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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LUCIANE GALVÃO CANDIDO

A criação da Rede Municipal de Educação de Santo André:


das primeiras escolas à implantação do Centro Educacional,
Assistencial e Recreativo - CEAR (1954 – 1982)

GUARULHOS – 2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LUCIANE GALVÃO CANDIDO

A criação da Rede Municipal de Educação de Santo André:


das primeiras escolas à implantação do Centro Educacional, Assistencial e
Recreativo – CEAR (1954 – 1982)

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de São Paulo - Escola de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (UNIFESP
/EFLCH) como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Educação
no Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPGE), linha de pesquisa de
História da Educação: Sujeitos, Objetos e
Práticas.

Orientadora: Prof.ª Drª Claudia Panizzolo

GUARULHOS – 2022
Na qualidade de titular dos direitos autorais, em consonância com a Lei de direitos autorais nº
9610/98, autorizo a publicação livre e gratuita desse trabalho no Repositório Institucional da
UNIFESP ou em outro meio eletrônico da instituição, sem qualquer ressarcimento dos direitos
autorais para leitura, impressão e/ou download em meio eletrônico para fins de divulgação
intelectual, desde que citada a fonte.

Candido, Luciane Galvão.

A criação da Rede Municipal de Educação de Santo André: das primeiras


escolas à implantação do Centro, Educacional, Assistencial e Recreativo - CEAR (1954
– 1982) / Luciane Galvão Candido. – Guarulhos, 2022.
179f.
Dissertação de Mestrado – Pós graduação em Educação. Universidade Federal
de São Paulo. Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Claudia Panizzolo


Título em inglês: The creation of the Santo André Municipal Education
Network: from the first schools to the implementation of Educational Assistance and
Recreation Center - CEAR (1954 – 1982). I. Panizzolo, Claudia. II. Título.

1. Santo André. 2. Educação Municipal. 3. Centro Educacional Assistencial e


Recreativo – CEAR. 4. História da Educação.
LUCIANE GALVÃO CANDIDO

A criação da Rede Municipal de Educação de Santo André:


das primeiras escolas à implantação do Centro Educacional, Assistencial e
Recreativo – CEAR (1954 – 1982)

Dissertação apresentada à Universidade


Federal de São Paulo - Escola de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (UNIFESP
/EFLCH) como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Educação
no Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPGE), linha de pesquisa de
História da Educação: Sujeitos, Objetos e
Práticas.

Orientadora: Prof.ª Drª Claudia Panizzolo

Aprovada em 6 de dezembro de 2022

__________________________________________
Orientadora: Profª Drª Claudia Panizzolo
Universidade Federal de São Paulo

__________________________________________
Titular: Profª Drª Patrícia Biotto
Universidade Nove de Julho

__________________________________________
Titular: Profª Drª Renata Marcílio Candido
Universidade Federal de São Paulo

__________________________________________
Suplente: Profª Drª Lucilene Rezende Alcanfor
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
Às professoras e crianças que construíram a história
das escolas e da educação municipal andreense.
AGRADECIMENTOS

À professora e orientadora Claudia Panizzolo, por tudo e tanto. A quem devo minha
eterna gratidão, porque durante a trajetória deste estudo, diante de todas as dificuldades da
pesquisa, e percalços da vida, sempre esteve ao meu lado, ensinando, direcionando,
fortalecendo e acreditando em mim, até mesmo quando eu mesma não mais acreditava.

Aos membros da banca de avaliação, professoras Patrícia Biotto e Renata Marcílio


Candido, que no exame de qualificação suas generosas recomendações possibilitaram outros
olhares para a pesquisa, viabilizando nova organização do texto. À professora Lucilene Rezende
Alcanfor, que na banca de defesa indicou novas possibilidades de pesquisas, a partir da
produção desse trabalho. Além disso, agradeço todas pelo incentivo, confiança e afeto no
discurso e nas palavras.

Aos colegas do GEPICH, Grupo de Estudos do qual participo, que contribuíram


generosamente, lendo os textos, discutindo ideias, sugerindo leituras e participando deste
processo acadêmico e trajetória desta pesquisa.

À minha família nuclear, na figura de meu esposo Claudinei, minha filha Emanuelle,
meu filho Enricco, que desde o início aceitaram e incentivaram meu desejo de prosseguir os
estudos, compreendendo a ausência da esposa e da mãe.

À minha extensão familiar, representada por minha irmã Roseni e meu irmão Sérgio,
que não puderam ingressar na universidade após a conclusão do Ensino Médio e trilharam
caminhos distantes da formação acadêmica. E aos meus pais Benedito e Dirce, que descansam
no repouso eterno e, na simplicidade de suas vidas não reconheciam o valor da formação escolar
nem no ensino superior, mas ampararam e propiciaram condições para meus estudos na escola
pública. Tenho a convicção de que, “a caçulinha da família”, promove o apreço pelas conquistas
alcançadas na carreira acadêmico-profissional.

À Leila, minha parceira na escola onde leciono. Que tanto me auxiliou durante os
planejamentos escolares, organização das aulas e atividades aos alunos, num período que todos
os professores precisaram se adaptar às novas tecnologias a fim de ministrar aulas on-line,
devido à pandemia de Covid-19, que fechou todas as escolas e exigiu o isolamento social
durante aproximadamente dois anos. Enfim, com toda ajuda e parceria, além da calma,
delicadeza e palavras de incentivo, permitiu que me dedicasse aos estudos acadêmicos e
prosseguisse na pesquisa.

À minha terapeuta Aline que, durante os momentos intempestivos da vida que cruzaram
com a trajetória acadêmica, me amparou, dialogando e despertando o ânimo. Desse modo,
permitindo-me reestabelecer a autoconfiança, o equilíbrio e o empenho aos estudos.

Às ex-professoras e ex-alunas, que aceitaram ser entrevistadas, contribuindo


imensamente com esta pesquisa.

Aos amigos que demonstraram paciência pra ouvir meus relatos empolgantes das
descobertas desta pesquisa, estimulando meus estudos e torcendo pelo sucesso da pesquisa.

E por fim, o mais importante, agradeço à Deus e à Nossa Senhora Aparecida, a quem
professo minha fé e devoção, consagrando a vida e meus estudos, acreditando nas bençãos
recebidas durante o percurso desta pesquisa.
RESUMO

As escolas destinadas a acolher crianças pequenas, na cidade de Santo André, foram


organizadas ao longo de três décadas. Quando, por consequência da industrialização, aconteceu
o desenvolvimento da cidade e a expansão da população. O objetivo desta pesquisa é
reconstituir a história das primeiras escolas administradas pelo poder público municipal, até a
composição da rede andreense de ensino para a infância, responsável por acolher as crianças de
4 a 6 anos, entre os anos de 1954 e 1982. A delimitação temporal justifica-se porque no dia
27/09/1954 foi publicada a lei de criação do Departamento de Educação da cidade de Santo
André; e, no ano de 1982, foi realizado o primeiro concurso público para o cargo de professor,
que constituiu o corpo docente para compor os Centros Educacionais Assistenciais e
Recreativos, denominados CEAR. Neste contexto, a pesquisa procura responder como foi
configurada a educação pública na cidade de Santo André para acolhimento das crianças, desde
as primeiras escolas até a implantação do CEAR. Toma-se como fontes documentos, jornais,
fotografias e entrevistas. Como procedimento de pesquisa foram utilizados a revisão da
literatura, a seleção e análise de documento e a realização de onze entrevistas semiestruturadas.
Neste estudo, a categoria de análise, tempo e espaço, foi utilizada sob a perspectiva de Viñao
Frago e Escolano (2001), que consideram o espaço como um lugar e o tempo como um símbolo
social resultante do processo de aprendizagem humana. A partir das contribuições de Certeau
(2014), a categoria de análise práticas cotidianas, permitiu compreender as lógicas que movem
os fazeres cotidianos, considerando o lugar de fala de cada entrevistado, o papel social e a
função dentro das escolas. Enfim, este estudo conclui que as transformações pelas quais a
cidade de Santo André atravessou, modificaram as características da população, das moradias,
do emprego e consequentemente da educação escolar. Consequentemente, a prefeitura
municipal ampliou o atendimento às crianças pequenas em escolas públicas, acompanhando as
exigências legais estabelecidas pelo Governo Federal e seguindo as determinações do Governo
do Estado de São Paulo.

Palavras-chave: Santo André; Educação Municipal; Centro Educacional Assistencial e


Recreativo – CEAR; História da Educação.
ABSTRACT

The schools destined to accommodate little children, in the city of Santo André, were
organized over three decades. When, as a result of this industrialization, the development of the
city and the expansion of the population happened. The objective of this research is to
reconstruct the history of the first schools administered by the municipal public power, until the
composition of childhood education of the city of Santo André responsible for accommodate
children from 4 to 6 years old, between 1954 and 1982. Temporal delimitation is justified
because on 09/27/1954 was published the law of creation of the Department of Education of
Santo André, and, in 1982, the first public contest for the position of teacher was held, which
constituted the faculty to compose the Assistance and Recreation Educational Centers, called
CEAR. In this context, the research seeks to answer how public education was configured in the
city of Santo André to accommodate children from the first schools to the implementation of
CEAR. The sources will compose with administrative documents,newspapers,photographs,
interviews. As research methodology were used literature review, selection and analysis of
documents and eleven semi-structured interviews. In this study, are analyzed category, time
and space, were used from the perspective of Viñao Frago and Escolano (1998), who consider
space as a place and time as a social symbol resulting from the human learning process. From
the contributions of Certeau (2014), the category of analysis practice of everyday allowed us to
understand the logics that move everyday actions, considering the speech place of each
interviewee, the social role and function within schools. Finally, this study concludes that the
transformations that the city of Santo André went through during the 20th century, especially
after the 1950s, changed the characteristics of the population, housing, employment and,
consequently, school education. Consequently, over the course of thirty years, the municipal
government has expanded services to young children in public schools, following the legal
requirements established by the Federal Government and following the determinations of the
Government of the State of São Paulo.

Keywords: Santo André; Municipal Education; Assistance Recreation Educational Center –


AREC; History of Education.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Placa com anúncio de venda de lotes ...................................................................... 38


Figura 2 – Fachada do I Grupo Escolar de São Bernardo ........................................................ 45
Figura 3 – Trecho da carta-denúncia redigida pelo sindicato dos operários, sem data ............ 46
Figura 4 – Imagem do interior da Fábrica Ypiranguinha, sem data ......................................... 47
Figura 5 – Imagem de alunos da Escola da Fábrica Ypiranguinha – 1904 .............................. 48
Figura 6 – Fotografia de alunos da escola na Rua Coronel Oliveira Lima – 1909 .................. 49
Figura 7 – Primeira instalação da Escola Industrial Júlio de Mesquita .................................... 52
Figura 8 – Pavilhão das oficinas da Escola Industrial Júlio de Mesquita ................................. 52
Figura 9 – Escola Industrial Júlio de Mesquita na Rua Justino Paixão .................................... 53
Figura 10 – Faculdade de Ciências Econômicas ....................................................................... 54
Figura 11 – Anúncios de Instituições para Crianças de 3 a 6 anos – 1969 ............................... 68
Figura 12 – Anúncio de Instituição para Crianças de 3 a 6 anos – 1969 .................................. 69
Figura 13 – Anúncio de Instituição para Crianças de 3 a 6 anos – 1969 .................................. 69
Figura 14 – Vagas para o Curso de Recreação Infantil – 1969 ................................................ 77
Figura 15 – Seleção Brasileira Feminina de Basquete – 1971 ................................................. 80
Figura 16 – Foto destaque no site Mulheres à Cesta ................................................................ 82
Figura 17 – Primeiro Corpo Docente do Curso de Recreação Infantil de Santo André – 1970
.................................................................................................................................................. 82
Figura 18 – Desenho da possível planta baixa do CEAR de modelo padrão ............................ 88
Figura 19 – CEAR Parque Miami – 1982 ................................................................................. 90
Figura 20 – Sala de aula do CEAR Parque Miami – 1982 ....................................................... 90
Figura 21 – Anúncio de venda de brinquedos – 1974 .............................................................. 93
Figura 22 – Publicação no Jornal das Sociedades Amigos de Bairros – SABs de Santo André
.................................................................................................................................................. 96
Figura 23 – Capa do Livro de Atas do CEAR Homero Thon .................................................. 99
Figura 24 – Termo de Abertura do Livro de Atas da ACEAR Homero Thon – 1979 ............. 100
Figura 25 – Primeira turma de alunos do Curso de Recreação Infantil da Vila Pires – 1969
................................................................................................................................................ 111
Figura 26 – Turma do Curso de Recreação Infantil Vila Pires – 1969 .................................. 114
Figura 27 – Turma do Curso de Recreação Infantil Vila Pires – 1971 .................................. 115
Figura 28 – Turma do CEAR Homero Thon – 1979 ................................................................ 115
Figura 29 – Turma do CEAR Homero Thon – 1980 ................................................................ 116
Figura 30 – Turma do CEAR Curuçá – 1982 .......................................................................... 116
Figura 31 – Bolsa em que os alunos levavam objetos pessoais à escola – 1979 ..................... 119
Figura 32 – Capa do livro de atividades – 1974 ...................................................................... 121
Figura 33 – Página do Livro de Atividades – Sessão Jogos – 1974 ........................................ 123
Figura 34 – Página do Livro de Atividades – Sessão Jogos – 1974 ........................................ 124
Figura 35 – Página do Livro de Atividades – Sessão Danças – 1974 ..................................... 125
Figura 36 – Página do Livro de Atividades – Sessão Danças – 1974 ..................................... 126
Figura 37 – Página do Livro de Atividades – Sessão Artes – 1974 ........................................ 127
Figura 38 – Página do Livro de Atividades – Sessão Dramatização – 1974 ........................... 128
Figura 39 – Página do Livro de Atividades – Sessão Aula Historiada – 1974 ....................... 129
Figura 40 – Alunos do Curso de Recreação Infantil, Festival de Natação – 1976 ............... 133
Figura 41 – Festival de Atletismo – 1970 ............................................................................. 134
Figura 42 – Premiação do Festival de Atletismo – 1970 ...................................................... 135
Figura 43 – Desfile de alunos pelas ruas do centro de Santo André – 1970 ........................... 139
Figura 44 – Festa de Encerramento do Curso de Recreação Infantil da Vila Pires ................. 140
Figura 45 – Festa de Encerramento dos CEAR – 1978 ........................................................... 142
Figura 46 – Festa de Encerramento dos CEAR – 1978 ........................................................... 143
Figura 47 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon – 1980 .............................................. 145
Figura 48 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon – 1980 .............................................. 146
Figura 49 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon – 1981 .............................................. 147
Figura 50 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon – 1982 .............................................. 147
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Legislação para criação de escolas e vagas para professores em Santo André ..... 56
Quadro 2 – Legislação para desapropriação e construção dos CEAR ...................................... 83
Quadro 3 – Unidades do CEAR inauguradas entre as décadas de 1970 e 1980 ....................... 86
Quadro 4 – Ex-alunas entrevistadas ....................................................................................... 104
Quadro 5 – Ex-professoras entrevistadas ............................................................................... 105
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População dos Municípios no Estado de São Paulo com acima de 50.000 habitantes
– Censo demográfico de 1º/07/1950 ......................................................................................... 39
Tabela 2 – Dados preliminares do Censo Industrial ................................................................. 40
Tabela 3 – Relação das cidades brasileiras com população superior a 90.000 habitantes ....... 41
Tabela 4 – Estado natal da maioria dos migrantes paulistas, em 1940 .................................... 43
Tabela 5 – Frequência de estudantes nas escolas do Estado de São Paulo ............................... 51
Tabela 6 – Número de alunos e unidades escolares no Ensino Pré-Primário, Primário e Não-
Primário (1945-1949) .............................................................................................................. 57
Tabela 7 – Unidades Escolares, segundo as categorias do ensino - São Paulo – 1949 ............ 60
Tabela 8 – Leis e Decretos para desapropriação de terrenos para construção e/ou ampliação de
Grupos Escolares, entre as décadas de 1950 e 1960 ................................................................. 61
Tabela 9 – Diferenças nos critérios para pagamento de gratificação entre as professoras das
escolas Primárias e escolas Pré-Primárias e Jardim da Infância ............................................... 75
Tabela 10 – Valores das Taxas de contribuição arrecadadas pela ACEAR Homero Thon ....... 94
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACEAR Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa


CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEAR Centro Educacional, Assistencial e Recreativo
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
DEF – SP Departamento de Educação Física de São Paulo
EMEI Escola Municipal de Educação Infantil
EMEIEF Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental
EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano
GEPICH Grupo de Estudos e Pesquisa: Infância, Cultura e História
IAPI Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
QI Quociente Intelectual
SAB Sociedade Amigos de Bairros
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido
UNIFESP Universidade Federal de São Paulo
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 16

CAPÍTULO I – A industrialização e escolarização andreense ........................................... 37


1.1 Primórdios das escolas na cidade de Santo André ........................................................ 43

CAPÍTULO II – De Curso de Recreação Infantil a Centro Recreativo Assistencial


Educacional: os Jardins de Infância da cidade de Santo André ........................................ 67
2.1 Escolas privadas e instituições subvencionadas para a acolhimento de crianças pequenas
...................................................................................................................................................67
2.2 Jardins de Infância e classes Pré-Primária: salas instaladas dentro dos Grupos Escolares
.................................................................................................................................................. 72
2.3 Curso de Recreação Infantil: o primeiro jardim de infância municipal ...................... 76
2.4 CEAR – Centros Educacionais, Assistenciais e Recreativos ....................................... 83
2.5 Pré-escola municipal: atendimento gratuito ou pago? .................................................. 91
2.6 A Associação de pais e mestres do CEAR ................................................................... 97

CAPÍTULO III – O cotidiano nas/das escolas municipais ................................................ 103


3.1 Os usuários dos Curso de Recreação Infantil e dos CEAR: crianças e adultos ........... 104
3.1.1 Seleção pública ou indicação: a contratação de professoras do CEAR .............. 109
3.2 Número de crianças atendidas em cada turma .............................................................. 111
3.3 Material e uniforme escolar ......................................................................................... 116
3.4 As atividades desenvolvidas com as crianças do CEAR ............................................. 120
3.5 As Festas Escolares nas Escolas Municipais de Santo André ..................................... 137
3.6 Associação de Pais e Mestres do CEAR e as Festas Escolares ..................................... 144

CONCLUSÕES .................................................................................................................... 149

FONTES ............................................................................................................................... 152

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 155

APÊNDICES ........................................................................................................................ 162

ANEXOS ............................................................................................................................... 168


16

INTRODUÇÃO

Fevereiro de 1982 iniciava o ano letivo para mais um grupo de alunos e alunas do Centro
Educacional, Assistencial e Recreativo – CEAR da Vila Pires, na cidade de Santo André. Para
a maioria das crianças era a primeira vez que se ausentariam ou permaneceriam longe do
convívio familiar. Destacava-se o olhar admirado com que observavam os espaços escolares: o
tamanho das salas de aula, as cores dos móveis e paredes, o pátio que ficava pequeno quando
todos os alunos se reuniam para ouvir histórias, e o parque com brinquedos coloridos e repleto
de árvores. As professoras também eram observadas com encantamento, apreciavam a maneira
como elas conversavam com as crianças, como se vestiam, como guardavam os materiais nos
armários construídos em alvenaria. No decorrer dos meses as crianças participariam das grandes
festas realizadas no CEAR e que ficariam registradas na memória, principalmente a festa junina
e a festa de encerramento do ano letivo. Dentre essas crianças estava a autora desta pesquisa
que três décadas depois formou-se professora e passou a lecionar na mesma rede ensino, e que
neste estudo pretende reconstituir a história da educação pública municipal, responsável por
acolher crianças pequenas na cidade de Santo André; considerando que, ao estudar memórias,
é importante refletir e ressignificar as lembranças e as memórias pessoais, no intuito de refinar
o fazer investigativo.
Esta pesquisa nasceu de indagações que se consolidaram a partir dos estudos no Grupo
de Estudos e Pesquisa: Infância, Cultura e História – GEPICH1, que, sob a coordenação da Profª
Drª Claudia Panizzolo, desenvolve pesquisas sobre a constituição da infância, em suas
dimensões históricas e socioculturais, e tem como objetivo estudar as práticas e os dispositivos
atuais e históricos de conformação da criança, entre os quais se incluem a escola, seus espaços,
tempos e agentes, bem como as concepções e as políticas públicas para a infância. Esta pesquisa
corrobora com os objetivos do GEPICH, ampliando as pesquisas sobre as escolas de educação
infantil paulistana e se insere na Linha 1 - Instituições voltadas às crianças e a modelação2.
Além disso, este estudo está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Escola

1
O grupo está organizado em torno de quatro linhas de pesquisa: Linha 1 – Instituições voltadas às crianças e a
modelação da infância; Linha 2 – A arte de civilizar as crianças, o estudo de impressos para a leitura na/sobre a
escola da infância; Linha 3 – Escolas étnicas em São Paulo e a escolarização da infância; Linha 4 – as múltiplas
linguagens das crianças e a escola da infância: o estudo dos currículos, propostas e práticas pedagógicas.
Disponível em: https://sites.google.com/view/gepich.
2
Dentre as pesquisas desenvolvidas pelos membros dos GEPICH, se aproximam desta dissertação: Oliveira
(2019), que analisou a história da creche da Universidade Federal de São Paulo; Camaru (2019), que investigou o
atendimento e a proposta curricular da rede de creches diretas da cidade de São Paulo; e Santiago (2021), que
estudou a história das escolas de primeiras letras na cidade de São Bernardo do Campo.
17

de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP,


campus Guarulhos, na linha de pesquisa História da Educação: Sujeitos, Objetos e Práticas.
Este estudo perfaz a necessidade de registrar a história das escolas municipais da cidade
de Santo André destinadas a acolher as crianças pequenas, assunto ainda não estudado
profundamente e inédito para a Secretaria de Educação do Município de Santo André e para a
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A lacuna neste campo da História da Educação
Paulista foi constatada ao tomar conhecimento das pesquisas acadêmicas que investigaram
diversos aspectos da educação de Santo André. Tais estudos, realizados durante as primeiras
décadas do século XXI e apresentados na introdução deste texto, mostram pouca ou nenhuma
informação sobre a historiografia da educação e das escolas municipais andreenses. Deste
modo, este estudo contribuirá com a ampliação do conhecimento para as pesquisas atuais e
futuras sobre a temática da História da Educação.
No intuito de situar o leitor acerca da constituição e crescimento da cidade de Santo
André, feitas as considerações iniciais, na sequência será apresentada a dimensão histórica,
política e sociocultural da cidade, no período estudado, de 1954 a 1982.

Considerações iniciais sobre a cidade de Santo André

Santo André é uma das cidades pertencentes à Região Metropolitana de São Paulo 3,
localizada a sudeste da capital. Integra a região do Grande ABC Paulista, composta por sete
municípios que são interligados por ruas e vias, a ponto de ser difícil definir as fronteiras
terrestres entre eles. Esses municípios são: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano
do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que compõem a região do
Grande ABC.
Santo André da Borda do Campo4, – que corresponde atualmente a toda a extensão do
ABC Paulista, tem como data de fundação o ano de 1553, mas, àquela época, a região era apenas
um local onde passavam as tropas com animais de cargas em direção à São Paulo.

3
Região Metropolitana de São Paulo, também conhecida como Grande São Paulo, é a denominação estabelecida
ao conjunto de 39 cidades localizadas ao redor da capital São Paulo. Atualmente vivem neste território quase 50%
da população do Estado. (Dados extraídos do site da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano –
EMPLASA https://www.emplasa.sp.gov.br/)
4
Essa região foi povoada antes da fundação predicada como vila, por Martim Afonso de Sousa. Ele foi um nobre
português a quem o rei Dom João III atribuiu diversas tarefas. Dentre elas estava a de dar início à colonização das
terras do Brasil, que vinham sendo cada vez mais assediadas pelos franceses. Isso ocorreu por volta de 1530. Ele
foi donatário da capitania de São Vicente, que abarcava territórios que iam desde o Paraná até o Rio de Janeiro.
(Dados extraídos do site da Escola Britânica. https://escola.britannica.com.br/). Esse território foi ocupado,
primeiramente, pelos indígenas, em seguida pelos portugueses, que iniciaram a desbravação pelas terras do
planalto paulista. Quando Martim Afonso chegou à região, encontrou João Ramalho, um português que havia
18

Os documentos e livros5 que guardam a história referente aos trezentos primeiros anos
da região são raros e de difícil localização. Apesar disso, nos últimos anos, além dos
memorialistas, pesquisadores vêm ampliando estudos em que as cidades da região são temáticas
privilegiadas. Segundo Martins (1991), a história da região do Grande ABC não é fácil de contar
nem de escrever, devido à falta de documentação. No trecho seguinte o autor explica:

Parece fácil, portanto, reconstituir essa história, como se tratasse apenas de revelá-la,
desocultá-la. Entretanto, as coisas não são assim. A região do ABC só veio a constituir
uma unidade administrativa claramente delimitada, em 1889, com a criação da Vila
de S. Bernardo poucos meses antes da proclamação da República. Somente então
começou a ser produzida uma documentação específica e sistemática sobre o novo
município. Antes disso, porém, a coisa é muito complicada. Os documentos sobre a
região são avulsos e dispersos (MARTINS, 1991, p. 9).

O povoamento da região aconteceu a partir da estrada de ferro São Paulo Railway 6,


especificamente na região que hoje abriga a estação ferroviária de Santo André. A partir desde
local a cidade foi se constituindo, crescendo e urbanizando. Segundo Odalia (2010), graças aos
trilhos que transportavam o café do interior de São Paulo para o porto de Santos, o povoamento
e desenvolvimento da região foi estimulado devido à inauguração de diversas estações da
ferrovia, inclusive em Santo André. Médici (1990) explica que as imediações da estação
conseguiram “abrigar os principais acontecimentos sociais, culturais, esportivos, industriais e
comerciais do Município. [...] O comércio passou a ser o principal da região desde os anos 30”
(MÉDICI, 1990, p. 47).
No fim do século XIX e ao longo das duas primeiras décadas do século XX, a região
recebeu grande fluxo de imigrantes e, a partir de então, passou a se desenvolver
economicamente, e a população passou a aumentar. Odalia (2010) menciona que a proximidade

estabelecido e organizado um povoamento junto às aldeias indígenas do local. A data de tal acontecimento,
conforme fragmentos históricos, foi 8 de abril de 1553 (GAIARSA, 1968, 1991). No ano seguinte, se deu a
fundação da Vila de São Paulo de Piratininga, localizada a cerca de 30 quilômetros de Santo André, com a presença
dos padres jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. Em seguida, no intuito de proteger a população recém-
estabelecida dos perigos dos indígenas que habitavam Santo André, por ordem do governador geral do Brasil,
Mem de Sá, todos os habitantes foram acolhidos em São Paulo, junto ao pátio do colégio (GAIARSA, 1968, 1991;
SILVA, 2008).
5
A obra do memorialista Octaviano Gaiarsa, A cidade que dormiu três séculos, Santo André da Borda do campo,
seus primórdios e sua evolução histórica (1553 – 1960), conta a história desta região, desde o descobrimento,
passando pelas transformações, até o ano que marca o IV centenário da fundação e as ações que marcaram o
progresso da cidade.
6
A construção da estrada de ferro São Paulo Railway e a instalação das usinas de eletricidade Light & Power
aconteceram, respectivamente, em 1860 e 1907. A estrada de ferro, partindo do porto de Santos, subindo a Serra
do Mar, parava na vila de Paranapiacaba (distrito andreense e primeiro patamar do planalto); continuando a linha
férrea, havia uma estação construída no centro da cidade de Santo André, depois seguia em direção a São Paulo e
cidades do interior. A ferrovia foi a importante via de escoamento do café produzido nas cidades do interior de
São Paulo em direção ao porto de Santos, bem como de toda a produção agrícola, comercial e industrial da época
(GAIARSA, 1968, 1991; ODALIA, 2010; SILVA, 2008).
19

com a ferrovia e com a capital do estado de São Paulo atraiu as diversas indústrias que se
instalaram em Santo André e foram os principais motores da economia local.
Médici (1990) relata que, no início do século XX, a população era formada por operários
e funcionários que trabalhavam nas indústrias instaladas ao redor da estação ferroviária, como
se lê abaixo:

A estação ferroviária mais do que o núcleo ao seu redor, atraiu as primeiras indústrias
de Santo André e determinaram [sic] a vocação industrial da cidade. Três fábricas se
destacaram: a Silva Seabra e Cia (apelidada de Ipiranguinha), a Kowarick e a
Companhia Streiff, todas em pleno funcionamento já na última década do século XIX.
Ipiranguinha e Kowarick dedicavam-se ao ramo têxtil. Sobreviveram até o início dos
anos 70 do século XX. A Streiff, fábrica de cadeiras explorava a madeira abundante
da região. Manteve serraria em Rio Grande (antiga estação hoje município de Rio
Grande da Serra). A Streiff teve dois endereços no centro de Santo André: primeiro
na Rua Coronel Oliveira Lima, depois na Av. Queiroz dos Santos, onde ainda estão
seus pavilhões, hoje ocupados pela cooperativa de abastecimento da Rhodia.
As primeiras indústrias atraíram levas de migrantes, com destaque para os moradores
da Vila de São Bernardo, na sua imensa maioria italianos e seus descendentes. O
mercado de trabalho era atrativo justamente em função da carência de mão de obra
(MÉDICI, 1990, p. 49).

Em 1910, decorrente do desenvolvimento e destaque econômico, a região andreense,


nomeada como vila7, torna-se distrito8 do município de São Bernardo. Com o crescimento da
região e da população, em 1938, Santo André é elevada a município e São Bernardo a distrito
de paz9 (ODALIA, 2010, p. 257). Nesta época, a região atraiu muitos investimentos
imobiliários, loteamentos e edificações, princípio da urbanização mesclando-se com paisagens
bucólicas, chácaras de produção agrícola (SANTO ANDRÉ, 1991, p. 84). A cidade crescia, se
urbanizava, mas mantinha as características rurais.
Durante as décadas de 1930 e 1940, devido à crescente industrialização, a cidade passou
a atrair muitos migrantes do interior do Estado de São Paulo. E em 1947, 66% da mão-de-obra
operária em Santo André era de pessoas provenientes desta região (MÉDICI, 1991).
Com o progresso industrial, aumentou a necessidade de mão-de-obra especializada, mas
os trabalhadores que migraram para a região durante as décadas de 1930 e 1940 possuíam baixo

7
Segundo o Vocabulario Portuguez & Latino, de Raphael Bluteau, vila é uma povoação de menor graduação que
a cidade e superior à aldeia, tem juiz, câmara e pelourinho.
https://digital.bbm.usp.br/view/?45000008423&bbm/5413#page/106/mode/2up
8
Para Bluteau, distrito é a extensão de terreno dentro de certos limites, sujeitos a certos magistrados, prelados,
juízes.https://digital.bbm.usp.br/view/?45000008422&bbm/5412#page/466/mode/2up
9
Segundo o decreto-lei nº 311, de 2 de março de 1938, os municípios compreenderão um ou mais distritos,
formando área contínua; a sede do município tem categoria de cidade e lhe dá o nome; o distrito se designará pelo
nome da respectiva sede e terá categoria de vila enquanto não for erigida em cidade; nenhum município se instalará
sem que o quadro urbano da sede abranja no mínimo duzentas moradias; e cada distrito, para ser instalado, deverá
ser composto por no mínimo trinta moradias. https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-
311-2-marco-1938-351501-publicacaooriginal-1-pe.html
20

grau de escolaridade; por isso houve a necessidade de instruir os trabalhadores. Por


consequência, em 1935, foi criado o primeiro estabelecimento escolar a oferecer cursos aos
trabalhadores da região, a Escola Profissional Dr. Júlio de Mesquita, destinada ao público
masculino e feminino (SANTO ANDRÉ, 1991, p. 61). O governo estadual foi o responsável
pela criação da escola, e a construção do prédio ficou sob a responsabilidade do município
(GAIARSA, 1991, p. 180).
Simultaneamente às emancipações que transformaram os distritos em municípios
(conforme já mencionado), outra escola profissionalizante foi inaugurada em 1948, para atender
à demanda de mão-de-obra especializada pleiteada pelas indústrias da região. Era o SENAI -
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial10, uma escola administrada pela indústria, mas
com o prédio construído pela Prefeitura de Santo André (GAIARSA, 1991, p. 182).
Nos dois livros escritos por Gaiarsa (1968 e 1991), o autor relata brevemente a
existência de algumas escolas na região, mas em nenhum deles constam informações precisas
sobre instituições para atender às crianças pequenas. O autor também apresenta dados sobre
alfabetização e profissionalização, sem especificar o responsável administrativo pelas
respectivas escolas, se o poder público ou instituição privada, conforme descrição abaixo:

Em 1950, os índices de alfabetização firmam-se em 71,6%, graças ao equipamento


escolar assim discriminado: 5 ginásios, com 1846 alunos; 2 colégios, com 262 alunos;
2 escolas normais, com 222 alunos; 2 escolas profissionais, com 1036 alunos e 22
escolas particulares com várias centenas de alunos (GAIARSA, 1991, p. 182).

O desenvolvimento industrial, o aumento populacional e a emancipação dos municípios


fizeram dos anos 1950 um período de destaque para a cidade. Concomitantemente, no ano de
1953 aconteceu a comemoração do IV Centenário da fundação de Santo André. Um evento com
festejos que marcaram a valorização da cidade; dezenas de símbolos foram idealizados,
construídos e instalados para resgatar a história e criar a memória da cidade 11.

10
Em 1973, outro prédio mais amplo foi construído, noutro local da cidade, para atender à demanda de alunos. O
primeiro prédio foi desapropriado, vendido e demolido (GAIARSA, 1991).
11
Símbolos do 4º Centenário: erigir um monumento ao herói fundador da cidade, João Ramalho, dentre outros
vultos da história; organizar e realizar uma exposição com a indústria, comércio e lavoura; organizar o museu
histórico; realizar obra que contribua para a solenidade e brilhantismo das comemorações. Cartazes foram
distribuídos pela cidade e os jornais locais deram ampla cobertura ao aniversário. Medalha comemorativa contendo
o brasão e a efígie do fundador da cidade foi produzida e distribuída entre as autoridades locais e munícipes. O
projeto do museu não se efetivou em tempo, vindo a acontecer somente em 1990. O monumento a João Ramalho
foi inaugurado no dia do evento, num local que recebeu o nome de Praça IV Centenário. A Exposição Industrial e
Comercial e a Exposição Internacional de Arte Fotográfica são inauguradas com a presença do governador do
Estado, em 10 de maio do mesmo ano. Mas a maior obra foi a construção de um Centro Cívico, na praça IV
Centenário, onde aconteceu a Exposição Industrial (GAIARSA, 1968, 1991).
21

No decorrer dos anos, entre as décadas de 1950 e 1960, ações da prefeitura do município
incentivaram a elaboração dos símbolos municipais: brasão, bandeira, hino; e financiaram a
edificação de monumentos e estátuas dos fundadores da cidade; aprovaram a construção de
grandes prédios públicos, centros comerciais e empresariais (GAIARSA, 1968). Pode-se notar
que, dentre as inúmeras construções, não são citadas escolas nem prédios destinados para fins
educacionais, principalmente para crianças pequenas, embora o autor cite desfiles escolares na
celebração do aniversário da cidade, como se pode ler abaixo:

Mas em 1946, graças à influência da Sociedade Cultural de Santo André, foi


organizado um programa com desfiles escolares e preleções alusivas em todas as
escolas municipais. [...] Em 1951 e 1952, a data foi comemorada. Em 52, além dos
desfiles escolares a municipalidade realizou sessão solene no cine Tamoio, com
apresentação da orquestra sinfônica de S. Paulo e a presença de autoridades locais e
estaduais (GAIARSA, 1968, 1991).

Consideramos, desse modo, que a história da cidade de Santo André é marcada por duas
fases: a primeira corresponde ao final do século XIX até a expansão da industrialização no
início da década de 1950, e a segunda de 1950 em diante quando a região tornou-se um dos
centros da industrialização brasileira. A ferrovia contribuiu com a crescente industrialização de
toda a região, nas duas fases. Saindo de Santos, cortando a Serra do Mar, passando por Santo
André e seguindo para São Paulo, facilitava o transporte e o deslocamento, proporcionando
rapidez e velocidade (MARTINS, 2008, p. 16).
Ao analisar o crescimento de Santo André, fica evidente que as indústrias instaladas na
região atraíram uma população de baixo poder aquisitivo e pouca instrução. A oferta de
emprego assentou essas pessoas na região: eram trabalhadores agrícolas procedentes das
fazendas de café do interior paulista e do estado de Minas Gerais, além de diversas cidades da
região nordeste do Brasil. Em sua grande maioria, homens eram contratados, mas as indústrias
também “absorviam a força de trabalho das mulheres e das crianças, para as quais pagavam
salários inferiores aos dos homens” (MORAES, 2003, p. 40).
Com a ampliação do trabalho feminino, aumenta a necessidade de um lugar onde as
crianças pudessem permanecer durante o horário de expediente da mãe. Durante a primeira fase
do crescimento de Santo André, há registros de escolas para atender às crianças da região. No
entanto, não há informações precisas quanto aos responsáveis administrativos por estas
instituições, se Estado ou Município. Relatos das pesquisas de Gaiarsa (1991) registram que em
Santo André as primeiras escolas foram construídas pelas indústrias que prosperavam no
município:
22

Coube à Fabrica Ipiranguinha a instalação e financiamento da primeira escola


elementar da região ABC. O professor pertencia a um membro da família Flaquer.
Em 1904, a direção da fábrica mantinha a escola para os filhos dos operários. Talvez
seja a mais antiga escola da região, embora não oficial. Filhos dos imigrantes italianos,
residentes nas colônias de S. Bernardo, foram os primeiros alunos e operários daquela
indústria (GAIARSA, 1991, p. 178).

Granjo (2003) analisa a educação escolar deste período, a primeira fase da expansão de
Santo André, e explica que as indústrias criaram escolas e utilizavam da mão-de-obra dos
alunos em suas fábricas. Segundo a autora, “em todas as fábricas era comum o trabalho infantil”
(GRANJO, 2003, p. 46). Esclarece ainda que o I Grupo Escolar foi construído no ano de 1914
para atender a toda a região composta pelo município de Santo André e o distrito de São
Bernardo. O respectivo grupo escolar reuniu nove escolas isoladas do município de Santo
André, dentre as 26 existentes no extenso território. Observa-se, portanto, que há registro de
escolas primárias, para as crianças em fase de alfabetização. Mas, para as crianças pequenas,
não há menção.
Bevilacqua (1997) relata as dificuldades dos jovens andreenses em busca de formação
escolar e cita a existência apenas dos grupos escolares que ofereciam o curso primário,
conforme se lê:

Santo André era muito pobre em escolas. A oportunidade de frequentar escolas,


concluído o antigo curso primário – da primeira a [sic] quarta série do atual primeiro
grau –, era quase privilégio dos filhos de famílias abastadas. Santo André
simplesmente não tinha cursos ginasiais, da quinta a oitava séries do primeiro grau de
hoje. Eram apenas os grupos escolares (BEVILACQUA, 1997, p. 177).

Com a crescente industrialização e expansão populacional, depois da emancipação dos


sete municípios, a quantidade de escolas também aumentou. Granjo (2003) apresentou os
seguintes dados:

Ao fim da década de 1940, Santo André contava com 16 grupos escolares que
acolhiam um total de 8268 alunos, 18 escolas isoladas com 684 alunos, 34 escolas
municipais e ainda 20 escolas particulares, o total chegava a 12.395. Havia ainda
escolas noturnas para os maiores de 14 anos (GRANJO, 2003, p. 56, grifo meu).

Nos dados apresentados, não há esclarecimento quanto às 34 escolas municipais


destacadas na citação acima. Não há evidência da idade das crianças acolhidas nessas escolas
municipais, nem do nível de ensino, se era escola de educação primária, escola para a infância,
ou escola profissionalizante.
23

Uma década depois, em 1950, Granjo (2003) explica que existiam na cidade 122 escolas
primárias, cinco ginásios, dois cursos colegiais, duas escolas normais e três escolas
profissionais. E, mais uma vez, permanece não havendo indicação de instituições para acolher
as crianças pequenas.
No estudo de Granjo (2003), observa-se crescimento considerável dos grupos escolares
na cidade de Santo André, decerto porque as escolas isoladas paulistas, que eram muitas vezes
salas de aulas adaptadas na residência do professor, espaços cedidos pela igreja católica ou pelo
próprio poder público, no decorrer dos anos, foram se acomodando dentro dos grupos escolares
e deixando de existir individualmente. Os grupos escolares do Estado de São Paulo, construídos
a partir do final do século XIX e início do século XX, marcavam a modernidade, demonstravam
o crescimento das cidades e do país. Representavam as inovações no ensino e eram escolas
idealizadas para alfabetizar crianças e adultos; as crianças frequentavam-nos durante o dia e os
adultos em cursos noturnos. A respeito da criação dos grupos escolares paulistas, nos
reportamos a Souza (1998), que nomeia essas escolas como Templos de Civilização e explica
que a criação delas foi consequência da reforma no ensino escolar, em busca de “vantagens
pedagógicas e econômicas”, e explica que:

O agrupamento de centenas de crianças num mesmo edifício-escola apresentava-se


como medida de racionalização de custos e de controle. Por isso, tais escolas eram
apropriadas para os centros populosos, as cidades onde a escolarização em massa
poderia ser estabelecida com maior facilidade (SOUZA, 1998, p. 46).
A institucionalização dessa modalidade de escola primária representou uma das faces
do projeto republicano de modernização da sociedade e de civilização das massas,
portanto, uma expressão do processo de desenvolvimento do capitalismo no Estado
de São Paulo e dos processos de urbanização e industrialização dele decorrentes
(SOUZA, 1998, p.279).

Mesmo supostamente havendo escolas municipais desde o início do século XX,


conforme os dados mencionados anteriormente, o Departamento de Educação e Cultura da
Prefeitura de Santo André foi criado somente em 1954, “diante de um cenário nacional de
grande efervescência dos movimentos sociais urbanos (teatrais, estudantis, operários) que
proliferaram nas décadas de 50, 60 e 70” (RAMPAZO, 2018, p. 65). Temos como hipótese que
as escolas mencionadas por Granjo (2003) referem-se àquelas administradas pelo governo
estadual e instituições privadas, não existindo estudo nem registro referente às primeiras escolas
administradas pelo município de Santo André.
Segundo Schifino (2012), que pesquisou a história das creches na cidade de Santo
André, a primeira unidade foi inaugurada no ano de 1987. A autora explica que a luta das mães
operárias, reivindicando creches públicas aos filhos, iniciou com o crescimento industrial
24

andreense; as primeiras reivindicações começaram nos anos de 1970. E relata que, depois da
primeira creche, mais duas unidades foram inauguradas em 1988, sendo essas três creches
vinculadas ao Serviço Social da cidade, não ao Departamento de Educação.
Em contraposição ao estudo de Schifino (2012), na legislação municipal de Santo
André, consta o Decreto nº 1.411, de 10 de janeiro de 1959, que decide sobre a gratificação
destinada a professoras dos cursos de jardim de infância e das classes pré-primárias, conforme
apontamento a seguir, evidenciando a suposta existência de turmas destinadas às crianças
pequenas, sob a responsabilidade do município, antes das inaugurações da década de 1980,
citadas pela autora como sendo as primeiras escolas dedicadas à educação da infância na cidade:

O Prefeito Municipal de Santo André, usando das atribuições que lhe conferem o
artigo 58, nº I, da Lei Estadual nº 1, de 18 de setembro de 1947, DECRETA:
Art. 1º - O artigo 3º do Decreto nº 1.253, de 26 de novembro de 1957, passa a ter a
seguinte redação: “Art. 3º - As [sic] professoras dos cursos do Jardim da Infância e
das classes pré-primárias será atribuída uma gratificação, quando nas exposições
finais do ano letivo, figurem com trabalhos próprios e selecionados, executados nas
respectivas classes e nas seguintes proporções: Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros) para
classe de 15 a 20 crianças com 30 trabalhos; Cr$ 1.250,00 (um mil, duzentos e
cinqüenta cruzeiros) para classe de 20 a 25 crianças com 40 trabalhos; Cr$ 1.500,00
(um mil e quinhentos cruzeiros) para classe de 25 a 30 crianças com 50 trabalhos; Cr$
1.750,00 (um mil, setecentos e cinqüenta cruzeiros) para classe de 30 crianças com 60
trabalhos; Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros) para classe de 30 crianças com 80
trabalhos.” Parágrafo único – A seleção deverá ser feita por uma comissão designada
pelo Diretor do Departamento de Educação e Cultura, composta por três membros.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ANDRÉ, em 10 de janeiro de 1959.
PEDRO DELL’ANTONIA PREFEITO MUNICIPAL
Publicado na mesma data e afixado no lugar de costume.
ADELAIDE RIZZO ANGRINI DIRETOR DA SECRETARIA GERAL (SANTO
ANDRÉ, 1959).

Além disso, Martins (1990) recorda que, durante a década de 1950, na cidade de Santo
André, a Igreja Católica era a mantenedora de entidades para cuidar de crianças pequenas,
conforme o seguinte relato:

A Diocese foi criada em 13 de agosto de 1954. O primeiro bispo foi Dom Jorge
Marcos de Oliveira (...). Tomou posse em 12 de setembro de 1954 e trabalhou até 29
de dezembro de 1975 (...) deu ênfase na Pastoral como uma forma de relacionamento
com a classe operária. Também enfatizou a assistência à criança e à jovem mãe, com
a criação do Lar Menino Jesus (MARTINS, 1990, p. 114).

No livro de memórias escrito por Lima (2010), o autor menciona que as crianças
pequenas eram acolhidas em creches: “Na minha infância, a mais famosa benzedeira de Santo
André era a Dona Palmira Catalani (...). Morava bem perto de casa, na rua Padre Capra, quase
vizinha da creche, a primeira escolinha que frequentei” (LIMA, 2010, p. 13). No entanto,
25

nenhum dos dois autores esclarece quem contratava e custeava os profissionais que trabalhavam
nas referidas creches, se eram funcionários da prefeitura municipal de Santo André (conforme
lei citada acima) ou da igreja católica, que crescia na região.
As informações contraditórias, mencionadas anteriormente, apontam uma lacuna na
história da educação de Santo André e na organização das escolas municipais andreenses,
ratificando a importância e ineditismo desta pesquisa.
A legislação brasileira promulgada entre as décadas de 1960 e 1970 também apresenta
contradições no que se refere ao atendimento às crianças em idade pré escolar. Na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961),
inclui o atendimento às crianças menores de sete anos, conforme descrição:

Capítulo I
Da Educação Pré-Primária
Art. 23. A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos, e será
ministrada em escolas maternais ou jardins-de-infância.
Art. 24. As emprêsas [sic] que tenham a seu serviço mães de menores de sete
anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em
cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária
(BRASIL, 1961).

Uma década depois, foi promulgada uma nova versão da LDB (Lei nº 5.692, de 11 de
agosto de 1971), com a seguinte determinação:

Capítulo II
Do Ensino de 1º Grau
§2º Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a sete
anos recebam conveniente educação em escolas maternais, jardins de infância
e instituições equivalentes (BRASIL, 1971).

No texto das duas LDB falta esclarecimento quanto ao atendimento às crianças entre 4
e 6 anos, não especificando qual ente da federação é responsável por manter o sistema de ensino
pré-escolar, deixando de garantir educação adequada às crianças pequenas.
A prefeitura de Santo André, no fim da década de 1970, inicia um projeto que visava o
atendimento pré-escolar, desapropriando de dezenas de terrenos para a construção dos Centros
Educacionais, Assistenciais e Recreativos (CEAR) voltados a atender crianças de 4 a 6 anos12.

12
Decretos do ano de 1978: nº 9246 - Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à
construção de CEAR, nº 9319 - Dispõe que o imóvel declarado de utilidade pública, destinado à construção de
centro de integração comunitária, passa a destinar-se a construção do CEAR de Vila Sá, nº 9345 - Declara de
utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de CEAR de Vila Guarará. Decretos do
ano de 1979: nº 9692 - Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de
CEAR, nº 9693 - Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de CEAR,
26

A partir de então, inicia-se a construção de prédios públicos municipais para acolher as


crianças pequenas da cidade. E, a começar pelo CEAR, se estabelece a composição da rede
municipal de educação da cidade de Santo André. Em 1977 o município tinha 32 salas de aula,
mas, passados seis anos, o número de salas aumentou consideravelmente, e em 1983 a cidade
contava com 30 unidades do CEAR (GAIARSA, 1991).
Contudo, somente no ano de 1982 a administração municipal da cidade de Santo André
realizou o primeiro concurso público13 para contratação de novos professores. Os CEAR, no
decorrer dos anos, passaram a ser denominados Escolas Municipais de Educação Infantil
(EMEI)14 e, posteriormente, Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental
(EMEIEF)15.
Neste contexto histórico, repleto de indefinições e frente aos poucos estudos sobre a
questão, esta pesquisa propõe-se a investigar e compreender a história das escolas públicas
municipais destinadas a acolher as crianças pequenas na cidade de Santo André, desde as
primeiras escolas municipais para a infância até a implantação do CEAR.
Embora não tenha encontrado trabalhos que tratem sobre a história da educação
municipal andreense, há pesquisas sobre a educação em Santo André no contexto do início do
século XXI. As produções acadêmicas localizadas foram organizadas em quatro eixos. No
primeiro, as pesquisas abordaram diferentes estudos a respeito das políticas públicas
educacionais destinadas às escolas da cidade de Santo André.
Ancassuerd (2009), em sua tese de doutorado: Políticas públicas de educação de jovens
e adultos no ABC paulista: conquista de direitos e ampliação da esfera pública, analisa os
programas, projetos e ações concebidos e implementados pelos governos locais dos municípios
que compõem o ABC Paulista, em parcerias com a sociedade civil, no período 1987-2003.
Bronzarte (2008), em sua dissertação de mestrado: Políticas públicas de educação de jovens e
adultos: o programa integrado de qualificação desenvolvido pelo município de Santo André,
analisa um programa de qualificação profissional desenvolvido no município de Santo André,
desde sua implantação, em 2003, até o ano de 2006. Schifino (2012), em sua dissertação de
mestrado: Direito à creche: um estudo das lutas das mulheres operárias no município de Santo

nº 9694 - Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de CEAR, nº 9695
- Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de CEAR, nº 9696 - declara
de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de CEAR. Decretos do ano de 1980,
nº 10071 - Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, área destinada à construção de CEAR. Decreto
do ano de 1982, nº 10440 - Dispõe sobre a atribuição da dirigente de pré-escola, administrador e presidente do
CEAR.
13
Decreto nº 10.428, de 04 de janeiro de 1982.
14
Decreto nº 11.583, de 28 de abril de 1987.
15
Decreto nº 14.146, de 27 de abril de 1998.
27

André, investiga, por meio de análise documental e entrevistas, a luta pelo direito das mulheres
operárias e suas crianças à creche pública de Santo André, cuja trajetória ganha destaque com
a efervescência dos movimentos sociais e sindicais, nas décadas de 1970 e 1980, no Brasil.
Costa (2020), em sua dissertação de mestrado: Gestão escolar democrática e o conselho mirim:
participação infantil e a aprendizagem política, analisa as possibilidade e limite do conselho
mirim como instrumento de implementação da gestão democrática, identificando as concepções
dos gestores das escolas, verificando se as práticas do conselho mirim caracterizavam-se como
protagonismo autônomo, de colaboração ou dependência, durante o ano de 2020. Gonçalves
(2020), em sua dissertação de mestrado: Os saberes necessários à formação e atuação das
professoras assessoras de educação inclusiva no município de Santo André, analisa as
atribuições das professoras assessoras de educação inclusiva, elenca os aspectos fundamentais
para a formação permanente dessas professoras e analisa as formações oferecidas pela rede
municipal de Santo André no ano de 2018. Casanova (2021), em sua dissertação de mestrado:
Gestão democrática e infância: o orçamento participativo criança em Santo André, verifica os
aspectos teórico-práticos que contribuíram para a gestão democrática, no período de 2013 a
2016.
No segundo eixo, as pesquisas referem-se à investigação de recursos financeiros
municipais destinados às escolas públicas. Silva (2008), em sua dissertação de mestrado:
Avanços e retrocessos no direito à educação em Santo André: um estudo de caso, estuda a
construção do direito à educação no município de Santo André, nas décadas de 1950 a 1970, a
partir da análise dos orçamentos municipais do período; e Silva (2013), em sua dissertação de
mestrado: A descentralização de recursos financeiros e a organização do trabalho pedagógico:
o caso de Santo André, analisa as mudanças propiciadas pela descentralização de recursos
financeiros nas relações de poder e na organização do trabalho pedagógico dos ciclos iniciais
do Ensino Fundamental.
No terceiro eixo encontram-se os estudos sobre as propostas curriculares e práticas
pedagógicas em escolas e creches municipais de Santo André. Silva (2018), em sua dissertação
de mestrado: A qualidade das práticas educativas em uma creche do município de Santo André
(SP), analisa a prática de quatro educadoras de sala de berçário e suas parcerias com as famílias,
a educação continuada das professoras e a organização dos espaços e tempos da creche. Soares
(2009), em sua dissertação de mestrado: A introdução da definição de raça nas propostas
curriculares brasileiras: a lente da nova lei e os olhos dos alunos, analisa a recepção das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, divulgadas após a Lei 10.639/2003, em uma
28

escola de ensino básico no ABC paulista, e seu impacto nas aulas de História, uma das três
disciplinas incumbidas de implementar o conteúdo proposto pelas Diretrizes. Fernandez (2017),
na dissertação de mestrado: Planejamento na prática docente da Rede Municipal de Santo
André, reflete sobre o papel do planejamento na prática docente, e a importância do professor
como articulador de conhecimentos, enfatizando seu potencial para a transformação da
sociedade, no contexto da educação democrática. Coelho (2017), em sua dissertação de
mestrado: Uso da Provinha Brasil no planejamento escolar: interfaces, limites e proposições,
apresenta reflexões baseadas na pesquisa que investigou os usos dos resultados da Provinha
Brasil no planejamento das atividades de sala de aula, com a intenção de propor ações
pedagógicas a fim de potencializar o uso dos dados pela coordenação pedagógica e professores,
durante o ano de 2016.
E no quarto eixo estão importantes trabalhos de autores que se dedicaram a escrever
sobre a História de Santo André: Taunay (1968), Gaiarsa (1968; 1991), Bevilacqua (1997),
Lima (2010a; 2010b), Martins (2008) e Médici (1990). O livro de Taunay (1968): João
Ramalho e Santo André da Borda do Campo, conta a História de Santo André da Borda do
Campo, desde a fundação, no ano de 1553, até 1953. Trata-se uma monografia contratada pela
Prefeitura de Santo André e publicada em comemoração ao quarto centenário da cidade. Os
livros de Gaiarsa (1968): A cidade que dormiu três séculos: Santo André da Borda do Campo,
seus primórdios e sua evolução histórica: 1553-1960, e Gaiarsa (1991): Santo André: Ontem,
Hoje e Amanhã, também foram providos pela Prefeitura de Santo André e contam a História de
Santo André da Borda do Campo. O primeiro é o texto vencedor de um concurso de
monografias promovido pela prefeitura de Santo André, na data de aniversário de quatrocentos
anos da cidade. O segundo é a revisão do texto original, em que o autor reescreve e acrescenta
informações da cidade, até o ano de publicação da obra. Na obra E o nome dela? Crônicas reais
de um tempo em que Santo André também fabricava lança-perfume, Bevilacqua (1997) utiliza
76 crônicas para narrar fatos acontecidos com o autor, trazendo como cenário a cidade de Santo
André. Nos livros de Lima (2010a; 2010b), Santo André também é o palco para as crônicas.
Como se fosse hoje...! e Um Passado Sempre Presente são a narração da vida cotidiana numa
cidade que crescia em dimensões territoriais e populacionais. Martins (2008), na obra: A
aparição do demônio na fábrica, origens sociais do Eu dividido no subúrbio operário, reúne
de ensaios escritos na década de 1990, tendo como cenário, uma fábrica da região do ABC,
apresentando a realidade do subúrbio e como viviam os operários. E por fim, mas não menos
importante, Médici (1990), em: Migração, Urbanismo e Cidadania: a história de Santo André
contada por seus personagens, registra a história da cidade por meio de depoimentos de seus
29

moradores mais antigos, e apresenta dezenas de fotos de pessoas e lugares da região. O texto
foi dividido em 42 capítulos, e cada um deles resgata a história de um bairro ou região da cidade.
Além desse, Médici escreveu outros livros16 e diversos artigos17; e escreve diariamente no jornal
local Diário do Grande ABC uma coluna sobre as memórias da cidade.
Ao concluir o levantamento bibliográfico, constata-se que não há pesquisas que
enfoquem a história das escolas municipais da cidade de Santo André. As pesquisas abordam
diversos aspectos da escola, entretanto não investigam a história da educação pública municipal,
o que justifica a relevância deste estudo inédito no campo da História da Educação,
contribuindo com a historiografia da cidade de Santo André.
A delimitação temporal desta pesquisa abrange o período de 1954 a 1982, quando a
cidade de Santo André se constituía próxima às dimensões territoriais atuais. Tal delimitação
justifica-se porque, em 1954, por meio da promulgação da lei nº 929, de 27 de setembro, foi
criado o Departamento de Educação e Cultura, vinculado à Secretaria de Assuntos Jurídicos,
Internos e Culturais da cidade de Santo André. É a década também em que se consolida a
crescente industrialização da região, bem como o crescimento da cidade e do emprego. Como
consequência disso, tem-se por hipótese que emergiu a necessidade da oferta de vagas em
instituições municipais para acolher as crianças, filhos dos trabalhadores da indústria. Ao longo
de trinta anos, o desenvolvimento da cidade, o aumento da população e a expansão das escolas
resultou na proposta de organização do ensino municipal. Assim, no ano de 1982 foi realizado
o primeiro concurso público para o cargo de professor, que constituiu o corpo docente para
compor os CEAR e compor a rede de ensino municipal pré-escolar na cidade de Santo
André, antes disso as professoras eram contratas por meio do regime da Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT. Em tese, o concurso público diminuiu o clientelismo e ampliou a rede de
ensino andreense.
Neste contexto, a pesquisa procura responder às seguintes questões:
a) Como foi criada e organizada a educação municipal, entre os anos de 1954 a 1982,
desde as primeiras escolas municipais até a implantação do CEAR? Como se deu o

16
No acervo da Biblioteca Digital de Santo André constam 17 publicações sobre a cidade. Fonte:
http://www.santoandre.sp.gov.br/pesquisa/con_geral.asp?cbo=todos&tit_material=LIVRO&vOrdem=ALFABE
TICA&Txtbusca=ademir+medici+santo+andr%E9&search.x=20&search.y=9&ScriptName=default.asp&tipo=e.
Acesso em 11 de maio de 2020.
17
No acervo da Biblioteca Digital de Santo André constam 365 artigos atribuídos ao município. Fonte:
http://www.santoandre.sp.gov.br/pesquisa/con_geral-COLUNA-MEMORIA.asp?cbo=todos&Txtbusca=
ademir+medici+santo+andr%E9&ScriptName=con_geral-COLUNA-MEMORIA.asp&search.x=24 &search .y
=12&tipo= e. Acesso em 11 de maio de 2020.
30

processo de criação e organização destas escolas para a infância? Quem eram os


profissionais envolvidos nesse processo?
b) Quem eram os profissionais que atuavam nestas instituições? Como eram
admitidos? Qual o vínculo empregatício estabelecido?
c) Quais eram as propostas de ensino e organização curricular nestas escolas? Quais
os atores envolvidos na organização escolar? Como acontecia a participação da
comunidade escolar na instituição?
d) Quem eram as crianças atendidas nestas instituições? Quais critérios eram utilizados
para a seleção dos que frequentariam a instituição?
Esta pesquisa, tem como objetivo, reconstituir a história das primeiras escolas
administradas pelo poder público municipal, até a composição da rede andreense de ensino para
a infância, responsável por acolher as crianças de 4 a 6 anos na cidade de Santo André, entre os
anos de 1954 até 1982.
Para tanto, temos como objetivos específicos compreender a criação e implantação das
escolas municipais, desde o ano de 1954 até 1982, considerando o contexto histórico de
transformação da cidade e das políticas educacionais. Bem como, investigar os critérios de
admissão e o conjunto de atribuições dos profissionais que atuaram nessas escolas; e analisar
como as escolas estavam organizadas: a localização, o espaço, as propostas escolares e os
materiais didáticos utilizados. Portanto, a pesquisa visa contribuir para a ampliação do
conhecimento a respeito da história das escolas municipais de Santo André.

PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Reconstituir a história das primeiras escolas administradas pelo poder público municipal
que atendiam as crianças pequenas, até a composição da rede andreense de ensino, é um desafio
diante do histórico de constituição da cidade e de preservação de fontes. Almeja-se contribuir
com um estudo que ultrapasse os limites laudatórios e ufanistas.
Considerando a complexidade e especificidade da escrita da História da Educação, para
essa pesquisa alguns procedimentos foram adotados. Iniciamos pela revisão bibliográfica, mas,
ao investigar nos bancos de teses e dissertações de universidades brasileiras, não foi localizado
nenhum estudo referente à história da educação municipal andreense. A revisão bibliográfica
foi realizada por meio de busca no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e nos banco de dados das seguintes
instituições: Universidade de São Paulo, Universidade de Campinas, Universidade Federal do
31

ABC, Centro Universitário Fundação Santo André, Universidade Metodista de São Paulo,
Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Universidade Federal de São Paulo e
Universidade do Estado de São Paulo; e nos anais dos Congressos Brasileiro de História da
Educação e Congressos de História da Região do Grande ABC, objetivando localizar as
pesquisas relevantes para subsidiar e nortear este trabalho. A palavra-chave utilizada para a
busca eletrônica nos bancos de dados foi: “Santo André”, depois os trabalhos localizados foram
selecionados por meio dos seguintes filtros eletrônicos: Grande Área do Conhecimento –
Ciências Humanas, Área do Conhecimento – Educação.
Após a revisão bibliográfica, o segundo procedimento foi recolher e analisar as fontes.
Com cautela e paciência, como ensina Farge (2009, p. 66), sendo necessário examinar os
detalhes e explorar as entrelinhas, porque o pesquisador pode encontrar dados que inicialmente
não são úteis, mas, no decorrer da pesquisa, esses mesmos dados podem fornecer informações
importantes para a análise. Segundo Kuhlmann (1998, p. 6-7), “a história, embora tratando do
passado, do que já aconteceu, é dinâmica e exige a ampla pesquisa e crítica das fontes, que
renova interpretações e exige procedimentos próprios de investigação e análise”.
Por este motivo, neste estudo, um amplo corpus documental foi analisado e organizado
em três grupos: documentos administrativos, jornais e fotografias. Tais fontes estão distribuídas
em diversos locais pela cidade de Santo André. A maior parte dos documentos mencionados a
seguir, e que serviram de fontes para esta pesquisa, está disponível aos pesquisadores
interessados e eles podem ser consultados exclusivamente por meio de pesquisa física, nos
acervos que apresento a seguir.
Os documentos administrativos, tais como normativas, decretos e leis, encontram-se
arquivados no banco de dados do Portal Digital da Câmara dos Vereadores de Santo André.
Outros documentos administrativos, englobando atas de reunião, registros de matrícula,
prontuários de professoras, entre outros, estão guardados nas Escolas Municipais de Santo
André. Este primeiro grupo de fontes, composto por documentos oficiais e documentos
administrativos, são analisados sob a lente de Foucault (2008, p. 155), que explica as normas
como sendo parte dos mecanismos das políticas de governabilidade, nas quais são dados os
limites do Estado, controlando os costumes, os hábitos, os modos de fazer e pensar.
Exemplares de jornais com notícias da cidade de Santo André estão conservados no
Centro de Arquivo e Pesquisa do jornal Diário do Grande ABC. Quanto aos jornais, segundo
grupo de fontes, Luca (2005, p. 140) indica aspectos metodológicos a serem utilizados para
análise, considerando os conteúdos e os idealizadores do jornal, observando o título da matéria,
32

buscando no texto as intenções e as expectativas, assim, inquirindo quanto às ligações e


interesses (financeiros e publicitários) e identificando a linha editorial.
As fotografias estão preservadas nos acervos pessoais das professoras e ex-alunas do
CEAR, bem como no grupo virtual Eu fui professora do CEAR, da rede social Facebook,
composto por professoras do CEAR. Para a análise das fotografias, busca-se amparo em Kossoy
(2001, p. 47), para quem toda fotografia é um resíduo do passado, um fragmento de espaço e
tempo, que reúne um repertório de informações. Desse modo, faz-se necessário entender o
cotidiano dessas escolas, dos profissionais da educação e das crianças. Acolhem-se também as
contribuições de Barthes (1984, p. 89), que nos auxiliarão a analisar as fotografias por meio da
observação e contemplação, olhando para além daquilo que a imagem mostra.
No trato dessas fontes documentais e com a intenção de estabelecer relação entre
arquivo e pesquisa, será necessário compreender o que Farge (2009) explica:

O arquivo é uma brecha no tecido dos dias, a visão retraída de um fato inesperado.
Nele, tudo se focaliza e, alguns instantes de vida de personagens comuns, raramente
visitados pela história, a não ser que um dia decidam se unir em massa e construir
aquilo que mais tarde se chamará de história. O arquivo não escreve páginas de
história (FARGE, 2009, p. 15).

Nesse sentido, o terceiro procedimento adotado nesta pesquisa foi o processo de


entrevistas com ex-professoras e ex-alunas das primeiras escolas municipais de Santo André.
As candidatas para as entrevistas foram recrutadas pela pesquisadora, que é professora da Rede
Municipal de Educação da Prefeitura de Santo André, bem como pela indicação e
recomendação de outras colegas de trabalho da Secretaria de Educação de Santo André
(Apêndice 1). E também por meio de busca e contatos nas redes sociais e grupos interativos
administrados por memorialistas e historiadores da cidade de Santo André e região do Grande
ABC. As candidatas foram convidadas por meio de e-mail individual, enviado pela
pesquisadora (Apêndice 2), e em anexo o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE),
para leitura e conhecimento do participante (o TCLE se localiza no Anexo 2). O TCLE foi
impresso, assinado, datado e devolvido à pesquisadora, antes do início da entrevista. O TCLE
assinado pode ser digitalizado e reencaminhado via e-mail, ou entregue presencialmente à
pesquisadora que coletou o documento no local indicado pelo participante. Com a finalidade de
obter informações, entrevistaram-se onze pessoas, dentre elas seis educadoras e cinco ex-
alunas18.

18
Pesquisa registrada na Plataforma Brasil e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal
de São Paulo, sob o número do parecer 4.866.044, conforme Anexo 1.
33

Valorizando as questões relacionadas ao cotidiano escolar vivenciado pelos atores


dessas escolas - educadores e alunos -, entrevistar é a possibilidade de trazer à tona e registrar
o que essas pessoas sabiam, falavam e vivenciavam, mediante suas experiências, suas histórias
pessoais e as relações estabelecidas nestes lugares. Segundo Meihy (2019), a história oral é a
democracia das vozes e ajuda na construção da memória, tem o papel de “propor soluções,
políticas públicas e estimular resoluções nem sempre evidentes sem a experiência de campo”
(MEIHY, 2019, p. 13). Utilizar entrevistas é uma forma de recuperar a memória das pessoas, e
Le Goff (1996) assevera que a memória é significativa para entender as transformações da
cidade e resgatar elementos como identidade, conservação de legados e bens materiais e
imateriais encontrados nos espaços habitados pelas pessoas.
Para entender o processo histórico das escolas é preciso conhecer a organização, as
práticas, o funcionamento, o envolvimento e as memórias. A realidade de uma instituição se
materializa nas ações, no desempenho de funções e nos papéis de cada pessoa envolvida com o
ambiente (MAGALHÃES, 2004). Nas recordações estão presentes diferentes dimensões do
tempo, trajetórias individuais e coletivas dos sujeitos na história. Na memória estão as vozes do
passado atualizadas no presente; além disso, as vozes da memória são essenciais para a
produção de novas fontes históricas. Cabe então, ao pesquisador, estimular e contribuir para
que o registro desse tipo de memória se efetive (DELGADO, 2006).
As entrevistas têm o objetivo de revelar fontes fundamentais para a compreensão social
e apontar uma direção, segundo Thompson (1998). Numa entrevista livre, o objetivo deixa de
ser apenas a busca de informações, mas aponta “como um homem, ou uma mulher, olha para
trás e enxerga a própria vida, e em sua totalidade, ou em uma de suas partes” (THOMPSON,
1998, p. 258). “Conseguir ir além das generalizações estereotipadas ou evasivas e chegar a
lembranças detalhadas é uma das habilidades, e das oportunidades, básicas do trabalho de
história oral” (Ibidem, p. 261).
Entretanto, conforme Thompson (1998), não é possível conduzir uma entrevista
completamente livre, é conveniente um roteiro. Assim, para direcionar as entrevistas com os
educadores e ex-alunos, algumas questões norteadoras foram planejadas, e o roteiro encontra-
se no Apêndice 3.
Tais entrevistas foram gravadas através da plataforma Google Meet, após autorização e
assinatura do TCLE (Anexo 2) de todos os entrevistados. Nas gravações, foram registradas a
voz e a imagem da entrevistada, possibilitando o registro das reações, durante o diálogo
pesquisadora-entrevistada. Os dados obtidos serão mantidos em sigilo e arquivados no
34

computador particular da pesquisadora. A voz e a imagem dos entrevistados não serão


divulgadas nesta pesquisa.
Quando se trabalha com relatos orais, supõe-se que o material da pesquisa vai se
constituindo durante o processo, os entrevistados sempre têm um nome para indicar, uma foto
para mostrar, um documento, um material escrito, o que enriquece e torna complexo o estudo.
Portanto, nestas entrevistas, foi possível também o levantamento de dados, coleta e seleção de
outras fontes, advindas dos acervos pessoais das entrevistadas, como por exemplo: fotos,
certificados de cursos, carteira de trabalho e previdência social, manual de professores,
cadernos de alunos, material escolar, entre outros objetos da cultura material escolar.

PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Escrever a histórias das escolas municipais na cidade de Santo André exigiu


determinação em busca de fontes, uma vez que esta pesquisa é inédita nos âmbitos municipais,
estaduais e federais. Combinar documentos e dados obtidos em diferentes acervos, e mesclar
com as informações apresentadas durante as entrevistas, permitiram elaborar um conjunto de
fontes.
Entrelaçando e analisando o conjunto de fontes coletadas, utilizamos a categoria de
análise, tempo e espaço, sob a perspectiva de Viñao Frago e Escolano (2001). Os autores
consideram o espaço como um lugar e o tempo como um símbolo social resultante do processo
de aprendizagem humana. Nessa perspectiva, o espaço, assim como o tempo, não pode ser
entendido como neutro, pois, sendo uma construção social, expressam as relações sociais que
neles se desenvolvem. Viñao Frago (2001) explica que “a ocupação do espaço e sua utilização,
supõe sua contribuição como lugar. [...] O espaço se projeta ou se imagina; o lugar se constrói.
Constrói-se a partir do fluir da vida e a partir do espaço como suporte” (VIÑAO FRAGO, 2001,
p. 61). Escolano (2001) observa que o espaço expressa e reflete determinados discursos, além
de representar um elemento significativo do currículo, uma fonte de experiência e
aprendizagem. Essa categoria permitiu analisar as atividades desenvolvidas nas escolas, as
condutas exercidas pelas professoras e as rotinas propostas aos alunos.
A partir das contribuições de Certeau (2014), a categoria de análise práticas cotidianas,
permitiu compreender as lógicas que movem os fazeres cotidianos, considerando o lugar de fala
de cada entrevistado, o papel social e a função dentro das escolas, assim como o autor escreve:
“o estudo de algumas táticas cotidianas presentes não deve, no entanto, esquecer o horizonte de
onde vêm e, no outro extremo, nem o horizonte para onde podem ir” (CERTEAU, 2014, p.
35

105). Ainda segundo o autor, “o que interessa ao historiador do cotidiano é o Invisível...”


(Ibidem, p. 31), ou seja, nesta pesquisa entendemos que, para além dos currículos oficiais,
circulavam nos ambientes escolares inúmeros conhecimentos que são criados nas diversas
relações entre os praticantes do cotidiano e estão presentes nos processos curriculares praticados
e pensados, transitando e modificando os currículos oficiais.

ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Este texto está organizado em uma introdução, três capítulos e conclusão.


No Capítulo I – A industrialização e escolarização andreense é apresentado o processo
de industrialização, urbanização e crescimento da cidade de Santo André, durante a segunda
metade do século XX. Vinculado ao aumento da população, fez-se necessário aumentar aos
investimentos na área de educação, no início para especialização de mão-de-obra dos
trabalhadores para as indústrias, e no decorrer dos anos, ampliar o atendimento e acolhimento
às crianças pequenas. Nesse capítulo pretende-se compreender como aconteceu o avanço
populacional da cidade de Santo André e a criação das primeiras escolas na região, desde o
primeiro Grupo Escolar, percorrendo pela criação das escolas profissionalizantes, identificando
salas de aulas que acolhiam crianças pequenas e instaladas em Grupos Escolares, e finalizando
com o planejamento dos CEAR. Visando responder como se deu o processo de criação e
organização das escolas para a infância na cidade de Santo André.
O Capítulo II – De Curso de Recreação Infantil a Centro Recreativo Assistencial
Educacional: os Jardins de Infância da cidade de Santo André, identifica as primeiras
instituições, privadas ou subvencionadas pela prefeitura, que acolhiam as crianças pequenas.
Na sequência, aborda como foram planejados e organizados os jardins de infância e as escolas
pré-primárias municipais da cidade de Santo André. Esse capítulo procurou responder como foi
criada e organizada a educação municipal, desde as primeiras escolas municipais até a
implantação do CEAR e quais os profissionais envolvidos nesse processo, além disso, responder
quais os atores envolvidos na organização escolar e como acontecia a participação da
comunidade escolar na instituição.
E, no Capítulo III – O cotidiano nas/das escolas municipais, analisa como as escolas
municipais estavam organizadas, desde o Curso de Recreação Infantil até o Centro
Educacional, Assistencial e Recreativo – CEAR. Propõe expor as contradições quanto ao
número de vagas oferecidas e de crianças atendidas, identificar os critérios de seleção das
professoras de lecionavam nos CEAR, apresentar o material, o uniforme escolar e a alimentação
36

oferecida, verificar os materiais didáticos utilizados pelas professoras e, por fim, analisar as
festas escolares organizadas pela escola e associação de pais. Este capítulo foi guiado pelas
questões que buscavam responder quem eram os profissionais que atuavam nas instituições,
como eram admitidos e o respectivo vínculo empregatício; quem eram as crianças atendidas e
quais os critérios para a seleção dos que frequentariam a instituição e, quais eram as propostas
de ensino e organização curricular nestas escolas.
Por fim, na Conclusão são apresentadas outras possibilidades de pesquisa sobre o
CEAR, analisando as fontes deste estudo e outras não localizadas. Bem como, outras
possibilidades de estudo das escolas instaladas no território andreense e região, indicando
arquivos, acervos e instituições com fontes não analisadas.
37

CAPÍTULO I – Industrialização e a escolarização andreense

As primeiras indústrias que, ainda no início do século XX, se instalaram na cidade de


Santo André, estavam ligadas à produção têxtil, química e de móveis: Fábrica Ypiranguinha
(têxtil), Tecelagem Kowarick, Fiação e Tecelagem Santo André, Tecidos Alfredo Flaquer,
Fábrica de Tecidos Bella Vista/Irmãos Tognato & Companhia, Rhodia Têxtil e Rhodia
Química, Atlantis do Brasil (produtos de limpeza), Indústria de Móveis Gianoglio & Filho,
Fábrica de Cadeiras Streiff, entre outras, como: Lidgerwood Máquinas Agrícolas, Companhia
Brasileira de Construção Fichet Shwartz & Hautmont, Companhia Brasileira de Cartuchos,
Casa Publicadora Brasileira, Matadouro Martinelli/Swift-Armour, Pezzolo e Cia. (fabricação
de geladeiras, marcenaria e carpintaria). Também foram construídas olarias, carvoarias e
serrarias, além da abertura de pequenos negócios como sapatarias, funilarias, carpintarias,
barbearias, pequenas pensões e restaurantes, proporcionando um aspecto mais urbano à região.
O incentivo dos governos, federal e estadual à industrialização, fortaleceu a migração das
regiões rurais para os núcleos urbanos e, como visto anteriormente, os trabalhadores acabaram
habitando moradias precárias, com baixo padrão e coletivas. Em Santo André a prefeitura
estimulou a construção de casas para aluguel e vilas operárias (DENALDI, 2006, p. 24).
A primeira vila para operários de Santo André foi construída pela Fábrica Ypiranguinha
nas imediações da indústria, por volta de 1912. Depois disso, no final da década de 1920,
empreendimentos imobiliários construíram e financiaram casas e prédios, nos Bairros Jardim e
Campestre, destinados a operários e setores de renda média e alta, nas imediações da estação
ferroviária da cidade. Na década de 1930, a prefeitura isentou de impostos, taxas e emolumentos
a construção de casas para operários ou de baixo custo. No final da década de 1930 sindicatos
de trabalhadores das indústrias andreenses e paulistas conquistaram a construção do maior
conjunto habitacional da cidade, na Vila Guiomar, financiado pelo Instituto de Aposentadoria
e Pensões dos Industriários – IAPI, que produziu casas térreas e apartamentos, que inicialmente
foram alugados e depois vendidos aos moradores. No decorrer da década de 1940, duas novas
indústrias construíram suas vilas para funcionários, o Moinho Santista e a Pirelli. Em 1948, o
governo federal, por meio da Fundação das Casas Populares, construiu casas assobradadas-
geminadas no Bairro Santa Terezinha, destinadas à urbanização do bairro. Contudo, a principal
forma de aquisição de moradias foi a compra de lotes para construção da casa própria, devido
aos amplos terrenos nas imediações de toda extensão da linha férrea (DENALDI, 2006, p. 26).
Na Figura 1, é possível identificar uma placa fixada nas imediações da ferrovia anunciando a
venda de lotes para construção de moradias num bairro mais afastado do centro da cidade.
38

Figura 1 – Placa com anúncio de venda de lotes

Acervo: Museu de Santo André

Motivados pela divulgação de moradias e pelo emprego, a região atraiu grande número
de operários e suas famílias. As indústrias atraíram primeiramente os imigrantes, depois pessoas
de todo o Brasil, que, segundo Médici (1990), buscavam “crescer na vida”19. A acessibilidade
proporcionada pela malha ferroviária, a permanência e instalação de novas indústrias nas
imediações, os incentivos fiscais do período promovidos pela prefeitura, a disponibilidade de
terrenos pouco acidentados e a disponibilidade de água proporcionaram o crescimento da
atividade econômica e o adensamento da população de toda Região do Grande ABC e de Santo
André.
Na segunda metade do século XX, a Região do Grande ABC tornou-se o principal polo
industrial brasileiro, pela implantação da indústria moderna do setor automobilístico, que teve
papel fundamental no crescimento econômico do país (MARTINS, 2008, p. 83). A região foi
privilegiada pela instalação de um parque industrial vigoroso e de relevância nacional.
Agregada à industrialização do setor automobilístico, e motivada por ela, se instalaram em São
Paulo, Santo André e cidades nas adjacências, pequenas indústrias, comércios e serviços. Com

19
Expressão utilizava nos depoimentos dos migrantes de todas as regiões do Brasil, que se mudaram para a região,
acreditando e apostando no futuro da cidade (Médici, 1990).
39

investimentos do capital estrangeiro e estatal, em conjunto com o setor automobilístico,


cresceram os setores metalúrgico, mecânico e de material elétrico, além de abrigar várias
indústrias do setor de autopeças (SANTO ANDRÉ, 2007). Ao longo do tempo, ainda que outras
regiões brasileiras planejassem o crescimento de seu parque industrial, foram nas terras
paulistas que a concentração econômica se efetivou (NORONHA, 2016, p. 29).
A crescente industrialização fortaleceu-se partir da década de 1940 e assim iniciaram-
se os “movimentos emancipacionistas que culminaram com a transformação dos distritos em
municípios: em 1945, São Bernardo do Campo; em 1949, São Caetano do Sul; 1953 Mauá e
Ribeirão Pires” (SILVA, 2008, p. 26). A expansão das cidades se consolidava e, até a década
de 1950, metade da população que habitava a região residia nas dimensões territoriais de Santo
André (SANTO ANDRÉ, 1991, p. 108). Com a divisão da região em sete municípios, um novo
capítulo foi escrito para a história da cidade de Santo André.
Os dados contidos no Anuário Estatístico Brasileiro (1953) apontam que, na década de
1950, depois da capital, Santo André ocupava o terceiro lugar em número absoluto de pessoas,
dentre os maiores municípios do Estado de São Paulo, como indica a Tabela 1.

Tabela 1 – População dos Municípios no estado de


São Paulo com acima de 50.000 habitantes –
Censo Demográfico de 1º/07/1950
Municípios População Registrada
São Paulo 2.227.512
Santos 206.920
Campinas 155.358
Santo André 127.032
Sorocaba 94.868
Ribeirão Preto 91.374
Piracicaba 88.855
Marília 87.806
Jundiaí 69.879
Bauru 66.972
São José do Rio Preto 66.832
Araraquara 63.388
Mogi das Cruzes 62.218
Presidente Prudente 61.591
Araçatuba 60.450
São Caetano do Sul 60.200
Tupã 57.337
40

Lins 56.888
Franca 55.023
Taubaté 53.759
Bragança Paulista 52.177
Barretos 51.486
Fonte: Publicação do Conselho Nacional de Estatísticas (IBGE), Rio de Janeiro, 1953.

Com o elevado crescimento econômico da região, causado pelas grandes multinacionais


instaladas no Brasil, Santo André ocupava a segunda posição na classificação dentre municípios
paulistas com maior valor de produção industrial, conforme o Anuário Estatístico Brasileiro
(1953), indicado na Tabela 2.

Tabela 2 - Dados preliminares do Censo Industrial de 1950


Municípios paulistas (ordem Valor da produção industrial em 1950
decrescente de valor) (Cr$1.000)
São Paulo 32.734.443
Santo André 3.750.520
São Caetano do Sul 2.108.333
Americana 1.725.702
Sorocaba 1.519.934
Santos 1.067.524
Campinas 961.194
Outros 12.131.753
Fonte: Publicação do Conselho Nacional de Estatísticas (IBGE). Rio, 1953.

Santo André, que antes da década de 1950 era uma cidade basicamente formada por
sítios e chácaras, passou a receber loteamentos residenciais para abrigar o grande contingente
de trabalhadores e suas famílias. O adensamento da população consta do Anuário Estatístico
Brasileiro (1953), que situa Santo André na 14ª posição dentre as cidades brasileiras com
população superior a noventa mil habitantes, conforme a Tabela 3.
41

Tabela 3 – Relação das cidades brasileiras com população superior a 90.000 habitantes
População presente em
Posição Cidade Unidade da Federação
1º/07/1950

1º Rio de Janeiro Distrito Federal 2 303 063


2º São Paulo São Paulo 2 017 025
3º Recife Pernambuco 512 370
4º Salvador Bahia 389 422
5º Porto Alegre Rio Grande do Sul 375 049
6º Belo Horizonte Minas Gerais 338 585
7º Belém Pará 225 218
8º Fortaleza Ceará 205 052
9º Santos São Paulo 198 405
10º Niterói Rio de Janeiro 170 868
11º Curitiba Paraná 138 178
12º Campinas São Paulo 99 156
13º Maceió Alagoas 99 088
14º Santo André São Paulo 97 444
15º Natal Rio Grande do Norte 94 812
Fonte: Reproduzida pela autora, com dados extraídos do Anuário Estatístico Brasileiro (1953).

A industrialização em Santo André foi determinante para o crescimento da cidade e


muito enaltecida pelos governantes. Um exemplo disso foram as Exposições Industriais
realizadas na cidade, investimento considerável para divulgar as vantagens e benefícios da
industrialização, enaltecer o moderno e a modernidade. A primeira exposição aconteceu em
1938 e a segunda em 1953, atrelada aos festejos dos 400 anos da fundação da cidade. Para o
custeio da Exposição do ano de 1953, a Câmara Municipal de Santo André promulga lei
destinando valor específico para o custeio do evento, conforme descrito abaixo:

LEI Nº 809, DE 07 DE JULHO DE 1953.


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Fica a Prefeitura Municipal autorizada a depositar no Banco do Brasil,
à disposição da Comissão Geral dos Festejos do IV Centenário da Fundação
de Santo André da Borda do Campo, a importância de Cr$ 1.000.000,00 (um
milhão de cruzeiros) para o custeio de despesas com o funcionamento da
Exposição Industrial.
Art. 2º – Para atender ao pagamento da despesa de que trata o art. 1º desta lei,
fica aberto, no Departamento da Fazenda, um crédito especial na importância
de Cr$ 1.000.000,00 (um milhão de cruzeiros).
Art. 3º – A cobertura do presente crédito será feita com os recursos
provenientes do excesso de arrecadação previstos para o corrente exercício.
Art. 4º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário (SANTO ANDRÉ, 1953).
42

O sucesso das Exposições Industriais foi notável e em 1960 a prefeitura de Santo André
decreta lei instituindo o evento em conjunto com as comemorações do aniversário de fundação
da cidade, conforme se lê abaixo:

LEI Nº 1.607, DE 26 DE OUTUBRO DE 1960.


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Fica instituída a “FEIRA INDUSTRIAL DE SANTO ANDRÉ”, a ser
realizada pela Prefeitura Municipal, para exposição e publicidade da produção
industrial do Município.
Parágrafo único – A “FEIRA INDUSTRIAL” referida neste artigo, será
efetuada, bienalmente, por ocasião dos festejos comemorativos da fundação da
cidade.
Art. 2º - As despesas com a execução da presente lei, correrão por conta de
verba própria a ser consignada no orçamento dos respectivos exercícios.
Art. 3º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário (SANTO ANDRÉ, 1960).

Eventos para exaltar a modernização, a modernidade e o modernismo não foram


exclusividade de Santo André. Arruda (2015) conta que em São Paulo as comemorações do IV
Centenário projetavam a imagem de uma cidade progressista, moderna e civilizada, e
celebravam o poder dos paulistas.
Em Santo André a construção do Paço Municipal e outros prédios e equipamentos
públicos, como o Hospital Regional de Clínicas, no final da década de 1960 e início de 1970,
além de avenidas e viadutos, de acordo com Boll (1992), foi considerada exemplo de
modernidade, e assim contribuiria para o ingresso brasileiro no mundo em desenvolvimento.
Martins (2008) explica que, nos anos iniciais da década de 1960, a cidade de Santo
André, a região do Grande ABC e toda a área Metropolitana de São Paulo passou por mudanças
econômicas e sociais devido à industrialização, principalmente do setor automobilístico. A
população da região cresceu, devido à migração oriunda de Minas Gerais e do Nordeste
(MARTINS, 2008).
Foi um período em que brasileiros de todo o território nacional procuravam as áreas
industriais, em busca de novas oportunidades de emprego e sobrevivência. A tabela 4 mostra a
relação das cidades brasileiras aos quais provinha o maior número de brasileiros natos, dentre
aquelas que foram registrados mais de nove mil migrantes residentes em São Paulo.
Os dados registrados no ano de 1950, conforme Tabela 4, mostram que se manteve a
migração, em maior quantidade, de habitantes nascidos em Minas Gerais e Bahia, e diminuiu o
deslocamento de pessoas vindas do Rio de Janeiro.
43

Tabela 4 – Estado natal da maioria dos migrantes paulistas, em 1950


Unidade da Federação Em 1º/07/1950

Minas Gerais 512 736

Bahia 189 685

Rio de Janeiro 56 076

Pernambuco 62 745

Alagoas 56 788

Paraná 32 709

Ceará 29 054

Sergipe 25 033

Distrito Federal 18 172

Santa Catarina 15 410

Rio Grande do Sul 13 743

Mato Grosso 13 016

Paraíba 10 712
Fonte: Reproduzida pela autora, com dados extraídos do Anuário Estatístico Brasileiro (1953), p.83.

Vale destacar que excedeu consideravelmente o movimento migratório de pessoas


proveniente dos estados nordestinos de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe e Paraíba. E ainda
havia os migrantes de outros estados brasileiros, como Paraná, Distrito Federal, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
Martins (2002) aponta que “os teóricos no geral têm trabalhado com o pressuposto de
que as migrações são migrações rural-urbanas, que a cidade que atrai é econômica, social e
politicamente avançada e civilizada em relação ao atraso” (MARTINS, 2002, p. 147). Tais
migrantes, em maioria, viviam e trabalhavam no meio rural, e entendiam que a vida na cidade
possibilitaria ascensão econômica e social, buscando, nas indústrias das grandes cidades, novas
condições de vida.

1.1 Primórdios das escolas na cidade de Santo André

No início do século XX, o governante local, Sr. Alfredo Luís Flaquer, empenhava-se
em adequar as escolas da região aos modelos escolares da capital paulista. Na época Santo
André era denominado bairro Estação, do município de São Bernardo. De acordo com o estudo
de Granjo (2003), no ano de 1902, na ata da 4ª sessão da Câmara Municipal, o então prefeito
44

Sr. Alfredo Luís Flaquer declara a necessidade da criação de um Grupo Escolar na região, haja
vista que quatro das escolas isoladas existentes na localidade contavam com considerável
quantidade de alunos. No mesmo documento, segundo a autora, consta que o prefeito oferece
ao Governo Estadual um prédio municipal para funcionamento da escola. No entanto, diferente
da solicitação do Sr. Flaquer, prefeito de Santo André, o primeiro grupo escolar da região foi
edificado em Santo André e não em São Bernardo, que na época era sede do município. No
Portal Digital da Câmara Municipal de Santo André encontra-se a Lei nº 119, de 8 de maio de
1912 que autoriza a construção do referido Grupo Escolar:

LEI Nº 119, DE 8 DE MAIO DE 1912


Autoriza o Prefeito Municipal a assinar com o Governo do Estado o contracto
[sic] para a construção do grupo escolar de Santo André.
O Tenente Coronel Alfredo Luiz Flaquer, Prefeito Municipal de São Bernardo:
Faço saber que a Câmara Municipal de São Bernardo, em sua sessão de 6 do
corrente, decretou e eu promulgo a lei seguinte:
Art. 1º - Fica autorizado o Prefeito Municipal a assinar com o Governo do
Estado o contrato para a construção de um grupo escolar na Sede do Distrito
de Paz de Santo André.
Parágrafo único – O mesmo fará o depósito da caução exigida e mandará
escriturar no título Cauções em seu credito.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
O Secretário a faça publicar.
Secretaria da Prefeitura Municipal, em 8 de Maio de 1912.
Alfredo Luiz Flaquer - Prefeito Municipal
Lúcio Veiga – Secretário (SANTO ANDRÉ, 1912).

A construção do prédio iniciou no ano da publicação da lei, em 1912 e terminou dois


anos depois, em 1914. A instituição recebeu o nome de I Grupo Escolar de São Bernardo e
reuniu nove escolas isoladas que funcionavam da região da Rua Senador Flaquer, área central
do Bairro Estação. Após a emancipação das cidades da região do ABC, em 1938, a escola
mudou o nome e passou a se chamar Grupo Escolar Professor José Azevedo Antunes
(GRANJO, 2003, p. 49).
A Figura 2 mostra a fachada do I Grupo Escolar de São Bernardo, local que atualmente
abriga o Museu de Santo André. Um prédio que se destacava pela arquitetura diferente das
construções locais. Situado no bairro próximo à estação ferroviária, o Grupo Escolar se
contrastava na rua sem pavimentação e com calçadas estreitas. Era a contradição entre
simplicidade e pobreza de um bairro distrital e a modernidade dos prédios escolares projetados
pelos governos do início do século XX. No centro do prédio se encontrava a sala do diretor da
escola, e ao lado as salas administrativas e dos professores. Os pavimentos laterais foram
projetados recuados da fachada e ocupavam as duas laterais do prédio; seguramente os alunos
eram divididos entre meninos e meninas e cada grupo estudava numa ala. A construção foi
45

projetada num formato semelhante à letra U e, na parte interna, no meio dos pavimentos, existe
até os dias atuais um jardim, que naquela época servia de pátio para o recreio das crianças.

Figura 2 – Fachada do I Grupo Escolar de São Bernardo20

Fonte: Museu de Santo André

Ao visitar o local, um prédio que se mantém bem conservado nos dias atuais, e com as
principais características da época, observamos que, da sala do diretor, instalada num lugar
panóptico, ou seja, de onde é possível visualizar todo o interior da escola e controlar a sua
movimentação, é possível ver os dois pavimentos e o pátio central, sendo possível controlar o
cotidiano de todos os envolvidos na comunidade escolar: professores, alunos e funcionários. A
esse respeito nos reportamos a Escolano (1998, p. 24), que descreve a arquitetura dos prédios
escolares como construções inovadoras e fator importante de modernização do ensino; no
entanto mantinha diversas formas de conservadorismo quanto à organização dos espaços
escolares.
Antes da instalação do grupo escolar, os alunos frequentavam dezenas de escolas
isoladas espalhadas pela região. Gaiarsa (1991) menciona em seu livro que, nesta época, a
maioria dos alunos das escolas isoladas era descendente dos italianos 21 que povoaram a região,

20
O Grupo Escolar recebia o nome de São Bernardo porque tratava-se da denominação de toda região que
atualmente conhecemos como Grande ABC. Após o desmembramento entre os sete municípios, tal grupo ficou
no território de Santo André.
21
A respeito das escolas italianas instaladas em São Paulo, consultar os estudos de Panizzolo (2015, 2016, 2017,
2018, 2019, 2020, 2021).
46

e, em menor proporção, nativos da região. Os professores dessas escolas não possuíam


formação específica para o magistério, nas palavras de Gaiarsa (1991), “recebiam as primeiras
lições fundamentais, pelas mãos de gente que possuía capacidade para tal” (GAIARSA, 1991,
p. 178)22.
A primeira escola isolada de Santo André de que se tem registro foi custeada e instalada
nas dependências da Fábrica Ypiranguinha, no ano de 1904. Tal escola tinha o objetivo de
atender tanto os operários que frequentavam o curso noturno de alfabetização quanto seus
filhos, que tinham aulas durante o dia (GAIARSA, 1991, p. 178). As crianças que estudavam
na escola também passavam a ser funcionários da fábrica, conforme as Figuras 3 e 4. Nessa
época o trabalho infantil era comum em todas as indústrias (GRANJO, 2003, p. 46).
Nesse início de século nasceram os movimentos sindicais em defesa dos trabalhadores;
em tais movimentos, denunciar as condições de trabalho das crianças são destaque na Figura 3,
extraída de uma carta-denúncia emitida pelo sindicato dos operários.

Figura 3 - Trecho da carta-denúncia redigida pelo sindicato dos operários, sem data

Fonte: Acervo do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André

A Figura 4 mostra o interior da indústria têxtil. Aparentemente era um local insalubre,


expondo funcionários trabalhando envolvidos com a matéria-prima da produção da fábrica. Em
primeiro plano, vemos jovens operários e, ao fundo, crianças que, de tão pequenas, se misturam
com as máquinas.
A fotografia do interior da Fábrica Ypiranguinha provoca espanto, assim como indica o
trecho da carta-denúncia escrita por um operário da fábrica, espantado com as condições de
trabalho na indústria. O mesmo espanto é apontado por Barthes (1984), quando descreve o
efeito que a fotografia provoca aos olhos quanto atesta cenas que existiram, cenas que foram
registradas pelas lentes da máquina fotográfica de um fotógrafo de olhar atento e sutil, cenas

22
Gaiarsa (1991) nomeia alguns professores das escolas isoladas: Maria Polaca, Almeida Garret, Francisco Barone
e Santo Fattori (p. 178).
47

que comprovam algo que existiu. “A fotografia não fala (forçosamente) daquilo que não é mais,
mas apenas e com certeza daquilo que foi”. Não se trata de uma lembrança nostálgica, “a
essência da fotografia consiste em ratificar o que ela representa” (BARTHES, 1984, p. 128).
Ela comprova que, nas primeiras fábricas instaladas na cidade de Santo André, as crianças eram
incluídas como operárias.

Figura 4 – Imagem do interior da Fábrica Ypiranguinha, sem data

Fonte: Acervo do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André

Na Figura 5 encontra-se um grupo de crianças, alunos da Escola da Fábrica


Ypiranguinha, em 1904. Segundo informações do jornal onde a imagem foi publicada, os
meninos e o professor estavam fantasiados de pequenos soldados, os alunos eram filhos dos
funcionários da fábrica e moravam na vila operária construída nas imediações da indústria. O
professor foi identificado pelo sobrenome Flaquer, família influente e tradicional de Santo
André, durante os anos finais do século XIX até meados do século XX.
Na imagem dos alunos da Escola da Fábrica Ypiranguinha, é explícita a preparação e
manipulação da cena, o que nos remete a Kossoy (2001), que considera a fotografia como um
documento histórico, que retrata a representação e a materialidade a partir do momento real da
imagem. Além disso, o autor alerta que se deve considerar o processo de preparação do cenário
e composição da fotografia, porque a imagem registrada é criada, manipulada, construída. A
48

veracidade de uma fotografia corresponde ao registro da aparência, e precisa ser interpretada.


Assim como a foto acima, indicando o cuidado para representar ordem e asseio das crianças; a
arrumação das fileiras adequando a cor da vestimenta, a posição dos corpos, na maioria eretos,
e a postura do professor, simbolizando a figura central do grupo.

Figura 5 – Imagem de alunos da Escola da Fábrica Ypiranguinha – 1904

Fonte: Banco de Dados do jornal Diário do Grande ABC

Fantasiar os meninos de soldados é a representação dos ideais da sociedade republicana;


em que a escola tinha o papel de educar para desenvolver a ordem e a moralidade, o patriotismo
e a coragem. Segundo Souza (1998), “fazer do aluno um futuro ‘guarda nacional’, um defensor
da pátria” (SOUZA, 1998, p. 179). A fantasia e a postura de comando do professor é a
representação característica da escola primária do início dos anos 1900, à qual era atribuída a
função de instruir e educar. “Instruir significava transmitir conhecimentos, e educar, transmitir
valores e normas, isto é, a formação do caráter” (SOUZA, 1998, p. 174).
Importante destacar também que, na Figura 5, as crianças da primeira fila aparecem
todas calçadas, aparentemente com botas, imagem antagônica à da Figura 4, onde os jovens
funcionários da fábrica que estão em primeiro plano aparecem trabalhando descalços. Por certo,
a fotografia com os alunos tinha o propósito de propagandear a escola e os ideais republicanos,
como mencionado anteriormente. Já a Figura 4 na fábrica comprova o registro de denúncia das
49

condições de trabalho dos operários, apresentada na carta redigida pelo sindicato dos operários
(Figura 3). Nesse sentido, novamente nos reportamos a Kossoy (2001), que explica que o
contexto da produção e o autor da imagem precisam ser considerados na produção fotográfica,
ou seja, o fotógrafo é o filtro cultural da imagem registrada e o mediador da situação que
interfere no resultado da mensagem a ser transmitida.
Na Figura 6 vemos a imagem de outro grupo de alunos de Santo André, um registro de
1909, de uma escola isolada instalada na Rua Coronel Oliveira Lima, no centro da cidade, à
época uma rua pacata de terra batida do Bairro Estação, próximo à estação ferroviária.

Figura 6 – Imagem de alunos da escola na Rua Coronel Oliveira Lima – 1909

Fonte: Banco de Dados do jornal Diário do Grande ABC

Os quarenta e cinco alunos estão todos uniformizados, usando boinas, e os trajes são de
cores claras. Assim como na Figura 5, as crianças estão em postura ereta, organizados por
ordem de tamanho, e os meninos menores, sentados à frente, se posicionam com as mãos nos
joelhos. No quadrante inferior direito, logo à frente do professor, encontra-se um único menino
segurando um instrumento musical, possivelmente uma caixa de repique utilizada em fanfarras
50

escolares. Ao fundo da imagem vemos as janelas da escola e à esquerda da turma encontra-se


o professor José Cardoso Franco, segundo informações da publicação do jornal Diário do
Grande ABC, onde a fotografia foi localizada.
Segundo Gaiarsa (1968), entre os anos de 1911 e 1912, em média, cento e trinta crianças,
de ambos os sexos, frequentavam a escola e estavam divididas nas onze escolas isoladas
municipais da região (GAIARSA, 1968, p. 67). O referido autor apresenta em seu livro o
movimento escolar durante o ano de 1911, conforme segue:

Matriculados: 1953, havendo equilíbrio entre meninos e meninas.


Filhos de pais brasileiros.... .. 447
Filhos de pais estrangeiros.... 904
Alunos brasileiros.... ..... ... 1.238
Alunos estrangeiros.... ..... .... 115
Frequência média anual:
Masculinos: 304; femininos: 358 (GAIARSA, 1968, p. 70).

De acordo com o Portal Digital da Câmara Municipal de Santo André a prefeitura de


São Bernardo (nessa época o território de Santo André era o Bairro Estação, e fazia parte de
São Bernardo) sanciona a Lei nº 199 de 19 de junho de 1917, instituindo o ensino primário
obrigatório para crianças entre 7 e 12 anos; proibindo o trabalho infantil durante o horário da
aula; impondo multa aos pais, tutores e empregadores que não garantissem o direito de
frequência escolar, acarretando prisão àqueles que descumprissem (SANTO ANDRÉ, 1917).
Possivelmente considerando que as famílias priorizavam o trabalho e que poucas crianças
frequentavam a escola. Entretanto o trabalho infantil se manteve como prática comum ao longo
dos anos.
No transcorrer dos anos iniciais do século XX, grande número de escolas isoladas foi
sendo instaladas em toda a região. Segundo o Annuário do Ensino do Estado de São Paulo, em
1936, na Delegacia de Ensino da Capital Paulista, havia 128 grupos escolares e 450 escolas
isoladas (SÃO PAULO, 1936, p. 74) e, no município de São Bernardo, somando grupos
escolares e escolas isoladas, havia um total de 176 unidades escolares (SÃO PAULO, 1936, p.
109).
As alterações ocorridas nas escolas andreenses nos remetem ao estudo de Escolano
(1998) que descreve o espaço-escola como uma “construção histórica” e nos ajuda a pensar
como as escolas se organizaram ao longo dos anos. Segundo o autor, no início a escola era uma
casa, depois um local especializado nas “funções de instrução”, e por fim “salas de aula
separadas por graus ou ciclos e sexos” (ESCOLANO, 1998, p. 46). Ainda de acordo com o
autor:
51

Essa evolução não veio determinada apenas pelas inovações


pedagógicas, mas também pelas exigências das transformações
culturais associadas ao industrialismo, ao positivismo científico, ao
movimento higienista e ao taylorismo. A culturalidade dessas
mudanças reforça, da mesma forma, o sentido educador da
arquitetura, ou seja, seu valor como programa (ESCOLANO, 1998, p.
47).

Na época, São Bernardo era o primeiro entre os nove municípios do Estado de São Paulo
com maior frequência de estudantes, com 37,59 alunos por unidade escolar, conforme indica a
Tabela 5.

Tabela 5 – Frequência de estudantes nas escolas


do Estado de São Paulo
Alunos por
Município
unidade escolar

São Bernardo 37,59

Rio da Pedra 36,42

Guarulhos 36,21

Villa Americana 35,2

Aparecida 35,16

Caçapava 34,5

Villa Bella 33,45

Piracicaba 33,19

Piquete 33,06
Fonte: Reproduzida pela autora, com dados extraídos do
Anuário do Ensino do Estado de São Paulo (1936, p. 112).

Era um período de crescente industrialização e, para atender às exigências de


qualificação da mão de obra, no ano de 1935 a Escola Industrial Júlio de Mesquita foi construída
e administrada pelo município. No início, a escola foi instalada na região central de Santo
André, numa mansão entre as ruas Senador Flaquer e Xavier de Toledo e as oficinas instaladas
em pavilhões, como mostram as Figuras 7 e 8.
As figuras 7 e 8 são ambas da Escola Industrial Júlio de Mesquita; entretanto,
identificamos que na Figura 7 (embora um pouco escura) aparecem apenas mulheres e na Figura
8 somente homens, certamente um retrato da educação daquela época, quando os conteúdos
ensinados eram determinados pelo gênero.
52

Figura 7 – Primeira instalação da Escola Industrial Júlio de Mesquita

Fonte: Gaiarsa (1990)

Figura 8 – Pavilhão das oficinas da Escola Industrial Júlio de Mesquita

Fonte: Gaiarsa (1990)

A estrutura dos prédios também era diferente: a escola para as mulheres foi instalada
numa mansão e a escolas nos homens num pavilhão, uma divisão por gênero, mas que também
53

permite pressupor que seja pela classe social: escola para as filhas da elite e para os filhos dos
trabalhadores. As mulheres, em sua maioria, aprendiam na escola tarefas domésticas, já os
homens recebiam formação para ingressar no mercado de trabalho. A separação das salas de
aulas e dos prédios “reflete as tradições de uma sociologia e de uma pedagogia sexista”
(ESCOLANO, 1998, p. 39).
Depois, entre os anos de 1948-1951 essa escola foi transferida para um novo edifício,
construído em terreno amplo, na Rua Justino Paixão, também na região central, conforme
Figura 9, onde se mantém até os dias atuais. O novo prédio possui características semelhantes
aos grupos escolares construídos no período republicano, em lugares de destaque na cidade
(SOUZA, 1998, p. 130). O acesso se dava pelo centro do edifício, e a construção simétrica
possuía duas alas: masculina e feminina, indicando que o ensino se mantinha dividido por
gênero.

Figura 9 – Escola Industrial Júlio de Mesquita, na Rua Justino Paixão

Acervo: Museu de Santo André

Em 8 de agosto de 1953, pela Lei nº 814, foi criada outra instituição construída e mantida
pela Prefeitura de Santo André: a Faculdade de Ciências Econômicas. Segundo Gaiarsa (1990),
inicialmente a faculdade foi instalada nas dependências da Exposição Industrial que celebrou o
54

4º Centenário da cidade, na região central. Anos mais tarde, com a criação da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras e do Centro de Processamento de Dados, todo o conjunto acadêmico
foi transferido para o Sítio Tangará, num terreno desapropriado pela Prefeitura de Santo André
(GAIARSA, 1990, p. 184). O centro universitário passou então para a denominação Fundação
Santo André. A Figura 10 mostra a fachada do prédio que possui arquitetura moderna, linha
retas, amplo vão livre na parte inferior e salas de aula no primeiro andar. O terreno é arborizado
e, na parte central, notamos um gramado.

Figura 10 – Faculdade de Ciências Econômicas

Acervo: Museu de Santo André

De acordo com Silva (2008), a educação em Santo André foi ocupando espaço na
organização dos serviços municipais, tanto na aplicação de recursos quanto em estrutura,
concomitantemente ao contexto de crescimento econômico, populacional e urbanístico.
O município de Santo André, até 1950, possuía poucas funções públicas; basicamente
se restringia a receber impostos e cuidar dos cemitérios, de acordo com Silva (2008). A partir
da segunda metade do século XX, a cidade de Santo André inicia a organização da estrutura
municipal. A autora explica que foram criadas diferentes diretorias: Diretoria Geral
Administrativa, Diretoria de Obras e Serviços Públicos, Diretoria da Fazenda, Diretoria de
Água e Esgoto, Diretoria de Assistência Médico-Hospitalar e Procuradoria.
55

Importante destacar que na legislação municipal da década de 1950 não aparece


nenhuma diretoria responsável pela Educação. No entanto, em anos anteriores, algumas leis
que dispunham sobre a organização dos serviços municipais mencionavam escolas vinculadas
à Diretoria de Assistência Médico-Hospitalar, diretamente subordinadas ao prefeito, conforme
descrição abaixo:

LEI Nº 487, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1948.


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a seguinte lei:
TÍTULO I
DA ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS MUNICIPAIS
Art. 1º - Os serviços municipais ficam constituídos dos cargos abaixo
indicados, autônomos entre si e diretamente subordinados ao Prefeito, a saber:
I – Gabinete do Prefeito
II – Diretoria Geral Administrativa
a) – Diretoria de Expediente: 1 – Divisão de Expediente, arquivo,
Estatística e Protocolo e 2 – Secção de Estatística e Arquivo
b) – Diretoria de Pessoal
III – Diretoria da Fazenda
1 – Divisão de Contabilidade e Patrimônio
2 – Divisão do Tesouro
3 – Divisão da Receita: 1) – Secção de Lançamentos e 2) – Secção de
Fiscalização e Rendas
4 – Divisão de Compras e Almoxarifado
IV – Diretoria de Obras e Serviços Públicos
1 – Secção de Expediente de Engenharia: 1 – Divisão de obras e Vias
Públicas e
2 – Divisão de Obras Particulares: 1) – Secção de Fiscalização de
Obras Particulares
3 – Divisão de Serviços Municipais: 1) – Secção de Serviços de
Utilidade Pública, 2) – Secção de Topografia, Cadastro e Urbanismo,
3) – Secção de Garagem Municipal
V – Diretoria de Água e Esgotos
VI – Procuradoria
1 – Secção Administrativa
VII – Diretoria de Assistência Médico-Hospitalar
1 – Secção de Clínica Infantil e Puericultura
VIII – Escolas Primárias
IX – Escola Industrial “Júlio de Mesquita”
[...]
CAPÍTULO VIII
DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS
Art. 11 – O ensino primário será ministrado segundo as disposições da
legislação do ensino primário do Estado, sob a orientação e inspeção de
funcionários estaduais previamente designados para esse fim.
CAPÍTULO IX
DA ESCOLA INDUSTRIAL “JÚLIO DE MESQUITA”
Art. 12 – A escola Industrial “Júlio de Mesquita”, reconhecida pelo Governo
Federal, ministrará o ensino segundo a legislação do ensino industrial
estabelecidas na legislação federal e sob imediata fiscalização da
Superintendência do Ensino Profissional do Estado (SANTO ANDRÉ, 1948,
grifo meu).

Além disso, em 29 de outubro de 1945, consta o decreto nº 100, que prevê a criação de
vagas para 30 professores e a seguinte orientação aos docentes:
56

Art. 3º - Compete aos funcionários, de modo geral:


IX – Das Escolas Primárias
Aos Professores:
a) ministrar o ensino segundo as disposições da legislação do ensino primário
do Estado, sob orientação e inspeção de funcionário estadual, previamente
designado para esse fim (SANTO ANDRÉ, 1945).

Nas leis mencionadas anteriormente, observa-se que a organização, o provimento e a


fiscalização das escolas municipais obedecerão à legislação estadual, e que as despesas para a
execução da lei decorrerão por meio de verbas do orçamento municipal.
Nos anos subsequentes, aparece a criação de escolas e vagas para professores, conforme
o Quadro 1.

Quadro 1 – Legislação para criação de escolas e vagas para professores em Santo André
Lei nº Data Destaque da descrição da Lei
Art. 1º - Ficam criadas no quadro de ensino primário 5 (cinco) escolas
mistas municipais.
389 18 de dezembro de 1947
Art. 2º - Ficam criadas na tabela II, [...], 5 (cinco) cargos de professor,
padrão “A”.
Art. 1º - Ficam criadas, no quadro de ensino primário municipal, mais 6
(seis) escolas mistas.
406 18 de fevereiro de 1948
Art. 2º - Ficam criadas na Tabela II, [...], mais 6 (seis) cargos de Professor,
padrão “C”.
Art. 1º - Ficam criadas, no quadro do ensino primário municipal, mais três
escolas mistas, que serão localizadas respectivamente, duas no Grupo
Escolar José Azevedo Antunes, 1º subdistrito de Santo André e uma, no
424 28 de abril de 1948
Grupo Escolar de Camilópolis, 3º subdistrito de Santo André.
Art. 2º - Ficam criados na Tabela II, anexa ao Decreto Lei nº 124, de 27 de
outubro de 1945, mais três cargos de Professor – Padrão “C”.
Art. 1º - Ficam criadas, no quadro do ensino primário municipal, mais 2
(duas) escolas mistas, que serão localizadas na Vila Gerthi – 2º subdistrito
460 25 de outubro de 1948 de Santo André.
Art. 2º - Ficam criados, na Tabela II, [...], mais dois cargos de Professor –
Padrão “C”.
Artigo 1º - Fica criada, no quadro do ensino primário municipal, mais uma
(1) escola mista, que será localizada no bairro Vila Alzira - 1º subdistrito
400 15 de fevereiro de 1949 de Santo André.
Artigo 2º - Fica criado na Tabela II, anexa ao decreto-lei nº 124, de 27 de
outubro de 1945, mais um (1) cargo de Professor, Padrão “F”.
Fonte: Elaborado pela autora, com dados do Portal Digital da Câmara de Vereadores de Santo André.

Vale lembrar que as escolas dessa época eram as escolas isoladas, ou seja, geralmente
uma sala de aula com crianças de várias idades e regida geralmente, por uma única professora.
A partir do ano 1910 as escolas isoladas começaram a ser reunidas em grupos escolares, mas
em Santo André a frequência escolar era baixa e o ensino em escolas isoladas se manteve até
os anos 1960.
57

Na Tabela 6, elaborada por Silva (2008) e baseada nos dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (1953), consta que, desde 1945, na cidade de Santo André, havia
unidades escolares no ensino pré-primário, fundamental, secundário e industrial, entre outros.
Nela também identificamos que, no decorrer dos anos, o ensino primário fundamental comum
se manteve em destaque, com maior número de unidades escolares e matrícula de alunos.
Quanto ao ensino pré-primário infantil, no decorrer dos anos, a quantidade de salas diminuiu;
entretanto, aumentou o número de crianças atendidas.

Tabela 6 – Número de alunos e unidades escolares no Ensino Pré-Primário, Primário e


Não-Primário (1945-1949)
Modalidades de Ensino - Década de 1940
Anos Pré- Primário Não - Primário
TOTAL TOTAL
Primário Comum Supletivo Secundário Industrial Comercial Outros
UNIDADES ESCOLARES
1945 5 77 13 95 1 14 6 9 30
1946 4 81 15 100 1 12 6 7 26
1947 2 93 34 129 1 14 7 7 29
1948 3 107 35 145 2 13 7 8 30
1949 - - - - 3 10 6 6 25
MATRÍCULA GERAL
1945 361 13.727 1.256 15.344 383 525 742 801 2451
1946 423 15.396 1.182 17.001 461 434 860 657 2412
1947 470 16.217 1.997 18.684 342 471 1.075 642 2530
1948 454 17.977 1.764 20195 424 522 1.176 834 2956
1949 - - - - 799 354 798 769 2720
Fonte: Elaborada pela autora a partir de Silva (2008).

O Departamento de Saúde, Educação e Assistência Social da cidade de Santo André foi


instituído pela Lei nº 743, em 29 de novembro de 1952, sendo diretamente subordinado ao
prefeito municipal.
Em 27 de setembro de 1954, a Lei nº 929 modifica os serviços municipais e cria quatro
secretarias, dentre elas a Secretaria de Assuntos Jurídicos, Interno e Culturais. Subordinado a
esta secretaria foi organizado o Departamento de Educação e Cultura, que era responsável pelo
Ensino Profissional, pelo Ensino Primário, pela Biblioteca e pela Discoteca Pública, e tinha as
seguintes funções, conforme descreve a lei:

Art. 13º - Compete à Secretaria dos Assuntos Jurídicos, internos e Culturais:


III - Por intermédio do Departamento de Educação e Cultura:
• superintender e inspecionar as escolas primárias e os cursos de
alfabetização de adultos, municipais;
58

• fiscalizar o cumprimento da legislação especial aplicável às escolas


municipais, na parte administrativa, inclusive a Escola Industrial “Júlio de
Mesquita”;
• promover festividades nas escolas por ocasião de comemorações de datas
cívicas;
• patrocinar campanhas culturais;
• promover e incentivar concertos, conferências e recitais;
• organizar e manter em funcionamento regular, a biblioteca e Discoteca
Pública Municipal;
• registrar as entidades culturais, de acordo com o Decreto-lei nº 105, de 10
de abril de 1944;
• verificar o emprego das subvenções recebidas do Município pelas
entidades culturais;
• distribuir as Bolsas de Estudo instituídas pela legislação municipal
vigente;
• a criação de parques infantis e sua orientação (SANTO ANDRÉ, 1954)

Na década de 1950, o município se responsabilizava diretamente pela criação das


escolas isoladas, pela construção e manutenção dos prédios escolares e pelo pagamento dos
funcionários, conforme citado anteriormente. Silva (2008) relata que, mesmo a situação
financeira do município na época sendo precária, mantinha a organização escolar, conforme
apresenta o texto a seguir:

No relatório de 1954, reconhece-se que as instalações das escolas eram


precárias (prédios ou salas alugadas), no entanto, deve-se reconhecer que
houve um esforço por parte do poder público municipal em manter as salas
com certas condições de uso com algumas reformas que foram levadas a cabo
como pinturas, consertos diversos, colocação de filtros, distribuição de
material escolar às crianças e material didáticos às professoras. [...] Os
municípios viviam à mercê do Governo do Estado, tendo que garantir ao
mesmo as condições de oferta do serviço de sua responsabilidade – aluguel de
prédio para instalação da delegacia de polícia ou da delegacia de ensino
(SILVA, 2008, p. 47).

A política desempenhada pelos governos andreenses em custear as escolas é decorrente


do Convênio Nacional do Ensino Primário23, um Decreto Federal que instituía o Fundo
Nacional do Ensino Primário24, pelo qual o governo do Estado destinava recursos financeiros
às prefeituras, que os aplicava especificamente na educação primária.
No entanto, com a industrialização, o aumento dos tributos e recursos financeiros, a
administração pública destinou maior investimento à educação, que em verdade, atendia aos
interesses das indústrias, sendo as escolas profissionalizantes as que recebiam a maior parte dos
recursos.

23
Decreto Municipal nº 43 de 13 de setembro de 1943.
24
Decreto-Lei nº 13.732, de 14 de dezembro de 1943.
59

Antes disso, em 1936, a Escola Industrial Júlio de Mesquita se destacava no quadro de


funcionários municipais de Santo André. Isso se evidencia na Lei nº 310, de 07 de novembro,
que organiza os valores dos salários dentro das funções específicas e cargos, conforme
descrição a seguir:

LEI Nº 310, DE 07 DE NOVEMBRO DE 1936


Altera parcialmente o quadro de funcionários.
O Doutor Felício Laurito, Prefeito Municipal de São Bernardo, Estado e
Comarca de São Paulo,
Faz saber que a Câmara Municipal de São Bernardo, em sua sessão de 6 de
novembro do corrente, decretou e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º – A organização do quadro de funcionários objeto do ato nº 183, fica
assim alterado:
1ª Seção – Expediente e Procuradoria
Expediente
8 Contínuos a 2:400$000 anuais
4 Guardas a 2:880$000 anuais
1 4º Escriturário com 4:320$000 anuais
5ª Seção – I – Instrução Pública Primária
1 Inspetor do Ensino Municipal (normalista) com 4:800$000 anuais
II – Instrução Profissional
Escola Profissional Mista Municipal “Dr. Júlio de Mesquita”
2 1ªs Mestras de Cortes e Confecções a 4:200$000 anuais
1 2ª Mestra de Cortes e Confecções a 3:600$000 anuais
1 1ª Mestra de Bordados e Roupas Brancas a 4:200$000 anuais
1 2ª Mestra de Bordados e Roupas Brancas a 3:600$000 anuais
1 Mestra de Flores e Artes Aplicadas a 4:200$000 anuais
1 Mestre de Mecânica a 4:200$000 anuais
1 Mestre de Marcenaria a 4:200$000 anuais
1 Ajudante do Mestre de Mecânica acumulando desenho a 3:600$000 anuais
1 Mestre de Tecelagem a 4:200$000 anuais
1 Professora de aulas teóricas (normalista) 4:200$000 anuais
1 Professor de aulas teóricas (normalista) 2:400$000 anuais
1 Mestra de Economia Doméstica e Química a 4:200$000 anuais
1 Mestra de Desenho Profissional e Plástica 4:200$000 anuais
1 Professor de Puericultura-Médico a 4:800$000 anuais
1 Educadora Sanitária a 4:200$000 anuais
1 Auxiliar da Educadora Sanitária a 3:600$000 anuais
1 Professor de Educação Física a 6:000$000 anuais
1 Inspetora Almoxarife Escriturária a 4:200$000 anuais
1 Porteiro a 3:000$000 anuais
2 Auxiliares com prática de cozinha a 2:400$000 anuais
2 Serventes com prática de cozinha a 2:400$000 anuais
1 Servente Contínuo a 2:400$000 anuais
1 Servente Portador a 2:400$000 Anuais
4ª Seção - Higiene Laboratório de Análises
1 Analista a 6:000$000 anuais
Art. 2º - A presente lei entrará em vigor em 1º de janeiro de 1937, revogadas
as disposições em contrário.
O Diretor do Expediente a faça publicar.
Secretaria da Prefeitura Municipal de São Bernardo, 07 de novembro de 1936.
Prefeito Municipal, Felício Laurito (SANTO ANDRÉ, 1936, grifo meu).

Nesta lei é possível identificar os cursos oferecidos pela Escola Júlio de Mesquita, por
meio da especialidade dos cargos de professor, mestre etc., e compreender que a escola tinha
60

como objetivo a formação do trabalhador operário das indústrias da época, tanto masculino
quanto feminino. Aos homens, possivelmente, eram oferecidos cursos de mecânica, marcenaria,
tecelagem, desenho profissional e prática; e às mulheres cursos de corte e confecções, bordados
e roupas brancas, flores e artes, economia doméstica e química.
No Anuário Estatístico Brasileiro (1953) consta que, das 12.996 escolas do estado de
São Paulo, 774 eram da categoria industrial, abaixo somente das escolas primárias, conforme a
Tabela 7.

Tabela 7 - Unidades Escolares, segundo


as categorias do ensino - São Paulo - 1949
Categoria de Ensino Quantidade
Primário 10.347
Industrial 774
Secundário 470
Comercial 324
Pedagógico 242
Artístico 186
Superior 88
Agrícola 19
Outros 546
Total 12.996
Fonte: Produzida pela autora, com dados extraídos do Anuário Estatístico Brasileiro (1953), p. 390.

Segundo Silva (2008), a política educacional de Santo André direcionou o atendimento


para duas classes sociais distintas: aos trabalhadores e seus filhos, e à elite. Aos trabalhadores
e seus filhos eram oferecidas escolas com classes de alfabetização no período diurno e noturno,
e a formação profissional na Escola Industrial Júlio de Mesquita. Para a elite, existiam os cursos
ginasiais e colegiais do Instituto Américo Brasiliense e da Faculdade de Ciências Econômicas.
Durante toda a década de 1950 e 1960, conforme dados obtidos no banco de dados do
Portal Digital da Câmara dos Vereadores de Santo André, dezenas de terrenos foram
desapropriados pela prefeitura de Santo André e doados ao Governo do Estado de São Paulo
para a construção de Grupos Escolares, conforme indica a Tabela 8.
61

Tabela 8 – Leis e Decretos para desapropriação de terrenos e doação de imóveis


para construção e/ou ampliação de Grupos Escolares, entre as décadas de 1950 e 1960
Ano de
Quantidade de Leis e Decretos
publicação
nº 556, de 7/junho
1950
nº414, de 7/outubro
1951 nº 599, de 9/fevereiro
nº 674, de 13/março
nº 576, de 12/maio
nº 596, de 20/agosto
1952
nº 723, de 4/setembro
nº 754, de 19/dezembro
nº 757, de 18/dezembro
nº 669, de 4/março
nº791, de 25/março
nº 697, de 22/abril
1953
nº 738, de 27/agosto
nº 757, de 13/outubro
nº 843, de 25/novembro
nº 799, de 25/fevereiro
nº 887, de 22/abril
nº 849, de 3/julho
1954 nº 905, de 12/julho
nº 880, de 5/outubro
nº 885, de 14/outubro
nº 904, de 21/dezembro
nº 916, de 11/janeiro
nº 919, de 4/fevereiro
nº 929, de 8/março
nº 948, de 11/março
nº 960, de 25/março
1955 nº 1004, de 31/março
nº 1007, de 15/abril
nº 1010, de 18/abril
nº 997, de 9/agosto
nº 1043, de 18/outubro
nº 1024, de 26/outubro
nº 1078, de 17/fevereiro
1956 nº 1100, de 30/maio
nº1158, de 10/dezembro
nº 1281, de 21/novembro
1957 nº 1282, de 21/novembro
nº 1285, de 3/dezembro
nº 1351, de 23/maio
1958
nº 1330, de 16/junho
nº 1694, de 21/junho
1961
nº 14735, de 8/novembro
nº 1823, de 26/maio
1962
nº 1941, de 12/dezembro
1963 nº 1977, de 15/março
nº 2662, de 1/março
nº 2678, 25/setembro
1964 nº 2694, de 28/outubro
nº 2699, de 6/novembro
nº 2700, de 9/novembro
nº 3910, de 15/agosto
1967
nº 3911, de 15/agosto
62

nº 3913, de 15/agosto
nº 3917, de214/agosto
nº 2824, de 4/dezembro
nº 2834, de 4/dezembro
nº 2859, de 27/dezembro
nº 4151, 1/fevereiro
nº 4152, 1/fevereiro
nº 4153, 1/fevereiro
nº 4154, 1/fevereiro
nº 4155, 1/fevereiro
nº 4156, 1/fevereiro
nº 4157, 1/fevereiro
1968 nº 4158, 1/fevereiro
nº 4159, 1/fevereiro
nº 4160, 1/fevereiro
nº 4161, 1/fevereiro
nº 4195, de 21/março
nº 2918, de 31/março
nº 4208, de 3/abril
nº 4356, de 25/julho
nº 5117, de 23/outubro
1970
nº 5116, de 23/outubro
Fonte: Elaborada pela autora, com dados extraídos do
Portal Digital da Câmara de Vereadores de Santo André.

Na Tabela 8, podemos identificar o empenho legislativo da Prefeitura de Santo André


em disponibilizar terrenos para o Governo do Estado de São Paulo construir escolas na cidade
que crescia e se urbanizava.
A esse respeito, Souza (1998) nos ajuda a pensar sobre a importância do Grupos
Escolares e a demonstração de progresso que esses edifícios imprimiram nos locais onde eram
instalados. A autora explica que durante o século XIX, no Brasil, a escola pública era a casa-
escola dava lugar aos edifícios-escola, ou seja, naquela época as escolas públicas eram a
extensão a casa do professor, na maioria das vezes, outras escolas ocupavam cômodos em
comércios, paróquias ou cadeias (SOUZA, 1998, p. 122). Os prédios dos Grupos Escolares, de
acordo com a autora, passaram a exercer “uma função educativa no meio social”, estabelecendo
“a correspondência entre a importância da escola e o espaço ocupado”, valorizando a profissão
do professor e o apreço dos alunos e familiares pela escola (SOUZA, 1998, p. 123). Construídos
inicialmente nos centros urbanos, e em lugares de destaque, “os grupos escolares irradiavam
sua dimensão educativa para toda a sociedade”. Modificaram não somente a paisagem das
cidades, mas se tornaram locais de comemorações, solenidades e um espaço de encontro
(SOUZA, 1998, p. 116). “A criação dos grupos escolares surge, portanto, no interior do projeto
político republicano de reforma social e de difusão da educação popular” (SOUZA, 1998, p.
30), reunindo num mesmo prédio as escolas isoladas existentes numa determinada localidade.
63

No banco de dados do Portal Digital da Câmara dos Vereadores de Santo André constam
diversos decretos e leis informando que, dentro desses grupos escolares, havia salas de escolas
primárias municipais25.. Ou seja, algumas das escolas isoladas existentes no município foram
transferidas da casa do professor ou de casas alugadas para dentro dos grupos escolares.
Portanto, num mesmo prédio escolar havia professores funcionários do Governo do Estado de
São Paulo e servidores municipais de Santo André. A lei e os três decretos abaixo são exemplos
das transferências ocorridas entre os anos de 1948 e 1951.

LEI Nº 424, DE 28 DE ABRIL DE 1948


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a seguinte lei: Art.
1º - Ficam criadas, no quadro do ensino primário municipal, mais três escolas
mistas, que serão localizadas respectivamente, duas no Grupo Escolar José
Azevedo Antunes, 1º subdistrito de Santo André e uma, no Grupo Escolar de
Camilópolis, 3º subdistrito de Santo André (SANTO ANDRÉ, 1948).

DECRETO Nº 315, DE 09 MARÇO DE 1949


O Prefeito Municipal de Santo André, usando das atribuições que lhe confere
[...], tendo em vista a conveniência do ensino municipal,
DECRETA:
Art. 1º - Fica localizada no Grupo Escolar de Camilópolis, primeiro sub-
distrito [sic] de Santo André a escola municipal, noturna Rui Barbosa que
funciona atualmente na Praça do Carmo nº 48, continuando a rege-la o seu
titular Demétrio Frederico (SANTO ANDRÉ, 1949).

DECRETO Nº 481, DE 17 DE MAIO DE 1951


O Prefeito Municipal de Santo André, usando de suas atribuições legais, e
tendo em vista a conveniência do ensino municipal,
DECRETA:
Art. 1º - Fica transferida a escola municipal criada pela Lei nº 424, de 28 de
abril de 1948, localizada na Fazenda Oratório, regida pela Professora Maria de
Lourdes Rodrigues Lima, para o Grupo Escolar Santa Terezinha no 1º
subdistrito de Santo André (SANTO ANDRÉ, 1951).

DECRETO Nº 542, DE 20 DE NOVEMBRO DE 1951


O Prefeito Municipal de Santo André, usando da atribuição que lhe confere
[...] e tendo em vista a conveniência do Ensino Público Municipal,
DECRETA:
Art. 1º - Fica localizada no Grupo Escolar da vila Vitória, no 1º subdistrito de
Santo André, a escola municipal Cesário Bastos (SANTO ANDRÉ, 1951).

Além das escolas primárias sob responsabilidade financeira da prefeitura municipal de


Santo André, havia também escolas pré-primárias. Conforme a Lei nº 1064, de 14 de dezembro
de 1955, a Prefeitura de Santo André criou vinte e três escolas primárias isoladas, a serem
instaladas na cidade. Segundo o Decreto nº 1074, de 27 de janeiro de 1956, que nomeava as

25
Lei nº 406 de 28 de fevereiro de 1948; Lei nº 424 de 28 de abril de 1948; Lei nº 314 de 7 de março de 1949;
Decreto nº 315 de 9 de março de 1949; Decreto nº 334 de 05 de agosto de 1949; Decreto nº 481 de 17 de maio de
1951.
64

vinte e três escolas, duas delas referiam-se a escolas pré-primárias, instaladas num bairro de
casas populares e com crescente quantidade de famílias de operários das indústrias.

DECRETO Nº 1.074, DE 27 DE JANEIRO DE 1956


O Prefeito Municipal de Santo André, usando das atribuições que lhe
são conferidas pelo art. 52, n º 1, da Lei n º 1, de 18 de setembro de
1947,
DECRETA:
Art. 1º - As escolas municipais relacionadas criadas pela Lei 1.064,
de 14 de dezembro de 1955, passarão a ter as seguintes denominações:
E.M. “Machado de Assis”, antiga 2º [sic] E.M. “Cesar Martinez”,
localizada à Rua Suíça, 657, Parque das Nações;
E.M. “Euclydes da Cunha”, antiga 3 º [sic] E.M. Vila Curuçá,
localizada à Rua Egito, 4.
E.M. “Santos Dumont”, antiga 1º [sic] E.M. Vila Luzita, localizada à
Av. D. Pedro I, 3.230.
E.M. “Vital Brasil”, antiga 2 º [sic] E.M. Vila Luzita, localizada à Av.
D. Pedro I, 3230.
E.M. “Carlos Gomes”, antiga E.M. Firma Fambra, localizada à Rua
Professor Garret, 131.
E.M. “João Ramalho”, antiga E.M. 5º [sic] de Vila Assunção,
localizada à Av. Alfredo Maluf, 781.
E.M. “Tiradentes”, antiga E.M. 1º [sic] Arraial Santo Antônio,
localizada à Av. Alfredo Maluf, 781.
E.M. “Júlia Lopes de Almeida”, antiga E.M. 2º [sic] Arraial Santo
Antônio, localizada à Avenida Alfredo Maluf, 781.
E.M. “Barão do Rio Branco”, antiga E.M. 2 º [sic] Joaquim Nabuco,
localizada no Conjunto Residencial do I.A.P. I.
E.M. “Pedro Américo”, antiga 1º [sic] Esc. Noturna Santa Terezinha,
localizada à Rua Paulinha Isabel de Queiroz, 93, Bangu.
E.M. “Castro Alves”, antiga 2º [sic] Esc. Noturna Santa Terezinha,
localizada à Rua Paulinha Isabel de Queiroz, 93, Bangu.
E.M. “Imperatriz Leopoldina”, antiga 1 º [sic] Esc. Noturna de
Camilópolis, localizada à Rua Nilde, 160.
E.M. “Tereza Cristina”, antiga 1 º [sic] Esc. M. da Torrinha,
localizada à Al. São Bernardo, 113.
E.M. “Benjamin Constant”, antiga 2º [sic] Esc. M. da Torrinha,
localizada à Al. São Bernardo, 113.
E.M. “Duque de Caxias”, antiga 3 º [sic] Esc. M. da Torrinha,
localizada à Al. São Bernardo, 113.
E.M. “Paulo Setubal”, antiga 4º [sic] Esc. M. da Torrinha, localizada
à Al. São Bernardo, 113.
E.M. “General Rondon”, antiga 5º [sic] Esc. M. da Torrinha,
localizada à Al. São Bernardo, 113.
E.M. “Pio X”, antiga E.M. Fazenda da Juta, localizada à Al. São
Bernardo, 113.
E.M. Pré-Primária “São José”, antiga Jardim da Infância “São José”,
localizada na Fundação das Casas Populares, Rua Rio Grande do
Norte.
Jardim da Infância “São José”, antigo Jardim da Infância “São José”,
localizada na Fundação das Casas Populares, Rua Rio Grande do
Norte.
E.M. “Tibiriçá”, antiga E.M. 1 º [sic] Vila Tibiriçá, localizada na Vila
Tibiriçá, s/ número.
E.M. “Adolfo Lutz” antiga 2 º [sic] E.M. Vila Tibiriçá, localizada na
Vila Tibiriçá, s/ número.
65

E.M. “Clóvis Bevilaqua”, antiga E.M. 3 º [sic] Arraial Santo Antônio,


localizada à Av. Alfredo Maluf, 781.
Art. 2º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Santo André, em 27 de janeiro de 1956.
PEDRO DELL’ANTONIA
PREFEITO MUNICIPAL (SANTO ANDRÉ, 1956, grifo meu).

Duas décadas depois da construção dos grupos escolares, um movimento semelhante


acontece na cidade de Santo André. No início dos anos 1970 o governo municipal inicia um
longo processo de desapropriação de terrenos para a construção de escolas pré-primárias.
Tal movimento se fortaleceu com a promulgação da Lei nº 5692 de 11 de agosto de
197126. A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Brasileira - LDB unificou as escolas
primárias e o ginásio, passando a denominá-los ensino de 1º grau. Com isso a responsabilidade
pelas escolas pré-primárias foi transferida para a municipalidade, e no decorrer dos anos, as
prefeituras foram se organizando para acolher as crianças menores de 7 anos de idade.
Seguindo as determinações da LDB, a prefeitura da cidade de Santo André passou por
uma reforma administrativa e em 13 de novembro de 1972 promulgou a Lei nº 3939,
constituindo a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Santo André.

LEI Nº 3.939, DE 13 DE NOVEMBRO DE 1972.


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a seguinte lei:
CAPÍTULO I - DOS ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO
Art. 1º - A Prefeitura Municipal de Santo André, para a execução dos serviços
municipais, fica constituída dos seguintes órgãos, autônomos entre si e
diretamente subordinados ao Prefeito:
– SECRETARIA DE ASSUNTOS INTERNOS E JURÍDICOS;
– SECRETARIA DA FAZENDA;
– SECRETARIA DE OBRAS E SERVIÇOS MUNICIPAIS;
– SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPORTES;
– SECRETARIA DE SAÚDE PÚBLICA E ASSISTÊNCIA SOCIAL.
Art. 58 – A [sic] Secretaria de Educação, Cultura e Esportes compete executar
atividades relativas à promoção de auxílios e subvenções, festejos da cidade,
bem como planejar, executar e manter atividades relativas à difusão cultural, à
promoção de assistência escolar e esportiva, de bibliotecas, de cursos e
recreações esportivas e de alimentação escolar.
Art. 59 – O Departamento de Educação, Cultura e Esportes, compreende:
1.4.1.1. – Divisão de Educação e Cultura;
1.4.1.2. – Divisão Administrativa do Estádio Municipal.
Art. 60 – A Divisão de Educação e Cultura constitui-se dos seguintes órgãos:
1.4.1.1.1. – Seção de Difusão Cultural;
1.4.1.1.2. – Seção de Bibliotecas;
1.4.1.1.3. – Seção de Alimentação Escolar;
1.4.1.1.0.1. – Setor de Administração de Teatros e Auditórios.
Art. 61 – A Divisão Administração do Estádio Municipal constitui-se dos
seguintes órgãos:

26
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, nº 5692/1971, está disponível no Portal Digital da Câmara
dos Deputados, no seguinte endereço: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-
1971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html
66

1.4.1.2.1. – Seção de Transportes;


1.4.1.2.0.1. – Setor de Expediente.
Art. 62 – Ao Departamento de Educação, Cultura e Esportes compete executar
atividades relativas ao planejamento, execução e manutenção da difusão
cultural, da promoção à assistência escolar e esportiva, de bibliotecas, de
cursos e recreações esportivas e de alimentação escolar do Município.
Art. 63 – Ao Conselho Municipal de Auxílios e Subvenções compete elaborar
e aprovar normas reguladoras da fixação e concessão de subvenções e auxílios
a sociedades civis, assistenciais, educacionais, culturais e esportivas sem fins
lucrativos, bem como aprovar o pagamento de auxílios e subvenções.
Art. 64 – A [sic] Comissão Permanente de Festejos compete organizar e
supervisionar os festejos que forem indicados pelo Prefeito Municipal,
inclusive: Carnaval, Dias das Mães, Festas Natalinas, Fundação da Cidade e
outros.
Art. 65 – Ao Setor de Correspondência compete redigir, bem como controlar a
expedição e recebimento da correspondência da Secretaria de Cultura,
Educação e Esportes, inclusive o encaminhamento de convites e ofícios
(SANTO ANDRÉ, 1972).

Segundo Cavalcanti (2020), foi a partir da criação da Secretaria de Educação, que a


administração municipal começou a planejar a modernização das escolas pré-primárias. E entre
os anos de 1977 e 1983, no governo do prefeito Lincoln Grillo, os jardins de infância municipais
deixaram de ser espaços de recreação e passaram a assumir função escolar.
As escolas pré-primárias municipais, instaladas em prédios construídos especificamente
para esta modalidade de ensino, receberam o nome de Centros de Educacionais, Assistenciais
e Recreativos – CEAR, assunto que será abordado nos próximos capítulos deste estudo.
67

CAPÍTULO II – De Curso de Recreação Infantil a Centro Educacional, Assistencial e


Recreativo: os Jardins de Infância da cidade de Santo André

Na cidade de Santo André, antes da década de 1970, não havia instituições públicas
municipais específicas para acolher as crianças pequenas. Como lemos no capítulo anterior, as
crianças eram acolhidas em salas de aula dentro dos Grupos Escolares administrados pelo
Governo Estadual. Além dessas, nessa época as instituições que acolhiam as crianças entre 4 e
6 anos de idade eram escolas privadas ou instituições vinculadas à Igreja Católica e que
recebiam subvenção financeira da Prefeitura de Santo André.

2.1 Escolas privadas e instituições subvencionadas para acolhimento de crianças


pequenas

Na cidade de Santo André, durante os anos 1960, houve crescente quantidade de


instituições privadas oferecendo acolhimento às crianças pequenas, entre 4 e 6 anos de idade.
Tal crescimento pode ter sido causado pela ausência do poder público municipal para oferecer
escolas nessa faixa etária. No jornal Diário do Grande ABC, veículo de comunicação com
grande circulação na região, encontramos diversos anúncios, como indicam as Figuras 11, 12 e
13.
Na Figura 11 lemos no anúncio que as instituições oferecem o atendimento na
modalidade jardim de infância ou curso maternal, o que corresponde às crianças com idade
entre 3 e 5 anos. E oferecem também a modalidade de ensino pré-primário que, diz respeito às
crianças com idade de 6 anos, e se dedicava exclusivamente à formação das crianças para
ingresso na escola primária de alfabetização.
Nos anúncios das escolas Pimentinha e Pequeno Príncipe, aparece a informação sobre
a testagem das crianças por meio da avaliação do Quociente Intelectual – QI. Isso nos permite
refletir sobre qual seria a finalidade dessa avaliação. Provar a qualidade da escola e do ensino
oferecido? Identificar crianças incapazes? Acompanhar as tendências psicopedagógicas da
época? Demonstrar que a escola é frequentada por crianças selecionadas e com alto grau de
inteligência? Não sabemos ao certo; entretanto, ao realizar esse tipo de teste, as escolas
demonstram acompanhar as inovações pedagógicas da época, década de 1970.
68

Figura 11 – Anúncios de Instituições para Crianças de 3 a 6 anos - 1969

Acervo – Arquivo do jornal Diário do Grande ABC – News Seller – publicado em 9 de fevereiro de 1969, 2º
caderno, p. 13.

Buscamos a obra de Campos et al. (2014), que nos ajuda a pensar por que os testes de
QI tornaram-se comuns no Brasil a partir década de 1930. As autoras, que estudaram a aplicação
de tais testes nas escolas de Belo Horizonte, lembram que:

A mensuração da inteligência tornou-se, na época [década de 1930],


compulsória para o início da escolarização das crianças,
fundamentando a organização de classes homogêneas definidas pela
idade mental dos alunos.
No decorrer dos anos de 1930, foram adaptados e estandardizados,
para a população de Belo Horizonte, os testes de QI elaborados por
Binet e Simon, em Paris, Ballard na Inglaterra e Florence
Goodenough nos Estados Unidos, aplicados a uma larga amostra da
população infantojuvenil, buscando-se descrever as curvas de seu
desenvolvimento cognitivo. A partir daí, o barema obtido deveria ser
usado na classificação dos estudantes das escolas primárias e dos
candidatos à escola secundária (CAMPOS; GOUVEIA;
GUIMARÃES, 2014, p. 234).
69

O anúncio da escola Pequeno Príncipe, quando se refere ao teste de QI, utiliza o seguinte
argumento: “evitando problemas de ordem educacional futuros”; porém não indica a relação
entre o resultado do teste e os problemas de aprendizagem. Ao mesmo tempo, na propaganda
publicada no jornal, a escola declara que se responsabiliza pelo aproveitamento educacional do
aluno. Na mesma publicidade fica evidente que a escola pré-primária era uma espécie de curso
preparatório para os alunos ingressarem na escola primária, conforme indica a frase “há
necessidade de que o pré seja feito com antecedência mínima de 6 meses” para o ingresso ao
curso primário.

Figura 12 – Anúncio de Instituição para Crianças de 3 a 6 anos - 1969

Acervo – Arquivo do jornal Diário do Grande ABC – News Seller – publicado em 8 de abril de 1969, 1º caderno,
p. 11.

Preparar as crianças para ingressar na escola primária foi uma proposta que se
evidenciou a partir das décadas de 1960 e 1970, porque, com a desaceleração da economia
brasileira, o aumento da inflação e o crescimento da dívida externa, consequentemente foi
ampliada a miséria entre a população mais pobre, refletindo no rendimento escolar das crianças.
Segundo Kishimoto (1990), no período entre 1969 e 1972, a repetência e a expulsão alcançaram
índices alarmantes, chegando a representar 67% dos alunos (KISHIMOTO, 1990, p. 64). A pré-
escola, então, emerge como solução para os problemas do sistema educativo e alternativa para
diminuir as desigualdades sociais.
70

No anúncio da Escola Experimental Saint Exupéry, chama a nossa atenção a propaganda


de uso do Método Montessori, uma perspectiva educacional “embasada numa educação integral
alicerçada na liberdade, na atividade e na individualidade” (CAMPOS, 2017, p. 8), com didática
própria, que exige uma série de materiais específicos para a sua aplicação e execução. Segundo
Campos (2017), “o processo de institucionalização do método Montessori no Brasil foi
capitaneado por diversos sujeitos, em diferentes lugares do país, com apropriações e
representações” (CAMPOS, 2017, p. 8). O uso desse método demonstra que a instituição
acompanhava as inovações pedagógicas da década de 1970.

Figura 13 – Anúncio de Instituição para Crianças de 3 a 6 anos - 196927

Acervo – Arquivo do jornal Diário do Grande ABC – News Seller – publicado em 8 de abril de 1969, 1º caderno,
p. 11.

Identificamos nos anúncios das escolas Pequeno Príncipe e Saint Exupéry que as
instituições divulgavam receber crianças tanto para o atendimento pré-primário quanto para o
atendimento primário, como lemos no primeiro parágrafo da Figura 12 e na segunda linha do
título da Figura 13. Desse modo, concluímos que também não eram instituições de atendimento
específico às crianças pequenas, elas atendiam vários níveis de ensino, assim como as escolas
primárias mencionadas no Capítulo I.
Na década de 1960, a cidade de Santo André concedia subvenção financeira a 12
instituições assistenciais que acolhiam crianças pequenas: assim dispõe a Lei nº 2308, de 14 de
dezembro de 1964, disposta no banco de dados do Portal Digital da Câmara dos Vereadores de
Santo André. Abaixo seguem trechos da lei:

LEI Nº 2.308, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1964


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a
seguinte lei:
Art. 1º - Fica a Prefeitura Municipal autorizada a conceder, no
exercício de 1965, as seguintes subvenções:

27
No mesmo endereço funciona atualmente uma Escola de Educação Infantil chamada Probei.
71

I – PARA FINS ASSISTENCIAIS


Cr$
1 Ação social da Paróquia de Santo André 900.000,00
(...)
9 Associação Assistencial e Educacional da
Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Bairro 50.000,00
Campestre
(...)
24 Centro de Assistência à Infância (Lions
480.000,00
Clube)
(...)
27 Educandário Santo Antônio de Vila Alpina 350.000,00
28 Instituto Sagrado Coração de Jesus 200.000,00
(...)
30 Instituto de Meninos São Judas Tadeu – Av.
100.000,00
Itacira, 2839 – SP
(...)
36 Jardim da Infância e Classe Especial
660.000,00
Caçulinha de Santo André
(...)
38 Orfanato Santa Eliza 70.000,00
(...)
II – PARA ASSISTENCIA AO MENOR (manutenção)
Cr$
1 Cidade dos Meninos Maria Imaculada 3.800.000,00
2 Casa da Criança 600.000,00
3 Corpo de Patrulheiros Mirins de Santo
3.000.000,00
André
4 Instituto Assistencial Lar de Maria 600.000,00
5 Lar Menino Jesus 2.000.000,00
Art. 2º - As despesas decorrentes do pagamento das subvenções
referidas nos incisos I, II, III e IV do artigo 1º, correrão por conta das
seguintes verbas do orçamento de 1965.
A – Inciso I Verba 5000-32-15-89 – Nº IV
B – Inciso II Verba 5000-32-15-89 – Nº III
C – Inciso III Verba 6000-32-15-69
D – Inciso IV Verba 6000-43-44-69
Art. 3º - As subvenções enumeradas nos incisos I e II, do artigo 1º,
serão pagas em duodécimos mensais.
Art. 4º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário (SANTO ANDRÉ, 1964).

Nessa lei de 1964 observamos que o valor do orçamento municipal de Santo André
destinado às despesas para o pagamento de subvenções às instituições que acolhiam crianças
andreenses, era cerca de Cr$ 12.810.000,00 (doze milhões, oitocentos e dez mil cruzeiros).
A receita geral prevista para o ano de 1964 em Santo André, foi de Cr$ 5.295.170.000,00
(cinco bilhões, duzentos e noventa e cinco milhões e cento e setenta mil cruzeiros), de acordo
com a Lei nº 2.118, de 9 de dezembro de 1963. Portanto o custo com as subvenções
correspondia a aproximadamente 0,24% do orçamento, porcentagem pequena quando
comparada ao montante geral da arrecadação municipal.
72

2.2 Jardins de Infância e classes Pré-Primária: salas instaladas dentro dos Grupos
Escolares

Concomitantemente às escolas privadas e às instituições subvencionadas, nos Grupos


Escolares havia salas de aula para crianças em idade pré-escolar, e as professoras que
lecionavam nessas salas eram funcionárias da Prefeitura Municipal de Santo André, conforme
mencionado no Capítulo I, demonstrando assim que a cidade oferecia, embora de maneira
tímida, o ensino público municipal para as crianças pequenas, antes do ingresso no ensino
primário.
No banco de dados do Portal Digital da Câmara Municipal de Santo André foi possível
verificar que, na década de 1950, havia 34 professores em cargo efetivo nas Escolas Primárias
Municipais, de acordo com a Lei nº 929, de 27 de setembro de 1954. Na mesma lei consta que
o salário pago aos professores seguia um quadro específico destinado aos funcionários do
ensino, e correspondia ao valor de Cr$ 3.600,00 (três mil e seiscentos cruzeiros), conforme
trechos da legislação descritas abaixo:

LEI Nº 929, DE 27 DE SETEMBRO DE 1954


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Os serviços municipais passam a ser executados pelos órgãos abaixo
constituídos, autônomos entre si e diretamente subordinados ao Prefeito, a
saber:
(...)
Art. 20 - Os cargos dos funcionários da Prefeitura de Santo André são
agrupados nos seguintes quadros, anexos à presente lei:
I - Quadro geral (Q.G.) e
II - Quadro do ensino (Q.E.).
(...)
Art. 23 - Os cargos do Quadro de Ensino são isolados, de provimento efetivo,
mediante concurso, na forma prevista nas leis.
Art. 24 - O padrão de vencimento, a denominação e a forma de provimento dos
cargos integrantes dos Quadros anexos à presente lei, serão os indicados nas
respectivas Tabelas.
Art. 29 - A escala de padrões de vencimentos do funcionário municipal fica
alterada para a seguinte forma:
PADRÃO VENCIMENTOS MENSAIS
A Cr$ 2.300,00
B Cr$ 2.500,00
C Cr$ 2.700,00
D Cr$ 3.000,00
E Cr$ 3.300,00
F Cr$ 3.600,00
G Cr$ 3.900,00
H Cr$ 4.200,00
73

I Cr$ 4.600,00
J Cr$ 5.000,00
K Cr$ 5.400,00
L Cr$ 5.800,00
(...)
Art. 44 - As professoras primárias, além de seus vencimentos, terão direito a
uma gratificação de Cr$ 1.000,00 (hum mil cruzeiros) a Cr$ 2.000,00 (dois mil
cruzeiros) anuais, se as respectivas classes alcançarem média de aprovação
superior a 50% (cinqüenta [sic] por cento), de conformidade com a
regulamentação que deverá ser expedida sobre o assunto.
(...)
ENSINO MUNICIPAL - CARGOS ISOLADOS DE PROVIMENTO
EFETIVO
TABELA V
Padrão [de
Nº de cargos Denominação do Cargo
vencimentos]
1 Secretário L
1 Orientador Educacional L
21 Professor G
24 Mestre G
2 Contra-Mestre [sic] F
34 Professor Primário F
1 Almoxarife da Escola E
Industrial “Júlio de
Mesquita”
1 Porteiro da Escola Industrial E
“Júlio de Mesquita”
1 Inspetor de Alunos C
2 Escriturário E
88
(SANTO ANDRÉ, 1954).

Além dos salários, os professores recebiam anualmente gratificações, atribuídas


conforme o rendimento escolar dos alunos. No decreto abaixo constam os valores de salários
pagos às professoras dos cursos de Jardim da Infância e das classes Pré-Primárias, conforme
segue:

DECRETO Nº 901, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1.954


O Prefeito Municipal de Santo André, usando das atribuições que lhe são
conferidas pelo artigo 52, nº I, da Lei Estadual nº 1, de 18 de setembro de 1.947,
e nos termos do artigo 44 da Lei nº 929, de 27 de setembro do corrente mês,
DECRETA:
Art. 1º- A gratificação atribuída às professoras primárias pelo artigo 44 da Lei
nº 929, de 27 de setembro do corrente ano, será afixada no fim de cada ano
letivo, nas seguintes proporções:
Cr$ 1.000,00 (mil cruzeiros), quando a média de aprovação da respectiva
classe alcançar de 51% à [sic] 60%;
Cr$ 1.250,00 (mil duzentos e cinqüenta [sic] cruzeiros), quando essa média
alcançar de 61% à [sic] 70%;
Cr$ 1.500,00 (mil e quinhentos cruzeiros) quando essa alcançar 71% a 80%;
Cr$ 1,750,00 (mil setecentos e cinqüenta [sic] cruzeiros) quando alcançar 81%
a 90%;
74

Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros) quando a média for superior à [sic] 90%.
§ Único – A gratificação de que trata este artigo será proporcional ao tempo de
efetivo exercício da professora nas classes que obtiverem a média de aprovação
aí estabelecida.
Art. 2º- Para os efeitos do disposto na disposição legal citada no artigo anterior,
consideram-se aprovados os alunos dos Jardins de Infância e das classes pré-
primárias que nas exposições finais do ano letivo figurem com trabalhos
próprios, executadas [sic] nas respectivas classes, com as menções “ÓTIMO”,
“BOM” ou “REGULAR”, apostos pelo Diretor de Departamento de Educação
e Cultura.
Art. 3º- Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário (SANTO ANDRÉ, 1954, grifo meu).

No decreto nº 901, de 13 de dezembro de 1954, lemos, em seu artigo 1º, que o critério
estabelecido para a atribuição de gratificação às professoras primárias e tal gratificação era
vinculada à média de aprovação dos alunos da classe. No artigo 2º do mesmo decreto aparece
o critério para gratificação às professoras das classes dos Jardins de Infância e das classes Pré-
Primárias, comprovando a existência de sala de aula para atendimento de crianças pequenas,
provida pelo município de Santo André.
Depois de quase três anos, um novo decreto foi publicado, modificando aquele de 1954.
A alteração mudou o artigo que se refere à gratificação das professoras das salas não-primárias.
O decreto nº 1253, de 26 de novembro de 1957, em seu artigo 3º, explica que as gratificações
das professoras dos cursos de jardim de infância e das classes pré-primárias passaram a ser
vinculadas às exposições de trabalhos realizadas no fim de cada ano letivo, conforme segue o
texto abaixo:

DECRETO Nº 1.253, DE 26 DE NOVEMBRO DE 1957


O Prefeito Municipal de Santo André, usando das atribuições que lhe confere
o artigo 58, n º I, da Lei n º 1, de 18 de setembro de 1947, e nos termos do
artigo 38 da Lei 1.197, de 2 de janeiro de 1957,
DECRETA:
Art. 1º - A gratificação prevista no artigo 38 da Lei nº 1.197, de 2 de janeiro de
1957, será paga aos professores primários que hajam [sic] promovido pelo
menos 50% (cinqüenta [sic] por cento) dos alunos, nas seguintes proporções:
Cr$ 1.000,00 (hum mil cruzeiros) para aprovação de 50% a 60%;
Cr$ 1.250,00 (hum mil, duzentos e cinqüenta [sic] cruzeiros) para aprovação
de 61% a 70%;
Cr$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos cruzeiros) para aprovação de 71% a 80%;
Cr$ 1.750,00 (hum mil, setecentos e cinqüenta [sic] cruzeiros) para aprovação
de 81 % a 90%;
Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros) para aprovação superior a 90%.
Parágrafo único - Para efeito da gratificação, o número de alunos por classe é
fixado em 40 (quarenta).
Art. 2º - Os professores substitutos receberão uma gratificação em proporção
à que caberia ao professor titular da classe na base de 1/9 (um nono) para cada
30 (trinta) dias de exercício.
Parágrafo 1º - O Professor titular, no caso de substituição, perceberá a
gratificação a que tiver direito, menos a parte que couber ao substituto.
75

Parágrafo 2º - Não serão consideradas, para efeito de percepção da gratificação


de que trata o presente decreto, as substituições que não atingirem o total de 30
(trinta) dias por ano.
Art. 3º - As professoras dos cursos de Jardins da Infância e das classes Pré-
Primárias será atribuída uma gratificação, quando nas exposições finais do ano
letivo, figurem com trabalhos próprios, executados nas respectivas classes e
nas seguintes proporções:
Cr$ 1.000,00 (hum mil cruzeiros) para classe de 25 a 30 crianças - com 30
trabalhos.
Cr$ 1.250,00 (hum mil, duzentos e cinqüenta [sic] cruzeiros) para classes de
30 a 35 crianças - com 40 trabalhos;
Cr$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos cruzeiros) para classe de 35 a 40 crianças
- com 50 trabalhos;
Cr$ 1.750,00 (hum mil, setecentos e cinqüenta [sic] cruzeiros) para classe de
40 crianças com 60 trabalhos;
Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros) para classe de 40 crianças com 80 trabalhos.
Art. 4º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, ficando
revogado o decreto n º 901, de 13 de dezembro de 1954 (SANTO ANDRÉ,
1957).

Analisando os dois decretos, notamos que a base de cálculo para o pagamento das
gratificações às professoras das escolas e pré-escolas municipais eram diferentes, devido ao
tipo de avaliação exigida dos alunos ao final de cada ano letivo, em cada modalidade de ensino.
A Tabela 9 sistematiza as informações e modificações dos decretos publicados nos anos de
1954 e 1957.

Tabela 9 – Diferenças nos critérios para pagamento de gratificação entre as professoras


das escolas Primárias e escolas Pré-Primárias e Jardim da Infância
Valor da DECRETO Nº 901, 13/12/1954 DECRETO Nº 1.253, 26/12/1957
gratificação Escolas Pré-
pago às Escolas Pré-Primárias e Jardim de
Escolas Primárias Primárias e Jardim Escolas Primárias
professoras Infância
de Infância
(em
cruzeiros - Média de Menção obtidas na Média de Quantidade de
Quantidade de
Cr$) aprovação dos apresentação de aprovação dos trabalhos
alunos por classe
alunos trabalhos alunos apresentados
1.000,00 51% a 60% 50% a 60% 25 a 30 crianças 30 trabalhos
ÓTIMO, BOM,
1.250,00 61% a 70% REGULAR. No 61% a 70% 30 a 35 crianças 40 trabalhos
decreto não consta
1.500,00 71% a 80% o valor da 71% a 80% 35 a 40 crianças 50 trabalhos
gratificação
1.750,00 81% a 90% correspondente a 81% a 90% 40 crianças 60 trabalhos
cada menção
2.000,00 superior a 90% superior a 90% 40 crianças 80 trabalhos
Fonte: Elaborada pela autora, com dados extraídos do Portal Digital da Câmara de Vereadores de Santo André.

No decreto de 1954, para as professoras das salas de ensino primário, as gratificações


seguiam um critério elaborado de acordo com a quantidade média de alunos aprovados na
classe. Já nas salas das pré-escolas, onde possivelmente não havia reprovação, inicialmente não
76

havia critério de proporções, apenas a menção de notas como ótimo, bom e regular, aplicadas
pelo Diretor de Departamento de Educação e Cultura de Santo André. Depois, em 1957, um
novo decreto foi publicado, revogando o decreto de 1954 e modificando o critério para o cálculo
da gratificação às professoras dos cursos de Jardim de Infância e das classes Pré-Primárias.
Nesse período, a cidade de Santo André se modernizava e a população crescia, em
consequência da industrialização, apresentada no Capítulo I deste estudo. Em três anos o corpo
docente das escolas municipais cresceu de 34 para 50 professores primários efetivos, é o que
indica a Lei nº 1197, de 2 de janeiro de 1957, disponível no banco de dados do Portal Digital
da Câmara Municipal de Santo André.

2.3 Curso de Recreação Infantil: o primeiro jardim de infância municipal

Um novo capítulo referente à educação municipal se iniciou na cidade de Santo André


no ano de 1969, quando por iniciativa do professor Sr. Milton Santos Marques, chefe da Divisão
de Esportes e Administração de Santo André e de uma professora da cidade: D. Teresa
Cristófaro28. Os dois idealizaram um curso para o atendimento das crianças pequenas, entre 5
e 6 anos, coordenado pela professora de basquete e atleta da seleção brasileira de basquetebol
feminino Nilza Monte Garcia, formada em Educação Física e docente num jardim de infância
privado na cidade vizinha de São Bernardo do Campo, Colégio Regina Mundi.
Os dois delinearam o projeto nomeado como Curso de Recreação Infantil, como mostra
a Figura 14.
Conforme publicação no jornal Diário do Grande ABC – News Seller de 14 de fevereiro
de 1969, o Sr. Milton Marques divulga o funcionamento das classes do Curso de Recreação
Infantil em Santo André.
Segundo a ex-professora do Curso de Recreação Infantil e do CEAR Vila Pires, Denise
Cattarruzzi, foi graças ao apoio do prefeito e da secretária de educação, cultura e esportes,
respectivamente, Fioravante Zampol e Nair Lacerda, que o projeto foi aprovado.
A princípio, duas unidades iniciaram com o projeto do Curso de Recreação Infantil. A
primeira unidade foi adaptada dentro do Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, na Vila
Pires, onde estava construído o Ginásio Municipal de Esportes, uma piscina com dimensões
olímpicas e o Campo Municipal de Futebol. A segunda unidade foi instalada na Vila Alpina,

28
D. Teresa Cristófaro, era professora do Grupo Escolar Américo Brasiliense, onde ministrava aula às aulas do
curso normal (magistério).
77

que também era um complexo com piscina, ginásio poliesportivo e um prédio construído
especificamente para abrigar as salas de aulas das crianças29.

Figura 14 – Vagas para o Curso de Recreação Infantil - 1969

Acervo: jornal Diário do Grande ABC – News Seller, 14 de fevereiro de 1969, p. 9

O projeto escolar para atender as crianças da cidade de Santo André nos remete ao
modelo dos Parques Infantis, implantados no início do século XX, na cidade de São Paulo. Os

29
O prédio foi tombado em 16/07/2019, sob processo 6505/2015, promovido pelo Conselho Municipal de
Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André –
COMDEPHAAPASA, devido ao valor arquitetônico da construção e importância histórica para a cidade.
78

Parques Infantis paulistas tiveram início na década de 1930, e em outras cidades do interior
foram implantados entre as décadas de 1940 e 1960, como: Araraquara, Santos, Marília, Pinhal,
Campinas, Jundiaí, Ibitinga, Pirajuí, Piracicaba, Itu, Mogi das Cruzes, Tremembé, São Vicente,
Franco da Rocha e Ribeirão Preto (FONSECA; FERREIRA; PRANDI, 2015).
Os Parques Infantis paulistanos, segundo Kuhlmann (2017), que funcionaram entre os
anos de 1935 e 1975, eram vinculados à Divisão de Educação, Assistência e Recreio, da
Secretaria de Educação e Cultura da cidade. Além das crianças, atendiam aos jovens e
adolescentes, oferecendo cursos de recreação e de Educação Física. Em Santo André, os Cursos
de Recreação Infantil também pertenciam à Secretaria de Educação e Cultura e estavam
vinculados à Divisão de Esportes e Administração (órgão equivalente à Divisão de Educação,
Assistência e Recreio da cidade de São Paulo), e promovia cursos esportivos para crianças e
jovens entre 6 e 16 anos, tal como acontecia nos Parques Infantis paulistanos.
A esse respeito, o estudo de Kuhlmann (2017) nos auxilia a pensar nas semelhanças
entre os projetos andreense e paulista, porque quando o autor analisa os Parques Infantis da
cidade de São Paulo, ele nota a influência dos profissionais de Educação Física nos modelos de
instituição de acolhimento às crianças, assim como ocorreu em Santo André. No seu estudo, o
autor alerta:

É evidente que a rede paulistana tornou-se uma referência para esses processos
de difusão da instituição. Mas, ao mesmo tempo, essa rede se realimentava
com a contribuição, seja do Departamento de Educação Física, seja de outras
experiências, nacionais e internacionais. (KUHLMANN, 2017, p. 171).

Fonseca (2015), em seu estudo sobre o Departamento de Educação Física de São Paulo
(DEF-SP) e os Parques Infantis da cidade de Ribeirão Preto, explica que a prefeitura da cidade
de São Paulo, durante a década de 1930, criou o Departamento de Educação Física (DEF-SP) e
o Serviço Municipal de Jogos e de Recreios. Mas esse serviço, no decorrer dos anos, mudou a
denominação para Serviço Municipal de Parques Infantis, órgão responsável pela organização
e orientação para instalação dos parques paulistanos.

O DEF-SP é o artífice dessa ligação entre o legado dos parques infantis


paulistanos da década de 1930, tão reconhecidos pela influência de Mario de
Andrade na sua concepção e a de outro modelo, ainda como parque infantil.
Porém, ancorado inteiramente na educação física como mote de sua pedagogia
(FONSECA; FERREIRA; PRANDI; 2015, p. 242, grifo meu).

Na cidade de São Paulo, ter a formação no curso de educação física infantil era a
exigência para admitir educadores destes parques paulistanos, e isso indica a forte presença de
79

expressão corporal nas atividades planejadas para as crianças destas instituições. Faria (1999a)
explica que “ao lado do folclore, jogos e brincadeiras eram as atividades principais do Parque
Infantil, fazendo com que as crianças participassem do projeto de construção da cultura
nacional” (FARIA, 1999a, p. 48).
A relação entre a área de Educação Física e o Curso de Recreação Infantil oferecido às
crianças de Santo André nos remete ao texto escrito por Kuhlmann (2017) e ao trecho
reproduzido a seguir:

A denominação Jardins de Recreio tem claros vínculos com a área da Educação


Física e também remete às propostas de organização dos recreios nas escolas,
com a edificação de pátios para atividades esportivas e recreação.
Associado a essas propostas estão o movimento escoteiro, a organização de
acampamentos e de colônias de férias, a formulação de regras para as
modalidades esportivas e a construção de quadras e praças de jogos.
Essas propostas não indicam uma concepção de educação física restrita à
ginástica e ao cultivo do corpo, sobre as quais se adicionaria posteriormente
uma visão de educação cultural, com atividades relacionadas às artes plásticas,
à música e ao folclore. Elas apresentam-se, desde seu início, como vinculadas
a concepções de educação integral (KUHLMANN, 2017, p. 174).

Em Santo André, a formação no curso de educação física era presente entre as


educadoras. As professoras que compunham o primeiro corpo docente do Curso de Recreação
Infantil se dividiam entre o esporte e à docência. Duas delas eram jogadoras da seleção
brasileira de basquete, Nilza Monte Garcia e Nadir Bazani. Nas entrevistas concedidas pelas
professoras e ex-alunas, todas recordaram que as primeiras professoras eram atletas da cidade,
havia jogadoras de basquete e vôlei, nadadoras e corredoras. Mas a professoras Nilza foi a maior
referência entre as docentes, durante as décadas de 1970 e 1980, período em que lecionou e
coordenou o Curso de Recreação Infantil de Santo André.
Na Figura 15, vemos a capa da revista publicada pela Pirelli, uma das dezenas de
indústrias instaladas em Santo André, que tinha um time de basquete e patrocinava a seleção
brasileira feminina. Na imagem da capa podemos ver ao centro as duas professoras: da esquerda
para a direita, Nilza é a segunda e Nadir a terceira.
80

Figura 15 – Seleção Brasileira Feminina de Basquete - 1971

Acervo: Revista Pirelli

Nilza tinha maior destaque na imprensa porque era cestinha do time da seleção
brasileira, conforme a Figura 16, extraída da reportagem do site Mulheres à cesta, especializado
na divulgação do basquetebol feminino brasileiro.

Figura 16 – Foto destaque no site Mulheres à Cesta

Acervo: Site Mulheres à cesta30

30
O site Mulheres à cesta está disponível em: https://mulheresacesta.com.br/2021/04/conheca-a-cestinha-da-
selecao-brasileira-no-mundial-de-1971/, consultado em 19/03/2022.
81

A professora Deise Maria Pio Martins, durante a entrevista, mencionou que, no início
do Curso de Recreação Infantil, as atletas se ausentavam e permaneciam vários dias viajando
com a seleção brasileira, dentro e fora do território nacional. Nesses períodos, as outras
professoras tinham que assumir as turmas, e por conta disso se fez necessário contratar outras
professoras. A partir de então as estudantes dos cursos de magistério passaram a integrar o
corpo docente do Curso de Recreação Infantil de Santo André.
Éricka Springmann e Cristina Frederico, são ex-alunas do Curso de Recreação Infantil
instalado na Vila Pires, nos anos de 1969 e 1973, respectivamente. Éricka foi aluna da
professora Nilza e Cristina da professora Maria Luiza Romani. As duas recordaram que as
professoras faltavam bastante porque eram atletas, e quando isso acontecia uma professora
substituta ficava com os alunos. Éricka disse que a professora dela representava a seleção
brasileira de basquete, junto com a professora Nadir. As duas chegavam a ficar mais de 15 dias
fora, e nesses dias as crianças ficavam aos cuidados de uma substituta. Cristina disse que se
lembra das faltas das professoras que também eram jogadoras de basquete; entretanto, a
professora dela não jogava basquete, mas era atleta de natação e também faltava quando tinha
competição.
Nos relatos, tanto da professora Deise quanto das ex-alunas Éricka e Cristina, notamos
que o fato das professoras-atletas se ausentarem da escola para participação em eventos
esportivos não causava desarranjo algum na rotina escolar. Nota-se que a unidade escolar se
organizava de modo que as crianças não fossem impedidas de ir à escola, porque havia
professoras substituindo as ausências das atletas.
Na unidade do Ginásio Pedro Dell’Antonia, denominada Curso de Recreação Infantil
Nair Veiga Lacerda31, conforme descrição da professora Denise Cattaruzzi, havia quatro
turmas. No período da manhã lecionavam a própria Denise e a professora Nadir Bazani, e nas
classes do período da tarde as professoras Nilza Monte Garcia e Maria Luiza Romani.
No arquivo pessoal das professoras Denise Cattaruzzi e Deise Pio foi localizada a
fotografia do corpo docente na primeira formatura dos alunos dos dois Centros de Recreação
Infantil, reunindo as professoras das duas unidades escolares: Vila Pires e Vila Alpina. As
professoras Denise e Deise não souberam dizer com precisão se a formatura aconteceu no final

31
Nair Veiga Lacerda nasceu na cidade de Santos em 18 de julho de 1903 e faleceu em Santo André em 29 de
agosto de 1996. Trabalhou como jornalista em jornais santistas e paulistanos, como tradutora em editora e para o
teatro, e como escritora de contos para adultos. Entre os anos de 1964 e 1969, exerceu o cargo de Secretária de
Educação, Cultura e Esportes da Prefeitura Municipal de Santo André, cabendo-lhe a estruturação da Secretaria,
como sua primeira titular. Na sua gestão instalou as Bibliotecas Municipais da cidade de Santo André. Em março
de 1987, a administração municipal homenageou-a conferindo-lhe o título de patrona da Biblioteca Municipal
Central que recebeu o nome de Biblioteca Nair Lacerda.
82

do ano de 1969 ou início do ano 1970. Na Figura 17, da esquerda para a direita, foram
identificadas as seguintes professoras: Denise Cattaruzzi, Nilza Monte Garcia, Nadir Bazani,
Maria Tereza Mello, Leila Maria Buffalo, Ivone, (?), Helena Zanotti e Maria Luiza Romani.

Figura 17 – Primeiro Corpo Docente do Curso de Recreação Infantil de Santo


André - 1969

Acervo: Arquivo pessoal das professoras Denise Cattaruzzi e Deise Pio.

A proposta precursora de Santo André iniciou com quatro turmas de crianças entre cinco
e seis anos de idade; eram duas salas no período da manhã (das 8h às 12h) e duas no período
da tarde (das 13h às 17h), segundo a professora Denise Teixeira Cattaruzzi e a ex-aluna Cristina
Frederico.
Aluna da turma de 1973, Cristina Frederico contou que as salas de aula do Curso de
Recreação Infantil Nair Veiga Lacerda, na Vila Pires, foram adaptadas nos espaços localizados
embaixo das arquibancadas do Ginásio Municipal Pedro Dell’Antonia. Relatou que as salas não
eram muito grandes, mas isso não se tornava um problema, porque a maioria das atividades
eram realizadas nos ambientes externos. As crianças utilizavam todos os espaços do complexo
esportivo, tinham aulas de natação na piscina olímpica, atletismo no campo de futebol e
ginástica artística na quadra do ginásio. Cristina explica que no terreno vizinho ao complexo
esportivo havia um clube particular, que autorizava as crianças a utilizar o espaço do parque
com brinquedos infantis e a piscina infantil do balneário deste clube.
83

Ao que parece, o projeto do Curso de Recreação Infantil iniciou reduzido e com


algumas limitações estruturais e físicas, mas com propósito de crescimento devido ao empenho
dos idealizadores e das professoras. Consolidou-se ao longo dos anos e permitiu a construção
da rede municipal de educação infantil na cidade de Santo André, conforme abordagem do
próximo subtítulo.

2.4 CEAR – Centros Educacionais, Assistenciais e Recreativos

A expansão dos Cursos de Recreação Infantil modificou o modelo de atendimento às


crianças pequenas na cidade de Santo André e acompanhou o movimento brasileiro de expansão
da pré-escola.
Analisando os documentos localizados no banco de dados do Portal Digital da Câmara
dos Vereadores de Santo André, notamos que na década de 1970 teve início o processo de
desapropriação de diversos terrenos na cidade de Santo André para a construção dos Centros
Educacionais, Assistenciais e Recreativos - CEAR, conforme consta nos decretos e leis listados
no Quadro 2.

Quadro 2 – Legislação para desapropriação e construção dos CEAR


Número da
Ano Data Motivo
legislação
1970 Decreto 5182 27/11/1970 Destina verba para construção do CEAR Camilópolis
Destina verba para construção do CEAR anexo ao Grupo Escolar
1970 Decreto 4858 20/04/1970
Padre Lebret
1971 Lei 3819 24/04/1971 Destina verba para construção do CEAR Vila Linda
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1972 Decreto 6273 01/12/1972
construção do CEAR Homero Thon
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1972 Decreto 6285 06/12/1972
construção do CEAR Vila Metalúrgica
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1974 Lei 4456 17/06/1974
construção do CEAR Vila João Ramalho
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1974 Lei 4734 30/12/1974
construção do CEAR Bairro Casa Branca
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1975 Lei 4815 28/04/1975
construção do CEAR Vila Cata Preta
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1975 Decreto 8124 09/05/1975
construção do CEAR Vila Marina
1977 Lei 5404 28/12/1977 Destina verba para construção do CEAR Vila Humaitá
Destina imóvel de utilidade pública para construção do CEAR
1978 Decreto 9319 12/05/1978
Vila Sá
84

1978 Lei 5476 24/08/1978 Destina verba para construção do CEAR Vila Sá
Destina verba para construção dos CEAR Cata Preta, Jd.
1978 Lei 5471 24/10/1978 Alvorada, V. Alpina, Sta. Terezinha, V. Palmares, Pç.
Internacional, Pç. República, Pq. Erasmo e Jd. Maravilhas
Destina verba para desapropriação de terreno para fins de
1979 Decreto 9692 16/01/1979
construção do CEAR Vila Assunção
Elaborado pela autora baseada nas informações coletadas no banco de dados do
Portal Digital da Câmara dos Vereadores de Santo André

Identificamos no Quadro 2 que, na primeira metade da década de 1970, a legislação


municipal autorizava a construção de três unidades do CEAR e solicitava a desapropriação de
seis terrenos para a construção de outras unidades. Na segunda metade da mesma década
constam leis e decretos autorizando a construção de mais onze CEAR. Portanto, vinte e duas
unidades escolares foram planejadas no decorrer da década de 1970, conforme indicam os
decretos e leis pesquisados.
Na mesma década, no ano de 1974, foi criada a Secretaria de Educação, Cultura e
Esportes de Santo André, conforme legislação municipal:

LEI Nº 4.518, DE 25 DE JULHO DE 1.974


A Câmara Municipal de Santo André decreta e eu promulgo a
seguinte lei:
(...)
Art. 2º - São criados, respectivamente, na Secretaria de Educação,
Cultura e Esportes e na Secretaria de Obras e Planejamento Urbano,
o “Departamento de Esportes”, código 1.4.2 e o “Departamento de
Obras Particulares”, código 1.3.3.
Parágrafo único - As atribuições e a composição dos órgãos referidos
neste artigo, serão fixados por Decreto do Prefeito Municipal.
(...)
Art. 4º - Os atuais Departamento de Serviços Municipais,
Departamento de Transportes, Divisão de Serviços Municipais,
Divisão de Serviços Gerais e Transportes e Seção de Fiscalização e
Execução de Obras Públicas, da atual Secretaria de Obras e Serviços
Municipais, a Divisão Administrativa do Estádio Municipal, da
Secretaria de Educação, Cultura e Esportes e a Divisão de Orçamento,
da Secretaria da Fazenda, passam a denominar-se, respectivamente,
“Departamento de Serviços Urbanos”, “Departamento de Transportes
e Serviços Gerais”, “Divisão de Serviços Urbanos”, “Divisão de
Transportes e Serviços Gerais”, “Seção de Fiscalização de Obras
Públicas”, “Divisão de Esportes e Administração” e “Divisão de
Planejamento Econômico e Orçamento”.
(...)
Art. 35 - A Secretaria de Educação, Cultura e Esportes passa a
compreender:
1.4./I Conselho Municipal de Auxílios e Subvenções
1.4./II Comissão Permanente de Festejos
1.4.1 Departamento de Educação e Cultura
1.4.2 Departamento de Esportes
1.4.0.0.0.1 Setor de Correspondência
Art. 36 - O Departamento de Educação e Cultura compreende:
1.4.1.1 Divisão de Educação e Cultura
85

1.4.1.0.0.1 Setor de Administração de Teatros e Auditórios


Art. 37 - A Divisão de Educação e Cultura compreende:
1.4.1.1.1 Seção de Difusão Cultural
1.4.1.1.2 Seção de Biblioteca
1.4.1.1.3 Seção de Alimentação Escolar
Art. 38 - O Departamento de Esportes compreende:
1.4.2.1 Divisão de Esportes e Administração
Art. 39 - A Divisão de Esportes e Administração compreende:
1.4.2.1.1 Seção de Esportes
1.4.2.1.0.1 Setor de Expediente (SANTO ANDRÉ, 1974).

A ampliação no atendimento às crianças em idade pré-escolar – entre 4 e 6 anos – na


cidade de Santo de André se contrapõe ao relato de Ferrari (1988), quando em seu estudo
menciona que, na década de 1970, embora conste na legislação a preocupação com a educação
das crianças pequenas, não há expansão no atendimento. O autor explica que no período da
educação compensatória houve queda na oferta de matrículas, e no período da ditadura militar
(1964 a 1985) não houve a intenção da democratização escolar nem preocupação com evolução
da pré-escola, mas sim a implantação do modelo político-econômico social vigente.
Segundo Kishimoto (1990), o Brasil implantou a política de educação compensatória
pela influência dos Estados Unidos, priorizando “um atendimento infantil de caráter
assistencial, desprovido de orientação educativa” (KISHIMOTO, 1990, p. 64). A autora, assim
como Ferrari (1988), também critica a expansão do atendimento às crianças pequenas e, em seu
texto, ao analisar as políticas governamentais com relação à pré-escola nas décadas de 1960,
1970 e 1980, alerta que, mesmo com a divulgação de que a educação pré-escolar era prioritária,
não houve expansão nem melhorias. O texto denuncia a falta de aptidão profissional dos
educadores, as más condições estruturais das escolas e o conceito higienista de atendimento,
conforme narra no excerto:

Os programas dirigidos às populações de baixa renda assumem um


caráter informal, com emprego de pessoal sem qualificação, utilização
de espaços não-convencionais, aproveitamento de materiais não-
sofisticados, mobilização de recursos da comunidade e o
desenvolvimento de atividades mais voltadas para a alimentação,
higiene e fragmentos de recreação e arte, desacompanhados de
orientação educativa (KISHIMOTO, 1990, p. 65).

A política brasileira para a educação das crianças pequenas, ainda de acordo com
Kishimoto (1990), reverberou nos documentos oficiais emitidos durante o período que
compreende as décadas de 1960 e 1970, e todos os dispositivos legais tratam a educação infantil
acentuando o caráter não-educacional. Inclusive a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB nº 5.692/71, ao priorizar o ensino do 2º grau, consequentemente, diminui a
86

responsabilidade do Estado quanto ao investimento na “pré-escola estadual”, e indica a


municipalização do ensino das crianças pequenas (KISHIMOTO, 1990, p. 64).
Portanto, a expansão do atendimento às crianças andreenses acompanha as
determinações indicadas pelo estudo de Kishimoto (1990), quando remete à municipalização
do ensino pré-escolar.
No território andreense, com a expansão e construção de novos prédios, no início do ano
de 1980 a cidade contava com dezenas de unidades do CEAR, instituições que atendiam as
crianças entre 4 e 6 anos de idade, distribuídas por diferentes bairros da cidade. O quadro abaixo
apresenta relação das unidades escolares inauguradas nas décadas de 1970 e 1980:

Quadro 3 – Unidades do CEAR inauguradas


nas décadas de 1970 e 1980
1 CEAR Vila Pires
2 CEAR Vila Alpina
3 CEAR Camilópolis
4 CEAR Vila Linda
5 CEAR Parque Oratório
6 CEAR Alto do Capuava
7 CEAR Vila Humaitá
8 CEAR Fazenda da Juta
9 CEAR Jardim Bela Vista
10 CEAR Vila Sá
11 CEAR Cata Preta
12 CEAR Jardim Alvorada
13 CEAR Santa Terezinha
14 CEAR Vila Palmares
15 CEAR Praça Internacional
16 CEAR Praça da República
17 CEAR Parque Erasmo
18 CEAR Jardim Maravilhas
19 CEAR Vila Assunção
20 CEAR Vila Floresta
21 CEAR Praça Chile
22 CEAR Bairro Campestre
23 CEAR Jardim Estela
24 CEAR Vila Matarazzo
Elaborado pela autora baseada nas informações coletadas no banco de dados do Portal Digital da
Câmara dos Vereadores de Santo André e listadas pela ordem de inauguração.
87

Os prédios construídos para acomodar os CEAR seguiam o mesmo modelo de


edificação. De acordo com a professora Marcia, algumas unidades eram padrão. Os prédios
tinham um pátio central retangular e 4 salas de aula em cada lado. Marcia narra com detalhes
suas memórias quanto à arquitetura do prédio, conforme transcrição:

O nosso era o CEAR padrão. Porque naquela época começavam a


acontecer as escolas com uma construção padrão. Fora o Alpina, o
Dora, que eram espaços adaptados, o Floresta, o Santo Alberto
[nomeado no decreto acima como CEAR Alto Capuava], você entrava
em um, você estava entrando em todos, né?
Então nós éramos oito salas, quatro de um lado e quatro de outro.
(...)
Isso mesmo! Oito salas com um vão no meio onde tinha o pátio e o
espaço para a merenda e o palco lá na frente (Marcia, ex-professora
que lecionou nos CEAR Santo Alberto e Vila Floresta).

Além das salas de aulas, a professora Marcia também relata que existiam outros espaços
dentro dos prédios do CEAR, onde as educadoras realizavam diferentes atividades com as
crianças:

Bom, tinha esse espaço de biblioteca. Eles tinham duas salas grandes
que em vários CEAR ela se tornou...
No mesmo lado, no final, tinha dois espaços bem grandes que a gente
chamava de sala nove, porque era um espaço maior. E cada CEAR
desenvolvia um trabalho ali. A gente fazia as vezes sala pra brincar,
além dos outros espaços de brincar, mas um brincar voltado pra uma...
o que a gente chama hoje de brinquedoteca. Um brincar mais
intencional, um brincar ali que você ia fazer uma outra atividade que
ia requerer espaço.
De repente você queria dar uma pintura toda pelo chão. Na sala era
pequeno para colocar os 32 [alunos] no chão. No pátio, as vezes o
pessoal estava usando, né?
(...)
A gente ia pra sala nove quando estava chovendo.
E do outro lado, no mesmo espaço configurativo da sala nove que a
gente chamava, pelo menos nas escolas que eu trabalhei, era a
biblioteca.
No mesmo espaço, em frente à sala nove, funcionava a diretoria do
CEAR (Marcia, ex-professora que lecionou nos CEAR Santo Alberto
e Vila Floresta).

As plantas baixas desses prédios não foram localizadas nos arquivos da Prefeitura
Municipal de Santão André; então a pesquisadora visitou os prédios dos CEAR Vila Humaitá,
CEAR Alto do Capuava/Jardim Santo Alberto, CEAR Cata Preta, CEAR Jardim Alvorada,
CEAR Jardim Estela, que atualmente se tornaram Escolas Municipais de Educação Infantil e
Ensino Fundamental. Algumas escolas sofreram alterações, em sua maioria foram reformadas
para ampliação de espaços, mas foi possível identificar a estrutura inicial dos prédios.
88

A partir das entrevistas e das visitas aos prédios, a pesquisadora esboçou um desenho
da possível planta baixa dos CEAR denominados “modelo padrão”, conforme a Figura 18.

Figura 18 – Desenho da possível planta baixa do CEAR de modelo padrão

Sala 9 Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Banheiro Vestiário

Diretoria
Pátio
Palco Refeitório Cozinha

Secretaria

Entrada e saída

Sala multiuso Sala de aula Sala de aula Sala de aula Sala de aula Banheiro Vestiário

Esboço da autora, baseado nas entrevistas com as professoras e ex-alunas e nas observações realizadas
ao visitar prédios do CEAR

Logo na entrada do prédio estava localizada a sala da secretaria escolar e a sala da


diretora; unida a essas salas administrativas havia um palco projetado de frente para o pátio. No
lado oposto ao palco ficava a cozinha e o refeitório onde as crianças se alimentavam. No
desenho (Figura 18), as linhas tracejadas delimitando a localização do refeitório indicam que
as paredes eram baixas, com aproximadamente um metro de altura, e dentro deste espaço
ficavam as mesas e os bancos onde as crianças se acomodavam para se alimentar.
Notamos que se trata de uma construção que permitia a interação das salas no pátio
central, assim como mencionou Marcia. A professora explica que as crianças de salas diferentes
brincavam juntas no pátio, enquanto outras, no mesmo horário, se alimentavam no refeitório.
Tal relato nos remeteu ao estudo de Viñao Frago e Escolano (2001), que explicam o espaço
educativo como reflexo das inovações pedagógicas, assim como descreve o excerto abaixo:

... o espaço escolar tem de ser analisado com um constructo cultural


que expressa e reflete, para além de sua materialidade, determinados
discursos. No quadro das modernas teorias da percepção, o espaço-
escola é, além disso, um mediador cultural em relação à gênese e
formação dos primeiros esquemas cognitivos e motores, ou seja, um
elemento significativo do currículo, uma fonte de experiência e
aprendizagem (VIÑAO FRAGO; ESCOLANO, 2001, p. 26).
89

Os autores, ao estudar a arquitetura escolar, defendem que a mesma é um discurso, um


programa que “institui na sua materialidade um sistema de valores, como os de ordem,
disciplina e vigilância” (VIÑAO FRAGO; ESCOLANO, 2001, p. 26).
Observando o desenho da planta do CEAR, nos questionamos se o objetivo do pátio
central era a interação das salas de aula ou a facilidade para a vigilância e controle; ponderamos
também, ser as duas possibilidades, tendo em vista que as construções dessas escolas
aconteceram em plena época da Ditadura Militar brasileira e, como nos lembra Ferrari (1988),
foi um período em que a educação acompanhava o modelo político-econômico social vigente32.
A professora Marcia menciona que a construção e inauguração de uma unidade do
CEAR em determinado bairro da cidade de Santo André era recebida com otimismo pela
população. A professora demonstra emoção e satisfação ao relatar as palavras abaixo:

O CEAR quando ele chegava numa comunidade, num bairro, ele era
... ela tinha assim ... era uma visão de algo muito promissor, de algo
muito inovador.
Ele vinha trazendo educação pré-escolar que era uma coisa, que era
um ganho para a população.
Como hoje eu acredito que estão sendo, mais ou menos, as
Universidades Federais acontecendo em Santo André.
Foi uma celebração!
(...)
Então a educação infantil tinha esse papel.
De novo mesmo, de uma conquista muito grande para aquela
comunidade (Marcia, ex-professora dos CEAR Vila Floresta e Parque
Capuava, entre outros).

Dessa forma, oferecendo educação inovadora, construindo novos prédios, ofertando


vagas e acolhendo as crianças e famílias do município, o CEAR se alastrou pela cidade de Santo
André.
Mas nem todas as comunidades tiveram acesso a prédios modernos, bem estruturados e
com arquitetura arrojada. Na Figura 19 vemos o prédio construído para abrigar um CEAR que
ficava num bairro afastado, a aproximadamente 10 km do centro da cidade de Santo André, em
uma área de manancial e preservação ambiental, às margens da Represa Billings33.
Segundo o relato da professora Marcia, no início da construção, a unidade escolar
recebeu o nome de CEAR Florestal, depois passou a se chamar CEAR Parque Miami. Era uma

32
Analisar o projeto arquitetônico do Modelo Padrão dos CEAR exigiria uma pesquisa mais ampla e sistemática
das fontes e que não cabe nos limites deste estudo.
33
A Represa Billings é um dos maiores reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo e contribui
para o abastecimento das cidades de Santo André, São Bernardo, Diadema e São Paulo. Disponível em:
https://site.sabesp.com.br/.
90

estrutura feita em madeira, apoiada em sapatas de cimento, e a construção ficava suspensa do


chão. O prédio escolar era coberto por telhas de amianto e o terreno de terra batida.

Figura 19 – CEAR Parque Miami – 1982

Acervo: arquivo do grupo Eu fui professora do CEAR

Dentro das salas de aula, o chão era de tábuas de madeira e as grandes janelas
proporcionavam boa iluminação, conforme podemos visualizar na Figura 20. Ainda na parte
interna da sala, ficavam aparentes as vigas instaladas vertical e diagonalmente para sustentar as
tábuas das paredes.

Figura 20 – Sala de aula do CEAR Parque Miami – 1982

Acervo: arquivo do grupo Eu fui professora do CEAR


91

Portanto, no projeto de construção dos CEAR houve a realização de diferentes projetos


para as plantas dos prédios escolares, privilegiando os bairros centrais e intermediários. Aqueles
bairros mais afastados tiveram a construção ou adaptação dos espaços para atendimentos às
crianças.

2.5 Pré-escola municipal: atendimento gratuito ou pago?

Embora o Curso de Recreação Infantil fosse oferecido pelo governo municipal de Santo
André, havia cobrança de mensalidade daqueles que o frequentavam, conforme indica o decreto
publicado em 1974:

DECRETO Nº 7.862, DE 25 DE NOVEMBRO DE 1974


O Prefeito Municipal de Santo André, no uso das atribuições legais
que lhe confere o artigo 57, item I alínea “J”, do Artigo 39, V, do
Decreto-Lei Complementar nº 09, de 31 de dezembro de 1969,
DECRETA:
Art. 1º - Ficam instituídos preços públicos a serem cobrados dos
usuários dos Centros de Educação Física e dos cursos ministrados
pelo Departamento de Esportes em conformidade com a tabela anexa.
Parágrafo único – O Diretor do Departamento de Esportes
estabelecerá, em ato próprio, a forma e condições .... de isenção de
pagamento aos usuários e alunos reconhecidamente pobres.
Art. 2º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Santo André, em 25 de novembro de 1974.

TABELA DE PREÇOS PÚBLICOS ANEXA AO DECRETO Nº


7.862 DE 25 DE NOVEMBRO DE 1974
Estação, com atletismo, bola ao cesto e voleibol - Cr$ 10,00 mensais
Judô - Cr$ 20,00 mensais
Tênis de Campo - Cr$ 20,00 mensais
Natação para adultos - Cr$ 30,00 mensais
Recreação infantil - Cr$ 40,00 mensais
Recreação - Cr$ 10,00 mensais
Exame médico anual - Cr$ 10,00
Segunda via de caderneta - Cr$ 10,00 (SANTO ANDRÉ, 1974, grifo
meu).

O decreto acima foi revogado em 04 de agosto de 1978, quando foi publicado o decreto
nº 9.392 que instituía a Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa –
ACEAR. As explicações quanto à finalidade e atribuições da ACEAR serão abordadas no
decorrer do texto.
A taxa para frequentar o Curso de Recreação Infantil não deixou de ser cobrada, mas
foi padronizada pelo Estatuto Padrão da ACEAR, baseando-se em percentuais do salário-
92

mínimo vigente, publicado no Decreto nº 9.392, de 4 de agosto de 1978, conforme indica


abaixo:

ESTATUTO PADRÃO DE ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA,


EDUCACIONAL, ASSISTENCIAL E RECREATIVA.
(...)
CAPÍTULO III
DAS FONTES DE RECEITA E DO PATRIMÔNIO
Art. 3º – Para o desenvolvimento de suas atividades, Associação
Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa, contará com o
patrimônio e recursos próprios provenientes de:
I – Contribuições de associados;
II – Auxílios e subvenções diversos;
III – Doações e legados;
IV – Resultados provenientes de campanhas e promoções.
Art. 4º – As contribuições dos associados serão fixadas pela
Assembleia Geral, obedecidos os limites mínimos de 10% (dez por
cento) e máximo 20% (vinte por cento) do salário-mínimo vigente na
região.
§ 1º - A época e a forma do recebimento das contribuições, bem como
os critérios de isenção, serão fixados [sic] pelo Conselho
Deliberativo.
§ 2º – As contribuições, arrecadadas preferencialmente à época de
matrícula, serão depositadas necessariamente em estabelecimentos
oficiais de crédito, em conta vinculada à Associação Comunitária,
Educacional, Assistencial e Recreativa (A.C.E.A.R.), movimentada
conjuntamente pelo Presidente e pelo Tesoureiro (SANTO ANDRÉ,
1978).

Comparando com o salário-mínimo do ano de 1974, que tinha o valor de Cr$376,80


(trezentos e setenta e seis cruzeiros e oitenta centavos)34, as famílias dos alunos do CEAR
contribuiriam com o valor de Cr$ 37,68 a Cr$ 75,36, no entanto, no corpo descritivo do decreto
não consta a informação se a forma de pagamento era mensal ou anual.
Nas atas de reuniões da ACEAR Homero Thon, consta que os membros da associação,
todos os anos, decidiam pela alíquota de 10% do salário-mínimo vigente na região, como valor
correspondente à taxa de contribuição das famílias35.
Para comparar os valores, buscamos o anúncio num jornal de circulação no Estado de
São Paulo (Figura 21). Nele podemos observar o preço de brinquedos: bicicleta, mini forno
elétrico e boneco, divulgados no fim do ano, próximo ao período natalino. Observamos que o
preço do boneco equivale, aproximadamente, a 15% do valor do salário-mínimo vigente no
país. Deste modo concluímos que o valor da taxa de contribuição solicitada às famílias dos
alunos, 10% do salário-mínimo, era pequeno.

34
A tabela de salário-mínimo foi aprovada pelo Decreto nº 73.935, de 29 de abril de 1974, e publicada no Diário
Oficial da União em 30 de abril de 1974. Disponível em: https://www.camara.leg.br/
35
No Apêndice 3 consta uma tabela com o valor do salário-mínimo vigente, entre os anos de 1971 e 1983.
93

Figura 21 – Anúncio de Venda de Brinquedos - 1974

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo, de 11 de novembro de 1974, disponível em:


https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19741110-30561-nac-0021-999-21-not

Nas atas de reuniões da ACEAR, redigidas entre os anos de 1979 e 1982, menciona-se
que anualmente os membros da Associação se reuniam, normalmente entre os meses de
novembro e dezembro, para decidir coletivamente o valor da mensalidade a ser cobrada no ano
seguinte. As famílias dos alunos deveriam efetuar o pagamento no ato da matrícula, mas em
alguns anos os valores foram divididos em duas parcelas.
Para os alunos carentes o valor era dividido em mais parcelas, ou as famílias eram
isentas. Entretanto, nos documentos pesquisados e nas entrevistas realizadas não há informação
quanto aos critérios para classificar tais famílias como carentes.
A Tabela 10 apresenta os valores estipulados nas reuniões da ACEAR Homero Thon e
registrados no livro ata da associação.
94

Tabela 10 – Valores das taxas de contribuição


arrecadadas pela ACEAR Homero Thon
Ano letivo Valor em Cruzeiros - Cr$
1980 300,00
1981 600,00
1982 1.100,00
1983 2.500,00
Fonte: Elaborada pela autora baseada no Livro Ata da ACEAR Homero Thon

De acordo com o depoimento de todas as pessoas entrevistadas para esta pesquisa, e nos
registros das atas de reuniões da ACEAR Homero Thon, além da contribuição financeira ao
CEAR, era de responsabilidade das famílias o custo da compra dos materiais escolares e
uniformes utilizados pelas crianças.
Em contrapartida, identificamos que, no Estatuto Padrão da ACEAR, há a descrição de
que os recursos financeiros arrecadados poderiam ser aplicados na aquisição de material escolar
e didático, conforme trecho abaixo:

ESTATUTO PADRÃO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA,


EDUCACIONAL, ASSISTENCIAL E RECREATIVA
(...)
CAPÍTULO III
DAS FONTES DE RECEITA E DO PATRIMÔNIO
(...)
Art. 5º - A aplicação dos recursos financeiros obedecerá aos critérios
fixados no Plano Anual de Atividades, aprovado pelo Conselho
Deliberativo, levando-se em conta as seguintes prioridades:
I – Assistência ao escolar;
II – Aquisição de material, inclusive didático;
III – Consertos e reformas das dependências do centro e seus
equipamentos (SANTO ANDRÉ, 1978).

A ACEAR arrecadava das famílias uma contribuição financeira anual, e esse dinheiro
era utilizado para custear a manutenção dos prédios escolares, compra de materiais e assistir os
alunos carentes. Tais atribuições estavam previstas no capítulo III do Estatuto:

CAPÍTULO III
DAS FONTES DE RECEITA E DO PATRIMÔNIO
Art. 3º – Para o desenvolvimento de suas atividades, Associação
Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa, contará com o
patrimônio e recursos próprios provenientes de:
I – contribuições de associados;
II – auxílios e subvenções diversos;
III – doações e legados;
IV – resultados provenientes de campanhas e promoções.
95

Art. 4º – As contribuições dos associados serão fixadas pela


Assembléia [sic] Geral, obedecidos os limites mínimos de 10% (dez
por cento) e máximo 20% (vinte por cento) do salário-mínimo vigente
na região.
§ 1º - A época e a forma do recebimento das contribuições, bem como
os critérios de isenção, serão fixados pelo Conselho Deliberativo.
§ 2º – As contribuições, arrecadadas preferencialmente à época de
matrícula, serão depositadas necessariamente em estabelecimentos
oficiais de crédito, em conta vinculada à Associação Comunitária,
Educacional, Assistencial e Recreativa (A.C.E.A.R.), movimentada
conjuntamente pelo Presidente e pelo Tesoureiro.
Art. 5º – A aplicação dos recursos financeiros obedecerá aos critérios
fixados no Plano Anual de Atividades, aprovado pelo Conselho
Deliberativo, levando-se em conta as seguintes prioridades:
I – Assistência ao escolar;
II – Aquisição de material, inclusive didático;
III – Consertos e reformas das dependências do centro e seus
equipamentos.
Art. 6º – O exercício social coincidirá com o ano civil e, no
encerramento de cada exercício será elaborado o Balanço Geral e o
Relatório Anual, os quais serão submetidos à aprovação da
Assembléia [sic] Geral e da Comissão Especial da Secretaria de
Educação, Cultura e Esportes, da Prefeitura do Município de Santo
André (SANTO ANDRÉ, 1978).

A ex-professora Anice, também exerceu a função de dirigente escolar, e durante a


entrevista mencionou que a contribuição das famílias, causou divergências e por isso, no
decorrer dos anos, deixou de ser arrecadada36.
Além da contribuição das famílias, existia outras maneiras de arrecadação financeira,
conforme descrição a seguir:

A princípio o discurso era que era obrigatório, depois por


conta de várias e várias queixas das famílias, em jornais da cidade, ela
passou a ser espontânea.
Era uma contribuição pequena, que os pais faziam logo no
início do ano.
Depois era [sic] liberado para as festas, com arrecadação.
Existia também a venda de fotos e uma porcentagem vinha para as
escolas.
Mas isso começou em 79 – 80, depois foi diminuindo com o
passar dos anos.
Até que a contribuição deixou de existir e depois ficaram só
as festas e as fotos.
Mas isso era estritamente pra ser revertido para benefício das
crianças e pra compra de alguns matérias pedagógicos e materiais
escolar que faltassem para as crianças (Anice, ex-professora no CEAR
Homero Thon, entre outras unidades).

36
Durante o período da ditadura militar os repasses do Governo Federal às escolas eram escassos, principalmente
àquelas que atendiam as crianças pequenas, visto que não eram consideradas parte da educação básica.
Possivelmente esse seja o principal motivo do CEAR solicitar contribuição financeira às famílias. Com a
promulgação da Constituição de 1988, a educação passou a ser considerada como direito social, incluindo as
escolas que acolhiam crianças entre 0 e 6 anos de idade, e por consequência, recebeu maiores investimentos
financeiros do Estado.
96

Divergências entre os documentos escritos e as ações das pessoas nos remetem a Viñao
Frago e Escolano (2001), que explicam as contradições nas organizações escolares:

Os espaços educativos, como lugares que abrigam a liturgia


acadêmica, estão dotados de significados e transmitem uma
importante quantidade de estímulos, conteúdos e valores do chamado
currículo oculto, ao mesmo tempo em que impõe suas leis como
organizações disciplinares (VIÑAO FRAGO; ESCOLANO, 2001, p.
27).

As cobranças efetuadas e procedimentos adotados pelo CEAR podem ter causado


insatisfação por parte da população andreense, assim como mencionou a ex-professora Anice,
e justifica a reclamação exposta no jornal das Associações Amigos de Bairros de Santo André 37,
conforme Figura 22.

Figura 22 – Publicação no Jornal das Sociedades Amigos de Bairros –


SAB de Santo André

Acervo digital: Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

O texto jornalístico, embora elogiasse os espaços do CEAR com piscinas, quadras,


campos e classificasse como ótima a instrução pré-escolar oferecida aos alunos, também
criticava, com teor de denúncia, alegando que os CEAR não atendiam todas as crianças
andreenses e eram instituições elitizantes. A quantidade de vagas ofertadas era em número
reduzido e havia uma numerosa lista de espera. Além disso, o texto defende que a Sociedade
Amigos de Bairros – SAB atue dentro dos CEAR, usufruindo do espaço físico e opinando na
administração escolar, alegando que assim haveria possibilidade da abertura de maior número
de vagas.

37
O jornal da Sociedade Amigos de Bairros de Santo André – SAB, conforme descrição no editorial da edição
pesquisada, era um órgão da Federação Municipal das Sociedades Amigos de Bairros de Santo Amaro, que tinha
como papel principal difundir a função da SAB de São Paulo e de outras cidades do entorno, além de divulgar a
própria Federação. A SAB era uma entidade organizadora da população para encaminhamento das necessidades
coletivas, e o jornal tinha a finalidade de fortalecer e divulgar as ações realizadas pelas SAB.
97

Segundo o mesmo texto, o prefeito da cidade de Santo André informou que a


participação da SAB seria por meio da ACEAR, o que não foi bem aceito pelos dirigentes de
Sociedades. Contudo, as SAB se dividiram: algumas aceitam a proposta municipal para compor
a Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa, e outras não.
Durante as entrevistas realizadas para esta pesquisa e nos registros das atas de reunião
da ACEAR não há menção explicita de participação da SAB nas decisões do CEAR. Não
sabemos ao certo, mas tal participação pode ter acontecido por meio de algum membro da SAB
não formalmente identificado e que fosse familiar de aluno do CEAR.
A ex-professora Anice, que também foi diretora em diversos CEAR, contou que o CEAR
Ouro Verde foi instalado dentro de um clube, o Ouro Verde, que foi construído pela população
que morava num conjunto de casa populares, construídas pela prefeitura de Santo André,
durante os anos 1970, em consequência da urbanização local. Anice relata que teve dificuldade
para “transformar” o lugar numa escola. Disse que “não parecia um ambiente escolar, o clube
interferia na escola. Os membros do clube nem sempre eram os pais dos alunos”.
Esse relato possibilita-nos repensar o quanto a participação da comunidade escolar pode
ou não interferir nos planos pedagógicos de uma escola. Mas o próprio projeto do CEAR
encontrou a solução para a participação das famílias dos alunos nas atividades escolares. O
tema será tratado a seguir.

2.6 A associação de pais e mestres do CEAR

Em cada unidade do CEAR de Santo André havia uma associação de pais e mestres
denominada Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa (ACEAR) que
compunha um Conselho Deliberativo constituído por professores, gestores e pais de alunos. A
ACEAR tinha atribuições diversas, dentre elas, arrecadar e administrar o dinheiro referente à
contribuição das famílias e, deliberar e definir por consenso sobre as festas escolares que
aconteciam durante o ano letivo.
A ACEAR era considerada um órgão complementar da administração do CEAR,
conforme decreto municipal:

DECRETO Nº 9.392, DE 04 DE AGOSTO DE 1978.


DISPÕE SOBRE A CONSTITUIÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES
COMUNITÁRIAS, EDUCACIONAIS, ASSISTENCIAS E
RECREATIVAS E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
O Prefeito Municipal de Santo André, no uso de suas atribuições
legais e,
98

CONSIDERANDO a relevância da participação da comunidade


na obra educativa;
CONSIDERANDO que a instituição da Associação Comunitária,
Educacional, Assistencial e Recreativa, como órgão complementar da
Administração, de caráter facultativo, estimulará a persuasão dos
objetivos específicos do município no campo educacional,
DECRETA:
Art. 1º - Os centros educacionais, assistenciais, recreativos, do
município poderão organizar Associação Comunitária, Educacional,
Assistencial e Recreativa, como instituição auxiliar da escola, com o
objetivo primordial de favorecer e incentivar a integração do trinômio
família-escola-comunidade na obra comum da educação da infância.
Art. 2º – As associações comunitárias, educacionais, assistenciais
e recreativas reunirão pais, professores, e amigos da escola, devendo
seus atos constitutivos e atividades observar, de modo geral, às
prescrições do estatuto padrão que integra este decreto.
Art. 3º – O Secretário de Educação, Cultura e Esportes, baixará
instruções complementares para a execução deste decreto, podendo
delegar ao Departamento de Educação e Cultura a fiscalização e
assistência relativa às associações comunitárias, educacionais,
assistenciais e recreativas.
Art. 4º – Este decretos [sic] entrará em vigor na data de sua
publicação, revogados o decreto nº 7.862, de 25 de novembro de 1974
e demais disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Santo André, em 04 de agosto de 1978.
DR. LINCOLN GRILLO
PREFEITO MUNICIPAL
DR. PAULO FERREIRA DA SILVA
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÀO, CULTURA E ESPORTES
(SANTO ANDRÉ, 1978).

As atribuições da ACEAR eram norteadas por um documento orientador intitulado


Estatuto Padrão da Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e Recreativa publicado
anexo ao Decreto nº 9.392, de 04 de agosto de 1978, mencionado acima. O documento
determinava os objetivos, as fontes de receita e do patrimônio, os poderes diretivos, os sócios,
seus direitos e deveres.
O Capítulo I do Estatuto Padrão da ACEAR determina como a Associação deve ser
constituída:

CAPÍTULO I
DA CONSTITUIÇÃO
Art. 1º – A Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e
Recreativa (A.C.E.A.R.), é uma sociedade civil, constituída de acordo com as
leis do país, com personalidade jurídica própria, prazo indeterminado de
duração, sem fins lucrativos e com sede e foro, no Município e Comarca de
Santo André, localizada em dependência especialmente cedida, pelo Centro
Educacional, Assistencial e Recreativo da Prefeitura do Município de Santo
André (SANTO ANDRÉ, 1978).

A cada reunião da ACEAR era realizado um registro em livro de ata especificamente


destinado a esse fim. A Figura 23 mostra a etiqueta da capa do Livro de Atas do CEAR Homero
99

Thon, utilizado entre os anos de 1979 e 1982. Conforme o Termo de Abertura apresentado na
Figura 24, nele é possível consultar os registros das reuniões da ACEAR Homero Thon, desde
a posse dos membros da Associação até as reuniões para decisão de festejos escolares.

Figura 23 – Capa do Livro de Atas do CEAR Homero Thon

Acervo: EMEIEF Homero Thon – Santo André

De acordo com os registros nas atas deste livro, no início de cada ano letivo, a dirigente
escolar do CEAR realizava uma reunião com a presença das professoras e pais dos alunos. Nessa
reunião se realizava a leitura do Estatuto Padrão da ACEAR e a dirigente explicava as
atribuições dos membros participantes. Na mesma reunião ocorria a eleição para escolher os
membros para compor a ACEAR daquela instituição.
A Associação era organizada em três grupos: Conselho Deliberativo, Diretoria
Executiva e Conselho Fiscal, sendo composta por onze membros, que se subdividiam entre as
seguintes funções:
a) Diretoria Executiva:
1. Presidente (função desempenhada por pais de alunos)
2. Vice-presidente (função desempenhada por pais de alunos)
3. Secretário Geral
4. Tesoureiro Geral (função desempenhada por pais de alunos)
5. Diretores de Departamento
6. Vogais
b) Conselho Deliberativo
c) Conselho Fiscal: três representantes, sendo dois pais de alunos e um professor
100

Figura 24 – Termo de Abertura do Livro de Atas da ACEAR Homero Thon – 1979

Acervo: EMEIEF Homero Thon – Santo André

De acordo com as professoras entrevistadas, somente a dirigente da escola realizava as


atividades administrativas, não havia secretária. Por isso a participação dos membros da ACEAR
era tão importante. O segundo capítulo explica quais são os objetivos da ACEAR e o inciso I
indica que os membros devem atuar para auxiliar a dirigente escolar frente à administração da
escola.

CAPÍTULO II
DO OBJETO
Art. 2º – São objetivos principais da Associação Comunitária,
Educacional, Assistencial e Recreativa:
I – Auxiliar a direção do Centro Educacional, Assistencial e
Recreativo na consecução dos seus objetivos educacionais;
II – Representar, junto à direção do Centro, as aspirações da
comunidade;
III – Participar de comemorações cívicas, de campanhas comunitárias,
de promoções de natureza cultural, esportiva, assistencial e de outras
atividades em que se empenhe o centro;
IV – Realizar campanhas destinadas a melhorar as condições de
funcionamento do centro;
V – Auxiliar os alunos carentes de recursos, na aquisição de uniforme,
material didático e esportivo de uso nos cursos existentes no Centro
Educacional, Assistencial e Recreativo;
101

VI – Colaborar com o estabelecimento, no tocante à segurança e


conservação do prédio, dos equipamentos, do material didático, e na
limpeza das instalações e dependências;
VII – Promover cursos, cessões de estudo, seminários, conferências e
outras atividades tendentes a elevar o nível de eficiência operacional
do centro;
VIII – Participar da programação do uso do centro pela comunidade,
nos fins de semana e períodos de férias, ampliando o seu conceito de
casa de ensino para Centro de atividades comunitárias (SANTO
ANDRÉ, 1978).

A ACEAR tem a função de cuidar e preservar o CEAR, nos seus aspectos físicos e
sociais, conforme indica os incisos IV, V e VI; além de divulgar e promover as atividades
realizadas no espaço do CEAR, assim como indicam os incisos VII e VIII.
Embora no Estatuto Padrão da Associação Comunitária, Educacional, Assistencial e
Recreativa conste dezenas de atribuições para os membros da Associação, no Livro Ata do
CEAR Homero Thon notamos que a maioria das reuniões era convocada para decisões relativas
aos festejos escolares. Participar das atividades escolares também era um objetivo da ACEAR,
contribuindo nas festas, eventos e campanhas promovidas no CEAR, conforme inciso III do
Estatuto Padrão da ACEAR.
A cada reunião da ACEAR era realizado um registro em livro de atas especificamente
destinado a esse fim. No livro de atas do CEAR Homero Thon, consta registros desde a posse
dos membros da Associação até as reuniões para decisão dos festejos escolares que aconteciam
durante todos o ano letivo. Foram analisadas 20 atas de reunião da ACEAR Homero Thon e, em
9 delas, o principal assunto da pauta se referia às festas escolares. Em 6 reuniões a pauta era
sobre eleição ou reposição dos membros da ACEAR, e em 5 reuniões foi decidido sobre a taxa
de contribuição mensal e anual. Desse modo, podemos identificar a importância dos festejos
escolares promovidos pelos CEAR da cidade de Santo André, visto que a Associação do CEAR
Homero Thon se reunia mais de uma vez ao mês para discutir, definir e organizar as festas.
Ao analisar atas de reuniões nos reportamos às contribuições de Esquinsani (2007) que
discute a questão da neutralidade na escrita dos documentos, afirmando que as atas de reuniões
são criadas para desempenhar função pré-determinada e demonstram formas de influências no
processo educacional. São textos objetivos e sucintos, demonstrando um protocolo de registro.
Mas, apesar disso, a autora afirma que utilizar atas de reuniões como fonte de pesquisa, permite
identificar a percepção histórica do ambiente educacional pesquisado.
Os registros nas atas de reunião da ACEAR Homero Thon apontam discussões entre os
participantes, divisão de tarefas entre os membros da Associação, e definições coletivas na
maior parte dos documentos analisados.
102

No capítulo a seguir, apresentaremos as características das turmas, a organização escolar


e as atividades realizadas nos Cursos de Recreação Infantil e no CEAR apresentadas em
fotografias, materiais didáticos e depoimentos das ex-professoras e ex-alunas.
103

CAPÍTULO III – O cotidiano nas/das escolas municipais

Cotidiano é a palavra que usamos para referirmos à rotina, às ações diárias, à vida de
todo dia. Cotidiano são as práticas, os fazeres, os sentidos que vão se atribuindo e articulando,
criando redes de conhecimento, de significados e de relações interpessoais e materiais,
constituindo a subjetividade das ações, orientando-as. Cotidiano, enfim, é a produção de
conhecimento, valores e existência. Certeau (2014) nos faz refletir quando explica que as
práticas cotidianas estão no cerne da constituição social, não são detalhes na constituição das
ações diárias. O estudo das “artes de fazer” ou práticas cotidianas, para Certeau (2014), implica
questionar as relações que os usuários fazem das produções coletivas, buscando compreender
o que fabricam e como as usam.
Nessa perspectiva, o cotidiano nas e das escolas, remetem às dimensões da vida nas
instituições escolares, a dinâmica de circulação do conhecimento, os modos de existência da
criação. Cotidiano escolar, portanto, remete aos fazeres diários, ao contexto social de produção
de conhecimento, o papel social e função de ensinar e aprender.
A rotina diária nas e das escolas municipais de Santo André, desde 1969 até 1982
variava entre as atividades esportivas, as atividades culturais, as atividades higiênicas e as
atividades motoras-educacionais. Para compreensão dessas atividades, se faz necessário
analisar os materiais e os discursos produzidos pelos usuários das escolas: crianças e adultos.
Para Certeau (1994), o cotidiano são “maneiras de fazer”, e essas ações explicam a
organização escolar

... maneiras de fazer formam a contrapartida, do lado dos


consumidores (ou dominados?), dos processos mudos que organizam a
ordenação sociopolítica.
Essas maneiras de fazer constituem as mil práticas pelas quais
usuários se reapropriam do espaço organizado pelas técnicas de produção
socio-cultural (CERTEAU, 1994, p.41).

Neste capítulo, temos o objetivo de apresentar a rotina e as atividades realizadas pelos


alunos, bem como as festas escolares organizadas pelas professoras com a participação direta
da comunidade escolar, no Curso de Recreação Infantil e nos Centros Educacionais,
Assistenciais e Recreativos. Além disso, discutir as práticas e fazeres cotidianos que permearam
e consolidaram cultura das escolas municipais destinadas às crianças pequenas da cidade de
Santo André.
104

3.1 Os usuários do Curso de Recreação Infantil e dos CEAR: crianças e adultos

Para compreender a história do Curso de Recreação Infantil e do CEAR de Santo André,


se fez necessário colher testemunhos dos usuários desses espaços, recordações de antigas
professoras e ex-alunas das escolas, representadas sob a forma de entrevistas, fotografias e
objetos. Tais fontes contribuíram para a compreensão das práticas cotidianas das escolas.
As entrevistas iniciaram com as ex-alunas, que indicavam suas respectivas professoras,
e estas indicavam outras professoras, constituindo assim um arquivo de fontes que compuseram
esta pesquisa.
As entrevistas seguiram um roteiro de perguntas e respostas (conforme Apêndice 3),
mas não restrito, porque permitiram o diálogo entre pesquisadora e entrevistadas, resultando
em relatos de experiências e memórias.
Tais relatos foram se materializando e sendo ilustrados pelas fotografias e objetos dos
acervos particulares das entrevistadas, e as fontes se ampliando pelos dados obtidos em arquivos
digitais indicados pelas professoras e ex-alunas.
Os Quadros 4 e 5 sistematizam as informações a respeito das entrevistadas.

Quadro 4 – Ex-alunas entrevistadas

Nome Escola-Bairro Ano de frequência - Nome da professora

Éricka Vila Pires 1969 – profª Nilza

Cristina Vila Pires 1969 – profª Maria Luiza Romani

Roseni Vila Pires 1973 – profª Neli

Homero Thon e 1979 – profª Dorli e


Claudia
Vila Pires 1980 – profª Fátima

1979 – profª Fátima e


Melissa Cata Preta
1980 – profª Celina
Fonte: Elaborado pela autora baseado nas entrevistas concedida pelas ex-alunas
105

Quadro 5 – Ex-professoras entrevistadas

Nome Escola-Bairro Período que lecionou

Denise Vila Pires 1969 – 1982

Deise Maria Pio Vila Pires entre outros 1976 – 2012

Deise Ferreira Vila Pires 1977 - 2007

Anice Homero Thon entre outros 1979 – 2010

Marcia Santo Alberto e Vila Floresta 1980 - 2009

Katia Jardim do Estádio 1981 – 1984


Fonte: Elaborado pela autora baseado nas entrevistas concedida pelas ex-professoras

Cronologicamente organizada pelo ano de frequência escolar, Éricka e Cristina foram


alunas da primeira turma do Curso de Recreação Infantil da Vila Pires em 1969, seguidas por
Roseni, na mesma unidade, em 1973. Melissa e Claudia foram alunas do CEAR, no fim da
década de 1970 e início da 1980. Dentre as cinco ex-alunas, com exceção da Roseni, todas as
outras são professoras e funcionárias públicas municipais de Santo André. Éricka e Cristina,
atualmente são aposentadas; Melissa e Claudia ainda são funcionárias da Secretaria de
Educação de Santo André.
As professoras entrevistadas, lecionaram em diferentes épocas e unidades escolares.
Denise compôs o corpo docente da primeira turma do Curso de Recreação Infantil da Vila
Pires, no ano de 1969 e lecionou até o ano de 1982. Deise P. que também trabalhou na Vila
Pires, ingressou no cargo municipal em 1976 e se aposentou em 2012. Deise F., Marcia, e Anice
trabalharam em diferentes unidades do CEAR entre os anos de 1976 e 2010.
Denise contou que ingressou no serviço público municipal com 16 anos de idade. Ao
atingir a maioridade cursou Faculdade de Educação Física e por isso foi convidada a compor o
primeiro corpo docente do Curso de Recreação Infantil. Quando o CEAR, se ampliou e
cogitava-se a mudança da nomenclatura para EMEI, Denise disse que optou por se remover
para o Departamento de Esportes, onde se manteve até aposentar-se.
As demais professoras, Deise P., Deise F., Anice, Marcia e Kátia, ingressaram na
Prefeitura de Santo André, após concluir o curso de Magistério e no decorrer dos anos
realizaram diversos Cursos de Especialização e a Faculdade de Pedagogia.
106

As professoras Denise e Deise P. que lecionaram no Curso de Recreação Infantil


organizado e oferecido pelo Departamento de Esportes da Prefeitura de Santo André,
explicaram que o curso possibilitou a ampliação do atendimento e acolhimento das crianças
pequenas na cidade.
O Curso de Recreação Infantil colheu frutos positivos e se ampliou, instalando dezenas
de CEAR pela cidade. Entretanto, segundo as entrevistas com os usuários, a quantidade de vagas
era escassa se comparada a quantidade de famílias que procuravam o atendimento.
As professoras Denise, Deise P., Deise F. e Marcia, contaram que para matricular seus
filhos, as famílias compareciam nas unidades escolares em data pré-determinada pela Prefeitura
de Santo André para realizar inscrição e aguardavam o comunicado para efetivação da
matrícula. As professoras explicaram que o critério para a matrícula era estabelecido pela ordem
cronológica da inscrição e, por isso, as famílias faziam filas em frente às unidades escolares, a
fim de garantir a vaga. De todo modo, as listas com nomes de crianças que aguardavam vaga
sempre foram imensas, conforme relato das professoras, porque havia muitas crianças e poucas
vagas ofertadas.
Segundo a ex-aluna Cristina, que frequentou o Curso de Recreação Infantil da Vila
Pires em 1969, as vagas eram destinadas apenas para as crianças com 6 anos, que frequentavam
a escola por um ano e depois ingressavam para a escola primária. Conforme palavras de
Cristina:

Fui aluna do CEAR38 com 6 anos, porque naquela época só tinha a turminha,
quando eu fiz, de 6 anos, era só prontidão mesmo para a alfabetização. Era só
um ano porque não tinha quantidade. Nós éramos, se não me engano, duas
salas de manhã e duas a tarde ou três, no máximo, entendeu? E a gente não
tinha muitas crianças. Tinha poucas vagas. Tinha bastante criança, mas não
tinha muita vaga. Então, naquela época tinha esse [o CEAR Vila Pires], o do
Homero Thon que era ali onde é o shopping agora, onde construíram. Tinha
acho o do Alpina, também tinha, mas eram poucos (Cristina, ex-aluna do Curso
de Recreação Infantil Vila Pires, em 1969).

As informações da ex-aluna Cristina, quanto à idade e frequência, se contrapõem aos


dados obtidos durante esta pesquisa, entretanto, compreensíveis, visto que a ex-aluna era muito
pequena. Ao que parece, o Curso de Recreação Infantil acolhia crianças de 5 e 6 anos.
A ex-aluna Melissa, que frequentou o CEAR Cata Preta no ano de 1979, contou durante
a entrevista que não foi fácil conseguir a vaga da instituição. Na época ela morava perto do

38
Notamos divergência na informação compartilhada pela ex-aluna, no que refere à nomenclatura da instituição.
Na data em que essa aluna frequentou a escola, o nome correto era Curso de Recreação Infantil, localizado na Vila
Pires.
107

CEAR Cata Preta, mas seu primo que morava mais distante também frequentou o CEAR Cata
Preta porque não conseguiu vaga no CEAR Vila Linda, que ficava próximo à casa dele.
Durante as entrevistas realizadas com ex-alunas do Curso de Recreação Infantil e dos
CEAR, os dados referentes às vagas e matrículas, se revelou impreciso. Algumas ex-alunas
alegaram dificuldades para conseguir a vaga, outras mencionaram facilidade porque as famílias
utilizaram de influência política, amizades ou prestígio para assegurar a vaga e matrícula. A
contradição entre quantidade de vagas e número de crianças atendidas, evidencia que as escolas
não eram suficientes, nem todos eram atendidos, e pode explicar a denúncia mencionada no
capítulo anterior, na Figura 22.
Um exemplo é o relato das ex-alunas Éricka e Claudia, que conseguiram a vaga na
escola por meio de indicação. Seguem as transcrições:

Ela [a professora Nilza] era amiga do meu pai, meu pai foi jogador de basquete,
né? Então tinha até uma ligação muito forte [Nilza era jogadora de basquete].
(...)
Foi uma escolha mesmo por ser perto [matricular-se no Curso de Recreação
Infantil da Vila Pires].
E também, assim, meu pai tinha um certo conhecimento também.
Porque não era todo mundo que, a gente sabe que a educação sempre foi
excludente, né?
Não era todo mundo que, na minha idade, hoje com 58 anos, pôde fazer uma
educação infantil, uma pré-escola.
Era meio que …
Você tinha alguns amigos, alguns conhecidos, você conseguia e vaga.
Era tudo assim (Éricka, ex-aluna do Curso de Recreação Infantil na Vila Pires,
em 1969).

Na época a educação infantil ela estava começando em Santo André. Foram


abertas algumas vagas e muito por conhecimento também [muda o tom de voz,
enfatizando as duas últimas palavras], minha mãe conseguiu fazer uma
inscrição. E aí eles direcionaram pra lá (Claudia, ex-aluna do CEAR Homero
Thon, em 1979).

A professora Marcia narrou uma situação que ocorreu nas escolas em que lecionou,
conforme relato:

Agora … acontecia sim…, isso … [falou devagar, pausando], eu observei de


alguém que chegava com uma cartinha de um vereador …, isso eu observei,
eu vi acontecer. Por isso que eu estou relatando.
_ Olha, eu vou ter que encaixar uma criança aí [dizia a dirigente do CEAR].
_ Mas como é que nós vamos explicar para as mães, para as outras mães? E aí?
Como é que faz? [perguntava a professora]
_ Isso é um problema nosso! [respondia a dirigente]
_ Então resolvam vocês! [a professora responde].
Eu vi acontecer de criança que era filho de não sei quem.
Por exemplo, não pegava mais crianças de 5 anos, tá? Porque não tinha mais
vaga para 5 anos.
Mais pra um ou outro…
108

Não era uma coisa comum, deflagrada: então vamos pôr todo mundo!
Mas eu vi acontecer (Marcia, ex-professora que lecionou nos CEAR Santo
Alberto e Vila Floresta).

O critério de indicação demonstra a falta de transparência daquela gestão municipal,


permitindo as denúncias e críticas mencionadas no Capítulo 2, que acusam a prefeitura de
oferecer uma educação elitista.
Em oposição ao relato de indicação de vagas, algumas ex-alunas disseram que puderam
escolher a unidade escolar próxima à residência. Cristina conta que a mãe dela optou por
matricular na unidade localizada na Vila Pires, devido ao tamanho e quantidade de esportes
oferecidos, conforme relato:

Eu morava mais perto do Homero Thon, mas eu queria..., minha mãe me pôs
lá porque lá tinha mais esportes. Eu gostava muito, era muito maria moleque,
então eu gostava muito de coisas. Lá tinha um espaço maior, né? O Homero
Thon era um espaço mais restrito, a escola, o CEAR.
(..)
Eu tinha vizinhos que tinham ido lá e era muito bem falada já (Cristina, ex-
aluna do Curso de Recreação Infantil na Vila Pires, em 1969).

Cristina explica que não se recorda plenamente, mas lembra que foi necessário que sua
mãe fizesse uma inscrição e aguardasse a resposta positiva quanto à conquista da vaga para o
curso.
Roseni, ex-aluna da professora Neli no Curso de Recreação Infantil Vila Pires, contou
que sua mãe escolheu a respectiva unidade porque era considerada a melhor da cidade e ficava
perto da residência da família, e completou dizendo que havia outras unidades, mas a mãe dela
insistiu pela vaga na unidade instalada na Vila Pires.
Observando as duas entrevistas com as ex-alunas Cristina e Roseni, notamos
divergências quanto aos nomes que se referiam à escola. Cristina utiliza sempre a sigla CEAR,
mas Roseni menciona apenas o bairro onde a instituição estava localizada, e em outros
momentos da entrevista refere-se à escola apenas com as palavras pré ou prézinho. Roseni
frequentou a instituição durante somente um ano e se transferiu para a escola primária. Cristina,
além de ex-aluna, é professora – atualmente aposentada – e lecionou nos CEAR, nas EMEI e
nas EMEIEF de Santo André, e por esse motivo se recorda e utiliza a sigla da instituição. Talvez
tenha se confundido, pelo tempo que passou ou por conviver profissionalmente no local.
Pollak (1992) aponta a memória como uma construção do passado, realizada no
presente. É um fenômeno que envolve escolha, sendo essa seletiva e parcial; “sofre flutuações”
de acordo com o momento em que é conectada. É um “elemento constituinte do sentimento de
109

identidade”, importante para o sentimento que uma pessoa reflete de si ou frente a um grupo.
Para o autor, o indivíduo é capaz de acessar memórias quando participa de recordações
coletivas, envolve não apenas experiências vividas diretamente, mas também transmitidas por
outros indivíduos, herdadas ou aprendidas durante o processo de socialização.
As entrevistadas nesta pesquisa demonstraram em seus depoimentos que suas memórias
estavam entrelaçadas pelas lembranças das experiências do decorrer de suas vidas, não
correspondendo fielmente à realidade. Algumas mencionavam diferenças entre as escolas e a
educação do final dos anos 1900 e início dos anos 2000, comparando de modo, negativo ou
positivo, suas experiências como alunas, professoras, mães, envolvidas no processo de
educação escolar.

3.1.1 Seleção pública ou indicação: a contratação das professoras do CEAR

O critério de seleção adotado pela Prefeitura de Santo André, na contratação das


professoras para lecionar nos CEAR, não foi bem esclarecido pela maioria das professoras
entrevistadas. Algumas disseram que participaram de seleção pública (Anice, Marcia, Kátia),
outras relataram que foram convidadas pelas profissionais que trabalhavam pelo município
(Denise C.), e em alguns casos a entrevistada esquivou-se da resposta (Deise P. e Deise F.).
A unanimidade nas respostas refere-se ao regime de contrato. Durante as entrevistas as
professoras mencionaram que, entre os anos de 1969 e 1982, as profissionais eram contratadas
pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.
Durante a entrevista, a ex-professora Marcia fez os seguintes relatos:

Eu ingressei na Prefeitura de Santo André no ano de 1980.


Prestei a seleção pública, que não era concurso público. Foi uma das primeiras
seleções públicas. Se eu não me engano foi a segunda ou a terceira seleção
pública. Porque antes da minha turma só se entrava por indicação.
Foi uma prova escrita, prática e uma aula que você tinha que dar com a equipe
técnica assistindo (risos). Isso era hilário!

Nós éramos 16 professoras teoricamente titulares de sala.


Nós éramos e não éramos naquela época né (risos) (...)
A diretora que era um cargo comissionado.
O nosso era dito como não comissionado.
Se você fizesse alguma coisa que extrapolasse o entendimento político
partidário da gestão da época, você também não permanecia muito tempo não
(risos).
Tinha isso também, às vezes a gente ficava sabendo de que tal professora saiu,
foi demitida.
Quando tinha alguma interferência político-partidária isso era muito forte na
nossa época.
110

Porque até antes da minha turma, a condição para você entrar era ser indicado
por um vereador, um político, uma personalidade no município de força
política.
Eu tenho até uma história hilária sobre isso (risos).
Uma amiga nossa, que entrou antes da gente, uma turma antes da gente, quando
era só com indicação, não tinha outro meio pra você entrar. Ela foi na cara
dura pedir uma indicação.
Primeiro vereador que eu encontrar eu vou implorar, ela falou. Eu vou ajoelhar
e vou implorar.
E quando ela entrou, ela falou assim: eu vim pedir uma carta de indicação.
E essa carta tinha..., vinha um padrão, a moça datilografava seu nome na hora,
e como o vereador tinha deixado avisado que viria uma pessoa, a assessora
pensou que ela fosse essa pessoa.
Então na hora ela falou que era Fulana de tal e ela entrou (risos) (Marcia, ex-
professora que lecionou nos CEAR Santo Alberto e Vila Floresta, grifo meu).

A ex-professora Anice, em seu depoimento, disse que para ingressar na carreira do


magistério nas escolas municipais da cidade de Santo André, era necessário ser aprovada num
processo denominado seleção pública. Anice explicou que não havia concurso público na
década de 1970. A pesquisadora então relatou que outras entrevistadas 39 mencionaram sobre a
indicação de vereadores e questionou se Anice sabia algo sobre o assunto. Imediatamente a ex-
professora respondeu que preferia não comentar e sorriu. Mas no decorrer da entrevista ela fez
as seguintes revelações:

Existia sim essas indicações.


Eu, no caso, como eu nunca morei em Santo André, eu era de São Caetano.
Esse processo seletivo eu acredito que era aberto e como eu fiquei numa
classificação que foi jogada para o final40, eu não tinha indicação de vereador.
Eu acho que as que pegaram as melhores vagas são as de tinham indicação de
vereador. Com certeza!
Isso existia.
Existia mais no final da administração do Lincoln Grilo41.
Depois na administração do Brandão 42 teve sim algumas indicações, que a
gente sabia.

39
No decorrer desta pesquisa algumas ex-professoras foram indicadas pelas colegas entrevistadas, procuraram a
pesquisadora e solicitaram que seus depoimentos fossem colhidos. Uma dessas foi a ex-professora Silmara que
ingressou na Prefeitura de Santo no ano de 1986, período superior a delimitação temporal da pesquisa. Seus relatos
revelam importantes informações a respeito do critério de seleção das professoras e por este motivo segue a
descrição: “Naquela época não tinha concurso público, não tinha concurso público! Os cargos eram, de professoras
de rede municipal, era destinado aos vereadores. Os cargos eram divididos entre os vereadores, entre os cargos de
comissão do governo. Não tinha concurso público. E pra minha sorte naquele momento, a minha mãe era amiga
de infância de um vereador, que na época era do PTB, minha mãe era amiga de infância dele: do Bezerra, como
que era o nome dele? acho que era Bezerra, lá do Parque Erasmo. Aí ela foi lá e pediu um cargo pra mim. Eu
estava saindo do magistério”.
40
A ex-professora explicou que foi aprovada no processo seletivo e pode assumir o cargo quando foi chamada.
Negociou com a Prefeitura e deslocada para o final da lista das funcionárias aprovadas.
41
O prefeito Lincoln Grillo governou a cidade de Santo André entre os anos de 1977 e 1983. Disponível em:
https://www2.santoandre.sp.gov.br/index.php/cidade-de-santo-andre/prefeitos
42
O prefeito Newton da Costa Brandão governou a cidade de Santo André durante três mandatos, de 1969 a
1973, depois de 1983 a 1988, e o último de 1993 a 1996. Disponível em:
https://www2.santoandre.sp.gov.br/index.php/cidade-de-santo-andre/prefeitos
111

Mas eu nunca tive essa sorte! (Anice, ex-professora que lecionou nos CEAR
Homero Thon, CEAR Ouro Verde, entre outros).

Diante das informações expostas, concluímos que durante a estruturação do Curso de


Recreação Infantil e dos CEAR, entre 1969 e 1982, recorte temporal desta pesquisa, havia dois
critérios para a seleção e contratação das professoras admitidas pela Prefeitura de Santo para
compor o quadro do magistério municipal: seleção pública e a indicação por meio de influência
política. Os dois aconteciam paralelamente e se assemelhavam com o critério para obtenção de
vagas pelas famílias as crianças, analisado anteriormente.

3.2 Números de crianças atendidas em cada turma

A partir das fotografias coletadas, foi possível estimar o número de crianças atendidas
em cada turma do Curso de Recreação Infantil e do CEAR, variando entre 25 e 36 alunos por
sala, desde o início do atendimento em 1969 até a efetivação das unidades escolares na década
de 1980.

Figura 25 – Primeira turma de alunos do


Curso de Recreação Infantil da Vila Pires – 1969

Acervo: Arquivo pessoal da professora Denise


112

No acervo pessoal da professora Denise, localizamos a fotografia da primeira turma do


Curso de Recreação Infantil da Vila Pires, em 1969 (Figura 25). Nela aparecem os alunos da
professora Denise e da professora Nadir. As 42 crianças pertenciam às turmas que frequentavam
a instituição no período da manhã.
A professora Denise nos fez o seguinte relato, para explicar a fotografia:

Chamávamos de Recreação Infantil. Foi como começou, ano 1969,


por iniciativa do Sr. Milton Santos Marques, chefe da Divisão de
Esportes e coordenação de Nilza Monte Garcia, com 4 classes, sendo
2 no período da manhã (8h às 11h) e 2 no período da tarde (14h às
17h). Éramos as professoras da manhã, eu e Nadir Bazani (Dica) e à
tarde Nilza e Maria Luiza Romani. Nem com muita imaginação
esperávamos que crescesse tanto. Tenho muito orgulho de ter feito
parte deste grupo, que hoje é história.
As nossas classes ficavam embaixo da arquibancada da piscina. A
minha classe e da Marilu [apelido de Maria Luiza Romani] era menor,
com 28 alunos de 5 anos. A da Nadir e Nilza era maior, no final de
um corredor, com 36 alunos de 6 anos. Havia no banheiro box com
chuveiro quente, pois como éramos ligadas ao Departamento de
Esportes, tínhamos no currículo aula de Educação Física e Natação
(Denise, ex-professora que lecionou entre os anos de 1969 e 1977).

Em depoimento, a professora Denise afirma que, “nem com muita imaginação


esperávamos que crescesse tanto”, expressa a reflexão a partir da aquisição de experiência e
formação pessoal. Na perspectiva de Josso (2007), a narração de histórias de vida questiona as
continuidade e rupturas das heranças, dos projetos de vida, das experiências adquiridas. A
professora Denise relaciona seu contexto de vida profissional e social na medida em que as
mudanças aconteceram nos contextos sociais e culturais singulares (JOSSO, 2007, p.414).
Ao observar a Figura 25, as crianças aparecem posicionadas num banco de cimento
localizado dentro do Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, as meninas estão sentadas à
frente e os meninos em pé, atrás. Em sua maioria as crianças vestiam camiseta na cor clara e
bermuda escura. Denise explica que ao fundo da imagem estava localizada a piscina olímpica
do complexo esportivo e no quadrante superior direito avistamos a arquibancada da piscina. No
lado esquerdo da foto, atrás dos meninos, aparece a professora Nadir e, no lado direito, a
professora Denise e algumas mães de alunos. Inclusive uma das mães que aparece na foto,
segurava uma lancheira plástica, muito utilizada pelas crianças durante as décadas de 1960 e
1970. De acordo com a professora Denise, a maioria das crianças nessa foto tinha em média 6
anos, porque no ano seguinte ingressaram na escola primária. Atrás da foto avistamos uma
cerca, uma cobertura de telhas e um portão de madeira: trata-se do limite de acesso à piscina
olímpica do Complexo Esportivo. Mais ao fundo avistamos as árvores do Clube Atlético
113

Aramaçan, um clube particular, mas onde as professoras desta unidade escolar levavam as
crianças para brincar, conforme relato da professora Denise: “Havia, na época, um acordo entre
Prefeitura e o Aramaçan. Portanto utilizávamos as dependências do clube: piscinas, parquinho,
campos de futebol. Quantos piqueniques fizemos naqueles campos!”, conclui a professora,
demonstrando satisfação ao relembrar dos acontecimentos daquela época.
Na Figura 25, chama-nos a atenção, a professora Nadir estar atrás das crianças, quase
escondida, devido a elevada estatura da professora-atleta seu rosto pode aparecer na foto. No
quadrante oposto da fotografia, as mães aparecem ao lado ou quase à frente dos alunos. Seria
timidez da professora ou porque era a única mulher negra na foto? Não seria possível posicionar
uma professora de cada lado da foto? Era intenção que somente as crianças se destacassem na
foto? Se sim, porque algumas mães aparecem? De certo o fotógrafo tinha um propósito, mas
não sabemos responder tais perguntas. A professora Denise não se recordou quem foi o
fotógrafo desse registro.
De acordo com Barthes (2009) o fotógrafo tem intenções específicas e cabe aos
observadores entrar em harmonia com a imagem, aprovar, desaprovar, compreender e discutir,
porque as fotografias tem funções criadas a partir do olhar do fotógrafo. “Essas funções são:
informar, representar, surpreender, fazer significar, dar vontade” (BARTHES, 2009, p.49).
Quem observa a fotografia pode apreciar ou não a imagem.
Na Figura 26 vemos a turma da professora Denise, em 1969. Era um grupo com 28
crianças de 5 anos de idade e, segundo a professora, foi sua primeira turma no Curso de
Recreação Infantil, na Vila Pires. Esta imagem foi registrada dentro do Complexo Esportivo
Pedro Dell’Antonia, e ao fundo observamos residências e uma fábrica.
114

Figura 26 – Turma do Curso de Recreação Infantil Vila Pires – 1969

Acervo: Arquivo pessoal da professora Denise

As turmas dos anos 1970 também eram numerosas, compostas por mais de 20 crianças,
conforme as Figuras 27, 28, 29 e 30, disponibilizadas pelas professoras e ex-alunas
entrevistadas, e em diferentes CEAR.
E nos anos 1980, mesmo com o aumento de unidades escolares, as turmas se mantiveram
numerosas, conforme as Figuras 29 e 30 e relatos das entrevistadas.
De acordo com as fotos, as turmas reuniam de 20 a 30 crianças. Esse aumento na
quantidade de crianças por sala comprova a hipótese da industrialização e urbanização, que
trouxeram crescimento à cidade de Santo André, concomitantemente ao movimento paulista de
expansão da pré-escola.
115

Figura 27 – Turma do Curso de Recreação Infantil Vila Pires – 1971

Acervo: arquivo do grupo Eu fui professora do CEAR

Figura 28 – Turma do CEAR Homero Thon – 1979

Acervo: Arquivo pessoal da ex-aluna Claudia Rebeca


116

Figura 29 – Turma do CEAR Homero Thon – 1980

Acervo: Arquivo pessoal da ex-aluna Claudia Rebeca

Figura 30 – Turma do CEAR Curuçá - 1982

Acervo: arquivo do grupo Eu fui professora do CEAR

No conjunto de fotografias anteriores, podemos destacar também o uniforme escolar


usado pelas crianças. Um traje que sofreu modificações no decorrer dos anos nas escolas
municipais de Santo André, assunto que será abordado na sequência deste texto.

3.3 Material e uniforme escolar

Nas Figuras 27, 28, 29 e 30 o enquadramento das crianças é igual, sempre sentadas num
banco da escola, no chão ou agachadas; todas posicionadas lado a lado e com a presença da
professora; as meninas normalmente à frente dos meninos, que ficavam ao fundo. Além do
enquadramento, notamos que nessas fotos as crianças vestem uniformes, inclusive o tênis, que
117

também era igual para todos. As professoras comumente se posicionavam no quadrante direito
da foto, embora em outras fotografias apareciam professoras sentadas no meio dos alunos.
Todas as ex-alunas e todas as professoras mencionaram durante as entrevistas que,
quando estudaram no Curso de Recreação Infantil ou no CEAR, o material escolar e o uniforme
das crianças eram adquiridos pelas famílias. O uso do uniforme era obrigatório. E quanto ao
material escolar, no início do ano letivo a mãe recebia uma lista com os itens que deveriam ser
adquiridos.
Algumas recordam com detalhes as características dos uniformes, lembram dos tecidos
das roupas, das cores, das estampas, dos bordados.

Me lembro do meu uniforme, agora você falando, me lembro do meu short


azul, aquele short de tecido azul fofinho, com elástico na perna e a camiseta
branca. Quando frio, era calça de helanca azul marinho e o blusão azul
marinho.
O maiô também era azul com nome bordado aqui [indica com mão o lado
esquerdo do peito]. Pra gente não perder era tudo bordado, a mãe bordava
daquele jeito.
Todos usavam o mesmo uniforme, a família comprava ou tinha que fazer.
Era tão engraçado! Porque procurava costureira pra fazer. Você não comprava
em loja, às vezes, tinha alguma mãe da APM que fazia.
Não era assim: comprava em loja. Aí depois começou, começou sim.
Eu me recordo que era um short brim, um short de brim azul marinho. E tinha
que ser aquele. Era o uniforme da escola ué! Tinha que usar.
O uniforme de helanca, que era de inverno, era mais fácil achar em uma
malharia.
Eu me lembro de uma costureira, na Rua Gil Vicente, que fazia lá umas
costurinhas para minha mãe. Me recordo do shortinho de brim azul marinho,
com as perninhas de elástico (Éricka, ex-aluna do Curso de Recreação Infantil
na Vila Pires, em 1969).

Tinha uniforme, a gente já tinha o uniforme do CEAR. Ele era azul marinho,
com a gola em V e tinha a camisetinha branca com as letrinhas.
Minha mãe comprou. Eu lembro que ela comprou. E até depois ela precisou de
mais e daí a gente ia no Bazar Ângela, né, que ainda tem. Era comprado
(Claudia, ex-aluna do CEAR Homero Thon, em 1979).

Algumas ex-alunas possuem memória olfativa dos cheiros dos materiais. Todas se
recordam dos itens do material e como eles eram organizados na escola.

Nós tínhamos uma caixinha de sapato. Eu lembro da minha caixinha de sapato,


onde a gente guardava nossos pertences.
E a gente tinha um feltro azul, que a gente colocava no chão pra descansar,
então, pra gente não deitar direto no chão. Não me lembro se era assoalho, se
era cimento. E a gente colocava esse feltro azul no chão pro horário de
descanso.
Outra coisa que me veio agora é que a gente escrevia em folha de pão, papel
de pão, era aquela folha que embrulha o pão, que era o filão.
Olha só gente, que coisa, né?
A gente usava aquela folha. Lógico! Nova.
118

Mas o que a gente usava pra desenhar, escrever, era naquela folha que
embrulhava o filão de pão.
A minha irmã fez lá [frequentou o CEAR Vila Pires], ela foi alfabetizada lá.
Alfabetizada, leitura, tudo na folhinha de pão.
Me lembro perfeitamente!
Eu tenho uma memória de duas coisas muito forte: que era o cheiro da
massinha que me remete até hoje à lembrança da minha educação infantil.
Daquele espaço.
Até vejo as mesas, agora falando pra você, era de fórmica, baixinhas, azul, azul
clarinho de fórmica, de madeira, tudo de madeira, azul clarinho de fórmica
(Éricka, ex-aluna do Curso de Recreação Infantil na Vila Pires, em 1969).

Lembro, lembro de tudinho, até do cheiro do giz de cera [enquanto falava,


fechou os olhos e sorriu].
Tinha a listinha, né? Que tinha que fazer a compra.
Aí as famílias compravam, não era nem famílias que falava, era: as mães, era
só mães.
As mães compravam e aí colocava o nome, tudo bonitinho, e a gente levava
pra escola.
E tinha uma pastinha que levava as coisas.
E o mais bacana, assim, é que a gente levava uma caixa, caixa de sapato e uma
caixa de camisa. Porque caixa de camisa era muito usada. Na caixa de sapato
a gente coloca os materiais e na caixa de camisa iam as atividades, que a gente
ia guardando (Claudia, ex-aluna do CEAR Homero Thon, em 1979).

No decorrer da pesquisa, identificamos que cada escola solicitava itens diferentes do


material escolar. A professora Marcia explicou em detalhes quais eram os materiais solicitados:

Giz de cera, sulfite massinha, lápis de cor, lápis, caderno de caligrafia para a
turma de 6 anos.
Caderno comum, régua pra algumas, algumas escolas pediam, nas minhas
pediam régua.
Tinta guache.
E tinha o material de uso coletivo que a gente mandava na lista. Uma sala pedia
papel crepom, uma sala pediu cartolina, uma sala pedia papel laminado, tinha
escola que fazia o seguinte, não fazia isso.
Porque a gente entregava a lista de material, se não me engano, na matrícula e
elas [as mães] traziam na primeira reunião.
E na época algumas escolas pediam papel higiênico, álcool para mimeógrafo.
Algumas escolas pediam assim: uma folha de color set, uma de papel espelho,
que eram os papéis que mais pediam.
A nossa briga é que os pais traziam tudo enrolado, e a gente tinha de desenrolar
tudo e colocar na papeleira. Porque ficava tudo na papeleira (Marcia, ex-
professora dos CEAR Santo Alberto e CEAR Vila Floresta).

O desempenho dos membros da ACEAR era importante para garantir que todas as
crianças portassem o material escolar e o uniforme. A ex-aluna Melissa disse que a mãe dela
era membro da ACEAR Cata Preta e se recorda que alguns alunos ganhavam material e
uniforme comprados pela escola.
A professora Marcia relatou que, no início do ano letivo, antes de começar as aulas, as
professoras, além de fazer as matrículas, preenchiam uma ficha com o perfil de cada aluno. Por
119

meio dessa ficha era traçado o perfil socioeconômico de cada família. Com isso, aquelas
famílias que não tinham condições financeiras para adquirir o uniforme e o material, a escola
fornecia. Completa dizendo que a prefeitura de Santo André passou a fornecer material escolar
e uniforme para todas as crianças somente na década de 1990.

Figura 31 – Bolsa em que os alunos levavam objetos pessoais à escola - 1979

Acervo: arquivo pessoal da aluna Claudia Rebeca, confeccionada e personalizada pela mãe da aluna.

A ex-aluna Claudia possui ainda a “sacolinha” que ela levava para a escola (Figura 31).
Conta que todas as crianças tinham esse objeto e dentro dele as crianças levavam à escola uma
escova de dentes, um tubo de creme dental e uma toalhinha higiênica que serviam tanto para
forrar a mesa do refeitório durante o horário da merenda quanto para se secar após a escovação
diária dos dentes.
Esses últimos objetos dirigiram nossa reflexão para o modelo escolar de higienização
dos costumes, prática discursiva apresentada durante a proliferação da pedagogia da escola
nova e presente nos contextos escolares nos anos finais do século XX, conforme indica a
utilização de tais objetos. Não se trata da pedagogia assistencialista, difundida durante o
movimento de lutas por creches, que afirmava que as instituições responsáveis por acolher as
crianças pequenas representariam o papel assistencial de cuidar e não educar (KUHLMANN
JR, 1998, p.200).
Quando nos referimos à higienização, lembramos do movimento higienista que interviu
na educação da sociedade moderna, definindo novos padrões de saúde e asseio. A higiene
aparece como parte integrante da rotina e do currículo escolar. Segundo Carvalho (1997),
120

quando se compreende a higienização como um modelo de disciplina, almejando ordem,


obediência, bom comportamento, disciplinar não representaria correção ou prevenção, mas teria
a função de “moldar” (CARVALHO, 1997, p.308).
Consideramos que, assim com a higienização bucal, o uso do uniforme também se
relaciona com a preocupação de higiene e disciplinarização dos corpos. Um método de controle
e padronização, que inculcava na classe escolar, novos hábitos e costumes, formando a
sociedade urbana em acelerado crescimento na época.

3.4 As atividades desenvolvidas com as crianças do CEAR

Os documentos orientadores da prática pedagógica das professoras, utilizados no início


do Curso de Recreação Infantil, não foram localizados no Arquivo da Prefeitura de Santo André
nem da Secretaria da Educação; talvez se perderam com o tempo ou podem não ter sido
compilados. Por isso, fez-se necessário compreender, assim como ensina Faria Filho (1998),
que:

[...] boa parte de nossos arquivos guardam (ou não) e “são mandados
guardar” informação a partir da lógica e do interesse da administração
estatal. Não é raro surpreender-se com políticas de arquivo que
estabelecem seus limites e possibilidades, segundo a pergunta: o que
interessa à administração pública guardar? O que fazer com o que não
é interesse da administração, muitas vezes apenas burocrática, do
Estado? (FARIA FILHO, 1998, p. 95).

Mas no acervo pessoal da professora Deise P. tivemos acesso a um livro produzido pela
Prefeitura Municipal de Santo André e distribuído às professoras, com a finalidade de orientar
o trabalho pedagógico, conforme a Figura 32.
121

Figura 32 – Capa do livro de atividades - 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise P.43

Contou a professora Deise P. que o livro foi utilizado por vários anos e norteava o
currículo escolar do Curso de Recreação Infantil e, posteriormente, do CEAR. O livro é
composto por 140 páginas, divididas em seis sessões com as seguintes temáticas: Jogos,
Danças, Música, Arte, Dramatização e Aula Historiada. A paginação não segue uma ordem
sequenciada, demonstrando que o material foi produzido reunindo várias apostilas diferentes,
de acordo com determinada temática.

43
O livro foi doado pela professora Deise à pesquisadora.
122

Quanto ao material utilizado na confecção do livro, identificamos que a capa e a


contracapa são em papel com gramatura maior que as folhas internas, ou seja, a capa é grossa
e as folhas internas bem finas. As folhas internas também possuem gramatura diferentes, as
mais grossas possivelmente eram brancas, mas se amarelaram com o decorrer dos anos, outras
mais finas são originalmente amarelas. O livro foi encadernado unindo todas as folhas com dois
grampos de metal, que, neste exemplar, estão enferrujados, como é possível ver na Figura 32.
Na capa, é possível constatar que houve um trabalho de impressão em gráfica, já as folhas
internas foram datilografas e reproduzidas através de cópia xerográfica ou mimeografada.
Na folha inicial de cada temática existe uma capa com ilustração desenhada
manualmente. Na capa da temática sobre jogos, há um pequeno texto justificando a produção
do referido material, conforme transcrição abaixo:

JUSTIFICATIVA
Este documento é fruto de uma pesquisa de campo e bibliografica
[sic] realizada pela equipe do Setor Regional de Orientação
Pedagógica.
É o início de uma atividade realmente nova para todos e, portanto,
[sic] solicitamos, embora o referido trabalho tenha sido feito com
bases científicas, cooperação dos senhores professores quanto a
sugestão para melhoria ou mesmo para enriquecimento do próprio
documento.
As atividades são apresentadas respeitando faixas etárias, o que
não impede que o professor se utilize das sugestões que mais lhe
convier [sic].

Segundo a professora Deise P., o livro foi produzido pelas primeiras professoras do
Curso de Recreação Infantil que, alguns anos depois da implantação do projeto inicial,
deixaram de ministrar aulas e foram promovidas para um setor de orientação pedagógica. Neste
setor a equipe preparava material e organizava o trabalho pedagógico de todas as unidades
escolares. A professora também relatou que a equipe ministrava cursos para todas as professoras
dos Centros de Recreação Infantil e dos CEAR.
É um material dedicado especificamente a publicar sugestões e orientações para o
trabalho pedagógico. Na sessão sobre Jogos, há 32 páginas com a descrição de 135 atividades
para realizar com as crianças, em algumas consta somente a explicação do jogo; em outras
aparece maior detalhamento, com indicação do material a ser utilizado, a posição para formação
das crianças no início do jogo, como desenvolver a brincadeira e o objetivo a ser alcançado,
conforme podemos verificar nas Figuras 33 e 34.
123

Figura 33 – Página do Livro de Atividades – Sessão Jogos – 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio


124

Figura 34 – Página do Livro de Atividades – Sessão Jogos – 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio


125

Na sessão sobre Danças, o conteúdo está organizado com indicação de origem da dança,
ou seja, se é uma dança junina, se de algum estado brasileiro ou típica de algum país específico.
Há seis danças de diferentes estados brasileiros, quatro danças juninas e vinte danças de outros
países (Figura 35). Completando a sessão, há 16 páginas com partituras das músicas referentes
às respectivas danças (Figura 36). E nas páginas finais, três laudas descrevem o enredo para um
locutor de dança de quadrilha junina.
No livro são apresentadas 31 músicas infantis, com letra e partitura, descritas em 19
páginas. As letras das músicas remetem a brinquedos e brincadeiras infantis, ensinam
lateralidade como direita e esquerda, e ritmo, homenageiam o dia das mães e o dia dos pais e a
pátria.

Figura 35 – Página do Livro de Atividades – Sessão Danças – 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio


126

Figura 36 – Página do Livro de Atividades – Sessão Danças – 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio

No trecho sobre Artes, a página inicial descreve o objetivo e aponta recomendações às


professoras para realizar as atividades (Figura 37). São 18 páginas com indicação de materiais
básicos para utilizar nas aulas, tem a receita de tintas com água, anilina, para pintura a dedo,
tipo guache, além de receita de cola, massa de modelar caseira e produção de folha para
mimeógrafo. Quanto às técnicas para utilizar com as crianças, há 43 técnicas de desenho e arte
com pintura. Ao final da sessão, consta a informação de que o Governo do Estado da Guanabara
cedeu a professora Isis Mendes Pelosi ao Governo do Estado de São Paulo, para coordenar o
Serviço de Educação Pré-Primária. Com essa informação podemos concluir que a sessão sobre
artes foi selecionada de um material organizado pela Secretaria de Educação Estadual.
127

Figura 37 – Página do Livro de Atividades – Sessão Artes – 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio


128

No trecho sobre Dramatização há 16 páginas com o texto roteirizado de seis histórias,


com os seguintes títulos: Brinquinho, o cabritinho obediente; Fada vitamina; A tartaruga e a
lebre; A formiguinha e a neve; O coelhinho sabido; e O palácio do príncipe e da fada madrinha.
As histórias têm intencionalidade de transmitir mensagens otimistas, de superação, de
determinação e persistência; além de valorizar a obediência e a hierarquia familiar (Figura 38).

Figura 38 – Página do Livro de Atividades – Sessão Dramatização – 1974

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio


129

E na sessão sobre Aula Historiada, logo no cabeçalho consta a informação de que o


material foi reproduzido de um curso de especialização pré-escolar, na disciplina de Educação
Física, oferecido por uma Escola Normal localizada na cidade de São Bernardo do Campo,
conforme Figura 39.

Figura 39 – Página do Livro de Atividades – Sessão Aula Historiada – 1974

/
Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio
130

Nas páginas dessa sessão, a impressão mimeografada está clara, prejudicando a


legibilidade do texto. Segue, então a transcrição da página.

GINÁSIO E ESCOLA NORMAL “REGINA MUNDI”


Rua Marquês de Lages, 2002 – km/10 da Via Anchieta
Curso: Especialização do pré-escolar
Disciplina: Educação Física

======================================
=========

AULA HISTORIADA

Colégio: “Regina Mundi”


Professoranda: [sic] Joana S. A. Lima
Matéria: Educação Física
Data: 12-6-74
Local: Salão
Material usado: bancos
Duração da aula: 36’
Método: Francês
Objetivo: Lavar a criança ao correto desenvolvimento de suas funções físicas,
de maneira recreativa

“Chapeuzinho Vermelho”

Era uma vez... uma menina muito bonita, chamada Chapeuzinho


Vermelho. A mãe fêz [sic] para ela um chapeuzinho de veludo vermelho, com
uma capinha também de veludo vermelho. A menina usava-o todos os dias pro
toda parte. Cahmavam-lhe [sic] porisso [sic], Chapeuzinho Vermelho.
Um dia a mãe lhe disse:
- A vovó esta doente, minha filha, leva-lhe este bolo e o potinho de
manteiga. Chapeuzinho vermelho [sic] partiu muito contente para a casa da
vovó... (marcha natural).
Ia vê-la, levar-lhe coisas boas e gostosas. De tão contente por tudo
isso, ia cantaodoando [sic]:
“Pela estrada fora [sic] eu vou bem sozinha.
Levar estes doces para a vovozinha.”
Um pouquinho cansada pôs [sic] a cestinha no chão e começou a
apanhar umas frutinhas que encontrou (elevação horizontal dos braços,
diferentes planos).
Chapeuzinho Vermelho deitou-se um pouquinho. Mas... foi ver-se
[sic] suas pernas estavam bem fortes, pois aindatinha [sic] de caminhar muito.
Levantava-as ora uma, ora outra... ora uma, ora outra. (ogitado [sic],
elevação alternada das pernas).
Chapeuzinho vermelho [sic] continuou seu caminho. Chegou perto de
uma árvore. Viu tantas frutinhas pelo chão... foi apanhando uma por uma
(afastamento lateral, flexão e estensão [sic] do tronco).
Iria leva-las para a vovó. Mais adiante viu muitas flores pelo bosque.
Cheirava um aqui, outra ali...(cheirar a flor).
Mas... ela pensou: - Está ficando tarde: Preciso chegar já à casa da
vovó! E começou a andar mais ligeiro (marcha alongada, com grande
balanceamento dos braços).
- Xi... lá vem o lobo mau. E Chapeuzinho vermelho [sic] subiu
depressa numa árvore (trepar). Foi trepando, trepando até ficar lá bem no alto
de tanto medo [sic]. Mas... o lobo chegou bem pertinho e disse-lhe:
- Chapeuzinho Vermelho você está com medo de mim? Não vê que
gosto muito de você? Pode descer daí minha amiguinha!
131

A menina deu uns saltos (saltar) para o chão. Com isso o cestinho
saltou de sua mão e foi cair no chão.
O lobo mau foi muito amavel [sic] e ajudou chapeuzinho vermelho
levantar o cesto do chão e carrega-lo [sic] pelo bosque. (levantar e transportar).
A pobre menina não pensou que era tão perigoso conversar com o lobo. E ele
lhe perguntou:
- onde você vai? O que leva neste cesto?
A tolinha respondeu:
- Vou ver minha vovó que está doente, levar-lhe um bolo e um
pratinho de manteiga.

Notamos alguns erros ortográficos e gramaticais, mas optamos por manter o texto
idêntico, assim como consta na fonte.
Durante entrevista, a professora Denise explicou que o corpo docente dos dois Centros
de Recreação Infantil, no início da década de 1970, fez o referido curso de especialização e o
material foi reproduzido para as professoras e compilado no exemplar encadernado. Nessa
sessão há nove histórias divididas em 17 páginas, intituladas como: Chapeuzinho Vermelho,
Quando os brinquedos falam, Um passeio na caverna, A dança das doze princesas, O
casamento da Dona Baratinha, Pedro e Manuelzinho, O barão de Xiquexique, Mozart e as
borboletas brancas e Os músicos de Bremen. Nessa sessão, além do texto com a história, há o
roteiro para o professor, indicando quando deve pausar a leitura e fazer uma pergunta às
crianças, um momento de respiração, ou outra ação a fim de que haja interação entre os ouvintes
e o leitor.
O livro é um exemplar que auxiliava o docente durante o planejamento e atuação com
as crianças, principalmente se a professora tivesse pouca experiência profissional. Por isso,
talvez, tenha sido utilizado por anos entre os docentes do Curso de Recreação Infantil e do
CEAR. Um material didático redigido com escrita simples, detalhadamente explicativo e com
ilustrações manuais.
Durante as entrevistas as professoras disseram que o impresso era orientador para o
trabalho pedagógico com as crianças, mas não havia exigência ou obrigatoriedade no uso,
porque cada educadora tinha liberdade para planejar suas aulas e desenvolver suas “práticas
cotidianas”. De acordo com Certeau (2014) as práticas cotidianas são construções, maneiras de
fazer que podem não ser ditas, mas que são colocadas em ação. Ou seja, a rotina e o desempenho
da professora com as crianças é que estabelecia o aprendizado.
As atividades em ambientes externos e envolvendo a expressão corporal, eram práticas
rotineiras tanto no Curso de Recreação Infantil quanto nos CEAR. De acordo com o depoimento
da ex-aluna Cristina, as crianças pouco se mantinham dentro da sala de aula e a maioria das
atividades eram realizadas foram da classe. Como a aluna frequentou a unidade escolar
instalada dentro do Complexo Esportivo da cidade, as crianças contavam com a quadra do
132

ginásio de esportes, as salas de ginástica, a piscina do complexo e a piscina de um clube ao


lado, bem como todo espaço de circulação do complexo que era amplo.
A ex-professora Denise explicou que na proposta pedagógica do Curso de Recreação
Infantil não incluía longo tempo dentro da sala de aula, e valorizava a expressão corporal.
Durante o depoimento, em diversos momentos a professora explica a organização do curso,
conforme relatos a seguir:

Um detalhe que sempre fez a Recreação Infantil se diferenciar das outras


escolas de educação infantil: todo o nosso trabalho era divido em área dentro
da classe, aquilo que é desenvolvimento intelectual, vamos falar assim, e a
outra parte da aula ESPORTE, esporte não, atividade física.
F-U-N-D-A-M-E-N-T-A-L pras [sic] nossas crianças, lá de trás e as de hoje
também.

Falando ainda sobre Recreação Infantil, curso que iniciamos lá nos anos
sessenta e nove, setenta, e assim por diante.
Como eu disse anteriormente, uma das características do nosso curso era muita
atividade fora de classe, atividade esportiva também.
Tudo aquilo que nós fazíamos na classe, vocês já conhecem, vocês já trabalham
com isso. Toda parte de coordenação motora, aprendizado de cores, formas, eu
não vou me alongar nisso.
Nós desenvolvíamos todos os aspectos da educação infantil, e além, a parte
física.
A princípio nós utilizávamos as piscinas do clube Aramaçan, clube Atlético
Aramaçan. Eles tinham uma piscina rasinha, pra criança pequena e uma que
eles chamavam de média, um pouquinho maior.
Então nós atravessávamos [a pé, ao lado] a piscina nossa, olímpica, e íamos
para o clube. E ali nós dávamos as aulas de natação.

Nós utilizávamos o Clube Aramaçan, como eu já disse, e então tínhamos


muitas atividades ao ar livre.
Algumas vezes nós íamos nos campos, lá no fundo do clube.
Isso era 1970 – 1971, não era como é hoje, não é?
Ainda tinha muitas árvores, campo gramado, e nós íamos.
Eu ia muito com meu grupo num dos campos de futebol, onde hoje
praticamente estão churrasqueiras, campo de ... não é mais grama natural.
Naquela época tudo era natural.
Quando nós chegávamos, aquela criançada... Sabe uma revoada de pássaro
desesperado, que voa pra tudo quanto é lado? [risos] Era assim a nossa chegada
no campo [risos].
Eu os deixava livre, eles corriam, corriam e corriam. E riam.
Eles faziam círculos tudo em torno da gente. E livres!
Eu sentada, na grama, vendo eles correrem. Não dizia nada, deixava eles irem
onde eles quiserem, fazer o movimento que eles queriam, brincavam em
duplas, iam num grupo, iam sozinhos.
Ai pouco a pouco eles viam e se sentavam próximos de mim. E um vendo o
outro, todos viam e sentavam.
E aí nos começávamos a conversar sobre tudo aquilo que eles estavam
observando: o que eles viam, se tinha passarinho, a cor do passarinho, a grama,
o céu...
E nós fazíamos isso. Eu fazia com muita frequência até. Porque eu gostava.
E eles voltavam entusiasmados, e calmos, e tranquilos, e felizes.
Então a gente utilizava bastante todo aquele campo, toda natureza.
E se houvesse tempo, dava uma paradinha no parquinho. Porque tinha o
parquinho, né? Ou senão estava muito bom do jeito que estava e nós subíamos
133

pra classe (Denise, ex-professora do Curso de Recreação Infantil, na Vila


Pires).

Ainda no depoimento, a ex-professora Denise, formada em Letras e em Educação Física,


a profissional demonstra seu apreço pelos esportes e enfatiza a importância das atividades
físicas para o desenvolvimento infantil. A professora, que em seu relato, falava devagar e
pausadamente, parecia regressar ao passado, resgatando na memória detalhes da rotina com as
crianças e denotando satisfação com o trabalho realizado.
A ex-professora Deise P. explicou que o livro de atividades era usado para planejar as
aulas, mas o local da realização das atividades era escolhido pelas professoras. Além disso, a
professora relatou que a prática esportiva esteve presente na proposta curricular tanto dos
Cursos de Recreação Infantil quanto dos CEAR. A mesma compartilhou a Figura 40 que
registra o momento que seus alunos aguardavam para se apresentar num festival de natação.
Deise P. nomeia as professoras que aparecem na fotografia, em pé, atrás das crianças.
Da esquerda para a direita, respectivamente, são: Maria Inês, Alcione, Maria Tereza, Odila,
Leila e a própria Deise com a toalha no pescoço. A ex-professora explica que as três primeiras
que aparecem ao lado esquerdo da fotografia, eram formadas em Educação Física e possuíam
maior habilidade com os alunos na piscina. Lembra também que, na época, a aula recebia o
nome de adaptação ao meio líquido, não natação, porque tinha o objetivo de apresentar às
crianças a piscina, era um momento de brincadeira e recreação.

Figura 40 – Alunos do Curso de Recreação Infantil, Festival de Natação - 1976

Acervo: arquivo pessoal da professora Deise Maria Pio


134

Na Figura 40 observamos que todas vestem traje de banho igual, as crianças que
aparecem em primeiro plano, são meninas porque vestem maiô, atrás aparecem alguns meninos
e provavelmente usam sunga. Chama-nos a atenção que, dentre as vinte e duas crianças da
turma, há apenas uma negra. E assim nos interrogamos, porque essa menina foi posicionada no
canto da foto? Era escassa a quantidade de crianças negras na escola? Para essas perguntam não
recebemos respostas. Mas ao menos nessa imagem ela aparece na frente, não como a professora
da Figura 25, que ficou ao fundo, atrás dos alunos, quase imperceptível.
Outro evento que as crianças participavam era o festival de atletismo. A ex-professora
Denise explica que as crianças se apresentavam no Estádio Municipal e o evento era aberto a
fim de que as famílias assistissem as apresentações, conforme a Figura 41. Na fotografia
observamos um grupo de crianças no centro e outro grupo ao fundo. A imagem possui pouco
nitidez, no entanto calculamos cerca de 50 crianças no centro, o que nos fez concluir de que se
trata somente do grupo de alunos do CEAR Vila Pires, divididos por faixa etária para a disputa.

Figura 41 – Festival de Atletismo - 1970

Acervo: Arquivo pessoal da professora Denise

O festival de atletismo, embora fosse realizado somente com as crianças de uma única
unidade escolar, havia premiação para os melhores colocados. A Figura 42 registra o momento
da premiação de três crianças. Denise explica que ao lado esquerdo da foto aparece professora
Dona Teresa Cristófaro, professora idealizadora do Curso de Recreação Infantil, e à direita a
professora Nilza Monte Garcia, coordenadora, conforme descrição no Capítulo II deste estudo.
135

Figura 42 – Premiação do Festival de Atletismo - 1970

Acervo: Arquivo pessoal da professora Denise

As Figuras 41 e 42, disponibilizadas pelas ex-professora Denise, embora datadas como


sendo do ano de 1970, acreditamos que tenham sido de anos diferentes. Porque ao analisar o
fundo das imagens, percebemos que o pedestal da premiação se encontra em cada figura, em
lados opostos do campo. Na Figura 41 ao fundo há a arquibancada do Estádio Bruno José
Daniel, construção de ocupa toda a extensão do campo de futebol. E na Figura 42, ao fundo
podemos observar o telhado arredondado do Ginásio Pedro Dell’Antonia. Além disso, na
Figura 41 o pedestal está no gramado e na Figura 42 está numa pista de areia. Enfim, com essas
observações, concluímos que o festival de atletismo realizado com as crianças do Curso de
Recreação Infantil e dos CEAR, acontecia em diferentes edições.
Além dessas atividades esportivas e dos festivais competitivos, o momento de
alimentação das crianças, também era considerado uma atividade escolar. As ex-alunas que
frequentaram o Curso de Recreação Infantil entre os anos de 1969 e 1972, Cristina, Éricka,
Roseni e Cláudia, disseram que levavam de casa o lanche para comer na escola. Éricka relatou
que:

A merenda eu me lembro que levava suco de uva naquelas garrafinhas


plásticas, né? [risos]. Naquelas lancheirinhas plásticas que todo mundo tinha,
né? [risos], que quando caía acabava com tudo, né?
136

O lanche não era servido não, a escola não servia. Eu lembro que minha mãe
prepara meu lanche e a gente levava lancheirinha pra escola (Éricka, ex-aluna
do Curso de Recreação Infantil na Vila Pires, em 1969).

Após a inauguração do CEAR, durante a segunda metade da década de 1970, de acordo


com as entrevistas realizadas com as professoras e ex-alunas, comparamos os depoimentos e
pudemos concluir que em cada unidade escolar havia uma regra para a alimentação das
crianças. Em algumas só era permitido consumir os alimentos fornecidos pela escola, em outras,
as crianças podiam levar lanche e consumir tanto o alimento fornecido pela escola quanto o que
traziam de casa.
Durante a entrevista, quando questionadas se a merenda era servida pela escola ou se
podia levar lanche de casa, a ex-aluna Claudia respondeu que:

Não. Lanche só quando deixavam levar, mas tinha uma merenda já. Eu lembro
que tinha sopa, tinha tipo um mingau. A gente recebia também banana, uma
frutinha, alguma coisa assim, mas já tinha o lanche (Claudia, ex-aluna do
CEAR Homero Thon, em 1979).

A ex-professora Denise explicou com maiores detalhes como foi planejado e organizado
o momento de alimentação das crianças, no decorrer dos anos, conforme descrição do relato
abaixo:

A princípio as crianças levavam a lancheira. Lanche de casa.


Depois de uns 3 anos, 4 anos, esse lanche já foi deixado porque recebíamos a
merenda.
Foi feita uma cozinha onde havia merendeira. E as merendeiras faziam a sopa,
né?
Normalmente a sopa, com bastante legumes, deliciosa, era muito boa mesmo.
Então a merenda era servida no próprio Estádio, ali no ginásio.
Foi feita a cozinha pra isso.
Então tinha o lanche até uma certa época, e depois servia a merenda escolar.
Isso já com a prefeitura doando e fazendo a merenda escolar.
A mesma merenda que era servida em todas as escolas do munícipio, era
servido também pras [sic] nossas crianças (Denise, ex-professora do Curso de
Recreação Infantil, na Vila Pires).

Concluímos então que, assim como a organização dos prédios escolares, a alimentação
escolar se modificou no decorrer dos anos, desde os Cursos de Recreação Infantil até o CEAR,
adaptando-se a comunidade escolar e à quantidade de crianças atendidas em cada unidade, mas,
principalmente, conforme o Departamento de Educação, Cultura e Esportes da Prefeitura de
Santo André se estruturava e estabelecia diretrizes ao ensino infantil.
Enfim, as atividades desenvolvidas pelas crianças aconteciam em diversos lugares da
escola. Sobre isso nos reportamos a Frago (1998) que define a escola como “lugar”, mas além
137

disso, nas palavras do autor: “Ali, onde se aprende e se ensina, sempre é um lugar, cria-se um
lugar. (...) A escola peripatética44 não precisa de um lugar específico. Em outras palavras, nela
os lugares variam em função dos objetivos, usuários e matérias” (FRAGO, 1998, p.66).
Portanto, seja na sala de aula, no pátio, no parque, nos espaços de práticas esportivas, no
refeitório, as atividades que as crianças realizavam no CEAR constituíam a escola e todos esses
espaços são lugares de ensino.

3.5 As Festas Escolares nas Escolas Municipais de Santo André

Os festejos escolares foram reconhecidos e legitimados como objetos de estudo no


âmbito historiográfico a partir do movimento dos Analles no século XX, que propôs
metodologias específicas a esse tipo de investigação, até então inédita. As festas somam
pesquisas de historiadores da educação e de outros campos de investigação, em áreas de
conhecimento diversas e de formas distintas do tratamento do tema (CANDIDO, 2012).
De acordo com Candido (2012), a temática das festas como objeto de estudo, é recente
no campo da história da educação, porque o tratamento do tema era abordado de maneira
secundária nos estudos com outros objetos. Mas, ainda segundo a autora, estão aumentando os
estudos que se preocupam com a temática das festas, como principal objeto. Os estudos
referentes aos festejos nas escolas brasileiras, também vem somando pesquisas na área da
história da educação brasileira. Para tanto, destacamos alguns trabalhos produzidos no início
do século XIX, e que abordam a temática em escolas de diferentes estados brasileiros, como:
Kuhlmann Jr. (2001), Campos (2007), Candido (2007), Gallego (2015), Silva (2015), Ribeiro
(2017), Martins (2020), Lima (2021).
As festas faziam parte do cotidiano das escolas municipais de Santo André, desde os
anos 1950 até 1980 (de acordo com a delimitação temporal desta pesquisa). Os momentos
festivos eram eventos públicos e que envolviam toda a comunidade escolar. As festas escolares
são a representação do momento de celebração e brincadeira, partilha e convivência, na
memória coletiva dos alunos, suas respectivas famílias, e corpo docente da escola.
Segundo Candido (2021), que pesquisou as festas escolares no final do século XIX e
início do século XX:

44
A palavra peripatética relaciona-se ao pensamento aristotélico, e pode ser interpretada como a escola em
movimento, que ensina andando passeando, como o costume do filósofo grego Aristóteles.
138

As festas apresentaram-se nos textos dos educadores da época como


uma atividade de ensino garantidora do interesse e da ação da criança
sobre seu processo educativo e, por estes motivos, considerada como
facilitadora do aprendizado dos conteúdos e dos valores escolares
(CANDIDO, 2021, p. 3).

Durante o período de escolarização em massa, os eventos festivos foram a oportunidade


de disseminar a ideia de progresso advinda do crescimento e urbanização das cidades.

A festa é um fato social, histórico e político. Ela constitui o momento


e o espaço da celebração, da brincadeira, dos jogos, da música e da
dança. Celebra a vida e a criação do mundo. Constitui espaço de
produção dos discursos e dos significados e, por isso, também dessa
criação na qual as comunidades partilham experiências coletivas
(ITANI, 2003, p. 7).

A professora Denise explicou que, na época dos Centros de Recreação Infantil, as


professoras “trabalhavam por temporada: temporada de natação, temporada de ginástica
rítmica, temporada de xadrez. E ao final de cada temporada havia uma apresentação”. A mesma
professora relatou com saudosismo como eram planejadas as apresentações, conforme
transcrição: “no Dia das Mães preparávamos uma apresentação de ginástica rítmica, havia
festival de natação, festival de atletismo, festas maravilhosas no final do ano! Fora as
excursões!”.
Ainda segundo a professora Denise, logo nos primeiros anos do Curso de Recreação
Infantil as crianças participavam dos desfiles escolares promovidos pela Prefeitura Municipal
de Santo André, durante as datas cívicas: aniversário da cidade no dia 8 de abril e independência
do Brasil em 7 de setembro. A Figura 43 registra um desfile em comemoração do aniversário
da cidade e que se realizou nas ruas do centro. As crianças trajavam roupas semelhantes,
coordenando camiseta, tênis e meias claras e bermuda escura. Aquelas que seguiam à frente e
conduziam o grupo carregavam bandeiras do Brasil. As professoras caminhavam ao lado da
turma, organizando as crianças.
139

Figura 43 – Desfile de alunos pelas ruas do centro de Santo André - 1970

Acervo: Arquivo pessoal da ex-professora Denise Cattaruzzi.

De acordo com Lima (2021), que pesquisou as festas escolares no Parques Infantis da
cidade de Sorocaba, a realização dos rituais cívicos era regulamentada e obrigatória pelos
dispositivos legais. Além de estar presente na memória da comunidade escolar, era uma prática
institucionalizada pelas escolas. A obrigatoriedade das atividades escolares de natureza cívica
foi implantada a partir do Decreto nº 50.505, de 26 de abril de 1961, e mantida pelos governos
militares, durante o período da ditadura militar brasileira, implantado de 1º de abril de 1964 até
15 de março de 1985 (LIMA, 2021, p. 123).
As festas escolares promovidas pelos CEAR envolviam a escola como um todo,
aconteciam em dia e horário agendado com antecedência e contemplavam toda a comunidade
escolar. Nestes dias a rotina escolar se modificava, os professores assumiam atribuições na
organização do espaço e os alunos circulavam livremente, auxiliando no preparo da festa.
Os desfiles e as festas eram oportunidades de divulgar os cursos, as escolas e o
atendimento público para a crianças da cidade. Nesse sentido nos remetemos à Candido (2012)
que compreende as festas escolares como “momentos específicos para a aproximação
harmônica e profícua da escola e da sociedade, trazendo a família para a escola e demonstrando
os avanços alcançados na educação de cada criança” (CANDIDO 2012, p. 174).
A ex-aluna Roseni relatou que o ensaio para a festa de encerramento era realizado numa
praça próxima ao Ginásio Municipal Pedro D’Antônia, onde funcionava o Curso de Recreação
Infantil da Vila Pires. Roseni disponibilizou uma fotografia do seu acervo pessoal (Figura 44)
e explicou:
140

Essa foto eu lembro que a gente fazia os ensaios lá na pracinha do Aramaçan.


Então a gente, durante algumas semanas, a gente ia na pracinha. Todo mundo
ia lá.
Fazia o ensaio pra no dia da apresentação a gente fazer lá no salão principal do
estádio (Roseni, ex-aluna do Curso de Recreação Infantil da Vila Pires, em
1973).

Ensaio da festa escolar sendo realizado numa praça pública, pode representar mais uma
forma de divulgação do evento e promoção das atividades realizada na escola pública
municipal.

Figura 44 – Festa de Encerramento do Curso de Recreação Infantil da Vila Pires - 1973

Acervo: Arquivo pessoal da ex-aluna Roseni

Durante as entrevistas, a maioria das professoras e todas as ex-alunas relataram com


expressiva satisfação, alegria e emoção recordações dos momentos de preparo, ensaio e
apresentação.

Festa junina tinha sempre o rei e a rainha da pipoca, independente


[sic] de qualquer coisa, podia se comemorar.
Festa de final de ano com Papai Noel chegando.
Festa da primavera.
Dia das mães, dia dos pais, sempre uma homenagem, eu me lembro
sim, eu me lembro sim.
Mas, mais marcantes eram a festa junina, por causa do rei e da rainha
da pipoca, festa da primavera que às vezes também tinha essa questão
da rainha da primavera, tal, porque era o mês de setembro. E no final
do ano que a gente esperava, apesar de um ano, mas eu tenho a
141

lembrança também da minha irmã, de receber o presente lá da escola,


do Papai Noel da escola, que a gente recebia.
Eram festas muito bonitas, viu? Muito bonitas. Festas bem bonitas
(Éricka, ex-aluna do Curso de Recreação Infantil na Vila Pires, em
1969).

Tinha festa de aniversário, poderia [sic] fazer a festa de aniversário,


aí ela [a professora com a mãe da criança] combinava pra levar as
coisas.
Festa junina também tinha.
Festa das flores, que eu lembro, que eu acho que era primavera,
alguma coisa assim.
Mais festas eu não lembro.
Festa junina era muito tradicional, década de antes de 80, beirando 80.
Então junina era junina pra valer, né? De verdade mesmo.
Não que agora seja [risos], agora é de mentira eu acho [risos]. É o
junina [sic] só que não, né?
Eram as raízes ali, tradicionais: então caipirinha, vestido, menina com
menininho, menina junto era mais difícil de ter, fazer os parzinhos.
Então tinha a dança, toda a organização, os ensaios.
Era aberto pra família pra poder assistir.
Era lá na escola. E nas salas tinham as brincadeiras, uma pesca que eu
lembro (Claudia, ex-aluna do CEAR Homero Thon, em 1979).

O encerramento do ano letivo era comemorado com uma apresentação que reunia todos
as unidades escolares do CEAR da cidade de Santo André, no Ginásio Municipal de Esportes
Pedro Dell’Antonia. A ex-professora Marcia relata com apreço e humor, sobre a organização
da festa:

As festas, no começo do CEAR. Uma coisa hilária para você


pesquisar são as festas que aconteciam no Pedro Dell’Antonia.
Que era assim, pensa num desfile de escola de samba?
Cada comunidade ia com todos os seus alunos, com seus pais, para
fazer uma apresentação temática, dentro de um tema, e desenvolver
aquelas festas.
Aquilo era o ó-do-borogodó!
Muita gente odiava, mas a gente fazia com tanta alegria! [sorriso de
satisfação]
Era muito legal!
Era um evento, um evento municipal.
Eram dois blocos: os que adoravam e os que odiavam.
Era um grande tema geral, pensa num carnaval, o tema é o carnaval,
não é?
Eram dados temas, por exemplo, teve um ano que foi como se fosse
uma Festa das Nações, tá? E eu lembro que o [CEAR] Santo Alberto
foi o Havaí. Nós escolhemos!
Não era cada sala de aula não, era um tema todo, inclusive manhã e
tarde juntos, o mesmo tema para aquela unidade escolar.
A gente ensaiava uma apresentação da turma da manhã, uma
apresentação da turma da tarde e depois tinha que ter uma apoteose
das duas turmas junto.
Então você imagina ensaiar isso! [coloca as mãos na cabeça].
O que que era isso! [risos]
Não preciso nem te falar! [gargalhadas].
Olha! A gente hoje, nós poderíamos ser carnavalescas, tranquilas!
A gente dá conta de qualquer escola com 3.500 sambistas.
142

A gente faz com os pés nas costas [gargalhadas] (Marcia, ex-


professora dos CEAR Santo Alberto e Vila Floresta).

As Figuras 45 e 46 mostram a dimensão do evento de encerramento do ano letivo,


reunindo muitas crianças na quadra de esportes do ginásio municipal. Nesta festa de
encerramento, cada unidade do CEAR apresentava danças com coreografia. Ou seja, as
professoras de uma determinada unidade escolar, formavam grupos de crianças de acordo com
a idade, por exemplo: grupo de 4 anos, grupo de 5 anos, grupo de 6 anos; cada grupo apresentava
uma coreografia e ao final todas as crianças juntas, na mesma unidade, faziam uma apresentação
única. Era, portanto, um dia com inúmeras apresentações e um público numeroso, como
podemos observar nas Figuras 45 e 46.
Os registros fotográficos dos eventos, demonstram a dinâmica e a organização dos
festejos, bem como a representação do evento para a comunidade escolar. Modificar a rotina,
realizar novas atribuições e decidir coletivamente para a organização dos festejos são apenas
alguns aprendizados promovidos pelas festas escolares.

Figura 45 – Festa de Encerramento dos CEAR – 1978

Acervo: Álbum pessoal da professora Deise Pio


143

Figura 46 – Festa de Encerramento dos CEAR – 1978

Acervo: Álbum pessoal da professora Deise Pio

Além disso, as festas do CEAR, eram festas populares, abertas à participação da


comunidade escolar, e ao longo dos anos constituíram a cultura escolar das unidades, assim
como explica Candido (2012):
144

A comemoração escolar define para uma determinada população uma cultura


a ser preservada e um modo de ser e de se comportar aceitos socialmente.
[...]
Nas festas ocorridas nas instituições escolares as duas situações são
identificadas, percebe-se que elas eram comemorações elaboradas pelas
escolas para a população, quando sua participação passiva como observadora
do ritual, e da população, a partir do momento em que ela aprende ativamente
os sentidos e significados atribuídos a cada ocasião festiva, bem como a cultura
específica da escola (CANDIDO, 2012, p.79).

As fotografias, sobretudo, demonstram a intenção de registrar os festejos que mobilizava


professores, crianças, famílias e toda a comunidade escolar. Tais documentos denotam que os
festejos tinham como intencionalidade pedagógica, propagandear a ideia de êxito no trabalho
desenvolvido com as crianças do município. Abdala (2013) nomeia tais festejos como “vitrine
da escola e de suas práticas”, porque possibilitam apresentar à sociedade os resultados da
escolar, para isso “as fotografias desses momentos célebres e inesquecíveis, tanto na trajetória
das instituições quanto na das pessoas que as compõem” (ADBALA, 2013).
Realizar uma festa num contexto escolar, e especificamente no CEAR, mobilizava
algumas práticas escolares que se ritualizaram no decorrer dos anos pesquisados neste trabalho.
As fontes deste estudo demonstram que para organização dos eventos havia momentos de
planejamento e preparo até a finalização com as apresentações para a família, comunidade
escolar e sociedade. Essas ações integram o contexto pedagógico em que as festas estão
inseridas, que não representam apenas o dia da festa, mas um conjunto de ações que compõem
o sentido pedagógico que esses eventos representam para as escolas.
Os registros nas atas de reunião da ACEAR Homero Thon possibilitam o acesso à
maneira como as festas escolares construíram uma identidade para o CEAR. Além disso, os
registros possibilitaram identificar, também, quais festas eram celebradas durante o ano letivo,
quais discussões foram estabelecidas e quais decisões tomadas.

3.6 Associação de Pais e Mestres do CEAR e as Festas Escolares

No CEAR Homero Thon, segundo as Atas das Reuniões analisadas, anualmente eram
promovidas quatro festas escolares: em abril a festa da Páscoa, em junho a festa junina, em
setembro a festa da primavera ou festa do sorvete e em dezembro a festa de encerramento do
ano letivo. Além das homenagens no Dia das Mães e no Dia dos Pais. E em algumas unidades
havia a festa de formatura.
A primeira era a Festa da Páscoa, momento em que todas as crianças e funcionários
ganhavam ovos de chocolate adquiridos e oferecidos pela ACEAR, conforme a Figura 47. A
145

compra dos doces era realizada com o dinheiro arrecadado em festas de anos anteriores ou com
a contribuição financeira das famílias dos alunos.

Figura 47 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon - 1980

Acervo: EMEIEF Homero Thon – Santo André

No mês de junho acontecia a Festa Junina, um evento com apresentação de danças das
crianças paras as famílias. Neste dia havia montagem de barracas para venda de alimentos e
brincadeiras típicas, arrecadando fundos em prol do CEAR. Nas atas de reuniões da ACEAR
(Figura 48) localizamos registros de que os membros decidiam coletivamente o custo de cada
item comercializado na festa. Além disso, as famílias das crianças contribuíam com doações de
alimentos e itens para venda nas barracas típicas.
146

Figura 48 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon - 1980

Acervo: EMEIEF Homero Thon – Santo André

Outra forma de arrecadação financeira acontecia através da venda de rifas; nesse caso,
eram entregues talões numéricos aos alunos para vender às famílias; o casal de crianças que
147

alcançasse a maior quantidade de talões vendidos era premiado com o título de rei e rainha da
pipoca. De acordo com a necessidade financeira da escola, em cada ano era eleito uma
quantidade de casal caipira. Na figura 49, ata redigida no ano de 1981, lemos que seriam três
casais.

Figura 49 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon - 1981

Acervo: EMEIEF Homero Thon – Santo André

No mês de novembro acontecia a Festa do Sorvete, e neste evento havia venda de


ingressos para a entrada na festa e comercialização de sorvete – assim como acontecia na festa
junina –, e a venda de outros itens (Figura 50). Durante as entrevistas, as professoras explicaram
que a arrecadação financeira dessa festa era destinada para utilização na última festa do ano.

Figura 50 – Ata de Reunião da ACEAR Homero Thon - 1982

Acervo: EMEIEF Homero Thon – Santo André


148

O último evento do ano letivo acontecia no mês de dezembro: era a Festa de


Encerramento do ano letivo. Nessa ocasião todas as unidades do CEAR da cidade de Santo
André se reuniam na quadra do ginásio municipal de esportes da cidade, Ginásio Pedro
Dell’Antônia, para apresentação de danças e atividades rítmicas dos alunos, assim como
descrito antecessor item 3.6 - As Festas Escolares nas Escolas Municipais de Santo André.
As festas escolares organizadas pelos CEAR de Santo André eram eventos que
mobilizavam todas as unidades escolares da cidade e ganhavam ano a ano a simpatia de toda a
comunidade escolar. As ex-alunas relataram com saudosismo a participação nos eventos e as
professoras lembraram com entusiasmo a organização da festa, desde a preparação, os ensaios
e as apresentações. Candido (2021) explica que:

As festas escolares impressionaram os que dela participaram,


deixaram marcas em suas memórias, constituindo-se em eventos de
deslumbramento social, cuja potencialidade educativa deveria ser
explorada pelos educadores e reformadores da instrução básica (...).
Por meio delas, as crianças poderiam construir uma representação
inicial do que significava ser aluno de uma determinada instituição
escolar em um contexto social e histórico específico. As solenidades
eram ocasiões públicas nas quais os alunos poderiam se apropriar de
maneiras diferentes dos espaços e dos saberes escolares, ou seja,
atribuindo a essas ocasiões, significados diferentes dos rotineiramente
vivenciados (CANDIDO, 2021, p. 2).

Ao analisar as atas de reunião da ACEAR Homero Thon, notamos que os festejos


escolares faziam parte da rotina e cotidiano do CEAR, período que exigia intensa organização
da equipe escolar e da associação de pais. Conforme foi possível aferir, os registros nas atas de
reunião apontam para discussões entre os participantes _ pais e professores _ no que se refere ao
tema da festa, o tipo de vestimentas e a confecção dos adereços utilizados pelos alunos, sendo
que na maior parte dos documentos analisados, as ideias e sugestões partiam da dirigente-
presidente da Associação Comunitária do CEAR, e eram acatadas pelo grupo. Nas reuniões
também eram delegadas as funções e tarefas para cada membro da instituição, no que se refere
ao preparo da festa e atuação no dia do evento, um trabalho em parceria entre escola e família.
A Associação de pais desempenhou importante contribuição para a manutenção e
divulgação do CEAR. As mães, que na sua maioria, representavam os alunos exercendo
trabalhos e atividades fundamentais, principalmente, ajudando as professoras nos fazeres
cotidianos da escola. nas entrevistas, a participação das mães da ACEAR durante a rotina
escolar, foi elogiada e adjetivada como primordial na organização das festas escolares.
149

CONCLUSÕES

Esta pesquisa propôs investigar e compreender a História da Educação Pública na cidade


de Santo André, destinada às crianças pequenas, reconstituindo a história das primeiras escolas
administradas pelo governo municipal, até a composição dos Centros Educacionais,
Assistenciais e Recreativos, denominados CEAR.
No início deste estudo a escassez de fontes foi um desafio, depois do fechamento dos
arquivos devido ao isolamento social exigido pela pandemia de Covid-19, impossibilitou as
buscas pelas fontes. Mas a generosidade das professoras da Rede Municipal de Educação de
Santo André, onde leciono, que acreditaram na importância de reconstituir a História da
Educação Municipal de Santo André, indicaram e contribuíram com a coleta das dezenas de
fontes apresentadas nesta pesquisa.
Selecionar, catalogar e explorar fontes inéditas permitiram olhar para as escolas
andreenses numa perspectiva até então única. A partir deste trabalho outras possibilidades de
pesquisa se encaminham, com outros olhares e outras problematizações.
Este estudo permitiu identificar que a construção dos prédios escolares na cidade de
Santo André, desde no início do século XIX, estava diretamente ligada ao crescimento
populacional da cidade. As primeiras escolas construídas e instaladas na cidade foram
destinadas à formação dos trabalhadores para a indústria, especializando a mão-de-obra do
operariado.
As escolas destinadas ao acolhimento as crianças entre 4 e 6 anos, foram planejadas pelo
governo municipal de Santo André apenas nos anos 1970, depois do êxito de um curso de
recreação criado em 1969, por iniciativa de professores de educação física e atletas da cidade.
Numa época em que as escolas às crianças pequenas não eram consideradas necessárias,
de acordo com a legislação vigente, Santo André acompanhou as propostas escolares e
pedagógicas que se manifestavam pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil.
Durante uma década as professoras dos CEAR foram contratadas por meio de seleção
pública, não concurso público, e eram amparadas pela CLT. Um fato que chamou nossa atenção
durante esta pesquisa é que algumas professoras relataram que a seleção pública, às vezes, não
era utilizada, e alguns cargos ocupados por profissionais indicadas pelos vereadores do
município. Além disso, famílias também conseguiam vagas para seus filhos, em unidades
específicas, por meio de indicação e solicitação dos vereadores da cidade. Tais atitudes dos
parlamentares gerou especulação entre as professoras e famílias das crianças.
150

No entanto o CEAR foi considerado um equipamento municipal inovador, com


qualidade e concorrido entre a população. Possuía proposta pedagógica que valorizava a prática
esportiva e a participação das famílias nas atividades escolares. A construção de dezenas de
prédios novos, permitiu divulgar a educação municipal pela cidade e propagandear as políticas
públicas do governo.
Ainda que nesta dissertação a escrita da História da Educação Municipal na cidade de
Santo André tenha sido iniciada, há outras possibilidades de estudo e análise das fontes
apresentadas e de outras não localizadas até a conclusão desta pesquisa, como por exemplo: a
arquitetura dos prédios construídos exclusivamente para instalação os CEAR, os materiais
didáticos elaborados pelo Departamento de Educação de Santo André e utilizado pelas
professoras dos CEAR durante toda a década de 1970, o contexto da ACEAR investigado sob
a perspectiva das famílias e membros das associação de pais de mestres, a analogia dos festivais
esportivos e das festas escolares sob a influência do período militar brasileiro, entre outras.
Além desses exemplos relacionados ao CEAR, existem outras possibilidades de estudo
no âmbito as escolas instaladas no território andreense e região.
No Museu de Santo André há documentos administrativos referentes ao I Grupo Escolar
da região e um acervo de entrevistas gravadas com ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários
da escola; além de fontes ainda não exploradas pelos pesquisadores da História da Educação e
que podem subsidiar importantes estudos sobre as escolas de Santo André e das sete cidades
que compõe a Região do ABC paulista.
No Banco de Dados do Jornal Diário do Grande ABC encontramos reportagens e fotos
das escolas instaladas dentro das indústrias da região no início do século XX, mas há outras
fotos e reportagens das escolas públicas e privadas da região, o acervo é físico e possui todos
os exemplares do jornal a partir de 1958.
No Arquivo Público do Estado de São Paulo, documentos administrativos relativos ao(s)
primeiro(s) Grupo(s) Escolar(es) de Santo André e da Região do Grande ABC podem ser
pesquisados, assim como das escolas isoladas e as salas-escolas destinadas à população
imigrante residente na região, durante o início do século XX.
A Escola Industrial Júlio de Mesquita, permanece instalada no mesmo local, desde a
inauguração entre os anos 1948-1951, e seus arquivos foram explorados e os dados divulgados
por alguns ex-alunos que se tornaram memorialistas da cidade, mas não por pesquisadores
acadêmicos.
Três instituições ligadas à igreja católica, e que de acordo com esta pesquisa, em meados
dos anos 1960 recebiam subvenção da Prefeitura de Santo André, permanecem funcionando
151

nos mesmos locais de instalação ou aos redores, são elas: Educandário Santo Antônio, Instituto
Sagrado Coração de Jesus, Casa da Criança de Santo André (atualmente Colégio São José).
Estas escolas utilizam fotos e dados de seus acervos para divulgar a história das instituições e
tradição na cidade, entretanto não foram localizados estudos acadêmicos que tenham utilizado
esses acervos.
Ao enumerar tais possibilidades de estudo e pesquisa, as palavras de Escolano (1998)
nos permite compreender a amplitude do tema, porque “a escola, como qualquer outro tipo de
habitação, incluída a própria casa, é uma criação cultural sujeita a mudanças históricas”
(ESCOLANO, 1998, p.45). Além disso, “a escola, em suas diferentes concretizações, é um
produto de cada tempo, e suas formas construtivas são, além dos suportes da memória coletiva
cultural, a expressão simbólica dos valores dominantes nas diferentes épocas” (ESCOLANO,
1998, p.47).
Enfim, este estudo conclui que as transformações pelas quais a cidade de Santo André
atravessou durante o século XX, principalmente após a década de 1950, modificaram as
características da população, das moradias, do emprego e da educação escolar.
Consequentemente, ao longo de trinta anos, a prefeitura municipal ampliou o atendimento às
crianças pequenas em escolas públicas, acompanhando as exigências legais estabelecidas pelo
Governo Federal e seguindo as determinações do Governo do Estado de São Paulo.
Ao encerrar essa dissertação, outros desdobramentos se amplificam, e esse é o início da
escrita da História da Educação de Santo André, pressupondo continuidade nas pesquisas e
profícuas descobertas.
152

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162

APÊNDICE 1

Relação de entrevistadas – Ex-professoras e ex-alunas

Data da
Nome Vínculo Escolarização Percurso profissional
Entrevista
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
5 de julho de
1 Anice Naum Professora formou- se
2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
Denise 29 de julho de
2 Professora formou- se
Cattarruzzi 2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
Deise Maria 4 de agosto de
3 Professora formou- se
Pio 2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
4 de agosto de
4 Deise Ferreira Professora formou- se
2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
8 de outubro
5 Marcia Tobias Professora formou- se
de 2021
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
25 de julho de
6 Katia Professora formou- se
2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
21 de julho de
7 Claudia Rebeca Aluna formou- se
2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
Cristina 8 de outubro
8 Aluna formou- se
Frederico de 2021
Pedagogia pela XX
em 1900
Cursou Magistério
na Escola, em 1900
Éricka 28 de julho de
9 Aluna formou- se
Springman 2022
Pedagogia pela XX
em 1900
163

Cursou Magistério
na Escola, em 1900
Melissa 19 de julho de
10 Aluna formou- se
Magalhães 2022
Pedagogia pela XX
em 1900
Frequentou o curso Trabalhou na área
Roseni Gisela colegial e formou-se administrativa de 12 de outubro
11 Aluna
Galvão Silva no ano de 1900. clinicas e hospitais até o de 2021
ano 2000
164

APÊNDICE 2

Convite para participação na pesquisa

O texto abaixo será encaminhado via e-mail aos 10 participantes entrevistados na


pesquisa, conjuntamente com o TCLE.

Prezada,
Sou Luciane Galvão Candido, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de São Paulo e sob orientação da Profª. Drª. Claudia Panizzolo.
Você está sendo convidada a participar da pesquisa que tem por objetivo reconstituir a
história das primeiras escolas administradas pelo poder público municipal até a composição da
rede andreense de ensino, responsável por acolher as crianças de 4 a 6 anos na cidade de Santo
André entre os anos de 1954 até 1982.
Anexo, segue o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, documento que contém
mais informações sobre a pesquisa.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguro o sigilo
sobre sua participação nesse estudo.
Atenciosamente,
Luciane Galvão Candido
165

APÊNDICE 3

Questões norteadoras para entrevista semiestruturada

Aos educadores serão feitos os seguintes questionamentos:


a) Quanto à organização escolar:
1. Qual o nome da(s) escola(s) em que lecionava?
2. Qual a quantidade de professores que formavam o corpo docente da unidade?
3. A equipe gestora era composta por quantas pessoas e quais eram as funções destes
profissionais?
4. Havia outros profissionais que trabalhavam na escola, além das professoras e equipe
gestora? Qual a quantidade e quais eram os cargos?
b) Quanto às instalações das escolas:
1. Qual a quantidade de salas de aula na unidade onde você lecionava?
2. Qual a quantidade turmas atendidas na unidade onde lecionava?
3. Havia aproximadamente quantas crianças por sala?
4. Quantas horas as crianças ficavam na escola?
5. Havia outros espaços para atividades com as crianças, além das salas de aula? Quais?
6. A escola oferecia algum tipo de alimentação aos alunos ou as crianças levavam lanche?
c) Quanto à proposta pedagógica:
1. Havia uma matriz curricular que as professoras deveriam seguir? Se sim, quem indicava
os documentos a serem seguidos?
2. As professoras planejavam antecipadamente as aulas?
3. Como a aulas eram planejadas? Havia um horário de trabalho específico destinado para
esta atividade?
4. Quais conteúdos ou disciplinas eram ensinados aos alunos? E outras atividades?
5. Havia algum tipo de material didático para utilizar nas aulas? Se sim, você ainda os
possui? Todos os alunos tinham acesso a este material?
6. Havia momentos para brincadeiras? Era livre ou direcionada pelas professoras?
d) Quanto à formação profissional:
1. Qual o vínculo empregatício com a prefeitura de Santo André?
2. Qual seu histórico de formação pedagógica?
3. Qual seu histórico de trabalho nas escolas municipais de Santo André?
4. A Prefeitura de Santo André oferecia cursos às professoras?
e) Quanto aos alunos:
1. Quem eram as crianças que estudavam nas escolas municipais?
2. Havia algum critério para selecionar as crianças?
3. As crianças usavam uniforme? Se sim, era fornecido pela prefeitura ou adquirido pelas
famílias? Como era esse uniforme?
4. As crianças tinham material escolar? Se sim, era fornecido pela prefeitura ou adquirido
pelas famílias? Que tipo de material era fornecido/solicitado às famílias?
5. Você possui fotos, roupas ou outra recordação material daquela época?

Aos ex-alunos serão feitas as seguintes perguntas:


1. Qual o nome da escola onde você estudou?
2. Por quantos anos frequentou essa escola?
3. Você se lembra do(s) nome(s) da(s) sua(s) professora(s)?
4. Você morava perto da escola?
5. Porque sua família escolheu essa escola em que você estudou?
6. Como você ia da sua casa para a escola?
166

7. Qual a quantidade de salas de aula que havia na escola onde você estudou?
8. Havia aproximadamente quantas crianças por sala?
9. Quantas horas você ficava na escola?
10. Havia outros espaços para atividades, além das salas de aula? Quais?
11. A escola oferecia algum tipo de alimentação aos alunos ou as crianças levavam lanche?
12. As crianças usavam uniformes? Se sim, como era este uniforme? Era comprado pelos pais
ou fornecido pela escola?
13. As crianças tinham material escolar? Se sim, como era este material? Era comprado pelos
pais ou fornecido pela escola?
14. Havia algum tipo de material didático para utilizar nas aulas? Todos os alunos possuíam?
Era comprado pelos pais ou fornecido pela escola?
15. Havia momentos para brincadeiras? Era livre ou direcionada pela professora?
16. Havia festas? Quais? Se sim, havia participação das famílias?
17. Como era a relação entre professora e aluno?
18. Quais atividades você fazia na escola?
19. Quais aprendizados você considera que adquiriu neste período da infância nesta escola?
20. Quais recordações você tem daquela época?
21. Você possui fotos, roupas ou outra recordação material daquela época?
167

APÊNDICE 4
Evolução do salário mínimo nominal

Ano Valor do salário Valor da taxa de Valor da taxa de contribuição das


mínimo contribuição das famílias famílias registrada nas atas de
(Cr$) (de 10% - Cr$) reunião da ACEAR Homero Thon
(Cr$)*
1971 225,60 22,56 -
1972 268,80 26,88 -
1973 312,00 31,20 -
1974 376,80 37,68 -
1974 415,20 41,52
1975 532,80 53,28 -
1976 768,00 76,80 -
1977 1.106,40 110,64 -
1978 1.560,00 156,00 -
1979 2.268,00 226,80 -
1979 2.932,80 293,28 -
1980 4.149,60 414,96 300,00
1980 5.788,80 578,88 -
1981 8.464,80 846,48 600,00
1981 11.928,00 1.192,80 -
1982 16.608,00 1.660,80 1.100,00
1982 23.568,00 2.356,80 -
1983 34.776,00 3.477,60 2.500,00
1983 57.120,00 5.712,00 -
* vale ressaltar que a reunião da ACEAR para a definição do valor da taxa de contribuição, acontecia entre os
meses de outubro e novembro, para a vigência no ano subsequente.
Fonte: Elaborado pela autora baseado nas atas de reunião da ACEAR Homero Thon e na publicação Salário
mínimo: uma história de luta, disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/180154
168

ANEXO 1

PARECER DE APROVAÇÃO DA PESQUISA


169
170
171
172
173
174
175
176
177
178

ANEXO 2
179
180

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