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SÃO PAULO. Decreto n" 3.356, de I de mai de 1921. Regulamenta a Lei n? 1.

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de 8 de dezembro de 1920, que refôrma a In trução Publica. Disponível em: hllp
www.al.sp.gov.br/repositorio/1egislacao/decretol1921/decreto-3356-31.05.19 I
html. Acesso em: 19 ago. 2013.

SÃO PAULO. Decreto n° 4.101, de 14 de setembro de 1926. Regulamenta li I I


n. 2.095, de 24 de Dezembro de 1925, que, approvando, com modificaçõ s. o
D~creto, n. 3858, de 11 de Junho de 1925, reforma a Instrucção Publica do Estudo CAPÍTULO 9
Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/1egislacao/decreto/ 19 li
decreto-4101-14.09.l926.htrnl. Acesso em: 2 set. 2013.
GRUPOS ESCOLARES E O GINÁSIO DO ESTADO:
SÃO PAULO. Decreto n" 4.600, de 30 de maio de 1929. Regulamenta as Leis ,," FRAGMENTOS DA mSTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM RIBEIRÃo
2.269, de 31 de Dezem~ro de ~927, e n° 2.315, de 31 de Dezembro de 1928, ~II
reformar~m a Instrucçao Publica do Estado. Disponível em: httpsc//repositono
PRETO-SP (PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX)
uf~c.brlbl!strea~andle/ 123456789/997 42/Decreto%20n. %204600%20de% ()
3O Yo20deYo20malO%20de%20 1929%20%E2%80%93 %20Programa% 20da % ()
Escolas%20Normais.pdf?sequence=1. Acesso em: 17 set. 2013. o o
Lucia de Rezende Jayme
S~O.PAULO. Decreto n° 48.897, ~e 27 de agosto de 2004. Dispõe sobre os Arquivo Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Públicos, os docume~tos de arquivo e sua gestão, os Planos de Classificação ,
Tabe!a de Temporahdade de Documentos da Administração Pública do Estado
Raquel Discini de Campos
de Sao ~aulo define normas para a avaliação, guarda e eliminação de documento
de ar~UI~o e d~ providências correlatas. Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/ Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
repositorio/legislacao/ decreto/2004/ decreto%20n. 48.897, %20de%202 7.08.2004. ht
Acesso em: 16 out. 2013.
SOUZA, R. F. ~e. Templos de civilização: a implantação da escola primária graduada Tal qual em diversas cidades brasileiras, na transição entre os sécu-
no estado de Sao Paulo (1890-1910). São Paulo: Unesp, 1998.307 p. los XIX e XX o início da urbanização de Ribeirão Preto caracterizou-se,
S?U~~, ~. F.A escol.a primária e a formação' do cidadão brasileiro (1890-1960) principalmente, pela construção de elementos citadinos no quadrilátero
In. ~sto~la, ~a erganízação do trabalho escolar e do currículo no século XX central. Jardins públicos, igreja matriz e teatro que incorporavam traços
ensino pnmano e secundário no Brasil. São Paulo: Cortez, 2009.
arquitetônicos então em voga, além de farmácias e casas de comércio,
SZ~SKI, H.~ALMEIDA, L. R. de; PRANDINI, R. C. A. R. Perspectivas para delineavam um cenário inédito e dividiam as calçadas com os grupos
a anahs: de en~e:lstas. "': SZYMANSKI, H. (Org.). A entrevista na pesquisa em
escolares e o ginásio local. Até 1920, o ensino público em níveis primá-
educaçao: a prática reflexiva, Brasília: Plano, 2002. p. 63-86.
rio e secundário foi ministrado, respectivamente, no "Primeiro Grupo
Escolar José Guimarães Junior", "Segundo Grupo Escolar" e "Ginásio
do Estado de Ribeirão Preto ".
Afora o caráter urbano, estes estabelecimentos escolares foram
constituídos (e constituíram) o incensado projeto republicano paulista ..
Instaurada a Primeira República, a Constituição de 1891 esboçava, dentre
outros intentos, a concretização da organização de um sistema educa-
cional, questão esta não resolvida desde os tempos imperiais, fosse pelo

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financiamento in uficiente d du aço ,r ss pela defesa da de ccntru Ainda, p 't qu c 'te beneméritos pertenciam às elites republica-
lização do ensino entre os diverso pod r . A im, ficava estabele ido nas locai e e taduai , a República e seus dirigentes eram legitimados e
que a União seria responsável pela criação de escolas superiore s. reafirmados. A escola pública, direito do povo e dever estatal, não era
cundárias (embora não exclusivamente) e, quanto à instrução primária. decorrente de políticas sociais, mas apresentada como dádiva, benfeitoria
foi delegada aos estados a incumbência para que estes a legislassem 11
de um particular. Ademais, naquele rincão, construir um grupo escolar
organizassem (SAVIANI, 2008, p. 166-171). significava tanto mais que subvencionar classes isoladas.

Dessa forma, o primeiro grupo da cidade foi erigido pela confluên iu Contudo, apenas em 1902 foi inaugurada a edificação de caracterís-
dos governos estadual, municipal e iniciativa privada: o então deputado ticas próprias dos grupos escolares daqueles tempos - os tais "templos
estadual Luiz Pereira Barreto, junto ao Presidente do Estado (que, p I de civilização" que Souza (1998) tão bem nomeou. Em 1895, ano em
sua vez, voltou seus olhos à educação pública ribeirãopretana graça l que eram iniciadas as aulas, o prédio que abrigava o "Primeiro Grupo
influência do senador José Guimarães Junior), autorizou a construção Escolar" da cidade era "acanhado, mobiliaria parco a rústico ''. As
do edificio em 8.000 m' de terras doadas por Arthur Diederichsen - tipo latrinas eram fossas e a água tirada do poço era servida aos alunos em
de benfeitoria bastante comum naquela época e que não fora olvidada copos feitos de cabaça ou de casca do coco (alguns alunos levavam de
pela Edilidade. suas casas canecas de esmalte ou cerâmica) (SOUZA, 1998, p. 91-92).

Já o decreto para criação do "Segundo Grupo Escolar" aconteceu


Em homenagem ao Cel. Arthur Diedereichsen, pelo generoso em 1912, uma década posterior à criação do primeiro grupo, e o início
donativo que fizera do terreno onde se acha construido o
efetivo das aulas somente aconteceu dois anos mais tarde, 1914, em pré-
referido grupo, mandou a Camara tirar o retrato daquelle phi
dio próprio, após diversas reclamações publicadas no jornal A Cidade,
lantropico cidadão, afim de ser collocado na Sala de honra do
edificio, e, para que ali fique perenemente apontada a gratidão expressivo periódico da época. Dentre as reivindicações, permeavam as
de contemporaneos e vindouros a veneranda personalidade da páginas deste jornal motivos como urgência em maior número de vagas,
quele nosso egregrio compatriota, como a de um benemerit • morosidade nos trâmites burocráticos e o descuido do poder público em
que é, da instrucção popular, neste município (sic). (CION relação à educação local (CIONE, 1987, p. 372).
1987,p.217)
Quanto ao Ginásio Estadual de Ribeirão Preto, este era um dentre
os três únicos estabelecimentos de ensino secundário mantidos pelo po-
Na outrora sala de honra (e ainda atualmente), lugar estratégico
der estatal em terras paulistas. Primo tardio talvez, se compararmos as
para controle da entrada de pais e saída de alunos, o retrato do donatário
datas de instalação das outras instituições (o Ginásio da Capital, fundado
permaneceria lá exposto. No alto da parede, no quadro pintado à mão,
em 1894 e o Ginásio de Campinas, 1896). Seja como for, a criação do
figurava o busto circunspecto de Diedereichsen ornado por ramos d
referido estabelecimento aconteceu um tanto "às pressas (espaço tempo
café. Todavia, tamanho e perene garbo fazia-se justificável pela seguin-
de dois meses, desde a primeira solicitação pública até a publicação do
te lógica: uma vez que a educação encerrava a crença no progresso, na
decreto assinado pelo Presidente do Estado) e deu-se por acordos políticos
ciência e na civilização - elementos considerados imprescindíveis para
a formação de um novo país - aqueles que contribuíam com a causa da entre alguns figurões da sociedade" (SOUZA, 2008, p. 117).
escola pública logo tomavam-se patronos cuja imagem era motivo de Embora instalado provisoriamente em um prédio simples, alugado
exaltação por alunos, professores e diretores. pela Câmara Municipal no ano de 1907 ("provisoriamente" era advér-

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s compromettam a fornecer predios e terrenos apropriados ás aulas e
bio usado pelos in petore da p a, na verdade o cur o funcion LI 1111
aos diversos trabalhos" e "o Governo dará preferencia aos municípios
local improvisado por 13 anos) e equipado com alguns materiai u ado
cujas municipalidades auxiliarem ao Governo, quer pecuniariamente,
provenientes do Ginásio de Campinas, o brio do Ginásio não fora m ,
quer com dadivas de terrenos e materiaes" (sic). Quanto aos ginásios, a
culado, afinal, desde seu advento, era uma instituição tida em alta c ntn
lei apenas dispõe sobre o número de estabelecimentos criados, nenhuma
pelo elevado nível de ensino ministrado, bem como pela fina estirp d l
regulamentação no tocante a verbas e subvenções fora estipulada .
seus alunos (CUNHA, 2001, p. 23-25).
Deste modo, embora o governo estatal paulista se dispusesse a
Havia grande distinção entre as classes isoladas - municipai, S
implementar uma reforma no ensino público em suas plagas, assim pro-
taduais ou particulares - e os grupos e ginásios, posto que estes encerro
cedeu dispersando a responsabilidade de manutenção destas escolas entre
vam nas paredes de concreto os ideais (nem sempre materializados) do
os municípios, o que, consequentemente, estendia tal questão pública à
regime republicano e dos tempos modernos: homogeneização, eficáciu
iniciativa particular, já que, não raro, terrenos, prédios, materiais e verbas
civilidade, progresso. Contudo, ao menos no tocante à subvenção, POUC(;
eram doados por cidadãos abastados.
diferenciava umas e outros, como sugerem os escritos do prefeito Man I
Gusmão: A lei ainda não estabelecia norma alguma em relação à periodicidade
ou quantia destes pecúlios. Esta verba um tanto bruxuleante revela não
Com o valioso concurso do devotado director desse estab somente a responsabilidade pulverizada de custeio dos bancos escola-
lecimento, o professor Orestes Guimarães, conseguiu-se qu res, mas, também uma prática denunciada já em tempos imperiais e que
fossem instaladas as aulas do quinto anno para ambos os sex s, perdurou durante a jovem república: a "mania de se quererem os fins
tendo, para esse fim, a Camara alugado e adaptado mais urna
sem se empregarem os meios necessário e próprios" (SAVIANI, 2008,
casa nas proximidades do edificio do Grupo, vindo a Camara,
p. 167). Ainda, transforma as escolas públicas em moeda de troca nos
assim, a dispender, só com o aluguel dos dous predios, a quantia
de 430$ mensaes. acordos entre representantes dos poderes estadual, municipal e privado
Como houvesse difficuldade enorme em manter-se permanen- numa sociedade marcada por traços coronelistas e cordiais próprios da
temente o pessoal docente do Grupo, isso, entre outros motivos, cultura política brasileira.
porque o professorado busca outras regiões do Estado, ond
a vida é mais barata, - resolveu a Camara, por acto de 5 de
abril, subvencionar 100$000 mensaes os professores daquell
estabelecimento (sie). (GUsMÃo, 1902)

De acordo com a Lei n" 88 publicada em setembro de 1892 que regu-


lamentou a instrução pública no estado de São Paulo, o ensino paulista foi
dividido em primário, secundário e superior; regulamentou a faixa etária
dos alunos, organização das escolas, formação e pagamento dos professo-
res, ingresso docente e inspeção; destinou a quantia anual de 500:000$000
dos cofres estaduais para a construção de cursos preliminares. Toda-
via, em parágrafo único, esclareceu-se que as escolas complementares LEI n" 88, de 08 de setembro de 1892. Coleção de Leis e Decretos do Estado de São Paulo.
(ARQUIVO PÚBLICO HISTÓRICO DE RIBEIRÃO PRETO).
"serão installadas, de preferencia, nas cidades cujas municipalidades

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Tabela I - Verba municipal de ninada ao iná io e e cola estaduais. r cur O . De qualquer fi d ,é preci o er considerada a influência do
Aluguel do prédio do Gymnasio prefeito Joaquim Maeedo Bittencourt que, além de gestor do município
Aluguel do predio cla~
do Estado escola estaduais entre os anos 1911 e 1920 foi também lente do Ginásio, onde ministrou
1911 2:400$000 960$000 francês desde 1907 a 1921, data em que foi nomeado diretor do mesmo
1912 2:400$000 - estabelecimento.
1913 - - Quando instaurada a primeira república, a União objetivou a centra-
1914 - - lização cultural ao tomar para si a responsabilidade do ensino superior e
1915 2:400$000 1:200$000
secundário, embora enfraquecido o poder central político e/ou econômico
1916 2:400$000
dos tempos imperiais. No decorrer das décadas o governo federal promul-
960$000
1917
gou diferentes dispositivos legais que alteraram o funcionamento destes
2:400$000 -
estabelecimentos. De qualquer forma, fossem as faculdades, ginásios
1918 2:400$000 - ou grupo, o regime republicano não logrou sucesso ao estabelecer um
1919 2:400$000 - efetivo sistema nacional de ensino uma vez que os iletrados constituíam
maioria no país; pululavam reformas ora liberais, ora controladoras; além
da defesa de currículos cientificistas ou humanistas. Embora a homoge-
Fonte: BITTENCOURT, J. M. Relatorio 1919 apresentado à Camara Municipal de neização fosse elemento tido como imprescindível em época moderna,
Ribeirão Preto, na sessão de 15 de janeiro de 1920. (ARQUIVO PÚBLICO HISTÓRl '()
DE RIBEIRÃO PRETO). desconforrnidades várias permeavam o dia-a-dia escolar (NAGLE, 1974,
p. 127; FA VERO, 2006, p. 21; SA VIANI, 2008), conforme podemos
A Tabela 1 demonstra os valores retirados do cofre público mu observar no depoimento a seguir
nicipal para auxílio no subsídio das escolas estaduais (soma-se a e. ( .
montante a quantia de 12:000$000 destinada a compra de um terreno Antes de entrar para o comércio, estudei uns mezes no "Grupo
Escolar Guimarães Junior", [... ). Ahi fui alurnno dos profes-
para o prédio do Ginásio em 1911). Não foi possível apreender o nív I
sores João Baptista Ferreira da Cunha, no 2° anno, e José de
inflacionário da época ou se a porção da renda utilizada neste setor da
Olivar, no 4°. Deixei o grupo porque, tendo no fim do primeiro
instrução era considerável, mas ao observarmos as eifras acima, perc . mez, saltado do 2° para o 4° anno, o professor deste frequente-
bemos que a única constante foi a soma destinada a tal fim, ao passo qu mente me fazia ir para o 1° anno anno vigiar a classe e mesmo
variáveis foram os anos em que a prefeitura contribuiu para garantia do leccionar, com evidente prejuízo da minha aprendizagem. (sic).
funcionamento dos grupos escolares e ginásio. (SANTOS, s/d)

Também notamos a inclinação orçamentária que favorecia o esta


É provável que a promoção de um aluno, assim num repente e
belecimento de ensino secundário em detrimento das escolas primárias
também a esporádica atividade docente do menino cause estranhamento
(a receita destas incluía, além dos grupos, o aluguel do prédio onde
nos dias de hoje, pois, de fato, acreditava-se que a graduação em série
funcionavam as classes). A este respeito, podemos inferir a grand
e o cumprimento dos programas contribuiriam para a eficácia do sis-
valoração do Ginásio frente aos grupos escolares ou salas isoladas, ou
tema de ensino. No entanto, são plausíveis os dizeres de Plínio Santos.
que, em verdade, os bancos ginasiais necessitassem sempre de maiores
Para a composição do corpo docente dos grupos escolares, o governo

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indicava profissionai formado pcl c Ia Normal, ma uma v Z qu
m 1917, j I nul 'idad noticiava e apoiava a comoção r alguns
pais frente à av liação imprecisa e parcial de algumas lentes.
o número de professores era insuficiente, alunos que finaliza m (l
estudos nas escolas complementares teriam a possibilidade de leci n II Figura I _ Imagem do Prédio situado entre as ruas Cerq~eir~ Cesar e Duque de C~xias.
Mas, apesar da crescente valorização do magistério, ao que par 'l. este estabelecimento funcionaram provisoriamente o Primeiro Grupo Escolar (ate 1902)
e Ginásio do Estado (1906-1920).
Ribeirão Preto não era cidade benquista pelo professorado, dado 11
alto custo de vida e, amiúde, os mestres não compareciam nas aulu
(SOUZA, 1998, p. 49). Estas e outras mazelas acometiam também 11
Ginásio de Ribeirão Preto:

Substituto de Mecanica e Astronomia e Alemão [o professor


de grego], quer que os principiantes discutam com proficicn '11

sobre a Terra, os astros, ou traduzam, à primmcira vista trecho


poéticos e filosóficos de Goethe[ ... ] (sic). (IMPERATRI/,
1918-1923, não paginado)

Invariavelmente, não existiram mestres .com formação peda


gica especializada em número suficiente, eram docentes "improvt
sados" que apenas exigiam a memorização e reprodução do assunto
ensinado - então a razão do professor de grego lecionar matéria.
escolares tão distintas. Médicos, advogados, engenheiros, políu
cos formaram o corpo docente ginasial. A posição destes homem Fonte: ARQUIVO PúBLICO mSTÓRICO DE RIBEIRÃO PRETO
conferia-lhes, segundo os usos da época, os vocativos "doutor"
ou "coronel"> que, por sua vez, legitimavam-Ihes a sapiência .
Na fotografia acima, podemos visualizar a construção que abrigou
competência. A legislação estadual que dispunha sobre a criação
tanto o "P'rtmeiro
. Grupo" quanto o "Ginásio de Ribeirão Preto". Nas no-
do Ginásio de Ribeirão Preto determinava que as nomeações dos
tas de jornal ou termos de visita de inspetores, não ~nc?ntramos nenhuma
profissionais seriam feitas independente de concurso, permitindo
censura dos examinadores tanto em relação ao edifício, quan~o ~o.corpo
assim a contratação que seguia quesitos partidários, e não apenas
docente, diretoria ou discentes, quer referissem às classes pnmanas ?~,
habilidade e conhecimento (CUNHA 2001, p. 27-33).
posteriormente, ao ensino secundário. Quase sem~r~, ~s ~~la~as oficiais
Nas lembranças de alunos que frequentaram os bancos ginasiais eram elogiosas como nos dizeres a respeito do Ginásio: optzmo o esta-
são relatados alguns pormenores do cotidiano escolar entremeado p I do intelectual e moral dos alumnos" e que o estabelecimento "satisfaz
indisciplina em sala, professores autoritários ou pouco conhecedores do
currículo que lecionavam, bem como aulas suspensas devido à ausência Cf GUIÃO J. P. De papo pro ar São Paulo. 1973: SAMPAIO. F. R. Relembranças- Cülnp~n~s:
2 . .' . d L tr 1984' IMPERATRIZ. Paschoal. [Manuscritos]. Riheirâo
docente. No ano de 1914, por exemplo, um candidato à cadeira de portu Academia Campmcnse e e as, . • ES IMPE
- . d 1918_1923.(ACERVOPARTlCULARINESMARlAMORA .. -
Preto, nao pagma o. . . . .' _ . d' _ II a o 1914 e 02 mal.
guês do Ginásio de Ribeirão Preto dizia-se injustiçado por ser reprovado RA TRIZ): Notas veiculadas DO Jornal A CIdade Ribeirão PH'IO. Ias g .
1917. (BIBLIOTECA NACIONAL).
no concurso e dissertava sobre acertos e os erros do concorrente aprovado.

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'l enh li h nra de levar ao conhecimento de V. Exa. que, cum-
exigencias de higyene'' e e taria "em bom estado de con ervação" (.\'(1 )
prindo a determinação de V.Exa., fiz a matricula no 1° anno
Contudo, certa vez, A Cidade anunciava': deste Gymnasio, de modo a evitar o desdobramento das aulas do
referido anno. No 2° anno matricularam-se 60 alumnos e, para
Os alumnos do Gymnasio desta cidade vão solicitar d sr 1)1 que não fizesse também o desdobramento dessa classe organisei
Oscar Rodrigues Alves, Secretario do Interior, modif 'II~' 11 o horario de modo que as aulas do 1°e 2° annos funccionam, em
do horario das aulas, afim de que os estudos terminem, di, horas differentes, na mesma sala, a unica deste estabelecimento
riamente, às doze horas. que comporta aquelle numero de alumnos (sic). (OLIVEIRA,
Allegam os peticionarios que essa notificação é indispcnsu I M. [Oficio]. Ribeirão Preto, 19 de abr.1916)
em virtude não só das más condições do edificio onde f'UII
ciona o estabelecimento como igualmente do calor excessivo Ao que tudo indica, a inspeção escolar primava, principalmente,
destes ultimos dias.
pelo controle do número de matrículas, frequência e cumprimento de
É justo o pedido que fazem os jovens estudantes (OS AL M
calendário e horário. Sobre as condições de aprendizagem, número de
NOS do Gyrnnasio desta cidade). A Cidade. Ribeirão Pr '10,
040ut. 1919 (sic). (BIBLIOTECA NACIONAL) vagas e outras reclamações, ficavam a cargo da população. E, ao falarmos
de reivindicações públicas, vale lembrar que, igualmente aos moços e
Não podemos excluir a possibilidade de estes jovens utilizare 11 I
moças, os estudantes dos grupos escolares faziam ouvir a sua voz:
o pedido ao Secretário do Interior e/ou o destaque na imprensa como
estratégia ao tomar ágil a mudança para o novo edifício " mas em 19 I
o inspetor assim descrevia o prédio":
. [... ] a infância republicana aqui presente de ponto em branco,
traz vinculada no espírito as tradições dos seus saudosos an-
tepassados que para dar conselhos foram sempre, em todas as
circumnstancias considerados verdadeiros tupinambás, pede
O Ginásio do Estado em Ribeirão Preto está funcional! esta juventude ora solidária, licença para lembrar que a divisa
do em uma casa que, dificilmente seria aceita para um grupo desses referidos antepassados que leram e meditaram sobre a
escolar: baixa, [ilegível], dificultosamente iluminada, com saiu Sciencia do Homem Ricardo foi, em todos os annos, de maio a
pequeninas cuja disposição de luz nem sempre é admissivel julho <deitar cedo, levantar tarde, comer pouco e andar alegre ...
Possue apenas uma sala ampla em 13,5X7= 94,5; duas outras O sr. Decio Brandão: comer cocada de tarde e biff às 9 horas
que servem para classes pouco numerosas e tem as seguint .. da manhã!
dimensões: 8,6 X 5= 43; 10,5 X 5= 51,5 (sic). (OLIVEIRA, O orador: - andar alegre, salvo os casos em que a alegria seja
M. [Oficio). Ribeirão Preto, 06 dez. 19'15) banida por algum puchão de orelha que venha por ahi sem
prévio aviso.
A razão do ofício endereçado à Secretaria do Interior consistia nu [... ] as manhãs são frias e promettem de punhos cerrados
e a bater o pé que hão de ser mais frias ainda daqui por diante;
decisão do diretor em desdobrar os primeiros anos do curso ginasial
e si assim cumprirem a promessa? Ficamos todos entanguidi-
no intuito de atender os pedidos de matricula. Discussão que assim fi
nhos, a bater o queixo o que, de certo, não esta no programma
resolvida: de Grupo e, isto, um tal estado patológico dos maxillares
impedirá de devorarmos os lanches ... a vapor como é exigido
3 o SR. fiscal do governo federal.junto ao Gyrnnasio do Estado nesta cidade. A Cidade. Ribeirão
Preto, 17 jan. 1917 (BrBLlOTECA NACIONAL). que façamos no recreio das dez horas ...[... ] (sic). (FESTAS
4 A transferência para o prédio "vistoso" aconteceu emjunbo de 1920. após as férias de inverno, ESCOLARES. A Cidade. Ribeirão Preto, 16 maio 1909. (BI-
sem, no entanto. grandes cornemorações.Js: COM a terminação das férias, A Cidade. Ribeirân
BLIOTECA NACIONAL)
Preto. 02jun. 1920. Fonte: (BrBLlOTECA NACIONAL).

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lidade da aula ' riam prejudicadas. Ainda, a inobservânci~ da sin.cronia
Estes dizeres repleto de chistes foi, egundo o croni ta do j ri) il,
tre tempo in tituíd e tempo biológico contrariava muitos paIS e OS
proferido pelo menino Pablo que, no intuito de garantir a performan '
;~eceitos médicos que, preocupados em desvendar as necessidade~ do
irretocável, ensaiou horas e horas em frente ao espelho já um tanjo
indivíduo, também orientavam esta mesma educação moderna s~q~IOsa
corado ao pensar na plateia que o esperava. Durante as festividades IlO
pela formação do coletivo. A propósito, comumente esta coletIVIdade
Grupo Escolar Guimarães Júnior, os professores decidiram, em mei uo
era aclamada em nome das escolas:
programa de caráter cívico e patriótico, alertar sobre algumas que t(
que, de certo modo, incomodavam a infância republicana. As matriculas acham-se abertas, grande livro personificando o
O enunciado é jocoso ao suscitar sérios ditames da escola primá ri , vasto ideal luminoso, que mostra a senda a seguir aos espíritos
por ventura divorciados de um objeto louvavel: a Escola.
moderna, na forma de discurso solene em meio a um léxico de preo 'U
Grande esperança nos inspira que em breve nao havera uma
pações pueris: "comer cocada e biff", "alegria ", "puchão de orelha ",
só vaga nessas casas, verdadeiros templos cujo sacerdotes - ~s
"entanguidinhos a bater o queixo ", "recreio ". É também irônico, p i. professores - espalharão a luz benigna da instruc~ão, ap~rfel-
deturpa a célebre obra de Benjamin Franklin naqueles tempos, a Sciên 'ill çoando os caracteres dos nacionaes; sera a doutnna mais em
do Homem Ricardo, publicação utilizada nas escolas públicas como livro evidencia para arrastar, numa caldal de acontecimentos os
de leitura até final de 1880. Os ideais do calvinista perpassaram toda , mais profundos da nossa organização psychologica, a todos
esses innocentes seres que muitas vezes ignoram ser a Escola
América, portuguesa e espanhola, desde Sarmiento a Tiradentes'.
a fundição que remodela o espírito e os costumes ~e um p~vo.
Em verdade, a máxima de Franklin presumia "[. ..} aquelle levanta [... ] Ás matriculas, pois (sic). (PELA INSTRUCÇAO. A Cida-
tarde agita-se o resto do dia, e apenas começa seu trabalho quando chc de. Ribeirão Preto, 24 jan. 1911. (BIBLIOTECA NACIONAL)
ga a noute ", ou "[. ..} Deitar e levantar cedo dá saude, contentamento
e dinheiro" (sic). O propósito do trocadilho era criticar o período da. A. Jacques, em janeiro de 1911, mostrava-se inconformado c~~ a
aulas adotado pelo Grupo Escolar após 1908, data em que a diretoria existência de vagas não preenchidas no "Primeiro Grupo Escolar de
geral autorizou o desdobramento do funcionamento destas escolas. As Ribeirão Preto, posto que enviar os filhos às escolas signi~cav~, a con-
sim, certamente os alunos apoiaram os argumentos apresentados, p is sonância dos pais com a educação, um "vasto ideal lum~noso ,e por
o novo horário que possibilitava a coexistência de turnos escolares, oito resumir intenções consideradas tão nobres como o aperfeIçoamento de
horas da manhã ao meio-dia alterava os costumes alimentares dos pupi I s um tipo nacional idealizado no e pelos discursos republicanos.
(naqueles tempos o almoço era servido às sete horas da manhã, o jantar
Contudo, não apenas o cronista repreendia os progenitore~ ~ue e:-
às onze horas e a ceia feita, aproximadamente, às quatro horas da tard )
tariam "divorciados de um objeto louvavel". Pautado na especIah~açao
6 (FARIA FILHO; VAGO, 2001, p. 129).
de tarefas, característica da sociedade moderna, o Estado repubhca~o
Para além disso, questionava a legitimidade da racionalização do retirou da família a competência relacionada ao educar, emb?~a nao
ensino, já que havia a redução do dia letivo e, consequentemente, a qua pudesse extirpá-Ia do processo, já que, além do ambient~ faI~llhar. ser
intrínseco às crianças, por meio destas os valores eduCaCIOnaiS ser~am
5 TAMBARA, E. Livros de leitura nas aulas de primeiras letras no Rio Grande do Sul no se
culo XIX. Revista Educação em Questão, Natal, v. 31, n.17, p.73-103. jan./abr. 2008, p. XO difundidos amplamente, pois acreditava-se que os meninos e menmas
ENGLEK1RK. J. E. Franklin eu el mundo hispanico. Revista lberoamericano. Volume XX
jan, Dez. 1956. p. 3~6 (3~9-371).
fariam de seus lares a extensão da sala de aula.
6 FRANKLIN, B. A Sciencia do Bom Homem Ricardo ou Meios defazer fortuna. Lisboa: Typ
da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis. [s/d]. p. 4.

241
240
mulphabct s.; e estes, é sabido- são peores que aquelles!
Percebemos que a impren a da época permitiu certa comuni 'H~' \I
(sie). (P LA INSTRUCÇÃO. A Cidade. Ribeirão Preto, 24
entre família e escola e contribuiu para a familiarização com a edu 'U~ \11 jan. 1911. (BIBLIOTECA NACIONAL)
e propagação da cultura escolar vigente. Isto porque, além de n li "~li
festas, descrever os exames dos alunos, osjomais cumpriam expedi 'nll Exclamava, pedia aos céus que suas conjecturas, a cabo, não fossem
de cunho administrativo e pedagógico ao informar sobre a abertura ti
confirmadas em prol de São Paulo, embora afirmasse veementemente:
matrículas, início e encerramento de férias ou, ainda, ao estabelcc , ,
importância da instrução e da atenção necessária aos boletins do filho a- as classes possuem, em media, 40 alumnos, exigindo do
(CUNHA, 2000, p. 457-461). No entanto, apesar de sabida a resistênct , professor uma actividade multipla, intensa e exhaustiva- e que
de algumas famílias em matricularem as crianças, as estatísticas da épo , se reflecte pejorativamente, sobre o approveitamento da classe,
e imprensa demonstravam que a oferta de vagas no ensino primári '" b- as creanças matriculam-se aos 7 annos, necessitando uma
previa adaptação ao meio escolar- trabalho em que se levam
constante e que não conseguiam suprir a procura por estes bancos ..
perto de tres meses. [..] e é nessa epocha que começa a fase
colares - daí a necessidade do desdobramento de salas enquanto outrn
propriamente instructiva.
escolas não eram construídas. c- O anno 1ectivo é de dez mezes, os quaes, descontados do-
Em 1920, Plínio Travasso dos Santos, aquele mesmo menino qu mingos e feriados, ficam redusidos a cerca de oito. Em dois
annos, teremos dezesseis mezes de aula.
décadas anteriores abandonara o primário no "Grupo Escolar José GI/I
d- Mostra-nos a estatistica dos grupos escolares que, em regra,
marães Junior" pelo fato de ser promovido dois anos de curso em lIll1
os primeiros alumnos são promovidos para o segundo cerca de
mês de aula, tomou-se homem e inspetor do ensino de Ribeirão Pr 10 dois terços. Destes, só metade constituida por esses alumnos
Nesta data, alertava sobre a ineficiência da Reforma Sampaio Dóri I. mais intelligentes- obtem notas distinctas e plenas, cursando,
lei que reduzia o ensino primário de quatro a dois anos e implementa , satisfactoriamente, o segundo anno e podendo promover-se para
a obrigatoriedade efetiva do ensino gratuito às crianças de 7 a 8 anos: o terceiro, lendo, escrevendo, contando regularmente. Quer isso
dizer, das creanças matriculadas nos grupos, apenas um terço,
com curso de dois annos, saira sabendo ler, escrever e contar,
[... ] Ante a [ilegível) existencia de uma população infanul
deixando de ser, portanto, analphabetos. O restante- dois terços,
de 468.800 analphabetos, e na impossibilidade absoluta (11
formados e promovidos simplesmente, reprovados e que, para o
augmentar a dotação orçamentaria destinada ao custeio dll
criterio da promoção em massa, terão que sahir - analphabetos.
instrucção primaria- foi essa a medida que alvitrou o governo
Não será essa situação essa que nos levara a reducção do curso
com a única exequivel para a solução do magno problema qu
de há muito empolga à attenção de quanto se interessam p 'li primmario a dois annos?
[... ] S.P (sic). (REFORMA da instrucção publica. A Cidade.
grandeza paulista.
Ribeirão Preto, 09 novo 1920. (BIBLIOTECA NACIONAL)
[... ]Poder-se-a, desde já, affmnar, com curso de dois anno
apenas, mesmo aproveitado com dedicação e intelligencin,
uma creança ficara sabendo ler, escrever e contar de modo , A dissertação de Plínio apresenta algumas argumentações daqueles
considerar-se, de facto alphabetisada? que posicionaram-se contrariamente à implantação das soluções apre-
Um pouco de pratica que temos de questões dessa naturc
sentadas por Sampaio Dória e, indiretamente, oferece-nos um esboço
za, levam-nos a ousadia de duvidar da efficacia da medida
do quadro educacional nesta época. Por certo, a grande questão para os
proposta, a qual podera- não há como negar- acabar COI1l
os analphabetos, transformando-os, comntudo, em serm
reformadores e nacionalistas desejosos de "republicanizar a república"

243
242
Tabela _ R 'I içuo (\0 IIlI'" '111 li • ulunque ingre aram e concluíram o curso gina ial
não residia apenas na efetividade da alfabetização do aluno. A r dit t n ano de 1917 e 1919
~a~ que dois anos seria o período necessário para afastar a cultura do
lmlgran~es, apaziguar as greves ao incutir valores ufanistas e patri Li'() Classe 1917 1918

e, tam~em, para aumentar consideravelmente o número de eleitore qu 1° anno 63 42


podenam combater representantes políticos que não proviessem do
2° anno 54 41
grupos rurais (CARVALHO, 2000, p. 228-229).
3° anno 34 29
. Ainda, ao seguirmos as proposições do inspetor, encontramos tiO
4° anno 22 29
Item indicado pela letra d-) outra problemática do ensino denunciad t

pelas estatísticas escolares - o pequeno número de alunos promovido 5° anno 7 29

que se matriculavam nos estabelecimentos de educação pública: 13 12


6° anno

Tabela 2 - Relação do número de alunos que ingressaram e concluíram o curso primáno Porcentagem da diferença entre alunos 28,6%
20,7%
complementar nos anos de 1911 e 1917 do primeiro e último ano

Fonte: Dados retirados de JUNQUEIRA, José Arantes. [Relatório]. Ribeirão Preto, 13 de


Dezembro de 1911 Janeiro de 1917
janeiro de 1917. (ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO).; SAMPAIO, Benedito.
Classe Sessão Sessão Sessão Sessão [Oficio]. Ribeirão Preto, abril de 1919. (ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO)
Masculina Feminina Masculina Feminina

1°A 48 50 41 41
Além da oferta sempre insuficiente de vagas nas escolas, nas Tabelas
1°8 49 50 35 35
podemos visualizar outro fator que concorria tanto para a persistência
1°C 46 51 40 37 do alto número de iletrados, apesar da oferta do ensino primário, quanto
I°D 49 56 39 46 um dos motivos que tomava o curso ginasial consideravelmente sele-
tivo: a evasão escolar constante tanto nos Grupos Escolares quanto no
2° A 40 35 45 42
Ginásio de Ribeirão Preto. A este respeito, um ginasial daqueles tempos
2°8 45 41 45 45
apresenta-nos algum esclarecimento:
2°C - 40 45 44
A principio tudo facil, tudo canja e comprehensivel. Mas de-
3°A 40 45 45 45
pois ...Depois o Grego, a Historia Universal, nos atterraram.
3° 8 - - 48 45 Fizemos um máo juizo acerca do nosso curso. Os collegas, ante

4° A 14 27 36 41 a persepectiva dos formidaveis, redondinhos e ameaçadores


zeros, desertavam das aulas, não comparecendo de segunda
Porcentagem da diferença
a sábado (sic). (IMPERATRIZ, 1918-1923, não paginado)
entre alunos do primeiro e 7,3% 13% 23,2% 25,8%
último ano
Infelizmente, o mau juízo dos alunos acerca da educação não
Fonte: Dados retirados
. de notas publicadas no jornal A Cidade . Rib . - P reto, nos diIaS
I elrao
era a única explicação. Nossas fontes não permitiram que
26 jan 17 e 07 dez. 1911. (BIBLIOTECA NACIONAL) seriássemos, ano a ano, o movimento de entrada e saída dos

245
244
2\ (d 4" anno feminino,
cur. p.rim rio e gina ial, ma no a amo tra indicam qu
120 d 3° armo feminino,
o pnmeiro e o segundo grupo e colare de Ribcirã 1'1 '111
tais quais outros estabelecimentos de ensino do e tad d S 11 85 do 2° anno feminino,
176 do 1° armo feminino B,
Paulo, apresentavam a desistência escolar como tri te relilul I
de cotidiana. Os motivos, diversos: repetência escolar bUI 1 do 1° anno feminino A,
47 do 3° e 4° armo masculino (desenhos e mappas)
frequência nas aulas e o trabalho infantil (NUNES, 20à )
Destacaram-se os seguintes: 4° armo, almofada de velludo,
sombrinha, bengala (pyrographada), [ ... ) vestido branco
Já O Ginásio do Estado, dado o caráter do ensino secundário, aprcs '11 bordado, blusa acolchoada, (... ] 3° armo, quadros bordados
tava .outras
. causas para que ' no período de 1907 a 1916 , 830/0
/ d os a 1uno a seda e gaze, pregadeira, porta cartões, (... ] 2° armo, fronha
admitidos não se apresentassem para os exames de conclusão do 10 de linho bordada, arte e diversos trabalhos, (... ] I anno,
golas bordadas, lençol bordado, porta camisola, porta toalha
a~o, ~endo que, deste montante, 90% simplesmente deixava a carr i, I
bordado a seda, saia e avental, bordados (sic). (EXPOSIÇÃO
ginasial a~ ~ão comparecerem sem prestar exames finais em qualqu "
DE TRABALHOS. A Cidade. Ribeirão Preto, 06 dez. 1908.
uma da: senes. I~to porque, além dos moços e moças que conseguiam
(BIBLIOTECA NACIONAL)
prom~çao no ensmo superior por meio dos exames parcelados, pesa I
o curnculo extenso e por vezes julgado desnecessário, além das taxas .
O primeiro aspecto a despertar a atenção é a descrição minuciosa
selos que cerceavam a permanência de alunos pobres (CUNHA 200 I
dos trabalhos que compunham a exposição, tanto em relação à espécie de
p. 58; NAGLE, 1974, p. 146-147). ' ,
peça confeccionada, quanto ao número que buscava quantificar o labor
Tant~s índices conduzem a uma indagação: Afmal, qual o sentido dos alunos revelando os ideais de racionalização e controle do ensino.
da educaçao? A observância do currículo dessas escolas nos fome '( Outra circunstância é a considerável participação dos trabalhos feitos
algum~s respostas uma vez que os programas escolares permitem algum pelas meninas - o que traduz algumas concepções a respeito da instrução
entendimento acerca de "aspectos sociais, culturais, políticos, econômi feminina: as atividades consideradas adequadas às garotas eram dispostas
cos das escolhas efetivas pelos agentes que intervêm continuamente no de modo a coincidir com afazeres domésticos, prendas que deveriam ser
processo de escolarização" (FARIA FILHO, 1998, p.191). aperfeiçoadas pelo método escolar.
Alé~ de chamar a visitação da exposição escolar repleta de objetos O currículo dos grupos escolares era extenso: leitura, linguagem,
a sere~ VIstos, em dezembro de 1908 o jornal anunciava o balanço do caligrafia, aritmética, geometria, desenho, instrução moral e cívica, ge-
, . letivo do "Primeiro Grupo Escolar ": o número de alunos e m ca d',\
ano ografia, ciências fisicas e naturais, história, música, trabalhos manuais e
sene e a quantidade de alunos promovidos: ginástica. Na época, considerava-se que os trabalhos manuais possuíam
uma fmalidade educativa de caráter geral, uma vez que eram ensinados
Os trabalhos manuaes que figuraram na Exposição Escolar princípios gerais do oficio além de encaminhar a criança a uma atividade
dest~ ~o attingiram o nummero de 730, sendo 683 da secção
específica. No entanto, a execução completa dos programas era sempre
feminina e o resto da secção masculina.
um problema para os professores que não possuíam formação adequada
[... ] Não entraram nesse número grande quantidade de cadcr
nos de calligraphia, Desenho, linguagem, dictado, cartographiu para o ensino de ginástica, trabalhos manuais e música, além de muitos
e dobramento de papel de todas as classes. Os trabalhos ficaram não encontrarem razão para o despendimento de tempo com ciências
discriminados da seguinte maneira: naturais e tais matérias específicas (FARIA FILHO, 2000).

247
246
4 anno
A nota salienta ainda que, embora não exposto , eadern d '\ Historia Uni- Geometria
Gc mctriu Allemão Geometria
llistoria
ligrafia, linguagem e desenho existiam em grande número, i to p r I"l versal
Universal
Latim Desenho
eram também considerados imprescindíveis para demonstração d si \ Latim Algebra Latim Inglez
Grego Portuguez lnglez
cultura escolar que paulatinamente consolidava-se por indicarem u A1lemão Portuguez Francez
- Allemão Grego
Desenho Historia
caráter, a higiene e assiduidade dos alunos. Aliás, o ensino de um 011 Grego
Universal
teúdo moral e cívico estava diluído nas leituras indicadas, nas aulas d ' Sanno
ciências naturais, geografia e história. A escola primária primava p '1\ Latim M. astronomia Latim M. astronomia
Latim M. astrono-
transmissão de certos ensinamentos básicos para a formação de grand !'. mia
Historia U ni- lnglez Historia Uni-
contingentes de pequenos republicanos que deveriam aspirar a vai r '!'. Ph. e chi- Historia Ph. e chi-
versal versal
mica Universal mica
cívicos e desenvolver determinados modos civilizados. Ph. e chimica Ph. e chimica
Literatura Grego Literatura
Grego
Allemão Grego Allemão
Já o ensino secundário era designado aos grupos de maior pod '\ Historia Allemão Historia
natural natural
econômico e/ou prestígio social, pois além de ser usado como trampolim
6 anno
para o nível superior, o programa curricular deste nível de ensino c n Physica e Physica e Physica e
Physica e Physica e Physica e
cedia aos privilegiados a legitimidade para ocupar cargos de mando no logica lógica logica logica logica logica

Historia Historia natural


sociedade. Na Tabela a seguir, reconstruímos a grade de aulas adotad \ Allemão Ph. e chi- Allemão Ph. e chimica
natural
no Ginásio do Estado de Ribeirão Preto: mica
Historia natural Historia Brasil Grego
Historia Grego Historia
natural natural
Tabela 4 - Componentes curriculares do "Gymnasio do Estado de Ribeirão Preto" Ph. e chimica
Historia Literatura -
Historia Literatura
Brasil Brasil
Segunda- Terça-feira Quarta- Quinta-feira Sexta-feira Sabbado
feira feira Fonte: Para composição da Tabela utilizamos dados retirados da nota public~da.n_o jornal
1 anno A Cidade. HORARlO das aulas do Gymnasio de Rbeirão Preto. A Cidade. Ribeirão Preto,

Arithmetica 01 jul. 1920. (BIBLIOTECA NACIONAL).


Geographia Arithmetica Geographia Arithmetica Geographia
Gymnastica Portuguez Francez Portuguez Francez Arithmetica
Desenho Italiano Desenho Gymnastica Desenho Portuguez Ao observarmos a disposição das disciplinas no plano CUITl-
Francez - - - Italiano Francez cular dos alunos ginasiais, percebemos que o extenso pro.grama ~ra
2 anno
composto, principalmente, por matérias de cunho humamsta. Alem
lnglez Arithmetica lnglez Arithmetica lnglez Arithmetica
disso estavam presentes em todos os anos do curso, ao passo que
Portuguez Gymnastica Portuguez Francez Gymnastica Italiano
Geographia Desenho Geographia Italiano Geographia Francez
as matérias científicas foram concentradas nas últimas etapas da
- Francez - Desenho Portuguez - formação destes alunos.
3 anno Esta nítida divisão das aulas no ginásio estadual do interior paulista
Portuguez Latim Geometria Portuguez Geometria Latim
traz a lume uma discussão ambígua. Ao mesmo tempo em que, desde
Algebra lnglez Gymnastica Algebra Geographia Inglez
o fim do Império os govemantes debatiam sobre o curríc~l.o. esc~lar
Italiano Francez Italiano Inglez Francez Gymnastica
Desenho Geographia - Latim Desenho -
ginasial como meio para encaminhar o Brasil na reta da civilização e

249
248
. . . d r ado dirigirem uma nação que
ud I cent inasiuís li, dcp IS e iorm ,
progre o aparcntementejá tra ada p r utr paí ,o en in e un 111111
staria em franco pr gre o.
republicano refletia também a di puta de intere e político div ISII
No entanto, entre discursos e práticas que e1evava~ ~~sa ~esma
De um lado, a defesa de uma cultura literária, formação de int I
ducação como elemento imprescindível para alcance da c~vtllzaçao e do
sada que favorecia a permanência nos estudos de um grupo pred 11111' '" bal Ribeirão Preto e a reahdade estadual
progresso por vezes Ioca Ie glo ,
temente agrário já atuante em tempos imperiais e, posteriorm ntc, 111
ncontrar~m pertenças nas cercas incertas das subvenções. esco~ar~s. e
cargos públicos, uma vez que tais ocupações não exigiam conhecim 111 I
nas alianças entre estado e município; na distinção entre ensmo. pnmano
técnicos, mas habilidade retórica, sensibilidades e gostos que ap '\I I
e secundário; mas, sobretudo, em legislações que t~ntaram implantar
poderiam ser obtidos pelo consumo de uma cultura elevada. De 1I1111 . mambembe sistema educacional nacional que, como a
e orgamzar um . . . .d
defensores de conhecimento útil, que preparasse o homem para in I' I1
, . Repu'blica também não consolidou todos os ideais discuti os e
no mundo do trabalho moderno, o que, por consequência, permiti. 11 I
propna, .
difundidos pelo país nas suas primeiras décadas de vida.
ascensão social de grupos enriquecidos pelas atividades urbanas e lib '. \I
(OLIVEIRA, 1998; MONARCHA, 2009).
REFERÊNCIAS
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foram orientados por um curso que, em 1901, era regulamentado 0111 CIONE, R. História de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: IMAG, 1987.
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notavam erudição; de história e geografia, valores que construiriam 1I111 - d de ouro do Ginásio
CUNHA M. O velho Estadão: educaçao e po er nos anos
sentimento de nacionalidade; e, por fim, acrescia-se o desenho, discipl in I Otoniel Mota. Palavra Mágica: Ribeirão Preto, 200 I.
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rente daquele desenho ministrado no ensino primário que pretendia, 0111 (BIBLIOTECA NACIONAL). _
esta matéria, a transmissão de algum oficio que possuísse um sentid I FARIA FILHO L O espaço escolar como objeto da história da educaça~ alr~:
imediato e prático para inserção dessa incipiente mão de obra no mercado reflexões. Revi~t~ da Faculdade Educação. [online]. v. 24. n.l. São au o a
(SOUZA, 2008, p. 101-107). Jun. 1998.
, . ltura escolar e urbana em Belo
FARIA FILHO, L. Dos pardieiros aos palaclOs: cu
Em terras ribeirãopretanas fez-se em certo modo o ideal paulista Horizonte na Primeira República. Passo Fundo: UPF, 2000.
no tocante à educação: os grupos escolares eram considerados templo LHO L' VAGO T. M. Entre relógios e tradições: elementos para uma
de civilização ou palácios do saber por serem elevados à condição d FARIA FI ,., '. _ Minas Gerais. In: HILSDORF, M. L.
história do processo de e~c~lanzaçaoH.emt''a da Educação. São Paulo: Editora da
espelho da alfabetização nacional. Configurou-se a preocupação c 11' S.; VIDAL, D. (Orgs.). Toplcas em IS on
uma educação higienizadora, além transmitir noções elementares de Universidade de São Paulo, 2000.
1
escrita, leitura e cálculo para que o indivíduo pudesse tomar-se apto HORARlO das aulas do Gymnasio de Rbeirão Preto. A Cidade. Ribeirão Preto, 0
ao trabalho que, progressivamente, passava dos campos às cidades. jul. 1920. (BIBLIOTECA NACIONAL). . .,'
Já o curso do Ginásio Estadual, direcionado às camadas mais altas du FAVERO, M. L. A. A Universidade no Brasil: das origens á Reforma Umversltana
sociedade, servia de trampolim para o ensino superior e era símbolo d ' de 1968. Educar, Curitiba, n.28, 2006.
elevado status social, uma vez que o título de bacharel legitimava s FRANKLlN B A Sciencia do Bom Homem Rícardo ou Meios.de fazer fortuna.
Lisboa: Typ.' d; Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Utels. [s/d].

251
250
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Maria de Fátima da S. Costa G. de Mattos
DE SÃO PAULO).
Centro Universitário Moura Lacerda (CUML)
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NACIONAL).
social e urbana no Brasil. A educação passou a ser caracterizada por um
REFORMA da instrucção publica. A Cidade. Ribeirão Preto, 09 novo 1920
caráter público, laico e universal, de forma a estabelecer novos paradig-
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SOUZA, R. F. História da organização do trabalho escolar e do currículo IHI educação.
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253
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