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GRUPOS ESCOLARES:
CULTURA ESCOLAR PRIMÁRIA E ESCOLARIZAÇÃO DA INFÂNCIA NO BRASIL
(1893-1971)
Sumário
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Professora de História da Educação na Faculdade de Educação da USP. Coordenadora do Centro de
Memória da Educação e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em História da Educação
(NIEPHE) na mesma instituição. Atualmente assume a presidência da Sociedade Brasileira de
História da Educação. E-mail: dvidal@usp.br.
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nos anos 1920, associou-se outra: a Escola Nova. As seguidas reformas da instrução
pública implementadas por Carneiro Leão (1922-1926), Fernando de Azevedo
(1927-1930) e Anísio Teixeira (1931-1935) no Rio de Janeiro; Sampaio Dória
(1920), M.B. Lourenço Filho (1930-1931), Fernando de Azevedo (1933) e Almeida
Jr. (1935-1936) em São Paulo; Francisco Campos (1927-1930) em Minas Gerais;
Carneiro Leão (1928-1930) em Pernambuco; Lourenço Filho (1922-1923) no Ceará;
e Anísio Teixeira (1925-1927) na Bahia constituíram o solo fértil e consolidaram
uma nova forma de organização administrativa e pedagógica do ensino, de
orientação laica, que, não negando as conquistas da escola graduada, apresentava
outros contornos às práticas e saberes escolares. Métodos de projeto, centros de
interesse, sistema platoon foram novos vocábulos incorporados ao exercício da
docência brasileira. A criação do Ministério da Educação e Saúde em 1930 e a
presença nele do educador escolanovista M.B. Lourenço Filho por mais de 40 anos
em diversos cargos técnicos assegurou a disseminação das propostas a todo o
território nacional, ainda que a semântica da Escola Nova não fosse única e as
disputas com educadores católicos acirradas, particularmente depois de 1932.
A expressão ganhou relevo especialmente após a aprovação da reforma
Fernando de Azevedo, em 1927 no Rio de Janeiro. A partir de então, guindado pelo
educador, o termo Escola Nova passou a significar os esforços de renovação escolar,
o novo, em detrimento do passado, do velho. Negava (e relegava ao esquecimento)
as experiências anteriores implementadas no Brasil, constituindo-se como verdadeira
representação da escola elementar. Seu uso no interior do texto do Manifesto dos
Pioneiros, lançado em 1932, consolidou a fortuna (Hameline, 1995) da fórmula:
ideal ao mesmo tempo carente de definição e capaz de aglutinar pessoas e ações.
No entrecruzamento de representações concorrentes de ensino e
aprendizagem escolares foram-se redesenhando os contornos da escola primária
brasileira (e de sua cultura). Por um lado, a força simbólica da forma dos Grupos
Escolares persistia assegurando matizes da cultura escolar primária fundada ao fim
do oitocentos. Por outro, a nova gramática escolanovista lançava desafios ao modelo,
traçando-lhe novos perfis, num processo considerado por Tyack e Cuban (1999)
como hibridação. É interessante destacar que a maioria dos estudos que se debruça
sobre o tema dos Grupos Escolares estabelece como data limite à análise os anos
1930 (Cf. Souza e Faria Filho). Assim o fazem, talvez, por se concentrarem no
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ano escolar/ ano civil/ exame final, problematizada parcialmente no Rio de Janeiro,
nos anos 1930, com a reclassificação de séries implantada por Anísio Teixeira, e, em
São Paulo, na década de 1990, com a introdução dos ciclos, propostos por Paulo
Freire; viu-se alterada, na LDB, pela possibilidade da educação básica
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Este convite à comparação, aliás, pode e deve ser estendido aos demais treze
artigos incluídos neste livro. Agrupados por região geográfica, seguindo a ordem
alfabética do nome dos autores, desenham um cenário multifacetado da implantação
dos Grupos Escolares no Brasil. Há seis textos abordando a região Nordeste.
Discorrem sobre os estados do Piauí, Paraíba, Maranhão, Sergipe, Bahia e Rio
Grande do Norte. Um artigo se debruça sobre o Centro-oeste, analisando Mato
Grosso. Três capítulos recobrem o Sudeste, notadamente Minas Gerais e Rio de
Janeiro. Os últimos três textos enfocam a região Sul, privilegiando os estados do
Paraná e Santa Catarina. A simples justaposição das narrativas exibe semelhanças e,
ao mesmo tempo, revela singularidades na criação e instalação dos Grupos Escolares
no território brasileiro.
A importância na interlocução com educadores e a legislação paulista
desponta nos relatos de Antônio de Pádua Lopes, Jorge Carvalho do Nascimento,
Elizabeth Poubel e Silva e Vera Lúcia Gaspar da Silva. A preferência pela instituição
de escolas reunidas às graduadas emerge nos trabalhos de Diomar das Graças Motta,
Lucia Maria Franca Rocha e Maria Lêda Ribeiro de Barros e Antônio Lopes. O
destaque à formação cívica e patriótica tem lugar nos escritos de Jorge Carvalho do
Nascimento, Elizabeth Poubel e Silva, Marcus Albino Bencostta e Vera Lúcia
Gaspar da Silva. As questões atinentes aos ditames políticos e sociais relativos à
implantação dos Grupos Escolares perpassam a argumentação dos vários autores
com maior o menor ênfase.
O estudo de Antônio de Pádua Lopes centra a discussão na constituição da
escola como repartição pública no Piauí, pela criação das Escolas Reunidas e dos
Grupos Escolares. Sua preocupação é demonstrar que a escolha do novo modelo, em
substituição às escolas isoladas ou casas-escola, visava normatizar a organização
administrativa e pedagógica da escola primária conferindo maior homogeneidade a
seus procedimentos. Concorria para isso, a introdução das funções de portaria e
direção, regulando os horários de funcionamento das unidades escolares e
controlando o exercício da docência.
Antonio Carlos Ferreira Pinheiro explora, particularmente, o surgimento do
Primeiro Grupo Escolar, Thomaz Mindello, na Paraíba. Examina as festividades de
sua inauguração em setembro de 1916; as disputas políticas em torno dos custos da
compra do prédio destinado à escola e de sua adaptabilidade ao ensino; e as relações
entre o edifício e o desenho urbano da antiga cidade da Parahyba (atual João Pessoa).
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faz percorrer corredores, ver rostos, ouvir risos, correr por pátios de recreio, temer
resultados de exames parciais ou finais, enfim, reviver os tempos do Grupo Escolar.
Fica aqui o convite à leitura. Tenho certeza de ela será instigante e prazerosa.
Referências bibliográficas
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UNESP–Araraquara. E-mail: rosa@fclar.unesp.br
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UFMG. E-mail: lucianom@ufmg.br
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Vários grupos de pesquisa no país vêm desenvolvendo estudos sobre a escola primária, Ver, por
exemplo, Carvalho (2003b) e Faria Filho (2002). Veja-se, também, o número 34 da Educação em
Revista (FaE-UFMG), que traz um Dossiê sobre grupos de pesquisa em História da Educação no
Brasil.
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Essa tese foi publicada sob o título Dos Pardieiros aos Palácios: cultura escolar e urbana em Belo
Horizonte na Primeira República. Passo Fundo: UPF, 2000.
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primeiras décadas do século XX. Com base nas proposições de Vincent, os grupos
escolares foram concebidos nessa tese como uma nova forma escolar, isto é, o
entendimento da “escola enquanto organização e instituição distinta de outras
instituições (...) uma fase da história da escolarização que conduzirá à instauração de
um aparelho escolar autônomo” (Faria Filho, 1996, p. 25).
Elegendo como foco de análise a cultura escolar nos seus múltiplos
desdobramentos e relações e dando destaque aos sujeitos e às representações que
faziam de suas ações buscou–se demonstrar o movimento da escola que ocorre no
interior do movimento da cidade ressaltando o duplo movimento de produção da
escola que produz também a sociedade.
Em Minas Gerais, os primeiros grupos escolares foram instalados em Belo
Horizonte a partir de 1906 como afirmação do moderno em educação em
substituição ao passado imperial ultrapassado representado pelas escolas isoladas.
Dessa maneira, identificado com a modernidade e constituído pelo agrupamento das
escolas isoladas, a nova forma escolar tinha como essência a “lei econômica da
divisão do trabalho” tão bem percebida pelos reformadores da instrução pública na
época. A relação entre a reorganização da instrução primária e o movimento de
organização do trabalho fabril na sociedade capitalista foram examinados por Faria
Filho (1996) não como transposição de modelos e tecnologias, mas na forma de uma
apropriação ativa.
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1996)6, partiu das raízes desse modelo de escola primária relacionando–o com a
escola graduada implantada na Europa e nos Estados Unidos nas décadas finais do
século XIX. Com base nos estudos de Frago (1990), Hamilton (1989), Giollito
(1983) e Cutler (1989), entre outros, tentou–se demonstrar como essa organização
administrativa e pedagógica mais complexa foi se consolidando ao longo da segunda
metade do século XIX resultando em profundas transformações no ensino primário.
A escola primária graduada pressupunha o agrupamento dos alunos mediante a
classificação pelo nível de conhecimento, o edifício escolar dividido em várias salas
de aula, a divisão do trabalho docente, a ordenação do conhecimento em programas
distribuídos em séries, o emprego do ensino simultâneo, o estabelecimento da
jornada escolar e a correspondência entre classe, sala de aula e série. Esse modelo
escolar em circulação, considerado moderno e o mais adequado para a
universalização do ensino primário foi adotado no estado de São Paulo em 1893, no
contexto da reforma da instrução pública calcada na formação de professores
(reforma da Escola Normal e criação da Escola Modelo), na renovação dos métodos
de ensino (emprego do método intuitivo) e na difusão da escola primária (criação de
escolas de diferentes tipos – escolas isoladas, escolas reunidas, escolas noturnas e
grupos escolares – e expansão de vagas) instituindo–se como escola modelar,
símbolo do regime republicano e dos ideais de progresso e civilização.
A Escola Modelo constituiu–se no protótipo de organização dos grupos
escolares em São Paulo. Adotando a mesma ordenação administrativa e didático–
pedagógica das escolas graduadas, ela tornou–se a referência a ser seguida pelas
escolas agrupadas designadas “grupos escolares”.
A expansão dos grupos escolares ocorre progressivamente no estado de São
Paulo acompanhando o desenvolvimento urbano e atingindo crianças provenientes de
vários setores sociais, especialmente das camadas populares. Em pouco tempo eles
se tornaram o tipo predominante de escola primária sobrepujando a matrícula das
escolas isoladas. Em 1929, já haviam sido instalados 297 grupos compreendendo
4.249 classes – 47 encontravam–se localizados na capital e 250 nas cidades do
interior do estado –responsáveis pela matrícula de 191.320 alunos, isto é, cerca de
dois terços dos alunos matriculados nas escolas públicas primárias do estado (Cf.
Souza, 1996, p. 118).
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Essa tese foi publicada sob o título Templos de Civilização: a implantação da escola primária
graduada no Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: Editora da Unesp, 1998.
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Para uma análise minuciosa sobre as escolas isoladas no estado de São Paulo no período de 1933 a
1943 ver: Silva, 2004.
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A expansão dos grupos escolares nesse estado foi bastante peculiar como
atestam os estudos de Bencostta (2001), Moreno (2003) e Souza (2004).
Apesar do primeiro grupo ter sido construído e inaugurado em 1903, a
regulamentação e a normatização dessas unidades escolares oscilaram no início do
século XX. Uma multiplicidade de tipos de escolas primárias coexistiram nesse
período — escolas isoladas, ambulantes, promíscuas, escolas combinadas, semi–
grupos escolares e grupos escolares. O agrupamento de escolas isoladas, antes da
instalação do grupo escolar, foi um recurso comumente utilizado pelo poder público
para a expansão do ensino. Em 1924, havia, no estado do Paraná, 32 grupos escolares
e 605 escolas isoladas, totalizando 13.488 alunos matriculados (Moreno, 2003, p.
26).
O estado de Santa Catarina também contou com a participação de um
professor paulista, Orestes Guimarães, colocado à disposição desse estado pelo
governo de são Paulo para a reorganização da instrução pública em 1911. Embora
previstos no ordenamento legal desde 1907, os primeiros grupos foram instalados no
contexto da Reforma Vidal Ramos de 1911. Em 1928 havia, no estado, 23 grupos
responsáveis pela matrícula de 5.999 crianças, embora ainda prevalecesse a escola
isolada como modalidade de escola primária que, no mesmo ano, contava com 634
unidades e 33.551 alunos matriculados (Cf. Piacentini, 1984; Fiori, 1991).
No caso do Rio Grande do Sul, a pesquisa de Eliane Peres nos mostra que
entre as décadas de 1910 e 1940 a educação escolar gaúcha passou, em sua
totalidade, pelas tensões que marcam os processos de renovação. Desde as políticas,
passando pelas práticas cotidianas até os discursos pedagógicos, especializados ou
não, em todos eles fez–se sentir o peso e a urgência das mudanças que se queria
imprimir e legitimar no já complexo sistema escolar público no RS.
No primeiro momento (anos 1910–1930), a criação dos Colégios elementares
e a institucionalização da escola seriada, implicaram o esforço de criação e
legitimação de um novo modelo para o ensino primário gaúcho. Já num segundo
momento (anos 30–50), verificou–se foi a busca em institucionalizar a modernidade
pedagógica o que foi feito, sobretudo, pela criação de estruturas burocráticas no
próprio aparelho de Estado, dentre as quais se destaca o Centro de Pesquisas e
Orientação Educacionais/CPOE, em 1943. No interior deste processo, mas nem
sempre como carro chefe, esteve a criação e implantação dos grupos escolares.
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tem nos ajudado muito a perceber que elementos como conhecimentos, espaços,
tempos, metodologias, materiais pedagógicos... constituem a cultura escolar, mas
pouco temos avançado na resposta à pergunta de como os sujeitos escolares
produzem a cultura escolar e, no mesmo movimento, como as culturas escolares
produzem os sujeitos que dela fazem parte.
Do nosso ponto de vista, uma utilização mais analítica da noção de cultura
escolar pode ajudar–nos no desvendamento dos processos, conflituosos por certo,
que levam ao estabelecimento e transformação das culturas escolares. Por isso
mesmo a sua apropriação não pode se fazer sem se levar em conta o(os) conceito(s)
de cultura que lhe são subjacentes. Quase todos os trabalhos, enfocam os grupos
escolares como fazendo parte de um processo de mudanças no padrão de
escolarização e na cultura escolar. Como articular este processo de mudanças com
uma noção que supõe, além da transformação, a tradição, a seleção, a sedimentação,
a continuidade? Obviamente que é possível e necessário articular estas distintas
dimensões da noção de cultura escolar mas o que sabemos também é que ao se
articular os grupos escolares com a instituição de uma nova cultura escolar, não
podemos descuidar do fato de que a escola e as culturas escolares são os lugares
sociais e culturais por excelência daquilo que pouco e muito lentamente se
transforma.
Assim, um dos grandes desafios, postulado e ampliado pela historiografia dos
grupos escolares, é o desvendamento da cultura escolar, a compreensão dos
elementos que conformam a organização escolar. No jogo entre permanências e
mudanças, é importante atentar para a estabilidade das práticas.
Nesse sentido, muito têm contribuído a história das disciplinas escolares e a
história do currículo, problematizando os conteúdos e métodos de ensino. A
numerosa produção sobre aspectos específicos – método de ensino de leitura,
cartilhas e livros de leitura, disciplinas específicas, manuais didáticos etc., demanda
sínteses analíticas que possam servir de subsídio para avançar no conhecimento que
vem sendo produzido.
Um exame aprofundado da cultura material escolar constitui outra temática
relevante. Do surgimento da lousa no século XVIII ao uso do computador no final do
século XX, da instalação dos primeiros museus e laboratórios nas escolas primárias
no século XIX às salas ambiente na década de 1990, a produção e a circulação de
materiais escolares evidenciam o uso de tecnologias aplicadas à organização e
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No estado de São Paulo, as reformas empreendidas por Lourenço Filho e Fernando de Azevedo no
início dos anos 30 do século XX ressaltaram a finalidade social da escola pública enfatizando o caráter
nacional do ensino e o vínculo da escola com o projeto de reforma cultural da sociedade brasileira.
Foram instituídas nessa época várias obras sociais escolares, peri-escolares e post-escolares como:
associação de pais e mestres, associações de ex-alunos, amigos da escola, conselhos escolares e
caixas, cooperativas escolares de consumo e escotismo. Além disso, foram implementadas instituições
auxiliares da escola: biblioteca infantil, caixas escolares, cinema educativo, canto orfeônico,
assistência dentária, entre outros. Aspectos muito parecidos com esses já haviam aparecido, por
exemplo, na reforma organizada por Mário Casasanta e Francisco Campos em Minas Gerais alguns
anos antes (1927) o que nos leva a pensar que talvez eles estejam bastante disseminados nas políticas
do período.
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dos mesmos, tais estudos têm contribuído para tornar a escola relativa. No entanto,
não se pode deixar de mencionar a significativa contribuição que os estudos sobre
grupos escolares têm possibilitado para a escrita da história institucional da escola
pública. A atenção antes dada aos colégios de ensino secundário volta–se agora para
as escolas primárias. Esse deslocamento é significativo e relevante tanto pela
contribuição que possa trazer para o campo da história da educação quanto para as
investigações mais gerais sobre o ensino primário, sobretudo pelo seu significado
político e pedagógico para a escola pública.
Diferente dos colégios de ensino secundário historicamente especializados em
dispositivos de diferenciação social voltados para a formação das elites, a escola
primária registra a história da democratização da cultura. Ela, ainda que marcada
pela exclusão social, dá a conhecer o significado da educação escolar para mulheres
e homens comuns. Trata–se de uma história que se conecta com as experiências e
lutas das camadas populares, com as expectativas e anseios por elas depositadas na
escola como possibilidade de melhoria de vida, de ascensão social mediante
melhores empregos e salários, como oportunidade de participação política, social,
econômica e cultural.
Na tarefa incessante e absorvente de educar as novas gerações, as escolas
públicas de ensino fundamental cedem continuamente às pressões e atribulações do
presente. Em geral, o passado dessas instituições sobrevive em esparsos vestígios,
seja nos prédios escolares submetidos a pichações e depredações freqüentes, seja nos
poucos documentos remanescentes ou na memória de antigos alunos, professores,
diretores, funcionários e da comunidade onde se encontra localizada a escola.
Portanto, recuperar essa história significa valorizar a escola pública
reconhecendo o direito que a sociedade tem à memória e ao passado histórico de uma
instituição por ela estimada e que vem exercendo ao longo do tempo um papel
central na experiência infantil. Configura–se, pois, como contribuição valiosa para a
história social e a história da educação.
Ao perturbar o desassossego do presente, a história institucional reclama
políticas de preservação da escola pública como patrimônio histórico–cultural.9
Assim, adquire importância os programas de história oral e a constituição e
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Esse movimento é claramente perceptível na constituição dos Centros de Memória da Educação
vinculados às Universidades, como o Centro de Memória da Educação da Universidade de São Paulo,
e às Secretarias de Educação, como o Centro de Referência da Educação Mário Covas em São Paulo e
o Museu da Escola de Minas Gerais.
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Referências bibliográficas
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SOUZA, Rosa F. de. (1998). O Direito à Educação: lutas populares pela escola em
Campinas. Campinas: Editora da Unicamp.
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Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
E-mail: margalf@hotmail.com
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Doutoranda em História da Educação do Programa de Pós Graduação da FEUSP. E-mail:
bethpoubel@uol.com.br
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interferir nem têm lugar. Neste processo, a escola que se confundia com a casa do
professor ou com o sítio onde se dava a aula, em edifício público, religioso ou
alugado, passa a ser um espaço arquitectonicamente definido, segundo regras de
higiene pública e de ordem pedagógica, que se vai distinguindo dos demais edifícios
circundantes. A concepção do espaço, da volumetria, da localização dos edifícios
manifestam as representações sociais sobre a importância atribuída à escola,
acompanham e provocam alterações orgânicas, de ambiente de trabalho e de práticas
escolares. A graduação no ensino primário, que aparece com a reforma de Costa
Cabral (Decreto de 20 de Setembro de 1844), com a definição de dois graus,
elementar e complementar, é disso exemplo. Estas alterações, que se traduzem na
documentação administrativa recebida e produzida nas escolas, nos materiais
didácticos e no próprio mobiliário escolar, conformam a escola às novas exigências
sociais, que lhe são imputadas, produzindo ela própria uma tecnologia educativa,
disciplinadora do corpo e das mentes das crianças, com reflexos na sociedade, pelos
elementos que fornece.
No contexto deste processo histórico, surgem, em Portugal, as “escolas
centrais”, acompanhando o movimento de modernização educacional dos demais
países europeus.
O objectivo deste texto é assinalar como ocorreu a implantação deste
modelo de escola primária em Portugal, registrando assim, os debates e interesses
que motivaram a adopção desta forma escolar no país. Compreende, pois, uma
revisão da literatura portuguesa sobre o tema, articulada com os resultados de uma
pesquisa nos arquivos da Biblioteca Pública Municipal do Porto e da documentação
existente nas escolas de Cedofeita, do Bonfim, de Paranhos, na cidade do Porto e que
foram antigas escolas centrais.
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Professor primário, da escola central de Lisboa e em 1887 da Escola Normal de Évora. Foi
colaborador de várias revistas de educação e ensino e publicou diversos livros de pedagogia
direccionados para o ensino normal. Interveio nas comunidades locais onde viveu ao nível da
instrução popular, tendo sido amigo de Henrique Freire. Cf. Nóvoa, A. Dicionário de Pedagogos
Portugueses. Porto, Asa, 2003.
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Henrique Freire foi igualmente professor primário , subinspector de ensino, professor da Casa Pia
de Lisboa, docente da Escola Normal de Lisboa. Colaborou em revistas de educação, nas conferências
pedagógicas e foi correspondente do Retiro Literário Português do Rio de Janeiro. Foi cavaleiro da
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Ordem de Cristo. Tal como seu amigo Graça Affreixo são dos mais dignos representantes de uma
geração de educadores que formaram corrente de opinião em prol de uma rede pública de ensino.
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data exacta desconhece-se (ver foto)15. Contudo, segundo Luís Correia (1996)
durante o período de 1863 a 1880 foram criadas “2/3 das escolas oficiais” da cidade
registadas no final do século XIX. Em documentação existente nas escolas
encontramos referenciada a escola central n.º1 do Bonfim em 1902 e em 1906 a de
Santo Ildefonso. O Anuário da Câmara Municipal do Porto de 1923, que apresenta a
evolução do ensino no concelho desde 1913, refere, no cumprimento do decreto-lei
de 29 de Março de1911, a criação ou transformação das escolas existentes em
centrais. Na escola de Paranhos encontramos a cópia de um contrato de
arrendamento datado de 1916, em que na clausula 4 a Câmara afirma que o prédio se
destina a “uma Escola central masculina, de quatro lugares e habitação da
professora”.
No inventário a que procedemos nas escolas do Porto, que tinha como objectivo a criação de um
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Está ainda por estudar a verdadeira extensão que estas escolas conheceram
ao nível do país, mas pensa-se que tenha sido muito limitada. Mediante a
documentação encontrada,16 percebemos que este modelo escolar funcionou no
Porto, sob o nome de escola central até à reforma educativa de 1919, passando então
a serem designadas por Escolas de Ensino Primário. E, curiosamente, são algumas
destas escolas que no princípio da década de 60 são demolidas e dão lugar a edifícios
com 20 ou mais salas de aula, mais modernos, designados por “Grupo escolar”.
nos Estados Unidos 1 para 160; na Prússia 1 para 150. Portugal 1 escola para 1000
habitantes” (Decreto 16 Ago.1870, idem ). Como causas apontadas e que
determinariam o atraso em que se encontrava a instrução primária estão a
organização centralizadora, a carência de inspecção, péssima situação do
professorado, desamparo da instrução do sexo feminino, a falta de frequência escolar
e a desorganização interna da escola, não abrangendo a educação física, política e
civil nem a instrução profissional. Cientes de tais problemas, investiram na reforma
da instrução acreditando que “a escola do século XIX é uma revolução nas condições
sociais da humanidade” ( Idem, VI ).
Mesmo diante de tal argumentação, esta Reforma foi revogada no dia 27 de
Dezembro do mesmo ano (Collecção official da legislação portuguesa, 1871, p.558).
“Ao fim de sessenta e nove dias do Ministério da Instrução Pública, o governo do
Duque de Saldanha caiu sendo substituído pelo do Marquês de Sá da Bandeira, tudo
então desaparecendo: reforma, ministro e ministério” (Soares, 1985, p.71). E deste
modo, a implantação anunciada das escolas centrais não se pôde executar.
É neste contexto de frustração de reformas que se situa a Reforma da
Instrução Pública de 1878, sob a batuta de Rodrigues Sampaio, mas que só será
regulamentada em 1880, pelo Decreto de 28 de Julho do mesmo ano. Segundo
Araújo (2000, p. 86) só começa a ser implementada em 1881. Esta reforma procedeu
à descentralização do ensino primário, estabeleceu a obrigatoriedade de frequência
para rapazes e meninas, regulamentou assuntos tão diversos quanto matrículas,
organização curricular, exames, regulamentação sobre os professores estabelecendo a
igualdade de salário entre professores e professoras, etc. Foi precedida das propostas
de lei de 20 de Janeiro de 1872 e de 23 de Janeiro de 1875, de influência de
Rodrigues Sampaio e segundo os mesmos princípios da Reforma de 1870. Mas tanto
esta legislação como a que se lhe seguiu (Decreto de 22 de Dezembro de 1894) não
faz referência à organização das escolas centrais, indicando apenas que haverá um
director.
Será com o governo de João Franco (Decreto de 18 de Junho de 1896), que
se encontra de novo menção a este tipo de escola. Nele se assume claramente o
carácter graduado da instrução primária por classes e graus. Este Regulamento,
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Nos livros de Correspondência expedida da Escola nº 2 e no livro Acta de reuniões do Conselho da
Escola Central nº 1,da Freguesia do Bomfim, podemos observar que tais escolas utilizaram o nome de
Escola Central até 1919.
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considera Gomes (1986,p.125) como o “primeiro texto legal que estabelece, de uma
forma explícita, o número de classes de que deve constar o ensino elementar”.
discussão em torno dos métodos de ensino para uma visão mais ampla da acção
educativa, que envolve a organização de diferentes serviços, como a biblioteca,
museu escolar, cantina, caixa económica. Assume um papel de aconselhamento do
director e uma forma de controlo da sua acção, funcionando de alguma forma como
um elemento moderador da gestão escolar. Barroso (1995, p. 111) salienta o papel
desempenhado pelo conselho escolar na recuperação da anterior autonomia
individual do professor para um poder colegial, que se lhe sobrepõe; na coordenação
do trabalho docente e a exigência de novas competências de gestão e planificação de
diferentes actividades; a delimitação dos campos pedagógico e administrativo da
escola, implicando a colaboração e partilha de poderes entre o conselho e o director.
Não parece abundar documentação que nos permita rastrear os debates que
a criação deste tipo de organização suscitou. É de supor que representou algum
benefício para o trabalho dos professores, como demonstra o artigo de Ulysses
Machado. Porém, podemos detectar críticas a alguns aspectos das escolas centrais já
em 1899, no relatório de Bernardino Machado. Critica este a aglomeração de alunos
num mesmo edifício, o que poderia tornar a escola menos acessível; professores a
mais, nomeadamente os de desenho, costura, ginástica e exercícios militares, a
existência de um corpo de pessoal auxiliar e a categoria de professor auxiliar. Este
acabaria por cumprir funções docentes, permanentemente. Se pensarmos nas
dificuldades de deslocação no século XIX podemos pensar que a concentração de
escolas num mesmo edifício dificultaria o acesso das crianças e seria mais um
motivo para o abandono escolar.
A mudança de regime político em 1910, da Monarquia para a República,
reflectiu-se, como era de esperar, na educação. Segundo Pintassilgo (1998)
57
058
58
059
ensaios, porém, não têm dado resultados satisfatórios, (in Barroso, 1995,
p. 105).
59
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60
061
17
Cf. Circular do Governador Civil do Porto de 30 de Abril de 1874. Arquivo Municipal de Vila do
Conde, Pasta Ensino, doc. nº34 . Encontra-se publicada na rubrica “Documentos inéditos” do Caderno
61
062
Hoje, pelas 1½ horas, foi a vizinhança desta escola alarmada pelos gritos
ininterruptos das crianças que, saindo espavoridas das classes procuravam
fugir do edifício. À Escola ocorreu muita gente a indagar do que se
passava.
Foi o caso que parte do estuque da sala da 1ª classe desabou e o baque por
ele produzido, ao despedaçar-se sobre as carteiras, sobressaltou e
amedrontou de tal forma as crianças da respectiva classe, que estas,
abandonando precipitada e desordeiramente a sala, no meio de uma
gritaria, alvoroçaram não só o resto da população escolar, como também a
vizinhança e pessoas que passavam nas ruas próximas.
Felizmente nenhuma criança ficou ferida, mas é certo que o caso podia ter
ficado assinalado por consequências bem tristes. De há muito que eu
reclamo, baldadamente, a reparação dos tectos das salas. Mais uma vez o
faço pedindo à V. Excia. Se digne providenciar de modo que tal reparação
se faça sem perda de tempo, visto o risco que correm as pobres
criancinhas (Livro de Correspondência, 1914, p.66).
Considerações finais
63
064
surge, por exemplo, muito antes do que na vizinha Espanha, cujo decreto para a sua
criação é de 1898, regulamentado no ano seguinte (Viñao Frago, 1990, p. 13).
A sua implantação ficou circunscrita inicialmente a Lisboa e Porto, e
posteriormente a algumas outras capitais de distrito. Não parece ter despertado o
interesse da sociedade civil, que geralmente continuou a doar edifícios escolares de
um ou dois lugares, mais próximos das populações a que serviam, tendo-se
confinando à esfera político-educacional. Os poucos edifícios construídos, através de
doações ou pelo dinheiro público, para escolas centrais, não configuraram um tipo
arquitectónico específico, apresentando diferenças no que diz respeito ao número de
sala de aula que as constituíam, à organização do espaço e de traça. Eram adequadas
para atender as quatro classes, funcionando em prédios, como também em casas
alugadas e adaptadas para este fim.
Algumas, como no caso de Escola Central de Cedofeita e a Escola Central
de Paranhos, deram lugar na década de 60 do século XX a Grupos Escolares. Não
encontrámos, até ao momento da escrita desta pesquisa, algo que justificasse essa
mudança de nomenclatura.
Embora de implantação limitada no ensino público primário português, a
cultura escolar introduzida, deixou marcas na educação e na cultura profissional dos
professores, visíveis até aos nossos dias. Do ponto de vista pedagógico marca a
passagem do atendimento directo do aluno ao ensino simultâneo de um grupo
“homogéneo de alunos”, com o recurso ao método intuitivo e às lições de coisas. O
agrupamento de professores implicou a busca de formas de organização burocrática,
com alterações evidentes na actividade docente e no quotidiano escolar,
acompanhada de um distanciamento da escola face à família.
Referências bibliográficas
64
065
BEJA, Filomena et. al. (1985). Muitos anos de Escolas: Edifícios para o ensino
infantil e primário até 1941. Vol.1-1ª parte. Ministério da Educação e Cultura,
Direcção Geral dos Equipamentos Educativos.
BELLO, Luis. (1995). Viage por las escuelas de Castilla y León. Edição e estudo
introdutório de Agustín Escolano, Valladolid, Âmbito.
FARIA FILHO, Luciano Mendes. Dos pardieiros aos palácios: cultura escolar
urbana em Belo Horizonte na Primeira República. Passo Fundo, UPF, 2000.
65
066
_____. Livro d’Honra. Escola Central de Cedofeita (sexo feminino), Porto, 1903.
66
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068
Introdução
18
Universidade Federal do Piauí. E-mail: apadualopes@ig.com.br
19
Sobre a implantação dos grupos escolares em outros estados, cf. Souza (1998a e 1998b); Faria
Filho (1996); Fiori (1975); Kuleska (1997); Moreira e Araújo (1997); Pinheiro (2002).
68
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20
Sobre a feminização do magistério público primário piauiense, ver Lopes (1996).
70
071
21
Havia na mesma sala de aula alunos com diferentes idades e níveis de escolarização.
22
Sobre graduação e escola graduada, ver Frago (1990).
23
A escola complementar era pensada originalmente como parte do grupo escolar e da Escola
Modelo. Contudo, nas disposições transitórias dessa lei, foram convertidas duas escolas primárias
71
072
da capital, uma de cada sexo, em complementares, devendo funcionar como escola isolada até o
surgimento dos grupos escolares.
24
O surgimento e a exigência, nas escolas reunidas e nos grupos escolares, de que o professor
assinasse o livro de ponto, antes de assumir o exercício da sala de aula, já colocava um instrumento
de controle do trabalho docente inexistente no modelo casa-escola. Cf. Piauí (1913,art. 170).
72
073
Pensar uma nova escola para o Piauí era reconhecer os limites políticos e
econômicos da ação do Governo estadual e, ao mesmo tempo, promover a
modernização do aparato escolar. Nessa perspectiva, surgiram as primeiras escolas
de novo tipo: elas eram grupos escolares ou apenas escolas reunidas? Os
documentos oficiais, às vezes, diferenciavam estes dois termos; na maioria das vezes
os utilizavam como sinônimos. Haveria diferenças entre essas nomenclaturas que
caracterizassem tipos diferentes de escolas?
O grupo escolar era criado, majoritariamente, pela junção das escolas isoladas
existentes no lugar, ou pela junção das escolas existentes e criação de mais algumas;
mais raramente, pela sua criação pura e simplesmente. Predominava, contudo, o
modelo de junção das escolas existentes. Assim, os grupos escolares eram criados,
primeiramente, como escolas reunidas, sendo estas, então, a etapa primeira, e muitas
vezes duradoura, da constituição de um grupo escolar, embora não fosse necessária.
O modelo escolas reunidas, de uma etapa da constituição dos grupos,
constituiu uma alternativa definitiva de escola, por ser menos onerosa e intermediária
entre a casa–escola e o grupo escolar. Daí a dominância desse modelo durante toda a
primeira fase de implantação dos grupos escolares.
As escolas reunidas eram a simples junção de três ou mais escolas em um
mesmo espaço sob uma mesma direção, mantendo, inicialmente, a mesma
organização pedagógica da casa–escola. O regulamento da instrução pública
73
074
expedido com o Decreto nº 434, de 1910, previa, em seu art. 87, a criação,
incondicional, de tais escolas na capital e, condicionalmente, nas localidades que
oferecessem ou que o Estado possuísse prédios apropriados para tal .
Embora os documentos oficiais utilizassem indistintamente os termos grupo
escolar e escolas reunidas para nomear a nova forma de organização escolar, havia
diferenças marcantes entre eles. Diferenças estas situadas seja no tipo de instalação
requerida, seja na organização do ensino ou na divisão do trabalho e do poder na
escola.
A predominância inicial do modelo escolas reunidas ocorreu, principalmente,
em decorrência de seu baixo custo em relação ao grupo escolar, e por apresentar a
vantagem de, ao agrupar as escolas isoladas, proporcionar maior controle do trabalho
docente e economia com aluguéis, para o Governo.
Em 1911, o Governo do Estado anunciava a instalação na capital, “em
prédios confortáveis e adaptados ao seu destino”, de três escolas reunidas (Piauí,
1911). O processo de junção de algumas das escolas isoladas urbanas da capital em
escolas reunidas teria, contudo, iniciado ainda em 1910 e estas permaneceriam
sendo, nessa primeira etapa de reorganização da escola primária, as únicas escolas de
novo tipo existentes no Estado25. Teresina havia sido eleita, por sua própria condição
de capital e espaço onde a escola era colocada como centro de inovações
educacionais, como lugar da realização dessa modernização da educação.
Foram criadas, em 1910, as seguintes escolas reunidas26, todas com três
cadeiras, possuindo, além dos professores das cadeiras, professoras adjuntas de
professores, diretores e porteiras–serventes:
a) 1º Grupo Escolar ou Escolas Reunidas do Sexo Masculino;
b) 2º Grupo Escolar ou Escolas Reunidas do Sexo Feminino;
c) 3º Grupo Escolar ou Escolas Reunidas Mistas27.
25
A mensagem governamental de 1912 fala na suspensão, por conveniências administrativas, da
construção do Grupo Escolar Artur Pedreira, da cidade de Amarante. Os indicíos são de que essa
escola não chegou a funcionar nesse período. Guimarães (1923), em 1921, afirmava possuir
Amarante duas escolas estaduais e uma municipal. O Grupo Escolar Eduardo Ferreira, de
Amarante, foi inaugurado somente em 9 de abril de 1935. Cf. Moura (1997).
26
Embora houvesse a divisão das escolas por sexo dos alunos, em 1914, ao expor o número de
matrículas dessas escolas, o secretário de governo Júlio Emílio de Paiva Rosa, apresentava em todas
as escolas matrículas tanto do sexo masculino, como feminino, o que as tornava mistas. Não foi
possível esta informação na documentação disponível e, infelizmente, a documentação interna das
escolas não foi preservada.
27
Posteriormente denominadas Escolas Reunidas 24 de Janeiro, Escolas Reunidas José Lopes e
Escolas Reunidas Theodoro Pacheco, respectivamente.
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28
Para ele, este fato tornava preferível a expansão do número de escolas isoladas com menos alunos à
criação de escolas reunidas como mero agrupamento de escolas isoladas, embora citasse Paulo
Pestana, de São Paulo, para destacar a utilidade e a razão de ser dos grupos escolares: “não se
discute a superioridade das escolas graduadas – entre nós impropriamente denominadas – grupos
escolares –, sobre as escolas não graduadas, ou isoladas. Naquellas, estando cada classe ou anno a
cargo de um professor, a efficacia do ensino é maior pela divisão do trabalho e pela egualdade
estabelecida nas edades e no adeantamento dos alumnos”. (Piauí 1914).
29
Nasceu no Rio Grande do Sul, em 1856, e faleceu no Rio de Janeiro em 1921. Prefeito do Rio de
Janeiro de 1910 a 1914. Sobre o projeto de prédios escolares desse período, no Rio de Janeiro, ver
Nunes (2000).
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76
NOME DO GRUPO ESCOLAR LOCALIZAÇÃO E STATUS DA DATA DE CRIAÇÃO MODO DE CONSTITUIÇÃO
LOCALIDADE
G. E. Miranda Osório Parnaíba – interior 17 de março de 1922 Junção de duas escolas isoladas estaduais e duas municipais.
G. E. Demóstenes Avelino Teresina – capital 23 de fevereiro de 1926 Junção das Escolas Isoladas Frei Serafim e Casusa Avelino.
G. E. José Lopes Teresina – capital 23 de janeiro de 1928 Junção das Escolas Reunidas José Lopes e Escola Complementar
Antonino Freire.
G. E. Antonino Freire Teresina – capital 23 de janeiro de 1928 Antiga Escolas Reunidas 24 de Janeiro.
G. E. Teodoro Pacheco Teresina – capital 23 de janeiro de 1928 Antiga Escolas Reunidas Teodoro Pacheco.
G. E. Fenelon Castelo União – interior 23 de janeiro de 1928 Antiga Escolas Reunidas Fenelon Castelo Branco, criada em 13 de
Branco julho de 1927, com a fusão das escolas isoladas estaduais e municipal
existentes na localidade.
G. E. Matias Olímpio Teresina – capital 13 de fevereiro de 1928 Criado como tal.
G. E. José Narciso Parnaíba – interior 19 de abril de 1928 Fusão das escolas isoladas do bairro Tucuns.
G. E. Pe. Sampaio Castelo Branco Livramento (atual José de Freitas) – 19 de abril de 1928 Antiga Escolas Reunidas Padre Sampaio Castelo Branco, criada em 15
interior de janeiro de 1925 pela fusão das escolas isoladas estadual e municipal
e criação de mais uma escola.
G. E. Matias Olímpio Barras – interior 19 de abril de 1928 Antiga Escolas Reunidas Matias Olímpio, criada em 20 de maio de
1926 pela fusão das escolas isoladas estaduais existentes na
localidade.
G. E. Valdivino Tito Campo Maior – interior 12 de setembro de 1928 Fusão de duas escolas isoladas estaduais existentes no município.
G. E. Coelho Rodrigues Picos – interior 3 de novembro de 1928 Criado como tal.
G. E. Agrônomo Parentes Floriano – interior 3 de novembro de 1928 Criado como tal.
G. E. Marechal Pires Ferreira Pedro II – interior 27 de janeiro de 1930 Fusão de duas escolas estaduais existentes no município.
G. E. José Basson Cocal - povoado do muni- 27 de janeiro de 1930 Criado como tal.
cípio de Parnaíba
G. E. Barão de Gurgueia Teresina – capital 27 de janeiro de 1930 Antiga Escolas Reunidas Barão de Gurguéia, criada em 21 de janeiro
de 1929 com a ampliação do número de cadeiras da escola isolada do
mesmo nome.
G. E. Padre Freitas Piripiri – interior 29 de janeiro de 1930 Antiga Escolas Reunidas Padre Freitas, criada em 1924 com a fusão
de duas escolas estaduais e uma municipal.
Quadro – Grupos escolares criados no Piauí: 1922–1930
FONTE: PIAUÍ. Leis e Decretos do Estado do Piauí - diversos anos.
Arquivo Público do Estado do Piauí - Casa Anísio Brito.
- 78 -
Embora muitas dessas escolas tenham sido criadas, inicialmente, como escolas
reunidas, forma mais econômica de agrupar as escolas, a maioria delas, por haver sido
fundada no período em que o modelo grupo escolar estava consolidado, já foi criada
segundo este modelo.
A interiorização do modelo grupo escolar, antecipada por Parnaíba, ocorreu
paralelamente à sua criação na capital, o que fez disso uma das peculiaridades dessa
inovação: não mais somente a capital, mas o interior ia tornando–se também espaço para a
implantação de inovações educacionais e modernização da rede escolar.
O Grupo Escolar Miranda Osório foi criado em 17 de março de 1922, pelo Decreto
Estadual no 784 (Piauí, 1923), que reuniu duas escolas isoladas estaduais30 e duas
municipais existentes em Parnaíba. Esse grupo, criado como tal, não passou pela condição
de escolas reunidas, em um contexto em que na capital somente funcionava como grupo
escolar a Escola Modelo.
Se 1922 foi o ano de criação dessa escola31, o processo que levou a sua constituição
é anterior e relaciona–se com a modernização que as elites político–comerciais procuravam
realizar para fortalecer a condição de Parnaíba como cidade comercial mais importante do
Piauí. Esta modernização da cidade teve como eixos principais a urbanização32, a
construção de estradas e o desenvolvimento da instrução.
Em 1916 , ano em que teve início a construção da primeira estrada de ferro do
Piauí, o Jornal parnaibano “A Semana” colocava como etapa mais importante, após a já
conquistada estrada de ferro, a reforma da instrução :
30
Formaram o Grupo Escolar Miranda Osório apenas as Escolas Estaduais Isoladas Mista e do Sexo
Masculino. A Escola do Sexo Feminino, da professora Senhorinha Teixeira Mendes Avelino, não foi
agrupada àquelas, permanecendo multisseriada. Isso pode ser indicativo de resistência a essa modalidade
de organização escolar. Esta escola funcionava, como escola isolada, no mesmo prédio do Grupo Miranda
Osório, tendo a professora sido aposentada em 1926. Cf. Piauí (1919-1921) e Piauí (1928b).
31
O professor primário parnaibano João Campos afirma ser 1922 o marco no processo de modificação do
setor escolar da cidade. Tendo iniciado suas atividades como docente primário em 1912, ele relembra:
“Naquele tempo, o Estado não dava prédio escolar, nem mesmo mobiliário. Que milagres tinha de fazer
então um professor estadoal, para arranjar casa e tudo o mais que exigia o exercício do magistério!
Lembro-me de ter recebido, certo dia, a visita de um inspector escolar a quem, depois de apresentar meus
80 alunos, de pé uns, outros sentados em toscos bancos de cedro sem encosto, pedi que intercedesse junto
ao governo para melhorar aquêle ambiente escolar. Respondeu-me que não era só minha escola que assim
estava, e acrescentou: ‘Vá fazendo o que puder e não se preocupe muito com isso’”. (Campos 1940, p. 47).
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32
Correia e Lima (1945, p. 62) indicam como marco do processo de organização do espaço urbano da cidade
de Parnaíba o ano de 1914 “(...) com o levantamento da Cidade Nova, formada em quarteirões, cada um
com 100 metros em quadro, e com ruas e avenidas, respectivamente, de 20 e 30 metros.”
33
A elaboração deste projeto foi, segundo Gonçalves (1980), do engenheiro Samuel dos Santos.
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34
Era diretor do Grupo Escolar João Kopke, da capital paulista. Silva (1987) o qualifica de ditador
pelo papel que desempenhou implantando as reformas do ensino municipal.
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moderna no estado, embora sua influência sobre a educação escolar tenha sido restrita à
condição de exemplo a ser seguido. Os indícios de uma influência mais duradoura deste
Grupo Escolar na educação do estado como um todo restringiu–se ao estabelecimento de
um novo programa das matérias do ensino primário, feito segundo o programa então em
vigor nos grupos escolares de São Paulo, aprovado pelo Conselho Superior de Educação e
adotado para todas as escolas do Piauí (Instrucção, 1928).
A instalação do Grupo Escolar Miranda Osório no novo prédio deu–se a 15 de
junho de 1927 com uma matrícula de cerca de quinhentos alunos, com dez classes “(...)
todas regidas por professoras diplomadas pelas Escolas Normaes de Theresina e do
Maranhão” (Piauí, 1929)35.
Escola moderna, urbana e civilizadora: esse Grupo Escolar deu um novo impulso à
modernização da escola, no Piauí, e foi utilizado como um indicador da civilidade e do
desenvolvimento de Parnaíba. Tornou–a uma referência em matéria de educação,
recebendo comissões oficiais de professoras da capital e de outras cidades do interior do
estado, como as compostas pelas professoras Josefa Ferraz, então diretora do recém criado
Grupo Escolar Antonino Freire, e Maria Antonieta Burlamaqui, que fizeram nesta cidade,
em 1928, sob orientação de Galhanone, “(...) um curso de aperfeiçoamento, segundo os
methodos da pedagogia moderna”36; e a da professora da Cadeira do Sexo Masculino de
Pedro II, Alzira de Resende Costa, enviada à Parnaíba em setembro de 1929 para
“exercitar–se nos novos methodos de ensino, durante um mez, no Grupo Escolar Miranda
Osório” (Piauí 1863 – 1930)37.
35
O corpo docente ser totalmente composto por professoras normalistas era um indicador da qualida-
de que se desejava imprimir a esta escola modernizada.
36
Sobre a ida destas professoras a Parnaíba, cf. Instrucção (1927); A actuação (1928); Instrucção (1928).
37
Embora fosse possível que professoras do interior do Estado fossem à Parnaíba inteirar-se dos
“novos métodos de ensino”, a estratégia do governo era de privilegiar as professoras da capital para, a partir
delas, expandir as inovações às escolas do interior: “Com a vinda desse techinico [Luiz Galhanone], fôram,
em commissão de estudos, a Parnahyba, algumas professoras estaduaes, que, apprehendendo e assimilando
intelligentemente as modalidades novas dos methodos educatorios, vão applicando a generalidade dos seus
principios à nossa Capital, de onde o convivio com as collegas os diffundirá, com proveito, pelo Piauhy”.
(Piauí [1928]).
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Em 1926, era criado legalmente em Teresina seu primeiro grupo escolar: o Grupo
Escolar Demóstenes Avelino, com quatro anos de curso, sendo o último complementar.
Essa escola foi constituída pela junção das Escolas Isoladas Frei Serafim e Casusa Avelino.
Portanto, a capital teve seu primeiro grupo escolar quatro anos após ter sido criado o
de Parnaíba. Isso revela a opção do Governo Estadual pelo modelo escolas reunidas ao
invés do grupo escolar, uma vez que as escolas da capital eram as que mais se beneficiavam
com as modernizações propostas pelo poder estadual. Explicitou esse fato, em 1926, o
governador Matias Olímpio de Melo (1924 – 1928), para quem os grupos escolares eram
inadequados para o Piauí pelos custos que implicavam, sendo mais adequado o modelo das
escolas reunidas, que, respondendo a necessidade de modernização escolar,
proporcionavam economia aos cofres estaduais38.
Em 1924 já havia sido iniciada a construção do prédio para o Grupo Escolar
Demóstenes Avelino (Piauí, 1924), sendo este, na capital, o primeiro prédio construído
especificamente para ser escola primária. Desse modo, embora tenha sido criada somente
em 1926, essa escola teve seu início em 1924, com a construção do edifício para abrigá–la.
Em 1925, o Governador Matias Olímpio de Melo anunciava o retardamento da conclusão
do prédio da escola (Piauí, 1925), inaugurado em 12 de outubro do mesmo ano. Até 1930,
foram construídos os seguintes prédios escolares: o do Grupo Escolar Demóstenes Avelino;
o do Grupo Escolar Matias Olímpio e o do Grupo Escolar Gabriel Ferreira, em Teresina39;
além do prédio do Grupo Escolar Miranda Osório, em Parnaíba. (Gonçalves, 1980, p. 257).
A importância que o Grupo Escolar Miranda Osório passou a ter no panorama
educacional da época pode ser avaliada por sua escolha como ponto de partida da festa
comemorativa da “fundação dos cursos primários no Brasil”, no dia 15 outubro 1927, cujo
encerramento deu–se num outro estabelecimento importante do período a Escola Modelo.”
(Ensino, 1927). Essas comemorações serviram também para delimitar as instituições
melhor aquinhoadas com a modernização escolar na capital: as solenidades concentraram–
se no Grupo Escolar Demóstenes Avelino, na Escola Modelo e na Escola Normal como
38
Matias Olímpio explicita isso em mensagem de 1926, ao afirmar: “A meu ver, e a observação m’o tem
demonstrado, o typo de escolas que mais nos convém, são as Escolas Reunidas: menos despesas, maior
aproveitamento ás classes, mais facil installação” (Piauí 1926).
39
Sobre a arquitetura dos prédios destas escolas, cf. Silveira (1999).
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40
Bandeira (1983, p. 32), considerando a participação do Piauí na divisão do trabalho no Brasil, destaca, para
o período que estamos tratando nesse estudo, duas fases: a da produção pecuária e a do extrativismo
vegetal. Esta segunda fase, que mais de perto diz respeito ao período aqui analisado, corresponderia à
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Freitas), Barras, Campo Maior, Picos e Floriano (Piauí, 1928a). Interiorização esta
concentrada na região norte do Piauí, da qual excluem–se apenas Picos e Floriano.
No discurso que fez na inauguração do Grupo Escolar Valdivino Tito, em 3 de
fevereiro de 1929, Cristino Castelo Branco (1929, p. 58), então Diretor Geral da Instrução
Pública, apesar de ter afirmado serem preocupações diárias do governo piauiense “a
creação de escolas, a fundação de grupos escolares, a diffusão do ensino por todos os
recantos da terra amada (...)”, dizia que a verdadeira modernidade escolar dependia da
professora:
É uma verdade sediça em pedagogia, que o mestre faz a escola, o que quer dizer que
sem educadores habeis, treinados, competentes, e apaixonados pelo seu officio, não
haverá nunca, em parte alguma do mundo escolas dignas desse nome. Um pedagogo
insigne escreveu alhures que um professor consummado, sem outro tecto que a
ramaria de um carvalho, nem mais livros que as suas folhas, faz mais, ensina mais
que um mau professor na escola em que nada falte.
Assim, á luz dessa verdade evidente, declarando, como declaro, inaugurado este
Grupo, que se acha apparelhado de todo o material escolar necessario, e
magnificamente installado em um predio de amplas accomodações, espero e confio
que as educadoras de Campo–Maior saibam corresponder aos desejos e á confiança
do governo, e trabalhem e se esforcem, intelligentemente, para que o Grupo
Valdivino Tito venha a ser, de facto, e em breve, um ponto luminoso no mappa
intellectual do Piauhy.
Esse discurso procurou unir o que a reforma de 1910 visava marcar como
modernidade escolar: professora normalista e grupo escolar. Incorporava, contudo, os
desencantos que o Governo tinha com a professora normalista e que ficou patente na crise
de 1922, quando se declarou a insuficiência da feminização do magistério e cogitou–se a
necessidade do celibato. Por isso o prédio e os recursos didáticos aparecem como
dependentes da competência das professoras.
Como boas professoras independem de prédios e recursos didáticos, a existência
destes era um luxo que não podia ser extraviado. O discurso de Cristino Castelo Branco
procurava demonstrar que o Governo cumpria seu papel e que a responsabilidade sobre os
destinos da escola inaugurada era das professoras.
Assim, até 1930, dez municípios do interior do Piauí implantaram seus grupos
escolares, sendo que, destes, sete situavam–se na região Centro–Norte do Estado e três na
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Referências bibliográficas
“A ACTUAÇÃO de uma professora notável”, in: O Piauhy, Theresina, Pi, anno 62,
domingo, 20 janeiro, 1928.
“A INSTRUCÇÃO pública no Piauhy”, in: O Piauhy, Theresina, PI, anno 61, n. 122,
sexta–feira, 10 junho 1927.
41
Em 1925, Matias Olímpio de Melo fazia um balanço da participação dos municípios no finaciamento da
expansão escolar: “Já no corrente anno, adquiriram mobiliario completo os municipios de Bôa Esperança,
Barras, Burity dos Lopes, Porto Alegre, Livramento, Piracuruca e Alto-Longá, e, em parte, os de Campo
Maior, Peripery e Pedro II. Espero com o concurso de muitos dos representantes do povo, dignos chefes
locaes, que o movimento pela educação em breve se annucie tambem na zona do sul do Estado, fechando-
se, assim, o cyclo de acção em prol da grande causa, por que me bato, e por que deverão pugnar todos os
piauhyenses. Quanto ao centro, é com satisfação que transmitto á Camara que o movimento pelo ensino
popular já se faz sentirem Castello, onde a escola, outrora entregue a leigos, sem orientação pedagogica,
hoje, bem apparelhada e á frente distincta normalista, é motivo de justo orgulho para a localidade.” (Piauí
1925).
42
Nasceu em São Raimundo Nonato (PI), em 1886, e morreu em Teresina, em 1972. Era Bacharel em
Direito, formado pela Faculdade de Recife, em 1909.
43
Nesse mesmo livro, afirma Vaz da Costa (1924, p. 19): “Convicto de que, só pela instrucção e pela
educação, pela cultura da intelligencia e pela elevação do caracter, seja possivel conseguir-se o
soerguimento de uma sociedade ao nivel em que, cada um, tendo a nitida comprehensão de seus deveres,
saiba reclamar e defender os seus direitos, tomei aos hombros o, para mim, pesado encargo de adquirir, por
meio de conferencia, o peculio necessario á construcção de um predio que será offerecido ao Estado do
PIAUHY, para a fundação de um grupo escolar em S. JOÃO.”
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- 91 -
Seria (...) de grande vantagem e faço votos para que o meu honrado successor
adopte o mais depressa possivel a recommendada e utilissima instituição dos
grupos escolares, reforma que tão largos e fundos beneficios tem produsido
nos Estados que a introdusiram, como o mais proveitoso dos systemas de
ensino até hoje conhecido. (Parahyba do Norte, Estado da, 1908, p.13)46
No ano seguinte, o mesmo presidente propunha uma contínua substituição das “escolas
comuns estaduaes pelos grupos escolares que são instituições mais perfeitas e efficazes para a
44
- Este texto é resultado de parte da pesquisa intitulada: Velhos Grupos Escolares na Paraíba (1916-1929):
subsídios históricos para uma proposta de tombamento, desenvolvido em conjunto com o projeto de monitoria
da disciplina História da Educação I e II – Curso de Pedagogia, intitulado: Aprendendo e ensinando a partir do
uso de documentos. Participaram da pesquisa as alunas bolsistas: Rosinete Veloso Camelo, Helen Haline
Rodrigues de Lucena e Maria das Graças Gomes Coelho.
45
- Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba. Coordenador do
Grupo de Trabalho História da Educação da Paraíba, vinculado ao HISTEDBR. Este grupo de pesquisadores
tem se dedicado, prioritariamente, à história das instituições educacionais paraibanas. E-mail:
acfp@terra.com.br
46
- Documento do Arquivo Nacional. Doravante utilizarei apenas A N.
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- 92 -
educação primária” (Parahyba do Norte, Estado da, 1909, p.22). Os estímulos para a criação de
grupos escolares também se estenderam às administrações municipais. João Lopes Machado,
demonstrou a intenção em estabelecer acordo com as municipalidades nos seguintes termos: “A
medida que um município tiver um prédio escolar, construído segundo o typo archthetonico
adoptado, o governo do Estado dar-lhe-á um grupo escolar em substituição às escolas isoladas,
incumbindo-se da manutenção do mesmo.” [idem, ibidem].47 Nesse mesmo ano foi publicada a
lei nº 313, de 18 de outubro, que autorizou o poder executivo a instituir grupos escolares nos
municípios.
O discurso da elite paraibana sobre a necessidade da criação de grupos escolares no
Estado reportava-se ao fato de outros Estados do Brasil já terem, há alguns anos, iniciado o
processo de implantação e expansão dessas unidades escolares, consideradas instituições de
ensino mais úteis, (Parahyba do Norte, Estado da, 1909, p.23), por ser “incontestavel a
superioridade que decorre desses institutos sobre as escolas isoladas, na diffusão do ensino
popular”(Parahyba do Norte, Estado da, 1910, pp.17-18).
No entanto, é interessante ressaltar que a Escola Prática ou Escola Modelo, anexo da
Escola Normal assim denominada em 1896, passou a se chamar Grupo Escolar Modelo, a
partir de 1910. Esse grupo escolar tinha por objetivo servir de espaço para o exercício das
atividades pedagógicas dos alunos que estavam se preparando para o magistério, seguindo os
“moldes paulistas”.
Para o Presidente da Província da Parahyba do Norte em 1910, o Grupo Escolar
Modelo era uma instituição muito importante para o desenvolvimento da instrução pública
local, e era ali que “os alumnos mestres [deveriam] apparelhar a sua capacidade profissional,
formar a sua educação para o magisterio, disciplinar o seu espirito na arte e na sciencia do
ensino, fins incomparavelmente mais elevados do que o ensino elementar commum” (Parahyba
do Norte, Estado da, 1910, p. 20).
Associada a essa experiência, no âmbito do funcionamento da Escola Normal, quase
sempre os gestores da instrução pública salientavam o significado social e pedagógico dos
grupos escolares, e em setembro de 1911, a Diretoria Geral da Instrução Pública elaborou e
encaminhou ao presidente do Estado um projeto de reforma da instrução primária, que dava
nova estrutura organizacional escolar paraibana destacando dentre outros, os seguintes aspectos:
47
- Documento do Arquivo do Estado de São Paulo, doravante apenas AESP.
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- 93 -
48
- Documento do AN.
49
- Documento do Setor de Obras Raras da Biblioteca Central da Universidade Federal da Paraíba – Campus I.
Doravante apenas BC–UFPB.
50
- Para maiores informações sobre escolas reunidas ou agrupadas ver trabalho de Pinheiro (2002).
- 93 -
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O Grupo Escolar Dr. Thomaz Mindello foi constituído, inicialmente, de três escolas,
sendo: a) uma escola mista do 1º grau para crianças de cinco a sete anos; b) uma escola do 2º e
3º graus para o sexo masculino, e c) uma escola do 2º e 3º graus para o sexo feminino.
Semelhante ao que se passou nos grupos escolares de outras unidades da federação, no da
Paraíba, também, no primeiro momento, aglutinou cadeiras isoladas que já funcionavam em
outros locais e foram transferidas para o prédio do grupo escolar.51 O período entre a criação
oficial do Grupo Escolar Dr. Thomaz Mindello e a sua inauguração, ocorreu em um espaço de
tempo relativamente pequeno, uma vez que naquele mesmo decreto foram abertos os créditos
necessários para sua consecução. Na verdade, guardou apenas o período necessário de entrega
de um edifício à diretoria geral da instrução pública. A inauguração ocorreu em setembro de
1916.
51
- No artigo 3º e no parágrafo único do Decreto nº 778 de 15 de fevereiro de 1916, encontra-se: “ficam
transferidos para o grupo a atual 2ª cadeira do sexo masculino da capital e a escola mista da povoação de
Bananeiras e criada a cadeira do sexo feminino. A atual 3ª cadeira do sexo masculino da capital passa a ser
denominada de 2ª cadeira.”
52
- Depoimento de Manuel Tavares Cavalcante publicado no Jornal Diário do Estado de 14 de setembro de 1916.
53
- Documento do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Doravante apenas IHGP.
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Benção do edifício
Instalação do grupo – Alocução análoga ao ato pelo Diretor da Instrução
Hasteamento da bandeira nacional, sendo entoado o hino pelos alunos das
Escolas Normal, Modelo e Grupo.
Hino dos livros – pelos alunos do 3º grau da Escola Modelo
A cidade da luz – Luiz Delfino por Izaurina Mattos Dourado
A boneca – caçoneta- por Zilda Teixeira
Saudação ao grupo recentemente instalado – pela senhorita Noemia Ribeiro,
aluna da Escola Normal.
A Escola- recitativo – por Avany Fonseca
A professora – comédia – por Oliva Carneio, Maria Luiza Moraes, Maria da
Penha Vinagre e Maria de Lourdes Coelho
Os edifícios – de Valentim Magalhães, por Heloysa Almeida
A locução de agradecimento – pelo diretor do grupo.
As flores – Canto – pelos alunos do 1º grau da Escola Modelo
Um dia de anos – monólogo – por Maria de Lourdes Coelho
As duas lágrimas – recitativo – por Izaurina de Mattos Dourado
Saudação ao patrono do grupo – pelo aluno Augusto da Silveira Paulo
O gaturano – canto por Jenny Tavares Benevides
Hino Nacional – pelos alunos das escolas Normal, Modelo e Grupo. (Diário
do Estado, 23/07/1916)
54
- Ver notícias publicadas no jornal Diário do Estado.
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partir de 1915, propiciado por um surto de elevado patriotismo entrou na “rota da expansão
escolar”.
Alusões aos ideais revolucionários franceses foram feitos, lembrando que seria
“impossível fazer a felicidade pública sem a mais larga distribuição do ensino, pois, como dizia
Danton, (...) depois do pão a instrução é a primeira necessidade do homem.”(Idem, Ibidem). Ao
mesmo tempo delimitou que a escola tinha como finalidade e missão o dever para com a pátria
formar bons cidadãos brasileiros.
Assim o grupo escolar para além de ser um templo de civilização, conforme analisou
Souza (1998), deveria ser o local para “irradiar a luz, o saber, a bondade, a virtude para ventura
nossa e glória da pátria.”
Consideramos ainda que a festividade instaura, no momento do acontecimento, práticas
ritualísticas que visam guardar na memória coletiva e/ou individual aspectos da vida cultural e
social. Objetiva, quiçá tornar aquele acontecimento histórico. No sentido mais amplo, também,
contribui para o exercício da cidadania e participação política e social. A veneração dos
símbolos a partir do hasteamento de bandeiras seguidas da entoação de hinos e discursos
patrióticos proporcionam o sentido de identificação dos homens com sua cidade, sua nação. No
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caso específico dessa festividade a busca da identidade pela educação formal e escolar, tendo
como símbolo o grupo escolar. Para Lopes (2002, s/p.)
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A outra crítica foi direcionada à inadaptabilidade do prédio adquirido pelo Estado para
o funcionamento do grupo escolar. Esse aspecto nos parece interessante uma vez que na
literatura que trata sobre o tema é muito comum encontrarmos a indicação que os primeiros
grupos escolares fundados em várias localidades do Brasil seguiram rigorosamente as
prerrogativas exigidas pela política higienista que foi implantada nos anos 10 de 20 do século
XX. Apesar desses estudos analisarem os maiores centros urbanos, tais como o Rio de Janeiro,
São Paulo e Recife, temos uma série de indicações documentais que na Paraíba do Norte essa
política pública foi implementada nas cidades da Parahyba (atual João Pessoa), Campina
Grande, Princesa Isabel e Cajazeiras. Assim parece-nos um pouco apressada a idéia de que o
Grupo Escolar Thjomaz Mindello não tenha seguido, pelo menos em alguns aspectos, os
critérios exigidos para o funcionamento de uma escola dentro das condições mínimas de higiene
e salubridade.
De qualquer forma não podemos desconsiderar que as críticas direcionadas ao Grupo
Escolar Thomaz Mindello foram contundentes, vejamos:
55
- Documento do IHGP.
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É possível, todavia, ainda hoje, observarmos que o Grupo Escolar Dr. Thomaz
Mindello possui janelas, portas e pé direito do prédio que atendem algumas prerrogativas
arquitetônicas que facilitam a circulação de ventos e a penetração de luminosidade natural, o
que é básico para a higiene exalar. Entretanto, é importante salientarmos que foi somente em
1921 que foram publicadas oficialmente as orientações técnicas e arquitetônicas para a
construção de prédios escolares na Parahyba do Norte:
Um dos grupos escolares que foi construído seguindo praticamente todas essas
normatizações e orientações arquitetônicas foi o Grupo Escolar Izabel Maria das Neves.
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Foto 1- Grupo Escolar Izabel Maria das Neves – João Pessoa. Arquivo do autor – setembro de
1999.
Esse grupo escolar tem história muito peculiar porque foi construído a partir de recurso que coronel
Alípio Dias Machado deixou para o Estado, a partir de disposição testamentária. Exigiu, todavia,
que a escola recebesse o nome de sua mãe. O terreno foi doado pelo Estado através do Decreto nº
928 de 23 de abril de 1918. Foi inaugurado em 16 de fevereiro de 1921.
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que os grupos escolares deveriam ser construídos, preferencialmente, nas sedes de Municípios,
especialmente aqueles em que as prefeituras se dispusessem a construir os prédios e fornecer
material escolar (Almanach do Estado da Paraíba de 1912, p. 645).
Os grupos escolares, de uma maneira geral, apresentavam um certo ordenamento e
racionalização do espaço interno, variando entre três a seis salas de aulas, sala da direção, sala
dos professores, secretaria, museu, biblioteca e arquivo, áreas de recreação de cuja configuração
constavam pátios internos, jardins, largos, refeitório ou cantina e espaço destinado para as aulas
de ginástica.
Nesse período que ora estamos analisando os grupos escolares foram alocados em
suntuosas edificações, adaptadas ou construídas em bairros de elite ou nos centros das cidades,
como no caso específico dos grupos escolares Dr. Thomaz Mindello e Antonio Pessoa,
localizados no antigo centro comercial e de serviços da cidade da Parahiba. Em ruas largas e
arborizadas no passado e ainda hoje, importantes vias de acesso dos tradicionais bairros de
Tambiá, Jaguaribe e Centro, estão os grupos escolares Epitácio Pessoa, Pedro II e Isabel Maria
das Neves, respectivamente.
Em suma, os grupos escolares não apenas atenderam as exigências estéticas da elite,
mas também se prestaram a modernizar e embelezar a capital paraibana.
O contexto cultural em que surgiram os grupos escolares na Parahyba do Norte, onde,
apesar de serem mantidas relações sociais, econômicas e políticas tradicionais, se vislumbravam
elementos de “vanguarda”, aqui traduzidos por modernização, em função do processo de
urbanização e do surgimento do setor industrial incipiente, se relacionado ao movimento
nacional, mas significativo para a economia local.
As décadas de 10 e 20 do século XX foram um período de grande mobilização em
defesa da modernidade e da modernização das cidades brasileiras. Entretanto, a intensidade e os
ritmos conferidos a esse processo de modernização variaram de acordo com as especificidades
regionais e, até mesmo, as especificidades inerentes a cada uma das capitais brasileiras,
principalmente quanto aos aspectos culturais e às mudanças nos comportamentos sociais.
56
- Algumas das idéias aqui desenvolvidas constam também no livro de minha autoria, Da era das cadeiras
isoladas à era dos grupos escolares na Paraíba, publicado, em 2002, pela Editora Autores Associados e
Universidade São Francisco.
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- 102 -
Embora não possamos considerar que a Paraíba tenha entrado na “era do usinismo”,
como havia ocorrido no Estado de Pernambuco, houve, ainda conforme Galliza (Idem, ibidem),
uma
57
- Esse aspecto deve ser ressaltado, uma vez que grande parte da produção paraibana era escoada pelo interior,
com destino à cidade e ao porto de Recife.
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Esforcei-me quanto possível para que outro fosse o patrono da escola recem-
creada. Até cheguei a indicar o nome do venerando educador e virtuoso
sacerdote parahybano padre Rolim, para substituir o meu, alvitre que não foi
aceito.
Por decreto anterior havia eu dado, sob proposta da Directoria Geral de
Instrucção Publica, o nome do respeitavel e meritorio politico do antigo
regimen, Barão de Abiahy, á escola nocturna que tem a sua séde na Sociedade
de Artistas Mechanicos e Liberaes.
Em 1919, a construção de outros grupos escolares foi ultimada: um, na capital, e outro,
no Município de Umbuzeiro59. Ambos receberam o nome de Grupo Escolar Antonio Pessoa. No
ano anterior, também na capital, o Grupo Escolar Epitácio Pessoa fora inaugurado.60
58
- Documento arquivado na Biblioteca Central da Fundação Joaquim Nabuco. Doravante apenas BC-FJN.
59
- Documento do AN.
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O destaque dado a esses grupos escolares se deve ao fato de que, no período em que
foram construídos, a oligarquia liderada por Epitácio Pessoa constituída, principalmente, pelas
famílias Neiva, Figueiredo, Silva Pessoa e Lucena estava no auge do poder e se ramificou da
esfera federal para a esfera estadual, estendendo-se até às bases políticas municipais. Assim é
que, nessa época, tanto a alocação espacial de grupos escolares quanto sua denominação
estavam vinculadas aos membros dessa oligarquia, situação que perdurou até os anos 30
(Parahyba do Norte, Estado da, 1919, p.13).
O processo de modernização da sociedade brasileira, na década de 20 principalmente
nos espaços urbanos, possibilitou a elaboração de projetos que incorporaram a modernidade à
estrutura educacional. Nesse sentido,
Foi precisamente nesse contexto que surgiu o grupo escolar, forma de organização
escolar mais complexa, que viria a atender as necessidades impostas pelas mudanças que
estavam se processando na sociedade brasileira e paraibana. Teve como objetivo último formar
novos homens e mulheres - os cidadãos. Cidadãos amantes da ordem, do progresso, da
República, uma vez que “a prática do regimen representativo exige cidadãos probos e
illustrados. Possuil-os é questão vital para as democracias (...). Republica sem escolas é uma
extravagancia sem nome”(Almanach do Estado da Parahyba, 1922, p.224).61 Entretanto, os
homens e mulheres (muito mais homens!) “modernos” deveriam estar preparados para
acompanhar o processo de modernização e atender as necessidades objetivas impostas por esse
novo momento histórico na capital e nas cidades do interior do Estado paraibano.
60
- A inauguração desse grupo escolar também foi marcada por grande festividade e seguiu a mesma concepção do
Grupo Escolar Dr. Thomaz Mindello. Para melhor detalhamento ver Jornal Correio da Manhã, nº 58, março de
1918.
61
- Documento da BC–UFPB.
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Apesar de a Paraíba não ter tido o mesmo nível de desenvolvimento econômico dos
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e nem mesmo de Pernambuco e Bahia, a
criação de grupos escolares esteve no bojo do processo de modernização do Estado. É evidente
que as preocupações com a formação do cidadão e o fortalecimento da república estiveram
também presentes, embora de forma secundária, nos discursos da elite paraibana, que
enfatizavam a necessidade de modernização não só da capital, mas também das cidades do
interior do Estado.
Diversamente do que ocorreu em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, cuja
modernização era evidenciada pelo acelerado processo de urbanização, aliado a um florescente
industrialismo, a Paraíba não vivenciou, com a mesma intensidade, nem o processo de
urbanização nem o de industrialização.
Acreditamos que o descompasso do desenvolvimento econômico paraibano em relação
a outros Estados, inclusive os nordestinos, (especialmente em relação às capitais Recife e
Salvador) e em relação ao contexto brasileiro geral é uma das explicações possíveis para o lento
processo de organização do novo modelo de organização escolar.
Consideramos, no entanto, que as necessidades objetivas, tanto do Estado como da
sociedade como um todo, exigiram um certo aprimoramento dos serviços públicos dentre eles
a instrução pública , que propiciaram particular visibilidade ao movimento de modernização de
algumas cidades paraibanas. Nesse sentido, a modernização do Estado da Paraíba foi se
efetivando muito mais pela via estatal do que pela acumulação de capital do setor privado,
conforme se processou, principalmente, no Estado de São Paulo.
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Segundo Costa (1983, pp.14 e 122) que estudou o processo de expansão, durante a
República Velha, do ensino primário no Estado de São Paulo , o rápido crescimento e o
sucesso dos grupos escolares foram propiciados por condições favoráveis, do ponto de vista
demográfico, econômico, social e político. No entanto, ressalta a autora, a implantação de tais
instituições restringiu-se às zonas urbanas, então sujeitas a acelerado processo de crescimento
populacional e, conseqüentemente, de urbanização, fato que se repetiu no Estado da Paraíba.
Nesse primeiro momento, apesar de todo o discurso sobre a importância da criação de
grupos escolares para a modernização do Estado paraibano e a formação do cidadão, esses
estabelecimentos atenderam as necessidades dos filhos da elite e da classe média locais esta
última constituída, principalmente, por profissionais liberais, funcionários públicos,
comerciantes , além dos filhos de proprietários de médias e grandes propriedades, oriundos da
zona rural.
Um dado crítico – signo do arcaico, do atraso social e revelador de um quadro
econômico beneficiário das relações de dominação e da exacerbada exploração das classes
subalternas colocava permanentemente em xeque o discurso da modernização: o alto índice de
analfabetismo, evidência de um Brasil da modernização sem mudança, de uma Paraíba da
modernização sem desenvolvimento.
Em seus discursos, à época, alguns políticos insistiam, constantemente, no fato de que
o investimento na instrução pública, com vistas a combater o analfabetismo, (Parahyba do
Norte, Estado da. 1918, p.23)62 seria o único ponto de partida para a boa e definitiva
organização de uma sociedade. Para Reis Filho (1995), no entanto, o objetivo de combater o
analfabetismo implicou, na verdade, a perda da função política da educação, função esta
veementemente defendida pelo ideário republicano. Ao deteriorar-se, a educação deixou,
portanto, de habilitar o indivíduo para a cidadania.
No discurso de alguns intelectuais, porém, mantinha-se a esperança de que a educação
realmente pudesse contribuir para a construção da cidadania e a consolidação da nação
republicana, como podemos observar na obra de 1918 de Aarão Reis Economia, finanças e
contabilidade , que incluía a educação dentre as inúmeras atribuições do Estado: “Promover
carinhosamente a educação popular no sentido de preparar os cidadãos para o exercício regular
62
- Documento do IHGP.
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de todas a suas múltiplas funções, desde as da procriação de gerações fortes, sadias e robustas
até a da defesa intemerata da pátria nos campos de luta armada” (Apud Paim, 1978, pp. 38-39).
Esse pensamento nos remete à afirmação de Hegel de que as idéias e gostos mais atuais
são os que melhor representam o espírito de uma época, conforme evidenciam as idéias de
Aarão Reis que viveu e sofreu os reflexos da 1ª Guerra Mundial , em cujo texto, não por
acaso, utiliza expressões, tais como: gerações fortes, defesa da pátria nos campos de luta armada
etc.
A lembrança da 1ª Guerra Mundial ainda estava muito presente no espírito da
intelectualidade brasileira. Sabemos que esse conflito propiciou a consolidação da supremacia
econômica e política de algumas nações européias principalmente França e Inglaterra e dos
Estados Unidos, que passaram a reconfigurar a organização política e econômica do mundo
Ocidental. A reordenação do sistema capitalista mundial impunha mudanças em, praticamente,
todas as nações subordinadas aos interesses econômicos das referidas potências “imperialistas”.
No Brasil e, particularmente, na Paraíba, foram muitos os reflexos desse conflito,
porque uma parcela significativa da elite brasileira, apontava para a necessidade de a educação
se atualizar (se modernizar) e acompanhar o “progresso” da ciência e da técnica. Tais aspectos
podem ser evidenciados, por exemplo, no discurso proferido em 12 de outubro de 1921, por
ocasião da instauração da Conferência Interestadual do Ensino Primário, pelo deputado Tavares
Cavalcanti, que tinha exata visão de seu tempo ou do “novo tempo” delineado a partir do
primeiro grande conflito mundial:
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- Documento da BC–UFPB.
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64
- Documento do AN.
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- Documento do IHGP.
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66
- Documento da BC–UFPB.
67
- Documento BC–UFPB.
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- Documento da BC–UFPB.
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- Documento da BC–UFPB.
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___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
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___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
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(terceira parte), in: Jornal O Educador, Anno I, número III. Parahyba: 14 de novembro de
1921.
___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
Estado, pelo Director Geral da Instrucção Publica, João Alcides Bezerra Cavalcanti, em 1921
(quarta parte), in: Jornal O Educador, Anno I, número IV. Parahyba: 21 de novembro de
1921.
___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
Estado, pelo Director Geral da Instrucção Publica, João Alcides Bezerra Cavalcanti, em 1921
(quinta parte), in: Jornal O Educador, Anno I, número V. Parahyba: 28 de novembro de
1921.
___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
Estado, pelo Director Geral da Instrucção Publica, João Alcides Bezerra Cavalcanti, em 1921
(sexta parte), in: Jornal O Educador, Anno I, número VI. Parahyba: 5 de dezembro de 1921.
___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
Estado, pelo Director Geral da Instrucção Publica, João Alcides Bezerra Cavalcanti, em 1921
(sétima parte), in: Jornal O Educador, Anno I, número VII. Parahyba: 12 de dezembro de
1921.
___. Relatorio apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Bardosa de Lucena, M.D. Presidente do
Estado, pelo Director Geral da Instrucção Publica, João Alcides Bezerra Cavalcanti, em 1921
(oitava parte), in: Jornal O Educador, Anno I, número VIII. Parahyba: 19 de dezembro de
1921.
b) Almanaques e Jornais:
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Modelo de São Paulo são aplicados, simultaneamente no 1° ano, para estudo da língua
materna os métodos de silabação e palavração (...). Sobre estas matérias nossa marcha é
outra, na primeira seguimos o método da sentenciação (...)” (Mensagem de 16. 2. 1905).
Subtende-se que essas determinações serviam para agregar as escolas estaduais que
se encontravam dispersas e impor-lhe um novo caráter organizacional, tendo a Escola
Modelo como fio condutor desse novo momento.
A aprovação do Regimento Interno para os grupos escolares existentes na Capital,
através do decreto n° 38 de 19 de julho de 1904, foi conferido ao diretor da Escola Normal
poderes para designar e remanejar os professores dos grupos escolares (Art.2°). Tanto que o
dr. Barbosa de Godois além de ser diretor da Escola Modelo acumulava a diretoria da
Escola Normal. Apesar da existência do Conselho Superior de Instrução, que teve sua
extinção revogada logo no governo seguinte, os grupos escolares eram administrados por
aquelas instituições de ensino, que gozavam de conhecimento pedagógico inovador ao lado
do prestígio político.
Convém registrar que a emergência dos grupos escolares ocorre num momento em
que a manutenção das instituições escolares existentes era precária. Assegurar o seu
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funcionamento contava com a interferência do dr. Benedito Pereira Leite (1857-1910) que à
testa do Partido Federalista, depois Republicano foi o responsável pela orientação política e
administrativa do Estado durante quinze anos – 1893 a 1908 (Viveiros, 1992).
Tanto que pelo decreto n °2 de 5 de julho de 1899, do então governador dr. João
Gualberto Torreão Costa (1898 – 1902) a Escola Modelo tomou o nome de “Benedito
Leite”. Os adversários deste tomavam seu esforço como oportunismo político e durante a
sua gestão como governador no Estado (1906 – 1908) ao demonstrar a escassez dos
recursos públicos eles sugeriam que fechasse as escolas, inclusive os grupos. Ao que
respondeu: “a mão prefiro cortar a ser forçado assinar a supressão de uma escola”. Fato que
nos leva a observar os limites e as possibilidades das instituições escolares no Maranhão,
sobretudo àquela época, cujo papel crucial não permitia se distinguir a fronteira entre
necessidade educacional e as nuances políticas.
O então curso primário oferecido nos grupos escolares compreendia três classes,
que correspondiam às diferenças de conhecimento dos alunos e compreendiam toda a
matéria do programa da Escola Modelo “Benedito Leite (Art. 2° do Regimento). Entretanto
essas turmas não excederiam em duas na primeira e segunda classes, podendo se elevar a
três apenas na terceira. Contudo esta terceira, que correspondia ao 7° ano da Escola Modelo
desaparece com a redução do ensino primário de sete para seis anos.
Os quadros, a seguir ilustram essa organização e o conteúdo ensinado em cada
cadeira.
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no mínimo e 3 horas no máximo. As notas de julgamento dos exames e lições (Art 31)
eram:
10 equivalente a ótima
7 a 9 “ a boa
4 a 6 “ a sofrível
1 a 3 “ a má
0 “ a péssima ou nula.
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Considerações finais
A legislação rastreada para sustentação deste estudo, ao nosso ver, não tem alcance
para uma análise aprofundada das organizações escolares na sua interioridade e pouco nos
aponta para as interrelações com a comunidade da sua inserção. Para tanto nos alerta
Enguita (1989. p.158): “A experiência da escolaridade é algo mais amplo, profundo e
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complexo do que o processo de instrução”. Isto nos leva a refletir que a emergência dos
grupos escolares no Maranhão traz em seu bojo a oferta de ensino excludente, haja vista a
clientela da Escola Modelo, que majoritariamente pertencia à elite local e servia de padrão
para estas novas instituições escolares. Essa reflexão é ilustrada pela crônica de autoria de
J. Francisco, intitulada: “Era uma vez....” publicada na Folha do Povo de 10.2.1931:
Ele continua a crônica comentando que essas escolas municipais são posteriormente
transformadas em grupos escolares e expulsas as crianças das classes econômicas menos
favorecidas.
A importância política dada aos grupos escolares, durante quase meio século, no
Maranhão foi tamanha que sua localização no interior era na praça principal ao lado da
matriz, da prefeitura, do fórum e da câmara. Constituindo-se um elemento do poder,
juntamente com o religioso, judiciário, legislativo e executivo. Lamentavelmente
professores, pais e grande parte dos estudiosos da educação no espaço maranhense,
prestaram pouca atenção para esta representação, significação e implicações da instituição
grupo escolar. Tanto, que só nos últimos dois anos, conseguiu-se escolarizar,
aproximadamente, 90% da população de sete a quatorze anos maranhense.
Referências bibliográficas
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Luis: LITHOGRAF.
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A ESCOLA NO ESPELHO:
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Estado de São Paulov. A instituição de ensino paranaense foi criada após a visita do então
diretor da Instrução Pública daquele Estado, Victor Ferreira do Amaral, a São Paulo,
quando teve a oportunidade de conhecer a reforma do ensino que ali se realizava e o
funcionamento dos grupos escolares paulistas. Durante o governo de Jerônimo Monteiro,
“o presidente do Estado do Espírito Santo levou para Vitória, como seu principal auxiliar, o
professor da Escola Modelo de São Paulo, Carlos Alberto Gomes Cardim”vi. Maria Lúcia
Hilsdorf esclarece que
Estudos realizados por Luciano Mendes de Faria Filho esclarecem que no Estado de
Minas Gerais projetos como o da implantação dos grupos escolares e o da adoção das
propostas da Pedagogia Moderna seguiram um outro tipo de trajetória. Em Minas Gerais,
os Grupos Escolares foram introduzidos legalmente em 1906, com a Lei 439, que autorizou
reformar o Ensino Primário e Normalviii.
Em Sergipe, o projeto de implantação dos grupos escolares também estava
articulado ao discurso da modernização pedagógica e ganhou contornos mais nítidos na voz
do médico Helvécio de Andrade, duas vezes diretor da instrução pública: a primeira, no
período de 1913 a 1918 e, a segunda, de 1930 a 1935. Delegado fiscal do governo federal
junto ao Atheneu Sergipense, foi professor e diretor da Escola Normal, onde trabalhou
como lente das cadeiras de História Natural, Pedagogia, Pedologia, Higiene Escolar e
Ciências Físicas e Naturais. Foi militante ativo do Centro Socialista Sergipano, da Hora
Literária (que depois se transformaria na Academia Sergipana de Letras, da qual Helvécio
foi membro fundador e ocupante da cadeira de número 15), do Centro Literário Educativo,
da Sociedade Médica de Sergipe e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Dirigiu,
em Sergipe, a Associação Brasileira de Educação. Entusiasta do projeto de reformas do
Estado de São Paulo, criou a biblioteca da Escola Normal e organizou as “conferências
cívicas e pedagógicas”. O seu entusiasmo com o modelo das reformas de São Paulo teve
início quando ele trabalhou em Santos, como Inspetor Geral da Educação, na última década
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do século XIX, antes de transferir–se para Sergipe, e pode ser medido por intervenções
como a que fez em 1927, durante a Conferência Nacional de Educação realizada em
Curitiba: “São Paulo [foi] o primeiro dessa santa cruzada, recebendo dos Estados Unidos as
primícias de um método capaz de desenvolver a inteligência e promover a sua divulgação
no Brasil”ix. As idéias que aprendera em São Paulo, Helvécio de Andrade buscou
implementar como diretor da instrução pública, em Sergipe: “adotamos métodos mais
suaves, humanos e naturais, de acordo com os preceitos da Pedagogia moderna”x.
Helvécio de Andrade representou em Sergipe o entusiasmo que contaminou os
governos dos demais Estados em face das reformas que se irradiaram a partir de São Paulo,
pela visibilidade que estas ganharam junto à opinião pública, em função do seu caráter
moderno, que se exprimia através de um discurso de racionalidade técnica dos profissionais
de educação, da legitimação que se poderia obter ao articular–se com a Associação
Brasileira de Educação e pelo caráter espetaculoso dos modelos arquitetônicos dos grupos
escolares que passaram a adotar, inspirando–se na arquitetura escolar adotada em São
Paulo. Um dos governantes estaduais a compreender essa repercussão foi o líder político
cearense Justiniano Serpa que conseguiu, em 1922, o apoio do governo de São Paulo,
levando para o Ceará, como diretor da instrução pública, o professor Lourenço Filho.
O êxito do modelo de São Paulo pode ser verificado pelo fato de terem se
multiplicado as viagens de estudos dos intelectuais de diferentes Estados que buscavam
apreender as reformas implementadas pelos paulistas. Outro indicador desse sucesso foi o
freqüente empréstimo de técnicos por parte do Governo de São Paulo aos vários Estados
brasileiros, como ocorreu em 1909, com a chegada do professor Carlos da Silveira a
Sergipe. Nem mesmo a crise vivida pelo modelo de São Paulo na década de 1920 pode ser
apontada como um declínio desse interesse dos intelectuais da educação brasileira pelas
decisões de política educacional tomadas no planalto paulista. A reforma Sampaio Dória,
na primeira metade da década de 1920 agitou as discussões sobre educação no seu Estado e
no Brasil, ao tempo em que o país inteiro estava sensibilizado pela ação civilizatória
representada pelo movimento das ligas nacionalistas.
O entusiasmo que o professor Helvécio de Andrade reiterava sempre em relação ao
projeto reformador de São Paulo fez com que este, ao dirigir a Instrução Pública em
Sergipe pela segunda vez, no período de 1930 a 1935, autorizasse a viagem àquele Estado
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do professor José Augusto da Rocha Lima, em 1931. Quando do seu regresso a Sergipe,
Rocha Lima publicou um Relatório revelando a importância de “estudar os novos métodos
e processos pedagógicos, ali em prática, a fim de serem adotados na Instrução Pública de
Sergipe”xi. A viagem foi motivada pela boa repercussão que teve em Sergipe a reforma do
ensino de São Paulo, implementada em dezembro de 1930 sob a inspiração de Lourenço
Filho. O trabalho do professor Rocha Lima em São Paulo incluiu visitas ao Jardim de
Infância anexo à Escola Normal, dirigido pela professora Hortência Pereira Barreto com o
auxílio da professora Heloisa Grassi Fagundes. No Jardim, entusiasmou–se com a adoção
das práticas dos métodos de Fröebel, Montessori e Decroly. Dos grupos escolares, ficou
impressionado com o Grupo Escolar do Arouche e o Grupo Escolar Pedro II. À época, a
Escola Normal já havia sido transformada em Instituto Pedagógico e era dirigida pelo
professor Firmino Proença. No Instituto, o professor Rocha Lima permaneceu a maior parte
do tempo durante o qual ficou em São Paulo. Outra instituição visitada por ele foi a Escola
Profissional e Industrial de São Paulo, antiga Escola Profissional Masculina. O estágio em
São Paulo, com Lourenço Filho, serviu à atualização bibliográfica do professor José
Augusto da Rocha Lima. Conheceu a obra de autores como Mallart, Ferrière, Decroly,
Dewey, Balesteros, Claparède, Piéron, Kerschensteiner, Corinto da Fonseca e José Ferraz
de Campos, além da obra do próprio Lourenço Filho.
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As carteiras dos grupos escolares foram importadas dos Estados Unidos. Além disso, no
Atheneu, foram instalados os gabinetes de Química, Física, História Natural e Geografia,
com equipamentos importados de países europeus. Em 1912, foi reorganizada a direção da
instrução pública estadual, com a divisão do Estado em cinco distritos, para fins de
inspeção do ensino primário.
O projeto de implantação dos grupos escolares entusiasmou lideranças políticas e
intelectuais sergipanas e, como em São Paulo e nos demais Estados a proposta era tida
como a solução para o problema das escolas isoladas:
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O Estado terá que edificar casas de pouco custo nos locais que mais
convierem o ensino, levando muito em conta as distancias dos grupos já em
funcções. A experiência aconselha que ditas casas deveriam constar de dois
salões para as aulas, um pateo para exercicios physicos e duas sentinas
apparelhadas com o material hygienico. Quanto a estructura, esta seria em
moldes de possivel ampliação logo que o local requeresse um grupo
modesto, de accordo com o augmento da população”xvii.
Além da preocupação com o custo das obras, havia também discussões quanto a
distância entre os grupos. A maioria localizava–se na região central das cidades,
dificultando o acesso dos alunos da periferia.
As reformas implementadas no ensino em Sergipe por inspiração das idéias que se
irradiaram a partir de São Paulo entusiasmaram os principais intelectuais da educação e
muitas lideranças políticas. Contudo, não beneficiaram todo o Estado. Seus resultados
foram sentidos apenas em Aracaju e em outros centros urbanos importantes do Estado
como as cidades de Capela, Estância, Lagarto e São Cristóvão. Na zona rural e na maior
parte dos municípios a situação continuou muito difícil.
O Grupo Escolar Modelo, criado em 1910 e inaugurado em 1911 na cidade de
Aracaju, foi a primeira instituição dessa natureza a funcionar em Sergipe. Anexo à Escola
Normal, foi pensado como campo de aplicação para as normalistas e deveria regular o
funcionamento dos demais grupos escolares. O Grupo Escolar Central foi inaugurado no
mesmo ano e três anos depois ganharia nova denominação: Grupo Escolar “General
Siqueira”. Em 1925, o grupo mudou de endereço e o seu edifício passou a abrigar o Quartel
da Polícia Militar do Estado de Sergipe.
A política de implantação dos grupos escolares em Sergipe ganharia mais clareza a
partir do mês de setembro de 1911. Naquela data, uma Mensagem encaminhada à
Assembléia Legislativa pelo presidente do Estado, José Rodrigues da Costa Dória, fazia
uma análise do quadro educacional sergipano e apontava o modelo dos grupos escolares
como o ideal para a reforma da instrução pública que se propunha a empreenderxviii. Em
1917 foi a vez da inauguração do Grupo Escolar Barão de Maroim, edificado sobre os
alicerces do antigo “Asylo Nossa Senhora da Pureza”, localizado na Avenida Barão do Rio
Branco, no bairro Presidente Barbosa (atual São José). O asilo fora criado por um grupo de
homens, liderados por João Gomes de Mello, o Barão de Maroim. Este doou o terreno para
que fosse construído o edifício, em 1874. A extinção do Asilo foi decretada pela resolução
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A Formação Cívica
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plissada e blusa branca de gola quadrada. Para os meninos, era a mesma blusa e a calça da
mesma cor do tecido da saia das meninas.
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Uma outra crítica à crise dos grupos escolares apontava o fato de estas instituições
haverem abandonado o método intuitivo que caracterizou os seus primeiros anos de
funcionamento em Sergipe. “A prática do método intuitivo introduzida em Sergipe em
1911, iniciada com vigor, que conquistou a confiança geral pela disciplina imposta a
docentes e discentes, quase perdeu o caráter de método geral, mesclado que se acha de
práticas obsoletas”xxxvii. Contudo, este não era um ponto de vista unânime. O método
intuitivo foi responsabilizado, em 1929, pela acentuada evasão escolar existente no Grupo
Escolar Coelho e Campos, da cidade de Capela, que vinha perdendo muitos alunos para o
Colégio Imaculada Conceição. Apesar de o Colégio Imaculada Conceição ser uma escola
de elite, utilizava métodos de ensino considerados ultrapassados pelo sistema de instrução
utilizado no Grupo Escolar Coelho e Campos. Os pais alegavam que com o método
intuitivo, os seus filhos só aprendiam a brincar, passear e nada mais. Outros alegavam que
os alunos não queriam se sujeitar ao novo programa de ensinoxxxviii. Na opinião dos pais de
alunos do Grupo Escolar Coelho e Campos, o método decorativo e a palmatória eram a
forma mais correta de ensinar e aprender. A melhor metodologia que consideravam mais
adequada continuava em uso apenas nas escolas particulares, inclusive no Colégio
Imaculada Conceição, razão pela qual muitos pais, transferiram seus filhos para o colégio
católico. Esta prática provocou uma redução no número de alunos matriculados no Grupo
Escolar Coelho e Campos, preocupando seriamente o diretor do Grupo.
Um outro grave problema apontado era o fato de os inspetores do ensino
responsáveis pelo acompanhamento do trabalho nos grupos escolares não estarem
diretamente ligados ao gabinete do diretor da Instrução Pública, mas sim lotados em
inspetorias regionais instaladas em diferentes municípios.
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A nova orientação da Diretoria da Instrução Pública vai fazer com que, a partir da
segunda metade dos anos 1920 se intensifique a atuação de inspetores de ensino como
Antonio Xavier de Assis, José Augusto da Rocha Lima e José de Alencar Cardoso,
orientando os professores através de reuniões que buscavam difundir os princípios e
métodos do ensino ativo, as excursões pedagógicas, a Pedagogia de Decroly e os novos
procedimentos de aprendizagem da leitura e da escrita.
Considerações Finais
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Referências bibliográficas
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de Sergipe pelo inspetor escolar Antônio Xavier de Assis. Estado de Sergipe, 18 de janeiro.
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graduada no Estado de São Paulo (1890–1910). São Paulo: Editora da UNESP.
Notas
i
Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor Adjunto do
Departamento de História e do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. E-mail:
jocarna@uol.com.br
ii
Cf. BARRETO, Luiz Antônio. 2003. “O Quincas (Marido de Professora)”. in: Gazeta de Sergipe. Aracaju,
21 de junho. p. 3.
iii
Cf. ANDRADE, Helvécio de. 1914. Relatório apresentado ao presidente do Estado pelo Dr. Helvécio de
Andrade.P. 18.
iv
Cf. BARRETO, Luiz Antônio. 2003. “Uma ponte chamada Eugenia”. in: Gazeta de Sergipe. Aracaju, 24 de
junho. p. 3.
v
Cf. OLIVEIRA, Maria Cecília Marins de. 2001. “O Grupo Escolar Dezenove de Dezembro: história e
organização”. in: Anais do I Congresso Brasileiro de História da Educação. Niterói, SBHE. CD Room.
vi
Cf. BARRETO, Luiz Antônio. 2003. “Uma ponte chamada Eugenia (II)”. in: Gazeta de Sergipe. Aracaju,
25 de junho. p. 3.
vii
Cf. HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. 2003. História da Educação Brasileira: leituras. São Paulo, Pioneira
Thomson Learning. p. 71.
viii
Cf. KLINKE, Karina. 2001. “A leitura nos grupos escolares de Minas Gerais (1906–1927)”. in: Anais do I
Congresso Brasileiro de História da Educação. Niterói, SBHE. CD Room.
ix
Cf. COSTA, Mª. José Franco Ferreira da; SHENA, Denílson Roberto e SCHMIDT, Mª. Auxiliadora. 1997.
I Conferência Nacional de Educação. p. 198.
x
ANDRADE, Helvécio de. Op. cit. P. 09.
xi
LIMA, José Augusto da Rocha. 1931. Relatório. Aracaju: Imprensa Oficial.
xii
Cf. NUNES, Maria Thétis. 1984. História da Educação em Sergipe. p. 214.
xiii
Idem.
xiv
Instalado no município de Capela, foi o primeiro grupo escolar que funcionou no interior do Estado de
Sergipe, em 1918.
xv
Cf. ASSIS, Antônio Xavier de. 1919. Relatório apresentado a Diretoria de Instrução Pública de Sergipe
pelo inspetor escolar Antônio Xavier de Assis. Estado de Sergipe, 18 de janeiro.
xvi
Cf. SANTOS, Magno Francisco de Jesus. 2004. O Grupo Escolar Barão de Maroim e as Festas Cívicas de
Aracaju (1917–1919). Relatório de Pesquisa. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe. (Programa
Integrado de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFS).
xvii
Cf. ASSIS, Antônio Xavier de. Op. cit.
xviii
Cf. SERGIPE. Decreto 563, de 03 de agosto de 1911.
xix
Atualmente, praça Tobias Barreto.
xx
Cf. AZEVEDO, Crislane Barbosa de. 2003. “General Valladão” : 85 anos de história em Aracaju. in: Jornal
da Cidade. Aracaju, 11 de setembro. Caderno B – Cidades. B–6.
xxi
O Grupo Escolar Coelho e Campos surgiu por iniciativa do sergipano José Luiz Coelho e Campos, à época
Ministro do Supremo Tribunal Federal.Cf. CRUZ, Maria Madalena da Silva. 2002. A trajetória do Grupo
Escolar Coelho e Campos (1918–145). Própria. Monografia (Licenciatura em História). Departamento de
História do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de Sergipe.
xxii
Cf. “A inauguração do retrato do Dr. Pereira Lobo, no Grupo Escolar General Siqueira”. In: Sergipe
Jornal. 1922. Aracaju, 24 de outubro. p. 1.
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xxiii
Cf. SANTOS, Magno Francisco de Jesus. 2004. O Grupo Escolar Barão de Maroim e as Festas Cívicas
de Aracaju (1917–1919). Relatório de Pesquisa. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe. (Programa
Integrado de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFS).
xxiv
Cf. AZEVEDO, Crislane Barbosa de. 2003. Nos majestosos templos do saber: a implantação dos grupos
escolares em Aracaju. Monografia (Licenciatura em História). São Cristóvão, Universidade Federal de
Sergipe.
xxv
Os hinos eram entoados no início das aulas, na saída para o recreio, no retorno do recreio, no encerramento
do expediente letivo e na recepção a visitantes ilustres.
xxvi
Cf. “Grupo Escolar”. In: O Estado de Sergipe. 1915. Aracaju, 09 de setembro. p. 2.
xxvii
Cf. “As comemorações da Semana da Pátria no Grupo Escolar General Valadão”. in: O Nordeste. 1939.
Aracaju, 04 de setembro de 1939. p.04. Apud MAYNARD, Dilton Cândido Santos. 1998. Em tempo de
guerra: aspectos do cotidiano em Aracaju durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Relatório de
Pesquisa. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe. P. 70.
xxviii
Cf. Diário da Manhã. 12 de setembro de 1917.
xxix
Cf. “Grupo Modelo”. In: Correio de Aracaju. 1914. Aracaju, 21 de novembro. P. 1.
xxx
Cf. SANTOS, Magno Francisco de Jesus. 2004. O Grupo Escolar Barão de Maroim e as Festas Cívicas de
Aracaju (1917–1919). Relatório de Pesquisa. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe. (Programa
Integrado de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFS).
xxxi
Cf. “Pronunciamento de Firmo Freire na inauguração do Grupo Escolar Barão de Maroim no dia 8 de
julho de 1917”. in: Estado de Sergipe, 10 de julho de 1917.
xxxii
Idem.
xxxiii
Cf. “Programa para o curso primário nos Grupos Escolares e Escolas isoladas do Estado de Sergipe.
Programa de Educação”. in: Estado de Sergipe, 23 de fevereiro de 1917.
xxxiv
Cf. SOUZA, Rosa Fátima de. 1998. Templos de Civilização: a implantação da escola primária graduada
no Estado de São Paulo (1890–1910). São Paulo: Editora da UNESP. p. 270.
xxxv
Cf. ANDRADE, Helvécio de. 1926. Instrução Pública: necessidade de uma regulamentação definitiva
dos ensino primário e normal. Relatório apresentado ao exmo sr. dr. Cyro de Azevedo, D. Presidente do
Estado. Em novembro de 1926. Aracaju, Typ. do Sergipe Jornal. p. 7.
xxxvi
Idem. p. 8.
xxxvii
Ibidem. p. 3.
xxxviii
Cf. Livro para registro de correspondências do Grupo Escolar Coelho e Campos. 1930–1932. Capela,
correspondências nº 351, 352 e 359. pp. 14–15.
xxxix
Cf. ANDRADE, Helvécio de. 1926. Instrução Pública: necessidade de uma regulamentação definitiva
dos ensino primário e normal. Relatório apresentado ao exmo sr. dr. Cyro de Azevedo, D. Presidente do
Estado. Em novembro de 1926. Aracaju, Typ. do Sergipe Jornal. p. 4.
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