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CONSTRUÇÕES EM CONTÊINERES: UMA ORIENTAÇÃO PRÁTICA

E SUSTENTÁVEL
CONSTRUCTIONS IN CONTAINERS: A PRACTICAL AND
SUSTAINABLE GUIDANCE

LOPES, Kelly Caroline Camilo1


NIEDZWIEDZKI, Kellyn2
BARAUNA, Debora3

RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo sobre edificações sustentáveis com a utilização de
contêineres na construção de moradias, depósitos e estabelecimentos comerciais. O objetivo é
orientar sobre a prática sustentável da utilização de contêineres na construção civil por meio
do desenvolvimento de um guia. Para tanto foi realizada uma coleta de dados, por meio de
uma pesquisa bibliográfica e documental, em artigos científicos publicados em periódicos
nacionais e internacionais nos últimos 11 anos. Três etapas metodológicas foram seguidas, a
primeira, foi a redução realizada para análise e simplificação dos dados para desenvolvimento
do guia. Na segunda, ocorreu a exibição e elaboração do guia passo a passo, de construção
com a utilização de contêineres. E pôr fim na terceira etapa de conclusão/verificação foi
discutido como o guia pode contribuir, facilitando o acesso a informações e propiciando a
uma mudança de cultura com o uso de contêineres como construções práticas e sustentáveis.

PALAVRAS-CHAVE: arquitetura em contêineres, construção sustentável e sustentabilidade


na arquitetura.

ABSTRACT
This paper presents a study on sustainable buildings with the use of containers in the
construction of housing, warehouses and commercial establishments. The objective is to
guide the sustainable practice of the use of containers in civil construction through the
development of a guide. For that, a data collection was carried out, through a bibliographical
and documentary research, in scientific articles published in national and international
journals in the last 11 years. Three methodological steps were followed, the first was the

1
Acadêmica do Curso de Especialização Lato Sensu em Design de Interiores Industriais e Empresariais, do
Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz - FAG. E-mail:
kellycamilo.cc@gmail.com
2
Acadêmica do Curso de Especialização Lato Sensu em Design de Interiores Industriais e Empresariais, do
Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz - FAG. E-mail:
kellynnied@hotmail.com
3
Professor orientador do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Assis Gurgacz. Doutora em Design,
Universidade Federal do Paraná – UFPR. E-mail: debora.barauna1@gmail.com
2

reduction performed for analysis and simplification of the data for development of the guide.
In the second, the presentation and elaboration of the step by step guide, of construction with
the use of containers, took place. And ending the third stage of completion / verification was
discussed as the guide can contribute by facilitating access to information and fostering a
change of culture with the use of containers as practical and sustainable constructions.

Keywords: container architecture, sustainable construction, and sustainability in


architecture.

1 INTRODUÇÃO

A construção civil é uma das maiores atividades geradora de resíduos. Com isso a
arquitetura atual tem unido esforços para encontrar soluções que visam à sustentabilidade
ambiental, através da eficiência energética, analises bioclimáticas, uso das potencialidades
locais como condicionantes de projeto, além do reaproveitamento de materiais que seriam
descartados no meio ambiente (ROMANO; PARIS e NEUENFELDT JR., 2014).

Neste contexto, o uso de contêineres tem se destacado na arquitetura sustentável nas


últimas décadas. O contêiner é um elemento utilizado para o transporte de cargas marítimas,
que na maioria das vezes é abandonado em perfeito estado, pois o custo de retorno ao seu
destino é maior que a aquisição de um novo. Assim, o acúmulo de contêineres tornou-se um
campo alternativo de investimento para o meio construtivo, pelo seu baixo orçamento e
economia de recursos, que acabam por gerar uma obra mais limpa e ágil e, principalmente, à
sua facilidade de transporte e mobilidade.

Devido a sua versatilidade, sua característica modular e seu apelo sustentável, o


sistema construtivo em contêineres popularizou-se em países desenvolvidos como Estados
Unidos, Japão e Holanda. Apesar de ser viável e bem aceito em outros países, o mesmo ainda
é pouco conhecido e passa por uma fase de aceitação cultural no mercado brasileiro. É uma
questão de tempo para a tecnologia se consolidar como alternativa perante aos demais
sistemas construtivos comuns.

Outro fator que favorece o uso de contêineres atualmente é a preocupação em se fazer


construções sustentáveis, visto que esse tipo de obra utiliza minimamente recursos como
areia, blocos, aço e, principalmente, água. Sendo também uma forma de construção limpa,
com percentual quase nulo em termo de resíduos e desperdício.

Desta forma, a fim de facilitar este processo e contribuir para uma mudança de cultura,
o presente artigo apresenta um estudo de edificações sustentáveis com a utilização de
3

contêineres na construção de moradias, depósitos e estabelecimentos comerciais. O objetivo é


orientar sobre a prática sustentável na utilização de contêineres na construção civil por meio
do desenvolvimento de um guia.

Nas seções seguintes, uma fundamentação teórica elucida o tema do artigo e em


seguida o método de pesquisa empregado é apresentado. Por fim, os resultados são
comunicados com a exposição do guia para a utilização de contêineres na construção civil e a
discussão dessa prática para a sustentabilidade.

2 CONSTRUÇÕES EM CONTÊINERES

A conscientização ambiental e os regulamentos de reciclagem têm pressionado muitos


fabricantes e consumidores a descartar produtos usados de forma ambientalmente
responsável. Um desses produtos são os contêineres. Anualmente são utilizados milhares de
contêineres para a realização de transporte de cargas. Seu uso abrange todos os setores
produtivos, desde transporte de cargas secas, grãos, líquidos inflamáveis até móveis, vestuário
e animais vivos, entre outros (SANTOS et al. 2017).

Segundo a Resolução 2969 da Agência Nacional de Transporte Aquaviários


(ANTAQ), o Brasil possui 235 instalações portuárias - levando em consideração
infraestruturas públicas e privadas, sendo elas marítimas (linhas de navegações oceânicas,
independente da sua localização geográfica) ou fluviais (linhas oriundas a outros portos
dentro da mesma bacia hidrográfica), já que nenhuma instalação portuária brasileira é
classificada como Porto Lacustre (linha dentro de lagos, em reservatórios restritos). Os 10
principais portos do Brasil são: Porto de Santos (SP), Paranaguá (PR), Porto do Rio de Janeiro
(RJ), Porto de Itajaí (SC), Porto de Vitória (ES), Porto do Rio Grande (RS), Porto de São
Francisco do Sul (SC), Porto de Salvador (BA), Porto de Manaus (AM) e o Porto de Aratu
(BA).

Serra informou que o Porto de Santos obteve destaque na movimentação de granel


sólido e de contêiner:
“Foram 19,5 milhões de toneladas de contêineres movimentados no primeiro
semestre do ano, um aumento de 6,6%”, apontou o gerente, destacando que o Porto
de Santos tem como característica ser exportador, com 37,3 milhões de toneladas
(ANTAQ, 2017).
A destinação final desses produtos traz grandes problemas para o meio ambiente, mas
apresenta oportunidades de reciclagem ou reuso e que podem incentivar diversas outras
operações capazes de trazer resultados ambientais positivos (Shibao, Moori, & Santos, 2010).
4

Considerou-se que não existe perdas no descarte dos contêineres, ou seja, aqueles que
sejam destinados para reuso e a para reciclagem, sejam utilizados totalmente sem descarte de
material no meio ambiente (SANTOS et al., 2017).

2.1 Definição e tipos de contêineres

De acordo com Olivares (2010) os principais elementos da estrutura de um contêiner


são feitos de aço “corten” - um aço patinável que tem alta resistência mecânica, boa
soldabilidade e propriedades anticorrosivas. Esses são usados em formato de chapas
trapezoidais com nervuras verticais e espessura que varia entre 1,6 e 2,0mm, formando as
paredes e telhado do contêiner. Perfis com espessura entre 4,0 e 6,0 mm são usados como
bordas e uma grade serve de apoio para o piso composto por uma chapa de madeira de 28 mm
de espessura. Os cantos têm peças rígidas para suportar os esforços e permitir a ligação entre
os recipientes. A porta, composta por um quadro e duas folhas ligadas por dobradiças, está
localizada em uma das paredes menores.

Mendes (2007) aborda que existem vários tipos de contêineres, conforme segue: os
que possuem portas nas laterais são mais utilizados em ferrovias, alguns com teto removível
outros são totalmente abertos, possuindo apenas colunas nos cantos e barras diagonais de
reforço. Tem também os contêineres para transporte a granel que são providos com tampa
para carregamento no teto e bocal para descarregamento no assoalho. Já os contêineres para
carga refrigerada (frigoríficos) são totalmente isolados e equipados para a refrigeração e
quando precisam ser transportados líquidos, utiliza-se o contêiner “tanque” que possui um
revestimento especial para elementos corrosivos.

Os contêineres são fabricados de acordo com as normas elaboradas pelo Comitê


Técnico da Organização Internacional de Normalização (ISO) e pela Convenção Internacional
para a Segurança dos Contentores (CSC) que asseguram a padronização no que diz respeito às
suas características mecânicas e geométricas, manutenção e aplicação. A maioria dos
contentores de transporte utilizados globalmente está em conformidade com estes documentos
CALORY (2015).

2.2 Contêineres utilizados na Arquitetura

Milaneze et. al., (2012 apud OCCHI e ALMEIDA, 2016) relataram que os contêineres
mais utilizados na arquitetura são os da categoria Dry de 20 e 40 pés, ambos com portas nas
5

duas laterais. As dimensões externas do contêiner Dry Standard de 20 pés são: 2,438 metros
de largura; 6,06 metros de comprimento e 2,59 metros de altura, suportando até 22,10
toneladas. O contêiner de 40 pés possui as mesmas dimensões de largura e altura do
mencionado anteriormente, diferenciando-se na medida de comprimento, tendo 12,92 metros
e sendo projetado para suportar uma carga de até 27,30 toneladas. Os modelos Dry High Cube
de 40 pés (figura 1), também são muito utilizados e possuem as medidas de 2,44 metros de
largura, 2,79 metros de altura e 12 metros de comprimento.

Figura 1: Dry High Cube de 40 pés. Fonte: Porto Contêiner (2018).

Para reutilizar um contêiner na construção é necessário que este passe por uma
reforma, na qual suas superfícies são regularizadas e adaptadas de acordo com o projeto
arquitetônico (abertura de portas e janelas). O contêiner deve passar por um tratamento
antiferrugem e receber nova pintura (normalmente com cores vibrantes) para garantir
isolamento do metal contra a ação de agentes externos. Os isolamentos térmico e acústico das
superfícies devem ser previstos em projeto, já que os contêineres necessitam que as partes
elétricas e hidráulicas sejam embutidas nas paredes. As preocupações referentes ao
isolamento térmico giram em torno do uso de espumas, fibras de vidro e seus aglomerantes
(LOPES, LOIOLA e SAMPAIO, 2016).

Segundo Sotello (2012) as esquadrias e outras adaptações das chapas de aço devem ser
inseridas por mão de obra especializada no corte e solda da estrutura.

A metodologia construtiva da arquitetura em contêiner é caracterizada por ser racional,


devido o material ter características industriais e tamanhos padronizados, podendo assim ser
6

pensada como uma arquitetura modular. O projeto arquitetônico deverá se atentar às


dimensões e características que o elemento apresenta. O método projetual pode ser comparado
ao usado em construções em steel frame (estruturas de perfis de aço galvanizado) que
necessitam de um projeto arquitetônico bem resolvido e detalhado, para evitar possíveis
problemas futuros com adequações de projeto (KEELER e BURKE, 2010).

2.3 Vantagens e desvantagens

Assim como qualquer outra tecnologia de construção, a análise das vantagens e


desvantagens da viabilidade de uso é essencial.

Segundo SustentArqui (2018) as principais vantagens no uso de contêineres na


construção são: obra mais limpa, rapidez na execução, economia de recursos naturais,
reutilização do material, flexibilidade, durabilidade, na maioria das vezes não requer serviços
de fundação e terraplenagem e mantém boa permeabilidade do terreno.

Outro ponto a ser destacado no contêiner é a sua resistência, pois tem uma estrutura
extremamente forte e segura, assim, pode-se construir um edifício de até nove andares tendo
uma carga de 25 toneladas em cada andar, gerando também rapidez e eficiência na execução,
o qual economiza cerca de 30% do valor total comparado com uma construção convencional
alvenaria (BARBOSA et al., 2017).
Além do ganho ambiental, aqui avaliado, pode-se destacar também a pesquisa de
Occhi (2015, p.4) essas construções “[...] estão ganhando espaço no mercado consumidor,
principalmente por ser um material sustentável e por reduzir o custo da obra em cerca de 30%
se comparado a uma construção em alvenaria”.

Conforme Brandt (2011) o desperdício e resíduos como entulhos de construção são


mínimos quando utilizado contêiner, já que esta modalidade de construção utiliza poucos
recursos convencionais como areia, ferro, tijolos, concreto, cimento, brita e água potável, que
é um dos elementos mais consumido em uma obra convencional. Com isso, torna-se uma
construção limpa e sustentável.

Mais um ponto positivo da construção em contêiner está no fato de ser flexível ao


decorrer do tempo. Conforme a necessidade e disponibilidade financeira, é possível adicionar
novos módulos. Sua capacidade de ser transportada através de peça por peça, permitindo que
uma loja completa possa viajar, visto que é feita por um recipiente fácil de ser transportado
(FOSSOUX e CHEVRIOT 2013).
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Algumas desvantagens na construção em contêiner são: a limitação pela arquitetura


modular; aplicação de produtos para proteção antiferrugem; custos com transporte muitas
vezes elevados; necessidade de mão de obra especializada; cuidados especiais com o
isolamento térmico e acústico (LOPES, LOIOLA e SAMPAIO, 2016).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo refere-se a uma pesquisa exploratória, que "tem como principal finalidade
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias" (GIL, 2008, p. 27) sendo assim
relevante para a intenção de fomentar uma cultura para a prática sustentável de construção em
contêineres.

O estudo é teórico, em que a coleta de dados ocorreu por meio de uma pesquisa
bibliográfica e documental. Devido à atualidade do tema, foram utilizados artigos científicos
publicados em periódicos nacionais nos últimos 11 anos. As palavras-chaves para a busca
foram arquitetura em contêineres, construções em contêineres, modelos de contêineres,
construção sustentável e sustentabilidade na arquitetura.

Já a análise dos dados, por se tratar de um estudo de abordagem qualitativa, em que


não há fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os pesquisadores, seguiu-se as três
etapas, redução, exibição e conclusão/verificação, sugeridas por Miles e Huberman (1994)
para uma pesquisa qualitativa.

Na etapa de redução foi realizada a análise e a simplificação dos dados para


desenvolver o guia. Na etapa de exibição foi elaborado o guia com o passo a passo para a
construção com a utilização de contêineres. Na terceira etapa, constituída pela conclusão e
verificação, foi realizado o estudo de como o guia pode facilitar o acesso às informações
necessárias e propiciar a ação ou prática sustentável de construção em contêineres.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do estudo partiram da conscientização do tema, em que os benefícios da


construção em contêineres para a sustentabilidade foram percebidos bem como um passo a
passo desta prática foi compreendido. Com isso, desenvolveu-se um guia para incentivar e
facilitar esta prática de construção sustentável.
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4.1 Guia prático e sustentável para a construção em contêineres

Este guia é composto pelos seguintes passos: 1 - escolha do terreno; 2 - definição das
necessidades; 3 - projeto e adaptação; 4 - regularização; 5 - orçamento e contratação de
fornecedores e 6 - montagem e construção.

4.1.1 Passo 1: Escolha do terreno

O primeiro ponto são as dimensões úteis do terreno, ou seja, as dimensões totais


menos os recuos legais. O objetivo é analisar se a área útil do terreno comporta um contêiner
e o tamanho do contêiner possível, sendo um de 40' (12m) ou um de 20' (6m). É preciso que o
terreno permita acesso de caminhões.

Um outro ponto importante a ser observado é o nivelamento do terreno, para avaliar a


melhor forma de execução da obra. Em um terreno nivelado, os custos serão menores. Já em
um terreno inclinado mais trabalho e tempo terão que ser dedicado.

4.1.2 Passo 2: Definição das necessidades

Após saber que o terreno permite a chegada de contêineres, é preciso definir como será
a construção, se comercial ou residencial, qual o estilo de arquitetura, se será térrea ou com
mais de um pavimento, quais os espaços devem conter, qual o tamanho desejado e quanto se
deseja investir. Quanto mais informações, mais fácil começar o planejamento. Ainda, nessa
etapa, deve-se procurar o profissional ou a empresa que irá administrar e executar a obra.

4.1.3 Passo 3: Projeto e Adaptação

Após as necessidades bem estabelecidas o projeto será realizado. Nessa etapa o cliente
terá a definição perfeita de como será o imóvel antes dele existir. Como se trata de uma
construção com a utilização de contêineres existem algumas adaptações necessárias.

O processo de adaptação, segundo Bernardo et al. (2011) é feito retirando-se


inicialmente as portas originais e o piso compensado. Em seguida são feitas as aberturas de
acordo com o projeto arquitetônico, dependendo da complexidade da estrutura e de como o
recipiente tenha sido cortado, pode ser necessário adicionar reforço em aço.
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Um contêiner de 20 pés possui as seguintes medidas internas: 5,90 x 2,34 x 2,40,


13,80 m². As medidas internas de um contêiner de 40 pés são 12,03 x 2,34 x 2,40, 28,15 m².
Elas podem ser ampliadas, com adição de novos módulos. O projeto deve respeitar as
medidas padronizadas das unidades modulares.

Segundo Calory (2015) o projeto deve ser enviado a indústria especializada e nele
constar exatamente onde serão feitos os cortes, bem como suas dimensões. Deverá indicar
também onde serão os reforços, locais de ligação, hidráulica e elétrica, pois todo esse trabalho
é realizado somente nas empresas especializadas e não no local da obra.

O projeto deve ser bem elaborado e detalhado, pois contêiner vem pronto da fábrica
construtora responsável e ajustes posteriores são mais difíceis e em alguns casos eles não são
possíveis de execução.

4.1.4 Passo 4: Regularização

Após o projeto elaborado e aprovado, será feita a compra dos contêineres, mas antes
dessa etapa é preciso verificar a procedência e todas as regularizações necessárias. As
documentações dos contêineres são muito importantes, pois, além de mostrar a legalidade,
ajudam a comprovar a qualidade do mesmo.

É de suma importância observar a placa de identificação do contêiner, na qual,


especifica-se o tipo, o lugar que foi fabricado, a data de fabricação, o que pode ser carregado.
Segundo Milaneze et. al., (2012 apud OCCHI e ALMEIDA, 2016) em contêineres podem ser
transportados inúmeros materiais de diferentes procedências durante o prazo de 10 a 15 anos,
depois estes recipientes são descartados.

Para poder ser utilizado e modificado, os contêineres precisam estar nacionalizados,


pois suas características originais serão modificadas. Após adquiri-lo, deve-se exigir todos os
documentos referentes aos impostos de nacionalização, que foram pagos no ato da compra.
Esses impostos são: Licença de importação e documento de importação, que serão numerados
de acordo com a placa de identificação do contêiner – CSC (Container Safety Convention –
Convenção pela Segurança dos Contêineres).

Ainda, os contêineres transportam diversos tipos de produtos, alguns deles químicos


que para sua utilização na construção precisam de laudo de descontaminação, que deve ser
feito por um técnico certificado pelo IICL (Institute of International Container Lessors).
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4.1.5 Passo 5: Orçamento e contratação de fornecedores

A obtenção dos contêineres no mercado brasileiro, para fins não-marítimos, pode ser
feito tanto em espaços físicos quanto online. Os preços variam de acordo com a demanda e o
projeto solicitante. Pesquisas de preço foram realizadas e constatou-se, para contêineres
seminovos não-modificados, uma variação de valor de R$ 3.000,00 a R$ 9.000,00 e para
contêineres modificados o valor varia entre R$ 11.500,00 e R$ 18.000,00. Já o custo total da
construção dependerá do projeto e das solicitações do cliente (NUNES e SOBRINHO, 2017).

Segundo o site Container Alliance (2018) os preços dos contêineres de 40’ são de 20 a
30% mais caros que os de 20’, entretanto o valor depende do estado final do contêiner e de
qual foi a sua antiga utilização no mercado marítimo. Vale também ressaltar que as escolhas
dos contêineres devem ser cuidadosas e pontos como locomoção, espaço final, checagem da
legislação local quanto o uso do mesmo, devem ser considerados, além da aferição comum do
próprio contêiner quanto às condições internas, externas e estruturais no geral.

4.1.6 Passo 6: Montagem e construção

Primeiramente, é realizado no terreno o corte e aterro para nivelamento do solo. Para


terrenos planos é necessário apenas limpeza e a remoção de uma camada superficial de solo
solto. Após, a fundação é executada em concreto armado, seu tipo varia de acordo com a
resistência do solo, podendo utilizar blocos sobre estacas, sapatas ou radier. Simultaneamente,
são preparados todos os pontos hidráulicos e elétricos, deixando a espera para a acoplagem
dos contêineres. Enquanto se realiza esta etapa da infraestrutura no terreno, a transformação
dos contêineres acontece simultaneamente.

Na empresa especializada escolhida é realizado o preparo do contêiner, que em


primeiro momento passa por um tratamento anticorrosivo com lixamento da superfície e
aplicação de primer. A pintura externa é aplicada (podendo ser esmalte sintético, tinta
automotiva ou PU). Também nessa etapa são feitos os recortes de esquadrias. Os serviços que
seguem são o isolamento termo acústico com lã de vidro, instalações elétricas e hidros
sanitárias e fixação de revestimento (Gesso, PVC e MDF são as opções preferidas). Por fim,
se dá início ao acabamento, com assentamento de revestimento de piso (porcelanatos,
laminados, vinílicos ou cerâmicos), pintura interna, fixação de portas (internas e externas) e
instalação de luminárias e peças hidráulicas (UP CONTAINERS, 2017).
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Nessa etapa o contêiner está 80% a 90% pronto e somente nesta etapa é deslocado em
carreta ao seu destino para instalação. Cada carreta pode transportar um contêiner de 40 pés
ou dois contêineres de 20 pés. Não há limite de distância para enviar os contêineres, mas o
custo cresce em função do quilômetro rodado.

Chegando no terreno, o descarregamento é feito com caminhão munck ou guindaste,


dependendo do espaço disponível para manobra. No terreno as acoplagens são feitas através
de soldagem e fixação com elementos específicos. Feito isso, as esquadrias de vidro são
fixadas, a etapa de revestimentos e retoque de pintura é concluída e a obra está pronta.

4.2 Discussão
No atual cenário econômico, muitas empresas procuram se tornar competitivas, nas
questões de redução de custos, minimizando o impacto ambiental e agindo com
responsabilidade socioambiental. A destinação final desses produtos podem trazer um grande
problema ao meio ambiente. Entretanto a utilização desses como forma reuso podem
incentivar diversas outras operações capazes de trazer resultados positivos como as casas e
comércios em contêineres. Além de ecologicamente correta, o custo de uma casa contêiner é
mais barato do que uma casa convencional, o tempo de execução é bem menor e não gera
entulho.

Este estilo de obra (contêineres) pode ser utilizado nos programas de habitações de
interesse social para famílias de baixa renda, já que possui um custo de 30% a menos que as
construções convencionais. O poder público e privado poderia incentivar esse tipo de
construção e através de uma ampla divulgação, juntamente, com profissionais da engenharia e
arquitetura, explicar e mostrar o baixo custo de aplicação, sua mobilidade, sustentabilidade e
possíveis projetos futuros que despertem a curiosidade de empreendedores para a utilização
desta prática, a conteinerização.

5 CONCLUSÃO

O objetivo deste artigo foi orientar sobre a prática sustentável da utilização de


contêineres na construção civil por meio do desenvolvimento de um guia. Com base no
referencial teórico, foi possível estruturar as suas etapas e mostrar que os contêineres são
aplicáveis em edificações comerciais e residências no Brasil como uma alternativa sustentável
quando comparada à alvenaria tradicional, pois há transporte facilitado, tempo reduzido de
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construção, flexibilidade de projeto, baixo custo de construção, menor percentual de perdas e


desperdícios em obras, além de ser executado a partir de um material reutilizado.

Este estudo desenvolveu o guia composto pela: escolha do terreno; definição das
necessidades; projeto e adaptação; regularização; orçamento e contratação de fornecedores e
montagem e construção, que servirá como um passo a passo na hora da construção. Dessa
forma pode-se contribuir para uma mudança de cultura para o uso de contêineres como
construções sustentáveis.

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