.
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Partindo da problemática indicada acima, podemos dizer que este texto tem
como objetivo estabelecer uma análise preliminar acerca do processo de elaboração
de uma nova forma escolar no Rio de Janeiro, então capital do país, que em sintonia
e em consonância ao movimento de modernização pedagógica em voga em alguns
estados da federação, particularmente, em São Paulo, pretendeu criar um auspicioso
sistema de educação pública que conseguisse alavancar a escolarização da
população pobre da cidade.
Com esse intento, direcionamos nosso foco de análise, prioritariamente, para
os decretos e as leis que, propugnados pelos poderes público federal e municipal,
tencionaram assegurar a legitimidade das propostas, sistematizando uma nova
organização e regulamentação para as escolas primárias, com a criação dos grupos
escolares em finais do século XIX.
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É importante frisarmos que no contexto da década de noventa dos oitocentos, o Rio de Janeiro foi
cenário de várias agitações e revoltas o que suscitou por parte do governo iniciativas marcadamente
coercitivas diante do que qualificaram como sendo um”verdadeiro estado de guerra civil”. No entanto, é
necessário esclarecer que estratégias consensuais também foram implementadas como mecanismos
capazes de suplantar as adversidades (Vianna, 1965, p.29).
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Um grande entusiasta das idéias positivistas foi Benjamin Constant que no Congresso da Instrução,
presidido pelo Conde D’Eu em 1882, defendia um programa positivista de ensino para a Escola Normal
recém inaugurada na capital do país. Benjamin Constant que além de primeiro diretor da Escola Normal,
atuou, juntamente, com outros adeptos do positivismo, tais como: Alfredo Soares, Basílio de Magalhães,
Francisco Cabrita, Luís Bueno Horta, Pedro Barreto Galvão, entre outros, como professor na Escola
Normal, procurando ali socializar suas concepções junto às alunas, futuras professoras primárias. (Lins,
1965, p. 38)
38
O Pedagogium foi pensado como um centro impulsor de reformas e melhoramentos de que carecesse a
instrução nacional, constituindo-se como um estabelecimento de ensino profissional direcionado a
formação do professor das escolas públicas ou privadas, oferecendo-lhes acesso aos métodos e materiais
de ensino mais aperfeiçoados. Elaboraram mecanismos a partir dos quais tencionavam atingir tais
objetivos, entre eles aparece à elaboração da Revista Pedagógica, a montagem de exposições e
conferências, entre outros aspectos. A partir de janeiro de 1897 o Pedagogium foi transferido para a
Municipalidade.Ver Silva, 1936, pp. 149-150.
252
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253
254
39
Embora tenha sido estabelecido, pelo decreto de 1879, a criação dos Jardins de Infância, só em 1909,
foi instalado, na Praça da República, o primeiro Jardim de Infância, da Capital do país com a designação
de Jardim de Infância Campos Sales.
254
255
40
A partir do decreto de 1897 que estabeleceu a reforma da lei de 09 de março de 1893, foram extintas as
escolas do 2°grau, passando os seus alunos “para as escolas normais, dependendo do seu grau de
adiantamento.” Boletim da Intendência Municipal de 1897.
41
Quanto à questão do ingresso nas escolas, o decreto quatrocentos e um de 05 de maio de 1897,
estabelecia que as escolas femininas poderiam admitir meninos até dez anos o que em nossa concepção
aumentava as oportunidades de escolarização para o sexo masculino. Boletim da Intendência Municipal
de 1897.
255
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256
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três corpos: o central, de um só pavimento, ladeado por torreões com dois pavimentos
cada e um frontão, sustentando as armas da cidade que coroava o corpo central da
escola, apresentando um mostrador de relógio engastado na fachada do prédio como
forma de marcar no espaço da escola a racionalização do tempo como uma exigência
crucial da sociedade em processo de industrialização.
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258
42
Além dessa hipótese inicial, podemos inferir que a força assumida pelas Reformas Escolanovistas na
cidade do Rio de Janeiro a partir dos anos de 1920 pode ter contribuído, em nosso entendimento, como
mais um elemento que corroborou para o “apagamento” da importância que os grupos escolares tiveram
na organização escolar da capital do país. Quanto a essa perspectiva de análise ver Vidal, 2004.
43
Com a designação de “Escolas do Imperador” foram construídas as escolas São Sebastião, São José,
Gonçalves Dias, José de Alencar, José Bonifácio, São Cristóvão com prédios monumentais e arquitetura
arrojada a partir dos quais se tencionou homenagear o Imperador Pedro II. Ver Sisson, op. Cit. P. 64.
44
No entanto, é interessante observar que embora o decreto n. 583-A, de 14 de outubro de 1898 tenha
estabelecido a alteração da designação dos grupos escolares, na década de 1920 do século XX, ainda
encontramos na documentação pesquisada, referencia ao Grupo Escolar Benjamin Constant. Como na
matéria publicada no Jornal do Brasil que alude a inaugurada da instituição do Prato de Sopa na escola,
assim se referiu o jornalista: “Entre sorrisos, flores e cânticos se criou, mas essa instituição que ora avante
258
259
Por mais força que possam ter as leis, elas não têm a de inventar de um
dia para outro pessoal numeroso e habilitado: - e é isto antes de tudo o
que se torna preciso para a boa difusão do ensino entre nós” (Boletim da
Intendência Municipal 1897, p. 5).
distribuirá as crianças do Grupo Escolar Benjamin Constant do 4° Distrito escolar o prato de sopa.” Jornal
do Brasil, outubro de 1929.
259
260
45
Segundo Silva os prêmios consistiam na concessão de gratificações adicionais e na contagem do tempo
para efeito de jubilação (Silva, 1936, p. 52-59).
260
261
261
262
46
Em 1872 o Inspetor Geral de Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, Teófilo das
Neves Leão apresentou alguns pontos do programa para a primeira conferência pedagógica. Entre os
pontos defendidos destaca-se: “se convêm ou não a instituição das escolas mixtas de instrução primária?”;
“Qual o método mais racional, simples e eficaz, dentre os atuais conhecidos, para o ensino das primeiras
letras e da caligrafia nas escolas primárias? Dado o caso de haver efetivamente um que tenha alguma
262
263
superioridade sobre os outros, convirá que seja adotado exclusivamente nas aulas públicas?” (Silva, 1936,
p. 252).
263
264
264
265
265
266
Referências bibliográficas
Fontes Secundárias
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Horizonte na primeira república. Passo Fundo: UPF.
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VINCENT, Guy et al. “Sobre a história e a teoria da forma escolar”, in: Educação em
Revista, Belo Horizonte, n. 33, jun de 2001.
Fontes Primárias:
267
268
SILVA, Octacílio Augusto da. (1936). O Ensino Popular no Distrito Federal. Rio de
Janeiro: Oficina Gráfica da Secretaria Geral de Educação e Cultura.
268
269
DESFILES PATRIÓTICOS:
47
Este capítulo é resultante de análises decorrentes do projeto: A imagem fotográfica no estudo das
instituições educacionais: os grupos escolares de Curitiba (1903-1971)[Fase II: Fotografias e culturas
escolares: universo digital e preservação da memória], financiado pelo CNPq com bolsa produtividade
de pesquisa. Conta com a contribuição das seguintes auxiliares de pesquisa: Antonia de Meira
(Pibic/CNPq), Ana Paula Milek (Pibic/CNPq), Cristiane Antunes Stein (UFPR) e Gisele Grein (UFPR).
48
Universidade Federal do Paraná. E-mail: marcus@educacao.ufpr.br
269
270
49
Em 1912, Émile Durkheim (1968), em seu livro Les formes elementaires de la vie
religieuse, apresentou várias observações acerca da relação entre o ritual e as festas que
marcaram profundamente os estudos posteriores relacionados ao uso que os diferentes
grupos sociais fazem de suas festividades.
270
271
Assim, os desfiles escolares entendidos como festa são uma construção social
que manifesta, em seu espaço, significações e representações que favorecem a
composição de uma certa cultura cívica inerente aos seus atores, o que nos facilita
entender a identidade que é dada pela compreensão que esse grupo possuiu acerca do
símbolo que justificou a realização do desfile e que registrou de modo duradouro na
memória social um sentimento que se propunha ser coletivo pela união dos anseios de
seus atores, delimitada em um tempo e um espaço histórico.
Podemos perceber, nas fotografias dos desfiles patrióticos, o envolvimento e o
entusiasmo que o universus scholaris manteve com as práticas cívicas implementadas
em determinados momentos da história nacional. É certo que a imagem fotográfica
manifesta um conjunto de signos, cujo grau de informação excede a simples função
ilustrativa. Ao nos depararmos com o signo fotográfico, seguindo os pressupostos de
Louis Hjelmslev (1975), podemos diferenciar, por um lado, o plano da expressão,
organizado pelos significantes materiais (cor, sombra, luz) e disposto de um modo
plástico (composição, enquadramento, ângulo). Por outro, temos o plano do conteúdo,
que é utilizado para transmitir o significado ou sentido da mensagem fotográfica,
estruturado segundo um modo discursivo.
Um exemplo que problematiza no tempo histórico os desfiles patrióticos
realizados pelos grupos escolares é figura 1. Nela, temos o registro fotográfico do
desfile em comemoração ao aniversário de nascimento de Getúlio Vargas. O detalhe dos
professores em trajes próprios para ocasiões solenes, que conduzem com maestria seus
alunos pela Rua XV de Novembro, palco central do comércio e da política da cidade de
Curitiba, conflui os olhares e os aplausos daqueles que anunciam e reconhecem esse ato
como uma manifestação de prestígio, dedicação, fidelidade e devoção dos grupos
escolares à pátria.
271
272
Este uso foi notório frente ao excepcional enaltecimento que o regime fazia à
figura de Getúlio Vargas, conquistando a simpatia dos escolares em todo o país, com
suas técnicas de propaganda política que o colocavam como um grande administrador,
que estaria conduzindo a pátria, desde outubro de 1930, com esplendor e glória. Essa
cultura cívica varguista, segundo Daryle Willians (1995), propunha uma burocratização
das cerimônias patrióticas que articulava modernidade, nacionalismo e ordem pública,
cujo investimento em torno de sua imagem foi responsável por inserir a data de
aniversário de seu nascimento no calendário de comemorações cívicas como
instrumento de convencimento, que levou alunos a trocarem os bancos das escolas pelos
desfiles nas ruas das cidades do país em homenagem ao senhor Vargas.50 Tudo isso
pressupunha ser efeito de um sinal de apreço, que, certamente, contribuiu para a
perpetuação de sua lembrança na memória coletiva como autoridade máxima do Brasil,
que, apesar de exercer um poder quase que absoluto do Estado, seria um benfeitor da
nação brasileira.
Em 1941, décimo ano da ditadura e terceiro do Estado Novo, o aluno do Grupo
Escolar Tiradentes, Amaury Stocchero, transmitiu o peso dessa inculcação ao relatar, no
jornal de sua escola, como essa homenagem teria se tornado um grande evento para ele
e seus colegas.
272
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Outros exemplos indicam essa mesma apreciação acerca de outras datas cívicas
festejadas por meio de desfiles, como a parada em celebração ao Dia da República,
prática comum no cotidiano escolar que ficaria registrada no imaginário infantil
daqueles que delas participaram. A fala de Jerson Krebs, aluno do Grupo Escolar
Conselheiro Zacarias, poucos dias após o desfile de 15 de Novembro, representa bem a
exaltação coletiva dos alunos, atores nesses momentos de entusiasmo e interesse
patriótico.
Todos nós nos sentimos satisfeitos com os aplausos que recebemos durante o
desfile. Sempre que a pátria precisar do nosso concurso, nessas demonstrações
de civismo, há de nos encontrar cheios de brio, marchando altivamente. Salve,
Brasil, grandioso e amado! (O Conselheiro, 19 nov. 1938).
50
O aniversário de Getúlio Vargas (19 de abril) foi comemorado pela primeira vez como data cívica
nacional em 1940.
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275
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51
Hobsbawm e Ranger entendem por tradição inventada “um conjunto de práticas,
normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de
natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento
através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao
passado” (Hobsbawm; Ranger, 1984).
52
A revista O Ensino (1922), órgão oficial de divulgação da Inspetoria Geral de Ensino
do Paraná, afirma, em suas páginas, que foi a partir das comemorações do Centenário da
Independência do Brasil que teve início, em Curitiba, a prática de grandes desfiles de
escolares para o dia 7 de setembro, o que foi imediatamente percebido pelas autoridades
de ensino como uma dilatação do potencial que estes poderiam assumir na transmissão
de valores cívicos.
276
277
277
278
tanta rigidez no ordenamento das crianças, é interessante perceber como uma gramática
própria dos desfiles põe em perspectiva os símbolos que se relacionam com as
especificidades das diferentes realidades históricas, assim como as performances
veiculadas no modo pelo qual transmitem seus valores estéticos de forma altamente
significativa, que podem ser interpretadas desde o uso da cor branca como uniforme,
passando pela simetria absurda que distribuía, como se fosse possível, a distância quase
que perfeita entre os corpos dos atores da grande cena.53
Os desfiles dos grupos escolares de Curitiba pelas ruas da cidade nos feriados54
cívicos propõem ao investigador uma posição especial por apreender informações
simbólicas que traduzem um certo modo da escola ver a sociedade e deixar–se ver por
ela. A esse respeito, o Estado assume um papel singular: é ele, ao mesmo tempo, ator
histórico, pois deveria fazer parte das comemorações cívicas, e narrador dos processos
que tornaram possível celebrar. Embora essa dupla posição de sujeito seja partilhada por
todos os agentes sociais, seria inadequado desconsiderar o poder do Estado em
momentos como esses. É ele, o Estado, por exemplo, quem define quais acontecimentos
devem ser fixados na memória da nação como seus sinais diacríticos definidos, entre
outras ações, pela institucionalização de feriados, além de fornecer os padrões
valorativos que devem informar a apreensão desses eventos. É ele que, ao selecionar
fatos e eventos da história oficial para festejar, não só faz uma escolha do que deveria
ser relembrado por meio das comemorações, mas também constrói um certo arranjo que
provoca reinterpretações desses eventos, concorrendo de modo decisivo na construção
de um tipo de memória social.
A cultura cívica foi responsável por estabelecer leis e decretos que fortaleceram
os rituais cívicos a serem cumpridos pelo universus scholaris, tais como os dias em que
deveriam ser celebradas as festas nacionais – Decreto n.º 19.488, de 15 de dezembro de
1930 (Coleção, 1931/1945) – e a obrigatoriedade do canto do Hino Nacional em todos
53
Ainda sobre os desfiles de 7 de setembro nas primeiras décadas do século XX. Em 1923, o centro da
cidade foi enfeitado por bandeirolas auriverdes para ver passar os alunos em passeata (dessa vez sem a
rigidez militar do desfile parada), que caminharam em visita aos bustos dos “heróis” nacionais
distribuídos pelas praças do centro de Curitiba (Gazeta do Povo, 7 set. 1923). Em 1925, cerca de dois mil
alunos dos grupos escolares de Curitiba, uniformizados de branco, foram conduzidos por seus professores
em desfile em torno da herma do padre Idelfonso Xavier Ferreira, na Praça Santos Andrade, seguindo,
logo depois, para a Escola Normal, na Rua Emiliano Perneta (O Estado do Paraná, 8 set. 1925).
54
Do latim fériátus – que está em festa.
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279
279
280
Ao longo da história da imprensa paranaense do século XX, foi notório que ela
participou inúmeras vezes da construção de um passado social formalizado almejado
pelo Estado. Durante a época de comemorações cívicas, além de publicar os
preparativos, a imprensa descrevia todo o ritual dos desfiles. A informação jornalística,
como a que foi reproduzida acima, publicada poucos dias após o desfile do Dia do
Soldado (25 de agosto de 1941), reproduz uma concepção que fez parte constante nas
colunas dos jornais que anunciavam o mérito dos desfiles e a organização do tempo da
sua celebração. Com isto, a imprensa forneceu elementos retóricos que fortaleciam
fundamentos cívicos doutrinários, que pretendiam revestir os desfiles como
manifestações autênticas de patriotismo.
Mas será que essa realidade dos grupos escolares de Curitiba em preparar sua
população estudantil para a celebração significaria que eles estivessem concordando de
modo consciente com todos os ideais cívicos ali representados? E, conforme o momento
histórico, esta pode ter sido também uma postura encontrada na imprensa em forma de
crítica?
Se, por um lado, a participação da imprensa (jornais e rádio)55 na divulgação da
programação e registro dos desfiles pode ser entendida como um profundo
envolvimento na construção de mitos de nacionalidade, por outro, em certas situações,
ela esteve atenta para o fato de que as festividades cívicas não eram apenas ferramentas
em prol de um nacionalismo de Estado ou então um momento que justificaria sua
manifestação somente para atender aos propósitos das autoridades de ensino. Como em
toda comemoração, poderiam existir queixas antes da realização dos desfiles, como uma
multiplicidade de paixões de diferentes sentidos que não se circunscrevia a um único
objetivo, qual seja, aquele que atendia exclusivamente ao interesse político–cívico.
Senão, vejamos algumas circunstâncias que explicitam esta interpretação.
55
Nas comemorações da “Semana de Caxias” do ano de 1941, estava presente a Rádio
PRB2, narrando toda a festividade, e, quando do encerramento dos desfiles dos
escolares, foi cedido seu microfone ao intelectual paranaense Osvaldo Piloto, para
pronunciar discurso a respeito daquela data (Gazeta do Povo, 28 ago. 1941).
280
281
Não há como negar que a educação cívica é indispensável nos colégios, mas
também não há como ignorar que só é bom patriota o cidadão que sabe ler e
não é em passeatas sem significação que a criança aprenderá a amar a Pátria e a
ler a cartilha (Gazeta do Povo, 14 ago. 1923).
Suplício da infância!
Mais de 4 horas a espera do desfile suportaram as crianças e o povo na parada
de 7 de Setembro! Mal organizada a concentração – penosa permanência em
forma e a pé dos escolares– colégios pretenderam se retirar – marcada a revista
para às 14:30h, o governador só chegou duas horas depois – flagrante pitoresco
e descuidado do Sr. Bento Munhoz da Rocha Neto (Diário da Tarde, 10 set.
1953).
281
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relação com a sociedade curitibana. Foi através desse imaginário, entendido aqui como
elemento essencial aos desfiles patrióticos, que essa coletividade estabeleceu sua
imagem, mediante a criação de princípios e códigos em comum. Por meio da elaboração
dos valores cívicos, essa agremiação se pensou e se fez como um determinado extrato
da sociedade, que atribui significado ao mundo e aos seus atos e cria para si uma
identidade. Em certo sentido, esta compreensão de que os grupos escolares participam
na construção de símbolos cívicos nos remete a Bronislaw Baczko, que discute o
nascimento e a perpetuação desse imaginário patriótico.
Os desfiles patrióticos dos grupos escolares são vistos como uma forma de
imprimir sentimentos cívicos, principalmente pelo fato de as autoridades de ensino
responsáveis pela sua organização compreenderem essas celebrações como co–
participantes da organização de sentido de comunidade escolar frente à vida social.
Portanto, o relembrar dessas comemorações foi repetidamente proclamado como um
dos pontos altos dessas manifestações que eram programadas dentro do calendário
escolar, nas datas em que as afetividades políticas eram postas em cena, não deixando
de se manifestar o estreitamento de laços de comunhão e de solidariedade cívica entre
os alunos, professores, funcionários e familiares.
Esses momentos, propícios à propaganda de valores educacionais, foram, em
geral, representados por uma imagem de relativo sucesso da população estudantil. Na
figura 4, é possível perceber uma dessas situações de fortalecimento dos laços de
solidariedade. Trata–se do desfile realizado no início do mês de setembro de 1940,
como parte dos festejos do Dia da Raça. As professoras brancas responsáveis pela
condução das bandeiras, dentre elas o pendão nacional, abrem solenemente o caminho
para o batalhão de alunas que asseguram singeleza nas vestimentas e nos buquês de
282
283
flores que carregam. Ao fundo, a faixa que apresenta os alunos como pertencentes ao
Grupo Escolar Dr. Xavier da Silva é antecipada a poucos metros pelo quadro do patrono
da instituição (Francisco Xavier da Silva). Novamente, o público que assiste é parte
fundamental nessa festa, quando sua presença demonstra que ele também expressa uma
opção de um tempo que ficará marcado na memória da cidade.56
56
Décadas à frente, resquício dessa permanência na memória da cidade era percebido na continuidade
dessa festividade dentre as comemorações organizadas pela Secretaria de Educação do Paraná, ao
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promover o desfile de trinta mil escolares infantis pelas ruas de Curitiba, ainda em comemoração ao Dia
da Raça (Diário da Tarde, 1 set. 1962).
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Minobu Nagata, imigrante japonês que registrou cenas do cotidiano do bairro da Barreirinha
(localizado na região norte da cidade de Curitiba, a cerca de 6 km do centro) durante as décadas que ali
residiu e viveu.
286
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58
Em 1966, os alunos da 4.a série do Grupo Escolar Leôncio Corrêa, Escola
Experimental Maria Montessori, Grupo Escolar Ermelino de Leão, Grupo Escolar
Nossa Senhora de Salete e o Grupo Escolar Olavo Bilac, desfilaram em homenagem ao
273.º aniversário da cidade de Curitiba. O trajeto se deu na avenida Prefeito Erasto
Gaertner, no bairro Bacacheri (localizado na região nordeste da cidade, a cerca de 3 km
do centro), indo até as proximidades do Quartel de Material Bélico do Exército, onde
houve concentração e entoou–se o Hino Nacional, além de saudação em prosa e verso à
aniversariante (Diário Popular, 27–28 mar. 1966). Na Semana da Pátria de 1968, alunos
de 19 estabelecimentos de ensino do bairro Portão (localizado na região sudoeste da
cidade, a cerca de 5 km do centro) desfilaram pelas suas principais avenidas (Av.
República Argentina e Av. Presidente Kennedy), assim como os alunos dos grupos
escolares do Boqueirão (localizado na região sudeste da cidade, a cerca de 12 km do
centro), que também saíram em desfile pela Marechal Floriano, dando continuidade às
comemorações promovidas pela Secretaria de Educação e Cultura daquele ano (Diário
Popular, 5 set. 1968).
287
288
Fontes
Fotografias
288
289
Jornais
Legislação
COLEÇÃO das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1930 a 1945. Atos
dos Poderes Legislativo e Executivo. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931/1945.
Revista
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under Getulio Vargas, 1930–1945. Stanford, Thesis (PhD.) – Stanford
University/Department of History.
291
292
59
Esse estudo integra o projeto nacional do HISTEDBR “História, Sociedade e Educação no Brasil,”
sediado na Faculdade de Educação da UNICAMP, criado em 1991, sob a orientação Geral do Prof.
Dermeval Saviani, e sob a coordenação executiva do professor José Claudinei Lombardi. O projeto tem a
participação de vários Grupos de Trabalho, incluindo o GT dos Campos Gerais sediado na UEPG
(Universidade Estadual de Ponta Grossa no qual estou inserida).
60
Doutora em filosofia e história da educação pela UNICAMP; professora do Programa de Pós-
graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR. E-mail: misabel@lexxa.com.br
61
A produção historiografia que cita Campos Gerais no século XIX, é em grande parte produzida pelos
integrantes do Instituto e Geográfico, que funciona desde 1838. Francisco Adolfo de Varnhagem, por
exemplo, muito citado nos livros clássicos de História, bem como Auguste de Saint-Hilaire têm uma
visão elitista descritiva da paisagem ao seu redor. Poderíamos chamar de um olhar geográfico. É claro
que esta forma de ver as civilizações tem muIto das teorias históricas – geográficas da época, como o
determinismo.
62
Os imigrantes que chegaram ao sul do país eram de várias nacionalidades de origem, como a alemã,
austríaca, italiana, polonesa, russa, ucraniana, holandesa sírio-libaneses, sem excluir os ingleses e
franceses que vieram em menor número.
292
293
Os Grupos Escolares
63A escola pública polonesa da colônia Orleans foi pioneira entre as escolas polonesas oficiais no Brasil
(Wachowicz, 2002, p. 25).
293
294
escolares. Nos Campos Gerais – PR, os grupos escolares foram criados no início do
século XX e desempenharam papel fundamental para a consolidação das idéias
republicanas na região.
A escola se apresentava como Instituição estatal pública e gratuita, que cumpria
funções sociais determinadas sem deixar aparente as desigualdades que solidificou
durante a República com a legitimação e a manutenção pelo Estado.
A República recebeu como herança do império uma inexistente estrutura escolar,
cujas poucas escolas eram insuficiente para atender a população que vivia a margem,
sem o acesso à instituição estatal e gratuita.
A escola pública no período do Império não era um elemento importante para a
manutenção e reprodução das relações sociais. A quantidade e a qualidade da escola
pública era bastante limitada, destinando–se aos poucos indivíduos da minoria
dominante, sendo um mero ornamento e estendendo–se, quando muito, à camada média,
a quem conferia status.
O estado de abandono em que as escolas se encontravam somado à falta de
professores eram divulgados nos documentos oficiais redigidos pelo Inspetor de Ensino
em suas visitas as escolas. O Inspetor de Ensino fazia a verificação do estado de
funcionamento destas instituições, e dizia em um dos documentos, que o:
As escolas que eram inauguradas para atender a população que vivia à margem
das colônias, as chamadas casas escolas ou escolas isoladas eram precariamente
organizadas, com pouca luz, salas sem ventilação adequada para atender a quantidade
de crianças de cada lugarejo.
Os jornais notificavam os descasos a que eram relegadas as escolas públicas
estatais;
294
295
A República foi instalada no país sem organização escolar elementar, sem estar
aparelhada, sem professores preparados para atender a população.
Para a classe com o poder aquisitivo a realidade era diferente, pois podia enviar
seus filhos para estudar fora do país ou mesmo buscar as escolas privadas. Com a
chegada da república, a educação escolar do novo período foi elaborada para atender à
escolarização da elite que se estabelecia no país.
Nas palavras do Presidente da Província registram a existência de escolas
privadas após aprovação do regulamento de ensino em 1876 em que
295
296
O que surge como pano de fundo, na primeira república64, era uma preocupação
marcante em acabar com o analfabetismo através da escola elementar para o povo.
No início do período republicano, o problema da instrução pública estava na
criação dos primeiros grupos escolares e na qualificação dos professores. Estes
problemas eram considerados responsáveis pela baixa presença das crianças nas poucas
escolas existentes em Ponta Grossa – PR.
As poucas escolas públicas primárias que existiam funcionavam em estado
precário, embora fossem constantes as reivindicações de melhorias desde o final do
século XIX, por parte das autoridades do ensino. Fato que pode ser constatados nos
relatórios dos Inspetores Gerais responsáveis pelas chamadas cadeiras de instrução
primária. Essas, últimas no geral, funcionavam em uma única sala sob a regência de um
professor, que administrava, na maioria das vezes, em diversas séries no mesmo espaço
de ensino.
No projeto liberal dos republicanos dos Campos Gerais surgiam os primeiros
grupos escolares, como a principal bandeira de ação política para a consolidação do
projeto da República na região.
Em 1907 foi inaugurada a primeira escola pública de ensino primário, “Instituto
João Candido Ferreira,” em Ponta Grossa – PR. Essa escola foi recebida com muita
expectativa, pois as existentes, até então, eram privadas. A sociedade considerava que o
ensino público havia fracassado, motivo pelo qual, muitos pais enviavam seus filhos
para estudar na Capital do Estado ou em São Paulo.
Em 30 de junho de 1909, o pastor George Bichertaph fundava a Escola
Presbiteriana em Ponta Grossa. E, em 20 de janeiro de 1912 era fundada a Sociedade
Espírita Francisco de Assis com escola primária e jardim de infância.
Em 1910, a Câmara Municipal de Ponta Grossa sancionou uma lei que dava
poder ao prefeito adquirir e ceder, pelo modo que julgar mais conveniente, uma área de
terreno dentro da cidade, suficiente para a edificação de um Grupo Escolar. A lei,
também, dava poder ao prefeito, quando necessário de desapropriar, vender, transferir
qualquer área de terreno, que fosse preciso para construção e expansão da escola pública
64
“O nacionalismo da década de 1910 trouxe à baila os problemas do analfabetismo e do atendimento da
escola pública às camadas populares. A opinião de vários profissionais da educação sobre o tema
encontra-se no Anuário do Ensino do Estado de São Paulo de 1918” (Apud, Souza, 1998, p.106).
296
297
no município.
As escolas primárias públicas que funcionavam em Ponta Grossa, no período de
1908 a 1916, receberam um tratamento diferenciado por parte das autoridades do
ensino, porque passaram a funcionar como grupos escolares não apenas na Capital, mas
também, nas cidades mais desenvolvidas como foi o caso de Ponta Grossa, onde foram
formados escolas ou os chamados “semigrupos” que continham (2 salas de aula),
aglutinavam “cadeiras” de diversos tipos (masculinas, femininas ou “promiscuas”
mistas), regidas por professores distribuídos entre as várias séries.
Em 1916, uma casa escola surgiu junto à Igreja Luterana, dirigida pelo pastor
Wilhelm Fugmann, para os filhos de imigrantes russos-alemães. Cinco anos depois, ela
passou a se chamar Escola Luterana. Em 1918, Ester Ferreira fundou o Colégio
Pontagrossense de Instrução Primária, com turnos diurno e noturno, também oferecia o
curso de datilografia.
Na Capital e nos arredores, funcionavam as escolas reunidas e isoladas que não
eram propriamente grupos escolares com uma única sala e sob a regência de um
professor. As novas escolas que foram inauguradas durante na República recebiam
mobiliário que eram adquiridos nas
297
298
Localidades Quantidade
de salas
Capital-rua Silva Jardim 4
Capital-rua Montevidéo 4
Capital-rua S. Machilde 4
Capital-rua Boulevard F. Peixoto 2
Capital -rua Graciosa 2
Capital-rua Portão 2
Capital-rua Silva Jardim-Jardim da Infância 1
Jaguariabyva 4
Jacarézinho 4
Ponta Grossa 4
Imbituva 2
Prudentopolis 4
Guarapuava 4
Barracão, fronteira Argentina 1
União da Victória 4
S. Matheus 2
Rio Negro 4
Balsa Nova 2
Araucaria 2
S. José dos Pinhaes 4
Villa Deodor 2
Roseira, povoado 1
Campo Largo 4
Balbino Cunha, colônia 1
Colombo 2
Campina Grande 2
Bocayuva 2
Serro Azul 2
Colônia Faria 1
Affonso Penna 1
Fonte: PARANÁ, PRESIDENTE DO ESTADO 08.02.1912
298
299
níveis, com professores formados, pois os pais podiam pagar para atender os seus
interesses. Eram poucos os professores formados na Escola Normal para atender a
necessidade dos grupos escolares que eram inaugurados.
Durante os primórdios do período republicano, o número de escolas era superior
ao número de professores preparados para assumir as cadeiras de ensino elementar
oferecidas, portanto muitas escolas permaneciam fechadas embora a reclamação do
povo desde a província65 era que a “(...) quantidade de crianças a educar era superior ao
número de escolas criadas” (Gazeta Paranaense,1886, p.8).
No período republicano nasceu o lema: “governo do povo, pelo povo e para o
povo,” que implicava na condição de abrir mais escolas para o povo, mesmo que essas
fossem ficar fechadas por falta de professores, pois não havia a preocupação com a
manutenção e muito menos em providenciar professores que pudessem assumir os
estabelecimentos de ensino.
Como afirmado anteriormente, esse estado de abandono em que as escolas se
encontravam somado a falta de professores aparece registrado nos relatórios oficiais
sobre a verificação do estado de funcionamento das escolas. O relatório admitia que
embora o
A herança deixada pelo Império para a república com relação a instrução pública
era de extremo abandono por parte dos governantes. Ancorado na constituição de 1834,
que determinou a descentralização do ensino, passando para as províncias a
responsabilidade pela instrução, isso fez com que houvesse uma omissão da parte dos
Poderes Geral e Provincial, com a instrução, pois as províncias recém formadas não
65
Em 1853, o Paraná foi elevado da categoria de 5ª Comarca da Província de São Paulo à categoria de
Província,65 sendo a cidade de Curitiba definida como sua capital. Pelo decreto N.704, de 29 de agosto de
1853 o Paraná foi desmembrado da Província de São Paulo. (Nascimento, 2004, p.2)
299
300
300
301
planos pedagógicos (...), do que as pequenas escolas isoladas, derivadas das antigas
cadeiras de instrução primária” (Relatório, Prof. Cezar Martinez, 1908, p.62).
Os grupos escolares representavam para os republicanos um avanço no ensino, à
medida que traziam, para um prédio único, classes isoladas, com a direção de um
professor habilitado na Escola Normal; a organização das classes passa a ser feita
segundo critérios de grau de adiantamento, com um professor para cada ano.
A criação dos grupos escolares representou uma medida econômica, pois, reunia
duas ou mais escolas que funcionavam na mesma localidade, com vários alunos, de
séries diferentes e uma equipe de trabalho. Todos num mesmo prédio, que reunia as
necessárias condições de capacidade e de higiene, constituindo uma organização
administrativa e didático-pedagógico. Cada grupo contava com uma equipe
administrativa, com um diretor, porteiro e serventes, que foram assim como os
professores, sendo selecionados por concurso público e por outro lado o controle seria
mais uniforme, não só da equipe de trabalho quanto da clientela a ser atendida.
As matrículas em escolas públicas do ensino primário eram obrigatórias para as
meninas de 7 a 12 anos de idade e os meninos de 7 a 14 anos. Exceto da
obrigatoriedade: as crianças que residiam a uma distância de mais de três quilômetros
da sede da escola urbana, suburbana ou rural mais próxima ou das localidades de
circuito da mais próxima escola ambulante.
No início século XX, foi inaugurado a primeira escola pública e estatal de Ponta
Grossa, denominada Grupo nº 2, criada pela Lei nº 1201 de 28 de março de 1912. O
grupo escolar recebeu o nome de "Casa Escolar Senador Correia66" surgiu da junção de
duas outras escolas isoladas67 localizadas no centro da cidade. Construída dentro dos
moldes de “modernidade e progresso”, possuía 5 salas de aula, uma sala da direção e
uma pequena sala para as demais atividades. A primeira Diretora da Escola foi a
professora Luzia Fernandes. O nome da Escola foi escolhido em homenagem a Manoel
Francisco Correia, homem que exerceu vários cargos públicos no Estado do Paraná,
66
O Colégio “Senador Correia” foi a única escola pública estatal durante os primeiros 15 anos do período
republicano.
67
“(...) uma, localizada na rua Engenheiro Schamber, que funcionava sob a direção da professora Sara
Santos;outra, localizada na rua Sant’Ana, denominada Escola Pública de Ponta Grossa, funcionava sob a
direção da professora Luzia Fernandes” ( Luporini, 1987, p.21).
301
302
302
303
303
304
304
305
Embora a educação para o povo fosse o alvo nos discursos dos republicanos
e, mesmo considerando a abertura dos grupos escolares e o atendimento de uma
importante parcela da população do Estado do Paraná. No entanto, não conseguia
atender a real demanda por educação escolar.
Os interesses de pobres e ricos, é evidente, não são os mesmos; mesmo que
presumíssemos que são iguais, era pouco provável que as condições oferecidas pelo
Estado Republicano fossem suficientes para acabar com analfabetismo e muito
menos atender aos alunos em idade escolar que precisavam da instrução pública.
A democratização do ensino através da expansão das escolas era um avanço
inicial estabelecido como forma de transformação política no país. Para controlar os
problemas sociais e para manter a unidade em torno do ideal republicano no Estado
era preciso oferecer a abertura de escolas, como sinônimo de atendimento aos
reclamos das classes que iriam mantê-los no poder.
Referências bibliográficas
305
306
MARTINS, Romário. (1969). História do Paraná. Curitiba: Editora Guairá Ltda, 3a. ed.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. (1993). A Ideologia Alemã (I – Feuerbach). Tradução: José
Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira , São Paulo: Hucitec, 9ª ed.
306
307
VITRINES DA REPÚBLICA:
OS GRUPOS ESCOLARES EM SANTA CATARINA (1889–1930) 68
68
Texto revisado por Juarez Segalin.
69
Professora do Centro de Ciências da Educação – Faed -, da Universidade do Estado de Santa Catarina –
Udesc. Doutora em Educação (História da Educação e Historiografia) pela Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo – Feusp. E-mail: gaspar@zipmail.com.br
70
Fonte: Lei n.516, de 30 de agosto de 1901.
71
Fonte: Lei n. 846, de 11 de outubro de 1910, efetivada pelo Decreto n. 585, de 19 de abril de 1911.
307
308
Havia briga mesmo, feia. Posso até dar o argumento que o pequeno
alemão tinha para nos enfrentar, porque nós queríamos que eles se
dissessem brasileiros; muitas vezes só o tataravô era alemão. Então, eles
argumentavam: se uma vaca tem um filhote no estábulo do cavalo, ele
não é cavalo, ele é bezerro. Se uma gata tem filhotinhos num forno, eles
não são biscoitos (...) (1994, p. 3).
72
Fonte: Lei n. 636, de 12 de setembro de 1904.
73
Por exemplo, o Decreto n. 587, de 22 de abril de 1911, aprova e manda observar programa de ensino
para Grupos Escolares e Escolas Isoladas. No mesmo dia aprova-se o Regimento Interno para os Grupos
Escolares (Decreto n. 588, de 22 de abril de 1911), seguindo-se, uma semana mais tarde, a aprovação do
novo Regulamento da Escola Normal (Decreto n. 593, de 30 de maio de 1911).
74
Fonte: Decreto n. 1.945, de 4 de março de 1926.
75
Professora Inês Veiga Haas. Entrevista concedida a Ana Maria de Brito Gouvêa, vinculada ao projeto
“Resgate da História e da Cultura Material da Escola Catarinense - Museu da Escola Catarinense”,
coordenado pela professora Maria da Graça Machado Vandresen; Florianópolis, 25 de março de 1994
(Entrevista disponível no Acervo de História Oral do Museu da Escola Catarinense).
308
309
Por esta mesma lei, ficou o governador Gustavo Richard autorizado a contratar,
para lecionar na Escola Normal e reorganizar o respectivo curso, um professor de
comprovada competência no exercício do magistério, em alguns dos estados em que a
instrução tivesse “conseguido mais adiantamento”. Atos posteriores indicam que São
Paulo se efetivou como estado de referência. A contratação de um educador
disponibilizado pelo governo paulista selaria esta intenção. Contratado inicialmente para
dirigir o Colégio Municipal de Joinville (1907-1909), o educador Orestes Guimarães
seduz figuras públicas importantes e o sucessor no comando do estado. O governador
Vidal Ramos alça-o à condição de Inspetor Geral da Instrução Pública em 1910. Nesta
condição, seus poderes e influência foram espraiados da esfera municipal para atingir
todo o estado. Como relembra à professora Inês, “no tempo de Vidal Ramos ele
conseguiu de São Paulo um educador de muito valor: Orestes Guimarães. Foi ele quem
estabeleceu tudo sobre educação (...) dali por diante tudo estava documentado: as
escolas com seu regimento interno, com seu programa (...)” (1994, p. 14).
Através das leis que fixam as despesas e orçam as receitas anuais do poder
público, é possível reconhecer a alocação de verbas para a construção de prédios
escolares desde os primeiros anos do século XX, mas é em 1908 que um ato legal trata
claramente do fechamento de seis escolas públicas da capital e da criação de dois grupos
76
Fonte: Lei 765, de 17 de setembro de 1907.
309
310
escolares. Sancionada pelo coronel Gustavo Richard, governador do estado, a lei prevê
a construção de “dous edifícios especiaes que satisfaçam a todas as condições
hygienicas e que tenham a necessária capacidade de conter o numero de alumnos das
escolas supprimidas”77. Estes prédios foram estrategicamente criados em pontos de
grande visibilidade social, cravando no imaginário uma idéia de escola que não
alcançou um conjunto mais geral da população, mas teve força para seduzi-la. Estas
instituições sociais funcionaram como vitrines, mas expunham um produto que não
estava à venda; deveria ser reverenciado, admirado, mas estava disponível para poucos.
A criação dos grupos escolares integra o projeto republicano catarinense de
“reinvenção das cidades”, as quais deveriam se adequar aos padrões de urbanidade dos
grandes centros, ou dos centros que encarnassem de forma mais visível os padrões
urbanos de modernidade. Sua localização geográfica oferece indicativos de que estes
não atendiam um conjunto alargado da população, mas serviam como símbolos
importantes que demarcavam força política, registravam ação governamental e
disseminavam um ideal de escola que prometia o alcance do progresso, a modernidade,
a redenção. Quem sentasse em seus bancos teria um lugar “assegurado” na tessitura
social. Cabe lembrar que, nos primeiros anos do século passado, a população vizinha
dos grupos escolares era formada, em boa parte, pelos estratos médios e pela elite local.
Lembremo-nos de que o reordenamento urbano do qual os grupos escolares faziam
parte era composto também de projetos de assepsia das partes centrais das cidades.
Neste processo, os pobres e os marginais eram cuidadosamente removidos para não
perturbar a paisagem urbana.
Para além de uma reordenação de espaços, este projeto necessitava de homens
com as competências necessárias para ocupá-los. Observe-se que as competências que a
escola deveria inscrever nos corpos e mentes dos “novos” cidadãos – que aqui,
defendia-se, deveriam ser cunhados sob o espírito republicano –, não estão distantes
daqueles encampados por projetos estatais abrigados sob outras formas de regime
político (o caso português é aqui um bom exemplo).
Estas modernas instituições foram projetadas de forma a abrigar com maestria os
pressupostos do método intuitivo, ou lição das coisas, que primava por um ensino que
77
Fonte: Lei n. 780, de 22 de agosto de 1908.
310
311
78
Lei n. 636, de 12 de setembro de 1904.
311
312
312
313
79
Fonte: Lei n. 942, de 30 de agosto de 1912.
80
Fonte: Resolução n. 2.169, de 1 de junho de 1920.
81
Revisão autorizada pela Lei nº 967, de 22 de agosto de 1913, e levada a efeito pelo Decreto nº 796, de 2
de maio de 1914.
313
314
82
Revisão autorizada pela Lei n. 967, de 22 de agosto de 1913, e aprovada pelo Decreto n. 795, de 2 de
maio de 1914.
314
315
83
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795, de 2 de maio de 1914.
84
Fonte: Lei n. 1.044, de 14 de setembro de 1915.
85
Fonte: Lei n. 1.130, de 28 de setembro de 1916.
315
316
86
Fonte: Lei n. 1.207, de 21 de outubro de 1918.
87
Fonte: Lei n. 1.380, de 21 de setembro de 1921.
88
Professora Aurora Piazza de Mello. Entrevista concedida a Ana Maria de Brito Gouvêa, vinculada ao
projeto “Resgate da História e da Cultura Material da Escola Catarinense - Museu da Escola
Catarinense”, coordenado pela professora Maria da Graça Machado Vandresen, Florianópolis, 25 de
março de 1994 (Entrevista disponível no Acervo de História Oral do Museu da Escola Catarinense).
316
317
89
Professora Maria dos Passos Oliveira (Dona Passinha). Entrevista concedida a Ana Maria de Brito
Gouvêa e Vera Lucia Gaspar da Silva, vinculada ao projeto “Resgate da História e da Cultura Material da
Escola Catarinense - Museu da Escola Catarinense”, coordenado pela professora Maria da Graça
Machado Vandresen; Florianópolis, 29 de julho de 1999 (Entrevista disponível no Acervo de História
Oral do Museu da Escola Catarinense).
90
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795, de 2 de maio de 1914.
317
318
91
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
318
319
Seu funcionamento é regrado nos mínimos detalhes: onde dispor os materiais, a quem
solicitar, como recuperá-los ou substituí-los. O diretor deveria fiscalizar pessoalmente,
zelando pelo patrimônio escolar e assegurando o cumprimento de prescrições como:
lavagem mensal dos compartimentos, a ser feita com panos molhados com água e
creolina, não sendo permitido o emprego de potassa por destruir o verniz dos móveis e o
óleo das barras; limpeza diária dos quadros negros após o término das aulas, não sendo
permitido o uso de sabão, potassa ou álcool, devendo apenas ser empregado pano
umedecido. A cada troca de diretor o demissionário deveria apresentar a seu substituto o
inventário do estabelecimento.
Organizado o espaço, as prescrições passam à organização do tempo escolar,
estabelecendo flexibilidade quanto ao horário de início dos trabalhos, que seriam
determinados pelos “hábitos locaes”. O curso dos grupos escolares estava previsto para
funcionar em quatro anos, tendo cada um oito classes, quatro para meninos e quatro
para meninas. Como analisa Rosa Fátima de Souza:
O uso do tempo nas escolas revela alguns movimentos que sugerem uma
estruturação ao longo dos anos, bem como uma necessidade de integração das
atividades escolares com atividades familiares, nomeadamente as festas demarcadas no
calendário católico, como é o caso do Natal.
319
320
Decreta:
Art. 1. As férias para as escolas isoladas, grupos escolares e escolas
complementares e reunidas começarão a 15 de dezembro e terminarão a
15 de fevereiro.92
92
Fonte: Decreto n. 1.056, de 26 de outubro de 1917.
93
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
94
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
95
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795, de 2 de maio de 1914.
320
321
96
Professora Ada Bicochi Ramos. Entrevista concedida a Rosinei da Silveira, vinculada ao projeto
“Resgate da História e da Cultura Material da Escola Catarinense - Museu da Escola Catarinense”,
coordenado pela professora Maria da Graça Machado Vandresen,; Florianópolis, 29 de novembro de 1994
(Entrevista disponível no Acervo de História Oral do Museu da Escola Catarinense).
97
Nota do revisor mantida pela autora. “Como não lembrar o toque de formar, antes de entrar ou ao fim
dos recreios, um sinal de sineta, o aumentar da algazarra e a formação de filas, a drenagem de alumnos e
alumnas cada qual para sua própria fila distinta e formação de uma classe, com a professora que com
olhar severo e autoritário formava as filas duplas dos mais baixinhos aos grandalhões, a impedir
accidentes ou indisciplinas, e do impossível silêncio e o marchar, depois de hymnos ou avisos eventuaes
para uma classe particular ou pelo director quando fossem geraes, o marchar, dizia, na mesma ordem
estrictamente vigiada sob pena de chamadas ou cascudos, e a ordem na sala, cada um de pé ao lada da
carteira e de só sentar quando o último tivesse chegado e a professora postada no alto do estrado e à frente
do quadro negro de tamanho parietal ....” (Juarez Segalin, outono de 2004).
321
322
Do ingresso
98
Fonte: Decreto n. 855, de 5 de fevereiro de 1915.
99
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795, de 2 de maio de 1914.
322
323
Esta relação de obras propostas sofre revisão alguns anos mais tarde. Sob o
argumento de que:
100
Fonte: Decreto n. 596, de 7 de junho de 1911.
101
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
323
324
Cada aluno deveria ter um livro de leitura; um lápis de pedra; um lápis de pau;
um caderno de caligrafia; um caderno de desenho; um caderno de linguagem; um
caderno para as contas (3os e 4os anos); um caderno para cartografia (3os e 4os anos); uma
lousa; uma caneta e penas; materiais para trabalhos manuais e folhas avulsas de papel,
quando fosse o caso104. A professora Ada recorda que no primeiro ano utilizou a lousa
102
Fonte: Collecçcão de Leis, Decretos, Resoluções e Portarias de 1917. Estado de Santa Catharina.
Florianopolis: Offic. a elec. da Empreza d’«O Dia», 1917. Documento localizado no Arquivo Público de
Santa Catarina.
103 Nota do revisor mantida pela autora. “Não conheceu minha distincta o livro Meninice, um dos primeiros de
leitura, .. os cadernos decalligraphia, de linguagem (pautados), de matemática (quadriculados), de desenho (de papel
granulado), do cheiro de livros e cadernos, os lápis coloridos e as canetas e tinteiros, as tintas em tinteiros ao canto
direito da carteira.... Sabe, Vera, este seu trabalho está desempenhando para mim um exercício de regressão a uma
vida passada, não posso dizer se efeito terapêutico, mas de fortes reminiscências de uma história da qual descubro
uma personagem conhecida muito parecida com a minha, como se fosse a de outro que a distância não responde pelo
mesmo nome” (Juarez Segalin, outono de 2004).
104
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
324
325
105
Fonte: Programma dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado de Santa Catharina. Approvado
e mandado observar pelo Decreto nº 796 de 2 de Maio de 1914.
106
Fonte: Programma dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado de Santa Catharina. Approvado
e mandado observar pelo Decreto nº 796 de 2 de Maio de 1914.
325
326
Bichano De ratos
não gosta Bichano
de ratos Não gosta Etc. 107
107
Fonte: Programma dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado de Santa Catharina. Approvado
e mandado observar pelo Decreto nº 796 de 2 de Maio de 1914.
108
Fonte: Programma dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado de Santa Catharina. Approvado
e mandado observar pelo Decreto nº 796 de 2 de Maio de 1914.
326
327
109
Fonte: Programma dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado de Santa Catharina. Approvado
e mandado observar pelo Decreto nº 796 de 2 de Maio de 1914.
110
Fonte: Programma dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas do Estado de Santa Catharina. Approvado
e mandado observar pelo Decreto nº 796 de 2 de Maio de 1914.
111
Fonte: Lei n. 1.230, de 30 de outubro de 1918.
327
328
aplicação dos métodos e dos processos recomendados. Cada diretor estaria obrigado,
pelo Regimento dos Grupos Escolares, a ministrar ou assistir no mínimo setenta e duas
aulas por mês, o que correspondia a três aulas por dia. A este expediente de modelagem
e controle dos trabalhos desenvolvidos no interior das salas de aula aliavam-se outros,
provavelmente não menos eficazes, como a análise dos trabalhos dos alunos e
comparação de trabalhos de diferentes turmas de uma mesma série, sabatinas orais e
escritas com alunos da 3ª e da 4ª série. Acrescente-se, aqui, que as notas de avaliações e
exames eram expostas nas paredes das escolas e deveriam registrar o desempenho dos
alunos que estavam proibidos de decorarem compêndios ou mesmo apontamentos
fornecidos ou ditados pelos professores. Estas notas seriam atribuídas semanalmente e
registradas em forma de fração ordinária, de modo que no numerador fosse colocado o
comportamento e no denominador a aplicação. Como foi possível observar, os métodos
de ensino recebiam atenção especial e a difusão destes era de responsabilidade dos
diretores dos grupos escolares. Em Florianópolis, capital do estado, a direção das duas
primeiras unidades criadas foi atribuída
(...) a normalistas vindos de São Paulo, os quais tinham, além das funções
administrativas e fiscalizadoras, a incumbência de, através da técnica da
demonstração, ensinar ao seu corpo docente a prática do novo método, a
“metodização”, conforme expressão de Orestes112. Ele não abria mão das
demonstrações por acreditar ‘mais fácil compreender e executar o que se
vê, do que o que se lê através de mil considerações e citações’. Ele e sua
mulher Cacilda Rodrigues Guimarães, até o ano de 1915, já haviam
exposto/demonstrado o novo método de ensino nas diferentes regiões do
Estado, perfazendo um total de 2.252 aulas113 (Teive 2003, p. 238).
Com o método intuitivo, que servia de base para o trabalho docente nos grupos
escolares, opera-se uma reordenação das atividades pela qual a figura do professor passa
a ocupar um lugar central. Lembremo-nos de que até então as escolas primárias
112
A autora refere–se a Orestes Guimarães, “reformador” do ensino catarinense.
113
Ainda segundo a autora, “Cacilda Rodrigues Guimarães havia aprendido o método intuitivo com a
professora norte-americana Márcia Priscilla Browne, professora cedida pela Escola Americana de São
Paulo para auxiliar Caetano de Campos na sua reforma da Instrução, assumindo posteriormente, a convite
do próprio Caetano, o cargo de diretora da Escola Modelo Caetano de Campos, Escola Modelo da Luz e
Escola Modelo do Carmo. A influência de Miss Browne e de Horácio Lane, diretor da Escola Americana,
foi decisiva na citada reforma, razão pela qual Orestes Guimarães afirmava ser esta escola o ‘berço da
reforma paulista’ ” (Teive 2003, p. 238 – nota de rodapé).
328
329
114
Sobre esta temática vale a pena consultar o livro A escola elementar no século XIX: o método
monitorial/mútuo, organizado por Maria Helena Câmara Bastos e Luciano Mendes de Faria Filho (Passo
Fundo, Ediuf, 1999).
329
330
cortado; retirada = c cortado; falta justificada = f* - f com asterisco) .... Estes livros
deveriam ser escriturados com tinta preta, sem borrões, raspaduras ou emendas.
O Regimento Interno dos Grupos Escolares de 1914 prevê, também, entre os
documentos de escrituração escolar, o “Livro Diário das Lições” para os professores de
3o e 4o ano. Como o próprio nome sugere, o registro nestes livros deveria ser diário e
feito imediatamente após a retirada dos alunos, “escripturado de modo a conter os
assumptos explicados durante o dia, com discriminação por materiais, o numero de
aulas ministradas sobre cada assumpto e o methodo seguido”116. Observe-se que não
deveriam ser registradas as aulas de “calligraphia, desenho, copia, dictado,
reproducção, composição, cartographia, canto, manuaes, gymnastica e musica”,
assim mesmo, colocados em negrito.
Dos professores
Para bem desempenhar suas funções, além de terem nos diretores um modelo a
seguir, os professores contariam com reuniões semanais, que aconteceriam sempre aos
sábados, depois de terminados os trabalhos escolares. Eles seriam avisados
antecipadamente da pauta das reuniões, as quais seriam coordenadas pelos diretores que
as deveriam tornar proveitosas, zelando para que versassem sobre os métodos e
processos de ensino das matérias dos programas. Nestas reuniões também seriam
programados os trabalhos escolares como comemorações, festejos e exames.
Os professores dos grupos escolares seriam nomeados e dispensados livremente
pelo governo. As nomeações seriam feitas sem dependência de concursos, devendo
recair preferencialmente entre os normalistas e “gymnasiaes”. Os normalistas seriam
efetivos e os “gymnasiaes” o seriam após seis meses de exercício. Entre muitos dos
deveres dos professores, encontram-se os deveres de: educar física, moral e
intelectualmente os alunos; não residir fora da sede do grupo escolar; dar exemplo de
moralidade e polidez em seus atos, tanto na escola como fora dela; manter em suas
classes o máximo de disciplina; interessar-se pela boa guarda e pela conservação dos
115
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795, de 2 de maio de 1914.
116
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
330
331
móveis e utensílios escolares da sua classe; fazer com zelo, sem borrões, raspaduras e
emendas a escrituração que lhe estivesse afeta; consultar e requerer ao governo somente
por intermédio do diretor; seguir os métodos e processos de ensino recomendados pelo
diretor; comparecer às festas escolares, embora em dias feriados; cumprir fielmente o
programa e o horário; não discutir ordens do diretor do grupo... Embora cercadas de
dispositivos que permitiam um acirrado controle, as “insubordinações” se faziam
presentes e revelam algumas nuances da resistência dos professores. A professora Inês
relembra diálogo que teve com o Diretor do Departamento de Ensino, quando este lhe
chamou atenção de que havia um artigo no Regimento Interno que estabelecia
obediência para o professor em relação aos superiores.
_ Está bom Sr. Trindade, então no dia em que alguém mandar eu atirar-
me da ponte da Estrada de Ferro do Rio Itajaí Açu eu tenho que me atirar,
porque o Regimento Interno manda obedecer? _ Isso é exagero. _
Exagero é uma diretora mandar que eu abaixe uma nota que achei que
está certa, dizendo que era a presidente da banca examinadora. Eu virei
para ela e disse: _ A senhora poderia ser presidente da República que eu
não baixaria. (...) Dei um dez, ela queria que eu desse oito porque ela deu
oito. _ A senhora dê até sete se quiser, mas o meu dez vai ficar. E ficou
(1994, p. 12).
Dos alunos
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devendo professores e diretores explicar aos alunos “os inconvenientes das suas faltas,
de modo a despertar–lhes o sentimento de honra, a idea do dever, o estimulo e a
legitima ambição, antes de usarem dos prêmios e das punições”117, diga–se aqui, sempre
disponíveis e visibilizadas através de vários expedientes. A questão disciplinar ganha
especial atenção quando da idealização e normatização dos grupos escolares, afinal,
estas escolas serviam como modelo para as demais. Uma série de dispositivos era
acionada para reforçar modelos idealizados e a exposição pública era um deles. Uma
das estratégias era o elogio público, feito pelo diretor, quando os alunos estivessem
formados no pátio. O diretor mandaria sair da forma:
Para fazer jus a este tipo de elogio, o aluno deveria ter ótimas notas de
comportamento e de aplicação119 e não registrar nenhuma entrada tardia, retirada
antecipada ou ausência durante o trimestre. Apresentando estas credenciais durante dois
trimestres, o aluno seria alçado a um novo degrau: a inscrição de seu nome no Livro de
Honra para os alunos. Como lembra a professora Ada, “tínhamos um livro onde
constava o nome de quem recebeu a honra ao mérito, porque durante aquele trimestre
ou semestre tirou nota dez. Era essa a recompensa” (1994, p. 4). Ter o nome ali inscrito
representava ser um modelo a seguir, símbolo de um sujeito que cumpria os “deveres
dos alunos”.
117
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
118
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
119
Conforme o Regimento Interno dos Grupos Escolares de 1914 (Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914),
as notas de comportamento e as de aplicação seriam expressas pelos coeficientes: 0 = nula; 1 = má; 2 =
sofrível; 3 = regular; 4 = boa e 5 = ótima.
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Além destes deveres, os alunos faziam exames três vezes durante o ano, nos
meses de maio, agosto e dezembro; o deste último mês deveria ser feito “com toda a
publicidade”, precedido de convite nominal aos pais, às autoridades e à imprensa. A
professora Ada recorda que estes eram feitos “ (...) com papel almaço, tudo direitinho,
com margem, o nome da escola, a data, o nome do aluno, a classe que freqüentava, se
era primeiro ou segundo ano. (...) Além das provas escritas tinha o exame oral” (1994,
p. 8).
As bancas examinadoras seriam compostas pelo diretor, pelos professores da
classe examinada e da classe imediata e mais dois examinadores externos. No caso da
120
Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
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Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
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Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
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Fonte: Regimento Interno dos Grupos Escolares, aprovado pelo Decreto n. 795 de 2 de maio de 1914.
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Apresentação:
Diana Gonçalves Vidal - Professora de História da Educação na Faculdade de Educação da
USP. Coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em História da
Educação (NIEPHE) na mesma instituição. Pesquisadora do CNPq. Atualmente assume a
presidência da Sociedade Brasileira de História da Educação (2003-2007). E-mail:
dvidal@usp.br.
Cap. 1. –
Rosa Fátima de Souza - Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar
da Faculdade de Ciências e Letras, Departamento de Ciências da Educação da Universidade
Estadual Paulista, Campus de Araraquara. E-mail: rosasouza@pesquisador.cnpq.br
Cap. 2 –
Margarida Louro Felgueiras, Prof.ª da Faculdade da Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto e-mail - margafel@fpce.up.pt
Cap. 3-
Antônio de Pádua Carvalho Lopes, Doutor em Educação, professor do Centro de Ciências
da Educação atuando no Departamento de Fundamentos da Educação e no PPGED da
Universidade Federal do Piauí, coordenador do núcleo de pesquisa educação, sociedade e
cultura. e-mail: apadualopes@ig.com.br.
Cap. 4 -
Antonio Carlos Ferreira Pinheiro - Doutor em História da Educação pela UNICAMP.
Docente/pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de
Pós-Graduação em História, ambos da Universidade Federal da Paraíba. Coordenador do
GT História da Educação da Paraíba, vinculado ao HISTEDBR. E-mail:
acfp@terra.com.br.
Cap. 5 –
Diomar das Graças Motta - Professora Adjunta de História da Educação Brasileira no
Departamento de Educação II, Centro de Ciências Sociais, na Universidade Federal do
Maranhão – UFMA. E-mail: diomar@elo.com.
Cap. 6 -
Jorge Carvalho do Nascimento é doutor em Educação, professor do Departamento de
História e coordenador do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. É
membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de História da Educação. E-mail:
jorge@ufs.br
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Cap. 7
Lucia Maria da Franca Rocha - Professora da Universidade Federal da Bahia; Doutora em
História e Filosofia Educacional pela PUC/SP. E-mail: lufranca@unb.br.
Cap. 8 -
Marta Maria de Araújo - Profª Drª do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Profª de História da
Educação (Curso de Pedagogia) e de Educação Brasileira (Pós-Graduação) Coordenadora
da Base de Pesquisa Estudos Histórico-Educacionais. Editora Responsável da Revista
Educação em Questão. E-mail martaujo@digi.com.br.
Cap. 9 –
Elizabeth Poubel e Silva - Doutoranda pela Faculdade de Educação da USP. Professora,
Coordenadora do Curso de Pedagogia e Gestora do Grupo de Produções Acadêmicas em
Ciências Humanas do UNIVAG-Centro Universitário. E-mail: bethpoubel@uol.com.br.
Cap. 10
José Carlos Souza Araújo - Doutor em Educação pela UNICAMP, está vinculado ao
Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário do Triângulo, em
Uberlândia, MG, e como professor-colaborador do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Atua no ensino e na pesquisa nas áreas
de Filosofia e de História da Educação (jcaraujo@unitri.edu.br).
Cap. 11
Profa. Dra Dalva Carolina (Lola) de Menezes Yazbeck Universidade Federal de Juiz de
Fora. M.G. E-mail: yazebeck@zaz.com.br.
Cap. 12
Sônia Câmara - Professora Assistente da Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Doutoranda da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo. E-mail: soniacamara@uol.com.br.
Cap. 13
Marcus Levy Bencostta - Professor do Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Pesquisador do CNPq. Principais Publicações:
História da Educação, Arquitetura e Espaço Escolar (2005); Uma cartografia da pesquisa
em História da Educação na Região Sul: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (2004);
Memórias da Educação - Campinas (1999). E-mail: marcus@ufpr.br.
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Cap. 14
Maria Isabel Moura Nascimento – Doutora em Filosofia e História da educação pela
UNICAMP; Professora da Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de
Ponta Grossa – UEPG; Secretária do Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e
Educação no Brasil” – HISTEDBR. Email: misabel@lexxa.com.br.
Cap. 15
Vera Lucia Gaspar da Silva - Professora do Centro de Ciências da Educação da
Universidade do Estado de Santa Catarina - FAED/UDESC. Coordenadora do Museu da
Escola Catarinense - FAED/UDESC. Doutora em Educação: História da Educação e
Historiografia pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São
Paulo - USP. Membro fundador da Sociedade Brasileira de História da Educação. Email:
vera.gaspar@zipmail.com.br.
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