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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
28ª VARA CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº, São Paulo - SP - CEP 01501-900
Horário de Atendimento ao Público: das 13h00min às 17h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1136480-90.2022.8.26.0100 e código F81B8CA.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1136480-90.2022.8.26.0100

Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Indenização por Dano Moral
Requerente: Márcia Angelita Tiburi
Requerido: Paulo Ghiraldelli Junior

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Ana Lúcia Xavier Goldman

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA LUCIA XAVIER GOLDMAN, liberado nos autos em 17/05/2023 às 08:41 .
Vistos.

MÁRCIA ANGELITA TIBURI ajuizou ação contra PAULO

GHIRALDELLI JÚNIOR, alegando, em síntese, que em outubro/2022 foram publicados
dois vídeos no canal “Filósofo Paulo Ghiraldelli”, diretamente relacionados à figura da
autora, intitulados: “Marcia Tribufu espalhando fake News” e “Lula não precisa desse tipo
de esquerda [Marcia Tiburi é pura degradação]”. Sustenta que as postagem atacam sua
honra, tendo experimentado dano moral. Requer a remoção do conteúdo, retratação,
proibição ao réu de mencionar o seu nome de forma ofensiva, e indenização no valor de
R$30.000,00 (fls. 01/18 com documentos às fls. 19/28).

Foi concedida tutela de urgência para remoção das postagens, nos

termos do v. Acórdão de fls. 62/67.

O réu ofereceu contestação às fls. 35/53. Em resumo, negou a

prática de ilícito e/ou violação a qualquer diretriz estipulada pela plataforma Youtube,
defendendo que o conteúdo dos vídeos tem nítido interesse público e relevância social,
estando o material protegido pelas garantias fundamentais de liberdade de expressão, livre
manifestação do pensamento e direito à informação. Alega que a autora, tal qual o réu, é
pessoa pública formadora de opinião e engajada no meio político, estando sujeita a críticas.
Impugnou o dever de indenizar. Juntou documentos (fls. 54/56).

Réplica às fls. 71/81 com documentos, observado o contraditório

(fls. 84).

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É o relatório.

Fundamento e decido.

Rejeito o pedido de justiça gratuita formulado pelo réu, pois

desprovido de elementos concretos sobre eventual incapacidade financeira, não bastando
mero requerimento. Observo que o réu exerce profissão remunerada, inexistindo indícios
de pobreza.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA LUCIA XAVIER GOLDMAN, liberado nos autos em 17/05/2023 às 08:41 .
O feito está maduro para sentença.

Sem embargo de respeitável entendimento contrário, o conteúdo

veiculado consiste em críticas do réu ao posicionamento e às falas da autora, durante
período eleitoral do ano de 2022 em que predominou fortemente polarização entre duas
vertentes políticas. As partes são pessoas públicas conhecidas no meio por expressarem
opiniões fortes no debate político, estando sujeitas a desaprovação e questionamentos.

Em que pesem às alegações da autora, não se verifica extrapolação

do direito à liberdade do pensamento, livre de censura, constitucionalmente garantido nos
artigos 5º, IV, IX e XIV, e 220, caput e § 2º da Carta Magna, de maior grandeza para o
Estado Democrático de Direito.

Deveras, o exercício das liberdades e garantias constitucionais não

representa passe livre para manifestações ofensivas, merecendo análise caso a caso de
eventuais publicações que, sob a égide da livre manifestação de pensamento, abusam do
direito e ferem outros princípios igualmente protegidos pela Carta Magna, como a
inviolabilidade da honra e imagem. Todavia, no particular, as publicações questionadas
consistem em críticas a falas da autora sobre seu posicionamento político ideológico,
cuidando-se de divergências às quais ela está sujeita ao expor publicamente suas ideias.

Frise-se que a autora é figura pública e que “é extremamente

assídua em suas redes sociais, onde pode se comunicar abertamente com o público que a
segue, divulgando seus pensamentos filosóficos e políticos.", como dito na petição inicial,
ciente de que suas posições estão sujeitas a críticas ancoradas na livre manifestação do
pensamento. De igual maneira, a autora exterioriza pensamentos e opiniões que certamente
não agradam a todos, próprias do debates de ideais.

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Nesse sentido trago à colação precedente da E. Justiça Bandeirante:
"RESPONSABILIDADE CIVIL - Alegação de ofensa à imagem da autora, jornalista,
supostamente causada por difusão de vídeos no Youtube nos quais o réu lhe dirigiu fortes
críticas, bem como insinuou que ela teria recebido dinheiro para mudar de opinião
política - Sentença de improcedência - Inconformismo exclusivo da autora - Dano moral -
Inexistência - Insuavidade das falas do réu que, no entanto, se limitaram a expressar
críticas à conduta da autora por ter mudado repentinamente de posicionamento político -
Necessidade de harmonização entre a garantia à inviolabilidade da honra e da imagem e

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANA LUCIA XAVIER GOLDMAN, liberado nos autos em 17/05/2023 às 08:41 .
do direito de livre manifestação do pensamento e da informação - Aplicação do art. 5º, IV,
IX, X, XIV, e art. 220, § 1º, da CF - Prejuízo moral não caracterizado na hipótese -
Sentença de improcedência mantida - Recurso desprovido." (TJSP; Apelação Cível
1054365-46.2021.8.26.0100; Relator (a): Galdino Toledo Júnior; Órgão Julgador: 9ª
Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 24ª Vara Cível; Data do Julgamento:
05/04/2022; Data de Registro: 11/04/2022).

Assim sendo, não vislumbro excesso por parte do réu passível de

exclusão de sua fala e reparação moral.

Tampouco cabe retratação, não se tratando da divulgação de

informações por veículo de imprensa a atrair aplicação da Lei nº 13.188/2015.

Do exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido. A autora

arcará com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 10% do
valor da causa.

P.I.

São Paulo, 17 de maio de 2023.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,

CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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