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Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

14/02/2024

Número: 1018392-30.2021.8.11.0041
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 8ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ
Última distribuição : 24/05/2021
Valor da causa: R$ 15.400,00
Assuntos: Indenização por Dano Moral, Direito de Imagem
Nível de Sigilo: 0 (Público)
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
MAURO CARVALHO JUNIOR (REQUERENTE)
WILLIAM KHALIL (ADVOGADO(A))
ALEXANDRE APRA DE ALMEIDA - ME (REQUERIDO)
ROBERTO BAPTISTA DIAS DA SILVA (ADVOGADO(A))
PATRICIA BURANELLO BRANDAO (ADVOGADO(A))
ALEXANDRE APRA DE ALMEIDA (REQUERIDO)
ROBERTO BAPTISTA DIAS DA SILVA (ADVOGADO(A))
PATRICIA BURANELLO BRANDAO (ADVOGADO(A))

Documentos
Id. Data da Movimento Documento Tipo
Assinatura
140791169 08/02/2024 15:18 Julgado improcedente o pedido Sentença Sentença
ESTADO DE MATO GROSSO
PODER JUDICIÁRIO
8ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ

SENTENÇA

Processo: 1018392-30.2021.8.11.0041.

REQUERENTE: MAURO CARVALHO JUNIOR


REQUERIDO: ALEXANDRE APRA DE ALMEIDA, ALEXANDRE APRA DE ALMEIDA - ME

Vistos.

Trata-se de ação indenizatória por danos morais, ajuizada por Mauro Carvalho Júnior, em face de Alexandre
Aprá de Almeida e Alexandre Aprá de Almeida ME.

Sob análise da petição inicial, tenho que o autor afirma que os requeridos procederam com a veiculação de
uma notícia, no site “Isto É Notícias”, que teve como fito desmoralizar o autor, de maneira a criar o
sentimento de revolta popular, baseada nos atos por este praticados, conforme aduz a notícia
supramencionada, no que concerne à compra de um jato avaliado na monta de R$ 1.500.000,00 (um milhão
e quinhentos mil reais).

Nesse sentido, requer o demandante pela determinação de que o polo passivo seja compelido ao pagamento
do importe de R$ 15.400,00 (quinze mil e quatrocentos reais), a título de danos morais.

Realizada audiência de conciliação, a qual restou infrutífera ante a falta de interesse na realização de acordo
entre os litigantes, conforme atesta ID. 61510359.

Devidamente citados e intimados, os requeridos apresentaram contestação, em que argumentam que


nenhuma das informações veiculadas se deu de maneira equivocada ou falsificada, tendo como base
documentos verossímeis, além de postular que o tom crítico da notícia não merece se retaliado em razão de
o demandante ser figura pública, ou seja, suscetível ao recebimento de opiniões neste rol.

Intimado, o autor apresentou impugnação à contestação.

Intimados para especificarem as provas que desejam produzir, ambos os litigantes requereram pelo
julgamento antecipado da lide.

É o breve relato.

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Fundamento. Decido.

Inicialmente, entendo que o presente feito se encontra em fase madura para julgamento, de modo que
vislumbro dispensável maior dilação probatória com o fito de aclarar as questões aqui discutidas, pelo que
passo ao julgamento antecipado da lide, com fulcro no artigo 355 do Código de Processo Civil de 2015.

Pois bem.

Em análise dos autos, verifico que o presente caso versa sobre a liberdade de expressão, prevista no artigo
5º, IX, da Constituição Federal, diretamente interligada ao interesse público da publicidade e da informação,
e que, de acordo com o artigo 220, §1º, da mesma Carta Magna, nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação
social.

Assim, ressalto que a liberdade de expressão do pensamento é garantia básica que representa, em seu
próprio e essencial significado, um dos fundamentos da ordem democrática.

De maneira análoga, não entendo que a referida notícia tenha se excedido de seu propósito jornalístico e
informativo, contendo, sim, teor crítico, mas não sobrepondo em momento algum os direitos da
personalidade do requerente.

Imperioso acrescentar, ainda, que quem se submete à opinião pública, está sujeito às críticas dessa espécie,
de modo que é impossível que tais pessoas sejam imunes à opinião popular, bem como às críticas contidas
em textos jornalísticos.

Desse modo, a pretensão deduzida pela parte requerente não se mostra compatível com o modelo
consagrado pela Constituição Federal, considerando-se, para esse efeito, que as opiniões jornalísticas aqui
questionadas são liberdade pública fundada no direito de crítica, o que não constitui dano moral ao presente
caso.

Nesse mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça em situações semelhantes:

PROCESSUAL CIVIL E RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIA
JORNALÍSTICA OFENSIVA. DIREITO DE INFORMAÇÃO, EXPRESSÃO
E LIBERDADE DE IMPRENSA. CRÍTICAS JORNALÍSTICAS A
MAGISTRADA. AUTORIDADE PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
CONFIGURAÇÃO DE ABUSO NO DEVER DE INFORMAR. INTERESSE
PÚBLICO. DANO MORAL. AFASTAMENTO. PREVALÊNCIA DA
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO E DE CRÍTICA. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. 1. "A liberdade de expressão, compreendendo a informação, opinião e
crítica jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao seu
exercício, compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o compromisso
ético com a informação verossímil; (II) a preservação dos chamados direitos da
personalidade, entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à
privacidade e à intimidade; e (III) a vedação de veiculação de crítica jornalística
com intuito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel

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diffamandi)" (REsp 801.109/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe de 12/03/2013). 2. A divulgação de notícia
ou crítica acerca de atos ou decisões do Poder Público, ou de comportamento de
seus agentes, a princípio, não configura abuso no exercício da liberdade de
imprensa, desde que não se refira a um núcleo essencial de intimidade e de vida
privada da pessoa ou que, na crítica, inspirada no interesse público, não seja
prevalente o animus injuriandi vel diffamandi. 3. No caso, apesar do tom ácido da
reportagem, as críticas estão inseridas no âmbito de matéria jornalística de cunho
informativo, baseada em levantamentos de fatos de interesse público, relativos a
investigação em andamento pela autoridade policial, sem adentrar a intimidade e a
vida privada da recorrida, o que significa que não extrapola o direito de crítica,
principalmente porque exercida em relação a casos que ostentam gravidade e ampla
repercussão social no Estado de Sergipe. 4. À vista da ausência de abuso ofensivo
na crítica exercida pela recorrente no exercício da liberdade de expressão
jornalística, o dever de indenização fica afastado, por força da "imperiosa cláusula
de modicidade" subjacente a que alude a eg. Suprema Corte no julgamento da
ADPF 130/DF. 5. Recurso especial a que se dá provimento. (STJ - REsp: 1325938
SE 2012/0111002-5, Data de Julgamento: 23/08/2022, T4 - QUARTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 31/08/2022). Destaquei.

RESPONSABILIDADE CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIA
JORNALÍSTICA OFENSIVA. DIREITO DE INFORMAÇÃO, EXPRESSÃO
E LIBERDADE DE IMPRENSA. CRÍTICAS JORNALÍSTICAS A PESSOA
PÚBLICA. ABUSO NO DEVER DE INFORMAR. AUSÊNCIA. INTERESSE
PÚBLICO. DANO MORAL. AFASTAMENTO. PREVALÊNCIA DA
LIBERDADE DE INFORMAÇÃO E DE CRÍTICA. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. 1. "A liberdade de expressão, compreendendo a informação,
opinião e crítica jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao
seu exercício, compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o
compromisso ético com a informação verossímil; (II) a preservação dos chamados
direitos da personalidade, entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à
privacidade e à intimidade; e (III) a vedação de veiculação de crítica jornalística
com intuito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel
diffamandi)" ( REsp 801.109/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe de 12/03/2013). 2. "É de sabença que
pessoas públicas estão submetidas à exposição de sua vida e de sua
personalidade e, por conseguinte, são obrigadas a tolerar críticas que, para o
cidadão comum, poderiam significar uma séria lesão à honra. Tal idoneidade
não se configura, decerto, em situações nas quais é imputada, injustamente e sem a

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necessária diligência, a prática de atos concretos que resvalem na criminalidade, o
que não ocorreu na hipótese". (REsp 1.729.550/SP, Relator Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, Quarta Turma, julgado em 11/5/2021, DJe de 4/6/2021). 3. No caso,
não se constata o alegado animus injuriandi vel diffamandi do agravado, uma vez
que a manifestação impugnada trata de fatos verossímeis, objeto de investigação
por autoridades públicas, e que, apesar de apresentar críticas em tom ácido e irônico
ao informar sobre acusações de práticas ilícitas feitas ao agravante, utilizando-se de
termo pejorativo, não adentrou sua intimidade e vida privada, nem extrapolou o
direito de crítica, afastando-se o dever de indenizar. 4. Recurso desprovido. (STJ -
AgInt no REsp: 1444835 DF 2013/0321117-4, Data de Julgamento: 28/11/2022, T4
- QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 07/12/2022). Destaquei.

Nesse diapasão e por se tratar de liberdade de informação, a improcedência da demanda é a medida que se
impõe.

Com essas considerações, JULGO IMPROCEDENTE a presente ação e, nos termos do artigo 487, I, do
CPC, extingo o feito com resolução do mérito.

Condeno o autor ao pagamento das custas e despesas processuais, assim como honorários advocatícios de
sucumbência que fixo 15% do valor da causa, nos termos do art. 85, §2º, do CPC.

Após, com o trânsito em julgado, arquive-se com baixa na distribuição.

P. R. I.

Cuiabá-MT, data registrada no sistema.

Alexandre Elias Filho

Juiz de Direito

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